Livro Fala e Escrita 050707finalgrafica 14-31

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    Um ponto de partida: falamos mais

    do que escrevemos

    Toda a atividade discursiva e todas as prticas lingsticas sedo em textos orais ou escritos com a presena de semiologias de

    outras reas, como a gestualidade e o olhar, na fala, ou elementospictricos e grficos, na escrita. Assim, as produes discursivas soeventos complexos constitudos de vrias ordens simblicas quepodem ir alm do recurso estritamente lingstico. Mas toda nossaatividade discursiva situa-se, grosso modo, no contexto da fala ou daescrita. Basta observar nossa vida diria desde que acordamos at ofinal do dia para constatar que falamos com nossos familiares, amigos

    ou desconhecidos, contamos histrias, piadas, telefonamos, comen-tamos notcias, fofocamos, cantamos e, eventualmente, organizamoslistas de compras, escrevemos bilhetes e cartas, fazemos anotaes,redigimos atas de reunies de condomnio, preenchemos formulriose assim por diante. Portanto, mesmo vivendo numa sociedade em que

    Princpios gerais parao tratamento das relaes

    entre a fala e a escrita

    Luiz Antnio Marcuschi

    Angela Paiva Dionisio

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    a escrita entrou de forma bastante generalizada, continuamos falandomais do que escrevendo.

    com base nesse ponto de vista que os ensaios contidosneste livro tratam das relaes entre oralidade e letramento, de umlado, e fala e escrita, de outro, segundo ser explicitado no prximocaptulo. Defendemos, tal como proposto pelos Parmetros Curri-culares Nacionais (PCN), a necessidade de estudar as questesrelacionadas oralidade como um ponto de partida para entender ofuncionamento da escrita. Com esse objetivo, buscamos fornecersubsdios e reflexes que permitam melhor observar e analisar o

    funcionamento da fala como um passo relevante e sistemtico parao trabalho com a escrita.

    Seguramente, todos concordamos que a lngua um dos benssociais mais preciosos e mais valorizados por todos os seres huma-nos em qualquer poca, povo e cultura. Mais do que um simplesinstrumento, a lngua uma prtica social que produz e organiza asformas de vida, as formas de ao e as formas de conhecimento. Ela

    nos torna singulares no reino animal, na medida em que nos permitecooperar intencionalmente, e no apenas por instinto. Mais do queum comportamento individual, ela atividade conjunta e trabalhocoletivo, contribuindo de maneira decisiva para a formao de identi-dades sociais e individuais.

    Por mais importante que seja, a configurao biolgica transmi-tida geneticamente pela espcie humana confere-nos apenas a capa-cidade de desenvolver e usar uma lngua, mas no nos insere natural-

    mente numa cultura Somos mais do que a natureza e o instinto noslegaram. Somos seres com uma longa histria. Nossa forma de agir determinada muito mais pela realidade sociocultural-histrica em quenos inserimos do que por nossa simples herana biolgica. Mas evidente que sem a herana biolgica nunca desenvolveramos emanteramos nossa herana cultural. As duas heranas so funda-mentais, como muito bem mostra o psicolingista Tomasello (2003).Nos estudos aqui reunidos, vamos nos dedicar a uma anlise dalngua enquanto herana cultural transmitida de gerao em geraoem suas mais variadas formas de manifestao.

    Tendo em vista o trabalho com a lngua em sala de aula, sabemosque como lngua escritaque ela ali mais estudada, mas como

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    lngua oralque se d seu uso mais comum no dia-a-dia. Alm disso,a criana, o jovem ou o adulto j sabe falar com propriedade e eficin-cia comunicativa sua lngua materna quando entra na escola, e suafala influencia a escrita, sobretudo no perodo inicial da alfabetizao,

    j que a fala tem modos prprios de organizar, desenvolver e manteras atividades discursivas. Esse aspecto importante e permite enten-der um pouco mais as relaes sistemticas entre oralidade e escrita esuas inegveis influncias mtuas.

    Uma das posies defendidas nos ensaios aqui apresentados a de que no h razo alguma para desprestigiar a oralidade e super-

    valorizar a escrita. Tambm no h razo alguma para continuar de-fendendo uma diviso dicotmica entre fala e escrita nem se justificao privilgio da escrita sobre a oralidade. Ambas tm um papel impor-tante a cumprir e no competem. Cada uma tem sua arena preferencial,nem sempre fcil de distinguir, pois so atividades discursivas com-plementares. Em suma, oralidade e escrita no esto em competio.Cada uma tem sua histria e seu papel na sociedade.

