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Escola Secundária Domingos Rebelo Literatura Portuguesa 1 Projecto Individual de Leitura Discente: -Isabel Patrício 10º J, nº 17 Ponta Delgada, 27 de Outubro de 2010

Literatura Portuguesa 1 Projecto Individual de Leiturasrec.azores.gov.pt/.../Saramago_Um_Homem_Levantado_do_Chao.pdf · Em 1947, publica a sua primeira obra, Terra do Pecado. No entanto,

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Escola Secundária Domingos Rebelo

Literatura Portuguesa 1

Projecto Individual de Leitura

Discente:

-Isabel Patrício

10º J, nº 17

Ponta Delgada, 27 de Outubro de 2010

Levantado do Chão Projecto Individual de Leitura de Isabel Patrício

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1. Ficha da Obra

Autor: José Saramago (1922 – 2010) Título: Levantado do Chão (romance) Edição: Lisboa, Editorial Caminho, 1985, 7.ª edição.

2. A Crítica Literária “Romance bem delimitado no tempo e no espaço: entre 1910 e 1974, entre duas revoluções, no Alentejo. Uma família estabelece a ligação, do avô à bisneta, atravessando a experiência histórica de uma decepção a uma esperança. Não se trata de um documentário nem de uma crónica entremeada de laivos ficcionais, mas de uma obra romanesca em que a criatividade embebe o acontecimento e a ideia numa bem realizada ambiência estética. Ao longo da narrativa predomina a figura do ser humano vergado para a terra, condicionado por um Poder obscuro que lhe dita o horário, a alimentação, a casa, que o leva de terra em terra ou de cadeia em cadeia. Poder emanado do latifúndio ou concentrando-se objectivamente no latifúndio, este ganha, de qualquer modo, uma dimensão fantasmática e ancestral recalcamento, próximo e longínquo, objecto de desejo e rancor, imagem de enormidade e agente de fome. (…) Este romance de José Saramago consegue combinar a visão de uma realidade à superfície, na sua envolvência, na sua materialidade, na sua opacidade, com uma ductilidade de escrita que produz nessa mesma realidade ressonâncias mais vastas. Daí que a delimitação cronológica e os limites aparentemente estreitos da problemática se dilatem numa proporção e numa densidade que são a de uma condição humana à procura da plena identidade dentro da dignidade do próprio trabalho.”

Duarte Faria, «O Campo da Palavra», in COLÓQUIO Letras, nº61, Lisboa, F. Calouste Gulbenkian, 1980.

Edição da Obra

O autor, José Saramago

Levantado do Chão Projecto Individual de Leitura de Isabel Patrício

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3. Anotação a um excerto significativo: “O latifúndio tem às vezes pausas, os dias são indiferentes ou assim parecem, que dia é hoje. É verdade que se morre e nasce como em épocas mais assinaladas, que a fome não se distingue na necessidade do estômago e o trabalho pesado em quase nada se aligeirou. As maiores mudanças dão-se pelo lado de fora, mais estradas e mais automóveis nelas, mais rádios e mais tempo a ouvi-los, entendê-los é outra habilidade, mais cervejas e mais gasosas, porém quando o homem se deita à noite, ou na sua própria cama, ou na palha do campo, a dor do corpo é a mesma, e muito sorte sua se não está sem trabalho. De mulheres nem vale a pena falar, tão constante é o seu fado de parideiras e animais de carga. (…) Mas para o descobrir é preciso estar com atenção, não dizer, passando apenas. Nem vale a pena parar, vamos indo. Se por um tempo nos afastarmos, distraídos em paisagens diferentes e casos pitorescos, veremos, ao voltar, como tudo estava afinal mudando e não parecia.”

