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LIRA dos
QUINZE
ANOS
Hugo Scabello 2003 Edição novembro 2013
ÍndicePoemas .................................................................................................................................. 4 A queda..................................................................................................................................4
O rio........................................................................................................................................5
O abandono...........................................................................................................................6
O anjo-caído...........................................................................................................................8
A perspectiva..........................................................................................................................9
O sonho................................................................................................................................10
O vento.................................................................................................................................11
A tristeza...............................................................................................................................12
A roda...................................................................................................................................13
A lagrima..............................................................................................................................14
A espera...............................................................................................................................15
O amor do morto..................................................................................................................16
A chuva.................................................................................................................................17
As 13 estrofes do amor verdadeiro......................................................................................18
A pena e o desprezo............................................................................................................21
As saudades .......................................................................................................................22
A solidão...............................................................................................................................23
A companhia da solidão.......................................................................................................24
O misterioso erro do amar ..................................................................................................25
A confusão...........................................................................................................................27
A morte pelas lágrimas........................................................................................................28
A lembrança ........................................................................................................................30
As 13 estrofes de Reflexão..................................................................................................31
Te Amo.................................................................................................................................34
A vida e a alegria..................................................................................................................35
O pesadelo...........................................................................................................................36
O caos da verdade...............................................................................................................37
O culpado.............................................................................................................................39
6 meses................................................................................................................................40
Pseudo-soneto cinza............................................................................................................41
O sono real...........................................................................................................................42
ODIO!...................................................................................................................................45
Lira dos 15 anos – – 2 / 86
O anticristo...........................................................................................................................47
Poemas póstumos ............................................................................................................. 48 O Espelho.............................................................................................................................48
O Tempo...............................................................................................................................49
O Eu.....................................................................................................................................50
O Nada.................................................................................................................................51
Triste.....................................................................................................................................52
Coração partido....................................................................................................................53
Esquecer..............................................................................................................................54
Poema sem título.................................................................................................................55
DecaDência..........................................................................................................................56
Contos ................................................................................................................................. 57 O ultimo momento................................................................................................................57
O conto draconianista..........................................................................................................58
A infinita melancolia.............................................................................................................60
Um padre..............................................................................................................................62
Bem-sucedido......................................................................................................................70
Contos póstumos ............................................................................................................... 71 É Tendo Inimigos Como Amigos..........................................................................................71
O monólogo do Eu comigo..................................................................................................73
O 42° Andar..........................................................................................................................75
Amor.....................................................................................................................................79
Êeein, nhén, ain...................................................................................................................83
Poema de abertura (desfecho?)..........................................................................................84
Dedicatória .......................................................................................................................... 86
Lira dos 15 anos – – 3 / 86
PoemasA queda
“Something is calling,
I can't keep from falling.”
Korn – It’s On
Subia, Subia
em direção a luz,
para isso escalava
picos e montanhas
mas nela não chegava,
mesmo sentindo
ela mais perto.
Até cair
mas pior que a agonia
de ir e não vir
era ter a sabedoria
que no fundo tinha chegado
e que o Supremo
lá é tão pequeno.
Olhando para cima via
o que havia passado
mas sabia que não poderia
nunca mais ser alcançado.
Mas a luz
não mais vi
não mais senti
não mais liguei.
Lira dos 15 anos – A queda – 4 / 86
O rio
“There is no god up in the sky tonight
No sign of heaven anywhere in sight”
Nine Inch Nails – Suck
Ó! Grande rio o qual confronto!
Tua negra água, pútrida,
gera em mim extremo espanto,
nela é mantida oculta
a estrutura do eterno Fluir
conservada no inconstante "estar"
É minha missão atravessa-lo;
mas mesmo com a ponte ajudando
meu ímpeto mantêm-se quase nulo;
Ponte frágil e perigosa, um pranto,
só a aumentar o medo
do cair no extremo.
Profundo, na primeira visão
mas raso quando bem analisado;
não resistirei ao menor puxão,
também não ficarei desesperado,
pois sei de minha fraqueza,
pois sei que perderei, Ó! tristeza!
Pouco me importo com o método
todos me levarão ao fim
só o tempo pode ser alterado
pois o fim
é o único
desconhecido
Lira dos 15 anos – O rio – 5 / 86
de mim.
O abandono
“I wish you could be me.
And then as you would see.
How tired I am.”
Korn – Wish You Could Be Me
Asas imponentes, possuo
fazem-me transpor o mar
não corte-as, peço!
não mais posso voar.
Espada afiada, possuo
faze-me quebrar o estar
não roube-a, peço!
não mais posso machucar.
Escudo sagrado, possuo
faze-me manter o lugar
não roube-o, peço!
não mais posso precaver.
Língua ligeira, tenho
faze palavras em ar
não corte-a, suplico!
não mais posso influenciar.
Orelhas apuradas, tenho
fazem-me algo estelar
não corte-as, suplico!
não mais posso mudar.
Lira dos 15 anos – O abandono – 6 / 86
Olhos aguçados, tenho
fazem-me tudo analisar
não fure-os, suplico!
não posso mais criticar.
Gritos agudos sufoco
fazem-me sempre chorar
não proíba-los, imploro!!
não mais posso respirar.
Lamentos trágicos
fazem-me quieto
não proíba-os!!
...
Lira dos 15 anos – O abandono – 7 / 86
O anjo-caído“Please wake me.
Please give me some of me back.
The feelings I had”
Korn – Let’s Get This Party Started
Fui um anjo,
sou um caído.
Hoje, despojo,
ontem, convicto.
Fui luz,
sou nada,
orei à cruz
nego a fada.
Antes sagrado
motivo de orgulho,
agora maculado
causador de repudio.
Asas imponentes,
abaixo, rastejando,
harpas estridentes,
estou terminando.
Via o distante
isso já me cansa,
vivo o instante
sem mais esperança.
Lira dos 15 anos – O anjo-caído – 8 / 86
A perspectiva“I'm crying, I'm frying.
In a pile of shit.
I'm dying. I'm dying. I'm dying”
Korn – Somebody Someone
Vida
novo,
já
choro...
Tinta
estranho,
ainda
choro...
Finda
termino,
agora
morro...
Lira dos 15 anos – A perspectiva – 9 / 86
O sonho“À sombra de uma cruz! e escrevam nela:
Foi poeta, sonhou e amou na vida. –“
Álvares de Azevedo – Lembrança de morrer
Penso em você
sem nunca te ver
sofro muito
sofro mais
será um sorriso?
ou um riso?
não sei...
será que saberei?
não sei...
acho que desistirei!
não devo...
não posso...
Ó! Sofro!
Depressivo!
Destruído!
sonho...
e então repito:
Sou poeta - sonho - e amo na vida!
Lira dos 15 anos – O sonho – 10 / 86
O vento“She'll be right here in my arms
So in Love
She'll be right here in these arms
She can't let go”
HIM - Right Here In My Arms
Vento, Vento! Ó, grande vento!
me levas para minha amada,
pois eu não mais agüento
viver longe das fadas!
O sol aqui é forte,
mas sinto frio!
Seria o frio da morte?
triste futuro arredio!
Quero calor!
Quero companhia!
Quero amor!
Triste vida arredia!
Ela me espera!
Já o destino não...
mas sem ela
viverei em vão!
Lira dos 15 anos – O vento – 11 / 86
A tristeza“Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!”
Alvares de Azevedo – Se eu morresse amanhã
Estou acabado!!!
massacrado...
vai chover!!!
irei morrer...
tristezas da vida!!!
lagrimas perdidas...
Sou fraco!!!
não resisto...
à magoas!!!
vivo fabulas...
Lira dos 15 anos – A tristeza – 12 / 86
A roda“Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de neve tremia...”
Álvares de Azevedo - sonhando
Hoje, tive um sonho...
que tanto me mudou,
mas me deixou o mesmo
deprimido estranho.
Em roda,
ditávamos a moda,
felizes a cantar
musicar feitas de gritar
tristes e melódicas!
Assim como os estóicos
sempre vendo o real,
mas esperar era imoral!
Cheguei mais perto
então, chorei!
Pois não foi certo,
ela eu matei!
Nem ouro nem estanho!
Será que não mereço?
Ao menos um desejo!
Enfim, tive um sonho...
Lira dos 15 anos – A roda – 13 / 86
A lagrima“Quando junto de ti eu sinto, às vezes,
Em doce enleio desvairar-me o siso,
Nos meus olhos incertos sinto lágrimas...
Mas da lágrima em troco eu temo um riso!”
Álvares de Azevedo – Lagrimas da vida
Triste e fria!
Sentimentos revela,
tanto a histeria,
como a espera!
Fruto do lamento
dos depressivos!
Mostra arrependimento,
e cria inativos!
Por alguns, censuradas!
Para outros, um hábito!
Representa a fraqueza
e toda a tristeza!
Lira dos 15 anos – A lagrima – 14 / 86
A espera“I'd never dreamed that I'd need somebody like you
And I'd never dreamed that I'd need somebody like you”
HIM – Wicked Game
Esperei, esperei e ainda espero!
Então o que você vê?
Sou um nebuloso mistério,
assim como você!
Sonhei, sonhei e ainda sonho!
Sonhes, também, com nossa vida;
Pois mesmo sendo estranho,
sei que um sonho compartilhado se realiza!
Chorei, chorei e ainda choro!
Antes por não te conhecer,
e agora pelo desespero,
de não poder te ter!
Sofri, sofri e ainda sofro!
Pois, te amo e sempre amarei!
E durante um banho morno
com você, morrerei!
Tudo o que eu quero!
Tudo que eu espero!
Com você viver!
Com você morrer!
Lira dos 15 anos – A espera – 15 / 86
O amor do morto“I know it’s the last day on earth
We’ll be together while the planet dies
I know it’s the last day on earth
We’ll never say goodbye”
Marilyn manson – The Last Day on Earth
Porque não morro?
Assim não mais sofro
já são 4 horas
e eu não quero ir embora
onde ela está?
Eu quero ela amar!
No meu coração, no meu coração...
meu corpo morto no chão, no chão...
Lira dos 15 anos – O amor do morto – 16 / 86
A chuva“(I'm in love with you)
You are my heaven tonight”
HIM – Heaven Tonight
O céu pranteia, chove!
Então eu lembro de tudo
que eu nunca esqueci!
E com lagrimas, a chuva, contribuo!
Assim como o céu chora
de amor pela terra,
a causa de meu pranto mora,
no coração dela...
E quando aí chover
lembre-se que estou com você,
pois minhas lagrimas
acompanham as chuvas eternas!
Assim quebram a distância
e me mostram uma esperança!
Lira dos 15 anos – A chuva – 17 / 86
As 13 estrofes do amor verdadeiro“We are so young
our lives have just begun
but already we're considering
escape from this world
and we've waited for so long
for this moment to come
was so anxious to be together
together in death
Won't you die tonight for love
Baby join me in death”
HIM – Join me in Death
Com uma simples conversa,
algumas horas,
você já se torna,
tudo aquilo que me interessa.
Não é um livro, nem um filme,
pois nem mesmo na fantasia
há sequer uma história
que com nosso amor se assemelhe.
Nosso ceticismo
criou uma desconfiança
pois não tínhamos esperança
de viver tanto romantismo!
