1. Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos e
formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos
2. Repblica Federativa do Brasil Presidente: Dilma Vana
Rousseff Vice-Presidente: Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministrio
do Meio Ambiente Ministra: Izabella Mnica Vieira Teixeira
Secretrio-Executivo: Francisco Gaetani Secretaria de Recursos
Hdricos e Ambiente Urbano Secretrio: Ney Maranho Chefe de Gabinete
Substituto: Adriana Cristina Duarte de Almeida Vasconcelos
Departamento de Recursos Hdricos Diretor: Marcelo Jorge Medeiros
Gerncia de Polticas e Planejamento Gerente: Franklin de Paula Jnior
Gerncia de Apoio ao Conselho Gerente Substituta: Mirela Garaventta
Gerncia de Apoio Poltica Gerente: Jlio Thadeu Silva Kettelhut
Secretaria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental
Secretria: Mariana Meirelles Nemrod Chefe de Gabinete: Antoniela de
Vicente Borges Departamento de Educao Ambiental Diretor: Nilo Srgio
de Melo Diniz Gerente: Renata Maranho Coordenao do Plano Nacional
de Recursos Hdricos Diretor de Recursos Hdricos Marcelo Jorge
Medeiros Gerente de Polticas e Planejamento Franklin de Paula Jnior
Assessora Tcnica Adriana Lustosa da Costa Assistente Tcnica Alfrida
Moreira da Silva dos Santos Equipe Tcnica Daniel Duarte Martinelli
David Guimares Rocha Geraldo Ges Sandoval Gunter Assis Moraes
Leonardo Julian Klosovski Sandra Michelli da Costa Gomes
3. MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE Secretaria de Recursos Hdricos e
Ambiente Urbano Secretaria de Articulao Institucional e Cidadania
Ambiental Braslia, 2013 Poltica de guas e Educao Ambiental:
processos dialgicos e formativos em planejamento e gesto de
recursos hdricos
4. Organizao Franklin de Paula Jnior e Suraya Modaelli
Colaborao Joema Gonalves de Alvarenga Gabriela Freitas Priscila
Maria Wanderley Pereira Rachel Landgraf Siqueira Raimundo
Nascimento Ricardo Burg Mlynarz Sandra Michelli da Costa Gomes Edio
Ministrio do Meio Ambiente Projeto grfico, diagramao e impresso
Grfica e Editora Movimento In Memorian Luana Aparecida Barbosa
Barreto (relatora da CTEM/CNRH durante o I Seminrio em Salvador,
2009)
HamiltonMarquesMagalhes(representantedoCBH-ParanabaduranteoISeminrioemSalvador,2009)
NinonMachadodeFariaLemeFranco(representantedasociedadecivilnoCNRHpeloInstitutoIpanema,
foi uma das idealizadoras da CTEM/CNRH) CATALOGAO NA FONTE
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVVEIS Poltica de guas e educao ambiental: processos dialgicos e
formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos / 3.ed.,
rev. e ampl.; Organizadores: Franklin de Paula Junior e Suraya
Modaelli. Braslia: MMA/SRHU, 2013. 288 p. ISBN 978-85-7738-189-0 1.
Educao ambiental. 2. Recursos hdricos. 3. Planejamento. I. Paula
Jnior, Franklin de. II. Modaelli, Suraya. III. Ministrio do Meio
Ambiente. IV. Secretaria de Recursos Hdricos e Ambiente Urbano. V.
Secretaria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental. VI.
Ttulo.CDU (2.ed.) 37:556.18 CDU(2.ed.) 37:556.18 Referncia para
citao: PAULA JNIOR, F. de.; MODAELLI, S. (Org.). Poltica de guas e
educao ambiental: processos dialgicos e formativos em planejamento
e gesto de recursos hdricos. Braslia: MMA/SRHU, 2013. 288 p. P766
Impresso no Brasil Printed in Brazil
5. PREFCIO Prefcio O reconhecimento do carter transversal,
estratgico e estruturante da gua para as polticas pblicas e a
governana ambiental global, pela Conferncia das Naes Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentvel (Rio+20), vai informar a elaborao futura
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentvel. A gua recurso
diretamente afetado tanto pelas alteraes do clima como pela
destinao dos resduos slidos. Um processo acelerado de urbanizao, em
meio a um cenrio de mudanas climticas e ambientais globais, torna
imprescindveis as aes de difuso de informaes e de mobilizao social
para a preveno de desastres de origem climtica e pede mudana
drstica nos padres de produo e consumo. Nesse sentido, a promoo de
processos continuados e permanentes de educao ambiental, de
comunicao e de mobilizao social para a gesto de guas constituem
iniciativas estratgicas fundamentais para assegurar a promoo do
desenvolvimento sustentvel. Temos feito nosso dever de casa. Nossos
avanos na agenda socioambiental como a reduo dos gases de efeito
estufa, com a queda brutal no processo de desmatamento da Amaznia;
a reduo da mortalidade infantil; a erradicao da pobreza e a
universalizao do acesso ao abastecimento de gua no meio urbano
permitiram que o Brasil alcanasse as metas dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milnio (ODM). Ao aprovar nosso planejamento
nacional integrado de recursos hdricos, o Plano Nacional de
Recursos Hdricos (PNRH), em janeiro de 2006, cumprimos a Meta n 26
da Cpula de Johanesburgo (Rio+10).
6. Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos e
formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos Chegamos
Rio+20 j tendo concluda a primeira reviso do PNRH. Dentre as
prioridades do PNRH para o perodo 2012-2015, destaca-se aquela que
prope o desenvolvimento de processos formativos continuados para os
atores do Sistema
NacionaldeGerenciamentodeRecursosHdricos(Singreh)eparaasociedade,assim
como o planejamento de atividades comunicativas e de difuso de
informaes sobre a gesto integrada dos recursos hdricos. Essas
prioridades tambm balizaram a elaborao do Programa n 2026 Conservao
e Gesto de Recursos Hdricos, do Plano Plurianual (PPA) do Governo
Federal. O carter inovador do PNRH se expressa na incorporao das
vrias dimenses da gua em seus estudos tcnicos e pela participao da
sociedade na sua elaborao, reviso e acompanhamento. Enquanto
poltica estruturante de longo prazo, o Plano Nacional balizador de
importantes aes do Ministrio do Meio Ambiente, dentre elas, a
realizao dos encontros nacionais de formao de educadores
ambientais, mobilizadores e ativistas para uma atuao qualificada na
gesto hdrica. Um exemplo de governana e de aliana em favor do uso
racional da gua e da sustentabilidade socioambiental das bacias
hidrogrficas brasileiras, esses encontros so organizados pela
Secretaria de Recursos Hdricos e Ambiente Urbano (SRHU), por meio
do Programa Interguas, com o apoio da Secretaria de Articulao
Institucional e Cidadania Ambiental (SAIC), da Agncia Nacional de
guas (ANA) e dos Estados, acolhendo iniciativa da Cmara Tcnica de
Educao, Capacitao,
MobilizaoSocialeInformaoemRecursosHdricos(CTEM),umadasdezcmaras
tcnicas temticas consultivas do CNRH, composta por representaes do
poder pblico, dos usurios da gua e da sociedade civil.
7. PREFCIO neste contexto que a presente publicao, juntamente
com os encontros de formao, contribuem para a implementao do PNRH,
proporcionando o registro de conhecimentos e experincias, bem como
das avaliaes e orientaes, visando aprimorar o processo de
aprendizagem da gesto de recursos hdricos. IZABELLA MNICA VIEIRA
TEIXEIRA Ministra de Estado do Meio Ambiente
8. Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos e
formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos
9. Apresentao Mensagem do Secretrio de Minas Gerais Adriano
Magalhes Chaves Secretrio de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentvel de Minas Gerais com imensa satisfao que
Minas Gerais recebe a terceira edio do Encontro Formativo Nacional
de Educao Ambiental e Gesto das guas,que vem se consolidando como
um dos mais importantes fruns de dilogo sobre Educao Ambiental
voltado para a gesto hdrica nopas,proporcionando amplo e
qualificadodebate acerca do tema.Neste ano, o III Encontro ser
realizado, de forma integrada,com o I Encontro de Educao Ambiental
da Bacia do Rio Doce, que abrange os estados de Minas Gerais e
Esprito Santo,e possui experincia exemplar na gesto integrada de
recursos hdricos.
ApropostadosEncontroscoadunacomosesforosdoEstadodeMinasGerais,governoesociedade,
de ampliar e qualificar a participao e o engajamento social e
poltico dos sujeitos envolvidos na gesto das guas, especialmente,
os conselheiros dos Comits de Bacias Hidrogrficas, e promover o
aprofundamento da gesto democrtica dos recursos hdricos,
assegurando a sustentabilidade socioambiental dos programas
desenvolvidos no Estado. Nesse sentido, parabenizamos a Cmara
Tcnica de Educao, Capacitao, Mobilizao Social e Informaes em
Recursos Hdricos do Conselho Nacional de Recursos Hdricos
(CTEM/CERH), por essa iniciativa de promover,juntamentecom o
Ministrio do Meio Ambiente, a formao de educadores ambientais para
atuao na gesto das guas, contribuindo de maneira substancial na
formao de atores sociais com uma compreenso integrada do ambiente e
capacidade de participar de forma efetiva do processo decisrio,
como preconiza a Lei Federal 9433/97e a Lei Federal 9795/99 A
integrao das Polticas de Recursos Hdricos e de Educao Ambiental
(PNEA) , portanto, estratgica para transpor obstculos e promover
uma melhor distribuio de recursos, oportunidades e capacidades
entre os atores, para que todos possam estar em condies de
participar efetivamente da gesto. Nesse sentido, as aes de Educao
Ambiental devem se pautar em anlises estruturais e crticas, que
reconheam a pluralidade dos sujeitos envolvidos na gesto das guas e
auxiliem no reconhecimento dos principais problemas da questo
ambiental, considerando a sua totalidade. Mas, o desafio grande,
uma vez que as questes histricas perpassam pelas desigualdades
estruturais, polticas e de acesso informao, to marcantes nos pases
da Amrica Latina, como o Brasil.
10. Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos e
formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos Diante desse
cenrio, no podemos deixar de citar os Planos Nacional, Estadual e
Diretores de Recursos Hdricos, como instrumentos que integram as
concepes dessasimportantespolticas, e que so balizadores do
processo, ao alocar, de acordo com a Resoluo 17/2001 do CERH, aes
de Educao Ambiental em sua estrutura programtica, consonantes com a
PNEA - Lei 9795/99. A sua implementao, portanto, depende de
diversos fatores, como ambiente favorvel, vinculao com os oramentos
pblicos, comprometimento poltico-institucional, capacitao,
comunicao e controle social. Nesse contexto, acreditamos e
trabalhamos para que o Encontro Formativo Nacional de Educao
Ambiental e Gesto das guas e o 1 Encontro de EA da Bacia do Rio
Doce, como nas edies anteriores, possam contribuir
significativamente para as discusses e o aprimoramento das polticas
pblicas de gesto participativa das guas no pas.
