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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA PAULO VOLPINI CASTANHEIRO LIVRO BRANCODE DEFESA NACIONAL: uma necessidade? Rio de Janeiro 2011

"Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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Page 1: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

PAULO VOLPINI CASTANHEIRO

“LIVRO BRANCO” DE DEFESA NACIONAL:

uma necessidade?

Rio de Janeiro 2011

Page 2: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

PAULO VOLPINI CASTANHEIRO

“LIVRO BRANCO” DE DEFESA NACIONAL:

uma necessidade?

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentado ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel. Edison Gomes.

Rio de Janeiro

2011

Page 3: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

Dedico esta monografia ao meu sogro Pedro Paulo;

a sogra Luzia; a esposa Ana Paula, brilhante e paciente

revisora deste trabalho; e aos filhos Paulo, Pedro Paulo e

Paulo Sansão, pela tranquilidade e segurança que me

permitiram levar adiante os meus estudos, na certeza de

ter minha família sempre unida e resguardada.

Dedico, em especial consideração, a meu pai Paulo e

a minha mãe Henriqueta verdadeiros responsáveis por

tudo.

Page 4: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

AGRADECIMENTOS

Ao insigne orientador, Cel R/1 Édison Gomes de Souza Neto, pela condução na

busca do conhecimento. Agradeço o companheirismo, a fraternidade e o empenho na

orientação para a elaboração deste trabalho.

Ao Comando da Marinha do Brasil pela oportunidade proporcionada, possibilitando-

me realizar o Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) e apresentar o

presente estudo.

A Associação Brasileira de Indústrias de Defesa e Segurança, nas pessoas de seu

Vice-Presidente Executivo, o Vice-Almirante Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, do Vice-

Almirante Engenheiro Naval Marcilio Boavista da Cunha e do Sr. Cláudio Moreira.

Aos Oficiais do Estado-Maior da Armada, aos Adidos Navais Brasileiros e aos

Adidos Navais Estrangeiros no Brasil, pelas valiosas colaborações e pelo pronto

atendimento às minhas solicitações.

Aos integrantes da Escola Superior de Guerra (ESG) pela excelência na seleção do

corpo discente; pela qualidade do ensino prestado pelo corpo docente; pelo distinto trato e

apoio aos Estagiários na árdua jornada acadêmica empreendida.

A toda equipe, civis e militares, da ESG, o reconhecimento pela organização e alto

grau de profissionalismo na execução de seus ofícios e na condução dos trabalhos,

possibilitando amenizar nossas naturais dificuldades.

Aos colegas do CAEPE 2011 – Turma Segurança e Desenvolvimento, pela

qualidade de conteúdo e pela convivência durante o curso. Agradeço a honra em poder

estar ao lado de todos os senhores e senhoras, meus colegas de turma.

A todos que, de alguma maneira, contribuíram para a concretização deste

empreendimento.

Page 5: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

"Uma Nação que confia em seus direitos em vez de confiar em seus soldados, engana-se a si mesma e prepara a sua própria queda".

Rui Barbosa

Page 6: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

RESUMO

Esta monografia aborda o Livro Branco de Defesa Nacional, como um dos

documentos necessários para prover eficiência à gestão dos assuntos de defesa. O

objetivo deste estudo é avaliar a real necessidade de se publicar este tipo de

documento, com fundamento nas opiniões de personalidades de notório saber sobre

o assunto. A metodologia adotada comportou uma pesquisa bibliográfica e

documental, visando buscar referenciais teóricos e práticos. O campo de estudo

limitou-se à coleta de dados que permitissem analisar a necessidade de se

estruturar um documento dessa complexidade, sem se prender aos processos de

elaboração e à metodologia empregada para a sua consecução. Discorre sobre: a

definição do que seja um “Livro Branco” de forma abrangente; como será

estruturado o Livro Branco de Defesa do Brasil; e os relatos de personalidades de

notório saber em assuntos de defesa, para embasar a análise sobre a necessidade

desse tipo de documento no ordenamento doutrinário dos assuntos afetos à Defesa

Nacional. Os principais tópicos são: a estruturação do Livro Branco de Defesa

Nacional no Brasil; as impressões do Ministro da Defesa; as impressões de

personalidades de notório saber, como o Vice-Presidente Executivo da ABIMDE,

Revista do Clube Naval e outras instituições não menos importantes; e relatos dos

Adidos Brasileiros e dos Adidos Estrangeiros acreditados no Brasil.

Palavras-chave: Defesa Nacional. Livro Branco. Transparência. Dissuasão.

Page 7: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

ABSTRACT

This monograph addresses the National Defense White Paper as one of the

documents necessary to provide efficient management of defense issues. The aim of

this study is to evaluate the real need to publish such document, based on the

opinions of well-known personalities on the subject. The methodology involved a

literature search and documentation, aiming to seek theoretical and practical. The

field study was limited in collecting data that allow analyzing the need to structure a

document of this complexity, without being attached to the processes of formulation

and methodology for achieving them. Discusses: the definition of what constitutes a

"White Paper" in a comprehensive manner, how it is structured the Defense White

Paper of Brazil, and the stories of notable personalities in defense matters, to base

the analysis on the need for such document in planning matters pertaining to the

doctrine of National Defense. The main topics are: the structure of the National

Defense White Paper in Brazil, the impressions of the Defense Minister, the prints of

renowned personalities, such as the Executive Vice President of ABIMDE, Journal of

the Naval Club and other institutions that are no less important, and reports of

Brazilian Attachés and Foreign Attachés accredited to Brazil.

Keywords: National Defense. White Paper. Transparency. Deterrence.

Page 8: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Alte Almirante

CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia

ESG Escola Superior de Guerra

LBDN Livro Branco de Defesa Nacional

OEA Organização dos Estados Americanos

Page 9: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 10 2 O QUE É UM “LIVRO BRANCO”?.................................................... 12 3 GÊNESE DO LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL NO

BRASIL............................................................................................

17 4 O LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL DO BRASIL.......................... 23 5 IMPRESSÕES DO MINISTRO DA DEFESA................................................. 29 6 IMPRESSÕES DE PERSONALIDADES DE NOTÓRIO SABER .......... 34 6.1 VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO DA ABIMDE................................ .. 34 6.2 REVISTA DO CLUBE NAVAL... 35 6.3 CONSULTOR CIVIL SOBRE DEFESA NACIONAL........................... .. 37 6.4 “PROFESSOR OF NATIONAL SECURITY AFFAIRS”………………….. 38 6.5 JORNAL DEFESA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS – PORTUGAL... 40 6.6 RÁDIO INTERNACIONAL DA CHINA (CRI) ...................................... 42 7 RELATOS DOS ADIDOS BRASILEIROS NO EXTERIOR .................. 44 7.1 ADIDO DE DEFESA E NAVAL DO BRASIL NO REINO UNIDO, SUÉCIA E

NORUEGA......................................................................................................

44 7.2 ADIDO DE DEFESA E NAVAL NA ÁFRICA DO SUL........................ .. 46 8 RELATOS DOS ADIDOS ESTRANGEIROS NO BRASIL ................... 48 9 CONCLUSÃO................................................................................................. 53 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 54 ANEXO A - DECRETO Nº 7.438, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2011............ 56 ANEXO B - MAPA MUNDI EVIDENCIANDO PAÍSES QUE POSSUEM O

LIVRO BRANCO.........................................................................

57 ANEXO C - RESOLUÇÃO DO CONSELHO PERMANENTE DA OEA

Nº. 829 (1342/02)........................................................................

58

Page 10: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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1 INTRODUÇÃO

A elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional do Brasil, neste ano de

2011, é um assunto em evidência tanto no ambiente civil, quanto no militar. Um

Grupo de Trabalho, presidido pelo Ministério da Defesa, com a participação de

representantes de outros Ministérios e instituições de elevado conceito e importância

para o nosso País, foi constituído, por força do Decreto nº 7438, de 11 de fevereiro

de 2011, da Presidente Dilma Rousseff (ANEXO A), para a sua consecução.

O termo “Livro Branco”, não faz parte do cotidiano do seu público alvo, qual

seja: todas as pessoas (brasileiros e estrangeiros), a sociedade como um todo, o

Congresso Nacional, os Ministérios, as Academias, outros Estados e os Organismos

de segurança internacional, como a ONU, OEA etc. Adicionalmente, em sua

essência, é dotado de grande complexidade para a sua compreensão e carece de

ter seu propósito elucidado com detalhe, visando permitir o perfeito entendimento,

para minimizar a possibilidade de interpretações equivocadas.

O Brasil é um dos últimos países das Américas e do mundo a ter o seu Livro

Branco de Defesa publicado, para não dizer que é o último, se levar em

consideração a estatura político-estratégica de nosso País, no cenário mundial

(ANEXO B). Muitos dos países que publicaram seus Livros Brancos de Defesa, não

obtiveram os resultados que esperavam. O Brasil há, então, que selecionar os

métodos das nações que obtiveram êxito com a sua publicação, evitando os

equívocos dos que despenderam elevados montantes de recursos humanos e

financeiros na elaboração desse instrumento, sem galgarem o devido retorno, em

termos de melhoria da Defesa Nacional, corroborando com Otto Von Bismark1

quando cita: “os tolos dizem que aprendem com os seus próprios erros: eu prefiro

aprender com os erros dos outros.”

Este estudo tem o propósito de avaliar a real necessidade de ser publicado

um Livro Branco de Defesa Nacional, como instrumento auxiliar à Política de Defesa

Nacional e à Estratégia Nacional de Defesa. Para tal, se propõe a caracterizar, de

forma global, o documento “Livro Branco”, apontar o que provocou a iniciativa de sua

1 Otto von Bismarck (1815-1898), o “Chanceler de Ferro”, foi o estadista mais importante da Alemanha do século XIX. Coube a

ele lançar as bases do Segundo Império, ou 2º Reich (1871-1918), que levou os países germânicos a conhecer, pela primeira vez na sua história, a existência de um Estado Nacional único. Para formar a unidade alemã, Bismarck desprezou os recursos do liberalismo político, preferindo a política da força.

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elaboração pelo Brasil e como se pretende realizar a sua estruturação. Após esta

fase inicial, várias opiniões foram reunidas, de forma a captar as expectativas de

personalidades de notório saber e experiências práticas dos países que já possuem

o seu livro. Vale ressaltar que o Grupo de Trabalho para tal encontra-se em

andamento e que alterações de perspectivas e conteúdo poderão ocorrer após a

finalização deste trabalho. Uma vez de posse de todas essas informações, será

possível, então, analisar a real necessidade desse instrumento.

Este trabalho, por ser uma coleta de opiniões de personalidades de notório

saber sobre a Defesa Nacional, pode servir como um marco de referência para se

comparar as expectativas deste momento que precede a estruturação do Livro

Branco de Defesa Nacional, com os reais acontecimentos que poderão advir da

publicação deste instrumento.

Page 12: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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2 O QUE É UM “LIVRO BRANCO”?

Este autor efetuou um levantamento sobre: “o que é um Livro Branco”;

dentro de um espaço amostral de vinte cidadãos: civis (Promotores de Justiça

e Defensores Públicos) e Oficiais Superiores das Forças Armadas e

Singulares, ou seja, todos com nível de escolaridade superior. Ninguém sabia

em que consistia um Livro Branco. Este fato motivou o início do estudo para

definir, ou harmonizar os conhecimentos a respeito da identidade desse tipo

de Livro, sem o qual não seria possível desencadear um pensamento lógico

sobre a necessidade ou não desse veículo de informações, para a gestão dos

assuntos afetos à Defesa Nacional.

Outro fato relevante, corroborando o relatado no parágrafo anterior,

ocorreu ao se recorrer a uma biblioteca, em busca de material sobre Livros

Brancos, e as funcionárias, entre elas uma universitária do oitavo período de

Biblioteconomia, desconheciam o termo: “Livro Branco”. Apesar de já

existirem publicados livros brancos no Brasil, tanto na esfera governamental,

quanto fora, e pessoas com elevado nível de formação acadêmica não terem

o conhecimento de seu propósito, se faz necessária uma reflexão sobre o

real impacto que poderá surtir esse instrumento em seu público alvo.

O termo “'Livro Branco”, dentro do ordenamento governamenta l, é o

nome que se empresta a um documento oficial, publicado por um governo ou

uma organização internacional, com a finalidade de expor uma nova política,

ou linha de ação sobre um tema atual. Pode servir como fonte de consulta

sobre os detalhes de uma nova legislação proposta, onde haja franco

interesse governamental para sua aprovação. Pode, ainda, informar ou servir

de guia sobre algumas das atividades governamentais, apresentando como

serão gerenciados os caminhos para a consecução dos objetivos, como por

exemplo: o planejamento de uma política governamental de médio a longo

prazos. (KITCHO, 2004, não paginado)

A denominação “Livro Branco” teve origem no Reino Unido, porém

não é conhecido o momento exato ou evento histórico do seu surgimento. O

termo em inglês é “White Paper”, o qual até hoje é utilizado para documentos

do Governo. As explicações das políticas do governo inglês circulavam em

volumosas publicações de capa azul e o Livro Branco era um relatório,

Page 13: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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demasiado curto, resumindo os itens tratados pelo “Livro Azul”. (KITCHO,

2004, não paginado)

Um momento clássico de utilização de um Livro Branco foi durante o

Mandato Britânico na Palestina, quando foram publicados três Livros Brancos

que nortearam os caminhos desse momento histórico, que teve o seu

encerramento com o Livro Branco de 1939, pondo fim à missão.

(ES.WIKIPIDIA, 2011, não paginado)

Acredita-se que os Livros Brancos “migraram” para os Estados Unidos

a bordo da lendária nau “Mayflower”, viagem considerada o marco fundador

dos Estados Unidos da América, que partiu de “Southampton” na Inglaterra,

chegando aos EUA, em 21 de dezembro de 1620, trazendo 102 colonos.

(KITCHO, 2004, não paginado)

Algum tempo depois, o Governo dos EUA passou a utilizar os Livros

Brancos, a partir da descoberta por seus funcionários, que seus enormes

relatórios de trabalho, cerca de 300 páginas, eram submetidos à apreciação

dos altos escalões do Governo, que reagiam mal à leitura de documentos

extensos. Para darem conta desses volumosos relatórios, estes

determinavam aos seus auxiliares, que criassem uma versão sinóptica em

papel branco. Uma vez que os elaboradores dos extensos relatórios

perceberam que perdiam tempo criando documentos volumosos, pois seriam

resumidos por terceiros, passaram, então, a fazer relatórios menores e todos,

doravante, trabalharam mais produtivamente. Depois disso, as empresas

captaram a tendência. (KITCHO, 2004, não paginado)

Na União Européia, os Livros Brancos proporcionam uma gama de

argumentos e propostas sobre qualquer tema específico. É sob esta ótica que

a Comissão Européia, em seus comitês consultivos, compostos por membros

da Comissão, representantes de grupos de interesse e administrações

regionais, harmonizam as decisões políticas num sentido único.

(ES.WIKIPIDIA, 2011, não paginado)

Na Comunidade das Nações “Commonwealth of Nations”, "white

paper" é um nome informal para um documento parlamentar enunciar a

política do governo. “White Papers” são ferramentas "[...] de democracia

participativa não [...] [um] compromisso político inalterável (DOERR, 1971.

pp. 179-203). "‟White Papers‟ tentam executar o duplo papel de apresentar as

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políticas do governo de maneira firme e, ao mesmo tempo, convidando as

opiniões sobre eles." (PEMBERTON, 1969)

No Canadá, um “white paper” é considerado como um documento

político, aprovado pelo Conselho de Ministros, apresentado na Câmara dos

Comuns e colocados à disposição do público em geral." (DOERR, 1973, 1.

