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Mabel Meira Mota, Lívia Borges Souza Magalhães e Laylla Gomes Franco Leitura e produção de texto acadêmico Licenciatura em Teatro

Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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Page 1: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

Mabel Meira Mota Liacutevia Borges Souza Magalhatildees e Laylla Gomes Franco

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Licenciatura em Teatro

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAESCOLA DE TEATRO

LICENCIATURA EM TEATRO

Salvador 2020

MABEL MEIRA MOTALIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES

LAYLLA GOMES FRANCO

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior - Brasil (CAPES) - Coacutedigo de Financiamento 001 Esta obra estaacute sob licenccedila Creative Commons CC BY-NC-SA 40 esta licenccedila permite que outros remixem

adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins natildeo comerciais desde que atribuam o devido creacutedito e que licenciem as novas criaccedilotildees sob termos idecircnticos

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Universitaacuterio de Bibliotecas da UFBA

M917 Mota Mabel Meira Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico Mabel Meira Mota Liacutevia Borges Souza Magalhatildees Laylla Gomes Franco - Salvador UFBA Escola de Teatro Superintendecircncia de Educaccedilatildeo a Distacircncia 2020 68 p il Esta obra eacute um Componente Curricular do Curso de Licenciatura em Teatro na modalidade EaD da UFBA

ISBN 978-65-5631-032-9 1 Leitura 2 Redaccedilatildeo acadecircmica 3 Textos ndash Anaacutelise 4 Fichamento5 Resumos 6 Elaboraccedilatildeo de resenhas ndash Teacutecnica I Magalhatildees Liacutevia Borges Souza II Franco Laylla Gomes III Universidade Federal da Bahia Escola de Teatro IV Universidade Federal da Bahia Superintendecircncia de Educaccedilatildeo a Distacircncia V Tiacutetulo

CDU 028

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAReitor Joatildeo Carlos Salles Pires da SilvaVice-Reitor Paulo Ceacutesar Miguez de OliveiraProacute-Reitoria de Ensino de GraduaccedilatildeoProacute-Reitor Penildon Silva FilhoEscola de TeatroDiretor Luiz Claacuteudio Cajaiacuteba

Superintendecircncia de Educaccedilatildeo aDistacircncia -SEADSuperintendenteMaacutercia Tereza Rebouccedilas Rangel

Coordenaccedilatildeo de Tecnologias EducacionaisCTE-SEADHaenz Gutierrez Quintana Coordenaccedilatildeo de Design EducacionalLanara Souza

Coordenadora Adjunta UAB Andreacutea Leitatildeo

Licenciatura em Teatro CoordenadorProf Mateus Schimith

Produccedilatildeo de Material DidaacuteticoCoordenaccedilatildeo de Tecnologias EducacionaisCTE-SEAD

Nuacutecleo de Estudos de Linguagens ampTecnologias - NELTUFBA

CoordenaccedilatildeoProf Haenz Gutierrez Quintana

Projeto graacutecoHaenz Gutierrez QuintanaFoto de capa

Equipe de Revisatildeo Edivalda AraujoJulio Neves PereiraMaacutercio MatosSimone Bueno Borges

Equipe DesignSupervisatildeo Alessandro FariaEditoraccedilatildeo Ilustraccedilatildeo

Amanda dos Santos Braga Amanda Soares Fahel Reis Bruno Deminco Ribeiro Davi Cohen Ramos Costa Ingrid Morais Barretto Leandro de Oliveira Souza Costa

Luana Lopes de Assis Marques de Andrade Michele Duran Rafael Moreno Design de Interfaces Raissa Bomtempo

Equipe AudiovisualDireccedilatildeo Haenz Gutierrez Quintana

Produccedilatildeo Daiane Nascimento dos Santos Victor GonccedilalvesCacircmera teleprompter e ediccedilatildeo Gleyson Puacuteblio Valdinei MatosEdiccedilatildeo Adriane Santos da Silva Alan Leonel Valente Moraes Lara Menezes Chaves Maria Giulia Santos Brandatildeo Lima Sabrina de Oliveira MartinsVideograsmos e Animaccedilatildeo

Alana Arauacutejo Camila Correia Gean Almeida Mateus Santana

Ediccedilatildeo de Aacuteudiotrilha sonora

Filipe Pires Aragatildeo Mateus Aragatildeo Pedro Henrique Queiroz Barreto Rebecca Gallinari

SUMAacuteRIO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS 07

APRESENTACcedilAtildeO 08

UNIDADE 1 - LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS

NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO 1011 ndash O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1312 ndash COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1713 ndash ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOS 20

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeito 21

UNIDADE 2 - GEcircNEROS TEXTUAIS E O

CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO 2521 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICAS 27

211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falando 30212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicos 31

22 FICHAMENTO 33221 Os tipos de chamento 36222 Estrutura retoacuterica 37223 O que diz a norma 37224 Exemplos 39

23 RESUMO 41231 Tipos de resumos 47232 Estrutura retoacuterica 47233 O que diz a norma 49234 Exemplos 50

24 RESENHA 51241 Estrutura retoacuterica 55242 O que diz a norma 57243 Exemplos 58

25 ENSAIO 58251 Estrutura retoacuterica 63252 O que diz a norma 64253 Exemplos 64

REFEREcircNCIAS 65

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS

Mabel Meira Mota

Eacute licenciada em Letras pela Universidade Catoacutelica do Salvador Tambeacutem eacute mestre e doutora em Literatura e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia Trabalhou como professora no curso de Arquivologia do Instituto de Ciecircncia da Informaccedilatildeo da mesma universidade Atualmente eacute professora dos cursos de Licenciatura em Teatro e de Bacharelado em Biblioteconomia da Universidade Federal da Bahia ambos na modalidade Ead

Liacutevia Borges Souza Magalhatildees

Eacute licenciada a bacharel em Letras Vernaacuteculas pela Universidade Federal da Bahia Mestre e Doutora em Liacutengua e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia Lidera o Grupo de Pesquisa Memoacuteria em Papel (CNPq-UFBA) desenvolve pesquisas com acervos histoacutericos do seacuteculo XVI ao XX e atua no ensino superior como docente de disciplinas como Metodologia da Pesquisa Estaacutegio Supervisionado e no ensino baacutesico como professora de Literatura e Liacutengua Portuguesa

Laylla Gomes Franco

Eacute licenciada em Letras Portuguecircs e Inglecircs pela Universidade Salvador - UNIFACS Especialista em Docecircncia da Liacutengua Inglesa pela Faculdade Integrada Atua como professora de Liacutengua Portuguesa na rede puacuteblica de ensino do Estado da Bahia Foi articuladora da aacuterea de Liacutengua Portuguesa pelo Projeto Gestar na Escola e presidente do Colegiado Escolar no Coleacutegio Estadual Eraldo Tinoco Eacute mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora do Grupo de Estudos de Linguagens e Tecnologias - GP NELT - na Universidade Federal da Bahia

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

APRESENTACcedilAtildeO

Prezado(a) discente bem-vindo(a) agrave disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Este eacute o material didaacutetico dessa disciplina que faz parte do curso de Licenciatura em Teatro agrave distacircncia da Universidade Federal da Bahia Trata-se de uma disciplina que tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Iniciaremos a disciplina com uma discussatildeo sobre leitura para adentrarmos ao universo dos gecircneros produzidos e disseminados na esfera acadecircmica e com os quais vocecirc precisaraacute estar familiarizado pois ao fazer parte da academia vocecirc precisaraacute produzir compartilhar e difundir conhecimentos sob a forma de gecircneros acadecircmicos Exercitaremos sua capacidade de anaacutelise siacutentese e criacutetica atraveacutes de diferentes gecircneros textuais acadecircmicos Quais sejam chamentos resumos resenhas e ensaios Daremos destaque tambeacutem agrave normatizaccedilatildeo desses gecircneros a partir da Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) que orienta e normatiza a produccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos gecircneros textuais na esfera acadecircmica e cientiacuteca e tambeacutem agraves normativas especiacutecas da nossa universidade

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Eacute importante destacar que almejamos que vocecirc se aproprie de teacutecnicas para ler e produzir textos acadecircmicos mas mais do que isso que perceba que estes satildeo espaccedilos propiacutecios para expressar e disseminar sua forma de compreender o mundo Os textos escolhidos para leitura e para o exerciacutecio de produccedilatildeo de textos acadecircmicos visam contemplar a aacuterea para a qual vocecircs estatildeo se propondo a estudar o Teatro Aleacutem disso vocecircs teratildeo a oportunidade de conhecer algumas produccedilotildees acadecircmicas dos docentes do curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia

Ao nal da disciplina espera-se que vocecirc seja capaz de reconhecer e produzir os principais gecircneros acadecircmicos que abordaremos quais sejam chamento (cha de leitura) resumo resenha e ensaio Aleacutem disso espera-se tambeacutem que vocecirc saiba utilizar corretamente as normas institucionais e tambeacutem aquelas instituiacutedas pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos

O nosso livro encontra-se organizado em duas unidades temaacuteticas considerando os gecircneros contemplados na disciplina Unidade I ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO na qual discutiremos as especicidades da leitura anaacutelise de textos no universo acadecircmico destacando o gecircnero FICHAMENTO e Unidade II ndash GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO na qual seratildeo apresentados os principais gecircneros acadecircmicos existentes (chamento resumo resenha ensaio e artigo) contemplando quando possiacutevel os seguintes toacutepicos conceito e objetivo estrutura retoacuterica aspectos normativos e exemplos

Seraacute um prazer partilhar com vocecircs essa jornada no universo acadecircmico Bom trabalho para todos noacutes

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 2: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAESCOLA DE TEATRO

LICENCIATURA EM TEATRO

Salvador 2020

MABEL MEIRA MOTALIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES

LAYLLA GOMES FRANCO

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior - Brasil (CAPES) - Coacutedigo de Financiamento 001 Esta obra estaacute sob licenccedila Creative Commons CC BY-NC-SA 40 esta licenccedila permite que outros remixem

adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins natildeo comerciais desde que atribuam o devido creacutedito e que licenciem as novas criaccedilotildees sob termos idecircnticos

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Universitaacuterio de Bibliotecas da UFBA

M917 Mota Mabel Meira Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico Mabel Meira Mota Liacutevia Borges Souza Magalhatildees Laylla Gomes Franco - Salvador UFBA Escola de Teatro Superintendecircncia de Educaccedilatildeo a Distacircncia 2020 68 p il Esta obra eacute um Componente Curricular do Curso de Licenciatura em Teatro na modalidade EaD da UFBA

ISBN 978-65-5631-032-9 1 Leitura 2 Redaccedilatildeo acadecircmica 3 Textos ndash Anaacutelise 4 Fichamento5 Resumos 6 Elaboraccedilatildeo de resenhas ndash Teacutecnica I Magalhatildees Liacutevia Borges Souza II Franco Laylla Gomes III Universidade Federal da Bahia Escola de Teatro IV Universidade Federal da Bahia Superintendecircncia de Educaccedilatildeo a Distacircncia V Tiacutetulo

CDU 028

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAReitor Joatildeo Carlos Salles Pires da SilvaVice-Reitor Paulo Ceacutesar Miguez de OliveiraProacute-Reitoria de Ensino de GraduaccedilatildeoProacute-Reitor Penildon Silva FilhoEscola de TeatroDiretor Luiz Claacuteudio Cajaiacuteba

Superintendecircncia de Educaccedilatildeo aDistacircncia -SEADSuperintendenteMaacutercia Tereza Rebouccedilas Rangel

Coordenaccedilatildeo de Tecnologias EducacionaisCTE-SEADHaenz Gutierrez Quintana Coordenaccedilatildeo de Design EducacionalLanara Souza

Coordenadora Adjunta UAB Andreacutea Leitatildeo

Licenciatura em Teatro CoordenadorProf Mateus Schimith

Produccedilatildeo de Material DidaacuteticoCoordenaccedilatildeo de Tecnologias EducacionaisCTE-SEAD

Nuacutecleo de Estudos de Linguagens ampTecnologias - NELTUFBA

CoordenaccedilatildeoProf Haenz Gutierrez Quintana

Projeto graacutecoHaenz Gutierrez QuintanaFoto de capa

Equipe de Revisatildeo Edivalda AraujoJulio Neves PereiraMaacutercio MatosSimone Bueno Borges

Equipe DesignSupervisatildeo Alessandro FariaEditoraccedilatildeo Ilustraccedilatildeo

Amanda dos Santos Braga Amanda Soares Fahel Reis Bruno Deminco Ribeiro Davi Cohen Ramos Costa Ingrid Morais Barretto Leandro de Oliveira Souza Costa

Luana Lopes de Assis Marques de Andrade Michele Duran Rafael Moreno Design de Interfaces Raissa Bomtempo

Equipe AudiovisualDireccedilatildeo Haenz Gutierrez Quintana

Produccedilatildeo Daiane Nascimento dos Santos Victor GonccedilalvesCacircmera teleprompter e ediccedilatildeo Gleyson Puacuteblio Valdinei MatosEdiccedilatildeo Adriane Santos da Silva Alan Leonel Valente Moraes Lara Menezes Chaves Maria Giulia Santos Brandatildeo Lima Sabrina de Oliveira MartinsVideograsmos e Animaccedilatildeo

Alana Arauacutejo Camila Correia Gean Almeida Mateus Santana

Ediccedilatildeo de Aacuteudiotrilha sonora

Filipe Pires Aragatildeo Mateus Aragatildeo Pedro Henrique Queiroz Barreto Rebecca Gallinari

SUMAacuteRIO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS 07

APRESENTACcedilAtildeO 08

UNIDADE 1 - LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS

NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO 1011 ndash O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1312 ndash COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1713 ndash ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOS 20

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeito 21

UNIDADE 2 - GEcircNEROS TEXTUAIS E O

CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO 2521 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICAS 27

211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falando 30212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicos 31

22 FICHAMENTO 33221 Os tipos de chamento 36222 Estrutura retoacuterica 37223 O que diz a norma 37224 Exemplos 39

23 RESUMO 41231 Tipos de resumos 47232 Estrutura retoacuterica 47233 O que diz a norma 49234 Exemplos 50

24 RESENHA 51241 Estrutura retoacuterica 55242 O que diz a norma 57243 Exemplos 58

25 ENSAIO 58251 Estrutura retoacuterica 63252 O que diz a norma 64253 Exemplos 64

REFEREcircNCIAS 65

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS

Mabel Meira Mota

Eacute licenciada em Letras pela Universidade Catoacutelica do Salvador Tambeacutem eacute mestre e doutora em Literatura e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia Trabalhou como professora no curso de Arquivologia do Instituto de Ciecircncia da Informaccedilatildeo da mesma universidade Atualmente eacute professora dos cursos de Licenciatura em Teatro e de Bacharelado em Biblioteconomia da Universidade Federal da Bahia ambos na modalidade Ead

Liacutevia Borges Souza Magalhatildees

Eacute licenciada a bacharel em Letras Vernaacuteculas pela Universidade Federal da Bahia Mestre e Doutora em Liacutengua e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia Lidera o Grupo de Pesquisa Memoacuteria em Papel (CNPq-UFBA) desenvolve pesquisas com acervos histoacutericos do seacuteculo XVI ao XX e atua no ensino superior como docente de disciplinas como Metodologia da Pesquisa Estaacutegio Supervisionado e no ensino baacutesico como professora de Literatura e Liacutengua Portuguesa

Laylla Gomes Franco

Eacute licenciada em Letras Portuguecircs e Inglecircs pela Universidade Salvador - UNIFACS Especialista em Docecircncia da Liacutengua Inglesa pela Faculdade Integrada Atua como professora de Liacutengua Portuguesa na rede puacuteblica de ensino do Estado da Bahia Foi articuladora da aacuterea de Liacutengua Portuguesa pelo Projeto Gestar na Escola e presidente do Colegiado Escolar no Coleacutegio Estadual Eraldo Tinoco Eacute mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora do Grupo de Estudos de Linguagens e Tecnologias - GP NELT - na Universidade Federal da Bahia

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

APRESENTACcedilAtildeO

Prezado(a) discente bem-vindo(a) agrave disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Este eacute o material didaacutetico dessa disciplina que faz parte do curso de Licenciatura em Teatro agrave distacircncia da Universidade Federal da Bahia Trata-se de uma disciplina que tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Iniciaremos a disciplina com uma discussatildeo sobre leitura para adentrarmos ao universo dos gecircneros produzidos e disseminados na esfera acadecircmica e com os quais vocecirc precisaraacute estar familiarizado pois ao fazer parte da academia vocecirc precisaraacute produzir compartilhar e difundir conhecimentos sob a forma de gecircneros acadecircmicos Exercitaremos sua capacidade de anaacutelise siacutentese e criacutetica atraveacutes de diferentes gecircneros textuais acadecircmicos Quais sejam chamentos resumos resenhas e ensaios Daremos destaque tambeacutem agrave normatizaccedilatildeo desses gecircneros a partir da Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) que orienta e normatiza a produccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos gecircneros textuais na esfera acadecircmica e cientiacuteca e tambeacutem agraves normativas especiacutecas da nossa universidade

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Eacute importante destacar que almejamos que vocecirc se aproprie de teacutecnicas para ler e produzir textos acadecircmicos mas mais do que isso que perceba que estes satildeo espaccedilos propiacutecios para expressar e disseminar sua forma de compreender o mundo Os textos escolhidos para leitura e para o exerciacutecio de produccedilatildeo de textos acadecircmicos visam contemplar a aacuterea para a qual vocecircs estatildeo se propondo a estudar o Teatro Aleacutem disso vocecircs teratildeo a oportunidade de conhecer algumas produccedilotildees acadecircmicas dos docentes do curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia

Ao nal da disciplina espera-se que vocecirc seja capaz de reconhecer e produzir os principais gecircneros acadecircmicos que abordaremos quais sejam chamento (cha de leitura) resumo resenha e ensaio Aleacutem disso espera-se tambeacutem que vocecirc saiba utilizar corretamente as normas institucionais e tambeacutem aquelas instituiacutedas pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos

O nosso livro encontra-se organizado em duas unidades temaacuteticas considerando os gecircneros contemplados na disciplina Unidade I ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO na qual discutiremos as especicidades da leitura anaacutelise de textos no universo acadecircmico destacando o gecircnero FICHAMENTO e Unidade II ndash GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO na qual seratildeo apresentados os principais gecircneros acadecircmicos existentes (chamento resumo resenha ensaio e artigo) contemplando quando possiacutevel os seguintes toacutepicos conceito e objetivo estrutura retoacuterica aspectos normativos e exemplos

Seraacute um prazer partilhar com vocecircs essa jornada no universo acadecircmico Bom trabalho para todos noacutes

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 3: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAESCOLA DE TEATRO

LICENCIATURA EM TEATRO

Salvador 2020

MABEL MEIRA MOTALIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES

LAYLLA GOMES FRANCO

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior - Brasil (CAPES) - Coacutedigo de Financiamento 001 Esta obra estaacute sob licenccedila Creative Commons CC BY-NC-SA 40 esta licenccedila permite que outros remixem

adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins natildeo comerciais desde que atribuam o devido creacutedito e que licenciem as novas criaccedilotildees sob termos idecircnticos

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Universitaacuterio de Bibliotecas da UFBA

M917 Mota Mabel Meira Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico Mabel Meira Mota Liacutevia Borges Souza Magalhatildees Laylla Gomes Franco - Salvador UFBA Escola de Teatro Superintendecircncia de Educaccedilatildeo a Distacircncia 2020 68 p il Esta obra eacute um Componente Curricular do Curso de Licenciatura em Teatro na modalidade EaD da UFBA

ISBN 978-65-5631-032-9 1 Leitura 2 Redaccedilatildeo acadecircmica 3 Textos ndash Anaacutelise 4 Fichamento5 Resumos 6 Elaboraccedilatildeo de resenhas ndash Teacutecnica I Magalhatildees Liacutevia Borges Souza II Franco Laylla Gomes III Universidade Federal da Bahia Escola de Teatro IV Universidade Federal da Bahia Superintendecircncia de Educaccedilatildeo a Distacircncia V Tiacutetulo