11. Da Bahia ao Rio Grande do Sul, de Salvador a Bento
Gonalves: O ENCONTRO DAS GUAS! Os desafios da Educao Ambiental para
a participao social na gesto ambiental e de recursos hdricos
Eugenio Spengler Secretrio de Meio Ambiente do Estado da Bahia
Entre 6 e 8 de outubro de 2009, a Bahia teve a satisfao de sediar o
I Seminrio de Formao em Educao Ambiental do SINGREH. Esse seminrio
foi promovido pela CmaraTcnica de Educao, Capacitao, Mobilizao
Social e Informao em Recursos Hdricos CTEM/CNRH, organizado pelo
Ministrio do Meio Ambiente (MMA) e teve como principais apoiadores
o governo do Estado da Bahia, o Frum Nacional de Comits de Bacias
Hidrogrficas e o Frum Nacional de rgos Gestores de Recursos
Hdricos. Aquele primeiro seminrio teve por objetivos refletir sobre
o papel da Educao Ambiental na Gesto das guas e os desafios para
sua institucionalizao e subsidiar os educadores ambientais para o
estabelecimento de relaes entre a Educao Ambiental e os
instrumentos da Lei 9.433/97 assim como para o desenvolvimento de
programas e projetos de EA no mbito dos comits de bacia. Eram
objetivos bastante amplos. Passados dois anos, este II Seminrio uma
grande oportunidade para avaliarmos os desdobramentos e
aprofundarmos tais objetivos. A Sema-BA cumprimenta e agradece ao
CNRH, o MMA e o governo do Rio Grande do Sul por darem continuidade
a esse esforo, to necessrio para a gesto ambiental no pas. Algumas
questes relacionadas participao social na gesto ambiental s
conseguem ter um adequado tratamento neste espao, que rene
representantes dos diferentes colegiados do SINGREH. Dentre essas
questes, destaco: 1) como ampliar e qualificar o engajamento social
e poltico da base da sociedade na gesto ambiental e de recursos
hdricos?; 2) como aprofundar a qualidade da participao na gesto e
da representatividade nos comits de bacia? Essas questes no so
triviais. A participao e o engajamento poltico da base da sociedade
brasileira so desafios histricos, que precisam enfrentar obstculos
de ordem estrutural, como a desigualdade social, e de ordem
psicossocial, como a despolitizao e o isolacionismo. Lidar com
desafios histricos requer aes estratgicas, continuadas e
articuladas. No caso da PNRH, necessrio o desenvolvimento de
Programas de Educao Ambiental (PEA) permanentes, em cada Bacia
Hidrogrfica, que configurem estratgias e no a simples soma de aes.
Assim, os principais papis da Educao Ambiental se relacionam
informao e capacidade de interpretao e anlise. Os PEAs devem
favorecer o acesso da sociedade a informaes claras sobre a
realidade socioambiental, destacadamente sobre os usos e usurios da
gua, os conflitos e impactos associados a esses usos, a qualidade
da gua, os papis dos diferentes atores sociais e os instrumentos da
PNRH. Mais que acessar informaes claras, a populao precisa ampliar
progressivamente sua capacidade de interpretar informaes
socioambientais. Esse um desafio pedaggico e poltico da Educao
Ambiental. preciso desenvolver processos, com a base da
12. Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos e
formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos sociedade,
que ao mesmo tempo propiciem diagnsticos e planejamentos
socioambientais, ampliem a capacidade de interpretao dos coletivos
e indivduos e a qualidade da participao e da representatividade nos
diferentes colegiados ambientais. Desenvolver PEAs permanentes, com
este carter estratgico, tarefa das CTEMs. Estas Cmaras so as
instncias de articulao de atores regionais que tm compromisso e
capacidade de desenvolver processos continuados de formao de
educadores ambientais e de comunicao ambiental, assim como
propiciar espaos e materiais para apoio aos educadores. As questes
de ordem estratgica so: como implementar PEAs qualificados em todas
as bacias hidrogrficas? Que polticas pblicas podem favorecer esse
desenvolvimento das CTEMs? Espero que este seminrio continue a
lanar luzes sobre essas questes, assim como o primeiro o fez. Com
essa expectativa, desejo um bom trabalho a todos, cumprimento os
organizadores e reitero o compromisso do governo da Bahia com o
aprimoramento da gesto ambiental e de recursos hdricos, com o
aprofundamento da participao e controle social.
13. Da Bahia ao Rio Grande do Sul, de Salvador a Bento
Gonalves: O ENCONTRO DAS GUAS! Da Bahia ao Rio Grande do Sul, de
Salvador a Bento Gonalves: O Encontro das guas! Jussara Cony
Secretria de Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul Para o
Rio Grande do Sul, sediar esse Encontro das guas se insere no
caminho que est sendo percorrido, agora em sintonia com o Brasil,
na conquista de um novo tipo de desenvolvimento, numa sociedade que
tem de buscar novas articulaes de polticas econmica, social e
ambiental. E onde as polticas ambientais precisam ser consolidadas
e absorvidas pela cultura da administrao pblica, dos empreendedores
e dos consumidores, em etapas que exigem um constante repensar
deestratgias,numconceitodedesenvolvimentoquedeverespondersnecessidadesdopresente
sem comprometer, ainda mais, as possibilidades das geraes futuras
atenderem s suas prprias necessidades. John Bellamy Foster, em A
Ecologia de Marx, Materialismo e Natureza, destaca: A afirmao de
que a vida fsica e espiritual do homem se acha integrada com a
natureza no tem outro sentido que o de que a natureza se acha
integrada consigo mesma e que o homem parte da natureza. Esse
destaque nos permite refletir que, em o homem no se constituir como
parte da natureza, rompido o metabolismo homem-sociedade-ambiente,
na busca desenfreada do lucro pelo modo de produo capitalista,
fazendo do homem um ser parte, rompendo a dialtica de que ele
transforme e seja transformado pela natureza. Assim, para o Rio
Grande do Sul, o significado de sediar o que estamos a cunhar de O
Encontro das guas, em uma segunda edio, com parcerias estratgicas e
em transversalidades com a Educao Ambiental, estar sintonizado com
o Plano das guas do Brasil (Plano Nacional de Recursos Hdricos),
etapa de um planejamento estratgico, a longo prazo, para sua
implementao integrada s demais polticas ambientais estruturantes,
percebendo as guas em seus mltiplos usos e valores: social,
econmico, ambiental, cultural e espiritual. reconhecer, no
cotidiano das relaes que permeiam os lugares de nossas vivncias,
que das beiras de nossos rios nascem civilizaes que podem, tambm,
ali morrer se decretada for, por descompasso com a vida, a morte
dos rios... preservar as riquezas humanas, culturais e naturais
dessa potncia hdrica mundial que nosso pas, num estado que
sintetiza sua dimenso atravs de suas bacias hidrogrficas, no corao
de seu territrio, em compartilhamento com nosso estado irmo de
Santa Catarina, nos pampas fronteirios do Uruguai e Argentina, nas
lagoas que refletem a lua, nos rios que desguam no mar imenso que
costeia nosso Brasil, na ddiva de ser parte de um Aqufero Guarani.
estar aberto e em sintonia com as parcerias, como as construtoras
desse espao de dilogo, reflexo e compromisso com a gesto das
potencialidades que vem das guas e que protagonizam solues locais,
a retomada da qualidade de vida, o desafio da atualidade de
desenvolver-se gerando infraestrutura, emprego, riqueza e
preservando o ambiente; de efetuar a transversalidade, incorporando
s diretrizes dos planos nacional, estadual e municipais de Recursos
Hdricos a
14. Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos e
formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos
EducaoAmbientalcomocomponenteestratgicodegestoambientalintegrada,desenvolvendo
e potencializando capacidades, democratizando a Gesto das guas,
fortalecendo os comits de bacias hidrogrficas, trocando saberes e
fazeres coletivos. Educao Ambiental na perspectiva de novos
horizontes da Educao, ela que um imenso universo para a cidadania,
a tica, a sustentabilidade, na concepo da educao para alm de ser
apenas uma etapa de preparao para a vida e sim para se tornar uma
interao permanente com a vida, por toda a vida. Educao do ser
humano como parte da natureza, na compreenso de lugar da educao
como espao de criao e articulao do conhecimento, patrimnio da
humanidade como um todo e, portanto, tendo que ser dimensionada
outra estatura Educao Ambiental, situada no contexto global de
educao, incorporada como estruturante para a poltica ambiental.
Mas, para o Rio Grande do Sul, sediar o Encontro das guas tambm
reverenciar a memria de ancestralidades, da histria e da cultura do
nosso estado ao ter, como sede, a cidade de Bento Gonalves,
municpio da Serra Gacha, capital brasileira do vinho, primeiro
lugar do Brasil a obter a indicao de procedncia do Vale dos
Vinhedos, que qualifica a origem em nvel mundial, habitada, em sua
origem, por nossos caigangues e povoada por imigrantes vindos da
Itlia, em torno de 1875, e por alemes, polacos e espanhis,
possivelmente inspiradora de parte da cano Querncia Amadade
Teixeirinha:Querncia amada, dos parreirais, da uva vem o vinho, do
povo vem o carinho, bondade nunca demais. Querncia amada, meu cu de
anil. Este Rio Grande gigante, mais uma estrela brilhante, na
Bandeira do Brasil. E que leva o nome do General Bento Gonalves, um
dos lderes da Revoluo Farroupilha, imortalizado na obra de rico
Verssimo, OTempo e o Vento e nos versos de Jayme Caetano Braum:
Veneramos tua espada como relquias de glrias, pois foi pincel da
histria que tracejou nosso mapa, e esta indiada, forte e guapa ,
que te olha com reverncia, da mesma descendncia da velha estirpe
farrapa. Bento Gonalves, que faz um elo com Bahia e Salvador,
atravs da histria traada pelos Farrapos da Revoluo de 1835 quando,
depois de uma tentativa de fuga do Forte da Laje, no Rio de
Janeiro, no qual foi apresentado a Garibaldi e Rossetti, foi
transferido para a Bahia, onde ficou preso no Forte do Mar. E, aps,
permaneceu clandestino em Itaparica e Salvador. Bento Gonalves, a
cidade de rica hidrografia e relevo montanhoso, no qual corre seu
principal rio, o Rio das Antas, com nascentes nos municpios de
Cambar do Sul e Bom Jesus, no extremo leste do planalto dos Campos
Gerais. E que, nas proximidades do municpio de So Valentim, recebe
as guas do Rio Carreiro e passa a se chamar Taquari, formando a
Bacia Taquari-Antas. Bento Gonalves, cidade cortada pelos Arroios
Barraco e Pedrinho e pelo Rio Buritti. Bento Gonalves, que
representar a hospitalidade gacha, nossa historia, nossa cultura,
nossas gentes, nossos biomas, nossas vontades de transformar,
nossos compromissos com um novo mundo, uma nova e promissora
sociedade. E nosso Rio Grande do Sul, por meio do Governo do
Estado, est integrado s aes do Ministrio do Meio Ambiente e do
Conselho Nacional de Recursos Hdricos, numa relao republicana e
afirmativa, em parcerias estratgicas representadas em Bento
Gonalves pelos diversos segmentos de preservao de nosso patrimnio
natural, contido nas bacias hidrogrficas de nosso estado, do nosso
pas e as compartilhadas com nossos vizinhos de fronteira, recebe os
cuidadores de guas,
15. Da Bahia ao Rio Grande do Sul, de Salvador a Bento
Gonalves: O ENCONTRO DAS GUAS! com versos de poetas gachos de
geraes e estilos diferentes, mas cuidadores tambm, pelo seu poetar,
das guas e da Vida! Como Joo Carlos Lourero e Nelsi Morales, em Rio
Uruguai Quem cuida o mato como cuida o passarinho, Quem cuida o rio
sem pretenso de pescar mais, Tem a certeza de que o sol nasce mais
cedo E brotar mais flores ao redor dos mananciais. E como Mrio
Quintana, quem sabe buscando possibilidades de resposta a sua
poesia de encanto e luz. Haver ainda, no mundo, coisas mais simples
e to puras como a gua bebida na concha das mos?
