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“precisamos˚ mudar˚de˚nome” a experiência de criação coletiva como forma de ressignificação e mobilização do grupo de dança de rua Base-NT

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“precisamos mudar de nome”a experiência de criação coletiva como forma de ressignificação e mobilização do grupo de dança de rua Base-NT

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“Precisamos mudar de nome”um relato de encontros

Aqui, nesse relato em primeira pessoa, irei contar sobre como passei a fazer parte

do grupo de dança de rua Base-NT.

o processo antes do processo

Trabalhos colaborativos não são fáceis. Tem que ir atrás e con-

vencer um monte de gente a fazer junto. Mobilizar não é fácil.

Deslocar pessoas de suas atividades diárias, trabalhos, tele-

visões, casa dos amigos, churrascos, sofás e dizer que você tem

algo importante a fazer junto com elas é um desafio e tanto! O

desafio aumenta quando você está longe dessas pessoas, geo-

graficamente e culturalmente. A verdade é que, quando fui me

encontrar pela primeira vez com o então Grupo de Dança de

Rua do Novo Tempo, não tinha ideia de como isso tudo seria,

por mais que eu já tivesse feito meia dúzia ou mais de checklists

e plano de atividades.

Como eu moro em Belo Horizonte, há 4 horas de ônibus de

Timóteo (quando não há engarrafamentos na BR-381), precisei

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do apoio de pessoas próximas ao grupo de dança para dar uma

força na mobilização e articulação dos encontros com os jovens

dançarinos participantes. Enfim, sem o apoio do Grupo Pirilam-

po, que disponibilizou transporte, alimentação, infraestrutura e

recursos humanos e sem a participação direta do dançarino do

Base-NT, Gabriel Oliveira (que lê seu email com frequência!),

na mobilização dos outros jovens a realização do projeto “Pre-

cisamos Mudar de Nome” correria um sério risco de não existir.

Toda a parte de mobilização dos jovens do grupo Base-NT foi

mediada pelo Gabriel. Agendei previamente, na medida do pos-

sível da vida, todas as datas dos encontros com o dançarino e, à

medida que o encontro ia se aproximando da data marcada ou

remarcada, eu confirmava os horários, datas e locais com ele via

e-mail, telefone e SMS. Uma vez que todos os integrantes do

grupo moram no mesmo bairro, ou em bairros vizinhos, a mo-

bilização feita pelo Gabriel se dava quase sempre no “ô de casa!”

ou nos próprios ensaios do grupo.

Como o meu projeto experimental fez parte de um projeto

maior, o Projeto Cultura de Rua realizado pelo Grupo Pirilampo,

acredito que houve uma certa predisposição inicial dos jovens

por fazer parte do projeto posteriormente nomeado de “Precisa-

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mos Mudar de Nome”. Fico imaginando se em uma região com

tanta oferta de atividades como é o caso da Região Metropolita-

na do Vale do Aço, eu conseguiria mobilizar sozinha um coletivo

juvenil de dança com mil e uma outras coisas mais dançantes

por fazer.

sobre a organização dos encontros:

Um grande problema enfrentado inicialmente foi a distância

entre a sede do Grupo Pirilampo, local onde foram realizados

os primeiros encontros, e o bairro Novo Tempo, onde os dan-

çarinos moram. Muitos jovens tinham dificuldade de desloca-

mento entre o bairro deles e o bairro do Pirilampo, que ficam em

diferentes extremos da cidade de Timóteo. Foram tomadas três

iniciativas para contornar esse problema: inicialmente o Grupo

Pirilampo disponibilizou transporte, depois arrumamos umas

caronas suadas e por fim, as atividades foram deslocadas para o

bairro Novo Tempo, o que trouxe vantagens pela proximidade

com o “território” do grupo Base-NT e problemas extras com

infraestrutura, falta de internet rápida, de computadores, etc.

Nada irreparável.

O processo junto aos jovens dançarinos foi organizado em 8

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grandes encontros quinzenais, exceto durante o período das pro-

vas do ENEM, quando houve um intervalo de 3 semanas entre um

encontro e outro, nessa época boa parte dos integrantes do grupo

estavam realizando as provas. Participaram do projeto, ao todo, 13

integrantes do grupo, sendo que 10 desses jovens estiveram atu-

antes do início ao fim do projeto. Um ponto feliz desse processo,

já adiantando as coisas, é que ao invés de acontecer uma evasão

dos participantes, o que é comum nesses tipos de atividades que

exigem a mobilização de jovens durante um significativo espa-

ço de tempo, houve um aumento do número de integrantes do

Base-NT ao longo dos encontros. Três jovens que não foram aos

primeiros encontros tiveram notícias das atividades, foram ao

terceiro encontro e se tornaram frequência assídua desde então,

contribuindo enormemente para as atividades propostas.

Os encontros foram realizados, em sua maioria aos sábados e do-

mingos, sendo que o último e penúltimo encontros, já no período

de férias escolares, foram realizados às sextas–feiras. A maioria

dos encontros durou em torno de 4 horas, sendo que o primeiro

encontro foi significativamente maior, durando quase 8 horas

(com intervalo para almoço, para sesta, para conversalhada e para

dança, como sempre).

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antes de mais nada:

E não pensem que esqueci da pergunta mais importante de

todo o processo de criação coletiva junto aos jovens do Base-

NT: Vocês querem mesmo ter uma identidade visual? Porque

ninguém é obrigado a ter uma marca. E para garantir que eu

não estava fazendo nada de errado, confirmei - “Vocês querem

continuar sendo um coletivo de dança?”. E então, (ufa!) todos

responderam que sim, queriam uma identidade visual, queriam

manter o grupo integrado e (nossa!) queriam aumentar a sua

abrangência e sua força institucional.

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A CONVERSA JOGADA:Encontro 1 (Sede do Grupo Pirilampo – 10h às 17h30)

Vídeo-Cabine / Apresentação do Projeto / Jogo de Discussão

jogo de discussão:

Desde o princípio, havia imaginado começar o processo com

uma espécie de grupo de discussão que levasse os integrantes do

grupo a refletir sobre sua a identidade, a conversar, a brincar, a

dar gargalhada, a contar piada, a se posicionar e a se sensibilizar

sobre alguns temas caros à comunicação, como por exemplo os

públicos, os valores, a imagem etc.

