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LIVRO DE FILOSOFIA 2º ANO PROFESSOR: LEONARDO CARRIJO FERREIRA 2010

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LIVRO DE

FILOSOFIA

2º ANO

PROFESSOR: LEONARDO CARRIJO FERREIRA

2010

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE FILOSOFIA O CONHECIMENTO: FILOSOFIA GREGA

1. Mito e Logos. 2. Os Pré-socráticos.

Parmênides: imobilidade do ser Heráclito: o eterno fluxo

3. Platão:

Sócrates: ironia e aporia. Teoria das idéias: o mito da caverna.

4. Aristóteles:

Metafísica:

o As categorias: substância e acidente. o Teoria das quatro causas.

Noções de lógica:

o Proposição: verdade e falsidade. o Os termos do silogismo: a validade.

O CONHECIMENTO: RAZÃO NATURAL E FÉ CRISTÃ 1. A patrística:

Agostinho: a doutrina da iluminação. 2. A escolástica:

O problema dos universais:

o A posição realista. o A posição nominalista.

3. Tomás de Aquino:

Os princípios do conhecimento. As provas da existência de Deus.

O CONHECIMENTO: A TEORIA DO CONHECIMENTO

1. Descartes:

As regras do método. A dúvida e o cogito. As idéias inatas.

2. Hume:

Impressões e idéias Princípios de associação: semelhança, contigüidade, causa e efeito Hábito e conhecimento

O CONHECIMENTO: A FILOSOFIA GREGA 1. MITO E LOGOS

Introdução:

Etimologicamente a palavra filosofia é composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Filosofia significa, portanto amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim, filosofia indica um

estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. A filosofia representa a busca amorosa da verdade. Pitágoras, filósofo e matemático do século V a.C., teria usado a palavra filosofia pela primeira vez.

Portanto, quando se pensa em filosofia estamos nos referindo a um saber inacabado, uma reaprendizagem constante da visão de mundo, a uma reflexão crítica do conhecimento. O filósofo é aquele que observa, contempla, avalia e julga o valor

das coisas, das ações e da vida. Senso comum e filosofia:

Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. É um conhecimento ingênuo, fragmentário, assistemático, incoerente e conservador. Só

quando transformamos este senso comum em bom senso, podemos nos aproximar da filosofia. Ao “filosofar” espontâneo do homem comum, costumamos chamar filosofia de vida. Por exemplo: quando um jovem está sempre praticando esportes, com alimentação regrada, evitando o uso de fumo e álcool, justificando que este é o segredo para se viver uma vida duradoura, feliz e saudável.

A filosofia propriamente dita só é possível quando o pensar é posto em causa,

tornando-se objeto de reflexão. Esta reflexão só é realmente filosófica quando possui três características básicas:

Radical: A filosofia busca explicitar os

conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir, ou seja, ela investiga as “raízes” ou princípios que orientam as várias formas de saber.

Rigorosa: O filósofo deve dispor de um método claramente explicitado a fim de proceder com rigor, garantindo a

coerência e o exercício da crítica. Deve usar uma linguagem rigorosa e sempre justificar com argumentos as suas afirmações.

De conjunto: Enquanto as ciências são particulares, a filosofia é globalizante, porque examina os problemas sobre a perspectiva de conjunto, relacionando os

diversos aspectos entre si. Neste sentido, além de considerarmos que o objeto da filosofia é tudo (porque nada escapa a seu interesse), completamos que a filosofia visa ao todo, à totalidade.

Ciência e filosofia: Quando a ciência iniciou estava ligada à filosofia, sendo o filósofo responsável pela reflexão em todos os

setores da indagação humana. Nesse sentido, os filósofos Tales e Pitágoras eram também geômetras, e Aristóteles escreveu sobre física e astronomia. Na ordem do saber estipulada por Platão, o homem começa a conhecer pela forma imperfeita da opinião (doxa), depois passa ao grau mais avançado da ciência (episteme), para só então ser capaz de atingir o nível mais alto do saber filosófico. A partir do século XVII, a revolução metodológica iniciada por Galileu promove a

autonomia da ciência e o seu desligamento da filosofia. Pouco a pouco, desse período até o século XX, aparecem as chamadas ciências particulares - física, astronomia, química, biologia, psicologia, sociologia etc.-, delimitando um campo específico de pesquisa. Na verdade, o que estava ocorrendo era o nascimento da ciência, como a entendemos modernamente. Com a fragmentação do saber, cada ciência se

ocupa de um objeto específico: à física cabe investigar o movimento dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações substanciais, e assim por diante. Além da delimitação do objeto da ciência, se acrescenta o aperfeiçoamento do método científico, fundado, sobretudo na experimentação e matematização. O confronto dos resultados e a sua verificabilidade permitem uniformidade de conclusões e, portanto, certa objetividade.

As afirmações da ciência são chamadas juízos de realidade, já que de uma forma ou de outra pretendem mostrar como os fenômenos ocorrem, quais as suas relações e, consequentemente, como prevê-los. A primeira questão que nos assalta é imaginar o que resta à filosofia, se, ao longo do tempo, foi “esvaziada” do seu conteúdo pelo aparecimento das ciências particulares, tornadas independentes. Ainda mais que, no século XX, até as questões referentes ao homem passam a reivindicar o estatuto de

cientificidade, representado pela procura do método das ciências humanas. Ora, a filosofia continua tratando da mesma realidade apropriada pelas ciências.

Apenas que as ciências se especializaram e observam “recortes” do real, enquanto a filosofia jamais renuncia a considerar o seu objeto do ponto de vista da totalidade. A

visão da filosofia é de conjunto, ou seja, o problema tratado nunca é examinado de modo parcial, mas sempre sob a perspectiva de conjunto, relacionando cada aspecto com os outros do contexto em que está inserido. Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a filosofia, no sentido inverso, quer superar a fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado. Por isso a filosofia tem uma função de interdisciplinaridade,

estabelecendo o elo entre as diversas formas do saber e do agir. O trabalho da filosofia sob esse aspecto é importante e, sem negar o papel do especialista nem o valor da técnica que deriva desse saber, é preciso reconhecer que o saber especializado, sem a devida visão de conjunto, leva à exaltação do “discurso competente” e às conseqüentes formas de dominação. A filosofia ainda se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto:

em todos os setores do conhecimento e da ação, a filosofia está presente como reflexão crítica a respeito dos fundamentos desse conhecimento e desse agir. Então, por exemplo, se a física ou a química se denominam ciências e usam determinado método, não é da alçada do próprio físico ou do químico saber o que é ciência, o que distingue esse conhecimento de outros, o que é método, qual a sua validade, e assim por diante. Eles até podem dedicar-se a

esses assuntos, mas, quando o fazem, passam a se colocar questões filosóficas. O mesmo acontece com o psicólogo ao usar, por exemplo, o conceito de homem livre. Indagar sobre o que é a liberdade é fazer filosofia. Mudando o enfoque: e se a questão for o comércio, ou a fábrica? A partir da análise das relações sociais resultantes da divisão do trabalho, podemos questionar sobre o conceito subjacente de homem que se encontra nas relações estabelecidas

socialmente. Portanto, a filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. O filósofo parte da experiência vivida do homem trabalhando na linha de montagem, repetindo sempre o mesmo gesto, e vai além dessa constatação. Não vê apenas como é, mas como deveria ser. Julga o valor da ação, sai em busca do significado dela. Filosofar é dar sentido à experiência. EXERCÍCIOS

1. (UFU-97) Escolha a alternativa CORRETA. Na época de seu surgimento na Grécia Antiga, e com base em sua etimologia, o

significado da palavra Filosofia (philos sophia) é

A) Conhecimento indubitável. B) Amor à sabedoria. C) Amizade de Pitágoras por seus

discípulos. D) Amor à leitura. E) Intuição racional. 2. Todas as características abaixo são

requisitos para se definir um

conhecimento como filosófico, EXCETO: A) Totalidade. B) Rigor do método. C) Radical, no sentido de ir até as raízes. D) Visão de conjunto. E) Especialização. 3. Quanto ao senso comum, podemos

considerar como suas características: A) Estabelecer leis e fórmulas a serem

aplicadas em várias situações. B) Ser radical, rigoroso e ter visão de

conjunto. C) Basear-se em métodos rígidos para se

chegar a determinadas conclusões. D) Pertencer à pessoas graduadas e

cientistas diversos. E) Ser ametódico e assistemático, baseado

muitas vezes em conhecimentos transmitidos de geração para geração.

4. Assinale a alternativa INCORRETA.

Quanto ao conhecimento científico, podemos afirmar que: A) É particular e específico quanto à sua

área de saber. B) Era ligado à Filosofia até o século XVII,

quando Galileu Galilei criou a Física como ciência.

C) Baseia-se na experimentação e matematização do conhecimento.

D) Considera a visão global onde se encontra inseridas as suas descobertas.

E) Os primeiros filósofos também foram matemáticos e biólogos.

5. Assinale a alternativa CORRETA:

A partir do século XVII d.C. a ciência se torna um saber diferenciado da filosofia. Esta nova forma de conhecimento se caracteriza por:

A) Basear-se em um método experimental. B) Tratar de assuntos que envolvam a

totalidade em que o saber está inserido.

C) Afirmar a existência de uma ordem cósmica estável e finita.

D) Estabelecer a teoria geocêntrica de Ptolomeu como verdade pura e

inquestionável. E) Evitar relacionar as teorias com o

trabalho a ser realizado pelos trabalhadores.

O nascimento da Filosofia

Durante o século VIII a.C. predominava o pensamento mítico através dos poemas de Homero (Ilíada e Odisséia) e Hesíodo (Teogonia). Enquanto os poemas de Homero relatavam feitos heróicos, Hesíodo

tentava aplicar a origem do mundo através do surgimento dos deuses, apelando para os mitos, ou seja, uma explicação através da fantasia e da ilusão. Este período é conhecido como Mitológico ou cosmogônico.

Os poemas homéricos resultam de um longo, mas progressivo desenvolvimento da poesia oral, em que trabalharam muitas gerações. Usando significantes dos fins do século IX e meados do século VIII a.C., épocas em que foram, ao que parece, “compostas”, na Ásia Menor Grega,

respectivamente a Ilíada e a Odisséia, o poeta nos transmite significados do século XIII ao século VIII a.C. O mérito extraordinário de Homero foi saber genialmente reunir esse acervo imenso em dois insuperáveis poemas que, até hoje, se constituem no arquétipo (modelo primitivo, idéias inatas) da épica ocidental.

Hesíodo é um poeta dos fins do século VIII a.C., nascido na povoação de Ascra, junto ao monte Hélicon.

Cronologicamente, a primeira produção do poeta-camponês denominou-se Teogonia. Teogonia, de théos, deus, e gígnestheai, nascer, significa nascimento ou origem dos deuses. Trata-se, portanto, de um poema de cunho didático, em que se procura estabelecer a genealogia dos Imortais. Hesíodo, todavia, vai além e, antes da teogonia, coloca os fundamentos da cosmologia, quer dizer, as origens do mundo.

Do século VIII ao século VI a.C.,

grandes novidades vão causar grandes transformações nas visões que o homem tinha de si mesmo e do mundo. Estas novidades foram:

Aparecimento da moeda: a moeda que

tinha sido inventada na Lídia, aparece na Grécia por volta do século VII a.C. que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata,

uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de

generalização. Ou seja, a moeda torna-se necessária porque, com o comércio, os produtos que antes eram feitos, sobretudo com valor de uso passam a

ter valor de troca, isto é, transformam-se em mercadoria. Daí a exigência de algo que funcionasse como valor equivalente universal das mercadorias. A invenção da moeda desempenha papel revolucionário, pois está vinculada ao nascimento do pensamento racional. Isso porque passa a ser emitida e garantida pela Cidade, revertendo benefícios para a própria comunidade. Além desse efeito político de democratização, a moeda sobrepõe aos

símbolos sagrados e afetivos o caráter racional de sua concepção: muito mais do que um metal precioso que se troca por qualquer mercadoria, a moeda é um artifício racional, uma convenção humana, uma noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes;

A invenção da escrita alfabética: na Grécia surge por influência dos fenícios e já no século VIII a.C. se acha suficientemente desligada de

preocupação esotéricas e religiosas. Enquanto os rituais religiosos são cheios de fórmulas mágicas, termos fixos e inquestionados, os escritos deixam de ser reservados apenas aos que detêm o poder e passam a ser divulgados em praça pública, sujeitos a discussão e à crítica. Apenas um parêntese esclarecedor: isso não significa que a escrita tenha se tornado acessível a todos. Muito ao contrário, permanece

ainda grande o número de analfabetos. O que está em questão, no entanto, é a dessacralização da escrita, ou seja, seu desligamento da religião. A escrita gera uma nova idade mental porque exige de quem escreve uma postura diferente daquela de quem apenas fala. Como a escrita fixa a palavra, e consequentemente o mundo, para além de quem a proferiu, necessita de mais rigor e clareza, o que estimula o espírito crítico. Portanto a escrita aparece como

possibilidade maior de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas, supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se transcreve. Uma maior reflexão da palavra que tenderá a modificar a própria estrutura do pensamento;

A lei escrita: Drácon (séc. VII a.C.), Sólon e Clístenes (séc. VI a.C.) são os

primeiros legisladores que marcaram uma nova era: a justiça, até então dependente da arbitrariedade dos reis ou da interpretação da vontade divina, é

codificada numa legislação escrita. Regra comum a todos, norma racional, sujeita à discussão e modificação, a lei escrita passa a encarnar uma dimensão

propriamente humana. As reformas provocadas pela legislação de Clístenes fundam a polis sobre uma base nova: a antiga organização tribal é abolida e estabelecem-se novas relações, não mais baseadas na consangüinidade, mas determinadas por nova organização administrativa. Tais modificações expressam o ideal igualitário que prepara a democracia nascente, pois a unificação do corpo social abole a

hierarquia fundada no poder aristocrático das famílias;

Da cidadania: o nascimento da polis (por volta dos séculos VIII a.C. e VII a.C.) é um acontecimento decisivo que “marca um começo, uma verdadeira invenção”, que provocou grandes alterações na vida social e nas relações entre os homens.

