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17 revista Liberdades. | Publicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais | nº 17 – setembro/dezembro de 2014 | ISSN 2175-5280 | Expediente | Apresentação | Entrevista | Spencer Toth Sydow entrevista Ramon Ragués | Artigos | Audiência de custódia e a imediata apresentação do preso ao juiz: rumo à evolução civilizatória do processo penal | Aury Lopes Jr. | Caio Paiva | Reflexões acerca do Direito de Execução Penal | Felipe Lima de Almeida | Existe outro caminho? Uma leitura sobre discurso, feminismo e punição da Lei 11.340/2006 | Mayara de Souza Gomes | A ampliação do conceito de autoria por meio da teoria do domínio por organização | Joyce Keli do Nascimento Silva | Quis, ubii, quibus auxiliis, cur, quomodo, quando? | Tânia Konvalina-Simas | Os problemas do Direito Penal simbólico em face dos princípios da intervenção mínima e da lesividade | André Lozano Andrade | História | Ressonâncias do Discurso de Dorado Montero no Direito Penal Brasileiro | Renato Watanabe de Morais | Resenha de Livro | Jó, vítima de seu povo: o mecanismo vitimário em “A rota antiga dos homens perversos”, de René Girard | Wilson Franck Junior | Milton Gustavo Vasconcelos Barbosa | Resenhas de Filmes | A vida é notícia de jornal. Análises do contemporâneo a partir do filme “O outro lado da rua” | Laila Maria Domith Vicente | Match Point: sorte na vida ou vencer a qualquer preço? | Yuri Felix | David Leal da Silva

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17revista Liberdades.

| Publicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais | nº 17 – se tembro/dezembro de 2014 | ISSN 2175-5280 |

Expediente | Apresentação | Entrevista | Spencer Toth Sydow entrevista Ramon Ragués | Artigos | Audiência de custódia e a imediata apresentação do preso ao juiz: rumo à evolução civilizatória do processo penal | Aury Lopes Jr. | Caio Paiva | Reflexões acerca do Direito de Execução Penal | Felipe Lima de Almeida | Existe outro caminho? Uma leitura sobre discurso, feminismo e punição da Lei 11.340/2006 | Mayara de Souza Gomes | A ampliação do conceito de autoria por meio da teoria do domínio por organização | Joyce Keli do Nascimento Silva | Quis, ubii, quibus auxiliis, cur, quomodo, quando? | Tânia Konvalina-Simas | Os problemas do Direito Penal simbólico em face dos princípios da intervenção mínima e da lesividade | André Lozano Andrade | História | Ressonâncias do Discurso de Dorado Montero no Direito Penal Brasileiro | Renato Watanabe de Morais | Resenha de Livro | Jó, vítima de seu povo: o mecanismo vitimário em “A rota antiga dos homens perversos”, de René Girard | Wilson Franck Junior | Milton Gustavo Vasconcelos Barbosa | Resenhas de Filmes | A vida é notícia de jornal. Análises do contemporâneo a partir do filme “O outro lado da rua” | Laila Maria Domith Vicente | Match Point: sorte na vida ou vencer a qualquer preço? | Yuri Felix | David Leal da Silva

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EexpedienteDiretoria da Gestão 2013/2014

Publicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

Diretoria Executiva

Presidente:Mariângela Gama de Magalhães Gomes

1ª Vice-Presidente:Helena Lobo da Costa

2º Vice-Presidente:Cristiano Avila Maronna

1ª Secretária:Heloisa Estellita

2º Secretário:Pedro Luiz Bueno de Andrade

Suplente:Fernando da Nobrega Cunha

1º Tesoureiro:Fábio Tofic Simantob

2º Tesoureiro:Andre Pires de Andrade Kehdi

Diretora Nacional das Coordenadorias Regionais e Estaduais:Eleonora Rangel Nacif

Conselho Consultivo

Ana Lúcia Menezes Vieira Ana Sofia Schmidt de Oliveira Diogo MalanGustavo Henrique Righi Ivahy Badaró Marta Saad

Ouvidor

Paulo Sérgio de Oliveira

Suplentes da Diretoria Executiva

Átila Pimenta Coelho Machado Cecília de Souza Santos Danyelle da Silva Galvão Fernando da Nobrega CunhaLeopoldo Stefanno G. L. Louveira Matheus Silveira PupoRenato Stanziola Vieira

Assessor da Presidência

Rafael Lira

Colégio de Antigos Presidentes e Diretores

Presidente: Marta Saad

Membros: Alberto Silva Franco Alberto Zacharias Toron Carlos Vico MañasLuiz Flávio GomesMarco Antonio R. NahumMaurício Zanoide de Moraes Roberto PodvalSérgio Mazina Martins Sérgio Salomão Shecaira

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Coordenadores-Chefes dos Departamentos

Biblioteca: Ana Elisa Liberatore S. BecharaBoletim: Rogério FernandoTaffarelloComunicação e Marketing: Cristiano Avila MaronnaConvênios: José Carlos Abissamra FilhoCursos: Paula Lima Hyppolito OliveiraEstudos e Projetos Legislativos: Leandro SarcedoIniciação Científica: Bruno Salles Pereira RibeiroMesas de Estudos e Debates: Andrea Cristina D’AngeloMonografias: Fernanda Regina VilaresNúcleo de Pesquisas: Bruna AngottiRelações Internacionais: Marina Pinhão Coelho AraújoRevista Brasileira de Ciências Criminais: Heloisa EstellitaRevista Liberdades: Alexis Couto de Brito

Presidentes dos Grupos de Trabalho

Amicus Curiae: Thiago BottinoCódigo Penal: Renato de Mello Jorge Silveira CooperaçãoJurídica Internacional: Antenor Madruga Direito Penal Econômico: Pierpaolo Cruz BottiniEstudo sobre o Habeas Corpus: Pedro Luiz Bueno de AndradeJustiça e Segurança: Alessandra TeixeiraPolítica Nacional de Drogas: Sérgio Salomão ShecairaSistema Prisional: Fernanda Emy Matsuda

Presidentes das Comissões Organizadoras

18º Concurso de Monografias de Ciências Criminais: Fernanda Regina Vilares20º Seminário Internacional: Sérgio Salomão Shecaira

Comissão Especial IBCCRIM – Coimbra

Presidente:Ana Lúcia Menezes VieiraSecretário-geral:Rafael Lira

Coordenador-chefe da Revista Liberdades

Alexis Couto de Brito

Coordenadores-adjuntos:Bruno Salles Pereira RibeiroFábio LoboscoHumberto Barrionuevo Fabretti João Paulo Orsini Martinelli

Roberto Luiz Corcioli Filho

Conselho Editorial: Alexis Couto de BritoCleunice Valentim Bastos Pitombo Daniel Pacheco Pontes

revista Liberdades.Fábio LoboscoGiovani Agostini SaavedraHumberto Barrionuevo FabrettiJosé Danilo Tavares LobatoJoão Paulo Orsini Martinelli João Paulo SangionLuciano Anderson de Souza Paulo César Busato

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Eexpediente ........................................................................................................................2

