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Literatura negra: uma poéca de nossa afro-brasilidade Conceição Evaristo Resumo O estudo pretende trazer algumas reflexões sobre o ato de fazer, pensar e veicular o texto literário negro. Considera a invenção, pelos brasileiros descendentes de africanos, de formas de resistência à violação e à interdição do negro, impostas pelo sistema escravocrata do passado e pelos modos de relações raciais que vigoram em nossa sociedade, realçando as marcas profundas que essas formas de resistência imprimem na nação brasileira. Palavras-Chave: Literatura afro-brasileira; Literatura negra; Literatura negra feminina. Nomear o que seria literatura afro-brasileira e quais seriam os seus produtores é uma questão que tem suscitado reflexões diversas. Há muito, um grupo representativo de escritores(as) afro-brasileiros(as), assim como algumas vozes críticas acadêmicas, vêm afirmando a existência de um corpus literário específico na Literatura Brasileira 1 . Esse corpus se constituiria como uma produção escrita marcada por uma subjetividade construída, experimentada, vivenciada a partir da condição de homens negros e de mulheres negras na sociedade brasileira. Contudo, há estudiosos, leitores e mesmo escritores afrodescendentes que negam a existência de uma literatura afro-brasileira. Apegam-se à defesa de que a arte é universal, e mais do que isso, não consideram que a experiência das pessoas negras ou afro-descendentes possa instituir um modo próprio de produzir e de conceber um texto literário, com todas as suas implicações estéticas e ideológicas. Convém ainda ressaltar que, mesmo da parte daqueles que reconhecem a existência de uma * Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/RJ. O presente ensaio retoma o título da Dissertação de Mestrado Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade, que defendi em 1996 na PUC/RJ, e reapresenta algumas ideias que tenho proposto para discussão sobre a construção da personagem negra na Literatura Brasileira. 1 - Ver estudos de Maria Nazareth Fonseca (2002) e Eduardo de Assis Duarte (2007), dentre outros. 17 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17-31, 2º sem. 2009

Literatura Negra

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Literatura negra: uma potca denossa afro-brasilidadeConceio EvaristoResumoOestudopretendetrazeralgumasrefexessobreoatodefazer,pensar eveicularotextoliterrionegro.Consideraainveno,pelosbrasileiros descendentes de africanos, de formas de resistncia violao e interdio donegro,impostaspelosistemaescravocratadopassadoepelosmodos de relaes raciais que vigoram em nossa sociedade, realando as marcas profundas que essas formas de resistncia imprimem na nao brasileira.Palavras-Chave:Literaturaafro-brasileira;Literaturanegra;Literatura negra feminina.Nomear o que seria literatura afro-brasileira e quais seriam os seus produtores umaquestoquetemsuscitadorefexesdiversas.Hmuito,umgrupo representativodeescritores(as)afro-brasileiros(as),assimcomoalgumasvozes crticas acadmicas, vm afrmando a existncia de um corpus literrio especfco na Literatura Brasileira1. Esse corpus se constituiria como uma produo escrita marcadaporumasubjetividadeconstruda,experimentada,vivenciadaapartir dacondiodehomensnegrosedemulheresnegrasnasociedadebrasileira. Contudo, h estudiosos, leitores e mesmo escritores afrodescendentes que negam a existncia de uma literatura afro-brasileira. Apegam-se defesa de que a arte universal, e mais do que isso, no consideram que a experincia das pessoas negras ou afro-descendentes possa instituir um modo prprio de produzir e de conceber um texto literrio, com todas as suas implicaes estticas e ideolgicas. Convm ainda ressaltar que, mesmo da parte daqueles que reconhecem a existncia de uma * Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro PUC/RJ. O presente ensaio retoma o ttulo da DissertaodeMestradoLiteraturanegra:umapoticadenossaafro-brasilidade,quedefendiem 1996 na PUC/RJ, e reapresenta algumas ideias que tenho proposto para discusso sobre a construo da personagem negra na Literatura Brasileira.1 - Ver estudos de Maria Nazareth Fonseca (2002) e Eduardo de Assis Duarte (2007), dentre outros.17SCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009literaturaafro-brasileiraounegra,hdivergnciasdeentendimentoquandose