56). Doerr observa que o Canadá acredita que " [...] a política de informação

através do uso de Livros Bancos e Verdes pode ajudar a criar uma

consciência sobre questões políticas entre os parlamentares, para o público e

incentivar a troca de informações e análises. Eles também podem servir

como técnicas de ensino”. (DOERR, 1981, p. 153)

Para Chapin, "Livros Brancos são usados como um meio de

apresentar as preferências políticas do governo, antes da introdução da

legislação [...]" e, como tal, a publicação "[...] de um Livro Branco serve para

testar o clima da opinião pública a respeito de uma questão política

controversa e permite ao governo avaliar seu provável impacto." (CHAPIN,

1978, p. 33)

Os Livros Brancos podem assumir alguns dos seguintes formatos:

-Um relatório do governo sobre qualquer assunto;

-Um pequeno tratado, cujo objetivo seja orientar os clientes da

indústria;

-Um posicionamento da política governamental, com uma

documentação de apoio; e

-Uma Declaração oficial sobre o motivo que conduziu o Governo a

adotar determinada conduta. (KITCHO, 2004, não paginado)

Alguns exemplos de Livros Brancos históricos:

Russia No 1. Uma Coleção de relatórios sobre o Bolchevismo na

Rússia, abril de 1919, frequentemente referenciado como "The White Paper"

uma coleção de mensagens telegráficas de Oficiais Britânicos na Rússia, a

respeito da Revolução Bolchevista.

“Churchill White Paper”, 1922, Planejamento de um lar nacional

na Palestina para os Judeus.

Page 15: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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“White Paper” de 1939, solicitando a criação de um Estado

unificado palestino e de uma limitada imigração judaica e capacidade de

compra de terras.

“White Paper on Full Employment”, 1945, “Commonwealth of

Australia” - reconhecer a obrigação do Estado em prover trabalho para o

povo.

“Defence White Paper”, 1957, uma reavaliação das necessidades

de defesa do Reino Unido.

“White Paper on Defence”, 1964, a unificação/criação das

modernas Forças Canadenses.

“White Paper”, 1969 (posteriormente cancelado), para abolir a lei

indígena no Canadá e reconhecer Primeiras Nações como “outras minorias”

no Canadá, ao invés de “grupos distintos”.

“The White Paper”, 1966, Estados Unidos. Documento do

Conselho Nacional de Pesquisa, que levou ao desenvolvimento de serviços

médicos de emergência nos Estados Unidos. (EN.WIKEPIDIA, 2011, não

paginado)

Os Livros Brancos, nas outras esferas da sociedade, são utilizados

como uma ferramenta de divulgação, para disseminar informações sobre um

produto ou tecnologia de interesse. Os Livros Brancos podem ser utilizados

para instruir os interessados nos assuntos neles contidos, servindo como

instrumento auxiliar na tomada de decisão, tanto políticas como nos

negócios. (ES.WIKIPIDIA, 2011, não paginado)

Existem os Livros Brancos Comerciais, onde esta terminologia teve

início nos anos de 1990, se referindo aos documentos usados como

ferramentas de “Marketing” ou de vendas. Atualmente, muitos Livros Brancos

dissertam sobre os benefícios de tecnologias emergentes, ou antigas

remodeladas, de produtos específicos. Dessa forma, este tipo de Livro

Branco serve apenas como um documento informativo e promocional de uma

campanha específica. É importante ressaltar, que o enfoque desses livros é

diferente dos utilizados pelos Governos, pois estes destacam informações

favoráveis sobre a Empresa que o está financiando, visando o lucro

comercial, ou informando ao consumidor a respeito do produto.

Page 16: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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Existem três tipos básicos de Livros Brancos Comerciais:

1. Benefícios do negócio: Se restringem a apresentar uma situação de

negócio favorável aos executivos;

2. Técnicos: Ajuda pessoas influentes a entender como funciona um

novo conceito ou tecnologia; e

3. Híbridos: Combina o enfoque de negócios de alto nível com

detalhes técnicos, em um só documento. (ES.WIKIPIDIA, 2011, não

paginado)

Não se pode falar sobre os Livros Brancos, sem citar a existência dos

Livros Verdes, pois estes, conhecidos como “livros de consulta”, podem

simplesmente propor uma estratégia a ser implementada sobre os detalhes

de outras legislações, ou ainda apresentar propostas sobre as intenções dos

governos, visando captar a opinião pública. (ES.WIKIPIDIA, 2011, não

paginado).

No Brasil, o objetivo do Livro Verde é servir como documento

consultivo destinado ao Congresso Nacional que explica como o Ministério da

Defesa pretende desenvolver seus objetivos e como pensa questões de sua

competência. Como características principais, o Livro Verde é subproduto do

Livro Branco, tem como público alvo o Congresso Nacional e não é

conclusivo, pois não define estrutura organizacional nem equipamento, porém

identifica a contribuição dos congressistas, das academias, das indústrias

etc. Mostra, também, claramente o envolvimento da sociedade na

responsabilidade da concepção e atualização do Livro Branco de Defesa

Nacional e esclarece a necessidade de financiamento para a Defesa. (FGV,

2011, p.13)

Page 17: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

17

3 GÊNESE DO LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL NO BRASIL

Nas Conferências da Organização dos Estados Americanos de

Santiago (1995) e de San Salvador (1998) sobre as medidas de

fortalecimento da confiança e da segurança, se reconheceu a necessidade de

estimulação da elaboração e o intercâmbio de informações sobre as políticas

e as doutrinas de defesa nacionais.

O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos

(OEA), por meio da sua resolução nº 829 (1342/02), de 06 de novembro de

2002 (ANEXO C), cita que a Resolução da Assembléia Geral da OEA nº

1801, que trata do “Fortalecimento da confiança e da segurança”, já havia

solicitado que a Comissão de Segurança Hemisférica realizasse um

seminário sobre a preparação de documentos sobre política e doutrina da

defesa, em coordenação com o Colégio Interamericano de Defesa e outras

instituições especializadas no assunto. Tal seminário foi realizado e as

“Diretrizes para a elaboração de documentos sobre política e doutrina da

Defesa (Livros Brancos)” foram submetidas à apreciação da Quinta

Conferência de Ministros da Defesa das Américas, realizada em Santiago,

Chile, em novembro de 2002.

Nessa mesma Resolução número 829, o Conselho Permanente

resolve instar os Estados membros a implementarem essas Diretrizes e a

manter a OEA informada, bem como, solicita à Secretaria-Geral da OEA que

preste apoio aos Estados membros, para a implementação dessas Di retrizes.

As “Diretrizes para a elaboração de documentos sobre política e

doutrina da Defesa (Livros Brancos)” tecem os seguintes termos em sua

introdução:

“Os países das Américas identificaram a elaboração e o compartilhamento dos Livros Brancos da Defesa Nacional como um mecanismo útil de fortalecimento da confiança e da segurança para a promoção da segurança no Hemisfério.”

“É importante notar que nas Américas não há um formato padrão acordado para os Livros Brancos . Isso talvez seja um reflexo lógico dos diferentes contextos históricos, geográficos, culturais, políticos e fiscais nos quais os países das Américas definem suas ameaças à segurança e objetivos, capacidades e limitações da defesa. Este documento localiza princípios básicos e levanta questões que poderiam ser úteis aos governos na formulação dos próprios Livros Brancos, com base na

Page 18: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

18

experiência dos Estados membros da OEA que já iniciaram esse processo.” (grifo nosso)

As “Diretrizes para a elaboração de documentos sobre política e

doutrina da Defesa (Livros Brancos)” definem o Livro Branco de Defesa

como:

“[...] um documento chave de política que oferece a visão do Governo a respeito da defesa. É um documento público que descreve o contexto amplo da política e estratégia para o planejamento da defesa com uma perspectiva de médio prazo. Não se destina a ser redigido anualmente ou a cada dois anos, mas oferece uma perspectiva suficiente para permitir um orçamento ou um planejamento plurianual. Deve ser elaborado de modo a ser suficientemente flexível para levar em conta pequenas modificações no ambiente da segurança. Um novo Livro Branco é normalmente preparado em resposta a importantes mudanças no ambiente estratégico ou para indicar mudanças significativas nas prioridades do Governo.”

As Diretrizes continuam a nortear breves comentários sobre como

deveriam nascer os Livros Brancos:

“Um Livro Branco é produzido depois de extensa consulta tanto dentro como fora do Governo. Visa a refletir um consenso de base ampla sobre o papel apropriado das forças de defesa desse país, no contexto de suas prioridades nacionais, contexto jurídico e recursos.”

“Um Livro Branco determina a análise do Governo sobre o ambiente de segurança do país, tanto nacional como internacional. Isso pode incluir uma avaliação das ameaças e fatores de segurança, tanto tradicionais como não-tradicionais. O documento destaca questões da mais alta prioridade para esse país e proporciona uma visão geral do modo como a política de defesa será implementada para enfrentar esses desafios à segurança. Também descreve, em termos amplos, as capacidades atuais e planejadas, bem como a funções das forças de defesa.”

Até este momento, a necessidade da publicação de um Livro Branco

encontra-se em termos de aconselhamento de um organismo internacional,

para que os seus Estados Membros elaborem seus Livros Brancos como um

instrumento de fortalecimento da confiança e da segurança.

Passando para o âmbito nacional, em sua aula inaugural do ano letivo

de 2002, na Escola Superior de Guerra, o então Ministro de Estado da

Defesa, Dr. Geraldo Magela da Cruz Quintão, abordou o tema “O Ministério

da Defesa”, de maneira a permitir aos presentes, segundo ele, uma visão

global do futuro “Sistema de Defesa Nacional”, no qual está incluída a Escola

Page 19: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

19

Superior de Guerra, como órgão de formação de capital humano para os

quadros de alto nível do Ministério da Defesa e como centro de excelência

para a discussão dos assuntos atinentes à defesa nacional. Os aspectos da

aula inaugural que abordaram o Livro Branco foram:

“Os documentos-chave atinentes à defesa são a Política de Defesa Nacional (PDN), a Política Militar de Defesa (PMD), a Estratégia Militar de Defesa (EMD) e o Livro Branco de Defesa. (grifo nosso)

Por último, o Livro Branco de Defesa deve constituir um documento declaratório, indicador de transparência e representativo da cooperação e da confiança mútua nos planos regional, hemisférico e global e, ainda, constituir -se em um meio eficiente de “persuasão” da opinião pública e dos setores do governo sobre a necessidade de se contar com Forças Armadas modernas e capazes. O seu conteúdo deve explicitar aspectos relacionados com a estrutura militar de defesa e abordar aspectos relevantes da PDN, da PMD e da EMD.

O Livro Branco de Defesa é um documento não formal, mas de importância fundamental para incrementar a transparência e credibilidade do país, na área de defesa. (grifo nosso)

Todos os documentos enunciados, atualmente em fase de revisão ou de elaboração, serão finalizados proximamente, encerrando um processo que teve início no ano de 2000 , quando decidi realizar consulta sobre a PDN junto a personalidades do segmento acadêmico, da esfera política, da sociedade e do domínio militar; todos de notório saber, posteriormente chamados de „notáveis‟ pela imprensa, de modo a agregar maior representatividade e legitimidade. (grifo nosso)

O resultado desse trabalho foi consolidado, no final de 2001, pelo documento intitulado „Modernização do Sistema de Defesa Nacional‟, que [...] também incluiu outras contribuições de relevo, a saber:

Segurança e Defesa; Postura Estratégica; Política de Defesa Nacional; Política Militar de Defesa; Estratégia Militar de Defesa; Estrutura Organizacional do MD; Reconfiguração; Livro Branco de Defesa (grifo nosso) Após um exame minucioso do documento, decidi, em

fevereiro deste ano (2002), criar um Grupo de Trabalho restrito, integrado por representantes das Forças e do Ministério, para revisar a Política de Defesa Nacional e elaborar propostas da Política Militar de Defesa, da Estratégia Mi litar de Defesa e do Livro Branco de Defesa, em um prazo de noventa dias .” (grifo nosso)

Por meio da citação acima, se comprova que a intenção de

elaboração de um Livro Branco de Defesa, acompanha a pauta de

sedimentação doutrinária do Ministério da Defesa de longa data. O que

reforça e comprova essa aspiração é que, no ano seguinte à aula inaugural

Page 20: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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proferida pelo Ministro da Defesa Geraldo Quintão, ou seja, em 2003, o

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Capítulo 30 – Defesa, da Mensagem

Presidencial encaminhada ao Congresso Nacional, determinou que o

Ministério da Defesa promovesse a atualização da Política de Defesa

Nacional, revigorasse o debate sobre temas estratégicos com a sociedade

civil e elaborasse um Livro Branco de Defesa.

Até 2009, porém, as referidas ações concernentes ao Livro Branco

não haviam se concretizado, quando então, o Deputado Federal (PPS-PE)

Raul Jungmann elaborou o Requerimento de Indicação número 5336, de 15

de setembro de 2009, que foi enviado pela Câmara dos Deputados à

Presidência da República, sugerindo ao Ministro de Estado da Defesa a

necessidade de estabelecimento de consulta, objetivando a urgente

implantação do Livro Branco de Defesa Nacional, transcrito abaixo:

“Na Mensagem Presidencial encaminhada ao Congresso Nacional, em 2003, o Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, no capítulo 30 - Defesa diz :

„ Em 2003, o Ministério da Defesa deverá promover a atualização da Política de Defesa Nacional, revigorar o debate sobre temas estratégicos com a sociedade civil e elaborar um Livro Branco de Defesa‟.

A ONU, através do Departamento de Assuntos Políticos, e a OEA, através da Comissão de Segurança Hemisférica, estimularam, em suas reuniões, a importância do referido documento, sendo que o assunto „Livro Branco‟ foi colocado nas agendas de discussão. Países como Argentina (1999), Chile (2002), Canadá (1994), Guatemala (2003), Nicarágua (2004), Peru (2005) já estruturaram seus livros brancos. O Brasil em 1996 foi pioneiro no contexto latino -americano ao adotar a Política de Defesa Nacional, documento que cumpriu os objetivos a que se pretendia, entretanto, é um documento tímido e insuficiente com relação aos conteúdos dos Livros de Defesa Nacionais.

Os Livros Brancos de Defesa Nacional são produtos históricos de regimes democráticos e o Brasil não possui, ainda, o referido livro, tendo elaborado um documento sintético denominado „Política de Defesa Nacional ‟, que se aproxima de uma carta de intenções.

O Livro Branco da Defesa é material de fundamental importância para um País e um documento chave de política que oferece a visão do Governo a respeito da defesa. É um material público que descreve o contexto amplo da política estratégica para o planejamento da defesa com uma perspectiva de médio prazo. Não se destina a ser redigido anualmente ou a cada dois anos, mas para oferecer uma perspectiva suficiente para permitir um orçamento e o planejamento plurianual.

O Livro tem como um de seus objetivos a análise do Governo sobre o ambiente de segurança do país, tanto nacional como internacional. Vários são os países que já elaboraram seus livros de defesa.

Outro objetivo do referido documento é ser um instrumento de prestação de contas, pois é essencial que a política e os

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21

objetivos constantes do Livro Branco se refiram aos níveis de recursos disponibilizados pelo Governo às forças de defesa e sejam coerentes com eles.

A preparação de um Livro Branco da Defesa como tal é um exercício fundamental de democracia. O processo requer extensa cooperação entre civis e militares; consulta entre os líderes políticos, ministérios, promovendo desta forma uma ampla conscientização a respeito das funções e do valor das forças armadas. O produto final deste processo confere maior legitimidade democrática à política de defesa nacional.

As opiniões do público em geral, organizações não-governamentais, setor industrial, grupos de peritos e parceiros internacionais são relevantes no processo de construção do referido documento e possibilitará ao Governo Federal, e principalmente, ao Ministério da Defesa tomar a iniciativa de utilizar desses grupos em etapas diferentes do desenvolvimento do documento.

