41
VIII UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de 1808 Monografia Lesões oculares em trabalhadores da pesca: mais uma história de pescador? Deivisson Freitas da Silva Salvador (Bahia) Agosto, 2013

Lesões oculares em trabalhadores da pesca: mais uma ... · terem transformado em verbo o provérbio “a união faz a força”; Às amigas, Isabella Fernanda, Maryana Dias,

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VIII

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Lesões oculares em trabalhadores da pesca:

mais uma história de pescador?

Deivisson Freitas da Silva

Salvador (Bahia)

Agosto, 2013

II

UFBA/SIBI/Bibliotheca Gonçalo Moniz: Memória da Saúde Brasileira

Silva, Deivisson Freitas da

S586 Lesões oculares em trabalhadores da pesca: mais uma história de pescador? / Deivisson Freitas da Silva. Salvador: DF, Silva, 2013. viii; 33 fls.

Orientadora: Profª. Drª. Rita de Cássia Franco Rêgo. Monografia (Conclusão de Curso) Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina da Bahia, Salvador, 2013.

1. Saúde do trabalhador. 2. Pesca. 3. Oftalmopatias. I. Rego, Rita de Cássia Franco. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina. III. Título. CDU - 616-057

III

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Lesões oculares em trabalhadores da pesca:

mais uma história de pescador?

Deivisson Freitas da Silva

Professor orientador: Rita de Cássia Franco Rêgo

Monografia de Conclusão do

Componente Curricular MED-

B60/2013.1, como pré-requisito

obrigatório e parcial para conclusão do

curso médico da Faculdade de Medicina

da Bahia da Universidade Federal da

Bahia, apresentada ao Colegiado do

Curso de Graduação em Medicina.

Salvador (Bahia)

Agosto, 2013

IV

V

“O sol, o sal e o mar

A praia de areias douradas

O peixe na mesa

O pão de cada dia

A lua cheia

A imensidão azul

As estrelas

O ciclo das marés

A ilha distante

O vento forte

A canoa quebrada

Os riscos

A sensação do prazer

O homem nas mãos de Deus

O pescador”

(O Pescador – Melo, G.)

VI

Aos meus heróis do mundo

real: meus pais, sêo Didi e dona

Bia; e minha irmã de sangue e

sorriso, Iane.

A todos aqueles que não

desistiram de lutar por um mundo

onde a paz e o riso sejam a regra,

não a exceção.

VII

EQUIPE

Deivisson Freitas da Silva, Acadêmico do quarto ano da Faculdade de Medicina da Bahia

(FMB) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), membro do Diretório Acadêmico de

Medicina da Bahia (DAMED-UFBA);

Rita de Cássia Franco Rêgo, Médica Preventivista, Pós-Doutora, Professora Associada I

de Dedicação-Exclusiva da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) da Universidade

Federal da Bahia (UFBA) e vice-coordenadora do programa de Pós-Graduação em

Saúde, Ambiente e Trabalho (PPGSAT).

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA:

― Faculdade de Medicina da Bahia (FMB)

FONTES DE FINANCIAMENTO

Recursos próprios.

VIII

AGRADECIMENTOS

À professora Rita Rêgo por me fazer acreditar que também sou capaz de

produzir ciência;

Aos queridos amigos, Ana Marques, Ítallo Oliveira e Kamilla Fuchs, por

terem transformado em verbo o provérbio “a união faz a força”;

Às amigas, Isabella Fernanda, Maryana Dias, Priscila Carvalho e Sabrina

Figueiredo, bem como aos professores-amigos Rafaela Freire e Leandro Barreto,

agradeço pelas inestimáveis colaborações na produção desta Monografia;

Aos companheiros do Diretório Acadêmico de Medicina, pelos ensinamentos

diários sem os quais essa Monografia não estaria “pintada de povo”;

Ao professor José Tavares-Neto, coordenador do componente curricular

MED-B60, sem o qual essa aventura teria sido apenas mais uma “tarefa”.

1

ÍNDICE

I. RESUMO ............................................................................................................................ 3

II. OBJETIVOS .................................................................................................................. 4

PRINCIPAL ............................................................................................................................ 4

SECUNDÁRIOS ..................................................................................................................... 4

III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 5

IV. METODOLOGIA .......................................................................................................... 9

V. RESULTADOS ............................................................................................................ 11

VI. DISCUSSÃO ................................................................................................................ 21

VII. CONCLUSÕES ............................................................................................................ 26

VIII. SUMMARY ................................................................................................................... 27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 27

ANEXOS ................................................................................................................................. 33

2

ÍNDICE DE QUADROS E FLUXOGRAMAS

QUADROS

QUADRO 1. Termos utilizados nas estratégias de buscas nas bases

de dados

10

QUADRO 2. Características principais dos artigos selecionados

para leitura do texto completo e que se encontravam disponíveis

para download

13

QUADRO 2 (continuação). Características principais dos artigos

selecionados para leitura do texto completo e que se encontravam

disponíveis para download

14

QUADRO 2 (continuação). Características principais dos artigos

selecionados para leitura do texto completo e que se encontravam

disponíveis para download

FLUXOGRAMAS

15

FLUXOGRAMA 1 - Esquema ilustrativo da estratégia utilizada

para obtenção dos estudos incluídos na revisão sistemática

12

3

I. RESUMO

LESÕS OCULARES EM TRABALHADORES DA PESCA: MAIS UMA HISTÓRIA

DE PESCADOR? Introdução: o exercício profissional da pesca é reconhecidamente uma

atividade perigosa com elevada morbi-mortalidade associada. Estudos prévios notabilizaram a

significativa ocorrência de determinadas patologias nos trabalhadores da pesca, como os

traumas e as doenças digestivas, dermatológicas e oftalmológicas. No entanto, há uma

escassez de estudos que caracterizem especificamente cada uma dessas morbidades nessa

população. Objetivo: realizar revisão da literatura sobre as lesões oculares relacionadas à

exposição ocupacional no exercício da atividade da pesca. Metodologia: foi realizada uma

revisão sistemática da literatura através da combinação de termos de busca como “pesca” e

“lesão ocular” nas seguintes bases de dados: MEDLINE, LILACS-BIREME, SCOPUS, Web

of Science e Cochrane. Foram aplicados os seguintes limites: artigos escritos em inglês,

português ou espanhol a partir do ano de 1993; estudos realizados em humanos; resumos

disponíveis para leitura. Resultados: após a aplicação dos critérios de elegibilidade, foram

incluídos 18 artigos na revisão sistemática. O desenho de estudo mais prevalente foi o corte

transversal. Discussão: as lesões mais frequentemente relatadas se relacionavam com a

exposição solar excessiva, como a catarata e a degeneração macular senil. Em seguida, os

traumas oculares também se mostraram associados a essa atividade laboral, principalmente as

lesões perfurantes pelo gancho de pesca ou por fragmentos de animais marinhos. Conclusões:

O exercício da pesca comercial está significativamente relacionado com a ocorrência de

lesões oculares, principalmente as relacionadas com a exposição à radiação ultravioleta e aos

acidentes. Devido à escassez, faz-se necessária a realização de estudos que avaliem

holisticamente a saúde oftalmológica dos pescadores para que sirvam como embasamento

científico para a implementação de programas de educação e políticas de saúde direcionados

para a população pesqueira.

Palavras-chaves: 1.Saúde do trabalhador; 2. Pesca; 3.Oftalmopatias.

4

II. OBJETIVOS

PRINCIPAL

Realizar revisão sistemática da literatura sobre as lesões oculares relacionadas à

exposição ocupacional no exercício da atividade da pesca.

