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LIVRO DOS GALARDOADOS COMO PRÉMIO SAKHAROV QA-01-14-333-PT-C LIVRO DOS GALARDOADOS COMO PRÉMIO SAKHAROV

LIVRO DOS GALARDOADOS COMO PRÉMIO SAKHAROV...LIVRO DOS GALARDOADOS COMO PRÉMIO SAKHAROV O ano de 2013 foi rico, um ano excecional, para o prémio Sakharov. Quatro laureados acorreram

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  • LIVRO DOS GALARDOADOS COMO PRÉMIO SAKHAROV

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  • LIVRO DOS GALARDOADOS COMO PRÉMIO SAKHAROV

  • O ano de 2013 foi rico, um ano excecional, para o prémio Sakharov. Quatro laureados acorreram a Estrasburgo para receberem os seus prémios. Primeiro, as Mulheres de Branco, em abril, depois Guillermo Fariñas, em julho, e, finalmente, Aung San Suu Kyi, em outubro. Os quatro tinham sido declarados vencedores há alguns anos ou, no caso da laureada birmanesa, há mais de 20 anos. A demora não aconteceu por vontade própria: as autoridades dos respetivos países impediram-nos de se deslocarem para receber o prémio. Por medo da sua coragem inabalável, da liberdade de pensamento que encarnam e da sua capacidade de reanimar a chama da esperança em todos os democratas.

    O ano de 2013 foi também o ano da consagração da mais jovem laureada de sempre. Em 20 de novembro, Malala Yousafzai, de 16 anos, proferiu uma intervenção tocante a favor dos direitos das crianças e, em particular, do acesso das raparigas à educação. Como os outros laureados, Malala pagou muito caro a sua oposição às forças obscurantistas da sua época. O seu combate quase a levou à morte e forçou-a ao exílio. Malala recebeu o galardão por altura do 25.º aniversário do prémio Sakharov, rodeada pelos anteriores laureados. Que belo símbolo para a rede Sakharov, que viu assim a juventude de Malala juntar-se à vitalidade dos seus membros!

    O ano de 2013 foi, portanto, encorajador. Mas não podemos fechar os olhos. Em 2014, temos assistido à persistência de conflitos em que as vítimas são atacadas principalmente devido às suas ideias, às suas crenças, ao seu género ou à sua pertença a uma minoria. Muitos laureados não puderam ainda receber o seu prémio. Razan Zaitouneh, uma das vencedoras de 2011, foi raptada na Síria e não há ainda notícias dela. O regime iraniano mantém Nasrin Sotoudeh e Jafar Panahi em prisão domiciliária, enquanto o regime chinês tenta sistematicamente silenciar Hu Jia. Em 2014, o manto de silêncio continua a pesar sobre aqueles que defendem a liberdade de pensamento.

    Ao distinguir este ano o Dr. Denis Mukwege, escolhido de forma unânime, o Parlamento Europeu premeia não apenas um médico devotado, mas sobretudo um homem de paz. Não apenas um médico que trata do corpo, mas sobretudo um homem que se bate pela dignidade das mulheres. Numa região onde a violação é uma arma de guerra e de terror e num mundo onde as ameaças à liberdade das mulheres se multiplicam, o seu empenho e a sua coragem são exemplares.

    PREFÁCIO

    Martin Schulz

    Presidente do Parlamento Europeu

    Encontram-se disponíveis mais informações sobre a União Europeia

    na rede Internet, via servidor Europa (http://europa.eu)

    Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia, 2014

    ISBN 978-92-823-5595-4

    doi:10.2861/59053

    © União Europeia, 2014

    Reprodução autorizada mediante indicação da fonte

    Printed in Belgium

    IMPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO ELEMENTAR (ECF)

  • O PRÉMIO SAKHAROV Atribuído pela primeira vez em 1988 a Nelson Mandela e Anatoli Marchenko, o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é o maior tributo prestado pela União Europeia (UE) aos esforços desenvolvidos em prol dos Direitos Humanos. O prémio reconhece pessoas, grupos e organizações que tenham dado um contributo relevante para a liberdade de pensamento. Por intermédio da atribuição deste prémio e da rede que lhe está associada, a União Europeia apoia os laureados, que assim se sentirão estimulados e mandatados para lutar pelas causas que defendem.

    Até ao presente, o prémio foi atribuído a dissidentes, dirigentes políticos, jornalistas, advogados, ativistas da sociedade civil, escritores, mães, esposas, dirigentes de minorias, um grupo antiterrorista, militantes pacifistas, um ativista contra a tortura, um caricaturista, um prisioneiro de consciência que cumpriu longos anos de pena, um realizador, uma criança defensora do direito à educação e até à própria Organização das Nações Unidas (ONU) enquanto organismo. Destina-se a recompensar, em especial, a liberdade de expressão, a salvaguarda dos direitos das minorias, o respeito pelo direito internacional, o aprofundamento da democracia e o primado do Estado de direito.

    O Parlamento Europeu atribui o Prémio Sakharov, no valor de 50 000 euros, numa cerimónia solene que se realiza durante uma sessão plenária, em Estrasburgo, no final de cada ano. Os candidatos podem ser nomeados por cada um dos grupos políticos do Parlamento Europeu (PE) ou por um deputado, com o apoio, no mínimo, de 40 deputados a cada candidato. Os nomeados são apresentados numa reunião conjunta da Comissão dos Assuntos Externos, da Comissão do Desenvolvimento e da Subcomissão dos Direitos do Homem, cabendo aos membros que integram estas comissões parlamentares a votação de uma lista restrita de três finalistas. A Conferência dos Presidentes, órgão do PE dirigido pelo presidente que engloba os dirigentes dos vários grupos políticos com assento parlamentar, escolhe o vencedor ou vencedores do Prémio Sakharov, o que faz da seleção dos laureados uma escolha verdadeiramente europeia.

  • ANDREI

    SAKHAROV

    A FONTE DE INSPIRAÇÃO

    DO PRÉMIO

    Em 1980, Andrei Sakharov foi exilado no perímetro fechado da cidade de Gorky, depois de ter publicamente protestado contra a intervenção militar soviética no Afeganistão em 1979. Enquanto esteve no exílio, viveu sob apertada vigilância policial das autoridades soviéticas e fez greve de fome duas vezes, para que autorizassem a mulher a submeter-se a uma cirurgia ao coração nos Estados Unidos. Elena Bonner, também condenada em 1984 ao exílio em Gorky, foi finalmente autorizada a viajar até aos Estados Unidos para se tratar, em outubro do ano seguinte. O Parlamento Europeu deu todo o seu apoio à família, tendo inclusive ponderado reservar um lugar vazio no hemiciclo para Andrei Sakharov. Acabou por vingar a ideia alternativa, que foi a instituição de um prémio epónimo. Sakharov foi o escolhido, porque se tratava «um cidadão europeu que personificava a liberdade de pensamento e de expressão e porque tinha decidido renunciar a todas as vantagens materiais e a todas as honras por causa das suas convicções e da sua consciência», como declarou Jean-François Deniau, relator da iniciativa, perante o Parlamento Europeu reunido em sessão plenária.

    Como já foi dito, o prémio foi criado por uma resolução do Parlamento Europeu aprovada em dezembro de 1985. Um ano depois, Mikhail Gorbachev, que lançara a perestroika e a glasnost na União Soviética, autorizou Andrei Sakharov e Elena Bonner a regressarem a Moscovo. Foi nesta cidade que Sakharov viria a morrer, em dezembro de 1989.

    Em 2013, o prémio com o seu nome comemorou um quarto de século de existência de apoio aos Direitos Humanos, tendo ultrapassado todas as fronteiras, mesmo as de regimes opressores, para distinguir os ativistas dos Direitos Humanos e os dissidentes de todo o mundo. Os defensores dos Direitos Humanos reconhecidos pela atribuição do prémio pagaram caro o seu empenho na defesa da dignidade humana: muitos foram perseguidos, espancados, deportados ou privados da liberdade. Em várias ocasiões, os laureados não foram sequer autorizados a receber o prémio presencialmente.

    Foi esse o caso, por exemplo, da vencedora do Prémio Sakharov de 2012, Nasrin Sotoudeh, que, da prisão de Evin, no Irão, na qual à época se encontrava detida, escreveu cartas a Andrei Sakharov, entretanto falecido, em que indagou filosoficamente o significado da dissidência, estabelecendo um paralelo entre a sua própria causa e a causa de Sakharov.

    «A renovação da vida e da resistência que quotidianamente demonstrou são admiráveis. As suas conquistas representaram um gigantesco triunfo para os defensores da liberdade em todo o mundo. Que os vindouros saibam concretizar os sonhos que deixou por realizar».

    (1) As cartas de Andrei Sakharov citadas nesta publicação integram o espólio dos Arquivos Históricos do Parlamento Europeu.

    ANDREI SAKHAROV (1921-1989), físico de renome da URSS, ativista dos Direitos Humanos, dissidente político e paladino das reformas, aceitou a ideia da instituição de um prémio com o seu nome como «um importante ato de reconhecimento do meu trabalho em defesa dos Direitos Humanos», como o próprio afirmou em carta dirigida ao Parlamento Europeu (1). Qualificou a instituição de prémios desta índole como «útil», na medida em que isso chama «a atenção para o problema dos Direitos Humanos, encorajando todos aqueles que deram o seu contributo para esse propósito». O Parlamento Europeu anunciou a pretensão de criar este prémio no quadro de uma resolução aprovada em dezembro de 1985.

    Pioneiro da física nuclear e pai da bomba de hidrogénio soviética, Andrei Sakharov tinha 32 anos quando se tornou membro de pleno direito da Academia das Ciências da URSS, passando a usufruir dos privilégios concedidos à «Nomenclatura», ou seja, à elite da União Soviética.

    Todavia, no final dos anos 50, Sakharov demonstrou uma cada vez maior preocupação relativamente às consequências climáticas dos testes nucleares e às implicações políticas e morais do seu trabalho, que poderia implicar a ocorrência de mortes em massa.

    O ponto de viragem da sua evolução política ocorreu em 1967, quando solicitou às autoridades soviéticas que aceitassem uma proposta dos Estados Unidos para uma rejeição bilateral do desenvolvimento dos sistemas de defesa antimísseis balísticos, que Sakharov descreveu como uma ameaça de grandes proporções para uma guerra nuclear à escala global no seu ensaio Reflexões sobre o Progresso, a Coexistência Pacífica e a Liberdade de Pensamento, de 1968. As autoridades soviéticas rejeitaram o pedido de Andrei Sakharov, baniram-no de toda a investigação militar ultrassecreta após a publicação do ensaio e destituíram-no de todos os privilégios. Em 1970, tornou-se um dos cofundadores da Comissão dos Direitos do Homem na URSS, tendo abraçado a causa dos defensores dos Direitos Humanos e das vítimas dos julgamentos de caráter político como a sua principal preocupação. Em 1972, casou-se com Elena Bonner, também ela uma ativa defensora dos Direitos Humanos. Apesar da crescente pressão exercida pelo Governo, Sakharov não só reclamou a libertação dos dissidentes no seu país, mas também viria a tornar-se um dos mais corajosos opositores ao regime, personificando a luta contra a privação dos direitos fundamentais. Nas palavras do Comité do Prémio Nobel, que o agraciou com o Nobel da Paz em 1975, Sakharov foi «um porta-voz da consciência da Humanidade». Não foi autorizado a deslocar-se para receber o prémio, mas nem a repressão nem o exílio conseguiram quebrar a sua resistência.

