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107 Da Investigação às Práticas - Estudos de Natureza Educacional 2005 Vol VI Nº1 DESENVOLVIMENTO DE UMA ESCALA PORTUGUESA DE ATITUDES FACE AOS COMPUTADORES José Pinto Departamento de Educação e Psicologia Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro [email protected] 1. Escalas de medição das atitudes informáticas A constatação de que as disposições pessoais dos professores têm influência no sucesso de qualquer inovação educacional, levou alguns investigadores (Marcinkiewicz, 1944; Pelgrum e Plomp, 1993) a estudar as suas opiniões e atitudes face aos computadores. Um problema, porém, se apresenta de imediato a quem aborda esta corrente de investigação: é que uma atitude é um conceito latente, susceptível de definições e de operacionalizações muito diversas. Embora alguns autores sustentem a natureza unidimensional das atitudes, a tradição dominante é a de considerar as atitudes como construtos multidimensionais, compostos por duas, provavelmente por três, dimensões dotadas de alguma autonomia relativa: a dimensão afectiva, a dimensão cognitiva e a dimensão conativa, as quais podem ser (ou não) integradas numa definição operacional única. Teremos, então, uma possível operacionalização da atitude face aos computadores que a faz consistir numa resposta de cariz afectivo ou emocional (o que o sujeito sente face aos computadores), ou numa (ou várias) respostas de avaliação cognitiva (o que o sujeito pensa sobre os computadores), ou ainda, por fim, numa resposta de tipo abertamente comportamental, e que constitui propriamente a conduta do sujeito face ao objecto atitudinal, a sua tendência para agir de determinada maneira quando está perante computadores. É certo que se pode caracterizar uma atitude face aos computadores, de forma abrangente, como uma tendência de resposta avaliativa, favorável ou desfavorável, face aos computadores, e tentar medi-la em conformidade a partir de um instrumento unidimensional. Algumas escalas tomam, alias, este caminho, como é, por exemplo, o caso da escala CATT de Dambrot e seus colaboradores (1985), que produz um índice único das atitudes face aos computadores. Contudo, esta orientação operacional unitarista ou unidimensonalista é claramente minoritária nesta área de pesquisa. A

Likert Portugues 8 Desenvolvimento de Uma Escala

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    Da Investigao s Prticas - Estudos de Natureza Educacional 2005 Vol VI N1

    DESENVOLVIMENTO DE UMA ESCALA PORTUGUESA DE ATITUDES FACE AOS COMPUTADORES

    Jos PintoDepartamento de Educao e Psicologia

    Universidade de Trs-os-Montes e Alto [email protected]

    1. Escalas de medio das atitudes informticas

    A constatao de que as disposies pessoais dos professores tm influncia no sucesso de qualquer inovao educacional, levou alguns investigadores (Marcinkiewicz, 1944; Pelgrum e Plomp, 1993) a estudar as suas opinies e atitudes face aos computadores. Um problema, porm, se apresenta de imediato a quem aborda esta corrente de investigao: que uma atitude um conceito latente, susceptvel de definies e de operacionalizaes muito diversas. Embora alguns autores sustentem a natureza unidimensional das atitudes, a tradio dominante a de considerar as atitudes como construtos multidimensionais, compostos por duas, provavelmente por trs, dimenses dotadas de alguma autonomia relativa: a dimenso afectiva, a dimenso cognitiva e a dimenso conativa, as quais podem ser (ou no) integradas numa definio operacional nica. Teremos, ento, uma possvel operacionalizao da atitude face aos computadores que a faz consistir numa resposta de cariz afectivo ou emocional (o que o sujeito sente face aos computadores), ou numa (ou vrias) respostas de avaliao cognitiva (o que o sujeito pensa sobre os computadores), ou ainda, por fim, numa resposta de tipo abertamente comportamental, e que constitui propriamente a conduta do sujeito face ao objecto atitudinal, a sua tendncia para agir de determinada maneira quando est perante computadores. certo que se pode caracterizar uma atitude face aos computadores, de forma abrangente, como uma tendncia de resposta avaliativa, favorvel ou desfavorvel, face aos computadores, e tentar medi-la em conformidade a partir de um instrumento unidimensional. Algumas escalas tomam, alias, este caminho, como , por exemplo, o caso da escala CATT de Dambrot e seus colaboradores (1985), que produz um ndice nico das atitudes face aos computadores. Contudo, esta orientao operacional unitarista ou unidimensonalista claramente minoritria nesta rea de pesquisa. A

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    maioria dos autores preferiu elaborar instrumentos multidimensionais, que tm a pretenso de medir facetas atitudinais realmente distintas. O exame da estrutura factorial dos instrumentos existentes mostra que existem no caso das atitudes face aos computadores em geral pelo menos trs ou quatro dimenses claramente distintas, as quais tm aparecido repetidamente nesta rea de investigao: trata-se da ansiedade, do gosto, da percepo da utilidade prtica e do impacto social dos computadores.

    1.1. Caracterizao das atitudes face aos computadores

    Apresentam-se no Quadro 1 algumas escalas de atitudes face aos computadores, bem assim como as suas principais caractersticas psicomtricas. Como se constata, predominam as escalas de auto-resposta em formato Likert. Os diversos autores tendem, alis, a seguir um procedimento comum na elaborao destes instrumentos: assumindo habitualmente, e de forma mais ou menos explcita, a natureza multidimensional das atitudes, redigem uma lista de itens que, com base no seu contedo aparente, acreditam representar essas diversas facetas ou dimenses atitudinais. Depois de uma aplicao a um grupo de sujeitos, a matriz de correlaes das respostas submetida a uma anlise factorial exploratria, com o objectivo de derivar um pequeno conjunto de componentes interpretveis e correspondentes (ou no) s dimenses putativas. Elementos relativos fiabilidade e validade (quase sempre validade factorial) acompanham, de ordinrio, estas escalas, mas raramente ultrapassam os obtidos com a amostra de convenincia que serviu para as desenvolver. A maioria destes instrumentos no so seguidos de estudos independentes de validao e de normalizao estatstica. Apesar das limitaes deste modelo frequentemente expedito de produo e de desenvolvimento, a maioria das escalas apresentam uma razovel consistncia na natureza das dimenses obtidas. A observao do Quadro 1 mostra, por exemplo, que algumas dimenses se repetem sistematicamente: a ansiedade, o gosto e a percepo da utilidade dos computadores so componentes que ocorrem em diversos instrumentos construdos de forma independente. Este facto sugere que estas dimenses podero corresponder a aspectos estveis e substantivamente diferenciveis das atitudes que as pessoas desenvolvem face aos computadores.

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    Quadro 1. Escalas de atitudes face aos computadores.

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    Por outro lado, assinale-se que as dimenses obtidas pela tcnica de anlise factorial no correspondem exactamente aos trs aspectos ou componentes tradicionais de uma atitude, o que levanta o problema do isomorfismo entre as dimenses resultantes da teoria e os factores derivados empiricamente. Em particular, dois dos factores mais frequentes, a ansiedade e o gosto (ou apreo) pelos computadores, esto inegavelmente imbudos de caractersticas afectivas, como pode verificar-se pela inspeco dos itens que saturam nestas dimenses. Este facto leva-nos a perguntar qual dessas duas dimenses (ansiedade ou gosto) representa legitimamente o aspecto afectivo da atitude face aos computadores. Veremos que existe uma aprecivel evidncia de que a ansiedade se pode considerar um construto autnomo, ou seja, de que, ao lado das dimenses afectivas, cognitivas e comportamentais propriamente ditas das atitudes face aos computadores, os sujeitos podem desenvolver um sndroma especfico e relativamente independente da atitude que sustentam, sndroma que no uma atitude e que contm por essa razo aspectos afectivos e comportamentais prprios.

    1.2. Escalas de atitudes face aos computadores

    Uma das mais antigas escalas de atitudes face aos computadores, a Attitudes Toward Computers (ATC), foi desenvolvida por Raub (1981). Trata-se de uma escala Likert com 25 itens, cuja anlise factorial produziu trs dimenses distintas, definidas do seguinte modo: (1) Ansiedade, reaces emocionais complexas que so evocadas por sujeitos para quem os computadores apresentam um aspecto ameaador, (2) Gosto pelos computadores, manifestado por um desejo de aprender mais sobre eles e (3) Impacto social negativo, expresso do receio de que os computadores tenham um efeito pernicioso na sociedade. Embora Raub no tenha referido elementos sobre a consistncia interna do instrumento, estudos posteriores (Howard, 1986, citado em Dukes et al., 1989; Dukes et al., 1989) obtiveram valores de consistncia interna (alfa de Cronbach) de 0.87 e 0.84, respectivamente para a subescala de ansiedade e para a escala total. Um estudo sobre a validade convergente de quatro escalas contendo uma dimenso relativa ansiedade face aos computadores mostrou que a ATC exibia validade convergente com as restantes escalas (Dukes et al., 1989). Estes ltimos investigadores foram capazes de confirmar, embora limitadamente, a validade discriminativa e convergente de duas das trs dimenses do ATC (Ansiedade e Impacto social). Por seu lado, a validade preditora da subescala de ansiedade da ATC foi confirmada por Mawhinney e Saraswat (1991), que encontraram correlaes significativas com as classificaes de frequncia em cursos de informtica (-0.43 e -0.44, em dois cursos diferentes). De certa maneira, pelo seu formato e composio factorial, este instrumento constitui um

