149
Página 1 de 149 LIVRO DE RESUMOS 9 e 10 de outubro de 2018 Academia Militar – Campus Amadora

LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 1 de 149

LIVRO DE RESUMOS 9 e 10 de outubro de 2018

Academia Militar – Campus Amadora

Page 2: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 2 de 149

INDICE COMUNICAÇÕES ORAIS INVESTIGAÇÃO__________________________________________8 CO79 - INTERNAMENTOS EVITÁVEIS POR PREVENÇÃO PRIMÁRIA E POR CAUSAS SENSÍVEIS A CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS: USF TEJO – UM ANO EM ANÁLISE

CO175 - ESTUDO SOBRE CONHECIMENTOS, MITOS E CRENÇAS DO USO DA PÍLULA CONTRACETIVA DE UMA POPULAÇÃO URBANA

CO187 - PREVALÊNCIA DE NEOPLASIAS MALIGNAS NA POPULAÇÃO ADULTA INSCRITA NA USF VILLA LONGA

RELATO DE CASO_______________________________________11 CO4 - ALTERAÇÃO DE COMPORTAMENTO - A IMPORTÂNCIA DE UM SEXTO SENTIDO NA CONSULTA

CO20 - UM CASO DE PAPEIRA

CO43 - QUANDO QUEM MAIS OLHA, MAIS (MENOS) VÊ – UM CASO DE DIPLOPLIA

CO48 - UM DIAGNÓSTICO CAMUFLADO

CO68 - UMA DOENÇA DIFÍCIL NUMA UTENTE DIFÍCIL

CO69 - QUANDO O FRIO É O PROBLEMA

CO80 - CUIDAR QUANDO É O TEMPO DE SER CUIDADO

CO101 - A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO LONGITUDINAL DO MÉDICO DE FAMÍLIA NO DIAGNÓSTICO DE UMA NEOPLASIA

CO103 - INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRACÇÃO DE EJECÇÃO PRESERVADA: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

CO104 - RELATO DE CASO: "MÉDICO DE FAMÍLIA - A PEÇA QUE FALTAVA AO PUZZLE"

CO117 - UMA FAMÍLIA TRADICIONAL, MAS DISFUNCIONAL

CO123 - SÍNDROME FEBRIL INDETERMINADO - A IMPORTÂNCIA DE UM SEGUIMENTO CONSISTENTE NO DIAGNÓSTICO PRECOCE

CO129 - LOMBALGIA PERSISTENTE: UM CASO CLÍNICO EM MEDICINA GERAL E FAMILIAR

CO150 - QUANDO A FAMÍLIA ADOECE

CO152 - UMA GRAVIDEZ EM SOBRESSALTO

CO181 - "SENHOR DOUTOR, TIRE-ME ESTA DOR!"

CO205 - “DOUTORA, O MEU MARIDO TEVE VERRUGAS: E AGORA?”

CO218 - “DR.ª, OS SAPATOS JÁ NÃO ME SERVEM” – UM CASO CLÍNICO SOBRE ACROMEGALIA

CO228 - UTENTE ESPORÁDICO - SERÁ QUE FAZEMOS A DIFERENÇA?

Page 3: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 3 de 149

REVISÃO DE TEMA______________________________________30 CO29 - MÉTODO BABY LED WEANING: MEDOS, RISCOS E BENEFÍCIOS- UMA REVISÃO

CO63 - QUANDO O OLHAR CLÍNICO NÃO É TUDO

CO75 - SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D EM ADULTOS SAUDÁVEIS E SEU IMPACTO NO CANCRO COLO-RECTAL, UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

CO82 - EFICÁCIA E EFICIÊNCIA DA TELEDERMATOLOGIA NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS: QUAL A EVIDÊNCIA?

CO125 - QUAL A MELHOR ESTRATÉGIA PARA ALIVIAR AS CÓLICAS DO LACTENTE?

CO127 - EXISTEM MALEFÍCIOS EM SUPLEMENTAR A GRAVIDEZ DE BAIXO RISCO COM DOSES DIÁRIAS DE ÁCIDO FÓLICO SUPERIORES A 400 ΜG? - UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

CO161 - EFICÁCIA DOS ANTIDEPRESSIVOS (SSRIS E SNRIS) NO TRATAMENTO DOS SINTOMAS VASOMOTORES DA MENOPAUSA: UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

CO186 - O PAPEL DA BETAHISTINA NO TRATAMENTO DA VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA (VPPB): UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

CO222 - ABORDAGEM TERAPÊUTICA DOS DISTÚRBIOS DO SONO NA ADOLESCÊNCIA – UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

PROTOCOLOS__________________________________________39 CO97 - DETEÇÃO PRECOCE E INTERVENÇÃO NO CONSUMO DE ÁLCOOL NA USF SÃO JOÃO DA TALHA – PROTOCOLO DE MELHORIA CONTÍNUA DA QUALIDADE

CO98 - PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO E MELHORIA DA QUALIDADE DO REGISTO DE ALERGIAS E REAÇÕES ADVERSAS

CO111 - HÁ OPIOFOBIA NO ACES?

CO197 - MELHORIA CONTÍNUA DA QUALIDADE NO CONTROLO DA DISLIPIDÉMIA NOS DOENTES DA UNIDADE DE SAÚDE FAMILIAR GLOBAL

RELATO DE PRÁTICA____________________________________43 CO6 - ESTÁGIO DE VOLUNTARIADO NO PANAMÁ

CO17 - TRANSMISSÃO DE MÁS NOTÍCIAS - RELATO DE PRÁTICA DE UM WORKSHOP PARA MÉDICOS DE FAMÍLIA

CO24 - GIMGAS: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO POR PARES

CO26 - RELATO DE PRÁTICA - CONSULTA DE DOENTES COMPLEXOS SEM MÉDICO DE FAMÍLIA

CO30 - PARA ALÉM DO SNS – RELATO DE UM HIPPOKRATES EXCHANGE NO REINO UNIDO

CO88 - VENHA CAMINHAR PELA SUA SAÚDE – UMA SESSÃO DE WALK WITH A DOC

CO99 - LITERACIA EM SAÚDE E EXERCÍCIO FÍSICO NA COMUNIDADE

CO168 - ESTÁGIO DE GERIATRIA EM BOGOTÁ, COLÔMBIA

CO211 - IMPLEMENTAÇÃO DO M-CHAT NAS CONSULTAS DE VIGILÂNCIA DE SAÚDE INFANTIL - UM RELATO DE PRÁTICA

Page 4: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 4 de 149

POSTERS INVESTIGAÇÃO_________________________________________52 PO34 - INSÓNIA NO IDOSO

PO78 - RASTREIO DA RETINOPATIA DIABÉTICA - UMA LISTA DE UTENTES EM ANÁLISE

PO128 - REMOÇÃO ANTECIPADA DO IMPLANTE SUBCUTÂNEO DE ETONOGESTREL NUMA UNIDADE DE CUIDADOS DE SAÚDE PERSONALIZADOS (UCSP)

PO167 - VACINAÇÃO CONTRA A RUBÉOLA NO PUERPÉRIO DE MULHERES NÃO IMUNES NA USF CARNIDE QUER

RELATO DE CASO_______________________________________56 PO2 - UM DIAGNÓSTICO DE SÍFILIS SECUNDÁRIA - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

PO15 - MERALGIA PARESTÉSICA- UM DIAGNÓSTICO POUCO CONHECIDO

PO18 - POLIMEDICAÇÃO NO IDOSO – REVISÃO DE UM ESQUEMA TERAPÊUTICO

PO19 - UM CASO ATIPICO DE CEFALEIA

PO21 - DIABETES INAUGURAL OU HIPERGLICEMIA DE STRESS?

PO31 - PÚRPURA DE HENOCH-SCHONLEIN NO ADULTO

PO36 - UM DOENTE DIFÍCIL

PO39 - PSORÍASE INVERSA - UM DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DESAFIANTE

PO41 - GRAVIDEZ NUM CASO DE ESCLEROSE MÚLTIPLA

PO42 - PARO(U)XETINA

PO47 - ESPASMOS DO CHORO - PATOLOGIA OU MANIPULAÇÃO?

PO50 - ABUSO SEXUAL: UM PUZZLE DIFÍCIL DE MONTAR

PO52 - AFINAL NÃO ERA “HÉRNIA”. A IMPORTÂNCIA DAS RED FLAGS.

PO54 - NEOPLASIA GÁSTRICA E OS EFEITOS DO ESTILO DE VIDA: UM RELATO DE CASO

PO58 - UM SIMPLES PEDIDO DE RENOVAÇÃO DE RECEITUÁRIO: UM CASO CLÍNICO

PO59 - PSICOSE INAUGURAL NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS - UM EXEMPLO DE CUIDADOS INTEGRADOS APLICADO A UM CASO PRÁTICO

PO74 - POR ONDE ANDA O TREPONEMA

PO90 - ALANINA AMINOTRANSFERASE - UM NOVO BIOMARCADOR DE FRAGILIDADE E MORTALIDADE DOS MUITO IDOSOS

PO93 - UM OLHAR LONGITUDINAL SOBRE A DOENÇA NEUROLÓGICA PROGRESSIVA

PO105 - RELATO DE CASO: DERMATOSE PURPÚRICA PIGMENTADA

PO113 - O IMPORTANTE PAPEL DO MÉDICO DE FAMÍLIA NA SÍNDROME DOLOROSA VESICAL

Page 5: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 5 de 149

PO116 - A AVALIAÇÃO FAMILIAR EM UTENTES JOVENS – UM CASO DE GAMAPATIA MONOCLONAL DE SIGNIFICADO INDETERMINADO

PO118 - UM CARCINOMA ASSOMBROSAMENTE PROGRESSIVO

PO141 - QUISTO DE NUCK - QUANDO A CLÍNICA NÃO É SUFICIENTE

PO142 - A ERISIPELA INCURÁVEL

PO146 - UM CASO DE TAKOTSUBO - O PAPEL DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

PO148 - ELEVAÇÃO DE GGT – HÁBITOS ETANÓLICOS COMO FATOR DE CONFUNDIMENTO NO DIAGNÓSTICO DE UM COLANGIOCARCINOMA

PO166 - UM CASO CLÍNICO DE DEFEITOS DO TUBO NEURAL NA AUSÊNCIA DE SUPLEMENTAÇÃO COM ÁCIDO FÓLICO NA GRAVIDEZ

PO170 - SÍNDROME DA VEIA OVÁRICA - UMA ENTIDADE POUCO CONHECIDA?

PO176 - REAÇÃO ALÉRGICA EM PROCISSÃO - UM RELATO DE CASO

PO177 - DOENÇA MÃO-PÉ-BOCA NUM ADULTO IMUNOCOMPETENTE

PO182 - NEOPLASIAS MIELOPROLIFERATIVAS: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

PO184 - CANDIDÍASE PERINEAL – UM CASO DE UMA APRESENTAÇÃO CLÍNICA SILENCIOSA DE DIABETES MELLITUS TIPO 1

PO188 - UMA DIABETES INAUGURAL ASSINTOMÁTICA

PO189 - ANEMIA MEGALOBLÁSTICA

PO190 - QUANDO UMA ÚLCERA VENOSA NUNCA MAIS ENCERRA... - A PROPÓSITO DE UM CASO CLINICO

PO192 - UMA CAUSA MENOS COMUM DE ASCITE - UM CASO DE PSEUDOMIXOMA PERITONEAL

PO193 - DEPRESSÃO PÓS-PARTO? - UM CASO DE PERTURBAÇÃO BIPOLAR

PO198 - NEM TUDO O QUE RODA SÃO VERTIGENS…

PO199 - QUANDO A CRIANÇA APRESENTA VÓMITOS RECORRENTES

PO204 - NEM SEMPRE É AVC! – DIFICULDADES NA ABORDAGEM DO DOENTE NEUROLÓGICO AGUDO EM CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

PO207 - DISAUTONOMIA NA DOENÇA DE PARKINSON: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

PO208 - UMA FAMÍLIA EDEMACIADA

PO209 - PÚRPURA DE HENOCH-SCHONLEIN – UMA DOENÇA DISSIMULADA

PO213 - QUERIDA, ARRUMEI A CASA

PO215 - NÃO-COMPACTAÇÃO ISOLADA DO VENTRÍCULO ESQUERDO: UMA CAUSA RARA DE PALPITAÇÕES

PO220 - A ADOLESCÊNCIA ANSIOSA – A PROPÓSITO DE UM CASO CLINICO

PO221 - UM SINAL FREQUENTE, UMA CAUSA RARA – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

PO224 - MAIS DO QUE UMA DOR DE CABEÇA: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

PO227 - QUANDO A MÁ PROGRESSÃO ESTATURO-PONDERAL CULMINA NO DIAGNÓSTICO DE SÍNDROME CORNÉLIA DE LANGE: QUAL O PAPEL DO MGF?

Page 6: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 6 de 149

REVISÃO DE TEMA_____________________________________106 PO13 - HEMORRAGIA UTERINA ANÓMALA NA ADOLESCÊNCIA - ABORDAGEM NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

PO33 - VACINA VIVA-ATENUADA CONTRA A ZONA (HERPES ZOSTER): UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA.

PO65 - AUTOEXAME TESTICULAR – IMPORTÂNCIA NA DETEÇÃO DA NEOPLASIA MALIGNA DO TESTÍCULO

PO66 - ANTICORPOS ANTIFOSFOLIPÍDICOS: QUANDO PESQUISAR, QUANDO VALORIZAR?

PO71 - SUPLEMENTAÇÃO COM ARANDOS VERMELHOS NAS INFEÇÕES DO TRATO URINÁRIO INFERIOR

PO76 - PRESCRIÇÃO DE ATIVIDADE FÍSICA NA GRAVIDEZ

PO120 - DERMATITE ATÓPICA E A DOR CRÓNICA

PO124 - ABORDAGEM DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA NAS MULHERES EM CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

PO136 - "ACTYNOMICES SPP NA CITOLOGIA CERVICO-VAGINAL… E AGORA?"

PO140 - BETAHISTINA: MITO OU SOLUÇÃO?

PO145 - TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA OSTEOPOROSE NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS – PROTOCOLO DE ATUAÇÃO.

PO151 - SAOS EM IDADE PEDIÁTRICA

PO154 - NÓDULO SOLITÁRIO DO PULMÃO: PROPOSTA DE ABORDAGEM PELOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

PO155 - CMV NA GRAVIDEZ

PO157 - USO DE GLUCOSAMINA NA OSTEOARTROSE: QUE EVIDÊNCIA EXISTE?

PO174 - MAIS MEDICINA É NECESSARIAMENTE MELHOR?

PO194 - MEDICINA DO VIAJANTE - O ESSENCIAL PARA O MÉDICO DE FAMÍLIA

PO195 - HEMOGLOBINA LEPORE

PO196 - NOVAS PERSPECTIVAS NO TRATAMENTO DA ENXAQUECA

PO201 - CHLAMYDIA TRACHOMATIS: UMA INFEÇÃO QUE MERECE ATENÇÃO

PO214 - DIVERSIFICAÇÃO ALIMENTAR NA INFÂNCIA – QUANDO, COMO, PORQUÊ?

PO216 - VANTAGEM DA SUPLEMENTAÇÃO DE MAGNÉSIO NA DIABETES TIPO 2 – REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

PO219 - IMPACTO DOS DIURÉTICOS TIAZÍDICOS NO CONTROLO GLICÉMICO – REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

PO223 - SUPLEMENTAÇÃO COM FERRO NA GRAVIDEZ: COMO ATUAR?

PO225 - ABORDAGEM DIAGNÓSTICA E TERAPÊUTICA DA URETRITE MASCULINA NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

PO230 - BENZODIAZEPINAS: QUANDO OS RISCOS ULTRAPASSAM OS BENEFÍCIOS

Page 7: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 7 de 149

AVALIAÇÃO E MELHORIA CONTÍNUA DA QUALIDADE_______132 PO62 - PRESCRIÇÃO INADEQUADA DE QUINOLONAS NA USF TEJO – UM TRABALHO DE MELHORIA DA QUALIDADE

PO232 - AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA SUPLEMENTAÇÃO DE IODO NA GRÁVIDA COM SEGUIMENTO EM USF

PROTOCOLOS_________________________________________134 PO23 - FIBRILHAÇÃO AURICULAR - AVALIAÇÃO DA PRESCRIÇÃO COM OS NOVOS ANTICOAGULANTES ORAIS

PO180 - PRESCRIÇÃO DE OSTEODENSITOMETRIA – PROTOCOLO DE MELHORIA DE QUALIDADE

RELATO DE PRÁTICA___________________________________136 PO61 - UMA CONSULTA DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR – USF CONDE DE OEIRAS

PO72 - AO ENCONTRO DO ADOLESCENTE – RELATO DO PROJETO “CONFIA”

PO85 - UNIVERSIDADE SÉNIOR: APROXIMAR A COMUNIDADE, EDUCANDO PARA A SAÚDE

PO87 - SAÚDE PALMELA – UM PROJETO PARA A COMUNIDADE

PO94 - PASSO A PASSO PARA A SAÚDE

PO112 - ESTÁGIO NA AMAZÓNIA - O PAPEL DA MEDICINA TROPICAL NO INTERNATO DE MGF

PO121 - MAPA NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

PO126 - SAÚDE PRIMEIRO NA RÁDIO CRUZEIRO

PO133 - DIA MUNDIAL SEM TABACO NO CENTRO DE SAÚDE DE OEIRAS

PO163 - VAMOS FALAR DE HIPERTENSÃO: UM RELATO DE PRÁTICA CLÍNICA

PO164 - EXERCICIO FÍSICO E ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL - UMA SESSÃO INSERIDA NUM PROJETO DE INTERVENÇÃO NA COMUNIDADE

PO171 - RASTREIO TELEDERMATOLÓGICO – RELATO DE PRÁTICA

PO179 - CAMINHANDO PELA SAÚDE - DIA MUNDIAL DO MÉDICO DE FAMÍLIA DE 2018 NA USF RAMADA

PO203 - INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA POR UMA LOURES MAIS SAUDÁVEL: RELATO DE ATIVIDADES

Page 8: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 8 de 149

COMUNICAÇÕES ORAIS INVESTIGAÇÃO CO79 - INTERNAMENTOS EVITÁVEIS POR PREVENÇÃO PRIMÁRIA E POR CAUSAS SENSÍVEIS A CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS: USF TEJO – UM ANO EM ANÁLISE

Autores: Catarina Morgado1, Alexandra Gonçalves1, Andrea Antunes1, Luisa Costa1 e Miguel Marques Ferreira1

Instituições: 1USF Tejo Palavras Chave: internamentos evitáveis; prevenção; cuidados de saúde primários

Introdução: Os internamentos hospitalares têm associados elevados custos e morbi-mortalidade. Os internamentos evitáveis (IE) têm ganho importância enquanto indicador de desempenho dos sistemas de saúde, incluem um conjunto de patologias para as quais existe conhecimento e tecnologia para a sua prevenção e/ou tratamento sem recurso a internamento.

Objetivos: Quantificar e caraterizar os IE na população da USF Tejo, distinguindo evitáveis por prevenção primaria (PP) e causas sensíveis a cuidados de saúde primários (ICSCSP), em 2017.

Metodologia: Estudo observacional, retrospetivo, descritivo. População: inscritos na USF Tejo com pelo menos um internamento no CHLC em 2017. Critérios de exclusão: episódios de ambulatório; internamentos de 0 dias, eletivos, reinternamentos ou por trabalho de parto; recém-nascidos ou nados mortos; idade ≥75 anos. Obtenção de dados: Comunicações do CHLC à USF Tejo dos doentes entrados e saídos do internamento. Consulta do processo clinico e PDS. Análise estatística em Excel.

Resultados: Registou-se um total de 470 internamentos o que corresponde a uma taxa de 3.5%. 55% dos doentes eram do sexo masculino. A idade média foi de 69.7 anos (DP 19.3). Após aplicação dos critérios de exclusão obtiveram-se 132 internamentos. Nestes, 78.8% provenientes do domicílio, 14.4% referenciados por outro médico, 4.6% da USF Tejo e os restantes do CATUS ou Instituição. Analisando as causas de internamento contabilizaram-se 18 IE - 3.83% do total de internamentos. Destes, 6 evitáveis por PP (1.3%) e 11 ICSCSP (2.3%). Verificou-se apenas 1 internamento por causa evitável e sensível (0.2%). Discussão: Os IE apresentam um volume considerável, no entanto a sua evitabilidade é apenas teórica, não sendo possível a sua eliminação por completo. Os resultados obtidos revelam uma baixa percentagem de IE na USF Tejo (3.83%). Os ICSCSP correspondem a 2.3%, um valor inferior ao apontado por um estudo de 2012 em Portugal (4.4%). Futuros trabalhos devem incluir internamentos noutras unidades hospitalares. Ainda que influenciados por diversos fatores como especificidades da população, geográficas das regiões ou epidemiológicas das patologias, os IE podem traduzir a qualidade dos cuidados de saúde prestados. O Médico de Família, pela sua posição privilegiada de proximidade tem um papel fundamental na prevenção e redução do número destes internamentos.

Page 9: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 9 de 149

CO175 - ESTUDO SOBRE CONHECIMENTOS, MITOS E CRENÇAS DO USO DA PÍLULA CONTRACETIVA DE UMA POPULAÇÃO URBANA

Autores: David Neves1, Inês Pereira2, Isabel Nunes2, Liliana Moita3 e Vanessa Quintal2

Instituições: 1UCSP Charneca, Lisboa; 2UCSP Sete Rios; 3UCSP de Sete Rios Palavras Chave: contracetivos orais, planeamento familiar, conhecimentos

Introdução e objetivos: Para além de assegurar a disponibilidade de meios contracetivos, é essencial que as Unidades de Saúde e os seus profissionais estejam cientes dos conhecimentos, mitos e crenças relativas ao seu uso pelas suas populações. Um bom aconselhamento, baseado nas necessidades da população, melhora a adesão à contraceção, diminui a taxa de descontinuação e falhas do método. Pretendeu-se assim avaliar os conhecimentos, mitos e crenças relativas à utilização da pílula contracetiva, de mulheres em idade fértil e frequentadoras de uma unidade de cuidados de saúde primários.

Metodologia: Foi elaborado, pelos investigadores, um questionário de autopreenchimento com perguntas a aplicar às mulheres participantes. O questionário foi validado com a realização de um pré-teste, em condições idênticas às do estudo. Foram incluídas mulheres que recorreram à consulta de Planeamento Familiar, com idades entre 18 e 45 anos, durante um período de dois meses. As participantes foram questionadas quanto aos efeitos contracetivos, aos efeitos secundários/adicionais, e à utilização da pílula contracetiva. As questões foram respondidas em grelha, com as opções Concordo, Não Concordo ou Não sei. As participantes foram ainda inquiridas quanto à sua idade, escolaridade, situação profissional, nº de filhos, nº de gravidezes indesejadas, nº de interrupções voluntárias da gravidez, relação conjugal, e coitarca.

Resultados: Foram obtidos 74 questionários de mulheres com idade média de 31 anos. 41,9% (n=31) das inquiridas afirmaram possuir um grau académico superior. 62,1% das inquiridas (n=46) referiram estar numa relação. O método contracetivo mais usado foi a pílula, em 54,1% (n=40). Algumas das questões mais controversas foram “Tomar a pílula muito tempo pode trazer dificuldades em engravidar?” (54% concordam/não sabem), “A pílula faz aumentar de peso” (61% concordam/não sabem), e “Deve fazer-se um descanso da toma da pílula periodicamente” (66% concordam/não sabem). Das utilizadoras da pílula, 53% desconhece o aumento do risco trombótico da mesma e 50% concorda que “A toma contínua da pílula, sem menstruar, é prejudicial para a saúde”.

Discussão: Constata-se a persistência de vários mitos sobre a utilização da pílula. Mesmo nesta população, com escolaridade elevada, verifica-se uma elevada percentagem de incertezas quanto às questões relativas ao uso da pílula. Este estudo reforça a necessidade de intervenção na educação para a saúde nas mulheres em idade fértil.

Page 10: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 10 de 149

CO187 - PREVALÊNCIA DE NEOPLASIAS MALIGNAS NA POPULAÇÃO ADULTA INSCRITA NA USF VILLA LONGA

Autores: Diana Campos Lopes1, Joana Ramalho1 e Ana Costa1

Instituições: 1USF Villa Longa Palavras Chave: NEOPLASIAS MALIGNAS; ADULTOS

INTRODUÇÃO: As neoplasias malignas têm uma importância cada vez maior em Portugal visto que as doenças oncológicas constituem a 2ª causa de morte e a que mais aumentou nos últimos anos. O envelhecimento da população e as modificações de estilos de vida têm contribuído para este aumento. O registo de neoplasias malignas de base populacional é um instrumento essencial de qualquer programa de controlo de cancro a nível nacional sendo importante a sua codificação nos cuidados de saúde primários e hospitalares.

OBJECTIVOS: Identificar a prevalência dos vários tipos de neoplasias malignas na população adulta da USF, em Março/2018, de acordo com a classificação ICPC-2, e sua distribuição por género. Identificar a distribuição dos diferentes tipos de neoplasias por faixas etárias. Caracterização dos hábitos tabágicos e alcoólicos de acordo com o tipo de neoplasia.

MÉTODOS: Utilização do módulo estatístico do medicineone. Critérios de inclusão: todos os utentes inscritos na USF Villa Longa, com idade igual ou superior a 18 anos, e com uma ou mais das seguintes neoplasias malignas codificadas na lista de problemas de acordo com a classificação ICPC-2: A79, B72-B74, D74-D77, F74, H75, K72, L71, N74, R84-R85, S77, T71 e T73, U75-U77 e U79, W72, X75-X77 e Y77-Y78.

RESULTADOS: De um total de 17914 adultos inscritos na USF Villa Longa, 759 adultos, ou seja, 4,24% da população adulta da USF Villa Longa tem diagnóstico de uma ou mais neoplasias malignas. Destes 764 adultos, 457 (56%) são do género feminino e 334 (44 %) são do género masculino. Dentro dos vários tipos de neoplasias malignas, as mais prevalentes na USF Villa Longa foram as neoplasias malignas da mama feminina, em 2º lugar as neoplasias colo-rectais e em 3º lugar as neoplasias prostáticas.

CONCLUSÃO: A prevalência de neoplasias malignas na população adulta da USF Villa Longa foi de 4,24%. De destacar que dois dos três cancros mais prevalentes neste estudo têm um programa de rastreio oncológico de base populacional, como é caso do programa de rastreio do cancro da mama e o rastreio do cancro colorectal, reforçando a importância destes mesmos programas de rastreio na população portuguesa e a aplicação dos mesmo na nossa USF poderá explicar a elevada prevalência dos mesmos na nossa população. De salientar algumas limitações ao estudo, nomeadamente a depêndencia deste da codificação do ICPC-2 registada na consulta por diferentes médicos, pelo que a prevalência destes problemas poderá estar subcodificada.

Page 11: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 11 de 149

RELATO DE CASO CO4 - ALTERAÇÃO DE COMPORTAMENTO - A IMPORTÂNCIA DE UM SEXTO SENTIDO NA CONSULTA

Autores: Ines Frohn1 e José Lima2

Instituições: 1USF Eça; 2USF Eça Palavras Chave: alteração de comportamento, demência congófila, depositos de amiloide, neoplasia A alteração de comportamento é um sintoma incomum em MGF que por vezes pode ser o evento inicial de uma patologia secundária. É de extrema importância a exclusão de uma causa orgânica pelo que se deve proceder ao estudo das possíveis etiologias. O médico de família é assim fundamental na valorização desta sintomatologia, que por vezes é subtil, e que é mais percetível no contexto de um seguimento regular e contínuo. Mulher, 66 anos, caucasiana, reformada com HTA medicada, recorre à consulta da sua Médica por uma sensação de tristeza e ansiedade que não consegue definir, de agravamento progressivo, sem relação com evento pessoal recente. Da avaliação médica, foi possível verificar um descuido nos autocuidados, irritabilidade e uma interação com a médica diferente do habitual.

Após consultar a filha confirma-se que a doente mantinha comportamentos estranhos desde há varias semanas. Por suspeita de síndrome depressiva iniciou-se um SSRI e pediu-se avaliação analítica para exclusão de causa orgânica. Foi então reavaliada, sem melhoria sintomática significativa, não apresentando alterações analíticas, pelo que foi pedida uma TC-CE. O estudo imagiológico revelou “lesões ocupando espaço, tipo quístico, halo de edema sem efeito de massa; alterações sugestivas de depósitos secundários de provável etiologia neoplásica”. Foi então encaminhada ao SU de medicina do CHBM onde realizou TC toraco-abdomino-pélvico que veio a demonstrar “lesão hepática hipocaptante”, tendo sido encaminhada para consulta de Oncologia. Realizou PET e RMN-craniana com “múltiplas lesões punctiformes”. Os restantes exames realizados não apresentaram alterações. Após avaliação multidisciplinar que não confirmou lesão primária de origem neoplásica, colocou-se a hipótese de Neurocisticercose. Foi encaminhada à consulta de Infecciologia do HSM, para efetuar tratamento, no entanto sem melhoria sintomática ou imagiológica. Decidiu-se realizar uma biopsia estereotáctica cerebral que após avaliação anátomo-patológica, sendo o diagnóstico final Demência Congófila por depósitos de Amilóide.

É de destacar a importância do seguimento contínuo do médico de família, que terá uma perceção mais capaz na objetificação de alterações de comportamento nos seus doentes, por mais subtis que sejam. O facto de observarmos os doentes repetidamente e ao longo do tempo, permite um maior conhecimento do seu estado basal e desta forma iniciar o processo de investigação etiológica o mais precocemente possível.

Page 12: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 12 de 149

CO20 - UM CASO DE PAPEIRA

Autores: Joana Costa1

Instituições: 1USF Venda Nova Palavras Chave: papeira, arritmia, cardiomiopatia hipertrófica Enquadramento: Uma consulta banal, cuja menção de um sintoma frequente despoletou uma investigação que permitiu o diagnóstico de uma doença rara e fatal. Este caso permite refletir sobre algumas das competências do médico de família, nomeadamente a gestão de cuidados numa doente com múltiplas comorbilidades e o seu enquadramento familiar. Descrição de caso

Sra. de 58 anos de idade, caucasiana, casada com dois filhos. AP: uveítes de repetição, hipotiroidismo, fibromialgia, HTA, obesidade, DM2, Sind. Sjogren, DPOC, vertigem. Seguida em várias consultas de especialidade. Polimedicada. Recorreu a uma consulta aberta representada pelo marido, pedindo baixa por papeira diagnosticada na consulta de ORL. Foi excluída papeira epidémica. Numa consulta posterior, a doente referiu, como habitualmente, queixas de cansaço, apresentando frequência cardíaca elevada e irregular. Foi iniciada marcha diagnóstica progressiva, destacando-se: FA com RVR e imagem anecogénica do VE; cintigrafia de perfusão do miocárdio negativa para isquémia. Iniciou amiodarona e NOAC, estando a aguardar ablação por falência da cardioversão elétrica prévia. Posteriormente realizou RM cardíaca que revelou cardiomiopatia hipertrófica.

Concomitantemente, o filho, no âmbito da consulta de obstetrícia da esposa, foi investigado por antecedentes familiares maternos de morte súbita (avó), tendo sido detetada uma anomalia no cromossoma 14, o que desencadeou uma avaliação a todos os membros da família. Esta anomalia foi também confirmada na mãe, podendo estar relacionada com várias patologias da utente, nomeadamente a cardiomiopatia hipertrófica.

Discussão: Este caso é interessante porque através de um motivo de consulta banal, chegou-se a um diagnóstico de uma patologia grave e hereditária, que pode estar na base das várias patologias da utente, salientando uma característica importante da MGF que é a possibilidade de ver o doente como um todo. Por outro lado, o partir do pressuposto que os problemas conhecidos justificam queixas crónicas, põem em risco a valorização de sintomas repetidos que podem ser atribuídos a outras causas ainda não identificadas. É preciso ver o «doente de fora» e pensar em diagnósticos alternativos. Este caso é também um bom exemplo para demonstrar outras competências do médico de família tais como a de gerir os recursos disponíveis, pedindo os exames em tempo útil e referenciar atempadamente. Levanta também questões importantes de ética médica e de aconselhamento genético.

Page 13: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 13 de 149

CO43 - QUANDO QUEM MAIS OLHA, MAIS (MENOS) VÊ – UM CASO DE DIPLOPLIA

Autores: Sofia Ribeiro1 e Gustavo Coelho2

Instituições: 1USF FF mais; 2USF Cova da Piedade Palavras Chave: Miastenia Gravis, ptose, diplopia

Enquadramento O Médico de família lida frequentemente com várias patologias em fase inicial, colocando-o numa posição privilegiada para delinear o melhor plano de cuidados para diversos quadros clínicos. O processo de decisão clínica é desafiante: colocar hipóteses diagnósticas, solicitar os MCDTs adequados ou referenciar à urgência hospitalar são vários dos passos até ao diagnóstico final. Descrição Mulher de 69 anos, independente nas AVDs, estadio VII do ciclo de Duvall. Tem como problemas: hipotiroidismo, hipertensão arterial e dislipidemia. Em 2011: diagnostico de adenocarcinoma da mama, tendo sido submetida a quadrantectomia + RT e tamoxifeno; atualmente em remissão. Medicada com lisinopril, levotiroxina e sinvastatina. Em janeiro de 2018 dirigiu-se acompanhada do marido à consulta aberta por quadro de aparecimento súbito de diplopia e visão turva. No exame neurológico apresentava apenas diplopia horizontal binocular. Foi solicitada TC-CE para exclusão lesão ocupando espaço. No mês seguinte regressa à consulta aberta; tinha sido observada no SU por oftalmologia e diagnosticada parésia do VI par craniano esquerdo, com indicação para oclusão alternada de ambos os olhos. No entanto, agora referia diplopia, dificuldade em abrir os olhos e necessidade de usar as mãos para manter o pescoço em extensão. Referia ainda agravamento das queixas ao final do dia. Ao exame objetivo apresentava ptose palpebral bilateral, com agravamento ao longo da observação (fatigabilidade); parésia na elevação e abdução de ambos os olhos; dificuldade na elevação dos ombros. Por agravamento do quadro clínico com disseminação da diminuição da força muscular (suspeita de possível acometimento da função respiratória se progressão do quadro clínico) foi pedida avaliação urgente por neurologia. Foi colocada hipótese diagnóstica de Miastenia Gravis e internada na Unidade de cuidados Intermédios para vigilância do padrão respiratório. Após tratamento com piridostigmina verificou-se melhoria, mantendo-se atualmente assintomática. Discussão A Miastenia Gravis é uma doença auto-imune, caracterizada por diminuição da força em vários grupos musculares, iniciando-se muitas vezes com sintomas oculares. O quadro clínico pode comportar vários estadios, desde a ptose palpebral e diplopia até à miastenia generalizada e paragem respiratória. Este caso pretende alertar para a importância da suspeita precoce desta doença com consequências graves se não encaminhada em tempo útil.

Page 14: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 14 de 149

CO48 - UM DIAGNÓSTICO CAMUFLADO

Autores: Raquel Ferreira, Joana Ressurreição1 e Vera Leitão Esteves1

Instituições: 1USF Descobertas Palavras Chave: anemia, carcinomatose peritoneal

Enquadramento: A incidência das neoplasias tem vindo a aumentar. Assim, o médico de família (MF) tem um papel crucial na prevenção, detecção precoce e seguimento dos doentes com cancro.

Descrição de caso: Mulher, 77 anos, com HTA, FA anticoagulada, polipose gástrica e síndrome X que motiva várias idas em consulta de doença aguda por quadros de astenia e de angina atípica. É acompanhada há vários anos pela sua MF. A 31/8/2017 recorreu à consulta após ter realizado uma endoscopia digestiva alta e polipectomias gástricas (PG) por queixas de dispneia de esforço (sem febre, tosse, alterações do trânsito intestinal, sangue nas fezes ou vómitos). O exame objectivo (EO) revelou apenas palidez cutânea e das mucosas e, como estava anticoagulada e tinha sido submetida a PG, requisitou-se um hemograma. O hemograma revelou Hb 10.6g/dL (em Janeiro era de 13g/dL). Foi assumida anemia por perdas e iniciada terapêutica com ferro. Volta a 11/9 por dor epigástrica e hipocôndrio direito que surgiu após início da terapêutica, associada a mal-estar, sem vómitos ou alterações do trânsito intestinal. No EO destacava-se apenas distensão abdominal, pelo que foi pedida uma ecografia abdominal. Voltou 2 dias depois mantendo o quadro; a ecografia revelava ascite peri-hepática, peri-esplénica e inter-ansas, pelo que foi referenciada ao serviço de urgência, tendo ficado internada para estudo etiológico da ascite. Realizou TC toraco-abdomino-pélvica que revelou implantes peritoneais sugestivos de carcinomatose peritoneal, sem lesões nodulares/massas. A paracentese revelou líquido ascítico com nichos de células atípicas sugestivas de metástases com CA 125 aumentado, a favor de foco primário ovárico. A utente não pretendia fazer qualquer tratamento com intuito curativo pelo que se iniciaram cuidados paliativos para controlo sintomático. Após intensa negociação com a sua MF acordaram que iria ouvir opinião de oncologia. Na consulta de oncologia, onde estabeleceu relação de empatia com a colega, aceitou iniciar tratamento com quimioterapia e foi depois submetida a lavagem do peritoneu. Actualmente encontra-se sem tratamento e com uma boa qualidade de vida.

Discussão: Este caso retrata a importância de uma relação médico-doente de confiança e eficaz, que permitiu que a negociação entre ambas as agendas tivesse um desfecho feliz. A causa da anemia mostrou-se mais complexa do que o esperado, pelo que a valorização da sintomatologia integrada com o EO permitiu o diagnóstico célere da situação.

Page 15: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 15 de 149

CO68 - UMA DOENÇA DIFÍCIL NUMA UTENTE DIFÍCIL

Autores: João Rufino, Miguel Bernardo1, Salomé Apitz2, Laura Serranito2 e Marta Veloso2

Instituições: 1USF DELTA; 2USF Delta Enquadramento: Nos últimos 10 anos verificou-se uma diminuição consistente da incidência de tuberculose em Portugal. Apesar de já não ser considerada uma doença endémica, a tuberculose deve permanecer como uma hipótese a ponderar no diagnóstico diferencial. A sua apresentação indolente dá frequentemente origem a queixas inespecíficas, cuja valorização clínica poderá ser desafiante, sobretudo em doentes com múltiplas co-morbilidades e utilizadores frequentes das consultas de MGF.

Descrição de caso: Utente do sexo feminino, 48 anos, com situação económica precária, toxicodependente com consumos intermitentes, múltiplas co-morbilidades com adesão irregular às consultas hospitalares e aos planos terapêuticos instituídos. Utilizadora frequente de consultas de MGF, maioritariamente por queixas inespecíficas com grande impacto emocional.

Recorreu a consulta de doença aguda por dor no pé esquerdo. Referiu também massa cervical dolorosa ao toque com 2 semanas de evolução. Apresentava sensação de febre não quantificada no domicílio. Negava anorexia, sudorese ou emagrecimento.

Ao E.O. apresentava massa cervical esquerda com cerca de 1-2 cm, móvel, ovalóide, com contornos bem definidos, dolorosa ao toque.

Foi solicitada ecografia das partes moles que revelou conglomerados adenopáticos latero-cervicais esquerdos, com textura alterada, medindo os maiores gânglios 10x11 mm.

Para estudo etiológico foi solicitado estudo analítico e TC tórax, faringe e seios peri-nasais, que não revelaram alterações relevantes.

Feita referenciação ao serviço de hematologia, onde realizou biópsia ganglionar compatível com linfadenite granulomatosa necrotizante. Confirmou-se o diagnóstico de tuberculose ganglionar cervical através de exame cultural.

Foi proposta terapêutica quadrupla com duração prevista de 9 meses. A doente tem tido dificuldade em aceitar o diagnóstico, cumprindo de forma irregular a toma da medicação. Mantém-se em vigilância clínica para empowerment terapêutico.

Discussão: Este é um exemplo elucidativo da importância do papel do médico de família no controlo da pluripatologia da doente, na valorização das queixas apresentadas e na gestão das suas expectativas para com a doença e o seu tratamento. Apesar de ter sido feito um diagnóstico atempado, o sucesso terapêutico encontra-se em risco, dado estar altamente dependente da adesão da doente à terapêutica. Será necessário capacitar e motivar a doente para o cumprimento de uma terapêutica prolongada e emocionalmente desafiante.

Page 16: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 16 de 149

CO69 - QUANDO O FRIO É O PROBLEMA

Autores: Margarida Sousa Silva1, Catarina Matos Silva1 e Sílvia Rei1

Instituições: 1USF Cruzeiro - ACES Loures-Odivelas Palavras Chave: frio; urticária; qualidade de vida

ENQUADRAMENTO: O médico de família (MF) tem um papel fundamental no diagnóstico e referenciação precoce dos doentes. Este papel é particularmente importante no caso de patologias com apresentações atípicas e inespecíficas.

DESCRIÇÃO DE CASO: Doente do sexo feminino, 43 anos, administrativa. História conhecida de rinite alérgica e de episódios de sibilância na infância. Em consulta em Outubro de 2014 descreve episódio de aparecimento súbito de exantema maculopapular pruriginoso no tronco, abdómen, membros superiores e inferiores, acompanhado de edema das mãos e sensação de desmaio minutos após banho em água do mar, há cerca de dois anos. Doente referia eritema das mãos nos dias frios e na manipulação de alimentos congelados, bem como da face em contacto com vento frio desde o episódio descrito. Negava sintomatologia com exposição a água morna ou com a realização de exercício físico. Foi encaminhada à consulta de Imunoalergologia com a indicação de evitar o contacto com estímulos frios. Efetuou testes cutâneos apresentando positividade para diversos antigénios e serologicamente, positividade para IgE específica para mistura de alergénios inalantes, eosinofilia e elevação de imunoglobulinas séricas. O teste com cubo de gelo no membro superior evidenciou eritema aos 2 minutos de exposição e aos 15 minutos pápula com cerca de 3,5 cm de diâmetro.

DISCUSSÃO: A urticária adquirida ao frio é um subtipo de urticária física cuja fisiopatologia não está completamente conhecida, contudo pensa-se que seja causada pela libertação de mediadores pró-inflamatórios pelos mastócitos após a exposição a temperaturas frias. Os sintomas geralmente estão limitados às áreas expostas ao frio, ocorrendo poucos minutos após a exposição. Contudo, a possibilidade de ocorrência de anafilaxia, obriga a que seja precocemente reconhecida permitindo o ensino de medidas de evicção, profilaxia e terapêutica. Para a confirmação diagnóstica é importante a realização de um teste de estimulação com frio como o teste do cubo gelo. Tratando-se de uma patologia crónica com grande impacto na qualidade de vida dos doentes, o MF desempenha um papel fundamental no processo de gestão da doença nas suas diversas vertentes.

Page 17: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 17 de 149

CO80 - CUIDAR QUANDO É O TEMPO DE SER CUIDADO

Autores: Patrícia Norte1

Instituições: 1USF Amato Lusitano Palavras Chave: "idoso"; "cuidadores informais"; "dependência"; "família" Cuidar quando é o tempo de ser cuidado –um caso clínico Enquadramento: Com o aumento da esperança média de vida é crescente o número de indivíduos que requerem cuidados permanentes. Neste âmbito, surgem os cuidadores informais que ajudam ou supervisionam os indivíduos que se encontram em situação de dependência. Estes cuidadores enfrentam uma sobrecarga física, psicossocial e financeira de difícil gestão e elevada complexidade, agravada se o cuidador for idoso. Descrição de Caso: Sra. Dona V de 82 anos, sexo feminino, reformada por invalidez aos 48 anos (doença osteoarticular degenerativa), viúva, residindo atualmente com a filha. Esta última sofreu AVC aos 45 anos com consequente hemiparesia flácida sequelar, e posterior queda com fratura do colo do fémur; ficou permanentemente dependente nas suas AVD’s, necessitando de cadeira de rodas para se deslocar com ajuda (Índice Barthel grave). À data do início do seguimento, a filha da Sra. Dona V vivia com a neta, que também colaborava no apoio à mãe dependente. A Sra. Dona V assumia o papel de principal cuidadora, apresentando queixas osteoarticulares recorrentes, cansaço e burnout associado aos cuidados prestados à filha. Em 2012 surgem conflitos com a neta destacando-se o conflito de papéis e problemas económicos, que culminam com a saída da neta de casa. A Sra. Dona V passa a ser a única cuidadora da filha. Em 2014, a Sra. Dona V é diagnosticada com perturbação depressiva e síndrome de cólon irritável. Atualmente mantém cansaço, desânimo e queixas osteoarticulares com necessidade frequente de analgesia, mantendo-se como a principal cuidadora da filha. Discussão: Os cuidadores informais idosos são uma realidade cada vez mais frequente. Estes idosos enfrentam dificuldades físicas, emocionais e financeiras, com consequente redução da sua qualidade de vida, e por vezes também algum grau de dependência. Este caso apresenta uma dinâmica familiar complexa de difícil gestão. Cabe ao médico de família constituir-se como elemento de uma equipa multidisciplinar que vise mobilizar recursos e atenuar a sobrecarga dos cuidadores idosos.

Page 18: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 18 de 149

CO101 - A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO LONGITUDINAL DO MÉDICO DE FAMÍLIA NO DIAGNÓSTICO DE UMA NEOPLASIA

Autores: Alexandra Mendonca1 e Ana Dantas2

Instituições: 1USF São Martinho de Alcabideche; 2USF São Martinho de Alcadideche Palavras Chave: adenocarcinoma da vesícula; cuidado longitudinal; médico de família; diagnóstico oculto Enquadramento

Os tumores da vesícula são raros (incidência de 1 a 2 casos por 1000 habitantes nos Estados Unidos) mas altamente fatais, com uma taxa de sobrevivência a 5 anos de 17%. Numa fase inicial, o tumor pode ser assintomático ou apresentar-se com sintomas inespecíficos, condicionando um atraso no diagnóstico que determina pior prognóstico. A doença é potencialmente tratável quando é diagnosticada em fase precoce, sendo comum o diagnóstico incidental no contexto de colecistectomia.

Descrição do caso

O relato de caso diz respeito a uma utente de 61 anos com antecedentes pessoais de doença de Parkinson, dislipidémia e doença hemorroidária, medicada com ropinirol 4mg que se apresentou na consulta com epigastralgia, obstipação, fadiga, anorexia, perda ponderal e retorragia recente. A utente apresentava palidez, sem outras alterações no exame objetivo. A avaliação analítica subsequente revelou hemoglobina (Hb) de 9,9mg/dL, ferro sérico de 40g/dL, ferritina de 33,5ng/mL, capacidade total de fixação de ferro de 415mg/L e velocidade de sedimentação de 11mm/h e a endoscopia digestiva alta e baixa evidenciou apenas erosões antrais benignas. Iniciou suplementação oral de ferro, com consequente subida da Hb para 11,2mg/dL, assumindo-se a anemia como resultado da retorragia pela doença hemorroidária. Foi concomitantemente avaliada pelo neurologista, que atribuiu a obstipação à doença de Parkinson e suspendeu o ropinirol, com melhoria da epigastralgia e da obstipação. Apesar da sintomatologia ser justificada por causas conhecidas, a alteração do estado geral da doente comparativamente ao seu estado habitual prévio motivou, por parte da médica de família (MF), a suspeita clínica de um diagnóstico oculto, pelo que foi realizada uma tomografia computorizada abdominal que revelou uma massa na vesícula biliar com 6,8x5,5cm, com invasão hepática. A utente foi imediatamente referenciada e submetida a cirurgia, tendo o tumor sido excisado na totalidade. O exame histológico revelou um adenocarcinoma da vesícula biliar.

Discussão

O reconhecimento de uma alteração significativa do estado geral de saúde da utente, apenas possível pela prestação de cuidados longitudinais pela MF, conduziu a uma perseverante investigação que permitiu um diagnóstico precoce e consequente tratamento efetivo, com grande impacto na qualidade e esperança de vida desta utente.

Page 19: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 19 de 149

CO103 - INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRACÇÃO DE EJECÇÃO PRESERVADA: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Autores: Isabel Arraiolos1

Instituições: 1USF Amato Lusitano Palavras Chave: Insuficiência cardíaca, fracção de ejecção preservada Enquadramento

Nas últimas 2 décadas, a proporção de doentes com insuficiência cardíaca (IC) com fracção de ejecção preservada (ICFEP) aumentou de 38% para 54% do total de casos de IC. Dispomos hoje de critérios objectivos para o seu diagnóstico. Quando suspeitar? Os sinais e sintomas comuns são frequentemente inespecíficos. Devemos possuir um alto índice de suspeição para perceber quais as situações que requerem investigação adicional.

Descrição de Caso

Homem, 78 anos, antecendentes: HTA, Dislipidémia, DM2, DRC (seguido em consulta de nefrologia, evoluiu com progressão da DRC até 2017 SCr 2.5mg/dL), doença cerebro-vascular com 3 AVCs prévios, demência vascular, anemia microcítica crónica com traço β-talassémico, Ex-fumador. Medicação habitual: perindopril 8mg/dia, lercanidipina 20mg/dia, linagliptina 5mg/dia, atorvastatina 10mg/dia, clopidogrel 75mg/dia.

O quadro clínico inicia-se por pieira com 1 semana de evolução associada a tosse produtiva ocasional, com fervores à auscultação, que é interpretado como infecção respiratória. Após antibioterapia, retorna à usf 2 vezes no mês seguinte por persistência da tosse produtiva, a que se acresce posteriormente cansaço. Realizou Rx tórax com reforço hilar peribrônquico, e posteriormente, provas funcionais respiratórias que objectivaram a existência de um padrão restritivo (expectável nas fases inicias de IC). 1 mês e meio depois do 1º contacto, perante o quadro de tosse produtiva persistente, cansaço, ao qual se acrescentou o aparecimento de edemas bimaleolares de novo é colocada a hipótese de ICFEP. O utente negava dispneia, ortopneia ou dpn. Dos MCDTs realizados destaca-se NT-proBNP 9000 e ecocardiograma com dilatação da AE e HVE marcadas, sem compromisso da função sistólica (não havendo referência a parâmetros de avaliação da função diastólica, apesar de tal ter sido solicitado).