  • 2014 Denis Mukwege2013 Malala Yousafzai2012 Nasrin Sotoudeh e Jafar Panahi2011 «Primavera árabe» (Mohamed Bouazizi, Asmaa Mahfouz, Ahmed El Senussi, Razan Zaitouneh

    e Ali Ferzat) 2010 Guillermo Fariñas2009 «Memorial» (Oleg Orlov, Sergei Kovalev e Ludmila Alexeieva, em nome de «Memorial» e de todos os

    outros defensores dos Direitos Humanos na Rússia)2008 Hu Jia2007 Salih Mahmoud Mohamed Osman2006 Alexander Milinkevich2005 «Damas de branco», Hauwa Ibrahim e Repórteres Sem Fronteiras2004 A Associação de Jornalistas da Bielorrússia2003 Kofi Annan, secretário-geral das Nações Unidas, e todo o pessoal desta organização2002 Oswaldo José Payá Sardiñas2001 Izzat Ghazzawi, Nurit Peled-Elhanan e Dom Zacarias Kamuenho2000 A plataforma cívica «¡Basta Ya!»1999 Xanana Gusmão1998 Ibrahim Rugova1997 Salima Ghezali1996 Wei Jingsheng1995 Leyla Zana1994 Taslima Nasreen1993 Oslobodjenje1992 As Mães da Praça de Maio1991 Adem Demaçi1990 Aung San Suu Kyi1989 Alexander Dubček1988 Nelson Rolihlahla Mandela, Anatoli Marchenko (a título póstumo)

    PRÉMIO SAKHAROV

    OS LAUREADOS

    A REDE DO PRÉMIO SAKHAROV (RPS) congrega vencedores do Prémio Sakharov e deputados ao Parlamento Europeu. Foi criada em 2008, ano em que o prémio comemorou o seu 20.º aniversário. A criação da rede veio reconhecer «o papel especial dos vencedores do Prémio Sakharov na sua qualidade de embaixadores da liberdade de pensamento», tendo os seus membros «concordado com o reforço dos esforços conjuntos em prol dos defensores dos Direitos Humanos em todo o mundo através de ações comuns dos vencedores do Prémio Sakharov, desenvolvidas em conjunto e sob a égide do Parlamento Europeu».

    Por ocasião do 25.º aniversário do prémio, em 2013, a rede promoveu uma conferência para debater o aprofundamento dos seus objetivos. Vinte dos laureados, bem como os representantes de África, da Ásia, da Europa, da América Latina e do Médio Oriente, reuniram-se com o presidente e com deputados ao Parlamento Europeu, com outros representantes de instituições, serviços e agências da União Europeia, com ONG, organizações internacionais, jornalistas e estudantes, no quadro de um intenso colóquio de três dias, durante o qual também se debateu a atribuição do Prémio Sakharov de 2013, no Dia Mundial da Criança, a Malala Yousafzai, a primeira personalidade a ser galardoada antes de atingir a idade adulta.

    A conferência culminou numa declaração em que os membros da rede reiteraram o seu apoio, quer coletiva, quer individualmente, a campanhas de promoção dos direitos fundamentais a nível internacional, em concertação com a sociedade civil e as organizações internacionais, incluindo a campanha pelo fim da violência exercida sobre as crianças e pelo fomento da educação infantil. A declaração frisa a necessidade da existência de solidariedade e coordenação entre os defensores dos Direitos Humanos, exortando todos os membros da rede a agirem como sistema de alerta para casos de violação dos Direitos Humanos à escala mundial. A União Europeia, por seu turno, é instada a firmar um compromisso diplomático de grande alcance em relação aos membros da rede nas suas representações espalhadas pelo mundo, tendo em vista, designadamente, a proteção dos vencedores do Prémio Sakharov e dos defensores dos Direitos Humanos que se encontrem em perigo.

    A RPS pretende agora dar seguimento aos seus compromissos através de ações no terreno que visem aumentar o grau de sensibilização para os temas relacionados com os Direitos Humanos e as suas violações. Os elementos que a integram também promovem a organização de palestras Sakharov em todos os Estados-Membros da União Europeia e participam em campanhas internacionais e eventos de sensibilização para esta problemática, apoiando ativistas da sociedade civil e defensores dos Direitos Humanos.

  • 2014

    DENIS

    MUKWEGE

    DENIS MUKWEGE é um médico congolês que dedica a sua vida à reconstrução dos corpos e das vidas de dezenas de milhares de mulheres e raparigas congolesas, vítimas de violações coletivas e de violência sexual brutal na guerra em curso na República Democrática do Congo.

    Nascido em Bukavu em 1955, Mukwege estudou medicina e fundou o serviço de ginecologia do Hospital Lemera na parte oriental da República Democrática do Congo. O médico fugiu para Bukavu e aí abriu um hospital composto por tendas, tendo construído uma nova maternidade e um bloco operatório. Porém, tudo foi destruído em 1998 durante a segunda guerra do Congo.

    Sem se deixar demover, Mukwege voltou a construir o seu hospital, desta vez em Panzi, trabalhando horas a fio e preparando os funcionários para o tratamento de mulheres que tivessem sido vítimas dos combatentes, os quais haviam «declarado as mulheres como seu inimigo comum». Mukwege já tratou mais de 40 mil mulheres desde que o hospital abriu pela primeira vez em 1999, altura em que recebeu a sua primeira vítima de violação apresentando feridas de balas nas coxas e nos órgãos genitais. Algumas semanas depois, dúzias de mulheres dirigiram-se ao hospital, afirmando terem sido violadas e torturadas.

    «Comecei a perguntar-me o que é que se estava a passar», declarou Mukwege à BBC. «Estes não eram apenas atos violentos de guerra, mas antes, parte da própria estratégia... Várias pessoas foram violadas simultânea e publicamente. Uma aldeia inteira pode ser violada durante a noite. Deste modo, eles não causam apenas sofrimento às vítimas, mas também a toda uma comunidade, que é forçada a assistir. Como consequência desta estratégia, as pessoas veem-se obrigadas a abandonar a sua aldeia, os seus campos, os seus recursos, tudo».

    Mukwege é reconhecido internacionalmente como sendo um perito na reparação dos danos patológicos e psicossociais resultantes da violência sexual. O hospital Panzi disponibiliza cuidados físicos e psicológicos, ajudando as mulheres a desenvolverem novas competências para a vida e as raparigas a voltarem à escola. É também providenciado o apoio jurídico necessário para levar os seus agressores a tribunal.

    O médico congolês tem vindo a lutar incansavelmente pela defesa dos direitos da mulher e pelo fim da violência gerada em torno da disputa pelos recursos naturais do Congo. O próprio Dr. Mukwege também se tornou vítima quando, em 2011, homens armados invadiram a sua casa e apontaram uma arma à sua filha. O seu guarda-costas foi morto, mas Mukwege conseguiu fugir com a família para a Suécia e para a Bélgica. Em 2013, regressou à República Democrática do Congo depois de um grupo de mulheres, a viver com menos de um dólar por dia, se juntar para lhe comprar um bilhete de volta a casa.

    Mukwege encontra-se presentemente a viver no hospital Penzi, no qual exerce a função de diretor.

  • 2013

    MALALA

    YOUSAFZAI

    MALALA YOUSAFZAI é uma jovem paquistanesa de 17 anos, que os talibãs balearam no rosto em 2012 para impedirem que ela e outras raparigas pudessem ir à escola. Sobreviveu aos ferimentos graves e, em 2013, tornou-se a mais jovem laureada de sempre com o Prémio Sakharov.

    Malala Yousafzai dedicou o prémio aos «heróis desconhecidos do Paquistão», numa apologia arrebatadora do direito de todas as crianças à educação.

    «Muitas crianças não têm nada para comer, não têm água para beber e desejam ardentemente poder ir à escola. É alarmante o facto de 57 milhões de crianças estarem privadas de educação. É um facto que deve abalar a nossa consciência», disse Malala aos representantes de 28 nações num Parlamento superlotado e na presença excecional de quase todos os laureados com o Prémio Sakharov, reunidos por ocasião da conferência comemorativa do 25.º aniversário da entrega do prémio. «Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo», afirmou nessa ocasião.

    A luta de Malala em prol da educação começou aos 11 anos de idade, quando escreveu um diário anónimo em linha sobre o quotidiano escolar de uma jovem sob o regime dos talibãs, no Vale de Swat, no Paquistão. Em 2009, os Talibãs decretaram o encerramento de todas as escolas femininas, no momento em que o exército paquistanês lutava pelo respetivo controlo. Malala e a família tiveram de fugir da sua cidade natal sitiada, onde a escola foi completamente destruída.

    Ao voltar a casa depois de a situação ter melhorado em termos de segurança, Malala e o pai, Ziauddin, que dirigia uma escola feminina, continuaram a defender a educação das raparigas, contra todas as ameaças. Malala utilizou uma doação para comprar um autocarro escolar, precisamente o autocarro em que ela foi baleada e outras duas jovens feridas no atentado reivindicado pelos talibãs.

    Malala sobreviveu e tornou-se militante empenhada na causa da educação das raparigas, cofundadora do Fundo Malala e membro do Comité de Crise da Educação para a Juventude, instituído pelo enviado especial da ONU para a Educação em todo o Mundo, Gordon Brown, que conjetura que, ao ritmo atual, a última rapariga a começar a frequentar a escola entrará em 2086, e não em 2015, como constava dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.

    «No Islão, as meninas podem frequentar o ensino. É dever e responsabilidade de qualquer pessoa, seja menino ou menina, aceder à educação e ao conhecimento», diz Malala.

    A ONU escolheu o seu dia de aniversário, 12 de julho, para instituir o Dia Malala. Em 2014, Malala Yousafzai festejou o dia de anos na Nigéria, encontrando-se com alunas que escaparam ao rapto do grupo terrorista Boko Haram em Chibok, confortando as famílias das 219 jovens que ainda se encontram sequestradas e pedindo ao presidente Jonathan uma ação mais empenhada. Malala expressou também solidariedade em relação às crianças envolvidas nos conflitos na Síria e em Gaza.

  • NASRIN SOTOUDEH é uma advogada iraniana de Direitos Humanos que esteve entre os poucos que defenderam os manifestantes detidos nos protestos em massa de 2009 e que participou em outros importantes processos políticos relacionados com Direitos Humanos, antes de sua própria detenção em 2010.

    Quando foi distinguida com o Prémio Sakharov em 2012, Nasrin Sotoudeh cumpria o segundo de uma pena de prisão de seis anos na tristemente célebre cadeia iraniana de Evin e estava na altura numa greve de fome de sete semanas, regime de prisão solitária, em protesto contra as pressões judiciais exercidas sobre a família.

