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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS BÁSICOS DISCIPLINA: EDU01004 - HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: História da Escolarização Brasileira e Processos Básicos PROFESSORA: SIMONE VALDETE DOS SANTOS TURMA: H(2012/2) ALUNA: LIRA QUADROS Analfabetismo no Brasil: desigualdades sociais históricas Apesar dos milhares de anos transcorridos desde a invenção da escrita (por volta de 3.000 anos antes de Cristo), ainda hoje existem muitos analfabetos no mundo. Segundo a UNESCO, existem hoje, mais de 100 milhões de crianças no mundo inteiro que se encontram fora da escola. Além, é claro, dos adultos que nunca estudaram. O total de analfabetos no mundo, de acordo com esta entidade, é de 900 milhões de pessoas. O Brasil integra este quadro de forma significativa.Não é de hoje que se sabe que o índice de analfabetismo no Brasil ainda é grande, tendo milhões de analfabetos acima dos 15 anos de idade. Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre analfabetismo configuram um mapa de desigualdades que Alceu Ferraro, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atribui à concentração de terra, de renda e de oportunidades. Segundo Ferraro, que já foi membro do Comitê de Pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), “o país continua pagando o preço de dois fatores conjugados. Primeiro, do descaso secular do Estado, e, segundo, de um conjunto de fatores responsáveis pela enorme desigualdade social que tem, desde sempre, marcado a sociedade brasileira”.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS BÁSICOS

DISCIPLINA: EDU01004 - HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: História da

Escolarização Brasileira e Processos Básicos

PROFESSORA: SIMONE VALDETE DOS SANTOS

TURMA: H(2012/2)

ALUNA: LIRA QUADROS

Analfabetismo no Brasil: desigualdades sociais históricas

Apesar dos milhares de anos transcorridos desde a invenção da

escrita (por volta de 3.000 anos antes de Cristo), ainda hoje existem muitos

analfabetos no mundo. Segundo a UNESCO, existem hoje, mais de 100

milhões de crianças no mundo inteiro que se encontram fora da escola. Além, é

claro, dos adultos que nunca estudaram. O total de analfabetos no mundo, de

acordo com esta entidade, é de 900 milhões de pessoas.

O Brasil integra este quadro de forma significativa.Não é de hoje

que se sabe que o índice de analfabetismo no Brasil ainda é grande, tendo

milhões de analfabetos acima dos 15 anos de idade.

Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) sobre analfabetismo configuram um mapa de desigualdades que Alceu

Ferraro, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul (UFRGS), atribui à concentração de terra, de renda e de oportunidades.

Segundo Ferraro, que já foi membro do Comitê de Pesquisa do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), “o país

continua pagando o preço de dois fatores conjugados. Primeiro, do descaso

secular do Estado, e, segundo, de um conjunto de fatores responsáveis pela

enorme desigualdade social que tem, desde sempre, marcado a sociedade

brasileira”.

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Somos 14 milhões de analfabetos, segundo o IBGE. Desses, a

maior parte se encontra na região Nordeste, na população com mais de 15

anos, entre negros e pardos e na zona rural, ou seja, encontra-se na população

historicamente marginalizada.

Segundo Alceu Ferraro, o analfabetismo no Brasil não era

considerado um problema até a década de 1870; quando depois da reforma

eleitoral de introdução do voto direto (1879/1881) detectou-se a dúvida:

analfabeto deve ou não votar?

Até então, analfabetismo significava incapacidade de ler e

escrever. A partir daí, passou a ser considerado como ignorância, cegueira,

incapacidade de escolha eleitoral; explica Ferraro.

O primeiro censo foi realizado em 1872 e apontava 82,3% de

analfabetos; já o censo relativo ao ano de 2010 aponta somente 9%. Isto nos

mostra uma queda significativa nos índices de analfabetismo da população

brasileira com o decorrer do tempo. Claro que a diminuição da taxa acontece

de forma lenta, porém progressiva. O censo de 2010 revela, ainda, uma

redução em relação aos números apresentados em 2000, mas ainda

insatisfatória, especialmente, quando considerados os critérios utilizados pelo

IBGE. Hoje, é considerada alfabetizada a pessoa capaz de ler e escrever um

bilhete simples; ou que apenas declare sua capacidade.

Com base na história e nos dados destes censos realizados

desde 1872 até os dias de hoje, Alceu Ferraro realizou um estudo que aponta

para as desigualdades de escolarização e oportunidades de acesso à escola

em especial levando em consideração o gênero e a raça da população

brasileira.

A Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD) aponta que

já aos 7anos de idade há um estabelecimento de desigualdade de

alfabetização entre as unidades federativas; segundo Ferraro.

De acordo com a UNESCO, em 1953, no Brasil, no grupo de

pessoas entre 10 e 19 anos de idade, havia igualdade de gênero quanto à

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alfabetização. Já em 1960, o Conselho Nacional de Estatísticas detectou a

inversão, ou seja, as mulheres já são a maioria nas escolas, no grupo de 10 a

19 anos.

