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INFORMATIVO EXPERIMENTAL - UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - 2011 A ARTE DE ILUSTRAR UM LIVRO ilustradores que comprovam isso, como Thais Linhares, Mariana Massarani, entre outros. De acordo com a Câmara Brasilei- ra do Livro, o setor cresceu 14% em 2009, e 39% dos leitores do país têm entre 5 e 17 anos. A pesquisa também apontou que os leitores mais ativos têm incentivo da escola quanto da família. DESENHO DE TATI TIVOIRE. NO ALTO DA PÁGINA, ARTE DE VIVI PASQUAL. Ilustrar um livro é uma ta- refa complicada. O livro se difere das demais formas de arte, pois, ao contar a história, ele deixa a parte visual para a imaginação de cada um. Isto é importante princi- palmente em obras infantis, pois as figuras convidam a criança à lei- tura e despertam sua curiosidade. Como fazer para ilustrar um livro, então? A artista plástica caxiense Vivi Pasqual diz que não há fórmu- la para o sucesso. Ela começou a desenhar meio que por acaso. “Eu desenhei bastante uma época, porque era uma coisa que eu não sabia fazer e me interessava bas- tante ver o desenho acontecendo, o desenho como descoberta. Algu- mas pessoas gostaram bastante porque saíam umas coisas engra- çadas, imprevisíveis.” Vivi diz que sua principal intenção, ao ilustrar um livro, é acrescentar algo à obra, e não apenas ilustrar algo que o leitor já leu. Ela também preza pela liberdade na hora de criar. “Sobre ilustrar um livro, eu realmente não aprendi. Todas as vezes que eu iniciava uma ilustração, tentava que o desenho fosse um elemento a mais e não uma redundância do que já estava sendo dito”. Quem compartilha dessas ideias é a ilustradora Tati Rivoi- re, que já assinou diversos livros infantis, como O jacaré da lagoa, de José Clemente Pozenato. “As imagens devem seguir adiante, ir além do texto. A verdadeira sinto- nia entre texto e imagem desperta no leitor a sensação de liberdade. Ele circula entre as palavras e os traços e cria seu próprio caminho.” Tati também é autora dos livros Curinguinha e curingão no trânsi- to e Vida de moleque. Ela dá dicas para quem se interessa em seguir a carreira: “Para ser um bom ilus- trador, é preciso gostar de ler, an- tes mesmo de escolher e exercer a profissão. A prática da leitura e a sua bagagem cultural oferecem ao ilustrador um vasto repertório de temas e situações que fazem com que ele mergulhe no mundo da imaginação, influenciando no resultado do seu trabalho”, diz. Se- gundo ela, o domínio das técnicas também é fundamental para um bom trabalho. “A ilustração come- ça no texto. Um bom texto desper- ta emoções e, essas, transforma- das em cores e traços, irão compor a ilustração”, destaca. Tati afirma que o caminho para é longo e ár- duo, mas prazeroso. Ela também aponta que o mercado é bom, pois há grandes editoras que inves- tem nessa área no país e grandes

Ler & Reler - 2011

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Informativo Experimental do curso de Comunicação Social da Universidade de Caxias do Sul - 2011

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INFORMATIVO EXPERIMENTAL - UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - 2011

A ARTE DE ILUSTRAR UM LIVRO

ilustradores que comprovam isso, como Thais Linhares, Mariana Massarani, entre outros. De acordo com a Câmara Brasilei-ra do Livro, o setor cresceu 14% em 2009, e 39% dos leitores do país têm entre 5 e 17 anos. A pesquisa também apontou que os leitores mais ativos têm incentivo da escola quanto da família.

DESENHO DE TATI TIVOIRE. NO ALTO DA PÁGINA, ARTE DE VIVI PASQUAL.

Ilustrar um livro é uma ta-refa complicada. O livro se difere das demais formas de arte, pois, ao contar a história, ele deixa a parte visual para a imaginação de cada um. Isto é importante princi-palmente em obras infantis, pois as figuras convidam a criança à lei-tura e despertam sua curiosidade. Como fazer para ilustrar um livro, então? A artista plástica caxiense Vivi Pasqual diz que não há fórmu-la para o sucesso. Ela começou a desenhar meio que por acaso. “Eu desenhei bastante uma época, porque era uma coisa que eu não sabia fazer e me inte ressava bas-tante ver o desenho acontecendo, o desenho como descoberta. Algu-mas pessoas gostaram bastante porque saíam umas coisas engra-çadas, imprevisíveis.” Vivi diz que sua principal intenção, ao ilustrar um livro, é acrescentar algo à obra, e não apenas ilustrar algo que o leitor já leu. Ela também preza pela liberdade na hora de criar. “Sobre ilustrar um livro, eu realmente não aprendi. Todas as vezes que eu iniciava uma ilustração, tentava que o desenho fosse um elemento a mais e não uma redundância do que já estava sendo dito”. Quem compartilha dessas ideias é a ilustradora Tati Rivoi-

re, que já assinou diversos livros infantis, como O ja caré da lagoa, de José Clemente Pozenato. “As imagens devem seguir adiante, ir além do texto. A verdadeira sinto-nia entre texto e imagem desperta no leitor a sensação de liberdade. Ele circula entre as palavras e os traços e cria seu próprio caminho.” Tati também é autora dos livros Curinguinha e curingão no trânsi-to e Vida de moleque. Ela dá dicas para quem se interessa em seguir a carreira: “Para ser um bom ilus-trador, é preciso gostar de ler, an-tes mesmo de escolher e exercer a profissão. A prática da leitura e a sua bagagem cultural oferecem ao ilustrador um vasto repertório de temas e situações que fazem com que ele mergulhe no mundo da imaginação, influenciando no resultado do seu trabalho”, diz. Se-gundo ela, o domínio das técnicas também é fundamental para um bom trabalho. “A ilustração come-ça no texto. Um bom texto desper-ta emoções e, essas, transforma-das em cores e traços, irão compor a ilustração”, destaca. Tati afirma que o caminho para é longo e ár-duo, mas pra zeroso. Ela também aponta que o mercado é bom, pois há grandes editoras que inves-tem nessa área no país e grandes

Enxergar é mais que ver a luz. É através deste slogan que a APADEV – Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais, fun-dada em 1983, que atua como pres-tadora de serviços para oportunizar educação e reabilitação as pessoas portadoras de deficiência visual, ob-jetivando a inclusão escolar, profis-sional e psicossocial. A entidade desenvolve vá-rios projetos, mantidos com doações mensais e também alguns recursos públicos. Dentre os programas, tais como passeios e oficinas especiais, sempre há o comprometimento da coordenação em unir a família e o deficiente, pois isso é fundamental para seu desenvolvimento. Um destaque é a contação de histó-rias. As pessoas não apenas escu-tam as histórias, mas interagem por meio da sonoplastia, dão asas à ima-ginação e literalmente se colocam na situação vivida pelo personagem. A entidade ainda conta com uma bi-blioteca ampla, com livros editados no sistema Braile, além de livros fa-lados (áudio), material pe dagógico especia lizado, jogos adaptados e pu-blicações especializadas. Em entrevista, a então coor-denadora, Iraci Maboni, e outros in-tegrantes falam sobre a sua atuação

no projeto.Ler e Reler: Que ações são toma-das para que o projeto tenha um resultado positivo e que cada vez mais as pessoas se sintam motiva-das a participar?IRACI: As pessoas sentem-se moti-vadas a participar do projeto tendo prazer em vir para cá, deslocam-se, por vezes, do outro lado da cidade para escutar histórias que poderão rememorar algum fato que tenha acontecido quando elas ainda tinham visão. Essas histórias poderão ajudar a enfrentar novas situações, e isso é algo indescritível, é uma viagem que cada um faz a partir de certo trecho com o qual se identifica.

