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LÍGIA GUERRA mulheres às avEssas

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Lígia guerra

mulheresàs

avEssas

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 9

AV3SSA I ABC dos conflitos femininos 14

AV3SSA II O nascimento do romance e a construção da sexualidade 27

AV3SSA III Encontros e desencontros do amor 44

AV3SSA IV Homens – Esse assunto nós amamos! 60

AV3SSA V Filhos – Um laço (e)terno 80

AV3SSA VI Ame-se pelo avesso! 92

AV3SSA VII Batendo asas 111

AGRADECIMENTOS 122

Para José Luiz, que colore a minha vida com seu amor, sua força e seus saberes.

Transformei meus medos em descobertas.

Traduzi meus erros em experiência e criei a linguagem da sabedoria.

Compus música com minhas lágrimas.

Abracei aqueles que amo com minhas conquistas.

Fiz da estrada da vida a minha morada.

Descobri a transitoriedade das coisas.

Percebi que sou pequena e, justamente

por isso, compreendi como sou grande.

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APRESENTAÇÃO

O tempo passa rápido demais. Um dia você dorme menina e, no outro, desperta mulher. O hiato entre a infância e

a vida adulta se torna uma breve lembrança. Algumas mulhe-res são gratas ao tempo. Outras se sentem traídas por ele. Independentemente das realizações que conquistem ao longo da vida, uma coisa é certa: elas sempre parecem se sentir prejudica-das em algum aspecto. Nunca são belas o suficiente, competen-tes como gostariam ou seguras como tentam demonstrar.

A juventude as deixa apreensivas pelo futuro e ansiosas pelo que ele trará. A maturidade as angustia pela percepção de que as horas lhe escorrem por entre os dedos e pela constatação de que ainda há muito a conquistar. Enquanto isso, o momento presente suplica para ser vivido. Na coreografia do tempo, os passos estão confusos.

Como a maioria das mulheres, você conseguiu o emprego dos seus sonhos, mas tem dificuldade de equacionar o amor. Você realizou o milagre de construir uma carreira sólida e um relacionamento estável, porém não sabe como conciliar tudo isso com a maternidade. Você se tornou mãe, mas está longe de representar o papel que tanto idealizou.

Enquanto as faltas reais a atropelam, as imaginárias a devoram. A mulher não tem apenas a jornada dupla da casa e do trabalho. Ela tem a jornada tripla, quádrupla e quíntupla do esgotamen-to físico, mental e emocional. Somos loucas? Provavelmente.

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Desconheço qualquer outro ser vivo que pense tantas coisas ao mesmo tempo e que sinta tudo com tamanha intensidade.

Podemos chorar de alegria e de tristeza ao mesmo tempo. Se a promoção no trabalho deu certo, nos afastou daquilo que amamos. Ficamos contentes pela amiga que se casa, mas lamen-tamos a perda da companhia para o bate-papo no fim da tarde ou do ombro amigo madrugada adentro. O filho que vai estudar no exterior nos enche de orgulho, mas leva com ele grande parte da alegria da casa.

A vida é uma equação que precisa ser bem resolvida, mas, infelizmente, não temos demonstrado muita intimidade com essa matemática emocional. Somamos tempo e atenção quando o assunto são os outros. Subtraímos esses elementos na mesma proporção quando se trata de nós mesmas.

A maioria das mulheres ainda se coloca no fim da fila – e parece confortável com isso. Poucas felizardas se acham mere-cedoras dos aplausos que recebem. Sentimos que sempre existe um dedo apontando a “farsa” que somos, acusando-nos de que poderíamos ter feito melhor.

Os pequenos prazeres do dia a dia também são afetados pela nossa neurose. Se em um dia nos permitimos saborear um mara-vilhoso churrasco e degustar uma deliciosa sobremesa, programa-mos mentalmente o cardápio da carceragem gastronômica do período seguinte: duas semanas à base de alface e água! Também pagamos caro pela “futilidade”: pedir ao pai das crianças que tome conta delas enquanto vamos ao cinema, ao teatro, passear no shopping ou simplesmente descansar um pouco da vida de mãe é praticamente uma heresia. A penitência? Usufruir cada um desses momentos agonizando de culpa.

