ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA
PAULO VOLPINI CASTANHEIRO
“LIVRO BRANCO” DE DEFESA NACIONAL:
uma necessidade?
Rio de Janeiro 2011
PAULO VOLPINI CASTANHEIRO
“LIVRO BRANCO” DE DEFESA NACIONAL:
uma necessidade?
Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentado ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel. Edison Gomes.
Rio de Janeiro
2011
Dedico esta monografia ao meu sogro Pedro Paulo;
a sogra Luzia; a esposa Ana Paula, brilhante e paciente
revisora deste trabalho; e aos filhos Paulo, Pedro Paulo e
Paulo Sansão, pela tranquilidade e segurança que me
permitiram levar adiante os meus estudos, na certeza de
ter minha família sempre unida e resguardada.
Dedico, em especial consideração, a meu pai Paulo e
a minha mãe Henriqueta verdadeiros responsáveis por
tudo.
AGRADECIMENTOS
Ao insigne orientador, Cel R/1 Édison Gomes de Souza Neto, pela condução na
busca do conhecimento. Agradeço o companheirismo, a fraternidade e o empenho na
orientação para a elaboração deste trabalho.
Ao Comando da Marinha do Brasil pela oportunidade proporcionada, possibilitando-
me realizar o Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) e apresentar o
presente estudo.
A Associação Brasileira de Indústrias de Defesa e Segurança, nas pessoas de seu
Vice-Presidente Executivo, o Vice-Almirante Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, do Vice-
Almirante Engenheiro Naval Marcilio Boavista da Cunha e do Sr. Cláudio Moreira.
Aos Oficiais do Estado-Maior da Armada, aos Adidos Navais Brasileiros e aos
Adidos Navais Estrangeiros no Brasil, pelas valiosas colaborações e pelo pronto
atendimento às minhas solicitações.
Aos integrantes da Escola Superior de Guerra (ESG) pela excelência na seleção do
corpo discente; pela qualidade do ensino prestado pelo corpo docente; pelo distinto trato e
apoio aos Estagiários na árdua jornada acadêmica empreendida.
A toda equipe, civis e militares, da ESG, o reconhecimento pela organização e alto
grau de profissionalismo na execução de seus ofícios e na condução dos trabalhos,
possibilitando amenizar nossas naturais dificuldades.
Aos colegas do CAEPE 2011 – Turma Segurança e Desenvolvimento, pela
qualidade de conteúdo e pela convivência durante o curso. Agradeço a honra em poder
estar ao lado de todos os senhores e senhoras, meus colegas de turma.
A todos que, de alguma maneira, contribuíram para a concretização deste
empreendimento.
"Uma Nação que confia em seus direitos em vez de confiar em seus soldados, engana-se a si mesma e prepara a sua própria queda".
Rui Barbosa
RESUMO
Esta monografia aborda o Livro Branco de Defesa Nacional, como um dos
documentos necessários para prover eficiência à gestão dos assuntos de defesa. O
objetivo deste estudo é avaliar a real necessidade de se publicar este tipo de
documento, com fundamento nas opiniões de personalidades de notório saber sobre
o assunto. A metodologia adotada comportou uma pesquisa bibliográfica e
documental, visando buscar referenciais teóricos e práticos. O campo de estudo
limitou-se à coleta de dados que permitissem analisar a necessidade de se
estruturar um documento dessa complexidade, sem se prender aos processos de
elaboração e à metodologia empregada para a sua consecução. Discorre sobre: a
definição do que seja um “Livro Branco” de forma abrangente; como será
estruturado o Livro Branco de Defesa do Brasil; e os relatos de personalidades de
notório saber em assuntos de defesa, para embasar a análise sobre a necessidade
desse tipo de documento no ordenamento doutrinário dos assuntos afetos à Defesa
Nacional. Os principais tópicos são: a estruturação do Livro Branco de Defesa
Nacional no Brasil; as impressões do Ministro da Defesa; as impressões de
personalidades de notório saber, como o Vice-Presidente Executivo da ABIMDE,
Revista do Clube Naval e outras instituições não menos importantes; e relatos dos
Adidos Brasileiros e dos Adidos Estrangeiros acreditados no Brasil.
Palavras-chave: Defesa Nacional. Livro Branco. Transparência. Dissuasão.
ABSTRACT
This monograph addresses the National Defense White Paper as one of the
documents necessary to provide efficient management of defense issues. The aim of
this study is to evaluate the real need to publish such document, based on the
opinions of well-known personalities on the subject. The methodology involved a
literature search and documentation, aiming to seek theoretical and practical. The
field study was limited in collecting data that allow analyzing the need to structure a
document of this complexity, without being attached to the processes of formulation
and methodology for achieving them. Discusses: the definition of what constitutes a
"White Paper" in a comprehensive manner, how it is structured the Defense White
Paper of Brazil, and the stories of notable personalities in defense matters, to base
the analysis on the need for such document in planning matters pertaining to the
doctrine of National Defense. The main topics are: the structure of the National
Defense White Paper in Brazil, the impressions of the Defense Minister, the prints of
renowned personalities, such as the Executive Vice President of ABIMDE, Journal of
the Naval Club and other institutions that are no less important, and reports of
Brazilian Attachés and Foreign Attachés accredited to Brazil.
Keywords: National Defense. White Paper. Transparency. Deterrence.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Alte Almirante
CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia
ESG Escola Superior de Guerra
LBDN Livro Branco de Defesa Nacional
OEA Organização dos Estados Americanos
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 10 2 O QUE É UM “LIVRO BRANCO”?.................................................... 12 3 GÊNESE DO LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL NO
BRASIL............................................................................................
17 4 O LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL DO BRASIL.......................... 23 5 IMPRESSÕES DO MINISTRO DA DEFESA................................................. 29 6 IMPRESSÕES DE PERSONALIDADES DE NOTÓRIO SABER .......... 34 6.1 VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO DA ABIMDE................................ .. 34 6.2 REVISTA DO CLUBE NAVAL... 35 6.3 CONSULTOR CIVIL SOBRE DEFESA NACIONAL........................... .. 37 6.4 “PROFESSOR OF NATIONAL SECURITY AFFAIRS”………………….. 38 6.5 JORNAL DEFESA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS – PORTUGAL... 40 6.6 RÁDIO INTERNACIONAL DA CHINA (CRI) ...................................... 42 7 RELATOS DOS ADIDOS BRASILEIROS NO EXTERIOR .................. 44 7.1 ADIDO DE DEFESA E NAVAL DO BRASIL NO REINO UNIDO, SUÉCIA E
NORUEGA......................................................................................................
44 7.2 ADIDO DE DEFESA E NAVAL NA ÁFRICA DO SUL........................ .. 46 8 RELATOS DOS ADIDOS ESTRANGEIROS NO BRASIL ................... 48 9 CONCLUSÃO................................................................................................. 53 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 54 ANEXO A - DECRETO Nº 7.438, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2011............ 56 ANEXO B - MAPA MUNDI EVIDENCIANDO PAÍSES QUE POSSUEM O
LIVRO BRANCO.........................................................................
57 ANEXO C - RESOLUÇÃO DO CONSELHO PERMANENTE DA OEA
Nº. 829 (1342/02)........................................................................
58
10
1 INTRODUÇÃO
A elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional do Brasil, neste ano de
2011, é um assunto em evidência tanto no ambiente civil, quanto no militar. Um
Grupo de Trabalho, presidido pelo Ministério da Defesa, com a participação de
representantes de outros Ministérios e instituições de elevado conceito e importância
para o nosso País, foi constituído, por força do Decreto nº 7438, de 11 de fevereiro
de 2011, da Presidente Dilma Rousseff (ANEXO A), para a sua consecução.
O termo “Livro Branco”, não faz parte do cotidiano do seu público alvo, qual
seja: todas as pessoas (brasileiros e estrangeiros), a sociedade como um todo, o
Congresso Nacional, os Ministérios, as Academias, outros Estados e os Organismos
de segurança internacional, como a ONU, OEA etc. Adicionalmente, em sua
essência, é dotado de grande complexidade para a sua compreensão e carece de
ter seu propósito elucidado com detalhe, visando permitir o perfeito entendimento,
para minimizar a possibilidade de interpretações equivocadas.
O Brasil é um dos últimos países das Américas e do mundo a ter o seu Livro
Branco de Defesa publicado, para não dizer que é o último, se levar em
consideração a estatura político-estratégica de nosso País, no cenário mundial
(ANEXO B). Muitos dos países que publicaram seus Livros Brancos de Defesa, não
obtiveram os resultados que esperavam. O Brasil há, então, que selecionar os
métodos das nações que obtiveram êxito com a sua publicação, evitando os
equívocos dos que despenderam elevados montantes de recursos humanos e
financeiros na elaboração desse instrumento, sem galgarem o devido retorno, em
termos de melhoria da Defesa Nacional, corroborando com Otto Von Bismark1
quando cita: “os tolos dizem que aprendem com os seus próprios erros: eu prefiro
aprender com os erros dos outros.”
Este estudo tem o propósito de avaliar a real necessidade de ser publicado
um Livro Branco de Defesa Nacional, como instrumento auxiliar à Política de Defesa
Nacional e à Estratégia Nacional de Defesa. Para tal, se propõe a caracterizar, de
forma global, o documento “Livro Branco”, apontar o que provocou a iniciativa de sua
1 Otto von Bismarck (1815-1898), o “Chanceler de Ferro”, foi o estadista mais importante da Alemanha do século XIX. Coube a
ele lançar as bases do Segundo Império, ou 2º Reich (1871-1918), que levou os países germânicos a conhecer, pela primeira vez na sua história, a existência de um Estado Nacional único. Para formar a unidade alemã, Bismarck desprezou os recursos do liberalismo político, preferindo a política da força.
11
elaboração pelo Brasil e como se pretende realizar a sua estruturação. Após esta
fase inicial, várias opiniões foram reunidas, de forma a captar as expectativas de
personalidades de notório saber e experiências práticas dos países que já possuem
o seu livro. Vale ressaltar que o Grupo de Trabalho para tal encontra-se em
andamento e que alterações de perspectivas e conteúdo poderão ocorrer após a
finalização deste trabalho. Uma vez de posse de todas essas informações, será
possível, então, analisar a real necessidade desse instrumento.
Este trabalho, por ser uma coleta de opiniões de personalidades de notório
saber sobre a Defesa Nacional, pode servir como um marco de referência para se
comparar as expectativas deste momento que precede a estruturação do Livro
Branco de Defesa Nacional, com os reais acontecimentos que poderão advir da
publicação deste instrumento.
12
2 O QUE É UM “LIVRO BRANCO”?
Este autor efetuou um levantamento sobre: “o que é um Livro Branco”;
dentro de um espaço amostral de vinte cidadãos: civis (Promotores de Justiça
e Defensores Públicos) e Oficiais Superiores das Forças Armadas e
Singulares, ou seja, todos com nível de escolaridade superior. Ninguém sabia
em que consistia um Livro Branco. Este fato motivou o início do estudo para
definir, ou harmonizar os conhecimentos a respeito da identidade desse tipo
de Livro, sem o qual não seria possível desencadear um pensamento lógico
sobre a necessidade ou não desse veículo de informações, para a gestão dos
assuntos afetos à Defesa Nacional.
Outro fato relevante, corroborando o relatado no parágrafo anterior,
ocorreu ao se recorrer a uma biblioteca, em busca de material sobre Livros
Brancos, e as funcionárias, entre elas uma universitária do oitavo período de
Biblioteconomia, desconheciam o termo: “Livro Branco”. Apesar de já
existirem publicados livros brancos no Brasil, tanto na esfera governamental,
quanto fora, e pessoas com elevado nível de formação acadêmica não terem
o conhecimento de seu propósito, se faz necessária uma reflexão sobre o
real impacto que poderá surtir esse instrumento em seu público alvo.
O termo “'Livro Branco”, dentro do ordenamento governamenta l, é o
nome que se empresta a um documento oficial, publicado por um governo ou
uma organização internacional, com a finalidade de expor uma nova política,
ou linha de ação sobre um tema atual. Pode servir como fonte de consulta
sobre os detalhes de uma nova legislação proposta, onde haja franco
interesse governamental para sua aprovação. Pode, ainda, informar ou servir
de guia sobre algumas das atividades governamentais, apresentando como
serão gerenciados os caminhos para a consecução dos objetivos, como por
exemplo: o planejamento de uma política governamental de médio a longo
prazos. (KITCHO, 2004, não paginado)
A denominação “Livro Branco” teve origem no Reino Unido, porém
não é conhecido o momento exato ou evento histórico do seu surgimento. O
termo em inglês é “White Paper”, o qual até hoje é utilizado para documentos
do Governo. As explicações das políticas do governo inglês circulavam em
volumosas publicações de capa azul e o Livro Branco era um relatório,
13
demasiado curto, resumindo os itens tratados pelo “Livro Azul”. (KITCHO,
2004, não paginado)
Um momento clássico de utilização de um Livro Branco foi durante o
Mandato Britânico na Palestina, quando foram publicados três Livros Brancos
que nortearam os caminhos desse momento histórico, que teve o seu
encerramento com o Livro Branco de 1939, pondo fim à missão.
(ES.WIKIPIDIA, 2011, não paginado)
Acredita-se que os Livros Brancos “migraram” para os Estados Unidos
a bordo da lendária nau “Mayflower”, viagem considerada o marco fundador
dos Estados Unidos da América, que partiu de “Southampton” na Inglaterra,
chegando aos EUA, em 21 de dezembro de 1620, trazendo 102 colonos.
(KITCHO, 2004, não paginado)
Algum tempo depois, o Governo dos EUA passou a utilizar os Livros
Brancos, a partir da descoberta por seus funcionários, que seus enormes
relatórios de trabalho, cerca de 300 páginas, eram submetidos à apreciação
dos altos escalões do Governo, que reagiam mal à leitura de documentos
extensos. Para darem conta desses volumosos relatórios, estes
determinavam aos seus auxiliares, que criassem uma versão sinóptica em
papel branco. Uma vez que os elaboradores dos extensos relatórios
perceberam que perdiam tempo criando documentos volumosos, pois seriam
resumidos por terceiros, passaram, então, a fazer relatórios menores e todos,
doravante, trabalharam mais produtivamente. Depois disso, as empresas
captaram a tendência. (KITCHO, 2004, não paginado)
Na União Européia, os Livros Brancos proporcionam uma gama de
argumentos e propostas sobre qualquer tema específico. É sob esta ótica que
a Comissão Européia, em seus comitês consultivos, compostos por membros
da Comissão, representantes de grupos de interesse e administrações
regionais, harmonizam as decisões políticas num sentido único.
(ES.WIKIPIDIA, 2011, não paginado)
Na Comunidade das Nações “Commonwealth of Nations”, "white
paper" é um nome informal para um documento parlamentar enunciar a
política do governo. “White Papers” são ferramentas "[...] de democracia
participativa não [...] [um] compromisso político inalterável (DOERR, 1971.
pp. 179-203). "‟White Papers‟ tentam executar o duplo papel de apresentar as
14
políticas do governo de maneira firme e, ao mesmo tempo, convidando as
opiniões sobre eles." (PEMBERTON, 1969)
No Canadá, um “white paper” é considerado como um documento
político, aprovado pelo Conselho de Ministros, apresentado na Câmara dos
Comuns e colocados à disposição do público em geral." (DOERR, 1973, 1.
