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Língua Portuguesa: Sintaxe

Língua Portuguesa: Sintaxe · para os estudos da língua portuguesa, selecionamos um texto para que você leia e reflita sobre ... Para isso, o autor parte da revisão das famosas

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Língua Portuguesa: Sintaxe

Linguística Moderna: Três Grandes Teóricos

Material Teórico

Responsável pelo Conteúdo:Prof.ª Me. Tânia Aparecida Arbolea

Revisão Textual:Prof.ª Me. Silvia Augusta Albert

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• Introdução

• Saussure e os estudos linguísticos

• Langue ∕ Parole

Nesta unidade, você vai rever alguns dos mais importantes nomes da literatura linguística.

Iniciamos nossos estudos com Ferdinand de Saussure, o mestre suíço, por ser considerado o ponto de partida para os estudos linguísticos, na linha estruturalista.

Em seguida, você reencontrará outro teórico não menos importante. Trata-se do americano Noam Chomsky e a sua teoria linguística gerativo- transformacional.

Após, conheceremos um pouco o teórico da gramática de valên-cias – Lucien Tesnière.

Linguística Moderna: Três Grandes Teóricos

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as ativi-dades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.

Atenção

• Diacronia ∕ Sincronia

• Sintagma ∕ Paradigma

• Significado ∕ Significante

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Unidade: Linguística Moderna: três grandes teóricos

Contextualização

Nesta unidade, teremos a oportunidade de relembrar dois dos mais importantes estudiosos da Linguística Moderna e rever suas teorias e os pensamentos que os levaram a formulá-las.

Para que você possa contextualizar esses autores e verificar a importância de suas pesquisas para os estudos da língua portuguesa, selecionamos um texto para que você leia e reflita sobre todos os conteúdos apreendidos.

Neste artigo, você vai ver a importância dos postulados de Ferdinand de Saussure para os rumos da linguística moderna. Para isso, o autor parte da revisão das famosas dicotomias saussureanas para mostrar que, a partir da metodologia do mestre genebrino, há o surgimento de duas grandes correntes: formalismo e funcionalismo. Para caracterizar a corrente formalista, discorre-se sobre o estruturalismo saussureano e o gerativismo. Para a corrente funcionalista, colocam-se como representativos a Pragmática, a Linguística Textual, a Sociolinguística, a Análise do Discurso e a Semiótica greimasiana.

Você vai notar quanto os estudos desses dois grandes mestres contribuíram para o desenvolvimento da ciência da linguagem.

O link segue abaixo:

http://www.ueginhumas.com/revelli/revelli6/numero3_n2/revelli.v3.n2.art03.pdf

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Introdução

A descoberta

O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:

- Sr. Bilac, estou precisando vender o meu sítio, que o senhor tão bem conhece.

Poderá redigir o anúncio para o jornal?

Olavo Bilac apanhou um papel e escreveu:

“Vende-se uma encantadora propriedade, onde os pássaros cantam ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e mareantes águas de um ribeiro. A casa banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranqüila das tardes, na varanda.”

Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.

- Nem pense mais nisso, disse o homem.

Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha

http://www.metaforas.com.br/ Acesso em: 15/06/2013

Algumas palavras iniciais...Este texto inicial é só para motivá-lo a perceber o valor que as palavras têm. Por isso, devemos

saber usá-las, no momento e ocasião adequados.

Nesta segunda unidade, apresentaremos um panorama dos estudos linguísticos. Não temos como deixar de considerar o quanto as pesquisas de mestres como Ferdinand de Saussure e Noam Chomsky contribuíram para o ensino de Língua Portuguesa e como os fatos da língua foram analisados pelos teóricos da área. Ainda que tenhamos muitos outros linguistas, a ênfase fica por conta desses dois grandes mestres.

Até então a filologia ocupava lugar central nos estudos da linguagem.

Seu foco é o desenvolvimento histórico e, portanto, uma análise diacrônica, uma evolução histórica das línguas.

Com a produção teórica de Saussure e Chomsky, principalmente, a linguística vem se contrapor aos estudos da filologia, uma vez que Saussure traz como inovação a análise sincrônica da linguagem e Chomsky, a ênfase na sintaxe.