Ler e Reler: Quais são as dificul-dades e as facilidades que o vo-luntário encontra na execução do projeto?IRACI: As facilidades são notáveis porque aqui encontro pessoas ávidas por ouvirem leitura e assim estabe-lecemos uma relação de amizade. Talvez a única dificuldade para quem começa é a fidelidade, semanal. Isso tem que funcionar como um fator de segurança para eles e também para mim, pois representa assim o meu comprometimento e a responsabili-dade, pois a partir do momento em

que começo a criar expectativas ne-les, num sistema de leitura de folhe-tim, eu não posso decepcioná-os.

Ler e Reler: De que forma vocês percebem crescimento como pes-soas, estando inseridos nesse projeto?LEDA FONTANA: Quando a Iraci ini-ciou a fazer as leituras, nós apenas acompanhávamos. Hoje, nós parti-cipamos dando a nossa opinião, fa-zemos apartes, a sonoplastia é feita por nós também, então, nós também participamos indiretamente da leitu-ra da Iraci, e isso para nós pode ser considerado um crescimento.

NILSA SIQUEIRA: Bem, eu quando entrei aqui pela primeira vez, não en-contrava nem mesmo a porta, hoje consigo me situar muito bem aqui dentro, e posso dizer que é muito bom ter pessoas como a Iraci, que é a nossa ledora (nome dado a pessoa que faz a leitura dos livros), enfim, tudo é muito bom, me sinto ótima em estar aqui, vindo aqui me distraio da rotina, e o mais legal é essa intera-ção que ela nos proporciona com as histórias que nos conta, pois assim conversamos, damos risadas, parti-cipamos da sonoplastia e até mesmo choramos em algumas histórias.

LITERATURA E INCLUSÃO SOCIAL

LER

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ELE

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Universidade de Caxias do Sul Centro de Ciências da Comunicação Reitor: Isidoro Zorzi Diretora do Centro de Ciências da Comunicação: Marliva Vanti Gonçalves Disciplina: Mídia Impressa Docente: Alessandra Rech

Coordenação e Edição: Kamila Chalmy Zatti e Patrícia Piccoli Zanrosso

Planejamento Gráfico e Diagramação: Bruno Venturin Lara Fernanda De Antoni Farias Gustavo Toscan Brandalise Luana Belarmino

Editores: Alexandre Dobner Artur Vinícius Pirocca Bruno Doncatto Bareta Caciano Leu Kuffel Cassio Robattini Erich Monteiro Ruffato Guilherme Finger Kruger Henrique Brancher Janaína Galiotto Josiano Santos da Silva

Fotografia: Amanda Lazzari Bruna Boiani Cassiane Silveira Osório Letícia Kirchheim

Tiragem: 250 exemplares

Ler e reler, hábitos que deveriam ser cotidianos para cada ser humano, habilitando-o para múltiplas competências profissionais e pessoais. É com base nesse desafio que o informativo Ler e Reler (produto final da disciplina de Mí-dia Impressa, dos Cursos de Comunicação Social da UCS: Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas) aborda o tema livros e leitura. O livro, independentemente de seu gênero, deve ser “devorado”. Hábito que precisa começar na infância, sob a influência dos pais, e ser desen-volvido com o crescimento. Nesta edição, o leitor poderá descobrir como está o cenário do mercado editorial e se existe solução para uma possível “crise na leitura”. Ainda, será convidado a participar dos vários projetos disponibilizados pela Biblioteca Pública Municipal de Caxias do Sul. Conhecerá o “Leia para mim”, uma inicia-tiva da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Vi-suais (Apadev), além de ser transportado para o universo das ilus trações de livros infantis, mediante os traços de ar-tistas locais. Você está convidado a entrar nessa aventura e ser também um contador de histórias!

Expediente

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RAMON MUNHOZ

Editorial

O jornalista Gustavo Guertler escreve sua histó-ria editando obras literárias. Apaixonado pela literatura, Guertler, 30 anos, é um modelo de determinação. Desde o início de sua busca pela profissionalização no mercado editorial de Caxias do Sul, há seis anos, ele demarcou uma meta, e a atingiu. Produzindo obras institucionais e autorais, o filho de Henrique e Anajara Guertler promove o trabalho de escritores locais. Pioneira em publicar uma coleção sobre fu-tebol para crianças em parceria com grandes clubes brasileiros, sua editora, a Belas Letras, virou assun-to no cenário brasileiro. Ligado no processo que se dá entre livro e leitor, Gustavo participou da Feira do Livro de Frankfurt. Além da convivência com a espo-sa, Marta Regina Boff, e a filha deles, Marina,dois anos, os livros são sua com panhia. Entre os proje-tos do editor estão os 25 anos da banda Engenhei-ros do Hawaii, Pra Ser Sincero, e Mapas do Acaso, de Humberto Gessinger (foto).

Ler e Reler: Há algum jeito de fazer do livro um produto vendável sem romper com a boa literatura?GUSTAVO: O público sempre procura, em geral, boa litera-tura. Porém cada um tem a sua própria definição sobre boa literatura. Aí entra uma questão subjetiva do leitor. Acho que para transformar o livro em produto vendável, é preciso en-tão que a cadeia comercial comece a partir da visão do es-critor, que gera a inteligência, o conteúdo, que é o ponto de partida do processo. O escritor precisa se questionar quem é o seu leitor. É o grande público? Um público específico? A partir dessa ótica do escritor a editora pode transformar o livro num produto vendável. Acho que o problema das obras não vendáveis, mas que são “boa literatura”, é falta de foco e falta de noção sobre a realidade de mercado. Além disso, é muito questionável determinar o que é boa literatura sain-do da esfera acadêmica. Boa literatura é aquilo que os pro-fessores de literatura dizem que é boa literatura? Boa litera-tura é aquilo que os jornalistas dizem que é boa literatura? É o que diz o público, o leitor? Literatura comercial pode ser boa literatura, tanto como literatura de invenção, van-guarda, mas ambas estão servindo a propósitos diferentes e se comunicando de forma diferente com o seu público. No Brasil, há um preconceito em relação aos livros mais vendi-dos, ou seja, parece que tudo aquilo que vende é sinônimo de má literatura – e acaba sendo uma forma de desqualifi-car o leitor. Um livro que vende não é necessariamente má literatura, ao mesmo tempo que um livro que não vende não é necessariamente boa literatura. Na maioria dos casos, na grande maioria, um livro não vende porque não é bom, ou porque o autor simplesmente não tem talento. Bons livros, cedo ou tarde, encontrarão seus leitores.