56). Doerr observa que o Canadá acredita que " [...] a política de informação
através do uso de Livros Bancos e Verdes pode ajudar a criar uma
consciência sobre questões políticas entre os parlamentares, para o público e
incentivar a troca de informações e análises. Eles também podem servir
como técnicas de ensino”. (DOERR, 1981, p. 153)
Para Chapin, "Livros Brancos são usados como um meio de
apresentar as preferências políticas do governo, antes da introdução da
legislação [...]" e, como tal, a publicação "[...] de um Livro Branco serve para
testar o clima da opinião pública a respeito de uma questão política
controversa e permite ao governo avaliar seu provável impacto." (CHAPIN,
1978, p. 33)
Os Livros Brancos podem assumir alguns dos seguintes formatos:
-Um relatório do governo sobre qualquer assunto;
-Um pequeno tratado, cujo objetivo seja orientar os clientes da
indústria;
-Um posicionamento da política governamental, com uma
documentação de apoio; e
-Uma Declaração oficial sobre o motivo que conduziu o Governo a
adotar determinada conduta. (KITCHO, 2004, não paginado)
Alguns exemplos de Livros Brancos históricos:
Russia No 1. Uma Coleção de relatórios sobre o Bolchevismo na
Rússia, abril de 1919, frequentemente referenciado como "The White Paper"
uma coleção de mensagens telegráficas de Oficiais Britânicos na Rússia, a
respeito da Revolução Bolchevista.
“Churchill White Paper”, 1922, Planejamento de um lar nacional
na Palestina para os Judeus.
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“White Paper” de 1939, solicitando a criação de um Estado
unificado palestino e de uma limitada imigração judaica e capacidade de
compra de terras.
“White Paper on Full Employment”, 1945, “Commonwealth of
Australia” - reconhecer a obrigação do Estado em prover trabalho para o
povo.
“Defence White Paper”, 1957, uma reavaliação das necessidades
de defesa do Reino Unido.
“White Paper on Defence”, 1964, a unificação/criação das
modernas Forças Canadenses.
“White Paper”, 1969 (posteriormente cancelado), para abolir a lei
indígena no Canadá e reconhecer Primeiras Nações como “outras minorias”
no Canadá, ao invés de “grupos distintos”.
“The White Paper”, 1966, Estados Unidos. Documento do
Conselho Nacional de Pesquisa, que levou ao desenvolvimento de serviços
médicos de emergência nos Estados Unidos. (EN.WIKEPIDIA, 2011, não
paginado)
Os Livros Brancos, nas outras esferas da sociedade, são utilizados
como uma ferramenta de divulgação, para disseminar informações sobre um
produto ou tecnologia de interesse. Os Livros Brancos podem ser utilizados
para instruir os interessados nos assuntos neles contidos, servindo como
instrumento auxiliar na tomada de decisão, tanto políticas como nos
negócios. (ES.WIKIPIDIA, 2011, não paginado)
Existem os Livros Brancos Comerciais, onde esta terminologia teve
início nos anos de 1990, se referindo aos documentos usados como
ferramentas de “Marketing” ou de vendas. Atualmente, muitos Livros Brancos
dissertam sobre os benefícios de tecnologias emergentes, ou antigas
remodeladas, de produtos específicos. Dessa forma, este tipo de Livro
Branco serve apenas como um documento informativo e promocional de uma
campanha específica. É importante ressaltar, que o enfoque desses livros é
diferente dos utilizados pelos Governos, pois estes destacam informações
favoráveis sobre a Empresa que o está financiando, visando o lucro
comercial, ou informando ao consumidor a respeito do produto.
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Existem três tipos básicos de Livros Brancos Comerciais:
1. Benefícios do negócio: Se restringem a apresentar uma situação de
negócio favorável aos executivos;
2. Técnicos: Ajuda pessoas influentes a entender como funciona um
novo conceito ou tecnologia; e
3. Híbridos: Combina o enfoque de negócios de alto nível com
detalhes técnicos, em um só documento. (ES.WIKIPIDIA, 2011, não
paginado)
Não se pode falar sobre os Livros Brancos, sem citar a existência dos
Livros Verdes, pois estes, conhecidos como “livros de consulta”, podem
simplesmente propor uma estratégia a ser implementada sobre os detalhes
de outras legislações, ou ainda apresentar propostas sobre as intenções dos
governos, visando captar a opinião pública. (ES.WIKIPIDIA, 2011, não
paginado).
No Brasil, o objetivo do Livro Verde é servir como documento
consultivo destinado ao Congresso Nacional que explica como o Ministério da
Defesa pretende desenvolver seus objetivos e como pensa questões de sua
competência. Como características principais, o Livro Verde é subproduto do
Livro Branco, tem como público alvo o Congresso Nacional e não é
conclusivo, pois não define estrutura organizacional nem equipamento, porém
identifica a contribuição dos congressistas, das academias, das indústrias
etc. Mostra, também, claramente o envolvimento da sociedade na
responsabilidade da concepção e atualização do Livro Branco de Defesa
Nacional e esclarece a necessidade de financiamento para a Defesa. (FGV,
2011, p.13)
17
3 GÊNESE DO LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL NO BRASIL
Nas Conferências da Organização dos Estados Americanos de
Santiago (1995) e de San Salvador (1998) sobre as medidas de
fortalecimento da confiança e da segurança, se reconheceu a necessidade de
estimulação da elaboração e o intercâmbio de informações sobre as políticas
e as doutrinas de defesa nacionais.
O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos
(OEA), por meio da sua resolução nº 829 (1342/02), de 06 de novembro de
2002 (ANEXO C), cita que a Resolução da Assembléia Geral da OEA nº
1801, que trata do “Fortalecimento da confiança e da segurança”, já havia
solicitado que a Comissão de Segurança Hemisférica realizasse um
seminário sobre a preparação de documentos sobre política e doutrina da
defesa, em coordenação com o Colégio Interamericano de Defesa e outras
instituições especializadas no assunto. Tal seminário foi realizado e as
“Diretrizes para a elaboração de documentos sobre política e doutrina da
Defesa (Livros Brancos)” foram submetidas à apreciação da Quinta
Conferência de Ministros da Defesa das Américas, realizada em Santiago,
Chile, em novembro de 2002.
Nessa mesma Resolução número 829, o Conselho Permanente
resolve instar os Estados membros a implementarem essas Diretrizes e a
manter a OEA informada, bem como, solicita à Secretaria-Geral da OEA que
preste apoio aos Estados membros, para a implementação dessas Di retrizes.
As “Diretrizes para a elaboração de documentos sobre política e
doutrina da Defesa (Livros Brancos)” tecem os seguintes termos em sua
introdução:
“Os países das Américas identificaram a elaboração e o compartilhamento dos Livros Brancos da Defesa Nacional como um mecanismo útil de fortalecimento da confiança e da segurança para a promoção da segurança no Hemisfério.”
“É importante notar que nas Américas não há um formato padrão acordado para os Livros Brancos . Isso talvez seja um reflexo lógico dos diferentes contextos históricos, geográficos, culturais, políticos e fiscais nos quais os países das Américas definem suas ameaças à segurança e objetivos, capacidades e limitações da defesa. Este documento localiza princípios básicos e levanta questões que poderiam ser úteis aos governos na formulação dos próprios Livros Brancos, com base na
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experiência dos Estados membros da OEA que já iniciaram esse processo.” (grifo nosso)
As “Diretrizes para a elaboração de documentos sobre política e
doutrina da Defesa (Livros Brancos)” definem o Livro Branco de Defesa
como:
“[...] um documento chave de política que oferece a visão do Governo a respeito da defesa. É um documento público que descreve o contexto amplo da política e estratégia para o planejamento da defesa com uma perspectiva de médio prazo. Não se destina a ser redigido anualmente ou a cada dois anos, mas oferece uma perspectiva suficiente para permitir um orçamento ou um planejamento plurianual. Deve ser elaborado de modo a ser suficientemente flexível para levar em conta pequenas modificações no ambiente da segurança. Um novo Livro Branco é normalmente preparado em resposta a importantes mudanças no ambiente estratégico ou para indicar mudanças significativas nas prioridades do Governo.”
As Diretrizes continuam a nortear breves comentários sobre como
deveriam nascer os Livros Brancos:
“Um Livro Branco é produzido depois de extensa consulta tanto dentro como fora do Governo. Visa a refletir um consenso de base ampla sobre o papel apropriado das forças de defesa desse país, no contexto de suas prioridades nacionais, contexto jurídico e recursos.”
“Um Livro Branco determina a análise do Governo sobre o ambiente de segurança do país, tanto nacional como internacional. Isso pode incluir uma avaliação das ameaças e fatores de segurança, tanto tradicionais como não-tradicionais. O documento destaca questões da mais alta prioridade para esse país e proporciona uma visão geral do modo como a política de defesa será implementada para enfrentar esses desafios à segurança. Também descreve, em termos amplos, as capacidades atuais e planejadas, bem como a funções das forças de defesa.”
Até este momento, a necessidade da publicação de um Livro Branco
encontra-se em termos de aconselhamento de um organismo internacional,
para que os seus Estados Membros elaborem seus Livros Brancos como um
instrumento de fortalecimento da confiança e da segurança.
Passando para o âmbito nacional, em sua aula inaugural do ano letivo
de 2002, na Escola Superior de Guerra, o então Ministro de Estado da
Defesa, Dr. Geraldo Magela da Cruz Quintão, abordou o tema “O Ministério
da Defesa”, de maneira a permitir aos presentes, segundo ele, uma visão
global do futuro “Sistema de Defesa Nacional”, no qual está incluída a Escola
19
Superior de Guerra, como órgão de formação de capital humano para os
quadros de alto nível do Ministério da Defesa e como centro de excelência
para a discussão dos assuntos atinentes à defesa nacional. Os aspectos da
aula inaugural que abordaram o Livro Branco foram:
“Os documentos-chave atinentes à defesa são a Política de Defesa Nacional (PDN), a Política Militar de Defesa (PMD), a Estratégia Militar de Defesa (EMD) e o Livro Branco de Defesa. (grifo nosso)
Por último, o Livro Branco de Defesa deve constituir um documento declaratório, indicador de transparência e representativo da cooperação e da confiança mútua nos planos regional, hemisférico e global e, ainda, constituir -se em um meio eficiente de “persuasão” da opinião pública e dos setores do governo sobre a necessidade de se contar com Forças Armadas modernas e capazes. O seu conteúdo deve explicitar aspectos relacionados com a estrutura militar de defesa e abordar aspectos relevantes da PDN, da PMD e da EMD.
O Livro Branco de Defesa é um documento não formal, mas de importância fundamental para incrementar a transparência e credibilidade do país, na área de defesa. (grifo nosso)
Todos os documentos enunciados, atualmente em fase de revisão ou de elaboração, serão finalizados proximamente, encerrando um processo que teve início no ano de 2000 , quando decidi realizar consulta sobre a PDN junto a personalidades do segmento acadêmico, da esfera política, da sociedade e do domínio militar; todos de notório saber, posteriormente chamados de „notáveis‟ pela imprensa, de modo a agregar maior representatividade e legitimidade. (grifo nosso)
O resultado desse trabalho foi consolidado, no final de 2001, pelo documento intitulado „Modernização do Sistema de Defesa Nacional‟, que [...] também incluiu outras contribuições de relevo, a saber:
Segurança e Defesa; Postura Estratégica; Política de Defesa Nacional; Política Militar de Defesa; Estratégia Militar de Defesa; Estrutura Organizacional do MD; Reconfiguração; Livro Branco de Defesa (grifo nosso) Após um exame minucioso do documento, decidi, em
fevereiro deste ano (2002), criar um Grupo de Trabalho restrito, integrado por representantes das Forças e do Ministério, para revisar a Política de Defesa Nacional e elaborar propostas da Política Militar de Defesa, da Estratégia Mi litar de Defesa e do Livro Branco de Defesa, em um prazo de noventa dias .” (grifo nosso)
Por meio da citação acima, se comprova que a intenção de
elaboração de um Livro Branco de Defesa, acompanha a pauta de
sedimentação doutrinária do Ministério da Defesa de longa data. O que
reforça e comprova essa aspiração é que, no ano seguinte à aula inaugural
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proferida pelo Ministro da Defesa Geraldo Quintão, ou seja, em 2003, o
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Capítulo 30 – Defesa, da Mensagem
Presidencial encaminhada ao Congresso Nacional, determinou que o
Ministério da Defesa promovesse a atualização da Política de Defesa
Nacional, revigorasse o debate sobre temas estratégicos com a sociedade
civil e elaborasse um Livro Branco de Defesa.
Até 2009, porém, as referidas ações concernentes ao Livro Branco
não haviam se concretizado, quando então, o Deputado Federal (PPS-PE)
Raul Jungmann elaborou o Requerimento de Indicação número 5336, de 15
de setembro de 2009, que foi enviado pela Câmara dos Deputados à
Presidência da República, sugerindo ao Ministro de Estado da Defesa a
necessidade de estabelecimento de consulta, objetivando a urgente
implantação do Livro Branco de Defesa Nacional, transcrito abaixo:
“Na Mensagem Presidencial encaminhada ao Congresso Nacional, em 2003, o Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, no capítulo 30 - Defesa diz :
„ Em 2003, o Ministério da Defesa deverá promover a atualização da Política de Defesa Nacional, revigorar o debate sobre temas estratégicos com a sociedade civil e elaborar um Livro Branco de Defesa‟.
A ONU, através do Departamento de Assuntos Políticos, e a OEA, através da Comissão de Segurança Hemisférica, estimularam, em suas reuniões, a importância do referido documento, sendo que o assunto „Livro Branco‟ foi colocado nas agendas de discussão. Países como Argentina (1999), Chile (2002), Canadá (1994), Guatemala (2003), Nicarágua (2004), Peru (2005) já estruturaram seus livros brancos. O Brasil em 1996 foi pioneiro no contexto latino -americano ao adotar a Política de Defesa Nacional, documento que cumpriu os objetivos a que se pretendia, entretanto, é um documento tímido e insuficiente com relação aos conteúdos dos Livros de Defesa Nacionais.
Os Livros Brancos de Defesa Nacional são produtos históricos de regimes democráticos e o Brasil não possui, ainda, o referido livro, tendo elaborado um documento sintético denominado „Política de Defesa Nacional ‟, que se aproxima de uma carta de intenções.
O Livro Branco da Defesa é material de fundamental importância para um País e um documento chave de política que oferece a visão do Governo a respeito da defesa. É um material público que descreve o contexto amplo da política estratégica para o planejamento da defesa com uma perspectiva de médio prazo. Não se destina a ser redigido anualmente ou a cada dois anos, mas para oferecer uma perspectiva suficiente para permitir um orçamento e o planejamento plurianual.
O Livro tem como um de seus objetivos a análise do Governo sobre o ambiente de segurança do país, tanto nacional como internacional. Vários são os países que já elaboraram seus livros de defesa.
Outro objetivo do referido documento é ser um instrumento de prestação de contas, pois é essencial que a política e os
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objetivos constantes do Livro Branco se refiram aos níveis de recursos disponibilizados pelo Governo às forças de defesa e sejam coerentes com eles.
A preparação de um Livro Branco da Defesa como tal é um exercício fundamental de democracia. O processo requer extensa cooperação entre civis e militares; consulta entre os líderes políticos, ministérios, promovendo desta forma uma ampla conscientização a respeito das funções e do valor das forças armadas. O produto final deste processo confere maior legitimidade democrática à política de defesa nacional.
As opiniões do público em geral, organizações não-governamentais, setor industrial, grupos de peritos e parceiros internacionais são relevantes no processo de construção do referido documento e possibilitará ao Governo Federal, e principalmente, ao Ministério da Defesa tomar a iniciativa de utilizar desses grupos em etapas diferentes do desenvolvimento do documento.