Apresentação ...................................................................................................................6

Entrevista

Spencer Toth Sydow entrevista Ramon Ragués ....................................................................................8

Artigos

Audiência de custódia e a imediata apresentação do preso ao juiz: rumo à evolução civilizatória do processo penal ................................................................................11

Aury Lopes Jr. e Caio Paiva

Reflexões acerca do Direito de Execução Penal .................................................................................24

Felipe Lima de Almeida

Existe outro caminho? Uma leitura sobre discurso, feminismo e punição da Lei 11.340/2006 .........50

Mayara de Souza Gomes

A ampliação do conceito de autoria por meio da teoria do domínio por organização .................69

Joyce Keli do Nascimento Silva

Quis, ubii, quibus auxiliis, cur, quomodo, quando? ..............................................................................85

Tânia Konvalina-Simas

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Os problemas do Direito Penal simbólico em face dos princípios da intervenção mínima e da lesividade ....................................................................................................99

André Lozano Andrade

História

Ressonâncias do discurso de Dorado Montero no direito penal brasileiro ........................................118

Renato Watanabe de Morais

Resenha de Livro

Jó, vítima de seu povo: o mecanismo vitimário em “A rota antiga dos homens perversos”, de René Girard .....................................................................................................141

Wilson Franck Junior e Milton Gustavo Vasconcelos Barbosa

Resenhas de Filmes

A vida é notícia de jornal. Análises do contemporâneo a partir do filme “O outro lado da rua” .....149

Laila Maria Domith Vicente

Match Point: sorte na vida ou vencer a qualquer preço? ...................................................................158

Yuri Felix e David Leal da Silva

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ApresentaçãoMais uma edição da Liberdades, e mais uma vez, trabalhos notáveis.

Iniciamos com a entrevista do professor Ramón Ragués realizada pelo professor Spencer Toth Sydow, e faz considerações sobre a teoria da cegueira deliberada.

Nos artigos científicos, variadas reflexões.

No campo processual, Aury Lopes Jr. e Caio Paiva abordam o projeto de lei 554/11 e as vantagens da implementação, no Brasil, da audiência de custódia e imediata apresentação do preso ao juiz.

Em uma abordagem histórica da execução penal na legislação brasileira, Felipe Lima de Almeida disserta sobre a natureza jurídica da execução penal e as finalidades que pretende alcançar.

Passando ao direito material, sobre a tensão que existe entre a violência domestica contra a mulher e a política criminal de ultima ratio, Mayara de Souza Gomes analisa a dicotomia sugerindo uma solução que possa atender aos anseios sociais e sistêmico-penais.

Joyce Keli do Nascimento Silva parte da ação comunicativa de Habermas para analisar autoria mediata e o domínio do fato em aparatos organizados de poder.

Mudando da dogmática para a criminologia, a abordagem de Tânia Konvalina-Simas sobre a importância da profissão de criminologista no cenário jurídico-penal português oferece um entendimento acerca de uma melhor operacionalização da criminologia e sua capacidade de rendimento para os procedimentos penais

André Lozano Andrade também navega pela criminologia e pela política criminal ao discorrer sobre o direito penal simbólico e a intervenção mínima e como tais conceitos podem ser sentidos e absorvidos pelo contexto social.

A abordagem histórica nos é trazida por Renato Watanabe de Morais. O sempre atual e discutido Dorado Montero e seu correcionalismo são revisitados em busca de uma aplicação prática no campo da política de drogas.

Wilson Franck Junior e Milton Gustavo Vasconcelos Barbosa nos trazem a resenha do livro “A rota antiga dos homens perversos”, do sempre crítico René Girard, que apesar de sua formação essencialmente religiosa nos traz observações muito interessantes sobre o ser humano e seus desejo de vingança.

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Por fim, Laila Maria Domith Vicente, Yuri Felix e David Leal da Silva nos trazem duas resenhas de filmes absolutamente recomendáveis. “O outro lado da Rua” interpreta a forma de ser e estar no mundo, e “Match Point” tem como tema de reflexão a competitividade, aceleração e a busca do sucesso no mundo moderno.

Como se vê, mais uma interessante edição, elaborada com a ajuda dos colaboradores, que continuam apostando e prestigiando a nossa publicação.

A todos, uma boa leitura.

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Existe outro caminho? Uma leitura sobre discurso, feminismo e punição da Lei 11.340/2006

Mayara de Souza GomesBacharela pela faculdade de Direito de São Bernardo do Campo.

Sumário: 1. Algumas considerações sobre o feminismo: 1.2 O movimento feminista brasileiro; 1.3 Situando o lugar da violência; 2. Algumas conquistas reais; 3. Novos paradigmas penais: 3.1 Sendas punitivas; 3.2 A política criminal e seu papel; Referências bibliográficas.

Resumo: O Estado brasileiro acompanhando a tendência mundial tem optado por políticas criminais cada vez mais repressoras. Neste contexto, o projeto ressocializador tem sido substituído por outro, que se limita apenas à incapacitação dos apenados. Além disso, observamos que este tipo de política mais repressora tem contado com o apoio da sociedade. Pretendemos neste artigo analisar a interação entre um desses discursos punitivos, assumido por parte do movimento feminista, como forma de enfrentamento à violência contra a mulher, assim como o papel da Lei 11.340/2006 nesse cenário político criminal.

Palavras-chave: Movimento feminista. Violência doméstica. Punição. Política criminal. Lei 11.340/2006.

1. Algumas considerações sobre o feminismo

Encontramo-nos ainda no início de um novo século que tem, inclusive, tentado absorver e compreender as transformações oriundas do século precedente. Sem dúvida, o século XX representou um momento histórico-social fecundo e de profundas transformações nos mais diversos campos do conhecimento, que implicaram paradoxalmente em avanços e retrocessos.

Um dos movimentos mais expressivos do século anterior corresponde ao movimento feminista que, embora tenha germinado no século XIX, tem no século XX a sua efetiva formação e afirmação enquanto movimento político e social. O fato de o movimento ter se tornado autônomo em relação a outros movimentos políticos possibilitou a criação e a elaboração de articulações próprias. Os movimentos feministas dos Estados Unidos e da Europa, com prevalência do francês, tiveram maior repercussão a partir de 1960, influenciando nas décadas seguintes movimentos feministas de outros países ao redor do globo.

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Falar sobre o movimento feminista requer, primeiramente, que façamos uma leitura de sua inscrição na história como um movimento plural, multifacetado, dinâmico é, por isso, que não pode ser compreendido apenas por meio de um único discurso, haja vista, por exemplo, a existência de correntes de pensamento feminista tão diversificada como o feminismo socialista, radical e o liberal.1

Para este trabalho, retomamos brevemente as linhas teóricas centrais do(s) movimento(s) feministas(s). Podemos afirmar que uma das primeiras linhas teóricas desse(s) movimento(s) se desenvolveu buscando compreender a condição da mulher na história. Reconheceu que as mulheres vivenciavam e, porque não, ainda vivenciam uma condição da opressão, que tem ao longo dos séculos sido reproduzida de forma sistemática, na qual tal opressão não advém de alguma inscrição na natureza, mas somente de construções sociais que as tem diferenciado ao longo do tempo.2

Alguns estudos no campo das ciências humanas começaram a despontar na linha teórica feminista. Há aqueles que se orientam na linha marxista outros designam que o machismo, o patriarcado e as relações de poder hierarquizante são sinais distintivos na condição da mulher e finalmente, a história começa a ser compreendida por um novo enfoque: o das mulheres.