Discussão

Este caso pretende sensibilizar os médicos de família para o diagnóstico da ICFEP, sobretudo tendo em conta que a prevalência irá continuará a aumentar, devido ao progressivo envelhecimento da população e ao esperado aumento da prevalência da hipertensão, da obesidade e da diabetes. A ICFEP inclui vários espectros fenotípicos, sendo possível identificar clinicamente 3 distintos. Este caso enquadra-se no subtipo fenotípico mais comum mas há que conhecer os outros para estar alerta. O diagnóstico é auxiliado recorrendo a 5 parâmetros ecocardiográficos de avaliação da função diastólica (que abordarei), nomeadamente a relação E/e`.

Page 20: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 20 de 149

CO104 - RELATO DE CASO: "MÉDICO DE FAMÍLIA - A PEÇA QUE FALTAVA AO PUZZLE"

Autores: Diogo Franco Santos e Rita Branco da Silva Palavras Chave: Primeira consulta; ansiedade; somatização; competências nucleares; cuidados centrados na pessoa; modelo biopsicossocial.

Enquadramento: O primeiro contacto de um utente com o seu Médico de Família (MF) pode constituir um desafio, de complexidade acrescida quando em Consulta Não Programada (CNP), e perante um quadro sugestivo de somatização. Neste sentido, o presente caso desperta a atenção para a importância da aplicação das competências nucleares em Medicina Geral e Familiar.

Descrição de Caso: Homem de 40 anos, observado pela primeira vez na Unidade de Saúde Familiar em CNP por quadro com 6 meses de evolução de parestesias nas extremidades, cansaço nas pernas e cefaleia parieto-occipital direita esporádica. Início aquando de presumível diagnóstico de prostatite aguda, com medo de eventual infeção sexualmente transmissível, altura em que refere ansiedade, agravada ao longo do tempo, com recurso a diversas unidades hospitalares e realização de exames complementares de diagnóstico (ECD) orientados pela sintomatologia. Ao exame objetivo (EO) apura-se choro fácil, medo de doença incapacitante com repercussão na dinâmica familiar e procura incessante de informação acerca da sintomatologia, e ainda pressão arterial elevada. Solicitam-se ECD e resultados de exames anteriores. Ida ao Serviço de Urgência horas depois por exacerbação das queixas, com alta no próprio dia. Observado em consulta um mês depois, menos sintomático, mas com EO sobreponível. Propõem-se alterações do estilo de vida e psicoterapia. Três meses depois, em nova consulta, apura-se seguimento em Psiquiatria, medicado, com intensificação de prática desportiva e significativa melhoria sintomática. No final desta consulta, o utente expressa gratidão pelo acompanhamento numa fase complicada da sua vida, e satisfação pela gestão que conseguiu fazer da sua saúde, reconhecendo a primeira consulta na USF como impulsionadora desta mudança, pois havia sido “visto como um todo”.

Discussão: Trata-se de um caso que ilustra o risco da fragmentação de cuidados médicos, por oposição a uma abordagem abrangente, com definição de objetivos a cada consulta, e que pressupõe um seguimento continuado no tempo. De facto, o MF assume aqui um papel preponderante como elemento integrador da informação, pois através de uma escuta ativa e da compreensão da pessoa na sua vertente biopsicossocial, é possível estabelecer uma relação médico-utente conducente a uma boa adesão terapêutica.

Page 21: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 21 de 149

CO117 - UMA FAMÍLIA TRADICIONAL, MAS DISFUNCIONAL

Autores: Clara Jasmins1 e Dadilson Pinto Lopes2

Instituições: 1USF Venda Nova; 2USF Venda Nova, ACES Amadora, ARS LVT Palavras Chave: homossexualidade, alcoolismo, depressão, família

Enquadramento: O médico de família tem um papel fundamental na gestão da doença orgânica, mas também na abordagem de problemas familiares, uma vez que é o clínico que melhor conhece todo o agregado familiar. Neste contexto, pretende-se alertar para a importância da abordagem dos problemas no contexto familiar e a necessidade de formação médica neste campo.

Descrição do caso: Mulher de 53 anos, auxiliar de ação educativa, casada, tem uma filha de 30 anos. Encontra-se na fase VI do ciclo de vida familiar de Duvall, Graffar Classe IV. Tem antecedentes pessoais de Artrite Reumatóide, fibromialgia, depressão, hipertensão e obesidade.

Em Outubro de 2017, recorre à consulta por artralgias e edema das mãos e dor lombar com irradiação ao membro inferior direito. Refere sentir-se triste, com insónia do tipo inicial e sem capacidade para desempenhar a sua atividade profissional. Em Dezembro de 2017 mantém sintomas e revela alguns problemas familiares. A filha assumiu a sua homossexualidade e o marido é alcoólico, contudo não mostra grande abertura para explorar estes assuntos. O seu estado anímico vai-se agravando mensalmente, até que em Maio de 2018 permite fazer um genograma familiar. Vive com o marido, a filha terá regressado à casa dos pais, mas nem sempre dorme lá e mantém pouco contacto. Tem uma irmã com quem mantém uma relação conflituosa. Recusa-se a aceitar a homossexualidade da filha. O alcoolismo do marido, ainda que admita como problema, parece-lhe mais fácil de gerir. Por ideação suicida, é referenciada à Urgência de Psiquiatria. Em Junho de 2018 a filha recorre à consulta a pedir ajuda, por dificuldade em gerir este problema familiar. O marido remete apenas para os seus problemas orgânicos na consulta, embora assuma que por vezes exagera no consumo de álcool quando está com amigos.

Conclusão: O médico de família tem um papel importante enquanto elo comum entre os vários intervenientes do agregado familiar. É este o profissional de saúde mais próximo para gerir a situação e procura sinais de alarme que possam indicar necessidade de intervenção por outros clínicos. Neste caso, uma formação mais aprofundada em terapia familiar poderia facilitar a intervenção. Além do mais, vivemos numa sociedade ainda heteronormativa e mesmo na consulta nem sempre existe espaço para abordar questões relacionadas com a orientação sexual. Este caso mostra-nos a importância de apostarmos em formação nestas áreas, no sentido de darmos resposta às necessidades dos nossos utentes.

Page 22: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 22 de 149

CO123 - SÍNDROME FEBRIL INDETERMINADO - A IMPORTÂNCIA DE UM SEGUIMENTO CONSISTENTE NO DIAGNÓSTICO PRECOCE

Autores: Ana Teixeira1 e Pedro Palma2

Instituições: 1USF Gama; 2USF Gama -Aces Oeste sul Palavras Chave: febre, tiroidite, médico de família, prevenção quaternária Enquadramento

Este caso, atípico na sua apresentação, enfoca a forma como o seguimento contínuo e integrativo da doente permitiu um diagnóstico correto com recurso a poucos exames complementares de diagnóstico (ECD) e evidencia, ainda, a importância do contexto familiar na vivência da doença.

Descrição de Caso

ALMSC, sexo feminino, 51 anos, caucasiana. Recorre à consulta de doença aguda (CA) da sua médica de família (MF) por tosse, odinofagia e febre com 5 dias de evolução. Foi colocada a hipótese diagnóstica (HD) de faringite aguda e medicada com Amoxicilina + Acido clavulânico. Oito dias depois voltou a CA por manutenção dos sintomas e antibioterapia foi alterada para Cefuroxima .

Por persistência das queixas e início de desconforto cervical anterior recorre, 5 dias depois, à consulta de intersubstituição. Ao exame objetivo (EO): Temp.axilar 37.8ºC, taquicardia, orofaringe hiperemiada etiróide discretamente dolorosa à palpação foi colocada a HD mononucleose infecciosa vs tiroidite, pelo que foram solicitados ECD dirigidos. Do estudo salienta-se: hemograma normal; serologias negativas; VS 117 mm/h; PCR 14,36 mg/dL; TSH 0,00 UI/mL; T3 Livre 6,44 ng/dL; T4 Livre 3,09 ng/dL; Gama Globulina 21,3% e Alfa2 Globulina 17,6%.

Admitindo-se o diagnóstico de tiroidite aguda com hipertiroidismo, solicitou-se anticorpos anti-tiroideus e ecografia tiroideia, iniciou tiamazol 5mg e analgesia, e referenciou-se à consulta de endocrinologia.

Apesar dos esclarecimentos a doente mostrou-se reticente com o diagnóstico, temendo doença neoplásica (medo substanciado pela doença oncológica do filho) e recorreu ao serviço de urgência (SU) do hospital, tendo sido diagnosticada amigdalite aguda pelo que iniciou outro AB. Regressou ao SU 4 dias depois, onde foi submetida a vários ECD, destacando-se TAC pescoço, toraco-abdomino-pélvica e angio-TAC, culturas e serologias – que confirmaram o diagnóstico de tiroidite subaguda, tendo alta medicada com Lepicortinolo.

Discussão

Este caso demonstra a dificuldade do MF na interpretação de sinais e sintomas inespecíficos e muitas vezes precoces. No entanto, tem a possibilidade de manter um acompanhamento longitudinal ao longo do tempo o que, apoiado em registos cuidadosos, pode permitir o diagnóstico correto com o recurso a poucos ECD, evitando terapêuticas ou intervenções desnecessárias, com efeitos secundários associados, realçando importância da prevenção quaternária.

Page 23: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 23 de 149

CO129 - LOMBALGIA PERSISTENTE: UM CASO CLÍNICO EM MEDICINA GERAL E FAMILIAR

Autores: Maria Beatriz Aguiar Sousa Cosme1

Instituições: 1USF Marés Palavras Chave: Lombalgia; Osteosarcoma condroblástico

RESUMO

Enquadramento: A lombalgia é um motivo de consulta muito frequente em medicina geral e familiar, sendo importante o médico de família identificar a causa e tratar adequadamente. Este caso mostra uma manifestação imprevisível de lombalgia refratária à terapêutica farmacológica numa mulher recentemente mãe. Com este relato de caso pretende-se chamar à atenção para a necessidade de valorizar as queixas de lombalgia, bem como elucidar acerca da sua abordagem diagnóstica.

Descrição de caso: Mulher de 39 anos, recentemente mãe, com antecedentes de Perturbação Depressiva reactiva secundária a morte do pai em junho de 2017, sob terapêutica com SSRI, inicia quadro de lombalgia intensa de novo, com irradiação ao membro inferior esquerdo, refratária a terapêutica farmacológica com AINE’s. Após estudo complementar imagiológico Radiografia da coluna Lombo-Sagrada que revelou alterações da curvatura da coluna e posteriormente Tomografia da coluna lombo-sagrada que detectou massa expansiva com destruição óssea e atingimento da articulação sacro-ilíaca esquerda, sem certeza da sua origem. Foi encaminhada para consulta de oncologia médica do IPO que prosseguiu estudo com biópsia, cujo diagnóstico foi provável Osteosarcoma condroblástico da região da articulação da sacro-ilíaca esquerda localizado. Iniciou quimioterapia e apoio Psicológico no IPO por impossibilidade de intervenção cirúrgica.

Discussão: O Osteosarcoma condroblástico da articulação sacro-ilíaca é um tumor maligno, muito raro e agressivo, que é manifestado por lombalgia, sendo este sintoma dificultador do seu diagnóstico. O Prognóstico é muito mau, com elevada taxa de mortalidade. Este caso realça a importância de não sub-valorizar as queixas dos utentes em prol de exames complementares. Uma adequada e rápida articulação entre os Cuidados de Saúde Primários e Secundários é essencial para a boa prática clínica. O apoio Psicológico é também fundamental nestas situações desde o diagnóstico.

Page 24: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 24 de 149

CO150 - QUANDO A FAMÍLIA ADOECE

Autores: Mª. do Rosário Faria Rodrigues1 e Madalena Monteiro2

Instituições: 1USF S. João da Talha; 2USF São João da Talha Palavras Chave: Família; doença; depressão; hipertiroidismo Enquadramento: A família é um elemento crucial na equação dos processos de saúde e doença de cada pessoa. Mas a saúde e a doença de cada pessoa também explicam os processos de adaptação e perturbação da família.

Descrição do caso: Mulher de 44 anos, caucasiana, casada, família nuclear, na fase V do ciclo de Duvall, residente em São João da Talha, sem antecedentes pessoais e familiares de relevo. Há cerca de um ano teve conhecimento que o marido era portador de HIV e desde aí surgiram uma série de acontecimentos familiares, com dificuldades de aceitação pela própria e pelos filhos adolescentes. Fez análises das infeções sexuais transmissíveis que foram negativas. Realizou-se avaliação familiar e escuta ativa, no entanto o diagnóstico do marido foi motivador de disfunção familiar criando bastante ansiedade em todos os elementos da família. Há 6 meses veio à consulta pedir baixa de assistência à família, porque tinha sido diagnosticada anorexia nervosa purgativa com recusa alimentar severa e agravamento dos comportamentos purgativos, à filha adolescente já seguida em Pedopsiquiatria. Realizada escuta ativa, sentia-se muito ansiosa e chorosa tendo iniciado um quadro depressivo reactivo. Foi medicada com sertralina 50mg e alprazolam 0.25mg. Veio à consulta de reavaliação após um mês onde refere manutenção dos problemas familiares, mas melhoria da sintomatologia depressiva. Referia também tremor das mãos, diminuição de 10Kg desde há 4 meses e aumento do volume da região anterior do pescoço. Ao exame objetivo TA: 132/75mm/Hg com FC: 108bpm; ligeira exoftalmia, aumento do volume da glândula tiroideia com nodulo de cerca de 4cm de consistência elástica e móvel e tremor fino das mãos. Pede-se ecografia tiroideia e análises no contexto de suspeita de hipertiroidismo, inicia propranolol 10mg. Volta após uma semana à consulta para mostrar análises confirmando-se o diagnóstico de hipertiroidismo, inicia tiamazol 5mg e foi referenciada à consulta de endocrinologia.

Discussão: O Médico de Família é frequentemente confrontado com a necessidade de correlacionar os sinais e sintomas do doente com uma doença e o seu contexto familiar. Quando um elemento da família adoece esse evento pode ser destabilizador da família e causar doença nos noutros elementos. Neste contexto e numa fase inicial os sintomas de hipertiroidismo confundiram-se com os sintomas do foro psiquiátrico, é necessário o médico estar atento aos possíveis diagnósticos diferenciais.

Page 25: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 25 de 149

CO152 - UMA GRAVIDEZ EM SOBRESSALTO

Autores: Pedro Teixeira1 e Vasco Freire1

Instituições: 1USF SJE dos Lóios Palavras Chave: gravidez; saúde materna; família; medicina geral e familiar; ética; sigilo;

Enquadramento: Doente que, no decorrer da sua gravidez, revela ter dúvidas sobre a paternidade do filho e afirma o desejo de as dissipar apenas depois do nascimento do bebé, não obstante as eventuais consequências para a sua vida familiar, colocando o Médico de Família (MF), pelo seu dever de sigilo, numa posição complexa e delicada ao longo de todo o seguimento.

Descrição do Caso: Doente caucasiana de 38 anos, membro de família nuclear constituída pela própria, o seu marido, também caucasiano, e uma filha de 8 anos, que após período de cerca de 2 anos a tentar engravidar, recorre a consulta de MGF com atraso menstrual e DIG positivo, iniciando o seguimento protocolado. Ainda no 1º trimestre, em consulta a que comparece sozinha, confessa ao MF ter tido, na janela temporal da concepção, relação sexual extraconjugal desprotegida com indivíduo melanodérmico com menos de 48 horas de intervalo de relação com marido, manifestando dúvida razoável acerca da paternidade do seu filho ainda por nascer. Afirma também o seu desejo de omitir do marido esta informação até que tal seja estritamente necessário. Elucidamos e discutimos com a doente as implicações que essa decisão poderá ter na sua dinâmica familiar e na sua vida conjugal, assinalando o nosso dever de sigilo e reforçando o compromisso com um seguimento imparcial, agradecendo a confiança em nós depositada. Em algumas das consultas de vigilância, comparece toda a família, o que permite a sondagem directa dos restantes elementos no que toca às suas expectativas e anseios em relação à gravidez e ao novo elemento da família, tema importante noutras consultas apenas com a grávida, que manteve inalterada a sua posição em relação à sua incerteza. A gravidez decorreu sem intercorrências e no dia da primeira consulta do recém-nascido encontramos toda a família na USF, em torno de um bebé caucasiano, dissipando assim a dúvida que restava.

Discussão: A apresentação deste caso pretende servir de exemplo à complexidade de situações do quotidiano clínico e dos dilemas éticos que elas nos colocam, relevando a necessidade de destreza na condução da consulta e dos cuidados, com imparcialidade e segundo as normas deontológicas mas sempre também com empatia e atitude de suporte. Adicionalmente, salienta o papel fulcral do MF enquanto mediador, vigilante e preditor dos cuidados em família, sobretudo quando pode existir conflituosidade de interesses.

Page 26: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 26 de 149

CO181 - "SENHOR DOUTOR, TIRE-ME ESTA DOR!"

Autores: Ana Cláudia Ramos1, Catarina Santos1, Fatima Franco2 e Ana Nogueira3

Instituições: 1USF Ramada; 2Usf Ramada; 3USF Coimbra Sul Palavras Chave: dor; neuropatia; radiculopatia; impotência funcional Enquadramento: A definição de dor - uma experiência sensorial ou emocional desagradável associada a lesão tecidular, real ou potencial, ou descrita em termos de tal lesão – realça o impacto físico e emocional da dor. Sendo a dor frequentemente subvalorizada e, consequentemente, subtratada, e dado o seu elevado impacto na qualidade de vida dos doentes, é importante estar alerta para esta situação e inquirir frequentemente os utentes quanto à sua presença. Descrição de caso: utente do sexo masculino, 74 anos, previamente autónomo, recorre a consulta aberta por coxalgia à direita com 2 dias de evolução, constante, de intensidade 6/10 em repouso e 8/10 com o movimento. Apresentava importante limitação funcional, necessitando de apoio de marcha, e humor deprimido. Ao exame objetivo, verificou-se Lasègue positivo a 45º à direita e dor à palpação das apófises lombares, tendo sido medicado com AINE e paracetamol. A dor manteve-se sem qualquer alívio e apareceram sintomas neuropáticos, que impediam o doente de dormir, chegando a referir “Não aguento esta dor, talvez fosse melhor morrer”, pelo que foi necessário escalar a medicação para tramadol e paracetamol e associar pregabalina. O doente realizou TC da coluna lombar que revelou hérnia discal em L3-L4 com provável compressão radicular, tendo sido referenciado para a consulta de ortopedia e consulta de dor. Graças ao bom suporte familiar do doente, ao seu cumprimento do plano terapêutico e à avaliação em consulta semanal ou bissemanalmente, foi possível realizar titulações de dose de fármacos e rotação de opióides com segurança, permitindo que o doente aguarde por uma decisão terapêutica da ortopedia com uma dor basal de intensidade 0/10 e uma dor com o movimento de intensidade 2/10, que o utente refere ser facilmente controlável, já não se encontrando dependente de auxiliares de marcha. Discussão: Este caso demonstra o impacto da dor na qualidade de vida dos doentes, pelo que esta deverá ser avaliada e monitorizada por rotina. Salienta-se a importância do apoio familiar, das guias terapêuticas e do seguimento estreito dos doentes para uma correta gestão clínica. Revela ainda o papel do médico de família enquanto primeiro ponto de acesso aos cuidados de saúde e enquanto gestor dos cuidados de saúde prestados.

Page 27: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 27 de 149

CO205 - “DOUTORA, O MEU MARIDO TEVE VERRUGAS: E AGORA?”

Autores: Ana Rute Marques1 e Ana Margarida Gomes1

Instituições: 1USF Travessa da Saúde Palavras Chave: Condilomas genitais, HPV, papiloma humano, planeamento familiar

Enquadramento: A infeção genital pelo vírus do papiloma humano (HPV) é comum nos homens e mulheres sexualmente ativos. Os condilomas genitais são manifestações de baixo grau da infeção, em 90% dos casos causados pelos serotipos 6 e 11, podendo surgir lesões noutras localizações anatómicas, como região anal e oral. É essencial conhecer a orientação adequada destes casos, de forma a tranquilizar os utentes, evitando situações de iatrogenia. Descrição de caso: Mulher, 25 anos, caucasiana, casada. Sem antecedentes pessoais relevantes e com plano nacional de vacinação atualizado, incluindo 3 doses da vacina tetravalente contra o HPV. Índice obstétrico 1001, atualmente sob contraceção com anel vaginal, sem uso habitual de preservativo. Recorre à consulta referindo preocupação com excisão de condilomas genitais do parceiro, apesar de assintomática. Ao exame ginecológico sem alterações de relevo e região perianal e cavidade oral sem lesões cutâneas evidentes. Foram pedidos exame bacteriológico, micológico e parasitológico do exsudado vaginal, pesquisa de Mycoplasma spp, Ureaplasma urealyticum e parvum e Chalmydia trachomatis no endocolo que se revelaram negativos. Resultados negativos recentes de antigénio HBs, VDRL, anticorpos anti-VHC e anti-VIH 1 e 2. Feita colheita para citologia cervico-vaginal como parte do programa de rastreio, que se revelou negativa para lesão intra-epitelial ou malignidade. Tranquilizou-se a utente e aconselhou-se rastreio de infeções sexualmente transmissíveis (IST) do parceiro. Discussão: Pela associação do HPV com neoplasias em várias localizações, o diagnóstico de condilomas genitais pode gerar ansiedade ao utente e médico, surgindo dúvidas quanto à sua abordagem. Quando um dos elementos da relação é diagnosticado, habitualmente ambos se encontram infetados, ainda que possam ser assintomáticos. No caso de diagnóstico de situações de baixo risco, não existe indicação para teste de HPV e, no caso das mulheres, para aumentar a frequência do rastreio do cancro do colo do útero. É importante rastrear outras IST em ambos os parceiros e alertar que a utilização correta do preservativo diminui a probabilidade de contágio. A vacina contra o HPV que inclui os serotipos 6 e 11 confere proteção contra os vírus responsáveis pela maioria dos condilomas, com máxima eficácia se assegurada antes do início da vida sexual, devendo, contudo, ser aconselhada mesmo após início da mesma. É fundamental tranquilizar os utentes, esclarecendo dúvidas e receios.

Page 28: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 28 de 149

CO218 - “DR.ª, OS SAPATOS JÁ NÃO ME SERVEM” – UM CASO CLÍNICO SOBRE ACROMEGALIA

Autores: Inês Clemente1 e Sandra Filipa Ferreira1

Instituições: 1USF Conde da Lousã Palavras Chave: acromegalia; adenoma da hipófise Enquadramento:

A acromegalia é a síndrome clínica que resulta da secreção excessiva da hormona do crescimento(GH) e em 95% dos casos é causada por adenoma somatotrófico da hipófise anterior. Tem uma incidência de 6 por milhão de pessoas e a média de idade no diagnóstico é 40-45 anos. O quadro tem uma progressão muito lenta: o excesso de GH e IGF-I resulta em crescimento excessivo de tecido conjuntivo, cartilagem, ossos, pele e órgãos viscerais. Outras complicações incluem cefaleias, doença cardiovascular, apneia do sono, distúrbios metabólicos.

Descrição do caso Homem, 44 anos. AP: dislipidémia, HTA, obesidade

Na 1ª consulta na USF, refere desde há 5 anos alargamento das extremidades e alteração da morfologia facial – “Já não consigo calçar os sapatos e a minha cara está diferente, já me queixei a outros médicos, mas ninguém ligou” sic. Referia também poliartralgias, diaforese, cansaço progressivo, cefaleias intensas e roncopatia. Ao EO apresentava obesidade mórbida, morfotipo acromegaloide, TA 150/100mmHg, ACP e ENS sem alterações e tiróide aumentada de volume.

Foi referenciado para a Consulta de Endocrinologia, onde realizou avaliação analítica que revelou: GH aumentada; IFG-1, prolactina, cortisol, FSH e LH, ACTH e PTGO normais; realizou RMN CE que revelou um microadenoma da hipófise.

Foi feito o estudo das complicações associadas a esta síndrome através de diversos exames complementares, tendo sido diagnosticado com SAOS grave, HTA não controlada e miocardiopatia dilatada não isquémica com ICC classe II NHYA, bócio multinodular com hipotiroidismo e medicado de acordo com as suas patologias.

O doente foi submetido a excisão total do adenoma. Os valores de GH normalizaram, não há sinais de recidiva e houve melhoria do morfotipo, diaforese e poliartralgias. Como intercorrências da sua patologia cardíaca, foi diagnosticado com FA crónica e houve também necessidade de colocação de CDI. Foi também diagnosticado com DM.

Discussão:

Este caso ilustra uma síndrome rara com grande impacto para o doente e um desafio para o médico assistente. Apesar da boa evolução, este doente irá necessitar de um seguimento redobrado por apresentar HTA, miocardiopatia dilatada não isquémica com ICC com implantação de CDI e DM.

Frisa-se ainda o papel do médico de família, em, ao conhecer o doente como um todo, conseguir valorizar as queixas, mesmo quando desvalorizáveis pelos outros e pelo próprio doente, e a importância da articulação dos cuidados de saúde primários com os secundários.

Page 29: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 29 de 149

CO228 - UTENTE ESPORÁDICO - SERÁ QUE FAZEMOS A DIFERENÇA?

Autores: Maria do Rosário Novo1 e Graça Santos2

Instituições: 1USF do Arco Lx Central; 2USF do Arco

Enquadramento: A acessibilidade dos cidadãos a cuidados de saúde de qualidade é um dos objectivos primordiais do Sistema Nacional de Saúde. Estando integrada na comunidade, a Medicina Geral e Familiar tem o privilégio de estar mais próximo de quem procura e ser a linha da frente na prestação de cuidados. Assim, podemos contribuir para melhor encaminhamento e o diagnóstico atempado de inumeras situações representando uma abordagem holistica e abrangente. O objectivo deste relato de caso é proporcionar uma reflexão sobre estes fundamentos e como aplicá-los na nossa pratica clínica.

Descrição do Caso: Mulher, 46 anos, autónoma, com hábitos tabágicos (cerca de 4-6 cigarros/dia), sem antecedentes pessoais conhecidos, pede na secretaria da USF uma consulta por “dor torácica desde manhã”. Como não tinha médico de familia e residia perto da Unidade de Saúde decidiu deslocar-se lá. A secretaria comunicou à médica que aceitou a sua inscrição esporádica. Na consulta, referia dor retroesternal tipo aperto acompanhada de náuseas, vómitos e sudorese desde há 3 horas. No dia anterior, tinha sintomas identicos que foram auto-limitados. Ao EO a destacar perfil hipertenso (TA 150/100mmHg), eupneica e auscultação cardio-pulmunar sem alterações. Foi realizado ECG que revelou ondas T invertidas e ponteagudas nas derivações anteriores sugestivas de isquémia cardíaca. Realizou dose carga AAS e foi acionada a VMER. No SU foi confirmado enfarte agudo do miocárdio com elevação das enzimas de necrose miocárdica. Foi internada, realizou revascularização e teve alta 3 dias depois. Neste momento assintomática e sem sequelas da função cardíaca.

Discussão: Este caso clínico permitiu refletir a importância da acessibilidade de cuidados a todas as pessoas. Segundo os principios fundamentais do Sistema Nacional de Saude a igualdade de acesso aos cuidados de saúde é um direito. Outros valores que se destacam são a universalidade, a equidade e a solidariedade que devem estar presentes na nossa prática clínica. Neste caso, apesar de estar perante uma inscrição esporádica, o acesso foi garantido e o diagnóstico foi realizado precocemente contribuindo para o bom prognóstico desta doente.

Page 30: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 30 de 149

REVISÃO DE TEMA CO29 - MÉTODO BABY LED WEANING: MEDOS, RISCOS E BENEFÍCIOS- UMA REVISÃO

Autores: Bárbara Almeida1 e Acácio Gouveia1

Instituições: 1USF Almonda Palavras Chave: Baby Led Weaning; bebé; diversificação alimentar; autoalimentação; risco de engasgamento Introdução e Objetivos: O Baby-led weaning (BLW) é um método alternativo de introdução alimentar complementar ao leite no bebé, em que este usa a sua mão em vez de ser alimentado à colher, os alimentos oferecidos são os da refeição familiar e o horário de refeição é o da família. Embora vários pediatras em muitos países, inclusive Portugal, já aconselhem este método há mais de uma década, existe ainda muito desconhecimento na maioria dos profissionais de saúde principalmente quanto ao receio da capacidade de autoalimentação dos bebés e ao risco de engasgamento. Este trabalho pretende assim esclarecer alguns benefícios e riscos associados ao BLW. Metodologia: Em Julho de 2018 foi realizada a pesquisa nas bases de dados tendo sido selecionados os artigos publicados nos últimos 5 anos com os termos MeSH: Baby-led weaning, Baby-led ou BLW. Os critérios de inclusão foram bebés que iniciavam a alimentação complementar (população), uso do método BLW (intervenção), uso do método tradicional (controlo) e riscos e benefícios deste método (outcome). Os critérios de exclusão foram publicações fora do período de tempo selecionado ou repetidas, não correspondentes ao objetivo ou que não foi possível obter na versão integral. O nível de evidência e a força de recomendação clínica foram classificados segundo a SORT, da American Family Physician. Resultados: Dos 45 artigos obtidos, 5 foram selecionados: 3 revisões e 2 ensaios clínicos. Não parece existir diferença no risco de engasgamento entre ambos os métodos, dos 6-12 meses (NE 1). Os bebés que aderiram ao BLW tiveram uma introdução mais tardia dos alimentos sólidos, foram caracterizados como menos seletivos e mais sensíveis à saciedade e com menos preferência por alimentos açucarados (NE 2). Embora existam resultados contraditórios, estudos recentes referem que aos 18-24 meses estes bebés apresentam, em média, IMC mais baixo (NE 2). Discussão: O risco de engasgamento não parece ser maior como uso do BLW (SOR B) e os bebés sob o BLW são crianças que adotam uma alimentação mais diversificada e mais equilibrada (SOR B). A maioria dos profissionais de saúde não se sente à vontade para aconselhar este método referindo falta de conhecimento. As limitações deste trabalho relacionam-se com o facto de alguns dados dos estudos apresentados serem de auto-relato dos pais, em questionários. Este tema carece assim de evidência científica mais robusta que esclareça, nomeadamente, se o aporte energético e de nutrientes é de facto o adequado no uso deste método.

Page 31: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 31 de 149

CO63 - QUANDO O OLHAR CLÍNICO NÃO É TUDO Autores: Miguel Duarte1

Instituições: 1USF Barquinha Palavras Chave: Faringite; Cuidados Saúde Primários; Testes rápidos Introdução

A odinofagia de faringite aguda é um problema frequente em cuidados de saúde primários (CSP), sendo viral a causa mais comum. Contudo, é importante diagnosticar e tratar apropriadamente as faringites por Estreptococos do grupo A de Lancefield (SGA).

A distinção clínica das faringites causadas por SGA é difícil. Se, por um lado, a utilização de critérios exclusivamente clínicos é insuficiente, por outro, a utilização do teste cultural de exsudado faríngeo é demorada e, por isso, mal aceite pelos doentes. Assim, é proposta a utilização de testes rápidos para auxiliar o médico. Estes, já utilizados noutros contextos, não são facilmente acessíveis em CSP.

Num contexto em que tenta restringir-se o uso inapropriado de antibióticos (AB), questiona-se se existe relevância na utilização deste meio auxiliar de diagnóstico em CSP.

Objectivo - questão de pesquisa

Há benefício no uso de critérios clínicos em associação a testes rápidos de detecção de antigénios estreptocócicos (TRDA) para o diagnóstico de faringites de SGA em CSP?

Metodologia

Nesta revisão baseada na evidência foram tidas em conta as normas de tratamento de amigdalites da Direcção Geral de Saúde, Sociedade de Doenças Infecciosas da América e Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas; adicionalmente foi realizada uma pesquisa na plataforma Pubmed com os seguintes termos "rapid[All Fields] AND tests[All Fields] AND "pharyngitis"[MeSH Terms] AND "primary health care"[MeSH Terms]" a 26-5-2018; foram considerados trabalhos publicados nos últimos 35 anos e escritos em língua inglesa ou portuguesa; dos 10 resultados 4 foram excluídos da avaliação, 1 por não ser relevante, 2 por não emitirem recomendações para a questão em pesquisa e 1 por estar em Romeno.

Resultados

Dos estudos considerados, 4 observacionais e 1 prospectivo, não aleatorizado, intervencional foram favoráveis a utilização de TRDA em CSP; 1 observacional não recomendava uso de TRDA neste contexto.

Discussão

Os estudos encontrados sugerem, na sua maioria, um benefício adicional no uso de TRDA para o diagnóstico de faringites causadas por SGA em CSP (força de recomendação B, nível 2 - SORT). Estudos adicionais são necessários para demonstração de maior nível de evidência.

Page 32: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 32 de 149

CO75 - SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D EM ADULTOS SAUDÁVEIS E SEU IMPACTO NO CANCRO COLO-RECTAL, UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

Autores: Raquel F. Castro1 e Beatriz Abreu Cruz Instituições: 1USF Reynaldo dos Santos Palavras Chave: Vitamina D, suplementação de vitamina D, deficiência de vitamina D Introdução e Objectivos: Um número crescente de estudos tem sugerido uma associação entre o nível sérico de vitamina D e o risco de diversas patologias, nomeadamente neoplásicas. Contudo, os resultados nem sempre têm sido conclusivos ou concordantes. Dada a morbimortalidade da neoplasia colo-rectal e o possível papel da vitamina D na diminuição da sua incidência, procurou-se averiguar se a suplementação desta vitamina em adultos saudáveis, comparando com placebo ou não suplementação, poderá ter influência na incidência desta neoplasia.

Metodologia: Pesquisaram-se normas de orientação clínica (NOC), ensaios clínicos aleatorizados e controlados (ECAC), revisões sistemáticas (RS) e meta-análises (MA) publicados entre Abril de 2008 e Abril de 2018 em língua inglesa e portuguesa, utilizando os termos MESH vitamin D, vitamin D deficiency, colorectal cancer, vitamin D supplementation e os termos DeCs vitamina D, suplementação de vitamina D, deficiência de vitamina D. Recorreu-se às bases de dados a National Guideline Clearinghouse, NICE, Canadian Medical Association Practice Guidelines Infobase, The Cochrane Library, DARE, Bandolier, PubMed e Trip Database.

Para a atribuição de níveis de evidência (NE) e forças de recomendação (FR) foi utilizada a escala Strength os Recommendation Taxonomy (SORT) da American Family Physician.

Resultados: Foram selecionados 4 de entre 263 artigos encontrados: uma umbrella review (RS de RS e MA), uma RS e MA, uma RS e um estudo de randomização Mendeliana (ERM). A umbrella review e a RS e MA indicam que há uma relação inversa entre níveis mais elevados de 25(OH)D e o risco de cancro colo-rectal, mas este último sugeriu também que valores muito elevados da vitamina se possam associar a maior risco da doença. A RS concluiu que os resultados obtidos eram discrepantes. O ERM encontrou pouca evidência entre determinantes genéticos de concentrações séricas de vitamina D e o risco de cancro colo-rectal.

Discussão: Foram escassos os estudos encontrados sobre a relação entre a suplementação de vitamina D e o cancro colo-rectal em adultos saudáveis, tornando esta relação pouco clara. No entanto, parece haver uma associação inversa entre os níveis séricos de vitamina D e esta neoplasia. Dado a discrepância de resultados nos estudos selecionados e a escassez de ECAC, conclui-se que são necessários mais estudos nesta área.

Page 33: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 33 de 149

CO82 - EFICÁCIA E EFICIÊNCIA DA TELEDERMATOLOGIA NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS: QUAL A EVIDÊNCIA?

Autores: Leonardo Vinagre1

Instituições: 1USF do Parque Palavras Chave: Telemedicina; Dermatologia; Cuidados de Saúde Primários

Introdução e objetivos: Atualmente, a referenciação a consulta de dermatologia é efetuada obrigatoriamente através do telerastreio-dermatológico. Este sustenta-se num modelo de store-and-forward, em que se anexa a informação clínica e fotografias da lesão dermatológica, consultadas posteriormente por um dermatologista. Esta revisão tem como objetivo avaliar a evidência da teledermatologia (TD) nos cuidados de saúde primários (CSP), em termos da sua eficácia e eficiência.

Metodologia: Pesquisou-se os seguintes MESH Terms na PubMed: “telemedicine”, “dermatology” e “primary health care”. Limitou-se a pesquisa aos últimos 10 anos, da qual resultaram 24 artigos, tendo sido excluídos 9 por não se enquadrarem no âmbito do estudo. Avaliou-se a eficácia da TD, comparando-a com a consulta presencial de dermatologia, através do cálculo da concordância diagnóstica. A eficiência foi avaliada em termos de acessibilidade a consulta de dermatologia, qualidade da foto e necessidade de referenciação a consulta presencial. Resultados: A concordância diagnóstica entre consulta de TD e consulta presencial foi avaliada por 3 estudos que demonstraram, respetivamente, uma concordância de 76,1%, 89,1% e 92,2%. Este último avaliou ainda a concordância diagnóstica entre a consulta nos CSP e a consulta presencial de dermatologia em 40%. Um quarto estudo calculou a sensibilidade da consulta de TD sem dermatoscópio em 86,57% e a especificidade em 72,33%. O uso de dermatoscópio elevou a sensibilidade e especificidade da consulta de TD para 92,86% e 96,24%, respetivamente. 7 estudos avaliaram o tempo até à consulta de TD, apresentando médias entre 5,5 horas e 6,9 dias. Um destes, comparou o tempo até consulta de TD com o tempo até consulta presencial, demonstrando, respetivamente, 0,5 dias e 70 dias. A necessidade de referenciação a consulta de dermatologia presencial foi avaliada por 6 estudos que apresentaram valores entre 19% e 68%. A qualidade das fotografias enviadas foi analisada por 4 estudos que as consideraram como adequadas em 73%, 83,4%, 94,9% e 95% dos casos, respetivamente.

Discussão: A TD apresenta acuidade diagnóstica elevada, tanto mais se a dermatoscopia for utilizada. A TD permitiu tempos até consulta por dermatologista reduzidos e diminuiu a necessidade de referenciação a consulta presencial, justificando-se esta, por vezes, pela má qualidade da fotografia enviada. Como limitações principais, refere-se o parco número de estudos e a falta de homogeneidade dos mesmos.

Page 34: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 34 de 149

CO125 - QUAL A MELHOR ESTRATÉGIA PARA ALIVIAR AS CÓLICAS DO LACTENTE?

Autores: Marina Teixeira1

Instituições: 1USF São João Evangelista dos Loios Palavras Chave: Cólica Lactente

Introdução

A cólica do lactente afeta cerca de 10% a 40% dos lactentes e é definida como choro inconsolável que dura pelo menos três horas por dia, com uma frequência de pelo menos três vezes por semana durante mais de três semanas. Apesar de ser uma condição benigna e autolimitada (os sintomas tendem a desaparecer entre os 3 e os 6 meses de vida), é fonte de grande stress e ansiedade por parte dos pais e cuidadores dos bebés, que acabam muitas vezes por recorrer aos serviços de saúde em busca de apoio e orientação. Existem vários trabalhos publicados sobre diferentes estratégias para aliviar as cólicas do lactente, sejam estas a administração de probióticos, medidas dietéticas, manipulação, medicinas alternativas, entre outros. O objetivo deste trabalho é averiguar se há na literatura estratégias para aliviar as cólicas do lactente que sejam suportadas pela evidência.

Metodologia

Com base na Pubmed, foram definidos os termos Mesh “Colic” e “Infant”.

Recorrendo a diferentes bases de dados (Pubmed, BMJ, Dare, Cochrane, Guideline Finder) foi feita uma pesquisa de orientações clínicas e guidelines, artigos de revisão e artigos originais, de acesso livre e escritos em inglês, publicadas desde 2013.

Foram seleccionados apenas os artigos que focassem medidas de tratamento da cólica do lactente e que tivessem Patient-oriented outcomes. Foram também excluídos protocolos e casos clínicos.

Resultados

Foram incluídos neste trabalho 25 artigos, dos quais 3 orientações clínicas, 4 meta-análises, 10 revisões sistemáticas e 8 artigos originais

Discussão/Conclusão

Tratando-se de uma situação benigna, o principal foco na gestão da cólica do lactente deverá ser o de transmitir calma e segurança aos pais.

De momento não existe evidência que suporte a adoção de uma estratégia específica que permita o alívio das cólicas do lactente. Apesar de haver alguma evidência sobre a utilização de Lactobacillus reuteri, esta parece não ser suficiente para que haja uma recomendação formal, especialmente para bebés não amamentados.

Page 35: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 35 de 149

CO127 - EXISTEM MALEFÍCIOS EM SUPLEMENTAR A GRAVIDEZ DE BAIXO RISCO COM DOSES DIÁRIAS DE ÁCIDO FÓLICO SUPERIORES A 400 ΜG? - UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

Autores: André Candelária1, Yuliya Kuzmyn2 e Diana Coelho Instituições: 1USF Poente; 2USF S. João do Pragal Palavras Chave: Folic acid, pregnancy, risk assessment

INTRODUÇÃO E OBJETIVOS: A suplementação com ácido fólico (AF) diminui a ocorrência de defeitos do tubo neural (DTN). Em Portugal, apesar das recomendações para iniciar 400 µg diários de AF durante os 2 meses preconcecionais e 1º trimestre na gravidez de baixo risco (GBR) para DTN, apenas as formulações de 5 mg são comparticipadas. Estão descritos como potenciais riscos desta suplementação a atopia/asma, alterações do neurodesenvolvimento/autismo, efeitos carcinogénicos, entre outros. Esta revisão pretende analisar a evidência disponível sobre malefícios associados à suplementação diária de AF superior a 400 µg na GBR.

METODOLOGIA: Pesquisa de meta-análises (MA), revisões sistemáticas (RS) e normas de orientação clínica (NOCs) na MedLine/Pubmed, DARE, Evidence Based Medicine, Clinical Evidence, Canadian Medical Association Practice Guidelines, National Guidelines Clearing House, Guidelines Finder da National Electronic Library for Health e Cochrane Library, publicados entre 2008 e 2018 na língua inglesa, com os termos MeSh (folate OR folic acid) AND (maternal OR pregnancy OR pregnant OR gestation OR gestational OR prenatal OR antenatal OR periconceptional OR preconceptional) AND (assessment, risk OR pregnancy outcome OR asthma OR allergy OR cancer OR autism spectrum disorder OR child development). Foi utilizada a escala Strength of Recommendation Taxonomy (SORT) para atribuição de níveis de evidência e forças de recomendação.

RESULTADOS: Foram analisados 582 artigos dos quais se incluíram 9: 7 RS, 4 MA e 2 NOCs. Quanto à alteração do neurodesenvolvimento/autismo, os estudos são conflituosos: alguns reportam que AF nas doses recomendadas tem efeito benéfico, outros que doses elevadas acarretam efeito negativo. A maioria dos estudos não sugere relação entre a exposição ao AF e o desenvolvimento de asma/atopia na infância, contudo um estudo revela que doses elevadas estão associadas ao risco aumentado de desenvolvimento destes. As NOCs recomendam doses diárias de 400-800 µg de AF pelo menos 1 mês antes da conceção e no 1º trimestre de gestação, acrescentando que não há evidência significativa do risco de atopia/reações alérgicas, efeitos carcinogénicos ou do neurodesenvolvimento.

DISCUSSÃO: Da análise dos estudos encontrados conclui-se que não há evidência de malefício em suplementar a GBR com doses de AF > 400 µg/dia (Força de Recomendação B). Contudo, os resultados conflituosos e o seu impacto na prática clínica tornam indispensável mais investigação.

Page 36: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 36 de 149

CO161 - EFICÁCIA DOS ANTIDEPRESSIVOS (SSRIS E SNRIS) NO TRATAMENTO DOS SINTOMAS VASOMOTORES DA MENOPAUSA: UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

Autores: Raquel Coimbra1 e Ana Lisboa2

Instituições: 1USF Luz; 2USF Alto da Maia Introdução/Objetivos: Os sintomas vasomotores ocorrem em até 80% das mulheres no período peri e pós-menopausa. Embora grande parte descrevam os seus sintomas como severos, apenas 20-30% procuram cuidados médicos por esse motivo. A abordagem terapêutica pode passar pelas medidas gerais e comportamentais, terapêutica hormonal de substituição ou terapêutica farmacológica não hormonal. Este trabalho tem como objetivo rever a evidência disponível sobre a eficácia dos antidepressivos (SSRIs/SNRIs) no tratamento dos sintomas vasomotores no período peri e pós-menopausa.

Metodologia: Pesquisa de meta-análises (MA), revisões sistemáticas (RS), ensaios clínicos aleatorizados e controlados (ECAC) e normas de orientação clínica (NOC), em português e inglês, publicados entre Maio de 2008 e Maio de 2018, nas bases de dados National Guideline Clearinghouse, Canadian Medical Association Practice Guidelines Infobase, National Institute for Health and Care Excellence, The Cochrane Library, DARE e Medline, utilizando os termos MeSH "Hot Flashes", "Menopause”, "Serotonin Uptake Inhibitors" e “Serotonin and Noradrenaline Reuptake Inhibitors”. Foi utilizada a escala de Jadad para avaliar a qualidade dos ensaios clínicos e a taxonomia SORT para avaliar a qualidade dos estudos e estabelecer a força de recomendação.

Resultados: Obtiveram-se 74 artigos, dos quais 10 foram incluídos nesta revisão (2 MA, 1 RS, 3 ECAC e 4 NOC). Os outcomes avaliados foram a redução da frequência e da intensidade dos sintomas vasomotores. A paroxetina, citalopram, escitalopram, venlafaxina, e desvenlafaxina parecem estar associados a uma redução estatisticamente significativa da frequência e severidade dos sintomas vasomotores (NE 2, FR B). Entre estes, a paroxetina, citalopram e escitalopram apresentam o melhor perfil de segurança e tolerabilidade, enquanto a venlafaxina e desvenlafaxina exibem aumento significativo dos efeitos laterais relativamente ao placebo. A fluoxetina e a sertralina parecem ser menos eficazes, sendo os dados existentes inconclusivos.

Discussão: Entre as limitações encontradas salientam-se a subjetividade na avaliação da intensidade dos sintomas e, a nível metodológico, dimensão amostral e tempo de follow-up insuficientes em alguns estudos. São por isso necessários mais estudos, mais robustos e com resultados mais consistentes. Para futuro seria também útil comparar a eficácia dos diferentes antidepressivos entre si e diretamente com a terapêutica hormonal de substituição.

Page 37: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 37 de 149

CO186 - O PAPEL DA BETAHISTINA NO TRATAMENTO DA VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA (VPPB): UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

Autores: Diana Campos Lopes1, Diogo Tomé2, Andreia Castro3, Catarina Avillez3 e Ana Costa1

Instituições: 1USF Villa Longa; 2Serviço de Otorrinolaringologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte; 3USF Amora Saudável Palavras Chave: vertigem; Vertigem Posicional Paroxística Benigna; betahistina

Introdução e objetivo(s): A vertigem é uma queixa comum de procura de cuidados de saúde primários e serviço de urgência, tendo grande impacto na morbilidade dos doentes.

A Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) é a causa de 15 a 20% dos episódios de vertigem e estima-se que a prevalência de um episódio ao longo da vida seja de 2,4%.

A VPPB é uma patologia vestibular periférica que se caracteriza por episódios súbitos de curta duração de vertigem induzidos por movimentos específicos da cabeça. A hipótese mais consensual para explicar a fisiopatologia da VPPB atribui os sintomas à presença otólitos e sua influência no fluxo de endolinfa nos canais semicirculares. O canal semicircular posterior é o mais frequentemente afectado. As manobras de reposicionamento são o tratamento de eleição nesta patologia, no entanto, verifica-se que 20 a 24.6% destes doentes são tratados com betahistina, muitas vezes como terapêutica exclusiva. O objectivo deste trabalho é determinar qual a evidência do tratamento desta patologia com betahistina.

Metodologia: Fontes de dados: bases de dados MEDLINE e sítios de medicina baseada na evidência. Métodos de revisão: pesquisa de guidelines/normas de orientação clínica, metanálises, revisões sistemáticas, ensaios clínicos aleatorizados e controlados (ECA) e estudos observacionais (EO), publicados entre janeiro de 2008 e julho de 2018, utilizando os termos MeSH: BENIGN PAROXYSMAL POSITIONAL VERTIGO e BETAHISTINE. Foi utilizada a Strength of Recommendation Taxonomy (SORT) para a atribuição dos níveis de evidência e força de recomendação.

Resultados: A pesquisa efectuada resultou na identificação de 41 artigos, tendo sido excluídos 33 artigos. Dos contemplados na revisão consideraram-se 6 ECA, 1 EO e 1 guideline. Parece não haver vantagem no uso de betahistina pré-manobras de reposicionamento. A realização de manobras de reposicionamento é mais eficaz que a terapêutica médica com betahistina de forma isolada. A realização de manobras seguida de terapêutica com betahistina parece ser eficaz e ter benefício em relação a outras terapêuticas isoladas, levando à melhoria da sintomatologia de forma mais rápida, em particular nos indivíduos com HTA, menor tempo de evolução da doença ou com episódios agudos de curta duração.

Discussão: De acordo com a evidência disponível, as manobras de reposicionamento são o tratamento de eleição para a VPPB, podendo a betahistina ter um papel no tratamento como adjuvante (Força de recomendação B).

Page 38: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 38 de 149

CO222 - ABORDAGEM TERAPÊUTICA DOS DISTÚRBIOS DO SONO NA ADOLESCÊNCIA – UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

Autores: Emilia Salta1, Cristina Pinto de Sousa2, Isa Cavaleiro1, Joana Jesus1 e Joana Matos Branco1 Instituições: 1USF Arco-Íris; 2USF Arco-íris Palavras Chave: "Adolescent"; "Sleep Initiation and Maintenance Disorders”; “Management"

Introdução e Objetivo: Os distúrbios do sono nos adolescentes são amplamente prevalentes e têm um impacto negativo a nível da sua saúde mental e física, no seu desenvolvimento cognitivo e comportamental. As causas incluem: higiene inadequada do sono (insónia primária) ou como consequência de uma perturbação psiquiátrica (insónia secundária); perturbações do ritmo circadiano do sono; síndrome da apneia obstrutiva do sono; narcolepsia ou parassónias. Tem sido sugerido na literatura médica que estes distúrbios são frequentemente subdiagnosticados e que não existe um consenso sobre a sua abordagem terapêutica. O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão da evidência disponível sobre a abordagem terapêutica dos distúrbios do sono nos adolescentes.