A originalidade da cidade grega é que ela está centralizada na ágora (praça pública), espaço onde se debatem os problemas de interesse comum. A

polis se faz pela autonomia da palavra, não mais a palavra mágica dos mitos, palavra dada pelos deuses e, portanto, comum a todos, mas a palavra humana do conflito, da discussão, da argumentação. O saber deixa de ser sagrado e passa a ser objeto de discussão. Agora, com a polis, a cidade política, surge a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros,

persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político como diálogo, discussão de deliberação humana, isto é, como decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer alguma coisa.

Separam-se na polis o domínio público e privado: isto significa que ao ideal de valor de sangue, restrito a grupos privilegiados em função do nascimento ou fortuna, se sobrepõe à justa

distribuição dos direitos dos cidadãos enquanto representantes dos interesses da cidade. Está sendo elaborado o novo ideal de justiça, pelo qual todo cidadão tem direito ao poder. A nova noção de justiça assume caráter político, e não apenas moral, ou seja, ela não diz respeito apenas ao indivíduo e aos interesses da tradição familiar, mas se refere a sua atuação na comunidade. A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide

por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas;

o surgimento da vida urbana: com predomínio do comércio e do artesanato,

dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para

quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a filosofia poderia surgir.

Da democracia: o apogeu da democracia ateniense se dá no século V a.C. Atenas possuía meio milhão de habitantes, dos quais 300 mil eram escravos e 50 mil estrangeiros, excluídas mulheres e crianças, restavam apenas 10% considerados cidadãos propriamente ditos, capacitados para decidir por todos.

Por isso quando falamos em democracia ateniense, é bom lembrar que a maior parte da população se achava excluída do processo político.

Aliás, quanto mais se desenvolvia a idéia de cidadão ideal, com a consolidação da democracia, mais a escravidão surgia como contraponto indispensável, na medida em que ao escravo eram reservadas as tarefas consideradas “menores” dos trabalhos manuais e da luta pela sobrevivência. Mas não resta dúvida de que, na fase aristocrática anterior, havia ainda outros tipos de privilégios. O que enfatizamos no

processo é a mutação do ideal político e o surgimento de uma nova concepção de poder;

As viagens marítimas: que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens

produziram o desencadeamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer;

A invenção do calendário: que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um

poder divino incompreensível; As transformações decorrentes

destas novidades levaram à necessidade de

um pensamento que não apelasse para as fantasmagorias e imaginações.

A atividade filosófica, enquanto abordagem racional e toda a forma de

pensamento do ocidente, surge no contexto cultural grego, se expressando inicialmente como tentativa de explicar a realidade do mundo sem recorrer à religião. É o período dos chamados filósofos pré-socráticos, de cujas obras nos restam apenas alguns fragmentos. Dentre esses filósofos, alguns vão explicar o mundo apelando para um arqué, ou seja, o elemento constitutivo básico do qual a totalidade do universo seria constituída. Note-se que a preocupação é

que haja um princípio ordenador, que dê ordem ao universo. O declínio do pensamento mítico e começo de um saber de tipo racional data-se, então no século VI a.C. na Mileto jônica. E Tales, Anaximandro, Anaxímenes inauguram um novo modo de reflexão concernente à natureza que tomam por objeto de uma investigação sistemática. EXERCÍCIOS

1. (UFU-97) A respeito do nascimento da

filosofia no mundo grego, assinale a ÚNICA alternativa INCORRETA.

A) A filosofia está intimamente ligada à

cosmologia, tentando oferecer uma explicação racional para a origem e a ordem do mundo.

B) A filosofia, como continuidade da tradição helênica, dava uma nova

dimensão para o mito, inaugurando uma nova maneira de explicar os conflitos e as tensões sociais, conservando a base mítica.

C) A filosofia surgiu inicialmente na Grécia antiga, como o resultado do contato entre os povos antigos e da herança recebida de outras civilizações.

D) A filosofia nasceu no contexto da polis e da experiência de um discurso (logos) público pautado pelo diálogo.

E) Os primeiros filósofos desenvolveram um

pensamento organizado por princípios universais e lógicos, com a finalidade de que o discurso fosse verdadeiro.

2. Assinale a alternativa CORRETA.

Apesar de se falar em “milagre grego”, alguns autores salientam a importância de algumas novidades no processo de mudança do pensamento mítico para o pensamento racional. Algumas dessas novidades foram:

A) Filosofia, monarquia, teatro e poesia. B) Filosofia, tragédia, lei e monarquia. C) Poesia, escrita, romance e religião. D) Cidadania, poesia, teatro e religião.

E) Moeda, lei, escrita e cidadania. 3. Assinale a alternativa INCORRETA:

Podemos considerar que o pensamento filosófico em seu nascimento tinha como traços principais:

A) Tendência à racionalidade, isto é, a

razão é o critério da explicação de alguma coisa.

B) Exigência de que o pensamento apresenta suas regras de funcionamento, isto é, as idéias filosóficas seguem regras universais do pensamento.

C) Recusa de explicação preestabelecida, rompendo com as características do pensamento mitológico.

D) Tendência à especialização, isto é, mostrar que cada exploração atende uma coisa diferente, sem se preocupar com semelhanças e identidades.

E) Tendência a submeter os problemas à análise, à crítica, à discussão e à demonstração, buscando respostas conclusivas e verdadeiras.

4. (UFU-97) “Foi, com efeito, outrora, pela admiração que os homens, assim hoje como no começo, foram levados a filosofar, sendo primeiramente abalados pelas dificuldades mais óbvias, e progredindo em seguida, pouco a pouco, até resolverem problemas maiores: por exemplo, as mudanças da Lua, as do Sol e dos astros e a gênese do Universo. Ora, quem duvida e se admira julga ignorar (...) Pelo que, se foi para fugir à

ignorância que filosofaram, claro está que procuraram a ciência [filosofia] pelo desejo de conhecer, e não em vista de qualquer utilidade.” (Aristóteles, “Metafísica”, II, Os

Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1979.) O texto acima se refere ao nascimento da filosofia. Explique como ocorreu a passagem do mito para uma nova forma de ver e entender o mundo, que, posteriormente, foi chamada filosofia.

2. OS PRÉ-SOCRÁTICOS Os primeiros pensadores que tentaram encontrar esta explicação racional foram os filósofos pré-socráticos, no século VI a.C. Estes filósofos preocuparam em encontrar a origem de todas as coisas e o elemento constitutivo de tudo o que existia. Eis a apresentação sintetizada destes filósofos e suas idéias:

A escola Jônica

Situadas na região da Jônia, alguns filósofos procuraram concentrar o seu estudo na Physis (natureza). Preocuparam com uma substância básica que existisse em todos os

seres e que fosse a origem de tudo. Tales de Mileto: filósofo e matemático encontrou na água esta substância básica. Tales afirmava: “Tudo é água”, “a terra está sobre a água” e “Tudo está cheio de deuses”. Anaxímenes de Mileto: dizia que esta substância era o ar. Anaximandro de Mileto: afirmava que “Tudo é Apeiron” (infinito, indeterminado).

Heráclito de Éfeso: despreocupado com esta substância básica afirma que “Tudo é vir-a-ser” ou “Tudo flui”, ou seja, o mundo é algo dinâmico, representa tensão e harmonia. Para Heráclito, existia prazer porque existia dor, alegria devido à tristeza, etc. Ele se tornou o estreante da dialética. A escola Eleática A escola Eleática se preocupou em

encontrar um princípio racional como ponto de referência para qualquer tipo de conhecimento. Seus principais filósofos foram: Parmênides, Xenófanes e Zenão. Parmênides de Eléia: foi o grande pensador desta escola, tendo os outros dois como seguidores de suas idéias. O princípio racional de Parmênides era: “O ser é. O não-ser não é.” Dentro deste princípio Parmênides afirmará que o ser é UNO

(indivisível) e IMÓVEL (o movimento é ilusório). Ele pode ser considerado o estreante da metafísica. Zenão de Eléia: discípulo de Parmênides, elaborou argumentos para defender a doutrina de seu mestre. Com eles pretendia demonstrar que a própria noção de movimento era inviável e contraditória. Xenófanes: foi o fundador da escola eleática. A escola Itálica

Pitágoras de Samos: foi o grande filósofo desta escola. Ele afirmava que tudo poderia ser atribuído pela matemática. Todas as coisas poderiam ser quantificáveis, ou seja, o número era a realidade primeira. Para Pitágoras o mundo nada mais era do que a passagem da unidade para a multiplicidade. O famoso teorema de Pitágoras na matemática, que afirma que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa, surgiu há dois mil e

quinhentos anos atrás através dos estudos deste grande filósofo e matemático. A escola Atomista

Nesta escola, destacaram-se Leucipo e Demócrito. Este último foi o mais importante.

Leucipo de Mileto: a phýsis ou o Ser é o átomo, o não cortável, isto é o indivisível. Demócrito de Abdera: afirmava que todas as coisas eram compostas por átomos. Estes átomos eram partículas indivisíveis e de várias formas diferentes. Conforme a junção entre determinadas formas estruturavam-se as diversas matérias e substâncias. Outros grandes filósofos

Empédocles de Agrigento: assim como os filósofos da Jônia, preocupou-se com uma substância básica. Enquanto os outros jônicos encontraram esta única substância, Empédocles encontrou quatro elementos básicos: terra, ar, água e fogo. Ele acreditava que tudo que existia partia da junção destes elementos. Anaxágoras de Clazomenas: afirmava que as transformações que se dão na Phisys devem

ser pensadas em termos de composição e decomposição, unidade e multiciplidade.

A filosofia pré-socrática se caracteriza pela preocupação com a natureza do mundo exterior. O nascimento da filosofia na Grécia é marcado pela passagem da cosmogonia para a cosmologia. A cosmogonia, típica do pensamento mítico, é descritiva e explica como do caos surge o cosmos, a partir da geração dos deuses,

identificados às forças da natureza. Na cosmologia, as explicações rompem com a religiosidade: a arché (princípio) não se encontra mais na ordem do tempo mítico, mas significa princípio teórico, enquanto fundamento de todas as coisas. Daí a diversidade de escolas filosóficas, dando origem a fundamentações conceituais (e, portanto abstratas) muito diferentes entre si. Vamos destacar dois dentre os pré-socráticos: Heráclito e Parmênides. Relembramos também que o tempo destruiu

grande parte da obra dos primeiros filósofos, deles nos restando apenas fragmentos e os comentários sobre seus textos feitos pelos filósofos do período clássico.

Parmênides: a imobilidade do ser

O ser é imóvel Parmênides (540 – 470 a.C.) viveu em Eléia, cidade do sul da Magna Grécia (atual Itália) e é o principal expoente da

chamada escola eleática. Elaborou importantíssima teoria filosófica na medida em que influenciou de forma decisiva o pensamento ocidental. Ocupou-se

longamente em criticar a filosofia heraclitiana: ao “tudo flui” (panta rei) de Heráclito, contrapôs a imobilidade do ser. Para Parmênides é absurdo e

impensável considerar que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo. À contradição opõe o princípio segundo o qual “o ser é” e o “não-ser não é”. Mais tarde, os lógicos chamarão a isto princípio de identidade, base de toda construção metafísica posterior. Por raciocínios que não cabe examinar neste pequeno espaço, Parmênides conclui, a partir do princípio estabelecido, que o ser é único, imutável, infinito e imóvel. Não há, entretanto, como negar a existência

do movimento no mundo que percebemos, onde as coisas nascem e morrem, mudam de lugar e se expõem em infinita multiplicidade. Para Parmênides, o movimento existe apenas no mundo sensível, e a percepção levada a efeito pelos sentidos é ilusória. Só o mundo inteligível é verdadeiro, pois está submetido ao princípio que hoje chamamos de identidade e de não-contradição. Uma das conseqüências dessa teoria é a identidade entre o ser e o pensar. Ou seja, as coisas que existem fora de mim são

idênticas ao meu pensamento, e o que eu não conseguir pensar não pode ser na realidade.

Heráclito: o eterno fluxo

Tudo flui Heráclito (544 - 484 a.C.) nasceu em Éfeso, na Jônia (atual Turquia). Tal como seus contemporâneos pré-socráticos, busca

compreender a multiplicidade do real. Mas, ao contrário deles, não rejeita as contradições e quer apreender a realidade na sua mudança, no seu devir. Todas as coisas mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, pois na segunda vez não somos os mesmos, e também o rio mudou. Portanto não há ser estático, e o dinamismo pode bem ser representado pela

metáfora do fogo, forma visível da instabilidade, símbolo da eterna agitação do devir, “o fogo eterno e vivo, que ora se acende e ora se apaga”. Para Heráclito o ser é o múltiplo. Não no sentido apenas de que existe a multiplicidade das coisas, mas de que o ser é múltiplo por estar constituído de oposições internas. O que mantém o fluxo do movimento não é o simples aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários, pois “a guerra é pai de todos, rei de todos”. E é

da luta que nasce a harmonia, como síntese dos contrários.

Pode-se dizer que Heráclito teve a intuição da lógica dialética a ser elaborada por Hegel e depois Marx, no século XIX.

EXERCÍCIOS 1. Durante o nascimento da filosofia, os

primeiros filósofos buscaram princípios racionais sobre a ordem e origem do mundo. Posteriormente, esses filósofos foram chamados de:

A) Sofistas B) Empiristas C) Materialistas D) Pré-socráticos

E) Racionalistas 2. Podemos considerar entre os filósofos da

natureza ou pré-socráticos: A) Pitágoras e Heráclito B) Homero e Hesíodo C) Platão e Sócrates D) Protágoras e Crítias E) Parmênides e Sófocles 3. Assinale a alternativa INCORRETA:

Os filósofos pré-socráticos contribuíram para formular pensamentos racionais desvinculados dos mitos. Sobre esses filósofos pode-se afirmar que:

A) Parmênides, Zenão e Xenófanes

pertencem à escola eleática, buscando um princípio racional lógico.

B) Heráclito de Éfeso afirmava que o mundo era tensão entre os contrários.

C) Pitágoras afirmou: “O número é a

medida de todas as coisas”. D) Demócrito estabeleceu quatro elementos

básicos: terra, água, ar e fogo. E) Os filósofos de Mileto encontraram na

água, no ar e no “apeíron” a possibilidade de cada um desses elementos ser o princípio de todas as coisas.