Passei a pensar, então, em como transformar uma discussão

pouco atrativa em um bate-papo divertido. Assim, produzi al-

gumas cartas que traziam em seu verso as seguintes perguntas:

“O que somos?”, “O que fazemos?”, “O que queremos fazer?”,

“O que queremos ser?”, Como e onde queremos atuar?”, “Como

nos relacionamos com o bairro Novo Tempo?”, “Qual imagem

queremos ter?”, “Quais são nossos públicos?”, “Quais são os

públicos que queremos ter?” e “Quais dificuldades enfrentamos

enquanto grupo?”. Para não deixar as cartas muito “quadradas” e

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sem cara de jogo, adicionei cartas com os dizeres “Pule sua vez!”

e “Faça você mesmo sua pergunta para o grupo”. Se fosse hoje

em dia, teria feito mais cartas “descompromissadas”!

Após uma breve apresentação sobre o projeto a ser desen-

volvido, partimos para o “jogo de discussão”. Como já disse, a

proposta do “jogo de discussão”, que teve o áudio gravado na

íntegra, foi problematizar coletivamente aspectos do grupo de

dança de rua, sensibilizando os dançarinos participantes para al-

gumas questões ligadas à identidade, à memória, aos objetivos,

aos públicos, aos valores do grupo, aos seus meios de atuação,

entre outras temáticas. Para tornar a conversa mais leve, dis-

tribuí as cartas por uma mesa redonda com o verso virado para

cima, com todos sentados ao redor. A cada rodada, sorteáva-

mos ou escolhíamos alguém para virar alguma carta. Como cada

carta possuía um desenho de interrogação diferente no verso,

dava espaço para algumas brincadeiras como: “puxa a carta da

vaquinha!” ou “Essa da cobra deve ser difícil!”. Ao puxar uma

carta, o participante lia a pergunta que estava escrita na carta e

jogava a discussão para a roda.

Inicialmente estavam todos constrangidos a se voluntariar para

começar a puxar as cartas, afinal de contas era a primeira ativi-

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dade do projeto. O Gabriel, como forma de incentivar os jovens

a partir para as cartas propôs:

_Samara, de 1 a 10 fala um número.

_ Hmm… 5!

_Duda, agora fala você.

_ 9.

_Duda ganhou, pode começar! (risos)

As cartas “Pule sua vez” ou “Faça você mesmo a pergunta para

o grupo” sempre eram seguidas de risos. Quem retirou a carta

“Faça você mesmo a pergunta para o grupo foi a Duda, a jovem

mais jovem, de apenas 11 anos. Inicialmente ela tentou descon-

versar e passar a bola da elaboração da pergunta para outro in-

tegrante, mas rapidamente ela soltou essa: “O que o Hip Hop

significa para você?”. Aos poucos o pessoal foi respondendo:

família, terapia, modo de vida, uma coisa que me deixa feliz,

modo de expressão e “muita Carminha!” (era época do ultimo

capítulo da novela “Avenida Brasil”).

No começo, tive algum receio da conversa não se desembolar

livremente ou ficar muito concentrada na fala de poucos par-

ticipantes, até mesmo pela pouca idade do grupo. Mas a ideia

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do jogo foi bem sucedida e tivemos uma ótima e longa conver-

sa onde todos, em algum momento, se expressaram. Deixei o

papo fluir de maneira bastante livre, foi interessante perceber

como os relatos de cada jovem sobre o grupo se misturavam

às memórias e à identidade pessoal de cada um. Assim, o que

começou de maneira tímida, rapidamente se tornou um bate-

papo que se prolongou por 1 hora e 45 minutos e que foi bas-

tante além das respostas às cartas, indo desde temas como “a

nova praça do Novo Tempo”, até temas como violência urbana,

novela, religião e culinária. Foi aí, que a coisa toda tomou formas

mais claras para mim, percebi que mais do que pela dança por

si só, aqueles jovens se reuniam também para conviver, fazer

amizades, se sentir parte.

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Segue abaixo uma breve sistematização bem objetiva sobre o

“jogo de discussão”:

Base-NT: Do Novo Tempo para Timóteo

A partir da pergunta “Como e onde queremos atuar” começou

a discussão sobre o atual grupo de dança de rua Base-NT: ritmo

urbano. O grupo respondeu que, a princípio, eles gostariam at-

uar mais intensamente em Timóteo inteiro, através de eventos,

festas e festivais.

Base-NT e a Escola Municipal do Novo Tempo

Foi relatado que o grupo teve sua atuação ligada à escola do

Novo Tempo desde o princípio. A escola sempre acolheu e ce-

deu o espaço, sendo o único apoio durante muito tempo. Os

integrantes disseram que sentem a escola como um local deles

e perto da casa de todo mundo. Mesmo com mudanças de gov-

erno e de direção, o grupo continuou atuando dentro da escola.

A Escola Novo Tempo é uma referência para o grupo, mas nas

palavras do dançarino Beto “o Novo Tempo sempre vai ser sem-

pre referência, mas é necessário buscar outros espaços”.

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Fazer a “boa notícia” correr

O grupo relatou que a curto prazo eles gostariam de reforçar

imagem do coletivo dentro do bairro Timotinho até o bairro Ana

moura, bairros vizinhos ao Novo Tempo, criando uma rede que

faça a “boa notícia” correr. Como uma possibilidade eles pon-

tuaram a criação de outras bases dentro da região, para depois

expandir. Foram citadas as possibilidades do grupo trabalhar

dentro de mais escolas e centros comunitários, assim como par-

ticipar da construção do estatuto da Praça PAC, que é ao lado da

Escola Novo Tempo.

Preconceito da comunidade

Foi falado também sobre algumas dificuldades encontradas pelo

grupo. Muitos familiares, vizinhos e funcionários da escola Novo

Tempo, veem a dança de rua com muito preconceito. Aqui, foi

destacada a necessidade de mostrar à comunidade o que é a

dança de rua a fim de combater o preconceito. Sobre o precon-

ceito contra a dança de rua, os jovens disseram que existe de ma-

neira mais forte dentro da população mais religiosa, em especial

a população evangélica.

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Partindo para a próxima pergunta “Quais dificuldades encon-

tramos?”, foi discutido sobre como a dança de rua é vista, por

grande parte da população, como algo negativo, nas palavras do

jovem Warley, como algo do “Sem Sombra”, como algo do “Da

Pá Virada!”. Nesse ponto faço um parênteses dentro desse tema,

é interessante notar como os próprios jovens vivem dentro de

um contexto ambíguo, uma vez que eles frequentam as mesmas

igrejas que condenam uma prática que faz parte da rotina deles.

