Livro de Ouro - Moçambique

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Livro de Ouro de Moçambique.

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A RAZO POR QUE SE FEZ ESTE LIVROO jornalista A N T N I O FEIO, sonhou um dia, arquivar em livro, a vida dos Pioneiros portugueses, espalhados pelos cinco continentes, e m u i t o principalmente, nos territrios de f r i c a . Nada havia arquivado at agora, que nos falasse deles. Arquivados, somente os feitos militares, mas quanto aos Pioneiros, os principais obreiros das grandes realidades actuais, no campo da colonizao, tudo se ia perdendo com o rodar dos anos . . . A N T N I O FEIO entendia, e m u i t o justamente, que se historiasse a vida desses Pioneiros, em todos os seus sectores, que pudesse vir a servir de estmulo para os vindouros, e t a m bm, para no deixar cair no olvido o nome e a obra desses bravos portugueses! Assim pensando, decidiu que cada Provncia tivesse o seu volume, e a obra chamar-se-ia 0 LIVRO DE OURO DO M U N D O PORTUGUS, seguido do nome da Provncia a que se referisse o volume. Este sonho que A N T N I O FEIO t a n t o desejava concretizar, exigia algum, que tivesse interesse em realiz-lo, fosse jornalista e conhecesse um pouco de f r i c a , e se dedicasse, por largo tempo, ao trabalho de pesquisa, indispensvel em tal caso, levando anos a sua confeco. Um dia, fui Redaco do seu j o r n a l o semanrio A C T U A L I D A D E S p o r motivo de colaborao f u t u r a . Nesse dia tivemos uma larga troca de impresses sobre trabalho, e eu pedi a A N T N I O FEIO, que me mandasse em servio para qualquer ponto longe de Lisboa. ento que surge a sua proposta para ser eu a fazer O LIVRO DE OURO DO M U N D O PORTUGUS, por etapas. A c e i t e i , pondo apenas uma condio : iniciar esses livros comeando por Moambique, pois desejava imenso voltar Provncia onde j estivera a trabalhar, onde deixara amigos, e tinha saudades de tudo voltar a ver : lugares e pessoas! A minha condio foi aceite, e pronto passei aos indispensveis preparativos, partindo para Moambique logo que fosse possvel. Em M a i o de 1964 chegava a Loureno Marques com o f i m de iniciar os trabalhos. Percorri toda a Provncia, de Loureno Marques a Porto A m l i a , pesquisando, contactando, observando, no que gastei quase dois anos! Em meados de Fevereiro de 1965, encontrava-me na Redaco do N O T C I A S q u e era o meu quartel-general de trabalho quando sou surpreendida por uma terrvel notcia, trazida pelo Manuel Pombal, que me d i z : Lena, tenho uma notcia m u i t o triste para lhe dar! M o r r e u , s portas de Paris, num grave acidente de viao, o jornalista A n t n i o Feio! Tal notcia deu-me um grande choque, e pensei com mgoa, que os seus olhos j no veriam as terras de f r i c a , que ele t a n t o desejava conhecer, nem veria editar a obra que ele havia sonhado! No meu corao, porm, estava escrita a promessa de cumprir, custasse o que custasse! Meses depois, regressei a Lisboa, onde me surgiram mil um problemas, que a sua morte inesperada, me acarretou! Mas eu estava empenhada em cumprir! Cumprir perante a sua memria e a gente de Moambique, que sempre me tratara com t a n t o carinho e amizade, e o meu desejo, de com esta modesta obra, poder contribuir para um mais profundo conhecimento da vida dos que, espalhados por esta vasta Provncia, tm lutado e labutado para a tornar frtil e civilizada! Este trabalho no est to completo como desejaria, mas razes alheias minha vontade assim o determinaram, pois nem todas as pessoas com quem contactei acederam a dar a sua colaborao, outros ainda, por qualquer impossibilidade no momento prprio. Espero que me relevem essas falhas, pois tudo fiz para que resultasse num trabalho honesto e srio. No interessa agora evocar os muitos prejuzos que tal encargo me acarretou, nem as arrelias sofridas para levar a cabo esta obra. Apenas interessa que a tenha feito. Neste momento, em que escrevo estas palavras, sinto uma grande satisfao por ver a minha promessa, f i n a l m e n t e , cumprida! A m i n h a palavra dada a A N T N I O FEIO e ao povo de Moambique, cumpriu-se!

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UM AGRADECIMENTOA q u i desejo formular e deixar expresso o reconhecimento e agradecimento, extensivo a todos quantos me a j u d a r a m , por qualquer f o r m a , a levar a bom termo este trabalho. s entidades oficiais de que menciono as p r i n c i p a i s : o Comandante Peixoto Correia, ento M i n i s t r o do U l t r a m a r ; Fora Area Portuguesa; DETA, que generosamente me transportou atravs desta imensa Provncia, numa colaborao altamente valiosa; aos meus camaradas jornalistas, que me deram elementos e muita assistncia; ao jornal N O T C I A S e a todos quantos l trabalhavam nesse tempo pela excelente a j u d a ; aos reprteres f o t o g r ficos Carlos A l b e r t o , Ludgero Bispo, A r m i n d o Afonso, Silva, que deram a sua colaborao grat u i t a ; aos meus camaradas de O J O R N A L PORTUGUS, de Toronto (Canad), onde uma parte deste livro foi f e i t a ; e a todos quantos em Moambique me deram a sua prestimosa colaborao. Para todos vai o meu agradecimento e a minha gratido! Sem ela eu nada poderia ter feito. Bem h a j a m ! A todos quantos tenham contribudo para o engrandecimento desta parcela da terra portuguesa M O A M B I Q U E a minha homenagem sincera, a quem dedico este poema.

MARIA HELENA BRAMO

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"FRICA"frica . . . Terra descoberta nos confins dos mares por Homens que no t i n h a m medo! frica : : : com Docas apinhadas de navios que despejam gente cheia de esperanas . . . e de sonhos! frica : : : com urbes que se erguem altaneiras e vigorosas, criadas pela fora e tenacidade do homem branco! frica . . . obra do homem civilizado, arrojado . . . que deu ao M u n d o novos Mundos, cultivando o trigo onde s havia capim . . . frica : : : lugar da terra onde o Sol brilha com mais fulgor, com noites de luar branco . . . e poentes de fogo . . . incendiando as almas! frica . . . terra de permanente chamada ao Sonho e Aventura . . . numa mistura de etreo e de real, de anseios e de lutas! frica . . . com seu segredo-feitio, que se entranha . . . nos coraes e cria razes . . . frica . . . de beleza mpar, promissora de fecundidades e grandezas, pedra rara que os portugueses burilaram com sua a l m a e sangue! Homem branco, meu irmo, que por um sonho todo Ideal ergueste e construste um Pedestal, qual smbolo herico e nele ficars perpetuado! A terra virgem, agreste e bela, fecundaste com o teu labor, e t u d o lhe ofertaste : o Sonho . . . a Vida . . . o A m o r !

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GOVERNADOR-GERAL DE MOAMBIQUE ALGUMAS NOTAS BIOGRFICAS

DR. BALTAZAR REBELLO DE SOUZA

O Dr. Baltazar Rebello de Souza licenciado em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Lisboa, possuindo os cursos superiores de Medicina Sanitria e Medicina Tropical. Figura das mais representativas da sua gerao, foi dos primeiros filiados da Mocidade Portuguesa, organizao em que ingressou logo aps ter sido criada, em 1936, e onde exerceu grande actividade, tendo ascendido, sucessivamente, a todos os postos da hierarquia de graduado e dirigente. Ao cumprir o servio m i l i t a r , nas fileiras do Exrcito, no Batalho de Caadores 5, foi louvado, por ter "revelado qualidades que constituem a estrutura das virtudes militares e o classificam como um oficial com que se pode contar e como homem que, pelo seu aprumo, pode ser apontado como exemplo".

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Quando estudante, tomou tambm parte na actividade de vrios organismos da juventude catlica, e foi secretrio-geral da Associao dos Escuteiros de Portugal e comandante do Centro Universitrio de Lisboa da M O C I D A D E ^ PORTUGUESA. Em 22 de Julho de 1955, assumiu o alto cargo de subsecretrio de Estado da Educao, no qual permaneceu cerca de seis anos, e em que revelou excepcionais qualidades de orientador e polticas, mais tarde novamente afirmadas no desempenho de outras importantes f u n es, nomeadamente como vice-presidente, em exerccio, do Conselho U l t r a m a r i n o , lugar que actualmente ocupava. Deputado Assembleia Nacional em vrias legislaturas, o Dr. Baltazar Rebello de Souza foi tambm secretrio do sr. prof. Marcello Caetano, quando este ilustre homem pblico serviu no Governo como M i n i s t r o do Ultramar. Especialmente identificado com os problemas das pronvncias ultramarinas, que por diversas vezes visitou, o Dr. Rebello de Souza autor de numerosos trabalhos, na sua maior parte consagrados a questes de educao e cultura popular. Instituidor com o Dr. Joo Havelange (da Confederao Brasileira de Desportos) dos Jogos Desportivos Luso-Brasileiros, chefiou as delegaes portuguesas aos 2.0S Jogos e ao II Congresso Luso-Brasileiro de Educao Fsica, no Brasil, em 1964, tendo visitado o Brasil pouco antes de ser nomeado para o cargo de Governador-Geral de Moambique, onde proferiu uma importante conferncia na sesso realizada no salo nobre do Ginsio Clube Portugus, do Rio de Janeiro, enquadrada nas comemoraes do Dia de Portugal. Publicou vrios trabalhos, entre os quais, "A QUESTO F U N D A M E N T A L " , "A RELIGIO E A V I D A " , " F R M U L A S E CRITRIOS DA C U L T U R A POPULAR", " C H A M A DA M O C I D A D E " e o " A M O R PLENITUDE DA L E I " . Entre outras condecoraes, o Dr. Baltazar Rebello de Souza possui a gr-cruz da Ordem do Infante D. Henrique, e os grandes oficialatos das Ordens de Cristo, da Instruo Pblica, do Cruzeiro do Sul e de Cisneros. O Doutor Baltazar Rebello de Souza chegou a Moambique em 23 de Julho de 1968, para iniciar o seu mandato de Governador-Geral, lugar que ocupou at Janeiro de 1970, a l t u r a em que foi nomeado M i n i s t r o das Corporaes e Previdncia Social e da Sade e Assistncia. O seu governo caracterizou-se por uma notvel aco de realizaes, em todos os sectores da vida moambicana, sobre os quais se debruou com devotado carinho e interesse, no esquecendo a A r t e nas suas diversas formas, fomentando certames artsticos, espectculos c u l t u rais, promovendo reunies para intercmbio social entre artistas, a que o Governador se associava, presidindo com sua Esposa, que no captulo da promoo social e benemerncia igualmente desenvolveu notvel actividade! Tambm o patrimnio histrico-artstico da Provncia no foi esquecido pelo Doutor Rebello de Souza, promovendo restauros e beneficiaes. Era um Governador que se dava por inteiro tarefa de governar e fazer progredir! Sua Esposa, a Senhora Dona M a r i a das Neves, seguia, em cpia f i e l , a aco de seu marido. Por isso, Moambique sentiu, simultaneamente, alegria e tristeza, quando recebeu a notcia de que. o seu Governador fora nomeado M i n i s t r o do Governo Central. que o Doutor Baltazar Rebello de Souza ganhara o corao e estima da gente que governava, sem distino de classes. Foi apotetica a sua p a r t i d a , em que o povo de Loureno Marques e Beira lhe proporcionaram uma despedida inesquecvel, to grande e calorosa f o i ! Tais provas de considerao e apreo, de que foi alvo, j u n t a m e n t e com sua Esposa, devem t-los sensibilizado profundamente! Moambique tambm o recordar como tendo sido, at ao presente, um dos seus mais notveis governantes!

