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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR LÍVIA MARIA CARVALHO DA SILVA DA EFETIVA REPARAÇÃO POR DANOS DECORRENTES DE CLÁUSULAS ABUSIVAS NO CONTRATO DE ADESÃO NA RELAÇÃO DE CONSUMO CABEDELO/PB 2017

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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL, PROCESSO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR

LÍVIA MARIA CARVALHO DA SILVA

DA EFETIVA REPARAÇÃO POR DANOS DECORRENTES DE CLÁUSULAS ABUSIVAS NO

CONTRATO DE ADESÃO NA RELAÇÃO DE CONSUMO

CABEDELO/PB 2017

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LÍVIA MARIA CARVALHO DA SILVA

DA EFETIVA REPARAÇÃO POR DANOS DECORRENTES DE CLÁUSULAS ABUSIVAS NO

CONTRATO DE ADESÃO NA RELAÇÃO DE CONSUMO Monografia apresentada ao Departamento de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Especialista em: Direito Civil, Processo Civil e Direito do Consumidor. Orientador: Prof. Markus Samuel Leite Norat Área: Direito do Consumidor

CABEDELO/PB 2017

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S586d Silva, Lívia Maria Carvalho da. Da efetiva reparação por danos decorrentes de cláusulas

abusivas no contrato de adesão na relação de consumo / Lívia Maria Carvalho da Silva. – Cabedelo, 2017.

65f Orientador: Profº Esp. Markus Samuel Leite Norat. Monografia (Especialização em Direito Civil, Processo Civil e

Direito do Consumidor) Faculdade de Ensino Superior da Paraiba. 1. Direito do Consumidor. 2. Hipossuficiência. 3. Contrato de

Adesão. 4. Cláusula Abusiva. 5. Reparação de Danos. I. Título.

BC/Fesp CDU: 339.5

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TERMO DE RESPONSABILIDADE

Eu, Lívia Maria Carvalho da Silva, responsabilizo-me integralmente pelo conteúdo deste trabalho monográfico, sob o título “Da Efetiva Reparação Por Danos Decorrentes De Cláusulas Abusivas No Contrato De Adesão Na Relação De Consumo”, apresentado ao Departamento de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da FESP Faculdades, como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do Curso de Pós-graduação em Direito Civil, Processo Civil e Direito do Consumidor, eximindo terceiros de eventuais responsabilidades sobre o que nela está escrito.

Cabedelo, 22 Dezembro de 2017.

____________________________________ Lívia Maria Carvalho da Silva

RG 3330229 SSP/PB

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LÍVIA MARIA CARVALHO DA SILVA

DA EFETIVA REPARAÇÃO POR DANOS DECORRENTES DE CLÁUSULAS ABUSIVAS NO

CONTRATO DE ADESÃO NA RELAÇÃO DE CONSUMO

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Professor Dr. Markus Samuel Leite Norat

Orientador

________________________________________ Membro da Banca Examinadora

________________________________________ Membro da Banca Examinadora

Atribuição de nota: ______________________

Cabedelo, _____ / _______________ / ______

CABEDELO/PB 2017

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Dedico este trabalho a meu pai e minha mãe, responsáveis por toda a minha vitória.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que guia meus passos em todos os momentos e, por vezes, me segura no colo para que eu consiga vencer e passar pelos caminhos mais espinhosos. Aos meu pais, Cícero e Jucilene, que com todo amor me proporcionam as melhores condições para que eu possa estudar tranquila, objetivando um futuro melhor, eles são a inspiração para que eu siga sempre em frente. Ao meu namorado, Allefy, meu companheiro nos estudos, nas viagens, nos trabalhos e na dedicação para uma vida profissional de prosperidade. Ao meu amigo/primo/irmão, Filipe, que participa das minhas alegrias, tristezas e vitórias, cuidando de mim como um anjo. Ao meu orientador que com dedicação estava sempre disponível a ajudar e orientar o melhor desenvolvimento do trabalho.

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“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.” Charles Chaplin.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................. 12

CAPITULO I DA RELAÇÃO CONTRATUAL CONSUMERISTA .. 15

1.1 Inroito ..................................................................................... 15

1.2 Do Fornecedor ....................................................................... 15

1.3 Do Consumidor ...................................................................... 17

1.4 Da Relação de Consumo ....................................................... 19

CAPÍTULO II DOS CONTRATOS ................................................................. 24

2.1 Introito .................................................................................... 24

2.2 Noções de Contrato............................................................... 24

2.3 Do Contrato de Adesão ......................................................... 30

2.4 Das Cláusulas Abusivas ....................................................... 36

2.5 A Possibilidade da Revisão Contratual ou a Resolução em

Decorrência de Clausula Abusiva .............................................. 40

2.6 O Poder de Intervenção do Estado no que Tange aos

Institutos Contratuais.................................................................. 46

CAPÍTULO III DA REPARAÇÃO PELOS DANOS ....................... 48

3.1 Introito .................................................................................... 48

3.2 Reparação por Dano Material ............................................... 48

3.3 Reparação por Dano Moral ................................................... 51

3.4 Decisões no Âmbito dos Tribunais ...................................... 52

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3.5 Fundamentos da procedência do Pedido de Reparação .... 60

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 63

REFERÊNCIAS ............................................................................. 65

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RESUMO

Este trabalho monográfico tem por objetivo analisar o dever de reparação dos fornecedores tendo em vista a inclusão de cláusula abusiva no contrato de adesão que viole direitos fundamentais inerentes aos consumidores. Observando a condição de parte vulnerável e hipossuficiente na relação de consumo desempenhada pelo consumidor, há que se admitir, que em se tratando de contrato de adesão, o fornecedor levado pela ganância econômica pode incluir cláusula que prejudique o consumidor, valendo-se de sua condição privilegiada em relação a conhecimento técnico do produto ou serviço que oferece, induzindo o consumidor leigo aderir a contrato com cláusulas ambíguas ou de difícil compreensão que acarretem posteriormente danos financeiros gerando onerosidade excessiva, ou mesmo, que lhe retira ou suprima direitos. O intuito desta análise científica é mostrar a proteção que o Código de Defesa do Consumidor oferece aos consumidores, estando estes direitos eficazmente demonstrados por meio das crescentes decisões judiciais positivas das Cortes do País. Valorizando os efeitos pedagógicos de cada decisão favorável à parte hipossuficiente, buscando dirimir cada vez mais às atividades abusivas dos fornecedores em relação aos consumidores. Palavras chaves: Direito do Consumidor. Hipossuficiência. Contrato de Adesão. Cláusula Abusiva. Reparação de Danos.

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INTRODUÇÃO

O aludido trabalho monográfico possui como título: A Efetiva

Reparação por Danos Decorrentes de Cláusulas Abusivas no Contrato de

Adesão na Relação de Consumo.

O conjunto de indivíduos que compõe a sociedade realiza a todo o

momento atividades comerciais, visto que é inevitável pertencer à sociedade e

não se enquadrar ao seu estilo de vida e sobrevivência. Para que estas

atividades consumeristas se estabeleçam faz-se necessário a presença dos

elementos determinantes, quais sejam: o fornecedor, o consumidor e, a

atividade habitual de comércio que o fornecedor pratica. Eis que surge a

relação de consumo.

O objeto de estudo deste trabalho científico consiste no

aprofundamento do conhecimento dos direitos consumeristas sob a égide do

código de Defesa do Consumidor brasileiro, no amparo às prerrogativas do

consumidor como sujeito de direitos na relação de consumo, reconhecendo seu

papel de vulnerabilidade e, a interpretação de normas mais favoráveis a estes.

A questão a ser analisada neste trabalho é o dever que o fornecedor

tem de reparar dano causado ao consumidor decorrente de cláusula abusiva

no contrato de adesão. Tendo em vista que esta é a espécie contratual mais

presente nas relações de consumo, o fornecedor fica livre para preestabelecer

todas as disposições constantes, retirando do consumidor a possibilidade de

negociação para adequação de disposições que lhe sejam mais favoráveis,

restando ao mesmo, tão somente, aderir ao contrato. Porém, se no contrato de

adesão consta cláusula de teor abusivo que causa prejuízo tanto material ou

moral, cabe ao fornecedor indenizar a vítima de seus infortúnios.

A escolha do tema é de extrema relevância para a sociedade no que

tange ao esclarecimento dos direitos dos consumidores. Apesar de a

sociedade ter o conhecimento de lei específica que proteja o polo vulnerável da

relação de consumo, a procura efetiva pelos direitos ainda não é tão

significativa, talvez pelos consumidores julgarem, equivocadamente, inútil

procurar a via judicial para a resolução de seus conflitos. O debate deste tema

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vem para incentivar o consumidor a procurar seus direitos cientes da garantia

que a legislação dispõe.

O objetivo geral é mostrar aos consumidores que a busca pela

reparação de seus danos sofridos é possível, por meio de embasamento legal,

buscando a satisfação que deseja e compensação por dissabores sofridos de

cunho material ou moral.

Com relação ao objetivo específico é enfatizar o valor pedagógico das

decisões favoráveis de procedência do pedido indenizatório, que visa

desestimular os fornecedores a agirem de má-fé nos contratos de adesão

inserindo cláusulas abusivas que deixam o consumidor em difícil situação.

Para o embasamento teórico e análise do tema em questão serão

utilizados como referência doutrinária os referentes autores: Markus Samuel

Leite Norat, Wagner Veneziani Costa e Gabriel J. P. Junqueira, Renato Afonso

Goçalves, Maria Helena Diniz, César Fiúza, Pablo Stolze Gagliano, Silvio

Rodrigues, Rizzato Nunes, Flávio Tartuce e Carlos Roberto Gonçalves.

Para análise do tema foi utilizados além da doutrina, a legislação

específica da Lei n 8.078, de 11 de setembro de 1990, o código de Defesa do

Consumidor.

O referido trabalho monográfico é composto por três capítulos. O

primeiro capítulo relata sobre os conceitos de fornecedor, consumidor e a

descrição da formação da relação de consumo. Designa o fornecedor como

figura que oferece produtos ou prestação de serviços no mercado de forma

habitual com interesse na obtenção de lucro, fazendo isto para sua

sobrevivência e mantença. O consumidor como destinatário final dos produtos

ou serviços oferecidos pelo fornecedor, adquirindo-os para proveito próprio; e

por fim, as características formadoras da relação de consumo.

O discorrer do segundo capítulo revela os institutos contratuais, a

formação dos contratos, os princípios a ele inerente, a função social a qual se

destinam. Dando seguimento a estudo mais específico dos contratos de

adesão e suas cláusulas preestabelecidas, a possibilidade de haver revisão ou

resolução do mesmo decorrente de cláusula de teor abusivo em sua

constituição. Concluindo com o relato sobre o poder-dever do Estado em agir

para o controle e manutenção da segurança jurídica nos contratos.

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Por fim, o terceiro e ultimo capítulo traz a análise sobre o pedido de

reparação de danos ocasionados por cláusula abusiva no contrato de adesão,

especificando o que seja em precisão o dano material como um dano de cunho

financeiro e, o dano moral como sendo de cunho íntimo, pessoal, que fere a

dignidade do indivíduo. As decisões favoráveis e recentes no âmbito dos

Tribunais, confirmando a procedência do pedido indenizatório, através dos

fundamentos basilares do Código de Defesa do Consumidor, e da

responsabilidade civil.

A vertente metodológica utilizada é a qualitativa, o método de

procedimento é o monográfico; com abordagem hipotético-dedutivo, partindo

de uma visão mais geral do conteúdo, para uma visão de mais especificidade,

através de pesquisa indireta buscando livros, sites da internet, jurisprudências,

entre outros.

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CAPITULO I

DA RELAÇÃO CONTRATUAL CONSUMERISTA

1.1 Inroito

A relação contratual consumerista corresponde à interação que se dá

entre as partes envolvidas nos contratos de prestações de serviços ou

fornecimento de produtos, realizada entre fornecedores e prestadores de bens

e serviços e, consumidores.

Bem atual, a legislação de defesa consumerista vem crescendo e

obtendo força em sua eficácia, em defesa principalmente da parte vulnerável

da relação contratual consumerista, que é o consumidor, a mesma objetiva

equalizar e dirimir lesões causadoras de prejuízo, seja por falta de informação

ou, oportunismo indevido da parte contratante, no caso o fornecedor.

1.2 Do Fornecedor

Fornecedor é todo aquele que se propõe a oferecer ou prestar bens ou

serviços, colocando-os a disposição do consumidor no mercado, vindo estes, a

estabelecer um vínculo de relação de negócio jurídico em que se estabelecem

obrigações e deveres a ambas as partes da relação. O fornecedor dispõe de

conhecimento profundo e técnico sobre o produto ou serviço que oferece, pois,

para a elaboração e comercialização do mesmo, desempenhou estudo e

investimentos, fazendo-o, via de regra, perito naquilo que oferece.

O Código de Defesa do Consumidor, Lei n. 8.078/90, traz em seu art. 3

a acepção de fornecedor, bem como:

Art. 3 – Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,

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exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Deduz-se, portanto, a amplitude do conceito de fornecedor pela

legislação brasileira, não restringindo-a, tão somente, a quem entrega ou

executa o serviço diretamente ao consumidor, podendo figurar até mesmo

como polo estrangeiro na relação de consumo, o que não impede o alcance da

legislação vigente de vigorar.

Para Rizzatto Nunes. (2014, p. 133),

A leitura pura e simples desse caput já é capaz de nos dar um panorama da extensão das pessoas enumeradas como fornecedoras. Na realidade são todas pessoas capazes, físicas ou jurídicas, além dos entes desprovidos de personalidade.

A principal característica do fornecedor é o fato deste realizar atividade

que lhe ocasione o lucro de forma contínua, fazendo deste meio sua atividade

profissional para mantença e subsistência sua e de sua família. Em tal sentido

destaca Markus Samuel Norat (2015, p 49), “(...) Importantíssimo se faz a

expressa disposição no conceito de fornecedor, aquela pessoa que coloque

produtos ou serviços no mercado de consumo de forma habitual”. Portanto, se

determinado indivíduo vende ou negocia, a título exemplificativo, com outra

pessoa algum serviço ou objeto, mas não o faz em caráter habitual e contínuo,

este não se configura como fornecedor, como também, nítido e claramente,

não se configura a relação de consumo.

Para Renato Afonso Gonçalves (2004, p.16), “(...) o fornecedor é toda

pessoa cuja atividade está relacionada a produtos ou serviços que serão objeto

da relação jurídica a ser firmada com o consumidor”. Observando-se nesta

óptica, confere ao fornecedor a atividade de propiciar a relação de consumo o

objeto a que a mesma se destina.