coloca a questo do sujeito autoral e a sua insinuao, a sua infltrao, o seu intrometimento enquanto voz que se enuncia no texto. As discusses em torno dotematmmeenvolvidocomoescritoraecomopesquisadora.Eapartirdo exerccio de pensar a minha prpria escrita, venho afrmando no s a existncia de uma literatura afro-brasileira, mas tambm a presena de uma vertente negra feminina2. Ressalto, porm, que no objetivo desse ensaio propor uma discusso aprofundadasobreoconceitodeliteraturanegraouafro-brasileira.Pretendo trazer,apenas,algumasrefexessobreoatodefazer,pensareveicularotexto literrio negro. Tendo sido o corpo negro, durante sculos, violado em sua integridade fsica, interditadoemseuespaoindividualecoletivopelosistemaescravocratado passadoe,aindahoje,pelosmodosderelaesraciais3quevigoramemnossa sociedade,coubeaosbrasileiros,descendentesdeafricanos,inventaremformas de resistncia que marcaram profundamente a nao brasileira. Produtos culturais como a msica, a dana, o jogo de capoeira, a culinria e certos modos de vivncia religiosa so apontados como aspectos peculiares da nao brasileira, distinguindo certaafricanidadereinventadanoBrasil.Cabeaindaobservarque,nocampo religioso, as heranas africanas se acham presentes, tanto na f celebrativa de uma teogonia e de uma cosmogonia negro-africanas, quanto no Candombl e tambm 2 - Tenho concordado com os pesquisadores que afrmam que o ponto de vista do texto o aspecto preponderantenaconformaodaescritaafro-brasileira.Estoudeplenoacordo,masinsistona constatao obvia de que o texto, com o seu ponto de vista, no fruto de uma gerao espontnea. Ele tem uma autoria, um sujeito, homem ou mulher, que com uma subjetividade prpria vai construindo a sua escrita, vai inventando, criando o ponto de vista do texto. Em sntese, quando escrevo, quando invento,quandocrioaminhafco,nomedesvencilhodeumcorpo-mulher-negraemvivncia equeporseresseomeucorpo,enooutro,vivievivoexperinciasqueumcorpononegro, nomulher,jamaisexperimenta. Asexperinciasdoshomensnegrosseassemelhammuitssimos minhas, em muitas situaes esto par a par, porm h um instante profundo, perceptvel s para ns, negrasemulheres,paraoqualnossoscompanheirosnoatinam.Domesmomodo,pensoanossa condiodemulheresnegrasemrelaosmulheresbrancas.Sim,humacondioquenosune, adegnero.H,entretanto,umaoutracondioparaambas,opertencimentoracial,quecolocaas mulheres brancas em um lugar de superioridade s vezes, s simbolicamente, reconheo frente s outras mulheres, no brancas.E desse lugar, muitas vezes, a mulher branca pode e pode se transformar em opressora, tanto quanto o homem branco. Historicamente, no Brasil, as experincias das mulheres negras se assemelham muito mais s experincias de mulheres indgenas. E ento, volto a insistir: a sociedade que me cerca, com as perversidades do racismo e do sexismo que enfrento desde criana, somada ao pertencimento a uma determinada classe social, na qual nasci e cresci, e na qual ainda hoje vivem os meus familiares e a grande maioria negra, certamente infuiu e infui em minha subjetividade. E pergunto: ser que o ponto de vista veiculado pelo texto se desvencilha totalmente da subjetividade de seu criador ou criadora?3-Ressaltoqueousodostermosraaerelaesraciais,nesseensaio,assimcomoqualquer expresso relacionada ideia, compreende o conceito de raa como um construto social e no como uma categoria biolgica.18Conceio EvaristoSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009nas formas religiosas travestidas de um sincretismo como na Umbanda, em que as divindades africanas, aparentemente encobertas pelas imagens crists, se atualizam comomemriasnoapagadasdeumafancestral.EmesmonoCatolicismo, percebe-sequemitoscristoscomoSenhoradoRosrio,SoBenedito,Santa Efgnia,SantoAntniodeCateger,EscravaAnastcia,dentreoutros,foram apropriadospelosafricanosescravizadoseseusdescendentes,tornando-se cmpliceseprotetoresdopovonegro.Nota-se,ainda,queapesardessesmitos encarnaremumasantidadecatlica,osrituaiscelebrativosaelesdedicadosso marcados por posturas africanas de explicitao da f. Canta-se, dana-se, cuida-se da indumentria, participa-se da festa, pois tudo se converte em modos de se interagir com o divino. Histriasorais,ditados,provrbios,assimcomoumagamadepersonagens dofolclorebrasileiro,soheranasdasvriasculturasafricanasaquiaportadas