Ler e Reler: Como você vê a entrada massiva de best-sellers estrangeiros no mercado editorial brasileiro? Neste contexto, de que forma as editoras podem abrir espaço?

GUSTAVO: Na verdade, vejo a entrada de maneira muito positiva, porque vai abalar e já está abalando a forma como nossos escritores produzem sua literatura. Isso não signifi-ca que a literatura passará a ser nivelada por baixo, mas acho que vai fazer com que os escritores revejam o que estão fazendo e os canais que estão usando para se co-municar com seu público, que mensagem estão passando para seu público. A Rosa Monteiro, parafraseando seus autores preferidos no livro “A Louca da Casa”, diz que o bom escritor é aquele que, mesmo quando está falando de si, está falando dos outros, e o mau escritor é aquele que, mesmo quando está falando dos outros, está, na verdade, falando de si. Ela está falando ali dos escritores que escrevem para alimentar o próprio ego, para mostrar que escrevem bem ou para agra-dar a quem entende de literatura – são os escritores que não vendem. Quem aprende a deixar de lado esses preconceitos certa-mente terá uma carreira mais promissora na literatura, em termos comerciais – claro, dependendo também do talento de cada um. A entrada de tantos best-sellers aqui acende a luz de emergência para nossos escritores, pois eles têm que se conscientizar de que devem escrever para o leitor, e não para si mesmos. Por que literatura comercial não pode ser boa literatura? Acho que é essa a pulga atrás da orelha que esse fenômeno jogou nos escritores brasileiros. Não é uma ofensa ser um best-seller. É um mérito.

Ler e Reler: Cite algum lançamento da sua editora que tenha conciliado sucesso nas vendas e qualidade edito-rial/literária.GUSTAVO: Um livro pelo qual eu tenho muito apreço nesse sentido é o Pra Ser Sincero, o livro que conta a história da banda Engenheiros do Hawaii. É um livro que tem uma ven-da muito expressiva, que tem uma proposta editorial muito inovadora e instigante, e um texto muito espirituoso.

DIVULGAÇÃO

MERCADO

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Os livros eletrônicos, também conhecidos por e-books, e-readers e livros digitais, passaram a fazer parte da lista de desejos dos leitores mais assíduos. Trata-se da chegada da tecnologia também nos livros impressos, e estes passam a ser adquiridos na forma de um aparelho eletrônico. No Brasil, já está à venda um modelo nacio-nal, produzido pela empresa Positivo. Com conteúdo digital a base de e-ink (tinta eletrônica) que simula o papel, o aparelho Alfa dispõe de uma tela de seis polegadas, sensível ao toque e com 16 tons de cin-za. Dependendo da memória de cada aparelho, terá a opção de guardar inúmeros títulos, isto é, há a possibilidade de ter em mãos uma enorme lista-gem de livros armazenados, com acesso rápido e facilidade de trans-porte. E é isso que Marcos Fernando Krist, cronista do jornal Pioneiro, afirma que irá contribuir para a escolha do leitor em ter um livro digital ao invés de um impresso. A parceria da empresa Positivo com as livrarias

O LIVRO ELETRÔNICO

Marcos Fernando Kirst defende que “os livros digitais vieram para ficar e é bobagem saudosista ficar perdendo tempo lamentando o advento de uma nova tecnologia. “Preocupa-me mais a possibilidade da extinção dos leitores do que dos livros impressos. Mas penso, sim, que a diminuição da procura pelos livros impressos é uma consequência lógica do futuro. Porém, não me martirizo com isso. Aposto na permanência dos leitores, da literatura e dos escritores, que é o fundamental nisso tudo.”

Enfim, há leitores que preferem sentir o toque do papel, o cheiro das páginas e há outros que preferem estar a par da tecnologia, usufruindo a digitalização dos meios e suas praticidades. Porém, o que realmente importa é que ambos

estão buscando aprimorar seus conhecimentos com a leitura, e, consequentemente, estimular as pessoas a lerem mais. Isso contribui para o progresso de um país que apresenta diversos problemas educacionais. É como Arcangelo Zorzi Neto diz: “O Brasil precisa ler mais.”

nacionais Saraiva e Cultura proporciona aos leitores a versão nacional das obras literárias. Porém, devido à baixa procura, somente há disponível a venda litera-tura clássica, que custa muito pouco, e também obras de autores e gêneros menos privilegiados. Com a presença desse novo aparelho no mercado consumidor, muitos se questionam se o livro impresso terá fim. Segundo Arcangelo Zorzi Neto, o Maneco, que já teve contato direto com o livro digital dada sua participação na última Bienal em São Pau-

lo, na Líber em Barcelona e no I Seminário Inter-nacional do Livro Digital em São Paulo, o livro

impresso jamais vai deixar de existir, pois, a digitalização na literatura irá ajudar a ex-

pandir o mercado de leitores e, con-sequentemente, impulsionar tam-

bém a venda do livro impresso. Maneco ainda considera

ser muito mais cansa-tivo ler em um livro digital do que ler um livro impresso.

Independentemente da resistência dos amantes do papel, os livros digitais vieram para ficar.

Um dos mais importantes projetos, o Livro Livre, destinado à troca de livros, tem a maior partici-pação do público e seu atendimento só para no mês de dezembro. São atendidas por ano mais de 1,2 mil pessoas de todas as faixas etárias. Todos os públicos participam, pois as únicas “regras” deste projeto é que os livros para troca não sejam didá-ticos e estejam em boas condições, ou seja, muitas pessoas trocam seus livros infantis por clássicos da litera-tura. O acervo que a biblioteca contém é notável e em algumas da-tas comemorativas o projeto Livro

Livre é dedicado especialmente a determinado público. No dia 20 de setembro, por exemplo, o foco é instigar a curiosi-dade pela cultura gaúcha, dispondo ao público vários livros sobre a Re-volução Farrou pilha. Variando os locais das trocas, o projeto abrange um público ainda maior. O acervo passa uma sema-na no Iguatemi e no Centro de Cul-tura Dr. Henrique Ordovás Filho e um mês na Universidade de Caxias do Sul. Desta forma, vai atraindo a atenção dos leitores que passam por estes locais, principalmente dos que não têm o conhecimento sobre a

existência do projeto. Para Adriana, os projetos são muito importantes, pois “a biblioteca, além de abrir as portas, busca leito-res na rua, ela quer formar leitores, independentemente da faixa etária”.Ela afirma que, para que os projetos não caiam em desuso, passam anu-almente por uma avaliação de resul-tados e possíveis readequações. “Nós estamos, neste mo-mento, avaliando cada projeto com as instituições envolvidas. Há pro-jetos em que se chega à conclusão de que precisam de melhorias, como também existem projetos que podem ser extintos”, comenta Adriana.