SECUNDÁRIOS

1. Identificar os fatores de risco relacionados às lesões oculares encontradas;

2. Identificar os fatores de proteção recomendados como proteção ocular para os

trabalhadores da pesca.

5

III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Existem diversas formas de conceituar o termo “pesca”. De acordo com o glossário da

FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nation -, a pesca - “fishery”, em

inglês - é uma atividade que leva à colheita de peixes, podendo envolver a captura de peixes

selvagens ou até mesmo a criação de peixes pela aquicultura (1). A legislação brasileira

amplia esse conceito definindo-a como sendo o ato que tende à retirada, extração, coleta,

apanhamento, apreensão ou captura de espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos,

moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico (2).

Juntamente com a caça, a pesca foi uma das primeiras atividades laborais

desenvolvidas pelo homem, como demonstram vestígios encontrados em sítios arqueológicos

da era do Paleolítico, datados de aproximadamente 50 mil anos. Apesar de tão antiga, o

exercício da pesca sofreu poucas alterações com o passar dos anos, como exemplificado na

permanência da utilização dos mesmos – ou pouco alterados - utensílios, processos e métodos

destinados à captura dos seres vivos aquáticos. O desenvolvimento tecnológico incidiu sobre

a pesca, basicamente, de modo a aprimorar os instrumentos utilizados, melhorando-os através

das novas tecnologias de materiais, tornando-os mais resistentes, finos, duradouros e até

mesmo mais baratos, contudo, sem substituí-los (3).

De forma semelhante, durante muito tempo, pouco foi modificado no que concerne ao

reconhecimento legal da pesca enquanto atividade profissional, especialmente no Brasil.

Apenas em 2009, a legislação brasileira passou a regulamentar os diversos aspectos

relacionados à pesca e ao seu exercício profissional através da lei nº 11.959. Essa lei define as

categorias da pesca em comercial (artesanal ou industrial), que é a pesca profissional com fins

lucrativos, e não comercial (científica, amadora ou de subsistência), sem fins lucrativos (4). A

pesca comercial é praticada pelo pescador profissional, definido pela Organização

Internacional do Trabalho – OIT – como toda pessoa empregada/contratada em qualquer

competência ou que exerça uma atividade profissional a bordo de qualquer embarcação de

pesca, incluindo as pessoas que são pagas com base em porcentagens das capturas - esse

conceito exclui os pilotos e marinheiros (5). O pescador artesanal possui a especificidade de

exercer a profissão de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de

6

produção próprios ou mediante contrato de parcerias, desembarcada ou com embarcações de

pequeno porte (6). Ainda que desenvolva suas atividades de maneira menos

instrumentalizada, os pescadores artesanais são maioria e aproximadamente metade dos frutos

do mar do mundo são pescados ou coletados por eles (7).

Seguindo a tendência mundial (8), o Brasil, apesar de promover melhorias na

normatização do trabalho da pesca, não incluiu a identificação e resolução dos problemas de

saúde relativos à profissão na operacionalização dos serviços e pesquisas em saúde. Ainda

que já esteja bem sedimentado na literatura mundial que a pesca é uma das ocupações mais

perigosas, apresentando altas taxas de mortalidade e sérias injúrias ocupacionais (7–10) e até

já se relacione os fatores intervenientes para tais desfechos - ambiente de trabalho hostil em

razão da superfície instável e do confinamento; desempenho de funções fisicamente

estafantes; exposição às longas jornadas de trabalho e aos climas extremos; e um grande

espectro de fatores sociais, econômicos e culturais (7,11) -, houve pouco progresso na

incorporação desses conhecimentos às práticas governamentais ao redor do mundo.

Desde 1985, Reilly (9) já demonstrava que os pescadores do Reino Unido possuíam

quatro vezes mais chances de morrer em razão de acidentes no trabalho do que os

trabalhadores das minas de carvão e que as taxas de mortalidade por acidentes na profissão

tinham crescido desde 1961. No entanto, tal estudo tinha como meta a caracterização da

mortalidade na profissão, fazendo-se necessário o desenvolvimento de estudos que focassem

nos fatores de risco e na caracterização da morbidade relacionados com a atividade pesqueira.

Em 1993, ao realizar um estudo sobre os riscos (de saúde) da pesca comercial,

Grainger (12) constatou que grande proporção das mortes que ocorrem na indústria da pesca

são preveníveis. Esse autor descreveu também como doenças relacionadas ao exercício da

pesca: as reações alérgicas aos frutos do mar, como a lula, manifestadas como asma

brônquica, dermatite ou conjuntivite; e a alergia de contato ao iodo. Além disso, estabeleceu

os seguintes fatores de risco: o manuseio e a ingestão de peixes/frutos do mar como fatores de

risco para acidentes e intoxicações, respectivamente; o isolamento social por período

prolongado enquanto fator contributivo para problemas físicos e mentais; o consumo

exacerbado de álcool como um importantíssimo fator de risco para acidentes, como os

afogamentos e as quedas. Por fim, o autor ressalta que muitas comunidades pesqueiras

pertencem às minorias étnicas e são economicamente desfavorecidas, consequentemente,

necessitam de um maior suporte socioeconômico.

7

Estudos subsequentes avaliaram os motivos de busca por atendimento médico e

constataram que 35% desses atendimentos foram em razão de traumas e 65% foram por

doenças (11). Dentre os traumas, os mais comuns foram: contusões, cortes, fraturas e

entorses, principalmente em mãos, dedos e membros superiores, em razão do manuseio de

peixes ou maquinarias (10,11,13). Dentre as doenças, prevaleceram as digestivas, respiratórias

e dermatológicas, com destaque para as causas infecciosas (10,11). Numa coorte retrospectiva

espanhola (11) e num estudo de corte transversal realizado na Turquia (7), além das causas

supracitadas, notabilizaram-se significativamente as doenças oftalmológicas. Em 2001, Bull

et al. (2001) apud Bull et al. (2000) (13) relataram que os pescadores tiveram a terceira maior

taxa de custo anual por injúrias ocupacionais da Noruega. Alguns desses estudos destacam

que a pesca é desenvolvida em todo o mundo e cada local possui características próprias na

dinâmica de trabalho, logo, as características de segurança, saúde e adoecimento também

variam de lugar para lugar (8,11). Além disso, o padrão de trabalho incomum, envolvendo

longos períodos no mar e poucos dias na costa, torna os pescadores uma população difícil de

ser estudada (8,13).

A exposição solar em demasia é um fator de risco reconhecido da profissão da pesca

(14). Existe uma forte relação entre essa exposição e determinadas afecções dermatológicas e

oftalmológicas, principalmente, pois a eficácia das defesas naturais da pele e do globo ocular

na proteção contra os malefícios dos raios ultravioletas (UV) é limitada quando em situações

extremas, tais como utilização de solários ou forte reflexo pela areia, água ou neve – a água

reflete entre 3|-|13% dos raios UV, a areia reflete entre 7|-|18% e a neve fresca reflete acima

de 88% (15).

Para os olhos, os efeitos agudos da exposição à radiação UV incluem fotoqueratites e

fotoconjutivites. Essas reações inflamatórias são comparáveis a queimaduras dos sensíveis

tecidos do globo ocular e das pálpebras, e, geralmente, aparecem após algumas horas de

exposição. Ambas podem ser muito dolorosas, porém reversíveis e não resultam em nenhuma

lesão a longo prazo para os olhos ou a visão. Cronicamente, a exposição prolongada aos raios

UV pode ocasionar a degeneração macular, o pterígio e/ou a catarata, que é a principal causa

de cegueira no mundo (15,16). Além das defesas anatômicas da face (pálpebras, sobrancelhas,

nariz, bochechas), a exposição ocular aos raios UV pode ser minimizada pelo uso de chapéus

com aba (diminuem em 50% a exposição), óculos de grau (diminuem em até 90%), óculos

escuros com filtro UV (diminuem entre 95% e 100%). Essa atenuação é importante, pois o

8

percentual de radiação que é absorvida pelas estruturas oculares está diretamente relacionado

com o potencial de dano aos tecidos absorventes (15).