epodemserentendidascomoconesderesistnciadasmemriasafricanas incorporados cultura geral brasileira, notadamente a vivida pelo povo. Se, por um lado, tanto as elites letradas como o povo, dono de outras sabedorias, norevelemdifculdadealgumaemreconhecer,emesmoemdistinguir,os referenciaisnegrosemvriosprodutosculturaisbrasileiros,quandosetratado campo literrio, cria-se um impasse que vai da dvida negao. Ningum nega queosambatemumfortecomponentenegro,tantonapartemelodiosacomo na dana, para se prender a um nico exemplo. Qual seria, pois, o problema em reconhecer uma literatura, uma escrita afro-brasileira?A questo se localiza em pensar a interferncia e o lugar dos afro-brasileiros na escrita literria brasileira? Seriaofazerliterrioalgoreconhecvelcomosendodepertenasomentepara determinadosgruposousujeitosrepresentativosdessesgrupos?Porque,na diversidade de produes que compe a escrita brasileira, o difcil reconhecimento emesmoaexclusodetextosedeautores(as)quepretendemafrmarseus pertencimentos, suas identifcaes tnicas em suas escritas?Sem pretenso de esgotar a temtica sobre o que seria a literatura afro-brasileira, as consideraes aqui levantadas apenas buscam situar a existncia de um discurso literrioque,aoerigirassuaspersonagensehistrias,ofazdiferentementedo previsvelpelaliteraturacannica,veiculadapelasclassesdetentorasdopoder poltico-econmico.Pode-se dizer que um sentimento positivo de etnicidade atravessa a textualidade afro-brasileira.Personagenssodescritossemaintenodeesconderuma identidadenegrae,muitasvezes,soapresentadosapartirdeumavalorizao dapele,dostraosfsicos,dasheranasculturaisoriundasdepovosafricanos 19Literatura negra: uma potica de nossa afro-brasilidadeSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009edainsero/exclusoqueosafrodescendentessofremnasociedadebrasileira. Essesprocessosdeconstruodepersonagenseenredosdestoamdosmodos estereotipados ou da invisibilidade com que negros e mestios so tratados pela literatura brasileira, em geral. Observando a pouca presena de personagens negros na literatura brasileira, em relao imensa gama de personagens brancos, com seus papeis de protagonistas da histria, Cuti, iniciador de Cadernos negros e fundador do grupo Quilombhoje deSoPaulo,afrmaquealiteraturabrasileiraabusivamentebranca,emseu propsito de invisibilizar e estereotipar o negro e o mestio (CUTI, 2002, p. 32). UmapesquisarecentedeReginaDalcastagnconstataqueapersonagemdo romance brasileiro contemporneo branca (DALCASTAGNE, 2008, p. 87-110), a partir do resultado da anlise de 258 romances publicados entre 1993 e 2008, por trs grandes editoras brasileiras. As afrmativas de Cuti e de Dalcastgn podem ser certifcadas em vrios momentos da literatura brasileira que, em consonncia com o discurso poltico, religioso, educacional, medicinal e outros, traz, em seu bojo, uma gama de esteretipos de negro. Momentosfundadoresdaliteraturabrasileirasurgemmarcadospelavozdo poetaGregriodeMatos(1969).Literalmenteavoz,poisGregriodeMatos deixou um legado que foi dado a conhecer por meio da oralidade, j que o poeta no deixou nada escrito. Buscando, na vida popular de Salvador, matria para a sua criao potica, Matos revela o olhar depreciativo que era lanado sobre o africano escravizado e seusdescendentesnoBrasil Colnia.Satirizandooscostumesea colonizao portuguesa, o Boca do Inferno, como era chamado, exalta a seduo erticadamulata,menosprezando-aaomesmotempo.Pode-sedizerque,com Gregrio,comeaaseesboaroparadigmadesensualidadeedasexualidade, atribudo s mulheres negras e mulatas presentes na literatura brasileira. O poeta aindafazdohomemmestioobjetodecrticaseinsultos,delineando,emseus versos, o esteretipo do mulato como uma pessoa pernstica e imitador do branco. JosMaurcioGomesdeAlmeida(2001)observaqueGregriodeMatos lidava mal com a mestiagem brasileira, que j se fazia notar na poca. O poeta, como outros de seu tempo, revelava um profundo mal-estar para com os mulatos desavergonhados,termoscomosquaisGregriodeMatosdeixatransparecer odespeito demuitosbrancosdiante docrescentenmerodemestios,flhosde senhores que, como alforriados, ocupavam um espao social intermedirio. Ainda no Brasil Colnia sobressai um discurso religioso ambguo que transita entre a catequizao, a pacifcao e a consolao dos africanos escravizados. Na eloquncia