No momento em que o Brasil vem efetuando aquisições de material bélico de grande importância, como os 50 helicópteros EC 725, 5 submarinos, sendo um deles de propulsão nuclear; 36 caças (que estão em processo de concorrência); 12 helicópteros de combate Mi-35M; 12 aviões Mirage-2000 e um porta-aviões é fundamental que o „Livro Branco da Defesa ‟ seja discutido em âmbito nacional, para que possa fazer face aos mecanismos de desconfiança hoje existentes com relação às compras que estão sendo realizadas na área armamentista.

Diante do exposto, sugerimos que a prática democrática da consulta seja adotada com a maior brevidade possível para que o Brasil possa desenvolver o „Livro Branco da Defesa Nacional ‟, documento este de fundamental importância para o momento político que o Brasil vem trilhando na área da defesa e na objetivação dos programas prioritários e quais as ações serão desenvolvidas pelo Brasil a médio e longo prazo.”

Este mesmo Deputado Federal foi autor do Projeto de Lei

Complementar 547/2009, que propõe alteração da Lei complementar nº 97,

de 09 de julho de 1999, relativo à implantação do Livro Branco da Defesa

Nacional e a submissão periódica à análise do Congresso Nacional da

Política de Defesa Nacional, da Estratégia Nacional de Defesa e do Livro

Branco da Defesa.

Em março de 2010, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de

Lei Complementar do Executivo (PLP), de número 543/09, que serviu de

embrião para a Lei Complementar n° 136, a qual promove alterações na Lei

Complementar n°97, de 1999, criando o Estado-Maior Conjunto das Forças

Armadas e determinando a elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional.

A Lei Complementar nº 136, em seu artigo 9°, parágrafo primeiro,

trata o Livro Branco de Defesa Nacional como um “documento de caráter

público, por meio do qual se permitirá o acesso ao amplo contexto da

Estratégia Nacional de Defesa, em perspectiva de médio e longo prazos, que

Page 22: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

22

viabilize o acompanhamento do orçamento e do planejamento plurianual

relativos ao setor”, e estabelece que o Ministro de Estado da Defesa é o

responsável pela sua implantação. Em seu parágrafo terceiro consta que o

Poder Executivo deve submeter à apreciação do Congresso Naciona l a partir

de 2012 e posteriormente a cada quatro anos: a Política de Defesa Nacional,

a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa Nacional.

Em face do acima exposto, até o presente ponto, podem ser

evidenciadas duas fases, sendo a primeira de “aconselhamento” por órgão

internacional e a segunda de conscientização política sobre a necessidade da

publicação do Livro Branco de Defesa. O marco histórico gerador foi a

assinatura do Decreto nº 7438, de 11 de fevereiro de 2011, pela recém-

assumida Presidente Dilma Rousseff, por meio do qual determina a efetiva

estruturação deste instrumento. O Decreto estabelece princípios e diretrizes

para criação e elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional, institui um

Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar estudos sobre

temas pertinentes àquele Livro, e delineia o caminho a ser trilhado para a

confecção do Livro Branco.

O Grupo de Trabalho Interministerial é integrado por representantes

do Ministério da Defesa, que o preside; do Ministério da Ciência e

Tecnologia; do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

do Ministério da Fazenda; do Ministério da Integração Nacional; do Ministério

da Justiça; do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; do Ministério

das Relações Exteriores; da Secretaria de Assuntos Estratégicos da

Presidência da República; da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência

da República; e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da

República.

O trabalho encontra-se em andamento, com a realização de Oficinas

Temáticas, Seminários e “Workshop”, com a participação da Fundação

Getúlio Vargas e com previsão de entrega, por esta, da versão final do livro,

em 30 de setembro de 2011, ao Ministério da Defesa, para ser submetido

pelo Poder Executivo à apreciação do Congresso Nacional.

Page 23: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

23

4 O LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL DO BRASIL2

Como visto no capítulo anterior, existe um nível de aconselhamento de como

deve ser um Livro Branco, elaborado pela OEA, porém cada país é que definirá a

abordagem e a extensão do seu Livro Branco de Defesa, de acordo com o propósito

político que queira assumir com a publicação desse instrumento. Isto pode ser

visualizado nos países relacionados abaixo, seguidos dos objetivos estratégicos dos

seus Livros e o número de páginas:

-Chile: Manutenção territorial e influência no Pacífico, 342 pag.;

-França: Garantia da Segurança Nacional e a Liberdade de Ação da França, 329

pag.;

-Austrália: Defesa do ambiente interno e sua influência no Índico e no Pacífico, 137

pag.;

-Turquia: Prioridade na dissuasão para o estabelecimento e manutenção da paz na

região, 107 pag.;

-China: A Defesa da soberania; reforma e inovação da Defesa; e influência no

cenário internacional, 104 pag.;

-Uganda: Transformação da Defesa e projeção do poder no continente Africano, 58

pag.; e

-Estados Unidos: Influência global e regional, 52 pag.

No Brasil, o Livro Branco de Defesa Nacional estará em consonância com os

documentos norteadores da defesa que são: a Política de Defesa Nacional e a

Estratégia Nacional de Defesa. Como tal, será o documento chave da política

nacional, no qual estará exposta a visão do governo sobre a Defesa. Seus

propósitos específicos e estratégicos serão voltados para a Defesa e Ação

Diplomática, para a indução da transformação das Forças Armadas, para a alocação

de recursos e envolvimento da sociedade com os assuntos da Defesa Nacional.

Vale ressaltar que será um documento aberto a todas as pessoas,

brasileiros e estrangeiros, ou seja, a sociedade como um todo, o Congresso

Nacional, os Ministérios, as Academias, outros Estados e os Organismos de

segurança internacional, como a ONU, OEA etc. É, portanto, um documento público

2 Todos os argumentos foram extraídos da Palestra da Reunião Inicial da Oficina Temática sobre o Livro Branco

de Defesa Nacional, proferida por representantes da Fundação Getúlio Vargas, em 22 de fevereiro de 2011.

Page 24: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

24

em que será descrito o contexto amplo da política e estratégia para o planejamento

da Defesa, com uma perspectiva de médio prazo. Conterá, entre outros, registros de

análises sobre o entorno de segurança do País, tanto interno, quanto externo,

incluindo a avaliação de risco. Proporá a cooperação no entorno estratégico e

dissuasão na esfera internacional. Tornará a Defesa e as Forças Armadas

responsáveis pelos objetivos declarados e as capacitará a fortificar os pedidos de

recursos orçamentários com o foco no cumprimento da política e na estratégia

nacional da Defesa. Por fim, será um documento de prestação de contas sobre o

resultado das políticas e objetivos da Defesa.

O Livro Branco da Defesa Nacional do Brasil será estruturado começando

por um Prefácio do Presidente da República, seguido pelo Prefácio do Ministro da

Defesa. O conteúdo propriamente dito iniciará com um nivelamento cognitivo sobre

os conceitos básicos que nortearão o pensamento estratégico ao longo do texto.

O tema dos três primeiros capítulos será “O Estado Brasileiro e a Identidade

Nacional”, onde em seu Capítulo 1 se abordará “O Estado”, no Capítulo 2 “O

Território Nacional” e no Capítulo 3 “A População Brasileira”.

Esses capítulos ressaltarão um pano de fundo institucional detalhando os

princípios básicos do Estado, presentes na Constituição Federal, do artigo primeiro

ao quarto; e a estrutura jurídica do Estado.

Sobre o Território Nacional será apresentado um breve histórico da

construção do território e das especificações dos territórios continental, marítimo,

insular e aéreo. Serão apresentadas, também, a política de Fronteiras e de

ocupação do território nacional, as políticas para o território marítimo e a política

aeroespacial.

Sobre a população serão apresentados dados e antecedentes, perspectivas

e evolução demográfica; formação da nacionalidade: composição étnica, migrações

e atributos da área afetiva (cultura, valores e religião).

O estágio seguinte, sob a égide do tema: “O ambiente estratégico do século

XXI” abarcará o Capítulo 4 sobre os “Desafios da Globalização”, o Capítulo 5:

“Contextualização dos Ambientes Estratégicos”, o Capítulo 6: “Desafios

Contemporâneos de Segurança e Defesa”, o Capítulo 7: “Tratados e Acordos

Internacionais com Reflexos para a Defesa” e o Capítulo 8: “Diplomacia e Defesa”.

Em maiores detalhes, serão abordadas as perspectivas de conflito e

cooperação internacional e suas implicações para o Brasil; as interdependências

Page 25: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

25

entre Estados; integração e seus efeitos para o Brasil; e a inserção do Brasil no

cenário internacional: potências emergentes, instituições e foros de conciliação

internacional.

Novos temas também constarão nesses capítulos, como: terrorismo,

narcotráfico, biopirataria, segurança e guerra cibernética; acesso a recursos

naturais; negação de tecnologias e emprego de tecnologias duais; e meio ambiente.

Serão elencadas as oportunidades de cooperação no campo de Defesa: arranjos de

promoção da segurança internacional; mecanismos de cooperação bilateral;

exercícios e operações conjuntas; operações de paz das Nações Unidas; e medidas

de Confiança Mútua.

Até o presente momento, o Livro Branco procurou contextualizar o leitor na

atmosfera dos assuntos de Defesa Nacional, sob uma perspectiva ampla, onde os

atores nacionais e internacionais são apresentados sucintamente e a forma com a

qual se interagem.

Após as precisas e concisas abordagens dos temas dos dois primeiros

grupos de assuntos, o terceiro grupo é mais específico sobre o segmento militar da

Defesa Nacional, onde o tema central é “A Defesa e o instrumento militar”, contendo,

em seu Capítulo 9: O Ministério da Defesa, suas Secretarias e o Estado-Maior

Conjunto das Forças Armadas. O Capítulo 10 abordará a Marinha do Brasil, o

Capítulo 11 o Exército Brasileiro e o Capítulo 12 a Força Aérea Brasileira, nesta

ordem, obedecendo à precedência entre as Forças Armadas.

Serão relacionados os aspectos históricos da implantação do Ministério da

Defesa, sua estruturação e reestruturação; atribuições das secretarias; e definição

do processo decisório de emprego da força militar.

Voltando para o campo militar, será apresentada a atuação das Forças

Armadas, sua destinação constitucional, missão e atribuições subsidiárias (Defesa

Civil, a participação das Forças Armadas em operações de paz – benefícios e

conseqüências); Segurança Pública e Garantia da Lei e da Ordem; a Formação de

recursos humanos em diversas áreas: operacional, tecnológica, combate e

retaguarda; as condições de acesso democrático à carreira; a evolução histórica das

Forças Armadas e sua participação em conflitos internacionais.

Uma vez contextualizados os princípios básicos, o ambiente interativo em

que estamos inseridos e os instrumentos de utilização da força em defesa da Pátria,

o Livro segue sua linha lógica, então, para um novo grupo de assuntos que une os

Page 26: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

26

dois integrantes da Defesa Nacional, os civis e os militares, sob o tema “A Sinergia

entre a Defesa e a Sociedade”. No Capítulo 13 será tratado o relacionamento com o

Congresso Nacional, no Capítulo 14 a Articulação Governamental, no Capítulo 15 a

Interação com a Academia e no Capítulo 16 a Integração Civil/Militar.

Serão nesses capítulos que constarão as relações institucionais com o

Poder Legislativo, Judiciário e outros órgãos do Executivo. Vale ressaltar que será

apresentada a importância do Superior Tribunal Militar, dentro da esfera do

Judiciário.

Outros assuntos de relevante interesse neste grupo em pauta são o Serviço

militar obrigatório; a relação com a Academia na produção Intelectual e cursos

voltados para a Defesa. Serão também abordados os programas específicos (Pró-

Defesa e Rondon, por exemplo); os Centros de Estudos Estratégicos; a Associação

Brasileira de Educação a Distância - ABED; e as unidades acadêmicas do Ministério

da Defesa, como a Escola Superior de Guerra, Escolas de Altos Estudos das

Forças, Institutos Militares de engenharia e centros tecnológicos. Outras trocas com

segmentos da sociedade terão lugar nestes capítulos como a atuação social das

Forças Armadas (calha norte, soldado cidadão, relações com as comunidades locais

etc) e os Colégios Militares.

Nessa altura, todos os elementos componentes da Defesa Nacional estarão

devidamente identificados e relacionados entre si, tanto no contexto nacional como

internacional. O Livro Branco prossegue agora com uma abordagem de

modernização, um rompimento com o passado, ou, generalizando, estabelecendo

uma fronteira dividindo as molduras temporais entre o “antes do Livro Branco” e o

“após Livro Branco”, com outro grupo de assuntos que tratará sobre “A

transformação da Defesa”. No Capítulo 17 será abordada a racionalização das

estruturas da Defesa; no Capítulo 18 a Modernização da Gestão; no Capítulo 19 a

Modernização das Forças Armadas; no Capítulo 20 a indústria nacional de defesa; e

no Capítulo 21 o desenvolvimento de Ciência e Tecnologia.

Em todos os campos da atividade humana, onde existam concorrência de

interesses e competição, o elemento surpresa e a inovação são os fatores que

podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso. É neste diapasão que o tema

“A transformação da Defesa” detalha esses cinco capítulos em Ciência, Tecnologia e

Inovação; Institutos Militares de engenharia e centros tecnológicos (enfoque

diferente do Capítulo 15 - Interação com a Academia); Indústria de Defesa;

Page 27: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

27

Compartilhamento de infraestrutura, programas conjuntos e interoperabilidade;

Redistribuição territorial, mobilidade e flexibilidade; Gestão e Planejamento

Estratégicos centralizados (monitoramento e controle; adequação aos novos

desafios; sistema de aquisições para a Defesa); a articulação das Forças Armadas

por capacidades; a Defesa Nacional, desenvolvimento econômico e social; e o Plano

de Articulação e Equipamento de Defesa - PAED. Cabe esclarecer que o PAED é

um plano que foi minuciosamente elaborado pelo Ministério da Defesa, com o auxílio

das Forças Armadas, onde é proposto o posicionamento dos efetivos, equipamentos

e Organizações Militares no território nacional, a fim de prover o máximo de defesa à

Nação.

Por último, o Livro Branco será fechado com os assuntos afetos à Defesa

Nacional do campo: o “Financiamento da Defesa”; onde em seu Capítulo 21 se tem

o referencial histórico do orçamento da Defesa, no Capítulo 22 as fontes de

financiamento para a Defesa, no Capítulo 23 a modernização da gestão

orçamentária e no Capítulo 24 o sistema de aquisição para a Defesa.

Neste último tema é definido o orçamento, visualizando seus

constrangimentos; compromissos irrevogáveis e seu impacto inercial; possibilidades

de ampliação; e suas condições. Serão também abordados o enfrentamento da

questão previdenciária no orçamento e no projeto de Força; a possibilidade de

realização de encomendas de produtos de Defesa e a viabilidade de seu

atendimento por empresas nacionais; os setores da economia possivelmente

beneficiados pela economia da Defesa; oportunidades de parcerias regionais e

internacionais; os aspectos tributários envolvidos e/ou limitantes; as limitações

decorrentes de acordos internacionais; as fontes alternativas de financiamento,

como as parcerias com programas estatais voltados para a Ciência, Tecnologia e

Inovação e desenvolvimento econômico.

Encerrando todas as considerações, será citado o Fundo soberano do Pré-

sal, como financiador da segurança e Defesa das águas jurisdicionais; cotas de

carbono e o financiamento da segurança ambiental; e a transferência de tecnologia

e “off set” nos contratos de aquisições militares

Um DVD suplementar acompanhará o Livro Branco contendo material de

texto e audiovisual que suplementará os conteúdos de todos os capítulos.