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    modelo que foi repetido pela maioria das escalas de atitudes elaboradas posteriormente. Exemplos de itens representativos das trs dimenses da ATC so: Ansiedade - Sinto-me apreensivo sobre ter de usar um terminal de computador ; Gosto - Usarei um computador na minha futura actividade profissional e Impacto Negativo - Os computadores tm o potencial de controlar as nossas vidas. Uma escala de trinta itens, a General Attitudes Toward Computers (GATC), destinada a adolescentes, foi desenvolvida por Reece e Gable (1982), com o objectivo explcito de medir as dimenses afectiva, cognitiva e conativa das atitudes face aos computadores. Curiosamente, aps anlise factorial, os autores optaram por reter apenas o primeiro factor extrado, com o argumento de que os factores seguintes no tinham um nmero suficiente de itens para disponibilizar interpretaes significativas e fiveis (op. cit., pg. 915). Este primeiro e nico factor constitutivo da GATC (10 itens, alfa=0.87), representa uma dimenso complexa, constituda por elementos cognitivos, afectivos e comportamentais, a que os seus autores chamaram Atitude geral. Apesar de se tratar de um instrumento unidimensional, a GATC merece meno pelo facto de essa unidimensionalidade ter sido obtida contra as expectativas dos autores e se revelar um exemplo de certo modo atpico no conjunto das escalas de atitudes face aos computadores. Uma explicao possvel para este facto pode residir na circunstncia de a amostra utilizada ter sido constituda por alunos do 7 e 8 anos de escolaridade. Isto sugere que as diversas dimenses constitutivas das atitudes face aos computadores podem no se encontrar ainda completamente diferenciadas nesta faixa etria. A mais utilizada e estudada de todas as escalas existentes , provavelmente, a Computer Attitude Scale (CAS) de Loyd e Gressard (1984b). Na sua verso original, a CAS constituda por trinta itens em formato Likert, distribudos por trs subescalas que medem, respectivamente, (1) a Ansiedade ou medo dos computadores, (2) o Gosto pelos computadores ou o apreo em trabalhar com eles e (3) a Confiana na capacidade de usar ou de aprender coisas sobre os computadores. Na fase de desenvolvimento e validao inicial, Loyd e Gressard aplicaram a CAS a uma amostra de 155 alunos do 8 ao 11 ano de escolaridade e posteriormente a um grupo de 192 professores do ensino bsico e secundrio (Loyd e Gressard, 1984b; Gressard e Loyd, 1985b). Em ambos os casos, as matrizes factoriais obtidas confirmaram, em termos gerais, a estrutura multidimensional de partida. A inspeco do modo como os itens se distribuem pelos trs factores mostra, no entanto, que o factor Confiana exibe, em ambas as amostras, uma composio pouco clara, com alguns dos seus itens a saturarem predominantemente nas duas outras dimenses. A elevada correlao entre o factor Confiana e os restantes factores sugere, ao invs, uma soluo com apenas um ou dois factores. Woodrow (1991a),

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    aps reexame da estrutura factorial do CAS, concluiu que

    o primeiro factor, aqui designado Ansiedade Informtica, poderia ser igualmente chamado Confiana face aos computadores (). Ansiedade e confiana so normalmente considerados extremos opostos do mesmo construto, embora () a ansiedade tenha geralmente um aspecto mais emocional que a confiana. A Computer Attitude Scale insensvel a tais subtilezas semnticas. De facto, o resultado da anlise factorial sugere fortemente que o CAS bidimensional e no tridimensional, como querem os seus criadores (pg. 179).

    Um pouco nesta linha, Loyd e Gressard (1984b) afirmam que um escore total nas trs subescalas pode ser razoavelmente interpretado como representando uma atitude geral face ao uso dos computadores, e reflectindo gosto, confiana e ausncia de ansiedade (op. cit., pg. 504). Os ndices de consistncia interna (alfas) do CAS variaram entre 0.86 e 0.91, para as trs subescalas, atingindo 0.95 na escala total, valores confirmados em estudos posteriores (Gardener, Discenza e Dukes, 1993; Janice Woodrow, 1991a). Porm, em outras investigaes realizadas com estudantes universitrios e com alunos canadianos do 8 e 11 anos de escolaridade, Woodrow (1990; 1994) obteve ndices de consistncia interna consideravelmente mais baixos. Neste ltimo estudo, o valor do alfa de Cronbach oscilava, na amostra total (N=421), entre 0.66 e 0.70 para as trs subescalas, subindo no entanto para cerca de 0.80 quando se considerava apenas o grupo de respondentes do 11 ano. Este facto refora a ideia, j referida a propsito da estrutura psicomtrica do GATC, que escalas atitudinais de auto-resposta como o CAS devem ser administradas com cautela a sujeitos de escales etrios mais baixos. Nos ltimos anos, a validade factorial da Computer Attitude Scale foi reexaminada por diversos autores. Em geral, as anlises replicativas tendem a confirmar a estrutura tridimensional da escala (Gardener et al., 1993; Woodrow, 1991a). No entanto, Bandalos e Benson (1990), utilizando um grupo de 375 estudantes universitrios, embora confirmando a existncia de trs dimenses distintas no CAS, verificaram que, quer a composio (em termos dos itens constitutivos), quer a interpretao substantiva dessas dimenses se mostravam diferentes das do estudo inicial. Bandalos e Benson reinterpretaram essas dimenses do seguinte modo: Factor 1 Gosto pelos computadores, um factor semelhante na composio e no significado dimenso anloga de Loyd e Gressard; Factor 2 Confiana Informtica, composto por um misto de itens que se distribuam originalmente pelas subescalas Confiana e Ansiedade; Factor

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    3 Realizao Acadmica, uma dimenso previamente no identificada e que, como o nome sugere, respeita a aspectos de natureza acadmica, como frequentar cursos de informtica com sucesso ou aprender linguagens de programao. Dos trinta itens originais, apenas vinte e trs foram conservados. interessante assinalar que Bandalos e Benson rebaptizaram esta nova verso do CAS com o nome de Computer Anxiety Scale, no obstante a sua deciso de subsumir os itens de contedo mais claramente afectivo sob o nome de Confiana. Esta verso de 23 itens do CAS foi aplicada recentemente por Bernadette Szajna (1994) a uma amostra de 162 estudantes universitrios. Embora no apresente elementos sobre a estabilidade factorial do CAS, esta autora indica valores de fiabilidade elevados para a totalidade da escala (alfa=0.96) e para as suas subescalas (0.90, 0.93 e 0.90, respectivamente). Estes valores so similares aos referidos por Loyd e Gressard e Bandalos e Benson. Os estudos realizados at data com o CAS no so totalmente conclusivos sobre a sua verdadeira composio factorial. Como vimos, alguns investigadores sentem-se inclinados a confirmar a existncia das trs dimenses de partida: gosto, ansiedade e confiana. No entanto, existe evidncia, inclusivamente nos estudos que os seus autores consideram como confirmatrios, de que essa estrutura trifactorial pode no ser estvel, sendo de admitir em alternativa a existncia de dois factores (o factor Gosto e um factor resultante da fuso do factor Confiana e da Ansiedade) ou mesmo, se considerarmos as elevadas correlaes entre as trs dimenses encontradas em praticamente todos os estudos de validao, de um nico factor. Note-se ainda que a estrutura factorial do CAS sensvel ao contexto cultural de aplicao. Estudos de adaptao a populaes no ocidentais mostraram que, quer o nmero de factores obtidos, quer a sua natureza em termos dos itens constitutivos no correspondem necessariamente aos do instrumento original (Berberoglu e Calikoglu, 1993; Kim et al., 1994). Relativamente a outros procedimentos de validao, as trs dimenses do CAS foram correlacionados de forma estatisticamente significativa com indicadores alternativos das atitudes face aos computadores, mostrando-se capazes, com a excepo da subescala Gosto, de reflectir as mudanas atitudinais resultantes da frequncia de um curso de introduo informtica (Loyd e Loyd, 1985). Num outro estudo, realizado com uma amostra mista de 343 estudantes do ensino secundrio e universitrio, Loyd e Gressard (1984a) constataram a existncia de uma relao significativa entre as trs dimenses atitudinais da CAS e a experincia de utilizao do equipamento informtico, com o nvel de experincia a covariar positivamente com o grau de favorabilidade das atitudes. Curiosamente, Szajna (1994) no conseguiu confirmar a validade preditora da verso do CAS elaborada por Bandalos e Benson, relativamente ao nvel de realizao efectiva em tarefas informticas. Nem a escala no seu conjunto, nem as suas subescalas exibiram neste estudo qualquer relao

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    consistente com a performance. Loyd e Loyd (1985) produziram uma verso especial da CAS destinada a professores. Aos trinta itens originais, acrescentaram dez novos itens, constitutivos de uma outra dimenso, intitulada Percepo da Utilidade dos computadores para o trabalho presente ou futuro. Esta escala CAS revista (designada CAS-40) foi aplicada a um grupo de 114 professores em exerccio, e analisada factorialmente. O resultado desta anlise mostrou que uma soluo com apenas trs factores independentes se ajustava melhor a esta amostra, de novo com as dimenses de Ansiedade e Confiana (r=0.92) a formarem um nico factor. Loyd e Loyd reconhecem que, para o grupo de professores usado no desenvolvimento da CAS-40, a correlao entre a Ansiedade e a Confiana (), e os resultados da anlise de factores sugerem que estas duas subescalas medem o mesmo trao (op. cit., pgs. 907-908). Uma correlao anormalmente elevada (r=0.76) entre estes dois factores foi igualmente encontrada por Roszkowski e colaboradores (1988). Assinale-se, no entanto, que Kluever et al. (1994) reexaminaram recentemente esta verso da CAS para professores, utilizando para o efeito 265 professores em exerccio, referindo ter replicado satisfatoriamente os seus quatro factores, cuja interpretao se manteve inaltervel. Eles concluem que

    a CAS um instrumento fivel respeitante s atitudes e s impresses dos professores sobre as aplicaes educacionais dos computadores, () podendo ser usado como um escore total ou separado em quatro subescalas correlacionadas (pg. 255-259).

    No seu estudo original, Loyd e Loyd (1985) examinaram a validade discriminante da CAS-40, por intermdio de uma srie de ANOVAS em que a varivel independente foi a experincia informtica dos sujeitos. Os quatro factores da escala mostraram-se capazes de diferenciar os respondentes quanto ao seu nvel de experincia (p

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    bidimensional de atitudes face aos computadores, a Cognitive and Affective Computer Attitude Scale (CACAS), composta por dois factores, a que chamaram Atitudes Cognitivas (7 itens, alfa=0.93) e Atitudes Afectivas, (7 itens, alfa=0.89). A inspeco dos respectivos itens mostra, porm, que se trata de duas dimenses relativas ao impacto social dos computadores, sendo a primeira constituda predominantemente por itens formulados no sentido positivo (exemplo: os computadores melhoraro os cuidados de sade) e a segunda por itens formulados negativamente (exemplo: os computadores desumanizaro o ensino). Infelizmente as autoras no reportam quaisquer elementos adicionais que permitam avaliar qual a pertinncia da separao factorial entre estas dimenses. Atendendo natureza substantiva dos factores, suspeitamos que existir uma correlao elevada entre elas, e que possvel que a CACAS seja uma escala essencialmente unidimensional. Uma interessante escala que pretende medir as atitudes face ao uso dos computadores foi desenvolvida por Popovich, Hyde, Zakrajsek e Blumer (1987). Trata-se da Attitudes-Toward-Computer Usage Scale (ATCUS). Os vinte itens desta escala esto redigidos de maneira a fazerem, directa ou indirectamente, referncia a situaes que envolvem a utilizao efectiva de computadores. Por exemplo, o item 1: Preferiria escrever um artigo num processador de texto do que numa mquina de escrever ou o item 2: Sempre que uso algo computadorizado, receio estrag-lo. As autoras, aps uma anlise de componentes principais, identificaram 4 factores na ATCUS: (1) Reaces Negativas face aos computadores; (2) Reaces Positivas face aos computadores; (3) Os computadores e as Crianas e/ou a Educao e (4) Reaces face a mecanismos familiares relacionados com computadores. A consistncia interna da escala total aceitvel (alfa=0.84), no tendo contudo sido referidos os ndices de consistncia interna das dimenses constituintes. As autoras correlacionaram a escala total, e as suas subescalas, com diversas medidas criteriais, especificamente com indicadores de familiaridade com o computador e com a ansiedade informtica. Registou-se uma correlao, no sentido esperado, entre a escala total, por um lado, e o grau de familiaridade com os computadores e a ansiedade informtica, por outro. Um aspecto interessante deste estudo de validao tem a ver com o facto de a componente Reaces Positivas apresentar uma associao estatisticamente significativa com a ansiedade manifestada, o mesmo no sucedendo com as Reaces Negativas, facto que traz alguma credibilidade separao factorial entre as duas dimenses, embora Popovich e colaboradores no discutam o eventual significado substantivo desta distino. Podemos concluir, a partir da magra evidncia produzida neste estudo, que a dimenso comportamental das atitudes face aos computadores (isto , a disposio para o uso dos computadores) parece ter uma natureza multifacetada e dependente do contexto de uso que se esteja a examinar, e que, alm disso, pode existir