    Tudo isso justifica que a escola se preocupe com a linguagemoral com maior seriedade, sistematicidade e cuidado. No h preocu-pao alguma em louvar a oralidade diante da escrita nem em aconse-lhar um ou outro tipo de oralidade como o melhor. Todos os falaresesto em ordem. Mas nem todos eles tm a mesma reputao social.Como muitos autores j mostraram, o preconceito social em relaoaos usos lingsticos freqente. Vejam-se a respeito as reflexes de

    Marcos Bagno (2003, p. 15-21) ao defender que no se trata de pre-conceito lingstico, mas de preconceito social, pois equivale auma discriminao como as outras em relao a minorias raciais, sexu-ais ou religiosas, por exemplo.

    Considerando que a variao lingstica normal, natural e comumem todas as lnguas, pois todas as lnguas variam, no devemos estra-nhar as diferenas existentes entre os falantes do portugus nas diver-

    sas regies do Brasil. Contudo, a grande variao presenciada na orali-dade no se verifica com a mesma intensidade na escrita, dado que aescrita tem normas e padres ditados pelas academias. Possui normasortogrficas rgidas e algumas regras de textualizao que diferem narelao com a fala. Mas isso ainda no significa que no haja variao

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    nos modos de escrever. Sabemos que essa variao existe, e ela ser aquiapontada e estudada em algumas de suas realizaes.

    Nossa inteno mostrar que os usos da lngua so variados,ricos e podem ser muito criativos. Isso no equivale, no entanto, adefender um vale-tudo, pois a variao tem um limite que no podeser ignorado. Mesmo quando tomada como um conjunto de prticasdiscursivas, a lngua constitui-se de um sistema de regras que lhesubjaz e deve ser obedecido. Do contrrio, as pessoas no se enten-deriam. Se cada um pudesse fazer o que quisesse e construsse ostextos a seu bel-prazer, isso no daria certo porque no propiciaria a

    interao entre os interlocutores. Existem, portanto, regras a seremobservadas tanto na fala como na escrita, mas essas regras so bas-tante elsticas e no impedem a criatividade e a liberdade na aolingstica das pessoas. A lngua tem um vocabulrio, uma gramticae certas normas que devem ser observadas na produo dos gnerostextuais de acordo com as normas sociais e necessidades cognitivasadequadas situao concreta e aos interlocutores.

    At h algum tempo, os manuais de ensino e mesmo os estudos dalngua no davam muita ateno aos usos lingsticos reais e se ocupa-vam mais dos aspectos formais, tais como as regras e as normas dalngua, acentuando um ensino metalingstico da lngua. Hoje, h umagrande sensibilidade para os usosda lngua. O ensino volta-se para aproduo textual e para a compreenso tendo em vista os gneros textu-ais e as modalidades de uso da lngua e seu funcionamento.

    Uma idia que percorre todos os trabalhos aqui apresentados ade que fala e escrita so realizaes de um mesmo sistema lingsticode base, mas com realizao, histria e representao prprias. Fala eescrita apresentam muitas semelhanas e algumas diferenas. A pro-posta trazida nestes ensaios sugere que o trabalho com ambas as mo-dalidades deve dar-se na viso dos gneros e da produo textual-discursiva, e no na relao das formas soltas e descontextualizadas.

    Uma primeira sistematizao das questes centrais

    No resta dvida de que a escola deve ocupar-se particularmen-te com o ensino da escrita, no havendo nada de errado nisso, mas

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    bom frisar que o domnio da lngua e seu conhecimento primeiro denatureza oral. Diante disso, apresentamos a seguir algumas noesgerais que devem orientar os estudos aqui desenvolvidos.

    (a)As relaes entre oralidade e escrita se do num contnuoou gradao perpassada pelos gneros textuais, e no naobservao dicotmica de caractersticas polares. Isso sig-nifica que a melhor forma de observar a relao fala-escrita contempl-la num contnuo de textos orais e escritos, seja naatividade de leitura, seja na de produo. Esse contnuo detal ordem que, em certos casos, fica difcil distinguir se o

    discurso produzido deve ser considerado falado ou escrito.Tome-se, por exemplo, o caso da notcia de um telejornal ques aparece na forma falada, mas a leitura de um texto escri-to. Trata-se de uma oralizaoda escrita, e no de lnguaoral. Ou ento a publicao de entrevistas em revistas e jor-nais que originalmente foram produzidas na forma oral, mass nos chegaram pela escrita. Trata-se de uma editorao da

    fala. E o mesmo ocorre com o teatro, o cinema e as novelastelevisivas. Esses no so gneros orais em sua origem, massurgem como escritos e depois so oralizados, chegando aopblico nessa forma.