Nos últimos 50 anos, o ensino e a aprendizagem das línguas, consideradas vivas, são fundamentados pelas teorias que constituem marcos da Linguística Moderna, especialmente, estruturalismo, gerativismo e linguística pragmática e enunciativa.

Já dissemos que nossa ênfase será dada em função da linguística estruturalista de Saussure; e dos estudos teóricos de Chomsky, criador da gramática gerativo-transformacional.

Outro aspecto a ser lembrado é que em nossa disciplina vamos rever essas teorias ressaltando como elas contribuíram para o estudo da sintaxe.

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Unidade: Linguística Moderna: três grandes teóricos

Saussure e os estudos linguísticos

Mal começamos a unidade e o nome Ferdinand de Saussure foi citado várias vezes. Sendo assim, já começamos a perceber sua importância. Mas quem foi Ferdinand de Saussure?

Este é um nome de que você não vai mais se esquecer durante os seus estudos de graduação, a princípio. Ele já foi estudado e será retomado em outras disciplinas, certamente. Por isso, guarde-o bem com você!

Ferdinand de Saussure nasceu na Suíça. Lá, tornou-se professor da área de Linguística na Universidade de Ge-nebra e desenvolveu suas pesquisas. Saussure morreu, mas não deixou nada publicado. Poderíamos pensar... Que pena! No entanto, sabemos que os estudos linguís-ticos puderam se respaldar, e muito, nos pensamentos deste mestre. Como?

Assim: três anos após sua morte, por obra de alunos aplicados, dois deles, Charles Bally e Albert Sechehaye, decidiram reunir as anotações que haviam feito dos cursos realizados com o grande pesquisador e publicaram o Curso de Linguística Geral. Por isso, diz-se que é no início do século XX, mais precisamente em 1916, com esta publicação, que os estudos da linguagem sofrem uma revolução. E assim, fica estabelecido, a partir dessa data, um novo modelo para os estudos da comunicação e da linguagem.

A revolução se dá, principalmente, porque Saussure elaborou teorias sobre a linguagem que se caracterizaram por focalizar a estrutura, diferentemente do enfoque histórico, que era comum naquela época.

Com isso, Saussure ganha o nome de pai da Linguística Moderna, justamente porque constituiu um saber autônomo, com objeto e métodos próprios. Isso é muito importante, pois é o que faz com que a linguística seja encarada como ciência. Um bom motivo para sua obra ser considerada ponto de partida para os estudos da linguagem.

Para o autor, o objeto da Linguística era a língua, entendida como um sistema de signos, uma gramática virtual, tomando-se gramática “como conjunto de princípios que regem o funcionamento da língua”. E essa visão de língua exclui tanto a sua realização concreta pelos falantes quanto sua evolução ao longo da história. Para o autor, a linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma.

Saussure afirma que a Linguística é uma ciência que se preocupa em estudar as manifestações da linguagem humana, mas faz uma diferenciação importante dentro da própria linguagem. Para ele, a linguagem é composta de duas faces de uma mesma moeda: “a langue e a parole”. Em seus estudos, o linguista irá preocupar-se apenas com a “langue”.

commons.wikimedia.org

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Langue ∕ Parole

Já dissemos que Saussure afirma que a “langue”, definida como o sistema de signos inte-riorizado culturalmente pelos falantes, é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que não pode ser modificada pelo falante e obedece às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade; e a” parole”, se refere ao ato individual de escolha das palavras para a elaboração de enunciados. Esta é a primeira dicotomia1 do trabalho de Saussure.

Portanto, o linguista explica que estudar a linguagem comporta, portanto, duas partes: uma, essencial, tem por objeto a “langue”, que é social em sua essência e independente do indivíduo; outra, secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, a “parole”.

Para Saussure, a “parole” são as combinações individuais, dependentes da vontade dos que falam. Nada existe, portanto, de coletivo nela; suas manifestações são individuais e momentâ-neas. (SAUSSURE, 1995).

Saussure explica que considera a “parole” composta por atos individuais, passados, presentes e futuros, e para estudá-la é necessário acompanhar as transformações da língua no tempo. Essa é mais uma razão para defender e limitar o estudo da Linguística à “langue”, fazendo um recorte no tempo, sem levar em conta evoluções da língua. Embora o linguista não descartasse a possibilidade de, em outro momento, existir uma linguística da fala, como de fato ocorreu com os estudos da Sociolinguística e Análise das Conversações, entre outros.