Lira dos 15 anos – As 13 estrofes do amor verdadeiro – 18 / 86
Um niilista, eu era
e você me deu um sentido,
pois eu já tinha desistido
da minha vida perdida.
Mas mesmo assim,
lagrimas caíram,
problemas surgiram,
mas nosso amor não terá fim!
Pensamos na morte,
essa foi marcada,
para que assim seja eternizada
nosso amor tão forte!
Dominou meus pensamentos
e toda minha vida!
Em mais nada,
agora, eu me concentro!
Você roubou a madrugada,
a noite e também o dia!
Sinto uma grande agonia,
só em cogitar que você não viria!
Quando ouço sua voz linda,
uma paz me consome
e me impede que chore
então minha esperança nunca é finda!
Eu te amo!
Amo muito!
Amo mais que tudo!
Só por você que eu imploro!
Lira dos 15 anos – As 13 estrofes do amor verdadeiro – 19 / 86
Prefiro um instante,
ao seu lado,
do que ter passado
cem anos distante.
Nada mais é importante!
Nem o mundo,
nem o futuro!
Somente nosso romance!
Enquanto viver,
te amarei, sempre!
E assim serei contente!
Até a hora de morrer.
Lira dos 15 anos – As 13 estrofes do amor verdadeiro – 20 / 86
A pena e o desprezo“head like a hole.
black as your soul.
i'd rather die than give you control.”
Nine Inch Nails – Head like a hole
Por todos fui enganado,
sou a pedra no caminho,
pensei que fosse amado,
mas sei, estou sozinho.
Normal, sou eu o problema
o garoto tolo e doente.
Por mim só sentem pena
nem isso mereço! Deprimente.
Pelos pais eu sou desprezado
todos lançam olhares curiosos
pois, deus, por mim, foi assassinado
mas eu não saí vitorioso.
Para morte, não tenho coragem.
Contra o destino, sou indefeso.
viver é uma desvantagem.
para mim? Somente pena e desprezo...
Lira dos 15 anos – A pena e o desprezo – 21 / 86
As saudades “I'm for you - and I'm dying for your love
I'm for you - and my heaven is wherever you are”
HIM – For you
De você, saudades eu sinto
sem você, algo está faltando
sou e estou confuso, admito
mas eu sei, estou amando!
Você está longe, distante
mas do meu toque somente
pois, pensar em você, é constante
sempre habita minha mente!
Quero estar com você de novo
e de novo, enfim toda hora
de sua companhia, não enjôo
não queria partir, ir embora
Lira dos 15 anos – As saudades – 22 / 86
A solidão“Sometimes I cannot take this place.
Sometimes it's my life I can't taste.
Sometimes I cannot feel my face.
You'll never see me fall from Grace”
Korn – Freak on a leash
Só, isolado, sozinho
e cercado por muitos estou
mas ainda assim só, estranho
exatamente o que sou!
Um estranho, sim
um completo desconhecido
até mesmo para mim!
Serei eu esquecido?
Talvez, mas não deveria ligar
mas ligo, tenho medo
pois de você vou sempre lembrar
e esse é meu credo.
Meu credo: sou amado
como bom seria!
E é, pois ao seu lado
tenho companhia!
Lira dos 15 anos – A solidão – 23 / 86
A companhia da solidão“I was waiting for you
Waiting for all my life
I've been crying for you
Die for you all this time”
HIM – Loose you tonight
Sentado no canto, quieto,
concentrado, olhando pro teto,
sem ter o que fazer
pois estou sem você.
Poderia até sair
mas com o sol não quero ir
e para onde iria?
Sem sua companhia.
Mas talvez sob a escuridão
teria a companhia da solidão.
Menos mal, mas ainda ruim
pois não tenho você pra mim.
Sei, a senhorita não tens culpa,
eu que tenho, e peço desculpa.
Mas sozinho vou estar
enquanto sem você ficar.
Lira dos 15 anos – A companhia da solidão – 24 / 86
O misterioso erro do amar “Nem visão, nem real: amor! amor somente!...
Pois quem sabe o que diz esta palavra - amor - ?”
Antero de Quental – Beatrice
Quero ser amado
por você, eu quero!
Ser bem tratado,
por você, eu espero!
Pareço desesperado?
NÃO... Talvez...
Mas é sua vez:
-Tenho eu importado?
É o que quero saber
de você, o que faço?
Amado quero eu ser
por você, posso?
Não consigo ver!
NÃO... Leigo...
Sou eu cego?
-O que eu posso fazer?
Não sei, só sei que
por você, me importo!
Confuso, mas amo você
só você, outros odeio!
Se não fosse assim, se...
NÃO... nem tento!
Novamente lamento!
-As lágrimas, estou a mercê!
Lira dos 15 anos – O misterioso erro do amar – 25 / 86
Onde errei?
Ser pra você, eu queria,
o que você é pra mim.
Eu dificultei?
ODIO! Como tanto me iludira?
Não sou e nunca serei, e fim.
Lira dos 15 anos – O misterioso erro do amar – 26 / 86
A confusão“E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...”
Antero de Quental – Oceano Nox
Minha vida, perdida,
era minha?
Minha alma, destruída,
eu tinha?
Meu deus, ilusório,
olhava por mim?
Meu sorriso, imaginário,
tudo teve fim.
Me perguntaram se valera a pena,
então eu respondi apenas,
que tudo é negro e triste
quando a alma já não existe.
Como pode alguém
que menos de vinte anos
de estadia aqui tem,
viver de modo tão insano?
Questionando o mal e o bem
como um simples fundo de pano.
Ai ai ai, confuso confuso confuso, estou!
Será que é assim mesmo que eu sou?
Ou será que não?
confusão, confusão!
Lira dos 15 anos – A confusão – 27 / 86
A morte pelas lágrimas“Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!”
Alvarez de Azevedo – Adeus, meus sonhos!
Pranteio, choro, me desespero!
Porque? Por tudo! EU EXISTO!
Uma salvação? NÃO mais espero!
Acho que em breve, de tudo, DESISTO!
O que importa? Sou um MORTAL, um mero!
FRACO! Nem ao menos a dor resisto!
Não a física e sim a vinda do ETÉRO!
É assim que vivo, ou morro, ODEIO isto!
Lagrimas e mais lagrimas eu derramo!
Acho eu, que de tanto chorar
nas minhas lagrimas vou me afogar!
Assim me afasto de tudo que não amo.
Assim me afasto de tudo
pois tudo desprezo!
Sei que aí me descuido!
Ainda a amo, e foda-se o resto!
Outro dia agradeci por sua existência:
- AMO VOCÊ! Obrigado por existir!
Hoje, devo me desculpar por minha insistência?
Mas você eu não quero admitir
que perdi...
AI! Me iludi!
Lira dos 15 anos – A morte pelas lágrimas – 28 / 86
Acho que nunca fui amado!
NUNCA! Sempre desprezado!
SOMENTE NOVAMENTE ODIADO!
TALVEZ EM BREVE, AFOGADO!
Em lagrimas...
Lira dos 15 anos – A morte pelas lágrimas – 29 / 86
A lembrança “Oh the taste from your lips, my Darling
Taste from your lips, oh my Love”
HIM – Razorblade Kiss
Com os olhos fechados
de ti lembro, nostalgia!
Se pudesse, ao teu lado
sempre estaria.
Como foi bom, ter
seu lábio junto ao meu!
Como foi bom, ver
meu olhar cruzar o seu!
Vejo, seu meigo olhar,
lembro, você em meu braço
disse me amar.
O que eu faço?
Um sonho? Não!
Real, como meu amor!
Mas será que foi em vão?
Enfim, seja o que for!
Pois te amo ainda!
E a lembrança, não será finda!
Lira dos 15 anos – A lembrança – 30 / 86
As 13 estrofes de Reflexão“u know where
eye'm fragile”
Otep – Emtee
O que houve? O que acontece?
Por que tudo é assim, irreal?
Um sorriso? Somente um disfarce!
Somente a lágrima é real!
Essa que tenho em meus olhos,
que domina minha vida.
Essa, fruto dos meus choros,
Que cai por você, querida!
Assim, como tudo pra mim
desaba, pois sou fraco,
o mais fraco, sou sim!
De tanta dor não escapo!
Minha dor, é interior
mas pior do que qualquer tortura,
ver o vazio, sem ter o que por.
Ser nada, minha pior amargura!
Tento fugir, de inútil insistira!
Minha maior contradição,
quero deus e não quero mentira!
Vivo por viver, vivo em vão!
Lira dos 15 anos – As 13 estrofes de Reflexão – 31 / 86
As vezes disso esqueço.
Felicidade? Durmo e não acordo...
Parece que não mereço,
pois de novo, de tudo recordo!
E meu frágil mundo desaba.
Não tem nenhuma base material!
Toda alegria acaba!
A tristeza é a única real!
Assim continuo a viver!
Construindo, destruindo...
Assim continuo a sofrer!
Pranteando, chorando...
Feliz, posso eu ser?
Parecia estar tão perto!
Estava, tudo como poderia querer!
Será que eu estava certo?
Não! Não!! Uma dificuldade!
Sem razão aparente,
para destruir a felicidade,
que estava em minha frente!
Será que isso era de se esperar?
Somos mesmo condenados?
A enquanto vivermos, chorar?
Parece que tudo é determinado!
Será que isso irá
com nosso amor acabar?
Por favor, não! Virá
Lira dos 15 anos – As 13 estrofes de Reflexão – 32 / 86
tempos melhores nos acalmar!
Você ainda é o único sentido!
Eu quero o começo, você o fim!
Apesar de nada ter mudado!
Me amas? Pois ainda es meu amor pra mim!
Lira dos 15 anos – As 13 estrofes de Reflexão – 33 / 86
Te Amo“No one will love you
No one will love you the way I do
No one will love you
Love you like I do”
HIM – Love you like I do
Por que você não entende?
O que eu te falo,
é tudo que meu ego sente,
acho que agora me calo
e deixo que a linha
desse meu poema, mostre
que todo amor que tinha
e tenho, existe!
Carol, Te amo!
Te amo!
Te amo!
Te amo...
Lira dos 15 anos – Te Amo – 34 / 86
A vida e a alegria
Posso eu ser o que quero?
Sim, acho que sim...
Mas posso eu querer ser?
Não! Não no fim...
Preciso de um sentido!
SENTIDO! Isso existe?
Não! Somente uma ilusão!
Permaneço, então, triste!
As vezes esqueço, me engano,
mas logo novamente lembro,
nada sou, nada serei, nada!
Nada! Nada... em vão tento.
Mas tudo é nada e nada é tudo!
Então como viver? Diga-me isso!
Vivendo... em vão sem sentido.
Vivendo sem vida, sem sorriso
Oh! Vivo morrendo! Não vivo!
Conseguir é fácil,
Difícil é querer
Um objetivo, ter,
Ver a vida dócil,
como ela não é,
paradoxo!
verdade e fé
Vida e alegria.
Lira dos 15 anos – A vida e a alegria – 35 / 86
O pesadelo
Sonhei,
ou, estou sonhando,
não sei!
Pesadelo deprimente,
era minha vida,
em minha mente!
O que faço?
Sonhos, são mais concretos
que meu laço.
Apavorado!
Como sempre, ódio!
Acabo abandonado!
Tudo errado!
em meu sonho,
somente mato!
Tudo errado!
em minha vida,
somente mato!
O sonho, acaba,
acordo, abro os olhos
e acaba.