Atrelado ao Livro Branco da Defesa Nacional, será também elaborado o

Livro Verde que será um documento consultivo destinado ao Congresso Nacional,

Page 28: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

28

onde se explicará como o Ministério da Defesa pretende desenvolver seus projetos e

como pensa nas questões de sua competência. O Livro Verde será um subproduto

do Livro Branco, tendo como público alvo o Congresso Nacional, não sendo um

documento conclusivo e não definindo estrutura organizacional, nem equipamento,

mas identificará a contribuição dos congressistas, da Academia, da indústria etc.

Mostrará claramente o envolvimento da sociedade na responsabilidade da

concepção e atualização do LBDN e esclarecerá a necessidade de financiamentos

para a Defesa.

Uma célebre passagem da obra do General chinês SUN TSU3 bem retrata

um dos propósitos dessa iniciativa, que é fazer com que o Brasil conheça suas reais

necessidades e potencialidades sobre a Defesa Nacional, com ênfase na expressão

militar do Poder Nacional, sem proporcionar, às forças antagônicas, dados que

possam reduzir o grau de incerteza de seu planejamento, contra os interesses

nacionais:

"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, Não precisa temer o resultado de cem batalhas.

Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, Para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo,

Perderá todas as batalhas."

3 Sun Tzu foi um general chinês que viveu no século IV AC e que no comando do exército real de Wu acumulou inúmeras

vitórias, derrotando exércitos inimigos e capturando seus comandantes. Foi um profundo conhecedor das manobras militares e escreveu A ARTE DA GUERRA, ensinando estratégias de combate e táticas de guerra.

Page 29: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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5 IMPRESSÕES DO MINISTRO DA DEFESA

O Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado da Defesa Dr. Nelson Jobim foi

entrevistado por diversas vezes sobre o Livro Branco da Defesa Nacional. Serão

selecionados alguns trechos de uma das entrevistas, mas, antes, vale ressaltar os

pontos julgados mais importantes de sua aula magna para o Curso de Altos Estudos

de Política e Estratégia (CAEPE-ESG), Curso de Política e Estratégia Militar da

Marinha do Brasil (C-PEM-MB), Curso de Política, Estratégia e Alta Administração

do Exército (CPEAEx-EB) e Curso de Política e Estratégia Aeroespaciais (CPEA-

FAB), ministrada, em 24 de fevereiro de 2011, na Escola de Comando e Estado-

Maior do Exército, localizada na Praia Vermelha, Rio de Janeiro - RJ.

O Ministro faz uma breve introdução:

“Há um tema de fundamental importância para a gestão do Ministério da Defesa e para todos nós – Alunos e Professores desta Escola Militar.”

“Examino um elemento crucial.” “Refiro-me à explicitação de todo o arcabouço conceitual e legal

enquadrador da Defesa no âmbito do Estado Brasileiro.” “Tal arcabouço consiste na administração, finanças, ciência e

tecnologia, política de recursos humanos, política de ensino, orçamento, logística e outros mais.

A explicitação deve ocorrer, de acordo com o previsto na Lei da nova Defesa, aprovada em 2010.

A explicitação de tudo e sua discussão envolverá a confecção do „Livro Branco‟ de Defesa Nacional.

Ele será enviado pelo Poder Executivo para exame do Congresso Nacional, em 2012.”

Prossegue dissertando sobre os aspectos de transparência e de confiança

mútua entre os Estados:

“Os Livros Brancos são, sobretudo, nas democracias contemporâneas, instrumentos de transparência das Políticas de Defesa.

Não é à toa que isto acontece. As Forças Armadas possuem a capacidade teórica de

projetar poder militar além das fronteiras nacionais de seus Estados. É óbvio que a capacidade efetiva de projeção de poder

dependerá da existência de meios humanos e materiais em escala suficiente.

No entanto, essa possibilidade por si só é passível de gerar insegurança em nações vizinhas.

Isto se agrava em contextos em que haja deterioração do relacionamento político entre países contíguos.

No caso particular dos exércitos, que podem servir de forças de ocupação, a transparência possui peso ainda mais relevante – pois nem

Page 30: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

30

a Marinha, nem a Força Aérea têm a função de garantir a posse de territórios.”

Neste ponto passa a retratar o relacionamento entre civis e militares nos

assuntos da Defesa Nacional:

“Muitos consideram „Livros Brancos‟ não somente mecanismos auxiliares de fomento da confiança entre Estados, mas também instrumentos de reforço do controle civil sobre os militares.

No caso brasileiro esse não é foco de preocupação principal. Nossos militares encontram-se perfeitamente cientes do papel e

posição, na estrutura do poder democrático, que lhes fixa a Constituição. A despeito disso, a elaboração desse documento declaratório

possui grande relevância. Haverá o aprofundamento do acervo de conhecimentos da

sociedade civil sobre a temática militar. O „Livro Banco‟ servirá para ampliar, de modo significativo, o

conhecimento do próprio estamento castrense sobre si mesmo. Não se pretende tornar públicas informações de caráter

sigiloso que poderiam comprometer a segurança do País. No entanto, não há que se manter na penumbra corporativa

uma série de dados essenciais ao esclarecimento da cidadania sobre a realidade das nossas Forças Armadas.

O „Livro Branco‟ será uma poderosa ferramenta de ampliação da participação civil nos assuntos de Defesa.”

O tema agora passa a ser afeto ao relacionamento com as academias, a

sociedade e o parlamento:

“Será, da mesma forma, um grande catalisador da discussão no âmbito da Academia, da Burocracia Federal e do Parlamento.

Servirá igualmente de mecanismo de prestação de contas sobre a adequação da estrutura de Defesa aos objetivos traçados pelo poder público.

Embora constitua exercício basicamente governamental, a redação do livro Branco envolverá a participação direta de diversos setores da sociedade.

Isso decorre do fato de que o arcabouço normativo que enquadra a Defesa não esgota o debate sobre o tema.”

Sobre o rompimento com o passado e o início de uma nova concepção de

abordagem, pelo Brasil, dos assuntos da Defesa nacional:

“Além do mais, o „Livro Branco‟ deve ser concebido não apenas como um repositório daquilo que já existe.

Ele pode e deve, apontar problemas, sugerir mudanças, indicar possíveis soluções.

Obviamente o „Livro Branco‟ considerará, de modo prioritário, as sugestões consensuais emanadas do Grupo de Trabalho a ser criado para elaborar o documento.

Page 31: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

31

Temos em conta que não podemos admitir, em outro extremo, que ele se transforme em texto iconoclasta.

A idéia fundamental é construir o „Livro Branco‟ a partir da definição de elementos básicos que formarão o esqueleto do documento.”

“O comprometimento de todas as áreas do Governo é crucial para que soluções consensuais sejam alcançadas.”

“Temos, portanto, um casto leque de assuntos que precisarão ser aprofundados na discussão suscitada pelo „Livro Branco‟.”

“Avançamos com o advento da publicação da Estratégia Nacional de Defesa.

Precisamos, contudo, ir mais além. Os tempos de timidez do Ministério da Defesa acabaram.”

(grifo nosso)

O Ministro aborda a importância da Ciência, Tecnologia e Inovação; tece em

breves palavras a origem da iniciativa de elaboração do Livro Branco de Defesa;

chama o público presente à reflexão e finaliza a abordagem desse tema:

“Deve-se acrescentar que, no contexto hodierno, a defasagem tecnológica entre os Estados inovadores e os retardatários, em termos de defesa, torna extremamente difícil e custoso queimar etapas com rapidez.

Ou se está preparado, ou o custo de recuperação do atraso será extremamente elevado – quando não proibitivo ou impraticável.

Essa é uma questão crucial, entre tantas outras, que teremos de abordar durante as discussões sobre o „Livro Branco‟.

Enfatizo que a decisão de produzir o „Livro Branco‟ nasceu do amadurecimento das instituições nacionais.

Aliás, a decisão surgiu do Parlamento ao aprovar emenda do então Deputado Raul Jungmann.

Dou conta que o documento a ser produzido não atende a nenhum tipo de pressão externa por transparência.” (grifo nosso)

“A formulação do „Livro Branco‟ consulta apenas o interesse Nacional, que é o de consolidar e aprofundar o conhecimento do Estado e da sociedade sobre a Defesa.”

“Da mesma forma que os indivíduos têm de refletir criticamente sobre seus papéis para poderem transformar suas instituições, cabe ao Estado estar habilitado a pensar sobre si mesmo, ao se renovar, ao evoluir.

O „Livro Branco‟ representa uma fantástica oportunidade nesse sentido.

Por envolver o Estado, suas instituições e os indivíduos que as compõem (no caso em apreço, os senhores), esse documento servirá de catalisador da sempre bem-vinda reflexão.”

Em entrevista concedida ao “Blog do Planalto”4, o Ministro da Defesa citou

alguns aspectos já mencionados em sua aula magna às Escolas de Altos Estudos,

transcritos nos parágrafos abaixo, para destacar o que é considerado mais relevante

no propósito do Livro Branco de Defesa.

4 O Blog do Planalto é um meio de comunicação social do governo, onde se compartilha, pela internet, informações sobre o

cotidiano da Presidência da República, os eventos, atos e a agenda da Presidenta, visando prover maior compreensão das ações, programas e políticas do governo.

Page 32: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

32

O “Blog do Planalto” relatou que para o Ministro da Defesa Nelson Jobim, o

processo de elaboração do Livro Branco será uma oportunidade única para que a

sociedade civil aprofunde seus conhecimentos sobre os temas militares e passe a

compreendê-los num contexto mais amplo, à luz das diretrizes da Estratégia

Nacional de Defesa. O Livro Branco será uma poderosa ferramenta de ampliação da

participação civil nos assuntos de defesa, acredita. (Blog do Planalto, 2011, não

paginado)

Segundo o Ministro Jobim, as discussões a serem realizadas durante a

confecção do documento também serão úteis aos próprios militares. “Não tenho

dúvida de que o Livro servirá para ampliar de modo significativo o conhecimento do

próprio estamento castrense sobre si mesmo”, afirma. (Blog do Planalto, 2011, não

paginado)

O Ministro cita que o Livro Branco não tem a intenção de publicar

informações de caráter sigiloso que poderiam comprometer a Segurança Nacional.

Diferentemente, diz ele, o Livro dá publicidade a uma série de dados essenciais ao

esclarecimento dos cidadãos sobre a realidade das nossas Forças Armadas. (Blog

do Planalto, 2011, não paginado)

Para o Ministro Jobim, o Livro Branco será um grande catalisador da

discussão sobre os temas de Defesa no âmbito da Academia, da Burocracia Federal

e do Parlamento. Além disso, ele acredita que o documento servirá de mecanismo

de prestação de contas sobre a adequação da estrutura de Defesa hoje existente,

aos objetivos traçados pelo poder público, para este setor no país. (Blog do Planalto,

2011, não paginado)

A opinião do Ministro é compartilhada pelo Chefe da Assessoria de

Planejamento Institucional do Ministério da Defesa, General-de-Divisão Júlio de Amo

Jr, responsável pela coordenação dos estudos sobre o Livro Branco de Defesa

Nacional: “O documento será o mais importante do País no que diz respeito à

Defesa, seja pelos indicadores e dados nele contidos, seja pelo envolvimento de

toda a sociedade em sua elaboração”, diz. (Blog do Planalto, 2011, não paginado)

Sintetizando, os principais aspectos relacionados à visão do Ministro da

Defesa sobre o Livro Branco são:

1- Ampliar a participação civil nos assuntos de defesa;

2- Ampliar o conhecimento dos Militares sobre si mesmos;

Page 33: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

33

3-Catalisar a discussão sobre os temas de Defesa no âmbito da Academia,

da Burocracia Federal e do Parlamento;

4- Servir de mecanismo de prestação de contas sobre a adequação da

estrutura de Defesa aos objetivos traçados pelo poder público para o setor no País;

5- Transparência da política de defesa;

6- Servir de elemento de dissuasão;

7- Servir de instrumento para o fortalecimento da confiança e segurança

mútua entre as nações amigas;

8- Dar publicidade de dados essenciais ao esclarecimento dos cidadãos

sobre a realidade das nossas Forças Armadas; e

9- A garantia de que não tornará públicas as informações de caráter sigiloso

que poderiam comprometer a segurança nacional.

Page 34: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

34

6 IMPRESSÕES DE PERSONALIDADES DE NOTÓRIO SABER

6.1 VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO DA ABIMDE

Por meio de correio eletrônico deste autor, foi consultado o Vice-Presidente

Executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e

Segurança – ABIMDE - sobre como a publicação do Livro Branco de Defesa

Nacional poderia contribuir para a Indústria de Defesa e para a sociedade civil do

Brasil. Foi respondido que não tinha dúvida de que “qualquer publicação escrita de

modo sério e responsável e que informe à sociedade sobre a importância da Defesa

Nacional para a Soberania contribuirá para o fortalecimento da base industrial de

defesa. É o caso do Livro Branco que receberá contribuições de diversos segmentos

da sociedade e apresentará a esta os „porquês‟ de uma indústria, institutos de

excelência, universidades e mídia deverem emprestar seus esforços para manter

uma autonomia neste setor.”

Adicionalmente, o entrevistado é de parecer que o estreitamento dos

debates dentro da sociedade brasileira como um todo, provocado já nesta fase de

elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional, poderá, no futuro, acarretar em

“ganhos para a sociedade com o arraste tecnológico advindo dos produtos de

defesa e segurança produzidos e com a conscientização da importância da

independência tecnológica como fator de dissuasão. Enfim, tudo o que um setor

como este, ainda bastante desconhecido pela sociedade, poderá gerar de benefícios

para um crescimento harmônico, em paralelo aos demais setores da economia”.

Como abordado acima, a publicação do Livro Branco de Defesa Nacional é

uma necessidade na medida em que, se bem divulgado no âmbito das elites,

provocará o comprometimento da sociedade como um todo com os assuntos da

Defesa Nacional. Contribuirá para gerar maiores investimentos no desenvolvimento

tecnológico visando à produção de materiais e tecnologias de defesa e segurança.

Assim, iniciará um círculo vicioso, cujo ponto de partida será o incremento da cultura

sobre a defesa, gerando, por sua vez, maiores investimentos em Ciência,

Tecnologia e Inovação, atraindo mais investimentos e empregos nesse setor. Enfim,

formará um grande processo sinérgico que atuará não somente no setor produtivo,

mas principalmente na mente das pessoas que passarem a operar neste ramo de

atividade, que hoje se encontra em estado latente em nosso País.

Page 35: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

35

6.2 REVISTA DO CLUBE NAVAL

O Vice-Almirante Marcílio Boavista da Cunha editou um artigo na Revista do

Clube Naval nº 357/2010, sobre o Livro Branco de Defesa Nacional do Brasil. Dentre

muitos aspectos interessantes sobre este tema, contidos no artigo, este autor

selecionou os pontos que, em seu juízo, representam os de maior relevância para

retratar a real necessidade da publicação do Livro Branco de Defesa pelo Brasil.

O Almirante Boavista escreveu que é digna de registro a autorização do

Governo para que a presidência do Grupo de Trabalho, a cargo do Ministério da

Defesa, convide representantes de outros órgãos e entidades da administração

pública e da sociedade para debater o assunto durante a elaboração do Livro, em

seus seminários e “workshop”. Estão participando de todo esse processo de

elaboração entidades representativas dos setores acadêmicos, científicos, de

comunicações, logísticos e industriais do País. Outros centros de estudos

estratégicos e as associações de classe estão contribuindo com os trabalhos desse

Grupo, como: a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Associação Brasileira das

Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), a Associação das

Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), a Confederação Nacional da Indústria

(CNI), as federações estaduais das indústrias, como a Federação das Indústrias do

Estado de São Paulo (FIESP), a Federação das Indústrias do Estado do Rio de

Janeiro (FIRJAN), a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul

(FIERGS), e outras.

Essa diversidade de instituições e a participação das elites brasileiras na

elaboração do Livro Branco, representa que todos acreditam que sua publicação

contribuirá sobremaneira para a otimização da gestão dos assuntos relacionados à

Defesa Nacional.