Durante a produção desse novo saber, surge uma categoria que renova as ciências humanas dado o seu potencial de inovação e abordagem: nos referimos ao gênero, que, de forma geral, se refere à construção social do sexo.3 O binômio feminino – masculino trata-se de uma construção social, assim, os papéis designados para homens e mulheres são significados e simbolizados pela cultura, nas quais os indivíduos estão inseridos.

Da mesma forma que os estudos feministas, os estudos de gênero orientaram-se em diversas linhas de pensamento, criando variadas alternativas à interpretação do gênero.4 Ambos os estudos viabilizaram a inclusão de outras correntes teóricas e políticas, como o movimento negro, dos trabalhadores e LGBT.

O movimento feminista, com a produção de um novo saber teórico, prático e político, viabilizou a (re)criação da história social das mulheres. Rompendo com a afonia e invisibilidade históricas, as mulheres passaram a ser inseridas

1 PISCITELLI, Adriana. Recriando a (categoria) mulher? Campinas, 2001, p. 3.2 FOUGERYROLLAS; SCHEWEBEL, Dominique. Movimentos feministas. In: HIRATA, Helena et al . (orgs.). Dicionário crítico do feminismo. São Paulo:

Unesp, 2009. p. 145.3 HEILBORN, Maria Luísa. De que gênero estamos falando? CEPESC/IMS/UERJ. Sexualidade, Gênero e Sociedade, ano 1, n. 2, CEPESC/IMS/UERJ,

1994, p. 1.4 É impossível abarcar em uma única discussão todos os pensamentos, que criaram e recriaram a categoria gênero, mas o texto Recriando a (categoria)

mulher? de Adriana Piscitelli, ilustra de forma didática e com um interessante levantamento bibliográfico as questões centrais do pensamento teórico sobre a construção do gênero.

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na esfera política e pública, como sujeitos capazes de repensar o status quo, podendo ressignificar quais papeis lhe são cabíveis.

Um dos assuntos que adquire visibilidade com o movimento feminista, acadêmico e político é a violência contra a mulher.5 Esse assunto será aprofundado mais à frente, mas gostaríamos de chamar a atenção para essa pauta, pois compreendemos que as severas críticas às legislações e práticas judiciais fomentaram debates e transformações no campo jurídico.6

1.2 O movimento feminista brasileiro

O Brasil experimentou algumas iniciativas de movimentos de liberação de mulheres, ainda durante o Império, tendo Nísia Fernandes como sua maior expoente. No entanto, apenas na década de 1920 temos a formação das primeiras organizações e associações de mulheres de cunho feminista, entre elas a Federação Brasileira para o Progresso Feminino – FBPF, em 1922, tendo Bertha Lutz como a principal voz da organização. Ela foi uma das principais sufragistas brasileiras, inclusive participando da elaboração do anteprojeto à constituinte de 1934.

A despeito das diversas pautas que eram objeto de insatisfação e desejo das feministas, uma questão tornou-se preponderante e foi eleita como luta principal do movimento, o sufrágio – pois compreendiam que somente mediante o acesso aos direitos políticos é que outras garantias poderiam ser obtidas por meio da lei. Apesar dos percalços e dificuldades, as feministas viram seu desejo concretizado em 1933, e, posteriormente, reconhecido na Constituinte de 1934.7

Após a conquista do sufrágio, nas décadas seguintes o movimento feminista passou por uma fase de menor expressividade, incapaz de elaborar grandes reformas/alterações no âmbito social. No entanto, a década de 1970 representou a retomada ou início de novo(s) movimento(s) feminista.

Durante este período, fruto da influência do movimento feminista americano e europeu, além das alterações sociais estabelecidas no Brasil na década anterior,8 o movimento feminista (re)surge. Nessa década, a luta armada já havia

5 Aqui, violência contra a mulher adquire um espectro amplo, pois além da violência doméstica, incluem-se outras formas de violência como sexual, de gênero e intrafamiliar.

6 ALEMANY, Carme. Violências. In HIRATA, Helena et al ( orgs ). Dicionário Crítico do Feminismo, São Paulo: Ed. UNESP, 2009. p.272.7 SOIHET, Rachel. Formas de Violência, Relações de Gênero e Feminismo. In: PISCITELLI, Adriana et al (orgs). – Olhares Feministas, Educação Para

Todos. Brasilia: Ministério da Educação. Unesco, 2009. p. 368-393.8 SARTI Cyntia Andersen. Contexto e feminismo: lições do caso brasileiro. Cadernos PAGU (16). Campinas, 2001, p. 31-48.

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experimentado amargas derrotas, com baixas e mortes. Nesse contexto, a mobilização feminista atrelou-se aos movimentos de resistência à ditadura, mas o ano de 1975, com a Declaração da ONU como o Ano Internacional da Mulher, marcou definitivamente a trajetória da luta feminista brasileira. Foi o ano que viabilizou a organização das mulheres de maneira pública.9

Novos grupos e reflexões se seguiram e, na década de 1980, o movimento feminista se tornou autônomo de forma organizativa e ideológica. O movimento se proliferou, se associou aos movimentos populares, novas bandeiras apareceram, questões de gênero, trabalho, sexualidade e a violência contra a mulher se inseriram na pauta a ser discutida no espaço público.10

O lema “o pessoal é político” impulsionou aquilo que as feministas queriam ver reconhecido: que o privado fosse público, que a sociedade desse espaço aos problemas enfrentados diariamente pelas mulheres, politizando-os. Uma das questões que se torna prevalente nesse momento diz respeito à erradicação da violência contra a mulher, que foi e ainda é a realidade de muitas mulheres.

1.3 Situando o lugar da violência

O esforço em romper com a tradição da violência contra as mulheres pode ser observado desde as primeiras ações do movimento feminista. Alguns dos grupos contavam com ex-militantes dos movimentos de resistência à ditadura, que haviam sido vítimas de uma forma específica de violência de Estado,11 mas que também sabiam da existência de uma violência oculta, aquela praticada nos lares.

Compreendemos que a violência é um elemento constitutivo da sociedade brasileira, vivemos mais pela negação do que pela afirmação de direitos.12 Muitos significados podem ser elaborados para compreender o porquê da existência

9 COSTA, Ana Alice Alcântara. O movimento feminista no Brasil: dinâmica de uma intervenção política In: PISCITELLI, Adriana et al (orgs.). – Olhares feministas, educação para todos. Brasília: Ministério da Educação: Unesco, 2009. p. 59.