Em um dos encontros, a Duda me contou que um pastor mais

novo, com proposta de inovar e trazer mais jovens para a igreja

dele, chamou o grupo Base-NT para dançar em um dos cultos da

igreja, Duda relatou que ao ficar sabendo do convite disse para

os outros integrantes do grupo – “Aí não né gente! Aí vocês tão

de sacanagem! Dançar na igreja! Pode não! Isso é pecado!” – em

seguida a Camila, outra jovem do grupo, falou – “Mas a coreo-

grafia não vai ter nenhum movimento sensual, não vai precisar

rebolar.”

O que queremos ser?

A partir da pergunta “O que queremos ser?”, os integrantes de-

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ram as seguintes respostas:

Família de dança / União: Um grupo aberto, porém, que atraia

pessoas interessadas de verdade, que queiram fazer parte da

família.

Ambiente de Diversidade: um coletivo que agrupe todos es-

tilos de dança de rua, etnias e raças. Agregar novas pessoas e

conhecimentos. Local de troca de experiências.

Trabalho Social: Um ambiente que fortaleça laços de amizade,

a disciplina e a cidadania.

Atividade física e de lazer: um ambiente de encontro onde

pessoas se juntem pelo prazer de dançar (objetivo que esteve

junto ao grupo desde o início)

Atividade de competição / alto rendimento: ser reconhecido

enquanto um grupo competente para participar de campeona-

tos de dança a nível nacional. (Esse objetivo é voltado para um

grupo menor de dançarinos mais antigos, com um nível mais

avançado de dança).

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Atividade de Inclusão Social pela dança: um grupo que ofer-

eça aulas e oficinas de dança gratuitas em escolas pública.

Por fim eles resumiram em uma frase o que o grupo quer ser:

“Um grupo para quem quer, que estimule as pessoas a experimen-

tarem, a ficarem à vontade e a ter disciplina de ensaio.”

Outras dificuldades encontradas

Foram pontuados, também, como fatorares que atrapalham o

andamento do grupo: a falta de motivação com a saída do líder

André Carlos em agosto, a imaturidade de alguns integrantes

que entram e saem com facilidade e até mesmo o preconceito

que a comunidade tem com o jeito do grupo se vestir: boné de

aba reta, tênis de hip hop, corrente prateada no pescoço etc.

Nossos Públicos

Durante a discussão, os jovens pontuaram, também, quais são os

principais públicos do grupo hoje em dia:

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- Pais e familiares das crianças que participam das oficinas de

dança de rua – segundo o grupo, esse público precisa o trabalho

realizado pelo coletivo, portanto o relacionamento com os pais

e familiares das crianças que participam das oficinas deve ser

estreitado.

- Crianças e adolescentes que participam das oficinas – faixa

etária: 6 anos a 12 anos (Turma 1) e 12 anos a 17 anos (Turma 2).

- Crianças e adolescentes que acompanham as apresentações do

grupo.

- Profissionais da dança.

- ONGs, Fundações e movimentos culturais da região do Vale do

Aço (ex: IBIS – Instituto Brasileiro de Igualdade Social – Timó-

teo, Grupo Pirilampo, Fundação de Cultura Aperam Acesita).

- Funcionários da Escola Municipal do Novo Tempo.

- Prefeitura e Secretarias de Cultura e Educação / poder publico.

- Instituições educacionais – UNILESTE/UNIPAC etc.

- Escolas públicas.

- Empresas Privadas.

- Igrejas.

- Outros grupos de hip hop locais – “Conteúdo Avulso” / Cole-

tivo Fora do Eixo.

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Por fim…

Por fim, o grupo também destacou a importância do financia-

mento do coletivo para que o mesmo possa crescer com o tem-

po. Deixam claro,no entanto, que o grupo vai além de um pro-

jeto financiado e não precisa necessariamente de dinheiro para

se manter de pé, enquanto coletivo de pessoas que se juntam em

torno da paixão pela dança de rua.

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a vídeo-cabine:

“Meu nome é Lucas, sou dançarino…”

A video-cabine foi pensada como uma forma de incentivar a re-

flexão individual sobre o Grupo de dança de rua, sensibilizando

os participantes para o sentido de pertencimento ao grupo de

uma forma bem livre e introdutória. Foram necessários: Uma

sala fechada, um câmera filmadora, um tripé e uma plaquinha

escrito “Vídeo-Cabine”.

Cada participante (exceto Samila, 14, que não quis gravar o de-

poimento por estar com muita vergonha), após o “jogo de dis-

cussão” e após o almoço (cedido gentilmente pelo restaurante

“Rico Sabor”) entrou em uma sala, fechou a porta, deu play na

câmera e gravou seu relato.

Os jovens ficaram bastante empolgados e ansiosos com a ideia

da vídeo-cabine. Acredito que falar para a uma câmera, por mais

que a princípio ninguém esteja te ouvindo, traz uma sensação de

antemão de se estar falando para várias e várias pessoas. As mais

novas se limitaram a falar brevemente sobre como e quando en-

traram no grupo. Já os mais velhos trouxeram mais aspectos da

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vida pessoal deles para dentro do relato, falando sobre como a

família apoiou ou não o fato de eles participarem de um grupo

de dança de rua, sobre como o hip hop está presente constante-

mente na vida deles, sobre memórias particulares, como o aci-

dente que o Lucas relatou que o obrigou a ficar quase 4 meses

sem dançar ou como o depoimento do Beto que falou sobre uma

possibilidade de se mudar para Portugal. Um depoimento que

se diferenciou um pouco foi o do Gabriel, imagino por ter se

apropriado de sua posição de líder e de uma fala mais “institu-

cionalizada” sobre o grupo. No seu depoimento, Gabriel tratou

de temas que foram desde sua entrada no grupo, até a inclusão

social pela dança, passando por um breve contextualizada pela

cultura hip hop enquanto uma cultura periférica.

Os videos registrados foram utilizados para compor o pequeno

documentário do grupo que foi entregue a cada um dos partici-

pantes no formato DVD. Ao fim das atividades de vídeo-cabine

os integrantes já partiram, no mesmo dia, para a redação dos ro-

teiros dos programas de rádio, que foram finalizados, gravados e

editados apenas no dia seguinte.

