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Um século, Dez lápis, Cem desenhos – Viarco Express –

Livro Viarco 1-73

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Um século, Dez lápis, Cem desenhos – Viarco Express –

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Um século, Dez lápis,

Cem desenhos – Viarco Express –

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Edição Published byMuseu da Presidência da República

Coordenação Geral Head CoordinatorsPedro RapoulaDiogo GasparDaniel PiresJosé Vieira

VIARCO Express

Ideia original IdeaIsaque Pinheiro

Direcção DirectionDaniel PiresJosé Vieira

Organização OrganizationMaus Hábitos Viarco

Coordenação CoordinationMário CanijoIsaque PinheiroDaniel PiresManuel César Marques José VieiraAna CostaAmândio FelícioRui Almeida

Pesquisa e Entrevistas Research and InterviewsJosé Roseira

Redacção e Edição Text and EditingJosé RoseiraJorge Longa

Revisão Proof-readingAna Teresa Santa-ClaraSusana Pina

Tradução e revisão Translation and Proof-ReadingJohn ElliottSean LinneyNeil StewartJoão VilhenaLuísa Yokochi

Revisão Proof-readingAna Teresa Santa-ClaraSusana Pina

Fotografia Photo CreditsDaniel Pires - DPJosé Manuel Costa Alves - JMCA

Impressão PrintingGráfica Maiadouro, S.A.

Exemplares Print Run1 000

Depósito legal Legal Depotxxxx

ISBN978-972-8971-48-9

Copyright© Saco Azul – Associação Cultural – Maus Hábitos, Viarco – Industria de Lápis, dos textos produzidos no âmbito do projectothe texts produced during the project© os artistas the artists© os autores das imagens cedidas the authors of the provided pictures© Museu da Presidência da República,das imagens produzidas por José Manuel Costa Alvesthe images produced by José Manuel Costa Alves

1.ª edição 1th editionOutubro October 2009

Agradecimentos AcknowldgmentsAos artistas: To the artists: Albuquerque Mendes, Alexandra do Carmo, Álvaro Leite, Álvaro Leite Siza Vieira, Ana Anacleto, Ana Guedes, Ana Pérez-Quiroga, Ana Pimentel, Ana Torrie, Ana Vidigal, André Alves, André Carrilho, Ângelo de Sousa, António Antunes, António Charrua, António Jorge Duarte, António Melo, António Olaio, Augusto Cid, Baltazar Torres, Brian Cronin, Bruno Borges, Carla Capela, Carlos Botto, Carlos Carreiro, Carlos dos Reis, Carlos Pinheiro, Cristina Lamas, Cristina Robalo, Cristina Sampaio, Daniel Barroca, Diogo Pato, Eduardo Salavisa, Egas José Vieira, Fabrizio Matos, Fátima Mendonça, Fernando Conduto, Fernando Pinto Coelho, Francisco Queiros, Francisco Vidal, Frederica Bastide Duarte, Gerardo Burmester, Graça Morais, Guida Casella, Hugo Canoilas, Isaque Pinheiro, Joana Vasconcelos, João Baeta, João Catarino, João Pedro Vale, Joen P-Vedel, John Hawke, Jorge Abade, José Emidio, José Loureiro, José Louro, Julião Sarmento, Karina Cid, Luís Figueiredo, Luís Lima, Luísa Gonçalves, Luísa Penha, Mafalda Santos, Manuel Graça Dias, Manuel Santos Maia, Margarida Rebelo Pinto, Maria Velez, Mariana Moraes, Marta Soares, Marta Wengorovius, Mauro Cerqueira, Miguel Vieira, Mónica Cid, Nuno de Sousa, Nuno Vidigal, Paula Rego, Paulo Brighenti, Paulo Mendes, Paulo Patrício, Paulo Quintas, Pedro Barbosa, Pedro Cabral, Pedro Cabrita Reis, Pedro Pousada, Pedro Quintas, Pedro Ravara, Pedro Reis, Rasmus, Ricardo Pistola, Rita Guedes Tavares, Rui Chafes, Rute Rosas, Samuel Silva, Sara Maia, Susana Mendes Silva, Vasco Barata e Yasuto Masumoto. E a todos aqueles que participaram de outras formas no nosso projecto:And to all those that in any other way committed themselves to this project: Ana Carvalho, Ana Jotta, Ana Sousa Dias, António José Vieira Araújo, António Poppe, Arlete Alves Silva, Carlos Coutinho, Catarina Portas, Elídio Nunes, Gaspar Matos, João Fernandes, João Simões, João Pinharanda, Manuel César Marques, Luís Serpa, Manuel Celestino, Maria do Carmo Oliveira, Michael da Costa, Miguel Januário, Nuno Borges, Nuno Coelho, Patrício Macedo, Paulo Marcelo, Pedro Gomes, Pedro Leão, Rodrigo Oliveira e Rui Brito.

Ficha Técnica CreditsVIARCO Express

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ÍnDICE TAblE OF COnTEnTs

Um século, Dez lápis, Cem desenhos – Viarco Express –Um século, Dez lápis, Cem desenhos – Viarco Express –Diogo Gaspar

Pedro Rapoula

O projecto Viarco ExpressThe Viarco Express project

A Carta-Convite A Carta-Convite Catarina Portas

O RegulamentoRegulations

ViarcoViarco O lápis exquisito The crayon exquis Catarina Portas

Maus Hábitos – uma alternativaMaus Hábitos – an alternative

Maus Hábitos – um novo lugar antropológicoMaus Hábitos – A new Anthropological spaceLuís Serpa

When is drawing not a drawing?When is drawing not a drawing?Michael DaCosta Babb

no princípio...in the beginning...João Pinharanda

Dez lápis, Cem desenhosDez lápis, Cem desenhosJoão Fernandes

lápis Pencil 1lápis Pencil 2lápis Pencil 3lápis Pencil 4lápis Pencil 5lápis Pencil 6lápis Pencil 7lápis Pencil 8lápis Pencil 9lápis Pencil 10

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Once again, it is with a new and original cultural initiative that the Presidency of the Portuguese Republic celebrates, in its venue at the Belém Palace, the official residence of the Head of State, the ninety ninth anniversary of the implantation of the Republic. Associating itself with the Viarco Express project, a double partnership was born that promotes Portuguese contemporary art: with Viarco, a centenary company that is engraved in the personal memory of every Portuguese, and an exemplary company in the Portuguese panorama; and with Maus Hábitos, a Porto based institution who has promoted, throughout these last years, the cultural scene in our country.

This project, born from a happy meeting between these two entities, develops a non-directed journey in which ten pencils function as the baton that is passed hand in hand, drawing a cartography of Portuguese contemporary art, weaving a web of relationships that touches multiple disciplines and builds up the Portuguese panorama of arts: from drawing to architecture, from sculpture to installation, from literature to audiovisual production, from caricature to photography. The eclecticism of the presented works is also a reflex of a network that crosses over several generations, uniting well-known authors and young artists in the beginning of their artistic careers.

This continues the work initiated two years ago, with the Belém Palace stressing its role as an open house for the citizens during the commemorations of the implantation of the Republic – the Presidency opens its doors to the promotion of culture, in this case of Portuguese contemporary art and contemporary artists. In this way we open the commemorations of the one hundredth year of the Republic of Portugal.

Diogo Gaspar

Pedro Rapoula

Um século, Dez lápis, Cem desenhos – Viarco Express –

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É mais uma vez com uma nova e inédita iniciativa cultural que a Presidência da República assinala, no espaço do Palácio de Belém, residência oficial do chefe de Estado, o nonagésimo nono aniversário da implantação da República. Com a associação ao projecto Viarco Express, nasce uma dupla parceria para a promoção da arte contemporânea portuguesa: com a Viarco, empresa agora centenária, que se inscreve na memória pessoal de cada português, e que se constitui como um exemplo no seio do tecido empresarial nacional; e com os Maus Hábitos, instituição que tem dinamizado, ao longo dos últimos anos, a partir da cidade do Porto, a cena cultural no nosso país.

O projecto, que nasceu de um feliz encontro entre estas duas entidades, desenvolve um percurso não orientado, em que dez lápis funcionam como testemunhos que passam de mão em mão, desenhando uma cartografia contemporânea da arte portuguesa, tecendo um enredo de relacionamentos que toca diversas disciplinas de que se constitui o panorama artístico português: do desenho à arquitectura, da escultura à instalação, da literatura ao audiovisual, da caricatura à fotografia. O ecletismo dos trabalhos apresentados é também reflexo de uma rede transgeracional, que une autores consagrados a jovens que iniciam agora o seu percurso artístico.

Dá-se assim sequência ao trabalho efectuado nos dois últimos anos, em que o Palácio de Belém, por ocasião das comemorações da implantação da República, se estabelece como uma casa aberta aos cidadãos, promotora de cultura, neste caso da arte contemporânea e dos artistas portugueses, abrindo-se, desta forma, o centésimo ano de vida da República Portuguesa.

Diogo Gaspar

Pedro Rapoula

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The Viarco Express project began with the unlikely meeting of the Pencil manufacturer Viarco with the Saco Azul Cultural Society and Maus Hábitos – Cultural Intervention Space and stems from a mutual desire to create policies and synergies to foment production in the field of arts in Portugal.

Starting from a simple set of rules, a game of relay, we produced ten pencils to serve as testimonies of the current artistic output in Portugal. Hand to hand, artist to artist, each pencil draws the lines of affection and association between each group, revealing the exchange and sharing mechanisms that move forward and potentiate art. Ten pencils have been especially produced and delivered to carefully selected artists. Each was asked to make a drawing and, upon finishing it, to freely choose the pencil’s next recipient.

With the stated goal of getting a set of 100 drawings from 100 artists, we intended to create an exhibition that relays this experience to the public. The project achieved its goal and made this catalogue – to which a significant part of the Portuguese art realm contributed – possible. Since the Varco Express project does not end with an exhibition or the publishing of a catalogue, we have set out to build a map that is meant as a reflection on the policies of friendship and the relations of affection and partnership connecting some of the most creative minds in the Portuguese art world. From this game of sorts we created an automatic cartography of the different groups and relations that constitute this world.

In strictly artistic terms this set of drawings is a register of our living heritage and of the connections intersecting the world of art in Portugal. The resulting 100 drawings are not only an amazing collection; they are also an invaluable document, worthy of study and research.

THE VIARCO ExPREss PROjECT

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O projecto Viarco Express, que partiu do encontro da Fábrica de Lápis Viarco com a Associação Cultural Saco Azul e o Espaço de Intervenção Cultural Maus Hábitos, é fruto de um desejo de criação de políticas e dinâmicas que fomentem a produção no campo das artes em Portugal.