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    uma aparente assimetria nesta dimenso: as atitudes face ao uso com uma orientao negativa teriam uma relao com as variveis criteriais diferente da que exibida pelas atitudes com orientao positiva. Uma replicao do estudo de Popovich et al. com uma amostra de idosos foi realizada por Brown, Brown e Baack (1988). Estes autores obtiveram uma estrutura factorial diferente: seis factores, com alguns dos itens a saturar em factores distintos dos originais. Este facto no parece abonar muito em favor da estabilidade factorial da ATCUS, embora Brown e os seus colaboradores tenham logrado reproduzir a diferenciao dimensional do instrumento em componentes com orientao positiva e negativa. Este aspecto, pela sua replicabilidade, constitui, na nossa opinio, talvez o ponto mais interessante desta escala e merece ser investigado em estudos subsequentes. Kinzie e Delcourt (1991) produziram a Attitudes Toward Computer Tecnologies (ACT), um instrumento especificamente dirigido a professores, e que mede duas dimenses: Conforto/Ansiedade e Utilidade Educacional Percebida. A inspeco dos itens que representam a primeira dimenso mostra que, alm dos itens habituais relativos ansiedade, esta subescala contm itens que aludem confiana do respondente na utilizao da tecnologia (por exemplo, Tenho confiana na minha capacidade para obter bons resultados num curso que requeira o uso do computador). a este aspecto da auto-confiana a que as autoras chamam Conforto. A segunda dimenso obtida mais interessante. O objectivo explcito de Kinzie e Delcourt fora o de construir um instrumento que medisse duas dimenses atitudinais putativas, o conforto/confiana no uso e a utilidade pedaggica dos computadores. No entanto, a anlise de componentes principais mostrou que a segunda dimenso se desdobrava em dois factores claramente distintos, um deles constitudo por itens formulados negativamente, isto , que se referiam ao impacto negativo dos computadores em certos aspectos da actividade docente, e o outro formado por itens de orientao positiva, itens que se referiam aos aspectos positivos da utilizao educacional dos computadores. Embora a correlao entre estes dois factores fosse moderada (r=0.45), as autoras preferiram fundir estes dois factores num nico, com o argumento de que no existiam razes claras para a sua distino. A consistncia interna para as duas subescalas era de 0.90 e 0.83 respectivamente. Mais recentemente, foram desenvolvidas algumas escalas com o objectivo explcito de medir as atitudes face aos computadores nas trs dimenses atitudinais tericas, isto , nas dimenses afectiva, cognitiva e comportamental. Um desses instrumentos o CASS (Jones e Clark, 1994), um instrumento destinado a alunos do ensino secundrio, e composto por 40 itens em formato Likert. Embora as autoras no tenham designado as trs dimenses obtidas com nomes especficos, um exame dos itens correspondentes permite reconhecer alguns dos factores tradicionais desta rea. Assim, o componente afectivo composto por itens que representam

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    a ansiedade informtica, o componente cognitivo parece representar um misto de elementos relativos percepo da utilidade e ao impacto pessoal e sobretudo social da tecnologia e o componente comportamental contm itens que se referem ao gosto pelo uso e eficcia pessoal. Um outro instrumento, o Computer Apathy and Anxiety Scale (CAAS, Charlton e Birkett, 1995), foi desenvolvido na Gr-Bretanha com uma amostra de alunos universitrios, pretendendo igualmente medir as trs dimenses atitudinais tradicionais. Os seus autores obtiveram, aps factorializao, trs componentes que representam as dimenses identificadas como Ansiedade (dimenso afectiva), Apatia (dimenso comportamental) e Excesso de nfase Societal dos computadores (dimenso cognitiva). A inspeco dos respectivos itens permite concluir, porm, que estas duas ltimas dimenses correspondem, respectivamente, aos factores Gosto pelo uso e Impacto Social, que encontramos nos instrumentos clssicos (p.ex., no CAS de Loyd e Gressard e no ATC de Raub). Charlton e Birkett mostraram que os dois primeiros factores exibem validade divergente e convergente. A SATC (Selwyn, 1997) uma escala britnica com 21 itens, que se destina a alunos na faixa etria dos 16-19 anos. A anlise factorial confirmou a existncia das dimenses supostas pelos autores: (1) Afectiva, identificvel pela natureza dos seus itens com um misto de ansiedade/confiana, (2) Utilidade Percebida do computador, (3) Controlo Percebido, identificvel com a eficcia pessoal e (4) Componente Comportamental, expresso da inteno de uso dos computadores. O aspecto mais interessante comum a estas trs ltimas escalas reside, na nossa opinio, no facto de testemunharem uma certa estabilizao das diferentes dimenses existentes no campo conceptual que se subsume sob a expresso genrica de atitudes face aos computadores. A maioria das escalas elaboradas na dcada anterior tendiam j, alis, a evidenciar que as atitudes face aos computadores constituem um domnio multidimensional e recorrente, embora alguns desses instrumentos no lograssem separar de forma adequada esses componentes.

    1.3. Escalas de ansiedade face aos computadores

    Como se viu, a maioria das escalas multidimensionais de atitudes face aos computadores contm uma subescala que mede a ansiedade informtica. Kernan e Howard (1990, pg. 682) referem a propsito que

    () uma observao desconcertante que se pode fazer a respeito dos vrios instrumentos de medida do construto de ansiedade informtica, a sua tendncia para capturarem mais do que pode ser, em rigor, designado por ansiedade informtica como tal. () Essas escalas so, por natureza,

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    multidimensionais e parecem captar vrias atitudes face aos computadores, para alm da ansiedade informtica.

    Note-se, porm, que seria mais correcto formular esta observao em sentido inverso, isto , admirando-nos como as escalas que pretendem medir as atitudes acabam invariavelmente por conter uma dimenso relativa ansiedade face aos computadores. De facto, a maioria das escalas referidas por Kernan e Howard, com a nica excepo da escala ATC de Raub, so, a fazer f na inteno original dos seus autores, escalas de atitudes, e no escalas de ansiedade. Existem, no entanto, algumas escalas que se propem medir apenas o construto de ansiedade face aos computadores. Uma das mais estudadas o Computer Anxiety Index (CAIN), desenvolvido por Maurer (1983). Este instrumento composto por 26 itens e pretende medir a ansiedade expressa pelos respondentes quando esto a usar realmente o computador. A inspeco dos seus itens revela, porm, algumas semelhanas com os do ATC de Raub, que, recorda-se, um instrumento multidimensional que abrange as dimenses do gosto, da ansiedade e do impacto social. Maurer indica uma consistncia interna (alfa de Cronbach) de 0.94 e um coeficiente de teste/reteste de 0.90 para o CAIN. Embora no tenha confirmado factorialmente a sua unidimensionalidade, Maurer procedeu a uma tentativa de validao concorrente do CAIN, tendo obtido correlaes moderadamente significativas com uma medida de ansiedade geral (r=0.32), o State Trait Anxiety Inventory de Spielberger (Spielberger et al., 1970), e com um ndice de ansiedade derivado a partir de uma observao estruturada dos sujeitos em situao de utilizao efectiva dos computadores (r=0.36). Os escores no CAIN tendem, alm disso, a correlacionar inversamente com a experincia de uso. O facto de o CAIN no ter sido factorializado, de a validade facial dos seus itens no ser totalmente convincente, e de um estudo recente (King, 1993, citado em King e Bond, 1995) ter levantado srias dvidas sobre o que se mede realmente com este instrumento, constituem motivos para pr em questo a sua validade de construto. King e Bond (1995), em particular, examinaram a estrutura psicomtrica do CAIN segundo um modelo de Rasch e concluiram que este instrumento mede provavelmente (o autor usa a expresso hopefully) a ansiedade informtica, mas que seis dos seus itens deveriam ser eliminados (pelo menos para populaes bastante jovens). Heinssen, Glass e Knight (1987) elaboraram a Computer Anxiety Rating Scale (CARS), um instrumento originalmente composto por 20 itens, e que, segundo os seus autores, se destina a medir os componentes afectivo, cognitivo e comportamental da ansiedade. No estudo de validao original, realizado com uma amostra de 270 estudantes universitrios, Heinssen e os seus colaboradores no analisaram a estrutura factorial do CARS, mas

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    mostraram que os escores totais neste instrumento apresentavam validade convergente com algumas variveis usadas como critrio, como a experincia informtica, outras formas de ansiedade (a ansiedade matemtica e de teste), e indicadores cognitivos e fisiolgicos de estados ansiolticos. A validade factorial da CARS foi posteriormente examinada por Chu e Spires (1991) e por Harrison e Reiner (1992). Estes ltimos autores, usando uma amostra de 776 adultos, encontraram dois factores claramente distintos: o primeiro desses factores corresponde dimenso de Ansiedade/Confiana, com itens como hesito em usar computadores com receio de cometer erros que no possa corrigir ou sinto-me apreensivo com ter de usar computadores, mas o segundo factor identificado parece ser similar componente Gosto/Apreo j encontrada em outras escalas. Itens que pertencem a esta dimenso so, por exemplo, o desafio de aprender coisas sobre os computadores excitante e encaro com gosto a perspectiva de vir a usar computadores no meu trabalho. Miller e Rainer (1995) chamaram a estes dois factores, respectivamente, Alta Ansiedade e Baixa Ansiedade. No entanto, atendendo ao contedo dos itens que os constituem e tradio j consolidada desta rea, consideramos mais apropriada a identificao inicialmente proposta. Uma outra escala de ansiedade, a Computer Anxiety Scale (CAS-M), foi desenvolvida por Marcoulides, Rosen e Sears (1985; ver igualmente Marcoulides, 1989). Trata-se de um instrumento composto por 20 itens, em formato de resposta Likert, e que, segundo o seu autor, constitudo por duas subescalas, a que chama Ansiedade Geral e Ansiedade perante Equipamentos. Marcoulides (1989, pg. 734) descreve a CAS-M como um instrumento que

    mede a percepo que os estudantes tm da sua ansiedade em diferentes situaes relacionadas com os computadores, [porque] existe evidncia de que as escalas de ansiedade que limitam os seus itens a situaes especficas tm um valor preditor maior para essas situaes do que os testes de contedo mais diversificado.