Para a formação da dita relação consumerista, faz-se necessário que

os polos subjetivos da relação sejam preenchidos corretamente, só assim, a

legislação consumerista irá vigorar sobre esta situação; como bem diz Markus

Samuel Norat (2015, p 50),

Justamente pela obrigatoriedade de um fornecedor para que o consumidor possa ser tutelado pelos efeitos do Código de Defesa do Consumidor, é que a definição de fornecedor recebe tanta amplidão.

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O Código determina que fornecedor seria aquela pessoa que desempenha atividade de produzir, montar, criar, construir, transformar, importar, exportar, distribuir ou comercializar produtos ou prestar serviços. Sendo assim, é fornecedor aquele que coloca produtos ou serviços à disposição do mercado de consumo, desde

que de forma habitual.

A habitualidade com a qual se é desempenhada a atividade comercial

é o quesito principal para se determinar a inexistência ou não do fornecedor e

da relação de consumo.

A atividade precisa ser realizada de forma contínua com o objetivo de

alcançar a lucratividade. Ou seja, se a atividade comercial é realizada tão

somente de forma esporádica, não há que se falar em relação de consumo,

como também este tipo de atividade não recebe a proteção do código de

Defesa do Consumidor, mas sim, da legislação cível.

O fornecedor, por sua vez, vive de sua atividade comercial e, dispõe de

seu produto ou serviço no mercado de consumo para satisfazer a demanda dos

consumidores, movimentando todo o sistema socioeconômico.

1.3 Do Consumidor

O consumidor pela legislação vigente brasileira possui vasta amplitude,

correspondendo a uma das partes ligadas diretamente a relação de consumo,

como também a parte equiparada, ou seja, a parte não ligada diretamente à

relação de consumo, mas que pode ser afetada pelo impacto dessas relações.

Este polo da relação de consumo, via de regra, não detém conhecimento

técnico algum do produto que está adquirindo, ou do serviço que está

contratando, pode-se dizer que o mesmo é imperito ou ignorante, contratando

apenas com o objetivo de satisfazer sua necessidade própria.

Para Markus Samuel Leite Norat (2015, p. 43),

consumidor é a pessoa física, a pessoa jurídica ou, até mesmo, por meio de equiparação, a coletividade pessoas, independente de serem determináveis ou não, que adquirem ou utilizam produtos ou serviços, para o seu próprio benefício ou de outrem.

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O sistema jurídico brasileiro possui legislação específica responsável

por definir em sua totalidade o conceito de consumidor, pois bem, dispõe o art.

2° do Código de Defesa do Consumidor, Lei N. 8.078/90:

Art. 2° – Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Como reza o artigo legal supracitado, consumidor direto, é aquele que

está diretamente vinculado ao fornecedor, ou seja, é aquele que estabelece

negócio jurídico para ele próprio, utilizando do produto que adquire sem

finalidade comercial.

O adquirente do produto ou contratante do serviço deve fazê-lo em

caráter de uso e proveito próprio, sem que haja a intenção da aquisição para

revenda comercial que objetive arrecadar lucro, só assim, este adquirente será

considerado consumidor à luz da legislação consumerista.

Figurando como destinatário final, o consumidor é o sujeito para o qual

se destina a demanda oferecida pelo fornecedor, seja para a aquisição de bens

ou materiais ou para a contratação de serviços. Evidencia-se que, sem a

existência do consumidor não existiria o fornecedor e vise versa; construindo-

se assim, uma relação de troca e contraprestações mútuas, geradoras de

obrigações para ambas às partes.

Para Renato Afonso Gonçalves (2004, p.11),

Assim, para definir se o sujeito de determinada relação jurídica é ou não consumidor, faz-se imprescindível a verificação de sua posição na relação, ou seja, se há de fato um desequilíbrio relacional a tornar esse sujeito vulnerável. Aliás, esse é o mandamento do art. 4°, I, do Código de Defesa do consumidor, que reconhece a vulnerabilidade do consumidor como princípio das relações de consumo. Se há vulnerabilidade e a aquisição do serviço ou produto se dá sem o objetivo de lucro, sem o objetivo de reintegrá-lo no mercado, então o sujeito é consumidor.

Por sua vez, o consumidor equiparado é aquele que não tem relação

direta com o fornecedor, mas encontra-se ao alcance dos resultados que os

produtos ou serviços dos fornecedores podem ter, mesmo que estes

consumidores sejam indetermináveis, a proteção da legislação consumeristas

para eles é a mesma que para o consumidor direto.

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1.4 Da Relação de Consumo

A relação de consumo se baseia, obviamente, com a atividade

comercial que crie um elo de ligação entre um fornecedor e um consumidor.

Desde os primórdios da humanidade, os homens realizavam esta atividade,

mesmo que de maneira contingente. O comércio em si, acontecia por meio da

troca de objetos, sendo permutados de acordo com a necessidade de quem os

buscava.

Com a evolução da sociedade, chegando até o momento

contemporâneo, as práticas comerciais ganharam protagonismo total nas

relações sociais, tendo em vista que o sistema mercantil é o que move o

mundo, de onde as pessoas tiram seu sustento através do trabalho e,

satisfazem suas necessidades consumindo produtos ou contratando serviços

ofertados no mercado.

Os fornecedores desenvolvem seus produtos e oferecem seus serviços

no mercado de acordo com a demanda buscada pelos consumidores. Para que

realizem esta atividade de produção, os fornecedores desenvolvem seus

produtos com base em estudos e conhecimento técnico do que está

desempenhando e propondo; assim, o que acontece, é que os consumidores

se encontram em desvantagem de conhecimento em relação àqueles. Sendo

assim, à legislação consumerista vem garantir a equidade nas relações de

consumo.

O código de Defesa do Consumidor brasileiro não traz a definição

exata do que venha a ser relação de consumo, tão somente, especificando

apenas, os seus elementos formadores divididos em duas classes: elementos

subjetivos e objetivos. Os elementos subjetivos seriam os fornecedores e os

consumidores e, os elementos objetivos seriam o produto ou o serviço ofertado

pelos fornecedores.

Para que haja à efetiva relação de consumo é necessário o

preenchimento de determinados requisitos como a existência do fornecedor e

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do consumidor, bem como, a habitualidade com qual o fornecedor desenvolve

sua atividade frente aos consumidores diretos e equiparados.

Segundo reza Rizzatto Nunes. (2014, p. 133),

O uso do termo “atividade” está ligado a seu sentido tradicional. Têm-se, então, atividade típica e atividade eventual. Assim, o comerciante estabelecido regularmente exerce a atividade típica descrita em seu estatuto. Mas é possível que o mesmo comerciante exerça uma atividade atípica, quando, por exemplo, age, de fato, em situação diversa da prevista, o que pode dar-se de maneira rotineira ou eventual e a pessoa física vai exercer atividade atípica ou eventual quando praticar atos do comércio ou indústria (...).

A habitualidade corresponde, pois, a elemento determinante e

imprescindível para a existência do vínculo consumerista, sem esta, não há

que se falar em relação de consumo, pois, a bem da verdade, o que existe é

tão somente um negócio jurídico simples entre às partes.

A relação de consumo é predominantemente protagonizada pela

disparidade de igualdade entre fornecedor e consumidor, tendo em vista que o

fornecedor já dispõe de produtos e serviços no mercado de consumo de

maneira que lhe seja lucrativa, deixando obviamente o consumidor de forma

vulnerável na relação, sendo “levado” a contratar determinado serviço ou aderir

em contratos que não sejam vantajosos, ou mesmo, tenham inseridos de forma

camuflada cláusulas abusivas e descabidas.

O fornecedor sempre tem vantagem sobre o consumidor, segundo

enfatiza Rizzatto Nunes. (2014, p. 176/177),

O consumidor é a parte fraca da relação de consumo. Essa fraqueza, essa fragilidade, é real, concreta, e decorre de dois aspectos: um de ordem técnica e outro de cunho econômico O primeiro está ligado aos meios de produção, cujo conhecimento é monopólio do fornecedor. E quando se fala em meios de produção não se está apenas referindo aos aspectos técnicos e administrativos para a fabricação e distribuição de produtos e prestação de serviços que o fornecedor detém, mas também ao elemento fundamental da decisão: é o fornecedor que escolhe o que, quando e de que maneira produzir, de sorte que o consumidor está à mercê daquilo que é produzido. É por isso que, quando se fala em “escolha” do consumidor, ela já nasce reduzida. O consumidor só pode optar por aquilo que existe e foi oferecido no mercado. E essa oferta foi decidida unilateralmente pelo fornecedor, visando seus interesses empresariais, que são, por evidente, os da obtenção de lucro.

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O segundo aspecto, o econômico, diz respeito à maior capacidade econômica que, por via de regra, o fornecedor tem em relação ao consumidor. É fato que haverá consumidores individuais com boa capacidade econômica e ás vezes até superior à de pequenos fornecedores. Mas essa é a exceção da regra geral.

A vulnerabilidade do consumidor é algo nítido e inevitável diante da

relação de consumo, pois o mesmo, em regra, é polo economicamente fraco e

não detém conhecimento técnico adequado para ter a certeza de que o

contrato que estabelece é de veras, bom e confiável, que atenderá de pleno, a

tudo que ele deseja, sem causar-lhe embaraço futuro ou onerosidade

excessiva, findando em prejuízos e aborrecimentos.

Sobre a vulnerabilidade do consumidor, diz Markus Samuel Leite Norat,

(2015, p. 68),

Podemos identificar diversos tipos de vulnerabilidade do consumidor, porém, dentre todos eles devemos destacar quatro tipos de vulnerabilidade como sendo principais: vulnerabilidade técnica, vulnerabilidade fática (ou socioeconômica), vulnerabilidade científica (ou jurídica) e vulnerabilidade informacional. Deve ser ressaltado que para aferir a vulnerabilidade do consumidor, não se faz necessário a presença simultânea de todos os tipos de vulnerabilidade supramencionados para que a vulnerabilidade do consumidor seja reconhecida.

Tendo em vista toda a fragilidade que o consumidor possui diante da

relação de consumo, o Direito do Consumidor, vem por sua vez, buscar

resguardar o direito daqueles que estão em desvantagem e em situação de

vulnerabilidade, bem como, sanar eventuais danos já ocasionados.

Para que haja o equilíbrio da relação de consumo faz-se necessário

que o fornecedor respeite o princípio da boa-fé. Por sua, vez o princípio da

boa-fé divide-se em dois, a boa-fé-objetiva e a boa-fé-subjetiva.

Sobre a Boa-fé, discorre Cézar Fiúza, (2002, p. 314),

A boa-fé subjetiva consiste e crenças internas, conhecimentos e desconhecimentos, convicções internas. Consiste, basicamente no desconhecimento de situação adversa. Quem compra e quem não é dono, sem saber, age de boa-fé, no sentido subjetivo. A boa-fé objetiva baseia-se em fatos de ordem objetiva baseia-se na conduta das partes, que devem agir com correção e honestidade, correspondendo à confiança reciprocamente depositada. As partes

devem ter motivos objetivos para confiar uma na outra.

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Para o Direito do Consumidor a prevalência é da boa-fé-objetiva, em

que independentemente de intenção do fornecedor em causar dano a outrem,

no caso os consumidores, o dever é corrigir o erro e sanar qualquer prejuízo

circunstancial.

Vigilante quanto ao polo passivo da relação consumerista, o Código de

Defesa do Consumidor-CDC, vigora sobre os contratos dessa natureza, bem

como, junto ao Código Civil brasileiro, motivando-se para que os contratos

busquem atingir a finalidade e função social a qual se destinam, presando pelo

equilíbrio contratual e, seguridade jurídica.

Dispõe Flávio Tartuce, (2014, p.60),

Desse modo, os contratos devem ser interpretados de acordo com a concepção do meio social onde estão inseridos, não trazendo onerosidade excessiva às partes contratantes, garantindo que a igualdade entre elas seja respeitada, mantendo a justiça contratual e equilibrando a relação onde houver a preponderância da situação de um dos contratantes sobre a do outro. Valoriza-se a equidade, a razoabilidade, o bom-senso, afastando-se o enriquecimento sem causa, ato unilateral verdado expressamente pela própria codificação, nos seus arts. 884 a 886. Por esse caminho, a função social dos contratos visa à proteção da parte vulnerável da relação contratual.

O sistema normativo consumerista busca com ênfase à proteção de

ambas às partes da relação, contudo, há que se admitir a maior vigilância

sobre a parte de maior vulnerabilidade, no caso, o consumidor.

A falta de conhecimento técnico sobre o produto ou serviço que o

consumidor contrata o expõe à situação de extrema fragilidade na relação de

consumo. O fornecedor coloca seu produto no mercado para o consumo da

maneira que mais lhe aprouver, fazendo com que o consumidor menos

atencioso ou, mais leigo em relação à aquisição que realiza, possa vir ser a

prejudicado, passando por dissabores materiais e morais.

A relação de consumo está arraigada ao seio da sociedade, o ser

humano é um ser consumista por natureza, todo momento realizamos

contratos regidos pela legislação consumerista, do plano de saúde ao

financiamento da casa própria, é preciso estabelecer este vínculo jurídico para

à aquisição de bens e serviços essenciais à vida social.

Por fim, há que se ressaltar novamente, que a relação de consumo

possui suas características próprias de existência, como sendo a existência de

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um fornecedor que realize uma atividade de fim lucrativo em caráter habitual e,

um consumidor que adquira um produto ou contrate serviço oferecido pelo

fornecedor que seja para uso próprio, cabendo a este ser destinatário final do

contrato. Só com o preenchimento destes requisitos a legislação consumerista

poderá vigorar e zelar pelo equilíbrio e harmonia da relação, fazendo com que

os negócios jurídicos desta natureza se realizem de forma adequada e segura.

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CAPÍTULO II

DOS CONTRATOS

2.1 Introito

Todos os contratos possuem como principal elemento e ponto de

partida para sua criação à autonomia da vontade das partes para a realização

de suas pretensões. Como negócio jurídico, o contrato, na maioria das vezes, é

elaborado por meio de documento escrito, sendo assim, este formal; podendo

ter natureza jurídica pública ou privada, devendo conter a vontade e o negócio

a que às partes se propõem a cumprir.

E linhas gerais, é mister enfatizar que os contratos possuem a essência

de resguardar, assegurar e fazer-se cumprir às vontades das partes, que por

sua vez geram obrigações recíprocas a quem lhes compete.

2.2 Noções de Contrato

O negócio jurídico contratual evoluiu de forma favorável com o passar

do tempo. A forma de negociações, transações, execuções, e pagamentos de

contraprestações ganharam segurança jurídica por meio da criação dos

contratos formais e legais.

Há primórdios, os negócios jurídicos contratuais realizavam-se por

meios informais e, compostos apenas por relações interpessoais, sem qualquer

ordenamento significativo. Por exemplo, havia a compra e venda e pagamento

de dívidas com objetos; ou por meio da “palavra”, a palavra empenhada era

suficiente para a realização de um negócio firmado, porém, estes modelos de

acordo geravam imensa insegurança jurídica, sem garantias ou salvaguarda

para reclamação e indenização em caso de negócio frustrado, restando apenas

o prejuízo para as partes contratantes.