Mulheres... Tão amáveis, tão heroicas e tão contraditórias! Capazes de defender suas convicções, seus amores e suas verda-des com a própria vida – mas tão frágeis diante de si mesmas.

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Definir tamanha complexidade é mais ou menos como querer aprisionar o vento com as mãos. No seu mundo aparentemente cor-de-rosa são refletidas emoções de todos os matizes. A mesma intensidade que costuma tornar a mulher aberta às necessidades alheias a torna uma verdadeira carrasca de si mesma.

Como tudo isso começou? Quando o mundo feminino foi invadido por tanta tirania e autocrítica? Por que aquela menina sonhadora trocou seu olhar curioso por esse semblante preocu-pado e esse sorriso amarelo?

Chegou a hora de questionarmos nossa necessidade de per-feição e aprovação. Conquistamos muitas coisas e ainda temos diversas outras para buscar. No entanto, devemos rever a manei-ra como vamos conduzir essa busca daqui para frente.

As mulheres precisam se vestir de coragem, falar sobre aquilo que as perturba, expor suas fragilidades e angústias sem medo de críticas ou rejeições. É o momento de jogar fora a máscara da supermulher, supermãe, superdona de casa, superprofissional, superelegante e assumir que está supercansada!

A fachada de força que exibimos para o mundo esconde a angústia por trás das fórmulas mágicas que usamos para facilitar a vida, seja para conquistar o homem dos nossos sonhos, para emagrecer, para subir na carreira, para sermos saudáveis, boas mães ou cidadãs ecologicamente corretas. O problema é que essas fórmulas não funcionam e ainda nos sobrecarregam com modelos de comportamento que não permitem que sejamos imperfeitas.

Revirar a alma feminina pelo avesso é muito mais do que um direito – é uma necessidade. Precisamos compreender por que determinados padrões de conduta continuam sendo repetidos apesar de só fazerem mal. Devemos destinar tempo e energia a refletir sobre essas questões, para que possamos nos libertar da prisão que nós mesmas nos impusemos ao longo da vida.

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É necessário acolher as ansiedades e os medos em vez de rene-gá-los. Eles enriquecem o processo de autoconhecimento e aju-dam a iluminar os pontos obscuros da jornada pessoal. Atingir nosso destino significa amar genuinamente a nós mesmas, e não abandonar, excluir, depreciar ou negligenciar aquilo que somos.

Talvez ainda falte muita quilometragem emocional para que esse caminho seja trilhado com segurança. Mas vale a pena insistir. Primeiro você fortalece seus passos, faz as pazes consigo mesma e se apaixona por suas emoções. Então, um belo dia, você terá amadurecido e será apresentada à sua capacidade de voar. Isso não é para qualquer uma, mas aquela que decide se libertar e se virar pelo avesso inevitavelmente descobrirá os encantos do céu.

No lado do avesso habita uma parte intocada do psiquismo feminino, em que são guardados mapas, códigos e tesouros imprescindíveis para a sua felicidade. Quanto mais medos, inseguranças e desamor você deixar para trás, mais belos serão os seus voos. Essa leveza, no entanto, não virá de graça: exigirá muito esforço e fé em si mesma. Será necessário abrir mão do vício da infelicidade e aprender a realizar novas escolhas.

É justamente por isso que estou aqui: para pegar sua mão e ajudá-la a desbravar esses caminhos. Vamos encontrar juntas cada um desses tesouros. Você merece conquistá-los!

Há tempos deixei de me intimidar pelos meus medos, não fujo mais das minhas angústias e não me frustro com as minhas escolhas equivocadas. Abraço a felicidade com todas as minhas forças, nos momentos intensos ou nos fugidios.

Se for para cair, prefiro despencar, como quem se arremessa de encontro ao próprio destino.

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AV3SSA I

ABC dos conflitos femininos

A palavra autoconhecimento é cada vez mais presente na vida das mulheres. Jornais, livros, revistas, programas de rádio e

de TV vira e mexe tocam nesse assunto e, aparentemente, todo mundo sabe o que o termo significa. Será mesmo?