PRESIDENTE DA CAMAR MUNICIPAL DE LOURENO MARQUES

ENG. EMLIO EUGNIO DE OLIVEIRA MERTENS

O actual Presidente da Cmara M u n i c i p a l de Loureno Marques, uma individualidade que tem m u i t o da sua actividade profissional indelevelmente ligada Provncia de Moambique nomeadamente obra do Limpopo regio a que se devotou com todo o seu entusiasmo e saber, ajudando-a a desbravar! A l g u m disse, referindo-se ao Eng. Emlio Mertens, que ele era um dos homens obreiros do Limpopo. Efectivamente assim , pois c o n t r i b u i u , poderosamente, no s com os seus conhecimentos profissionais, mas tambm ,com devotado interesse e carinho por essa obra de povoamento, e que hoje, a imagem do que o homem pode fazer, quando a vontade f i r m e : a obra do Vale do Limpopo! A ela ficar ligado o seu nome, j u n t a m e n t e com outros prestigiosos. E agora que estas palavras surgiram em primeiro plano na sua biografia, i n t r i t o , vamos iniciar uma retrospectiva. laia de

O Eng." Emlio Eugnio de Oliveira Mertens, nasceu nos arredores de Lisboa, em Algs. Iniciou os seus estudos universitrios na Universidade de Coimbra, vindo a conclu-los na Universidade de Lisboa, formando-se simultaneamente, em Engenheiro Gegrafo e em Cincias Matemticas. A sua vida pblica comeou na Metrpole, prestando servio na Junta Autnoma das Obras de Hidrulica Agrcola, em 1943, ocupando, sucessivamente, vrios cargos, entre eles, o de Secretrio do Subsecretrio de Estado do U l t r a m a r , de que recebeu louvor, por ter exercido o cargo com m u i t a dedicao, zelo e competncia. Em Maro de 1953, o Eng. 0 Emlio Mertens, contratado para prestar servio como Adjunto do Chefe da Brigada Tcnica de Fomento e Povoamento do Limpopo, vindo em seguida, para Moambique. Em 17 de Dezembro de 1953, passou a exercer, na mesma Brigada, as funes de Engenheiro Chefe. Dez anos depois, em Setembro de 1963, foi nomeado Inspector Provincial dos Servios Geogrficos e Cadastrais da Provncia de Moambique, tendo tomado posse em Novembro de 1963. Em Outubro de 1967 foi nomeado para desempenhar, em comisso de Servio, o cargo de Presidente da Junta Provincial de Povoamento de Moambique, tendo tomado posse em 26 de Fevereiro de 1968. A 10 de Fevereiro de 1969 designado para exercer, em comisso de servio, o cargo de Presidente da Cmara M u n i c i p a l de Loureno Marques, tendo tomado posse em seguida, a 20 de Fevereiro. A t ao presente, o Eng. 0 Emlio Mertens teve numerosos louvores, sempre por muita dedicao, zelo e competncia tcnica, ou ainda pelo bom desempenho de misses fora do pas, como por exemplo, por na qualidade de membro da Comisso dos Rios Internacionais de Moambique, pela forma inteligente, criteriosa e dedicada como conduziu esses trabalhos, a cargo da referida comisso. O Eng.0 Emlio Mertens, igualmente tem desempenhado variadssimas misses especiais, dentro e fora do pas, das quais tem sido incumbido oficialmente, de que destacamos algumas das mais recentes. Em 1968 chefiou a Delegao Portuguesa reunio da SARCCUS, em Salisbria; nomeado para a Comisso Coordenadora Portuguesa do Congresso Sul-Africano para o avano das Cincias, realizado em Julho de 1968. Tambm durante o ano de 1968 foi o Presidente da Sociedade de Estudos de Moambique. Ao dinamismo, viso exacta do tempo presente, e inteligente critrio sidente da Cmara, por certo que, m u i t o vir a beneficiar a cidade, nele se grandes esperanas. Algumas inovaes j s u r g i r a m , entre elas no captulo sentao, g r a t u i t a , de espectculos no recinto da Cmara criao de novas a assegurar uma maior eficincia nos seus servios. seguido pelo Prepodendo depositar c u l t u r a l a apreseces, tendentes

Dado o crescimento constante de Loureno Marques, que assim, se associa ao surto de desenvolvimento que se processa por toda a Provncia, impunha-se ter frente do municpio algum capaz de corresponder a esse progresso de se devotar a ele, debruando-se sobre os seus variados, e por vezes, to complexos problemas! Por tudo quanto j foi dito em referncia personalidade do Eng. 0 Emlio Mertens, tudo leva a supor que melhor escolha no poderia ter sido f e i t a . Quem ajudou com pioneiro esprito de sacrifcio a desbravar terras moambicanas no deixar, t a m b m , de se dedicar, com igual interesse e carinho a esta nova misso de dirigir e governar o Municpio loureno-marquino.

VICE-PRESIDENTE DA CMARA MUNICIPAL DE LOURENO MARQUES

JOO FERNANDES DELGADO

Pela primeira vez, e dado o grande desenvolvimento da capital da Provncia, acaba de ser criado o lugar de Vice-Presidente. Precisamente porque o primeiro a exercer tal cargo quisemos arquivar neste livro, a figura de relevo do Eng. Joo Fernandes Delgado, o primeiro Vice-Presidente agora nomeado, traando em resumo a sua biografia. O Eng. Joo Fernandes Delgado nasceu na Metrpole, em V i l a Real de Santo A n t n i o , tendo-se licenciado em Cincias M a t e m t i c a s , em 1937, e terminando o curso de Engenheiro Gegrafo, em 1938, na Universidade de Lisboa, com as classificaes de Bom. Alm destes, possui o curso de Fotogronometria, tirado na Escola Politcnica Federal de Zurique, na Sua. instrutor de Topografia M i l i t a r Aplicada do Servio Geogrfico do Exrcito, desde 1942, tendo colaborado nas I e II Jornadas de Engenharia do U l t r a m a r , realizadas em Loureno Marques e Luanda, respectivamente, em 1965 e 1969. Iniciou, muito jovem, a sua carreira pblica, em misses de servio pelo U l t r a m a r , tendo estado em Moambique, Angola e Guin, sempre desempenhando com competncia e zelo os cargos de que era incumbido. Em 1963, o Eng. Joo Fernandes Delgado foi nomeado Inspector Provincial dos Servios Geogrficos e Cadastrais de Moambique, lugar que tem desempenhado at actualidade, sendo t a m b m , o Presidente da Sociedade de Estudos de Moambique.

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LOURENO MARQUESA capital da Provncia, Loureno Marques, e os seus arredores, constituem uma zona turstica de invulgar interesse. -o por virtude da sua famosa praia da Plvora, quase na foz de trs rios que desaguam na Baa do Esprito Santo o Tembe, o Umbelzi e o M a p u t o . As suas guas so de temperatura m u i t o agradvel, sem a frieza do mar que ali se j u n t a com as correntes dos rios mencionados; -o pelo seu palmar beira da Baa, onde a municipalidade mandou construir as to conhecidas palhotas maticas que servem de residncia de frias aos turistas; -o pela amenidade do seu clima, pela beleza da prpria cidade, pela maneira franca e aberta com que os portugueses recebem as suas visitas; -o pelos divertimentos que pode oferecer ao estrangeiro, em espectculos pblicos de que o bull-fight o maior cartaz de propaganda; -o pela categoria dos seus cinemas, pelas especialidades gastronmicas de cada um dos seus restaurantes, pela excelncia dos nossos vinhos, pelos passeios na Baa e pela pesca desportiva; -o pelas provas de vela e pelos desafios de futebol ou pelos combates de boxe. -o, principalmente, porque Loureno Marques tem um padro de vida diferente e uma cidade limpa.

Um aspecto parcial da cidade

Cidade-jardim, assim classificaram os prprios visitantes a capital moambicana. E, realmente, Loureno Marques um j a r d i m multiplicado por mil jardins, diferentes uns dos outros mas todos igualmente maravilhosos do cor, de perfume, de aspecto prprio, que pem manchas de verdura beira dos passeios e p u r i f i c a m o ar que se respira. Seja sob que prisma se pretenda olhar a sempre jovem e bela Xilunugne, a verdade que Loureno Marques, entre todas as cidades portuguesas, a mais arrojada na concepo urbanstica e a mais florida que o gnio lusitano criou.

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ESTUDOS GERAS UNIVERSITRIOS DE MOAMBIQUE

Alocuo do Governador-Geral, Almirante Sarmento Rodrigues

Os Estudos Gerais Universitrios de M o a m b i q u e , foram solenemente inaugurados a 8 de Novembro de 1963. Tal criao m u i t o veio contribuir para o desenvolvimento da cultura na Provncia. Os Estudos Gerais iniciaram os seus trabalhos com os seguintes Cursos: CINCIAS M E D I C I N A E CIRURGIA E N G E N H A R I A C I V I L E N G E N H A R I A DE M I N A S E N G E N H A R I A M E C N I C A E N G E N H A R I A ELECTROTCNICA E L E C T R N I C A V E T E R I N R I A E AGRONOMIA. A 19 de Novembro de 1963 foi solenemente inaugurado, anexo aos Estudos Gerais U n i versitrios, o Centro de Estudos Humansticos. A m p l i a n d o sempre e melhorando as condies de ensino, foram inaugurados em A b r i l de 1964, os Laboratrios de Fsica, Qumica e Cincias. A i n d a em 1963, a ]0 de Novembro, portanto um ms depois da solene inaugurao dos Estudos Gerais Universitrios, foi inaugurada a Residncia Universitria Alferes Dr. Jos Carlos Godinho Ferreira de A l m e i d a .

O Professor Doutor Jos Veiga Simo, desde o incio, o M a g n f i c o Reitor dos Estudos Gerais Universitrios de Moambique.

Alocuo do Magnfico Reitor, Prof. Doutor Jos Veiga Simo

A FUTURA CIDADE UNIVERSITRIAAs Instalaes Universitrias que se projectam erguer na Cidade de Loureno Marques viro ocupar uma rea de terreno situado na zona de Sommerschieid, delimitado de acordo com a Cmara Municipal e constituda pela parcela actualmente ocupada pelo Centro de Telecomunicaes dos C.T.T. e por uma rea adjacente a esta. 0 conjunto das Instalaes Universitrias foi concebido plenamente integrado no tecido urbano e social da cidade para estmulo de contacto constante e fecundo entre todos os seus habitantes e a populao universitria. No plano das prprias instalaes est implcito o desejo de promover e fomentar o convido dirio intenso entre a populao escolar e os docentes, tcnicos, e seus familiares. 0 carcter informal dominar t a n t o o conjunto como as construes, que dispersas no parque Botnico, assumiro um forte sentido funcional e racionalmente econmico, na procura do mximo de eficincia no tempo presente, e da maior capacidade de ajustamento ao sentido da evoluo que o f u t u r o exige de uma Universidade. 19

A maleabilidade da concepo permite esperar poder fazer-se face a todas as solicitaes e exigncias que o f u t u r o nos reserve e que, de momento, imposvel prever embora se a d i vinhe que nos surpreendero. As instalaes Universitrias foram projectadas para servir uma populao escolar de cerca de 5.000 a 6.000 alunos, nmero que se julga seja atingido dentro de 20 a 25 anos. Aps a sua concluso calcula-se que possam viver no rea das instalaes Universitrias, aproximadamente, 60 por cento dos estudantes e do pessoal docente, tcnico, administ r a t i v o e menor. Desde j , esto previstas instalaes para os seguintes servios: FACULDADE DE CINCIAS Com os seus Zoologia, Botnica e Mineralogia. Institutos de M a t e m t i c a , Fsica, Qumica,

FACULDADE DE M E D I C I N A Com os seus diversos Institutos e Hospital Escolar. I N S T I T U T O SUPERIOR DE A G R O N O M I A E S I L V I C U L T U R A Com os seus diversos departamentos e laboratrios. ESCOLA SUPERIOR DE M E D I C I N A V E T E R I N R I A Com os diferentes Institutos que a integram. INSTALAES culturais. A C A D M I C A S Comportando locais para recreio, desporto e actividades

REITORIA E SERVIOS A D M I N I S T R A T I V O S As construes que se integram na Cidade Universitria sero erguidas por fases, dando-se prioridade absoluta s edificaes docentes. Em virtude de actualmente serem os Institutos mais deficientemente instalados, os p r i meiros edifcios a construir destinam-se Faculdade de Cincias, esperando-se que o primeiro a estar concludo seja o I n s t i t u t o de Fsica.

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SESSO SOLENE INAUGURAL DO CENTRO DE ESTUDOS HUMANSTICOS

O

Dr.