    Não obstante o estado de extrema fraqueza e fragilidade, encontrou força e coragem para escrever uma mensagem memorável ao Parlamento Europeu, que foi lida em seu nome na cerimónia de entrega pela sua colega e amiga Shirin Ebadi, laureada com o prémio Nobel da Paz.

    Nasrin Sotoudeh afirmou: «A história dos Direitos Humanos e dos mecanismos para a sua salvaguarda tem origens longínquas, mas a sua concretização depende ainda, em larga medida, das intenções dos governos, que são os maiores violadores dos Direitos Humanos». Sotoudeh identificou estas violações como a causa principal da onda revolucionária que varre o Médio Oriente. Dirigindo-se aos defensores dos Direitos Humanos e aos prisioneiros políticos, acrescentou: «Tal como vós, também eu sei que a democracia ainda tem um longo e difícil caminho a percorrer».

    Inesperadamente, Nasrin Sotoudeh foi libertada em setembro de 2013, facto que foi saudado pelo presidente M. Schulz como «um importante sinal positivo dado pelas autoridades iranianas e, em particular, pelo recém-eleito presidente Hassam Rouhani».

    Em dezembro de 2013, encontrou-se com a primeira delegação do Parlamento Europeu a visitar o Irão em seis anos. N. Sotoudeh debruçou-se sobre o problema dos presos políticos e denunciou os julgamentos realizados em tribunais revolucionários, e não em tribunais comuns, como falta de transparência. Ela solicitou à delegação que questionasse as autoridades iranianas sobre este assunto. A delegação foi informada de que os tribunais revolucionários foram instituídos para julgar os crimes contra o Estado e, portanto, não foi possível efetuar qualquer alteração. O encontro causou furor entre os radicais iranianos, que acusaram Nasrin Sotoudeh e Jafar Panahi de alimentarem a sedição.

    A advogada porfia na defesa dos Direitos Humanos, dos direitos das mulheres e das liberdades fundamentais. Em 2014, luta contra a exclusão do exercício da advocacia, carreira por cuja prática lutou ao longo de vários anos, começando com a defesa de menores contra a aplicação da pena de morte, uma causa que continua a acarinhar.

    Em julho de 2014, quando eclodiu a guerra em Gaza, N. Sotoudeh lançou uma campanha nos meios de comunicação social e nas redes sociais intitulada Stop Killing Your Fellow Beings («Pare de matar os seus semelhantes»). Não pôde deslocar-se ao Parlamento Europeu para receber o Prémio Sakharov ou para participar nos eventos da RPS, uma vez que continua a estar proibida de deixar o Irão, mas Ebadi representou-a na Conferência de 2013.

    N. Sotoudeh tenciona permanecer no Irão e lutar pelas reformas a partir do interior.

    2012

    NASRIN

    SOTOUDEH

  • 2012

    JAFAR

    PANAHI

    JAFAR PANAHI é um cineasta iraniano vencedor de múltiplos prémios que foi proibido de rodar filmes durante 20 anos.

    Apoiante declarado do «Movimento verde» de oposição no Irão e crítico do então presidente Ahmadinejad, foi condenado a uma pena de seis anos de prisão por «propaganda contra a República Islâmica», embora a sentença não tenha chegado a ser executada: não está preso; mas paira sobre ele a ameaça de uma detenção a qualquer momento.

    Foi detido em 2010, quando estava a rodar um filme clandestino sobre a fracassada rebelião popular de 2009 do «Movimento verde». Embora libertado ao fim de três meses, na sequência de protestos internacionais e de uma greve da fome, Jafar Panahi foi então condenado a uma pena de prisão, proibido de fazer filmes, de viajar e de falar para os meios de comunicação social.

    J. Panahi disse à delegação do Parlamento Europeu que visitou no Irão em 2013 que o seu testemunho e o do seu advogado foram ignorados durante o julgamento e que o veredicto já estava decidido há muito tempo. Alertou igualmente a delegação para o facto de as questões de Direitos Humanos estarem a ser negligenciadas, na medida em que o mundo está concentrado no acordo nuclear com o Irão, e opinou que, uma vez as sanções suspensas, a repressão no país vai aumentar. A nova flexibilidade da cúpula dirigente iraniana só estava a ser aplicada aos negócios estrangeiros, e não aos assuntos internos, afirmou J. Panahi, continuando a verificar-se pressões sobre a imprensa, sobre os detidos e sobre a vida cultural.

    Numa entrevista aos meios de comunicação social dada em julho de 2014, e desafiando a proibição que lhe havia sido imposta, Jafar Panahi confessou que, quando foi proibido de trabalhar, se sentiu como se tivesse sido libertado de uma pequena prisão e tivesse sido enclausurado numa ainda maior.

    Não obstante, J. Panahi desobedeceu duas vezes à proibição de realizar filmes. Em 2011, rodou Isto não é um filme, que mostra o cineasta em casa, sentado à mesa da cozinha, a falar com o advogado e à espera de ser detido. Em 2014, regressou à realização com Cortina Corrida, em que a personagem principal é um guionista que vive sozinho com o cão numa casa à beira-mar, com as cortinas permanentemente corridas.

    J. Panahi não se concebe a si próprio como uma pessoa política, mas como alguém que quer denunciar a injustiça. Manifestou-se contra a censura no Irão e criticou o presidente Rouhani por não cumprir as promessas eleitorais neste domínio, tendo lançado a campanha Passo a Passo, com o objetivo de pôr fim à pena de morte no país.

    Jafar Panahi não pôde deslocar-se ao Parlamento Europeu, mas a filha, Solmaz, e os realizadores Costa Gravas e Serge Toubiana representaram-no na cerimónia de entrega do Prémio Sakharov e o presidente da Federação Internacional dos Direitos Humanos, Karim Lahidji, na Conferência da RPS de 2013.

  • 2011

    MOHAMED

    BOUAZIZI

    Ainda estava vivo, agonizante e envolto em ligaduras da cabeça aos pés, quando o regime autoritário do presidente Zine al-Abidine Ben Ali, no poder desde 1987, se começou a desmoronar.

    Dez dias após a morte de M. Bouazizi, Ben Ali foi forçado a renunciar e a abandonar o país, enquanto os manifestantes marchavam em Túnis, muitos deles transportando a imagem de M. Bouazizi.

    O único consolo da família de Mohamed Bouazizi reside no facto de a sua morte não ter sido em vão, pois o seu ato conduziu à chamada «revolução popular», abalou governos despóticos na Tunísia e no resto do mundo árabe e sensibilizou os jovens árabes para a possibilidade de expressarem as suas frustrações e lutarem pela sua dignidade quando confrontados com a injustiça, a corrupção e os regimes autocráticos.

    A «primavera árabe» e seu otimismo inicial abrandaram e verificou-se um retrocesso em algumas das suas conquistas, mas, na sua terra natal, a Tunísia de M. Bouazizi, foi aprovada uma Constituição democrática em 2014 e terão lugar, até o final do ano, eleições legislativas e presidenciais.

    MOHAMED BOUAZIZI (1984-2011) foi o catalisador da Revolução de Jasmim na Tunísia e uma inspiração para o movimento pró-democracia que varreu o Médio Oriente e o Norte de África em 2011 conhecido como a «primavera árabe».

    Um trabalhador denodado oriundo de uma família pobre, M. Bouazizi foi a principal fonte de sustento da sua família desde os 10 anos de idade, vendendo frutas no mercado. Abandonou a escola aos 19 anos para poder pagar os estudos dos seus irmãos mais novos.

    A 4 de janeiro de 2011, morreu com 26 anos, após se ter imolado pelo fogo em sinal de protesto contra um sistema que o impedia, a ele e à sua família, de levar uma vida digna. Por diversas ocasiões, M. Bouazizi havia sido vítima das forças policiais tunisianas, que o multavam, confiscavam a sua mercadoria e as balanças, tendo até sido vítima de violência. A família considera que foi a humilhação, e não a pobreza, que o levou a imolar-se, após ter procurado justiça e esta lhe ter sido negada. M. Bouazizi regou-se com combustível e acendeu um isqueiro à porta do município, na pequena cidade de Sidi Bouzid. Homem popular conhecido por oferecer produtos às famílias mais pobres e cuja situação despertou a simpatia geral, o seu ato gerou protestos que rapidamente se espalharam, com tunisianos de todas as esferas sociais a invadir as ruas, protestando contra um governo corrupto, o elevado desemprego e as restrições à liberdade.

  • ALI FERZAT é o mais famoso caricaturista e autor de sátira política da Síria e uma das figuras culturais mais famosas do mundo árabe. Nascido em Hama, em 1941, publicou mais de 15 mil caricaturas em jornais sírios e internacionais e foi premiado por ter satirizado ditadores como Saddam Hussein e Muammar Khadafi, quando estes governavam o Iraque e a Líbia, respetivamente. O trabalho de Ali Ferzat alargou os limites da liberdade de expressão na Síria, ao visar as temíveis forças de segurança do país. Em 2011, quando a «primavera árabe» chegou à Síria tornou-se mais direto nos ataques a figuras do governo, em particular ao presidente Bashar al-Assad. Nas manifestações contra o regime, os sírios empunhavam as suas caricaturaas nas ruas. Depois de ter publicado um cartoon de Assad a pedir boleia ao ditador líbio Khadafi, que fugia num carro a grande velocidade, foi atacado na praça Umayyad, em Damasco, e violentamente agredido por um grupo de indivíduos encapuzados, que deliberadamente lhe fraturaram ambas as mãos, em sinal de aviso por ter desrespeitado o presidente al-Assad e desobedecido aos seus líderes. Inconsciente em consequência da agressão, Ali Ferzat foi arrastado ao longo da estrada pelo carro para onde tinha sido atirado, seguidamente empurrado e abandonado na rua.

    A. Ferzat não só recuperou o uso das mãos, como rompeu a barreira do medo ao tornar-se um dos mais acérrimos críticos do regime através das suas palavras e da sua arte.

    Impossibilitado de assistir à cerimónia do Prémio Sakharov em 2011 por estar a receber tratamento das suas lesões no Koweit, o prémio ser-lhe-ia entregue por ocasião do debate público da Rede do Prémio Sakharov realizado nas instalações do Parlamento Europeu, em outubro de 2012, onde aproveitou o ensejo para debater com o presidente do Parlamento Europeu e outros laureados a revolução em curso na Síria e o futuro da democracia na sequência do despertar árabe. Na qualidade de premiado com o Prémio Sakharov, dirigiu-se à primeira edição do Fórum Mundial da Democracia, em 2012, ano em que foi igualmente eleito uma das 100 personalidades mais influentes do mundo pela revista Time.

    Em 2014, Ali Ferzat foi o orador principal do festival de cinema da Rede do Prémio Sakharov One World Human Rights, em Praga, onde se encontrou com representantes governamentais, dos meios de comunicação social e das ONG, trazendo o debate sobre o conflito sírio para o centro da tragédia: num conflito em curso que já custou a vida a centenas de milhares de pessoas e provocou milhões de deslocados estão as esperanças humanas esquecidas de dignidade e liberdade.

