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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/ DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEMPROGRAMA DE PÓS
LISSANDRA CHAVES DE SOUSA SANTOS
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO AO PACIENTEPARA PREVENÇÃO DA INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPIREITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/ DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEMPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM
LISSANDRA CHAVES DE SOUSA SANTOS
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO AO PACIENTE COM CATETER VENSO CENTRAL PARA PREVENÇÃO DA INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA
TERESINA 2013
UFPI GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/ DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM
LISSANDRA CHAVES DE SOUSA SANTOS
COM CATETER VENSO CENTRAL PARA PREVENÇÃO DA INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA.
LISSANDRA CHAVES DE SOUSA SANTOS
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO AO PACIENTE COM CATETER VENSO CENTRAL PARA PREVENÇÃO DA INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA.
Relatório de qualificação apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Área de Concentração: Enfermagem no Contexto Social Brasileiro. Linha de Pesquisa: Processo de Cuidar em Saúde e Enfermagem. Orientadora: Profa. Dra. Maria Eliete Batista Moura.
TERESINA 2013
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................04
2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................08
2.1 Infecções Relacionadas à Assistência em Saúde – IRAS:
contextualização..........................................................................................08
2.2 Infecções da Corrente Sanguínea Relacionadas ao
Cateter Venoso Central: conceito e prevenção............................................12
3 METODOLOGIA........................................................................................17
4 RESULTADOS..........................................................................................23
4.1 Apresentação das classes e as relações envolvidas.............................23
4.2 Segmento 1 - O cateter venoso central e sua utilização
na terapia intensiva......................................................................................26.
4.2.1 Classe 1 – O cateter venoso central como via de
acesso para infusão de drogas....................................................................26
4.2.2 Classe 2 – O manuseio do cateter venoso central
na terapia intensiva......................................................................................28
4.3 Segmento 2 - Procedimentos e cuidados prestados
pelo enfermeiro a fim de prevenir a infecção de corrente sanguínea........31
4.3.1 Classe 5 - O cuidado ao paciente com cateter venoso central..........31
4.3.2 Classe 6 - Os sinais de infecção de corrente sanguínea
e o registro no prontuário............................................................................33
4.3.3 Classe 3 – A técnica de realização do curativo
no cateter venoso central.............................................................................35
4.3.4 – A importância de um protocolo de rotinas........................................36
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................38
REFERÊNCIAS............................................................................................42
1 INTRODUÇÃO
As infecções relacionadas a serviços de saúde (IRAS) representam um
problema de saúde pública e atualmente é um tema evidenciado mundialmente
pelos pesquisadores em detrimento de suas implicações sócio econômico que
geram malefícios para todos os sujeitos envolvidos no processo saúde-doença,
sejam eles, clientes do serviço de saúde, profissionais ou gestores.
As IRAS constituem em um problema de saúde pública, tendo em vista
que os aspectos sociais, como por exemplo, as condições de trabalho dos
profissionais de saúde, a educação e os interesses das instituições de saúde, estão
fortemente relacionadas à sua ocorrência (FONTANA; LAUTERT, 2008).
O ambiente hospitalar é, por sua natureza, possivelmente contaminado
devido à grande quantidade de pessoas que circulam no local, desde profissionais
de saúde a pessoas leigas, além dos diversos equipamentos utilizados no
tratamento dos pacientes. Atualmente, os microrganismos presentes no ambiente
hospitalar estão se tornando cada vez mais resistentes e os pacientes ainda mais
susceptíveis a tais agentes infecciosos (SANTOS, 2005).
De acordo com o Ministério da Saúde, a infecção pode ser considerada
hospitalar quando esta for adquirida após a admissão do paciente, durante sua
internação ou até mesmo, após a alta quando estiver relacionada a procedimentos
realizados durante a internação (BRASIL, 1998).
Vale ressaltar que as IRAS, podem ser causadas por técnicas de
esterilização inadequadas, a não adoção de medidas de precaução padrão e
técnicas assépticas ineficazes que causam dano à saúde e constituem, portanto, ato
ilícito. Os profissionais de saúde devem estar ainda mais atentos às suas condutas,
tendo em vista que além das implicações éticas e sociais, tais atos possuem,
portanto, consequências jurídicas (FONTANA; LAUTERT, 2008).
Em países desenvolvidos, apenas 5 a 10% dos pacientes admitidos
sofrem complicações durante o tratamento, sendo que em países em
desenvolvimento, este índice aumenta de duas a vinte vezes, e o índice de
infecções hospitalares excede 25% (WHO, 2009).
Na Europa, institui-se um protocolo, Hospitals in Europe Link for
Infection Control through Surveillance (HELICS III), para padronização das
metodologias dos estudos sobre infecções hospitalares que permite a comparação
de dados entre os países. Em estudo realizado em Portugal, a partir da análise de
pesquisas que utilizaram HELICS III, obteve-se um índice de 10% de infecção
hospitalar (PINA, et al. 2010).
As pesquisas realizadas no Brasil encontram taxas mais elevada de
infecção hospitalar, variando de 8,2 a 15,9% (NOGUEIRA, et al, 2009; LEISER, et al.
2007). Neste contexto um dos setores mais preocupantes são referentes as
Unidades de Terapia Intensiva (UTI), com índices de infecção hospitalar de 20%
(OLIVEIRA; KOVNER; SILVA, 2010). Ressalva-se, porém, que não havendo uma
padronização no método de avaliação de tais índices, não é possível realizar uma
comparação rigorosa dos dados relativos a esta questão entre as diferentes regiões.
No intuito de reduzir os índices de infecções hospitalares e suas
possíveis consequências que afetam tanto o paciente como os financiadores da
saúde, o governo institui medidas de controle destas infecções.
Atualmente, as medidas de controle e prevenção das IRAS no Brasil
estão regulamentadas pela Portaria GM 2616 de 1998, que dispõe da
obrigatoriedade de todos os hospitais manterem em vigor um Programa de Controle
de Infecção Hospitalar (PCIH) elaborado e implantado pela Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar (CCIH), no qual deve ainda realizar vigilância epidemiológica das
IRAS (BRASIL, 1998).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é o órgão
fiscalizador dos PCIH, contudo, uma pesquisa realizada com técnicos da vigilância
sanitária acerca da efetividade da fiscalização dos referidos programas, aponta que
as visitas da ANVISA aos serviços de saúde não acontecem de maneira periódica,
ocorrendo apenas nos casos de intercorrências, além de que a maioria dos técnicos
não possui treinamento especifico para fiscalização. Estes fatos tornam a realidade
da descentralização do controle das IRAS questionável, pois ao passo que torna a
análise das ações nos serviços de saúde mais acessível, proporciona diferentes
tipos de ações nas diferentes regiões (GIUNTA; LACERDA, 2006).
As IRAS podem ser causadas por fatores exógenos, em decorrência de
microrganismos externos ao indivíduo infectado, e fatores endógenos, adquiridas por
antígenos pertencentes à flora do indivíduo. Tais infecções possuem diferentes
locais de atuação, como por exemplo, a da corrente sanguínea que estar associada
às terapias endovenosas e cateterismos vesicais (SANTOS, 2005).
As infecções da corrente sanguínea (ICS) podem ser classificadas em
infecções primárias de corrente sanguínea (IPCS), que são consequências de
infecções sistêmicas graves e não possuem foco primário identificável e infecções
relacionadas ao acesso vascular, que ocorrem no local de inserção do cateter não
causando repercussões sistêmicas (BRASIL, 2009).
Cerca de 60% das bacteremias hospitalares estão associadas a algum
dispositivo intravascular. Além de que, o fator de risco mais frequente para infecção
da corrente sanguínea é o uso de cateter venoso central (BRASIL, 2010a).
De acordo com Marques Neto, et al. (2009), a incidência de infecção de
corrente sanguínea associada ao cateter venoso central (CVC) é de 3,6 infecções
por 1000 cateteres-dia.
Desta maneira, a realização deste estudo justifica-se pela gravidade da
problemática da infecção de corrente sanguínea causada por procedimentos
invasivos, como o CVC, que é mantido por meio dos cuidados de enfermagem. O
conhecimento e a atuação da equipe de enfermagem, por estar constantemente em
contato com o CVC, são fundamentais na tentativa de prevenção de infecções
causadas por tal dispositivo. O cuidado prestado pela equipe liderada pelo
enfermeiro interfere diretamente no resultado esperado, como, assistência de
qualidade, intervenções eficazes, melhor utilização dos recursos disponíveis e
segurança para o paciente.
Apesar do vasto acervo de evidências sobre as melhores práticas para
prevenção e controle das ICSRC, observa-se que alguns profissionais resistem em
aderir a tais intervenções em seu cotidiano assistencial.
Estudo que objetivava analisar as ICSRC após a implantação de um
bundle de inserção e manutenção de CVC em UTI, evidenciou que a adesão dos
profissionais às medidas implantadas somente aumentou mediante notificação
nominal e acompanhamento pela gerência do serviço (DALLÉ; KUPLICH; SANTOS;
SILVEIRA, 2012).
Desta forma, o estudo acerca da atuação dos enfermeiros na
assistência aos pacientes que utilizam CVC contribuirá para a compreensão da
realidade destes profissionais e as dificuldades enfrentadas na tentativa da
prevenção deste tipo de infecção.