4. (UFU-98) O filósofo pré-socrático,

Parmênides e Eléia, afirmava que “o ser é e o não ser não é”. Por essa afirmação,

ele foi considerado pelos filósofos posteriores como:

A) O pai do ceticismo B) O fundador da Metafísica. C) O fundador da sofística D) O iniciador do método dialético. E) O filósofo do absurdo. 5. “Não banhamos duas vezes no mesmo

rio. Pois, na segunda vez, as águas não são mais as mesmas e nós também não

somos os mesmos.” Esse pensamento de Heráclito de Éfeso também pode ser demonstrado através da afirmação:

A) “O ser é. O não-ser não é”. B) “Tudo é ar” C) “Tudo é água” D) “O número é a medida de todas as

coisas” E) “Tudo é vir-a-ser” 6. Podemos afirmar sobre os pré-

socráticos, I. Buscam uma substância básica na

natureza, assim como princípios lógicos, visando entender a ordem e a origem do mundo.

II. Heráclito afirma a unidade e imobilidade do ser, demonstrando

que não podemos acreditar nos sentidos.

III. Parmênides de Eléia, através do princípio “o ser é; o não ser não é”, lança as bases para o conhecimento metafísico e a supremacia da racionalidade.

IV. Enquanto Parmênides descreve o imutável, Heráclito afirma o devir, através de seu “tudo flui”.

V. “O mundo é tensão entre contrários” e “a guerra é o pai de todos nós”

são princípios que podem ser atribuídos a Parmênides.

Assinale A) Se apenas I e III estiverem corretas. B) Se apenas I, II e IV estiverem corretas. C) Se apenas I, II e V estiverem corretas. D) Se apenas II, IV e V estiverem corretas. E) Se apenas I, III e IV estiverem corretas. 7. “Outros dizem que a alma é ar, como

Anaxímenes e alguns estóicos (Filópono)”. “As estrelas surgiram da Terra, ao destacar-se desta a umidade ascendente; com a rarefação da umidade, surgiu o fogo; e do fogo, que se elevava, constituíram-se as estrelas (Hipólito).”

Esse texto consta de fragmentos dos pré-socráticos encontrados e organizados por Herman Diels e Walter

Kranz. Discuta o tema central dos primeiros filósofos conforme o ponto-de-vista de Anaxímenes.

3. PLATÃO: Introdução Platão foi discípulo de Sócrates. Seu nome era Arístocles, e recebeu o pseudônimo de Platão por ter ombros largos.

Ele foi responsável por ter escrito todas as idéias de Sócrates, pois este não deixou uma linha sequer. Sua obra apresenta-se em diálogos, característica da dialética. Ele

fundou sua própria escola de filosofia chamada Academia, onde se ensinava matemática e ginástica além da própria filosofia.

Os Sofistas No século V a.C. surgiram vários mestres ambulantes que passavam de cidade em cidade, e de casa em casa, ensinando aos jovens as suas sabedorias e cobrando pelos seus ensinamentos. Ensinavam a areté (a virtude, ou a habilidade). Preocupavam-se com o imediato da vida política e do poder. Portanto,

ensinavam a Paidéia, o que significava a preparação do jovem para o ideal do homem belo e bom, sendo esta a principal virtude. A grande mudança de pensamento causada pelos sofistas foi o deslocamento do foco de estudo da razão: enquanto os pré-socráticos se concentravam na natureza para se chegar à compreensão racional do mundo, os sofistas vão se concentrar no homem. Protágoras, um dos mais eminentes sofistas, dizia: “O homem é a medida de todas as coisas”. Os sofistas afirmavam que o homem

era o responsável pela criação dos valores. Outros grandes sofistas foram: Crítias, Górgias, Hippias.

Sócrates: ironia e aporia. Sócrates (470-399 a.C.) foi o grande filósofo por excelência. Ele viveu em Atenas no século V a.C. Era um homem feio, gordo, mas, quando falava, era dono de um estranho fascínio. Permanecia sempre em

praça pública, discutindo com os jovens. Interpelava os transeuntes, dizendo-se ignorante, e fazia perguntas aos que julgavam entender determinado assunto. Colocava interlocutor em tal situação que não havia saída senão reconhecer a própria ignorância. Suas máximas eram: “Conhece-te a ti mesmo” e “Só sei que nada sei.” Com estas frases, Sócrates demonstrava: primeiro, o ponto de partida para se chegar ao conhecimento era o próprio homem; e segundo, que só a partir do reconhecimento

de sua própria ignorância é que se pode alcançar a sabedoria. Sócrates, através do diálogo, questionava os jovens e seus conhecimentos aprendidos com os sofistas. Diferentemente dos sofistas, Sócrates mantém a separação entre opinião e verdade, entre aparência e realidade, entre percepção sensorial e pensamento. Por isso, sua busca visa a alcançar algo muito precioso: passar da multiplicidade de opiniões contrárias, da multiplicidade de aparências opostas, da

multiplicidade de percepções divergentes à unidade do conceito ou da idéia (que é a definição universal e necessária da coisa procurada). Ele não se preocupava em

transmitir conhecimentos verdadeiros e acabados, e sim indagar os jovens de tal forma que eles mesmos chegassem ao conhecimento. Esta era a chamada maiêutica

socrática, “a arte de dar a luz aos espíritos”. Sócrates foi um grande crítico e usava da ironia para questionar aqueles que se achavam sábios. Com sua crítica aos ensinamentos dos sofistas, os quais não admitiam questionamentos, Sócrates foi considerado um subversivo em sua época. Sendo assim, o grande filósofo de Atenas acabou sendo condenado à morte, obrigado a tomar cicuta.

Cabe a Sócrates o mérito de ter colocado em questão a importância da

definição de conceitos para se organizar o saber. Ele não escreveu nada; coube a seus seguidores, principalmente Platão, seu mais importante discípulo, todos os relatos a respeito de seus diálogos e idéias. A Maiêutica Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam então iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias idéias. Novamente, Sócrates

lhes propunha uma série de questões habilmente colocadas. Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias idéias. Assim, transportava para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe, Fenareta, que, sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo. Por isso, essa fase do diálogo socrático, destinada à concepção de idéias, era chamada de maiêutica, termo

grego que significa arte de trazer à luz. Um corruptor da juventude? Sócrates não dava importância à posição socioeconômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as condições interiores, psicológicas, de cada pessoa, pois essas condições eram indispensáveis ao processo de autoconhecimento.

Para a democracia ateniense, da qual não participava a maioria da população, composta de escravos, estrangeiros e mulheres, Sócrates foi considerado subversivo. Representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava a ordem vigente e dirigia suas atenções para as pessoas, sem fazer distinções de classe ou posição social. Interessado tão-somente na prática da virtude e na busca da verdade, contrariava os valores dogmáticos da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a

acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a juventude. No final do processo foi condenado a beber cicuta

(veneno extraído de uma planta do mesmo nome). Diante de seus juizes, Sócrates assumiu uma postura viril, altaneira,

imperturbável, de quem nada teme. Permanecia absolutamente em paz com sua própria consciência. Se alguém lhe perguntasse “Não te envergonhas, Sócrates, de ter dedicado a vida a uma atividade pela qual te condenam a morte?”, ele responderia: Estás enganado, se pensas que um homem de bem deve ficar pesando, ao praticar seus atos, sobre as possibilidades de vida ou de morte. O homem de valor moral deve considerar apenas, em seus atos, se eles são justos ou injustos, corajosos ou

covardes. Foi assim que Sócrates procurou caracterizar sua vida: construindo uma personalidade corajosa e guiando sua conduta pelo seu critério de justiça. Viveu conforme sua própria consciência. Morreu sem ter renunciado a seus mais caros valores morais. EXERCÍCIOS 1. Em relação aos sofistas, pode-se afirmar

que: I. Representam um movimento

popular em defesa dos reis. II. Defenderam as idéias de Sócrates

em Atenas. III. Ensinavam aos jovens uma

educação política. IV. Preocuparam, sobretudo com a

natureza e explicações cosmológicas.

Assinale A) se apenas I estiver correta. B) se apenas III estiver correta. C) se apenas I e III estiverem corretas. D) se apenas I e IV estiverem corretas. E) se apenas II e III estiverem corretas. 2. Podemos perceber uma mudança da

tendência racional de se explicar as coisas pela natureza, buscando centralizar-se nas questões humanas a

partir do aparecimento dos: A) Sofistas. B) Eleátas. C) Jônicos. D) Estóicos. E) Atomistas. 3. Assinale a alternativa INCORRETA. Sócrates foi condenado a tomar cicuta por ser responsabilizado de corromper a

juventude de sua época. A seu respeito, pode-se afirmar que:

A) Defendia a existência de conceitos universais válidos em qualquer época ou local.

B) Ensinava-se os jovens através de

diálogos, estabelecendo a maiêutica. C) Preocupava com as questões morais e

políticas, assim como os sofistas. D) Deixou sua obra escrita, encarregando

Aristóteles de interpretá-la e divulgá-la. E) Usava da ironia dizendo-se ignorante,

fazendo com que os outros chegassem ao conhecimento verdadeiro.

4. Assinale a alternativa INCORRETA

Sobre o método socrático pode-se afirmar

A) O nome maiêutica se refere a uma

homenagem a sua mãe, que era parteira, acrescentando que se ela fazia parto de corpo, ele “dava a luz” a novas idéias.

B) Seu método se inicia com uma parte de exortação, que é a chamada para o diálogo.

C) Uma de suas partes consiste em destruir o saber pré-concebido, usando a argumentação irônica.

D) Os diálogos críticos de Sócrates buscam as questões abstratas referentes à política e a ética do homem, daí perguntar em que consiste a coragem, a covardia, a justiça, e assim por diante.

E) É um método onde os interlocutores buscam a verdade relativa, o que importa é a “arte de convencer”.

5. Assinale a única alternativa

INCORRETA sobre Sócrates:

A) Sócrates nada deixou escrito, e teve

suas idéias divulgadas por dois de seus principais discípulos, Xenofonte e Arístocles (Platão).

B) Costumava conversar com todos, fossem velhos ou moços, nobres ou escravos, preocupado com o método do conhecimento.

C) Tinha um pressuposto de partida, “só sei que nada sei”, que consiste justamente na sabedoria de reconhecer a própria

ignorância, de onde se inicia a procura do conhecimento.

D) As questões que Sócrates privilegia são as referentes à natureza e aos fenômenos físicos principalmente.

E) Sócrates, por meio de perguntas destrói o saber constituído para reconstruí-lo na procura da definição do conceito.

6. “Ateniense, eu vos sou reconhecido e

vos quero bem, mas obedecerei antes ao deus que a vós; enquanto tiver alento e

puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar, de vos dirigir exortações, de ministrar ensinamentos em toda ocasião àquele de vós deparar, (...)outra coisa

que não faço senão andar por aí persuadindo-vos, moços e velhos, a não cuidar tão aferradamente do corpo e das riquezas, como de melhorar o mais

possível a alma, dizendo-vos que dos haveres não vem a virtude para os homens, mas da virtude vêm os haveres e todos os outros bens particulares e públicos.” (Os pensadores – Sócrates, abril

cultural, São Paulo, 1972)

Diante deste fragmento de Platão do texto da defesa de Sócrates explique o pressuposto de Socrático sobre o conhecimento, “conhece-te a ti mesmo”.

Teoria das idéias: o mito da

caverna Teoria do conhecimento: teoria das reminiscências – uma alma imortal Mundo das Idéias e Mundo dos Sentidos Uma das primeiras preocupações de Platão era a relação entre o eterno e imutável, de um lado, e o que flui de outro.

Enquanto os sofistas consideravam questões a respeito da moral do homem e os ideais ou virtudes da sociedade como algo que se modificava de cidade-Estado para cidade-Estado e de geração para geração, Sócrates acreditava em regras ou normas eternas. Portanto, Platão seguindo a mesma orientação de seu mestre vai se preocupar com o eterno e imutável tanto na natureza quanto na moral e na sociedade. Sendo assim, ele fará uma divisão entre dois

mundos, ou seja, Platão defende um dualismo psicofísico no que se refere ao homem, ou seja, a alma, como pertencente ao mundo das idéias, é imortal; enquanto o corpo, como pertencente ao mundo dos sentidos, é perecível. Sendo assim, segundo a visão platônica, as idéias são inatas, estão adormecidas até que se entre em contato com o mundo concreto. É a chamada teoria das reminiscências.

O mundo da natureza é para Platão um “mundo dos sentidos”, feito de material

sujeito a corrosão do tempo; neste mundo tudo flui e é passageiro. Porém existe um outro mundo feito de formas eternas e imutáveis, este mundo é o mundo das idéias. A estas formas, “imagens padrão”, imagens primordiais, Platão chamou de “mundo das idéias”. O mundo dos sentidos seria apenas uma cópia imperfeita do mundo das idéias. E o caminho do filósofo deve compreender a passagem do mundo dos sentidos, imperfeito, enganoso e feito de opiniões incertas, para o mundo das idéias, feito de

um conhecimento seguro que reconhecemos com a razão. Podemos dizer que: a razão é eterna e universal, justamente porque elas

só se manifesta sobre dados que são eternos e universais. Dialética Platônica

A primeira etapa do processo de conhecimento é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. Essas impressões sensíveis são responsáveis pela opinião que temos da realidade. A opinião (doxa) representa o saber que temos sem tê-lo procurado metodicamente. O conhecimento, entretanto, para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o

mundo das idéias. Para atingir esse mundo, o homem não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia); precisa possuir um “amor ao saber” (filosofia). O método proposto por Platão para atingir o conhecimento autêntico (epistéme) é a dialética. A dialética consiste na contraposição de uma opinião com a crítica que dela podemos fazer, ou seja, na afirmação de uma tese qualquer seguida de uma discussão e negação desta tese, com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos.

Segundo Platão todos os objetos sensíveis possuem caráter contraditório, pois o intermédio entre o ser e o não-ser e apropriados como objeto de opinião mas não de conhecimento, ou seja, o que é belo é também, sob certo aspecto, feio; o que é justo é, sob certo aspecto, injusto, e assim por diante. Teoria política A república

Platão cria um Estado idealizado e utópico, em um desejo de reconstrução da polis grega. Como características deste Estado, defende a abolição da família e da propriedade privada, direitos iguais para as mulheres e educação das crianças através de

um sistema público. Ele cria um sistema classista e uma sofocracia na sociedade, estabelecendo uma comparação entre o corpo, a alma e o Estado.