    2011

    ALI

    FERZAT

  • 2011

    ASMAA

    MAHFOUZ

    ASMAA MAHFOUZ é uma defensora dos Direitos Humanos egípcia e uma das cofundadoras do movimento de jovens 6 de abril. Quando o Egito abraçou a «primavera árabe», em 2011, Asmaa desafiou a repressão exercida pelo regime de Mubarak sobre os ativistas e difundiu um apelo em vários meios sociais digitais para que os egípcios reclamassem o respeito da liberdade, da dignidade e dos Direitos Humanos através de um protesto pacífico na praça Tahrir, em 25 de janeiro de 2011. O vídeo tornou-se viral, foi visto 80 milhões de vezes, e inspirou uma onda de vídeos semelhantes, tendo como consequência a ocupação da praça Tahrir por centenas de milhares de pessoas para reclamar o fim do regime de 30 anos de Hosni Mubarak no Egito, o que viria a acontecer em 11 de fevereiro de 2011.

    Na entrega do Prémio Sakharov, Asmaa Mahfouz considerou o prémio «uma homenagem aos heróis da revolução. Um prémio para todos os jovens egípcios que sacrificaram as suas vidas», tendo acrescentado: «Não os trairemos. Vamos, sim, prosseguir o caminho que iniciaram. Queremos ter certeza de que este sonho se tornará realidade».

    Foi um dos principais oradores na reunião da Rede do Prémio Sakharov realizada em Bruxelas, no Parlamento Europeu, e no primeiro Fórum da Democracia Mundial do Conselho da Europa, em outubro de 2012, onde se debateu o desenvolvimento da situação no Egito após a revolução.

    Em 2014, com a eleição, no Egito, de um ex-chefe do Exército, Abdel Fattah al-Sisi, para a presidência do país, após a deposição do presidente islamita Mohammed Mursi em 2013 e um período de governo interino apoiado pelos militares, Asmaa asseverou que estava a ser vítima de uma violência crescente, ameaças e vigilância. Uma forte repressão exercida pelas autoridades visando, inicialmente, a Irmandade Muçulmana, alargou-se para atacar vozes críticas e ícones de renome da revolução de 25 de janeiro, em particular os ativistas do movimento 6 de abril. Asmaa Mahfouz disse que tanto ela como outros ativistas foram atacados nos meios de comunicação social, acusados de serem agentes estrangeiros e de ameaçar a segurança nacional, levando as pessoas a insultá-la nas ruas.

    Em abril de 2014, um tribunal egípcio proibiu o 6 de abril . Três dos dirigentes do movimento de esquerda, Ahmed Maher, Mohammed Adel e Ahmed Douma, estão a cumprir uma pena de três anos de prisão acusados, nomeadamente, de se terem manifestado ilegalmente, contrariando a nova lei egípcia que restringe a liberdade de manifestação, enquanto um quarto, Alaa Abdel Fattah, foi condenado a 15 anos, o que fez reagir o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e a própria Asmaa Mahfouz que, num tweet, escreveu: «Quinze anos por se ter manifestado? E os que mataram? Nunca haverá um Estado enquanto isto continuar».

  • 2011

    AHMED

    EL ZUBER

    EL SENUSSI

    AHMED EL SENUSSI, nascido em 1934, é o prisioneiro de consciência que mais anos esteve detido na Líbia. É familiar de Idris, o único rei da Líbia, deposto pelo coronel Kadhafi em 1969.

    Ahmed El Senussi foi acusado de conspiração numa tentativa de golpe de Estado contra o regime de Muammar Kadhafi em 1970, tendo passado 31 anos na prisão, nove dos quais em isolamento, numa cela tão exígua que lhe era impossível estar em pé. Foi libertado em agosto de 2001, juntamente com dezenas de outros prisioneiros políticos.

    Quando uma revolta popular apoiada pela OTAN derrubou o ditador líbio em 2011, o Conselho Nacional de Transição (CNT) assumiu o governo do país e El Senussi, membro do CNT, ficou encarregado dos presos políticos. No entanto, apesar das eleições, a ilegalidade e a instabilidade permaneceram temas candentes da política na Líbia, com diferentes fações a disputar o controlo das armas.

    Benghazi, cidade de El Senussi, que havia sido posta de parte por Kadhafi, apoia energicamente o federalismo, sistema que esteve em vigor durante a maior parte do reinado do rei Idris. Em 2012, 3 mil delegados da região reuniram-se em Benghazi para instituir o Conselho de Transição Cirenaica (CTC), do qual El Senussi foi nomeado dirigente. O CTC pronunciou -se a favor de um elevado grau de autonomia para a região, mas declarou aceitar o CNT como símbolo da unidade do país e seu representante legítimo na arena internacional. Ora, não só a declaração do CTC não tem qualquer valor jurídico, como o CTC não é apoiado por milícias, ao contrário do que acontece com o outro grupo federalista principal com sede em Benghazi, o Bureau Político da Cirenaica, chefiado por Ibrahim Jadhran, que pretende estabelecer um governo paralelo, e de quem El Senussi se distanciou.

    Ahmed El Zuber El Senussi e os líderes tribais que chefia defendem o federalismo através de uma nova Constituição.

    Em outubro de 2012, na reunião da Rede do Prémio Sakharov realizada no Parlamento Europeu, El Senussi debateu com o presidente Martin Schulz, Asmaa Mahfouz e Ali Ferzat as consequências da revolução e do conflito armado na Líbia e o futuro da democracia nos países árabes na sequência da «primavera árabe». Na primeira edição do Fórum Mundial da Democracia realizada no Conselho da Europa, Ahmed El Senussi denunciou a ausência de um governo eficaz na Líbia e refutou as acusações de traição que lhe foram feitas por ter apelado à instituição de um sistema federal, afirmando que essas acusações se trataram de uma tentativa intencional de fazer uma leitura errada da sua proposta e de manchar a reputação de todos quantos querem melhorar a situação. Ahmed El Senussi participou na Conferência da RPS de 2013.

  • RAZAN ZAITOUNEH é uma jornalista síria e advogada no domínio da defesa dos Direitos Humanos, que foi sequestrada numa zona controlada pelos rebeldes nos subúrbios de Damasco, em 9 de dezembro de 2013. Continua desaparecida, pensa-se que esteja bem, mas o seu paradeiro e os raptores são ainda desconhecidos. Apesar de ameaçada, Razan Zaitouneh denunciou corajosamente as violações dos Direitos Humanos pelo regime de Damasco e pelos rebeldes. Foi sequestrada com o marido e também ativista Wael Hamada e dois colegas, o poeta e advogado Nazem Hamadi e a ex-presa política Samira Khalil, no escritório dos dois grupos que fundou, o Centro de Documentação de Violações e o Gabinete de Apoio ao Desenvolvimento Local e aos Pequeno Projetos, em Douma.

    Zaitouneh é uma das ativistas civis mais importantes e credíveis da revolução síria. O seu rapto é considerado por analistas sírios como um episódio decisivo na cisão atual na Síria entre as forças civis e os extremistas, e um evento que constituiu um golpe fatal para a revolução síria.

    A sua família já apelou à ajuda internacional para que Zaitouneh e os seus colegas sejam encontrados.

    «Nós, família de Razan Zeitouneh, militante dos Direitos Humanos, advogada, escritora e, acima de tudo, um ser humano, fazemos esta declaração mais de três meses após o sequestro deliberado e que nenhum partido ainda reivindicou, sobre o qual não proferiu qualquer declaração ou apresentou pedido, numa clara tentativa de ganhar tempo e de calar a voz livre da nossa filha, juntamente com os seus colegas, para os forçar a deixar de escrever e para lhes coartar o direito à liberdade de expressão», declarou a família num comunicado divulgado em abril de 2014 e publicado pelo Centro de Documentação de Violações.

    Militantes e políticos de todo o mundo, incluindo o presidente Martin Schulz, têm apelado à sua libertação: «Em nome do Parlamento Europeu, apelo à sua libertação imediata... A sua vida foi ameaçada pelo regime e pelos grupos rebeldes por aquilo que ela é, uma jovem corajosa que se recusa a ceder e continua a lutar pacificamente pela democracia e uma Síria livre».

    Os Repórteres Sem Fronteiras, laureados do Prémio Sakharov, e 45 outras ONG fizeram um apelo conjunto para a sua libertação e dos ativistas com ela sequestrados.

    Quando o prémio lhe foi atribuído, em 2011, Razan Zeitouneh vivia na clandestinidade, depois de ter fugido de um ataque à casa onde vivia perpetrado por agentes de segurança do Estado. Razan Zeitouneh consagrou o montante do Prémio Sakharov que lhe foi atribuído a salvar a vida de um ativista atingido por disparos de um tanque.

    2011

    RAZAN

    ZAITOUNEH

    RAPTADA EM DEZEMBRO DE 2013

  • Doutorado em psicologia, jornalista independente, dissidente político e, atualmente,

    porta-voz da oposição Unión Patriótica de Cuba, GUILLERMO FARINÃS fez 23 greves de fome ao longo dos anos, com o objetivo de promover uma mudança política pacífica, a liberdade de opinião e a liberdade de expressão no seu país.

    Como jornalista, fundou uma agência noticiosa independente, a Cubanacán Press, para informar o resto do mundo sobre o destino dos prisioneiros políticos em Cuba, mas acabou por ser forçado pelas autoridades a encerrá-la.

    Em fevereiro de 2010, após a morte controversa do preso Orlando Zapata, Fariñas iniciou uma greve de fome que durou 130 dias, para apelar à libertação dos presos políticos que adoeceram na sequência dos muitos anos de cativeiro. Só pôs fim à greve da fome em julho de 2010, após o Governo cubano ter anunciado que estava em vias de libertar 52 presos políticos.

    Guillermo Fariñas não pôde participar na cerimónia de entrega do Prémio Sakharov de 2010, no Parlamento Europeu, porque não foi autorizado a sair de Cuba. Em julho de 2012, foi detido por ocasião do funeral de outro dissidente cubano e vencedor do Prémio Sakharov, Oswaldo Payá, tendo sido preso temporariamente.

    Depois de o Governo cubano ter abrandado as restrições em matéria de viagens impostas aos cubanos e na sequência do regresso das «Damas de branco» a Cuba, Guillermo Fariñas dirigiu-se ao Parlamento Europeu, em julho de 2013, numa cerimónia tardia de entrega do Prémio Sakharov realizada em sua honra.

    No seu discurso de agradecimento, Fariñas afirmou: «Estou aqui, hoje, não porque a situação tenha mudado fundamentalmente, mas por causa das realidades do mundo moderno e, sobretudo, por causa da crescente desobediência civil dos cubanos que obrigou o regime – para utilizar as palavras do lendário príncipe Dom Fabrizio de O Leopardo – a “mudar tudo para que tudo fique na mesma”».

    Fariñas participou ativamente na Conferência da RPS de 2013 e no debate do Fórum Mundial da Democracia subordinado ao tema Solution Journalism in Action, durante o qual destacou que os jornalistas «prosseguirão o seu trabalho para que as pessoas em Cuba saibam o que se está a passar». Em 2014, foi preso várias vezes e brevemente detido, ameaçado de morte e de internamento num hospital psiquiátrico, espancado e hospitalizado.