Partindo de uma regra simples, um vulgar jogo de estafeta, fizemos de dez lápis testemunhos do panorama da produção artística em Portugal. De mão em mão, artista em artista, cada lápis desenha autónomo um grupo de afectos e cumplicidades, revelando os mecanismos de troca e partilha que movimentam e dinamizam a arte. Entregando dez lápis especialmente produzidos para o projecto a artistas cuidadosamente escolhidos, pedimos a cada um deles que, utilizando o lápis, criasse um desenho e, concluindo o trabalho, escolhesse livremente das suas relações uma outra pessoa.

Com o objectivo de chegar a um conjunto de 100 desenhos e 100 artistas, pretendemos produzir uma exposição que ofereça ao público o resultado desta experiência. Para além da criação deste espólio de desenho e das exposições previstas, o projecto tornou possível a elaboração deste catálogo, para o qual colaborou uma parte significativa do meio artístico português. Uma vez que o valor do Viarco Express não se esgota na sua exibição ao público, nem na edição do catálogo, lançamo-nos na construção de um mapa que permita uma reflexão sobre as políticas de amizade, relações de afectividade e cumplicidade que ligam os mais destacados criativos do panorama artístico nacional. A partir deste jogo de estafeta, criar uma cartografia automática dos diversos grupos e círculos de proximidade que constroem este mundo.

Em termos puramente artísticos, consideramos que a criação deste conjunto de desenhos como uma mais-valia para o registo do nosso património vivo e das relações entre artistas portugueses. Os 100 desenhos finais não correspondem apenas a uma fantástica colecção, mas são também um valioso documento para estudo e pesquisa.

O PROjECTO VIARCO ExPREss

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A CARTA-COnVITE (Acompanha cada um dos dez estojos)

Aqui vai um lápis.

Um lápis: uma mina de grafite, com a densidade certa, envolvida em madeira de cedro. Coisa tão leve e discreta, objecto de tão corriqueiro quase invisível, e afinal instrumento básico e essencial de expressão. “Os lápis não são madeira e mina, é pensamento pelas falanges”, afirmava um Sr. Toulouse-Lautrec que com ele passeava pelo papel com bastante mais voluptuosidade do que coxeava pelo mundo.

Este lápis é um dos seis milhões que, por ano, nascem na única fábrica portuguesa de lápis. Não é mais um pois pertence à mais especial e limitada das séries: comemora os 100 anos da Viarco, celebrando o que de mais extraordinário um lápis consegue fazer, com a tal ajuda de umas poucas de falanges e do pensamento de quem o segura.

Para a festa de aniversário convidamos quem com o lápis mais se dá, como é natural: artistas, arquitectos, cartoonistas, designers. E estendemos o convite, para que estes cinco primeiros convidados tragam mais cinco, os amigos dos amigos, pois então. E também esses, por aí fora... No final; a festa será o resultado de um jogo, no qual o convite é um raro lápis-testemunho, que de mão em mão vai desenhando, sucessivamente inspirado. E tudo aquilo que um lápis pensa ao longo da sua vida, com quem vai conhecendo, se expõe no dia da festa.

Portanto, eis o jogo: um lápis; um tamanho máximo A1; 15 dias.

E depois, uma carta convite para quem se segue, para quem se gosta e também gosta de lápis.

Começamos, então. Aqui vai um lápis e um convite…

Catarina Portas

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Aqui vai um lápis.

Um lápis: uma mina de grafite, com a densidade certa, envolvida em madeira de cedro. Coisa tão leve e discreta, objecto de tão corriqueiro quase invisível, e afinal instrumento básico e essencial de expressão. “Os lápis não são madeira e mina, é pensamento pelas falanges”, afirmava um Sr. Toulouse-Lautrec que com ele passeava pelo papel com bastante mais voluptuosidade do que coxeava pelo mundo.

Este lápis é um dos seis milhões que, por ano, nascem na única fábrica portuguesa de lápis. Não é mais um pois pertence à mais especial e limitada das séries: comemora os 100 anos da Viarco, celebrando o que de mais extraordinário um lápis consegue fazer, com a tal ajuda de umas poucas de falanges e do pensamento de quem o segura.

Para a festa de aniversário convidamos quem com o lápis mais se dá, como é natural: artistas, arquitectos, cartoonistas, designers. E estendemos o convite, para que estes cinco primeiros convidados tragam mais cinco, os amigos dos amigos, pois então. E também esses, por aí fora... No final; a festa será o resultado de um jogo, no qual o convite é um raro lápis-testemunho, que de mão em mão vai desenhando, sucessivamente inspirado. E tudo aquilo que um lápis pensa ao longo da sua vida, com quem vai conhecendo, se expõe no dia da festa.

Portanto, eis o jogo: um lápis; um tamanho máximo A1; 15 dias.

E depois, uma carta convite para quem se segue, para quem se gosta e também gosta de lápis.

Começamos, então. Aqui vai um lápis e um convite…

Catarina Portas

A CARTA-COnVITE (Acompanha cada um dos dez estojos)

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1. The VIARCO EXPRESS project consists of invitations, by Saco Azul, to create drawings made with Viarco pencils.a. Viarco will manufacture a limited series of pencils, with their own design, which will be used exclusively in this project.

2. Authors in various sectors – architects, designers, illustrators, visual artists – will be invited, and they will start the project.

3. Each one of these invited authors will be asked to create a drawing with the Viarco pencil delivered to them.

4. There is total freedom in terms of the subject, design and type of work to be created by each invited artist. The only restriction, for production reasons, is a maximum size for the works, which is A1 format (50cm x 70cm).

5. After the creation of the drawing, each author must, in turn, invite a new artist to join the project, sending them the pencil. The maximum period for drawing and sending must be no longer than 15 days.

a. A letter must then be sent, written with the pencil, inviting the new artist to continue the project. This new author must keep the invitation letter with the drawing.

6. Each author is completely free to invite whomever they want, within the sector in which they operate. At this point, they must advise the identity and contact details of their invitee to Maus Hábitos, sending an email to the address [email protected].

7. If necessary, a new pencil will be supplied to any author who asks for one, and he or she must keep the stub of the first pencil with the drawing and the letter sent by the previous artist.

8. The works produced will be collected by the Saco Azul Cultural Association.

9. When the planned number of works (exactly 100) is reached, production will be halted, and at this point Maus Hábitos will advise those holding the pencils not to send out any new invitations.

10. The works, the pencils used and the letters will be part of a travelling display, to be shown at locations to be disclosed.

11. A catalogue will be produced, which will contain the works produced, the biographies of each author, a brief history of Viarco, and texts describing the route taken by each pencil.

12. At the end of the exhibitions, on a date to be set, the works will be auctioned.

13. The proceeds of the auction will be divided and distributed as follows: a. 1/3 of the amount obtained will revert to the author. b. 1/3 of the amount obtained will be used by Maus Hábitos to produce and promote works by the young artists that it selects. c. 1/3 of the amount obtained will revert to Viarco, which will use it for teaching material to be supplied to social institutions and charity schools.

14. The Organisation will arrange the auction and pay the costs associated with staging and promoting the exhibitions, printing the catalogue, insurance and transport.

15. The authors will be advised about who bought their work and the price it sold for.

16. The first exhibition of the Viarco Express Project is planned to start in October 2009.

REgUlATIOns

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1. O projecto VIARCO EXPRESS consiste no convite à criação, por parte da Saco Azul, de desenhos elaborados com lápis da Viarco.

a. Será fabricada, pela Viarco, uma série limitada de lápis, com design próprio, os quais serão utilizados exclusivamente neste projecto.

2. Serão convidados autores de diversos quadrantes – arquitectos, designers, ilustradores, artistas plásticos –, que iniciarão o projecto.

3. A cada um desses autores convidados será pedido que, com o lápis Viarco que lhe será entregue, elabore um desenho.

4. É concedida total liberdade quanto ao tema, concepção e tipo de obra a ser criada por cada convidado. É apenas imposto, por razões de produção, um limite máximo à dimensão dos trabalhos, que será o formato A1 (50cm x 70cm).

5. Após a criação do seu desenho, cada autor deverá, por sua vez, convidar um novo artista para aderir ao projecto, enviando-lhe o lápis. O prazo máximo para execução e envio não pode exceder 15 dias.

a. Para tanto, deverá enviar uma carta, escrita com o lápis, convidando-o particularmente a dar continuidade ao projecto. Este novo autor deverá manter a carta junto ao desenho.

6. Cada autor tem inteira liberdade quanto à pessoa a convidar dentro do quadrante em que está inserida. Nesta fase, deverá comunicar a identidade e contacto do seu convidado aos Maus Hábitos, enviando uma mensagem de correio electrónico para o endereço [email protected].

7. Se necessário, será fornecido um novo lápis ao autor que o solicitar, tendo este que manter o que resta do primeiro lápis junto ao desenho e à carta enviada pelo artista anterior.

8. Os trabalhos entretanto efectuados serão recolhidos pela Saco Azul, Associação Cultural.

9. Quando for atingida a quantidade de trabalhos prevista (exactamente 100) dar-se-á por finda a produção, altura em que os Maus Hábitos avisarão os então detentores dos lápis que não deverão efectuar novos convites.

10. Os trabalhos, os lápis utilizados e as cartas serão expostos em itinerância em locais a designar.

11. Será produzido um catálogo, onde constarão os trabalhos efectuados, as resenhas biográficas de cada autor, uma breve história da Viarco, e textos alusivos ao percurso dos lápis.

12. No final das exposições, em data a fixar, os trabalhos serão leiloados.

13. O resultado do leilão será dividido e aplicado do seguinte modo: a. 1/3 do valor obtido reverterá a favor do autor. b. 1/3 do valor obtido será utilizado pelos Maus Hábitos na produção e divulgação de trabalhos de jovens artistas, por si seleccionados.c. 1/3 do valor obtido reverterá a favor da Viarco que o converterá em material didáctico destinado a ser entregue a instituições de carácter social e escolas carenciadas.

14. A Organização assegurará a realização do leilão, o pagamento dos custos associados com a produção e divulgação das exposições, a produção do catálogo, os seguros e o transporte.

15. Aos autores será comunicada a identidade do comprador do seu trabalho e o valor obtido com a venda.

16. A primeira exposição do Projecto do Viarco Express tem início previsto durante o mês de Outubro de 2009.

O REgUlAMEnTO

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[DP]

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Viarco Express

Em 2005, quando a Viarco se cruzou pela primeira vez com o Maus Hábitos – Espaço de Intervenção Cultural, estávamos longe de imaginar que seria possível estabelecer uma relação tão íntima e proveitosa entre instituições, aparentemente tão diferentes e distantes entre si. Nessa altura, programávamos a comemoração dos 70 anos do registo da marca Viarco em Portugal, e procurávamos apoio para o desenvolvimento de alguns projectos internos de âmbito cultural, com os quais pretendíamos assinalar a data. Foi neste contexto, e por intermédio de um amigo comum, que organizamos uma visita à Viarco, em São João da Madeira.

