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luizguilherme
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Literatortura Diálogos de Zygmunt Bauman e a Liquidez Na Sociedade Consumista Das Prateleiras Ao Lixo
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Diálogos de Zygmunt Bauman e a liquidez na sociedade consumista: das
prateleiras ao lixo
Zygmunt Bauman é um sociólogo polonês cujos livros já alçaram espaço nas
prateleiras de Ciências Humanas de diversas livrarias do país. Professor em
universidades na Polônia e no Reino Unido é deveras lembrado pelo seu tato
com que lida as questões do cotidiano, sobretudo aquelas atinentes à
sociedade de consumo, incluindo-se as suas vertentes e desvios.
Usufruindo de teses que remonta o discurso crítico da “indústria cultural” criado
por Theodor Adorno, Bauman defende que conceitos de “liquidez” estão
permeando a atual sociedade, isto é, em síntese, “as coisas” não são
necessariamente feitas “para durar”. Argumenta em sua obra Vida para
Consumo, que a demora é o real assassino em série das oportunidades, de
modo que se privilegia a “vida agorista” a fim de se manterem vivos os
impulsos da aquisição de novos produtos, assim como o consequente descarte
de bens antigos aos quais são paulatinamente substituídos (Vida para
Consumo, página 50).
Certamente, não se deseja consolidar uma crítica ao consumo, hábito natural
dos seres humanos que consiste na satisfação do desejo destes. O julgamento
que se faz é acerca do fato que, embora exista uma vasta oferta e ampla
disponibilidade de produtos e meios para adquiri-los, os membros da sociedade
continuam insatisfeitos.
O cientista social repete o seu pensamento em A Ética É Possível Num Mundo
de Consumidores?, arguindo que a vida de consumo é uma vida que aprende-
se rápido, ao passo que se esquece em velocidade maior. Logo, o consumista
é o consumidor demasiadamente ativo, haja vista que ele não perde de vista as
novas tendências e esquecendo de imediato das antigas, já que caso não o
faça, padeceria diante do “júri do estilo”. Ademais, Bauman congrega o seu
discurso, afirmando que “consumir significa investir na afiliação social de si
próprio”.
Em matéria literária publicada no mês passado, foi abordada a questão do lixo
e o panorama jurídico que trata deste tema no Brasil. A Lei 12.305/2010 da
Política Nacional de Resíduos Sólidos é um dos maiores avanços no país em
termos legais, pois definiu, dentre outros conceitos, que ciclo de vida do
produto, corresponde à todas as etapas que envolvem o desenvolvimento do
produto, abrangendo desde a obtenção de matérias-primas até a disposição
final. A referida Lei também traz a responsabilidade compartilhada por este
ciclo, atribuindo aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes,
consumidores e aos titulares dos serviços públicos o dever de minimizar o
volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados. Não se deve também ignorar o
debate da responsabilidade pós-consumo, oriundo de embalagens que são
descartadas.
Talvez por ser algo inexorável, não é possível permitir a imediata
conscientização dos consumidores e fornecedores da íntima ligação entre o
consumismo e a geração do lixo, para amenizar os problemas atinentes à este
cenário, em que pese o fato legislação estar empreendendo esforços para a
sua plena efetivação, ensejando inclusive políticas públicas de educação
ambiental. Entretanto, a publicidade continua a exercer uma inverossímil
influência na sociedade consumista. Por óbvio, o consumidor dispõe de uma
série de ferramentas para se “afugentar” da oferta ardilosa, que hora ou hora
culmina na geração de mais lixo.
A proteção contra a publicidade enganosa e abusiva constitui-se como direito
básico do consumidor, conforme o previsto no artigo 6º do Código de Defesa
do Consumidor. O seu corolário está presente na seção III da referida Lei,
dedicando três artigos ao tema da publicidade, tutelando o consumidor em face
de propagandas enganosas ou abusivas. Obviamente, durante um litígio
judicial acerca da veracidade das informações colocadas em dada propaganda,
caberá à quem patrocinou a referida publicidade comprovar se o comercial
usufruiu de dados reais (artigo 38 do Código de Defesa do Consumidor).
Não devem ser colocados como vilões os fornecedores, empresas de
publicidade e imputados outros estereótipos. Não há “Guerra Fria” no mundo
consumista, com partes adversas e desfrutando de ideologias plenamente
distintas entre si. Bauman explica que os consumidores seguem tendências,
pois do consumo não surgem vínculos duradouros (Vida para Consumo, página
101). Sendo assim, o mais importante é buscar uma reflexão sobre como
caminhar e, sobretudo, orientar-se em um mundo de incertezas, em que as
relações e bens escoem como líquidos. O ordenamento jurídico apresenta
ferramentas para o auxílio ao desenvolvimento sustentável, todavia também
devem os consumidores, como cidadãos, estarem conscientes da liquidez a
que pode estar submetidos.
PS: sobre a responsabilidade pós-consumo, faz jus mencionar a interessante
decisão proferida no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, sobre a
responsabilidade pós-consumo advinda dos resíduos de embalagens plásticas
tipo PET de refrigerantes: https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/1393017/Ac
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