    (b)As diferenas entre oralidade e escrita podem ser melhorobservadas nas atividades de formulao textual manifes-tadas em cada uma das duas modalidades, e no em par-

    metros fixados como regras rgidas. Essas atividades sedo, na fala, em tempo real, o que acarreta diferenas com aescrita, em razo da natureza do processamento. Certamen-te, h algumas observaes especiais quanto escrita emtempo real, sncrona, nos bate-papos pela internet, mas es-ses so casos especiais a serem ainda analisados.

    (c)As estratgias interativas com todas as atividades de con-

    textualizao, negociao e informatividade no apare-cem com as mesmas marcas na fala e na escrita. Mas essasaes ocorrem em ambos os casos com marcas e estratgiasespecficas, pois uma das caractersticas centrais da lngua ser uma atividade interativa. Isso significa que a diversidade

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    nas regras sintticas e na seleo de itens lexicais e uso demarcas para realizao de tarefas similares na fala e na escritadifere quanto aos recursos, mas no no sistema lingstico.No se trata de uma gramtica diferente para a oralidade eescrita a ponto de se poder dizer que h um novo sistemalingstico na escrita. Isso vem muito bem demonstrado nosestudos dos oito volumes sobre a Gramtica do PortugusFalado, coordenados por Ataliba de Castilho.

    (d) impossvel detectar certos fenmenos formais diferenci-ais entre a oralidade e a escrita que sejam exclusivos da

    escrita ou da fala. Todos os parmetros lingsticos sorelativos e podem em algum momento aparecer em ambas.No existe alguma caracterstica ou algum trao lingstico nafala ou na escrita (uma forma lingstica) que possa marcarcom absoluta segurana a delimitao entre ambas as modali-dades. Por exemplo, no existe uma preposio, um pronome,um artigo, uma forma verbal, etc., que seja exclusiva da orali-

    dade ou da escrita. Trata-se de um contnuo de diferenas esemelhanas entrelaadas. Mas, como a fala tem suas estrat-gias preferenciais e a escrita tambm, podemos, com algumafacilidade, identificar cada uma de maneira bastante clara. As-sim, o texto abaixo, facilmente visto como uma transcrio defala, e no como um texto originalmente escrito:

    (01)

    Inf.: bom... a gente vai ver hoje... Andra... o: problema daindustrializao do Japo... como? vocs vo ver pelo li-vro... n... que vai dar bem mais detalhes desse tipo decurso... o que eu vou tentar fazer hoje no vai ser s na aulade hoje... que Japo merece mais... hoje vou dar uma intro-duo... tentando localizar as principais diferenas prticasdo incio da industrializao no Japo... e dos Estados Uni-dos atualmente... bom... ento... voltando um pouquinho

    atrs... ns vimos que o incio da industrializao nos Esta-dos Unidos..se deu de uma maneira direta..n...decorrentede uma aplicao de excedente... europeu... no incio da in-dustrializao dele... (Fonte: Projeto Nurc/RJ inqurito 379- inf 469; elocuo formal)

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    Sem maiores problemas, sabemos que se trata do incio de umaaula universitria. As caractersticas mais salientes da oralidade soos marcadores (bom; como?; n?; bom.. ento) repeties; enuncia-

    dos que iniciam e no concluem; pausas breves marcadas pelos trspontinhos e assim por diante. A escrita no apresenta em geral mar-cas desse tipo, como ainda veremos. Tanto assim que, quando passa-mos um texto da fala para a escrita retiramos em primeiro lugar todasessas marcas, como mostrou Marcuschi (2001).

    (e) Tanto a fala como a escrita variam de maneira relativamenteconsidervel. A sociolingstica j se ocupava com a variao

    na fala, mas a escrita pouco foi observada sob esse aspecto, jque sempre se disse que a escrita era homognea e estvel.Contudo, exceo feita grafia das palavras que normatiza-da, no parece haver grande homogeneidade nas formas deescrever. Quando vista sincronicamente, a grafia homog-nea, com uma ortografia oficial, mas ela varia ao longo dahistria. O certo que a norma mais enfatizada na escrita,mas ela no tem irrestrita observao.1 Tem-se afirmado, com

    alguma razo, que a escrita tem normas que se impem suprar-regionalmente, e a fala apresenta variaes mais notveis deregio para regio. Em parte, isso pode ser visto como o refle-xo da tradio cultural que se ocupou de elaborar normasgerais de uso para a escrita e cultivou a lngua literria comomodelo. Em contrapartida, como no vivel propor uma gra-mtica normativa para a fala com pronncia, lxico e formas

    nicas de norte a sul, j que isso levaria proibio de aspessoas falarem como falam, ela ficou sempre submetida diversidade de usos. Assim, se na escrita as diferenas soestilsticas, na fala elas no so. A fala no pode ser normatizadapor algum conjunto de regras gerais como no caso da escrita.No obstante isso, interessante que a relao entre fala eescrita no passa pelas variaes de natureza regional nem

    1 Quanto a estudos sobre a norma e temas a isto correlacionados, pode-seconsultar com proveito os artigos da coletnea de textos organizados porDino Preti e lanados sob o ttulo O Discurso oral culto. So Paulo: Huma-nitas, 1997. Tambm seriam proveitosos os dois volumes editados por Mar-cos Bagno (2001 e 2002).