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Conceituando o contrato, explanam os autores Wagner Veneziani

Costa e Gabriel J. P. Junqueira (2004, p. 22),

Muitos são os conceitos de contrato no campo doutrinário. Em linhas gerais, o contrato é a convenção ou o acordo para a execução de algo sob determinadas condições entre as partes contraentes. Essa convenção ou acordo pode operar-se através de documento público ou particular e até verbal. Contrato é o ato jurídico em que duas ou mais pessoas se obrigam a dar, fazer ou não fazer alguma coisa, verificando, assim, a constituição, modificação ou extinção do vínculo patrimonial. É o contrato, na concepção moderna, ato jurídico bilateral que gera obrigações para ambas as partes. O acordo é a tônica dos contratos, cuja finalidade é adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos.

Como afirma o autor acima aludido, os contratos nada mais são que

acordos estabelecidos entre duas partes que se obrigam a cumprir com o que

fora estipulado, gerando, com isto, obrigações, direitos e deveres entre ambos.

O contrato é instrumento realizado com o intuito de satisfazer aos contraentes

e, busca alcançar a segurança jurídica necessária para tanto.

Os contratos fazem-se presente desde a concepção do conceito de

sociedade, como bem relata Flávio Tartuce (2014 p.4),

o conceito de contrato é tão antigo como a própria humanidade, eis que desde o início os seres humanos buscaram relacionar-se em sociedade. A partir do momento em que se teve a primeira relação pessoal para a perpetuação da espécie, negócios jurídicos foram

firmados com o intuito de manter a vida do ser humano no planeta.

Para que haja uma verdadeira formação social é imprescindível à

existência de ordenamento normativo, para regrar às relações interpessoais,

estabelecendo o respeito, a dignidade e os direitos inerentes a cada indivíduo.

Sem um sistema normativo os homens viveriam em estado selvagem,

sem limite e determinação de onde termina o direito de um e começa o direito

do outro, gerando conflitos e problemas constantes, atrapalhando, assim, a

evolução do ser humano como homem e indivíduo social.

Conceituando o contrato, determina Silvio Rodrigues (2007, p.9),

Dentro da teoria dos negócios jurídicos, é tradicional a distinção entre os atos unilaterais e os bilaterais. Aqueles se aperfeiçoam pela manifestação da vontade de uma das partes, enquanto esses dependem da coincidência de dois ou mais consentimentos. Os

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negócios bilaterais, isto é, os que decorrem de acordo de mais de uma vontade, são os contratos. Portanto, o contrato representa uma espécie de gênero de negócio jurídico. E a diferença específica entre ambos consiste na circunstância de o aperfeiçoamento do contrato depender da conjunção da vontade de duas ou mais partes.

Inequivocamente, como afirma o autor acima aludido, os contratos

consistem em negócio jurídico realizado através da autonomia da vontade de

duas partes interessadas em alcançar um determinado objetivo de vantagem

próspera para ambas às partes.

Em relato sobre o início e evolução do sistema contratual, destaca o

autor César Fiúza (2003, p. 296),

Para a formação da obrigação contratual, não bastava o acordo de vontade das partes sobre um determinado objeto, era imprescindível a observância da forma consagrada. A razão do formalismo tinha caráter religioso e prático. Os contratos só seriam abençoados pelos deuses se seguissem os rituais adequados. Na prática, porém, as razões se deviam à pouca e difícil utilização da escrita, o que levava aos extremados rituais orais. A final, verba volante. Os pacta, por sua vez, eram celebrados sem qualquer obediência à forma, bastando o acordo de vontades. Não sendo previstos em lei, não lhes era atribuída a proteção da actio, ou seja, se uma das partes não cumpria o prometido, a outra não poderia mover-lhe nenhuma ação.

Contudo, contrato é o meio formal pelo qual duas partes interessadas

estabelecem às condições para a realização de negócio jurídico de seu

interesse, estabelecendo de forma objetiva a pretensão e execução do mesmo,

tendo como finalidade a satisfação de ambos.

Para uma visão geral de contrato diz César Fiuza (2003, p.293),

Contratos são negócios jurídicos. Por sempre dependerem de pelo menos duas emissões de vontade de pessoas diferentes, pode-se classifica-los como negócios jurídicos bilaterais ou plurilaterais. Serão negócios bilaterais se a vontade emitida pelas partes for antagônica, como no contrato de compra e venda, em que o comprador quer comprar e o vendedor quer vender. Serão negócios plurilaterais se a vontade das partes não for antagônica, caminhando, ao revés, lado a lado, como no contrato de sociedade, em que os sócios têm os mesmos interesses, quais sejam, realizar o objeto da sociedade para vê-la prosperar. Seja como for, não celebramos contratos à toa. Os contratos são praticados por força de necessidades as mais diversas. Essas necessidades podem ser reais ou fabricadas pelo marketing, pela propaganda. É nosso livre arbítrio, baseado em nossas

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possibilidades, que irá nos dizer até que ponto a necessidade deverá ser satisfeita. É evidente que não basta à necessidade. Para satisfazê-la, é mister que declaremos nossa vontade. A vontade é meio condutor que nos leva à realização de nossas necessidades. Assim é que os contratos são fruto de uma necessidade, que impulsiona nossa vontade à satisfação de uma necessidade, seja esta real ou fictícia. Imaginar que os contratos seriam fonte de vontade livre e incondicionada, como queriam os liberais, nos séculos XVIII e XIX, é desdenhar todo o avanço das ciências que estudam a mente humana, como a psicologia e a psicanálise. É, portanto, no acordo de vontades, impulsionado por uma necessidade, que devemos buscar o conceito de contrato. Mas não em qualquer acordo, e sim naquele conforme à Lei, com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Em outras palavras, é no acordo de vontades, motivado pela necessidade, com a finalidade de produzir efeitos jurídicos os mais complexos e dinâmicos, que se situam os contratos.

Como característica e elemento principal, os contratos trazem em sua

essência o princípio da autonomia da vontade, ou seja, às partes que dele

comungam expressam de forma clara e inequívoca o seu desejo de a ele

aquiescer, comprometendo-se a cumpri-lo em toda sua extensão, deveres,

direitos e obrigações.

Diz Flávio Tartuce, (2014, p.2),

O contrato é um ato jurídico bilateral, dependente de pelo menos duas declarações de vontade, cujo objetivo é a criação, a alteração ou até mesmo a extinção de direitos e deveres de conteúdo patrimonial. Os contratos são, em suma, todos os tipos de convenções ou estipulações que possam ser criadas pelo acordo de vontades e por outros fatores acessórios. Dentro desse contexto, o contrato é um ato jurídico em sentido amplo, em que há o elemento norteador da vontade humana que pretende um objetivo de cunho patrimonial (ato jurígeno); constitui um negócio jurídico por excelência. Para existir o contrato, seu objeto ou conteúdo deve ser lícito, não podendo contrariar o ordenamento jurídico, a boa-fé, a sua função social e econômica e os bons costumes.

Às partes contratantes devem estar cientes e completamente inteiradas

do que se trata o negócio que desejam realizar, para que assim, a autonomia

da vontade e a liberalidade em contratar sejam plenas, para que seja evitado

que em eventual futuro, no momento da execução contratual, possam haver

lesões a alguma das partes envolvidas, podendo vir a ocasionar até mesmo a

frustração do negócio, findando o contrato de forma indesejada e prejudicial.

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Para Maria Helena Diniz (2010, p.19),

Contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial.

Condizendo com às palavras da autora supracitada, compreende-se a

magnitude do sistema contratual no mundo jurídico, visto que os mesmos

correspondem ao principal instrumento de controle de execução dos negócios

jurídicos.

A legislação brasileira permite a livre forma de realização dos

contratos, desde que, não haja forma determinada e especificada em lei para

que determinado ato ou negócio jurídico seja compelido, contudo, o Estado

deve ser vigilante para quando houver necessidade que o mesmo intervenha e

assegure o equilíbrio e eficácia do negócio jurídico pretendido.

Sobre a potencialidade da intervenção estatal nos institutos contratuais,

objetivando a regulação do indivíduo em sociedade, complementa o autor

César Fiuza (2003, p. 317),

O grupo não é só uma soma de indivíduos. é diferente de cada um de seus membros. É algo novo, autônomo. É dele que surgem as ideias de solidariedade e dever. O estudo dos grupos é importante para que se perceba o dissídio entre interesses individuais e coletivos (do grupo), havendo a necessidade de os harmonizar. Dentre todos os grupos, só o Estado pode impor uma submissão, seja através da coerção ou de outro meio. Se o homem pode escolher a que grupos sociais se unir, não tem esta opção em relação ao Estado. A cidadania é involuntária e compulsória. Se o Estado se abstiver, como recomenda o laissez-faire, nenhum poder existirá para conter o excesso dos indivíduos em relação ao grupo e a outros indivíduos, e dos grupos em relação a outros grupos e em relação aos indivíduos.

O que se conclui com a citação acima é que todos os indivíduos como

sujeitos de uma sociedade estão submissos e ao alcance das normas estatais.

O Estado figura como “mãe” da sociedade, criando regras a serem seguidas e

determinando sanções para o seu descumprimento. Ou seja, a intervenção do

Estado no instituto contratual e no âmbito dos negócios jurídicos vem para dar

seguridade jurídica às partes interessadas, interferindo até mesmo na base

principiológica, como se percebe adiante, onde o princípio da autonomia da

vontade volta-se ao objetivo de alcançar à função social.

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Enfatiza Silvio de Salvo Venosa (2014, p. 413),

Na contemporaneidade, a autonomia da vontade clássica é substituída pela autonomia privada, sob a égide de um interesse social. Nesse sentido o Código aponta para a liberdade de contratar sob o freio da função social. Há, portanto, uma nova ordem jurídica contratual, que se afasta da teoria clássica, tendo em vista mudanças históricas tangíveis. O fenômeno do interesse social na vontade privada negocial não decorre unicamente do intervencionismo do Estado nos interesses privados, com o chamado dirigismo contratual, mas da própria modificação de conceitos históricos em torno da propriedade. No mundo contemporâneo há infindáveis interesses interpessoais que devem ser sopesados, algo nunca imaginado em passado recente, muito além dos princípios do simples contrato de adesão.

À função social, por sua vez, é elemento imprescindível a qual todo e

qualquer tipo de contrato, existindo para que haja segurança e lisura nesse

instituto, mantendo, assim, o equilíbrio das relações públicas, privadas e de

consumo, tendo em vista que os contratos estendem seus efeitos por muito

além da realização da vontade interpessoal entre às partes contraentes. O

Estado é responsável por desempenhar um papel de ordenamento e

fiscalização, assegurando a não violação dos interesses sociais.

Tendo por seguimento a grandiosa função dos institutos contratuais,

discorre César Fiuza (2003, p. 299/298),

O mundo moderno é o universo dos contratos. Celebramos contratos desde o momento em que levantamos até irmos dormir. Se o fenômeno contratual deixasse de existir, também o deixaria nossa sociedade. Nesse universo, destacam-se três funções primordiais dos contratos: a econômica, a pedagógica e, relacionada às outras duas, a função social. A função econômica dos contratos é variada. Os contratos auxiliam no processo de circulação de riqueza. É por meio de contratos que os produtos circulam pelas várias etapas de produção: da mina à fábrica; desde à loja, chegando às mãos do consumidor. Os contratos não só fazem circular as riquezas, mas ajudam a distribuir a renda e geram empregos é por meio delas que satisfazemos nossas necessidades. Tendo em vista a função pedagógica, contrato é meio de civilização, de educação do povo para a vida em sociedade. Aproxima os homens, abate suas diferenças. As cláusulas contratuais dão aos contratantes noção de respeito ao outro e a si mesmos, as pessoas adquirem noção do Direito como um todo, pois, em última instância, um contrato nada mais é do que miniatura do ordenamento jurídico, em que as partes estipulam deveres e direitos, através de cláusulas, que passam a vigorar entre elas. Ora, o ordenamento legal nada é além de conjunto de normas abstratas, destinada a todo o grupo social. A função social dos contratos é como que uma síntese das duas funções anteriores. Os contratos são fenômeno econômico-social.

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Sua importância, tanto econômica quanto social, salta aos olhos. São meio de circulação de riquezas, de distribuição de renda, geram empregos, promovem a dignidade humana, ensinam as pessoas a viver em sociedade, dando-lhes noção do ordenamento jurídico em geral, ensinam as pessoas a respeitar os direitos dos outros. Esta seria a função social dos contratos: promover o bem-estar e a dignidade dos homens, por todas as razões econômicas e pedagógicas acima descritas.

Fica, pois, mais que evidenciada a relevância, amplitude e

perplexidade do instituto contratual. Os contratos são à base da formação da

sociedade em geral, disciplinando não somente à relação estabelecida entre as

partes diretamente interessadas, como também da sociedade atingida “em

potencial”.

Pode-se dizer que os contratos desempenham à função de “coluna

vertebral” da sociedade, responsável pela sustentação de todas às relações

existentes, estabelecendo por meio de normas à forma adequada para que

haja harmonia e êxito nas relações sociais, objetivando a máxima resolução de

situações adversas e, protegendo a sociedade de possíveis danos eventuais.

2.3 Do Contrato de Adesão

O contrato de adesão nada mais é do que um contrato onde uma das

partes detém o poder de decisão sobre o conteúdo que o mesmo irá versar. Ou

seja, uma das partes, no caso o fornecedor de produtos ou serviços,

preestabelece as regras e dispõe as cláusulas do contrato, cabendo ao

consumidor apenas a aceitação ou não das mesmas.

Quando o consumidor vai de encontro ao fornecedor, encontra o

contrato pronto e elaborado, sucumbindo sua possibilidade de negociação ou

adequação, deixando-o em clara desvantagem em relação ao fornecedor,

muitas vezes, sem a clara explicação de seus direitos na situação contratual.

É mister salientar que nas relações de consumo, o principal tipo de

contrato realizado entre fornecedores e consumidores é em evidência o

contrato de adesão. Em todo momento realizamos este tipo de contrato, desde

pequenos atos, como a título exemplificativo, compra do pão logo cedo pela

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manha na padaria a contratos de grande relevância, como a adesão a um

plano de saúde ou o contrato de financiamento de um imóvel.

Sobre a formação dos contratos de adesão, relata César Fiuza (2003,

p. 374/375),

Nessa técnica de contratação, a participação dos sujeitos se dá em dois momentos distintos. Num primeiro momento, o empresário formula o esquema contratual abstrato, oferecendo-o ao público. Só então o outro contratante entra em cena, manifestando seu consentimento quanto ao conteúdo proposto. É nesse instante que o contrato se forma. Como veremos, pode ser que o predisponente deixe certa margem de discussão e inclusão de outras cláusulas, mas, em geral, o consentimento se expressa por simples adesão às cláusulas predispostas. E, ainda que se possa debater algumas partes do contrato, a característica essencial é que a porção mais significativa das cláusulas é predisposta e passa a integrar o contrato individual mediante a adesão de um outro contratante (art. 54, CDC).