No momento em que o Brasil vem efetuando aquisições de material bélico de grande importância, como os 50 helicópteros EC 725, 5 submarinos, sendo um deles de propulsão nuclear; 36 caças (que estão em processo de concorrência); 12 helicópteros de combate Mi-35M; 12 aviões Mirage-2000 e um porta-aviões é fundamental que o „Livro Branco da Defesa ‟ seja discutido em âmbito nacional, para que possa fazer face aos mecanismos de desconfiança hoje existentes com relação às compras que estão sendo realizadas na área armamentista.
Diante do exposto, sugerimos que a prática democrática da consulta seja adotada com a maior brevidade possível para que o Brasil possa desenvolver o „Livro Branco da Defesa Nacional ‟, documento este de fundamental importância para o momento político que o Brasil vem trilhando na área da defesa e na objetivação dos programas prioritários e quais as ações serão desenvolvidas pelo Brasil a médio e longo prazo.”
Este mesmo Deputado Federal foi autor do Projeto de Lei
Complementar 547/2009, que propõe alteração da Lei complementar nº 97,
de 09 de julho de 1999, relativo à implantação do Livro Branco da Defesa
Nacional e a submissão periódica à análise do Congresso Nacional da
Política de Defesa Nacional, da Estratégia Nacional de Defesa e do Livro
Branco da Defesa.
Em março de 2010, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de
Lei Complementar do Executivo (PLP), de número 543/09, que serviu de
embrião para a Lei Complementar n° 136, a qual promove alterações na Lei
Complementar n°97, de 1999, criando o Estado-Maior Conjunto das Forças
Armadas e determinando a elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional.
A Lei Complementar nº 136, em seu artigo 9°, parágrafo primeiro,
trata o Livro Branco de Defesa Nacional como um “documento de caráter
público, por meio do qual se permitirá o acesso ao amplo contexto da
Estratégia Nacional de Defesa, em perspectiva de médio e longo prazos, que
22
viabilize o acompanhamento do orçamento e do planejamento plurianual
relativos ao setor”, e estabelece que o Ministro de Estado da Defesa é o
responsável pela sua implantação. Em seu parágrafo terceiro consta que o
Poder Executivo deve submeter à apreciação do Congresso Naciona l a partir
de 2012 e posteriormente a cada quatro anos: a Política de Defesa Nacional,
a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa Nacional.
Em face do acima exposto, até o presente ponto, podem ser
evidenciadas duas fases, sendo a primeira de “aconselhamento” por órgão
internacional e a segunda de conscientização política sobre a necessidade da
publicação do Livro Branco de Defesa. O marco histórico gerador foi a
assinatura do Decreto nº 7438, de 11 de fevereiro de 2011, pela recém-
assumida Presidente Dilma Rousseff, por meio do qual determina a efetiva
estruturação deste instrumento. O Decreto estabelece princípios e diretrizes
para criação e elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional, institui um
Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar estudos sobre
temas pertinentes àquele Livro, e delineia o caminho a ser trilhado para a
confecção do Livro Branco.
O Grupo de Trabalho Interministerial é integrado por representantes
do Ministério da Defesa, que o preside; do Ministério da Ciência e
Tecnologia; do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
do Ministério da Fazenda; do Ministério da Integração Nacional; do Ministério
da Justiça; do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; do Ministério
das Relações Exteriores; da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República; da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
da República; e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República.
O trabalho encontra-se em andamento, com a realização de Oficinas
Temáticas, Seminários e “Workshop”, com a participação da Fundação
Getúlio Vargas e com previsão de entrega, por esta, da versão final do livro,
em 30 de setembro de 2011, ao Ministério da Defesa, para ser submetido
pelo Poder Executivo à apreciação do Congresso Nacional.
23
4 O LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL DO BRASIL2
Como visto no capítulo anterior, existe um nível de aconselhamento de como
deve ser um Livro Branco, elaborado pela OEA, porém cada país é que definirá a
abordagem e a extensão do seu Livro Branco de Defesa, de acordo com o propósito
político que queira assumir com a publicação desse instrumento. Isto pode ser
visualizado nos países relacionados abaixo, seguidos dos objetivos estratégicos dos
seus Livros e o número de páginas:
-Chile: Manutenção territorial e influência no Pacífico, 342 pag.;
-França: Garantia da Segurança Nacional e a Liberdade de Ação da França, 329
pag.;
-Austrália: Defesa do ambiente interno e sua influência no Índico e no Pacífico, 137
pag.;
-Turquia: Prioridade na dissuasão para o estabelecimento e manutenção da paz na
região, 107 pag.;
-China: A Defesa da soberania; reforma e inovação da Defesa; e influência no
cenário internacional, 104 pag.;
-Uganda: Transformação da Defesa e projeção do poder no continente Africano, 58
pag.; e
-Estados Unidos: Influência global e regional, 52 pag.
No Brasil, o Livro Branco de Defesa Nacional estará em consonância com os
documentos norteadores da defesa que são: a Política de Defesa Nacional e a
Estratégia Nacional de Defesa. Como tal, será o documento chave da política
nacional, no qual estará exposta a visão do governo sobre a Defesa. Seus
propósitos específicos e estratégicos serão voltados para a Defesa e Ação
Diplomática, para a indução da transformação das Forças Armadas, para a alocação
de recursos e envolvimento da sociedade com os assuntos da Defesa Nacional.
Vale ressaltar que será um documento aberto a todas as pessoas,
brasileiros e estrangeiros, ou seja, a sociedade como um todo, o Congresso
Nacional, os Ministérios, as Academias, outros Estados e os Organismos de
segurança internacional, como a ONU, OEA etc. É, portanto, um documento público
2 Todos os argumentos foram extraídos da Palestra da Reunião Inicial da Oficina Temática sobre o Livro Branco
de Defesa Nacional, proferida por representantes da Fundação Getúlio Vargas, em 22 de fevereiro de 2011.
24
em que será descrito o contexto amplo da política e estratégia para o planejamento
da Defesa, com uma perspectiva de médio prazo. Conterá, entre outros, registros de
análises sobre o entorno de segurança do País, tanto interno, quanto externo,
incluindo a avaliação de risco. Proporá a cooperação no entorno estratégico e
dissuasão na esfera internacional. Tornará a Defesa e as Forças Armadas
responsáveis pelos objetivos declarados e as capacitará a fortificar os pedidos de
recursos orçamentários com o foco no cumprimento da política e na estratégia
nacional da Defesa. Por fim, será um documento de prestação de contas sobre o
resultado das políticas e objetivos da Defesa.
O Livro Branco da Defesa Nacional do Brasil será estruturado começando
por um Prefácio do Presidente da República, seguido pelo Prefácio do Ministro da
Defesa. O conteúdo propriamente dito iniciará com um nivelamento cognitivo sobre
os conceitos básicos que nortearão o pensamento estratégico ao longo do texto.
O tema dos três primeiros capítulos será “O Estado Brasileiro e a Identidade
Nacional”, onde em seu Capítulo 1 se abordará “O Estado”, no Capítulo 2 “O
Território Nacional” e no Capítulo 3 “A População Brasileira”.
Esses capítulos ressaltarão um pano de fundo institucional detalhando os
princípios básicos do Estado, presentes na Constituição Federal, do artigo primeiro
ao quarto; e a estrutura jurídica do Estado.
Sobre o Território Nacional será apresentado um breve histórico da
construção do território e das especificações dos territórios continental, marítimo,
insular e aéreo. Serão apresentadas, também, a política de Fronteiras e de
ocupação do território nacional, as políticas para o território marítimo e a política
aeroespacial.
Sobre a população serão apresentados dados e antecedentes, perspectivas
e evolução demográfica; formação da nacionalidade: composição étnica, migrações
e atributos da área afetiva (cultura, valores e religião).
O estágio seguinte, sob a égide do tema: “O ambiente estratégico do século
XXI” abarcará o Capítulo 4 sobre os “Desafios da Globalização”, o Capítulo 5:
“Contextualização dos Ambientes Estratégicos”, o Capítulo 6: “Desafios
Contemporâneos de Segurança e Defesa”, o Capítulo 7: “Tratados e Acordos
Internacionais com Reflexos para a Defesa” e o Capítulo 8: “Diplomacia e Defesa”.
Em maiores detalhes, serão abordadas as perspectivas de conflito e
cooperação internacional e suas implicações para o Brasil; as interdependências
25
entre Estados; integração e seus efeitos para o Brasil; e a inserção do Brasil no
cenário internacional: potências emergentes, instituições e foros de conciliação
internacional.
Novos temas também constarão nesses capítulos, como: terrorismo,
narcotráfico, biopirataria, segurança e guerra cibernética; acesso a recursos
naturais; negação de tecnologias e emprego de tecnologias duais; e meio ambiente.
Serão elencadas as oportunidades de cooperação no campo de Defesa: arranjos de
promoção da segurança internacional; mecanismos de cooperação bilateral;
exercícios e operações conjuntas; operações de paz das Nações Unidas; e medidas
de Confiança Mútua.
Até o presente momento, o Livro Branco procurou contextualizar o leitor na
atmosfera dos assuntos de Defesa Nacional, sob uma perspectiva ampla, onde os
atores nacionais e internacionais são apresentados sucintamente e a forma com a
qual se interagem.
Após as precisas e concisas abordagens dos temas dos dois primeiros
grupos de assuntos, o terceiro grupo é mais específico sobre o segmento militar da
Defesa Nacional, onde o tema central é “A Defesa e o instrumento militar”, contendo,
em seu Capítulo 9: O Ministério da Defesa, suas Secretarias e o Estado-Maior
Conjunto das Forças Armadas. O Capítulo 10 abordará a Marinha do Brasil, o
Capítulo 11 o Exército Brasileiro e o Capítulo 12 a Força Aérea Brasileira, nesta
ordem, obedecendo à precedência entre as Forças Armadas.
Serão relacionados os aspectos históricos da implantação do Ministério da
Defesa, sua estruturação e reestruturação; atribuições das secretarias; e definição
do processo decisório de emprego da força militar.
Voltando para o campo militar, será apresentada a atuação das Forças
Armadas, sua destinação constitucional, missão e atribuições subsidiárias (Defesa
Civil, a participação das Forças Armadas em operações de paz – benefícios e
conseqüências); Segurança Pública e Garantia da Lei e da Ordem; a Formação de
recursos humanos em diversas áreas: operacional, tecnológica, combate e
retaguarda; as condições de acesso democrático à carreira; a evolução histórica das
Forças Armadas e sua participação em conflitos internacionais.
Uma vez contextualizados os princípios básicos, o ambiente interativo em
que estamos inseridos e os instrumentos de utilização da força em defesa da Pátria,
o Livro segue sua linha lógica, então, para um novo grupo de assuntos que une os
26
dois integrantes da Defesa Nacional, os civis e os militares, sob o tema “A Sinergia
entre a Defesa e a Sociedade”. No Capítulo 13 será tratado o relacionamento com o
Congresso Nacional, no Capítulo 14 a Articulação Governamental, no Capítulo 15 a
Interação com a Academia e no Capítulo 16 a Integração Civil/Militar.
Serão nesses capítulos que constarão as relações institucionais com o
Poder Legislativo, Judiciário e outros órgãos do Executivo. Vale ressaltar que será
apresentada a importância do Superior Tribunal Militar, dentro da esfera do
Judiciário.
Outros assuntos de relevante interesse neste grupo em pauta são o Serviço
militar obrigatório; a relação com a Academia na produção Intelectual e cursos
voltados para a Defesa. Serão também abordados os programas específicos (Pró-
Defesa e Rondon, por exemplo); os Centros de Estudos Estratégicos; a Associação
Brasileira de Educação a Distância - ABED; e as unidades acadêmicas do Ministério
da Defesa, como a Escola Superior de Guerra, Escolas de Altos Estudos das
Forças, Institutos Militares de engenharia e centros tecnológicos. Outras trocas com
segmentos da sociedade terão lugar nestes capítulos como a atuação social das
Forças Armadas (calha norte, soldado cidadão, relações com as comunidades locais
etc) e os Colégios Militares.
Nessa altura, todos os elementos componentes da Defesa Nacional estarão
devidamente identificados e relacionados entre si, tanto no contexto nacional como
internacional. O Livro Branco prossegue agora com uma abordagem de
modernização, um rompimento com o passado, ou, generalizando, estabelecendo
uma fronteira dividindo as molduras temporais entre o “antes do Livro Branco” e o
“após Livro Branco”, com outro grupo de assuntos que tratará sobre “A
transformação da Defesa”. No Capítulo 17 será abordada a racionalização das
estruturas da Defesa; no Capítulo 18 a Modernização da Gestão; no Capítulo 19 a
Modernização das Forças Armadas; no Capítulo 20 a indústria nacional de defesa; e
no Capítulo 21 o desenvolvimento de Ciência e Tecnologia.
Em todos os campos da atividade humana, onde existam concorrência de
interesses e competição, o elemento surpresa e a inovação são os fatores que
podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso. É neste diapasão que o tema
“A transformação da Defesa” detalha esses cinco capítulos em Ciência, Tecnologia e
Inovação; Institutos Militares de engenharia e centros tecnológicos (enfoque
diferente do Capítulo 15 - Interação com a Academia); Indústria de Defesa;
27
Compartilhamento de infraestrutura, programas conjuntos e interoperabilidade;
Redistribuição territorial, mobilidade e flexibilidade; Gestão e Planejamento
Estratégicos centralizados (monitoramento e controle; adequação aos novos
desafios; sistema de aquisições para a Defesa); a articulação das Forças Armadas
por capacidades; a Defesa Nacional, desenvolvimento econômico e social; e o Plano
de Articulação e Equipamento de Defesa - PAED. Cabe esclarecer que o PAED é
um plano que foi minuciosamente elaborado pelo Ministério da Defesa, com o auxílio
das Forças Armadas, onde é proposto o posicionamento dos efetivos, equipamentos
e Organizações Militares no território nacional, a fim de prover o máximo de defesa à
Nação.
Por último, o Livro Branco será fechado com os assuntos afetos à Defesa
Nacional do campo: o “Financiamento da Defesa”; onde em seu Capítulo 21 se tem
o referencial histórico do orçamento da Defesa, no Capítulo 22 as fontes de
financiamento para a Defesa, no Capítulo 23 a modernização da gestão
orçamentária e no Capítulo 24 o sistema de aquisição para a Defesa.
Neste último tema é definido o orçamento, visualizando seus
constrangimentos; compromissos irrevogáveis e seu impacto inercial; possibilidades
de ampliação; e suas condições. Serão também abordados o enfrentamento da
questão previdenciária no orçamento e no projeto de Força; a possibilidade de
realização de encomendas de produtos de Defesa e a viabilidade de seu
atendimento por empresas nacionais; os setores da economia possivelmente
beneficiados pela economia da Defesa; oportunidades de parcerias regionais e
internacionais; os aspectos tributários envolvidos e/ou limitantes; as limitações
decorrentes de acordos internacionais; as fontes alternativas de financiamento,
como as parcerias com programas estatais voltados para a Ciência, Tecnologia e
Inovação e desenvolvimento econômico.
Encerrando todas as considerações, será citado o Fundo soberano do Pré-
sal, como financiador da segurança e Defesa das águas jurisdicionais; cotas de
carbono e o financiamento da segurança ambiental; e a transferência de tecnologia
e “off set” nos contratos de aquisições militares
Um DVD suplementar acompanhará o Livro Branco contendo material de
texto e audiovisual que suplementará os conteúdos de todos os capítulos.
Atrelado ao Livro Branco da Defesa Nacional, será também elaborado o
Livro Verde que será um documento consultivo destinado ao Congresso Nacional,
28
onde se explicará como o Ministério da Defesa pretende desenvolver seus projetos e
como pensa nas questões de sua competência. O Livro Verde será um subproduto
do Livro Branco, tendo como público alvo o Congresso Nacional, não sendo um
documento conclusivo e não definindo estrutura organizacional, nem equipamento,
mas identificará a contribuição dos congressistas, da Academia, da indústria etc.