Com base nesta problemática, definiu-se como objeto de estudo, a
atuação do enfermeiro na assistência aos pacientes com cateter venoso central na
prevenção da infecção da corrente sanguínea. Desta maneira, propõem-se os
seguintes objetivos:
Caracterizar os sujeitos da pesquisa quanto ao gênero, idade, tempo
de serviço e categoria profissional;
Descrever os procedimentos realizados pelos profissionais de
enfermagem, relacionados ao cateter venoso central, a fim de prevenir a infecção de
corrente sanguínea;
Analisar o cuidado de Enfermagem aos pacientes que utilizam cateter
venoso central relacionado com as infecções de corrente sanguínea;
Elaborar um protocolo de cuidados de Enfermagem, com base nos
resultados, visando à prevenção e controle de Infecção de Corrente Sanguínea
relacionada ao Cateter Venoso Central.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Infecções relacionadas à assistência em saúde – IRAS: contextualização.
As IRAS trazem diversos prejuízos, especialmente, para os que fazem
parte dos serviços de saúde, de modo que sua prevenção faz-se necessária para
prestação de uma assistência de qualidade e livre de danos.
Caracteriza-se infecção como uma interação existente entre
hospedeiro e um microrganismo, de modo que sua ocorrência pode ser evidenciada
por manifestações clínicas, como, calor, rubor e dor, ou por meio de exame
laboratorial do tecido lesado que comprove a presença do microrganismo. Sua
ocorrência está relacionada a um conjunto de fatores que influenciam no processo
infeccioso, sendo eles, o agente etiológico da infecção, um hospedeiro susceptível,
reservatório, porta de entrada e porta de saída do microorganismo e um meio de
transmissão. As manifestações das infecções dependem do agente infeccioso
adquirido, apresentando uma evolução progressiva, e o prognóstico das infecções é
determinado de acordo com a susceptibilidade do hospedeiro (SMELTER, et al.
2009; SANTOS, 2005).
No momento em que o processo infeccioso se instala ou manifesta em
consequência de fatores relacionados à hospitalização do hospedeiro, esta é
considerada infecção hospitalar ou infecção relacionada à assistência em saúde.
De acordo com Medeiros, Pereira e Wey (2005), as IRAS consistem
em infecção adquirida durante a hospitalização, não estando em período de
incubação ou presente no momento da admissão, que se manifestam, em geral,
após quarenta e oito horas de internação.
Entretanto, percorreu-se, ao longo da história, um longo caminho para
alcançarmos à compreensão atual de infecção, este percurso envolveu tanto o
conhecimento científico e ações do poder público, como a melhoria dos ambientes
com a instituição de métodos de higiene (UJVARI, 2003).
A relação do ambiente hospitalar com a ocorrência de infecção
acontece desde o surgimento destas instituições, constituindo-se em problema de
saúde pública por todo o mundo.
A instituição hospitalar é definida como local de utilização de avanços
tecnológicos com o intuito de prover os mais atualizados serviços diagnósticos e
terapêuticos para os pacientes. O hospital, seja de caráter público ou privado,
representa, desde sua origem até os dias atuais, a emergência de produção
industrial na saúde (MEDEIROS; PEREIRA; WEY; 2005; RIBEIRO, 1993).
Na idade média o hospital adquire novos ofícios, passando de locais de
abrigo para pobres e velhos, como na Roma antiga, para instituições que contavam
com a presença permanente de médicos e servia de ensino. Entretanto, em alguns
locais da Europa, ainda permanecia o caráter religioso dos hospitais que serviam a
doentes. Posteriormente, com a evolução da economia e a criação dos Estados
monárquicos, os hospitais passaram para a administração pública e nestes os
médicos representava o poder da instituição. Deste modo, na Europa, os hospitais
passaram a ser campo de atuação médica e local de formação e aperfeiçoamento.
No entanto, nas colônias, os hospitais permaneceram precários, com excesso de
doentes, trabalho de caridade, más condições higiênicas e grande mortalidade
(RIBEIRO, 1993).
A partir da evolução das práticas médicas, como por exemplo, a
realização de cirurgias, passa a ser encargo das instituições hospitalares a
incorporação de tecnologias à saúde. No século XVIII, o hospital deixa de ter caráter
religioso e de caridade, passando a ser uma instituição voltada para tratamento de
doenças e recuperação de pacientes (RIBEIRO, 1993).
No entanto, foi apenas no século XIX que Ignaz Semmelweis começa a
mudar a realidade dos altos índices de infecção nos hospitais. Através da
observação da discrepância de ocorrência de infecções entre duas enfermarias
obstétricas de um mesmo local, este médico húngaro percebeu que na enfermaria
com maior incidência de infecção, os médicos que realizavam os partos não lavavam
as mãos após realizarem necropsias, além de que, na enfermaria com raros casos
de infecção os partos eram realizados por enfermeiras ou parteiras. A partir, desta
constatação, Semmelweis instituiu a simples prática da lavagem das mãos, utilizada
até os dias atuais como medida padrão de prevenção das IRAS (MEDEIROS;
PEREIRA; WEY, 2005).
A prática de lavagem das mãos antes e após o contato com o paciente
ou realização de procedimentos constitui, portanto, prática de prevenção das IRAS
acessível para os profissionais e de baixo custo para as instituições de saúde, mas
que não é empregada de forma eficaz nos serviços atuais.
Os avanços da medicina continuaram a ditar o comportamento das
infecções hospitalares, de modo que, a partir da década de 1930, com a introdução
de substâncias antimicrobianas nos tratamentos os agentes infecciosos passaram a
determinar surtos de infecções, como uma pandemia na década de 1950 em
decorrência da resistência do Staphylococcus aureus à penicilina. Em 1970, as
enterobactérias dominaram as IRAS e a multirresistência do Staphylococcus aureus
passa a ser relacionado com infecções do sítio cirúrgico e de cateteres venosos. A
produção industrial da penicilina marca a caracterização do hospital como empresa
geradora de capital, passando a ser local de venda e consumo de mercadorias,
principalmente de tecnologias médicas (MEDEIROS; PEREIRA; WEY, 2005;
RIBEIRO, 1993).
A partir desta realidade, os hospitais dos EUA, passaram a adotar
programas para prevenção de infecção hospitalar com o objetivo de identificar taxas
de infecção, fatores de risco e agentes etiológicos envolvidos na infecção, propostas
pelo centro de controle e prevenção de doenças (Centers for Disease Control and
Prevention - CDC) e exigidas pela comissão de acreditação das organizações de
saúde (Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations – JCAHO)
(MEDEIROS; PEREIRA; WEY, 2005).
Baseado nos altos índices de infecção, seguidos de altas taxas de
mortalidade nos ambientes hospitalares, surge a necessidade de buscar o
entendimento dos problemas relacionados a estas infecções, bem como, buscar
soluções para os problemas, o que se torna possível através da realização de
vigilância epidemiológica adotada pelo sistema nacional de vigilância de infecção
hospitalar (NNISS) da CDC. Além da compreensão da realidade das infecções
hospitalares, a vigilância epidemiológica, de acordo com NNISS, permite influenciar
as decisões político-administrativas e direcionar a prática profissional para melhoria
da assistência prestada ao paciente (BRASIL, 1994).
No Brasil, a prevenção das infecções hospitalares tornou-se oficial
quando o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 196 de 24 de junho de 1983, na
qual determina a presença, em todos os hospitais do país, de uma Comissão de
Controle de Infecção Hospitalar – CCIH, que deve ser composta por representantes
médicos, médicos residentes, enfermeiros, do serviço de laboratório de análises
clínicas, da farmácia hospitalar e da administração. Em 1992 a Portaria nº 930 vem
substituir a portaria em vigor de 1983.
Posteriormente, em 1997, é publicada a lei nº 9431 que dispões sobre
a obrigatoriedade, também em todos os hospitais do país, da sustentação de um
Programa de Controle de Infecção Hospitalar – PCIH, constituindo em ações
deliberativas e sistemáticas com o objetivo de reduzir ao máximo a incidência e
gravidade das IH.
A referida lei define IH:
Entende-se por infecção hospitalar, também denominada institucional ou nosocomial, qualquer infecção adquirida após a internação de um paciente em hospital e que se manifeste durante a internação ou mesmo após a alta, quando puder ser relacionada com a hospitalização (BRASIL, 1997).
Atualmente a recomendação, em vigor, para a prevenção e controle
das infecções hospitalares é da Portaria nº 2.616 de 12 de maio de 1998, que
descreve a competências da CCIH como, manter e avaliar o PCIH, implantar um
Sistema de Vigilância Epidemiológica das Infecções Hospitalares e elaborar e
implantar normas e rotinas técnicas, além de acrescentar a recomendação o uso
racional de antimicrobianos, germicidas e materiais médico-hospitalares (BRASIL,
1998).
A fim de fiscalizar os PCIH desenvolvidos nos hospitais, a ANVISA
editou, por meio da Resolução RDC nº 48 de 2 de junho de 2000, um Roteiro de
Inspeção do Programa de Controle de Infecção Hospitalar, disposto de forma
sistemática para realizar a avaliação do desenvolvimento das ações dos PCIH
(BRASIL, 2000).
Diante da disponibilidade de medidas de prevenção e controle das
IRAS, cabe aos profissionais e aos gestores, tanto dos serviços de saúde como do
governo, permitir a aplicabilidade de tais medidas que minimizarão os danos
causados pelas infecções e possibilitarão uma assistência de qualidade.
2.2 Infecções da Corrente Sanguínea Relacionadas ao Cateter Venoso Central:
conceito e prevenção.
