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Crítica e sociologia 1. Relação entre obra e o seu condicionamento social – às vezes exagerada, às vezes relegada a segundo plano 2. Exprimir certo aspecto da realidade – esse aspecto consiste no seu “essencial” 3. Posição oposta: matéria é secundária, importam as operações formais postas em jogo, tornando-a independente de qualquer condicionamento social 4. Ambas são visões dissociadas e a integridade da obra não permite a adoção de nenhuma delas 5. Para Candido o externo – ou social – importa não como causa nem como significado, mas como fator que desempenha importante papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto interno 6. A visada do social como fator externo é possível, por exemplo, na sociologia da literatura, que é uma disciplina de cunho cientifico, mas não quando se trata de crítica literária 7. Crítica – fatores que atuam na organização interna de uma obra – estrutura peculiar 8. Fornece matéria x possibilita a realização do valor estético (Lukacs) x constiu o que há de essencial na obra de arte 9. Fatores sociais – agentes da estrutura – responsáveis pelo aspecto e significação da obra 10. Elemento social – não como contextualização de uma certa época, nem como enquadramento, mas como fator da construção artística – ex: Senhora 11. Interpretação estética - dimensão social como fator de arte 12. Valorização do ângulo sociológico, embora não seja o único 13. Interesse nos aspectos formais sem desprezar fatores e disciplinas ligadas à sociologia 14. Métodos de estudo sociológico em literatura – 6 tipos - 15. – relacionar o conjunto de uma literatura período ou gênero com as condições sociais – Silvio Romero e Taine – método tradicional, que traça o panorama das épocas. Dificuldade em demonstrar efetivamente a ligação entre

literatura e sociedae

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Crtica e sociologia

1. Relao entre obra e o seu condicionamento social s vezes exagerada, s vezes relegada a segundo plano2. Exprimir certo aspecto da realidade esse aspecto consiste no seu essencial3. Posio oposta: matria secundria, importam as operaes formais postas em jogo, tornando-a independente de qualquer condicionamento social 4. Ambas so vises dissociadas e a integridade da obra no permite a adoo de nenhuma delas5. Para Candido o externo ou social importa no como causa nem como significado, mas como fator que desempenha importante papel na constituio da estrutura, tornando-se, portanto interno6. A visada do social como fator externo possvel, por exemplo, na sociologia da literatura, que uma disciplina de cunho cientifico, mas no quando se trata de crtica literria7. Crtica fatores que atuam na organizao interna de uma obra estrutura peculiar8. Fornece matria x possibilita a realizao do valor esttico (Lukacs) x constiu o que h de essencial na obra de arte9. Fatores sociais agentes da estrutura responsveis pelo aspecto e significao da obra10. Elemento social no como contextualizao de uma certa poca, nem como enquadramento, mas como fator da construo artstica ex: Senhora11. Interpretao esttica - dimenso social como fator de arte12. Valorizao do ngulo sociolgico, embora no seja o nico13. Interesse nos aspectos formais sem desprezar fatores e disciplinas ligadas sociologia14. Mtodos de estudo sociolgico em literatura 6 tipos - 15. relacionar o conjunto de uma literatura perodo ou gnero com as condies sociais Silvio Romero e Taine mtodo tradicional, que traa o panorama das pocas. Dificuldade em demonstrar efetivamente a ligao entre obras e condies sociais composio em paralelo, sem vinculao 16. - - verificar a medida em que as obras espelham ou representam a sociedade, descrevendo os variados aspectos abordagem simples e comum, estabelece correlaes entre aspectos reais e os que aparecem no livro tende mais sociologia do que crtica17. o terceiro tipo apenas sociologia. Estuda a relao entre obra e pblico 18. Estuda a posio e funo social do escritor, relacionando a sua posio com caractersticas de sua produo e ambas com a organizao da sociedade19. investiga a funo poltica das obras e dos autores intuito ideolgico. 20. investigao hipottica das origens de determinados gneros ou da literatura de forma geral21. Literatura depende do entrelaamento de vrios fatores sociais determinar se so essenciais22. Passos do crtico para uma anlise mais acurada: 23. Conscincia da relao arbitrria e deformante que o trabalho artstico estabelece com a realidade fatores sociais como formadores da estrutura24. Interiorizao dos dados de natureza social elaborao esttica25. Fator social explica a estrutura da obra e fornece elementos para determinar sua validade e seu efeito sobre o leitor. 26. Auerbach: funde processos estilsticos com mtodos histrico-sociologicos para investigar os fatos da literatura27. Elementos de ordem social filtrados por uma concepo esttica para entender e a singularidade e a autonomia da obra28. Quando se torna elemento da estrutura, cada fator se torna componente essencial