de Padre Antnio Vieira, no Sermo de Nossa Senhora do Rosrio 20Conceio EvaristoSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009(2008),dirigidoaosafricanosescravizados,observa-seaafrmativadequeeles eram vtimas apenas de uma escravido do corpo, pois a alma era livre; ou ainda, umalouvaodossofrimentosdosescravos,emqueosmalesdaescravido ganhamumsentidosacrifcaldamortecrist.Osnegros,ali,soconclamados para se rejubilarem com as amarguras do engenho, com o fardo cotidiano, pois, obedecendovontadedoPai/Senhor,alcanariamumdiaasplenitudesdavida eterna,jquenaterraexperimentavamasagruras,comoCristoexperimentou (BOSI, 1992, p. 119-148). Se o negro aparece na potica de Gregrio de Matos como motivo de escrnio ou apelo sexual, em Padre Antonio Vieira, surge como rebanho a apascentar para o Senhor leia-se senhor colonizador. J a fco romntica desdenhou o negro como antepassado mtico da nao. O romantismo brasileiro, em seus textos, ao trazer o mito indianista, torna possvel a idealizao de uma origem mestia para os brasileiros como um dado constituidor deumaidentidadenacional.Duasobrasfundamentais,comseuspersonagens, metaforizam o encontro do europeu com o habitante da terra. O guarani (1857) e Iracema (1865), de Jos de Alencar. No primeiro caso, no casal Peri/Ceci, o ndio simboliza o espao americano e Ceci o universo europeu. No segundo romance, Iracema,amulherdaterra,seentregaaoheriportugus,Martim.Essasobras buscamconsagrarocartermestiodasociedadebrasileira,frutodoencontro entre os portugueses e ndios.Almeida ressalta que mesmo o portugus sendo justamente o smbolo contrrio exaltaonacionalista,pormeiodoencontrocomondioelerecupera,ou melhor, afrma o seu papel de fundador da ptria. Ao lado do nativo americano, queorganicamenteestavaligadoterra,ocolonizadoracabatambmporser reconhecido em seu papel de mito fundante da nao. E em hiptese alguma, nem em termos lricos e idealizados, como ocorre com o ndio de Alencar, o negro associado gnese do brasileiro. (ALMEIDA, 2001, p. 97)Almeidainterpretaqueaconsagraodocartermestiodasociedade brasileira,napocadeAlencar,podiaserfeita,poisobjetivamenteocontato sexualentreobrancoeondionoeratofrequente,anoser,talvez,nas longnquas terras do Amazonas.Em parte pode-se concordar com o ponto de vista do autor, porm, outros motivos precisam ser acrescentados para o entendimento dalouvaodeumamestiagemindgena,peloRomantismo.Apresenado africano,edesuadescendncia,comosujeitoescravizado,erareal,concretae faziapartedocotidianodoescritor,nosdeJosdeAlencar,masdeoutros escritores nascidos no seio de famlias donas de escravos. O conceito que o escritor tinha do africano no se distinguia do que era veiculado na poca: o africano era 21Literatura negra: uma potica de nossa afro-brasilidadeSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009sumcorpoescravo.Essaafrmativapodeserreiteradacomaobservao,de HeloisaTollerGomes,quandoapesquisadoraafrmaqueseriamaisdifcil, senoimpossvel,idealizaronegroescravizado(GOMES,1988,p.29). Destacandoaroupagemestereotpicacomaqualosnegrossovestidosem vriasobrasbrasileiras,possvelressaltarumimaginrioconstrudoemqueo sujeitonegrosurgedestitudododomdalinguagem.Umaafasia,ummutismo, uma impossibilidade de linguagem caracteriza muitas das personagens fccionais negras, sob a pena de muitos autores. No livro, O tronco do ip (1964), de Jos de Alencar, o personagem Pai Benedito construdo como algum possuidor de uma anomalialingustica.Dotadoapenasdeumalinguagemgutural,seexpressapor meios-termos, e ao tentar se comunicar em portugus, isto , ao usar a linguagem do colonizador, se perde na colocao dos pronomes feito criana. NoromanceSoBernardo(1934),deGracilianoRamos,CasimiroLopes, tambm um personagem negro, aparece como algum possuidor s de uma meia linguagem.Casimiro,umempregadofelesteretiporenovadodoescravo passivo, dcil , surge descrito pelo personagem-narrador como algum dono de vocabulrio mesquinho, que gaguejava ao falar e que, tendo aprendido alguns termos com o pessoal da cidade, repete-os sem propsito, em falas sem sentido. Casimiro, quando estava satisfeito aboiava (RAMOS, 1974, p. 112). Para uma melhor compreenso do signifcado do esteretipo que afrma uma incapacidade lingustica do personagem, vlido ressaltar que aboiar o som que o vaqueiro tira do chifre do boi para se comunicar com