CDU 028

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAReitor Joatildeo Carlos Salles Pires da SilvaVice-Reitor Paulo Ceacutesar Miguez de OliveiraProacute-Reitoria de Ensino de GraduaccedilatildeoProacute-Reitor Penildon Silva FilhoEscola de TeatroDiretor Luiz Claacuteudio Cajaiacuteba

Superintendecircncia de Educaccedilatildeo aDistacircncia -SEADSuperintendenteMaacutercia Tereza Rebouccedilas Rangel

Coordenaccedilatildeo de Tecnologias EducacionaisCTE-SEADHaenz Gutierrez Quintana Coordenaccedilatildeo de Design EducacionalLanara Souza

Coordenadora Adjunta UAB Andreacutea Leitatildeo

Licenciatura em Teatro CoordenadorProf Mateus Schimith

Produccedilatildeo de Material DidaacuteticoCoordenaccedilatildeo de Tecnologias EducacionaisCTE-SEAD

Nuacutecleo de Estudos de Linguagens ampTecnologias - NELTUFBA

CoordenaccedilatildeoProf Haenz Gutierrez Quintana

Projeto graacutecoHaenz Gutierrez QuintanaFoto de capa

Equipe de Revisatildeo Edivalda AraujoJulio Neves PereiraMaacutercio MatosSimone Bueno Borges

Equipe DesignSupervisatildeo Alessandro FariaEditoraccedilatildeo Ilustraccedilatildeo

Amanda dos Santos Braga Amanda Soares Fahel Reis Bruno Deminco Ribeiro Davi Cohen Ramos Costa Ingrid Morais Barretto Leandro de Oliveira Souza Costa

Luana Lopes de Assis Marques de Andrade Michele Duran Rafael Moreno Design de Interfaces Raissa Bomtempo

Equipe AudiovisualDireccedilatildeo Haenz Gutierrez Quintana

Produccedilatildeo Daiane Nascimento dos Santos Victor GonccedilalvesCacircmera teleprompter e ediccedilatildeo Gleyson Puacuteblio Valdinei MatosEdiccedilatildeo Adriane Santos da Silva Alan Leonel Valente Moraes Lara Menezes Chaves Maria Giulia Santos Brandatildeo Lima Sabrina de Oliveira MartinsVideograsmos e Animaccedilatildeo

Alana Arauacutejo Camila Correia Gean Almeida Mateus Santana

Ediccedilatildeo de Aacuteudiotrilha sonora

Filipe Pires Aragatildeo Mateus Aragatildeo Pedro Henrique Queiroz Barreto Rebecca Gallinari

SUMAacuteRIO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS 07

APRESENTACcedilAtildeO 08

UNIDADE 1 - LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS

NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO 1011 ndash O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1312 ndash COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1713 ndash ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOS 20

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeito 21

UNIDADE 2 - GEcircNEROS TEXTUAIS E O

CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO 2521 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICAS 27

211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falando 30212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicos 31

22 FICHAMENTO 33221 Os tipos de chamento 36222 Estrutura retoacuterica 37223 O que diz a norma 37224 Exemplos 39

23 RESUMO 41231 Tipos de resumos 47232 Estrutura retoacuterica 47233 O que diz a norma 49234 Exemplos 50

24 RESENHA 51241 Estrutura retoacuterica 55242 O que diz a norma 57243 Exemplos 58

25 ENSAIO 58251 Estrutura retoacuterica 63252 O que diz a norma 64253 Exemplos 64

REFEREcircNCIAS 65

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS

Mabel Meira Mota

Eacute licenciada em Letras pela Universidade Catoacutelica do Salvador Tambeacutem eacute mestre e doutora em Literatura e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia Trabalhou como professora no curso de Arquivologia do Instituto de Ciecircncia da Informaccedilatildeo da mesma universidade Atualmente eacute professora dos cursos de Licenciatura em Teatro e de Bacharelado em Biblioteconomia da Universidade Federal da Bahia ambos na modalidade Ead

Liacutevia Borges Souza Magalhatildees

Eacute licenciada a bacharel em Letras Vernaacuteculas pela Universidade Federal da Bahia Mestre e Doutora em Liacutengua e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia Lidera o Grupo de Pesquisa Memoacuteria em Papel (CNPq-UFBA) desenvolve pesquisas com acervos histoacutericos do seacuteculo XVI ao XX e atua no ensino superior como docente de disciplinas como Metodologia da Pesquisa Estaacutegio Supervisionado e no ensino baacutesico como professora de Literatura e Liacutengua Portuguesa

Laylla Gomes Franco

Eacute licenciada em Letras Portuguecircs e Inglecircs pela Universidade Salvador - UNIFACS Especialista em Docecircncia da Liacutengua Inglesa pela Faculdade Integrada Atua como professora de Liacutengua Portuguesa na rede puacuteblica de ensino do Estado da Bahia Foi articuladora da aacuterea de Liacutengua Portuguesa pelo Projeto Gestar na Escola e presidente do Colegiado Escolar no Coleacutegio Estadual Eraldo Tinoco Eacute mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora do Grupo de Estudos de Linguagens e Tecnologias - GP NELT - na Universidade Federal da Bahia

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

APRESENTACcedilAtildeO

Prezado(a) discente bem-vindo(a) agrave disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Este eacute o material didaacutetico dessa disciplina que faz parte do curso de Licenciatura em Teatro agrave distacircncia da Universidade Federal da Bahia Trata-se de uma disciplina que tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Iniciaremos a disciplina com uma discussatildeo sobre leitura para adentrarmos ao universo dos gecircneros produzidos e disseminados na esfera acadecircmica e com os quais vocecirc precisaraacute estar familiarizado pois ao fazer parte da academia vocecirc precisaraacute produzir compartilhar e difundir conhecimentos sob a forma de gecircneros acadecircmicos Exercitaremos sua capacidade de anaacutelise siacutentese e criacutetica atraveacutes de diferentes gecircneros textuais acadecircmicos Quais sejam chamentos resumos resenhas e ensaios Daremos destaque tambeacutem agrave normatizaccedilatildeo desses gecircneros a partir da Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) que orienta e normatiza a produccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos gecircneros textuais na esfera acadecircmica e cientiacuteca e tambeacutem agraves normativas especiacutecas da nossa universidade

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Eacute importante destacar que almejamos que vocecirc se aproprie de teacutecnicas para ler e produzir textos acadecircmicos mas mais do que isso que perceba que estes satildeo espaccedilos propiacutecios para expressar e disseminar sua forma de compreender o mundo Os textos escolhidos para leitura e para o exerciacutecio de produccedilatildeo de textos acadecircmicos visam contemplar a aacuterea para a qual vocecircs estatildeo se propondo a estudar o Teatro Aleacutem disso vocecircs teratildeo a oportunidade de conhecer algumas produccedilotildees acadecircmicas dos docentes do curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia

Ao nal da disciplina espera-se que vocecirc seja capaz de reconhecer e produzir os principais gecircneros acadecircmicos que abordaremos quais sejam chamento (cha de leitura) resumo resenha e ensaio Aleacutem disso espera-se tambeacutem que vocecirc saiba utilizar corretamente as normas institucionais e tambeacutem aquelas instituiacutedas pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos

O nosso livro encontra-se organizado em duas unidades temaacuteticas considerando os gecircneros contemplados na disciplina Unidade I ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO na qual discutiremos as especicidades da leitura anaacutelise de textos no universo acadecircmico destacando o gecircnero FICHAMENTO e Unidade II ndash GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO na qual seratildeo apresentados os principais gecircneros acadecircmicos existentes (chamento resumo resenha ensaio e artigo) contemplando quando possiacutevel os seguintes toacutepicos conceito e objetivo estrutura retoacuterica aspectos normativos e exemplos

Seraacute um prazer partilhar com vocecircs essa jornada no universo acadecircmico Bom trabalho para todos noacutes

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 4: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior - Brasil (CAPES) - Coacutedigo de Financiamento 001 Esta obra estaacute sob licenccedila Creative Commons CC BY-NC-SA 40 esta licenccedila permite que outros remixem

adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins natildeo comerciais desde que atribuam o devido creacutedito e que licenciem as novas criaccedilotildees sob termos idecircnticos

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Universitaacuterio de Bibliotecas da UFBA

M917 Mota Mabel Meira Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico Mabel Meira Mota Liacutevia Borges Souza Magalhatildees Laylla Gomes Franco - Salvador UFBA Escola de Teatro Superintendecircncia de Educaccedilatildeo a Distacircncia 2020 68 p il Esta obra eacute um Componente Curricular do Curso de Licenciatura em Teatro na modalidade EaD da UFBA

ISBN 978-65-5631-032-9 1 Leitura 2 Redaccedilatildeo acadecircmica 3 Textos ndash Anaacutelise 4 Fichamento5 Resumos 6 Elaboraccedilatildeo de resenhas ndash Teacutecnica I Magalhatildees Liacutevia Borges Souza II Franco Laylla Gomes III Universidade Federal da Bahia Escola de Teatro IV Universidade Federal da Bahia Superintendecircncia de Educaccedilatildeo a Distacircncia V Tiacutetulo

CDU 028

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAReitor Joatildeo Carlos Salles Pires da SilvaVice-Reitor Paulo Ceacutesar Miguez de OliveiraProacute-Reitoria de Ensino de GraduaccedilatildeoProacute-Reitor Penildon Silva FilhoEscola de TeatroDiretor Luiz Claacuteudio Cajaiacuteba

Superintendecircncia de Educaccedilatildeo aDistacircncia -SEADSuperintendenteMaacutercia Tereza Rebouccedilas Rangel

Coordenaccedilatildeo de Tecnologias EducacionaisCTE-SEADHaenz Gutierrez Quintana Coordenaccedilatildeo de Design EducacionalLanara Souza

Coordenadora Adjunta UAB Andreacutea Leitatildeo

Licenciatura em Teatro CoordenadorProf Mateus Schimith

Produccedilatildeo de Material DidaacuteticoCoordenaccedilatildeo de Tecnologias EducacionaisCTE-SEAD

Nuacutecleo de Estudos de Linguagens ampTecnologias - NELTUFBA

CoordenaccedilatildeoProf Haenz Gutierrez Quintana

Projeto graacutecoHaenz Gutierrez QuintanaFoto de capa

Equipe de Revisatildeo Edivalda AraujoJulio Neves PereiraMaacutercio MatosSimone Bueno Borges

Equipe DesignSupervisatildeo Alessandro FariaEditoraccedilatildeo Ilustraccedilatildeo

Amanda dos Santos Braga Amanda Soares Fahel Reis Bruno Deminco Ribeiro Davi Cohen Ramos Costa Ingrid Morais Barretto Leandro de Oliveira Souza Costa

Luana Lopes de Assis Marques de Andrade Michele Duran Rafael Moreno Design de Interfaces Raissa Bomtempo

Equipe AudiovisualDireccedilatildeo Haenz Gutierrez Quintana

Produccedilatildeo Daiane Nascimento dos Santos Victor GonccedilalvesCacircmera teleprompter e ediccedilatildeo Gleyson Puacuteblio Valdinei MatosEdiccedilatildeo Adriane Santos da Silva Alan Leonel Valente Moraes Lara Menezes Chaves Maria Giulia Santos Brandatildeo Lima Sabrina de Oliveira MartinsVideograsmos e Animaccedilatildeo

Alana Arauacutejo Camila Correia Gean Almeida Mateus Santana

Ediccedilatildeo de Aacuteudiotrilha sonora

Filipe Pires Aragatildeo Mateus Aragatildeo Pedro Henrique Queiroz Barreto Rebecca Gallinari

SUMAacuteRIO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS 07

APRESENTACcedilAtildeO 08

UNIDADE 1 - LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS

NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO 1011 ndash O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1312 ndash COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1713 ndash ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOS 20

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeito 21

UNIDADE 2 - GEcircNEROS TEXTUAIS E O

CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO 2521 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICAS 27

211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falando 30212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicos 31

22 FICHAMENTO 33221 Os tipos de chamento 36222 Estrutura retoacuterica 37223 O que diz a norma 37224 Exemplos 39

23 RESUMO 41231 Tipos de resumos 47232 Estrutura retoacuterica 47233 O que diz a norma 49234 Exemplos 50

24 RESENHA 51241 Estrutura retoacuterica 55242 O que diz a norma 57243 Exemplos 58

25 ENSAIO 58251 Estrutura retoacuterica 63252 O que diz a norma 64253 Exemplos 64

REFEREcircNCIAS 65

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS

Mabel Meira Mota

Eacute licenciada em Letras pela Universidade Catoacutelica do Salvador Tambeacutem eacute mestre e doutora em Literatura e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia Trabalhou como professora no curso de Arquivologia do Instituto de Ciecircncia da Informaccedilatildeo da mesma universidade Atualmente eacute professora dos cursos de Licenciatura em Teatro e de Bacharelado em Biblioteconomia da Universidade Federal da Bahia ambos na modalidade Ead

Liacutevia Borges Souza Magalhatildees

Eacute licenciada a bacharel em Letras Vernaacuteculas pela Universidade Federal da Bahia Mestre e Doutora em Liacutengua e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia Lidera o Grupo de Pesquisa Memoacuteria em Papel (CNPq-UFBA) desenvolve pesquisas com acervos histoacutericos do seacuteculo XVI ao XX e atua no ensino superior como docente de disciplinas como Metodologia da Pesquisa Estaacutegio Supervisionado e no ensino baacutesico como professora de Literatura e Liacutengua Portuguesa

Laylla Gomes Franco

Eacute licenciada em Letras Portuguecircs e Inglecircs pela Universidade Salvador - UNIFACS Especialista em Docecircncia da Liacutengua Inglesa pela Faculdade Integrada Atua como professora de Liacutengua Portuguesa na rede puacuteblica de ensino do Estado da Bahia Foi articuladora da aacuterea de Liacutengua Portuguesa pelo Projeto Gestar na Escola e presidente do Colegiado Escolar no Coleacutegio Estadual Eraldo Tinoco Eacute mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora do Grupo de Estudos de Linguagens e Tecnologias - GP NELT - na Universidade Federal da Bahia

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

APRESENTACcedilAtildeO

Prezado(a) discente bem-vindo(a) agrave disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Este eacute o material didaacutetico dessa disciplina que faz parte do curso de Licenciatura em Teatro agrave distacircncia da Universidade Federal da Bahia Trata-se de uma disciplina que tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Iniciaremos a disciplina com uma discussatildeo sobre leitura para adentrarmos ao universo dos gecircneros produzidos e disseminados na esfera acadecircmica e com os quais vocecirc precisaraacute estar familiarizado pois ao fazer parte da academia vocecirc precisaraacute produzir compartilhar e difundir conhecimentos sob a forma de gecircneros acadecircmicos Exercitaremos sua capacidade de anaacutelise siacutentese e criacutetica atraveacutes de diferentes gecircneros textuais acadecircmicos Quais sejam chamentos resumos resenhas e ensaios Daremos destaque tambeacutem agrave normatizaccedilatildeo desses gecircneros a partir da Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) que orienta e normatiza a produccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos gecircneros textuais na esfera acadecircmica e cientiacuteca e tambeacutem agraves normativas especiacutecas da nossa universidade

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Eacute importante destacar que almejamos que vocecirc se aproprie de teacutecnicas para ler e produzir textos acadecircmicos mas mais do que isso que perceba que estes satildeo espaccedilos propiacutecios para expressar e disseminar sua forma de compreender o mundo Os textos escolhidos para leitura e para o exerciacutecio de produccedilatildeo de textos acadecircmicos visam contemplar a aacuterea para a qual vocecircs estatildeo se propondo a estudar o Teatro Aleacutem disso vocecircs teratildeo a oportunidade de conhecer algumas produccedilotildees acadecircmicas dos docentes do curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia

Ao nal da disciplina espera-se que vocecirc seja capaz de reconhecer e produzir os principais gecircneros acadecircmicos que abordaremos quais sejam chamento (cha de leitura) resumo resenha e ensaio Aleacutem disso espera-se tambeacutem que vocecirc saiba utilizar corretamente as normas institucionais e tambeacutem aquelas instituiacutedas pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos

O nosso livro encontra-se organizado em duas unidades temaacuteticas considerando os gecircneros contemplados na disciplina Unidade I ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO na qual discutiremos as especicidades da leitura anaacutelise de textos no universo acadecircmico destacando o gecircnero FICHAMENTO e Unidade II ndash GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO na qual seratildeo apresentados os principais gecircneros acadecircmicos existentes (chamento resumo resenha ensaio e artigo) contemplando quando possiacutevel os seguintes toacutepicos conceito e objetivo estrutura retoacuterica aspectos normativos e exemplos

Seraacute um prazer partilhar com vocecircs essa jornada no universo acadecircmico Bom trabalho para todos noacutes

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 5: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

SUMAacuteRIO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS 07

APRESENTACcedilAtildeO 08

UNIDADE 1 - LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS

NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO 1011 ndash O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1312 ndash COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICA 1713 ndash ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOS 20

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeito 21

UNIDADE 2 - GEcircNEROS TEXTUAIS E O

CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO 2521 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICAS 27

211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falando 30212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicos 31

22 FICHAMENTO 33221 Os tipos de chamento 36222 Estrutura retoacuterica 37223 O que diz a norma 37224 Exemplos 39

23 RESUMO 41231 Tipos de resumos 47232 Estrutura retoacuterica 47233 O que diz a norma 49234 Exemplos 50

24 RESENHA 51241 Estrutura retoacuterica 55242 O que diz a norma 57243 Exemplos 58

25 ENSAIO 58251 Estrutura retoacuterica 63252 O que diz a norma 64253 Exemplos 64

REFEREcircNCIAS 65

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MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS

Mabel Meira Mota

Eacute licenciada em Letras pela Universidade Catoacutelica do Salvador Tambeacutem eacute mestre e doutora em Literatura e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia Trabalhou como professora no curso de Arquivologia do Instituto de Ciecircncia da Informaccedilatildeo da mesma universidade Atualmente eacute professora dos cursos de Licenciatura em Teatro e de Bacharelado em Biblioteconomia da Universidade Federal da Bahia ambos na modalidade Ead

Liacutevia Borges Souza Magalhatildees

Eacute licenciada a bacharel em Letras Vernaacuteculas pela Universidade Federal da Bahia Mestre e Doutora em Liacutengua e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia Lidera o Grupo de Pesquisa Memoacuteria em Papel (CNPq-UFBA) desenvolve pesquisas com acervos histoacutericos do seacuteculo XVI ao XX e atua no ensino superior como docente de disciplinas como Metodologia da Pesquisa Estaacutegio Supervisionado e no ensino baacutesico como professora de Literatura e Liacutengua Portuguesa

Laylla Gomes Franco

Eacute licenciada em Letras Portuguecircs e Inglecircs pela Universidade Salvador - UNIFACS Especialista em Docecircncia da Liacutengua Inglesa pela Faculdade Integrada Atua como professora de Liacutengua Portuguesa na rede puacuteblica de ensino do Estado da Bahia Foi articuladora da aacuterea de Liacutengua Portuguesa pelo Projeto Gestar na Escola e presidente do Colegiado Escolar no Coleacutegio Estadual Eraldo Tinoco Eacute mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora do Grupo de Estudos de Linguagens e Tecnologias - GP NELT - na Universidade Federal da Bahia

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

APRESENTACcedilAtildeO

Prezado(a) discente bem-vindo(a) agrave disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Este eacute o material didaacutetico dessa disciplina que faz parte do curso de Licenciatura em Teatro agrave distacircncia da Universidade Federal da Bahia Trata-se de uma disciplina que tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Iniciaremos a disciplina com uma discussatildeo sobre leitura para adentrarmos ao universo dos gecircneros produzidos e disseminados na esfera acadecircmica e com os quais vocecirc precisaraacute estar familiarizado pois ao fazer parte da academia vocecirc precisaraacute produzir compartilhar e difundir conhecimentos sob a forma de gecircneros acadecircmicos Exercitaremos sua capacidade de anaacutelise siacutentese e criacutetica atraveacutes de diferentes gecircneros textuais acadecircmicos Quais sejam chamentos resumos resenhas e ensaios Daremos destaque tambeacutem agrave normatizaccedilatildeo desses gecircneros a partir da Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) que orienta e normatiza a produccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos gecircneros textuais na esfera acadecircmica e cientiacuteca e tambeacutem agraves normativas especiacutecas da nossa universidade

