Livro Branco do Serviços de Prevenção

Embed Size (px)

Citation preview

CATALOGAO RECOMENDADA

COMISSO DO LIVRO BRANCO DOS SERVIOS DE PREVENOLivro branco dos servios de preveno das empresas/Comisso do Livro Branco dos Servios de Preveno. - Lisboa: IDICT, 2001. - 99 p. (Segurana e sade no trabalho. Estudos; 1) Servios de preveno na empresa/Livro branco/IDICT/Portugal

Autor: Comisso do Livro Branco dos Servios de Preveno Design e Produo Grfica Miuxa Carvalhal Fotocomposio, Fotolitos e Impresso Seleprinter Sociedade Grfica, Ld Editor IDICT Instituto de Desenvolvimento e Inspeco das Condies de Trabalho Tiragem: 2.500 exemplares 2 Edio Lisboa, Maio 2001 Depsito legal: 142542/99 ISBN: 972-8321-28-7

2

O Livro Branco dos Servios de Preveno teve em conta o Livro Verde, divulgado pelo IDICT em 1997, e um largo conjunto de colaboraes provindas do debate pblico que se produziu em seu torno. A sua elaborao foi da responsabilidade da Comisso do Livro Branco dos Servios de Preveno, constituda por: Presidente: Dr. Fernando Antnio Cabral Peritos: Prof. Doutor Alberto Srgio Miguel Prof. Doutor Salvador Massano Cardoso Prof. Doutor Lus Alves Dias Prof. Doutor Alexandre Sousa Pinto Dr. Carlos Silva Santos Dr. Jos Henrique Costa Tavares Dr. Alexandra Costa Artur Dr. Lus Conceio Freitas Eng. Antnio Neto Simes Dr. Armando Tavares Dr. Josefina Marvo Dr. Luis Filipe Nascimento Lopes Dr. Joaquim Arenga

3

NOTA DE APRESENTAO Este Livro Branco pretende dar cumprimento ao Despacho do Senhor Ministro do Trabalho e da Solidariedade, de 14 de Setembro de 1998, que considerando a necessidade de se imprimir uma dinmica poltica forte ao desenvolvimento da segurana e sade do trabalho nos locais de trabalho, constituiu esta Comisso com o objectivo de reflectir sobre o debate produzido em torno do Livro Verde dos Servios de Preveno e formular recomendaes sobre as diversas medidas a implementar quer no plano normativo, quer no mbito dos sistemas envolventes dos servios de preveno dos locais de trabalho. Realo o empenhamento dos membros da Comisso na misso de que foram incumbidos, o qual foi bem demonstrado quer na disponibilizao de conhecimentos, experincias e tempo, quer na permanente procura de consensos em torno doquadro de medidas fundamentais ao desenvolvimento da segurana e sade nos locais de trabalho. Evidencio ainda a extraordinria colaborao que foi prestada Comisso e a mim prprio em todos os momentos, mas, em particular, na recolha e tratamento da informao necessria ao desenvolvimento dos trabalhos e na redaco final do Livro Branco pelos meus colegas do Instituto de Desenvolvimento e Inspeco das Condies de Trabalho (IDICT), Dr. Manuel Maduro Roxo e Eng. Maria Leonor Figueira. Abril de 1999 O Presidente da Comisso do Livro Branco dos Servios de Preveno Fernando A. Cabral

5

DESPACHO DO MINISTRO DO TRABALHO E DA SOLIDARIEDADEDespacho n. 17 118/98 (2. srie). Considerando que a organizao das actividades de segurana, higiene e sade do trabalho nos locais de trabalho constitui o elemento fulcral da implementao dos princpios da Directiva n. 89/39/CEE, de 12 de Junho, que foi objecto de transposio pelo DecretoLei n, 441/91, de 14 de Novembro, e do desenvolvimento da estratgia preconizada no Acordo de Segurana, Higiene e Sade do Trabalho e no Acordo de Concertao Estratgica, subscritos pelo Governo e pelos parceiros sociais respectivamente em Julho de 1991 e Dezembro de 1996; Considerando que a efectiva implementao de tais princpios e estratgia exige a definio de um quadro harmonizado de medidas que garanta a adequabilidade do regime s especificidades dos sectores e das empresas do Pas e a existncia de recursos nacionais necessrios ao desenvolvimento efectivo da preveno de riscos profissionais nos locais de trabalho; Considerando que urge dar sequncia dinmica que neste contexto foi criada com o Livro Verde sobre os Servios de Preveno, editado em 1997 pelo IDICT (Instituto de Desenvolvimento e Inspeco das Condies de Trabalho), por incumbncia do Governo; Considrando que a divulgao daquele Livro Verde foi acompanhada de um inqurito que permitiu a recolha de um nmero muito significativo de contributos dos mais diversos sectores da sociedade implicados na problemtica da segurana, higiene e sade do trabalho; Considerando que se encontra concludo o tratamento daquelas respostas, tendo sido j disponibilizados ao Governo os respectivos resultados; Considerando que importa aprofundar prospectivamente tais resultados atravs do concurso de peritos de competncia firmada e vises plurais complementares, com vista recomendao final de medidas a adoptar nos domnios relevantes; Considerando, por fim, que, em face do atraso que ainda se verifica no nosso pas no domnio da segurana, higiene e sade do trabalho, particularmente visvel nos elevados ndices de acidentes de trabalho e de doenas profissionais, se reconhece a necessidade de imprimir a este processo uma dinmica poltica forte que conte com o envolvimento de personalidades que conheam profundamente a natureza das problemticas em causa: Determino: 1 constituda a Comisso do Livro Branco dos Servios de Preveno. 2 Compete a esta Comisso reflectir sobre toda a problemtica relativa organizao das actividades de segurana, higiene e sade do trabalho nos locais de trabalho e seus sistemas envolventes a partir das perspectivas traadas no Livro Verde sobre os Servios de Preveno e dos contributos recolhidos atravs da sua divulgao. 3 Em resultado desta reflexo, a Comisso dever elaborar um livro branco onde sejam perspectivadas e sistematizadas as diversas medidas a implementar, quer no plano normativo quer no mbito dos sistemas envolventes dos servios de preveno dos locais de trabalho. 4 A Comisso do Livro Branco dos Servios de Preveno integrada pelos seguintes elementos: Dr. Fernando Antnio Rodrigues da Silva Cabral; Prof. Doutor Alberto Srgio Miguel; Prof. Doutor Salvador Massano Cardoso; Prof. Doutor Lus Alves Dias; Prof. Doutor Alexandre Sousa Pinto; Dr. Carlos Silva Santos; Dr. Jos Henrique da Costa Tavares; Dr. Alexandra Costa Artur; Dr. Lus Conceio Freitas; Engenheiro Antnio Neto Simes; Dr. Armando Tavares; Dr. Josefina Marvo; Dr. Lus Filipe Nascimento Lopes; Dr. Joaquim Arenga. 5 A Comisso ser presidida pelo Dr. Fernando Antnio Cabral, presidente do IDICT. 6 A Comisso poder directamente suscitar a colaborao dos servios ou tcnicos da Administrao do Estado ou obter a colaborao de peritos externos, desde que tal se justifique para o bom e clere andamento dos trabalhos. 7 A Comisso dever apresentar o livro branco at ao final do ano em curso. 8 O IDICT assegurar o apoio logstico ao funcionamento da Comisso e ao financiamento da sua actividade atravs das verbas afectas aos Programas da Segurana e Sade do Trabalho. 14 de Setembro de 1998. O Ministro do Trabalho e da Solidariedade, Eduardo Lus Barreto Ferro Rodrigues.

(Publicado no Dirio da Repblica - 2. Srie - 1/10/98)

7

NDICE A MISSO DA COMISSO E A ABORDAGEM PROPOSTA NO LIVRO BRANCO DOS SERVIOS DE PREVENO 1. A SEGURANA E SADE NO TRABALHO E AS ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTO 1.1. O TRABALHO E A PREVENO: BREVE REFLEXO HISTRICA 1.2. O CONTEXTO DA GLOBALIZAO 1.3. AS ESTRATGIAS DA QUALIDADE E DO AMBIENTE 1.4. AS ESTRATGIAS DE VALORIZAO DOS RECURSOS HUMANOS 1.5. OS MODELOS DA GESTO DA PREVENO DE RISCOS PROFISSIONAIS NA EUROPA 1.6. A ESTRATGIA DA UNIO EUROPEIA PARA A SEGURANA E SADE NO TRABALHO 1.7. A PROBLEMTICA DOS ACIDENTES DE TRABALHO E DAS DOENAS PROFISSIONAIS 1.8. A ESTRUTURA EMPRESARIAL 1.9. O SISTEMA NACIONAL DE PREVENO DE RISCOS PROFISSIONAIS 1.10. O ACORDO SOCIAL DA SEGURANA, HIGIENE E SADE DO TRABALHO (1991) 1.11. O ACORDO DE CONCERTAO ESTRATGICA (1996) 2. OS SERVIOS DE PREVENO COMO OBJECTIVO ESTRATGICO 2.1. A NOVA ABORDAGEM DA PREVENO 2.2. PRINCIPAIS CONSTRANGIMENTOS DIAGNOSTICADOS 2.3. A DINMICA DO LIVRO VERDE DOS SERVIOS DE PREVENO 2.4. ACTIVIDADES DE RISCO ELEVADO 2.5. SECTORES E GRUPOS ESPECIAIS 2.6. MISSO DOS SERVIOS DE PREVENO 2.7. FUNES E ACTIVIDADES DOS SERVIOS DE PREVENO 2.8. ESTRUTURAO DOS SERVIOS DE PREVENO 2.9. RECURSOS INTERNOS DOS SERVIOS DE PREVENO 2.9.1. SERVIOS INTERNOS 2.9.2. SERVIOS ASSEGURADOS PELO EMPREGADOR 2.9.3. SERVIOS ASSEGURADOS POR TRABALHADOR DESIGNADO PELO EMPREGADOR 2.10. RECURSOS EXTERNOS 2.10.1. SERVIOS EXTERNOS 2.10.2. SERVIOS ASSOCIATIVOS 2.10.3. SERVIOS INTEREMPRESAS 2.10.4. SERVIOS ASSEGURADOS PELO SERVIO NACIONAL DE SADE 2.11. A FORMAO DOS ACTORES DO SISTEMA DE PREVENO DAS EMPRESAS 2.11.1. A FORMAO DOS EMPREGADORES E SEUS REPRESENTANTES 2.11.2. A FORMAO DOS TRABALHADORES E SEUS REPRESENTANTES 2.11.3. A FORMAO QUALIFICANTE DE PROFISSIONAIS DE SHST 2.11.4. A QUALIFICAO DOS TCNICOS DE SEGURANA E HIGIENE DO TRABALHO 2.11.5. A QUALIFICAO DOS PROFISSIONAIS DA SADE DO TRABALHO 2.12. O SISTEMA DE QUALIDADE DOS SERVIOS DE PREVENO 2.12.1. CERTIFICAO DOS PROFISSIONAIS DE SHST 2.12.2. QUALIDADE DA FORMAO QUALIFICANTE 2.12.3. QUALIDADE DOS PROCEDIMENTOS TCNICOS 2.12.4. QUALIDADE DA PRESTAO DE SERVIOS DE SHST 2.12.5. AVALIAO DAS ACTIVIDADES DOS SERVIOS DE PREVENO 3. CONCLUSES 4. NOTA FINAL RESUMO RSUM SUMMARY 12 13 13 17 18 19 20 21 27 34 36 39 42 45 45 47 48 49 50 51 52 54 57 57 58 60 60 60 61 61 62 64 65 66 67 68 70 71 73 74 75 75 77 79 93 95 97 99