A Biblioteca Pública Municipal de Caxias do Sul realiza durante o ano o Programa Literatura sem Fron-teiras, que engloba diversos projetos que contribuem para a difusão da leitura entre a população. Dentre os mais importantes, estão Contapete (que prevê uma série de atividades, tendo como foco o incentivo à leitura a adolescentes de 12 a 14 anos previamente inscritos), a Maratona de Contação de Histórias de Caxias (série de contação de histórias realizada por diversos contadores da cidade e do Estado, que este ano comemorou o ani-versário de Monteiro Lobato e a Semana do Livro), o Li-vros para Ouvir (projeto que visa a garantir a inclusão de crianças, adolescentes e adultos com deficiência visual, aproximando-os da leitura) e o Livro Livre. Adriana Sirena destaca a participação da comu-nidade no projeto da II Maratona de Contação de His-tórias de Caxias do Sul. “Vieram contadoras de Porto Alegre e da própria cidade. Em certo momento, havia crianças ouvindo as histórias e as pessoas que passa-vam pela praça foram parando para ver. Surgiu um públi-co completamente alternativo, como médicos e advoga-dos. As pessoas que voltavam do trabalho pararam ali e ficaram ouvindo as histórias, uma coisa que a gente não esperava” conta Adriana.

LIVRO LIVRE

ACERVO PREFEITURA DE CAXIAS DO SUL

Interação com a escritora Helô Bacichette

A DIFUSÃO DE UM HÁBITO

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A CRISE NA LEITURA O mercado editorial está povoado de títulos de importância duvidosa. A impressão é de que a leitura fácil seduz muito mais. Será que estamos diante de uma crise? As escritoras Marilene Caon Pieruccini e Regyna de Queiroz Gazzola ajudam a desvendar as particulari-dades desse universo de relevância indiscutível para a formação de cidadãos atuantes e com consciência críti-ca. Marilene Caon Pieruccini é professora, escritora e poetisa, com várias premiações locais e nacionais e mais de 10 obras publicadas, inclusive uma na Espanha. Foi uma das principais responsáveis por Caxias do Sul receber o título de Capital Nacional da Cultura em 2008, motivo pelo qual, naquele ano, também recebeu a titu-lação de Cidadã Caxiense. Membro da Academia Cax-iense de Letras desde 2001, é também delegada da Cul-tura, representante do Rio Grande do Sul na Segunda Conferência Nacional de Cultura em Brasília, em março de 2010, é foi presidente do Conselho Municipal de Cul-tura 2009/2010.

Ler e Reler: O que você tem a comentar sobre o hábito de leitura atualmente? Por que você acha que as pessoas estão lendo cada vez menos?MARILENE: Quando falamos em leitura, precisamos considerar todo tipo de leitura, não apenas a leitura de livros. Assim, penso que ela (a leitura), atualmente, tem se desenvolvido muito. A Internet é um típico exemplo do que quero dizer. Portanto, as pessoas estão lendo cada vez mais.REGYNA: Particularmente, penso que a educação de berço, em famílias bem-estruturadas, colabora para desenvolver o gosto pela leitura. Também considero que um bom professor de Português deve despertar nos seus alunos o interesse pela leitura, não indicando apenas obras clássicas, mas sugerindo autores modernos que

possam despertar maior gosto pela leitura. Professor dedicado torna as aulas interessantes.Pessoalmente, penso que as pessoas estão lendo cada vez menos porque a Internet dá a sensação aos jovens de “suprir” suas dúvidas sobre este ou aquele assunto. É mais fácil uma pesquisa rápida do que se debruçar sobre um livro, às vezes extenso. Só que os jovens não se dão conta de que esse contato direto com a linguagem do escritor os leva a ter melhor comunicação e vocabulário mais completo e

Regyna de Queiroz Gazzola nasceu em Caxias do Sul, onde concluiu o curso de Formação de Profes-sores Primários. Também estudou francês, inglês e portu-guês, além de ter aprofundado seus conhecimentos nos temas: Crescimento e Desenvolvimento Espiritual. Ganhadora de diversas premiações, tomou posse na Academia Caxiense de Letras (ACL) em 12 de agosto de 1989. Possui oito obras publicadas.

adequado no seu cotidiano.Ler e Reler: Qual a sua opinião sobre o fato de, em uma Feira do Livro ou livraria, as produções locais terem um espaço bastante inferior ao disponibilizado aos best-sellers?MARILENE: Sempre defendi as produções e os artistas locais, querendo sua maior evidência nas feiras e nas livrarias. Contudo, os locais disputam lucros (leia-se dinheiro para os produtores) e o velho ditado “santo de casa não faz milagres” torna-se pertinente, pois o grosso da população deixa-se levar pelo que está na “moda” e que a mídia divulga tão bem. Uma coisa que nós, os artistas locais temos dificuldades em fazer, é uma melhor divulgação daquilo que produzimos. Recomendaria que os cursos de Relações Públicas incluíssem também a formação de agentes literários. Nesta última Feira do Livro, uma palestra que eu realizei teve um público três vezes maior do que alguns forasteiros conseguiram arregimentar.REGYNA: Esse fato acontece muito no Brasil, infelizmente. A mídia leva o leitor a sentir necessidade de ter um best-seller e lê-lo para não se sentir “por fora” do que acontece no mundo. Os livreiros, na ânsia da comercialização, dão destaque todo especial aos best-sellers, colocando-os nas Feiras do Livro à frente dos outros e também nas livrarias, onde se vê, seguidamente, a vitrina completa com um único título.