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Eacute importante destacar que almejamos que vocecirc se aproprie de teacutecnicas para ler e produzir textos acadecircmicos mas mais do que isso que perceba que estes satildeo espaccedilos propiacutecios para expressar e disseminar sua forma de compreender o mundo Os textos escolhidos para leitura e para o exerciacutecio de produccedilatildeo de textos acadecircmicos visam contemplar a aacuterea para a qual vocecircs estatildeo se propondo a estudar o Teatro Aleacutem disso vocecircs teratildeo a oportunidade de conhecer algumas produccedilotildees acadecircmicas dos docentes do curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia

Ao nal da disciplina espera-se que vocecirc seja capaz de reconhecer e produzir os principais gecircneros acadecircmicos que abordaremos quais sejam chamento (cha de leitura) resumo resenha e ensaio Aleacutem disso espera-se tambeacutem que vocecirc saiba utilizar corretamente as normas institucionais e tambeacutem aquelas instituiacutedas pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos

O nosso livro encontra-se organizado em duas unidades temaacuteticas considerando os gecircneros contemplados na disciplina Unidade I ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO na qual discutiremos as especicidades da leitura anaacutelise de textos no universo acadecircmico destacando o gecircnero FICHAMENTO e Unidade II ndash GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO na qual seratildeo apresentados os principais gecircneros acadecircmicos existentes (chamento resumo resenha ensaio e artigo) contemplando quando possiacutevel os seguintes toacutepicos conceito e objetivo estrutura retoacuterica aspectos normativos e exemplos

Seraacute um prazer partilhar com vocecircs essa jornada no universo acadecircmico Bom trabalho para todos noacutes

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 6: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

24 RESENHA 51241 Estrutura retoacuterica 55242 O que diz a norma 57243 Exemplos 58

25 ENSAIO 58251 Estrutura retoacuterica 63252 O que diz a norma 64253 Exemplos 64

REFEREcircNCIAS 65

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS

Mabel Meira Mota

Eacute licenciada em Letras pela Universidade Catoacutelica do Salvador Tambeacutem eacute mestre e doutora em Literatura e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia Trabalhou como professora no curso de Arquivologia do Instituto de Ciecircncia da Informaccedilatildeo da mesma universidade Atualmente eacute professora dos cursos de Licenciatura em Teatro e de Bacharelado em Biblioteconomia da Universidade Federal da Bahia ambos na modalidade Ead

Liacutevia Borges Souza Magalhatildees

Eacute licenciada a bacharel em Letras Vernaacuteculas pela Universidade Federal da Bahia Mestre e Doutora em Liacutengua e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia Lidera o Grupo de Pesquisa Memoacuteria em Papel (CNPq-UFBA) desenvolve pesquisas com acervos histoacutericos do seacuteculo XVI ao XX e atua no ensino superior como docente de disciplinas como Metodologia da Pesquisa Estaacutegio Supervisionado e no ensino baacutesico como professora de Literatura e Liacutengua Portuguesa

Laylla Gomes Franco

Eacute licenciada em Letras Portuguecircs e Inglecircs pela Universidade Salvador - UNIFACS Especialista em Docecircncia da Liacutengua Inglesa pela Faculdade Integrada Atua como professora de Liacutengua Portuguesa na rede puacuteblica de ensino do Estado da Bahia Foi articuladora da aacuterea de Liacutengua Portuguesa pelo Projeto Gestar na Escola e presidente do Colegiado Escolar no Coleacutegio Estadual Eraldo Tinoco Eacute mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora do Grupo de Estudos de Linguagens e Tecnologias - GP NELT - na Universidade Federal da Bahia

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

APRESENTACcedilAtildeO

Prezado(a) discente bem-vindo(a) agrave disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Este eacute o material didaacutetico dessa disciplina que faz parte do curso de Licenciatura em Teatro agrave distacircncia da Universidade Federal da Bahia Trata-se de uma disciplina que tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Iniciaremos a disciplina com uma discussatildeo sobre leitura para adentrarmos ao universo dos gecircneros produzidos e disseminados na esfera acadecircmica e com os quais vocecirc precisaraacute estar familiarizado pois ao fazer parte da academia vocecirc precisaraacute produzir compartilhar e difundir conhecimentos sob a forma de gecircneros acadecircmicos Exercitaremos sua capacidade de anaacutelise siacutentese e criacutetica atraveacutes de diferentes gecircneros textuais acadecircmicos Quais sejam chamentos resumos resenhas e ensaios Daremos destaque tambeacutem agrave normatizaccedilatildeo desses gecircneros a partir da Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) que orienta e normatiza a produccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos gecircneros textuais na esfera acadecircmica e cientiacuteca e tambeacutem agraves normativas especiacutecas da nossa universidade

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Eacute importante destacar que almejamos que vocecirc se aproprie de teacutecnicas para ler e produzir textos acadecircmicos mas mais do que isso que perceba que estes satildeo espaccedilos propiacutecios para expressar e disseminar sua forma de compreender o mundo Os textos escolhidos para leitura e para o exerciacutecio de produccedilatildeo de textos acadecircmicos visam contemplar a aacuterea para a qual vocecircs estatildeo se propondo a estudar o Teatro Aleacutem disso vocecircs teratildeo a oportunidade de conhecer algumas produccedilotildees acadecircmicas dos docentes do curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia

Ao nal da disciplina espera-se que vocecirc seja capaz de reconhecer e produzir os principais gecircneros acadecircmicos que abordaremos quais sejam chamento (cha de leitura) resumo resenha e ensaio Aleacutem disso espera-se tambeacutem que vocecirc saiba utilizar corretamente as normas institucionais e tambeacutem aquelas instituiacutedas pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos

O nosso livro encontra-se organizado em duas unidades temaacuteticas considerando os gecircneros contemplados na disciplina Unidade I ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO na qual discutiremos as especicidades da leitura anaacutelise de textos no universo acadecircmico destacando o gecircnero FICHAMENTO e Unidade II ndash GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO na qual seratildeo apresentados os principais gecircneros acadecircmicos existentes (chamento resumo resenha ensaio e artigo) contemplando quando possiacutevel os seguintes toacutepicos conceito e objetivo estrutura retoacuterica aspectos normativos e exemplos

Seraacute um prazer partilhar com vocecircs essa jornada no universo acadecircmico Bom trabalho para todos noacutes

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 7: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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MINI CURRIacuteCULO DAS AUTORAS

Mabel Meira Mota

Eacute licenciada em Letras pela Universidade Catoacutelica do Salvador Tambeacutem eacute mestre e doutora em Literatura e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia Trabalhou como professora no curso de Arquivologia do Instituto de Ciecircncia da Informaccedilatildeo da mesma universidade Atualmente eacute professora dos cursos de Licenciatura em Teatro e de Bacharelado em Biblioteconomia da Universidade Federal da Bahia ambos na modalidade Ead

Liacutevia Borges Souza Magalhatildees

Eacute licenciada a bacharel em Letras Vernaacuteculas pela Universidade Federal da Bahia Mestre e Doutora em Liacutengua e Cultura pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Liacutengua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia Lidera o Grupo de Pesquisa Memoacuteria em Papel (CNPq-UFBA) desenvolve pesquisas com acervos histoacutericos do seacuteculo XVI ao XX e atua no ensino superior como docente de disciplinas como Metodologia da Pesquisa Estaacutegio Supervisionado e no ensino baacutesico como professora de Literatura e Liacutengua Portuguesa

Laylla Gomes Franco

Eacute licenciada em Letras Portuguecircs e Inglecircs pela Universidade Salvador - UNIFACS Especialista em Docecircncia da Liacutengua Inglesa pela Faculdade Integrada Atua como professora de Liacutengua Portuguesa na rede puacuteblica de ensino do Estado da Bahia Foi articuladora da aacuterea de Liacutengua Portuguesa pelo Projeto Gestar na Escola e presidente do Colegiado Escolar no Coleacutegio Estadual Eraldo Tinoco Eacute mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora do Grupo de Estudos de Linguagens e Tecnologias - GP NELT - na Universidade Federal da Bahia

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

APRESENTACcedilAtildeO

Prezado(a) discente bem-vindo(a) agrave disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Este eacute o material didaacutetico dessa disciplina que faz parte do curso de Licenciatura em Teatro agrave distacircncia da Universidade Federal da Bahia Trata-se de uma disciplina que tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Iniciaremos a disciplina com uma discussatildeo sobre leitura para adentrarmos ao universo dos gecircneros produzidos e disseminados na esfera acadecircmica e com os quais vocecirc precisaraacute estar familiarizado pois ao fazer parte da academia vocecirc precisaraacute produzir compartilhar e difundir conhecimentos sob a forma de gecircneros acadecircmicos Exercitaremos sua capacidade de anaacutelise siacutentese e criacutetica atraveacutes de diferentes gecircneros textuais acadecircmicos Quais sejam chamentos resumos resenhas e ensaios Daremos destaque tambeacutem agrave normatizaccedilatildeo desses gecircneros a partir da Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) que orienta e normatiza a produccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos gecircneros textuais na esfera acadecircmica e cientiacuteca e tambeacutem agraves normativas especiacutecas da nossa universidade

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Eacute importante destacar que almejamos que vocecirc se aproprie de teacutecnicas para ler e produzir textos acadecircmicos mas mais do que isso que perceba que estes satildeo espaccedilos propiacutecios para expressar e disseminar sua forma de compreender o mundo Os textos escolhidos para leitura e para o exerciacutecio de produccedilatildeo de textos acadecircmicos visam contemplar a aacuterea para a qual vocecircs estatildeo se propondo a estudar o Teatro Aleacutem disso vocecircs teratildeo a oportunidade de conhecer algumas produccedilotildees acadecircmicas dos docentes do curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia

Ao nal da disciplina espera-se que vocecirc seja capaz de reconhecer e produzir os principais gecircneros acadecircmicos que abordaremos quais sejam chamento (cha de leitura) resumo resenha e ensaio Aleacutem disso espera-se tambeacutem que vocecirc saiba utilizar corretamente as normas institucionais e tambeacutem aquelas instituiacutedas pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos

O nosso livro encontra-se organizado em duas unidades temaacuteticas considerando os gecircneros contemplados na disciplina Unidade I ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO na qual discutiremos as especicidades da leitura anaacutelise de textos no universo acadecircmico destacando o gecircnero FICHAMENTO e Unidade II ndash GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO na qual seratildeo apresentados os principais gecircneros acadecircmicos existentes (chamento resumo resenha ensaio e artigo) contemplando quando possiacutevel os seguintes toacutepicos conceito e objetivo estrutura retoacuterica aspectos normativos e exemplos

Seraacute um prazer partilhar com vocecircs essa jornada no universo acadecircmico Bom trabalho para todos noacutes

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 8: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

APRESENTACcedilAtildeO

Prezado(a) discente bem-vindo(a) agrave disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Este eacute o material didaacutetico dessa disciplina que faz parte do curso de Licenciatura em Teatro agrave distacircncia da Universidade Federal da Bahia Trata-se de uma disciplina que tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Iniciaremos a disciplina com uma discussatildeo sobre leitura para adentrarmos ao universo dos gecircneros produzidos e disseminados na esfera acadecircmica e com os quais vocecirc precisaraacute estar familiarizado pois ao fazer parte da academia vocecirc precisaraacute produzir compartilhar e difundir conhecimentos sob a forma de gecircneros acadecircmicos Exercitaremos sua capacidade de anaacutelise siacutentese e criacutetica atraveacutes de diferentes gecircneros textuais acadecircmicos Quais sejam chamentos resumos resenhas e ensaios Daremos destaque tambeacutem agrave normatizaccedilatildeo desses gecircneros a partir da Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) que orienta e normatiza a produccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos gecircneros textuais na esfera acadecircmica e cientiacuteca e tambeacutem agraves normativas especiacutecas da nossa universidade

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Eacute importante destacar que almejamos que vocecirc se aproprie de teacutecnicas para ler e produzir textos acadecircmicos mas mais do que isso que perceba que estes satildeo espaccedilos propiacutecios para expressar e disseminar sua forma de compreender o mundo Os textos escolhidos para leitura e para o exerciacutecio de produccedilatildeo de textos acadecircmicos visam contemplar a aacuterea para a qual vocecircs estatildeo se propondo a estudar o Teatro Aleacutem disso vocecircs teratildeo a oportunidade de conhecer algumas produccedilotildees acadecircmicas dos docentes do curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia

Ao nal da disciplina espera-se que vocecirc seja capaz de reconhecer e produzir os principais gecircneros acadecircmicos que abordaremos quais sejam chamento (cha de leitura) resumo resenha e ensaio Aleacutem disso espera-se tambeacutem que vocecirc saiba utilizar corretamente as normas institucionais e tambeacutem aquelas instituiacutedas pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos

O nosso livro encontra-se organizado em duas unidades temaacuteticas considerando os gecircneros contemplados na disciplina Unidade I ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO na qual discutiremos as especicidades da leitura anaacutelise de textos no universo acadecircmico destacando o gecircnero FICHAMENTO e Unidade II ndash GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO na qual seratildeo apresentados os principais gecircneros acadecircmicos existentes (chamento resumo resenha ensaio e artigo) contemplando quando possiacutevel os seguintes toacutepicos conceito e objetivo estrutura retoacuterica aspectos normativos e exemplos

Seraacute um prazer partilhar com vocecircs essa jornada no universo acadecircmico Bom trabalho para todos noacutes

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Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 9: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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Eacute importante destacar que almejamos que vocecirc se aproprie de teacutecnicas para ler e produzir textos acadecircmicos mas mais do que isso que perceba que estes satildeo espaccedilos propiacutecios para expressar e disseminar sua forma de compreender o mundo Os textos escolhidos para leitura e para o exerciacutecio de produccedilatildeo de textos acadecircmicos visam contemplar a aacuterea para a qual vocecircs estatildeo se propondo a estudar o Teatro Aleacutem disso vocecircs teratildeo a oportunidade de conhecer algumas produccedilotildees acadecircmicas dos docentes do curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia

Ao nal da disciplina espera-se que vocecirc seja capaz de reconhecer e produzir os principais gecircneros acadecircmicos que abordaremos quais sejam chamento (cha de leitura) resumo resenha e ensaio Aleacutem disso espera-se tambeacutem que vocecirc saiba utilizar corretamente as normas institucionais e tambeacutem aquelas instituiacutedas pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos

O nosso livro encontra-se organizado em duas unidades temaacuteticas considerando os gecircneros contemplados na disciplina Unidade I ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeO na qual discutiremos as especicidades da leitura anaacutelise de textos no universo acadecircmico destacando o gecircnero FICHAMENTO e Unidade II ndash GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICO na qual seratildeo apresentados os principais gecircneros acadecircmicos existentes (chamento resumo resenha ensaio e artigo) contemplando quando possiacutevel os seguintes toacutepicos conceito e objetivo estrutura retoacuterica aspectos normativos e exemplos

Seraacute um prazer partilhar com vocecircs essa jornada no universo acadecircmico Bom trabalho para todos noacutes

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 10: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Unidade 1 ndash LEITURA E ANAacuteLISE DE TEXTOS NO UNIVERSO ACADEcircMICO UMA INTRODUCcedilAtildeOO ingresso na universidade eacute o momento de constituiccedilatildeo de um novo ciclo social cultural e histoacuterico responsaacutevel pelo processo de formaccedilatildeo de prossionais de determinada aacuterea do saber Os jargotildees da aacuterea satildeo apresentados aos sujeitos universitaacuterios por meio de aulas expositivas seminaacuterios congressos artigos cientiacutecos livros ensaios enm diversos gecircneros textuais

Jargatildeo eacute uma terminologia teacutecnica usada por um grupo especiacuteco como por exemplo os grupos prossionais Pense que para os advogados peticionar signica o que os leigos conhecem por entrar com a accedilatildeo ou pedir para o juiz

Na verdade toda comunicaccedilatildeo humana se realiza por meio de gecircneros textuais que segundo Marchuschi (2002 p 22) satildeo denidos como ldquo[] uma noccedilatildeo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diaacuteria e que apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas denidas por conteuacutedos propriedades funcionais estilo e composiccedilatildeo caracteriacutesticardquo

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A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 11: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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A palavra texto natildeo deve ser resumida como um sinocircnimo de escrita Denir texto eacute pensar em uma produccedilatildeo de um sujeito autor que foca em um sujeito receptor Eacute por isso que oralidade escrita (inclusive a natildeo verbal ou seja os desenhos) devem ser entendidos como texto

Vamos escolher um gecircnero textual para anaacutelise a carta A humanidade passou a escrever cartas para atender a uma demanda sociocomunicativa estabelecer comunicaccedilatildeo com algueacutem que natildeo estaacute perto Foi com esse pensamento em mente que alguns elementos se tornaram essenciais no gecircnero Vejamos a explicaccedilatildeo sobre isso mas antes eacute necessaacuterio trazer uma informaccedilatildeo qual seja as cartas inicialmente levavam muito tempo cavalgando ou meses navegando (literalmente) para chegar do remetente ao destinataacuterio

FIGURA 1 Exemplo de carta

Fonte msalama Freepik

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 12: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Vocecirc sabia desses detalhes da estrutura da carta Natildeo Acreditamos que isso natildeo eacute um problema Na verdade muitas vezes noacutes natildeo somos apresentados agraves minuacutecias de todos os gecircneros textuais e tudo bem O problema eacute quando passamos a ser cobrados a usar determinados gecircneros que natildeo conhecemos como acontece no ingresso na vida acadecircmica

Para saber mais sobre gecircneros textuais sugerimos a leitura do material a seguir

httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp133018mod_resourcec o nt e nt 3 A r t _ Ma r c u s c h i _ G C 3 A A n e r o s _ t e x t u a i s _deniC3A7C3B5es_funcionalidadepdf

Normalmente parte-se do pressuposto de que o discente acadecircmico eacute um sujeito totalmente conhecedor da cultura letrada e extremamente capacitado a lidar com todo tipo de texto mas na realidade isso natildeo acontece O universitaacuterio assim como qualquer outro sujeito alfabetizado consegue ler no sentido de decodicar as letras do registro escrito mas a leitura como sinocircnimo de apropriaccedilatildeo do sentido do texto possibilitando ldquo[] a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo agrave sua capacitaccedilatildeo para o conviacutevio e atuaccedilotildees social poliacutetica econocircmica e culturalrdquo (MARTINS 1988 p 22) depende sim de um processo de letramento acadecircmico ou seja apresentaccedilatildeo de teacutecnicas para auxiliar a ler e compreender o lido a reconhecer e saber lidar com os gecircneros textuais usados na vida universitaacuteria e claro analisar os textos que vira e mexe cruzam o seu caminho

Para aprender mais sobre letramento veja o viacutedeo disponiacutevel no link httpswwwyoutubecomwatchv=k5NFXwghLQ8 Nele a professora Magda Soares apresenta a diferenccedila entre alfabetizaccedilatildeo e letramento de forma bastante elucidativa

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 13: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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Dito isso jaacute podemos comeccedilar nossa jornada Entatildeo vamos falar de leitura e anaacutelise de textos

OBJETIVO DA UNIDADERefletir acerca da leitura e anaacutelise de textos na universidade