Métodos: Pesquisa sistemática, em Julho de 2018, na base de dados da Pubmed com os termos MeSH “Adolescent” e “Sleep Initiation and Maintenance Disorders” e o termo “Management”. A pesquisa foi limitada a revisões sistemáticas, meta-análises, guidelines e ensaios clínicos publicados desde 2006, em Inglês, Português e Espanhol.

Resultados: Estratégias para o tratamento dos distúrbios do sono englobam rotinas de higiene do sono, técnicas comportamentais e/ou tratamento farmacológico. Demonstrou-se que a higiene do sono está intimamente associada à sua melhoria e que a terapia cognitivo-comportamental tem um impacto significativo na insónia, pela melhoria do tempo de latência e eficiência do sono. No entanto, não se verificou melhoria no tempo total de sono e no tempo gasto acordado após o início do mesmo. Relativamente às insónias secundárias, o tratamento da causa subjacente, associado à terapia cognitivo-comportamental, como a utilização de antidepressivos ou benzodiazepinas nas perturbações depressivas, melhora os resultados.

Conclusão: A terapia cognitivo-comportamental constitui a primeira abordagem terapêutica na insónia, principalmente no que respeita ao tempo de latência e eficiência do sono (SORT A). O tratamento farmacológico nunca deve ser generalizado, mas sim individualizado caso a caso (SORT A). No tratamento da insónia secundária, a terapêutica farmacológica deve ser associada à terapia cognitivo-comportamental (SORT A). O reconhecimento antecipado, por parte dos médicos de família, dos distúrbios do sono nos adolescentes promove uma melhoria da precocidade do diagnóstico e impede o desenvolvimento da cronicidade dos problemas inerentes (SORT A).

Page 39: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 39 de 149

PROTOCOLOS CO97 - DETEÇÃO PRECOCE E INTERVENÇÃO NO CONSUMO DE ÁLCOOL NA USF SÃO JOÃO DA TALHA – PROTOCOLO DE MELHORIA CONTÍNUA DA QUALIDADE

Autores: Mª. do Rosário Faria Rodrigues1, João Ferreira2 e Madalena Monteiro2

Instituições: 1USF S. João da Talha; 2USF São João da Talha Palavras Chave: consumo de risco; abuso agudo do álcool; abuso crónico do álcool; intervenção breve; rastreio

Introdução: Em Portugal 4,9% da população com hábitos alcoólicos dos 15-74 anos, apresenta um consumo de álcool considerado de risco elevado/nocivo e 1,3% apresenta sintomas de dependência (AUDIT). Num estudo realizado na USF SJT 81.5% dos utentes apresentam um registo de consumo de álcool e 319 tinham registo de Abuso crónico do álcool, com média de 60 anos de idade, sendo 97% do sexo masculino e mais de metade com comorbilidades.

Objetivos: O principal objetivo do trabalho é avaliar a prevalência de abuso e de dependência alcoólica na USF melhorando os registos, detenção precoce e intervenção breve no abuso do álcool e referenciação na dependência, efetuadas antes e após uma intervenção.

Métodos: Estudo descritivo longitudinal prospetivo. Estudo de avaliação e melhoria da qualidade, aplicado a uma população constituída por adolescentes e adultos entre os 15 e 74 anos de idade inscritos na USF SJT, com classificação ICPC2 de P15 e P16 na lista de problemas. O ciclo será composto por uma 1ª avaliação, intervenção educacional aos profissionais de saúde e utentes e uma 2ª avaliação. Os indicadores estudados serão: o registo de hábitos alcoólicos em gramas/semana; consulta médica no último ano com P15 e P16; registo de teste AUDIT; referenciação à consulta de Alcoologia; presença de registo de γGT, AST, ALT, VGM; consumo de benzodiazepinas. Foram consideradas igualmente as variáveis idade e sexo.Colheita de dados através do sistema MedicineOne® e análise em Microsoft Excel®.

Discussão: Após intervenção educacional espera-se a melhoria na quantificação dos registos dos hábitos alcoólicos, diminuição do consumo de benzodiazepinas e aumento do registo dos restantes os indicadores estudados, especialmente a identificação de novos casos de abuso agudo e crónico do álcool com a aplicação do AUDIT, realizada por um profissional de saúde. Existe um subdiagnóstico de utentes com problemas ligados ao álcool nesta população, apresentando a maioria dos abusos crónicos do álcool/dependência várias comorbilidades. Será planeado um reforço da intervenção educacional na USF SJT dirigida aos profissionais de saúde e aos utentes de forma a melhorar a identificação de consumos de álcool e abordagem preventiva através da implementação sistemática de intervenção breve em consulta médica e de enfermagem. No futuro espera-se diminuir os casos de abuso para se evitar chegar à dependência alcoólica, melhorando a intervenção e referenciação precoce nos cuidados de saúde primários.

Page 40: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 40 de 149

CO98 - PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO E MELHORIA DA QUALIDADE DO REGISTO DE ALERGIAS E REAÇÕES ADVERSAS

Autores: Tania Mota1, Rui Gomes1, Vanda Manha, Helena Souto1 e Angela Danu1

Instituições: 1USF Locomotiva Palavras Chave: protocolo; melhoria; alergias Introdução: As reações alérgicas são, em todo o mundo, cada vez mais frequentes e graves, como é o caso das alergias medicamentosas, alimentares ou picada de insetos, podendo estas ser responsáveis por quadros de gravidade variável. A identificação e conhecimento de episódios alérgicos ou de reações adversas, reveste-se, assim, de elevada importância. Estima-se que em Portugal, mais de 2 milhões de residentes apresentam alguma forma de doença alérgica. A evidência demonstrou que existe um número elevado de incidentes clínicos associados a um defeituoso ou inexistente registo. A SPMS, a DGS, a SPAIC e a CAIC desenvolveram em 2012 o CPARA para que os SI de registos clínicos em uso no Sistema de Saúde possam partilhar esta informação de forma estruturada. Continuam a ser detetadas lacunas importantes na documentação clínica das instituições do Sistema de Saúde relativamente ao registo de alergias e reações adversas. O registo é frequentemente inexistente ou não estruturado, com implicações potencialmente graves na segurança dos utentes do Sistema de Saúde. Objetivos:

Avaliar e melhorar a qualidade da informação contida nos processos clínicos relativamente às alergias dos utentes da USF Locomotiva, através do recurso ao Catálogo Português de Alergias e Outras Reações Adversas (CPARA), em contexto de consulta.

Métodos:

Dimensão a estudar: Qualidade técnico-científica da identificação e registo das alergias dos utentes em consulta. População a estudar: População total de utentes com consulta presencial durante o período em análise:1 dia por semana aleatório dos meses selecionados, durante 1 ano.

Fonte de dados: Sistema informático de registo clínico (SClínico). Relação temporal com a assistência: Retrospetiva. Tipos de dados: Processo Clínico. Monitorização Periódica: Auditoria Interna aos registos de consulta médica e de enfermagem presencial nos dias selecionados para auditoria. Instrumentos: Critérios definidos pela equipa, tendo por base a norma da DGS 002/2012 atualizada a 11/08/2015.

Discussão:

Com este trabalho pretendemos melhorar o registo e conhecimento das alergias e reações adversas dos utentes, otimizando assim os cuidados prestados. Para tal foram programadas algumas intervenções junto dos utentes e profissionais de saúde.

Page 41: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 41 de 149

CO111 - HÁ OPIOFOBIA NO ACES?

Autores: Rita Abelho1, Carina Afonso1 e Bruno Gonçalves2

Instituições: 1USF Artemisa; 2ACES Cascais - USF Artemisa Palavras Chave: dor crónica; crenças sobre opioides; profissionais de saúde

Introdução

A dor crónica é uma doença com importantes consequências a nível individual e social. Estima-se que afete 7 a 40% da população mundial. Em Portugal a dor tem uma prevalência de 36%, sendo 16% classificada como moderada a intensa. 37% dos doentes com dor crónica em Portugal, não estão controlados e 23% não têm ainda a sua dor diagnosticada.A escala analgésica da OMS preconiza o tratamento da dor moderada a intensa com analgésicos opioides. Segundo a imshealth, em 2016 Portugal era dos países europeus com menor taxa de prescrição de opioides. Na ARSLVT o maior número de embalagens de opioides prescritas corresponde à associação de tramadol-paracetamol (0,91 milhões). No nosso ACES a embalagem mais prescrita é também esta (21,8 mil).

Objetivos

Quais as crenças e barreiras dos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) do ACES em relação ao uso de morfina?

Métodos

Pedir uma listagem dos médicos e enfermeiros que trabalham no ACES, respetivo local de trabalho e e-mail profissional. Critérios de inclusão: médicos assistentes de MGF do ACES, inclusive os que realizam exame de saída em 2019 e aguardam colocação, IFE de MGF do ACES, enfermeiros a exercer em USF, UCSP, UCC. Critérios de exclusão: médicos prestadores de serviços no ACES, médicos investigadores deste estudo, IACs, enfermeiros e médicos afectos à USP e dentista.Enviar-se-à através do e-mail profissional do investigador coordenador o questionário Atitudes e Utilização de Morfina (AUM 19) utilizando o Google forms; será perguntado também o sexo, idade (por intervalos de 10 anos), grupo profissional (médico ou enfermeiro) e se realizou formação prévia em dor. As respostas são anónimas e estarão disponíveis de jan-mar 2019. A análise de dados no Excel será realizada em abril. Pedir-se-á parecer à comissão de ética da ARSLVT.

Discussão

Como limitações, antevemos uma taxa de resposta baixa nos inquéritos enviados por mail e ainda o facto deste estudo contemplar apenas médicos e enfermeiros, não incluindo outros profissionais que têm contacto direto com o doente (como psicólogos, terapeutas...). Com este trabalho pretendemos perceber os mitos e barreiras no uso de opioides. A partir daí gostaríamos de delinear um plano formativo para os profissionais de saúde do ACES, baseado no melhor conhecimento e práticas internacionais existentes sobre dor crónica. O nosso propósito é ajudar a aumentar o diagnóstico e controlo da dor crónica que tanto influência a qualidade de vida dos doentes e seus familiares.

Page 42: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 42 de 149

CO197 - MELHORIA CONTÍNUA DA QUALIDADE NO CONTROLO DA DISLIPIDÉMIA NOS DOENTES DA UNIDADE DE SAÚDE FAMILIAR GLOBAL

Autores: Tomásia Cafôfo1, Helena Clemente2, Emanuel Simões1 e Licínio Fialho3

Instituições: 1USF Global; 2USF Global, Nazaré; 3USF Global - Nazaré Palavras Chave: Dislipidémia; SCORE de Risco Cardiovascular; Colesterol LDL

Introdução:As doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte à escala mundial, representando cerca de 30% do total de óbitos apesar dos avanços diagnósticos eterapêuticos ocorridos nas últimas décadas.Estas representam também uma importante fonte de morbilidade e invalidez, associando-se a elevados custos diretos e indiretos em saúde. No entanto, a maior parte dos seus determinantes são conhecidos e potencialmente modificáveis. O estudo INTERHEART demonstrou que a dislipidémia é o fator de risco modificável que mais contribui para o enfarte agudo do miocárdio, pelo que a sua deteção precoce e tratamento adequado são fundamentais para uma correta prevenção das complicações inerentes.

Objetivos: Avaliar a adequação dos valores de colesterol LDL (C-LDL) ao risco cardiovascular individual em doentes com a codificação ICPC2 T93 – Alteração do metabolismo dos lípidos, pertencentes à Unidade de Saúde Familiar (USF) Global; Promover a atualização de conhecimentos e melhorar as práticas dos profissionais de saúde da USF Global através da realização de formações sobre o tema.

Métodos: Aferição de todos os doentes da USF Global com a codificação ICPC2 T93 – Alteração do metabolismo dos lípidos, através do Sistema de Monitorização das Unidades Funcionais (MIM@UF), com levantamento dos dados demográficos, do último valor de C-LDL e cálculo do risco cardiovascular utilizando o algoritmo de risco SCORE. Apresentação dos dados obtidos na unidade, seguida de formações relacionadas com o tema.Realização de novo levantamento de dados 6 meses após as formações, com o intuito de aferir a evolução no acompanhamento dos doentes.

Discussão:Numa região com elevada prevalência de patologia cardiovascular, reveste-se de vital importância a prevenção e modificação dos fatores de risco passíveis de correção ao nível dos cuidados de saúde primários. Com este trabalho pretende-se assim realizar o levantamento dos doentes da unidade com alteração do metabolismo dos lípidos, de forma a identificar os que não apresentam este fator de risco cardiovascular controlado apesar do seu correto diagnóstico.Por conseguinte, estes dados contribuirão para que os profissionais de saúde da unidade estejam mais recetivos a atualizar a sua formação, com vista à melhoria da vigilância do controlo lipídico e à diminuição do risco de ocorrência de um evento cardiovascular fatal.

Page 43: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 43 de 149

RELATO DE PRÁTICA CO6 - ESTÁGIO DE VOLUNTARIADO NO PANAMÁ

Autores: Rita Lopes Ferreira1, Renata Almeida2 e Ana Campos Portela3

Instituições: 1Usf Santiago; 2USF São Julião; 3USF Condestável Palavras Chave: Voluntariado, estágio, Panamá, Floating Doctors Introdução: No mês de maio de 2018, tivemos a nossa primeira experiência de voluntariado médico além-fronteiras. Como internas do 4º ano, escolhemos realizar um estágio de voluntariado, durante duas semanas, no Panamá, mais precisamente em Bocas del Toro. Com base nos objetivos apresentados de seguida, decidimos integrar a equipa dos Floating Doctors (FD), uma ONG que labora em Bocas del Toro, e que tem como missão primordial reduzir a carga de doenças no mundo em desenvolvimento e promover melhorias na prestação de cuidados de saúde. Objetivo(s): - Conhecer a estrutura e organização do sistema de saúde do Panamá através do acompanhamento e realização de consultas e visitas domiciliárias nas áreas da saúde materno-infantil, saúde de adultos e urgências;

- Contactar com a realidade epidemiológica tão distinta da nossa; - Conhecer os fatores socioculturais que influenciam os cuidados de saúde; - Perceber quais os motivos mais frequentes de consulta/urgência; - Realizar atividades informativas na comunidade incentivando a profilaxia de doenças evitáveis. Pertinência: Tal como qualquer outro tipo de voluntariado, o voluntariado médico não aceita que a dor, a miséria e o sofrimento sejam uma consequência irremediável do rumo do mundo e acreditamos que o acesso a cuidados de saúde é um direito de todos os seres humanos.

Descrição: Na base dos FD em San Cristóbal, o sino soava diariamente para nos organizarmos para, de barco, nos deslocarmos para as povoações das ilhas vizinhas. Quando chegávamos às povoações, que já sabiam previamente da nossa chegada, descarregávamos o material do barco e “montávamos” a clínica num espaço amplo. Praticávamos uma medicina preventiva e curativa, tal como no nosso dia-a-dia em Portugal, com a diferença abismal do tipo de pacientes que tratávamos, tanto a nível cultural, como de patologias, assim como de bens materiais de que dispúnhamos. As populações eram visitadas de três em três meses assegurando uma vigilância continuada de diabéticos, hipertensos, grávidas e mulheres em idade fértil.

Discussão: Além da experiência adquirida como médicas, a vertente humana foi largamente preenchida. Foi uma experiência completamente distinta da nossa prática diária onde, com poucos recursos, humanos e materiais, pudemos fazer a diferença.

Conclusões: O balanço final desta experiência foi largamente positivo. Podemos afirmar que os objetivos a que nos propusemos foram atingidos e que esta experiência foi única, tocante e, sem duvida, inesquecível.

Page 44: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 44 de 149

CO17 - TRANSMISSÃO DE MÁS NOTÍCIAS - RELATO DE PRÁTICA DE UM WORKSHOP PARA MÉDICOS DE FAMÍLIA

Autores: Joana Marinho1, Inês Rosa1, Cecília Coelho1 e Marta Marquês Instituições: 1USF Cova da Piedade Palavras Chave: Más notícias; SPIKES; Competências comunicacionais; Médico de família Introdução A transmissão de más notícias é uma situação com a qual o Médico de Família (MF) se pode deparar inesperadamente. Nem sempre é fácil comunicar essa informação ao utente. Estudos prévios demonstraram a importância de ensinar competências comunicacionais aos médicos na transmissão de más notícias. Assim, desenvolveu-se um modelo de workshop dirigido a MF/internos de Medicina Geral e Familiar (MGF), baseado no protocolo SPIKES - método de seis passos para comunicar más notícias.

Objetivo(s) Com o workshop pretende-se melhorar as competências comunicacionais dos MF para facilitar a transmissão de más notícias. Com este relato pretende-se partilhar a experiência e resultados da aplicação do workshop.

Pertinência O protocolo SPIKES oferece diretrizes sobre como comunicar informação médica de forma eficaz e empática, respondendo aos sentimentos e necessidades do utente e da sua família. Assim, vem auxiliar os MF na transmissão de informação penosa e complementar a formação médica na área comunicacional - competência-chave na consulta.

Descrição Foi organizado um workshop, aplicado em dois contextos diferentes (Congresso de Internos de MGF e Unidade de Saúde Familiar). Utilizou-se uma estratégia dinâmica e interativa, baseada em princípios andragógicos. Incluiu uma introdução teórico-prática do protocolo SPIKES, discussão em grupos, partilha de experiências e atividades de role-play. No final, aplicou-se um questionário de avaliação qualitativa e analisaram-se os resultados.

Discussão Relativamente aos questionários de satisfação aplicados no final, a pontuação média relativa à apreciação global foi de 4.9 em 5 pontos (42 preenchidos de 42 participantes). Os participantes partilharam o que aprenderam e o que irão utilizar no futuro. Foram também dadas sugestões de melhoria ao workshop, que serão tidas em consideração nos eventos futuros. Como palestrantes, foi muito gratificante contribuir para colmatar esta lacuna formativa nos médicos. Paralelamente, pudemos aperfeiçoar as nossas próprias competências comunicacionais, além de adquirir experiência na aplicação deste tipo de atividades que visam potenciar o conhecimento médico.

Conclusões Este workshop demonstrou ser uma oportunidade formativa, que resultou em elevado nível de satisfação dos formandos e formadores, numa área comunicacional essencial ao relacionamento terapêutico entre o MF e o utente. Poderá ser reproduzido e aplicado noutros contextos, dada a necessidade de capacitar os MF nesta área.

Page 45: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 45 de 149

CO24 - GIMGAS: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO POR PARES

Autores: Marina Lima1, Inês Rosa1 e Joana Marinho1Instituições: 1USF Cova da PiedadePalavras Chave: educação por pares, grupo de internos

Introdução: O Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada-Seixal (GIMGAS), fundado em 2008, é composto exclusivamente por internos de formação específica (IFE) de Medicina Geral e Familiar (MGF) do ACES Almada-Seixal (ACES AS).

Objetivos: Ultrapassar os constrangimentos do isolamento no exercício da prática clínica. Realizar formação interpares, sendo um espaço privilegiado para partilha de conhecimentos, troca de experiências, discussão de dificuldades e criação de soluções conjuntas.

Pertinência: Apesar de um programa de internato bem estruturado, e de uma díade sinérgica entre o interno e o orientador que fomenta a autonomia progressiva, a abrangência e diversidade de conhecimentos e competências exigidas a um médico de família, bem como o número crescente de IFE de MGF, impõem um esforço na formação que pode ser suportado na educação por pares.

Descrição: O GIMGAS constitui-se em dois grupos: um responsável pela organização anual das Jornadas do GIMGAS, isentas de apoio de indústria farmacêutica; e um de planeamento de reuniões clínicas ou oficinas mensais vocacionadas para IFE de MGF. As 1as Jornadas decorreram em 2014; em 2015 foram introduzidos workshops práticos, assim como trabalhos científicos em formato de poster. Em 2018, as 5as Jornadas excederam os 200 participantes, com 6 palestras teóricas, 4 workshops, 18 posters a concurso e, pela primeira vez, comunicações orais no formato “1 slide, 5 minutos”. Os questionários aplicados demonstraram elevada satisfação dos participantes. As reuniões clínicas, apresentadas maioritariamente por internos (de MGF e de outras especialidades) e divulgadas entre todos os IFE do ACES AS, procuram abordar temas relevantes para a prática ou para o internato.

Discussão: Os IFE de MGF estão singularmente posicionados para avaliar as principais barreiras na formação, pelo seu conhecimento ímpar das disparidades existentes, construindo ações que se adaptem na perfeição a essas necessidades. A proximidade geográfica permite a criação de uma rede de suporte mais eficaz entre internos.

Conclusões: Os grupos de internos podem ser uma ferramenta valiosa no complemento da formação durante o internato. Os próprios autoavaliam as suas necessidades de formação e mobilizam-se no sentido de corrigir essas lacunas, fortalecendo ainda nesse processo as relações com as especialidades hospitalares. Por outro lado, os IFE que pertencem à organização do grupo adquirem competências de planeamento, comunicação e gestão.

Page 46: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 46 de 149

CO26 - RELATO DE PRÁTICA - CONSULTA DE DOENTES COMPLEXOS SEM MÉDICO DE FAMÍLIA

Autores: Cecília Coelho1, Inês Rosa1, Inês Pires2, Sandra Lopes2 e Alexandra Fernandes3

Instituições: 1USF Cova da Piedade; 2USF Costa do Mar; 3USF Fernão Ferro + Palavras Chave: Médico de família (MF); enfermeiro; doença crónica; gestão

Introdução: Pretende-se divulgar e discutir a Consulta de Doentes Complexos sem Médico de Família (CDC), em funcionamento numa UCSP desde janeiro de 2018.

Objetivos: A implementação da CDC tem como objetivos: prestação de cuidados de saúde adequados a doentes complexos sem MF; ensaio de modelo de seguimento com enfermeiro gestor de caso; treino de internos de Medicina Geral e Familiar (MGF).

Pertinência: Na UCSP estão inscritos cerca de 12.400 utentes sem MF. Trabalham na UCSP enfermeiras competentes para o acompanhamento de doentes crónicos estáveis e existem internos de MGF no ACES que beneficiam em efetuar consultas a doentes complexos mal investigados e controlados, sob supervisão.

Descrição: A CDC destina-se a doentes complexos sem MF e sem possibilidade de acesso a outros cuidados de saúde. A equipa é composta por duas consultoras em MGF (responsáveis), 15 internos de MGF do 3º ano e 2 enfermeiras. A cada doente são realizadas pelos internos duas consultas médicas de uma hora. Caso reúna critérios para acompanhamento, é elaborado um Resumo Clínico Personalizado, que inclui o plano de acompanhamento negociado, cuja cópia é fornecida ao doente. Posteriormente, a gestão do doente passa a ser realizada pelas enfermeiras, em colaboração com as médicas responsáveis, até à atribuição de MF. Entre 1 janeiro e 30 junho 2018 foram realizadas 108 primeiras consultas, 80 segundas consultas e 6 consultas subsequentes. 71 doentes entraram para o programa de acompanhamento. Desses doentes: 40 são mulheres e 31 homens; a idade média é 64 anos; 70 têm Diabetes tipo 2; 68 têm três ou mais problemas crónicos; 55 são hipertensos; 44 têm dislipidemia; 22 têm obesidade; 19 têm patologia crónica osteoarticular; 8 têm perturbação depressiva.

Discussão: A CDC tem-se revelado benéfica para doentes (controlo e vigilância de multimorbilidade, participação na elaboração e posse do plano de acompanhamento), internos (treino de avaliação e gestão de doentes complexos, com tempo suficiente e supervisão) enfermeiras (empoderamento e promoção do trabalho em equipa) e ainda para a organização dos serviços (modelo alternativo centrado num enfermeiro gestor). Contudo, poderá ser encarada como uma paliação da falta de MF, diminuindo a pressão para a resolução deste problema.

Conclusão: Esta forma de organização dos cuidados pode ser de considerar em situações semelhantes, noutras unidades de saúde.

Page 47: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 47 de 149

CO30 - PARA ALÉM DO SNS – RELATO DE UM HIPPOKRATES EXCHANGE NO REINO UNIDO

Autores: Alexandra Pinho1

Instituições: 1UCSP Carnaxide Palavras Chave: intercambio; NHS

Introdução: O Hippokrates Exchange (HE) é um programa de intercâmbio de duas semanas num país europeu, sendo organizado pelo Movimento Vasco da Gama. Proporciona uma perspectiva ampla dos conceitos de Medicina Geral e Familiar (MGF) a nível profissional e pessoal. Participei no HE no Reino Unido (RU).

Objetivos: Perceber o funcionamento e a coordenação dos Cuidados de Saúde Primários no RU. Conhecer os recursos na comunidade orientados para os principais problemas de saúde. Discutir outras abordagens clínicas. Observar diferentes técnicas de comunicação.

Pertinência: Escolhi este país, por um lado, pela noção pessoal de ter um sistema de saúde organizado (o National Health System - NHS) e por outro pelo domínio da língua que me permitiria compreender a consulta. Optei por fazer este intercâmbio no último ano de internato, por já ter um conhecimento mais sólido do SNS, de forma a poder fazer uma comparação mais detalhada entre ambos os sistemas.

Descrição: Estive duas semanas numa cidade inglesa a acompanhar a actividade dos diferentes profissionais de saúde num centro de saúde. Na maioria dos dias, acompanhei a actividade dos General Practicioners (GP), que inclui consultas, visitas domiciliárias, contactos telefónicos e actividade não assistencial. As listas incluem em média 2000 utentes; contudo, a acessibilidade é bastante alta o que se deve à distribuição de tarefas. Por exemplo, a vigilância de grupos vulneráveis é feita por enfermeiros que se especializam em diferentes áreas. O NHS dispõe de vários cuidados de saúde preventivos, de base populacional, como rastreios, vacinação e consultas. A nível da comunidade, existem vários recursos que podem ser directamente contactados pelos doentes, como clínicas de patologia musculo-esquelética ou de patologia psiquiátrica.

Discussão: Em geral, considerei o NHS mais organizado e senti que certas tarefas, que em Portugal apenas são feitas de forma oportunística na MGF, já são feitas automaticamente ou por outros profissionais, deixando mais tempo para a gestão de novos sintomas/ patologias. Há também uma maior promoção da literacia em saúde, permitindo aos doentes tomar decisões verdadeiramente informadas. A comunicação entre Cuidados de Saúde Primários e Secundários é uma realidade.

Conclusão: O balanço sobre o HE é muito positivo. Sinto que cresci enquanto interna de MGF e melhorei os meus conhecimentos em três áreas: um sistema de saúde diferente, conhecimento médico e técnicas de comunicação.

Page 48: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 48 de 149

CO88 - VENHA CAMINHAR PELA SUA SAÚDE – UMA SESSÃO DE WALK WITH A DOC

Autores: Sara Antunes1Instituições: 1USF da BaixaPalavras Chave: walk with a doc; atividade física; promoção da saúde; educação para a saúde Introdução e pertinência: Segundo a OMS, a prática de 150 minutos semanais de atividade física (AF) moderada reduz as taxas de mortalidade por doença coronária e diabetes, entre outras. Em Portugal, de acordo com o Programa Nacional para a Promoção de Atividade Física (PNPAF), cerca de 80% da população não cumpre as recomendações para a prática de AF. Ainda assim, estudos comprovam que muitos utentes estariam dispostos a serem mais ativos se aconselhados pelo seu médico de família (MF). Objectivo: divulgar o projeto Walk with a Doc (WWD) e partilhar a experiência da dinamização do 8º WWD da USF da Baixa. Descrição e Discussão: Criado em 2015 nos EUA, o WWD foi implementado na USF da Baixa em Novembro/2017. Consiste na realização de caminhadas mensais lideradas por um profissional de saúde e com a participação de utentes inscritos na USF. Estas caminhadas são precedidas por uma sessão de educação para a saúde. Com o objectivo de encorajar a prática regular de AF, assumi a organização do WWD de Junho/2018 com o tema ‘Exercicío Físico’. Para isso, li documentos do PNPAF e informação relevante das Juntas de Freguesia mais próximas. A divulgação foi feita através de panfletos colocados em espaços visíveis e distribuídos nas consultas médicas e de enfermagem. O WWD contou com 20 participantes (média até então: 11 pessoas/sessão) e 3 médicos e iniciou-se com a exposição do tema, onde foram explicadas as diferenças entre AF e exercício físico, como aumentar a prática de ambos e quais o recursos comunitários disponíveis. Os utentes iniciaram um momento de discussão, partilhando experiências e sugerindo locais onde fazer exercício físico na área abrangida pela USF, o que superou as minhas expectativas. Seguiu-se, então, a caminhada de cerca de 2km que permitiu o esclarecimento de questões e o incentivo da prática de AF regular, de forma individual a cada um dos participantes, com boa aceitação. Conclusões: A promoção da saúde é uma das competências do MF. Atividades como o WWD permitem-no, usando como estratégia a realização de AF e associando-a um momento de convívio, fortalecendo também a relação médico-utente. O 8º WWD teve o maior número de participantes, graças à divulgação feita, o que permitiu uma maior troca de ideias e discussão, e a presença de 3 médicos levou a um aconselhamento mais personalizado. Este projeto tem tido feedback positivo e adesão crescente por parte dos utentes, chegando alguns a referir que a caminhada passou a fazer parte da sua rotina.

Page 49: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 49 de 149

CO99 - LITERACIA EM SAÚDE E EXERCÍCIO FÍSICO NA COMUNIDADE

Autores: Mª. do Rosário Faria Rodrigues1, Madalena Monteiro2, Tatiana Almeida2 e Rui Coelho2Instituições: 1USF S. João da Talha; 2USF São João da TalhaPalavras Chave: literacia em saúde; exercício físico; Walk with a doc; promoção da saúde; educação para a saúde; caminhadas; envelhecimento ativo.

Introdução: Metade dos portugueses apresenta resultados de literacia em saúde baixos e um dos piores resultados a nível europeu de prática de exercício físico (EF): 80% dos adultos são insuficientemente ativos; 60% são sedentários e estima-se que 14% das mortes anuais estejam associadas à inatividade física.

Objetivo(s): Motivar a aquisição de hábitos de vida saudáveis pela população, nomeadamente a prática de exercício físico regular e a diminuição da iliteracia em saúde. Pertinência: O exercício físico surge equiparado à terapêutica farmacológica em muitas doenças, já estando disponível na PEM. Porque não ir mais além e dar o exemplo na prática?

Descrição: O Walk With a Doc – São João da Talha (WWDSJT) é um programa de caminhadas aberto à comunidade, liderado por médicos onde é preparada uma sessão inicial de educação para a saúde de 10 min, seguida de caminhada de 60 min, com periodicidade mínima mensal. É uma iniciativa internacional que começou nos EUA e já se expandiu por todo o mundo. Já realizamos cinco WWDSJT com periodicidade quinzenal e cerca de 40 participantes por sessão, maioritariamente utentes reformados. A regularidade, a educação para a saúde e a vigilância médica em todas as fases do exercício, potencia os benefícios e minimiza os efeitos secundários de um exercício desadequado ou mal-executado. O feedback tem sido muito positivo, possibilitando não só a prática de EF, mas também a melhoria da relação entre a equipa de saúde e os utentes, criando um espaço aberto para a partilha e o esclarecimento de dúvidas relacionadas com a saúde. A comunicação e divulgação do projeto e de conteúdos de saúde nas redes sociais permite-nos chegar não só aos participantes, mas a toda a comunidade fazendo uma promoção ativa da saúde.

Conclusões: Após a primeira avaliação ao WWDSJT houve a necessidade do estabelecimento de parcerias com a autarquia e o club de atletismo local e foi sentida a necessidade de criar uma consulta de apoio aos participantes com estabelecimento de objetivos individuais e prescrição de exercício físico complementar. É imperativo apostar em programas de mudança de hábitos saudáveis, envelhecimento ativo e de educação para a saúde que estejam ao alcance de toda a população, tendo o médico de família um papel fundamental na promoção da prevenção em saúde e na mudança de comportamentos dos seus utentes e da comunidade.

Page 50: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 50 de 149

CO168 - ESTÁGIO DE GERIATRIA EM BOGOTÁ, COLÔMBIA

Autores: Emilia Salta1Instituições: 1USF Arco-ÍrisPalavras Chave: Geriatria; Bogotá

Introdução e Pertinência: A inversão das pirâmides etárias dos países desenvolvidos tem feito nascer a necessidade de cuidados especializados e orientados para a população geriátrica. Não obstante a competência de Geriatria ter sido criada em 2014 pela Ordem dos Médicos, continuamos a não ter esta especialidade em Portugal. Como futura médica de família senti sempre ter uma responsabilidade de desenvolver competências nesta área, razão pela qual procurei formação específica de qualidade fora do país.

Objectivos: Adquirir conhecimentos sobre a orientação diagnóstica e terapêutica das principais patologias geriátricas, em particular, neuropsiquiátricas na população idosa.

Descrição: O estágio decorreu entre 1 e 30 de Outubro de 2017, na Clínica da Memoria e Cognition Intellectus, em Bogotá, na dependência do Hospital Universitário San Ignacio.

A clínica realiza um atendimento abrangente a doentes com patologia do foro cognitivo e comportamental. Todos os utentes são observados por várias especialidades, no próprio dia, sendo posteriormente avaliados de forma integrada, em reunião. É uma clínica de diagnóstico interdisciplinar (Neurologia, Psiquiatria, Geriatria e Neuropsicologia). Engloba 3 dias por semana de visitas domiciliárias e possui ainda uma unidade de Hospital de Dia - Terapia Ocupacional.

Tive a oportunidade de assistir a 11 domicílios e 94 consultas: na 1ª semana assisti a consultas de Neurologia, na 2ª a consultas de Geriatria, na 3ª a consultas de Psiquiatria e na 4ª a consultas de Neuropsicologia.

Durante o estágio, para além das consultas já mencionadas, assisti a aulas de Psicofarmacologia, de Neurorradiologia, a discussão de casos clínicos de Geriatria e Psiquiatria, apresentados pelos internos das várias especialidades. Apresentei no estágio um trabalho de Revisão intitulado "Doença de Alzheimer".

Discussão e Conclusão: Adquiri uma vasta experiência na orientação diagnóstica e terapêutica dos vários tipo de Demência, no Défice Cognitivo Ligeiro, nas Cefaleias e em Perturbações psiquiátricas geriátricas.

Fiquei com a noção clara da necessidade de um maior investimento na área de Geriatria em Portugal e nas suas várias valências, em particular, nas vertentes neuropsiquiátricas.

Não obstante a distância e saudade da minha família e amigos, tive oportunidade de conhecer uma nova realidade social, uma nova organização dos cuidados de saúde e de adquirir uma nova visão como médica de família. Certamente este meu investimento foi amplamente recompensado.

Page 51: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 51 de 149

CO211 - IMPLEMENTAÇÃO DO M-CHAT NAS CONSULTAS DE VIGILÂNCIA DE SAÚDE INFANTIL - UM RELATO DE PRÁTICA

Autores: Joana Bragança1, Cátia Valente1, Joana Marinho1, Ana Catarina Correia1 e Célia Pinheiro1Instituições: 1USF Cova da PiedadePalavras Chave: M-CHAT; autismo; rastreio; neurodesenvolvimento

Introdução As perturbações do espetro do autismo (PEA) são um grupo heterogéneo de anomalias do neurodesenvolvimento caracterizadas por dificuldades na comunicação e interacção social, interesses restritos e comportamentos repetitivos. The Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT) é um questionário composto por 23 itens. A sua utilização como método de rastreio das PEA destina-se às crianças dos 16 aos 30 meses de idade. A sua aplicação é recomendada aos 18 meses, segundo o Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil (PNSIJ).

Objetivo(s) Aplicação sistemática do M-CHAT a todas as crianças frequentadoras da USF, na consulta dos 18 e 24 meses.

Pertinência O M-CHAT permite a deteção de casos suspeitos de PEA e a sua referenciação aos cuidados de saúde secundários (CSS). O diagnóstico precoce possibilita a realização de um plano de educação adaptado à criança, melhorando significativamente as suas capacidades futuras. Verificou-se que frequentemente o rastreio apenas é aplicado na suspeita de um desvio do desenvolvimento. Contudo, há alterações ténues do comportamento, que podem passar despercebidas, sendo importante rastrear todas as crianças.

Descrição Nas consultas dos 18 e 24 meses de idade, a enfermeira de família entrega o M-CHAT aos pais para que o preencham na sala de espera. Na consulta, o médico classifica-o e esclarece as dúvidas que possam ter surgido. Caso haja falha de 3 itens ou 2 itens críticos, a criança é referenciada aos CSS. Para que este processo decorresse de forma sistemática, fez-se uma reunião conjunta de médicos e enfermeiros para explicar a forma de aplicação do M-CHAT. Fizeram-se lembretes periódicos até todos os profissionais começarem a aplicar o rastreio rotineiramente.

Discussão O M-CHAT poderá facilitar o diagnóstico precoce das PEA e é, de acordo com a nossa experiência, fácil de utilizar e bem aceite pelos pais. A maior dificuldade encontrada pela equipa foi o esquecimento da sua realização nas primeiras semanas de implementação. Atualmente a sua aplicação tornou-se prática corrente e é feita de acordo com as recomendações do PNSIJ.

Conclusões A deteção e encaminhamento precoce dos casos suspeitos de PEA são fundamentais para potencializar o neurodesenvolvimento e melhorar o prognóstico destas crianças. Muitas vezes o M-CHAT não era aplicado nas idades-chave e por isso organizou-se a sua implementação rotineira na USF, sendo atualmente prática generalizada a sua aplicação a todas as crianças na consulta dos 18 e 24 meses.

Page 52: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 52 de 149

POSTERS INVESTIGAÇÃO PO34 - INSÓNIA NO IDOSO

Autores: Clara Peneda1 e Ana Filipa Fernandes1

Instituições: 1USF Vale do Sorraia Palavras Chave: Insónia, Idoso

Introdução/objetivo: A insónia crónica é frequente nos idosos e é geralmente observada em comorbilidade com outras condições psiquiátricas. A insónia define-se como uma perturbação do padrão normal de sono caracterizada por dificuldade em iniciar o sono e/ou manter o sono. As benzodiazepinas (BZD) estão recomendadas para tratamento a curto prazo da insónia, porém são prescritas por períodos de duração superior à recomendada e em doses excessivas, sobretudo nos idosos. O objetivo é avaliar as comorbilidades e a medicação utilizada no tratamento da insónia nos idosos.

Métodos: Estudo observacional, retrospetivo e analítico em utentes com mais de 65 anos e com Insónia (Código ICPC-2 P06) da USF Vale do Sorraia de Janeiro a Abril de 2018. Variáveis analisadas: idade, sexo, comorbilidades (P70 – Demência; P74/P75 – Ansiedade; P76 - Depressão), utilização de BZD, Antidepressivos, Anti-Psicóticos e Outros Fármacos não BZD. Fatores de exclusão: utentes com diagnóstico de Síndrome de Apneia do sono. A recolha dos dados foi efetuada recorrendo ao SClínico®, MIM@UF®. Processamento de dados:SPSS®versão22.

Resultados: O sexo feminino é cerca de duas vezes mais afetado do que o masculino. Dos 73 utentes analisados, 42% não tinham comorbilidades associadas. Dos utentes com comorbilidades- 43.8% tinham depressão, 32.8% ansiedade e 8,2% apresentavam Demência. Todas as comorbilidades foram mais frequentes no sexo feminino. A média de fármacos usados no tratamento da insónia foi de 2.75. As BZD’s foram a classe de fármacos mais utilizada. A BZD mais usada foi o Alprazolam(36.2%). Apenas 20.5% dos idosos não realizavam BZD’s. Dos utentes com comorbilidades, o medicamento antidepressivo mais prescrito foi a trazodona (40.9%); o medicamento anti-psicóticos mais utilizados foram a quetiapina (50%) e a Ciamemazina (16.7%). Quanto aos fármacos não benzodiazepinicos, o zolpidem foi a opção mais prescrita (67.9%) seguida da doxilamina(17.9%).

Discussão: Em 48% dos doentes com insónia existe doença psiquiátrica concomitante. As BZD’s são dos fármacos mais prescritos na prática médica. Sendo a insónia crónica uma doença de etiologia multifactorial, a sua prevenção baseia-se na adoção de bons hábitos de saúde, no controlo das comorbilidades e no diagnóstico e tratamento precoce da insónia aguda. A insónia crónica permanece subdiagnosticada, pelo que se verifica a necessidade de maior atenção e pesquisa sistemática deste problema, por parte dos médicos dos cuidados de saúde primários.

Page 53: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 53 de 149

PO78 - RASTREIO DA RETINOPATIA DIABÉTICA - UMA LISTA DE UTENTES EM ANÁLISE

Autores: Alexandra Gonçalves1 e Catarina Morgado1

Instituições: 1USF Tejo Palavras Chave: retinopatia diabética, rastreio, retinografia

Introdução: A retinopatia diabética (RD) é a principal causa de cegueira evitável dos 20-64 anos. A identificação de doentes de risco, diagnóstico e tratamento precoces das alterações oculares, são fundamentais na preservação da visão, com vantagens custo-benefício. O rastreio da RD deve ser anual, nos diabéticos tipo 2 a partir do diagnóstico e tipo 1 após 5 anos. Vários ACES implementaram um rastreio populacional e gratuito através de retinografia.

Objetivos: Estimar a taxa de cobertura do rastreio da RD do ACES nos diabéticos de uma lista de utentes de um Médico (LUM) da USF Tejo; Estimar a prevalência de RD nos utentes rastreados.

Metodologia: Estudo Descritivo, Observacional e Transversal. População: diabéticos da LUM (T89,T90),Maio 2018. Amostra:diabéticos da LUM com rastreio RD no ACES entre Maio de 2017 e 2018. Recolha de dados na Plataforma SIIMA: diabéticos submetidos a rastreio e resultado. Consulta do processo clínico - Sclínico: anos de evolução da doença, valor da última HbA1c e terapêutica com insulina. Análise estatística em Excel.

Resultados: A LUM estudada tem 1853 utentes, dos quais 134 diabéticos (7.2%). No período analisado foram rastreados 68 diabéticos (n=68), o que perfaz uma taxa de cobertura de 50.7%. 63% eram do sexo feminino. A média de idades foi 73.3 anos (DP= 8.7). 2 apresentaram RD não proliferativa (ligeira) traduzindo uma prevalência de 2.9%. Foram identificados 2 utentes com maculopatia e 9 com pelo menos um dos olhos não classificável, tendo sido referenciados a consulta de oftalmologia.

Discussão: A RD é assintomática na fase inicial e pode permanecer durante a progressão pelo que o rastreio tem um papel essencial no diagnóstico precoce. Foi analisada apenas uma LUM, não se podendo extrapolar os resultados, no entanto a taxa de cobertura obtida (50.7%) parece-nos razoável tratando-se de um programa de rastreio recente. A prevalência calculada (2.9%) foi inferior à estimada para a população rastreada na ARSLVT (4.5%). De referir que não foram incluídos diabéticos com retinografia há menos de 1 ano, vigiados em oftalmologia ou já com RD diagnosticado pelo que a taxas calculadas estarão subestimadas. O número crescente de diabéticos vigiados nos cuidados de saúde primários torna pertinente a realização de rastreio a nível dos ACES. Cabe ao Médico de Família identificar utentes elegíveis e referenciar para oftalmogia os que apresentam alterações com o intuito de preservar a visão e minimizar o impacto desta complicação.

Page 54: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 54 de 149

PO128 - REMOÇÃO ANTECIPADA DO IMPLANTE SUBCUTÂNEO DE ETONOGESTREL NUMA UNIDADE DE CUIDADOS DE SAÚDE PERSONALIZADOS (UCSP)

Autores: Filipa Vicente Rodrigues, Ana Helena Almeida1, Marina Rodrigues1 e Daniela Lopes1

Instituições: 1UCSP Azambuja Palavras Chave: «Remoção antecipada» «Implante subcutâneo de etonogestrel» Introdução e Objetivo: A remoção antecipada do implante subcutâneo é causa frequente de discórdia médico-doente e de desperdício de recursos de saúde, sobretudo, quando há formas de a evitar. Com efeito, pretendemos determinar os motivos de remoção antecipada na população da nossa UCSP, se seriam evitáveis e quais as suas consequências para a mulher a fim de reduzir o nosso número de remoções desnecessárias. Métodos: O presente estudo é do tipo observacional, transversal e descritivo cuja amostra corresponde à totalidade das mulheres que colocaram implante na nossa unidade entre Julho de 2014 e Abril de 2018 com consentimento informado assinado. Consistiu na elaboração de um questionário em formato google forms que foi preenchido usando os registos informáticos do Sclínico e Plataforma de Dados de Saúde de cada mulher. Resultados: Em 73 mulheres utilizadoras de implante com idades compreendidas entre 15 a 50 anos de idade (média 30 anos), 11 (15%) removeram-no antecipadamente e 7 destas logo no primeiro ano. Os motivos foram: Hemorragia não programada incómoda (HNPI) (N=6), das quais só 3 tinham realizado terapêutica com contraceção oral combinada (COC); acne (N=1); ganho ponderal (N=1) galactorreia (N=1); viuvez (N=1) e desejo de engravidar (N=1). Após a remoção, a maioria das mulheres com padrão hemorrágico incómodo, optou por contraceção hormonal combinada o que, no caso de 4 mulheres, representou um regresso ao método anterior. Do grupo de mulheres que sofreram outros efeitos adversos, 2 optaram por não fazer contraceção. Ocorreram 2 gravidezes não planeadas após a remoção, sem registo de interrupção voluntária. Conclusão: A HNPI foi o motivo de remoção mais frequente à semelhança do que foi descrito noutros estudos, mas os nossos resultados dizem-nos que estamos a subtratá-la, dado que não tratámos 42% das mulheres com este quadro e que o tratamento com COC não aumentou o tempo de manutenção do implante. As escolhas contracetivas pré e pós implante sugerem que estas remoções eram evitáveis por uma orientação adequada prévia à sua colocação. A ocorrência de efeitos adversos que afetam negativamente a auto-estima são motivos mais facilmente aceites pelo médico, mas provocam receio na mulher quanto ao uso de contraceção a posteriori, colocando-as em risco de gravidezes não planeadas. Uma boa comunicação médico-doente é essencial para evitar remoções desnecessárias.

Page 55: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 55 de 149

PO167 - VACINAÇÃO CONTRA A RUBÉOLA NO PUERPÉRIO DE MULHERES NÃO IMUNES NA USF CARNIDE QUER

Autores: Catarina Possidónio, Yara Andrade1, Francisca Topa e Inês Encarnação1

Instituições: 1USF Carnide Quer Palavras Chave: Rubéola Congénita, Vacinação, Grávidas

Introdução: Como prevenção da Síndrome da Rubéola Congénita, segundo as recomendações da DGS no PNV 2017, as mulheres em idade fértil que não tenham uma história credível de doença devem apresentar 2 doses das vacinas VAR/VASPR (com um intervalo mínimo de 4 semanas entre as duas administrações) ou serologia atestando imunidade contra a rubéola. No caso da serologia ser negativa, mesmo com 2 doses anteriores de VAR/VASPR, pode ser administrada uma 3ª dose. A vacina não deve ser administrada durante a gravidez. A amamentação não é impeditiva de vacinação. Após vacinação, deve haver uma espera de pelo menos quatro semanas até nova gravidez.

Objetivo: Conhecer a prevalência de grávidas não imunes à rubéola que são vacinadas no puerpério na USF Carnide Quer.

Metodologia: Estudo observacional retrospectivo. População: Mulheres grávidas em 2017, inscritas no programa de saúde materna da USF Carnide Quer. O número total de grávidas de 2017 foi obtido através do sistema informático MIM@UF. Posteriormente foram avaliadas as análises de rotina da gravidez no sistema informático Sclínico de onde se extraíram as grávidas não imunes à rubéola do ponto de vista serológico. Posteriormente através do programa VACINAS foi verificado se foram vacinadas no puerpério e/ou qual o número de doses administradas antes ou depois da gravidez. Os dados foram processados em Microsoft Excel®. Critérios de exclusão: Grávidas sem registo de serologias da rubéola no Sclínico.

Resultados: Na avaliação inicial foram selecionadas 210 grávidas em 2017, das quais 184 apresentavam análises de rotina da gravidez com serologias da rúbeola. Destas, 16 (8,6%) não apresentavam imunidade. Das que não apresentavam imunidade: 1 tinha registo de 3 doses de VASPR; 9 tinham registo de 2 doses de VASPR; 4 tinham registo de 1 dose de VASPR; e 2 não tinham registo de vacinação. Destas apenas uma grávida foi vacinada no puerpério.

Discussão: Obtivemos 16 grávidas não imunes à rubéola segundo a serologia de imunidade. Destas, apenas uma tinha 3 doses de VAR/VASPR, pelo que não é necessário revacinar. Das restantes, apenas uma foi vacinada no puerpério, pelo que mais 13 grávidas deveriam ter sido vacinadas. Com este trabalho pretende-se alertar os médicos de família sobre a importância da vacinação no puepério de grávidas não imunes que tenham menos de 3 doses de vacina VAR/VASPR, com vista a prevenir a Síndrome de Rubéola Congénita em gravidezes futuras.

Page 56: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 56 de 149

RELATO DE CASO PO2 - UM DIAGNÓSTICO DE SÍFILIS SECUNDÁRIA - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Autores: Raquel Moura1 e Rita Portugal Instituições: 1USF Pinhal do Rei

Enquadramento: A sífilis é uma doença infeciosa sexualmente transmissível causada pelo Treponema pallidum, potencialmente crónica e fatal se não tratada. A sífilis secundária surge habitualmente entre 2 a 12 semanas após o estadio primário. O envolvimento cutâneo consiste numa dermatose generalizada constituída por pápulas não pruriginosas, de tonalidade violácea e dimensões variáveis e com envolvimento palmo-plantar. A penicilina semanal durante 3 semanas continuas a ser a primeira escolha de tratamento.

