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Leitura e Interpretação de Mapas e Gráficos – uma estratégia na prática cartográfica 1 Aparecida de Fátima Alves Silva 2 Resumo: As Representações Gráficas, especialmente mapas e gráficos, são elementos importantes na aplicação de conteúdos geográficos, porém, por vezes constituem-se em entraves à aprendizagem devido às dificuldades que os educandos enfrentam em manipular estes instrumentos. O presente artigo tem como objetivo apresentar estratégias de trabalho em Representações Gráficas visando melhor entendimento e assimilação deste tipo de linguagem. Esta pesquisa teve como público-alvo educandos da 7ª série do Ensino Fundamental. O estudo baseou-se numa análise exploratória, caracterizado como de natureza qualitativa. O encaminhamento metodológico contou com diversas etapas, iniciando com a sondagem do nível de aprendizagem dos alunos a partir de uma avaliação diagnóstica. Posteriormente foram trabalhados conteúdos pertinentes à compreensão desta forma de comunicação, finalizando com a leitura e interpretação de mapas e gráficos. Nos resultados alcançados com este trabalho, destaca-se as significativas experiências adquiridas no processo ensino-aprendizagem destes conteúdos geográficos. Palavras-chave: Representações Gráficas. Estratégias Aplicadas. Ensino- aprendizagem. Conteúdos Geográficos. Abstract: The Graphic Representations, specially maps and graphics, are important elements in the application of geographic contents, but sometimes they become impediments for the learning because of the difficulties that the students face when they work with these instruments. This research had as a target public, student from 7 th grade from the Ensino Fundamental. The study had an exploratory analysis as its support, which had a quality characteristic. The methodological guideline had several stages, starting by the diagnostic survey of the students learning level. Later, we worked with the contents for comprehension of this type of communication, ending with the reading and interpretation of maps and graphics. In the results achieved with this work, the meaningful experiences acquired in the teaching- learning process of these geographic contents are detached. Key-words: Graphic Representations. Applied Strategies. Teaching-learning. Geographic Contents. 1 Artigo apresentado como trabalho final do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná – processo de formação continuada, realizado em 2007/2008) sob orientação do Prof. Dr. Sérgio Luiz Thomaz (DGE/UEM). 2 Licenciada em Geografia pela UEM (Universidade Estadual de Maringá), Pós-graduada em Geografia Humana do Estado do Paraná pela UEM, e em Educação Especial pela Faculdade Maringá. Professora de Geografia do Ensino Fundamental e Médio na EJA (Educação de Jovens e Adultos) e no Ensino Regular da Rede Estadual do Paraná. 1

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Leitura e Interpretação de Mapas e Gráficos – uma estratégia

na prática cartográfica1

Aparecida de Fátima Alves Silva2

Resumo: As Representações Gráficas, especialmente mapas e gráficos, são elementos importantes na aplicação de conteúdos geográficos, porém, por vezes constituem-se em entraves à aprendizagem devido às dificuldades que os educandos enfrentam em manipular estes instrumentos. O presente artigo tem como objetivo apresentar estratégias de trabalho em Representações Gráficas visando melhor entendimento e assimilação deste tipo de linguagem. Esta pesquisa teve como público-alvo educandos da 7ª série do Ensino Fundamental. O estudo baseou-se numa análise exploratória, caracterizado como de natureza qualitativa. O encaminhamento metodológico contou com diversas etapas, iniciando com a sondagem do nível de aprendizagem dos alunos a partir de uma avaliação diagnóstica. Posteriormente foram trabalhados conteúdos pertinentes à compreensão desta forma de comunicação, finalizando com a leitura e interpretação de mapas e gráficos. Nos resultados alcançados com este trabalho, destaca-se as significativas experiências adquiridas no processo ensino-aprendizagem destes conteúdos geográficos.

Palavras-chave: Representações Gráficas. Estratégias Aplicadas. Ensino-aprendizagem. Conteúdos Geográficos.

Abstract: The Graphic Representations, specially maps and graphics, are important elements in the application of geographic contents, but sometimes they become impediments for the learning because of the difficulties that the students face when they work with these instruments. This research had as a target public, student from 7th grade from the Ensino Fundamental. The study had an exploratory analysis as its support, which had a quality characteristic. The methodological guideline had several stages, starting by the diagnostic survey of the students learning level. Later, we worked with the contents for comprehension of this type of communication, ending with the reading and interpretation of maps and graphics. In the results achieved with this work, the meaningful experiences acquired in the teaching- learning process of these geographic contents are detached.

Key-words: Graphic Representations. Applied Strategies. Teaching-learning. Geographic Contents.

1 Artigo apresentado como trabalho final do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná – processo de formação continuada, realizado em 2007/2008) sob orientação do Prof. Dr. Sérgio Luiz Thomaz (DGE/UEM).

2 Licenciada em Geografia pela UEM (Universidade Estadual de Maringá), Pós-graduada em Geografia Humana do Estado do Paraná pela UEM, e em Educação Especial pela Faculdade Maringá. Professora de Geografia do Ensino Fundamental e Médio na EJA (Educação de Jovens e Adultos) e no Ensino Regular da Rede Estadual do Paraná.

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1- INTRODUÇÃO

O atual período, denominado técnico-científico, é caracterizado

por um conjunto de novas tecnologias e dados que perpassam os

continentes, trazendo muitas transformações na sociedade. Diante da

quantidade imensurável de informações que são apresentadas

diariamente, em diferentes linguagens (escrita, falada, cartografada e

gráfica), a Geografia destaca-se como uma ciência primordial para

ajudar a desvendar os atuais acontecimentos, bem como interpretar

essas linguagens, favorecendo o entendimento da organização do

espaço geográfico.