Não há como negar a situação de hipossuficiência em que o

consumidor se encontra ao realizar este tipo de contrato. O fornecedor dispõe

todas as cláusulas constantes no contrato, mesmo que haja alguma forma de

negociação, esta se dá de forma minúscula, irrisória, resultando em pouco

benefício ao consumidor. Por isto, o código de Defesa do Consumidor se ocupa

a determinar que às cláusulas sejam sempre interpretadas de forma mais

benéfica ao consumidor, visando à sua proteção e, buscando evitar prejuízos

supervenientes a aderência em contratos de adesão pelos mesmos, em

decorrência da alta probabilidade de que isto aconteça.

Retoma César Fiuza (2003, p. 375),

se é verdade que esta impossibilidade de discutir ou modificar substancialmente o conteúdo dos contratos de adesão decorre diretamente do fato de que sua parte mais expressiva é constituída de cláusulas contratuais gerais, não é esse o único motivo. As cláusulas contratuais gerais, apresentadas pelo predisponente, tem a característica da rigidez, significando que não podem ser alteradas pelo aderente. Entende-se que mesmo uma cláusula contratual geral possa ser modificada, mitigando a característica da rigidez. No entanto, o se quer ressaltar é que a parte deixada à livre disposição dos contratantes não pode ser capaz de modificar substancialmente o conteúdo. É uma exigência do art.. 54 do CDC, que define o instituto. Entende-se que se a margem de discussão é muito ampla, o contrato se descaracteriza como de adesão, em razão da prevalência da parte livremente negociada.

A principal característica do contrato de adesão, como bem diz o autor

acima aludido e, o Código de Defesa do Consumidor determina, é a

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predisposição de cláusulas elaboradas pelo fornecedor. Mesmo que haja

alguma interferência do consumidor na formação do mesmo em relação à

predisposição de conteúdo, isto se dá como irrelevante. Tornando-se fatídica a

supremacia do fornecedor perante o consumidor. Do contrário, o contrato de

adesão perderia sua substância.

Como exemplificação de contratos de adesão, discorre Rizzatto Nunes

(2014, p. 694),

Lembramos que esse nome dado ao contrato que envolve relação jurídica de consumo, “de adesão”, é pura e simplesmente a constatação de que na sociedade capitalista em que vivemos o fornecedor decide, sem a participação do consumidor, todo o que pretende fazer: escolhe ou cria os produtos que quer fabricar ou o serviço que pretende oferecer, faz sua distribuição e comercialização, opera seu setor de marketing e publicidade para apresentar e oferecer o produto ou serviço, e elabora o contrato que será firmado pelo consumidor que vier a adquirir o produto ou o serviço. Tudo unilateralmente, isto é, sem que o consumidor participe ou palpite. É risco e responsabilidade do fornecedor ao consumidor cabe apenas adquirir o produto ou o serviço e “aderir” ao contrato. Na verdade, para comprar qualquer produto ou serviço, o consumidor é obrigado a aderir à oferta, pagando o preço anunciado e nas condições de pagamento exigidas. O contrato de adesão é um dos componentes da oferta e que existe na forma escrita quando desse modo exige a natureza da operação. Assim, por exemplo, se se trata de um plano de saúde, deve haver contrato escrito. O mesmo ocorre quando se faz um empréstimo no banco ou se financia a casa própria, ou ainda quando se contrata um seguro ou à assinatura da TV a cabo etc. Em todos os casos, o consumidor não discute as cláusulas contratuais nem pode exigir alterações substanciais no termo escrito. Ele apenas ”adere” ao que já estava previamente preparado e ponto final. Aliás, não é um consumidor que adere; são todos. O contrato de adesão é elaborado pelo fornecedor para ter validade de igual forma para todos os seus clientes. Do mesmo modo que uma montadora de automóveis reproduz um automóvel na série centenas, milhares de vezes ou que um produtor fabrica milhares de canetas iguais a partir de um modelo específico, um único contrato de adesão é elaborado pelo departamento jurídico do fornecedor e reproduzido centenas, milhares de vezes. Cada consumidor que adquire o produto ou serviço adere ao modelo impresso, que é idêntico aos demais”.

Como bem diz o autor supramencionado, o sistema capitalista impera

em nosso meio social e econômico. Com isto, a rapidez e instantaneidade dos

atos fazem-se permanentes, visando agilidade e lucratividade aos

fornecedores, alimentando assim, o sistema socioeconômico.

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Os contratos de adesão, por sua vez, suprimem às negociações

preliminares que possuem outros contratos comuns. O consumidor fica

“amarrado” e sem possibilidade de conseguir modificações para uma proposta

que lhe seja mais vantajosa.

O fornecedor desempenha papel de grande responsabilidade frente ao

consumidor mediante um contrato de adesão, assumindo os riscos de cumprir

com veemência a tudo que seu produto ou serviço se dispõe, garantindo o

melhor para o cliente.

Dispõe o Código de Defesa do Consumidor Brasileiro, Lei Nº 8.078, de

11 de setembro de 1990, em seu artigo. 54,

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Como fica claro na transcrição do dispositivo legal acima, no contrato

de adesão, o consumidor fica a mercê das determinações contratuais e da

oferta proposta pelo fornecedor, sem a possibilidade discussão ou de

substituição de cláusulas que possam modificar ou alterar a propositura

inicialmente demandada pelo fornecedor. Assim, o preestabelecimento de

cláusulas corresponde à essência deste tipo de contrato.

Sobre a definição de contrato de adesão, como enfatiza Markus

Samuel Leite Norat, (2015, p. 334), “(...) O contrato de adesão é, portanto, o

oposto do contrato de comum acordo, que é aquele contrato realizado

mediante a negociação das cláusulas pelas partes (contrato da gré à ré)”. Aqui,

o consumidor assume nitidamente o papel de polo vulnerável da relação de

consumo, tendo em vista não ter direito a oferecer propostas e fazer inferências

de negociação, ficando determinado a, tão somente, aceitar a proposta que lhe

fora imposta.

Para Silvio de salvo Venosa (2014, p. 417),

já enfocamos que o contrato com negociação partidária ocupa hoje pequena parcela do Direito Privado. Podemos afirmar que persiste ele como reminiscência romântica do antigo Direito. Na sociedade de consumo, a contratação de massa faz gerar nossa vida negocial. O fenômeno da massificação congrega um conjunto de muitos indivíduos anônimos. Dentro dessa nova realidade, o contrato

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negociado não encontra guarida. Hoje, deparamos com certo automatismo contratual que deixa imperceptível o mecanismo da vontade, antes um baluarte do contrato. Modernamente, cada vez mais o indivíduo contrata com um ente despersonalizado. A figura do contratante que oferta bens e serviços às massas geralmente é desconhecida. Com o inadimplemento é que o contratante individual procura identifica-lo. Desde a compra de um ingresso para o cinema até a aquisição de bens por meio de uma máquina de refrigerantes ou por meio de processamento de dados, com utilização de linhas telefônicas, a automatização aperfeiçoa-se e mostra-se crescente na vida social.

Aduz enfatizar o automatismo das relações de consumo

contemporâneas, o consumidor, “refém” do sistema capitalista, vê seu direito a

mercantilização ser usurpado, deixando-o propenso, tão somente, às propostas

determinadas pelos fornecedores comerciais.

Deixou-se de existir à relação direta entre consumidor e fornecedor, a

conversa, negociação e propositura de elementos para à formação do contrato

como sendo de participação ativa de ambos; atualmente, fica a cargo, na

maioria das vezes do fornecedor, unicamente, a elaboração do objeto

documental do negócio jurídico a ser celebrado.

Sobre a definição de contrato de adesão, prossegue Silvio de salvo

Venosa (2014, p. 419),

[...] trata-se do típico contrato que se apresenta com todas as cláusulas predispostas por uma das partes. A outra parte, o aderente, somente tem alternativa de aceitar ou repelir o contrato. Essa modalidade não resiste a uma explicação dentro dos princípios tradicionais de direito contratual, como vimos. O consentimento manifesta-se, então, por simples adesão às clausulas que foram apresentadas pelo outro contratante. Há condições gerais nos contratos impostas ao público interessado em geral. Assim é o empresário que impõe a maioria dos contratos bancários, securitários, de transporte de pessoas ou coisas, de espetáculos públicos etc. isso não significa que, por exceção, esse empresário, em situações excepcionais deixe de contratar, sob a forma tradicional, um seguro, um financiamento bancário ou o transporte de determinada pessoa ou coisa. Não é, no entanto, a regra geral. Para o consumidor comum, não abre a discussão ou alteração das condições gerais dos contratos ou das clausulas predispostas. Enquanto não houver adesão ao contrato, as condições gerais dos contratos não ingressam no mundo jurídico.

Contudo, constatamos que um dos principais elementos que fomentam

à base de formação dos contratos que é o princípio da negociação entre às

partes vem sucumbindo com o passar do tempo; o consumidor perde seu

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poder de ação negocial e, em contrapartida, os fornecedores elevam seu poder

econômico.

Sobre a diferenciação entre contratos paritários e contratos de adesão,

discorre o autor, Carlos Roberto Gonçalves (2013, p. 99),

Contratos paritários são aqueles do tipo tradicional, em que as partes discutem livremente as condições, porque se encontram em situação de igualdade (par a par). Nessa modalidade há uma fase de negociações preliminares, na qual as partes, encontrando-se em pé de igualdade, discutem as cláusulas e condições do negócio. Contratos de adesão são os que não permitem essa liberdade, devido à preponderância da vontade de um dos contraentes, que elabora todas as cláusulas. O outro adere ao modelo de contrato previamente confeccionado, não podendo modifica-las aceita-as, de forma pura e simples, e em bloco, afasta qualquer alternativa de discussão. São exemplos dessa espécie, dentre outros, os contratos de seguro, de consórcio, de transporte, e os celebrados com as concessionárias de serviços públicos (fornecedoras de água, energia elétrica etc).

Os contratos paritários estão cada vez mais longe de nossa realidade

consumerista, a transação negocial entre consumidor e fornecedor tronou-se

uma rara exceção, dando espaço aos contratos de adesão, aumentando,

assim, a vulnerabilidade e fragilidade do consumidor frente a seus

fornecedores.

Todos os serviços de natureza básica ao dia a dia dos consumidores

encontram-se regidos por contratos de adesão, tendo em vista que quem vive

em sociedade possui necessidades comuns, como o fornecimento de água ou

energia elétrica em sua residência, fazer às compras em supermercados que

possuem preços tabelados e formas de pagamento preestabelecidas. Estes

são exemplos de como estamos intimamente ligados a esses tipos de

contratos.

Retoma Carlos Roberto Gonçalves (2013, p. 100),

A concepção do contrato de adesão opõe-se à do contrato paritário, que constitui a regra, em que a possibilidade outorgada a cada um dos contraentes de influir na determinação do conteúdo do contrato é um sintoma e uma consequência da paridade econômica e psíquica, traduzida em termos jurídicos. No contrato de adesão deparamos com uma restrição mais extensa ao tradicional princípio da autonomia da vontade normalmente, vamos encontrá-lo nos casos de estado de oferta permanente, seja por parte de grandes empresas concessionárias de serviços públicos ou ainda titulares de um monopólio de direito ou de fato (fornecimento de água, gás, eletricidade, linha telefônica), seja por parte de lojas e empresas comerciais ou de prestadoras de serviços, envolvendo

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relações de consumo (transporte, venda de mercadorias em geral, expostas ao público). O indivíduo que necessita contratar com uma grande empresa exploradora de um serviço público depara com um contrato-padrão, previamente elaborado, limitando-se a dar a sua adesão ao paradigma contratual já estabelecido. Ou se submete a ele, sem chance de discutir o preço e outras condições propostas, contratando, ou se priva de um serviço muitas vezes indispensável.

Como exemplos, temos as grandes empresas de concessionárias de

serviços públicos, detentoras de maior poder socioeconômico no sistema

capitalista contemporâneo, no caso, estes fornecedores de serviços dispõem

para a população a forma de arranjo contratual que mais lhe aprouver e for

benéfica.

O consumidor, por sua vez, fica a mercê de pagar e utilizar de serviços

que pode ser de preço injusto e baixa qualidade de aproveitamento, tudo por

conta do contrato de adesão que lhe é imposto, pois, se necessita do serviço,

não há como recusar-se a aderência de tal situação.

Assim, pode-se evidenciar o quanto o consumidor é vulnerável neste

tipo de contratação, em que todas as cláusulas já estão elencadas e

predispostas apenas para a concordância do mesmo, furtando-lhe a

possibilidade de propor em situação de igualdade perante o fornecedor.

2.4 Das Cláusulas Abusivas

Tendo em vista a vulnerabilidade do consumidor perante o fornecedor,

estes podem vir a se aproveitar da situação em desvantagem daqueles. É

inegável a alta probabilidade de em um contrato de adesão haverem cláusulas

de caráter abusivo, que comprometam o perfeito desempenho do contrato e

ocasionem prejuízos aos consumidores.

As cláusulas abusivas são aquelas que violam o direito do consumidor

ou que fazem com que o mesmo abra mão de seus próprios direitos. Podendo

ser declaradas nulas de pleno direito, tendo em vista a violação incisiva da

relação consumerista.

O Código de Defesa do Consumidor Brasileiro elenca um rol

exemplificativo de hipóteses de cláusulas abusivas, em seus artigos 51, 52 e

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artigo 53, bem como podemos visualizar adiante, a seguinte transcrição dos

dispositivos legais,

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; III - transfiram responsabilidades a terceiros; IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; V - (Vetado); VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem; VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor; IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral; XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração; XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias. § 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que: I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual; III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. § 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes. § 3° (Vetado). § 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes. Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o

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fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; III - acréscimos legalmente previstos; IV - número e periodicidade das prestações; V - soma total a pagar, com e sem financiamento. § 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação. (Redação dada pela Lei nº 9.298, de 1º.8.1996) § 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos. § 3º (Vetado). Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado. § 1° (Vetado). § 2º Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo. § 3° Os contratos de que trata o caput deste artigo serão expressos em moeda corrente nacional.

O Código de Defesa do Consumidor é o principal meio normativo legal

para a defesa dos direitos consumeristas, visando zelar pela parte vulnerável

da relação de consumo, no caso, o consumidor, este Código corresponde a Lei

Nº 8.078, de 11 de Setembro de 1990, que versa sobre a proteção do

consumidor e outras providências. Porém o Código Civil brasileiro também

zela pela proteção dos direitos dos consumidores, de forma subsidiária.