Cita, também, o Alte Boavista, que “o art. 21, item III, da Constituição

Federal estabelece que „compete à União assegurar a defesa nacional‟. A defesa

nacional é, portanto, uma responsabilidade de todos. A elaboração do Livro

Branco de Defesa e seu encaminhamento à apreciação do Congresso Nacional,

como determina a Lei Complementar n° 136, traz, como primeira e mais

importante consequência, o compartilhamento da responsabilidade sobre a defesa

do País entre Executivo e Legislativo. Garante que a estratégia de Defesa Nacional

se torne, como é devido, assunto de Estado, e não apenas de um ou outro governo”,

Page 36: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

36

demonstrando, com este procedimento, um “autêntico exercício de democracia no

Brasil”. (grifo nosso)

Segundo o Alte Boavista, “a visão do Congresso está espelhada no seguinte

texto”:

“[...] a apreciação periódica pelo Parlamento dará a este a responsabilidade que o Legislativo deve ter em questões dessa magnitude, fortalecendo o papel do Congresso Nacional. É preciso que o Poder Legislativo participe do debate dos temas que se relacionam intimamente à própria manutenção do Estado brasileiro”. (Jungmann, 2009)

Outro pensamento relevante, trazido à tona nesse artigo, é o caráter

instrumental que o Livro Branco de Defesa Nacional terá, por poder ser empregado

como um permanente instrumento de prestação de contas. Para tal, a política e os

objetivos contidos no livro deverão ser enunciados com clareza e precisão, para que

os recursos à disposição das forças de defesa alcancem volumes coerentes. “Isso

tornará o Ministério da Defesa e as Forças Armadas responsáveis pelos objetivos

declarados, mas, também, os capacitará a defender seus pedidos plurianuais de

recursos orçamentários, como necessários ao cumprimento da política de defesa

enunciada”, escreve o Alte Boavista.

Da conclusão do artigo, os pontos cruciais para retratar a necessidade de se

ter um Livro Branco de Defesa no Brasil são:

- “A elaboração pelo Executivo e sua posterior apreciação pelo Legislativo

representa um autêntico exercício de democracia no Brasil”;

- “Oferecerá à sociedade uma visão ampla do Governo e do Congresso a

respeito da defesa do país”;

- “A consulta aos diversos setores representativos da sociedade será

imperativa, para conferir maior legitimidade à Política de Defesa Nacional”;

- “Esse livro tornar-se-á o esperado guia para orientar aqueles que se

preocupam honestamente com a defesa do Brasil”; e

- “O Livro Branco de Defesa Nacional, pronto e aprovado, tornar-se-á um

valioso instrumento de planejamento e acompanhamento, ao cobrar a consecução

dos objetivos declarados e ao exigir a colocação dos recursos necessários à

disposição das forças de defesa.”

Page 37: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

37

6.3 CONSULTOR CIVIL SOBRE DEFESA NACIONAL

O parecer de um cidadão “civil”, que trabalha fora da esfera governamental e

que há mais de uma década milita na área estratégica de defesa e segurança do

País, é sempre bem-vinda, pois apresenta outro prisma de pensamento. Visando

não tornar público seu nome, este autor optou por se prender às qualificações do

doravante denominado “Entrevistado”, a expor seu nome a possíveis comentários e

críticas que pudessem advir de suas opiniões.

O Entrevistado é engenheiro, consultor de empresas, atuando ora como

profissional liberal, ora como empresário, ora como executivo junto às esferas,

pública e privada, nos campos de relações institucionais e estratégicas, educação,

recursos humanos, desenvolvimento organizacional, governança corporativa,

inteligência estratégica empresarial e qualidade.

Por meio de correio eletrônico a este autor, o Entrevistado, que é um dos

que se encontram colaborando na elaboração do Livro Branco de Defesa, relatou

que acredita ser esta “uma iniciativa um pouco atrasada do Governo, na medida em

que, normalmente, ela precede a publicação da Política de Defesa Nacional e da

Estratégia Nacional de Defesa nos países mais organizados, o que aqui se deu ao

contrário. Dessa forma, o Livro Branco de Defesa Nacional deverá ser estruturado

com base nesses dois instrumentos, incorporando, assim, o risco de conflitos mais

adiante, na medida em que o Livro Branco de Defesa Nacional, em 2012, será

submetido a debate no Congresso Nacional, o que não aconteceu com os outros

dois textos: Política de Defesa Nacional e a Estratégia Nacional de Defesa. O Poder

Executivo deverá, então, se preparar para esses embates.”

Ainda no entender do Entrevistado, “o grande mérito do Livro Branco de

Defesa Nacional é menos o seu conteúdo e mais o seu processo de elaboração, ou

seja, a discussão pública, na sociedade civil, do tema: Defesa da Nação, o que se

dá pela primeira vez em nossa história.” Acredita, ainda, “que esta é a necessária

base política para se alocar recursos para a defesa no Orçamento Geral da União -

OGU.”

Saindo do parecer técnico e enveredando para o campo da política, o

Entrevistado vislumbra que, “numa visão mais imediata e pragmática, não se pode

deixar de considerar que o advento do processo do Livro Branco de Defesa Nacional

se constitui, também, num hábil e eficaz pretexto para postergar investimentos em

reaparelhamento das Forças Armadas e das Forças de Segurança. O Poder

Page 38: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

38

Executivo se respalda no argumento de „que agora é que se está organizando o

processo político da Defesa Nacional‟, o que é de fato uma oportuna verdade em

tempos de arrocho financeiro.”

Em face do acima exposto, este autor, analisando sob o ponto de vista da

real necessidade de elaboração do Livro Branco de Defesa, considera ser este um

documento necessário para completar o arcabouço doutrinário (teórico) da Defesa

Nacional, com o risco de ser inócuo (pragmaticamente) para se alcançar os objetivos

dos assuntos da Defesa Nacional, se não for bem articulado em termos políticos.

6.4 “PROFESSOR OF NATIONAL SECURITY AFFAIRS”

Ao ser consultado por meio de correio eletrônico deste autor, O Dr.

SALVADOR GHELFI RAZA (Professor of National Security Affairs, National Defense

University, Center for Hemispheric Defense Studies - Fort McNair - Washington, D.C.

USA) sobre como a publicação do Livro Branco de Defesa Nacional poderá

contribuir para as Forças Armadas (considerando, também, a visão das nações

amigas: dissuasão e confiança mútua), para a Indústria de Defesa e para a

sociedade civil do Brasil, foi respondido que o “Livro Branco de Defesa é um

documento de política. Sua função é a de comunicar uma intenção, demonstrando

compromisso com os mecanismos legais, operacionais e jurídicos para sua

consecução.”. O Entrevistado ressaltou “[...] que, nesse sentido, o Livro Branco não

tem um impacto direto a ser medido nos termos identificados na pergunta; seu

impacto está na modelagem do ambiente cognitivo, político e estratégico.”. Chamou

a atenção para o fato de que existem “[...] Livros Brancos de Defesa de quatro

gerações diferentes sendo praticados no mundo. O modelo brasileiro, embora

tardio, está sendo desenhado como um Livro Branco de segunda geração.” (grifo

nosso)

Ao ser questionado se a publicação de um Livro Branco de Defesa é uma

necessidade, ou se a Política de Defesa Nacional e a Estratégia Nacional de Defesa

suprem satisfatoriamente as informações que o Brasil precisa para gerir os assuntos

afetos à Defesa, o Dr. Salvador respondeu que “as lacunas existentes atualmente na

arquitetura de documentos normativos de planejamento nacional de defesa e das

forças singulares não serão preenchidas pelo Livro Branco de Defesa, pois essa não

é a sua função. Há outros documentos necessários que estão faltando. A grande

Page 39: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

39

contribuição do Livro Branco será a manifestação do compromisso com a

elaboração desses documentos.”

Finalmente, ao ser consultado sobre a possibilidade de elencar que tipo de

informação se espera que conste no Livro Branco de Defesa, para contribuir com

maior relevância para o desenvolvimento das Forças Armadas e das empresas

brasileiras de defesa, o Dr. Salvador externou que seria importante que o Livro

Branco desse o “norte” político com respeito a:

- definir o escopo e amplitude da defesa em função do conceito de

segurança;

- estabelecer critério de definição de ameaças segundo as sete dimensões

da segurança: ambiental, tecnológica, territorial, informacional, humana, empresarial

e energética;

- estabelecer o vínculo da base industrial tecnológica de defesa nacional

com as matrizes tecnológica, energética e ambiental nacionais;

- apresentar a arquitetura de documentos normativos e suas inter-relações;

- estabelecer os elementos para um plano de métricas de defesa nos cinco

níveis de resultados desejados para esses planos;

- estabelecer os fluxos de transformação das forças em direção aos

objetivos nacionais de defesa, com a aferição de eficiência do progresso nas

trajetórias desenhadas;

- qualificar os requisitos de eficiência administrativa e de gestão de recursos

para a defesa em um orçamento por desempenhos;

- qualificar os mecanismos da paradiplomacia5; e

- qualificar a arquitetura de C5ISR (Command, Control, Communications,

Computers, Combat Systems, Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance) em conjunto

com os ciclos de decisão estratégicos.

5 O conceito de “paradiplomacia” engloba um complexo quadro de relações internacionais conduzidos por governos

subnacionais, regionais, locais ou, simplesmente, não centrais, com vistas à consecução de seus próprios objetivos. Tal fenômeno se inscreve no processo maior de integração mundial: a globalização.

Page 40: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

40

6.5 JORNAL DEFESA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS - PORTUGAL

Foram selecionados e comentados trechos da reportagem concedida pelo

Vice-Almirante reformado, da Marinha portuguesa, Alexandre Reis Rodrigues6, em

2008, publicados no Jornal da Defesa e Relações Internacionais, de Portugal, sob o

tema: “Os Livros Brancos da Defesa. Para quê servem?”.

Segundo o Alte Rodrigues:

“A França tem um novo Livro Branco de Defesa; fez o que é normal fazer quando um país adota novas orientações na Política de Defesa e pretende que as decisões tomadas sejam do conhecimento público para suscitar consenso interno, informar aliados e amigos, divulgar intenções e clarificar a sua nova postura internacional. O fato fez-me lembrar da única tentativa, que conheço, feita em Portugal, para elaboração desse tipo de documento, em Abril de 2000.”

“Foi, no entanto, uma tentativa frustrada; o documento fez-se, mas nunca foi assumido pelo Governo, nem foi discutido na Assembléia da República, como pretendia o Ministro. Vários erros cometidos na condução do processo, para além de falta de vontade política ao nível central do Governo, explicam o fracasso. Logo, em primeiro lugar, o pedido de urgência: o Ministro deu 20 dias para a apresentação de um «plano metodológico do grupo de estudo», dois meses para a elaboração dos dois primeiros capítulos e, depois, mais três para a apresentação dos restantes quatro!”

O Livro foi divulgado em abril de 2001, de acordo com o Alte Rdrigues,

somente pelos méritos “da dedicação e trabalho de um grupo de três militares

chefiados por um Major-General na Reserva! Não obstante à qualidade do

documento foram trabalho e tempo perdidos; a iniciativa não tinha tido o necessário

envolvimento político e, como tal, não podia resultar.”

O Alte Rodrigues é de parecer que:

“Os assuntos de Defesa não constituem tema sobre o qual os Partidos tenham um pensamento estruturado, suficientemente discutido e atualizado (não existe uma organização interna que mantenha esses assuntos sob estudo); quando têm que apresentar um programa não lhes resta senão reunir os membros da direção com maior apetência para o tema Defesa e convidar alguns especialistas para ajudar a preparar um documento.

Faz falta, portanto, um Livro Branco da Defesa que defina orientações para o médio/longo prazo; muito mais falta do que um Conceito Estratégico que não vai além de generalidades de reduzida utilidade para o planejamento de defesa e de forças.”

6 Alexandre Reis Rodrigues Vice-Almirante, reformado. É Secretário-Geral da Comissão Portuguesa do Atlântico e

membro do Grupo de Reflexão sobre Segurança e Defesa do Instituto Humanismo e Desenvolvimento. Escreve regularmente e profere conferências sobre os temas de Defesa e de Relações Internacionais na atualidade.

Page 41: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

41

Saindo da frustrada experiência portuguesa, o Alte Rodrigues apresenta

uma história de sucesso desse instrumento, ao elencar os aspectos que

circundaram a realidade francesa para este mesmo tipo de Livro:

“A França não cometeu os erros que impediram o sucesso da nossa tentativa de 2000. O assunto foi assumido pelo Presidente que estabeleceu os objetivos a atingir e nomeou uma comissão com uma alargada representatividade e forte peso político: quatro parlamentares, doze altos membros dos ministérios com envolvimento nos assuntos de Segurança e Defesa, vinte personalidades, civis e militares, com reconhecida experiência no tema; para chefiar foi convidado um Conselheiro de Estado, com um importante currículo na área, o senhor Jean Claude Mallet (ex-Diretor do Departamento de Assuntos Estratégicos 1992/1998; ex-Secretário-Geral da Defesa Nacional, entre 1998 e 2004, altura em que passou a ser Conselheiro de Estado). O processo incluiu também a audição de 52 individualidades estrangeiras de 14 países, nos cinco continentes.

Os resultados do trabalho foram apresentados pelo próprio Presidente, [...], a uma assembléia de 3000 militares, cerca de um ano depois do despacho que ativou a comissão; presume-se que o calendário foi definido com o propósito de ter o documento pronto antes de a França assumir a Presidência da União Européia, durante a qual o tema Defesa receberá prioridade.”

Em um comentário acalorado, o Alte Rodrigues tece suas esperanças para o

futuro da Defesa Nacional de Portugal, o que o faz apresentar as necessidades que

ele vislumbra ao se estruturar um Livro Branco de Defesa:

“Espero que um dia, brevemente, se possível, Portugal se decida a lançar um processo de elaboração de um Livro Branco de Defesa. Seria a melhor forma de clarificar algumas questões que permanecem sem qualquer progresso há demasiado tempo e outras que são mais recentes, mas nem por isso menos importantes; como é o caso, por exemplo, da articulação Segurança/Defesa, à qual a proposta de lei de Segurança Interna dá respostas que estão a gerar controvérsia. Seria também a melhor forma de garantir que a Defesa passasse a ser orientada sob uma visão de médio/longo prazo, portanto, não sujeita às vicissitudes dos períodos restritos de uma simples legislatura, sem qualquer mecanismo de continuidade. Seria, finalmente, a maneira de explicar aos portugueses como o Estado interpreta as suas obrigações nesta área, sem o que será difícil fazer com que a opinião pública apóie e tenha interesse por estas questões.”

O artigo retrata duas experiências sobre a elaboração e publicação de um

Livro Branco de Defesa e ressaltou quais efeitos práticos podem produzir, em duas

realidades distintas. Este parecer não poderia ser mais pertinente, por se tratar de

dois países da União Européia, apesar das diferenças de indicadores geopolíticos

envolvidos.

Na realidade de Portugal, o Livro Branco de Defesa não surtiu efeito algum,

pois, entre outros reveses, não houve o envolvimento dos altos escalões do

Page 42: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

42

Governo. Diametralmente oposta à experiência portuguesa, ocorreu a versão

francesa para o Livro Branco de Defesa, em que contou com forte envolvimento do

Governo, provavelmente motivado pela assunção da França à Presidência da União

Européia.

Voltando à causa brasileira, nossas pretensões ao Conselho de Segurança

da ONU são evidentes e a forma com a qual a elaboração do Livro Branco de

Defesa está sendo conduzida pelo Ministério da Defesa, faz acreditar que a nossa

realidade esteja mais próxima da francesa que da portuguesa.

6.6 Rádio Internacional da China (CRI)

O poder de um Livro Branco é bem demonstrado, quando um Governo o

sabe utilizar e pode ser percebido este fenômeno nas linhas abaixo.