As Representações Gráficas há muito tempo são usadas pela

disciplina geográfica, mas nem sempre proporcionam resultados

satisfatórios. Isso é decorrente, entre diversas razões, do uso de

metodologias inadequadas para o ensino-aprendizagem. Às vezes, os

mapas são usados para pintura ou até mesmo como meras ilustrações

de um texto, deixando de ser um material pedagógico. No caso dos

gráficos, são pouco explorados por serem vistos como um material de

difícil compreensão pelos alunos.

Esses fatos demonstram certas características tradicionais desta

ciência como trata as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para o

ensino da disciplina: "Não havia, no trabalho metodológico cartográfico,

a preocupação de explicar o ordenamento territorial da sociedade”

(2006, p. 48).

Esta linguagem é um meio de comunicação relevante para

diversas áreas e deve ser trabalhada na escola, conforme afirma

ALMEIDA

“É função da escola preparar o aluno para compreender a organização espacial da sociedade, o que exige o conhecimento de técnicas e instrumentos necessários à representação gráfica desta organização" (2003, p.17).

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Sendo assim, o fazer pedagógico deste tema deve ser

significativo, para que os alunos compreendam como nossa sociedade

está espacialmente representada e organizada e como isso pode

influenciar no seu dia-a-dia.

O público alvo desse trabalho são alunos do Ensino Fundamental,

mais especificamente da 7ª série, mesmo considerando que eles já

estudaram esses conteúdos anteriormente, alguns demonstram

defasagens na assimilação dos mesmos. Portanto, é objetivo desta

proposta apresentar princípios desta ferramenta, correlacioná-la ao

espaço vivido e sugerir estratégias para que a aprendizagem ocorra de

forma concreta, isto é, que ela seja aplicada pelo educador e assimilada

pelo educando da melhor forma possível.

O material selecionado para o desenvolvimento do trabalho em

questão foi organizado a partir da relação da Geografia com a

Cartografia, visto que uma refere-se aos conteúdos espaciais e a outra

aos instrumentos usados para melhor representação do espaço. Na sala

de aula, foram desenvolvidos temas referentes à concepção espacial,

ressaltando como se dá a apropriação destas noções e alguns princípios

das Representações Gráficas. Depois foram realizadas diversas

estratégias (atividades orais e escritas, maquetes, mapas) para o

entendimento do tema proposto.

O referencial teórico-metodológico desta pesquisa, foi baseado em

autores como: Jacques Bertin, Almeida & Passini, Castrogiovanni,

Martinelli, entre outros. Destacando que eles relacionam muitos

aspectos das técnicas cartográficas como ferramenta para a Geografia,

mas ressaltam que o interesse primordial do seu uso deve ser o

desenvolvimento dos conhecimentos geográficos.

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2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 - Geografia e sua relação com a Cartografia

O contexto mundial que ora se apresenta é caracterizado por uma

intensa gama de tecnologias que tem provocado transformações na

economia, na política e na educação. Essas mudanças trazem novas

formas de ver e sentir o espaço geográfico, influenciando o ensino da

Geografia na escola, uma vez que esta disciplina tem a preocupação de

fornecer ao aluno subsídios para que ele possa “entender” o mundo e

fazer uma leitura crítica ou mais atenta desta “reorganização espacial e

social”. Segundo CAVALCANTI

A geografia defronta-se, assim, com a tarefa de entender o espaço geográfico num contexto bastante complexo. O avanço das técnicas, a maior e mais acelerada circulação de mercadorias, homens e idéias distanciam os homens do tempo da natureza e provocam certo encolhimento do espaço de relações entre eles [...] (2005, p.16).

Diante do exposto, cabe ao professor preparar os alunos para

“descobrir-se” como cidadão no mundo globalizado. A Geografia é uma

ciência que utiliza mapas e gráficos para o estudo do espaço, assim,

quanto melhor este espaço for representado, melhor será entendido. De

acordo com PASSINI

O ensino da Geografia e o de Cartografia são indissociáveis e complementares: a primeira é conteúdo e a outra é forma. Não há possibilidade de se estudar o espaço sem representá-lo, assim como não podemos representar um espaço vazio de informações (2007, p.148).

Portanto, proporcionar ao educando a compreensão do Espaço

Geográfico, através das Representações Gráficas, relacionando-a aos

conteúdos, é necessário, para que ela não seja vista como um recurso

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técnico ou vazio sem fins práticos e científicos. KATUTA esclarece

melhor esta questão ao fazer o seguinte apontamento:

[...] é necessário salientar que a cartografia escolar deve estar amalgamada de tal forma aos objetivos pedagógicos do ensino da geografia, caso contrário, pode se tornar um mero apêndice na referida disciplina, ao contrário do que muitos afirmam, entendo que a cartografia é imprescindível ao ensino da geografia por tratar-se de uma linguagem que permite apreender, expressar e comunicar a espacialidade dos fenômenos a fim de que se possam realizar e estabelecer raciocínios geográficos (2007, p. 135, grifo nosso).

Considerando o Espaço Geográfico como objeto de estudo da

Geografia, é interessante destacar alguns pontos relevantes na

aplicação desta linguagem. Seu papel não é de ilustrar uma aula, não se

deve usar o gráfico pelo gráfico ou o mapa como passatempo para os

alunos. Ela deve ser um recurso de mediação para o melhor

entendimento dos conteúdos geográficos e, conseqüentemente, para a

aquisição destes conhecimentos, conforme contemplam as Diretrizes

Curriculares

Propõe-se que os mapas e seus conteúdos sejam lidos pelos estudantes como textos passíveis de interpretação, problematização e análise crítica. Que jamais sejam meros instrumentos de localização dos eventos e acidentes geográficos [...] (2006, p. 48).