Se você tivesse que descrever seus pontos fortes e fracos, seus medos, suas ansiedades, vulnerabilidades ou manias, consegui-ria fazer isso com facilidade? E se lhe pedissem que criasse um plano de ação para transformar as coisas que a incomodam, por onde começaria esse processo de mudança?

Tenho certeza de que várias emoções que a perturbavam já foram superadas e que muitas outras ainda estão sendo traba-lhadas. Porém existem algumas que ficam em um nível mais profundo do seu subconsciente, um lugar pouco conhecido pela maioria das mulheres, mas que guarda informações impor-tantíssimas sobre elas. É lá que estão trancafiadas as rejeições, as frustrações e as negações – uma espécie de “caixa-preta” da mente feminina. São essas emoções que sabotam seu crescimen-to e a ensurdecem, impedindo-a de ouvir sua voz interior.

Não importa por que motivo você tenha sufocado essas emo-ções: a partir de agora, vamos colocar os holofotes sobre cada uma delas. Você passará a projetar luz sobre suas inquietudes e a dissipar as sombras que atrapalham o seu processo de autoco-nhecimento e a descoberta da trilha para a felicidade.

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Comparação, não! Cor-ação, sim!

Já que falamos na caixa-preta, instrumento indispensável num avião, vamos traçar nosso plano de voo. Preste atenção à maneira como você utiliza o seu tempo. Você sente que as horas do seu dia não são suficientes para fazer tudo o que precisa? Pois bem: pior do que não reservar tempo para si mesma é usá-lo de forma autodestrutiva.

Talvez você chegue mais tarde em casa porque tenha que ir para a academia à noite, só consiga ir à manicure na hora do almoço depois de comer um sanduíche rápido ou roube uns minutinhos do trabalho para planejar aquela viagem tão espe-rada. Isso não é bom, mas, de certa forma, você está fazendo malabarismos por sua própria felicidade e bem-estar.

Muitas mulheres desperdiçam seu tempo de uma maneira muito mais nociva: comparando-se às outras. Perdem suas preciosas horas avaliando-se em relação à vizinha, à colega da academia ou do trabalho, à melhor amiga, à “conhecida” que nem sequer lhes desperta simpatia, à modelo da capa da revista e a tantas outras mulheres que parecem ter algo especial.

Mas o que é esse “algo especial”? A resposta para essa questão está longe dos mandamentos que costumam definir uma mulher ideal em termos de corpo e estilo. Está ainda mais distante de alguns clichês comportamentais que vendem uma combinação de atitudes como garantia de sucesso. O que torna alguém real-mente especial vai muito além disso. Mas parece que a palavra atitude está na moda hoje em dia.

Pior do que não reservar tempo para si mesma é usá-lo de forma autodestrutiva.

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Existem inúmeros livros e artigos sobre essa “nova” mulher de atitude, sobre como ela se destaca, faz acontecer e brilha. Ela sabe o que deseja. Ela escolhe o homem – jamais é escolhida por ele. Não se encolhe diante dos medos, sabe se comunicar e vender a própria imagem como ninguém. Não demonstra suas fraquezas. Praticamente uma heroína.

Não é por acaso que elas amedrontam os homens e têm difi-culdades para criar laços com outras mulheres. Parecem inven-cíveis, dotadas de superpoderes. Embora seja óbvio que essa definição se aproxima muito mais de um personagem fictício do que de uma pessoa de carne e osso, não podemos esquecer que todas nós adoramos acreditar em mitos e fantasias.

Quem de nós nunca comprou um cosmético na expectativa de conseguir um resultado absurdo? Um xampu que promete deixar os cabelos com o brilho e a maciez do salão de beleza ou um creme que jura manter a pele eternamente com a aparência da juventude? Será que alguém acha mesmo que aquele cabelo do comercial foi lavado com o xampu que ele apresenta? Alguma mulher acredita mesmo que a moça que aparenta ter 20 anos é, na verdade, uma mulher de 40 que usou o creme facial milagroso? Certamente não. Mas, ainda assim, compramos esses produtos.