A “China nunca vai buscar a hegemonia, diz o 7º Livro Branco de Defesa

Nacional” é uma reportagem do dia 31 de março de 2011, da Rádio Internacional da

China (CRI)7. O autor do artigo, o Sr. Dong Jue, relatou que o “Governo chinês

publicou neste dia (31) o Livro Branco de Defesa Nacional 2010. O documento

salientou que a política chinesa de defesa não mudou, e que „não busca hegemonia

nem expansionismo‟”.

Este é o sétimo livro branco de defesa publicado pelo governo chinês desde

1998. O documento apontou que a situação atual do mundo está em mudança

profunda e complicada, e os desafios de segurança que a China enfrenta são cada

vez mais difíceis e diversificados. Embora a situação não seja otimista, o porta-voz

do Ministério de Defesa, Geng Yansheng, reiterou que a política chinesa não mudou:

"a China adota uma política de defesa defensiva e nunca vai mudar. O caminho do desenvolvimento, a missão essencial, política sobre as relações exteriores e a tradição cultural e histórica decidem o fato que seja rica ou pobre, agora ou no futuro, a China nunca vai procurar hegemonia nem o expansionismo militar."

O livro branco insiste na consciência de segurança de "benefício mútuo,

confiança recíproca, igualdade e coordenação", procura solução pacífica de

problemas e de contradições mundiais, opõe-se à ameaça militar, invasão e à

7 Fundada no dia 3 de dezembro de 1941. É uma emissora estatal que transmite sua programação para todo o

mundo, com o objetivo de apresentar a China ao mundo e vice-versa, assim como de aumentar a compreensão e a amizade entre os povos da China e de outros países. A CRI transmite programas em 53 idiomas.

Page 43: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

43

política dos poderosos. Ainda segundo o documento, a China é um país responsável

e participa positivamente das ações de manutenção da paz das Nações Unidas,

sendo o país que participou de mais atividades de manutenção de paz da ONU entre

os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança.

Nos últimos anos, diz o repórter Dong Jue, o constante aumento do

orçamento militar chinês tem recebido destaque mundial. O livro branco deste ano

explicou que a despesa militar corresponde ao rápido desenvolvimento econômico

do país e que a taxa entre o orçamento militar e o PIB total do país tem sido estável

e está até reduzindo em relação à despesa total das finanças nacionais.

Dong Jue continua seu artigo citando que o livro branco revelou que a China

já estabeleceu um mecanismo de diálogo sobre segurança com 22 países e adotou

diversas medidas para fomentar a confiança mútua com os Estados vizinhos.

É claramente notado que a China utiliza com perfeição todas as

potencialidades que a publicação de um Livro Banco de Defesa pode auferir, se bem

elaborado. Ressalta-se a colaboração dos meios de comunicação de massa, sem os

quais o Livro Branco não teria a difusão necessária para o atingimento de seus

efeitos. Nessas breves pinceladas, a China mostrou para o mundo, com toda a

transparência, um perfil pacífico, que não está investindo mais em defesa em

relação ao PIB e que não quer ameaçar a posição de ninguém no “ranking” do

poderio militar. Se são verdades ou meias verdades, não se entra no mérito, pois o

importante foi que as mensagens de “não agressão” e de confiança mútua foram

veiculadas para todo o mundo e que certamente influenciarão na opinião pública

mundial.

Mais uma vez, está explicita a necessidade de se ter um Livro Branco de

Defesa como um documento complementar, pois sozinho ele não se basta. Precisa,

também, que seja fortemente veiculado, atualizado e que apresente de forma clara e

profissional, sem rodeios e meias palavras, as intenções do país em termos de

Defesa Nacional, como o fez a China.

Page 44: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

44

7 RELATOS DOS ADIDOS BRASILEIROS NO EXTERIOR

7.1 ADIDO DE DEFESA E NAVAL DO BRASIL NO REINO UNIDO, SUÉCIA E

NORUEGA

Por meio de correio eletrônico deste autor, o Adido de Defesa e Naval do

Brasil no Reino Unido, Suécia e Noruega foi questionado sobre como a publicação

do Livro Branco de Defesa Nacional vem contribuindo para as Forças Armadas, para

a Indústria de Defesa e para a sociedade civil do país onde está acreditado. O

mesmo preferiu, antes de começar suas considerações, fazer menção a um ponto

de vista equivocado, segundo seu parecer, a respeito da área de atuação desse

instrumento, pois “primeiro é preciso desmistificar a questão de que „Livro Branco‟ é

um documento da área da Defesa”, diz, e anexou a definição de Livro Branco

adotada pelo Governo Britânico.

“Na Comunidade das Nações (Commonwealth of Nations), „white paper‟ é um nome informal para um documento parlamentar enunciar a política do governo; no Reino Unido, em sua maioria são emitidos como „papéis de comando‟ (Command papers). „White papers‟ emitidos pelo governo divulgam política, ou ação, sobre um tema de interesse atual. Entretanto, em certas ocasiões, um „white paper‟ pode ser uma consulta sobre os detalhes de uma nova legislação, o que significa uma clara intenção, por parte do governo, em aprovar a nova lei.” (tradução nossa)

Complementando a preocupação do Adido em apresentar o conceito

britânico de Livro Branco, ressalto que este instrumento também é utilizado pelos

segmentos não governamentais, como visto no capítulo 2 deste trabalho.

Após esta rápida harmonização de conceitos, o Adido prossegue seu

parecer relatando que na Inglaterra “existem Livros Brancos nos mais diversos

setores governamentais. Todos esses setores divulgam, em fase precedente à

publicação do Livro Branco, um Livro Verde contendo as proposituras destinadas a

alimentar a ampla discussão nos diversos extratos da sociedade, de forma a dar

sustentabilidade e legalidade ao que for incluído no documento decorrente, o Livro

Branco.”

Antes de se discorrer sobre qualquer assunto da atividade humana, é

recomendável situar o contexto no qual se inscreve. O Adido esboça, então, um

breve histórico, para apresentar que “no Reino Unido, a utilização do Livro Branco

Page 45: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

45

da Defesa remonta a 1957, cujo documento publicado naquele ano é considerado o

primeiro „Defence White Paper‟ britânico.

O histórico dos Livros Brancos de Defesa britânicos é:

-1957 Defence White Paper;

-1966 Defence White Paper;

-1981 Defence White Paper;

-1990 Options for Change;

-1994 Front Line First;

-1998 Strategic Defence Review;

-2003 Delivering Security in a Changing World;

-2005 Defence Industrial Strategy; e

-2010 Strategic Defence and Security Review.”

O Adido chama a atenção para que se “observe que cada documento leva

um nome que, a princípio, indica o seu „tema‟ principal”.

“Passado todo esse intróito, [...]” o que o Adido pôde “[...] apurar de

conversas com Oficiais britânicos mais antigos, muitos na reserva e/ou reformados,

é que não há como hoje se imaginar a organização e funcionamento do Ministério da

Defesa do Reino Unido e das Forças Armadas britânicas sem a existência do Livro

Branco de Defesa.”

Considerou, ainda, que “[...] a positiva evolução das Forças Armadas

britânicas, que pode ser apurada no lapso temporal entre 1957 e os dias de hoje, em

que pese os percalços sofridos em função das crises econômicas, se pode concluir

que os efeitos dos „Defence White Papers‟, para o Reino Unido, foram

extremamente positivos.”

A tradição, a dimensão, os resultados alcançados e a seriedade com que os

assuntos da Defesa Nacional Britânica são por eles tratados dispensam

apresentações. Com este testemunho prestado pelo Adido de Defesa e Naval, não

deixa margem de dúvida sobre o valor instrumental do Livro Branco na gestão

desses assuntos.

Corroborando outra opinião apresentada neste trabalho, a ordem de

elaboração dos documentos doutrinários da Defesa Nacional no Brasil, encontra-se

em ordem cronológica inversa de publicação. No caso britânico, o Livro Verde é

apresentado anteriormente ao Livro Branco, para respaldar a chegada deste, e o

seu público alvo é a sociedade. No caso brasileiro, o Livro Verde será apresentado,

Page 46: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

46

ou depois, ou ao mesmo tempo em que o Livro Branco o será, sendo seu público

alvo o Congresso Nacional.

O Adido de Defesa e Naval na Alemanha e Holanda já tem a impressão

pessoal de que os Livros Brancos dos países europeus funcionam como uma mola

para impulsionar a indústria de defesa. A Organização do Tratado do Atlântico Norte

– NATO ou OTAN - quase que estipulou, a nível de desejável, o que cada um

deveria ter em termos de meios. “Como tudo no mundo, o dinheiro (economia), é

carro chefe da política e do poder e para a Alemanha e Holanda, os Livros Brancos

foram uma ferramenta para fomentar a indústria da defesa”, diz o Adido. Continua

relatando que as forças destes países, de um modo ou de outro, foram beneficiadas,

utilizando o jargão de que "se o próprio país não utiliza o seu equipamento, como ele

pode ser vendido aos outros?". No século passado, “as empresas se consideravam

auto-suficientes, diferentemente de hoje que procuram parcerias para se manterem

no mercado. O que era um concorrente no passado, hoje pode ser visto como um

parceiro para evitar o marasmo ou até a falência”, encerra o Adido.

7.2 ADIDO DE DEFESA E NAVAL NA ÁFRICA DO SUL

O Adido de Defesa e Naval na África do Sul limitou a sua contribuição

no sentido de fornecer alguns subsídios acerca do Livro Branco de Defesa da

África do Sul, suas motivações e até certos desdobramentos subsequentes

de sua adoção.

Diante do exposto, o Adido relatou que não seria exagero dizer que o

Livro Branco emergiu como um documento histórico. Pela primeira vez na

história, a política de Defesa foi realmente moldada por participações

substanciais do Parlamento, dos membros do Ministério Público, de

organizações não-governamentais e, evidentemente, do Departamento de

Defesa (DoD). Sob a égide do então Ministro da Defesa Joe Modise, em 08

de maio de 1996, o Livro Branco de Defesa da África do Sul foi promulgado,

atendendo, portanto, ao espírito da nova era democrática na África do Sul, e

reconhecendo, como consta em seu prólogo, as profundas conseqüências

políticas e estratégicas do fim do “apartheid”.

Como consequência, continua o parecer do Adido, pode-se afirmar

que o Livro Branco produziu seus efeitos estratégicos (grifo nosso). O

chamado "Pacote Estratégico de Defesa" (arms deal), de 1999, privilegiou a

Page 47: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

47

Marinha e a Força Aérea com forças de pequena autonomia e ra io de ação,

consentâneas com a Política de Defesa. Houve uma série de ações

estratégicas e compras de material bélico, todas norteadas e em perfeita

consonância com o Livro Branco.

Como conclusão, o Adido afirma que as maiores restrições, ao que

parece, não são relacionadas à eficácia do conteúdo desse documento, mas

sim aos desafios diante das crescentes restrições orçamentár ias e dos

militares (sindicalizados por lacunas da Lei) ávidos por melhorias nas

condições de trabalho, em sua maioria negros e advindos das forças de

guerrilha. Em que pesem tais deficiências, as Forças Nacionais de Defesa

Sul-Africanas parecem uníssonas ao afirmarem que a modernização

acarretada pelo "Pacote Estratégico de Defesa" de 1999 foi um fator muito

importante para a Defesa, com ênfase no sucesso das medidas de segurança

adotadas no período da Copa do Mundo de 2010.

Page 48: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

48

8 RELATOS DOS ADIDOS ESTRANGEIROS NO BRASIL

Foram enviados correios eletrônicos para todos os Adidos Navais

acreditados no Brasil, com a pergunta: “Como a publicação do Livro Branco

de Defesa Nacional contribuiu para as Forças Armadas, para a Indústria de

Defesa e para a sociedade civil de seu País?” .

Por força de consenso prévio entre este autor e os Adidos, foram

suprimidos os nomes dos Adidos Estrangeiros e seus países por se tratar de

opiniões pessoais. Este autor selecionou as mais alinhadas ao escopo deste

trabalho.

Um Adido de país da União Européia relatou que trabalha seguindo as

orientações do Livro Branco de Defesa, que são enviados pelo Ministério da

Defesa às Embaixadas. O Adido, ao receber o Livro Branco, faz um extrato

das ações que terá de enveredar e estabelece os contatos pertinentes com

suas indústrias de materiais de defesa, para ser orientado sobre como

proceder na divulgação comercial, contribuindo para o fomento da indústria

de defesa de seu país. Relatou, também, que o Livro Branco de Defesa é

tema de estudo nos Cursos de Altos Estudos de Defesa, que formam os

futuros Generais e Almirantes.

O Adido de outro país da União Européia relatou que o Livro Branco

foi publicado uma única vez, em 2001, e cobria os anos de 2001 a 2006. Foi

uma produção conjunta de vários Ministérios e o Ministério da Defesa,

igualmente como o Brasil está elaborando o seu Livro. O Adido continuou seu

parecer, dizendo ter a impressão de que, provavelmente, esta publicação não

tenha alcançado seu objetivo, porque o trabalho, visando às edições

seguintes, havia sido interrompido e não há nada em andamento sobre o

assunto no momento. Atualmente, porém, o Ministério da Defesa está

trabalhando no projeto “Revisão Estratégica de Defesa”, diz o Adido, que é,

na realidade, um novo Livro Branco de Defesa. “O documento é atualizado e

desenvolvido apenas por organizações militares”, finaliza o seu parecer.

Outro relato de Adido de país da União Européia diz que quatro Livros

Brancos de Defesa foram redigidos após a Segunda Guerra Mundial, além de alguns

manuais da Defesa Nacional editados pelo Serviço de Inteligência do Ministério da

Defesa Nacional, sob os auspícios do Estado-Maior Geral, que contem os aspectos

teóricos, estatísticos de ordem administrativa, jurídicos e militares.

Page 49: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

49

O primeiro livro, data de 1965 e foi realizado por iniciativa do Ministro da

Defesa à época. Serviu como resposta à necessidade de informação e inteligência

expressa por muitos cidadãos interessados, direta ou indiretamente, na política

estabelecida por autoridades nacionais, civis e militares, em matéria de defesa.

O segundo livro decorreu, em 1977, em resposta a algumas reformas de

1972, incluindo a renovação de infra-estruturas e equipamentos militares. O terceiro

livro foi publicado em junho de 1985 visando, em tempos de crise financeira e a crise

“euro-mísseis", tornar clara a conjuntura da época, para, assim, permitir a avaliação

das intenções e das decisões sobre a defesa. Descreveu mais particularmente, a

política de segurança; a participação em alianças; e os esforços orçamentários do

Departamento de Defesa. Foi apoiado pela publicação paralela do Manual de

Defesa de 1985, que abordou os aspectos estruturais e organizacionais das

instituições de defesa. O último Livro Branco, em 1994, foi elaborado no contexto da

reestruturação fundamental das forças armadas. Em 6 de julho de 1994, o Ministro

da Defesa Nacional, tornou público no momento em que terminou a fase legislativa

da profunda reestruturação do Exército.

É percebido com este testemunho, que o papel do Livro Branco de

Defesa é de capital importância para a gestão política dos assuntos de

defesa. O que foi chamado de “manual de defesa”, acredita este autor, que

possa ser o que chamamos de “livro verde”, pois vem em apoio ao conteúdo

do Livro Branco. Enfim, este país utiliza esta ferramenta de forma eficiente e

eficaz para o convencimento político e para manter a opinião púbica

informada sobre a defesa de seu país.