Alexandre

Lobato

pronunciou

uma conferncia subordinada ao tema: Problemtica dos Estudos Humansticos n u m a perspectiva portuguesa

0 Centro de Estudos Humansticos, criado j u n t o da Universidade de Loureno Marques por deliberao do Senado, foi solenemente inaugurado, na Sala dos Actos Grandes, no dia 19 de Novembro de 1963. No acto da inaugurao proferiu uma conferncia o deputado da Nao e insigne historiador moambicano, Dr. Alexandre Lobato, tendo usado da palavra alm do Governador-Geral, Almirante Sarmento Rodrigues, o M a g n f i c o Reitor, Prof. Doutor Veiga Simo, e o Director do Centro, Prof. dr. Lus Ribeiro Soares.

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SOCIEDADE DE ESTUDOS DE IVfOAMBIQUE UMA INSTITUIO CULTURAL PIONEIRAA Sociedade de Estudos de Moambique foi instituda em 6 de Setembro de 1930, data em que foram superiormente aprovados os seus Estatutos, publicados pela Portaria n. 1185, daquela data. Resultou de um movimento inspirado pelo Engenheiro de M i n a s , A n t n i o Joaquim de Freitas, que veio a ser o seu Scio Fundador n. 1. Na Circular-Convite que dirigiu aos intelectuais de Moambique, a propor a fundao da Sociedade, mencionava A n t n i o Joaquim de Freitas, ser um dos objectivos estabelecer um convvio intelectual necessrio s pessoas que vivem pelo crebro. Os Estatutos aprovados d e f i n i r a m como objectivos da Sociedade de Estudos, contribuir para o estudo e valorizao econmica de M o a m b i q u e ; e contribuir para o desenvolvimento intelectual, moral e fsico dos seus habitantes em geral, e, em especial, dos seus associados. A A n t n i o Joaquim de Freitas juntaram-se 101 Scios Fundadores. E depois, desde 1930, muitos outros, que com esforo, dedicao e inteligncia tm vindo a realizar com persistncia os objectivos da Sociedade. Foi o primeiro Presidente da Direco da Sociedade de Estudos o Coronel Eduardo Augusto da A z a m b u j a M a r t i n s . Sucederam-lhe o Eng. Joaquim Jardim Granger ( 1 9 3 2 - 3 4 ) ; o Coronel Joo Jos Soares Z i l h o (1935 e 1 9 4 0 - 4 1 ) ; o Eng. M r i o Jos Ferreira Mendes (1936-38 e 1 9 4 6 - 4 9 ) ; o Comte. Jos Cardoso ( 1 9 3 9 ) ; o Eng. A n t n i o Joaquim Freitas ( 1 9 4 2 - 4 5 ) ; o Dr. A n t n i o Esquivei ( 1 9 5 0 - 6 0 ) ; o C o n t r a - A l m i r a n t e Joo Moreira Rato ( 1 9 6 1 - 6 2 ) ; e o Prof. Eng. M a n u e l Gomes Guerreiro (1963). O actual Presidente o Eng. Joo Fernandes Delgado. Foram nomeados Scios Benemritos, pelos relevantes servios prestados Sociedade de Estudos, o C o n t r a - A l m i r a n t e Manuel M a r i a Sarmento Rodrigues, a Fundao Calouste Gulbenkian e a Cmara M u n i c i p a l de Loureno Marques. A Sociedade de Estudos foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem M i l i t a r de Sant'lago da Espada (1956), grau de Oficial da Ordem de Instruo Pblica (1960), Medalha de Ouro de Servios Distintos da cidade de Loureno Marques (1960) e Palma de Ouro da Academia das Cincias de Lisboa (1960). Dentro da aco desenvolvida desde 1930, a Sociedade de Estudos tem promovido a realizao de estudos, cursos, lies, conferncias, congressos, exposies e sesses de cinema. Desde 1931 que se publica o Boletim da Sociedade de Estudos de M o a m b i q u e , que presentemente t r i m e s t r a l . Tem editado outras publicaes entre as quais se destaca A Cartografia A n t i g a da f r i c a Central e a Travessia entre Angola e Moambique, 1500-1860 da autoria do ilustre historigrafo Comte. Avelino Teixeira da M o t a , que a dedicou ao C o n t r a - A l m i r a n t e Sarmento Rodrigues e a ofereceu Provncia de Moambique. A edio foi custeada por subsdio especial concedido pelo Governo-Geral de Moambique, tendo-se feito a verso inglesa. As publicaes da Sociedade de Estudos so permutadas com as de numerosas instituies nacionais e estrangeiras em todo o M u n d o . Foi assim organizada progressivamente uma Biblioteca de carcter enciclopdico, que conta cerca de 25 0 0 0 volumes; e uma biblioteca juvenil, com perto de 1500 volumes, convenientemente escolhidos. O actual Presidente, o Eng. Joo Fernandes Delgado.

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Vista geral do edifcio da Sociedade de Estudos

A Socideade de Estudos tem-se feito representar em diversos congressos e reunies de carcter c u l t u r a l , no pas e no estrangeiro. Desde 1934 que participa nos congressos anuais da Associao Sul-Africana para o Progresso da Cincia, tendo colaborado na Organizao dos Congressos de 1948 e de 1958, que se realizaram em Loureno Marques. J nos Estatutos aprovados em 1930 se previa a necessidade de se conseguir uma sede suficientemente a m p l a , cujos meios de trabalho e conforto ir sucessivamente aumentando, por forma a tornar a sua frequncia cada vez mais agradvel. Depois de grandes esforos, foi finalmente decidia a construo do novo Edifcio-Sede em 1962, sendo Presidente da Direco o C o n t r a - A l m i r a n t e Joo Moreira Rato, que desenvolveu valiosa aco para tornar vivel a realizao. Os encargos foram suportados por subsdio, concedidos pelo Governador-Geral de Moambique, C o n t r a - A l m i r a n t e Sarmento Rodrigues, pela Fundao Calouste Gulbenkian, por reservas criadas, por quotizao suplementar por parte dos scios, e por um emprstimo a amortizar anualmente. O edifcio, segundo projecto do arquitecto Marcos Guedes e o Eng. Carlos P, foi executado em 1963, sob a orientao da Direco presidida pelo Prof. Eng. Manuel Gomes Guerreiro, tendo sido inaugurado oficialmente em 21 de A b r i l de 1964, pelo Governador-Geral de Moambique, C o n t r a - A l m i r a n t e Sarmento Rodrigues. Registam-se tambm as numerosas e vrias ofertas recebidas de diversas entidades para o apetrechamento do novo Edifcio-Sede. Na sua estrutura a c t u a l , a Sociedade de Estudos compreende as seguintes seces: Artes e Humanidades; Cincias Exactas; Cincias N a t u r a i s ; Cincias Sociais; Agro-Pecuria; Economia e Finanas; Engenharia e A r q u i t e c t u r a ; Legislao e Jurisprudncia; Medicina, Veterinria e Farmcia; Estudos Brasileiros; Estudos Franceses; Etnologia A f r i c a n a ; Feminina; e de I n i ciao Cultural. No relatrio da Direco, relativo a 1964, figura o seguinte resumo das sesses pblicas realizadas naquele a n o : 21 conferncias; 39 conferncias ou lies includas em cinco ciclos de conferncias e cursos; 6 exposies diversas; 7 sesses de cinema; 18 sesses de cinema para jovens, com filmes educativos e recreativos. A Sociedade de Estudos de Moambique m u i t o tem contribudo para o estudo e valorizao da Provncia de Moambique, assim como para o seu desenvolvimento moral e intelectual.

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RODRIGUES JNIORJORNALISTA, O ESCRITOR DE ESCRITOR, MAIS ENSASTA

REPRESENTATIVO

MOAMBIQUE

O Patriarca do jornalismo e das letras moambicanas assim o designa um crtico m e t r o p o l i t a n o , nasceu em Lisboa, na Freguesia do Socorro um bairro popular do centro da capital do Imprio. Rodrigues Jnior, que descende de uma famlia madeirense, veio para Moambique com seus pais, t i n h a ento 18 anos, em 1919. Pouco depois da chegada a Moambique, coocou-se nos Caminhos de Ferro, e simultaneamente, iniciou-se nas lides jornalsticas, escrevendo para o BRADO A F R I C A N O . Colaborou na revista SEARA N O V A , de Lisboa; C I V I L I Z A O , do Porto; e outras. Foi chefe de Redaco d e : O E M A N C I P A D O R , O J O R N A L , o N O T C I A S , e redactor principal, bem como proprietrio, da revista de arte e crtica M I R A G E M . Foi, durante muitos anos, o representante, em M o a m b i q u e , do D I R I O de L U A N D A . Como jornalista convidado, esteve na Holanda; em Goa, Damo e D i u ; na Alemanha Ocidental, e por l t m o , em 1963, em A n g o l a . Foi, t a m b m , o presidente do Centro Cultural dos novos. membro efectivo da Sociedade de Geografia de Lisboa; scio da Sociedade Portuguesa de Escritores, e vice-presidente do Grupo de A r t e s , Letras e Actividades Culturais e Jornalismo, da Seco de Estudos Brasileiros da Sociedade de Estudos de Moambique. Quase toda a sua actividade de escritor e jornalista tem sido dedicada ao estudo dos problemas de M o a m b i q u e , para o que realizou, durante mais de 20 anos, viagens de inqurito econmico-sociais, atravs de toda a Provncia. Na opinio da crtica metropolitana os seus estudos sobre Moambique so, a par de notveis obras literrias, trabalhos de socilogo, de colonialista, de moralista e, at, de economista, e muitas das melhores pginas da nossa novelstica e da nossa reportagem, destes ltimos t r i n t a anos, por exemplo, saram das suas i n f a tigveis mos. Falando da sua obra, diremos que durante a sua longa vida profissional, de mais de 40 anos de labor intenso, Rodrigues Jnior editou at ao presente, 42 obras, entre Ensaios,

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Estudos, Romances e Reportagens. Alguns desses valiosos trabalhos foram galardoados com diplomas e prmios nacionais, que passamos a mencionar: DIPLOMA DE H O N R A do Ncleo de A r t e , em 1945; D I P L O M A DE H O N R A do Concurso de Literatura U l t r a m a r i n a , em 1945; PRMIO DE LITERATURA U L T R A M A R I N A , em 1949; 1. PRMIO DE J O R N A L I S M O , em 1950; D I P L O M A DE H O N R A do Concurso de Literatura Ultramarina, em 1 9 5 1 ; PRMIO FERNO MENDES P I N T O , nacional, de Literatura Ultramarina, em 1960; PRMIO AFONSO DE B R A G A N A , nacional, de Jornalismo, em 1961. E por l t i m o , em 1969, recebe da Academia de Cincias, de Lisboa, da Classe Letras, o PRMIO RICARDO MALHEIROS que premeia a sua l t i m a obra, o romance ERA O TERCEIRO D I A DE V E N T O SUL. O que e o que vale a obra literria de Rodrigues Jnior, j todos o sabemos, no entanto parece-nos interessante arquivar nestas pginas, que ficam no presente e para o f u t u r o , como subsdio histrico, daqueles que, por qualquer f o r m a , contriburam para o engrandecimento da Provncia, o que a crtica tem d i t o a seu respeito. Referindo-se ao seu trabalho ENCONTROS, Nuno Silveira, escreve: A mesma f i n a sensibilidade, o mesmo esprito agudo de romancista, reprter, ensasta, socilogo, areja estas pginas com um largo sopro de lrica emoo, de esprito crtico, de imensa capacidade de vivncia dos problemas com que o homem contemporneo se confronta. Mais um belo, indispensvel livro sado do incansvel labor intelectual do mais representativo escritor ultramarino. Ns saudamo-lo da forma que nos parece mais indicada: falando em breves linhas de Rodrigues Jnior, da sua obra, da imensa gratido de uma gerao inteira que ele soube comandar, t a n t o atravs do exemplo da sua probidade intelectual, como atravs do dia a dia em que chefiou redaces, estimulando, aconselhando, corrigindo, valorizando aqueles para os quais foi sempre e acima de tudo mestre e camarada. Rodrigues Jnior conseguiu conquistar um raro equilbrio: o da harmonizao do seu lirismo e do seu esprito polmico. O escritor est sempre bem, sempre seguro, sempre forte em qualquer dos gneros que solicitem a sua necessidade de criao,e de reviso de erros sociais e polticos. Quando em 1967, Rodrigues Jnior publicou o estudo ME NEGRA, A m n d i o Csar referiu-se elogiosamente a esta obra, dizendo: Rodrigues Jnior um dos raros escritores de Moambique que conhece a gama toda da sua Provncia, nas diferenciaes e ramificaes dos problemas, verificou que o problema da me negra, era um daqueles que necessitavam de meditao e investigao maior do que lhe poderia dar numa novela, num romance ou numa crnica. Da a importncia deste estudo a que desejou, intencionalmente, tirar a ganga da erudio demonstrada, para nos apresentar um texto com erudio, assinalada e vazada numa experincia que era a dele prprio. E mais adiante a f i r m a : Escrito com aquela clareza meridiano que Descartes aconselhava para as ideias claras, o estudo de Rodrigues Jnior l-se e rel-se com o mesmo interese de uma primeira leitura e com a emoo de se estar diante de um t e x t o , sabiamente preparado para a leitura proveitosa. Isso, bem o sei, oficinagem. Mas a oficinagem tambm uma caracterstica do virtuosismo de um escritor. E s me consta que os grandes escritores sejam capazes desse milagre: darem como aparentemente simples de elaborar aquilo que foi d i f c i l , m u i t o difcil de cerzir. Que o diga o nosso Ea . . . Reis Ventura, do jorna! luandense, Provncia de A n g o l a , escreve a propsito e referindo-se a ME NEGRA: 0 maior escritor vivo de Moambique, no seu estilo directo e comunicativo, to adequado alta dignidade do assunto, fala da me africana com a justia de um homem bom, com a competncia de um intelectual m u i t o culto e com a emoo bem caracterstica do seu enternecido corao de portugus. Graas a este conjunto de virtudes, produziu um trabalho que fica a enriquecer a literatura portuguesa com um depoimento m u i t o lcido, grandemente oportuno e todo refulgente daquela beleza a que Plato chamou o esplendor da verdade.