Descrição de caso: Doente do sexo feminino, 22 anos. Antecedentes pessoais irrelevantes. Recorre à consulta por quadro de erupção cutânea generalizada, não pruriginosa, especialmente na região dos membros inferiores bilateralmente, com cerca de 1 mês de evolução. Ao exame objetivo evidenciava-se a presença de lesões maculares violáceas localizadas nos membros superiores e palmas das mãos e membros inferiores. Ponderado diagnóstico diferencial de pitiríase rosada atípica, sífilis secundária ou reação alérgica. Foi requisitado estudo analítico que revelou VDRL positivo. Da investigação subsequente salienta-se Treponema pallidum Hemaglutination (TPHA) positivo, tendo sido diagnosticada sífilis secundária. A doente foi medicada com penicilina intramuscular semanal durante 3 semanas e aconselhada a uso de método barreira. Foi feita a declaração obrigatória da doença, tendo sido a doente aconselhada a comunicar a situação ao seu parceiro sexual que, após o seu consentimento, foi convocado para esclarecimento da situação.

Discussão: Estabelecida a infeção de sífilis, esta pode ser classificada em diferentes estadios evolutivos de acordo com os sinais e sintomas apresentados e tempo de evolução da doença. Desta forma, a sífilis pode apresentar-se como primária, secundária, terciária ou tardia e latente, mimetizando muitas vezes outras patologias e representando o seu diagnóstico para o clínico um grande desafio. O envolvimento cutâneo é quase universal e perante o envolvimento palmo-plantar, a sífilis deve ser sempre um diagnóstico a considerar. Este caso ilustra a importância do Médico de Família no reconhecimento e referenciação adequada, possibilitando o tratamento precoce destes casos.

Page 57: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 57 de 149

PO15 - MERALGIA PARESTÉSICA- UM DIAGNÓSTICO POUCO CONHECIDO

Autores: Rute Nascimento1 e Gilda Ferreira2

Instituições: 1usf arandis oeste sul; 2usf arandis Palavras Chave: parastesia; nevralgia; sensibilidade ENQUADRAMENTO A meralgia parestésica (MP), ou síndrome Bernhardt–Roth, consiste numa mononeuropatia compressiva manifestada por disestesia na distribuição do nervo cutâneo femoral lateral (ncfl). Pacientes que apresentam MP tipicamente descrevem sensação de queimadura, frio, choque, parestesia ou alteração da sensibilidade cutânea na face ântero-lateral da coxa. Nessa área, não se observam alterações motoras ou da força muscular, estando os reflexos preservados, diferenciando-se das radiculopatias. Os sintomas podem ser leves e fugazes, desaparecendo espontaneamente, ou intensos, limitando o paciente durante anos. DESCRIÇÃO DE CASO Utente do género feminino, 35 anos de idade, sem antecedentes cirúrgicos ou médicos relevantes, sem medicação crónica. História obstétrica: G2P2A0, último parto a 06/09/2017 (39 semanas), sob epidural, distócico (ventosa), sem intercorrências. Em consulta de saúde infantil da filha de 6 meses, a 12/03/2018 refere parestesia na face antero-lateral da coxa direita. Foi pedida marcação de consulta de saúde de adulto se persistência para avaliação da sintomatologia, tendo regressado a 23/04/2018. Ao exame médico, descreve alteração da sensibilidade na face externa da coxa direita, sem cãimbras, sem fatores de alivio ou agravamento, negando trauma ou alterações termoálgicas, com 3 meses de evolução. À observação, ausência de atrofias ou fasciculações, edemas ou deformidades em ambos os membros inferiores; sem alterações da amplitude ou mobilidade da anca e dos membros inferiores. Indolor à palpação da região das cristas ilíacas e trocantérica, mas com alteração da sensibilidade superficial tátil e dolorosa em região delimitada da face externa da coxa direita. Dado o exame objetivo, foi colocada hipótese de MP, tendo sido pedido eletromiograma dos membros inferiores. A utente regressa a 18/06/2018 com resultado de eletromiograma positivo para MP do nfcl. DISCUSSÃO A MP poucas vezes é considerada como diagnóstico diferencial, visto a sintomatologia se sobrepor à de outros mais comuns como a lombalgia. A avaliação clinica é feita através do mapeamento cuidadoso da área de disestesia, aumentando o grau de suspeição para MP, confirmando o envolvimento do ncfl. O diagnóstico de MP é essencialmente clínico, não tendo sempre a eletromiografia um resultado esclarecedor. O tratamento inicial é conservador e os doentes podem beneficiar do uso de analgésicos, anti-inflamatórios, roupas largas e perda de peso, conforme a causa da compressão.

Page 58: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 58 de 149

PO18 - POLIMEDICAÇÃO NO IDOSO – REVISÃO DE UM ESQUEMA TERAPÊUTICO

Autores: Cristina Lufinha Miranda1 e Rita Caetano1

Instituições: 1USF Mactamã Palavras Chave: Critérios Beers; Critérios STOPP/START; Polimedicação; Idoso Enquadramento

Tendo em conta que o envelhecimento progressivo da população e o aumento da esperança média de vida se fazem acompanhar do aumento da prevalência de patologias crónicas, a polimedicação do idoso torna-se um tema com cada vez mais importância. Para além de constituir um problema de saúde publica, o uso de medicação em excesso é também uma causa de morbilidade, pois as alterações fisiológicas do envelhecimento tornam o idoso muito suscetível a reações adversas e interações medicamentosas.

Descrição de Caso

Doente do sexo feminino, de 83 anos, com história de hipertensão arterial, perturbação da ansiedade, perturbação do sono, obesidade, gonartrose, raquialgias, síndrome vertiginoso e cataratas. A medicação habitual da doente é Indapamida, Carvedilol, Tramadol + paracetamol, Clorazepato dipotássico, Lorazepam, Ciamemazina, Naproxeno em SOS e realiza ainda a vacina da gripe anualmente. Realizámos a análise deste caso através dos Critérios de Beers e dos Critérios STOPP/START. A análise segundo os critérios de Beers destaca para a utilização inapropriada de benzodiazepinas em idosos pelo elevado risco de efeitos adversos e para a utilização inapropriada de anti-psicóticos, excepto em situações especificas, não aplicáveis neste caso. A análise segundo os critérios STOPP/START alerta também para a utilização inapropriada das benzodiazepinas, que é contraindicada por um período superior a 4 semanas e em doentes propensos a quedas. Segundo os mesmos critérios, a utilização de anti-psicóticos de 1ª geração é potencialmente inapropriada pois existem outros fármacos mais seguros e eficazes. Estes critérios alertam ainda para a utilização crónica de opióides, que não deve ser realizada sem o uso concomitante de um laxante. No entanto admitimos que se deva valorizar este último critério apenas se existirem queixas de obstipação.

Através da utilização destes critérios foi possível fazer uma revisão exaustiva do esquema terapêutico desta doente.

Discussão

A utilização destes algoritmos e tabelas ajuda-nos, muito frequentemente, a rever indicações terapêuticas e a avaliar a medicação crónica dos doentes idosos, alerta-nos também para a existência de fármacos potencialmente inapropriados ou com risco de efeitos secundários graves, e permite-nos, desta forma, ponderar a simplificação do esquema terapêutico. É importante ter em conta que o juízo clínico e a avaliação sistemática dos antecedentes e queixas do doente são também fundamentais neste processo.

Page 59: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 59 de 149

PO19 - UM CASO ATIPICO DE CEFALEIA

Autores: João Gago e Raquel Baptista Leite1

Instituições: 1USF São Martinho de Alcabideche Palavras Chave: Arnold Chiari tipo I ; cefaleia; enxaqueca;

Introdução

A malformação de Arnold Chiari tipo I (MAC tipo I) é definida pela herniação das amígdalas cerebelosas, estando presente em 1-4% da população. Sabe-se que, na ressonância magnética (RM) a herniação até 3 mm abaixo do forâmen magno é normal, entre 3-5 mm está no limite sendo que, mais de 5 mm é considerado patológico. A cefaleia é o sintoma inicial mais comum, levando ao diagnóstico em 25-50% dos casos. A obstrução da circulação do líquido cefalorraquidiano pode ser importante na origem desta cefaleia que tipicamente é severa e paroxística, induzida pelas manobras de valsava.

Casco Clínico

Sexo masculino, 62 anos, com antecedentes pessoais de: HTA, osteoartrose, HBP e depressão. Medicado habitualmente com: perindopril 5 mg, 1 comprimido/dia; glucosamina 1500 mg, 1 saqueta/dia; tansulosina 0.4 mg, 1 comprimido/dia; sertralina 100 mg, 1 comprimido/dia; alprazolam 0.5 mg, 1 comprimido/dia. Recorre ao Centro de Saúde a 05/11/2014 por cefaleia, vertigem, acufenos e alterações visuais desde os 30 anos que se tornaram mais recorrentes e desencadeados pela manobra de valsava. Ao exame neurológico, apenas a destacar, discreto nistagmo na fase rápida para a esquerda. Foi pedida tomografia computorizada craneoencefálica (TAC CE) que revelou “conflito do espaço no buraco occipital devido a importante herniação de ambas as amígdalas cerebelosas, resultando deste facto o apagamento praticamente completo dos espaços de líquor na transição bulbomedular e a compressão do bulbo e do segmento medular cervical superior, com desvio anterior, estando na presença de uma malformação de MAC tipo I. Apesar do manifesto conflito de espaço no forâmen magno não se observa alterações na dinâmica do líquor, nomeadamente com critérios de hidrocefalia”. Encaminhou-se para a consulta de Neurocirurgia do Hospital Egas Moniz, que enviou a Neuroftalmologia.

Conclusão

Apesar de geralmente a cefaleia associada à MAC tipo I ter características típicas, pode-se manifestar por outros tipos de cefaleias como enxaqueca e cefaleia de tensão. O médico de família (MF) não pode esquecer este diagnóstico diferencial já que, tem uma prevalência importante e pode estar presente quer em adultos como crianças, manifestando-se geralmente no adulto jovem, com uma cefaleia refratária à terapêutica médica e com repercussão nas atividades de vida diária. A descompressão do forâmen magno é geralmente indicada em doentes sintomáticos, com melhoria em cerca de 75% da sintomatologia neurológica nos doentes.

Page 60: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 60 de 149

PO21 - DIABETES INAUGURAL OU HIPERGLICEMIA DE STRESS?

Autores: Raquel Baptista Leite1, Cristina Pinto Gago2 e Ana Vasconcelos1

Instituições: 1USF São Martinho de Alcabideche; 2Hospital de Cascais Palavras Chave: diabetes, hiperglicemia, stress, infância

A resposta ao stress numa situação clínica aguda na idade pediátrica incluí hipertermia, taquicardia, taquipneia e leucocitose. Em 5% dos casos existe também aumento transitório dos níveis séricos de glicose relacionado mais com a severidade da situação clínica (mais grave quando elevações maiores e maior duração da hiperglicémia) do que com o diagnóstico. Esta hiperglicemia deve-se à elevação de hormonas que estimulam a glicogenolise e neoglucogénese que tipicamente normaliza quando o stress cessa.

Sexo masculino, 3 anos, vive com os pais, irmão gémeo e meia-irmã de 14 anos. Gémeo nascido de cesariana às 36 semanas, sem antecedentes pessoais relevantes. Antecedentes familiares Mãe psoríase, rinite alérgica, Pai saudável, irmã enxaqueca, irmão má progressão ponderal transitória, prima em 2º grau com Diabetes Mellitus (DM) tipo1. Recorre ao Centro de Saúde a 27.1.2018 para consulta aberta por odinofagia, dor abdominal e febre (temperatura axilar máxima 38ºC que cedia ao paracetamol) com 24 horas de evolução. Sem outra sintomatologia acompanhante. Prescrita terapêutica sintomática e medidas gerais. No dia seguinte, por persistência da clínica e noctúria com urina escura, recorreu ao serviço de urgência. Analiticamente, com Hb 12,2 g/dL, Leucócitos 4010/mcL (N: 62%, L 30,8%), Plaquetas 263000, PCR 1,03 mg/dL, glicémia 213 mg/dL, Urina II com glicémia 500 mg/dL, corpos cetónicos ++++. Ficou internado com a hipótese de diagnóstico de DM inaugural com hiperglicemia sem cetose (mas com cetonúria) sem acidose. Ao fim de 5 dias teve alta, medicado com insulina. À data da alta foi feito ensino aos pais, foi acionada a saúde escolar e o médico de família (MF). Teve vigilância na consulta na Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) em que se foram verificando hipoglicémias, um mês depois do internamento, até que lhe foi retirada a insulina. Mantendo-se atualmente sem medicação e sem diagnóstico de DM, teve alta da consulta da APDP. Hipótese mais provável de hiperglicemia de stress.

A dúvida que se coloca para o MF é se a hiperglicemia de stress predispõe para a DM. A hiperglicemia detetada durante período de stress é geralmente uma situação benigna e transitória que não necessita de investigação adicional. Deve-se ter presente que quando há clínica de DM, quando existem valores persistentes de glicémia elevada e história familiar de DM, os doentes devem ser submetidos a mais investigação, nomeadamente de DM monogénica, que representa 1-2% dos casos de DM.

Page 61: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 61 de 149

PO31 - PÚRPURA DE HENOCH-SCHONLEIN NO ADULTO

Autores: Cecília Coelho1, Marina Lima1 e Luísa Rocha1

Instituições: 1USF Cova da Piedade Palavras Chave: Vasculite, Púrpura de Henoch-Schonlein, Médico de Familia

Enquadramento: A púrpura de Henoch-SchÖnlein (PHS) é uma vasculite sistémica leucocitoclástica de pequenos vasos caracterizada pela deposição tecidual de imunocomplexos contendo IgA. Ocorre predominantemente em crianças, surgindo em adultos em menos de 10% dos casos. Envolve sobretudo pele, articulações, aparelho gastro-intestinal e tecido renal. No adulto, o envolvimento renal ocorre em frequência variada e existe um risco acrescido de doença renal crónica. Apesar de se tratar de uma vasculite autolimitada pode haver recorrências.

Descrição do caso: Sexo feminino, 39 anos, divorciada, com 3 filhos. Como antecedente clínico apresenta rinite alérgica. Sem antecedentes cirúrgicos e sem medicação habitual. Sem hábitos tabágicos ou alcoólicos. Em 29 de Março de 2018 recorreu à consulta aberta na USF por lesões purpúricas nos membros inferiores com 5 dia de evolução. Negava febre, dor articular ou abdominal, perdas hemáticas ou alterações da urina. Ao exame objectivo: normotensa, apirética, lesões purpúricas palpáveis nos membros inferiores. Foi pedido avaliação analítica. No entanto, dia 02 / 18, recorre novamente à consulta aberta com agravamento das queixas, apresentado dor e edema articular na região tibiotársica, com limitação da marcha, tendo sido encaminhada para o serviço de urgência. Analiticamente apresentava discreta leucocitose e anemia, VS: 50 mm, função renal normal e PCR negativa. Análise sumária da urina: proteinúria de 20mg/dL. Estudo imunológico negativo, VDRL negativo e serologias víricas negativas. Imunoglobulinas séricas normais, com excepção de Imunoglobulina IgA com 558 mg/dl; título de anti-estreptolisina O neg. Ecografia renal normal. Admitida provável PHS. Realizou Biopsia das lesões cutâneas compatível com vasculite leucocitoclástica por IgA. Iniciou medicação com Naproxeno e Prednisolona. Actualmente verifica-se melhoria clínica, apresentado regressão das lesões cutâneas, mas mantém medicação e vigilância para detecção precoce de envolvimento renal.

Conclusão: Uma das características da especialidade de Medicina Geral e Familiar relaciona-se com a gestão da doença numa fase precoce da sua história natural.Este caso realça a maior gravidade clínica da PHS no adulto, assim como a necessidade de vigilância do envolvimento renal. O papel do Médico de Família reveste-se de importância vital quer no diagnóstico precoce, na detecção de complicações, na identificação de recidivas e na gestão de efeitos secundários da terapêutica.

Page 62: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 62 de 149

PO36 - UM DOENTE DIFÍCIL

Autores: Carina Afonso1, Rita Abelho1, João Farrancha1 e Joana Chaves2

Instituições: 1USF Artemisa; 2UCSP Parede – ACES Cascais Palavras Chave: doente difícil; relação médico-doente; comunicação; hipocondria

Enquadramento

Todos conhecemos a sensação de ler na agenda o nome do utente e antever uma consulta complexa. É importante não ganhar “anticorpos” contra estes doentes e levar a consulta com paciência e tranquilidade. Com este caso pretende-se ilustrar várias dificuldades com que nos deparamos durante as consultas de um destes doentes.

Descrição

Doente do sexo masculino, 49 anos, casado e com um filho (todavia apenas o doente faz parte da lista do MGF). Tem antecedentes de bócio multinodular sem repercussão na função tiroideia. Desde os primeiros registos informáticos que apresenta uma preocupação excessiva com alguns sintomas (principalmente do foro gastro-intestinal) referindo “devo ter alguma doença” (sic). Esta situação agravou-se após o internamento da esposa por tuberculose pulmonar complicada por tromboembolismo pulmonar em Abril-2015. Em Maio-2016 inicia quadro de dejeções diarreicas com hematoquezias esporádicas. Pede-se colonoscopia que revela colite ulcerosa. Foi enviado a consulta de gastro sendo medicado com sucesso. Perante a patologia gástrica controlada e persistência da ansiedade em relação aos sintomas deste foro, o doente é enviado a consulta de psiquiatria. Lá é diagnosticado com hipocondria, em Agosto-2016 e medicado com paroxetina e pregabalina que diminuem de facto a ansiedade e ruminação do doente em relação à preocupação excessiva com os seus sintomas. O doente conhece o seu diagnóstico, mas mantém pouco sentido crítico. Em Novembro-2017, após várias consultas (10 desde o inicio do ano) com queixas psicossomáticas e características da sua ansiedade o doente refere boca seca, rigidez matinal por mais de 30 minutos, edema das metacarpofalângicas e dor lombo-sagrada de ritmo inflamatório. Tendo análises sugestivas de doença reumatológica o doente é enviado a consulta desta especialidade aguardando o diagnóstico final.

Discussão

É um doente muito frequentador da USF, cujo tempo de consulta é difícil de gerir, requer atenção redobrada, muito espírito crítico e uma boa gestão emocional (do médico e do doente). Embora por vezes seja difícil manter a empatia, não podemos esquecer que os sintomas mais inocentes são fonte de preocupação e sofrimento para o doente e que já foram de facto indicativos de doença orgânica significativa. Seria importante que a mulher e o filho do doente fizessem parte do mesmo ficheiro para conhecer melhor este doente, a sua família e restante contexto. Reforça-se assim a pertinência da expressão “médico de família”.

Page 63: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 63 de 149

PO39 - PSORÍASE INVERSA - UM DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DESAFIANTE

Autores: Filipa Neves 1Instituições: 1USF São João da Talha Palavras Chave: Psoríase Inversa; diagnóstico diferencia

A Psoríase Inversa (PI) é um tipo de psoríase rara que se caracteriza por afetar a zona das pregas cutâneas. A psoríase é uma doença crónica, inflamatória, multifatorial e que afeta cerca de 1-5% da população mundial. Ocorre igualmente em homens e mulheres, pode surgir a qualquer idade e é mais comum na raça caucasiana, em detrimento da afro-americana. A etiologia da doença não está completamente esclarecida. Tende a manifestar-se por surtos, que se relacionam com fatores ambientais ou sistémicos, incluindo stress e infeções. O diagnóstico é clínico, sendo a apresentação típica semelhante à da psoríase comum, exceto as áreas afetadas e a aparência das lesões, as quais são bem demarcadas, eritematosas e tendem a ser brilhantes.

AA, M, caucasiano, 74 anos, reformado. Família nuclear, classe de Graffar média. Recorre à consulta por aparecimento de novo de lesões cutâneas nas virilhas, membros superiores e região torácica anterior, com cerca de 2 semanas de evolução, algo pruriginosas. Como antecedentes pessoais, destaca-se HTA, dislipidemia e rinite alérgica. Sem história prévia pessoal ou familiar de psoríase. Ao exame, objetiva-se placas eritematosas de bordos bem delimitados, em ambas as virilhas, com aparência ligeiramente brilhante, suave e de aspeto atrófico, sem escamas. Concomitantemente, apresentava lesões nos membros superiores e região anterior do tórax ligeiramente diferentes: placas eritematosas e escamosas, com bordos bem delimitados, com algum relevo. O paciente foi tratado, durante 4 semanas, com corticóide de média potência nas lesões do tórax e membros superiores e um imunomodulador nas virilhas. Na consulta de reavaliação, verificou-se resolução praticamente total das lesões.

Do diagnóstico diferencial (DD) da PI fazem parte as infeções fúngicas, que muitas vezes mimetizam este quadro. As infeções provocadas por tinea têm bordos mais elevados, escamosos e anulares. Já o intertrigo pode apresentar-se de maneira muito semelhante à PI. O tratamento das exacerbações consiste na aplicação de corticóides de baixa a moderada potência e no uso de calcipotrieno e imunomoduladores para a terapêutica a longo prazo. Tendo em conta que as lesões cutâneas constituem um sintoma comum na consulta de MGF, é importante reconhecê-las e estar alerta para o DD, principalmente, com as infeções fúngicas que podem agravar com o tratamento específico da psoríase. É uma patologia com grande impacto na qualidade de vida e potencialmente na sobrevivência a longo-prazo.

Page 64: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 64 de 149

PO41 - GRAVIDEZ NUM CASO DE ESCLEROSE MÚLTIPLA

Autores: João Apolinário1 e Rita Carvalho1

Instituições: 1USF Santa Maria de Tomar Palavras Chave: Esclerose múltipla ; Gravidez

Enquadramento

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória e neurodegenerativa que apresenta uma evolução fenotípica heterogénea. Afeta principalmente jovens adultos, com uma razão de 3:1 com predomínio no sexo feminino. Deste modo, torna-se particularmente relevante equacionar o impacto de uma possível gravidez na evolução da doença. O estrogénio e a progesterona são moléculas com forte efeito imunomodulador, estando diretamente relacionadas com a imunotolerância induzida pela gravidez. Apesar de não afetar o prognóstico a longo prazo, a associação da gravidez a esta patologia está relacionada com uma redução no risco de exacerbações durante o período de gestação, mas a uma maior probabilidade de ocorrência no período pós-parto.

Descrição de Caso

Mulher de 40 anos, casada, nulípara, pertencente a família nuclear, Duvall fase I, engomadeira reformada por invalidez. Como antecedentes pessoais apresenta EM diagnosticada em 2015. Recorreu à consulta de doença aguda em março de 2018 por amenorreia com 2 meses de evolução e suspeita de gravidez após realização de teste rápido na farmácia. Não fazia uso habitual de qualquer método anticoncepcional, nunca tendo engravidado até então. Foi pedido o teste imunológico de gravidez que confirmou o diagnóstico, tendo a utente entrado em contacto com os cuidados de saúde secundários, através do hospital de dia de Neurologia, de forma a poder efetuar o planeamento da gestão da sua doença em concomitância com o estado gravídico. A utente tem feito vigilância da gravidez simultaneamente nos cuidados de saúde primários e secundários por se tratar de uma gravidez de alto risco. Ás 19 semanas realizou o rastreio pré-natal de cromossomopatias que revelou a existência de risco aumentado de aneuploidia (Síndrome de Down) tendo sido submetida a amniocentese onde se verificou a presença de um cariótipo 46XY.

Discussão

Trata-se de um caso em que os mecanismos de coping e gestão da doença assumem uma grande importância tanto para a utente como para a sua dinâmica familiar. A ocorrência de uma gravidez numa fase da vida em que os elementos do casal já não a julgavam provável, despertou questões sobre a gestão da doença crónica e a possível ocorrência de surtos, numa altura em que esta se encontrava estabilizada. Cabe assim ao médico de família, enquanto elo de ligação e gestor de recursos de saúde, coordenar a informação, gerir expectativas e fazer a orientação de possíveis intercorrências.

Page 65: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 65 de 149

PO42 - PARO(U)XETINA

Autores: Sílvia Gomes1

Instituições: 1ACES Lx Ocidental e Oeiras Palavras Chave: Prevenção quaternária; Iatrogenia; Plano terapêutico Enquadramento A descontinuação de terapêutica antidepressiva associa-se a risco de sintomas globalmente designados por “síndrome de descontinuação”, mais bem caracterizado na terapêutica com inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SSRI). Os mais frequentes são as tonturas, fadiga, cefaleias e náuseas. Além de serem mais prováveis quando a descontinuação é feita de forma abrupta ou demasiado rápida, sabe-se que outros fatores estão associados a um aumento da sua incidência e intensidade, nomeadamente uma menor semivida dos fármacos. A semiologia relacionada com a toma de medicação é algo muito frequente, principalmente nos utentes polimedicados, o que vem reforçar a importância de conhecer os antecedentes e medicação crónica dos utentes observados em consulta, fazendo uma revisão da mesma em cada contacto. Descrição de caso Sexo masculino, 59 anos. Antecedentes pessoais: hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia, glaucoma, úlcera duodenal, ex-fumador, perturbação depressiva. Medicação crónica: metformina 700 mg (t.i.d), sitagliptina 25 mg, dapagliflozina 10 mg, paroxetina 20 mg, losartan 50 mg.

Anamnese: hipersudorese, ansiedade, sensação de cabeça vazia e tonturas. Quadro com 5 dias de evolução. Nega outra semiologia. Observado duas vezes no serviço de urgência, na mesma semana, por queixas sobreponíveis, com diagnóstico de hiperglicemia e encaminhamento para otimização de controlo metabólico.

Durante a revisão da medicação habitual, refere ter suspendido a paroxetina há 6 dias, após ter completado 6 meses de tratamento, pois tinha entendido que deveria fazê-lo. A suspensão foi feita sem desmame.

Recomendou-se a reintrodução da medicação antidepressiva na dose habitual, agendou-se reavaliação para dentro de 2 semanas e explicou-se sinais de alarme. Na consulta de seguimento, refere resolução total das queixas.

Discussão

A revisão da historia prévia dos doentes, em especial da medicação crónica, pode ser fulcral para solucionar os seus problemas. Por este motivo, é essencial fazê-la, mesmo em contexto de urgência, poupando utilizações desnecessárias dos cuidados de saúde e transtorno ao utente.

Dentro dos SSRI, a paroxetina é o fármaco que mais vezes se associa a sintomas de privação, algo que está relacionado, entre outros fatores, com o seu reduzido tempo de semivida em relação a outros fármacos da mesma classe. No âmbito da prevenção quaternária, reforça-se a importância da negociação e partilha do plano terapêutico instituído.

Page 66: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 66 de 149

PO47 - ESPASMOS DO CHORO - PATOLOGIA OU MANIPULAÇÃO?

Autores: Válter Ferreira1 e Inês Santos Silva2

Instituições: 1USF Ars Médica; 2USF Ars Medica Palavras Chave: Espasmos; Pediatria; Pedopsiquiatria; Comportamento; Personalidade

Enquadramento: Os espasmos do choro são uma sequência típica de eventos que podem levar à apneia e perda de consciência, esporadicamente com crise convulsiva secundária. Com uma prevalência de 4 a 5% das crianças com idade igual ou inferior a 8 anos, ocorre mais frequentemente entre os 6-18 meses. As crises podem ser de três tipos: cianótico (mais prevalente), pálido ou misto. São eventos de curta duração e de resolução espontânea, sendo a perda de consciência a linha que define a gravidade. O diagnóstico é essencialmente clínico, sendo necessária a exclusão de outras etiologias mais graves como as causas neurológicas ou cardíacas. Não existe terapêutica de emergência ou profilática para esta condição, que normalmente desaparece espontaneamente no inicio da idade escolar, sendo causadora de enorme ansiedade nos pais destas crianças.

Descrição do caso: Bebé do género feminino, de 12 meses fruto duma gravidez desejada, vigiada e de termo com parto distócico por cesariana. Manteve aleitamento materno até aos 12 meses sempre com boa progressão estatoponderal e bom desenvolvimento psicomotor, frequentando a creche desde os 6 meses com boa adaptação. Recorreu ao serviço de urgência pediátrica por episódio súbito de choro, seguido de apneia, cianose e paragem respiratória com perda de consciência de cerca de 30/40 segundos e recuperação espontânea. Ficou internada nos cuidados intermédios tendo realizado ecocardiograma, ECG, EEG e RM-CE sem alterações. Teve alta clinicamente bem, sendo encaminhada ao médico de MGF para reavaliação e seguimento.

Discussão: Trata-se dum fenómeno involuntário, autolimitado e benigno, mas um motivo importante de recurso aos serviços de urgência pediátrica e aos cuidados de saúde primários. A sua associação a distúrbios de comportamento, empiricamente observada na clínica, parece ser real. No entanto, não se deve à patologia em si, mas aos comportamentos que desperta nos pais ou cuidadores. Tem grande relevância para o médico de MGF que segue a família lidando com a sua angústia. Importa reconhecer o problema atempadamente, sem ambiguidade no diagnóstico, não o desvalorizando excessivamente. Facultar aos pais toda a informação acerca da condição torna-se fonte de tranquilidade, contribuindo para estabelecer, com estes, uma relação empática desprovida de qualquer atitude crítica, com vista à prevenção do ciclo de comportamentos disfuncionais que levam a um aumento do risco de psicopatologia na criança a médio e longo prazo.

Page 67: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 67 de 149

PO50 - ABUSO SEXUAL: UM PUZZLE DIFÍCIL DE MONTAR

Autores: Beatriz Coelho Palavras Chave: Maus-tratos infantis; abuso sexual; diagnóstico; cuidados de saúde primário

Os maus-tratos infantis, incluindo o abuso sexual, é um dos diagnósticos mais difíceis de estabelecer. A sua deteção precoce é fundamental, e a intervenção deve ser rápida e eficaz para prevenir a recorrência e a morbilidade. O abuso sexual de menores é um problema de saúde pública, com consequências devastadoras no desenvolvimento infantil. A maioria dos casos de abuso sexual de crianças permanece por diagnosticar, e o contributo dos profissionais de saúde na denúncia continua a ser inferior ao de outras entidades.

Em julho de 2018, uma jovem de 21 anos é trazida pela mãe à consulta na USF, para pedir consulta de psicologia – teria sofrido bulling na escola; está em casa desde os 18 anos, sem estudar nem trabalhar; mostra comportamento evitante no início da consulta, desvia o olhar, não responde a perguntas; após a mãe sair do consultório conta que sofreu abuso sexual por parte do padrasto, entre os 10 e os 16 anos, falecido em 2017; ameaçava-a para não contar a ninguém. Ao verificar os antecedentes, vemos que em 2013, aos 15 anos, recorreu a uma consulta na USF por queixas anorexia, tremor, insónia e menstruação irregular desde há 2 anos, sem alterações ao exame objetivo. Encaminhada para consulta de pedopsiquiatria, onde foi avaliada, medicada, e encaminhada para psicoterapia. Abandonou a consulta. Nunca mais retornou à USF.

Este caso clínico ilustra a complexidade do diagnóstico, chamando a atenção para a dura realidade de existir, em 33% dos casos de abuso, um contato médico prévio, sentido à posteriori como uma oportunidade perdida de diagnóstico. Apesar de não existir nenhuma ferramenta validada para o rastreio sistemático do abuso sexual na infância, um exame objetivo completo deve ser sempre realizado, com a criança completamente despida, independentemente das queixas ou suspeitas. Devemos estar atentos para os fatores de risco e sinais de alerta de maus tratos. Em crianças com queixas inespecíficas – vómitos, irritabilidade, dor abdominal, cefaleias, astenia, anorexia, ansiedade- e/ou múltiplas vindas à consulta pelo mesmo sintoma, a hipótese de maus tratos deve ser descartada.

O abuso sexual é uma “doença” da criança, mas também da sua família, colocando o médico de família numa posição privilegiada de prevenção, diagnóstico e intervenção. A recuperação de uma situação de abuso sexual na infância é um processo complexo, multifacetado, que implica uma equipa multidisciplinar de profissionais compreensivos e dedicados.

Page 68: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 68 de 149

PO52 - AFINAL NÃO ERA “HÉRNIA”. A IMPORTÂNCIA DAS RED FLAGS.

Autores: Rita Pombeiro Silva1, Diana Rocha1, Soraia Branco1, Catarina Ornelas1 e Marta Fabião1

Instituições: 1USF Magnólia

A lombalgia é uma queixa frequente a nível dos CSP. Em alguns casos a lombalgia é atribuída a hérnias discais inocentes. Uma história clínica completa e um exame neurológico adequado são fundamentais. Os diagnósticos diferenciais são inúmeros e podem estar associados a patologias graves. Para nos ajudar foram criadas Red Flags, perante as quais devemos proceder a uma investigação etiológica aprofundada da lombalgia.

Homem de 62 anos, vive sozinho, autónomo nas AVD, serralheiro, sem médico de família, AP de: alcoolismo crónico (em abstinência), tabagismo (70 UMA), doença hepática crónica, descritos no processo, e referia ter uma “hérnia lombar” sic. Em Maio de 2017 recorreu ao SU com quadro de lombalgia intensa, com uma semana de evolução, com irradiação ao MI esquerdo; teve alta após melhoria sintomática com analgesia. De Junho a Agosto de 2017 recorreu várias vezes ao SU pelo mesmo motivo. Foram agendadas TC-lombar e consulta de ortopedia para Novembro. Ainda em Agosto, recorre ao SU por lombalgia com irradiação, associada a incapacidade para a marcha, falta de força muscular dos membros inferiores, sensação de picadas na planta no pé esquerdo e perda ponderal de 5kg em sete meses. Apresentava-se emagrecido, em cadeira de rodas, com diminuição da força muscular bilateral dos membros inferiores, mais evidente à esquerda (1/5), associada a hipostesia. Referia pouco alívio da dor após terapêutica analgésica e anti-inflamatória, mantendo limitação para a marcha. Fez TC-lombar urgente que revelou uma volumosa lesão expansiva osteolítica envolvendo as vértebras sagradas, asa esquerda do sacro e osso ilíaco homolateral. Foi internado com diagnóstico de neoplasia primária ou secundária a esclarecer. Foi confirmado o diagnóstico de carcinoma esofágico ulcerado e metastizado à distância. Após várias complicações no internamento e já sob cuidados paliativos o doente acabou por falecer, após um mês de internamento.

Apenas 10 a 15% das lombalgias apresentam uma causa específica. A etiologia tumoral é rara, mas aumenta à medida que a idade avança. Os carcinomas do esófago metastizam para o osso em cerca de 9% dos casos, mais raramente para o sacro. Red Flags como uma perda ponderal inexplicada e défices neurológicos motores progressivos deverão ser sempre valorizadas. Este caso vem relembrar a importância da prestação de cuidados continuados e longitudinais pelo médico de família.

Page 69: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 69 de 149

PO54 - NEOPLASIA GÁSTRICA E OS EFEITOS DO ESTILO DE VIDA: UM RELATO DE CASO

Autores: Carolina Boavida Ferreira1, André Oliveira1 e Carolina Henriques Abreu2

Instituições: 1USF São Julião; 2USF São Julião de Oeiras

A neoplasia gástrica é a 4ª causa de morte por cancro a nível mundial. Assintomática, quando se manifesta já se encontra em fase avançada e sem tratamento curativo. Com semiologia inespecífica e sem rastreio eficaz, o diagnóstico tardio contribui para o seu prognóstico reservado.

Homem, 72 anos, caucasiano, casado, reformado (segurança). Ex-fumador há 5 anos (50 UMA), consome 50g álcool/dia. Apresenta HTA, β-talassémia minor, disfunção erétil, estando medicado com enalapril+hctz, bisoprolol e ác. fólico. Recorre à USF por queixas de azia e pirose desde há 4 meses. Acrescenta que desde há 1 semana “não suporto nada no estômago, sinto um fogo” (sic.), referindo náusea, vómitos e obstipação. Sem alterações à observação. A PSOF de 2018 era negativa. Foi medicado com omeprazol e pedida EDA urgente: “lesão ulcerada gástrica com bordos elevados irregulares deformando a região pré-pilórica, impedindo a passagem para o duodeno”. Pela suspeita de neoplasia, foi referenciado à consulta de Cirurgia Geral. Pelo resultado inconclusivo das biópsias, foi realizada nova EDA: “adenocarcinoma de tipo tubular”. A TC efetuada mostrou “no lobo inferior pulmonar (…) área de consolidação com contornos espiculados sugestivo de envolvimento secundário. (…) gânglios locoregionais.”. Por se tratar de um tumor estenosante, foi sujeito a gastrectomia parcial. Fez broncofibroscopia (aguarda relatório) e iniciará quimioterapia após recuperação cirúrgica.

O adenocarcinoma é responsável por 95% das neoplasias gástricas. Com a invenção da refrigeração e melhoria das condições sanitárias, a incidência tem diminuído. A etiologia é multifatorial, envolvendo fatores genéticos (10% dos cancros gástricos), alimentação (álcool, salgados, fumados, pickles), tabagismo, infeção crónica por H. pylori, radiação ou obesidade. A semiologia inespecífica inclui náusea, disfagia, perda hemorrágica ou massa abdominal, entre outros, aparecendo numa fase tardia. A cirurgia é o único tratamento potencialmente curativo, podendo ser adicionada a quimio/radioterapia. No entanto, devido ao diagnostico tardio, a maioria dos doentes apresenta recorrência neoplásica pós-cirúrgica ou estadio tumoral avançado com indicação apenas para paliação. Assim, é essencial uma correta educação da população no sentido da prevenção desta patologia, evitável. O médico de família deve ter um papel ativo na prevenção e diagnóstico, e no seguimento destes doentes, integrando uma equipa multidisciplinar, essencial no doente neoplásico.

Page 70: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 70 de 149

PO58 - UM SIMPLES PEDIDO DE RENOVAÇÃO DE RECEITUÁRIO: UM CASO CLÍNICO

Autores: Rita da Fonseca Serejo1, Claudia Penedo1 e Tatiana Bormotova1

Instituições: 1USF Emergir Palavras Chave: Cuidados de saúde primários; coordenação de cuidados.

ENQUADRAMENTO

Os Cuidados de Saúde Primários (CSP) estabelecem prestam cuidados singulares, envolvendo a criação de uma relação longitudinal e abrangente, essencial tanto para os profissionais de saúde como para os doentes, que ganham confiança na prestação de cuidados.A qualidade da relação terapêutica pode ser determinante na abordagem e orientação dos problemas de saúde do doente.

DESCRIÇÃO DO CASO

Homem, 80 anos, HTA e HBP. Recorre à USF, para deixar pedido de renovação de receituário. Verificando que o seu antigo Enfermeiro de Família (EF) se encontrava na sala de tratamentos, dirigiu-se ao seu encontro por mau estar geral prolongado, que vinha a desvalorizar.O EF procedeu à avaliação dos sinais vitais, objetivando TA 160/57mmHg e FC 30bpm, solicitando observação médica. À observação referia sensação de pressão na região pré-cordial, com 15 dias de evolução, astenia e sensação de dispneia, pouco valorizados pelo doente. De destacar ao exame objetivo: Pulso rítmico e amplo, bradicardia, FR 32 bpm; Sem repercussão hemodinâmica. ECG: ritmo sinusal; FR 33bpm; Bloqueio de ramo direito, desvio do eixo para a direita. Dado o quadro clínico, explicou-se ao doente a necessidade de envio ao SU. Inicialmente recusou, desvalorizando os sintomas e não compreendendo as reais implicações da sua condição. Após solicitação de apoio familiar e explicação mais detalhada, facilitando a sua compreensão, relativamente à patologia e importância de orientação em contexto hospitalar urgente, o doente concordou. Foi referenciado ao SU do Hospital de Cascais. Realizou ECG - BAV alto grau - e ecocardiograma TT - sem alterações major. Foi observado pela Cardiologia, com indicação para internamento e colocação urgente de Pacemaker Definitivo (PMD).Após três dias foi submetido a colocação de PMD, sem intercorrências. Posteriormente recorreu à USF para tratamentos de ferida pós-cirúrgica e, sobretudo, para agradecer a abordagem pelos profissionais prestada.

DISCUSSÃO Este caso pretende ilustrar o papel dos profissionais de saúde nos CSP, a importância da relação que se estabelece com o utente, o trabalho multidisciplinar e a coordenação de cuidados. Retrata a importância da comunicação, sobretudo dada a ileteracia em saúde existente que, por vezes, leva a uma desvalorização generalizada de sinais e sintomas importantes.A aliteracia associada à falta de uma relação de qualidade com os profissionais pode levar os utentes a recorrer em fases tardias da doença, com implicação prognóstica.

Page 71: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 71 de 149

PO59 - PSICOSE INAUGURAL NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS - UM EXEMPLO DE CUIDADOS INTEGRADOS APLICADO A UM CASO PRÁTICO

Autores: João Moreira de Sousa1 e Vanessa Martins1

Instituições: 1UCSP Sete Rios Palavras Chave: psicose; cuidados de saúde primários; cuidados integrados; saúde mental Enquadramento: Utente do sexo masculino, 53 anos, vive com a esposa e os dois filhos, cozinheiro (iniciou novo trabalho há dois meses). Situação de insuficiência económica recente. Sem AP relevantes e sem medicação habitual. Ex-fumador e hábitos alcoólicos moderados. Sem AF relevantes. Família nuclear, estádio IV do Ciclo de Duvall, classe média, Apgar familiar >7.

Descrição de caso: a 16 de março recorreu a consulta de Atendimento Complementar (AC) no Centro de Saúde por perturbação do sono, sendo medicado com estazolam id. Quatro dias depois, volta ao AC com a esposa, que refere que o utente verbalizou ideias delirantes. O médico optou por notificar a sua médica de família e agendar consulta para o dia seguinte. Vem o utente sozinho à consulta. Está ansioso, confuso, com fácies deprimida. Verbaliza ideias delirantes persecutórias, relacionadas com o trabalho (“as pessoas olham-me mal”) associadas a alucinações acústicas (“ouço bater à porta, tenho medo que me façam mal”). É evidente algum insight para os sintomas (“eu sou uma pessoa normal, mas estou confuso, não estou bem”) e também sensação de tristeza e desespero (“tudo o que faço é pelos meus filhos”). A médica de família referencia-o ao SU, contactando a esposa por telefone no sentido de esta o acompanhar fisicamente. Fica agendada consulta para o dia seguinte, à qual o utente comparece. Está mais calmo, ponderado, mas sonolento. Traz informação clínica do psiquiatra, que avaliou o doente no SU: foi diagnosticado com quadro esquizomorfo, com ideação delirante persecutória e desconfiança, medicado com olanzapina 10 mg e referenciado a consulta de Psiquiatria. Um mês depois, em consulta de reavaliação, o utente está mais calmo, com humor eutímico, já sem perturbação do sono e não verbaliza sintomatologia psicótica. Voltou ao trabalho e mantém adesão à terapêutica.

Discussão: Parece tratar-se de um primeiro episódio psicótico com sintomatologia positiva importante (ideação delirante persecutória). Não é possível estabelecer um diagnóstico nosológico concreto com base num único episódio. Perante um episódio psicótico inaugural nos cuidados de saúde primários, nem sempre existem condições para garantir o seguimento e intervenção adequados em situação aguda. Neste caso em particular, foi notória a interação entre médico de família, o utente, os familiares e o médico psiquiatra, que foi fundamental para a gestão adequada da situação aguda e permitiu uma evolução favorável para o utente.

Page 72: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 72 de 149

PO74 - POR ONDE ANDA O TREPONEMA

Autores: Maria Leonor Vale e Sofia Guerreiro1

Instituições: 1USF Venda Nova ENQUADRAMENTO

Trata-se uma doença infeciosa provocada pelo treponema pallidum, cujo período de incubação é em média de 3 semanas (pode oscilar entre 10 dias e 10 semanas). A transmissão da infeção ao feto faz-se por via transplacentária, sendo o risco de transmissão mais elevado na sífilis precoce. Como resultado de infeção fetal, a gravidez pode terminar em aborto espontâneo, nado-morto, recém-nascido de termo ou pré-termo portador de sífilis congénita sintomática.

DESCRIÇÃO DO CASO

A.R., sexo feminino, de 33 anos, vive com os quatro filhos e tem atualmente o marido a cumprir pena em estabelecimento prisional. Índice obstétrico: G4A0P4.

No dia 29/12/2017 vem a consulta por teste de gravidez positivo e amenorreia de três meses. Foi pedida ecografia de datação e análises do primeiro trimestre. Na consulta agendada para janeiro não fez análises. Uma semana depois traz análises do primeiro trimestre com VDRL negativo.

Nova consulta às 22 semanas, nega queixas e intercorrências na gravidez. Foram pedidas análises do segundo trimestre que também não fez a tempo da consulta agendada. Uma semana depois traz análises nas quais se destaca ligeira anemia sem outras alterações. Pedem-se análises do terceiro trimestre.

No dia 17/05/2018, traz análises do terceiro trimestre que revelaram: VDRL positivo com titulação de 1/1 com TPHA positivo. Mantém ligeira anemia. Ecografia do terceiro trimestre sem alterações. Iniciou tratamento com penicilina benzatínica 2.4 MUI, foi referenciada para a consulta de obstetrícia e foi feita notificação SINAVE.

Parto ocorreu no dia 03/07/2018, eutócico, sem intercorrências. R. N. VDRL negativo.

DISCUSSÃO

Trata-se de uma grávida que positivou VDRL durante a gravidez. Segundo o artigo 120 do regulamento geral dos estabelecimentos prisionais: o recluso está autorizado a receber visitas íntimas e segundo o artigo 123 nestes encontros são disponibilizados preservativos e informação escrita sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Foi possível identificar a existência de relações sexuais desprotegidas em visitas intimas, sendo que uma terá acontecido dentro do período de incubação do T. Pallidum. Tratando-se de uma doença sexualmente transmissível, é importante a notificação SINAVE de modo a poder determinar o contexto epidemiológico, em particular neste caso tratando-se de eventuais contactos em estabelecimento prisional.

Page 73: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 73 de 149

PO90 - ALANINA AMINOTRANSFERASE - UM NOVO BIOMARCADOR DE FRAGILIDADE E MORTALIDADE DOS MUITO IDOSOS

Autores: Marta Bragança e Antonietta Denaro Palavras Chave: síndrome de fragilidade, muito idosos, alanina aminotransferase

Enquadramento: Em 2015, quase 20% da população portuguesa tinha 65 anos ou mais e 2,6% tinha >85 anos. A fragilidade é uma síndrome clínica com impacto significativo na vida dos idosos e daqueles que os rodeiam, e está associada a uma maior utilização dos serviços de sociais e de saúde. Seriam úteis marcadores clínicos e laboratoriais confiáveis preditores de morbilidade e mortalidade nessa faixa etária para facilitar a sua avaliação, acompanhamento e tratamento.

Descrição: Doente do sexo feminino, 99 anos, com hipertensão arterial e fibrilhação auricular, vive com um filho, tem a presença assídua da neta e apresenta dependência moderada (escala de Barthel). Apresentava, desde há 4 anos, cansaço progressivo, perda ponderal e anemia ferropénica, sem perdas hemáticas visíveis. Foi à Urgência há 3 anos por toracalgia, no contexto de anemia (hemoglobina 8.2 g/dl) microcítica e hipocrómica. Apresentava discreta melhoria um mês após instituição de ferro e ácido fólico. Devido ao agravamento progressivo do cansaço e manutenção da anemia, agora no contexto de pancitopenia, foi referenciada para Hematologia. Devido a idade e recusa da doente em realizar exames invasivos, foi assumida provável síndrome de displasia medular, sendo proposta vigilância, manutenção da terapêutica com ferro e ácido fólico e vigilância pelo médico de família.

No último ano, apresenta agravamento progressivo do cansaço, valores tensionais controlados e hemograma sobreponível. Ao fazer uma avaliação retrospetiva das análises da doente, detetou-se que alanina aminotransferase apresentava um declínio progressivo nos últimos 2 anos. Apresentava valores consistentemente abaixo de 20 U/L e, na última medição, apresentava um valor de <9 U/l. Estes valores são coincidentes com o agravamento da fragilidade e estado clínico da doente.

Comentário: Recentemente a redução da alanina aminotransferase foi associada à diminuição da sobrevida a longo prazo na população idosa e aumento da fragilidade. A possível interpretação é de que a menor atividade deste marcador indica envelhecimento e fragilidade, relacionados com a retroversão e redução do fluxo sanguíneo do fígado. Na população muito idosa estudos mostram que níveis extremamente baixos de alanina aminotransferase indicaram uma mortalidade relacionada a todas as causas, a doenças cardiovasculares e a neoplasias. A atividade da alanina aminotransferase pode, portanto, ser um biomarcador útil na previsão da sobrevida a longo prazo de doentes idosos.

Page 74: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 74 de 149

PO93 - UM OLHAR LONGITUDINAL SOBRE A DOENÇA NEUROLÓGICA PROGRESSIVA

Autores: Carina Nunes1 e Ana Guiomar1

Instituições: 1USF Emergir - S. Domingos de Rana Palavras Chave: Disartria; disfagia; doença do neurónio motor

Enquadramento: O relato descrito inicia-se por uma história de disfagia, sintoma atribuído a distintas etiologias pelo que se torna fundamental uma adequada anamnese, exame objectivo e vigilância da evolução. Quando a este se associa disartria, a etiologia mais provável será neurológica e torna-se essencial uma boa articulação com os Cuidados de Saúde Secundários (CSS) pela possibilidade de se tratar de uma doença neurológica rapidamente progressiva.

Descrição de caso: Utente de 77 anos, sexo feminino, recorreu à consulta da médica de família (MF) em Novembro de 2017 por queixas de disfagia para sólidos de início súbito, tendo sido pedida endoscopia digestiva alta (sem alterações). Por agravamento da disfagia para sólidos e líquidos e novo sintoma de rouquidão, foi referenciada a consulta de Otorrinolaringologia onde foi avaliada, tendo sido admitido status pós-AVC, pedida TC de crânio (sem alterações) e consulta de Neurologia. Nesta apresentava-se com disfonia e tremor postural à esquerda, tendo sido estabelecida a hipótese diagnóstica de tremor essencial. Dias depois recorreu à sua MF mantendo queixas de disfagia, disfonia com disartria de agravamento progressivo e dispneia de novo. Referia também dificuldade em tomar a medicação. Perante as queixas e colocando como hipótese diagnóstica uma eventual doença do neurónio motor (DNM) contactou-se directamente o serviço de Neurologia de referência e foi observada em consulta de urgência, tendo sido colocadas as hipóteses de DNM, miastenia gravis ou miopatia e pedidos estudos adicionais. Foi recomendado o uso de espessante na alimentação. Um mês e meio depois recorreu a consulta com a sua MF por agravamento do quadro com disartria acentuada, não conseguindo alimentar-se. Foi referenciada ao Serviço de Urgência e internada para implantação de gastrostomia endoscópica percutânea (PEG). Teve alta com o diagnóstico de DNM, mantendo seguimento em consultas de Neurologia e Medicina Geral e Familiar, onde tem sido prestado acompanhamento sobretudo em relação às consequências psicológicas e limitações derivadas de uma doença desta gravidade.