10 Idem, 2009, p. 60.11 Algumas das primeiras militantes do movimento feminista estavam ligadas aos movimentos de resistência ao regime militar, sendo que muitas haviam sido

presas políticas. As presas políticas sentiram que seus corpos foram tratados como objetos, “um corpo ferido e torturado com base naquilo que identifica o ser mulher em nossa sociedade, dada a forma específica de violência a que a repressão submeteu as mulheres militantes”. “Elas foram atingidas não apenas sexualmente, mas também por uma manipulação do vínculo entre mãe e filhos, uma vez que este vínculo torna a mulher particularmente vulnerável e suscetível à dor”. In: SARTI Cyntia A. Contexto e feminismo: lições do caso brasileiro. Campinas: Cadernos PAGU (16), 2001, p. 31-48.

12 Compreendemos, assim como Teresa Caldeira, que no Brasil o reconhecimento de direitos, principalmente os direitos civis, só foram reconhecidos (de

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e continuidade da violência dirigida às mulheres, no entanto, um elemento aparece comum na literatura sobre o tema: as relações de poder.

A produção de estudos sobre a violência no campo das ciências sociais nacional conta com uma vasta literatura, abordando de diversas maneiras essa temática.13 Os estudos de violência correlatos com questões raciais e de gênero, além da distribuição e exercício de poder nas instituições formais e informais de controle, contam com uma produção expressiva.

Heilborn e Sorj (1999) afirmam que uma das razões pelas quais isso ocorre advém do próprio feminismo nacional, que sempre teve a questão da violência doméstica e conjugal como um problema a ser resolvido pelo social, somando-se, ainda, o fato de que, ao contrário de outros países, aqui as delegacias especializadas (Delegacias de Defesa da Mulher) viabilizaram pesquisas sobre seu funcionamento.14

Na seara desse conhecimento produzido, alguns embates teóricos se estabelecem a fim de tentar compreender como e de que maneira a violência contra a mulher era percebida. Izumino e Santos (2005) agrupam esses estudos em três eixos teóricos:

“A primeira, que denominamos de dominação masculina, define violência contra as mulheres como expressão de dominação da mulher pelo homem, resultando na anulação da autonomia da mulher, concebida tanto como “vítima” quanto “cúmplice” da dominação masculina; a segunda corrente que chamamos de dominação patriarcal, é influenciada pela perspectiva feminista e marxista, compreendendo violência como expressão do patriarcado, em que a mulher é vista como sujeito social autônomo, porém historicamente vitimada pelo controle social masculino; a terceira corrente, que nomeamos de relacional, relativiza as noções de dominação masculina e vitimização feminina, concebendo violência como uma forma de comunicação e um jogo do qual a mulher não é a ‘vítima’ senão ‘cúmplice’”.15

forma material) à uma parcela da população. Assim, há certos sujeitos aos qual a violação do corpo e de seus direitos não implica em nenhuma sanção ou estranhamento, uma vez que a tradição fática nacional é pelo não reconhecimento desses sujeitos como “cidadãos” portadores de direitos. Neste rol de “não sujeitos” estão mulheres, crianças, presos, pobres, marginais. Para aprofundar a abordagem ver: CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime segregação e cidadania em São Paulo. 3 ed. São Paulo: Editora 34/Edusp, 2011.

13 SUÁREZ, Mireya; BANDEIRA, Lourdes apontam alguns autores que produziram relevantes estudos sobre a questão da violência, são eles: “Violência estatal e a administração da criminalidade por parte do Estado (Pinheiro, 1997; Brant, 1989; Zaluar, 1994; Velloso, 1994; Soares, L. E 1996; Velho, Alvito 1996). (...) Tempo Social 1997 dedicado ao tema de justiça criminal” (A politização da violência contra a mulher e o fortalecimento da cidadania. In: BRUSCHINI, Cristina; UNBEHAUM, Sandra G.(orgs). Gênero, democracia e sociedade brasileira. São Paulo: FFC; Editora 34, 2002).

14 Idem, ibidem.15 IZUMINO, Wânia Pasinato; SANTOS, Cecília MacDowell. Violência contra as mulheres e violência de gênero: notas sobre estudos feministas no Brasil.

E.I.A.L Estudios Interdisciplinares de America Latina y El Caribe, Universidade de TelAviv, 2005

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As mesmas autoras ainda elaboram um breve panorama sobre o desenvolvimento dos estudos da violência contra a mulher. Na década de 1980 os trabalhos iniciais tinham como interesse principal dar visibilidade às denúncias de violência contra a mulher, com a identificação dos perfis das vítimas e dos agressores. Na década seguinte, a categoria gênero passa a ser incluída em alguns estudos. Ademais, observa-se que a questão da vitimização passa a ser mais aprofundada, a existência das delegacias da mulher é responsável pela produção de diversos estudos que, preferencialmente, abordam temáticas como o seu funcionamento, a problemática da criminalização e da impunidade.16

Esses estudos convergiram para algumas perspectivas, e que, a partir delas, demonstraram a existência de uma modalidade específica de violência, aquela que advém e se estabelece nas relações entre homens e mulheres no âmbito doméstico e familiar.17

Outra questão que nos parece interessante situar é a variedade de definições sobre a violência. As principais definições que aparecem são: violência contra a mulher, violência doméstica, violência intrafamiliar e violência de gênero.

A existência de violências expressa de certo modo que o a violência possui manifestas formas de exercício e que deve se atribuir uma interpretação polissêmica, uma vez, que em razão dos atores sociais envolvidos e das interações a depender do contexto, pode reforçar ou afrouxar o exercício de algumas formas de violência. Além disso, compreendemos que no caso das violências ao gênero mulher, o seu exercício é múltiplo, no entanto, em comum tem-se na origem a negação de um sujeito diferente e igual, ao mesmo tempo.

Saffioti apud Izumino (2004) compreende que a violência doméstica se estabelece em um espaço físico e simbólico, em que o agressor exerce um domínio, sobre o cônjuge, familiares (consanguíneos ou de afinidade), ou empregados que também podem ser vítimas. Ademais sugere que a ruptura de ciclos dessa forma de violência, em regra, demanda uma intervenção externa. Para essa autora, a violência intrafamiliar tem um campo de análise mais restrito, ou seja, não há um espaço de exercício de poder, mas as pessoas envolvidas possuem laços de consanguinidade ou afinidade, além de algum tipo de relacionamento, podendo ou não coabitar no mesmo espaço. Ademais, as vítimas da violência, além de mulheres, podem ser crianças, adolescentes, idosos, e os agressores podem ser de ambos os sexos.18

16 Idem, 2005, p. 2.17 HEILBORN, Maria Luiza; SORJ, Bila. Estudos de Gênero no Brasil. In: MICELI, Sérgio (org). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). ANPOCS/

CAPES. São Paulo: Editora Sumaré, 1999. p. 23.18 Assim como dito sobre outras questões, há variedade na literatura sobre essa definição, mas aqui optamos por utilizar essa referência. IZUMINO, Wânia

Pasinato. Justiça para todos: os Juizados Especiais Criminais e a violência de gênero. Tese de Doutorado do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas. USP, 2004.

