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Presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo

Ministro da Educação e Cultura Rubem Carlos Ludwig

Secretário-Geral Sérgio Mário Pasquali

Secretária de Ensino de 1º e 2º Graus Zilma Gomes Parente de Barros

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA SECRETARIA DE ENSINO DE 1º E 2º GRAUS

REDAÇÃO E CRIATIVIDADE NO

PRIMEIRO GRAU

Este documento foi elaborado por: •

Vanilda Salton Koche

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É proibida a reprodução total ou parcial deste livro, salvo com autorização da Secretaria de Ensino de 1º e 2º Graus do Ministério da Educação e Cultura, detentora dos direitos autorais.

Foram depositados cinco exemplares deste volume no Conselho Nacional de Direitos Autorais e cinco exemplares na Biblioteca Nacional.

Brasil. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Ensino de 1o e 2º Graus. Redação e criatividade no ensino de 1º grau. Brasília, 1980. 64 p. (Série Ensino Regular, 26)

Elaboração de Vanilda Salton Koche

1. Língua portuguesa - redação. 2. Ensino de 1º grau: redação, I. Título. II. KOCHE, Vanilda Salton.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA III

CONCURSO NACIONAL DE ENSINO DE REDAÇÃO

REDAÇÃO E CRIATIVIDADE NO PRIMEIRO GRAU

VANILDA SALTON KOCHE

BENTO GONÇALVES

1979

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APRESENTAÇÃO

Para a Secretaria de Ensino de l º e 2º Graus do Ministério da Educação e Cul-tura, reveste-se de dupla satisfação iniciar a publicação e a divulgação dos trabalhos vencedores nos três Concursos Nacionais do Ensino de Redação, promoções vitorio-sas do Ministério, que receberam a adesão de centenas de professores.

Primeiramente, pela importância do momento em que as autoridades educa-cionais e os educadores brasileiros se empenham em elaborar e instrumentalizar propostas que correspondam à melhoria da qualidade do ensino, sobretudo a do ensino da lingua portuguesa, a nosso ver, um dos problemas que gera todos os ou-tros que debilitam o nosso Sistema Educacional.

Em segundo lugar, pela certeza de oferecer aos educadores brasileiros uma va-riedade de instrumentos rnais condizentes com suas expectativas de trabalho, já que produzidos a partir do exercício das atividades docentes, permitindo que todos obtenham, com a sua leitura e a sua aplicação, vantagens que melhorarão os índices de aprendizagem dos alunos e estimularão o "fazer pedagógico" pessoal.

As experiências que hoje divulgamos, todas elas consolidadas na sala de aula, em vez de se proporem como modelos acabados ou sugestões fechadas, se prestam, sobretudo, ao exercício da criatividade de cada educador, dentro dos parâmetros ditados pelas condições e pelas realidades sócio-culturais de crianças e adolescentes das comunidades em que exercem o magistério.

Estimular a criatividade, a comunicação e a expressão, nas suas formas verbal e escrita, foi a intenção do Ministério da Educação e Cultura ao instituir o concurso, como forma de melhorar a aprendizagem da língua materna. Implementar tais prá-ticas, subsidiando o professor com o trabalho de outro colega, foi o caminho utilizado pela nossa Secretaria. Que todos façam bom proveito das atividades aqui propostas.

ZILMA GOMES PARENTE DE BARROS Secretária de Ensino de lº e 2ºGraus

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO............................................................................................. 5

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9

PRIMEIRA PARTE: FASE PREPARATÓRIA.................................................. 11

SEGUNDA PARTE: FASE DE DESENVOLVIMENTO ................................... 13

A) Fichas de leitura .............................................................................. 13 B) Exercícios baseados no método da criatividade .............................. 15

TERCEIRA PARTE: FASE DE DESENVOLVIMENTO com OS DIFEREN TES GÊNEROS LITERÁRIOS ................................................................ 41

A) Descrição......................................................................................... 41 B) Narração.......................................................................................... 45 C) Dissertação...................................................................................... 50

AUTO-AVALIAÇÃO ...................................................................................... 55

AVALIAÇÃO..................................................................................................... 57

Quadro de avaliação geral da primeira redação ........................................ 58

Quadro de avaliação geral da segunda redação ....................................... 59

CONCLUSÃO..................................................................................................... 61

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 63

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INTRODUÇÃO

Estamos cercados por um fluxo fonético-visual através da televisão, cinema e rádio. A todo instante estamos recebendo comunicação e estamos comunicando, usando os rnais variados códigos, quer orais, quer escritos. Quando o código usado é a língua escrita, é que surge diante de nós a maior dificuldade. Sentimos mas não conseguimos expressar no papel nossos sentimentos. Parece que as pessoas sentem um bloqueio quando são solicitadas a escrever alguma coisa. Se possuíssem o dom da palavra escrita, haveria milhares de escritores e poetas. É necessário fazer com que as pessoas dominem o código escrito, dando vigor e força ao seu pensamento.

Esse problema que foi exposto é sentido por um grande número de pessoas e, principalmente, por nossos alunos. Percebe-se que eles têm dificuldade de fazer um pequeno resumo de um livro, relatar um filme ou uma novela. Não conseguem organizar o pensamento e colocá-lo no papel, quer por falta de idéias, quer por falta de domínio técnico da palavra escrita. Quando lhes é solicitado abordar um assunto, exigindo argumentação, aí, geralmente, o problema se agrava. Surgem as rnais variadas perguntas: "o que escrever?", "como escrever?" e, enfim, a afirmação: "eu não sei escrever". O não saber escrever se toma o argumento principal que impede o exercício e o aperfeiçoamento da escrita. como afirma José Fernando de Miranda "as pessoas têm medo de escrever por uma única razão: não escrevem" (1 ).

A partir da tomada de consciência desse problema foi que se resolveu partir em auxílio dos alunos. Não se teve a pretensão de saná-lo totalmente, mas, pelo menos, alcançar parte dos objetivos propostos. Percebeu-se, outrossim, que os alu-nos eram ricos em potencialidades e que poderiam desabrochá-las se fossem metodi-camente orientados. Era necessário fazer algo para despertar a criatividade do aluno para, após, encaminhá-lo para um trabalho rnais amadurecido, consciente e apri-morado. Foi com base nessas considerações que se resolveu desenvolver o trabalho "Redação e Criatividade no 1º Grau".

Através da prática da redação propôs-se atingir junto aos alunos os seguintes objetivos:

- o desenvolvimento harmonioso da criatividade. - o desenvolvimento do pensamento, expresso de maneira lógica e coerente. - o desenvolvimento das potencialidades intelectuais. - a formação de hábitos de clareza, correção e concisão na comunicação es-

crita. - a distinção dos diferentes gêneros literários: narração, descrição e disserta-

ção. O plano de trabalho para atingir esses objetivos foi dividido em três partes:

( 1 ) - MIRANDA. José Fernando de. Arquitetura da redação. Saed., São Paulo. DISCUBRA. 1977. p. 22.

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Primeira parte: fase preparatória. Os alunos expuseram o que sabiam a respeito do Ano Internacional da Crian-

ça e depois fizeram uma dissertação. Após, em horário extra-classe, organizaram um álbum com gravuras alusivas ao tema proposto: Ano Internacional da Criança.

Segunda parte: fase de desenvolvimento. Foi exigida a leitura de dois livros em horário extra-classe. Os alunos fizeram

uma apresentação oral e escrita do primeiro e do segundo apenas a ficha de leitura. Nesta fase, foram também realizados vinte e quatro exercícios baseados no

método da criatividade.

Terceira parte: fase de desenvolvimento com os diferentes gêneros literários. Foi feito um estudo dos gêneros literários (descrição, narração e dissertação)

acompanhados dos respectivos exercícios. O aluno recebeu os exercícios mimeo-grafados que, após executados, foram sendo arquivados conforme a seqüência das aulas. 0 objetivo dessa fase foi o de familiarizar progressivamente o aluno com a re-dação, desde a forma rnais simples à rnais complexa.

Para este trabalho foi escolhida uma turma de sétima série da Escola Estadual Dona Isabel, de Bento Gonçalves. A turma era constituída de vinte e seis alunos.

Aplicou-se um pré-teste, na forma de redação, em que se constatou que esses alunos não satisfaziam aos objetivos propostos, mas que, se encaminhados para um trabalho rnais metódico, poder-se-ia conseguir resultados rnais satisfatórios.

Este trabalho apresenta o relato dos resultados alcançados e a descrição dos procedimentos utilizados. Para a sua realização foram dedicadas quarenta horas-aula. Forarn adotados dois livros básicos de onde foram extraídas as idéias e parte dos exercícios. O primeiro é "Redação Escolar: Criatividade" (2 ) e o segundo é "Ar-quitetura da Redação" (3).

(2 ) - GIORGI, Flávio Vespasiano di & MESERANI, Samir Curi. Redação Escolar: criatividade. São Paulo, DISCUBRA, 5a série, 1973.

( 3 ) - MIRANDA. José Fernando. Arquitetura da Redação. 5a ed., São Paulo, DISCUBRA, 1977.

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PRIMEIRA PARTE: FASE PREPARATÓRIA

No primeiro dia em que se iniciou o trabalho os alunos estavam agitados devi-do à chuva que caía. Aquele era o quarto período de aula e eles haviam passado to-do o recreio na sala.

No início da aula solicitei a alguns alunos que comparecessem diante de seus colegas e falassem algo sobre o tema "Ano Internacional da Criança". A classe toda emudeceu. Os alunos, antes irrequietos, agora estavam atentos. Pouca coisa souberam falar. Alguns lançaram algumas idéias esparsas do que captaram em pro-gramas de televisão. Ninguém conseguiu falar mais de um minuto.

A seguir, foi solicitado aos alunos que tomassem uma folha de papel e fizes-sem uma redação, para ser entregue, com o mesmo título. A priori, já se poderia esperar que o resultado não seria satisfatório, pois não houve uma preparação ante-rior. Além da dificuldade de expressão escrita e da falta de criatividade, os alunos não tinham conhecimento do assunto. As redações apresentadas não satisfizeram.

Exemplificamos com a redação do aluno Edgar. Constata-se que, além de não conhecer o assunto, não possui elementos para argumentar. Há repetição de idéias e palavras desnecessárias prejudicando a sonoridade do trabalho.

"Ano Internacional da Criança. O Ano Internacional da Criança foi criado para dar rnais amor à criança bra-

sileira. Há muitos pais que espancam as crianças, não dão apoio, carinho, compreen-

são. Esse ano foi criado especialmente para isto. Todos nós já ouvimos falar desse Ano Internacional da Criança e sabemos

para que organizaram isto. Há muitas crianças, neste mundo, que são maltratadas, por isso os pais devem

dar apoio ao filho, ajudá-lo nas suas tarefas, dialogar com ele. Há muitas coisas que ele quer saber e também que ele quer dizer aos seus pais.

Por isso, todas as crianças deste mundo devem receber o apoio, a compreen-são e enfim o que merecem.

Há muitas crianças, neste mundo, que estão passando frio e fome, não pos-suem agasalho. Nós devemos colaborar dando agasalho às crianças que necessitam.

Não podemos abandoná-las, ter ódio dessas crianças que são pobres. Elas fazem coisas erradas mas seus pais não os ensinam, não dão apoio, nem

amor e nem compreensão e isso é tudo que eles necessitam. As pessoas ricas só pensam para si, não querem saber dos outros, essas são pes-

soas egoístas. Não são porque elas são assim, mas o dinheiro é que faz isso nas pessoas. Não são todas as pessoas que são ricas que são egoístas e orgulhosas mas sim

há sempre aquelas pessoas que gostam de julgar os outros.

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Neste ano eu acho que todos os pais devem dar amor e compreensão, carinho, apoiá-la em tudo o que ela precisa".

com a finalidade de se conhecer o assunto e incentivá-los para o trabalho, foi solicitado aos alunos que pesquisassem em jornais e revistas a respeito do Ano In-ternacional da Criança. Foi solicitado que procurassem gravuras de crianças e orga-nizassem um álbum alusivo ao tema.

uma vez motivados, desenvolveu-se o trabalho "Redação e Criatividade no Primeiro Grau", tendo como tema central, sempre que possível, a criança. Isto se justifica por ser o ano de 1979 dedicado a ela, o Ano Internacional da Criança.

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SEGUNDA PARTE: FASE DE DESENVOLVIMENTO

A) Ficha de Leitura

Segundo José Fernando de Miranda, a humanidade evoluiu da audição para a visão, pois a leitura é experiência visual exigindo o compreender e o interpretar. É elemento básico na vida do homem, dando-lhe novas concepções de tempo e es-paço, uma nova concepção da realidade (4 ).

Através da leitura percebe-se os sentidos das palavras, as possíveis significa-ções que podem ter em função do contexto. O sentido denotativo é a definição en-contrada no dicionário e o conotativo é o que transcende a realidade. A leitura au-xilia a descobrir o sentido conotativo das palavras.

A leitura serve de estímulo emocional ao aluno, passando a comunicar-se com rnais habilidade, tendo rnais idéias e imaginação criadora rnais rápida. É através da leitura que se adquire facilidade para compreender e interpretar a mensagem do tex-to. A leitura aprimora a expressão oral e escrita.

A exigencia da ficha de leitura teve como objetivo conduzir o aluno a desen-volver mais sua imaginação criadora através dos estímulos encontrados nos livros.

Foram adotadas as fichas de leitura das Edições de Ouro, com algumas modi-ficações.

Ficha de Leitura 1 : Nome do aluno: Série:

1. Nome do livro: 2. Nome do autor: 3. Há uma ou várias histórias no livro? 4. Este livro pertence ao gênero: ficção, não-ficção (real), fantasia, ficção-

científica, romance, aventuras, poesia, teatro, prosa? 5. Há uma personagem principal? É menino, menina ou adulto? Ou é um ani-

mal? Ou é outra coisa? Descreva tal personagem o melhor que puder (e suas quali-dades, boas ou más):

6. Há outras personagens que lhe chamaram a atenção? Quais? 7. Pertencendo a um dos gêneros do item 4, qual é o tema? Mistério, religião,

aventuras, amor, amizade, policia], familiar, crime, ou o quê? 8. Há exemplos de injustiça, de deslealdade, de coragem, de companheirismo,

de doenças ou de morte? Qual o trecho que rnais o impressionou? 9. De qual dos temas mencionados no item 7 você gosta rnais? Por quê?

10. Quais outros livros você já leu e quais achou rnais interessantes? 11. Faça um resumo das principais idéias, dos principais fatos ou do enredo

do livro. (4 ) - MIRANDA. J.I-. Op.. Cit., p. 22.

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A ficha foi entregue aos alunos. Foram explicados todos os itens que deve-riam seguir. Foram dedicados trinta minutos da aula para ir à biblioteca da Escola. Os alunos forarn orientados na escolha dos livros, adequados ao seu nível de sétima série. Escolhidos os livros, receberam um prazo de dez dias para a sua leitura.

Após os dez dias, todos, indistintamente, apresentaram oralmente a ficha de leitura aos colegas. Alguns alunos expuseram perfeitamente o resumo do livro; outros só apresentaram fragmentos. Os trabalhos a seguir exemplificam os dois ca-sos. Os dois alunos leram o mesmo livro "Meu pé de Laranja Lima".