    Em conformidade com esta ideia, todos os itens do CAS-M so introduzidos pela mesma expresso: sinto-me ansioso ao..., distinguindo-se entre si pela situao representada: por exemplo, falar sobre uma aula de informtica ou visitar uma loja de computadores. Marcoulides realizou, embora sobre a mesma amostra, uma anlise confirmatria que mostrou que a estrutura bidimensional se ajustava melhor aos dados que um modelo unidimensional. Mais recentemente, duas outras aplicaes do CAS-M confirmaram, no apenas a bidimensionalidade, mas a invarincia da sua estrutura em grupos de sujeitos de caractersticas diferentes: estudantes universitrios e

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    polcias (Marcoulides et al., 1995). A correlao entre estas duas dimenses da ansiedade significativa e de valor moderado (r=0.65). A possibilidade de a ansiedade face aos computadores se poder desdobrar num elemento geral e em um ou vrios aspectos factorialmente distintos, correspondentes a situaes de utilizao especfica, fora alis j entrevista por Oetting (1983, citado em Bellando e Winer, 1985), ao produzir uma escala (Computer Anxiety Scale - COMPAS) que, alm do factor geral, mediria nada menos que outras seis reas de ansiedade potencial dos respondentes (e correspondentes a situaes de uso de uma calculadora porttil, entrada de dados, confiana, processamento de texto, operaes comerciais e cincia da informtica).

    1.4. Atitudes e ansiedade

    Um problema importante que se levanta a propsito do construto de ansiedade face aos computadores o de determinar em que medida estamos em presena de uma dimenso autnoma e distinta do que se chama convencionalmente as atitudes face aos computadores. A avaliar pela literatura disponvel, a ansiedade parece ser um construto robusto, que deve provavelmente ser considerado como distinto das dimenses atitudinais propriamente ditas. Alm disso, parece ser composto por um factor comum ou geral, responsvel por uma parte importante da varincia observada, e por alguns factores especficos, em nmero indeterminado ou provavelmente indeterminvel, porque especficos dos contextos de operao (vide, por exemplo a ansiedade face ao equipamento de Marcoulides, 1989). Existem, alis, razes para se distinguir a ansiedade das atitudes face aos computadores. Razes que so, em primeiro lugar, de carcter histrico, se considerarmos que a tradio de investigao da problemtica do stress e da ansiedade, considerada como um trao psicolgico (Spielberger, 1972), se tem desenvolvido parcialmente margem da investigao sobre atitudes. Da que o construto de ansiedade informtica ou computerfobia resulte, em larga medida, de um raciocnio por analogia relativamente ansiedade face matemtica, a qual, por sua vez, radica na tradio investigativa da ansiedade em geral (Cambre e Cook, 1984). Mas as razes mais importantes para sustentar a separabilidade entre a ansiedade e as atitudes face aos computadores resultam das tentativas de validao factorial que se levaram a cabo em alguns estudos. Mesmo nos casos em que os autores no fazem uma distino deliberada entre os dois construtos, a anlise factorial das escalas multidimensionais tem revelado, de forma consistente, a existncia de uma subescala ou componente estatisticamente distinguvel e que se tende a identificar de ordinrio com a ansiedade face aos computadores.

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    Algumas tentativas de validao convergente ou concorrente foram realizadas neste domnio. Por exemplo, Dukes, Discenza e Couger (1989) correlacionaram os escores de uma amostra de 221 estudantes universitrios em quatro escalas de atitudes e/ou de ansiedade: a ATC de Raub, a CAS de Loyd e Gressard, o CAIN de Maurer e a BELCAT de Blomberg e Erickson (Erickson, 1987). Infelizmente, porque neste estudo apenas se referem dados relativos aos escores totais das escalas examinadas, e apenas um dos quatro instrumentos usados no estudo o CAIN de Maurer uma escala unidimensional da ansiedade, no possvel a partir deles extrapolar o que quer que seja sobre a estabilidade e a validade factoriais da componente ansiomtrica, nem aceitar sem reticncias a concluso destes autores de que o facto de os instrumentos examinados mostrarem correlaes elevadas entre si suporta a noo de que a ansiedade informtica um conceito muito robusto, exibindo as suas vrias definies operacionais um alto grau de validade convergente (pg. 202). O que este estudo mostra, na nossa opinio, a necessidade de se proceder mais cuidadosamente discriminao das vrias dimenses atitudinais envolvidas nestes instrumentos, se quisermos ter alguma clareza conceptual sobre o que estamos a estudar. Num estudo mais bem desenhado, Kernan e Howard (1990), analisaram o padro de correlaes entre as diversas dimenses componentes de outros instrumentos. Concluram que a ansiedade face aos computadores, medida pelas subescalas de ansiedade desses instrumentos, possui validade de construto, apresentando uma correlao significativa com trs outros ndices de ansiedade (Ansiedade de Estado, de Trao, e Matemtica), o que no acontecia com as restantes subescalas atitudinais. Estes autores recomendam, assim, que no se trate a ansiedade informtica e as atitudes relativas aos computadores como se fossem construtos equivalentes e sugerem que sejam explorados independentemente (pg. 689). Uma concluso similar foi alcanada por Zakrajsek e colaboradores (1990), aps exame da validade convergente de sete instrumentos atitudinais. Para estes autores, o exame do padro de intercorrelaes obtidas convida a fazer uma diferenciao entre as reaces cognitiva e afectiva aos computadores (...) (pg. 348), sendo a ansiedade o elemento afectivo da reaco. Opinio similar sustentada por outros autores (Harrison e Rainer Jr., 1992; Lambert, 1991; Bozionelos, 1997). Do mesmo modo, Janice Woodrow (1990) constatou, para uma amostra de professores que se encontravam em formao inicial, que as dimenses atitudinais do Gosto e da Confiana estavam relacionadas com a orientao do locus de controlo, mas que isso no acontecia com a dimenso da Ansiedade.

    1.5. Concluses O exame das caractersticas dos instrumentos existentes permite-

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    nos tirar algumas concluses sobre a natureza do construto que se costuma designar pela expresso genrica de atitudes face aos computadores:

    1. A ansiedade face aos computadores, definida como um estado emocional desagradvel, marcado por (sentimentos de) preocupao, apreenso e ateno associadas ao pensar sobre, usar, ou estar na presena de um computador (Pilotte e Gable, 1990, pg. 604), parece ser uma dimenso recorrente e estvel dos instrumentos que medem este construto complexo. Alis, medida que o uso dos computadores se foi vulgarizando, tornou-se bvio que certas pessoas desenvolviam sintomas de stress e comportamentos de evitamento muito marcados na presena destes equipamentos, e esses sintomas no deixaram de evidenciar a sua presena nos padres de resposta aos instrumentos existentes. Alguns investigadores comearam a utilizar a expresso de computerfobia ou ainda de ciberfobia para caracterizar estas condutas. Por exemplo, Weinberg, English e Mond (1981) definiram a ciberfobia como uma resposta ansiosa do indivduo ao contacto antecipado ou actual com computadores. Uma questo em aberto prende-se com a relao entre esta dimenso e a dimenso da confiana pessoal. Em alguns instrumentos (p.ex. na CAS de Loyd e Gressard) estes dois conceitos so separados, mas em outras escalas tal no acontece (p.ex., a ACT de Kinzie e Delcourt, a CARS de Heinssen, Glass e Knight e a SATC de Sewyn. Vide igualmente King e Bond, 1995). A nossa discusso da CAS de Loyd e Gressard mostrou que as duas dimenses no parecem ser factorialmente separveis. Busch (1995) defende que a CAS bidimensional e no tridimensional. No h dvida que os dados que este autor apresenta sobre a relao entre os trs factores tradicionais desta escala e o sexo dos respondentes, mostram que a ansiedade e a confiana constituem um conjunto psicometricamente separvel da outra dimenso, o gosto. Na mesma linha, Kay (1992, pg. 284) afirma que () no claro que a ansiedade informtica e a confiana sejam conceitos realmente distintos. primeira vista, parece que representam polos em extremos opostos do mesmo continuum. Na nossa opinio, contudo, aconselhvel continuar a considerar a Ansiedade e a Confiana pessoal como dimenses que, embora fortemente correlacionadas, so substantivamente distintas, como se deduz alis da funo etiolgica que se tende a atribuir segunda sobre a primeira. Mais importante, no entanto, que esta questo a da independncia da ansiedade informtica relativamente ao construto genrico de atitude face aos computadores. Como dissemos atrs, existe alguma evidncia, embora no totalmente persuasiva, de que a ansiedade no deve ser considerada como uma parte constituinte desse construto alargado, sendo na realidade uma manifestao conexa, mas independente. provvel que estudos da ansiedade informtica que utilizem outra metodologia que no as escalas tradicionais de auto-resposta, por exemplo medidas fisiolgicas directas em

  • 123

    situao de uso (Cambre e Cook, 1984), possam evidenciar, de uma forma mais ntida, a separabilidade entre estas duas dimenses. Entretanto, as escalas atitudinais de papel e lpis tendero a produzir correlaes elevadas entre a ansiedade e as atitudes, e a obscurecer as diferenas eventualmente existentes entre estas dimenses.

    2. Uma parte significativa das escalas existentes identifica a dimenso afectiva das atitudes face aos computadores com a expresso do Gosto por esses equipamentos e por aspectos relacionados com a sua tecnologia. Curiosamente, em dois dos instrumentos recentes, no CASS (Jones e Clark, 1994) e no CAAS (Charlton e Birkett, 1995), este factor associado pelos respectivos autores dimenso comportamental, e no afectiva, da atitude, um equvoco explicvel pelo modo abrangente como Loyd e Gressard o definem: apreo pelos computadores e pelo seu uso (Loyd e Gressard, 1984b, nfase nosso). Em todo o caso, esta categoria parece representar o ncleo essencial da dimenso afectiva das atitudes face aos computadores.