Embora a catarata possa aparecer em diferentes graus na maioria dos indivíduos, a

idade e a exposição ao sol - em particular aos raios ultravioletas do tipo B (UVB) - parecem

ser os principais riscos para o desenvolvimento dessa doença (17). De acordo com Taylor

(1988), diversos estudos embasaram epidemiologicamente a associação entre a exposição

solar e a catarata. Tais estudos demonstraram que: há uma maior incidência de catarata na

zona tropical do globo terrestre (local onde a incidência de raios ultravioletas é maior, devido

ao eixo de inclinação da Terra) do que na zona temperada; dentro do território dos EUA, há

uma distribuição do risco de catarata de acordo com a área em que se habita; há um maior

risco de desenvolvimento de catarata senil nos indivíduos que trabalham fora de casa por mais

de seis horas por dia. Nesse ínterim, um estudo conduzido com 838 pescadores quantificou a

relação dose-resposta entre a exposição aos raios UVB e a catarata cortical. Os indivíduos

foram examinados e tiveram suas cataratas classificadas quanto ao tipo e a severidade. Algum

grau de catarata cortical foi encontrado em 111 pescadores (13%) ao passo que algum grau de

opacidade nuclear foi encontrado em 229 (27%). Os pescadores que possuíam uma exposição

ao UVB no quartil superior aumentaram o risco de catarata em 3,3 vezes em relação aos que

possuíam uma exposição ao UVB no quartil inferior. Não foram encontradas associações

entre a exposição ao UVB e a catarata nuclear nem a exposição aos raios ultravioletas do tipo

A (UVA) e a catarata (18).

Além do risco físico da exposição à radiação ultravioleta, outros fatores de risco para

acometimentos oftalmológicos de pescadores foram descritos na literatura, como os acidentes

no manuseio dos instrumentos da pesca, principalmente os ganchos, e a exposição a agentes

biológicos, a exemplo dos frutos do mar, que podem causar conjuntivite alérgica (12).

No entanto, são escassos os estudos que tenham como objetivo o estudo específico das

injúrias oculares relacionadas ao trabalho da pesca, fazendo com que essa associação não

esteja bem descrita na literatura. Notabiliza-se, assim, a necessidade de um estudo que possa

minorar essa lacuna da literatura científica através da realização de um levantamento das

informações obtidas até o presente momento sobre a relação entre o exercício profissional da

pesca e o acometimento por lesões oftalmológicas.

9

IV. METODOLOGIA

O estudo foi realizado com dados secundários obtidos através de uma revisão

sistemática da literatura nos seguintes bancos de dados on-line: MEDLINE em

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/, Cochrane em http://cochrane.bvsalud.org, Web of

Science em http://apps.webofknowledge.com, LILACS-BIREME em http://lilacs.bvsalud.org/

e SCOPUS em http://www.info.sciverse.com/scopus.

As estratégias de busca adotadas para cada uma das bases foram baseadas nos termos

listados no Quadro 01, organizados da seguinte maneira:

1. MEDLINE: (#1) AND (#2) NOT (#3[Author])

2. Cochrane: (#1) and (#2)

3. Web of Science: Topic=(#1) AND Topic=(#2) NOT Author=(#3)

4. LILACS-BIREME: (#1) AND (#2) [Words] AND NOT (#3) [Author]

5. SCOPUS: TITLE-ABS-KEY((#1) AND (#2))

Em seguida, foram aplicados os seguintes critérios de inclusão (limites):

1. Data de publicação: entre 14 de Abril de 1993 e 14 de Abril de 2013;

2. Espécie estudada: somente estudos em seres humanos;

3. Idioma em que o artigo foi escrito: português, inglês ou espanhol;

4. Disponibilidade do resumo para leitura: resumo disponível.

Os estudos que não se adequavam aos critérios de inclusão não tiveram os seus títulos

e resumos lidos. A análise da amostra obtida foi baseada na leitura dos títulos e resumos e,

quando necessário, na leitura do texto completo. Estudos que incluíram discussão de alguma

forma da associação entre o exercício da pesca comercial e lesões oftalmológicas foram

selecionados; aqueles que abordaram outros tipos de acometimentos oftalmológicos - como

doenças hereditárias - não relacionados ao exercício da pesca, averiguavam lesões não

oftalmológicas em pescadores ou estudavam populações de pescadores não comerciais, foram

10

excluídos. Todos os estudos incluídos tiveram suas referências verificadas e, caso pertinente,

essas referências também foram incluídas no trabalho. Sites com vinculação institucional e

especializada também foram utilizados como fontes de busca.

Quadro 1: Termos utilizados nas estratégias de buscas nas bases de dados

#1: "Mesh terms" e "entry terms" para lesões oculares

eye OR “eye injurie*” OR “eye neoplasm” OR “eye infection*” OR “eye

disease*” OR “eye pain” OR “dry eyes syndrome” OR “eye manifestation*”

OR “eye foreign bodies” OR “eye burns” OR “eye hemorrhage” OR

asthenopia

#2: "Mesh terms" e "entry terms" para pescadores

fishery OR fisheries OR fishermen OR fisherman OR waterman OR watermen

OR fish catcher OR seafood catcher OR crab catcher OR crabber OR fishman

OR oystermen

#3: Nomes de autores identificados em pesquisa-piloto

fishman OR waterman

As referências e os dados relevantes de cada estudo foram obtidos e inseridos em uma

tabela do software Excel (Microsoft; Redmond, WA) para serem resumidos e analisados.

Para este tipo de estudo, não há necessidade de análise por Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP), segundo o regramento estabelecido na Resolução CNS-MS nº 196 de 1996.

11

V. RESULTADOS

Foram aplicadas as estratégias e limites de busca nas bases citadas, tendo sido

encontrados 152 artigos: 51 na MEDLINE; 37 na Cochrane; 18 na SCOPUS; 17 na Web of

Science; e 29 na LILACS. Após a leitura dos resumos, levando-se em consideração a

população-alvo (pescadores) e as variáveis a serem pesquisadas (lesões oculares, etiologia das

lesões oculares e medidas de prevenção para as citadas lesões), foram selecionados 40 artigos:

18 na MEDLINE, 10 artigos na SCOPUS, 10 artigos na Web of Science e dois artigos na

LILACS-BIREME; nenhum artigo foi selecionado na Cochrane. Excluindo-se os 15 artigos

repetidos nos resultados das diferentes bases, foram selecionados 25 artigos, no entanto

apenas 20 foram obtidos por download através da rede da Universidade Federal da Bahia – ou

seja, cinco artigos não se encontravam disponíveis para download (ANEXO 1). Em segunda

estância para obtenção dos artigos não disponíveis para download, realizou-se uma busca

pelos endereços eletrônicos dos autores dos cinco artigos indisponíveis, entretanto nenhum

desses artigos citava tal informação. Assim, foram obtidos 20 artigos para a leitura completa

dos textos. Após a leitura dos textos completos, dois estudos foram excluídos da revisão

sistemática (19,20), pois a população estudada (pescadores esportivos, não comerciais) diferia

da população-alvo estabelecida nos objetivos do presente estudo (pescadores comerciais),

reduzindo a 18 o número de artigos que efetivamente compuseram a revisão sistemática –

vide fluxograma de seleção dos artigos (Fluxograma 1).