Mostrará claramente o envolvimento da sociedade na responsabilidade da
concepção e atualização do LBDN e esclarecerá a necessidade de financiamentos
para a Defesa.
Uma célebre passagem da obra do General chinês SUN TSU3 bem retrata
um dos propósitos dessa iniciativa, que é fazer com que o Brasil conheça suas reais
necessidades e potencialidades sobre a Defesa Nacional, com ênfase na expressão
militar do Poder Nacional, sem proporcionar, às forças antagônicas, dados que
possam reduzir o grau de incerteza de seu planejamento, contra os interesses
nacionais:
"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, Não precisa temer o resultado de cem batalhas.
Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, Para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo,
Perderá todas as batalhas."
3 Sun Tzu foi um general chinês que viveu no século IV AC e que no comando do exército real de Wu acumulou inúmeras
vitórias, derrotando exércitos inimigos e capturando seus comandantes. Foi um profundo conhecedor das manobras militares e escreveu A ARTE DA GUERRA, ensinando estratégias de combate e táticas de guerra.
29
5 IMPRESSÕES DO MINISTRO DA DEFESA
O Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado da Defesa Dr. Nelson Jobim foi
entrevistado por diversas vezes sobre o Livro Branco da Defesa Nacional. Serão
selecionados alguns trechos de uma das entrevistas, mas, antes, vale ressaltar os
pontos julgados mais importantes de sua aula magna para o Curso de Altos Estudos
de Política e Estratégia (CAEPE-ESG), Curso de Política e Estratégia Militar da
Marinha do Brasil (C-PEM-MB), Curso de Política, Estratégia e Alta Administração
do Exército (CPEAEx-EB) e Curso de Política e Estratégia Aeroespaciais (CPEA-
FAB), ministrada, em 24 de fevereiro de 2011, na Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército, localizada na Praia Vermelha, Rio de Janeiro - RJ.
O Ministro faz uma breve introdução:
“Há um tema de fundamental importância para a gestão do Ministério da Defesa e para todos nós – Alunos e Professores desta Escola Militar.”
“Examino um elemento crucial.” “Refiro-me à explicitação de todo o arcabouço conceitual e legal
enquadrador da Defesa no âmbito do Estado Brasileiro.” “Tal arcabouço consiste na administração, finanças, ciência e
tecnologia, política de recursos humanos, política de ensino, orçamento, logística e outros mais.
A explicitação deve ocorrer, de acordo com o previsto na Lei da nova Defesa, aprovada em 2010.
A explicitação de tudo e sua discussão envolverá a confecção do „Livro Branco‟ de Defesa Nacional.
Ele será enviado pelo Poder Executivo para exame do Congresso Nacional, em 2012.”
Prossegue dissertando sobre os aspectos de transparência e de confiança
mútua entre os Estados:
“Os Livros Brancos são, sobretudo, nas democracias contemporâneas, instrumentos de transparência das Políticas de Defesa.
Não é à toa que isto acontece. As Forças Armadas possuem a capacidade teórica de
projetar poder militar além das fronteiras nacionais de seus Estados. É óbvio que a capacidade efetiva de projeção de poder
dependerá da existência de meios humanos e materiais em escala suficiente.
No entanto, essa possibilidade por si só é passível de gerar insegurança em nações vizinhas.
Isto se agrava em contextos em que haja deterioração do relacionamento político entre países contíguos.
No caso particular dos exércitos, que podem servir de forças de ocupação, a transparência possui peso ainda mais relevante – pois nem
30
a Marinha, nem a Força Aérea têm a função de garantir a posse de territórios.”
Neste ponto passa a retratar o relacionamento entre civis e militares nos
assuntos da Defesa Nacional:
“Muitos consideram „Livros Brancos‟ não somente mecanismos auxiliares de fomento da confiança entre Estados, mas também instrumentos de reforço do controle civil sobre os militares.
No caso brasileiro esse não é foco de preocupação principal. Nossos militares encontram-se perfeitamente cientes do papel e
posição, na estrutura do poder democrático, que lhes fixa a Constituição. A despeito disso, a elaboração desse documento declaratório
possui grande relevância. Haverá o aprofundamento do acervo de conhecimentos da
sociedade civil sobre a temática militar. O „Livro Banco‟ servirá para ampliar, de modo significativo, o
conhecimento do próprio estamento castrense sobre si mesmo. Não se pretende tornar públicas informações de caráter
sigiloso que poderiam comprometer a segurança do País. No entanto, não há que se manter na penumbra corporativa
uma série de dados essenciais ao esclarecimento da cidadania sobre a realidade das nossas Forças Armadas.
O „Livro Branco‟ será uma poderosa ferramenta de ampliação da participação civil nos assuntos de Defesa.”
O tema agora passa a ser afeto ao relacionamento com as academias, a
sociedade e o parlamento:
“Será, da mesma forma, um grande catalisador da discussão no âmbito da Academia, da Burocracia Federal e do Parlamento.
Servirá igualmente de mecanismo de prestação de contas sobre a adequação da estrutura de Defesa aos objetivos traçados pelo poder público.
Embora constitua exercício basicamente governamental, a redação do livro Branco envolverá a participação direta de diversos setores da sociedade.
Isso decorre do fato de que o arcabouço normativo que enquadra a Defesa não esgota o debate sobre o tema.”
Sobre o rompimento com o passado e o início de uma nova concepção de
abordagem, pelo Brasil, dos assuntos da Defesa nacional:
“Além do mais, o „Livro Branco‟ deve ser concebido não apenas como um repositório daquilo que já existe.
Ele pode e deve, apontar problemas, sugerir mudanças, indicar possíveis soluções.
Obviamente o „Livro Branco‟ considerará, de modo prioritário, as sugestões consensuais emanadas do Grupo de Trabalho a ser criado para elaborar o documento.
31
Temos em conta que não podemos admitir, em outro extremo, que ele se transforme em texto iconoclasta.
A idéia fundamental é construir o „Livro Branco‟ a partir da definição de elementos básicos que formarão o esqueleto do documento.”
“O comprometimento de todas as áreas do Governo é crucial para que soluções consensuais sejam alcançadas.”
“Temos, portanto, um casto leque de assuntos que precisarão ser aprofundados na discussão suscitada pelo „Livro Branco‟.”
“Avançamos com o advento da publicação da Estratégia Nacional de Defesa.
Precisamos, contudo, ir mais além. Os tempos de timidez do Ministério da Defesa acabaram.”
(grifo nosso)
O Ministro aborda a importância da Ciência, Tecnologia e Inovação; tece em
breves palavras a origem da iniciativa de elaboração do Livro Branco de Defesa;
chama o público presente à reflexão e finaliza a abordagem desse tema:
“Deve-se acrescentar que, no contexto hodierno, a defasagem tecnológica entre os Estados inovadores e os retardatários, em termos de defesa, torna extremamente difícil e custoso queimar etapas com rapidez.
Ou se está preparado, ou o custo de recuperação do atraso será extremamente elevado – quando não proibitivo ou impraticável.
Essa é uma questão crucial, entre tantas outras, que teremos de abordar durante as discussões sobre o „Livro Branco‟.
Enfatizo que a decisão de produzir o „Livro Branco‟ nasceu do amadurecimento das instituições nacionais.
Aliás, a decisão surgiu do Parlamento ao aprovar emenda do então Deputado Raul Jungmann.
Dou conta que o documento a ser produzido não atende a nenhum tipo de pressão externa por transparência.” (grifo nosso)
“A formulação do „Livro Branco‟ consulta apenas o interesse Nacional, que é o de consolidar e aprofundar o conhecimento do Estado e da sociedade sobre a Defesa.”
“Da mesma forma que os indivíduos têm de refletir criticamente sobre seus papéis para poderem transformar suas instituições, cabe ao Estado estar habilitado a pensar sobre si mesmo, ao se renovar, ao evoluir.
O „Livro Branco‟ representa uma fantástica oportunidade nesse sentido.
Por envolver o Estado, suas instituições e os indivíduos que as compõem (no caso em apreço, os senhores), esse documento servirá de catalisador da sempre bem-vinda reflexão.”
Em entrevista concedida ao “Blog do Planalto”4, o Ministro da Defesa citou
alguns aspectos já mencionados em sua aula magna às Escolas de Altos Estudos,
transcritos nos parágrafos abaixo, para destacar o que é considerado mais relevante
no propósito do Livro Branco de Defesa.
4 O Blog do Planalto é um meio de comunicação social do governo, onde se compartilha, pela internet, informações sobre o
cotidiano da Presidência da República, os eventos, atos e a agenda da Presidenta, visando prover maior compreensão das ações, programas e políticas do governo.
32
O “Blog do Planalto” relatou que para o Ministro da Defesa Nelson Jobim, o
processo de elaboração do Livro Branco será uma oportunidade única para que a
sociedade civil aprofunde seus conhecimentos sobre os temas militares e passe a
compreendê-los num contexto mais amplo, à luz das diretrizes da Estratégia
Nacional de Defesa. O Livro Branco será uma poderosa ferramenta de ampliação da
participação civil nos assuntos de defesa, acredita. (Blog do Planalto, 2011, não
paginado)
Segundo o Ministro Jobim, as discussões a serem realizadas durante a
confecção do documento também serão úteis aos próprios militares. “Não tenho
dúvida de que o Livro servirá para ampliar de modo significativo o conhecimento do
próprio estamento castrense sobre si mesmo”, afirma. (Blog do Planalto, 2011, não
paginado)
O Ministro cita que o Livro Branco não tem a intenção de publicar
informações de caráter sigiloso que poderiam comprometer a Segurança Nacional.
Diferentemente, diz ele, o Livro dá publicidade a uma série de dados essenciais ao
esclarecimento dos cidadãos sobre a realidade das nossas Forças Armadas. (Blog
do Planalto, 2011, não paginado)
Para o Ministro Jobim, o Livro Branco será um grande catalisador da
discussão sobre os temas de Defesa no âmbito da Academia, da Burocracia Federal
e do Parlamento. Além disso, ele acredita que o documento servirá de mecanismo
de prestação de contas sobre a adequação da estrutura de Defesa hoje existente,
aos objetivos traçados pelo poder público, para este setor no país. (Blog do Planalto,
2011, não paginado)
A opinião do Ministro é compartilhada pelo Chefe da Assessoria de
Planejamento Institucional do Ministério da Defesa, General-de-Divisão Júlio de Amo
Jr, responsável pela coordenação dos estudos sobre o Livro Branco de Defesa
Nacional: “O documento será o mais importante do País no que diz respeito à
Defesa, seja pelos indicadores e dados nele contidos, seja pelo envolvimento de
toda a sociedade em sua elaboração”, diz. (Blog do Planalto, 2011, não paginado)
Sintetizando, os principais aspectos relacionados à visão do Ministro da
Defesa sobre o Livro Branco são:
1- Ampliar a participação civil nos assuntos de defesa;
2- Ampliar o conhecimento dos Militares sobre si mesmos;
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3-Catalisar a discussão sobre os temas de Defesa no âmbito da Academia,
da Burocracia Federal e do Parlamento;
4- Servir de mecanismo de prestação de contas sobre a adequação da
estrutura de Defesa aos objetivos traçados pelo poder público para o setor no País;
5- Transparência da política de defesa;
6- Servir de elemento de dissuasão;
7- Servir de instrumento para o fortalecimento da confiança e segurança
mútua entre as nações amigas;
8- Dar publicidade de dados essenciais ao esclarecimento dos cidadãos
sobre a realidade das nossas Forças Armadas; e
9- A garantia de que não tornará públicas as informações de caráter sigiloso
que poderiam comprometer a segurança nacional.
34
6 IMPRESSÕES DE PERSONALIDADES DE NOTÓRIO SABER
6.1 VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO DA ABIMDE
Por meio de correio eletrônico deste autor, foi consultado o Vice-Presidente
Executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e
Segurança – ABIMDE - sobre como a publicação do Livro Branco de Defesa
Nacional poderia contribuir para a Indústria de Defesa e para a sociedade civil do
Brasil. Foi respondido que não tinha dúvida de que “qualquer publicação escrita de
modo sério e responsável e que informe à sociedade sobre a importância da Defesa
Nacional para a Soberania contribuirá para o fortalecimento da base industrial de
defesa. É o caso do Livro Branco que receberá contribuições de diversos segmentos
da sociedade e apresentará a esta os „porquês‟ de uma indústria, institutos de
excelência, universidades e mídia deverem emprestar seus esforços para manter
uma autonomia neste setor.”
Adicionalmente, o entrevistado é de parecer que o estreitamento dos
debates dentro da sociedade brasileira como um todo, provocado já nesta fase de
elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional, poderá, no futuro, acarretar em
“ganhos para a sociedade com o arraste tecnológico advindo dos produtos de
defesa e segurança produzidos e com a conscientização da importância da
independência tecnológica como fator de dissuasão. Enfim, tudo o que um setor
como este, ainda bastante desconhecido pela sociedade, poderá gerar de benefícios
para um crescimento harmônico, em paralelo aos demais setores da economia”.
Como abordado acima, a publicação do Livro Branco de Defesa Nacional é
uma necessidade na medida em que, se bem divulgado no âmbito das elites,
provocará o comprometimento da sociedade como um todo com os assuntos da
Defesa Nacional. Contribuirá para gerar maiores investimentos no desenvolvimento
tecnológico visando à produção de materiais e tecnologias de defesa e segurança.
Assim, iniciará um círculo vicioso, cujo ponto de partida será o incremento da cultura
sobre a defesa, gerando, por sua vez, maiores investimentos em Ciência,
Tecnologia e Inovação, atraindo mais investimentos e empregos nesse setor. Enfim,
formará um grande processo sinérgico que atuará não somente no setor produtivo,
mas principalmente na mente das pessoas que passarem a operar neste ramo de
atividade, que hoje se encontra em estado latente em nosso País.
35
6.2 REVISTA DO CLUBE NAVAL
O Vice-Almirante Marcílio Boavista da Cunha editou um artigo na Revista do
Clube Naval nº 357/2010, sobre o Livro Branco de Defesa Nacional do Brasil. Dentre
muitos aspectos interessantes sobre este tema, contidos no artigo, este autor
selecionou os pontos que, em seu juízo, representam os de maior relevância para
retratar a real necessidade da publicação do Livro Branco de Defesa pelo Brasil.
O Almirante Boavista escreveu que é digna de registro a autorização do
Governo para que a presidência do Grupo de Trabalho, a cargo do Ministério da
Defesa, convide representantes de outros órgãos e entidades da administração
pública e da sociedade para debater o assunto durante a elaboração do Livro, em
seus seminários e “workshop”. Estão participando de todo esse processo de
elaboração entidades representativas dos setores acadêmicos, científicos, de
comunicações, logísticos e industriais do País. Outros centros de estudos
estratégicos e as associações de classe estão contribuindo com os trabalhos desse
Grupo, como: a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Associação Brasileira das
Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), a Associação das
Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), a Confederação Nacional da Indústria
(CNI), as federações estaduais das indústrias, como a Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (FIESP), a Federação das Indústrias do Estado do Rio de
Janeiro (FIRJAN), a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul
(FIERGS), e outras.
Essa diversidade de instituições e a participação das elites brasileiras na
elaboração do Livro Branco, representa que todos acreditam que sua publicação
contribuirá sobremaneira para a otimização da gestão dos assuntos relacionados à
Defesa Nacional.