A vida continua.
Queria não mais acordar,
Assim, acabaria minha amargura!
Lira dos 15 anos – O pesadelo – 36 / 86
O caos da verdade
ODIO!
odiodemim
opiordosidiotas
soueusim
omaiordetodoshipocritas
souaquiloquecritico
queodeioquedenuncio
emmimnadahademistico
domundoeumedistancio
MENTIRA!
continuocoexisto
comaquiloquenaoaturo
oufinjonaoaturardesisto
daverdadetudoeudeturpo
ohasilusoessaotantas
algumaseuaceito
outrasnomeiocomoantas
tudoqueeuinvento
VERGONHA!
Lira dos 15 anos – O caos da verdade – 37 / 86
escondooquesou
oumelhoroquetentoser
poisnadasou
eopiornadaqueroser
entaonadaserei
nadaterei
etambemnaomorrerei
nahorameacorvadarei
ODIO!
DEMIMDEMIMDEMIM!
VERGONHA
DEMIMDEMIMDEMIM!
DEMIMDEMIMDEMIM!
DEMIMDEMIMDEMIM!
DEMIMDEMIMDEMIM!
MENTIRA!
tudomentiraounaojanaomaisseidiferenciar
oqueentaodemimsera
ODIO!
Lira dos 15 anos – O caos da verdade – 38 / 86
O culpado
EU SOU O CULPADO!
CONDENEI SÓCRATES!
QUEIMEI ROMA!
CRUCIFIQUEI CRISTO!
EU SOU O CULPADO!
PROMOVI AS CRUZADAS!
QUEIMEI BRUXAS!
VENDI MINHA ALMA!
EU SOU O CULPADO!
MATEI OS INDIOS!
ROUBEI QUEM NADA TINHA!
DETURPEI A VERDADE!
EU SOU O CULPADO!
DIZIMEI HIROSHIMA
E TAMBÉM NAGAZAKI!
MATEI OS JUDEUS!
EU SOU O CULPADO!
PROMOVI A INJUSTIÇA!
A FALTA DE LIBERDADE!
E O SOLIPSISMO!
EU SOU O CULPADO!
MAS NUNCA NADA FIZ!
SOU O CULPADO!
POR EXISTIR!
Lira dos 15 anos – O culpado – 39 / 86
6 meses“I did it all just for her
I did it all just for her love”
HIM – Poison Girl
Com 8 horas conversando
Apaixono-me, você já era tudo!
Realmente, já estava amando!
O que são 8 horas, se com 6 meses forem comparadas?
Lhe digo, praticamente nada!
Te amo, mais a cada dia!
E você é minha única alegria!
Agora, então, me responda,
Me conte, minha amada,
O que são 6 meses, se com uma vida forem comparados?
Lira dos 15 anos – 6 meses – 40 / 86
Pseudo-soneto cinza“It’s a great big white world
and we are drained of our colors”
Marilyn Manson – Great White Big World”
Oh! Agora, eu finalmente vejo!
Como todo existir está tão, cinza,
uma lágrima cai, e em vão desejo,
um pesadelo, um menos ranzinza!
É somente mais um episodio
permanente, deste complexo drama
formado no infindável ódio
e na beleza sólida da lama.
Tecem criticas e comentários,
tudo que pode ser dito, são ditos,
inutilmente, nada atinge o fm!
Um desprezível mundo de otários!
Com seus insignificantes ritos!
Oh! Imploro-te respira por mim!
Lira dos 15 anos – Pseudo-soneto cinza – 41 / 86
O sono real
DCXIQuero dormir, mas não tenho sono,
Quero sonhar, mas sem dormir,
Quero, sonhar, mas nada espero,
Quero um pesadelo, ao menos!
Quero viver! Quero viver?
Quero acordar, mas não tenho força,
Quero lutar, mas sem acordar,
Quero lutar, mas sem objetivo,
Quero perder, pelo menos!
Quero morrer! Quero morrer?
IDormir, bom seria
minha vida passaria.
Preocupação? Não teria!
Tudo, nada seria!
IISonhar, sonhar acordado.
Desejar você ao meu lado!
Inventar essa velha flor,
nomeada como amor!
IIISonhar, mas sem esperança!
Oh! Sonhar me cansa!
De almejar um sentido,
deus tornou-se lívido!
Lira dos 15 anos – O sono real – 42 / 86
IVUm pesadelo, uma mudança
preciso de uma nova dança!
Algo precisa mudar!
Ou meu sangue irá estourar!
VViver, eu vivo?
Tudo é relativo!
O que é viver?
O que é morrer?
VIAcordar, mas sem vontade!
Preciso de alguma liberdade!
Fugir dessa penitencia,
alargar a existência!
VIILutar, mas sou fraco!
Ainda devoto Baco!
Aquele que morreu
assassinado pelo fariseu!
VIIILutar, mas sem inimigo!
Por um motivo antigo!
Para ter um objetivo!
Para continuar vivo!
Lira dos 15 anos – O sono real – 43 / 86
IXPerder, seria uma prova
de que existe a minha cova!
Mas ai já teria acabado
e de um jeito desonrado!
XMorrer, eu morro?
Tudo eu choro!
O que é morrer?
O que é viver?
Lira dos 15 anos – O sono real – 44 / 86
ODIO!
ODIO!
TE ODEIO! TE ODEIO!
ODIO!
TENHO NOJO DE VOCÊ!
Destrói minha vida!
Aquela que eu não tenho...
Destrói meus sonhos!
Os quais já morreram...
Destrói a mim!
OH! Como se eu fosse algo...
Mas o nada que sou.
VOCÊ, ODIO! Não se contenta
em destruir!
OH! ODIO! ODIO! ODIO!
Não vou negar,
não, não vou!
Sua morte irá me agradar.
Mas eu nada farei, não não.
Quem sou para algo fazer?
NINGUÉM! NINGUÉM!
Acho que vou me matar!
Daí então, tudo acaba!
Sim acaba, SIM ACABA!
OH! Tanto ódio, NOJO!
Fui o espermatozóide errado!
OH! Queria eu ter sido abortado!
Melhor morto do que assim,
sofrendo, sofrendo!
Nada sendo!
Lira dos 15 anos – ODIO! – 45 / 86
ODIO! ODIO! ODIO!
DE MIM! DE VOCÊ!
Você é tão nada, ou até mais,
nada do que eu!
VOCÊ NÃO PERCEBE? NÃO!?!
Mas mesmo assim
me faz sofrer!
OH! ODIO!
Cale a boca e suma!
Não quero sua visão,
tenho já a minha!
SUMA! SUMA! SUMA!
De você, não sentirei falta!
FODA-SE! OH! ODIO!
Não sentirei falta de ninguém!
NINGUÉM ME IMPORTA!
Só ela...
Fodam-se todos!
ODIO! ODIO! ODIO!
Nada tenho...
Nada sou...
Nada quero...
Nada espero...
NADA! NADA!
Sou sim egocentrico!
A quem sou em mim?
Mas, suma, eu peço!
SUMA, SUMA, SUMA!
Me faça, então, um bem:
SUMA!
TE OdeIO!
Suma daqui, de minha vida!
Daquela, que eu sei, que não tenho!
Lira dos 15 anos – ODIO! – 46 / 86
O anticristo“Time has come, it’s quite clear
Our antichrist is almost here
Marilyn Manson – Antichrist Superstar”
O anticristo está chegando!
- Nosso Salvador!
O mundo está acabando!
- Só nos resta a dor!
Lira dos 15 anos – O anticristo – 47 / 86
Poemas póstumosO Espelho
Posso eu entrar, entrar no espelho?
Lá, eu sei quem sou,
Lá, sei que sou,
Lá, eu posso me ver, me identificar
Posso entrar no espelho?
Posso passar para o outro lado?
O lado aonde eu existo,
o lado que não existe.
Lira dos 15 anos – O Espelho – 48 / 86
O Tempo
Do passado, me envergonho.
Sujo, monstruoso, falso.
Para o presente?
As lagrimas atrozes em solução homogênea_ com gritos doentios dos sãos
O futuro? Tenho medo...
Não o enxergo!
Parece tão distante, tão distante,
como se eu nunca fosse atingi-lo.
Eu?
Uma solução heterogênea do que eu fui, com o que sou e com o que eu nunca serei.
Lira dos 15 anos – O Tempo – 49 / 86
O Eu
Fingia ser,
Nao admitia o nada,
o nada...
Que possui-me agora,
Como satan possui o fraco.
Exatamente como satan!
Pois satan não possui,
Ele sempre esteve.
O nada não possui,
Ele sempre esteve.
Ele nunca esteve.
Sempre fui nada!
Não! Eu não fui nada!
Eu sou nada...
Lira dos 15 anos – O Eu – 50 / 86
O Nada
Lira dos 15 anos – O Nada – 51 / 86
Triste“But all the drugs on this world
Won’t save her from herself”
Marilyn Manson – Coma White
Triste e seco, sem lagrima...
Garotos não choram, mas quero chorar!
Não ligo de criar o estigma!
Não ligo... só quero chorar!
Desisto! Vou me castrar!
Triste e vazio, sem confiança...
Eu quero parar, mas é tudo normal!
Já perdi toda aquela esperança!
Já perdi... Estou normal!
Sim! Continuo me sentindo mal!
Triste e sujo, sem honestidade...
Perdi o controle, mas te-lo eu queria!
Eu vivo sem nenhuma verdade!
Eu vivo... Mas já abandonei o queria!
Pare! Por favor não ria!
Triste e triste e triste e triste...
Estou perdido, dentro da incerteza!
Eu acho que nada existe!
Eu acho... Livre-me da incerteza!
Agora! E de à minha vida alguma leveza.
Lira dos 15 anos – Triste – 52 / 86
Coração partido
Metade de meu coração
está partido, quebrado...
Agonia, com a mão,
eu o recolhi, o seu lado.
Parei, por um momento:
Eu ainda a amava?
Um típico sentimento
confuso eu, a ter, estava.
A duvida permaneceu,
mas, por pouco tempo;
Um único sorriso seu
reviveu o sentir limpo.
Sim, a amo ainda.
Mas sinto sua falta.
Desejo sua vinda;
Abomino sua volta.
Te amo! Quero você sempre, sempre perto.
Mas, mesmo longe, meu amor também será certo.
Lira dos 15 anos – Coração partido – 53 / 86
Esquecer
Não quero nada...
Suma! SUMA DAQUI!
Com toda sua sujeira...
Não! Não quero!
Nada... nada.. ada.
Seu dinheiro, seu progresso, suas leis, seu deus, sua felicidade, seu amor, seu mundo...
SUA vida...
Sua... Sua...
Não minha, sua
Não tenho nada...
Nada... nada.. ada.
Nada faz sentindo...
Tudo vai.. vai... vai... Acontece. Mas não volta, não importa.
Mas insisti em acontecer... O tempo todo, o tempo_ todo...
Por nada.
Nada... nada.. ada.
Não quero ter...
Ter o que? Ter para que?
O amanhã é igual ao hoje, igual ao ontem.
O amanhã não existe, o hoje não existe, o ontem não existe.
Nada... nada.. ada.
Cale-se! Deixe-me esquecer que existo!
Que respiro, que me alimento.
Deixe-me esquecer que preciso disso...
Não quero isso... Não quero nada...
Nada... nada.. ada.