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Terminamos com algumas palavras insertas na revista A N H E M B I , de So Paulo, Brasil, que d i z : Entendemos, para l das catalogaes momentneas, que Castro Soromenho o escritor de A n g o l a . Com a mesma exactido que vemos em Rodrigues Jnior o escritor de Moambique, afirmado pela moambicanidade da sua vasta obra. Ela projectou-se para alm das fronteiras de Portugal. Assim o comprovam o Ensaio M O Z A M B I Q U E , PUEBLO NUEVO da autoria de Francisco Elias Tejada, catedrtico da Universidade de Sevilha; o Estudo PORTUGUESE A F R I C A , de James D u f f y , catedrtico da Harvard University, de Cambridge, Massachussets, o Estudo crtico e histrico AFRIC A N LITERATURE IN THE PORTUGUESE L A N G U A G E , do Prof. Geraid M. Moser, da Pennsylvania University, que citam largamente, com relevo, Rodrigues Jnior. O laureado escritor oficial da Ordem do Infante Dom Henrique e Cavaleiro da Soberana Ordem dos Cavaleiros de Colombo. Eis a traos largos, a biografia do maior e mais representativo escritor de M o a m b i q u e : RODRIGUES JNIOR.

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CONCHITA BRETONConchita Breton, a primeira a ensinar a A r t e do Bailado, em Loureno Marques, nasceu em Madrid, num dos Bairros castios da bela capital de Espanha. Com oito anos iniciou a sua aprendizagem na arte de bailar, na Escola de Ballet Clssico Espanhol, no Teatro Real de Madrid, passando mais tarde, para a Escola do Maestro M a r t i n e z consagrado Mestre e depois, para a Escola de M m i c a de Flora Rossini. Foi, t a m b m , aluna do Mestre Montesinos, pai da conhecida artista de cinema, Rita Hayworth. Apenas com 14 anos, apresentou-se pela primeira vez, no T e a t r o da pera de M a d r i d . Depois de ter frequentado o T e a t r o Liceu, de Barcelona, tornou-se bailarina profissional, percorrendo as principais cidades de Espanha. Em Paris, apresentou-se no T e a t r o A l h a m b r a , clebre casa de espectculos, onde se manteve a trabalhar com sucesso, durante meses. Anos mais tarde, visitou Portugal, apresentando-se, pela primeira vez, no Casino de Espinho. Em Portugal permaneceu oito anos, tendo estado t a m b m , em Angola. Conchita Breton veio para Moambique em 1949, por contrato artstico, mantendo-se a trabalhar durante seis meses. Veio a casar-se com um portugus, radicando-se, por tal f a c t o , em Moambique, ou mais precisamente, em Loureno Marques. De incio, comeou por dar lies em sua casa, e simultaneamente, deu lies no Clube Naval, e depois, nos Velhos Colonos. Depois, leccionou durante 10 anos, no I n s t i t u t o I n f a n t i l . Em 1956 abriu a Escola de Ballet no Clube Ferrovirio, onde continua a ensinar a arte do bailado.

C O N C H I T A BRETON com um grupo de alunas

Todos os anos, as suas alunas se apresentam num grande espectculo, que alm do xito artstico que sempre alcanam, so ainda uma prova da tenacidade, do carinho e interesse com que Conchita Breton se t e m dedicado, atravs de todos estes anos, ao Ballet, procurando elevar o nvel cultural da juventude, e ajudando-a a desenvolver-se em linhas harmoniosas. Alm da Escola de Ballet do Ferrovirio, Conchita Breton continua a leccionar, t a m b m , em sua casa. Eis a traos largos, a biografia da a r t i s t a que introduziu a A r t e do Ballet em Loureno Marques. 27

I

Poetas

de

MOAMBIQUETIMBRE EU,Morreu. M n i m o sou, Mas quando ao Nada empresto A minha elementar realidade, O Nada s o resto.

S h idealNo plural. Tecidos Como fios que h nos linhos, Parecidos Entre ns como dois molhos, Somos do tempo de viver aos molhos Para morrer sozinhos

Reinaldo Ferreira

Reinaldo Ferreira

BATUQUEA dissonncia que rompe a noite contm mensagens duma alegria rude e desnuda que me trepassa.

RUMOA i , noite, irei contigo. No serei estrela nem abrigo, nem m u r m r i o perdido A i , noite, irei contigo. No serei estrela nem abrigo, nem m u r m r i o perdido ou voz clara de linho.

nsias ocultas, clamores perdidos e t a n t a coisa que no se indaga

A dissonncia que rompe a noite como o g r i t o d u m cristal puro que se estilhaa.

Serei apenas eu que irei contigo. Fica pairando, num ritmo agudo, incompreendido, e permanece ainda, oculto e vivo, na palidez tranquila da madrugada.

(Que prossigo descala e sem caminho.)

Glria de SanfAna28

Glria de SanfAna

ILHA

DOURADA

TARDE

NO

RIO

ZAMBEZE

A fortaleza mergulha no mar os cansados flancos e sonha com impossveis naves moiras. Tudo mais so ruas prisioneiras e casas velhas a mirar o tdio. As gentes calam na voz uma vontade antiga de lgrimas e um riquex de sono desde a Travessa da Amizade. Em pleno dia claro vejo-te adormecer na distncia, Ilha de Moambique, e fao-te estes versos de sal e esquecimento

Rio calmo. g u a de prata a cintilar Onde as nuvens vulcnicas se m i r a m , Almadias que esperam o regressar, Peixes que saltam, viram e reviram. Na areia, um crocodilo a rastejar, distncia, mais dois que submergiram, Fogo no Cu! Espreitas do Luar Quando a Terra e o Sol se despediram! Aigretes brancas saltam com leveza, Macacos g u i n c h a m , correm com destreza, Gigantescos bambus e matagais. Pretos e pretas que no f i m do dia Batucam, g r i t a m , danam de alegria Ritmos inquietos, loucos, sensuas . . .

Rui Knopfli

Anunciao Prudente

A

FLORBELA

ESPANCA

V i m de M o i r a m a , sou f i l h a de Rei . . . Florbela Espanca GRITO DE ALMA M i n h a pobre princesa destronada Encontraste, a f i n a l , onde reinar . . . Ouviu a M o r t e a prece torturada Que lhe fizeste um dia, a soluar . . . Pousaste, e n f i m , a fronte j cansada, Fechaste as asas tontas de voar Romeira vagabunda e f a t i g a d a , Plida irm da noite e do luar. Para ns, na magia dos teus versos Rezaste inquietaes, sonhos dispersos; Caudal imenso de uma angstia v . . . Descansa e, dorme no caixo estreito Que para ti foi ninho, bero, leito . . .

Vem de sculos, a l m a , essa orgulhosa casta, Repudiando a dor, tripudiando a lei. Num gesto de altivez que em onda leve, arrasta inteiras geraes de amaldioada grei. Ir procurar, amor, nessa altivez madrasta, Um gesto de carinho ou de brandura, eu sei? Ao tigre dos juncais, duma crueza vasta, Quem h que roube a presa? A p o n t a - m e e eu i r e i ! Cruel destino o meu, que ao meu caminho trouxe Na fulgurante luz do teu olhar to doce A mgoa minha eterna, a minha eterna dor. Vai. Segue o teu destino. A onda quer-te e passa. Vai com ela cantar o orgulho da t u a raa Que eu ficarei cantando o nosso eterno amor . . .

Eu sou a t u a A m i g a . . .

a t u a Irma . . .

Rui de Noronha

Irene Gil

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HISTORIADOR, ESCRITOR E JORNALISTA ALFREDO AUGUSTO PEREIRA DE LIMA

ALFREDO AUGUSTO PEREIRA DE LIMA

A l f r e d o Augusto Pereira de Lima, nasceu em Loureno Marques em 19 de Fevereiro de 1917, onde fez o Curso Complementar de Cincias dos Liceus, continuando os seus estudos na f r i c a do Sul. A sua grande aspirao era formar-se em Medicina e Cirurgia, cursando a Faculdade em Lisboa, o que no pde fazer por f a l t a de meios, em virtude de ser rfo de pai, desde os vinte meses He idoH^ A l f r e d o A u g u s t o Pereira de Lima, descende de um casal de pioneiros, chegados a M o a m bique no ano de 1914. Seu p a i , A n t n i o Lcio Pereira de Lima, cuja famlia originria do Porto se fixou em A n g o l a , Moambique, ndia Portuguesa e Brasil, era Secretrio A d m i n i s t r a tivo do Distrito M i l i a r de Gaza, vindo a falecer no Chongoene em 1919. Sua me, M a r i a da Conceio M o u r o Garcez Palha e Pereira de Lima, ficou em Moambique com seu f i l h o , aps a morte do seu marido. Pereira de Lima foi ajudante do historiador sul-africano, Dr. W i l l e m Punt, da Universidade de Pretria, em 1944, em investigaes histricas sobre as ligaes entre pioneiros portugueses e transvalianos, na f r i c a A u s t r a l , no sculo X I X . Em 1946, nomeado pelo Govemador-Geral de M o a m b i q u e , General Tristo de Bettencourt, acompanhou em Moambique a expedio cientfica organizada pelo Departamento de Educao do Transval, chefiada pelo historiador Dr. W i l l e m Punt, que determinou o trajecto percorrido pelo pioneiro transvaliano, Louis T r i chardt, at Loureno Marques, no ano de 1938. Com o mesmo historiador trabalhou noutras pesquisas histricas em Loureno Marques e Pretria. Em 1949 foi louvado pela Organizao das Naes Unidas, pelos servios prestados como Secretrio da Comisso Central de M o a m bique da U N I T E D N A T I O N S APPEAL FORCHILDREN. No mesmo ano, foi distinguido com o distintivo de prata dos T R A N S V A A L VOORTREKKERS, por servios prestados quela organizao da juventude sul-africana, na qualidade de Chefe de Seco de Turismo e Propaganda da Cmara M u n i c i p a l de Loureno Marques.

