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LEIRIA-FÁTIMA · a Deus e uns ao outros a graça de "saber governar". Apesar da solenidade do momento e do local, o encontro ga nhou um ambiente verdadeiramente familiar, onde até

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LEIRIA-FÁTIMA Órgão Oficial da DiocClsCl

Ano X • N." 28 • ]aneiro-AbriI 2002

DIRECTOR AMÉRICO FERREIRA

CHEFE DE REDACÇÃO JOSÉ ALMEIDA SOUSA

ADMINISTRADOR HENRIQUE DIAS DA SILVA

CONSELHO DE REDACÇÃO BELMIRA DE SOUSA

JORGE GUARDA LUCIANO CRISTINa

MANUEL MELQUÍADES SAUL GOMES

PERIODICIDADE QUADRIMESTRAL

PROPRIEDADE E EDIÇÃO DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO SEMINÁRIO DIOCESANO DE LEIRIA

2410 LEIRIA • TELEF. 244832760

ASSINATURA ANUAL - 12 Euros NÚMERO AVULSO - 4 Euros

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Actos Episcopais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . ... ...... ...... ...... .. ..... 3

Autarcas da Diocese em Oração.. . . . . . . . . ....................... .... ..... 7

71. º Peregrinação Diocesana a Fátima e encerramento do

IV Sínodo Diocesano . .... . . . .... ........ .... ........ ........ ........ ..... 13

Carta Pastoral de Promulgação do IV Sínodo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Vida Eclesial . . . . . . . . . . . . . . . . . . .............. ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

O Dalai Lama em Fátima.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima . . . . . . . . . . . . 25

Conselho Pontifício da Pastoral da Saúde . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . .. 27

Cristianismo e Cultura: Um futuro (em) aberto. . . . . . . . . . . . . . . . . 29

O Sacramento da Confirmação .... . . . . . . ................................ 57

Crismas nos meses de Maio·Setembro . . . . .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

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ACTOS EPISCOPAIS VIGÁRIO PAROQUIAL DE MARRAZES E ASSISTENTE

DO CENTRO VOLUNTÁRIOS DO SOFRIMENTO

Tendo ponderado e ouvido conselho, decide:

1. confinnar como vigário paroquial de Marrazes, com todos os poderes consignados no código de direito canónico, nomeadamente no c. 1111 , o Rev. do Pe. David Nogueira Ferreira;

2. nomear segundo o artigo 2 1 do Centro VOLUNTÁRIOS DO SOFRIMENTO, o Rev.' Pe. José Augusto Pereira Rodrigues como As­sistente Eclesiástico da referida Associação, nesta nossa Diocese de Leiria-Fátima. Este mandato é por um ano, eventualmente renovável.

Leiria, 17 de Janeiro de 2002, 84.' aniversário da Restaura­ção da Diocese.

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

COMISSÃO DIOCESANA JUSTIÇA E PAZ

Tendo bem presente um voto da assembleia sinodal, determi­na a criação da COMISSÃO DIOCESANA JUSTIÇA E PAZ na nos­sa Diocese de Leiria-Fátima e nomeia por três anos os seguintes membros desta Comissão:

Dr. Tomás Oliveira Dias Dr. Eugénio Pereira Lucas Dra. Margarida Maria Oliveira Faria Marques Dra. Catarina de Oliveira Soares Pe. Dr. Luís Inácio João

Os objectivos da CDJP serão, na nossa Diocese, os mesmos que tem no país a CNJP, em união com o Conselho Pontifício do mesmo nome, criado em 1967 por Paulo VI e reestruturado em 1988 por João Paulo II, a fim de promover a justiça e a paz segun­do o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja.

Leiria, 17 de Janeiro de 2002, 84.2 aniversário da Restaura­ção da Diocese.

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

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ACTOS EPISCOPAIS

COMISSÃO DIOCESANA PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Tendo presentes as recomendações conciliares e pós concilia­res, nomeadamente a Instrução Pastoral Communio et Progressio de 23 de Maio de 1971, achamos por bem reactivar a Comissão Dio­cesana para as Comunicações Sociais, que será constituída pelos seguintes elementos:

P. Dr. Rui Acácio Amado Ribeiro Lurdes Maria Neves Trindade Dr. Luís Carlos Antunes Almeida Isilda Maria de Jesus Neves Trindade Carla Maria de Jesus Neto An tónio Rui Sá Pessoa Isabel Maria de Jesus Neves Trindade Lurdes Oliveira Santos

Este grupo de trabalho funcionará como comissão instalado­ra durante o corrente ano pastoral, até que seja nomeada a comis­são efectiva com mandato trienal.

Agradecemos a quantos têm trabalhado neste campo pastoral das comunicações sociais, aprovamos o plano de actividades que já me foi apresentado pelo presidente da Comissão, e fazemos vo­tos que a Equipa contribua notavelmente para a evangelização e a cultura na nossa Diocese.

Leiria, 19 Fevereiro de 2002

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

40 ANOS DOS CURSOS DE CRISTANDADE No dia 5 de Maio, com O encerramento do 1 11.' curso de ho­mens, é a comemoração histórica e solene do 40.º aniversário dos Cursos de Cristandade na nossa Diocese de Leiria-Fáti­ma, movimento espiritual de evangelização, que mantém toda a actualidade na Sociedade e na Igreja.

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ACTOS EPISCOPAIS

MENSAGEM EPISCOPAL PARA A QUARESMA 2002

1. Nesta quaresma de 2002 temos talvez mais razões para pen­sar na vida. Todos verificamos e sentimos que as diversas formas de violência aumentam a insegurança e geram a angústia. A fragilida­de no tempo e no ter faz discernir e ponderar o mais além e o ser.

Os acontecimentos de terrorismos e retaliações são alarmes ou gritos de alerta, que convidam à reflexão interior e à conversão colectiva. Das pessoas e das nações. Na esperança e na busca da harmonia e da paz.

2. Para os cristãos, o tempo quaresmal é mais que o ramadão pa­ra os islamitas, é mais que a quarentena de isolamento ou o longo re­tiro de deserto. É preparação activa de reencontro e ressurgimento.

A prática da quaresma, no conjunto dos sentimentos, vivências e actos, ilumina o espírito, para eliminar toxinas, purificar a me­mória e rectificar os projectos da vida. A quaresma é tempo e gra­ça de exame de consciência, de perdão, de reconciliação e de paz.

O tempo litúrgico da quaresma, desde a quarta feira de cinzas até à quinta feira da semana santa, é um apelo providencial a todos os cristãos para reforçarem a ascese/renúncia e se purificarem pelo sacramento da penitência. Esta prática programada e colectiva re­monta ao século IV; mantém toda a actualidade, porventura com formas novas, e prepara a comemoração/vivência da Páscoa.

3. Na mensagem quaresmal deste ano, João Paulo II exorta com veemência à conversão dos indivíduos e dos grupos, ao mesmo tempo que invoca a obrigação de partilhar os valores humanos e económicos. Escolheu a forte recomendação de Cristo: Recebestes de graça, dai de graça. E acrescenta o Pastor da Igreja Católica: "Que estas palavras evangélicas ressoem no coração de cada comu­nidade durante a sua peregrinação penitencial para a Páscoa".

A vida é um "dom" precioso. Na sua integridade. Na sua plu­ralidade. Ninguém é "dono" de si mesmo, e muito menos dos ou­tros. A vida humana é sagrada. Deve ser preservada e promovida. Em qualquer das fases e situações do seu percurso no tempo. A co­memoração da paixão e morte de Cristo faz recordar as vítimas inocentes e levanta bem alto o estandarte da imortalidade!

4. A rebeldia original e a tentação permanente de nos endeu­sarmos estão na condição humana e reaparecem subtilmente no

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ACTOS EPISCOPAIS

itinerário circunstancial de cada um, no seu relacionamento social e na caminhada civilizacional de todo o povo. Mas não podemos es­quecer as coordenadas e as limitações do nosso viver em comum, e na perspectiva escatológica do mais além.

Por isso, o Papa lembra mais uma vez que "as conquistas da bio­tecnologia" podem conduzir o ser humano a imaginar-se criador de si mesmo, com o poder de manipular a "árvore da vida" Ccf. Gen. 3, 24).

Importa, pois, repetir por todos os meios que a vida humana é um dom e um bem fora do mercado, que urge apreciar e defen­der, "mesmo quando é atingida pelo sofrimento e pela velhice". Es­te dom, acrescenta Jogo Paulo II, "é gratuitamente recebido e deve ser gratuitamente colocado ao serviço dos demais". Em comunhão!

5. A nossa 71.- peregrinação diocesana a Fátima, antecipada pa­ra o 42 domingo da quaresma (lO de Março), a fim de os eleitores po­derem mais facilmente praticar o dever de votar no domingo seguinte, terá o tema sugestivo e interpelativo de que "Deus gosta de falar com os homens", o que faz de muitas maneiras e em todos os tempos pa­ra cada um de nós. Todo o programa da peregrinação, que integra o encerramento do Sínodo diocesano, será oportunamente publicado.

6. Em todos os domingos da quaresma 2002, tenciono celebrar para os cristãos praticantes a Missa na sé, ao fim da tarde. Espe­cialmente para os menos praticantes farei uma reflexão ou "confe­rência quaresmal" em todas as sextas feiras da quaresma, à noite, com temas, indicação do lugar e do horário que foram ou serão da­dos a conhecer pelos meios de comunicação social.

7. Foi tornado público o apuramento final do contributo peni­tencial e da renúncia quaresmal no ano transacto de 2001 na nossa Diocese. As ofertas entregues somaram a quantia de 11.673.733$00, dos quais 50% foram entregues à Cáritas Diocesana "para oportu­nas acções e contribuições na área da toxicodependência".

A mesma percentagem deste ano 2002 será mandada para Timor Leste, com a finalidade de restaurar e manter um hospital/materni­dade. Recomendo aos Sacerdotes que expliquem o sentido penitencial da Quaresma e formulo votos de boa caminhada para a Páscoa.

Leiria, 1 1 de Fevereiro 2002,dia mundial do Doente.

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA, Bispo de Leiria-Fátima

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AUTARCAS DA DIOCESE EM ORAÇÃO

A ideia partiu do Centro Diocesano de Formação e Cultura. O Bispo diocesano, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, deu-lhe voz e lançou o convite: autarcas eleitos em 16 de Dezembro de 2001, vinde rezar por vós mesmos e pelos vossos colegas!

E assim foi. No passado dia 17 de Fevereiro, a catedral de Lei­ria estava praticamente cheia. Presidentes e vereadores das Câ­maras e das Juntas, presidentes e deputados das Assembleias municipais e de freguesia, respeitantes aos órgãos autárquicos com sede na Diocese de Leiria-Fátima. Não estavam todos, mas for­maram uma multidão, com uma única intenção no coração: pedir a Deus e uns ao outros a graça de "saber governar".

Apesar da solenidade do momento e do local, o encontro ga­nhou um ambiente verdadeiramente familiar, onde até os discur­sos tiveram sabor de "abraço", dado pela partilha das ideias e das emoções.

Isabel Damasceno, presidente da Câmara de Leiria, louvou a iniciativa, lembrou a sua condição de católica, que não separa da de autarca. Por isso, tomou as palavras do "compromisso" feito pe­los responsáveis religiosos em Assis, e afirmou estar disposta a fa­zer daquele o seu próprio compromisso, porque a "primeira missão política é a construção da paz".

Também David Catarino, presidente da Associação de Muni­cípios da Alta Estremadura, manifestou o seu contentamento com a iniciativa deste encontro de oração. Até porque, "num mundo ca­da vez mais necessitado de espaços de encontro e de convergência de ideias, de credos e de posições em prol da harmonia dos povos", são estes eventos que tornam real esse diálogo. De facto, não têm razão os que querem separar Igreja e Estado, pois, mesmo sem que as duas instituições se misturem, "as pessoas que as integram têm o dever de cooperar na construção de um mundo mais pacífico, mais justo e mais humano",

Convidado para esta sessão foi também o Governador Civil, Carlos André. Recordando a especialidade dos autarcas locais, "os melhores de todos, porque escolhidos por quem os conhece", afir­mou ser fundamental pedir por eles, para que saibam "dignificar es­se mérito com o sentido da responsabilidade do cargo que exercem,

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AUTARCAS DA DIOCESE EM ORAÇÃO

por mandato daqueles que o elegeram". E Carlos André defendeu, também, que "a Igreja não pode estar à parte da sociedade".

Como exemplo da ligação e da colaboração que deverá existir com o Estado, ofereceu a D. Serafim a "Medalha do Distrito", re­centemente criada, gesto que irá repetir com os bispos das restan­tes dioceses que estão no território distrital.

Na oração propriamente dita, ouviram-se três textos bíbli­cos. No primeiro (Re 3, 5-14), Salomão dirige-se a Deus, pedindo a sabedoria para bem governar o seu povo. Através dela, recebeu o poder, a riqueza e a fama que dele chegou aos nossos dias, como governante humano,justo e bondoso. Depois, uma carta de S. Pau­lo a Timóteo (1 Tm 2, 1-7), aconselhando-o a rezar "pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade". Porque só com o seu serviço correctamente exercido será posslvel a todos levarem uma vida serena e tranquila. No Evangelho (Lc 22, 24-27), Jesus surpreende os seus discípulos a discutir sobre qual deles seria o maior. A resposta do Mestre surpreendeu-os e, com certeza, sur­preende ainda hoje muitos de nós. Uma resposta que é segredo da grandeza humana: o maior é o que serve.

Estava dado o sentido desta oração. Saber governar é saber servir, com sabedoria e humildade. D. Serafim colocou a tónica da sua intervenção neste aspecto e, apesar de ter escrito uma homi­lia, preferiu não a ler, mas entregar uma cópia a cada um, no final da celebração (publicamos a seguir o texto integral). Isto, porque "estava tudo dito nas palavras dos três oradores iniciais",

Em jeito de síntese, lembrou a importãncia da lucidez e do discernimento em quem governa e aconselhou, como pastor, "pau­sas terapêuticas" na actividade autárquica, para que não se esgo­te a capacidade de quem a exerce e para que não se deixe "corromper, embebedar, anestesiar ou intoxicar" pelo poder. Ter­minando, afirmou: "Não é necessário que o autarca seja crente, mas é indispensável que seja coerente com os princípios da Demo­cracia, em Liberdade e na Verdade". Porque "a coerência dá serie­dade e serenidade".

E, no final, havia ainda uma surpresa. Nos claustros da sé es­tava preparado um beberete, para que todos pudessem passar al­guns momentos em convívio. E também esse ponto do programa se cumpriu, sendo visivelmente apreciada por todos esta oportunida-

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AUTARCAS DA DIOCESE EM ORAÇÃO

de de conversar em ambiente descontraído e longe dos ambientes politizados em que, normalmente, se encontram.

Aqui e ali, algumas vozes iam pedindo que se repetisse em anos vindouros a iniciativa. O padre Manuel Armindo Janeiro, di­rector do Centro Diocesano de Formação e Cultura, que organizou este evento, manifestou também a sua alegria pela forma como tu­do tinha corrido, até porque "a resposta numerosa dos autarcas superou as expectativas iniciais".

Tudo somado, foram cerca de 3 horas em oração, convívio e en­contro salutar, numa iniciativa pioneira que, de certo, contribuiu para maior aproximação e enriquecimento de quem nela participou.

Luís Miguel Ferraz - Em "O Mensageiro"

MENSAGEM EPISCOPAL AOS AUTARCAS DA DIOCESE

1. A Igreja sempre rezou pelas autoridades civis. Por exem­plo, no 4.· Domingo do tempo comum, nas quatro ou cinco cente­nas das missas dominicais da nossa Diocese de Leiria-Fátima rezámos "para que os governantes se inspirem nos valores do Evangelho e defendam os direitos dos mais pobres". Queremos que o poder organizado do Estado seja sempre um bom serviço a toda a comunidade. E queremos igualmente que os servidores sintam o acordo e o apoio dos outros cidadãos. Na corresponsabilidade da vida pública.

Sabemos que governar é tarefa exigente e missão difícil, qua­se desgastante. Por isso é que a sabedoria do povo, na sua cami­nhada democrática, l imitou os mandatos e não recusa a alternãncia, que será uma das alternativas.

A filosofia e a história mandam que o Governo não monopo­lizem e que respeite os corpos intermédios, na integralidade sub­sidiária de um todo orgãnico. Também a pedagogia política defende os dirigentes comunitários, com infraestruturas e assessorias, pa­ra que se sintam realizados e bem aceites, pois toda a comunida­de é plural e todo o exagero de estatização é antidemocrático.

É neste sentido de sistema orgânico que a organização demo­crática do Estado compreende constitucionalmente as autarquias

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AUTARCAS DA DIOCESE EM ORAÇÃO

locais dos municípios e freguesias, onde os residentes dessas áreas elegem por sufrágio secreto os seus autarcas. Na nossa Diocese, com cerca de 300 mil habitantes em 80 freguesias que pertencem a 8 concelhos, são cerca de 9 ou 10 centenas de autarcas que for­mam as juntas, as câmaras e as respectivas assembleias. A todos saudamos e felicitamos, com votos de confiança e esperança.

2. Por iniciativa do Centro de Formação e Cultura, pareceu bem que na igreja matriz desta Diocese, que nasceu em 1545, hou­vesse um encontro de refiexão espiritual e oração. É o que está acontecendo. Mesmo para os não crentes e não praticantes, é um sinal de apreço e de cidadania activa. Todos somos solidários, e os cristãos devem praticar mais a corresponsabilidade. Sim, porque o cristão tem condições e obrigação de ser um cidadão mais com­pleto e participativo na sociedade organizada.

É óbvio que não vamos discutir a política ou o programa das autarquias. Nem ousamos burilar o conceito, que pode ser diferen­te para a filosofia e para a economia. Apenas recordamos que no direito administrativo a autarquia é uma entidade ou pessoa co­lectiva de direito público ao serviço do povo, em unidades adminis­trativas mais identificadas e comungantes.

O Estado unitário multiplica-se e corporiza-se em células vi­vas que integram todo o corpo. Quase em jogo de palavras, pode­ríamos dizer que as autarquias locais não são autocracias, e que os autarcas podem e devem ser autarcos, isto é, sóbrios e modera­dos . . . O que importa sublinhar é que o autarca é escolhido pelo po­vo, ao qual promete e se compromete a servir, o melhor que puder, com direitos e deveres recíprocos.

3. Foi notório que nas últimas eleições autárquicas apareces­sem mais candidatos jovens e senhoras. A estrada civilizacional vai mostrando sinais. O facto de termos gente nova e feminina nos órgãos da governação é um óptimo sinal. A seguir!

