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LEITURA E FRUIÇÃO: O LÚDICO E O DIDÁTICO NA · fábulas, contos de fadas, histórias inventadas e até mesmo leitura de pequenos livros. O trabalho escolar com o texto literário

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LEITURA E FRUIÇÃO: O LÚDICO E O DIDÁTICO NA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA

ADELINA MARIA MIKULSKI TAVARES

ADRIANA APARECIDA DE FIGUEIREDO FIUZA

RESUMO

O presente trabalho buscou desenvolver com os alunos do sexto ano do ensino fundamental o gosto e a fruição da leitura literária, por meio da arte de contar histórias. Inicialmente, os estudantes foram estimulados pelo prazer de ler e ouvir histórias contadas por um narrador. Ao chegar à escola, a criança já traz consigo uma experiência linguística que é literária, pois ainda pequenina ouve histórias contadas pelos adultos. Entretanto, isso é, na maioria das vezes, desprezado no decorrer do processo de aprendizagem, desconsidera-se que a oralidade é a fonte da literatura infantil e que as crianças, antes da alfabetização, iniciaram um contato literário mediado por um leitor que transmitia oralmente o que lia. Portanto, o trabalho com o texto literário só alcançará êxito quando o professor se assumir como sujeito; o desafio de tal postura implica a formação de hábitos, principalmente, o da leitura, pois cabe ao docente proporcionar aos seus alunos, o máximo de prazer pela leitura com a Literatura Infanto-Juvenil, desenvolvendo estratégias de modo a provocar as mais variadas reações. Sobretudo, é através da leitura literária, nosso objeto de estudo, o viés que favorece a aprendizagem, estimula o imaginário e a fantasia que fazem parte do universo da criança.

Palavras-chave: Leitura Literária. Fruição. Contação de Histórias. Ludicidade.

AS DEFICIÊNCIAS DE ENSINO E DO PROFESSOR COM A LEITURA EM SALA

DE AULA

A problemática que trata do encaminhamento da leitura literária, em sala de

aula, não é recente e tem ocupado mestres, críticos e estudiosos. Das discussões e

análises efetuadas, vários culpados foram eleitos: ora a ênfase recaía no livro

didático, com textos comprometidos ideologicamente; ora o problema incidia nos

métodos de ensino utilizados; ora a culpa era debitada à falta de leitura por parte

dos alunos. Isto ainda é evidenciado, porque constantemente, colegas professores

emitem opiniões e afirmações de que seus alunos não interpretam e nem

compreendem os textos que leem e, principalmente, não demonstram prazer e

interesse pela leitura.

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Sem tentar fazer uma retrospectiva da tão propalada “culpa”, este trabalho

pretende chamar a atenção para o texto literário em sala de aula como um tipo de

atividade que exige planejamento, embasamento teórico, sensibilidade e dedicação

por parte do professor. Tais elementos, se não dão conta da especificidade do

discurso poético, são imprescindíveis na tarefa de orientar o aluno para a formação

do gosto e da fruição pela leitura literária.

No entanto, o compromisso do professor é ainda maior, pois cabe a ele

proporcionar aos educandos o máximo de prazer com a leitura literária,

desenvolvendo estratégias de modo a provocar as mais variadas reações; o texto

literário deveria guardar a característica lúdica e emocionante que mexesse com a

sensibilidade do educando. Neste sentido, Barthes (2010) afirma que:

Texto de prazer: aquele que contenta, enche, dá euforia; aquele que vem da cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura. Texto de fruição: aquele que põe em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até um certo enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas do leitor, a consistência de seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz entrar em crise sua relação com a linguagem (BARTHES, 2010, p. 20-21).

Ao ser introduzida na escola, a criança já traz consigo uma experiência

linguística que é literária; pois, ainda quando pequenina, ela já ouve histórias

contadas pelos adultos, através da voz da mãe, do pai ou dos avós, contando

fábulas, contos de fadas, histórias inventadas e até mesmo leitura de pequenos

livros.

O trabalho escolar com o texto literário infantil poderia dar continuidade a

essa experiência. Entretanto, isso é, na maioria das vezes, desprezado no decorrer

do processo da aprendizagem. A apresentação dos textos literários, em sala de

aula, é feita com total desconsideração pela sensibilidade; desconhece-se que a

oralidade é a fonte da literatura infantil e que as crianças, antes da alfabetização,

iniciaram um contato literário mediado por um leitor que transmitia oralmente o que

lia. Tão somente, se vasculharmos nossa memória em busca das lembranças de

leitura, descobrimos que várias delas estão associadas ao prazer e à felicidade de

ouvir uma história.

Então, faz-se necessário um estudo e uma reflexão dessa prática que está

presente nas salas de leitura; no entanto, tão distante do educando, o interesse e o

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gosto pela leitura; porque, o gostar de ler não é algo que se ensina, mas sim algo

que pode ser despertado.

Segundo as DCEs (2008), em muitos casos, desconsidera-se o papel ativo do

aluno no processo de leitura; pois é preciso levar em conta as práticas linguísticas

que o aluno traz ao ingressar na escola. Muitas vezes, os textos literários são

levados para a sala de aula como pretexto para se ensinar gramática.