As cláusulas abusivas violam diretamente o princípio da boa-fé-

objetiva, ou seja, quando essas cláusulas são inseridas em contratos, não se

valia se a mesma foi incorporada ao negócio de forma intencional ou não por

parte do fornecedor, o que se leva em conta é a desproporcionalidade que a

mesma causa ao negócio, levando somente à parte hipossuficiente, no caso o

consumidor, a cair em desvantagem e prejuízo.

O principal objetivo da legislação de defesa consumerista é buscar ao

máximo a igualdade entre os dois polos da relação, fazer com que sejam

diminuídas às diferenças de poder econômico e, dar proteção e garantias ao

sempre vulnerável, consumidor.

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Enfoca Renato Afonso Gonçalves (2004, p. 74),

Define a Lei que contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. Nesse sentido, a prática muito comum de inserção de clausula no formulário não desfigura a sua natureza de adesão. Exige o código de Defesa do consumidor que esses contratos sejam regidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, sendo que as cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser regidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. Coíbe-se assim a prática muito comum de confecção de contratos com letras praticamente ilegíveis, o que compromete demasiadamente a pouca liberdade do consumidor em contratar e a sua livre manifestação de vontade.

São milhares as formas de ludibriar o consumidor, a exemplo de

propagandas enganosas, propostas excessivamente onerosas que possam

causar a impossibilidade de o consumidor conseguir cumprir com sua parcela

contratual, a possibilidade de a qualquer momento e, para a satisfação ao bel

prazer do fornecedor, o mesmo poder realizar alterações de forma unilateral,

sem levar em conta às possibilidades do consumidor contraente quanto a esta

situação.

O fato é, toda vez que um consumidor adere a um contrato com

cláusulas preestabelecidas, o risco de suportar o dissabor de uma cláusula

abusiva é sempre real, por isto, frisa-se a importância do consumidor sempre

estar bem esclarecido, vigilante quanto a seus direitos, investigar o contrato a

cada minúcia, para evitar, assim, prejuízos e aborrecimentos.

Em relação à nulidade das cláusulas abusivas, entende Renato Afonso

Gonçalves (2004, p.72),

Antes de abordá-las, note-se que as citadas cláusulas são nulas de pleno direito e, por conseguinte, a nulidade absoluta é imprescritível. Nesse sentido, a nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer o ônus excessivo a qualquer das partes. Ao consumidor ou às associações de consumidores é facultado requererem ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto no CDC ou que de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.

As cláusulas abusivas serem nulas de pleno direito não implica, em

absoluto, que as mesmas tenham o poder de por si só invalidar todo o contrato,

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esta situação só acontece quando a dita cláusula venha resultar em ônus

excessivo para ambas às partes contraentes. Em regra, o que primeiro se

busca, é declarar a extinção da cláusula malquista, de forma a gerar efeitos ex

tunc, retroagindo até o momento de concepção contratual, findando com os

prejuízos provenientes da mesma.

No mais, excluindo-se a cláusula abusiva do contrato, o mesmo pode

continuar a ser executado normalmente, desde que a cláusula abusiva não seja

uma condição resolutiva para a execução dando seguimento do contrato, nem

tão pouco torne-se condição onerosamente exacerbada para ambos os

contraentes.

2.5 A Possibilidade da Revisão Contratual ou a Resolução em Decorrência

de Clausula Abusiva

As cláusulas abusivas podem ser em absoluto, completamente

prejudiciais ao cumprimento regular de qualquer contrato. Pois, se no decorrer

de seu desempenho, o consumidor, se depara com tal estipulação, a depender

do caso, pode ocorrer à resolução contratual se o fornecedor se recusar a de

livre e espontânea vontade declará-la nula.

Tendo em vista que as cláusulas abusivas não tem o poder direto de

causar à resolução do contrato, o consumidor que se deparar com este tipo de

estipulação desproporcional em seu negócio pode pedir a sua revisão, com a

pretensão de extinguir de logo a cláusula malquista ou, modificá-la para a

harmoniosa continuidade do contrato.

É justo o direito de revisão contratual do consumidor que possua em

seu contrato cláusula que em momento superveniente o deixe em difícil

situação, o impossibilitando de dar prosseguimento ao mesmo, tendo em vista

que está suportando a onerosidade excessiva de prestação que lhe fora

imposta.

Sobre o princípio da revisão contratual, expõe Carlos Roberto

Gonçalves (2013, p.51),

Opõe-se tal princípio ao da obrigatoriedade, pois permite aos contraentes recorrerem ao judiciário, para obterem alteração da

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convenção e condições mais humanas, em determinadas situações. Originou-se na Idade Média, mediante a constatação, atribuída a Neratius, de que fatores externos podem gerar, quando da execução da avença, uma situação muito diversa da que existia no momento da celebração, onerando excessivamente o devedor.

O consumidor alcançado por este tipo de cláusula contratual abusiva é

aquele hipossuficiente ou vulnerável, que na relação consumerista não possui

conhecimento suficiente sobre o produto que adquire ou serviço que contrata

por meio do contrato de adesão.

Sobre o consumidor hipossuficiente, dispõe Markus Samuel Leite Norat

(2015, p. 71/72),

A vulnerabilidade é uma característica universal dos consumidores, ou seja, todos os consumidores (inclusive os mais ricos, os mais poderosos, os mais inteligentes...) são vulneráveis ao mercado de consumo (se o Presidente da República for até uma concessionária de automóveis para adquirir um veículo, ele será vulnerável. Embora o Presidente da República seja o homem mais poderoso da nação, ele é um consumidor vulnerável sob diversos aspectos). A hipossuficiência é um estado de vulnerabilidade superior à média. A hipossuficiência não se refere a todos os consumidores, mas sim a um determinado consumidor específico, ou, até mesmo, a uma coletividade. O parâmetro a ser analisado para aferir a hipossuficiência deve ser tomado a partir do consumidor mais frágil, mais ignorante, menos atento, sendo, portanto, o mais vulnerável entre os vulneráveis. A hipossuficiência é uma característica restrita, limitada, que é relativa à idade, saúde, conhecimento ou condição social do consumidor. Tal atributo deve ser analisado em cada caso. Seria o caso, por exemplo, do hospital que exige pagamento antecipado de quantia vultosa para internar um paciente extremamente debilitado. Entenda que todo consumidor hipossuficiente é também vulnerável (pois hipossuficiência é uma condição de extrema vulnerabilidade do consumidor), mas nem todos os consumidores vulneráveis são hipossuficientes.

Constata-se, pois, que hipossuficiência do consumidor é característica

que o deixa em situação de alta vulnerabilidade na relação de consumo,

deixando-o propenso aos riscos de contrair contrato que futuramente o deixe

em desvantagem.

O pedido de revisão contratual é para que seja dada continuidade ao

princípio da função social do contrato. O objetivo é que o contrato se cumpra

na sua integralidade e, que todos os participantes dele sejam agraciados de

satisfação por tal acontecimento.

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Flávio Tartuce (2014, p.182),

Como é notório, a Lei 8.078/1990, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor constitui norma de ordem pública e de interesse social, pelo que consta do seu art. 1°, sendo também norma principiológica pela previsão expressa de proteção aos consumidores constantes no Texto Maior, particularmente do seu art. 5°, XXII e art. 170, III. Na esfera contratual, o CDC inseriu no sistema a regra de que mesmo uma simples onerosidade excessiva ao consumidor poderá ensejar a chamada revisão contratual por fato superveniente, prevendo também o afastamento de uma cláusula abusiva, onerosa, ambígua ou confusa (arts. 51 e 46) e a interpretação do contrato sempre em benefício do consumidor (art. 47).

O Código de Defesa do consumidor protege de forma veemente o polo

vulnerável da relação de consumo, ou seja, o consumidor. A garantia de

revisão contratual vem como mais uma forma de proteção, objetivando que

mesmo com a descoberta superveniente de cláusula abusiva contratual, o

consumidor possa encontrar forma para a continuidade de seu contrato com a

exclusão da cláusula exorbitante.

Bem diz, Rizzato Nunes (2014, p. 188),

A Lei n. 8.078, com supedâneo nos princípios da boa-fé e do equilíbrio (art. 4°, III), da vulnerabilidade do consumidor (art. 4°, I), que decorre da necessidade aplicação concreta do princípio constitucional da isonomia (art. 5°, caput, da CF), garante o direito de modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais, bem como assegura o direito à revisão das cláusulas em função de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas (...).

A revisão contratual é garantida ao consumidor por meio da legalidade,

tanto a legislação especial consumerista quanto nossa Carta Magna, a

Constituição Federal de 1988, a garante, com base nos princípios da boa-fé, da

vulnerabilidade do consumidor na relação contratual e, no princípio da

isonomia, que busca tratar os desiguais na medida de suas desigualdades.

A legislação consumerista sempre levará em conta e será mais

favorável e benéfica ao consumidor, bem como enfatiza César Fiuza (2003, p.

377/378),

Apesar de serem tão comuns no dia-a-dia, há poucas normas a seu respeito. O Código do Consumidor é a principal fonte normativa, estabelecendo que os contratos de adesão devem ser escritos com letras grandes e legíveis, sendo as cláusulas contrárias ao aderente

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escritas com letras maiores ainda e destacadas. A pena é a decretação da nulidade, que poderá ser invocada pelo consumidor aderente. Aplica-se a eles o princípio in dubio, pro aderente, ou seja, havendo dúvida quanto à interpretação de seus termos, esta deverá ser favorável ao aderente.

Tendo em vista tal situação, constata-se a necessidade de o

consumidor estar sempre bem esclarecido quando da assinatura ou aderência

a qualquer contrato; este deve ser bem redigido, com informações claras e

precisas a respeito do que se trata em sua integralidade.

Com letras grandes e, informações imprescindíveis, o contrato deve ter

cláusulas de fácil compreensão para o consumidor, de forma que o mesmo não

venha a ser ludibriado por cláusulas abusivas, que violem seus direitos,

podendo vir a causar-lhes a onerosidade excessiva, impossibilitando a sua

perfeita execução.

Aduz Rizzato Nunes (2014, p.696),

Não tem sentido lógico ou jurídico obrigar o consumidor a cumprir cláusulas contratuais criadas unilateralmente pela vontade e decisão do fornecedor, sem antes permitir que o consumidor tome conhecimento de seu inteiro teor, bem como sem que ele (consumidor) não compreenda o sentido e o alcance do texto imposto.

Contudo, não basta que as cláusulas estejam dispostas de forma

legível no contrato de adesão, é necessário que o consumidor ao apreciá-las

tenha perfeita interpretação e compreensão, para que saibam com segurança

como se dará a execução do mesmo.

Sobre a revisão contratual no Código de Defesa do Consumidor,

explana Rizzato Nunes (2014, p.188),

Para que se faça a revisão do contrato basta que, após ter ele sido firmado, surjam fatos que o tornem excessivamente oneroso. Não se pergunta, nem interessa saber, se, na data de seu fechamento, as partes podiam ou não prever os acontecimentos futuros. Basta ter havido alteração substancial capaz de tornar o contrato excessivo para o consumidor. Esse princípio, que é fundamental, tem por base as características da relação de consumo, fruto da proposta do fornecedor, que assume integralmente o risco de seu negócio e que detém o conhecimento técnico para implementá-lo e oferece-lo no mercado. Além disso, o princípio decorre de uma das características do contrato, que é típico de adesão (..).

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Em caso do fornecedor não aceitar a revisão contratual, o consumidor

pode e deve ingressar judicialmente para reclamar pela resolução do mesmo.

Neste caso, o contrato será resolvido somente se o julgador após análise do

caso concreto entender que tendo em vista a onerosidade excessiva que o

consumidor viu-se compelido a suportar não há mais como dar sequência ao

mesmo.

Sobre o princípio da conservação contratual e as deposições sobre ele

no CDC, explana Rizzato Nunes (2014, p.187),

As garantias instituídas no inciso V do art. 6° trazem implícito o princípio da conservação do contrato de consumo. É que, como se verá na sequência, a instituição do direito à modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais e do direito à revisão de cláusulas em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas tem na sua teleologia o sentido de conservação do pacto. A lei quer modificar e rever as cláusulas, mas manter o contrato em vigência. O princípio de conservação, implícito na norma do inciso V do art. 6°, está explícito no parágrafo 2° do art. 51.

A legislação consumerista preocupa-se, em suma, na proteção da

parte vulnerável da relação de consumo, ou seja, o consumidor. Todavia, não

há que se falar em supremacia do consumidor perante o fornecedor, pelo

contrário, busca-se ao máximo a preservação do princípio da isonomia.

O consumidor não detém a premissa de resolver por completo um

contrato com base em alegações de nele conter uma cláusula abusiva, faz-se

necessário o ingresso por via judicial para a apreciação e análise do mesmo.

Para Wagner Veneziani Costa e Gabriel J. P. Junqueira (2004, p. 33),

Em caso de ocorrência de desequilíbrio entre a situação dos contratantes, ou seja, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, ao passo que ocorra extrema vantagem para a outra, o devedor poderá pedir a resolução do contrato.

O consumidor alegará que o seguimento do contrato tornou-se

impossível para ele, tendo em vista a cláusula abusiva, com a qual o mesmo

não percebera, mostrou-se de forma a obrigá-lo a enfrentar situação de grande

perda monetária, fazendo com que o contrato para ele, não tivesse mais

sentido ou favorecimento, pois os prejuízos que suporta excedem aos

benefícios que buscava com dito contrato.

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Aduzindo sobre cláusulas contratuais que trazem onerosidade

excessiva ao consumidor e seu pedido de revisão, relata Renato Afonso

Gonçalves (2004, p.22),

Dessa regra decorrem os direitos de modificação e revisão das cláusulas contratuais. Não se trata da teoria da imprevisão adotada pelo Código Civil. É direito autônomo que permite a intervenção judicial para modificação das cláusulas contratuais, quando houver prestações desproporcionais que configurem ofensa ao princípio da isonomia, ou a revisão de cláusulas contratuais que se tornem excessivamente onerosas por fatos supervenientes nos contratos de trato sucessivo. Percebe-se que a norma não se refere a fatos imprevisíveis, e sim simplesmente supervenientes ao momento da celebração do contrato.

O Direito do Consumidor busca manter a harmonia e o equilíbrio das

relações de consumo, objetivando que todos os contratos realizados se

efetuem da maneira mais promissora possível a todas às partes envolvidas.

Havendo cláusula abusiva num contrato de adesão e, o fornecedor se

recusando a fazer a revisão da mesma para que a isonomia da relação seja

restaurada, só cabe ao consumidor recorrer ao judiciário pedindo de logo a sua

declaração de nulidade ou a resolução do contrato, quando mesmo da

declaração de nulidade da cláusula ainda reste desproporcionalidade das

prestações para o consumidor.