No itinerário democrático que desejamos fazer e prosseguir, ape­sar das variantes circunstanciais de tempo e lugar, para além dos avisos de perigo, e dos acidentes de percurso, há que buscar colecti­vamente o mais justo, na harmonia e na entreajuda de seres iguais e plurais, com atenção mais cuidada para os casos especiais, e os que têm menos voz. No "progresso" efectivo e afectivo da justiça sociai.

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AUTARCAS DA DIOCESE EM ORAÇÃO

Quem caminha e quem dirige vai encontrando terrenos e tem­pOS diferenciados. Dai o imperativo vital de adaptação e evolução permanentes. Todos o sentem e alguns o dizem, com voz mais au­torizada ou mais alta. Por exemplo o nosso Presidente da Repúbli­ca (num diário de 2 .2.2002) fala com coragem de "reforma autárquica", salientando que "é importante revigorar as assem­bleias municipais ou de freguesia, nomeadamente para a grande área do sistema educativo".

4. No ãmbito da nossa Diocese, para além das associações e federações dos municípios, há que aplaudir e incentivar todas as iniciativas de interesse comum, para o desenvolvimento in­tegral e colectivo. Desde as escolas até às colectividades recrea­tivas . . .

Perante o fenómeno d a litoralização e das acessibilidades, o grande espaço onde se situa a nossa Diocese de Leiria-Fátima (en­tre a Estremadura e as Beiras) desenha-se melhor a identidade, cresce a unidade e, apesar de agressões e contratempos, pode fru­tificar a colaboração. Juntos ao altar, aqui estamos a firmar espi­ritualmente o nosso compromisso.

Oxalá este primeiro encontro dos Autarcas na cidade do Lis seja um sinal e um desafio em ordem ao futuro. Sem ocaso. Preci­samos de bons autarcas, que mereçam ser estimados, sem endeu­samentos, e se sintam felizes e reconhecidos na comunidade.

Na nossa Diocese o relacionamento da Igreja com as Autori­dades tem sido leal e cordial. A Igreja, na sua missão específica, tem necessidade de espaços e meios para o culto e a cultura, para a acção social e para a comunicação. Em espírito da complemen­tar subsidariedade e sem concorrências ou atropelos, as autarquias não se alheiam nem se divorciam. É nesta visão de conjunto que a Diocese, mediante as paróquias, os movimentos e os secretaria­dos, com múltiplas actividades e valências, quer dar e receber um contributo salutar e solidário, para o bem integral da Sociedade.

5. Não é fácil o exercício do poder político, qualquer que seja a linha ou a linhagem do tecido nacional, desde o Terreiro do Pa­ço até à Junta da Freguesia rural. No caso das autarquias locais e mais presentes, as "aparências" não se disfarçam e as "provas de fogo" encontram menos resistências. Por isso, o Autarca precisa

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AUTARCAS DA DIOCESE EM ORAÇÃO

de estar e aparecer na comunidade que serve, com todos os valo­res fundamentais da cidadania e da vizinhança.

Neste contexto de uma carta ou mensagem pastoral, podería­mos insistir que as duas coordenadas indispensáveis para um bom autarca são a sensibilidade e a claridade. Quer dizer que no com­bóio de muitas virtudes, puxado pela locomotiva do humanismo, seguem na carruagem da frente os mandamentos da clareza e da solidariedade, que vai deitando no fogão ou no contentor os ressai­bos ou resquícios de orgulho ou arrogãncia, assim como se vai pu­rificando das toxinas da hipocrisia e da corrupção. Neste caso, o an tibiótico é a verdade.

Todo o autarca deverá apostar na sinceridade. Aí o segredo do êxito no cargo, e da compreensão dos concidadãos. O autarca, sem se esquecer de si mesmo e da sua família, "consagra-se" aos outros, com liberdade e generosidade. Assim deve prosseguir, no dinamis­mo interactivo, que vai eliminando lacunas e corrigindo erros, sem jogar nos equilibrismos farisaicos e nos tolerantismos sem valores.

6. Poderíamos desenvolver esta ideia dos poderes e das fra­quezas do poder. É que o poder está em relação, e o relacionamen­to às vezes gera atritos, que incomodam e corroem.

Mais vale prevenir, que remediar. Para que nenhum autarca adoeça no seu poder ou tropece no seu exercício, convirá ter pre­sente a seguinte observação psico-sociológica: o poder é traiçoeiro e pode corromper, embebedar, anestesiar ou intoxicar.

Efectivamente, acontece ou pode acontecer que a prática de mandar ceda às subtis tentações da corrupção, da embriaguez ou da intoxicação. Por isso, peço licença para recomendar, como pas­tor, que o autarca se defenda, faça pausas terapêuticas, não se di­vorcie da família e do grupo de amigos.

Não é necessário que o autarca seja crente, mas é indispensá­vel que seja coerente com os princípios da Democracia, em Liber­dade e na Verdade. A coerência dá seriedade e serenidade. Na consciência de cada um, e no bem de todos. Amen.

Leiria, 17 de Fevereiro 2002

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo da Diocese de Leiria-Fátima

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71.ª PEREGRINAÇÃO DIOCESANA A FÁTIMA

E ENCERRAMENTO DO IV SÍNODO DIOCESANO

Sob o tema geral "Deus fala-te: põe-te a caminho", retoman­do o mote que dera início ao IV Sínodo diocesano, 7 anos antes, exactamente no dia da peregrinação anual a Fátima, em 2 de Abril de 1995, realizou-se no dia 10 de Março a 71." peregrinação, oca­sião que foi escolhida para o seu encerramento. Tal como naquela altura se lançava a Diocese para a reflexão, para a procura de ca­minhos de renovação, quis-se agora fazer a todos o apelo a uma ac­ção comprometida e confiante, na concretização desses mesmos caminhos.

Milhares de peregrinos a pé que, ao nascer da manhã, come­çaram a surgir, dos vários pontos cardeais. Acompanhando, e fa­zendo sua a via sacra de Cristo, convergiram para o Santuário, onde, unidos no amor, iriam celebrar a fé.

D. Serafim, também ele peregrino a pé desde Leiria, acolheu a todos e, com todos, saudou Nossa Senhora. Depois, presidiu à ce­lebração eucarística, o momento central de toda esta jornada, uma celebração especialmente cuidada e preparada, onde a participa­ção da assembleia foi exemplar.

Para reforçar a temática proposta, vários foram os momen­tos enriquecidos com gestos, palavras e símbolos usados.

Por exemplo, os sete círios, os cântaros de água e o painel on­de se escreveu "Eu Quero", que serviram para tornar mais visível o louvor a Deus e o pedido de perdão pelas "luzes e sombras" do per­curso sinodal.

Mas o momento de maior simbolismo foi, já no final da cele­bração, quando 12 pescadores surgiram das coluna tas e lançaram as redes em frente ao altar. Foi lida a cena do Evangelho em que Jesus insiste com Pedro: "faz-te ao largo!", terminando com a acla­mação da assembleia:

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71.' PEREGRINAÇÃO DIOCESANA A FÃTIMA

Depois, o Bispo apresentou a todos os diocesanos o Livro do IV Sinodo, onde estão publicados, entre outros documentos da ca­minhada, as orientações sinodais, com o título "Pela fé, unidos no amor, testemunhamos a esperança".

Significando destinatários diversos, entregou pessoalmente o livro a uma criança, a um adolescente, a uma família, ao padre mais novo e ao secretário do Conselho Presbiteral, a uma religio­sa, a um religioso, a um idoso e a um representante dos Movi­mentos.

Finalmente, D. Serafim colocou um exemplar do livro aos pés da imagem de Nossa Senhora e fez a consagração da diocese à Pa­droeira, deixando também nas suas mãos o fruto e o futuro deste trabalho, com a promessa colectiva do empenhamento na vivência da fé e do amor a Deus e aos irmãos.

Após a celebração e o habitual almoço volante nos parques adjacentes ao recinto, realizou-se, no anfiteatro do Centro Paulo VI, o concerto de mensagem que marcou o encerramento festivo do Sínodo.

O grupo musical Golgotha apresentou um trabalho multimé­dia, juntando a música, a imagem e textos do Livro do Sinodo, pa­ra lembrar o percurso sinodal e as principais conclusões dele dimanadas. As mais de 2000 pessoas presentes puderam, assim, participar no espirito do Sínodo, fazendo do espectáculo uma ver­dadeira festa.

No final, o Bispo diocesano voltou a referir a importância de cada um para que os frutos do Sinodo se tornem cada vez mais vi­síveis. "Não fecho o Sínodo, deixo-o aberto", frisou o prelado, de­pois de agradecer a todos os que contribuíram para a caminhada dos últimos 7 anos, nomeadamente os membros da Comissão Cen­trai do Sínodo e de outras comissões especializadas.

Todos de pé, foi para Deus o último louvor, com uma ora­ção de agradecimento "pelo dom da peregrinação". A festa ter­minou com todos a cantar, a plenos pulmões, a música que os Golgotha escolheram para mote desta grande festa "faz-te ao largo".

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CARTA PASTORAL DE PROMULGAÇÃO

DO IV SÍNODO 1. Em todos os estudos de Eclesiologia continua a ser docu­

mento fundamental e principal a constituição dogmática do Con­cílio Ecuménico Vaticano II "Lumen Gentium", de 2 1 .xl. 1964, sobre a Igreja hoje e sempre.

A Igreja particular, ou Diocese, é uma "porção" da Igreja Universal, com a mesma missão. Cada Bispo diocesano, integra­do no Colégio Episcopal, "é o principio e o fundamento da unida­de" (LG 23).

Na "solicitude por todas as Igrejas", o Bispo diocesano dará prioridade ao Povo que lhe foi confiado, assistido pelos presbíteros, diáconos e outros ministros ou assessores.

O sínodo diocesano (c. 460) é também um órgão jurídico-pas­toraI, um auxiliar extraordinário do Bispo, que subscreverá e man­dará publicar as consequentes conclusões e declarações sinodais.

2. A nossa Diocese de Leiria-Fátima entrou em sínodo efec­tivo, como se relata na Introdução ao documento final, em 2 de Abril de 1995, após dois anos de preparação doutrinal e logística.

Foi um percurso longo e rico. A significativa consulta aos Dio­cesanos, o profícuo trabalho de grupos, das diversas Comissões e da Assembleia Sinodal são sinais inolvidáveis e ainda frutifican­teso Este nosso quarto Sínodo, bem diferente dos anteriores, pro­duziu comunicados e mensagens, deu conteúdos e motivos para quatro Exortações apostólicas, e, mantendo o espírito e a força da sinodalidade, encerra os seus trabalhos no Santuário de Fátima, pedindo à Senhora e Padroeira que abençoe as conclusões e pro­postas sinodais.

Por este acto celebrativo e conclusivo, o Bispo, nos termos do C. 468, declara finalizadas as funções e estruturas do Sínodo Dio­cesano de 1995-2002, agradecendo a quantos deram o seu contri­buto, nomeadamente às Comissões e à Assembleia Sinodal, e reza para que os seus frutos cresçam, nesta Igreja una, santa e católi­ca, para bem de toda a Humanidade.

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CARTA PASTORAL DE PROMULGAÇÃO DO IV SÍNODO

3. A Diocese de Leiria, criada em 1545, extinta em 1882 e res­taurada em 1918, designada de Leiria-Fátima desde 1984, está empenhada em que o espírito cristão e sinodal

impregne as pessoas (cerca de 300.000) e as instituições des­te Povo de Deus, na vida dos homens.

Muitas proposições fluíram já do Sínodo, como o Centro de Formação e Cultura ou a Comissão Justiça e Paz, e outras, como a renovação dos secretariados e as unidades pastorais, hão-de re­forçar-se e reestruturar-se num plano comum de Pastoral, na mis­são una da Igreja, centrada nas grandes áreas da evangelização, da celebração da fé e da caridade.

O dinamismo do Evangelho há-de fomentar toda a vida cris­tã e fermentar toda a vida humana. A Pessoa e a Mensagem de Cristo estarão na nossa vida, que se transforma, mas não acaba.

Esperamos que o sangue novo circule com abundância e vigor nos ministros ordenados e nas pessoas de todas as idades, assim como nos serviços mais orgânicos, como sejam os secretariados da catequese e da juventude, no relacionamento ecuménico e inter­-religioso, nos institutos e grupos de consagrados, nas organiza­ções de espiritualidade e apostolado, nas famílias e em todo o Povo que caminha com o Salvador Jesus Cristo.

Queremos fazer mais fraternidade e celebrar a vida, com ale­gria e esperança. Queremos abrir-nos ao Espírito e viver desde já na Casa do Pai. Com palavras do Papa na Carta Apostólica "À en­trada do Novo Milénio", termino esta breve e singela nota pasto­rai de encerramento do nosso Sínodo: "Sigamos em frente, com esperança. Diante de nós abre-se um vasto oceano. O Filho de Deus, que encarnou há 2.000 anos por amor do homem, continua a agir; importa que tenhamos um coração grande para nos tor­narmos seus instrumentos. Cristo convida-nos, uma vez mais, a pormo-nos a caminho . . . em nome do Pai. do Filho e do Espírito Santo". Amen.

Leiria, 10 de Março de 2002

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo de Leiria-Fátima

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VIDA ECLESIAL PADRES JUBILÁRIOS EM 2002

Durante o corrente ano de 2002 - 20 de Julho -, fazem 50 anos de sacerdócio, os seguintes padres da nossa Diocese:

P. Dr. António Pereira Perdigão P. Benevenuto Vieira de Oliveira Dias P. Dr. Joaquim Rodrigues Ventura P. Manuel Ferreira

BÊNÇÃO DA IGREJA DA CARREIRA

Centenas de pessoas marcaram presença na igreja de Carrei­ra, paróquia do Souto da Carpalhosa, no passado dia 20 de Janei­ro, para assistirem ao acto de sagração do referido espaço de culto.

A primeira pedra da igreja de Carreira foi benzida a 21 de Outubro de 1979, pelo então Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, D. Alberto Cosme do Amaral.

A cerimónia do passado dia 20 foi presidida pelo actual Bis­po da Diocese de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, tendo também a presença de vários padres da Diocese, in­cluindo o pároco do Souto da Carpalhosa, Francisco Pereira. O pa­dre João Vieira Trindade marcou presença nesta cerimónia tendo em conta a sua actividade naquela comunidade. Era ele o Capelão da antiga capela quando o projecto da construção da actual igreja começou. Os padres Abel Santos e Cristiano Saraiva anteriores párocos, também marcaram presença neste acto solene assim co­mo o anterior vigário paroquial, padre Orlandino Bom. Também esteve presente o padre Manuel Pedro, actual vigário paroquial.

As obras da igreja terminaram recentemente com a pintura interior e exterior do referido edifício de culto assim como a pavi­mentação do recinto anexo.

Na sua alocução D. Serafim Ferreira e Silva lembrou a todos aqueles que assistiram ao acto da bênção da referida igreja, que no "topo da igreja está uma cruz com um Cristo de braços abertos para nos acolher quando entramos. Ao fundo está uma cruz ape­nas porque devemos levar esse Cristo connosco quando saímos".

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VIDA ECLESIAL

P. MANUEL LEAL CURADO

Faleceu no dia 8 de Janeiro o Rev.do Pe. Manuel Leal Curado. Nascido a 9 de Fevereiro de 1910, no Pedrógão, freguesia de

Coimbrão, o P. Curado entrou para o Seminãrio de Leiria em Ou­tubro de 1922 e terminou o curso 10 anos depois, em Junho de 1932.

Em Outubro desse ano iniciou a sua acção sacerdotal como Pãroco de Monte Real. Em Agosto de 1944, foi nomeado Pãroco de S. Simão de Litém. De 1952 a 1966 foi-lhe dada a paroquialidade de Amor. Em 19 de Janeiro de 1966 e até Outubro de 1983 esteve como Pãroco no Arrabal. Após 51 anos de acção como pãroco foi vi­ver para Fãtima, em residência particular. Ultimamente, estava acolhido na Casa Diocesana do Clero. O Senhor Bispo D. Serafim presidiu às exéquias acompanhado por cerca de 40 sacerdotes. Es­tã sepultado no cemitério da sua freguesia natal.

L" CONGRESSO DOS CURSILHOS DE CRISTANDADE

O Movimento dos Cursilhos de Cristandade realizou o seu 10 Congresso Nacional, em Fátima, nos dias 25, 26 e 27 de Janeiro, reunindo cerca de 1. 700 congressistas de todas as dioceses com o tema: "Cursilhos de Cristandade - Um Movimento para o Sécu­lo XXI.

Teve como principal objectivo repensar este importante mo­vimento católico de primeiro anúncio de Fé, face às novas exi­gências que a cultura e a sociedade moderna colocam à Igreja. Iniciou-se com uma sessão solene presidida por D. Maurílio Gou­veia, arcebispo de Évora, no auditório Paulo VI e terminou com uma Celebração Eucarística no recinto do Santuãrio, presidida pelo cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, onde parti­ciparam mais de 25.000 elementos do Movimento dos Cursilhos de Cristandade.

Redescobrir a importância do Pré-Cursilho e do Cursilho co­mo lugar de encontro e vivência do fundamental cristão; disponi­bilizar meios para que os cursilhistas, através dos grupos e Ultreias, se reunam em atitude de conversâo progressiva, compar­tilhando e fortalecendo as suas vidas; fomentar, incentivar e revi-

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VIDA ECLESIAL

talizar os grupos de vida e os núcleos ambientais, como lugares imprescindíveis para a concretização da essência e da finalidade do Movimento; dar prioridade à Doutrina Social da Igreja, concre­tamente ao estudo do pensamento eclesial sobre a família, a esco­la, a saúde, a comunicação social e a cultura, foram algumas das linhas de acção propostas aos congressistas.

LEIRIA PEREGRINOU PELA PAZ

Centenas de pessoas, atendendo ao apelo do Sr. Bispo D. Se­rafim, concentraram-se na igreja catedral, em Leiria, no passado dia 23 de Janeiro, para uma peregrinação de oração pela paz até ao santuário da Senhora da Encarnação, segundo "o espírito de Assis" e em união com o Santo Padre João Paulo II.

Presidiu o Bispo Diocesano, ladeado pelo Vigário Geral (Dr. Jorge Guarda) e pelo pároco da Sé (P. Joaquim de Almeida Bap­tista). Junto do altar um grupo de alunos do Colégio de Nossa Se­nhora de Fátima, de Leiria, apresentou uma encenação contra a violência, o terrorismo, a fome, a guerra e outros males que afli­gem a humanidade e impedem a paz.

O cortejo iniciou-se, pouco depois das 21 horas, indo à frente a bandeira da paz, ladeada por outras bandeiras das vigararias da Diocese e outros símbolos. A multidão seguia em silêncio.

No trajecto fizeram-se quatro pausas para reflexão e oração, com a leitura de textos adequados: junto da igreja do Espírito San­to; no largo de S. Agostinho; no largo ao fundo da escadaria do san­tuário da Padroeira da Cidade e no largo por detrás do mesmo santuário. O grupo coral da Sé, com o auxílio dum carro de som, ajudava os peregrinos a entoarem cãnticos de paz e amor.