Percorrer as instalações da empresa constitui, seguramente, um momento ao qual ninguém fica indiferente: o mundo dos lápis está envolto em fantasia, imaginação, memórias marcantes e muitos afectos, é um local repleto de surpresas e propício a encontros improváveis. É neste ambiente que Isaque Pinheiro – num clique inspirado, daqueles que só os artistas são capazes –, lança um despreocupado “E se…?!”.

Nascia a ideia do projecto Viarco Express, um lápis que viaja de mão em mão, sem rumo definido, e que traça uma linha de relacionamentos durante o seu percurso. O ponto de partida para uma longa e intensa colaboração entre a comunidade artística portuguesa e a indústria, na criação de um projecto que inicia agora um novo ciclo, com a parceria do Museu da Presidência da República.

Tal como os lápis fabricados – num total de dez –, o projecto em si também seguiu o seu próprio rumo, sofrendo desvios de trajectória imprevisíveis e mutações diversas, o que não mais se constituiu como o tempo necessário para maturar e aprofundar relações.

O Viarco Express é um exemplo dos benefícios que podem ser gerados quando a indústria e as artes colaboram activamente. Juntos podem acrescentar valor às suas actividades e gerar mais valias das quais todos usufruímos. É a criatividade ao serviço da indústria, e a indústria ao serviço da criatividade, num intercâmbio que talvez nos indique um rumo para novos tempos.

Agradecer é tudo quanto nos resta fazer. Aos Maus Hábitos, aos Artistas, ao Museu da Presidência da República e a todos aqueles que ao longo deste trajecto colaboraram, influenciaram e possibilitaram a existência do Viarco Express. Muito obrigado!

sobre a Viarco

Escrever sobre a Viarco afigura-se como tarefa quase impossível, para quem sabe à partida ser incapaz de transcrever por palavras toda a importância desta fábrica. É um mundo à parte, um local inundado de história, onde o tempo parou mas, ao mesmo tempo, de pesquisa e experimentação, modernidade e inovação.

O lápis, o seu objecto de fabrico, é por excelência a ferramenta com a qual todos iniciamos ciclos de aprendizagem, fundamental para a expressão plástica, para a linguagem escrita, matemática e musical. É um objecto comum nas nossas vidas desde a infância e, apesar de íntimo, muitas vezes ignorado.

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VIARCO

Viarco Express

Em 2005, quando a Viarco se cruzou pela primeira vez com o Maus Hábitos – Espaço de Intervenção Cultural, estávamos longe de imaginar que seria possível estabelecer uma relação tão íntima e proveitosa entre instituições, aparentemente tão diferentes e distantes entre si. Nessa altura, programávamos a comemoração dos 70 anos do registo da marca Viarco em Portugal, e procurávamos apoio para o desenvolvimento de alguns projectos internos de âmbito cultural, com os quais pretendíamos assinalar a data. Foi neste contexto, e por intermédio de um amigo comum, que organizamos uma visita à Viarco, em São João da Madeira.

Percorrer as instalações da empresa constitui, seguramente, um momento ao qual ninguém fica indiferente: o mundo dos lápis está envolto em fantasia, imaginação, memórias marcantes e muitos afectos, é um local repleto de surpresas e propício a encontros improváveis. É neste ambiente que Isaque Pinheiro – num clique inspirado, daqueles que só os artistas são capazes –, lança um despreocupado “E se…?!”.

Nascia a ideia do projecto Viarco Express, um lápis que viaja de mão em mão, sem rumo definido, e que traça uma linha de relacionamentos durante o seu percurso. O ponto de partida para uma longa e intensa colaboração entre a comunidade artística portuguesa e a indústria, na criação de um projecto que inicia agora um novo ciclo, com a parceria do Museu da Presidência da República.

Tal como os lápis fabricados – num total de dez –, o projecto em si também seguiu o seu próprio rumo, sofrendo desvios de trajectória imprevisíveis e mutações diversas, o que não mais se constituiu como o tempo necessário para maturar e aprofundar relações.

O Viarco Express é um exemplo dos benefícios que podem ser gerados quando a indústria e as artes colaboram activamente. Juntos podem acrescentar valor às suas actividades e gerar mais valias das quais todos usufruímos. É a criatividade ao serviço da indústria, e a indústria ao serviço da criatividade, num intercâmbio que talvez nos indique um rumo para novos tempos.

Agradecer é tudo quanto nos resta fazer. Aos Maus Hábitos, aos Artistas, ao Museu da Presidência da República e a todos aqueles que ao longo deste trajecto colaboraram, influenciaram e possibilitaram a existência do Viarco Express. Muito obrigado!

sobre a Viarco

Escrever sobre a Viarco afigura-se como tarefa quase impossível, para quem sabe à partida ser incapaz de transcrever por palavras toda a importância desta fábrica. É um mundo à parte, um local inundado de história, onde o tempo parou mas, ao mesmo tempo, de pesquisa e experimentação, modernidade e inovação.

O lápis, o seu objecto de fabrico, é por excelência a ferramenta com a qual todos iniciamos ciclos de aprendizagem, fundamental para a expressão plástica, para a linguagem escrita, matemática e musical. É um objecto comum nas nossas vidas desde a infância e, apesar de íntimo, muitas vezes ignorado.

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Visitar a Viarco é reconhecer a importância das coisas simples das nossas vidas, através de uma viagem encantada ao mundo dos lápis. É um local de pedagogia para crianças, que ensina e transmite valores, de influência e residência para artistas, de museologia industrial, de espantos e admiração.

Contudo, e em simultâneo, é uma indústria. Uma indústria criativa que potencia talento para o desenvolvimento de novos produtos, e que cria oportunidades para aqueles com quem se relaciona, numa lógica de riqueza partilhada.

Desde 2007 que a Viarco tem lançado sucessivamente materiais inovadores no mercado mundial, frutos de muitas colaborações, experiências e amizades. É por isso que a Viarco continua – e continuará –, a ser uma empresa com a porta aberta para os receber.

Sejam bem vindos!

José Vieira

Viarco – Indústria de Lápis, Lda

Cronologia

1907 – Fundação da Fábrica de Lápis Portugália, por Conselheiro Figueiredo Faria e Eng, Jules Cacheux, em Vila do Conde.1919 – Fundação da Fábrica de Chapéus Vieira Araújo e Cª Lda., por Manoel Vieira Araújo, em São João da Madeira.1929/1931 – Falência da Portugália e sua aquisição por Manoel Veira Araújo.1936 - Registo da marca Viarco (Vieira Araújo e Companhia, Lda).1941 – Transferência da fábrica de Vila do Conde para São João da Madeira.1972 – Início da produção de lápis de cera.1990 – Parceria com a Cooperativa Árvore, na celebração do “Bicentenário da invenção do lápis”.1990 – Descoberta da aguarela de grafite, por António José Vieira Araújo em colaboração com José Emideo.2006 – Exposição “Viarco 70 anos”, em parceria com os Maus Hábitos.2006 – Exposição “O Espírito do Lugar”, de Pascal Nordmann, em parceria com o Centro de Arte de São João da Madeira.2006 – Início do Viarco Express, em parceria com os Maus Hábitos.2006 – Exposição e reedição de embalagens antigas, em parceria com “A Vida Portuguesa”.2006 – Exposição Drawing Experience, em parceria com o designer Miguel Vieira Batista.2007 – Início da produção da aguarela de grafite Artgraf.2007 – Exposição comemorativa do centenário da produção de lápis em Portugal, nas Caldas da Rainha, em colaboração com Carlos Coutinho (mestrando em Museologia Industrial).2007 – Exposição comemorativa do centenário da produção de lápis em Portugal, na Bienal de Vila Nova de Cerveira.2007 – Exposição comemorativa do centenário da produção de lápis em Portugal e apresentação do projecto “Histórias do Lápis Mágico”, no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.2008 – Lançamento do livro “Histórias do Lápis Mágico” no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.2008 – Abertura do atelier Viarco, com Ricardo Pistola e Pedro Alves.2009 – Lançamento da linha Artgraf.2009 – Exposição “Atelier Viarco”, comissariada por Ricardo Pistola com a participação de Mafalda Santos e Mariana Moraes, em parceria com os Maus Hábitos.2009 – Primeira apresentação pública do Viarco Express, no Museu da Presidência da República.

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Visitar a Viarco é reconhecer a importância das coisas simples das nossas vidas, através de uma viagem encantada ao mundo dos lápis. É um local de pedagogia para crianças, que ensina e transmite valores, de influência e residência para artistas, de museologia industrial, de espantos e admiração.

Contudo, e em simultâneo, é uma indústria. Uma indústria criativa que potencia talento para o desenvolvimento de novos produtos, e que cria oportunidades para aqueles com quem se relaciona, numa lógica de riqueza partilhada.

Desde 2007 que a Viarco tem lançado sucessivamente materiais inovadores no mercado mundial, frutos de muitas colaborações, experiências e amizades. É por isso que a Viarco continua – e continuará –, a ser uma empresa com a porta aberta para os receber.

Sejam bem vindos!

José Vieira

Viarco – Indústria de Lápis, Lda

Cronologia

1907 – Fundação da Fábrica de Lápis Portugália, por Conselheiro Figueiredo Faria e Eng, Jules Cacheux, em Vila do Conde.1919 – Fundação da Fábrica de Chapéus Vieira Araújo e Cª Lda., por Manoel Vieira Araújo, em São João da Madeira.1929/1931 – Falência da Portugália e sua aquisição por Manoel Veira Araújo.1936 - Registo da marca Viarco (Vieira Araújo e Companhia, Lda).1941 – Transferência da fábrica de Vila do Conde para São João da Madeira.1972 – Início da produção de lápis de cera.1990 – Parceria com a Cooperativa Árvore, na celebração do “Bicentenário da invenção do lápis”.1990 – Descoberta da aguarela de grafite, por António José Vieira Araújo em colaboração com José Emideo.2006 – Exposição “Viarco 70 anos”, em parceria com os Maus Hábitos.2006 – Exposição “O Espírito do Lugar”, de Pascal Nordmann, em parceria com o Centro de Arte de São João da Madeira.2006 – Início do Viarco Express, em parceria com os Maus Hábitos.2006 – Exposição e reedição de embalagens antigas, em parceria com “A Vida Portuguesa”.2006 – Exposição Drawing Experience, em parceria com o designer Miguel Vieira Batista.2007 – Início da produção da aguarela de grafite Artgraf.2007 – Exposição comemorativa do centenário da produção de lápis em Portugal, nas Caldas da Rainha, em colaboração com Carlos Coutinho (mestrando em Museologia Industrial).2007 – Exposição comemorativa do centenário da produção de lápis em Portugal, na Bienal de Vila Nova de Cerveira.2007 – Exposição comemorativa do centenário da produção de lápis em Portugal e apresentação do projecto “Histórias do Lápis Mágico”, no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.2008 – Lançamento do livro “Histórias do Lápis Mágico” no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.2008 – Abertura do atelier Viarco, com Ricardo Pistola e Pedro Alves.2009 – Lançamento da linha Artgraf.2009 – Exposição “Atelier Viarco”, comissariada por Ricardo Pistola com a participação de Mafalda Santos e Mariana Moraes, em parceria com os Maus Hábitos.2009 – Primeira apresentação pública do Viarco Express, no Museu da Presidência da República.