    3. A dimenso cognitiva das atitudes face aos computadores, como expresso das crenas e representaes dos sujeitos relativamente ao objecto atitudinal, tende a corporizar-se em dois factores relativamente distintos: a Percepo da Utilidade dos computadores, a qual exprime a maior ou menor convico dos respondentes na capacidade desses equipamentos para melhorarem o seu desempenho acadmico ou profissional ou para produzirem resultados socialmente relevantes, e o factor chamado Impacto Social dos computadores por Raub (1981) e nfase Societal por Charlton e Birkett (1995), isto , a ideia de que os computadores tm ou podem ter, em termos gerais, uma influncia detrimental sobre a sociedade e sobre as relaes entre os indivduos. 4. Apesar destas dimenses afectivas e cognitivas evidenciarem uma aprecivel separabilidade factorial, o que pode ser tomado como um indcio da sua validade de construto, faltam tambm aqui estudos de validao que garantam que estamos em presena de dimenses operacionalmente distintas da atitude face aos computadores, e no apenas perante facetas menores de um construto essencialmente unitrio. Tem sido difcil, empiricamente, distinguir os efeitos destas vrias dimenses ou facetas, isto , estabelecer a sua validade convergente e sobretudo a sua validade divergente. Este problema , alis, comum maioria das investigaes sobre atitudes, no sendo de maneira nenhuma especfico da problemtica das atitudes relativas a computadores. Como se disse atrs, possvel que os instrumentos de medio utilizados predominantemente, escalas de auto-resposta que supem a mediao do aparato cognitivo na activao das atitudes, tendam

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    a atenuar as diferenas entre as trs dimenses atitudinais, como sugere Breckler (1984). Se for esse o caso, fazem falta estudos que utilizem outros procedimentos de medida susceptveis de evidenciar a especificidade dos subsistemas afectivo, cognitivo e conativo que se supe estarem por trs de cada um desses componentes.

    2. A escala ATI (Atitudes face aos computadores)

    Dado que no conhecemos, em Portugal, nenhum instrumento de medio das atitudes face aos computadores devidamente validado e com caractersticas psicomtricas conhecidas, decidimos proceder construo de uma escala. Embora nos interessem primariamente as atitudes face aos computadores dos professores, tivemos a preocupao, ao elaborar essa escala, de nela no incluir itens que presumissem a profisso ou quaisquer caractersticas particularizantes dos respondentes. Deste modo, este instrumento poder ser usado com grupos scio-profissionais diferentes, por exemplo pessoal paramdico ou administrativo. Como explicmos anteriormente, os mais antigos instrumentos de medio das atitudes face aos computadores datam dos anos sessenta. Na sua maioria, so instrumentos de papel e lpis, do tipo auto-relatrio, em que os sujeitos cujas atitudes desejamos apurar so inquiridos directamente e devem fornecer respostas verbais que exprimem as atitudes em causa. Decidimos proceder, pela nossa parte, elaborao de uma escala desse tipo, dadas as vantagens que resultam do formato, em termos de facilidade de aplicao e de tratamento dos resultados. Passamos agora a descrever a construo e a caracterizao psicomtrica desta escala, comeando pelo procedimento adoptado na redaco de um pool inicial de itens e na sua arrumao em categorias a priori, definidas operacionalmente, processo esse que pode ser considerado como a validao de contedo da ATI. Em seguida sero apresentados os resultados obtidos na aplicao da escala a diferentes conjuntos de respondentes. A caracterizao factorial das subescalas que constituem a ATI foi realizada inicialmente a partir de um estudo-piloto, que envolveu 192 sujeitos, professores em exerccio e estudantes de cursos de formao de professores. Este primeiro estudo serviu para analisar as propriedades psicomtricas de um amplo conjunto de itens, e para obter uma verso mais curta da escala. Num estudo subsequente, que abrangeu 326 alunos universitrios, as caractersticas da verso encurtada da ATI foram replicadas e validadas factorialmente. Por ltimo, a ATI foi aplicada a trs grupos de professores em formao inicial e em exerccio, num total de 702 sujeitos. No seu conjunto, a construo e validao da ATI envolveu 1220 respondentes.

  • 125

    2.1. Elaborao dos itens

    A 1 fase da construo da ATI consistiu no levantamento da literatura de investigao relativa a atitudes face aos computadores, com o objectivo de localizar instrumentos que pudessem servir de ponto de partida para a elaborao da nova escala. Consultmos duas bases de dados electrnicas, a ERIC e a PSYCLIT, bem como peridicos da especialidade, com especial destaque para a Educational and Psychological Measurement. Alguns trabalhos suplementares foram identificados a partir da bibliografia referida nos artigos extrados nesta primeira consulta. Concluda a anlise bibliogrfica, redigimos um conjunto inicial de 89 itens, alguns dos quais foram extrados de vrios questionrios preexistentes especialmente do CAS, de Loyd e Gressard e os restantes elaborados a partir de conversas com professores com experincia de formao na rea da informtica. Para conceptualizar operacionalmente as vrias dimenses da ATI, e com o objectivo de facilitar a redaco e arrumao conceptual dos itens, usmos como fio condutor as facetas atitudinais que a literatura nos mostrou serem as mais plausveis e estveis, ou seja, a ansiedade, o apreo/gosto, a confiana, a percepo da utilidade e o impacto social. Os itens produzidos nesta fase preliminar foram apreciados por um jri de 5 profissionais (4 formadores de professores e 1 ex-responsvel do projecto Minerva) que classificaram cada um deles segundo um duplo critrio: clareza redactorial e adequao s dimenses estipuladas. Como resultado desta avaliao, 12 itens foram eliminados e alguns rescritos e reclassificados categorialmente, tendo-se retido 77 itens, redigidos positiva e negativamente, que foram distribudos pelas cinco dimenses referidas da maneira indicada no Quadro 2.

    Quadro 2. Dimenses a priori da escala e respectivos itens.

    Dimenses a priori. Como se disse atrs, foram definidas 5 dimenses a priori nesta escala: Ansiedade, Apreo/Gosto, Confiana, Utilidade e Impacto Social. A primeira dimenso Ansiedade constituda por itens que exprimem uma reaco ou resposta afectiva do sujeito, quando em interaco real ou antecipada com os computadores. Essa reaco pode ocorrer apenas internamente (conforto/desconforto) ou traduzir-se em comportamentos exteriorizados (aproximao/evitamento). Nestes itens

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    est ausente todo e qualquer componente cognitivo: o sujeito apenas reporta emoes ou estados afectivos que se desencadeiam espontaneamente, e, portanto, sem mediao cognitiva, quando pensa em computadores ou est perante eles. Itens tpicos so, por exemplo, os computadores fazem-me sentir desconfortvel ou sempre que posso, evito usar computadores. A segunda dimenso Apreo/Gosto representada por itens que exprimem uma avaliao pessoal do sujeito relativamente aos computadores em geral ou ao seu uso. Esta avaliao, embora contenha uma tonalidade afectiva, como no caso da dimenso anterior, no se resume ao componente reactivo ou imediatista, exprimindo antes uma opinio do sujeito relativamente ao prazer ou desprazer que os computadores podem proporcionar a quem os usa, ou o interesse que estes equipamentos lhe suscitam. Itens tpicos so, por exemplo, gostaria de possuir um computador ou os computadores so muito interessantes. A terceira dimenso Confiana representada por itens que, como a designao sugere, traduzem o grau de confiana pessoal na capacidade de funcionar eficazmente com os computadores. Itens tpicos so, por exemplo, os computadores fazem-me sentir estpido ou no aprecio o desafio de resolver problemas com a ajuda de computadores. A quarta dimenso Utilidade agrupa os itens que representam a opinio do sujeito sobre a utilidade dos computadores (para que servem e a quem servem) e o seu impacto global sobre a vida humana. Itens tpicos so, por exemplo, os computadores so ferramentas muito teis ou os computadores j controlam demasiado as nossas vidas. Finalmente, a quinta e ltima dimenso Impacto Social agrupa os itens que se referem ao modo como os respondentes avaliam a crescente presena dos computadores nas mais diversas esferas da vida humana e os potenciais benefcios ou prejuzos dessa presena. Uma definio operacional de cada dimenso apresenta-se, em sntese, no Quadro 3.

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    Quadro 3. Definio operacional das dimenses das atitudes face aos computadores.

    1.2. Estudo piloto

    Estes 77 itens, que constituram a 1 verso do ATI, foram includos num questionrio aplicado a um grupo de 192 pessoas, professores em exerccio efectivo de funes e alunos de cursos de formao inicial de professores. O objectivo principal deste estudo piloto foi o de obter uma verso mais curta da escala, cuja fiabilidade e validade factorial pudessem ser apuradas em aplicaes subsequentes. No questionrio, os itens foram ordenados ao acaso. Escolheu-se um formato de resposta de tipo Likert, com cinco nveis de resposta, ancorados em 5 = Concordo absolutamente e 1 = Discordo absolutamente. Os escores dos itens redigidos negativamente foram invertidos antes da codificao. Composio da amostra. A composio da amostra piloto, por tipo e sexo acha-se representada no Quadro 4. Os alunos eram estudantes do 3 e 4 anos de vrios cursos de formao de professores de uma universidade do norte do pas. A distribuio dos professores pelos diferentes graus de ensino apresenta-se no Quadro 5.

    Quadro 4. Distribuio (e percentagem) dos respondentes, por tipo e sexo.

    Quadro 5. Nmero de professores da amostra, por grau de ensino.