Ler e Reler: Você considera suficiente o apoio local que recebe para a publicação e divulgação de suas obras?MARILENE: Que apoio? Como coordeno a Comissão de Literatura do Financiarte, até agora apenas ajudei os outros. Para os demais, o Financiarte é muito importante. Acontece que os autores precisam submeter suas obras

a uma avaliação para então obterem o financiamento. E o crivo é bastante sério, e muitos não gostam.REGYNA: De modo nenhum. Por experiência própria, posso dizer que é sofrida a situação do escritor em nossa cidade e região. Só com amor pela arte da escrita é que os escritores continuam a fazê-lo. Tenho oito títulos publicados, e tive em todos eles lançamentos bastante concorridos, mas pelas pessoas do meu círculo de relacionamento, e não por entidades culturais que tenham me ajudado a levá-los a público. Faço parte da Academia Caxiense de Letras, onde ocupo a Cadeira Nº.7, tendo minha mãe como patrona, Anna Maria de Queiroz. Apenas em nossa entidade sentimos apoio, e entre os colegas acadêmicos. Ler e Reler: O que poderia ser feito para melhorar a situação caxiense quanto à leitura?MARILENE: Há bons projetos em execução voltados para as crianças, principalmente da Biblioteca Pública Municipal e do PPEL. Mas uma lacuna que tenho apontado é a falta de projetos específicos para o público juvenil e o público adulto. REGYNA: Famílias desestruturadas não se preocupam com o estudo, a leitura e a educação. O hábito de ler deve começar muito cedo, antes mesmo de a criança entrar para o 1º. Grau na escola. Começa nas escolinhas maternais, com a “a hora do conto”, quando as professoras quase representam as historinhas para torná-las interessantes às crianças. Deveria ser “cobrada” de cada estudante a leitura de um X livros por mês. Depois de iniciado este hábito, as pessoas continuam por si mesmas. As coordenadoras pedagógicas deveriam procurar incentivar os professores de todas as disciplinas a fazerem com que os alunos leiam mais, nem que, a princípio, recebessem alguma nota como estímulo.

Quando falamos sobre

leitura, precisamos

considerar todo tipo, não

apenas a leitura de livros.

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A CRISE NA LEITURA O mercado editorial está povoado de títulos de importância duvidosa. A impressão é de que a leitura fácil seduz muito mais. Será que estamos diante de uma crise? As escritoras Marilene Caon Pieruccini e Regyna de Queiroz Gazzola ajudam a desvendar as particulari-dades desse universo de relevância indiscutível para a formação de cidadãos atuantes e com consciência críti-ca. Marilene Caon Pieruccini é professora, escritora e poetisa, com várias premiações locais e nacionais e mais de 10 obras publicadas, inclusive uma na Espanha. Foi uma das principais responsáveis por Caxias do Sul receber o título de Capital Nacional da Cultura em 2008, motivo pelo qual, naquele ano, também recebeu a titu-lação de Cidadã Caxiense. Membro da Academia Cax-iense de Letras desde 2001, é também delegada da Cul-tura, representante do Rio Grande do Sul na Segunda Conferência Nacional de Cultura em Brasília, em março de 2010, é foi presidente do Conselho Municipal de Cul-tura 2009/2010.

Ler e Reler: O que você tem a comentar sobre o hábito de leitura atualmente? Por que você acha que as pessoas estão lendo cada vez menos?MARILENE: Quando falamos em leitura, precisamos considerar todo tipo de leitura, não apenas a leitura de livros. Assim, penso que ela (a leitura), atualmente, tem se desenvolvido muito. A Internet é um típico exemplo do que quero dizer. Portanto, as pessoas estão lendo cada vez mais.REGYNA: Particularmente, penso que a educação de berço, em famílias bem-estruturadas, colabora para desenvolver o gosto pela leitura. Também considero que um bom professor de Português deve despertar nos seus alunos o interesse pela leitura, não indicando apenas obras clássicas, mas sugerindo autores modernos que

possam despertar maior gosto pela leitura. Professor dedicado torna as aulas interessantes.Pessoalmente, penso que as pessoas estão lendo cada vez menos porque a Internet dá a sensação aos jovens de “suprir” suas dúvidas sobre este ou aquele assunto. É mais fácil uma pesquisa rápida do que se debruçar sobre um livro, às vezes extenso. Só que os jovens não se dão conta de que esse contato direto com a linguagem do escritor os leva a ter melhor comunicação e vocabulário mais completo e

Regyna de Queiroz Gazzola nasceu em Caxias do Sul, onde concluiu o curso de Formação de Profes-sores Primários. Também estudou francês, inglês e portu-guês, além de ter aprofundado seus conhecimentos nos temas: Crescimento e Desenvolvimento Espiritual. Ganhadora de diversas premiações, tomou posse na Academia Caxiense de Letras (ACL) em 12 de agosto de 1989. Possui oito obras publicadas.

adequado no seu cotidiano.Ler e Reler: Qual a sua opinião sobre o fato de, em uma Feira do Livro ou livraria, as produções locais terem um espaço bastante inferior ao disponibilizado aos best-sellers?MARILENE: Sempre defendi as produções e os artistas locais, querendo sua maior evidência nas feiras e nas livrarias. Contudo, os locais disputam lucros (leia-se dinheiro para os produtores) e o velho ditado “santo de casa não faz milagres” torna-se pertinente, pois o grosso da população deixa-se levar pelo que está na “moda” e que a mídia divulga tão bem. Uma coisa que nós, os artistas locais temos dificuldades em fazer, é uma melhor divulgação daquilo que produzimos. Recomendaria que os cursos de Relações Públicas incluíssem também a formação de agentes literários. Nesta última Feira do Livro, uma palestra que eu realizei teve um público três vezes maior do que alguns forasteiros conseguiram arregimentar.REGYNA: Esse fato acontece muito no Brasil, infelizmente. A mídia leva o leitor a sentir necessidade de ter um best-seller e lê-lo para não se sentir “por fora” do que acontece no mundo. Os livreiros, na ânsia da comercialização, dão destaque todo especial aos best-sellers, colocando-os nas Feiras do Livro à frente dos outros e também nas livrarias, onde se vê, seguidamente, a vitrina completa com um único título.

Ler e Reler: Você considera suficiente o apoio local que recebe para a publicação e divulgação de suas obras?MARILENE: Que apoio? Como coordeno a Comissão de Literatura do Financiarte, até agora apenas ajudei os outros. Para os demais, o Financiarte é muito importante. Acontece que os autores precisam submeter suas obras

a uma avaliação para então obterem o financiamento. E o crivo é bastante sério, e muitos não gostam.REGYNA: De modo nenhum. Por experiência própria, posso dizer que é sofrida a situação do escritor em nossa cidade e região. Só com amor pela arte da escrita é que os escritores continuam a fazê-lo. Tenho oito títulos publicados, e tive em todos eles lançamentos bastante concorridos, mas pelas pessoas do meu círculo de relacionamento, e não por entidades culturais que tenham me ajudado a levá-los a público. Faço parte da Academia Caxiense de Letras, onde ocupo a Cadeira Nº.7, tendo minha mãe como patrona, Anna Maria de Queiroz. Apenas em nossa entidade sentimos apoio, e entre os colegas acadêmicos. Ler e Reler: O que poderia ser feito para melhorar a situação caxiense quanto à leitura?MARILENE: Há bons projetos em execução voltados para as crianças, principalmente da Biblioteca Pública Municipal e do PPEL. Mas uma lacuna que tenho apontado é a falta de projetos específicos para o público juvenil e o público adulto. REGYNA: Famílias desestruturadas não se preocupam com o estudo, a leitura e a educação. O hábito de ler deve começar muito cedo, antes mesmo de a criança entrar para o 1º. Grau na escola. Começa nas escolinhas maternais, com a “a hora do conto”, quando as professoras quase representam as historinhas para torná-las interessantes às crianças. Deveria ser “cobrada” de cada estudante a leitura de um X livros por mês. Depois de iniciado este hábito, as pessoas continuam por si mesmas. As coordenadoras pedagógicas deveriam procurar incentivar os professores de todas as disciplinas a fazerem com que os alunos leiam mais, nem que, a princípio, recebessem alguma nota como estímulo.