Uma vez dentro do santuário, que ficou literalmente cheio, com toda a gente de pé por se terem retirado os bancos, fizeram­-se duas leituras bíblicas e ouviu-se uma reflexão do Sr. Bispo. Tudo terminou depois da recitação do Credo, do Pai Nosso e a bên­ção final do prelado.

Calma e serenamente, a multidão dispersou, escadaria abai­XO, trocando naturalmente, a meia voz, agradáveis impressões des­ta jornada de peregrinação e de oração pela paz no mundo.

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VIDA ECLESIAL

FORMAÇÃO PERMANENTE DO CLERO DIOCESANO

Decorreram nos períodos de 28 de Janeiro a 1 de Fevereiro, em Fátima, e de 4 a 8 de Fevereiro, em Viseu, os cursos de Forma­ção Permanente para o clero diocesano.

O tema escolhido foi Fé, Moral e Vida, orientado pelo brilhan­te Prof. Doutor José Román Flecha, da Universidade Pontifícia de Salamanca - Espanha.

Durante estes dias de formação, a quase totalidade dos padres da diocese, com a presença do Bispo, puderam actualizar e apro­fundar os seus conhecimentos de Teologia Moral, e ainda reflectir sobre as principais questões éticas que se levantam ao Homem, ho­je. Desde os problemas relacionados com a bioética (Aborto, Euta­násia, Clonagem . . . ) às questões sociais, políticas e económicas e as questões ecológicas.

Além da componente de Formação, a mais presente aliás, não deixou de ser relevante que os padres tivessem a oportunidade de ao longo destes dias celebrar a Fé na Eucaristia, sempre presidida pe­lo Sr. D. Serafim, e na oração da Liturgia das Horas em que sempre se teve o cuidado de rezar por toda a Igreja Diocesana e particular­mente pelas vocações sacerdotais, religiosas e missionárias.

A apreciação final quer para com o orientador, quer para com os conteúdos, foi extremamente positiva. Estão mais enriqueci­dos estes padres. Está mais enriquecido o Presbitério diocesano. Esperamos que surja mais enriquecido o Povo de Deus, que pode­rá contar com estes pastores para os ajudar no crescimento e no amadurecimento da sua fé, respondendo às suas questões mais prementes, mormente no âmbito moral.

DIA DO CONSAGRADO

Celebrou-se, no passado dia 2 de Fevereiro, no Santuário de Fátima, o Dia do Consagrado, comemoraçâo que coincide com a Festa da Apresentação do Senhor.

Antes da Eucaristia, a assembleia litúrgica reuniu-se, pelas lOh40, na Capelinha das Aparições, segundo a primeira forma do ri tual desta festa, para aí se proceder à bênção das velas, para de­pois partir em procissão para a Basílica. Foi, junto à imagem de

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Nossa Senhora de Fátima, que 5 irmãs de 4 congregações religio­sas, receberam das mãos do bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, uma vela comemorativa das suas bodas de ouro ou de prata de consagração religiosa.

Mais de 1.500 pessoas, entre as quais algumas centenas de re­ligiosos e religiosas, pertencentes a Congregações, Institutos e Or­dens residentes na Cova da Iria, participaram na concelebração eucarística que se seguiu, na Basílica.

D. Serafun, na homilia, exortou todos os consagrados a serem fiéis à sua vocação, a não desanimarem e a terem coragem de continuar a dar testemunho do Senhor, através da radicalidade da sua vida.

No momento do ofertório, mais de trinta religiosos e religiosas, segurando os livros com as constituições das suas Congregações, Ins­titutos e Ordens, simbolizaram a oferta das suas vidas ao Senhor.

JORNADAS SOBRE "O SEGREDO DE FÁTIMA"

Nos dias 23-24 de Fevereiro, realizaram-se na Aula Magna do Seminário Diocesano, as Jornadas da Escola Teológica sobre o Segredo de Fátima. Nesta iniciativa participaram cerca de 240 pessoas, de toda a Diocese.

Nela se procurou abordar, de diversas perspectivas, o significa­do do Segredo de Fátima para os nossos dias. Uma das primeiras e mais profundas convicções ali reafirmadas é que o diálogo entre Deus e o homem acontece habitualmente na vida do crente e da Igreja.

Acontecimentos marcantes, como o fenómeno de Fátima, de ca­rácter extraordinário, não acrescentando nada à revelação bíblica, dirigem-se a um determinado contexto histórico e falam-nos de Deus, Senhor da História, que, com os homens "no exercício dramá­tico e fecundo da sua liberdade", dirige os destinos da humanidade.

No final deste dia e meio de trabalhos, damos graças a Deus pela sua solicitude amorosa a favor da humanidade que nos con­vida a viver com mais ousadia o presente e nos abre ao futuro com mais confiança, certos que ele é em Deus e nele, todos "somos par­te activa e responsável".

P. Armindo Janeiro

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VIDA ECLESIAL

CENTRO DE APOIO AO ENSINO SUPERIOR (CAES)

o CAES é um espaço, de inspiração cristã, aberto a todos os estudantes do Ensino Superior, Universitário e Particular e Coo­perativo de Leiria.

Assume, como principal tarefa, acompanhar os jovens estudan­tes, dando-lhes o apoio possível, sobretudo ao nível da formação in­tegral da sua personalidade: incentivando para projectos por centros de interesse, que podem ser da iniciativa e responsabilidade do CAES ou propostos pelos estudantes e outros; promovendo valores e atitudes de inspiração humana e cristã, através do debate sobre as questões que vão passando pelo meio académico e do compromis­so com as grandes e pequenas causas da vida. O CAES procura ofe­recer um espaço onde possa haver convívio, estudo e reflexão; onde se dê o apoio logístico possível às mais diversas iniciativas de estu­dantes; onde seja possível um acolhimento e atendimento persona­lizados. Tem a sua sede na Rua de João da Nova, 2-2400-164 Leiria.

A pronúncia das iniciais (C.A.E.S.) faz-nos lembrar um qual­quer porto donde se parte e aonde se chega. Este imaginário tem ins­pirado, e queremos que continue a inspirar, todos os nossos projectos.

O GAFE: Grupo de Aprofundamento da Fé

Uma das propostas que o CAES quer fazer aos estudantes do en­sino superior de Leiria é o GAFE: Grupo de Aprofundamento da Fé.

É um espaço onde se procura ir ao encontro das dúvidas de fé, tentando uma clarificação, a fim de enfrentarmos as hesitações de cada dia com uma outra atitude, a de quem está informado e sabe um pouco mais além da cultura geral.

Serve como preparação para o Crisma ... de todos aqueles que, pelas mais variadas razões, chegaram a adultos sem ter dado es­se passo na sua caminhada de fé!

O GASEL: Grupo de Acção Social das Escolas de Leiria

Outra proposta é o GASEL: Grupo de Acção Social das Esco­las de Leiria.

Teve início durante o ano lectivo de 1998, oferecendo a possi­bilidade de trabalho, em regime de voluntariado, em instituições

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VIDA ECLESIAL

de apoio a crianças e adolescentes carenciados, no Centro de Aco­lhimento de Leiria (CAL) e em lares de idosos.

Neste momento estão estudantes envolvidos a servir refeições aos utentes do CAL, a dar explicações a estudantes carenciados no Lar de Santa Isabel, em Leiria, e a dar apoio a um lar de idosos.

Mas . . . precisamos ainda de explicadores: Francês, História, Geografia; Físico-Química, Inglês, Ciências da Natureza, Biolo­gia, Matemática e Português.

A ideia é que cada "explicador", conforme a sua disponibilida­de, se encontre uma vez por semana, durante mais ou menos uma hora, com um "explicando" e o acompanhe na resolução das suas dificuldades bem como o motive a ambicionar por ser, um dia, es­tudante do ensino superior.

É preciso preencher um certo espaço para a solidariedade que ainda vamos encontrando em nós!

Pe. Abílio Lisboa

RECOLECÇÕES PARA O CLERO EM 2002

2 de Janeiro - P. Nélson José Nunes Araújo 4 de Fevereiro - P. César Cuomo

4 de Março - P. Dr. Abílio Pina Ribeiro, CMF 8 de Abril - P. Aníbal Pimentel Castelhano 6 de Maio - Dr. Manuel Luís Marinho Antunes

3 de Junho - D. Manuel da Silva Martins 1 de Julho - P. João Baptista Marques Castelhano

4 de Agosto - P. José Augusto Pereira Rodrigues 2 de Setembro - Missionária Verbum Dei

7 de Outubro - P. Dr. Manuel dos Santos José 4 de Novembro - Dr. Frei Bernardo Gonçalves Domingues 2 de Dezembro - Dr. Frei José Pereira das Neves, OFM

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o DALAI LAMA EM FÁTIMA

o Dalai Lama, Prémio Nobel da Paz e líder do Tibete, no exí­lio, na sequência da sua visita a Portugal, manifestou o desejo de passar por Fátima para um momento de meditação pela paz no mundo. No dia 27 de Novembro encontrou-se com o Senhor Bispo D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva que lhe ofereceu uma meda­lha de prata do Santuário, ao que ele retribuiu com um lenço bran­co, oferta típica do Tibete.

A Nossa Senhora ofereceu uma flor branca, que depôs junto aos pés da imagem da Capelinha das Aparições. A foto que repro­duzimos a seguir recorda o momento em que juntamente com o Se­nhor Bispo se dirigia para a Capelinha.

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CONSELHO PRESBITERAL

DA DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

COMUNICADO

o Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima reuniu­-se no dia 18 de Fevereiro de 2002, no Seminário de Leiria, sob a presidência de D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva.

o Senhor Bispo introduziu os trabalhos com uma referência à Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa sobre o pró­ximo acto eleitoral e informou que já estava constituída a Comis­são Diocesana Justiça e Paz, sugerida pela última reunião da Assembleia Sinodal. Mais informou que está nomeada a Comissão Diocesana das Comunicações Sociais, presidida pelo Padre Rui Acácio Amado Ribeiro, que deverá entrar em funcionamento mui­to brevemente.

No período dedicado a assuntos de antes da ordem do dia deu-se especial relevo à avaliação da Sessão de Formação Per­manente do Clero da Diocese que decorreu em dois turnos no mês de Fevereiro, um em Fátima e outro em Viseu, versando sobre a Teologia Moral Cristã.

Salientou-se que o curso decorreu bem e com o agrado dos participantes, a quase totalidade dos padres diocesanos.

O Senhor Bispo propôs ainda ao Conselho a instituição de uma Assembleia

Diocesana que possa dar continuidade ao espírito sinodal e que manifeste a colegialidade da Igreja Diocesana. Propôs ainda que o seu núcleo central fosse constituído pelos membros do Con­selho Presbiteral e do Conselho Pastoral, porventura enriquecidos com outros elementos representativos dos diferentes órgãos da Diocese.

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CONSELHO PRESBITERAL DA DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

o primeiro assunto agendado a ser tratado foi o Estatuto Económico do Clero. O Conselho foi informado sobre o estado de aplicação do Regulamento de Administração dos Bens da Igreja, em vigor para toda a Diocese e verificou-se que tem havido algu­mas dificuldades no seu cumprimento.

Segundo informação prestada pelo Ecónomo Diocesano, são já 46 as paróquias a funcionar segundo o novo regulamento, fal­tando ainda implementá-lo nas restantes 29.

Os Sacerdotes abrangidos pelo novo Estatuto Económico são já 81, faltando ainda integrar 2 1 neste sistema.

Os membros do Conselho empenharam-se em descobrir as melhores formas de ultrapassar os problemas que estão a retar­dar a aplicação do Regulamento de Administração dos Bens da Igreja e pediram à Comissão encarregada dessa aplicação um re­latório completo que permita estudar os meios para um avanço mais rápido.

O segundo tema agendado a ser tratado foi A Pastoral e a Ce­lebração do Matrimónio, que transitara já da última reunião. Ana­lisaram-se as principais causas que levam os noivos a pedirem a realização do matrimónio católico e verificou-se que algumas sig­nificam um assumir da vida familiar na perspectiva da fé cristã e outras situam-se em âmbitqs bem diferentes.

Concluiu-se que há necessidade de ajudar os pares de noi­vos a fazer um caminho de descoberta de razões válidas para o matrimónio católico e é urgente uma preparação próxima mais cuidada, que não pode ser deixada somente para os Cursos de Preparação para o Matrimónio.

Para que possa continuar o estudo deste tema, o Conselho Presbiteral formou uma comissão que se encarregará da apre­sentação de um documento que deverá ser discutido e aprovado na próxima reunião, marcada para o dia 20 de Maio de 2002.

o Secretariado Permanente

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CONSELHO PONTIFÍCIO DA PASTORAL DA SAÚDE

No passado dia 3 de Janeiro Sua Santidade o Papa João Pau­lo II nomeou membro do Conselho Pontifício da Pastoral da Saú­de, Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Dom Serafim de Sousa Ferreira e Silva.

Reproduzimos abaixo o diploma recebido:

S E C R I! TARIA ST .... TUS

Summus Pontifex

IOANNES PAULUS II

Membris Pontificii Consilii pro Valetudinis Administris ad quinquennium

ascripsit Reverendissimum Dominum

SERAPHINUM DE SOUSA FERREIRA E SILVA

Id in notitiam ip.sius Rever�ndissimi Domini Silva perfertur, ut ea de re

oppor1une certior fiat ad eiusdemque normam se geral.

Ex Aedibus Vaticanis, die III mensis lanuarii anno MMI!.

SecretarillJ StalllS

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Segue-se a carta da nomeação:

PONTlFICIUM C Q N S l l I U M P R O PASTORAl!

VALETU D I N I S CURA

Prot. n. 28.88112002 EcceUenza Reverendíssima,

CiUà dei Vaticano, Gennaio 2002

ho ii piacere di farLe pervenire la Latlera Pontifida coo la quale ii Santo Padre La nomina Membro di questo Pontificio Consiglio.

II nostro Dicastero, awalendosi anche della sua presenza effettiva cne spero sia lung8 e profícua, continuerà a consolidarsi e ad estendera la sua azione nal mondo, nal v8StO, complesso e delicaio campo della Salute e della Sanltá

Spero di polar contare sulla Sua effettiva collaborazione nal saUare deUa Pastorale della Salute; specialmenta nelJ'orientamento pastorale, nell'aiuto splrituale agli operatorl sanitari, nal contatto ccn 91i organismi nazionali ed internazionali delis saluta, e neU'aggiornamanto scientifico e politico nei campi moderni relat!vi ai problemi sulla vita e sulle malattie emergen!; (Cf. Const. Ap. Pasto Bon. 153).

Mi auguro di contare sul Suo efficace aiuto affinché questo nostro Dicastero possa migliorare come uno strumento direUo dei Santo Padre per essere nella Chiesa fondamento di unita e solidità nal campo della pastorale della Salule.

Con I'aspressione di fralemo ossequio nel Signore, anche da parte dei Segretario S.E.R. Mons. José L. Redrado e dei Sottosegretario P. Felice Ruffini, le porgo le piu vive congralulazioni.

S.E.R. Mons. Serafin OE SOUSA FERREIRA E SILVA Vescovo di Leira-Fatima Incaricalo per la Pastorale Sanitaria Rua Joaquim Ribeiro Carvalho 2 2410 LEIRIA Portogallo

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CRISTIANISMO E CULTURA: UM FUTURO (EM) ABERTO

João Duque

o cristianismo tem como um dos elementos identificantes bá­sicos a referência à Incarnação de Deus em Jesus Cristo. Isso sig­nifica, sobretudo, que a relação do ser humano ao seu Deus - a atitude de fé ou atitude religiosa - será vivida sempre na "carne" concreta e finita de cada pessoa humana e de culturas particula­res, porque todas são particulares, isto é, simultaneamente limi­tadas e orientadas para um horizonte universal, que lhes marca a origem e o sentido dessa orientação.

É indiscutível que, ao longo dos últimos vinte séculos, o cris­tianismo esteve sobretudo ligado à Europa - embora não exclusi­vamente. O que significa, ao mesmo tempo, que a Europa esteve estreitamente ligada ao cristianismo - embora também não exclu­sivamente e nem sempre do mesmo modo. Após o trajecto movi­mentado e mesmo atribulado da modernidade, é importante repensar a ligação entre Europa e cristianismo, repensando a iden­tidade mais profunda de ambos.

Mas, porque a concretização cultural não se realiza apenas no ãmbito demasiado vasto de um continente tão diversificado, pensar a relação entre cristianismo e cultura europeia implica, para nós, pensar essa relação no contexto da identidade portuguesa. Por is­so, as reflexões que proponho de seguida iniciar-se--ão pelo horizon­te mais vasto da Europa e concentrar-se-ão no contexto mais particular de Portugal. Porque o horizonte último é, contudo, uni­versal, espera-se que a reflexão sobre estes contextos culturais con­siga um bom equilíbrio na relação entre particular e universal, evitando qualquer tipo de particularismo redutor- o que, aliás, se­ria contrário à própria identidade do cristianismo, como se verá.

I - O futuro da Europa: com ou sem cristianismo?

Fala-se muito da Europa, não apenas devido à introdução progressiva do Euro, mas também devido à complexa conjuntura mundial dos últimos tempos e ao papel que a Europa, enquanto unidade cultural e polltica, pode aí desempenhar. Essa situação

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convida, muito naturalmente, à reflexão sobre a própria Europa, sobre a questão da sua identidade - ou ausência dela - e sobre a questão da forma como essa Europa poderá e deverá articular o seu futuro.

Ora, num tempo em que o ritmo frenético das mudanças e das surpresas aumenta diariamente, não parece possível nem aconse­lhável fazer prognósticos sobre o futuro de seja o que for - muito menos de um continente inteiro e muito menos ainda de um con­tinente tão complexo como o europeu. Mas, por outro lado, se não possuímos nenhuma visão de futuro, comprometeremos esse mes­mo futuro. E sem futuro, estamos arruinados, pois não teremos presente sequer.

Agindo em termos de responsabilidade por aqueles que virão noutras gerações, ou mesmo por aqueles que habitarão a Europa nas próximas décadas, atrevo-me a apresentar alguns elementos soltos de uma reflexão - que teria que ser mais vasta e aprofun­dada - sobre o futuro deste velho continente. Não se trata de um prognóstico adivinho, mas de conjecturas com mais ou menos apoio real. Esse apoio vou buscá-lo à nossa memória histórica, pois ne­nhum presente nem nenhum futuro se constroem sem relação à memória.