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The crayon exquis

In 1925, in Paris, the French surrealists invented the strange game of cadavre exquis: they wrote or drew what they felt like, folded the page over and passed it on to the next person who, without knowing the start, continued the tale or drawing; and so on, from hand to hand, up to the final surprise, unfolding it and studying the result. The Viarco Express is also a game, the game of crayon exquis. Now, it is pencil and not page that forms the continuum for the game: a pencil that is passed from hand to hand to draw whatever its holder thinks of.

It is a Viarco pencil, which couldn’t be better. It is well-known because it has been handed down from generation to generation since the brand was founded in 1936. The factory has been around since 1907, in Vila do Conde, under the name Portugália, but it was 1931 before it was acquired by Manoel Vieira Araújo, a prominent industrialist in São João da Madeira, who renamed it and moved it, giving it the name and location that we know today. And, after many decades, still owned by the same family, it continues to be, gloriously, the only Portuguese pencil manufacturer.

Yes, this Viarco pencil is a crayon exquis and not a cadavre exquis. Unlike all the sceptics who look at old Portuguese factories and brands, with the arrogance of an autopsy, as decrepit production facilities, condemned with condescension and pragmatism by the bogeyman of globalisation, I value them. I look at the history of Viarco and see experience and persistence, finding manufacturing and specialisation. This is what gives the advantage of versatility, the ability to customise, the possibility of differentiation in a world of identical giants. I also look at the Portuguese who see the old Viarco packaging which, in partnership, has been redefined over its 70 years and I can almost touch the intangible essence that all brands seek desperately: a product that has become more than just a memory - it has become a story told by each one of us. A Madeleine for the Proust in every one of us.

None of this would be worth it without courage and vision. With an immense effort and huge creativity, Viarco today continues to write its own future. It launches innovative products such as ArtGraf, gives unused spaces to artists and creates networks to invent exhibitions such as this. This way Viarco lives. And so, Long Live Viarco!

Catarina PortasA Vida Portuguesa

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O lápis exquisito

Em 1925, em Paris, os surrealistas franceses inventaram o esquisito jogo do cadavre exquis: escreviam ou desenhavam o que lhes apetecia, dobravam a folha e passavam ao seguinte que, sem saber do início, prosseguia a frase ou o desenho; e assim por diante, de mão em mão, até à surpresa final, desdobrada a superfície e contemplado o resultado. O Viarco Express também é um jogo, o jogo do crayon exquis. Agora é o lápis e não a folha o continuum lúdico, um lápis que anda de mão em mão a desenhar como imagina quem o segura.

É um lápis Viarco, nada mais justo. Tem disso o hábito, pois passa de geração em geração desde que a marca nasceu, em 1936. A fábrica já existia desde 1907, em Vila do Conde, com o nome Portugália; mas apenas em 1931 é adquirida por Manoel Vieira Araújo, proeminente industrial de São João da Madeira, que a rebaptiza e deslocaliza com o nome e para o local que hoje conhecemos. E, tantas décadas passadas, ainda na mesma família, ela continua a ser, gloriosamente, a única fábrica portuguesa de lápis.

É um crayon exquis e não um cadavre exquis este lápis Viarco, afirmo. Contrariando todos os cépticos que olham para as fábricas e marcas antigas portuguesas com arrogância de autópsia, como estruturas produtivas decrépitas e condenadas com desdém e pragmatismo pela globalização-papão, confirmo. Olho para a história da Viarco e distingo experiência e persistência, descubro-lhe manufactura e especialidade. É isso que lhe dá a vantagem da versatilidade, a facilidade da personalização, a possibilidade da diferença num mundo de gigantes iguais. Olho também para os portugueses a olharem para as embalagens antigas da Viarco que, em parceria, reeditámos nos seus 70 anos e quase tacteio o intangível que todas as marcas procuram desesperadamente: um produto que se tornou, mais do que uma memória, uma história contada por cada um de nós. Uma madalena em cada Proust que há em nós.

Nada disto valeria sem audácia e visão. Com imenso esforço e muita criatividade, a Viarco de hoje continua a (ar)riscar o seu futuro. Lança produtos inovadores como o ArtGraf, cede espaços desactivados a artistas, cria redes para inventar exposições como esta. Enquanto assim for, vive a Viarco. E por isso Viva a Viarco!

Catarina PortasA Vida Portuguesa

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It is not a conventional gallery, but it is a fully adequate venue to host exhibitions.

It does not have an Italian style stage, but it has conditions to host theatre plays and even concerts.

It is not a school in the traditional sense, but it offers training courses in plastic arts and photography and also labs for this purpose.

Maus Hábitos project, housed in a spacious flat in an old building located in the deserted downtown Oporto has its inter-disciplinary nature as its main characteristic. The diversity of cultural means of expression to be found at Maus Hábitos is surely a consequence of the variety of backgrounds and experiences of its founders. To fill an existing void, these came up with a project to bring into existence an area of creative freedom and cultural dissemination to suit their requirements as well as those of others.

The ‘specifications’ for this project, which has been in operation since January 2001, include three essential points: the letting of the place for rehearsals and presentations, production of events and contents, training and consulting.

The first point was included as a result of the shortage in Oporto of venues for rehearsals, hosting of shows and exhibitions by young artists, whose projects often do not materialize for this very reason. However, in the 800 square metres of Maus Hábitos, these new talents have the opportunity to show what they are worth, since one of our aims is to make the work of young artists known. We also organize collective exhibitions of works by reputed artists.

Let us now turn our attention to what has been happening in the area of the production of events and contents. At the end of almost three years of work, the important role that Maus Hábitos is playing in the cultural life of Oporto has become apparent. It is an outstanding venue where to host events from the most diverse areas of cultural life, from visual arts to music, from theatrical plays and performances to concerts and poetry recitals.

In what concerns training, we must stress that all those who intend to teach at Maus Hábitos also teach at establishments of Higher Education. However, the essential difference is that at Maus Hábitos, on the one hand, students enjoy more freedom and, on the other hand, there is a more practical approach. The same applies to the workshops we are planning. There will be short lectures aimed at professionals and/or amateurs who wish to improve their theoretical technical knowledge or their skills at photography, theatre, dance, plastic arts, music and video.

Since its have attracted people to deserted downtown Oporto. We have formed new audiences through the exhibitions and shows we hosted. We have promoted debate. And we have done it all with the healthy arrogance of those in a permanent quest of excellence. Born in the context of Oporto 2001 - European Capital of Culture - in partnership with Rotterdam, the Maus Hábitos project aims to keep alive the energy that curiosity generated in the general public at the time. The people of Oporto revealed such an active interest in cultural pursuits that Maus Hábitos has the belief that it is possible to keep the flame alive. We want to make

MAUs HábITOs – an alternative

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Não é uma galeria convencional, mas dispõe de espaços apropriados para receber exposições.

Não tem um palco de estilo italiano, mas oferece condições para acolher peças de teatro e concertos.

Não é uma escola no sentido tradicional, mas desenvolve um programa de formação em diversas áreas da criação artística, organizando oficinas.

O projecto Maus Hábitos, instalado num amplo 4º andar de um velho prédio da desertificada baixa do Porto, caracteriza-se sobretudo pelo seu carácter interdisciplinar. O cruzamento de linguagens que se respira no Maus Hábitos encontra explicação na circunstância de, na sua origem, se encontrarem pessoas com formações e experiências muito diversas, que sentiam falta de um espaço de liberdade de criação e fruição cultural, e que pretenderam colmatar essa lacuna fundando um projecto que lhes servisse e estivesse ao serviço dos outros. O “caderno de encargos” do projecto, a funcionar desde Janeiro de 2001, engloba três pontos essenciais: a cedência de espaço para ensaios e apresentações, a produção de eventos e conteúdos, formação e consultoria cultural.

O primeiro ponto do programa nasceu da necessidade de oferecer condições logísticas para a realização de ensaios, produção de espectáculos e apresentação de exposições por jovens criadores, cujos projectos, por esse motivo e em muitos casos, não chegam a passar do plano das ideias. Ora, estes novos talentos encontram nos 800 metros quadrados do Maus Hábitos oportunidade para mostrar o que fazem, não fosse meta nossa divulgar o trabalho dos jovens artistas, para além dos trabalhos de artistas consagrados que também produzimos e apresentamos.

Entrando, então, na área da produção de eventos e conteúdos, ao longo de quase nove anos de trabalho é possível formar uma ideia do lugar que os Maus Hábitos podem ocupar numa cidade como o Porto, oferecendo um espaço excepcional para a mostra de eventos das mais diversas áreas da vida cultural, das artes visuais à música, da apresentação de peças de teatro e “performances” a concertos e recitais de poesia.

Quanto à formação, a característica diferenciadora está, por um lado, na maior autonomia conferida ao formando no processo de aprendizagem e, por outro lado, na valorização da vertente prática. Uma lógica próxima da dos “workshops” e oficinas, que vimos organizando, dirigidas a profissionais e/ou amadores que desejem aprofundar conhecimentos em técnicas usadas em fotografia, teatro, dança, artes plásticas, música e vídeo.

Desde a inauguração, os Maus Hábitos produziram e mostraram produções de outros. Trouxemos pessoas à deserta baixa do Porto. Fizemos formação de novos públicos através das exposições e espectáculos apresentados. E promovemos o debate. Nascido no contexto da iniciativa Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, em parceria com Roterdão, o projecto Maus Hábitos pretende contribuir para que perdure e se renove a curiosidade então desperta no público em geral, e acredita que é possível alimentar essa energia e não desperdiçar a intensidade de vida espiritual e cultural de que o Porto descobriu ser capaz

MAUs HábITOs – uma alternativa

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sure that what was exceptional in the recent past of this city becomes the norm in the present and the future of its cultural life. For this to become a reality it is of great importance to establish strong connections with foreign partners.

We prefer the Portugal of Fernando Pessoa:

“Oh, immense sorrow of the world, what is lacking is action”

to Ruy Belo’s – “a country where nothing ever happens”. Therefore our project is as follows – to take action, to do things, to make things happen. At a local level and also at a national or international level. This is what we were born for and this is what we want to live for.