A infecção da corrente sanguínea constitui-se em bacteremia
sintomática do tipo contínua, em que a bactéria permanece no sangue por mais de
doze horas sugerindo uma infecção disseminada grave. Estas infecções são
multifatoriais e apresentam fisiopatologia, diagnósticos, tratamento e prevenção
distintos (SILVA; TRABULSI; TOLEDO, 1997; BRASIL, 2009).
De acordo com o Ministério da Saúde (2009), as infecções da corrente
sanguínea podem ser divididas em infecções primárias da corrente sanguínea –
IPCS, que causam consequências sistêmicas graves e não possui foco primário
identificável, e infecções relacionadas ao acesso vascular – IAV, que ocorrem no
local de inserção do cateter e não causam repercussões sistêmicas.
As IPCS podem ser diagnosticadas clinicamente ou laboratorialmente,
através da realização de hemocultura. O diagnóstico baseado em aspectos clínicos
é facilmente obtido, porém, sua definição é subjetiva. Por sua vez, no diagnóstico
laboratorial, apesar de ser definido objetivamente, seu resultado depende da prática
correta de coleta do material para análise, além de apresentar baixa sensibilidade
em pacientes que fazem uso de antibióticos (BRASIL, 2009).
Segundo, o Centers for Disease Control and Prevention - CDC (2010),
as infecções primárias da corrente sanguínea são as infecções da corrente
sanguínea confirmadas laboratorialmente, não sendo secundária a qualquer outra
infecção, ou ainda, na presença de sinais e sintomas de infecção no sítio de
inserção do acesso vascular na ausência de outra infecção evidente.
O diagnóstico laboratorial da IPCS é realizado baseado em critérios
como; pelo menos uma hemocultura positiva coletada preferencialmente do sangue
periférico e não relacionada à infecção de outro sítio, ou pelo menos um sinal e
sintoma (febre, tremor, oligúria e hipotensão) de infecção não relacionada a outro
sítio e pelo menos duas hemoculturas que apresente microorganismo comum da
pele (bacillus ssp., estafilococcos coagulase negativo, dentre outros). Para crianças
menores de um ano o critério de diagnóstico deve ser pelo menos um sinal e
sintoma (febre, hipotermia, bradicardia ou taquicardia) não relacionado a outra
infecção e duas ou mais hemoculturas com microorganismo comumente encontrado
em pele (CDC, 2010).
A hemocultura é um método simples para diagnóstico bacteriológico se
realizado rigorosamente de forma asséptica. Após assepsia da pele com álcool e
iodo a 1%, deve-se colher de 10 a 20 ml de sangue com seringa estéril, colocá-lo em
seguida em frasco estéril contendo polianetolsulfonato de sódio (anticoagulante
inofensivo as bactérias). Posteriormente, o sangue colhido deve ser semeado em
pelo menos dois meios de cultura, sendo, um para os microorganismos aeróbicos e
um para os anaeróbicos. Estes meios de cultura devem ser analisados por sete dias,
no caso do paciente ter feito uso de antibiótico anteriormente a coleta a análise deve
durar quatorze dias (SILVA; TRABULSI; TOLEDO, 1997).
Pesquisas evidenciam altas taxas de infecção da corrente sanguínea,
que quando não se apresenta como a infecção mais frequente nos estudos,
demonstra grande percentual de ocorrência, com taxas que variam de 27 a 72% das
infecções hospitalares (NOGUEIRA, et al 2009; CONTRERAS-CUELLAR, et al
2007).
Ressalva-se que as IPCS, assim como as demais infecções
hospitalares, se relacionam ao aumento do tempo de internação, mortalidade e
incremento dos custos na assistência. Pela relevância destes fatores e por ser o
cateter venoso central um dos principais fatores de risco para a ocorrência de tais
infecções, as infecções de corrente sanguínea nos pacientes em uso de cateter
venoso central serão de notificação compulsória em hospitais com UTI que possua
dez leitos ou mais (BRASIL, 2010a, b).
Cateter venoso central constitui-se em cateter intravascular, implantado
próximo do coração ou em um dos grandes vasos, utilizado para infusão de líquidos,
retirada de sangue ou monitoramento hemodinâmico. Estes dispositivos são
utilizados, ainda, no caso de impossibilidade de acesso periférico, administração
rápida ou contínua de medicamentos, infusão de expansores de volume e
hemoderivados ou administração concomitante de drogas incompatíveis (CDC,
2010; BRASIL, 2010b).
Segundo Smellter, et al (2009), os cateteres venosos centrais são
dispositivos implantados em um vaso calibroso e de alto fluxo sanguíneo para
possibilitar à infusão de substâncias que causariam dano a parede de vasos
sanguíneos periféricos como, por exemplo, a nutrição parenteral.
Dentre os tipos de cateter venoso central, destacam-se os de curta e
longa permanência, sendo os de curta permanência os que atingem vasos centrais,
instalados por venopunção direta e não possuem nenhum mecanismo para
prevenção de colonização bacteriana; já os de longa permanência também atingem
vasos centrais, porém sua implantação é cirúrgica e apresentam mecanismos que
evitam a colonização bacteriana (BRASIL, 2010a).
Estudo realizado com pacientes que faziam uso de CVC relata que a
maioria de tais dispositivos foi implantada com a finalidade de verificar a pressão
venosa central e infundir líquidos e medicamentos (MARQUES NETTO, et al 2009).
A utilização de cateter venoso central está associada diretamente à
infecção da corrente sanguínea. Em pesquisa realizada pelo Sistema Nacional de
Vigilância de Infecção Hospitalar do CDC, baseada na análise de aproximadamente
trezentos hospitais, constatou-se que, em sua maioria, a taxa de infecção da
corrente sanguínea é substancialmente maior em paciente com cateter venoso
central do que os que não utilizam tal dispositivo (CDC, 2002).
A infecção da corrente sanguínea associada ao cateter venoso central
é uma infecção primária da corrente sanguínea que ocorre em pacientes fazem uso
de cateter venoso central por mais de quarenta e oito horas anteriormente ao
desenvolvimento da infecção, não podendo, ainda, ser relacionada à infecção de
outro sítio (CDC, 2011).
Estudos revelam altas taxas de infecção da corrente sanguínea
relacionada ao CVC. Pesquisa realizada na Colômbia, em uma unidade de terapia
intensiva neonatal, constatou que setenta e um por cento das infecções da corrente
sanguínea estavam relacionadas ao CVC. No Brasil, em pesquisa realizada com
pacientes adultos em cuidados intensivos, a taxa de infecção associada à CVC foi
de 3,6 infecções por 1000 cateteres-dia (CONTRERAS-CUELLAR, et al 2007;
MARQUES NETTO, et al 2009).
Destaca-se que existem vários fatores, próprios do paciente, dos
dispositivos intravasculares ou dos profissionais, que influenciam na ocorrência de
infecções da corrente sanguínea relacionada ao CVC.
Além da técnica de implantação e manipulação destes dispositivos, o
material utilizado na fabricação da cânula dos cateteres pode influenciar diretamente
na ocorrência de infecções. Os materiais mais utilizados para a fabricação de
cateteres são o politetrafluoretileno, poliuretano, silicone, poliamida e poliéster
(BRASIL, 2010a).
O local de inserção do cateter venoso central, também, relaciona-se
com o risco de ocorrência de infecção da corrente sanguínea relacionada ao cateter,
que pode ser explicado pelo risco de tromboflebite e pela densidade da flora
microbiana da pele no sítio de inserção do cateter. É recomendado que a inserção
do CVC seja preferencialmente em extremidade superior, como por exemplo, a
subclávia (CDC, 2002; CDC, 2011).
O risco de infecção pode, ainda, ser influenciado pela situação
nutricional do paciente. Estudo realizado nos Estados Unidos verificou que tanto a
ICS, como a ICS relacionada ao CVC é mais comum em pacientes com obesidade
severa, possivelmente pela dificuldade de obtenção do acesso venoso nestes
pacientes e ainda resistência dos profissionais em retirar o cateter em casos de
sinais de infecção. Na realidade brasileira, estudo demonstra que a maioria dos
CVC´s analisados são colonizados, assim como a maior parte dos pacientes com
estes dispositivos possuem deficiência nutricional, sugerindo assim que a nutrição,
estando diretamente ligada a imunologia do paciente, influencia na ocorrência de
infecções (DOSSETT, et al 2009; MACHADO, et al 2009).
Diante desta realidade, destaca-se a importância de desenvolvimento e
implantação de práticas preventivas para a infecção da corrente sanguínea
relacionada ao CVC a fim de proporcionar melhoria da qualidade da assistência,
diminuição das complicações no tratamento dos pacientes e proteção ao profissional
de saúde.
Segundo o Ministério da Saúde (2010a), é recomendável a adoção de
um formulário contendo as cinco medidas para redução das IPCS relacionada ao
CVC, são elas, higienização das mãos; precauções de barreira máxima, como uso
de gorro, máscara, avental, luvas estéreis e campos estéreis; preparação da pele
com remoção de pelos e degermação, se necessário, e assepsia com clorexidina
alcoólica 0,5% a 2%; utilização da veia subclávia como sítio de inserção
preferencial; avaliação diária do CVC, não realizando trocas programadas
previamente baseadas apenas no tempo de permanência e realizar troca através do
fio guia apenas para complicações com ausência de sinais de infecção. É
recomendada, ainda, a avaliação dos procedimentos, por meio do formulário,
garantindo a adesão dos profissionais às estratégias de prevenção e controle das
ICS relacionada ao CVC.