Deixe-me esquecer de mim mesmo
Lira dos 15 anos – Esquecer – 54 / 86
Poema sem título
Viva!
Deus morreu!
Tudo morreu!
Você morreu!
Eu morri!
Nós estamos mortos.
Porém não sabemos disso ainda
e continuamos como se nada tivesse acontecido.
sem saber, que na verdade
nada aconteceu;
sem saber, que na verdade
nós não morremos;
sem saber, que na verdade
nós nunca nem nascemos.
Lira dos 15 anos – Poema sem título – 55 / 86
DecaDência
Eu ainda me lembro de como o chão tremia;
O copo refletia o céu diferente;
Riso rouco com grito estridente;
O único elo: o vomito na pia.
A vergonha? Sim um pouco, a agonia,
Um sentimento quase semelhante.
A vida? Vivo a vida decadente;
Mas, ao fundo, já ouço minha elegia.
Não preciso de nenhuma salvação!
Eu quero trilhar minha própria morte!
Não! Não quero ser salvo!
Foda-se! Ó bom cidadão cristão!
Eu não estou arrependido! Estou à sorte!
Assim esqueço que vivo!
Lira dos 15 anos – DecaDência – 56 / 86
ContosO ultimo momento
“Eating me down.
Beating me, beating me.
Down, down.
Into the ground.
Screaming so sad.”
Korn – Falling Away From Me
Estava de luto, sombrio, longa túnica negra, em contraste com sua pele pálida, seu
rosto marcado pelas lagrimas da tristeza, grandes e profundas olheiras.
Mas parecia a morte, talvez fosse.
Via tudo escuro, normal, pelo menos era apos a descrença, normal, apos limpar as
nuvens cinzentas que obscureciam sua visão.
Hoje sabia que não era um problema ver tudo escuro, pois a escuridão não vinha
de sua visão, tudo era escuro, normal...
Já entrara na casa dos mortos, junto a ele, outros acompanhavam aquela marcha
fúnebre, todos eram estranhos, mesmo sendo seus amigos e parentes, ele estava
sozinho, ninguém era como ele.
A marcha prosseguia morbidamente, como zumbis, normal, até pararem em frente a um
profundo buraco escavado em forma de retângulo.
Então, a última reza começara, a última mentira começara, todos se uniram naquele
momento, formando um coro triste, cantando de uma forma depressiva, um lamento final,
normal, todos, menos ele, ficara somente ouvindo os prantos, seria tudo aquilo
necessário? Não mas era normal...
Enfim, fecharam sua caixa funeral, e o abandonaram, normal.
Lira dos 15 anos – O ultimo momento – 57 / 86
O conto draconianista
“But I'm not a slave to a god
that doesn't exist
But I'm not a slave to world
that doesn't give a shit”
Marilyn Manson – The Fight Song
Uma vila medieval pequena, no interior de algum lugar. Longe e perto de tudo. Uma
vila bem normal, com camponeses, soldados, governo, religião, uma religião bem
diferente, e muito normal ao mesmo tempo, o draconianismo.
Foi trazida a vila por um nômade, um nômade vindo de bem longe, ou de perto, isso não
era sabido. Ele pregava que os Dragões controlavam a vida de todas as pessoas, e
somente com a servidão a eles poderemos usufruir uma vida melhor.
As classes mais pobres abraçaram o draconianismo imediatamente, e desde então
são servos humildes a esperar.
As classes mais favorecidas se converteram a religião um pouco após, por
temerem o poder dos Dragões.
O nômade havia agora trocado o seu nome por "clérigo", a suas roupas
maltrapilhas por mantos ornamentados e as ruas por uma mansão no ponto mais alto da
vila, acima de todos.
Até que um jovem bateu na grande porta dupla da mansão, ninguém veio atende-
lo, tentou de novo, nada, somente na 3° tentativa o "clérigo" abriu a porta. "Que queres?"
"Falar com os Dragões." "Não podes." "Porquê?" "Por que eles vivem depois do abismo,
no vale draconiano, tu não podes chegar lá, só eu, o filho humano dos Dragões!" "Me
leva?" "Não." "Então vou só!" "Não podes!", então o jovem foi embora.
No dia seguinte começou a construção de uma enorme ponte, para cruzar o
abismo divino, trabalha o dia todo em baixo do sol e das criticas.
Mas todas as noites o "clérigo" sabotava o trabalho do jovem.
Isso aconteceu até o jovem não ir mais para casa dormir a noite, passava a noite
inteira acordado para impedir sabotagens.
Com a ponte já pronta, o "clérigo" veio. "Não irás cruzar a ponte!" " Irei sim!" "Irás
morrer se cometer tamanho pecado!" "Então morrerei!".
Lira dos 15 anos – O conto draconianista – 58 / 86
Então ele foi, com a vila inteira o assistindo, curiosa. Quando ele pisa do outro lado
da ponte. "Cadê os Dragões?" "Oh! Como a bondade draconica é infinita, permitem que
um infeliz servo pise na terra divina!" "Não vejo dragão algum!" "É por que eles habitam o
vale depois das montanhas”.
O jovem, sem mais falar, parte, o "clérigo corre atrás dele. "Os Dragões iram se
enfurecer contra você e toda nossa vila, não podemos cometer esse pecado!" "Não o
cometa!" "Você está a arriscar toda a..." "Chegamos, cadê os dragões? Só consigo ver
uma única casa nesse vale." "É... os Dragões moram dentro da casa! Mas não podemos
prosseguir, a casa deve estar trancada." "Verei.".
A ansiedade manteve o "clérigo" calado até a chegada na casa. "Oh! Grandes
Dragões! Entendam que ele é somente um jovem teimoso, não façais que o pecado de
um condene todos!" "Cadê os Dragões?", pergunta o jovem ao abrir a porta, e repete:
"Cadê os Dragões?" "Os grandes Dragões vivem no mais alto quarto da casa, mas você
definitivamente NÃO pode ir lá", o jovem segue em direção a grande escada central da
casa, o "clérigo" corre apavorado atrás do jovem. "Quanto teimoso tu es?" "Quanto
mentiroso você é!" "Mentiroso? Seu jovem pecador, não sabes o que falas! Ousas duvidar
da verdade do "clérigo"?" ""Clérigo"?" "Sim, como dizes que sou mentiroso sem nunca
provar nada?" "Ainda não!" "Nunca irás!".
Os dois chegam no quarto, ao abrir a porta do cômodo, o jovem diz "Cadê os
Dragões?" "Está escuro de mais para vê-los!", o jovem abre a janela, volta a olhar para o
quarto, e após a sua visão se acostumar com a luz a luz, volta a dizer. "Cadê os
Dragões?" "Eles são invisíveis.", após tatear todo o quarto, a pergunta é repetida. "Cadê
os Dragões?" "Eles saíram voando pela janela!" "Vou atrás deles!" "Não conseguirás."
"Porque não? Porque eles não existem?" "Não, por que você não possui fé, e quem não
tem fé não merece a vida!".
Lira dos 15 anos – O conto draconianista – 59 / 86
A infinita melancolia
“I am so all-american, I'll sell you suicide
I am totalitarian, I've got abortions in my eyes
I hate the hater, I'd rape the raper
I am not the animal who will not be himself
fuck it”
Marilyn Manson – Irresponsable Hate Anthem
Não sentia mais vontade de respirar, seria tão bom se fosse tão simples assim, em
pouco tempo tudo estaria terminado, na realidade era simples, muito simples, mas mesmo
assim era difícil, era um covarde!
Iria faze-lo, seria agora, levantara o punhal, somente mais um movimento e tudo
estaria acabado, era tão simples, somente um movimento e estaria livre de sua existência
medíocre, de sua infinita melancolia.
Abaixara o punhal, a quem ele estava enganando? Sabia que era incapaz, ó
maldito instinto selvagem de sobrevivência! ODIO! Seu instinto iria ganhar de sua razão
novamente, ODIO!
Odiava a si mesmo! Era um fraco, um covarde! Por que havia de se questionar?
Por que não aceitava as ilusões? Viveria melhor, teria sua vida medíocre, sua felicidade
ilusória, seu objetivo mesquinho...
Uma vez tinha lido: "Será que temos que optar entre fingir ser algo ou nada ser?".
Ele escolheu nada ser... Não poderia fingir ser algo, sempre fora assim, sempre
questionara tudo, mas por quê? POR QUÊ?
Levantara o punhal, era tão simples! Um movimento e nada mais questionaria,
nunca mais!
Era incapaz...
Juntou todas suas forças, e colocou-se em pé. Olhou em volta, era seu quarto, o ar
era pesado e melancólico, mas era seu quarto ainda, será? Será que aquilo era seu?
Sabia que não, nada tinha, nada era...
Focalizou seu olhar em seu reflexo no espelho, ele era aquilo? Também sabia que
não, aquilo era só uma de suas mascaras, ele nada era...
Mas era aquela mascara que os outros viam, ai! Nada sabiam sobre quem ele era,
Lira dos 15 anos – A infinita melancolia – 60 / 86
nunca entenderiam ele. Sempre desprezariam ou sentiriam pena dele.
E ele os odiava, odiava a todos, a tudo! Precisava de ajuda? Sim, e de muita ajuda,
mas somente deus poderia salva-lo, mas deus estava morto, ele o matara.
Levantara o punhal, agora era sua vez, tudo iria terminar! ODIO! Sabia que não era
sua hora, sua hora não existia! Estava condenado a viver, a sofrer, e assim seria, abaixara
o punhal.
Avistou uma fotografia, da época em que ele ainda sorria, da época em que ele era
feliz.
Encheu-se de nostalgia, queria aqueles momentos de volta, queria ser feliz! Mas
não se iludia, sabia que não voltaria a sorrir, só a chorar, só lamentar, só odiar.
Era só isso que fazia agora, era um poço de ódio, e nesse ódio iria afogar-se, e
assim morrer, a propósito, não vivia mais, morria um pouco a cada instante.
Estava péssimo, nunca esteve assim, era o pior momento de sua vida, mas não se
iludia, sabia que não havia chegado no fundo, sabia que o fundo não existia, iria imergir
cada vez mais no seu ódio, até afogar-se.
Mas o pior de tudo era saber que em pouco tempo estaria pior, ainda pior. A menos
que ele terminasse com tudo agora...
Não queria mais respirar... Cada vez que aspirava sentia toda a dor da existência, e
cada vez que espirava sentia a banalidade da mesma.
Levantara o punhal.
Então, de súbito, o punhal caíra no chão, mas nenhuma gota de sangue o
acompanhara, somente um grito, um horrível grito de dor, um grito que retratava todo o
fracasso de uma existência, um grito de uma infinita melancolia.
Lira dos 15 anos – A infinita melancolia – 61 / 86
Um padre
“Woman of dark desires
Woman of eternal beauty
Woman of dark desires
Elzabeht bathory”
Marduk – Woman Of Dark Desires
1.Razão
Sou Jean-Arthur, um Padre, as palavras aqui escritas não são uma estória, são um
relato de minha vida, por que as escrevi? Por que sou uma pessoa que tem o bem dentro
de mim, e admito que algumas injustiças aconteceram em meu viver, e espero que as
relatando, eu obtenha o perdão de todos, e também de nosso Senhor, o divino!