O principal objeto da Cartografia é o mapa, sendo um instrumento

de localização e representação precioso na Geografia, na medida em

que traduz fatos abstratos em algo concreto. Segundo ALMEIDA E

PASSINI

O mapa é uma representação codificada de um determinado espaço real. Podemos até chamá-lo de um modelo de comunicação, que se vale de um sistema semiótico complexo. A informação é transmitida por meio de uma linguagem cartográfica, que se utiliza de três elementos básicos: sistema de signo, redução e projeção (2004, p. 15).

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A Geografia sempre teve a Cartografia ao seu lado para

representar o espaço. Todavia, a partir dos anos 70, ocorreu um

distanciamento entre o ensino da Geografia e essa ciência em razão do

surgimento da Geografia Crítica. Neste momento ela baseava-se nas

práticas marxistas e valorizava fortemente a sociedade em detrimento

do espaço, fazendo com que a Cartografia caísse em descrédito. Os

geógrafos alegavam que o seu uso era feito de forma mecanicista,

associando-a, a prática da Geografia Tradicional, que estava sendo

questionada neste período.

Ao final da década de 80, em razão de mudanças nas orientações

teórico-metodológicas de algumas ciências e de diversas pesquisas, a

sua importância como linguagem cartográfica foi retomada, valorizando

sua aplicação no ensino da Geografia. No entanto, a discussão precisa

continuar, para que seja eficiente, indo além das técnicas e dos

conhecimentos de códigos que lhes são próprios. Devem-se criar

significados da realidade que está sendo cartografada e relacionar os

conteúdos geográficos com aqueles representados espacialmente.

Para aplicação metodológica das Representações Gráficas pode-se

dividi-las em duas categorias: cartográfica (mapas, plantas e globo) e

gráfica (histograma, pirâmide e setorial). Elas comunicam imagens

destinadas à percepção visual, tendo como base uma imagem plana.

Segundo MARTINELLI (1998) os mapas e gráficos possuem princípios

para sua construção, como as variáveis visuais, as propriedades

perceptivas e as dimensões X,Y e Z. Essa metodologia auxilia a

responder algumas perguntas - Onde? O quê? Em que ordem?

Quando? - além de proporcionar uma leitura mais elaborada dos

aspectos da Geografia.

Mas em que momento usar uma categoria ou outra? Quando o

mapa ou o gráfico é mais interessante? Para responder à pergunta

‘ONDE?’ Pode-se elaborar ou consultar um mapa, pois ele apresenta as

duas dimensões do plano, fornecida pelas coordenadas geográficas no

cruzamento das duas variáveis (X,Y), proporcionando a localização de

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qualquer ponto na Terra. No caso do gráfico, este responde às questões

‘Como? Em que Ordem? Quando?’. Ele apresenta os elementos do eixo

X e Y, e no seu cruzamento podem servir para compor a terceira

informação (Z), assim, permite uma resposta imediata de informações.

Portanto, a escolha dos instrumentos dependerá do fenômeno a

ser representado e do seu objetivo. No entanto, conforme o caso, pode-

se usar os dois recursos, pois, enquanto o mapa permite a localização, o

gráfico oferece a informação quantitativa. Enfim, essa linguagem pode

ser aplicada de diversas maneiras, permitindo ao usuário um produto

(mapa, gráfico ou carta) com riqueza de informações e dados.

2.2 – Concepção espacial e sua representação

Qual é o espaço percebido pela criança? Como ela percebe este

espaço? Como ocorre a representação deste espaço? Que importância

tem para a Geografia?

Estes questionamentos e outros tópicos referentes à concepção

de espaço são importantes para o aluno, tendo em vista sua relevância

para a compreensão dos elementos geográficos. Segundo LE SANN

Esta é a primeira noção caracteristicamente Geográfica. Varia do espaço local ao sideral, em função da escala. O espaço é percebido por meio da observação, seguida pelo seu registro, num primeiro momento sobre a forma de desenho, num segundo momento, por uma representação, ou seja, um desenho fiel à realidade (2007, p. 113).

Para adquirir noções espaciais e fazer a relação com a Geografia,

várias fases devem ser consideradas. No início, o espaço é muito

limitado, pois a criança precisa descobrir o corpo, só depois percebe o

espaço exterior e assim vai ampliando sua percepção. Para que ocorra a

conscientização do espaço ocupado pelo próprio corpo, há dois

processos essenciais: o esquema corporal, período em que a criança é

muito egocêntrica e vê tudo a partir de si, e a lateralidade, quando a

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criança adquire o domínio de um dos lados para se orientar

espacialmente. Segundo ALMEIDA & PASSINI, “Desde os primeiros

meses de vida do ser humano delineiam-se as impressões e percepções

referentes ao domínio espacial, as quais se desenvolvem através de sua

interação com o meio” (2004, p.11).

A evolução das formas de percepção do espaço passa por três

dimensões principais: o espaço vivido, o espaço percebido e o espaço

concebido. Primeiramente a criança entra em contato com o espaço em

que vive, recorrendo aos movimentos diversos: anda, salta, corre e

começa a diferenciar as distâncias entre objetos e sua relação. Ela usa

seu corpo como referencial para explorar as relações espaciais, nota as

diferenças entre perto/longe, em cima /embaixo. Nesta fase ela é capaz

de descobrir o espaço da sala de aula ou da rua onde vive.

A segunda dimensão refere-se ao espaço percebido, quando a

criança já consegue conhecê-lo, sem ter que experimentar como no

estágio anterior. A obtenção do domínio espacial, seguindo os conceitos

acima/abaixo, na frente/atrás, conduz a criança a identificar alguns

termos como dos pontos cardeais e entender a organização de espaços

mais amplos como do bairro, do município até do continente.