Além disso, convivemos em meio a uma situação paradoxal: de um lado,

vivemos em uma época de muita informação e, de outro, deparamo-nos com um

índice crescente de “analfabetismo funcional”; isso sem levar em consideração os

resultados das avaliações educacionais, como por exemplo, a Prova Brasil; Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB); Sistema de Avaliação da

Educação Básica do Paraná (SAEP), que mostram um baixo desempenho do aluno

em relação ao entendimento dos textos que lê.

Portanto, é necessário que o professor analise o texto literário que irá

trabalhar, a fim de que ele consiga compreender o que lhe é imanente, e, pretenda

que o educando tenha experiência com a leitura, de maneira que lhe seja permitido

uma tomada de consciência e de que esta lhe ofereça inúmeras condições, não

apenas a da leitura decodificada, mas a possibilidade de uma experiência lúdica

com o fenômeno linguístico. Vale salientar ainda que, com tal postura, o professor

conhecerá mais profundamente seus alunos, permitindo-lhes que se encontrem

consigo mesmos e que deem seus primeiros passos na compreensão e apreensão

dos textos literários.

COMO O TEXTO LITERÁRIO É VISTO NA ESCOLA

O relacionamento, hoje, entre escola e a literatura infanto-juvenil carece de

uma profunda análise e revisão. De um lado, sente-se o despreparo do professor

que desconhece os recursos técnicos que possam lhe auxiliar; por outro lado, falta-

lhe a sensibilidade no momento do trabalho com o texto literário.

Quando o professor tenta trabalhar com o texto literário, geralmente, é

acometido pela síndrome das orientações que aparecem nos livros didáticos,

boicotando a literariedade própria do texto e impossibilitando a fruição do estético

propriamente dito. O texto literário deveria guardar a característica lúdica e

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emocionante que mexesse com a sensibilidade da criança, mas não é o que sucede

na maior parte das salas de aula.

Contudo, essas deficiências de ensino e do professor serão melhor resolvidas

se cada um fizer um exame de consciência e procurar analisar as carências

detectadas. Tais carências dizem respeito ao conteúdo a ser trabalhado, aos textos

literários escolhidos, à abordagem de análise utilizada, ao preparo teórico e

metodológico e, sem sombra de dúvida, à própria sensibilidade do professor.

O trabalho com o texto literário só alcançará êxito quando o professor se

assumir como sujeito. O desafio de tal postura implica a formação de hábitos,

principalmente, o da leitura por parte do professor. Sobretudo, é por meio da

literatura infanto-juvenil, nosso objeto de estudo, o viés que favorece a

aprendizagem, estimula o imaginário e a fantasia que fazem parte do universo da

criança.

Especialmente, o professor deveria, no manuseio didático do texto literário,

munir-se de algumas indagações: este texto vai despertar a imaginação? Será um

convite à compreensão do que seja o humor, a solidariedade, o imaginário? O texto

dará aos estudantes um momento de alegria diante do reconhecimento de si

próprios ou do encontro com algo totalmente novo? Conseguindo responder a

perguntas desse tipo, só então estará apto a trabalhar com o texto literário em sala

de aula.

Ao discorrer sobre Literatura Infantil, Coelho (1991, p. 14) aponta para um

papel fundamental que esta tem a cumprir numa sociedade em transformação: “a de

servir como agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor/livro; seja no

“diálogo” leitor/texto, estimulado pela Escola”. Principalmente, a Literatura Infantil

constitui-se “arte”, e como tal deve ser apreciada, segundo Coelho (1991):

A Literatura Infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível / impossível realização... (COELHO, 1991, p. 24).

A criança possui predileção pelo belo e encontra nos livros que ela gosta, o

alimento adequado para os anseios e necessidades de sua alma. Estudos mostram

que as histórias preferidas de crianças de diversas idades, refletem os conflitos

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emocionais e as fantasias particulares, que elas experimentam em diversos

momentos da vida.

Entretanto, o compromisso do professor é ainda maior, pois cabe a ele

proporcionar aos seus alunos, o máximo de prazer pela leitura com a Literatura

Infanto-Juvenil, desenvolvendo estratégias de modo a provocar as mais variadas

reações. Assim sendo, à medida que a criança cresce e continua tendo experiências

de leitura, ela aprende que o universo ficcional pode ser não só um refúgio

importante para as adversidades da vida, mas, sobretudo, um espaço de reflexão e

de descoberta, no qual aprende a lidar com tais adversidades.

De acordo com Sandroni e Machado (1998, p. 11), “para se ler é preciso

gostar de ler”. Se o que se pretende é fomentar o gosto pela leitura no aluno, esta

deve ser, necessariamente, fonte de prazer, e não uma atividade obrigatória,

cercada de ameaças e castigos, representando uma imposição do mundo adulto.

Portanto, é preciso ajudar o educando a perceber aquilo que os livros trazem de

bom, ideias novas, histórias surpreendentes e cativantes; fazê-lo pensar sobre o

lido, espantar-se com o maravilhoso, estar atento ao que cada livro despertou. O

apego pelos livros é algo que se vai adquirindo aos poucos, porém numa conquista

permanente.