Discussão: Neste caso tornou-se fundamental uma adequada gestão de recursos por parte da MF. É, pois, reforçada a importância desta como contacto longitudinal dentro do sistema de saúde numa doença de gravidade progressiva e mau prognóstico, com necessidade de uma abordagem multidisciplinar e da coordenação de cuidados.

Page 75: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 75 de 149

PO105 - RELATO DE CASO: DERMATOSE PURPÚRICA PIGMENTADA

Autores: Joana Leal1 e Luis Loureiro2

Instituições: 1USF Terra Viva; 2USF Cartaxo Terra VivaPalavras Chave: Dermatose purpúrica pigmentada; petéquias; pigmentação cutânea; telangiectasias; neoplasias linfoproliferativas.

As dermatoses purpúricas pigmentadas (DPP) constituem um grupo heterogéneo de dermatoses benignas raras. É maior a incidência no sexo masculino, cerca de cinco vezes mais, na faixa 40-60 anos. Manifestam-se clinicamente pelo aparecimento de petéquias e pigmentação cutânea, sobretudo nos membros inferiores. O diagnóstico é clínico, mas pode ser apoiado por biópsia. Múltiplas causas têm sido descritas, como infeção local, fármacos, dislipidémia, mas a etiologia continua incerta. Não há terapêutica definida, podendo passar por eliminar contato com o agente, utilização de corticosteróides e anti-histamínicos. Apesar do bom prognóstico, foram descritos casos de malignidade, como o linfoma cutâneo de células T, associados a esta patologia.

Mulher de 64 anos, com AP de HTA e dislipidémia, adenocarcinoma gástrico (gastrectomia parcial 2017), úlcera duodenal medicada com Perindopril 5mg + Amlodipina 5mg; Sinvastatina 20 mg; Terbinafina 250 mg e Vitreoclar®, que inicia 4 dias antes da consulta com a sua médica de família, quadro de erupção cutânea no membro inferior esquerdo caracterizado por petéquias que se aglomeram formando lesões circulares pigmentadas não pruriginosas. Nega febre, infeção viral recente e ingestão de novos fármacos ou produtos naturais. Foi sugerida a realização de telerrastreio dermatológico que a doente aceitou e iniciou empiricamente betamentasona creme 2x/dia. O estudo analítico e imunológico não revelou alterações. Pelo rastreio dermatológico foi colocada a hipótese de DPP tendo a doente sido chamada para realização de biopsia dentro de 5 dias.

A biópsia mostrou na derme extravasamento eritrocitário, infiltrado linfocitário perivascular e deposição de hemossiderina nos macrófagos, sem necrose fibrinóide ou infiltrados de neutrófilos nas paredes dos vasos. Os achados corroboraram a hipótese de DPP e excluíram a possibilidade de vasculite. O caso é relevante por se tratar de uma doente do sexo feminino, o que mostra sua a particularidade e porque alerta para uma patologia rara, com manifestações comuns, que pode preceder o diagnóstico de uma patologia maligna. Os médicos de família, como médicos de primeira linha que acompanham o utente ao longo da vida, não apenas no episódio de doença aguda, devem ter em consideração esta patologia, pois apesar da benignidade das DPP, é de extrema importância tomá-las em conta, não só pela sua heterogeneidade clínica e sintomas, mas também pela associação demonstrada a neoplasias linfoproliferativas.

Page 76: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 76 de 149

PO113 - O IMPORTANTE PAPEL DO MÉDICO DE FAMÍLIA NA SÍNDROME DOLOROSA VESICAL

Autores: Vera Leitão Esteves1, Teresa Martins2, Andreia Ribeiro1, Joana Ressurreição1 e Ricardo Simões de Araújo1

Instituições: 1USF Descobertas; 2USF Monte Pedral Palavras Chave: Síndrome Dolorosa Vesical; Controlo sintomático na Síndrome Dolorosa Vesical Enquadramento: A Síndrome Dolorosa Vesical representa um espectro de patologia dolorosa sem etiologia definida localizada na região pélvica, vesical ou uretral, acompanhada muitas vezes por sintomas irritativos. Frequentemente, os doentes com esta síndrome realizam múltiplos exames complementares de diagnóstico, em consulta de Medicina Geral e Familiar (MGF) e em Urologia, sem conseguirem obter um diagnóstico definitivo ou um alívio completo dos seus sintomas, acarretando frequentemente diminuição importante da qualidade de vida. A este nível, é de extrema importância a actuação do Médico de Família que, habilitado para avaliar o utente de forma holística, pode avaliar as diversas abordagens disponíveis e selecionar a mais adequada ao perfil do utente. Descrição de Caso Clínico: CS, 62 anos. Desde há cerca de 20 anos com dor na região uretral, que descreve como uma picada intensa que surge a qualquer altura do dia, inclusivamente durante a noite, impedindo-o muitas vezes de ter sono reparador e intervindo no seu bem-estar no dia-a-dia. Já tinha recorrido a diversas consultas de urologia, onde fez diversos exames complementares incluindo 3 cistoscopias com resultados sempre negativos, tendo sido assumida dor uretral de etiologia desconhecida e presumivelmente funcional. Em consulta na USF relata novamente os seus sintomas, bem como a forma afectam as suas actividades de vida diária e o seu estado emocional. Apesar da evidência de terapêutica eficaz nos doentes com este diagnóstico ser escassa, optou-se por inicar Amitriptilina e gel de Lidocaína tópica, segundo a evidência científica existente. O doente referiu após 4 semanas melhoria ligeira da intensidade dos sintomas, sendo que desde a aplicação da terapêutica referida não tinha precisado de recorrer a analgesia em SOS. O plano terapêutico incluirá um ajuste do esquema a longo prazo e de forma progressiva, assumindo uma patologia dolorosa e administrando analgesia como tal. Discussão: A Síndrome Dolorosa Vesical é um diagnóstico pouco frequente mas que acarreta elevado prejuízo na qualidade de vida dos utentes. O Médico de Família, ao conhecer as características bio-psico-sociais do utente no contexto do seguimento longitudinal pode conseguir aplicar analgesia de forma adequada ao mesmo, melhorando o seu dia-a-dia através de sucessivos pequenos sucessos terapêuticos.

Page 77: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 77 de 149

PO116 - A AVALIAÇÃO FAMILIAR EM UTENTES JOVENS – UM CASO DE GAMAPATIA MONOCLONAL DE SIGNIFICADO INDETERMINADO

Autores: Ana Margarida Garrett Silva1

Instituições: 1UCSP Alverca do Ribatejo Palavras Chave: Avaliação familiar; GMSI;

Enquadramento: A Gamapatia Monoclonal de Significado Indetermindo (GMSI) é uma condição assintomática pré-maligna, um distúrbio de proliferação monoclonal dos plasmócitos e caracteriza-se pela presença de proteína M <3 g/dL no soro, plasmocitose medular < 10%, ausência de lesões orgão-alvo e de evidência clínica de Mieloma Múltiplo, Macroglobulinemia de Waldenström, Linfoma ou Amiloidose. A GMSI afeta 3,2% da população caucasiana com mais de 50 anos.

Descrição de Caso: Utente de 46 anos, caucasiana, com história pessoal de nódulos tiroideus e glaucoma, medicada com Xalatan® e Xalacon®. História familiar de cruzamento consanguíneo, pais primos em 1º grau e doença oncológica em familiares de 1º e 2º grau. Recorre à consulta por cansaço generalizado. Referia perda de peso não quantificada, que associava a diminuição de ingesta de carne. A avaliação analítica revelou anemia por deficiência de ferro (Hb de 7,7g/dL, VGM 59fL e HGM 16pg). A utente negava perdas hemáticas, menstruações abundantes ou sintomas B, pelo que se iniciou ferro oral e se reagendou avaliação analítica dentro de 6 meses. Quatro meses após a terapêutica a utente recorre à consulta com agravamento das queixas de cansaço. Encontrava-se pálida, emagrecida, analiticamente com Hb de 7,8 g/dL, pelo que foi enviada ao serviço de urgência, onde foi direcionada para consulta de medicina interna. Realizou-se endoscopia digestiva alta que não mostrou alterações. À data da consulta analiticamente verificou-se Hb 7,4 g/dL, hipocromia e anisocitose no esfregaço de sangue periférico e eletroforese de proteínas com alterações do traçado. O doseamento de proteína de Bence Jones foi negativo, revelando a imunofixação a presença de Gamapatina Monoglonal do tipo IgG cadeias leves ĸ. O mielograma mostrou resultados compatíveis com GMSI (2,2% plasmótitos medulares). Após 2 transfusões sanguíneas, ferro endovenoso e suplementação com vit. B12, encontra-se hemodinamicamente estável e com melhoria sintomática.

Discussão: A avaliação familiar de utentes jovens com indícios de risco genético por existência de cruzamentos consanguíneos é de especial relevância neste caso. Ainda que a GMSI seja geralmente esporádica, alguns estudos indicam que há predisposição genética e apesar da fraca prevalência desta patologia nesta faixa etária, os sintomas de cansaço e a anemia numa utente com elevado risco de doença oncológica deveriam ter sido abordados com maior urgência.

Page 78: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 78 de 149

PO118 - UM CARCINOMA ASSOMBROSAMENTE PROGRESSIVO

Autores: Ana Cardoso1, Maria João Nascimento1 e Rita Soares1

Instituições: 1USF D. Francisco de Almeida

Enquadramento O carcinoma pavimento-celular é a neoplasia oral maligna mais frequente (corresponde a 80 a 95% de todas as neoplasias malignas da cavidade oral), sendo a língua a região mais afectada.

Descrição de Caso Paciente do sexo feminino, 81 anos de idade, previamente independente para as atividades diárias, com antecedentes de hipertensão, dislipidemia, gastrite crónica e história de leucoplasia do bordo esquerdo da língua, operada em Junho de 2013. Reside com os filhos em sistema rotativo. Recorre à consulta no dia 07/05/2018, queixando-se de surgimento de massa no bordo esquerdo da língua há cerca de duas semanas. À observação, tratava-se de uma massa com cerca de 1 cm de maior diâmetro, não ulcerativa, dura e bem delimitada. Foi imediatamente encaminhada para a consulta de Cirurgia da Cabeça e Pescoço do IPO de Lisboa.

Foi chamada ao IPO a 16/05/2018, realizando biopsia que revelou um carcinoma pavimento-celular invasivo da língua à esquerda.

Durante este tempo e enquanto a paciente aguardava cirurgia, houve um agravamento rapidamente progressivo do seu estado geral, com aumento do grau de dependência, dificultando a prestação de cuidados.

Por várias vezes os filhos recorreram à consulta e pediram visita domiciliária, para tentar aliviar as dores constantes da mãe, ou para aconselhamento sobre outras medidas para a deixarem mais confortável.

Foi submetida a hemiglossectomia esquerda e esvaziamento ganglionar cervical bilateral no dia 18/07/2018, tendo nesta altura a lesão ocupado toda a metade esquerda da língua , tornando-se ulcerativa e muito sangrante, tendo a paciente muita dificuldade em comunicar.

Após longo internamento, voltou ao seu domicílio com a ajuda dos filhos, onde aguarda vaga na unidade de cuidados continuados.

Discussão Este foi um caso muito marcante, não só porque apesar da rápida referenciação para os cuidados de saúde secundários, a doença teve uma evolução muito rápida, mas pelo importante papel de apoio à utente e à sua família durante todo o processo. Os tumores da cabeça e do pescoço podem ser muito incapacitantes e mutilantes, sendo nestes casos, muito importante todo o tipo de suporte, inclusive do médico de família.

Page 79: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 79 de 149

PO141 - QUISTO DE NUCK - QUANDO A CLÍNICA NÃO É SUFICIENTE

Autores: Dineia Toscano1 e Luís Pardal1

Instituições: 1USF Colares Palavras Chave: Quisto; Nuck O Quisto de Nuck tem uma incidência de 1% em crianças, sendo também diagnosticado em 5% a 12% das mulheres com edema vulvar. É um diagnóstico muitas vezes confundido com quisto da glândula de Bartholin, adenopatia ou hérnia inguinal indirecta. Existem, actualmente, poucos dados sobre esta patologia na literatura. O caso apresentado refere-se a uma doente do sexo feminino, de 61 anos de idade, com antecedentes pessoais de hipertensão arterial, ansiedade, refluxo gastroesofágico e infecções do trato urinário de repetição, medicada habitualmente com perindopril 5mg, indapamida 1.25mg, amlodipina 5 mg, trazodona 300mg e esomeprazol 40mg. Recorre à consulta de saúde do adulto com queixas de massa dolorosa na região inguinal direita com cerca de 1 mês de evolução, sem outras queixas associadas. Ao exame objetivo identifica-se massa palpável dolorosa na região inguinal direita com cerca de 3cm, não tendo o restante exame objetivo alterações. Para melhor caraterização da lesão, foi pedida ecografia de partes moles da região inguinal direita que revelou: “Imagem ovalar com conteúdo líquido de limites definidos, com diâmetro máximo de 3,5cm. Atendendo à topografia, o achado descrito sugere a possibilidade de quisto do canal de Nuck.”. Tendo em conta a clínica e os achados presentes nos métodos complementares de diagnóstico, optou-se por referenciar a doente via ALERT para a consulta de Cirurgia do HPP Cascais. Para o diagnóstico desta patologia pouco frequente é necessário um elevado grau de suspeição por parte do médico na medida em que as queixas são, na maioria das vezes, inespecíficas. O exame objetivo é essencial para exclusão de outros patologias, apesar de não conseguir efetuar, por si só, o diagnóstico. Para confirmação desta alteração pouco frequente os métodos de imagem são essenciais. O tratamento é necessariamente cirúrgico devendo, para isso, o médico de família realizar uma referenciação adequada aos cuidados hospitalares.

Page 80: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 80 de 149

PO142 - A ERISIPELA INCURÁVEL

Autores: Mafalda Coelho1

Instituições: 1USF S.J.E. Lóios Palavras Chave: dermatite de estase, teledermatologia, insuficiência venosa crónica Enquadramento: A dermatite de estase é uma dermatose inflamatória comum em doentes com insuficiência venosa crónica dos membros inferiores. A sua apresentação inclui edema, alterações inflamatórias e tróficas da pele, prurido e hiperpigmentação. Podendo evoluir para lipodermatoesclerose, linfedema e ulceração. No caso da dermatite de estase agudizada pode-se apresentar ainda com eritema, prurido, vesículas e mesmo exsudado. Tornando-se um desafio diferenciar de outras patologias ou mesmo de outras situações sobreponíveis, sendo por isso fundamental utilizar todas as ferramentas disponíveis nomeadamente a teledermatologia.

Descrição do caso: Homem de 82 anos com Linfoma Não Hodgkin B tipo LEZM, dislipidémia,insuficiência venosa crónica e hipoacusia. Atualmente apenas medicado com ferro e ácido fólico. Segundo os registos informáticos em março numa consulta hospitalar apresentava uma lesão na perna direita exsudativa pruriginosa, considerada uma erisipela e medicado com flucloxacilina. Na consulta seguinte por manutenção das queixas é medicado com amoxicilina e ácido clavulânico. Seguidamente, numa consulta na Unidade em junho por manter a mesma lesão exsudativa é medicado com ciprofloxacina. Em julho quando observei pela primeira vez apresentava lesão em placa eritematosa com exsudado abundante, eritema e ainda algum prurido. Uma vez que nos últimos meses já teria feito três antibióticos optei por enviar a dermatologia através do telediagnóstico. No dia seguinte tinha a informação que a lesão seria compatível com dermatite de estase agudizada, devendo ser aplicada betametasona duas vezes ao dia durante 10 dias. Logo após três dias apresentou resultados positivos com menos prurido e lesão mais seca.

Discussão: Nos cuidados de saúde primária deparamo-nos com múltiplas patologias do foro dermatológico, pelo que devemos estar aptos para as reconhecer, avaliar e tratar. Sendo igualmente fundamental, saber quando referenciar para a especialidade. Uma ferramenta importante nos dias de hoje é a teledermatologia, através da qual rapidamente podemos obter a opinião do especialista, rentabilizando assim os recursos e diminuir o tempo de espera para tal observação. Na agudização da dermatite de estase, a presença de exsudado poderá ser um fator enganador, pelo que é essencial avaliar o doente e não a doença, reavaliando sempre o diagnóstico quando a terapêutica mostra-se pouca eficaz.

Page 81: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 81 de 149

PO146 - UM CASO DE TAKOTSUBO - O PAPEL DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Autores: MariA Bernardo, José Francisco Sousa e Silva Pinto Lopes1 e Paulo Estrela Soares2

Instituições: 1USF Conchas; 2USF das Conchas Palavras Chave: takotsubo ENQUADRAMENTO

A miocardiopatia de Takotsubo é uma patologia desencadeada pelo stress, mais frequente em mulheres, que mimetiza um síndrome coronário agudo e se caracteriza por uma disfunção da contractilidade do ventrículo esquerdo sem alterações na artéria coronária correspondente, com recuperação apenas com medidas de suporte em semanas.

DESCRIÇÃO DE CASO

Doente de sexo feminino, 62 anos, com antecedentes de HTA, DM tipo II não insulino dependente, dislipidemia, cardiopatia isquémica e EAM inferior em 2005, AIT em 2004 e osteoporose. Recorre a consulta de vigilancia, referindo que se tem sentido mais cansada, facto que associa a stress pelo facto de ser a cuidadora principal da mãe. Referia também que mantinha o padrão habitual de precordialgia associada ao esforço, que alivivava com repouso. Foram solicitados ECDs que não chegou a realizar, uma vez que dias depois sentiu precordialgia durante esforço, que não aliviou com repouso ou nitroglicerina. Foi transportada ao SU do hospital da área de residência, onde realizou Ecocardiograma que revelou hipocinesia meso-apical e hipercinesia de todos os segmentos basais típico da cardiomiopatia de Takotsubo. Fez ainda cateterismo, que revelou re-estenose de stent previamente implantado na artéria coronária direita tendo sido submetida a angioplastia com sucesso. Não apresentava no entanto alterações na coronária esquerda responsável pela irrigação do território com alterações no Ecocardiograma. Durante o internamento e já após a angioplastia da coronária direita, fez ventriculografia e RM cardíaca, mantendo as alterações imagiológicas compatíveis com miocardiopatia de Takotsubo. Estas acabaram por desaparecer ao final de semanas, sem qualquer nova intervenção, mantendo apenas tratamento de suporte.

DISCUSSÂO

A cardiomiopatia de Takotsubo tem geralmente bom prognóstico, com recuperação em semanas tal como aconteceu com esta doente. A apresentação sintomática obriga ao encaminhamento imediato a um SU para exclusão de de outras causas de síndrome coronário agudo que possam necessitar de intervenção urgente. Nos raros casos em que se confirma a patologia em causa, cabe ao médico de família, em articulação com a cardiologia, o papel da educação da doente em relação à patologia e o reforço da necessidade de manter a terapêutica e outras medidas de suporte para a prevenção de novos eventos cardiovasculares.

Page 82: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 82 de 149

PO148 - ELEVAÇÃO DE GGT – HÁBITOS ETANÓLICOS COMO FATOR DE CONFUNDIMENTO NO DIAGNÓSTICO DE UM COLANGIOCARCINOMA

Autores: Sílvia Reigada1, Joana Carreno1, Ana Gomes Machado1 e Maria Luís Marques1

Instituições: 1USF Monte da Luz Palavras Chave: Hábitos Etanólicos; GGT; Ecografia Abdominal; Colangiocarcinoma.

Enquadramento

O colangiocarcinoma é um adenocarcinoma com origem nos ductos biliares, correspondendo a 5-10% dos tumores primitivos do fígado. Tem início indolente, sendo muitas vezes diagnosticado em estadio avançado com sinais clínicos de colestase. O diagnóstico é feito por colangiografia e o tratamento é essencialmente cirúrgico, com sobrevivência média de 24 meses e recorrências frequentes. Segundo as normas de orientação clínica da DGS, a ecografia abdominal é o exame de primeira linha quando existe suspeita de colestase. Apresenta-se um caso de um utente com hábitos etanólicos marcados, dislipidémia, ecografia abdominal superior sem indícios de patologia biliar, diagnosticado com colangiocarcinoma.

Descrição de Caso

Utente do sexo masculino, 72 anos, casado, natural de Angola, residente em Lisboa, reformado. Problemas de saúde ativos de HTA, obesidade (IMC 34kg/m2), dislipidémia, gamapatia monoclonal tipo IgG cadeias leves Kappa. Medicação habitual: valsartan 160mg+hidroclorotiazida 25mg e amlodipina 5mg. Hábitos alcoólicos 182g/semana, ex-fumador (50UMA). Em análises de rotina objetivou-se elevação isolada de GGT (140UI) em doente assintomático e sem alterações ao exame objetivo. Aconselhou-se abstinência alcoólica e solicitou-se ecografia abdominal superior, que revelou esteatose hepática. Depois de um período de abstinência de 11 meses, verificou-se descida da GGT. Retomou hábitos etanólicos registando-se novo aumento de GGT com elevação da fosfatase alcalina (131UI) e discreta elevação de bilirrubina total (1.33mg/dl), pelo que se repetiu ecografia abdominal, com resultado sobreponível. Seis meses depois, regressa à consulta após ida ao SU por quadro de icterícia, prurido generalizado, dor abdominal no quadrante superior direito e colúria, com uma semana de evolução. Realizou CPRM e foi diagnosticado colangiocarcinoma (tumor de Klatskin estadio IIIb).

Discussão

Apesar da ecografia abdominal ser o exame de primeira linha para avaliação hepática e das vias biliares, em caso de colestase, a ausência de dilatação não permite afirmar que não haja obstrução. Por outro lado, em doentes sem clínica e com elevação isolada de enzimas hepáticas, como a GGT, os hábitos alcoólicos e dislipidémia poderão ser fatores de confundimento, atrasando o diagnóstico de colangiocarcinoma.

Page 83: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 83 de 149

PO166 - UM CASO CLÍNICO DE DEFEITOS DO TUBO NEURAL NA AUSÊNCIA DE SUPLEMENTAÇÃO COM ÁCIDO FÓLICO NA GRAVIDEZ

Autores: Joana Bragança1, Joana Marinho1, Ana Catarina Correia1 e Célia Pinheiro1

Instituições: 1USF Cova da Piedade Palavras Chave: Defeitos do tubo neural; anomalias congénitas; lipomielomeningocelo; ácido fólico

Enquadramento: Os defeitos do tubo neural (DTN) são um grupo heterogéneo de anomalias congénitas com origem no incompleto encerramento do tubo neural durante a embriogénese. A maioria dos DTN são multifatoriais, apresentando fatores de risco ambientais e genéticos associados a um défice de ácido fólico. Os DTN classificam-se em abertos (com exposição de tecido neuronal e leak de líquido cefalorraquidiano) e fechados (cobertos por pele). As formações lipomatosas são a forma mais frequente de DTN fechados e são genericamente referidas como lipomielomeningocelos. A sua clínica é variável e pode incluir alterações cutâneas, músculo-esqueléticas, défices motores ou sensitivos e/ou incontinência dos esfíncteres.

Descrição do caso: LVAR, 5 meses, sexo feminino, natural de Almada. Pais naturais de Cabo Verde, ambos de 28 anos. Irmão da linha materna de 10 anos e irmã da linha paterna de 7 anos, ambos saudáveis. Gestação vigiada, sem intercorrências. Ecografias obstétricas sem alterações. Prescrito ácido fólico durante toda a gravidez. Parto eutócico às 40 semanas e 5 dias. IA 9/10. Foi detetada à nascença uma cauda vestigial com cerca de 3 cm. Da observação na primeira consulta com o Médico de Família (MF) salienta-se: boa vitalidade e bom tónus global, fontanelas normotensas, sem défices neurológicos focais sensitivo-motores, reflexos primitivos normais, esfincter anal normotónico e mancha de hipopigmentação na região lombar. No puerpério tinha sido feita ecografia transfontanelar, que não mostrou alterações, e ressonância magnética da coluna que demonstrou disrafismo espinhal com extensão da medula à região sagrada com pequeno lipomielocelo. Nas consultas posteriores detetou-se pequena prega distal no antebraço esquerdo e assimetria das pregas glúteas sem dificuldade de abdução da anca. Foi referenciada para o Núcleo de Espinha Bífida. Consultando a plataforma eletrónica medicamentosa constatou-se que a mãe apenas comprou uma embalagem de ácido fólico durante a gravidez.

Discussão: Os DTN representam anomalias graves com grande impacto na qualidade de vida do RN e na dinâmica familiar. O MF tem uma posição privilegiada para identificar potenciais fatores de risco para os DTN, e para alertar a grávida da importância da suplementação com ácido fólico. Após o nascimento da criança o MF será o profissional mais acessível à família, tendo um papel central na prestação de cuidados longitudinais e no estabelecimento de uma ponte com os cuidados de saúde secundários.

Page 84: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 84 de 149

PO170 - SÍNDROME DA VEIA OVÁRICA - UMA ENTIDADE POUCO CONHECIDA?

Autores: Emilia Salta1, Maria Marques da Silva1, Isa Cavaleiro1, Cristina Pinto de Sousa2 e Mariana Alvim1

Instituições: 1USF Arco-Íris; 2USF Arco-íris Palavras Chave: Síndrome da Veia Ovárica; Obstrução Ureteral

Enquadramento: A síndrome da veia ovárica (SVO) é uma condição rara causada por veias ováricas dilatadas e varicosas que induzem obstrução ureteral crónica. Os sintomas clínicos da SVO são variáveis e inespecíficos: dor abdominal nas fossas ilíacas, flancos ou hipocôndrio. Os sinais e sintomas urinários da obstrução uretérica incluem infecções urinárias recorrentes, hidronefrose e pielonefrite. Pode-se apresentar como uma doença aguda ou crónica e afecta maioritariamente mulheres multíparas.

Descrição do Caso: Mulher de 61 anos, com antecedentes pessoais de HTA e osteoporose; G3P3 (partos eutócicos), menarca aos 13 anos, ciclos regulares e menopausa aos 51 anos. No último ano, história de 5 episódios de infecções urinárias. Nesse contexto realizou ecografia renal a 29/11/2017 que revelou: “No rim esquerdo, microlitíase com dilatação do bacinete (20 mm) e do ureter proximal (11mm). Sem dilatação do ureter no seu trajecto lombar e pélvico. Aconselha-se o enquadramento clínico e laboratorial.” A 26/02/2018, na consulta, relatava queixas álgicas ocasionais no hipocôndrio direito tipo moínha, sem factores de alívio ou agravamento. Negava sintomatologia urinária ou ginecológica. Ao exame objectivo apresentava abdómen RHA+, mole e depressível, indolor, sem massas ou organomegálias e Murphy renal negativo. Na nova ecografia renal pedida, que realizou a 09/03/2018: “Dilatação da porção proximal do ureter esquerdo com 8mm e ligeira proeminência do bacinete, não sendo possível identificar o nível ou natureza do presumível obstáculo. Sugerimos avaliação com uro-TC.” Como sugerido, pediu-se uma TAC abdomino-pélvica, realizada a 14/05/2018 e que revelou: “Moderada hidronefrose à esquerda e dilatação do segmento proximal do ureter. O bacinete esquerdo com diâmetro transversal de 2.3cm. Marcada redução do calibre (pinçamento) do ureter esquerdo na sua transição proximal/terço médio em relação com compressão exercida pela veia ovárica homolateral (síndrome da veia ovárica?).” Durante este período sem nova sintomatologia ou alterações ao exame objectivo. Após obtenção do resultado foi referenciada a consulta de Urologia no HFF, que aguarda.

Discussão: Dado a inespecificidade dos sintomas da SVO, o diagnóstico é difícil e o seu diagnóstico diferencial é vasto. O exame imagiológico é o método de diagnostico mais importante. Até à data poucos estudos reportaram o diagnóstico da SVO, por isso, mantém-se controversa a sua existência como uma verdadeira entidade fisiopatológica.

Page 85: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 85 de 149

PO176 - REAÇÃO ALÉRGICA EM PROCISSÃO - UM RELATO DE CASO

Autores: Carolina Henriques Abreu1, André Oliveira2 e Carolina Boavida Ferreira3

Instituições: 1USF São Julião de Oeiras; 2USF São Julião; 3USF São Julião, Oeiras Palavras Chave: Lagarta processionária; Reação alérgica; Urticária

Enquadramento: A processionária, ou lagarta do pinheiro (Thaumetopoea pityocampa Schiff), é um inseto parasita dos pinheiros e dos cedros. Comum em florestas mediterrânicas, em Portugal existe tanto em meios rurais como em meios urbanos. Para além dos danos florestais causados, o contacto com os pêlos urticantes que liberta é tóxico para o Homem e para outros animais, provocando reações cutâneas, oculares ou respiratórias.

Descrição de caso: Menina de 6 anos, saudável. Recorre à USF após possível contacto com lagarta processionária horas antes, na escola. Apresentava pápulas nas mãos e antebraços (urticariformes, com 5mm, pruriginosas, algumas com vesículas) e hiperémia conjuntival (difusa, bilateral, sem exsudado). Sem febre ou outros sintomas. Foi medicada com anti-histamínico oral para alívio do prurido e encaminhada ao SU-Oftalmologia para observação minuciosa. À microscopia, identificou-se a presença de pêlos de processionária no extrato córneo. Foi medicada com antibiótico e corticoide (colírios) e manteve reavaliação regular em Oftalmologia. Ao fim de 2 semanas apresentava-se assintomática, sendo visíveis ao nível da pele apenas máculas acastanhadas residuais.

Discussão: As reações alérgicas desencadeadas pela processionária apresentam gravidade variável. O tipo de contacto vai determinar as manifestações clínicas, podendo ser direto (com lagartas e ninhos) ou indireto (com os pêlos libertados no ar ou depositados). Estas incluem urticária, exantema papular, irritação da córnea e, raramente, do trato respiratório. Pode haver também reação anafilática. O diagnóstico é clínico, perante a história de contacto e lesões sugestivas. Um exame microscópico permite visualizar a presença de pêlos da lagarta. O tratamento é principalmente sintomático: anti-histamínicos sistémicos estão recomendados, apesar da limitada eficácia e os corticosteroides tópicos podem acelerar a resolução das lesões. Em Lisboa, a maioria dos casos acontece entre dezembro e abril. Deve ter-se especial atenção a parques, jardins públicos, escolas e jardins-de-infância, locais frequentados por população de grupos etários mais vulneráveis (crianças, jovens e idosos). Existe pouca literatura sobre este tema. A informação é veiculada essencialmente pela comunicação social e sabedoria popular. Impõe-se uma vigilância constante e combate atempado, sobretudo em caso de ataques severos e sucessivos, dadas as consequências que pode trazer em termos de saúde pública.

Page 86: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 86 de 149

PO177 - DOENÇA MÃO-PÉ-BOCA NUM ADULTO IMUNOCOMPETENTE

Autores: Vânia Morais1

Instituições: 1USF D. Jordão

Enquadramento: A doença mão-pé-boca (DMPB) é uma infeção viral comum que, embora frequente na infância, é rara em adultos imunocompetentes. Carateriza-se clinicamente por febre, vesículas e pápulas na mucosa oral, nas extremidades distais e, por vezes na região perineal. O período de incubação é habitualmente de três a cinco dias, sendo que na primeira semana existe maior o risco de contágio. Na maioria dos casos trata-se de uma doença autolimitada, em que o tratamento é apenas sintomático. Contudo, a evolução da doença deve ser acompanhada, uma vez que, embora raras, podem surgir complicações cardíacas e neurológicas potencialmente fatais.

Descrição de Caso: Mulher de 35 anos, farmacêutica, com dois filhos e que integra uma família em fase III do ciclo familiar de Duvall. Não tem antecedentes pessoais de relevo ou medicação habitual, exceto contraceção com implante subcutâneo de 68mg de etonogestrel. A utente recorreu à consulta por quadro com três dias de evolução de sensação febril, odinofagia e erupção cutânea pruriginosa localizada na região palmar e plantar. Como contexto epidemiológico referia contacto com os filhos, aos quais havia sido diagnosticada DMPB há uma semana. Negou fatores de risco para imunodeficiência. Ao exame objetivo apresentava pápulas eritematosas a nível palmar e plantar, sem se verificarem, contudo, vesículas na mucosa oral. Requisitou-se estudo analítico que incluiu serologias do VDRL e do VIH 1 e 2, cujos resultados foram negativos. A utente foi aconselhada a permanecer em repouso e reforçar a ingestão hídrica, bem como foram sugeridas medidas de higiene. Prescreveu-se cetirizina10 mg para alívio sintomático e foram explicados os sinais de alarme perante os quais a utente deveria ser reavaliada.

Discussão: O objetivo deste caso clínico é alertar para a possibilidade desta doença, caracteristicamente da idade pediátrica, também poder afetar adultos sem compromisso da imunidade. O médico de família sendo frequentemente o primeiro contacto do utente dentro do SNS, assume um papel crucial no diagnóstico da doença, pelo que deve ter em consideração esta patologia no diagnóstico diferencial de infeções virais. Uma vez que apenas a forte suspeita clínica, o controlo sintomático e a vigilância da evolução da doença garantem o tratamento correto do utente com DPMB, devem ser evitadas outras medidas terapêuticas inapropriadas e, por vezes prejudiciais para o doente.

Page 87: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 87 de 149

PO182 - NEOPLASIAS MIELOPROLIFERATIVAS: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Autores: Denise Sousa1, Raquel Palma2 e Jose Vale Instituições: 1USF Marginal; 2USF Flor de Lótus, ACES Sintra Palavras Chave: Neoplasias mieloproliferativas Enquadramento: As neoplasias mieloproliferativas (NMP) são um grupo heterogéneo de patologias, incluindo a policitemia vera, a trombocitemia essencial (TE) e a leucemia mielóide crónica, nas quais ocorre proliferação mielóide, sem displasia significativa, com origem numa célula progenitora hematopoiética pluripotente. Podem evoluir com hematopoiese extramedular, mielofibrose e leucemia aguda. São muitas vezes assintomáticas ou manifestam-se por sintomas sistémicos (fadiga, prurido, febre, perda de apetite, perda ponderal). As complicações mais relevantes são os eventos tromboembólicos e a transformação leucémica, principais responsáveis pela mortalidade destes doentes. É fundamental o seu reconhecimento e a referenciação a Hematologia para confirmação diagnóstica e orientação terapêutica. Descrição do caso: FS, sexo masculino, 87 anos, com antecedentes de hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, tromboembolismo pulmonar (TEP) e perturbação depressiva. Apresenta história de prurido generalizado com vários anos de evolução, ao longo dos quais foram excluídas prováveis etiologias. Por agravamento do prurido e início de fadiga, perda de apetite, perda ponderal, tumefações subcutâneas e traumatismo lombar com deformação da coluna lombar, foram solicitados exames complementares, que revelaram anemia normocítica normocrómica ligeira, leucocitose com neutrofilia e eosinofilia, trombocitose, VS elevada, PCR negativa, proteinograma e imunofixação normais e imagens de fraturas lombares na radiografia da coluna lombar. Foi referenciado a Hematologia com hipótese de NMP. Discussão: As NMP ocorrem preferencialmente após os 50 anos, com maior incidência no sexo masculino, como no caso descrito. O espectro clínico é variável, o que dificulta o seu diagnóstico. Após excluir doença infeciosa e gamapatia monoclonal, a presença de leucocitose e trombocitose associadas a anemia normocítica normocrómica é sugestiva de NMP, mais provavelmente TE, sendo necessário esfregaço de sangue periférico, mielograma com biópsia osteomedular e exames moleculares de medula óssea para diagnóstico diferencial entre as diferentes NMP. Será importante avaliar histologicamente os nódulos subcutâneos. O antecedente de TEP pode ser interpretado como eventualmente relacionado com esta doença mieloproliferativa. O prognóstico é variável, dependendo da genética, da resposta ao tratamento e de eventuais complicações.

Page 88: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 88 de 149

PO184 - CANDIDÍASE PERINEAL – UM CASO DE UMA APRESENTAÇÃO CLÍNICA SILENCIOSA DE DIABETES MELLITUS TIPO 1

Autores: Mariana Capela1, Maria Eduarda Inácio1 e Inês Guerra1

Instituições: 1ACES Sintra Enquadramento - A diabetes mellitus tipo 1 é uma das doenças crónicas mais frequentes nas crianças, podendo apresentar-se nestas faixas etárias por uma multiplicidade de sinais e sintomas. Classicamente, manifesta-se por instalação lenta de polidipsia, poliúria e polifagia podendo estar associados a perda ponderal, hiperglicémia e cetonémia/cetonúria ou apresentar-se mais abruptamente com um quadro de cetoacidose diabética. Mais raramente, e sobretudo na primeira infância, pode apresentar-se com sinais e sintomas inespecíficos. Nesta idade o diagnóstico é dificultado pela ausência de controlo de esfíncteres e pela dificuldade de expressar a sede. Como tal, a poliúria pode não ser valorizável e a polidipsia pode não ser evidente. Contudo, astenia, irritabilidade, dor abdominal e sinais de desidratação são sinais frequentes.

Descrição de caso – Relata-se um caso de uma criança de 5 anos de idade, do sexo feminino, com antecedentes pessoais irrelevantes, que se apresentou com candidíase do períneo refratária e exuberante agravamento de enurese noturna. Perante este quadro, que motivou múltiplos contactos com o seu médico de família, foi efetuado exame rápido de urina com tira-teste, que revelou glicosúria (+++) e apurou-se glicémia capilar ocasional de 548 mg/dL. Na sequência destes resultados assumiu-se quadro inaugural de diabetes mellitus tipo 1 e encaminhou-se para os cuidados de saúde secundários.

Conclusão – A diabetes mellitus é uma doença que classicamente se manifesta por um quadro de sintomas característico mas que, por vezes, e principalmente em crianças mais pequenas, pode passar despercebida se se apresentar com sintomas atípicos. Neste grupo vulnerável, que geralmente recorre ao médico com queixas inespecíficas antes de ser feito o diagnóstico de diabetes mellitus, um elevado grau de suspeição é essencial para um diagnóstico precoce. A história, ou a presença, de infeção por candidíase (geralmente na região da fralda) é uma pista importante que deverá levantar a suspeita da possibilidade de diabetes mellitus em crianças pequenas.

Page 89: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 89 de 149

PO188 - UMA DIABETES INAUGURAL ASSINTOMÁTICA

Autores: Sofia Lages Fernandes1, Vasco Varela1, Andreia Ribeiro1, Irene Trindade1 e Diogo Barata de Almeida1

Instituições: 1USF Descobertas Palavras Chave: diabetes Enquadramento: Em 2015 a prevalência estimada da diabetes em Portugal foi de 13,3% para idades entre os 20 e os 79 anos. Dada a sua relevância, devemos estar alerta para o seu diagnóstico precoce mas também para o diagnóstico diferencial entre as várias formas de diabetes.

Descrição de caso: Sexo masculino, 40 anos, solteiro, jornalista, AP tuberculose pulmonar aos 16 anos, sem outros antecedentes pessoais ou familiares relevantes, nomeadamente de doença auto-imune ou do foro endocrinológico. Sem medicação habitual. Vem à consulta com a médica de família (MF) em Março 2018, assintomático, sendo solicitada avaliação analítica (nenhuma anterior no processo clinico). Em Maio de 2018 regressa, assintomático, normoponderal, com análises que revelam glicemia jejum 206 mg/dL, glicosúria e cetonúria. À observação não tem sinais de acantose nigricans. Tem glicemia ocasional 308 mg/dL e cetonúria. É então referenciado ao SU onde é excluída cetoacidose diabética e encaminhado com urgência à consulta de endocrinologia por suspeita de diabetes auto-imune latente do adulto (LADA). Inicia terapêutica com metformina 700 mg 1 cp/dia. Regressa 2 semanas depois à MF, tendo glicemia em jejum 177 mg/dL e onde é pedida nova avaliação analítica que revela glucose jejum 124 mg/dL HgA1C 9,3% e UII com cetonúria 10 mg/dL. Passados 5 dias é avaliado pelo endocrinologista que solicita ecografia abdominal (sem alterações) e novas análises com peptídeo C que está no limite inferior do valor de referência, com ac anti-ICA e ac anti-GAD2 positivos e ac anti-insulina negativos. Após 3 semanas é de novo observado pelo colega de endocrinologia que aumenta metformina 700 mg para 2x/dia e inicia sitagliptina 100 mg/dia.

Discussão: Este caso alerta para a importância do diagnóstico diferencial na diabetes e avaliação das suas complicações. Destaca-se também a articulação célere dos cuidados de saúde primários e secundários. Trata-se de um utente com provável LADA, que se caracteriza por uma diabetes autoimune com início na idade adulta e sem necessidade de insulinoterapia pelo menos 6 meses após o diagnóstico, cuja prevalência é estimada entre 2 e 12% dos casos de diabetes no adulto. Esta entidade é heterogénea, com múltiplos fenótipos clínicos, que variam entre a insulinoresistência e a insulinopénia. Apesar de não haver guidelines específicas para o seu tratamento, existe evidência que privilegia o uso de algumas classes de antidiabéticos para preservar a função da célula beta nestes doentes.

Page 90: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 90 de 149

PO189 - ANEMIA MEGALOBLÁSTICA

Autores: Mónica Dorotea1

Instituições: 1USF SADO

Enquadramento: A anemia megaloblástica corresponde a um grupo heterogéneo de doenças que apresentam características morfológicas comuns: células grandes com núcleos imaturos (megaloblastos) no sangue periférico e medula óssea. Estas alterações são causadas por defeitos na síntese de DNA e não se limitam aos eritrócitos, sendo que a pancitopenia frequentemente também existe.

Descrição do caso: Utente do sexo masculino, 45 anos, sem hábitos tabágicos ou alcoólicos e com uma alimentação diversificada. Antecedentes de HTA controlada, medicado com amlodipina+valsartan, e antecedentes familiares irrelevantes.

Recorre à consulta por sensação de fadiga, cansaço durante a marcha e perda ponderal de 20Kg em 2 meses. Negava febre, sudorese nocturna, artralgias, alterações do trânsito intestinal, disfagia, náuseas ou vómitos. Ao exame objectivo: mucosas descoradas anictéricas; ausência de adenopatias palpáveis; abdómen doloroso à palpação profunda sem defesa, massas ou organomegalias; ENS sem alterações. Avaliação analítica: anemia macrocítica (Hb 8,9 g/dL, VGM 128); trombocitopenia e leucopenia ligeiras; défice de vitamina B12 (118 pg/ml); LDH aumentada (565 U/l); ácido fólico, bilirrubina total, ferritina, ferro, CTFF e saturação transferrina normais; parâmetros inflamatórios e serologias virais negativas.

Foi referenciado a consulta de Hematologia onde iniciou vit. B12 injectável, fez o doseamento de marcadores tumorais, anticorpo anti-factor intrínseco e restante estudo de imunidade que estavam negativos, e ESP com 1% blastos. De modo a excluir doença hematológica (mielodisplasia) realizou mielograma que confirmou o diagnóstico de anemia megaloblástica. Fez TAC abdominal e pélvica sem alterações, e EDA que identificou atrofia da mucosa do corpo e do fundo gástrico com gastrite crónica atrófica moderada.

Colocou-se o diagnóstico de anemia megaloblástica carencial associada a gastrite crónica atrófica. O doente teve alta da consulta hospitalar com melhoria da sintomatologia e com normalização do hemograma e dos valores de vit. B12 mas com indicação para manter a toma diária desta vitamina.

Discussão: Neste caso, perante as queixas do doente e as alterações analíticas verificadas, era necessário a exclusão de patologia hematológica maligna. As alterações megaloblásticas podem ocorrer em infecções por VIH e doenças mielodisplásicas como resultado da interferência na síntese de DNA, no entanto, a deficiência de vit. B12 e/ou ácido fólico são as causas mais comuns.

Page 91: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 91 de 149

PO190 - QUANDO UMA ÚLCERA VENOSA NUNCA MAIS ENCERRA... - A PROPÓSITO DE UM CASO CLINICO

Autores: Ana Patrícia Macedo1

Instituições: 1USF Cuidar Saúde Palavras Chave: insuficiência venosa crónica, sulodexida

A insuficiência venosa crónica (IVC) é o tipo mais comum de ulceração dos membros inferiores nos adultos, representando um grave problema de saúde pública com custos significativos para os doentes e unidades de saúde. A história natural da doença passa pela cura e pela recidiva associada a uma considerável morbilidade e consequente redução da qualidade de vida. Existem várias abordagens farmacológicas, no entanto a escolha certa para cada caso é difícil.

EM, 59 anos, professora, autónoma nas atividades de vida diária. Antecedentes pessoais de Obesidade gau II (IMC 39,71kg/m2), insuficiência venosa crónica, hipotiroidismo (medicada com levotiroxina sódica) e safectomia ao membro inferior direito. Desde há dois anos apresenta uma úlcera venosa crónica e recorrente, mesmo com optimização terapêutica. No último ano verificou-se agravamento da mesma, de difícil cicatrização apesar de drenagem postural, meia compressiva, diosmina e cuidados de penso trisemanais. Ao exame objectivo inicial apresentava úlcera venosa do membro inferior direito localizada no terço infero-interno com cerca 3cm diametro.

Cumpriu antibioterapia, aplicação de apósitos como Inadine Ag e mepilex e compressão com ligadura. Como não cicatrizava, foi prescrito sulodexida intramuscular durante seis dias seguida por sulodexida oral durante um mês. Neste período manteve-se os cuidados de penso bissemanais. Verificou-se uma boa evolução clinica com cicatrização da úlcera ao fim de um mês de tratamento. Na consulta de reavaliação, cerca de seis meses depois, não teve recidiva.

Neste sentido, a sulodexida mostrou ser um excelente adjuvante no processo cicatrização das úlceras, nomeadamente quando outras terapêuticas não se mostraram tão eficazes.

Page 92: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 92 de 149

PO192 - UMA CAUSA MENOS COMUM DE ASCITE - UM CASO DE PSEUDOMIXOMA PERITONEAL

Autores: Liliana Moita1 e Inês Pereira2

Instituições: 1UCSP de Sete Rios; 2UCSP Sete Rios Palavras Chave: pseudomixoma peritoneal, tumor peritoneal, ascite Enquadramento: O pseudomixoma peritoneal é uma doença rara (incidência anual de 1/1,000,000), mais frequente no sexo feminino. É de difícil diagnóstico, uma vez que os sintomas são inespecíficos (distensão abdominal progressiva, dor abdominal, perda de peso, sintomas urinários, obstipação, vómitos e dispneia). Caracteriza-se pela presença de ascite mucinosa ou implantes na cavidade peritoneal, podendo ter origem num tumor mucinoso do apêndice (90% dos casos), do ovário ou noutras localizações.

Descrição do caso: Descreve-se o caso de uma mulher de 75 anos, casada, sem filhos, com antecedentes pessoais de menopausa aos 50 anos, sem terapêutica de substituição hormonal, rinite alérgica, hipertensão arterial (medicada e controlada) e dislipidémia. Cerca de seis meses antes do diagnóstico inicia queixas de desconforto e distensão abdominal. Os sintomas eram de difícil caracterização por se tratar de uma doente apelativa e conflituosa. Após um episódio de hemorragia uterina anómala, foi pedida ecografia ginecológica, onde se documentou presença de pequena quantidade de líquido ascítico na cavidade pélvica, sem qualquer alteração a nível do útero ou anexos. A doente foi referenciada à consulta de Ginecologia, onde foi pedida RM pélvica, que confirmou líquido na cavidade pélvica, nos recessos anterior e posterior, útero de dimensões normais, regular e homogéneo, linha endometrial de espessura e sinal normal, anexos bilateralmente normais. Por suspeita de carcinomatose peritoneal foi submetida a laparoscopia, realização de biópsias e recolha de líquido ascítico, cujo exame anatomopatológico revelou pseudomyxoma peritonei de baixo grau. Foi então marcada cirurgia electiva para omentectomia total e apendicectomia, com quimioterapia intraperitoneal. Actualmente mantém seguimento em consulta de Oncologia, está assintomática e sem evidência imagiológica de recidiva.

Discussão: Apresentámos um caso de pseudomixoma peritoneal com provável origem num tumor mucinoso do apêndice que, ao contrário da carcinomatose peritoneal, tem um curso indolente e, se diagnosticado precocemente, pode ser tratado com sucesso. Apesar do risco de recidiva existir, a nossa doente tem factores de bom prognóstico. Destacamos este caso, uma vez que um dos maiores desafios para o Médico de Família é o doente difícil. Muitas vezes estes doentes apresentam queixas frequentes e inespecíficas, facilmente desvalorizadas pelo médico, o que pode dificultar e atrasar o diagnóstico.

Page 93: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 93 de 149

PO193 - DEPRESSÃO PÓS-PARTO? - UM CASO DE PERTURBAÇÃO BIPOLAR

Autores: Inês Pereira1, Liliana Moita2 e Isabel Nunes1

Instituições: 1UCSP Sete Rios; 2UCSP de Sete Rios Palavras Chave: Depressão, Perturbação Bipolar, Puerpério Enquadramento:

A depressão pós-parto (DPP) é uma patologia comum, que ocorre em 10 a 15% das mulheres. Destas, 21,4 a 54% têm diagnóstico de Perturbação Bipolar (PB). A PB, nestes casos, desenvolve-se com sintomas atípicos, com características mistas, uma maior evidência de irritabilidade e início após o nascimento da criança. A forma mais comum é a PB tipo II.

Descrição do caso:

Descreve-se o caso de uma mulher de 37 anos, 9º ano de escolaridade, empregada como recepcionista, em união de facto com o companheiro com o qual tem 3 filhos de 8, 5 anos e 9 meses. Sem antecedentes pessoais de relevo além de depressão pós-parto (1ºfilho). À data, sem medicação habitual. Aquando da consulta de 9 meses do filho mais novo apresentava queixas de tristeza, ansiedade, sono não reparador, sensação de desesperança, dificuldade em executar e terminar tarefas e crises de choro desde o nascimento do filho. Concomitantemente, relatava irritabilidade e sensação de “querer desaparecer”. Esta sintomatologia foi interpretada como um quadro de DPP, pelo que se iniciou sertralina, que já teria feito no passado com boa resposta. Na reavaliação, após uma semana, notava-se agitação psicomotora e aumento da ansiedade. Referiu ter tido necessidade de fazer muitas compras e aumento da irritabilidade com “ataques de fúria”. Assim, foram identificados elementos da linha maniforme que poderiam estar enquadrados num estado misto, pelo que foi encaminhada para Psiquiatria. Após confirmação do quadro de Perturbação Bipolar tipo II foi medicada com ziprasidona e suspendeu sertralina com resolução da sintomatologia em cerca de um mês. Actualmente mantém o seguimento na consulta de Psiquiatria, estando estável e com uma dinâmica familiar normal.