Para a cobertura do cateter venoso central recomenda-se a utilização
de gaze, filme transparente ou semipermeável estéril. De modo que o prazo de troca
destas coberturas deve ser realizado a cada dois dias, ou aos sinais de sujidade
para a gaze, e a cada sete dias ou aos sinais de sujidade para a cobertura
transparente semipermeável (BRASIL, 2010a).
A efetividade de medidas de prevenção para redução de ICSRC é
demonstrada por Vilela, Dantas, Trabasso (2010) que ao implantar um protocolo de
medidas de prevenção em uma UTI constataram uma redução na densidade da
incidência de ICSRC de noventa por cento para setenta por cento, estimando-se que
foi possível evitar quarenta e um casos da infecção no período.
Aliada a implantação de práticas preventivas assistenciais na inserção
e manipulação do cateter venoso central recomenda-se que cada serviço de saúde
realize a implantação e vigilância de alguns indicadores de infecções relacionadas à
saúde, tais como, densidade de incidência de IPCS com confirmação laboratorial em
pacientes em uso de CVC internados em UTI de dez ou mais leitos e a densidade de
incidência de ICS clínica nos referidos pacientes. Esta vigilância epidemiológica,
realizada na forma de busca ativa, deve ser registrada e notificada para a vigilância
sanitária e as coordenações de controle de infecção em nível Estadual, Municipal e
Distrito Federal (BRASIL, 2010b).
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de pesquisa
Trata-se de uma pesquisa exploratória que permite o
conhecimento e análise aprofundada acerca da atuação do enfermeiro no
atendimento aos pacientes com CVC.
Na pesquisa exploratória se desenvolve uma investigação cujo
objetivo é a formulação de questões, com a finalidade de familiarizar o
pesquisador com um fenômeno, esclarecendo e modificando conceitos,
proporcionando uma visão abrangente do objeto de estudo (MARCONI;
LAKATOS, 2009; GIL, 2010).
3.2 Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da pesquisa foram doze enfermeiros que atuam na
assistência aos pacientes das unidades de terapia intensiva geral, neurológica
e pediátrica do hospital local da pesquisa, seguindo os critérios de pertencer ao
quadro efetivo de funcionários no momento da coleta de dados, além de atuar
na UTI há mais de um ano, entendendo que, sendo os mesmos mais
familiarizados com as rotinas do local de trabalho, possam melhor representar
o local do estudo.
Após aceitação dos sujeitos em participar do estudo, foi assinado
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO A), sendo a eles
reservado a confidencialidade, privacidade e direito de recusa da pesquisa;
respeitando, assim, os princípios éticos e legais segundo a Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2003).
3.3 Local da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida nas UTI de um hospital público de
urgência e emergência de Teresina – PI. Trata-se de um hospital de ensino e
pesquisa, inaugurado em 2008, que dispõe de 289 leitos especializados no
atendimento de pacientes adultos e pediátricos.
O hospital abrange seis clínicas especializadas, sendo elas,
clínica médica, ortopédica, neurológica, cirúrgica, pediátrica e queimados; seis
salas de cirurgias e vinte e seis leitos de UTI, sendo estes divididos em três
unidades; geral, neurológica e pediátrica.
3.4 Coleta de dados
Para obtenção dos dados propostos foi utilizada a técnica da
entrevista, conduzida por um roteiro semiestruturado, no qual, além de
caracterizar os sujeitos com as variáveis fixas, tais como, idade, sexo, tempo
de serviço e participação de curso de capacitação sobre o tema; abordou,
ainda, aspectos como: os procedimentos realizados pelos enfermeiros nos
pacientes que utilizam CVC a fim de prevenir a infecção de corrente sanguínea;
o cuidado prestado a estes pacientes; as dificuldades enfrentadas pelos
enfermeiros ao prestar tal cuidado e a forma do registro realizado por eles no
prontuário do paciente.
3.5 Tratamento e análise dos dados
3.5.1 A utilização do software Alceste
Com o intuito de se atingir os objetivos propostos o
processamento dos dados foi realizado por meio do software Alceste (Analyse
Lexicale par Context D’um Ensemble de Segments de Texte) versão 4.8.,
programa de análise quantitativa de dados textuais criado no Centro Nacional
Francês de Pesquisa Científica por Reinert (1998), sendo atualmente difundido
nas pesquisas da área da saúde.
O programa permite a análise automática dos enunciados de um
texto, objetivando a quantificação do mesmo, de tal modo que, a partir da co-
ocorrência dos vocábulos contidos no texto, possam ser extraídos os
segmentos considerados mais significativos (IMAGE, 1998).
Tendo como referência inicial um único texto contendo todo o
conteúdo correspondente ao mesmo tema, denominado corpus, o Alceste
caracteriza inicialmente as falas dos diferentes sujeitos em Unidades de
Contexto Inicial (UCI), de onde partirá as fragmentações e análises do texto.
Após o reconhecimento das UCI, o texto é fragmentado em Unidades de
Contexto Elementares (UCE), dimensionadas pelo programa de acordo com a
extensão do corpus, geralmente no tamanho de três linhas e respeitando a
pontuação do texto.
O processamento do corpus envolve quatro etapas (Figura 1);
inicialmente, na etapa A, o programa gera, em ordem alfabética, três
dicionários de palavras: uma com todo o vocábulo citado no corpus, outra com
suas formas reduzidas, representadas pelas raízes das palavras, e outro com
as formas reduzidas mais frequentes. Esta etapa corresponde, portanto, à
leitura do corpus que permite o reconhecimento das UCI para a realização da
primeira segmentação do corpus, caracterizada pelo agrupamento dos
vocábulos de acordo com suas raízes e realização do cálculo da frequência de
suas formas reduzidas (NASCIMENTO; MENANDRO, 2006; CAMARGO,
2005).
Na etapa B ocorre a seleção das formas reduzidas mais
frequentes; a divisão do corpus nas UCE; o cálculo da matriz, que corresponde
à relação entre as formas reduzidas e as UCE, para formar a Classificação
Hierárquica Descendente (CHD). Ressalta-se que o objetivo é agrupar os
vocábulos de modo que os semelhantes pertençam as UCE de uma mesma
classe e os vocábulos sejam distintos entre as UCE das diferentes classes.
A CHD constitui-se, portanto, em um método utilizado pelo
Alceste para produção dos dados, em que à medida que realiza fragmentações
no corpus, identifica os vocábulos distintos para então formar classes com os
enunciados mais representativos (IMAGE, 1998).
A etapa C constitui-se da definição das classes de UCE e a
demonstração da relação entre as classes, ilustrada pelo Dendograma da
CHD. A partir desta etapa é possível analisar a descrição dos vocábulos mais
representativos de cada classe, bem como a relação existente entre as
classes. Destaca-se, ainda, nesta etapa a Análise Fatorial de Correspondência
que consiste em uma representação gráfica no plano cartesiano da relação
entre as formas reduzidas com frequência maior ou igual a oito e as classes
existentes (CAMARGO, 2005).
Por fim, a etapa D corresponde aos cálculos complementares, tais
como, seleção das UCE mais significantes de cada classe; dos trechos mais
recorrentes nestas classes; e ainda a Classificação Hierárquica Ascendente
(CHA), que permite o estudo aprofundado das relações dos vocábulos com as
UCE de uma mesma classe.
Vale ressaltar que neste estudo foi utilizada apenas a análise da
Classificação Hierárquica Descendente, ou seja, a relação entre as classes
ETAPA A A1 – Reformatação e divisão do texto em segmentos de tamanho similar (UCEs); A2 – Pesquisa do vocabulário e redução das palavras com base suas formas reduzidas; A3 – Criação do dicionário das formas reduzidas.
ETAPA B B1 – Seleção das UCE e cálculo da matriz; B2 – Cálculo das matrizes para a Classificação Hierárquica Descendente; B3 – Classificação Hierárquica Descendente.
ETAPA C C1 – Definição das classes escolhidas; C2 – Descrição das classes; C3 – Análise Fatorial de Correspondência
ETAPA D D1 – Seleção das UCE mais representativas da classe; D2 – Pesquisa dos segmentos repetidos por classe; D3 – Classificação Hierárquica Ascendente; D4 – Seleção das palavras mais características da classe; D5 – Exportação para outros programas.
Figura 1 – Esquema de Processamento de Dados Alceste.
formadas. Foi incluso na análise apenas as formas reduzidas que obtiveram
um teste de qui-quadrado igual ou maior a 2,00.
3.5.2 O cuidado segundo Leonardo Boff
Além da análise textual dos dados realizada pelo programa
Alceste, utilizou-se o conceito de cuidado de Leonardo Boff (2008) para
compreensão aprofundada dos discursos.
Segundo Boff (2008) a palavra cuidado deriva do latim cura,
utilizada para denotar uma atitude de cuidado e preocupação com as coisas,
seres e a natureza. Desta maneira, o cuidado abrange dois significados, um de
desvelo e atenção, e outra de preocupação e envolvimento com o outro.
O cuidado encontra-se na raiz do ser humano, ou seja, é inerente
de sua essência e representa uma atitude de interação com o outro e com o
mundo, constituindo-se, portanto, em um “modo-de-ser” essencial.
Este modo-de-ser representa a existência do ser humano, que
pode se relacionar com o mundo, “ser-no-mundo”, de duas formas: através do
trabalho e do cuidado. Por meio do trabalho o homem perpassa de uma
interação inicial com a natureza, a um estágio de dominação para conseguir
utiliza-la em seu benefício, a relação é de submissão, de sujeito para objeto.