16. 16 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos Sumrio
Introduo...........................................................................................................19
CAPTULO 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e Atividades
Dialgicas............................................................................................................25
Promoo de dilogos para a Educao Ambiental e cidadania pelas guas: o
desafio do desenho metodolgico Autores: Ricardo Burg Mlynarz, Lara
Montenegro.................................................... 25
Dilogo e Educao Ambiental no campo das guas Autor: Sandro
Tonso...........................................................................................................
33 DESAFIOS DOS CAMINHOS AMBIENTALISTAS: um mapa imaginrio para
transformaes democrticas Autor: Luiz Antonio Ferraro
Jnior...............................................................................
39 CAPTULO 2 - Enfoques para Projetos e
Polticas.............................................51 Avaliao de
processos de Educao Ambiental na Gesto das guas Autor: Carlos
Frederico B.
Loureiro..............................................................................
51 CAPTULO 3 - Gesto de guas e Educao
Ambiental....................................57 Formao, dilogo e
participao no Planejamento e Gesto de guas Autor: Franklin de Paula
Jnior......................................................................................
57 Educao Ambiental, participao e Gesto das guas Autores: Nilo
Srgio de Melo Diniz, Renata Rozendo Maranho........................
75 Educao Ambiental e Gesto das guas no ensino formal Tereza
Moreira, Autores: Neusa Helena Rocha Barbosa ,Rita Silvana Santos
Luiz Cludio Lima Costa
..................................................................................................
80 CAPTULO 4 - Saberes e Cuidados em
Ao......................................................87 Centro
de Saberes e Cuidados Socioambientais da Bacia do Prata, reflexo-ao
para sustentabilidade Autor: Nelton Miguel
Friedrich........................................................................................
87 CULTIVANDO GUA BOA: roteiro metodolgico das oficinas de futuro
Autora: Silvana
Vitorassi....................................................................................................
91 GUA COMO MATRIZ ECOPEDAGGICA: uma experincia de aprendizagem
significativa e sustentvel Autores: Vera Lessa Catalo, Pedro
Roberto Jacobi.............................................. 96
Educao ambiental como instrumento de fomento Gesto de guas
transfronteirias Autora: Synara Olendzki
Broch......................................................................................
100 O projeto Nas Ondas do So Francisco e a gesto ambiental
integrada participativa Autores: Ricardo Tezini Minoti, Andra
Carestiato ....................... 103
17. Sumrio 17 Redes para guas Autora: Carolina Ramalhete
Vieira................................................................................
112 A Educao Ambiental na integrao de polticas pblicas para a
construo da governana da gua e do territrio Autora: Roseane
Palavizini...............................................................................................
118 Iniciativa MAP (Madre de Dios-PE, Acre-BR e Pando-BO): uma
experincia de mobilizao social na Bacia do Rio Acre, na Amaznia
Sul-ocidental Autora: Vera Lcia
Reis......................................................................................................
122 Dilogos interbacias de Educao Ambiental em recursos hdricos
Autora: Suraya
Modaelli...................................................................................................
126 Projeto gua: conhecimento para a gesto Autores: Flvia Carneiro
da Cunha Oliveira, JairGonalves da Silva Taciana Neto
Leme...........................................................................................................131
Integrar para Gerenciar: a experincia do CBH Doce Autores: Joema
Alvarenga, Nelson Neto de
Freitas.................................................135
Semeando o futuro atravs da educao ambiental Autora: Gladys Nunes
Pinto
............................................................................................138
Projeto Manuelzo e Cbhs. Autor: Apolo Heringer
Lisboa..........................................................................................143
A Experincia da Alocao Negociada de gua no Cear: 20 anos da COGERH
Autor: Ubirajara Patrcio lvares da Silva
................................................................149
Formao, comunicao e participao social no processo de construo do
Plano Estadual de Recursos Hdricos do Estado do Acre- PLERH-AC
Autora: Maria Marli Ferreira da
Silva........................................................................................154
Vozes Uma atuao coletiva em Educao Ambiental no Comit de Bacia
Hidrogrfica do Rio Grande Bahia Autora: Ber
Brazil................................................................................................................158
Dilogos, experincias e iniciativas: construindo o caminho da educao
ambiental para as guas no Comit de Bacias Lagos So Joo Autores:
Marla Domingues, Denise Spiller Pena, Aline Oliveira Santos,
Natalia Barbosa Ribeiro, Gleice Maira Fernandes, Artur da Silva
Andrade....................................................................................................162
Cmara Tcnica de Educao Ambiental dos Comits PCJ: 10 anos de histria
Autores: Maria Lusa Bonazzi Palmieri, Dora Ribeiro, Vera Namura
Ceclia de Barros
Aranha..................................................................................................167
A Rede de educao ambiental do litoral norte RS e a mobilizao da
bacia hidrogrfica do rio Tramanda Autores: Juliana Hogetop, Luciana
Dalsasso............................................................173
18. 18 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos Projeto
Integrado de Educao Ambiental - Comit Piratinim vai Escola Autor:
Jos Alberto Pinheiro
Vieira...........................................................................178
O caminhar de um grupo de trabalho de Educao Ambiental na regio
Hidrogrfica 07 Bacia do Itaja/SC Autoras: Raquel Fabiane Mafra
Orsi, Susana Beatriz da Costa da Cunha ...182 Comunidade abraa
comunicao para fortalecer gesto das guas Autora: Mnica Pilz Borba
..........................................................................................187
Programa gua doce Vamos fazer um acordo Autor: Renato Saraiva
Ferreira......................................................................................193
Anexos...............................................................................................................197
Lei n 9.433, de 8 de janeiro de
1997.......................................................................197
Lei n 9.795, de 27 de abril de
1999.........................................................................213
Resoluo n 98, de 26 de maro de
2009.............................................................219
Decreto de 22 de maro de
2005..............................................................................224
Estrutura-sntese do Programa IV do Plano Nacional de Recursos
Hdricos
(PNRH)...............................................................................................................225
Programao do I Seminrio/Encontro Nacional de Formao em Educao
Ambiental no
SINGREH............................................................................229
Lista de
Participantes....................................................................................................230
Programao do Encontro Integrado - Ii Encontro Formativo Nacional de
Educao Ambiental e Gesto de guas e Encontros Formativos do Centro
de Saberes da Bacia do
Prata.........................................244 Lista de
Participantes...................................................................................................246
Relato Sntese - Grupos de Trabalhos
...................................................................250
Membros da Cmara Tcnica de Educao, Capacitao, Mobilizao Social e
Informaes em Recursos Hdricos do Conselho Nacional de Recursos
Hdricos(CTEM/CNRH)..............................................................................270
Perfil dos
Autores..........................................................................................................273
Fotos: gua: Processos dilogicos e
formativos................................................284
19. INtroduo 19 Introduo Resultante da convergncia de
iniciativas e elaboraes acumuladas de um fecundo processo em curso,
demarcado pela imbricao dos temas gua e educao ambiental, assim
apresentamos a terceira edio ampliada desta publicao Poltica de
guas e Educao Ambiental: processos dialgicos e formativos no
planejamento e gesto de Recursos Hdricos, a qual tornou-se
referencial para orientar processos dialgicos e formativos no
planejamento e na gesto de guas no pas.
Balizadordessesprocessos,oPlanoNacionaldeRecursosHdricos(PNRH),elaboradode2003a2005
e aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hdricos (CNRH), em
janeiro de 2006 (Resoluo n 58), incorporou em suas macro
diretrizes, assim como alocou estrategicamente e de maneira
transversal em sua estrutura programtica (Programa IV) a educao
ambiental (em consonncia com a Lei Federal n 9.795/99), o
desenvolvimento de capacidades, a difuso de informaes, a comunicao
e a mobilizao social para a GIRH (gesto integrada de recursos
hdricos). Em meio a essa nova conjuntura, foi criada, em 2004, a
Cmara Tcnica de Educao, Capacitao, Mobilizao Social e Informao em
Recursos Hdricos (CTEM) pela Resoluo n 39 do CNRH. Na prtica, a
criao da CTEM representou, em nvel nacional, a institucionalizao da
Educao Ambiental (EA) no contexto da implementao da Poltica
Nacional de Recursos Hdricos e da estruturao do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hdricos (SINGREH), sinalizando
paraosdemaisentesdoSistemaasuaimportnciaestratgica,sobretudonosentidodeaprofundar
a gesto democrtica das guas, de forma descentralizada e
participativa como preconiza a Lei Federal n 9.433/97. Uma das
principais janelas de comunicao e integrao entre as polticas e os
sistemas de Recursos Hdricos (SINGREH) e de Meio Ambiente
(SISNAMA), a Educao Ambiental desempenha o indispensvel papel de
fortalecer o vis ambiental das polticas pblicas de recursos
hdricos, assegurando o compromisso com o desenvolvimento sustentvel
e o aprofundamento da governana democrtica das guas. Tambm pode
contribuir para ampliar a percepo sobre a dimenso estratgica e
transversal da gua nas polticas ambientais e setoriais. Da conjuno
de esforos empregados na formulao de polticas pblicas de recursos
hdricos sob o olhar da Educao Ambiental, a partir das atividades da
CTEM e da implementao de diretrizes e aes sintonizadas com o
Programa IV do PNRH, j foram realizados dois encontros formativos
nacionais. O primeiro encontro, realizado em Salvador-BA, no
formato I Seminrio/Encontro Formativo (Salvador-BA) Foto: Franklin
Jr
20. 20 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos de
Seminrio Nacional de Formao de Educadores Ambientais do SINGREH,
aconteceu entre 6 e 8 de outubro de 2009. O segundo caracterizou-se
como Encontro Formativo Integrado de Educao Ambiental para a Gesto
de guas, e foi realizado na cidade de Bento Gonalves-RS, de 02 a 05
de outubro de 2011. O encontro de Salvador foi concebido na
perspectiva de provocar e ampliar o debate sobre o tema da educao
ambiental na gesto de recursos hdricos, visando a sua insero e
fortalecimento, especialmente na base colegiada do Sistema, por
meio dos comits de bacias hidrogrficas. Iniciativa da CTEM/CNRH,
organizado pelo Ministrio do Meio Ambiente (MMA), por meio do
Departamento de Recursos Hdricos da Secretaria de Recursos Hdricos
e Ambiente Urbano (DRH/ SRHU) e do Departamento de Educao Ambiental
da Secretaria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental
(DEA/SAIC), com o apoio do Governo do Estado da Bahia, por meio do
ento Instituto de Gesto das guas e Clima (ING), atual INEMA, do
Frum Nacional de Comits de Bacias Hidrogrficas (FNCBH), do Frum
Nacional de rgos Gestores das guas (FNOGA), dentre outros, contou
com um pblico de aproximadamente 180 participantes, ali
representado por educadores ambientais, gestores, ativistas,
especialistas e atores da gesto hdrica de 21 estados brasileiros.