    2010

    GUILLERMO

    FARIÑAS

  • 2009

    «MEMORIAL»

    Nascida em 1927, Ludmila Alexeieva está à frente da organização e é uma das poucas dissidentes da era soviética ainda no ativo na Rússia moderna, famosa por militar por um julgamento justo dos dissidentes presos.

    Oleg Orlov, um dos dirigentes da organização «Memorial» desde 1994 e membro do respetivo Conselho, reuniu, em 2014, provas de raptos no leste da Ucrânia, à medida que os separatistas pró-russos combatiam as forças ucranianas, descobrindo aí práticas comparáveis aos sequestros que a «Memorial» documentou ao longo décadas durante as duas guerras na Chechénia, onde ele próprio foi sequestrado.

    Sergei Kovalev, atual presidente da organização «Memorial», é conhecido por ter negociado, em 1995, a libertação de cerca de 2 mil pessoas feitas reféns no ataque ao hospital de Budennovsk pelos rebeldes chechenos, a única vez em que um ataque terrorista na Rússia não implicou um assassinato em massa dos reféns. Kovalev acusa a Rússia de interferir nos assuntos internos da Ucrânia e de provocar uma guerra civil e congratula-se com facto de ver os «países civilizados a abandonar a sua indiferença habitual», que, segundo ele, Putin aprendeu a explorar.

    Os membros desta organização e os colaboradores mais próximos têm vindo a ser ameaçados, sequestrados e assassinados ao longo dos anos. Em 2014, a «Memorial» foi classificada como «agente estrangeiro» pelas autoridades russas, após terem sido introduzidas alterações a uma lei de 2012, que permite às autoridades registar como «agentes estrangeiros», sem o seu consentimento, as ONG que recebam fundos do exterior.

    Centenas de ONG foram afetadas por esta lei e nenhuma ONG independente se registou voluntariamente como «agente estrangeiro», o que, na Rússia, significa «espião», tal como declarado por Kirill Koroteev, advogado da «Memorial», à Subcomissão dos Direitos Humanos do Parlamento. Orlov não esteve presente na Conferência RPS de 2013, para poder lutar contra esta lei em tribunal, mas a «Memorial» perdeu o caso e o respetivo recurso.

    A «Memorial» e outras ONG prosseguem agora essa luta no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. O Grupo Helsínquia-Moscovo também se recusou a registar-se como «agente estrangeiro», tendo Alexeieva afirmado que iria continuar a trabalhar em prol dos Direitos Humanos, sem contribuições exteriores.

    Orlov discutiu a questão da tortura na Rússia nos debates públicos que tiveram lugar durante o festival de cinema RPS-One World Film, em 2014, tendo Koroteev representado a organização «Memorial» no Encontro Europeu da Juventude.

    OLEG ORLOV, SERGEI KOVALEV e LUDMILA ALEXEIEVA foram galardoados com o Prémio Sakharov, em 2009, em nome da organização «Memorial» e de todos os outros defensores dos Direitos Humanos na Rússia.

    Esta organização foi fundada em 1988 com o objetivo de acompanhar e denunciar as violações sistemáticas dos Direitos Humanos nos antigos países da URSS. Dos seus fundadores fazia parte Andrei Sakharov, que também cofundou o Grupo de Helsínquia de Moscovo com Ludmila Alexeieva.

  • 2008

    HU

    JIA

    O dissidente chinês HU JIA encontrava-se detido e foi libertado quando o Parlamento Europeu o galardoou, por ocasião do 20.º aniversário do Prémio Sakharov, em virtude dos seus apelos à realização de um inquérito oficial sobre o massacre ocorrido na praça de Tiananmen e à indemnização das famílias das vítimas, do seu ativismo em prol do ambiente e do trabalho que desenvolveu na luta contra a sida. Em 2014, Hu Jia foi novamente sujeito a períodos de prisão domiciliária. Na realidade, tem sido posto em prisão domiciliária todos os anos, por alturas do aniversário do massacre da praça Tiananmen, em 4 de junho, desde que, em 2004, levou flores para a praça. Desde 2 de julho de 2004, a sua casa, em Pequim, encontra-se sob vigilância diária, 24 horas por dia. Por vezes, nem sequer é autorizado a sair para comprar alimentos ou remédios.

    Em  2007, através de uma audioconferência, deu um corajoso testemunho à Subcomissão dos Direitos do Homem do Parlamento Europeu, alertando para o milhão de pessoas perseguidas pelo departamento de segurança nacional chinês por lutarem pelos Direitos Humanos, encontrando-se muitas delas detidas em prisões, em campos de trabalhos forçados ou em hospitais psiquiátricos.

    Em consequência do seu testemunho, Hu Jia foi detido em 27 de dezembro de 2007, acusado de «incitar à subversão contra o poder estatal», e condenado, em 3 de abril de 2008, a três anos e meio de prisão, ao mesmo tempo que se viu privado dos seus direitos políticos durante um ano.

    Quando lhe foi atribuído o Prémio Sakharov, foi pressionado pela polícia de segurança do Estado a renunciar ao galardão.

    No entanto, Hu Jia aceitou corajosamente o prémio, qualificandoo de «importante prémio para a China». Numa carta endereçada ao presidente do Parlamento Europeu em julho de 2012, Hu Jia afirmou que considerava o prémio «uma grande honra», que o encorajava e melhorava consideravelmente a forma como era tratado na prisão.

    Libertado em junho de 2011, Hu Jia tentou, à saída da prisão, criar uma ONG para lutar pelos Direitos Humanos, mas os seus membros foram presos. Atualmente, é responsável por uma rede de cidadãos que reúnem numa assembleia política. Hu Jia é igualmente coordenador do movimento dos «Advogados de pés descalços», um grupo informal de consultores jurídicos que defendem os militantes dos Direitos Humanos na China.

    Em 2013, por ocasião do 25.º aniversário do prémio, a Declaração da Rede do Prémio Sakharov exortava «as autoridades chinesas a porem termo às frequentes restrições impostas a Hu Jia, galardoado com o Prémio Sakharov». O laureado foi impedido de comparecer devido às limitações à sua liberdade impostas pelas autoridades chinesas e foi representado pela sua mulher, também ela nomeada para o prémio Sakharov, Zeng Jinyan, que realçou as dificuldades dos presos políticos e respetivas famílias. Em 2014, as ameaças e o assédio a Hu Jia aumentaram de tal forma que a sua vida se encontra em risco.

  • SALIH MAHMOUD OSMAN vinha, há mais de duas décadas, a prestar assistência jurídica gratuita às pessoas detidas arbitrariamente, torturadas e vítimas de graves violações dos Direitos Humanos no Sudão, quando, em 2007, o Parlamento Europeu lhe atribuiu, por unanimidade, o Prémio Sakharov.

    No seu discurso de agradecimento pela atribuição do prémio, Salih Osman declarou: «Sou natural do Darfur e nasci em Jebel Marra. Durante muitos anos, trabalhei como advogado no Darfur, no Sudão. Fui detido e torturado por causa das minhas atividades. Membros da minha própria família foram torturados e deslocados pela milícia no Darfur. Durante muitos anos, no âmbito do meu trabalho, representei milhares de pessoas que precisavam da minha ajuda nos tribunais. Vi milhares de pessoas que tinham sido torturadas; vi centenas de mulheres e raparigas que tinham sido vítimas de abuso sexual».

    Salih Osman repertoriou crimes perpetrados e participa ativamente na proteção de 3,2 milhões de sudaneses deslocados das suas casas pelos combates no Sudão.

    Osman continua a chamar a atenção para um conflito que dura há mais de uma década, desde que eclodiu em Jebel Marra, em 2003, e que foi descrito pelas Nações Unidas como uma das piores crises humanitárias em todo o mundo. Apesar da forte pressão internacional e de tentativas de mediação, não foi ainda assinado um acordo de paz global com todas as partes em conflito, embora grupos de rebeldes se estejam agora a unir em torno de uma agenda cada vez mais nacional.

    Salih Osman salienta que as causas que levaram a guerra, como a espoliação de terras e a marginalização política, não só estão ainda por resolver, como têm também sido agravadas por novas necessidades não satisfeitas no sentido de alinhar as legislações nacionais pelos padrões internacionais e garantir a independência do poder judicial.

    Osman, que foi membro da oposição no Parlamento sudanês entre 2005 e 2010, é um acérrimo defensor do Tribunal Penal Internacional (TPI) pois os «africanos não têm onde se dirigir para obter a justiça e a reparação devidas em resultado da inexistência de sistemas judiciais adequados em África», afirmou ele no seu discurso de laureado com o Prémio Sakharov perante representantes das instituições da União Europeia, do TPI e de mais de 200 organizações da sociedade civil presentes no fórum UEONG, em 2013.

    Na declaração final da Conferência RPS, realizada em 2013, Salih Osman defendeu a denúncia da impunidade e da tortura.

    2007

    SALIH MAHMOUD

    MOHAMED OSMAN

  • 2006

    ALEXANDER

    MILINKEVICH

    ALEXANDER MILINKEVICH é um dos dirigentes máximos do Movimento pela Liberdade, integrado na oposição democrática da Bielorrússia, que teve «a coragem de desafiar a última ditadura da Europa», nas palavras do então presidente do Parlamento Europeu, Borrell Fontelles, quando lhe entregou o Prémio Sakharov de 2006.

    O cientista Alexander Milinkevich foi escolhido, em outubro de 2005, pela Oposição Democrática Unida como candidato comum às eleições presidenciais, pugnando por um futuro verdadeiramente democrático e apresentando-se como alternativa real ao autoritarismo do presidente Alexander Lukashenko, cuja vitória foi duramente criticada pela oposição na Bielorrússia e violentamente denunciada no estrangeiro por razões de fraude eleitoral. Após a contestação, Milinkevich foi preso sob vários pretextos, embora contra ele não tenha sido formulada qualquer acusação.

    Milinkevich não se apresentou às eleições presidenciais em 2010, uma vez que entendeu que não haviam sido introduzidas quaisquer alterações à legislação eleitoral a nível interno que garantissem eleições justas, livres e abertas. Lukashenko mantém-se no poder e a situação dos Direitos Humanos na Bielorrússia deteriorou-se ainda mais após as eleições de 2010, com a promulgação de uma lei que criminaliza qualquer comportamento considerado contrário aos interesses do Estado e a prossecução do silenciamento e da detenção de jornalistas, ativistas e outras vozes críticas do atual regime. Os ativistas da sociedade civil receiam que possa vir a ser aprovada uma lei contra «os agentes do estrangeiro» análoga à da Rússia, embora Lukashenko pareça estar tentando a distanciar-se do Kremlin, depois de a Rússia ter anexado a Crimeia em 2014.

    Milinkevich enalteceu a pouco habitual utilização do bielorrusso por Lukashenko, que geralmente fala em russo, num discurso proferido em julho de 2014, embora tenha declarado à BBC que, «até agora, trata-se apenas de uma tendência, não de uma estratégia».