Faz-se necessário frisar que mesmo existindo cláusula abusiva no

contrato de adesão não quer dizer que esta tenha de logo, o poder de resolver

o contrato por completo, a procedência correta é que em não havendo a

revisão contratual por parte do fornecedor de livre e espontânea vontade, o

consumidor ingresse em juízo em busca de seus direitos inerentes a qualidade

de sujeito hipossuficiente da relação de consumo, alegando a desproporção de

prestações que se tornaram incumbidas a ele, e, se, mesmo assim, declarada

nula a cláusula abusiva a desproporção do contrato persistir, só resta pleitear

que seja decretada à resolução contratual.

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2.6 O Poder de Intervenção do Estado no que Tange aos Institutos

Contratuais

O Estado por sua vez tem o poder-dever de zelar pela segurança

jurídica de todo o instituto contratual e, dos negócios jurídicos em sua

totalidade. Normatizar, fiscalizar e, instituir sanções para que sejam evitadas

violações dos direitos sociais.

A sociedade consiste no conjunto de indivíduos que convivem juntos,

interagindo e, buscando o bem comum. Para que essa convivência seja

harmoniosa e proveitosa, faz-se necessário a intervenção de um poder maior,

de autoridade superior, responsável pela voz de comando e estabelecimento

de regras que proporcionem o equilíbrio das relações sociais, objetivando a

diminuição máxima de conflitos.

Nas primícias dos seres humanos, estes, vivam em estado livre de

desenvolvimento, cada um lutava por sua própria sobrevivência, buscavam

seus alimentos e, determinavam seu próprio espaço no ambiente. Contudo,

com a evolução da espécie, o homem cada vez mais buscava demarcar seu

território e impor-se como indivíduo detentor de direito.

A demarcação por terras e o acúmulo de bens foi e é a principal causa

de conflitos sociais até hoje, por reste motivo, quem se sobressai

intelectualmente desempenha papel de liderança e de comando em relação

aos outros. O conjunto de indivíduos forma a sociedade e, esta precisa ser

coordenada e amparada por um direcionamento normativo para que os

conflitos sejam restringidos preponderantemente.

Dispõe César Fiuza (2003, p. 318),

Se os fins das instituições sociais são o poder, a segurança e o direito, necessita-se do Estado para estender sua atividade sobre as funções imediatas com que possam satisfazer-se. A satisfação depende, dentre outros, dos meios econômicos. Assim, não se compreende que, cumprindo ao Estado regular a Conduta humana, seja-lhe defeso penetrar no domínio econômico, estreitamente ligado ao social e ao político. Lembremo-nos das crises econômicas e suas repercussões.

O Estado é responsável por regulamentar o sistema socioeconômico,

visando à proteção das relações de consumo, garantindo o equilíbrio e

harmonia das relações em que um lado é sabidamente mais vulnerável que o

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outro. O consumidor encontra-se em desvantagem em relação fornecedor,

necessitando, pois, de meios de proteção e salvaguarda de seus direitos; faz-

se cabido ao Estado a obrigação e responsabilidade de criar normas que

equilibrem às relações contratuais e de consumo.

Em relação às modificações sociais e ao avanço das relações de

consumo, o Estado buscou a criação de legislação específica para tanto.

Discorre sobre, Carlos Roberto Gonçalves (2013, p. 30),

A nova legislação repercutiu profundamente nas diversas áreas do direito, inovando em aspectos do direito penal, administrativo, comercial, processual civil e civil, em especial. Com a evolução das relações sociais e o surgimento do consumo em massa, bem como dos conglomerados econômicos, os princípios tradicionais da nossa legislação privada já não bastavam para reger as relações humanas, sob determinados aspectos. E, nesse contexto, surgiu o Código de Defesa do Consumidor atendendo a princípio constitucional relacionado à ordem econômica. Partindo da premissa básica de que o consumidor é a parte vulnerável das relações de consumo, o código pretende estabelecer o equilíbrio entre os protagonistas de tais relações. Assim, declara expressamente o art. 1° que o Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, acrescentando serem tais normas de ordem pública e de interesse social. De pronto, percebe-se que, tratando-se de relações de consumo, as normas de natureza privada, estabelecidas no Código de 1916, onde campeava o princípio da autonomia da vontade, e em leis esparsas, deixaram de ser aplicadas. O Código de Defesa do Consumidor retirou da legislação civil, bem como de outras áreas do Direito, a regulamentação das atividades humanas relacionadas com o consumo, criando uma série de princípios e regras em que se sobressai não mais a igualdade formal das partes, mas a vulnerabilidade do consumidor, que deve ser protegido.

Os indivíduos da sociedade não podem se esquivar da “mão” soberana

Estatal, sendo que todos estão sujeitos a seguir o ordenamento jurídico

vigente, respeitando os direitos do outro e, aceitando que o interesse público

sempre se sobrepõe ao interesse privado. Com base nesta premissa, o Estado

impõe as regras de convívio social, interferindo tanto nas relações

interpessoais quanto nas relações socioeconômicas.

É de suma e inequívoca evidência a importância da criação do Código

de Defesa do Consumidor quanto à proteção dos direitos consumeristas, tendo

em vista que à mesma deixa claro o estado de hipossuficiência que o

consumidor desempenha frente ao fornecedor, ficando sempre submisso a

suas propostas preestabelecidas e, não possuindo força, para sozinho,

reivindicar seus direitos.

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CAPÍTULO III

DA REPARAÇÃO PELOS DANOS

3.1 Introito

O Direito do Consumidor busca com efetividade zelar pela proteção

dos consumidores, dando-lhes garantias de que em havendo prejuízo

ocasionado por parte do fornecedor, o consumidor tenha direito a reclamar pela

reparação do mesmo em sua totalidade, seja em danos materiais, morais, ou,

os dois simultaneamente.

Toda a legislação vigente em nosso País vigora no sentido de

regulamentar, resguardar e proteger os direitos individuais e coletivos.

Qualquer indivíduo que tiver direito seu violado fará a jus ao pedido de

reparação, na intenção de sanar o seu agravo, podendo voltar ao estado quo

ante ou a reparação por meio de modificação ou revisão circunstancial em seu

negócio jurídico que também o satisfaça.

3.2 Reparação por Dano Material

A reparação de caráter material objetiva sanar os prejuízos ocorridos

quando o consumidor suporta perdas monetárias, em que o fornecedor contrai

com as mesmas um enriquecimento indevido, tirando proveito da falta de

esclarecimento do consumidor de maneira intencional.

Aqui, desenvolvemos sobre o dever da reparação decorrente da lesão

ao consumidor no contrato de adesão na relação de consumo em razão de

cláusula abusiva inserida no instrumento do negócio jurídico. Se neste tipo de

contrato o fornecedor implanta cláusula que em momento superveniente deixe

o consumidor obrigado a suportar a consequência de uma onerosidade

excessiva que acarrete em perda financeira chegando ao ponto de tornar o

contrato inviável de prosseguir, há que se reconhecer o direito do consumidor

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em reclamar pelos danos sofridos, como cabe ao fornecedor o dever de reparar

e indenizar todos os danos existentes.

Quando o consumidor firma contrato com um fornecedor espera que

este se cumpra da melhor forma possível, satisfazendo a sua necessidade de

demanda, do contrário, o negócio jurídico fica prejudicado. É vedado ao

fornecedor inserir cláusula em contrato que o desobrigue do dever de reparar e

indenizar por dano sofrido pelo consumidor, como bem reza o Código de

Defesa do Consumidor, caput,

art. 25 – É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas Seções anteriores.

Tendo em vista a hipossuficiência do consumidor, a legislação

consumerista garante a sua proteção. Nos contratos de adesão em que o

fornecedor fica livre para elaborar e preestabelecer as cláusulas contratuais

firmadas com o consumidor, não é difícil que nele estejam inseridas cláusulas

abusivas que venham a prejudicar a parte vulnerável, gerando prejuízos e,

talvez até mesmo inviabilizando a execução do contrato em decorrência de

onerosidade excessiva que o consumidor venha a suportar.

O dever de reparação de danos no Código de Defesa do Consumidor

comunga com a reparação civil disposta no Código Civil brasileiro, relata Pablo

Stolze Gagliano (2009, p.21),

três funções podem ser facilmente visualizadas no instituto da reparação civil: compensatória do dano à vítima; punitiva do ofensor; e desmotivação social da conduta lesiva. Na primeira função, encontra-se o objetivo básico e finalidade da reparação civil: retornar as coisas ao status quo ante. Repõe-se o bem perdido diretamente ou, quando não mais possível tal circunstância, impõe-se o pagamento de um quantum indenizatório, em importância equivalente ao valor do bem material ou compensatório do direito não redutível pecuniariamente. Como uma função secundária em relação à reposição das coisas ao estado em que se encontravam, mas igualmente relevante, está a ideia de punição do ofensor. Embora não seja a finalidade básica (admitindo-se, inclusive, a sua não-incidência quando possível a restituição integral à situação jurídica anterior), a prestação imposta ao ofensor também gera um efeito punitivo pela ausência de cautela na prática de seus atos, persuadindo-o a não mais lesionar. E essa persuasão não se limita a figura do ofensor, acabando por incidir numa terceira função, de cunho socioeducativo, que é a de tornar público que condutas semelhantes não serão toleradas. Assim,

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alcança-se, por via indireta, a própria sociedade, restabelecendo-se o equilíbrio e a segurança desejados pelo Direito.

A legislação consumerista e civil buscam a proteção máxima ao

consumidor, visando intimidar os fornecedores a não realizarem atos que

intencionalmente violem o consumidor, estas regras de proteção possuem um

caráter pedagógico ou educativo, no sentido de reduzir ao máximo esta

conduta por parte do polo fornecedor. Porém, apesar do esforço do legislador,

os fornecedores continuam agindo de forma a causar prejuízos aos

consumidores, principalmente quando se fala em contrato de adesão. Os

consumidores precisam estar bem atentos para que não sejam surpreendidos

logo após a adesão contratual com a descoberta de cláusula abusiva que lhes

reprima direitos que lhe são inerentes ou que lhe cause onerosidade excessiva,

gerando infortúnios financeiros.

É defeso à parte lesada à reclamação e indenização pelo não

cumprimento da parte contratual oposta. Ao efetuar o negócio jurídico todas às

partes deverão estar cientes das consequências ocasionadas em caso de

desistência de uma das partes ou, mesmo se o contrato torna-se

desproporcional devido ao movimento do mercado financeiro ou, se é

descoberto posteriormente cláusula abusiva intencional causadora de prejuízo

à outra parte aderente.

Como responsabilidade civil, aduz Pablo Stolze Gagliano (2010, p.327),

Trata-se, na verdade, de uma situação derivada da violação de uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual), desembocando na necessidade de reparação pelos danos causados. Assim sendo, falar em responsabilidade civil contratual nada mais é do que tratar da reparação dos danos causados pelo descumprimento do pactuado.

Cabe a quem deu causa ao prejuízo apreciado por outrem ressarci-lo

de todo e qualquer dano, seja material ou moral, o mesmo ocorre nas relações

contratuais onde o consumidor tem seu direito resguardado por normas

jurídicas contundentes neste âmbito.

A reparação civil, por sua vez, sanciona a parte violadora do negócio

jurídico, tendo como principal objetivo alcançar uma finalidade pedagógica e,

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buscar impedir que alguma das partes não viole o polo vulnerável da demanda

contratual.

Assim reza o código Civil de 2002,

Art.46.- Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem regidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Contudo, os contratos devem versar de forma clara e objetiva a tudo

que se destinam, determinando minuciosamente a que pretende, objetivando a

fácil compreensão para quem o acorda.

3.3 Reparação por Dano Moral

A reparação por dano moral existe para dirimir o constrangimento

sofrido pelo consumidor. Quando o fornecedor age de forma intencional de má-

fé, incluindo em contrato de adesão cláusula abusiva (tema analisado neste

trabalho científico), que retire ou diminua do consumidor seus direitos ou façam

com que este tenha perdas monetárias significativas decorrentes da existência

da cláusula, o fornecedor também tem o dever de reparar os danos morais

ocasionados.

Dano moral é aquele que ofende a pessoa com relação a sua

dignidade e seu íntimo personalíssimo, expondo-o a situação vexatória perante

o meio social a que pertence. A constituição Federal de 1988 traz em seu art.

5º, V e X, a garantia da proteção dos direitos fundamentais das pessoas como

prerrogativas essenciais no Estado de Direito, se estas garantias são violadas,

cabe à vítima o direito a serem reparadas.

Há que se ressaltar o princípio da dignidade da pessoa humana e seu

cerne de supremacia no Estado Democrático de Direito. Todas as pessoas

devem ser respeitadas em sua integralidade. Portanto, na relação de consumo

o fornecedor não possui o direito de se aproveitar do estado de hipossuficiência

dos consumidores e, tirar vantagens, colocando-os em difícil situação.

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Quanto ao pagamento da indenização por dano moral há uma

peculiaridade em relação ao dano material; neste, o fornecedor sabe como

quantificar o valor da indenização devida, tendo em vista que os danos são

calculados por simples cálculos aritméticos; e naquele, o quantum de

indenizatório devido é mais complexo de se chegar, pois os danos são ao

intimo da vítima, ao seu pessoal, ao nome, a honra, situações difíceis para se

quantificar monetariamente.

Sobre os efeitos que a indenização por dano moral provoca a vítima,

enfatiza Silvio Rodrigues (2003, p.210),

Uma ideia que tem alcançado êxito é a de que o dinheiro provocará na vítima uma sensação de prazer, desafogo, que visa compensar a dor provocada pelo ato ilícito. Isso ainda é mais verdadeiro quando se tem em conta que esse dinheiro, provindo do agente causador do dano, que dele fica privado, incentiva aquele sentimento de vingança que, quer se queira, quer não, ainda remanesce no coração dos homens.

Contudo, há que se verificar a importância da procedência de tal

pedido, o Estado prevê esse tipo de indenização buscando a diminuição dos

casos de abusos por parte dos fornecedores contra os consumidores. É

inegável o constrangimento sofrido pelo consumidor que passa pelo dissabor

de ter em seu contrato de adesão cláusula abusiva que possa vir a frustrar seu

negócio por inteiro, ou mesmo, que usurpe direitos que lhe são inerentes.

A reparação por dano moral objetiva amenizar este constrangimento,

essa sensação de impotência e inferioridade que o consumidor possui em

relação ao fornecedor, fazendo com que haja maior segurança e confiança de

salvaguarda caso necessário.

3.4 Decisões no Âmbito dos Tribunais

No âmbito dos Tribunais é crescente a quantidade de decisões

favoráveis que beneficiam e garantem a proteção do consumidor, quando do

contrato de adesão há existência de cláusula abusiva que o lesiona,

incumbindo-lhe prestação forçosa que gere onerosidade excessiva, bem como,

perda material; ou, que implique na supressão de direitos.