9

A MISSO DA COMISSO DO LIVRO BRANCO DOS SERVIOS DE PREVENO A Directiva 89/391/CEE, de 12 de Junho - Directiva-Quadro - veio estabelecer para todo o espao da Unio Europeia um conjunto de medidas destinadas a promover a melhoria da segurana e da sade dos trabalhadores, no trabalho. Tais medidas configuram uma nova abordagem da preveno de riscos profissionais, considerando-se a organizao das actividades de segurana, higiene e sade do trabalho, nos locais de trabalho, como elemento fulcral da implementao dos seus princpios. Os princpios desta Directiva apontam para a necessidade do desenvolvimento de estratgias que potenciem a integrao dos vectores da preveno de riscos profissionais na gesto empresarial, tendo em vista a obteno de nveis elevados de segurana, sade e bem-estar dos trabalhadores, a par da melhoria da capacidade competitiva das empresas. A promoo de tais princpios estratgicos exige a definio de um quadro harmonizado de medidas que garanta a adequabilidade do respectivo regime s especificidades dos sectores econmicos e do tecido empresarial do nosso Pas, bem como a criao de recursos nacionais necessrios ao desenvolvimento efectivo da preveno de riscos profissionais nos locais de trabalho. Em tal sentido, o LIVRO VERDE DOS SERVIOS DE PREVENO, organizado e divulgado em 1997 pelo IDICT (Instituto de Desenvolvimento e Inspeco das Condies de Trabalho), por incumbncia do Governo, veio suscitar um debate pblico profcuo de que importa retirar as concluses fundamentais. Assim, o Governo, por Despacho do Ministro do Trabalho e da Solidariedade, de 14 de Setembro de 1998, veio a constituir a COMISSO DO LIVRO BRANCO DOS SERVIOS DE PREVENO, qual assinalou como misso. REFLECTIR SOBRE TODA A PROBLEMTICA RELATIVA ORGANIZAO DAS ACTIVIDADES DE SEGURANA, HIGIENE E SADE DO TRABALHO NOS LOCAIS DE TRABALHO E SEUS SISTEMAS ENVOLVENTES. Tendo analisado o contedo do Livro Verde e dos contributos recolhidos no debate pblico que se desenvolveu em seu torno, esta Comisso apresenta no seu relatrio, que assume a forma de LIVRO BRANCO. UM CONJUNTO DE PERSPECTIVAS SOBRE AS DIVERSAS MEDIDAS FUNDAMENTAIS A IMPLEMENTAR, QUER NO PLANO NORMATIVO, QUER NO MBITO DOS SISTEMAS ENVOLVENTES DOS SERVIOS DE PREVENO DOS LOCAIS DE TRABALHO.

11

A ABORDAGEM PROPOSTA NESTE LIVRO BRANCO A segurana, higiene e sade do trabalho no se configura como um mero conjunto de actividades de natureza tcnica e organizativa em torno da preveno dos acidentes de trabalho e das doenas profissionais. Com efeito, trata-se de uma rea cuja gesto influencia decisivamente a vida das organizaes e que determinante no desenvolvimento da sua principal fonte de energia: As pessoas. Por outro lado, a dinmica da segurana, higiene e sade do trabalho no se circunscreve ao territrio das organizaes produtivas, dizendo respeito, tambm, prpria organizao social, sendo, por isso, cenrio de polticas pblicas de grande dimenso. Entendeu-se, por isso, que este Livro Branco deveria comear por problematizar as prprias envolventes da segurana e sade do trabalho para, no seu final, chegar, sustentadamente, identificao de um conjunto de medidas relativas organizao da preveno nos locais de trabalho. E, assim, a sua estrutura conhece o desenvolvimento seguinte: A propsito da SEGURANA E SADE NO TRABALHO e DAS ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTO, recordam-se as origens da preveno de riscos profissionais e procura-se situar a preveno no quadro dos novos desafios do mundo do trabalho, identificando o seu contributo para o desenvolvimento econmico-social do pas, sem esquecer o papel fundamental que o dilogo social e a participao nos locais de trabalho desempenha neste contexto; A propsito do LIVRO VERDE dos SERVIOS DE PREVENO, analisa-se o quadro estratgico em que as actividades de segurana e sade no trabalho devem ser contextualizadas e apresenta-se todo um conjunto de reflexes e propostas tendo em vista o desenvolvimento dos recursos e dos modelos da sua organizao no mbito das empresas; Por fim, apresenta-se nas CONCLUSES uma sntese das medidas fundamentais propostas neste Livro Branco.

12

1. A SEGURANA E SADE NO TRABALHO E AS ESTRATGIAS DE DESENVOLVIMENTO 1.1. O TRABALHO E A PREVENO: BREVE REFLEXO HISTRICA A segurana no trabalho preocupa a humanidade desde longa data. Com efeito, at Revoluo Francesa a organizao do trabalho ligava de forma intrnseca o Trabalho e a Preveno. A aprendizagem profissional compreendia a aprendizagem da segurana. As regras de cada arte, por exemplo, consubstanciavam esta integrao, na linha da defesa das corporaes das artes e ofcios. A viso civilista das relaes entre os indivduos, decorrente da Revoluo Francesa, fez incidir no salrio, que pagava a fora de trabalho, o dever principal do empregador na relao jurdico-laboral, pelo que se verificou neste perodo histrico um retrocesso ao nvel das condies do ambiente de trabalho que foi potenciado pelas novas condies que passaram a caracterizar os processos industriais (revoluo industrial). Em meados do sculo XIX, verificou-se uma tomada de conscincia sobre os efeitos mais nefastos deste retrocesso e adoptaram-se medidas de proteco sobre situaes de trabalho mais penosas ou mais sujeitas a riscos graves, com destaque para o trabalho infantil e a durao de jornada de trabalho. No final do sculo XIX / princpio do sculo XX, com o advento do taylorismo, apareceram as noes de Higiene e Segurana do Trabalho e desenvolveu-se a criao de corpos de Inspeco do Trabalho, dirigidos, muito particularmente, ao controlo das condies de higiene e segurana do trabalho, particularmente nas situaes de trabalho mais penosas (p.ex. trabalho em Minas) e em reas de maior repercusso na vida dos trabalhadores (p.ex. Durao do Trabalho e Trabalho Feminino). Os primeiros desenvolvimentos no sentido da criao destes corpos de inspectores do trabalho podero ser encontrados na Inglaterra (1833), em Frana (1850), na Alemanha (1870), em Itlia (1870) e em Espanha (1880). Em 1919 criada a Organizao Internacional do Trabalho (OIT), em cuja Carta constitutiva se prev a obrigao da constituio, nos pases subscritores, daqueles servios de inspeco. Na sua primeira Sesso, realizada em Washington, no mesmo ano, adoptada a 5 Recomendao que versa, precisamente, sobre a inspeco do trabalho para questes de higiene e segurana do trabalho. Entretanto, ainda no princpio do sculo que emergem os primeiros afloramentos do Direito de Reparao da sinistralidade laboral. Em 1925, a OIT adoptou

13

as Convenes 17 e 18 relativas, respectivamente, reparao de acidentes de trabalho e reparao de doenas profissionais. Aps a 2 Guerra Mundial, a OIT adopta, em 1947, a Conveno 81 que versa sobre a Inspeco do Trabalho na Indstria e Comrcio, centrando a sua aco nas condies de trabalho, com particular destaque para as condies de higiene e segurana do trabalho. Em 1969, adopta a Conveno 129 que, dentro do mesmo esprito, versa sobre a Inspeco do Trabalho na Agricultura. Em 1981, finalmente, aquela organizao internacional formula o conjunto de princpios que passa a constituir a arquitectura fundamental da Preveno de Riscos Profissionais, ao adoptar a Conveno 155. Em Portugal, no incio do sculo XIX foi instituda uma legislao, com um correspondente servio de inspeco, sobre a segurana no trabalho em geradores e recipientes a vapor. Em finais deste mesmo sculo verificam-se, ainda, desenvolvimentos legislativos e inspectivos quanto ao trabalho de mulheres e menores nas fbricas e oficinas (1891), bem como quanto ao trabalho na construo civil (1895) e nas padarias (1899). Na primeira metade do sculo XX surge legislao e um sistema de inspeco dirigidos segurana no trabalho das instalaes elctricas (1901) e ao regime de durao do trabalho (1919 e 1934), bem como o regulamento de higiene, salubridade e segurana nos estabelecimentos industriais (1922). Por outro lado, verifica-se o aparecimento do sistema de reparao (em 1913), com a definio da responsabilidade patronal pelos acidentes de trabalho e com a instituio do seguro social obrigatrio (1919), acompanhado da criao do Instituto de Seguros Sociais Obrigatrios e da Previdncia Geral, que foi, mais tarde, substitudo pelo Instituto Nacional de Trabalho e Previdncia (1933). Nas dcadas de 40 e 50 possvel identificar alguns desenvolvimentos interessantes no plano de SHST, nomeadamente: O surgimento por influncia francesa e inglesa das primeiras experincias de servios mdicos de empresa em algumas grandes organizaes empresariais, numa lgica de servir os trabalhadores dos respectivos grupos econmicos; A publicao de legislao relativa segurana no trabalho da construo civil (1958), acompanhada da realizao de uma campanha nacional de preveno de acidentes de trabalho nesta actividade;

14

A atribuio negociao colectiva do papel de regular a constituio de comisses de higiene e segurana do trabalho nas empresas com o objectivo de enquadrar a interveno dos trabalhadores neste domnio (1959). Na dcada de 60 evidenciam-se quatro momentos importantes: A criao de estruturas (1961) no mbito do Ministrio das Corporaes (Gabinete de Higiene e Segurana do Trabalho e Caixa Nacional de Seguros e Doenas Profissionais); A publicao de legislao relativa preveno mdica da silicose (1962); A adopo do regime de reparao dos acidentes de trabalho e das doenas profissionais (1965); A aprovao de legislao relativa medicina do trabalho (1967). Na dcada de 70 desenvolve-se a criao de Servios de Medicina do Trabalho em algumas grandes empresas industriais e, por influncia do Regulamento Geral de Higiene e Segurana do Trabalho para a Indstria, publicado em 1971, surgem as primeiras experincias no desenvolvimento de actividades de segurana e higiene do trabalho nas empresas, particularmente nos sectores das indstrias qumica e metalomecnica. Na dcada de 80 assistimos a alguns factores de desenvolvimento da preveno de riscos profissionais, sendo de destacar: A consagrao constitucional, na reviso de 1982, do direito prestao do trabalho em condies de higiene, segurana e sade; A criao do Conselho Nacional de Higiene e Segurana do Trabalho, por resoluo do Conselho de Ministros de 1982; A ratificao, em 1984, da Conveno 155 da OIT que constitui o grande quadro de referncia internacional em matria de polticas nacionais e aces a nvel nacional e a nvel de empresa no mbito da segurana, sade dos trabalhadores e ambiente de trabalho; A publicao, em 1986, do Regulamento Geral de Higiene e Segurana do Trabalho nos Estabelecimentos Comerciais, de Escritrio e Servios. Nesta dcada verifica-se, tambm, a publicao de alguns diplomas legais relativos preveno de riscos profissionais, particularmente no que respeita ao trabalho nas minas e pedreiras e, ainda, quanto aos riscos associados aos agentes fsicos e qumicos, em resultado da transposio da primeira gerao de Directivas comunitrias que precedeu a Directiva-Quadro de 1989. Em tal caso esto, nomeadamente, os regimes relativos s radiaes ionizantes, ao rudo, ao amianto, ao chumbo e ao cloreto de vinilo monmero.