Vimos até aqui que o autor faz distinção entre língua e fala e sincronia e diacronia, contrastando com os estudos que predominaram no século anterior.

A partir de então, as línguas passam a ser entendidas como sistemas coerentes entre si, dando-se mais ênfase na análise das relações entre os elementos constitutivos do que procurar estabelecer linhas de evolução e pontos de contato entre as várias línguas.

Diacronia ∕ Sincronia

Mas o que vem a ser esta dicotomia entre sincronia e diacronia?

Já estudamos que os pesquisadores da linguagem dos séculos anteriores se preocupavam mais com um estudo comparativo entre as línguas, pois buscavam semelhanças entre elas; e estudavam também a origem das palavras e sua evolução no tempo.

Para Saussure, estudar uma língua não significa apenas notar a sua evolução no tempo, mas estabelecer as relações internas que ocorrem em um dado momento.

Assim, a diacronia é a língua considerada no eixo da passagem do tempo, ou seja, da sucessividade. Por exemplo, podemos estudar em língua portuguesa, diacronicamente, o seguinte fenômeno:

1 Veremos que os estudos de Saussure baseiam-se sempre em dicotomias: langue-parole; sintagma-paradigma; significado-significante; diacronia-sincronia. Estudaremos no decorrer da unidade todas as dicotomias postuladas pelo linguista.

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Unidade: Linguística Moderna: três grandes teóricos

Já a sincronia é o estudo da língua em determinado momento histórico. Aqui estamos situados nos eixo da simultaneidade, analisando os fatos linguísticos que coexistem em um mesmo sistema, em um mesmo e determinado tempo histórico, sem levar em conta a evolução.

Vejamos, num estudo sincrônico da língua portuguesa, as expressões que o falante dispõe para se referir com quem fala: tu e você, por exemplo. Aqui se descrevem as ocorrências e circunstâncias em que essas formas são empregadas.

Vale lembrar que estudar sincronicamente não significa, necessariamente, estudar o estágio atual da língua, podemos estudar a língua em qualquer tempo, desde que não se objetive verificar a evolução.

Para Saussure

é sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito às evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução. (SAUSSURE, 1995, p. 96).

Além das dicotomias já apresentadas, veremos a seguir uma que é essencial para os estudos da Sintaxe.

Sintagma ∕ Paradigma

São os eixos vertical e horizontal da linguagem. Como? O sintagma é a combinação de palavras que podem ser associadas. Nas palavras do linguista:

No discurso, os termos estabelecem entre si, em virtude de seu encadeamento, relações baseadas no caráter linear da língua, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. Estes se alinham um após outro na cadeia da fala. Tais combinações, que se apóiam na extensão, podem ser chamadas de sintagmas. (SAUSSURE, 1995, p.142).

Vossa mercê Vosmecê Você ? (o que ainda virá?)

Nada nos impede de refletir acerca dessa evolução e considerar que poderemos chegar a Cê.

Tu Rio Grande do Sul

Você São Paulo

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Já as relações paradigmáticas se caracterizam pelo eixo vertical das relações virtuais entre as unidades comutáveis, que se dão em ausência.

É importante ressaltar que sintagmas e paradigmas seguem a regra da língua para que essa relação associativa ocorra. E que as relações sintagmáticas e as relações paradigmáticas ocorrem concomitantemente.

Ou ainda...

O paradigma, o modelo, significa um sistema pré-estabelecido ou já existente. A língua é o paradigma. O sintagma é uma atualização, uma concretização do paradigma. É a utilização dos elementos que fazem parte do paradigma.

Vejamos este exemplo:

O pianista executou lindas melodias

O Polvo tem longos braços

Para tornar mais compreensível o seu pensamento, Saussure irá dizer que os sintagmas ocorrem em um eixo horizontal (e linear) da linguagem, já os paradigmas ocorrem em um eixo vertical (e virtual).

No lugar da palavra “pianista” poderiam figurar outras palavras, tais como “rapaz”, “músico”. Essas possibilidades são virtuais e apenas se tornariam realidade em situações muito diferentes, em outras manifestações da “parole”. Já o eixo sintagmático nos remete a relações de dependência entre si e conforme essas relações é que cada palavra terá o seu valor.