Discussão:

O presente caso descreve um primeiro episódio de PB numa doente que inicialmente apresentava características de DPP. Os sintomas de irritabilidade e impulsividade numa doente com um quadro depressivo, com início no puerpério, devem alertar para a possível presença desta patologia que justifica uma referenciação urgente aos cuidados hospitalares. Apesar de menos frequente que a DPP, a PB com início no puerpério é também uma patologia comum, pelo que o médico de família deve estar atento a esta entidade.

Page 94: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 94 de 149

PO198 - NEM TUDO O QUE RODA SÃO VERTIGENS…

Autores: Raquel Belo e Diogo Caldeira Enquadramento: Queixas de vertigem são muito frequentes no dia-a-dia da prática da Medicina Geral e Familiar, estando habitualmente relacionadas com situações benignas, tais como a Vertigem Posicional Paroxística Benigna. No entanto, nem sempre é o que parece. Uma boa história clínica e a revisão do processo individual do utente, podem levar à descoberta de diagnósticos menos habituais na nossa prática clínica.

Descrição de caso: Doente do sexo feminino, 59 anos, sem antecedentes pessoais relevantes, mas que atravessou um período conturbado a nível familiar, o qual motivou a maioria das idas à consulta de Medicina Geral e Familiar (MGF). Recorreu ao serviço de urgência hospitalar por episódio de síncope precedida de acufenos e vertigem (sintomas que teriam a duração de dois anos, nunca tendo sido referidos em consulta). No serviço de urgência (SU) foram colocadas as hipóteses diagnósticas de vertigem atípica versus epilepsia. Assim, teve alta medicada com beta-histina e indicação para investigação diagnóstica complementar em consulta com o seu Médico de Família (MF). Na consulta de MGF e perante as hipóteses diagnósticas colocadas, foram solicitados exames complementares de diagnóstico: tomografia computorizada cranioencefálica e eletroencefalograma, que revelaram “ligeira posição baixa da amígdala cerebelosa direita” e “eletrogénese de base bem estruturada, a que se adicionam pontas occipitais bilaterais suportando o diagnóstico de epilepsia focal”. Após anamnese mais cuidada, apurou-se que a doente teria sofrido acidente de viação com traumatismo occipital, pouco tempo antes do início dos episódios descritos, nunca tendo referido este incidente nas consultas com o seu MF.

Discussão: Este caso evidencia alguns dos aspetos positivos da consulta do MF, nomeadamente a realização de uma anamnese mais completa e a possibilidade de a revisitar devido à continuidade longitudinal e proximidade que caraterizam a prática da MGF, permitindo descobrir situações ocultas que poderão constituir o ponto fulcral do problema. Por outro lado, ficam patentes os problemas que podem advir da familiaridade estabelecida na relação médico-doente de longa data, particularmente a abordagem repetida das queixas pessoais ou familiares que são consideradas mais relevantes pelo doente, podendo passar despercebidos novos sintomas que podem ser a chave para diagnósticos importantes.

Page 95: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 95 de 149

PO199 - QUANDO A CRIANÇA APRESENTA VÓMITOS RECORRENTES

Autores: Mónica Cró de Nóbrega1 e Pedro Godinho Fernandes1

Instituições: 1USF LoureSaudável Palavras Chave: Vómitos recorrentes, absentismo escolar, síndrome dos vómitos cíclicos

Enquadramento: Os vómitos são das queixas mais frequentes na consulta aberta de Medicina Geral e Familiar. Os vómitos recorrentes podem ser classificados em vómitos crónicos, que se caracterizam por episódios frequentes, de baixa intensidade, duas ou mais vezes por semana, e vómitos cíclicos que se caracterizam por episódios descontínuos, intensos, que ocorrem esporadicamente entre intervalos assintomáticos. Em seguida apresentamos um caso com uma marcha diagnóstica lenta e que reflete o impacto que a doença pode ter na vida escolar da criança.

Descrição do Caso: Criança de 12 anos, sexo masculino, que frequenta um colégio interno, com história de vómitos cíclicos associados a obstipação, cefaleias e dor abdominal epigástrica com três meses de evolução. Por este motivo recorreu, no espaço de um mês e por várias vezes, a diversos Serviços de Urgência (SU). Foi medicado com inibidores da bomba de protões (IBP), sucralfato e laxantes, sem melhoria significativa. Ao longo deste período faltou continuamente à escola. Em consulta de Gastrenterologia pediátrica foi medicado com esomeprazol e domperidona, com melhoria. No entanto, 3 dias após a consulta deu entrada no SU por apresentar sangue na saliva após várias tentativas de vómito involuntárias. Foi internado no Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria, mas não foi estabelecido nenhum diagnóstico. Teve alta, medicado com IBP e voltou a frequentar a escola, mas como aluno externo. Na consulta de saúde infantil, referia ainda manter alguns episódios de vómitos com absentismo escolar ocasional. Entretanto, por manutenção do quadro e aumento da frequência de vómitos iniciou terapêutica com propranolol.

Discussão: As causas para vómitos recorrentes são várias e apesar do doente ainda não apresentar um diagnóstico definitivo, a hipótese diagnóstica mais provável parece-nos a síndrome dos vómitos cíclicos. Esta é uma entidade idiopática, que afeta principalmente as crianças. Caracteriza-se por episódios repetidos de vómitos, de grande intensidade, com duração entre horas a dias e com intervalos de normalidade entre eles. É um diagnóstico de exclusão e por isso o nosso doente foi referenciado a diferentes especialidades, para exclusão de patologia orgânica. Como podemos ver neste caso, pode ser muito debilitante levando a absentismo escolar. Apesar de ser pouco frequente, é importante como médicos de família estarmos alerta para esta situação e referenciarmos prontamente aos cuidados de saúde secundários.

Page 96: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 96 de 149

PO204 - NEM SEMPRE É AVC! – DIFICULDADES NA ABORDAGEM DO DOENTE NEUROLÓGICO AGUDO EM CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Autores: Afonso Sousa1 e Madalena Rodrigues2

Instituições: 1USF Castelo; 2USF Castelo (ACeS Arrábida) Palavras Chave: avc; neurologia; caso clínico

Enquadramento

A elevada morbimortalidade do Acidente Vascular Cerebral (AVC) obriga ao seu diagnóstico ou exclusão precoce, frequentemente realizado nos Cuidados de Saúde Primários. Apresentam-se 2 casos clínicos que realçam o papel preponderante do médico de família (MF) e as dificuldades sentidas na marcha diagnóstica inicial do doente neurológico agudo.

Descrição de caso

Caso 1: Mulher, 60 anos, caucasiana, fumadora, com dislipidémia, inicia quadro de confusão mental súbita, anisocória e parésia braquial esquerda. Por suspeita de AVC é encaminhada para o Serviço de Urgência (SU), mas recusou. No dia seguinte regressa por agravamento – cefaleia frontoparietal, apraxia e anomia. Por recusar novo envio ao SU inicia ácido acetilsalicílico e é pedida investigação complementar. Retorna 3 dias depois apresentando sonolência marcada, incontinência de esfíncteres e desequilíbrio da marcha. Perante as hipóteses de lesão ocupante de espaço ou infecção do sistema nervoso central, aceita por fim ser observada em meio hospitalar onde após investigação complementar se diagnostica tuberculose meníngea e neurossífilis, com boa resposta à terapêutica. Mantém sequelas neurológicas com impacto nas actividades de vida diária (AVD) – Katz 4; Brody 6.

Caso 2: Mulher, 57 anos, caucasiana, com dislipidémia e hipertensão arterial, procura a MF por quadro súbito de vertigem e visão turva bilateral. É encaminhada ao SU para avaliação oftalmológica, que recusou. Regressa no dia seguinte apresentando de novo fotofobia, diplopia à levoversão, ptose palpebral bilateral, nistagmo e desequilíbrio na marcha. É enviada novamente ao SU onde após marcha diagnóstica e investigação complementar é detectada lesão expansiva mesencefálica. Assumiu-se o diagnóstico de neuromielite óptica, tendo feito plasmaferese e corticoterapia com resposta. Tem sequelas visuais com alguma dependência nas AVD (Katz 6; Brody 5).

Discussão

O MF assume papel preponderante na abordagem inicial do doente neurológico agudo, especialmente nas populações mais carenciadas em recursos de Saúde. Porém, está limitado pela ausência de meios complementares de diagnóstico, obrigando-o a maior pragmatismo na colocação e exclusão de hipóteses diagnósticas, bem como na decisão de referenciação à Urgência. Não menos importante, o MF é ainda responsável pela gestão das co-morbilidades e sequelas a nível neurológico e psicológico, tendo um papel crucial na avaliação da rede de suporte familiar e do grau de dependência nas AVD do doente.

Page 97: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 97 de 149

PO207 - DISAUTONOMIA NA DOENÇA DE PARKINSON: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Autores: Joana Pinto, Denise Sousa1 e Vanessa Sá1

Instituições: 1USF Marginal Palavras Chave: Disautonomia; Doença Parkinson

Enquadramento:

A Doença de Parkinson (DP) é uma doença degenerativa do movimento com perda de dopamina no sistema nigro-estriado do cérebro, envolvendo também uma disautonomia com perda de norepinefrina no sistema nervoso simpático. A disautonomia refere-se a uma alteração do sistema nervoso autónomo (SNA) com impacto negativo na saúde. A apresentação e o prognóstico são variáveis, determinando desde episódios transitórios ocasionais de hipotensão neuronalmente mediada em doenças neurodegenerativas progressivas, a distúrbios em que a alteração da função do SNA desempenha um papel patofisiológico primário, até entidades ainda não compreendidas. A disautonomia pode ter implicações clínicas importantes com impacto na qualidade de vida dos utentes, pelo que o seu reconhecimento é fundamental nos cuidados de saúde primários.

Descrição do caso:

Doente sexo feminino, 85 anos, institucionalizada em lar, parcialmente dependente nas atividades de vida diária. Dos antecedentes pessoais, a salientar DP seguida em consulta de Neurologia, medicada com Levodopa 250 mg, Carbidopa 25 mg e Selegina 5 mg e hipertensão arterial complicada com doença renal crónica, atualmente controlada sem medicação. Trazida à consulta por episódios recorrentes de lipotimia despoletada ao iniciar ortostatismo, por vezes com perda de consciência e recuperação espontânea em segundos, desde há dois meses. Ao exame objetivo, marcada variabilidade da tensão arterial, sem outras alterações de novo. Foi referenciada ao Serviço de Urgência para avaliação de Neurologia, que após excluir alterações analíticas e imagiológicas de novo, considerou o diagnóstico de hipotensão ortostática por disautonomia no contexto da DP com recomendações gerais e vigilância.

Discussão:

A DP apresenta frequentemente sintomas por disfunção primária do SNA, em oposição às formas secundárias mais comuns de disautonomia (ex. estenose coronária). Pensava-se que a hipotensão ortostática em doentes com DP estaria relacionada com a terapêutica com Levodopa, mas evidências recentes relacionam-na com a falência barorreflexa e a perda de inervação simpática, independentemente da perda de dopamina no sistema nigro-estriado. Como recomendações, de salientar a evicção de fármacos que produzam vasodilatação, diminuam a pressão arterial e agravem a intolerância ortostática. Os tratamentos neurocirúrgicos não melhoram a função barorreflexa, enervação simpática ou hipotensão ortostática na DP.

Page 98: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 98 de 149

PO208 - UMA FAMÍLIA EDEMACIADA

Autores: Sara Rosa1, Mário Cenicante1 e Carla Marques2

Instituições: 1USF S. João do Pragal; 2USF S. joão do Pragal Palavras Chave: IECAs, angioedema, hereditário Enquadramento

A HTA é o principal factor de risco cardiovascular em Portugal e uma das patologias mais frequentes nas consultas de MGF, tendo uma elevada prevalência em Portugal (26.9%). Sendo os IECAs uma das principais classes no tratamento da HTA, torna-se premente a identificação de efeitos adversos que possam contraindicar a sua prescrição.

Caso Clínico

Utente de 53 anos, sexo feminino, melanodérmica, com antecedentes de HTA, DM2 não insulino-tratada e dislipidémia medicada habitualmente com lisinopril, 5 mg, metformina, 1000 mg, atorvastatina, 20 mg e gliclazida, 30 mg, recorre a consulta no dia 15-02-2017 por apresentar edema do lábio superior, bilateral desde essa manhã, sem outros sintomas acompanhantes. Nega relação com os alimentos ou alterações da sua medicação habitual. Foi medicada com bilastina 20 mg, com resolução do quadro após 4 dias. Volta a recorrer a consulta em 20-03-2017 por apresentar edema da hemiface esquerda, tendo tomado bilastina nesse dia, mas com manutenção do quadro, pelo que se manteve bilastina e foi feita referenciação para imunoalergologia do HSM. Foi feito o diagnóstico de angioedema por IECAs (toma de lisinopril com 5 anos de duração), tendo sido suspenso o lisinopril e iniciada lercanidipina 10 mg (1/2 cp). Não voltou a apresentar novos episódios.

No dia 05-07-2017 recorre a consulta a mãe da utente previamente identificada, utente de 75 anos, sexo feminino, melanodérmica, com antecedentes de HTA, AVC em 2006, dislipidémia e osteoporose, medicada habitualmente com lisinopril 20 mg, ácido acetilsalicílico, 150 mg amlodipina, 5 mg, sinvastatina + ezetimiba, 20 mg + 10 mg, por história de 2 episódios de edema facial, sem outros sintomas associados e não relacionados com introdução de novos fármacos. Foi-lhe prescrita desloratadina, 5 mg, com resolução do quadro. Por esta história e pelo facto de ter sido feito diagnóstico de provável angioedema aos IECAs à filha, foi enviada para consulta de imunoalergologia do HSM, onde lhe foi feito o mesmo diagnóstico, tendo suspendido o lisinopril e iniciado amlodipina, sem novos episódios desde então.

Conclusão

O angioedema é há muito reconhecido como reacção adversa associada aos IECAs e ocorre em cerca de 0.1–0.42% dos doentes. Ocorre mais frequentemente no primeiro ano de tratamento, mas pode ocorrer após anos de medicação. A sua incidência é provavelmente subestimada, pelo que é fundamental a suspeição e identificação desta patologia.

Page 99: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 99 de 149

PO209 - PÚRPURA DE HENOCH-SCHONLEIN – UMA DOENÇA DISSIMULADA

Autores: Soraia Branco1, Diana Rocha1, Rita Pombeiro Silva1 e Pedro Carrilho1

Instituições: 1USF Magnólia Enquadramento:

A Púrpura de Henoch-Schonlein (PHS) é uma vasculite que em 90% dos casos ocorre em idade pediátrica, sendo a vasculite sistémica mais comum na infância. Consiste numa reação inflamatória aguda, autolimitada, frequentemente precedida por uma infeção respiratória superior. Apresenta-se como uma tétrade clássica: púrpura palpável, sobretudo nas nádegas e extremidades inferiores, sem trombocitopenia ou coagulopatia; artralgias/artrite, sobretudo nas grandes articulações dos membros inferiores; dor abdominal, geralmente difusa, de início agudo; doença renal, sendo a hematúria a apresentação mais comum. O diagnóstico é clínico. Em casos duvidosos, biópsia de um órgão afetado com vasculite leucocitoclástica associada a deposição de IgA a nível dos pequenos vasos confirma o diagnóstico. Tratamento de suporte é o preconizado.

Descrição de Caso: Criança do sexo feminino, 8 anos, antecedentes pessoais e familiares irrelevantes. Recorre a consulta aberta por amigdalite bacteriana aguda, medicada com amoxicilina+ácido clavulânico e ibuprofeno. Após 3 dias, desenvolveu quadro de dor abdominal difusa, com necessidade de internamento, cuja causa foi atribuída a adenite mesentérica. 2 semanas após a primeira consulta, recorre ao Médico de Família (MF) por dor abdominal mantida e início de artralgias a nível dos ombros e membros inferiores. Ao exame objetivo apresentava abdómen doloroso à palpação, com defesa, sem outras alterações. Foi encaminhada para o Serviço de Urgência pediátrico, onde a ecografia abdominal era compatível com invaginação íleo-ileal, que em ecografia de controlo não se observou. Foi efetuado o diagnóstico de PHS, tendo-se verificado melhoria do quadro após início de corticoterapia com prednisolona. Discussão: Em 25% dos casos de PHS, o rash purpúrico não é a manifestação inicial, podendo dificultar o diagnóstico, pelo que é essencial conhecer as outras formas de manifestação desta doença. O diagnóstico é essencialmente clínico, no entanto o número de plaquetas e tempo de protrombina podem ser úteis para diagnóstico diferencial. A Urina II é necessária para avaliar lesão renal. Devem ser excluídos quadros abdominais agudos. A invaginação intestinal é a complicação gastrointestinal mais comum. A corticoterapia providencia alívio sintomático mas não altera a história natural da doença. Apesar de autolimitada, esta doença pode conduzir a complicações severas, desempenhando o MF um papel preponderante na sua rápida e eficaz gestão.

Page 100: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 100 de 149

PO213 - QUERIDA, ARRUMEI A CASA

Autores: Paulo Rodrigues1

Instituições: 1USF Arruda Palavras Chave: Fragmento intra-articular; chumbo Enquadramento: as lesões traumáticas causadas por armas de fogo são relativamente comuns especialmente em contextos mais urbanos. As balas e/ou fragmentos metálicos podem ficar retidos extra ou intra-articularmente. Nas primeiras na grande maioria dos casos o material é envolvido por uma cápsula fibrosa, mantendo-se inerte, sem complicações locais ou à distância; nas segundas podem originar complicações locais como a artropatia secundária e sistémicas pela absorção do chumbo, pelo que a literatura atual recomenda a sua remoção. Descrição do caso: é o caso clínico de um senhor de 69 anos, leucodérmico, reformado, tendo trabalhado como agricultor e sendo caçador nos tempos livres. Tem como problemas ativos: SAHOS, Anomalia da Glicémia em Jejum, HBP, Omartrose e Gonartrose bilateral. De antecedentes pessoais relevantes destaca-se acidente com disparo acidental por um tiro de caçadeira durante a caça, no pé direito há 15 anos, mantendo-se, desde aí, assintomático. O utente recorre a consulta de Doença Aguda com o médico de família em maio de 2017 por surgimento de dor no dorso do pé direito de agravamento progressivo com um mês de evolução que surgiu após traumatismo direto por queda de um frigorífico durante a arrumação da casa, que agrava com a locomoção e alivia com o repouso, com limitação funcional e claudicação da marcha. Neste contexto é pedida uma radiografia do pé e tornozelo direito que não revela evidência de fratura mas evidencia a presença de material de densidade metálica no interior da articulação naviculocuneiforme com calcificação dorsal desta articulação. Por esta razão foi referenciado o utente para a consulta de Ortopedia do hospital de referência para excisão do fragmento intra-articular. Discussão: as balas ou fragmentos intra-articulares, para além das complicações locais podem levar ao aumento gradual da concentração de chumbo sérico com manifestações clínicas/complicações sistémicas, nomeadamente: dor abdominal, poliartralgias, Anemia, Nefropatia, Neuropatia motora e Encefalopatia. Estas podem demorar décadas a manifestar-se, especialmente se o aumento dos valores séricos de chumbo for moroso. Consideramos este caso clínico relevante pois é um alerta para os profissionais de saúde dos Cuidados de Saúde Primários para uma situação clínica que em certos contextos pode ser comum, com manifestações clínicas potencialmente graves e pode ser prevenido pela excisão dos fragmentos metálicos intra-articulares.

Page 101: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 101 de 149

PO215 - NÃO-COMPACTAÇÃO ISOLADA DO VENTRÍCULO ESQUERDO: UMA CAUSA RARA DE PALPITAÇÕES

Autores: Helena Clemente1, Rita Ferrão2, Ana Sousa, Tomásia Cafôfo1 e Laborinho Fialho Licínio2

Instituições: 1USF Global, Nazaré; 2USF Global

Enquadramento: A não-compactação isolada do ventrículo esquerdo (NCIVE) é uma cardiomiopatia genética rara. Caracteriza-se pela presença de trabeculações miocárdicas proeminentes e recessos intertrabeculares profundos que comunicam com a cavidade ventricular mas não com a circulação coronária. A sua verdadeira prevalência é desconhecida, assim como a sua história natural, que se pensa estar em relação com uma perturbação na embriogénese. Manifesta-se por sintomas e sinais de insuficiência cardíaca, eventos cardioembólicos, disritmias ou morte súbita. O diagnóstico baseia-se em achados clínicos e imagiológicos, sendo o ecocardiograma bidimensional com doppler o “gold standard”, embora a ressonância magnética nuclear (RMN) assuma um papel relevante na confirmação da patologia.

Descrição de caso: Doente do sexo feminino, de 12 anos, sem antecedentes pessoais de relevo, com queixas de palpitações com cerca de 2 meses de evolução. Sem outras queixas, hábitos medicamentosos, comportamentos aditivos ou história familiar de patologia cardíaca. Exame objetivo sem alterações à auscultação e com um perfil hemodinâmico estável. Foi solicitado um estudo analítico com função tiroideia, também normal, assim como um Holter seguido de um eletrocardiograma com prova de esforço, ambos sem alterações. Por sua vez, o ecocardiograma revelou um ventrículo esquerdo (VE) com aspeto excessivamente trabeculado na região apical e na parede livre, embora sem fluxo evidente entre os recessos. As cavidades cardíacas tinham dimensões dentro do normal e não se detetavam alterações da função sistólica global, das válvulas, sinais de “shunts” ou Hipertensão Pulmonar. Por conseguinte, a doente foi referenciada à Consulta de Cardiologia Pediátrica e aguarda a realização de uma RMN.

Discussão: Não existe um tratamento específico para a NCIVE, mas sim dirigido às comorbilidades associadas. O seu prognóstico não é claro, sendo considerados fatores de mau prognóstico o maior diâmetro diastólico do VE na primeira avaliação, a presença de insuficiência cardíaca classe III ou IV, de fibrilhação auricular permanente ou de bloqueio de ramo esquerdo. Estes deverão ser candidatos a estratégias terapêuticas mais agressivas, tais como um cardioversor desfibrilhador implantável ou um transplante cardíaco. Como tal, revela-se de extrema importância a sensibilização da Medicina Geral e Familiar para o reconhecimento desta patologia ainda subdiagnosticada, com vista ao diagnóstico e rastreio familiar precoces.

Page 102: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 102 de 149

PO220 - A ADOLESCÊNCIA ANSIOSA – A PROPÓSITO DE UM CASO CLINICO

Autores: Inês Bernardo1

Instituições: 1USF Ribeiro Sanches Enquadramento: A adolescência é um período especial no desenvolvimento, sendo cada vez mais frequente e mais precoce ocorrerem períodos de ansiedade, especialmente após o início da puberdade e no sexo feminino. As perturbações do espectro da ansiedade são as perturbações psiquiátricas mais frequentes na infância/adolescência. O ataque de pânico não é uma perturbação mental por si só mas aumenta a probabilidade de se desenvolver, posteriormente, uma perturbação de pânico. É definido pela DSM-V como um surto abrupto de medo ou de desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) sintomas físicos ou cognitivos muito desagradáveis. Descrição do caso: Adolescente de 16 anos, integrado numa família nuclear com duas irmãs mais velhas e com antecedentes pessoais de apendicectomia aos 15 anos. Frequentador do 11º ano de escolaridade com bom aproveitamento, integrado num grupo de amigos e com namorada. Minutos antes de um teste da escola, teve episódio súbito de taquipneia, taquicardia, parestesias e sensação de rigidez das mãos com tremor associado, que motivou a observação no Serviço de Urgência. Negava ingestão de medicamentos, drogas ou álcool. Foi realizado o diagnóstico de ataque de pânico, com melhoria após a toma de benzodiazepina oral. Posteriormente, recorreu a uma consulta aberta por manutenção das queixas de ansiedade, associadas a insónia frequente, que o incomodavam e que interferiam com a sua rotina diária. Referia, também, que tinha sentido menos vontade de realizar as actividades que anteriormente lhe davam prazer e que preferia ficar em casa do que conviver com os amigos, porém negava tristeza ou choro fácil. Ao exame objectivo, verificava-se tremor de acção ligeiro das mãos, unhas muito roídas, timidez marcada e fácies triste. Já mantinha seguimento em consulta externa de Psicologia onde foi aconselhado a fazer medicação ansiolítica em SOS. Desta forma, foi medicado com Benzodiazepina oral ao deitar, por um curto período de tempo, tendo em atenção os seus efeitos adversos e aconselhado a reavaliação breve. Discussão: Este caso demonstra a importância das patologias mentais na adolescência, para que estes tenham um desenvolvimento mental saudável. Os ataques de pânico devem ser encarados com um sinal de alerta, já que estão associados à probabilidade aumentada de outras perturbações mentais, incluindo as de ansiedade, depressivas, bipolares, do controle dos impulsos e por uso de substâncias.

Page 103: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 103 de 149

PO221 - UM SINAL FREQUENTE, UMA CAUSA RARA – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Autores: Andreia Castro1, Filipe Bacalhau1, Francisco Silva1, Catarina Avillez1 e Cristiana Antunes1

Instituições: 1USF Amora Saudável ENQUADRAMENTO: A amebíase intestinal é uma doença comum e prevalente em países em desenvolvimento, causada por um protozoário, Entamoeba histolytica. É frequentemente diagnosticada em imigrantes e viajantes de áreas endémicas. A transmissão dá-se por ingestão de alimentos e água contaminada ou via sexual (fecal-oral). Apesar de em 90% dos casos a infecção ser assintomática, as manifestações clinicas podem incluir diarreia ou doença extraintestinal. A infecção por E. histológica não é uma causa comum de diarreia do viajante, sendo menos frequente se os viajantes permanecerem menos de 1 mês em áreas endémicas. Pacientes institucionalizados e homossexuais com vida sexual ativa apresentam risco aumentado de infecção. Casos raros de amebíase intestinal podem apresentar-se como síndrome de diarreia crónica, com perda de peso e dor abdominal sem disenteria, com anos de evolução e mimetizando Doença Inflamatória Intestinal (DII). Diagnostica-se através da identificação do parasita nas fezes ou teste serológico do antigénio. Todos os pacientes devem ser tratados devido ao risco aumentado de desenvolver doença e de transmissão. DESCRIÇÃO DE CASO: Utente do sexo masculino, 27 anos, homossexual, sem antecedentes pessoais e familiares relevantes, sem medicação atual. História de viagens a países em desenvolvimento. Apresentava diarreia com cerca de 5 anos de evolução, associada a cólicas abdominais e flatulência. Episódios semanais de diarreia pastosa com 2-3 dias de evolução (3-4 dejecções diárias, de coloração normal, sem sangue ou muco). Sem outra sintomatologia. Foi observado por Gastrenterologista há 4 anos tendo, inicialmente, como hipóteses diagnósticas um Síndrome Cólon Irritável ou DII. Realizou TC abdominal e Clister Opaco sem alterações excepto diverticulose. Iniciou alimentação com evicção de produtos com lactose e dada uma discreta melhoria sintomática foi diagnosticado como intolerante à lactose. Foi observado pelo Médico de Família há 3 meses por manutenção da sintomatologia. Realizou exame parasitológico de fezes positivo para Entamoeba histolytica, foi medicado com Metronidazol e Paromomicina e encontra-se atualmente assintomático. DISCUSSÃO: Dada a prevalência de casos em países em desenvolvimento e a potencial letalidade da infecção é imperativo insistir na prevenção em viajantes para áreas endémicas, com evicção de água não potável e alimentos não cozinhados. Devem nestes doentes ser evitadas práticas sexuais que originem contacto fecal-oral.

Page 104: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 104 de 149

PO224 - MAIS DO QUE UMA DOR DE CABEÇA: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Autores: Maria José1, Ana Magalhaes1 e Maria couto soares2

Instituições: 1USF das Conchas; 2lisboa Palavras Chave: cefaleia; causas de cefaleia; diagnóstico diferencial; trombose venosa cerebral

Enquadramento: Habitualmente, os pacientes apresentam-se ao médico de família no início do seu quadro clínico, o que dificulta o diagnóstico. A cefaleia é um motivo de consulta muito frequente nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e o seu diagnóstico diferencial pode ser um desafio. Raramente, pode ser indicador de uma doença grave como a Trombose Venosa Cerebral (TVC).

Descrição do Caso: Uma jovem de 22 anos, leucodérmica, sem antecedentes pessoais relevantes e tendo como medicação habitual um contracetivo oral combinado, recorre à consulta aberta da sua médica de família com um quadro de cefaleia frontal esquerda acompanhada por otalgia homolateral com 1 semana de evolução. À observação, havia apenas a destacar um ligeiro abaulamento da membrana timpânica à esquerda. Foi admitida a hipótese diagnóstica de enxaqueca, a doente foi medicada sintomaticamente e foram-lhe explicados os motivos para ser reavaliada. Recorre novamente à consulta, dois dias depois, por um agravamento da intensidade da cefaleia, acompanhada por um episódio de vómito e sem alívio com a medicação prescrita. Mantinham-se as alterações ligeiras na membrana timpânica. Perante esta avaliação, foi decidido o envio da doente ao Serviço de Urgência (SU). Após observação no SU, a doente realizou exames de imagem que revelaram o diagnóstico de TVC. Iniciou anticoagulação e ficou internada no Serviço de Neurologia, onde fez investigação etiológica que demonstrou deficiência de antitrombina III. O internamento decorreu sem intercorrências e a doente teve alta assintomática.

Discussão: A TVC, sendo uma doença rara, é mais comum em adultos jovens e no sexo feminino, devido a fatores de risco específicos como a toma de contracetivos orais. Clinicamente, a cefaleia é o sintoma mais comum, estando este também presente em muitas outras doenças de gravidade variável. Muitas vezes, a atitude a tomar é aguardar a evolução do quadro com vigilância ativa, sendo a gestão do risco uma característica fundamental da Medicina Geral e Familiar (MGF).

Page 105: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 105 de 149

PO227 - QUANDO A MÁ PROGRESSÃO ESTATURO-PONDERAL CULMINA NO DIAGNÓSTICO DE SÍNDROME CORNÉLIA DE LANGE: QUAL O PAPEL DO MGF?

Autores: Filipa Pimenta1, Inês Catela1, David Fontinha1, André Seixo2 e Luis Bastos1

Instituições: 1USF Lavradio; 2Barreiro Palavras Chave: Cornélia de Lange, Atraso do Crescimento, Atraso Global do Desenvolvimento Psicomotor

A Síndrome Cornelia de Lange caracteriza-se por atraso de crescimento, défice cognitivo que varia de ligeiro a grave. Muitos doentes apresentam peculiaridades do faciesm, tais como pestanas longas, sobrancelhas arqueadas, hipertricose. Têm sido descritas anomalias ósseas nos membros superiores, microcefalia, perda auditiva, patologia oftalmológica, digestiva, anomalias cardíacas e convulsões. A sua incidência varia entre 1/10000 a 1/30000 nascimentos.

Criança de 6 anos, sexo masculino, com antecedentes de atraso de crescimento e atraso global do desenvolvimento psicomotor, integrada numa família nuclear em Fase III do Ciclo de Duvall, Classe média-baixa de Graffar. Antecedentes pessoais: gravidez vigiada sem intercorrências, parto distócico às 41 S (ventosa), sem complicações perinatais, Apgar: 9/10/10 AF: mãe dificuldades de aprendizagem, baixa estatura e perímetro cefalico <P2. Referenciado aos 4 meses para a consulta de Pediatria por má progressão estaturo-ponderal de início pós-natal, com cruzamento de percentis. P25 até aos 2 meses, P5 dos 4 aos 6 meses, P<<5 dos 6 aos 24 meses. Dada a persistência do atraso do crescimento global, apesar do seguimento regular em consultas de nutrição, por apresentar atraso global do desenvolvimento psicomotor e facies peculiar, foi referenciado a consulta de Genética Médica aos 2 anos, na qual ao exame objectivo se reconheceu fenótipo sugestivo de Síndrome de Cornelia de Lange, procedeu-se a análise molecular e identificou-se a mutação c.8377C>T (p.Arg2793) em heterozigotia no gene NIPBL, confirmando-se o diagnóstico com fenótipo de gravidade ligeira a moderada. Foram excluidas as diversas anomalias congénitas associadas a este síndrome. Desde os 2 anos até ao presente tem mantido o P5, de forma regular. Foi solicitada a pesquisa da mutação familiar, na qual se confirmou que a mãe é portadora da mesma mutação patogénica, sendo também afetada pela Síndrome de Cornelia de Lange, pelo que realizou exames de despiste de malformações congénitas e fez rastreio auditivo e visual sem quaisquer alterações.

Dada a complexidade e o impacto de um diagnóstico que acarreta um prognóstico desfavorável tem na criança e sua família. Este caso salienta a importância do MF na atempada gestão e articulação dos cuidados com outros profissionais de saúde, disponibilizando os recursos da comunidade, contribuindo assim, para capacitar a família modelando as suas expectativas de forma a garantir os melhores cuidados a criança.

Page 106: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 106 de 149

REVISÃO DE TEMA PO13 - HEMORRAGIA UTERINA ANÓMALA NA ADOLESCÊNCIA - ABORDAGEM NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Autores: Vanessa Lourenço1, Cláudia Salazar1, Cristiana Craveiro e Ruth Almeida1

Instituições: 1USF Santo António da Charneca.

Introdução: A hemorragia uterina anómala afeta cerca de 40% das adolescentes e trata-se de uma causa importante de anemia nesta faixa etária. Os cuidados de saúde primários constituem habitualmente a primeira linha de abordagem deste quadro clínico, pelo que é mandatório conhecer as diferentes etiologias de modo a implementar a terapêutica adequada a cada caso e identificar as situações que devem ser referenciadas aos cuidados de saúde secundários.

Objetivos: Fazer revisão sistemática da sintomatologia, diagnóstico diferencial, tratamento e critérios de referenciação relativa à hemorragia uterina anómala na adolescência.

Metodologia: Revisão clássica da literatura sobre a temática “Hemorragia Uterina Anómala na Adolescência”. Fez-se pesquisa nas bases de dados Medline, Pubmed e Update. Foram utilizados os termos MeSH: abnormal uterine bleeding; adolescents; ovulatory dysfunction.

Resultados: Na abordagem inicial de uma adolescente com hemorragia uterina anómala é importante fazer uma história clínica detalhada, com anamnese e exame objetivo dirigidos e, quando necessário, solicitar exames complementares de diagnóstico direcionados às possíveis causas e à avaliação das repercussões da hemorragia, sendo a ecografia ginecológica o exame de primeira linha. Relativamente à etiologia, esta é habitualmente multifatorial, sendo as causas não estruturais as mais frequentes, nomeadamente a disfunção anovulatória. O tratamento passa pela utilização de contracetivos orais combinados ou progestativos isolados (oral ou DIU-LNG), sendo que a escolha entre as diferentes terapêuticas e o seu esquema deve ser individualizado tendo em conta as características da doente e a gravidade do quadro.

Discussão: A hemorragia uterina anómala é uma das queixas ginecológicas mais frequentes em adolescentes - cerca de 75% recorrem pelo menos uma vez aos cuidados de saúde por este motivo. Nesta faixa etária a causa mais frequente está associada a ciclos anovulatórios por imaturidade do eixo hipotalâmico-hipofisário. O prognóstico é favorável com remissão da sintomatologia, tanto com terapêutica expectante, como com hormonoterapia nos casos persistentes. Por esta razão, torna-se importante que o médico de família desenvolva competências no diagnóstico e terapêutica desta condição clínica, para que seja feito uma adequada orientação e seguimento destas doentes.

Page 107: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 107 de 149

PO33 - VACINA VIVA-ATENUADA CONTRA A ZONA (HERPES ZOSTER): UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA.

Autores: Filipe Serrano1, Helena Luísa Lopes1, João Brites Pereira2, Margarida Gil Conde1 e Raquel Carmona Ramos1

Instituições: 1USF Vasco da Gama; 2USF Ars Medica - CS Loures Palavras Chave: Vacina; Herpes; Zoster; Evidência

Objectivo: A vacina viva-atenuada contra a zona (Herpes Zoster) apresenta benefícios na prevenção do Herpes Zoster (HZ) bem como da Nevralgia Pós-Herpética (NPH). Permite manter a imunidade contra o vírus, algo que declina com a idade. A administração é internacionalmente recomendada, encontrando-se até incluída no Programa Nacional de Vacinação inglês. Esta vacina foi desenvolvida para indivíduos com >50 anos, sendo controversa a idade ideal para a sua administração. O objectivo desta revisão é saber qual a idade recomendada para administração da vacina viva-atenuada contra a zona.

Fontes de dados: Pubmed, Science Direct, National Guidelines Clearinghouse, NICE Evidence Search, CPG Infobase, Cochrane Library, BMJ Clinical Evidence, DARE database e Bandolier.

Métodos de revisão: Pesquisa de revisões sistemáticas, meta-análises (MA), randomized controlled trials (RCTs), normas de orientação clínica (NOCs) publicados entre 1998 e 2018 nas línguas inglesa, portuguesa e francesa, utilizando os termos MeSH “herpes zoster”, “shingles vaccine” e “herpes zoster vaccine”. Aplicada a classificação Strenght of Recommendation Taxonomy (SORT) da American Academy of Family Physicians para atribuição do nível de evidência e forças de recomendação.

Resultados: Foram obtidos 1110 artigos e, destes, 8 cumpriram os critérios de inclusão: 5 NOCs e 3 RCTs. Das 5 NOCs, destacam-se o Reino Unido onde a vacina é recomendada à população entre os 70 e 79 anos (FR A). Nos Estados Unidos da América a recomendação está acima dos 60 anos (FR A); Em consenso com esta idade de administração estão também as NOC da Austrália e do Canadá (FR A). Em França a vacina é recomendada dos 65 aos 74 anos (FR A). Dos RCTs, destacam-se o SPS e ZEST trials com resultados na redução da incidência de Herpes Zoster, Nevralgia Pós-Herpética e a sua gravidade (NE 1). Um dos RCTs bem como o SPS avaliam ainda a segurança da vacina (NE 1).

Conclusões: A vacina está recomendada, na sua globalidade, para adultos com mais de 60 anos e imunocompetentes. Apesar de disponível no mercado para indivíduos com >50 anos, as diferenças de idades das NOC internacionais resultam de estudos de longevidade da imunogenicidade e custo/eficácia. Nos EUA foi aprovada para comercialização em 2017 a nova vacina recombinante, actualmente também recomendada, sendo mesmo a vacina preferencial para HZ.

Page 108: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 108 de 149

PO65 - AUTOEXAME TESTICULAR – IMPORTÂNCIA NA DETEÇÃO DA NEOPLASIA MALIGNA DO TESTÍCULO

Autores: Sílvia Ferreira1, Rita Pisco1 e Filipa Capelas2

Instituições: 1USF Valflores; 2USF Querer Mais

Introdução: A neoplasia maligna do testículo, apesar de ser uma patologia rara, representa a neoplasia maligna mais comum em homens com idades compreendidas entre os 20 e os 34 anos, com uma incidência aproximada de 1%. O número de novos casos de neoplasia maligna do testículo nos países ocidentais tem vindo a aumentar nos últimos 40 anos. Contudo, tem-se verificado uma diminuição da mortalidade, com uma taxa de cura a 5 anos próxima dos 95%, quando detetada em estádios precoces.

Objetivo: Tendo em consideração a apresentação clássica da neoplasia maligna do testículo ser uma massa dolorosa palpável, o autoexame testicular poderá revelar-se uma mais valia na deteção precoce desta patologia. Assim, esta revisão da literatura tem como objetivo rever a utilidade do autoexame testicular como forma de deteção precoce na neoplasia maligna do testículo.

Metodologia: Foi feita uma pesquisa de artigos nas bases de dados Pubmed, National Guideline Clearinghouse, The Cochrane Library, Canadian Medical Association, através da utilização dos termos MeSH: testicular cancer e self-examination, tendo sido incluídos artigos publicados entre os anos 2013 e 2018, escritos em inglês, que incluíssem meta-análises, revisões sistemáticas, estudos de coorte e caso-controlo. Foi incluído um artigo do ano 2000 com especial relevância para o tema.

Resultados: Depois de analisados os 48 artigos resultantes da pesquisa, foram selecionados 12 artigos, nomeadamente 7 revisões sistemáticas e 5 estudos originais. Esta seleção foi realizada através de critérios de inclusão e exclusão pré-definidos.

Discussão: Embora não exista recomendação clara para o autoexame testicular como forma de rastreio da neoplasia maligna do testículo, vários autores defendem que a inclusão deste procedimento e a sua recomendação aos doentes na prática clínica, para além de permitir detetar outras anomalias testiculares, promove também uma maior autoconsciência e envolvimento do doente na sua própria educação para a saúde. Contudo, dada a escassez de resultados atuais sobre o impacto do autoexame testicular na mortalidade por esta neoplasia, mais estudos deverão ser desenvolvidos.

Page 109: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 109 de 149

PO66 - ANTICORPOS ANTIFOSFOLIPÍDICOS: QUANDO PESQUISAR, QUANDO VALORIZAR?

Autores: Andreia Ribeiro1, Valter Filipe Rosa Moreira1, Vera Leitão Esteves1, Ricardo Simões de Araújo1 e Joana Ressurreição1

Instituições: 1USF Descobertas Introdução: A síndrome anticorpos anti-fosfolípidicos (SAAF) trata-se de uma doença autoimune sistémica caracterizada por eventos trombóticos (venoso ou arterial) ou complicações obstétricas que ocorrem em doentes com anticorpos antifosfolipídicos (AAF) persistentemente positivos. Pode ter origem primária ou secundária, mais frequentemente por Lupus Eritematoso Sistémico.

Objetivos: Este trabalho tem como objetivo orientar a abordagem do SAAF nos cuidados de saúde primários, nomeadamente esclarecer em que situações devemos pesquisar a presença de AAF e como valorizar a positividade destes anticorpos.

Metodologia: Foi realizada uma revisão clássica através da pesquisa em bases de dados científicas (PubMed) publicadas entre 2000 e 2018, em Inglês, Português e Espanhol, com os termos MeSH: “antiphospholipid syndrome” e “primary health care”.

Resultados: Cerca de 10% dos dadores de sangue saudáveis apresentam anticorpos anticardiolipina positivos. Contudo, após 1 ano este número reduz para menos de 1%. Assim torna-se essencial saber em que doentes pedir esta avaliação analítica, como por exemplo, ocorrência de trombose em idade jovem e aborto espontâneo. O diagnóstico de SAAF faz-se através dos critérios de Sapporo revistos, nos quais é essencial que haja confirmação de persistência de anticorpos positivos ao fim de pelo menos 12 semanas. De modo a aumentar a especificidade da avaliação, também deve ser considerada a titulação de cada anticorpo. Este valor permite estratificar o risco de eventos trombóticos e realizar um plano de seguimento adaptado a cada utente, tendo sempre em conta outros fatores de risco para doença cardiovascular.

Conclusão: São várias as situações que podem levar um médico nos cuidados de saúde primários a colocar como hipótese o diagnóstico de SAAF. No caso de um resultado positivo para AAF é de extrema importância que o médico de família saiba como valorizar esses resultados e como gerir o plano destes doentes. O desenvolvimento de calculadoras de risco trombótico em pacientes com SAAF permitiria uma melhor gestão destes casos.

Page 110: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 110 de 149

PO71 - SUPLEMENTAÇÃO COM ARANDOS VERMELHOS NAS INFEÇÕES DO TRATO URINÁRIO INFERIOR

Autores: Ana Cardoso1 e Maria João Nascimento1

Instituições: 1USF D. Francisco de Almeida Palavras Chave: "Cranberry"; "Urinary tract infections"

Introdução: As Infeções do Trato Urinário (ITUs) recorrentes representam uma importante fonte de morbidade e de custos nos cuidados de saúde. Os arandos vermelhos contém enzimas que inibem a fixação de bactérias na mucosa uroepitelial e a sua atividade anti-inflamatória impede o desenvolvimento de sintomas, reduzindo a propagação bacteriana celular, a frequência de ITUs e a propensão à infeção crónica.

Objetivo: Rever a evidência disponível acerca da suplementação com arandos vermelhos na prevenção das infeções urinárias.

Metodologia: Realizou-se uma pesquisa na base de dados Pubmed com os seguintes descritores MeSH: “Cranberry” e “Urinary tract infection”. Limitou-se a pesquisa a artigos escritos em inglês, português e espanhol publicados nos últimos 5 anos, do tipo ensaio clínico, caso-controle, meta-análise e revisão sistemática. Para avaliar o nível de evidência foi utilizada a escala SORT da American Family Physician.

Resultados: Da pesquisa resultaram 36 artigos, dos quais se selecionaram 6 que cumpriam os critérios de inclusão: 2 ensaios clínicos, 2 revisões sistemáticas e 2 meta-análises. Um dos ensaios revelou eficácia e segurança no uso de arandos vermelhos como prevenção de ITUs recorrentes. No segundo também se concluiu que houve uma redução na incidência de ITUs, sendo o seu consumo uma estratégia útil na redução de episódios. Numa das revisões concordou-se que este tipo de suplementação não deve ser recomendado para a prevenção de ITUs, devido aos seus eventos adversos, tais como distúrbios gastrointestinais. Na segunda, os dados da literatura foram conflituantes em relação ao papel clínico dos arandos vermelhos. Contudo, concluíram que esta continua a ser uma abordagem segura. A primeira meta-análise defende que esta pode ser uma abordagem não farmacológica potencial para mulheres saudáveis na ITU recorrente não complicada. A segunda revelou que existem fortes evidências que suportam o uso de arandos vermelhos como agente profilático.

Discussão: A infeção do trato urinário é das patologias mais frequentes na consulta, pelo que devemos saber dar ao utente a opção mais adequada para o seu tratamento. Embora a maioria dos dados pareçam bastante consistentes ao indicar que os arandos vermelhos são uma opção válida e segura para a prevenção de infeções do trato urinário, este ainda é um assunto bastante controverso. (SORT B)

Mais estudos a longo prazo são necessários para avaliar a segurança e benefício dos suplementos com arandos vermelhos.

Page 111: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 111 de 149

PO76 - PRESCRIÇÃO DE ATIVIDADE FÍSICA NA GRAVIDEZ

Autores: Diogo Rodrigues1, Matilde Padrão Dias1, Inês Coelho1 e Catarina Mariano Leal1

Instituições: 1USF Dafundo Palavras Chave: Gravidez; Atividade física; Introdução: A atividade física (AF) na gravidez está associada à redução do risco de diabetes gestacional, menor ganho ponderal e diminuição da incidência de incontinência urinária. Adicionalmente, estima-se que as grávidas passem mais de 50% do dia inativas. Objectivos: Revisão das recomendações sobre a prescrição de AF na gravidez.

Metodologia: Revisão clássica com pesquisa na Pubmed e outras fontes de medicina baseada na evidência, usando os termos MeSH "Pregnancy" e "Physical activity", de artigos publicados nos últimos 10 anos, em inglês e português.

Resultados: Identificaram-se 6 guidelines e 7 artigos que fazem referência à frequência, intensidade, duração e tipo de treino (FITT) recomendados. Deve ser feita uma história clínica detalhada que inclua os hábitos e nível prévio de AF. A prescrição de AF deve ser individualizada e dinâmica, permitindo adaptações aos diferentes trimestres da gravidez e incluir informações sobre a FITT. Na ausência de complicações médicas/obstétricas, nas guidelines consultadas (ACSM, ACOG, RCOG), as recomendações de AF na gravidez são consistentes com as recomendações da OMS para adultos saudáveis: pelo menos 150 min/sem de intensidade moderada ou 75 min/sem de intensidade vigorosa, através de exercícios aeróbicos (caminhada, natação ou bicicleta), 3 a 7 x/sem. É recomendada também a realização de exercícios de resistência (com peso corporal ou carga <4,5kg) e de flexibilidade, 3x/sem em dias não consecutivos. Deve ser evitada a manobra de Valsava durante toda a gravidez e exercícios na posição supina a partir da 16ªsemana de gestação. Os sinais de alarme para suspender a AF são: hemorragia vaginal, perda de líquido amniótico, contrações regulares dolorosas, dispneia, confusão e cefaleia.

Discussão: As recomendações para a prática de AF são consistentes na bibliografia, o que permite estabelecer uma base comum para a criação de folhetos informativos e planos de AF consoante os níveis prévios de AF das grávidas e que incluam as recomendações FITT e os sinais de alarme. Dado que as grávidas fazem um acompanhamento regular e de proximidade com a sua micro-equipa, a avaliação dos hábitos e nível prévio de AF e a prescrição de AF podem ser realizados pelo enfermeiro e médico de família, respetivamente, quer em consulta de Saúde Materna quer em consulta de AF. Cada consulta constitui uma oportunidade para ajustar o plano de AF de forma individualizada e avaliar o seu impacto no ganho ponderal, potenciando os benefícios da AF na gravidez.

Page 112: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 112 de 149

PO120 - DERMATITE ATÓPICA E A DOR CRÓNICA

Autores: Joana Chaves1, Ana Sofia Vitorino2 e Catarina Assis Catroga3

Instituições: 1UCSP Parede – ACES Cascais; 2USF Mare; 3USF Carcavelos Palavras Chave: Dermatite Atópica, Dor Crónica, Prurido Crónico, Dor cutânea

Introdução: A Dermatite Atópica (DA) é das dermatoses crónicas mais comuns. O prurido é um dos principais sintomas, cuja fisiopatologia, ainda pouco conhecida, poderá estar implicada com a da dor.

Objetivo: Conhecer a DA enquanto via para a dor crónica.

Metodologia: Pesquisa bibliográfica na MEDLINE por publicação científica nos últimos 15 anos, usando os MeSH Terms “Atopic dermatitis”AND”pain”. Revisão de resumos com o foco na patologia da DA e da dor.

Resultados: Obtiveram-se 6 artigos para análise.