O mesmo acontece com alguns guias de comportamento. Inicialmente, eles nos empolgam com promessas vazias, afir-mando que, se seguirmos determinados passos, nos tornaremos felizes e bem-sucedidas. Mas tudo parece tão óbvio que acaba-mos nos perguntando: se é assim tão simples, por que estamos tão confusas em relação às nossas vidas, às nossas escolhas e até mesmo ao que realmente significa ser feliz? Essa resposta é fácil: porque as coisas não são tão simples!

A maior parte das nossas conquistas exige muito de cada uma de nós. Manuais de felicidade não costumam promover mudanças reais e profundas. Funcionam mais ou menos como

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uma floricultura que expõe a beleza das flores sem se preocupar com a qualidade da raiz. A durabilidade dos resultados será proporcional ao desabrochar das emoções. Será fugaz se não for verdadeira.

Por quanto tempo essas mulheres de atitude conseguirão sus-tentar essa imagem? Será que manter essa postura de segurança e autoconfiança o tempo todo não cansa? Será que elas se sentem felizes assim?

Hoje não estamos mais em busca de um modelo de perfei-ção. Estamos fartas de seguir padrões. Nossa procura é por algo muito mais profundo, que não está vinculado à idade, classe social, carreira, imagem ou conta bancária. O que precisamos resgatar não pertence a um grupo de “privilegiadas” nem está à venda. É uma semente que está plantada no solo sagrado do coração de cada mulher e que se chama coragem!

Corajosa ou medrosa?

A palavra coragem deriva do latim cor, que significa coração. No idioma francês, ela tem a mesma raiz de coeur, que também significa coração. Se aplicarmos essa ideia ao cotidiano, conclui-remos que quando nos falta coragem, está faltando coração nas nossas ações.

A coragem antecede todas as outras qualidades, como caris-ma, determinação, ética, força e autoestima. Engana-se quem pensa que ela vem com o tempo, que é uma consequência do desenvolvimento de outras características. Ela é a catalisadora do autoconhecimento, do amadurecimento e do amor-próprio. É a genitora das demais conquistas.

É por causa da coragem que a adolescência é uma época tão confusa. Nela, costumamos enfraquecer a comunicação entre a mente e o coração. Nessa fase, a opinião alheia ganha um peso

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diferente, especialmente a dos outros jovens, pois eles também estão buscando construir a própria identidade. A mente fica confusa e o coração, caótico. Os adolescentes têm arroubos de paixão e desprezo. A razão inicia seu processo de opressão da emoção. As certezas e os medos se digladiam. Um sentimento já existente na infância, mas pouco reconhecido, toma impulso: a ansiedade.

Muitas mulheres saem vitoriosas desse labirinto juvenil e migram com tranquilidade para a vida adulta. Outras, entre-tanto, o superam com mais dificuldade e carregam para sem-pre as lembranças dolorosas. Isso acontece porque a mente, além de gravar os registros de tudo o que foi vivido de bom e de ruim, também reforça as emoções marcantes em ambos os aspectos. O que é positivo ou agradável costuma ser regis-trado com alegria e saudade. Por outro lado, as experiências negativas ou desagradáveis são lembradas com tristeza, medo e até pânico.

Por exemplo, muitas pessoas têm pavor de falar em público e tremem diante da simples ideia de encarar uma plateia. Para elas, essa é uma situação que demanda extrema coragem. Para encarar o desafio, é preciso passar por cima de bloqueios antigos, às vezes até de traumas. Coragem implica consciência, pois é ela que transforma uma experiência inicialmente desagradável em um impulso de retomada.

Suponhamos que, apesar de muito tímida, você seja jorna-lista. Um dia você recebe um convite inesperado para se tornar repórter de TV. Ao entrevistar as pessoas, você percebe que não está tendo a desenvoltura que gostaria. Nesse momento, duas possibilidades se apresentam: você pode buscar meios de aperfeiçoar sua capacidade de comunicação e procurar um psi-cólogo ou pode concluir que adora o jornalismo mas não gosta da exposição que algumas áreas da profissão exigem. Talvez você

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não se sinta bem em frente às câmeras, mas seja excelente como redatora, editora ou revisora.