Dessa forma, o domínio do espaço vivido prepara a criança para o

entendimento do espaço percebido, que pode ser apresentado sob a

forma de uma paisagem ou de um documento impresso, como por

exemplo o mapa. Pode-se considerar que é nesse momento que começa

o entendimento da Geografia propriamente dita.

Quando ele já domina o espaço percebido, torna-se apto à última

dimensão, que é do espaço concebido ou das formas. Os objetos já não

são percebidos somente por sua concretude, mas pelas representações

entre eles e seu conteúdo. Essa fase extrapola o nível geográfico e está

mais próxima do domínio matemático.

Segundo Piaget, a construção do espaço processa-se através de

etapas, caracterizadas em estágios e sub estágios (PAGANELLI, 2007).

Sua elaboração inicia no nível concreto e, progressivamente, passa para

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o nível mais abstrato. Ocorre através de relações topológicas, projetivas

e euclidianas.

No período pré-operatório ou do espaço representativo (2 anos) é

possível trabalhar as relações significante/significado, pois a criança já

desenvolveu a função simbólica. Nesta fase, já se torna capaz de agir,

não somente sobre os objetos reais e concretos no seu tempo

perceptivo, como também sobre fatos simbolizados ou mentalmente

representados, o que auxiliará na compreensão da legenda para a

leitura gráfica.

No estágio das operações concretas (7/8 anos) o desenvolvimento

de algumas estruturas mentais leva à compreensão da proximidade e

da ordem, auxiliando ao entendimento das relações espaciais

topológicas (espaço vivido), que são auxiliares para a compreensão de

limites e fronteiras, assim como da organização do espaço e na leitura

de mapas. Nesse momento, é necessário que a criança tenha algum

domínio dos conceitos geográficos.

No entanto, a localização geográfica constrói-se à medida que o sujeito se torna capaz de estabelecer relações de vizinhança (o que está ao lado), separação (fronteira), ordem (o que vem antes e depois), envolvimento (o espaço está em torno) e continuidade (a que o recorte do espaço a área considerada corresponde) entre os elementos a serem localizados (ALMEIDA & PASSINI, 2004, p. 33).

No estágio intermediário a criança consegue libertar-se do seu

egocentrismo espacial, coordenar pontos de vistas, conservar formas,

descentralizar espaços e construir as relações espaciais projetivas

(espaço percebido), passando a ter possibilidades de ler e compreender

projeções cartográficas e entender a orientação geográfica. O espaço

não precisa ser mais experimentado fisicamente. A criança observa-o,

mas ainda tem dificuldade de representá-lo no mapa, pois essa ação

exige um grau de abstração que ela ainda não possui. As atividades

propostas devem desenvolver conceitos e noções, ao invés de

conteúdos sistematizados.

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O estágio das coordenações operatórias (11/12 anos) é a fase em

que os sistemas podem ser pensados simultaneamente, caracterizando

as operações formais. Ao construir as noções de proporcionalidade,

horizontalidade, verticalidade, a criança pode elaborar as relações

espaciais euclidianas (espaço concebido), sendo passíveis de

entendimento os conceitos de escala, e coordenada geográfica, abrindo

possibilidades para ler mapas murais e o Atlas. É possível à criança,

neste momento, estabelecer relações espaciais entre os elementos

através de sua representação. Isto é, mostra-se capaz de imaginar uma

área sem tê-la conhecido.

O Quadro 1 mostra a ligação entre os estágios de

desenvolvimento, as relações espaciais e os elementos cartográficos.

Quadro 1 - Operações Mentais Preparatórias Para Leitura

Eficiente de Mapas

PERÍODOS DE

DESENVOLVIMENTO

OPERAÇÕES

MENTAIS

RELAÇÕES

CONSTRUÍDAS

ELEMENTOS

CARTOGRÁFICOS

Estágio

Intermediário

do

Operatório

Formal

Proporcionalidade

Horizontalidade

Verticalidade

Relações

euclidianas/

projetivas

Escalas

Coordenadas

Geográficas

Conservação da forma

Coordenação de

pontos de vista

Descentralização

espacial

Orientação do corpo

Relações

espaciais

projetivas

Projeções

cartográficas

Orientação

geográfica

Operatório

Inclusão/exclusão

Interioridade/

exterioridade

Proximidade - Ordem

Vizinhança

Relações

espaciais

topológicas

Limites/fronteiras

Pré-operatório Função simbólica Relação

significante/

significado

Símbolos/legenda

Fonte: PASSINI, Elza, 1994, In Guia de Recursos Didáticos – Geografia. p. 16

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Portanto, os conceitos geográficos, a noção de espaço e a

aplicação dos princípios gráficos serão mais eficazes se forem

consideradas as fases de evolução da criança no seu desenvolvimento

como um todo: cognitivo (idade), motor (físico) e intelectual

(aprendizado).

2.3 - Princípios das Representações Gráficas

As Representações Gráficas são significativas para entender

textos, idéias e dados de forma eficaz e sintetizada. Assim, elas devem

comunicar as informações instantaneamente, através de imagens

visuais de forma monossêmica, isto é, sem ambigüidade, permitindo

uma única leitura.

A representação gráfica, segundo Bertin [...] não deve ser tratada como polissêmica, pois, de acordo com as bases da semiologia Gráfica, a Cartografia é considerada uma linguagem universal, não convencional, e portanto monossêmica (QUEIROZ, 2007, p.141).