11 O QUE LER NA JORNADA ACADEcircMICAFischer (2006) no capiacutetulo nal do livro A histoacuteria da leitura relembra que em Hamlet de Shakespeare a personagem principal aparece lendo um pergaminho e ao ser questionado por Polocircnio sobre o teor da leitura responde com sarcasmo ldquo - Palavras palavras palavrasrdquo Eacute como se ele dissesse um ldquonatildeo importardquo Contudo eacute evidente que o conteuacutedo da leitura eacute sempre um elemento signicativo e que deve ser amplamente considerado Lakatos e Matos (1992) sinalizam que textos satildeo fontes inesgotaacuteveis de informaccedilatildeo ideias e conhecimentos e natildeo devem ser encarados como um compilado de palavras Devemos sempre buscar um caminho nessa leitura que pode ser guiado para o entretenimento como ocorre ao fazermos a leitura de um gibi ou um post no Instagram para a informaccedilatildeo comum nos momentos que estamos lendo um jornal uma revista ou um livro que foi indicado em um post do Instagram mas cujo teor te parece interessante por exemplo o livro A losoa da aduacuteltera de Luiz Felipe Pondeacute (2013) que dialoga com as obras de Nelson Rodrigues um autor que vocecirc gosta e por m para formaccedilatildeo que demanda do leitor uma atenccedilatildeo mais elaborada visto que o objetivo dela eacute a aprendizagem

Na cultura acadecircmica eacute a leitura para formaccedilatildeo que tem um espaccedilo de destaque (mas natildeo deve ser a uacutenica Lembre-se de que a dica eacute LEIA) e nela o conteuacutedo da leitura torna-se um grande problema uma vez que eacute convencional durante a formaccedilatildeo carmos presos somente ao que nos eacute prescrito como leitura para estudar Ressaltamos aqui que temos a compreensatildeo das diculdades do processo de vivecircncia universitaacuteria quando haacute a necessidade de conciliar a dinacircmica de diversas mateacuterias com trabalhos com avaliaccedilotildees atividades fora da universidade contudo natildeo podemos negar que o problema ocorre car preso agrave prescriccedilatildeo signica natildeo adentrar em outras correntes teoacutericas natildeo acessar outros olhares sobre os temas e sobretudo natildeo construir o nosso senso criacutetico com articulaccedilatildeo de ideias

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 14: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Talvez vocecirc esteja se perguntando como acessar outros textos para aleacutem da prescriccedilatildeo de estudo Vamos fazer um exerciacutecio de digamos assim alargamento de leitura partindo de uma uacutenica prescriccedilatildeo hipoteacutetica O professor durante uma aula sobre o teatro no Brasil pede para que vocecirc leia o texto Uma histoacuteria do teatro do oprimido Ele estaacute disponiacutevel no link httpsrevistaspucspbrindexphpauroraarticleviewFile1731314298

Vocecirc acessa o texto e logo percebe pelo tiacutetulo que o assunto principal seraacute o teatro do oprimido A leitura do material te daacute uma dimensatildeo de como o autor Flaacutevio Joseacute Rocha da Silva registra o processo de rmaccedilatildeo do teatro do oprimido no Brasil Ao nal do texto o autor sinaliza o material (livros artigos) que o embasou para construir as informaccedilotildees ali apresentadas Essa exposiccedilatildeo eacute feita na chamada lista de referecircncias Vocecirc pode escolher e pesquisar uma referecircncia ali citada para fazer a leitura ou entatildeo ir buscar as suas proacuteprias fontes

Na era da informaccedilatildeo em que vivemos em funccedilatildeo do advento da tecnologia ter acesso agrave fontes tornou-se uma atividade faacutecil Em uma pesquisa raacutepida no Google com o termo teatro do oprimido em 037 segundos de pesquisa o localizador encontrou aproximadamente 1730000 resultados Contudo nem tudo o que encontramos on-line deve ser considerado Precisamos car atentos agrave qualidade do material e para isso devemos adotar bons paracircmetros de pesquisa

bull utilize somente material publicado em sites de perioacutedicos acadecircmicos on-line como o da Capes

bull utilize buscadores que te direcione especicamente para sites com material cuidado com rigor acadecircmico como eacute o caso do Google Acadecircmico

Para saber mais sobre prescriccedilatildeo de leitura acesse o link httpswwwyumpucomptdocumentread12755199texto-consideracoes-em-torno-do-ato-de-estudar e leia o texto Consideraccedilotildees em torno do ato de estudar de Paulo Freire

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 15: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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bull natildeo cone em material que natildeo apresenta indicaccedilatildeo de autoria e sempre que houver a indicaccedilatildeo do autor pesquise se ele eacute uma pessoa conhecedora do assunto que estaacute sendo tratado ali

bull entenda a loacutegica de construccedilatildeo da informaccedilatildeo presente no site Por exemplo sabemos que a Wikipeacutedia eacute uma enciclopeacutedia on-line e como tal tem a validaccedilatildeo comum ao gecircnero Contudo o sistema Wiki eacute um sistema de colaboraccedilatildeo no qual qualquer pessoa previamente cadastrada pode fazer alteraccedilatildeo ou inclusatildeo de conteuacutedo Esse dado faz com que a informaccedilatildeo presente na Wikipeacutedia esteja sempre em suspeita Quem me assegura que o dado que exposto no sistema wiki foi escrito por algueacutem conaacutevel

Para conhecer o gecircnero enciclopeacutedia acesse o link httpsescolabritannicacombrartigoenciclopC3A9dia487833

Para conhecer melhor a conabilidade da Wikipedia leia o artigo publicado na revista Super Interessante e disponibilizado no link httpssuperabrilcombrculturaenciclopediada-para-conar-na-wikipedia

Para facilitar a vida de vocecircs deixamos uma lista de sites conaacuteveis que podem ser usados para construccedilatildeo de consulta na web

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 16: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

ABNT ndash httpwwwabntorgbrBase de Teses CAPES ndash httpwwwcapesgovbrservicosbancoteseshtmlBiblioteca Nacional de Portugal ndash httpbndbnptBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro ndash httpwwwbngovbrDicionaacuterio Histoacuterico-Bibliograacutefico Brasileiro ndash httpscpdocfgvbracervodhbbDirectories of Scientists on the www from Micro World ndash httpwwwmwmcomfeaturepeoplehtm Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil ndash httpwwwprossigacnpqbrEducational Resources Information Center - httpsericedgovEnciclopeacutedias e Dicionaacuterios Prossiga ndash httpwwwprossigabrreferenciadichtmlEuropa Publications ndash httpeuropapublicationscoukindexhtmFundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas ndash httpwwwfgvbrGoogle Acadecircmico ndash httpscholargooglecombrIBICT ndash httpwwwibictbrINMETRO ndash httpinmetrogovbrINPI ndash httpwwwinpigovbrONU ndash httpsnacoesunidasorgPortal de Perioacutedicos CAPES ndash httpwwwperiodicoscapesgovbrProssiga ndash httpprossigaibictbrSciELO ndash httpwwwscielobrScientific Societies ndash httpwwwedoccomsourcessochtmlScorpus - httpswwwscopuscomauthiddetailuriauthorId=6701365566WEBRA ndash Iacutendice do Mercosul ndash httpwwwwebracombr

Consideramos importante frisar que a universidade natildeo leva esse nome que lembra universo por acaso Haacute um universo de pessoas de saberes e de espaccedilos do saber Natildeo se acanhe em perguntar Peccedila indicaccedilatildeo de referecircncias ao professor a um colega que participa de um grupo de pesquisa sobre o tema a um aluno da poacutes-graduaccedilatildeo Vocecirc

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 17: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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tambeacutem pode mandar e-mails para autores com pedidos de auxiacutelio ou esclarecimentos uma atividade bastante comum no meio acadecircmico Ainda vale lembrar a existecircncia da Plataforma Lattes que eacute um banco com os dados de todas as pessoas que desenvolvem pesquisa acadecircmica no Brasil e inclusive conta com a opccedilatildeo de fazer contato com os pesquisadores utilizando a proacutepria plataforma

FIGURA 2 Plataforma Lattes com destaque para o espaccedilo de contato com o pesquisador

Fonte httplattescnpqbr1165530448149236

12 COMO LER NA JORNADA ACADEcircMICAJaacute com algumas informaccedilotildees sobre como chegar agrave leitura acadecircmica vamos fazer algumas ponderaccedilotildees sobre os tipos e teacutecnicas de leituras ou seja explicar a vocecirc como vocecirc deve ler Iniciamos essa discussatildeo destacando que se vocecirc for fazer um levantamento sobre os tipos de leitura que existem vocecirc encontraraacute uma gama de teorias e eacute interessante conhececirc-las inclusive para vericar se alguma se adequa mais com o seu perl Aqui adotaremos como ponto de partida uma vertente apresentada por Lakatos e Marconi (1992)

As autoras apresentam fazendo uma referecircncia agrave obra de Harlow (1980) cinco tipos de leitura

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

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Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

Page 18: Leitura e produção de texto acadêmico - CAPES

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1 Scanning - quando o leitor acessa o texto a ldquo []procura de um certo toacutepico da obra utilizando o iacutendice ou a leitura de algumas linhas paraacutegrafos visando encontrar frase ou palavras-chaverdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

2 Skimming - quando a leitura parte de um processo de ldquo [] captaccedilatildeo da tendecircncia geral sem entrar em minuacutecias valendo-se dos tiacutetulos subtiacutetulos ilustraccedilotildees (se houver)rdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

3 Do significado - quando o leitor estabelece ldquo[] uma visatildeo ampla do conteuacutedo principalmente do que interessa deixando de lado aspectos secundaacuterios lendo tudo de uma vez sem voltar atraacutesrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

4 De estudo - quando ler signica ldquo[] absorccedilatildeo mais completa do conteuacutedo e de todos os signicados devendo ler reler utilizar dicionaacuterios e fazer resumosrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

5 Criacutetica - quando a leitura se congura como o ldquoestudo e formaccedilatildeo de um ponto de vista sobre o texto comparando as declaraccedilotildees do autor com conhecimentos anteriores Avaliaccedilatildeo dos dados quanto agrave solidez da argumentaccedilatildeo a dedignidade e atualizaccedilatildeordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 20)

Sabe a questatildeo do que devemos ler que discutimos na seccedilatildeo acima Entatildeo tem um dado nessa discussatildeo teoacuterica das autoras que precisa ser ponderado com cuidado a dataccedilatildeo Essa teoria eacute de 1980 quando o trato com o conhecimento era feito de outra maneira visto que noacutes natildeo eacuteramos bombardeados por informaccedilatildeo o tempo inteiro como somos agora

As autoras Diniz e Silva (2006 p 5-6) jaacute nos apresentam uma realidade mais proacutexima da nossa mostrando algo que nos lembra um encaminhamento de leitura Vejamos

Preacute-leitura ou leitura de reconhecimento ndash eacute a fase preliminar da leitura informativa Este tipo de leitura permite ao leitor selecionar o documento ou a obra que poderaacute ser aproveitada no seu trabalho e tambeacutem obter uma visatildeo geral do tema abordado Para Gil (2002 p 77) esta leitura pode ser denominada de exploratoacuteria porque ldquoeacute comparada agrave expediccedilatildeo de reconhecimento que fazem os exploradores de uma regiatildeo desconhecidardquo

Leitura seletiva ndash eacute quando se realiza uma leitura do livro todo tentando selecionar as informaccedilotildees fundamentais ou seja escolher o material que realmente interessa agrave pesquisa Entretanto deve haver criteacuterios de seleccedilatildeo baseados nos propoacutesitos do trabalho

Leitura criacutetica ou reexiva ndash eacute quando o leitor concentra-se nos aspectos mais relevantes do texto sendo capaz de separar as ideias secundaacuterias da ideia central Essa eacute uma fase que

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requer reexatildeo que pode ser obtida por meio da anaacutelise comparaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo siacutentese e julgamento das ideias do autor da obra

Leitura interpretativa ndash eacute uma leitura mais complexa e para que ela seja proveitosa eacute necessaacuterio que se estabeleccedila o procedimento a seguir

bull Identicar quais as intenccedilotildees do autor e o que ele arma sobre o tema suas hipoacuteteses metodologia resultados discussotildees e conclusotildees

bull Relacionar as armaccedilotildees do autor com os problemas para os quais se estaacute procurando equacionar

bull Saber discernir de forma imparcial o que verdadeiro ou falso

Vamos juntos pensar na realizaccedilatildeo de um exerciacutecio de leitura seguindo esse encaminhamento Comeccedilamos imaginando uma ida a uma livraria com o objetivo de comprar um livro sobre a produccedilatildeo teatral de Brecht Chegamos na loja vamos para a sessatildeo desejada e logo comeccedilamos a fazer a preacute-leitura lemos os tiacutetulos presentes na capa dos livros o sumaacuterio de cada um deles as sinopses e escolhemos o nosso livro Em casa iniciamos a leitura seletiva de posse do marcador de livro vamos destacando o que nos interessa na obra e estabelecendo um diaacutelogo completo com o tema que estamos pesquisando Com os destaques feitos eacute hora de reetir sobre eles e analisar como o autor trata a obra do dramaturgo ou seja construir a chamada leitura criacutetica ou reflexiva Eacute nesse momento que ponderaremos de fato as contribuiccedilotildees da obra para a sua formaccedilatildeo enquanto sujeito leitor Por m vamos conectar o aprendizado com o nosso conhecimento de mundo constituindo a leitura interpretativa

Para conhecer mais sobre o conhecimento de mundo veja o viacutedeo do professor Noslen httpswwwyoutubecomwatchv=cHFtYf4s4KE

Esse processo de divisatildeo do texto em partes para efetuar uma leitura mais completa observando melhor os detalhes os pormenores do texto eacute o que chamamos de anaacutelise do texto praacutetica responsaacutevel por conseguirmos chegar ao niacutevel do ldquoentendimento do textordquo Luckesi et al (2005) sinaliza que eacute essa obtenccedilatildeo dessa competecircncia de criticar o texto instituindo vaacuterios sentidos para ele e ateacute mesmo tornando-se leitor autor eacute que constituiacute

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a formaccedilatildeo do leitor-sujeito uma gura totalmente oposta ao leitor-objeto cuja leitura tem o uacutenico objetivo de coletar informaccedilatildeo que seraacute reproduzida quando necessaacuterio

13 ANALISANDO TEXTOS ACADEcircMICOSTalvez vocecirc jaacute tenha ouvido falar de Joatildeo das Neves um dos fundadores do Grupo Opiniatildeo Ele propotildee no livro A anaacutelise do texto teatral (2012) um estudo para detalhar o processo de criaccedilatildeo do texto teatral sendo que nele haacute a indicaccedilatildeo de que

[] a anaacutelise pode se dar por meio da divisatildeo do texto em seus aspectos mais signicativos esmiuccedilando os dramas contradiccedilotildees personagens principais e secundaacuterios ateacute que se chegue a um resultado coletivo fruto da combinaccedilatildeo de accedilotildees do encenador e dos atores contudo natildeo deve jamais deixar de se utilizar da proacutepria praacutetica teatral como terreno onde a anaacutelise poderaacute se desenvolver (FUNARTE 2012)

O texto teatral eacute um tipo de texto e por isso ele tambeacutem pode (e deve) ser analisado Na citaccedilatildeo apresentada anteriormente ca claro o procedimento adotado para o texto teatral que precisa focar nos dados para construccedilatildeo da trama e ao mesmo tempo no teatro enquanto espaccedilo Vamos tentar exemplicar tomando novamente Romeu e Julieta Imaginem que um diretor propotildee uma adaptaccedilatildeo da histoacuteria e desta vez a narrativa se passa em no morro da Rocinha no Rio de Janeiro Sem uma anaacutelise do texto articula-se a mudanccedila do cenaacuterio do gurino mas esquecem de analisar as falas para a construccedilatildeo textual Qualquer telespectador acharaacute no miacutenimo estranho a relaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo com a atuaccedilatildeo dos atores trocando falas como por exemplo ldquoMinha arma nua jaacute estaacute fora briga tu que eu defenderei tuas costasrdquo

Eacute exatamente esse olhar que considera o texto acadecircmico observando o sujeito autor para quem ele escreve o conteuacutedo que escreve quando escreve que eacute o procedimento esperado na anaacutelise textual acadecircmica que tem por objetivo

[]aprender a ler ver a escolher o mais importante dentro do texto reconhecer a organizaccedilatildeo e estrutura de uma obra ou texto interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios chegar a niacuteveis mais profundos de compreensatildeo reconhecer o valor do material separando o importante do secundaacuterio ou acessoacuterio desenvolver a capacidade de distinguir fatos hipoacuteteses e problemas encontrar as ideias principais ou diretrizes e as secundaacuterias perceber como as ideias se relacionam identicar as conclusotildees e as bases que as sustentam Interpretar o texto familiarizando-se com ideias estilos vocabulaacuterios (LAKATOS MARCONI 1992 P 24)

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Bastante coisa natildeo eacute Mas tenha em mente que no fazer acadecircmico a criticidade eacute um elemento crucial visto que o lugar dela eacute o de formaccedilatildeo de sujeitos poliacuteticos que atuaratildeo ativamente na sociedade por meio de sua prossatildeo Sem sombra de duacutevida o leitor acadecircmico precisa ser um leitor-sujeito e eacute visando isso que indicaremos agora algumas estrateacutegias de leitura que podem ser adotadas para a construccedilatildeo desse sujeito

131 Estrateacutegias para tornar-se um leitor-sujeitoVamos comeccedilar este toacutepico trazendo uma pontuaccedilatildeo teoacuterica importantiacutessima estabelecida por Main (1985 apud MONEREO 1990 p12) a estrateacutegia de anaacutelise textual mais eciente seraacute aquela advinda da reexatildeo criacutetica do sujeito leitor Em outras palavras vocecirc poderaacute ler as dicas aqui indicadas mas caberaacute a vocecirc observando as suas praacuteticas mais exitosas de leitura estabelecer quais se encaixam para a sua construccedilatildeo Ler eacute uma atividade individual e as dinacircmicas dos indiviacuteduos precisam ser respeitas Contudo fazemos a indicaccedilatildeo com base nos estudos teoacutericos de Severino (2007)

1 Delimite a unidade - A unidade eacute ldquo[] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido Assim pode-se considerar um capiacutetulo uma seccedilatildeo ou qualquer outra subdivisatildeordquo (SEVERINO 2007 p 53) Essa delimitaccedilatildeo te apresentaraacute de forma objetiva uma meta de leitura o que aos poucos iraacute se congurar como uma disciplina

2 Analise o texto - A anaacutelise do texto pode ser entendida como o momento de se preparar para a leitura mais aprofundada Nela vocecirc deve fazer uma leitura do texto como um todo construindo ldquo []uma visatildeo panoracircmica uma visatildeo de conjunto do raciociacutenio do autorrdquo (SEVERINO 2007 p 54) O autor ainda nos deixa a indicaccedilatildeo de algumas tarefas que devemos realizar nessa etapa

bull Faccedila a anaacutelise textual - Compreenda quem eacute o autor - o autor eacute o sujeito que escreve o texto e por isso uma pesquisa sobre a vida dele atentando para as pesquisas que realiza e para os temas que estuda com mais frequecircncia pode ser um informativo a mais para te ajudar a esclarecer a forma de escrita

bull Atente para o vocabulaacuterio - durante a sua leitura seletiva marque palavras que te parecem essenciais para compreender o texto as chamadas palavras-chave bem como aquelas que satildeo desconhecidas para vocecirc Com estas as desconhecidas o uso do dicionaacuterio vai tornar-se uma ferramenta essencial

bull Localize as referecircncias cruzadas no texto - eacute comum que os textos apresentem referecircncias a fatos histoacutericos a outros autores a outras teorias Busque ler mesmo

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que de forma raacutepida sem grande aprofundamento essas informaccedilotildees Elas iratildeo te ajudar a ter conhecimento de mundo e consequentemente facilitar no exerciacutecio da leitura

bull Faccedila um esquema que decirc conta de sintetizar o teor do texto observando a introduccedilatildeo o desenvolvimento e a conclusatildeo da unidade em estudo