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Os julgados fazem com que a legislação consumerista seja posta em

vigor, fazendo valer os direitos e a proteção do consumidor, deixando claro aos

fornecedores que é improfícuo usar da má-fé e violar os princípios contratuais e

constitucionais para lograr em benefício próprio, direito ou vantagem que não

lhe é devida.

Mesmo com todo o empenho do judiciário em campanha de

conscientização sobre os direitos dos consumidores, os fornecedores

permanecem com práticas descritas como abusivas pela legislação, não

restando solução ao consumidor senão buscar a via judicial para a resolução

de seus conflitos.

A maior parte das situações de abusividade acontece no dito contrato

de adesão; pois, como o fornecedor preestabelece suas disposições sozinho,

restando ao consumidor apenas a concordância e aderência, o fornecedor

sente-se confortável em inserir clausulas que desfavoreçam o consumidor,

deixando-o em difícil situação. Porém, às decisões dos tribunais vem

resguardando o direito da parte vulnerável da relação de consumo como pode

observar,

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. CÂNCER DE PRÓSTATA. RECUSA DE MATERIAL NECESSÁRIO PARA O PROCEDIMENTO CIRÚGICO DO AUTOR, (ESFINCTER ARTIFICIAL 800 AMS), LASTREADA NA EXISTÊNCIA DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS QUE EXCLUEM A COBERTURA DE MATERIAL IMPORTADO E NÃO NACIONALIZADO E NO FATO DE O MESMO NÃO ESTAR NO ROL DA RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 338 DA ANS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. ARGUMENTOS DA DEFESA QUE NÃO SE SUSTENTAM. ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA QUE EXCLUI O CUSTEIO DOS MEIOS E MATERIAIS NECESSÁRIOS AO MELHOR DESEMPENHO DO TRATAMENTO DA DOENÇA COBERTA PELO PLANO. ENUNCIADO 340 DO TJRJ. TRATAMENTO QUE DEVE SER AQUELE INDICADO PELO MÉDICO. SÚMULA 211 DO TJRJ. ESFINCTER ARTIFICIAL 800 AMS, QUE ESTÁ DEVIDAMENTE. REGISTRADO NA ANVISA. RECUSA INJUSTIFICADA. DANO MORAL CONFIGURADO. VERBA INDENIZATÓRIA NO VALOR DE R$ 6.000,00, ARBITRADA DE ACORDO COM O PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO. HONORÁRIOS RECURSAIS DEVIDOS AO PATRONO DA PARTE AUTORA PELO TRABALHO ADICIONAL (ART. 85, § 11, NCPC). RECURSO A QUE NEGA PROVIMENTO. (Nº do processo: 03020197820128190001; classe: Apelação Cível; Órgão: 23 Câmara Cível Consumidor; relator: Marcos André Chut; data de julgamento: 11/10/2017).

Como se pode observar o julgado acima, o consumidor ao se deparar

com situação de violação ao seu direito em momento delicado de grave

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enfermidade recorre ao judiciário, reivindicando por seu direito de consumidor,

pleiteando pela anulação da cláusula abusiva constante em seu contrato de

plano de saúde que eximia o serviço de arcar com gastos referentes ao

tratamento que o titular do plano necessitava, bem como a devida indenização

por danos morais, visto que o mesmo sofrera fatídico dissabor e

constrangimento íntimo, tendo como causa a demora do plano em realizar o

serviço que o mesmo carecia com urgência. A demanda de logo é provida pelo

Tribunal do Rio de Janeiro, em sua totalidade, preservando o bem maior do

indivíduo que é a vida e a saúde, obrigando o serviço a arcar com o tratamento

da forma devida e indenizando o consumidor pelo aborrecimento e mau

prestação de serviço.

Prosseguindo pelas decisões dos Tribunais,

RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGUROS - CLÁUSULA CONTRATUAL ABUSIVA - MODIFICAÇÃO - ARTIGO 6º, INCISO V, CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - POSSIBILIDADE - RECURSO PROVIDO - AÇÃO JULGADA PROCEDENTE - CONDENAÇÃO NO PRINCIPAL E CONSECTARIOS - FORMA DE LIQUIDAÇÃO. 1. Dentro do estabelecido pelo inciso V, do artigo 6º, do Código de Defesa do Consumidor, princípio de ordem pública e interesse social albergado pela Constituição Cidadã, em sendo abusiva cláusula, pode o judiciário intervir e modifica-la, equilibrando a relação contratual e tendo em mente o fim social que a lei consumerista estabelece. Neste contexto, modifica-se cláusula contratual que permite indenização tão somente em doença 'em estado terminal' para 'doença grave'. 2. Estando o autor acometido de ADENOCARCINOMA PROSTÁTICO - CID 10. c 61, vulgarmente tratado como câncer de próstata, com seguidos atendimento de radioterapia e quimioterapia deve ser considerado como 'doença grave' e, neste aspecto, com a modificação feita no contrato com cláusula abusiva, faz jus a indenização pertinente sobretudo quando se trata de contrato de adesão e este não tem o indispensável destaque prescrito pelo § 4º, do artigo 54, do CDC. 3. Sendo modificada a sentença em grau recursal, saindo vencedor o apelante, deve a ré/apelada ser condenada nos custos do processo e honorários de sucumbência pelos serviços desempenhados pelo advogado em ambos os graus de jurisdição. 4.- A liquidação, por simples cálculos aritméticos, pelo principal, correção monetária (INPC) a partir da distribuição da ação e juros moratórios a partir da citação válida. (Ap 9861/2017, DES. SEBASTIÃO DE MORAES FILHO, SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Julgado em 10/05/2017, Publicado no DJE 16/05/2017)

As cláusulas contratuais abusivas nos contratos de adesão são

declaradas nulas de pleno direito, seguindo a vigência da legislação

consumerista, o judiciário assim garante como forma de proteção ao

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consumidor hipossuficiente na relação de consumo. O objetivo dessa garantia

de declaração de nulidade é para que se busque o equilíbrio da relação entre

fornecedor e consumidor, evitando que aqueles se sobressaiam com vantagem

em detrimento destes, tendo em vista seu conhecimento técnico e perícia do

produto ou serviço que oferece ao consumidor. Os contratos de adesão são

instrumentos fáceis para que os fornecedores possam ludibriar os

consumidores, já que os mesmos podem preestabelecer cláusulas ambíguas

ou mesmo de difícil compreensão para quem os adere.

Decide o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,

QUARTA TURMA RECURSAL CÍVEL DO CONSELHO RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS Recurso nº: 0001393-73.2010.8.19.0205 Recorrente: JONATAS FERNANDES GUEDES ANTONIO Recorrido: BANCO SANTANDER BRASIL S/A RELATÓRIO Pretende a parte autora indenização por danos morais e materiais c/c obrigação de fazer e pedido de tutela antecipada, sob o fundamento de que o banco réu debitou de sua conta corrente o valor referente à fatura vencida do seu cartão de crédito, o qual é vinculado à sua conta corrente utilizada para crédito do seu salário. Junta às fls. 16 extrato bancário, o qual se pode verificar o débito do cartão Visa vencido, no valor de R$ 736,40. Decisão de fls.21, tutela indeferida para estornar os valores debitado em sua conta corrente. Contestação às fls. 39/51, alegando, em síntese, que o autor não provou o mínimo do seu direito, e às fls.43, afirma que o débito efetuado em conta corrente pela ausência de pagamento é previsto em clausula contratual, alega, ainda que não houve falha na prestação do serviço; que não há que se falar na devolução de qualquer parcela; que inexiste dano moral a ser indenizado, pugnando pela improcedência. Sentença às fls. 67/68, que julgou improcedente os pedidos, sob o fundamento de que o autor não juntou conteúdo probatório suficiente das suas alegações. Recurso inominado interposto pela parte autora às fls. 72/76, reforçando os termos da inicial, confirmando que o extrato colacionado às fls.16, demonstra o valor da fatura vencida e protestando pela reforma da sentença. Contrarrazões apresentadas. É o relatório. Passo a votar. Trata-se de relação de consumo, aplicando-se em conseqüência a Lei nº 8.078/90. Isto posto, subsiste a responsabilidade objetiva do fornecedor de bens e serviços pelos danos experimentados pelo consumidor, a teor do art. 14 do CDC, responsabilidade afastada somente se verificada a inexistência de defeito no serviço, culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. In casu, analisando-se os autos, conclui-se que o extrato bancário colacionado ás fls.16, permite constatar que houve débito em conta corrente referente ao pagamento do cartão Real Visa vencido no valor de R$ 736,40, o que gerou um saldo zerado na conta do autor. Débito em conta corrente confirmado pelo banco réu em sua tese de defesa, às fls.43, quando sustenta a legalidade da sua conduta prevista em clausula contratual. Com efeito, conforme disposição do art. 51, inciso IV do CDC, os contratos de adesão devem ser interpretados de maneira mais favorável ao consumidor, sendo nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam obrigações iníquas e abusivas, entre as quais a que prevê o desconto automático do valor da fatura de cartão de crédito

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na conta corrente do consumidor, quando não efetuado seu pagamento no vencimento. Destarte, considerando-se a abusividade da previsão em comento, devem cessar os descontos indevidos, devendo ser restituídos os valores até então debitados. Outrossim, mudando entendimento anteriormente lançado, tenho que o dano moral restou configurado em razão dos sentimentos de angústia, frustração à legítima expectativa e indignação vivenciados pela consumidora, devendo ser observado o princípio da razoabilidade para fixação do quantum devido, não havendo que se falar em aplicação da Súmula 75 deste Tribunal de Justiça, visto que não se trata de mero descumprimento de dever legal ou contratual, mas sim de conduta abusiva que por sua carga lesiva extrapola a esfera patrimonial. E, ainda merece reforma a sentença no que tange ao pedido de devolução dos valores indevidamente debitados, e comprovados pelo recorrente, que deve se dar em dobro. Diante do exposto, conheço do recurso e dou parcial provimento ao mesmo para reformar a sentença monocrática de fls.67/68, para: a) declarar nula a cláusula contratual que prevê o desconto do pagamento da fatura na conta corrente do autor, abstendo-se a ré em promover o desconto sob pena de multa a ser arbitrada em sede de execução; b) condenar a ré a pagar à parte autora a quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a título de danos morais corrigida monetariamente a partir da publicação do acórdão e acrescida dos juros legais, a partir da citação; c) condenar a ré a restituir ao autor a quantia de R$ 736,40 (setecentos e trinta e seis reais e quarenta centavos) a ser dobrada, nos termos do art. 42, parágrafo único do CDC, corrigida monetariamente e acrescida de juros legais a contar do desembolso. Sem ônus sucumbenciais. Rio de janeiro, 23 de agosto de 2011. CLAUDIA CARDOSO DE MENEZES Juíza Relatora. (Nº do processo RI 00013937320108190205 RJ 0001393-73.2010.8.19.0205 ; Classe: Recurso Inominado; Órgão: Quarta Turma Recursal; relator: Claudia Cardoso de Menezes; Data de Julgamento: 23/08/2011).

A interpretação da legislação e dos Tribunais é sempre a mais

favorável ao consumidor, possibilitando que da constância de cláusula abusiva

no contrato de adesão o consumidor possa buscar o judiciário pleiteando

conjuntamente a nulidade da mesma, bem como a indenização por danos

materiais e morais, requerendo que sejam devolvidos valores que lhe foram

usurpados pelo fornecedor em decorrência de disposição contratual geradora

de onerosidade excessiva e pelo constrangimento relativo à violação de sua

dignidade, deixando-o em situação vexatória e inconveniente.

Recurso nº: 0029749-39.2013.8.19.0087 Recorrente: HILDA DE JESUS FERREIRA Recorrida: CASABELLA CARIOCA COOPERATIVA HABITACIONAL VOTO Narra a parte autora, em síntese, que, em 12/8/2013, contratou junto à ré um financiamento imobiliário no valor total de R$ 160.000,00, pagando a quantia de R$ 6.967,63, a título de entrada (fl. 24) e financiando o saldo devedor em 370 parcelas no valor de R$ 567,63, conforme documento de fl. 20. Afirma que o preposta da ré lhe assegurou que o valor financiado, R$ 160.000,00, seria liberado, no máximo, em 30 dias, o que não ocorreu. Sustenta que, após o vencimento da segunda parcela, ainda

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sem a liberação do crédito, requereu, administrativamente, a rescisão do contrato e a devolução dos valores pagos, mas não logrou êxito. Alega que se sentiu enganada pela ré. Requer, assim, antecipação de tutela para que a ré cancele as cobranças referentes ao financiamento e se abstenha de negativar seu nome (indeferida à fl. 28); que seja declarado rescindido o contrato, sem ônus para a autora; restituição do valor pago, R$ 6.967,63, em dobro; e indenização a título de danos morais. Em contestação, às fls. 38/50, a parte ré suscitou a preliminar de incompetência absoluta do JEC para o processamento desta causa ante o limite de alçada, na forma do art. 3º, I, da Lei 9099/95. No mérito, requer a improcedência dos pedidos, sob a alegação de que todas as informações foram devidamente prestadas à demandante, não havendo que se falar, portanto, em fraude, tampouco em publicidade enganosa ou abusiva, e de que houve desistência imotivada da demandante. A r. sentença de fls. 112/113 conheceu dos embargos de declaração opostos pela parte ré e os acolheu, com efeitos infringentes, para julgar extinto o processo, sem resolução do mérito, ante a incompetência absoluta do JEC pelo valor da causa. Em recurso inominado interposto às fls. 114/118, a parte autora pleiteia a anulação da sentença de fls. 112/113, para que seja julgado o mérito, com a procedência dos pedidos formulados na inicial, uma vez que, ao contrário do que constou da referida sentença, a pretensão autoral refere-se à devolução do valor efetivamente pago, enquadrando-se no limite do JEC, nos termos do art. 3º, I, da Lei 9099/95. Em contrarrazões, às fls. 127/142, a parte ré, ora recorrida, pugna pela manutenção do julgado. É o breve relatório. Decido. No caso em comento, entende esta Magistrada que a r. sentença de fls. 112/113, com todas as vênias, merece ser anulada para afastar a incompetência do JEC para o deslinde do mérito desta demanda, uma vez que o pleito da parte autora restringe-se à restituição em dobro de valores cobrados e pagos a título de entrada do financiamento, num total de R$ 13.935,26, e à indenização a título de danos morais no valor que o Juízo entender devido, não ultrapassando, portanto, o limite de alçada admitido em sede de juizados especiais cíveis. Dessarte, em nome da Teoria da Causa Madura (art. 515, § 3º, do CPC), aplicável no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, passo à análise do mérito quanto aos pedidos formulados na exordial, uma vez que, na ACIJ de fl. 35, as partes não requereram a produção de novas provas. Precipuamente, é necessário salientar que o caso vertente cuida de relação de consumo, pelo que incide toda a concepção principiológica da Lei nº 8078/90. Cabe também salientar que se presume a boa-fé no comportamento e nas alegações autorais, conforme artigo 4º, I e III da referida lei, aliada às regras de experiência comum de que se pode valer o magistrado, consoante artigo 5º, da Lei nº 9099/95. No caso em tela, a parte ré não comprovou ter informado a autora clara e adequadamente acerca de todos os termos do contrato em comento, sendo certo que a alegação de que a demandante assinou o questionário de boas vindas não altera em nada o que aqui se falou, até porque a ré não comprovou ter oportunizado à autora todas as cláusulas restritivas constantes do contrato, que para um leigo é de difícil interpretação, devendo assim, ser aplicada totalmente a punição prevista no art. 46, do CDC. Entendo aplicável também a norma cogente do artigo 47, da Lei nº 8.078/90, no sentido de que deve ser feita a interpretação que mais favorece o consumidor - interpretatio contra proferentem ou in dubio contra estipulatorem -. Deste modo, violou a ré o art. 6º, III, do CDC, já que não prestou informações claras e adequadas sobre os serviços fornecidos, sendo certo também que não desconstituiu a alegação da autora de que esta receberia imediatamente o valor do financiamento