O aluno Alexandre só apresentou parte do livro, enquanto que a aluna Nádia demonstrou haver entendido realmente o livro, através do resumo exposto. No final do trabalho o próprio aluno reconheceu que de fato não havia entendido o livro e iria lê-lo novamente.

Ficha do aluno Alexandre: "Eles eram bem pobres e sua irmã ia lhe ensinar a atravessar a rua que se cha-

mava Rio-São Paulo. Aí ele voltou para casa de seu tio e lhe pediu o cavalo de pau Raio-de-luar que havia visto no cinema. Seu tio disse que lhe daria, com uma condição, se ele lesse um pedaço do jornal. Zezé disse que sim, leu e ganhou o cavalinho Raio-de-luar.

No outro dia eles foram visitar a casa da mudança e sua irmã entrou e agarrou no pé de mangueira e disse que era dela. Antônio fez a mesma coisa no pé de tama-rindo, não sobrando nada para ele. Sua irmã pediu para ele ir no fundo do quintal e foi aí que achou o pé de laranja-lima.

No dia seguinte ele tinha que ir se matricular na escola. Hoje de manhã fui ao colégio e encontrei o meu amigo com quem já havia bri-

gado. Ele me levou de carro e me comprou bolas de gude e figurinhas de artistas e todos os dias ele me levava para a escola. Foi quando eu soube que o trem tinha pegado o Portuga de carro, mas todos queriam me negar mas eu sabia que o man-garatiba não perdoava ninguém nem mesmo o meu Portuga.

Dois dias depois, ainda doente, fui ao meu pai chorando e disse que haviam cortado o meu pé de laranja-lima".

Nota-se na ficha do aluno Alexandre muita confusão. Ele narra na terceira pessoa, depois passa para a primeira como se a estória estivesse se passando com ele.

Ficha da aluna Nádia: "O livro nos conta a história de um menino que passou sua infância margina-

lizada pela pobreza e pela incompreensão dos pais. De um menino que queria ajudar sua família, mas sua família não o compreendia. Era um menino bondoso. Ao ir à escola, pulava a cerca de um vizinho, colhia sempre uma rosa e a levava à professora.

Não tinha amigos de verdade. Seu único amigo com quem desabafava era um pé de laranja-lima.

Um dia seu sonho se realizou, um homem rico tornou-se seu grande e único amigo.

Depois da aula, passava a tarde com seu amigo, com quem contava suas an-

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gústias. Gostava dele como se fosse seu pai, e às vêzes até muito rnais que pai, pois ele o fazia sentir-se feliz.

Mas um dia, por infelicidade do destino, num cruzamento de trem, seu velho e querido amigo faleceu. com o choque, ficou adoentado na cama, chegando quase a falecer.

Mas, como se não chegasse tudo isso, cortaram seu pé de laranja-lima, seu ami-go de tantas horas.

Seus pais, entendendo seu sofrimento, procuravam dar-lhe todo o carinho. Talvez esse pé de laranja-lima, só existia no pensamento de um menino, mas

esse menino ainda acredita que essa pequena plantinha ainda viva e que continua ajudando-o".

B) Exercícios baseados no método da criatividade

Os vinte e quatro exercícios que seguem foram aplicados com o intuito de de-senvolver a imaginação do aluno, tornando-o rnais criativo, desinibido e fluente. Não houve a preocupação com normas gramaticais no decorrer das aulas, para não tolher a criatividade do aluno.

Procedimentos: O trabalho seguiu os seguintes passos: 1º— leitura dos estímulos emocionais. 2º - resolução dos exercícios individualmente. 3º— intercâmbio de trabalhos entre alunos para receber e exercitar a crítica. 4? - leitura oral de cinco trabalhos em cada aula, de alunos que se dispuseram

para isso, variando sempre que possível para dar uma oportunidade a todos.

59 — escolha dos três melhores trabalhos de cada aluno, feita por eles mes-mos, para avaliação e atribuição de conceitos. Esses trabalhos foram en-tregues depois de relidos e feitas as possíveis correções gramaticais, de apresentação e de conteúdos.

Exercício nº 1 :

Estímulo emocional: Fuga — de Fernando Sabino. "Mal colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadei-

ra pela sala, fazendo um barulho infernal. - Pára com esse barulho, meu filho - falou sem se voltar. com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças

paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira. - Pois então pára de empurrar a cadeira. - Eu vou embora - foi a resposta. Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar

do chão suas coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de madeira com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde

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diabo meteram' a chave da despensa? — a mãe rnais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.

A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente o pai olhou ao redor e não viu o menino saindo. Deu com a porta da rua aberta, correu até o portão:

— Viu um menino saindo desta casa? — gritou para o operário que descansa-va diante da obra do outro lado da rua, sentado no meio-fio.

— Saiu agora mesmo com uma trouxinha - informou ele. Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo longe, caminhando cabisbaixo ao

longo do muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de biscoito e - saíra de casa prevenido - uma moeda de 1 cruzeiro. Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em di-reção à avenida, como disposto a atirar-se diante do lotação que surgia à distância.

— Meu filho, cuidado! O lotação deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus can-

taram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a um animalzinho:

— Que susto você me passou, meu filho! - e apertava-o contra o peito, fora de si.

— Deixa eu descer, papai. Você está me machucando. Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas: — Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai. — Me larga. Eu quero ir embora. Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala tendo antes o cuidado de

fechar a porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa. — Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando. — Fico, mas vou empurrar esta cadeira. E o barulho recomeçou." (5 ).

Exercício nº 1 : pense nesse tema: "Criança". Escreva tudo o que lhe vem à mente. Podem ser frases soltas, palavras, desenhos, rabiscos. Se você preferir poderá unir a linguagem escrita com o desenho. Crie à vontade.

Os alunos receberam a tarefa de expor as idéias a respeito do tema "criança", sem organização lógica, ao ritmo da sua imaginação. A princípio, ficaram sem ação. Entreolharam-se à procura de auxílio. Era o primeiro trabalho desse gênero. Fize-ram inúmeras perguntas.

Passados dez minutos, a classe silenciou completamente, dedicando-se com entusiasmo à tarefa proposta. Não foi determinado tempo de duração para este exercício a fim de não tolher sua criatividade.

Alguns alunos só escreveram, inclusive pequenas quadras. Fizeram um texto com palavras e desenhos e a maioria escreveu frases acompanhadas com desenhos

(5) - SABINO, F. Fuga. In: - DI GIORGI. F. V. & MESERANI, S. C. Redação Escolar: criatividade. São Paulo, DISCUBRA, 5a série. 1973, p. 27.

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ilustrativos. Percebeu-se a preocupação de fazer um trabalho perfeito. A aluna Carmen, por exemplo, escreveu as seguintes quadrinhas:

"Há muitas crianças pobres Que não têm onde morar. Há muitas crianças nobres Que vivem só a brincar.

A educação de uma criança Deve partir do próprio lar Pois se os pais não fizerem isso Seu filho não vai gostar.

No mundo em que vivemos É difícil uma criança educar Pois ao invés de pessoas se amando Só vemos pessoas a se odiar".

0 aluno Alexandre, por sua vez, deixou sua imaginação trabalhar escrevendo frases soltas:

"Criança é amor e paz. uma criança é tudo para uma mãe ser feliz. Amor de mãe é felicidade da criança. 0 mundo sempre será alegre com as crianças. Todos gostam de crianças, elas alegram os ambientes. O amor de criança é a felicidade do mundo. O olhar meigo de uma criança enriquece o mundo da alegria"

Exercício nº 2:

Estímulo emocional: Porquinho da Índia — Manoel Bandeira

"Quando eu tinha seis anos ganhei um porquinho-da-índia. Que dor de coração eu tinha Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pr'a sala P'ra'os lugares mais bonitos rnais limpinhos Ele não se importava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada" (6).

Exercício: retome o texto da aula passada. A partir do que você fez, tente or-ganizar um pequeno texto. Não precisa ser extenso, é preciso, porém, que tenha

( 6 ) - BANDEIRA. M. Porquinho da índia. In: MIRANDA. J. F., Op. Cit., p. 19.

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sentido. Não esqueça do tema "criança". A resolução dessa tarefa não satisfez. Os erros rnais comuns constatados neste

exercício foram: a) repetição de idéias; b) inclusão de outras idéias não contidas no exercício n° 1 ; c) falta de organização na exposição do assunto; d) frases desnecessárias, prejudicando o desenvolvimento do texto. Esses erros podem ser observados no trabalho do aluno Alexandre, já citado

no exercício nº 1 : "uma criança feliz também provém de uma mãe feliz, porque uns aos outros

somos felizes. As crianças pequenas não dão bola para a vida, porque não pensam e não

sabem no que estão vivendo. Elas vivem num mundo sem preocupações. Isto tam-bém é amor, "viver num mundo sem preocupações" porque o mundo não foi feito num dia só.

O nosso mundo é feito de crianças alegres de todas as partes, e o mundo de amanhã é feito da alegria das crianças. Os olhares meigos das crianças fazem muitas mães chorarem de alegria. As crianças representam um sentido enorme às mães".

Exercício nº 3: escreva rapidamente frases iniciadas com "a criança..."

Exercício nº 4: bem rápido, escreva palavras iniciadas com "p .......................... - b............................. - t ........................... - d.............................- p ........................... - v.......................... - n ...........................- o ........................... — i ..............................

A finalidade dos exercícios 3 e 4 foi a fluência e desinibição no ato de escre-ver.

A dificuldade encontrada nestes exercícios foi a de realizá-los de maneira rápida, devido à escassez de vocabulário do aluno. A rapidez exigida proporcionou a formação de frases incoerentes e de conteúdo pobre, como se pode observar no exercício do aluno Luís.:

"A criança é uma coisa muito importante. A criança é uma coisa boa neste mundo. A criança é amada por todos os pais. A criança todos os dias brinca com seus amigos. A criança vai para a escola. A criança é muito jovem para amar. A criança ama seus pais".

Exercício nº 5:

Estímulo emocional: O Pequeno Príncipe - Antoine de Sant-Exupéry : "O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi muito curta, mas mergulhou o principezinho numa profunda melancolia.

- Que fazes aí? Perguntou o bêbado, silenciosamente instalado diante de

(7 ) - SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. 17ª ed., Rio de Janeiro, 1974, Agir. p. 44-5.

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uma coleção de garrafas vazias e uma coleção de garrafas cheias. — Eu bebo, respondeu o bêbado, com ar lúgubre. — Por que é que bebes? Perguntou-lhe o princepezinho. — Para esquecer, respondeu o beberrão. — Esquecer o quê? Indagou o principezinho, que já começava a sentir pena. — Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça. — Vergonha de quê? Investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo. — Vergonha de beber! concluiu o beberrão, encerando-se definitivamente no

no seu silêncio. E o principezinho foi-se embora, perplexo. As pessoas grandes são decidida-

mente muito bizarras, dizia de si para si, durante a viagem". Exercício: agora você vai tentar fazer uma redação. como você está aprendendo

não precisa se preocupar em fazê-la genial. Não haverá nota, nem critica. A estória de hoje é a seguinte: imagine que você está voltando para casa, depois da aula. No ônibus, ao seu lado, sentou-se uma pessoa imaginária (personagem) que começou a conversar com você. Muito curiosa, ela faz muitas perguntas que você vai responder com sua imaginação. A personagem chama-se Celso. Vamos ao diálogo entre você e a sua personagem.

Celso: — como é que você se chama? Você: - Celso: - Eu não sei se você estuda ou trabalha... Você: - Celso: - Eu sou músico. De que música você gosta rnais? Você: - Celso: — O que você quer ser no futuro? Você: - Celso: - Se você fosse inventor, o que inventaria? Você: - Celso: - Eu gostaria de que me dissesse três coisas de que gosta muito. Você: — Celso: - Agora me diga o que você rnais detesta. Você: - Celso: - Adivinha o que eu gostaria de ser se não fosse músico: Você: — O ônibus chega ao ponto final e vocês se despedem. Mas você ainda vai rever

sua personagem... Desde cedo aprendemos a dialogar, quer com nossos pais, quer com outras

pessoas. O diálogo é o meio rnais usado na comunicação diária. Nesse exercício o aluno inventou sentenças para dialogar com a personagem

Celso. Ele criou uma pessoa imaginária, um tipo. O desenvolvimento desse exercício se processou de maneira lenta. Percebia-se

que os alunos não tinham imaginação. Fizeram muitas perguntas, como por exem-plo: "dizer o meu nome de verdade?" "como vou adivinhar o que ele gostaria de ser, se não fosse músico?". A essas perguntas lhes foi respondido que deveriam dizer o nome verdadeiro, pois estavam conhecendo um amigo e que deveriam usar de

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sua imaginação para inventar, criar. Os alunos mostraram-se muito preocupados, procurando olhar para os traba-

lhos dos colegas, com o intuito de collier alguma idéia. Um aluno exclamou: "Acho o Celso muito exigente, fazendo tantas perguntas!"

Embora tenham encontrado dificuldade na resolução do exercício nº 5, per-cebeu-se que tinham criado a sua personagem. Ficaram entusiasmados. O aluno que antes havia declarado que achava o Celso muito exigente, declarou que estava achando legal esse tipo de trabalho.

Concluído o trabalho, foi feito o intercâmbio de redações entre os colegas a fim de serem lidas e receberem uma crítica. Alguns alunos se dispuseram a lê-las em voz alta para toda a classe.

Aparece, abaixo, um exemplo do aluno Luís Carlos: "Celso: - como é que você se chama? Você: - Luís Carlos. Celso: — Eu não sei se você estuda ou trabalha... Você: - Estudo. Celso: - Eu sou músico. De que música você gosta rnais? Você: — música de discoteca. Celso: - 0 que você quer ser no futuro? Você: - Um engenheiro. Celso: - Se você fosse inventor, o que inventaria? Você: - Um carro movido a água. Celso: - Eu gostaria de que dissesse três coisas de que gosta muito. Você: - Estudar, brincar e trabalhar. Celso: - Agora me diz o que você rnais detesta. Você: - Eu não gosto de que ninguém me chame de nome feio. Celso: - Adivinha o que eu gostaria de ser se não fosse músico? Você: - Um bailarino? Percebe-se, no exercício, respostas secas, sem imaginação, demonstrando até

mesmo imaturidade intelectual, como se pode observar na resposta "eu não gosto de que me chamem de nome feio".

O objetivo desse exercício foi o de encaminhar o aluno para o diálogo, lan-çando as perguntas para que ele responda. Progressivamente ele vai passar a redigir as próprias perguntas numa situação imaginária de diálogo.

Exercício nº 6: Silencio!... Escreva tudo o que você está ouvindo neste mo-mento. Exemplo; barulho de carros.

Esse exercício teve como objetivo a fluência e a desinibição no ato de escre-ver, desenvolvendo a atenção auditiva do aluno. O desenvolvimento da percepção sensorial é importante para enriquecer a imaginação do aluno, fazendo com que ele vá além do corriquieiro e usual. Nesse primeiro momento o aluno coloca o que de fato está percebendo, treinando-se para, numa fase posterior, libertar-se da percep-ção sensorial e trabalhar mais a nivel de pura imaginação. Através do aperfeiçoa-mento dos sentidos, pode despertar ou descobrir novas significações no mundo que os cerca. E isso é essencial para que alguém consiga ter idéias para redigir, especial-mente quando se tratar de uma descrição.