Ora, no interior da memória europeia, o papel do cristianismo é indiscutivelmente importante - quer seja avaliado positiva ou negativamente. A minha proposta será, por isso, proposta de re­pensar a relação entre o futuro da Europa e a sua referência ao cris­tianismo, em con tin uidade com toda a sua história mas, possivelmente, abrindo caminhos ainda por percorrer. Ao longo des­te breve trajecto reflexivo, cingir-me-ei aos seguintes passos: em primeiro lugar, tocarei ao de leve na complexa questão da identi­dade cultural da Europa. Depois, serão referidas as principais fa­ses históricas em qUe essa identidade se deflniu internamente, numa Europa a contas consigo mesma. De seguida e por exigência da própria história, será pensada a Europa na sua relação aos ou­tros, numa fase de abertura e confronto com os diferentes. Na mes­ma sequência, será abordada a situação que poderíamos denominar de "fim da Europa", enquanto termo da realidade marcada por es­sas situações anteriores. E, para terminar de forma menos apoca­líptica, será proposta a superação desse fim, por uma espécie de

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recuperação da Europa, simultaneamente igual a si mesma e dife­rente daquilo que tem sido. É nesta fase final que o contributo da identidade cristã poderá ser marcante. Já se verá em que medida a proposta apresentada tem ou não fundamento e viabilidade.

1. O problema da identidade europeia

A questão da identidade europeia é, sem dúvida, complexa e mesmo problemática. Em realidade não se pode falar de uma cla­ra e rígida unidade identitária para a Europa, nem na sua histó­ria nem no seu presente ('). Se é certo que todos os outros continentes são igualmente diversificados, podemos considerar que o europeu constitui um dos mais esfacelados e fragmentados, no que à identidade cultural diz respeito. O continente asiático, por exemplo, não é mais unitário nos seus muitos milhões de habitan­tes. Mas os diversos mundos culturais que o habitam são de tal forma extensos - em território e em número - que constituem, só por si, uma espécie de continentes completos (pensemos nos ca­sos concretos da India e da China, por exemplo). O continente afri­cano, por seu turno, é uma manta de retalhos ainda mais espartilhada que a Europa, mas os pequenos grupos que o consti­tuem pouco se têm relacionado culturalmente entre si, de forma a nem sequer levantarem a questão de uma identidade conjunta. A América é uma questão à parte, pois constitui uma espécie de ex­tensão da Europa, quer do norte quer do sul - desde os descobri­mentos, claro, pois o que lá havia antes é outra história.

A Europa possui a peculiaridade de ser constituída por uma multidão de povos e de identidades culturais que sempre estiveram em relação uns com os outros, quer em conflitqs quer em alianças. Por isso se pode dizer, por um lado, que não possui uma identida­de cultural comum mas, por outro lado, que as suas diversas cul­turas sempre procuraram viver em comUID, o que não deixou de instaurar uma certa identidade.

1. Ver a insistente questão do cardeal Glemp, citada por J. RATZINGER, Eu· ropa, os seus fundamentos Espirituais, ontem, hoje e amanhd. in: "Humanís· tica e Teologia" 22 (2001) 15�175, 159: "Europa - o que é isso, afinal?".

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Eduardo Lourenço fala de uma "sublime não-identidade" da Europa, para referir esse aspecto soberbo de uma identidade que se constrói precisamente enquanto não-identidade, isto é, sem por identidade entendermos um modo uniforme e monolitico de ser. Se a Europa possui uma identidade será, precisamente, a de não ser uniforme mas imensamente diversificada ou plural.

Nessa pluralidade, as marcas são muitas, algumas das quais nem éjá possível identificá-Ias actualmente. Mas há algumas mar­cas que continuam a ser fortes e que, sem dúvida, contribuíram para uma espécie de identidade cultural plurifacetada. Podería­mos condensá-Ias na referência às três cidades-símbolo, que re­presentam três matrizes culturais que percorreram, sempre, as veias dos europeus: Atenas, Jerusalém e Roma.

É sabido que uma das marcas do continente europeu foi o de­senvolvimento do pensamento reflexivo, que deu origem ao pensa­mento crítico e científico e que foi literalmente exportado para o resto do globo. Devemos sobretudo às nossas raízes gregas esse fi­lão de uma identidade que, em importantes momentos da nossa história, contribuiu para o saliente papel que a Europa desempe­nhou na história da Humanidade.

Mas não podemos esquecer a influência das raízes judaicas no velho continente. O pensamento ético, mais tarde plasmado nas diversas declarações dos direitos humanos, que assentam na con­cepção de cada ser humano como pessoa de dignidade inviolável, é uma das marcas dessa influência. A referência ao fundamento transcendente dessa dignidade é, sem dúvida, outro dos elemen­tos que, embora com muitos solavancos e muitas metamorfoses, nunca nos abandonou verdadeiramente.

Mas a Europa viveu, também, da articulação pragmática des­sas duas marcas, sobretudo pelo espírito jurídico e administrativo que, desde longa data, percorre a nossas veias. Seja de tendência mais latina ou mais germãnica, o ordenamento da convivência hu­mana em leis precisas e pormenorizadas manifestam, de algum modo, a herança romana de todo o continente - para além da he­rança linguística que representa o latim e que, sem dúvida, mui­to con tribuiu para modelar a visão do mundo dos europeus.

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Estas raízes plurais (entre outras mais locais e de menos al­cance, com origem sobretudo nos povos "bárbaros" (2)� muitas ve­zes irreconciliáveis entre si, encontram-se todas misturadas na seiva que percorre a identidade cultural da Europa de sempre, também de hoje. Ao falar da identidade europeia é necessário, pois, ter em conta a irredutível pluralidade das suas marcas e, simul­taneamente, a complexa e extraordinária rede de relações entre elas. Pretender reduzir essa rede a uma marca uniforme, para fa­lar de um claro e preciso perfil europeu, seria ceder àquilo que o espírito crítico e atento de Eduardo Lourenço chama "os fantas­mas da sua alucinada identidade" ('). Falar da identidade da Eu­ropa significaria, então e basicamente, saber tirar partido da sua não-identidade contra esses fantasmas artificias de identidade abstracta ou virtual (como poderão ser os fantasmas económicos ou mesmo políticos, que pensam poder ignorar o húmus cultural de qualquer identidade).

Mas a Europa, até por ser o velho continente, conhece uma animada história. E certo que outros continentes são palco de ci­vilizações até mais antigas, em relação às quais a europeia pode ser considerada uma criança. Mas essas são civilizações relativa­mente fixas, sem história propriamente dita, já que são o que são há milhares de anos. A Europa, pelo contrário, possui uma histó­ria tão animada e diversificada, que até introduziu no nosso voca­bulário o próprio conceito de história, enquanto processo temporal do desenrolar da actividade humana, com um princípio e um fim, pelo menos uma finalidade que lhe dá sentido.

Ora a história da Europa é o marco mais importante para pen­sar as formas como ela articulou - ou não - a sua identidade co­mo não-identidade, isto é, como diferença plural identificante.

2. Mesmo que a influência dos diversos povos nórdicos para a configuração das culturas europeias tenha sido de enorme importância. Talvez alguma ver­tente mais "fáustica" da identidade europeia não esteja de todo desligada des­sa influência. Mas o aprofundamento dessa relação implicaria uma reflexão própria, que aqui não pode ser levada a cabo.

3. E. LOURENÇO - A Europa desencantada, Lisboa: Gradiva, 2001, 240.

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2. A Europa em si

1. Talvez o inicio da Europa, como tal, seja a Idade Média. An­tes, existiam impérios fortes, que, como vimos, marcaram a Euro­pa do futuro mas que, enquanto existiam, não abrangiam toda a Europa. Só após a queda do império romano é que ficou aquilo que dele restou, para além daquilo que da Grécia ele nos legou; tam­bém nessa altura se afirmou mais explicitamente a influência dos povos ditos "bárbaros", que haveria de criar a diversidade euro­peia; e também aí se iniciou verdadeiramente a influência do ju­daísmo, resultante da sua diáspora, mas sobretudo veiculada pelo cristianismo. Cristianismo que foi, sem dúvida, o motor da consti­tuição da Europa, enquanto unidade territorial, na relação de ori­gens culturais muito diversas. A Europa cristã terá sido, talvez, a primeira Europa, com uma referência identificante unitária, pre­cisamente o cristianismo ('l.

Claro que essa unidade identificante é, já de si, uma unidade • constituída por uma diversidade imensa de origens dispersas. De facto, o cristianismo, enquanto constelação cultural e social euro­-asiática, unifica em si elementos judaicos, gregos, romanos e "bár­baros", Só assim conseguiu, aliáf?, unificar (5) num continente origens culturais tão distintas. Assim, a Europa cristã da Idade Média, mesmo se politicamente controlada pelo imperador ou pe-

4. Cf.: Ibidem, 233: "Acontece que essa Europa como unidade cultural, se teve no passado uma certa identidade (corno Europa cristã, por exemplo), é, há muito tempo, urna multiplicidade de identidades culturais fones . . . ",

5. Unificação como referência unitária (talvez algo abstracta), já que a diversi­dade das origens culturais dos cristãos se manteve, sobretudo numa Idade Média espartilhada em feudos. Em que medida a crise da divisão provocada pela Reforma protestante não tem a ver com a afirmação explícita dessas di­ferentes origens 'culturais, é algo que deveria ser aprofundado no actual diá­logo ecuménico, para compreender melhor muitos motivos de fundo, mesmo inconscientes, e não reduzir tudo a questões exclusivamente teológicas ou do foro da política eclesiástica.

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lo papa (6), culturalmente constitui-se como unidade conseguida na manutenção da sua pluralidade interna, como efeito de um lento e profundo «trabalho» cultural-religioso do cristianismo (').

2. Ora, essa função unificadora do cristianismo foi herdada, após a secularização empreendida pela modernidade, quer pela ciência quer pelo estado. O modelo científico substituiu a referên­cia a Deus e às suas mediações pela referência à razão humana autónoma e às respectivas mediações, das quais a ciência moder­na constitui, precisamente, a principal manifestação. O ideal do automaton, isto é, de um sistema científico-tecnológico completa­mente auto-suficiente ('), tornou-se o ponto de referência univer­sal para o conjunto diversificado das culturas europeias, dando assim origem a uma espécie de denominador comum a todas elas.

O estado moderno, por seu turno, normalmente ligado à ideia de nação, constitui outra forma de ideal aglutinador das identida­des ('). Afirmando-se como salvaguarda de uma existência e uma convivência racional, baseada nos princípios humanos fundamen­tais da liberdade, igualdade e fraternidade, o estado tornou-se as­sim a figura marcante da identidade do cidadão europeu - o qual, aliás, não se assumia como europeu, mas por referência apenas à respectiva nação, considerada também como espécie de automa­ton, isto é, de realidade auto-suficiente.

Ora, em verdade o ideal do estado moderno - depois trans­formado em estado democrático - foi no fundo apenas mero ideal aglutinador, mas que não conferiu identidade unitária concreta à

6. E todas as tentativas de centralização, como a de Carlos Magno ou a de Gre­gório VIII, mesmo que tenham deixado marcas profundas, nunca elimina­ram por completo essa diversidade.

7. Cf.: G. ALBERIGO, L'Europe et les autres continents, in: AAVv, La nouvelle Europe, Paris: CeIf, 1994, 85-86.

8. Cf.: J. LADRIÉRE, in: Ibidem, 50.

9. Cf.: Ibidem. O estado moderno surge também como espaço de decisão e cons­trução autónomas (sem transcendência de qualquer tipo, nem humana nem divina).

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Europa dos seus povos reais. De facto, quer o ideal tecnológico­-científico, quer o ideal do estado democrático não foram muito mais do que ideais abstractos, na identidade da Europa, não che­gando a criar uma identidade unificada concreta. A esse nível, que é o nível da vivência cultural das pessoas reais, a Europa da mo­dernidade foi uma Europa esfacelada, talvez mais do que nunca. A ligação da identidade cultural à identidade nacional, com a con­sequência extrema dos bem conhecidos nacionalismos é disso um exemplo claro. Aliás, os actuais regionalismos, que chegam a esfa­celar, ou pelo menos a por em causa, as tradicionais identidades nacionais, são disso outro exemplo, ainda mais flagrante. A Euro­pa moderna é uma Europa culturalmente fragmentada, mesmo se idealmente unificada.

Ora, foi esse ideal moderno que, na sequência dos descobri­mentos e da consequente colonização, começou a ser exportado pa­ra outros continentes - que, aliás, começaram a ser outros, a partir do momento em que a Europa os reconheceu como tal. A questão da identidade da Europa deixou de ser um problema in­tra muros, para se tornar numa questão global. Com isso surge a necessidade de afirmar a identidade por distinção em relação aos outros, �os não-europeus.

3. A Europa nos outros

A Europa saiu de si, encontrou-se com outros e, a partir daí, a sua identidade tem a ver, sempre, com a relação a esses outros. Mas, como se viu, a identidade interna não era única e uniforme. Em realidade, o que da Europa foi ao encontro dos não-europeus, foi um conjunto de diferentes identidades, mesmo já na sua ori­gem. Por isso, o encontro com os outros não foi semelhante para portugueses, para espanhóis ou para ingleses. Desse encontro res­surge, assim, reforçada a pluralidade de identidades, no interior da Europa.

Mas, na altura dos primeiros encontros e durante muito tem­po, a Europa possuía ideais identificantes, como se viu, de que se destacaram o científico-tecnológico e o nacional-estatal. Assim, o encontro com os outros foi marcado por esses ideais identificantes.

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Por um lado, em nome do ideal da racionalidade cientifico­-tecnológica, a Europa considerou-se superior a todas as outras ci­vilizações que encontrou. E porque desse ideal resultava uma eficácia própria - precisamente a da tecnologia - a Europa con­seguiu impor, mais ou menos à força, essa sua pretensa superio­ridade cultural. Nasceu o chamado "eurocentrismo", até então desconhecido e apenas relativamente antecipado pelo confronto entre cristianismo e islamismo.

Esse eurocentrismo da racionalidade ocidental - acompa­nhado pelo espírito tecnológico da conquista e do domínio do mun­do - foi colocado ao serviço do outro ideal europeu da época: o do estado nacional. A superioridade do Europeu redundou em favor prático da superioridade da respectiva nação e da respectiva coroa. A colonização, no sentido pejorativo do termo, tem aí as suas raí­zes e constitui a manifestação político-cultural mais explicita do eurocentrismo como acentuação da identidade europeia frente aos outros.

Essa identidade passou, em muitos casos, a ser não apenas definida e afirmada por contraposição aos outros (com a corres­pondente afirmação de superioridade), mas passou a ser vivida mesmo nos outros, pretendendo eliminar a sua alteridade, aquilo em que eram diferentes de nós. Assim, os ideais europeus - alia­dos às formas de vida das diferentes regiões da Eurol]a - passa­ram a ser implantados no seio dos outros. No caso da Asia, o estilo e a antiguidade da cultura não o permitiram facilmente. No caso da África, isso resultou na subalternização dos outros, colocados ao serviço dos europeus auto-denominados superiores. No caso da América, o processo levou à exterminação do outro e à construção de uma segunda ou nova Europa - por sinal, como espelho das di­ferenças culturais que marcavam o interior da primeira e velha Europa.

A inquietude fáustica, a ânsia de conquista e domínio dos ou­tros, a vontade de poder passou a constituir, assim, um elemento praticamente identificante do europeu. Pelo menos, assim passou a ser visto por aqueles que se tornaram vítimas dessa identidade que transparecia de um determinado modo de actuação.

Claro que só alguns europeus é que foram para fora. E talvez tenham sido os que mais correspondiam a essa imagem fáustica.

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Por outro lado, nem todos os europeus emigrados se comportaram, lá fora, do mesmo modo, de tal forma que a imagem transmitida não era unívoca. Mas, de qualquer modo, passou a ser uma espé­cie de imagem de marca da Europa no interior do mundo, agora mais vasto que as suas fronteiras.

Isso levanta, de imediato, a questão: será que essa imagem corresponde à realidade da identidade europeia, tal como no-la manifesta a sua memória? Ou será que, como acontece hoje com frequência, essa imagem exterior apenas manifesta alguns ele­mentos, até talvez falsos, da verdadeira identidade de raiz? É uma questão a explorar mais adiante. Para já, continuemos o percurso histórico, que ainda não chegou ao fim.

4. O fim da Europa

Quem parece ter chegado ao fim é, sem dúvida, o eurocentris­mo como "imagem de marca" da identidade europeia. Fim esse que foi provocado por muitos factores, dos quais destacaria dois: um interno e outro externo.

Internamente, foi a própria Europa que, juntamente com a crise da modernidade a que tinha dado origem, foi colocando em crise os seus ideais unificantes. Assim, deixou de acreditar tão ce­gamente no ideal científico-tecnológico e no ideal do estado mo­derno. Desse desencanto outra coisa não poderia resultar senão a corrosão da convicção de ser superior às outras culturas. Aliás, grande parte dos europeus atravessa mesmo uma forte crise de identidade e de confiança em si próprio, a ponto de, para além de não se considerar superior, já sentir dificuldade em considerar-se alguém.

A isso ajudou o processo político da descolonização, que impli­cou muitas vezes a expulsão não apenas do eurocentrismo, mas li­teralmente dos europeus de todos os territórios em que tinham pretendido afirmar a sua superioridade.

Do ponto de vista externo, o contexto planetário provocou que, nas últimas décadas, a Europa tenha sentido na carne a sua velhi­ce e tenha - com vontade ou sem ela - cedido o lugar de domínio ao filho - ou à filha - que conseguiu ir mais longe: os Estados

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Unidos da América. O novo eurocentrismo não o é da Europa, mas o da nova Europa, que herdou da mãe a vontade fáustica - trata­-se de uma americano-centrismo, como continuação do mesmo com outros meios.

De qualquer modo, não é aqui o local para analisar essa no­va forma de "invasão" dos outros - inclusive da mãe - por parte do "novo" continente - invasão que é problemática, sem dúvida, na sua vertente cultural, mais até do que na vertente militar. O que aqui importa salientar é que isso representa o fim do domínio da Europa real e, simultaneamente, o fim do domínio da "ideia" Europa (10), pelo menos em muitos dos aspectos que essa "ideia" comportava.

É o que se pode constatar, de hájá bastante tempo para cá. Se a "ideia" da Europa significava, simultaneamente, a defesa da uni­versalidade dos valores básicos que estiveram ligados à história deste continente, é claro que " fim dessa ideia significa, precisa­mente, o fim dessa pretensão universal. A cultura contemporânea foi caminhando, cada vez mais, para a afirmação de uma irredu ti­vel pluralidade de visões do mundo e de valores, de tal forma que parece ter-se tornado insustentável a defesa de valores universais.