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aquando desse acontecimento excepcional. Queremos contribuir para que o excepcional desse passado recente se torne o habitual do presente e do futuro da vida cultural da cidade. Para o que será da maior importância o estabelecimento de laços sólidos com parceiros estrangeiros, como temos vindo a fazer, nomeadamente com Roterdão (projecto MORGEN), Barcelona (Feira NEW ART) ou Hannover (projecto TRANS_HÁBITOS).

No seu oitavo ano de vida, o projecto Maus Hábitos amadureceu, vem afinando o rumo e, sobretudo, abriu-se ao mundo, internacionalizou-se. O nosso espaço é hoje ponto de encontro regular de gente de muitas nacionalidades e áreas de actividade. Na era da globalização, colhemos, e oferecemos, o que tem de melhor: a circulação cada vez mais fácil das pessoas e das ideias, com o que traz de aproximação, descoberta da semelhança na diferença, exercício da convivência fraterna, tolerante e livre entre iguais de condição, para além e aquém das diferenças de circunstância.

Com Fernando Pessoa, dizemos:

“ó mágoa imensa do mundo, o que faz falta é agir”.

E é esse o nosso projecto – agir, fazer e fazer acontecer. Tanto à escala local, como à escala nacional e internacional. Foi para o que nascemos, é para o que queremos viver.

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Cities reveal more about themselves in their gaps than in their facades. Their leaders therefore can choose between two types of policy: to focus on the visible city, the one that can be displayed as a result of their actions; or be part of its (re)construction, via the invisible city, a fundamental basis for sustainable development.

The developmental myth of Modernism believed in heavy industry as a progress factor. Today, moving beyond that heroic adventure, we believe in the creative industries as the real motor in the development of cities, their social structure and their urban fabric.

What we are looking for as a (re)meeting place is not the monumental square built by the “prince” with the help of public architects and huge, dubious, urban development plans, but rather a place for all transversalities. What confronts us, daily, is a representation of the city that oscillates between the models of Babylon or Disneyland. The explanation for the anxiety of the ‘search for the place’ is the illegibility of the contemporary city and its representations, and the consequent weakening of its new urban forms and distortion of social relationships. We have to use discontinuity and fragmentation to combat superficiality, uniformity, standardisation and neutrality since these prevail over individuality. Just like Marco Polo, we are looking for a return to the first archetypes of memory with an image of the absence of cities. We must oppose real reality with an imagined reality.

MAUS-HÁBITOS has helped to make us virtual travellers who talk about these impossible cities due to the persistence and resistance to the hollowing out of the historic centre of Porto. It is a fundamental building block in urban renewal since it generates new singularities that contribute decisively to setting out a new architecture for the land: it has been the basic element in settling the city. Downtown, limits are now being developed without symbolic frontiers which enable the agglomeration of diverse social groups with their mutual relationships and distinct peoples, generating a scenario of an unlimited mingling of small and large singularities, “forming a true anthropological space”.

MAUS-HÁBITOS represents the model that we want to see installed as the engine of renewal that urges support with the threat that, tomorrow, those in charge will be seen as responsible for any loss of memory.

Luís Serpa

MAUs HábITOs – A new Anthropological space

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As cidades revelam-se mais nos seus interstícios do que nas suas fachadas. Os governantes têm, assim, duas hipóteses de fazerem política: Ou se preocupam com a cidade visível, aquela que podem propagandear como resultado das suas acções; ou intervêm na sua (re)construção, através da cidade invisível, base fundamental do desenvolvimento sustentado.

O mito desenvolvimentista da modernidade acreditava na indústria pesada como factor de progresso. Hoje, ultrapassada essa heróica aventura, acreditamos nas indústrias criativas como o verdadeiro motor do desenvolvimento das cidades, do seu tecido social e da sua malha urbana.

O que procuramos como o lugar de (re)encontro não é a praça monumental construída pelo “príncipe” com a ajuda dos arquitectos de serviço e dos grandes planos de urbanismo duvidoso mas o lugar de todas as transversalidades. O que se nos depara diariamente é uma representação da cidade que oscila entre o modelo da Babilónia ou da Disneylândia. O que explica a ansiedade da procura-do-lugar é a ilegibilidade da cidade contemporânea e das suas representações e o consequente enfraquecimento das suas novas formas urbanas e desvirtuamento das relações sociais. É a descontinuidade e a fragmentação que devemos opor à superficialidade, à uniformização, à massificação e à neutralidade pois estas prevalecem sobre a individualidade. Tal como Marco Polo, procuramos um retorno aos primeiros arquétipos da memória pela imagem de ausência das cidades. À realidade-real devemos opor a realidade-imaginada.

Os MAUS-HÁBITOS têm contribuído para que nos tornemos viajantes imaginários que falam dessas cidades impossíveis pela persistência e pela resistência à desertificação do centro histórico do Porto. É pedra fundamental na renovação urbana pois gera novas singularidades que contribuem decisivamente para a elaboração de uma nova arquitectura de territórios, pelo que tem sido o elemento fundamental de sedimentação da cidade. Na Baixa, desenvolvem-se agora limites sem fronteiras simbólicas pois permitem a aglomeração de diversos grupos sociais com as suas mútuas relações e géneros distintos, gerando um cenário formado por uma ilimitada cumplicidade de pequenas e grandes singularidades, “formando um verdadeiro lugar antropológico”.

Os MAUS HÁBITOS representam o modelo que queremos ver implantado como o motor da renovação que urge apoiar sob pena de, amanhã, nos revermos como os responsáveis pela eventual perda de memória.

Luís Serpa

MAUs HábITOs – um novo lugar antropológico

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“The reduction of a head in movement to a bare line seemed to me defensible”Marcel Duchamp1

The VIARCO Express project is not about drawing. There is arguably no longer such a thing as drawing in the classical beaux arts sense. Only drawing in relation to other disciplines and other media. In the case of Viarco Express there is an exploration of the relationship between drawing, the message, and the pencil, the medium. Apologies to Marshall McLuhan. Viarco Express is about drawing as collaborative and multi-disciplinary effort and takes pace with a new perspective (sic).

This project has been developed and produced by Daniel Pires the director of Maus Habitos, the alternative cultural space in Porto, Portugal. But this is not a typical curatorial project. In many ways the absence of the normal curatorial voice enhances and empowers creative participation. The constant of the project is not the curatorial eye of Daniel Pires but his photographic one as he snaps the portraits of “his” drawers.

The project touches on three important areas: the new Portuguese Creative Industries, new definitions of creative clusters and new forms of incubation.

In fact the project is a prime case study for the Portuguese creative industries. It is a case study in the appropriation of traditional skills and industries and transforming them, conceptually with the assistance of new technologies and media, into something that has intellectual property and that can generate income.

Viarco Express is not a drawing project per se. It’s a creative social network. In new media jargon, if such a thing existed, one could call Viarco Express Web Minus One Point Zero (Web -1.0).

In Portugal there are plenty more potential collaborations out there on the creative map between new and old industries. These are one of the unique sales points of the Portuguese creative sector and they should not be neglected. And ADDICT the creative industries agency is in a place to facilitate them and these kinds of collaborations are what, in these metacompetitive times, will allow the Portuguese creative industries to stand out from those of other countries. The mapping and defining of the entire creative sector including handicrafts will help stimulate the creative economy in the entire Iberian Peninsula. What we are talking about here is bridging the gap between innovation and tradition. This is what projects like Viarco Express are able to accomplish.

The creative clustering aspect of the Viarco Express project also deserves attention. If the telecommunications company of high tech guru Martin Varsavsky FON could be considered a virtual cluster based on the sharing of access to technology, then Viarco Express should also be considered a form of virtual creative cluster. Especially, when it enters the web but not exclusively so. In the case of Viarco Express the participants, the media partners, the President of the Republic Museum and all of the rest of the team providing a service to the project constitutes a cluster.

In the creative sector this ability to cluster is what drives the project driven economy. In other words the original definitions of both creative industries and cluster have become outdated because the market has changed and both definitions require reframing.

When is drawing not a drawing?

1 – Theory of Modern Art - Theories of Modern Art: A Source Book by Artists and Critics by Herschel B. Chipp (University of California Press - 1984)

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“The reduction of a head in movement to a bare line seemed to me defensible”Marcel Duchamp1

The VIARCO Express project is not about drawing. There is arguably no longer such a thing as drawing in the classical beaux arts sense. Only drawing in relation to other disciplines and other media. In the case of Viarco Express there is an exploration of the relationship between drawing, the message, and the pencil, the medium. Apologies to Marshall McLuhan. Viarco Express is about drawing as collaborative and multi-disciplinary effort and takes pace with a new perspective (sic).

This project has been developed and produced by Daniel Pires the director of Maus Habitos, the alternative cultural space in Porto, Portugal. But this is not a typical curatorial project. In many ways the absence of the normal curatorial voice enhances and empowers creative participation. The constant of the project is not the curatorial eye of Daniel Pires but his photographic one as he snaps the portraits of “his” drawers.

The project touches on three important areas: the new Portuguese Creative Industries, new definitions of creative clusters and new forms of incubation.

In fact the project is a prime case study for the Portuguese creative industries. It is a case study in the appropriation of traditional skills and industries and transforming them, conceptually with the assistance of new technologies and media, into something that has intellectual property and that can generate income.

Viarco Express is not a drawing project per se. It’s a creative social network. In new media jargon, if such a thing existed, one could call Viarco Express Web Minus One Point Zero (Web -1.0).

In Portugal there are plenty more potential collaborations out there on the creative map between new and old industries. These are one of the unique sales points of the Portuguese creative sector and they should not be neglected. And ADDICT the creative industries agency is in a place to facilitate them and these kinds of collaborations are what, in these metacompetitive times, will allow the Portuguese creative industries to stand out from those of other countries. The mapping and defining of the entire creative sector including handicrafts will help stimulate the creative economy in the entire Iberian Peninsula. What we are talking about here is bridging the gap between innovation and tradition. This is what projects like Viarco Express are able to accomplish.

The creative clustering aspect of the Viarco Express project also deserves attention. If the telecommunications company of high tech guru Martin Varsavsky FON could be considered a virtual cluster based on the sharing of access to technology, then Viarco Express should also be considered a form of virtual creative cluster. Especially, when it enters the web but not exclusively so. In the case of Viarco Express the participants, the media partners, the President of the Republic Museum and all of the rest of the team providing a service to the project constitutes a cluster.

In the creative sector this ability to cluster is what drives the project driven economy. In other words the original definitions of both creative industries and cluster have become outdated because the market has changed and both definitions require reframing.

When is drawing not a drawing?