Assim, o encontro na Bahia tornou-se um marco para a Educao
Ambiental voltada para a gesto de guas no Brasil, primeiramente,
porque buscou congregar representantes de todos os cantos do pas
atuantes no tema, dando um sentido de pertencimento a uma
comunidade de atores que, embora lidem com diferenciadas realidades
e desafios cotidianos, possuem propsitos comuns, descortinando
inmeras potencialidades de colaborao, atuao em rede, troca de
experincias e fortalecimento mtuo. A opo metodolgica se estruturou
no desenvolvimento de dinmicas participativas que prezaram pelo
protagonismo dos participantes, por meio do dilogo e da troca de
saberes que, em grupos de trabalho, intercambiaram idias,
diagnsticos, percepes e proposies, contando com o apoio de
especialistas (professores Frederico Loureiro, Jos Quintas, Luiz
Ferraro e Sandro Tonso), que provocaram e facilitaram os processos
de discusso e aprendizagem nos grupos, posteriormente relatando e
interpretando as discusses em plenria. Tambm houve uma sada a
campo, que representou uma imerso no imaginrio da cultura baiana e
brasileira, pois Salvador I Seminrio/Encontro Formativo - Terreiro
Casa Branca Il Ax Iy Nass Ok (Salvador-BA) Foto: Lara
Montenegro
21. INtroduo 21 (1549) foi a primeira capital do Brasil. Os
participantes do encontro conheceram a lagoa do Dique doToror,
inspirador da famosa quadrinha conhecida em todo o pas, que
dizEufuiaoToror,beber gua e no achei, encontrei linda morena que no
Toror deixei..., e ao redor da qual se encontram as esculturas de
Orixs, talhadas pelo artista plstico Tatti Moreno, bem como
visitaram o mais antigo terreiro de Candombl do Brasil, a Casa
Branca do Engenho Velho ou Il Ax Iy Nass Ok, considerado Monumento
Negro e Patrimnio Histrico do Brasil. Os trabalhos culminaram com a
proposta de construo de uma agenda de continuidade para a atuao do
coletivo de representantes da Educao Ambiental nos colegiados de
recursos hdricos, indicando a necessidade de estabelecimento de um
dilogo permanente entre a CTEM e os demais
espaosdeeducaoambiental,resultando,ainda,naestratgiadedisseminaodediretrizespara
a educao ambiental, o desenvolvimento de capacidades, a comunicao e
a mobilizao social dirigidos GIRH, expressos na Resoluo CNRH N 98,
e de fortalecimento da implementao do Programa IV do Plano Nacional
de Recursos Hdricos, que foi levado discusso, posteriormente, nas
12 Oficinas Regionais de reviso do PNRH, realizadas em 2010 em todo
o pas. A experincia de Salvador foi, de certa maneira, replicada em
Bento Gonalves-RS, mas o encontro na cidade gacha teve como
especificidade o acolhimento de duas atividades formativas da Bacia
do Prata a segunda maior da Amrica do Sul organizados pelo Centro
de Saberes e Cuidados Socioambientais da Bacia do Prata, conferindo
um contorno internacional ao evento. Dialogando com temas e
experincias j evidenciadas em Salvador (o papel mobilizador da EA,
a educao ambiental e os instrumentos da Poltica, e experincias de
EA em Comits de Bacia). O Encontro de Bento Gonalves proporcionou,
ainda, a reflexo sobre desafios, perspectivas e proposies
desenvolvidas em grupos de trabalho que formularam diagnsticos e
proposies nos seguintes temas: i) espaos institucionais da EA no
SINGREH; ii) processos formativos e mobilizao social em GIRH; iii)
comunicao Social em GIRH; iv) redes sociais e parcerias em GIRH; v)
a EA na preveno de desastres de origem hdrica; vi) a EA e Governana
hdrica (participao social na GIRH); vii) Rede de Saberes e Cuidados
com a gua; e viii) a EA nos processos de Gesto de
guasTransfronteirias. II Encontro Formativo (Bento Gonalves-RS)
Foto: Arquivo SRHU
22. 22 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos Integrado
s comemoraes da Semana Interamericana da gua do Estado do Rio
Grande do Sul, e inserido, ainda, no contexto da Dcada Brasileira e
do Decnio Internacional da gua (2005-2015), assim como da Dcada
Internacional da Educao para o Desenvolvimento Sustentvel (2005-
2014), o Encontro de Bento Gonalves reuniu um pblico, de
aproximadamente 170 participantes de 20 estados brasileiros e tambm
do Uruguai e da Argentina, promovendo a apresentao de painis de
experincias e rodas de dilogo, destacando-se a dinmica da Roda de
Chimarro Reflexes Hidropotica e Estratgias Hidropolticas, em que
especialistas desenvolveram um dilogo enriquecedor, a partir de
abordagens distintas e complementares: a) a gua como matriz
ecopedaggica (Profa. Vera Lessa Catalo/UnB); b) a gua como elemento
de integrao de povos, culturas e naes (Nelton Friedrich/ITAIPU); c)
o Papel estratgico da EA na articulao de polticas pblicas (Nilo
Diniz/DEA-MMA); d) a Questo da gua na educao formal (Jos Vicente de
Freitas/ CGEA-MEC); e e) o Encontro das guas e os desafios da
sustentabilidade (Jussara Cony/SEMA-RS). Representando o elo entre
um encontro e outro, assegurando o sentido de continuidade para a
insero e o fortalecimento da EA na gesto de guas, preparamos esta
terceira edio ampliada que ser lanada durante o III Encontro
Formativo Nacional de Educao Ambiental e Gesto de guas, a ser
realizado de maneira integrada com o I Encontro de EA da Bacia do
Rio Doce, na histrica cidade mineira de Ouro Preto, de 26 a 29 de
agosto de 2013, em parceria com o Comit da Bacia Hidrogrfica do Rio
Doce (CBH-Doce) e IBIO AG Doce, os Governos Estaduais de Minas
Gerais (por meio da SEMAD/IGAM) e do Esprito Santo (por meio da
SEAMA/IEMA), a Agncia Nacional de guas (ANA), o Frum Nacional de
Comits de Bacias Hidrogrficas (FNCBH) e demais parceiros histricos.
Sem a pretenso de esgotar o tema, muito pelo contrrio, esta
publicao busca aportar contribuies metodolgicas e vivenciais,
nutrindo o processo dialgico em nvel nacional Foto: Marcelo da
Costa
23. INtroduo 23 sobre as guas do Brasil, conforme preconizado
pelo Plano Nacional, em suas macro diretrizes e aes prioritrias.
Mais que uma coletnea de anlises, debates e experincias relatadas
nos textos respectivos, almeja contribuir para a construo e
legitimao de espaos de EA no campo da gesto hdrica, trazendo
elementos analticos para um diagnstico inicial das dificuldades e
potencialidades, apresentando estratgias de atuao para o
fortalecimento da cidadania ambiental, do controle pblico e da
participao social nas instncias colegiadas e deliberativas do
Sistema de recursos hdricos, este livro se torna instrumental
importante neste sentido. Estruturada em quatro Captulos i)
Enfoques Metodolgicos para eventos e atividades dialgicas; ii)
Enfoques para projetos e polticas; iii) Gesto de guas e educao
ambiental; e iv) Saberes e cuidados emao, a publicao rene as
contribuies de colaboradores e especialistas nos dois primeiros
captulos, a viso de rgos governamentais federais de recursos
hdricos e de educao ambiental realizadores e/ou apoiadores da
iniciativa no terceiro captulo e, por ltimo, uma coletnea de
experincias terico-prticas da EA voltada para a gesto de guas,
agora ampliada nesta terceira edio. Pretende-se, a cada nova edio,
incorporar outras das inmeras experincias exitosas existentes no
pas. Na abertura da publicao, o leitor ainda encontrar mensagens
dos governos bahiano, gacho e mineiro, relatando, o significado em
acolher o primeiro, o segundo e o terceiro encontro formativo,
respectivamente.
Finalmente,registramosonossoprofundoagradecimentoatodasetodosquederamasuaespecial
contribuio textual para a concretizao deste livro, o qual agora
entregamos com muito cuidado aos nossos pares nesta empreitada
scio-educativa, cultural, poltica e ambiental em defesa da
cidadania e das guas do Brasil. Suraya Damas de Oliveira Modaelli
PresidentedaCmaraTcnicadeEducao,Capacitao,MobilizaoSocialeInformao
em Recursos Hdricos (CTEM) e Secretria Executiva do Frum Nacional
de Comits de Bacias Hidrogrficas (FNCBH). Franklin de Paula Jnior
Gerente de Polticas e Planejamento do Departamento de Recursos
Hdricos da SRHU/ MMA, conselheiro suplente no CNRH e membro da
CTEM/CNRH.
24. 25Captulo 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e
Atividades Dialgicas CAPTULO 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos
e Atividades Dialgicas Promoo de dilogos para a Educao Ambiental e
cidadania pelas guas: o desafio do desenho metodolgico Ricardo Burg
Mlynarz Lara Montenegro Apresentao Os resultados e as avaliaes da
realizao do 1 Seminrio Nacional de Formao em Educao Ambiental no
SINGREH foram, para ns, uma grande surpresa. Da proposta inicial
desenhada para sua realizao at o formato final da dinmica dos
trabalhos, foram inmeras as dvidas, conversas, mudanas e reflexes
para que, seis meses depois, tivssemos a sensao de enorme satisfao
e de misso cumprida. A grande maioria das avaliaes dos 170
participantes provenientes de 21 estados do pas apontaram a
metodologia do encontro como um diferencial extremamente positivo.
Alm disso, tivemos diversas solicitaes escritas e verbais para que
a metodologia pudesse ser descrita a fim de inspirar outros
eventos. Percebemos que a proposta do seminrio, experimentada ao
longo dos trs dias de trabalhos, surpreendeu pela potncia educadora
que a troca de conhecimentos entre os participantes proporcionou.
Este artigo se prope, portanto, a descrever a metodologia do
seminrio e os fundamentos que o sustentaram, considerando-se o
desafio de construir coerncia entre as teorias e propostas da
educao freireana1 (inspiradora da Educao Ambiental), e da proposio
de seminrios e encontros participativos. Para esse desafio
consideramos a necessidade emergente de constituir metodologias
inovadoras. Este artigo visa, portanto, para alm de descrever uma
metodologia, inspirar o leitor a criar suas prprias propostas para
fortalecer a gesto participativa de recursos hdricos do Brasil.