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    pelas variaes dialetais. Tambm no diz respeito s variaessociolingsticas, pois tambm temos literatura regional. Con-tudo, pode-se dizer que existem certas diferenas entre fala e

    escrita que se acentuam ou diminuem em funo das relaesdialetais.

    (f) As diferenas mais notveis entre fala e escrita esto noponto de vista da formulao textual. Quanto a isso, forammuitos os aspectos at hoje observados, tais como o daorganizao do tpico e o da progresso referencial que sedo com caractersticas diferentes na oralidade e na escrita

    quanto s retomadas de referentes, etc. e questo dos g-neros. Tambm se nota maior investimento em conhecimen-tos partilhados na oralidade.

    (g)A atividade metaenunciativa e os comentrios que se refe-rem situao de enunciao so mais freqentes na falaque na escrita. A atividade metaenunciativa uma ao dis-cursiva que refere, comenta, ou reporta ao que enuncia, talcomo em eu queria agradecer dizendo que..., repetindo oque falei h pouco..., em outras palavras..., resumindo...,corrigindo minha posio.... Constatou-se tambm que aatividade metaenunciativa aparece mais em situaes mono-lgicas de fala, ou seja, quando o falante discorre sozinhosobre um tema, como numa aula, conferncia, sermo e emalguns tipos de entrevista. Isso significa que no se trataapenas de uma questo de modalidade - na fala se comenta-

    ria mais o prprio dizer do que na escrita, mas uma questode gneros, uma vez que nas conversas mais espontneasentre vrios participantes, a atividade metaenunicativa menor. Do mesmo modo, na escrita, ela ocorre em editoriais,mas raramente em notcias, por exemplo.

    (h) Tanto a fala como a escrita seguem o mesmo sistema lin-gstico. Nesse caso afirma-se que no h dois sistemas lin-

    gsticos diversos numa mesma lngua, um para a fala e outropara a escrita. Se notamos variaes nos dois tipos de uso dosistema, isso se deve a estratgias de seleo de possibilidadesdo prprio sistema. No h, pois, necessidade de postular paraa fala outro sistema lingstico s porque notamos nela uma

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    reduo de elementos morfolgicos, por exemplo, ou porquea ordem das palavras em certos casos diversa, ou entopela expressiva presena de marcadores conversacionais e

    hesitaes, bem como pelos freqentes apagamentos e cor-rees. A fala tem o dom de impor escrita certas tendn-cias formais, como no caso da dupla negao que s existiacomo fenmeno na fala e hoje j pode ser encontrado comfreqncia tambm na escrita. Ou ento algumas mudanasde regncia, em que certos verbos vo perdendo preposi-es tpicas por influncia da fala. A maioria dos estudiosos

    das relaes entre fala e escrita observam que as diferenasmais notveis entre ambas so formais. As maiores diferen-as entre fala e escrita esto no mbito da organizao dis-cursiva. So, porm, menos evidentes e apresentam-se sob aforma de estratgias organizacionais.

    (i) Fala e escrita distinguem-se quanto ao meio utilizado. Emcerto sentido, essa a nica distino dicotmica entre afala e a escrita e com repercusses significativas, na medidaem que se funda na forma de representao. A escrita semanifesta como grafia com sinais sobre o papel, a pedra, amadeira, etc., e a fala como som. Mas essa diferena, comolembram os lingistas alemes Koch & sterreicher (1990),no atinge fenmenos especificamente lingsticos, tais comoa sintaxe ou a fonologia, nem a organizao textual no nvelda coeso ou da coerncia. Contudo, trata-se de um aspecto

    relevante porque a fala, na medida em que som, tem presen-a fugaz, e a escrita, na medida em que grafia, tem presenaduradoura. Mas isso no tem muito a ver com as proprieda-des lingsticas, seja das frases, ou dos textos produzidos.Considerando-se, portanto, que a escrita uma espcie derepresentao abstrata e no fontica nem fonmica da fala,ela no consegue reproduzir uma srie de propriedades da

    fala, tais como o sotaque, o tom de voz, a entoao, a veloci-dade, as pausas, etc. Isso suprido, na escrita, por um siste-ma de pontuao convencionado para operar, representan-do, grosso modo, aquelas funes da fala. Mas a conseqnciamais importante dessa diferena a que diz respeito grafia