A LITERATURA E A VIDA SOCIAL

1. Autor pretende focalizar aspectos sociais que interferem na vida literria e artstica em seus diferentes momentos2. Falta um sistema coerente de referencia sobre o assunto: formulaes e conceitos que favoream anlise3. Cuidado em delimitar os campos sociologia como disciplina auxiliar esclarece alguns aspectos do fenmeno artstico4. O autor se posiciona entre aqueles para quem a anlise sociolgica indispensvel 5. Qual a influncia exercida pela obra de arte sobre o meio x pelo meio sobre a obra de arte6. Interpretao dialtica que supere o carter mecanicista predominante7. Candido aborda especialmente o primeiro aspecto, sem desdenhar o segundo8. Em que medida a arte expresso da sociedade x em que medida social, interessada em problemas sociais 9. A primeira esteve em voga durante o sculo XVIII Vico relao da literatura com as civilizaes, Voltaire com as instituies, Herder com os povos10. Madame de Stael literatura como processo social11. A segunda tendncia - avaliar o contedo social das obras base moral e poltica a arte deve ter um contedo desse tipo e essa a medida de seu valor12. Socilogo moderno arte social em dois sentidos: depende da ao de fatores do meio e produz nos indivduos um efeito prtico, modificando condutas e vises de mundo13. Interessa analisar os tipos de relao e os fatos estruturais ligados vida artstica, como causa ou consequncia14. Investigar as influncias concretas exercidas pelos fatores socioculturais15. No cabe separar a repercusso da obra de sua feitura, pois ela s estar finalizada no momento em que repercute e atua. A comunicao entre artista, obra e pblico leva ao quarto elemento, tambm importante, seu efeito.16. Obra de arte comunicao expressiva mais que transmisso de conceitos17. Por isso, pressupe algo mais amplo do que as vivncias do artista18. Processo comunicativo integrador e bitransitivo por excelncia19. Como so condicionados socialmente esses elementos, que tambm so indissoluvelmente ligados ao processo de produo20. Candido divide as artes em dois tipos arte de agregao e arte de segregao 21. Primeira: inspirada na vida coletiva, visa meios de comunicao acessveis, integrando-se ao sistema simblico vigente22. Segunda: preocupa-se em renovar o sistema simblico, criando novos recursos expressivos. Dirige-se a um nmero reduzido de receptores. 23. Esses dois tipos, na verdade, so aspectos presentes em toda obra 24. Integrao: conjunto de fatores que tendem a acentuar no individuo ou no grupo, os valores comuns da sociedade.25. Diferenciao: o conjunto de fatores que tendem a acentuar as peculiaridades e diferenas existentes entre uns e outros26. Ambos so processos complementares27. O autor toma ento os trs elementos fundamentais da comunicao artstica e passa a investigar suas inter-relaes28. Posio do artista: papel atribudo ao criador da arte em escala social. Interfere na criao de grupos. O autor investiga o aparecimento do artista na sociedade com funo e papel configurados; as condies em que se diferenciam os grupos de artistas; por fim, como tais grupos de apresentam nas sociedades estratificadas.29. Houve um tempo que se exagerou o aspecto coletivo da criao o povo como autor da obra30. Arte coletiva arte criada pelo individuo a tal ponto identificado s aspiraes e valores de seu tempo que parece dissolver-se nele31. Relaes entre artistas e grupo: a necessidade de um agente individual que tome para si a responsabilidade por criar/apresentar uma obra; o fato de ele ser ou no reconhecido pelo grupo e por fim, a obra como veiculo de suas aspiraes pessoais mais profundas32. Obra: fruto de iniciativa individual x condies sociais = confluncia de ambas33. Reconhecimento da funo social do artista desde as sociedades primitivas34. Arista profissional, que vive de sua arte e se dedica apenas a ela mais recente35. Na sociedade moderna, a autonomia da arte permite que chame de artista mesmo quem no se dedica em tempo integral arte36. Reconhecidos como tais os artistas podem permanecer desligados entre si, ou vincular-se por meio de uma conscincia comum, a um grupo.37. A sociedade destaca do seu meio um agrupamento detentor de segredos tcnicos.38. Configurao da Obra: depende do artista e das condies sociais que determinam sua condio; 39. Foco: Influxos exercidos pelos valores sociais, ideologias e sistemas de comunicao, que nela se unem em contedo e forma, decorrentes do esprito criador como uma unidade inseparvel. 40. Pblico receptor da arte e seus diferentes aspectos 41. Sociedades modernas pblico diferenciado diferente da sociedade atual no um grupo, mas um conjunto informe de onde se desprendem agrupamentos configurados42. Massa abstrata ou virtual Won Wiese43. Aumentam e se fragmentam elo comum- interesse esttico 44. A tcnica, mais especificamente, a reprodutibilidade tcnica influencia a caracterizao dos pblicos. 