Premissas e fundamentos das polticas pblicas voltadas gesto
participativa
APolticaNacionaldeRecursosHdricos(Lei9.433/97)estfundamentadanaparticipaosocialena
descentralizao da Gesto das guas, tendo os colegiados do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos SINGREH como pilares
para sua implementao. Os conselhos de recursos hdricos e os comits
de bacia hidrogrfica compem uma organizao de espaos participativos
e de representao com o propsito de promover um debate qualificado e
possibilitar a tomada de decises acerca das temticas relacionadas
Gesto de guas. Este desenho institucional, em um contexto
democrtico que recente no pas, tem nos colocado diante de um grande
desafio: comofortalecerumaculturadedilogoquefavoreaodesenvolvimento
1 Pedagogia trabalhada por Paulo Freire.
25. 26 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos dos
processos democrticos, da mediao e negociao dos diferentes valores
e interesses em jogo? Essa pergunta envolve uma grande complexidade
de fatores, mas entendemos que no desenho de propostas inovadoras
para a realizao de reunies, conversas significativas, seminrios e
outros espaos coletivos, onde est parte da resposta e um dos papeis
fundamentais da Educao Ambiental na Gesto de guas. Uma Educao
Ambiental que promova o dilogo e que amplie o teor democrtico da
gesto de recursos hdricos do pas, fortalecendo o princpio da
cidadania nas novas prticas polticas. No campo da Educao Ambiental
(EA), cabe ressaltar que a Poltica Nacional de Educao Ambiental -
PNEA (Lei 9.795/09) estabelece, como um dos objetivos estratgicos
da EA, o incentivo participao individual e coletiva, permanente e
responsvel, na preservao do equilbrio do meio ambiente,
entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor
inseparvel do exerccio da
cidadania.Deformacoerentecomapolticadasguas,aconstruodeumaculturadaparticipao,
qualificada com o dilogo, mostra-se como um dos eixos centrais da
PNEA. Vale observar que o desafio de construir metodologias
competentes para promover esta participao est ancorado em ambas as
polticas nacionais. De forma complementar, visando integrar as
concepes das polticas de EA e de recursos hdricos, em maro de 2009,
o Conselho Nacional de Recursos Hdricos aprovou a Resoluo n 98,
apresentada pela Cmara Tcnica de Educao, Capacitao, Mobilizao
Social e Informao emRecursosHdricos (CTEM/CNRH). A CTEM trabalhou
ao longo de quase trs anos na elaborao de uma proposta conceitual
que estabelece parmetros para as aes de Educao Ambiental,
capacitao, mobilizao e comunicao em recursos hdricos. A aprovao da
resoluo impulsionou o processo de fortalecimento da educao,
capacitao,
mobilizaoecomunicaonaGestodasguas.Deformaapartilhareampliaressedebate,aCTEM
props, em abril de 2009, a realizao de um seminrio nacional para a
formao de educadores ambientais do SINGREH. Um seminrio que pudesse
fortalecer os educadores ambientais em suas empreitadas to
diversificadas. I Seminrio/Encontro Formativo (Salvador-BA) Foto:
Franklin Jr
26. 27Captulo 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e
Atividades Dialgicas O planejamento Para iniciar o planejamento do
seminrio, foi montado um Grupo de Trabalho (GT) vinculado CTEM
reunindo atores de diferentes instituies2 : Universidade de
Brasilia, Departamento de Educao Ambiental (MMA), Departamento de
Recursos Hdricos (MMA) e representantes da CTEM. O GT contribuiu de
forma decisiva na proposio das temticas a serem trabalhadas no
seminrio e na sugesto de especialistas que pudessem colaborar com a
aprendizagem/formao dos participantes. No que se refere aos
contedos, foram definidos trs eixos temticos organizados em mdulos:
1) O papel mobilizador do educador e os espaos da Educao Ambiental
no SINGREH; 2) Educao
AmbientaleosinstrumentosdaPolticaNacionaldeRecursosHdricos;3)Projetoseexperincias
de Educao Ambiental e os Comits de Bacias. Cada eixo de formao ou
mdulo foi dividido em subtemas (conforme programao em anexo). O
Mdulo 1 visou promover a reflexo sobre o papel e a
institucionalidade da Educao Ambiental na Gesto das guas e foi
dividido em trs subtemas: a) espaos de EA no SINGREH; b) papel e
atribuies dos espaos e atores de EA no SINGREH e c) construo e
consolidao dos espaos de EA no SINGREH e possibilidades de integrao
com outros espaos de EA na bacia hidrogrfica. O Mdulo 2 visou
subsidiar os educadores ambientais para estabelecerem relaes entre
a Educao Ambiental e os instrumentos da Lei 9.433/97, considerando
suas dificuldades, desafios e potencialidades. Esse mdulo foi
dividido em: a) instrumentos da Poltica Nacional de Recursos
Hdricos (Lei n 9.433/97); b) Educao Ambiental na implementao dos
instrumentos de gesto e c) Educao Ambiental nos planos estaduais e
de bacias. O Mdulo 3 objetivou subsidiar os educadores ambientais
para proporem e desenvolverem projetos de EA no mbito dos
colegiados do SINGREH. Este eixo foi dividido em: a) elaborao de
projetos; b) concepo polticopedaggica de projetos de EA, c)
construo de projetos de EA com enfoque na Gesto da gua. Os mdulos e
subtemas foram estabelecidos para dois fins. O de mapeamento, isto
, mapearcomo os temas se apresentam nas realidades locais, e para
fins de aprendizagem, isto , a construo de novos conhecimentos que
fortaleam as prticas e saberes dos educadores participantes.
Definidos os mdulos e os contedos programticos do seminrio,
seguimos para o desenho da
propostametodolgica.Maisdoquerealizarumencontrodetransfernciadeconhecimentospara
os participantes, o seminrio teria que promover a comunicao e o
dilogo entre os educadores presentes, que traziam conhecimentos e
inquietaes de sua experincia. Os participantes eram atores da gesto
de recursos hdricos e, por isso, seriam os educadores e educandos
do seminrio. Detalhamento: atividades e papeis no seminrio
Considerando que as experincias e conhecimentos dos educadores
ambientais do seminrio deveriam ser o centro, era necessrio
desenvolver uma proposta na qual os processos 2 Cabe aqui agradecer
aos participantes do GT: Andrea Paula de Carestiato Costa
(DEA/MMA), Bruno Gonzaga Agapito Veiga (UnB, consultor), Lcia
Anello (DEA/MMA), Suraya Damas Modaelli (CTEM/CNRH), Franklin de
Paula Jnior (DRH/MMA).
27. 28 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos
conversacionais fossem o elemento-chave da dinmica. Para isto foram
propostas rodas de conversa, em um formato metodolgico chamado
deWorld Caf3 , visando constituir um espao de troca e sistematizao
dos conhecimentos dos participantes. Os mdulos seriam norteadores
das conversas (um para cada dia) e seus subtemas seriam tratados em
diferentes mesas de uma sala. Em cada mesa haveria uma pergunta
norteadora da conversa do grupo e um anfitrio para sistematizar e
atualizar as contribuies dos participantes, acumuladas em cada
rodada. Os participantes eram convidados a mudar de mesa a cada
quinze minutos e, ao chegar em uma nova mesa/subtema, eram
recebidos pelo anfitrio que os atualizava das conversas ocorridas e
sistematizadas em papel flip-chart at aquele momento. Para
subsidiar de forma complementar as conversas e contribuir com os
temas tratados no seminrio, foram convidadosespecialistaspara os
papis de formadores e debatedores. O papel de formador4 era ocupado
por atores institucionais do SINGREH com experincias na Gesto de
guas e em Educao Ambiental. Eles trariam, primordialmente, a sua
experincia e conhecimento, buscando provocar as conversas que
seriam desencadeadas posteriormente nos
grupos.Aomesmotempoemqueoformadorapresentavaumaexperinciadereferncia,estetinha
tambm uma identidade com os outros participantes do encontro. A
proposta era desconstruir as relaes hierrquicas com o conhecimento,
sendo que, embora escolhidas experincias relevantes, os formadores
poderiam ser muitos outros experientes educadores ambientais que
participavam do seminrio. J os debatedores5 buscariam observar as
conversas e sistematizaes das rodas para, em seguida, realizar uma
sntese e uma anlise em plenria acerca dos temas tratados. Estes
profissionais teriam um perfil mais acadmico, analtico, e
construiriam suas consideraes a partir da fala e do contedo
trazidos pelos participantes no grupo. Um esquema dos trs momentos
do seminrio pode ser visto e detalhado a partir dos quadros 1 e 2 a
seguir. 3World Caf, detalhado em:
http://www.theworldcafe.com/translations/World_Cafe_Para_Viagem.pdf
Estaferramentade processos conversacionais foi sugerida por Carmem
Lucia Zaine, membro da Cmara Tcnica de Educao Ambiental do Comit
das Bacias Hidrogrficas dos Rios Aguape e Peixe em SP. 4
Agradecemos aos formadores convidados: Professor Sandro Tonso,
Franklin Junior, Roseane Palavizini e Rachel Rosrio Marmo. 5
Agradecemos aos debatedores convidados: Professores Frederico
Loureiro, Luis Antnio Ferraro Jr., Jos Silva Quintas.
28. 29Captulo 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e
Atividades Dialgicas Quadro 1 Os Trs Momentos da Metodologia 1
Momento: apresentao do tema / experincia em plenria. Provocao
inicial para as conversas de grupo. Durao: 40 minutos para duas
apresentaes. Papel: formador. 2 Momento: conversas de grupo sobre
os subtemas. Mesas de Conversa Rodas de conversa com mudana de mesa
a cada 15 minutos. Apresentao da sistematizao da conversa pelos
anfitries de cada mesa. Papis: facilitador, anfitrio e debatedor. 3
Momento: apresentao e debate em plenria. Apresentao de sntese pelos
debatedores. Apresentao da anlise pelos debatedores. Debate com a
plenria*. Papis: debatedor e facilitador de plenria. * Obs.: aps a
exposio do debatedor, o tempo era reservado para a plenria discutir
questes emergentes desta exposio para que, ento, cada mdulo fosse
finalizado.
29. 30 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos Quadro 2
Detalhamento do Segundo Momento Cada mesa contm uma pergunta
orientadora, vinculada ao subtema do mdulo. Rodadas: os
participantes, de forma livre, trocam de mesas a cada 15 minutos.
Aps todas as rodadas (participantes passaram por todas as mesas),
os anfitries apresentam a todos os participantes da sala as snteses
produzidas pelos grupos. Papis: Um facilitador coordena o trabalho
e o tempo dos grupos na sala. A cada rodada um anfitrio recebe
novos participantes em sua mesa e os atualiza das conversas dos
grupos anteriores. Ao final, apresenta a sntese de todas as
rodadas. O debatedor somente observa e prepara uma sntese
individual e uma anlise a ser levada plenria no 3 momento. Nesta
proposta, os participantes so os atores centrais: protagonistas do
processo de debate, construo e organizao de contedos. Esta
perspectiva compreende a ao da Educao
30. 31Captulo 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e
Atividades Dialgicas Ambiental no SINGREH como um processo em
amadurecimento, em que a troca de experincia e de conhecimentos
essencial. O caminho da proposta metodolgica do seminrio poderia
ser, ento, resumido da seguinte forma: a) apresentao de contedos
temticos e experincias -> b) conversas e dilogos em grupo ->
c) snteses dos grupos -> d) sntese dos observadores -> e)
anlise do observadores -> f) debate em plenria sobre as
apresentaes dos observadores. Dessa forma, ao invs de consolidar
uma proposta mais tradicional, pr-concebida, de organizao de
contedos relativos aos mdulos, o seminrio teve o desafio de abrir
espao para as ideias, os conhecimentos e saberes trazidos pelos
participantes, coloc-los em dilogo a partir de processos
conversacionais, constituir snteses dos debates/dilogos e, por fim,
construir coletivamente contribuies tcnicas e analticas sobre os
temas discutidos. Outra novidade proposta na dinmica, para alm dos
momentos de troca de contedos tcnicos e experincias sobre as
prticas nos CBHs, decorreu do entendimento de que era necessrio que
o evento propiciasse tambm um encontro com a cidade que nos recebeu
e com sua gente. Assim, o Instituto de Gesto de guas e Clima da
Bahia (ING/BA) elaborou um roteiro de visitas pelo circuito das
guas de Salvador. Com muita sensibilidade, a proposta apresentada
por eles foi a de uma visita ao primeiro terreiro de Candombl do
Brasil, a Casa Branca, ou Il Ax Iy Nass Ok, para uma conversa sobre
a relao entre gua e religiosidade entre os educadores ambientais e
os filhos de santo; alm de uma visita lagoa do dique do Toror,
marco de uma construo antiga que ocupava boa parte da cidade de
Salvador, e a partir da qual possvel compreender parte do seu
processo de ocupao e expanso urbana. I Seminrio/Encontro Formativo
(Salvador-BA) Foto: Franklin Jr
31. 32 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos
Consideraes finais Considerando as diferentes realidades
institucionais, regionais, sociais e ambientais, entendemos que no
havia como consolidar um processo de formao para os atores da
Educao Ambiental do SINGREH no tradicional processobancrio6 , em
que a Cmara Tcnica traria os tpicos/temas e os contedos para serem
absorvidos pelos participantes do encontro. Era necessrio
considerar o acmulo de experincias e capacidades dos participantes
como contedo relevante e com um alto potencial educador. O foco
estabelecido para o seminrio foi propiciar um processo horizontal
de aprendizagem institucional, conjunta, que considerasse o dilogo,
e no qual a CmaraTcnica e o Ministrio do Meio Ambiente se colocaram
como catalisadores dessa iniciativa.