Outro relato de país da União Européia diz que o Livro Branco de

Defesa de seu país:

“[...] não passou de uma esperança da sociedade castrense. Os políticos de todas as legendas concordaram com o teor, mas na prática pouco ligaram ao assunto. O Livro está cheio de belas intenções, e na sequência foi elaborada uma Lei de Programação Militar, para definir bem as aquisições de material para as Forças Armadas, mas esta lei é permanentemente desvirtuada anualmente, pois todos os anos a lei de execução orçamental cativa sempre 40% do valor total inscrito. Isto leva a que programas sejam adiados sistematicamente, outros são afectados de tal forma, que têm de ser muito prolongados no tempo. Em resumo, a ideia do Livro é boa, mas torna-se imperioso que exista uma real

Page 50: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

50

vontade política para implementar as medidas que aí foram determinadas.” (grifo nosso)

Em outro país da União Européia, segundo o testemunho de seu

Adido, Defesa é, por necessidade, uma questão de Estado. Ressalvou,

porém, que as decisões tomadas em termos de política de defesa não estão

isentas de controvérsias, mas cabe reconhecer o importante grau de

consenso político e social alcançado nos últimos anos em seu país. Tanto a

participação plena desse país na nova Organização do Tratado do Atlântico

Norte ou a profissionalização da tropa tem conseguido um respaldo

parlamentar majoritário, assim como a aprovação generalizada da sociedade.

Os tópicos sobre Forças Armadas obsoletas, politizadas, sem projeção

internacional, vem caindo progressivamente, graças a uma evolução paralela

entre Forças Armadas e a sociedade.

A progressiva normatização da Defesa como assunto de Estado,

benéfica a seus cidadãos, requer não só maior transparência, mas também o

aprofundamento nos aspectos básicos da mesma. Entende-se que na política

de defesa haja assuntos que, por sua natureza, exijam serem mantidos o

mais secreto possível. Em todos os outros, porém, devem ser tratados com a

maior transparência possível para que redundem em uma maior solidez e

respaldo social das decisões que se adotem. A Defesa deve deixar de ser

uma incógnita para os cidadãos e converter-se em um instrumento que, por

ser conhecido, goze do maior apoio social possível.

O Livro Branco representou, então, este amadurecimento alcançado,

que ousou dotar o país em questão de Forças Armadas modernas numa

concepção ampla, desde o seu pessoal até seu material, passando por sua

doutrina e preparação.

Segundo o Adido, há poucos anos, grande parte da população

desse país pensava que a Defesa se gerava de maneira espontânea, sem

serem conscientes do cuidadoso planejamento que requer. Fruto de

várias ações de conscientização, inclusive do Livro Branco, hoje isso já

não é mais assim. (grifo nosso)

A sociedade percebeu que tem a seu serviço um autêntico

instrumento de paz, cuja atuação outorga ao país credibilidade internacional,

Page 51: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

51

sem mencionar outros benefícios ligados ao desenvolvimento industrial e

tecnológico. Devido a isso a sociedade deve ser coerente e permitir que os

recursos de sua defesa estejam em consonância com esse maior

protagonismo internacional de suas Forças Armadas. Não são seus militares,

nem a defesa, senão o próprio país quem o necessita, reforça o Adido.

O Livro Branco desse país alcançou o sucesso em seus propósitos ao

se propor a aproximar os assuntos da Defesa com a sociedade, favorecendo,

com sua exposição, uma maior consciência de defesa. A iniciativa frutificou

um intenso desenvolvimento das indústrias de defesa, gerando empregos e,

por conseqüência, fez com que o país contasse com Forças Armadas

modernas, com credibilidade e extraordinariamente bem reconhecidas

internacionalmente.

Outro Adido, agora de país sulamericano, relatou ser de opinião que,

em seu país, o Livro Banco de Defesa teve um limitado sucesso.

Fundamentou sua opinião particular com o fato de que, pouco tempo depois

da publicação do Livro, o novo Governo o considerou desatualizado,

determinando a elaboração de um novo, que, até o presente momento, não

teve seu trabalho finalizado. Por outro lado, esse mesmo Adido acredita que

a sua publicação serviu, inicialmente, para demonstrar transparência aos

países amigos e como enriquecimento de palestras aos Oficias das Forças

Armadas. Acredita, também, que foi bom para o público interno, no sentido

de ajudar na elaboração e uniformização de critérios e objetivos de Defesa.

Entretanto, não observou repercussão alguma no âmbito das firmas privadas.

Page 52: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

52

9 CONCLUSÃO

Compilando os pareceres apresentados, verificou-se que todos os relatos

convergiram para expectativas comuns sobre o que a publicação de um Livro

Branco de Defesa poderia auferir na gestão dos assuntos relacionados à Defesa

Nacional. São elas:

1- Ampliar a participação civil nos assuntos de defesa;

2- Ampliar o conhecimento dos Militares sobre si mesmos;

3- Catalisar a discussão sobre os temas de Defesa no âmbito da Academia,

da burocracia Federal e do Parlamento;

4-Demonstrar à sociedade que Defesa Nacional é assunto de Estado e não

de Governo e que é responsabilidade de todo brasileiro, quer civil, quer militar;

5- Servir de mecanismo de prestação de contas sobre a adequação da

estrutura de Defesa aos objetivos traçados pelo poder público para o setor no País;

6- Prover transparência à política de defesa;

7- Servir de elemento de dissuasão;

8- Servir de instrumento de fortalecimento da confiança e segurança mútua

entre as nações amigas;

9- Dar publicidade de dados essenciais para o esclarecimento aos cidadãos

sobre a realidade das nossas Forças Armadas;

10- Conferir maior legitimidade democrática à Política de Defesa Nacional; e

11- Servir de fomento para a indústria de defesa.

O Livro Branco de Defesa tem, portanto, forte caráter instrumental e é e

fundamental importância, sendo necessário a uma nação da estatura geopolítica

como a do Brasil, pois comportará a essência da doutrina de defesa e atuará,

principalmente, como documento de prestação de contas sobre o resultado das

políticas e objetivos dos assuntos da Defesa Nacional.

Recorrendo aos comentários dos Adidos Militares, nacionais e estrangeiros,

e comparando-os ao desempenho das indústrias de defesa no mundo, chega-se a

conclusão de que os países produtores de materiais, serviços e tecnologias de

defesa utilizam a publicação de seus Livros Brancos de Defesa para cooptar não só

a sociedade e os investidores nacionais, como também os investimentos

estrangeiros, ações que contribuem para a elevação do PIB. Já nos países

consumidores de materiais, serviços e tecnologias de defesa, seus livros brancos

Page 53: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

53

não atuam na formação da cultura de defesa da sociedade, são rapidamente

esquecidos por não contribuírem para a formação de riquezas e não alavancam

iniciativas geradoras de capitais, se limitando a ser um instrumento informativo.

O Livro Branco é, então, extremamente necessário para contribuir com o

desempenho do setor de defesa de um país. Entretanto, não se bastará pela sua

simples existência. Não será suficiente, sem o comprometimento político; a

participação da sociedade e das elites; e a criação de mentalidade voltada para a

defesa do Brasil como um todo. Do contrário, o Livro Banco se constituirá em um

documento inócuo.

Page 54: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

54

REFERÊNCIAS CORDEIRO, Roberto. Brasil começa a elaborar Livro Branco com informações estratégicas sobre defesa. Entrevista com o Ministro da Defesa Nelson Jobim. Disponível em: <http://planalto.blog.br/clone/tag/livro-branco-de-defesa-nacional/>. Acesso em: 01 abr 2011. BRASIL. Lei Complementar nº 136, de 25 de agosto de 2010. Altera a Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, que “dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas”, para criar o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e disciplinar as atribuições do Ministro de Estado da Defesa. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 ago. 2010. _________. Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF, 2008. _________. Ministério da Defesa. Política de Defesa Nacional. Brasília, DF, 2005. _________. Decreto nº 7.438, de 11 de fevereiro de 2011. Estabelece princípios e diretrizes para criação e elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional, institui Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar estudos sobre temas pertinentes àquele Livro, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 fev. 2011. CHAPIN, HENRY; DENEAU, DENIS. Citizen involvement in Public Policy-making: access and the policy-making process. Ottawa: Canadian Council on Social Development, 1978. p. 33 CUNHA, Marcílio Boavista da. Livro Branco de Defesa. Revista do Clube Naval, Rio de Janeiro, n. 357, abr./mai./jun. 2011. DOERR, AUDREY D. The Role of White Papers. In: Doern, G.B.; Aucoin, Peter. The Structures of Policy-making in Canada. Toronto: MacMillan, 1971. p. 179-203. _________. _________. In: The Policy-making Process: the experience of the Government of Canada. 1973. Thesis (Ph.D) - Carleton University. 1. 56 _________. The Machinery of Government. Toronto: Methuen, 1981. p. 153

Page 55: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

55

DONG, Jue. Rádio Internacional da China (CRI). Disponível em:<http://portuguese.cri.cn/561/2011/03/31/1s133813.htm>. Acesso em: 10 mai 2011. ES.WIKIPIDIA, 2011. Disponível em: <http://es.wikipidia.org/wiki/Libro_Blanco>. Acesso em 27 abr. 2011. EN.WIKIPEDIA, 2011. Disponível em: <>. Acesso em 24 abr. 2011

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Palestra da Reunião Inicial. Oficinas Temáticas sobre o Livro Branco de Defesa Nacional, 22 fev. 2011. KITCHO, Catherine. The Launch Pad, October 2004, The Launch Doctor. Disponível em:<http://www.pelepubs.com/launchdr/launch_emailnews2.shtml?&id=23Launch Pad Monthly Newsletter - Past Issue>. Acesso em 24 abr. 2011. PEMBERTON, John E. Government Green Papers. Library World 71:49 Aug. 1969. RODRIGUES, Alexandre Reis. Jornal Defesa e Relações Internacionais. Disponível em: http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=612>.

Acesso em: 20 abr 2011.

Page 56: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

56

ANEXO A - DECRETO Nº 7.438, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2011. DECRETO Nº 7.438, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2011. Estabelece princípios e diretrizes para criação e elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional, institui Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar estudos sobre temas pertinentes àquele Livro, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 9º da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, DECRETA: Art. 1º O Livro Branco de Defesa Nacional é documento de caráter público, por meio do qual se permitirá o acesso ao amplo contexto da Estratégia Nacional de Defesa, em perspectiva de médio e longo prazos, que viabilize o acompanhamento do orçamento e do planejamento plurianual relativos ao setor. Art. 2º O Livro Branco de Defesa Nacional deverá conter dados estratégicos, orçamentários, institucionais e materiais detalhados sobre as Forças Armadas e modelo a ser sugerido a partir dos parâmetros definidos na Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999. Art. 3º A elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional ficará sob a presidência do Ministério da Defesa, observados os seguintes princípios e diretrizes: I - incentivo a pesquisas que permitam estudo sobre temas pertinentes ao Livro Branco de Defesa Nacional; II - realização de parcerias com instituições públicas e privadas para aprimorar e viabilizar os projetos referentes ao Livro Branco de Defesa Nacional; e III - ação governamental integrada, sob a coordenação do Ministério da Defesa, com a participação de órgãos do governo com atribuições nas áreas temáticas que serão abordadas no Livro Branco de Defesa Nacional. Art. 4º Fica instituído o Grupo de Trabalho Interministerial do Livro Branco de Defesa Nacional, de caráter temporário, cujas reuniões deverão se realizar ordinariamente, a cada trimestre, e extraordinariamente, a qualquer tempo, mediante convocação pelo Ministério da Defesa. Art. 5º O Grupo de Trabalho Interministerial será integrado por um representante, titular e suplente, de cada órgão a seguir indicado: I - Ministério da Defesa, que o presidirá; II - Ministério da Ciência e Tecnologia; III - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; IV - Ministério da Fazenda; V - Ministério da Integração Nacional; VI - Ministério da Justiça; VII - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; VIII - Ministério das Relações Exteriores; IX - Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; X - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; e XI - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. § 1º Os membros do Grupo de Trabalho Interministerial serão indicados pelos titulares dos órgãos representados e designados em portaria do Ministro de Estado da Defesa. § 2º A presidência do Grupo de Trabalho Interministerial poderá convidar representantes de outros órgãos e entidades da administração pública e da sociedade para participar de suas atividades. § 3º Os resultados dos trabalhos serão registrados em atas, que consolidarão as demandas de interesse geral aprovadas e servirão como referência para definição de temas e questões que deverão ser abordados no Livro Branco de Defesa Nacional. Art. 6º O Ministro de Estado da Defesa decidirá sobre a realização de outras atividades relevantes para o desenvolvimento do Livro Branco de Defesa Nacional. Art. 7º O Ministério de Estado da Defesa definirá o cronograma de atividades do Grupo de Trabalho Interministerial, observado o prazo a que se refere o § 3º do art. 9º da Lei Complementar nº 97, de 1999. Art. 8º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 11 de fevereiro de 2011; 190º da Independência e 123º da República. DILMA ROUSSEFF Nelson Jobim Este texto não substitui o publicado no DOU de 14.2.2011

Decreto nº 7438 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto.

Page 57: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

57

ANEXO B – MAPA MUNDI EVIDENCIANDO OS PAÍSES QUE POSSUEM O

LIVRO BRANCO

EM NEGRITO OS PAÍSES COM LIVROS BRANCOS DE DEFESA PUBLICADOS

Page 58: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

58

ANEXO C – Resolução do Conselho Permanente da OEA nº 829.

OEA/Ser.G

CP/RES. 829 (1342/02)

6 novembro 2002

Original: espanhol

CP/RES. 829 (1342/02)

ADOÇÃO DAS DIRETRIZES PARA A ELABORAÇÃO DE

DOCUMENTOS SOBRE POLÍTICAS E DOUTRINAS NACIONAIS DE DEFESA

O CONSELHO PERMANENTE DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS,

RECORDANDO:

Que, mediante sua resolução AG/RES. 1801 (XXXI-O/01), "Fortalecimento da confiança e da

segurança", a Assembléia Geral solicitou ao Conselho Permanente que, por intermédio da

Comissão de Segurança Hemisférica, realizasse um "seminário sobre a preparação de

documentos sobre política e doutrina da defesa, em coordenação com o Colégio

Interamericano de Defesa e outras instituições especializadas na matéria, e que apresente um

relatório que sirva de base para a elaboração de diretrizes gerais para esses documentos";

Que, ademais, na resolução AG/RES. 1879 (XXXII-O/02), "Fortalecimento da confiança e da

segurança", a Assembléia Geral fez referência às diretrizes preparadas pelo Conselho

Permanente e lhe solicitou que fossem transmitidas "para consideração da Quinta Conferência

de Ministros da Defesa das Américas a ser realizada em Santiago, Chile, em novembro de

2002";

CONSIDERANDO que a Comissão de Segurança Hemisférica realizou o seminário em

cumprimento do mandato da Assembléia Geral em 22 de abril de 2002 e que esta Comissão

continuou suas deliberações sobre este tema a fim de concluir a preparação do projeto dessas

diretrizes antes da realização da referida Quinta Conferência de Ministros da Defesa;

LEVANDO EM CONTA que nas Conferências de Santiago e San Salvador sobre medidas de

fortalecimento da confiança e da segurança, realizadas em 1995 e 1998 respectivamente, se

reconheceu o fomento da elaboração e intercâmbio de informações sobre políticas e doutrinas

de defesa nacionais como uma medida de fortalecimento da confiança e da segurança; e

TENDO VISTO o Relatório do Presidente da Comissão de Segurança Hemisférica referente

às Diretrizes para a Elaboração de Documentos sobre Políticas e Doutrinas Nacionais de

Defesa,

RESOLVE:

1. Adotar as anexas Diretrizes para a Elaboração de Documentos sobre Políticas e

Doutrinas Nacionais de Defesa apresentadas pela Comissão de Segurança Hemisférica.

2. Transmitir estas Diretrizes à Quinta Conferência de Ministros da Defesa das Américas.

Page 59: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

59

3. Instar os Estados membros a implementarem estas Diretrizes e informar a Organização a

esse respeito.