A organização dessa sociedade classista aconteceria da escola. Haveria um processo de seleção ao longo da formação acadêmica. Ao completar vinte anos, os alunos que menos se destacassem seriam considerados como alma de bronze e representariam os trabalhadores. Completados mais dez anos de estudo, aqueles que menos destacaram seriam considerados como alma de prata e representariam os guerreiros. Os mais

notáveis que sobrariam destes cortes, por terem alma de ouro, seriam os filósofos. Dentre eles, aos cinqüenta anos, seriam escolhidos o corpo supremo dos magistrados, aqueles que ficariam responsáveis pelo governo da cidade. O mito da caverna Do clássico A República, temos no livro VII, A Alegoria da Caverna (em anexo). Neste capítulo o pensamento de Platão pode

ser expresso e entendido por duas vias. A visão epistemológica e a política. Na visão epistemológica, o mito da caverna é uma alegoria a respeito das duas principais formas de conhecimento: na teoria das idéias, Platão distingue o mundo sensível, dos fenômenos, e o mundo inteligível, das idéias. A visão política entende-se o papel do sábio, que é ensinar e governar, pois os homens não vêem. Para Platão o filósofo é o único que pode atingir o mundo das idéias,

usando o caminho do conhecimento. Trata-se da necessidade da ação política, da transformação dos homens e da sociedade, desde que essa ação seja dirigida pelo modelo ideal contemplado.

TEXTO COMPLEMENTAR ALEGORIA DA CAVERNA -“O MITO DA CAVERNA”

Trata-se de um trecho do Livro VII de A República: no diálogo, as falas na primeira pessoa são de Sócrates, e.seus interlocutores, Glauco e Adimanto, são os irmãos mais novos de Platão.

– Agora – continuei - representa da seguinte forma o estado de nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens em morada subterrânea, em forma de caverna, que tenha em toda a largura uma entrada aberta para a luz; estes homens aí se encontram desde a infância,

com as pernas e o pescoço acorrentados, de sorte que não podem mexer-se nem ver alhures exceto diante deles, pois a corrente os impede de virar a cabeça; a luz lhes vem

de um fogo aceso sobre uma eminência, ao longe atrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa um caminho elevado; imagina que, ao longo deste caminho, ergue-se um pequeno muro, semelhante aos

tabiques que os exibidores de fantoches erigem à frente deles e por cima dos quais exibem as suas maravilhas.

– Vejo isso – disse ele. – Figura, agora, ao longo deste

pequeno muro homens a transportar objetos de todo gênero, que ultrapassam o muro, bem como estatuetas de homens e animais de pedra, de madeira e de toda espécie de matéria; naturalmente, entre estes portadores, uns falam e outros se calam.

–Eis – exclamou – um estranho

quadro e estranhos prisioneiros! – Eles se nos assemelham –

repliquei – mas, primeiro, pensas que em tal situação jamais hajam visto algo de si

próprios e de seus vizinhos, afora as sombras projetadas pelo fogo sobre a parede da caverna que está à sua frente?

– E como poderiam? – observou – se

são forçados a quedar-se a vida toda com a cabeça imóvel? E com os objetos que desfilam, não acontece o mesmo?

– Incontestavelmente. Se, portanto, conseguissem conversar entre si não julgas que tomariam por objetos reais sombras que avistassem? .

– Necessariamente. ............................................................................................................

– Considera agora o que lhes

sobrevirá naturalmente se forem libertos das cadeias e curados da ignorância. Que se separe um desses prisioneiros, que o forcem a levantar-se imediatamente, a volver o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos à luz: ao efetuar todos esses movimentos sofrerá, e o ofuscamento o impedirá de distinguir os objetos cuja sombra enxergava há pouco. O que achas, pois, que ele responderá se alguém lhe vier dizer que tudo quanto vira até então eram vãos fantasmas, mas que presentemente, mais perto da

realidade e voltado para objetos mais reais, vê de maneira mais justa? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas passantes, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é isso? Se, e, dizer o que é isso? Não crês que ficará embaraçado e que as sombras que viu há pouco lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que ora lhe são mostrados?

– Muito mais verdadeiras reconheceu ele.

– E se o forçam a fitar a própria luz, não ficarão os seus olhos feridos? Não tirará dela a vista, para retornar às coisas que pode olhar, e não crerá que estas são realmente mais distintas do que as outras que lhe são mostrados? .

– Seguramente. – E se – prossegui – o arrancam à

força de sua caverna, o compelem a escalar a rude e escarpada encosta e não o soltam antes de arrastá-lo até a luz do sol, não sofrerá ele novamente e não se queixará

destas violências? E quando houver chegado à luz, poderá, com os olhos completamente deslumbrados pelo fulgor, distinguir uma só das coisas que agora chamamos verdadeiras?

– Não poderá – respondeu –; ao menos desde logo.

– Necessitará, penso, de hábito para ver os objetos da região superior. Primeiro distinguirá mais facilmente as sombras, depois as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas, a seguir

os próprios objetos. Após isso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da lua,

contemplar mais facilmente durante a noite os corpos celestes e o céu mesmo, do que durante o dia o sol e sua luz.

– Sem dúvida.

– Por fim, imagino, há de ser o sol, não suas vãs imagens refletidas nas águas ou em qualquer outro local, mas o próprio sol em seu verdadeiro lugar, que ele poderá ver e contemplar tal como é.

– Necessariamente. – Depois disso, há de concluir, a

respeito do sol, que é este que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é causa de tudo quanto ele via, com os seus companheiros, na caverna.

– Evidentemente, chegará a esta conclusão. ............................................................................................................

– Imagina ainda que este homem torne a descer a caverna e vá sentar-se em seu antigo lugar; não terá ele os olhos cegados pelas trevas, ao vir subitamente do pleno sol?

– Seguramente sim disse ele. – E se, para julgar estas sombras,

tiver de entrar de novo em competição, com os cativos que não abandonaram as correntes, no momento em que ainda está com a vista confusa e antes que seus olhos se tenham reacostumado (e o hábito à obscuridade exigirá ainda bastante tempo), não provocará riso à própria custa e não dirão eles que, tendo ido para cima, voltou com a vista arruinada, de sorte que não vale mesmo a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar soltá-los e conduzi-los ao alto,

e conseguissem eles pegá-lo e matá-lo, não o matarão?

– Sem dúvida alguma – respondeu. – Agora, meu caro Glauco –

continuei – cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dissemos mais acima, comparar o mundo que a vista nos revela à morada da prisão e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol. No que se refere à subida à região superior e à contemplação de seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma ao lugar inteligível, não te

enganarás sobre o meu pensamento, posto que também desejas conhecê-lo. Deus sabe se ele é verdadeiro. Quanto a mim, tal é minha opinião: no mundo inteligível, a idéia do bem é percebida por último e a custo, mas não se pode percebê-la sem concluir que é a causa de tudo quanto há de direito e belo em todas as coisas; que ela engendrou, no mundo visível, a luz e o soberano da luz; que, no mundo inteligível, ela própria é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e que é preciso vê-la para

conduzir-se com sabedoria na vida particular e na vida pública.

– Partilho de tua opinião - replicou - na medida em que posso.

(Platão, A República, v. II, p. 105 a 109. lI, p. (105 a l09.)

EXERCÍCIOS 1. Quanto à visão política da “República” de

Platão, podemos dizer que se trata de, EXCETO:

A) Um estado utópico, onde os filósofos

seriam os governantes. B) Uma sociedade onde a família deve ser

responsável pela educação das crianças. C) Uma sociedade classista, dividida em

governantes, guerreiros e trabalhadores.

D) Uma organização social onde homens e mulheres têm direitos iguais.

E) Uma defesa da sofocracia, ou seja, o poder dos sábios.

2. Assinale a alternativa INCORRETA:

Platão representa um dos filósofos mais importantes da Antigüidade. A seu respeito pode-se afirmar:

A) Escreveu os diálogos de Sócrates com os

sofistas do século V a.C. B) Estabeleceu a distinção entre um mundo

inteligível e um mundo sensível. C) Teve Aristóteles como seu discípulo, o

qual também contestou algumas de suas idéias.

D) Defendeu idéias relativas à política, sugerindo que os filósofos deveriam governar.

E) Enfatizou a matéria como perfeição e como fonte e origem das idéias.

3. A idéia de República de Platão considera

que: I. Bom governo depende da virtude

(justiça) dos bons governantes. II. Os filósofos não devem assumir

compromissos políticos. III. Os guerreiros devem ser os

governantes. IV. As pessoas mais jovens devem

evitar questões políticas.

Assinale: A) Se apenas I estiver correta. B) Se apenas I e III estiverem corretas. C) Se apenas III estiver correta. D) Se apenas II e III estiverem corretas. E) Se apenas I e IV estiverem corretas. 4. (UFU-97) O "mito da Caverna" (livro VII,

A república, de Platão) tem como pressuposto a teoria das idéias. Considera-se então que seja

I. Uma metáfora do conhecimento: o

movimento de saída e a contemplação da luz significam o

processo de aquisição do

conhecimento, o qual se inicia como a opinião indo até o entendimento (idéias).

II. Um relato da libertação dos grilhões que prendiam os homens no interior da caverna.

III. Uma forma de Platão representar a importância e a superioridade do filósofo, como aquele que chega ao conhecimento e tem a missão de transmiti-lo aos outros.

IV. Uma história que simboliza a vida do

homem das cavernas.

Assinale a opção CORRETA.

A) I e III são interpretações possíveis. B) II e IV são interpretações possíveis. C) I e IV são interpretações possíveis. D) I e II são interpretações possíveis. E) III e IV são interpretações possíveis. 5. (UFU-97) Marque a alternativa

CORRETA.

O livro VII da República de Platão, também conhecido como “O mito da caverna”, nos apresenta:

A) A explicação para o surgimento das

civilizações antigas que se originaram a partir dos homens.

B) O ideal platônico de formação do filósofo, sendo que este modelo de formação possui uma dimensão ética e

política. C) Uma fábula sobre a origem do homem,

que esclarece o aparecimento das civilizações antigas.

D) A teoria materialista platônica cuja essência é a dialética, entendida por Platão como sendo a arte da sofistica.

E) A teoria política grega e as diferentes formas de governo, sendo a República um governo divino.

6. (UFU-97) “... Partirei daí, admitindo que

há um Belo em si e por si, um Bom, um Grande, e assim quanto ao resto (...) Parece-me que, se existe algo de belo fora do Belo em si, essa coisa só é bela porque participa desse belo em si, e digo que o mesmo ocorre quanto a todas as outras coisas.”

A partir do trecho acima extraído de um diálogo entre Sócrates e seu discípulo Cebes no Fédon de Platão, explique o que são as idéias no contexto da filosofia

platônica. 7. “Por isso, antes e acima de tudo, o deus

ordena aos magistrados que vigiem

atentamente as crianças, que tomem muito cuidado com o metal misturado em suas almas e, caso seus próprios filhos apresentem mistura de bronze ou

de ferro, que sejam impiedosos com eles e lhes concedam o gênero de honor devido à respectiva natureza, relegando-os à classe dos artesãos e dos lavradores;” (Platão, A República, v. 1, p. 192).

Comente o aspecto classista do modelo de sociedade proposto por Platão, a partir dos conceitos: alma de ouro, alma de prata e alma de bronze.

ARISTÓTELES: Metafísica: Introdução

Aristóteles foi filósofo e cientista. Pode ser considerado como o último filósofo grego e o primeiro grande biólogo da Europa. Foi aluno de Platão durante vinte anos, e assim como Platão havia fundado a Academia, Aristóteles fundou uma escola

chamada Liceu. Acima de tudo, Aristóteles foi um grande organizador de conceitos e um pesquisador da natureza. A crítica a Platão Aristóteles retoma a problemática do conhecimento e se preocupa em definir a ciência como conhecimento verdadeiro, conhecimento pelas causas, capaz de superar os enganos da opinião e de

compreender a natureza do devir. Mas ao analisar a oposição entre o mundo sensível e o inteligível segundo a tradição de Heráclito, Parmênides e Platão, Aristóteles recusa as soluções apresentadas e critica pormenorizadamente o mundo “separado” das idéias platônicas. Para ele, as idéias não são inatas como afirmava Platão. Aristóteles parte do estudo do mundo concreto e conclui que as idéias surgem a partir do conhecimento empírico, da experiência vivida.

As categorias: substância e

acidente. A teoria de Aristóteles se baseia em três distinções fundamentais, que passamos a descrever simplificadamente: substância-essência-acidente; ato-potência; forma-matéria, que por sua vez desembocam na teoria das quatro causas. Aristóteles “traz a idéias do céu à terra”: rejeita o mundo das idéias de Platão,

fundindo o mundo sensível e o inteligível no conceito da substância, enquanto “aquilo que é em si mesmo”, ou enquanto suporte dos atributos.

Ora, quando dizemos algo de uma substância, podemos nos referir a atributos que lhe convêm de tal forma que, se lhe faltassem, a sustância não seria o que é.

Designamos esses atributos de essência propriamente dita, e chamamos de acidente o atributo que a substância pode ter ou não, sem deixar de ser o que é. Então, a substância individual “este homem” tem como características essenciais os atributos pelos quais este homem é homem (Aristóteles diria, a essência do homem é a racionalidade) e outros, acidentais (como ser gordo, velho ou belo), atributos esses que não mudam o ser do homem em si. No entanto, o problema das

transformações dos seres ainda não se resolve com os conceitos de essência e acidente, e por isso Aristóteles recorre às noções de forma e matéria. Matéria é o princípio indeterminado de que o mundo físico é composto, é “aquilo de que é feito algo”, o que não coincide exatamente o que nós entendemos por matéria, na física, por se caracterizar pela indeterminação. Forma é “aquilo que faz com que uma coisa seja o que é”. Todo ser é constituído de matéria e

forma, princípios indissociáveis. Enquanto a forma é o princípio inteligível, a essência comum aos indivíduos da mesma espécie, pela qual todos são o que são, a matéria é pura passividade, contendo a forma em potência. Numa estátua, por exemplo, a matéria (que nesse caso é a matéria segunda, pois já tem alguma determinação) é o mármore; a forma é a idéia que o escultor realiza na estátua.

É através da noção de matéria e forma

que se explica o devir. Todo ser tende a tornar atual a forma que tem em si como potência. A potência é a capacidade de tornar-se alguma coisa e, para tal, é preciso que sofra a ação de outro ser já em ato.