Obomandamentodostrabalhoseosdebatesnasmesaseemplenrianosmostraramaperspectiva
transformadora da metodologia proposta, que partiu das premissas de
que era fundamental viabilizar um processo de reconhecimento mtuo
entre os participantes do seminrio e valorizar a aprendizagem
baseada no dilogo, na troca de conhecimentos e na construo coletiva
de ideias e caminhos. Reforamos que a transio do papel de
especialistas para formadores e debatedores dos contedos
trabalhados em grupo modifica uma prtica constante em que os
especialistas trazem contedos formatados para os processos de
capacitao e de formao. Demos somente um pequeno passo em direo ao
que queremos: construir uma cultura institucional em que os
processos pedaggicos no sejam somente unidirecionais planejados
para levar informaes/conhecimentos , mas que sejam fomentadores de
construes conjuntas via dinmicas conversacionais, argumentativas e
afetivas que emergem da troca de saberes. Queremos fortalecer uma
cultura na qual os fruns de debate possam ser vistos como espaos de
dilogo para a construo de acordos, e no somente vistos e tratados
pela lente do jogo de interesses. Espaos onde reunies possam ser
ambientes frteis para a troca de conhecimentos,
paraoreconhecimentodasdiferentesperspectivasdosatoresenvolvidoseparaoamadurecimento
do exerccio da cidadania de fato, ao invs de somente feitas em
carter de encaminhamentos operacionais.
Aculturainstitucionalvigenteaindanodsuporteatalconstruo.Temosobservadoprofissionais
desacreditados dos processos democrticos, em seu teor mais
profundo, olhando para o cenrio da gesto como jogos de carta
marcada. Prevalece o entendimento de que ingnuo acreditar no
dilogo, ainda mais no contexto institucional.
Oseminriodeixouclaro,noentanto,quepossvelqualificaraaotcnica,nocampoinstitucional
e especificamente na gesto integrada de recursos hdricos, com
dinmicas inovadoras que valorizem uma cultura do dilogo que se
articule com o conhecimento tcnico e com os fruns polticos de
gesto. Se demos um passo... Ainda h muitos a dar. Entendemos que
agesto de recursos hdricos no Brasil, cuja base so os rgos
colegiados (comits de bacia e conselhos de recursos hdricos),tem um
grande potencial educador e mobilizador da sociedade. Entendemos
que ela propicia o fortalecimento do exerccio da cidadania
eestimulaa participao crtica, propositiva e construtiva de novos
caminhos para a gesto democrtica do pas. 6 Termo utilizado por
Paulo Freire em Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1970, 2 edio.
32. 33Captulo 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e
Atividades Dialgicas Dilogo e Educao Ambiental no campo das guas
Sandro Tonso As principais questes envolvendo o campo das guas
Nossa relao com a gua conflituosa. Inicialmente, pelo sentido que
cada um d ao pronome possessivonossa!Nossaquem? Quem faz parte
deste coletivo:ns? Talvez a resida uma das principais questes
ligadas rea ambiental, mas no s! Tratar o ser humano com uma
categoria homognea, como uma espcie que se relaciona com a natureza
e, principalmente, entre si de uma mesma forma, com mesmos valores
e atitudes, talvez, seja o primeiro e fundamental engano nesta
questo da relao com o campo das guas. Nesta poca e sociedade, somos
diferentes e desiguais7 . FOLADORI8 afirma queo problema principal
para a sociedade humana no de inter-relao com outras espcies vivas
e com o meio ambiente. de contradies internas. No existem relaes no
exterior, com o meio ambiente, que no sejam previamente mediadas
pelas relaes no interior, entre
classesegrupossociais.Somandoestaafirmaodequesomostratadoscomodesiguais,podemos
perceberqueasquestes,ditasambientais,guardamestreitovnculocomasdesigualdadessociais.
Definido o tom deste campo de reflexes questes ambientais so
socioambientais e previamente definidas por uma injusta estrutura
social e poltica apresentam-se as principais questes no campo das
guas, trs distintas, porm interligadas, questes. No mesmo sentido,
delinea-se assim uma Educao Ambiental que se afirma Crtica,
Poltica, Transformadora, Popular e diversos outros adjetivos que
pretendem o mesmo: uma Educao Ambiental que olhe para a transformao
humana a partir da compreenso das estruturas de poder desta
sociedade, condio sine qua non para a construo de uma postura
crtica e efetivamente transformadora, dialeticamente individual e
coletiva ao mesmo tempo. Destas trs questes, em primeiro lugar, h a
degradao da gua com a qual estabelecemos uma relao de uso: poluio,
desperdcio e concorrncia com outras atividades humanas, igualmente
importantes, contaminao de lenois freticos, assoreamento de leitos
de cursos superficiais de gua, destruio e descaracterizao de suas
margens, entre tantos e diferentes exemplos. Apesar de, em mdia, a
qualidade das guas no Brasil ser superior da maioria dos pases, na
grande parte das comunidades, a degradao da gua j chegou a
diferentes graus. Interessante seria perceber que o que se degradou
talvez no seja s o recurso gua, mas, fundamentalmente, a prpria
relao que diferentes grupos sociais estabeleceram com o elemento
gua, esta sim, profundamente degradada. Em segundo lugar, h uma
relao extremamente desigual entre diferentes grupos sociais e a
gua. Alm de uma desigual disponibilidade hdrica natural, h outras
questes que se sobrepem a esta. Seja entre pases, grupos sociais ou
diferentes atividades humanas, a disponibilidade e a facilidade de
acesso so to desiguais que se pode falar em escassez de gua em
regies com grandes ofertas de gua, pela desigualdade de acesso
entre diferentes seres humanos. Estas diferenas 7 Entendemos o
adjetivodesiguaiscomo aquilo que confere hierarquia, maior e menor
poder e respeito entre pessoas. 8 FOLADORI, Guillermo.Limites do
Desenvolvimento Sustentvel. Campinas, Edit. UNICAMP, 2001.
33. 34 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos so
definidas por escolhas polticas, por concepes de prioridades que
relegam a segundo plano, atividades como acesso digno de gua,
diariamente, a todas as pessoas de uma cidade. Em terceiro lugar, h
uma diferena do valor que o elemento gua assume em diferentes
culturas e grupos humanos. Nossa relao com a gua to diferente que
poderamos dizer que a gua tem valores totalmente distintos para
distintos seres humanos. gua como: recurso, que pago, portanto,
usado como quiser; elemento natural, desenvolvendo inmeras funes
nos ecossistemas naturais e antropizados; bem para fruio ligado ao
lazer; recurso econmico que define e definido pela sua apropriao e
pelas relaes de poder econmico e gua como elemento cultural,
religioso e espiritual, ligado aos valores e origens de diversos
povos. Qualquer proposta de enfrentamento das questes no campo das
guas que desconsidere alguns destes aspectos corre o risco de se
tornar uma ao incua ou, pior, geradora de ulteriores desigualdades.
A dimenso poltica no campo das guas: alguns casos para reflexo
Destas trs questes que a gesto das guas assume no mundo moderno, a
dimenso poltica, interligando a 2 e 3 questes do problema e
resultando na 1, poderia e deveria, sob nossa tica, merecer a
primazia no enfrentamento. Dependendo das fontes que se use, os
nmeros de uso de gua no Brasil e mundo variam. Entre agricultura,
indstria e outros usos urbanos, as porcentagens nos indicam muitos
e diferentes nmeros. Mas mesmo na diversidade e desigualdade de
fontes, patente que o uso rural suplanta em muito os outros usos. -
Naturalmente!, diriam uns! O campo necessita de gua para plantaes e
criaes. No entanto, quando verificamos que, por volta de 5% das
atividades do campo concentram o uso de mais de 50% da gua,
comeamos a perceber que h mais que as necessidades fisiolgicas de
plantas e animais para determinar a distribuio e o uso de gua no
campo. H modelos de agricultura que abarcam, intencional e
significativamente, uma maior parte dos recursos hdricos. A
que/quem respondem estes modelos? Qual/quais concepes de
desenvolvimento esto neles embutidas? Como exemplo desta questo,
vimos recentemente os noticirio nacionais destacarem uma iniciativa
do governo de Moambique oferecendo ao Brasil 6 milhes de hectares
de terra para repetir em Moambique o que fizeram [os agricultores
brasileiros tm experincia acumulada] no cerrado h 30 anos, disse o
ministro da Agricultura moambicano, Jos Pacheco9 . O presidente da
Associao Mato-grossense dos Produtores de Algodo, Carlos Ernesto
Augustin, explicou Folha que as terras moambicanas so muito
semelhantes s do interior do Brasil, com a vantagem do preo e da
facilidade de obter licenas ambientais. Moambique um Mato Grosso no
meio da frica, com terras de graa, sem tantos impedimentos
ambientais, com o (custo) do frete China muito mais barato (...)
Hoje, alm de terra estar carssima no Mato Grosso, impossvel obter
licena de desmatamento e limpeza de rea, declarou Augustin ao
jornal.10 (destaques deste autor) 9 Folha de So Paulo,Moambique
oferece terra soja brasileira, 14/08/2011, pg. B1, Caderno Mercado.
10 Idem, Ibdem.
34. 35Captulo 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e
Atividades Dialgicas Naturalmente, Moambique deseja o
desenvolvimento de sua nao e povo. A concepo de desenvolvimento, no
caso, ligada ao que os agricultores brasileiros fizeram ao cerrado.