45. Valores exprimem as expectativas sociais que tendem a cristalizar-se em rotina46. Somos pblico, pertencemos a uma massa cujas reaes obedecem a condicionamentos do momento e do meio47. Relao inextrincvel entre autor, obra e pblico48. Arte sistema simblico de comunicao inter-humana que pressupe o permanente jogo, que forma uma trade indissolvel. 49. O pblico d sentido e realidade obra e sem ele o autor no se realiza 50. O pblico fator de ligao entre o autor e sua prpria obra51. A obra, por sua vez, vincula o autor ao pblico, pois seu interesse inicialmente por ela52. O autor, de seu lado, intermedirio entre a obra que criou e o pblico a que se dirige; o agente que desencadeia o processo

Estmulos da criao literria

1. Preponderncia do olhar do adulto, branco, civilizado excluso dos demais2. Tende-se a acentuar as peculiaridades ao ponto de considerar o outro um tipo de ser diferente3. Mentalidade do primitivo subordinada a princpios no lgicos que levam indiferenciacao entre sujeito e objeto4. Mgica e lgica mesma base essencial de todo homem5. Culturas relativas singularidades maneiras peculiares de interferncia do contexto6. Mesmo sem pressupor diferenas elementares os problemas suscitados pela nossa literatura e a dos primitivos so diversos7. Nas culturas primitivas prevalece a interligao entre trs disciplinas: cincia do folclore, sociologia e anlise literria cuja conjugao necessria 8. Candido analisa a literatura oral, sem perder de vista sua singularidade esttica e distingue trs funes diferentes: funo total, funo social e funo ideolgica.9. Funo total: elaborao de um sistema simblico que transmite certa viso de mundo com a utilizao de instrumentos expressivos adequados. Ela exprime representaes individuais e sociais que transcendem a situao imediata, inscrevendo-se no patrimnio do grupo. 10. A grandeza de uma literatura, ou de uma obra, depende da sua relativa intemporalidade e universalidade, e estas dependem por sua vez da funo total que capaz de exercer, desligando-se dos fatores que a prendem a um momento determinado e a um determinado lugar.11. A funo social comporta o papel que a obra desempenha no estabelecimento de relaes sociais, na satisfao de necessidades espirituais e materiais, na manuteno ou mudana de uma certa ordem na sociedade.12. Considerada em si, a funo social independe da vontade ou da conscincia dos autores e consumidores de literatura. Decorre da prpria natureza da obra, da sua insero no universo de valores culturais e do seu carter de expresso, coroada pela comunicao. Mas quase sempre, tanto os artistas quanto o pblico estabelecem certos desgnios conscientes, que passam a formar uma das camadas de significado da obra.13. funo ideolgica, sistema de ideias14. S a considerao simultnea das trs funes permite compreender de maneira equilibrada a obra literria15. Um trabalho ideal sobre a literatura dos grupos primitivos deveria partir da observao concreta dos fatos, passar s anlises estruturais e comparativas, para chegar sua funo na sociedade, sem sacrificar o aspecto esttico nem o sociolgico.16. Combinao de anlise estrutural com a da funo social17. A sociologia no pode pretender o lugar da teoria literria. Embora possa constituir um elemento importante para a anlise estrutural, o que propriamente lhe cabe so os aspectos sociais da criao, da apreciao, da circulao das obras.18. Quanto literatura oral, no pode ser desligada do contexto19. Na literatura oral, o mergulho na circunstncia determina uma estrutura de palavras com menor autonomia. Esta s se desenvolve quando a obra ganha independncia em relao s condies de produo.20. Em princpio, o socilogo e o etnlogo esto melhor aparelhados para reunir numa sntese a descrio folclrica e a anlise esttica, porque dispem de recursos que permitem chegar funo social, que, na literatura dos grupos iletrados, o elemento que unifica os demais e esclarece o seu sentido.21. O ideal a unio dos trs pontos de vista, levando em conta o quadro sociocultural em que as manifestaes literrias se situam, mas procurando capt-las na integridade do seu significado. 22. A arte literatura - uma transposio do real para o ilusrio por meio de uma estilizao formal, que prope um tipo arbitrrio de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculao realidade natural ou social, e um elemento de manipulao tcnica, indispensvel sua configurao. Isto ocorre em qualquer tipo de arte, primitiva ou civilizada.23. A criao literria corresponde a certas necessidades de representao do mundo, s vezes como prembulo a uma praxis socialmente condicionada. Mas isto s se torna possvel graas a uma reduo ao gratuito, ao teoricamente incondicionado, que d ingresso ao mundo da iluso e se transforma dialeticamente em algo empenhado, na medida em que suscita uma viso do mundo.