O universal deu, assim, lugar ao contextuaI. Cada cultura é produtora dos seus valores, os quais são válidos, quando muito, no interior dela mesma. Englobando as culturas todas j á não se afir­mam valores humanos básicos, mas apenas o processo das trocas comerciais e financeiras, que constituem a chamada sociedade de consumo. Assim sendo, o mundo vive na aldeia global do consumo, como se todos fõssemos vizinhos e tivéssemos a mesma cultura, e simultaneamente esfacelado em tribos culturais que se vão aihean­do mutuamente cada vez mais, pois não possuem elementos uni­versais de referência comum.

Assim se pode constatar o resultado sócio-cultural da morte - por envelhecimento - da Europa e da sua matriz cultural hu­manista, de pretensão universal. O que implica, simultaneamen­te, o fim do domínio europeu sobre a economia global - o que já

10. Cf.: G. ALBERIGO, op. cit., 7955.

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há muito é uma realidade - e sobre a política mundial - o que se tornou mais evidente ao longo da guerra fria e, consumadamente, no conflito do Golfo. Aí, como muito bem salienta a análise de Eduardo Lourenço, a Europa desapareceu, enquanto factor deter­minante nas relações internacionais.

O que temos verificado, ultimamente, no conflito entre a Amé­rica e algumas forças do Islamismo, é precisamente a continuação dessa situação, em que a Europa passa a telespectadora, mesmo que assuma aqui e acolá o papel de aliada. Em verdade, nem sen­timos o conflito na carne, nem temos nada a dizer a seu respeito.

Claro que, entretanto, se manifesta claramente o problema do confronto de visões demasiado restritas e particularistas da reali­dade. Dominado o mundo por essas visões, outra coisa não é de pre­ver, senão o conflito entre elas, que poderá vir a agudizar-se progressivamente. Por exemplo a ancestral e complexa relação en­tre o ocidente e o islamismo, que assumiu imensas facetas ao lon­go da história, da qual a mais interessante foi a cultural-espirituaI, parece reduzir-se agora a uma relação económico-militar, que pre­tende ignorar todos os outros elementos, os quais por vezes são mais pesados. Se, na situação que vivemos, a "Europa saiu da his­tória" (11), isso pode não significar grande ganho para a História ­ou então, pode significar mesmo o "fim da história", reduzida aos mecanismos atemporais económicos e militares.

Talvez aí se manifeste, pela negativa, a importância do regres­so da Europa ao palco da História. Claro que terá que ser um re­gresso de uma Europa amadurecida pela sua própria história, para não cometer os erros do passado; mas talvez um regresso essencial, para reintroduzir na História os valores culturais que sempre a ani­maram, dos quais o mais urgente é o da capacidade humana de con­vivência e relação entre as diferenças culturais e pessoais.

Na relação do ocidente com o Islão, por exemplo, esse contri­buto pode ser fulcral - como se vai já manifestando, aqui e acolá, na intervenção de alguns porta-vozes europeus. Em vez de per­manecer mera telespectadora da história, pode tornar-se em me-

11. E. LOURENÇO, A Europa, 84.

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diadora - como irmã mais velha ou mesmo como mãe - de con­flitos que os mais jovens e aguerridos por vezes conduzem a extre­mos mortais.

Se é certo que a actual "Europa desencantada" (") em grande parte foi causadora do seu próprio desencantamento, terá que pen­sar seriamente em novas formas de se "encantar", isto é, de recu· perar o entusiasmo que j á teve. Não por amor de si mesma - o que seria, como muitas vezes foi, um encantamento algo narcisis­ta - mas em prol da Humanidade. Ora, a raiz do novo encanta­mento poderá e deverá ser procurada na sua mais profunda memória, isto é, no cerne da sua identidade, até para evitar alie­nações de toda a ordem. Só assim poderá superar o seu desapare­cimento da história - e, talvez, o desaparecimento da própria história. A importância da Europa, para o futuro da Humanidade, poderá ser pensado em diversas dimensões, sendo em todas elas de salientar a importãncia da matriz identitária cristã.

5. Um futuro para além do fim?

1. Antes de tudo, convém ter noção de que o diagnosticado "fim da história", que foi sem dúvida marcado pelo fim das utopias a que assistiu o séc. XX, implica uma situação de "presente sem fu­turo" ("). Em realidade, a vida dos nossos contemporâneos parece cingir-se, cada vez mais, a resolver com urgência os problemas que constantemente nos avassalam e a viver, na ilusão dessa re­solução, a comodidade de cada momento, sem perspectivas para trás nem para a frente: a cultura contemporânea é, em grande me­dida, uma cultura sem memória e sem esperança, limitada ao áto­mo momentâneo de cada "bit" que a constitui. Os ritmos virtuais dos mass media e da bolsa são os grandes motores do tempo, que em realidade não é experimentado como tempo, pois é reduzido a cada momento isolado.

12. Cf.: E. LOURENÇO, A Europa; J. LADRIÉRE, op. cit., 568.

13. E. LOURENÇO, A Europa, 11.

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Mas podemos - se é que ainda temos força para isso - ques­tionar-nos sobre a dimensão humana de um tempo determinado digitalmente, do qual desaparece toda a utopia, todo o projecto, to­do o encanto de algo a construir, mesmo do futuro a fazer. Se um tempo assim se manifesta cada vez mais desumano, talvez seja im­portante repensar a Europa e a sua capacidade para imaginar fu­turo, para esboçar utopias.

Claro que é preciso ser cuidadoso e ter clara noção do carác­ter utópico de todas as utopias. Caso contrário, poderíamos de no­vo sucumbir à ilusão de encontrar um recanto para a realização, contra a própria história, das utopias imaginadas, sacrificando­-lhes os seres humanos reais. É preciso recuperar a utopia num sentido marcadamente escatológico. Isso significaria, muito clara­mente, recuperar a nossa perspectiva da história - também do seu futuro - no interior da tradição judaico-cristã, como marca identitária da Europa. Para essa tradição, de facto, a história não é algo encerrado no seu eterno presente, nem é meramente utópi­ca. Ver a história em perspectiva escatológica, significa considerá­-la como lugar de acontecimentos únicos e irreversíveis, com um sentido que não lhe vem de si mesmos, mas que lhes é dado do ex­terior (precisamente pelo Senhor da história). Isso significa que não estamos condenados ao nosso eterno presente, mas que cami­nhamos para uma plenitude que nos espera e que, por isso, pode­mos esperar. Mas significa, também, que essa plenitude não é fruto directo e imediato do nosso trabalho, dos nossos projectos, dos nos­sos ideais, das nossas utopias. É uma plenitude sempre surpreen­dente, porque é dom gratuito do Senhor da história.

Sendo assim, o reencantamento da Europa, pela recuperação das utopias em registo escatológico, seria um reencantamento que nos descentraria de nós mesmos e, desse modo, evitaria que, em no­me das mais diversas utopias imanentes transformadas em outras tantas ideologias, voltássemos a pretender dominar os outros, os di­ferentes de nós, sacrificando as pessoas aos ideais. Implicaria, para além disso, um encantamento em atitude de acolhimento de um fu­turo que nos é dado e que, por isso mesmo, nos é dado construir.

2. Se assim é, então a força impulsionadora da Europa será uma força muito específica, que parece contrariar toda a força. Po-

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deríamos denominá-la, paradoxalmente e utilizando uma expres­são inspirada em S. Paulo, a força da "fragilidade europeia" ("). Desaparecendo da história enquanto senhora da mesma, isto é, enquanto autora absoluta do futuro, a Europa recolhe-se para ga­nhar consciência de não ser dona do mundo nem do seu destino. Está, assim, mais em condições - porque mais "pobre de espírito" - de acolher o dom do futuro e do sentido, acolhendo-se a si mes­ma e ao mundo nesse dom. Está mais em condições para construir a sua força a partir desse acolhimento - e não a partir da con­quista do mundo. Está mais em condições, também, para acolher os outros concretos, diferentes de si. E está mais em condições de ela própria se fazer dom aos outros, já que não é dona de si mes­ma, mas existe como doada para se dar. A debilidade que foi pro­gressivamente atingindo a Europa pode ser manifestação da sua força, enquanto força do amor. Pode ser a força da kenose que mar­ca, no seu âmago, a identidade do cristianismo, porque marca no ãmago a revelação de Deus em Jesus Cristo - na cruz, como vitó­ria sobre a morte . . . morrendo pelos outros.

Mas morrendo livremente, não por imposição de um destino, seja ele qual for. É no cerne do cristianismo que a realidade huma­na, concebida como entrega constante de si mesma, é abordada ra­dicalmente em termos de liberdade - por oposição à trágica visão clássica do destino humano. A força da nossa debilidade reside, pre­cisamente, no facto de aceitarmos livremente essa debilidade, sem­pre que a transformamos em doação de nós mesmos pelos outros. Essa radical e inalienável liberdade humana é que constitui, sem dúvida, um dos cernes mais profundos da identidade europeia ("), enquanto identidade cristã.

É nessa mesma perspectiva que pode ser analisado o proces­so, tão marcante para a Europa, do aparecimento da chamada "consciência histórica". Esta significa, basicamente, a consciência dos limites que marcam o ser humano e a sua actuação temporal. Todas as culturas, por mais brilhantes que sejam, estão sujeitas

14. Ibidem, 9.

15. Cf.: E. LOURENÇO, Heterodoxia, Lisboa: Assfrio & Alvim, 1987, 12.

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aos limites do humano, que são os limites da nossa história ou da nossa mortalidade. Todas as verdades, mesmo que resplandecen­tes reflexos da Verdade una e absoluta, são sempre aproximações perspectivistas a essa Verdade absoluta. Tomar consciência disso é caminhar para a aceitação da nossa condição flnita. E assumir­mo-nos como finitos significa abdicar de nos impormos aos outros como senhores deles, das suas culturas e do resto do mundo.

Mas tomar consciência dos limites da nossa história - que são os nossos limites e os das nossas realizações culturais - implica ad­mitir que a história não se esgota no agora dos impérios que preten­demos ter construído. Consciência dos limites históricos abre o espaço para a criação de uma consciência de possibilidade de futuro ("l, por­que todas as realizações históricas e culturais são susceptíveis de ser alargadas, transformadas, melhoradas. O futuro do mundo pode, as­sim, depender da consciência dos limites da nossa história, que se faz conforme vamos caminhando e nunca atinge um ponto de reali­zação acabada e total - em nenhuma cultura particular.

3 . Articulado desta forma o papel da Europa no mundo do fu­turo, poderíamos definir a Europa a partir da ideia central de um universalismo na articulação das diferenças. O universalismo sem diferenças, isto é, a partir de uma ideia totalitária e absoluta, foi sem dúvida muitas vezes a tentação predominante da Europa -ou melhor, de alguns europeus e de alguns grupos de europeus. Mas foi sempre uma tentação idealista, já que na realidade o universa­lismo europeu esteve sempre marcado, na carne e mesmo se dolo­rosamente (assim o demonstram os conflitos), pela diversidade das suas próprias culturas concretas. São vários os analistas a salien­tá-lo, tendo essa realidade sido claramente assumida pela recente Charta Oecumenica para a Europa, elaborada pelas Igrejas cristãs do velho continente: "Nós consideramos como uma riqueza da Eu­ropa a multiplicidade das tradições regionais, nacionais, culturais e religiosas" ("l.

16. Cr.: J. LADRIÉRE, op. cit., 5955.

17. KEK/ CCEE, Charta Oecumenica (22 de Abril 2001), n.' 8.

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Na complexidade da relação entre essa diversidade concreta, ineliminável por qualquer ideia ou conceito total, e uma referên­cia teológica da mesma, com base na concepção cristã de Deus, constituiu-se um potencial de identidade que penso possa ser pro­posto como marca de um futuro possível para a Europa e para a Humanidade. Poderíamos falar, assim, do futuro da "ideia" da Eu­ropa, como ideia "trinitária" ("). Ideia, evidentemente, que não se esgota no facto de ser ideia, mas que fecunda uma acção diversifi­cada, no mesmo sentido.

Assim, a herança da cultura europeia como "cultura de diá­logo" (") exige, não apenas a fidelidade estrita a essa cultura, mas a continuidade da mesma a partir dos seus fundamentos. O diálo­go real que marcou a história da Europa - e note-se que, quando se fala em diálogo, não se pretende que tenha sido ou seja isento de conflitos, e muitos - foi um diálogo, em primeiro lugar, inter­no, no tecido da diversidade cultural que sempre a foi constituin­do. E foi, depois, um diálogo externo, mesmo que este tenha sido muitas vezes atraiçoado. Mas a Europa viveu e vive do diálogo, não por destino ou fado, mas por corresponder desse modo à sua mais profunda identidade espiritual, enquanto identidade cristã.

Desse modo, é possível recuperar a matriz cristã da cultura europeia, como alma que volte a possibilitar o seu encantamento, sem com isso precisar de repetir, nem a cristandade medieval, nem todos os seus substitutos seculares posteriores. Essa matriz arti­cula-se, por seu turno, no elemento central da identidade teológi­ca do cristianismo, tornando secundários outros elementos mais contextuais. Trata-se, precisamente, da profissão de fé no Deus "uni-trino", que distingue o cristianismo de todas as outras reli­giões, quer politeístas, quer monoteístas.

18. Cf.: Cf.: G. ALBERIGO, op. cit., 83s8.

19. 10. Cf.: E. LOURENÇO, A Europa, 10; ID., Heterodoxia, 11: "A realidade cul­tural da Europa tem hoje a complexidade dos múltiplos apelos que a consti­tuem, apelos e contribuições quase inumeráveis. Estar ou poder estar à altura das suas exigências, é ser capaz de compreender e aceitar o tremendo diálo­go que constitui o processo da consciência europeia, desde os tempos jónicos do VI século".

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A concepção de Deus, enquanto fundamento primeiro e últi­ma da realidade, como relação de diferenças que constituem - pre­cisamente enquanto relação e enquanto diferenças - a unidade divina, implica uma concepção do real a partir, também, da rela­ção entre as diferenças. Isso significa, em primeiro lugar, o reco­nhecimento da diferença do diferente e o deixar-se marcar pela alteridade dessa diferença - contra todos os processos de redução dessa diferença à identidade de nós mesmos e das nossas concep­ções do real. Mas significa, simultaneamente, uma relação positi­va das diferenças, para além de tóda a in-diferença pura, que seria outro nome para o monolitismo absoluto. Assim, a concepção tri­nitária de Deus implica uma concepção "trinitária" do real, isto é, implica a concepção positiva do ser do mundo e nosso como ser que assenta na relação de diferenças, sem anulação das mesmas e sem o seu isolamento (20).

Essa matriz essencial da identidade cristã ganhou corpo, sem dúvida, na cultura europeia, ao longo dos vinte séculos que nos precederam. A sua negação ou crise, em muitas fases da história, mais do que anular essa identidade, foram contribuindo para a fa­zer, cada vez mais, vir ao de cima. Talvez a situação contemporâ­nea da Europa e do mundo possa constituir uma conjuntura privilegiada para que brilhe de forma mais clara e eficaz essa iden­tidade de sempre. Frente a manifestações crescentes de fundamen­talismo e de fanatismo - que são o reverso da medalha de que o outro lado é o indiferentismo e o relativismo totais - é cada vez mais importante reafirmar os valores fundamentais da pessoa hu­mana, para o que o contributo do cristianismo será central. No di­zer da referida Charta Oecumenica, "a herança espiritual do cristianismo representa uma força inspiradora que enriquece a Eu­ropa. Com base na nossa fé cristã, empenhamo--nos por uma Eu­ropa humana e social, em que se façam valer os direitos humanos e os valores basilares da paz, da justiça, da liberdade, da tolerân­cia, da participação e da solidariedade. Insistimos no respeito pe­la vida, no valor do matrimónio e da família, na opção preferencial

20. Para maior desenvolvimento, ver: J. DUQUE, A identidade da fé cristã pe­rante o pluralismo religioso, in: "Humanfstica e Teologia" 22 (2001) 189-214.

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pelos pobres, na disponibilidade para o perdão e, em todos os ca­sos, na misericórdia" ("l. O que vem a confumar a lúcida visão de E. Lourenço, quando afirma que "O que se chama fanatismo . . . po­de ter a ver com a religião ou autojustificar-se com a sua defesa. Mais o será se o conteúdo dessa religião for, ele próprio, de natu­reza intolerante, prática obrigatória de exclusão ou até aniquila­mento do adversário dela. Não é certo que alguma "religião" se possa definir assim. Em todo o caso, não é essa a essência do cris­tianismo. Religião, por excelência da não-etnicidade, exclui, por definição, toda a incitação ao fanatismo" ("l.

Nesse caso, julgo não ser pensável nem realizável o futuro da Europa sem cristianismo - ou não será futuro da Europa, nem tal­vez futuro algum. O mesmo se poderia dizer de Portugal, habitado por europeus mas, simultaneamente, segundo uma forma talvez es­pecífica de estes habitarem a Europa. Mas qual será essa forma?

II. PORTUGAL À PROCURA DE IDENTIDADE ...

1. Identidade da cultura portuguesa

1. A problemática da identidade portuguesa é longa e comple­xa. Haveria que recuar às ancestrais marcas pré-romanas, depois à relação com o império e à forma como, sobretudo na Galécia, se viveu a romanização. Mas depois haveria que avaliar também a presença dos árabes e tudo aquilo que deixaram atrás, depois de saírem. De seguida, haveria que pensar a afirmação da nossa iden­tidade, numa relação dupla com Espanha e com a França. E depois, sobretudo, haveria que pensar no momento em que preferimos vol­tar as costas à Europa e entrar pelo mar, que parecia ter sido sem­pre o nosso destino. Partimos para o mar, de costas para a Europa, mas levamos a Europa às costas, e abrimo-la ao resto do mundo. Mundo que a Europa se encarregou de dominar, dominando-nos

21. KEKI CCEE, Charta Oecumenica (22 de Abril 2001), n.' 7.

22. E. LOURENÇO, Portugal como destino [seguido de] Mitologia da saudade, Lisboa: Gradiva, 1999, 29.

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também a nós e tirando-nos aquilo que lhe tínhamos dado. Re­gressámos, então, a casa após uma odisseia rentável para os ou­tros, e dedicámo-nos a remoer a questão da nossa identidade por definir, quer em mera orientação para um passado glorioso ou so­nhado como tal, quer em dissolução utópica num futuro que afinal parece ser cada vez menos nosso, já que é determinado pelos ou­tros, globalmente ("l. Mas talvez a nossa odisseia não tenha sido em vão e talvez nunca dela tenhamos verdadeiramente regressa­do a casa, já que a nossa identidade, muito provavelmente, se jo­ga nela. Mas jogar-se-á de um modo mais profundo do que a simples e crua materialidade das viagens pelo mar. É isso que con­vém explorar, após todas as outras explorações territoriais.

2. Se pretendemos pensar a identidade portuguesa, vemo-nos assim perante a necessidade de mergulhar mais fundo nessa iden­tidade, para descobrir as suas raízes permanentes, independente­mente de realizações mais ou menos conseguidas ou fracassadas na história. E penso poder identificar essas raízes, precisamente, na marca constante de uma determinada orientação para os ou­tros, diferentes de nós.