Podemos
afirmarqueocerradoesuaspopulaestradicionaissedesenvolveramcomaagriculturaintensiva
de soja? Da mesma forma, a ideia de facilidade de obter licenas
ambientais e a caracterizao das terras moambicanas como sem tanto
impedimentos ambientais trazem tambm uma concepo de proteo
ambiental antagnica a uma concepo de desenvolvimento ligada a uma
ideia de progresso material. Ambiente e desenvolvimento s so
antagnicos com concepes de desenvolvimento ligadas a uma ideia
materialista, consumista, competitiva e individualista. Tanto um
quanto outro depoimentos so carregados de contradies e conflitos,
pois carregam consigo concepes de bem estar, de qualidade de vida,
de desenvolvimento que seguramente (exatamente pela chamada
experincia brasileira no cerrado e nos outros biomas brasileiros)
traro degradaes sociais e ambientais (no sentido dos ecossistemas)
que entraro em contradio com a inteno inicial de trazer
desenvolvimento para Moambique e seu povo. Problemas como estes
evidenciam, de modo genrico, a necessidade de estruturao e/ou
aparelhamento institucional dos sistemas de gerenciamento de
recursos hdricos e de meio ambiente, a fim de que possam ser
aplicados instrumentos preventivos e corretivos capazes de
equacionar e compatibilizar as demandas de diversos usurios de
gua11 . Da mesma forma, segundo Jos Machado, ento DiretorPresidente
da ANA Agncia Nacional de guas, em 2009, papel de uma Poltica
Nacional de Recursos Hdricos: ... assegurar a sustentabilidade do
uso dos recursos hdricos, como condio essencial para a cidadania
plena, a qualidade de vida, a reduo da pobreza e um modelo de
desenvolvimento que considere os direitos das atuais e futuras
geraes a um ambiente limpo e saudvel.12 O que fica evidenciado
nestas afirmaes a necessidade da dimenso poltica da Gesto de guas
ser destacada, ressaltada e vivenciada em todos os nveis, dos mais
locais aos mais globais. Esta dimenso poltica traz, de modo
inerente, as diferentes concepes de ambiente, desenvolvimento,
qualidade de vida, sustentabilidade e educao que precisam ser
confrontadas, debatidas e acordadas entre todos os sujeitos destes
processos. Desafios da gesto e os limites do dilogo: a produo
social de excluso Especificamente na questo das guas, o Plano
Nacional de Recursos Hdricos, de 2006, traz alguns de seus
principais desafios para enfrentar as questes acima colocadas.
Destes, destacamos os seguintes: 1) a consolidao da gesto por bacia
hidrogrfica, 2) a consolidao da gesto
participativae3)ainclusodatemticadaguacomoprioridadenasagendaspolticasdosgovernos
e dos demais segmentos que participam do SINGREH Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hdricos. Estes trs esforos polticos vo
em direo da busca do dilogo entre diferentes, atualmente,
desiguais. Dilogo entre municpios banhados por uma mesma bacia
hidrogrfica, dilogo entre os diferentes atores e sujeitos desta
questo e dilogo entre as diferentes reas de conhecimento e atuao
humanas. 11 Brasil,Plano Nacional de Recursos Hdricos, 2006, pg.
80. 12 ingua para um planeta saudvel, texto de Jos Machado, ento
Diretor-Presidente da ANA, no livroImplementao da Cobrana pelo Uso
da gua pelos Comits PCJ, Braslia, ANA, 2009.
35. 36 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos Segundo
Mariotti13 , dilogo pode ser definido como uma reflexo conjunta e
observao cooperativa da experincia, uma metodologia de conversao
que visa melhorar a comunicao entre as pessoas e a produo de ideias
novas e significados compartilhados. Ou, posto de outra forma: uma
metodologia que permite que as pessoas pensem juntas e compartilhem
os dados que surgem dessa interao sem procurar analis-los ou
julg-los de imediato. Neste sentido, a equidade entre escalas,
instituies, categorias e pessoas deveria ser a condio inicial para
a realizao do dilogo, desta construo de sentidos compartilhada
entre diferentes. Porm, Boaventura de Souza Santos14 afirma que uma
das caractersticas de nossa sociedade a excluso: Vivemos em
sociedades repugnantemente desiguais. Mas a desigualdade no nos
basta. A igualdade, entendida como mesmidade, acaba excluindo o que
diferente. Tudo o que homogneo tende a transformar-se em violncia
excludente. Dois processos, mesma resultante: excluir criando
hierarquias e excluir apagando as diferenas. Aprofundando-nos no
primeiro processo (criar hierarquias para excluir), Santos15
identifica cinco processos de excluso (que ele chama
deno-existnciaouausncia): Monocultura do saber: Tudo que no for
cientfico ignorante (e a ignorncia uma das formas de produzir
no-existncia). Dessa forma, todo o saber que no se provar ou no se
originar de bases cientficas automaticamente desconsiderado,
juntamente com quem o detm. Monocultura temporal: A ideia de
desenvolvimento e progresso contnua e nica. H somente uma forma de
ser desenvolvido ou de progredir. No existe o pensamento de que os
menos desenvolvidos podem ser mais desenvolvidos em outros
aspectos. Desta forma, excluem-se, como atrasados, aqueles que no
compartilham dos mesmos ideais. Monocultura da escala universal:
Universal e global em contraposio e sobreposio ao particular e
local. Experincias particulares e locais passam a ser ignoradas em
detrimento das primeiras e, assim, passam a no existir mais.
Monocultura das relaes sociais: Retrata as relaes sociais (tnicas,
religiosas...) numa situao de superioridade, o que cria o conceito
de inferioridade. Logo, quem inferior passa a no existir, a ser
menos considerado. Monocultura da produtividade: Normas
capitalistas so usadas para medir riquezas, modos de produo... Quem
est fora dessas normas preguioso, ineficaz e improdutivo, logo,
passa a no existir. S produto aquilo que o mercado considera. A
Economia Solidria, as trocas, passam a no ter destaque ou
importncia, invisibilizando as populaes que vivem desta forma.
Estas formas de silenciamento, de inferiorizao, de excluso esto
presentes no dia a dia de todos ns, colocando-nos, por vezes, no
papel de excludente e outras, no papel de excludo. Perceber estes
processos e posicionarmo-nos frente a eles tarefa (auto) educativa
de todos ns. 13
http://www.teoriadacomplexidade.com.br/textos/dialogo/Dialogo-Metodo-de-Reflexao.pdf
(10/08/2011). 14 SANTOS, Boaventura de SouzaO novo milnio
Polticopublicado na Folha de So Paulo de 10/04/2001, pg. 3. 15
SANTOS, Boaventura de Souza (2007). Renovar a teoria crtica e
reinventar a emancipao social (trad. Mouza Benedito). So Paulo:
Boitempo, 128p.
36. 37Captulo 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e
Atividades Dialgicas O 1 Seminrio como um exerccio terico e prtico:
forma e contedo em sintonia Qual o sentido de uma Educao Ambiental
crtica no campo das guas? Com o diagnstico acima exposto, a
construo do dilogo passa a ter um sentido como princpio poltico e
metodolgico, como forma e contedo ao mesmo tempo. O 1 Seminrio de
Educao Ambiental no SINGREH, ocorrido em 2009, em Salvador, ao
propiciar
quepelomenosumapessoadecadaumdos150comitsdebaciashidrogrficasbrasileirasestivesse
presente, gerou um momento importante de troca e, portanto, de
construo compartilhada, no de um nico sentido da Educao Ambiental
na Gesto das guas, mas de diversos sentidos e de uma nova forma de
construo. Ao optar por uma metodologia tanto inovadora quanto
ousada, que oferecia estmulos sobre um tema (uma reflexo curta de
um especialista) e, posteriormente, estimulava o debate em grupos
de conversas sobre o tema, sentimos que o objetivo da construo de
dilogos era mais importante do que a concluso sobre qualquer dos
temas apresentados. Esta uma opo poltica importante e
significativa. Em primeiro lugar, porque tira dos contedos a
primazia do processo de formao. A educao centrada prioritariamente
nos contedos tende a se tecnicizar, ou seja, transformar-se num
processo de transmisso de informaes que muitas vezes pouco dialogam
com quem as recebe, descontextualizando-as. A educao que foca nos
contedos frequentemente dificulta o dilogo com os contedos dos
educandos, inferiorizando-os. Como consequncia, esta concepo de
educao considera os educandos comopblico alvoe no como parceiros
num processo mtuo de formao. Sem querer tirar a importncia dos
contedos no processo educativo, o problema est em sua priorizao ou
preponderncia sobre outros aspectos, o que leva a concepes
conservadoras de educao. Em segundo lugar, porque esta metodologia
afirma, politicamente, que todos tm saberes sobre os assuntos
tratados e merecem oportunidades de expresso. Afirma, tambm, que o
mais importante o exerccio do dilogo com pessoas desconhecidas (mas
interessadas num mesmo tema), o exerccio da escuta, o exerccio da
compreenso de uma ideia diferente da prpria. Em terceiro lugar, h
uma afirmao poltico-pedaggica ao longo do seminrio na direo do que
educao: ao invs de ser um processo de domesticao, um processo de
transmisso de contedos, um processo de construo de referncias
externas a ns (os especialistas), sem as quais no nos sentimos
preparados para pensar e agir, o seminrio afirma que educar
oferecer um espao de autoconstruo de cada participante a partir do
encontro, do embate, do dilogo sobre a questo das guas,
fortalecendo cada um que participou para seus prprios processos.
Educar, neste sentido oferecer condies para que cada pessoa seja
mais forte e mais potente naquilo que acredita ser o mais justo,
agindo num sentido individual e coletivo ao mesmo tempo. S o dilogo
levado com prioridade pode permitir este processo. Neste sentido, o
seminrio se transformou num primeiro e seguro passo para o
aprendizado do dilogo, do respeito alteridade, objetivos difceis de
alcanar, mas fundamentais para o enfrentamento da maior das questes
socioambientais: a invisibilizao e submisso do outro (seja
ooutronatural, seja ooutrohumano).
37. 38 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos
Concluindo, impossvel no fazer referncia/homenagem a Dersu Uzala,
retratado em filme de mesmo nome, de Akira Kurosawa, que dialogava
e tratava a todos os elementos das florestas da
Mongliacomogente:otigre,ofogo,oventoeat...oserhumano(nocaso,trazendooprogresso
para aquele trecho da floresta e inviabilizando o prprio modo de
vida de Dersu)!
38. 39Captulo 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e
Atividades Dialgicas DESAFIOS DOS CAMINHOS AMBIENTALISTAS: um mapa
imaginrio para transformaes democrticas Luiz Antonio Ferraro Jnior
Este breve texto teve duas fontes de inspirao, uma de contedo e
outra de forma. A inspirao do contedo veio do seminrio ocorrido em
Salvador, entre 6 e 8 de outubro de 2009, promovido pelo Conselho
Nacional de Recursos Hdricos (CNRH), por meio da Cmara Tcnica de
Educao, Capacitao, Mobilizao Social e Informao em Recursos Hdricos
(CTEM). A inspirao da forma veio do livro Atlas da experincia
humana: cartografia do mundo interiorde Louise van Swaaij e Jean
Klare. Os contedos daquele seminrio, reavivados aps a leitura da
transcrio das falas, fizeram-me imaginar um mapa que expressasse um
caminho da faina (nem tanto da fauna...) ambientalista, com seus
desafios, riscos, armadilhas e com as pistas que podem ajudar a
levar esta luta a transformaes profundas do mundo e da prpria luta.