Vejam, se pensarmos na análise sintática da frase e sobre as classes de palavras que a compõem, veremos que tanto o primeiro como o segundo enunciado (o pianista e o polvo) são formados por substantivos, que é uma classe gramatical que pode desempenhar a função de núcleo do sujeito, nesse caso.

Poderíamos substituir estes sujeitos por outras classes gramaticais, por exemplo, pronome pessoal (“Ele executou lindas melodias “ou “Ele tem longos braços”). Ou ainda, substituí-los por um pronome indefinido ( “Alguém executou lindas melodias” ou Ninguém tem longos braços”.). Em qualquer caso, não há prejuízo para a construção da sentença.

Isso vale também para os complementos verbais, os objetos, por exemplo, que podem ter como núcleos além do substantivo, um pronome oblíquo, um numeral, um pronome substantivo.

Observem que com as alterações realizadas houve mudança no eixo paradigmático, mas as relações sintagmáticas continuam as mesmas. Essa relação entre as noções de paradigmas e sintagmas auxilia muito a entender a Sintaxe da Língua relacionada à Morfologia.

Veremos a seguir a última dicotomia saussureana.

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Unidade: Linguística Moderna: três grandes teóricos

Signifi cado ∕ Signifi cante

Como vimos anteriormente, para Saussure, a linguagem é um sistema de signos. O signo foi descrito pelo autor como uma combinação entre um conceito e uma imagem sonora, ou ainda, é a união entre um significado, isto é, um determinado conceito e um significante, ou seja, uma imagem acústica, um som (reconhecido pelo cérebro).

Uma imagem sonora é algo mental. O autor explica isso se referindo a quando falamos conosco, sem mover os lábios.

O signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica, de duas faces, que pode ser representado pela figura:

Assim, pode-se afirmar que os signos linguísticos apresentam dois componentes: uma parte material (o som ou as letras) - o significante; outra parte abstrata (a ideia) - o significado.

Ao escutar a palavra casa, reconhecemos a sequência de sons que forma esta palavra, isto é, o significante. Quando, a partir dos sons que escutamos e identificamos, nos vem à mente a imagem, daí temos o significado.

Em termos simples, um signo linguístico é toda unidade portadora de sentido. Os dois elementos estão intimamente unidos e um reclama o outro.

A principal característica do signo linguístico é a arbitrariedade, ou seja, não há uma relação lógica, motivada, específica entre o significado e o significante.

Então cada um escolhe o significante que deseja? Não é bem assim.

Saussure explica que arbitrariedade requer observação. Em outras palavras, não há nada na palavra “cadeira” que lembre uma cadeira.

Signos Linguísticos

Significante(Parte material)

Significado(Parte Abstrata)

SignosConceito

Imagem Acústica

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Não deve dar a ideia de que o significado dependa da livre escolha do que fala [...]; queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade. (SAUSSURE, 1995, p. 83).

Muito mais teríamos para falar sobre o linguista genebrino. No entanto, fizemos aqui uma breve retomada desses importantes conceitos. Nosso enfoque é a sintaxe. No entanto, para a continuidade de seus estudos, você deverá muitas vezes retomar e ampliar os conhecimentos sobre o linguista Ferdinand de Saussure.

É o que faremos a seguir, retomando alguns conceitos de outro importante teórico da linguagem.

O Americano Noam Chomsky O = Sn + SV (gramática transformacional – Noam Chomsky)

Avram Noam Chomsky nasceu em 1928, na Filadélfia. Foi estudante de matemática, filosofia e linguística na universidade da Pensilvânia. A partir de 1955, tornou-se professor e pesquisador do MIT (Massachussetts Institute of Technology).

O autor, além da sua investigação e ensino no âm-bito da linguística, é também conhecido pelas suas po-sições políticas de esquerda e pela sua crítica à política externa dos Estados Unidos. Chomsky descreve-se como um socialista libertário, havendo quem o associe ao anarcossindicalismo.