Entretanto, no modo de cuidado, a relação não é de dominação, mas de
convívio e interação com os demais, uma relação de igualdade em que se
estabelece uma atitude de preocupação, envolvimento e afeto; que para ser
atingido, o ser humano precisa buscar em sua essência esse modo de ser
(BOFF, 2008).
Boff (2008, p.102) analisa, ainda, que nossa sociedade vive uma
ditadura do modo de ser trabalho:
o que nossa civilização precisa é superar a ditadura do modo-de-se-trabalho-produção-dominação. Ela nos mantém reféns de uma lógica que hoje se mostra destrutiva da Terra e de seus recursos, das relações entre os povos, das interações entre capital e trabalho, da espiritualidade e de nosso sentido de pertença a um destino comum, libertados dos trabalhos estafantes e desumanizadores, agora feito pelas máquinas automáticas, recuperaríamos o trabalho em seu sentido antropológico originário, como plasmação da natureza e como
atividade criativa, trabalho capaz de realizar o ser humano e de construir sentidos cada vez mais integradores com a dinâmica da natureza e do universo.
Apesar da existência destes dois modos de ser no mundo, o autor
garante que eles não são contrários, o cuidado não se opõe ao trabalho, mas
para atingir o equilíbrio devem-se vincular as duas formas de cuidado, trabalho
e cuidado, chamado de justa medida.
Atualmente, o homem deve ter consciência que não pode
embasar suas atitudes somente na razão, ou emoção, no científico, ou
empírico, mas entender a complexidade dos fatores e relaciona-los em suas
decisões. Assim, para se valorizar o modo do cuidado não se faz necessário
deixar de exercer o modo trabalho, mas observar os limites da subjetividade na
busca pela efetividade de produção e colocar os interesses da coletividade
como prioridade ao seu benefício próprio (BOFF, 2008).
Atingir esta justa medida torna-se um desafio na área da saúde,
que mesmo após a evolução que tem passado no processo de humanização
da assistência prestada, encontra-se fundamentada na realidade técnico
científica, ou seja, no racional, na relação de dominação entre os sujeitos à
medida que se constitui em empresa e prestação de serviço, no modo de ser
trabalho.
Segundo Boff (2008), é necessário que os princípios que
determinam as atitudes do ser humano, na realidade atual, devem ser
centrados no cuidado, de modo que a relação entre os seres passe a ser de
envolvimento.
Assim, é importante que o modo de cuidado esteja presente nas
relações contemporâneas, permitindo que o sentimento, o afeto e o
envolvimento com o outro prevaleça à razão.
4 RESULTADOS
4.1 Apresentação das classes e as relações envolvid as
O conteúdo das falas dos sujeitos participantes do estudo constituíram,
inicialmente, doze UCI, a partir do qual o programa Alceste realizou a fragmentação
em 161UCE, segmentos do corpus divididos em tamanhos similares.
O relatório completo evidencia que o corpus foi constituído de 1237
formas distintas, ou seja, vocábulos diferentes, que ocorreram 7255 vezes com uma
frequência média de seis vezes cada, sendo que 641 palavras foram citadas apenas
uma vez no corpus, indicando que os sujeitos apresentaram um conteúdo de fala
extenso e de vocábulo bastante heterogêneo.
Dentre todas as formas apresentadas, foram analisadas 268 palavras,
com frequência maior ou igual a quatro, que ocorreram 4215 vezes durante a fala
dos participantes. Ressalta-se que apenas os vocábulos que apresentaram um valor
de Khi2 maior ou igual 2,00 foram selecionados para compor a análise do estudo.
Desta maneira, procedeu-se a seleção das UCE, sendo analisadas
60,86% das existentes, totalizando 98 unidades. As mesmas foram distribuídas em
seis classes, ilustrado pelo dendograma das classes estáveis resultante da
Classificação Hierárquica Descendente (Figura 2).
Figura 2. Dendograma das Classes Estáveis.
Fonte: Relatório Alceste, 2012.
A formação das classes resulta de fragmentações do corpus até que
os segmentos resultantes permaneçam estáveis, ou seja, apresentando UCE com
vocábulos semelhantes. Neste estudo, o corpus foi dividido em dois segmentos, de
acordo com as relações estabelecidas entre as classes formadas; o primeiro
composto pelas classes 1 e 2, e o segundo segmento representado pelas classes 3,
5, 6 e 4.
Após a leitura aprofundada das descrições das classes formadas
realizou-se a nomeação das mesmas, levando em consideração as UCE formadas e
as palavras que apresentaram maior frequência e significância, ou seja, maior valor
de khi2. Assim, obteve-se a seguinte descrição: Classe 1 – O Cateter Venoso
Central como Via de Acesso para Infusão de Drogas; Classe 2 – O Manuseio do
Cateter Venoso Central na Terapia Intensiva; Classe 5 – O Cuidado Prestado ao
Paciente com Cateter Venoso Central; Classe 6 – Os sinais de Infecção da Corrente
Sanguínea e o Registro no Prontuário; Classe 3 – A Técnica de Realização do
Curativo no Cateter Venoso Central; Classe 4 – A Importância de um Protocolo de
Rotinas.
O dendograma das classes demonstra a relação existente entre as
classes e a descrição das mesmas, como ilustrado na Figura 3. Observa-se que a
classe 1 tem maior relação com a classe 2, e estas possuem pouca ou nenhuma
relação com as demais classe. Por sua vez, as classes 5 e 6 se relacionam entre si
e com a classe 3, associando-se estas com a classe 4.
Ressalta-se que as 98 UCE selecionadas foram regularmente
distribuídas entre as classes, de modo que as seis classes formadas apresentam
percentagens de UCE com valores similares.
Objetivando simplificar a visualização do resultado da CHD, as classes
foram divididas em dois segmentos conforme a relação existente entre elas; o
segmento intitulado “O cateter venoso central e sua utilização na terapia intensiva”,
formado pelas classes 1 e 2; e o segundo segmento “Procedimentos e cuidados
prestados pelo enfermeiro a fim de prevenir a infecção de corrente sanguínea”
composto pelas classes 3, 5, 6 e 4.
Dessa maneira, a análise dos resultados dispostos no relatório
apresentado pelo Alceste, através da compreensão do conteúdo das falas dos
participantes, possibilita o conhecimento da atuação dos enfermeiros no cuidado ao
paciente com cateter venoso central.
4.2 Segmento 1 - O cateter venoso central e sua uti lização na terapia intensiva
Como demonstrado anteriormente na Figura 3, a classe 1 e 2
mostraram-se diretamente relacionadas entre si e indiretamente com as demais,
formando estas duas o primeiro segmento da análise.
4.2.1 Classe 1 – O cateter venoso central como via de acesso para infusão de
drogas
Composta por 19 UCE, a classe1, intitulada, O cateter venoso central
como via de acesso para infusão de drogas, representa 19,39% do total de UCE do
corpus, que foram compostas principalmente pelos discursos dos sujeitos mais
jovens (*ida_1) e do sexo feminino (*sex_2).
Constituindo um total de 44 palavras selecionadas, os vocábulos mais
representativos desta classe foram: “veia”; “acesso”; “droga”; “venoso” e “central”
(Anexo 1), sendo acesso a palavra mais frequente e veia a de Khi2 mais elevado.
Entretanto, alguns vocábulos apresentaram frequência e Khi2 menor, porém ainda
são representativos, sendo assim inclusos na análise, tais como, “grave”, “paciente”
e “infecção”.
Desta maneira, esta classe representa o significado de cateter venoso
central para os sujeitos do estudo, que o caracterizam como uma via de acesso para
a infusão de drogas, como podemos observar nas seguintes UCE que compõe a
classe;
[...] uma via de acesso para garantir drogas; quando é instalado drogas vasoativas, antibióticos, esse tipo de medicação; que são drogas com potencial corrosivo alto e o acesso central vai poder garantir isso [...]
De fato, o cateter venoso central é um dispositivo inserido na circulação
central, posicionado na veia cava superior, que tem como finalidade a infusão de
drogas como, antibioticoterapia, quimioterápicos e substâncias vesicantes, além de
administração de nutrição parenteral, hemoderivados e monitorização hemodinâmica
(KUSAHARA; PETERLINI, 2011).
Os cateteres venoso central podem ser divididos em semi-implantado
de curta permanência, cateter percutâneo utilizado por períodos reduzido de no
máximo 6 semanas; semi-implantado de longa permanência, dispositivo tunelizado
indicado para terapias prolongadas apresentando maior fixação devido a presença
de um cuff; e o cateter totalmente implantado (CTI), implantado no tecido
subcutâneo e geralmente utilizados em quimioterapias (STOCCO, 2012).
O discurso dos sujeitos evidencia que os enfermeiros do estudo
possuem conhecimento científico acerca do cateter venoso central, reconhecendo
que são utilizados não apenas para a infusão de drogas, mas também para outros
procedimentos, como demonstrado na UCE a seguir,
[...] drogas irritantes, e indicado nestas situações, para fazer alguns procedimentos específicos, como mensuração da PVC, e verificação do débito cardíaco [...]
A pressão venosa central (PVC) consiste na pressão que o sangue
exerce no ventrículo direito durante seu enchimento, diástole; assim, sua
mensuração objetiva estimar esta pressão para quantificar a volemia e a função
cardíaca do paciente. A medida da PVC é uma forma de monitorização invasiva,
geralmente obtida através da inserção de um CVC, podendo ser obtida através de
um transdutor eletrônico, permitindo uma avaliação contínua, ou por meio de um
manômetro de água, que possibilita uma mensuração intermitente (CINTRA;
NISHIDE; NUNES, 2011).