    Anlise dos itens. Procedeu-se inicialmente ao apuramento da

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    mdia e do desvio-padro dos itens. O objectivo era detectar e eliminar os itens com pouco poder discriminante. Gable e Wolf (1993) recomendam este procedimento, porque os itens com pouco poder discriminante fazem baixar a correlao inter-item e deste modo tendem a obscurecer a estrutura factorial subjacente. Alm disso, a supresso prvia anlise de factores de alguns dos itens da escala, aumenta a razo entre o nmero de respondentes e o de itens, o que especialmente importante quando essa ratio, como o caso, no muito elevada. Decidimos assim eliminar os itens que apresentavam um coeficiente de variao baixo, ou seja, os itens que apresentavam uma mdia extrema e/ou um desvio-padro baixo. Foram assim removidos 17 itens. Os 60 itens restantes foram utilizados na anlise de componentes principais subsequente. Anlise de Componentes Principais. A anlise da estrutura factorial um momento importante na construo de um novo instrumento. Certos autores preferem realiz-la aps a depurao dos itens do instrumento por meio de procedimentos que essencialmente correspondem determinao da correlao item-total e de ndices de consistncia interna. No entanto, a anlise de factores, como indicam, entre outros, Gable e Wolf (1993), pode e deve ser realizada antes do estudo da consistncia interna, como um meio para garantir que os itens retidos possuem uma estrutura factorial significativa e, indirectamente, que a consistncia interna do instrumento definitivo seja mais elevada. De facto, sendo uma anlise de factores um processo que consiste em examinar a matriz de correlaes (ou de covarincias) de um conjunto de variveis, com vista a determinar agregados de variveis com correlaes mtuas superiores mdia, a realizao prvia dessa anlise assegura que os itens que apresentam uma saturao substancial em cada factor possuiro uma correlao item/total elevada, e, ipso facto, que as subescalas resultantes possuiro uma consistncia interna elevada. De resto, e porque a anlise de factores usualmente considerada um procedimento comum na determinao da validade interna (de construto) de qualquer instrumento de medida, isto , um meio de responder questo: que mede este instrumento?, parece fazer mais sentido realiz-la antes de determinar a fiabilidade, que responde questo: isso que medido, bem medido?. Primeiro importa saber o que se mede, e s depois se isso se mede bem e consistentemente. Por essa razo, neste estudo as anlises de factores precedem a determinao da fiabilidade das escalas e subescalas respectivas. Um outro problema, no entanto, o de decidir, de entre os diversos tipos de anlises de factores existentes, qual realizar. Optmos, nas fases iniciais de desenvolvimento dos instrumentos, por anlises de componentes principais, que so procedimentos essencialmente exploratrios. Embora os componentes principais no sejam, em rigor, factores, a maioria dos

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    especialistas est de acordo em considerar que uma anlise exploratria baseada na extraco de componentes principais produz resultados muito semelhantes aos obtidos quando se extraem verdadeiros factores latentes (p.ex. Nunnally, 1978). Por essa razo, utilizmos sempre como ponto de partida das anlises matrizes de correlao com 1s na diagonal principal e apenas quando a estrutura factorial resultante se apresentava pouca clara, isto , quando o padro de saturaes no era muito limpo, repetimos essas anlises com SMCs (quadrados das correlaes mltiplas) introduzidos nas diagonais da matriz de correlao como estimadores iniciais da comunalidade, seguindo neste ponto a sugesto de Nunnally, que considera este procedimento a sensible approach (Nunnally, op.cit., pg. 411). Finalmente, para examinar a validade factorial dos instrumentos desenvolvidos e, no caso das escalas j existentes, a sua aplicabilidade populao portuguesa, realizmos anlises confirmatrias, utilizando para o efeito o modelo matemtico desenvolvido por Bentler e Weeks para a anlise de sistemas de equaes estruturais lineares e implementado no programa EQS (Bentler, 1995). Nestas anlises confirmatrias, o mtodo de estimao utilizado foi o de Verosimilhana Mxima (ML = Maximum Likelihood), que o mtodo standard no programa EQS e o mais usual nas anlises de estruturas de covarincia.

    Quadro 6. Componentes principais do ATI (60 itens), seus valores prprios e % da varincia total explicada por cada componente.

    A anlise de componentes principais da verso de desenvolvimento do ATI extraiu inicialmente 13 factores segundo o critrio de Kaiser, isto , factores com valores prprios (eigenvalues) iguais ou superiores a 1 (Quadro 6). Porque o nmero de factores com valores prprios superiores a 1 era evidentemente excessivo, decidimos utilizar como critrio de extraco a recomendao de Catell (1966), que consiste em examinar um grfico dos valores prprios (scree plot) e rejeitar os factores que se encontram na parte plana do grfico. Como se pode apreciar pelo exame do Grfico I, a parte plana comea no factor 4, o que significa que, segundo este critrio, devemos

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    reter apenas os trs primeiros factores, que, no seu conjunto, explicam cerca de 43% da varincia total da amostra.

    Grfico I. Screeplot dos componentes principais do ATI (verso piloto) e respectivos valores prprios.

    Examinmos em seguida as contribuies prprias (factor loadings) dos itens, aps rotao ortogonal varimax, nos trs factores retidos (Quadro 7). As saturaes superiores a 0.50 em qualquer um dos factores encontram-se a negrito. Anlise correlacional dos itens dos trs factores. Para determinar quais os itens a reter na verso seguinte do questionrio, submetemos os itens de cada factor a uma anlise de consistncia interna. A anlise realizou-se em separado para cada um dos trs factores, utilizando de incio todos os itens com saturaes superiores a 0.5 e examinando, para cada um deles, a correlao item-total e o alfa resultante da sua eliminao da subescala correspondente. Utilizando um procedimento iterativo, foram eliminados sucessivamente os itens que, em cada subescala, menos contribuam para a respectiva consistncia interna. Pretendeu-se, desta maneira, conciliar dois objectivos: o mximo de consistncia interna com o nmero mnimo de itens por factor. A soluo final que retivemos apresenta-se no Quadro 8: Esta escala contm 17 itens, com uma consistncia interna (alfa de Cronbach) total de 0.90 e alfas de 0.91, 0.83 e 0.82 respectivamente para as trs subescalas constitutivas. Interpretao dos factores. Note-se, antes de mais, que a soluo factorial apresentada no reproduz exactamente os cinco construtos que serviram de ponto de partida para a elaborao da escala. Num ensaio preliminar examinmos uma soluo com 5 factores rodados ortogonal e obliquamente, mas o 4 e o 5 factores no eram interpretveis. O critrio de Catell, que sugere a extraco dos trs primeiros factores, acha-se assim corroborado pela anlise substantiva do contedo dos itens. Como interpretar estes trs factores? A leitura dos itens que

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    compem o Factor 1 no suscita grandes dvidas: aqui predomina claramente o elemento ansioltico, que na nossa conceptualizao prvia definramos como exprimindo uma reaco ou resposta afectiva do sujeito, quando em interaco real ou antecipada com os computadores, reaco essa que pode ocorrer apenas internamente (conforto/desconforto) ou traduzir-se em comportamentos exteriorizados (aproximao/evitamento). Note-se, porm, que os itens 21 (Receio no ser capaz de usar computadores) e 47 (No gosto de usar computadores porque no sei como que eles funcionam) foram inicialmente caracterizados por ns em termos da dimenso Confiana. Apesar dos dois construtos em causa (Ansiedade e Confiana) andarem frequentemente associados (a ansiedade resulta, como sabemos, muitas vezes da falta de confiana), so numerosas as escalas que as separam, no s por razes psicolgicas, mas tambm por critrios estatsticos. No entanto, no presente caso, apesar do contedo aparente destes itens nos parecer remeter para vivncias do tipo confiana pessoal na utilizao dos computadores, o padro de respostas efectivamente verificadas aconselha uma interpretao destes itens em termos de uma reaco afectiva com contornos ansiolticos face aos computadores. A interpretao do Factor 2 igualmente clara. Todos os itens que saturam significativamente neste factor se referem aos computadores na sua relao com a sociedade, com o mundo no sentido lato, e em especial ao impacto que podem ter sobre as pessoas, quer desumanizando as relaes sociais, quer induzindo alteraes que, pela sua rapidez, ameaam fazer-nos perder o controlo sobre as nossas vidas (veja-se, por exemplo, o item 65: Os computadores esto a mudar o mundo com demasiada rapidez e ns estamos a perder o controlo da situao). Tal como supusramos, portanto, a influncia dos computadores sobre a vida humana e o seu impacto na sociedade aparecem como um domnio conceptualmente autnomo, com expresso factorial clara e distinta.

    Quadro 7. Saturaes dos itens nos trs factores, aps rotao ortogonal varimax.

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    A maioria dos itens do Factor 3 referem-se dimenso Gosto. o caso dos itens 12 (preferiria atingir os meus objectivos sem ter de usar um computador), 14 (apreciaria o desafio de usar um computador), 16 (seria divertido trabalhar com um computador) e 69 (gosto de usar com-putadores). No entanto, dois dos itens tinham sido categorizados a priori por ns em outras dimenses conceptuais: trata-se do item 60 (Se pudesse dispor de um computador, as coisas seriam mais fceis para mim), clas-sificado na dimenso Utilidade e do item 8 (Sentir-me-ia bem se usasse um computador), arrumado na dimenso Ansiedade. Este ltimo item levanta um interessante problema de interpretao. O seu sentido literal levou-nos a coloc-lo originalmente, como dissemos atrs, na dimenso Ansiedade (vide o sentir-se bem). No entanto, os respondentes interpretaram-no aparen-temente de uma outra maneira, isto , interpretaram-no de tal modo que o sentir-se bem (ou mal) no denotar, para eles, uma reaco primria e cog-nitivamente no mediada (isto , algo assim como sinto bem estar perante os computadores, no experimento ansiedade ou desconforto face a eles), mas antes a expresso de um desejo, como se o item quisesse antes dizer: seria bom para mim se fosse capaz de usar eficazmente um computador. Quanto ao item 60, que , curiosamente, o que apresenta uma contribuio prpria mais elevada neste factor, o seu contedo aparente alude de facto dimenso utilitria dos computadores, mas o facto de ele saturar no mesmo factor que os itens que se referem ao prazer experimentado, leva-nos a pensar que, pelo menos para estes respondentes, a referncia ao papel facilitador dos computadores (as coisas seriam mais fceis para mim) se enquadra no mesmo conjunto de representaes mentais que determinam, para cada pessoa, o prazer ou desprazer na sua manipulao. Deste modo, o estudo piloto sugere-nos a seguinte interpretao (provisria) dos trs factores:

    1 factor = Ansiedade face aos computadores2 factor = Impacto social dos computadores3 factor = Gosto no uso dos computadores

    Em resumo, das cinco dimenses inicialmente propostas, trs delas, a Ansiedade, o Impacto Social e o Gosto, acham-se replicadas factorialmente neste estudo e para esta amostra. Quanto s outras duas dimenses hipotticas, Confiana e Utilidade, no parecem ter existncia factorial independente. A expresso de confiana pessoal (ou da falta dela) na utilizao dos computadores aparece confundida, para estes respondentes, com a manifestao de ansiedade face ao uso destes equipamentos, o

  • 133

    que, repete-se, no deixa de ter uma certa verosimilhana psicolgica. Relativamente utilidade, tudo se passa como se os respondentes a tivessem separado em dois componentes: um, que corresponde dimenso social ou colectiva (a utilidade social dos computadores, por assim dizer) e que estaria subsumida pela dimenso que chammos Impacto Social, e outro componente, mais pessoal (a utilidade para mim), que dependeria sobretudo, ou estaria associado, ao gosto experimentado no uso dos computadores. Neste ltimo caso, os respondentes considerariam os computadores mais ou menos teis conforme apreciariam mais ou menos a sua utilizao (ou vice-versa).

    Quadro 8. Composio factorial do ATI e fiabilidade (alfa de Cronbach) das suas subescalas estudo piloto.