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Tem-se, abaixo, dois exemplos, o do Ivandro e o do Edgar: "Um barulho de caminhão passando na estrada. Marteladas, tosse, gente ca-

minhando no andar de cima, um barulho de um fuça, música, o Edgar conversando". "Barulho de carros, passos, caminhões, cadeiras sendo arrastadas, música, pes-

soas falando, batidas de caneta". Nota-se nos dois exemplos que os alunos tendem a padronizar os diferentes ti-

pos de ruídos que ouvem. Falta-lhes domínio de vocabulário para especificar com detalhes os diferentes "barulhos" que estão percebendo. Nota-se, ainda, a tendência à imitação do exemplo do exercício, deixando, mesmo, as frases incompletas. Essas falhas, com os exercícios seguintes são corrigidas. Na leitura em sala de aula dos trabalhos que fizeram, foi despertada a sua atenção para tentarem descrever e dis-tinguir com palavras esses diferentes ruídos.

Exercício n?7:

Estímulo emocional: O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry: "Assim eu comecei a compreender, pouco a pouco, meu pequeno principezi-nho, a tua vidinha melancólica. Muito tempo tiveste outra distração que a doçura do pôr do sol. Aprendi esse novo detalhe quando me disseste, na manhã do outro dia:

— Gosto muito de pôr de sol. Vamos ver um... — Mas é preciso esperar... — Esperar o quê? — Esperar que o sol se ponha. Tu fizeste um ar de surpresa, e, logo, depois, triste de ti mesmo. Disseste-me: — Eu imagino sempre estar em casa! De fato. Quando é meio-dia nos Estados Unidos, o sol, todo mundo sabe, está

se deitando na França. Bastaria ir à França num minuto para assistir ao pôr do sol. Infelizmente, a França é longe demais. Mas no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplavas o crepúsculo todas as vezes que deseja-vas...

— Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes! E um pouco rnais tarde acrescentaste: — Quando a gente está triste demais, gosta do pôr de sol... — Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três? Mas o principezinho não respondeu" (8).

Exercício: escreva frases exclamativas, interrogativas e declarativas que as crianças costumam dizer.

Este exercício teve como objetivo fixar as explicações anteriormente dadas sobre exclamação, a interrogação e a declaração e a importância do seu correto uso no diálogo. Essa tarefa foi de fácil execução. Não fizeram perguntas. Usaram a pon-tuação adequada.

( 8 ) - SAINT-EXUPÉRY, A. Op. Cit., p. 27.

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O aluno Ivandro exemplifica esse exercício: "Mamãe, estou muito alegre e feliz! — Papai, mamãe, posso ir no matiné com meu amigo? — Mãe, o mano tá me surrando. — Eu posso ir no bar comprar balas? — Mãe, a senhora e o papai são tão queridos! — Mamãe, eu vou para a escola. Tchau! — A senhora está triste, mamãe? — Mãe, se a senhora não compra balas eu choro".

Exercício nº 8: no primeiro encontro com Celso você respondeu suas pergun-tas curiosas. Agora imagine um reencontro onde você pergunta e ele responde. Va-mos tentar? Você faz perguntas para as respostas dadas.

Você: - Celso: - Celso da Silva. Você: - Celso: - São Paulo, em 1960. Você: —

Celso: - São Paulo, digo, Roberto Carlos, Vinícius, Chico Buarque,... você não acha que eles são uma turma da pesada? Você: -Celso: - Não sei bem... Talvez cinema.

Dos oito exercícios feitos, esse foi o que rnais despertou o interesse dos alu-nos. Nos exercícios anteriores havia respostas que poderiam ser dadas rnais mecani-camente. Nesse, o aluno tinha que criar uma pergunta que se encaixasse à resposta. A diversidade de perguntas que poderia formular é maior para cada resposta. No entanto, a necessidade de ter que manter uma coerência dentro da totalidade do diálogo, restringia e obrigava e selecionar bem o enunciado da questão. Exigiu-se, portanto, maior imaginação criativa do aluno e coerência nas questões.

No diálogo do aluno Sadi pode-se perceber a adequação ou a inadequação de certas perguntas às respostas prontas:

"Você: - Onde nasceste? em que ano? — Celso: - Em São Paulo, em 1960. Você: - Voce vai todos os dias ao serviço de ônibus? Celso: - Só quando chove. Você: - Adivinhe o que eu gostava de fazer? Celso: - Deixe eu pensar um pouco... Já sei: aprender a contar estórias. Você: - como que você gostaria que fosse o mundo? Celso: - Puxa, você faz cada pergunta! como ê que eu posso saber'.'

Exercício nº 9: Eu não sei se você encontrou novamente o Celso ou se ele lhe telefonou. Tanto faz, escolha você. Escreva a conversa imaginária que vocês tiveram. como você já sabe lidar com o diálogo, imagine o assunto antes de escrever. Depois

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tente só para ver como sai o texto. Aqui deixo uma sugestão: falem a respeito do Ano Internacional da Criança.

Você: — Celso: - Você: - Celso: —

O diálogo é importante para despertar a imaginação criadora. José Fernando Miranda afirma que "o artista representa através de personagens sua apreensão do mundo. A tônica é o diálogo" (9).

Nesse exercício os alunos começaram a ser rnais independentes. Concen-traram-se na tarefa sem solicitar explicações ao professor. A sua execução se proces-sou de maneira rápida. Deram rnais asas à sua imaginação fazendo brotar do diálogo idéias que tinham continuidade.

Essa continuidade e fluidez de idéias pode ser notada no diálogo da aluna Car-men:

"Você: — Oi, Celso. Você está lembrado de mim? Celso: - Claro, Carmen, pois viajamos juntos no ônibus, não? Você: — Já que nos encontramos novamente vamos falar da criança. Celso: - Ótimo, já que este é o ano dedicado a elas. Você: - O que você acha deste tema? Celso: - Bem, eu acho que ele nos diz para começarmos a colaborar com as

crianças. Você: — E você acha que essa colaboração deve ser em dinheiro? Celso: — Em parte, em dinheiro, porque as crianças rnais precisam é de amor. Você: - É essa também a minha opinião. Celso: - Mas agora me diga, você continua no mesmo endereço? Você: - Sim. E sempre esperando a sua visita. Celso: — Eu sei, mas estou sem tempo, pois estudar e trabalhar não é fácil. Você: - Que tal você ir lá em casa neste fim de semana? Celso: - Tá legal. Sábado irei à sua casa. Você: - Avise sua família e durma lá em casa. Celso: - Não sei, acho que assim seria muito incômodo. Você: — Que é isso? Celso: - Está bem, então até sábado."

Exercício nº 10: escreva bem rápido palavras ou frases que você lembra serem faladas em sua casa. Lembre da pessoa que fala que fíca rnais fácil. Exemplo: Mãe ande depressa, menino, se não você vai chegar atrasado.

Esse exercício teve como objetivo a fluência e a desinibição no ato de escre-ver. Os alunos não demonstraram dificuldades em desenvolvê-lo, pois o que se exi-

( 9 ) - MIRANDA. J. F. Op. Cit., p. 38.

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giu foi que buscassem nas suas lembranças do dia a dia em sua casa, ligado a seus fa-miliares, as frases rnais usuais. Exercícios desse gênero visam acostumar o aluno a escrever, mesmo que sejam frases rnais corriqueiras usadas diariamente. O treina-mento alternado colocando exercícios que exigem rnais criatividade com exercícios rnais fáceis pretende não desestimular o aluno perante a primeira dificuldade que encontra.

Temos o exemplo novamente da aluna Carmen, predominando frases interro-gativas:

"Mãe: - Você tem que ir novamente ao colégio? Mãe: - Carmen, levante-se, está na hora. Irmão: - Você vai pro centro hoje? Irmão: - Você passou minha camisa? Mãe: - Carmen, arrume-se e vá fazer compras. Mãe: - Você já fez suas tarefas?

Exercício n°. 11 :

Estímulo emocional: Chapeuzinho Vermelho de Raiva — Mario Prata: " — Senta aqui rnais perto, Chapeuzinho. Fica aqui rnais pertinho da vovó, fica.

— Mas vovó, que olho vermelho... E grandão... Que houve? — Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. Aliás,

está queimada, hein? — Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a mal,

não, mas a senhora está com um nariz grande, mas tão grande! Tá tão esquisito, vovó.

— Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do bos-que que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este ar horrível. Chegue rnais perto, minha netinha, chegue.

— Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir ate aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos chego aqui com mi-nha moto.

— Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme? — Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora.

Olha aí: margarina, Hermans, Danone de frutas e até uns pacotinhos de Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu? Lembra da in digestão do carnaval?

— Se lembro, se lembro... — Vovó, sem querer ser chata. — Ora, diga. — As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por cima, peluda.

Credo, vovó! — Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. Onde

já se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me desculpe porque foi você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que diz, não é? Pois é, estas guitarras são muito barulhentas... Não há ouvido que agüente, minnha filha. Música é do meu

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tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando valsas... Ah, esta juventude está perdida mesmo.

— Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato, heim? Todo desfiado, pra cima, encaracolado. Que é isso?

— Também tenho que entrar na moda, não é minha filha? Ou você queria que fosse domingo ao programa do Chacrinha de coque e com vestido preto com boli-nhas brancas?

Chapeuzinho pula para trás: — E esta bôca imensa??? ! ! ! A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava: — Escuta aqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar é?!" (10).

Exercícios: agora você não precisa rnais ficar na personagem dada, no Celso. Vai inventar outra. Imagine como ela é, o que faz ou deixa de fazer. Sinta como se ela fosse um amigo ou uma amiga que você conhece bem. Nessa invenção não se prenda a uma pessoa existente, mas pode recolher dados de uma ou rnais pessoas existentes, para ir além com sua imaginação.

Para começar indique resumidamente: Nome: Apelido: Idade: como é fisicamente: como é por dentro: O que não gosta de fazer: Outros detalhes:

Esse exercício exigiu do aluno que fosse além dos limites impostos pelos ou-tros exercícios. O aluno criou o seu tipo, extraindo-o de suas vivências pessoais. O exercício foi fácil para a maioria, pois já estavam habituados a trabalhar com per-sonagens.

Vejamos a personagem criada pela aluna Sandra: "Nome: Daniela Casagrande. Apelido: Pitoca. Idade: 12 anos. como é fisicamente: cabelos louros, olhos azuis. Ela tem a pele branca, ma-

gra, um pouco feia. como é por dentro: sincera, amiga, gosta de ajudar os outros, educada, estu-

diosa e tem bons hábitos. O que gosta de fazer: brincar, jogar bola, pintar quadros. O que não gosta de fazer: secar a louça. Outros dados: ela quer ser bancária no futuro."

(10) - Prata, M. In: - Dl GIORGI. F. V. & MESERANI, S. C. Op. Cit., p. 39.

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Exercício n° 12: você e sua personagem estão viajando. Escreva tudo o que vocês estão vendo e sentindo.

Esse exercício elevou o nível de dificuldade para os alunos, uma vez que dei-xou de lado o diálogo e o colocou perante uma nova situação. A idéia de escrever o que via e sentia na sua imaginação o fez um "observador em movimento", como afirma Édison de Oliveira (11 ). O aluno treinou a descrição num processo criativo. Descreveu os passos da viagem, ativando toda a sua imaginação para criar situações e cenários.

Exemplificamos com o trabalho da aluna Sandra: "Neste momento, eu e a Daniela estamos fazendo uma excursão de ônibus para

o Rio de Janeiro. Estamos passando pela praia de Camburiu. Esta praia é linda. A água de Camburiu é tranqüila. No meio da água existe uma ilha bonita e grande, com bastantes árvores. Neste momento estamos sentindo um ventinho gostoso que bate em nosso rosto e nossos cabelos ficam horríveis, todos espantados. Quando chegamos ao Rio foi tão legal! Colocamos os biquínis e fomos diretas para a mar tomar banho. Nós vimos um menino de 7 anos se afogando. Quase morremos de susto. Daniela ficou tão assustada que queria ir salvar o menino, mas os salva-vidas foram e o salvaram. Graças a Deus assim não aconteceu nada. Voltamos para casa descansados. Todo o mundo da excursão gostou muito, mas Daniela não parava de falar sobre aquele menino que quase morria se os salva-vidas não o salvassem meio depressa. Espero que qualquer hora ela não se afogue também. Nós gostamos muito e esperamos ir novamente, pois foi muito legal e divertido".

Exercício n? 13:

Estímulo emocional: 0 Gato e a Raposa — Caldas Aulete. "Gato e raposa andavam de sociedade a correr mundo, pilhando capoeiras e

ninhos. Muitos amigos, apesar de que a raposa volta e meia dava trela à gabolice, depreciando o compadre.

- Afinal de contas, meu caro, não és dos bichos rnais bem aquinhoados pela natureza. Só tens um truque para iludir aos cães: trepar em árvores...

- E é quanto me basta. Vivo muito bem assim e não troco esta minha habi-lidade pela tua coleção inteira de manhas.

A raposa sorriu compassivamente. Ora, o gato a desfazer nela, dona de cem manhas, cada qual melhor! E recordou lá consigo que sabia iludir aos cães de mil maneiras, ora fingindo-se morta ora escondendo-se nas folhas secas, já disfarçando as pegadas, já correndo em ziguezagues. Recordou todos os seus truques clássicos. Enumerou-os. Chegou a contar noventa. E chegaria a contar cem, se o rumor de uma acuação lhe não viesse interromper os cálculos.

- Está aí a cachorrada, disse o gato, marinhando pela árvore acima. Aplica lá os teus inumeráveis recursos que o meu recursozinho único já está aplicado.

A raposa, perseguida de perto, disparou como um foquete pelos campos a fo-ra, pondo em prática, um por um, todos os recursos da sua coleção. (11) - OLIVEIRA, Edison de. A comunicação através de palavras. Porto Alegre, Editora do Professor

Gaúcho, 1969, p. 15.

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Mas foi tudo inútil. Os cães eram mestres; não lhe deram trégua, inutilizaram-lhe as rnais engenhosas manhas e acabaram por ferrá-la.

Só então se convenceu - muito tarde!... - de que é preferível saber bem uma coisa só a saber mal e mal noventa coisas diversas" (12).

Exercício: hoje é um dia excepcional na vida de sua personagem e na sua. Aconteceu uma coisa extraordinária. Relate neste espaço.

Édson de Oliveira afirma que depois de o aluno realizar exercícios descriti-vos, terá adquirido experiência para enfocar um cenário. (13). E, agora, caber-lhe-á contar um fato, acontecido num determinado lugar e num determinado tempo. Afirma também, o citado autor, que o cabeçalho ou o fecho da narração podem ser de lances descritivos (14).

No exercício anterior (nº 12) o aluno descreveu o que, através da sua imagi-nação, estava percebendo, e, agora, ele narra um fato ocorrido com ele e a sua per-sonagem.

Alguns alunos não conseguiram narrar realmente um fato extraordinário. Ini-ciaram bem, mas não conseguiram atingir um climax.