Teoria das quatro causas

O movimento é a passagem da

potência para o ato. A semente que contém o carvalho em potência foi gerada por um carvalho em ato. Tais considerações levam à

distinção dos diversos tipos de movimento e às causas do movimento ou teoria das quatro causas: as mudanças derivam da causa material, da causa formal, da causa eficiente e da causa final.

Causa formal: é aquilo que faz com

que um ser seja tal ser determinado;

Causa material: é aquilo de que algo surge, a matéria de que é uma coisa é feita;

Causa eficiente: é aquilo pelo qual uma coisa é, o fenômeno que produz outro;

Causa final: é aquilo em razão do

qual algo existe, é o fim pretendido na consecução de um ato.

Causa primordial, primeiro motor imóvel, ato

puro: DEUS.

Toda a estrutura teórica da filosofia aristotélica desemboca na teologia. A descrição das relações entre as coisas leva ao reconhecimento da existência de um ser superior e necessário, ou seja, Deus. Isso porque, se as coisas são contingentes, já que não têm em si mesmas a razão de sua existência, é preciso concluir que são produzidas por causas a elas exteriores. Assim, todo ser contingente foi produzido

por outro ser, que também é contingente e assim por diante.

A escada da natureza

Para Aristóteles tudo o que ocorre na natureza pode ser dividido em dois grupos principais: o grupo das coisas inanimadas e o grupo das criaturas vivas. No primeiro grupo temos como exemplo: as pedras, gotas de água e torrões de terra. Já no segundo, o das criaturas vivas, possuem

dentro de si uma potencialidade de transformação. Para Aristóteles, a natureza progride das coisas inanimadas para as criaturas vivas. Ao reino das coisas inanimadas segue-se primeiramente o reino das plantas, que, “em relação ao reino das coisas inanimadas, parece quase animado, e em relação ao reino dos animais parece quase inanimado”. Aristóteles divide o reino das criaturas vivas em dois subgrupos, o dos animais e o do homem.

Ética

Aristóteles acha que o homem só é feliz se puder desenvolver e utilizar todas as suas capacidades e possibilidades. Aristóteles acreditava em três formas de felicidades: a primeira forma de felicidade é uma vida de prazeres e satisfações. A segunda forma de felicidade é uma vida como cidadão livre, responsável. E a terceira forma de felicidade é a vida como

pesquisador e filósofo. Ressalta que é necessário integrar essas três formas afim de que o homem possa levar uma vida realmente feliz. Ele recusa toda e qualquer decisão unilateral.

No que concerne às virtudes, Aristóteles chama a atenção para um “meio termo de ouro”. Não devemos ser nem covardes, nem audaciosos, mas corajosos. (Coragem de menos significa covardia e coragem demais significa audácia). Também não devemos ser avarentos, nem

extravagantes, mas generosos. (Generosidade de menos é avareza e generosidade demais é extravagância). O mesmo vale para a alimentação.

Política

Aristóteles critica o autoritarismo de

Platão, considerando sua utopia impraticável e inumana. Recusa a sofocracia platônica que atribui poder ilimitado a apenas uma parte do corpo social, os mais sábios. A reflexão aristotélica sobre a política não se separa da ética, pois a vida individual está conjugada com a vida comunitária. Se Aristóteles conclui que a finalidade da ação moral é a felicidade do indivíduo, também a política tem por fim organizar a cidade feliz. Dá importância a educação na formação ética dos indivíduos. A justiça é o que

garante o princípio da igualdade. Refere a uma justiça distributiva, segundo a qual a distribuição justa é a que leva em conta o mérito das pessoas. Isso significa que não se pode dar o igual para desiguais, já que as pessoas são diferentes. Para Aristóteles, a justiça está intimamente ligada ao império da lei, pela qual se faz prevalecer a razão sobre paixões cegas.

Para Aristóteles o cidadão seria aquele que tivesse qualidades que variavam conforme as exigências da constituição

aceita pela cidade. Excluía os escravos, os estrangeiros e as mulheres. Excluí também da cidadania a classe dos artesãos, comerciantes e trabalhadores braçais em geral, em primeiro lugar porque a ocupação não lhes permite o tempo de ócio necessário para participar do governo e segundo lugar porque, reforçando o desprezo que os antigos tinham pelo trabalho manual, Aristóteles pondera que esse tipo de atividade embrutece a alma e torna o

indivíduo incapaz da prática de uma virtude esclarecida.

Aristóteles estabelece uma tipologia das formas de governo que se tornou clássica. Usa o critério de número, da quantidade, para distinguira a monarquia, a aristocracia e a politéia. Aristóteles considera que as três formas de governo podem ser consideradas boas, quando visam o interesse comum, e más, corrompidas, degeneradas, quando têm como objetivo o interesse particular.

Visão da mulher

A visão que Aristóteles tinha da mulher não era tão animadora quanto a de Platão. Para ele a mulher era o homem inacabado, incompleto. O homem dá a forma e a mulher a substância, na formação da criança. EXERCÍCIOS

1. (UFU-97) Marque a alternativa que NÃO se relaciona à teoria das quatro causas de Aristóteles:

A) Matéria é a substância que compõe o mundo físico.

B) Potência é a capacidade intrínseca dos corpos de vir a ser.

C) Forma é o princípio inteligível das coisas. D) Movimento é a passagem da potência

para o ato. E) Ato puro é a contingência da matéria. 2. Assinale a alternativa CORRETA.

“É, pois manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras (pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa) (...)” Esses

princípios fazem parte da Teoria das Quatro Causas de:

A) Platão B) Sócrates C) Protágoras D) Aristóteles E) Parmênides 3. (UFU-98) As diferenças básicas entre o

pensamento de Platão e Aristóteles podem ser resumidas no seguinte:

A) Enquanto o primeiro privilegia o mundo

das idéias, o segundo desqualifica a matéria.

B) O segundo afirma a realidade da matéria, enquanto o primeiro nega o mundo espiritual.

C) As idéias, para Platão, são as únicas verdades e para Aristóteles são expressões lógicas da realidade mitológica.

D) O segundo recupera o realismo como forma de conhecimento enquanto o primeiro desqualifica o mundo material, concebendo-o como cópia das idéias.

E) Na verdade, o mundo das idéias corresponde à lógica formal aristotélica.

4. Assinale a alternativa CORRETA.

Sobre a visão da mulher na Grécia Antiga por parte de Aristóteles, pode-se

afirmar que:

A) Ele defendia que a mulher tivesse os mesmos direitos que os homens.

B) Ele percebia a mulher como um homem incompleto.

C) Ele considerava que o homem oferecia a substância e a mulher a forma no processo de concepção.

D) Ele acreditava em uma sociedade mais justa quando a mulher estivesse no poder.

E) Sua visão ajudou no processo de liberdade vivido pelas mulheres na Idade Média.

5. Assinale a alternativa INCORRETA:

Aristóteles defende três formas boas de governo, as quais também podem ser

corrompidas. A respeito dessa concepção política, pode-se afirmar que:

A) A tirania se refere ao governo de um só quando visa o interesse próprio. B) A oligarquia é uma forma corrompida da aristocracia. C) A politéia (ou democracia) é uma forma boa onde o povo está no poder. D) A aristocracia é quando prevalece o interesse dos mais ricos ou nobres. E) A monarquia, ao ser corrompida,

transforma-se em tirania. 6. “Toda a estrutura teórica da filosofia

aristotélica desemboca na teologia. A descrição das relações entre as coisas leva ao reconhecimento da existência de um ser superior e necessário, ou seja, Deus”. (Aranha, Maria L. A. & Martins, Maria H.

P., Filosofando, São Paulo, Moderna, 1996).

Explique por que o pensamento de

Aristóteles desemboca numa teoria de Deus. 7. (UFU-99) “E se indagamos quais são os

princípios ou elementos das substâncias, relações e quantidades – se são os mesmos ou diferentes – é claro que quando os nomes das causas são usados em vários sentidos as causas de cada um são as mesmas, mas quando distinguimos os sentidos elas são diferentes”.

(Aristóteles – Metafísica – Editora Globo – Porto Alegre)

O texto de Aristóteles refere-se à distinção das causas em sua teoria da causalidade. Quais são as causas aristotélicas? Descreva a especificidade de cada uma delas.

Noções de lógica: Introdução

A diferença entre forma e substância

também é muito importante quando Aristóteles descreve como o homem reconhece as coisas do mundo. Quando reconhecemos as coisas, nós a colocamos em diferentes grupos ou categorias. Aristóteles foi um organizador, um homem extremamente meticuloso, que queria pôr ordem nos conceitos dos homens. Fundou a ciência da lógica e estabeleceu uma série de normas rígidas para que as conclusões ou

provas pudessem ser consideradas logicamente válidas. A palavra lógica vem do grego logos, que significa “palavra”, “expressão”,

“pensamento”, “conceito”, “discurso”, “razão”. Portanto, a lógica oferece as regras do pensamento correto. A lógica foi tratada como ciência por Aristóteles. A lógica

aristotélica foi apresentada em sua obra Órganon, que significa “instrumento” (ou seja, o instrumento para se proceder corretamente no pensar). Aristóteles se preocupava com as leis do pensamento e o ato de raciocinar (argumentar) propriamente dito. O que é o raciocínio? “É um tipo de operação discursiva do pensamento, consistente em encadear logicamente juízos e deles tirar uma conclusão”. ‘É um tipo de conhecimento mediato, isto é, procede por mediação entre determinados elementos

básicos. Para se construir um raciocínio lógico, é preciso organizar os elementos básicos necessários à sua construção. Eis um exemplo de raciocínio lógico:

Toda baleia é um mamífero. Ora, nenhum mamífero é peixe. Logo, a baleia não é peixe.

O primeiro destes elementos é o termo. O termo ou conceito é uma simples

apreensão; é o ato pelo qual a inteligência atinge ou percebe alguma coisa, sem dela nada afirmar ou negar. No exemplo acima, “baleia”, “mamífero” e “peixe” são exemplos de termos. O segundo elemento é a proposição. A proposição é a representação lógica do juízo. Juízo é o ato pelo qual a inteligência afirma ou nega a identidade representativa de dois conceitos. Exemplos:

Toda baleia é um mamífero. (afirmação)

Nenhum mamífero é peixe. (negação)

O homem é livre. (Afirmação) O homem não é mineral. (Negação)

O terceiro elemento é a argumentação. Argumentação é a terceira operação do espírito. É o ato pelo qual o espírito, com o que já conhece, adquire um novo conhecimento. Estabelece relações

entre proposições estabelecidas (premissas) e delas pode se tirar uma conclusão. No exemplo acima, das proposições “toda baleia é um mamífero” e “nenhum mamífero é peixe”, chega-se a conclusão “a baleia não é peixe”. Dedução ou silogismo Dedução ou silogismo é uma inferência que vai dos princípios para uma conseqüência logicamente necessária. É o

que conhecemos em matemática como: se x = y e y = z, então x = z. Assim, quando dizemos “Todos os homens são mortais / Sócrates é homem / Logo Sócrates é

mortal”, a conclusão é necessária porque deriva das premissas (proposições). Podemos dizer que o silogismo é um raciocínio que parte de uma proposição geral

e conclui outra proposição geral ou particular. Vejam um exemplo do raciocínio acima descrito:

A grande crítica à dedução aristotélica é que é estéril, na medida em que não nos ensina nada de novo, mas apenas organiza o conhecimento já adquirido. A inferência silogística deve

obedecer a oito regras, sem as quais a dedução não terá validade, não sendo possível dizer se a conclusão é verdadeira ou falsa: 1. Um silogismo deve ter um termo maior,

um menor e um médio e somente três termos, nem mais, nem menos;

2. O termo médio deve aparecer nas duas premissas e jamais aparecer na conclusão; deve ser tomado em toda a

sua extensão (isto é, como um universal) pelo menos uma vez, pois, do contrário, não se poderá ligar o maior e o menor. Por exemplo, se eu disse “Os nordestinos são brasileiros” e “Os paulistas são brasileiros”, não poderei tirar conclusão alguma, pois o termo médio “brasileiros” foi tomado sempre em parte de sua extensão e nenhuma vez no todo de sua extensão;

3. Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas,

pois, nesse caso, concluiremos mais do que seria permitido. Isso significa que uma das premissas sempre deverá ser universal (afirmativa ou negativa);

4. A conclusão não pode conter o termo médio, já que a função deste se esgota na ligação entre o maior e o menor, ligação que é a conclusão;

5. De duas premissas negativas nada pode ser concluído, pois o médio não terá ligado os extremos;

6. De duas premissas particulares nada

poderá ser concluído, pois o médio não terá sido tomado em toda a sua extensão pelo menos uma vez e não poderá ligar o maior e o menor;

Mortais

Homens

Sócrates

7. Duas premissas afirmativas devem ter a conclusão afirmativa, o que é evidente por si mesmo;

8. A conclusão sempre acompanha a parte

mais fraca, isto é, se houver uma premissa negativa, a conclusão será negativa, se houver uma premissa particular, a conclusão será particular, e se houver uma premissa particular negativa, a conclusão será uma particular negativa.

O silogismo científico não admite

premissas contraditórias. Suas premissas são universais necessárias e sua conclusão não admite discussão ou refutação, mas

exige demonstração. Por esse motivo, o silogismo científico deve obedecer a quatro regras, sem as quais sua demonstração não terá valor:

1. As premissas devem ser verdadeiras

(não podem ser possíveis ou prováveis, nem falsas);

2. As premissas devem ser primárias ou primeiras, isto é, indemonstráveis, pois se tivermos que demonstrar as premissas, termos que ir de regressão

em regressão, indefinidamente, e nada demonstraremos;

3. As premissas devem ser mais inteligíveis do que a conclusão, pois a verdade desta última depende inteiramente da absoluta clareza e compreensão que tenhamos das suas condições, isto é, das premissas.

4. As premissas devem ser causa da conclusão, isto é, devem estabelecer as coisas ou os fatos que causam a

conclusão e que a explicam, de tal maneira que, ao conhecê-las, estamos obedecendo as causas da conclusão. Esta regra é da maior importância porque, para Aristóteles, conhecer é conhecer as causas ou pelas causas.