a boiada.Outro exemplo de negao da linguagem para os personagens negros, distinta dos exemplos anteriores, pode ser aferido no romance A grande arte (1990), de RubensFonseca. Trata-sedopersonagemZaquai,umanonegro,caracterizado como um sujeito falante, prolixo. Entretanto, Zaquai imita um orador branco, no temummodeloprprioenegrodelinguageme,emumadesuasexplicaes sobre a sua bebedeira de palavras, diz: Sei que falo demais. Depois completa: Sabequemfalaassim?CarlosLacerda,omaiororadordaHistriadoBrasil. (FONSECA, 1990, p. 256)Nesse sentido, parece que a literatura, ao compor o negro ora como um sujeito afsico, possuidor de uma meia- lngua, ora como detentor de uma linguagem estranha e ainda incapaz de apreender o idioma do branco, ou ainda como algum anteriormentemudoeque,aofalar,simplesmenteimita,copiaobranco, revela o espao no-negocivel da lngua e da linguagem que a cultura dominante pretendeexercersobreaculturanegra,oquesugereasquesteslevantadaspor EniOrlandi(1988;1990)emseusestudossobreanlisedodiscurso.Paraa 22Conceio EvaristoSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009pesquisadora, o primeiro enfretamento ideolgico entre colonos e colonizados o embate poltico-lingustico. Alm dosesteretipos de negrossempre renovados e revitalizadosem todos os momentos da literatura brasileira, conforme argumenta Alberto Mussa (1989) sobre o assunto, tambm pode ser apreendido, em obras consagradas da literatura brasileira,umincmododiscursoeugniconacomposiodospersonagens negros.Duasobrasparadigmticasilustramessedesejodeeugenia,quesetraduz nosonhodeembranquecerasociedadebrasileira.Umaofamosoromance abolicionista, A escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimares. O autor, incapaz de compor uma herona que pudesse ser negra, desenha a protagonista como uma escravamulata,quasebranca,educadapelasinh,quelhetransmitetodosos valoresdeumaeducaoeuropeia.Nanarrativaasenhoraelogiaatezclarada escrava e felicita a moa por ter to pouco sangue africano. A outra obra o romance Os tambores de So Luiz (1981), de Josu Montello. Odesejodeembranquecimentodasociedadebrasileiraaparecesimbolicamente no fnal da narrativa, como j observou o escritor Cuti, j citado anteriormente. O persponagem-narrador, um negro, extasiado, contempla o seu trineto bendizendo amiscigenaoqueasuafamliaexperimentara.Suanetamaisvelhatinhase casado com um mulato, sua bisneta, por sua vez, se casara com um branco, e ali estava seu trineto, moreninho claro, bem brasileiro. E nessa diluio da cor negra, com certeza, fcariam esquecidos para todos conclui o personagem-narrador os trs sculos, de escravido, de senhores e escravos, brancos e pretos, na nao brasileira. (MONTELLO, 1981, p. 479)Entretanto, talvez, o modo como a fco revele, com mais intensidade, o desejo da sociedade brasileira de apagar ou ignorar a forte presena dos povos africanos e seus descendentes na formao nacional, se d nas formas de representao da mulher negra no interior do discurso literrio. A fco ainda se ancora nas imagens de um passado escravo, em que a mulher negraeraconsideradascomoumcorpoquecumpriaasfunesdeforade trabalho, de um corpo-procriao de novos corpos para serem escravizados e/ou de um corpo-objeto de prazer do macho senhor. Percebe-se que a personagem feminina negra no aparece como musa, herona romntica ou me. Mata-se no discurso literrio a prole da mulher negra, no lhe conferindo nenhum papel no qual ela se afrme como centro de uma descendncia. personagemnegrafemininanegadaaimagemdemulher-me,perflque aparece tantas vezes desenhado para as mulheres brancas em geral. E quando se 23Literatura negra: uma potica de nossa afro-brasilidadeSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009temumarepresentaoemqueelaaparececomofguramaterna,estpresaao imaginrio da me-preta, aquela que cuida dos flhos dos brancos em detrimento dos seus.Mulheresinfecundase,portanto,perigosas,comoBertoleza,sempre animalizadanointeriordanarrativaequemorrefocinhando,oucomoRita Baiana, marcada por uma sexualidade perigosa, que macula a famlia portuguesa, ambas personagens da obra O cortio (1980), de Alosio de Azevedo. H ainda a mulher-natureza, incapaz de entender determinadas normas sociais, cujo exemplo apersonagemcentraldoromanceGabriela,cravoecanela(1958),deJorge Amado,comasuaposturadeumaingnuacondutasexual.Oquesebusca