A linguagem gráfica possui alguns princípios, sendo tratados

primeiramente pela Semiótica, conforme trata SIMIELLI

Ciência geral de todas as linguagens, mas especialmente dos signos [...]. O signo é algo que representa o seu próprio objeto. O signo possui dois aspectos: o significante e o significado. O significante constitui-se no aspecto concreto (matéria) do signo. Ele é audível e/ ou legível. O significado é o aspecto imaterial, conceitual do signo. O plano do significante é o da expressão e o plano do significado é o do conteúdo. Esses aspectos levam à significação que seria o produto final da relação entre os dois (2007, p. 78).

Para que o aluno se aproprie dessa simbologia gráfica e faça

leituras em diversos níveis, o professor deve considerar as dificuldades

na aquisição destes conteúdos, ajudando-os a assimilar com atividades

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concretas, partindo da representação de sua realidade, desenvolvendo

o raciocínio lógico-espacial.

Nesse processo gráfico, alguns pontos devem ser destacados: a

função simbólica, o conhecimento da utilização do símbolo e vivenciar

ou abstrair o espaço representado. Elas podem ser organizadas em três

momentos, conforme sugere ALMEIDA & PASSINI (2004, p. 23-24).

Tarefas operatórias – Para a construção da pré-aprendizagem,

destacando as atividades de orientação, a observação dos pontos de

referência e localização.

Atividades de codificação do cotidiano – Para o exercício da função

simbólica do mapeamento (significante – significado e criação de

significantes) a fim de elaborar e ler a legenda.

Leitura propriamente dita – Decodificar os signos para melhor

compreensão da legenda e de todos os símbolos do mapa.

Para a aprendizagem, os educandos devem primeiro construir o

mapa, se familiarizar com a simbologia aplicada, tornarem-se

mapeadores e depois leitores de mapas ou de qualquer instrumento

usado na Geografia. “Portanto, para que o aluno consiga dar o

significado aos significantes deve viver o papel de codificador, antes de

ser decodificador” (ALMEIDA & PASSINI, 2004, p. 22).

A Neográfica3 é outro aspecto importante, pois se refere ao

tratamento da informação através da organização lógica dos dados e do

uso conveniente das variáveis visuais, proporcionando o melhor uso da

imagem e assegurando um efeito visual satisfatório.

Neográfica é o tratamento gráfico da informação com objetivo de construir uma imagem. Bertin diz que para conseguir uma imagem que “fale” é preciso que haja interação entre o produtor e o leitor com o gráfico. O

3 Neográfica Este termo foi sugerido por Jayme A. Cardoso para La Graphique, disciplina criada por Jacques Bertin a partir da semiologia gráfica. Jacques Bertin foi o primeiro a lançar bases de uma estrutura gráfica, oferecendo teoria e instrumentos que mudaram a construção de gráficos e de dados a partir da linguagem (www.floresta.ufpr.br/pos-graduacao/neografica/ julho/2007).

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produtor deve procurar uma comunicação visual eficaz permutando as linhas e colunas N vezes (PASSINI, 2007, p. 175).

A Neográfica possui algumas leis fundamentais, que são aplicadas

principalmente para os gráficos, mas que também são relevantes para a

elaboração de mapas. Segundo BERTIN “A semelhança, a ordem e

proporcionalidade são os três significados da Neográfica. Estes

significados são transcritos por variáveis visuais tendo a mesma

propriedade significativa” (1986, p. 177).

2.3.1 - Tempos de Percepção Visual

Eles são apresentados em dois momentos: no primeiro aparece a

identificação externa que tem o objetivo de responder sobre qual tema

está sendo tratado, e no segundo a identificação interna que deve

responder quais relações existem entre os elementos gráficos. Toda

construção gráfica apresenta esses dados, mas analisar isoladamente

não serve de ferramenta de decisão ou de entendimento.

2.3.2 - Níveis de Informação

Eles ocorrem em diversas circunstâncias sendo caracterizados

como elementar, intermediário e global.

O Nível elementar é quando a informação surge a partir da

relação de um dado em X e em Y, considerando um elemento específico

não exigindo nenhum processamento mental mais elaborado. No Nível

intermediário se faz relações com mais de um dado, considerando um

subconjunto ou os dois extremos. No Nível global, a imagem deve

mostrar relações de conjunto, aparecem agrupamentos significativos

entre os dados. Existem diferentes níveis de processamento, visando

possibilitar visões sintéticas, mostrando características ou tendências

específicas ou gerais.

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As cartas, segundo Bertin, podem ser chamadas de “cartas para

ver” e “cartas para ler”. Elas devem responder visualmente

(significação da imagem) de forma instantânea. Ao ler uma carta o

usuário deve fazer dois tipos de pergunta. A primeira: ‘O que há em

tal lugar?’ Esta pergunta é relativa aos pontos geográficos expressos

em “X”. A outra: ‘Onde está essa característica?’ Refere-se ao

conjunto de caracteres expressos em Y (lugar). Nesse sentido, “cartas

para ver” devem responder instantaneamente aos dois tipos de

perguntas, a percepção visual deve ser instantânea. As “cartas para ler”

são aquelas que só respondem à primeira pergunta e dificultam a

comparação entre as outras cartas (SIMIELLI, 2007, 81).

2.3.3 - Gráfico - Forma x Conteúdo

Dentro da Neográfica, podemos destacar as relações existentes

entre forma e conteúdo de gráficos, pois eles devem estabelecer

comparações, ordenações e, principalmente, proporcionar a análise de

problemas e propostas de soluções. Sempre que uma tabela é

elaborada, o produtor gráfico (profissional da área, professor ou aluno)

deverá usar a melhor forma de representar no gráfico a relação

existente entre os componentes de igualdade/diferença, ordem e

proporcionalidade.

Os tipos de gráficos mais utilizados são de barras, linhas e

setorial. Para usá-los é necessário considerar a sua forma, pois ela deve

expressar melhor determinada relação e não pode estar desvinculada

de seu conteúdo (MARTINELLI, 1998, p. 22).