15

, todavia, no incio da dcada de 90 que se vai verificar o grande salto na perspectivao de uma poltica nacional global para a segurana, higiene e sade do trabalho, tendo-se avaliado o estado de subdesenvolvimento da implementao dos princpios da Conveno 155 da OIT, ao mesmo tempo que se equacionavam os novos desafios trazidos pela Directiva-Quadro da Unio Europeia, de 1989 (Directiva 89/391/CEE). Os marcos fundamentais deste perodo podem encontrar-se nos seguintes momentos: Julho/91: Acordo Social de Segurana, Higiene e Sade do Trabalho; Novembro/91: Regime Jurdico de Enquadramento da Segurana, Higiene e Sade do Trabalho; 1992: Ano Europeu para a Segurana e Sade no Local deTrabalho; 1993: Reestruturao da Administrao do Trabalho e criao do IDICT; 1994: Regime Jurdico de Organizao e Funcionamento das Actividades de Segurana, Higiene e Sade do Trabalho. , tambm, na dcada de 90 que se verifica uma repentina e abundante produo normativa, tendo em vista a transposio de diversas Directivas Comunitrias, como sejam as relativas a: Locais de Trabalho; Equipamentos de Trabalho; crans de Visualizao; Equipamentos de Proteco Individual; Movimentao Manual de Cargas; Sinalizao de Segurana; Estaleiros Temporrios ou Mveis (Construo); Navios de Pesca; Agentes Biolgicos; Indstria Extractiva. Em todo este quadro de produo normativa assistimos, ainda, no mesmo perodo, adopo de novos regimes relativos ao licenciamento industrial, aos acidentes industriais graves e organizao das actividades de segurana, higiene e sade do trabalho nos servios e organismos da Administrao Pblica. Entretanto, o Acordo de Concertao Estratgica celebrado entre o Governo e Parceiros Sociais, em Dezembro de 1996, identifica um conjunto de medidas

16

necessrias para o desenvolvimento efectivo da preveno nos locais de trabalho e , j, nesse contexto que, em Julho de 1997, divulgado o Livro Verde sobre os Servios de Preveno das empresas, editado pelo IDICT. 1.2. O CONTEXTO DA GLOBALIZAO A influncia das condies de trabalho na vida dos trabalhadores e na capacidade competitiva das empresas foi sempre reconhecida como importante no quadro da produo em massa que caracterizou, durante quase um sculo, a sociedade industrial. Em tal contexto, foram-se desenvolvendo, quer na Europa, quer nos EUA, diversas abordagens centradas, num primeiro momento, em grupos de trabalhadores expostos a trabalhos de maior penosidade e insalubridade, para, num momento posterior e j no ps-guerra, se passar a equacionar a problemtica dos riscos profissionais ao nvel dos factores produtivos, atravs da percepo da influncia dos agentes fsicos, qumicos e biolgicos na segurana e sade. As abordagens de segurana e sade no trabalho, a que nos referimos, traduziam-se, fundamentalmente, em: Intervenes sobre o homem, atravs da vigilncia mdica; Intervenes correctivas sobre os componentes materiais do trabalho, nomeadamente locais de trabalho e equipamentos de trabalho; Intervenes ao nvel de equipamentos de proteco individual do trabalhador. Todas estas abordagens perspectivavam-se no mbito de uma filosofia de proteco do trabalhador e tinham em vista uma preveno correctiva que fizesse diminuir os efeitos dos riscos de acidentes de trabalho ou de doena profissional. O nvel de resultados, desta forma obtido na empresa, conhecia os seus efeitos repercutidos nas condies de trabalho do trabalhador e no nvel da sua produtividade. A acelerao da introduo das novas tecnologias nos processos produtivos veio, entretanto, pr em causa o nvel de eficcia de tais abordagens. Com efeito, tornou-se mais difcil acompanhar, em termos de conhecimento, todas as propriedades das novas matrias primas, materiais e produtos, bem como dos novos equipamentos de trabalho que, com grande rapidez, comearam a substituir os anteriores. Estes novos componentes passaram a ser, muitas vezes, adquiridos em outros pases, nem sempre sendo fcil obter a informao relativa sua composio, natureza e modo de utilizao, alm de que, cada vez mais, foi aumentando a dificuldade de se lhe acrescentarem dispositivos ou sistemas de proteco.

17

Por outro lado, estes componentes passaram a interferir fortemente na estrutura dos processos produtivos, dando lugar a alteraes radicais dos mtodos e processos de trabalho, o que permitiu verificar a enorme influncia dos modos operatrios no nvel do ambiente de segurana e sade do trabalho. Todo este cenrio foi sendo cada vez mais marcado pela evoluo das tecnologias de informao e comunicao (TIC) que passaram a influenciar a empresa, no s no mbito dos seus processos produtivos, mas, tambm, no que se refere relao com o mercado. Com efeito, tais tecnologias ampliaram a dimenso das relaes do mercado, pela acessibilidade que as oportunidades de negcio passaram a ter no domnio da informao dos agentes econmicos, daqui resultando um aumento crescente da competitividade entre as empresas. Estes desenvolvimentos foram introduzindo nas empresas diversos factores de mudana, particularmente notrios no mbito dos equipamentos de trabalho, das matrias primas, dos mtodos de trabalho e, em geral, na organizao do trabalho, os quais passaram a evidenciar a necessidade de se apostar na gesto de uma nova abordagem preventiva sobre os riscos profissionais, reais e potenciais, capaz de responder eficazmente a todo este ambiente de variabilidade ao nvel dos factores produtivos. A evoluo da perspectiva sobre a preveno, todavia, no teve s a ver com o desenvolvimento dos factores de produo. Com efeito, evoluiu, ao mesmo tempo, o prprio conceito de sade no trabalho, vindo este a ser entendido j no como um mero estado de ausncia de doena, mas como necessidade de se promover um ambiente de bem estar, gerador dos factores motivacionais dos colaboradores da empresa. Alis, a abrangncia deste conceito de sade no trabalho veio a integrar novas preocupaes no mbito dos factores associados ao ritmo de trabalho e aos factores psicossociais. Tais realidades vieram, afinal, suscitar a necessidade da preveno se moldar em novas metodologias, capazes de gerarem uma percepo global do quadro de interaco entre todos estes riscos profissionais, de se apoiarem numa atitude constante de avaliao de todos os riscos e de se traduzirem em intervenes preventivas sempre enquadradas pela informao, pela formao e por formas de participao. Esta perspectiva no estranha, alis, maior ateno que passou a ser dada ao domnio da gesto, factor sem o qual a empresa deixa de ser capaz de integrar toda a variabilidade destes elementos. A funo da preveno de riscos profissionais surge, assim, como dimenso estratgica dessa mesma gesto. Este quadro de evoluo permite, assim, compreender todo o desenvolvimento que ultimamente se tem verificado nas estratgias de preveno, tendo em vista

18

objectivos econmicos (aumento da produtividade do trabalho e diminuio das disfunes na organizao empresarial) e sociais (nova conscincia em torno do valor da sade). 1.3. AS ESTRATGIAS DA QUALIDADE E DO AMBIENTE O desenvolvimento do mercado trouxe, ainda, gesto das empresas a preocupao em torno da qualidade. Comeando tal conceito por se reportar s caractersticas de cada produto, cedo se transformou numa abordagem centrada nos processos (produtivos e organizacionais) desenvolvidos pela empresa, para acabar por se assumir, mesmo, como requisito de credibilidade do agente econmico. Ora, a preveno de riscos profissionais cruza-se com tais estratgias da qualidade, na medida em que no s se dirige eliminao das mesmas disfunes, como absorve algumas das suas metodologias, concorrendo, igualmente, para a auto-satisfao do empresrio, trabalhador e cliente. Hoje em dia, por exemplo, j no possvel classificar como bom o produto ou o processo que no garanta, tambm, nveis aceitveis de bem-estar de quem os produz, comercializa ou consome. Por outro lado, a evoluo que caracterizou a sociedade industrial, produziu consequncias de grande envergadura ao nvel das interferncias no ambiente. De facto, os processos produtivos clssicos da indstria revelaram-se altamente poluidores (ex.: siderurgias, celuloses, indstrias qumicas) e, por outro lado, algumas das novas tecnologias de grande difuso revelaram-se, tambm, de grande impacte ambiental (ex.: pesticidas agrcolas, solventes, plsticos... ...). A responsabilizao crescente que as sociedades atribuem aos agentes econmicos em torno do impacte ambiental de tais processos, tem feito com que as empresas desenvolvam competncias neste mbito, verificando-se a um cruzamento flagrante com as abordagens da preveno de riscos profissionais. Na verdade, as disfunes no mbito da concepo, organizao e gesto dos locais de trabalho frequentemente repercutem-se no ambiente externo (ex.: sistemas de exausto e evacuao, rudo...). 1.4. AS ESTRATGIAS DE VALORIZAO DOS RECURSOS HUMANOS O papel dos recursos humanos numa organizao empresarial , hoje, visto de uma forma diferente daquela que caracterizou o paradigma da sociedade industrial. Com efeito, a gesto das novas tecnologias, mas, sobretudo, a gesto da imprevisibilidade do mercado, faz com que as prticas de gesto empresarial se flexibilizem, cada vez mais, no sentido da procura da adaptao dos factores produtivos a um elevado nvel de eficcia na satisfao das necessidades e expectativas do consumidor. Em tal contexto, o que se pretende dos recursos

19

humanos de uma organizao empresarial j no se fica no domnio da eficincia da execuo de tarefas pr-determinadas, evoluindo no sentido da sua compreenso dos processos desenvolvidos e, portanto, da sua identificao com a empresa, os seus objectivos e prioridades. Tudo isto pressupe o desenvolvimento da organizao do trabalho e dos factores motivacionais do trabalhador, individualmente considerado, e a valorizao dos seus saberes individuais, inseridos numa estratgia de valorizao do trabalho, entendido este como fonte de valor e no como mero custo. Sintomas notrios destas estratgias podem ser reconhecidos na dinamizao da formao profissional, na redefinio de perfis profissionais, na insero dos recursos humanos na organizao, no desenvolvimento dos sistemas de informao e de comunicao, no alargamento das formas de participao e, enfim, no desenvolvimento da cultura da empresa. As pessoas so, pois, presentemente, objecto de investimentos (directos e indirectos) cada vez mais elevados, seja por parte dos Estados, seja por parte das empresas, exigindo-se, tambm, que sobre elas se desenvolvam intervenes que garantam a sua preservao fsica e psquica e que potenciem a sua energia criadora. Os recursos humanos, vistos com toda esta abrangncia, constituem a verdadeira diferena da identidade de cada organizao e, como tal, constituem, cada vez mais, o vector fundamental da sua gesto estratgica. Ora, em todo este contexto, a preveno de riscos profissionais constitui um domnio de consenso, desempenhando um papel muito significativo no desenvolvimento da organizao do trabalho e da motivao dos colaboradores da empresa e dando sentido a intervenes abrangentes que potenciam a melhoria das condies de trabalho e de vida, a melhoria da produtividade, o desenvolvimento do esprito de iniciativa, a optimizao e racionalizao da cadeia produtiva e da organizao da empresa e, ainda, a qualidade dos processos e a imagem dos agentes econmicos. 1.5. OS MODELOS DA GESTO DA PREVENO DOS RISCOS PROFISSIONAIS NA EUROPA Os desenvolvimentos operados no ps-guerra nos pases actualmente englobados na Unio Europeia, evidenciaram modelos de gesto da preveno de riscos profissionais, nos locais de trabalho, centrados mais no ambiente de trabalho (caso do norte da Europa) ou mais no trabalhador (caso do sul da Europa). Desta diferente perspectiva resultou que nos primeiros pases se tivesse desenvolvido mais a interveno nos domnios da engenharia de segurana (no trabalho), da higiene industrial e da ergonomia, enquanto que nos segundos pases se desenvolveu mais a medicina do trabalho.