A sistematização das informações colhidas nos artigos se processou através do

preenchimento de uma tabela-padrão que se encontra em sua forma resumida no “Quadro 2”

constando das características gerais dos estudos.

Dos dezoito artigos obtidos, onze (61%) foram escritos na última década – após 2003.

Encontrou-se uma ampla distribuição mundial: quatro foram desenvolvidos nos Estados

Unidos da América; três na Croácia; dois na Austrália; e os demais países possuíam um artigo

cada (Brasil, China, Cuba, Espanha, Grécia, Índia, Itália, Noruega e Turquia). Quanto ao tipo

de estudo, foram obtidos sete cortes transversais, cinco relatos de caso (sendo que dois destes

incluíam revisões de literatura), quatro revisões de literatura e duas coortes (uma prospectiva

e uma retrospectiva). Os detalhes desses artigos são apresentados em seguida, obedecendo à

ordem cronológica de publicação.

12

Download através da rede da

Universidade Federal da Bahia

Artigos disponíveis para download

Total: 20 artigos

Artigos não disponíveis para download

(05 artigos excluídos)

Leitura dos textos completos

Artigos selecionados para a revisão:

Total: 18 artigos

Artigos que não respondiam aos objetivos

(02 artigos excluídos)

Busca nas bases de dados

utilizando estratégias e limites

determinados:

PubMed: 51 artigos

Cochrane: 47 artigos

LILACS: 39 artigos

SCOPUS: 18 artigos

Web of Science: 17 artigos

Total: 152

artigos

Artigos selecionados após a leitura

dos resumos:

PubMed: 18 artigos

Cochrane: 00 artigo

LILACS: 02 artigos

SCOPUS: 10 artigos

Web of Science: 10 artigos

Total: 40 artigos

Análise dos artigos repetidos

(15 artigos repetidos)

Leitura dos resumos

(112 artigos excluídos)

Fluxograma 1 – Esquema ilustrativo da estratégia utilizada para obtenção dos estudos

incluídos na revisão sistemática

13

Quadro 2 – Características principais dos 20 artigos selecionados para leitura do texto

completo e que se encontravam disponíveis para download

Autoria Ano País Tipo de

estudo

População

estudada Objetivos

Christoffersen et al 1993 Noruega Coorte

retrospectiva

29 pacientes

expostos a

trauma químico

ocular por

exposição à

bile de peixe

(28 eram

pescadores

profissionais

comercial)

Avaliar a severidade da lesão

causada pela bile de peixe nos

olhos humanos e estimar a

relevância epidemiológica

dessa lesão

Wong et al. 1993 China Corte

transversal

Comunidades

pesqueiras de

Hong Kong

Avaliar se a catarata está

associada com uma maior

exposição à luz solar e se os

agentes antioxidantes atuam

protegendo contra a catarata

Schein et al. 1994 EUA Coorte

prospectiva

437 pescadores

comerciais da

Baía de

Chesapeake

Analisar a distribuição da

opacificação cortical do

cristalino e sua relação com a

exposição ocupacional à

radiação ultravioleta

Javitt, JC & Taylor,

HR 1995 EUA

Revisão da

literatura

Variável.

Incluía a

análise dois

estudos que

avaliaram

populações de

pescadores

comerciais

Avaliar: as variáveis físicas e

geográficas que afetam a

entrada dos raios UV no olho;

as evidências epidemiológicas

que associam a catarata à

exposição aos raios UV; a

efetividade das barreiras de

proteção na redução da

exposição ocular aos raios UV

Taylor, HR 1995 Austrália Revisão de

literatura

838 pescadores

comerciais da

Baia de

Chesapeake

Avaliação da associação entre

catarata e exposição aos raios

UVB levando em

consideração os fatores

individuais

Penland et al. 2000 EUA

Relato de caso

e revisão da

literatura

Um pescador

comercial /

indivíduos com

olhos

infectados pelo

Vibrio

Descrever a epidemiologia da

infecção ocular pelo Vibrio

(Continua)

14

Quadro 2 (continuação) – Características principais dos 20 artigos selecionados para

leitura do texto completo e que se encontravam disponíveis para download

Feretis, E. 2002 Grécia Corte

transversal

Moradores de

3 regiões

suburbanas de

Atenas e 2

grupos de

monges/freira

s e pescadores

comerciais

Estimar a prevalência de

lesões oculares em função

dos parâmetros de

exposição à radiação UVB e

poluição do ar

Alfaro-III et al. 2004 EUA Coorte

retrospectiva

143 casos de

trauma ocular

devido à pesca

não comercial

Avaliar as características dos

traumas oculares relacionados

à pesca esportiva

(artigo excluído)

Vojnikovic, B 2007 Croácia

Estudo de

corte

transversal

Grupo:

Agricultores e

pescadores

(1300

indivíduos)/Gr

upo 2: pessoas

urbanas (71

indivíduos)

Estimar em qual porcentagem

a retina periférica está afetada

na DMRI

Vojnikovic, B et al. 2007 Croácia Corte

transversal

Grupo:

Agricultores e

pescadores

(1300

indivíduos)/Gr

upo 2: pessoas

urbanas (71

indivíduos)

Estimar a correlação entre a

incidência de DMRI e

exposição solar na Ilha de Rab

(Croácia)

Vojnikovic, B et al. 2007 Croácia Corte

transversal

Grupo:

Agricultores e

pescadores

(480)/Grupo 2:

pessoas

urbanas (61

indivíduos)

Estimar a correlação entre

fatores climáticos,

especialmente exposição

crônica à luz UV, e o

aparecimento de pterígio ou

síndrome de esfoliação

Kreis et al. 2008 Austrália

Relato de caso

e revisão da

literatura

Um pescador

esportivo

Relatar um caso de acidente

ocular com gancho de pesca

(artigo excluído)

Novalbos et al. 2008 Espanha Corte

transversal

247 pescadores

comerciais

Avaliar as condições de saúde,

segurança e de trabalho do

setor pesqueiro da Andaluzia

(Espanha)

(Continua)

15

Quadro 2 (continuação) – Características principais dos 20 artigos selecionados para

leitura do texto completo e que se encontravam disponíveis para download

Inchingolo et al 2010 Itália Relato de

caso

Um pescador

comercial

Relatar um caso de acidente

ocular com gancho de pesca

Levy et al. 2011 EUA Revisão da

literatura

Pessoas expostas

a vazamentos de

óleo no mar,

incluindo

pescadores

comerciais e não

comerciais

Revisar os efeitos adversos da

exposição aos vazamentos de

óleo e estabelecer um

formulário-padrão para

acompanhamento médico dos

indivíduos expostos

Rios et al. 2011 Brasil Revisão da

literatura

Pescadores

comerciais

Revisar os fatores de risco

para doenças e agravos

relacionados à pesca,

excetuando-se acidentes

Tran et al. 2011 Austrália Relato de

caso

Um pescador

comercial de

lagostas

Relatar o caso de uma lesão

ocular causada pela antena de

lagosta

Agrawal et al. 2012 Índia

Relatos de

casos e

revisão da

literatura

Dois pescadores

comerciais

Relatar dois casos de trauma

ocular por gancho de pesca e

revisar a literatura relacionada

Percin et al. 2012 Turquia Corte

transversal

1166 pescadores

comerciais de

pequena escala

do Mar Egeu

Avaliar as condições de saúde,

segurança e trabalho dos

pescadores de pequena escala

da costa do Mar Egeu

Vivó et al. 2012 Cuba Relato de

caso

Um pescador

comercial

artesanal

Relatar o caso de uma

neoplasia intraepitelial corneo-

conjutival num pescador

comercial (20 anos de

profissão e 81 anos de idade)

Christoffersen e Olsen (21) promoveram uma coorte retrospectiva com 29 pacientes

com traumas oculares por exposição à bile de peixe – 28 pacientes eram pescadores

profissionais ou trabalhadores da indústria da pesca. Constatou-se que o contato dos olhos

com a bile dos peixes evoluiu em diferentes lesões de acordo com a cronicidade. De modo

agudo, encontrou-se quemose ocular, blefaroespasmo e erosão corneana como desfechos

possíveis; cronicamente, vislumbrou-se a opacidade corneana severa. Os autores hipotetizam

que, por conter sais, que são potentes detergentes, a bile poderia atacar a camada superficial

hidrofóbica da córnea, produzindo dano temporário ao epitélio corneano porque facilita a

remoção mecânica desse e causa uma "faixa" acelular temporária no estroma corneano. Por

fim, o artigo enfatizou a importância da lavagem imediata dos olhos com água e o

encaminhamento para um serviço de emergência como prevenção secundária.