Cita, também, o Alte Boavista, que “o art. 21, item III, da Constituição
Federal estabelece que „compete à União assegurar a defesa nacional‟. A defesa
nacional é, portanto, uma responsabilidade de todos. A elaboração do Livro
Branco de Defesa e seu encaminhamento à apreciação do Congresso Nacional,
como determina a Lei Complementar n° 136, traz, como primeira e mais
importante consequência, o compartilhamento da responsabilidade sobre a defesa
do País entre Executivo e Legislativo. Garante que a estratégia de Defesa Nacional
se torne, como é devido, assunto de Estado, e não apenas de um ou outro governo”,
36
demonstrando, com este procedimento, um “autêntico exercício de democracia no
Brasil”. (grifo nosso)
Segundo o Alte Boavista, “a visão do Congresso está espelhada no seguinte
texto”:
“[...] a apreciação periódica pelo Parlamento dará a este a responsabilidade que o Legislativo deve ter em questões dessa magnitude, fortalecendo o papel do Congresso Nacional. É preciso que o Poder Legislativo participe do debate dos temas que se relacionam intimamente à própria manutenção do Estado brasileiro”. (Jungmann, 2009)
Outro pensamento relevante, trazido à tona nesse artigo, é o caráter
instrumental que o Livro Branco de Defesa Nacional terá, por poder ser empregado
como um permanente instrumento de prestação de contas. Para tal, a política e os
objetivos contidos no livro deverão ser enunciados com clareza e precisão, para que
os recursos à disposição das forças de defesa alcancem volumes coerentes. “Isso
tornará o Ministério da Defesa e as Forças Armadas responsáveis pelos objetivos
declarados, mas, também, os capacitará a defender seus pedidos plurianuais de
recursos orçamentários, como necessários ao cumprimento da política de defesa
enunciada”, escreve o Alte Boavista.
Da conclusão do artigo, os pontos cruciais para retratar a necessidade de se
ter um Livro Branco de Defesa no Brasil são:
- “A elaboração pelo Executivo e sua posterior apreciação pelo Legislativo
representa um autêntico exercício de democracia no Brasil”;
- “Oferecerá à sociedade uma visão ampla do Governo e do Congresso a
respeito da defesa do país”;
- “A consulta aos diversos setores representativos da sociedade será
imperativa, para conferir maior legitimidade à Política de Defesa Nacional”;
- “Esse livro tornar-se-á o esperado guia para orientar aqueles que se
preocupam honestamente com a defesa do Brasil”; e
- “O Livro Branco de Defesa Nacional, pronto e aprovado, tornar-se-á um
valioso instrumento de planejamento e acompanhamento, ao cobrar a consecução
dos objetivos declarados e ao exigir a colocação dos recursos necessários à
disposição das forças de defesa.”
37
6.3 CONSULTOR CIVIL SOBRE DEFESA NACIONAL
O parecer de um cidadão “civil”, que trabalha fora da esfera governamental e
que há mais de uma década milita na área estratégica de defesa e segurança do
País, é sempre bem-vinda, pois apresenta outro prisma de pensamento. Visando
não tornar público seu nome, este autor optou por se prender às qualificações do
doravante denominado “Entrevistado”, a expor seu nome a possíveis comentários e
críticas que pudessem advir de suas opiniões.
O Entrevistado é engenheiro, consultor de empresas, atuando ora como
profissional liberal, ora como empresário, ora como executivo junto às esferas,
pública e privada, nos campos de relações institucionais e estratégicas, educação,
recursos humanos, desenvolvimento organizacional, governança corporativa,
inteligência estratégica empresarial e qualidade.
Por meio de correio eletrônico a este autor, o Entrevistado, que é um dos
que se encontram colaborando na elaboração do Livro Branco de Defesa, relatou
que acredita ser esta “uma iniciativa um pouco atrasada do Governo, na medida em
que, normalmente, ela precede a publicação da Política de Defesa Nacional e da
Estratégia Nacional de Defesa nos países mais organizados, o que aqui se deu ao
contrário. Dessa forma, o Livro Branco de Defesa Nacional deverá ser estruturado
com base nesses dois instrumentos, incorporando, assim, o risco de conflitos mais
adiante, na medida em que o Livro Branco de Defesa Nacional, em 2012, será
submetido a debate no Congresso Nacional, o que não aconteceu com os outros
dois textos: Política de Defesa Nacional e a Estratégia Nacional de Defesa. O Poder
Executivo deverá, então, se preparar para esses embates.”
Ainda no entender do Entrevistado, “o grande mérito do Livro Branco de
Defesa Nacional é menos o seu conteúdo e mais o seu processo de elaboração, ou
seja, a discussão pública, na sociedade civil, do tema: Defesa da Nação, o que se
dá pela primeira vez em nossa história.” Acredita, ainda, “que esta é a necessária
base política para se alocar recursos para a defesa no Orçamento Geral da União -
OGU.”
Saindo do parecer técnico e enveredando para o campo da política, o
Entrevistado vislumbra que, “numa visão mais imediata e pragmática, não se pode
deixar de considerar que o advento do processo do Livro Branco de Defesa Nacional
se constitui, também, num hábil e eficaz pretexto para postergar investimentos em
reaparelhamento das Forças Armadas e das Forças de Segurança. O Poder
38
Executivo se respalda no argumento de „que agora é que se está organizando o
processo político da Defesa Nacional‟, o que é de fato uma oportuna verdade em
tempos de arrocho financeiro.”
Em face do acima exposto, este autor, analisando sob o ponto de vista da
real necessidade de elaboração do Livro Branco de Defesa, considera ser este um
documento necessário para completar o arcabouço doutrinário (teórico) da Defesa
Nacional, com o risco de ser inócuo (pragmaticamente) para se alcançar os objetivos
dos assuntos da Defesa Nacional, se não for bem articulado em termos políticos.
6.4 “PROFESSOR OF NATIONAL SECURITY AFFAIRS”
Ao ser consultado por meio de correio eletrônico deste autor, O Dr.
SALVADOR GHELFI RAZA (Professor of National Security Affairs, National Defense
University, Center for Hemispheric Defense Studies - Fort McNair - Washington, D.C.
USA) sobre como a publicação do Livro Branco de Defesa Nacional poderá
contribuir para as Forças Armadas (considerando, também, a visão das nações
amigas: dissuasão e confiança mútua), para a Indústria de Defesa e para a
sociedade civil do Brasil, foi respondido que o “Livro Branco de Defesa é um
documento de política. Sua função é a de comunicar uma intenção, demonstrando
compromisso com os mecanismos legais, operacionais e jurídicos para sua
consecução.”. O Entrevistado ressaltou “[...] que, nesse sentido, o Livro Branco não
tem um impacto direto a ser medido nos termos identificados na pergunta; seu
impacto está na modelagem do ambiente cognitivo, político e estratégico.”. Chamou
a atenção para o fato de que existem “[...] Livros Brancos de Defesa de quatro
gerações diferentes sendo praticados no mundo. O modelo brasileiro, embora
tardio, está sendo desenhado como um Livro Branco de segunda geração.” (grifo
nosso)
Ao ser questionado se a publicação de um Livro Branco de Defesa é uma
necessidade, ou se a Política de Defesa Nacional e a Estratégia Nacional de Defesa
suprem satisfatoriamente as informações que o Brasil precisa para gerir os assuntos
afetos à Defesa, o Dr. Salvador respondeu que “as lacunas existentes atualmente na
arquitetura de documentos normativos de planejamento nacional de defesa e das
forças singulares não serão preenchidas pelo Livro Branco de Defesa, pois essa não
é a sua função. Há outros documentos necessários que estão faltando. A grande
39
contribuição do Livro Branco será a manifestação do compromisso com a
elaboração desses documentos.”
Finalmente, ao ser consultado sobre a possibilidade de elencar que tipo de
informação se espera que conste no Livro Branco de Defesa, para contribuir com
maior relevância para o desenvolvimento das Forças Armadas e das empresas
brasileiras de defesa, o Dr. Salvador externou que seria importante que o Livro
Branco desse o “norte” político com respeito a:
- definir o escopo e amplitude da defesa em função do conceito de
segurança;
- estabelecer critério de definição de ameaças segundo as sete dimensões
da segurança: ambiental, tecnológica, territorial, informacional, humana, empresarial
e energética;
- estabelecer o vínculo da base industrial tecnológica de defesa nacional
com as matrizes tecnológica, energética e ambiental nacionais;
- apresentar a arquitetura de documentos normativos e suas inter-relações;
- estabelecer os elementos para um plano de métricas de defesa nos cinco
níveis de resultados desejados para esses planos;
- estabelecer os fluxos de transformação das forças em direção aos
objetivos nacionais de defesa, com a aferição de eficiência do progresso nas
trajetórias desenhadas;
- qualificar os requisitos de eficiência administrativa e de gestão de recursos
para a defesa em um orçamento por desempenhos;
- qualificar os mecanismos da paradiplomacia5; e
- qualificar a arquitetura de C5ISR (Command, Control, Communications,
Computers, Combat Systems, Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance) em conjunto
com os ciclos de decisão estratégicos.
5 O conceito de “paradiplomacia” engloba um complexo quadro de relações internacionais conduzidos por governos
subnacionais, regionais, locais ou, simplesmente, não centrais, com vistas à consecução de seus próprios objetivos. Tal fenômeno se inscreve no processo maior de integração mundial: a globalização.
40
6.5 JORNAL DEFESA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS - PORTUGAL
Foram selecionados e comentados trechos da reportagem concedida pelo
Vice-Almirante reformado, da Marinha portuguesa, Alexandre Reis Rodrigues6, em
2008, publicados no Jornal da Defesa e Relações Internacionais, de Portugal, sob o
tema: “Os Livros Brancos da Defesa. Para quê servem?”.
Segundo o Alte Rodrigues:
“A França tem um novo Livro Branco de Defesa; fez o que é normal fazer quando um país adota novas orientações na Política de Defesa e pretende que as decisões tomadas sejam do conhecimento público para suscitar consenso interno, informar aliados e amigos, divulgar intenções e clarificar a sua nova postura internacional. O fato fez-me lembrar da única tentativa, que conheço, feita em Portugal, para elaboração desse tipo de documento, em Abril de 2000.”
“Foi, no entanto, uma tentativa frustrada; o documento fez-se, mas nunca foi assumido pelo Governo, nem foi discutido na Assembléia da República, como pretendia o Ministro. Vários erros cometidos na condução do processo, para além de falta de vontade política ao nível central do Governo, explicam o fracasso. Logo, em primeiro lugar, o pedido de urgência: o Ministro deu 20 dias para a apresentação de um «plano metodológico do grupo de estudo», dois meses para a elaboração dos dois primeiros capítulos e, depois, mais três para a apresentação dos restantes quatro!”
O Livro foi divulgado em abril de 2001, de acordo com o Alte Rdrigues,
somente pelos méritos “da dedicação e trabalho de um grupo de três militares
chefiados por um Major-General na Reserva! Não obstante à qualidade do
documento foram trabalho e tempo perdidos; a iniciativa não tinha tido o necessário
envolvimento político e, como tal, não podia resultar.”
O Alte Rodrigues é de parecer que:
“Os assuntos de Defesa não constituem tema sobre o qual os Partidos tenham um pensamento estruturado, suficientemente discutido e atualizado (não existe uma organização interna que mantenha esses assuntos sob estudo); quando têm que apresentar um programa não lhes resta senão reunir os membros da direção com maior apetência para o tema Defesa e convidar alguns especialistas para ajudar a preparar um documento.
Faz falta, portanto, um Livro Branco da Defesa que defina orientações para o médio/longo prazo; muito mais falta do que um Conceito Estratégico que não vai além de generalidades de reduzida utilidade para o planejamento de defesa e de forças.”
6 Alexandre Reis Rodrigues Vice-Almirante, reformado. É Secretário-Geral da Comissão Portuguesa do Atlântico e
membro do Grupo de Reflexão sobre Segurança e Defesa do Instituto Humanismo e Desenvolvimento. Escreve regularmente e profere conferências sobre os temas de Defesa e de Relações Internacionais na atualidade.
41
Saindo da frustrada experiência portuguesa, o Alte Rodrigues apresenta
uma história de sucesso desse instrumento, ao elencar os aspectos que
circundaram a realidade francesa para este mesmo tipo de Livro:
“A França não cometeu os erros que impediram o sucesso da nossa tentativa de 2000. O assunto foi assumido pelo Presidente que estabeleceu os objetivos a atingir e nomeou uma comissão com uma alargada representatividade e forte peso político: quatro parlamentares, doze altos membros dos ministérios com envolvimento nos assuntos de Segurança e Defesa, vinte personalidades, civis e militares, com reconhecida experiência no tema; para chefiar foi convidado um Conselheiro de Estado, com um importante currículo na área, o senhor Jean Claude Mallet (ex-Diretor do Departamento de Assuntos Estratégicos 1992/1998; ex-Secretário-Geral da Defesa Nacional, entre 1998 e 2004, altura em que passou a ser Conselheiro de Estado). O processo incluiu também a audição de 52 individualidades estrangeiras de 14 países, nos cinco continentes.
Os resultados do trabalho foram apresentados pelo próprio Presidente, [...], a uma assembléia de 3000 militares, cerca de um ano depois do despacho que ativou a comissão; presume-se que o calendário foi definido com o propósito de ter o documento pronto antes de a França assumir a Presidência da União Européia, durante a qual o tema Defesa receberá prioridade.”
Em um comentário acalorado, o Alte Rodrigues tece suas esperanças para o
futuro da Defesa Nacional de Portugal, o que o faz apresentar as necessidades que
ele vislumbra ao se estruturar um Livro Branco de Defesa:
“Espero que um dia, brevemente, se possível, Portugal se decida a lançar um processo de elaboração de um Livro Branco de Defesa. Seria a melhor forma de clarificar algumas questões que permanecem sem qualquer progresso há demasiado tempo e outras que são mais recentes, mas nem por isso menos importantes; como é o caso, por exemplo, da articulação Segurança/Defesa, à qual a proposta de lei de Segurança Interna dá respostas que estão a gerar controvérsia. Seria também a melhor forma de garantir que a Defesa passasse a ser orientada sob uma visão de médio/longo prazo, portanto, não sujeita às vicissitudes dos períodos restritos de uma simples legislatura, sem qualquer mecanismo de continuidade. Seria, finalmente, a maneira de explicar aos portugueses como o Estado interpreta as suas obrigações nesta área, sem o que será difícil fazer com que a opinião pública apóie e tenha interesse por estas questões.”
O artigo retrata duas experiências sobre a elaboração e publicação de um
Livro Branco de Defesa e ressaltou quais efeitos práticos podem produzir, em duas
realidades distintas. Este parecer não poderia ser mais pertinente, por se tratar de
dois países da União Européia, apesar das diferenças de indicadores geopolíticos
envolvidos.
Na realidade de Portugal, o Livro Branco de Defesa não surtiu efeito algum,
pois, entre outros reveses, não houve o envolvimento dos altos escalões do
42
Governo. Diametralmente oposta à experiência portuguesa, ocorreu a versão
francesa para o Livro Branco de Defesa, em que contou com forte envolvimento do
Governo, provavelmente motivado pela assunção da França à Presidência da União
Européia.
Voltando à causa brasileira, nossas pretensões ao Conselho de Segurança
da ONU são evidentes e a forma com a qual a elaboração do Livro Branco de
Defesa está sendo conduzida pelo Ministério da Defesa, faz acreditar que a nossa
realidade esteja mais próxima da francesa que da portuguesa.
6.6 Rádio Internacional da China (CRI)
O poder de um Livro Branco é bem demonstrado, quando um Governo o
sabe utilizar e pode ser percebido este fenômeno nas linhas abaixo.