20

Na actualidade, entende-se que a promoo da sade no trabalho deve traduzirse numa interveno global e integrada, envolvendo todos os trabalhadores, todos os sectores da empresa e todas as dimenses da empresa. Assim, alm dos domnios tradicionais da segurana e sade do trabalho os componentes materiais do trabalho, o ambiente de trabalho e a vigilncia mdica dos trabalhadores , a preveno deve ainda englobar a prpria organizao do trabalho e as relaes sociais da empresa. Esta perspectiva supe, assim: Por um lado, o desenvolvimento das metodologias especficas inerentes s principais valncias implicadas (a segurana do trabalho, a higiene do trabalho e a medicina do trabalho); Por outro lado, o desenvolvimento das metodologias prprias das abordagens complementares, como sejam a ergonomia, a psico-sociologia do trabalho e o recurso sistemtico formao e informao; Por fim, o desenvolvimento da prpria gesto da preveno, como abordagem integradora na empresa. 1.6. A ESTRATGIA DA UNIO EUROPEIA PARA A SEGURANA E SADE NO TRABALHO A segurana e sade do trabalho inscreve-se no mbito das polticas sociais, sendo que os tratados originrios das Comunidades Europeias, CECA Comunidade Europeia do Carvo e do Ao (1951), CEE - Comunidade Econmica Europeia (1957) e CEEA -Comunidade Europeia de Energia Atmica (1957), visavam objectivos de natureza econmica e comercial. , contudo, a partir do Tratado CEE que surge uma dinmica no mbito da segurana e sade do trabalho. O Tratado CEE explicitava no seu art 2 a necessidade de se promover um desenvolvimento harmonioso das actividades econmicas e, tambm, um acelerado aumento do nvel de vida. Contudo, esta interveno no foi, em si mesma, suficiente para garantir o desenvolvimento social que era entendido como consequncia natural do crescimento econmico. Paralelamente, os arts ns 117 e 118 que contemplavam matrias inerentes sade e segurana, no se mostraram suficientes para desencadear o enquadramento normativo e garantir o suporte jurdico adequado para o desenvolvimento destas questes. As Directivas que apareceram sobre a segurana dos produtos eram fundamentadas no art 100, visando facilitar as livres trocas comerciais, mas, na prtica, tiveram um efeito perverso, pois deram lugar a normas nacionais que, de facto, acabavam por inviabilizar a livre circulao pretendida.

21

Por estas razes a oportunidade para a segurana, higiene e sade do trabalho surge quando, na Conferncia de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Paris, em 1972, se formularam alguns considerandos e princpios destinados ao estabelecimento de um programa de aco social, onde se indicava que: A expanso econmica no um fim em si mesmo, mas deve traduzir-se por uma melhoria da qualidade do nvel de vida; Uma aco vigorosa no domnio social tem a mesma importncia que a realizao da unio econmica e monetria, pelo que se convidavam as instituies comunitrias a empreenderem um programa de aco social. A orientao base para este Programa apontou para a melhoria das condies de vida e trabalho que permitam a sua igualizao no progresso. E, assim, a humanizao das condies de vida e de trabalho, passa, nomeadamente pela: Melhoria da higiene e segurana do trabalho; Eliminao progressiva dos riscos fsicos e psquicos nos locais de trabalho. Na sequncia deste desenvolvimento, uma resoluo do Conselho, de 21 de Janeiro de 1974, apontava para o estabelecimento de um programa de segurana, higiene e sade no trabalho. E, por Deciso do mesmo Conselho, de 27 de Junho de 1974, foi criado o Comit Consultivo para a Segurana, Higiene e Proteco da Sade no Local de Trabalho, cujas funes se circunscrevem ao mbito do Tratado CEE e que serve de orgo de consulta destinado a apoiar a aco da Comisso na matria em causa. O desenvolvimento normativo comunitrio processa-se a partir desta poca, aparecendo, em 1977, uma Directiva do Conselho sobre Sinalizao de Segurana, alis complementada por uma Directiva da Comisso, em 1979, ambas transpostas para o direito interno portugus, ainda na poca de pr-adeso. Embora seja matria importante para a preveno de riscos profissionais, a sinalizao de segurana foi abordada nestas Directivas de uma forma restrita e uma das suas justificaes era a de que ajudaria a eliminar as dificuldades lingusticas para a livre circulao dos trabalhadores. Em 1978, com a aprovao da Directiva sobre Cloreto de Vinilo Monmero que surgiu por se ter detectado um nmero anormal de casos de cancro de fgado com caractersticas pouco frequentes, afectando trabalhadores da indstria dos plsticos, definiu-se, pela primeira vez, uma estratgia que veio a evidenciar aspectos to importantes como a necessidade de se explicitar valores-limite de exposio e metodologias de actuao.

22

Ainda em 1978, aparece o primeiro programa de aco para o horizonte temporal de 1978/1982. A formulao deste Programa pela Comisso Europeia beneficiou da assistncia do Comit Consultivo e tinha um objectivo muito amplo que consistia tanto no estudo das causas das doenas e acidentes, como na proteco contra as susbtncias perigosas, na preveno dos acidentes devido a mquinas, na inspeco das condies de higiene e de segurana nos locais de trabalho e na formao neste domnio. Em 1980 o Conselho adopta uma Directiva mais geral (80/1107/CEE) que define a estratgia a seguir em relao a todos os agentes fsicos, qumicos e biolgicos existentes. Esta Directiva, tambm denominada 1 Directiva-Quadro, definia um conjunto de regras que todos os Estados Membros deviam seguir, sendo, pois, um mecanismo de pr-harmonizao da regulamentao nacional. Para alm disso, e como norma nas Directivas-Quadro, ela previa a sua prpria regulamentao atravs de Directivas especficas, aparecendo, por esta via, as Directivas relativas ao Chumbo, ao Amianto, ao Rudo, Interdio e, ainda, as propostas de Directivas relativas aos Agentes Cancergenos e aos Agentes Biolgicos. Em 1984, foi lanado o 2 Programa de Aco que reorientava os objectivos e tinha um horizonte temporal at 1987. Em suma, de 1977 a 1987, a Comisso preparou 10 Directivas, 7 das quais aprovadas pelo Conselho de Ministros, que tinham por base jurdica o art n 100 do Tratado CEE que estatua a regra de unanimidade. Em 1985 foi publicado um Livro Branco que tinha por objectivo equacionar as medidas preparatrias para o Mercado Interno. Atravs do Acto nico Europeu passou-se, a partir de 1987, a uma segunda etapa destinada a criar um grande mercado sem fronteiras a partir de 1993, tornando bvia a necessidade de dar consistncia Europa social e, simultaneamente, Europa econmica, exigindo o desenvolvimento da harmonizao desta regulamentao a nvel de todos os Estados Membros. Dois artigos do Acto nico Europeu, aditados ao Tratado CEE, materializam este objectivo: O artigo n 100-A relativo segurana dos produtos e o artigo n 118-A relativo segurana e sade dos trabalhadores, tendo por objectivo a harmonizao no progresso das condies existentes nesse mbito. Dado o desequilbrio europeu provocado neste domnio pelas normas mais exigentes dos pases da Europa do Norte e para no prejudicar a proteco dos seus trabalhadores, so estabelecidas prescries mnimas, progressivamente mais exigentes, para se garantir a harmonizao plena, sem colocar em causa os pases mais atrasados.

23

de salientar que estas Directivas passam a ser adoptadas por maioria qualificada, com base nas alteraes introduzidas no art n 100-A, o que, como se compreende, veio tornar o respectivo processo de adopo muito mais rpido. Em 1988 foi adoptado o 3 Programa de Aco, explicitando reas prioritrias de actuao e dando uma ateno particular problemtica das PMEs. E, em 1989 foi adoptada (com excepo do Reino Unido) a Carta Comunitria dos Direitos Fundamentais dos Trabalhadores, a qual contm uma vertente consagrada segurana e sade no local de trabalho. Igualmente em 1989 foi adoptada, em 12 de Junho, a nova Directiva-Quadro (Directiva 89/391/CEE), constituindo o primeiro acto de grande alcance social no mbito do Acto nico e que passa a ser a pedra angular de nova poltica, estabelecendo os grandes princpios que devem reger a poltica de segurana e sade no trabalho, com um significativo impacte nas legislaes nacionais dos Estados Membros. Esta Directiva de carcter horizontal e aplica-se, indiferenciadamente, a todos os sectores e ramos da actividade econmica, pblica ou privada, tendo como grandes objectivos: Melhorar a segurana e sade dos trabalhadores nos locais de trabalho; Constituir uma componente social do mercado interno; Constituir o quadro jurdico de referncia a ser respeitado pelas Directivas especiais que so normas jurdicas de contedo acentuadamente tcnico; Estabelecer critrios gerais da poltica comunitria, sendo referncia obrigatria para a interpretao das restantes Directivas e das normas nacionais de harmonizao. Conforme reflexo j desenvolvida no Livro Verde dos Servios de Preveno, a Directiva-Quadro estabelece uma plataforma comum e inovadora quanto gesto da preveno de riscos profissionais nos locais de trabalho, onde se evidenciam obrigaes fundamentais para os Estados, Empregadores e Trabalhadores. Quanto aos Estados ser de realar a obrigao de adoptarem medidas legislativas, regulamentares e administrativas, necessrias ao efectivo cumprimento dos princpios daquela Directiva e entre elas destacam-se as que se referem definio de: Capacidades dos profissionais (e outros intervenientes relevantes) de segurana e sade do trabalho; Aptides dos servios externos de preveno; Instrumentos de planeamento e avaliao da actividade dos servios de preveno da empresa;

24

Critrios de dimensionamento dos recursos afectos ao desenvolvimento das actividades daqueles servios. Quanto aos Empregadores o ncleo central das suas obrigaes reside em: Assegurar a preveno relativamente a todos os trabalhadores e a todos os riscos profissionais; Desenvolver as actividades preventivas de acordo com uma ordem fundamental de princpios gerais de preveno; Promover no mbito daqueles princpios a avaliao dos riscos que no puderam ser eliminados; Disponibilizar a organizao de meios adequados implementao das medidas de preveno e proteco, de forma integrada no processo produtivo e na gesto da empresa; Promover um quadro de participao na empresa para potenciar a aco preventiva. Quanto aos Trabalhadores a Directiva indica como obrigaes fundamentais: Utilizar correctamente os meios que lhes so colocados disposio na empresa; Comunicar situaes de perigo grave e iminente; Colaborar com o empregador, os profissionais da preveno e as autoridades pblicas na melhoria das condies de segurana e sade nos locais de trabalho. Desta nova filosofia resulta que a problemtica da preveno na empresa j no se pode confinar a determinados riscos especficos ou determinados trabalhadores, devendo ser assumida globalmente quanto a todos os aspectos relacionados com o trabalho, incluindo a interaco dos riscos e o conjunto dos factores psico-sociais, e, ter como horizonte a promoo da melhoria da segurana, da sade e do bem estar dos trabalhadores. Por outro lado, toda a actividade de preveno passou a ter uma matriz de referncia, baseada num conjunto de princpios fundamentais (princpios gerais de preveno): Evitar os riscos; Avaliar os riscos que no podem ser evitados; Combater os riscos na origem;

25

Adaptar o trabalho ao homem, agindo sobre a concepo, a organizao e os mtodos de trabalho e de produo; Realizar estes objectivos tendo em conta o estdio da evoluo da tcnica; De uma maneira geral, substituir tudo o que perigoso pelo que isento de perigo ou menos perigoso; Integrar a preveno dos riscos num sistema coerente que abranja a produo, a organizao, as condies de trabalho e o dilogo social; Adoptar prioritariamente as medidas de proteco colectiva, recorrendo s medidas de proteco individual unicamente no caso de a situao impossibilitar qualquer outra alternativa; Formar e informar os trabalhadores e demais intervenientes na preveno. Em todo aquele contexto, a avaliao dos riscos assume um papel fundamental, porque a partir deste processo que se devem determinar as abordagens preventivas, tendo em conta: As prioridades de interveno; As necessidades de informao e de formao; As medidas tcnicas e organizativas; O controlo peridico das condies de trabalho; O grau de exposio dos trabalhadores aos riscos; As necessidades da vigilncia da sade dos trabalhadores. A conjugao de todas estas abordagens supe, naturalmente, o planeamento, para que seja garantida a adequabilidade e a eficcia das medidas, a par dos seus bons resultados ao nvel da gesto empresarial. A Directiva-Quadro aponta, assim, a necessidade das empresas desenvolverem a capacidade de gesto, nela integrando a preveno dos riscos profissionais, como forma do empregador reunir, organizar e rendibilizar um conjunto de meios suficientes e adequados promoo de nveis de segurana, sade e bem estar elevados. Ora, neste contexto que surge o conceito de Servios de Preveno, enquanto sistema de gesto que d qualidade e coerncia s actividades a desenvolver e obtenha a sua perfeita integrao no processo produtivo, na organizao da empresa e no seu processo de desenvolvimento. A Directiva-Quadro acentua, pois, todo este conjunto de princpios enformadores da filosofia de gesto da preveno, deixando aos Estados membros a liberdade de definirem em concreto os sistemas de organizao dos servios de preveno na empresa.