argumentar, aqui, o que essa falta de representao materna para a mulher negra, naliteraturabrasileira,podesignifcar.Estariaaliteraturaprocurandoapagaros sentidos de uma matriz africana na sociedade brasileira? O imaginrio da literatura tenderia a ignorar o papel da mulher negra na formao da cultura nacional? Entretanto, com bem menos visibilidade, existe, no interior mesmo da literatura brasileira, uma gama de produes que vm se afrmando, aos poucos, como um discursodiferenciadoaocomporpersonagensnegraseseusenredos.Discurso que subverte no s o sistema literrio brasileiro, mas tambm contesta a histria brasileira que prima em ignorar eventos relativos trajetria dos africanos e seus descendentesnoBrasil.Constitui-secomoumaescritaquecorrespondeaoque HomiBhabhafaladapoesiadocolonizado.Essanosencenaodireitode signifcarcomotambmquestionaodireitodenomeaoqueexercidopelo colonizador sobre o prprio colonizado e seu mundo. (BHABHA, 1998, p. 321)Um exemplo do descaso da histria ofcial, que se fazia sentir at a bem pouco tempo,eraou?aausnciadetextosnoslivrosdidticossobreosncleos quilombolasderesistnciaaoescravismoqueseergueramemtodoterritrio nacional.Sabe-setambmdalutadiscursivaquesetemtravadonoscamposda histria e da literatura, amparada pelas vozes do Movimento Negro, para colocar ZumbidosPalmares,JooCndido,LuizaMahimeoutroseoutrasheronas noPanteodeherisnacionais.Talresistnciaporpartedodiscursoofcialem incorporar,comoeventoshistricosnacionais,aquelesligadostrajetriados africanos e de seus descendentes no Brasil, nos relembra o curto e direto poema de Ado Ventura:A histria do negro um traonum abrao 24Conceio EvaristoSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009de ferro e fogo. (VENTURA, 1992)Retomandoarefexosobrealiteraturaafro-brasileira,percebe-seque determinadodiscursoliterrioafro-brasileironoestdesvencilhadodas pontuaes ideolgicas do Movimento Negro. A expressividade negra vai ganhar uma nova conscincia poltica sob a inspirao do Movimento Negro Brasileiro, que na dcada de 1970 volta o seu olhar para a frica. O Movimento de Negritude deLeopoldSedarSenghor,AimCsaireeoutros,tardiamentechegadoao Brasil,vemmisturadoaodiscursodePatricLumbumba,BlackPanther,Luther King,MalcomX,AngelaDavisedasguerrasdeindependnciadascolnias portuguesas.Amplia-seentoumdiscursonegro,orientadoporumapostura ideolgicaquelevaraumaproduoliterriamarcadaporumafalaenftica, denunciadora da condio do negro no Brasil e igualmente afrmativa do mundo e das coisas culturais africanas e afro-brasileiras, o que a diferencia de um discurso produzido nas dcadas anteriores, carregados de lamentos, mgoa e impotncia. preciso enfatizar que, embora a dcada de 1970 tenha sido um perodo marcante naafrmaodostextosnegros,durantetodaaformaodaliteraturabrasileira existiram vozes negras desejosas de falar por si e de si. No se pode esquecer das primeiras: Domingos CaldasBarbosa, Lus Gama, Cruz e Sousa, Lima Barreto. preciso ressaltar a criao de Maria Firmina dos Reis, com seu romance rsula, publicadoem1859,sendoaautoraapontadacomoaprimeiraromancistae primeira mulher a escrever um romance abolicionista no Brasil4. Cabe relembrar acontundnciadavozdeLusGama,flhodeLuizaMahimnaobra,umadas lderesdaRevoltadosMals,em1835,emSalvador,naBahia5.interessante que Lus Gama, j na poca, se autodenominou Orfeu da Carapinha,afrmando a sua condio tnica negra no momento em que toda a sociedade imperial queria ter uma marcamais europeiapossvel. De Lus Gama no se pode esquecer os enfticos versos do poema Quem sou eu, criao que fcou conhecida como A bodarrada (SILVA, 1991, p. 111). No poema, Gama satirizava a sociedade de seu tempo e apontava a mestiagem brasileira, que marcava muitos dos pretensos brancosda poca, dos nobres ao povo, do clero s foras militares imperiais. Os 4 - Em 1988, ano em que se comemorou o Centenrio da Assinatura da Lei urea, o romance rsula foi republicado pela Presena Edies, do Rio de Janeiro, apoiado pelo MinC/PR-MEMRIA/INL. Em 2004, surge a edio feita pela Editora Mulheres, de Florianpolis e pela Editora PUC Minas, de Belo Horizonte.5 - Sobre Luiza Mahim, recentemente, surgiu um interessante romance histrico, Um defeito de cor, de autoria de Ana Maria Gonalves publicado pela Editora Record, do Rio de Janeiro.25Literatura negra: uma potica de