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NOVO TEMPO FALANDO PARA O MUNDO!Encontro 2 (Sede Pirilampo – 10h às 13h30)

Processos de criação em rádio / Exercício das fotografias.

é nóis na fita:

A partir do tema “o Hip hop e o Grupo de Dança de Rua do bairro

Novo Tempo” (que ainda não havia sido batizado de “Base-NT”),

foi proposto que os integrantes do grupo produzissem pequenos

programas de rádio a serem transmitidos na Rádio Cidade (rádio

comunitária local) e Rádio Itatiaia Vale do Aço.

A proposta pretendia tanto estimular os integrantes a pensar

sobre o próprio grupo, quanto sensibilizá-los para aspectos

como: para quem queremos falar? Qual imagem queremos ter

diante de nossos públicos? Outro objetivo pretendido com essa

atividade foi dar visibilidade e reconhecimento ao trabalho do

grupo, uma vez que um produto feito pelos jovens iria ao ar em

duas rádios de grande audiência local. Não fez parte das propos-

tas desse encontro capacitar os jovens para a edição de áudio,

mesmo assim deixei uma apostila impressa sobre como editar

áudios no Audacity (um software aberto com uma interface su-

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per simples) com cada um dos participantes.

Inicialmente, mostrei aos jovens diferentes exemplos de pod-

casts, em segundo lugar abri espaço para a discussão em grupo

sobre a temática do programa a ser produzido (já com os três

grupos divididos) e em terceiro lugar apresentei brevemente

“como escrever um roteiro para rádio”.

Desse processo de criação, surgiram 3 programas de rádio,

cada um com aproximadamente 4 minutos: “é Nóis na Fita!”,

um programa de entrevistas; “Grito de Rua!”, um programa de

reportagens e “Vida Loka Também Ama”, uma radionovela.

No programa “é Nóis na Fita!”, o Gabriel (21) foi entrevistado

pela Duda (11). Ao longo da entrevista foram tratados de temas

mais pessoais como, “O que o hip hop significa para você?” a

temas mais coletivos como, “Como surgiu o grupo de dança de

rua do Bairro Novo Tempo?”. Já no programa “Grito de Rua!” o

hip hop foi tratado de maneira mais global, apresentando um

breve histórico sobre a cultura hip hop no mundo. Por fim, a

rádio novela “Vida Loka Também Ama” teve um tom mais livre

e “romântico”. O enredo da radionovela tratou sobre uma estu-

dante que se apaixona por um dançarino de hip hop.

Percebi que a maior dificuldade encontrada por eles foi se con-

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centrar e redigir o roteiro, assim como “se soltar” na locução.

Criamos um pequeno estúdio improvisado (com um tripé, um

bom gravador e um computador) onde, a medida que cada gru-

po ia concluindo o roteiro, os jovens entravam na salinha e man-

davam ver na locução. Nas primeiras gravações de cada grupo os

meninos ainda estavam encabulados, falando com pouca fluên-

cia e gaguejando bastante, o que é normal. Fui dando uns toques

aqui, uma ajudinha ali e nas últimas gravações da locução de

cada programa já tínhamos um resultado ótimo, considerando

o pouco tempo de preparo que tivemos. Após a gravação da

locução, os jovens me passavam todas as sonoras selecionadas

por eles para compor os programas (trilhas e efeitos sonoros) e

orientavam meu trabalho de edição dos programas no Audac-

ity. Acabei aproveitando as trilhas sonoras para atualizar minha

playlist com muito hip hop e funk.

Fiquei surpresa com o engajamento da Duda que sugeriu que

tivéssemos oficinas de rádio durante todos os domingos do ano.

Os jovens ficaram bastante empolgados com o resultado final dos

programas de rádio e eu cheia de planos para propor um futu-

ro programa semanal para Rádio Comunitária Cidade – começa

agora mais um programa “Novo Tempo falando para o mundo!”

produzido pelos jovens do coletivo Base-NT (…) – e por aí vai.

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desafio fotográfico:

Como exercício do primeiro para o segundo encontro, verifiquei

com os participantes quais tinham câmeras disponíveis, tanto

câmeras fotográficas comuns dessas digitais, quanto câmeras de

celular. Como a maioria dos integrantes tinham acesso a algum

tipo de câmera, propus que eles utilizassem as próprias câmeras

para realizar o exercício em duplas. Assim, foi proposto como

exercício que, ao longo de 15 dias, os dançarinos registrassem

imagens que, segundo eles, estivessem relacionadas à identi-

dade do grupo, ou seja, o desafio era registrar o grupo sem se

autofotografar ou fotografar os outros integrantes. Dessa forma,

ficou combinado que as imagens seriam entregues no próximo

encontro.

Pensada como forma de criar uma ponte entre as questões le-

vantadas no “jogo de discussão” e o trabalho de criação visual,

o exercício com fotografias tinha tudo para dar certo, mas infe-

lizmente apenas três integrantes do grupo (Gabriel, Kut e Síria)

cumpriram com a tarefa proposta (os trabalhos colaborativos e

seus mistérios de mobilização…) o que acabou fazendo com que

o exercício fotográfico tivesse que ser adiado, como será esmi-

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uçado mais à frente.

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NO PALCO, MAS SEM ABANDONAR A RUAEncontro 3 (Fundação Aperam Acesita às 19h)

apresentação de coreografia:

O terceiro encontro foi realizado durante a apresentação do

Base-NT na VI Mostra Círculo de Cultura do Grupo Pirilampo,

que aconteceu na Fundação Aperam Acesita, em um teatro com

capacidade 150 cadeiras. Nesse encontro, além de atuar como

observadora, tratei do registro audiovisual da apresentação.

Acredito que esse encontro teve grande importância no decor-

rer dos processos criativos do grupo, uma vez que houve grande

reconhecimento por parte do público (de diferentes regiões de

Timóteo), com a casa cheia e muita gritaria!

Outro ponto importante foi a exibição do vídeo da apresenta-

ção para todo o grupo no dia seguinte à mostra. A reação foi

bastante empolgada, vários pediram para eu gravar o vídeo para

eles , outros perguntaram “pode colocar no face?” e a Samara co-

mentou: “Nossa! Até que eu tô dançando direitinho!”. Ao longo

da exibição do vídeo os jovens iam comentando sobre a reação

do público, sobre a fumaça cenográfica que estava atrapalhando

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um pouco, entre outras memórias do momento.