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O conceito de violência contra a mulher possui um campo de interpretação muito mais amplo do que aqueles designados como: violência doméstica e/ou intrafamiliar. A desigualdade e a dominação masculina são elementos essenciais no constitutivo dessa violência contra a mulher, sendo que a relação violenta começa e se mantém pelo fato de que são mulheres.19 Dessa maneira, podemos afirmar que violência contra a mulher se espraia nos delitos contra a honra, contra a liberdade sexual, contra a integridade física, dentre outros.

No que tange à definição de violência de gênero, se observa que a revisão da literatura em meados do final da década de 1980, bem como a inserção da categoria de análise gênero nos estudos das ciências sociais, permitiu a incorporação dessa definição também no discurso dos movimentos feministas.20 A Lei 11.340/2006 promove a inclusão do termo violência de gênero, introduzindo o conceito e estabelecendo um novo paradigma, pois rompe com tipos penais incriminadores tradicionais, que se atribuem apenas a homem/mulher.21

Não pretendermos esgotar todas as abordagens e definições para a violência de gênero, mas gostaríamos de chamar a atenção para uma das definições elaboradas no trabalho de Izumino, na qual,

“violência de gênero não se definirá apenas como aquela violência praticada contra a mulher. A definição aqui proposta, como se pretende demonstrar a seguir, pressupõe que as mulheres atuam como sujeitos nessas histórias de violência e como tal exercem poder”.22

Dessa forma, entende-se que as mulheres, enquanto sujeitos, podem ser vítimas, mas também podem ser protagonistas ao romper com ciclos de violência. Além disso, por melhor se adequar na literatura sobre o tema e até pela definição proveniente da Lei 11.340/2006, faremos a partir de agora o uso da expressão violência de gênero, relembrando que a opção por também utilizá-la advém da compreensão de que a definição do que é mulher, bem como do que é gênero, está em continum desenvolvimento.

19 Há uma excelente descrição e análise dos discursos sobre a formação dos conceitos de violência doméstica, conjugal, intrafamiliar, contra a mulher e de gênero no trabalho de: IZUMINO, Wânia Pasinato. Op. et loc. cits..

20 DEBERT, Guita Grin; GREGORI, Maria Filomena. Violência de gênero: novas propostas, velhos dilemas. Revista Brasileira de Ciências Sociais. vol. 23, n. 66, fev. 2008, p.66.

21 CAMPOS, Carmen Hein. Razão e sensibilidade: teoria feminista do direito e Lei Maria da Penha. Lei Maria da Penha, comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 145.

22 IZUMINO, Wânia Pasinato. Justiça para todos: os Juizados Especiais Criminais e a violência de gênero. Tese de Doutorado do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas USP, 2004. p. 76.

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2. Algumas conquistas reais

Para situar algumas conquistas concretas do movimento feminista no enfrentamento à violência será preciso retornar novamente à década de 1980. Uma das primeiras atuações foi a criação do SOS Corpo em Recife e do SOS Mulher em São Paulo, ambas as atuações da sociedade civil. A despeito desta inovação, a vida das associações foi curta, com a duração aproximada de três anos. Com o avanço na reabertura política no país, também foram criados conselhos em âmbito estadual e nacional.23

A criação das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher – DEAM corresponderam a um avanço no enfrentamento à violência. Orientada por uma perspectiva positiva, tem-se que as DEAM representaram um ganho no campo da construção e conscientização da cidadania de mulheres em suas trajetórias pessoais na busca de direitos e cidadania. Além de beneficiar as mulheres mais excluídas socialmente, pois eram destinadas, principalmente, àquelas carentes de atendimento jurídico, psicológico, médicos, que procuravam nas delegacias um meio de garantir sua integridade física e moral.24

Suárez e Bandeira (2002) ainda ressaltam que as delegacias especializadas promovem a mediação dos conflitos, tarefa que muitas vezes é interpretada como menos prestigiosa por outros agentes do Estado, como juízes e promotores, que compreendem que lhes cabe somente aplicar a lei. Destacam a mediação “porque procuram adotar soluções novas para velhos problemas, o que as torna mais eficientes e eficazes em relação aos processos de administração dos conflitos pessoais e da violência deles decorrentes”.25

Por outro lado, como as delegacias só podiam atuar, em conformidade com a estrutura da polícia judiciária existente a época, a despeito da clientela diferenciada (mulheres), a tipificação dos crimes não era específica.26 Assim, as queixas que chegavam às delegacias, dependiam muito mais da “cultura policial” que interpretava os fatos e adequava aos tipos penais existentes, ainda sem uma modalidade específica que criminalizasse a violência contra as mulheres.27

23 Ver mais em SUÁREZ, Mireya; BANDEIRA, Lourdes. – A politização da violência contra a mulher e o fortalecimento da cidadania. In BRUSCHINI, Cristina; UNBEHAUM, Sandra G.(orgs.). Gênero, democracia e sociedade brasileira. São Paulo: FFC; Editora 34, 2002.

24 Idem, p. 301.25 Idem, ibidem. 26 DEBERT, Guita Grin; GREGORI, Maria Filomena. Violência de gênero: Novas propostas, velhos dilemas, Revista Brasileira de Ciências Sociais. vl 23, n.

66. p. 168, fev. 2008.27 Existiam tipos penais específicos em que as vítimas eram mulheres, como rapto, sedução, no entanto, estes crimes eram manejados de acordo com o

reflexo da importância social atribuída aos bens jurídicos tutelados, que posteriormente foram revogados, consoante às modificações sociais.

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A despeito desses avanços, observou-se que com o passar dos anos o tratamento dado à polícia judiciária e às DEAMs permanecia pouco alterado desde a sua criação. Ou seja, criadas com um propósito de dar um tratamento diferenciado, não tinham sequer promovido a qualificação das agentes para que tivessem uma compreensão do que seria, por exemplo, relações de gênero, e aqui não está a se afirmando que as agentes do Estado sejam incompetentes ou incapazes de realizarem suas tarefas, mas que o Estado se limita a criar, mas não viabiliza a continuidade ou a melhoria de “suas” criações.28 Aliás, a precariedade das agências policiais é um fator conhecido no Brasil. A baixa solução de crimes e a ausência de condições materiais e de recursos humanos correspondem a um dos muitos problemas enfrentados no dia-a-dia pelas policias.29

Outro órgão relevante no cenário nacional criado em 2003 foi a Secretaria de Políticas para Mulheres, destinada a viabilizar políticas voltadas às mulheres de modo que a legislação transcenda a esfera do legislativo e judiciário, possibilitando uma articulação entre os três poderes para concretizar legislações como a 11.340/2006.

Certamente, a criação da Lei 11.340/2006 representa uma das maiores conquistas do movimento feminista, e foi recebida com entusiasmo. Todavia, sua aplicação tem experimentado avanços e retrocessos ao longo dos últimos anos. Como salienta Basterd (2011), o acesso à justiça, o reconhecimento da violência de gênero como uma questão de direitos humanos e a necessidade do poder judiciário romper com a tradição hierarquizada existente são apenas algumas das muitas questões que ainda precisam ser enfrentadas para a consolidação dessa legislação.30

Na mesma perspectiva, são ressaltados como avanços a inovação das medidas cautelares de proteção, a limitação da tutela penal para mulheres, a exclusão da violência doméstica do rol de crimes de menor potencial ofensivo, dentre outros.31 A aplicação da lei, inicialmente, gerou algumas divergências no campo doutrinário e jurisprudencial. Algumas das críticas orientaram-se no sentido de uma suposta inconstitucionalidade ao criar uma legislação só para mulheres, um maior rigor penal e a impossibilidade da aplicação de sursis aos acusados.