O que a ajudará a fazer a melhor escolha é a sua coragem de olhar para si mesma com os olhos da verdade, e não das expecta-tivas distorcidas. Você deve ser capaz de se perguntar sem medo: será que trabalhar diretamente com o público é um desejo real ou há outra motivação por trás disso, como a necessidade de provar algo para mim mesma ou para alguém?

Ser corajosa não significa corresponder a uma imagem estereo-tipada de sucesso. Não significa fazer tudo conforme o planeja-do nem saber de antemão exatamente o que você quer da vida. Coragem tem a ver com crescer diante das frustrações e evitar assumir o papel de vítima quando alguma coisa dá errado.

Coragem implica consciência, pois é ela que transforma uma experiência inicialmente

desagradável em um impulso de retomada.

Despertando um novo olhar sobre si mesma

Pode parecer estranho, mas é preciso ter coragem para enfren-tar quase todos os aspectos da vida. Pense, por exemplo, em sua necessidade de se enquadrar nos padrões de beleza exigidos pela sociedade. É preciso ter uma bela dose de coragem e consciência para amar a si mesma do jeito que é, sem procurar se ajustar aos modelos que a mídia impõe.

Mas eu nem sempre soube disso. Sempre tive vergonha das minhas pernas finas. Durante toda a minha infância e adolescên-cia sofri com os apelidos maldosos que recebia: garça, pernilon-go, poste, entre outros. Eu fazia parte do time de vôlei da escola e adorava jogar, mas era um suplício participar dos torneios, pois

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aquele shortinho clássico do vôlei era obrigatório. Enquanto valorizava as curvas das minhas amigas, o uniforme destruía o resto de autoestima que ainda agonizava dentro de mim.

Se não aprender a fortalecer sua autoestima, amanhã você será a mesma, e apenas refletirá as

suas inseguranças em outros espelhos.

Hoje, continuo distante do biotipo curvilíneo, mas felizmente não sou mais aquela menininha insegura. A prova disso veio alguns anos atrás, quando eu estava correndo tranquilamente na rua e um rapaz passou de carro e gritou:

– Ei, Olívia Palito, cuidado com o vento!Até aí nenhuma novidade, inclusive porque esse era um dos

apelidos mais comuns da minha adolescência. O que aconteceu de inédito foi que uma nova sensação surgiu. Depois de anos de complexo e muita vergonha de usar shorts, vestidos e saias, finalmente me libertei. Algo dentro de mim gritou: “Sim, tenho as pernas finas, ágeis, firmes, leves e perfeitas para correr. Eu as amo!” Naquele dia terminei meu treino cansada como sempre, mas feliz como nunca.

Essa coragem de me aceitar não surgiu num passe de mágica. Muito pelo contrário. Foi conquistada com muito trabalho, a partir do autoconhecimento e da consciência do meu próprio valor. Foi ouvindo a voz do meu coração que aprendi a prestar mais atenção ao que eu sentia do que àquilo que os outros que-riam que eu sentisse.

Você pensa que amanhã será mais sábia do que hoje? Acredita que no futuro tomará decisões radicalmente diferentes? Isso só acontecerá se você mudar sua maneira de pensar e acreditar que é perfeita do jeito que é. Caso contrário, continuará insegura. E essa insegurança se estenderá para todas as áreas da vida – você

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pode ter medo de não conseguir ser bem-sucedida, de ficar sozinha, de envelhecer, de ficar doente, de não ser feliz. Ou seja, se não aprender a fortalecer sua autoestima, amanhã você será a mesma, e apenas refletirá as suas inseguranças em outros espelhos.

Ansiedade: quando o perigo vem de dentro

Medos e ansiedades também só podem ser compreendidos e trabalhados a partir da coragem. Os medos são oriundos de questões reais, como violência, sequestros, assaltos, brigas de trânsito, falta de dinheiro para pagar as dívidas, etc. A ansiedade é diferente, pois não está ligada a um fato concreto, mas ao nosso imaginário. É a expectativa do que pode acontecer. Por isso con-trolar a ansiedade é mais difícil do que controlar o medo.