    2.3. Validao factorial e de construto do ATI Como geralmente reconhecido (p.ex. em Cronbach, 1971), a validao de um instrumento de medida um processo que no pode ser considerado terminado em nenhum momento definitivo. Isto assim, porque, contrariamente ao que muitas vezes se conclui com base em alguma utilizao descuidada da terminologia, quando se valida um teste, no esse teste que est a ser validado, mas antes o uso que dele se faz nessa investigao particular, ou seja, validam-se as inferncias que se fazem a partir dos resultados obtidos na sua aplicao. claro que este procedimento validativo, ao repetir-se com sucesso em diversos episdios de utilizao de um determinado teste, acaba por constituir uma evidncia cumulativa que

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    permite que, com uma razovel margem de segurana, se possa dizer que o teste ou instrumento em causa ou foi validado. Nesse sentido, por exemplo, se pronuncia a comisso de redaco dos Standards for Educational and Psychological Tests, quando define a validao de um teste como ( ) um processo de acumulao de evidncia que suporta [essas] inferncias (APA, 1985, pg. 9). Em pargrafos anteriores, aludimos a alguns aspectos da construo e da interpretao das subescalas do ATI que podem ser considerados como um elemento de validao do contedo desta escala. As cinco dimenses a priori foram apreciadas por juzes com competncia profissional na rea de interesse e as suas recomendaes reflectem, quer a definio operacional das categorias, quer a arrumao dos itens em cada uma delas. Trs das dimenses iniciais, a ansiedade, o impacto social e o gosto, foram confirmadas pela anlise exploratria das respostas dos sujeitos da amostra piloto. Julgamos, assim, que a evidncia produzida nesse contexto permite afirmar que o ATI apresenta suficiente validade de contedo, isto , que os itens da escala representam instncias ou exemplos apropriados dos construtos que so supostos medir. Mas a validao de contedo um processo essencialmente judicativo, assente em procedimentos definitrios e categorizadores, que, embora importantes e mesmo essenciais para o desenvolvimento bem sucedido de uma escala, constituem uma fase simplesmente preliminar desse desenvolvimento. Nas fases posteriores, em que o instrumento testado no terreno, outras formas de validao se tornam possveis, em especial a validao factorial e a validao de construto. A validao factorial , de facto, um tipo ou modalidade da validao de construto, um procedimento essencialmente estatstico que procura responder questo: Em que grau certos conceitos (construtos) explicam a covariao nas respostas aos itens do instrumento? (Gable e Wolf, 1993, pg. 101). Se esses construtos subjacentes existem e possuem operatividade, ento as respostas aos itens que os representam devem organizar-se segundo uma estrutura correlacional clara, susceptvel de confirmao factorial. esse o objectivo e o esprito da anlise de factores, considerada como procedimento de validao. Nas fases iniciais da construo do instrumento, normal obter uma primeira informao sobre a estrutura factorial atravs de procedimentos exploratrios, como a anlise de componentes principais ou certos tipos de anlise de factores latentes. Foi o que fizemos com o ATI. A extraco dos componentes principais , no entanto, uma tcnica mais apropriada para estudos de carcter exploratrio, nos quais se pretende, sobretudo, descobrir uma estrutura emergente e no, como sucede nas fases validativas, confirmar uma hiptese bem articulada. Para este ltimo caso, existem procedimentos mais poderosos, em especial os mtodos confirmatrios que se baseiam na anlise de estruturas de covarincia. Uma anlise confirmatria, ao invs de uma anlise exploratria, parte de um modelo factorial pr-definido, uma

  • 135

    hiptese relativa ao modo como um conjunto de itens, que constituem uma escala, saturam nos factores dessa escala. O modelo hipottico de partida pode ser mais ou menos especificado pelo investigador, dependendo do grau de detalhe do conhecimento prvio que se tem sobre a estrutura factorial em estudo e da evidncia emprica disponvel sobre o comportamento dos itens da escala. Pode assim testar-se, por exemplo, um modelo factorial extremamente detalhado, que discrimine o nmero de factores ou subescalas componentes, os itens que as constituem, o valor numrico das contribuies de cada item para as respectivas subescalas, a correlao entre os factores e at as covarincias de erro, isto , a relao que as variveis residuais que determinam o comportamento errtico de cada um dos itens apresentam entre si. Ou pode, o que sucede com mais frequncia, testar-se simplesmente um modelo despojado, no qual apenas se postulam a priori o nmero de factores e os itens que lhe pertencem. Seja qual for o detalhe do modelo a testar, o procedimento confirmatrio aproxima-se mais da metodologia cientfica clssica, ao partir de uma hiptese previamente delineada para a qual se procura uma confirmao (ou infirmao) emprica. Para alm desta vantagem metodolgica, os mtodos factoriais confirmatrios apresentam ainda uma outra vantagem significativa: fornecem um indicador quantitativo da medida em que o modelo de interesse foi confirmado pelos dados disponveis. Torna-se, deste modo, possvel, no apenas saber se um dado modelo encaixa nos dados empricos, mas comparar entre si diversos modelos alternativos da mesma escala, e determinar assim qual deles melhor se ajusta evidncia concreta disponvel. Mas claro que uma abordagem confirmatria s praticvel quando se dispe, partida, de um modelo a testar, isto , quando existe alguma base prvia, seja de natureza terica ou emprica, sobre a qual construir esse modelo. Quando tal no acontece, e esse o caso na maioria das situaes em que se desenvolve um novo instrumento, sobretudo em domnios de investigao em que no existe ainda uma tradio terica cumulativa, o procedimento aconselhado uma abordagem exploratria, quer seja do tipo anlise de componentes principais ou do tipo anlise de factores latentes. Foi essa a razo porque, na fase de desenvolvimento inicial do ATI, utilizmos um procedimento exploratrio para descobrir a estrutura factorial da escala. Mas, em momentos posteriores, as vantagens conceptuais e estatsticas referidas justificam a utilizao de mtodos confirmatrios para enfrentar o problema da estabilidade factorial de um instrumento com novas amostras e populaes. Por essa razo, e com o objectivo de determinar a validade factorial da escala ATI, a verso de 17 itens resultante do estudo piloto foi aplicada a novas amostras de respondentes e os respectivos resultados reanalisados numa perpectiva psicomtrica. Pretendeu-se com estes estudos, em primeiro lugar, testar a estabilidade factorial da ATI, mediante a realizao de anlises de factores de natureza confirmatria, e, em segundo lugar, estabelecer a sua validade de constructo, pela determinao das correlaes entre os escores

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    atitudinais e outras variveis relevantes.

    Sujeitos. A escala ATI (17 itens) foi aplicada a uma amostra, a que chamaremos Amostra A1, composta por 326 alunos que frequentavam diversos cursos do 1 ano de uma universidade do norte do pas. A mdia de idade dos sujeitos era de 19.96 anos, com um desvio-padro de 2.39 anos. Posteriormente, a escala foi aplicada a trs outras amostras, designadas A2, P1 e P2, a primeira constituda por 175 alunos de cursos de formao de professores, que se encontravam a frequentar uma cadeira de Introduo Informtica, e as restantes compostas por 304 professores do 1 ciclo do ensino bsico (amostra P1) e por 223 docentes do 2 ciclo e do ensino secundrio (amostra P2). Previamente aplicao do questionrio, os 17 itens da escala ATI foram renumerados e reordenados de forma aleatria. Para cada uma das quatro amostras, e tal como no estudo piloto, procedeu-se inicialmente a uma anlise da distribuio das respostas dos itens.

    Anlise dos itens. Como se pode ver no Quadro 9, o ndice de variao dos 17 itens aceitvel, com excepo talvez do item 14, cujo desvio-padro bastante baixo. Decidimos, porm, reter todos os itens na anlise de componentes principais, uma vez que o nmero de itens na escala no tornava necessria ou aconselhvel a reduo desse nmero.

    Quadro 9. Mdia e desvio-padro das respostas aos 17 itens da escala ATI: amostras A1, A2, P1 e P2.

    Estrutura factorial. Para cada uma das quatro amostras,

  • 137

    submeteram-se os 17 itens da escala ATI a uma anlise de componentes principais, com rotao ortogonal varimax (ver Quadro 10). Por razes de espao apenas se representam os quatro primeiros componentes extrados. Como se pode constatar, com excepo da amostra A1, apenas trs dos componentes principais apresentam valores prprios superiores a 1. No entanto, mesmo no caso da amostra A1, o quarto componente possui um eigenvalue que apenas marginalmente superior a 1. Deste modo, somos da opinio de que, para as quatro amostras, apenas se deve reter uma soluo factorial com 3 factores, os quais, no seu conjunto, explicam entre 53% e 62% da varincia total respectiva.

    Quadro 10. Componentes principais e valores prprios da ATI: amostras A1, A2, P1 e P2.

    Apresentam-se, no Quadro 11, as saturaes dos itens nos trs factores, aps rotao ortogonal varimax (o sinal menos e os decimais foram omitidos para aumentar a legibilidade). Como se pode ver, esta anlise de componentes principais confirma, nos seus traos gerais, a estrutura factorial obtida no estudo inicial. H apenas duas diferenas: na amostra P2, a saturao do item A9 no factor Ansiedade, e, nas amostras A1 e P2, e no mesmo factor Ansiedade, a do item 1 (Gosto de usar computadores), que no estudo piloto pertencia ao factor Gosto. Assinale-se que, nas outras duas amostras, este mesmo item exibe um comportamento que se pode considerar duvidoso. No resulta clara, nesta fase da anlise, a natureza factorial do item 1, no sendo de excluir a possibilidade da sua eliminao ou reformulao em verses posteriores desta escala.

    Quadro 11. Saturaes dos itens nos 3 primeiros componentes do ATI amostras A1, A2, P1 e P2.