Quando falamos sobre

leitura, precisamos

considerar todo tipo, não

apenas a leitura de livros.

FOTOS DIVULGAÇÃO

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Os livros eletrônicos, também conhecidos por e-books, e-readers e livros digitais, passaram a fazer parte da lista de desejos dos leitores mais assíduos. Trata-se da chegada da tecnologia também nos livros impressos, e estes passam a ser adquiridos na forma de um aparelho eletrônico. No Brasil, já está à venda um modelo nacio-nal, produzido pela empresa Positivo. Com conteúdo digital a base de e-ink (tinta eletrônica) que simula o papel, o aparelho Alfa dispõe de uma tela de seis polegadas, sensível ao toque e com 16 tons de cin-za. Dependendo da memória de cada aparelho, terá a opção de guardar inúmeros títulos, isto é, há a possibilidade de ter em mãos uma enorme lista-gem de livros armazenados, com acesso rápido e facilidade de trans-porte. E é isso que Marcos Fernando Krist, cronista do jornal Pioneiro, afirma que irá contribuir para a escolha do leitor em ter um livro digital ao invés de um impresso. A parceria da empresa Positivo com as livrarias

O LIVRO ELETRÔNICO

Marcos Fernando Kirst defende que “os livros digitais vieram para ficar e é bobagem saudosista ficar perdendo tempo lamentando o advento de uma nova tecnologia. “Preocupa-me mais a possibilidade da extinção dos leitores do que dos livros impressos. Mas penso, sim, que a diminuição da procura pelos livros impressos é uma consequência lógica do futuro. Porém, não me martirizo com isso. Aposto na permanência dos leitores, da literatura e dos escritores, que é o fundamental nisso tudo.”

Enfim, há leitores que preferem sentir o toque do papel, o cheiro das páginas e há outros que preferem estar a par da tecnologia, usufruindo a digitalização dos meios e suas praticidades. Porém, o que realmente importa é que ambos

estão buscando aprimorar seus conhecimentos com a leitura, e, consequentemente, estimular as pessoas a lerem mais. Isso contribui para o progresso de um país que apresenta diversos problemas educacionais. É como Arcangelo Zorzi Neto diz: “O Brasil precisa ler mais.”

nacionais Saraiva e Cultura proporciona aos leitores a versão nacional das obras literárias. Porém, devido à baixa procura, somente há disponível a venda litera-tura clássica, que custa muito pouco, e também obras de autores e gêneros menos privilegiados. Com a presença desse novo aparelho no mercado consumidor, muitos se questionam se o livro impresso terá fim. Segundo Arcangelo Zorzi Neto, o Maneco, que já teve contato direto com o livro digital dada sua participação na última Bienal em São Pau-

lo, na Líber em Barcelona e no I Seminário Inter-nacional do Livro Digital em São Paulo, o livro

impresso jamais vai deixar de existir, pois, a digitalização na literatura irá ajudar a ex-

pandir o mercado de leitores e, con-sequentemente, impulsionar tam-

bém a venda do livro impresso. Maneco ainda considera

ser muito mais cansa-tivo ler em um livro digital do que ler um livro impresso.

Independentemente da resistência dos amantes do papel, os livros digitais vieram para ficar.

Um dos mais importantes projetos, o Livro Livre, destinado à troca de livros, tem a maior partici-pação do público e seu atendimento só para no mês de dezembro. São atendidas por ano mais de 1,2 mil pessoas de todas as faixas etárias. Todos os públicos participam, pois as únicas “regras” deste projeto é que os livros para troca não sejam didá-ticos e estejam em boas condições, ou seja, muitas pessoas trocam seus livros infantis por clássicos da litera-tura. O acervo que a biblioteca contém é notável e em algumas da-tas comemorativas o projeto Livro

Livre é dedicado especialmente a determinado público. No dia 20 de setembro, por exemplo, o foco é instigar a curiosi-dade pela cultura gaúcha, dispondo ao público vários livros sobre a Re-volução Farrou pilha. Variando os locais das trocas, o projeto abrange um público ainda maior. O acervo passa uma sema-na no Iguatemi e no Centro de Cul-tura Dr. Henrique Ordovás Filho e um mês na Universidade de Caxias do Sul. Desta forma, vai atraindo a atenção dos leitores que passam por estes locais, principalmente dos que não têm o conhecimento sobre a

existência do projeto. Para Adriana, os projetos são muito importantes, pois “a biblioteca, além de abrir as portas, busca leito-res na rua, ela quer formar leitores, independentemente da faixa etária”.Ela afirma que, para que os projetos não caiam em desuso, passam anu-almente por uma avaliação de resul-tados e possíveis readequações. “Nós estamos, neste mo-mento, avaliando cada projeto com as instituições envolvidas. Há pro-jetos em que se chega à conclusão de que precisam de melhorias, como também existem projetos que podem ser extintos”, comenta Adriana.

A Biblioteca Pública Municipal de Caxias do Sul realiza durante o ano o Programa Literatura sem Fron-teiras, que engloba diversos projetos que contribuem para a difusão da leitura entre a população. Dentre os mais importantes, estão Contapete (que prevê uma série de atividades, tendo como foco o incentivo à leitura a adolescentes de 12 a 14 anos previamente inscritos), a Maratona de Contação de Histórias de Caxias (série de contação de histórias realizada por diversos contadores da cidade e do Estado, que este ano comemorou o ani-versário de Monteiro Lobato e a Semana do Livro), o Li-vros para Ouvir (projeto que visa a garantir a inclusão de crianças, adolescentes e adultos com deficiência visual, aproximando-os da leitura) e o Livro Livre. Adriana Sirena destaca a participação da comu-nidade no projeto da II Maratona de Contação de His-tórias de Caxias do Sul. “Vieram contadoras de Porto Alegre e da própria cidade. Em certo momento, havia crianças ouvindo as histórias e as pessoas que passa-vam pela praça foram parando para ver. Surgiu um públi-co completamente alternativo, como médicos e advoga-dos. As pessoas que voltavam do trabalho pararam ali e ficaram ouvindo as histórias, uma coisa que a gente não esperava” conta Adriana.