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PRECISAMOS MUDAR DE NOMEEncontro 4 (Sede do Grupo Pirilampo – 9h às 13h30) - Apresenta-

ção da sistematização do Jogo de Discussão / Precisamos Mudar

de Nome / Site / (Re) Exercício das fotografias.

E aí, Bruna? Ficou bom?

Nesse encontro apresentei para o grupo a sistematização que eu

havia feito sobre tudo que tínhamos discutido no “Jogo de Dis-

cussão” do primeiro encontro. Percebi que isso foi importante

para retomarmos questões importantes do projeto, evitando

de as discussões iniciais ficarem esquecidas ou pouco presen-

tes ao longo de todo o processo criativo. Aqui, chegamos em

um ponto interessante que veio, posteriormente, dar nome ao

projeto experimental: após a apresentação e a validação do que

fora sistematizado sobre a identidade do grupo, o Lucas, mais

conhecido como Lukão, disse: “Precisamos mudar de nome”.

Imediatamente, todos concordaram.

Assim, eu praticamente me limitei a gravar alguns momentos

do brainstorm, que surgiu de maneira espontânea dentro da

conversa entre os dançarinos, e a dar algumas sugestões quan-

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do alguém do grupo me perguntava: “E aí Bruna, ficou bom?”.

Para não tornar minhas opiniões tendenciosas, minhas sug-

estões sempre caminhavam para o lado: “vamos pensando em

mais nomes, quanto mais melhor, depois vocês entram em um

acordo” ou “não podemos esquecer do que já pensamos sobre

nosso públicos, objetivos, valores, nosso histórico...”. Falei assim

mesmo, dizendo “nosso” grupo, foi uma apropriação natural que

tive ao longo dos encontros com os meninos. Hoje, considero

que isso foi positivo para o andamento das atividades, afinal a

proposta do “fazer junto” implica que o mediador, no caso eu,

mobilize-se, entre para a roda e se sinta, de certa forma, per-

tencente aquele coletivo. Sem isso, a coisa fica meio capenga ou

insossa e, por isso mesmo, menos integradora.

Além do nome escolhido “Base-NT” (eleito com 8 votos), os

jovens tiveram ideias como: TNT-Crew, NT-Base, TNT Dance,

TNT-Mix, NT Roots, entre outras propostas menos aceitas pelo

grupo. Após a escolha do nome, o grupo fez outra “tempestade

de ideias” para escolher o slogan. Algumas propostas foram:

Base-NT: Cultura de Rua; Base-NT: Ritmo de Rua; Base-NT: Hip

Hop Dance e o vencedor: Base-NT: Ritmo Urbano.

O grande argumento para mudar de nome foi o de minimizar a

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relação direta entre o grupo de dança de rua e a Escola Munici-

pal do bairro Novo Tempo. O Novo Tempo devia ser uma base,

mas não devia ser o próprio grupo. Além disso, os integrantes

acharam que o nome “Grupo de Dança de Rua do Novo Tempo”

era compriiiiiido demais.

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WWW:

Uma demanda que surgiu ao longo das atividades junto ao Base-

NT foi a de criar um site para o grupo, reservei parte desse en-

contro para pensarmos conjuntamente no conteúdo do site e

sobre como ele seria atualizado. Foi decidido que o site teria

as seguintes páginas: Inicial / Base-NT / Vídeos / Fotos / De-

poimentos / Agenda / Comentários / Possibilidade de compar-

tilhamento de conteúdo via facebook / Contatos. Disse que ia

desenvolver um site com essas funções, mas bem simples, uma

vez que eles mesmos teriam que ter a autonomia de atualizá-lo.

Foi combinado que ao fim do processo eu enviaria um tutorial

simples ensinando-os a postar conteúdos no site (wordpress) e

que o Gabriel, que possui fluência com computadores e internet,

seria, a princípio, o responsável pela atualização. A Francislane

(18), irmã da Duda e ex-integrante do grupo Base-NT, se dispôs

a divulgar o site e as notícias do Base-NT via redes sociais, uma

vez que ela é online. Aqui, também marcamos de montar uma

fanpage no Facebook para o grupo divulgar suas apresentações.

E como já dizia a Duda “#compartilhe!”.

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Fotografias, recortes, esboços:

Como já foi falado, no primeiro exercício com fotografias tivemos

um grande problema: apenas 3 integrantes fizeram o exercício de

fotografar imagens relacionadas ao Base-NT, com as seguintes re-

gras: (1) não se autofotografar e (2) não fotografar o próprio grupo.

Assim, achei que 3 era um número pequeno, diante de todos os

13 participantes. Chamei a atenção do grupo dizendo sobre a im-

portância daquele exercício para as próximas atividades. Assim,

repeti o “dever de casa”, mas dessa vez ampliei os recursos que

podiam ser utilizados: além de fotografias, os jovens poderiam

trazer, esboços, recortes e imagens da internet.

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PAPEL, CANETA E MANGAEncontro 5 (Casa da Duda – 14h às 18h) - Processos de criação vi-

sual (trazer referências ligadas ao grupo: exercício das fotografias,

recortes, imagens da internet, desenhos e rascunhos). Sensibiliza-

ção sobre importância das cores, da tipografia e da logomarca.

Acredito que essa parte do processo tenha sido a parte mais

desafiadora, o grupo teria que juntar tudo o que já havia sido

conversado e acordado sobre a identidade Base-NT para então

resumí-la em uma logomarca. Outro grande desafio era: em

que medida interferir no processo criativo? Existe algum limite

bom de interferência? Ou seria a proposta ideal apenas dar liber-

dade? Optei por repertoriar minimamente os jovens e criar certa

base de trabalho, um de onde partir guiado pelo encadeamento

das propostas definidas para cada encontro. Acredito que mui-

tas vezes uma “liberdade total de criação” se torne uma “falsa

liberdade”, considerando que os jovens naturalmente se cobram

por cumprir uma expectativa projetada sobre eles, trocando em

miúdos, fazer um recorte dentro de uma infinidade de possíveis

materiais de trabalho não significa restringir as possibilidades

criativas que neles estão depositadas.

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Foi ótimo realizar o 5º (e 6º) encontro na casa da Duda. A Dudinha,

como o pessoal gosta de chamá-la, mora no final do bairro Ana

Moura (vizinho ao Novo Tempo) em uma casa que mais parece

uma roça, chão batido, terreiro, galinha, cachorro solto, muito

pé de fruta, horta… fiquei até achando curioso o ritmo urbano

do Base-NT e refletindo sobre essa apropriação da cultura de rua

dos grandes centros urbanos pelas pequenas e médias cidades do

interior. Enfim, foram só uns parênteses.