Discussão: Os mecanismos fisiopatológicos subjacentes da DA ainda não estão esclarecidos, tal como o mecanismo pruriginoso crónico que se relacionará com a via não-histaminérgica. A sensibilização central e periférica desempenham um papel importante no mecanismo da dor e do prurido na DA. As fibras C com limiares eléctricos baixos e sem exacerbação do reflexo axonal podem estar implicadas no sistema neuronal periférico. Assim, a dor e o prurido crónicos partilham de neuromediadores e de processos de disfunção neuronal e sensibilização semelhantes, mas mais estudos são necessários.

A dor e o prurido crónico têm um forte impacto negativo na qualidade de vida, dada a elevada morbilidade psicológica associada à DA. A dor cutânea é outro sintoma presente na DA, na maioria das vezes, subestimada e confundida com o prurido quer pelo doente quer pelo clínico. Assim, a avaliação da dor na DA deve fazer parte dos objetivos terapêuticos. Um plano terapêutico integrado com psicologia seria outra ferramenta benéfica.

A avaliação estatística de variáveis na caracterização da dor cutânea poderia ser interessante para o melhor entendimento deste sintoma e sua valoração. É também necessária mais investigação sobre modelos, protocolos psicofísicos e imagiologia para esclarecimento destes mecanismos pruriginosos.

Page 113: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 113 de 149

PO124 - ABORDAGEM DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA NAS MULHERES EM CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Autores: Ricardo Simões de Araújo1, Ricardo Silva2, Diogo Barata de Almeida1, Valter Filipe Rosa Moreira1 e Daniela Maça3

Instituições: 1USF Descobertas; 2USF Conde de Oeiras; 3USF- Ajuda

Introdução: A incontinência urinária (IU) define-se como a perda involuntária de urina que constitui um problema social. Os subtipos mais frequentes são a Incontinência Urinária de Urgência (IUU) e a Incontinência Urinária de Esforço (IUE). Apresenta alta prevalência nas mulheres, com impacto na qualidade de vida e custos em saúde, sendo essencial conhecer a sua abordagem e orientação.

Objetivo: Rever e estabelecer linhas orientadoras ajustadas à abordagem da IU nas mulheres em cuidados de saúde primários.

Metodologia: Revisão não sistemática de artigos de revisão e guidelines na base de dados Uptodate e PubMed, com as palavras-chave “urinary incontinence” “ginecology” publicados de 2010 até 2017.

Resultados: A IUE, mais prevalente, define-se como a perda involuntária de urina que ocorre com o aumento da pressão intra-abdominal na ausência de contracção da bexiga, causada por hipermobilidade uretral ou disfunção esfincteriana intrínseca.

A IUU corresponde à sensação de urgência miccional imediatamente precedida ou acompanhada por perda involuntária de urina, originando-se por hiperreflexia do detrusor. Na história deve-se caracterizar as perdas (início, duração, factores desencadeantes), sintomatologia associada, bem como co-morbilidades ou medicação que podem agravar ou causar a IU, devendo-se descartar causas transitórias. O exame objectivo consiste no exame ginecológico completo, incluindo avaliação das perdas com esforço e mobilidade uretral (Stress test, Q-tip test e Marshall-Bonney test). O diário miccional é útil para determinar o tipo de IU ou identificar e corrigir factores precipitantes. Em regra não são necessários exames complementares

O tratamento inicial consiste em medidas não farmacológicas: diminuição dos irritantes vesicais, redução peso, cessação tabágica e diminuição ingesta hídrica após jantar. Deve-se incentivar o fortalecimento da musculatura pélvica, através de exercícios de Kegel, cones vaginais ou electroestimulação. Quanto ao tratamento farmacológico destacam-se os anti-muscarínicos, que têm alguns efeitos adversos, e o mirabegrom, agonista β3, melhor tolerado. Não existe terapêutica farmacológica aprovada para a IUE, sendo o tratamento de eleição o cirúrgico.

Discussão: O médico de familía tem um papel fundamental na avaliação inicial da mulher com IU. É essencial diagnosticar e identificar causas transitórias, bem como recomendar medidas não farmacológicas e farmacológicas a fim de intervir num sintoma que afecta a qualidade de vida.

Page 114: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 114 de 149

PO136 - "ACTYNOMICES SPP NA CITOLOGIA CERVICO-VAGINAL… E AGORA?"

Autores: Maria João Nascimento1, Ana Cardoso1, Rute Vanessa Tavares de Almeida Rocha2 e Paula Teixeira1

Instituições: 1USF D. Francisco de Almeida; 2UCSP Vila Velha de Ródão Palavras Chave: “Actinomyces”, “intrauterine device” e “management” Introdução: A associação da infecção por Actinomyces com dispositivos intra-uterinos (DIUs) é reconhecida há muito tempo. As infecções pélvicas relacionadas com DIU, secundárias aos actinomyces desapareceram em grande parte, no entanto, por vezes surgem dúvidas quanto à necessidade de tratamento, uma vez que a actinomicose pélvica, apesar de ser uma doença extremamente rara, é bastante invasiva, com formação de abcessos e fístulas e cuja sintomatologia pode assemelhar-se à de tumores pélvicos. Objetivos: Em Portugal não existem guidelines para a abordagem das situações em que a citologia cervico-vaginal é positiva para Actinomyces spp. O objetivo deste trabalho é apurar qual a melhor abordagem clínica que se deve praticar nestes casos. Metodologia: Pesquisa bibliográfica na Pubmed, Medscape, Uptodate e NHS guidelines, com as palavras “Actinomyces”, “intrauterine device” e “management”. Resultados: Da pesquisa obtiveram-se 25 artigos, tendo sido selecionados 5 pela sua pertinência. A incidência de Actinomyces spp nas citologias cervico-vaginais pode ser cerca de 7 vezes superior em mulheres utilizadoras de DIU comparativamente às não utilizadoras, aumentando com a duração da utilização e quando este o dispositivo é de cobre. A relação entre a presença deste microorganismo em citologias e o desenvolvimento de actinomicose é incerto, muitas vezes surgem dúvidas sobre qual a melhor abordagem, pelo que ao médico de família deve estar atento a sintomas como dor pélvica, dispareunia, hemorragias anormais, corrimento vaginal ou disúria, pois, quando presentes, é mandatória a remoção do dispositivo, e envio deste para exame cultural. Adicionalmente, nestes casos, deve ser instituída antibioterapia por um período mínimo de duas semanas, com posterior reavaliação. É importante explicar à doente quais os sintomas e alertar para a necessidade de recorrer aos cuidados de saúde, e informar sobre os riscos, ainda que reduzidos. Conclusão: Na ausência de sintomas, o dispositivo não necessita de ser removido nem é necessária antibioterapia, nem repetir a citologia. Quanto ao follow-up, as indicações dividem-se entre as que sugerem a reavaliação após 6 meses, acompanhada de exame pélvico, e as que consideram não existir qualquer necessidade de follow-up. Assim, importa estar alerta para as complicações decorrentes de uma verdadeira infeção, para que o diagnóstico possa ser precoce de modo a evitar futuras complicações.

Page 115: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 115 de 149

PO140 - BETAHISTINA: MITO OU SOLUÇÃO?

Autores: José Francisco Sousa e Silva Pinto Lopes1, MariA Bernardo e Paulo Estrela Soares2

Instituições: 1USF Conchas; 2USF das Conchas Palavras Chave: betahistina, vertigem Introdução: Os sintomas vertiginosos são uma das queixas mais frequentes nas consultas de Medicina Geral e Familiar, principalmente em mulheres e idosos. Existem várias etiologias para esse sintoma, sendo as mais comuns as causas periféricas, com destaque para a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB). Apesar de ter apenas indicação formal para ser utilizada na Doença de Méniere, a betahistina é um dos fármacos mais prescritos para a sintomatologia vertiginosa independentemente da etiologia. Objetivo: Rever a evidência disponível sobre os efeitos da betahistina no controlo dos sintomas vertiginosos das etiologias mais comuns.

Metodologia: Pesquisa com termos MeSH “betahistine” e “vertigo” de revisões publicadas desde o ano 2000.

Resultados: A pesquisa efectuada obteve um total de 19 revisões, dos quais 4 tinham relação directa com o tema, tendo sido 3 incluídas nesta revisão. Foi também incluído um ensaio clínico de 2017, publicado após as revisões referidas. Todos apontam para um efeito superior da betahistina em comparação com placebo no controlo dos sintomas vertiginosos.

Discussão: Apesar da escassa evidência disponível e de baixa qualidade, a betahistina parece ter um efeito benéfico, embora pouco significativo, no controlo da sintomatologia vertiginosa de diferentes etiologias. Destaca-se ainda o facto de ser descrita como um fármaco bem tolerado, com uma baixa taxa de efeitos adversos, o que é particularmente importante dada a sua utilização na população idosa.

Page 116: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 116 de 149

PO145 - TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA OSTEOPOROSE NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS – PROTOCOLO DE ATUAÇÃO.

Autores: Isa Cavaleiro1, Emilia Salta1, Cristina Pinto de Sousa2, Joana Jesus1 e JOANA MATOS BRANCO1

Instituições: 1USF Arco-Íris; 2USF Arco-íris Palavras Chave: Osteoporose Introdução e Objetivo: Estima-se que a Osteoporose afete cerca de 10.2% da população portuguesa. O seu tratamento é prática comum nas consultas de Medicina Geral e Familiar, visando sobretudo prevenir a ocorrência de fraturas de fragilidade que advêm da perda de massa óssea que caracteriza esta patologia. O objetivo deste trabalho é, baseando-se na melhor evidência científica disponível, elaborar um protocolo de atuação que sintetize o esquema terapêutico da Osteoporose nos Cuidados de Saúde Primários, orientando e facilitando a tomada de decisão clínica. Metodologia: Pesquisa bibliográfica e revisão narrativa de recomendações referentes a indicações, duração e monitorização do tratamento farmacológico da Osteoporose nas bases de dados Pubmed, Cochrane, UpToDate, Dynamed e NICE Guidelines Finder, bem como publicações da Sociedade Portuguesa de Reumatologia e Direção-Geral da Saúde. Resultados: As indicações para o início de farmacoterapia na prevenção de fraturas osteoporóticas devem basear-se na existência prévia deste tipo de fraturas, bem como na estimativa do seu risco através da ferramenta FRAX, complementada ou não pelo resultado da densitometria. Para além da prescrição de bifosfonatos, deve ser avaliada a necessidade de suplementação de cálcio e vitamina D individualmente. A pertinência da monitorização do tratamento com densitometria não está claramente estabelecida, mas a realizar-se não se recomenda a sua repetição num período inferior a 2 anos.

A duração do tratamento no caso do ácido alendrónico (1ª linha) é de 5 anos (3 anos no caso do ácido zolendrónico), findos os quais deve ser considerado um intervalo terapêutico de 2 a 3 anos, dado que o efeito dos bifosfonatos persiste mesmo após a sua interrupção. Contudo, a manutenção do tratamento por um período de 10 anos (6 anos para o ácido zolendrónico) demonstrou benefícios e deve ser considerada nas seguintes situações: fraturas de fragilidade antes ou durante o tratamento, índice T do colo do femur ≤-2.5 após tratamento, idade avançada, corticoterapia de longa-duração.

Discussão: Apesar de recentes avanços no estudo e abordagem da Osteoporose o algoritmo do seu tratamento é complexo, no sentido em que nem sempre é possível encontrar evidência científica robusta que sustente um caminho único a seguir. O nosso protocolo reflete o estado da arte neste campo, com as suas incertezas, apresentando, quando pertinente, as diferentes possibilidades a ter em conta na gestão desta patologia.

Page 117: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 117 de 149

PO151 - SAOS EM IDADE PEDIÁTRICA

Autores: Catarina M. Damásio1 e Manuela Bernardo Instituições: 1Alvalade Palavras Chave: apneia obstrutiva; distúrbios do sono; idade pediátrica Introdução: A síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) tem uma prevalência estimada de 1 a 4% em idade pediátrica. Resulta de episódios repetidos de obstrução das vias aéreas superiores durante o sono. A apresentação clínica da SAOS em idade pediátrica difere da observada em adultos, não sendo frequentes as queixas de sonolência diurna, mas predominando queixas de roncopatia, despertares noturnos, enurese secundária, fenótipos da perturbação de défice de atenção e hiperatividade, entre outros. O método gold-standard de diagnóstico é a polissonografia, estando outros métodos atualmente em estudo. A abordagem terapêutica é adequada ao grau de gravidade da SAOS, indo desde a terapêutica com anti-inflamatórios locais à abordagem cirúrgica. Objetivo: Rever a evidência disponível sobre a abordagem da SAOS em idade pediátrica, desde a prevenção ao diagnóstico e tratamento adequados. Metodologia: Foi feita uma pesquisa com os termos MeSH “breathing, sleep disordered” e “children”, de revisões publicadas nos últimos 5 anos. Resultados: A pesquisa efetuada obteve um total de 50 revisões, das quais 32 foram excluídas por estarem direcionadas apenas à abordagem cirúrgica ou se referirem à idade adulta da SAOS. Estas descrevem a SAOS na criança, focando a apresentação clinica, consequências desta condição e terapêutica. Todas apontam para a importância de um diagnostico e abordagem adequados, referindo que os benefícios desta atuação só têm evidência cientifica actual se feitos numa fase precoce da apresentação da SAOS. Discussão: As consequências da SAOS são conhecidas, desde o impacto na aprendizagem e desenvolvimento da criança, aos efeitos cardiovasculares a longo prazo. É fulcral atuar a nível da prevenção dos fatores de risco associados à SAOS, bem como, diagnosticá-la precocemente e estabelecer um tratamento adequado de modo a evitar a morbidade associada a esta condição.

Page 118: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 118 de 149

PO154 - NÓDULO SOLITÁRIO DO PULMÃO: PROPOSTA DE ABORDAGEM PELOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Autores: Ana Luisa Marques Duarte Palavras Chave: nódulo solitário do pulmão, diagnóstico diferencial, cuidados primários Introdução: O nódulo solitário do pulmão (NSP) define-se como uma opacidade radiológica, bem circunscrita, medindo até 3 cm de diâmetro, rodeada completamente por pulmão arejado. É um achado radiológico comum e cada vez mais frequente, atendendo ao crescente uso da tomografia computorizada (TC). Constitui um desafio diagnóstico na medida em que pode representar um tumor do pulmão em fase inicial, mas ao mesmo tempo significar uma lesão benigna cuja investigação pode ser mais prejudicial que benéfica. Importa ao médico de família saber como avaliar e orientar este achado. Objectivo: rever a literatura mais recente sobre a abordagem do NSP e discutir a sua aplicação prática no âmbito dos cuidados de saúde primários.

Metodologia: efectuou-se uma pesquisa no PubMed de artigos publicados nos últimos cinco anos contendo no título: “solitary pulmonary nodule/nodules”, incluindo guidelines, meta-análises, revisões e revisões sistemáticas. Pesquisaram-se ainda guidelines contendo no título o termo: “pulmonary nodule/nodules”. Por fim foi feita uma pesquisa com os termos “pulmonar nodule/nodules” e “primary care”.

Resultados: Foram analisados nove artigos de revisão cujo conteúdo procurava responder aos objetivos do trabalho e cinco guidelines relativas à abordagem do NSP.

Discussão: A história clínica e um exame objetivo cuidadoso atendendo em particular aos fatores que aumentam o risco de cancro constituem o primeiro passo. Perante a suspeita de doença infeciosa (ex.: tuberculose pulmonar) ou inflamatória poderá haver necessidade de tratamento ou referenciação. Diversos modelos têm sido desenvolvidos para avaliar o risco de malignidade de um NSP, os quais têm em conta características do indivíduo, como idade e exposição ao tabaco e características do nódulo, como contorno espiculado e o seu tamanho. Nódulos sólidos com estabilidade documentada por pelo menos dois anos tipicamente não necessitam de avaliação posterior. A abordagem dos nódulos sólidos com mais de 8 mm depende da probabilidade pré-teste de malignidade, mas carece frequentemente de avaliação por tomografia por emissão de positrões (PET) ou técnicas invasivas pelo que se sugere referenciação aos cuidados secundários. Nódulos sólidos com menos de 8 mm têm baixo de malignidade e poderão ser vigiados de forma seriada por TC alta resolução e de baixa densidade. Atendendo à limitação de recursos, a abordagem do NSP pelos cuidados de saúde primários carece de maior debate e articulação entre especialidades.

Page 119: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 119 de 149

PO155 - CMV NA GRAVIDEZ

Autores: Maria loureiro1 e Mariana Carvalho Instituições: 1usf sje dos loios Palavras Chave: CMV; Rastreio na gravidez Introdução e objetivos:O citomegalovírus humano (CMV) é o agente mais comum de infeção congénita afetando 0.2 a 2.2% de todos os nascimentos, e é responsável por uma morbilidade significativa. Cerca de 10-15% dos recém-nascidos com infeção congénita a CMV estarão sintomáticos no pós natal. Esta revisão pretende reforçar a necessidade de identificação de grupos de risco a quem o rastreio deve ser oferecido na prática clínica do médico de família, e consciencializar sobre os métodos de diagnóstico disponíveis na gravidez de acordo com evidências e investigações recentes. Metodologia: Pesquisa de guidelines, revisões sistemáticas e estudos observacionais com os termos MeSH “citomegalovirus infection” e “pregnant woman”.

Resultados:A infeção por CMV varia de acordo com a idade, área geográfica, etnia e fatores socioeconómicos. Das mulheres em idade fértil não imunes, 30 a 50% estará suscetível à infeção por CMV, das quais 1 a 4% irá adquirir infeção primária durante a gravidez. Quanto mais elevada é a idade gestacional, maior é o risco de infeção fetal. Por outro lado, a probabilidade de ocorrência de doença sintomática varia inversamente com a idade gestacional. 5% dos recém-nascidos que desenvolvem sintomatologia acabam por morrer e os que sobrevivem apresentam sequelas a longo prazo. A realização do teste de rastreio de CMV em mulheres com idade fértil em pré-conceção e durante a gravidez, sem suspeita de infeção é controversa. O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia e a Sociedade de Medicina não recomendam o rastreio. O teste de determinação do anticorpo IgM materno apresenta limitações na distinção entre infeção primária e recorrente por CMV, o que torna difícil para o médico aconselhar os pais sobre os riscos fetais. Os tratamentos disponíveis não apresentam evidência na prevenção da infeção congénita fetal. Outro argumento apresentado assenta em não ser garantida a proteção do feto em mães com imunidade contra o CMV no contexto da reativação ou reinfeção com novas estirpes do vírus.

Discussão:O facto de não existir vacinação eficaz que previna a infeção primária, assim como as limitadas opções de tratamento, obrigam a uma aposta a nível global na prevenção, através do ensino de medidas de higiene. O conhecimento da imunidade contra o CMV, particularmente em grávidas seronegativas, reforça a motivação das mesmas nos cuidados de higiene pessoal e no contacto com crianças, o que diminui a probabilidade de seroconversão durante a gravidez.

Page 120: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 120 de 149

PO157 - USO DE GLUCOSAMINA NA OSTEOARTROSE: QUE EVIDÊNCIA EXISTE?

Autores: Miguel Pisco1, Tânia Tavares1 e Carolina Reis2

Instituições: 1USF Ribeirinha; 2USF Santo António da Charneca Palavras Chave: Osteoartrose; Glucosamina Introdução e Objetivos: A Artrose é uma síndrome de artralgia, limitação funcional e redução na qualidade de vida, acometendo principalmente joelho, anca e mãos. Existem abordagens farmacológicas e não farmacológicas. As primeiras incluem medicamentos com intuito de retardar a progressão da doença, como a Glucosamina (GS), um substrato de proteoglicano (essencial para a matriz da cartilagem). O objetivo desta revisão consiste em encontrar evidência para a prescrição de GS na Artrose (se, como e quando deve ser feita). Metodologia: Foi conduzida uma revisão de tema, utilizando como palavras-chave os termos MeSH "Glucosamine" e "Osteoarthritis". Pesquisaram-se guidelines e trabalhos de revisão sistemática dos últimos 5 anos nas plataformas National Institute for Health and Care Excellence (NICE), National Guideline Clearinghouse, Cochrane, Clinical Evidence, e Pubmed. Foram ainda procurados no Pubmed ensaios clínicos publicados no último ano.

Resultados: Das 33 publicações obtidas, selecionaram-se 24. Ao se falar de GS distingue-se dois tipos de formulação: Sulfato de Glucosamina (SGS) e Cloridrato de Glucosamina (CGS). O primeiro foi comercializado pela Rottapharm, realçando-se que estudos usados para validar essa formulação específica foram financiados pela indústria. Ainda assim, a evidência não apoia o uso de CGS. Destaca-se também que a quase totalidade dos estudos são dirigidos ao joelho, com referências limitadas a outras articulações. Das guidelines pesquisadas, a NICE não recomenda o seu uso; a European Society for Clinical and Economic Aspects of Osteoporosis Osteoarthritis inclui especificamente o SGS no 1º passo do algoritmo de abordagem à Gonartrose; a Osteoarthritis Research Society International considera a GS incerta para a analgesia e não apropriada para atrasar a progressão da doença. Estudos posteriores continuaram este desacordo de opiniões, com resultados discrepantes sobre benefício terapêutico na dor, limitação funcional e progressão da doença, e sobre duração apropriada. Contudo, o uso é consistentemente descrito como seguro.

Conclusão: A disparidade de opiniões existentes quanto ao benefício da GS é aparente. Porém, parece ser unânime a sua segurança, ficando ao critério do clínico a decisão da sua prescrição, avaliando o doente que tem à sua frente e outras opções terapêuticas adequadas. Caso se prescreva, dever-se-á preferir formulações de SGS, 1500mg 1id.

Page 121: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 121 de 149

PO174 - MAIS MEDICINA É NECESSARIAMENTE MELHOR?

Autores: Tânia Santos1, Rita Nascimento1, Marta Nazha1 e Gianfranco Ricchiuti1

Instituições: 1USF São Filipe, ACES Arrábida Palavras Chave: Testes diagnósticos de rotina, cuidados primários Introdução e Objectivos: O presente trabalho teve como objectivo a revisão da necessidade e aplicabilidade dos principais exames complementares de diagnóstico (ECD) de rotina e discutir a relação risco-benefício. Metodologia: Foi feita uma revisão narrativa da literatura através de pesquisa na base de dados “Pubmed” com os termos em MESH "Primary Health Care" AND "Diagnostic Tests, Routine”, selecionando 17 dos 161 artigos publicados nos últimos 10 anos, e de outras fontes bibliográficas, tendo sido recolhidos os dados mais relevantes relacionados com a prescrição de ECD por rotina, nos cuidados de saúde primários (CSP).

Resultados: O exame periódico de saúde (EPS) está na base da prática médica, apesar de não haver consenso do seu valor clínico. Este consiste na identificação de factores de risco e de sinais precoces de doença e na intervenção precoce em pessoas saudáveis. O EPS inclui anamnese, aconselhamento, imunização e pedido de ECD, de acordo com o grupo etário e género.

Em relação aos ECD, vários estudos mostram que a sua prescrição é subjectiva e tem aumentado nos últimos anos, estando associada ao sobrediagnóstico, iatrogenia e gastos em saúde, sendo a maior parte da despesa representada pelos exames laboratoriais, seguidos pelos radiológicos e MFR, sendo os CSP os principais responsáveis. De facto, os estudos nacionais mostram que a maioria da população adulta considera que os ECD são necessários anualmente e consideram-nos como a principal medida de medicina preventiva.O pedido dos ECD por um lado pode reduzir a incerteza do médico e a ansiedade do utente promovendo a relação médico-doente, mas também expô-lo a efeitos nefastos, tornando o saudável em patológico.

Na tentativa da uniformização da prática médica foram criadas várias normas ou guidelines, para orientação clínica em vários Países, dividindo o médico entre a medicina baseada na evidência e a decisão partilhada com o utente.

Com base na análise dos estudos encontrados e nas NOC´s foi realizado um esquema dos exames de rotina e dos rastreios a aplicar nos CSP.

Discussão: O médico de família, como gestor de recursos de saúde e principal interveniente na educação para a saúde, tem a oportunidade e a responsabilidade de agir de acordo com o que é cientificamente apropriado e adequado a cada doente. Para este fim, pode-se aplicar uma estratégia educacional múltipla, trabalhando em equipa, promovendo a literacia em saúde, entre outros, respeitando simultaneamente a autonomia do doente.

Page 122: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 122 de 149

PO194 - MEDICINA DO VIAJANTE - O ESSENCIAL PARA O MÉDICO DE FAMÍLIA

Autores: Liliana Moita1 e Inês Pereira2

Instituições: 1UCSP de Sete Rios; 2UCSP Sete Rios Palavras Chave: medicina do viajante, cuidados de saúde primários Introdução e objetivos: Atualmente verifica-se não só um aumento do número de viagens, seja por turismo ou por motivos de trabalho, como também preferência por destinos mais “exóticos”. Apesar ser recomendado fazer uma consulta de Medicina do Viajante, os utentes por vezes recorrem ao seu Médico de Família para aconselhamento. Torna-se fundamental ao Médico de Família estar familiarizado com as principais recomendações profiláticas, particularidades da medicação e patologias mais frequentes nos viajantes. Pretende-se fazer uma revisão dos aspetos a ter em conta na abordagem ao viajante nos cuidados de saúde primários.

Metodologia: Pesquisa dos termos MESH “Travel Medicine” e “Primary Health Care” nas bases de dados MEDLINE e COCHRANE e sites de sociedades científicas dedicadas à Medicina do Viajante.

Resultados: O risco associado à viagem depende do destino, do tipo de viagem e das características do viajante, pelo que cada viajante deve ser encarado de uma forma individualizada. É necessário obter uma anamnese cuidada para conhecer os antecedentes pessoais, medicação habitual e as condições da viagem (contexto, duração, itinerário, tipo de acomodação). Perante uma pessoa que pretende viajar, o médico deve ter em atenção três aspetos fundamentais: informação/aconselhamento, vacinação e prescrição de medicação profilática ou terapêutica. A educação do utente deve incluir os cuidados a ter na viagem, segurança, higiene, ingestão de comida e bebidas, doenças transmitidas por vetores e infeções sexualmente transmissíveis. Relativamente à vacinação, a maioria das vacinas recomendadas estão incluídas no Plano Nacional de Vacinação. Exceções, que devem ser ponderadas caso a caso, são a hepatite A, febre tifóide, encefalite japonesa, cólera, febre amarela e meningocócica. Quanto à profilaxia da malária, está recomendada em viagens para zonas endémicas, e o médico deve estar familiarizado com as várias opções.

Discussão: A maior procura do médico de família para esclarecimento de questões relativas à medicina do viajante é uma realidade que justifica a atualização do médico sobre este tema. A variabilidade das zonas endémicas para cada doença torna necessário o conhecimento de fontes de informação de consulta simples e rápida, que possam indicar quais as vacinas ou profilaxias necessárias. Esta abordagem, não sendo alternativa à consulta de Medicina do Viajante, será útil na tranquilização do utente e na preparação de uma viagem segura.

Page 123: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 123 de 149

PO195 - HEMOGLOBINA LEPORE

Autores: Sofia Lages Fernandes1, Raquel Ferreira, Joana Ressurreição1, Diogo Barata de Almeida1 e Joana Campina1

Instituições: 1USF Descobertas Palavras Chave: Hemoglobinopatias; Hemoglobina Lepore Introdução: Perante o caso de um utente com microcitose foi solicitada eletroforese das hemoglobinas que revelou Hg Lepore. Houve a necessidade de rever esta hemoglobinopatia, semelhanças e diferenças com outrostipos de hemoglobinopatia e ainda implicações práticas deste diagnóstico de forma a prestar o devido aconselhamento ao utente. Objetivos: Revisão da classificação das hemoglobinopatias, da Hg Lepore e suas implicações para o utente e família. Metodologia: Revisão clássica nas bases de dados Pubmed e Update. Limitou-se a pesquisa a artigos de revisão e guidelines com a palavra-chave “Lepore hemoglobin” em inglês e português, sem data limite, com o filtro “review” na Pubmed. Resultados: As hemoglobinopatias podem ser classificadas nos seguintes 7 grupos: Síndromes falciformes (caracterizados pela polimerização anormal); Talassémias (produção reduzida de globinas normais); Mutações estruturais que resultam num fenótipo talassémico (onde se inclui a Hb Lepore); Solubilidade reduzida; Hemoglobinas instáveis; Mutações de afinidade do oxigénio anormais e Hemoglobinas M. A mutação da Hg Lepore consiste no crossing over desigual e evento recombinante entre os genes adjacentes delta e beta, levando a uma globina de fusão. A hemoglobina com esta globina anormal designa-se por Hg Lepore que é estável e funcional. Contudo, a produção desta globina anormal está sob o controlo do promotor da globina delta é muito menos ativo que o promotor da globina beta, levando à redução da produção desta globina anormal. Assim, a Hg Lepore normalmente representa 3 a 20% da hemoglobina total do indivíduo afetado, em vez dos 50% esperados, resultando num desequilíbrio da produção entre globina alfa e beta. Assim, os indivíduos com esta hemoglobinopatia, se forem homozigotos produzem fenótipo talassémico moderado a grave e se forem heterozigotos um fenótipo de traço talassémico. No caso de o indivíduo ser portador assintomático como é o caso do nosso utente, com fenótipo de traço talassémico, a implicação para este utente é a sua educação e aconselhamento para realização de rastreio de hemoglobinopatias da parceira, pois caso esta também seja portadora assintomática terão risco de ter um filho com 25% probabilidade de ser homozigoto. Se a parceira for homozigota o risco sobe para 50%. Discussão: Apesar da hemoglobina Lepore ser um achado pouco frequente, é importante que o médico de família contextualize os achados hematológicos e oriente adequadamente o utente.

Page 124: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 124 de 149

PO196 - NOVAS PERSPECTIVAS NO TRATAMENTO DA ENXAQUECA

Autores: Ana Catarina Silva1 e Flávia Costa1

Instituições: 1USF Rodrigues Migueis Palavras Chave: tratamento, enxaqueca Introdução: A enxaqueca é uma doença crónica com elevada prevalência na população mundial adulta, sendo mais frequente em mulheres. A Organização Mundial de Saúde definiu a enxaqueca como uma das vinte doenças crónicas mais incapacitantes e com maior impacto socioeconómico. Trata-se de uma cefaleia primária, idiopática com um perfil paroxístico, caracterizado por episódios recorrentes de dor incapacitante, com frequência e duração variáveis, intervalados por períodos assintomáticos. As crises são normalmente desencadeadas por fatores precipitantes intrínsecos ou ambientais. O diagnóstico de enxaqueca e o seu tratamento são dificultados pela ausência de biomarcadores e pela natureza episódica da doença. Objetivo: Sistematizar, face à evidência atual, a orientação terapêutica mais adequada da enxaqueca. Metodologia: Foi realizada uma revisão da literatura médica usando diversas bases de dados científicas, incluindo a PubMed-Medline, com as palavras-chave enxaqueca e tratamento. Foram analisados artigos publicados nas línguas inglesa e portuguesa. As referências bibliográficas dos artigos selecionados também foram consultadas. Resultados: Atualmente, existem inúmeras formas de tratamento para a enxaqueca, podendo estas ser farmacológicas ou não farmacológicas. O tratamento farmacológico é classificado em: 1) tratamento de fase aguda/sintomático – tem como objetivo eliminar a dor e os sintomas associados durante a crise; 2) tratamento prolongado/profilático – visa impedir a ocorrência de novas crises e diminuir a sua frequência. O tratamento sintomático pode incluir fármacos não específicos (analgésicos e anti-inflamatórios não esteróides) e fármacos específicos (triptanos). A gravidade, frequência, duração das crises e o tipo de evolução da sintomatologia definem a duração do tratamento e o tipo de fármaco a utilizar. Discussão: Tratando-se de uma doença para a qual não existem testes laboratoriais ou marcadores que confirmem o diagnóstico, os profissionais de saúde têm um papel de relevo no diagnóstico e estratégia terapêutica adotada. Apesar do sofrimento e incapacidade temporária que provoca, a enxaqueca é muitas vezes desvalorizada e subtratada, o que a torna uma das maiores doenças neurológicas não tratáveis. É essencial uma melhor compreensão da etiologia e fisiopatologia da enxaqueca para que se possam abrir novas perspetivas de investigação terapêutica, uma vez que, apesar do avanço notável na farmacoterapia, são necessários tratamentos mais efetivos.

Page 125: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 125 de 149

PO201 - CHLAMYDIA TRACHOMATIS: UMA INFEÇÃO QUE MERECE ATENÇÃO

Autor: Melanie Pires1

Instituição: 1USF Ribeiro Sanches, ACES Amadora Palavras Chave: chlamydia trachomatis Introdução: A infeção bacteriana sexualmente transmissível mais frequente em todo o mundo é provocada pela chlamydia trachomatis. De entre 15 estirpes conhecidas, os tipos D a K são transmitidas por contacto sexual, sendo responsáveis por diversas infeções. Cerca de 40% dos homens e 85% das mulheres são assintomáticos. Recomendações internacionais preconizam a vigilância anual de chlamydia trachomatis em todas as mulheres sexualmente ativas <26 anos ou com menos de 35 anos. Atualmente, Portugal não dispõe de um programa de rastreio para as infeções por chlamydia trachomatis, apesar desta ser de notificação obrigatória desde abril de 2014. Com este trabalho pretende-se fazer uma revisão sobre o diagnóstico laboratorial da chlamydia trachomatis em Portugal e da sua situação epidemiológica. Metodologia: Foi realizada uma pesquisa bibliográfica na plataforma PubMed através dos termos MESH “chlamydia trachomatis”, restringindo a artigos publicados há menos de 10 anos. Foi também realizada uma pesquisa mais abrangente de literatura cinzenta para a contextualização nacional.

Resultados: Em 2008 a Organização Mundial de Saúde estimou cerca de 105 milhões de novos casos de infeção por chlamydia trachomatis na população adulta em todo o mundo, constituindo esta a principal causa bacteriana de infeção sexualmente transmissível. À data apresentava uma incidência por mil indivíduos na Europa de 37,1 nas mulheres e de 54,2 nos homens mas, estima-se que a incidência global seja mais elevada, tendo em conta a discrepância da cobertura laboratorial. Entre 1991 e 2014, segundo um estudo publicado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, os investigadores constataram um aumento da frequência de casos de infeção por chlamydia trachomatis, com maior frequência no grupo etário com menos de 25 anos.

Discussão: A ausência de sintomatologia da infeção por chlamydia trachomatis leva a uma diminuição de procura de cuidados médicos, e consequentemente a um atraso de diagnóstico e tratamento, facilitando a transmissão da infeção a terceiros e o desenvolvimento de formas clínicas graves. Contudo, em Portugal a pesquisa laboratorial de chlamydia trachomatis não está incluída na tabela da Administração Central para os Cuidados de Saúde, não sendo a análise diagnóstica disponibilizada nos cuidados de saúde primários. A elaboração de recomendações dirigidas à infeção por chlamydia trachomatis será um meio essencial para o sucesso da prevenção e tratamento desta infeção.

Page 126: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 126 de 149

PO214 - DIVERSIFICAÇÃO ALIMENTAR NA INFÂNCIA – QUANDO, COMO, PORQUÊ?

Autores: Andreia Castro1, Filipe Bacalhau1, Catarina Avillez1 e João Batalheiro1

Instituições: 1USF Amora Saudável Introdução e Objetivos: A diversificação alimentar consiste na transição de uma alimentação exclusivamente láctea para outra que inclui, para além do leite, outros alimentos de maior consistência até atingir uma alimentação sólida. Este período constitui uma ponte entre o aleitamento materno e a alimentação familiar. O objectivo deste trabalho é fazer uma revisão das principais particularidades deste período e criar um instrumento de apoio à consulta que auxilie o Médico de Família na orientação dos cuidadores. Metodologia: Pesquisa bibliográfica de artigos científicos em bases de dados (Medline e UpToDate), utilizando os termos MeSH “solid foods”, “complementary foods”. Foram incluídos artigos científicos escritos em inglês e português, publicados de Abril de 2012 a Julho de 2018. Foram selecionados um total de 3 artigos científicos e consultado 1 artigo na Acta Pediátrica Portuguesa. Resultados: É consensual entre os vários autores que o início da diversificação alimentar deve realizar-se entre os 4 e os 6 meses. Não antes dos 4 pelas seguintes características do lactente: o reflexo de extrusão só desaparece aos 4-5 meses de idade, risco de aspiração pela inexistência de habilidades oro-motoras para engolir, aumento da sobrecarga renal por inadequado aporte calórico ou de nutrientes, aumento do risco de obesidade, aumento do risco de infecções gastrointestinais; não após os 6 porque o volume de leite materno ingerido por amamentação exclusiva torna-se insuficiente para as necessidades calóricas e nutricionais levando a uma diminuição do crescimento, atraso no desenvolvimento da função oro-motora, aversão para comida sólida e desenvolvimento de doença atópica; idealmente o mais próximo possível dos 6 meses. A diversificação deve ser iniciada com alimentos de ingrediente único, introduzindo um novo a cada 3-5 dias para exclusão de intolerância alimentar. A criança deve ser alimentada com colher de modo a estimular a função oro-motora, podendo isto influenciar o desenvolvimento da linguagem. Discussão: O início da diversificação não depende só da idade da criança como também do atingimento de algumas etapas do desenvolvimento motor, como manter-se sentada com apoio e ter um bom controlo cefálico e do pescoço. A complexidade e textura dos alimentos deve ir evoluindo paralelamente ao desenvolvimento da habilidade de alimentação da criança. Deve ser abordado este tema em cada consulta de modo a detectar ou prevenir possíveis problemas nutricionais.

Page 127: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 127 de 149

PO216 - VANTAGEM DA SUPLEMENTAÇÃO DE MAGNÉSIO NA DIABETES TIPO 2 – REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

Autores: Tânia Tavares1, Carolina Reis2 e Miguel Pisco1

Instituições: 1USF Ribeirinha; 2USF Querer Mais Palavras Chave: suplementação de magnésio; diabetes tipo 2 Introdução e objetivo(s): Os doentes com diabetes mellitus tipo 2 (DM tipo 2) apresentam, frequentemente hipomagnesémia. Vários estudos confirmam que a ingesta de magnésio está relacionada com a homeostase da glicose e com a resistência à insulina, pelo que a suplementação oral com magnésio pode ser útil no tratamento e prevenção da diabetes. O objetivo desta revisão é rever a evidência científica acerca das vantagens da suplementação com magnésio na DM tipo 2. Metodologia: Revisão baseada na evidência, com critérios de inclusão segundo a metodologia PICO: População – Doentes em risco para ou com DM tipo 2; Intervenção – Suplementação com magnésio; Controlo – não suplementação; Outcome – benefícios na DM tipo 2. Pesquisa bibliográfica de Normas de Orientação Clínica (NOC), Ensaios Randomizados e Controlados (RCT), Revisões Sistemáticas (RS) e Meta-análises (MA), em língua inglesa, nos últimos 5 anos, com os termos MeSH ”Magnesium”, “Dietary supplements” e “Diabetes mellitus, type 2”, nas bases de dados National Guideline Clearinghouse, NICE, Cochrane Library e Pubmed. Foi utilizada a escala SORT para atribuição de forças de recomendação (FR) e níveis de evidência (NE).

Resultados: Obtiveram-se 27 artigos, dos quais 4 cumpriam os critérios de inclusão (1 MA, 1 RCT e 2 RS). A MA revelou melhoria na glicémia em jejum e noutros parâmetros metabólicos após suplementação de magnésio, sendo este benefício mais marcado nos doentes com DM tipo 2 com hipomagnesémia. O RCT sugere que a suplementação de magnésio não está indicada em indivíduos com DM tipo 2 com níveis de magnésio sérico normais, uma vez que não se verificou melhoria do controlo metabólico ou sensibilidade à insulina nos mesmos. As RS evidenciaram que a suplementação de magnésio é efetiva na redução da glicémia em indivíduos de alto risco, o que parece atrasar ou prevenir a progressão para DM tipo 2. Contudo, nos doentes com DM tipo 2 a eficácia da suplementação é inconsistente.

Discussão: É insuficiente a evidência acerca da suplementação de magnésio, por rotina, nos doentes com DM tipo 2, para melhorar o controlo glicémico (FR C). Contudo, o efeito benéfico na glicémia e outros parâmetros metabólicos parece ser mais marcado nos doentes com DM tipo 2 e hipomagnesémia (FR C). Assim, a deteção e correção da hipomagnesémia no doente diabético poderá ser útil. São necessários mais estudos para obter evidência mais robusta.

Page 128: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 128 de 149

PO219 - IMPACTO DOS DIURÉTICOS TIAZÍDICOS NO CONTROLO GLICÉMICO – REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA

Autores: Carolina Reis1, Tânia Tavares2 e Miguel Pisco2

Instituições: 1USF Santo António da Charneca; 2USF Ribeirinha Palavras Chave: diuréticos tiazídicos; diabetes mellitus Introdução e Objetivo(s): A hipertensão arterial é uma comorbilidade frequente na população diabética. Sendo que os diuréticos tiazídicos são uma das classes farmacológicas mais utilizadas no seu tratamento, é importante perceber qual o impacto que a sua aplicação tem sobre o controlo glicémico. O objetivo deste trabalho passa, assim, pela revisão da evidência clínica actual, relativamente a este tema. Metodologia: Foi efetuada uma pesquisa de meta-análises, revisões sistemáticas, ensaios clínicos e guidelines, em língua inglesa, publicados nos últimos cinco anos, na NGC - National Guideline Clearinghouse, na NICE – national institute for Health and Care Excellence, na Cochrane Library e na Pubmed, usando os termos MeSH “thiazide” e “diabetes mellitus”. A atribuição de níveis de evidência e forças de recomendação foi feita através da escala SORT (Strength of Recommendation Taxonomy), da American Family Physician. A PICO definida foi: População – hipertensos, com ou sem diabetes, sob tratamento com diuréticos tiazídicos; Intervenção – tratamento anti-hipertensor com diurético tiazídico; Controlo – Não realização de tratamento anti-hipertensor com diurético tiazídico; Outcomes – Controlo glicémico, novo diagnóstico de diabetes.

Resultados: Resultaram 136 artigos da pesquisa inicial, dos quais se incluíram, nesta revisão 6: 3 meta-análises e 3 ensaios clínicos aleatorizados. Verificou-se, nas meta-análises, que o uso de hidroclorotiazida está associado a pior controlo glicémico. Relativamente aos ensaios clínicos aleatorizados, a sua associação a antagonistas do recetor da angiotensina II não mostrou alterações metabólicas nas doses usadas e, quando comparada a associação de diurético tiazídico versus bloqueador de canal de cálcio, não houve diferenças metabólicas. Outro ensaio mostrou, também, que o uso de diuréticos tiazídicos não se associou a um maior número de novos diagnósticos de diabetes. Por fim, o último ensaio clínico incluído verificou que a associação de amilorida aos doentes a fazer uso de hidroclorotiazida pode melhorar o controlo metabólico versus doentes a fazer, apenas, hidroclorotiazida.

Discussão: Perante a evidência clínica atualmente disponível conclui-se que, apesar do uso de diuréticos tiazídicos poder piorar o controlo glicémico em diabéticos, o seu uso em baixas doses poderá ser seguro (FR C). Não existe, assim, evidência suficiente que contraindique o seu uso em diabéticos (FR C).

Page 129: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 129 de 149

PO223 - SUPLEMENTAÇÃO COM FERRO NA GRAVIDEZ: COMO ATUAR?

Autores: Jorge Pereira, Ana Isabel Silva1 e Leonor Troni2

Instituições: 1USF D. Jordão; 2UCSP Torres Vedras Introdução: O Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco da Direção-Geral da Saúde (DGS), recomenda a suplementação com 30 – 60 mg/dia ferro durante a gravidez. Esta prática baseia-se em recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde), que indicam que as mulheres no período pré-natal devem realizar suplementação com ferro para reduzir os riscos de anemia materna e de baixo peso à nascença. No entanto este documento não é explicito sobre a quem iniciar esta suplementação ou quais as suas contra-indicações.

Objetivos: Com este trabalho pretende-se rever a evidência científica sobre a suplementação com ferro durante a gravidez.

Metodologia: Foi efectuada pesquisa bibliográfica de guidelines e normas de orientação clínica, revisões sistemáticas, revisões baseadas na evidência, meta-análises e ensaios clínicos aleatorizados em sítios de medicina baseada na evidência utilizando os termos MeSH“iron” e “pregnancy”.

Resultados: A suplementação com ferro na gravidez é associada a redução do risco de deficiência em ferro e de anemia materna no final da gravidez. No entanto, grávidas que receberam suplementação com ferro têm um maior risco de valores de hemoconcentração, que pode estar associada a pré-eclâmpsia e parto pré-termo, baixo peso ao nascer. Muitos estudos não reportam devidamente os efeitos adversos, sendo provável que a sua prevalência seja mais elevada do que a reportada nos estudos. Não existe diferença evidente em relação a outcomesclínicos como a mortalidade materna, neonatal ou anomalias congénitas. Níveis de hemoglobina inferiores aos valores normais para a gravidez (11 g/dL no 1º trimestre e 10,5 g/dL no 2º trimestre) devem ser investigados e suplementação de ferro considerada. A suplementação de ferro intermitente (1-2 vezes por semana) produz resultados maternos e infantis similares, sendo associado a menos efeitos colaterais e menor risco de níveis elevados de hemoglobina no 2º e 3º trimestres da gravidez, podendo ser uma alternativa viável à suplementação diária de ferro em grávidas sem anemia e com seguimento pré-natal adequado.

Discussão: Os dados corroboram a eficácia da suplementação de ferro de rotina durante a gravidez para melhorar os valores laboratoriais hematológicos maternos. No entanto, o significado clínico positivo para as grávidas e bebés ainda não está claro. Estudos adicionais são necessários para entender os efeitos clínicos da suplementação de ferro de rotina, tanto em esquema diários como intermitentes.

Page 130: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 130 de 149

PO225 - ABORDAGEM DIAGNÓSTICA E TERAPÊUTICA DA URETRITE MASCULINA NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Autores: Filipe Bacalhau1, Andreia Castro1, Cristiana Antunes1, Francisco Silva1 e João Batalheiro1

Instituições: 1USF Amora Saudável Palavras Chave: Uretrite masculina; DST; Neisseria gonorrhoeae; Chlamydia trachomatis; exsudado uretral Introdução e objetivo: As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são uma causa frequente de morbimortalidade em todo o Mundo. A uretrite é uma das manifestações mais comuns de DST nos homens sexualmente ativos, sendo classificada como gonocócica ou não-gonocócica (UNG), dependendo da presença ou não de Neisseria gonorrhoeae, respetivamente. Chlamydia trachomatis (20-50%) e Mycoplasma genitalium (10-30%) são os agentes etiológicos mais frequentes de UNG. As principais complicações da uretrite masculina são epididimites, orquites e artrites reactivas agudas ou crónicas. Este trabalho tem como objetivo a revisão dos principais aspetos relativos à abordagem diagnóstica e terapêutica da uretrite masculina nos Cuidados de Saúde Primários (CSP).

Metodologia: Pesquisa bibliográfica de artigos científicos em bases de dados (Medline e UpToDate), utilizando os termos MeSH “urethritis”, “men”, “management”. Foram incluídos artigos científicos escritos em inglês e português, publicados de Janeiro de 2008 a Julho de 2018. Foram selecionados um total de 7 artigos científicos.

Resultados: Deve suspeitar-se de uretrite perante um homem sexualmente ativo com queixas de disúria, sendo este o sintoma mais frequente e estando presente na maioria dos casos de gonorreia e em metade dos casos de UNG. Outros sintomas e sinais como prurido, exsudado uretral mucopurulento e inflamação do meato uretral podem estar presentes. No entanto, 5 a 10% dos casos de uretrite gonocócica e até 42% dos casos de UNG são assintomáticos. Na abordagem de uma uretrite masculina nos CSP é imprescindível realizar, em primeiro lugar um exame direto e cultural do exsudado uretral. Esta abordagem permite um diagnóstico diferencial entre uma etiologia gonocócica e não-gonocócica, caso os sintomas persistam após o tratamento, e para a notificação obrigatória de doenças transmissíveis. A abordagem terapêutica inicial da uretrite é geralmente empírica, realizando uma cobertura antibiótica para os principais agentes envolvidos. É aconselhada uma avaliação do último parceiro sexual de modo a realizar terapêutica dirigida ao mesmo agente etiológico.

Discussão: A morbimortalidade das DST, e mais especificamente da uretrite no homem, está relacionada com as suas complicações, podendo ser evitadas com um correto diagnóstico clínico e laboratorial por parte do médico de família e consequente instituição de terapêutica eficaz e atempada, tanto ao homem como aos parceiros sexuais, e assim quebrar o ciclo de transmissão.

Page 131: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 131 de 149

PO230 - BENZODIAZEPINAS: QUANDO OS RISCOS ULTRAPASSAM OS BENEFÍCIOS

Autores: Cristiana Antunes1, Filipe Bacalhau1, Francisco Silva1, Esmeralda Amador1 e Luís Eusébio1

Instituições: 1USF Amora Saudável Palavras Chave: “benzodiazepine”, “benzodiazepine withdrawal”, “benzodiazepine guidelines”, “deprescribing benzodiazepine” Introdução: As benzodiazepinas (BZD), grupo de fármacos frequentemente prescrito em Portugal, são eficazes como terapêutica de curta duração da insónia e da ansiedade, estando o seu uso prolongado associado a perda de eficácia e a efeitos adversos como sonolência, quedas, défice cognitivo, sintomas de dependência, entre outros. A dificuldade de descontinuação de BZD de longa duração tem conduzido ao estudo e desenvolvimento de diferentes estratégias. Objetivos: Elaborar um algoritmo que auxilie o médico de família na descontinuação de BZD em utentes cronicamente medicados, com vista a uma prevenção quaternária, tendo por base as várias estratégias estudadas e com evidência científica demonstrada. Metodologia: Consulta da plataforma www.deprescribing.org, Normas de Orientação Clínica da DGS (Nº055/2011 e respetiva atualização (2015)) e do Boletim Terapêutico Nº1/2017 (Comissão de Farmácia e Terapêutica da ARSLVT). Pesquisa bibliográfica de artigos científicos em bases de dados (PubMed e UpToDate), utilizando os termos MeSH: “benzodiazepine”, “benzodiazepine withdrawal”, “benzodiazepine guidelines”, “deprescribing benzodiazepine”. Dos artigos encontrados, foram selecionados um total de cinco artigos, de 2006 até 2018. Resultados: Os vários estudos realizados demonstram que o sucesso da descontinuação de BZD depende, em primeiro lugar, da informação transmitida e da compreensão e motivação do utente. O recurso a uma estratégia de intervenção breve demonstrou alguma eficácia. No entanto, a elaboração de um regime de redução gradual de dose personalizado, associado a terapia cognitivo-comportamental e a monitorização de sintomas e ajuste do regime em consultas periódicas, apresenta uma eficácia superior na descontinuação de BZD. Em casos específicos, pode ser vantajoso realizar um switch para doses equivalentes de diazepam, realizando, posteriormente, a descontinuação.