Indução Indução é uma argumentação na qual, a partir de dados singulares suficientemente enumerados, inferimos uma

verdade universal. Exemplos: O cobre é condutor de eletricidade, e o ouro, e o ferro, e o zinco, e a prata também; logo, o metal ( isto é todo metal ) é condutor de eletricidade. Apesar da aparente fragilidade da indução, que não possui o rigor do raciocínio dedutivo, trata-se de uma forma muito fecunda de pensar, sendo responsável pela fundamentação de grande parte de nossos

conhecimentos na vida diária e de grande valia nas ciências experimentais. Sofismas ou falácias

Os sofismas ou falácias são falsos raciocínios. Existem várias formas de sofismas onde aparecem os raciocínios

incorretos. Seguindo os modelos do método dedutível podemos encontrar sofismas em relação à matéria (conteúdo) e à forma (estrutura). Examinaremos alguns argumentos:

a) Todos os homens são loiros.

Ora, eu sou homem. Logo, eu sou loiro.

b) Todos os homens são

vertebrados. Ora, eu sou vertebrado.

Logo, eu sou homem. EXERCÍCIOS 1. Podemos afirmar a respeito da Lógica: A) É uma parte da Filosofia que estuda as

regras de um pensamento correto. B) “Todos os mamíferos são vertebrados” é

uma proposição particular afirmativa. C) “Animal”, “homem”, “livre”, são exemplos

de proposições. D) Teve seus principais fundamentos

organizados por Platão E) “Nenhum homem é mineral” é uma

proposição universal afirmativa. 2. (UFU-98) Assinale a alternativa

CORRETA.

No argumento dedutivo, o enunciado da conclusão não excede o conteúdo das premissas; segundo Aristóteles, este raciocínio também pode ser chamado de:

A) Silogismo. B) Raciocínio hipotético. C) Analogia. D) Falácia. E) Raciocínio disjuntivo. 3. (UFU-97) Assinale a única alternativa

INCORRETA.

Na lógica aristotélica, o silogismo científico é formulado de modo que as

premissas obedeçam a determinadas condições, sem as quais seriam apenas opiniões. Para Aristóteles, as premissas devem:

A) Conter o universal e necessário, não

sendo passíveis de refutação nem de persuasão.

B) Ser verdadeiras, portanto, não podem ser prováveis nem falsas.

C) Ser primárias ou primeiras, isto é, indemonstráveis.

D) Ser mais inteligíveis que a conclusão, por isso, toda conclusão depende da absoluta compreensão e clareza das premissas.

E) Se referir à coisas prováveis, possíveis, contingentes, isto é, coisas que podem ser ou não ser.

4. Observe a seguinte falácia: “Todos os

uberlandenses são calvos. João é uberlandense. Logo, João é calvo”. Dentro das regras do silogismo apresentadas abaixo, assinale aquela que NÃO foi considerada:

A) Termo médio jamais deve aparecer na

conclusão. B) De duas premissas particulares nada

poderá ser concluído. C) As premissas devem ser verdadeiras

(não podem ser possíveis ou prováveis, nem falsas).

D) De duas premissas negativas nada pode ser concluído.

E) Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas.

5. Observe o seguinte raciocínio dedutivo:

“Todos os mamíferos são vertebrados Ora, os cães são mamíferos Logo, os cães são vertebrados.”

Podemos considerar como afirmativo: I. O termo mamífero é o termo médio. II. O termo mamífero é o extremo

maior.

III. O termo cão é o extremo menor. IV. O termo vertebrado é o termo

médio.

Assinale: A) Se apenas I e II estiverem corretas. B) Se apenas I e III estiverem corretas. C) Se apenas II e III estiverem corretas. D) Se apenas II, III e IV estiverem

corretas. E) Se nenhuma alternativa estiver correta.

6. Pode-se considerar como exemplos de

dedução aristotélica, os seguintes raciocínios:

I. Na prova de física, o problema se

refere a um caso específico, tendo sido fornecidos os dados em questão; lembramos então da lei, aplicando-a aos dados fornecidos a fim de resolver o problema.

II. Depois de ter feito várias

experiências com fígado de macaco, Claude Bernard concluiu que o fígado tem uma função glicogênica.

III. Como estudante do curso secundário, você deveria saber redigir melhor.

IV. Diversos metais, tendo sido

aquecidos, se dilataram, o que nos fez concluir que o calor dilata os corpos.

Assinale: A) se apenas I e II estiverem corretas. B) se apenas III e IV estiverem corretas. C) se apenas I e III estiverem corretas. D) se apenas II e IV estiverem corretas. E) se todas as alternativas estiverem corretas.

7. Observe o seguinte raciocínio:

“Todas as baleias são mamíferos Todos os mamíferos têm pulmões Portanto, todas as baleias têm pulmões.”

Comente o significado de termo,

proposição e dedução a partir do exemplo acima.

O CONHECIMENTO: RAZÃO NATURAL E FÉ CRISTÃ Introdução: Poder ideológico da igreja.

Com a queda do Império Romano a religião surge lentamente como elemento agregador dos inúmeros reinos bárbaros formados após sucessivas invasões; seus

chefes são pouco a pouco convertidos ao cristianismo, e a Igreja se transforma em soberana absoluta da vida espiritual do mundo ocidental. Sistema Econômico: Feudalismo.

A cultura greco-romana quase desaparece nos períodos mais turbulentos da implantação do modo feudal de produção, mas permanece latente, guardada nos mosteiros. São os monges os únicos letrados

em um mundo onde nem os servos nem os nobres sabem ler. A igreja, neste período, torna-se dona de aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa ocidental. Fechamento da Academia de Platão.

No ano de 529 d.C. a Academia de Platão em Atenas, foi fechada. E no mesmo ano foi fundada a ordem dos Beneditinos, a primeira grande ordem religiosa.

Mosteiros e Conventos: obras filosóficas - controle.

Uma constante se faz notar no pano de fundo desse pensamento: a tentativa de conciliar razão e fé. A temática religiosa predomina na preocupação apogélica, isto é,

na defesa da fé cristã e no trabalho de conversão dos não cristãos. A máxima predominante é “Crer para compreender, e compreender para crer”. A filosofia, embora se distinguindo da teologia, é instrumento desta, é serva da teologia. 1. A PATRÍSTICA:

Neste período de decadência do Império Romano, com a expansão do cristianismo, surge a partir do século II d.C.

a filosofia dos Padres da Igreja, conhecida como patrística. Desde que surgiu o cristianismo tornou-se necessário explicar seus ensinamentos às autoridades romanas e ao povo em geral. Mesmo com o estabelecimento e a consolidação da doutrina cristã, a Igreja católica sabia que esses preceitos não podiam simplesmente ser impostos pela força. Eles tinham de ser apresentados de maneira convincente, mediante um trabalho de conquista espiritual.

Foi assim que os primeiros Padres da Igreja se empenharam na elaboração de inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristãs. O conjunto desses textos ficou conhecido como patrística por terem sido escrito principalmente pelos grandes Padres da Igreja.

Uma das principais correntes da filosofia patrística, inspirada na filosofia greco-romana, tentou munir a fé de argumentos racionais. Esse projeto de

conciliação entre o cristianismo e o pensamento pagão teve como principal expoente o Padre Agostinho. Agostinho: a doutrina da iluminação. Cristianização de Platão (Neoplatonismo).

Santo Agostinho nasce no ano de 354 e morre em 430 d. C., apropria-se das inspirações de Platão, por intermédio do neoplatonismo, colocando, no entanto, no

lugar do Mundo das Idéias, a consciência de Deus, que assume as qualidades e as prerrogativas da Idéia do bem. Podemos dizer Preocupação com:

Fé e ciência Natureza de Deus Alma Vida moral Ética rigorosa

Abdicação do mundo Controle racional das paixões Separação entre bem e mal Espírito e matéria

Perfeito e imperfeito Reino do céu e reino da terra

Constituição do sistema escolar.

No século VIII d.C. Carlos Magno

resolveu organizar o ensino por todo o seu império e fundar escolas ligadas às instituições católicas. A cultura greco-romana, guardada nos mosteiros até então, voltou a ter uma influência mais marcante nas reflexões da época. Era a renascença carolíngia. EXERCÍCIOS

1. Assinale a alternativa CORRETA:

Santo Agostinho foi padre e filósofo durante a Idade Média. Pode-se se considerar como parte de sua teoria cristã:

A) As verdades da fé dispensam qualquer

compreensão racional. B) O homem fornece a fôrma e a mulher a

substância no processo de concepção. C) Res Cogitans e res extensa sãos

entidades separadas. D) Existe uma escala evolutiva na natureza:

vegetal - animal - homem - anjos - Deus.

E) Alguns homens mais elevados são escolhidos para entrarem no reino de Deus.

2. (UFU-98) Para Santo Agostinho, o

homem chega à verdade:

A) Apenas pela fé em Deus. B) Pelo método alegórico aplicado à

interpretação da Bíblia. C) Pela iluminação divina. D) Pela recordação da alma que estava

junto a Deus. E) Pelos sentidos e pelo intelecto. 3. Em relação a Santo Agostinho, pode-se

afirmar que: I. Foi o principal representante da

patrística II. Foi responsável por ter cristianizado

as idéias de Aristóteles III. Buscava a verdade absoluta por trás

de todas as verdades particulares. IV. Foi um dos primeiros filósofos da

universidade de Oxford.

Assinale: A) Se apenas I e II estiverem corretas. B) Se apenas I e III estiverem corretas.

C) Se apenas III e IV estiverem corretas. D) Se apenas II e IV estiverem corretas. E) Se todas estiverem corretas.

4. (UFU-97) Em suas reflexões sobre a questão da fé, Santo Agostinho considera que

I. É preciso crer acima de tudo, mesmo que não se entenda por que acreditar.

II. A razão e a fé são duas disposições do espírito que devem ser consideradas no mesmo grau de importância.

III. Deus é a voz interior daqueles homens que se dedicam à busca do conhecimento; Ele os inspira em suas investigações.

IV. A razão deve estar sempre acima da

fé, só assim se chega à verdade.

Assinale a ÚNICA opção que apresenta as afirmativas corretas. A) I e II B) I e III C) III e IV D) I e IV E) II e IV 5. (UFU-97) Discuta a idéia central deste

fragmento, de acordo com a filosofia de Santo Agostinho.

"Diz o profeta: 'Se não credes, não entendereis'; certamente não diria isto se não julgasse necessário pôr uma diferença entre as duas coisas. Portanto, creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo." (Santo Agostinho, De Magistro, S. Paulo,

Abril, 1973)

2. A ESCOLÁSTICA: Introdução:

A escolástica é a filosofia cristã que

se desenvolve desde o século IX, tem seu apogeu no século XIII e começo do século XIV, quando entra em decadência.

Sistemas de disciplinas: Trivium e Quadrivium.

Tendo a educação romana como

modelo, começaram a ser ensinadas as seguintes matérias: gramática, retórica e dialética (trivium) e geometria, aritmética, astronomia e música (quadrivium). Todas elas estavam submetidas à teologia. A fundação dessas escolas e as primeiras universidades no século XI fizeram surgir uma produção filosófico-teológica denominada escolástica.

Primeiras universidades: Oxford, Bologna e de Paris.

A partir do século XI, com o renascimento urbano, começaram a surgir ameaças de ruptura da unidade da Igreja, e as heresias anunciam o novo tempo de

contestação e debates em que a razão busca sua autonomia. Inúmeras universidades aparecem por toda a Europa.

O problema dos universais:

A posição realista. A posição nominalista.

A questão dos universais: o que há entre as palavras e as coisas

O método escolástico de investigação, segundo o historiador francês Jacques Le Goff, privilegiava o estudo da linguagem (o trivium) para depois passar para o exame das coisas (o quadrivium). Desse método surgiu a seguinte pergunta: qual a relação entre as palavras e as coisas? Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando a flor morre, a palavra rosa continua existindo. Nesse caso, a palavra fala de uma idéia geral. Mas como isso acontece? O grande inspirador da

questão foi o neoplatônico Porfírio, em sua obra Isagoge: Não tentarei enunciar se os gêneros e as espécies existem por si mesmos ou na pura inteligência, nem, no caso de subsistirem, se são corpóreos ou incorpóreos, nem se existem separados dos objetos sensíveis ou nestes objetos, formando parte dos mesmos. Esse problema filosófico gerou muitas disputas. Era a grande discussão sobre a existência ou não das idéias gerais,

isto é, os chamados universais de Aristóteles. Tal discussão ficou conhecida como a querela ou questão dos universais. Os nominalistas sustentavam que os universais são palavras sem existência real. Os realistas defendiam a concepção de que eles existem de fato. Pedro Abelardo, célebre por seu amor por Heloísa, adotou uma posição intermediária, fornecendo um modelo de argumentação que seria bastante utilizado pela escolástica: o confronto de duas

posições contraditórias para daí extrair uma conclusão satisfatória. EXERCÍCIOS 1. (UFU-98) A relação ente as palavras,

que designam idéias e as coisas, foi um problema filosófico que marcou a Idade Média. Foi grande a discussão sobre a existência real ou não daquelas palavras, isto é, os chamados "universais". Nessa discussão, os filósofos nominalistas

defenderam a posição que os "universais" são:

A) Idéias gerais que só existem na mente de Deus.

B) Apenas palavras sem existência real. C) Nomes que Deus põe nas coisas

particulares. D) Nomes com existência real d coisas que

já não existem. E) Apenas os axiomas matemáticos. 2. (UFU-99) Pedro Abelardo foi um filósofo

medieval que participou de uma acirrada disputa filosófica no século XII. Essa disputa centrava-se sobre

A) A existência de Deus. B) O predomínio da fé sobre a razão.

C) A questão da existência dos universais. D) A presença do mal no mundo. E) A morte da alma. 3. TOMÁS DE AQUINO: A Cristianização de Aristóteles. Tomás de Aquino (1225-1275) nasceu em Nápoles, sul da Itália, e faleceu no convento Fossanuova, próximo de sua cidade natal, aos 49 anos de idade. É

considerado o maior filósofo da escolástica medieval.

Foi responsável por uma extensa obra fundamentada em Aristóteles. O tomismo representou uma tentativa de harmonizar as posições básicas do cristianismo com os pressupostos ontológicos do aristotelismo, foi considerado a base filosófica da teologia da Igreja Católica.

Síntese entre razão e fé.

Causa primordial - Deus Bíblico. Escada evolutiva: plantas animais

homens anjos Deus.

Visão da mulher: homem inacabado = costela de Adão.

Conhecimentos científicos = revelações

divinas.

Os princípios do conhecimento.