A ansiedade é a inimiga que mora dentro de nós. De certa forma, é possível fugir do assaltante, colocar grades nas janelas, instalar alarme em casa, cercar-se de seguranças. Mas como se proteger de si mesma? Como não ficar insegura diante das demissões coletivas da empresa? Como evitar a ansiedade e esperar pacientemente que aquele homem maravilhoso telefone? Os problemas reais nós podemos contornar, mediar, negociar e resolver. Os únicos proble-mas que nos engolem cruelmente são os imaginários.

Tenha extremo cuidado quando o assunto é ansiedade. Não a subestime, ela é sabotadora! Quando você fica ansiosa costuma comer demais? Muitas mulheres compensam com comida o vazio que a ansiedade gera. Outras vão às compras e estouram o limite do cartão de crédito. Existem ainda as que sofrem de insônia e acabam precisando de medicamentos para relaxar. O problema é que esse ciclo se retroalimenta: quanto mais a pes-soa come, gasta dinheiro ou sente dificuldade para dormir, mais ansiedade ela sente. Se essas forem as suas fraquezas, procure

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se distrair de outras formas. Vá caminhar ou correr no parque, assista a um filme ou saia com uma amiga para desabafar; ali-vie suas tensões de maneira que o circuito da ansiedade não se agrave.

A ansiedade também pode atrapalhar sua vida através de outros métodos de autossabotagem, como a falta de fé em si mesma. Muitas mulheres insistem em afirmar a capacidade alheia e colocar em dúvida o próprio potencial. Certa vez aten-di a uma arquiteta que desenvolvera um ótimo projeto sobre sustentabilidade. Na época o assunto ainda era novidade, mas ela já tinha a visão de que esse seria um tema fundamental em sua área de atuação. Por causa de sua extrema timidez, aca-bou convidando uma colega para ajudá-la na apresentação do projeto. Sem qualquer constrangimento, a colega se apossou da ideia e a defendeu como se fosse dela. Minha cliente ficou extremamente decepcionada – em especial consigo mesma, que não confiou no próprio talento e perdeu uma grande opor-tunidade profissional.

Quantas mulheres estão por aí sabotando suas chances de crescimento? Quantas perdem tempo imaginando que serão rejeitadas antes mesmo de tentar?

As crianças são especiais porque não vivem esse processo. Elas preferem sentir o “frio na barriga” da montanha-russa a perma-necer na segurança do chão, observando passivamente a diver-são dos outros. Pode parecer estranho, mas as crianças têm uma certa maturidade que deixamos para trás junto com as memórias da infância. Esquecemos a sabedoria natural que possuíamos, o jeito de nos relacionar com a vida e com as pessoas de maneira descomplicada, curiosa e leve.

Lembra que você já foi assim um dia? Todas nós já fomos alguém que simplesmente existia, sentia e aprendia. Alguém que caía e levantava, às vezes até chorava um pouco, mas logo

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estava de pé, correndo com os cabelos ao vento. Mas crescemos e complicamos a vida.

A idade adulta traz inúmeras pressões, mas pode ser adorável se deixarmos de cuidar apenas da balança que marca o peso do corpo e prestarmos mais atenção naquela que define a leveza da alma.

Crescer significa redimensionar. É uma travessia em que a menina e a mulher somam forças – a primeira com a energia, a segunda com a consciência. Nessa nova fase, o repertório dos questionamentos autocentrados é exorcizado e a visão de mundo é ampliada. Entra em foco a sua missão, que é aquilo que faz você se levantar da cama todos os dias, que torna a sua experiên-cia diária significativa, que faz a sua vida valer a pena.

Imagine que você fosse morar em outro país, tivesse que conviver com uma família diferente, fazer um novo trabalho ou precisasse se isolar de todos aqueles que ama durante um ano. Como seria? O que nortearia a sua vida? Qual seria o fio condutor do seu comportamento? Como você construiria a sua felicidade e a das pessoas que passariam a fazer parte da sua his-tória? As respostas para essas perguntas falam muito sobre você e sobre a sua forma de sentir e viver sua missão.

Sempre que uma pessoa prioriza o prazer, o dinheiro ou o reconhecimento, está matando sua criança interior. Mas quando ela alimenta o vínculo emocional com a sua missão, tem menos chances de desenvolver depressão, tédio e acumular frustrações.