4. Solicitar à Secretaria-Geral que preste apoio aos Estados membros, segundo se solicitar,

para a implementação destas Diretrizes.

5. Solicitar à Secretaria-Geral que transmita esta resolução e as Diretrizes aprovadas ao

Secretário-Geral das Nações Unidas e ao Presidente da Junta Interamericana de Defesa e do

Colégio Interamericano de Defesa.

ANEXO

DIRETRIZES PARA A ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS SOBRE POLÍTICA E

DOUTRINA DA DEFESA ( LIVROS BRANCOS)

Introdução

Os países das Américas identificaram a elaboração e o compartilhamento dos Livros Brancos

da Defesa Nacional como um mecanismo útil de fortalecimento da confiança e da segurança

para a promoção da segurança no Hemisfério. Este estudo tem por objetivo oferecer uma

breve descrição das características essenciais dos Livros Brancos da Defesa e explicar os

fundamentos e o processo para sua elaboração. Figura também uma lista de elementos

comumente existentes nos Livros Brancos.

É importante notar que nas Américas não há um formato padrão acordado para os Livros

Brancos. Isso talvez seja um reflexo lógico dos diferentes contextos históricos, geográficos,

culturais, políticos e fiscais nos quais os países das Américas definem suas ameaças à

segurança e objetivos, capacidades e limitações da defesa. Entretanto, há elementos comuns a

muitos Livros Brancos. Este documento focaliza princípios básicos e levanta questões que

poderiam ser úteis aos governos na formulação dos próprios Livros Brancos, com base na

experiência dos Estados membros da OEA que já iniciaram esse processo.

O Livro Branco da Defesa: características essenciais

Um Livro Branco da Defesa é um documento chave de política que oferece a visão do

Governo a respeito da defesa. É um documento público que descreve o contexto amplo da

política estratégica para o planejamento da defesa com uma perspectiva de médio prazo. Não

se destina a ser redigido anualmente ou cada dois anos, mas oferecer uma perspectiva

suficiente para permitir um orçamento planejamento plurianual. Deve ser elaborado de modo

a ser suficientemente flexível para levar em conta pequenas modificações no ambiente da

segurança. Um novo Livro Branco é normalmente preparado em resposta a importantes

mudanças no ambiente estratégico ou para indicar mudanças significativas nas prioridades do

Governo.

Um Livro Branco é produzido depois de extensa consulta tanto dentro como fora do Governo.

Visa a refletir um consenso de base ampla sobre o papel apropriado das forças de defesa desse

país, no contexto de suas prioridades nacionais, contexto jurídico e recursos.

Um Livro Branco determina a análise do Governo sobre o ambiente de segurança do país,

tanto nacional como internacional. Isso pode incluir uma avaliação das ameaças e fatores de

Page 60: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

60

segurança, tanto tradicionais como não-tradicionais. O documento destaca questões da mais

alta prioridade para esse país e proporciona uma visão geral do modo como a política de

defesa será implementada para enfrentar esses desafios à segurança. Também descreve, em

termos amplos, as capacidades atuais e planejadas, bem como as funções das forças de defesa.

Um Livro Branco da Defesa é também um instrumento de prestação de contas. É essencial

que a política e os objetivos constantes do Livro Branco se refiram aos níveis de recursos

disponibilizados pelo Governo às forças da defesa e sejam coerentes com eles. O Livro

Branco pode conter medições do desempenho (por exemplo, prazos para a reestruturação das

Forças Armadas ou prazo máximo para o desdobramento de um ativo militar específico). Isso

torna o Ministério da Defesa e as Forças Armadas responsáveis pelos objetivos declarados - e

também os capacita a defender o pedido de recursos orçamentários necessários para alcançar

o nível de desempenho para cumprir a política de defesa do Governo.

Os benefícios e as vantagens da preparação de um Livro Branco

A preparação de um Livro Branco da Defesa como tal é um exercício fundamental em

democracia. O processo requer extensa cooperação entre civis e militares. A consulta entre os

líderes políticos, ministérios públicos, militares e o público em geral promove uma ampla

conscientização a respeito das funções e do valor das forças armadas. Portanto, o produto

final deste processo confere maior legitimidade democrática à política de defesa nacional do

que se tivesse sido criado sem debate e sem consulta.

Como documento público, um Livro Branco explica o papel das forças armadas e por que

esse papel é importante para os cidadãos. Ajuda a construir um eleitorado que poderá apoiar o

financiamento contínuo do orçamento da defesa face a pressões de interesses concorrentes da

política nacional.

Como política governamental, um Livro Branco apresenta instrução coerente ao Ministério da

Defesa e aos militares sobre as expectativas governamentais a respeito de suas funções.

Proporciona também os fundamentos e a autoridade para a alocação de recursos às forças da

defesa, bem como legitimiza o gasto de fundos públicos para esse propósito.

Em virtude de sua perspectiva estratégica, um Livro Branco é um instrumento importante para

a justificação de recursos orçamentários em prazo plurianual. A garantia de financiamento

previsível, por sua vez, é uma ajuda significativa em processos contínuos de planejamento da

defesa.

Os Livros Brancos da Defesa foram também identificados como importantes medidas de

fortalecimento da confiança e da segurança. A preparação e distribuição dos Livros Brancos

aumentam a transparência não somente no contexto nacional, mas também em âmbito

internacional. A consulta com os aliados, vizinhos e parceiros regionais e internacionais que

poderiam ser afetados pela política do Livro Branco reveste importância especial em termos

de assegurar que as intenções de um país não sejam mal interpretadas. Compartilhar os Livros

Brancos também incentiva um diálogo construtivo de política sobre mudanças no ambiente da

segurança e a avaliação de ameaças tradicionais e não-tradicionais, bem como tendência em

evolução na política e planejamento da defesa entre oficiais militares e autoridades

encarregadas da defesa de diferentes países.

O processo

Page 61: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

61

Contexto de política:

Um Livro Branco é uma expressão fundamental da política nacional. O produto final é uma

declaração da política governamental e não simplesmente do Ministério da Defesa ou das

forças armadas. A política do Livro Branco deve ser coerente com os propósitos, prioridades e

objetivos do Governo, inclusive política externa. Indubitavelmente, o Livro Branco deve

também respeitar a Constituição e o contexto jurídico do país.

As questões orçamentárias são parte crítica do debate sobre política interna. Um Livro Branco

deve abordar questões de recursos, uma vez que a disponibilidade de financiamento do capital

e as despesas operacionais e de pessoal determinarão se a forças da defesa serão ou não

capazes de cumprir seus objetivos declarados.

No tocante ao contexto da política internacional, o Livro Branco confirma as obrigações e

compromissos bilaterais, regionais e multilaterais do país. Repetimos que essas funções

também têm implicações de recursos que devem ser levadas em conta no processo de

planejamento orçamentário.

Consulta aos atores chave:

A elaboração de um Livro Branco é um processo consultivo liderado pelos mais altos níveis

do Governo. O Governo - o executivo político eleito - tem a responsabilidade primordial pela

determinação de orientações sobre a política nacional. Portanto, é o Governo que proporciona

a liderança política para a elaboração de um Livro Branco e que filtra os interesses, demandas

e pressões de todos os grupos interessados, a fim de tomar decisões sobre sua prioridade

relativa no âmbito de uma agenda mais ampla do Governo.

Para tomar decisões informadas, o Governo poderá utilizar as recomendações e a colaboração

dos ministérios competentes, bem como o assessoramento das comissões parlamentares ou do

Congresso. As opiniões do público em geral, organizações não-governamentais, setor

industrial, grupos de peritos e parceiros internacionais também são relevantes ao processo, e o

Governo e o Ministério da Defesa podem tomar a iniciativa de utilizar esses grupos em etapas

diferentes da elaboração do Livro Branco.

O Ministério da Defesa é central para o desenvolvimento de uma visão e uma agenda da

defesa. A hierarquia superior do Ministério da Defesa e das forças armadas proporciona ao

Ministro uma análise de política e assessoramento militar. As suas recomendações devem

levar em consideração a avaliação do Governo a respeito do ambiente estratégico,

necessidades de defesa do país, objetivos e prioridades do Governo e recursos disponíveis.

Esse insumo baseia-se em avaliações internas e consultas com autoridades de outros

ministérios públicos, bem como peritos externos. A tecnologia moderna de comunicações cria

possibilidades de consulta muito aberta por meio da criação, por exemplo, de sites na Internet

por meio dos quais o público possa expressar suas opiniões.

O Ministério das Relações Exteriores é consultado constantemente no processo de elaboração

do Livro Branco, uma vez que a política de defesa deve ser coerente com os objetivos de

política externa do país e deve apoiá-los. O Ministério das Relações Exteriores

freqüentemente atua como canal das opiniões de parceiros internacionais.

Page 62: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

62

Vários outros ministérios ou jurisdições subnacionais (estados, províncias) podem também ter

interesse direto nas consultas, especialmente em situações em que as forças armadas

proporcionam um serviço substantivo a esses ministérios ou jurisdições, com freqüência em

campos não-tradicionais. Por exemplo, a capacidade de vigilância marítima das forças

armadas poderá ser necessária para permitir a outros ministérios cumprir seus mandatos em

proteção da pesca, interdição de drogas, assistência humanitária ou proteção ambiental.

A consulta a órgãos centrais responsáveis pelo orçamento e despesas nacionais (por exemplo,

Gabinete do Conselho Privado ou Ministério da Presidência, Ministério das Finanças,

Tesouro, etc.) é essencial para definir as limitações de recursos dentro das quais a política de

defesa deve ser realizada. Neste sentido, quase todos os ministérios terão interesse indireto no

Livro Branco, na medida em que os recursos postos à disposição do orçamento da defesa

afetem o montante de recursos restantes para financiar outros ministérios.

Os parlamentares ou congressistas geralmente desempenham um papel de destaque na

elaboração dos Livros Brancos. As comissões poderão reunir-se para ouvir os líderes militares

e as autoridades públicas de diferentes ministérios, bem como especialistas em política de

defesa e segurança provenientes de organizações não-governamentais, acadêmicos e o público

em geral. Os membros das comissões poderão também viajar a diferentes partes do país ou ao

exterior para fazerem consultas e realizarem audiências públicas ou reuniões municipais. Tais

mecanismos incentivam não apenas um amplo debate público, mas também promovem a

participação de líderes políticos, não afiliados ao partido do governo, na formulação da

política nacional. Além disso, esse processo com freqüência resulta em extensa cobertura da

mídia, promovendo assim uma maior conscientização nacional a respeito da revisão de

políticas.

Além de participar das consultas iniciadas pelo Governo ou por seu Ministério da Defesa, os

representantes do setor privado poderão também agir de forma preventiva no tocante a

expressar seus pontos de vista em debate público e no processo de política por meio de outros

canais. Grupos de peritos, acadêmicos, representantes das empresas privadas, organizações

não-governamentais e outras entidades poderão organizar conferências, dar entrevistas,

publicar artigos na mídia ou na imprensa especializada, escrever para autoridades eleitas e de

qualquer outra forma advogar interesses específicos na elaboração do Livro Branco.

Deveriam também ser levadas em conta as preocupações dos parceiros internacionais que têm

interesse nos Livros Brancos ou que poderiam ser por eles afetados. As consultas poderiam

ser feitas a aliados ou vizinhos com os quais o Estado mantêm tratados ou acordos bilaterais

ou regionais. Além disso, se o Livro Branco implicar apoio a objetivos internacionais de paz e

segurança de organizações multilaterais, tais como as Nações Unidas, essas entidades também

deverão participar do processo de consulta.

Os mecanismos específicos de consulta poderão variar de país a país, dependendo das

estruturas, políticas e práticas nacionais. É responsabilidade do Governo determinar como

organizará e coordenará os processos globais de consulta, a fim de elaborar um Livro Branco

da Defesa coerente que aborde adequadamente os interesses de segurança tanto nacionais

como internacionais.

O conteúdo: Elementos comuns aos Livros Brancos

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Figura, a seguir, uma compilação de elementos comuns aos Livros Brancos, com uma

sugestão de um esboço para organizá-los.

I. Política e doutrina da defesa

A. Avaliação do ambiente de segurança e contexto interno

Inclui uma descrição do ambiente de segurança global, regional e nacional. Cada vez mais a

avaliação baseia-se num conceito multidisciplinar de segurança e inclui ameaças tanto

tradicionais como não-tradicionais e fatores que afetam a segurança do país e de seus

cidadãos.

Uma descrição do contexto interno (prioridades globais do governo, questões orçamentárias)

pode também ser incluída, uma vez que proporciona o contexto no qual serão tomadas as

decisões sobre política da defesa e implementação.

B. Estratégia para responder a ameaças percebidas e cumprir compromissos internacionais

Esta seção estabelece uma ampla abordagem de política a ser adotada pelo Governo, por meio

de seu Ministério da Defesa e suas forças armadas, a fim de responder às ameaças e

problemas de segurança descritas na avaliação do ambiente de segurança.

C. Funções e missões das Forças Armadas

Embora as funções e missões das forças armadas tenham tradicionalmente incluído a proteção

do Estado, de seu território e cidadãos contra a agressão externa, há agora uma tendência a

incluir também funções não-tradicionais, inclusive assistência a outros ministérios públicos.

Por exemplo, as capacidades de vigilância aérea e marítima podem oferecer apoio

significativo para capacitar os ministérios responsáveis pela pesca, meio ambiente, imigração,

alfândega, interdição de drogas, busca e resgate, etc. a cumprirem seus mandatos.

Outra consideração chave é saber se o Governo deseja utilizar as capacidades de suas forças

armadas para fortalecer a paz e a segurança internacionais. Apoio deste tipo poderá abranger

uma ampla série de funções, incluindo, por exemplo, prover tropas para a manutenção da paz

ou iniciativas de fortalecimento da paz, apoio operacional para assistência humanitária em

situações pós-conflitos ou desastres naturais ou assessoramento militar e perícia para apoiar

regimes ou acordos internacionais de controle de armas.

Essas funções diferirão de país a país, dependendo da avaliação estratégica do Governo,

contexto jurídico, história, geografia e consenso nacional a respeito do papel apropriado das

forças armadas.

II. Capacidades

Esta seção proporciona uma descrição das capacidades atuais e planejadas das forças armadas.

Conforme indicado anteriormente, é útil incluir padrões de desempenho na declaração de

capacidades, uma vez que tais indicações facilitam a prestação de contas.

III. Questões orçamentárias e de recursos

Page 64: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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Considerações sobre recursos financeiros e humanos são críticas para o Ministério da Defesa

e as forças armadas, a fim de estarem capacitados para alcançar os objetivos do Governo. Por

esta razão, é importante que o compromisso de proporcionar as capacidades declaradas seja

apoiado por um sólido plano financeiro e de pessoal.

IV. Futuras direções: Modernização das forças de defesa, aquisições importantes de armas,

etc.

Uma indicação de quaisquer mudanças importantes - reestruturação das forças de defesa,

aumento ou redução significativos de pessoal, aquisições importantes de armas ou outras

decisões que tenham impacto significativo sobre as políticas ou capacidades das forças de

defesa - deverá ser destacada no Livro Branco da Defesa. A transparência dessas decisões é

extremamente útil como medida de fortalecimento da confiança e da segurança.

V. Estrutura militar da defesa

Uma descrição da estrutura militar da defesa é também uma medida útil de transparência.

Page 65: "Livro Branco" de Defesa Nacional: uma necessidade?

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C 2011 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG.

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Castanheiro, Paulo Volpini

“Livro Branco” de Defesa Nacional: uma necessidade? / CMG Paulo Volpini Castanheiro. Rio de Janeiro: ESG, 2011.

64f.: il.

Orientador: Cel Edison Gomes Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia, apresentado ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.

1. Defesa Nacional. 2. Livro Branco. 3. Transparência. 4.

Dissuasão. I. Título.