3 Analise a temaacutetica - Feita as atividades anteriores o leitor passa para a etapa de compreensatildeo da mensagem global da unidade Podemos pensar esse momento como a exposiccedilatildeo de uma seacuterie de perguntas ao texto para coleta das informaccedilotildees Essas perguntas satildeo

bull Qual o assunto tratado no texto - Aqui temos como resposta o tema ou o assunto da unidade

bull Como o assunto estaacute problematizado Qual diculdade deve ser resolvida Qual o problema a ser solucionado - Essas questotildees nos ajudam a entender a problemaacutetica do texto

bull Que posiccedilatildeo o autor assume frente a problemaacutetica levantada - Essa questatildeo aparece quase que automaticamente frente a exposiccedilatildeo da questatildeo anterior ldquoA resposta a esta questatildeo revela a ideia central proposiccedilatildeo fundamental ou tese trata-se sempre da ideia mestra da ideia principal defendida pelo autor naquela unidaderdquo (SEVERINO 2007 p 57)

bull Qual foi o raciociacutenio adotado pelo autor Qual a sua argumentaccedilatildeo - Eacute com essa resposta que teremos a indicaccedilatildeo do pensamento do autor a forma que ele adota a tessitura da mensagem expliacutecita no texto

Chegando aqui vocecirc teraacute os dados essenciais para entender o texto de maneira bastante eciente chegando inclusive a ter os dados necessaacuterios para produzir um resumo gecircnero textual acadecircmico que vocecirc aprenderaacute na terceira unidade deste livro

4 Faccedila uma anaacutelise interpretativa - Na produccedilatildeo dessa anaacutelise vocecirc iraacute como o nome diz interpretar o texto

A partir da compreensatildeo objetiva da mensagem comunicada pelo texto o que se tem em vista eacute a siacutentese das ideias do raciociacutenio e a compreensatildeo profunda do texto natildeo traria grandes benefiacutecios Interpretar em sentido restrito eacute tomar uma posiccedilatildeo proacutepria a respeito das ideias enunciadas eacute superar a estrita mensagem do texto eacute ler nas entrelinhas eacute forccedilar o autor a um diaacutelogo eacute explorar toda a fecundidade das ideias expostas eacute cotejaacute-las com outras enm eacute dialogar com o autor Bem se vecirc que esta que esta uacuteltima etapa da leitura

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analiacutetica eacute a mais difiacutecil e delicada uma vez que os riscos de interferecircncia da subjetividade do leitor satildeo maiores aleacutem de pressupor outros instrumentos culturais e formaccedilatildeo especiacuteca (SEVERINO 2007 p 59)

Para a realizaccedilatildeo dessa etapa encontramos tambeacutem a indicaccedilatildeo de etapas a serem realizadas Vamos conhececirc-las

1 Situar o pensamento desenvolvido na unidade com o pensamento geral do autor

2 Situar o pensamento do autor com cultura losoacuteca em geral

3 Expor os pressupostos que o texto implica ou seja as ideias que natildeo estatildeo efetivamente apresentadas mas podem ser percebidas no exerciacutecio da leitura por meio de pistas linguiacutesticas deixadas pelo autor Seria algo como Eu parei de ir ao teatro o verbo parar indica que havia uma accedilatildeo que era anteriormente realizada e agora natildeo eacute mais

4 Aproximar as ideias propostas no texto com outras quaisquer que apresentem uma determinada semelhanccedila

5 Estabelecer um juiacutezo criacutetico ou seja uma avaliaccedilatildeo do texto

Tal avaliaccedilatildeo tem duas perspectivas de um lado o texto pode ser julgado levando-se em conta sua coerecircncia interna de outro lado pode ser julgado levando-se em conta sua originalidade alcance validade e a contribuiccedilatildeo que daacute a discussatildeo do problema (SEVERINO 2007 p 59)

6 Produzir uma criacutetica pessoal

Bem uma longa jornada exposta aqui para ler e interpretar bem o texto Esperamos que todo o material aqui registrado seja lido e analisado mas vamos deixar algumas outras referecircncias que podem te ajudar com o tema Natildeo adianta propor o exerciacutecio e natildeo contribuir na realizaccedilatildeo natildeo eacute verdade

ViacutedeoLUBRANO Isabela Leitor uma espeacutecie em extinccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=35nKVpYeR_EArtigoPIRES Erik Andreacute de Nazareacute A importacircncia do haacutebito de leitura na universidade Disponiacutevel em httpsrevistaacbscorgbrracbarticledownload846pdf

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DissertaccedilatildeoSEacuteLIS Pliacutenio Sabino Compreensatildeo em leitura e estrateacutegias de aprendizagem em universitaacuterios - Disponiacutevel em httpbdtdunoestebr8080tedebitstreamtede7971dissertacaopdf

SIacuteNTESE DA UNIDADE INesta unidade vocecirc aprendeu sobre a leitura no acircmbito acadecircmico tendo contato com caracterizaccedilotildees sobre o que e como devemos ler na academia ponderando a qualidade dos textos que de fato auxiliaratildeo na formaccedilatildeo do profissional durante a graduaccedilatildeo e por fim apresentamos estrateacutegias de leitura

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UNIDADE - 2 GEcircNEROS TEXTUAIS E O CONHECIMENTO ACADEcircMICO-CIENTIacuteFICOJaacute iniciamos a jornada no universo acadecircmica falando um pouco sobre a leitura agora chegou a hora de conhecer os gecircneros textuais do universo acadecircmico Noacutes nos concentraremos nos gecircneros acadecircmicos escritos contemplados na ementa da disciplina LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO Buscamos te dar alguns elementos para reconhececirc-los analisaacute-los e produzi-los

Para isso apresentaremos cada um dos gecircneros considerando aspectos conceituais objetivo comunicativo tipologia e estrutura retoacuterica Abordaremos de modo global e especiacuteco ndash quando possiacutevel ndash aspectos normativos instituiacutedos pela Associaccedilatildeo Brasileira de Normas Teacutecnicas (ABNT) para a elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de trabalhos acadecircmicos assim como as normas institucionais contempladas no Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA (LUBISCO VIEIRA 2019) a partir da versatildeo atualizada

Eacute importante destacar que os gecircneros acadecircmicos satildeo produzidos com o objetivo de documentar eou comunicar a produccedilatildeo cientiacuteca Quando falamos documentar nos referimos a um meacutetodo de estudo pessoal para o registro do que for vocecirc considerar uacutetil em funccedilatildeo das suas necessidades de estudo pessoal ou pesquisa cientiacuteca De acordo com Severino (2014) existem trecircs formas de documentaccedilatildeo temaacutetica bibliograacuteca e geral

Jaacute podemos falar dos gecircneros acadecircmicos natildeo eacute Eles satildeo textos mobilizados para registrar e estudar outros textos que lemos e com os quais queremos dialogar ao longo dessa jornada Esses gecircneros como os chamentos mapas conceituais diaacuterios de leitura ou pesquisa esquemas resumos e resenhas satildeo para aleacutem de suas especicidades como veremos fundamentais para ler analisar sintetizar e criticar o conteuacutedo de textos de

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outros autores com os quais vocecirc pretende dialogar seja para ns de conhecimento pessoal (documentaccedilatildeo) seja para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca

Antes de comeccedilarmos o conteuacutedo especiacuteco dessa unidade que tal observar como a REVISTA SALA PRETA (USP) organiza suas seccedilotildees e como satildeo publicados alguns dos gecircneros produzidos por pesquisadores sobre a temaacutetica do Teatro

A comunicaccedilatildeo cientiacuteca diz respeito agraves formas como um pesquisador pode divulgar os resultados parciais ou totais de suas pesquisas Vocecirc sabia que jaacute na graduaccedilatildeo vocecirc pode iniciar uma carreira cientiacuteca O proacuteprio nome jaacute diz Iniciaccedilatildeo Cientiacuteca (IC) Natildeo falaremos disso nessa disciplina mas natildeo que preocupado vocecirc ouviraacute falar muito disso ateacute o nal do seu curso Voltando ao assunto Em geral na comunicaccedilatildeo cientiacuteca sob a forma escrita os gecircneros mais utilizados satildeo os artigos e os ensaios publicados em perioacutedicos ou livros Haacute tambeacutem perioacutedicos que disponibilizam seccedilotildees para publicaccedilatildeo dos gecircneros resenhas e entrevistas

Para iniciar a UNIDADE II apresentaremos o chamento Abordaremos em seguida o resumo a resenha e o ensaio Ao abordarmos o uacuteltimo faremos breves consideraccedilotildees sobre o artigo em caraacuteter complementar uma vez que o artigo assim como os resumos satildeo os principais gecircneros acadecircmicos mobilizados para ns de comunicaccedilatildeo cientiacuteca seja atraveacutes de perioacutedicos seja atraveacutes da participaccedilatildeo em eventos acadecircmicos e cientiacutecos

OBJETIVOReconhecer os gecircneros acadecircmicos fichamento resumo resenha e ensaio

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21 GEcircNEROS TEXTUAIS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES MAIS ACADEcircMICASNos uacuteltimos anos muito se tem discutido a respeito dos gecircneros textuais e de como o ensino deles eacute importante quando se trata de liacutengua Podemos perceber que existem vaacuterias vertentes desses estudos e diferentes formas de abordagem no entanto propomos uma leitura mais aprofundada na teoria dos gecircneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003) na obra intitulada Esteacutetica da Criaccedilatildeo Verbal no capiacutetulo Gecircnero dos Discursos

Numa perspectiva soacutecio-histoacuterica e dialoacutegica Bakhtin concebe que todas as atividades humanas estatildeo ligadas agrave utilizaccedilatildeo da liacutengua que se materializa atraveacutes dos chamados enunciados ou discursos concretos e uacutenicos que derivam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana Entendemos nesse caso que os gecircneros satildeo uma estrutura textualdiscursiva de caraacuteter cultural que funciona como forma de accedilatildeo e organizaccedilatildeo social atraveacutes de um esquema cognitivo e accedilatildeo retoacuterica dos usuaacuterios do sistema linguiacutestico Assim torna-se impossiacutevel tratar do gecircnero do discurso sem tratar da realidade social e da relaccedilatildeo com os empreendimentos humanos Por esse motivo dizemos que eacute improvaacutevel natildeo se comunicar verbalmente por gecircneros jaacute que todo sistema linguiacutestico se estende agrave comunicaccedilatildeo humana

Essas praacuteticas discursivas os gecircneros relativamente estaacuteveis orais ou escritos satildeo situados histoacuterica e socialmente sua riqueza e variedade satildeo innitas e cada esfera da atividade humana comporta variados gecircneros que satildeo ampliados e diferenciados quando existe necessidade de desenvolvimento e complexidade dessa esfera Isso quer dizer que apesar de estaacuteveis os gecircneros sofrem alteraccedilotildees de acordo com a demanda dos falantesusuaacuterios e por este motivo eles satildeo sociais e culturais

Bakhtin (2003 p267) arma que ldquo[] as mudanccedilas histoacutericas dos estilos da liacutengua satildeo indissociaacuteveis das mudanccedilas que se efetuam nos gecircneros do discursordquo ou seja os enunciados e o tipo a que pertencem satildeo as ldquo[] correias de transmissatildeordquo que carregam da histoacuteria da sociedade agrave histoacuteria da liacutengua E mais qualquer novo fenocircmeno seja foneacutetico lexical gramatical natildeo pode entrar no sistema da liacutengua sem ter sido amplamente testado e aprovado pelo acabamento do estilo-gecircnero Assim eacute necessaacuterio se encaixar nas convenccedilotildees sociais e culturais

Os enunciados formados pelos usuaacuterios do sistema satildeo individuais e transmitem a individualidade de quem fala ou escreve por isso os gecircneros tambeacutem envolvem questotildees de estilo como citado anteriormente Contudo como discutimos o padratildeo geneacuterico precisa ser relativamente seguido para que haja entendimento por parte do interlocutor

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Em artigos acadecircmicos por exemplo quando se lecirc um resumo o que se espera eacute que o autor revele quais os principais objetivos do estudo em questatildeo assim como os meacutetodos que foram empregados seguidos dos resultados obtidos e de conclusotildees retiradas da pesquisa realizada Todo este passo-a-passo eacute esperado pelo interlocutor uma vez que a leitura de um resumo eacute pertinente a quem vai decidir se ler o artigo na iacutentegra vale ou natildeo a pena Veja no TEXTO 1 o que se espera ao ler um resumo de artigo cientiacuteco (as partes destacadas em amarelo servem para demonstrar o necessaacuterio para a estrutura de montagem do textodiscurso)

TEXTO 1 Exemplo do gecircnero resumo de artigo cientiacuteco

Fonte httpslusoleituraswordpresscom20100320modelo-de-resumo-recordando Acesso em 23 de set

2020

Dessa maneira entende-se o motivo de Bakhtin compreender os gecircneros como sendo dialoacutegicos uma vez que quando nos comunicamos fazendo uso deles levamos em consideraccedilatildeo o que falamos a quem e como Quem escrevefala pensa sempre em seu ouvinteleitor e claro o enunciado proferido para Bakhtin traz consigo a responsividade ativa do interlocutor que pode concordar discordar (completa ou parcialmente) completar adaptar e ateacute mesmo silenciar

Essa alternacircncia dos sujeitos falantes eacute diversamente caracterizada e adota formas variadas Cada reacuteplica (alternacircncias das enunciaccedilotildees dos parceiros no diaacutelogo) por mais breve e

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fragmentaacuteria que seja possui um acabamento especiacuteco que expressa a posiccedilatildeo do locutor (um dos traccedilos fundamentais do enunciado ndash conclusibilidade especiacuteca) sendo possiacutevel responder sendo possiacutevel tomar com relaccedilatildeo a essa reacuteplica uma posiccedilatildeo responsiva (BAKHTIN 2003 p 276)

Essas reacuteplicas propotildeem o outro como membro da comunicaccedilatildeoaccedilatildeo verbal e o discurso como continuamente inacabado Assim o estudo dos gecircneros em sala de aula se faz expressamente viaacutevel no sentido de que natildeo se consegue analisar frases isoladas para compreender o funcionamento da liacutengua Eacute importante que o professor mediador do ensino entenda e utilize suas aulas para trazer essa realidade agrave vida dos alunos Ao se ensinar liacutengua de forma tradicional pelo estudo das oraccedilotildees dissociadas de contexto natildeo haacute aprendizagem de toda riqueza que o sistema linguiacutestico eacute capaz de proporcionar

Por conseguinte Bakhtin arma que o contexto da oraccedilatildeo eacute o contexto do discurso de um uacutenico e mesmo sujeito falante (do locutor) e a relaccedilatildeo existente entre a oraccedilatildeo e o contexto da realidade (a situaccedilatildeo as circunstacircncias a preacute-histoacuteria) e os enunciados de outros locutores natildeo eacute uma relaccedilatildeo pessoal ou direta eacute intermediada por todo o contexto que a rodeia ou seja pelo enunciado em seu todo A oraccedilatildeo sozinha natildeo possui capacidade de determinar responsividade apenas pode participar dessa propriedade quando analisada no todo do enunciado mas dentro de um contexto ela alcanccedila plenitude de sentido

Enm natildeo aprendemos a liacutengua materna em dicionaacuterios enciclopeacutedias ou gramaacuteticas mas nos enunciados que ouvimos e reproduzimos durante a accedilatildeo verbal entre os indiviacuteduos que nos rodeiam enunciados estes que satildeo introduzidos em nossa consciecircncia e experiecircncia Isso signica dizer que aprender a falar eacute entender a estruturaccedilatildeo dos enunciados dos gecircneros discursivos pois somente atraveacutes deles nos comunicamos e a organizaccedilatildeo gramatical (sintaxe) dentro dessas esferas Toda essa dinacircmica faz com que o falante molde sua fala conforme o gecircnero ouccedila a fala do outro e ateacute saiba de imediato prever o m do discurso uma vez que desde o iniacutecio eacute sensiacutevel ao todo discursivo

Em suma podemos referir aos gecircneros como os textosdiscursos que satildeo materializados em situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo recorrentes e satildeo encontrados em nossa vida diaacuteria apresentam padrotildees sociocomunicativos peculiarmente denidos por composiccedilotildees funcionais objetivos de enunciado e estilos concretizados na relaccedilatildeo de forccedilas histoacutericas sociais teacutecnicas institucionais

No proacuteximo subtoacutepico trataremos dos gecircneros textuais acadecircmicos e de suas peculiaridades

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211 Gecircneros textuais acadecircmicos do que estamos falandoEsperamos que ateacute aqui o conceito de gecircnero discursivo trazido por Bakhtin tenha cado claro E apenas para relembrar os gecircneros fazem parte da nossa comunicaccedilatildeo na vida cotidiana pois natildeo nos comunicamos senatildeo atraveacutes deles Eles trazem uma carga social e cultural imensa e justamente por fazerem parte da accedilatildeo comunicativa humana possuem estrutura relativamente estaacutevel e carregam o estilo de cada indiviacuteduo falanteusuaacuterio do sistema linguiacutestico Satildeo classes de eventos comunicativos

Assim quando tratamos dos gecircneros textuais acadecircmicos estamos abordando os discursos e textos orais ou escritos que circulam pelo ambiente da academia ou universidade Satildeo gecircneros especiacutecos que muitas vezes soacute recaem em nosso conhecimento quando adentramos nesse meio apesar de algumas escolas jaacute trabalharem com alguns deles esporadicamente Estamos falando das resenhas resumos chamentos ensaios artigos dentre outros

A elaboraccedilatildeo de gecircneros textuais acadecircmicos se constitui muitas vezes para obtenccedilatildeo de titulaccedilatildeo como eacute o caso da monograa dissertaccedilatildeo e tese No entanto neste material focaremos o estudo dos gecircneros acadecircmicos mais corriqueiros aqueles que circulam na esfera universitaacuteria como meio de comunicaccedilatildeo entre docentes pesquisadores discentes variando em seus propoacutesitos comunicativos

Aranha (2007) arma que o discurso acadecircmico eacute permeado de caracteriacutesticas linguiacutesticas e argumentativas constitutivas e como armamos anteriormente podem ser orais como os debates seminaacuterios aulas palestras ou escritos como os resumos artigos resenhas chamentos monograas etc Na comunidade acadecircmica haacute conjuntos de objetivos que satildeo partilhados entre os membros aleacutem de estruturas de intercomunicaccedilatildeo que com diferentes tipos de propoacutesito buscam manter o sistema de valores e crendices ampliar o alcance da comunidade utilizando os gecircneros que lhes satildeo proacuteprios ou com a criaccedilatildeo de outros e manter o sistema hieraacuterquico que acaba por denir a inclusatildeo participaccedilatildeo e crescimento da comunicaccedilatildeo dentro e fora do grupo Com isso ca clara a necessidade de domiacutenio desses gecircneros a m de transitar na esfera acadecircmica com mais facilidade assim como permanecer nela

A academia possui uma comunidade discursiva proacutepria em que os membros compactuam de determinados discursos como maneira de solidicar os sistemas de valores da comunidade e que baseados nos gecircneros textuais acadecircmicos materializam discursos com objetivos comunicativos variados como divulgaccedilatildeo de pesquisas relatos de experiecircncias exposiccedilotildees conteudistas etc

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A partir deste ponto convidamos vocecirc estudante a reetir sobre a imprescindibilidade de inserccedilatildeo na comunidade acadecircmica principalmente com o uso dos gecircneros textuais que giram em torno dos conhecimentos das regras que estruturam as praacuteticas discursivas e sociais a m de permanecer neste meio Natildeo eacute intenccedilatildeo deste material discutir o que eacute a academia mas eacute importante deixar claro que muitos estudantes chegam ateacute ela sem saber que tipo de praacuteticas comuns ao meio acadecircmico qual eacute o seu discurso e consequentemente como produzi-los Assim o intuito aqui eacute mostrar que o universitaacuterio precisa participar ativamente da comunidade discursiva acadecircmica reetir a respeito dela para que possa se sentir um membro

Aqui nesta Unidade 2 deste material trataremos de deixar vocecircs estudantes a par de alguns desses gecircneros tatildeo importantes ao universo acadecircmico para que com habilidade vocecircs consigam manejar as convenccedilotildees comunicativas dessa comunidade Antes poreacutem abordaremos as questotildees de tipologia textual tatildeo necessaacuterias ao conhecimento discente quanto agraves de gecircnero

212 Tipologia dos gecircneros acadecircmicosGeralmente haacute uma confusatildeo quando se questiona a diferenccedila entre tipos e gecircneros textuais e neste subtoacutepico noacutes adentraremos na questatildeo da tipologia textual mais especicamente dos gecircneros acadecircmicos Para comeccedilar revisemos o que satildeo os tipos textuais