O escritor e o pblico

1. Obra literria algo incondicionado dispensa explicaes2. Hiptese da virtude criadora do escritor3. Investigao demonstra que os fatores mais significativos so internos 4. Esse artigo, entretanto, se ocupa dos externos secundrios, mas necessrios para a melhor compreenso das correntes, perodos e constantes estticas. 5. Criao: relao entre grupos de criadores e de receptores6. O escritor, numa determinada sociedade, no apenas o indivduo capaz de exprimir a sua originalidade (que o delimita e especifica entre todos), mas algum desempenhando um papel social, ocupando uma posio relativa ao seu grupo profissional e correspondendo a certas expectativas dos leitores ou auditores. 7. Panorama dinmico a obra influencia tanto o autor quanto o pblico8. A literatura pois um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e s vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a. A obra no produto fixo, unvoco ante qualquer pblico; nem este passivo, homogneo, registrando uniformemente o seu efeito. So dois termos que atuam um sobre o outro, e aos quais se junta o autor, termo inicial desse processo de circulao literria, para configurar a realidade da literatura atuando no tempo.9. posio do escritor depende do conceito social que os grupos elaboram em relao a ele, e no corresponde necessariamente ao seu prprio. Este fator exprime o reconhecimento coletivo da sua atividade, que deste modo se justifica socialmente.10. Tais fatores aparecem na realidade unidos e combinados, dependendo uns dos outros e determinando-se uns aos outros conforme a situao analisada.11. Se a obra mediadora entre o autor e o pblico, este mediador entre o autor e a obra, na medida em que o autor s adquire plena conscincia da obra quando ela lhe mostrada atravs da reao de terceiros.12. um pblico se configura pela existncia e natureza dos meios de comunicao, pela formao de uma opinio literria e a diferenciao de setores mais restritos que tendem liderana do gosto as elites.13. Escritor e obra constituem, pois, um par solidrio, funcionalmente vinculado ao pblico;14. O escritor no existia enquanto papel social definido; vicejava como atividade marginal de outras, mais requeridas pela sociedade pouco diferenciada: sacerdote, jurista, administrador. (Brasil dos tempos de Anchieta)15. A cerimnia religiosa e a comemorao pblica foram ocasio para se formarem os pblicos mais duradouros em nossa literatura colonial, dominada pelo sermo e pelo recitativo.16. preciso chegarmos ao fim do sculo XVIII e fase que precede a Independncia para podermos avaliar como se esboam os elementos caractersticos do pblico e da posio social do escritor, definindo-se os valores de comunicao entre ambos.17. No primeiro quartel do sculo XIX esboaram-se no Brasil condies para definir tanto o pblico quanto o papel social do escritor em conexo estreita com o nacionalismo.18. Definir conscientemente uma literatura mais ajustada s aspiraes da jovem ptria, favorecendo entre criador e pblico relaes vivas e adequadas nova fase.19. Desejo de complementar a Independncia no plano esttico;20. Nativismo e civismo tendncias da poca que ajudaram a vincular autor e pblico21. Formado sob a sua gide, o escritor brasileiro guardou sempre algo daquela vocao patritico-sentimental,22. O pblico, do seu lado, sempre tendeu a exigi-la como critrio de aceitao e reconhecimento do escritor23. A reao ante essa ordem excessiva por parte do bomio e do estudante, que muitas vezes eram o escritor antes da idade burocrtica. Este elemento renovador e dinamizador acabou por ser parcialmente racionalizado pelas ideologias dominantes, esboando-se nos costumes certa simpatia complacente pelo jovem irregular, (faculdades de Direito)24. Conformismo de forma e fundo na literatura oitocentista liga-se ao fato de o escritor submeter-se s bitolas do gosto mdio25. O Estado e os grupos dirigentes no funcionavam, porm, apenas como patronos, mas como sucedneo do pblico; pblico vicariante. 26. Ausncia de comunicao entre o escritor e a massa, mas sim com as elites27. Hermetismo, conscincia de classe, opinies cristalizadas28. Literatura acessvel, mas pouco difundida; conscincia grupal do artista, mas pouco refinamento artesanal29. De um lado, a profissionalizao acentua as caractersticas tradicionais ligadas participao na vida social e acessibilidade da forma; de outro, porventura como reao, a diferenciao de elites exigentes acentua as qualidades at aqui recessivas de refinamento, e o escritor procura sublinhar as suas virtudes de ser excepcional 30. preciso mencionar, como circunstncia sugestiva, a continuidade da "tradio de auditrio", que tende a mant-la nos caminhos tradicionais da facilidade e da comunicabilidade imediata, de literatura que tem muitas caractersticas de produo falada para ser ouvida