A obtenção dos valores de PVC é frequentemente utilizada em terapia
intensiva, devido à necessidade de avaliação da volemia do paciente, em situações
que necessite de reposição volêmica, tais como, débito cardíaco diminuído,
hemorragias e hipotensão.
Todas as finalidades relatadas para a utilização do CVC estão
relacionadas a pacientes graves, como os que necessitam de infusão de drogas
vasoativas, quimioterápicos, monitorização hemodinâmica invasiva, nutrição
parenteral, hemodiálise, estabilização hemodinâmica, dentre outros. Como
evidenciado pelas falas dos sujeitos; “geralmente são pacientes graves que a gente
opta por um acesso venoso central; que são pacientes muito invadidos”.
Esta diversidade de procedimentos que podem ser realizados por meio
do CVC leva ao manuseio contínuo do mesmo, aumentando a probabilidade de
quebra das técnicas assépticas durante sua manipulação, o que constitui no
principal fator de risco para ocorrência de ICSRC.
Este tipo de infecção pode ocorrer através da colonização de
microrganismos no dispositivo ou, ainda, na via interna do cateter, por meio da
infusão de soluções infectadas ou por contaminação das conexões das vias do CVC
(ANVISA, 2010).
Apesar de conseguirem relacionar o CVC como meio de contaminação,
alguns participantes do estudo demonstraram deficiência no conhecimento científico
acerca da ICSRC ao apresentarem um discurso superficial sobre o tema:
[...] todo paciente que tem cateter venoso central corre o risco de ter uma infecção sanguínea por conta do cateter, até por motivo de manipulação; o microrganismo pode colonizar só a ponta do cateter ou se disseminar pelo organismo; um risco de infecção alto; essa parte de infecção de corrente sanguínea eu não sei muito assim, mas algumas pode ter assim, o cateter central pode ter algumas complicações do cateter e realmente infecção para o paciente [...]
Considerando que os enfermeiros do estudo reconhecem que a
utilização de CVC esta relacionada a um alto risco de infecção por meio de sua
manipulação; ressaltando, ainda, que os mesmos atuam em terapia intensiva, onde
pacientes com CVC são predominantes e a enfermagem esta constantemente
manipulando este dispositivo, torna-se indispensável o conhecimento aprofundado
sobre a ICSRC para sua prevenção.
4.2.2 Classe 2 – O manuseio do cateter venoso centr al na terapia intensiva
Por sua vez, a classe 2 intitulada, “ O manuseio do cateter venoso
central na terapia intensiva”, representa 17,35% das UCE do corpus, totalizando 17
segmentações, sendo selecionadas 38 palavras. As UCE que constituem a classe
foram, em sua maioria, produzidas por sujeitos do sexo masculino (sex_1) e
pertencentes a maior faixa etária (ida_2), sendo destes, destacado o sujeito 09 como
fundamental para a composição das UCE.
Os vocábulos de maior relevância apresentaram valor de Khi2 elevado,
porém frequência reduzida, tais como “terapia” e “intensiva” que foram citados
apenas oito vezes, porém, constituíram-se nas palavras mais representativas com
valor de Khi2 de 42. Ressalvam-se, ainda, as palavras “assepsia” e “manuseio” com
valores de Khi2 de 26 e 16 respectivamente e baixa ocorrência (Anexo A). Portanto,
esta classe refere-se à forma como os sujeitos manuseiam o cateter venoso central,
sobretudo destacando a realidade da terapia intensiva.
Confirmando os discursos da classe 1, nesta classe os enfermeiros
reiteram a importância de um manuseio cauteloso do CVC como forma de
prevenção de complicações, tais como a ICS.
[...] qualquer pessoa que esteja nesse manuseio ele precisa ter esse domínio, que ele perceba o quanto antes a fim de evitar a introdução inadequada de um microrganismo, visto que a virulência, normalmente os microrganismos que são encontrados em terapia intensiva tem história de multiressitência; a equipe precisa ter domínios associados para o exercício específico desta ação, prioritariamente em cliente crítico que tem normalmente uma série de instabilidade que requer um cuidado de qualidade [...]
Observa-se que a UTI é destacada como ambiente que requer maior
atenção dos profissionais, devido a seus riscos aumentados, tanto pelo local que
pode apresentar microrganismos multirresistentes, como pelos pacientes graves que
necessitam de um cuidado diferenciado.
A primeira UTI foi estabelecida, em 1914, nos Estados Unidos e
destinava-se a leitos de pós-operatórios de neurocirurgia. No Brasil, apenas nos
anos setenta que foi instituída uma área específica para tratamento de pacientes
graves. Atualmente, a UTI constitui-se de um ambiente de alta complexidade,
destinada ao atendimento de pacientes críticos que necessite de monitorização
contínua e equipamentos de tecnologia avançada (ABRAHÃO, 2010).
De acordo com o Ministério da Saúde (1998) as UTI são unidades que
prestam assistência médica e de enfermagem ininterruptas a pacientes de risco,
dispondo de equipamentos específicos e serviços de diagnósticos e terapêuticos
acessíveis.
Contrastando com o observado na classe anterior acerca do
conhecimento dos participantes sobre ICSRC, os sujeitos evidenciaram, nesta
classe, que dominam as técnicas assépticas necessárias para prevenção deste tipo
de infecção, destacando como prioritário a lavagem das mãos que deve preceder a
qualquer tipo de manipulação do dispositivo.
[...] normalmente o cuidado é sempre lavagem das mãos antes do manuseio, posteriormente o uso da luva e limpeza com álcool a setenta que não é muito comum, mas o correto seria assepsia do local do lúmen; são técnicas assépticas, lavagem das mãos antes, nós enfermeiros não manipulamos tanto, na terapia intensiva isso fica geralmente com os funcionários, mas isso não quer disser que eu não manipule [...]
A prevenção da ICSRC, assim como em todos os tipos de infecção
hospitalar, perpassa a aderência de técnicas assépticas que têm como prática
principal a lavagem das mãos.
Para a inserção, realização do curativo ou qualquer manipulação do
CVC é recomendada a higienização das mãos antes da realização dos
procedimentos. Esta higienização pode ser feita através da lavagem das mãos com
água e sabão, ou com a utilização de solução a base de álcool. Durante o ato da
inserção do CVC, deve ser utilizada barreira máxima de proteção, contendo
máscara, gorro, capote e luvas estéreis; além de antissepsia da pele com álcool a
70%, povidine ou clorexidina, antes da inserção do dispositivo (CDC, 2011).
As UCE apresentadas evidenciam, também, a consciência do
enfermeiro como responsável pela UTI de modo a garantir um cuidado de qualidade
para os pacientes, monitorando tanto os técnicos de enfermagem como os médicos
na realização de procedimentos envolvendo o CVC, como demonstrado na fala a
seguir:
[...] cuidado ao manusear o cateter, passar álcool, fazer a desinfecção antes da administração das medicações, observar se o médico está realizando a punção com técnicas estéreis, uso do avental, uso da luva estéril [...]
Segundo Boff (2008), o cuidado deve ser reconhecido como inerente
ao ser humano, parte de sua essência, representado por uma atitude de
envolvimento afetivo com o outro, seja outros seres ou a natureza.
Desta maneira o cuidado pode significar atenção e dedicação com o
outro; uma atitude de preocupação, por medo de acontecer algo com quem se tem
afeto; ou de proteção, quando se exerce a necessidade de cuidar do outro, mas
também, de ser cuidado, tendo em vista que o homem é um ser dependente (BOFF,
2012).
Entretanto, para Boff (2008), a realidade humana está fundamentada
em duas maneiras antagônicas de “ser-no-mundo”, ou seja, a forma de se estruturar;
o modo do trabalho e do cuidado. O modo trabalho refere-se ao modo racional e
objetivo de relação com a natureza e com os outros, para conseguir benefícios
próprios. Por outro lado, no modo cuidado o sentimento sobrepõe-se a razão, de
maneira que o homem se relaciona com os outros e com a natureza com
envolvimento, criando uma forma de convivência entre os seres.
Considerando estas duas formas de ser, o ser humano necessita do
equilíbrio entre as duas maneiras, combinando o trabalho com o cuidado. Assim
também deve ser na enfermagem, o equilíbrio entre as duas formas de ser em seu
cotidiano de trabalho; o racional e o sensitivo; o técnico-científico e o emocional.
Somente através deste envolvimento e senso de responsabilização
com o paciente é que o enfermeiro pode exercer o verdadeiro cuidado e preocupar-
se não apenas em realizar técnicas corretas em sua assistência, mas também
monitorizar as atividades realizadas pelos outros profissionais visando o paciente.
4.3 Segmento 2 - Procedimentos e cuidados prestados pelo enfermeiro a fim
de prevenir a infecção de corrente sanguínea.
O segundo segmento reuni as classes 5 e 6, que apresentam-se
diretamente relacionadas, a classe 3 associada a estas e a classe 4 que engloba as
demais deste segmento.
4.3.1 Classe 5 - O cuidado ao paciente com cateter venoso central
A classe 5, que se refere ao cuidado prestado ao paciente com CVC,
contem 14 UCE, o que representa 14,29% do total das UCE analisadas, com 42
palavras selecionadas. Os vocábulos mais significativos foram “cuidado” e “ter”, que
apresentaram valor de Khi2 6. Os responsáveis pela constituição desta classe foram
os participantes mais novos do sexo feminino, destacando-se os sujeitos 02 e 10
que apesar de apresentarem frequência reduzida, tiveram discurso significativo com
valor de Khi2 de 6 e 5, respectivamente.