Para Marcuschi (2008 p 154) o tipo textual designa a construccedilatildeo teoacuterica denida pela natureza linguiacutestica de sua composiccedilatildeo caracterizando-se mais como sequecircncias linguiacutesticas eou retoacutericas do que como discursos materializados jaacute que esse eacute o caso dos gecircneros Satildeo modos textuais que abrangem as categorias denominadas como

a Narraccedilatildeo tem como principal nalidade a narraccedilatildeo ou contaccedilatildeo de uma histoacuteria atraveacutes de sequecircncias de accedilotildees imaginaacuterias ou reais Exemplos depoimentos contos faacutebulas romances etc

b Argumentaccedilatildeo objetiva persuadir e convencer o interlocutor a acordar com a tese defendida Exemplos manifestos artigos de opiniatildeo sermotildees etc

c Exposiccedilatildeo possui a tendecircncia de expor um ponto de vista ao leitor natildeo havendo carecircncia de convencecirc-lo Exemplos enciclopeacutedias verbetes de dicionaacuterios resumos escolares etc

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d Descriccedilatildeo tem como principal nalidade apresentar a descriccedilatildeo minuciosa de algo algueacutem ou fato e levar o interlocutor a criar uma imagem mental do que foi descrito Exemplos cardaacutepios classicados folhetos turiacutesticos etc

e Injunccedilatildeo tambeacutem conhecido como explicativo ou prescritivo intenta instruir o leitorouvinte sobre algum procedimento fornecendo informaccedilotildees que condicionam a accedilatildeo desse interlocutor Exemplos manuais receitas bulas de remeacutedio etc

Diferentemente dos gecircneros textuais que satildeo inuacutemeros os tipos satildeo limitados e natildeo possuem tendecircncia a aumentar Eacute certo que em um enunciado ou texto podem se estabelecer mais de um tipo textual no entanto haacute sempre a predominacircncia de um deles e por isso diz-se que um texto eacute narrativo ou argumentativo ou expositivo assim por diante

Entatildeo qual seria a tipologia dos gecircneros acadecircmicos Para responder agrave questatildeo convidamos vocecirc a ler novamente o resumo apresentado no TEXTO 1 Depois tente responder as seguintes questotildees

1 Qual a predominacircncia tipoloacutegica

2 Seria uma narraccedilatildeo

3 Existe uma histoacuteria sendo contada ali uma sequecircncia de fatos

4 Ou podemos dizer que eacute mais voltado agrave descriccedilatildeo

5 Poderia ser uma exposiccedilatildeo

Como mencionado anteriormente podemos constatar mais de um tipo textual em um texto no entanto haacute sempre a predominacircncia de um No caso do resumo trazido no TEXTO 1 haacute uma exposiccedilatildeo de pontos relevantes do texto a natureza do trabalho seu contexto os objetivos metodologia os resultados e por m as conclusotildees Portanto a resposta mais adequada seria dizer que o TEXTO 1 (resumo) eacute um texto do tipo expositivo uma vez que apresenta de forma concisa informaccedilotildees pontuais da pesquisa realizada

Vocecirc pode pensar ldquoEsse texto natildeo se enquadraria num tipo descritivordquo A resposta eacute natildeo porque a descriccedilatildeo apresenta informaccedilotildees minuciosas a ponto de levar o leitor a criar uma imagem mental daquilo que estaacute sendo descrito e esse natildeo eacute o caso do resumo

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22 FICHAMENTOEm Como se faz uma tese Umberto Eco (2010 [1989]) nos fala sobre a situaccedilatildeo ideal para que um pesquisador possa empreender as pesquisas necessaacuterias ao desenvolvimento de uma tese o que serve a qualquer empreendimento de pesquisa cientiacuteca ter em casa todos os livros e demais materiais dos quais precisaraacute Entretanto ele ressalta que ldquo[] essa condiccedilatildeo ideal eacute muito rara mesmo para um estudioso prossionalrdquo (ECO 1989 p87) Nos dias de hoje aparatos tecnoloacutegicos como o celular tornou possiacutevel natildeo apenas levar na bolsa um pequeno aparelho eletrocircnico capaz de carregar uma biblioteca repleta de centenas de livros mas tambeacutem a possibilidade de grifaacute-los comentaacute-los e organizaacute-los

Chamamos comumente de chamento ou cha de leitura o gecircnero acadecircmico utilizado para registrar o material lido cujo conteuacutedo eacute considerado importante para a aprendizagem eou para a pesquisa Em geral nele satildeo registradas informaccedilotildees advindas da leitura de outros gecircneros acadecircmicos conhecidos como artigos dissertaccedilotildees e teses mas tambeacutem de livros e outros materiais

De acordo com Gil (2008) quanto aos procedimentos teacutecnicos as pesquisas podem ser bibliograacuteca documental experimental levantamento estudo de campo estudo de caso e pesquisa-accedilatildeo A pesquisa bibliograacuteca eacute desenvolvida com base em material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros e artigos cientiacutecos A pesquisa bibliograacuteca pode ser realizada juntamente com outros procedimentos teacutecnicos A pesquisa bibliograacuteca faz parte de qualquer empreendimento cientiacuteco

O chamento eacute utilizado para registrar trechos ou as impressotildees de leitura dos textos decorrentes do levantamento bibliograacuteco de uma pesquisa isto eacute da seleccedilatildeo dos textos a serem lidos com o objetivo de embasa-la

Apoacutes a seleccedilatildeo dos textos que constituem o que chamamos de referencial teoacuterico eou metodoloacutegico da pesquisa o pesquisador empreende a leitura atenta dos textos identicando selecionando interpretando e analisando os pontos que interessam a sua pesquisa Por esse motivo o chamento natildeo busca contemplar necessariamente

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a totalidade de uma obra ou ediccedilatildeo de um perioacutedico eacute possiacutevel selecionar apenas os capiacutetulos de um livro ou alguns artigos de um ou mais perioacutedicos que interessam aos seus estudos ou a alguma pesquisa que pretende empreender

Para Marconi e Lakatos (2003) a cha ou chamento eacute um instrumento imprescindiacutevel para o pesquisador manipular o material bibliograacuteco essencial para sua pesquisa pois permite ldquoa) identicar as obras b) conhecer seu conteuacutedo c) fazer citaccedilotildees d) analisar o material e) elaborar criacuteticasrdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 49)

Para Prodanov e Freitas (2013) sua importacircncia estaacute em tornar possiacutevel a identicaccedilatildeo dos textos necessaacuterios a determinado estudo o registro e a reexatildeo sobre o conteuacutedo desses textos assim como em organizar a informaccedilatildeo colhida de forma a facilitar a sua recuperaccedilatildeo O chamento portanto ldquo[] aleacutem de possibilitar a organizaccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas em textos serve como meacutetodo de aprendizagemrdquo (PRODANOV FREITAS 2013 p135)

Acredita-se que o nome chamento tenha relaccedilatildeo com o registro dos textos lidos e interpretados sob a forma de chas e a organizaccedilatildeo dessas em chaacuterios ordenados internamente conforme a necessidade do leitor que poderia optar por exemplo entre organizar as chas por autor por tipo de material ou por tema No contexto em que natildeo havia ainda o recurso tecnoloacutegico do computador as leituras eram registradas em chas conforme imagem a seguir

FIGURA 3 Exemplo de chaacuterio para organizaccedilatildeo por chas

Fonte Ilustraccedilatildeo de Amanda Fahel - Equipe SEAD

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FIGURA 4 Exemplo de cha

Fonte galoacombr

No contexto da intensicaccedilatildeo do uso tecnoloacutegico vocecirc tem a opccedilatildeo de substituir as chas em papel por chas de leitura personalizadas em sowares de ediccedilatildeo de textos como o Microso Word ou utilizar modelos de chas de leitura existentes como o modelo elaborado por Lubisco (2018) disponibilizado como exemplo ao nal desse toacutepico

Atualmente tambeacutem existem alguns sowares de gestatildeo bibliograacuteca ndash como o Zotero e o Mendeley ndash que natildeo apenas facilitaram a leitura e chamento dos textos mas tambeacutem a organizaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias agraves pesquisas

Para saber sobre o Zotero e o Mendeley acesse httpswwwzoteroorg e httpswwwmendeleycominteraction_required=true

Veja tambeacutem alguns tutoriais produzidos pela UNICAMP e disponiacuteveis em httpsportaliunicampbrimageslesbibliotecatutoriaisGuia_Zotero_Fevereiro_2015_IFGW-04-03-15pdf e httpswww3ecounicampbrbibliotecaimagesarquivospdfTutorial_Mendeley_Pietrapdf

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De acordo com Medeiros (2006 p 111) o chamento deve ser precedido da leitura do texto a ser chado e ldquo[] compreende capacidade de analisar o texto separar suas partes e examinar como se inter-relacionam e como o texto se relaciona com outros e competecircncia para resumir as ideias do textordquo Dito isso destacamos que para elaborar um chamento eacute preciso antes de tudo ter lido o texto e ter compreendido sua estrutura argumentativa e principalmente quais aspectos do texto estatildeo vinculados aos seus objetivos de leitura Em geral o chamento destina-se ao proacuteprio pesquisador sendo um importante instrumento para organizaccedilatildeo dos seus estudos

221 Os tipos de fichamentoOs tipos de cha ou chamento estatildeo vinculados agrave nalidade do registro daquilo que eacute lido Assim comumente satildeo reconhecidos alguns tipos de chamento quais sejam chamento bibliograacuteco chamento de citaccedilatildeo chamento de comentaacuterio ou analiacutetico chamento de resumo ou conteuacutedo (MARCONI LAKATOS 2003)

bull Fichamento bibliograacutefico de obra total ou parcial registra os dados bibliograacutecos de determinada obra vinculando-a a um ou mais aspectos como ao campo do saber abordado aos problemas dos quais trata agraves conclusotildees alcanccediladas agraves contribuiccedilotildees agraves fontes dos dados e aos meacutetodos e procedimentos utilizados pelo autor De acordo com Prodanov e Freitas (2013 p136) ldquo[] eacute a descriccedilatildeo com comentaacuterios dos toacutepicos abordados em uma obra inteira ou parte delardquo

bull Fichamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo ldquo[] consiste na reproduccedilatildeo el de frases ou sentenccedilas consideradas relevantes ao estudo em pautardquo (MARCONI LAKATOS 2003 p57) Nesse modelo eacute importante observar o que estabelece a NBR 10520 que estabelece especicamente das regras para construccedilatildeo de uma citaccedilatildeo

bull Fichamento de comentaacuterio ou analiacutetico ldquo[] consiste na explicitaccedilatildeo ou interpretaccedilatildeo criacutetica pessoal das ideias (sic) expressas pelo autor ao longo de seu trabalho ou parte delerdquo (MARCONI LAKATOS 2003 p 59) Nesse modelo de chamento eacute possiacutevel comentar passagens do texto vinculando-as agrave aspectos do trabalho do pesquisador assim como estabelecer anaacutelise criacutetica do conteuacutedo do texto lido e comparaccedilatildeo deste com outros textos lidos sobre o mesmo tema explicitando a importacircncia do texto para o estudo em pauta

bull Fichamento de resumo ou de conteuacutedo o pesquisador apresenta com suas proacuteprias palavras uma siacutentese das ideias principais do texto lido ou um resumo dos aspectos considerados mais importantes da obra Marconi e Lakatos (2003) destacam que natildeo

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se trata de um sumaacuterio das partes que compotildeem a obra nem de uma transcriccedilatildeo - como eacute o chamento de citaccedilatildeo - mas trata-se de uma exposiccedilatildeo das ideias apresentadas na obra estudada Eacute importante assinalar que diferentemente do chamento de comentaacuterio o chamento de resumo xa-se apenas na obra lida

Para Marconi e Lakatos ldquo[] quando se desejam maiores detalhes sobre a obra o ideal eacute a cha [ou chamento] de resumo ou conteuacutedo []rdquo (MARCONI LAKATOS2003 p57) Eacute importante reforccedilar que no chamento de citaccedilatildeo os trechos satildeo selecionados conforme o original e poderatildeo ser utilizados sob a forma de citaccedilotildees diferentemente do chamento de resumo que se propotildee a sintetizar as principais ideias do texto sob a forma de paraacutefrase Jaacute o chamento de comentaacuterio busca registrar as citaccedilotildees e as impressotildees delas decorrentes sob a forma de comentaacuterios O chamento de comentaacuterio abre entatildeo espaccedilo para que o autor estabeleccedila criacuteticas ao texto e relaccedilotildees comparativas ou associativas com outros textos lidos Esse uacuteltimo trata-se de um empreendimento fundamental para a elaboraccedilatildeo de outro gecircnero que vocecirc conheceraacute a resenha

222 Estrutura retoacutericaA estrutura baacutesica de um chamento isto eacute o conjunto das informaccedilotildees que devem constar em um chamento seja ele produzido em cha ou atraveacutes de um aplicativo de composiccedilatildeo de textos deve compreender pelo menos trecircs elementos essenciais cabeccedilalho referecircncia bibliograacuteca e corpo da cha ou texto (MARCONI LAKATOS 2003 PRODANOV FREITAS 2013) Haacute ainda outras informaccedilotildees optativas como indicaccedilatildeo da obra e o local em que ela pode ser encontrada (MARCONI LAKATOS 2003) seja numa biblioteca pessoal seja numa biblioteca puacuteblica O mesmo eacute vaacutelido para os textos em suporte digital arquivados no seu computador pessoal

223 O que diz a normaNatildeo existe efetivamente uma norma para produzir chamento Devemos atentar que char o texto eacute muito mais uma teacutecnica de estudo e por isso nada mais razoaacutevel do que permitir que cada pessoa faccedila seus ajustes para tornar o estudo funcional Contudo eacute de bom senso que ao utilizar estruturas que satildeo normatizadas a gente faccedila uso do que diz a norma Por exemplo quando vamos produzir uma cha de referecircncia eacute interessante fazermos seguindo o indicado pela NBR 6023 de 2018 que detalha os elementos que devem aparecer numa referecircncia De forma resumida os principais elementos a serem incluiacutedos na elaboraccedilatildeo das referecircncias satildeo autor tiacutetulo da obra ediccedilatildeo local de publicaccedilatildeo editora e data da publicaccedilatildeo Exemplo

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PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

Para aprender mais sobre os elementos essenciais para composiccedilatildeo de referecircncias leia o material disponiacutevel no link httpsuspbrsddarquivosaulasmetodologiaabnt6023pdf

Para o chamento de citaccedilatildeo principalmente assim como para os demais modelos de chamento em que se faccedila o uso de transcriccedilotildees ou paraacutefrases de trechos como tambeacutem a menccedilatildeo agraves ideias e aos argumentos disseminados na produccedilatildeo textual de determinado autor (citaccedilatildeo indireta) devemos utilizar a NBR 10520 de 2002

De acordo com a NBR 10520 a menccedilatildeo agrave informaccedilatildeo extraiacuteda de outros textos ou citaccedilatildeo pode aparecer como transcriccedilatildeo literal ou como uma paraacutefrase

Chama-se citaccedilatildeo direta (ou textual) a transcriccedilatildeo literal que utiliza as proacuteprias palavras do autor consultado chama-se citaccedilatildeo indireta (ou paraacutefrase) aquela em que satildeo reproduzidas as ideias de um autor sem transcrevecirc-las podendo ateacute ser resumidas chama-se citaccedilatildeo de citaccedilatildeo ndash direta ou indireta ndash aquela que se refere a obras citadas por outros autores e agraves quais natildeo se teve acesso Esta uacuteltima deve ser usada com parcimocircnia em caso real de natildeo localizaccedilatildeo da obra original pois hoje com a internet e as bibliotecas digitais muitas obras estatildeo disponiacuteveis na rede (LUBISCO VIEIRA 2019 p 73)

Medeiros (1999) ressalta que no modelo de chamento de citaccedilatildeo ou transcriccedilatildeo eacute preciso se atentar para o rigor na transcriccedilatildeo respeitando elementos como aspas itaacutelicos pontuaccedilatildeo etc Natildeo eacute possiacutevel alterar o texto trocando palavras por exemplo mas podem ser feitas supressotildees no sentido de adequar a citaccedilatildeo ao objetivo do pesquisador sem que haja interferecircncia na forma do texto Para propor cortes ou supressotildees de uma ou mais linhas devemos utilizar o seguinte recurso trecircs pontos entre colchetes [] Exemplo

ldquoCompletude referecircncia tematizaccedilatildeo coesatildeo unidade satildeo conceitos que denem o texto como tal [] Assim o autor apresenta criteacuterios que orientam o processo de escritardquo (MEDEIROS 1999 p120)

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Segundo a ABNT existem duas formas de citar um texto atraveacutes da indicaccedilatildeo do autor e da data o que vai compor o sistema autor-data ou atraveacutes da indicaccedilatildeo de nuacutemeros no texto que remeteratildeo para notas de rodapeacute ou notas nais nas quais satildeo apresentados os dados da citaccedilatildeo o chamado sistema numeacuterico Recomendamos o uso do sistema autor-data que eacute exatamente o apresentado no exemplo acima Para ler mais sobre citaccedilatildeo recomendamos o Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA para trabalhos acadecircmicos

Conforme o sistema autor-data satildeo possiacuteveis diversas formas de citaccedilatildeo sendo as mais elementares (LUBISCO VIEIRA 2019 p74)

a cita-se o autor pelo sobrenome em maiuacutesculas entre parecircnteses seguido do ano de publicaccedilatildeo separando-os por viacutergula Ex (MARQUES 2006)

b quando o nome do autor zer parte da sentenccedila somente a sua inicial seraacute maiuacutescula e apenas a data apareceraacute entre parecircnteses (seguida da indicaccedilatildeo da paacutegina se for o caso) Ex Como diz ainda Alvarenga (1993) []

c para indicar a(s) paacutegina(s) onde se encontra o trecho citado ela(s) deve(m) aparecer depois da data separada(s) desta por viacutergula e precedida(s) da letra ldquoprdquo Ex ldquo[] em estabelecimentos de ensino superiorrdquo (LIMA 1978 p 10)

Na NBR 10520 as demais formas de citaccedilatildeo referem-se agraves diferentes situaccedilotildees decorrentes da quantidade de autores das obras publicadas por um mesmo autor do ano de publicaccedilatildeo das obras de um mesmo autor de diferentes obras com a mesma autoria coincidecircncia de sobrenomes dos autores autoria desconhecida dentre outras Por esse motivo as normas da ABNT existem para serem consultadas sempre que houver necessidade de normatizar os gecircneros acadecircmicos

224 ExemplosA partir do que jaacute foi dito observe que o chamento de resumo pode ser o proacuteprio gecircnero resumo sendo uma exceccedilatildeo quando ele natildeo se propotildee a obedecer agrave progressatildeo e agrave articulaccedilatildeo argumentativa do texto lido O chamento de comentaacuterio ou analiacutetico registra as informaccedilotildees anaacutelises e criacuteticas fundamentais para a elaboraccedilatildeo de uma resenha Por esse motivo do ponto de vista dos exemplos daremos maior destaque ao chamento de citaccedilatildeo e ao chamento de comentaacuterio uma vez que os proacuteximos itens a serem trabalhados na UNIDADE II seratildeo os gecircneros resumo e resenha

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Exemplo 1 Fichamento de Citaccedilatildeo ou Transcriccedilatildeo

Fonte MEDEIROS 1999

Exemplo 2 Fichamento de Comentaacuterio

Fonte MEDEIROS 1999

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Exemplo 3 Ficha de Leitura

Fonte LUBISCO 2018

23 RESUMOOs resumos acadecircmicos assim como as sinopses de lmes e as informaccedilotildees contidas na contracapa de livros satildeo de modo geral trabalhos de siacutentese isto eacute se propotildeem a apresentar de forma concisa as principais informaccedilotildees dos objetos aos quais se referem Observe os textos a seguir

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Espetaacuteculo Pele Negra Maacutescaras Brancas