A publicação da obra “Reflexões sobre a Lingua-gem”, de Noam Chomsky (1975) é produto de uma série de trabalhos apresentados nas Conferências de Whidden, em janeiro de 1975, na Universida-de de McMaster e tem tornado este autor conhecido mundialmente. No entanto, estudos estruturalistas na linguística foram abalados com a publicação da obra Syntactic Structures, em 1957, na qual Noam Chomsky defende uma teoria gerativista.

Noam Chomsky é considerado pelos pesquisadores como sendo um estruturalista. Para ele, a língua é um sistema organizado de sinais, que possibilita a comunicação humana e todo falante possui uma competência linguística – que é a capacidade que o indivíduo tem de reconhecer os elementos da língua e construir representações linguísticas infinitas. Vale ressaltar que, para Chomsky, a linguagem é o espelho do pensamento, é um produto da consciência humana.

Duncan Rawlinson - en.wikipedia.org

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Unidade: Linguística Moderna: três grandes teóricos

Assim, surgiu uma nova corrente linguística – a gramática gerativo-transformacional. Chomsky (1975) defende que a teoria da linguagem é simplesmente a parte psicológica que estuda um determinado ‘órgão mental’ - a linguagem humana. Estimulada por uma experiência adequada e contínua, a faculdade de linguagem cria uma gramática que gera frases com características formais e semânticas. Dessa forma, Chomsky deduz que o indivíduo conhece a língua gerada por tal gramática.

O termo “Gramática” tem, para Chomsky, dentro da teoria, um sentido genérico, não se restringindo a uma linha particular e abrangendo a descrição fonológica, sintática e semântica. Parte do pressuposto de que há traços fonológicos, sintáticos e semânticos, comuns a todas as línguas, cujo tratamento constitui a principal tarefa da teoria linguística.

O próprio Chomsky definiu e discutiu vários tipos diferentes de gramática em seus primeiros trabalhos. Mas, desde o início, ele próprio defendeu um tipo particular, ao qual deu o nome de gramática transformacional ou GT; a gramática transformacional foi chamada às vezes gramática gerativo-transformacional.

Para o linguista, a gramática representa, em primeiro lugar, o conjunto de regras, ou seja, o conjunto finito de regras capaz de dar conta de um número infinito de atos, tal como existe na mente do falante, e que condiciona o seu uso linguístico.

Logo, o autor defende que todo ser humano apresenta uma competência linguística que o faz compreender como os itens lexicais se estruturam numa sentença. Assim é entendida a gramática gerativa de Chomsky. O falante de uma língua natural tem um conhecimento inato sobre como os itens lexicais de sua língua se organizam para formar expressões mais ou menos complexas. A essa capacidade que todo falante possui de produzir um número infinito de frases, denominamos produtividade

A GGT, como é conhecida a Gramática Gerativo-Transformacional, fornece regras que permitem construir sistematicamente orações complexas e, por este motivo, pode-se pensar, o que constitui um excelente fundamento para o ensino da expressão escrita.

Observe a frase: Nós queremos comer o bolo. Caso você ouvisse alguém falar ou escrever – o queremos bolo comer nós – o que você pensaria? Na certa, perceberia de imediato que os elementos da frase estão fora de ordem.

Agora compare essas outras possibilidades:

a) Comer o bolo nós queremos.

b) Nós queremos o bolo comer.

c) O bolo nós queremos comer.

Você ainda pensaria que os elementos da frase estão fora de ordem?

Para alguns desses exemplos, poderíamos dizer que sim, no entanto, é importante observar que essas diferentes formas de ordenar as palavras produzem sentido para os enunciados acima. O que não ocorre em – o queremos bolo comer nós.

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Reconhecer que este último enunciado não produz sentido é dado aos indivíduos por um conhecimento intuitivo que se tem sobre o funcionamento da língua. Esse critério de julgamento é chamado de gramaticalidade.

A gramaticalidade não está ligada às regras da gramática normativa, mas a uma constru-ção típica reconhecida pelo falante nativo da língua. Nesse sentido, os enunciados a, b e c, ainda que não se encontrem na ordem mais objetiva, respeitam as regras sintáticas interna-lizadas pelos falantes da língua.

Importante observar na teoria chomskyana a mudança de foco nos estudos da linguagem. Enquanto os estruturalistas, como Saussure, consideravam a língua como algo externo ao homem, para o linguista americano a linguagem é considerada uma capacidade inata.