16

Em um estudo de corte transversal com as comunidades pesqueiras de Hong Kong,

Wong (22) avaliou a associação da catarata com a exposição solar e a ingestão de alimentos

antioxidantes. As formas mais severas da catarata estiveram mais presentes nos indivíduos

com maior exposição solar acumulada, no entanto, não houve relevância estatística para

nenhuma das associações com exposição solar. Não houve tendência de redução da

prevalência de catarata nos indivíduos com maiores índices de enzimas e/ou vitaminas

antioxidantes.

Schein et al. (23) realizaram uma coorte prospectiva com 437 pescadores profissionais

da Baía de Chesapeake (EUA). Tal estudo encontrou uma relação entre o aumento da

prevalência e da severidade da opacificação cortical do cristalino e o aumento da idade dos

pescadores – medida indireta de tempo de exposição aos raios UV.

Numa revisão de literatura, Javitt & Taylor (15) evidenciaram epidemiologicamente a

relação entre a catarata ou a degeneração macular senil e a exposição à radiação ultravioleta,

bem como descreveram os mecanismos pelos quais essas lesões ocorrem e a efetividades das

barreiras de proteção na redução da exposição ocular aos raios ultravioletas. Dois dos estudos

revisados pelos autores foram conduzidos com populações de pescadores: o primeiro estudo

comparou a população de pescadores à população de mineiros para avaliar a relação entre a

exposição solar e o surgimento de catarata enquanto que o segundo estudo objetivava

averiguar a existência da relação dose-resposta entre exposição solar e surgimento da catarata

cortical através da quantificação da exposição.

Em uma revisão de literatura realizada individualmente, Taylor (24) investigou a

associação entre a catarata e a exposição aos raios UVB levando em consideração aos fatores

individuais. Nessa revisão, o autor incluiu um estudo que analisou a incidência de catarata

e/ou opacidade nuclear em 838 pescadores da Baía de Chesapeake. Foi encontrada uma

prevalência de 13% de catarata e 27% de opacidade nuclear do cristalino. Notabilizou-se um

aumento da prevalência e da severidade das opacidades corticais e nucleares do cristalino com

o avançar da idade e, nos pescadores com opacidades corticais, o excesso de exposição

ocorreu em todos os anos após os 15 anos, sugerindo que o dano é cumulativo. O autor sugere

o uso de chapéus com abas, óculos e/ou óculos de sol nos indivíduos que não têm meios de

diminuírem suas exposições ambientais, como os pescadores.

17

Penland et al. (25) publicaram um relato de caso de um pescador profissional

estadunidense que desenvolveu, agudamente, uma úlcera corneana paracentral supurativa e

evoluiu para uma opacificação da córnea com limitação da visão em razão da perfuração do

globo ocular por um fragmento de concha de ostra contaminado com o Vibrio vulnificus. Em

sua revisão da literatura, os autores encontraram outros casos de infecções oculares pelo

Vibrio sp., principalmente o V. vulnificus, o V. alginolyticus e o V. parahaemolyticus, em

razão do contato do olho com fragmentos de ostras ou até mesmo lesão penetrante por gancho

de pesca, tendo um espectro de evolução incluindo a conjuntivite, a ceratite e a endoftalmite.

Na Grécia, Feretis et al. (26) estudaram indivíduos intensamente expostos à radiação

ultravioleta (UV), incluindo pescadores comerciais, com o objetivo de estimar a prevalência

de lesões oculares em função dos parâmetros de exposição à radiação UV e poluição do ar.

Encontrou-se uma frequência relativa de aproximadamente 50% para as lesões da córnea e

60% para as lesões da conjuntiva na população de pescadores; as lesões da pálpebra e do

cristalino tiveram uma frequência relativa menor do que 5% cada uma. No entanto, ao

contrário do que seria esperado, não houve uma correlação entre o tempo de serviço e a

frequência relativa de incidência de cada uma das lesões pesquisadas (córnea, conjuntiva,

pálpebra e cristalino). As lesões da conjuntiva foram mais frequentes nos pescadores entre 40

e 45 anos de trabalho, enquanto que as lesões de córnea acometeram mais aos que possuíam

entre 30 e 35 anos; as lesões da pálpebra ou do cristalino apresentaram uma distribuição

uniforme em todas as faixas etárias.

Um estudo de corte transversal realizado na Croácia por Vojnikovic (27) estimou a

porcentagem de lesão da retina periférica na vigência da degeneração macular relacionada à

idade (DMRI), para tanto o autor utilizou da comparação entre dois grupos: o primeiro (grupo

I) formado por 1300 pescadores e agricultores (indivíduos intensamente expostos ao sol) e o

segundo (grupo II) formado por 71 moradores da área urbana randomicamente selecionados.

Todos os indivíduos foram examinados com os exames da lâmpada de fenda e o fundo de

olho. O autor discorre a DMRI tem como principais fatores de risco o ambiente e o clima,

principalmente a exposição à radiação solar. Por fim, afirma que houve uma maior incidência

de DMRI no grupo dos pescadores e agricultores - 18%, enquanto o outro grupo II teve

apenas 2,5% de incidência – e que, principalmente no grupo I, houve um aumento nos limites

das fóveas – sugerindo que a lesão não é somente macular. Assim, o autor indica que o nome

da doença deveria ser alterado para retinopatia relacionada à idade, já que não se restringe à

mácula.

18

Em outro estudo de corte transversal contando com os mesmos sujeitos da pesquisa

acima relatados, Vojnikovic et al. (28) estimaram a correlação entre a incidência da DMRI e a

exposição solar na Ilha de Rab (Croácia). Os autores realizaram anamneses e exames

oftalmológicos em todos os indivíduos da pesquisa (exames de fundo de olho, de lâmpada de

fenda e aferição da pressão ocular) e também aplicaram um questionário que abordava o estilo

de vida, incluindo o perfil da exposição solar individual. Após a análise das múltiplas

variáveis, os autores concluíram que há uma correlação significativa entre a exposição solar

ultravioleta e o aparecimento de DMRI bem como há uma correlação significativa entre o

aparecimento de DMRI e a Síndrome de Esfoliação (relação encontrada em 28% dos sujeitos

do grupo I).

Utilizando de um menor número de sujeitos da pesquisa (grupo I com 480 pescadores

e agricultores; grupo II com 61 moradores da zona urbana), Vojnikovic et al. (29) estimaram a

correlação entre os fatores climáticos, especialmente a exposição crônica à luz ultravioleta, e

o aparecimento de pterígio ou síndrome da esfoliação. Os autores encontraram no grupo I uma

frequência relativa de 23% para pterígio e 21% para síndrome da esfoliação e 92% dos

pacientes do grupo I que tinham síndrome da esfoliação tinham também uma pressão ocular

elevada. No grupo II, não foi encontrado nenhum caso de pterígio ou síndrome da esfoliação.