Começamos as atividades do 5º encontro fazendo alguns exer-

cícios para soltar o traço e o desenho criativo (o que, Bruna? –

Soltar o traço! – Que traço? – O traço uai! Vocês vão ver...). Pri-

meiro realizamos desenhos às cegas para diminuir a expectativa

e a cobrança sobre o que estava sendo desenhado, inicialmente

o desenho deveria ser feito sem retirar o lápis do papel, em um

segundo momento, cada integrante deveria completar o desenho

de outro jovem.

A princípio, os meninos ficaram um pouco “travados”, dizendo

que não sabiam desenhar. Porém, com o passar do tempo, a

grande maioria foi se desinibindo e, com a ajuda dos exercícios

propostos, se concentrando em criar de acordo com suas possi-

bilidades técnicas. Após o exercício de desenho às cegas e de de-

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algumas músicas. A cada 30 segundos eu trocava de estilo musi-

cal, propus essa atividade como forma de fazer ligações sinestési-

cas, incentivando os jovens a criarem metáforas entre aspectos

sensoriais distintos.

Foi uma boa atividade, porém, se fosse realizar esse exercício

novamente, evitaria trazer músicas e ritmos conhecidos pelos

jovens, já que a música conhecida tende a trazer consigo, além

de opiniões muito cimentadas e arquirrivais (“forró é a morte!”,

“tira esse pagode pelo amordedeus!”) uma bagagem de pré-asso-

ciações já muito definidas e que, muitas vezes, nada tem haver

com a música em si. O exercício deu muito certo, por exemplo,

quando coloquei músicas da japonesa Keiko Abe.

O último exercício de desenho proposto foi o de desenho rápi-

do. Pedi que cada um desenhasse os seguintes objetos no tempo

determinado: uma garrafa térmica em 5 segundos (“garrafa tér-

mica?”), um chuveiro elétrico em 10 segundos (“que isso!”) e uma

galinha em 5 segundos (um deles desenhou um ovo). Esse último

exercício de desenho, trouxe várias imagens simples, divertidas e

espontâneas que exemplificaram como é possível construir ima-

gens “profundas” com poucos traços (“Cara! Sua galinha ficou

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muito massa!”).senho coletivo, foi proposto que cada um desenhasse ao ritmo de

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Após os exercícios de desenho, fizemos um exercício de en-

quadramento como forma de sensibilizar os jovens para esse

aspecto da criação. Cada um recebeu uma fotografia com o mes-

mo tema: bicicleta. A partir daí, com o auxílio de uma cartolina

preta com um retângulo vazado, cada um foi incentivado a sele-

cionar um enquadramento daquela imagem e justificar a escolha

do mesmo. Com isso, tratamos um pouco sobre a necessidade

de escolha do que e como se quer mostrar, diante de todo um

mundo de coisas que pode aparecer. O que queremos enfatizar?

O que é para ser visto? Como mostrar o que deve aparecer? O

que pode ser ocultado?

Por fim, digo, antes de começarmos a nos debruçar diretamente

na criação da marca Base-NT, falei de maneira breve sobre cores,

tipografias e logomarcas. No caso das logomarcas, apresentei di-

versas (em torno de 15) logomarcas que se utilizam do animal

“porco” como referência visual e nem por isso são parecidas uma

com a outra, cada uma tem uma personalidade distinta com va-

lores implícitos diferentes. Nesse momento, puxei uma conversa

sobre aquelas logomarcas e aqueles porcos, um pretexto para

começar uma discussão sobre quais porcos eram mais legais,

quais eram mais fofinhos, quais eram comestíveis, quais eram

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de pelúcia, quais eram moderninhos, etc. Apresentei também

como exemplo, algumas marcas e cartazes tipográficos, além

de marcas não figurativas. Meu objetivo com isso foi desvincu-

lar a criação da marca como apenas a definição das referências

visuais, sensibilizar os participantes para a importância de dar

“personalidade” à nossa futura logomarca e chamar atenção para

o cuidado que se deve ter na criação tipográfica, afinal de contas

letras também são desenhos.

Ao fim das atividades do quinto encontro, que aconteceu na

casa da Duda, ficamos até às 8 horas da noite jogando futebol,

chupando manga e matando pernilongo.

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Base-NT: a Marca.Encontro 6 (Casa da Duda – 9h às 13h30) – Discussão em grupo

a partir das referências trazidas, dos desenhos criados na oficina

e dos objetivos e públicos do grupo. Definição coletiva da com-

posição da identidade visual do grupo (ilustração e tipografia).

No início do 6º encontro nos voltamos para as imagens criadas

e selecionadas a partir do (re) exercício fotográfico. A maioria

dos jovens dessa vez cumpriu com a proposta sugerida e trouxe

imagens produzidas por eles que representassem o grupo de al-

guma forma. Assim, além das imagens produzidas no primeiro

exercício de produção de fotografias, tínhamos dessa vez alguns

desenhos e esboços produzidos pelos jovens, algumas imagens

selecionadas da internet e um esboço da futura camisa do cole-

tivo projetada pela Duda.

Nesse momento, passamos a conversar sobre os conceitos que

deveriam estar presentes na marca, como mediadora, eu sempre

ia buscando as discussões de encontros anteriores para orientar

a criação. Depois de muita conversa, fechamos que a marca de-

veria expressar movimento e estilo, além de ser amigável como

a “família” Base-NT. Continuando o processo de criação, algu-

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mas definições imagéticas começaram a sair a partir das referên-

cias trazidas e das discussões anteriores, as mais citadas foram:

Grafite, Muro da escola, boné e caixa de som ou pickup.

Enfim, cada um pegou papel, lápis, caneta, etc e começou a colo-

car a mão na massa. Coloquei um som na “pickup” para o ambi-

ente ficar mais descontraído e propus que todos fossem buscando

criar imagens que pudessem ser utilizadas na elaboração da logo-

marca, assim como desenhar letras dignas de representar nosso

grupo. Foi interessante reparar que o trabalho sempre continuou

coletivo, com cada um dando pitacos e interferindo na criação

do outro de modo positivo. Para quem ainda estava muito inse-

guro com o desenho, sugeri a utilização da projeção da imagem

do computador na parede para pegar alguns traços e proporções

(até porque a proposta da oficina nunca foi a de ser uma oficina

de desenho), deixando claro que a criação teria que ser inédita e

que eles deveriam interferir na imagem de toda forma.