1 – Theory of Modern Art - Theories of Modern Art: A Source Book by Artists and Critics by Herschel B. Chipp (University of California Press - 1984)

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[“Clusters are geographic concentrations of interconnected companies, specialized suppliers, service providers, and associated institutions in a particular field that are present in a nation or region. Clusters arise because they increase the productivity with which companies can compete. The development and upgrading of clusters is an important agenda for governments, companies, and other institutions. Cluster development initiatives are an important new direction in economic policy, building on earlier efforts in macroeconomic stabilization, privatization, market opening, and reducing the costs of doing business.”]2

As Justin O Connor puts it: “This is not some pragmatic accommodation with a passing policy fad but an attempt to give it real theoretical and empirical flesh. It is not primarily an extension of Daniel Bell’s “knowledge economy” and its “symbolic workers”, as is often argued (Garnham, 2005; Pratt, 2009) – a charge more applicable to Richard Florida (2005) and John Howkins (2001). Nor is it simply ‘economism’ in the sense of reducing cultural production to its economic outputs. It draws on evolutionary economics and theories of cultural democratisation to argue that the creative industries exemplify a particular kind of market – a social network market – in which the false opposition of economic and cultural values is dissolved within highly complex, adaptive systems.”3 In other words the creative sector in Portugal and elsewhere requires special care and attention compared to other industry sectors.

O Connor revisits the same point in another essay bur from a different angle: “Economic geographers working in this field sought further to distinguish creative industry clusters from other business clusters, and emphasised the socio-cultural dimensions of place as key factors of “competitive advantage”. In so doing they have used terms such as innovative or creative milieu, creative field, or creative, critical or soft infrastructure (Hall, 2000; Pratt, 2000; 2002; 2004; Scott,2000; 2001; 2004; 2006).”4

In these late modern days it can be argued that clusters, creative or otherwise, can be permanent and temporary and their facilitators, in this case Maus Habitos, are agents of creativity in the pure sense of the term and possess a strong role in the incubation of ideas. The forthcoming Maus Habitos project will investigate notions of creativity, entrepreneurship, clustering and incubation.

If the telco company FON could be considered a cluster based on the sharing of access to technology, then Viarco Express is also a form of creative cluster. The original definition of a cluster has become outdated.

“Clusters are geographic concentrations of interconnected companies, specialized suppliers, service providers, and associated institutions in a particular field that are present in a nation or region. Clusters arise because they increase the productivity with which companies can compete. The development and upgrading of clusters is an important agenda for governments, companies, and other institutions. Cluster development initiatives are an important new direction in economic policy, building on earlier efforts in macroeconomic stabilization, privatization, market opening, and reducing the costs of doing business.”5

These days they can be permanent and temporary and their facilitators, in this case Maus Habitos, are agents of creativity in the strongest sense of the term. Maus Habitos is an incubator of creativity in an informal yet very powerful way.

2 – “Location, Competition and Economic Development: Local Clusters in a Global Economy” Michael E Porter, Harvard Business School – 2000)3 – Creative Industries – A new direction? Justin O Connor (International journal of cultural policy – 2009)4 – Developing a Creative Cluster in a Post-industrial City: CIDS and Manchester Justin O’Connor and Xin Gu, Creative Industries Faculty, (QueenslandUniversity of Technology – 2009).5 – “Location, Competition and Economic Development: Local Clusters in a Global Economy” Michael E Porter, Harvard Business School – 2000)

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[“Clusters are geographic concentrations of interconnected companies, specialized suppliers, service providers, and associated institutions in a particular field that are present in a nation or region. Clusters arise because they increase the productivity with which companies can compete. The development and upgrading of clusters is an important agenda for governments, companies, and other institutions. Cluster development initiatives are an important new direction in economic policy, building on earlier efforts in macroeconomic stabilization, privatization, market opening, and reducing the costs of doing business.”]2

As Justin O Connor puts it: “This is not some pragmatic accommodation with a passing policy fad but an attempt to give it real theoretical and empirical flesh. It is not primarily an extension of Daniel Bell’s “knowledge economy” and its “symbolic workers”, as is often argued (Garnham, 2005; Pratt, 2009) – a charge more applicable to Richard Florida (2005) and John Howkins (2001). Nor is it simply ‘economism’ in the sense of reducing cultural production to its economic outputs. It draws on evolutionary economics and theories of cultural democratisation to argue that the creative industries exemplify a particular kind of market – a social network market – in which the false opposition of economic and cultural values is dissolved within highly complex, adaptive systems.”3 In other words the creative sector in Portugal and elsewhere requires special care and attention compared to other industry sectors.

O Connor revisits the same point in another essay bur from a different angle: “Economic geographers working in this field sought further to distinguish creative industry clusters from other business clusters, and emphasised the socio-cultural dimensions of place as key factors of “competitive advantage”. In so doing they have used terms such as innovative or creative milieu, creative field, or creative, critical or soft infrastructure (Hall, 2000; Pratt, 2000; 2002; 2004; Scott,2000; 2001; 2004; 2006).”4

In these late modern days it can be argued that clusters, creative or otherwise, can be permanent and temporary and their facilitators, in this case Maus Habitos, are agents of creativity in the pure sense of the term and possess a strong role in the incubation of ideas. The forthcoming Maus Habitos project will investigate notions of creativity, entrepreneurship, clustering and incubation.

If the telco company FON could be considered a cluster based on the sharing of access to technology, then Viarco Express is also a form of creative cluster. The original definition of a cluster has become outdated.

“Clusters are geographic concentrations of interconnected companies, specialized suppliers, service providers, and associated institutions in a particular field that are present in a nation or region. Clusters arise because they increase the productivity with which companies can compete. The development and upgrading of clusters is an important agenda for governments, companies, and other institutions. Cluster development initiatives are an important new direction in economic policy, building on earlier efforts in macroeconomic stabilization, privatization, market opening, and reducing the costs of doing business.”5

These days they can be permanent and temporary and their facilitators, in this case Maus Habitos, are agents of creativity in the strongest sense of the term. Maus Habitos is an incubator of creativity in an informal yet very powerful way.

2 – “Location, Competition and Economic Development: Local Clusters in a Global Economy” Michael E Porter, Harvard Business School – 2000)3 – Creative Industries – A new direction? Justin O Connor (International journal of cultural policy – 2009)4 – Developing a Creative Cluster in a Post-industrial City: CIDS and Manchester Justin O’Connor and Xin Gu, Creative Industries Faculty, (QueenslandUniversity of Technology – 2009).5 – “Location, Competition and Economic Development: Local Clusters in a Global Economy” Michael E Porter, Harvard Business School – 2000)

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Future Viarco Express

Now for some important questions which pre-empt the inevitable switch of Viarco Express from analogue to digital. Is this drawing? www.knittaplease.com, or this www.yellowarrow.net or this http://graffitiresearchlab.com/?page_id=76. If they are not then what are they?

These new creative forms seem to cross figurative and abstract territories. Debut de siecle drawing has taken on a fluidity that it did not have in the previous century. There are a new generation of drawers and a new generation of people studying those drawings. Perhaps, we need a new generation of teachers too? Unlike the past, those doing the drawing and those researching the drawing are one in the same: “When I first became interested in drawing research…I rather naively identified two communities. I saw drawing makers who made drawings for a variety of reasons. I also identified a group of people who studied these outputs…Today a more extensive drawing community exists but we still wrestle with the relationship between drawing and research”.6 This convergence deserves further investigation itself of course. When is a drawing not a drawing? Who cares! Why is that a drawing and this not a drawing, that is the question we should be asking.

MDB, Autumn, 2009

Michael DaCosta BabbChief Executive, ADDICT - Creative Industries Portugal

6 – “Writing on Drawing: Essays on Drawing Practice and Research” by Steve Garner (Intellect - 2008) Pg 16

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Future Viarco Express

Now for some important questions which pre-empt the inevitable switch of Viarco Express from analogue to digital. Is this drawing? www.knittaplease.com, or this www.yellowarrow.net or this http://graffitiresearchlab.com/?page_id=76. If they are not then what are they?

These new creative forms seem to cross figurative and abstract territories. Debut de siecle drawing has taken on a fluidity that it did not have in the previous century. There are a new generation of drawers and a new generation of people studying those drawings. Perhaps, we need a new generation of teachers too? Unlike the past, those doing the drawing and those researching the drawing are one in the same: “When I first became interested in drawing research…I rather naively identified two communities. I saw drawing makers who made drawings for a variety of reasons. I also identified a group of people who studied these outputs…Today a more extensive drawing community exists but we still wrestle with the relationship between drawing and research”.6 This convergence deserves further investigation itself of course. When is a drawing not a drawing? Who cares! Why is that a drawing and this not a drawing, that is the question we should be asking.

MDB, Autumn, 2009

Michael DaCosta BabbChief Executive, ADDICT - Creative Industries Portugal

6 – “Writing on Drawing: Essays on Drawing Practice and Research” by Steve Garner (Intellect - 2008) Pg 16

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in the beginning...

There is no need to repeat here the Greek legend that tells us about the beginning of design.

... the beginning, in the sense of starting a practice that the classics have as a basis for all the arts; also a beginning in the sense of a technical solution (the trace), ethical orientation (faithfulness to the model), and emotional justification (the preservation or construction of a memory).

If we play with words, just as the drawings play with reality, a trace can also be a line; and we can be in the front line, face de danger and risk a new solution. design, looking at the Latin root of the word, means something that is marked or labelled, stored or revealed, reproduced or invented: it is the expression of a will to consolidate, invent or deconstruct the real. the Greek stem, graphien combines the acts of drawing and writing (engraving), another way we can make and register our design in the world.

Fidelity and recording, memory and invention, writing and will are interchangeable pairs that we deal with in our approach to drawing.

We can see all this in the first 10 artists invited to begin the chain of 100 artists in this project. afterwards, participating in a high-risk game, each one of the new invitees ignores the content of the message received from the previous member of the relay, making everything new again, transforming each new image into a first image. this breaks the popular idea of a “string” or “chain”, which needs a simply copying of the text of “chain letters” that for decades have been superstitiously sent around the whole world; this calls into question the erudite concept of the challenging game of continuities known as cadavre exquis.

In the necessarily unfair selection of the first artists, the pencil is used by Cabrita Reis as an instrument to record the written, engraving a legend under an image that does not come from a picture but from a photo: this opens up every possibility for what the remaining 99 artists can offer us. first, we have the challenge of supports (Joana Vasconcelos and Cabrita Reis) and the reaffirmation of style (Álvaro Siza, Julião Sarmento, Manuel Graça Dias, Paula Rêgo or Rui Chafes); caricature (António Antunes), illustrative (Manuel Graça Dias) or decorative (Joana Vasconcelos) use of drawing; the figure (Miguel Vieira), its transfiguration (Álvaro Siza), negation (Baltazar Torres), massacre (Paula Rêgo and Rui Chafes) and its reinvention (Julião Sarmento)...