Sendo assim, um gráfico de barras permite melhor visualização da

informação diferenciando-a, e permitindo comparar quantidades

variadas de fenômenos sem continuidade. O gráfico de linha, por sua

vez, poderá mostrar melhor a evolução de um aspecto relacionando

com quantidade e tempo em um fenômeno com continuidade, enquanto

o gráfico setorial é usado para trabalhar quantidades proporcionalmente

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diferentes. Enfatizando que há certa dificuldade em alguns casos para

representar essas duas propriedades, forma X conteúdo, ou seja,

escolher qual deles é indicado para obter um melhor resultado da

informação. Assim, o produtor gráfico deve pensar nos objetivos da

construção do gráfico, no público que vai usar e respeitar os

fundamentos da linguagem gráfica para que ele seja útil na aplicação

desejada.

2.3.4 - O Uso da Cor nas Representações Gráficas

Na confecção dos produtos gráficos é importante o uso adequado

da cor, pois ela tem um grande poder na comunicação visual, dando

ênfase ao que se quer representar. Deve-se considerar o espectro de

cor que traz de um lado cores quentes e de outras cores frias. Os

critérios como a gradação das cores facilitará a percepção do conteúdo

que se deseja transmitir graficamente.

O mapa do relevo em cores hipsométricas representa o relevo por uma seqüência crescente de cores entre curvas de nível selecionadas, o que dá instantaneamente a idéia do volume e da plasticidade do relevo. A seqüência ordenada das faixas de altitudes, que vão das mais baixas às mais altas é representada por uma seqüência ordenada de cores, que vão das mais claras às mais escuras. Para as profundidades dos oceanos, adota-se uma seqüência de tons de azul. São as cores batimétricas (MARTINELLI, 2007, Informação pessoal).

Sendo assim, para o melhor entendimento das representações, é

necessário conhecer os princípios da Semiologia Gráfica e

conseqüentemente da Neográfica.

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3- METODOLOGIA

Atualmente os mapas e gráficos são bastante utilizados na mídia e

nos meios de comunicação, tanto falados quanto escritos, como ainda

nos livros didáticos, mas nem sempre conseguem transmitir a

informação de forma clara e apresentar o conteúdo de forma objetiva.

Isso ocorre por se tratar de um processo muito complexo, implicando na

decodificação de símbolos e elaboração de significados a partir das

representações e de seus códigos.

Outros problemas como a falta de objetividade na relação entre o

documento (mapa ou gráfico) e seus conteúdos, ocasionados pela forma

técnica de produção, pouca familiaridade com os códigos e despreparo

do usuário para a leitura desta linguagem, são algumas das razões para

que ocorra o uso inadequado dessas representações. Assim, muitas

vezes elas são meras ilustrações no texto, sem atender ao objetivo

primordial dessa ferramenta, que é de facilitar a compreensão da

informação para o leitor.

Para que se tenha um entendimento da linguagem gráfica, é

necessário adquirir condições mínimas de alfabetização ou leiturização

cartográfica, conforme trata SOUZA & KATUTA (2000), o que deveria

ocorrer nos bancos escolares. Esses requisitos não são fáceis de se

obter, pois, embora a alfabetização da escrita ocorra nas séries iniciais,

este tipo de alfabetização (leitura e a escrita da linguagem gráfica), não

é contemplado nesta etapa inicial. Quando se pretende trabalhar nas

séries seguintes, muitas vezes, ocorrem de forma precária,

considerando que muitos professores não estão devidamente

preparados para alfabetizar cartograficamente os seus educandos.

De forma geral, alguns pontos devem ser destacados para que os

educandos adquiram boas condições de interpretação gráfica ,

devendo-se:

• partir da prática para a teoria, isto é, mapear e codificar o seu

espaço;

• decodificar a legenda do espaço representado;

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• conhecer e dominar algumas habilidades corporais

(direita/esquerda);

• adquirir noções, conceitos, categorias de análise da linguagem

gráfica.

Além dessas observações, é necessário possuir informações

diversas do contexto local e global para que seja possível ler, relacionar

e interpretar esse recurso visual que é pleno de significados, situando-

se no teu espaço estabelecendo relações com o mundo. Segundo

ALMEIDA & PASSINI (2004), referenciadas pelas teorias de Piaget, todo

conhecimento deve ser construído pela criança através de suas ações

em interação com o meio e o conhecimento pode ser anteriormente

organizado na mente, proporcionando assim, acomodações dos

conhecimentos percebidos que passam a ser assimilados por ela.

Para que o indivíduo utilize essa linguagem, é necessário que ele

conheça e respeite as regras e os métodos cartográficos. De acordo

com CASTROGIOVANNI (2003, p. 36) o aluno deve construir as seguintes

noções cartogeográficas

• Proporcionalidade: sendo a relação que se estabelece entre o real

e a representação no papel (escala).

• Projeção: é o processo escolhido para transpor o real para o plano

bidimensional.

• Relação significado x significante dos signos cartográficos: é a

legenda propriamente dita.

• Orientação e localização: é o que permite clareza na situação dos

fenômenos.

• Ponto de referência para a localização: é o referencial do espaço

representado.

• Limites e fronteiras: são os “vizinhos” e a área que um

determinado espaço ocupa.

Como exposto anteriormente, essa linguagem apresenta uma

metodologia própria e exige condições prévias para seu entendimento.