Não tenha medo de escolher; ouse realizar

Sonhar é para todas; realizar é somente para aquelas que estão despertas, comprometidas consigo mesmas e conscientes de que cada passo do caminho traz importantes ensinamentos.

Nem sempre a estrada é agradável – para chegar até aquilo que ansiamos é preciso esforço e dedicação. Se você olhar no

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dicionário, verá que “ansiar” e “desejar” são sinônimos. Ou seja, a ansiedade sempre estará presente quando estivermos em busca de nossos desejos.

Só quando nos lançarmos na estrada é que saberemos se vamos ter forças para realizar a travessia até o fim.

Há algum tempo ouvi uma história que gostaria de compar-tilhar com você:

Sentados à beira de um rio, dois pescadores conversam à espera de peixes. De repente, o silêncio é quebrado pelo som de crianças gritando. Ambos se assustam, olham para todos os lados, mas não veem nada. Os pedidos de socorro tornam--se cada vez mais altos e agonizantes. Então eles avistam duas crianças sendo arrastadas pela correnteza. Os dois pescadores pulam na água e conseguem salvá-las à custa de um grande esforço.

Passados alguns minutos, eles escutam mais gritos. Dessa vez são quatro crianças que se debatem nas águas. Os pescadores novamente se jogam no rio, mas só conseguem resgatar duas delas. Além do cansaço físico, sentem-se arrasados por não terem salvado todas. Então mais uma vez escutam a gritaria e os pedidos de socorro. Agora são oito crianças sendo trazidas pela correnteza.

Um dos pescadores pula na água. O outro se vira e corre para a estrada que margeia o rio. O homem que pulou na água grita:

– Você enlouqueceu? Não vai me ajudar?Sem parar de correr, o outro responde:– Faça o que puder. Eu vou descobrir por que as crianças

estão caindo no rio.

Se fizermos uma analogia dessa história com a nossa vida, podemos dizer que as crianças são os sonhos que deixamos de

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realizar e os pescadores representam as indecisões que temos diante dos desafios. Sempre que ficamos inseguras e nos pren-demos mais ao medo que à coragem, estamos jogando nossos sonhos no rio da vida e deixando que ele os conduza para onde quiser.

A vida é feita de escolhas, e são elas que definem o curso do nosso destino. Cabe a nós decidir se ficaremos tentando resgatar as oportunidades que deixamos escapar ou se faremos como o pescador, procurando salvar nossos sonhos antes que eles caiam na água.

Na vida nada é garantido. Só o que nos pertence de verdade são as lições que aprendemos com nossas vivências. Esqueça as amarguras e as lamentações, pois elas só servem para roubar sua energia emocional e sua força interior. É melhor errar que recla-mar, porque, quando você erra, ao menos está tentando. A recla-mação só gera estagnação e poluição mental. Não tenha medo, erre, erre de novo, erre quantas vezes precisar, mas transforme os seus erros em experiências.

Quando passar a se aceitar do jeito que é, com seus tropeços, erros e acertos, suas lágrimas, risos e emoções, você perceberá que os sonhos são o ponto de partida da caminhada rumo à rea-lização pessoal. Eles servem para catalisar a coragem que estava escondida e ainda não havia sido realmente desafiada.

Como você já deve ter compreendido, as dificuldades que enfrentamos na vida não são muros, mas apenas degraus. E nós vamos continuar subindo essa escada, ousando buscar nossas próprias respostas.

É melhor errar que reclamar, porque, quando você erra, ao menos está tentando.

Quando você me olhou e o meu corpo respondeu como bem quis, compreendi que nem tudo pode ser expresso em palavras. Enquanto o mundo girava ao nosso redor e nada mais importava... Quando o silêncio externo se fez e apenas as batidas do meu coração podiam ser ouvidas... A minha alma escutou claramente as rimas de amor que deveriam ser ditas, mas foram caladas. Eu o olhei como nunca, desejei-o ainda mais! Percebi naquele instante que o primeiro beijo não são os lábios que selam, mas os olhos. São eles que nos traem e nos atraem. São eles que confessam o que os lábios, esses tolos, nem sempre têm coragem de dizer...

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