These first 10 examples scarcely exhaust all the possible ways of drawing, but the 100 final artists include all the most important things in the Portuguese environment that the initiative fits into.

João Pinharanda

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Escusado repetirmos aqui a lenda grega que nos relata o princípio do desenho.

Princípio, no sentido de começo de uma prática que os clássicos têm como base de todas as artes; princípio também, no sentido de solução técnica (o traço), de orientação ética (a fidelidade ao modelo), de justificação emotiva (a preservação ou construção da memória).

Se jogarmos com as palavras, tal como os desenhos jogam com o real, traço também pode ser risco; e risco é, então, afrontamento de um perigo, solução de novidade. desenho, buscado na raiz latina, significa aquilo que é marcado ou assinalado, ou seja, guardado ou revelado, reproduzido ou inventado, é expressão de uma vontade de consolidar, inventar ou desmontar o real. já por via grega, graphien faz coincidir os actos de desenhar e escrever (grafar), outro modo de exercermos e registarmos o nosso desígnio sobre o mundo.

Fidelidade e risco, memória e invenção, escrita e vontade são pares intermutáveis com que devemos lidar na nossa abordagem ao desenho.

Tudo isso podemos perceber nos primeiros 10 artistas convidados a darem início à corrente de 100 artistas deste projecto. depois, participando num jogo de alto risco, cada um dos novos convocados ignora o conteúdo da mensagem recebida do estafeta anterior fazendo tudo de novo, transformando cada nova imagem numa primeira imagem. assim se quebra o conceito popular de “corrente” ou “cadeia”, que obriga à simples cópia dos textos das cartas “votivas” que, desde há décadas supersticiosamente se reenviam pelo mundo inteiro; assim se põe em causa o conceito erudito do arriscado jogo de continuidades que é o cadavre exquis.

Na necessariamente injusta selecção dos primeiros artistas o uso do lápis por Cabrita Reis como instrumento de registo de uma escrita, grafando a legenda de uma imagem que não provém de um desenho mas de uma foto, abre todas as possibilidades para o que, depois, os restantes 99 artistas nos oferecem. desde logo, temos a provocação dos suportes (Joana Vasconcelos e Cabrita Reis) e a reafirmação do estilo (Álvaro Siza, Julião Sarmento, Manuel Graça Dias, Paula Rêgo ou Rui Chafes); o uso caricatural (António Antunes), ilustrativo (Manuel Graça Dias) ou decorativo (Joana Vasconcelos) do desenho; a figura (Miguel Vieira), a sua transfiguração (Álvaro Siza), a sua negação (Baltazar Torres), o seu massacre (Paula Rêgo e Rui Chafes) a sua reinvenção (Julião Sarmento)...

Estes primeiros 10 exemplos dificilmente poderiam esgotar os modos atribuíveis ao desenho; mas os 100 artistas finais dificilmente deixarão de fora o que de mais significativo se passa no momento português em que se insere a iniciativa.

João Pinharanda

no princípio...

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Dez lápis, Cem desenhos

As regras são simples: reunir dez lápis e distribuí-los a dez desenhadores, pedindo a cada um que faça um desenho com o lápis recebido e que depois escolha outro desenhador, de modo a que cada lápis circule por dez pessoas, originando consequentemente dez desenhos. O objectivo é obter cem desenhos que serão apresentados numa exposição. Os lápis são produzidos pela única fábrica portuguesa de lápis, a Viarco, nome familiar para várias gerações de portugueses que, desde 1936, conheceram esses lápis nos seus primeiros anos de escola. Entre os primeiros dez desenhadores contactados encontramos diversos artistas visuais, arquitectos, um caricaturista e criador de moda, todos eles bastante conhecidos. A cadeia estabelecida a partir de cada lápis distribuído revelará coincidências, roturas, cumplicidades e afectos. A progressão aleatória do projecto diminui a dimensão legitimante dos primeiros dez nomes escolhidos, o que torna tudo mais aberto, imprevisível e divertido.

A ideia, da autoria de Isaque Pinheiro e de Daniel Pires, é simultaneamente um projecto artístico, uma operação de divulgação de uma marca e um jogo. A exposição resultante será como uma obra de arte colectiva, feita de contributos individuais que dificilmente se poderão relacionar para além da sua coincidência neste projecto. Convoca a surpresa e a liberdade que encontramos no “cadavre exquis” (“cadáver esquisito”), exercício criativo a que André Breton e muitos outros surrealistas se dedicaram, que consistia na produção colectiva de textos, colagens, desenhos e pinturas a partir da associação dos contributos dos seus diversos autores, os quais não conheciam muitas vezes o que os seus predecessores tinham feito. Cada caso deixa de ser um caso através do acaso que o relaciona com outros casos. A memória que os artistas possam ter da utilização desta marca de lápis na sua infância irá também convergir ironicamente na forma de apresentação dos seus desenhos, numa exposição que talvez relembre os Salões de Arte de outros tempos, associando conhecidos e desconhecidos, assumindo despudoradamente a casualidade dos critérios.

No momento em que escrevo, não vi nenhum dos desenhos realizados para esta situação, o que adiciona este e talvez outros textos integrantes do catálogo da exposição à imprevisibilidade caracterizadora do projecto. Num jogo, encontramos sempre um pequeno conjunto de regras que permite produzir um conjunto infinito de jogadas. Essa proliferação de possibilidades será reconhecível certamente na heterogeneidade dos desenhos reunidos. Sendo muitos dos participantes neste projecto artistas conhecidos, o jogo será também um convite à curiosidade de saber como responderam a esta situação. São os seus desenhos reconhecíveis como manifestação das características das suas obras? São os seus desenhos uma excepção ao que poderíamos esperar deles?

Entre as múltiplas funções do desenho, a sua natureza lúdica não será a menor, como sabemos quando observamos os desenhos de crianças ainda não domesticadas pelas estratégias escolares de representação da realidade. Dizem-me que, até agora, foram reunidos 93 desenhos, pouco faltando para os cem desejados. Se a conta final não chegar lá, tão pouco importa: os desenhos em falta serão como um convite a que cada espectador possa completar o jogo, na batota de já conhecer os desenhos que os outros fizeram. Só é preciso um lápis, claro está.

João Fernandes

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As regras são simples: reunir dez lápis e distribuí-los a dez desenhadores, pedindo a cada um que faça um desenho com o lápis recebido e que depois escolha outro desenhador, de modo a que cada lápis circule por dez pessoas, originando consequentemente dez desenhos. O objectivo é obter cem desenhos que serão apresentados numa exposição. Os lápis são produzidos pela única fábrica portuguesa de lápis, a Viarco, nome familiar para várias gerações de portugueses que, desde 1936, conheceram esses lápis nos seus primeiros anos de escola. Entre os primeiros dez desenhadores contactados encontramos diversos artistas visuais, arquitectos, um caricaturista e criador de moda, todos eles bastante conhecidos. A cadeia estabelecida a partir de cada lápis distribuído revelará coincidências, roturas, cumplicidades e afectos. A progressão aleatória do projecto diminui a dimensão legitimante dos primeiros dez nomes escolhidos, o que torna tudo mais aberto, imprevisível e divertido.

A ideia, da autoria de Isaque Pinheiro e de Daniel Pires, é simultaneamente um projecto artístico, uma operação de divulgação de uma marca e um jogo. A exposição resultante será como uma obra de arte colectiva, feita de contributos individuais que dificilmente se poderão relacionar para além da sua coincidência neste projecto. Convoca a surpresa e a liberdade que encontramos no “cadavre exquis” (“cadáver esquisito”), exercício criativo a que André Breton e muitos outros surrealistas se dedicaram, que consistia na produção colectiva de textos, colagens, desenhos e pinturas a partir da associação dos contributos dos seus diversos autores, os quais não conheciam muitas vezes o que os seus predecessores tinham feito. Cada caso deixa de ser um caso através do acaso que o relaciona com outros casos. A memória que os artistas possam ter da utilização desta marca de lápis na sua infância irá também convergir ironicamente na forma de apresentação dos seus desenhos, numa exposição que talvez relembre os Salões de Arte de outros tempos, associando conhecidos e desconhecidos, assumindo despudoradamente a casualidade dos critérios.

No momento em que escrevo, não vi nenhum dos desenhos realizados para esta situação, o que adiciona este e talvez outros textos integrantes do catálogo da exposição à imprevisibilidade caracterizadora do projecto. Num jogo, encontramos sempre um pequeno conjunto de regras que permite produzir um conjunto infinito de jogadas. Essa proliferação de possibilidades será reconhecível certamente na heterogeneidade dos desenhos reunidos. Sendo muitos dos participantes neste projecto artistas conhecidos, o jogo será também um convite à curiosidade de saber como responderam a esta situação. São os seus desenhos reconhecíveis como manifestação das características das suas obras? São os seus desenhos uma excepção ao que poderíamos esperar deles?

Entre as múltiplas funções do desenho, a sua natureza lúdica não será a menor, como sabemos quando observamos os desenhos de crianças ainda não domesticadas pelas estratégias escolares de representação da realidade. Dizem-me que, até agora, foram reunidos 93 desenhos, pouco faltando para os cem desejados. Se a conta final não chegar lá, tão pouco importa: os desenhos em falta serão como um convite a que cada espectador possa completar o jogo, na batota de já conhecer os desenhos que os outros fizeram. Só é preciso um lápis, claro está.

João Fernandes

Dez lápis, Cem desenhos

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O primeiro lápis da série Viarco EXPRESS iniciou o seu percurso nas mãos da artista Joana Vasconcelos. Os primeiros estafetas desta viagem obedecem fielmente às regras do jogo, definindo um grupo coeso de pessoas que partilharam a mesma formação ou constroem relações de vizinhança. Joana Vasconcelos e Sara Maia foram colegas na escola Ar.Co e trabalharam na mesma galeria. Todos coincidiram em exposições colectivas e João Pedro Vale ocupa um atelier contíguo ao de Sara Maia.

Cumplicidade e vizinhança são também os motivos que levam Susana Mendes Silva a passar o lápis a Ana Pérez-Quiroga. Colega dos dois nomes anteriores da lista, todos cursaram na FBAUL, é nas mãos desta artista que este primeiro lápis vai sofrer o primeiro e último desvio, já que não mais sairá do seu controle.

Decidida desde o primeiro momento a controlar e subverter o processo, Ana Pérez-Quiroga desenha um percurso e tenta transformar-se na comissária do lápis. É neste ponto da viagem que esta trama se cruza com o oitavo lápis. Ambos coincidem na Rua de Braamcamp, em Lisboa, um espaço partilhado por seis artistas. A promessa de subversão das regras acaba por instalar o caos, e os dois lápis chegam a confundir-se. Finalmente, Ana Pérez-Quiroga entrega o lápis a Marta Wengorovius, mas com a indicação que ele deveria seguir primeiro para Ana Pimentel, que então colaborava com ambas, e depois Guida Casella, que trabalha como ilustradora científica. Pérez- Quiroga e Wengorovius cursavam então o Mestrado em artes visuais e intermédia da Universidade de Évora e Casella pertencia ao grupo que tinha saído da FBAUL.