Temos o exemplo do aluno Alexandre, já citado nos primeiros exercícios, quando foi observado que não possuía coerência nas idéias, construindo frases soltas, sem seqüência. Nesse exercício demonstra ter melhorado sensivelmente, embora não tenha narrado um fato extraordidário. Suas frases são completas. Não apresenta repetição de idéias e narra com uma "seqüência natural:

"Dia 23 de maio era aniversário de Paula. Eu comprei um grande presente e fui à casa de Paula. Ela tinha uma casa enor-

me e linda de morrer. Fui entrando e lhe dei meus parabéns por rnais um ano de vi-da e alegria. Havia uma mesa vasta cheia de doces, salgados e num canto havia uma enorme torta. A casa estava uma beleza.

Quando chegaram os convidados, começamos a festa que durou das 8 horas da noite até a manhã do outro dia. Foi uma festa extraordinária, sem preocupações. comemos, bebemos toda a noite. Aquele será um dia que nunca esquecerei em toda minha vida. Nós nos divertimos a valer e Paula ficou muito contente com a grande e linda festa que foi organizada em sua casa".

(12) - AULETE. Caldas. O gato e a raposa. In: - MIRANDA. J. F. Op. Cit., p. 23.

(13) - OLIVEIRA, Édison. A comunicação através de palavras. Porto Alegre, Ed. do Professor Gaúcho, 1969, p. 15.

(14) - OLIVEIRA. Édison de. Op. Cit., p. 27.

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Exercício nº 14: Imagine agora você que está numa floresta ou em outro lugar que você escolher. Livremente, sem preocupação de fazer um texto, vai indicando as sensações: os sons que ouve: aroma que você sente: o que você está vendo: temperatura que você está sentindo:

Este exercício teve como objetivo a fluência e desinibição no ato de escrever, desenvolvendo a percepção sensorial, através da sua imaginação. O aluno tem que procurar relembrar experiências vividas anteriormente ou criar situações fictícias de possíveis sensações. Deverá com o exercício, descobrir a importância dos detalhes como contribuição para o enriquecimento de uma descrição.

Transcrevemos abaixo o exemplo da aluna Simone: Os sons que ouve: "pássaros cantando, árvores se balançando, o vento soprar

forte". Aromas que você sente: "cheiro de líquens, cheiro de flores*'. O que você está vendo: "árvores, passaros, o sol, as nuvens azuis". Temperatura que você está sentindo: "amena e agradável".

Exercício nº 15: hoje sua imaginação voou bem alto. Foi parar em outro pla-neta e você encontrou outros seres extra terrenos. Faça um texto bem gostoso, po-dendo haver diálogo. O tema criança deve estar presente.

O tema do exercício deu ampla liberdade para que o aluno traçasse o rumo que bem entendesse para a redação. Livre dos limites impostos pelos outros exercí-cios, ele seguiu a tendência natural de aplicar os conhecimentos anteriores sobre narração de fatos imaginados com descrição de detalhes. Alguns intercalaram a re-dação com pequenos diálogos. O importante é que perderam o receio de usar a ima-ginação como fonte de idéias. O que dificulta, muitas vezes, o desenvolvimento de idéias é o medo de elas serem consideradas ridículas por fugirem dos padrões massi-ficados. Esse exercício, acrescido aos outros, teve o objetivo de desvencilhar a imaginação criadora do aluno dessas limes que o prendem ao padrão, à massificação. O exercício procura mostrar a importância e o valor da originalidade. A própria escolha do tema endereçou o aluno para essa perspectiva.

A execução desse exercicio surpreendeu. No início os alunos não sabiam o que escrever, pela dificuldade de se desprender do mundo real. Atesta isso as per-guntas que alguns fizeram: "Professora, quanto tempo leva um avião para chegar num outro planeta?" (Edgar); "Professora, então eu posso contar um sonho?" (Sandra). Esses dois alunos começaram a escrever e ultrapassaram as linhas estabele-cidas para o exercício, solicitando nova folha.

Nota-se, através do exemplo abaixo da aluna Sandra, que os alunos começam a escrever com maior facilidade, fluindo as idéias com maior espontaneidade:

"Estes dias, a nossa sala de aula voou para bem longe, em outro planeta bem distante da terra, pois estávamos fazendo uma pesquisa sobre "como vivem os pla-netas". Esta viagem foi feita dentro de uma grande e fabulosa nave espacial. Foi uma viagem tão longa que nunca se chegava. Até que enfim chegamos. Lá era tão

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diferente da terra. Apareciam homens de tudo quanto era lado. Eu e minhas colegas estávamos morrendo de medo, mas as professoras falaram que lá era Marte, e que eles não fariam nada de mal. Só que foi dureza fazer amizade com eles, mas no fim tudo foi legal. Depois de tanto conversar, eles nos pediram se queríamos passear um pouco de disco voador para conhecer outros planetas. Todo o pessoal achou muito interessante para a nossa pesquisa e nós aceitamos. Eles nos convidaram para ir conhecer um planeta que só existiam crianças. Lá não tinha pais, mães, avós, avôs. Nada, só crianças. Depois que a criança fazia 12 anos, ia para um outro planeta, onde lá só moravam as de 12 a 20 anos e assim seguia. Naquele planeta era tão legal, as crianças quando nos viram ficaram tão alegres, abanaram para a gente, sorriram quando saímos do disco voador. As crianças se agarraram em nós que não se solta-vam rnais. Então os marcianos deixaram a gente brincar um pouco rnais com as crianças. Naquele reino ou planeta, o rei e a rainha eram as crianças rnais gordas da-quele planeta. As crianças se alimentavam só de confetes, coitadas. O confete rosa tinha sabor de morango, o confete azul tinha sabor de mandacaru, o confete amarelo tinha sabor de abacaxi, enfim todas as cores tinham sabor e um gosto. Até eu trouxe um monte de papel picado. Depois damos tchau para elas e fomos até Marte de disco voador. Depois nos despedimos dos marcianos e fomos para casa, alegres e com uma pesquisa super legal. Espero com muito prazer ir lá de novo."

Exercício nº 16: desenhe as impressões que você guardou do planeta visitado. Este exercício, além de servir como um meio de amenizar a concentração do

aluno e servir como forma de recreação, sem perder o estímulo pelo trabalho, foi útil para complementar o desenvolvimento da imaginação com o uso de outro códi-go. Éste exercício foi de fácil execução, visto que, os alunos gostam muito de dese-nhar.

Exercício nº 17

Estímulo emocional: O menino do dedo verde - capítulo X — Maurice Druon: "É preciso acontecimentos extraordinários para que se dêem férias às crian-

ças. uma cadeia que floresce desperta sem dúvida uma grande surpresa; mas a gente logo se habitua, e acaba achando natural que um gigantesco jardim se eleve em lugar de muros cinzentos.

A gente se habitua a tudo, mesmo às coisas rnais estranhas. E a educação de Tistu voltou a ser em breve a principal preocupação do Sr.

Papai e de Dona Mamãe. — Eu penso que seria bom agora - dizia o Sr. Papai - mostrar-lhe um pouco o

que seja a miséria. — E em seguida o que seja a doença - dizia Dona Mamãe - para que ele cuide

bem da saúde. — Já que o Sr. Trovões lhe deu uma bela lição de ordem, vamos confiar-lhe

também a lição de miséria. Foi assim que Tistu aprendeu no dia seguinte, conduzido pelo Sr. Trovões,

que a miséria mora nas favelas.

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Haviam aconselhado a Tistu que vestisse para essa visita uma roupa rnais ve-lha.

O Sr. Trovões lançou mão da rnais forte voz de trombeta para explicar a Tistu que as favelas ficavam nas margens da cidade.

— As favelas são um flagelo - declarou ele. — E o que é um flagelo? - perguntou Tistu. — Um flagelo é uma desgraça grande que atinge muita gente ao mesmo

tempo. O Sr. Trovões já não precisava dizer coisa alguma, pois Tistu já sentia o pole-

gar coçando. Mas o que o esperava era pior que uma cadeia. Caminhos estreitos, lamacen-

tos, malcheirosos, insinuavam-se entre tábuas apodrecidas, juntadas de qualquer jei-to. Essas tábuas pareciam formar casebres, mas tão esburacados e oscilantes ao vento que a gente custava a acreditar que conseguissem manter-se em pé. As portas eram remendadas com papelão ou com velhos pedaços de lata.

Ao lado da cidade limpa, de cimento e tijolos, varrida cada manhã, a favela era como se fosse uma outra cidade, repelente, que envergonhava a primeira. Nada de postes, calçadas, vitrinas e caminhões de limpeza urbana.

"Um pouco de relva bebería essa água lamacenta e tornaria os caminhos rnais agradáveis; em seguida, volúbeis e clematites em quantidade reforçariam os pobres barracos, quase a desmoronar", pensava Tistu, cujo polegar em riste ia deixando im-pressões digitais em todas as feiuras do trajeto.

Nos barracos viviam muito rnais gente do que eles podiam conter; essa gente havia de ter, é claro, um maus aspecto. "Vivendo apertados assim uns contra os outros, sem um raio de sol, tornam-se pálidos como as chicórias que o Bigode con-serva na adega. Eu não gostaria que me tratassem como pé de chicória!"

Tistu resolveu fazer crescerem gerânios ao longo da janelas, para que as crian-ças vissem um pouco de cor.

— Mas por que toda essa gente mora em casinhas de coelho? - perguntou de repeten.

— Porque não possuem outra casa, é claro. Isso é uma pergunta idiota — res-pondeu o Sr. Trovões.

— E por que é que eles não têm outra casa? — Porque não têm trabalho. — E por que é que eles não têm trabalho? — Porque não têm sorte. — Então, quer dizer que eles não têm coisa alguma? — Sim, e a miséria é isto. "Pois amanhã" - disse Tistu consigo - "eles terão ao menos algumas flores". Ele viu um homem batendo na mulher e uma criança fugir chorando. — A miséria torna os homens ruins? - perguntou Tistu. — Quase sempre - respondeu o Sr. Trovões, que começou a lançar uma fan-

farra de terríveis palavras. De acordo com o seu discurso, a miséria devia ser uma horrível galinha negra,

de olhos ferozes, bico adunco, de asas tão grandes quanto o mundo, chocando con-

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tinuamente horrendos pintinhos. O Sr. Trovões os conhecia todos pelo nome: havia o pinto-roubo, que se apoderava das carteiras dos transeuntes e assaltava os banco; o pinto-embriaguez, que tomava um aperitivo atrás do outro e acabava caído na sarjeta; o pinto-vício, sempre à espreita de qualquer coisa desonesta; o pinto-crime, sempre de revólver na mão; o pinto-revolução, sem dúvida o pior de todos...

— Tistu você não está me ouvindo! — exclamou o Sr. Trovões. — Para come-çar, pare de encostar o dedo nessas imundícies! Que mania é essa de ficar apalpando todas as coisas? Ponha as suas luvas.

— Eu esqueci as luvas — disse Tistu. — Recomecemos nossa lição. Que é preciso para lutar contra a miséria e suas

terríveis conseqüências? Pense um pouco... É preciso uma coisa que começa com a letra o.

— Ouro? — Não, é preciso ordem! Tistu permaneceu um pouco calado. Não parecia muito convencido. E, quan-

do acabou de refletir, ele disse: — Esta sua ordem, Sr. Trovões, o senhor tem certeza de que ela existe? Eu

não acredito. As orelhas do Sr. Trovões ficaram tão vermelhas, tão vermelhas, que já não

pareciam orelhas, mas tomates. — Porque se a ordem existisse - prosseguiu Tistu na maior calma - não have

ria miséria. A nota recebida aquele dia por Tistu não foi das melhores. O Sr. Trovões ano-

tou no caderninho: "Meninos distraído e raciocinador. Os sentimentos generosos privam-no do senso da realidade".

Mas, no dia seguinte... Vocês já adivinharam. No dia seguinte os jornais de Mi-rapólvora anunciavam uma verdadeira inundação de volúbeis. Os conselhos de Bi-gode haviam sido tomados ao pé da letra.

Arcos cor do céu velvam a feiúra dos barracos, fileiras de gerânios debruavam os caminhos de relva. Os quarteirões deserdados, cuja proximidade era evitada de tão horríveis de se ver, haviam-se tornado os rnais belos da cidade. As pessoas iam visitá-los como se visita um museu.

Seus habitantes resolveram, então, aproveitar as circunstâncias. Puseram bor-boleta bem à entrada e cobravam cinco cruzeiros. Apareceram vários empregos: de guia, de guarda, de fotógrafo e vendedor de cartão-postal.

Juntaram uma fortuna. Para empregar esse dinheiro, resolveram construir entre as árvores um grande

edifício com novecentos e noventa e nove apartamentos muito bonitos, dotados de fogão elétrico, onde os antigos moradores da favela pudessem viver confortavel-mente. E, como era preciso muita gente para construí-lo, ninguém rnais ficou sem trabalho.

Bigode não se esqueceu de dar os parabéns a Tistu logo que pôde. — Ah, esta das favelas, foi de tirar o chapéu! Mas está faltando ali um pouco

de perfume. De outra vez, não esqueça do jasmin. Cresce depressa e é bastante chei roso.

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Tistu prometeu, na próxima vez, caprichar bastante" (15).

Exercícios: você teve a oportunidade de ouvir um trecho do livro "O menino do dedo Verde". Percebeu o bem que Tistu fez àqueles favelados.

Exercite agora sua imaginação e faça uma visita a uma favela. Narre os aspectos que rnais impressionaram. Fale das crianças que você viu na favela.

O texto de "o menino do dedo verde" serviu para deixar os alunos muito mo-tivados. Essa estória coloca o aluno num contexto totalmente de ficção. É um feliz exemplo do uso de imaginação criativa. Estimulados com as idéias lançadas pelo texto, os alunos desenvolveram com facilidade a narração. Muitos, porém, influen-ciados pela leitura, como é o exemplo do aluno Evandro, abaixo transcrito, acres-centaram juízos de valor, criticando a sociedade que marginaliza os indivíduos e lançando soluções de melhoria dos favelados. Houve já um início de argumentação característica da dissertação. Neste exercício os alunos demonstraram com maior clareza estar alcançando parte dos objetivos propostos neste trabalho.

O exemplo do aluno Evandro: "Bem, eu fui ontem visitar uma favela, fui com uma roupa boa porque não

sabia como era realmente uma favela. Mas logo vi, estrada nem existia, era só uma trilha para pessoas. As casas eram todas de madeiras podres e o telhado de latas, algumas telhas e papelão. Os adultos e as crianças tomavam banho de vez em quan-do porque não havia água, só duas torneiras para toda a favela que era muito grande, e a luz deles era de vela mesmo, quando tinha.

como não houvesse água e as crianças não tinham brinquedos, elas iam brin-car no barro e como lá estava cheio de lixo elas ficavam doentes e com bichas no seu corpo.

Mas eu falei com algumas crianças de lá, e elas ficaram minhas amigas. Eu per-guntei para elas o que ganhavam no Natal, e elas disseram o que é Natal? Eu fiquei muito emocionado, e mudei de assunto e perguntei se ali havia escola, e elas me dis-seram que não. Quando já estava no fim da favela presenciei a cena de dois meninos de uns 14 anos que voltavam com comida. Eles disseram bem alto que haviam rou-bado e eu pensei: também, se eles não tinham escola, e ninguém os ajudava eles ti-nham que roubar para sobreviver. Isso porque eles foram marginalizados pela socie-dade.