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    dos sons, que, na fase inicial da alfabetizao, oferece muitosproblemas, pois smbolos diversos representam o mesmo som.Vejam-se estes casos: conserto-concerto; cassar-caar;

    casa-exame e assim por diante. Como se nota, o alfabeto no fontico nem pode ser confundido com a organizao fonolgi-ca de uma dada lngua, pois em geral o nmero de fonemas deuma lngua superior ao de letras. por isso que no se deveconfundir ortografia com fonologia da lngua.

    (j) Fala e escrita fazem um uso diferenciado das condiescontextuais na produo textual. Esse princpio sugere que

    h, na fala, uma espcie de co-determinao entre texto econtexto mais acentuada do que na escrita, principalmentenos textos dialogados, como observam Halliday & Hasan(1989). Tendo-se em vista que a fala se d tendencialmentena forma de dilogo face a face, e a escrita, na forma demonlogo com ausncia dos agentes, evidente que a falamanifestar algumas das conseqncias disso, ou seja, umavinculao situacional maior, que repercute tanto na cons-truo dos enunciados como no uso de certos elementosditicos, pronominais e presena de elipses. Segundo notouBiber (1988:48), a situacionalidade da fala aponta para umamaximizao no aproveitamento dos contextos partilhados,ao passo que a escrita supe um outro tipo de partilhamen-to. Mas mesmo essa caracterizao s vlida para as for-mas prototpicas da escrita e da fala, pois uma carta pessoal

    muito mais dependente de contextos partilhados do queuma conferncia acadmica de carter oral.

    (k) O tempo de produo e recepo, na fala, concomitante e,na escrita, defasado. No difcil perceber que o tempo dafala e da audio o mesmo nas situaes de dilogo face aface, ao passo que entre a escrita e a leitura d-se umadefasagem temporal. Uma das conseqncias disso a

    impossibilidade de reviso no caso da fala, e a sucessivaremodelao do texto na escrita. Da a aparncia de caosquando observamos a transcrio de um texto falado, j quetudo o que produzido ao longo do tempo permanece. Na escri-ta, s resta o que o autor quer. Ele pode rever-se, selecionar

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    outros itens lexicais, mudar a estrutura, cuidar do estilo, etc.,sem que isso aparea na verso final. A edio da fala proce-de por correes, adendos e outras estratgias que se incor-

    poram ao texto que est sendo produzido. O planejamento quase simultneo ao prprio surgimento da idia a ser ex-pressa. Na escrita, podemos ter troca de letras em erros dedigitao e outros desse tipo sem que tenham o mesmo efei-to que na fala. No captulo 4, retornaremos a esse aspectocom o objetivo de nuanar o princpio aqui proposto e mos-trar como a escrita passa por vrios momentos, e seria empi-

    ricamente falso postular perfeio para a escrita, tal como sed a entender aqui. O certo que o escritor tambm passapor vrias fases. Resta saber em que medida temos a umfenmeno relevante para o estudo lingstico j que, numcaso, as revises fazem parte do prprio texto final e, nooutro, elas se perdem por no aparecerem na superfcie dotexto. Um aspecto importante aqui a questo da internet,em especial os bate-papos que so dilogos por escrito e

    tm caractersticas de simultaneidade temporal na produo.Essa questo acarreta vrias conseqncias nos processosde textualizao, que se aproximam da fala.

    O conjunto de princpios aqui enunciados de forma sucinta ecom poucas explicaes pretende dar uma primeira orientao na pers-pectiva do tratamento da relao entre a oralidade e a escrita. O as-pecto mais importante de todos a eliminao da viso dicotmica ea sugesto de uma diferenciao gradual ou escalar. Os estudos aquiapresentados procuram analisar em detalhe vrios desses princpios,mostrando como ambas as modalidades funcionam.

    O estudo sistemtico da relao

    oralidade e escrita recente

    As observaes feitas at aqui mostram que h aspectos sistem-ticos interessantes a serem analisados na relao entre a oralidade e aescrita. No de hoje que se procura investigar as relaes entre a falae a escrita. Mas, foi nos ltimos 30 anos, que a dedicao sistemtica

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    ao tema tomou corpo, e, nesse perodo, surgiu a maioria dos estudos deque hoje dispomos, particularmente no Brasil. De uns tempos para c,os lingistas resolveram tratar do tema de modo crescente, aps um

    longo perodo de estagnao dos estudos sobre a fala.