É, em certa medida, verdade que, como diz E. Lourenço, Por­tugal nunca "teve outro - um realmente outro, com o qual se com­parasse, combatesse e contra o qual se construísse" ("). Mas a ausência desse outro concreto, enquanto outra cultura viva, não significa a ausência da alteridade na cultura portuguesa. Pelo con­trário, implica a condução da experiência do outro para planos mais profundos, quase no sentido de uma "não-identidade" limi­tada e concreta, como a identidade que seria provocada pelo con­fronto com um outro real.

A experiência da alteridade na cultura portuguesa é vivida essencialmente na experiência da saudade, nos diversos sentidos

23. Cf.: E. LOURENÇO, A Europa, 12. "Passamos a vida a comemorar-nos no que já não somos, descobridores de mares, senhores fictícios de oceanos on­de os outros imperam".

24. Ibidem, 73.

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que aí essa alteridade assume: a alteridade do outro diferente, que ao mesmo tempo determina a nossa identidade de origem, deter­minando a nossa consciência saudosa desse mesmo outro (de fac­to, somos o que somos, na saudade, na medida em que sentimos saudade de um outro, diferente de nós e distante de nós, mas que nos é profundamente interior); a alteridade do passado (até ou so­bretudo de um passado imemorial), que marca profundamente to­da a consciência saudosa (vivemos por referência a uma tradição colectiva e a uma história pessoal, que se nos torna presente no sentimento de saudade que dela temos - ainda mais, quando es­se sentimento aponta para a origem imemorial de todo o ser hu­mano, como saudade da nossa própria essência, de uma espécie de "paraíso perdido" ou, pelo menos, procurado); e a alteridade do fu­turo, como esperança messiãnica de uma pátria onde desejamos regressar, mesmo que nunca lá estivéssemos e seja para nós mais desconhecida que conhecida (a "saudade de futuro", enquanto de­sejo daquilo que nos plenifica, constitui uma das mais profundas dimensões da metafísica da saudade) ("). A alteridade própria da saudade constitui, assim, uma manifestação de que a verdadeira identidade se realiza na relação plural do "eu" (individual ou co­lectivo) ã alteridade de vários outros, pessoais, culturais ou mes­mo ontológicos. O "eu" saudoso depende da sua relação ao "outro" da saudade.

Por isso, na sua dimensão mais profunda, a experiência da saudade é a experiência de existir particularmente em referência ao universal. O que implica, mais profundamente ainda, a expe­riência de existir finitamente em relação ao infinito da origem e do fim (saudade do passado e do futuro). Essa dimensão metafísica da saudade é que constitui o núcleo da identidade portuguesa, como uma espécie de "sublime não--identidade", já que é uma identida­de marcada pela constante ruptura da identidade como "mesmida­de", como redução de nós e da realidade a nós mesmos.

Assim sendo, o "núcleo duro" da identidade portuguesa é, pre­cisamente, a construção dessa identidade como acolhimento do ou-

25. Cf.: PINHARANDA GOMES-"Saudade ou do mesmo e do outro", in: ID. IDA· LILA COSTA -Introdução à Saudade, Porto: Lello & Irmão, 1976, 159-215.

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tro - e não propriamente como confronto bélico ou cultural com o outro (o que, aliás, levaria à construção de uma identidade fecha­da, sem futuro). Ora, a afirmação da identidade como acolhimen­to do outro implica uma básica orientação universal dessa identidade. Não que a nossa identidade seja global ou total - o que seria contraditório em si - mas o elemento essencial da nos­sa identidade reside na orientação universal que nos habita. Orien­tação universal essa que é vivida na particularidade daquilo que somos mas que ganha consciência dessa particularidade, não se pretendendo por isso absoluta. Por isso mesmo é que o nosso hori­zonte é a história do mundo, mais do que a da Europa ou até a nos­sa própria, tida apenas como história continental.

Mas trata-se de um horizonte bastante distinto daquele ho­rizonte totalitário que tantas vezes animou outros projectos euro­peus. É certo que, de quando em vez, os ideais totalitários europeus (quer fossem os totalitarismos do conceito racional, como em He­gel, quer os da raça, da nação ou da técnica) também tiveram eco entre nós; mas não é menos certo que esse eco foi minoritário, afec­tando apenas um grupo elitista - que se costuma denominar a "intelectualidade" - da nossa populaçào. Esta, na sua generali­dade, manteve-se fiel à sua "terra", isto é, manteve-se fiel à sua identidade de pertença telúrica particular, na qual vive a abertu­ra universal, acolhendo as particularidades dos outros diferentes. Trata-se, pois, de um universalismo construído a partir da rela­ção das diferenças particulares de cada um (indivíduo ou povo), e não a partir de uma ideia abstracta prévia, que elimine em si mes­ma as particularidades das diferenças reais (").

3. Mas, para viver a universalidade a partir do reconhecimen­to das particularidades - sobretudo e antes de tudo, da particu­laridade própria - implica vivê-la morrendo, isto é, assumindo a

26. Ver, sobre o assunto, a excelente análise de C. H. do CARMO SILVA, A ho­dierna sacralização da cultura e o sentido indómito da experiência espiritual, in: AA VV, O Sagrado e as Culturas, Lisboa: Gulbenkian, 1992, esp. 16388., com referência a L. COIMBRA, Criaccwnismo-síntese filosófica, ln: Obras I, Porto: Le1l0, 1983, 39455.

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finitude e os limites de cada identidade, na constante relação a ou­tras diferentes. É nisso, precisamente, que reside a força da debi­lidade - ao contrário da debilidade da força, que tantas vezes animou as pretensões de muitas culturas europeias e que o séc. XX trouxe claramente à luz do dia, com os diversos totalitarismos.

Ora, a força da debilidade constitui, sem dúvida, uma das marcas mais constantes da identidade portuguesa. Ainda segun­do E. Lourenço, "o sentimento profundo da fragilidade nacional ­e o seu reverso, a ideia de que essa fragilidade é um dom, uma dá­diva da própria Providência, e o reino de Portugal uma espécie de milagre contínuo, expressão da vontade de Deus - é uma cons­tante da mitologia, não só histórico-política, mas também cultu­ral portuguesa" (").

Esta força da debilidade, como se depreende já da afirmação de E. Lourenço, possui duas vertentes distintas, embora unidas. Por um lado e de forma mais histórico-cultural ou mesmo social, implica viver realmente no constante acolhimento dos outros di­ferentes, contrariando assim a tentação da afirmação forte e exclu­sivista de nós mesmos, como verdade absoluta. Mas essa vertente histórico-pragmática possui uma fundamentação mais profunda, que é precisamente o reconhecimento que não somos o que somos por mérito nosso, mas por dom gratuito, isto é, como "milagre" da existência. Isso implica aceitar que a nossa origem está para além de nós e para além de todos os outros - é o "Outro" por excelên­cia, que um povo cristão como o português nunca deixou de nomear como Deus.

Assim, a raiz mais profunda da identidade portuguesa coin­cide com a mais profunda marca da identidade cristã, enquanto identidade de uma experiência de Deus a partir da sua revelação e actuação em Jesus Cristo, como o Deus cuja força se encontra na debilidade, cuja vida está na morte pelos outros, para os acolher em si, sem os anular. É esse o Deus trino e é trinitária a identida­de do cristianismo e , em realidade, também a identidade portu­guesa, pelo menos na sua mais profunda raiz.

27. E. WURENÇO - Portugal como destirw, 12.

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2. Marcas da alteridade

A relação à alteridade dos outros diferentes, sem anular a sua diferença mas deixando-se marcar por ela, não constitui algo me­ramente abstracto ou essencialista da identidade portuguesa, mas uma marca concreta da sua história. Primeiro que tudo, porque se trata de uma história atravessada pela marca plural da própria identidade cristã, a qual assenta, como se viu, no primado da di­ferença.

Mas, para além disso, a nossa movimentada história teve opor­tunidade de relação concreta com outros, no sentido de diferentes mesmo em relação à matriz cristã. Por um lado, houve a relação com o islamismo. Claro que se tratou de uma relação ambivalente, aparentemente quase só conflituosa e vista muitas vezes apenas por esse prisma. Mas, em realidade, a nossa luta com os mouros não impediu que eles nos marcassem profundamente - talvez até mais, por se tratar de uma questão de vida e de morte. E são inú­meros os vestígios - não apenas na língua - da marca cultural is­lâmica, que em realidade nunca nos abandonou mas constitui, em nós mesmos, uma marca de alteridade que determina fortemente a nossa identidade.

Não são de descurar, também, as influências judaicas sobre o nosso imaginário cultural. Para além do inegável facto da sua in­fluência económica e cultural, datada dos tempos em que entre nós viviam judeus em número considerável, continua a pairar em nós a tendência messiânica do nosso imaginário poético, que alguns dos nossos autores consideram herança directa do povo hebreu.

Noutros aspectos, ainda, continua a manifestar-se o fundo algo pagão - que o cristianismo sabiamente soube integrar, sem anular completamente ("') - da cultura portuguesa (sobretudo na sua vertente popular). As referências telúricas e marítimas, a pro­funda simbologia do sentimento e elementos do género, marcam também a forma como se vive o cristianismo culturalmente em Portugal.

28. Mesmo que a relação do cristianismo com o paganismo se mantenha, sempre, dialéctica e até ambivalente.

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A partir de determinada fase da história e tal como se viu mais acima, surgiram as relações com outros continentes, com gen­tes deveras diferentes de nós (até se pôs a questão de serem ou não humanos, como nós!). Essa foi, sem dúvida, uma das marcas da al­teridade dos outros diferentes que mais determinou a nossa iden­tidade cultural. Hoje, estamos em casa um pouco por todo o mundo e, simultaneamente, quase todo o mundo está em nossa casa. Ter­minada a nossa viagem "colonial" - que não significa o fim da sua marca cultural - o processo foi continuado, de forma bastante di­ferente mas com muitos elementos comuns, com a odisseia da emi­gração.

Em todo este caminho pelos mundos das mais diversas cultu­ras, nunca nos limitamos a dar uma volta para regressar a uma ca­sa já previamente identificada. O próprio caminho foi fazendo de nós aquilo que somos, continuando a nossa identidade ainda aber­ta a posteriores viagens. Mas a viagem fundamental é, sem dúvida, aquela de que não temos memória real, porque é aquela que ainda não fizemos mas que sempre aspirámos fazer: a viagem de encon­tro à alteridade primeira, àquele horizonte infinito que nos consti­tui originariamente. A marca da sua alteridade criou na cultura portuguesa a consciência de ela mesma ser um dom de Deus: "O sin­gular no povo português é viver-se enquanto povo como existência miraculosa, objecto de uma particular predilecção divina" (29). O re­conhecimento da gratuidade da nossa existência - que não é atri­bufda a excepcionais poderes da nossa "raça" nem a poderosos mecanismos sócio-económicos especfficos, por exemplo - enquan­to marca identitária, é o que nos constitui no mais fundo da nossa particularidade e o que nos torna universais. Essa é, sem dúvida, a mais funda marca da alteridade que nos identifica.

Por isso mesmo é que, de um modo geral, as influências do iluminismo, primeiro, e mais tarde do marxismo, vindas do centro da Europa, sobre a nossa cultura, provocaram sempre enormes ambiguidades na nossa identidade e nunca chegaram, talvez, a constituir ponto de referência identificante para o povo em geral,

29. Ibidem, 12.

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mas apenas para uma elite intelectual. Não que isso não tenha ti­do importantes efeitos sobre a modernização da sociedade portu­guesa, sobretudo na dimensão política e económica. Mas no que à identidade cultural diz respeito, a idiossincrasia portuguesa difi­cilmente se conseguiu conjugar com as inclinações mais ou menos fáusticas desses movimentos culturais, que estiveram aliados a muitas manifestações de intolerância e inumanidade.

N� contexto concreto da situação mundial do início do tercei­ro milénio, poderia ser interessante pensar numa espécie de "re­cuperação" da relaçâo religiosa e cultural ao Islão, que marcou tantos séculos da nossa história real e que marcou eternamente o nosso património e o nosso imaginário. Isso levaria a explorar as possibilidades de diálogo entre o que resta da cultura "ocidental" e a complexa trama das culturas árabes. Implicaria, por um lado, a acentuação dos elementos de tolerância e universalismo presen­tes no islamismo - e que se manifestaram claramente, aquando da sua presença na península, sobretudo na sua permanência no sul (30). Implicaria, por outro, a acentuação dos mesmos elementos presentes na cultura ocidental, de marca cristã, para além de to­dos os reducionismos fáusticos que a foram deturpando ou ainda actualmente a deturpam. Avivar esta marca da alteridade na nos­sa raiz cultural poderia constituir um importante contributo para a relação entre culturas, num mundo em que parece predominar o conflito entre elas.

3. A vida da utopia

Os analistas mais pessimistas - ou mais realistas e atento . . . - falaram de um final das utopias na Europa ("). Tendo sido um continente animado de forma tão viva por utopias várias, que foram originando outras tantas ideologias, a dialéctica instaurada por es-

30. Seria importante repensar a fonna como extraordinariamente conviveram, sob o "governo" de Córdoba, cristãos, muçulmanos e judeus.

31. Cf.: E. LOURENÇO, A Europa, 12988.

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sas mesmas ideologias conduziu à desconfiança geral em relação a qualquer tipo de utopia. O desencanto da Europa é, sem dúvida, o desencanto de um continente sem ideologias, prolongado num con­tinente sem utopias, o que parece implicar, como inevitável resul­tado, um continente sem cultura viva. Resta, talvez, uma espécie de "vegetar pragmático", na quotidiana ocupação de solução dos urgen­tes problemas económicos, de que se destaca o crescente fenómeno do desemprego; ou então, as populações entregam-se, radiantes, ao fascínio dos mass media (mormente da televisão), de que resulta um estado de anestesia global ou, pelo menos, de vivência epidérmica e consumista da cultura.

Neste contexto algo apocalíptico de uma determinada for­ma de "fim da história" (a história termina, sempre que termi­na todo o movimento temporal provocado pelo dinamismo de uma cultura), a evocação da memória cultural portuguesa pode desempenhar um interessante papel na recuperação de uma de­terminada forma de utopia. Esta tem a ver, sobretudo, com a re­cuperação da possibilidade de futuro, aberta pela capacidade de esperança com que investimos o presente. Ora, investir esse pre­sente de esperança sem nenhuma forma de utopia é praticamen­te impossível.

Mas o imaginário da cultura portuguesa está povoado de referências a este papel da utopia (sendo a mais famosa, sem dúvida, a do "Quinto Império"). De modo próprio, essa marca utópica da nossa cultura raramente resultou em forte constru­ção ideológica, porque sempre soube manter a utopia como me­ro motor da história e não como modelo concreto de realização ideal. A nossa versão da utopia é, assim, uma versão poética, em que o sonho (enquanto tal e sem nunca se tornar realidade) cons­titui aquilo que nos mantém vivos, pois é ele quem abre o espa­ço para a nossa esperança, rasgando assim o caminho do devir histórico. O messianismo de raiz escatológica, mais transcen­dente que imanente, percorre as veias da nossa memória cultu­ral, constituindo o sangue que quiçá ainda actualmente nelas corre. Por isso, a dimensão utópica da cultura portuguesa per­manece - e é importante, para a Europa desencantada, que per­maneça. A nossa utopia supera o realismo de outras utopias ideológicas, pois o seu horizonte é o "oriente", enquanto lugar

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absolutamente outro, sem lugar real na história. O nosso hori­zonte não são os muros eventualmente demasiado estreitos de uma Europa demasiado real, demasiado pragmática e, por isso, demasiado banal.

Quer pelas marcas de alteridade que nos constituem, quer pe­la incidência dessa marca primeira de alteridade que é a referên­cia utópico-escatológica, a cultura portuguesa - sem falsas presunções, mas em humilde atitude de serviço - pode oferecer­-se (dar-se gratuitamente) como hipótese de conferir algum con­teúdo à cultura da Europa desencantada. Esse caminho será o da acentuação da sua mais profunda raiz identitária - que coincide, no fim de contas, com a indelével marca do cristianismo.

(Conferência proferida pelo Dr. João Duque, Professor Uni­versitário em Braga, na abertura do ano lectivo 2001 /2002 da Es­cola de Formação Teológica de Leigos, em Leiria).

RETIROS PARA O CLERO

15-19 de Julho - Dr. António Domingos Pereira

19-23 de Agosto - Dr. Manuel da Rocha Felício

16-20 de Setembro - Dr. Amadeu Pinto, SJ

14-18 de Outubro - Cón. Dr. Carlos Alberto Pessoa Paes

11-15 de Novembro - Cón. Álvaro M. Mancilha Veteriano

18-22 de Novembro - Dr. Jorge Manuel Faria Guarda

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o SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

Orientações Pastorais Na perspectiva da renovação sinodal, e porque a

celebração do sacramento da Confirmação (ou Cris­ma) é um acontecimento marcante na pastoral de con­junto, especialmente para os mais novos e famílias, dado que ocasionalmente surgem dificuldades peque­nas que são colmatadas por condescendências gran­des, nomeadamente no que concerne aos requisitos can6nico-pastorais� pareceu bem que os directores dos secretariados diocesanos da liturgia, da cateque· se e da pastoral juvenil elaborassem um guião geral, que ajude párocos e catequistas nesta nobre e difícil missão da Igreja. Foi o que se tez e agora se publica com anexos complementares.

I O Sacramento da Confirmação

na Iniciação e na Vida Cristã

L "Não se nasce cristão, tornamo-nos cristãos". A frase de Tertulia­no resume bem, aos olhos da fé cristã, a situação do homem. Desde o princípio da sua existência, o homem é já imagem de Deus, porque criado por Ele "à Sua imagem e semelhança". Mas, vivendo num mundo profundamente marcado pelo mal e pela re­cusa de Deus, o homem acaba por ser envolvido nesta realidade. E Deus, de forma gratuita e amorosa, não cessa de o chamar a en­trar na Sua Aliança, a partilhar a Sua vida. O Pai oferece--Se no Filho e pelo Espírito. Àqueles que O recebem dá-lhes o poder de se tornarem Seus filhos (Jo. l,12).

Através dos sacramentos da iniciação cristã (Baptismo, Con­fIrmação e Eucaristia) são lançados os alicerces de toda a vida cris­tã, que não pode compreender-se, senão no contexto da Aliança. A iniciativa é sempre de Deus, que suscita a adesão do homem.

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o SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

Nascido para uma vida nova pelo Baptismo, o cristão é fortaleci­do pelo sacramento da Confirmação e recebe na Eucaristia o Pão que o alimentará na caminhada da vida (cân.1212).