J. Saramago, Levantado do Chão, página 125 da edição citada.

Neste pequeno excerto declara-se que a mudança era como que indiferente aos habitantes do Alentejo. Digo, ao continuarem as suas vidas monotonamente pobres, sem terem tempo nem energia para olhar para a sua própria aldeia e para o seu país, não constatam que, apesar de as dores serem as mesmas, a política e a economia estão a mudar. Já haviam sido introduzidos grevistas ao enredo, no entanto, esta é a primeira vez que o narrador declina ele próprio sobre o tema, dizendo que é necessária uma certa distância para ver que Monte Lavre estava realmente acompanhando o país na sua reforma. A única constante continua a ser o papel esbatido da mulher na sociedade, sendo ela própria apenas um animal de reprodução, que ajuda o marido, chora por fiado e toma conta dos filhos até terem idade suficiente para andar e então irem trabalhar. 6. Recepção da Obra Nascido a 16 de Novembro de 1922, em Azinhaga, José Saramago cedo se muda para a capital, onde mais tarde conclui o liceu, e por dificuldades financeiras em mais não se aventura. Em 1947, publica a sua primeira obra, Terra do Pecado. No entanto, só em 1976 começa a dedicar-se em exclusivo ao trabalho literário. Quatro anos mais tarde, surge então Levantado do Chão, romance considerado, pela generalidade dos críticos, como uns dos fundamentais deste autor. A história é uma verdadeira fotografia da vida rural alentejana, compreendida entre os anos de 1910 e 1974. Podemos considerar a família “Mau -Tempo” o conjunto de personagens principais, que ao longo da história se vão cruzando com outras famílias e indivíduos. Está, pois, retratada a luta pelo direito ao trabalho, pelo horário de oito horas e pelo ordenado mais digno. A acrescentar, há também a opressão por parte da Igreja, representada na obra pelo Padre Agamedes, por parte dos latifundiários, representados,

Levantado do Chão Projecto Individual de Leitura de Isabel Patrício

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por exemplo, por Norberto, Alberto e Dagoberto, e por parte das forças da ordem, a Guarda. Levantado do Chão, é, como diz o autor, um símbolo do esforço daquela gente. Está presente o inconformismo dos trabalhadores, que durante séculos aceitaram a precariedade, mas que agora tinham decidido organizar a sua causa. O livro toma este título porque do chão se erguem as searas e os homens, mesmo os oprimidos pelos latifúndios e pela vida dura e rural alentejana. A obra, apesar de difícil e “pesada”, relata uma história fascinante e real. As personagens tomam vida a cada sofrimento e dificuldade. O vocabulário, ao recorrer a registos regionais e coloquiais, ajuda imenso na viagem até ao Alentejo do século XX. 8. Apêndices

Apêndice 1: • Documentário Inédito Sobre a Vida de José Saramago:

No dia em que se assinalaram os dez anos da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, a RTP exibiu um documentário sobre a vida deste singular autor e sobre a sua obra. Este documentário tomou o nome de Levantado do Chão, título de um dos seus livros. Como diz José Saramago “ levantam-se os homens do chão”, como ele próprio, símbolo da vitória. Isto é, de origens tão modestas sobe até ao topo da Literatura Portuguesa e mundial, tornando-se num dos autores mais lidos e conhecidos em todo o mundo. Este título é assim uma metáfora ao percurso notável deste homem, um homem levantado do chão.

Apêndice 2: • De Zé do Telhado a José Gato

Zé do Telhado, famoso salteador português do séc. XIX, é referido na obra Levantado do Chão como sendo igual a José Gato, personagem do romance de Saramago. Este, segundo diz o narrador, é apenas um maltês, que trabalha quando quer e rouba quando lhe apetece. A acrescentar, há o facto de ser dos únicos salteadores do latifúndio. Roubava, no máximo, porcos, que mais tarde serviriam de alimento ou de produto de venda. As semelhanças com a popular figura do Zé do Telhado são a profissão e o facto de ambos roubarem aos ricos para, depois, revenderem aos pobres, mais barato (no caso de Zé do Telhado, para doar, simplesmente).

Isabel Patrício,

10º J, nº 17

Ponta Delgada, 27 de Outubro de 2010.