Letras e ideias no perodo colonial

1. Expresso de uma identidade local prpria descrio de elementos diferenciais natureza e ndio2. Literatura teria passado por um processo retilneo de abrasileiramento, que conduziu cor local diferenciada da portuguesa3. Ponto de vista da poca tomada de conscincia da nao. 4. Sculo XVIII fundar uma literatura nossa5. Sob este aspecto, notamos, no processo formativo, dois blocos diferentes: um, constitudo por manifestaes literrias ainda no inteiramente articuladas; outro, em que se esboa e depois se afirma esta articulao. O primeiro compreende sobretudo os escritores de diretriz cultista, ou conceptista; o segundo, os escritores neo-clssicos Ou arcdicos. S ento se pode considerar formada a nossa literatura, como sistema orgnico que funciona e capaz de dar lugar a uma vida literria regular, servindo de base a obras ao mesmo tempo universais e locais.6. Manifestaes literrias at a segunda metade do sculo XVIII sob o signo da religio e da transfigurao7. Oratria sagrada Barroco padre Antonio Vieira propaganda ideolgica oralidade8. Gregrio de matos humorismo satrico, obsesso com a morte9. a viso ideolgica e esttica da colnia se fixa de preferncia na apoteose da realidade e no destino do europeu, do pecador resgatado pela conquista e premiado com os bens da terra, quando no redimido pela morte justa. Isto mostra como o verbo literrio foi aqui sobretudo instrumento de doutrina e composio transfiguradora 10. Em meados do sculo XVIII veio juntar-se a ela uma concepo at certo ponto nova que representa, nas idias em geral, a influncia das correntes ilustradas do tempo; a literatura do Classicismo de inspirao francesa e do Arcadismo italiano11. Desse ponto de vista diramos sque essas correntes influenciaram a literatura brasileira, na medida em que 1) que a confiana na razo procurou, seno substituir, ao menos alargar a viso religiosa; 2) que o ponto de vista exclusivamente moral se completou sobretudo nas interpretaes sociais pela f no princpio do progresso; 3) que, em lugar da transfigurao da natureza dos sentimentos, acentuou-se a fidelidade ao real.12. incremento do nativismo, voltado, agora, no apenas para a transfigurao do pas, mas para a investigao sistemtica da sua realidade e para os problemas de transformao do seu estatuto poltico.13. As revolues norte-americana e francesa, o exemplo das instituies inglesas, o nascente liberalismo oriundo de certas tendncias ilustradas completariam o impacto do pombalismo, formando um ambiente receptivo para as idias e medidas de modernizao poltico-econmica e cultural14. entrosamento acentuado entre a vida intelectual e as preocupaes poltico-sociais15. A isto se juntavam: 1) o culto da natureza 2) o desejo de investigar o mundo 3) a aspirao verdade, como descoberta intelectual,16. mostrar que tambm ns tnhamos capacidade para criar uma expresso racional da natureza, generalizando o nosso particular17. A formao de academias assinala um instante capital na formao da nossa literatura, ao congregar homens de letras de vrias partes da colnia, num primeiro lampejo de integrao nacional18. Nativismo deixa de ser apenas exttico para ser tambm racional19. Cludio Manuel da Costa (1729-1789), escritor de transio entre o cultismo e as novas tendncias, representando de algum modo o incio de uma atividade literria regular e de alta qualidade no seu pas20. Com Toms Antnio Gonzaga (1744-1810), companheiro de ambos em Ouro Preto, o Arcadismo encontrou no Brasil a mais alta expresso. Na sua obra h um aspecto de erotismo frvolo, expresso principalmente nas poesias de metro curto, anacrenticas em grande parte, celebrando a namorada, depois noiva, sob o nome pastoral de Marlia. Mas ela vale sobretudo pelas de metro longo, voltadas para a expresso lrica da sua prpria personalidade. Nelas, com admirvel simplicidade e nobreza, traa um roteiro das suas preocupaes, da sua viso do mundo e, depois de preso, do seu otimismo estico.21. Inconfidncia Mineira: holocausto da inteligncia s ideias do progresso social22. Para encerrar este grupo de homens superiormente dotados, falta mencionar frei Jos de Santa Rita Duro (1722-1784), que fica parte pela decidida oposio ideologia pombalina e fidelidade tradio camoniana.23. poema passadista como ideologia e fatura, mas fluente e legvel, com belos trechos descritivos e narrativos, devido imaginao reprodutiva e capacidade de metrificar as melhores sugestes das fontes24. Ao seu lado avulta um segundo grupo (a que muitos deles pertencem igualmente), tambm formado sob o influxo das reformas do grande marqus: so os publicistas, estudiosos da realidade social, doutrinadores dos problemas por ela apresentados, como Jos da Silva Lisboa (1756-183525. Uum terceiro grupo intelectual que desempenhou papel decisivo nas nossas Luzes e sua aplicao ao plano poltico: os sacerdotes liberais, diretamente ligados preparao dos movimentos autonomistas26. O quarto grupo nos traz de volta aos escritores propriamente ditos, os literatos, que ento eram quase exclusivamente poetas. Entre 1750 e 1800 nascem umas duas geraes, unificadas em grande parte por caracteres comuns e, no conjunto, nitidamente inferiores s precedentes. rcades, eles ainda o so; mas empedernidos, usando frmulas que muitos deles comeam a pr em dvida. Como recebem algumas influncias diversas, ampliam, por outro lado, as preocupaes, ou modificam o rumo com que elas antes se manifestavam.27. As letras e idias no Brasil colonial se ordenam, pois, com certa coerncia, quando encaradas segundo as grandes diretrizes que as regeram. Em ambas coexistiram a pura pesquisa intelectual e artstica, e uma preocupao crescente pela superao do estatuto colonial