2.A vinda
Morava na Europa, mas não era muito rico, e menos ainda dedicado a teologia, já
era padre naquela época, melhor, havia acabado de me tornar um. Mas ainda não
controlava nenhuma igreja, era somente um assistente.
Foi então que uma "luz" divina me ordenou vir para o novo continente, lugar tão
cheio em fé, eu como o bom teólogo que era, iria ajudar as pessoas desse lugar, guia-las
pelos caminhos de Deus.
Então eu vim.
Tudo apoiava a minha vinda, Deus, o meu altruísmo, e até mesmo a Igreja, que
queria me afastar da Europa, pois haviam suspeitas de que eu tivesse amantes lá.
Na época neguei, mas hoje admito, tinha sim minhas amantes. Assim mesmo no
plural, não lembro exatamente quantas eram, acho que 3, ou 4, ou 8, não me lembro. Mas
me diga agora, qual o problema em amar? Quando esse amor é verdadeiro e puro, duvido
que o Pai não o aceite!
Lira dos 15 anos – Um padre – 62 / 86
3.Sobre o amor em grupo, orgia
Alguns leitores mais conservadores, ao lerem as ultimas linhas, devem ter ficado
horrorizados, um padre, um homem de Deus, ter VÁRIAS amantes?!
Mas esses leitores devem também prestar atenção na linha que vem logo após, a
que fala sobre o amor, eu amava todas elas! Sem exceções! E foi Jesus que ensinou a
amarmos ao próximo, eu somente sigo os seus ensinamentos!
E para aqueles que nunca experimentaram, eu aconselho que experimente, Amor
em grupo, é ótimo, não confunda com orgia, orgia vem da luxuria, o que eu falo envolve
Amor, por isso só pode ter um homem, e várias mulheres.
Mas já aviso, para dar certo é preciso que o homem seja muito bem, digamos,
dotado, assim como eu sou, a propósito, poucas pessoas sabem do que um homem de
batina é capaz.
Mas isso não tem muita relevância.
4.Sobre a verdade
Esse capítulo serve somente para lembrar que toda e qualquer coisa dita nessas
páginas é verdade, a mais pura verdade.
5.O novo mundo
Desembarquei no novo mundo, no Brasil para ser mais específico, a cidade e o
estado em que eu fiquei, até hoje não sei, isso pouco me importava. Não estava
interessado em descobrir coisas sobre esse novo lugar, só sei que era um lugar sujo e
desprezível, com seu povo mestiço e negro horrível, dava medo daquele lugar.
Virei então padre, comandava uma igreja na cidade, não era uma grande igreja,
mas era maior e mais rica do que a que eu era auxiliar na Europa, você não imagina o
poder de um europeu em terras latino-americanas, mas imagino que isso seja natural
numa terra de raça inferior.
Pensei que nunca iria encontrar uma amante aqui, não uma que tenha algum valor
pelo menos, não iria abaixar ao nível dessa raça, mas para minha sorte, eu estava errado.
Lira dos 15 anos – Um padre – 63 / 86
6.Sobre Elizabeth
Vi-a pela primeira vez em uma missa de domingo, ela se vestia de um modo
depravado como todas as outras nativas, com aquelas mini-micro-saias, e mini-micro-
blusas, daquelas que não escondem praticamente nada de um bom observador. Mas ela
não era igual as outras nativas, a sua pele denunciava isso, era branca, muito branca,
para europeu nenhum colocar defeito.
E alem de ser branca, ela também era linda, tinha os olhos verdes, longos fios
negros, lábios vermelhos e carnudos, grandes e lindas coxas, e seus seios? Eram lindos,
grandes, no tamanho certo, simplesmente ela era, perfeita.
A desejei desde o primeiro momento que a vi, pois eu já a amava.
7.Desejos
Passei muitas e muitas noites sonhando com ela. Eram sonhos cheios de amor,
não sonhos de luxuria, pois eu já a amava, já a desejava.
Depois de acordado, passava horas a relembrar meus sonhos, sozinho, as vezes
nu, as vezes de batina, as vezes no quarto, as vezes no banheiro, mas sempre sozinho,
essas coisas não são para serem feitas em público, a menos que com uma pessoa que
você ama.
E o primeiro sinal de que meus desejos poderiam ser realizados, foi dado quando
ela aceitou meu convite de começar a ter aulas de catequese comigo. Tive eu que insistir
um pouco para que ela aceitasse, mas no fim, ela aceitou, no fundo eu sei que ela queria,
recusou a priori para fazer um "charme", ser uma garota difícil.
8.padre Cícero
Conheci também nessa terra, um padre chamado Cícero, era meu superior,
administrava a maior igreja da cidade, ele era um homem de extrema bondade e fé.
Seguia cegamente a igreja e seus ensinamentos.
Era uma boa pessoa, pelo menos aparentava ser, mas levando em consideração
seu triste fim, ele devia ter muitos pecados escondidos.
Lira dos 15 anos – Um padre – 64 / 86
9.Catequese
As aulas de catequese eram aos sábados, por isso o sábado era o dia mais
esperado da semana. Tinha poucos alunos, eram 3,4 ou 8 alunos, mais a Elizabeth.
Tenho que reforçar a idéia de que Elizabeth sempre vinha com grandes decotes, e
roupas mínimas, para que o leitor não pense que esse homem que usa a batina é um
maníaco sexual, não! Sou somente um homem que aceita os princípios naturais criados
por Deus, e que usa, muito bem, o que Deus lhe deu como presente.
10.O dia
Era um sábado chuvoso, daqueles em que normalmente se dorme a tarde toda,
pois é sabido que ninguém virá a igreja, porém naquele dia eu não pude dormir, e nem
reclamo disso.
Elizabeth compareceu a catequese, ninguém mais, somente ela.
Estava vestida de branca, toda de branca. Daquele branco que quando molhado torna-se
transparente, e ela estava toda molhada por causa da chuva, e sim, sua roupa era
transparente.
Vi então com nitidez seu corpo, tudo, com a exceção do “portão do céu”, via até mesmo
seus mamilos rosados, ó! Como eram lindos, uma verdadeira criação divina! E já estavam
durinhos, indicando uma excitação por parte dela, o que, imediatamente, provocou
também uma excitação em minha pessoa.
Nada mais natural quando se ama. E eu amava.
Então a ofereci roupas secas para ela não se resfriar, ela entrou para os cômodos
interiores da igreja, para se trocar, deixando a porta levemente aberta...
11.A abertura
Esse capítulo existe com o único motivo de deixar BEM destacado a existência de
uma pequena abertura na porta, por um simples motivo, isso prova que o meu sentimento
de amor era recíproco.
Lira dos 15 anos – Um padre – 65 / 86
12.O dia (continuação)
Ela então me pediu para dar alguma toalha para que ela se secasse. Atendi-a
imediatamente, fui buscar uma toalha, no caminho refleti sobre aquela situação, cheguei a
conclusão na qual todos leitores devem ter chegado, ela também me amava. Por esse
motivo, resolvi não lhe entregar ainda a toalha, resolvi me molhar também.
Entrei no cômodo em que ela se estava, ela estava completamente nua... Ela era
realmente perfeita, aquele corpo de mulher, com uma expressão de menina, vi toda a
perfeição da criação naquele momento, e agradeci por ter nascido homem.
Ela parecia estar com vergonha, tentou esconder com suas mãos seu pudor, pediu-
me que saísse. Mas eu não sai, me aproximei, toquei nela, acaricie-la, e ela....
Ela começou a gritar...
13.O grito
Agora o leitor deve ter coloca em duvida tudo que eu disse até agora, deve estar
pensando que Elizabeth não me amava, ou até mesmo, que eu não a amava, para esse
leitor, digo somente que releia o capítulo 4, ele é curto, não será cansativo.
Mas aquele leitor que quiser saber o motivo, então, deste grito, digo que não sei,
mas sei que ela me amava.
14.O amor
Em frente de tamanha insistência, concordei em sair dali. Ela vestiu-se com uma
túnica clerical, que eu tinha lhe dado, e depois partiu sem trocar palavras comigo, porem
ao sair da igreja, ela virou e deu uma longa observada em mim, juro que vi um sorriso em
seu rosto, e só depois partiu.
Sim, ela me amava, queres provas melhor?
Percebi que tinha que intervir pelo nosso amor, tinha que fazer algo, pensei por
algum tempo, e depois sai atrás dela, o dia já estava escurecendo, encontrei-a a algumas
quadras, agarrei-a, e a levei a força até um matagal próximo.
Lá eu a amei, bom pelo menos tentei, ela gritava muito, tive que silencia-la, pena
Lira dos 15 anos – Um padre – 66 / 86
que o custo desse silencioso foi sua frágil vida....
Mas mesmo depois de falecida eu a amei, ela ainda mantinha o calor de seu corpo,
foi ótimo, tão bom quanto se ela estivesse ainda viva, talvez até melhor, ela não gritava
nem se mexia.
15.Necrofilia?
Alguns leitores vão se sentir horrorizados após lerem o capítulo 14, sei disso, irão
me acusar de necrófilo, mas isso é uma calunia! Pois eu a amava, e Deus aprova o amor,
de qualquer modo que ele seja.
E mesmo assim, eu juro que eu todos meus anos de estudos teológicos nunca
encontrei nada divino que falasse contra o amor com mortos.
Mas para aqueles que ainda assim não acreditarem em minha pureza, ou em
minha palavra, peço que releia o capítulo 4.
16.O crime
Após esse fato, fui embora e continuei minha vida normalmente, sentia sim falta de
Elizabeth, mas essa falta já estava sendo substituída pelo amor que eu já sentia por outra
menina. Um pouco mais velha que Elizabeth, que tinha 15 anos, eu estaria
envelhecendo?
Deixarei essa pergunta sem resposta, pois ela não tem relevância alguma.
O que interessa é que o corpo de Elizabeth foi encontrado, e começaram a
procurar o culpado pelo “crime”.
Ai entra uma questão interessante, e relevante, que crime??? O crime de amar???
Eu a amei! E dizem que isto foi um crime! Ó sociedade deturpada na qual vivemos hoje
em dia...
Com o avançar das investigações, a policia descobriu que o “crime” havia sido
cometido por um padre, e eu era um forte suspeito, mas no final por sorte, e auxílio divino,
descobriram que o verdadeiro criminoso fora o padre Cícero, não eu.
Lira dos 15 anos – Um padre – 67 / 86
17.Breve explicação
O leitor deve ter achado estranho o final do ultimo capítulo, mas aqui vai uma breve
explicação.
O leitor deve-se lembrar que sou um europeu que estava na América latina, sendo
assim, um superior no meio, só isso já provava minha inocência.
Mas claro que um pouco de capital de minha região também ajudou, mas isso não
tem relevância.
18.O desfecho
Padre Cícero foi, então, preso, uma tristeza, realmente fiquei muito triste. Mas nada
pude fazer...
Com sua prisão, e excomungação, assumi sua posição na igreja, recebi todos as
posses clericais, menos a administração de sua igreja, a qual foi queimada por uma turba
enfurecida.
O pobre padre não sobreviveu muito tempo no cárcere, não resistiu aos
tratamentos especiais que os outros presos dão aos estupradores.
Fui convidado ao seu enterro, porem infelizmente não pude ir, já tinha um
encontrado marcado com uma amante.