Segundo a mesma autora, é preciso que o professor estabeleça uma relação

boa e agradável com a literatura. O que é preciso, verdadeiramente, é criar uma

atmosfera de uma legítima “oficina literária”, em que os horizontes de expectativas

sejam ampliados. Os alunos precisam ser levados às bibliotecas, pública ou escolar,

para que os livros sejam apresentados a eles, de forma simpática, descontraída,

afetuosa; ao mesmo tempo que informativa, esclarecedora, e que estes sejam de tal

maneira envolvidos pelos livros que saiam da biblioteca com um livro escolhido.

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA – UMA ARTE PERENE

A arte de contar história, nasceu no homem a partir do momento em que ele

sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experiência sua, que poderia

ter significado para todos. Este ofício existe desde os tempos remotos, muito antes,

na Grécia já tem-se notícia de que um escravo por nome Esopo, passava bons

momentos na realização dessa tarefa. Na Idade Média, o contador de história,

figurado pelos artistas medievais: segrel, jogral, menestrel e bardo, era bem

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recebido e respeitado em toda parte, pois este obtinha passaporte quando outros

indivíduos não podiam obtê-lo. Os contadores eram os que iam de palácio em

palácio, de aldeia em aldeia, cantando, recitando, declamando e contando as

histórias do gosto popular daquela época (Tahan, 1966).

Para Meireles (1984, p. 49), “os primeiros narradores são os antepassados

anônimos de todos os escritores”. Antes mesmo das bibliotecas possuírem imensas

estantes, com vozes presas dentro dos livros, elas foram vivas e humanas, ruidosas,

falantes, gesticulosas, com movimentos e danças entremeadas às narrativas.

Nestes termos, pondera que:

Não há quem não possua, entre suas aquisições da infância, a riqueza das tradições, recebidas por via oral. Elas precederam os livros, e muitas vezes os substituíram. Em certos casos, elas mesmas foram o conteúdo desses livros.O negro na sua choça, o índio na sua aldeia, o lapão metido no gelo, o príncipe em seu palácio, o camponês à sua mesa, o homem da cidade em sua casa, aqui, ali, por toda parte, desde que o mundo é mundo, estão contando uns aos outros o que ouviram contar, o que lhes vêm de longe, o que serviu a seus antepassados, o que vai servir a seus netos, nesta marcha da vida (MEIRELES, 1984, p. 48-49).

Segundo a mesma escritora, conta-se e ouve-se uma história para satisfazer

a mais íntima sede de conhecimento e instrução que é própria da natureza humana;

enquanto se vai contando passam-se os tempos de inverno, as catástrofes e as

doenças. As encantadoras histórias contadas salvam as pessoas de suas

frustrações, fortalecem a alma e “não há problema humano que não encontre

solução em alguma delas” (MEIRELES, 1984, p. 49).

De acordo com Silva (1989, p. 9), a arte de contar história, cuja matéria-prima

especial é a palavra, privilégio das criaturas humanas; pode ser desenvolvida e

cultivada, desde que se goste de lidar com crianças e se reconheça a importância da

história para elas. As histórias devem ser contadas para divertir, agradar, tendo

como condimento a alegria e a surpresa, um estímulo à leitura, e não transformar o

prazer e o encantamento que delas emanam numa exigência utilitarista.

Para haver sucesso no momento de se contar uma história, alguns fatores

devem ser levados em consideração, como a escolha de uma boa história para ser

contada, precisa ser interessante e agradável, que produza uma expectativa de

encantamento, abrir espaço para o lúdico e o humor, sem deixar de observar a força

e a coerência das personagens, enredo bem imaginado, com pontos emocionantes

e uma narrativa viva, cheia de surpresas, conflitos incitantes, com expressividade e

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questionamentos nas entrelinhas. Para tanto, o narrador necessita de estudar bem a

história que irá contar, não é decorá-la, mas sim captar a mensagem que nela está

implícita, procurar estabelecer um clima de história, situando-a num tempo e espaço,

começando por “Era uma vez...” ou “Há muitos e muitos anos...”. Enfim, ele deve

apresentar as principais personagens e suas características. É preciso divertir-se

com a história, contar o que é essencial do enredo e os detalhes podem fluir por

conta da criatividade do narrador no momento da contação. Para Sisto (2005, p. 24),

“quando a história contada vem em função de instaurar um espaço lúdico, ela pode

gerar um outro tipo de expectativa: não mais a da cobrança, mas a do

encantamento”.

Desse modo, uma ótima estratégia para se fomentar o gosto e a fruição pela

leitura literária, é a arte de contar história; pois, a sala de aula constitui-se em um

espaço privilegiado, o qual permite ao professor estabelecer junto ao aluno, uma

relação dialógica entre o próprio educando, o livro, sua cultura e a própria realidade.

As narrativas literárias, a exemplo, permitem ao educador trabalhar com a história a

partir do ponto de vista do educando, possibilitando uma análise de suas reflexões,

opiniões, pois estas influenciam a vida da criança.