Depois de tudo isso fui para casa, e, como tinha ganhado na loteria, peguei, fiz um projeto de um milhão de cruzeiros para fazer uma escola na favela, melhorei as casas da favela e descarreguei um caminhão de roupas de todos os tamanhos lá".

Exercício nº 18:

Estímulo emocional: O Cisne "Formas arredondadas, graciosos contornos, alvura deslumbrante e pura, mo-

vimentos flexíveis, tudo no cisne nos agrada aos olhos. pela facilidade, pela liberda-de de seus movimentos na água, devemos reconhecê-lo, não somente como o pri-

(15) - DRUON, M. Op. Cit.. p. 65-70.

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meiro dos navegadores alados, mas ainda como o mais belo modelo, que, para a ar-te da navegação, nos ofereceu a natureza. Seu pescoço ereto e seu peito arredonda-do parecem, com efeito, figurar a proa de um navio, ao fender as ondas; seu largo estômago representa a quilha; o corpo, inclinado para a frente ao singrar as águas, ergue-se atrás, como uma popa; a cauda é um verdadeiro leme; os pés parecem lar-gos remos e as grandes asas, semi-abertas ao vento e levemente pandas, são velas a impelirem o navio, que é, ao mesmo tempo, navio e piloto" (16).

Exercício: lá para onde suas personagens foram, de repente, encontram uma coisa ou um bicho ou uma pessoa. Você vai descrever sem dizer o que é. A classe vai adivinhar. Procure o máximo de detalhes e mostre as sensações das personagens nesse encontro.

Esse exercício apresentou bons resultados, pois forçou o aluno a deixar de lado os chavões e os nomes que definem as coisas, para, indiretamente, com o pro-cesso descritivo, identificar o objetivo analisado. O aluno se viu obrigado, pelo desa-fio lançado e pelo exemplo descritivo do texto de motivação, a imaginar e ordenar os detalhes e as características essenciais para a identificação, sem nomear o objeto. Esse exercício exigiu a busca de vocabulário específico que acompanhasse o objeto imaginado. A maioria achou o exercício "legal". O centro da descrição de todos eles foi um bicho.

O exemplo do aluno Evandro mostra a riqueza da imaginação, do vocabulário e dos detalhes de uma maneira objetiva, sintética:

"Os Celso e o Beto se encontraram e fizeram amizade. Certo dia resolveram ir para a floresta e viram uma coisa extraordinária: ela

era grande, aproximadamente uma tonelada. Elas ficaram trêmulos e parados no mesmo instante. Esta coisa tinha quatro patas, cuspia fogo quando abria a boca. Vocês podem pensar que era uma coisa lendária, mas o Celso e o Beto juraram que tinha visto o tal bicho. Apesar das 4 patas o Celso e o Beto me disseram que ele an-dava só com duas, quase em pé. Tinha enormes unhas, e uma grande língua e já tinha queimado umas dez árvores, até saía fogo pelas narinas. Depois o Celso e o Beto me disseram que fugiram".

Exercício n? 19: você vai escrever livremente o que vier à cabeça. As palavras que iniciam cada seqüência são para você se apoiar nelas e não escrever sobre elas. Essas palavras podem trazer-lhe lembranças ou sugestões. Escreva-as.

Trem... Árvores... Cheiro de terra... Gosto de frutas... Domingo no parque... Correnteza do rio... Ondas do mar... O objetivo desse exercício foi o da fluência e desinibição no ato de escrever,

(16) - BUFFON. O cisne. In: - OLIVEIRA, C. L. de. Flor do Lácio. 9ª ed., São Paulo, Saraiva. 1967, p. 84.

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através de diferentes motivos lançados. O exercício não apresentou dificuldade al-guma.

Exemplo do aluno Evandro: "Trem: um acidente, várias paisagens, pontes, rios, grandes vagões e uma boa

viagem. Árvores: o balanço, as serras que a cortavam, a madeira que nos esquenta, as

frutas, as lenhas. Cheiro de terra: cheiro de escavações, minhocas, verduras, legumes, e vários

tipos de bichos. Gosto de frutas: maçã, bergamota, tangerina, laranja, limão e outras frutas como pitanga.

Domingo no parque: crianças brincando, se divertindo, passando um bom do-mingo, balanços, areia.

Correnteza do rio: um afogamento, peixes, várias pedras rolando junto com ela, os rios e riachos.

Ondas do mar: as crianças e os adultos brincando, o mar azul, as conchas e os peixes do mar".

Exercícios n°20:

Estímulo emocional: 0 Estouro da Boiada - Rui Barbosa. "Vai o gado na estrada mansamente, rota segura e limpa, chã e larga, batida e

tranqüila, ao som monótono dos eias! dos vaqueiros. Caem as patas no chão em bu-lha compassada. Na vaga doçura dos olhos dilatados transluz a inconsciente resig-nação das alimárias, oscilantes as cabeças, pendente a magrém dos pergigalhos, as aspas no ar em silva rasteira por sobre o dorso da manada. Dir-se-ia a paciência em marcha, abstrata de si mesma, ao tintinar dos chocalhos, em pachorrenta andadura, espetada automaticamente pela vara dos boiadeiros. Eis senão quando, não se atina por que, a um acidente mínimo, um bicho inofensino que passa a fugir, o grito de um pássaro na capoeira, o estalido duma rama no arvoredo, se sobressalta uma das reses, abala, desfecha a correr, e após ela se arremessa, em doida arrancada, atro-peladamente o gado todo. Nilda rnais o reprime. Nem brados, nem aguilhadas o de-tém, nem tropeços, voltas ou barrancos por davante. E lá vai, incessantemente, o pânico em desfilada, como se os demônios o tangessem, léguas e léguas até que, exausto e alento, esmorece e cessa, final, a carreira, como começou, pela cessação do seu impulso" (17).

Exercício: hoje você acordou muito disposto. O dia estava radiante. Você re-solveu fazer um passeio a um parque. Você já tem o início do parágrafo. Continue escrevendo.

O Parque O parque, àquela hora da tarde, estava colorido. Crianças corriam, pulavam.

Tudo era festa. O sorveiteiro, coitado, não tinha mãos para.........................................

(17) - OLIVI-LIRA, C. L. de. Op. Cit., p. 126.

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A roda gigante girava, girava. A cada volta, os gritos .......................................... Pouco a pouco, as pessoas iam saindo. Pais que puxavam os filhos. Filhos

que fugiam dos pais...................................................................................................... Este exercício sobre narração, extraído do livro Redação (18) procura fornecer

ao aluno a estrutura da redação com fragmentos de frases iniciando a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. O aluno teve que imaginar a seqüência da idéia em cada frase iniciada. Os alunos não apresentaram muitas dificuldades no exercício, desenvolvendo-o com espontaneidade, como mostra o exemplo da aluna Nádia:

"O Parque O parque, àquela hora da tarde, estava colorido. Crianças corriam, pulavam. Tu-

do era festa. O sorveteiro, coitado, não tinha mãos para atender todo mundo. O céu estava azul da cor do mar. O vento fresquinho que batia no rosto. O pipoquei-ro, então, não dava conta de tanto trabalho. Os pássaros cantavam de galho em galho, parecendo eles também querer participar da festa.

A roda gigante girava, girava. A cada volta, os gritos desesperados das pessoas, de tanto medo. Nos balanços, as crianças brincavam, alegres da vida, esquecendo tudo. Era um dia bonito, até para aquelas crianças pequenas. Era um dia maravilho-so, pois podiam sair um pouco de casa para se divertir. Até crianças pobres parti-cipavam, esqueceram a fome, a falta dos pais, pois era um dia muito agradável para elas.

Pouco a pouco, as pessoas iam saindo. Pais puxavam os filhos. Filhos que fu-giam dos pais, para poder ficar rnais um pouco. As crianças já deixavam de brincar. Todo mundo ia deixando o parque, mas felizes por poderem contemplar este dia tão feliz para todos".

(Exercício n?21 : neste exercício, dê exemplos de palavras. Exemplo: palavras rápidas: arisco, raio,... Palavras saltitantes: jacaré,... Palavras ásperas: Palavras vermelhas: Palavras jovens: Palavras tristes: Palavras suaves: Palavras fúnebres: "O ser humano comunica-se por necessidade e expressa-se por condição inte-

lectual e emotiva' (19). A palavra é o mais importante instrumento dessa comunica-ção. Ela nos sugere cor, ritmo, força, brilho, calor, dor, amor, despertando-nos para a significação das coisas.

Este exercício serviu para o aluno descobrir a força da sonoridade da palavra num contexto significativo. Foi considerado pela turma a tarefa rnais difícil realiza-

(18) - SANTOS, Volnir & CARVALHO, Adão c. Redação. Porto Alegre, 1975, p. 73. (19)

- MIRANDA, J. F.. Op. Cit., p. 45.

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da até então, pela própria deficiência que têm do domínio do vocabulário. Porém, com a troca de idéias entre colegas conseguiram executar o exercício.

Exemplo da aluna Nádia: "Palavras ásperas: ferrugem, rígidas,, amargas. Palavras vermelhas: orelhas, abelhas, ovelhas, telhas. Palavras jovens: legal, jóia, OK, boa, cara. Palavras tristes: guerras, brigas, batalha. Palavras suaves: flor, neve, brisa. Palavras fúnebres: defunto, pêsames, caixão, túmulo, fantasma".

Exercício nº 22:

Estímulo emocional: Hora de Dormir — Fernando Sabino: "- Por que não posso ficar vendo televisão? - Porque você tem de dormir. - Por quê? - Porque está na hora, ora essa. - Hora essa? - Além do rnais, isso não é programa para criança. - Por quê? - Porque é assunto de gente grande, que você não entende. - Estou entendendo tudo. - Mas não serve para você, é impróprio. - Vai ter mulher pelada? - Que bobagem é essa? Anda, vai dormir, que você tem colégio amanha cedo. - Todo o dia eu tenho. - Está bem, todo dia você tem. Agora desliga isso e vai dormir. - Espera um pouquinho. - Não espero não. - Você vai ficar aí vendo e eu não vou. - Fico vendo não, pode desligar. Tenho horror de televisão. Vamos, obedece

a seu pai. - Os outros meninos todos dormem tarde, só eu que durmo cedo. - Não tenho nada que ver com os outros meninos: tenho que ver com meu

filho. - Também eu vou para a cama e não durmo, pronto. Fico acordado a noite

toda. - Não começa com coisa não, que eu perco a paciência. - Pode perder. - Deixa de ser malcriado. - Você mesmo que me criou. - O quê? Isso é maneira de falar com seu pai? - Falo como quiser, pronto. - Não fica respondendo não: cala essa boca. - Não calo. A boca é minha.

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— Olha que eu te ponho de castigo. — Pode pôr. — Venha cá! Se der rnais um pio, vai levar uma palmadas.

— Quem é que anda te ensinando esses modos? Você está ficando é muito insolente.

— Ficando o quê? — Atrevido, malcriado. Eu com sua idade já sabia obedecer. Quando é que eu

teria coragem de responder a meu pai como você faz? Ele me descia o braço, não tinha conversa. Eu porque sou muito mole, você fica abusando... Quando ele falava está na hora de dormir, estava na hora de dormir.

— Naquele tempo não tinha televisão. — Mas tinha outras coisas. — Ora, deixa de conversa. Vamos desligar esse negócio. Pronto, acabou-se.

Agora é tratar de dormir. — Chato. — como? Repete, para você ver o que acontece. — Chato. — Toma, para você aprender. E amanhã, fica de castigo, está ouvindo? Para

aprender a ter respeito a seu pai.

— E não adianta ficar chorando feito bobo. Venha cá. — Amanhã eu não vou ao colégio. — Vai sim senhor. E não adianta ficar fazendo essa carinha, não pensa que me

comove. Anda, venha cá. — Você me bateu... — Bati porque você mereceu. Já acabou, para de chorar. Foi de leve, não

doeu nada. Pede perdão a seu pai e vai dormir. — Porque você é assim, meu filho? Só para me aborrecer. Sou tão bom para

você, você não reconhece. Faço tudo que você me pede, os maiores sacrifícios. To-do dia trago para você uma coisa da rua. Trabalho o dia todo por sua causa mesmo, e quando chego em casa para descansar um pouco, você vem com essas coisas. En-tão é assim que se faz?

— Então você não tem pena de seu pai? Anda, vamos! Toma a bênção e vai dormir.

— Papai. — O que é? — Me desculpe. — Está desculpado. Deus te abençoe. Agora vai. — Por que não posso ficar vendo televisão?". (20)

(20) - SABINO, P. Hora de dormir. In: - MARANHÃO, F. de A. Vamos Ler. São Paulo, IBEP. 1975, p. 6.

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Exercício: você quer assistir televisão e seu pai não deixa pois quer que você faça os seus temas. Escreva um texto gostoso. comece assim:

- Meu filho, vá fazer seus temas. O objetivo desse exercício foi o de treinar o desenvolvimento do diálogo. A

maioria dos alunos desenvolveu-o através do discurso direto. Porém, em termos de criatividade o exercício não satisfez plenamente, pois alguns alunos se fixaram de-masiadamente no texto-estímulo de Fernando Sabino, imitando-o, ao invés de criar suas próprias idéias. Colocamos como exemplo a redação do aluno Vanius:

"— Meu filho, vá fazer seus temas. — Espere um pouco. - Por que espere um pouco? — Porque quero assistir esse filme. — Esse filme tem alguma coisa interessante? — Sim que tem. - O quê? — Bastante moça bonita. - Cria vergonha na cara, menino. - Por que cria vergonha? Não posso nem olhar moça bonita? - Não pode. - Por quê? - Por que você não tem idade pra isso. E vá logo fazer os temas.

— Já que você disse isso, não vou rnais. — Por que você não vai rnais? — Porque queres mandar muito. - Há! É assim que se faz? Então espere um pouco. — Não, pai. Não me surra que eu já vou fazer os temas".

Exercício nº 23: rapidamente complete as frases abaixo: A criança de hoje....... No mundo em que vivemos ....... Há crianças felizes e outras....... Devemos ......

Esse exercício foi facilmente resolvido. Seu objetivo foi apenas o de reforço para a fluência e desinibição no ato de escrever. Colocamos o exemplo do aluno Vanius:

"A criança de hoje não é igual à de antigamente. No mundo em que vivemos há tantas coisas belas. Há crianças felizes e outras tristes. Devemos amar a Deus e ao próximo?

Exercício nº 24: hoje sua imaginação foi muito longe. Andou, andou até que chegou num mundo muito feliz, sem guerras, sem brigas. Conte como é esse mundo. Não esqueça de falar nas crianças. Pode ter diálogo.

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Segundo José Fernando de Miranda (21), são três os momentos da criação literária:

Primeiro: invenção. É a descoberta de uma idéia correspondendo à apreensão, preparação e incubação no processo criativo.

Segundo: disposição. É quando organizamos as idéias, estruturando-as. Terceiro: elocução. É o ato de escrever. Esse exercício é o fecho de todas as tarefas da primeira parte. Progressivamente

o aluno foi colocado em situações que lhe despertassem a imaginação criadora, utilizando estímulos os rnais variados. com exercícios, dos rnais simples aos rnais complexos, treinou a imaginação na percepção de sensações, na descrição de deta-lhes, no uso do vocabulário, na criação de situações e fatos fictícios, para que eli-minasse a sensação de impotência e tivesse auto-confiança na sua capacidade de es-crever.