Chomsky diz que ninguém fala o que já falou ou ouviu antes. Para ele, a gramática, da forma como a propõe, é muito produtiva. Temos, pois, dois conceitos fundamentais nessa teoria:

Competência - o conhecimento que um falante tem das regras de uma língua.

Desempenho - o uso efetivo da língua pelo falante em situações reais.

De certa forma, ele está situando a gramática no indivíduo. O homem tem conhecimentos interiorizados da língua.

Portanto, Chomsky descreveu uma gramática, entendida como conjunto de regras de funcionamento da língua, gerativa, isto é, capaz de gerar um número infinito de frases a partir de um número limitado de regras. E ainda, a determinou como transformacional, isto é, capaz de descrever as regras de transformação entre duas estruturas.

A GGT fornece um sistema de regras que permite gerar um número infinito de construções gramaticais. Ela pode assim contribuir para o desenvolvimento nos alunos do aspecto criativo da língua, que vem sendo solicitado a desempenhar um papel cada vez mais importante no aprendizado de línguas vivas.

No entanto, uma crítica que se pode levantar a essa teoria de Chomsky é o fato de ela atribuir a produtividade às regras e não ao uso delas. Tem-se que a produtividade decorre da aplicação de regras; portanto, para o linguista, as regras é que são produtivas e não o indivíduo.

Veremos a seguir como Chomsky propôs esquematizar as suas ideias sobre a estrutura das frases.

Este é o esquema básico da teoria chomskyana2.

2 Pré-determinantes = pré (pronome, adjetivo). Determinante = (artigos, pronomes, adjetivos). Pós – (numerais). SPC = (complemento nominal). Modificador = SA (adjetivo). SPA = (locução adjetiva). SPA = (advérbio e locução adverbial).

F SN + SV

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Unidade: Linguística Moderna: três grandes teóricos

Esse esquema mostra que toda frase é composta por um sintagma nominal e um sintagma verbal. Assim, temos que o sintagma nominal é composto por um nome, que pode ser opcio-nalmente precedido por um determinante e um sintagma adjetival e, opcionalmente, precedido por um sintagma adjetival.

Portanto, compõe-se de um substantivo ou de um artigo seguido de substantivo ou de pronome pessoal. Daí conclui-se que sujeito e objetos diretos e indiretos serão compostos por sintagmas nominais.

Um sintagma verbal é composto por um verbo, opcionalmente seguido de um sintagma nominal, que pode ser opcionalmente seguido por um sintagma preposicional.

O sintagma preposicional é composto por uma preposição e um sintagma nominal.

Estes esquemas apresentam-se como esquemas vazios. São capazes de dar conta de descrever um número infinito de frases.

SN = Determinante + Nome + Modalizador

SV = verbo + SN + SP

SPREP PREP + SN

ExploreVejamos alguns exemplos em esquemas, que são conhecidos como “árvores”:https://goo.gl/wcQyy8

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Assim, os sintagmas vão sempre se organizar a partir de um núcleo, cujas relações sintáticas são estabelecidas. Acompanhe o exemplo e compare:

Nossa confiança em você não tem limites.

Numa análise sintática pela gramática tradicional, temos que:

Sujeito simples: nossa confiança em você

NSS: confiança

Adjunto adnominal: nossa

Complemento nominal: em você

Predicado Verbal: não tem limites

NPV: tem

Tipo de verbo: Transitivo direto

Objeto direto: limites

Adjunto adverbial de negação: não

Enquanto isso, numa análise chomskiana, temos:

A frase é constituída por SN + SV.

Legenda das formas de abreviação:

Árvore sintagmática. F= frase; SN= Sintagma Nominal; SV= Sintagma Verbal; V= Verbo; Q= Quantificador; DET= Determinante; N= nome.

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Unidade: Linguística Moderna: três grandes teóricos

O que temos como sujeito na análise sintática se constitui como um primeiro SN. Este SN se compõe de um determinante (Nossa) e um nome (confiança). A partir do nome confiança sai um sintagma preposicionado (em você).

Já o sintagma verbal é constituído pelo verbo (tem), por um SN (limites) e um elemento modificador, o advérbio de negação.

Seria interessante que você desenhasse essa árvore para perceber como ateoria de Chomsky pode auxiliar a compreender as relações sintáticas na frase, na medida em que faz uma representação gráfica dessas relações. Vamos tentar?