Tempos depois fiquei sabendo que ninguém compareceu ao enterro do ex-padre,
que até mesmo o coveiro recusou enterrá-lo, e que seu corpo no final foi roubado por
outra turba indignada, que o dilacerou, e depois o queimou.
19.A lição
Todas essas tragédias me ensinaram uma lição que eu guardarei pelo resto de
minha vida mortal, e talvez pelo resto da imortal também, a lição é: Compre as mulheres
que você quiser amar, elas assim não reclamaram. Não importa se você está pagando
para alguém amá-lo, portanto que o amor exista, está de acordo com Deus!
Lira dos 15 anos – Um padre – 68 / 86
20.Para os incrédulos
Esse capítulo foi escrito para aqueles leitores que se sentiram horrorizados com os
meus atos em vida, e então agora duvidam da pureza de minha alma, e da verdade em
minhas palavras, para esses leitores eu peço que releiam o capítulo 4.
Lira dos 15 anos – Um padre – 69 / 86
Bem-sucedido
“O homem superior! – disse Zaratustra – E o que ele quer aqui?
Friedrich Nietzsche – Assim falou Zaratustra”
Era um homem “bem-sucedido”, havia estudado nos “melhores” colégios, sua
“educação” era “perfeita”, era realmente um “privilegiado”, poucos tinham essa
oportunidade, e pouquíssimos a aproveitavam. Curso superior? Havia passado na
“melhor” faculdade, naquilo que ele “queria”, e que também o “enriquecia” muito,
materialmente e “espiritualmente”.
Realmente, era “alguém” na “vida”! “Alguém” “bem-sucedido”! “Muito bem-
sucedido”. Tinha “deus” consigo.
Teve acesso as coisas que “quis”, “tinha” “amigos”, “parentes”, “alegria”, “religião”,
“altruísmo”, e “moral”. Era um ser “humano” “perfeito”.
Ao crescer, casou-se com a mulher “amada”, e teve filhos, que lhe traziam muita
“felicidade”, tudo que “alguém” pode “querer”.
Sua “vida” era “perfeita”! Era “alguém” “bem-sucedido”! “Muito bem-sucedido”.
Tinha “deus” consigo.
“Vivia” sempre com um “sorriso” no rosto e assim participava das reuniões da “alta
sociedade”, conhecia pessoas “importantes”, “políticos” “importantes”, “juizes”
“importantes”...
“Tinha” carro “importado”, uma casa invejável, móveis orientais... “Tudo” que
“alguém” pode desejar na “vida” ele “tinha”, se não “tinha”, é porque não queria “ter”.
Era a “pessoa” mais “feliz” do “mundo”. Era “alguém” “bem-sucedido”! “Muito bem-
sucedido”. Tinha “deus” consigo.
Então, numa bela manhã de quinta-feira, suicidou-se.
Lira dos 15 anos – Bem-sucedido – 70 / 86
Contos póstumosÉ Tendo Inimigos Como Amigos
Um dia, um garoto, acordou: “Quero comprar o mundo!”, pensou um pouco e: “Vou
comprar o mundo!”.
Ficou, então, impressionado com sua magnífica idéia, como ninguém nunca tinha
pensando nisso antes? Como ninguém nunca tinha pensado?
Decidiu que ia começar a economizar agora mesmo para poder realizar sua
ambição. O que era difícil, muito difícil, dificílimo, difícil até demais para ele, pois ele
sempre gasta todas suas economias em balas, bombas, enfim em doces... Ou não.
Mas enfim, ele foi pedir a sua mãe uma contribuição: “Mãe me dá dinheiro?”. Ao
ouvir essa interrogação, a mãe estremeceu com uma mistura de tristeza com curiosidade
e com tristeza, pra que ele queria dinheiro? Pra matar alguém? Não... Acho que não pelo
menos... Mais fácil é perguntar, e fez: “Pra que?”, o filho respondeu imediatamente
percebendo a expressão estranha de sua mãe, escondendo todo seu ódio: “Pra comprar
o mundo! O mundo mamãe!”.
O mundo???
Então ela parou para pensar um pouco, as vezes faz bem? Ou não?
Seria interessante ter seu filho como dono do mundo, uma lagrima caiu, um dente
brilhou: “Pegue, aqui, dez pra você guardar pra comprar o mundo”, tudo isso? – Pensou o
filho – Mas aceitou sem questionar.
Foi, então, após isso, a padaria comprar pão para sua mãe. Ou não?
A ida foi, mas a volta não, ela veio, veio mas diferente da ida, houve um encontro,
com duas notas, duas notas de dez no chão, o garoto apanhou as notas, e entendeu o
que aquilo significava, então olhou para o céu, e agradeceu, e depois voltou para casa.
Seu pai já havia chegado (ele tinha saído?), porém estava no banho. Ou não?
Foi contar para sua mãe a benção que recebeu: “Mãe, achei vinte no chão! Vou
guardar pra comprar o mundo!” a mãe com indiferença, e um pouco de irritação também:
“Você sabe quem lhe deu isso?” o filho empolgado responde rapidamente: “Claro! Foi o
ser rosa que voa no espaço e lança energias invisíveis que ao entrarem em contato com
meus pensamentos, e alma, regem a minha vida, obrigado Moaru!” a mãe, novamente,
como sempre, com indiferença responde: “Não seja tolo, foi o ser invisível que vive no céu
e controla a vida das pessoas e de suas almas, obrigado deus!”. O filho nada disse, mas
Lira dos 15 anos – É Tendo Inimigos Como Amigos – 71 / 86
pensou, como sua mãe era idiota e tola... Ou não.
Então, o pai chegou, e o garoto foi falar com ele: “Pai, me dá dinheiro?” o pai
assustado, atordoado, pasmado, mas, porém ebúrneo, disse: “Para que se quer?” o filho,
sem tantos adjetivos, respondeu: “Para comprar o mundo” o pai agora, também sem
tantos adjetivos, só feliz, e bobo... Ou não. Disse: “Sim, pegue aqui quarenta e cinco e
meia notas de cem”.
O garoto achou tudo aquilo estranho, muito estranho, bizarro até... Ou não. Mas
isso não importa, o que importa era que ele tinha lucrado muito já, iria comprar o mundo
algum dia sim!
Foi dormir.
Dormiu.
Acordou... Ou não.
Foi na padaria e gastou todo o que tinha ganhado com balas e bombas.
Voltou para casa com algumas poucas balas, e quase que negativas bombas. Mas
voltou.
A mãe ao ver isso, ficou espantada e disse: “O que houve filho?” O garoto muito
alegre, respondeu cuspindo uma bala esverdeada no chão: “Desisti de comprar o mundo,
prefiro balas, elas são melhores, e mais gostosas... Ou não.”, então, veias saltaram dos
pulsos.
O garoto apanhou, foi surrado, espancado, quase morto.
Mais tarde o pai chegou em casa, e quando soube do que aconteceu, espancou,
surrou, deixou o garoto quase morto, colocou-o de castigo, o torturou um pouco, depois o
enforcou, o deserdou, o expulsou de casa, o castrou... Ou não.
Depois que o pai fez tudo isso com o garoto, o seu ex-filho, a mãe perguntou: “Pra
que tudo isso?” o pai, friamente respondeu: “Porque os vinte que ele tinha achado eram
meus!” A mãe, então, entendeu todo aquele ódio, e o sentiu também... Ou não.
Mas o que importa, é que o ser cor de rosa tinha deixado o garoto com suas balas
e bombas ainda! Balas são gostosas, principalmente para os que não respiram mais.
Moral do conto: Moral do conto? Moral do conto.
Lira dos 15 anos – É Tendo Inimigos Como Amigos – 72 / 86
O monólogo do Eu comigo“Cada instante conduz a outro instante, e esse a um terceiro...”
Jean-Paul Sartre – A Náusea
(Ele) estava lá, vivo, sim, obviamente, mas não somente isso, estava também
consciente, talvez até onisciente. Sim, ele estava, sem duvidas, assim como a lua, como o
sol, como tudo, ele estava, e mais, queria estar.
(Eu) acho que vivia, não por querer, simplesmente por viver, isso é, eu respirava e
mantinha minhas funções vitais. Não sabia de nada, não queria mais saber, sei lá... Nada
é interessante, somente isso, estou eu mentindo? Não exatamente mentindo, o Eu nunca
mente... O que acontece é o Ele entender errado... Nada é verdadeiramente
interessante... Tudo somente emana um interesse fictício, como um conto de fadas, sim,
como um conto de fadas.
(Ele) fez com que a reunião continuasse, assuntos tão importantes, a vida de
milhões estava em jogo, naquele momento, agora, e sempre! A vida estava em jogo, ele
jogava com ela, mas ele tinha certeza absoluta do valor da vida, ela não era uma
mercadoria, todos o respeitavam por causa disso. Disse uma vez: “A vida não tem preço!”,
que grande homem! Quanto altruísmo! Se todos fossem assim...
(Eu) observo todos esses sorrisos, eles me perturbam, perturbavam, parecia até
que eles existiam, parecia até que algo mais (MAIS!) existia, parecia que era algo
importante, parecia que algo (ALGO!) importava, parecia algo, enfim parecia (talvez ainda
pareça)... Sim era isso, parecia, até que parecia bem, mas poucos parecem tão bem
quanto eu. Olhando esses vultos, eu sentia o vazio. Sim eu disse uma vez que a vida não
tem preço... Sim ela não tem, ela é de graça, ninguém pede pra viver e nem pra morrer,
mas todos vivem e morrem, vivem e morrem, vivem e morrem... Que coisa, eu já sei que
as coisas não são assim, eu sei que nada é. Ninguém vive, ninguém morre. Se todos
fossem... Poderiam ao menos morrer. Se todos fossem... Se...
(Ele) levantou e mostrou para todos que o mundo era redondo, que a Terra não era
o centro do universo, mostrou e demonstrou todo o conhecimento que um gênio, que uma
pessoa superior, pode mostrar, mais que isso até, mostrou até o que não pode ser
mostrado! Mostrou os sujos humanos, tudo isso deu a ele uma aura de confiança, a qual
tudo e todos podiam ver, sentir e temer. Ele era tão importante! Ele é tão importante!
(Eu) senti novamente a tontura, aquela tontura a qual eu sinto quando começo a
Lira dos 15 anos – O monólogo do Eu comigo – 73 / 86
provar aos outros tudo aquilo que nem eu mesmo acredito... Como sou bom nisso...
Queria eu ser bom em algo... Nem tenho com quem me comparar. Eu sou, o resto, o resto
parece. Mas eles acreditam... Eu não, não sei, na verdade eu não sei se sei a verdade na
verdade. Tudo é tão tudo! Tudo é tão nada! Nada é tão tudo! Nada é tão Nada! As vezes
parece até que “tudo” e “nada” são sinônimos, ou até mesmo que não existam, as vezes
nada existe, mas, mas, mas Eu existo... Eu existo... Ele não! Ele não vê, Ele não sente,
Ele... Ele... Ele...
(Ele) abriu um enorme sorriso. Mostrou todo o seu interior, toda sua alegria... Sua
alegria! Sua realização na vida, sua realização profissional. Saiu da reunião como um
novo homem, ainda era a mesma pessoa, mas estava renovado, seu nome havia subido
de nível, seria agora conhecido, até mesmo, internacionalmente, talvez... Provavelmente
até teria seu nome e seu rosto gravado em todos os futuros livros escolares, ele era
alguém, alguém que mudara o mundo!