Inserida no movimento escolástico, a filosofia de Tomás de Aquino (o tomismo) já nasceu com objetivos claros: não contrariar a fé. De fato, a finalidade de sua filosofia era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender as revelações do cristianismo. Assim, Tomás de Aquino reviveu em

grande parte o pensamento aristotélico com a finalidade de nele buscar os elementos racionais que explicassem os principais aspectos da fé cristã. Enfim, fez da filosofia de Aristóteles um instrumento a serviço da religião católica, ao mesmo tempo em que transformou essa filosofia numa síntese original.

Retomando as idéias de Aristóteles sobre o ser e o saber (ver capítulo anterior), Tomás de Aquino enfatizou a importância da realidade sensorial. No processo de

conhecimento dessa realidade, ressaltou uma série de princípios considerados básicos, dentre os quais se destacam:

Princípio de contradição: o ser é ou não é. Não existe nada que possa ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista.

Princípio da substância: na

existência dos seres podemos distinguir a substância (a essência,

propriamente dita, de uma coisa, sem a qual ela não seria aquilo que é) e o acidente (a qualidade não-essencial, acessória do ser).

Princípio da causa eficiente: todos os

seres que captamos pelos sentidos são seres contingentes, isto é, não possuem em si próprios, a causa eficiente de suas existências. Portanto, para existir, o ser contingente depende de um outro

ser que representa a sua causa eficiente: este outro ser é chamado de ser necessário.

Princípio da finalidade: todo ser

contingente existe em função de uma finalidade, de um objetivo, de uma “razão de ser”. Enfim, todo ser contingente possui uma causa final.

Princípio do ato e da potência: Todo

ser contingente possui duas dimensões: o ato e a potência. O ato representa a existência atual do ser, aquilo que está realizado e determinado. A potência representa a capacidade real do ser, aquilo que não se realizou mas pode realizar-se. É a passagem da potência para o ato que explica toda e qualquer mudança.

As provas da existência de Deus.

Em um de seus mais famosos livros,

a Suma teológica, Santo Tomás propõe cinco provas de existência de Deus: 1ª O primeiro motor Tudo aquilo que se move é movido por outro ser. Por sua vez, este outro ser, para que se mova, necessita também que seja movido por outro ser. E, assim, sucessivamente. Se não houvesse um primeiro ser movente, cairíamos num

processo indefinido. Logo, conclui Tomás de Aquino, é necessário chegar a um primeiro ser movente que não seja movido por nenhum outro. Esse ser é Deus.

2ª A causa eficiente Todas as coisas existentes no mundo não possuem em si próprias a causa

eficiente de suas existências. Devem ser consideradas efeitos de alguma causa. Tomás de Aquino afirma ser impossível remontar indefinidamente à procura das causas eficientes. Logo, é necessário admitir a existência de uma primeira causa eficiente, responsável pela sucessão de efeitos. Essa causa primeira é Deus. 3ª Ser necessário e ser contingente Este argumento é uma variante do segundo. Afirma que todo ser contingente,

do mesmo modo que existe, pode deixar de existir. Ora, se todas as coisas que existem podem deixar de ser, então, alguma vez, nada existiu. Mas, se assim fosse, também agora nada existiria, pois aquilo que não existe somente começa a existir em função de algo que já existia. É preciso admitir, então, que há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente necessário, que não tenha fora de si a causa da sua existência, mas, ao contrário, que seja a causa da necessidade de todos os seres contingentes.

Esse ser necessário é Deus. 4ª Os graus de perfeição Em relação à qualidade de todas as coisas existentes, pode-se afirmar a existência de graus diversos de perfeição. Assim, afirmamos que tal coisa é melhor que outra, ou mais bela, ou mais poderosa, ou mais verdadeira etc. Ora, se uma coisa possui “mais” ou “menos” determinada qualidade positiva, isto supõe que deve

existir um ser com o máximo dessa qualidade, ao nível da perfeição. Devemos admitir, então, que existe um ser com o máximo de bondade, de beleza, de poder, de verdade, sendo, portanto, um ser máximo e pleno. Esse ser é Deus. 5ª A finalidade do ser Todas as coisas brutas, que não possuem inteligência própria, existem na natureza cumprindo uma função, um objetivo, uma finalidade, semelhante à

flecha dirigida pelo arqueiro. Devemos admitir, então, que existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza para que cumpram seu objetivo. Esse ser é Deus. Proclamado pela Igreja católica como o Doutor Angélico e o Doutor por Excelência, Tomás de Aquino é permanentemente reverenciado nos meios católicos pelos filósofos e professores de filosofia. Nesse sentido, o pensador católico Jacques Maritain escreveu sobre ele:

Não só transportou para o domínio do pensamento cristão a filosofia de Aristóteles na sua integridade, para fazer

dela o instrumento de uma síntese teológica admirável, como também e ao mesmo tempo superelevou e, por assim dizer, transfigurou essa filosofia. Purificou-a de

todo vestígio de erro (...) sistematizou-a poderosa e harmoniosamente, aprofundando-lhe os princípios, destacando as conclusões, alargando os horizontes, e se nada cortou, muito acrescentou, enriquecendo-a com o imenso tesouro da tradição latina e cristã. Por outro lado, filósofos não-cristãos como Bertrand Russell questionam os méritos filosóficos de Tomás de Aquino, considerando-os insuficientes para justificar sua imensa reputação. Diz Russell.

Há pouco do verdadeiro espírito filosófico em Aquino (....) Não está empenhado numa pesquisa cujo resultado não possa ser conhecido de antemão. Antes de começar a filosofar, ele já conhece a verdade; está declarada na fé católica. Se, aparentemente, consegue encontrar argumentos racionais para algumas partes da fé, tanto melhor; se não, basta-lhe voltar de novo à revelação. A descoberta de argumentos para uma conclusão dada de antemão não é filosofia,

mas uma alegação especial. Não posso, portanto, admitir que mereça ser colocado no mesmo nível que os melhores filósofos da Grécia ou dos tempos modernos. Em que pese essa discordância de opiniões sobre a genialidade de Tomás de Aquino, é praticamente unânime o reconhecimento de que sua obra filosófica representou o apogeu do pensamento medieval católico. Tal pensamento, entretanto, foi sendo progressivamente

questionado pelos movimentos filosóficos que se desenvolveram na Renascença e na Idade Moderna. CONCEITOS-CHAVE Santo Agostinho: sua obra pertence à

patrística (textos dos primeiros grandes Padres da Igreja). Seu pensamento reflete os principais passos de sua trajetória intelectual, marcada pelo maniqueísmo, o ceticismo, o

neoplatonismo e, finalmente, o cristianismo, que predominou sobre as fases anteriores. Defendeu as idéias de que: “o mal é o afastamento de Deus”, somente o íntimo da alma, iluminada por Deus, pode atingir a verdade das coisas; a alma deve reinar sobre o corpo; nem todos os homens estão predestinados à salvação.

Santo Tomás de Aquino: sua obra

pertence à escolástica e tem como

problemática fundamental a busca de harmonização entre fé cristã e razão. Reviveu a filosofia de Aristóteles, utilizando-a como instrumento a serviço

da religião católica. No processo de conhecimento da realidade, enfatizou a importância dos dados sensoriais. Reafirmou os princípios de contradição,

substância, causa eficiente, causa final, ato e potência. Elaborou cinco argumentos para provar a existência de Deus.

Outros aspectos Alquimia - perseguição pela Santa

Inquisição. Árabes - várias contribuições. Censura e autoritarismo da igreja. Declínio cultural - mil anos de trevas.

Obras Confissões - Santo Agostinho De Magistro - Santo Agostinho Suma Teológica - Santo Tomás de

Aquino Compêndio de Teologia - Santo Tomás

de Aquino Súmula contra os gentios - São Tomás

de Aquino EXERCÍCIOS

1. (UFU-98) Assinale a alternativa

VERDADEIRA no que se refere ao tomismo.

A) Não há conflito entre razão e fé, pois a

fé ultrapassa os limites de julgamento da razão.

B) A fé sempre deve prevalecer sobre a razão, porque Deus assim o estabelece.

C) Somente as verdades filosóficas são

suficientes para julgar as verdades da religião.

D) Quando o homem alcançar a revelação das verdades religiosas, haverá o predomínio da razão.

E) S. Tomas de Aquino despreza as verdades da filosofia, preocupando-se somente com as verdades da teologia.

2. “(...) Deus não pode infundir no homem

opiniões ou uma fé que vão contra os dados do conhecimento adquiridos pela

razão natural” (São Tómas de Aquino, Súmula contra os gentios. Os pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1973, p. 70). De acordo com essa citação, podemos afirmar a respeito do tomismo:

A) Razão e fé devem ser complementares;

não há contradição entre ambas. B) As verdades religiosas devem ser

formuladas para reforçar as verdades filosóficas.

C) A idéia de que Deus é um ser racional nos leva a ter fé nas verdades da razão.

D) A filosofia tem pontos que entram em contradição com a religião e isto deve ser respeitado.

E) Razão e fé caminham lado a lado no

processo de conhecimento, sendo a fé subordinada à razão.

3. (UFU-99) O filósofo grego que maior

influência exerceu sobre Santo Tomás de Aquino foi

A) Platão. B) Aristóteles. C) Sócrates. D) Heráclito. E) Parmênides.

4. A respeito da Filosofia Medieval, pode-se

afirmar:

I. Um tema central dentro da escolástica foi a questão dos universais, onde havia três posições diferentes: realista, nominalista e conceptualista.

II. Aquino apresenta três provas da existência de Deus, segundo a teoria platônica.

III. Agostinho é materialista e proclama a supremacia da fé, dando pouca importância para a compreensão racional.

IV. Primeiro motor, causa eficiente, ser necessário, entre outros, são alguns conceitos filosóficos que confirmam verdades teológicas.

Assinale:

A) Se I e II estiverem corretas B) Se II e III estiverem corretas C) Se I e IV estiverem corretas D) Se I, III e IV estiverem corretas. E) Se II, III e IV estiverem corretas. 5. (UFU-98) "A criação das coisas por parte

de Deus é a melhor, pois é próprio de quem é o melhor fazer tudo da melhor maneira. Ora, é melhor fazer uma coisa em vista de um fim do que fazê-la sem visar a uma finalidade. Por conseguinte,

Deus fez as coisas com vistas a uma meta".

Esse argumento da finalidade das coisas é freqüente no pensamento de Tomás de Aquino. Explique como Tomás de Aquino utiliza-o para provar a existência divina.

6. “Se é verdade que a verdade da fé cristã

ultrapassa as capacidades da razão humana, nem por isso os princípios inatos naturalmente à razão podem

estar em contradição com esta verdade sobrenatural”.

(Santo Tomás de Aquino, Súmula contra os gentios, Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1973, p. 70.)

Discuta a necessidade de se relacionar razão e fé durante a idade média de acordo com o pensamento de Santo Tomás de Aquino.

O CONHECIMENTO: A TEORIA DO CONHECIMENTO Introdução:

Renascimento: Período de transição século XV e XVII Apogeu cultural - grande produção artística e cultural.

Renascimento significa “nascer de novo”. Com a desestruturação da unidade cristã, filosofia e ciência começaram a se libertar da teologia. Sendo assim, a arte e a cultura da Antigüidade voltam a nascer de novo. O homem se torna livre para criar

produções artísticas e culturais sem a censura da Igreja. Destacam-se nesse período:

Humanismo - nova visão do homem - nova concepção de vida.

Depois da longa Idade Média, que via todos os aspectos da vida a partir de um prisma divino, o homem volta a ocupar o centro de tudo. A laicização do saber, da

moral, da política é estimulada pela capacidade de livre exame. O homem passa a ser visto agora como algo infinitamente grandioso e valioso. O homem não existe apenas para servir a Deus, mas também para ser ele próprio. Economia monetária - ascensão da burguesia.

Nesta época, houve uma transição da economia à base de troca para a

economia monetária. No final da Idade Média, havia cidades de comércio intenso e de comerciantes experientes, com economia de base monetária e sistema bancário. Desta forma, surgiu uma burguesia que havia conquistado certa independência com referência às necessidades vitais básicas. O que se precisa para viver comprava-se agora com dinheiro. Queda do poder da igreja.

A igreja deixa de ter o poder ideológico que aplicava durante a Idade Média, onde havia criado aparelhos de

repressão a qualquer tipo de pensamento não-religioso, como fora a Santa Inquisição. Nova visão da natureza.

A natureza passou a ser vista como

algo positivo. Não havia mais na Idade Média, um abismo intransponível entre Deus e sua criação. A natureza podia ser vista como algo divino, um “desdobramento de Deus”. Deus estava presente em sua criação. Novo método científico - Experimentação. O princípio vigente agora era o de que a investigação da natureza devia se

construir fundamentalmente na observação, na experimentação e nos experimentos. Surge o método empírico, baseado em experimentos sistemáticos. Galileu Galilei será um dos cientistas mais importantes do século XVII. Idade Moderna: Século XVII a XVIII Quebra da ordem cósmica.

A substituição da teoria geocêntrica

pela teoria heliocêntrica, não só retirou a terra do centro do universo, mas também esfacelou uma construção estética que ordenava os espaços. A descoberta da Via Láctea contrapôs, a um mundo fechado e finito, a idéia da infinitude do céu. Pascal, pensador racionalista, vai dizer: “O silêncio desses espaços infinitos me apavora”. Modo de produção - capitalismo.

O valor do novo homem que surge se encontra mais família ou linhagem, mas no prestígio resultante do seu esforço e capacidade de trabalho. A classe ociosa, opõe-se o valor do trabalho, a riqueza baseada em terras, opõe-se o valor da moeda, dos metais preciosos, da produção manufatureira em crescimento, da procura de outras terras e mercados. Valorização do trabalho.

Durante a Antigüidade, o modo de produção era escravista, sendo desvalorizado o trabalho manual, ofício de escravos. Na Idade Média, os servos são responsáveis pelo trabalho produtivo, o qual também é desvalorizado. Agora, a burguesia ascendendo ao poder através de seu trabalho, vai fazer com que este seja valorizado. Ciência - técnica / dominação da natureza.

Os inventos e descobertas desse período são inseparáveis da ciência, já que, para o desenvolvimento da indústria, a burguesia necessitava de uma ciência que

investigasse as forças da natureza para, dominando-as, usá-las em seu benefício. A QUESTÃO DO CONHECIMENTO

Como se dá o conhecimento?