LITERATURA E CULTURA DE 1900-1945

1. Dialtica do localismo x cosmopolitismo evoluo da vida espiritual2. O que h de melhor em nossa literatura representa momentos de equilbrio entre essas duas tendncias3. Consiste na integrao progressiva de experincia literria e espiritual, por meio da tenso entre o dado local e os moldes herdados da tradio europia 4. superao constante de obstculos, entre os quais o sentimento de inferioridade5. "dilogo com Portugal", - uma das vias pelas quais tomamos conscincia de ns mesmos.6. medida que fomos tomando conscincia da nossa diversidade, a eles nos opusemos, num esforo de auto-afirmao,7. A fase culminante da nossa afirmao se processou por meio de verdadeira negao dos valores portugueses, at que a autoconfiana do amadurecimento nos levasse a superar esta fase de rebeldia.8. Dilogos trocas e influencias culturais9. Dois momentos que mudam rumos: o Romantismo e o Modernismo10. Ambos representam fases culminantes de particularismo literrio na dialtica do local e do cosmopolita; ambos se inspiram, no obstante, no exemplo europeu. Mas, enquanto o primeiro procura superar a influncia portuguesa e afirmar contra ela a peculiaridade literria do Brasil, o segundo j desconhece Portugal, pura e simplesmente: o dilogo perdera o mordente e no ia alm da conversa de salo. 11. Convm assinalar que a literatura brasileira no sculo XX se divide quase naturalmente em trs etapas: a primeira vai de 1900 a 1922, a segunda de 1922 a 1945 e a terceira comea em 1945. 12. 1900: pos-romantismo. Literatura de permanncia. Uma literatura satisfeita, sem angstia formal, sem rebelio nem abismos. O sculo XX comea para a literatura com o Modernismo13. O Simbolismo, projeo final do esprito romntico, constitui desenvolvimento mais original, limitando-se, porm, obra de Cruz e Souza14. compromisso da literatura com as formas visveis, concebidas pelo esprito principalmente como encantamento plstico, euforia verbal, regularidade.15. Em crtica literria, a fase 1880-1900, por suas trs principais figuras Slvio Romero, Araripe Jnior e Jos Verssimo, havia desenvolvido e apurado a tendncia principal do nosso pensamento crtico, isto , o que se poderia chamar a crtica nacionalista, de origem romntica esforo de afirmao nacional e conscincia literia. 16. Primeira Guerra Mundial fermento de uma renovao literria17. A Semana da Arte Moderna (So Paulo, 1922) foi realmente o catalisador da nova literatura, coordenando, graas ao seu dinamismo e ousadia de alguns protagonistas, as tendncias mais vivas I capazes de renovao, na poesia, no ensaio, na msica, nas artes plsticas.18. Modernismo x naturalismo e simbolismo19. Inaugura um novo momento na dialtica do universal e do particular, inscrevendo-se neste com fora e at arrogncia, por meio de armas tomadas a princpio ao arsenal daquele. Deixa de lado a corrente literria estabelecida, que continua a fluir; mas retoma certos temas que ela e o Espiritualismo simbolista haviam deixado no ar.20. Cultura ambiguidade fundamental constrangimento Modernismo reinterpreta deficincias como superioridades21. Ao lado do problema de aceitao destas componentes recalcadas da nacionalidade, colocava-se de modo indissolvel o problema da sua expresso literria. 22. Os nossos modernistas se informaram rapidamente da arte Europeia de vanguarda, aprenderam a psicanlise e plasmaram um tipo ao mesmo tempo local e universal de expresso, reencontrando a influncia europeia por um mergulho no detalhe brasileiro. 23. Desrecalque localista; assimilao da vanguarda europeia24. Segunda linha modernista: mais humour, maior ousadia formal, elaborao mais autntica do folclore e dos dados etnogrficos, irreverncia mais consequente, produzindo uma crtica bem mais profunda.25. Assimila melhor as influncias das vanguardas francesas e do Futurismo italiano, no que respeita s tcnicas de pesquisa e expresso artstica26. Pende para o ensaio27. redefinir a nossa cultura luz de uma avaliao nova dos seus fatores.28. Dcada de 1930: A prosa, liberta e amadurecida, se desenvolve no romance e no conto, que vivem uma de suas quadras mais ricas. Romance fortemente marcado de Neo-naturalismo e de inspirao popular, visando aos dramas contidos em aspectos caractersticos do pas: decadncia da aristocracia rural e formao do proletariado (Jos Lins do Rego); poesia e luta do trabalhador (Jorge Amado, Amando Fontes); xodo rural, cangao (Jos Amrico de Almeida, Raquel de Queirs, Graciliano Ramos); vida difcil das cidades em rpida transformao (rico Verssimo)29. Ensaio histrico-sociologico30. O Modernismo corresponde tendncia mais autntica da arte e do pensamento brasileiro. Nele fundiram-se a libertao do academismo, dos recalques histricos, do oficialismo literrio; as tendncias de educao poltica e reforma social; o ardor de conhecer o pas.31. Nos decnios de 1920 e 1930, assistimos o admirvel esforo de construir uma literatura universalmente vlidapor meio de uma intransigente fidelidade ao local. A partir de 1940, mais ou menos, assistiremos, ao lado disso, a um certo repdio do local, reputado apenas pitoresco e extraliterrio; e um novo anseio generalizador, procurando fazer da expresso literria um problema de inteligncia formal e de pesquisa interior.32. At 1945 produo intensa surto editorial33. Separao abrupta entre conscincia esttica e crtica social34. 1940: contradio e acomodao 35. Fazer algumas consideraes sociolgicas sobre a funo da literatura na cultura brasileira e a sua posio atual36. Melhor maneira de expresso das artes no Brasil forma literria37. Antes de Gilbero Freyre: sociologia como ponto de vista e no pesquisa objetiva da realidade presente38. Deixando de constituir atividade sincrtica, a literatura volta-se sobre si mesma, especificando-se e assumindo uma configurao propriamente esttica; ao faz-lo, deixa de ser uma viga mestra, para alinhar-se em p de igualdade com outras atividades do esprito.39. Soberania da literatura ligada a duas ordens de fatores uns derivados de nosso contato com a Europa, outros puramente locais40. No perodo em que a nossa literatura ganhou corpo eram muito restritos os grupos sociais ao seu alcance. Foi em funo destes que ela trabalhou, dando-lhes recursos mentais para compreender o pas.41. O esprito da burguesia brasileira se desenvolveu sob influxos dominantemente literrios, e a sua maneira de interpretar o mundo circundante foi estilizada em termos de literatura.42. o Modernismo representa um esforo de reajustamento da cultura s condies sociais e ideolgicas,43. A fora do Modernismo reside na largueza com que se props encarar a nova situao, facilitando o desenvolvimento at ento embrionrio da sociologia, da histria social, da etnografia, do folclore, da teoria educacional, da teoria poltica.44. Modernismo: movimento cultural brasileiro de entre duas guerras, corresponde fase em que a literatura coopera com outros setores da vida intelectual.45. Reao da literatura frente crise de velhas estruturas46. as letras reagiram crescente diviso do trabalho intelectual,47. Formaram-se novos laos entre escritor e pblico, com uma tendncia crescente para a reduo dos laos que antes o prendiam aos grupos restritos de diletantes e "conhecedores". Mas este novo pblico ia sendo rapidamente conquistado pelo grande desenvolvimento dos novos meios de comunicao.48. O grupo de escritores, aumentado e diferenciado do conjunto das atividades intelectuais, reage de maneira diversa em face deste estado de coisas: ou fornecer ao pblico o "retalho de vida", prximo reportagem jornalstica e radiofnica, que permitir ento concorrer com os outros meios comunicativos e assegurar a funo de escritor; ou se retrair, procurando assegur-la por meio de um exagero da sua dignidade, da sua singularidade, e visando ao pblico restrito dos conhecedores. So dois perigos, e ambos se apresentam a cada passo nesta era de incertezas. O primeiro faria da literatura uma presa fcil da no-literatura, subordinando-a a desgnios polticos, morais, propagandsticos em geral. O segundo, separ-la-ia da vida e seus problemas, a que sempre, esteve ligada pelo seu passado. E a alternativa s se resolver por uma redefinio das relaes do escritor com o pblico, bem como por uma redefinio do papel especfico do grupo de escritores em face dos novos valores de vida e de arte.