Concluiu-se que os fatores climáticos são os mais importantes fatores de risco para o

surgimento de pterígio e síndrome da esfoliação. Por fim, os autores abordaram a importância

do uso de óculos de sol com filtro para raios UV como proteção dos indivíduos intensamente

expostos.

Novalbos et al. (30) realizaram um corte transversal em uma população de 247

pescadores comerciais da comunidade autônoma espanhola de Andaluzia com o objetivo de

avaliar o estado de saúde, segurança e condições de trabalho do setor pesqueiro da região. A

categoria "problemas oculares e oftalmológicos" foi a segunda mais frequente, sendo referida

por 38% (94 indivíduos) dos pescadores entrevistados, ficando atrás apenas dos “problemas

de pele e das lesões de pele relacionadas especificamente à exposição solar” (54% / 135

indivíduos); no entanto, não foram especificados quais os problemas oculares sofridos nem os

fatores de risco para essa elevada prevalência. Além disso, destacou-se a ocorrência de

valores pressóricos elevados em 10% (25 indivíduos) e Diabetes Mellitus ou hiperglicemia

em 6% (16 indivíduos) dos pescadores entrevistados – doenças crônicas que podem gerar

lesões oculares. Os autores destacaram a importância do provimento de informações sobre

19

modos de vida saudáveis como estratégia de redução dos agravos apresentados pela

população.

Inchingolo et al. (31) relataram o caso de um pescador comercial italiano que sofreu

um trauma penetrante por gancho de pesca em região ocular. O tecido lesionado foi apenas o

da pálpebra superior, que sofreu uma pequena laceração. Indicou-se o uso de óculos de

proteção para que tais acidentes sejam evitados.

Uma revisão de literatura realizada por Levy (32) estabeleceu os efeitos adversos da

exposição aos vazamentos de óleo em pessoas expostas, incluindo pescadores. Tal estudo

encontrou que a exposição às substâncias químicas (benzeno, tolueno, etilbenzeno e/ou

xilenos dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos; mercúrio e vanádio; dispersantes

químicos) provenientes dos vazamentos de óleo pode levar, agudamente, ao aparecimento de

sintomas oftalmológicos (segundo mais frequente após os sintomas respiratórios) como: dor;

prurido; hiperemia; e, irritação ocular, ou conjuntivite. O autor indicou o uso de equipamentos

de proteção individual (EPIs) como forma de minorar a exposição aos agentes nocivos e a

aplicação de um questionário - padrão para um melhor delineamento científico dos efeitos da

exposição aos vazamentos de óleo sobre a saúde humana.

Rios et al. (33) realizaram uma revisão bibliográfica acerca dos fatores de risco para

doenças e agravos relacionados à pesca, excetuando-se os acidentes. No que concerne aos

acometimentos oculares, Rios apud Novalbos et al. (30) relatou que as queixas oculares

estavam entre as mais referidas pelos 9419 pescadores estudados nessa coorte espanhola,

junto com as queixas dos sistemas musculoesquelético, respiratório, digestivo e auditivo; de

modo similar, Rios apud Matheson et al. (2001) detectou problemas oftalmológicos em

41,8% dos pescadores e apenas 4,1% dos indivíduos do grupo controle participantes de uma

coorte espanhola diferente da supracitada. Dados sobre os mecanismos de lesão e fatores de

proteção específicos para as lesões oculares não foram relatados no estudo.

Tran et al. (34) elaboraram o relato do caso de um pescador de lagostas que apresentou

um abscesso subconjuntival em razão da penetração de um fragmento de antena de lagosta na

esclera. O uso de óculos de proteção e a implementação de programas de educação em saúde

voltados para os pescadores foram referidos como fatores de prevenção primária e promoção

em saúde, respectivamente.

20

Agrawal et al. (35) relataram dois casos de trauma ocular penetrante por gancho de

pesca e realizaram uma revisão da literatura acerca do tema. No primeiro caso relatado, houve

laceração da córnea em consequência do trauma; no segundo, a laceração foi na pálpebra

superior. Para a prevenção primária desse tipo de acidente, os autores indicaram o uso de

óculos de proteção para o exercício da profissão e, como prevenção secundária, a não

mobilização/retirada do objeto perfurante (gancho) a menos que seja por profissional

capacitado e, preferencialmente, em ambiente hospitalar.

Percin (7) avaliou uma população de 1166 pescadores de pequena escala do Mar Egeu.

Foram encontrados 471 casos de acometimentos oftalmológicos, tendo a seguinte distribuição

de acordo com a “Classificação Internacional de Doenças” (CID): 385 possuíam transtornos

da refração e/ou acomodação, CID H52; 55 possuíam conjuntivite, CID H10.1; e, 31

pescadores apresentavam alguma inflamação palpebral, CID H01. O principal mecanismo de

lesão ocular identificado no estudo foi a exposição à luz solar e, como fator de proteção,

indicou-se a elaboração de políticas públicas de saúde específicas para os pescadores.

Vivó et al. (36) publicaram o relato de caso de um pescador artesanal diagnosticado

com uma neoplasia intraepitelial córneo-conjuntival, referindo como fatores de risco para a

lesão a exposição prolongada à radiação ultravioleta, a imunodepressão da senilidade, os

hábitos alimentares inadequados, o tabagismo e o alcoolismo.

21

VI. DISCUSSÃO

Encontrou-se uma ampla variedade de lesões oculares em trabalhadores da pesca,

provindas da exposição aos diversos tipos de riscos ocupacionais, desde riscos físicos,

químicos, biológicos até os de acidentes. Destacaram-se, quantitativamente, os estudos que

abordavam as lesões em razão da exposição aos raios UVB e dos acidentes. No entanto, foram

obtidos poucos trabalhos que avaliassem de modo abrangente a saúde do pescador, incluindo

a saúde oftalmológica.

Entre as lesões provocadas pela exposição excessiva aos raios ultravioleta no trabalho

da pesca, destacou-se a catarata/opacificação do cristalino. Realizados essencialmente na

primeira metade da década de 90, os estudos sobre essas injúrias visavam principalmente

caracterizar o nexo causal entre exposição solar e catarata a partir dos comportamentos

individuais e das histórias ocupacionais dos pescadores. Inicialmente, tais estudos

encontraram dificuldades, como o viés de memória, para realização da aferição da exposição

solar ao longo da vida e para estabelecimento de uma escala de severidade para a catarata.

Isso se refletiu nos primeiros resultados que, apesar de terem sido quantitativamente

indicativos, não apresentaram significância estatística para a relação entre a maior exposição

solar e os níveis mais severos de catarata (18). Conhecendo os vieses supracitados, os

trabalhos subsequentes demonstraram que uma maior exposição ocupacional estava

relacionada com uma maior incidência de opacificação cortical (24) e que, anatomicamente,

os quadrantes oculares mais acometidos eram os inferiores (menos protegidos pelas barreiras

oculares), reforçando o papel da exposição direta à radiação solar como importante fator de

risco para lesões desse tipo (23). Além disso, esses estudos tiveram um papel determinante

para o desenvolvimento dos pesquisas posteriores, pois estabeleceram: a não existência de

associação entre a exposição aos raios UVB e a catarata nuclear, bem como entre a exposição

aos raios ultravioletas do tipo A (UVA) e a catarata em geral (15); a importância da inclusão

da aferição da exposição individual à radiação solar, extrapolando a análise para além dos

estudos ecológicos; e a necessidade do desenvolvimento subsequente de estudos que

pudessem avaliar a relação entre a radiação ultravioleta e os danos oculares, especialmente a

catarata e a degeneração macular senis.