Esses três momentos estiveram presentes nos diversos exercícios em que o alu-no, solicitado a criar uma idéia a respeito do tema dado, organizou seu pensamento e escreveu o texto.

Pode-se perceber, nesses últimos exercícios, que o aluno é rnais criativo, rnais fluente, desenvolvendo o seu pensamento de maneira rnais espontânea e coerente.

Apresentamos a redação da aluna Carmen: "Cheguei a um mundo totalmente diferente do nosso onde tudo se resumia em

amor, compreensão e fraternidade. Não havia ódio e nem diferenças de raças, o tratamento era igual tanto para brancos como pra negros.

Havia pessoas ricas, brancos e negros, mas não demonstravam em seus olhares a vaidade que existe nas pessoas ricas do nosso mundo.

Lá, nunca houve brigas e nem guerras entre os moradores, pois tudo o que é de um é de todos, fazendo com que assim ninguém pense em ter rnais do que o outro.

Há uma pessoa com um grau de estudo um pouco rnais elevado, portanto essa pessoa governa o mundo deles, como se fosse o rei. É ela quem vê os problemas e tenta solucionar, e fazendo isso ele é tratado com muito respeito desde os adultos até as crianças.

E por falar em crianças, é impressionante como elas são amigas umas das ou-tras, parecendo até serem da mesma família. Elas são muito limpas, bem educadas, estudam e se divertem quando se encontram todas juntas no domingo à tarde na praça.

O trabalho de casa é dividido, pois homens e mulheres fazem os serviços ca-seiros não havendo discussão de dizer que um trabalho mais que o outro.

Sendo assim, o povo deste mundo, pode se considerar feliz, porque nós, no mundo em que vivemos, se dissermos que somos felizes estaremos mentindo, pois com todas as desavenças que há e todas causadas pela ganância do dinheiro, não po-demos nos considerar felizes.

Aquele era um mundo feliz".

(21)- MIRANDA, J. F. Op. Cit., p. 31.

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Ficha de leitura 2

Após esses exercícios, estando os alunos habituados à interpretação de peque-nos textos, foi-lhes dada uma ficha de leitura, com os mesmos itens da ficha de lei-tura n° 1.

Pelo treino de síntese e análise feito em aula, os alunos demonstraram um grande progresso em relação à ficha de leitura nº 1. Souberam distinguir com me-lhor propriedade as idéias centrais, os fatos, a caracterização das personagens e ca-racterização do gênero literário.

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TERCEIRA PARTE: FASE DE DESENVOLVIMENTO com OS DIFERENTES

GÊNEROS LITERÁRIOS

A - A Descrição

O objetivo da descrição, segundo Édison de Oliveira (22), é desenvolver o es-pírito de observação do aluno focalizando os aspectos descritivos com ordem e coerência.

Nesta fase se procurou atingir esse objetivo da seguinte forma: — identificação nos textos lidos dos aspectos descritivos, suas características

c formas. — treinamento sobre os itens essenciais que devem fazer parte de uma descri-

ção. — treinamento com aplicação das normas gerais que caracterizam a descri-

ção. — exercício de descrição. Os exercícios propostos foram apresentados do nível do menor para o de

maior dificuldade, para que progressivamente o aluno fosse redigindo as descri-ções.

No primeiro dia em que se trabalhou com descrição foi dada mimeografada aos alunos a seguinte informação:

Informação: Descrição é o "desenvolvimento de imagens ou cenas" (23). É redação de um

texto, por meio de palavras, que nos transmite a imagem de uma pessoa, de um ani-mal, de uma paisagem ou de um ambiente, apontando-lhes suas características. É uma maneira de fotografar na mente de outrem o que se descreve. A descrição deve "presentar o assunto de maneira coerente, dando ênfase aos detalhes de tal modo que o leitor recrie na sua imaginação o que é descrito.

Após a explicação e discussão do conteúdo dessa informação, foi apresentado aos alunos o seguinte texto:

"Os cabelos de Tistu eram louros e crespos na ponta. como raios de sol que terminassem num pequeno cacho ao tocar na terra. Tistu tinha grandes olhos azuis e faces rosadas e macias. Todo mundo o beijava".

O pai de Tistu, que se chamava Sr. Papai, tinha os cabelos negros cuidadosa-

(22) OLIVEIRA. Édison de. A comunicação através de palavras. Porto Alegre, Gráfica e Edi-lora do Professor Gaúcho, 1979, p. 15.

(23) - MIRANDA. J. I . Op. Cit., p. 64.

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mente fixados com brilhantina; era alto e se vestia com apuro; não se via grão de poeira na gola do seu paletó, e perfumava-se com água de colônia.

Dona Mamãe, loura e leve, tinha as faces macias como a pele de rosa, e espe-lhava em torno dela, quando saía do quarto, o perfume de um buquê.

As unhas cOr-de-rosa de Dona Mamãe, polidas diariamente como o corrimão, brilhavam como dez janelinhas ao levantar o sol. Em torno do pescoço, orelhas, pul-sos e dedos de Dona Mamãe, cintilavam colares, brincos, pulseiras e anéis de pedras preciosas. Quando saída à noite, para o teatro ou baile, as estrelas empalideciam"(24).

Foi feita a leitura oral do texto pelo professor. A seguir todos os alunos leram um trecho, familiarizando-se, deste modo, com o que estava sendo descrito.

Segundo José Fernando de Miranda, podemos examinar a descrição sob vários ângulos: o aspecto físico, o aspecto psicológico, a descrição da paisagem e a nature-za viva (25). Neste trabalho, devido às características da turma, analisou-se apenas o aspecto físico e a descrição da paisagem.

Aspecto físico: a) de Tistu:

- cabelos louros e crespos na ponta - grandes olhos azuis - faces rosadas e macias - garoto bonito

b) do Sr. Papai: - cabelos negros fixados com brilhantina, brilhando como um capacete de

mil reflexos - estatura alta - bem vestido, sapatos bem lustrados - perfumado - bonito.

c) de Dona Mamãe: - loura e leve - faces macias como a pétala das flores - unhas vermelhas como peíalas de rosas, brilhando como dez janelinhas

ao levantar do sol - perfumada, cheia de jóias - bonita.

Descrição da paisagem: - casa esplêndida, com muitos andares, com pórtico, varanda, escadaria, cor

rimão polido e lustrado, escadinhas, altas janelas dispostas de nove em nove, torre- zinhas guarnecidas com chapéus pontudos, tapetes espessos e macios, cheia de can delabros de prata e lustres de cristal.

— jardim maravilhoso com quiosque, relva verde onde pastavam belos cavalos lustrosos. (24) DRUON, M. Op. Cit., p. 11-3. (25) - MIRANDA. J.F. de. Op. Cit.. p. 1 1 1 .

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Após os alunos terem destacado esses aspectos e já familiarizados com a descrição, passou-se para outra etapa: a descrição criativa.

Segundo José Fernando de Miranda, todas as descrições mantêm partes comuns que podem ser esquematizadas com a técnica de: perguntas auxiliares, pra-planejamento e desenvolvimento (26).

Foi explicado aos alunos cada uma das partes utilizando-se exemplos. Expli-cou-se as perguntas auxiliares: quê? Características? Circunstâncias? Impressões? Observação pessoal e conclusão.

Após a explicação apresentou-se o seguinte texto para que respondessem às perguntas auxiliares:

"Saci-Pererê O saci habita na cavidade dos bambus e gosta da agitação dos redemoinhos de

vento. É escuro como a noite sem luar e traz habitualmente, na cabeça, uma carapuça rubra como sangue. Tem um enorme olho no centro da testa, saltita com agilidade sobre e única perna que possui. Surge inopinadamente numa curva de estrada, atira-se às crinas dos cavalos que passam, gritá-lhes com estridor ao ouvido e fá-los disparar em desabalado e estrepitoso galope pelo campo afora. Assusta os pobres e bondosos pretos da carapinha branca, aparecendo-lhes de súbito à frente. Entra nos casebres pelo buraco das fechaduras ou por uma fenda da porta, arrebenta, por simples prazer, os móveis e vasilhas, faz desandar o sabão caseiro em preparo, lança punhados de cinza sobre os doces que borbulham, fervendo e desmanchando-se, dentro dos grandes tachos de ferro, apaga o fogo rubro e crepitante, derrama no chão de terra socada os potes de água, e, ora assobiando com viva alegria, ora tiran-do longas fumaçadas do cachimbo de barro, salta daqui, pula dacolá, a tudo pondo em pandarecos. E, depois, desaparece, rápido como o relâmpago, para recomeçar rnais adiante suas maldosas travessuras" (27).

Exercício nº 25: Leia atentamente o texto e responda: Esta descrição envolve a quem? Quais são as características? Quais são as impressões? Aparece em que circunstâncas? Quais são as impressões? (visuais, tácteis, auditivas, olfativas, subjetivas) Conclusão. Exemplo do aluno Vanius: "Esta descrição envolve a quem? Saci-pererê. Quais são as características? Escuro como a noite, usa carapuça rubra como o

sangue, tem enorme olho no centro da testa, possui uma só perna, usa cachimbinho de barro.

Aparece em que circunstâncias? Surge numa curva de estrada, entra nos case-bres pelo buraco das fechaduras, atira-se às crinas dos cavalos.

(26) - MIRANDA, J. F. Op. Cit., p. 117-20.

(27) - LAGO.O. do. O Saci-pererê. In:-OLIVEIRA.C.L.de. Op. Cit., p. 101.

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Quais são as impressões? a) visuais? Escuro como a noite sem luar b) auditivas? Grita, assobia c) tácteis? - d) olfativas? - e) subjetivas? Malandro, irrequieto, mau, mal educado, desordeiro. Conclusão: desaparece rápido como relâmpago, para recomeçar adiante suas

maldosas travessuras". Essas perguntas foram respondidas sem que se apresentasse dificuldade al-

guma, talvez por ser um texto acessível e rico em detalhes descritivos. Na primeira parte do trabalho o aluno escreveu ao ritmo de sua imaginação,

sem se preocupar com apresentação, correção formal, conteúdo e tratamento (estes itens estão explicados na avaliação). Agora, porém, o aluno já estava rnais amadu-recido para realizar um trabalho rnais metódico e sistemático, dentro dos padrões mínimos exigidos.

com esse objetivo, foram entregues e explicadas, detalhadamente, todas as normas que deveriam ser seguidas para fazer uma redação:

1) usar iniciais maiúsculas nas palavras que compõem o título, deixando em minúsculas as contrações, combinações, preposições, conjunções e palavras meno-res.

2) Não usar ponto final após o título, a não ser que seja uma frase ou citação.

3) Deixar uma linha em branco após o título. 4) Observar a caligrafia. 5) Antes de iniciar o traballio, ou mesmo rascunho, esquematizar um roteiro

de idéias. 6) Observar as três fases da composição: introdução, desenvolvimento, con-

clusão. 7) Não fugir à idéia central do texto. 8) Separar as diferentes idéias em parágrafos diferentes. 9) Em caso de erro, não rascunhar, usar "digo.

10) Observar a clareza de idéias e expressões. 11) Utilizar frases curtas. 12) Observar a pontuação correta. 13) Evitar repetição de palavras ou a falta das mesmas. 14) Observar a correção ortográfica. 15) Revisar todo o trabalho. 16) Substituir possíveis palavras e expressões que prejudiquem a sonoridade

do trabalho.

Exercício nº 26: descreva um irmãozinho. Não esqueça de observar os aspec-tos estudados. Preste atenção nos gestos, modo de falar, no estado de espírito e o que você sente em relação à pessoa que você descreve.

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Exemplo do aluno Ivandro: "O nome do meu irmãozinho é Ricardo. Ele é tão fofinho Ricardo já é bem crescidinho, tem 5 anos, cabelos loiros e também sabe fazer

malandragens, mas meu pai não quer que ele faça isso, e quando papai ralha ele chora muito.

Outro dia papai levou a mim e ao Ricardo no parque. Ele brincou com tudo o que havia lá, até de roda gigante, e quando ele estava lá em cima, abanava e gritava:

- Viva! Fomos para casa, e ele acordou no meio da noite, gritando: - Que alto que é a roda gigante! O Ricardo não consegue dizer o meu nome certo, que é Ivandro, e só diz Van-

do. Eu acho tão engraçado! Certo dia eu estava assistindo televisão, e meu irmãozinho saiu do quarto di-

zendo: - Ah! Que cheirinho bom! Eu também sentia um cheiro estranho. Fui olhar o que era. O Ricardo havia

derramado um vidro de perfume sobre a sua roupa. Domingo passado, quando nós fomos à missa, ele viu uns pequenos meninos

nas sarjetas e na porta da igreja pedindo esmola. Ao chegarmos em casa, ele pediu por que aqueles crianças estavam lá. E mamãe respondeu que é porque eles não têm onde ficar, e ele disse:

- Pobrezinhos! O Ricardo já está estudando no pré, e quando volta da escola, pede para eu

ajudá-lo a fazer suas tarefas, e eu o ajudo. Há horas que ele quer falar ligeiro e acaba ficando gago. Ele sente um grande

amor pelas outras crianças. Eu sinto uma alegria tão grande por ter um irmãozinho assim". Esse exercício foi resolvido pela maioria dos alunos com muita facilidade.

Nessa parte quase não solitam explicações, não fazendo perguntas. Já estão familia-rizados com o uso da palavra escrita e sem receio de deixar suas idéias fluirem ao sabor da imaginação.

B - A narração

O objetivo desta fase do trabalho foi o de desenvolver o espírito de observa-ção do aluno conduzindo-o e treinado-o para os aspectos necessários à redação da narração.

Assim como na descrição, também neste gênero os exercícios passaram do nível de menor para o de maior dificuldade para atingir progressivamente os objeti-vos.

Primeiramente foi dada a informação sobre o que é narração. Logo após fo-ram feitos exercícios para que os alunos identificassem num texto as seqüências narrativas, suas características e formas, orientados por perguntas essenciais expli-cadas pelo professor. Em seguida, individualmente, os alunos repetiram o exercício

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com outro texto para, posteriormente, elaborar suas próprias narrações seguindo as perguntas orientadoras.

Foi dada aos alunos, miemografada, a seguinte informação, para ser explica-da e debatida com eles:

Informação: O objetivo da narração é contar uma estória ou um acontecimento. É colocar

para o leitor a seqüência das cenas envolvendo fatos e personagens num espaço e num tempo. É o desenrolar de um fato ou de uma série de fatos intimamente rela-cionados, reais ou imaginários. A narração dá vida à ação que envolve as persona-ens dentro de um contexto. São narrações as estórias infantis, a fábula, a parábola, o apólogo, a crônica, o conto, trechos de novelas ou de romances. As notícias de jornais, os trechos da história, os livros de viagem são narrativas reais.