Vale ainda observar que há pontos que se pode relacionar entre as teorias que estudadas: assim como Saussure faz a distinção entre língua (langue) e fala (parole), Chomsky também estabelece a dicotomia: competência (interna ao falante) e desempenho (a língua colocada em uso pelo falante).

Observamos apenas que, para Chomsky, a descrição das regras que governam a estrutura da competência é o objetivo mais importante de sua teoria.

Se compararmos ainda a “langue” de Saussure com a competência de Chomsky, veremos que a diferença fundamental é que a “langue” trata de um sistema interiorizado, um inventário sistemático de itens; e a competência, embora trate também de um sistema interiorizado, trata não dos signos internalizados, mas das regras necessárias para gerar os enunciados da língua.

É aí que reside a principal diferença conceitual entre os dois autores. Para Saussure, a língua, de forma generalizada, é um sistema de signos; e para Chomsky, um conjunto de sentenças.

Chomsky encontrou lacunas nos estudos estruturalistas, uma vez que a teoria de Saussure não explicava, por exemplo, ambiguidades encontradas em enunciados, como: “Crianças que recebem leite materno frequentemente são mais sadias.” A ambiguidade está na possibilidade de construir dois sentidos para a mesma frase:

Sentido 1: as crianças recebem leite materno frequentemente e por isso são mais sadias (frequentemente ligado ao verbo receber, relação de causa)

Sentido 2: as crianças recebem leite materno e esse fato faz com que elas sejam mais sadias, ( ou seja pelo fato de receber leite materno são mais sadias, e esse resultado da ação de receber leite é que é frequente) (frequentemente ligado à oração: elas são mais sadias, frequentemente)

Essa ambiguidade gerada pelo emprego do advérbio “frequentemente” é retirada numa análise da estrutura profunda, em que se mostraria na árvore a que termo ou sintagma ou oração o advérbio estaria ligado..

Já a gramática tradicional não leva em conta os sentidos construídos pela estrutura, mas se preocupa apenas com a nomenclatura de uma dada classe gramatical e sua função. Numa análise sintática da palavra “frequentemente”, por exemplo, o importante é nomeá-la como adjunto adverbial.

Veremos, a seguir, outro exemplo para mostrar a teoria chomskiana relacionada ao estudo da sintaxe:

João comeu o bolo.

O bolo foi comido por João.

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Na teoria chomskiana, tanto um enunciado como o outro, possuem a mesma estrutura pro-funda. Já em teoria da gramática tradicional existiria a preocupação em diferenciar as estruturas em voz ativa e voz passiva., e teríamos aí diferentes funções para “João”: na primeira frase, sujeito; já na segunda, agente da passiva.

Por fim, quando Chomsky estabelece o uso de árvores elimina a dificuldade da metalinguagem na análise linguística, pois sua preocupação é estabelecer as relações existentes entre as palavras do enunciado e não nomear as funções das palavras.

Mais um linguista: Lucien Tesnière

Lucien Tesnière nasceu em maio de 1893, na França. É autor de mais um modelo teórico para se estudar a sintaxe estrutural, cuja contribuição principal foi desenvolvida no livro Éléments de syntaxe structurale, em 1959, que já vinha sendo preparada desde 1939, mas publicada somente após sua morte, na qual propõe uma formalização das estruturas sintáticas da frase segundo exemplos de diferentes línguas.

O pesquisador francês diz que para compreender uma língua é preciso estabelecer conexões, as quais não aparecem de forma sequencial na cadeia falada. Assim, para esse linguista, compre-ender uma língua é reconstruir a sua arquitetura interna. Neste ponto, a teoria de Lucien Tesnière se assemelha à teoria desenvol-vida por Noam Chomsky, da qual já tratamos nesta unidade. No entanto, a metodologia usada para o estudo da sintaxe proposta pelo autor é descrever a arquitetura interna da língua para possi-bilitar a compreensão das relações e ou conexões.

Na obra Éléments de syntaxe structurale, o autor desenvolve a teoria das valências verbais. A gramática de valências tem como ponto de partida de sua análise a sintaxe e a semântica do verbo, apresentando-o, assim, como centro dinâmico da frase.