28 PASINATO, Wânia. Avanços e obstáculos na implementação da Lei 11.340/2006. In: CAMPOS, Carmen Hein (Org). Lei Maria da Penha, comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

29 Estudos como de Paixão e Beato Filho apontam para a baixa solução de crimes de homicídio no Brasil, outros estudos apontam para a mesma realidade. Para aprofundar o porquê dessa questão, ver: BEATO FILHO, Cláudio Chaves; PAIXÃO, Antônio Luiz. Crimes. vítimas e policiais. Tempo Social. – Revista de Sociologia. USP, n. 9 (1), p. 233-246, maio 1997.

30 BASTERD, Leila Linhares. Lei Maria da Penha, uma experiência bem sucedida de advocacy feminista, In: CAMPOS, Carmen Hein (Org). Lei Maria da Penha, comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p 13-37.

31 CAMPOS, Carmen Hein; CARVALHO, Salo de. Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira. In: CAMPOS, Carmen Hein (Org). Lei Maria da Penha, comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p 146-148.

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3. Novos paradigmas penais

O apelo a políticas criminais mais repressoras tem, nas últimas décadas, experimentado franca expansão nos países do Ocidente. O Brasil, seguindo esta tendência, tem atuado de maneira ativa no seu processo de criminalização e agravamento de legislações existentes,32 além disso, pode-se afirmar que temos revisitado, com alguma frequência, paradigmas criminógenos outrora superados.

Buscando delimitar a análise dessa política criminal brasileira, gostaríamos de destacar o papel do discurso enquanto prática argumentativa racional (que também pode ser apenas retórica e vazia) que constrói, estabelece e orienta um modo de pensar frequentemente difundido nas mídias existentes (jornais, internet, televisão), assim como em meios considerados, por excelência, legitimadores de um tipo de saber (poder legislativo, judiciário, ciências sociais e humanas etc.).

Para Garland (2008), esse novo paradigma de política criminal observa com a substituição de um modelo punitivo capaz de ressocializar os indivíduos (modelo correcionalista), característico de um Estado de previdência, para o atual modelo, no qual os apenados são incapacitados, característica predominante no contexto neoliberal.

Embora o autor situe sua análise sobre a Grã Bretanha e os Estados Unidos que tiveram constituições sociais e políticas bastante diferentes do Brasil, observamos que as políticas criminais de ambos os países são com alguma frequência ressaltadas como viáveis no enfrentamento à criminalidade brasileira, forjando políticas criminais que, além de inadequadas, são incompatíveis com a realidade das agências criminalizadoras nacionais.

O autor pontua o uso da politização e do novo populismo33 como condicionantes destas novas políticas criminais, que são elaboradas de acordo com os desejos da opinião pública ansiosa por maior repressão e da opção político partidária em fazer uso dessa ansiedade.

Merece destaque que a elaboração dessa nova política deve ser analisada dentro do sistema penal como algo que “não delega o poder de decisão ao público. É o sistema que decide se, quando e como o público será integrado”.34 Dessa forma, acolher o desejo da opinião pública não implica, necessariamente, na efetiva capacidade de introduzi-la no sistema formal e informal de controle.

32 Ver, CAMPOS, Marcelo da Silveira. Crime e Congresso Nacional: uma análise da política criminal de 1989 a 2006. São Paulo: IBCCRIM. Neste trabalho, o autor reconstrói a trajetória legislativa de diversas leis penais criminalizantes e constata que o Brasil produziu ao longo dos últimos anos mais legislações repressivas do que descriminalizadoras.

33 GARLAND, David. A cultura do controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Revan; Instituto Carioca de Criminologia, 2008. , p. 57.

34 PIRES, Álvaro. A racionalidade penal moderna, o público e os direitos humanos. Novos Estudos. Cebrap, n. 68. p. 39-60, mar. 2004.

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Outro elemento reside na reinserção das vítimas enquanto sujeitos ativos dentro do processo penal, participação que havia sido inexpressiva nos últimos séculos, mas que é retomada quase que concomitantemente com a substituição do sistema penal providência. Porém, esse novo protagonismo se trata apenas de uma “imagem projetada, politizada da ‘vítima’, e não dos interesses e opiniões das próprias vítimas”.35

Ainda se observa que essa nova política criminal procura dar ênfase às “consequências do crime”, ou seja, aos danos suportados pela vítima, os custos, o medo e a ansiedade da opinião pública. Por sua vez, essa nova estratégia se afasta cada vez mais das “causas” (agente da agressão) confluindo para um modelo de maior expressão segregadora, punitiva e estigmatizante; apenados já não são passíveis de ressocialização, mas somente de incapacitação. Nesta esteira, esses sujeitos assumem uma nova imagem:

“Acompaña con un discurso que enfatiza la responsabilidad individual, al tiempo que reclama que todo el mundo tiene lo que se merece, esto es, que realza que las causas da delincuencia son individuales, dependen de uno mismo”.36

Em síntese, podemos concluir que esse novo modelo é orientado pela expansão de políticas criminais que não se voltam à aplicação de penas de caráter ressocializador. O populismo penal se infiltra no campo político e o Estado expande o direito penal para lidar com outros interesses que se afastam de qualquer projeto de recuperação (sejam eles para docilizar/remodelar) aos apenados.

3.1 Sendas punitivas

Compreendemos que a violência em seu aspecto amplo corresponde a um traço distintivo na formação brasileira, em que “práticas de violência dentro de casa e práticas públicas de violência não podem ser colocadas em oposição. [...] A violência doméstica é constitutiva do padrão brasileiro de direitos individuais e não oposta a ele”.37 Constituindo, assim, um problema estrutural na formação do consciente coletivo nacional, em que a violência parece ocupar um espaço expressivo nas relações privadas e públicas.

35 GARLAND, David. Op. cit., 2008, p. 316.36 LAURRARI, Elena. Populismo punitivo...Y como resistirlo. Revista de Estudos Criminais. ano VII, 25/9-24. PUC/RS, 2007. “Acompanha com um discurso

que enfatiza a responsabilidade individual, ao tempo que reclama que todo mundo tem o que merece, isto é, que realça que as causas da delinquência são individuais, dependem de si mesmo” ( tradução livre).

37 CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34/Edusp, 2000, p. 142.

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A despeito da criação da Lei 11.340/2006 ter constituído um marco significativo no campo penal, julgamos que, apesar do entusiasmo em relação à via eleita nos parece que esta opção encontra-se eivada de uma ideia de justiça “baseada no ressentimento e na vingança, tendo como finalidade o castigo”.38

Frise-se que não estamos afirmando que somos a favor da ausência de responsabilização aos agressores contra a mulher. Porém chamamos a atenção para o fato de que a política criminal acontece no plano real, em que seus efeitos repercutem de maneira concreta na vida dos atores sociais envolvidos. A doutrina e os Tribunais Superiores se dividem sobre a forma e aplicação da lei, alguns de orientação mais crítica, outros mais otimistas em relação a sua aplicação.