As UCE que formam esta classe demonstram que os sujeitos utilizam
os vocábulos ter e cuidado, ao relatarem os procedimentos realizados em sua
assistência, no sentido de estar alerta, ter atenção, como observado nos trechos a
seguir:
[...] ter muito cuidado porque às vezes a sutura não fica muito bem feita; ter muito cuidado porque facilmente a gente retira, então tem que ter muito cuidado na hora de fazer o curativo; ter muito cuidado com isso, nós hoje utilizamos às vezes filme transparente para proteção, para não ficar manipulando muito; ter cuidado na troca diária, se estiver com a película, observar se não tem sinais flogísticos, se não esta hiperemiado [...]
Este discurso nos reporta aos significados de cuidado mencionados
anteriormente; o cuidado como atitude de desvelo e atenção com o outro, e ainda
como preocupação e medo que algo aconteça, devido à responsabilização que se
desenvolve pelo outro.
Na área da saúde, em especial na enfermagem, o cuidado passou por
diversas etapas para então alcançar este conceito ampliado que deve abranger não
apenas, envolvimento com outros seres humanos, neste caso, pacientes, mas
também deve interagir com a natureza e a espiritualidade. Primeiramente, o cuidado
estava focado no sujeito, sendo valorizado o conhecimento científico e a habilidade
técnica do profissional; em seguida, com a evolução da tecnologia, os profissionais
continuaram valorização o científico como forma de se apropriar dos novos
instrumentos de trabalho; por fim, o foco da atenção dos profissionais está no
paciente, sendo exercido então o cuidado de maneira holística (BOFF, 2012).
Nesta classe, assim como na classe 2, os sujeitos, ainda mostram-se
preocupados em supervisionar a assistência prestada por outro profissionais, como
os técnicos de enfermagem, a fim de manter a continuidade de seu cuidado
“precisamos tomar cuidados diários e as vezes banalizamos pela própria questão do
dimensionamento de pessoal ser pouco; fica um funcionário com dois pacientes, o
próprio gerenciamento do serviço, as vezes a gente banaliza um pouco”.
Nos discursos apresentados, observa-se que os enfermeiros
reconhecem a falta de cuidado em algumas situações devido dificuldades
pertencentes ao serviço de saúde que não proporciona condições adequadas para
prestação de uma assistência de qualidade.
De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem – COFEN (2004),
para a realização do dimensionamento do pessoal de enfermagem devem ser
levados em consideração aspectos do serviço de saúde, tais como, missão,
estrutura e tipo de assistência oferecida; do profissional de saúde, como a carga
horária de trabalho, modelo assistencial e gerencial; e ainda aspectos do cliente,
mensurado através do sistema de classificação dos pacientes.
Assim, para obtenção do dimensionamento, regulamenta-se que na
UTI são necessárias 17,9 horas de assistência de enfermagem por cada leito da
unidade, devendo do valor ser acrescido um índice de segurança técnica de no
mínimo 15%, e por fim, distribuído os funcionários de modo que de 52 a 56% sejam
enfermeiros e os demais técnicos de enfermagem (COFEN, 2004).
Entretanto, o dimensionamento de pessoal de enfermagem deve ser
um processo de planejamento que não avalia somente o quantitativo dos
funcionários, mas também aspectos qualitativos, atendendo as necessidades dos
pacientes e dos profissionais (FUGULIN; GAIDZINSKI; CASTILHO, 2011).
Vale ressaltar que um dimensionamento do pessoal de enfermagem
adequado não assegura uma assistência de qualidade, tendo em vista que outros
aspectos devem considerados, como, o índice de absenteísmo dos profissionais, a
carga horária estabelecida, o envolvimento do profissional com o trabalho a ser
desenvolvido, dentre outros.
Evidenciando, ainda, os cuidados prestados pelos enfermeiros aos
pacientes com CVC, na classe 6, os sujeitos descrevem a avaliação dos sinais de
infecção da corrente sanguínea e a forma de registro realizada no prontuário do
paciente.
4.3.2 – Os sinais de infecção de corrente sanguínea e o registro no prontuário
Formada por 14 UCE, com 14,29% do total das unidades analisadas, a
classe 6 foi constituída, em sua maioria, pelo discurso do sujeito 01 que apresentou
Khi2 de 26 e predominantemente pelo sexo masculino, Khi2 15. Os vocábulos mais
representativos foram “flogístico”, “sinais” e “registro”, com valores de Khi2 de 35, 28
e 28, respectivamente.
De fato, ao analisarmos as UCE que compõem a classe, observamos
que os participantes reconhecem os sinais de infecção como característica principal
a ser relatada no registro diário do enfermeiro sobre o CVC.
[...] registro se tem esses sinais de hiperemia e sinais flogísticos; características de sítio de inserção; durante a evolução colocamos se o cateter está pérvio, se a inserção tem sinal flogístico[...]
O registro do estado geral do paciente e das atividades realizadas com
o mesmo durante seu período de internação constitui-se em documentação legal
que assegura a continuidade do processo de cuidar, garantindo a comunicação
entre a equipe multidisciplinar, além de, servir como respaldo legal para os
profissionais, fonte de reembolso para o serviço de saúde devido à comprovação da
assistência realizada e de contribuição para o conhecimento científico por meio de
realização de pesquisas (CRAVEN; HIRNLE, 2006).
O COFEN (2012) assegura que é de responsabilidade do profissional
de enfermagem registrar no prontuário do paciente, seja por meio de documento de
papel ou eletrônico, as informações necessárias para garantir o processo de cuidar
de forma contínua e segura. Devendo este registro possuir informações colhidas
sobre o paciente no momento do processo de saúde-doença; os diagnósticos de
enfermagem baseados nos dados fornecidos; as intervenções de enfermagem
realizadas mediantes os diagnósticos estabelecidos e os resultados obtidos.
No entanto, para alcançar as finalidades citadas, o registro de
enfermagem necessita de parâmetros que garantem sua legalidade, tais como, ser
conciso, objetivo, legível e exato, não podendo conter erros ou rasuras (CRAVEN;
HIRNLE, 2006).
A exatidão do documento diz respeito a registrar apenas as impressões
e avaliações do próprio profissional, entretanto, se houver necessidade de incluir
dados ou cuidados prestados por outro profissional, o mesmo deve estar identificado
no registro (CRAVEN; HIRNLE, 2006).
Nesta classe, os sujeitos demonstra que não avaliam corretamente o
CVC e registram dados coletados pelos técnicos de enfermagem, como observado
no discurso a seguir:
[...] eu confesso a você que eu mesmo não vejo direito e que se o técnico de enfermagem me diz algo neste sentido eu registro e intervenho; registro se souber que está com sinais de infecção, quando o meu colega de enfermagem que está vendo [...]
De fato, o técnico de enfermagem, por ser o profissional que está
diretamente em contato com o paciente e manuseando o CVC, poderá perceber
mais facilmente qualquer alteração em relação ao dispositivo. Porém, cabe ao
enfermeiro avaliar diariamente todos os pacientes, incluindo os dispositivos
invasivos, supervisionando a assistência dos técnicos de enfermagem e evitando
complicações, tais como, as infecções.
Os sujeitos reconhecem, ainda, que a documentação dos cuidados
prestados aos pacientes com CVC não é satisfatória, porém estão em processo de
mudança.
[...] o enfermeiro não prioriza muito a história do registro, ele tem tendência a melhorar ao longo do período, está mudando, pelo exercício que eu tenho de longas datas; mas o tipo de registro eu acho que fica muito podre mesmo; agora o cuidado prestado eu particularmente não registro; nos limitamos em relatar aquele paciente com acesso venoso com sinais flogísticos [...]
Demonstrando conhecimento científico acerca do tema, esta classe
evidencia que os profissionais reconhecem os possíveis sinais que sugerem ICSRC,
como demonstrado a seguir.
[...] os sinais flogísticos que esse cateter tem na pele do paciente,
como, pus, hiperemia ao redor do local de punção; e que se associa
isso a dados de hipertermia do paciente, taquicardia, e ao se
investigar, encontra-se que o cateter esta contaminado [...]
Apesar dos sujeitos valorizarem os sinais locais de infecção,
denominados sinais flogísticos, estes não são fundamentais para o diagnóstico de
ICSRC. Os critérios de diagnósticos deste tipo de infecção são hemocultura positiva
e pelo menos um sintoma dos seguintes; febre, hipotensão, oligúria e tremores;
quando não associados com outro sítio de infecção.
4.3.3 Classe 3 – A técnica de realização do curativ o no cateter venoso central
Associando-se a essas, na classe 3 destaca-se a maneira de
realização do curativo no CVC. Composta por 16 UCE, representando 16,33% do
total, esta classe possui como palavras significativas, “curativo” e “limpeza”, com
respectivos valore de Khi2 de 17 e 11, sendo, o sujeito 06 o que mais contribuiu para
a formação desta classe, com Khi2 de 39.
As UCE desta classe revelam que os sujeitos utilizam o soro fisiológico
na limpeza do CVC, entretanto recomenda-se a utilização de clorexidina alcoólica
para a higiene do sítio de inserção do cateter (ANVISA, 2010).
[...] faz mesmo só o curativo com soro fisiológico e se eu observar alguma alteração, vermelhidão, secreção perióstio, comunico ao médico plantonista; no meu caso aqui na UTI, procuro sempre fazer todos os curativos para avaliar como está a inserção, a limpeza [...]