Para Silva (1989), ao narrador ou contador cabe a responsabilidade da

escolha das histórias, tendo em vista a qualidade literária. Antes da história ser

contada, é preciso saber se se trata de um assunto cativante, surpreendente, com

originalidade; se demonstra riqueza de imaginação e se consegue agradar aos

ouvintes. A linguagem deve ser correta, simples, de bom gosto, as repetições e os

recursos onomatopaicos contribuem para tornar a história mais interessante e

expressiva. Deve-se levar em consideração, inclusive, o ambiente onde a história

será contada, este deve ser agradável e aconchegante. Para Almeida (2007, p. 31),

“a leitura em um espaço lúdico aproxima a criança do livro e a ajuda a descobrir o

prazer de ler”. Neste sentido, é importante destacar que de acordo com Silva (1989,

p. 12): “o lazer é direito de todos assegurado pela Declaração Universal dos Direitos

Humanos, convém não esquecer”.

O TRABALHO COM A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA POR MEIO DA LUDICIDADE

Sem sombra de dúvida, a Literatura Infanto-Juvenil lida com o mundo

maravilhoso da ficção, com diferentes formas de comportamento social, informações

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sobre a vida das pessoas em lugares distantes; além, é claro, da diversão e dos

conflitos emocionais e fantasias particulares, os quais são próprios das experiências

vividas pela criança em diversos momentos de sua vida.

Estudos mostram que as histórias preferidas de crianças de diversas idades,

refletem seus problemas emocionais, de forma que tudo o que é fantástico vai

alimentando a sua imaginação, permeando o seu mundo de fantasia, onde os limites

do real e do imaginário estão sendo determinados. A criança possui predileção pelo

belo e encontra nos livros que ela gosta, o alimento adequado para os anseios e

necessidades da sua alma (SANDRONI E MACHADO, 1998).

A sala de aula como um espaço único para a prática da leitura e sua fruição,

permitiu que o trabalho desenvolvido, no período de implementação do Projeto de

Intervenção Pedagógica na Escola, atingisse resultados considerados relevantes,

porque os estudantes foram estimulados pelo prazer de ler, através de uma

metodologia lúdica, de conquista e envolvimento, cujo objetivo fora o de desenvolver

junto aos alunos do sexto ano do ensino fundamental, o gosto e a fruição da leitura

literária, através da arte de contar histórias.

Para a execução das atividades ora elencadas, foram utilizadas diversas

estratégias de leitura, as quais possibilitaram ao educando, a percepção daquilo que

os livros trazem de bom, idéias novas, histórias surpreendentes e cativantes;

possibilitando-lhe condições para que este realizasse a sua própria aprendizagem,

fazendo-o pensar sobre o lido, espantando-se com o maravilhoso e atentando ao

que cada leitura lhe despertaria, pois somente o exercício da leitura em um espírito

de liberdade, alegria e aventura poderá conquistar leitores proficientes.

Primeiramente, a professora buscou conhecer seus alunos, procurando

descobrir sobre o que já tinham lido, seus gostos e preferências, qual história de

que mais gostaram de ler, o que mais lhes chamou a atenção; numa conversa bem

informal, sem cobranças, tudo com o intuito de descobrir qual a sua predileção e o

que mais lhes agradava no instante que estavam de posse de um livro;

oportunizando ao aluno que falasse livremente, sobre suas impressões de leitura, as

fantasias, emoções, reações, comoções e lembranças; cenas de livros que ficaram

gravadas em sua memória e que gostariam de relatar.

Após constatadas as preferências e quais os contatos prévios os alunos já

haviam obtido com os livros; os estudantes foram conduzidos, pela professora, em

visitas às bibliotecas da escola e da pública municipal – num primeiro momento,

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fizeram a visita à biblioteca da própria escola; em seguida, à biblioteca pública da

cidade, em virtude desta encontrar-se localizada próximo à escola em que estudam.

Durante as visitas às duas bibliotecas, os alunos mostraram-se muito entusiasmados

e curiosos; alguns deles não conheciam ainda a biblioteca pública municipal,

relataram que não tinham tido a oportunidade de conhecê-la antes. A alegria era

visível nas atitudes dos alunos, em seus olhares e manifestações, tudo o que lhes

era apresentado naquele momento, constituía-se em novidade para eles. A

apresentadora da biblioteca nos recepcionou com satisfação, mostrando-nos todos

os compartimentos, salas de estudo, gibiteca, arquivos catalográficos, sala de

cinema e vídeo, portfólios com jornais, estantes com muitos livros, entre outros.

Naquele contato, os alunos puderam ficar bem à vontade com os livros, os quais

foram apresentados a eles de forma simpática, descontraída e afetuosa; os alunos

puderam manusear os livros, folheá-los, observando as capas, os títulos, os

desenhos, as ilustrações; enfim, as intenções de leitura.

Quando do momento de nossa visita à biblioteca pública municipal “Sandálio

dos Santos / Lei nº 402/65”, acontecia, naquela oportunidade, a Contação de

história, um dos projetos desenvolvidos pela referida biblioteca. Depois de visitarmos

os departamentos, fomos ouvir as histórias pelo contador. A reação dos alunos, ao

ouvirem as narrativas, foi de entusiasmo e alegria. E ao finalizar, o contador

oportunizou aos estudantes, um instante para que também pudessem contar as

suas histórias, então muitos deles tiveram a iniciativa de também contar sua história.