Estudos realizados em 2007 com pescadores e agricultores da Ilha de Rab (Croácia),

demonstraram que a ocorrência de degeneração macular senil, atualmente chamada de

22

degeneração macular relacionada à idade (DMRI), estava significativamente correlacionada

com a exposição crônica à luz solar e também com a síndrome de esfoliação (28). Ainda,

demonstrou-se que, em uma significativa porcentagem da amostra de pescadores e

agricultores, na presença de DMRI, não apenas a mácula se encontrava lesada como também

a periferia da retina, sugerindo assim que a melhor nomenclatura para tal doença seria a de

retinopatia relacionada à idade (27).

Outros trabalhos evidenciaram a relação de outras patologias oculares com a

exposição solar. O pterígio e a síndrome de esfoliação foram relacionados com a exposição

solar crônica num estudo realizado comparando um grupo de pescadores e agricultores com

um grupo de moradores de área urbana, ambos da Ilha de Rab (Croácia), no entanto os grupos

eram quantitativamente destoantes e não foram realizados testes de significância estatística,

pondo em questão a confiabilidade de tais resultados (29). A neoplasia intra-epitelial córneo-

conjuntival foi relacionada com a exposição prolongada à radiação UV em um relato de caso

de um pescador artesanal (36). Num estudo realizado na Grécia, Feretis (26) relatou as

seguintes frequências relativas de lesões oculares nos pescadores estudados: 60% possuíam

lesões da conjuntiva; 50% com lesões da córnea; 10% tinham lesões do cristalino; e, menos

de 5% tinham lesões na pálpebra. Entretanto, as lesões não foram descritas, a correlação com

exposição solar não foi conclusiva e o número absoluto de pescadores que compuseram a

amostra não foi citado.

Aquém da exposição solar, o trauma ocular advindo dos acidentes foi a segunda

injúria ocular mais relatada, tendo sido abordada em seis artigos (33%) encontrados nessa

revisão. No entanto, esses trabalhos se tratavam essencialmente de relatos de casos. Os

traumas oculares mais relatados foram as lacerações da pálpebra superior por perfuração pelo

gancho de pesca (28,32), sendo que, em um dos casos, a córnea também foi lacerada. O

contato dos olhos com fragmentos ou secreções de animais marinhos (peixes, ostras e

lagostas) também foi descrito como uma importante causa de traumatismo ocular, levando

desde o blefaroespasmo até ao abscesso conjuntival ou à úlcera corneana com evolução para

opacidade corneana e limitação da visão (21,25,34).

Essa importante representatividade dos acidentes dentre as causas de morbidades

oftalmológicas consubstancia os achados de Grainger (1993) que afirmou que os pescadores

trabalham em ambientes hostis e instáveis, se encontrando expostos a fatores de riscos, como

o manuseio de peixes e frutos do mar e o consumo exacerbado de álcool, que os tornam mais

23

vulneráveis à ocorrência de acidentes (12). De modo complementar, Bull (2001) afirmou que

os pescadores trabalham em período integral, incluindo fins de semana e turnos noturnos,

assim, incrementam o tempo de exposição aos acidentes (13). Essa realidade foi

numericamente demonstrada por Matheson (2001) que encontrou uma taxa de 35% de

acidentes dentre os motivos de busca por atendimento médico para pescadores (11).

Ainda no grupo dos acidentes, uma revisão de literatura realizada por Levy (32)

elencou as manifestações clínicas em pessoas expostas a vazamentos de óleo no mar,

incluindo pescadores comerciais e não comerciais. O espectro de manifestações oculares foi

variado, constando de sinais e sintomas inespecíficos como prurido, hiperemia e irritação, e a

conjuntivite. Os agentes causadores dessas manifestações fazem parte de uma mistura

química composta por benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos dos hidrocarbonos policíclicos

aromáticos (PAHs), e também mercúrio e vanádio, em alguns casos.

Nos últimos cinco anos, alguns estudos que avaliavam de modo holístico a saúde do

pescador foram realizados. Em 2008, Novalbos et al. (30) relataram que os “problemas

oculares e oftalmológicos” foram a segunda condição médica mais relatada (38%) pelos 247

pescadores no inquérito epidemiológico realizado, atrás apenas dos “problemas de pele” com

54%. No entanto, em ambos os casos, não foram especificados os “problemas” referidos pelos

entrevistados. De modo similar, a revisão de literatura efetuada por Rios et al. (33) relata

outros estudos que encontraram “queixas oculares” e até mesmo quantificam essas queixas,

referindo que 41,8% dos pescadores possuíam problemas oftalmológicos, porém as queixas e

problemas não são especificados.

Em 2012, Percin (7) realizou um estudo no qual aplicou randomicamente um

questionário que avaliava o estado de saúde (no último ano) dos 1166 pescadores da amostra.

Todas as queixas e doenças reportadas pelos pescadores eram confirmadas e classificadas

através do CID por dois médicos. Dessa forma, obteve-se a ocorrência de patologias oculares

em 41% dos entrevistados. Em termos absolutos, foram 471 casos confirmados, sendo 385 de

transtornos de refração e acomodação (CID H52), 55 casos de conjuntivite (CID H10.1) e 31

casos de inflamações da pálpebra (CID H01). Os dados estatísticos produzidos por essas

pesquisas evidenciam quais as queixas e morbidades afligem aos trabalhadores da pesca de

acordo, basicamente, com a localização anatômica e, com isso, permitem a visualização de

quais grupos de patologias devem ser priorizados nos estudos voltados para essas populações.

Nesse sentido, os achados supracitados clarificam a relevância das doenças oftalmológicas

24

enquanto causa de morbidade nos trabalhadores da pesca, justificando a realização de estudos

mais apurados e específicos para tais acometimentos nessa população.

Quanto aos fatores de proteção para as injúrias oculares, seis artigos não citaram

qualquer informação (23,25–28,36). No que concerne à prevenção primária, a maioria dos

estudos indicou o uso de chapéus com aba, óculos, óculos escuros, bem como a redução da

exposição solar, se possível, como medidas preventivas eficazes (15,24,29,31–35); por outro

lado, não houve redução do risco de catarata nos indivíduos com índices séricos mais altos de

antioxidantes, ou seja, em uso de vitaminas e afins (22). Entretanto, Percin (2011) encontrou

que de 1166 pescadores entrevistados, 85% relataram incômodo ocular em razão do reflexo

da luz solar na água do mar. Não obstante, apenas 34% desses utilizavam óculos escuros

como proteção. Em termos de prevenção secundária, a lavagem imediata dos olhos (21), a não

mobilização do agente perfurante e o encaminhamento imediato para um atendimento

emergencial em ambiente hospitalar foram indicados como importantes variáveis para um

desfecho mais favorável (35). Nos níveis da promoção e da gestão em saúde, as medidas

educativas sobre modos de vida saudáveis e prevenção de acidentes também foram

memoradas, bem como o imperativo para a implementação de políticas de saúde específicas e

assistência especializada para os trabalhadores da pesca (7,30,32,34).