(Eu) fiz força pra não chorar... Encontrava-me triste... Mais uma vez tinha afundado
tudo dentro de minha mascara... Mas por que mostraria meu interior? Eu tinha interior?
Alguém tinha interior? Alguém era? Alguém... Eu era, agora, um novo velho homem, era a
mesma pessoa, com um novo olhar, não que eu tivesse mudado, mas a visão dos outros
havia mudado... Eu já estava a morrer... O passado não existia, o futuro também não,
somente o agora, aqueles contáveis e infinitos instantes que iam empurrando uns aos
outros, não eternamente, não infinitamente, e sim por pouco tempo, pouquíssimo tempo,
quanto tempo? Tempo? Eu nem sei se isso existe... Eu nem sei...
(Ele) morreu, mas viveu por muito tempo, na realidade ele não morreu, ele era
eterno, eterno na memória das pessoas! (Eu odeio) Elas] O amavam (Ódio) [Tanto...
Tanto... [TANTO]! (Ele não) Estava mais feliz, agora, (Eu odeio), Ela] ama...Ela (Eu) [Não]
existe ainda... A vida é algo tão ACTUAL, tão actual...
(Eu)(EU)(Eu)
Lira dos 15 anos – O monólogo do Eu comigo – 74 / 86
O 42° Andar
...atordoado, sua cabeça doía, tinha a impressão de que ela iria explodir a qualquer
momento, a dor era tanta que em vão insistia em tentar abrir os olhos, suas pálpebras
eram como pedras, e seu corpo, como o de um doente terminal, como o de um morto.
Estava como água de se fazer chã, queimava, latejava. A dor era tanta que só
quando essa se acalmou, que ele pode perceber que estava deitado, e que o calor, e a
dor, não era somente em sua cabeça, era geral, ia desde a sua canela, até o mais
teimoso dos fios de seu cabelo.
Delirava um pouco, “trinta e três, cinqüenta e quatro ou 42?”, não mais lembrava.
Na verdade não lembrar qual era o número não era o problema, o pior era não lembrar o
que esses números significavam, e, apesar disso, eles continuavam a dançar tango em
sua mente, mas não um tango de pessoas (números?) comportados, um tango de
bêbados, e/ou drogados... Os números iam e voltavam, subiam e desciam... Mas nunca
paravam, ou revelavam suas identidades.
Mas a dança numeral foi interrompida por uma súbita dor nas pernas. Uma dor
enorme, semelhante à dor sofrida por um criminoso antes de morrer apedrejado, era
como pedras minúsculas e afiadas penetrassem na sua carne frágil e pálida.
A dor fora tanta que superara o peso das pálpebras. Seus olhos se abriram para
procurar entender o que estava acontecendo, mas antes que pudesse decodificar o
primeiro raio luminoso que o atingira, foi atacado por uma tontura nauseante, tudo girava
em volta de si, girava e se misturava, cores, formas e números corriam para todas as
direções, apesar de não saírem do lugar. O que estava acontecendo? – Indagou.
Aos poucos toda aquela festa fora se acalmando, as formas e cores se dirigiram
vagarosamente a seus respectivos lugares no espaço, e os números, por sua vez, se
diluíram em sua mente.
Sua primeira visão foi a de suas pernas, ambas estavam quebradas, um enorme
osso saltava de cada uma delas, o qual era bastante visível, pois não havia pano nenhum
para cobri-las, ou ao menos cobrir o seu pudor. Apesar de ainda haver um enorme rombo
em cada uma, o sangue já não saia mais.
A visão era horrível, ele não conseguia nem lembrar o que poderia ter causado
tamanho ferimento. Isso lhe dava ânsia, mas o vomito mesmo só veio quando notou seus
pés, ou melhor, a falta deles, suas pernas terminavam repentinamente com um enorme
Lira dos 15 anos – O 42° Andar – 75 / 86
corte, após elas, não existia nada.
O vomito caíra ao lado da cama na qual estava deitado, pedaços de alguma coisa
acompanhavam o liquido viscoso e amarelado. Parte dele havia caído em um par de pés
que estavam sobre um tapete. Hesitou, pensou que sua visão havia lhe enganado, mas
não, eram seus pés que estavam a lhe esperar ali.
Sua náusea aumentou, só não vomitou por não ter mais o que vomitar. Foi
obrigado a desviar sua visão. Notou que à frente da porta fechada, havia uma enorme
poça de sangue, não estava seco ainda, mas quase. A geometria da poça mostrava
claramente que alguém fora arrastado dali enquanto estava a sangrar.
Indagou novamente: “O que estava acontecendo? O que havia acontecido?”.
Decidiu, então, tentar descobrir onde estava, as pálpebras já não pesavam tanto
agora. Era uma sala branca: móveis brancos, paredes brancas, cortinas brancas,
sentimentos brancos, pensamentos brancos.
A janela prendera sua atenção, o motivo não lhe era sabido, talvez fosse por causa
daquelas nuvens brancas e puras. Tentou levantar, uma, duas, três vezes, em vão, muito
esforço, e sem hesito nenhum, a única coisa que recebeu foi uma dor insuportável.
Despencara inconsciente na cama.
Sonhou com um duende barbudo, ruivo, e com um olhar penetrante, olhava-o
sempre por de cima, sentiu medo, era estranho um duende o olhar de cima, ele era tão
pequeno...
Um ranger de porta o tirou de seu estado catatônico. Uma linda mulher vestida nos
padrões da enfermagem carregava algum alimento em uma bandeja de plástico escura.
Andou levemente, quase que flutuando, depositou a bandeja sobre um móvel que se
localizava à direita dele e ficou em pé ao lado da cama como que se esperando alguma
reação.
Ele nem sequer olhou na direção da bandeja, tinha a visão fixa na fêmea. E em um
segundo, pulou da cama, agarrou a fêmea, a empurrou contra a parede, prendendo-a.
Essa soltou um gemido de dor, mas não gritou nem nada, era possível ler um vazio em
seus olhos.
Ele então continuou o ritual primata, a desnudou as pressas, e entrou nela. Em
pouco tempo, já era possível perceber que já não existia mais o vazio no olhar da fêmea,
existia já o prazer, ou pelo menos a aceitação, os gemidos já não eram mais inconstantes
e de dor, eram regulares e de prazer.
Nesse momento que ele percebeu: “Sim, era 42, nem trinta e três, nem cinqüenta e
Lira dos 15 anos – O 42° Andar – 76 / 86
quatro, era 42”.
Parou um instante, sentiu nojo de si mesmo, “O que estava a fazer?”, largou a
fêmea, que ainda gemia muito, olhou em volta, dirigiu-se a janela, ignorando as preces
repetitivas da fêmea que não queria aquela parada, na realidade não estava a ignora-la,
nem ao menos a ouvi-a, estava distante, longe, observando as nuvens distantes, eram
lindas.
Percebeu que estava em um prédio, muito grande, enorme, e que ao lado do seu
havia um outro, de mesmo tamanho, sentiu uma vontade inexplicável de olhar para a
janela do outro prédio, mas não o andar equivalente, mas três andares a baixo, estava
vazia, mas ainda assim tinha sua visão (e mente) fixa.
O cheiro de comida o despertou de sua distração, saiu da janela e sentou-se em
sua cama, esticou o braço, pegou a bandeja, e observou o prato, era sopa, sopa de
frango. Olhou para o chão, para o vomito, era vomito, vomito de frango. Comeu, e
enquanto comia, notou que a fêmea ainda se encontrava na mesma posição e lugar,
como se estivesse esperando por ele. E estava, quando essa percebeu que estava sendo
observada, ronronou carinhosamente para ele, que a ignorou sutilmente.
Então a porta rangera novamente, era um homem, vestido no padrão dos médicos.
Esse olhou para ele, olhou para a fêmea, e gritou: “O que você fez, seu maníaco,
estuprador?”, ele manteve-se quieto, já a fêmea não: “Ele não fez nada, eu que quis”,
mas, aparentemente ela não foi ouvida, pois o homem bradou novamente: “Ora, irei mata-
lo! Seu vadiozinho!”, e partiu em direção a cama.
Então um som leve e asqueroso foi sucedido por um batida de um corpo no chão.
Uma faca estava fincada em seu pescoço, ele a arremessara, um tiro certeiro, o macho já
estava morto, seu sangue agora escorria na frente da porta.
A fêmea, ainda nua, arrastou o defunto para fora da sala, enquanto ele tentava
entender o que estava acontecendo, sentia uma espécie de nostalgia...
Resolveu tomar um pouco de ar na janela, tinha esperanças de que isso lhe faria
bem. Com o lençol da cama, limpou o vomito que estava em cima de seus pés, e depois
os amarrou, para assim poder andar até a janela.
Ao chegar a janela, começou a contar os andares do prédio para descobrir em qual
andar estava: “Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze,
quatorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte, vinte e um, vinte e dois,
vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito, vinte e
nove, trinta, trinta e um, trinta e dois, trinta e três”. Quando foi interrompido com a volta da
Lira dos 15 anos – O 42° Andar – 77 / 86
fêmea, ela ronronava, e andava sobre quatro patas em sua direção,ao alcança-lo,
começou a roçar nele.
Ele se sentiu incomodado com isso, mas preferiu ignora-la e recomeçar sua
contagem: “Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze,
quatorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte, vinte e um, vinte e dois,
vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito, vinte e
nove, trinta, trinta e um, trinta e dois, trinta e três, trinta e cinco, trinta e seis, trinta e sete”.
Repentinamente, um pensamento veio a sua mente, tirando-lhe a concentração: “42, era
42...”. Não compreendeu direito o motivo, só sabia que era quarenta e dois.
Mas mesmo assim resolveu confirmar, retomou, então, sua contagem: “Um, dois,
três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze,
dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte, vinte e um, vinte e dois, vinte e três, vinte
e quatro, vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove, trinta, trinta e
um, trinta e dois, trinta e três, trinta e cinco, trinta e seis, trinta e sete, trinta e oito, trinta e
nove, quarenta, quarenta e um, 42”. Era realmente 42 o número de seu andar, mas o que
isso importava? Inexplicavelmente ele sabia que 42 era tudo o que importava.
Olhou então novamente para a janela a do outro prédio, a qual havia observado
anteriormente, lá estava ele, um homem ruivo, barbudo e baixinho! SIM, ele estava lá!
Não agüentou, pulou pela janela. A fêmea segurou seus pés, porem isso não impediu o
salto, só os arrancou.
Agora ele caia, os andares passavam por ele, 42, quarenta e um, quarenta, trinta e
nove, no trinta e nove estava o homem barbudo e ruivo, que agora o observava de cima,
ficou o observando também.
Quando retornou a si, já estava no trinta e três, trinta e dois, trinta e um, trinta,
sucessivamente os andares passavam, e ele sentia o chão cada vez mais próximo, como
um destino imutável.
Atingiu o chão.
Tudo ficou escuro.
Algum tempo depois voltou as si, mas ainda estava atordoado, sua cabeça doía,
tinha a impressão de que ela iria explodir a qualquer momento, a dor era tanta que em
vão insistia em tentar abrir os olhos, suas pálpebras eram como pedras, e seu corpo,
como o de um doente terminal, como o de um morto...