26

Refira-se, ainda, que esta Directiva considera como fundamental o papel que deve ser desempenhado pelos prprios trabalhadores. Partindo da considerao de que os trabalhadores no so o objecto da preveno, mas, sim, actores da preveno, define como dimenses fundamentais do seu envolvimento, a informao e a formao, devendo o campo da sua participao estender-se consulta e cooperao em diversos domnios das actividades preventivas. Por fim, importa referir que aps a realizao do Ano Europeu para a Segurana e Sade no Local de Trabalho, em 1992, e j no mbito desta Directiva e das Directivas especiais dela decorrentes, o 4 Programa de Aco, adoptado pela Comisso em 1996 com um horizonte temporal at ao ano 2000, vem colocar o acento tnico na informao, no apoio s PMEs, no reforo da proteco dos trabalhadores a par do desenvolvimento da capacidade competitiva das empresas e no papel do dilogo social na promoo das polticas de segurana e sade. 1.7. A PROBLEMTICA DOS ACIDENTES DE TRABALHO E DAS DOENAS PROFISSIONAIS O Livro Verde refere que a estimativa dos custos dos acidentes de trabalho e das doenas profissionais na Unio Europeia representa cerca de 12% do custo da produo bruta global. De facto, as estatsticas europeias, apesar de ficarem aqum da realidade em resultado das dificuldades de harmonizao dos sistemas estatsticos dos Estados-Membros, so preocupantes. J para a composio da UE no incio da dcada de 90 e para um universo de 120 milhes de trabalhadores, se falava de: Mais de 8.000 acidentes de trabalho mortais por ano; Mais de 10 milhes de vtimas de acidentes de trabalho e de doenas profisssionais, o que significava que 1 em cada 12 trabalhadores era, em cada ano, vtima de um acidente de trabalho ou de uma doena profissional; 27 mil milhes de ecus de custos directos com esta sinistralidade. Quanto aos custos indirectos, apesar da sua difcil quantificao, h, no entanto, a ideia de que atingem propores extraordinrias, pois que eles repartem-se por um elevado nmero de factores, como sejam: Custos associados substituio do trabalhador acidentado; Custos do sistema de sade; Custos administrativos; Reparao dos equipamentos danificados; Perdas de produo e reduo da produtividade;

27

Perdas de competitividade; Perdas associadas imagem; Custos sociais diversos. Em Portugal, os indicadores, quando comparados com os da Unio Europeia, so ainda mais preocupantes, at pela maior dimenso do impacto que essas realidades tm em sociedades e economias que revelam algumas vulnerabilidades, como o caso portugus. Assim, para uma populao activa empregada de cerca de 4.250.000 pessoas, temos nos ltimos anos: Uma oscilao entre 200.000 e 300.000 acidentes de trabalho por ano; Uma oscilao entre 250 e 370 acidentes de trabalho mortais por ano; Para alm da indstria, um peso muito forte nestes indicadores do sector da Construo e uma expresso j significativa nos sectores do Comrcio e Servios; H ainda uma realidade escondida o sector da Agricultura , cujos indicadores seriam preocupantes, se a debilidade da estrutura empresarial das exploraes agrcolas no prejudicasse profundamente o prprio sistema de declarao dos acidentes e das doenas relacionadas com o trabalho. Importa, desde j, referir que no existe no nosso pas, neste domnio, um sistema de informao estruturado com base num conjunto de indicadores que permitam uma anlise fundamentada das condies de segurana e sade nos locais de trabalho, como, alis, reconhecido no Acordo de Concertao Estratgica de 1996. Apenas se dispe de um pequeno e muito imperfeito conjunto de informaes reportadas quantificao de acidentes de trabalho e de doenas profissionais que est consideravelmente subdimensionado, que no se reporta a indicadores relevantes da preveno de riscos profissionais e que nem sequer disponibilizado atempadamente. Por outro lado, o sistema de declarao dos acidentes de trabalho e das doenas profissionais est, ele prprio, longe de representar o universo desta realidade e o tratamento da informao no se desenvolve de acordo com uma grelha de indicadores que permitam a sua anlise na ptica da preveno (agentes causais, indicadores de incidncia, etc.). A informao que de seguida se apresenta, apesar de conter toda aquela imperfeio, de algum modo d uma ideia da expresso e da evoluo dos acidentes de trabalho e das doenas profissionais no nosso pas.

28

Refira-se desde logo que para uma populao activa empregada actual de cerca de 4.250.500 pessoas, a Administrao Pblica contribui com cerca de 700.000 e o sector do trabalho independente com perto de 900.000, representando estes conjuntos, assim, um tero daquela populao. A informao que se disponibiliza nos quadros que se seguem reporta-se s doenas profissionais e aos acidentes de trabalho declarados ao sistema estatstico na presente dcada de noventa, o qual, como se sabe, no compreende os grupos de trabalhadores acabados de referir, reportando-se, por isso, apenas a dois teros da populao activa empregada. QUADRO I - ACIDENTES DE TRABALHO (1990 - 1996)ANON acidentes N vtimas mortais2 Custo (milhes de contos)3 Populao activa empregada41

1990305 512 294 40 700 4 497 300

1991293 886 185 49 500 4 631 900

1992278 455 313 56 600 4 340 200

1993251 577 253 57 700 4 255 300

1994234 070 321 66 400 4 251 450

1995204 273 353 59 400 4 225 125

1996215 854 373 4 250 500

(1) Fonte: INE (2) Fonte: IGT: (3) Fonte: Instituto de Seguros de Portugal (custos directos com a reparao) (4) Anurio de Estatsticas Sociais (1983-1993)

GRFICO I - EVOLUO DOS ACIDENTES DE TRABALHO (1990-1996)350000 300000 250000 200000 150000 100000 50000 0 1990

1991

1992

1993

1994

1995

199

Anos

29

GRFICO II - EVOLUO DO NMERO DE VTIMAS MORTAIS (1990-1996)400 350 300 250 200 150 100 50 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Anos

Na informao contida no quadro I e grficos I e II ser de realar as seguintes concluses: A diminuio dos acidentes de trabalho acompanhado do decrscimo da populao activa empregada, o que significa que, em termos relativos, no se tem verificado uma efectiva reduo da sinistralidade; Os acidentes de trabalho mortais, por sua vez, aps uma oscilao entre 1990 e 1992, revelam uma tendncia de crescimento contnuo, a partir de 1993. Importa ainda verificar a distribuio sectorial desta sinistralidade no mesmo perodo de referncia (1990-1996):

GRFICO III - DISTRIBUIO PERCENTUAL DOS ACIDENTES POR SECTOR DE ACTIVIDADE (1990 - 1996)Indstria 44% Construo 23% Comr./Rest./Hot. 16% Servios e outros 3% Agri. e pesca 6% Transp./Comu. 4% Banco/Seg./Op. imveis 4% Elec./Gs/gua 0,4%

30

GRFICO IV - DISTRIBUIO PERCENTUAL DOS ACIDENTES MORTAIS POR SECTOR DE ACTIVIDADE (1990 - 1996)Indstria 26% Construo 29% Comr./Rest./Hot. 11% Servios e outros 7% Agri. e pesca 16% Transp./Comu. 7% Banco/Seg./Op. imveis 3% Elec./Gs/gua 1%

Dos grficos precedentes visvel que: O conjunto dos sectores industriais representa cerca de metade do total dos acidentes de trabalho; Os sectores da construo e da agricultura evidenciam-se no conjunto dos dois grficos, em particular no que respeita aos acidentes de trabalho mortais (cerca de 40%). Por sua vez, a informao relativa s doenas profissionais conhece no nosso pas um conjunto substancial de limitaes que advm dos seguintes factores: O campo reduzido das situaes configuradas na lista codificada de doenas profissionais, em resultado da sua desactualizao face evoluo tcnica e tecnolgica associada ao trabalho e ao conhecimento cientfico das patologias; A subdeclarao de doenas profissionais em resultado da insuficiente cobertura da vigilncia da sade nos locais de trabalho; A dificuldade de comprovao da exposio aos factores de risco de doena profissional em resultado da reduzida dimenses da avaliao de riscos que ainda subsiste nos locais de trabalho. Os quadros e grficos que se seguem reportam-se quele contexto e representam as situaes relativas aos pensionistas com incapacidade permanente devida a doena profissional, no perodo de 1990 a 1996:

31

QUADRO II - PENSIONISTAS COM INCAPACIDADE PERMANENTE POR TIPO DE DOENA PROFISSIONAL (1990-1996)IncapacidadesPneumatoses Surdez prof. Dermatoses Ac. Trab. Outras Intoxicaes No/codific. Total

199010 460 3 402 957 470 296 184 176 15 936

199110 460 3 557 1 079 540 240 199 264 16 339

199210 346 3 634 1 239 596 280 207 283 16 558

199310 354 3 793 1 374 610 462 219 311 17 123

199410 350 3 920 1 485 667 796 226 372 17 816

199510 316 4 157 1 640 739 1 152 242 403 18 649

199610 492 4 329 1 768 739 405 253 19 202

Fonte: Anurio Estatstico da Segurana Social

GRFICO V - EVOLUO DO NMERO DE PENSIONISTAS COM INCAPACIDADE PERMANENTE (1990-1996)N total de incapacidades permanentes20.000 16.000 12.000 8.000 4.000 0 1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

Anos

GRFICO VI - DISTRIBUIO DOS PENSIONISTAS COM INCAPACIDADE PERMANENTE POR TIPO DE DOENA PROFISSIONAL (1990-1996)Pneumatoses 60% Surdez prof. 22% Dermatoses 8% Ac. Trab. 4% Outras 3% Intoxicaes 1% No codific. 2%

32

QUADRO III - CUSTOS DEVIDOS A INCAPACIDADES (1990-1996)CustosCustos/incapacidade temporria (contos) Custos/incapacidade permanente (contos)

1990103 853

1991104 152

1992141 591

1993152 138

1994179 343

199583 022

1996101 508

2 009 000 2 327 000 2 610 000 3 095 000 3 448 000 3 789 000 3 932 712

Fonte: Anurio Estatstico da Segurana Social

GRFICO VII - EVOLUO DOS CUSTOS TOTAIS COM INCAPACIDADES (1990-1996)4500000 4000000 3500000

Custos (contos)