Ao fim do processo, colocamos todos os desenhos finalizados

na mesa e perguntei para eles: “E aí? Como vai ser?”. O grupo

definiu, a partir de voto aberto, os parâmetros e os elementos

a serem compostos na finalização da marca. Com isso anotado

na cabeça, levei as imagens para casa, digitalizei, vetorizei e fiz

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alguns ajustes de composição.

E gostei demais da marca! De cor preta chapada e inspirada na

estética do stêncil (arte de rua) a marca expressou o que havia

sido discutido: ela é jovem, amigável, expressa movimento e tem

estilo, estilo de rua, de “feito na tora”. Além disso, a utilização

da referência visual dos “bonecos de sinalização”, incorporando

a ele um comportamento hip hop, traz uma sugestão imagética

comum aos “urbanos” para dentro da marca.

De fato, o trabalho coletivo e a contribuição de cada um den-

tro do processo foi um diferencial para a criação da marca. O

desenho tipográfico, por exemplo, foi feito diretamente por

duas pessoas em conjunto (Gustavo e Felipão), já o desenho do

personagem foi pensado mais diretamente pelo Felipão e pelo

Gabriel, desenhado pelo Gabriel e finalizado por mim, que fiz

algumas pequenas alterações em seus gestos de modo a torná-

los um pouco mais característicos, nada que tenha deturpado a

proposta de criação do Gabriel.

Enfim, todos contribuíram de alguma forma, com sugestões,

pitacos, através das votações, discussões, busca de referências,

etc. Por fim, fiquei torcendo para que o resultado final agradasse

a todos os jovens dançarinos.

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BLUSAS FRESQUINHASEncontro 6 (Escola Novo Tempo – 16h às 19h30) – Apresentação

das versões da marca finalizadas / votação sobre qual seria a

marca definitiva / Criação de Stêncil da marca / Impressão das

camisetas BaseNT / Colagem de cartazes pela Escola e no ponto

de ônibus em frente à escola com a marca nova / último ensaio

para o Flash Mob de divulgação da marca no dia 22/12.

No 6º encontro, foram apresentadas algumas versões finalizadas

da marca Base-NT, com diferentes composições. Coloquei todas

elas impressas sobre a mesa e esperei que todos entrassem em

acordo a respeito de qual seria, enfim, a marca Base-NT. Não

houve nenhum grande conflito para a escolha da marca, a escol-

hida venceu por quase unanimidade.

Assim que foi definida a versão final da marca, apresentei para os

jovens como seria o processo de impressão das blusas (impressão

serigráfica artesanal usando um molde -stêncil - de papel sulfite

90g/m2 por debaixo da tela de nylon). Alguns dançarinos já ha-

viam trazido as respectivas blusas brancas para serem impressas,

por segurança levei mais blusas para ninguém ficar sem (nem

eu!). Esse processo foi ótimo, uma delícia! Todos, de fato, vesti-

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ram a camisa. E impressas por eles mesmos! A reprodutibilidade

técnica assim tão de perto e tão feita à mão sempre me encanta,

em pouco tempo a mesa já estava cheia de camisas iguais. Achei

interessante como muitos integrantes se apropriaram da marca

e customizaram suas camisas com glitter (mesmo que o glitter

fosse sair depois da primeira lavagem), tintas coloridas, nome

nas costas, etc.

Ao fim do encontro, de maneira espontânea, os integrantes do

grupo Base-NT colaram alguns cartazes divulgando a nova mar-

ca Base-NT pela escola, no muro e no ponto de ônibus próximo

à Escola Municipal Novo Tempo. Acredito que isto tenha sido

outro ótimo indício de apropriação da marca pelo grupo.

Terminada as impressões das blusas, os jovens dançarinos foram

para o último ensaio do flashmob do dia seguinte. Pensado

como um primeiro momento de divulgação da marca Base-NT,

o flashmob funcionou como um momento de “dar as caras”, se

posicionar enquanto grupo e ser reconhecido enquanto tal, des-

pertando julgamentos dos expectadores.

Fiquei gravando o ensaio e pensando que se eu ainda morasse

em Timóteo eu iria ser Base-NT.

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VEM COM MC KORINGA E DEIXA O CORPO SACUDIR:Encontro 7 (Centro de Timóteo – MG / 15 horas)

Planejado para o ultimo sábado antes do Natal, o flashmob

aconteceu na tarde do dia 22 de Dezembro de 2012, às 15 horas

no Centro-Norte de Timóteo. O evento foi organizado integral-

mente pelo grupo Base-NT, a partir de uma ideia do Gabriel que

surgiu no início dos encontros do projeto. Com o andamento do

processo o flashmob, que ia ser apenas mais uma apresentação

do grupo, virou uma oportunidade de divulgação da nova marca

Base-NT: ritmo urbano. Meu papel nesse encontro foi o de regis-

trar o flashmob, o que foi uma coisa bastante difícil com apenas

uma câmera e muita coisa acontecendo.

Tudo começou com uma simulação de briga entre um casal

(Lucão e Samara) e um terceiro elemento, que se dizia ser a

amante do homem do casal (Warley Kut de peruca). Os três an-

daram por locais movimentados do centro simulando um bate-

boca e atraindo a atenção dos curiosos de plantão. Depois de

despertar a curiosidade de muita gente, os dois pararam em uma

rua e quando a briga esquentou o Gabriel entrou para apartá-

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la, nesse momento a caixa de som de uma bicicleta de anúncio

começou a tocar “Danada Vem que Vem” do MC Koringa. Foi

então que os outros jovens, que até então estavam disfarçados

de transeuntes, entraram na dança. No segundo momento da

dança, quando já tinha um público significativo formado, eles

colocaram a camisa do Base-NT, produzida no dia anterior, e ao

fim da dança gritaram “Base-NT!!!”.

A reação do público, em geral, foi positiva, principalmente dos

jovens e das crianças. Alguns adultos se mostraram descon-

fortáveis com o estilo de música, o funk. Algumas pessoas que

pararam para assistir ao flashmob chegaram a esboçar uma

dancinha, mas nada além disso. Ao fim da dança, alguns pedi-

ram “mais um!”, outros pediram uma camisa, muitos aplaudi-

ram, um chegou a chamar o grupo para dançar no bairro dele e

o Gabriel disse que esse era só a primeira de várias intervenções

na rua.