No instante da visita às mencionadas bibliotecas, os alunos já puderam

providenciar a confecção da “carteirinha” para o empréstimo de livros, e, saíram das

respectivas bibliotecas com os livros nas mãos. Após os estudantes terem efetuado

a escolha dos livros, e de posse deles, estes foram levados para a sala de aula para

a leitura.

Ao levarmos obras literárias para a sala de aula, estabelecemos junto aos

alunos, uma relação dialógica entre o livro, o próprio aluno, sua cultura e a sua

própria realidade. A literatura infanto-juvenil, essencialmente, permite ao professor

trabalhar com a história a partir do ponto de vista do educando, possibilitando-lhe

uma análise de suas reflexões, opiniões e atitudes, porque estas influenciam a vida

da criança. Ao expor sobre literatura, Abramovich (1993, p. 99), caracteriza-a como

histórias de ficção, subjetivas, emocionantes e envolventes e que as crianças ao

atravessarem por problemas, o contato com a leitura descontraída, que acalme sua

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aflição; proporcionará a ela confiança em si mesma e no seu futuro, pois são nestas

narrativas que a criança se projeta e busca uma satisfação pessoal, emocional e

intelectual. Portanto, o resultado da leitura permanece associado a sentimentos

positivos, como a alegria, a esperança ou o alívio trazidos pela ficção numa

evocação constante das muitas emoções vividas pela criança na sua fase pueril.

Sobre a formação do leitor, Meireles (1984, p. 123) enfatiza que:

Se considerarmos que muitas crianças, ainda hoje, têm na infância o melhor tempo disponível da sua vida, que talvez nunca mais possam ter a liberdade de uma leitura desinteressada, compreenderemos a importância de bem aproveitar essa oportunidade. Se a criança desde cedo fosse posta em contato com obras-primas, é possível que sua formação se processasse de modo mais perfeito.

Durante os momentos em que os alunos realizavam as leituras, diversas

estratégias foram utilizadas, como exemplo: leitura silenciosa, leitura em voz alta,

expressiva, oralizada, compartilhada com os alunos; também deixamos livre ao

aluno que quisesse ler para os demais colegas de classe. As aulas de leitura

tornaram-se em verdadeiras “oficinas literárias”. Os alunos foram contagiados de tal

maneira, num clima de envolvimento, ludicidade e descontração em contato com o

universo dos livros; que ficou evidenciado pelos relatos que fizeram: “gostei deste

livro”, “estou gostando das aulas de leitura”, “eu gosto de ler livros com histórias

engraçadas” entre outros depoimentos. Enfim, os horizontes de expectativas foram

ampliados; principalmente, o gosto pela leitura literária fora conquistado, através de

um contato prazeroso e lúdico com a literatura infanto-juvenil, pois esta mexeu com

a sensibilidade dos alunos envolvidos neste projeto pedagógico.

Concomitante às aulas de leitura, eu, professora responsável pela

implementação do projeto em questão, contei algumas histórias aos alunos, as quais

estavam adequadas à faixa etária dos mesmos. O propósito dessa iniciativa foi a do

encantamento do aluno, para que ele tivesse o prazer em ouvir uma história bem

contada e que seu imaginário pudesse ser aguçado no instante em que estivesse

ouvindo a narrativa. Para tanto, no momento da contação das histórias, caracterizei-

me de acordo com a personagem principal da narrativa que iria contar; a exemplo:

numa história que tinha fada ou bruxa, utilizei vestimentas características de bruxa

e de fada (chapéu, vassoura, varinha mágica, capa, etc.), tal iniciativa serviu para

divertir e encantar os alunos que gostaram muito desta estratégia; demonstravam

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vontade e interesse em contar histórias, estando caracterizados também. Foi a partir

do interesse que os alunos demonstraram em encenar as histórias lidas por eles,

que iniciamos o trabalho com a dramatização.

Depois de concluída a leitura dos livros, os quais foram escolhidos e lidos

pelos alunos; organizamos as equipes para a dramatização das histórias,

juntamente com a professora da disciplina de Artes, cuja contribuição foi importante

no que tange às orientações aos estudantes, acerca da utilização dos recursos

teatrais, tais como: gestos, expressões faciais e corporais, entonação de voz, entre

outros. Após a formação dos grupos, fora concedido um tempo satisfatório para que

os integrantes de cada grupo compartilhassem entre si as histórias lidas. Naquele

momento, os alunos tiveram a oportunidade de socializar com os demais colegas do

grupo, suas impressões de leitura, o que acharam da história lida, de que gostaram

ou não gostaram, por quê; permitiu-se que falassem livremente a respeito daquilo

que tinham lido.