Para LE SANN (2007), baseada em Piaget, os alunos desse ciclo próximo

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ao que selecionamos para a aplicação de nosso trabalho (7ª e 8ª séries),

têm condições psíquico-motoras para fazer a leitura gráfica, mas muitos

deles, por algum motivo, não adquiriram habilidades suficientes,

encontrando dificuldades nas representações espaciais. Isso foi

verificado no questionário aplicado aos educandos na etapa inicial do

projeto, em que se perceberam defasagens na aprendizagem deste

conteúdo.

Portanto, se o trabalho de construção gráfica não foi realizado

plenamente e satisfatoriamente nas séries iniciais da vida escolar,

devem-se propor, em momentos oportunos e de formas diferenciadas,

condições para que o educando adquira tais habilidades. Dessa forma,

deve-se planejar e executar procedimentos para resgatar conteúdos

defasados, retomando conceitos essenciais, desenvolvendo atividades

práticas como confecção de maquetes e croquis, bem como elaborar

roteiros de trabalho.

Diante do exposto, a proposta de atividades relacionadas a seguir,

foi elaborada e aplicada em sala, buscando atender ou sanar algumas

das dificuldades existentes no processo ensino-aprendizagem desta

linguagem.

3.1 - Desenvolvimento Metodológico da Proposta

Estas estratégias de implementação foram fundamentadas nos

referenciais bibliográficos apresentados nesta pesquisa, e

principalmente nos objetivos propostos no trabalho, a fim de que nossos

educandos apropriem-se, da melhor forma possível, destes

conhecimentos e os relacionem com os conteúdos geográficos.

OBJETIVOS:

Geral:

• Entender os aspectos geográficos a partir das representações gráficas.

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Específicos:

• Aprender a orientar-se e representar o espaço;

• Adquirir noções da linguagem gráfica;

• Entender a importância dos instrumentos gráficos e sua aplicação;

• Fazer a leitura de gráficos relacionados com os dados de uma

tabela;

• Diferenciar tipos de gráficos e mapas e entender seus elementos

(título, legenda, projeção e escala);

• Analisar e interpretar gráficos e mapas;

Esta proposta foi realizada em 3 etapas, com o intuito de

desenvolvê-la da melhor forma possível para atender os objetivos

traçados.

PRIMEIRA ETAPA: Diagnóstico da aprendizagem dos alunos e retomada

de conteúdos.

• Sondagem do nível de aprendizagem dos alunos das 7ª séries

quanto aos conteúdos referentes às representações gráficas.

• Delineamento ou ajustes das etapas de ação da proposta tendo

em vista as dificuldades apresentadas pelos alunos.

• Retomada dos conteúdos defasados, através de algumas

atividades tais como:

>Confecção e exploração de maquetes da sala de aula

enfocando localização, orientação e coordenadas geográficas.

>Elaboração do mapa do bairro (leitura do espaço vivido)

trabalhando tipos de escalas, legenda e projeções

(interpretação do espaço percebido).

>Análise das dimensões de espaços – município, estado, país,

continentes e localização dos oceanos.

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SEGUNDA ETAPA: Aplicação das estratégias em sala.

• 1º momento: Pesquisas em livros, jornais e internet informações

do crescimento da população do seu Município, Estado e do Brasil.

• 2º momento: Demonstração por meio de gráficos a evolução da

população nas escalas municipal, estadual e federal, respeitando

os elementos do gráfico tais como: título, cabeçalho e fonte.

• 3º momento: Leitura dos gráficos relacionando com a realidade

da em que o educando está inserido.

• 4º momento: Reconhecimento dos diversos tipos de mapas

através do uso do Atlas geográfico bem como a utilização do

globo terrestre para verificação dos hemisférios e das

coordenadas, geográficas (latitude e longitude).

• 5º momento: Localização dos limites e fronteiras do Paraná,

relacionando com os aspectos econômicos e sociais da população.

• 6º momento: Leitura do mapa das Mesorregiões do Paraná,

destacando as regiões com maior e menor densidade

demográfica, confeccionando legenda para sua representação

gráfica.

• 7º momento: Elaboração de um portfólio contendo as atividades

realizadas durante o projeto.

• 8º momento: Produção de texto a partir da leitura e interpretação

do mapa demográfico do Brasil, correlacionando com os

conteúdos trabalhados, seguindo um roteiro.

Esta etapa teve como objetivo primordial relacionar os conteúdos

geográficos com as representações gráficas. Foi abordado os

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conteúdos referentes à Dimensão Cultural e Demográfica,

enfocando principalmente a distribuição da população no espaço

paranaense e brasileiro.

TERCEIRA ETAPA: Avaliação da aprendizagem considerando os

seguintes aspectos:

• Análise pertinente das informações nos gráficos e mapas;

• Evolução na apreensão dos conteúdos apresentados;

• Elaboração e entrega de um portfólio, com as atividades

realizadas;

• Produção de um texto com a análise e interpretação do mapa

do .Brasil . destacando a linguagem gráfica.

3.2 - Apresentação e análise dos resultados

Essa proposta teve início a partir da sondagem dos conhecimentos

que os alunos tinham das séries anteriores. Nesta etapa, foi possível

perceber que alguns apresentaram dificuldades na aquisição de certos

conteúdos como localização, orientação e noções gráficas. Tal

constatação auxiliou no direcionamento do nosso trabalho, uma vez que

apontou para a necessidade de dar mais atenção a estes tópicos, a fim

de que superassem as lacunas que traziam na aprendizagem.

Após esta etapa desenvolveu-se um trabalho de retomada de

conteúdos, iniciando com o tema Orientação. Assim foi desenvolvido

este conteúdo em sala e feito atividades no pátio da escola sobre o

tema, destacando a laterização (direita-esquerda) e frente e atrás. Em

seguida, foi elaborada a rosa-dos-ventos, primeiramente com os

educandos e depois no caderno, juntamente com outros

encaminhamentos para melhor fixação deste item e também de

localização.