Lira dos 15 anos – O 42° Andar – 78 / 86
Amor
“”I’m not in love, but I’m gonna fuck you
‘Til somebody better comes along”
Marilyn Manson –User Friendly
I“Te amo!” ela me diz, respondo imediatamente, sem pensar, por reflexo: “Também
te amo!”, claro que eu já não tenho tanta certeza assim disso, mas fico feliz só em saber
que sou amado.
Hipocrisia dizer que amar é bom, amar é estranho, como valorizar algo que eu nem
mesmo sei se existe? O amor não necessariamente volta, e se volta não é bom por ser, é
bom por que volta. Ser amado é ótimo! Ser amado é a prova de que se é uma pessoa
superior, uma grande pessoa! Pois alguém tem você como algo importante, mas
importante que a si mesmo... E eu sou amado!
Tenho tanta certeza disso, posso enxergar nos olhos dela quando me focalizam
com uma aparência de admiração. Sou tão importante pra ela! Tenho certeza de que se
eu morresse ele se mataria também, seria impossível para ela suportar o mundo sozinha,
sem mim.
Às vezes insinuo que deveríamos terminar, cada um seguir seu caminho, só para
ver as lagrimas escorrerem, para ouvi-la pedindo-me que fique, que não a abandone, só
para ouvir o quanto eu importo... Sinto-me tão feliz! É tão bom ser amado!
Claro que nesses momentos também empurro algumas lagrimas para fora de meus
olhos, para ela pensar que ela também tem alguma importância, não quero que ela pense
que sou uma pessoa fria, pois eu não sou uma.
Ela me ama!
Eu que tirei a sua pureza. Na realidade não a pureza física, e sim a de espírito. A
física ela havia perdido em um estupro há algum tempo atrás, foi o que ela me disse
quando percebi que ela já não tinha mais o “selinho de garantia”, e eu sei que ela dizia a
verdade, pois ela me ama.
Ainda lembro do momento com alguma clareza, enquanto ela se esforçava para me
agradar e para guardar cada fragmento daquele momento em sua memória, eu me
concentrava em meu prazer, na verdade estar ela ali ou qualquer outra mulher, não faria a
menor diferença. Mas para ela eu sei que faria, para ela só poderia ser eu, nenhuma outra
Lira dos 15 anos – Amor – 79 / 86
pessoa, somente eu, pois ela me ama.
Estar somente com ela já não me satisfaz mais, não que eu precise de outras
pessoas, não preciso de ninguém, mas eu quero saber quantas pessoas eu sou capaz de
fazer me amarem. Conto duas já, bom na verdade não sei se a segunda me ama, mas
pelo menos está quase, não acho que alguém seja capaz de resistir a mim por tanto
tempo, bom pelo menos ela (a primeira) não foi, em pouco tempo ela já me amava.
Falando na segunda, combinei de sair com ela hoje, já que hoje eu tenho uma festa
familiar, bom é o que a primeira pensa pelo menos. Irei comer com ela em um restaurante
medíocre, depois subiremos ao segundo andar, onde ela se entregará a mim, e enquanto
eu estiver lá a me divertir e tentar fazer mais uma me amar, eu sei que ela estará sozinha
em seu quarto a pensar em mim, a desejar estar comigo... Ela me ama.
IIEla me esperava na mesa, chegou primeiro, bom sinal, mostra que estava ansiosa
pra me ver, provavelmente estará a meus pés também daqui um tempo.
Depois da recepção tradicional, comprimentos, beijinhos, conversas jogadas ao ar,
peço nossa comida e bebida.
A conversa continua... Nada de importante, como sempre tento falar o que ela quer
ouvir, para agrada-la, sou ótimo nisso já. Funcionou também com a outra.
E com essa também parece funcionar... Mesmo antes da comida chegar, ela já está
em meu colo, estamos aos beijos, e carícias, já tenho liberdade no corpo dela, ela não
tem mais aquele pudorzinho digno de começo de relação, já está entregue ao meu amor.
Nem presto muita atenção no que estou fazendo, fico ao invés disso, pensando em
como sou uma grande pessoa, amado por muitas, admirados por todos, me lembro da
outra dizendo que me ama em meu braço, me lembro de todos meus amigos me
glorificando... Sou tão bom!
Lembro-me, também, de que ouvira falar que ela tinha amantes, uma vez um
amigo meu me disse que havia a visto com outro, mas eu sei que ou era mentira dele, ou
que o outro era só um familiar, ela não me trai, sei disso, ela me ama.
Um sorriso então nasce em meu rosto, minha auto-estima estava no máximo
humano. Meu ego saltava para fora de meu corpo.
Foi então quando a vejo subir para o segundo andar de mãos dadas com um
outro... Em um primeiro momento não acredito, mas não há como mentir a mim mesmo,
Lira dos 15 anos – Amor – 80 / 86
era verdade, ela estava a me trair!
Mas como? Ela me ama! Como ela pode me amar e me trair?
Era como se o mundo desabasse repentinamente, me senti fraco, como aquilo?
COMO?
Ela não me amava então? Mas e as lagrimas? E os suspiros de te amo... Era tudo
tão verdadeiro... Tão verdadeiro... Não posso acreditar! Ela me ama! Ela me ama! Ela me
ama! Ela me...
Ela não me ama...
Eu não a amo...
Eu não sou amado! Não sou amado... Não sou...
Empurrei então aquele ser que se encontrava em cima de mim, de um modo
bastante bruto até, o que acontecia? Ela caiu no chão, não me importava com isso. Nem
percebi quando ela gritou comigo, eu não estava mais ali, eu não mais estava em lugar
algum, meu ego tinha morrido... Ela não me ama.
O tapa que recebi em seguida me acordou, sentei-me, ela partiu, chorei, lagrimas
caíram... Não por ela, por mim, por o que eu não era... Preciso de amor! Preciso ser
amado! PRECISO!
Sai rapidamente do restaurante, acho que me esqueci de pagar, mas o que
importa?
Andava pelas ruas cabisbaixo... Precisa de amor... Precisa...
Então me lembrei de como resolver isso. Apertei o passo.
Rapidamente cheguei a uma farmácia. Perguntei então: “Quanto custa o amor?”
“Noventa e nove reais e noventa e cinco centavos.” “Posso provar um pouco para ver se
aprovo?” “Claro”. O atendente pegou um pote em atrás do balcão, o abriu, pegou uma
pequena pílula vermelha, e me entregou: “Recomendo que o senhor sente-se antes de
ingerir o amor”.
Sentei-me em uma confortável poltrona e ingeri a pílula vermelha. Tinha um gosto
bom, muito bom... Muito bom...
Em um instante, eu já delirava... Na minha frente se encontrava uma linda mulher
loira, era perfeita... Tão real.
Ela, então, começou a dançar e falar comigo: “Te amo!”, tirava a camisa, “Você é
tudo pra mim!”, tirou o sutiã, “Sem você eu não vivo!”, abaixou vagarosamente a saia,
“Obrigado por existir!”, acabou de se despir, “Você é o cara perfeito!”, começou a me
despir, “Nossa como o ‘seu’ é enorme!”, acabou de me despir e sentou-se em mim, dando
Lira dos 15 anos – Amor – 81 / 86
inicio ao ritual primata.
Era bom... Estava a delirar, mas após um pouco, me senti enjoado... Aquilo era
tudo? O amor era algo físico somente? O amor não existia? Eu não era amado... Ela não
me amava.
Quase vomitei, desejava cada vez mais que aquilo tudo terminasse o mais rápido
possível. Já estava desgastado... Sem animo para nada... Mas a pílula do amor não
acabava... Parecia que eu ia perder a minha vida com ela...
Não agüentei, empurrei aquela mulher com força, tentei, meus braços passaram
por dentro dela... E ela sumiu, voltei a estar na farmácia, ninguém a minha volta, só o
atendente já sonolento... Nada mudara, só minha calça que se encontrava molhada.
Dirige-me ao atendente, e esse me perguntou: “Vai levar o amor?” “Não me veja,
por favor, toda a cicuta que você tem aí.” “Pra viagem ou pra agora?” “Pra agora”.
Lira dos 15 anos – Amor – 82 / 86
Êeein, nhén, ain
“Êeein, nhén, ain”, gritava a gralha. Gritava alto, persistentemente, com
entusiasmo. Gritava como em todos os dias, gritava todos os dias. Gritava para todos
ouvir, mas se alguém ouvia, não sabia, ninguém tinha qualquer forma de reação, era
como se ela não gritasse, como se ela não importasse.
“Êeein, nhén, ain”, gritava a gralha. Mas para gritar tanto, tinha que se alimentar
muito todos os dias, assim teria força suficiente no dia seguinte. Mas se alimentar era
difícil, trabalhoso, ela tinha que se esforçar para achar comida. Mas ela tinha que comer,
pois ela tinha que gritar.
“Êeein, nhén, ain”, gritava a gralha. Isto a cansava, mas ela escondia o cansaço.
Gritar era sua função, sua única simplória função. Ela vivia a gritar, pois, vivia para gritar.
Mas e se ela parasse de gritar? O que aconteceria? O que importaria?
“Êeein, nhén”, gritava a gralha. E ao mesmo tempo questionava se deveria
continuar gritando. Gritar, agora, era ainda mais cansativo, chato, gritar, agora, era
rotineiro.
E se ela não gritasse mais? Algo mudaria? Ninguém a ouvia mesmo... Para que
insistir?
E se ela deixasse de insistir? O que seria de sua vida? Para que ela iria continuar
se alimentando?
E se ela deixasse de insistir?
E se ela deixasse de existir?
Mas o que isso importa? O céu é azul de qualquer maneira (apesar de que à noite
ele seja preto, às vezes cinza, ou até mesmo roxo escuro. E no limiar do anoitecer, ele é
vermelho, vermelho sangue).
Lira dos 15 anos – Êeein, nhén, ain – 83 / 86
Poema de abertura (desfecho?)
Mundiar sempre...
A vida respira?
- Não sei -
O fogo queima?
- Não sei -
Pouco importa, pois eu mundio.
Esqueço do resto
Os momentos são roubados, desperdiçados.
Não é tempo perdido,
é tempo passado, existido.
Despojado pelo mundo.
Para o mundo.
Me esqueço-me de mim mesmo.
Bom? Ruim?
- Indiferente -
Pois, imprescindível... Essencial
Uma necessidade irracional.
Uma necessidade dos sentimentos.
Da existência, para se esquecer.
Mundiar flui.
Mundio a mim mesmo para o exterior.
Lira dos 15 anos – Poema de abertura (desfecho?) – 84 / 86
E, agora,
fecho,
já tem vida,
pois respira, posso sentir a pulsação,
apesar de ser venosa... É existente.
Posso sentir.
Feita a partir de furtos cometidos contra seu deus,
não de doações,
agora ela nasce.
E seguirá seu caminho sozinha.
Um dia seu deus irá morrer, mas ela não...
Ela continuará viva.
Imutável por dentro...
Porem instável por fora.
Isso fará com que ela mantenha sua respiração,
sua pulsação venosa.
Liberto-te mundo!
Lira dos 15 anos – Poema de abertura (desfecho?) – 85 / 86
Dedicatória
Dedico esse livro a Kelly Carolina, pois eu amo somente porque você existe, foi
você quem me deu inspiração para escrever muitos dos textos que aqui se encontram.
Amo você.
Lira dos 15 anos – Dedicatória – 86 / 86