Na sequência, os alunos fizeram a seleção das histórias que iriam dramatizar,

escolheram também qual personagem representariam, estudaram o cenário, a

caracterização das personagens, o tempo que levariam para os ensaios; enfim,

proporcionou-se um tempo hábil para que as equipes se organizassem para a

apresentação dos teatros. Um outro recurso empregado foi a caracterização dos

alunos no momento das encenações, como: vestimentas, acessórios e maquiagens;

para isso, organizamos com os alunos um “baú do teatro” com roupas, fantasias,

acessórios, maquiagens e quinquilharias, as quais foram utilizadas durante as

dramatizações. O mesmo procedimento fora usado, quando a teatralização

aconteceu por meio da pantomima, que é encenação de trechos de uma história em

que os estudantes, no momento atores da situação, expressam-se por meio de

gestos e expressões fisionômicas, utilizando-se apenas de mímicas, sem fazer uso

das palavras. Os alunos fizeram uso desta atividade, a pantomima, ao reproduzirem

pequenos trechos do enredo e para enfatizar a expressividade das personagens, ou

ainda, conforme iam lendo uma história, no momento que consideravam

conveniente, faziam a representação de uma cena marcante e interessante, até

mesmo para imitar um animal presente na narrativa lida.

Tanto a literatura como o cinema possuem algo em comum em sua essência

narrativa, porque os dois gêneros, literatura e cinema, objetivam a contação de

história; a diferença reside apenas na forma de narrar. Na literatura, os fatos e

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acontecimentos da narrativa literária são construídos e imaginados pela mente do

leitor, enquanto que na narrativa fílmica, o material são as imagens em movimento,

que falam por si através da visualização dos expectadores.

Então, levamos para a sala de aula, o filme “Alice no País das Maravilhas”,

produzido por Tim Burton, no ano 2010, para que o mesmo pudesse ser visto e

assistido pelos alunos. Seu enredo aponta para uma obra fantástica, porque a

personagem Alice passa por vários episódios diferentes, como: encolher ou ficar

gigante, transportar-se para um mundo distante (utopia) e de quimera. Nesta

proposta pedagógica, partimos da narrativa fílmica, uma vez que esta também

constitui-se em contação de história. Após assistirmos ao filme, algumas reflexões

foram efetuadas junto aos alunos, tais como: se gostaram da história, por quê, qual

cena consideraram mais interessante, o que ocorreu, se as personagens principais

são engraçadas e o que as fazem engraçadas. Ainda nesse diálogo, os alunos

obtiveram a informação de que tal narrativa, tratava-se de um Conto de Fadas, e

que antes mesmo de se tornar um filme, a história já estava narrada num livro. Em

seguida, o livro As aventuras de Alice no País das Maravilhas (2002) de Lewis

Carroll foi apresentado aos alunos, os quais procederam a leitura do mesmo.

Após o término da leitura do livro “As aventuras de Alice no País das

Maravilhas”, efetuamos uma discussão sobre a história lida, fazendo comparações

entre o livro e o filme, dos acontecimentos narrados no livro/filme com a realidade

vivida por eles (alunos), apontando as características físicas e psicológicas das

personagens, fazendo com que os alunos estabelecessem as diferenças e

semelhanças observadas em ambas narrativas; à medida que iam relatando,

anotávamos no quadro de giz. Em seguida montamos, coletivamente, um painel

ilustrativo que objetivou o desenvolvimentoda capacidade de imaginação,

criatividade, percepção e atenção por parte dos alunos. O painel foi dividido em duas

partes: de um lado estavam relacionadas as semelhanças e do outro, as diferenças

observadas entre a narrativa literária e a fílmica. Ao serem anotados os

acontecimentos, fatos e personagens; os alunos faziam os desenhos dos aspectos

enfatizados nas respectivas narrativas, até finalizar todas as diferenças e

semelhanças percebidas por eles.

Ainda, confeccionamos pequenos livros ilustrados contendo poesias

produzidas pelos estudantes, estes escolheram obras de seu agrado de acordo com

a sua preferência para a leitura, isto é, o gênero literário que lhes despertava o

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interesse e a vontade de ler, dentre os quais estiveram presentes, as narrativas

curtas e longas, poemas narrativos e também livros de poesias. Após a leitura dos

livros escolhidos pelos alunos, várias atividades foram efetuadas - em equipes os

alunos ilustraram e desenharam partes das narrativas que haviam lido, cenas e

trechos das histórias, e, das poesias e poemas também. Tal atividade foi realizada

em sala de aula durante as oficinas de leitura com os alunos envolvidos no projeto.

Na ocasião, procuramos proporcionar um ambiente prazeroso com música de

fundo enquanto os estudantes iam desenhando. Terminada esta etapa,

incentivamos os alunos para que criassem poesias e quadras poéticas com cenas e

episódios marcantes das histórias, como também acrósticos com os nomes das

personagens preferidas nas narrativas lidas; buscou-se um momento agradável

para que tivessem vontade e inspiração no instante das composições das poesias.

Em seguida, organizamos a seriação das composições, de acordo com a

sequenciação dos fatos e acontecimentos das histórias, agora ilustradas e com

poesias escritas. Os alunos fizeram desenhos para as capas dos livros e a escolha

das ilustrações mais sugestivas, também sugeriram alguns títulos para colocarmos

nos livrinhos que foram escolhidos através de votação em sala. Providenciamos a

encadernação dos mesmos, os quais foram expostos na reunião de pais e

professores que ocorreu no mês de maio, nas dependências da escola.