Como escritor, jornalista e historiador, vem colaborando com Centros Culturais da Repblica da frica do Sul e participando de Congressos internacionais sobre Economia, Comrcio e Turismo, realizados na f r i c a do Sul e nas Rodsias, nos ltimos vinte anos, e ainda, em expedies cientficas de investigao histrica realizadas em Moambique, sendo a mais recente, a expedio de arqueologia submarina, ao largo da Ilha de Moambique, organizada pelo Comisso de Monumentos e de Relquias Histricas de Moambique. Em 1957, com uma Bolsa de Estudo que lhe foi concedida pela SOUTH A F R C A N BUREAU OF SOCIAL RESEARCH, colaborou com o Dr. W i l l e m Punt, em trabalhos de investigao histrica, em Moambique, sobre o pioneiro Carolus T r i c h a r d t . Em Setembro de 1960 fez parte de trs expedies organizadas pelos Servios Culturais da N A T I O N A L PARKS BOARD OF TRUSTEES, para descoberta do local onde teriam sido massacrados os membros da coluna do pioneiro Van Rensburg, na regio do Limpopo, prximo de M A B A L A N E (Moambique). Em 1958 exerceu as funes de Chefe do Gabinete de Imprensa do Congresso das Cmaras de Comrcio Federadas da f r i c a A u s t r a l , realizado em Loureno Marques, pelo que foi louvado pela Cmara de Comrcio de Loureno Marques. Pereira Lima, participou no II Congresso Ibero-Americano de Municpios, reunido em Lisboa, em M a i o de 1959, como Secretrio da Delegao da Cmara M u n i c i p a l de Loureno Marques, presidida pelo respectivo Presidente, Coronel Pedro Pinto Cardoso, j u n t o de quem exerceu as funes de Secretrio particular, por diversas vezes, pelo que foi louvado. Chefiou, ainda, a representao do Automvel e Tourinfy Clube de Moambique, primeira Reunio Provincial do Turismo de Moambique, realizada na Beira, em Fevereiro de 1964. Funes oficiais que desempenhou: Arquivista da Cmara M u n i c i p a l de Loureno Marques, de 1943 a 1947. Chefe da Seco de Turismo da Cmara M u n i c i p a l de Loureno Marques, de 1947 a 1948. Chefe das Seces de Turismo e da Informao do Centro de Informao e Turismo de Moambique, de 1960 a 1962. Inspector de Turismo e O f i c i a l de Relaes Pblicas do Pavilho de Portugal, na Feira da Pscoa do Rand, em 1963. Superintendente do Museu Histrico da Cidade de Loureno M a r ques, desde 1962. Vogal da Comisso de Inspeco aos Hotis (despacho do Governador de Distrito, 31 de Janeiro de 1961). Vogal (representante da Cmara Municipal) da Comisso Distrital do Servio Extra-Escolar de Loureno Marques. Vogal da Comisso de Propaganda do Automvel e T o u r i n g Clube de Moambique. Alfredo Augusto Pereira de Lima, possui as seguintes condecoraes: Medalha de Bons Servios da Cmara M u n i c i p a l de Loureno Marques, da classe DEDICAO (1960). Medalha Comemorativa do Cinquentenrio da Linha Frrea Loureno Marques-Pretria (1945). Distines: Scio permanente da Fundao S I M O N V A N DER STEL, de Pretria. M e m b r o da LOUIS T R I C H A R D T SOCIETY. de Pretria. Scio da Sociedade de Geografia de Lisboa. Proposto para Scio Correspondente Estrangeiro do I n s t i t u t o Geogrfico e Histrico do Estado de So Paulo, no Brasil. Scio da Sociedade de Estudos de Moambique e de outros organismos culturais nacionais e estrangeiros. Actividades jornalsticas: Iniciou a sua carreira no jornalismo em 1936, tendo sido redactor dos jornais LOURENO MARQUES G U A R D I A N e do D I R I O ; Chefe da Redaco do semanrio ORIENTE, Chefe da Redaco do COMRCIO DE M O A M B I Q U E , rgo da Associao Comercial de Loureno Marques; Redactor-Delegado em Loureno Marques do D I R I O DE M O A M B I QUE, da Beira, e Redactor do jornal N O T C I A S , de Loureno Marques. Tem a i n d a , uma vasta colaborao dispersa pela Imprensa nacional e sul-africana. Foi correspondente local dos jornais sul-afrcanos S U N D A Y EXPRESS, DIE TRANSVALER e DAGBREEK, e correspondente especial em Moambique da agncia noticiosa U N I T E D PRESS I N T E R N A T I O N A L . Como historiador: 31

Deve-se-lhe a descoberta, em 1944, do local onde foi sepultado em Loureno Marques, o explorador transvaliano Louis T r i c h a r d t , fundador do Transval, sua iniciativa, o M o n u m e n t o que a Sociedade T r i c h a r d t construiu na capital de Moambique. Colaborou ainda, com o historiador sul-africano, Dr. Colin Coetzee na descoberta do local onde os holandeses construram em 1720 a sua fortaleza, no Esturio do Esprito Santo. Publicou diversos artigos sobre o passado histrico de Loureno Marques, tendo merecido do eminente historiador moambicano, Dr. Alexandre Lobato, que foi Deputado Assembleia Nacional, a seguinte apreciao em prefcio do seu livro, OS MILHES DE KRUGER : Sempre me chegaram a Lisboa, pelos jornais daqui, os rastos da sua presena viva, fragmentos do seu labor tenaz e fecundo, a vasculhar continuamente, com os modestos recursos da casa, os dias passados e obscuros desta mesma casa. Do seu estudo de certos temas, difceis e nebulosos, e da sua tenacidade na pesquisa de fontes perdidas, fiquei h muitos anos com a ideia segura de que A l f r e d o Pereira de Lima um investigador nato, que durante tantos anos se perdeu para a exegese viva da histria, porque santos de casa aqui no f a z i a m milagres, e a dimenso cultural colectiva qualificava tudo isso de pura chinesice. Publicaes de sua a u t o r i a : A NOSSA INTERVENO NA POLTICA I N D G E N A DE H 100 ANOS OS MILHES DE KRUGER (1963). N A PISTA DO TESOURO DE KRUGER LOURENO MARQUES (Monografia 1963). No prelo: A DELICIOSA Ultramar). Em preparao: SUBSDIOS PARA A HISTRIA DO M U N I C P I O DE LOURENO MARQUES; ROTEIRO DOS EDIFCIOS HISTRICOS DE LOURENO MARQUES; O PALCIO MUNICIPAL; A HISTRIA DE LOUIS T R I C H A R D T / Conferncias proferidas: LOURENO MARQUES NASCEU A S S I M , em Maro de 1945, na Escola de Telegrafia e I n s t i t u t o Profissional de Loureno Marques. T I M O R E A SOBERANIA PORTUGUESA NA O C E N I A , em 10 de Setembro de 1945, no Salo do Sindicato Nacional dos Empregados do Comrcio e da Indstria de Moambique, dedicado s Foras Expedicionrias Portuguesas enviadas para a libertao de T i m o r , durante a II Grande Guerra. A LIO DE M O U Z I N H O , em Novembro de 1955, no Salo da Associao dos Naturais de Moambique, integrada nas comemoraes do Centenrio de M o u z i n h o . Louvores: Da sua folha de servio, como funcionrio pblico, constam seis Louvores e uma Medalha de Bons Servios. Este o prestigioso curriculum do historiador laurentino, A l f r e d o Pereira de Lima, que com as suas persistentes e laboriosas pesquisas tem engrandecido o patrimnio histrico da Provncia de Moambique, bem merecendo por isso, ficar arquivado nestas pginas. MENTIRA DE K U S S U M L A T A PRAGJI (Edio da Agncia-Geral do (1960). (1963).

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"MARRABENTA"UMA DANA DO FOLCLORE MOAMBICANO

Vamos procurar historiar o que e de onde veio a dana da M a r r a b e n t a , hoje to popular em Moambique e alm das suas fronteiras. A Marrabenta vem da amlgama de muitas danas do N o r t e , Centro e Sul da Provncia de Moambique, vertida sobre uma base Ronga, possivelmente construda sobre o ritmo NTfehna. O contacto, a consequente penetrao dessas danas, processou-se na cidade de Loureno Marques, para onde anualmente convergem moambicanos das mais diversas regies do territrio. O xodo dessas populaes capital, norteia-se na busca de maiores defesas econmicas junto s nossas zonas industriais.

Grupo da Associao Africana de Moambique danando a Marrabenta

Quando os grupos dessa gente desembarca na capital da Provncia, traz consigo uma fora rtmica, capaz de vencer o cansao, e no peito, a fora mstica das consoladores esperanas. A adversidade, a nostalgia ou a tristeza, no conduzem, nesta gente, a um desajustamento social tpico das populaes. Chegados cidade, na necessidade de comentar, narrar e lamentar as desditas, que se revelam comum a centenas de milhar de pessoas., surge prontamente, o ritmo da regio de provenincia, a sublinhar o esprito de observao dos africanos. Estabelecido o dilogo, o conceito clssico de tribo sofre uma alterao profunda, dando lugar aceitao da identidade de um sem-nmero de factores de ordem econmica e social. As fronteiras entre os diversos dialectos rompem-se; a dana, autntica forma de expresso que ainda em f r i c a enriquece-se com a aquisio de novos vocbulos. No caldeamento, no cadinho receptivo dos hbitos das gentes, surgem os novos vocbulos da nova linguagem coreogrfica. Pode dizer-se, que assim nasceu a M a r r a b e n t a .

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A nova dana, depois de imperar em todo o territrio moambicano, foi viajar pelos pases vizinhos, antes de aparecer no Europa e no A m r i c a , obtendo foros de ritmo do momento. Espera-a, certamente, uma carreira de xitos, nesta internacionalizao da Marrabenta. Foram os conjuntos moambicanos H A R M O N I A , JOO DOMINGOS e DJAMBO, que deram a conhecer a M a r r a b e n t a , atravs das suas interpretaes. Foram eles os iniciadores do sua divulgao. O disco Alvorada, editado s com M a r r a b e n t a , constituiu um xito, assim como outro disco editado em Moambique, que foi o primeiro disco editado, de Marrabenta. Graas oo trabalho de moralizao desenvolvido pelo Centro Associativo dos Negros de Moambique e a Associao A f r i c a n a de M o a m b i q u e , que apoiam os conjuntos j citados, vai-se registando em Loureno Marques um movimento de interesse pelo genuno folclore moambicano.

ARTISTAS PLSTICOS

Nesta obra dedicada aos pioneiros sero mencionados t a m b m , os Artistas Plsticos mais representativos de Loureno Marques. Principiamos pelos pintores pioneiros, de tendncia africana e expressionista, a que pertencem os dois primeiros: JOO AYRES e JOO PAULO. Seguem-se G A R I Z O DO C A R M O , M A L U D A , BERTINA LOPES, M I R A N D A GUEDES e M A L A N G A T A N A V A L E N T E . Mencionamos a seguir os pintores com tendncias estticas de raiz europeia: PASSOS s u r r e a l i s t a , ROSA ANTNIO HELENO e DUGOS No desenho: N a escultura: PASSOS, ANTNIO QUADROS, A N T N I O BAPTISTA. LVARO

SANTANA,

TERESA ROSA DE O L I V E I R A , A N A M I C H A E L L I S e JORGE CHAVES. M A R I A ALICE MEALHA e A N T N I O MOURA. ZECA M E A L H A , JORGE M E A L H A e A N T N I O BRONZE.