O sacramento da Confirmação é o Dom do Espírito Santo, que confirma no cristão o que nele se iniciou pelo Sacramento do Bap­tismo, a sua filiação divina. Por ele, Deus confirma publicamen­te a Sua escolha, a Sua paternidade. Com efeito, os baptizados «pelo sacramento da Confirmação, são mais perfeitamente vincu­lados à Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo e deste modo ficam mais estritamente obrigados a difundir e a defender a fé por palavras e obras, como verdadeiras testemu­nhas de Cristo» (L.G. 11).

A descida do Espírito Santo sobre Jesus, no momento do Seu baptismo por João, foi sinal de que Ele era o eleito, o enviado do Pai (Jo.3,34). Mas a plenitude do Espírito, que marcou toda a vida do Messias, devia ser comunicada a todo o mundo. Assim, em muitas ocasiões, Jesus prometeu o envio do Espírito e cumpriu a Sua promessa na Páscoa da Ressurreição (Jo.20,22). Cheios do Espírito Santo, os Apóstolos começaram a proclamar "as maravilhas de Deus" (Act.2,1s), e àqueles que acreditassem e se fizessem baptizar, pro­meteu Pedro, por sua vez, o dom do Espírito Santo (Act. 2,38) . . A partir de então, cumprindo o mandato de Cristo, os Apóstolos impunham as mãos aos neófitos, comunicando-lhes o dom do Es­pírito, que completaria a graça do Baptismo (Act.8,15-17).

2_ O sacramento da Confirmação é conferido mediante a lIl1: cão com Q Óleo santo do Crisma na fronte, e a imposição das mãos. Com este gesto da imposição das mãos e a oração que o acompa­nha, o Bispo pede que o Espírito Santo desça com os Seus dons so­bre cada ungido, tornando-o capaz de viver segundo o espírito de Deus. A unção, no crisma, é sinal de consagração; "os ungidos par­ticipam mais na missão de Jesus Cristo e na plenitude do Espíri­to Santo (. .. ), a fim de que toda a sua vida espalhe o bom odor de Cristo" (C.LC. 1294). Assim, o crismado fica marcado com o selo do Espírito Santo, sinal de uma pertença total a Cristo, à Sua pro-

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tecção, e entrega ao Seu serviço (cfr. C.LC. 1296). Por isso o sa­cramento da Confirmação só pode receber-se uma vez.

O ministro ordinário é o Bispo. Ele exprime a unidade da Igre­ja e é garante da continuidade da missão dos Apóstolos, com a qual o confirmado se compromete a anunciar Jesus Cristo e a ser Sua testemunha.

Ao aderir a este Sacramento, O confirmando manifesta a sua adesão pessoal a Deus e aceita ser Sua testemunha no mundo e na Igreja, a que pertence. A sua atitude será, antes de mais, a de acolhimento de um dom, o dom que Deus lhe faz de poder viver no Seu Espírito.

Deste modo, o compromisso do confirmado exprime-se, antes de mais e acima de tudo, por uma abertura permanente e constante a este dom de Deus, vivendo em "espírito e verdade". A vida no­va no Espírito, segundo a feliz expressão de Santo Ireneu, adap­ta o homem a Deus e adapta Deus ao homem, como que os ajusta um ao Outro. S. Paulo diria a este propósito: "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gal. 2,20). Mas é preciso não esquecer que a catequese, espaço de vivência de fé e de escuta/comunicação de Deus, é também lugar deste ajus­tamento, enquanto a sua primeira finalidade é: levar à comunhão, à intimidade com Jesus Cristo e por Ele ao amor do Pai e do Es­pírito. (cfr. DGC n." 80)

3_ Nenhum sacramento é mágico. Sendo sinal do amor de Deus e, portanto, da ordem do dom, ele requer também as devidas dispo­sições de quem o recebe, para produzir os "efeitos" anunciados. E esta consciencialização será fruto de uma caminhada catequé­tica, em que a meta não seja a recepção dos sacramentos, mas a vida de comunhão trinitária, na comunidade, que engloba a cele­bração dos sacramentos.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a Confirmação traz o crescimento e aprofundamento da graça baptismal e produz os seguintes fru tos:

- "enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos permite dizer "Aba! Pai!" (Rom.8,15);

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- une-nos mais finnemente a Cristo;

- aumenta em nós os dons do Espírito Santo;

- torna mais perfeito o laço que nos une à Igreja;

- dá-nos uma força especial do Espírito Santo para propagar e defender a fé, pela palavra e pela acção, como verdadeiras tes­temunhas de Cristo" (C.LC. 1303).

II A pastoral dos candidatos à Confirmação

L De maneira geral, todos os que pedem o sacramento da Confirma­ção dispõem-se a fazer um caminho na comunidade onde vivem. A Confirmação é, de verdade, o sacramento da decisão pessoal da fé, da opção pelo apostolado eclesial. A opção pastoral de celebrar o Sacramento da Confirmação na adolescência e na juventude pretende ser uma maneira de ajudar todos os candidatos a fazerem opção por Jesus Cristo, numa Igre­ja, onde também eles são protagonistas. E as comunidades paro­quiais têm o grave dever de ajudar e co-responsabilizar, em diálogo dinâmico, com seriedade e serenidade. Podemos dizer que o sacramento da Confirmação deve constituir um autêntico acontecimento eclesial, no despertar e na renovação da vida da comunidade.

2. Considerando que, nos casos normais, a recepção da Confirmação dos fiéis baptizados na infância e adolescência se deve integrar no crescimento da fé e ser precedida de uma preparação séria e ade­quada, conforme o exigem os cânones 889 §2 e 890, a Conferência Episcopal Portuguesa, em conformidade com o cân. 891, determina que, nas circunstâncias actuais e tendo em conta as excepções pre­vistas no direito, o sacramento da Confirmação se celebre ordina­riamente por volta dos 14 anos de idade (18 <Ú! Novembro <Ú! 1983). Os Bispos portugueses, em Assembleia Plenária de 11-14 de Abril de 1988, aprovaram o programa de catequese para a infância e adolescência, concretizado nos catecismos em uso, que apontam para a recepção da Confirmação no final do itinerário catequético de dez anos.

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Tendo em conta estas orientações, e as que foram apresentadas pe­lo nosso Sínodo Diocesano, o sacramento da Confirmação deverá ser celebrado, ao completar-se o itinerário catequético dos dez anos. Para os que não fizeram o itinerário catequético e pedem o sacra­mento da Confirmação na idade posterior, requer-se que façam uma preparação adequada, que, em princípio, deverá ser duran­te um ano.

3. Todos os que pedem o sacramento da Confirmação devem mani­festar uma séria vontade de ser cristão:

a) não ter vergonha ou medo de se confessar cristão nos seus com­portamentos e atitudes;

b) estar de acordo com os ensinamentos de Jesus Cristo e da Igre­ja, no seu Magistério Ordinário e Extra-Ordinário;

c) participar assiduamente na celebração dos sacramentos da Re­conciliação e da Eucaristia, particularmente a Eucaristia Do­minical;

d) inscrever-se nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católi­ca, se forem estudantes do ensino básico ou secundário, tendo em conta que o diálogo entre a fé e a cultura os ajudará no cres­cimento integral. O sacramento da Confirmação, sendo celebrado como opção pes­soal, levará o confirmado a assumir a sua pertença à Igreja, participando na vida da comunidade eclesial com protagonis­mo criativo e responsável procurando, tanto quanto possível, a sua integração nalgum movimento eclesial da sua Comunida­de ou da Diocese. O mesmo acontecerá em relação ao mundo, no qual se assume como testemunha de Jesus Cristo.

III Preparação próxima

para o sacramento da Confirmação

L Ao abordarmos a questão da preparação para o sacramento da Confirmação, temos que estar conscientes de que se nos apresen­tam realidades muito variadas. A mais normal, porque ainda é a que abarca mais pessoas, engloba os 10 anos de catequese. A

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criança que foi baptizada com meses ou dias, ao entrar na escola do ensino bãsico, é inserida num itinerãrio catequético. Em cada fase, é convidada a criar uma maior intimidade com o Deus reve­lado em Jesus Cristo. Ao completar este percurso, podemos dizer que termina a sua ini­ciação cristã? Como na vida não se vivem todas as experiências de uma só vez e como na escola não se aprende tudo em um ou dois anos, assim também no relacionamento com Deus hã um expe­rienciar e um aprender progressivo, que se deverão êstender ao longo de toda a vida. A iniciação deve armar o jovem cristão com as ferramentas neces­sãrias para ter uma visão crente e adulta de si próprio, do mundo, dos outros e de Deus. Esta é a regra. Uma variante desta situação é a criança que s6 é baptizada quando jã anda na catequese. A se­gunda variante é a do que andou alguns anos na catequese e que saiu depois da Profissão de Fé. A terceira engloba aqueles que (bap­tizados ou não) não tiveram qualquer iniciação catequética.

2. Temos cada vez mais adultos que pedem o sacramento da Confir­mação. Quando nos surge uma pessoa que pede este sacramento, jã em idade adulta, é importante ter em conta alguns pontos. Hã aqueles que nunca andaram na catequese. Apenas foram bap­tizados e pouca ou nenhuma formação cristã têm; hã outros que saíram da catequese depois da celebração da Profissão de Fé. Importa perceber quais são as motivações da pessoa que pede pa­ra ser confirmada. Para ser padrinho? A nossa missão não serã tanto dizer que isso não é razão suficien­te, mas ajudar a pessoa a compreender que hã outras razões mais profundas. São muitos os itinerários que se percorrem na prepa­ração dos adultos para a celebração deste sacramento. Depende­rã do bom senso dos agentes pastorais de cada comunidade. A caridade pastoral não pode ser desculpa para a falta de exigên­cia, do mesmo modo que a exigência não pode ser desculpa para a falta de caridade pastoral. Para além de todas as caminhadas jã existentes, esta será mais uma possibilidade e que terã a vantagem de ser comum a toda a Diocese.

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3. É conveniente que haja uma preparação próxima, quer para os que vêm de um itinerário de dez anos de catequese, quer para os que fizeram a preparação em adultos. Esta preparação deve ser feita com a presença do pároco. Apresentamos um esquema que terá três encontros: um primeiro sobre a Fé, elemento essencial; um segundo sobre o sacramento propriamente dito; e um tercei­ro de oração e ensaio.

Uma celebração penitencial, com tempo para a celebração do sa­cramento da Reconciliação é indispensável. Não podemos esque­cer que muitos dos confirmandos não se confessam há vários anos.

Há algumas paróquias que promovem um retiro espiritual, de fim de semana, para os adolescentes que se preparam para rece­ber o Sacramento. Convém ter em conta o grupo que se tem. Mui­tos grupos de adolescentes terminam o itinerário catequético e não estão minimamente interessados, nem em condições, para fazer um retiro. Este retiro pode ser posto em muitas modalidades, desde a expe­riência paroquial, à participação em retiros de movimentos. Tendo em conta que o dia da Confirmação é uma celebração im­portante para a comunidade, é oportuno que esta conheça os seus membros que vão dar este passo nas suas vidas, assim como aque­les que os vão apresentar, os seus padrinhos. Propomos que haja uma participação mais activa destes numa celebração que ante­ceda o dia da Confirmação.'A celebração da Vigília Pascal seria uma oportunidade interessante.

IV

Celebração do sacramento da Confirmação

L No rito latino, o ministro ordinário do sacramento da Confirma­ção é o Bispo. Habitualmente será ele quem administra este Sa­cramento, para que se manifeste mais claramente a relação deste Sacramento com a primeira efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Além do Bispo diocesano, "pelo próprio direito, gozam da faculda­de de administrar a Confirmação:

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o presbítero que, em razão do ofício ou por mandato do Bispo diocesano, baptiza alguém saído da infância, ou recebe o já bap­tizado na comunhão plena com a Igreja católica; o pároco e mesmo qualquer presbítero, aos que se encontram em "perigo de morte" (Cân. 883).

"O Bispo diocesano deve administrar pessoalmente a Confirma­ção ou diligenciar para que seja administrada por outro Bispo; se, porém, a necessidade o exigir, pode conceder a um ou vários pres­bíteros a faculdade de administrar este sactamento" (Cân. 884).

2. Cada confirmando tenha um padrinho ou uma madrinha. "O seu múnus é procurar que o confirmado proceda como verda­deira testemunha de Cristo e cumpra fielmente as obrigações ine­rentes a este Sacramento" (Cân. 892). Deve ter completado os 16 anos. Uma vez que no campo civil se exigem 18 anos para ser testemunha, assim também, neste caso, deve haver maturidade para poder assumir as responsabilidades próprias deste múnus. Deve ser católico, baptizado, crismado ejá ter comungado, levan­do uma vida de prática cristã habitual, de acordo com o compro­misso que vai tomar. Se for casado, deve viver com a esposa, com quem casou pela Igreja. Deve ter intenção de desempenhar bem este múnus e acompa­nhar o crismado com o exemplo da sua vida. Não deve estar abran­gido por nenhuma pena canónica legitimamente declarada. O Código de Direito Canónico recomenda que, se possível, seja convidado o padrinho ou madrinha do Baptismo (cfr. c. 874).

3. "Deverá procurar dar-se à acção sagrada um carácter festivo e solene, como é exigido pelo significado que esta acção reveste pe­rante a Igreja local" (Ritual, nft 4). "Todo o Povo de Deus, representado pelas famílias, catequistas e amigos dos confIrmandos e pelos membros da comunidade loCaI, se­rá convidado a participar na celebração e procurará testemunhar a sua fé através dos frutos nele produzidos pelo Espírito Santo" (lb.). A celebração, como se tem dito, precisa de ser bem preparada. Nessa preparaçâo devem participar também os pais, os padrinhos e os catequistas.

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A preparação deve cuidar todos os pormenores, como são: os lu­gares para os confirmandos, os pais e os padrinhos; como devem avançar para junto do Bispo, o que devem dizer e como regressar ao seu lugar. Deve haver número suficiente de catequistas e/ou outros leigos, com tarefas distintas, para orientarem todos os momentos da Celebração. Será evitado tudo aquilo que possa distrair as pessoas e desviá­-Ias dos mistérios que se celebram. As intervenções, por parte de todos os responsáveis, devem ser oportunas, sintéticas, litúrgicas. Os fotógrafos devem ser instruídos quanto à sua função e ao local a ocupar; será de aconselhar que haja apenas um fotógrafo. O ministro, após a saudação inicial, fará uma breve admonição pa­ra que todos se consciencializem da importância da celebração. A Liturgia da Palavra deve ser feita com toda a dignidade: leito­res competentes, cânticos apropriados e bem executados, e ritos feitos com perfeição. No caso de não haver animador da celebração, será o pároco o ani­mador, mas será discreto e oportuno nas necessárias intervenções. Os serviços na liturgia da Celebração que podem ser desempe­nhados por leigos, devem confiar-se, de preferência, aos confir­mandos: as duas leituras antes do Evangelho, a oração universal e o ofertório solene.

No final da celebração os confirmados fazem o seu compromisso, que pode ser o seguinte:

"Pelo Baptismo nasci para a famflia dos filhos de Deus. Co­mecei a ser Igreja.

Pelo sacramento da Confirmação, que acabo de receber, sou chamado a participar activamente nesta Igreja viva, que é a minha paróquia.

É aí que eu quero ser cristão e inserir-me onde puder ser mais útil aos outros, aceitando as responsabilidades que me fo­rem atribuídas em fidelidade ao Dom do Espírito Santo que recebi pelo sacramento da Confirmação.

Quero ser um cristão feliz e estar atento aos apelos de Deus e dos irmãos.

Disponho-me a ser discípulo de Jesus Cristo com coragem, como quem vive animado pelo Dom do Espírito Santo".

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o SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

Como regra OS fiéis devem ser confirmados na sua paróquia de re­sidência, a não ser que nas paróquias muito pequenas se faça a celebração interparoquial.

Como foi determinado pela Conferência Episcopal Portuguesa, de" ve haver em cada paróquia um livro de registo dos confmnados, com as indicações previstas pelo Código, como são: nome do con­fmnado, do ministro, dos pais e padrinhos, data e lugar da Confir­mação (Decreto 11, de 25.03. 1985, e cânone 895). Se o confirmado tiver sido baptizado noutra paróquia, o pároco deve participar o facto da Confirmação ao pároco do lugar do Baptismo, a fim de se proceder ao averbamento no livro respectivo.

ANEXO 1:

V

Anexos

Esquema de encontro sobre a fé

01. Cântico A decisão é tua

Se ouvires a voz do vento, chamando sem cessar, se ouvires a voz do tempo, mandando esperar.

A decisão é tua, a decisão é tua. São muitos os convidados, são muitos os convidados. Quase ninguém tem tempo. (bis)

Se ouvires a voz de Deus, chamando sem cessar, se ouvires a voz do mundo, querendo--te enganar.

O trigo já se perdeu, cresceu ninguém colheu. O mundo passando fome, passando fome de Deus.

02. Trabalho de grupos

Criar grupos mistos com gente dos vários centros de culto, se os houver. Apresentar frases de crentes, de agnósticos e de ateus so­bre a fé. Em grupo responder às seguintes interpelações:

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o SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

- Com que frases nos iden tificamos. - Em que nos desafiam os não crentes. - Que testemunho nos dão os crentes. - Que significa ser uma pessoa de fé.

03. Plenário

Cada grupo apresenta as suas reflexões que serão apontadas num quadro por um animador. No fim da partilha interpelar os cris­mandos sobre alguns dos pontos da reflexão.

04. Diaporama

Passagem do diaporama: "A Parábola do Fogo", das Ed. do Carmelo. Este diaporama que, em forma de parábola, nos fala de Jesus Cristo e da fé dos seus seguidores, fá-lo a partir de uma imagem que é também símbolo do Espírito Santo.

05. Confronto

Exploração do diaporama seguindo orientações e pistas do autor. Questionar os crismandos sobre a montagem. Fazer a adaptação ao momento que estão a viver. Valorizar a simbologia do fogo, partindo de citações bíblicas.

06. Oração

Terminar o encontro com um compromisso de alimentar em nós este fogo trazido por Jesus Cristo. Um momento de interiorização do Credo, meditando pausada­mente cada uma das frases.

ANEXO 2: Esquema de encontro sobre o sacramenW da Confirmacão

01. Cântico "Espírito Santo"

Espírito Santo, Espírito Santo, Espírito Santo, vinde, vinde dos quatro ventos, Espírito do Senhor, Espírito do Amor, Espírito Santo, vinde.

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o SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

02. ((Chuva de ideias"

Que entendem os crismandos pelo sacramento da Confirmação? Porque querem ser confirmados? O que é o Espírito Santo? Como age o Espírito na Igreja?

03. Recolha da partilha

Num quadro fazer o apanhado das várias ideias que vão surgin­do. Fazer três colunas; uma com as ideias referente ao sacramen­to do Crisma, outra com as que dizem respeito ao ser do Espírito Santo e a terceira sobre a acção do Espírito Santo na Igreja.