De acordo com Silva (1989, p. 59), no momento em que o estudante termina

de ler ou ouvir uma história, esta permanece viva em sua mente, nutrindo a sua

imaginação criadora. Portanto, é recomendável que se façam atividades de

enriquecimento com os alunos; pois a história funcionará como agente

desencadeador da criatividade e imaginação.

Outra atividade desenvolvida foi a construção de maquetes, a qual se deu a

partir de uma nova dinâmica de leitura. Numa outra visita à biblioteca da escola,

fizemos a escolha de alguns títulos de livros; esta seleção obedeceu o seguinte

critério: obras com mais de um volume do mesmo título, isto permitiu que alguns

alunos tivessem acesso à leitura de um mesmo título, para que a formação das

equipes acontecesse a partir das escolhas feitas naquele momento. Ao retornarmos

para a sala de aula, já com os livros escolhidos, os estudantes procederam a leitura

silenciosa dos mesmos; os alunos sentados e em círculo. Após finalizada a leitura,

verificamos quem havia lido a mesma história, então agrupamos os alunos de

acordo com os títulos dos livros em comum; formadas as equipes, oportunizamos

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aos alunos que falassem sobre o livro lido – o que acharam da história, se gostaram,

de que mais gostaram, se pudessem modificar algo na narrativa o que é que

modificariam e por que o fariam. Logo, propusemos às equipes que fizessem a

escolha de uma cena ou episódio da história e que gostariam de representar numa

maquete; então, decidiu-se os detalhes para a construção da mesma, isto é, o que

iriam representar, os materiais que seriam necessários, como seria feito e quem

traria o quê.

Tal recurso, a construção de maquetes, proporcionou resultados

considerados muito positivos, uma vez que o envolvimento e entusiasmo por parte

dos alunos foi extraordinário. Houve a necessidade de organização e disposição das

equipes para a seleção de materiais sucata que seriam utilizados durante a

confecção das maquetes; que consistia em reproduzir uma cena da narrativa lida e

estudada. Depois de concluído o trabalho, as maquetes também foram expostas na

reunião de pais e professores no mês de maio. Na ocasião, os alunos expositores

faziam a explanação oral aos visitantes, explicando-lhes que se tratava de uma

atividade que envolvia a leitura literária, estes, por sua vez, interagiam com

espontaneidade.

Também as maquetes foram expostas na Mostra literária, organizada pela

professora e pelos alunos envolvidos no projeto que ocorreu no mês de junho.

Organizamos uma exposição de todos os trabalhos confeccionados pelos

estudantes durante o semestre, envolvendo a leitura literária. Os trabalhos das

maquetes foram dispostos no auditório do colégio, e cada uma das equipes ficou

responsável pela explanação oral, isto é, a contação da história que haviam

trabalhado na referida maquete. À medida que os alunos, professores e

funcionários dirigiam-se às equipes, estas, cada qual em seu momento, procediam a

oralidade das narrativas. Durante as visitas dos participantes às equipes envolvidas,

percebíamos pelos olhares e expressões faciais que realmente foram contagiados,

pois o deslumbramento era visível em cada rosto.

RESULTADOS OBTIDOS COM A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE

DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

Por intermédio do trabalho implementado ao longo de um semestre,

buscamos desenvolver junto aos alunos do sexto ano do ensino fundamental, o

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gosto e a fruição pela leitura literária; sem a preocupação do didatismo, do texto

como pretexto para se ensinar algum conteúdo; mas sim através de uma proposta

lúdica de conquista e envolvimento; pelo prazer de ouvir uma história bem contada,

de humor, com enredo bem imaginado, com pontos emocionantes; a partir de uma

narrativa viva, cheia de surpresas, conflitos incitantes, com expressividade e

questionamentos nas entrelinhas.

Esta prática procurou, por meio de uma iniciativa de encantamento e

ludicidade, o incentivo e motivação nos educandos do gosto pela leitura literária,

uma vez que este só se desenvolve pela oportunidade, estímulo e exemplo. Dessa

forma, as leituras e os estudos adquiridos possibilitaram à professora participante do

Projeto PDE 2012, avanços de seus princípios e práticas, oferecendo-lhe condições

para a construção do seu conhecimento; pois, de acordo com Freire (2003, p. 58)

“estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema”.

Portanto, muitas ações foram desenvolvidas juntamente com os alunos

envolvidos neste processo. Durante o período de preparação da Produção Didático-

Pedagógica, organizamos uma coletânea de livros da literatura infanto-juvenil,

composta por diferentes obras e autores; na ocasião também efetuamos solicitações

para a doação de exemplares, junto a algumas Fundações, como também a

aquisição de vários títulos em livrarias e sebos. À medida que o trabalho se

desenvolvia, os alunos traziam mais livros para complementar a coletânea; a

quantidade de exemplares já tem dobrado, formando assim uma minibiblioteca. Os

livros ficam acomodados numa espécie de “baú” ambulante (uma caixa decorada em

formato de casa), que é transportado pelos alunos, para as salas de aula durante os

momentos de leitura.