LIVRO LIVRE

ACERVO PREFEITURA DE CAXIAS DO SUL

Interação com a escritora Helô Bacichette

A DIFUSÃO DE UM HÁBITO

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Universidade de Caxias do Sul Centro de Ciências da Comunicação Reitor: Isidoro Zorzi Diretora do Centro de Ciências da Comunicação: Marliva Vanti Gonçalves Disciplina: Mídia Impressa Docente: Alessandra Rech

Coordenação e Edição: Kamila Chalmy Zatti e Patrícia Piccoli Zanrosso

Planejamento Gráfico e Diagramação: Bruno Venturin Lara Fernanda De Antoni Farias Gustavo Toscan Brandalise Luana Belarmino

Editores: Alexandre Dobner Artur Vinícius Pirocca Bruno Doncatto Bareta Caciano Leu Kuffel Cassio Robattini Erich Monteiro Ruffato Guilherme Finger Kruger Henrique Brancher Janaína Galiotto Josiano Santos da Silva

Fotografia: Amanda Lazzari Bruna Boiani Cassiane Silveira Osório Letícia Kirchheim

Tiragem: 250 exemplares

Ler e reler, hábitos que deveriam ser cotidianos para cada ser humano, habilitando-o para múltiplas competências profissionais e pessoais. É com base nesse desafio que o informativo Ler e Reler (produto final da disciplina de Mí-dia Impressa, dos Cursos de Comunicação Social da UCS: Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas) aborda o tema livros e leitura. O livro, independentemente de seu gênero, deve ser “devorado”. Hábito que precisa começar na infância, sob a influência dos pais, e ser desen-volvido com o crescimento. Nesta edição, o leitor poderá descobrir como está o cenário do mercado editorial e se existe solução para uma possível “crise na leitura”. Ainda, será convidado a participar dos vários projetos disponibilizados pela Biblioteca Pública Municipal de Caxias do Sul. Conhecerá o “Leia para mim”, uma inicia-tiva da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Vi-suais (Apadev), além de ser transportado para o universo das ilus trações de livros infantis, mediante os traços de ar-tistas locais. Você está convidado a entrar nessa aventura e ser também um contador de histórias!

Expediente

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RAMON MUNHOZ

Editorial

O jornalista Gustavo Guertler escreve sua histó-ria editando obras literárias. Apaixonado pela literatura, Guertler, 30 anos, é um modelo de determinação. Desde o início de sua busca pela profissionalização no mercado editorial de Caxias do Sul, há seis anos, ele demarcou uma meta, e a atingiu. Produzindo obras institucionais e autorais, o filho de Henrique e Anajara Guertler promove o trabalho de escritores locais. Pioneira em publicar uma coleção sobre fu-tebol para crianças em parceria com grandes clubes brasileiros, sua editora, a Belas Letras, virou assun-to no cenário brasileiro. Ligado no processo que se dá entre livro e leitor, Gustavo participou da Feira do Livro de Frankfurt. Além da convivência com a espo-sa, Marta Regina Boff, e a filha deles, Marina,dois anos, os livros são sua com panhia. Entre os proje-tos do editor estão os 25 anos da banda Engenhei-ros do Hawaii, Pra Ser Sincero, e Mapas do Acaso, de Humberto Gessinger (foto).

Ler e Reler: Há algum jeito de fazer do livro um produto vendável sem romper com a boa literatura?GUSTAVO: O público sempre procura, em geral, boa litera-tura. Porém cada um tem a sua própria definição sobre boa literatura. Aí entra uma questão subjetiva do leitor. Acho que para transformar o livro em produto vendável, é preciso en-tão que a cadeia comercial comece a partir da visão do es-critor, que gera a inteligência, o conteúdo, que é o ponto de partida do processo. O escritor precisa se questionar quem é o seu leitor. É o grande público? Um público específico? A partir dessa ótica do escritor a editora pode transformar o livro num produto vendável. Acho que o problema das obras não vendáveis, mas que são “boa literatura”, é falta de foco e falta de noção sobre a realidade de mercado. Além disso, é muito questionável determinar o que é boa literatura sain-do da esfera acadêmica. Boa literatura é aquilo que os pro-fessores de literatura dizem que é boa literatura? Boa litera-tura é aquilo que os jornalistas dizem que é boa literatura? É o que diz o público, o leitor? Literatura comercial pode ser boa literatura, tanto como literatura de invenção, van-guarda, mas ambas estão servindo a propósitos diferentes e se comunicando de forma diferente com o seu público. No Brasil, há um preconceito em relação aos livros mais vendi-dos, ou seja, parece que tudo aquilo que vende é sinônimo de má literatura – e acaba sendo uma forma de desqualifi-car o leitor. Um livro que vende não é necessariamente má literatura, ao mesmo tempo que um livro que não vende não é necessariamente boa literatura. Na maioria dos casos, na grande maioria, um livro não vende porque não é bom, ou porque o autor simplesmente não tem talento. Bons livros, cedo ou tarde, encontrarão seus leitores.

Ler e Reler: Como você vê a entrada massiva de best-sellers estrangeiros no mercado editorial brasileiro? Neste contexto, de que forma as editoras podem abrir espaço?

GUSTAVO: Na verdade, vejo a entrada de maneira muito positiva, porque vai abalar e já está abalando a forma como nossos escritores produzem sua literatura. Isso não signifi-ca que a literatura passará a ser nivelada por baixo, mas acho que vai fazer com que os escritores revejam o que estão fazendo e os canais que estão usando para se co-municar com seu público, que mensagem estão passando para seu público. A Rosa Monteiro, parafraseando seus autores preferidos no livro “A Louca da Casa”, diz que o bom escritor é aquele que, mesmo quando está falando de si, está falando dos outros, e o mau escritor é aquele que, mesmo quando está falando dos outros, está, na verdade, falando de si. Ela está falando ali dos escritores que escrevem para alimentar o próprio ego, para mostrar que escrevem bem ou para agra-dar a quem entende de literatura – são os escritores que não vendem. Quem aprende a deixar de lado esses preconceitos certa-mente terá uma carreira mais promissora na literatura, em termos comerciais – claro, dependendo também do talento de cada um. A entrada de tantos best-sellers aqui acende a luz de emergência para nossos escritores, pois eles têm que se conscientizar de que devem escrever para o leitor, e não para si mesmos. Por que literatura comercial não pode ser boa literatura? Acho que é essa a pulga atrás da orelha que esse fenômeno jogou nos escritores brasileiros. Não é uma ofensa ser um best-seller. É um mérito.