Após a explicação e debate dessa informação foi apresentado aos alunos o seguinte texto:

"A Caveira Encantada Era uma vez, um rei muito rico e poderoso, que tendo sido salvo, durante

uma caçada, por um camponês rude e pobre, mandou chamá-lo ao palácio e disse-lhe em presença dos nobres e cortesãos:

— Bem sabes, ó camponês, que sou o monarca rnais rico do mundo! Tenho em meu tesouro jóias, ouro e pedrarias em tal abundância, que mil elefantes seriam insuficientes para transportar! Dize-me, pois, qual a paga que queres de mim pelo auxílio precioso que ontem me prestaste.

O desconhecido tirou dum saco, que levava às costas, uma caveira e com o fú-nebre objeto nas mãos, dirigiu-se ao rei e assim falou:

— Senhor! Sois imensamente rico, mas a vossa riqueza não é maior que a vos-sa generosidade! Não sei recusar o vosso oferecimento e vou, segundo acabais de ordenar-me, dizer-vos qual a recompensa única que desejo.

— Quero apenas, ó rei! — continuou o camponês — que mandeis dar-me a porção de ouro suficiente para encher-me esta caveira!

Riu-se quem a ele devia a vida e exclamou: — És modesto demais, meu amigo! 0 que me pedes nada vale diante do que

te fizeste, merecedor pelo teu heróico proceder! Bem vejo que a ambição ainda não se apoderou de ti nem a vil cobiça conseguiu o teu coração.

Ordenou o rei ao tesoureiro que enchesse, no mesmo instante, de ouro, a ca-veira que o camponês trouxera. O digno tesoureiro tomou de uma caixa algumas moedas de ouro e começou a colocá-las, uma por uma pela boca sinistra da caveira. Dez, vinte, cem moedas desapareceram e a caveira parecia sempre vazia e oca como o princípio. O soberano ordenou que trouxessem outras caixas a transbordar de ouro. As preciosas moedas foram, porém, como as primeiras, devoradas pela misteriosa caveira.

— Rei! — exclamou, afinal o camponês, fitando com altivez o monarca — todo o ouro de vossas arcas fabulosas desaparecerá antes de conseguirdes saciar esta caveira. Se quiserdes vê-la desprezar vossas moedas, colocai sobre ela um pouco de terra. Assim fez o rei e assombrado notou que a caveira com algumas moedas se enchera completamente.

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- Que mistério é esse? — perguntou o rei. Qual o encanto que possui essa tétrica e insaciável caveira?

Respondeu o camponês: Senhor! Esta caveira pertenceu a um avarento. Bem sabeis que não há no mundo ouro suficiente para enfarar a torva ambição de um avaro, que só deixa de cobiçar quando coberto pela terra de sua campa!".

Esse texto foi mimeografado e lido em aula com os alunos. 0 propósito do -texto foi proporcionar a descoberta da estrutura da narração, ütilizando-se de per-guntas auxiliares. Essas perguntas tiveram em vista a identificação do ambiente, dos personagens, do enredo e da conclusão:

Onde? No palácio de um rei. O quê: a recompensa que um rei deu a um camponês por tê-lo salvo em uma

caçada. com quem: um rei muito rico, um tesoureiro e um sábio camponês e uma

caveira. Quando: quando, após uma caçada o rei pretendia dar ao camponês uma re-

compensa em ouro. Conclusão: não há no mundo ouro suficiente que satisfaça um avarento. Depois de executado esse exercício, orientado pelo professor, foi-lhes entre-

gue o texto "A Onça e o Gato" para que executassem o seguinte exercício:

Exercício n? 27: agora você irá exercitar-se numa narrativa. Irá 1er o texto com atenção e responder às perguntas: com quem? O quê? Onde? Quando? Conclu-são?.

"A Onça e o Gato A onça pediu ao gato que lhe ensinasse a pular e o gato prontamente lhe en-

sinou. Depois, indo juntos para a fonte beber água, fizeram uma aposta para ver quem pulava rnais. Chegando à fonte, encontraram lá o calangro e então disse a on-ça ao gato:

- compadre, vamos ver quem de um só pulo pega o camarada calangro? - Vamos, - disse o gato. - Só você pulando adiante - disse a onça. O gato pulou em cima do calangro; a onça pulou em cima do gato. Então o

gato pulou de banda e se escapou. A onça ficou desapontada e disse: - Assim, compadre gato, é que você me ensinou?! Principiou e não acabou? O gato respondeu: - Nem tudo os mestres ensinam aos seus aprendizes" (29). Os alunos resolveram essa tarefa individualmente. Não houve dificuldades em

responder às questões. Acrescentamos, abaixo, o exemplo do aluno Sadi: "com quem? com a onça, o gato e o calangro. O quê? Que a onça queria que o gato lhe ensinasse a pular.

(28) TAHAN. M. A Caveira Encantada. In: - BUENO. S. A Arte de Escrever. 13a ed., São Paulo. Saraiva. 1969. p. 148-9.

(29) ROMERO, S. A Onça co Gato. I n : BUENO. S. Op. Cit., p. 158.

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Quando? Quando iam juntos à fonte beber água, num certo dia e encontraram o calangro.

Onde? Em uma fonte, quando foram beber água. Conclusão: nem tudo os mestres ensinam aos seus aprendizes". Após esse exercício de identificação dos aspectos que caracterizam a narração

os alunos forarn solicitados a redigir uma. Foram, antes, conscientizados das normas gerais da redação que deveriam ser seguidas. Foi-lhes solicitado o seguinte exercício:

Exercício n9 28: "Faça uma narração com o título: O Menino e a Árvore. Conte a estória de um menino que tinha uma árvore favorita no fundo de um quin-tal. Não esqueça de responder às perguntas essenciais a uma narração" (30).

Apresentamos abaixo a narração do aluno Edgar: "0 Menino e a Árvore Certa vez um menino, indo em direção ao quintal de sua casa, brincando perto

de uma árvore, ouviu uma voz que sussurava bem baixinho: — Quem é você? 0 menino ficou boquiaberto, olhando para todos os lados e virou-se olhando

para uma árvore. E ela falou de novo: — como você se chama? 0 menino ouviu a árvore e começou a falar com ela e disse: — Eu me chamo David. E quem é você? - perguntou o garoto. — Eu, a árvore encantada. Vou lhe contar como foi que fiquei assim: Quando eu era bem pequenina, uma plantinha um pouco crescida, um senhor

que estava passando na floresta me arrancou e me levou para casa. A casa dele era diferente, havia tubos de vidros, luzes infra-vermelhas e um monte de objetos de vidro e de metal.

Depois de um longo tempo fiquei trancada dentro desta casa. Foi muito ruim. Nunca rnais senti aquela chuvinha refrescante e aquele solsinho gostoso. Só tomava água quando aquele senhor vinha com aquele latão que parecia um chuveiro. O meu sol eram luzes quentes e fortes. Eu estava dentro de um vaso bem pequeninho.

Uns dias depois descobri que era um laboratório. Aquele homem era um cien-tista. Ele estava fazendo experiências comigo. Mas, naquela hora, meu pequeno vaso caiu da mesa e eu também. Quase morri, mas por sorte o laboratório era forrado de tapetes e amaciou minha queda, mas o vaso se despedaçou todo.

Então o cientista me jogou fora e quando caí no chão senti dor e gritei, mas o meu grito não era o mesmo. Aí descobri que estava falando e podia até caminhar. Mas como eu era tão pequenina todos me pisoteavam. Por fim cheguei a este quin-tal de sua casa e vi que era um lugar bom para ficar. Mas, como você vê, os anos pas-saram e agora estou velha e não posso mais me mover. Só consigo falar baixinho. Nunca ninguém veio a este quintal, mas hoje, você, pequenino veio brincar e me descobriu, por isso peço que não conte a ninguém isso. Ficará um segredo nosso. — propôs a árvore.

(30) - MIRANDA. J.F. Op. Cit., p. 51.

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O menino, então, concordou e guardou o segredo. Já era tarde e o menino ia à escola de manhã. Na sala de aula ele só pensava

na sua amiga árvore que falava. Chegando em casa, a primeira coisa que ele fazia era ir até o quintal visitar sua árvore encantada.

Passou um longo tempo e a árvore ia ficando rnais velha, enquanto o menino crescia.

Um dia de manhã, o menino foi à escola e quando voltou foi ver sua árvore. Ela não falava rnais, pois ela estava morrendo. O menino ficou tão triste que se pôs a chorar em frente dela e ouviu uma voz bem baixinho:

— Meu amigo, nesses últimos instantes vou partir para bem longe. Espero que você seja um garoto feliz e consiga tudo na vida, mas sem o sofrimento que passei. Isto ficará um segredo entre nós para sempre.

E a voz ia baixando e ele disse: — Adeus. O menino estava tão triste, mas tão triste, que queria contar a todos o que

tinha acontecido, mas depois se lembrou dos conselhos da árvore e então se acal-mou.

Depois se sentou numa pedra no quintal e ficou lá triste porque tinha perdido sua melhor amiga: a árvore encantada".

Observa-se na redação desse aluno a facilidade e a naturalidade com que es-creve. A simplicidade da estória é enriquecida com detalhes extraídos de sua imagi-nação. O aluno não teve receio de criar, de inventar situações totalmente imaginá-rias, fugindo do comum e do corriqueiro.

Após esse exercício, lidas e comentadas as narrações em aula, foi dado outro com o objetivo de treinarem e fixarem melhor as características da narração e des-cobrirem a riqueza potencial da sua imaginação criadora.

Exercício n? 29: faça uma narração com o título: Duas Crianças. Duas crian-ças conversam. uma é rica e a outra é pobre. Conversam sobre suas vidas, suas ale-grias e dificuldades.

Transcrevemos o exemplo do aluno Luís Carlos: "Duas crianças Era uma vez duas crianças. Estavam passeando e de repente a rnais rica falou: — Vamos comprar dois saquinhos de pipoca. — Eu não tenho dinheiro. — Mas, como isso? Você vai na rua sem dinheiro? — Sim, a nossa família é muito pobre e nós não temos condições de gastar

dinheiro a toa, você é muito rica, você pode gastar dinheiro. Mas aposto que sua família não se dá bem.

— como é que você adivinhou? — É só olhar a sua cara, você é uma menina muito triste. — E vocês, são felizes? — Mas é claro, a nossa casa está cheia de alegria.

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- Está bem. Vamos parar de discutir e vamos comprar dois saquinhos de pi-poca.

- Mas eu não tenho dinheiro... - Não tem importância, eu lhe pago se você quiser.

- O moço! Me dá dois saquinhos de pipoca! - Pois não! - Quanto dá? - Dois cruzeiros. - Obrigada. - De nada.

- Agora vamos para casa que já vai escurecer e amanhã tem aula.

- Mamãe, mamãe, venha cá ligeiro! Eu conheci uma menina muito rica e ela me pagou um saquinho de pipocas.

- Está bem, minha filha. Agora vá dormir que já está tarde. - Boa noite, mamãe!" Nesse exercício também se constata a fluidez de idéias, embora as cenas e os

fatos se passem com coisas corriqueiras. A imaginação do aluno até certo ponto é ingênua, característica da idade. Porém, em nada prejudica a sua criatividade que, aliada à naturalidade na forma de escrever, torna-a rica e original.

C - A dissertação

O objetivo desta fase é conduzir o aluno a exercitar o desenvolvimento da ar-gumentação em torno de um tema com ordem e coerência.

Nessa fase, como nas anteriores, apresentou-se aos alunos, inicialmente, uma informação contendo as explicações sobre o que é dissertação. Em seguida os alu-nos passaram a identificar essas explicações nos textos, respondendo às perguntas auxiliares, primeiro junto com o professor e depois individualmente. Posteriormente elaboraram suas próprias dissertações orientando-se pelas perguntas auxiliares.

Foi entregue mimeografada aos alunos a seguinte informação para ser lida e debatida com eles (sintetizada do livro Arquitetura da Redação (31)

Informação: Dissertação é a exposição de um assunto, avaliação ou discussão de um

problema, apresentando uma série de reflexões em torno do mesmo, através do en-cadeamento de idéias que formam uma argumentação, destacando e demonstrando os seus pontos favoráveis ou desfavoráveis. Cabe à dissertação explicar os diferentes pontos de vista que dizem respeito a um problema ou a um assunto, confrontá-los entre si e demonstrar, através de argumentos, quais são rnais aceitáveis, coerentes e fundamentados.

Em uma dissertação devemos levar em conta os seguintes aspectos:

(31) - MIRANDA. J. F. Op. Cit., p. 144-50.

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a) introdução: é onde se propõe o enunciado do problema e se sugere o plano de desenvolvimento. A introdução deve ser clara, precisa, breve e preparatória;

b) desenvolvimento: é onde são destacados e explicados os pontos de vista, seus argumentos favoráveis ou desfavoráveis, demonstrandoos e fundamentando-os com coerência, com o objetivo de esclarecer o problema lançado na introdução. O desenvolvimento deve avaliar ordenadamente as opiniões lançadas, de uma forma progressiva, partindo do rnais simples ao rnais complexo, do conhecido para o des-conhecido;

c) conclusão: apresenta a idéia final resultante dos argumentos demonstrados no desenvolvimento. É a resposta dada ao problema lançado na introdução e justificada no desenvolvimento. A conclusão deve ser concisa e clara.

Após a explicação e discussão do conteúdo dessa informação, foi apresentado aos alunos, como exemplo, o seguinte texto mimeografado:

"O Homem e a Mulher A natureza humana é uma só. Apesar de a discussão ser tão antiga, o homem e

a mulher não se distinguem por sua substância, mas sim por seus atributos. comecemos pelo homem. E nessa escolha já vai, implicitamente, um traço da

psicologia masculina. O homem possui um complexo de superioridade sobre a mu-lher. Não estou dizendo que o homem seja superior à mulher, mas que se julga su-perior. O homem age, geralmente, como se fosse superior à mulher. O título de rei da criação, ele o toma ao pé da letra, deixando a rainha apenas ao pé do trono...

Esse complexo de superioridade explica, em parte, o egoísmo habitual dos ho-mens. Esse egoísmo masculino se estende não só às mulheres, como a tudo mais. O homem é naturalmente egocêntrico. O mundo ele o vê e sente em função do seu próprio eu. Daí ser o homem muito rnais lamuriento que a mulher. Queixa-se de tu-do, é muito rnais difícil de contentar-se e está sempre pronto a esquecer os outros por si.

O homem possui um conceito imperialista da vida. Prefere mandar a obede-cer. O sentido de sua vida é afirmativo e criador. Só se sente bem quando domina, seja uma pobre criatura servil, seja um grande império universal. O homem é aparen-temente rnais forte que a mulher, porque fisicamente assim o é, profissionalmente parece sê-lo. Mas na realidade e na essência de sua natureza moral, é a mulher que representa, de fato, o sexo forte, e com ela é que aprendemos, quase sempre, a... ser homens. O que nos dá a ilusão do contrário, além do físico, é que as qualidades da alma feminina são todas aparentemente frágeis e voltadas para dentro.

Ao passo que o homem se apresenta como dono da vida, com o seu espírito de aventura, de conquista, de dominação, de egocentrismo, revela-se desde logo a mulher pelo seu espírito de servidora da vida. Servir à vida é o destino orgánico da mulher e o fundo de sua natureza moral. Ela serve à vida, transmitindo-a a outros seres, na tarefa rnais sublime de sua natureza: serve à vida, como educadora nata da infância, como conselheira do homem, como elemento insubstituível de reconci-liação do homem com a existência. Se este é, em regra, um revoltado contra a vida, - o que distingue desde logo a mulher é o espírito de aceitação.