Um discurso voltado à punição dos agressores se limita a reafirmar a sedução e a suposta eficácia do Direito Penal, que seria capaz de solucionar o problema da violência de gênero, “como se e edição da lei penal, sentença ou cumprimento de pena, fosse mecanicamente sendo cumprido um pacto mudo que opera o traslado da barbárie ao paraíso”.39

Também não é incomum referir-se ao Direito Penal como um direito da “impunidade”, característica que se atribui com maior frequência pela sua (in)capacidade de lidar com o problema de certa criminalidade, o que esse tipo de argumento encerra em si muitas vezes é:

“O uso do termo ‘impunidade’, nessa linha, é perigoso porque nos leva a dois tipos de redução: fecha a atuação do sistema de justiça na responsabilização individual com atribuição da pena e faz coincidir a ideia de pena como privação de liberdade por longos períodos. Esses diagnósticos partem de uma percepção de que algo está faltando para que possamos melhor lidar com um determinado problema social. E esse algo é sempre a prisão. Ainda que muitas vezes se esteja diante de problemas sérios na atuação do sistema de justiça, o discurso da impunidade nunca coloca em causa a resposta prisional e fecha o espaço para pensarmos sobre a melhor forma de resolver o problema”.40

A construção de uma nova consciência social a respeito da violência doméstica perpassa por instâncias que transcendem o Poder Judiciário, isto porque o sistema de justiça criminal não possui em si a capacidade inerente de alterar estruturas sociais e políticas de forma positiva.

38 SOARES, Lúcia. Violência contra a mulher e o abolicionismo penal. Revista Verve, n. 3. p. 246-256. 2003.39 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A soberania patriarcal: o sistema de justiça criminal no tratamento da violência sexual contra a mulher. Revista

eletrônica de Ciências Jurídicas. RECJ 03.04.2006. 40 MACHADO, Marta Rodriguez de Assis Machado; MACHADO, Maíra Rocha. O direito penal é capaz de conter a violência? In: MACHADO, Marta Rodriguez

de Assis Machado; MACHADO, Maíra Rocha; GONÇALVES, Felipe (coords.). Manual de sociologia jurídica. p. 344-345.

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Assim, a aplicação de penas reduz o problema ao seu efeito mediato, pois, se há algumas décadas as políticas criminais têm se afastado de qualquer propósito ressocializador,41 temos que aqueles que adentram o sistema de justiça criminal carregam consigo além dos estigmas decorrentes dessa situação, uma incapacidade de elaborar uma nova visão a respeito da violência de gênero.

Outro fato relevante é que a aplicação de penas não implica automaticamente num processo emancipatório da vítima. É possível que a vítima elabore um novo presente para si, rompendo com os ciclos de violência. Contudo se a aplicação da Lei 11.340/2006 vier desacompanhada de condições econômicas e sociais inclusivas as vítimas, a lei terá se limitado a reproduzir a violência estigmatizante da pena ao apenado e da marginalidade social para a vítima.42

3.2 A política criminal e seu papel

Quando falamos sobre política criminal nos referimos a um arcabouço de saberes orientados para a constituição e manutenção do poder punitivo. A opção de qualquer Estado em estabelecer o que é um delito, quem são passíveis de punição, como, quando, são apenas algumas das formas que racionalizam qual é a política criminal escolhida.

A aplicação da pena está diretamente ligada à política criminal, assim como afirma Roxin “o direito penal é muito mais a forma, através da qual as finalidades político-criminais podem ser transferidas para o modo de vigência jurídica”.43 Dessa maneira, designar o que é crime, e qual é a pena corresponde a um processo complexo que, primeiro, elege quais bens jurídicos devem ser protegidos, em seguida afirma qual a pena a ser aplicada e, por fim, age para que a pena atinja a sua função retributiva de prevenção especial e geral.

Tomando a política criminal como uma unidade, a pena constitui apenas uma partícula dessa trama complexa. Porém não se pode deixar de reconhecer que, apesar de todas as críticas à pena, ela ainda continua sendo o pilar de todo um sistema de punição e justiça.

41 Aqui seria uma possibilidade de readequar os indivíduos, torná-los moral e socialmente aceitos, o que nos parece complexo exatamente nas questões de gênero é que a desconstrução de um argumento violento traz consigo uma tarefa precedente a aplicação da pena ao acusado, traz a responsabilidade de que a sociedade compreenda o que são questões de gênero e porque não se devem prosseguir em práticas violentas.

42 Muitas das vítimas de violência doméstica afirmam não deixam de se relacionar, também, com seus agressores porque não possuem condições econômicas de se estabelecerem a si e seus filhos.

43 ROXIN, Claus. – Política criminal e sistema jurídico-penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 14.

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Zaffaroni (1991) expressa que é preciso reconhecer o poder político por detrás do Direito Penal, e que é preciso uma tomada de consciência de tal situação para se propor qualquer reelaboração deste sistema:

“Reconhecer que o direito penal é político compromete seriamente, e isto porque impõe a imediata definição de objetivos, bem como a conseqüente seleção de meios para alcançá-los, obriga a delinear o sentido do exercício de poder que aspira a programar com seu sistema de regulação decisória, e arriscar-se a possíveis conflitos com as outras agências do sistema penal, quando não gera antagonismos e contradição com o outro exercício de poder, bem como para a prática do próprio poder”.44

A pena ao longo dos dois últimos séculos tem sido objeto de estudo e (re)invenções no campo de sua teoria e prática. Mesmo com a existência de diversas críticas sobre sua continuidade, julgamos que a pena ainda resiste e se “readéqua” aos projetos racionais dos Estados por uma questão de política criminal, que tem na pena, talvez, o maior símbolo da sua capacidade coercitiva.

Versando sobre os efeitos da Lei 11.340/2006, de imediato pode se afirmar que a lei em si não aplica pena aos agressores, nem inseriu tipos penais novos, contudo, basta o descumprimento de qualquer restrição de direito anteriormente aplicada para que seja requerida aplicação da pena aflitiva.

Se o movimento feminista tem desde seu início uma via alternativa capaz de questionar e que busca transformar a realidade social que tanto diferencia homens e mulheres, ao optar por fazer uso do direito penal como a saída mais eficaz ao problema da violência de gênero, com a aplicação de penas aflitivas, simplifica-se a questão do problema estrutural da violência. Além disso, assume uma ineficaz45 resposta a este problema.