Ler e Reler: Cite algum lançamento da sua editora que tenha conciliado sucesso nas vendas e qualidade edito-rial/literária.GUSTAVO: Um livro pelo qual eu tenho muito apreço nesse sentido é o Pra Ser Sincero, o livro que conta a história da banda Engenheiros do Hawaii. É um livro que tem uma ven-da muito expressiva, que tem uma proposta editorial muito inovadora e instigante, e um texto muito espirituoso.

DIVULGAÇÃO

MERCADO

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INFORMATIVO EXPERIMENTAL - UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - 2011

A ARTE DE ILUSTRAR UM LIVRO

ilustradores que comprovam isso, como Thais Linhares, Mariana Massarani, entre outros. De acordo com a Câmara Brasilei-ra do Livro, o setor cresceu 14% em 2009, e 39% dos leitores do país têm entre 5 e 17 anos. A pesquisa também apontou que os leitores mais ativos têm incentivo da escola quanto da família.

DESENHO DE TATI TIVOIRE. NO ALTO DA PÁGINA, ARTE DE VIVI PASQUAL.

Ilustrar um livro é uma ta-refa complicada. O livro se difere das demais formas de arte, pois, ao contar a história, ele deixa a parte visual para a imaginação de cada um. Isto é importante princi-palmente em obras infantis, pois as figuras convidam a criança à lei-tura e despertam sua curiosidade. Como fazer para ilustrar um livro, então? A artista plástica caxiense Vivi Pasqual diz que não há fórmu-la para o sucesso. Ela começou a desenhar meio que por acaso. “Eu desenhei bastante uma época, porque era uma coisa que eu não sabia fazer e me inte ressava bas-tante ver o desenho acontecendo, o desenho como descoberta. Algu-mas pessoas gostaram bastante porque saíam umas coisas engra-çadas, imprevisíveis.” Vivi diz que sua principal intenção, ao ilustrar um livro, é acrescentar algo à obra, e não apenas ilustrar algo que o leitor já leu. Ela também preza pela liberdade na hora de criar. “Sobre ilustrar um livro, eu realmente não aprendi. Todas as vezes que eu iniciava uma ilustração, tentava que o desenho fosse um elemento a mais e não uma redundância do que já estava sendo dito”. Quem compartilha dessas ideias é a ilustradora Tati Rivoi-

re, que já assinou diversos livros infantis, como O ja caré da lagoa, de José Clemente Pozenato. “As imagens devem seguir adiante, ir além do texto. A verdadeira sinto-nia entre texto e imagem desperta no leitor a sensação de liberdade. Ele circula entre as palavras e os traços e cria seu próprio caminho.” Tati também é autora dos livros Curinguinha e curingão no trânsi-to e Vida de moleque. Ela dá dicas para quem se interessa em seguir a carreira: “Para ser um bom ilus-trador, é preciso gostar de ler, an-tes mesmo de escolher e exercer a profissão. A prática da leitura e a sua bagagem cultural oferecem ao ilustrador um vasto repertório de temas e situações que fazem com que ele mergulhe no mundo da imaginação, influenciando no resultado do seu trabalho”, diz. Se-gundo ela, o domínio das técnicas também é fundamental para um bom trabalho. “A ilustração come-ça no texto. Um bom texto desper-ta emoções e, essas, transforma-das em cores e traços, irão compor a ilustração”, destaca. Tati afirma que o caminho para é longo e ár-duo, mas pra zeroso. Ela também aponta que o mercado é bom, pois há grandes editoras que inves-tem nessa área no país e grandes

Enxergar é mais que ver a luz. É através deste slogan que a APADEV – Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais, fun-dada em 1983, que atua como pres-tadora de serviços para oportunizar educação e reabilitação as pessoas portadoras de deficiência visual, ob-jetivando a inclusão escolar, profis-sional e psicossocial. A entidade desenvolve vá-rios projetos, mantidos com doações mensais e também alguns recursos públicos. Dentre os programas, tais como passeios e oficinas especiais, sempre há o comprometimento da coordenação em unir a família e o deficiente, pois isso é fundamental para seu desenvolvimento. Um destaque é a contação de histó-rias. As pessoas não apenas escu-tam as histórias, mas interagem por meio da sonoplastia, dão asas à ima-ginação e literalmente se colocam na situação vivida pelo personagem. A entidade ainda conta com uma bi-blioteca ampla, com livros editados no sistema Braile, além de livros fa-lados (áudio), material pe dagógico especia lizado, jogos adaptados e pu-blicações especializadas. Em entrevista, a então coor-denadora, Iraci Maboni, e outros in-tegrantes falam sobre a sua atuação

no projeto.Ler e Reler: Que ações são toma-das para que o projeto tenha um resultado positivo e que cada vez mais as pessoas se sintam motiva-das a participar?IRACI: As pessoas sentem-se moti-vadas a participar do projeto tendo prazer em vir para cá, deslocam-se, por vezes, do outro lado da cidade para escutar histórias que poderão rememorar algum fato que tenha acontecido quando elas ainda tinham visão. Essas histórias poderão ajudar a enfrentar novas situações, e isso é algo indescritível, é uma viagem que cada um faz a partir de certo trecho com o qual se identifica.

Ler e Reler: Quais são as dificul-dades e as facilidades que o vo-luntário encontra na execução do projeto?IRACI: As facilidades são notáveis porque aqui encontro pessoas ávidas por ouvirem leitura e assim estabe-lecemos uma relação de amizade. Talvez a única dificuldade para quem começa é a fidelidade, semanal. Isso tem que funcionar como um fator de segurança para eles e também para mim, pois representa assim o meu comprometimento e a responsabili-dade, pois a partir do momento em

que começo a criar expectativas ne-les, num sistema de leitura de folhe-tim, eu não posso decepcioná-os.

Ler e Reler: De que forma vocês percebem crescimento como pes-soas, estando inseridos nesse projeto?LEDA FONTANA: Quando a Iraci ini-ciou a fazer as leituras, nós apenas acompanhávamos. Hoje, nós parti-cipamos dando a nossa opinião, fa-zemos apartes, a sonoplastia é feita por nós também, então, nós também participamos indiretamente da leitu-ra da Iraci, e isso para nós pode ser considerado um crescimento.

NILSA SIQUEIRA: Bem, eu quando entrei aqui pela primeira vez, não en-contrava nem mesmo a porta, hoje consigo me situar muito bem aqui dentro, e posso dizer que é muito bom ter pessoas como a Iraci, que é a nossa ledora (nome dado a pessoa que faz a leitura dos livros), enfim, tudo é muito bom, me sinto ótima em estar aqui, vindo aqui me distraio da rotina, e o mais legal é essa intera-ção que ela nos proporciona com as histórias que nos conta, pois assim conversamos, damos risadas, parti-cipamos da sonoplastia e até mesmo choramos em algumas histórias.

LITERATURA E INCLUSÃO SOCIAL

LER

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