nossa afro-brasilidadeSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009versosdopoemarespondiamaotermopejorativobode,apelidoqueeradado aosmulatos,comoele.SedeGamanosepodeesqueceratroaqueelefazia de uma sociedade que se queria branca, de Cruz e Sousa fca a lembrana de sua poticadolorosa,desuanegritudeangustiada,quepodeserlidanopoemaem prosa Emparedado. (SOUZA, 1961)SobreCruzeSousa,consideradoomaiorpoetasimbolistadaLiteratura Brasileira,pesaojulgamentodetersidoeleumpoetaperseguidordasformas brancas.Acrticaliterriatomacomobaseaprofusodemetforas,cujo simbolismo a cor branca, presente em suas criaes (BROOKSHAW, 1983, p. 155-160). Uma leitura de outros poemas dedicados a sua me e a sua noiva, em que o poeta distingue a beleza e a fortaleza das mulheres negras, foi, entretanto, esquecida pelos estudiosos do poeta.Umescritor,jnaRepblica,sedestacanodesejodepronunciar-secomo negro,apesardetodasasdifculdadesdapoca.Trata-sedeLimaBarreto.Em RecordaesdoescrivoIsaasCaminha(1909),afusopersonagem-autor acabacriandoumacumplicidadedevozesemqueoautorpensaediscuteas relaes raciais da sociedade brasileira. Sua escrita se dispunha conscientemente a se apresentar como uma voz negra questionadora das relaes raciais da poca. Em seu Dirio ntimo pode-se ler um projeto literrio do autor: Eu sou Afonso HenriquesdeLimaBarreto(...)NofuturoescrevereiaHistriadaEscravido NegranoBrasileasuainfunciananossaNacionalidade(BARRETO,1956, p.33).EssedesejofoiregistradoporLimaem1903e,certamente,oautor,se cumprisse tal anseio, ofaria do pontovista do negro. Em 1905, podemos ver a ideia registrada novamente nas seguintes anotaes:Veio-meaideia,ouantes,registroaquiumaideia,quemeest perseguindo.Pretendofazerumromanceemquesedescrevama vidaeotrabalhodosnegrosnumafazenda.Serumaespciede GerminalNegro,commaispsicologiaespecialemaiorsoprode epopeia.Animar um drama sombrio, trgico e misterioso, como nos tempos da escravido. (BARRETO, 1956, p. 84) interessante observar tambm que Lima Barreto denomina o espao da vila, onde ele morava, como Vila Quilombo (MORAIS, 1983, p. 17). A simbologia resguardada no signifcado do quilombo servir para Lima como inspirao para nomear o seu espao familiar. Ao pensar em vozes negras na literatura brasileira, o escritor Machado de Assis, atento,temsidoapresentadocomoagrandeincgnita.Entretanto,estudos 26Conceio EvaristoSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009recentestentamdesconstruiressaimagemconstrudaemtornodofundadorda AcademiaBrasileiradeLetras.OlivroMachadodeAssisafro-descendente (2007),deautoriadeEduardode AssisDuarte,apresentaumMachadodiscreto emsuasatitudes,mascontudocomprometidocomosideaisdaCampanha Abolicionista.Opesquisadortrazparaoleitortextosdesprezadospelacrtica literria,emqueMachadodeAssisestariasepronunciandotantoemrelao escravidocomoemrelaoaboliodosescravos.OtrabalhodeEduardo Duarte busca a desconstruo de uma crtica literria que construiu um processo de embranquecimento de Machado de Assis.Ao se pensar em uma criao contempornea de escritores(as) empenhados(as) emumaafrmaocoletivadevozesnegras,sedestacaotrabalhodoGrupo Quilombhoje, de So Paulo, responsvel pelacriao dos Cadernos negros, que atinge,em 2009,o trigsimo segundo volume. No Rio de Janeiro, o Grupo Negrcia, nos anos 80, marcou presena nas escolas, nas bibliotecas, nas comunidades, nos presdios e nos eventos do Movimento Negro com os seus recitais. A literatura brasileira repleta de escritores afro-brasileiros que, no entanto, por vrios motivos, permanecem desconhecidos, inclusive nos compndios escolares. Muitos pesquisadores e crticos literrios negam ou ignoram a existncia de uma literatura afro-brasileira. Nome como o de Solano Trindade, dentre outros, deveria fgurarnahistriadaliteraturabrasileira,comopoetamodernista.Osvrios estudos sobre o modernismo brasileiro no incorporam o nome desse importante poetanegro,anoseraproduodepesquisadoresisolados,tantonareada literatura como na da histria. (Cf. TRINDADE, 1999)Afrmando um contra-discurso literatura produzida pela cultura hegemnica, os textos afro-brasileiros surgem pautados pela vivncia de sujeitos negros/as na sociedade brasileira e trazendo experincias diversifcadas, desde o contedo at os modos de utilizao da lngua. Por exemplo, enquanto o livro A cor da ternura (1989),deGeniGuimares,podeserlidocomoumaespciedeautobiografa fccionalizadadaautora,olivroCaroodedend(1996)deautoriadeBeatriz MoreiradaCosta,MeBeatadeIemanj,trazvivnciasdeterreiroquese transformam em temticanarrativa para a autora.Ao se falar da escrita de mulheres negras, necessrio se faz voltar ao fnal da dcada de 60 para retomar a imagem da escritora Carolina Maria de Jesus6. Vrias discusses surgiram em torno da escrita de Carolina Maria de Jesus, marcada por 6-Em60,surgeaprimeirapublicaodaautora,Quartodedespejo,obraapresentadapelojornalista Audlio Dantas, que se tornou sucesso editorial no Brasil e na impressa internacional. Carolina Maria de Jesus deixou as seguintes obras: Casa de alvenaria, Provrbios, Pedaos de fome, Dirio de Bitita.27Literatura negra: uma potica de nossa afro-brasilidadeSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009suacondiodemulhernegra,faveladaedepoucainstruoescolar.Dvidas selevantaramsobreaintromissodojornalista AdlioDantasnacorreodos textos, porm no so essas discusses que sero tratadas agora. O que se torna interessante para discutir sobre a escrita de Carolina Maria o desejo de escrever vivido por uma mulher negra e favelada. O desejo, a crena e a luta pelo direito de ser reconhecida como escritora, enquanto tentava fazer da pobreza, do lixo, algo narrvel.QuandoumamulhercomoCarolinaMariadeJesuscreinventapara siumaposiodeescritora,elajrompecomumlugaranteriormentedefnido comosendoodela,odasubalternidade,quejseinstituicomoumaudacioso movimento. Uma favelada, que no maneja a lngua portuguesa como querem os gramticos ou os aguerridos defensores de uma linguagem erudita e que insiste em escrever, no lixo, restos de cadernos, folhas soltas, o lixo em que vivia, assume uma atitudequejumatrevimentocontraainstituioliterria.CarolinaMariade Jesus e sua escrita surgem maculando sob o olhar de muitos uma instituio marcada, preponderantemente, pela presena masculina e branca. Evozesnegras,dehomensedemulheres,comoadeCarolina,ecoamem letras por dentro/fora do sistema literrio brasileiro, como exemplifca o poema, em seguida: Histria para Ninar Cassul-Buanga(com acompanhamento de marimbas)Nei LopesUm dia, Cassul-Buanga, alguns chegaram:A plvora no peito, uma bssola nos olhosE as caras inspitas vestidas de papel.Vieram numa nau de velas caras,Bordadas de Cifres.Suas mos eram de ferroE falavam um dialetoDe medo e ignorncia.E fomos.Amontoados, confundidos, fundidos, estupefatosNossas dignidades eram dadas mar atrsAos peixes.Chegamos:Nosso suor foi o doce sumo de suas canas-ns bagaosNosso sangue eram as gotas de seu caf28Conceio EvaristoSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009-ns borras pretas.Nossas carapinhas eram nuvens de algodo,Brancas,Como nossas negras dignidadesDadas aos peixes.Nossas mos eram sua mo-de-obraMas vivemos, Cassul. E cantamos um blue!E na roda um sambaDe rodaDanamos.Nossos corpos tensosNossos corpos densosVenceram quase todas as competies.Nossos poemas formaram um grande rio.E amamos e nos demos.E nos demos e amamos.E de ns fz-se um mundo.Hoje, Cassul, nossas mulheres-os negros ventres de veludo-Manufaturam, de paina, de fainaOs travesseirosOnde nossos flhos,Meninos como voc, Cassul-Buanga,Ho de sonhar um sonho to bonito...Porque Zmbi mandou. E est escrito. (LOPES, 1996) AbstractThe study intends to propose some refections on the act of doing, thinking andconveytheliterarytextblack.Doestheinvention,theBraziliansof African descent, forms of resistance to rape and the black ban imposed by the slave system of the past and the ways of race relations that prevail in our society, highlightingthedeepscarsthat these formsofresistancein print Brazilian nation.Keywords: African-brazilianliterature;Blackliterature;Literatureblack women.29Literatura negra: uma potica de nossa afro-brasilidadeSCRIPTA,BeloHorizonte,v.13,n.25,p.17-31,2sem.2009RefernciasALENCAR, Jos de. O guarani. 12 ed. So Paulo: tica, 1986.ALENCAR, Jos. O tronco do ip. So Paulo: Melhoramentos, 1964.ALMEIDA,JosMaurcioGomes.Literaturaemestiagem.In:SANTOS, Wellington de Almeida (org). Outros e outras na literatura brasileira. Rio de Janeiro: Caets, 2001. p. 89-110.AMADO,Jorge.Gabriela,cravoecanela.51ed.RiodeJaneiro:Record,So Paulo: Martins Fontes, 1992AZEVEDO, Alusio de. O cortio. 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