A literatura na evoluo de uma comunidade

1. Literatura: , fatos eminentemente associativos; obras e atitudes que exprimem certas relaes dos homens entre si, e que, tomadas em conjunto, representam uma socializao dos seus impulsos ntimos.2. no h literatura enquanto no houver uma congregao espiritual e formal, manifestando-se por meio de homens pertencentes a um grupo, segundo um estilo; enquanto no houver um sistema de valores que enfrente a sua produo e d sentido sua atividade; enquanto no houver outros homens (um pblico) aptos a criar ressonncia a uma e outra; enquanto, finalmente, no se estabelecer a continuidade (uma transmisso e uma herana), que signifique a integridade do esprito criador na dimenso do tempo.3. Segundo este critrio, s h literatura em So Paulo depois da Independncia, e notadamente depois da Faculdade de Direito. Manifestaes literrias, que coisa diferente, isto houve desde os autos e poemas de Jos de Anchieta.4. Fora isso, as letras existiriam como atividade privada de um ou outro homem culto5. Candido analisa o papel das formas de sociabilidade intelectual, e da sua relao com a sociedade, na caracterizao das diferentes etapas da literatura brasileira em So Paulo. Escolhe um ngulo de viso o sociolgico e traa o caminho de processo evolutivo em cinco momentos, socialmente condicionados, desde estes primrdios toscos at a atividade intensa dos nossos dias. Trata-se, para isto, de analisar rapidamente os tipos de associao entre escritores, os valores especficos que os norteiam e a sua posio em face dos valores gerais e da organizao da sociedade.6. O primeiro agrupamento de escritores eminentes participando de valores comuns, procurando construir uma obra em torno deles e agindo em funo de um estmulo recproco, parece haver-se esboado no intercmbio e na produo de Pedro Taques de Almeida Paes Leme, na do seu parente frei Gaspar da Madre de Deus e na de Cludio Manuel da Costa. um primeiro arremedo de conscincia literria comum representam a elaborao de um sistema de valores difusos na sociedade paulista7. A conscincia herica do passado, emergindo do sentimento nativista, aparece como recurso de integrao;8. o "paulistanismo" aparece ideologicamente configurado, norteando as obras desses trs escritores e nutrindo as suas relaes, alm de adquirir nelas as tonalidades caractersticas, que serviriam para definir a conscincia do paulista moderno, e que operariam como poderosa arma de sentimento de classe, de um lado, e assimilao dos forasteiros, de outro.9. Segundo momento: agrupamento efetivo, no-virtual, influncia direta sobre outros grupos10. Convivncia acadmica propiciou a formao de agrupamentos11. Corpo estudantil literatura como atividade permanente12. Depois da reunio de estudantes e da conscientizao quanto ao seu papel social, forma-se uma sociabilidade especfica tipos de comportamento, conscincia cooperativa e conscincia intelectual prpria.13. Na fase que nos interessa, portanto, o "corpo acadmico" se define sociologicamente como um segmento diferenciado na estrutura da cidade, qual por enquanto se justape, sem propriamente incorporar-se, caracterizando-se pela formao de uma conscincia grupal prpria14. a sociabilidade acadmica se manifestava de modo mais estruturado nas "repblicas", agremiaes literrias, jornais e revistas15. Das repblicas a sociabilidade literria se expandia pelos grmios16. carter complexo e multifuncional do grupo estudantino, no que se refere literatura.17. meio estimulante para a produo literria, seja envolvendo o estudante numa atmosfera de exceo, seja integrando-o num sistema de relaes em que a atitude literria predominava.18. as repblicas constituam o pblico, elemento bsico no funcionamento e na continuidade da literatura19. o corpo estudantil fornecia a crtica, a sistematizao das apreciaes impressionistas, a tentativa de interpretar o significado das obras.20. o Romantismo facilitou a constituio autrquica do corpo acadmico, fornecendo-lhe uma ideologia adequada, pelas trs vias em que se manifestou aqui: nacionalismo indianista, sentimentalismo ultra-romntico, satanismo21. O Indianismo era linguagem de maior comunicabilidade, ligando os estudantes ao nacionalismo22. Igualmente acessvel ao gosto comum foi o sentimentalismo ultra-romntico, importante para definir a ideologia do grupo23. O satanismo constituiu a manifestao mais tpica dessa singularidade do poeta-estudante nos meados do sculo, fornecendo uma ideologia de revolta espiritual, de negao dos valores comuns, de desenfreado egotismo.24. O terceiro momento que pretendemos fixar situa-se na passagem do sculo XIX: entre 1890 e 1910, digamos sem maior preocupao cronolgica.25. A literatura j no depende mais dos estudantes para sobreviver, nem eles precisam mais da literatura como expresso sua, para equilibrar-se na sociedade.26. A literatura absorvida pela comunidade e deixa de ser manifestao encerrada no mbito de um grupo multifuncional, ao mesmo tempo produtor e consumidor.27. Deixando de ser manifestao grupai, ela vai tornar-se manifestao de uma classe.28. a literatura se torna acentuadamente scia29. incorporao efetiva da literatura vida da comunidade paulistana, por meio dos padres de suas classes dominantes.30. Esta incorporao da literatura comunidade e a maneira por que se processou, explicam muitos aspectos do quinto e, para este estudo, ltimo momento, que agora vamos considerar. Trata-se do Movimento Modernista, que nesta cidade se desenvolveu e teve as suas manifestaes mais caractersticas de 1922 a 1935. 31. Foi uma profunda renovao literria, estreitamente ligada constituio de um agrupamento criador, como era o dos estudantes romnticos; no mais justaposto comunidade, todavia, mas formado a partir dela, oriundo da sua prpria dinmica, diferenciando-se de dentro para fora 32. . No plano funcional, diramos que corresponde necessidade de reajustar a expresso literria s novas aspiraes intelectuais e s solicitaes da mudana artstica em todo o Ocidente. 33. No plano da estrutura, diramos que foi um epara substituir a uma expresso nitidamente de classe (como a dos anos 1890-1920) por uma outra, cuja fonte inspiradora e cujos limites de ao fossem a sociedade total.34. Semana de Arte MODERNA: 1922. Defrontam-se duas faces, uma lutando por renovar a literatura de acordo com o esprito do tempo; outra, defendendo indignada uma tradio que, em So Paulo, correspondia a algo enraizado na sensibilidade.35. houve em So Paulo, durante anos, um grupo que punha na ao renovadora toda a sua capacidade de criao e agresso. De tal modo, que se as suas opinies no chegaram a substituir a literatura dominante, elas exerceram atrao poderosa sobre as foras criadoras, sobretudo o que havia de vivo e promissor36. O grupo desenvolveu uma linguagem prpria, e muito do que se tornou expresso oficial do movimento, e pareceu ao pblico hermetismo voluntariamente perverso, se explica no fundo por certas formas de intercomunicao dos seus membros.37. Comparao entre a So Paulo romntica e a modernista38. Enquanto na So Paulo romntica a literatura surgiu e encorpou como expresso de um grupo, na So Paulo ps-parnasiana o grupo modernista surgiu como veculo de tendncias intelectuais que no podiam manifestar-se atravs dos grupos literrios ento existentes39. Em 1922, como em 1845, o grupo literrio se constituiu em oposio consciente comunidade, na afirmao de uma existncia prpria. Em 1845, porm, a oposio era entre duas vises do mundo, e por assim dizer entre duas idades adolescncia e maturidade. Em 1922, era, alm disso, de uma literatura a outra.40. Outro trao, que refora a semelhana geral do Romantismo com o Modernismo, a atitude de negao, que l foi satanismo e aqui troa, piada. 41. como o Romantismo, o Modernismo , de todas as nossas correntes literrias, a que adquiriu tonalidades especificamente paulistanas.42. A princpio, uma cidade em que no h condies para a vida organizada da inteligncia, mas onde h alguns indivduos animados do desejo de exprimir os valores locais43. Dcadas depois, desenvolve-se um agrupamento que permite a atividade literria permanente. Ele pertence cidade, est demograficamente integrado nela, mas lhe espiritualmente alheio.44. Em outro momento, o corpo estudantino j estruturado e solidamente justaposto cidade45. A literatura e os escritores se integram na comunidade. Ora, nessas condies, a literatura passa de tal modo a ser um elemento da ordem social, que no se sente nela a vibrao e a receptividade em face das novas sugestes da vida, em constante fluxo.46. Um grupo virtual, bruxuleando na cidade indiferente; um grupo ordenado, estabelecendo a tradio literria; um grupo ordenado e vivo, criando uma expresso margem da cidade; a cidade absorvendo este grupo e chamando a si a atividade literria, que se ordena pelos padres eruditos da burguesia culta; da cidade surgindo um grupo que rompe esta dependncia de classe e, quebrando as barreiras acadmicas, faz da literatura um bem de todos.