Conforme alerta Karam (1996) recorrer ao Direito Penal potencializa a reprodução de estruturas de poder dominante e, que muitas vezes limita-se a gerar um suposto alívio, muito embora “afasta a busca de outras soluções mais eficazes, dispensando a investigação de razões ensejadoras daquelas situações negativas, ao provocar a superficial sensação de que, com a punição o problema já estaria resolvido”.46

Embora a ideia de punição supostamente caminhe para um modelo de erradicação da violência contra o gênero, a sua opção também contribui para fechar o movimento feminista em si e em torno da “sempre enganosa, dolorosa, danosa

44 ZAFFARONI. Eugénio Raul. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema penal. Rio de Janeiro: Revan, 1991. p. 208.45 Aqui ressaltamos que, segundo dados do governo federal, apesar dos sete anos da lei e do número crescente de denúncias sobre o tema, a violência contra

a mulher não diminuiu ao longo dos últimos anos. Conforme relatório do IPEA. Disponível em: [www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio_leilagarcia.pdf]. Acesso em: 29 jan. 2014.

46 KARAM, Maria Lúcia. A esquerda punitiva. Discursos sediciosos: crime, direito e sociedade, ano 1, n. 1, 1996.

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intervenção do sistema penal”.47 Ademais, aprofunda a existência de duas teorias “uma para mulher vítima, e outra para a mulher infratora, uma curva estatística em alta, especialmente na periferia do capitalismo vídeo-financeiro”.48

Nesse sentido, a assunção da via penal não pode se afastar de questioná-la enquanto tal, posto que:

“o direito penal não é capaz de transformar a cultura nos moldes de seus projetos, pois invariavelmente reproduz violências, alarma falsas soluções e, logo após, desconversa encontrando novas ameaças para nossos filhos, mudando o foco conforme for conveniente”.49

Com a “submissão ao direito e a adequação a fins político-criminais”,50 tem-se que, atualmente, é preciso buscar uma harmonização entre a persecução penal e o direito à liberdade dos indivíduos. Pensamos que a pena representa ainda um forte paradigma na construção do ideário de justiça na esfera penal, a ela se atribui um espaço no qual a ordem moral e social pode ver sua ansiedade punitiva contemplada.

Porém, julgamos que parte dessa concepção advém do fato de que “o saber jurídico tem dificuldade de pensar o crime e o sistema penal sem aplicar a esses objetos as categorias de pensamento produzidas e legitimadas pela própria racionalidade penal moderna”.51

É preciso que se elaborem novas alternativas, que rompam com o paradigma da pena e punição como respostas aos “problemas” do crime e da violência. O movimento feminista pela sua potencialidade transformadora deve buscar uma via alternativa à solução do problema da violência de gênero. O emergir de novos paradigmas (a)penais52 viabilizará que as mulheres em sua luta possam construir novas vias que transcendam a punição.

47 KARAM, Maria Lúcia. Violência de gênero: o paradoxal entusiasmo pelo rigor penal. Boletim IBCCRIM, n. 168, nov. 2006.48 ANDRADE, Vera Regina Pereira de Andrade. In: BATISTA, Nilo. Só Carolina não viu.49 ALIMENA, Carla Marrone; LINCK, José Antônio Gerzon. Criminologia e feminismo na contemporaneidade: fendas, discursos e subversões pós modernas.

In: FAYET JÚNIOR, Ney; MAYA, André Machado (orgs.). Ciências Penais e Sociedades Complexa II. Porto Alegre: Nuria Fabris, 2009. p.82.50 ROXIN, Claus. Política criminal e sistema jurídico-penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p.20.51 PIRES, Álvaro. A racionalidade penal moderna, o público e os direitos humanos. Novos Estudos. CEBRAP, n. 68, p. 42, mar. 2004.52 Aqui, se chama atenção, para a experiência da comunidade do Jardim Columbia, na cidade de Campinas (SP). A própria comunidade e, principalmente,

as mulheres estão envolvidas na resolução de conflitos de Violência Doméstica, majoritariamente, ameaças ou agressões verbais. Algumas das medidas tomadas pelas mulheres são o controle e fiscalização de atividades recreativas dos agressores, bem como, abstinência sexual, conforme notícia: [www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1437916-maridos-agressivos-ficam-sem-sexo-e-bilhar-em-comunidade-em-campinas-sp.shtml]. Acesso em: 26 ago. 2014. Embora seja uma experiência pontual, destacamos que essa forma de lidar com a violência doméstica abre espaço para as mulheres, agressores e comunidade discutirem sobre saídas mais “eficazes” segundo as próprias mulheres e menos violentas – para todos envolvidos.

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Se o movimento feminista afirma que a sua luta é orientada por uma questão de direitos humanos, tem-se que mesmo representando um movimento de vanguarda a opção por um discurso punitivo nos leva ao paradoxo destacado por Pires:

“As relações entre direito penal e os direitos humanos se constroem de maneira paradoxal e conflitante na racionalidade penal moderna. A pena aflitiva é frequentemente valorizada como uma “maneira forte” de defender ou afirmar os direitos humanos”.53

Deve se viabilizar a inclusão dos agressores e vítimas de violência de gênero em um novo modelo que lhes ofereça alternativas diversas da punição, assim como afirma Zaffaroni de que: “A experiência nos ensina que a omissão no discurso que o explica, por regra, oculta uma das facetas de sua perversão”.54 Dessa forma, um discurso que afirma apenas a punição como a saída adequada esquece-se de que a pena também possui seu caráter perverso para o agressor (dado o contexto fático do caos do sistema carcerário), além de que a punição em si é uma saída, mas não a única como meio emancipatório para as vítimas.

Destacamos que os apenados por crimes de violência doméstica, diante do contexto político criminal atual – que se afastou de qualquer projeto ressocializador, (muito embora, se questione se algum dia a lei de execuções penais foi cumprida no Brasil), inviabiliza-se não apenas a capacidade de se (re)inserir no seio social sujeitos “mais dóceis”, mas também, indivíduos capazes de elaborar um novo pensamento sobre seu relacionamento com a outra – vítima, como sujeita autônoma, livre e capaz.

De outro lado, se a punição for aplicada de maneira isolada, as vítimas serão (re)vitimizadas ante a sociedade com a chancela da justiça criminal, pois se as vítimas forem deixadas à margem de qualquer possibilidade concreta de emancipação por meio de vias afetivas, psicológicas e econômicas, tende-se a ratificar que a punição apenas estigmatiza e sujeita vítimas e agressores à marginalidade.

Como ensina Rosa del Olmo: “Os protagonistas da história às vezes não se dão conta do significado de sua atuação. Limitam-se a aprender seu papel de memória sem refletir sobre seu conteúdo, mas isso não os absolve de sua responsabilidade histórica”.55 Dessa forma, o movimento feminista que tanto buscou um espaço de protagonismo na história, que lhe é devidamente merecido e reconhecido, por sua vanguarda deve caminhar de encontro a alternativas, em que a pena aflitiva não seja a melhor saída.

53 Idem, bidem, p. 46.54 ZAFFARONI, Eugenio Raul. A mulher e o poder punitivo. CLADEM, Mulheres Vigiadas e Castigadas. São Paulo, 1995. p. 23.55 FACIO, Alda; CAMACHO, Rosalia. Em busca das mulheres perdidas – ou uma aproximação – crítica à criminologia. Cladem. Mulheres Vigiadas e

Castigadas. São Paulo: 1995. p. 64.

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