A existência e eficácia dos mecanismos de proteção para os fatores de riscos mais

comumente relacionados às injúrias oftalmológicas associadas à profissão da pesca, como a

exposição aos raios UVB, os acidentes e o contato com animais marinhos, demonstra que a

ocorrência dessas lesões continua a ser quantitativamente relevante pois as medidas cabíveis

para a reversão desse quadro não estão sendo tomadas em diferentes níveis – desde o

individual, através do não uso dos equipamento de proteção individual (EPI), até o nível

coletivo, exemplificado pela inexistência/escassez de programas de educação em saúde e

políticas públicas direcionados para esse público. Essa carência de medidas sanitaristas já

havia sido identificada por Grainger desde 1993, quando o mesmo afirmou que eram

necessários programas de treinamento para os pescadores que pudessem reduzir as exposições

aos riscos preveníveis da profissão e ainda ressaltou que muitas comunidades pesqueiras

pertencem às minorias étnicas e são economicamente desfavorecidas, consequentemente

necessitam de maior suporte por parte dos órgãos públicos (12); similarmente, Bull (2001)

enfatizou em seu trabalho a importância da realização de prevenção de quedas e acidentes

relacionados com máquinas através da instalação de pisos antiderrapantes, fixação das

escadas e encapamento das máquinas (13). Para além das morbidades, o não uso de EPIs pode

25

impactar de modo importante na mortalidade dos pescadores, como demonstrado num estudo

estadunidense (37).

Devido à escassez de estudos sobre o tema, foram incluídos nesta revisão artigos com

variados desenhos de estudo, o que limitou a análise comparativa dos trabalhos encontrados.

Ademais, a maioria dos artigos obtidos foi do tipo corte transversal ou relato de caso (67%),

desenhos de estudo que não são os mais indicados para a necessária análise temporal no

pretendido estabelecimento de um nexo causal entre a pesca comercial e as lesões oculares.

Esta revisão sistemática evidenciou que há uma significativa incidência e variedade de

lesões oculares relacionadas ao exercício da pesca comercial, compreendida em sua ampla

diversidade. Paradoxalmente, há pouco reconhecimento desse fato por parte dos órgãos

públicos na maioria dos países. Dessa maneira, essas patologias continuam a ter um

importante impacto sobre a morbidade dessas populações. Por conseguinte, essa morbidade se

reflete em dias de trabalhos perdidos ou até mesmo incapacidade permanente para o exercício

profissional da pesca. Esse fato tem importantes implicações sociais, uma vez que o perfil

socioeconômico dessas populações é reconhecidamente de extrema fragilidade. Por essa

razão, estudos epidemiológicos bem conduzidos que possam caracterizar holisticamente o

estado de saúde dos pescadores – obviamente, incluindo a saúde ocular -, a exemplo do

realizado por Percin et al. (7) na Turquia, devem ser incentivados nos demais países. Além

disso, faz-se necessária a investigação dos motivos de não adesão desses profissionais ao uso

dos equipamentos de proteção individual. Uma vez que tais estudos produzam resultados, tais

informações devem servir como a base epidemiológica para a elaboração de políticas de saúde

que reconheçam as especificidades do trabalhador da pesca. Este trabalho consistiu no

estudo descritivo de uma amostra populacional com RMI

26

VII. CONCLUSÕES

1. Há uma significativa ocorrência e variedade de lesões oculares relacionadas ao

exercício da pesca comercial;

2. As lesões oculares relacionadas à exposição aos raios ultravioletas foram as mais

relacionadas ao exercício profissional da pesca. Dentre elas, destacaram-se a

catarata/opacidade nuclear e a degeneração macular relacionada à idade;

3. Os traumas oculares por acidentes de mecanismos variados (penetrante, químico

etc.) representaram a segunda categoria mais frequente. Esses acidentes foram

relacionados com fatores de risco, como o manuseio de peixes e frutos do mar, o

etilismo e as jornadas prolongadas de trabalho;

4. Notabilizou-se uma escassez de estudos que avaliassem holisticamente a saúde

oftalmológica dos pescadores;

5. Os fatores de proteção mais recomendados como prevenção primária foram o uso

de óculos (escuros ou “de proteção”), chapéus com abas e a redução do tempo de

exposição à luz solar;

6. É necessária a investigação dos motivos de não adesão dos pescadores

profissionais ao uso dos equipamentos de proteção individual;

7. A maioria das doenças oftalmológicas relacionadas ao trabalho da pesca são

preveníveis e a continuidade das suas altas incidências indica a necessidade de

implementação de programas de educação e políticas de saúde, ambos

especificamente direcionados para a população pesqueira.

27

VIII. SUMMARY

OCULAR INJURIES IN FISHERIES WORKERS: IS IT MORE A FISHERMAN’S

STORY? Introduction: Professional fishery is well known as a dangerous activity with high

mortality and morbidity rates associated. Previous studies showed significant occurrence of

some pathologies in fisheries workers, such as traumas and digestive, dermatological and

ophthalmological diseases. However, there is a lack of papers describing specifically each one

of these morbidities in this population. Objective: Accomplish a systematic review of

literature about the ocular injuries related to occupational exposition of fisherman in the

commercial fishery activity. Methodology: Systematic review of literature trough

combination of search terms like “fisheries” and “ocular injury” at the following databases:

MEDLINE, LILACS-BIREME, SCOPUS, Web of Science and Cochrane. The limits were:

English, Portuguese or Spanish as language; published from March/1993 until March/2013;

only research in human; abstracts available. Results: After all the eligibility steps, eighteen

articles were found at this systematic review. The most frequent study design found was the

cross sectional. Discussion: The most frequently injuries found had been related to an

excessive solar exposure, as cataract and senile macular degeneration. In second place, ocular

trauma appeared to be associated to that occupation too, mainly the piercing lesions by

fishhook or due to fragments of marine animals. Conclusions: The work as a commercial

fisherman has shown to be significantly related to the occurrence of ocular lesions, mainly

due to accidents or UV exposure (sunlight). Since there is a lack of studies in this field,

surveys that could evaluate integrally the ocular health of commercial fisherman are needed.

Therefore, they will be helpful on the conquering of health politics and educational programs

specifically made to that population of workers.

1. Workers’ Health; 2. Fishery; 3. Ophthalmopathy

28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Unidas O das N. Glossario da “Food and Agriculture Organization of the United

Nations” [Internet]. Disponível em: http://www.fao.org/fi/glossary/

2. Brasil. Presidência da República, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei no 9605 de 12

de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de

condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências [Internet].

Brasilia/DF; 1998. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9605.htm

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Algarve. 2007;1–4.

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29 de junho de 2009. Dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento

Sustentável da Aquicultura e da Pesca, regula as atividades pesqueiras, revoga a Lei nº

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/Lei/L11959.htm

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33

ANEXOS

Quadro dos artigos não disponíveis para download:

Autor(es) Nome do estudo Referência

Casson, FF; Zucchero,

A; Boscolo Bariga,

A; Malusa, E; Veronese,

C; Boscolo Rizzo,

P; Chiereghin,

F; Boscolo Panzin,

C; Mancarella,

P; Mastrangelo, G

Work and chronic health effects among

fishermen in Chioggia, Italy

G Ital Med Lav Ergon.

1998 Apr-Jun;20(2):68-

74.

Bressler, NM; Munoz,

B;

Maguire, MG; Vitale,

SE;

Schein, OD; Taylor, HR;

West, SK

Five-year incidence and disappearance of

drusen and retinal pigment epithelial

abnormalities. Waterman study

Arch Ophthalmol. 1995

Mar;113(3):301-8

Ciulla, TA; Mukai, S;

Miller, JW

Severe penetrating eye trauma caused by

fish pick accidents

Retina. 1996;16(3):219-

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Cannon TC; Hughes

BM; Flynn SB; Feiz V;

Westfall, CT

Fishhook injuries of the eye: report of a case

and review of management

J Okla State Med Assoc.

2004 May;97(5):188-9

Anosike, JC &

Onwuliri, CO

Studies on filariasis in Bauchi State,

Nigeria. 1. Endemicity of human

onchocerciasis in Ningi Local Government

Area

Ann Trop Med Parasitol

1995 Feb; 89(1) :31-8

ANEXO 1