Foto Adeloyaacute Magnoni

Sinopse Com uma encenaccedilatildeo (Onisajeacute) e uma dramaturgia afrofuturista (Aldri Anunciaccedilatildeo) o espetaacuteculo perpassa trecircs periacuteodos ndash 1950 2019 e 2888 - para falar sobre como o processo de colonizaccedilatildeo construiu sofrimentos psicoloacutegicos em corpos negros que perduram ateacute o seacuteculo 29 e como eacute importante ter o passado como referecircncia para construir o futuro

Texto 2

Fonte A tarde

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Texto 3

Fonte A liminaridade das praacuteticas pedagoacutegicas da cena Sala Preta 19(2) 179-196 Disponiacutevel em httpsdoiorg1011606issn2238-3867v19i2p179-196 Acesso em 27 ago 2020

Leia os textos e responda

1 Qual o objetivo comunicativo dos textos

2 A quem se destinam Destinam-se a um mesmo puacuteblico

3 Onde as siacutenteses foram publicadas

Observem que os dois textos apresentam a seleccedilatildeo de elementos que foram considerados de maior importacircncia no espetaacuteculo teatral e no texto aos quais se referem

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Para Prodanov e Freitas (2013 p 146) os gecircneros textuais sinopse (TEXTO 2) e resumo (TEXTO 3) diferenciam-se principalmente pela nalidade da comunicaccedilatildeo Na sinopse a ecircnfase recai no aspecto mais geral da temaacutetica de um texto enquanto o resumo busca sintetizar todas as ideias principais do tema do texto De acordo com Lakatos e Marconi (1992) a nalidade do resumo eacute difundir as informaccedilotildees contidas em livros artigos teses etc ldquo [] permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniecircncia ou natildeo de consultar o texto completordquo Nessa perspectiva o TEXTO 2 e o TEXTO 3 teriam entatildeo a mesma nalidade

Apesar de serem redigidos de modo a natildeo emitir juiacutezo de valor ou comentaacuterio criacutetico sobre o conteuacutedo lido resumo e sinopse diferenciam-se principalmente porque o primeiro apresenta a siacutentese de todas as principais ideias do tema assim como respeitaraacute a progressatildeo e o modo como o texto de base foi articulado enquanto o segundo delimita apenas a ideia global Observaram como em geral nas sinopses de espetaacuteculos e lmes nunca sabemos como eles acabam Jaacute no resumo a siacutentese nunca estaacute dissociada da progressatildeo textual isto eacute ela considera a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as conclusotildees do texto de referecircncia

O resumo eacute um gecircnero informativo-referencial (MEDEIROS 1999) pois ele abre ou apresenta os textos a que se referem Severino (2014 p179) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de duas possibilidades de resumos no acircmbito acadecircmico o resumo como siacutentese de um texto qualquer que seja sua natureza e o resumo teacutecnico como modo de apresentaccedilatildeo de um trabalho com conguraccedilatildeo especiacuteca

O resumo-siacutentese pode ser usado como estrateacutegia de documentaccedilatildeo como instrumento para estudo pessoal mas nas situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute o resumo teacutecnico-cientiacuteco conforme norma da ABNT que deve ser utilizado Eacute a partir do resumo teacutecnico-cientiacuteco que em geral submetemos trabalhos em eventos acadecircmicos e cientiacutecos assim como ele eacute o elemento que estabelece o primeiro contato do leitor com um artigo quando publicado em um perioacutedico cientiacuteco por exemplo Lido o resumo o leitor pode sentir ou natildeo a necessidade de consultar o trabalho completo

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Texto 4

Fonte httpwwwseeruniriobrindexphpopercevejoonlinearticleview532

Observamos como o TEXTO 4 reduz o conteuacutedo do artigo agraves suas principais informaccedilotildees Juntamente com o tiacutetulo e as palavras-chave ele fornece algumas pistas sobre o que poderemos encontrar no artigo Quando vinculado agrave comunicaccedilatildeo das produccedilotildees acadecircmicas o resumo eacute seguido das palavras-chave isto eacute dos principais termos que representam o conteuacutedo abordado no original facilitando a recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo em situaccedilotildees de pesquisa

Aleacutem do resumo em liacutengua portuguesa em geral os perioacutedicos acadecircmicos assim como os Trabalhos de Conclusatildeo de Curso (TCC) dissertaccedilotildees e teses demandam a produccedilatildeo do resumo e das palavras-chave em liacutengua estrangeira que em liacutengua inglesa intitulam-se abstract e keywords Assim como no TEXTO 4 o TEXTO 5 e TEXTO 6 exemplicam o resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e em liacutengua estrangeira apresentados em uma tese de doutorado desenvolvida e defendida no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Artes Cecircnicas (PPGAC) da UFBA

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Texto 5

Fonte DE ANDRADE 2013

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Texto 6

Fonte DE ANDRADE 2013

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Comparando o TEXTO 5 e o TEXTO 6 vocecirc percebe se haacute alguma diferenccedila quanto ao objetivo da escrita

A produccedilatildeo de um resumo implica em duas operaccedilotildees leitura do texto de referecircncia e a produccedilatildeo de um novo texto que condensa suas principais ideias Assim o resumo natildeo eacute o texto original mas uma criaccedilatildeo feita a partir dele por isso natildeo eacute elaborado por meio de teacutecnica de recorte e colagem de citaccedilotildees ndash como no chamento de citaccedilatildeo ndash mas por meio da paraacutefrase do texto de referecircncia isso eacute uma nova composiccedilatildeo textual escrita com suas proacuteprias palavras respeitando eacute claro a centralidade das ideias do autor e a forma como ele organizou seu texto

Podemos dizer que o principal objetivo do resumo enquanto comunicaccedilatildeo cientiacuteca eacute reduzir o conteuacutedo de um texto aos seus aspectos mais essenciais de forma a atrair os leitores levando-os a conhecer o texto completo Um bom resumo pode ser um oacutetimo instrumento de marketing do texto completo

231 Tipos de resumosNo universo acadecircmico os objetivos do resumo denem o seu caraacuteter ou tipologia Eacute consenso a existecircncia de dois tipos de resumo o indicativo ou descritivo e o informativo ou analiacutetico O primeiro tem como objetivo apresentar um sumaacuterio narrativos dos principais pontos do texto original sem adentrar nos detalhes como nos dados qualitativos e quantitativos De modo geral esse resumo eacute o mais utilizado para preceder as publicaccedilotildees cientiacutecas mas natildeo dispensa a leitura do original eacute apenas o seu antecedente necessaacuterio jaacute que ldquo[] apenas descreve sua natureza forma e propoacutesitordquo (LAKATOS MARCONI 1992 p 74)

Jaacute o resumo informativo consiste na difusatildeo mais detalhada e precisa das informaccedilotildees do original Tem a nalidade de informar o conteuacutedo e as principais ideias do autor apresentando o objetivo a metodologia os resultados e conclusotildees do autor Por ser mais detalhado ele pode dispensar a leitura do original Apesar de mais detalhado faz-se necessaacuterio esclarecer que o resumo informativo natildeo se trata de uma ldquoldquo[] mera repeticcedilatildeo sintetizada de todas as ideias do autorrdquo (LAKATOS MARCONI 1992 p74)

232 Estrutura retoacutericaNa UNIDADE I jaacute falamos de leitura e de anaacutelise de textos agora chegou a hora de demonstrar como a compreensatildeo global do texto eacute importante para proceder agrave siacutentese de suas principais ideias Algumas questotildees precedem a elaboraccedilatildeo de um resumo sobre

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o que fala o texto Com que objetivo Como estatildeo organizadas e articuladas as ideias A resposta a essas perguntas devem compor a estrutura de um resumo

Da leitura e compreensatildeo global do texto passamos ao processo de sumarizaccedilatildeo isto eacute o processo de reduccedilatildeo do texto aos seus principais pontos Esse processo guia-se por uma loacutegica a da economia De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004a p 26) o processo de sumarizaccedilatildeo requer

Apagamento de conteuacutedos facilmente inferiacuteveis a partir de nosso conhecimento de mundo

Apagamento de sequecircncias de expressotildees que indicam sinoniacutemia ou explicaccedilatildeo

Apagamento de exemplos

Apagamento das justicativas de uma armaccedilatildeo

Apagamento de argumentos contra a posiccedilatildeo do autor

Reformulaccedilatildeo das informaccedilotildees utilizando termos mais geneacutericos (ex homem gato cachorro [por] mamiacuteferos)

Quanto agrave redaccedilatildeo o resumo deve condensar o conteuacutedo e evitar detalhamentos aleacutem do necessaacuterio agrave compreensatildeo dos seus objetivos comunicativos

O resumo eacute um texto sobre outro texto que pode ser seu ndash como um resumo teacutecnico-cientiacuteco solicitado em situaccedilotildees acadecircmicas e cientiacutecas (SEVERINO 2014) ndash ou de outro autor ndash siacutentese para estudo Por ser um texto sucinto deve ser claro objetivo e preciso A ABNT estabelece que o resumo seja escrito por meio de frases concisas sem enumeraccedilatildeo de toacutepicos e utilizando a voz ativa e a terceira pessoa do singular

A articulaccedilatildeo entre os principais pontos do texto e as conclusotildees do autor deve ser claramente explicitada por meio do uso de organizadores textuais ou conectivos selecionados para demonstrar relaccedilotildees de contrates conclusatildeo justicativas dentre outros

De acordo com Lubisco e Vieira (2019 p 56) quanto agrave redaccedilatildeo e agrave apresentaccedilatildeo do resumo

A frase de abertura deve explicitar o tema do trabalho em seguida deve-se indicar a categoria a que pertence (memoacuteria estudo de caso etc) Deve ser evitado o uso de frases negativas paraacutegrafos foacutermulas siglas siacutembolos citaccedilotildees bibliograacutecas Eacute encabeccedilado pela palavra RESUMO em negrito e letras maiuacutesculas centralizada ao alto com o texto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

em espaccedilo simples e justicado Ao nal deve incluir as palavras-chave representativas do conteuacutedo

233 O que diz a normaA ABNT estabelece requisitos para a redaccedilatildeo e a apresentaccedilatildeo de resumos Existe inclusive uma norma especiacuteca para ele a NBR 6028 (ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS 2003) Conforme a norma o resumo eacute ldquoldquo[] a apresentaccedilatildeo concisa dos pontos relevantes de um textordquo

A norma estabelece trecircs tipos resumo criacutetico indicativo e informativo O resumo criacutetico eacute sinocircnimo de resenha gecircnero que falaremos a seguir Saber o tipo do resumo eacute importante tambeacutem para determinar sua extensatildeo

Caso seja resumo de trabalho acadecircmico (teses dissertaccedilatildeo e monograa) e de relatoacuterios teacutecnico-cientiacutecos deve ter entre 150 e 500 palavras

Caso seja resumo para artigos de perioacutedicos deve ter entre 100 e 250 palavras

Caso seja resumo destinado a indicaccedilotildees breves deve ter entre 50 e 100 palavras Jaacute os resumos criacuteticos natildeo possuem limites de palavras

A norma estabelece a apresentaccedilatildeo das palavras-chave ao nal do resumo como jaacute visto nos exemplos 3 e 4

Tem sido uma praacutetica comum nos eventos cientiacutecos a exigecircncia de que os trabalhos submetidos agrave avaliaccedilatildeo estejam na forma de um RESUMO EXPANDIDO A ABNT natildeo estabelece requisitos para redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desses resumos que do ponto de vista da extensatildeo eacute uma versatildeo expandida e mais detalhada dos aspectos metodoloacutegicos dos resultados e das conclusotildees do autor que jaacute satildeo contemplados no resumo informativo

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Observe o Manual para Elaboraccedilatildeo de Resumo Expandido criado pela Faculdade de Ciecircncia de Tecnologia do Maranhatildeo (FACEMA)

httpwwwfacemaedubrsitewp-contentuploads201302ResumoExpandidoFACEMA-CSpdf

Conheccedila tambeacutem um resumo expandido publicado nos Anais do VI Congresso da ABRACE em 2010

httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabracearticleview33803538

234 Exemplos

Exemplo 1 Resumo indicativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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Exemplo 2 Resumo informativo

Fonte LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade

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24 RESENHAA resenha eacute um gecircnero acadecircmico que passou por um processo de digamos assim alargamento de signicado Em alguns estados do Brasil como a Bahia eacute comum ouvirmos a expressatildeo vamos resenhar ou tenho uma resenha para contar como um signicado de estabelecer uma conversa Haacute tambeacutem o uso com o sinocircnimo de festa encontrado em frases como vai rolar uma resenha laacute em casa hoje mas vocecirc saberia dizer o que eacute uma resenha acadecircmica

No universo acadecircmico resenha se refere a um gecircnero no qual o autor apoacutes resumir os principais elementos do objeto resenhado apresenta seu ponto de vista sobre ele De acordo com Machado Lousada e Abreu-Tardelli (2004b p15) a resenha eacute ldquo[] um texto que apresenta informaccedilotildees selecionadas e resumidas sobre o conteuacutedo de outro texto trazendo aleacutem das informaccedilotildees comentaacuterios e avaliaccedilotildees do resenhistardquo

Vamos juntos fazer uma anaacutelise do TEXTO 7 a resenha Jogos teatrais como instrumentos pedagoacutegicos e transformadores de realidades sociais escrita pela professora Rita de Caacutessia Vieira (2010) para tratar do livro O uso dos jogos teatrais na educaccedilatildeo possibilidades diante do fracasso escolar escrito por Ana Lydia B Santiago Libeacuteria Rodrigues Neves

Primeiro ponto que devemos observar eacute a autoria Para publicar um livro sobre o tema espera-se que Ana Lydia B e Libeacuteria Rodrigues Neves sejam signicativamente conhecedoras do tema que estatildeo abordando Se pararmos para pensar direitinho qual editora teria interesse em publicar um livro acadecircmico sobre teatro que foi escrito por um meacutedico especialista em rim natildeo eacute verdade Entatildeo com essa informaccedilatildeo vamos lidar com a primeira caracteriacutestica da resenha ela eacute uma ldquoconversardquo de especialista sobre a especialidade deles ou seja no conceito que trouxemos de resenha destacamos que o resenhista deve apresentar o seu ponto de vista a sua criacutetica sobre a forma que o resenhado estaacute dispondo a temaacutetica Logo nada mais sensato que a criacutetica venha de algueacutem que conheccedila o tema Criacuteticas soacute devem ser produzidas por pessoas com signicativo conhecimento sobre o tema que estaacute criticando

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Texto 7

Fonte Vieira (2010)

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Deixaremos uma atividade entre na Plataforma Lattes e certique-se de queas autoras resenhadas e a autora resenhista tecircm propriedade para escrever sobre o tema e criticar a escrita respectivamente

241 Estrutura retoacutericaDe acordo com Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) o estilo da resenha deve ser formal e o tom persuasivo para inuenciar o puacuteblico a ler (ou natildeo ler) o livro resenhado Eacute importante destacar que o resumo eacute parte integrante da resenha Em outras palavras dentro de toda resenha deve haver um resumo explicando o que eacute o texto que estaacute sendo resenhado Na nossa resenha em anaacutelise proposta por Vieira (2010) o resumo estaacute no primeiro paraacutegrafo da segunda coluna conforme

Texto 8 O resumo na resenha

Fonte VIEIRA (2010)

Quanto agrave linguagem espera-se que a resenha inclua verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e relevacircncia do tema do livro (MOTTA-ROTH HENDGES 2010 p36) e que seja escrita de forma impessoal mas com marcas efetivas de subjetividade Talvez essa uacuteltima consideraccedilatildeo impessoal com subjetividade tenha confundido sua mente Vamos explicar os comentaacuterios expressam a opiniatildeo do resenhista de maneira indireta e impliacutecita Por isso escreve-se em terceira pessoa poreacutem apresentando marcas de autoria que indicam a realizaccedilatildeo de uma criacutetica atribuindo valor ao texto resenhado como observado no trecho a seguir em que a resenhista indica mesmo sem se colocar como autora da criacutetica que o texto resenhado eacute tatildeo bom que logo se tornaraacute uma referecircncia para pesquisadores da aacuterea Observe o TEXTO 9

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TEXTO 9 Marcas de autoria

Fonte VIEIRA (2010)

Para organizaccedilatildeo dos elementos estruturais da resenha Motta-Roth e Hendges (2010 p 36) propotildeem o seguinte passo-a-passo

APRESENTAR O LIVRO

Passo 1 informar o toacutepico geral do livro eou

Passo 2 denir o puacuteblico alvo eou

Passo 3 dar referecircncias sobre o autor eou

Passo 4 fazer generalizaccedilotildees eou

Passo 5 inserir o livro na disciplina eou

DESCREVER O LIVRO

Passo 6 dar uma visatildeo geral da organizaccedilatildeo do livro eou

Passo 7 estabelecer o toacutepico de cada capiacutetuloeou

Passo 8 citar material extratextual

AVALIAR PARTES DO LIVRO

Passo 9 realccedilar pontos especiacutecos

(NAtildeO) RECOMENDAR O LIVRO

Passo 10A desqualicarrecomendar o livro ou

Passo 10B recomendar o livro apesar das falhas indicadas

No que concerne agrave criacutetica do objeto da resenha ndash Toacutepico 3 da abordagem de Motta-Roth e Hendges (2010) ndash Medeiros (1999 p162) propotildee que a estrutura argumentativa da resenha responda agraves seguintes perguntas

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1 Qual sua coerecircncia interna

2 Qual a originalidade do texto

3 Qual o alcance do texto

4 Qual a validade das ideias

5 Qual a relevacircncia das ideias

6 Que contribuiccedilotildees apresenta

7 O autor atingiu os objetivos propostos

8 O texto supera a pura retomada de textos de outros autores

9 Haacute profundidade na exposiccedilatildeo das ideias

10 A tese foi demonstrada com ecaacutecia

11 A conclusatildeo estaacute apoiada em fatos

A progressatildeo textual e articulaccedilatildeo de uma resenha podem ser resumidas portanto no percurso que vai da leitura agrave elaboraccedilatildeo de um texto pessoal que estabelece a siacutentese e a criacutetica das ideias do texto original

242 O que diz a normaEacute a NBR 6028 de 2003 responsaacutevel por estabelecer os requisitos para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de resumos que abarca como deve ser feita uma resenha Entatildeo em outras palavras armamos que resenha eacute um resumo articulado com criacutetica Por se tratar de um gecircnero com caracteriacutesticas peculiares a norma natildeo delimita a extensatildeo da resenha A uacutenica explanaccedilatildeo presente na norma eacute ldquoResumo criacutetico Resumo redigido por especialistas com anaacutelise criacutetica de um documento Tambeacutem chamado de resenha Quando analisa apenas uma determinada ediccedilatildeo entre vaacuterias denomina-se recensatildeordquo (ABNT 2003)

Eacute possiacutevel ter o gecircnero resenha um formato epistolar e manter o propoacutesito de resumir comentar e avaliar Observe como foi produzida

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a resenha do livro A perda de si cartas de Antonin Artaud (Rio de Janeiro Rocco 2017) por Maruzia Dultra

Conheccedila a resenha no link httpsportalseeruabrindexphprevteatroarticleview2487917251

243 Exemploshttpsrevistasufprbrletrasarticleview19051gt Acesso em 02 oct 2020

Para conhecer outras resenhas acesse os links

httpswwwe-publicacoesuerjbrindexphpriaearticleview4573832191

https p or t a l s e eru f b a br index phpre v te at roar t i c l e view57484188

25 ENSAIOQuando pesquisamos o termo ensaio nas artes performaacuteticas ele pode aparecer como propotildee Teixeira (2005 p118)

[o] levantar repetir ou apurar uma cena com os atores Acertar as luzes ou o som com a atuaccedilatildeo destes em cena Harmonizar a partir de uma proposta esteacutetica e teacutecnica a accedilatildeo do elenco com as falas e os movimentos sugeridos pelo texto literaacuterio

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Podemos observar nessa perspectiva teatral que o ensaio pressupotildee a organizaccedilatildeo preacutevia de elementos necessaacuterios a execuccedilatildeo de uma proposta esteacutetica e teacutecnica