Nas artes decorativas:

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RDIO CLUBE DE MOAMBIQUE

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Hoje, quem passa e olha o Palcio da Rdio, erguido no centro da cidade de Loureno Marques, difcil ser imaginar quantas batalhas foi preciso vencer para atingir o desenvolvimento que hoje possui. Todavia o Rdio Clube de Moambique tem a sua histria uma longa e prodigiosa histria que merece contar. Corria o ano de 1 9 3 1 , quando Augusto das Neves Gonalves e Firmino Lopes Sarmento conceberam a ideia de criar em Loureno Marques um posto de radiodifuso. Mas a tentativa no pode ir por diante. Uma o u t r a , pouco tempo depois, tambm no encontrou eco na populao, mal amadurecida, ainda, para realizar os grandes sonhos. Volvidos alguns meses, porm, aproveitando o regresso a Loureno Marques de um dos seus dedicados amigos, A n i a n o Mendes Serra, puderam ento, Augusto das Neves Gonalves, A l b e r t o Jos de Morais e Firmino Lopes Sarmento formar com aquele um grupo de vontades fortes para vencer todas as resistncias e aplainar as dificuldades. E a fundao de uma Emissora, que antes t i n h a sido invivel, teve e n f i m possibilidades de corporizao. Efectuou-se a 5 de Julho de 1932, numa das salas do Grmio N u t i c o , a primeira reunio preparatria para a Fundao do que viria a chamar-se Grmio dos Radifilos da Colnia de Moambique. E os seus estatutos, cuidadosamente elaborados, receberam a aprovao do Governador-Geral, Coronel Jos Cabral. No dia 1 de Agosto, rea!izou-se no T e a t r o Scala a primeira Assembleia Geral para eleio dos Corpos Gerentes. A assistncia, d i m i n u t a embora, no deixou de acarinhar a iniciativa. E os resultados foram os seguintes: para a Direco foram escolhidos os nomes de Aniano Mendes Serra, presidente, A l b e r t o Jos de Morais, vice-presidente, Augusto das Neves Gonalves, secretrio, e Ernesto de Brito, tesoureiro. Para presidentes da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal foram eleitos, respectivamente, Firmino Joo Lopes Sarmento e Pedro Lcio de Assuno. Assim, nos lugares de comando f i c a r a m os homens a quem a iniciativa se deveu, e com os quais o Grmio dos Radifilos ia comear a caminhada no f u t u r o . A experincia dizia-lhes todavia, que teriam de vencer as maiores dificuldades, previstas alis; que haviam de aparecer entraves, surgir descrenas, medrar invejas; mas eles, os quatro principais obreiros da radiodifuso moambicana, no temiam as crticas e consideravam-se precavidos contra os desnimos.

Edifcio do Rdio Clube de Moambique, na Vila Salazar

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A primeira reunio da Direco efectuou-se no dia 3 de Agosto de 1932, numa sala cedida pelo vice-presidente da Direco, no seu estabelecimento comercial. Ficou assente que se adoptaria como sede provisria aquela mesma sala, que se deviam pedir cotaes para o fornecimento de impressos do expediente do Grmio, e que se designasse a primeira quarta-feira de cada ms para as sesses ordinrias da Direco. Nessa mesma data foi lida uma carta do scio Amrico Salcedas Pais, a comunicar a existncia de uma pequena emissora de radiotelefonia no Depsito dos C.T.T., de Loureno Marques, a qual, se pedida fosse, poderia ser cedida ao Grmio para a radiodifuso de concertos. Na reunio seguinte foram admitidos catorze scios, amortizado o pagamento das despesas feitas com a aprovao dos Estatutos, na importncia de 667$90,e autorizada a liquidao da primeira f a c t u r a , de 5 9 0 $ 0 0 , relativa a artigos de expediente. Na rubrica Outros assuntos foi resolvido oficiar s casas que j comeavam a vender material de rdio e outros artigos vrios, a pedir a concesso de bnus nas compras a fazer pelos scios; e assentou-se, em princpio, na compra do material necessrio para a montagem de um pequeno emissor. Na reunio de 12 de Agosto foram admitidos mais cinco scios e apareceram os primeiros resultados positivos do pedido f e i t o s casas comerciais. Na acta desta sesso no figuravam quaisquer referncias ao posto emissor, mas na seguinte j aparece a primeira aluso, ainda que vaga, ao facto de se ter discutido os vrios assuntos inerentes construo do emissor. Finalmente na acta de 4 de Janeiro de 1933, tomou vulto o aluguer do edifcio para a sede e a montagem do emissor, que ficariam instalados em duas salas do edifcio J Assam, na Avenida da Repblica, com o pagamento da renda anual de 9.400$00. Ousadamente, o Grmio dos Radifilos assumiu nesse dia o seu primeiro encargo financeiro de grande magnitude. Os que tiveram conhecimento da resoluo, pasmaram to desproporcionados eram os recursos e as imprevisveis possibilidades da jovem instituio com o encargo contrado. E esta a t i t u d e de reparo e de surpresa haveria de acompanhar por m u i t o tempo, se no para sempre, os actos principais da vida da emissora moambicana, antes e depois de mudar de nome. Eram e so desculpveis, todos os receios dos menos confiados, porquanto a evoluo do Rdio Clube foi sempre caracterizada por audaciosos rasgos de coragem determinada, que no deixaram tolher, antes estimularam, as iniciativas surgidas, aos olhos dos crticos como estando em desproporo com as realidades ou as necessidades da Organizao e, at mesmo, do desenvolvimento de Moambique. Chegou o ms de M a r o , previamente escolhido para a inaugurao oficial do Grmio dos Radifilos da Colnia de Moambique. Na acta n. 8, relativa reunio do dia 1 desse ms, considera-se o assunto resolvido: Para incio dos Programas a emitir pelo posto, resolveu-se contratar um quarteto pelo preo semanal de 2 5 0 $ 0 0 . Levantando a cortina que encobria os trabalhos feitos em laboratrio (no se fazendo contudo referncia s grandes dificuldades surgidas com a obteno do m a t e r i a l , que por estar proibida a importao suscitou a necessidade de recorrer a adaptaes ao servio da radiodifuso, como por exemplo, o de um amplificador de cinema j fora de uso) dizia-se: estando j quase terminadas as experincias e ajustamento do emissor, resolveu-se fixar o dia 18 do corrente para inaugurao oficial e convidar Sua Exa. o Governador-Geral, a quem a Direco deliberou conceder o t t u l o de Scio Honorrio, para fazer a abertura solene da Estao. Resolveu-se, t a m b m , convidar a assistir a este acto os representantes da Cmara M u n i c i p a l , da Associao Comercial, o Director dos Servios dos Correios e Telgrafos, o Director dos Servios dos Portos, Caminhos de Ferro, e a Imprensa. Amanheceu quente e abafado aquele dia 18 de Maro de 1933, que marcaria, uma notvel etapa na vida do emissor. ! Quando a estao foi posta no ar, e se ouviu a voz de M r i o Souteiro o primeiro locutor de Moambique anunciando o incio das emisses do Grmio dos Radifilos, no corao dos presentes bateu forte a comoo, e s depois tiveram conscincia do peso das responsabilidades que acabavam de contrair, transformando o sonho naquela certeza que requeria a maior dedicao, o mais forte empenho, todo um somatrio de energias e vontades frreas para levar de vencida as contrariedades, que inevitavelmente haviam de surgir com o decorrer dos tempos.

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Mas aquela voz, ouvida a princpio com surpresa, bem depressa se tornou familiar em todo o territrio de Moambique, na Rodsia, na f r i c a do Sul. Solcitas informaes acrescentavam, mesmo, que a estao se fazia ouvir, com relativa intensidade, na Madeira, em Londres, em alguns lugares da Amrica do N o r t e , na cidade de Lisboa. Estava, por conseguinte, atingido o mximo objectivo, que era levar a voz de Moambique aos ouvidos da Me-Ptria. Durante dois anos o pequenino posto prestou excelentes servios, amparado carinhosamente pelos tcnicos. Depois passou a ser uma preocupao constante. Umas vezes, durante as emisses, no sustentava a onda e o tcnico suava e tressuava para a a g u e n t a r ; outras vezes, uma vlvula deixava de trabalhar ou havia uma pea que tinha de ser substituda consequncia da improvisao que presidiu a manufactura do emissor e a carncia de material utilizvel. A propsito, pode ler-se em RDIO M O A M B I Q U E , de 30 de Novembro de 1935, o seguinte comentrio elucidativo: O tcnico converteu-se em autntico mdico assistente do dbil posto, inclinado sobre a pequena emissora, no permanente receio de que a vida se lhe escapasse, de um momento para o outro, em cualquer acidente terminal das graves leses que sofria. Assim, graves problemas administrativos e financeiros absorveram a Direco durante alguns meses. Na reunio do ms de M a i o , a Direco julgou de absoluta necessidade a aquisio por 25 libras esterlinas, de um novo microfone. Depois de se fazer o estudo pormenorizado das informaes chegadas do exterior de Moambique, decidiu-se suspender temporariamente a actividade do emissor, para se proceder beneficiao do material e tirar dele as mximas possibilidades de ser bem ouvido nos territrios vizinhos. A deciso, como fcil de calcular, provocou nos seus prprios responsveis um sentimento de amargura, que mais se acentuou quando o Presidente da Direco lamentou ser notrio o grande desinteresse, por parte dos scios, pelo Grmio, pois que a quotizao e o nmero de scios est diminuindo. Pairava sobre a instituio uma pesada nuvem negra, de consequncias imprevisveis. Havia pois, que proceder de acordo com as circunstncias e combater o ma! pela raiz. Assim, como medida de urgncia, o Presidente da Direco props a melhoria dos programas e a admisso de uma orquestra. Este seria o antdoto para o mal que estava a minar o Grmio dos Radifilos. T a m bm se julgou indispensvel fazer apelos para a entrada de mais scios. E a campanha, lanada em boa hora, ecoou no corao dos moambicanos, j habituados a ouvir os programas da sua Estao. Na reunio de 5 de Setembro foram aprovados 36 scios e na de 17 de Outubro, mais 43. Desanuviada a situao da emissora laurentina, e depois da sua interrupo de duas semanas, comeou a pensar-se em mais largos voos. O Dr. A n t n i o de Sousa Neves, chamado a presidir aos destinos da colectividade, logo na reunio de 5 de Janeiro de 1935, procurou dar soluo a assuntos de m u i t o interesse, tais como: a intensificao da propaganda para angariar fundos destinados compra de um novo posto emissor; requerer ao Ministrio das Colnias a iseno de direitos aduaneiros do material radiofnico destinado ao Grmio; nomear comisses para se avistarem com o Director dos Caminhos de Ferro de Moambique e com o Presidente da Cmara M u n i c i p a l de Loureno Marques, no sentido de solicitar subsdios. Na Assembleia Geral realizada em 15 de Fevereiro, o Presidente da Direco leu uma proposta a pedir autorizao para o Grmio contrair o emprstimo de vinte mil escudos, para a compra de um novo posto emissor, proposta que foi aprovada por unanimidade. A compra e instalao do emissor Colins de 2 5 0 watts, marcou, n i t i d a m e n t e , o progresso que se i n i ciava. Com este transmissor o Grmio ascendeu a um nvel de categoria incontestavelmente marcante, pois passava a dispor de um posto prprio para a radiodifuso, construdo por casa especializada, com modulao de alta qualidade e elevado grau de eficincia. Foi positivamente, um paso em f r e n t e , e o incentivo para dar outros mais. Em 1 de M a i o de 1935 saiu o 1. nmero da revista editada pela Emissora a que foi dado o t t u l o de Rdio M o a m b i q u e , publicao que sempre se tem mantido sem interrupes, acompanhando todo o desenvolvimento da referida Emissora.

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primeira locutora de Portugus do R.C.M., D. MAFH A TERESA DE S A M P A I O A R R O Z , numa fotografia dessa p oca

MISS EDWIGES SEQUEIRA

Em Setembro de 1935 a nova Estao Emissora foi solenemente inaugurada pelo Governador-Geral, Coronel Jos Cabral e outras individualidades de v u l t o , fazendo-se transmitir pela primeira vez o Hino Nacional. O Governador, usando da palavra, louvou publicamente o Grmio dos Radifilos, pondo em relevo o servio patritico que estava a prestar a toda a Provncia de Moambique. Dado o franco progresso da Estao, e o sucesso da sua audio que estava a ter no estrangeiro, abriu concurso para locutoras de ingls e portugus, dando origem na Provncia, a uma nova profisso para as mulheres. A primeira locutora de portugus foi a Sra. D. M a r i a Teresa de Sampaio A r r o z , que a n u n ciava o programa, dizendo: Boas noites, minhas senhoras e meus senhores. A q u i Loureno Marques, C R . 7 A A , Estao Emissora do Grmio dos Radifilos, trabalhando na frequncia de 6.137 quilocclos; onda de 48 metros e 88 centmetros. A primeira locutora de ingls foi Miss Edwiges Sequeira, que fazia a locuo dirigida aos pases de lngua inglesa, dizendo: Good evening, ladies and gentlemens. Thi is Loureno Marques . . . Depois surgiu como segunda locutora da seco portuguesa a jovem senhora D. M a r i a Emlia Salvado da Costa, cuja bonita voz se fez ouvir por largos anos ao servio da Emissora moambicana, passando, mais tarde, por sua vontade, para Chefe dos Servios da Discoteca, que reorganizou com a maior eficincia. Na f r i c a do Sul, e n t r e t a n t o , a popularidade do CR 7 AA aumentava consideravelmente, expressa atravs de cartas significativas e de notcias publicadas nos principais rgos da I m prensa diria. Passaram pelos estdios do Grmio figuras de relevo nas artes; organizaram-se festas radiofnicas; abriram-se concursos i n f a n t i s ; a orquestra privativa actuava com inteira regularidade. E a t u d o isto no era estranha a pertinaz actuao do novo locutor e mais tarde Chefe de Produo, Carlos Ahrens Teixeira, que carinhosamente se dedicou radiodifuso moambicana qual deu o melhor da sua experincia t e a t r a l .