    Na sua qualidade de galardoado com o Prémio Sakharov, Milinkievich é consultado com regularidade por entidades parlamentares preocupadas com a situação na Bielorrússia e participou em eventos relacionados com a Rede do Prémio Sakharov, incluindo a Conferência da Rede em 2013.

    Num debate da RPS na Lituânia com a participação de Berta Soler, de autoridades nacionais, de parlamentares lituanos e de deputados ao Parlamento Europeu, Milinkevich denunciou a intimidação constante e a humilhação perpetrada pelos poderes públicos da Bielorrússia contra os defensores dos Direitos Humanos. Declarou o seu apoio a uma maior integração europeia da Bielorrússia e a um diálogo crítico, mas construtivo, com as autoridades deste país. O diálogo foi também um dos elementos fulcrais das intervenções que proferiu durante os debates públicos à margem do festival de cinema RPS-One World Film, no Parlamento Europeu. Milinkevich argumentou que a União Europeia precisa de aprofundar cada vez mais a sua relação com a Bielorrússia, a fim de propiciar um maior grau de liberdade. A Bielorrússia, por seu turno, carece de assistência económica e esse facto, no entender de Milinkevich, poderia ser usado como alavanca para forçar aquele país a encetar um diálogo com a União Europeia, nomeadamente no domínio dos Direitos Humanos.

  • 2005

    «DAMAS

    DE BRANCO»

    em 2005. A presidente Berta Soler e as representantes Belkis Cantillo Ramirez e Laura Maria Labrada Pollán, filha da dileta cofundadora Laura Pollán, falecida em 2011, foram autorizadas a sair de Cuba, depois de as autoridades cubanas terem amenizado as restrições de viagem impostas aos cidadãos e as terem autorizado a deslocar-se ao Parlamento Europeu, que lhes prestou tributo pela coragem e pelo empenho na causa dos Direitos Humanos.

    Berta Soler comparou o Prémio Sakharov a um «escudo» que iria proteger as «Damas de branco» após o seu regresso a Cuba.

    Pouco depois da cerimónia da entrega do Prémio Sakharov, as «Damas de branco» e outros dissidentes, com o laureado de 2010, Guillermo Fariñas, instituíram a Plataforma Internacional para os Direitos Humanos em Cuba.

    Berta Soler representou as «Damas de branco» na Conferência da RPS em 2013, durante a qual, a par de Guillermo Fariñas e da filha de Oswaldo Payá, exortou a rede a reivindicar «a libertação dos presos políticos e dos prisioneiros de consciência em Cuba e por todo o mundo». Com Alexander Milinkevich, Berta Soler participou igualmente num debate da RPS na Lituânia e continua a instar a UE a fazer dos Direitos Humanos um pré-requisito para a celebração de quaisquer acordos com Cuba.

    O movimento das DAMAS DE BRANCO, ou «Damas de blanco», constituiu-se de forma espontânea em resposta à detenção de 75 pessoas entre os seus familiares e maridos durante a «primavera negra», uma forte vaga repressiva do regime cubano dirigida contra os militantes pró-democracia. As «Damas de branco» desfilaram pelas ruas e endereçaram cartas às autoridades cubanas solicitando a libertação dos presos, mas nunca obtiveram qualquer resposta.

    No entanto, as suas ações de protesto persistentes foram profícuas: os dois últimos prisioneiros da «primavera negra» foram libertados em março de 2011. A maior parte aceitou o exílio em Espanha, embora um número reduzido tenha decidido ficar em Cuba, prosseguindo a luta em condições adversas e com grande sacrifício pessoal, lado a lado com as indomáveis «Damas de branco».

    As «Damas de branco» não desistiram de percorrer as ruas de Havana todos os domingos após a missa, com flores na mão e lutando pela justiça social sob o regime comunista vigente em Cuba. O grupo foi crescendo, apesar das dificuldades de comunicação, dos espancamentos, das detenções e do assédio moral que lhes foi infligido. Cerca de 100 «Damas de branco» foram temporariamente detidas em julho de 2014, uma invulgar detenção em grande escala, que levou outros dissidentes a concluir que o número crescente de seguidoras constitui agora uma ameaça para o regime cubano.

    Em 2013, as «Damas de branco» de Cuba puderam finalmente usar da palavra perante o Parlamento Europeu e aceitar pessoalmente o Prémio Sakharov que lhes fora atribuído

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  • 2005

    HAUWA

    IBRAHIM

    Jurista que exerce a advocacia ao abrigo da lei islâmica (sharia), HAUWA IBRAHIM nasceu em 1967 no seio de uma família muçulmana, numa aldeia pequena e pobre do estado de Gombe, no norte da Nigéria.

    Deveria contraído matrimónio aos dez anos, mas, como criança de personalidade vincada pela convicção da mãe de que a educação é a única forma de vencer a pobreza, Hauwa Ibrahim rebelou-se contra este destino, fugindo de casa e inscrevendo-se num colégio interno feminino, para aí prosseguir a sua instrução.

    Quando, a partir de 1999, a lei islâmica começou a ser aplicada em 12  Estados do norte da Nigéria, Hauwa Ibrahim desenvolveu o que pode ser apelidado uma prática extraordinária: defender mulheres acusadas de adultério e condenadas à pena de morte por lapidação e crianças condenadas à amputação dos membros por furto, entre outros casos. Assumiu, assim, o papel de advogada de defesa, sem receber honorários, em mais de 150 processos, salvando as vidas de Amina Lawal, Safiya Hussaini, Hafsatu Abubakar e de muitas outras. De início, sendo mulher, não estava autorizada a usar da palavra num tribunal submetido à lei islâmica (sharia), nem sequer a dirigir-se diretamente a um juiz, motivo por que tinha de passar notas para as mãos de colegas do sexo masculino. Agora, só é chamada à barra do tribunal quando os casos são difíceis ou requerem um «peso pesado», atendendo à fama que alcançou e ao facto de as atitudes em relação à aplicação da lei islâmica, inicialmente aceite sem discussão, terem mudado, com os governadores a recusarem-se a assinar as condenações de morte, ora impopulares.

    Em resultado da sua experiência, Hauwa Ibrahim foi designada em 2014 pelo presidente Jonathan para a Comissão Presidencial encarregada de apurar os factos relacionados com o sequestro de 219 raparigas raptadas pelo grupo terrorista Boko Haram em Chibok, no norte da Nigéria, e de as ajudar a localizar.

    Hauwa Ibrahim pediu o apoio internacional para a «tragédia por resolver» das jovens sequestradas, incluindo o do Parlamento Europeu e do Congresso dos Estados Unidos, reivindicando para uma ação mais decidida para fazer face à violência exercida sobre as mulheres, a pobreza extrema, os elevados níveis de desemprego e a falta de oportunidades, cenário em que «a religião e o fanatismo religioso se tornam um ópio perigoso para quem não tem esperança».

    Hauwa Ibrahim defende com veemência o ponto de vista segundo o qual a educação de todas as crianças começa em casa com as mães, motivo por que a educação das jovens acabará por melhorar a sociedade no seu conjunto. Investiu, por isso, o dinheiro do Prémio Sakharov numa fundação e canaliza os juros para a educação das crianças pobres no norte da Nigéria, pagando propinas e adquirindo materiais diretamente para garantir que as crianças dispõem dos meios para se manterem na escola.

    Hauwa Ibrahim participou também ativamente da Conferência de 2013 da RPS, debateu os direitos da criança no âmbito do fórum à margem do festival de cinema RPS-One World Film e proferiu uma palestra Sakharov na Irlanda.

  • 2005

    REPÓRTERES

    SEM FRONTEIRAS

    liberdade de informação e os seus protagonistas». A Síria é mencionada como um exemplo extremo, na medida em que a guerra civil neste país acarreta um impacto negativo na liberdade de imprensa nos países limítrofes, sendo os conflitos internos igualmente responsáveis pelas violações crassas da liberdade de informar no Mali e na República Centro-Africana. No Irão, segundo os Repórteres Sem Fronteiras, nenhuma das promessas feitas pelo novo presidente Hassan Rouhani para melhorar a liberdade de informação foi ainda levada à prática.

    Na qualidade de entidade distinguida com a atribuição do Prémio Sakharov, os Repórteres Sem Fronteiras congregaram outros laureados e promoveram a coordenação de atividades. Em 2013, os seus representantes participaram ativamente da Conferência da Rede. E em 2014, o representante dos RSF junto da União Europeia, Olivier Basille, debateu a sublevação e a liberdade de imprensa na Ucrânia no âmbito do fórum à margem do festival de cinema RPS-One World Film e exortou os jovens estudantes que participaram no Evento Europeu da Juventude a «não terem medo de enveredarem pela recusa do anonimato ao abordarem questões que exigem coragem».

    Os REPÓRTERES SEM FRONTEIRAS (RSF) são uma organização não governamental de âmbito internacional sediada em França, que luta pela liberdade de informação em todo o mundo.

    Para os Repórteres Sem Fronteiras, a liberdade de expressão e de informação será sempre a liberdade mais importante do mundo e o fundamento de qualquer democracia. A organização argumenta que, «se os jornalistas não forem livres para relatar os factos, denunciar abusos e alertar o público, como é que nós poderemos reagir ao problema das crianças-soldados, defender os direitos das mulheres, ou preservar o ambiente?»

    Esta organização acompanha e denuncia constantemente os atentados à liberdade de informação cometidos a nível mundial, combate a censura e as leis destinadas a restringir a liberdade de informação, apoia moral e financeiramente os jornalistas perseguidos e as suas famílias e presta assistência material aos correspondentes de guerra, a fim de melhor acautelar a sua segurança. Para contornar a censura, a rede dos Repórteres Sem Fronteiras publica ocasionalmente artigos proibidos nos países de origem, acolhe jornais encerrados nos Estados em que se encontram sediados e serve de fórum aos jornalistas «silenciados» pelas autoridades nacionais. Desde 2002, a rede dos Repórteres Sem Fronteiras presta ainda assistência jurídica às vítimas e representaas em tribunal, com o propósito de assegurar o julgamento dos assassinos e torturadores de jornalistas.

    Os RSF atribuem anualmente dois galardões, o Prémio Repórteres Sem Fronteiras e o Prémio Netizen, que reconhecem e homenageiam autores de blogues, jornalistas e meios de comunicação social do mundo inteiro.

    A rede publica anualmente um Índice Mundial da Liberdade de Imprensa. O índice de 2014 abrange 180 países e «centra-se no impacto negativo dos conflitos sobre a

  • 2004

    A ASSOCIAÇÃO

    DE JORNALISTAS

    DA BIELORRÚSSIA

    Representando mais de 1 000 profissionais que trabalham num ambiente caracterizado

    por dificuldades extremas, a ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DA BIELORRÚSSIA (AJB) defende os direitos dos jornalistas, que não raro são vítimas de intimidações, assédio, ações de natureza penal e deportações.

    O empenho da AJB a favor da causa da liberdade de expressão e do fomento de um jornalismo independente e profissional naquele país tem constituído uma fonte de inspiração. A AJB visa sensibilizar os cidadãos para o seu direito constitucional à liberdade de informação e para o exercício dos seus direitos. Defende os direitos dos jornalistas, sobretudo em tempos de crise, como o período de violência que se seguiu às contestadas eleições presidenciais de 2010.