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A fase referente à confecção de maquetes e plantas, merece

destaque, pois observou a dimensão bidimensional e tridimensional do

material produzido e possibilitou a exploração das coordenadas

geográficas e da linguagem gráfica. Na etapa seguinte foram realizadas

pesquisas, tabulação e correlação de dados, a partir das informações

obtidas. Houve também a confecção de gráficos e legenda, leitura e

analise de mapas e o registro das atividades no caderno, bem como

outras formas diferenciadas de estudos pertinentes aos conteúdos.

No término da aplicação das estratégias, foi possível verificar que

houve progresso, por parte dos educandos, pois demonstraram

compreensão e assimilação dos conteúdos apresentados, visto que, na

última parte dos encaminhamentos, a atividade culminava com a leitura

e interpretação do mapa do Brasil. O material usado trazia informações

sobre a densidade demográfica, através de vários instrumentos como

gráficos, tabelas e o mapa propriamente dito. Os educandos produziram

um texto, tendo como referencial um roteiro, onde destacaram a

distribuição da população no território brasileiro, as áreas mais

concentradas, as causas e conseqüências do aumento populacional e

compararam os dados da tabela e dos gráficos entre si.

Diante de todo o trabalho realizado, vários pontos podem ser

destacados, entre eles o interesse da maioria e desinteresse da minoria

dos educandos, pelo tema, visto o empenho de solucionar as dúvidas.

Outros aspectos relevantes foram observados como o envolvimento e

capricho nas atividades, a atenção e a seriedade no trabalho. Quanto à

apropriação dos conteúdos ou a aprendizagem da linguagem gráfica, a

maioria demonstrou entendimento e assimilação dos temas

trabalhados, pois foram capazes de fazer a relação desta linguagem

com os conteúdos geográficos nas atividades propostas.

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4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização de todas as etapas desta Proposta de

Implementação, pode-se notar que sua aplicação foi válida e

significativa. Observou-se também que o material elaborado foi muito

pertinente, pois utilizou diversos caminhos estratégicos para o

desenvolvimento do trabalho pedagógico de forma eficaz. Esta

aplicação procurou sanar algumas das dificuldades verificadas no início

da Proposta, bem como possibilitou entender diversos aspectos desta

forma de linguagem e representação, viabilizando melhor sua

aplicação.

Tendo em vista que a Proposta foi realizada passo-a-passo,

respeitando o nível de compreensão de nossos educandos, foi possível

perceber avanços na apropriação e uso dessa ferramenta, bem como a

assimilação dos conteúdos geográficos. Portanto, pode-se considerar

que esse trabalho proporcionou uma experiência riquíssima, referente à

pesquisa, elaboração e a aplicação das representações gráficas,

possibilitando melhorias do trabalho em sala de aula. Para finalizar

destaca-se que esse material está em construção, ficando assim o

desafio de continuar a reflexão sobre esse tema, aprimorando-o e

adaptando-o para ser aplicado de acordo com cada realidade.

5- REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Rosângela Doin de. Do Desenho ao Mapa: iniciação cartográfica na escola. 2 ed. – São Paulo: Contexto, 2003. 115 p.

_______, Rosângela Doin de; PASSINI; Elza Yasuko. O Espaço Geográfico: ensino e representação. 15ª ed. São Paulo: Contexto, 2004. 90 p.

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BERTIN, J. 1986. A neográfica e o tratamento gráfico da informação. Curitiba: Editora da Universidade Federal do Paraná. 273 p.

CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. O Misterioso Mundo que os Mapas Escondem. In: Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: UFRGS/Associação dos Geógrafos Brasileiros, 2003. p. 31-47

CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, Escola e Construção de Conhecimentos. 8ª ed. Campinas: Papirus, 2005. 192 p.

KATUTA, Ângela Massumi. Os Alunos e seus mapas: repassando a cartografia para escolares no contexto do ensino de geografia. In: LIMA, Maria das Graças, LOPES e Claudivan N. Sanches (org.). Geografia e Ensino: Conhecimento Científico e Sociedade. Maringá; Massoni, 2007. p.133-148

LE SANN, Janine G. Metodologia Para Introduzir a Geografia no Ensino Fundamental. In: ALMEIDA Rosângela Doin. Cartografia Escolar. São Paulo: Contexto, 2007. p. 95-118

MARTINELLI, Marcelo. Gráficos e Mapas: Construa-os Você Mesmo. São Paulo: Moderna, 1998. 120 p.

PAGANELLI, Tomoko Iyda. Para Construção do Espaço Geográfico na Criança In: ALMEIDA Rosângela Doin. Cartografia Escolar São Paulo: Contexto, 2007. p. 43-70 PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. DIRETRIZES CURRICULARES DE GEOGRAFIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. Curitiba, 2006. 54 p.

PASSINI, Elza Yasuko. Os Gráficos em Livros Didáticos de Geografia de 5ª Série: seu significado para alunos e professores. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. 280 p.

________, Elza Yasuko in: GUELLI, Neuza Sanchez; ORENSZTEJN Miriam. Guia e Recursos Didáticos - Geografia. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2005. p.16

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_________,Elza Yasuko. Prática de ensino de geografia e estágio supervisionado. São Paulo: Contexto, 2007. p. 143-155

_________,Elza Yasuko. Aprendizagem Significativa de Gráficos no Ensino de Geografia. In: ALMEIDA Rosângela Doin. Cartografia Escolar. São Paulo: Contexto, 2007. p. 173-192

QUEIROZ, Deise Regina Elias. Cartografia Temática – Evolução e Caminhos de Pesquisa. In: Boletim de Geografia. Nº 2 5 (1) Maringá: Massoni, 2007. p. 137-150

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