A “China nunca vai buscar a hegemonia, diz o 7º Livro Branco de Defesa
Nacional” é uma reportagem do dia 31 de março de 2011, da Rádio Internacional da
China (CRI)7. O autor do artigo, o Sr. Dong Jue, relatou que o “Governo chinês
publicou neste dia (31) o Livro Branco de Defesa Nacional 2010. O documento
salientou que a política chinesa de defesa não mudou, e que „não busca hegemonia
nem expansionismo‟”.
Este é o sétimo livro branco de defesa publicado pelo governo chinês desde
1998. O documento apontou que a situação atual do mundo está em mudança
profunda e complicada, e os desafios de segurança que a China enfrenta são cada
vez mais difíceis e diversificados. Embora a situação não seja otimista, o porta-voz
do Ministério de Defesa, Geng Yansheng, reiterou que a política chinesa não mudou:
"a China adota uma política de defesa defensiva e nunca vai mudar. O caminho do desenvolvimento, a missão essencial, política sobre as relações exteriores e a tradição cultural e histórica decidem o fato que seja rica ou pobre, agora ou no futuro, a China nunca vai procurar hegemonia nem o expansionismo militar."
O livro branco insiste na consciência de segurança de "benefício mútuo,
confiança recíproca, igualdade e coordenação", procura solução pacífica de
problemas e de contradições mundiais, opõe-se à ameaça militar, invasão e à
7 Fundada no dia 3 de dezembro de 1941. É uma emissora estatal que transmite sua programação para todo o
mundo, com o objetivo de apresentar a China ao mundo e vice-versa, assim como de aumentar a compreensão e a amizade entre os povos da China e de outros países. A CRI transmite programas em 53 idiomas.
43
política dos poderosos. Ainda segundo o documento, a China é um país responsável
e participa positivamente das ações de manutenção da paz das Nações Unidas,
sendo o país que participou de mais atividades de manutenção de paz da ONU entre
os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança.
Nos últimos anos, diz o repórter Dong Jue, o constante aumento do
orçamento militar chinês tem recebido destaque mundial. O livro branco deste ano
explicou que a despesa militar corresponde ao rápido desenvolvimento econômico
do país e que a taxa entre o orçamento militar e o PIB total do país tem sido estável
e está até reduzindo em relação à despesa total das finanças nacionais.
Dong Jue continua seu artigo citando que o livro branco revelou que a China
já estabeleceu um mecanismo de diálogo sobre segurança com 22 países e adotou
diversas medidas para fomentar a confiança mútua com os Estados vizinhos.
É claramente notado que a China utiliza com perfeição todas as
potencialidades que a publicação de um Livro Banco de Defesa pode auferir, se bem
elaborado. Ressalta-se a colaboração dos meios de comunicação de massa, sem os
quais o Livro Branco não teria a difusão necessária para o atingimento de seus
efeitos. Nessas breves pinceladas, a China mostrou para o mundo, com toda a
transparência, um perfil pacífico, que não está investindo mais em defesa em
relação ao PIB e que não quer ameaçar a posição de ninguém no “ranking” do
poderio militar. Se são verdades ou meias verdades, não se entra no mérito, pois o
importante foi que as mensagens de “não agressão” e de confiança mútua foram
veiculadas para todo o mundo e que certamente influenciarão na opinião pública
mundial.
Mais uma vez, está explicita a necessidade de se ter um Livro Branco de
Defesa como um documento complementar, pois sozinho ele não se basta. Precisa,
também, que seja fortemente veiculado, atualizado e que apresente de forma clara e
profissional, sem rodeios e meias palavras, as intenções do país em termos de
Defesa Nacional, como o fez a China.
44
7 RELATOS DOS ADIDOS BRASILEIROS NO EXTERIOR
7.1 ADIDO DE DEFESA E NAVAL DO BRASIL NO REINO UNIDO, SUÉCIA E
NORUEGA
Por meio de correio eletrônico deste autor, o Adido de Defesa e Naval do
Brasil no Reino Unido, Suécia e Noruega foi questionado sobre como a publicação
do Livro Branco de Defesa Nacional vem contribuindo para as Forças Armadas, para
a Indústria de Defesa e para a sociedade civil do país onde está acreditado. O
mesmo preferiu, antes de começar suas considerações, fazer menção a um ponto
de vista equivocado, segundo seu parecer, a respeito da área de atuação desse
instrumento, pois “primeiro é preciso desmistificar a questão de que „Livro Branco‟ é
um documento da área da Defesa”, diz, e anexou a definição de Livro Branco
adotada pelo Governo Britânico.
“Na Comunidade das Nações (Commonwealth of Nations), „white paper‟ é um nome informal para um documento parlamentar enunciar a política do governo; no Reino Unido, em sua maioria são emitidos como „papéis de comando‟ (Command papers). „White papers‟ emitidos pelo governo divulgam política, ou ação, sobre um tema de interesse atual. Entretanto, em certas ocasiões, um „white paper‟ pode ser uma consulta sobre os detalhes de uma nova legislação, o que significa uma clara intenção, por parte do governo, em aprovar a nova lei.” (tradução nossa)
Complementando a preocupação do Adido em apresentar o conceito
britânico de Livro Branco, ressalto que este instrumento também é utilizado pelos
segmentos não governamentais, como visto no capítulo 2 deste trabalho.
Após esta rápida harmonização de conceitos, o Adido prossegue seu
parecer relatando que na Inglaterra “existem Livros Brancos nos mais diversos
setores governamentais. Todos esses setores divulgam, em fase precedente à
publicação do Livro Branco, um Livro Verde contendo as proposituras destinadas a
alimentar a ampla discussão nos diversos extratos da sociedade, de forma a dar
sustentabilidade e legalidade ao que for incluído no documento decorrente, o Livro
Branco.”
Antes de se discorrer sobre qualquer assunto da atividade humana, é
recomendável situar o contexto no qual se inscreve. O Adido esboça, então, um
breve histórico, para apresentar que “no Reino Unido, a utilização do Livro Branco
45
da Defesa remonta a 1957, cujo documento publicado naquele ano é considerado o
primeiro „Defence White Paper‟ britânico.
O histórico dos Livros Brancos de Defesa britânicos é:
-1957 Defence White Paper;
-1966 Defence White Paper;
-1981 Defence White Paper;
-1990 Options for Change;
-1994 Front Line First;
-1998 Strategic Defence Review;
-2003 Delivering Security in a Changing World;
-2005 Defence Industrial Strategy; e
-2010 Strategic Defence and Security Review.”
O Adido chama a atenção para que se “observe que cada documento leva
um nome que, a princípio, indica o seu „tema‟ principal”.
“Passado todo esse intróito, [...]” o que o Adido pôde “[...] apurar de
conversas com Oficiais britânicos mais antigos, muitos na reserva e/ou reformados,
é que não há como hoje se imaginar a organização e funcionamento do Ministério da
Defesa do Reino Unido e das Forças Armadas britânicas sem a existência do Livro
Branco de Defesa.”
Considerou, ainda, que “[...] a positiva evolução das Forças Armadas
britânicas, que pode ser apurada no lapso temporal entre 1957 e os dias de hoje, em
que pese os percalços sofridos em função das crises econômicas, se pode concluir
que os efeitos dos „Defence White Papers‟, para o Reino Unido, foram
extremamente positivos.”
A tradição, a dimensão, os resultados alcançados e a seriedade com que os
assuntos da Defesa Nacional Britânica são por eles tratados dispensam
apresentações. Com este testemunho prestado pelo Adido de Defesa e Naval, não
deixa margem de dúvida sobre o valor instrumental do Livro Branco na gestão
desses assuntos.
Corroborando outra opinião apresentada neste trabalho, a ordem de
elaboração dos documentos doutrinários da Defesa Nacional no Brasil, encontra-se
em ordem cronológica inversa de publicação. No caso britânico, o Livro Verde é
apresentado anteriormente ao Livro Branco, para respaldar a chegada deste, e o
seu público alvo é a sociedade. No caso brasileiro, o Livro Verde será apresentado,
46
ou depois, ou ao mesmo tempo em que o Livro Branco o será, sendo seu público
alvo o Congresso Nacional.
O Adido de Defesa e Naval na Alemanha e Holanda já tem a impressão
pessoal de que os Livros Brancos dos países europeus funcionam como uma mola
para impulsionar a indústria de defesa. A Organização do Tratado do Atlântico Norte
– NATO ou OTAN - quase que estipulou, a nível de desejável, o que cada um
deveria ter em termos de meios. “Como tudo no mundo, o dinheiro (economia), é
carro chefe da política e do poder e para a Alemanha e Holanda, os Livros Brancos
foram uma ferramenta para fomentar a indústria da defesa”, diz o Adido. Continua
relatando que as forças destes países, de um modo ou de outro, foram beneficiadas,
utilizando o jargão de que "se o próprio país não utiliza o seu equipamento, como ele
pode ser vendido aos outros?". No século passado, “as empresas se consideravam
auto-suficientes, diferentemente de hoje que procuram parcerias para se manterem
no mercado. O que era um concorrente no passado, hoje pode ser visto como um
parceiro para evitar o marasmo ou até a falência”, encerra o Adido.
7.2 ADIDO DE DEFESA E NAVAL NA ÁFRICA DO SUL
O Adido de Defesa e Naval na África do Sul limitou a sua contribuição
no sentido de fornecer alguns subsídios acerca do Livro Branco de Defesa da
África do Sul, suas motivações e até certos desdobramentos subsequentes
de sua adoção.
Diante do exposto, o Adido relatou que não seria exagero dizer que o
Livro Branco emergiu como um documento histórico. Pela primeira vez na
história, a política de Defesa foi realmente moldada por participações
substanciais do Parlamento, dos membros do Ministério Público, de
organizações não-governamentais e, evidentemente, do Departamento de
Defesa (DoD). Sob a égide do então Ministro da Defesa Joe Modise, em 08
de maio de 1996, o Livro Branco de Defesa da África do Sul foi promulgado,
atendendo, portanto, ao espírito da nova era democrática na África do Sul, e
reconhecendo, como consta em seu prólogo, as profundas conseqüências
políticas e estratégicas do fim do “apartheid”.
Como consequência, continua o parecer do Adido, pode-se afirmar
que o Livro Branco produziu seus efeitos estratégicos (grifo nosso). O
chamado "Pacote Estratégico de Defesa" (arms deal), de 1999, privilegiou a
47
Marinha e a Força Aérea com forças de pequena autonomia e ra io de ação,
consentâneas com a Política de Defesa. Houve uma série de ações
estratégicas e compras de material bélico, todas norteadas e em perfeita
consonância com o Livro Branco.
Como conclusão, o Adido afirma que as maiores restrições, ao que
parece, não são relacionadas à eficácia do conteúdo desse documento, mas
sim aos desafios diante das crescentes restrições orçamentár ias e dos
militares (sindicalizados por lacunas da Lei) ávidos por melhorias nas
condições de trabalho, em sua maioria negros e advindos das forças de
guerrilha. Em que pesem tais deficiências, as Forças Nacionais de Defesa
Sul-Africanas parecem uníssonas ao afirmarem que a modernização
acarretada pelo "Pacote Estratégico de Defesa" de 1999 foi um fator muito
importante para a Defesa, com ênfase no sucesso das medidas de segurança
adotadas no período da Copa do Mundo de 2010.
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8 RELATOS DOS ADIDOS ESTRANGEIROS NO BRASIL
Foram enviados correios eletrônicos para todos os Adidos Navais
acreditados no Brasil, com a pergunta: “Como a publicação do Livro Branco
de Defesa Nacional contribuiu para as Forças Armadas, para a Indústria de
Defesa e para a sociedade civil de seu País?” .
Por força de consenso prévio entre este autor e os Adidos, foram
suprimidos os nomes dos Adidos Estrangeiros e seus países por se tratar de
opiniões pessoais. Este autor selecionou as mais alinhadas ao escopo deste
trabalho.
Um Adido de país da União Européia relatou que trabalha seguindo as
orientações do Livro Branco de Defesa, que são enviados pelo Ministério da
Defesa às Embaixadas. O Adido, ao receber o Livro Branco, faz um extrato
das ações que terá de enveredar e estabelece os contatos pertinentes com
suas indústrias de materiais de defesa, para ser orientado sobre como
proceder na divulgação comercial, contribuindo para o fomento da indústria
de defesa de seu país. Relatou, também, que o Livro Branco de Defesa é
tema de estudo nos Cursos de Altos Estudos de Defesa, que formam os
futuros Generais e Almirantes.
O Adido de outro país da União Européia relatou que o Livro Branco
foi publicado uma única vez, em 2001, e cobria os anos de 2001 a 2006. Foi
uma produção conjunta de vários Ministérios e o Ministério da Defesa,
igualmente como o Brasil está elaborando o seu Livro. O Adido continuou seu
parecer, dizendo ter a impressão de que, provavelmente, esta publicação não
tenha alcançado seu objetivo, porque o trabalho, visando às edições
seguintes, havia sido interrompido e não há nada em andamento sobre o
assunto no momento. Atualmente, porém, o Ministério da Defesa está
trabalhando no projeto “Revisão Estratégica de Defesa”, diz o Adido, que é,
na realidade, um novo Livro Branco de Defesa. “O documento é atualizado e
desenvolvido apenas por organizações militares”, finaliza o seu parecer.
Outro relato de Adido de país da União Européia diz que quatro Livros
Brancos de Defesa foram redigidos após a Segunda Guerra Mundial, além de alguns
manuais da Defesa Nacional editados pelo Serviço de Inteligência do Ministério da
Defesa Nacional, sob os auspícios do Estado-Maior Geral, que contem os aspectos
teóricos, estatísticos de ordem administrativa, jurídicos e militares.
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O primeiro livro, data de 1965 e foi realizado por iniciativa do Ministro da
Defesa à época. Serviu como resposta à necessidade de informação e inteligência
expressa por muitos cidadãos interessados, direta ou indiretamente, na política
estabelecida por autoridades nacionais, civis e militares, em matéria de defesa.
O segundo livro decorreu, em 1977, em resposta a algumas reformas de
1972, incluindo a renovação de infra-estruturas e equipamentos militares. O terceiro
livro foi publicado em junho de 1985 visando, em tempos de crise financeira e a crise
“euro-mísseis", tornar clara a conjuntura da época, para, assim, permitir a avaliação
das intenções e das decisões sobre a defesa. Descreveu mais particularmente, a
política de segurança; a participação em alianças; e os esforços orçamentários do
Departamento de Defesa. Foi apoiado pela publicação paralela do Manual de
Defesa de 1985, que abordou os aspectos estruturais e organizacionais das
instituições de defesa. O último Livro Branco, em 1994, foi elaborado no contexto da
reestruturação fundamental das forças armadas. Em 6 de julho de 1994, o Ministro
da Defesa Nacional, tornou público no momento em que terminou a fase legislativa
da profunda reestruturação do Exército.
É percebido com este testemunho, que o papel do Livro Branco de
Defesa é de capital importância para a gestão política dos assuntos de
defesa. O que foi chamado de “manual de defesa”, acredita este autor, que
possa ser o que chamamos de “livro verde”, pois vem em apoio ao conteúdo
do Livro Branco. Enfim, este país utiliza esta ferramenta de forma eficiente e
eficaz para o convencimento político e para manter a opinião púbica
informada sobre a defesa de seu país.