    A AJB pretende liberalizar a regulamentação dos meios de comunicação social e incentivar a prática de um jornalismo de elevada qualidade, pautado pela ética. A AJB tem sido, desde a sua constituição, a principal associação representante da imprensa independente na Bielorrússia, cujo objetivo central consiste em prestar ao público uma informação objetiva, verídica, exaustiva e oportuna.

    Não obstante os grandes esforços de melhoria que foram envidados, a situação dos meios de comunicação social na Bielorrússia está ainda longe de ser propícia. A lei relativa aos meios de comunicação social de 2009 permite às autoridades encerrar meios de comunicação que entendam ser excessivamente críticos. Para poder operar na Bielorrússia, a imprensa estrangeira tem de obter uma licença, sendo a ausência de acreditação um obstáculo à colaboração dos jornalistas locais, que recebem advertências do KGB e do Ministério Público, sempre que são apanhados. O Código Penal contém ainda disposições que penalizam a difamação de altos funcionários do Estado. Os meios de comunicação social independentes são vítimas de discriminação económica: as maiores empresas de serviços postais, tipográficos e de distribuição são geridas pelo Estado, podendo recusar-se a prestar serviços a alguns meios de comunicação mais críticos.

    A AJB e os seus membros continuam a trabalhar sem se deixarem intimidar, tendo Ales Bialatski, candidato ao Prémio Sakharov, fundador do Centro de Direitos Humanos «Viasna» e um dos mais conhecidos presos políticos da Bielorrússia, agradecido publicamente à presidente da associação, Zanna Litvina. Bialatski saiu da prisão em junho de 2014, tendo suscitado apoios a nível nacional e internacional e a atenção constante dos jornalistas ao seu caso por esse facto. Os jornalistas, segundo as suas palavras, não tinham escrito menos sobre ele próprio do que sobre aquilo que está a acontecer aos direitos cívicos e políticos de toda uma nação.

    Zanna Litvina representou AJB na Conferência da Rede que assinalou o 25.º aniversário do Prémio Sakharov em 2013.

    Logo que eclodiu a agitação na vizinha Ucrânia, em 2014, e um dos seus membros foi detido, a AJB denunciou a violência contra jornalistas na Crimeia, afirmando que os que recorrem à violência contra os jornalistas demonstram o seu verdadeiro intento, que é o de «travar a divulgação de informações indesejáveis para determinados círculos políticos».

  • Ao atribuir o Prémio Sakharov às NAÇÕES UNIDAS em 2003, o Parlamento Europeu reconheceu os esforços envidados por esta organização a favor da paz, dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais.

    O Prémio Sakharov distinguiu, em especial, o pessoal das Nações Unidas, pelo seu trabalho incansável em prol da paz no mundo, muitas vezes em condições difíceis. A atribuição do prémio prestou homenagem, designadamente, à memória de Sérgio Vieira de Mello, alto-comissário para os Direitos Humanos e um dos mais dignos representantes das Nações Unidas, que foi uma das vítimas mortais de um atentado terrorista contra o quartel-general da organização em Bagdade, quando se encontrava no Iraque, em 2003, como enviado especial de Kofi Annan.

    Kofi Annan foi o sétimo secretário-geral das Nações Unidas. Ocupou este cargo de 1997 a 2006, tendo sido o primeiro a surgir de entre as fileiras do pessoal das Nações Unidas. Foi sempre um defensor dos Direitos Humanos, do Estado de direito, dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio e do continente africano, tendo procurado aproximar as Nações Unidas da opinião pública mundial, ao estreitar os laços com a sociedade civil, o setor privado e outros parceiros.

    Em 2005, Kofi Annan apresentou à Assembleia Geral das Nações Unidas um relatório, que, sob o título «Um conceito mais amplo da liberdade», expõe a sua visão de uma reforma global e profunda da organização. Este relatório conduziu nomeadamente à criação, em março de 2006, de um novo Conselho dos Direitos do Homem, para substituir a antiga comissão com o mesmo nome, com o propósito de reforçar as estruturas da organização mundial e de, assim, não só promover e proteger os direitos fundamentais, como tomar as medidas que se impõem contra os principais infratores aos Direitos Humanos.

    Depois de ter completado dois mandatos como secretário-geral das Nações Unidas, em 2007, Kofi Annan colaborou com várias organizações ativas a nível mundial e à escala africana, incluindo a sua própria Fundação Kofi Annan. Desde 2013, preside à associação «The Elders» (Os anciãos), um grupo de dirigentes mundiais reunidos por Nelson Mandela em 2007.

    Em 2012, assumiu o cargo de enviado especial conjunto da ONU e da Liga Árabe à Síria, com o objetivo de encontrar uma solução para o conflito, mas acabou por se demitir, classificando-o como uma «missão impossível». Kofi Annan pressente que a comunidade internacional não tem coragem para atuar no terreno, mas exortou um grupo de países a trabalhar em conjunto para ajudar o Iraque e a Síria a solucionarem os atuais conflitos nos seus territórios.

    2003

    KOFI ANNAN, SECRETÁRIO-GERAL

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  • 2002

    OSWALDO JOSÉ

    PAYÁ SARDIÑAS

    OSWALDO JOSÉ PAYÁ SARDIÑAS (19522012) é essencialmente conhecido por ter fundado o Projeto Varela, uma campanha a favor da realização de um referendo sobre a instauração de leis que garantam os direitos civis, eleições livres e pluralistas, a libertação de todos os presos políticos e reformas económicas e sociais em Cuba.

    Reformador ativo desde a juventude, Oswaldo Payá Sardiñas foi perseguido e condenado em diversas ocasiões pelas suas críticas às políticas e injustiças de Fidel Castro, o que não o impediu, no entanto, de criar, em 1988, o Movimento Cristão de Libertação, atualmente um dos maiores movimentos da oposição em Cuba. Em 1990, Oswaldo Payá Sardiñas lançou um apelo ao diálogo nacional e começou a recolher 10 000 assinaturas, com vista a converter uma proposta cívica em lei.

    Em 1997, elaborou o ambicioso Projeto Varela, apoiado por milhares de cubanos, mas bloqueado por uma iniciativa em sentido contrário das autoridades cubanas, alegadamente aprovada por via plebiscitária, que tornava permanente o caráter socialista do Estado cubano.

    Muitos dos ativistas do Projeto Varela foram presos durante a «primavera negra» de 2003, mas Payá não desistiu. Em 2008, apresentou à Assembleia Nacional um projeto de lei de amnistia para os presos políticos e, em 2010, lançou o «Foro Todos Cubanos».

    Oswaldo Payá nunca foi preso, mas a família assevera que ele recebeu várias ameaças de morte. Em 22 de julho de 2012, acabou por perder a vida num controverso acidente de viação em Cuba. Em sua homenagem, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, manifestou a convicção de que «as ideias de Oswaldo Payá irão perdurar, dado que a sua obra e o seu empenho influenciaram toda uma geração de ativistas cubanos que se inspiraram no seu exemplo para promoverem a liberdade política e os Direitos Humanos».

    O Movimento Cristão de Libertação continua a exigir a clarificação das circunstâncias da sua morte. A família de Oswaldo Payá rejeitou a versão oficial do acidente de viação e a filha, Rosa Maria, solicitou junto do Conselho dos Direitos do Homem das Nações Unidas e de outras organizações internacionais a realização de um inquérito internacional isento às causas da morte do pai, tendo denunciado a perseguição e as ameaças infligidas à família pelos agentes da segurança do Estado. Em junho de 2013, a família de Payá mudou-se temporariamente para os Estados Unidos.

    Rosa Maria Payá participou na conferência comemorativa do 25.º aniversário do Prémio Sakharov no Parlamento Europeu, cuja declaração final exigiu «uma investigação sobre a morte do Prémio Sakharov de 2002, Oswaldo Payá».

    Em 2014, a família foi recebida pelo Papa Francisco, de quem esperam apoio à realização de um referendo sobre a marcação de eleições livres em Cuba.

  • 2001

    IZZAT

    GHAZZAWI

    IZZAT GHAZZAWI (1952-2003) foi um docente e escritor palestiniano, cujas obras incidiram, quer nos problemas e sofrimentos infligidos pela ocupação israelita ao território palestiniano, quer no seu próprio sofrimento. A vida de Izzat Ghazzawi foi marcada pelo assassinato do seu filho Ramy, de 16 anos de idade, pelo exército israelita, que ocorreu em 1993. Ramy foi morto no pátio da escola quando tentava socorrer um colega ferido. Não obstante esta tragédia, Izzat Ghazzawi não cessou a procura de um diálogo cultural e político com o povo israelita.

    Nascido no seio de uma numerosa família de refugiados que fugira para a Cisjordânia em 1948, Izzat Ghazzawi escreveu a sua primeira peça de teatro aos 13 anos. Fez um mestrado em Literatura Inglesa e Americana e trabalhou como docente na Universidade de Birzeit. Foi presidente da Associação de Escritores Palestinianos, autor de romances e contos, crítico literário e organizou e presidiu à primeira Conferência Internacional de Escritores na Palestina (1997).

    Izzat Ghazzawi fez igualmente parte do órgão executivo do Conselho Palestiniano para a Justiça e a Paz. Foi preso e condenado em várias ocasiões pelas autoridades israelitas por causa da sua atividade política. O mais difícil que teve de suportar nesse tempo foi a separação da família, em especial dos seus seis filhos, que só podia ver quinzenalmente em grupos de dois a dois durante 30 minutos.

    Um encontro com escritores israelitas em Jerusalém, em 1992, relativamente ao qual Izzat Ghazzawi estava inicialmente apreensivo, acabou por ser um verdadeiro ponto de viragem em termos pessoais. Foi aí que I. Ghazzawi começou a conceber os seus colegas israelitas como parceiros para a construção de um futuro em que palestinianos e israelitas seriam iguais em todas as esferas da vida.

    Na cerimónia de entrega do Prémio Sakharov em 2001, a então presidente do Parlamento Europeu, Nicole Fontaine, prestou-lhe homenagem pelo facto de ser «incansável na procura de paz e na promoção do diálogo entre os povos israelita e palestiniano. O seu ânimo nunca esmoreceu, apesar da prisão, apesar da censura e, acima de tudo, apesar da perda irreparável do filho Ramy, com 16 anos de idade».

    No Parlamento Europeu, Ghazzawi evocou a cura que podemos alcançar quando «somos capazes de entender as necessidades do próximo» (2).

    Logo após a morte do filho, juntamente com o escritor israelita Abraham B. Yehoshua e o fotógrafo Oliviero Toscani, Izzat Ghazzawi publicou o livro Enemies (Inimigos) sobre as relações entre palestinianos e israelitas, que teve um êxito retumbante.

    Izzat Ghazzawi faleceu em 4 de abril de 2003.

    (1) 25 years of the Sakharov Prize: the European Parliament upholding freedom of thought, Centro de Arquivo e Documentação, Parlamento Europeu, Periódicos Cardoc, n.º 11, novembro de 2013, p. 112.