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    Anlises confirmatrias. Para alm das informaes recolhidas atravs da anlise da distribuio dos itens e da anlise de componentes principais, procedemos a trs anlises de factores latentes de tipo confirmatrio, utilizando como ponto de partida a estrutura resultante do estudo original. Estas anlises foram realizadas no programa EQS 5.4 (Bentler, 1995). De entre os vrios ndices de ajustamento propostos pelo programa, decidimos utilizar o CFI (Comparative Fit Index), que representa uma variante, corrigida para grandes amostras, do conhecido ndice de Bentler e Bonnett, o Normed Fit Index (NFI). sabido que a maioria dos ndices prticos de ajustamento, como o citado NFI de Bentler e Bonnett e o GFI de Jreskog e Srbom, se baseiam no teste da ratio de verosimilhana do 2, um teste que bastante sensvel ao tamanho das amostras e que tende, em particular, a subestimar de forma aprecivel o ajustamento dos modelos quando o nmero de sujeitos da amostras grande (Loehlin, 1992). Por essa razo, Bentler introduziu o ndice CFI, que baseado no NFI, mas que toma em considerao a dimenso da amostra (Bentler, 1990). Segundo este autor, um valor do CFI superior a 0.90 representa um ajustamento aceitvel entre o modelo e os dados (Bentler, 1992). O modelo original do ATI que submetemos a teste, e que se derivou do estudo piloto, apresenta-se em forma de diagrama na Figura 1. Neste modelo, como se pode apreciar, os 17 itens saturam apenas nos factores de partida, sem contribuies cruzadas e sem qualquer covarincia de erro. Os trs factores, por seu lado, so considerados como podendo covariar entre si. O EQS produziu, para este modelo de partida, e em cada uma das quatro amostras, um valor do ndice de ajustamento pouco satisfatrio (vejam-se, no Quadro 11, os valores de ajustamento do modelo original para cada amostra). Por exemplo, no caso da amostra A1, que era, recorde-se,

  • 139

    constituda por alunos universitrios que frequentavam o 1 ano de diversos cursos, o valor do CFI do modelo original de 0.812, correspondendo a um 2 (116) = 429.474 (p

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    140

    hierrquica, dado que cada novo modelo inclui, alm dos novos parmetros livres, todos os parmetros do modelo imediatamente anterior. Deste modo, possvel, dada o carcter aditivo da distribuio do 2, comparar cada modelo com os anteriores, em termos da diferena do 2 e dos graus de liberdade entre eles.

    Quadro 12. Valores de ajustamento dos modelos hierrquicos testados do ATI.

    Essas diferenas, bem como os ndices CFI respectivos, constam do Quadro 12. Como se v, todas as diferenas no valor do 2 que resultam da libertao sucessiva das restries indicadas so estatisticamente significativas a p

  • 141

    modelo exibiu, como se disse, um ndice de ajustamento baixo (CFI=0.812), sugerindo a existncia de crossloads entre factores e/ou de correlaes entre resduos. De facto, o teste LM multivariado indicou uma melhoria substancial do ajustamento se libertssemos as restries em alguns desses parmetros, em especial se se permitisse a contribuio cruzada de dois itens, originalmente pertencentes ao factor Gosto, noutros factores. O melhor modelo, no sentido em que o qualificativo aqui tomado, isto , o modelo que se ajusta melhor aos dados da amostra sem, simultaneamente, apresentar uma complexidade injustificada e sem violar os critrios de verosimilhana substantiva, encontra-se representado, sob forma diagramtica, na Figura 2. Verifica-se que o item 1 (gosto de usar computadores) e o item 9 (preferia atingir os meus objectivos sem ter de usar computadores) passam a apresentar contribuies prprias, respectivamente, no factor Ansiedade e no factor Impacto Social, ambas superiores s do factor Gosto, o que sugere que, para estes alunos, este ltimo factor funciona de modo peculiar e, provavelmente, ter de ser reanalisado em aplicaes posteriores com sujeitos de caractersticas similares. Alm destas contribuies cruzadas, este modelo apresenta cinco covarincias de erro, das quais s uma, entre os itens 16 e 17, entre itens de factores diferentes. Pode pr-se a hiptese desta ltima covarincia resultar, dada a contiguidade dos itens e o facto de serem precisamente os ltimos da escala, de um eventual efeito de resposta (response set), igualmente a esclarecer em estudos posteriores que utilizem uma outra ordenao espacial dos itens. Todas as cinco covarincias de erro so de valor moderado ou baixo, uma indicao de que o grau de redundncia dos itens no elevado.

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    142

    Porque a distribuio da amostra era no-normal, solicitmos a computao de um 2 robusto, que no caso do EQS a correco de Satorra-Bentler (S-B2, Satorra e Bentler, 1988), indicada para amostras com distribuio no-normal. Segundo Bentler (1995), o S-B2 aproxima-se mais da distribuio terica do 2 que as estatsticas de teste habituais e pelo menos to eficiente como os mtodos tradicionalmente indicados para lidar com amostras que apresentam desvios da normalidade. O 2 robusto de 206.942, correspondendo a um valor corrigido do CFI Robusto de 0.924, representando uma melhoria considervel do ajustamento do modelo aos dados. Quanto amostra A2, constituda por professores em formao inicial, a anlise confirmatria incidiu sobre 162 casos completos. O melhor modelo (vide Figura 3) apresenta um CFI=0.923, um valor que indica um ajustamento satisfatrio aos dados. Trata-se de um modelo bastante semelhante ao original, apenas com uma contribuio cruzada do item 5 (os computadores fazem-me sentir desumanizado) no factor Ansiedade e uma covarincia de erro significativa entre os itens 1 e 3. A mesma estrutura factorial foi confirmada, nas suas linhas gerais, com os dois grupos de professores em exerccio (amostras P1 e P2), constitudas por 252 e 206 casos completos. Estes dois modelos encontram-se representados nas Figura 4 e 5. Na amostra P1 existem trs contribuies cruzadas, mas de valor inferior s das contribuies originais. Duas destas contribuies cruzadas repetem-se na amostra P2, referente aos professores do 2 ciclo e do ensino secundrio, embora nestes casos as novas contribuies se tenham revelado mais importantes que os originais. Registe-se a recorrncia, em ambos os modelos, de uma correlao significativa entre os resduos dos itens 1 e 3. Em suma, quando comparamos estes modelos entre si, podemos concluir que:

    Genericamente, as quatro amostras confirmam a estrutura factorial do ATI, derivada do estudo piloto. Os nicos desvios assinalveis relativamente a esta estrutura aparecem nas amostras A1 e P2, nas qual dois itens da subescala Gosto apresentam loadings mais importantes em outro factor. Curiosamente, estes mesmos itens exibem igualmente um comportamento equvoco na amostra constituda P1, mas sem que as contribuies cruzadas sejam to importantes. Uma das covarincias de erro, entre os itens 1 e 3, repete-se nas trs amostras. Trata-se, portanto, de uma caracterstica aparentemente estvel, que sugere a existncia de alguma redundncia de contedo entre estes dois itens. Com efeito, o contedo substantivo desses itens semelhante, com a diferena de o item 1 ser redigido positivamente e o item 3 negativamente,

    Figura 2. Modelo final do ATI (Amostra A1) com coeficientes estandardizados e covarincias

  • 143

    alm de possuir um qualificativo que restringe o seu sentido inicial.

    A correlao entre os factores ou subescalas apresenta variaes importantes nos quatro grupos de respondentes. Note-se, em particular, a diferena na correlao entre o Impacto Social e o Gosto nas amostras de professores em exerccio: ela muito mais significativa entre os professores do 1 ciclo que entre os professores dos restantes graus de ensino.

    Figura 4. Modelo final do ATI (Amostra P1) com coeficientes estandardizados e covarincias Figura 3. Modelo final do ATI (Amostra A2) com coeficientes estandardizados e covarincias

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    de erro.

    A existncia de redundncia entre os itens 1 e 3, e o facto de o item 1 apresentar contribuies cruzadas em dois factores em trs das amostras, levaram-nos a examinar o comportamento da escala ATI, caso suprimssemos este item da escala. Os melhores modelos, sem este item, apresentam CFIs de 0.921, 0.923, 0.927 e 0.947 respectivamente, que so valores de ajustamento bastante similares aos atrs referidos para o ATI com 17 itens. Contudo, as solues encontradas so mais simples e estveis que as anteriores. Por essa razo, julgamos justificar-se a eliminao do item 1 da escala ATI, pelo menos nas amostras presentes e at que estudos posteriores possam esclarecer mais completamente a natureza e o comportamento deste item.

    Figura 5. Modelo final do ATI (Amostra P2) com coeficientes estandardizados e covarincias de erro.

    Consistncia interna do ATI. Os coeficientes de consistncia interna (alfa de Cronbach) da escala ATI (verso com 16 itens) e das suas subescalas apresentam-se no Quadro 13. Como se pode constatar, as amostras de professores apresentam valores de consistncia interna muito favorveis, tanto nas subescalas, como na escala total. Os valores da amostra B, embora

  • 145

    mais baixos, so ainda assim, aceitveis, dado que apenas a subescala Gosto possui um coeficiente inferior a 0.8. A escala ATI possui, portanto, fiabilidade suficiente para ser utilizada na investigao.

    Quadro 13. Coeficientes de consistncia interna (alfa) da escala ATI e das suas subescalas, nas amostras A1, A2, P1 e P2.

    Concluses. Duas concluses podem extrar-se destas quatro aplicaes da ATI. Em primeiro lugar, a escala parece ter uma estrutura factorial bastante estvel, os modelos reajustados possuem ndices de ajustamento superiores a 0.90 e manifestam um razovel grau de parcimnia, apenas com duas saturaes cruzadas e poucas correlaes (e de valor moderado) entre as variveis residuais. A eliminao eventual do item A1 (Gosto de usar computadores) no implica, na nossa opinio, uma reintrepretao do Factor 3. Por outro lado, em termos de fiabilidade, a ATI apresenta valores, quer para o conjunto da escala, quer para cada uma das subescalas constitutivas, que poderemos considerar muito razoveis, sobretudo se atendermos ao nmero relativamente pequeno de itens que a compem. A escala ATI apresenta assim a estrutura factorial seguinte (os itens sublinhados esto formulados negativamente, pelo que devem ser rodados antes da cotao):

    ESCALA ATI (ATITUDES INFORMTICAS)

    Factor 1 ansiedade Face aos computadores ATI 3 No gosto de usar computadores porque no sei como que

    eles funcionamATI 6 Tenho receio de usar um computadorATI 8 Os computadores criam-me confusoATI 12 Receio no ser capaz de aprender a utilizar computadoresATI 15 Pensar em usar computadores faz-me ficar com medoATI 17 Tenho uma sensao de desconforto quando penso na

    possibilidade de usar um computador

    Factor 2 impacto social dos computadoresATI 2 Os computadores esto a mudar o mundo com demasiada

    rapidez e ns estamos a perder o controlo da situaoATI 5 Os computadores fazem-me sentir desumanizado(a)ATI 7 Os computadores j controlam demasiado as nossas vidasATI 13 Os computadores desumanizam a sociedade, ao tratar todas as

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    pessoas como nmerosATI 16 Na minha opinio, j h demasiados computadores nossa

    volta

    Factor 3 Gosto no uso dos computadoresATI 1 Gosto de usar computadoresATI 4 Sentir-me-ia bem se usasse um computadorATI 9 Preferiria atingir os meus objectivos sem ter de usar um

    computadorATI 10 Apreciaria o desafio de usar um computadorATI 11 Se pudesse dispor de um computador, as coisas seriam mais

    fceis para mimATI 14 Seria divertido trabalhar com um computador

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