No acircmbito acadecircmico como veremos o ensaio tambeacutem se aproxima de uma espeacutecie de estaacutegio preparatoacuterio ou passagem necessaacuteria para que se aprenda outros gecircneros Ele eacute uma produccedilatildeo textual em que a visatildeo subjetiva daquele que escreve estaacute em destaque No ensaio mais do que nos outros gecircneros que vimos ateacute aqui quem escreve tem a liberdade para reetir sobre as temaacuteticas que lhe interessam assim como pode e deve defender seu ponto de vista em relaccedilatildeo a elas por isso ele dispensa a obrigatoriedade de um texto referente ndash como o resumo e a resenha que obriga o autor do gecircnero a reduzi-lo agraves suas principais ideias ou criticaacute-lo O ensaio pode ou natildeo mobilizar uma documentaccedilatildeo empiacuterica ou bibliograacuteca Quem escreve eacute quem decide e ponto

Se vocecircs buscarem em alguns livros de Metodologia Cientiacuteca vatildeo observar que comumente o ensaio eacute abordado de maneira bem resumida e quase sempre sendo diferenciado de outro gecircnero que natildeo estudaremos aqui o artigo Mas por que o artigo Porque a produccedilatildeo de um artigo demanda alguma ldquovivecircncia acadecircmicardquo isto eacute domiacutenio sobre os tipos e teacutecnicas de leitura e anaacutelise de textos ndash que jaacute abordamos na UNIDADE I ndash assim como dos meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa jaacute que os artigos satildeo gecircneros voltados para a comunicaccedilatildeo de resultados de estudos ou das pesquisas que desenvolvemos Digamos que atraveacutes de um artigo vocecirc pode divulgar uma pesquisa em desenvolvimento (no qual se pode apresentar alguns resultados parciais por exemplo) ou concluiacuteda (na qual apresentam-se os resultados nais obtidos)

Saiba mais

Para conhecer alguns exemplos do gecircnero artigo acesse os anais da X Reuniatildeo Cientiacuteca da ABRACE (2019) e veja os artigos publicados no GT Pedagogia das Artes Cecircnicas disponiacutevel em httpswwwpublionlineiarunicampbrindexphpabraceissueview115showToc

Para Paviani (2010) a maior diferenccedila entre ensaio e o artigo estaacute na liberdade que perpassa a produccedilatildeo do primeiro No ensaio o autor assume o controle do que seraacute dito e

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como seraacute dito ldquo[] sem o paio empiacuterico documentos ou outros recursos metodoloacutegicosrdquo (PAVIANI 2010 p 28) O que se espera do ensaio eacute ele seja escrito com base num estilo pessoal manifestado tanto na escolha do tema quanto na sua interpretaccedilatildeo e criacutetica Ele natildeo abole o espaccedilo da subjetividade como no artigo ao contraacuterio ele amplia

Continuando o raciociacutenio de acordo com Britto (2001) o artigo eacute uma modalidade de trabalho cientiacuteco primaacuterio que se dene por um discurso envolvido ndash porque resulta de uma descoberta cientiacuteca do seu autor ndash e por um discurso envolvente pois mobiliza o jargatildeo de uma aacuterea para dialogar com a comunidade cientiacuteca com a qual esse autor estaacute envolvido Jaacute o ensaio natildeo estaria necessariamente voltado para divulgar o resultado de estudos ou pesquisa ele seria conforme essa autora um discurso secundaacuterio que estabelece uma criacutetica pessoal sobre questotildees cientiacutecas abordadas por outros autores que natildeo o autor do ensaio

Pena (2005 p76) coloca outra questatildeo interessante sobre o ensaio

[] o ensaio tem sua memoacuteria [discursiva] afetada por questotildees fora do que eacute entendido como cientiacuteco Sempre muito relacionado ao literaacuterio o ensaio precisa de um esforccedilo maior para ser aceito como um gecircnero cientiacuteco

A autora aponta para a relaccedilatildeo do ensaio com a literatura Em geral o ensaio no acircmbito literaacuterio eacute considerado como um gecircnero produzido por autores mais experientes enquanto o ensaio acadecircmico ndash eacute nele que focaremos nossa atenccedilatildeo ndash eacute indicado para aqueles que estatildeo adentrando a vida acadecircmica isto eacute que ainda estatildeo se preparando para o ldquo[] domiacutenio teacutecnico dos gecircneros cientiacutecosrdquo (PAVIANI 2010 p 31)

De acordo com Salvador (1973 p 163) o ensaio eacute ldquo[] um estudo bem desenvolvido formal discursivo e concludenterdquo Para Severino (2013) trata-se de um trabalho cientiacuteco cuja escrita consiste na exposiccedilatildeo loacutegica e reexiva e na argumentaccedilatildeo rigorosa com alto niacutevel de interpretaccedilatildeo e julgamento pessoal Mas o que isso signica Signica que o ensaio para aleacutem do tema abordado exige do autor ou autores uma ampla formaccedilatildeo cultural assim como maturidade intelectual Observe alguns exemplos de coletacircneas de ensaios sobre a Literatura que reuacutenem os ensaios produzidos por dois reconhecidos pesquisadores do campo acadecircmico e literaacuterio

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

FIGURA 5 Exemplo de coletacircneas de ensaios

Fonte Amazon

Para aleacutem da experiecircncia acadecircmica Campos (2015) arma que o ensaio reete uma interpretaccedilatildeo avaliativa mediada pela subjetividade do escritor-autor mas fundamentada no domiacutenio discursivo no qual estaacute vinculado isto eacute a argumentaccedilatildeo eacute dirigida para determinado puacuteblico A pesquisadora e professora Eneida Maria de Souza por exemplo utiliza o gecircnero ensaio para discutir questotildees teoacutericas do campo literaacuterio O ensaio eacute o veiacuteculo pelo qual ela reuacutene textos nos quais reete sobre os temas que lhe interessam e sobre os quais tem grande conhecimento como a criacutetica biograacuteca Observe como ela apresenta sua coletacircnea de ensaios intitulada Janelas indiscretas ensaios de Criacutetica Biograacuteca (2011)

A reuniatildeo destes ensaios sobre criacutetica biograacuteca eacute o resultado de pesquisas realizadas no decorrer dos uacuteltimos anos quando pude aprimorar questotildees teoacutericas e exercitar a criaccedilatildeo de perfis literaacuterios O convite permanente com arquivos de escritores e a necessidade de sistematizar tanto seus dados pessoais quanto sua produccedilatildeo literaacuteria e intelectual exigiam mudanccedilas no modo de abordagem do texto A seduccedilatildeo pelos manuscritos cadernos de notas papeis esparsos correspondecircncia diaacuterios de viagem e fotos tem como contrapartida a participaccedilatildeo efetiva do pesquisador para a construccedilatildeo de ensaios de teor biograacuteco A tarefa a princiacutepio simples reveste-se de complexidade por se tratar de uma praacutetica narrativa que une objetividade com estilo pessoal concisatildeo com clareza expositiva [] A distinta dicccedilatildeo da criacutetica biograacuteca frente ao ensaio de vocaccedilatildeo teoacuterica ou de natureza interpretativa reside na condensaccedilatildeo entre ficccedilatildeo e teoria narratividade e argumento teoacuterico Nesse sentido haacute maior liberdade criativa por parte do criacutetico por revigorar o enredo narrativo e permitir associaccedilotildees entre texto e contexto obra e vida arte e cultura (SOUSA 2011 p)

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Isso eacute o que chamamos de maturidade intelectualObserve que o estilo pessoal resulta de um amadurecimento teoacuterico Satildeo anos de estudoNo ensaio eacute preciso ser objetivo e claro na exposiccedilatildeo e na argumentaccedilatildeoLiberdade criativa isto eacute liberdade para escolher sobre o que falar e como falar

Observe como o ensaio foi o gecircnero escolhido pela pesquisadora para se posicionar criticamente e demonstrar o amplo conhecimento adquirido ao longo de sua carreira acadecircmica e prossional ndash como teoacuterica e docente ndash sobre uma temaacutetica que lhe eacute cara a criacutetica biograacuteca O que importa ateacute aqui eacute compreender que o ensaio reete a defesa de um posicionamento criacutetico e pessoal voltado para um puacuteblico vinculado a determinado domiacutenio discursivo ou aacuterea de conhecimento

Para conhecer outro ensaio da autora sugerimos a leitura do ensaio ldquoSaberes narrativosrdquo disponiacutevel aqui

httpperiodicospucminasbrindexphpscriptaart icleview125429846

Retomando a ideia de ensaio no Teatro que abordamos no iniacutecio deste toacutepico o ensaio serve como uma preparaccedilatildeo para aqueles que ainda estatildeo no comeccedilo da jornada acadecircmica Ele pode fazecirc-lo adquirir competecircncias necessaacuterias para elaborar futuramente a monograa ou Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) pois esses trabalhos demandam daquele que pesquisa uma capacidade criacutetica e argumentativa voltada para a resoluccedilatildeo de um problema de pesquisa cientiacuteca (SPINA 1994 PAVIANI 2010 CAMPOS GOMES 2016)

Natildeo abordaremos aqui ldquotipos de ensaiordquo e sua estrutura retoacuterica do ponto de vista normativo pois optamos por enfatizar a liberdade de sua composiccedilatildeo Entretanto

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

caso esteja curioso para saber se existem tipos de ensaio acesse o texto produzido por Vera Britto (2001) disponiacutevel em httpsrevistasunifacsbrindexphprdearticleview605449 A autora dene dois tipos informativo ou teoacuterico e opinativo ou avaliativo

251 Estrutura retoacutericaDo ponto de da linguagem e estrutura sem esquecer do aspecto subjetivo que norteia a produccedilatildeo do gecircnero ensaio sugerimos

bull Ser original jaacute que todos as escolhas cabem apenas ao autor

bull Usar a primeira pessoa do singular (eu) ou do plural (noacutes)

bull Atentar para a progressatildeo textual e articulaccedilatildeo das partes do texto

bull Expor o assunto de forma loacutegica mesmo adotando o estilo livre ndash quando natildeo se propotildee a fazer uma anaacutelise detalhada ou uma demonstraccedilatildeo exaustiva Deve expor de maneira clara mesmo quando pode utilizar a linguagem poeacutetica (PAVIANI 2010)

bull Desenvolver um ponto de vista acerca de um tema abusando da argumentaccedilatildeo da experimentaccedilatildeo dos questionamentos reexotildees e criacuteticas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Buscar estabelecer quando possiacutevel diaacutelogo entre interpretaccedilotildees do tema feitas proacuteprio autor ndash ateacute mesmo em outros gecircneros ndash ede terceiros

bull Evitar exposiccedilatildeo ancorada em opiniotildees alheias sem manifestar posicionamento criacutetico (CAMPOS GOMES 2016)

bull Evitar tambeacutem manifestaccedilotildees superciais como ldquogosteirdquo ou ldquonatildeo gosteirdquo ldquodiscordordquo ou ldquoconcordordquo e outras parecidas (CAMPOS GOMES 2016)

bull Utilizar a estrutura baacutesica composta por tiacutetulo texto e referecircncias Caso queira eacute possiacutevel tambeacutem incluir resumo e palavras-chave em liacutengua portuguesa e estrangeira

Campos e Gomes (2016) propotildeem uma arquitetura textual interessante para o gecircnero ensaio destacando alguns movimentos

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sociorretoacutericos Conheccedilam essa estrutura e um pouco mais sobre o gecircnero ensaio no link httpswwwacademiaedu28596351DIREITO_ATUALIDADE_E_ENSINO_LIVRO_03_F

252 O que diz a normaTanto do ponto de vista da interpretaccedilatildeo e do posicionamento criacutetico do autor quanto do ponto de vista normativo o ensaio implica em liberdade A ABNT natildeo estabelece regras para a redaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo desse gecircnero Em geral a publicaccedilatildeo do ensaio pode obedecer ndash quando houver alguma regra ndash agraves poliacuteticas editorais denidas pelos perioacutedicos cientiacutecos ou as demandas educacionais como eacute o nosso caso Em relaccedilatildeo agrave citaccedilatildeo e agrave referenciaccedilatildeo o ensaio deve estar submetido agrave normatizaccedilatildeo da ABNT Do ponto de vista da apresentaccedilatildeo do trabalho mantemos nossa sugestatildeo do Manual de Estilo Acadecircmico da UFBA

253 Exemploshttpwwwperiodicosletrasufmgbrindexphpemtesearticleview21522091

httpsseerufrgsbrpresencaarticleview57863

httpperiodicosuembrojsindexphpEspacoAcademicoarticleview10774

SIacuteNTESE DA UNIDADE IINesta unidade vocecirc aprendeu o conceito os tipos a estrutura retoacuterica e os aspectos normativos de quatro dos principais gecircneros vinculados agraves pesquisas cientiacuteficas no ambiente acadecircmico

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REFEREcircNCIASANDRADE Andreia Fernandes de O Teatro no ensino meacutedio um mapeamento sobre a situaccedilatildeo do ensino da Arte na rede puacuteblica estadual na cidade de Salvador no iniacutecio da deacutecada de 2010 2013 Tese (Doutorado) - Escola de Teatro Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

ARANHA Solange A busca de modelos retoacutericos mais apropriados para o ensino da escrita acadecircmica Revista do GEL Araraquara v 4 p 97ndash114 2007

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10520 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo apresentaccedilatildeo de citaccedilotildees em documentos Rio de Janeiro 2002

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6022 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo artigo em publicaccedilatildeo perioacutedica cientiacuteca impressa apresentaccedilatildeo Rio de Janeiro 2018a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6023 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo referecircncias elaboraccedilatildeo Rio de Janeiro 2018b

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6024 informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo numeraccedilatildeo progressiva das seccedilotildees de um documento escrito 2 ed Rio de Janeiro 2012a

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 6028 resumos Rio de Janeiro 2003

BAKHTIN Mikhail Os gecircneros do discurso In BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 p 261-306

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BRITTO Vera Artigos e ensaios cientiacutecos Revista de Desenvolvimento Econocircmico Disponiacutevel em httpswwwrevistasunifacsbrindexphprdearticleviewFile605450 Acesso em 05 set 2020

CAMPOS Magna GOMES Nordeci A introduccedilatildeo ao gecircnero ensaio acadecircmico como atividade de escrita na Faculdade Presidente Antocircnio Carlos de Mariana estudo de caso In FUNDACcedilAtildeO PRESIDENTE ANTOcircNIO CARLOS (coordenadora) Direito atualidades e ensino Mariana FUPAC-MARIANA 2016 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu29504081O_GC38ANERO_TEXTUAL_ENSAIO_ACADC38AMICO_ESTUDO_DE_CASO_CAPC38DTULO_DE_LIVRO_ Acesso em 05 ago 2020

CAMPOS Magna Manual de redaccedilatildeo cientiacutefica ensaio acadecircmico relatoacuterio de experimento e artigo cientiacuteco Mariana EA 2015 Disponiacutevel em httpswwwacademiaedu11466038Manual_de_RedaC3A7C3A3o_CientC3ADca_ensaio_acadC3AAmico_relatC3B3rio_de_experimento_e_artigo_cientC3ADco Acesso em 05 set 2020

DINIZ Ceacutelia Regina SILVA Iolanda Barbosa da Metodologia cientiacutefica Campina Grande Natal UEPBUFRN EDUEP 2008

FISCHER Steven Roger Histoacuteria da leitura Satildeo Paulo Unesp 2006

FUNARTE A anaacutelise do texto teatral de Joatildeo das Neves Funarte publica livro que teve sua primeira ediccedilatildeo pelo INACEN em 1987 esgotada Rio de Janeiro Funarte 2012 Disponiacutevel em httpportaisfunartegovbrartes-integradasa-analise-do-texto-teatral-de-joao-das-neves Acesso em 29 set 2020

LAKATOS Eva Maria MARCONI Marina de Andrade Metodologia do Trabalho Cientiacutefico procedimentos baacutesicos pesquisa bibliograacuteca projeto e relatoacuterio Publicaccedilotildees e trabalhos cientiacutecos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 1992

LUBISCO Niacutedia Maria Lienert VIEIRA Socircnia Chagas Manual de estilo acadecircmico trabalhos de conclusatildeo de curso dissertaccedilotildees e teses 6 ed Salvador EDUFBA 2019

LUCKESI Cipriano Carlos et al Fazer universidade uma proposta pedagoacutegica 14 ed Satildeo Paulo Cortez 2005

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resumo Satildeo Paulo Paraacutebola 2004a

MACHADO Anna Rachel LOUSADA Eliane ABREU-TARDELLI Lilian Santos Resenha Satildeo Paulo Paraacutebola 2004b

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LEITURA E PRODUCcedilAtildeO DE TEXTO ACADEcircMICO

MARCONI Marina de Andrade LAKATOS Eva Maria Fundamentos da Metodologia do Trabalho Cientiacutefico 5 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Gecircneros textuais deniccedilatildeo e funcionalidade In DIONIacuteSIO Acircngela et al Gecircneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2002

MARCUSCHI Luiz Antocircnio Produccedilatildeo textual anaacutelise de gecircneros e compreensatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2008

MARTINS Maria Helena O que eacute a leitura 9 ed Satildeo Paulo Editora Brasiliense 1988

MEDEIROS Joatildeo Bosco Redaccedilatildeo cientiacutefica a praacutetica de chamentos resumos resenhas Satildeo Paulo Atlas 1999

MONEREO Carles Las estrateacutegias de aprendizaje en la educaciacuteon formal ensentildear a pensar y sobre el pensar Infancia y aprendizaje v 50 p 3-26 1990 Disponiacutevel em httpsdialnetuniriojaesservletarticulocodigo=48347 Acesso em 29 set 2020

MOTTA-ROTH Deacutesireacutee HENDGES Graciela Rabuske Produccedilatildeo Textual na Universidade Satildeo Paulo Paraacutebola 2010

PAVIANI Jayme O ensaio como gecircnero textual In AZEVEDO Tacircnia Maris de PAVIANI Neires Maria Soldatelli Universo acadecircmico em gecircneros discursivos Caxias do Sul EDUCS 2010

PEIXOTO Fernando O que eacute teatro Satildeo Paulo Brasiliense 1995

PENA Elke Beatriz Felix Artigo e ensaio cientiacuteficos dois gecircneros e uma soacute forma Gecircneros textuais acontecimento e memoacuteria Dissertaccedilatildeo Mestrado em Linguiacutestica (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2005

SALVADOR Angelo D Meacutetodos e teacutecnicas da pesquisa bibliograacutefica elaboraccedilatildeo e relatoacuterio de estudos cientiacutecos 2 ed rev ampl Porto Alegre Sulina Editora 1971 236 p

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e ampl Satildeo Paulo Cortez2013

SEVERINO Antocircnio Joaquim Metodologia do trabalho cientiacutefico 23 ed rev e atual Satildeo Paulo Cortez 2007

SPINA Segismundo Normas gerais paratrabalhos de grau um breviaacuterio para o estudante de poacutes-graduaccedilatildeo 2 ed melh e ampl Satildeo Paulo Aacutetica 1984

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MABEL MEIRA MOTA LIacuteVIA BORGES SOUZA MAGALHAtildeES E LAYLLA GOMES FRANCO

SWALES John Malcolm Re-thinking genre another look at discourse community e$ects In SWALES J M Re-thinking Genre Colloquium Ottawa Carleton University 1992

TEIXEIRA Ubiratan Dicionaacuterio de teatro 2 ed Satildeo Luiacutes Instituto Geia 2005

Leitura e produccedilatildeo de texto acadecircmico

Escola de Teatro

Este livro didaacutetico tem como objetivo capacitaacute-lo para reetir sobre as praacuteticas de leitura e escrita no acircmbito acadecircmico oferecendo-lhe embasamento teoacuterico e oportunidade de exerciacutecio praacutetico dos principais gecircneros acadecircmicos escritos Para tanto buscamos levaacute-lo a compreender a conguraccedilatildeo da linguagem e a funcionalidade dos gecircneros textuais proacuteprios do universo acadecircmico desenvolver habilidades para a leitura e reconhecimento desses gecircneros a partir de seus elementos conceituais funcionais e estruturais especiacutecos e por m exercitar a atividade de anaacutelise siacutentese criacutetica e escrita desses gecircneros

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