04. Diaporama

Passagem do diaporama: "A Confmnação" das Ed. Salesianas.

05. Confronto

Atendendo ao que foi dito pelos adolescentes, confrontá-los com os con teúdos expressos no diaporama. Valorizar aquilo que é concordante. Perceber porque é que em alguns pontos têm posições diferentes. Ajudá-los a esclarecer as dúvidas que apresentam.

06. Momento de exposição

Acentuar que celebrar o Crisma é receber o Espírito Santo e que Ele tem uma acção no cristão confirmado, acção essa que pode ser ofuscada pela pouca atenção que lhe dedicamos. Esta acção não se limita à vida do crismando, mas deve transparecer para fora na sua relação com Deus e com os outros.

07. Oração

Terminar o encontro com uma breve oração de invocação do Es­pírito Santo.

Envia-me, Senhor, o Teu Espírito

Leitor 1 - Cumpriste a Tua promessa, Senhor, enviaste o Teu Espírito e tudo mudou. Os teus discípulos passaram de não compreender nada a entender todos os teus ensinamentos; do temor ante as possíveis consequências da tua cruciflXão

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o SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

à coragem de lançar-se a pregar sem medo a nada nem a ninguém; do egoísmo de pensarem neles mesmos, a entregarem-se pelos outros; da negação, ao testemunho pessoal e comunitário.

Leitor 2 - Senhor, também eu necessito do Teu Espírito. Envia-me o Teu Espírito. Quero deixar de sentir vergonha ao chamar-me cristão entre os meus companheiros e amigos. Envia-me o Teu Espírito.

Leitor 3 - Quero deixar de viver a meias, brincando na corda bamba, entre a resposta feita vida à Tua Palavra e o meu comodismo, egoísmo e falta de radicalidade.

Leitor 4 - Envia-me Senhor o Teu Espírito, para que descubra o que é viver como cristão; para captar, Senhor, a Tua presença em toda a parte; para saber sempre o que queres de mim, para saber eleger e ver em tudo a Tua presença e amor; para saber enfrentar e vencer as dificuldades.

Leitor 5 - Envia-me, Senhor, o Teu Espírito, para sentir que Deus é Pai; para Te ter sempre respeito, veneração e sobretudo, amor.

Todos - Envia-me, Senhor, o Teu Espírito. Vem a mim, entra em mim, habita em mim porque eu, Senhor, Espírito Santo, necessito de ti.

(Adaptado de Pedro Mufioz Penas, Orar com Deus, Ed. Paulus)

08. Cântico "Fica junto a nós"

As sombras se desvanecem e a noite cai, no horizonte se desprendem os reflexos tão distan tes de um dia que nasceu em nós e não terá fim, porque sabemos que uma nova vida daqui partiu e nunca mais acabará.

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o SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

Ficajunto a nós, em breve desce o sol, fica junto a nós que o dia findará. Fica junto a nós que o sol se esconderá, se estás entre nós, a noite não virá.

Como o mar se espraia infinitamente, o vento soprará e abrirá os caminhos escondidos, tantos corações hào-de ver uma nova luz clara, como uma chama que onde passa queima, o Teu amor esta terra invadirá.

(Movimento dos Focolares)

ANEXO 3: Bibliografia para a preparacão de adultos para a Confirmacão

Itinerário a percorrer: VEIGA, Américo, Porque Sou Cristão? EPS, Porto, 1998(16) VEIGA, Américo, Como Ser Cristão? EPS, Porto, 1998(14) Catecismo da Igreja Católica

Crisma: LLORENTE, Luís Resines, Confirmados testemunhas de Cristo, Paulus,

Apelação, 2000 AA VV, ° Crisma, Catequese para Adultos, Paulinas, Lisboa, 2000 FERREIRA, Pedrosa, Vou ser confirmado, Salesianas, Porto, 2000

Deus: DUQUESNE, Jacques, Deus explicado aos meus netos, Livros do Brasil, Lis-

boa, 1999

Jesus Cristo: REY, Bernard, Esse Jesus, chamado Cristo, Ed Paulistas, Lisboa, 1990

Bíblia: DEBBRECHT, Gerhard, A Bíblia e os Jovens, Paulus, Apelação, 2000 MORGADO, Lopes, Dia da Bíblia, DB, Lisboa, 1995

Eucaristia: DEBBRECHT, Gerhard,A Missa e os Jovens, Paulus, Apelação, 2000 ALEIXANDE, Dolores, Ao Partir do Pão, Salesianas, Porto, 2001

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o SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

Fé: AA VV, Crer é Acreditar em Tudo?, Ed Paulistas, Lisboa, 1989 LASCONI, Tonino, Quando a Fé se rompe, 1 e 2, Salesianas, Porto, 2000

Sacramentos: URANGA, José Ramon Sáenz, Sete Aventuras, Paulus, Apelação, 2000 Guião Sinodal, Diocese Leiria-Fátima, III

Igreja: GUILLET, Charles-Marie, A Igreja, Paulistas, Lisboa, 1990

Identidade cristã: AA VV, O que é ser Cristão?, Paulistas, Lisboa, 1987

ANEXO 4: Celebracão penitencial

Dar especial relevo ao tema da luz. É o Espírito em nós que nos ilumina, como cristãos. Esta celebração é feita numa sala. Ao centro está um círio a ar­der e à sua volta sete velas, também a arder.

01. Cântico "Perdoa, Senhor"

Perdoa, Senhor, o nosso dia, A ausência de gestos corajosos, A fraqueza dos actos consentidos, A vida dos momentos mal amados.

Perdoa o espaço que Te não demos, Perdoa porque não nos libertámos, Perdoa as correntes que pusemos, Em Ti, Senhor, porque não ousámos.

Contudo, faz-nos sentir Perdoar é esquecer a antiga guerra E, partindo, recomeçar de novo, Como o sol, que sempre beija a terra.

02. Introdução sobre o sacramento da Reconciliação

O que é; Porque se celebra; Porque celebrá-lo antes do Crisma.

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03. Os nossos pecados

Partindo de sete situações de pecado, sete crismandos vão apre· sentado situações concretas em que a acção do Espirito é ofusca­da pelo nosso pecado. Depois da apresentação de cada situação apaga urna das velas.

Soberba -Quantas vezes me considero superior aos outros e ali­mento em mim o orgulho, que não me deixa olhar para os mais dé­beis com amor.

Avareza - Os bens que Deus nos deu pertencem a toda a huma­nidade. Muitas vezes eu penso a minha vida e o meu futuro em função de juntar muitos bens materiais.

Luxúria - O outro que está ao meu lado é obra e dom de Deus, não é um objecto do meu prazer, quer em acções quer em pensa­mentos. Deus faz-nos um convite a urna relação equilibrada, o que nem sempre acontece.

Ira - Quantas vezes me revolto com os meus pais, irmãos, profes­sores e amigos, porque me contrariam. Não faço esforço para com­preender porque pensam e agem de forma diferente.

Gula - O consumismo domina muitos dos nossos comportamen­tos. A vontade de tudo ter impede-nos que respeitemos a nature­za que é imagem e revelação de Deus.

Inveja -Deus diz-nos para não cobiçarmos as coisas alheias. De­sejar possuir algo de outra pessoa é centrar a nossa felicidade em coisas, e não na relação com as pessoas.

Preguiça - Quantas vezes não sou responsável pelo meu futuro e não me empenho na minha formação e na colaboração com a fa­mília e com a com unidade.

04. Exame de consciência

Breve reflexão sobre o que é o pecado. Como está presente na minha vida: Na minha relação comigo mesmo .. .

Na minha relação com os outros .. . Na minha relação com Deus . . . Na minha relação com o meio ambiente . . .

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05. Celebração do sacramento da Reconciliação

Encontram-se ao dispor dos crismandos al�ns sacerdotes para os atender no sacramento da reconciliação. E importante atender a que muitos destes crismandos já não se confessam há anos e que não o voltarão a fazer na próxima dezena de anos. Que esta seja uma experiência de encontro com o Deus de misericórdia, que os acolhe e ama. E, porque os ama pede-lhes sempre mais.

06. Oração do Espírito Santo - Os Seus Dons

Depois de todos terem celebrado o sacramento da Reconciliação, sete crismandos vão apresentando os dons que o Espírito Santo transmite ao cristão na celebração do Crisma. Depois da apresen­tação, cada um acende uma das velas anteriormente apagadas, co­mo sinal da luz de Deus que nos volta a iluminar.

Sapiência - Espírito Santo, que com a tua palavra criaste o uni­verso e com sabedoria formaste cada ser humano, concede-me o dom de saborear a acção do amor de Deus na minha vida.

Entendimento - Espírito Santo, concede-me o dom de conhecer a revelação divina e de entender o que Deus pretende de mim em cada momento.

Conselho - Espírito Santo, dá-me a tua luz para que saiba dis­tinguir o bem do ma] e assim possa orientar e crescer como cris­tão ao longo de toda a minha vida.

Fortaleza - Espírito Santo, dá-me a coragem e a força necessá­rias para viver fielmente a minha fé no dia-a-dia, sobretudo nas situações mais difíceis.

Ciência - Espírito Santo, dá-me a ciência necessária para que possa encontrar e seguir fielmente o caminho da minha vocação.

Piedade - Espírito Santo, dá-me o prazer de amar e servir a Deus, que alimente uma relação de filho que caminha para a ca­sa do Pai.

Temor a Deus - Espírito Santo, inspira em mim sentimentos de respeito e reverência por Quem me criou e que quer construir co­migo um projecto de felicidade.

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07. ,Cântico "Vem, Santo Espírito"

Vem, Santo Espírito, enche os corações dos homens, acende neles a luz, o fogo do teu amor, Manda o Teu Espírito, e tudo será criado e Tu renovarás a face da terra,

ANEXO 5: Ensajo da celebracão,

01. Este ensaio deve ser orientado pelo pároco ou por alguém em quem ele delegue essa responsabilidade, Ter em conta todos os movimentos da celebração,

02. Previamente saber quem fotografa e se alguém grava em vídeo a celebração, Evitar que esteja presente um fotógrafo por cris­mando, É importante que a comunidade escolha um ou dois fo­tógrafos profissionais, dependendo do número de crismandos, que possam fazem um trabalho sério, sem perturbar a celebra­ção, Mas um bom fotógrafo não é necessariamente a pessoa in­dicada para este serviço, Convém que tenha um mínimo de consciência do que se está a celebrar,

03. Preparar a entrada, sabendo cada um a posição que ocupa den­tro da igreja, Onde for conveniente, quer pelo número quer pelo espaço, fazer uma entrada solene.

04. Escolher os acólitos da celebração, havendo entre os crismandos quem possa exercer este ministério, é significativo que o faça neste dia em que é reconhecido como adulto na fé,

05. Escolher quem participa no cortejo de entrada, De entre os ado­lescentes e padrinhos escolher alguns que possam acompanhar o presidente da celebração na entrada,

06. Escolher os leitores e preparar as leituras, fazendo previamen­te fotocópias das mesmas, para que os leitores possam preparar­-se convenientemente em casa.

07. Especial atenção ao momento da celebração do sacramento do Crisma, com os movimentos dos crismandos, dos padrinhos, do presidente e do animador litúrgico,

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08. Preparar com os adolescentes todos os passos a percorrer. Eles devem saber de que lado subir, se o presidente está atrás ou à frente do altar e como voltar para o seu lugar.

09. O padrinho deve saber que lugar ocupar na igreja e onde está o seu afilhado. Saiba em que posição acompanhar o afilhado, se o apresenta ao presidente e como voltar para o seu lugar.

10. Os cànticos devem estar ao encargo do grupo coral, mas escolhi­dos tendo em conta o sacramento que se celebra.

lL Dar aos crismandos a possibilidade de prepararem um momen­to da celebração, em que transpareça a vida do grupo. Por exem­plo, um cãntico ou um gesto, no ofertório ou na acção de graças.

ANEXO 6: Pequenas obseryacões sobre a Grande Celebracão

O sacramento da confirmação ou crisma 'confirma o Baptismo' e por isso no rito da celebração não deverá ser esquecida a fonte bap­tismal.

O dia da celebração do Sacramento da Confll11lação, novo Pentecos­tes, deve ser festa para os crismandos, familiares e toda a comuni­dade.

Podem ser preferidas as tardes de sábado ou domingo, a fim de o rito e o ritmo terem mais homogeneidade.

Antes do rito celebrativo e para além da preparação doutrinal e es­piritual, recomenda-se que haja encontros com dirigentes dos se­cretariados diocesanos da catequese, das vocações e da pastoral juvenil.

O acto da celebração não é protocolar, mas litúrgico, desde o aco­lhimento até à despedida ... e fotografias.

Parece mais prático e mais digno que a crismação seja de pé (mi­nistro, acólitos, confirmandos e padrinhos).

Também é mais aconselhável que o acto da santa unção sobre a testa seja feito em frente do altar.

O padrinho ou a madrinha deve ir ao lado esquerdo do(a) afilha­dota), colocando a mão direita sobre o ombro direito do confirman­do, como quem apresenta e se compromete.

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É talvez preferível que seja o confIrmando a entregar ao ministro o boletim com os nomes e outros dados.

Durante o tempo de crismação, o grupo coral e a assembleia podem cantar, mas uns momentos de pausa, para que se ouça a forma da unção, pode ajudar o silêncio e a participação.

No decorrer de todo o rito da celebração, devem ser evitados os avi­sos, pois o simples gesto é suficientemente indicativo e mais elo­quente.

O acólito (concelebrante ou catequista) que purifica a testa do re­cém-confirmado deve situar-se no lugar próprio, que não retarde o trânsito, nem eventuais fotografias.

A experiência diz que é mais fácil que o ministro purifique os seus dedos, no final da crismação, com algodão embebido em álcool.

A passagem do rito da unção para a oração universal não pode ter pontos mortos ou de atropelo.

Os leitores (dos confirmados) devem aceder à estante (ou ambão) de maneira ordenada, tendo preparado correctamente a leitura.

Os confirmandos (na renovação das promessas baptismais) e os conflrffiados (no ofertório e no compromisso fmal) devem estar em­penhados e ser participativos.

O bom moderador (pároco) imprime beleza e sintonia numa celebra­ção festiva e comunitária, que é também um rico sinal no itinerá­rio do viver, É, por exemplo, chocante ver fotógrafos ou amadores mal vestidos, ou em movimento desnecessário e posição incorrecta. Durante a homilia não deve haver fotografia nem gravação.

No final da Celebração não seja esquecido ou descuidado o respei­to pela Presença Eucarística do Sacrário.

ANEXO 7' Rito da crismacão

a) Renovação das promessas Baptismais

Terminada a homilia, o Bispo interroga os confirmandos; estes, de pé, respondem conjuntamente.

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Bispo: Renunciais a Satanás, a todas as suas obras e a todas as suas seduções?

Confirmandos: Sim, renuncio.

Bispo: Credes em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra?

Confirmandos: Sim, creio.

Bispo: Credes em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que nasceu da Virgem Maria, padeceu e foi sepultado, ressusci­tou dos mortos e está à direita do Pai?

Confirmandos: Sim, creio.

Bispo: Credes no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e que hoje, pelo sacramento da Confirmação, de modo singular vos é co­municado, como aos Apóstolos no dia do Pentecostes?

Confirmandos: Sim, creio.

Bispo: Credes na santa Igreja católica, na comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eter­na?

Confirmandos: Sim, creio.

Bispo: Esta é a nossa fé. Esta é a fé da Igreja, que nos gloriamos de professar em Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Todos: Amen.

b) Imposição das Mãos

Bispo: Oremos irmãos, a Deus Pai todo-poderoso, para que, sobre estes mhos adoptivos, que pelo Baptismo já renasceram para a vida eterna, derrame agora o Espírito San to, que os fortaleça com a abundância dos seus dons e, pela sua unção espiritual, os torne imagem perfeita de Cristo, Filho de Deus.

(Todos oram, em silêncio)

Bispo: Deus todo-poderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,

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o SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

que, pela água e pelo Espírito Santo, destes uma vida nova a estes vossos servos e os libertastes do pecado, enviai sobre eles o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de sabedoria e inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de ciência e de piedade, e enchei-os do espírito do vosso temor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Todos: Amen.

Crismação

Bispo: N . . . , RECEBE, POR ESTE SINAL, O ESPÍRITO SANTO, O DOM DE DEUS.

Confirmado: Amen

Bispo: A paz esteja contigo.

Confirmado: Amen.

Aprovamos e mandamos publicar, em regime experimental, as pre­sentes "orientações pastorais" sobre o Sacramento da Confirmação.

Este guião será mais indicativo que taxativo, e por isso deixa pro­positadamente algumas questões menos "definitivas", a fim de que a nossa caminhada pastoral e sinodal possa ser mais colectiva e menos selectiva.

Leiria, 17 Janeiro 2002, 84º aniversário da restauração da Diocese.

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo de Leiria-Fátima

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CRISMAS NOS MESES DE MAIO·SETEMBRO 5 de Maio - 13 h. (Mendiga)

15 h. (Pedreiras) 1 1 de Maio - 15 h. (Vermoil)

17 h. (Meirinhas) 12 de Maio - 14 h. (Pataias)

16 h. (Alpedriz) 18 de Maio - 15 h. (Ourém - Misericórdia) 19 de Maio - 10 h. (Sé)

15 h. (Amor) 1 de Junho - 15 h. (Alqueidão da Serra)

18 h. (Marrazes) 2 de Junho - 15 h. (Barosa) 9 de Junho - 14.30 h. (Juncal)

17.00 h. (Caranguejeira) 15 de Junho - 15 h. (Parceiros)

17.30 h. (Milagres) 16 de Junho - 15 h. (Azoia)

17.30 h. (Ourém - Piedade) 22 de Junho - 15 h. (Fátima)

17 h. (Maceira) 23 de Junho - 1 1 h. (Ortigosa)

16 h. (Mira de Aire) 19.30 h. (Bidoeira)

29 de Junho - 17.30 h. (Barreira) 19.30 h. (Vieira de Leiria)

30 de Junho - 16 h. (Pousos) 18 h. (Boavista)

6 de Julho - 15 h. (Urqueira) 7 de Julho - 15 h. (Reguengo do Fetal)

17 h. (Cortes) 13 de Julho - 15 h. (Minde)

19 h. (Santa Catarina da Serra) 14 de Julho - 15 h. (Matas)

17 h. (Espite) 3 de Agosto - 15 h. (Porto de Mós)

18 de Agosto - 15 h. (Carnide)

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LEIRIA-FÁTIMA, publicação quadri­mestral, que arquiva decretos e pro­visões, divulga critérios e normas de acção pastoral e recorda etapas im­portantes da vida da Diocese.

Impresso na GRÁFICA DE LEIRIA

Depósito Legal N' 64587/93

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