Este momento do percurso do lápis é muito longo, chegam a propor-se os nomes de Rodrigo Oliveira, João Simões e Ana Cardoso, que acabaram por não participar no projecto. Em repouso no atelier de Ana Pérez-Quiroga, este testemunho chegará ao final do seu percurso nas mãos de Paulo Brighenti, fechando um círculo que o transporta de novo à Ar.Co e à turma que acaba o curso avançado de artes plásticas em 1996. Uma aventura sinuosa, colaboraram na confusão desta primeira rede a vontade subversora de uma artista assume o roubo e a cópia como metodologia de trabalho. Perdeu-se o rumo do lápis, que suspeita-se ter chegado a Nova Iorque, voltando sem ter sido usado. Nesta trama, difícil de cartografar sem ter em conta todas as hipóteses do engano, a regra simples do jogo acaba por funcionar ao contrário. Em vez de um mapa automático, temos um círculo de cumplicidades que gravita em torno de uma personalidade. Esta experiência, como iremos constatar mais tarde, não será um caso isolado.

Finalmente, esta primeira experiência define dois núcleos fortes da mesma geração, grupos que saíram de duas escolas distintas em Lisboa, que cruzam projectos e estabelecem relações de proximidade e vizinhança. Um a um, todos os nomes foram escolhidos sob o pretexto da cumplicidade. Tendo em conta as diferenças consideráveis entre cada um dos projectos artísticos representados, este primeiro mapa alimenta-se de relações construídas na escola e a tentativa de subversão do projecto empreendida por Pérez-Quiroga não fez mais que conformar o resto do percurso do lápis à regra que tinha presidido cada uma das transacções anteriores e, numa ironia final, fazer regressar o testemunho à turma de Joana Vasconcelos.

As regras são feitas para serem quebradas

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O primeiro lápis da série Viarco EXPRESS iniciou o seu percurso nas mãos da artista Joana Vasconcelos. Os primeiros estafetas desta viagem obedecem fielmente às regras do jogo, definindo um grupo coeso de pessoas que partilharam a mesma formação ou constroem relações de vizinhança. Joana Vasconcelos e Sara Maia foram colegas na escola Ar.Co e trabalharam na mesma galeria. Todos coincidiram em exposições colectivas e João Pedro Vale ocupa um atelier contíguo ao de Sara Maia.

Cumplicidade e vizinhança são também os motivos que levam Susana Mendes Silva a passar o lápis a Ana Pérez-Quiroga. Colega dos dois nomes anteriores da lista, todos cursaram na FBAUL, é nas mãos desta artista que este primeiro lápis vai sofrer o primeiro e último desvio, já que não mais sairá do seu controle.

Decidida, desde o primeiro momento, a controlar e subverter o processo, Ana Pérez-Quiroga desenha um percurso e tenta transformar-se na comissária do lápis. É neste ponto da viagem que esta trama se cruza com o oitavo lápis. Ambos coincidem na Rua Braamcamp, em Lisboa, um espaço partilhado por seis artistas. A promessa de subversão das regras acaba por instalar o caos, e os dois lápis chegam a confundir-se. Finalmente, Ana Pérez-Quiroga entrega o lápis a Marta Wengorovius, mas com a indicação de que ele deveria seguir primeiro para Ana Pimentel, que então colaborava com ambas, e depois Guida Casella, que trabalha como ilustradora científica. Pérez-Quiroga e Wengorovius cursavam então o Mestrado em Artes Visuais e Intermédia da Universidade de Évora e Casella pertencia ao grupo que tinha saído da FBAUL.

Este momento do percurso do lápis é muito longo. Chegam a propor-se os nomes de Rodrigo Oliveira, João Simões e Ana Cardoso, que acabam por não participar no projecto. Em repouso no atelier de Ana Pérez-Quiroga, este testemunho chegará ao final do seu percurso nas mãos de Paulo Brighenti, fechando um círculo que o transporta de novo à Ar.Co e à turma que acaba o Curso Avançado de Artes Plásticas em 1996. Uma aventura sinuosa. Contribuiu para a confusão desta primeira rede a vontade subversora de uma artista que assume o roubo e a cópia como metodologia de trabalho. Perdeu-se o rumo do lápis, que se suspeita ter chegado a Nova Iorque, voltando sem ter sido usado. Nesta trama, difícil de cartografar sem ter em conta todas as hipóteses do engano, a regra simples do jogo acaba por funcionar ao contrário. Em vez de um mapa automático, temos um círculo de cumplicidades que gravita em torno de uma personalidade. Esta experiência, como iremos constatar mais tarde, não será um caso isolado.

Finalmente, esta primeira experiência define dois núcleos fortes da mesma geração, grupos que saíram de duas escolas distintas em Lisboa, que cruzam projectos e estabelecem relações de proximidade e vizinhança. Um a um, todos os nomes foram escolhidos sob o pretexto da cumplicidade. Tendo em conta as diferenças consideráveis entre cada um dos projectos artísticos representados, este primeiro mapa alimenta-se de relações construídas na escola e a tentativa de subversão do projecto empreendida por Pérez-Quiroga não fez mais que conformar o resto do percurso do lápis à regra que tinha presidido cada uma das transacções anteriores e, numa ironia final, fazer regressar o testemunho à turma de Joana Vasconcelos.

As regras são feitas para serem quebradas

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Ar.Co

Ateliers das Olaias

GaleriaMário Sequeira

joana Vasconcelos sara Maia joão Pedro

Valesusana Mendes silva

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FBAUL

Universidadede Évora

Ana Pérez-Quiroga

Marta Wengorovius

guida Casella

Ana Pimentel

Paulo brighenti

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“O desenho é sobretudo determinante na fase inicial de cada projecto, funcionando, de certa forma, como a primeira materialização da ideia. É também importante como momento de reflexão e ponderação no desenvolvimento do projecto artístico.”

“Drawing is especially significant at the initial stage of the project, functioning, in a certain way, as the manner in which the idea first materialises. It is also important as a moment of reflection and deliberation on the development of the artistic project”.

Raiz 2006 Root 2006Grafite sobre barro Graphite on clay39 x 46 (DS) x 27cm (DB)

joana Vasconcelos

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“Eu acho fantástica a ideia de o mesmo lápis fazer um trajecto por várias pessoas, para além do trajecto que é a diferença do mesmo lápis poder ter acontecimentos diferentes, é o facto do lado afectivo também, da teia afectiva que este lápis cria.”

“I think that the idea of the same pencil making a journey through several people is fantastic: besides the journey represented by the different ways in which the same pencil is able to experience different events, there is the emotional side too, the emotional web that this pencil is creating.”

s/título untitledGrafite sobre papel Graphite on paper70 x 50 cm

sara Maia

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“Não faço desenho. Não faço desenho no sentido tradicional do termo, porque depois o desenho assume muitas formas e há muitos projectos meus que são desenhos vivos, quase. São desenhos tornados em escultura.”

“I don’t do drawing. I don’t do drawing in the traditional sense of the word, because afterwards the drawing assumes many forms and there are many projects of mine which are almost live drawings. They are drawings turned into sculpture”.

Vale IOUGrafite sobre papel de bloco de rifas Graphite on raffle block29 x 5 cm

joão Pedro Vale

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“Olhando de fora parece haver uma circunscrição à amizade, mas eu pensei muito abertamente, até em pessoas de quem não sou amiga. Mas no meu trabalho interessam-me muito as ideias de amizade e afectividade.”

“Looking from the outside, there seems to be a circumscription around friendship, but I thought very openly, even about people who are not my friends. But in my work I am very interested in ideas of friendship and affection.”

“blog search: Viarco”Grafite sobre papel Graphite on paper70 x 50 cm

susana Mendes silva

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“Logo que recebi o lápis e o livro de assinaturas que a ele está associado, achei que tinha que controlar o processo. Subverter, manipular e por fim roubar o livro e o lápis. Com esta determinação, escolhi logo todos os artistas que deveriam participar no projecto.”

“Once I had received the pencil and the signature book associated with it, I thought that I had to control the process. To subvert, manipulate, and finally steal the book and the pencil. Having made this decision, I then chose all of the artists that should participate in the project.”

Acanthus Mollis L. sp. PL. 639 (1753)Madeira de balsa assinada a grafite Graphite on balsa wood77 x 57,5 x 2,5 cm

Ana Pérez Quiroga

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“O desenho estrutura o pensamento. Está assim em tudo, como os traços que deixamos na relva, o jacto do avião, o movimento de um braço… em contínuo.”

“Drawing structures thought. It is like this in everything, like the traces that we leave on the grass, the jet trail of a plane, the movement of an arm… continuously”.

s/título untitledGrafite sobre placa de pexiglas azul Graphite on blue plexiglas50 x 63,5 cm

Marta Wengorovius

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“Dos lápis Viarco tenho uma imagem de infância. Lembro-me que a minha bisavó nos dava aventais com os lápis Viarco, ou umas caixinhas de 6 lápis, com ilustrações muito bonitas. Talvez tenha surgido nesse tempo a minha apetência para o desenho.”

“My image of Viarco pencils comes from childhood. I remember that my great-grandfather gave us aprons with Viarco pencils, or some boxes of six pencils, with very pretty illustrations. Perhaps it was then that my desire to draw was awakened.”

Ídolos Calcários Calcaric idolsGrafite sobre papel Graphite on paper77 x 58 cm

guida Casella

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“A partir de um elaborado e organizado processo, o meu trabalho incide na ligação entre Arquitectura e a Natureza. A Arquitectura foi sempre um elemento central na construção da minha Obra, sendo indissociável desta, o conceito de Tempo e de Identidade.”

“Starting from an elaborate and organised process, my work deals with the connection between architecture and nature. Architecture has always been a central element in the construction of my work as it is inseparable from the concept of time and identity”.

BK1Balsa com inscrição a grafite Graphite on balsa wood30 x 10 x 7,5 cm

Ana Pimentel

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“O desenho é um espaço de exploração, de construção e de formulação de possibilidades. É um espaço de inscrição do positivo e do negativo, do visível e do não visível em contraste ou plasmados numa única camada. É o espaço do aparecimento e do espanto.”

“Drawing is a space in which to explore, construct, and formulate possibilities. It is a space in which to inscribe the positive and the negative, the visible and the invisible, either in contrast to each other or moulded into a single layer. It is the space of appearance and wonder.”

I´m immortal when I´m with youGrafite sobre papel Graphite on paper65,5 x 50 cm

Paulo brighenti

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