    Na verdade, toda a anlise da relao entre fala e escrita ficoubastante prejudicada na lingstica, em funo da idia de que a falase dava no mbito do uso real da lngua, o que impedia um estudosistemtico pela enorme variedade. Como a lingstica se dedicavapreferencialmente aos fenmenos do sistema da lngua, no haviainteresse na investigao no mbito da fala ou da escrita quanto

    manifestao emprica do uso da lngua. Tratava-se de analisar osistema, e no os usos e o funcionamento da lngua. Hoje, a chamadalingstica funcional que se ocupa dos usos d grande ateno paraos fenmenos reais do funcionamento da lngua.

    A rigor, a lingstica no analisava nem a fala nem a escrita.Quando observava os textos orais, analisava uma fala idealizada, de-purada de certas caractersticas que no se afiguravam, historica-

    mente, como pertencentes a alguma norma.No obstante haver muitos trabalhos sobre a lngua falada, pou-

    co encontramos de sistemtico feito sobre a lngua portuguesa at osanos recentes. Hoje, temos os j lembrados estudos sobre a Gram-tica da Lngua Falada coordenados por Ataliba de Castilho, quetrazem informaes importantes e mostram como o sistema da lnguaportuguesa se preserva na oralidade e como as diferenas no soacentuadas. Tambm dispomos dos trabalhos editados por Dino Pre-

    ti na srie Projetos Paralelos do NURC/SP.

    Aspectos sistemticos da

    relao entre fala e escrita

    As relaes entre fala e escrita no so bvias nem constantes,

    pois refletem o dinamismo da lngua em funcionamento. Como vimos,isso impede de se postular polaridades estritas e dicotomias estan-ques. Seria interessante observar que, at a dcada de 80 do sculoXX, poucos se dedicavam aos estudos da relao entre fala e lnguaescrita. Quem trabalhava o texto faladoraramente analisava o texto

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    escrito, o mesmo acontecendo com quem se dedica analise do textoescrito. Havia uma espcie de ignorncia mtua, mas o pior que gran-de parte das observaes feitas sobre a fala eram em geral fundadasnas normas que a gramtica da escrita codificou. Isso um equvocoporque se passa a analisar a fala pela lente da escrita. Assim, um dosinteresses dos estudos aqui apresentados mostrar que tanto a falacomo a escrita devem ser observadas com uma metodologia e comcategorias de anlise adequadas. No so categorias dicotmicas, masdiferentes para tornar a observao mais adequada.

    Por exemplo, ns sabemos que a hesitaono faz parte do siste-

    ma da lngua, mas ela um fenmeno presente na fala e precisa serconsiderado. Para tanto, deve-se ter uma categoria analtica especfica.De igual modo ocorre com a correoe com os marcadores conversa-cionais, entre outros aspectos sistemticos que se apresentam na falae no so aleatrios nem equvocos de produo lingstica.

    Tanto a fala como a escrita acompanham em boa medida a orga-nizao da sociedade. Isso porque a prpria lngua mantm comple-

    xas relaes com as formaes e as representaes sociais. No setrata de um espelhamento, pois a lngua no reflete a realidade, e simajuda a constitu-la como atividade. Trata-se, muito mais de uma fun-cionalidade que est muito presente na fala. A formalidade ou a infor-malidade na escrita e na oralidade no so aleatrias, mas se adaptams situaes sociais. Essa noo de grande importncia para perce-ber que tanto a fala como a escrita tm realizaes estilsticas bem

    variadas com graus de formalidade diversos. No certo, portanto,afirmar que a fala informal e a escrita formal.

    Seria tambm equivocado correlacionar a oralidade com a contex-tualidade, implicitude, informalidade, instabilidade e variao, atribuin-do escrita caractersticas de descontextualizao, explicitude, forma-lidade, estabilidade e homogeneidade. Hoje ningum mais aceita essadiviso estreita porque uma simples anlise da produo textual escrita

    desmente isso. Todos os usos da lngua so situados, sociais e hist-ricos, bem como mantm alto grau de implicitude e heterogeneidade,com enorme potencial de envolvimento. Fala e escrita so envolventese interativas, pois prprio da lngua achar-se sempre orientada para ooutro o que nega ser a lngua uma atividade individual.

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    Igualmente ingnuo seria ver na relao fala e escrita apenasuma diferena de meio de manifestao ou representao, ou seja, aescrita seria representada graficamente, e a fala, pelo som. Como

    dissemos h pouco, a distino som-grafia essencial para a rela-o fala-escrita do ponto de vista discursivo, mas no do ponto devista do sistema da lngua.