Discussão: A descontinuação de BZD de longa duração é um processo prolongado no tempo e que pode desencadear o retorno de sintomas prévios ou de abstinência. Por este motivo, e atendendo aos riscos associados ao seu uso prolongado, torna-se essencial o desenvolvimento de estratégias de descontinuação deste grupo farmacológico. O médico de família, pela relação de confiança e pelo conhecimento do contexto psicossocial de cada indivíduo, encontra-se numa posição privilegiada para informar, gerir e acompanhar o utente neste processo.

Page 132: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 132 de 149

AVALIAÇÃO E MELHORIA CONTÍNUA DA QUALIDADE PO62 - PRESCRIÇÃO INADEQUADA DE QUINOLONAS NA USF TEJO – UM TRABALHO DE MELHORIA DA QUALIDADE

Autores: Luisa Costa1, Miguel Marques Ferreira1, Catarina Morgado1, Alexandra Gonçalves1 e Avelina Moniz1

Instituições: 1USF Tejo Palavras Chave: quinolonas; qualidade; prescrição

Introdução: A excessiva prescrição de quinolonas no ambulatório está associada a uma elevada taxa de resistências a esta classe de antibióticos. No caso da infeção do trato urinário não complicada por Escherichi coli, esta taxa em Portugal atingiu 33.4% (2014). Consequentemente a utilidade clínica destas drogas está em causa. De facto, as fluoroquinolonas são uma classe de antibacterianos de largo espectro, amplamente utilizados como terapêutica de infeções respiratórias e do trato urinário. É um problema transversal, hospitalar e ambulatório, tendo-se verificado uma redução do consumo a nível nacional: 88% a nível hospitalar e 27% no ambulatório entre 2011 e 2014. Na contratualização da USF Tejo, na área da prescrição farmacoterapêutica, foi incluído o indicador 255 - Proporção de quinolonas entre antibióticos faturados. Em outubro de 2017 verificou-se um resultado de 9.343 (máximo esperado 8.00).

Problema: Prescrição inadequada de quinolonas na USF Tejo.

Métodos: Período de intervenção: outubro de 2017 a fevereiro de 2018

Avaliação do perfil de prescrição de antibioterapia de cada médico especialista/interno da USF recorrendo ao MIM@UF.

Apresentação individual dos resultados obtidos a cada um dos prescritores.

Formação/atualização em antibioterapia nas áreas respiratória e urinária.

Revisão mensal do resultado do indicador 255 - Proporção de quinolonas entre antibióticos faturados no site “BI-CSP IDG– visão unidades indicadores” e apresentação na reunião de serviço.

Futura apresentação dos valores globais ao fim de 12 meses.

Resultados: Evolução favorável na proporção de quinolonas faturadas ao longo dos 10 meses já decorridos desde o início da intervenção: outubro – 9.343; dezembro – 8.540; fevereiro – 7.637; abril - 5.926; junho 2018 – 5.649.

Conclusão: A elevada resistência às quinolonas afeta, por um lado, a decisão na prescrição de cuidados ao doente com quadro infecioso e, por outro lado, evidencia a necessidade de alterações em algumas guidelines de apoio à decisão clínica. A intervenção estruturada implementada na USF tem evidenciado uma melhoria objetiva no índice de desempenho do indicador que avalia esta prescrição.

Page 133: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 133 de 149

PO232 - AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA SUPLEMENTAÇÃO DE IODO NA GRÁVIDA COM SEGUIMENTO EM USF

Autores: Ines Frohn1 e José Lima2

Instituições: 1usf eça; 2USF Eça Palavras Chave: suplementação; iodo; grávida Justificação: De acordo com o estudo de Limbert et al [1], cerca de 83% das grávidas portuguesas apresentam uma ingestão de iodo inferior ao recomendado pela OMS. Por outro lado, a sobrecarga de iodo é rara, devendo a suplementação ser ponderada individualmente em grávidas com antecedentes de patologia tiroideia. Segundo a norma nº 011/2013- “Aporte de iodo em mulheres na pré-conceção, gravidez e amamentação” de 26/08/2013 da Direção Geral de Saúde [2], as mulheres em estadio pré-concecional, grávidas e durante o período de aleitamento materno exclusivo têm indicação para suplementação diária de 150-200 µg/dia de iodeto de potássio. Objectivos: Pretende-se através deste trabalho avaliar a qualidade da suplementação de iodo em grávidas seguidas numa Unidades de Saúde Familiar no concelho do Barreiro de acordo com a norma nº 011/2013 de 26/08/2013 da Direção Geral de Saúde. Métodos: Realizou-se estudo descritivo, transversal e longitudinal sendo a população estudada correspondente às grávidas inscritas com o código W78; W84 e W79, de acordo com a classificação ICPC-2. Elaborou-se um protocolo de estudo preenchido de acordo com os registos clínicos, contemplando a suplementação de iodo durante a gravidez de acordo com a norma 011/2013 da DGS. Avaliou-se a existência ou não de suplementação de iodo durante toda a gravidez, excluindo as grávidas com patologia tiroideia assim como as com seguimento privado. A avaliação foi feita em 2 períodos: antes e após uma ação de sensibilização e intervenção na USF de 01/03/2015 a 30/06/2015 e de 01/07/2015 a 31/08/2015 respetivamente, assim como nos períodos compreendidos entre 01/07/2016-31/08/2016 e 01/07/2017-31/08/2017. A recolha dos dados foi efetuada com recurso aos programas informáticos SClínico®, o seu registo e tratamento efetuou-se através do software MicrosoftOfficeExcel 2010®. Resultados: A percentagem de grávidas suplementadas antes da intervenção foi de 54%, após a intervenção foi de 67%. Nos anos seguintes a percentagem de suplementação de iodo nas grávidas em 2016 foi de 87% e em 2017 de 99%. Discussão: Houve um aumento contínuo ao longo do tempo da prescrição de iodo em grávidas com seguimento na USF, tendo a intervenção em 2015 sido fundamental para aumentar o conhecimento da norma levando os profissionais de saúde a adotarem uma atitude mais proactiva na sua prescrição de forma a melhorar progressivamente e de forma mais efetiva os parâmetros desta suplementação.

Page 134: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 134 de 149

PROTOCOLOS PO23 - FIBRILHAÇÃO AURICULAR - AVALIAÇÃO DA PRESCRIÇÃO COM OS NOVOS ANTICOAGULANTES ORAIS

Autores: Rita Lopes Ferreira1, M.ª de Lurdes Pereira2 e Mariana Coimbra3

Instituições: 1Usf Santiago; 2USF Santiago - Leiria; 3USF Santiago, Leiria Palavras Chave: Fibrilhação auricular; anticoagulação oral; varfarina; dabigatrano; rivaroxabano; apixabano; edoxabano

Introdução: Nos últimos 60 anos, a terapêutica anticoagulante oral em doentes com fibrilhação auricular (FA) estava limitada aos anti-vitamínicos K. Pelos seus inconvenientes, complexidade posológica ajustada ao INR e múltiplas interações farmacológicas e não-farmacológicas, um grande esforço investigacional foi desenvolvido, tendo surgido, na última década, vários fármacos denominados anticoagulantes diretos (DOACs). Estes mostraram-se superiores ou, pelo menos, não inferiores à varfarina em relação aos outcomes primários de eficácia e segurança. A grande vantagem dos DOACs (Dabigatrano, Rivaroxabano, Apixabano, Edoxabano) reside na ausência de necessidade de ajuste ao INR estando, porém, a dosagem dependente do uso concomitante de um grupo restrito de fármacos e da função renal dos doentes sendo, de forma indireta, dependente da idade e do peso. Por essa razão, vários estudos têm sido realizados não só de modo a testar a segurança e efetividade destes fármacos como também a estimar a proporção e tipo de doentes que estão sub ou sobremedicados, de modo a avaliar os efeitos nefastos que daí advêm.

Objetivo(s): Avaliar a qualidade da prescrição da terapêutica hipocoagulante com os DOACs, numa população multicêntrica (USF Santiago, USF Cidade do Liz, USF Condestável e USF Vitrius) de utentes com a codificação ICPC-2 “K78-Fibrilhação/Flutter Auricular”, pertencentes aos ficheiros dos especialistas de 4 unidades do ACeS Pinhal Litoral.

Métodos: Dimensão estudada: técnico-científica; Unidade de estudo:utentes com a codificação ICPC-2 “K78", no ano de 2018; Tipo de dados:processual; Fonte de dados: Mim@uf® e SClinico®; Registo e tratamento de dados: SPSS Statistics 23.0®; Tipo de avaliação: Avaliação interna prospetiva

Critérios de avaliação:- Prescrição adequada dos DOACs; - Segurança da prescrição de DOACs; - Posologia e número de tomas diárias corretos para cada DOAC

Colheita de dados: cada lista será avaliada por um médico interno dessa unidade, na 1ª fase em agosto 2018 e na 2ª fase em agosto 2019

Tipo de intervenção prevista: Educacional

Discussão: Após a primeira avaliação serão aplicadas medidas corretoras para a melhoria da prática clínica, perspetivando-se intervir na apresentação e discussão coletiva dos resultados; apresentação das indicações para a prescrição adequada de DOACs; incentivo e reforço na melhoria dos registos clínicos. Um ano após a colheita dos dados, será realizada nova avaliação de modo a apurar se houve melhoria nos critérios avaliados.

Page 135: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 135 de 149

PO180 - PRESCRIÇÃO DE OSTEODENSITOMETRIA – PROTOCOLO DE MELHORIA DE QUALIDADE

Autores: Mónica Cró de Nóbrega1, Pedro Godinho Fernandes1, Sara Nunes2, Marta Maria Duarte e Inês Correia Tavares1

Instituições: 1USF LoureSaudável; 2USF LoureSaudavel Palavras Chave: Osteodensitometria, Osteoporose, Melhoria de Qualidade

Introdução A osteoporose (OP) é uma doença metabólica do esqueleto caracterizada por baixa massa óssea e deterioração da sua microarquitetura, com crescente fragilidade óssea e suscetibilidade de fraturas. Com o envelhecimento da população, a OP tornou-se numa das doenças mais comuns do mundo e um problema de saúde pública, representando aumento da morbilidade e mortalidade e um encargo económico crescente nos sistemas de saúde. A maioria dos indivíduos estão em risco de desenvolverem esta patologia durante a sua vida. Segundo a Norma de Orientação Clínica da Direção Geral de Saúde 001/2010 de 30/09/2010, à parte de outros critérios, devemos realizar a Osteodensitometria (DEXA) como diagnóstico de OP em mulheres com idade superior a 65 anos e homens com idade superior a 70 anos. A monitorização da implementação da Norma passa por avaliar a percentagem de exames prescritos com indicação por critério de “Idade”. Em Portugal, entre 2011 e 2013, a prevalência de OP nos adultos era 10,2% (17% nas mulheres e 2,6% nos homens). As fraturas consequentes, muitas vezes, determinam aumento da mortalidade e diminuição abrupta da qualidade de vida.

Objetivo Melhorar a qualidade de prescrição de DEXA em utentes da USF LoureSaudável, atendendo à utilização do critério major “Idade”.

Métodos Estudo de Garantia e Melhoria da Qualidade, visando os utentes na USF LoureSaudável. Critérios: Inclusão – Utentes sexo feminino com idade 66 a 75 anos, inclusive, e sexo masculino com idade 71 a 80 anos, inclusive; Exclusão – Diagnóstico de Osteoporose ou prescrição de DEXA anteriores à idade de inclusão. Caracterizar a prescrição de DEXA através da elaboração e confrontação de listas, no módulo estatístico do MedicineOne®, e análise individual de processos clínicos. Realizar uma intervenção sobre os profissionais médicos da USF e reavaliar a realidade da prescrição passados 6 meses.

Discussão A estrutura dos Métodos visa identificar o melhor possível todos os utentes com indicação para realizar DEXA com base no critério “Idade” numa faixa de 10 anos. A escolha da faixa de idades baseou-se no facto dos registos informáticos mais antigos datarem de há 10 anos e na tentativa de representar a realidade mais atual da USF. A carga individual, social e económica da OP está condenada a aumentar exponencialmente ao longo dos anos, a não ser que medidas preventivas eficazes sejam postas em prática. A deteção precoce e tratamento da OP é uma dessas medidas e deve ser valorizada e evidenciada.

Page 136: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 136 de 149

RELATO DE PRÁTICA PO61 - UMA CONSULTA DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR – USF CONDE DE OEIRAS

Autores: Sara Andrade1, Cristina Bastos1 e Marta Gomes Costa1

Instituições: 1USF Conde de Oeiras Palavras Chave: Obesidade; motivação; educação alimentar Introdução A obesidade é uma doença crónica multifatorial, constituindo um fator de risco para o desenvolvimento e agravamento de condições clínicas graves. A prevalência na população adulta em Portugal está na ordem dos 50% (excesso de peso e obesidade), destacando-se os indivíduos com mais de 65 anos com uma prevalência superior a 80%. Portugal é um ainda um dos países em que a prevalência da obesidade infantil é maior, já que 40% das crianças têm excesso de peso e 16% são obesas. Mais de 60% das crianças que são obesas antes da puberdade serão adultos obesos. Objetivo Apresentar os dados obtidos na consulta de educação alimentar (CEA) durante um período de 6 meses (de 15 de março a 15 de setembro). Pertinência A prevenção e tratamento da obesidade são prementes, pelo que é fundamental a sua identificação precoce e aconselhamento e orientação terapêutica a nível dos cuidados de saúde primários. Descrição Até ao final de julho foram realizadas 34 consultas a 21 utentes, com uma média de 1,6 consultas por utente. Destes 21 utentes, 13 eram adultos (9 mulheres e 4 homens) e 8 eram crianças (3 rapazes e 5 raparigas). A média das idades foi de 58 anos nos adultos e de 11 anos nas crianças. O índice de massa corporal médio (IMC) nos adultos foi de 33 e das 7 crianças, 5 eram obesas e 3 tinham excesso de peso. Apenas 3 (14%) do total de 21 utentes praticava exercício físico. Dos 21 utentes, 36% encontrava-se em fase de contemplação, 36% em fase de preparação e 29% em fase de ação. Em média, a motivação na 1ª consulta foi de 9, a auto-eficácia de 7 (numa escala de 0 a 10) e a perda de peso média entre a 1ª e a 2ª consulta foi de 1,5Kg. Discussão Com estes resultados pretende-se realçar a importância da educação alimentar personalizada e simultaneamente motivar os profissionais que desenvolvem a CEA. De salientar que a perda de peso não deve ser encarada como objetivo único, sendo que a mudança de comportamento alimentar, independentemente do peso atingido, constitui um fator decisivo em todo o processo. Conclusões Estes dados sugerem que um aconselhamento alimentar baseado na entrevista motivacional e centrado no utente e família são fundamentais para a mudança comportamental. Idealmente este aconselhamento deverá ser feito em consulta específica que dê prioridade aos utentes que se encontrem motivados para a mudança.

Page 137: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 137 de 149

PO72 - AO ENCONTRO DO ADOLESCENTE – RELATO DO PROJETO “CONFIA”

Autores: Andreia Ramalho1 e Mª Lurdes Ferreira1

Instituições: 1USF Sobreda Palavras Chave: adolescência, cuidados de saúde primários Introdução A MGF estende-se cada vez mais além do consultório médico. Cabe ao Médico de Família (MF) o acompanhamento desde a infância até à terceira idade. Na adolescência, etapa de alterações em vários níveis, muitos jovens perdem o seguimento em consulta de vigilância nos CSP, pois, se por um lado eles não se deslocam por meios próprios à USF, por outro lado também não procuram cuidados de saúde por timidez ou receio de ausência de privacidade.

Objetivos O gabinete de atendimento ao adolescente designado “CONFIA” surgiu com o objetivo de reforçar as competências na auto-gestão de saúde; fornecer atendimento, encaminhamento e esclarecimento de assuntos solicitados no âmbito da adolescência, sexualidade, saúde física e psicológica, e relacionamento interpessoal; providenciar informação e apoio, com vista a prevenir comportamentos de risco; facilitar o contacto dos jovens com os serviços de saúde da comunidade; auxiliar na reflexão sobre as situações em que está envolvido, sobre as alternativas que possui e as consequências das suas opções.

Pertinência Alargar a oferta de cuidados de saúde aos adolescentes de uma das Escolas da área de influência da USF.

Descrição Criação de um Gabinete na Escola Elias Garcia destinado ao atendimento, apoio e aconselhamento aos adolescentes, sempre que necessitem, de forma gratuita e confidencial. Durante o ano letivo 2016/2017 uma Equipa da USF Sobreda, constituída por médico e enfermeiro, deslocou-se às terças-feiras, das 14h-15h, à escola para realizar este acompanhamento mais próximo dos adolescentes. Foram acompanhados 20 adolescentes entre os 11 e os 16 anos, 5 rapazes e 15 raparigas, num total de 26 atendimentos.

Discussão Os adolescentes vieram voluntariamente e colocaram diversas questões sobre sexualidade, métodos contracetivos, problemas de saúde. Foram abordados também aspetos relacionados com dependências, uso das novas tecnologias, problemas de sono. Quatro adolescentes, por apresentarem problemas de ordem pessoal e familiar, que interferiam com o seu desenvolvimento social e escolar, foram encaminhados de forma mais direta, para os respetivos médicos de família. Quase todos os adolescentes desconheciam o nome do médico de família e a maior parte desconhecia qual o Centro de Saúde a que pertencia.

Conclusões O espaço “CONFIA” permitiu uma maior proximidade aos adolescentes pela equipa da USF Sobreda; maior perceção dos problemas escolares de alguns adolescentes e uma mais rápida articulação entre a Escola e os CSP.

Page 138: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 138 de 149

PO85 - UNIVERSIDADE SÉNIOR: APROXIMAR A COMUNIDADE, EDUCANDO PARA A SAÚDE

Autores: Ana Pinto1, Guilherme Rooke de Lima2, Leonor Lucas e Teofila Matos Instituições: 1USF Conde Saude; 2USF Conde Saúde Palavras Chave: "Universidade Sénior", "comunidade", "educação para a saúde" Enquadramento O envelhecimento ativo (OMS, 2002) é entendido como o processo de otimização das oportunidades para a saúde, de forma a promover a participação e segurança dos indivíduos na escolha de um estilo de vida saudável. O Plano Nacional de Saúde vigente apresenta como objetivo para o Sistema de Saúde – Promover contextos favoráveis à saúde ao longo do ciclo de vida, nomeadamente nos indivíduos com mais de 65 anos, a nível dos determinantes de saúde e dos estilos de vida saudáveis. Nesse sentido, foi criada no ano de 2014 a disciplina de Saúde na Universidade Sénior da Quinta do Conde.

Objetivos Capacitar os alunos para um envelhecimento ativo ao longo da vida · Promover a participação o pessoal para a autonomia e independência física, psíquica e social, visando a criação de respostas adequadas às novas necessidades da população sénior. Incrementar a literacia em saúde no sentido da mobilização de recursos pessoais e/ou da comunidade de uma forma eficiente e eficaz.

Pertinência

Criar parcerias entre os cuidados de saúde primários e a sua população é fundamental para promover a saúde física e mental dos utentes, literacia em saúde e comportamentos saudáveis.

Descrição As sessões pedagógicas decorrem durante cada ano letivo e têm periodicidade quinzenal, sendo lecionadas por médicos e enfermeiros da USF Conde Saúde. No ano letivo de 2017/2018 estiveram inscritos 75 alunos, tendo-lhes sido dada a oportunidade de sugerir temas a abordar. Com base nas sugestões dadas foram apresentados os seguintes temas: Hipertensão; Osteoporose; Osteoartrose; Diabetes; Doenças da Tiróide; Cancro; Depressão; Estilos de vida saudável; Acidente Vascular Cerebral; Colesterol; Doença de Parkinson; Perturbação Bipolar; Fibromialgia; Alergias; Doenças geriátricas mais comuns; Rastreios. Discussão e Conclusões Findo o ano letivo, chegou-se à conclusão junto dos intervenientes da pertinência e importância dos assuntos abordados, sendo que estes demonstraram bastante dinamismo e interesse na interação com os profissionais de saúde. Com estas sessões foi ainda possível estreitar relações com a comunidade, incrementando a vinculação médico-utente. Assim, pode-se afirmar que é notória a satisfação da comunidade interveniente e o impacto positivo na literacia em saúde dos participantes, ficando pendente como projeto futuro a análise da recorrência aos cuidados de saúde da população participante neste projeto.

Page 139: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 139 de 149

PO87 - SAÚDE PALMELA – UM PROJETO PARA A COMUNIDADE

Autores: Petra Rodrigues, Ana Marta Magalhães, Mariana Canhão, Sofia Belo e Susana Barrambana

INTRODUÇÃO E OBJETIVO: A prevenção é uma das principais atividades dos Cuidados de Saúde Primários e, como tal, sempre foi uma preocupação dos profissionais da Unidade de Saúde Familiar Santiago de Palmela (USFSP). Dando continuidade ao projeto iniciado em 2008 “Conversas Informais, Venha Falar de Saúde”, nasceu “Saúde Palmela” - uma parceria entre a USFSP, a Câmara Municipal de Palmela e o Agrupamento de Centros de Saúde Arrábida, com o objetivo de divulgar informação útil e fidedigna em saúde de forma acessível e gratuita.

DESCRIÇÃO: Uma equipa multidisciplinar de profissionais da USFSP, composta por 1 médica especialista e 11 internos de Medicina Geral e Familiar, 1 enfermeira especialista em Saúde Comunitária e 1 secretária clínica, desenvolve ações de educação para a saúde na comunidade do Concelho de Palmela. São distribuídos inquéritos de satisfação no final de cada actividade para monitorizar a qualidade, avaliar o impacto e recolher sugestões para actividades futuras.

PERTINÊNCIA: A natureza das ações é variada e adequada às necessidades identificadas junto da população, incluindo sessões de sensibilização e informação em vários locais (instituições, coletividades, escolas) sobre diversos problemas de saúde. Alguns dos temas já abordados foram: alimentação saudável, envelhecimento ativo, sexualidade sénior e acesso aos recursos de saúde. O projecto também inclui a comemoração de efemérides com atividades de promoção de estilos de vida saudáveis, distribuição de materiais informativos e rastreios de saúde.

DISCUSSÃO: Ao longo dos 10 anos de existência já se realizaram mais de 150 ações, desde a participação na Festa das Vindimas de Palmela e em vários Dias Mundiais/Internacionais (da Criança, do Idoso, do Melanoma, entre outros) até atividades práticas como a USF dos Pikininos, a Caminhada do Dia Mundial da Hipertensão ou workshop de Alimentação Saudável na Diabetes, que têm aproximado profissionais e comunidade. A informalidade das ações tem permitido desmistificar algumas crenças populares e esclarecer dúvidas, aumentando a literacia em saúde.

CONCLUSÃO: A elevada adesão e participação da comunidade tem sido inspiradora e extremamente gratificante, e tem motivado a contínua renovação da equipa e dinamização de novas atividades. Pretende-se dar continuidade ao projeto “Saúde Palmela”, dotando a nossa comunidade de conhecimentos em saúde e hábitos de vida saudáveis.

Page 140: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 140 de 149

PO94 - PASSO A PASSO PARA A SAÚDE

Autores: Adélia Rocha1, André Rocha1, Joana Coelho1 e Carla Silva1

Instituições: 1USF Santo António da Charneca Palavras Chave: Caminhada; saúde; prevenção; exercício físico; comunidade. Introdução: Relata-se um projeto comunitário de promoção de estilos de vida saudável desenvolvido na USF Santo António da Charneca (USF SAC) com foco no aumento da atividade física. Objetivos: Promoção da atividade física regular nos utentes e profissionais da USF SAC, bem como da literacia em saúde no que diz respeito à valorização dos seus benefícios; sensibilização dos profissionais para a sua promoção; intervenção direta pelo convite a caminhar com o próprio médico, que dá o exemplo. Pertinência: A prática regular de actividade física contribui para a prevenção e tratamento de doenças crónicas muito prevalentes e para a melhoria da saúde mental, da qualidade de vida e do bem-estar. O sedentarismo é um problema de saúde pública, o que levou a Organização Mundial de Saúde a desenvolver o Plano de Acção Global para a Actividade Física 2018-2030, para reduzir a inactividade física em 10% até 2025 e em 15% até 2030. A nível nacional a Direcção Geral de Saúde desenvolveu o Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física em 2016. Descrição: Este projeto consiste na realização de caminhadas num percurso fixo nas imediações da USF, abertas à participação voluntária de todos os profissionais, utentes e outros membros da comunidade, sem necessidade de inscrição ou qualquer compromisso. É organizada pelos profissionais de saúde e conta com a sua participação regular, nomeadamente do próprio médico de família, tornando-a mais intimista, com vantagens na adesão dos utentes. No âmbito deste projeto realizam-se também outras atividades de caracter pontual com dinâmicas diferentes. Discussão: O desenho do projecto não permite a fácil avaliação do seu impacto na saúde dos participantes todavia tem a vantagem de envolver os profissionais de saúde. A promoção de estilos de vida saudável pelo exemplo possivelmente aumenta a eficácia e frequência da intervenção em consulta. Existe evidência de que o incentivo à prática de actividade física pelo médico pode ter um efeito determinante na modificação de comportamentos, e também de que médicos activos recomendam mais a prática de actividade física aos seus pacientes. Conclusões: O grupo tem tido percepção de que este projecto tem contribuído para a promoção da actividade física e da literacia em saúde na comunidade, para o aumento da aptidão física e melhoria do bem-estar, do isolamento e da saúde mental dos participantes, assim como da relação entre utentes e profissionais da USF.

Page 141: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 141 de 149

PO112 - ESTÁGIO NA AMAZÓNIA - O PAPEL DA MEDICINA TROPICAL NO INTERNATO DE MGF

Autores: André Cochofel1 e Ana Gomes Machado2

Instituições: 1USF Flor de Lótus; 2USF Monte da Luz Palavras Chave: Medicina Tropical, Amazónia, Internato, Medicina Geral e Familiar Introdução/Objetivo/Pertinência O Brasil é um dos países líder em termos de população afetada por doenças tropicais, algumas das quais mais prevalentes a nível mundial do que o HIV / SIDA ou outras doenças infeciosas. Com o aumento da população migrante a residir em Portugal, as doenças tropicais são mais frequentes nos Cuidados de Saúde Primários, embora a maioria dos médicos não as saiba reconhecer. O principal objetivo deste estágio foi aprender sobre doenças tropicais e a sua abordagem, especialmente aquelas que foram importadas.

Descrição

Como parte da nossa Formação Específica em Medicina Geral e Familiar fizemos um estágio de quatro semanas em Manaus (Brasil), capital do estado Amazonas, na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado. Acompanhámos o trabalho no hospital e viajámos para a floresta amazónica para colheita de vetores de Leishmaniose.

Discussão

A floresta amazónica, em conjunto com o baixo desenvolvimento socioeconómico, é o cenário ideal para várias doenças tropicais. Durante a nossa estadia, observámos vários casos de malária, dengue e, em especial, leishmaniose e doença de Chagas, havendo uma consulta específica para estes casos. Viajámos ainda à floresta amazónica, o que nos permitiu aprender sobre as doenças transmitidas por mosquitos, a população ribeirinha e sua cultura.

Conclusões

Portugal e o Brasil têm uma longa relação cultural. Como grande parte de nossos pacientes são brasileiros,

consideramos fundamental aprender não apenas sobre os aspetos médicos da medicina tropical, como também sobre as características culturais do Brasil. Partilhar esta experiência permitiu-nos sensibilizar para as doenças tropicais em Portugal e inspirar outros médicos a fazer o mesmo.

Page 142: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 142 de 149

PO121 - MAPA NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Autores: Sara Nunes1, Pedro Godinho Fernandes2, Mónica Cró de Nóbrega2, Inês Correia Tavares3 e Marta Maria Duarte Instituições: 1USF LoureSaudável- ACES Loures-Odivelas; 2USF LoureSaudável; 3Portugal Palavras Chave: MAPA, Hipertensão arterial, cuidados de saúde primários

Introdução: As doenças cardiovasculares representam a principal causa de morte em Portugal. A hipertensão arterial (HTA) é um fator de risco independente importante para a ocorrência de eventos cardiovasculares, nomeadamente acidente vascular cerebral e enfarte agudo do miocárdio. Segundo os dados mais recentes, a prevalência da HTA em Portugal atinge os 29,1%. Estes utentes são maioritariamente acompanhados nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e a avaliação do grau de controlo tensional é maioritariamente baseada nas medições da pressão arterial efetuadas no consultório médico e medições ocasionais em ambulatório.

Objetivo: Facultar aos médicos da USF uma ferramenta importante no diagnóstico e controlo da HTA e aos respetivos utentes um exame dispendioso, avaliando a sua exequibilidade nos CSP.

Pertinência: O recurso a Medição Ambulatória da Pressão Arterial (MAPA) para diagnóstico de HTA foi considerado custo-efetivo em estudos realizados em Portugal. A utilização de MAPA pode ainda servir para outras situações, nomeadamente: excluir efeito “bata branca”, avaliação de suspeitas de hipotensão, avaliação de hipertensão resistente. A MAPA é superior aos restantes métodos de avaliação da HTA no que diz respeito ao risco cardiovascular.

Descrição: Foi adquirido pela USF um aparelho de MAPA em 2016. A referenciação para a sua realização é feita pelo médico assistente e, todos os dias, o MAPA é colocado e retirado pelos internos da unidade conforme o respetivo agendamento. No dia da remoção o relatório é impresso e entregue ao respetivo médico. O exame é gratuito com a exceção de encargo das pilhas que o utente deve trazer. A limpeza do aparelho está ao encargo do interno que o remove.

Discussão: Trata-se de um exame custo-efetivo, mas ainda de difícil acesso em ambulatório à população. A sua realização nos CSP é difícil devido à carga horária de consultas diárias e nem todos os CSP têm capacidade para o fazer, pelo que o futuro poderá passar pela sua comparticipação, existência física de técnicos nos centros de saúde ou formação dos médicos com horário disponível para o mesmo.

Conclusões: Ao longo destes anos considera-se que o retorno dos profissionais e utentes tem sido positivo, com melhoria da acessibilidade e avaliação do perfil tensional. No entanto, é necessária uma grande organização e disponibilidade entre os internos para tornar o exame exequível, pelo que uma das soluções poderá passar pela criação de uma consulta dedicada a este método complementar.

Page 143: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 143 de 149

PO126 - SAÚDE PRIMEIRO NA RÁDIO CRUZEIRO

Autores: Inês Correia Tavares1, Marta Maria Duarte, Sara Nunes2, Pedro Godinho Fernandes3 e Mónica Cró de Nóbrega3

Instituições: 1Portugal; 2USF LoureSaudavel; 3USF LoureSaudável

Introdução: A rádio tem sido, ao longo dos tempos, um importante recurso comunitário, permitindo a transmissão de informação selecionada e de qualidade a nível populacional. A especialidade de Medicina Geral e Familiar (MGF) é, por definição, responsável pela saúde da comunidade onde atua, fazendo parte das suas funções a promoção e educação para a saúde. Neste contexto, os autores procuraram aliar um meio disponível na comunidade à sua responsabilidade para com a população local.

Objetivo(s): Capacitar o utente para a gestão da sua saúde com base em informação fidedigna e linguagem adequada, permitindo desta forma: 1) Diminuir a procura inadequada dos cuidados de saúde; 2) Difundir o conhecimento das principais estratégias preventivas e programas de rastreio disponíveis na comunidade; 3) Envolver o doente com doença na gestão da mesma.

Pertinência: A prevenção é uma das intervenções com maior custo-benefício em saúde. Pessoas informadas são pessoas mais capacitadas para gerir a sua saúde e participar mais ativamente no processo de decisão.

Descrição: O projeto de rádio “Saúde Primeiro” resulta de uma parceria estabelecida entre a Unidade de Saúde Familiar (USF) LoureSaudável e a Rádio Cruzeiro (RC), uma rádio de emissão online com sede em Odivelas. Com início em maio de 2018, foram gravadas por médicos internos rúbricas informativas, com cerca de 3 minutos de duração, incidindo sobre temas relevantes em quatro áreas centrais: promoção da saúde, programas de rastreio, sintomas e doenças. As rúbricas são transmitidas diariamente, sendo emitidos dois temas novos por semana. A divulgação do projeto foi feita nos websites e páginas de Facebook da RC e USF e, nesta última, na sala de espera através de panfletos. Até ao momento, não foi medido o impacto do projeto.

Discussão: A transmissão online das rúbricas pode dificultar o acesso de indivíduos menos diferenciados. Até ao momento, não foi estabelecido um método fidedigno de quantificação dos resultados e avaliação de impacto; este processo é dificultado pelo facto de a RC não possuir um método de quantificação das audiências por programa.

Conclusões: A prevenção e capacitação do doente são alcançáveis apenas através da promoção e educação para a saúde. A rádio online é uma forma fácil e pouco dispendiosa de comunicar com a comunidade, aliando um meio de comunicação em massa às novas tecnologias. Com este projeto procurámos aproveitar o seu potencial para a promoção de saúde em Cuidados de Saúde Primários.

Page 144: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 144 de 149

PO133 - DIA MUNDIAL SEM TABACO NO CENTRO DE SAÚDE DE OEIRAS

Autores: Ricardo Silva1, Sara Andrade1, Sofia Remtula1, Tiago Castelar Gonçalves1 e Hélder Gomes1

Instituições: 1USF Conde de Oeiras Palavras Chave: cessação tabágica; tabagismo; tabaco Introdução: O Dia Mundial sem Tabaco (DMST) celebra-se anualmente no dia 31 de Maio. Foi criado em 1987 pela Organização Mundial de Saúde, em resposta ao aumento da morbi-mortalidade e às consequências socioeconómicas do seu consumo. Em 2018, a USF Conde de Oeiras (USFCO), juntamente com as restantes unidades do Centro de Saúde de Oeiras (CSO), participou em várias iniciativas com o intuito de divulgar este tema junto da comunidade. Objetivos: Alertar para os malefícios do consumo tabágico; Promover a discussão acerca das resistências à cessação do tabagismo; Capacitar os utentes do CSO, através da divulgação de métodos facilitadores da cessação. Pertinência: Em 2016, morreram em Portugal cerca de 11800 pessoas por doenças atribuíveis ao tabaco. Importa, pois, enquanto profissionais dos cuidados de saúde primários, participar ativamente na comunidade, por forma a reduzir o número de novos fumadores e aumentar as taxas de cessação.

Descrição: Foi desenvolvida uma sessão interativa no CSO, destinada a todos os utentes e profissionais onde foram abordados temas como o impacto económico e para a saúde do tabagismo e a importância do exercício físico e nutrição na cessação tabágica. Estiveram presentes cerca de 12 utentes e 7 profissionais. À entrada do edifício foi montada uma banca alusiva ao tema onde foi distribuído material informativo sobre benefícios em deixar de fumar e oferecida fruta fresca e frutos secos em troca de cigarros. Os utentes mais interessados foram encaminhados para agendamento de consulta de cessação tabágica.

Discussão: Apesar das inúmeras campanhas anti-tabaco realizadas a nível nacional estas não têm tido o resultado desejado mantendo-se a prevalência de consumo elevada. As campanhas de sensibilização por si só não levam a mudanças de comportamentos, mas podem incentivar a consciencialização para o problema e elevar o estadio de motivação de alguns fumadores. Sabemos e somos esperançosos que em pequenos passos podemos fazer a diferença na redução da prevalência do tabagismo. Futuramente é essencial promover uma melhor divulgação deste tipo de iniciativa de modo a aumentar o público alvo. Conclusão: As atividades desenvolvidas durante o DMST permitiram aos utentes um contacto mais próximo com os profissionais e a exposição de conteúdos pertinentes, de uma forma que não seria possível em consulta de seguimento com o Médico de Família. Tais actividades também facultaram estratégias que poderão ser implementadas pelos próprios no seu quotidiano.

Page 145: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 145 de 149

PO163 - VAMOS FALAR DE HIPERTENSÃO: UM RELATO DE PRÁTICA CLÍNICA

Autores: Marta Maria Duarte1, Inês Correia Tavares2, Pedro Godinho Fernandes2, Sara Nunes3 e Mónica Cró de Nóbrega2

Instituições: 1USF LoureSaudável; Instituto de Semiótica Clínica, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; 2USF LoureSaudável; 3USF LoureSaudavel Palavras Chave: HTA, hipertensão arterial, comunidade Introdução: A Hipertensão Arterial (HTA) afeta 30 a 40% da população Europeia, sendo um problema frequente em Medicina Geral e Familiar (MGF). A capacitação do utente para a gestão da doença é fundamental para um bom controlo da mesma. Desde 2005, é celebrado a 17 de Maio o Dia Mundial da HTA com o objetivo de aumentar o conhecimento da população não só sobre a HTA mas também sobre os fatores de risco para a mesma. Objetivos: Promover o conhecimento comunitário sobre HTA, facilitando a prevenção primária, secundária e terciária neste contexto. Pertinência: A existência de um dia de sensibilização para a HTA facilita a criação e aceitação de uma atividade dirigida à comunidade neste contexto. Descrição: Foram organizadas atividades dirigidas à comunidade local e uma sessão dirigida aos profissionais das unidades de saúde estabelecidas no edifício do Centro de Saúde de Loures. Dirigidas à comunidade, fizeram-se duas sessões práticas de grupo- “Exercício Físico na HTA” (11 participantes), em parceria com a GesLoures (empresa municipal) e “Nutrição na HTA” (12 participantes), com a colaboração do Serviço de Nutrição do Hospital Beatriz Ângelo (NHBA); e duas atividades abertas – “Conheça os seus números” (31 participantes; com avaliação da tensão arterial e entrega de folhetos informativos) e “Aconselhamento dietético” (10 participantes; parceria com o NHBA). A sessão dirigida a profissionais de saúde remeteu ao tema “Nutrição na HTA” (39 participantes; palestrante do NHBA), visando fomentar os conhecimentos dos mesmos nesta área. Adicionalmente, na semana de 13 a 19 de Maio foram emitidas 7 rúbricas sobre HTA no programa Saúde Primeiro da rádio local Rádio Cruzeiro. Os temas abordados foram: “Definição, Sinais e Sintomas”, “Diagnóstico”, “Fatores de Risco e Prevenção”, “Monitorização da Tensão Arterial (TA)”, “Sinais de alarme”,” Medidas gerais na HTA”, e “Como medir a TA”. Discussão: As atividades desenvolvidas tiveram uma adesão aceitável, quer por parte da comunidade local, quer por parte dos profissionais de saúde envolvidos. Foi imprescindível e notória a boa articulação entre as diferentes entidades envolvidas. Passará por eventos futuros otimizar o recrutamento de utentes e sensibilizar a comunidade este tipo de atividades. Conclusões: A intervenção comunitária é inerente à prática de MGF, devendo ser promovida. O MF deve conhecer e aproveitar os recursos disponíveis na comunidade em que atua, de forma a otimizar a promoção e os ganhos em saúde.

Page 146: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 146 de 149

PO164 - EXERCICIO FÍSICO E ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL - UMA SESSÃO INSERIDA NUM PROJETO DE INTERVENÇÃO NA COMUNIDADE

Autores: Ana Carolina Fernandes1, Tânia Costa1, Carla Sofia Costa1 e Elvira Peres1

Instituições: 1USF Santa Maria - Tomar Palavras Chave: Exercício, alimentação, intervenção, literacia, comunidade

Introdução: As crenças e mitos em saúde levam a adoção de comportamentos e estilos de vida potencialmente nocivos, sendo obstáculos frequentes à adesão dos utentes a mudanças comportamentais aconselhadas pelos médicos de família (MF). Um estilo de vida que inclua exercício físico e alimentação saudáveis são de uma importância fundamental para o bem estar e para o tratamento e prevenção de doenças.

Objetivos: Organização e dinamização de sessão sobre medicina preventiva incluída em projeto de intervenção na comunidade que visava o aumento da literacia em saúde e avaliar a sua eficácia. Pertinência: Dado o escasso tempo de consulta e importância da educação para a saúde é fundamental a utilização de outras vias de comunicação por parte dos MF. É igualmente importante avaliar a eficácia dessas vias de comunicação.

Descrição: nove sessões de educação para a saúde com periodicidade mensal, com público alvo toda a comunidade local, divulgadas nos meios de comunicação social locais e internet. A dinamização foi efetuada pela equipa médica da USF Santa Maria. Numa das sessões foi abordado o tema medicina preventiva II, incluindo o exercício físico, alimentação e envelhecimento saudável. Foi aplicado um questionário com 7 perguntas pré e pós-sessão com o intuito de avaliar a eficácia da intervenção.

Discussão: As sessões tiveram uma adesão considerável e participação ativa por parte da comunidade local. Na sessão sobre medicina preventiva, para avaliação da eficácia da intervenção foi aplicado um questionário pré e pós sessão, tendo-se constatado um aumento do total de respostas corretas de 12,8% (n=29, 7’ questões, respostas corretas: pré-sessão – 65%, pós-sessão – 77,8%).

Conclusão: Com esta sessão pretendia-se aumentar a literacia em saúde da população local, desconstruindo alguns mitos e crenças, nomeadamente na área da medicina preventiva, aumentando os conhecimentos sobre estilos de vida saudáveis como o exercício físico, alimentação e envelhecimento saudáveis. As atividades tiveram uma boa adesão e na sessão avaliada constatou-se uma melhoria após intervenção.

Page 147: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 147 de 149

PO171 - RASTREIO TELEDERMATOLÓGICO – RELATO DE PRÁTICA

Autores: Andreia Castro1, Filipe Bacalhau1, Catarina Avillez1, Francisco Silva1 e João Batalheiro1

Instituições: 1USF Amora Saudável INTRODUÇÃO O cancro de pele é a neoplasia maligna mais frequente a nível mundial, com uma incidência crescente nos últimos anos. Corresponde anualmente a cerca de um terço da totalidade das neoplasias e atinge 1 em cada 7 pessoas ao longo da vida. Sendo o papel do Médico de Família (MF) a deteção precoce de lesões com potencial de malignidade, torna-se uma prioridade encontrar estratégias para otimizar a triagem de lesões. OBJETIVOS Relatar a nossa prática relativa ao Rastreio Teledermatológico entre a Unidade de Saúde Familiar Amora Saudável (USFAS) e o Hospital Garcia de Orta (HGO), descrevendo o protocolo de articulação e referenciação, apresentando a casuística de referenciações relativas ao ano de 2017. PERTINÊNCIA O Rastreio Teledermatológico permite a troca de informação médica entre uma unidade de Cuidados de Saúde Primários (CSP) e um Serviço de Dermatologia, visando a promoção de saúde. DESCRIÇÃO Este projeto foi implementado na USFAS em novembro de 2016, foi realizada formação na área e criado, na unidade, um algoritmo de atuação que auxilie o MF aquando do diagnóstico de lesão suspeita. Deve ser recolhida imagem da lesão e feita uma descrição pormenorizada da mesma, incluindo ambas no processo clínico do utente. A imagem é enviada por sistema eletrónico de marcação de consultas e, após apreciação desta, é transmita uma hipótese diagnóstica e respetiva orientação ou o utente é encaminhado para consulta de Dermatologia. Em 2017 foram referenciados 78 utentes, obtendo-se como diagnóstico definitivo 16 lesões malignas: 10 carcinomas basocelulares, 3 carcinomas espinocelulares e 3 melanomas. O tempo médio de resposta ao pedido foi de 11,88 dias. Dos 78 utentes, 56 tiveram marcação de consulta, sendo o tempo médio desde a resposta até à marcação de 42,63 dias, 1 aguarda marcação de consulta e 21 obtiveram hipótese diagnóstica e/ou terapêutica. DISCUSSÃO O HGO é responsável por dar resposta a uma elevada densidade populacional o que implica um Serviço de Dermatologia de reduzida acessibilidade. Esta ferramenta reduz o tempo de resposta ao utente e promove uma triagem mais eficaz, conduzindo assim a uma melhor gestão dos recursos disponíveis. CONCLUSÕES O Rastreio Teledermatológico permite uma referenciação atempada de lesões suspeitas, evita a deslocação de utentes sem indicação para consulta de Dermatologia e permite que situações menos complexas sejam resolvidas nos CSP, através da formulação de hipótese diagnóstica e orientação terapêutica.

Page 148: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 148 de 149

PO179 - CAMINHANDO PELA SAÚDE - DIA MUNDIAL DO MÉDICO DE FAMÍLIA DE 2018 NA USF RAMADA

Autores: Ana Cláudia Ramos1, Inês Castelão Ferreira1, Catarina Santos1, Fatima Franco2 e Luis Martins1

Instituições: 1USF Ramada; 2Usf Ramada Palavras Chave: juntos pela saúde; dia mundial do médico de família Introdução: A 21 de maio de 2018 celebrou-se o Dia Mundial do Médico de Família. Perante a boa adesão obtida em atividades anteriores, e seguindo o mote "Juntos pela Saúde", um grupo de profissionais de Medicina Geral e Familiar (MGF) da Unidade de Saúde Familiar da Ramada (USF Ramada) decidiu comemorar este dia organizando uma caminhada e um lanche com os utentes da Unidade, com vista à promoção de uma vida ativa e de uma alimentação saudável. Objetivos: Relatar uma atividade na comunidade organizada por um grupo de profissionais de MGF da USF da Ramada, no âmbito do Dia Mundial do Médico de Família. Pertinência: Partilha de experiências entre profissionais e utentes, evidenciando o impacto destas intervenções na tentativa de tornar a população que servimos mais saudável. Descrição: A atividade iniciou-se com uma caminhada de 3 km na freguesia da Ramada, de baixa dificuldade e com várias hipóteses de trajeto consoante a capacidade física dos participantes. Contou com a participação de 16 utentes (número superior relativamente ao ano anterior) e 5 profissionais da USF Ramada. De seguida, decorreu um lanche com convívio, no qual os participantes sugeriram a realização deste tipo de atividades com maior frequência. Surgiu, por exemplo, a ideia da organização de um workshop de alimentação saudável, dirigido aos utentes da Unidade. Discussão: Esta atividade permitiu-nos transmitir à população que servimos a importância da adoção de estilos de vida saudáveis. Com a demonstração de um trajeto próximo, seguro e acessível a todos os condicionamentos físicos foi possível aumentar a confiança dos utentes nas suas capacidades e motivá-los. Conclusões: O médico de família tem um papel fundamental no "empoderamento" dos utentes e na promoção de mudanças de estilos de vida. Os profissionais da USF Ramada têm-se empenhado em realizar, ao longo dos anos, projetos e atividades na comunidade que envolvam os utentes e que vão de encontro às suas necessidades de saúde. Perante o interesse manifestado pelos utentes iremos organizar uma caminhada mensal na zona circundante da Unidade, onde poderão participar utentes e profissionais.

Page 149: LIVRO DE RESUMOS - ARS Lisboa e Vale do Tejo · co125 - qual a melhor estratÉgia para aliviar as cÓlicas do lactente? co127 - existem malefÍcios em suplementar a gravidez de baixo

 

  Página 149 de 149

PO203 - INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA POR UMA LOURES MAIS SAUDÁVEL: RELATO DE ATIVIDADES

Autores: Pedro Godinho Fernandes1, Marta Maria Duarte, Mónica Cró de Nóbrega1, Sara Nunes2 e Inês Correia Tavares1

Instituições: 1USF LoureSaudável; 2USF LoureSaudavel Palavras Chave: intervenção comunitária; promoção de saúde; prevenção primária; cuidados de saúde primários, capacitação em saúde

Introdução: A atuação do Médico de Família (MF) deve afetar, não só os utentes da sua lista, mas também a saúde da comunidade na qual se insere. Adicionalmente, tendo uma proximidade privilegiada à comunidade, é inegável a capacidade do MF para assumir um papel interventivo na capacitação comunitária para a gestão e tomada de decisões em saúde. Neste relato de prática, os autores apresentam as atividades orientadas para a comunidade desenvolvidas pela Unidade de Saúde Familiar (USF) LoureSaudável nos últimos 12 meses.

Objetivos: Criação de atividades promotoras de saúde dirigidas à comunidade local. Promoção do envolvimento da USF na comunidade e da capacitação desta na gestão da sua saúde.

Pertinência: No contexto da prevenção da doença e promoção de saúde, a comunicação é um fator fulcral para garantir a capacitação comunitária, encontrando-se o MF numa posição privilegiada para este tipo de intervenção.

Descrição: Ao longo dos últimos 12 meses, os internos da USF organizaram diversas atividades dirigidas à comunidade que incidiram sobre temas considerados pertinentes e prevalentes. Foram realizadas na USF, no contexto de dias celebrativos previamente estabelecidos, visando otimizar a sua divulgação e aceitação. Foram celebradas atividades didáticas e dinâmicas no contexto do Dia Mundial da Diabetes (2017), Dia Mundial da Hipertensão Arterial, Dia do MF e Dia do Cérebro, estando ainda previstas para o ano de 2018 programas no âmbito dos dias da Saúde da Mama, da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, da Diabetes (2018) e do Antibiótico. Foi também criada uma parceria com uma rádio local online e criado o programa de rúbricas diárias de educação para a saúde “Saúde Primeiro”.

Discussão: A intervenção comunitária é fulcral em gestão na saúde, sendo uma importante ferramenta para o MF. No entanto, nem sempre é fácil a criação de iniciativas dirigidas à comunidade. Nas várias atividades, deparámo-nos com algumas barreiras – ausência de financiamento para apoio e logística, divulgação e recrutamento de utentes, limitação da disponibilidade horária dos médicos internos – superadas com a perseverança e o trabalho da equipa.

Conclusões: A intervenção comunitária é inerente à prática de MGF, devendo ser promovida. Apesar da sua complexidade, os resultados finais foram gratificantes e servirão de base para atividades futuras.