3000000 2500000 2000000 1500000 1000000 500000 0 1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

Anos

Da informao dos quadros e grficos precedentes pode-se concluir que: Se verifica uma clara tendncia de crescimento dos custos com as incapacidades devidas a doena profissional; particularmente notria a expresso do nmero de pensionistas com incapacidades devidas a surdez profissional e a dermatoses. O Livro Verde refere que, em Portugal, os encargos das companhias seguradoras e da Segurana Social com esta realidade ultrapassam os 60 milhes de contos anuais, mas que, se formos considerar os custos totais (directos e indirectos), incluindo as situaes de sub-registo, tais encargos podero ascender a 600 milhes de contos anuais. Todo este panorama de custos econmicos, a que acrescem os custos sociais e humanos, determina a necessidade de se agir com determinao, seja na perspectiva do desenvolvimento das condies de trabalho

33

e de vida dos trabalhadores, seja na perspectiva do desenvolvimento da capacidade competitiva das nossas empresas, seja, por fim, na perspectiva da gesto dos investimentos pblicos nos sistemas envolventes da segurana social e da sade. 1.8. A ESTRUTURA EMPRESARIAL Uma outra realidade cujo conhecimento de extrema importncia para a definio de estratgias de gesto da preveno de riscos profissionais, relaciona-se com a estrutura empresarial nacional. De facto, como muito oportunamente evidencia o Livro Verde, o tecido empresarial nacional fortemente marcado pelas PMEs. Para uma melhor compreenso da clara e rpida tendncia de evoluo do tecido empresarial portugus no sentido das PMEs e da sua expresso crescente ao nvel do emprego, vejam-se os quadros seguintes: QUADRO IV-EVOLUO DA ESTRUTURA EMPRESARIAL PORTUGUESA (1988-1994)Dimenso das emp. (n. trab.)At 9 microemp. 10-19 N. empresas % N. empresas % N. empresas % N. empresas % N. empresas % N. empresas % N. empresas % N. emp.

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

87 366 74,5 14 966 12,7 9 488 8,1 3 112 2,6 1 462 1,2 761 0,6 319 0,3 117 474

99 109 75,2 16 229 12,3 10 308 7,8 3 359 2,6 1 512 1,1 853 0,6 350 0,3 131 720

101 138 75,1 16 595 12,3 10 650 7,9 3 534 2,6 1 555 1,1 862 0,6 347 0,3 134 681

108 089 75,8 17 113 12,0 10 899 7,6 3 656 2,6 1 564 1,1 867 0,6 352 0,2 142 540

116 898 76,6 17 941 11,8 11 238 7,4 3 651 2,4 1 600 1,0 883 0,6 326 0,2 152 627

123 618 77,7 18 139 11,4 11 084 7,0 3 544 2,2 1 563 1,0 796 0,5 303 0,2 159 047

141 094 79,8 18 753 10,6 11 138 6,3 3 377 1,9 1 488 0,8 759 0,4 273 0,2 176 882

20-49

50-99

100-199

200-499

500 e mais Total

Fonte: Anurio Estatsticas Sociais - MESS

34

GRFICO VIII - EVOLUO DAS MICRO-EMPRESAS (1988-1994)160.000 140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Anos

QUADRO V-DISTRIBUIO DAS PESSOAS AO SERVIO NAS EMPRESAS, POR DIMENSO DA EMPRESA, EM PERCENTAGEM (1988-1994)Dimenso das emp. (n. trab.)At 9 10-19 20-49 50-99 100-199 200-499 500 e mais

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

16,9 10,4 14,8 11,0 10,5 11,7 24,7

17,3 10,3 14,7 10,9 9,8 12,0 25,0

17,4 10,3 15,0 11,4 10,0 12,0 23,9

18,1 10,5 15,1 11,5 9,9 11,8 23,1

18,9 10,8 15,4 11,4 9,9 11,9 21,7

20,3 11,3 15,5 11,3 10,0 11,0 20,6

22,8 11,6 15,6 10,8 9,6 10,7 18,9

Fonte: Anurio Estatsticas Sociais MESS

GRFICO IX-EVOLUO DA DISTRIBUIO DOS TRABALHADORES NAS MICRO-EMPRESAS EM PERCENTAGEM (1988-1994)25 20 15 10 5 0

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

Anos

35

A constatao da clara evoluo no sentido da predominncia das PMEs na economia nacional, determina a necessidade de se identificarem sistemas flexveis de gesto da preveno que se adaptem realidade empresarial do nosso pas. 1.9. O SISTEMA NACIONAL DE PREVENO DE RISCOS PROFISSIONAIS A Conveno 155 da OIT (ratificada pelo Decreto n 1/85, de 16 de Janeiro e desenvolvida pelo D.L. 441/91, de 14 de Novembro), estabelece a necessidade de definio de uma poltica coerente em segurana e sade no trabalho, centrada em quatro eixos fundamentais: Actuao sobre os componentes materiais do trabalho: locais e ambiente de trabalho mquinas e ferramentas materiais agentes qumicos, fsicos e biolgicos processos produtivos. Actuao ao nvel das relaes homem / componentes materiais de trabalho, tendo em vista a adaptao do trabalho s capacidades fsicas e mentais dos trabalhadores; Aco ao nvel da formao e da qualificao profissional, necessrias obteno de bons nveis de segurana e sade no trabalho; Desenvolvimento da circulao de informao adequada construo de redes de preveno de riscos profissionais, desde o local de trabalho at ao plano nacional. Para o desenvolvimento desta poltica, a Conveno 155 estabelece trs linhas de rumo fundamentais: A definio de funes e responsabilidades de todos os agentes dinamizadores (administrao, parceiros sociais, comunidades cientfica e tcnica); A articulao dessas funes e responsabilidades, no sentido da complementaridade e convergncia das diversas abordagens preventivas da decorrentes; A definio de estratgias de aco sectorial que visem identificar os grandes problemas, implementar os meios de resoluo de acordo com a ordem de prioridades, bem como a avaliao sistemtica dos resultados obtidos. Importa acrescentar que a OIT em todos os domnios - e particularmente neste da Preveno de Riscos Profissionais - faz apelo a duas metodologias fundamentais:

36

As polticas de segurana e sade do trabalho devem ser concertadas entre os Governos e os Parceiros Sociais; As aces de Preveno de Riscos Profissionais devem ser partilhadas entre os Governos, os Parceiros Sociais e demais organizaes sociais. o correcto desenvolvimento de toda esta arquitectura que dar sentido quilo que preconizado pela OIT como indispensvel a uma poltica eficiente e eficaz de Segurana e Sade do Trabalho: O SISTEMA NACIONAL DE PREVENO DE RISCOS PROFISSIONAIS. A complexidade e o valor estratgico da Segurana, Higiene e Sade no Trabalho no permitem que se possa desenvolver uma aco consequente a partir exclusivamente das referncias legais existentes sobre Segurana, Higiene e Sade no Trabalho. Por isso, h que: Definir, pr em prtica e reexaminar periodicamente uma poltica nacional coerente em matria de segurana, sade dos trabalhadores e ambiente de trabalho (Art 4 da Conveno 155); Tais polticas devero ser definidas pelos Ministrios responsveis pelas reas das condies de trabalho e da sade(art 6 do D.L. 441/91, de 14 de Novembro); A coordenao da aplicao das medidas de poltica e da avaliao de resultados cabe ao Ministrio responsvel pela rea das condies de trabalho (art 6 do D.L. 441/91, de 14 de Novembro); A poltica nacional de Segurana, Higiene e Sade no Trabalho haver de desenvolver-se segundo os seguintes eixos (art 5 do D.L. 441/91, de 14 de Novembro): Regulamentao Licenciamento Certificao Normalizao Investigao Educao Formao e qualificao Informao Consulta e participao Servios de preveno Inspeco

37

A diversidade, a complexidade e a complementaridade de todas estas vertentes da poltica de Segurana, Higiene e Sade no Trabalho obriga (seja ao nvel da definio das polticas, seja ao nvel da implementao das medidas) ao estabelecimento de uma Rede Nacional de Preveno de Riscos Profissionais (art 6 da Conveno 155 e art 5 do D.L. 441/91, de 14 de Novembro); Por outro lado, inerente a todo este desenho que a formulao de polticas nacionais de Segurana, Higiene e Sade no Trabalho ter que ser gerada num ambiente de concertao estratgica, isto , no mbito de um processo permanente (definio, implementao, avaliao e redefinio), partilhado por um vasto conjunto de parceiros sociais (condio de implementao destas polticas nos locais de trabalho) e institucionais (condio de funcionamento da Rede de Preveno) - (arts. 4 e 6 da Conveno 155 e arts. 5 e 7 do D.L. 441/91, de 14 de Novembro); Situa-se, pois, aqui, claramente, o papel do Conselho Nacional de Higiene e Segurana no Trabalho que, apesar de ter sido criado em 1982 (Resoluo do Conselho de Ministros n 204/82, de 16 de Novembro), e ter sido legalmente prevista a sua reformulao posterior (art 7 do D.L. 441/91, de 14 de Novembro), encontra-se inactivo desde o incio da dcada de noventa; A consistncia da implementao de medidas requer um conjunto de articulaes da interveno dos diversos actores pblicos que desenvolvem competncias ao nvel dos eixos referidos, designadamente: Administrao do Trabalho Administrao da Sade Sistema Educativo Sistema da Formao Profissional Sistema Nacional de Certificao Profissional Entidades licenciadoras das actividades econmicas Entidades do sistema de controlo pblico (inspeco) Sistema Portugus da Qualidade Para a preparao e activao das medidas de poltica, para a dinamizao da Rede de Preveno e para a conjugao de todas as abordagens preventivas da decorrentes, h que garantir a coordenao da execuo de polticas, naturalmente reservada Administrao do Trabalho (arts. 6 e 7 do D.L. 441/91, de 14 de Novembro e art 15 da Conveno 155);

38

S da conjugao de todos estes factores (definio de polticas, concertao estratgica, articulao dos actores pblicos com competncias especficas, rede de preveno, exerccio da coordenao) possvel chegar-se ao patamar da constituio e funcionamento permanente de um Sistema Nacional de Preveno de Riscos Profissionais (art 5 do D.L. 441/91, de 14 de Novembro). A Preveno de Riscos Profissionais no poder, assim, desenvolver-se com base em medidas avulsas e segundo uma lgica alicerada na casustica. S na base de uma poltica coerente de desenvolvimento do sistema nacional de preveno de riscos profissionais ser possvel criar um conjunto de condies necessrias a que os empregadores possam cumprir integralmente e tirar benefcio da obrigao legal de estabelecerem uma poltica de preveno de riscos profissionais nas suas empresas e de se dotarem com o instrumento de execuo dessa poltica nos locais de trabalho: Os servios de preveno. Torna-se, pois, imperioso estruturar tal aco de forma que se crie uma cultura nacional de preveno de riscos profissionais, que nos permita desenvolver confiada e convictamente uma poltica consequente e, dessa forma, inverter a actual situao de atraso flagrante. Reportando a aco dos vectores do Sistema Nacional de Preveno de Riscos Profissionais ao desenvolvimento de preveno nos locais de trabalho, importa, assim, concluir que: A aquisio das competncias necessrias aos servios de preveno carece, em particular, do desenvolvimento dos eixos de informao, da formao, da normalizao e da investigao; A garantia dos nveis mnimos de segurana e sade a atingir nos locais de trabalho supe, fundamentalmente, o desenvolvimento da regulamentao, da normalizao, do licenciamento e da inspeco; A motivao dos trabalhadores e a co-responsabilizao de trabalhadores e empregadores na aco preventiva, seja ao nvel nacional ou sectorial, seja ao nvel da empresa, supe o desenvolvimento de formas adequadas de participao. 1.10. O ACORDO SOCIAL DA SEGURANA, HIGIENE E SADE DO TRABALHO (1991) Em 30 de Julho de 1991, o Governo e todos os Parceiros Sociais com assento no ento designado Conselho Permanente de Concertao Social (CIP, CCP, CAP, CGTP e UGT), celebraram um Acordo Social para a Segurana, Higiene e Sade do Trabalho que constitui um verdadeiro Programa Nacional que visa a estruturao do sistema nacional de preveno de riscos profissionais e a dinamizao de um conjunto de polticas fundamentais de segurana e sade no trabalho.