    Seguindo Coseriu (1981) e apoiados em Koch/Oesterreicher (1990,p. 7), podemos dizer que a lngua uma atividade humana universalexercitada individualmente na observncia de normas historicamentedadas. E com isso postulamos que a lngua em uso, como atividade

    humana : (a) universal: todos os povos tm uma lngua e com elareferem, significam, agem, contextualizam, expressam suas idias, etc.;(b) histrica: do ponto de vista das lnguas individuais, cada uma histrica e tem surgimento no tempo. Assim foi com o grego, o latim, oportugus, o alemo, o russo, etc. Tambm, do ponto de vista dos usosdas lnguas, temos uma tradio de formas textuais surgidas ao longodas prticas comunicativas; (c) situada: todo texto produzido poralgum situado em algum contexto, e toda produo discursiva loca-

    lizada. Isso permite que ocorra a variao.

    Esses trs aspectos impedem analisar a fala e a escrita como doismundos diferentes. Elas so duas maneiras de textualizar e produzirdiscursos.

    A questo da supremacia da fala ou da escrita

    Quando nos referimos supremacia de um fenmeno sobreoutro,temos logo a impresso de que se est falando em superiorida-de, mas, no caso da relao entre oralidade e escrita, essa uma visoequivocada, pois no se pode afirmar que a fala superior escrita ouvice-versa. Em primeiro lugar, deve-se ter em mente o aspecto que seest comparando e, em segundo, deve-se considerar que essa rela-o no nem homognea nem constante. A prpria escrita tem tido

    uma avaliao variada ao longo da histria e nos diversos povos.Existem sociedades que valorizam mais a fala, e outras que valorizammais a escrita. A nica afirmao correta que a fala veio antesdaescrita. Nem por isso, como ainda veremos, a escrita simplesmentederivada da fala. Portanto, do ponto de vista cronolgico, como j

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    observou detidamente Street (1995), a fala tem precedncia ou suprema-cia sobre a escrita, mas, doponto de vista do prestgio social,a escritatem uma supremacia sobre a fala na maioria das sociedades contempor-neas. No se trata, porm, de algum critrio intrnseco nem de parmetroslingsticos, e sim de postura ideolgica. So valores que podem variarentre sociedades, grupos sociais e ao longo da histria.

    No h por que negar que a fala mais antiga que a escrita e queesta lhe posterior e em certo sentido dependente. Assim, a oralidade uma prtica social de grande penetrao. Mesmo considerando aenorme e inegvel importncia que a escrita tem nos povos e nas civi-

    lizaes ditas letradas, continuamos, como bem observou Ong (1998),povos orais. E mesmo os indivduos mais letrados de uma sociedadefalam muito mais do que escrevem. Veja-se que, em instituies deintenso uso da escrita como escolas, universidades e institutos depesquisa, fazemos um uso muito mais intenso da fala do que da escrita,e os gneros textuais orais so em maior nmero em todas elas. Aoralidade jamais desaparecer e sempre ser, ao lado da escrita, o gran-

    de meio de expresso discursiva e de atividade comunicativa.Mas a supremacia atribuda escrita de modo generalizado traz

    conseqncias estigmatizadoras para certas formas orais, em especi-al de indivduos ou grupos com menor instruo escolar. Assim, emcertas circunstncias, a fala pode levar estigmatizao do indiv-duo, mas a escrita no produz esse efeito com tanta facilidade. Po-nha-se um grupo de indivduos letrados a escrever um texto sobre o

    mesmo tema, por exemplo, a violncia na vida do brasileiro e entoobservem-se seus textos. provvel que suas opinies sejam objetode discusso, mas eles no sero estigmatizados ou categorizadospela linguagem como tal. No entanto, se pedirmos aos mesmos indiv-duos que falem seus textos, ou os produzam oralmente, teremosdiferenas e at avaliaes que no se devero apenas ao contedo,mas tambm a uma particular forma de falar o contedo.

    Dissolvendo algumas dicotomias

    Tradicionalmente, a fala e a escrita so vistas dentro de uma sriede dicotomias pouco saudveis. A viso adotada nesses estudos

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    frontalmente contrria a todas as posies assumidas pelos autoresdos ensaios deste livro. J no se sustenta a idia de que a escritarepresenta uma grande divisa que marca dois tempos: o tempo da

    oralidade pura e o tempo da escrita. A maioria das dicotomias propostasno se sustenta luz de uma anlise mais rigorosa e crtica. A suposiode que a escrita descontextualizada, explcita, planejada e racionale a fala o oposto disso pode levar a concluses inadequadas.