Para a realização do curativo do CVC deve-se utilizar como cobertura a
gaze estéril, recomendada quando há pequenos sangramentos ou drenagem de
secreção, pois sua troca deve ser realizada a cada dois dias, permitindo a avaliação
constante do sítio de inserção; ou o filme transparente estéril, que permite
observação constante do sítio de inserção devendo ser trocada apenas após sete
dias, caso esteja bem aderida e sem sinais de sujidade. Vale ressaltar no cateter
totalmente implantado, após a cicatrização, o sítio de inserção deve permanecer
descoberto (CDC, 2011; ANVISA, 2010).
Destaca-se, ainda, nesta fala, que os enfermeiros consideram a
realização do curativo como importante forma de avaliação do CVC, podendo ser
observado aspectos, tais como, sítio de inserção e fixação do dispositivo.
As UCE desta classe confirmam os discursos da classe 6, ao relatar
que o registro acerca do curativo do CVC, também mostra-se insatisfatório; “só
colocamos realizado curativo no local do acesso venoso central, mas nunca
descrevemos exatamente como foi feito; eu costumo registrar só o aspecto do
cateter”.
4.3.4 – A importância de um protocolo de rotinas
A classe 4 associa-se as demais, destacando a necessidade de
implantação de um protocolo de rotinas acerca dos cuidados prestados ao CVC.
Composta por 18 UCE, 18,37% das 98 unidades analisadas, sendo selecionadas 38
palavras; esta classe foi, em sua maioria, constituída pelo discurso do sujeito 12,
com Khi2 de 62. As palavras que mais representam a classe são “protocolo” e
“prontuário”, com valores de Khi2 de 28 e 23, respectivamente.
Nesta classe os sujeitos reconhecem a falta de um protocolo de rotinas
no serviço de saúde como um obstáculo para atingir uma assistência de qualidade
na prevenção da ICSRC, devido ao conhecimento restrito dos profissionais em
relação à temática.
[...] então quando a gente trabalha em um serviço que não existe nenhum protocolo em relação a esses cuidados temos dificuldade de prestar assistência, quando não temos o exemplo; a medida que se implanta um protocolo em relação a curativos, estamos evitando que muitos desses cateteres venham a causar infecção precocemente; então quando não se tem protocolo nenhum, a instituição não te dar condições de você manter esse tipo de cuidado, passamos a ter dificuldades de prestar cuidados [...]
A utilização de um protocolo que direcione a prática clínica do
profissional permite uma assistência padronizada, que proporciona a continuidade
desta assistência no serviço de saúde, a eficácia das intervenções e a garantia do
resultado produzido. Esta padronização dos cuidados prestados impede que os
diferentes profissionais de saúde, com suas educações divergentes, utilizem
diversas abordagens em um mesmo ambiente, ou paciente (CULLUM; CLILISKA;
HAYNES; MARKS, 2010; GROL, 1997).
A implementação de pesquisas científicas à realidade da prática
assistencial torna-se possível através da criação de diretrizes clínicas que sejam
fundamentadas em evidências, mas também, adaptadas as particularidades do
serviço de saúde. Desta maneira, a tomada de decisão clínica, para a prestação de
uma assistência de qualidade, não deve ser embasada apenas no melhor nível de
evidência científica, mas também nos recursos disponíveis, nas características do
paciente e na habilidade do profissional de saúde (CULLUM; CLILISKA; HAYNES;
MARKS, 2010).
Segundo Jackson e Feder (1998), um protocolo de rotinas apropriado
deve abranger as decisões mais importantes para a prática em questão,
considerando as ações mais relevantes para os pacientes e suas possíveis
consequências; conter as melhores evidências para cada decisão ressaltada; e estar
facilmente disponível e com formato acessível, possibilitando uma rápida revisão dos
profissionais sempre que necessário.
De fato, a acessibilidade das informações permite maior confiabilidade
na utilização de evidências para a realização da prática clínica, tendo em vista, que
a maioria dos enfermeiros, frequentemente, não recorre às pesquisas científicas
para fundamentar suas ações (DICENSO; CULLUM; CILISKA, 2010).
Entretanto, a utilização de uma diretriz não confiável pode resultar em
uma assistência prejudicial ao paciente, portanto após definir a área de intervenção,
deve-se buscar a melhor evidência e analisar a necessidade de realizar adaptação
das recomendações para a realidade do serviço, para então adota-la como padrão
na assistência (GRAHAM; HARRISON, 2010).
Os discursos que compõem esta classe e a relação que a mesma tem
com as demais classes deste segmento evidenciam a necessidade de
implementação de uma diretriz clínica neste serviço de saúde que fundamente a
assistência prestada ao paciente que utiliza CVC, garantindo a segurança dos
profissionais na realização destes procedimentos e contribuindo para a prevenção
da ICSRC.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O procedimento realizado pelos enfermeiros em pacientes que utilizam
CVC no intuito de prevenir a ICS constituiu no objeto de estudo desta pesquisa, que
atingiu seus objetivos a partir da realização de entrevista com enfermeiros que
atuam em unidade de terapia intensiva.
Os resultados foram processados no software Alceste, que revelou a
CHD apresentando seis classes que se relacionaram entre si formando dois
segmentos: o primeiro segmento formado pelas classes 1 e 2, denominado, O
cateter venoso central e sua utilização na terapia intensiva; e o segundo segmento
formado pelas demais classes, intitulada, Procedimentos e cuidados prestados pelo
enfermeiro a fim de prevenir a infecção de corrente sanguínea.
Os segmentos foram definidos de acordo com as relações formadas
entre as classes como segue: classe 1 – O cateter venoso central como via de
acesso para infusão de drogas; classe 2 – O manuseio do cateter venoso central na
terapia intensiva; classe 3 – A técnica de realização do curativo no cateter venoso
central; classe 5 – O cuidado ao paciente com cateter venoso central; classe 6 – Os
sinais de infecção da corrente sanguínea e o registro no prontuário; classe 4 – A
importância de um protocolo de rotinas.
A classe 1, representando 19,39% das UCE formadas, aborda o
significado de cateter venoso central para os enfermeiros do estudo, sendo para eles
uma via de acesso calibrosa que permite a infusão de drogas e estão geralmente
associadas a pacientes graves.
Relacionando-se diretamente com esta classe, a classe 2 representa
17,37% das UCE e apresenta as técnicas assépticas mais utilizadas pelos
enfermeiros no intuito de prevenir a infecção no ambiente da UTI. Nesta classe os
enfermeiros ainda demonstram que o manuseio inadequado do CVC é uma das
formas de contribuir para a ICS.
Compondo o segundo segmento, a classe 3, representado por 16,33%
das UCE, aborda as técnicas de realização do curativo no CVC para prevenção de
infecção, entretanto, revela que os enfermeiros não seguem as recomendações para
o procedimento, tal como a utilização de clorexidina para limpeza do local de
inserção durante a realização do curativo.
Relacionando-se a esta classe, a classe 5, composta por 14 UCE,
evidencia a preocupação dos enfermeiros em cuidar dos pacientes que utilizam
CVC, supervisionando os demais profissionais de saúde e manuseando o dispositivo
com cautela de modo a prevenir infecções.
Formada por 14 UCE, a classe 6 demonstra que os sujeitos
reconhecem que apesar de conhecerem os sinais de infecção da corrente
sanguínea não avaliam diariamente o CVC, tampouco registram no prontuário do
paciente as informações acerca do dispositivo de forma satisfatória, apesar de saber
da importância de fazê-lo.
Por fim, na classe 4, composta por 18 UCE e relacionando-se as
demais classes, os sujeitos atribuem algumas dificuldades que enfrentam na
prestação de cuidados ao paciente com CVC na prevenção de infecção, assim
como, a falta de um protocolo de rotinas para manuseio do dispositivo no serviço de
saúde.
Ressalta-se que, apesar de deter o conhecimento acerca das maneiras
de prevenção da ICS no paciente que utiliza CVC, os enfermeiros reconhecem que
existem falhas em sua atuação na prevenção deste tipo de infecção, tais como, falta
de avaliação diária dos CVC e registro incompleto no prontuário. Entretanto, as
classes revelam que os sujeitos mostraram-se preocupados com a supervisão da
assistência prestada pelos demais profissionais de saúde que atuam nos pacientes
com CVC, como os médicos no momento da inserção e os técnicos de enfermagem
na manipulação diária do dispositivo.
Os sujeitos apontam como dificuldades, para prestação de assistência
de qualidade na prevenção de ICS, o dimensionamento de profissionais de
enfermagem no serviço de saúde e a falta de um protocolo de rotinas que padronize
os procedimentos a serem prestados aos pacientes com CVC, de modo que
garantam uma continuidade do cuidado prestado.
Face ao exposto, evidencia-se a necessidade de mudanças tanto nas
instituições de saúde para que proporcione recursos humanos e materiais para
prestação de serviço de qualidade e disponham de protocolos que embasem a
padronização destes cuidados, mas também dos profissionais para que não
somente busquem evidencias científicas para embasar sua prática clínica, como
possam colocar em prática os conhecimentos apreendidos.
Neste sentido, espera-se que este estudo contribua para entendimento
das dificuldades existentes na prevenção de ICS, inerentes também a subjetividade
dos profissionais de saúde que atuam diariamente na prática assistêncial, que
somente a partir do conhecimento de sua atuação seria possível compreender.
Sugere-se que outras pesquisas busquem o conhecimento de tais subjetividades,
contribuindo para o alcance da mudança de comportamento dos profissionais
envolvidos na busca de uma assistência de qualidade.
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