39

Importa considerar que este Acordo continua a ser o grande referencial estratgico para toda a poltica de Segurana e Sade do Trabalho no nosso pas, pelo que de seguida se recordam os seus principais objectivos e medidas: ACORDO SOCIAL PARA A SHST (1991)Objectivos gerais Objectivos especficos e medidas Desenvolver o conhecimento sobre os ris- Desenvolver um sistema de informao sobre preveno de riscos profissionais. cos profissionais e as formas de os prevenir. Promover a investigao sobre os componentes materiais do trabalho e o ambiente do trabalho. Desenvolver aplicaes tcnicas inovadoras de que resulte melhor segurana e sade no trabalho. Informar, formar e qualificar para a preven- Divulgar as normas (jurdicas e tcnicas) de segurana, o de riscos profissionais. higiene e sade do trabalho. Estimular hbitos de preveno na idade escolar. Promover a consciencializao dos jovens sobre a sua responsabilidade na preveno, tendo em vista a sua preparao para a entrada na vida activa. Integrar o conhecimento da preveno na formao profissional. Fomentar a criao de cursos na rea da segurana, higiene e sade no trabalho. Apoiar a informao de empresrios, gestores e quadros superiores. Fomentar a qualificao de profissionais de segurana, higiene e sade no trabalho. Apoiar a formao de representantes de empregadores e de trabalhadores para a segurana, higiene e sade no trabalho. Desenvolver a organizao da preveno de Desenvolver uma rede de preveno de riscos profissionais. riscos profissionais Reforar a capacidade tcnica da Administrao do Estado na perspectiva da dinamizao e coordenao do sistema de preveno. Reforar a capacidade tcnica de interveno da Inspeco do Trabalho no domnio da segurana, higiene e sade no trabalho. Desenvolver a cooperao institucional no mbito do licenciamento industrial. Dinamizar condies para a criao de servios de preveno nas empresas. Desenvolver (aprofundar/ajustar) o quadro Promover a superao das deficincias e insuficincias de normas jurdicas e tcnicas no mbito da do quadro normativo da segurana, higiene e sade do segurana e sade do trabalho. trabalho. Promover a divulgao em formas adequadas das normas jurdicas de segurana, higiene e sade do trabalho.

40

(continuao)

Objectivos gerais

Objectivos especficos e medidas

Desenvolver (aprofundar/ajustar) o quadro Apoiar o desenvolvimento e a divulgao de normas de normas jurdicas e tcnicas no mbito da tcnicas de segurana, higiene e sade do trabalho segurana e sade do trabalho. (tendo em vista a sua aplicao ao nvel de medidas, planos e programas de prevenao no mbito das empresas). Desenvolver as condies de prestao do Promover a integrao da segurana no mbito do licentrabalho. ciamento industrial, ao nvel da localizao das unidades industriais, das condies dos edifcios, dos equipamentos e das matrias-primas. Apoiar a concepo de projectos para a recuperao da segurana e sade do trabalho nas PMEs. Promover a segurana intrnseca (equipamentos e ferramentas) e apoiar projectos que visem a integrao da segurana e sade nos processos produtivos (substituio ou alterao ao nvel dos agentes qumicos, fsicos e biolgicos) em casos que determinem a preservao de postos de trabalho em risco de extino por tais factores. Dotar os servios operacionais da Administrao do Trabalho dos meios tcnicos necessrios sua interveno no mbito da preveno dos riscos profissionais.

Importa concluir que o estado de execuo deste Acordo encontra-se com um atraso flagrante, nem sequer havendo um sistema de avaliao, por inactividade do Conselho Nacional de Higiene e Segurana do Trabalho que deveria constituir o centro de referncia para tal efeito. Importaria, assim, que a curto prazo se fizesse um diagnstico de avaliao, poltica e socialmente consensualizado, que permitisse a consciencializao do estado de desenvolvimento da segurana, higiene e sade do trabalho em Portugal. A este propsito, dados da gesto dos Programas Operacionais de Preveno de Riscos Profissionais, relativos ao perodo 1994/1998, fornecidos pelo IDICT, podem, desde j, dar-nos uma ideia da dinmica, apesar de tudo, gerada: PROJECTOS APOIADOS POR TIPO DE ACO (1994/1998)Aco Estudos e investigao Formao Sensibilizao / Divulgao TotaisFonte: IDICT

N. de projectos 44 62 366 472

41

PROJECTOS APOIADOS POR TIPO DE PROMOTOR (1994/1998)Promotor Administrao pblica Assoc. sindicais Assoc. patronais e empresariais Assoc. profissionais Comunidade tcnica e cientfica Estabelecimentos do ensino superior Estabelecimentos do ensino secundrio Outros TotalFonte: IDICT

N. de projectos 42 129 91 57 28 66 36 23 472

1.11. O ACORDO DE CONCERTAO ESTRATGICA (1996) A Concertao Social, retomou estas matrias no Acordo de Concertao Estratgica, de finais de 1996, centrando as suas preocupao nos seguintes objectivos e medidas: Constituio das bases de uma Rede Nacional de Preveno de Riscos Profissionais, mediante o levantamento e articulao da capacidade tcnica disponvel; Dinamizao da aco das organizaes identificadas no mbito daquela rede, em especial nos domnios da Formao e da Informao Tcnica; Envolvimento da comunidade tcnica e cientfica no mbito da preveno de riscos profissionais, seja ao nvel daquela rede, seja ao nvel de aces complementares; Incluso progressiva de matrias de SHST nos curricula escolares e de formao profissional; Desenvolvimento de Programas Sectoriais no mbito de actividades de maior sinistralidade com riscos de maior gravidade; Estruturao de linhas de produo de instrumentos de divulgao, informao tcnica e formao em SHST Desenvolvimento destas linhas de divulgao, informao e formao de acordo com os cronogramas, as prioridades e as metodologias definidas para os Programas de aco de curto e mdio prazo; Apoio formao de tcnicos de preveno dos vrios nveis, de acordo com as necessidades nacionais;

42

Criao e consolidao dos instrumentos operativos necessrios e adequados certificao de empresas e tcnicos prestadores de servios de SHST; Estabelecimento do sistema de qualificao e certificao dos tcnicos de preveno em exerccio; Reforo da capacidade tcnica e da participao dos Parceiros Sociais, nomeadamente no mbito da formao de representantes dos trabalhadores e dos empregadores para o desenvolvimento da SHST nos locais de trabalho; Levantamento e adaptao da legislao existente, tendo em vista a avaliao do seu impacte nas empresas, a respectiva capacidade e a eficincia da legislao no domnio da preveno de riscos profissionais; Elaborao da regulamentao geral em falta, cujos anteprojectos sero consensualizados no mbito da Concertao Social; Desenvolvimento de um sistema estatstico claro, simplificado e actual, que cubra todos os sectores de actividade; Implementao junto dos trabalhadores e empregadores portugueses, em particular atravs das suas estruturas associativas, de campanhas de informao, formao e sensibilizao sobre os riscos profissionais, desenvolvendo projectos de investigao, edio de monografias, peridicos, suportes audiovisuais e outros; Desenvolvimento de programas de preveno de riscos profissionais para os trabalhadores da Administrao Central, Regional e Local; Adopo de regulamentao na rea da reabilitao que contemple a incapacidade permanente, parcial e absoluta, para o trabalho habitual, preveja a promoo do trabalho a tempo parcial para trabalhadores acidentados que fiquem numa situao de incapacidade e preveja o estmulo pelo Estado de bolsas para formao profissional dos acidentados. semelhana do que se referiu quanto ao Acordo Social para a SHST, de 1991, importaria proceder-se avaliao da execuo deste Programa do Acordo de Concertao Estratgica, de 1996, o que, mais uma vez, evidencia a necessidade de ser reactivado o Conselho Nacional de Higiene e Segurana no Trabalho, seja como forma de se desenvolver uma poltica nacional coerente de gesto do sistema de preveno de riscos profissionais, seja como forma de conferir visibilidade aos objectivos e resultados alcanados, seja, por fim, como forma de centrar todos os actores (pblicos e privados) na mesma estratgia e nos mesmos objectivos prioritrios. Sem prejuzo da necessidade de tal avaliao, possvel, desde j, identificar como projectos mais relevantes, desenvolvidos no contexto deste Acordo, as seguintes aces impulsionadas pelo IDICT:

43

Levantamento de organismos de competncia especializada no mbito da SHST que consta do Livro Verde dos Servios de Preveno; Desenvolvimento de Campanhas Sectoriais de Preveno (Construo 1994/1996, PME - 1996/1997, Agricultura - 1997/1998, e Txtil/Vesturio em preparao e com lanamento previsto para meados de 1999); Estruturao e lanamento de uma linha editorial especfica para a Preveno, promovida pelo IDICT, com vrias dezenas de ttulos j publicados ao longo dos anos de 1997 e 1998 em trs sries (Divulgao, Formao e Informao Tcnica); Dinamizao de experincias-piloto de formao de tcnicos na rea da Segurana e Higiene do Trabalho, particularmente no mbito do sistema pblico do ensino superior; Apoio ao desenvolvimento da formao de profissionais na rea da Sade do Trabalho; Apoio ao desenvolvimento da formao de representantes dos trabalhadores para a SHST; Dinamizao de vrios projectos de estudo e investigao junto da comunidade cientfica; Adeso Rede Europeia de Informao em Segurana e Sade no Trabalho; Edio e divulgao do Livro Verde sobre os Servios de Preveno, com realizao de inqurito de opinio; Estruturao do sistema de certificao profissional e do perfil de formao dos tcnicos de segurana e higiene do trabalho, incluindo os tcnicos em exerccio; Elaborao de estudos e propostas relativas acreditao das empresas prestadoras de servios de SHST; Elaborao de estudos relativos estruturao do sistema de coordenao de segurana da Construo e ao perfil funcional e de formao dos coordenadores de segurana; Promoo do desenvolvimento do dilogo social sectorial e da participao dos parceiros sociais em torno de prioridades de interveno (campanhas sectoriais, projectos de estruturao do sistema de certificao dos tcnicos de segurana e higiene do trabalho e estudos relativos estruturao do sistema de coordenao de segurana da Construo).