Estrutura literria e funo histrica

1. Caramuru Frei Santa Rita Durao2. Meio sculo depois de publicado papel eminente na definio do carter nacional3. Literatura brasileira adquire conscincia de si aps a independncia4. Fatores que favoreceram essa tomada de conscincia: o desejo de dar equivalente espiritual liberdade poltica, rompendo, tambm neste setor, os laos com Portugal, as tendncias historicistas, marcadas de relativismo, que, vendo na literatura uma consequncia direta dos fatores do meio e da poca, concluram que cada pas e cada povo possui, necessariamente, a sua prpria, com caractersticas peculiares. 5. hiptese dos romnticos dogma. Era preciso mostrar que tnhamos uma literatura, exprimindo caractersticas que se julgavam nacionais6. Ser bom, literariamente, significava ser brasileiro; ser brasileiro significava incluir nas obras o que havia de especfico do pas, notadamente a paisagem e o aborgine.7. descobrir uma tradio, uma tradio galharda, herica, um mito nacional8. Neste af, os romnticos de certo modo compuseram uma literatura para o passado brasileiro, estabelecendo troncos a que se pudessem filiar e, com isto, parecer herdeiros de uma tradio respeitvel, embora mais nova em relao europia.9. Caramuru - publicado em Lisboa no ano de 1.781, meio sculo antes do nosso movimento romntico e nacionalista. Isto foi possvel graas s suas caractersticas, que permitiram submet-lo a um duplo aproveitamento, esttico e ideolgico, no sentido das tendncias nacionalistas e romnticas10. Candido se prope a investigar: 1) em que consistiu a sua participao nos antecedentes do movimento genealgico dos romnticos; 2) quais das suas caractersticas se ligam a ele; 3) por que, por quem e como foi utilizado no mencionado sentido ideolgico. 11. Quanto literatura, o movimento genealgico comea com Romantismo; 12. A concepo de histria no se separava do registro de feitos individuais, ou familiares13. Constituem um movimento coeso para definir a tradio local, celebrando a pujana da terra, o herosmo dos homens, os seus ttulos preeminncia, a limpeza das suas estirpes.14. De fato houve um esforo genealgico no sculo XVIII, e serve de introduo histrica ao poema de Duro, que significa, no campo literrio, a tentativa pica de dar dignidade tradio, engrandecer os povoadores, justificar a poltica colonial15. O heri de Duro se vincula tanto tradio histrica quanto linhagstica. Fonte de civilizao e fonte da nobreza local, Diogo se valeu de alegados direitos da mulher para obter e ceder Coroa largos tratos de gleba.16. Duro operou em Diogo um curioso trabalho de limpeza17. Este comportamento exemplar acentua a sua mediocridade como personagem, isento de erros normais em heris de epopia,18. o principal interesse de Duro celebrar, na escala da epopia, a colonizao portuguesa no Brasil19. Segundo Brown, a epopia literria (que contrape popular) no medra no fastgio das naes ou das causas, mas no seu declnio.4 Encarado como epopia da nossa colonizao, o Caramuru confirma a regra.20. Replicar ao Uraguai21. Trata-se, portanto, de uma epopia eminentemente religiosa, antipombalina, em que at na forma o autor se mostra passadista, ao repudiar o verso branco, to prezado pelos seus contemporneos, para voltar aos processos camoniano22. O segundo elemento bsico a viso grandiosa e eufrica da natureza do pas, que funciona como cenrio digno de grandes feitos e acrescenta mais uma dimenso s propores da epopia.23. Esta viso traz latente uma espcie de esforo coletivo da literatura para erigir o pas em vasto lugar ameno, no mais concebido como ponto privilegiado no conjunto de uma paisagem, mas como paisagem totalmente bela e deleitosa, no conjunto do mundo,24. Hipertrofia do natural em maravilhoso25. O terceiro elemento bsico do Caramuru o homem natural, o ndio, que aparece vivendo, sob certos aspectos, num estado de pureza cuja perfeio o europeu admira, no custando ver que os seus princpios morais e a conduta decorrente so uma espcie de depurao dos ideais do branco utopia renascentista26. Considerando os trs elementos bsicos, acima discriminados (colonizao, natureza, ndio), do ngulo da construo geral vemos que constituem os ativos princpios estruturais, segundo os quais se ordenam as partes, os motivos, os episdios. E vemos que em todos os trs ocorre um elemento fundamental na organizao expressiva do Caramuru: a ambiguidade no sentido propriamente estrutural27. Estas ambiguidades se justificam, todavia, se levarmos em conta o princpio organizador do poema, que coincide neste caso com a ideologia, isto , a religio, graas ao qual os princpios estruturais se vinculam sutilmente uns aos outros,28. A literatura essencialmente uma reorganizao do mundo em termos de arte; a tarefa do escritor de fico construir um sistema arbitrrio de objetos, atos, ocorrncias, sentimentos, representados ficcionalmente conforme um princpio de organizao adequado situao literria dada, que mantm a estrutura da obra.29. Estes elementos so vivificados, no plano da ao pica, pela presena de um personagem simblico, que une as duas culturas, os dois continentes, as duas realidades humanas, Diogo-Caramuru30. a ambiguidade fundamental do heri31. Esta oscilao reforada pela de Paraguau que, sendo ndia, era no obstante alva e rsea, "branca e vermelha", como a mais ldima herona da tradio europia32. A estrutura psicolgica e simblica do poema requer este cruzamento, que gemina os dois num casal ao mesmo tempo real e alegrico.33. O poeta resolve a ambiguidade, tambm aqui, por meio da religio, que se revela plenamente como ideologia, no sentido marxista de disfarce ou ocultao dos motivos reais.34. persiste na individualidade histrica e lendria de Diogo-Caramuru uma fora que explica e torna fecunda a ambiguidade: o seu carter de antepassado mtico e civilizador,35. paradigma do encontro de culturas36. Da decorre uma ambiguidade final, a mais saborosa para o historiador: que a obra de Duro pode ser vista tanto como expresso do triunfo portugus na Amrica, quanto das posies particularistas dos americanos; e serviria, em princpio, seja para simbolizar a lusitanizao do pas, seja para acentuar o nativismo.37. Estas consideraes expem o essencial do nosso tema, ou seja, por que se deu o aproveitamento genealgico do Caramuru; resta indicar por quem e como isto foi feito ou sugerido.38. Texto de qualidade secundria39. Traduo da epopeia inclusive em prosa modernismo e atualizao 40. Descaracterizou a estrutura em dez cantos41. Manifestao nacional adaptao/deformao ao esprito do tempo42. Redescoberto pelo romantismo fastgio da voga43. Tradues e edies44. O processo descrito parece confirmar a hiptese inicial: na formao de uma conscincia literria de autonomia, eclodida com o Romantismo, o Caramuru, que teve ento o seu grande momento, desempenhou uma funo importante, graas ao carter de paradigma, ressaltado pelos referidos escritores franceses. Isto foi possvel, em grande parte, por causa da natureza ambgua do poema, tanto na estrutura quanto na configurao do protagonista.45. uma dupla distoro, ideolgica e esttica.46. Optando por encarar o caramuru como epopeia nativista e brasileira47. Epopeia transmudou em romance apego as carter novelistico e ao toque extico.