    Ser necessria muita cautela no tratamento de distines queenvolvem conceitos tais como os indicados no QUADRO 1 a seguir:

    De modo geral, essas dicotomias no so fundadas na naturezadas condies empricas de uso da lngua (envolvendo planejamento

    e verbalizao), mas em posies ideolgicas e formais. Disso sur-gem vises distorcidas do prprio fenmeno textual na oralidade e naescrita, pois sabemos que a realidade no se d desse modo. Como jdissemos, a lngua sempre se d contextualmente, assim como ostextos orais e escritos so ambos planejados, mas de maneira diferen-ciada. Abstrao e implicitude existem nas duas modalidades. Emcerto sentido, todos os enunciados so imprecisos e s se determi-nam pela interpretao de quem l ou ouve.

    A questo : qual seria a forma mais adequada de encarar as rela-es entre oralidade e escrita contemplando ao mesmo tempo os aspec-tos lingsticos, discursivos, cognitivos e sociais? No h uma respostaconsensual, mas trs so as possibilidades imediatamente mo:

    QUADRO1Dicotomias perigosas

    Fala Escrita

    contextualizada

    implcita

    concreta

    redundanteno-planejada

    imprecisa

    fragmentria

    descontextualizada

    explcita

    abstrata

    condensadaplanejada

    precisa

    integrada

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    i. anlise de cada modalidade isoladamenteii. anlise na imanncia lingsticaiii. anlise da relao com categorias especficas de cada

    modalidade

    A perspectiva (i) no seria aconselhvel, na medida em que im-pediria at mesmo uma comparao. A alternativa (ii), isto , a anlisena imanncia lingstica a perspectiva que v a linguagem em simesma sem uma insero no contexto de uso. Isso tende em geral acair no normativismo por ser a identificao de um padro fundadoapenas nas propriedades do sistema da lngua. Alm disso, essa vialeva ao prescritivismo com base em algum mecanismo social (de pres-tgio) subjacente. Nesse caso, os parmetros da descrio seriamfatalmente os da escrita, uma vez que atravs dela que a lngua seriadescrita. Um fato comum a todos os tipos de anlise nessa perspecti-va a eliminao tcita de todas as caractersticas tpicas da fala(hesitaes, correes, marcadores, etc.) como fenmenos sintatica-mente inanalisveis ou estilisticamente deplorveis. Resta-nos, por-

    tanto, a perspectiva (iii) que est sendo aqui sugerida como a maisadequada. Contudo, h um problema preliminar a ser resolvido: quaisso as categorias especficas de uma descrio baseada nessa pers-pectiva e quais os nveis de observao?

    Este o tema central desta coletnea que deve oferecer uma visogeral para o tratamento da relao entre a oralidade e a escrita no ensinode lngua. Em geral, a viso da oralidade nos manuais escolares muito

    superficial e pouco explcita. No raro tambm equivocada e confundea anlise da oralidade com algumas atividades de oralizao da escrita.Toma a escrita como um padro lingstico no qual se define o que certoe errado, sem ateno para a diversidade da produo textual.

    Para um trabalho adequado nesse campo, como j frisamos, deve-se ter uma noo de lngua que d conta de seu dinamismo, e noapenas da forma. Alm disso, deve-se ter uma noo de texto adequa-da, tal como os diversos estudos pontuam ao tomarem o texto comoum evento discursivo, e no como uma simples unidade lingsticaque no seria mais do que uma frase estendida.

    Para um trabalho mais detido a respeito da oralidade e escrita,seria til uma investigao detida sobre os usos da escrita na vida

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    cotidiana atual. No sabemos qual a abrangncia da escrita na vida daspessoas, seja em termos de tempo dispendido com a leitura e a escrita,seja nos gneros textuais poduzidos ao longo do dia. Estes parecem

    ser bem menos do que se imagina e diversos daqueles que a escola emgeral trabalha. Na realidade, essas questes deveriam ser motivo dereflexo para todos os que se acham de algum modo engajados nasoluo de problemas educacionais. Continua, pois, tarefa urgente avaliara relevncia do domnio funcional da escrita na vida diria de umapessoa que vive e se locomove em contextos tipicamente urbanos,onde a escrita uma constante para organizar os referenciais da prpria

    sobrevivncia. Mas no se deve descuidar do fato de que essa mesmapessoa deve saber enquadrar-se nos vrios nveis de uso da lnguainclusive no domnio das formas mais elevadas da produo oral.

    Tendo esses aspectos em vista, os captulos que seguem dedi-cam-se a observar os usos da oralidade e da escrita, trazendo elemen-tos que permitam compreender seu funcionamento no dia-a-dia. Nose esperem frmulas, sejam para o uso, sejam para o ensino. Nossointeresse centra-se, sobretudo, na tarefa de compreender o funciona-mento da lngua e seus usos na vida cotidiana.