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pretendido. Assim, frustraram-se as legítimas expectativas da consumidora, que, ao pagar a entrada correspondente à taxa de associação (fl. 24) não pôde obter o empréstimo solicitado. Responsabilidade da empresa recorrida pelos atos de seus prepostos e representantes autônomos, na forma prevista no art. 34, do C.D.C., sendo abusiva a atividade realizada no mercado de consumo em que o fornecedor se prevaleça da fraqueza do consumidor, em face da sua especial condição pessoal e falta de clareza, para impingir seu produto (art. 39, IV, do CDC). Enganosidade, ainda que por omissão, com objetivo de realizar o negócio jurídico. Assim, considerando também a norma do art. 30, do CDC, de que a oferta integra o contrato, a negativa da ré implica evidente violação contratual. Deste modo, violou a ré o art. 30 e o art. 6º, III, do CDC. Restaram violados também a transparência e boa-fé objetiva que deve haver nos contratos, à luz do art. 422, do CC/2002, considerando também a complexidade que envolve o contrato em comento. Dessarte, deve ser declarada a rescisão contratual, sem ônus para a autora, bem como canceladas as cobranças referentes às parcelas restantes. Faz jus a autora também à restituição do valor pago à fl. 24, porém, na forma simples, pois não se aplica ao caso a norma do art. 42, parágrafo único, do CDC. Tendo em vista os danos comprovados e não refutados pela ré, exsurge o dever de indenizar, até porque esta não trouxe aos autos qualquer prova relativa a alguma excludente de responsabilidade disposta nos incisos do parágrafo do art. 14, do CDC. Faz-se necessário salientar que o ônus de desconstituir o alegado pela parte autora competia à parte ré, uma vez que se aplica à hipótese a inversão ope legis consubstanciada no parágrafo 3º, do artigo 14, da lei em comento, onde a inversão do ônus probatório se faz presente pelo próprio direito material, o que não se verificou no caso em tela. Outrossim, o dano moral restou configurado em razão dos sentimentos de angústia, frustração à legítima expectativa e indignação vivenciados pela demandante, não havendo que se falar em aplicação da Súmula 75 deste Tribunal de Justiça, visto que não se trata de mero descumprimento de dever legal ou contratual, mas sim de conduta abusiva que por sua carga lesiva extrapola a esfera patrimonial. Por fim, deve ser salientado que a indenização deve compreender aos valores discutidos nessa ação, atendendo-se também na fixação do quantum aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade em sentido estrito, bem como o caráter punitivo e pedagógico do dano moral. Ante o exposto, conheço do recurso e VOTO no sentido de dar-lhe provimento para anular a r. sentença de fls. 112/113, com todas as vênias, e, na forma do artigo 515, § 3º, do CPC, julgar procedentes em parte os pedidos, para: 1) declarar rescindido o contrato de financiamento objeto desta lide, sem ônus para a autora; 2) cancelar as cobranças referentes ao contrato de financiamento, devendo a ré se abster de negativar o nome da autora; 3) condenar a ré a restituir à autora a quantia de R$ 6.967,63, na forma simples, acrescida de juros legais de 1% a.m. desde a citação e de correção monetária desde o desembolso (fl. 24); e 4) condenar a parte ré a pagar à autora a quantia de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), a título de indenização por danos morais, acrescida de juros legais de 1% a.m. desde a citação e de correção monetária desde a publicação da presente. Sem ônus sucumbenciais. (Recurso Inominado, Nº RJ 0029749-39.2013.8.19.0087. Primeira Turma Recursal, Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Relator: Paloma Rocha Douat Pessanha, Julgado em 07/06/2015).

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As decisões favoráveis buscam desenvolver um viés pedagógico, no

sentido de “educar” e coibir as práticas abusivas por parte dos fornecedores.

Mesmo com todo o direito que a legislação consumerista lhe confere, o

consumidor ainda é tímido na busca de suas prerrogativas, com a introspecção

e sentimento de inferioridade em relação ao fornecedor. Por conta dessa

situação de hipossuficiência crônica os Tribunais vêm decidindo cada vez mais

em favor dos consumidores, objetivando inibir condutas propositadamente

lesivas dos fornecedores, fazendo com que os mesmos tenham consciência

das consequências que podem sofrer sendo alcançados pela justiça, sendo

obrigados a reparar os infortúnios a títulos materiais e morais.

Todo o empenho do judiciário na proteção do consumidor se dá para

que a finalidade dos negócios jurídicos contratuais sejam alcançados da

maneira mais satisfatória possível para ambas às partes contratantes, é

preservar o equilíbrio da relação, evitando que apenas um dos polos, no caso o

fornecedor, seja favorecido. Não é interessante para a sociedade que os

contratos que se realizem no dia-a-dia sejam em sua maioria frustrados,

obrigando o consumidor a buscar seus direitos por vias judiciais e protelando

de forma significativa o objetivo que deseja; sendo assim, todos apreciam dos

prejuízos ocasionados por contratos que possuam cláusulas de conteúdo

abusivo; o consumidor, por não alcançar a pretensão desejada e, o fornecedor

por ter de reparar os danos ocasionados por sua ganância econômica.

Por fim, observemos recente decisão do Tribunal de Justiça do Estado

da Paraíba,

APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO. RECUSA INDEVIDA DA SEGURADORA. PROCEDIMENTO CIRÚRGICO. RESTRIÇÃO CONTRATUAL. URGÊNCIA E EMERGÊNCIA CONFIGURADOS. CARÊNCIA AFASTADA. ABUSIVIDADE DE CLÁUSULAS. INFRAÇÃO AO CDC. ALEGAÇÃO DE DOENÇA PREEXISTENTE. ARGUMENTO INFUNDADO. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DOS DIREITOS À SAÚDE E À VIDA. ABUSIVIDADE CARACTERIZADA. DANOS MORAIS. CARACTERIZADOS. FIXAÇÃO NECESSÁRIA. MANUTENÇÃO. DESPROVIMENTO DO RECURSO. - O reconhecimento da fundamentalidade do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana impõe uma nova postura dos operadores do direito que devem, na aplicação das normas, assegurar a vida humana de forma integral e prioritária. - Na linha dos precedentes do Superior Tribunal de Justiça, o período de carência contratualmente estipulado, pelos planos de saúde, não prevalece, diante de situações graves, nas

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quais a recusa da cobertura possa frustrar o próprio sentido e razão de ser do negócio jurídico firmado. - As cláusulas restritivas que impeçam o restabelecimento da saúde em virtude de doença sofrida atentam contra a expectativa legítima do consumidor quanto ao plano de saúde contratado. - O reconhecimento da fundamentalidade do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana impõe uma nova postura dos operadores do direito que devem, na aplicação das normas, assegurar a vida humana de forma integral e prioritária. - Nos termos da Jurisprudência dominante do STJ, “Somente o fato de recusar indevidamente a cobertura pleiteada, em momento tão difícil para a segurada, já justifica o valor arbitrado, presentes a aflição e o sofrimento psicológico”1. ACORDA a 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator, integrando a decisão a certidão de julgamento juntada à fl. 220. (TJPB, Relator: Des. João Alves da Silva, Data de Julgamento: 18/08/2017, Quarta Câmara Especializada Cível).

Em recente decisão, o Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, condena

plano de saúde a ressarcir os prejuízos sofridos por beneficiário que teve

atendimento negado com base em cláusula abusiva em seu contrato de

adesão com o referido plano, no caso em tela, foram violados princípios

basilares como o da boa-fé e da dignidade da pessoa humana, expondo a risco

real de danos à saúde irreversíveis. Assim, a prestadora de serviço foi

condenada tanto ao pagamento por danos materiais que o consumidor teve

com gastos extras já que não utilizou do serviço que havia contratado, bem

como os danos morais, provindos do constrangimento, aborrecimento e

humilhação que passou pela recusa do atendimento médico no momento que

tanto necessitava em caráter de urgência.

É interessante que os consumidores tenham conhecimento de seus

direitos e o incentivo de que recorrer ao judiciário é uma segurança de ter seus

direitos respeitados e salvaguardados. As decisões judiciais procedentes vem

calcando essa segurança jurídica, priorizando o princípio contratual da boa-fé

e, os princípios constitucionais de respeito a dignidade da pessoa humana,

buscando, enfim, isonomia nas relações de consumo.

3.5 Fundamentos da procedência do Pedido de Reparação

O consumidor possui grande vantagem quando se fala em proteção, já

que possuem legislação específica que os salvaguarde. A Lei Nº 8.078, de 11

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de setembro de 1990 que é o Código de Defesa do Consumidor desenvolve

papel de protagonismo como protetor e regulador das relações de consumo.

Porém, este pode comungar com legislações como o Código Civil Brasileiro

subsidiariamente e nossa Carta Magna, a Constituição Federal de 1988.

Para a procedência do pedido de reparação decorrente de cláusula

abusiva no contrato de adesão há que vislumbrar inicialmente os princípios

contratuais infringidos, quais sejam, a boa-fé, o princípio do equilíbrio

econômico e da justiça social e, o princípio da função social do contrato.

Havendo à violação de qualquer destes princípios inevitavelmente é gerado um

desequilíbrio na relação de consumo, frustrando os efeitos ao qual o contrato

se destina ocasionando prejuízo, em regra, a parte hipossuficiente.

O Código de Defesa do Consumidor traz do seu art. 51 ao art. 53 o rol

exemplificativo de cláusulas abusivas no contrato de adesão, determinando-as

como nulas de pleno direito, ou seja, ao se deparar com disposição abusiva em

seu contrato o consumidor pode ingressar em juízo para pedir a declaração de

nulidade de logo, tendo assegurada a reparação por qualquer dano sofrido em

decorrência da cláusula de abusividade, excluindo seus efeitos desde o

momento em que o contrato fora realizado.

Falar em fundamentação por reparação de danos é conhecer disposições

do Código Civil que possui capítulo próprio sobre a reparação civil e da

obrigação de indenizar, porém, este para o direito consumerista, traz de

relevante, apenas o conceito de reparação civil. Pois, nas relações consumo a

legislação devida aplicada é a especial própria ao consumidor.

Os preceitos de proteção ao consumidor trazido pela Constituição Federal

estão presentes no art. 5°, XXXII e no art. 170, V. A carta Magna traz a

proteção ao consumidor como direito fundamental, buscando a preservação do

equilíbrio nas relações socioeconômicas, prezando pela função social e defesa

do consumidor como parte vulnerável.

A principal fundamentação de reparação por danos nas relações de

consumo se dá pelo fato do causador do dano responder independentemente

de culpa, ou seja, no direito consumerista basta que a vítima comprove o

prejuízo sofrido sem a intenção direta do fornecedor em praticá-lo, juntando-se

ao fato da norma sempre ser apreciada de forma mais benéfica ao consumidor.

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O art.12 e o art. 14 do CDC também trazem a fundamentação para a

responsabilização necessária do fornecedor causador de dano ao consumidor.

Contudo, o CDC traz em suas disposições um capítulo sobre a defesa do

consumidor em juízo, a partir de seu art. 81, ratificando, mais uma vez o direito

do consumidor em reclamar em juízo por indenização pertinente quando sofrer

danos ocasionados por cláusula abusiva em contrato de adesão.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dinamicidade do modelo socioeconômico contemporâneo é

indiscutível e necessário para acompanhar a evolução das relações sociais e

suas demandas. A sociedade possui pressa em satisfazer seus interesses de

consumo, tornando às relações comerciais vulneráveis a erro e, propensas ao

alcance de fornecedores oportunistas, aptos a ludibriar o consumidor mal

informado.

Diariamente realizamos contratos de adesão, concordamos com as

condições que somente o fornecedor nos impõe, sem, na maioria das vezes

estarmos bem esclarecidos do que versa o contrato. Por falta de conhecimento

técnico, perícia ou displicência, o consumidor torna-se alvo fácil para um

fornecedor ardiloso disposto a obter vantagens. Neste tipo de contrato, é

retirada do consumidor a oportunidade de negociar condições que lhe sejam

mais atrativas e favoráveis, restando aceitar às predisposições já impostas de

forma unilateral pelo fornecedor.

A legislação consumerista visa à proteção do polo vulnerável da

relação de consumo, sendo este o consumidor, de modo que se o mesmo se

depara com cláusula abusiva em seu contrato de adesão que lhe causa

prejuízo, faz jus ao direito de provocar a via judicial para pedir a reparação por

qualquer dano sofrido.

O Estado deve agir no sentido de manter o equilíbrio e a harmonia nas

relações de consumo, vigilante sobre danos que prejudiquem o consumidor,

impondo sanção ao fornecedor que der causa a tal situação.

O fornecedor que prejudicar o consumidor por incluir cláusula abusiva

em contrato de adesão deve ressarci-lo e indeniza-lo de todo e qualquer

prejuízo, seja por prestações que causem onerosidade excessiva fazendo com

que o mesmo tenha perdas monetárias significativas ou, por danos morais, que

afetem e causem danos de foro íntimo.

A procedência do pedido de indenização por parte do consumidor está

amparada pela legislação consumerista, que determina que a interpretação dos

contratos na relação de consumo seja realizada de maneira mais favorável ao

consumidor, julgando as cláusulas abusivas como nulas de pleno direito,

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desobrigando o consumidor de cumpri-las e, imputando ao fornecedor o dever

de indenizar o consumidor por danos sofridos.

Como bem evidenciamos ao decorrer deste desenvolvimento científico,

o dever de indenizar por parte do fornecedor causador de danos é sustentado

pela doutrina e jurisprudência, como observamos nos julgados procedentes

apresentados, visando à manutenção do equilíbrio e harmonia nas relações de

consumo.

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REFERÊNCIAS

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