Ferraro explica que estes dados podem ser interpretados como:

os meninos estão mais ligados a trabalhos extra domésticos (ou seja, deixam a

escola para trabalhar em turno integral pois necessitam contribuir com o

sustento da família); as meninas tem maior grau de identificação com a escola;

a escola como único lugar onde a mulher pode medir-se com o homem; para

conseguir o mesmo emprego a mulher precisa estudar mais para demonstrar

capacidade; e até talvez, um investimento da mulher na escola como uma

forma de “bolsa matrimonial” (ou seja, algo mais entre seus atributos: prendada

e estudada, sabe dos afazeres domésticos e também é culta).

O estudo de Ferraro diz, também, que quanto a gênero e raça os

dados dos censos revelam que até 1920 o mais escolarizado era o homem

branco, seguido pela mulher branca, depois pelo homem negro e, por último, a

mulher negra. Em 1960, o censo mostra uma igualdade de gêneros e em 1970

uma inversão de gêneros, mas permanência entre as raças. Seguindo, até

hoje, a ordem: mulher branca , homem branco, mulher negra, homem negro.

A mulher negra tem apostado na educação mais do que os

outros, porque ela é mais cobrada para conseguir um posto de trabalho, afirma

Alceu Ferraro que segue dizendo que antes o que se denominava “fracasso

escolar” passou a chamar-se “fracasso do menino”.

Convencidos de que não adianta continuar na escola, muitos

estudantes se afastam da mesma por pura falta de motivação, por não

acreditarem que são capazes de vencer.

O medo domina as sensações prazerosas do aprender, pois

repetências anteriores, exposições diante dos colegas, humilhações dentro da

sala de aula coíbem o sujeito, demonstrando que ele não é capaz.

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No Brasil ainda existe a concepção de que os menos favorecidos

não têm condições de aprender, devendo aceitar que são a mão de obra

pesada e barata do país, estando às margens da nossa pirâmide social.

O mau desempenho escolar reflete-se na vida profissional, pois

são justamente negros e mulheres os que têm mais dificuldade para conseguir

emprego.

Apesar da queda do nível de desemprego nos últimos dois anos,

ainda persiste, para alguns grupos, uma dificuldade maior de conseguir

trabalho, diz o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(PNAD), divulgada em 2012 pelo IBGE mostram que mais da metade (59%)

dos desocupados em 2011 eram mulheres; 57,6% eram pretos ou pardos (essa

é a designação usada oficialmente pelo IBGE para identificar negros); 53,6%

deles não tinham completado o ensino médio; e 33,9% eram jovens entre 18 e

24 anos de idade.

Para melhorar essa visão, a escola deve manter uma política

educacional voltada para atender a diversidade, através de planos de ação que

valorizem as habilidades e potencialidades de cada um. Seria mesmo

identificar o que cada um tem de bom, em quê cada qual pode colaborar com

as experiências e crescimento do grupo; tanto na idade regular de

aprendizagem quanto no Ensino de Jovens e Adultos.

Dessa forma, preocupados com a defasagem do ensino,

buscando qualificar o trabalho docente, voltam-se para a motivação desses

alunos, dando oportunidade aos mesmos, inserindo-os no grupo.

Além disso, não se pode descartar a realidade social em que cada

um vive. Muitos alunos ficam estagnados porque não recebem atenção

necessária, outras são alvos de agressões, outros sofrem abusos sexuais,

alguns têm que trabalhar para sustentar suas famílias, etc.

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A escola precisa considerar todos esses aspectos e muitos

outros, repensando seus valores, buscando diminuir as diferenças entre os

alunos, identificando porque uns aprendem e outros não.

Precisamos de politicas públicas que nos ajudem a “inventar uma

escola indígena, afro-descendente e feminina – dos então exilados do interesse

e da valorização tradicional da escola moderna”. (SANTOS, 2012)

Dessa forma, podemos questionar como acontecerá o

crescimento social e econômico do país se não temos uma política educacional

consistente?

Referências:

FERRARO, Alceu Ravanello. “Alfabetização e escolarização no Brasil:

trajetórias e determinações de gênero, raça e classe” -Aula inaugural da

Faculdade de Educação. UFRGS. Setembro, 2012.

GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira. “Negros e Educação no Brasil” in 500

Anos de Educação no Brasil org. LOPES, Eliane Marta Teixeira et al. Belo

Horizonte: Autêntica, 2000.

SANTOS, Simone Valdete. “Sentidos da escola e da Docência no Brasil”.

FACED.UFRGS.2012.

Website: www.comciencia.br (acessado em 10/12/2012)

Website: www.ibge.gov.br(acessado em 10/12/2012)

Website: www.unesco.org(acessado em 10/12/2012)