44

2. OS SERVIOS DE PREVENO COMO OBJECTIVO ESTRATGICO 2.1. A NOVA ABORDAGEM DA PREVENO Poder-se- dizer que o quadro normativo pr-existente designada nova-abordagem da preveno de riscos profissionais, trazida pela Directiva-Quadro de 1989, era, de forma dominante, marcado por um conjunto, mais ou menos sistematizado, de normas tendentes fixao de regras de conformidade tcnica dos locais e equipamentos de trabalho, obedecendo a uma configurao de mbito sectorial ou por domnio de risco especfico. Como consequncia, a tendncia geral dirigia-se para uma gesto dos riscos a posteriori sempre que se evidenciavam os seus efeitos nocivos ou a sua perigosidade. Deste modo, prevenir era, no essencial, corrigir. Sem prejuzo de se destacar o papel que tal metodologia desempenhou e continuar a desempenhar, o facto que tal abordagem demonstrou alguma dificuldade de adaptao rapidez da evoluo tecnolgica, identificao de novos factores de risco profissional, s novas formas de organizao da gesto empresarial (veja-se, por exemplo, o caso das cadeias de subcontratao que operam no mesmo local de trabalho) e, mesmo, evoluo do prprio Direito do Trabalho (tenham-se presentes, nomeadamente, os fenmenos de precarizao do emprego). Para modificar esta situao, assistiu-se a um processo de deslocalizao do conjunto de normas de conformidade de equipamentos e produtos para os sistemas de controlo de qualidade aos nveis da concepo, fabrico e comercializao. Esta evoluo metodolgica atravessou a linha da qualidade, tendo, tambm, influenciado decisivamente a linha da preveno. Prevenir passou, ento, a ser integrar, quando no, mesmo, eliminar. Com efeito, a Directiva Quadro, veio, em sntese, estabelecer um conjunto de princpios - os Princpios Gerais de Preveno - balizadores da preveno de riscos profissionais e definir uma metodologia de materializao da actividade de preveno na empresa, atravs da organizao dos servios de preveno. Os servios de preveno nas empresas, justificam-se, afinal, na ptica da gesto por antecipao (interveno sobre os procedimentos), porque a jusante (corrigir os riscos declarados) bastaria um conjunto de intervenes pontuais. Os servios de preveno devem, assim, ser um conjunto de meios humanos, materiais e organizacionais, capazes de polarizar a gesto da preveno de riscos profissionais na empresa, tendo em vista a adequada proteco da segurana e da sade dos trabalhadores.

45

A estratgia envolvente dos Servios de Preveno no pode, assim, ser perspectivada fora do quadro do desenvolvimento da organizao empresarial e do desenvolvimento do prprio pas. Com efeito, da sua aco decorrem efeitos estruturantes para a configurao produtiva

Trabalho Configurao Produtiva

Tcnica

Organizao

e efeitos potenciadores para os factores da performance da empresa

RendabilidadePERFORMANCE

Produtividade

Competitividade

Por outro lado, importa considerar que estes cenrios de desenvolvimento empresarial determinam a obrigao do Estado configurar e desenvolver as infra-estruturas nacionais que permitam a disponibilizao das competncias necessrias s empresas, nomeadamente: Profissionais qualificados (formao); Conhecimento cientfico e tcnico (investigao fundamental e aplicada); Informao (sistema estatstico e divulgao do conhecimento); Garantia de qualidade (certificao de profissionais e acreditao de servios); ainda obrigao fundamental do Estado, neste contexto, desenvolver todo um sistema adequado de controlo pblico, tendo em vista, por um lado, a consistncia e a permanncia dos padres de qualidade pr-definidos (controlo inicial e peridico sobre aqueles sistemas) e, por outro lado, a sua eficcia nos locais de trabalho (controlo continuado sobre os nveis de segurana e sade dos trabalhadores). Ser, assim, de se terem aqui presentes os papis fundamentais das enti-

46

dades certificadoras e licenciadoras dos recursos nacionais da preveno e das entidades de inspeco. O desenvolvimento organizacional das empresas supe, por fim, o envolvimento dos trabalhadores nos objectivos e processos de modernizao. Ora, como tais objectivos e processos devero passar, necessariamente, pela segurana e sade no trabalho, importa valorizar de forma adequada a participao dos trabalhadores no mbito da gesto da preveno na empresa. em tal contexto que deve ser situado o papel dos representantes dos trabalhadores para a segurana e sade no trabalho de contribuir para o desenvolvimento de sinergias entre os trabalhadores e os servios de preveno. De facto, a sua aco pode potenciar os saberes individuais dos trabalhadores e favorecer a adequao das abordagens dos servios de preveno a situaes concretas de trabalho. 2.2. PRINCIPAIS CONSTRANGIMENTOS DIAGNOSTICADOS Iniciou-se no nosso pas, desde a pr-adeso Unio Europeia, um perodo de intensa produo legislativa, particularmente forte no incio da dcada de noventa, de que veio a resultar uma arquitectura normativa sintonizada com a nova abordagem comunitria da preveno. Importa, ainda, recordar que, no mesmo perodo, se desenvolveu um conjunto de aces significativas no domnio da sensibilizao, cujo momento determinante, pela fora mobilizadora que gerou, ocorreu em 1992 com o Ano Europeu para a Segurana e Sade no Local de Trabalho. Por outro lado, h que evidenciar o incio da dcada de noventa (e, em particular, o ano de 1991) no que respeita primeira grande definio estratgica nacional, atravs, nomeadamente, da celebrao do Acordo Social para a SHST e da publicao do Regime de Enquadramento da SHST (D.L.441/91, de 14 de Novembro). Pode, tambm, reconhecer-se que data do mesmo perodo um processo gradual de maior presena da Inspeco do Trabalho nos locais de trabalho, centrada no controlo dos normativos de segurana e sade do trabalho. Todavia, o panorama dos acidentes de trabalho e das doenas profissionais no registou uma evoluo positiva correspondente queles esforos, na medida em que esta actividade tem sido centrada quase exclusivamente na legislao (produo, divulgao e fiscalizao), sem ser enquadrada por uma dinmica poltica dirigida implementao de medidas no legislativas, necessrias ao desenvolvimento das competncias, nomeadamente nos domnios da formao, da investigao, da informao, da qualidade e da participao. Sem aquela dinmica pol-

47

tica, no ser, alis, possvel incrementar, de forma sustentada, um conjunto de organismos de competncias especializadas que funcione como sistema de apoio tcnico aos profissionais e aos prestadores de servios de SHST, aos parceiros sociais e s prprias empresas (Rede de Preveno). E, sem uma estratgia conducente criao desta rede, no se lograr uma interveno sistematizada, articulada e consistente de combate sinistralidade laboral (Sistema Nacional de Preveno de Riscos Profissionais). Importa, apesar de tudo, considerar que alguns projectos recentes podem ser analisados como casos de desenvolvimento de boas metodologias, como sejam as Campanhas de Preveno Sectoriais, a formao dirigida a representantes dos trabalhadores e o aumento da disponibilizao da informao tcnica. Todavia, o efeito multiplicador de tais projectos ainda reduzido, em virtude da ausncia de outras abordagens mais estruturantes ao nvel da interveno dos representantes dos trabalhadores e da criao de competncias necessrias ao desenvolvimento da preveno nas empresas, como seja a formao qualificante dos profissionais de segurana e higiene do trabalho. , assim, fundamental evidenciar a importncia estratgica que assume a estruturao da certificao destes profissionais que se encontra, actualmente, em fase de concluso. 2.3. A DINMICA DO LIVRO VERDE DOS SERVIOS DE PREVENO Em face de tudo quanto antecede, a iniciativa do Livro Verde dos Servios de Preveno revelou um interesse estratgico assinalvel, em virtude de, por essa forma, se ter assumido, clara e frontalmente, a necessidade de se problematizarem os reduzidos resultados obtidos nos ltimos anos no mbito do desenvolvimento da preveno nos locais de trabalho. A estratgia do Livro Verde consistiu, assim, na realizao de um diagnstico prospectivo sobre o ambiente de segurana e sade do trabalho actualmente existente nos locais de trabalho e suas envolventes, identificando os principais constrangimentos em presena, fazendo um levantamento da capacidade nacional ao nvel das necessrias abordagens estruturantes e perspectivando um conjunto de solues no mbito da gesto dos recursos nacionais e da organizao da preveno nos locais de trabalho. A divulgao de que foi objecto o Livro Verde, bem como a metodologia seguida, geradora de debate e de expresso de opinio, logrou o desenvolvimento da consciencializao e o estabelecimento de uma linha geral de consenso ao nvel dos diversos aspectos fundamentais de todo este sistema. O INQURITO que, sistematizando as principais questes suscitadas no Livro Verde, acompanhou a sua divulgao, situou-se no mbito do seguinte universo:

48

Grupo / classificao Administrao pblica Organizaes patronais Associaes profissionais Organizaes sindicais Centros de formao Centros tecnolgicos Empresas Empresas prestadoras de servios Escolas profissionais Estabelecimentos de ensino superior Pessoas singulares TotalFonte: IDICT

Enviados 109 250 29 105 59 14 213 340 20 85 56 1280

Recebidos 36 65 6 15 17 4 99 103 4 15 52 416

A percentagem das respostas recebidas situou-se na ordem dos 32,5%. 2.4. ACTIVIDADES DE RISCO ELEVADO O Livro Verde, ao introduzir este tema, teve em vista promover uma reflexo sobre o conjunto dos sectores e actividades de risco elevado que, como tal, deve ser objecto do reforo do sistema de preveno, com expresso ao nvel da capacidade tcnica que deve ser exigida aos prestadores de servios de preveno, bem como ao nvel do sistema de gesto da preveno na empresa. Tal reforo dever conhecer desenvolvimento ao nvel do sistema de acreditao das empresas prestadoras de servios de preveno e ao nvel da formao contnua dos profissionais de SHST, daqui resultando ainda que em tais actividades de risco elevado se devero interditar as formas simplificadas de organizao dos servios de preveno (servios assegurados pelo empregador e por trabalhador por si designado). Com efeito, sendo a avaliao de riscos um instrumento de preveno aplicvel s diferentes fases da vida das empresas e diversidade dos processos produtivos, os modelos de organizao da preveno, a nvel da empresa, no devero fundamentar-se exclusivamente no critrio do nmero de trabalhadores. Assim sendo, devem ser tidos em conta um conjunto de riscos potenciais que, pela sua frequncia ou potencial gravidade, so inerentes a sectores e actividades, como sejam: Trabalhos em obras de construo, de escavao, de movimentao de terras e de tneis, com riscos de quedas de altura ou de soterramento, bem como trabalhos de demolio, interveno em ferrovias e em rodovias sem interrupo de trfego;

49

Indstrias extractivas (minas, pedreiras e sondagens); Trabalho hiperbrico; Actividades que envolvam utilizao ou armazenagem de quantidades significativas de produtos qumicos perigosos susceptveis de provocar acidentes graves; Fabrico, transporte e utilizao de explosivos e pirotecnia; Actividades na industria siderrgica e na construo naval; Actividades que envolvam o contacto com correntes elctricas de mdia e alta tenso; Produo e transporte de gases comprimidos, liquefeitos ou dissolvidos, ou utilizao significativa dos mesmos; Actividades que impliquem a exposio a radiaes ionizantes; Actividades que impliquem a exposio a agentes cancergenos, mutagnicos ou txicos para a reproduo; Trabalhos que envolvam risco de silicose; Actividades que impliquem a exposio a agentes biolgicos particularmente nocivos (grupos 3 e 4); Prestao de cuidados de sade. 2.5. SECTORES E GRUPOS ESPECIAIS Neste mbito, o Livro Verde coloca a questo da previso dos sectores ou grupos especiais que carecem de um regime especial de organizao dos servios de preveno, referenciando: Em ateno especificidade da actividade desenvolvida; Pescas Marinha de Comrcio Construo Civil e Obras Pblicas (estaleiros temporrios ou mveis) Trabalho rural Minas e pedreiras Servios de limpeza Servios de segurana de pessoas e bens Transportes

50

Em ateno natureza e forma de prestao do trabalho e, ainda, dimenso das empresas: Trabalho domicilirio Servio domstico Trabalho independente Micro-empresas do comrcio retalhista, servios de restaurao e hotelaria. No caso da Administrao Pblica, importaria perspectivar um sistema que equacione os seguintes aspectos: No que respeita administrao indirecta do Estado, dada a sua lgica de funcionamento, no se justifica que as respectivas organizaes fiquem fora do regime geral; Quanto generalidade dos servios e organismos da administrao dir