Consideramos que a prática executada durante a implementação deste

projeto, alcançou o objetivo proposto, isto pode ser constatado nos alunos, através

da vontade mais profunda pela leitura e interação com a mesma; como também

mudanças de atitudes e no hábito de ler. Observou-se que a contação de histórias

ultrapassou a diversão e o encantamento; podemos perceber que de fato o ato de

ler capacitou os estudantes a assimilar melhor a realidade e a refletir sobre a

mesma. Os alunos verbalizaram suas ideias e opiniões sobre o ato de ler, como por

exemplo: “ a leitura faz bem pra mente, estimula o cérebro, faz relaxar, desperta a

imaginação e a criatividade; algumas leituras podem até substituir o papel do

terapeuta, muitas vezes o tema do livro abre os olhos de algo ainda não percebido;

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através da leitura podemos nos libertar dos medos; lendo aprendemos a resolver

nossos problemas; nos transportamos para lugares distantes e diferentes; a leitura é

algo bom para a vida, ela alivia o estresse e faz a gente se sentir melhor “.

Vale ainda destacar que, os estudantes tiveram a oportunidade de presenciar

o espetáculo “Literatura de Cordel”, apresentado pela Cia Teatral Procênio, da

cidade de Limeira, estado de São Paulo, no auditório da escola Eleodoro. E,

enquanto escrevíamos o presente trabalho, os alunos envolvidos neste projeto

participaram da “Semana Literária”, evento organizado pelo SESC de Cascavel, cujo

enfoque foi o incentivo à leitura literária; o momento contou com a participação de

contadores de história, feira de livros e apresentação de peça teatral.

Ainda, as atividades desenvolvidas no Grupo de Trabalho em Rede (GTR),

foram muito relevantes; as contribuições inferidas no decorrer do trabalho mostraram

consistência nas abordagens efetuadas pelas colegas cursistas, que, ao

transcorrerem sobre as temáticas sugeridas, demonstraram conhecimento, leitura e

aprofundamento teórico-prático; também as interações foram positivas e produtivas,

bem como nos relatos efetuados quanto às experiências vivenciadas e praticadas

pelos professores em sala de aula. O grupo discutiu, refletiu, argumentou e debateu

com ideias, sugestões e apontamentos considerados extremamente importantes.

Sem dúvida, a avaliação que se faz daquele momento de aprendizagem é positiva e

motivadora; trata-se de oportunidade ímpar que nos proporcionou conhecimento e

crescimento profissional numa ação de reciprocidade.

Ao finalizarmos a implementação do trabalho a que nos propusemos,

organizamos junto com os alunos uma tarde que denominamos“Mostra literária”, que

aconteceu no antiteatro do colégio Eleodoro. Os estudantes dos 6ºs anos, turmas “A,

B, C, D”, apresentaram seus trabalhos, contando oralmente as encantadoras

histórias descobertas por eles durante todo o semestre, às demais turmas do

colégio, estudantes de 6º e 7º anos do ensino fundamental. Na ocasião, preparamos

um espaço, bem aconchegante com tapetes e almofadas, para que os alunos

visitantes estivessem à vontade para ouvir as histórias pelos contadores envolvidos

no projeto. Também foi exposto na mostra literária, todos os demais trabalhos

realizados pelos alunos: as maquetes construídas a partir de cenas das histórias

lidas, os livros ilustrados contendo poesias de autoria dos próprios alunos, a

minibiblioteca – coletânea com diversas obras literárias, banner estampando

fotografias das oficinas de leitura e com o objetivo do projeto de leitura da literatura

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infanto-juvenil, que foi confeccionado para a divulgação dos trabalhos, quando do

evento ocorrido no mês de maio que reuniu a comunidade escolar do Colégio

Eleodoro.

No momento da “Mostra literária”, outros visitantes, além dos estudantes

acima mencionados, prestigiaram o evento: professores, funcionários da escola, pais

e equipe pedagógica, que encantaram-se ao ouvirem as muitas histórias contadas

pelos pequenos contadores, porém, grandes em vontade e entusiasmo. Porque,

quando aos leitores é proposto um importante repertório de narrativas, e estes

voltam-se para a fruição dessas histórias fantásticas; logo, estão usando o livro

como um alimento para a sua própria imaginação.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil – gostosuras e bobices. 3.ed. São Paulo: Scipione, 1993. ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS. Direção de Tim Burton. Local: Estados Unidos: Walt Disney Studios. 2010. DVD (109 min). Sonoro, legenda, color. BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. J. Guinsburg. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2010. CARROLL, Lewis. As aventuras de Alice no País das Maravilhas. 1.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1991. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler – em três artigos que se completam. 45ªed. SãoPaulo: Cortez, 2003. MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. PARANÁ. Diretrizes Curriculares Estaduais – Língua Portuguesa. SEED: Curitiba, 2008. SANDRONI, Laura C.; MACHADO, Luiz R.A criança e o livro – guia prático de estímulo à leitura. 4.ed. São Paulo: Ática, 1998. SILVA, Maria B. C. Contar histórias uma arte sem idade. 2.ed. São Paulo: Ática, 1989.

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SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. 2.ed.rev.ampl. Curitiba: Positivo, 2005. TAHAN, Malba. A arte de ler e contar histórias. 5.ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1966.