Outro relato de país da União Européia diz que o Livro Branco de
Defesa de seu país:
“[...] não passou de uma esperança da sociedade castrense. Os políticos de todas as legendas concordaram com o teor, mas na prática pouco ligaram ao assunto. O Livro está cheio de belas intenções, e na sequência foi elaborada uma Lei de Programação Militar, para definir bem as aquisições de material para as Forças Armadas, mas esta lei é permanentemente desvirtuada anualmente, pois todos os anos a lei de execução orçamental cativa sempre 40% do valor total inscrito. Isto leva a que programas sejam adiados sistematicamente, outros são afectados de tal forma, que têm de ser muito prolongados no tempo. Em resumo, a ideia do Livro é boa, mas torna-se imperioso que exista uma real
50
vontade política para implementar as medidas que aí foram determinadas.” (grifo nosso)
Em outro país da União Européia, segundo o testemunho de seu
Adido, Defesa é, por necessidade, uma questão de Estado. Ressalvou,
porém, que as decisões tomadas em termos de política de defesa não estão
isentas de controvérsias, mas cabe reconhecer o importante grau de
consenso político e social alcançado nos últimos anos em seu país. Tanto a
participação plena desse país na nova Organização do Tratado do Atlântico
Norte ou a profissionalização da tropa tem conseguido um respaldo
parlamentar majoritário, assim como a aprovação generalizada da sociedade.
Os tópicos sobre Forças Armadas obsoletas, politizadas, sem projeção
internacional, vem caindo progressivamente, graças a uma evolução paralela
entre Forças Armadas e a sociedade.
A progressiva normatização da Defesa como assunto de Estado,
benéfica a seus cidadãos, requer não só maior transparência, mas também o
aprofundamento nos aspectos básicos da mesma. Entende-se que na política
de defesa haja assuntos que, por sua natureza, exijam serem mantidos o
mais secreto possível. Em todos os outros, porém, devem ser tratados com a
maior transparência possível para que redundem em uma maior solidez e
respaldo social das decisões que se adotem. A Defesa deve deixar de ser
uma incógnita para os cidadãos e converter-se em um instrumento que, por
ser conhecido, goze do maior apoio social possível.
O Livro Branco representou, então, este amadurecimento alcançado,
que ousou dotar o país em questão de Forças Armadas modernas numa
concepção ampla, desde o seu pessoal até seu material, passando por sua
doutrina e preparação.
Segundo o Adido, há poucos anos, grande parte da população
desse país pensava que a Defesa se gerava de maneira espontânea, sem
serem conscientes do cuidadoso planejamento que requer. Fruto de
várias ações de conscientização, inclusive do Livro Branco, hoje isso já
não é mais assim. (grifo nosso)
A sociedade percebeu que tem a seu serviço um autêntico
instrumento de paz, cuja atuação outorga ao país credibilidade internacional,
51
sem mencionar outros benefícios ligados ao desenvolvimento industrial e
tecnológico. Devido a isso a sociedade deve ser coerente e permitir que os
recursos de sua defesa estejam em consonância com esse maior
protagonismo internacional de suas Forças Armadas. Não são seus militares,
nem a defesa, senão o próprio país quem o necessita, reforça o Adido.
O Livro Branco desse país alcançou o sucesso em seus propósitos ao
se propor a aproximar os assuntos da Defesa com a sociedade, favorecendo,
com sua exposição, uma maior consciência de defesa. A iniciativa frutificou
um intenso desenvolvimento das indústrias de defesa, gerando empregos e,
por conseqüência, fez com que o país contasse com Forças Armadas
modernas, com credibilidade e extraordinariamente bem reconhecidas
internacionalmente.
Outro Adido, agora de país sulamericano, relatou ser de opinião que,
em seu país, o Livro Banco de Defesa teve um limitado sucesso.
Fundamentou sua opinião particular com o fato de que, pouco tempo depois
da publicação do Livro, o novo Governo o considerou desatualizado,
determinando a elaboração de um novo, que, até o presente momento, não
teve seu trabalho finalizado. Por outro lado, esse mesmo Adido acredita que
a sua publicação serviu, inicialmente, para demonstrar transparência aos
países amigos e como enriquecimento de palestras aos Oficias das Forças
Armadas. Acredita, também, que foi bom para o público interno, no sentido
de ajudar na elaboração e uniformização de critérios e objetivos de Defesa.
Entretanto, não observou repercussão alguma no âmbito das firmas privadas.
52
9 CONCLUSÃO
Compilando os pareceres apresentados, verificou-se que todos os relatos
convergiram para expectativas comuns sobre o que a publicação de um Livro
Branco de Defesa poderia auferir na gestão dos assuntos relacionados à Defesa
Nacional. São elas:
1- Ampliar a participação civil nos assuntos de defesa;
2- Ampliar o conhecimento dos Militares sobre si mesmos;
3- Catalisar a discussão sobre os temas de Defesa no âmbito da Academia,
da burocracia Federal e do Parlamento;
4-Demonstrar à sociedade que Defesa Nacional é assunto de Estado e não
de Governo e que é responsabilidade de todo brasileiro, quer civil, quer militar;
5- Servir de mecanismo de prestação de contas sobre a adequação da
estrutura de Defesa aos objetivos traçados pelo poder público para o setor no País;
6- Prover transparência à política de defesa;
7- Servir de elemento de dissuasão;
8- Servir de instrumento de fortalecimento da confiança e segurança mútua
entre as nações amigas;
9- Dar publicidade de dados essenciais para o esclarecimento aos cidadãos
sobre a realidade das nossas Forças Armadas;
10- Conferir maior legitimidade democrática à Política de Defesa Nacional; e
11- Servir de fomento para a indústria de defesa.
O Livro Branco de Defesa tem, portanto, forte caráter instrumental e é e
fundamental importância, sendo necessário a uma nação da estatura geopolítica
como a do Brasil, pois comportará a essência da doutrina de defesa e atuará,
principalmente, como documento de prestação de contas sobre o resultado das
políticas e objetivos dos assuntos da Defesa Nacional.
Recorrendo aos comentários dos Adidos Militares, nacionais e estrangeiros,
e comparando-os ao desempenho das indústrias de defesa no mundo, chega-se a
conclusão de que os países produtores de materiais, serviços e tecnologias de
defesa utilizam a publicação de seus Livros Brancos de Defesa para cooptar não só
a sociedade e os investidores nacionais, como também os investimentos
estrangeiros, ações que contribuem para a elevação do PIB. Já nos países
consumidores de materiais, serviços e tecnologias de defesa, seus livros brancos
53
não atuam na formação da cultura de defesa da sociedade, são rapidamente
esquecidos por não contribuírem para a formação de riquezas e não alavancam
iniciativas geradoras de capitais, se limitando a ser um instrumento informativo.
O Livro Branco é, então, extremamente necessário para contribuir com o
desempenho do setor de defesa de um país. Entretanto, não se bastará pela sua
simples existência. Não será suficiente, sem o comprometimento político; a
participação da sociedade e das elites; e a criação de mentalidade voltada para a
defesa do Brasil como um todo. Do contrário, o Livro Banco se constituirá em um
documento inócuo.
54
REFERÊNCIAS CORDEIRO, Roberto. Brasil começa a elaborar Livro Branco com informações estratégicas sobre defesa. Entrevista com o Ministro da Defesa Nelson Jobim. Disponível em: <http://planalto.blog.br/clone/tag/livro-branco-de-defesa-nacional/>. Acesso em: 01 abr 2011. BRASIL. Lei Complementar nº 136, de 25 de agosto de 2010. Altera a Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, que “dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas”, para criar o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e disciplinar as atribuições do Ministro de Estado da Defesa. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 ago. 2010. _________. Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF, 2008. _________. Ministério da Defesa. Política de Defesa Nacional. Brasília, DF, 2005. _________. Decreto nº 7.438, de 11 de fevereiro de 2011. Estabelece princípios e diretrizes para criação e elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional, institui Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar estudos sobre temas pertinentes àquele Livro, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 fev. 2011. CHAPIN, HENRY; DENEAU, DENIS. Citizen involvement in Public Policy-making: access and the policy-making process. Ottawa: Canadian Council on Social Development, 1978. p. 33 CUNHA, Marcílio Boavista da. Livro Branco de Defesa. Revista do Clube Naval, Rio de Janeiro, n. 357, abr./mai./jun. 2011. DOERR, AUDREY D. The Role of White Papers. In: Doern, G.B.; Aucoin, Peter. The Structures of Policy-making in Canada. Toronto: MacMillan, 1971. p. 179-203. _________. _________. In: The Policy-making Process: the experience of the Government of Canada. 1973. Thesis (Ph.D) - Carleton University. 1. 56 _________. The Machinery of Government. Toronto: Methuen, 1981. p. 153
55
DONG, Jue. Rádio Internacional da China (CRI). Disponível em:<http://portuguese.cri.cn/561/2011/03/31/1s133813.htm>. Acesso em: 10 mai 2011. ES.WIKIPIDIA, 2011. Disponível em: <http://es.wikipidia.org/wiki/Libro_Blanco>. Acesso em 27 abr. 2011. EN.WIKIPEDIA, 2011. Disponível em: <>. Acesso em 24 abr. 2011
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Palestra da Reunião Inicial. Oficinas Temáticas sobre o Livro Branco de Defesa Nacional, 22 fev. 2011. KITCHO, Catherine. The Launch Pad, October 2004, The Launch Doctor. Disponível em:<http://www.pelepubs.com/launchdr/launch_emailnews2.shtml?&id=23Launch Pad Monthly Newsletter - Past Issue>. Acesso em 24 abr. 2011. PEMBERTON, John E. Government Green Papers. Library World 71:49 Aug. 1969. RODRIGUES, Alexandre Reis. Jornal Defesa e Relações Internacionais. Disponível em: http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=612>.
Acesso em: 20 abr 2011.
56
ANEXO A - DECRETO Nº 7.438, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2011. DECRETO Nº 7.438, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2011. Estabelece princípios e diretrizes para criação e elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional, institui Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar estudos sobre temas pertinentes àquele Livro, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 9º da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, DECRETA: Art. 1º O Livro Branco de Defesa Nacional é documento de caráter público, por meio do qual se permitirá o acesso ao amplo contexto da Estratégia Nacional de Defesa, em perspectiva de médio e longo prazos, que viabilize o acompanhamento do orçamento e do planejamento plurianual relativos ao setor. Art. 2º O Livro Branco de Defesa Nacional deverá conter dados estratégicos, orçamentários, institucionais e materiais detalhados sobre as Forças Armadas e modelo a ser sugerido a partir dos parâmetros definidos na Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999. Art. 3º A elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional ficará sob a presidência do Ministério da Defesa, observados os seguintes princípios e diretrizes: I - incentivo a pesquisas que permitam estudo sobre temas pertinentes ao Livro Branco de Defesa Nacional; II - realização de parcerias com instituições públicas e privadas para aprimorar e viabilizar os projetos referentes ao Livro Branco de Defesa Nacional; e III - ação governamental integrada, sob a coordenação do Ministério da Defesa, com a participação de órgãos do governo com atribuições nas áreas temáticas que serão abordadas no Livro Branco de Defesa Nacional. Art. 4º Fica instituído o Grupo de Trabalho Interministerial do Livro Branco de Defesa Nacional, de caráter temporário, cujas reuniões deverão se realizar ordinariamente, a cada trimestre, e extraordinariamente, a qualquer tempo, mediante convocação pelo Ministério da Defesa. Art. 5º O Grupo de Trabalho Interministerial será integrado por um representante, titular e suplente, de cada órgão a seguir indicado: I - Ministério da Defesa, que o presidirá; II - Ministério da Ciência e Tecnologia; III - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; IV - Ministério da Fazenda; V - Ministério da Integração Nacional; VI - Ministério da Justiça; VII - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; VIII - Ministério das Relações Exteriores; IX - Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; X - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; e XI - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. § 1º Os membros do Grupo de Trabalho Interministerial serão indicados pelos titulares dos órgãos representados e designados em portaria do Ministro de Estado da Defesa. § 2º A presidência do Grupo de Trabalho Interministerial poderá convidar representantes de outros órgãos e entidades da administração pública e da sociedade para participar de suas atividades. § 3º Os resultados dos trabalhos serão registrados em atas, que consolidarão as demandas de interesse geral aprovadas e servirão como referência para definição de temas e questões que deverão ser abordados no Livro Branco de Defesa Nacional. Art. 6º O Ministro de Estado da Defesa decidirá sobre a realização de outras atividades relevantes para o desenvolvimento do Livro Branco de Defesa Nacional. Art. 7º O Ministério de Estado da Defesa definirá o cronograma de atividades do Grupo de Trabalho Interministerial, observado o prazo a que se refere o § 3º do art. 9º da Lei Complementar nº 97, de 1999. Art. 8º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 11 de fevereiro de 2011; 190º da Independência e 123º da República. DILMA ROUSSEFF Nelson Jobim Este texto não substitui o publicado no DOU de 14.2.2011
Decreto nº 7438 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto.
57
ANEXO B – MAPA MUNDI EVIDENCIANDO OS PAÍSES QUE POSSUEM O
LIVRO BRANCO
EM NEGRITO OS PAÍSES COM LIVROS BRANCOS DE DEFESA PUBLICADOS
58
ANEXO C – Resolução do Conselho Permanente da OEA nº 829.
OEA/Ser.G
CP/RES. 829 (1342/02)
6 novembro 2002
Original: espanhol
CP/RES. 829 (1342/02)
ADOÇÃO DAS DIRETRIZES PARA A ELABORAÇÃO DE
DOCUMENTOS SOBRE POLÍTICAS E DOUTRINAS NACIONAIS DE DEFESA
O CONSELHO PERMANENTE DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS,
RECORDANDO:
Que, mediante sua resolução AG/RES. 1801 (XXXI-O/01), "Fortalecimento da confiança e da
segurança", a Assembléia Geral solicitou ao Conselho Permanente que, por intermédio da
Comissão de Segurança Hemisférica, realizasse um "seminário sobre a preparação de
documentos sobre política e doutrina da defesa, em coordenação com o Colégio
Interamericano de Defesa e outras instituições especializadas na matéria, e que apresente um
relatório que sirva de base para a elaboração de diretrizes gerais para esses documentos";
Que, ademais, na resolução AG/RES. 1879 (XXXII-O/02), "Fortalecimento da confiança e da
segurança", a Assembléia Geral fez referência às diretrizes preparadas pelo Conselho
Permanente e lhe solicitou que fossem transmitidas "para consideração da Quinta Conferência
de Ministros da Defesa das Américas a ser realizada em Santiago, Chile, em novembro de
2002";
CONSIDERANDO que a Comissão de Segurança Hemisférica realizou o seminário em
cumprimento do mandato da Assembléia Geral em 22 de abril de 2002 e que esta Comissão
continuou suas deliberações sobre este tema a fim de concluir a preparação do projeto dessas
diretrizes antes da realização da referida Quinta Conferência de Ministros da Defesa;
LEVANDO EM CONTA que nas Conferências de Santiago e San Salvador sobre medidas de
fortalecimento da confiança e da segurança, realizadas em 1995 e 1998 respectivamente, se
reconheceu o fomento da elaboração e intercâmbio de informações sobre políticas e doutrinas
de defesa nacionais como uma medida de fortalecimento da confiança e da segurança; e
TENDO VISTO o Relatório do Presidente da Comissão de Segurança Hemisférica referente
às Diretrizes para a Elaboração de Documentos sobre Políticas e Doutrinas Nacionais de
Defesa,
RESOLVE:
1. Adotar as anexas Diretrizes para a Elaboração de Documentos sobre Políticas e
Doutrinas Nacionais de Defesa apresentadas pela Comissão de Segurança Hemisférica.
2. Transmitir estas Diretrizes à Quinta Conferência de Ministros da Defesa das Américas.
59
3. Instar os Estados membros a implementarem estas Diretrizes e informar a Organização a
esse respeito.
4. Solicitar à Secretaria-Geral que preste apoio aos Estados membros, segundo se solicitar,
para a implementação destas Diretrizes.