Para o estudioso, o verbo é o elemento central, que estabelece as relações de dependência com os demais elementos da frase. Assim, é considerado o termo regente, pois guia as relações de dependência. Os elementos são identificados como “actantes” – elementos exigidos pelo verbo para a complementação valencial no plano das realizações.

Desse modo, surge o conceito de valência, que é a capacidade de as palavras estabelecerem relações com outras palavras. (VILELA, 1999).

Como exemplo, temos: Alfredo canta.

Vamos ver... a oração acima possui quantos elementos? Muito provavelmente responderíamos 2, no entanto, pelos estudos deste linguista francês, a resposta é 3. Vejamos:

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1. Alfredo

2. Canta

3. A relação entre Alfredo e canta.

Caso não estabelecêssemos esta relação, daí sim, teríamos duas ideias isoladas. E, neste caso, o autor considera que o pensamento seria desorganizado.

O modelo de Tesnière baseia-se numa representação gráfica das dependências gramaticais entre as palavras dentro uma construção sintática, chamada de estema. O verbo é o atuante principal, é visto como a palavra mais importante da sentença, responsável por reger um conjunto de complementos.

Para exemplificar o pensamento deste autor, trazemos um trecho do poema de Manuel Bandeira.

Atirei um limão doce

Na janela de meu bem

Então vejamos como fica um estema desta proposição:

Nesse sentido, percebemos que a frase é um conjunto de conexões que se fazem segundo relações de dependência e segundo uma hierarquização.

Algumas explicações

Verbo atirar = transitivo direto (relação entre dois actantes: quem atira - eu e o que é atirado - limão).

Já para a palavra limão ocorrem especificações: indefinização (um) e caracterização (doce).

A ação indicada é circunstancializada pela palavra janela, a qual encontra-se preposicionada. Em janela, ocorre ainda a especificação de meu bem.

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Ainda que ocorram semelhanças na forma com as árvores de Chomsky, os dois modelos são diferentes. Vejamos um exemplo retirado de um dicionário de linguística, cujo link se encontra abaixo. O primeiro esquema é de Tesnière; o segundo, de Chomsky.

Exemplo 1- Tesnière

Exemplo 2- Chomsky

Observem que Tesnière entende que o verbo é o termo que rege os elementos presentes no enunciado, enquanto Chomsky coloca tanto o SN como o SV numa relação de igualdade de importância.

Explore

A ARQUITETURA SINTÁTICA DO TEXTO: https://goo.gl/2uZzMo

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Unidade: Linguística Moderna: três grandes teóricos

Mais algumas palavras...

Foi Saussure quem problematizou e transformou a língua em objeto de estudo da Linguística, dando-lhe o estatuto de ciência e instituindo o pensamento estruturalista à linguagem. Chomsky, seguindo a mesma perspectiva estruturalista de Saussure, inicia os estudos que fundam o campo do gerativismo, introduzindo uma abordagem voltada para a criatividade humana, para a capacidade de gerar/criar sentenças. Tesnière, segue a linha gerativista de Chomsky, mas avança ao tratar não só de uma arquitetura interna mas também das conexões existentes entre as palavras.

É muito importante observar que nos estudos linguísticos, muitas vezes as ideias não se opõem, entrecruzam-se e complementam-se. Por isso, esteja sempre atento para fazer as relações entre as diferentes teorias que veremos durante o curso.

Procure sintetizar as ideias apresentadas nesse material teórico para que possa realizar as atividades propostas nessa unidade com mais segurança.

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Material Complementar

Para ampliar seus conhecimentos neste universo teórico das pesquisas linguísticas, sugerimos, para esta segunda unidade, que você assista a um vídeo em que perceberá a importância de Ferdinand de Saussure. Para isso, basta acessar o link:

https://goo.gl/JL91Ty

Depois, assista a mais um vídeo que vem contribuir com os conceitos básicos da linguistica. Acesse o link:

https://goo.gl/BkY3eu

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Unidade: Linguística Moderna: três grandes teóricos

Referências

CHOMSKY, Noam. Reflexões sobre a linguagem. Trad. Carlos Vogt et al. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1975.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. Trad. De Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1995.

VILELA, Mário. Gramática de Valências: Teoria e aplicação. Coimbra: Almedina, 1992.