  • 2001

    NURIT

    PELEDELHANAN

    NURIT PELEDELHANAN, nascida em Israel em 1949, é professora universitária e escritora. Em 1997, a filha, Smadar, de 13 anos, foi vítima de um atentado suicida, cometido em Jerusalém Ocidental por um palestiniano.

    «Só por ser israelita, a minha menina foi morta por um jovem oprimido e exasperado ao ponto de se suicidar e de cometer um assassínio, só porque era palestiniano. Ambos foram vítimas da ocupação israelita da Palestina. Agora, o sangue de ambos mistura-se nas pedras de Jerusalém, que sempre foram indiferentes ao derramar de sangue». Nurit Peled não permitiu a presença das autoridades israelitas, incluindo o próprio primeiro-ministro, nas cerimónias fúnebres.

    Filha do célebre general Matti Peled, conhecido pela sua campanha em prol da paz e do progresso, Nurit Peled tornou-se um símbolo de todos os que, em Israel, lutam contra a ocupação e pela liberdade da Palestina.

    Por outro lado, demonstra também um grande empenho em mudar a mentalidade da sociedade israelita, sobretudo a da geração mais jovem. Na sua obra mais recente, intitulada Palestine in Israeli school books: Ideology and propaganda in education (A Palestina nos livros escolares em Israel: ideologia e propaganda na educação), a autora chama a atenção para o tipo de educação praticada nas escolas israelitas, que parece raiar mais o racismo do que a tolerância e a diversidade. Nurit Peled tem criticado severamente os dirigentes mundiais, incluindo George W. Bush, Tony Blair e Ariel Sharon, pelo facto de «incutirem nos respetivos cidadãos um medo cego dos muçulmanos».

    Nurit PeledElhanan foi cofundadora do Tribunal Russell, um tribunal popular internacional instituído em 2009 para analisar o papel e a cumplicidade de terceiros nas violações do Direito internacional perpetradas por Israel contra o povo palestiniano.

    Em 2013, participou de forma ativa na Conferência da Rede do Prémio Sakharov, chamando repetidamente a atenção para o sofrimento das crianças em situações de conflito e em zonas sob ocupação. Quando a guerra eclodiu novamente em Gaza, em julho de 2014, Nurit Peled-Elhanan exprimiu-se nos meios de comunicação social e na Internet: «Estou a escrever-lhe da boca do inferno. Genocídio em Gaza, pogroms e massacres na Cisjordânia, pânico em Israel causado por bombardeamentos... Insto a União Europeia a lançar mão de todos os instrumentos diplomáticos e económicos ao seu dispor para ajudar a salvar o meu país e a tirá-lo deste abismo de morte e desespero em que vivemos... restituindo a vida, tanto aos judeus, como aos palestinianos».

  • Quando foi nomeado para o prémio, D. ZACARIAS KAMUENHO era presidente do Comité Intereclesial para a Paz em Angola (COIEPA), uma entidade de caráter ecuménico que congregou a Conferência Episcopal Católica de Angola e de São Tomé, da qual também foi presidente, a Aliança Evangélica de Angola e o Conselho das Igrejas Cristãs de Angola. O Parlamento Europeu reconheceu a firmeza, a imparcialidade e a persistência da sua voz em defesa da paz, da democracia e dos Direitos Humanos em Angola, por ter criticado destemidamente ambos os beligerantes, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e o grupo rebelde UNITA ao longo dos 27 anos de guerra em que o país viveu depois de se ter tornado independente de Portugal em 1975.

    No final dos anos noventa, começou a despontar no povo angolano uma nova consciência da necessidade de lutar pela paz e pelos Direitos Humanos, encorajada pelos esforços dos dirigentes religiosos e por diversas organizações da sociedade civil no sentido de se promover uma «reconciliação nacional inclusiva». À frente desse movimento para a paz encontrava-se D. Zacarias Kamuenho.

    Nascido em Chimbundo (Huambo, Angola) em 1934, foi ordenado padre em 1961 e tornou-se arcebispo de Lubango em 1995. A sua voz firme, imparcial e persistente fez-se repetidamente ouvir junto de todas as partes em conflito, num esforço para alcançar uma paz duradoura pela via do diálogo político.

    O cessar-fogo de 2002, que se seguiu ao assassinato do líder da UNITA Jonas Savimbi, as conversações de paz e o clima geral favorável à democratização ficam a dever-se à campanha dirigida por D. Zacarias Kamuenho e outros destacados representantes da sociedade civil e religiosa. Em 2003, D. Zacarias Kamuenho renunciou à presidência da Conferência Episcopal de Angola e de São Tomé, mas continuou ativo, através da sua diocese e do Comité Intraeclesial para a Paz em Angola, a trabalhar em prol do sucesso da democracia, do respeito pelas liberdades fundamentais e pelos Direitos Humanos, da instauração do Estado de direito e de uma reconciliação nacional duradoura. Em 2007, D. Zacarias declarou que, «em especial nos dois últimos anos, tem vindo a despontar no povo angolano uma nova consciencialização da necessidade de lutar pela paz e pelos Direitos Humanos, encorajada e representada pelos esforços dos líderes religiosos e por diversas organizações da sociedade civil, que perseguem o objetivo fundamental da “reconciliação nacional”».

    Em 2013, participou na Conferência da Rede do Prémio Sakharov.

    2001

    D. ZACARIAS

    KAMUENHO

  • 2000

    «¡BASTA

    YA!»

    Os membros da iniciativa BASTA YA! arriscaram as suas vidas na luta contra o terrorismo. A sua única «arma» era a mobilização pacífica dos cidadãos em defesa das liberdades fundamentais. Durante muitos anos, as liberdades fundamentais e os Direitos Humanos estiveram em perigo no País Basco, devido ao terrorismo da ETA e grupos afins. Milhares de pessoas foram vítimas de campanhas de intimidação, extorsão, chantagem e atentados contra si próprias, as suas famílias ou os seus bens. Não tinham a possibilidade de se exprimir livremente, nem de exercer os seus direitos sem ter de correr grandes riscos.

    A iniciativa «¡Basta Ya!» foi criada porque as liberdades cívicas fundamentais e os Direitos Humanos se encontravam sob ameaça no País Basco, nomeadamente no que dizia respeito aos cidadãos «não nacionalistas», devido ao terrorismo da ETA e às atividades de grupos com ela relacionados. A sua instituição ficou também a dever-se ao aumento do nacionalismo étnico e xenófobo entre os partidos mais moderados e os grupos que procuravam chegar a acordo com a ETA.

    A iniciativa cidadã «¡Basta Ya!» (designação que significa «Basta!»), que recebeu o estatuto de órgão consultivo no Conselho Económico e Social das Nações Unidas em julho de 2004, consistia num coletivo de cidadãos que defendiam os Direitos Humanos fundamentais, a democracia e a tolerância no País Basco.

    A organização levou a cabo várias atividades, entre as quais se destacam as duas grandes manifestações realizadas em San Sebastian, em fevereiro e outubro de 2000, nas quais se exigiu a dissolução da ETA, o apoio às vítimas do terrorismo e a defesa da Constituição e do Estatuto de Autonomia do País Basco como base para uma coexistência digna de todos os cidadãos bascos.

    A iniciativa «¡Basta Ya!» dissolveu-se em 2007. Os seus dirigentes, Carlos Martinez Gorriarán, Juan Luis Fabo, Rosa Díez e Fernando Savater, criaram o partido político Unión Progreso y Democracia (UPyD), que luta em prol da manutenção da unidade do Estado espanhol.

    Fernando Savater era o líder intelectual do movimento e representou a iniciativa «¡Basta Ya!» na cerimónia de entrega do Prémio Sakharov, que teve lugar em 2000 no Parlamento Europeu. Em 2013, foi também ele que representou a iniciativa «¡Basta Ya!» na Conferência da Rede do Prémio Sakharov, que comemorou o 25.º  aniversário do prémio com o mesmo nome.

  • XANANA GUSMÃO é conhecido como o «Mandela timorense». Reconhecido como líder e símbolo da resistência timorense que teve por objetivo pôr cobro ao conflito armado em prol da independência da Indonésia, tinha acabado de ser libertado da prisão onde havia cumprido sete de uma pena de 20 anos sob a acusação de separatismo, quando o Parlamento Europeu o galardoou com o Prémio Sakharov em dezembro de 1999.

    Com a retirada dos portugueses de Timor-Leste, a Indonésia deu início a uma política de desestabilização do país vizinho. Em 7 de dezembro de 1975, a Indonésia invadiu Timor-Leste. Xanana Gusmão passou à clandestinidade, tendo assumido em 1978 a liderança do braço armado da Frente Revolucionária para a Independência de Timor-Leste (Fretilin).

    Segundo as estimativas, a violência que acompanhou a invasão causou a morte a 200 000 pessoas, mas não logrou quebrar a determinação do povo em resistir. Xanana Gusmão empreendeu diversas tentativas para conseguir a resolução pacífica do conflito. Assim, propôs ao Governo indonésio um plano de paz e conversações sob a égide das Nações Unidas. Em 1986, conseguiu reunir as forças políticas e sociais de Timor-Leste no Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT).

    No entanto, em 20 de novembro de 1992, Xanana Gusmão foi detido e condenado, primeiro, a prisão perpétua e, mais tarde, a 20 anos de prisão. Todavia, a resistência timorense manteve-se e foram exercidas enormes pressões internacionais sobre a Indonésia em prol da sua libertação. Quando foi libertado em setembro de 1999 (pouco tempo depois do referendo de 30 de agosto, em que 80% da população de Timor-Leste se pronunciou a favor da independência), Xanana Gusmão prometeu «fazer tudo o que estiver ao meu alcance para trazer a paz a Timor-Leste e ao meu povo».

    Em abril de 2002, nas primeiras eleições presidenciais livres realizadas em Timor-Leste, Xanana Gusmão foi eleito com cerca de 83% dos votos. Em 20 de maio de 2002, Kofi Annan, secretário-geral das Nações Unidas, declarou oficialmente a independência da República Democrática de Timor-Leste, tendo Xanana Gusmão desempenhado as funções de presidente até maio de 2007. Em 2008, sobreviveu a uma tentativa de assassinato. Atualmente, ocupa o cargo de primeiro-ministro e declarou, em agosto de 2014, que pretende manter-se no exercício das suas funções, embora anteriormente tivesse anunciado a intenção de se retirar nesse ano.

    Em 2013, participou na Conferência da Rede do Prémio Sakharov.

    Em relação ao surto de Ébola de 2014, para cujo combate Timor-Leste contribuiu com um milhão de dólares, Xanana Gusmão afirmou na ONU que «esta emergência constitui um sério aviso para o facto de todos os choques de desenvolvimento serem amplificados por vulnerabilidades existentes e instituições fracas».

    (1) Xanana Gusmão mudou legalmente o nome de José Alexandre Gusmão para Kay Rala Xanana Gusmão. Kay Rala foi o nome de guerra que utilizou durante a luta pela liberdade e a autodeterminação de Timo