5. Solicitar à Secretaria-Geral que transmita esta resolução e as Diretrizes aprovadas ao
Secretário-Geral das Nações Unidas e ao Presidente da Junta Interamericana de Defesa e do
Colégio Interamericano de Defesa.
ANEXO
DIRETRIZES PARA A ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS SOBRE POLÍTICA E
DOUTRINA DA DEFESA ( LIVROS BRANCOS)
Introdução
Os países das Américas identificaram a elaboração e o compartilhamento dos Livros Brancos
da Defesa Nacional como um mecanismo útil de fortalecimento da confiança e da segurança
para a promoção da segurança no Hemisfério. Este estudo tem por objetivo oferecer uma
breve descrição das características essenciais dos Livros Brancos da Defesa e explicar os
fundamentos e o processo para sua elaboração. Figura também uma lista de elementos
comumente existentes nos Livros Brancos.
É importante notar que nas Américas não há um formato padrão acordado para os Livros
Brancos. Isso talvez seja um reflexo lógico dos diferentes contextos históricos, geográficos,
culturais, políticos e fiscais nos quais os países das Américas definem suas ameaças à
segurança e objetivos, capacidades e limitações da defesa. Entretanto, há elementos comuns a
muitos Livros Brancos. Este documento focaliza princípios básicos e levanta questões que
poderiam ser úteis aos governos na formulação dos próprios Livros Brancos, com base na
experiência dos Estados membros da OEA que já iniciaram esse processo.
O Livro Branco da Defesa: características essenciais
Um Livro Branco da Defesa é um documento chave de política que oferece a visão do
Governo a respeito da defesa. É um documento público que descreve o contexto amplo da
política estratégica para o planejamento da defesa com uma perspectiva de médio prazo. Não
se destina a ser redigido anualmente ou cada dois anos, mas oferecer uma perspectiva
suficiente para permitir um orçamento planejamento plurianual. Deve ser elaborado de modo
a ser suficientemente flexível para levar em conta pequenas modificações no ambiente da
segurança. Um novo Livro Branco é normalmente preparado em resposta a importantes
mudanças no ambiente estratégico ou para indicar mudanças significativas nas prioridades do
Governo.
Um Livro Branco é produzido depois de extensa consulta tanto dentro como fora do Governo.
Visa a refletir um consenso de base ampla sobre o papel apropriado das forças de defesa desse
país, no contexto de suas prioridades nacionais, contexto jurídico e recursos.
Um Livro Branco determina a análise do Governo sobre o ambiente de segurança do país,
tanto nacional como internacional. Isso pode incluir uma avaliação das ameaças e fatores de
60
segurança, tanto tradicionais como não-tradicionais. O documento destaca questões da mais
alta prioridade para esse país e proporciona uma visão geral do modo como a política de
defesa será implementada para enfrentar esses desafios à segurança. Também descreve, em
termos amplos, as capacidades atuais e planejadas, bem como as funções das forças de defesa.
Um Livro Branco da Defesa é também um instrumento de prestação de contas. É essencial
que a política e os objetivos constantes do Livro Branco se refiram aos níveis de recursos
disponibilizados pelo Governo às forças da defesa e sejam coerentes com eles. O Livro
Branco pode conter medições do desempenho (por exemplo, prazos para a reestruturação das
Forças Armadas ou prazo máximo para o desdobramento de um ativo militar específico). Isso
torna o Ministério da Defesa e as Forças Armadas responsáveis pelos objetivos declarados - e
também os capacita a defender o pedido de recursos orçamentários necessários para alcançar
o nível de desempenho para cumprir a política de defesa do Governo.
Os benefícios e as vantagens da preparação de um Livro Branco
A preparação de um Livro Branco da Defesa como tal é um exercício fundamental em
democracia. O processo requer extensa cooperação entre civis e militares. A consulta entre os
líderes políticos, ministérios públicos, militares e o público em geral promove uma ampla
conscientização a respeito das funções e do valor das forças armadas. Portanto, o produto
final deste processo confere maior legitimidade democrática à política de defesa nacional do
que se tivesse sido criado sem debate e sem consulta.
Como documento público, um Livro Branco explica o papel das forças armadas e por que
esse papel é importante para os cidadãos. Ajuda a construir um eleitorado que poderá apoiar o
financiamento contínuo do orçamento da defesa face a pressões de interesses concorrentes da
política nacional.
Como política governamental, um Livro Branco apresenta instrução coerente ao Ministério da
Defesa e aos militares sobre as expectativas governamentais a respeito de suas funções.
Proporciona também os fundamentos e a autoridade para a alocação de recursos às forças da
defesa, bem como legitimiza o gasto de fundos públicos para esse propósito.
Em virtude de sua perspectiva estratégica, um Livro Branco é um instrumento importante para
a justificação de recursos orçamentários em prazo plurianual. A garantia de financiamento
previsível, por sua vez, é uma ajuda significativa em processos contínuos de planejamento da
defesa.
Os Livros Brancos da Defesa foram também identificados como importantes medidas de
fortalecimento da confiança e da segurança. A preparação e distribuição dos Livros Brancos
aumentam a transparência não somente no contexto nacional, mas também em âmbito
internacional. A consulta com os aliados, vizinhos e parceiros regionais e internacionais que
poderiam ser afetados pela política do Livro Branco reveste importância especial em termos
de assegurar que as intenções de um país não sejam mal interpretadas. Compartilhar os Livros
Brancos também incentiva um diálogo construtivo de política sobre mudanças no ambiente da
segurança e a avaliação de ameaças tradicionais e não-tradicionais, bem como tendência em
evolução na política e planejamento da defesa entre oficiais militares e autoridades
encarregadas da defesa de diferentes países.
O processo
61
Contexto de política:
Um Livro Branco é uma expressão fundamental da política nacional. O produto final é uma
declaração da política governamental e não simplesmente do Ministério da Defesa ou das
forças armadas. A política do Livro Branco deve ser coerente com os propósitos, prioridades e
objetivos do Governo, inclusive política externa. Indubitavelmente, o Livro Branco deve
também respeitar a Constituição e o contexto jurídico do país.
As questões orçamentárias são parte crítica do debate sobre política interna. Um Livro Branco
deve abordar questões de recursos, uma vez que a disponibilidade de financiamento do capital
e as despesas operacionais e de pessoal determinarão se a forças da defesa serão ou não
capazes de cumprir seus objetivos declarados.
No tocante ao contexto da política internacional, o Livro Branco confirma as obrigações e
compromissos bilaterais, regionais e multilaterais do país. Repetimos que essas funções
também têm implicações de recursos que devem ser levadas em conta no processo de
planejamento orçamentário.
Consulta aos atores chave:
A elaboração de um Livro Branco é um processo consultivo liderado pelos mais altos níveis
do Governo. O Governo - o executivo político eleito - tem a responsabilidade primordial pela
determinação de orientações sobre a política nacional. Portanto, é o Governo que proporciona
a liderança política para a elaboração de um Livro Branco e que filtra os interesses, demandas
e pressões de todos os grupos interessados, a fim de tomar decisões sobre sua prioridade
relativa no âmbito de uma agenda mais ampla do Governo.
Para tomar decisões informadas, o Governo poderá utilizar as recomendações e a colaboração
dos ministérios competentes, bem como o assessoramento das comissões parlamentares ou do
Congresso. As opiniões do público em geral, organizações não-governamentais, setor
industrial, grupos de peritos e parceiros internacionais também são relevantes ao processo, e o
Governo e o Ministério da Defesa podem tomar a iniciativa de utilizar esses grupos em etapas
diferentes da elaboração do Livro Branco.
O Ministério da Defesa é central para o desenvolvimento de uma visão e uma agenda da
defesa. A hierarquia superior do Ministério da Defesa e das forças armadas proporciona ao
Ministro uma análise de política e assessoramento militar. As suas recomendações devem
levar em consideração a avaliação do Governo a respeito do ambiente estratégico,
necessidades de defesa do país, objetivos e prioridades do Governo e recursos disponíveis.
Esse insumo baseia-se em avaliações internas e consultas com autoridades de outros
ministérios públicos, bem como peritos externos. A tecnologia moderna de comunicações cria
possibilidades de consulta muito aberta por meio da criação, por exemplo, de sites na Internet
por meio dos quais o público possa expressar suas opiniões.
O Ministério das Relações Exteriores é consultado constantemente no processo de elaboração
do Livro Branco, uma vez que a política de defesa deve ser coerente com os objetivos de
política externa do país e deve apoiá-los. O Ministério das Relações Exteriores
freqüentemente atua como canal das opiniões de parceiros internacionais.
62
Vários outros ministérios ou jurisdições subnacionais (estados, províncias) podem também ter
interesse direto nas consultas, especialmente em situações em que as forças armadas
proporcionam um serviço substantivo a esses ministérios ou jurisdições, com freqüência em
campos não-tradicionais. Por exemplo, a capacidade de vigilância marítima das forças
armadas poderá ser necessária para permitir a outros ministérios cumprir seus mandatos em
proteção da pesca, interdição de drogas, assistência humanitária ou proteção ambiental.
A consulta a órgãos centrais responsáveis pelo orçamento e despesas nacionais (por exemplo,
Gabinete do Conselho Privado ou Ministério da Presidência, Ministério das Finanças,
Tesouro, etc.) é essencial para definir as limitações de recursos dentro das quais a política de
defesa deve ser realizada. Neste sentido, quase todos os ministérios terão interesse indireto no
Livro Branco, na medida em que os recursos postos à disposição do orçamento da defesa
afetem o montante de recursos restantes para financiar outros ministérios.
Os parlamentares ou congressistas geralmente desempenham um papel de destaque na
elaboração dos Livros Brancos. As comissões poderão reunir-se para ouvir os líderes militares
e as autoridades públicas de diferentes ministérios, bem como especialistas em política de
defesa e segurança provenientes de organizações não-governamentais, acadêmicos e o público
em geral. Os membros das comissões poderão também viajar a diferentes partes do país ou ao
exterior para fazerem consultas e realizarem audiências públicas ou reuniões municipais. Tais
mecanismos incentivam não apenas um amplo debate público, mas também promovem a
participação de líderes políticos, não afiliados ao partido do governo, na formulação da
política nacional. Além disso, esse processo com freqüência resulta em extensa cobertura da
mídia, promovendo assim uma maior conscientização nacional a respeito da revisão de
políticas.
Além de participar das consultas iniciadas pelo Governo ou por seu Ministério da Defesa, os
representantes do setor privado poderão também agir de forma preventiva no tocante a
expressar seus pontos de vista em debate público e no processo de política por meio de outros
canais. Grupos de peritos, acadêmicos, representantes das empresas privadas, organizações
não-governamentais e outras entidades poderão organizar conferências, dar entrevistas,
publicar artigos na mídia ou na imprensa especializada, escrever para autoridades eleitas e de
qualquer outra forma advogar interesses específicos na elaboração do Livro Branco.
Deveriam também ser levadas em conta as preocupações dos parceiros internacionais que têm
interesse nos Livros Brancos ou que poderiam ser por eles afetados. As consultas poderiam
ser feitas a aliados ou vizinhos com os quais o Estado mantêm tratados ou acordos bilaterais
ou regionais. Além disso, se o Livro Branco implicar apoio a objetivos internacionais de paz e
segurança de organizações multilaterais, tais como as Nações Unidas, essas entidades também
deverão participar do processo de consulta.
Os mecanismos específicos de consulta poderão variar de país a país, dependendo das
estruturas, políticas e práticas nacionais. É responsabilidade do Governo determinar como
organizará e coordenará os processos globais de consulta, a fim de elaborar um Livro Branco
da Defesa coerente que aborde adequadamente os interesses de segurança tanto nacionais
como internacionais.
O conteúdo: Elementos comuns aos Livros Brancos
63
Figura, a seguir, uma compilação de elementos comuns aos Livros Brancos, com uma
sugestão de um esboço para organizá-los.
I. Política e doutrina da defesa
A. Avaliação do ambiente de segurança e contexto interno
Inclui uma descrição do ambiente de segurança global, regional e nacional. Cada vez mais a
avaliação baseia-se num conceito multidisciplinar de segurança e inclui ameaças tanto
tradicionais como não-tradicionais e fatores que afetam a segurança do país e de seus
cidadãos.
Uma descrição do contexto interno (prioridades globais do governo, questões orçamentárias)
pode também ser incluída, uma vez que proporciona o contexto no qual serão tomadas as
decisões sobre política da defesa e implementação.
B. Estratégia para responder a ameaças percebidas e cumprir compromissos internacionais
Esta seção estabelece uma ampla abordagem de política a ser adotada pelo Governo, por meio
de seu Ministério da Defesa e suas forças armadas, a fim de responder às ameaças e
problemas de segurança descritas na avaliação do ambiente de segurança.
C. Funções e missões das Forças Armadas
Embora as funções e missões das forças armadas tenham tradicionalmente incluído a proteção
do Estado, de seu território e cidadãos contra a agressão externa, há agora uma tendência a
incluir também funções não-tradicionais, inclusive assistência a outros ministérios públicos.
Por exemplo, as capacidades de vigilância aérea e marítima podem oferecer apoio
significativo para capacitar os ministérios responsáveis pela pesca, meio ambiente, imigração,
alfândega, interdição de drogas, busca e resgate, etc. a cumprirem seus mandatos.
Outra consideração chave é saber se o Governo deseja utilizar as capacidades de suas forças
armadas para fortalecer a paz e a segurança internacionais. Apoio deste tipo poderá abranger
uma ampla série de funções, incluindo, por exemplo, prover tropas para a manutenção da paz
ou iniciativas de fortalecimento da paz, apoio operacional para assistência humanitária em
situações pós-conflitos ou desastres naturais ou assessoramento militar e perícia para apoiar
regimes ou acordos internacionais de controle de armas.
Essas funções diferirão de país a país, dependendo da avaliação estratégica do Governo,
contexto jurídico, história, geografia e consenso nacional a respeito do papel apropriado das
forças armadas.
II. Capacidades
Esta seção proporciona uma descrição das capacidades atuais e planejadas das forças armadas.
Conforme indicado anteriormente, é útil incluir padrões de desempenho na declaração de
capacidades, uma vez que tais indicações facilitam a prestação de contas.
III. Questões orçamentárias e de recursos
64
Considerações sobre recursos financeiros e humanos são críticas para o Ministério da Defesa
e as forças armadas, a fim de estarem capacitados para alcançar os objetivos do Governo. Por
esta razão, é importante que o compromisso de proporcionar as capacidades declaradas seja
apoiado por um sólido plano financeiro e de pessoal.
IV. Futuras direções: Modernização das forças de defesa, aquisições importantes de armas,
etc.
Uma indicação de quaisquer mudanças importantes - reestruturação das forças de defesa,
aumento ou redução significativos de pessoal, aquisições importantes de armas ou outras
decisões que tenham impacto significativo sobre as políticas ou capacidades das forças de
defesa - deverá ser destacada no Livro Branco da Defesa. A transparência dessas decisões é
extremamente útil como medida de fortalecimento da confiança e da segurança.
V. Estrutura militar da defesa
Uma descrição da estrutura militar da defesa é também uma medida útil de transparência.
65
C 2011 ESG
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Biblioteca General Cordeiro de Farias
Castanheiro, Paulo Volpini
“Livro Branco” de Defesa Nacional: uma necessidade? / CMG Paulo Volpini Castanheiro. Rio de Janeiro: ESG, 2011.
64f.: il.
Orientador: Cel Edison Gomes Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia, apresentado ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.
1. Defesa Nacional. 2. Livro Branco. 3. Transparência. 4.
Dissuasão. I. Título.