A revolução científica determinou a quebra do modelo de inteligibilidade apresentada pelo aristotelismo, o que provocou nos novos pensadores, o receio de enganar-se novamente. À procura da maneira de evitar o erro faz surgir a principal característica do pensamento moderno: a questão do método.

Relação sujeito / objeto.

Há dois pólos no processo do conhecimento: o sujeito cognoscente (que é o sujeito que conhece) e o objeto conhecido. Quando o pensamento que o sujeito tem do objeto concorda com o objeto, dá-se o conhecimento. Mas qual é o critério para se ter certeza de que o pensamento concorda com o objeto? As teorias do conhecimento vão tentar estabelecer os critérios de que se pode valer o homem para ver se um

conhecimento é ou não verdadeiro.

Racionalismo / Empirismo.

As soluções apresentadas a essas questões vão originar duas correntes, o racionalismo e o empirismo. 1. Descartes:

René Descartes (1596 - 1650)

representa o expoente máximo da tendência racionalista. É considerado o “pai da filosofia moderna”. Ao se preocupar com o problema do conhecimento, busca uma verdade primeira que não possa ser colocada em dúvida.

Várias viagens.

Nasce na França, pertencendo a uma família de prósperos burgueses. Estudou em colégio jesuíta. Excetuando a aprendizagem

que fez da matemática, decepcionou-se com a educação jesuíta. Ingressando na carreira militar, mudando-se para Holanda. Viajou por vários países europeus, estabelecendo contatos com vários sábios de seu tempo. Primeira preocupação - conhecimento seguro através da razão. Descartes não se conformava com a opinião dos céticos, e então preocupa-se com um método exato e seguro para a

reflexão filosófica. A dúvida e o cogito.

Sistema filosófico - método da dúvida.

Descartes estabelece um sistema filosófico ao converter a dúvida em método.

Duvida de tudo: das afirmações do senso comum, dos argumentos da autoridade, do testemunho dos sentidos, das infirmações da consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade do próprio corpo. Primeira verdade racional - “Cogito, ergo sum” - “Penso, logo existo”.

Descartes só interrompe essa cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser que

duvida. Se duvido, penso; se penso, existo. “Cogito, ergo sum”, “Penso, logo existo”. Eis o ponto de partida para a construção de todo o seu pensamento. Essa intuição primeira é indubitável. Existência de Deus - comprovação racional.

Descartes usa a prova ontológica da existência de Deus. O pensamento deste objeto é a idéia de um ser perfeito. Se um ser é perfeito, deve ter a perfeição da

existência, senão lhe faltaria algo para ser perfeito. Portanto ele existe.

O mundo - duas realidades

substância pensante (Res Cogitans) substância material (Res Extensa)

Dualismo Psicofísico Mente X Corpo

Se Deus existe e é infinitamente

perfeito, não se engana. A existência de Deus é garantia de que os objetos pensados por idéias claras e distintas são reais.

Portanto, o mundo tem realidade. E dentre as coisas do mundo, o meu próprio corpo existe. O que caracteriza a natureza do mundo é a matéria e o movimento (res extensa), em oposição à natureza espiritual do pensamento (res cogitans). Estabelece-se o caráter originário do cogito como autoevidência do sujeito pensante e princípio de todas as evidências. Acentua-se o caráter absoluto e universal da razão que, partindo do cogito, só com suas próprias forças pode

chegar a descobrir todas as verdades possíveis. Daí a importância de um método de pensamento que garanta que as imagens mentais, ou representações da razão, correspondam aos objetos a que se referem e que são exteriores a essa mesma razão. Estabelecem-se dois domínios diferentes: o corpo, objeto de estudo da ciência, e a mente, objeto apenas da reflexão filosófica. As regras do método.

Da sua obra discurso do método, podemos extrair quatro regras básicas, consideradas por Descartes capazes de conduzir o espírito na busca da verdade:

Regra da evidência: só aceitar algo

como verdadeiro, desde que seja absolutamente evidente por sua clareza e distinção.

Regra da análise: dividir cada uma das dificuldades surgidas em tantas partes quantas forem necessárias para resolvê-las melhor.

Regra da síntese: ordenar o raciocínio dos problemas mais simples para os mais complexos.

Regra da enumeração: realizar verificações completas e gerais para se ter absoluta segurança de que nenhum aspecto do problema foi omitido.

As idéias inatas. Descartes procura distinguir as idéias claras e distintas das idéias duvidosas e confusas.

Matematização do conhecimento.

A partir do século XVII, passa-se a buscar o ideal matemático. Isso não significa aplicar a matemática no conhecimento do mundo, mas usar o seu tipo de conhecimento, que é completo, inteiramente dominado pela inteligência e baseado na ordem e na medida, permitindo estabelecer cadeias de razões.

Obras: Discurso do método e Meditações metafísicas Outros racionalistas: Espinosa, Leibniz, Malebranche, Pascal. EXERCÍCIOS 1. Assinale a alternativa INCORRETA:

O racionalismo cartesiano constitui uma tendência filosófica onde:

A) Pensamento é o princípio básico para se

chegar ao conhecimento. B) Existem idéias inatas, as quais

independem do testemunho dos sentidos.

C) A existência de Deus pode ser comprovada através da razão.

D) As certezas em relação ao conhecimento são decorrentes do hábito.

E) Existe um dualismo psicofísico em relação ao homem, pois este possui uma substância pensante e uma substância material.

2. (UFU-97) Assinale a alternativa

INCORRETA.

O caminho para se chegar ao conhecimento, segundo Descartes, está relacionado à necessidade de:

A) Utilizar um método para bem conduzir

suas idéias. B) Iniciar pelas idéias mais simples e pouco

a pouco conceber as idéias mais complexas.

C) Examinar as impressões sensíveis acerca dos fenômenos do mundo, e concluir por sua realidade.

D) Começar por duvidar de tudo para perceber a realidade do pensamento.

E) Perceber que as impressões sensíveis são enganosas, e procurar as verdades primeiras através de uma via segura para razão.

3. (UFU-97) Escolha a alternativa

CORRETA:

“Enfim, considerando que todos os mesmos pensamentos que temos

quando despertos nos podem também ocorrer quando dormimos, sem que haja nenhum, nesse caso, que seja verdadeiro, resolvi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais verdadeiras que as ilusões de meus sonhos. Mas logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava,

fosse alguma coisa.” (René Descartes, Discurso do método.

São Paulo: Abril Cultural, 1973.)

De acordo com a citação acima, Descartes quis afirmar que: A) O cogito nada mais é que a convicção

que tenho através das minhas percepções.

B) A realidade e os sonhos são da mesma natureza e, portanto, as idéias são

sempre verdadeiras, independente do estado de vigília do espírito.

C) O fato de se poder duvidar de tudo oferece uma primeira idéia clara e distinta que é a certeza de que o sujeito, que pensa, existe verdadeiramente.

D) As sensações e as ilusões dos sonhos são todas elas verdadeiras e conferem certeza ao conhecimento.

E) O duvidar é perfeição maior que o conhecer; este é o argumento que os céticos usam ao defender que não existe

idéia clara e distinta. 4. (UFU-97) "Mas, logo em seguida, adverti

que, enquanto eu queria assim pensar

que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade; eu penso, logo existo, era tão

firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava." (René Descartes, O discurso do método,

S. Paulo, Difel, 1962)

Explique a importância do pensamento para Descartes a partir de "eu penso, logo existo."

5. (UFU-98) “Assim, porque os nossos

sentidos nos enganam às vezes, quis supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos fazem imaginar.”. (René Descartes, Discurso do método, S.

Paulo, Difel, 1962).

Uma das grandes novidades do pensamento cartesiano consiste na proposta de um “método de conhecer” -

a dúvida metódica. Explique em que consiste este método.

2. HUME: Introdução: David Hume (1711-1776), filósofo escocês, leva mais adiante o empirismo de Francis bacon e Locke. A sua filosofia é considerada ainda hoje a mais importante

filosofia empírica. Hume sentia “uma insuperável aversão a tudo, menos à filosofia e a erudição”. Doutrina divina ou metafísica - fantasmagoria e ilusão

Partindo do princípio de que só os fenômenos são observáveis e de que o mecanismo íntimo do real não é passível de experiência, afirma que as relações são exteriores aos seus termos, ou seja, se não

são observáveis, não podem pertencer aos objetos. Como empírico Hume considerava sua tarefa eliminar todos os conceitos obscuros e os raciocínios intricados criados até então. Naquela época, circulavam por escrito e oralmente toda a sorte de antigos resquícios de concepções medievais e conceitos das filosofias racionalistas do século XVII. Para ele, nenhuma filosofia que não aquela a que chegamos pela reflexão de nosso cotidiano seria capaz de nos conduzir para além dessas mesmas experiências

cotidianas. O raciocínio que não fosse sobre fatos e sobre a vida e baseado em experiências seria considerado ilusão e fantasmagoria.

A origem das idéias. Impressões: percepção imediata da

realidade exterior (original) Idéias: lembrança da impressão (cópia)

Simples. Complexas: podem levar à noções falsas Deus - idéia complexa (Hume - agnóstico)

Digamos que Deus, para nós, é uma criatura infinitamente inteligente, sábia e boa. Temos aí, portanto, uma noção complexa formada por algo infinitamente

sábio, infinitamente inteligente e infinitamente bom. Se nunca tivéssemos experimentado a inteligência, a sabedoria e a bondade, não poderíamos ter tal conceito de Deus. E pode ser também que nossa imagem de Deus nos fale de um pai severo, mas justo. Quer dizer, outra noção complexa composta por “severo” , “justo” e “pai”. Portando, Hume que atacar tudo e qualquer pensamento ou idéia que não possa ser atribuído a uma impressão sensorial correspondente.

Noção de eu - idéia complexa Para Hume, a sensação de que nossa personalidade possui um núcleo constante seria falsa. Nossa noção de eu compõe-se, na verdade, de uma longa cadeia de impressões isoladas, que nunca conseguimos vivenciar simultaneamente. Hábito - crenças formadas a partir de

experiências repetidas

Leis imutáveis da natureza Lei de causa e efeito

Quando Hume aborda a questão da força do hábito, ele se concentra na chamada lei da causa. Segundo esta lei tudo o que acontece precisa ter uma causa, não esquecendo que só podemos ter certeza daquilo que experimentamos. Quando falamos de “leis da natureza” ou de “causa e

efeito” estamos falando na verdade de hábitos humanos e não de algo racional. Para Hume, o que observamos é a sucessão de fatos ou a seqüência de eventos, e não o nexo causal entre esses mesmos fatos ou eventos. O que nos faz ultrapassar o dado e afirmar mais do que pode ser alcançado pela experiência é o hábito criado através da observação de casos semelhantes. A partir deles, imaginamos que o fato atual se comportará de forma análoga. As relações são simples

modos que o homem tem de passar de um objeto a outro, de um termo a outro, de uma idéia particular a outra. São apenas passagens externas que nos permitem

associar os termos a partir dos princípios de causalidade, semelhança e contigüidade.

As leis da natureza não são racionais nem irracionais. Elas simplesmente são. O

mundo é como é e nós vamos experimentando isto pouco a pouco. Ética e moral - sentimento Hume se opôs ao pensamento racionalista. Os racionalistas consideravam uma qualidade inata da razão humana o fato de ela poder distinguir entre certo e errado. Esta idéia do chamado direito natural nós já a encontramos em muitos filósofos, de Sócrates a Locke. Mas Hume não acredita

que a razão determina o que dizemos e fazemos, e sim os sentimentos. Segundo ele, todos nós temos um sentimento acerca do bem-estar e do mal-estar dos outros. Temos, portanto, a capacidade de sentir compaixão pelos outros. Mas nada disso tem a ver com a razão. Obra: Tratado sobre a natureza humana. Outros empiristas: John Locke, Francis Bacon, Thomas Hobbes, George Berkeley.

EXERCÍCIOS 1. Assinale a alternativa CORRETA:

A questão do conhecimento no início do século XVII d.C. é marcada pelo embate filosófico entre o racionalismo e o empirismo. Podemos destacar como representantes da tendência empirista:

A) Descartes, Locke e Hume. B) Bacon, Hume e Leibniz. C) Locke, Leibniz e Espinosa. D) Locke, Bacon e Hume. E) Hobbes, Locke e Rousseau. 2. David Hume, filósofo empirista, derrubou

as bases da metafísica racionalista, ao afirmar que as certezas absolutas eram decorrência de:

A) indução

B) hábito C) silogismo D) idéias E) intuição 3. (UFU-97) Acerca do conhecimento

segundo Hume, pode-se considerar que: I. As idéias são inatas e, portanto, o

conhecimento dedutivo é válido. II. A crença é a única hipótese para o

conhecimento de leis gerais sobre o

mundo. III. Não existe conhecimento absoluto e

necessário a partir dos fenômenos

sensíveis, porque nenhuma idéia possui esse grau de universalidade.

IV. As impressões são a única fonte do conhecimento, e a validade das

idéias é determinada a partir das impressões que lhes deram origem. Assinale:

A) Se apenas I e II estiverem corretas. B) Se apenas I, II e IV estiverem corretas. C) Se apenas II, III e IV estiverem

corretas. D) Se apenas I, II e IV estiverem corretas. E) Se apenas I, II e III estiverem corretas. 4. (UFU-98) A idéia de causalidade, ou

seja, a idéia de estabelecer relações de causa e efeito entre os vários fenômenos, para o filósofo David Hume, constitui-se:

A) No exame de todas as possibilidades de

vínculo entre os vários eventos observáveis.

B) Na antecedência de um fato sobre o outro, que considera um como causa e o outro como efeito.

C) No hábito que nossa mente adquire de

considerar um fato conseqüente do outro, baseando-se nas percepções e impressões sucessivas.

D) Na forma como o cientista considera a temporalidade dos fatos envolvidos.

E) No resultado de estudos sobre a finalidade das idéias inatas de nossa mente e sua integração como o meio ambiente.

5. (UFU-97) “Todos admitirão sem hesitar

que existe uma considerável diferença entre as percepções da mente quando o homem sente a dor de um calor excessivo ou o prazer de um ar moderado tépido e quando relembra mais tarde essa sensação ou a antecipa pela imaginação.”. (David Hume, Investigação sobre o

entendimento humano, S. Paulo, Abril).

O texto acima se refere a dois conceitos fundamentais para a questão do

conhecimento, segundo Hume: as impressões e as idéias. Explique-os.