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Sempre progredindo, os pequenos estdios da Rua A r a j o , principiavam a ser pequenos para a grande actividade do Grmio, que entretanto passara a denominar-se Rdio Clube de Moambique. Congrassando todas as boas vontades da gente de Moambique, em 1949 foi iniciada a construo do Palcio da Rdio, que viria a ser o f u t u r o edifcio do Rdio Clube de Moambique, inaugurado em 1 9 5 1 . O Rdio Clube de Moambique tambm mantm intercmbio de Programas com vrios pases: A Voz da A m r i c a , A Voz da A l e m a n h a , A Voz da Holanda, A Voz do Brasil, A Voz da Frana, A Voz da Blgica, A Voz da Inglaterra, alm dos Programas vindos da Emissora Nacional de Lisboa. Esta , em sntese um pouco da sua histria, atravs de todos estes anos da sua laboriosa existncia. Houve dificuldades tremendas, que foram vencidas, houve algumas crises graves, que foram transpostas; houve momentos de alegria, que serviram para iluminar o f u t u r o . Mas sempre a dedicao, a fora de vontade, a inteligncia e o sentido das realidades dos Dirigentes do R.C.M. souberam encaminh-lo no trilho da vitria pois vitria se pode considerar a posio que a estao laurentina ocupa entre as suas congneres de todo o M u n d o ! O t r i u n f o do Rdio Clube de Moambique justo que se diga pertence t a m b m , em parte, a toda a Provncia, que sempre o acarinhou e nele confiou, considerando-o, orgulhosamente, uma das realidades mais significativas de quanto podem e sabem fazer os moambicanos! Desde 6 de A b r i l de 1958, que o Rdio Clube criou um programa nativo. A V O Z DE M O A M B I Q U E , como hoje se i n t i t u l a toda a programao em lnguas nativas que presentemente emite em 1 1 dialectos alm de programas musicais, mantm variadas rubricas de carcter educativo e c u l t u r a l . A mdia semanal actual de horas de emisso de 158. O l t i m o Presidente do R.C.M. foi o Capito A n t n i o dos Santos Figueiredo, que presidiu aos seus destinos de 1941 a 1965, pouco antes do seu falecimento, do qual foi um grande e devotado obreiro. O mesmo poderemos dizer, do Presidente a c t u a l , que se seguiu ao Capito Figueiredo Augusto das Neves Gonalves, que um dos pioneiros da radiodifuso em Moambique, pois se encontra ligado ao R.C.M. desde o seu incio, tendo sido um dos que tomou a iniciativa de erguer to meritria obra.

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A ASSOCIAO DOS VELHOS COLONOS

Este livro ficaria incompleto se nele no se inclusse a biografia desta prestimosa colectividade, que tantos benefcios tem espalhado, m u i t o principalmente queles que para Moambique vieram quando jovens e que com o seu esforo ajudaram a desbravar e a civilizar a terra moambicana.

Edifcio da Manso dos Velhos Colonos

A Associao dos Velhos Colonos pode dizer-se que nasceu em 28 de Junho de 1919, com a primeira reunio que um grupo de velhos colonos efectuou no Salo Nobre da Cmara Municipal, na qual ficou expresso os fins a que se destinava a mesma, assim designados: a) Proteco e auxlio, material e moral, aos scios e seus filhos. b) Construo de um Mausolu ou Ossrio no novo Cemitrio. c) Criao de uma Caixa Econmica. d) Fundao de um jornal. A Associao foi formada por colonos com mais de 25 anos de residncia na Provncia, considerados fundadores; por colonos que tivessem completado 21 anos de residncia na Provncia, como scios ordinrios, e incluindo os filhos de colonos scios, residentes na Provncia; os naturais de Moambique de cor, considerados civilizados de maior idade.

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O Governador-Geral, que era nessa poca o Doutor M a n u e l Moreira da Fonseca, deu jovem Assciao todo o seu apoio e carinho. Como reconhecimento, a Associao f-lo Scio Honorrio desde o incio. A Associao dos Velhos Colonos foi fundada por 70 colonos portugueses e estrangeiros, cujos nomes vamos transcrever, e bem assim a primeira A C T A :

ACTA

N.

I

Aos 28 dias do ms de Junho de mil novecentos e dezanove nesta cidade de Loureno Marques e no Sala das Sesses da Cmara M u n i c i p a l nos Paos do Concelho, reuniram-se os velhos colonos: Sebastio Alves, Francisco l.da Cunha, A n t n i o de A b r e u , Harry W i l s o n , Jos A u g u s t o de A g u i a r , Andrews Roberts, Rufino de Oliveira, A n t n i o do Nascimento, Firmo dos Santos, A n t n i o Silva, Francisco de Oliveira, Luciano Incio Flix, Manuel Correia, Isidro Lopes, Lus W i l y , Ivaro T. da Cmara, A l f r e d o A. Bastos, A n t n i o Furtado, Francisco M. Correia de Brito, A n t n i o C. dos Santos, Joo P. do Tanque, John M i h a l e t o , Jos Ribeiro, Joaquim M. Gouveia, Francisco Xavier da Silva, Fernando M e l o Alves, Jos C. Lopes, Joo P. Abrantes, M. A r a j o Gomes, Filomeno Pereira, Pedro F. Pereira, A n t n i o Jos, Jos C. de Sequeira, Caetano Dias, A. J. Rodrigues de M o u r a , A n t n i o G. da Costa Lima, Carlos Galino, A l b a n o Mendona, M a n u e l J. Guilherme, C. J. Gonzaga Gomes, J. J. Nunes de Sousa, A. Libnio dos Santos, J. G. dei Valle y M o n t o j o , Pierre Loze, Pe. J. Vicente do Sacramento, J. J. A l b i n o de Sousa, John E. Roberts, M a n u e l de Paiva, M i g u e l M. V i a n a , M a n u e l Baio, J. C. Dias, A l f r e d o F. Cernadas, A d r i a n o I. Mesquita, A n t n i o de Andrade, E. G. Dascalakis, A. M a r tins Pina, Madal dos Santos, J. Miguns Jorge, J. Paula Reis, J. R. Peixoto, J. T. dos Santos Jnior, M a n u e l L. A l p a l h o , A n t n i o da Silva Marques, Bernardo C. da Piedade M i r a n d a , M a n u e l Pedro, Augusto Csar Ferreira, A. Nunes dos Santos, Nicolau F. Dias, C. F. de M a i o , e Napoleo L. F. Leo, para o f i m do convite de 29 de M a i o do corrente ano, e, sendo quinze horas e um quarto, pelo velho colono Albano de Mendona foi lido o seguinte: Senhores: V o u dar por finda a minha misso de organizador desta reunio em que fui auxiliado nos trabalhos de expediente pelo velho colono Senhor A l f r e d o A. Bastos a quem aqui deixo o meu agradecimento; cumpre-me tambm agradecer aos velhos colonos a sua presena a quem vou dar-lhe conhecimento do que fiz desde o seu incio. Os meus primeiros passos f o r a m dados em procurar os colonos que assinaram o primeiro convite, a que expus individualmente a minha ideia, com a qual concordaram, como se prova pelas suas assinaturas no convite original que vou ler e foi o primeiro acto pblico relativo a esta reunio: Convite Os colonos portugueses ou estrangeiros que tenham completado vinte e cinco anos de residncia na Provncia de Moambique se achem em Loureno Marques, so convidados pelo abaixo assinado, os seus nomes e moradas at ao dia 15 do prximo ms de Junho, a f i m de se promover uma reunio em que se h-de resolver a maneira de se comemorar aquele facto. A correspondncia deve ser dirigida para os Correios desta cidade, caixa postal n. 3 6 4 , com a indicao VELHOS COLONOS. Loureno Marques, 29 de M a i o de 1919. (ass) Augusto Cardoso, Rufino dos Santos O l i veira, ngelo Ferreira, A l f r e d o Bastos, Roque de A g u i a r , M e l o Alves, H. Beltro e Albano Mendona. A este convite responderam setenta e tantos colonos mandando cartas ou bilhetes com os seus nomes. Entre estas cartas figura uma do Exmo. Senhor Rv. Paul Bathoud, em que diz no poder comparecer a esta reunio em virtude do seu estado de sade o no permitir, t e r m i nando por fazer votos por que alguma coisa de til aqui se resolva e outra do colono Eduardo Franco M a r t i n s que passo a ler: 42

Exmo. Senhor Satisfazendo ao convite para a reunio dos velhos colonos, associo-me moral e espiritualmente reunio projectada para comemorar a residncia dos que tm lutado nesta terra h mais de vinte e cinco anos. Desembarquei em Loureno Marques em M a i o de 1 8 9 1 , vindo pelo vapor Luanda da M. R. Portuguesa e julgo-me tambm velhote. Fui em Maio do ano passado a Lisboa, onde estive apenas cinco meses. O resto da minha vida tem sido a q u i , onde tenho passado o melhor de vinte e oito anos. Seria ao Governo, a quem devia competir, estabelecer um prmio de colonizao como incentivo estabilidade dos portugueses, muitos dos quais tm lutado contra as maiores indiferenas dos governos, havendo mesmo alguns que tm passado misria. Justo salientar o nome de alguns scios fundadores benemritos: Carvalho, Ismael Costa e Capito Manuel Simes Vaz. A Associao teve uma fase de grande desenvolvimento seu Presidente, podendo afirmar-se que ele foi o obreiro dos o. A ele se deve a construo dos edifcios da Sede e juventude moambicana, e por l t i m o , esboando um vasto F. Dicca, Sebastio

quando Ismael Costa se tornou alicerces do que hoje a Associada Manso; interessando-se pela programa de realizaes.

Um aspeco do Parque i n f a n t i l

REALIZAES

Em 1 de Junho de 1946, foi inaugurada a Manso dos Velhos Colonos, criada para recolher os velhos colonos de ambos os sexos que vivem na indigncia e que, pela sua avanada idade e longa permanncia na Provncia, estejam fisicamente incapacitados de, pelo trabalho, angariarem os meios de subsistncia. A b r i u as suas portas com 27 recolhidos sendo 13 mulheres e 14 homens, e fornecia alimentao a mais 21 comensais externos, necessitados.

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Ao acto inaugural da Manso presidiu o ento Governador-Geral, General Jos Tristo de Bettencourt. A c t u a l m e n t e tem 66 recolhidos, sendo 43mulheres e 23 homens, e fornece alimentao diria a 39 comensais externos. Na Manso funciona um Posto Mdico, devidamente eficiente e tem duas enfermarias para os recolhidos. apetrechado com aparelhagem

Em Novembro de 1947 foi inaugurado pela sua patrona, a Senhora Dona M a r i a Joo Vieira de Castro Teixeira, o Parque I n f a n t i l . m u i t o frequentado pelos filhos dos scios. Em Fevereiro de 1950 foi inaugurada a Piscina, que trouxe muitos benefcios para o desenvolvimento da natao em Loureno Marques. A l i tm aprendido a nadar algumas centenas de crianas, filhos de scios, e muitas, t a m b m , j tm tomado parte em competies da modalidade, representando a Associao. Funcionam ainda, na Associao, as seguintes Seces:

ARTE

FOTOGRFICA BILHARES ESGRIMA TNIS X A D R E Z

OUTROS

DEPARTAMENTOS

DA

ASSOCIAO

No campo da cultura fsica procura a Associao cumprir o melhor possvel a sua misso. T e m , t a m b m , trs campos de tnis e um de voleibol, que serve de rinque de patinagem. Pratica-se a esgrima, dirigida por um mestre da especialidade. Nos seus sales funciona uma Seco de X a d r e z , com bom nmero de jogadores. A Biblioteca, com alguns milhares de livros, , t a m b m , m u i t o frequentada, alm dos muitos livros que fornece aos scios para os lerem em casa. Finalmente, uma das obras a que dispensado um grande carinho, to grande como o dispensado M A N S O , o PARQUE I N F A N T I L , para onde os scios mandam os filhos, que so entregues aos cuidados da Directora, uma senhora especializada. O PARQUE, que rene muitos atractivos para as crianas dotado de uma piscina, cujas guas so purificadas por maquinismos especiais.