Acredito que o flashmob foi uma atividade muito válida para a

divulgação da marca, principalmente se for seguido de próximos

eventos dessa natureza com uma divulgação mais intensa pela

internet convidando todos a cair na dança. De toda forma senti

firmeza na continuidade dessas ações. O Grupo Pirilampo se

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disponibilizou a ajudar o Base-NT a conseguir novos locais para

organização dos próximos flashmobs. Como possíveis cenários

para as próximas intervenções em flash já temos: o Shopping do

Vale do Aço, o Hipermercado Bretas, o restaurante setorial da

Siderúrgica Aperam e o calçadão comercial da rua 31 de Março.

Aguardem!

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LANÇAMENTO DO DVD BASE-NT:RITMO URBANOEncontro 8 (Sede do Grupo Pirilampo – 9h30 às 12h30) –Pensar

em táticas para a divulgação do Base-NT / Distribuição de car-

tazes / Reunião de encerramento / Exibição de lançamento do

DVD Base-NT: Ritmo Urbano.

No último encontro organizamos uma pequena exibição de

lançamento do DVD Base-NT: Ritmo Urbano. Convidamos in-

tegrantes da equipe do Grupo Pirilampo, funcionários da Funda-

ção Aperam Acesita e integrantes antigos do grupo Base-NT.

Considerei o lançamento um sucesso! Contamos com a presença

de aproximadamente 24 expectadores, incluindo a Neide, coor-

denadora de projetos sociais da Fundação Aperam Acesita. O re-

torno foi muito positivo e o grupo recebeu vários eleogios, como

“Não sabia que vocês tinham um trabalho tão legal e tão bem

estruturado!” (Neide) ou “Ficou fino! Profi! Só vai ficar melhor

se eu ganhar uma camisa!” (Weverson Negão – ex-integrante do

grupo de dança). A exibição do DVD (composto por documen-

tário de 20 minutos, video do flashmob, clipe da criação da logo-

marca, álbum de fotografias e link para site) e os comentários

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que se seguiram após a exibição, funcionaram, de certa forma,

como uma avaliação do público externo (ainda que pouco rep-

resentativa) sobre o grupo Base-NT e sobre o trabalho realizado.

As representantes da Fundação Aperam Acesita, ao fim da exi-

bição, pediram um DVD para repassar para outros funcionários

da fundação, o que pode ser um bom indício para o Projeto Cul-

tura de Rua continuar a ser financiado.

É claro que para termos uma real avaliação sobre como os públi-

cos do Base-NT receberam a nova marca do coletivo, precisaría-

mos de um tempo maior de inserção da marca dentro da co-

munidade, o que, infelizmente, ainda não é possível de ser feito.

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E DAQUI PRA FRENTE?

Após o lançamento do DVD realizamos uma reunião entre os

integrantes do grupo Base-NT mais o convidado (ex-integrante)

Weverson, o Negão, para discutirmos as próximas atividades de

divulgação do Base-NT. Fiz a seguinte pergunta para o grupo:

Como vamos continuar divulgando o Base-NT? Como será daqui

para frente? Assim passamos a conversar sobre ações de comu-

nicação como facilitadoras da sustentabilidade do grupo.

Foram citadas pelos jovens as seguintes ações:

1 - Distribuição do DVD para outros coletivos e parceiros liga-

dos à cultura de rua como forma de propor aproximação en-

tre os grupos. Negão ficou encarregado de entregar o DVD para

os contatos que ele tem com o Coletivo Fora do Eixo em BH e

com o Conteúdo Avulso de Ipatinga, além de fazer um convite

para que dançarinos da Região Metropolitana de Belo Horizonte

ministrem workshops em Timóteo.

2 - Criar uma fanpage no Facebook para divulgar os eventos,

vídeos, site e o próprio material do DVD.

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3 - Atualizar o site com frequência.

4 - Propor intervenções nas escolas públicas nos horários dos

recreios (flashmobs nos patios e cantinas),

5 - Mutirão de lambe-lambe em muros de terrenos baldios.

6 – Criar vídeos-teaser do Base-NT para divulgação na internet.

Ao fim da discussão sobre as ações de comunicação a serem im-

plementadas, fizemos uma avaliação interna sobre todo o pro-

cesso criativo. Pedi para que os jovens fizessem uma avaliação

oral sobre nosso projeto experimental, relatando em que o pro-

cesso criativo vivenciado contribuiu para o grupo. Foram relata-

das pelos jovens as seguintes observações que fui tomando nota:

“O grupo está mais apegado”/ “Estamos mais unidos”

“… percebi que o grupo está mais autônomo”

“agora o grupo posui mais facilidade de inserção junto aos nos-

sos públicos”

“O grupo está mais bem estruturado”

“A autoestima aumentou”

“…até mesmo alguns integrantes que já haviam saído recente-

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mente resolveram retornar”

“Acredito que isso que aconteceu com a gente foi um pontapé

inicial para recomeçar um grupo que já estava terminando.”

“Agora estamos com muitos instrumentos em mãos para uti-

lizarmos em benefício do grupo”

Fiquei bastante satisfeita com o que eles foram espontanea-

mente relatando, afinal de contas o fortalecimento da sensação

de pertencimento, a integração e mobilização do grupo e o em-

poderamento desse coletivo juvenil eram os objetivos mais caros

ao projeto “Precisamos Mudar de Nome”. Por fim eles me dis-

seram que já me viam como parte do grupo Base-NT e eu aqui

morrendo de vontade de aprender a dançar Freestyle, Kromp,

Charme, Reggeaton. Prometi ao grupo que iria voltar e organizar

um treinamento sobre como escrever projetos culturais, que já

foi marcado previamente com a Coordenadora de projetos do

Grupo Pirilampo. Enfim, é difícil de largar um coletivo juvenil

assim sem mais nem menos!

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Este livreto vem acompanhado de 2 DVDs em anexo:

DVD Precisamos Mudar de Nome -

- breve vídeo que ilustra como foi o processo de

criação da marca Base-NT:ritmo urbano;

- Programas de rádio produzidos pelos integrantes do

Base-NT

- álbum de fotos dos encontros.

DVD Base-NT: ritmo urbano -

- pequeno vídeo documentário sobre o Base-NT

- registro do Flashmob de divulgação do Base-NT

- álbum de fotografias

- Contatos e site

- material de texto

- Clipe da criação da marca

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