A ideia de um mapa foi reforada por estar tratando dos esforos dos
educadores ambientais no mbito de comits de bacias. Bacias e seus
comits so complexos territrios, que desafiam nossa compreenso e
nosso imaginrio. Naquele seminrio, minha funo de mediador/relator
me proporcionou dois aprendizados importantes. Estes aprendizados
no so ideias que brotaram do nada, elas vinham se insinuando, se
construindo nos meandros do pensamento, mas neste evento foram de
tal modo exemplificadas que finalmente pude pronunci-las, para mim
mesmo e agora em texto, de modo mais claro: Ideia aprendida 1 - Em
um coletivo, a diversidade proporciona dois elementos fundamentais
para orientar caminhos transformadores, o exerccio da democracia e
a criatividade social; Ideia aprendida 2 - H uma profunda diferena
entre ser capaz de expressar um conhecimento crtico da realidade e
desafiar-se a construir, com um coletivo, novos conhecimentos
crticos sobre a realidade. Tais aprendizagens no indicam que a
simples constituio de um coletivo de educadores ambientais dentro
dos comits de bacia seja garantia de programas, projetos e aes
efetivamente transformadores. A existncia do coletivo de educadores
ambientais condio sine qua non, mas insuficiente. Espero que a
observao deste mapa imaginrio que propus possa ajudar coletivos de
educadores ambientais a reconhecer semelhanas com seu territrio de
luta e a traar seus prprios mapas e caminhos. Sugiro que se leia
este artigo voltando-se do texto ao mapa e do mapa ao texto, foi
assim que ele foi escrito. No centro do mapa, h um divisor de guas
central, que divide o territrio em duas grandes bacias. Alinhado ao
divisor de guas v-se uma linha vermelha que sinaliza a diviso das
regies. Uma pessoa que caminha distrada pelo territrio muitas vezes
no saber se est em uma ou em outra regio, o trnsito entre elas pode
confundir. Entretanto, do alto da cordilheira h dois picos, que so
prximos s nascentes primeiras de uma e outra bacia, das nascentes
as guas correm em
39. 40 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos direes
opostas. Um pico se chama Ver TV e quem est nele olha para o lado
esquerdo16 do mapa. O outro pico se chamaOlhar o Mundoe quem nele
sobe levado a olhar para a direita do mapa. So duas perspectivas
completamente distintas da mesma regio. Inicialmente, e um pouco
mais rapidamente, quero apresentar a regio apreciada a partir do
picoVer TV. A partir de Ver TV encontra-se a nascente de um rio que
corta toda a regio. Este rio, sem meandros, chega ao mar. Ele passa
pelas pequenas cidades de Blue pill e Soma. Tanto Soma (do livro
Admirvel mundo novo de Aldous Huxley) quanto a plula azul (do filme
Matrix) fazem aluso escolha do caminho fcil, ao caminho de s ver o
mundo como o sistema deseja. Tomar Soma um tipo de fuga, como nos
conta a msica da banda The Strokes: Eles deveriam ter tomado Soma
quando os tempos difceis abriram seus olhos. E o soma, segundo
Huxley em Admirvel mundo novo, est sempre disponvel para todos: ou
se, alguma vez, por acaso infeliz, um abismo de tempo se abrir na
substncia slida de suas distraes, sempre haver o soma, o delicioso
soma, meio grama para um descanso de meio dia, um grama para um fim
de semana, dois gramas para uma excurso ao esplndido Oriente, trs
para uma sombria eternidade na lua; de onde, ao retornarem, se
encontraro na outra margem do abismo, em segurana na terra firme
das distraes e do trabalho cotidiano, correndo de um cinema sensvel
a outro, de uma mulher pneumtica a outra, de um campo de Golfe
Eletromagntico a...(Huxley, 1932, p.61-62).
porissoqueestabaciaamaispovoada,contmasmaiorescidadesesuamaiorplanciesechama
Zona weekend(zona do final de semana). H uma enorme extenso de
praias de areias douradas, repletas de opes para passar o tempo,
provavelmente repletas de mulheres pneumticas e cinemas sensveis.
Nesta bacia h uma aparente tranquilidade, uma grande monocultura
social, uma aparente ausncia de conflitos. Isto ocorre porque a
sociedade contempornea constroi, nas mais diversas dimenses, uma
organizao, economia, subjetividade e educao hegemoneizantes. Estas
dimenses se afirmam por meio de uma racionalidade
tcnico-instrumental-econmica que produz conhecimento cientfico e
sistemas de significaes calcados no modo capitalista. Este modo
hegemnico de produo de conhecimento e signos termina por induzir
uma associao entre o observado com o que se entende por real e
deste real com o que se entende como verdade. a monocultura da
racionalidade da cincia, acusada por Santos (1999, 2007). O
imaginrio social de nossa poca reveste-se, assim, de uma aparente
neutralidade da tcnica e da cincia, criando condies para uma adeso
sem crtica imagem oferecida pelo sistema, processo que o mantm por
aquilo que ele (CASTORIADIS & COHN-BENDIT, 1981). Apesar desta
aparncia de priso alienante, esta regio vivida com muito prazer,
com vrios passatempos. Entretanto ela no to estvel como desejaria,
prximo dela h vrios aspectos 16 crucial destacar que no se usar as
convenes geogrficas Leste-Oeste-Norte-Sul por opo. O Norte
imaginrio aquele que se quer alcanar, que pode ser o Sul, o Leste,
o Oeste ou o Norte. Se este mapa imaginrio fizesse referncia ou se
baseasse em partes do planeta Terra, teria optado por um mapa
invertido, fazendo do Sul o nosso norte, como sugeriu o artista
uruguaio Joaqun Torres Garca.He dicho Escuela Del Sur; porque en
realidad, nuestro norte es el Sur. No debe haber norte, para
nosotros, sino por oposicin a nuestro Sur. Por eso ahora ponemos el
mapa al revs, y entonces ya tenemos justa idea de nuestra posicin,
y no como quieren en el resto del mundo. La punta de Amrica, desde
ahora, prolongndose, seala insistentemente el Sur, nuestro norte.
JoaqunTorres Garca. Universalismo Constructivo, Bs. As.:Poseidn,
Montevideo, 1944.
40. 41Captulo 1 - Enfoques Metodolgicos para Eventos e
Atividades Dialgicas que podem prejudicar o efeito do Soma ou da
plula azul. Um deles a existncia gritante e visvel de zonas
restritas, de privilgios e desigualdades. Outro potencial
inquietante a arte, ainda que parte dela sucumba ao que se denomina
indstria cultural e mass media. Dentro da arte h uma zona de litgio
entre as bacias, nesta zona a gua corre uma vez pra um lado e outra
vez pro outro, a plancie dos documentrios. Os documentrios, por
vezes, provocam instabilidades na matrix, geram inquietudes que
podem conduzir pessoas que estavam vendo TV a olharem o mundo. Esta
bacia litornea, ela tem um final, como um final tem a vida de cada
um. Este final inquieta, mesmo quando se est em luxuriantes praias
e paisagens exclusivas. O que h depois? Para representar isso, o
mapa imaginrio inclui trs ilhotas, bem na cara da bacia, que so
denominadas Saudade, Espelho e Caverna. Para falar de Saudade e
Espelho selecionei uma frase de talo Calvino, em As cidades
invisveis: Voc viaja para reviver o seu passado? era, a essa
altura, a pergunta do Khan, que tambm podia ser formulada da
seguinte maneira: Voc viaja para reencontrar o seu futuro? E a
resposta de Marco: - Os outros lugares so espelhos em negativo. O
viajante reconhece o pouco que seu descobrindo o muito que no teve
e o que no ter.(Calvino, 1972). Espelho e Saudade podem convidar o
sujeito inquietude e reflexo porque evidentemente se referem a ele
mesmo, seu presente e seu passado. Em Espelho e Saudade o sujeito
colocado de frente para si mesmo. Caverna, por sua vez, uma ilha
que ilude, em seu fundo esto projetadas sombras que o sujeito pode
ficar a olhar eternamente, confundindo-as com a realidade. A ideia
desta ilha emana do mito da caverna, apresentado por Plato, no
textoA repblica: Scrates Agora imagina a maneira como segue o
estado da nossa natureza relativamente instruo e ignorncia. Imagina
homens numa morada subterrnea, em forma de caverna, com uma entrada
aberta luz; esses homens esto a desde a infncia, de pernas e
pescoos acorrentados, de modo que no podem mexer-se nem ver seno o
que est diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a
cabea; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se
ergue por detrs deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma
estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada est
construdo um pequeno muro, semelhante s divisrias que os
apresentadores de tteres armam diante de si e por cima das quais
exibem as suas maravilhas. Glauco Estou vendo. Scrates Imagina
agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos
de toda espcie, que os transpem: estatuetas de homens e animais, de
pedra, madeira e toda espcie de matria; naturalmente, entre esses
transportadores, uns falam e outros seguem em silncio. Glauco Um
quadro estranho e estranhos prisioneiros. Scrates Assemelham-se a
ns. E, para comear, achas que, numa tal condio, eles tenham alguma
vez visto, de si mesmos e de seus
41. 42 Poltica de guas e Educao Ambiental: processos dialgicos
e formativos em planejamento e gesto de recursos hdricos
companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede
da caverna que lhes fica defronte? Saramago, no livro A caverna,
reinventou o mito, para ele os shoppings centers so prottipos da
caverna, assim como o a prpria TV. Em uma entrevista ele disse:
Quando digo que as pessoas que esto na caverna somos todos ns
porque damos muito mais ateno s imagens do que quilo que a
realidade . Estamos l dentro olhando uma parede, vendo sombras e
acreditando que elas so reais. Tambm Plato considerava que aqueles
da Caverna se pareciam conosco. Mas tanto para Plato como para
Saramago esta uma condio que pode ser enfrentada. No livro A
caverna, um dos personagens, ao visitar clandestinamente uma
escavao em que restos arqueolgicos vinham sendo protegidos como
segredo de Estado, percebe algo to revelador que decide fugir com
sua famlia, buscar outra vida, to livre quanto incerta. L embaixo h
seis pessoas mortas, trs homens e trs mulheres, No me surpreende,
era exatamente o que eu calculava, que deveria tratar-se de restos
humanos, sucede com frequncia nas escavaes, o que no compreendo por
que foram todos estes mistrios, tanto segredo, tanta vigilncia, os
ossos no fogem, e no creio que roubar esses merecesse o trabalho
que daria, Se tivesses descido comigo compreenderias, alis ainda
ests a tempo de ir l abaixo, Deixe-se de ideias, No fcil deixar- se
de ideias depois de se ter visto o que eu vi, Que foi que viu, quem
so essas pessoas, Essas pessoas somos ns, disse Cipriano Algor, Que
quer dizer, Que somos ns, eu, tu, o Maral, o Centro todo,
provavelmente o mundo.(Saramago, 2000, p.334-335). Perceber-se na
caverna aspectos que revelam uma condio do indivduo e de toda a
sociedade. Falar desta bacia na qual a maioria da populao permanece
sem contestao explicitar algo que foi apontado os educadores
ambientais precisam olhar para a sociedade como ela , como o
sistema opera, como ele atrai, como cria mecanismos de adeso aquilo
que ele , como ilude e tranquiliza. A minha alma t armada e
apontada para cara do sossego! (...) As grades do condomnio so pr
trazer proteo, mas tambm trazem a dvida se voc que t nessa priso.
Me abrace e me d um beijo, faa um filho comigo!