SERVIOS

DE

SADE

Junto da M A N S O funciona um nados, scios e suas famlias.

Posto Mdico, para consulta e t r a t a m e n t o dos inter-

O mdico assistido por duas enfermeiras. A l m dos Postos de Socorros e Consultas, t e m sob a sua direco uma Enfermaria j em actividade e outra que aguarda, apenas, a chegada do material requisitado Metrpole.

Uma perspectiva da bela piscina

A M A N S O subsidiada pelo Estado cujo interesse por esta Associao deveras notvel , pela Cmara M u n i c i p a l , pela Assistncia Pblica e pela prpria Associao. No sector da Asistncia Social aos Velhos Colonos tm as Direces dispensado grande interesse e carinho, considerando-se modelar a sua instituio a M A N S O . O colono que, f i n d a uma vida de trabalho por Moambique, se acolhe M A N S O , sabe que vai viver na sua CASA, onde a palavra esmola no conhecida, e s o termo solidariedade tem significado. Portugueses nascidos em Moambique ou em Portugal continental, gregos, franceses, italianos, srios e indianos, todos tm encontrado na M A N S O q u e consideram o seu l t i m o lar a paz e sossego merecidos. A l m dos internados, a M A N S O senta sua mesa, t a m b m , muitos colonos, que mais no pedem que comida e assistncia mdica. Merece, ainda, evidenciar a M A N S O , onde vivem os velhos colonos, que se acolheram sombra da sua prestimosa Associao, ali terminando a l t i m a etapa da sua existncia, rodeados de carinho e conforto. A visita que fizemos M A N S O deixou-nos francamente bem impressionados com o ambiente acolhedor que ali se respira, do seu conforto, tranquilidade e carinho, que a todos prodigalizado! Assim o deve ter sentido o Senhor Governador-Geral, Dr. Baltazar Rebello de Souza, quando ali esteve, no momento em que se comemoravam os cinquenta anos da Associao dos Velhos Colonos, que tantos e to valiosos servios tem prestado, durante estes largos anos da sua existncia! Tal obra bem merece ser acarinhada e ajudada por todos quantos o possam fazer!

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GRUPO DESPORTIVO 1. DE MAIOO MAIS ANTIGO DE DOS CLUBES DESPORTIVOS

LOURENO

MARQUES

O Grupo Desportivo 1. de M a i o , fundado a 1 de M a i o de 1917, foi o primeiro Clube desportivo a existir em Loureno Marques. Este Clube nasceu da tenacidade e boa vontade de alguns adeptos do Desporto, que formaram o grupo fundador: A R T U R J O A Q U I M M A I A , M A N U E L V I T O R I N O , JOS R. FERREIRA, LUS GOMES J A R D I M , A R T U R DA CRUZ e M A N U E L DA SILVA QUITRIO, que foi o 1. Presidente da Direco.

A MAQUETE DA NOVA SEDE

Lutando com inmeras dificuldades, o Clube foi singrando, merc do esforo dos seus dirigentes e scios. A sua primeira sede era no A l t o M a , numa casa de um s piso. Como se tornava necessrio, e quase premente, ter um edifcio conveniente, envidaram-se esforos nesse sentido, e assim, em 1956, o Clube inicia a construo da nova Sede, em moldes adequados de modo a servir eficientemente os seus desportistas e scios. Para a realizao de to grande como dispendiosa aspirao, muitos esforos se despenderam, e algumas boas vontades se conjugaram. A q u i salientamos a aco do seu Presidente da Direco, Tenente M r i o de A l m e i d a Machado, a quem o Grupo Desportivo 1. de M a i o devedor de toda a gratido e reconhecimento pela execuo da obra que extraordinariamente valoriza o patrimnio do Grupo e constitui o smbolo indestrutvel de unio de toda a Famlia a l v i - r u b r a .

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Em 1 9 6 1 , segundo estatsticas do seu Boletim, o Grupo Desportivo 1. de M a i o tinha conquistado 180 Taas, 26 Galhardetes e 9 Salvas de prata, distribudas pelas vrias modalidades: Futebol, Ciclismo, Hquei em Patins, Basquetebol, Voleibol, T i r o aos Pratos, Tiro ao Alvo, Tnis de Mesa, Esgrima, Motociclismo, Fox-Ball, Andebol de 7, e diversos, 6. No Clube, aquando da sua fundao, praticavam-se as seguintes modalidades: Futebol, Ciclismo, Basquetebol, Hquei e Ginstica. Mais tarde, o Clube teve uma seco de A u t o mobilismo, de que eram praticantes entusiastas, dois scios-fundadores: Manuel Alves Cardiga e Bartolomeu Baptista Picolo. Na vanguarda das realizaes culturais, o Grupo Desportivo 1. de M a i o , criou um Cine-Clube, o que revela que a sua Direco interpreta o Cinema como um valor educativo e como Arte. Segundo a opinio de Faria de A l m e i d a , o Cinema a arte que mais facilmente pode elevar a cultura de um agregado populacional, por ser t a m b m , o meio mais acessvel de fazer compreender todas as artes, interessando nelas a quem ele assista. Para terminar esta biografia feita a traos largos do Grupo Desportivo 1. de M a i o , vamos transcrever algumas palavras que lhe dedicou o jornalista A r m a n d o Valrio, quando o Clube comemorou os seus 44 anos de existncia, com as quais julgamos finalizar da melhor forma. Sou dos que desde h t r i n t a anos tem acompanhado a par e passo a activdade desse prestigioso clube que o Grupo Desportivo 1. de M a i o , o mais antigo dos clubes eclticos de Loureno Marques, pois completa agora 44 anos de labuta em prol do progresso desportivo da capital moambicana, tem ocupado sempre uma uma posio de relevo, mesmo em pocas d i f ceis por que passou, a que sobreviveu merc da extraordinria dedicao de um grupo de scios para quem o clube era tudo no vida. E realmente, s merc de m u i t a carolice, de m u i t o trabalho e de elevado grau de dedicao ao servio de uma causa, foi possvel lograr resistir a mil e uma contrariedades e terminar por vencer, de forma verdadeiramente espectacular como o caso do 1. de M a i o , cuja situao hoje um exemplo para todos os clubes desta cidade!

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CLUBE FERROVIRIO DE MOAMBIQUE

Como e quais as razes que levaram fundao do Clube Ferrovirio de Moambique. Junto do M a t a d o u r o (velho) havia uma cantina onde se jogava o chinquilho, e ali se reunia, nas horas vagas, o pessoa! de Traco que cultivava aquela modalidade de jogo. Perto havia o campo de futebol do Sporting Clube de Loureno Marques (mais tarde campo de treinos do 1. de Maio) onde se disputavam os campeonatos da Associao local. Um dia do ms de Setembro de 1924, porta dessa mesma cantina, abria-se uma quota entre indivduos para a compra de uma bola e respectiva bomba. Neste momento no posso deixar de mencionar os nomes desses indivduos que foram os primeiros a dar o impulso para a fundao do Clube Desportivo Ferrovirio (como se escrevia ento). So eles: A n t nio Joaquim Loureno, A n t n i o Ferreira M o u c o , Carlos Alves M i l i t a r , Hernni Loureno, Jos da Silva Teixeira, Joaquim do Nascimento Galha e Nicolau Dias Cardoso. Da compra da bola nasceu a ideia de se fundar o Clube . . . Eis o teor da 1 . a A c t a : Aos 13 dias de Outubro de 1924, pelas 20 horas, reuniu-se na casa n. 13 de V i l a Mousinho, um grupo de ferrovirios que deliberou fundar em Loureno Marques uma associao desportiva, denominada Clube Desportivo Ferrovirio, destinada a exercer o desporto e beneficncia; mais deliberou nomear uma comisso composta de sete indivduos, todos ferrovirios para elaborar os estatutos e regulamentos pelos quais se deve reger a mesma. A Comisso, segundo a vontade dos indivduos que reuniram, composta pelos seguintes ferrovirios: Jacinto Francisco V i l a M a i o r , A n t n i o Ferreira M o u c o , A r m a n d o Francisco V i l a M a i o r , Jos M a r i a de Freitas Jnior, Nicolau Dias Cardoso, Jos da Silva Teixeira e Luiz Couto do Amaral.

Edifcio Sede do Clube Ferrovirio, em Loureno Marques

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Comeou-se a trabalhar e os primeiros xitos no campo desportivo surgiram com o Futebol. Porm, em fins de 1925, por um sucesso anormal que abala profundamente a classe ferroviria e se reflecte directamente na vida do Clube, este, desde essa d a t a , at, 1929, s existe a bem dizer . . . no nome. No faz provas nem entra em competies, porque no possui nem elementos, nem recursos para isso. E se no deixa de existir (o Clube de todo, como vrias outras colectividades que por c tem havido, deve-se isso unicamente, m u i t o unicamente, tenacidade forte desse grupo de carolas que nunca perdeu a f de ver o seu Ferrovirio chegar a ser ainda alguma coisa em Loureno Marques. E assim, a vontade dos homens de ento venceu a dura batalha, como hoje podemos verificar, pelo momento que se vive. Passado aquele perodo, a colectividade entrou na senda do progresso e a sua aco veio a ser reconhecida e veio a fazer interessar a Administrao Ferroviria na educao fsica dos seus funcionrios, delegando no Clube essa misso. Isto aconteceu no ano de 1 9 3 1 . A partir de ento o clube foi crescendo para melhor servir o desporto de Moambique. 0 PRIMEIRO CAMPO

A Cmara M u n i c i p a l concedeu o terreno necessrio para nele o Clube construir o seu campo de jogos que veio a ser iluminado por quotizao dos scios (tal como foi o Estdio Salazar). Em 1944 o campo recebe o nome Eng. Freitas e Costa, numa homenagem quele que foi dos mais dedicados dirigentes do Clube Ferrovirio, e ento j falecido. Durante muitos anos as Sedes do Clube foram demasiado modestas, at que, em Dezembro de 1944 inaugurada a sua actual e magnfica Sede, situada na Avenida da Repblica e Luciano Cordeiro. DELEGAES DO CLUBE FERROVIRIO

O Clube tem espalhadas pela Provncia vrias delegaes que so um prolongamento da sede, constituindo, todas elas, elementos vlidos no desporto da Provncia, com aco preponderante na rea que servem. Pela ordem alfabtica so as seguintes delegaes, num total de 21 : BEIRA, CALDAS X A V I E R , G N D O L A , I A P A L A , I N H A M B A N E , JOO BELO, L U M B O , MACHIPANDA, MAGUDE, MALVRNIA, MALEMA, M A N G A , MOATIZE, MOAMBA, MUTARARA, N A C A L A , N A M P U L A , Q U E L I M A N E , TETE, VILA MACHADO e VILA PINTO TEIXEIRA. Todas as Delegaes possuem instalaes prprias, Sede e Parques Desportivos. Destacamos: As instalaes da Beira, que incluem um Pavilho de Desportos. Em N a m p u l a , o conjunto de instalaes, que comporta um Pavilho de Desportos e uma Piscina. A Delegao de Gndola t e m , t a m b m , uma Piscina. Pode-se dizer que o maior Parque Desportivo da Provncia o do Clube Ferrovirio de Moambique, em Loureno Marques. ACTIVIDADE DESPORTIVA DO CLUBE

O Clube m a n t m em actividade diversas seces com equipas nas diversas provas dos calendrios oficiais, participando ainda em outras competies a nvel inter-clube ou inter-scios, envolvendo tudo centenas de atletas dos dois sexos. So as seguintes as modalidades a que o Clube se dedica: ATLETISMO Com atletas dos dois sexos e de todas as categorias previstas nos regulamentos. juvenis, juniores e seniores. BASQUETEBOL O mesmo que para o atletismo e, t a m b m , equipas femininas. CICLISMO Categorias regulamentares. 49 Iniciado