A grande coragem da mulher se revela desde logo nesta subordinação ao seu destino, que pode falhar neste ou naquele momento histórico, neste ou naquele fim

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de civilização, em que a revolta da mulher contra a vida é o começo do firn de urna pátria ou de urna cultura - mas constitui sempre o que há de mais admirável e de mais precioso na alma feminina.

O homem e a mulher são criaturas complementares, tanto na ordem orgânica como na ordem moral. completam-se justamente para formar a natureza humana em sua unidade essencial.

Seja o que for, o que devemos é suprir-nos mutuamente de nossas deficiências e ouvir a voz do bom senso a ensinar-nos aquela verdade eterna — que os homens sejam cada vez rnais varonis e as mulheres cada vez rnais femininas" (32).

Esse texto foi lido em aula com os alunos com o objetivo de identificarem a estrutura da dissertação, com o auxílio das perguntas auxiliares. Os alunos respon-deram aos seguintes itens:

a) introdução : Qual é o problema? b) desenvolvimento: Quais as opiniões acerca do problema? Que idéias justi-

ficam, sustentam, essas opiniões? c) conclusão: Qual a resposta ao problema?

Exercício n?30: O exemplo abaixo é o da aluna Simone: "Qual é o problema? Que o homem e a mulher não se distinguem por suas

substâncias, mas sim por seus atributos. Quais as opiniões acerca do problema? a) o homem possui um complexo de superioridade sobre a mulher; b) que o homem é egoísta; c) ele prefere mandar a obedecer; d) o homem é rnais forte da mulher fisicamente; e) o homem se apresenta como dono da vida; f) a mulher é corajosa; g) o homem e a mulher são criaturas complementares. Que idéias justificam essas opiniões? A mulher tem uma natureza moral rnais

forte. Ela serve a vida tansmitindo-a e educando-a. Ela é conselheira do homem. Ela cumpre seu destino sem se revoltar contra ninguém. Precisa do homem como seu complemento, assim como o homem, egoísta, dominador, aventureiro, precisa da mulher.

Conclusão: os dois se complementam para formar a natureza humana." Os alunos conseguiram realizar essa tarefa, apesar de a considerarem rnais

difícil que a narração e a descrição, o que é natural, devido ao seu nível e à sua faixa etária. Em seguida lhes foi entregue a seguinte tarefa, abordando o mesmo tema da redação proposta no pré-teste:

Exercício nº 31 : faça uma dissertação observando o título: Ano Internacional da Criança. Não esqueça da introdução, do desenvolvimento e da conclusão.

(32) - SANTOS, V. & CARVALHO. A.F.. Op. Cit., p. 32-3.

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Transcrevemos o exemplo da aluna Carmen: "Ano Internacional da Criança O Ano Internacional da Criança nos vem chamar atenção para dar mais amor

e carinho às crianças. Atualmente o mundo se resume em ódio, covardia, ganância pelo dinheiro e

quem rnais sofre com isso são as crianças, principalmente as abandonadas que não têm quem as proteja.

O Ano Internacional da Criança é rnais uma desculpa dos adultos para mos-trarem que fazem caridade para com elas.

Para a criança, o rnais importante não é receber um brinquedo novo. Seria muito melhor que as pessoas renovassem o amor para com as crianças, pois elas o merecem.

As pessoas colocam as crianças em segundo lugar, pois em primeiro estão os negócios, as diversões, e um diálogo franco com uma criança sempre é esquecido.

Muitas vezes nos impressionamos, ao ver essas crianças pobres na rua a pedir esmolas. Porém, devemos lembrar-nos de que a culpa não é delas e sim das mães que as põem no mundo, sem nenhuma responsabilidade e depois sem nenhum remorso abandonam seu filho como se fosse um objeto qualquer.

As crianças que encontramos na rua quase todas deixam ver em seus olhares sinais de tristeza. Tristeza, essa palavra que as crianças nem deviam conhecer e saber qual é o seu significado, pois se fosse assim não sofreriam tanto com a revolta que elas carregam no coração.

Muitas vezes a criança sonha com um mundo rnais feliz e rnais humano, mas enquanto isso não acontece, vamos respeitar os sonhos e os direitos das crianças".

Pode-se observar nessa dissertação a maturidade da argumentação, a coerên-cia das idéias e a criatividade na formulação das opiniões. Mas uma vez pode-se constatar a facilidade e a naturalidade com que escreve. O aluno simplesmente mos-tra-se descontraído. 0 medo de escrever não lhe embarga a criatividade. Aprendeu a confiar em si mesmo, em sua capacidade. Isso o conseguiu mediante a realização de exercícios simples e complexos. Aprendeu a resolver e a criar confiança na solução de pequenos exercícios para, posteriormente, estendê-la aos maiores. O dom de escrever não se recebe inato. Deve ser cultivado, incentivado. E quando o aluno per-cebe o que é capaz de realizar, a tarefa "chata" da redação se transforma numa ati-vidade "legal", como afirmam nos seus depoimentos.

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AUTO-AVALIAÇÃO

No final de todos os exercícios foi aplicada uma ficha de auto-avaliação para que os alunos pudessem expressar livremente suas opiniões sobre o trabalho desen-volvido.

Transcrevemos abaixo os itens da avaliação com as opiniões da aluna Carmen:

Avaliação pessoal do aprendizado Avalie, agora que você terminou o trabalho, se você: 1) perdeu o medo de escrever: Sim. Agora escrevo tudo o que penso sem medo algum. 2) está mais desinibido para escrever? Sim. com este trabalho aprendi a escrever sem timidez. 3) está rnais fluente, em nível de escrever mais e com facilidade? Sim, pois a cada trabalho realizado tornou-se rnais fácil para mim escrever,

além de ter desenvolvido bastante minha criatividade. 4) acha que as leituras incentivam a escrever rnais? Sim, as leituras influem bastante no desenvolvimento da criatividade. 5) escreve melhor agora? Sim, a cada trabalho realizado fui enriquecendo meu vocabulário, aprendi a

obedecer as normas de uma redação, enfim aprendi bastante. 6) acha que escrever é um aprendizado? Sim, eu acho que escrever é um aprendizado porque eu aprendi e continuo

aprendendo a escrever. 7) acha que é um aprendizado que ensina a ser criativo? Sim, eu acho que é um aprendizado que ensina a ser criativo, pois após ter

feito todos estes trabalhos eu posso dizer que me tornei rnais criativa. 8) acha que ser criativo é interessante? Muito, pois sendo criativos podemos criar novas coisas e não copiá-las dos ou-

tros. 9) aprendeu a criticar e a receber crítica? Sim, aprendi a criticar e também receber uma crítica. Receber uma crítica é

muito importante, pois se o trabalho está bom, ótimo; se estiver ruim procuro me-lhorar.

10) acredita que comunicar o texto para a classe e trabalhar em conjunto vale rnais que trabalhar individualmente?

Sim, pois cada um dá sua opinião e sempre se faz um trabalho rnais extenso. 11) aprendeu a distinguir os gêneros literários (narração, descrição e disser

tação)? Sim, Narração é narrar um fato que aconteceu. Descrição é descrever alguém,

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alguma coisa. Dissertação é falar sobre um assunto. Todos os alunos responderam os itens dessa ficha de auto-avaliação. Foi uma

constante a opinião de que o traballio realizado agradou, deu resultados satisfató-rios, desenvolveu a criatividade desinibindo-os e aperfeiçoando a fluência da lingua-gem.

Junto com a ficha de auto-avaliação lhes foi entregue o último exercício para que os alunos pudessem escrever sobre a própria experiência realizada em sala de aula. Esse exercicio, além do objetivo de treinar o aluno no relato de suas vivências, teve em mente captar de forma indireta o resultado do trabalho realizado, sob o ponto de vista do aluno.

Exercício n° 33: escreva um texto de qualquer natureza ou gênero (narração, descrição ou dissertação), comunicando de modo sincero suas experiências com o trabalho de redação que foi realizado em classe.

Transcrevemos abaixo, como exemplo, a redação da aluna Nádia: "Minhas Experiências com a Redação Criativa Nesse ano fizemos um trabalho em nossa sala de aula sobre redação criativa. Fazendo esse trabalho perdi o medo e a timidez de escrever. Agora escrevo

mais e com rnais facilidade. Os livros ajudaram bastante, tivemos um incentivo maior, tendo rnais idéias, vendo palavras novas e aprendendo a escrever melhor.

Escrever também é um aprendizado. Fazendo esse trabalho a gente tem rnais capacidade de escrever. Um aprendizado que ensina a ser criativa, criando e imagi-nando cada vez rnais.

Ser criativo é interessante a todos nós. Alem de aprender a criar aprendi a distinguir os gêneros literários, descrição,

narração e dissertação. Descrição é saber descrever pessoa ou coisa. Narração é nar-rar um acontecimento ou fato e dissertação é dissertar com idéias e opiniões.

Aprendi também a criticar, dando minha opinião sobre os trabalhos e também a receber crítica, o que é muito importante, mudando assim para um trabalho me-lhor.

É muito importante comunicar o texto para a classe e trabalhar em conjunto. Além de aprender tudo isso, aprendemos a valorizar mais as crianças, através

de leituras, trabalhos e comentários. Mesmo não interessada por isso, aprendemos que a criança tem um valor

muito grande. A criança será o futuro da Nação. Achei esse trabalho válido. com ele aprendi coisas diferentes, coisas que nem

tinha imaginado aprender". Percebe-se, através desse relato, como também dos outros apresentados, que o

aluno considera válido esse trabalho. A totalidade dos alunos desenvolveu essa e as outras tarefas com naturalidade, sem estarem presos a uma obrigação escolar. Por sentirem progresso pessoal na seqüência dos exercícios, por perceberem que eram capazes de escrever e por receberem como recompensa do trabalho a alegria da sa-tisfação pessoal, da auto-realização, eles passaram a desenvolver o gosto pela reda-ção.

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AVALIAÇÃO

A avaliação dos trabalhos dos alunos foi dividida em três fases: Primeira: avaliação da redação da fase preparatória. Segunda: avaliação de três dos vinte e quatro exercícios desenvolvidos na se-

gunda parte, selecionados pelos próprios alunos dentre os que julgassem ser os me-lhores e as duas fichas de leitura.

Terceira: uma descrição, uma narração e uma dissertação da terceira parte, que incluía o estudo dos gêneros literários.

Os critérios de avaliação foram extraídos, em parte, do livro "Arquitetura da Redação", de José Fernando de Miranda, englobando os seguintes aspectos:

1) apresentação: observou-se a caligrafia e apresentação do trabalho. 2) correção formal: observou-se a aplicação dos conhecimentos gramaticais

adquiridos no decorrer do ano, conforme está adiante especificado. 3) conteúdo: observou-se a originalidade e espírito de criação. 4) tratamento: observou-se a estrutura, a expressão e o estilo. Para a avaliação forarn utilizados os conceitos adotados pela Escola: I (insu-

ficiente = 0 a 49%); R (regular = de 50% a 69%); B (bom = de 70% a 89%); E (ex-celente = de 90% a 100%).

O valor de cada trabalho foi de 100 pontos, assim distribuídos: - apresentação: 10 pontos - correção formal: 20 pontos - conteúdo: 35 pontos - tratamento: 35 pontos

Total: 100 pontos. No que se refere à correção formal forarn avaliados os seguintes aspectos: a) ortografia: 2 pontos b) acentuação gráfica: 2 pontos c) pontuação: 2 pontos d) falta de parágrafo: 2 pontos e) concordância verbal e nominal: 2 pontos f) regência: 2 pontos g) repetição desnecessária de palavras: 2 pontos h) ausência de clareza nas idéias: 2 pontos i) palavras usadas impropriamente: 2 pontos j) falta de palavras: 2 pontos

Total: 20 pontos.

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QUADRO GERAL DA PRIMEIRA REDAÇÃO - AVALIAÇÃO

Conteúdo formal: 1 = acentuação; 2 = ortografìa; 3 = pontuação; 4 = falta de pará-

grafo; 5 = concordância verbal e nominal; 6 = regência; 7 = repetição desnecessária de palavras; 8 = ausência de clareza; 9 = palavras usadas impropriamente; 10 = falta de palavras.

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QUADRO DE AVALIAÇÃO GERAL DA SEGUNDA REDAÇÃO

Conteúdo formal: 1 = acentuação; 2 = ortografia; 3 = pontuação; 4 = falta de pará-

grafo; 5 = concordância verbal e nominal; 6 = regência; 7 = repetição desnecessária de palavras; 8 = ausência de clareza; 9 = palavras usadas impropriamente; 10 = falta de palavras.

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Para essa avaliação foram consideradas as redações sobre o Ano Internacional da Criança. A primeira foi realizada no início dos exercícios, como pré-teste; a se-gunda, sobre o mesmo tema, no final do trabalho, como pós-teste.

Nota-se uma diferença significativa entre os resultados da primeira avaliação e da segunda. Na primeira apenas um aluno obteve o conceito Bom, onze tiveram o conceito Regular e treze com o conceito Insuficiente. Na segunda houve um conceito Excelente, nove Bom, treze Regular e nenhum Insuficiente.

Esse resultado demonstra que o uso de exercícios, de leituras e técnicas que propiciem o desenvolvimento da criatividade do aluno, apesar dessa experiência ter sido executada num curto espaço de tempo (40 horas-aula), podem libertar as suas potencialidades para a redação.

Os alunos apresentaram na segunda redação diferenças significativas em rela-ção à primeira, principalmente nos aspectos de conteúdo, na clareza de idéias, na organização de parágrafos e no emprego correto dos termos. Nos aspectos gramati-cais, como acentuação, ortografia, pontuação, por não terem sido o centro do en-foque desse trabalho, não houve melhoria significativa.

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CONCLUSÃO

O presente traballio apresenta os resultados alcançados no exercício da reda-ção, feito com alunos de 7a série do 1º Grau, em que se evidenciava a dificuldade de expressão escrita. As causas principais dessa constatação eram atribuídas à falta de imaginação criadora, à falta de leitura como estímulo à redação, à falta de argumen-tos e coerência no seu uso e à falta de exercícios. Esses fatores condicionavam e li-mitavam de tal forma o aluno que ele se sentia inseguro e incapaz de redigir.

Através dos exercícios baseados na criatividade, constatou-se uma explosão energética das potencialidades latentes. O aluno, através das leituras, foi estimulado na sua sensibilidade e, conseqüentemente, desafiado a desenvolver rnais o seu pen-samento. Para que isso acontecesse foi trabalhado gradualmente, evoluindo de está-gio a estágio.

O aluno passou a ter rnais fluência e desinibição no ato de escrever, a comuni-car-se com rnais habilidade, maior naturalidade, com maior riqueza de idéias e ima-ginação criativa rnais rápida. Aprendeu, através da execução das tarefas a confiar na sua capacidade. compreendeu, principalmente, que o ato de escrever deve ser precedido da leitura, como um abrir de horizontes à criatividade, à fonte de idéias, e que, o sucesso no escrever está aliado à exercitação constante, à fuga do padrão massificado, limitado e frustrante. Aprendeu, acima de tudo, que a linguagem não surge pronta, mas nasce da utilização do sistema de códigos da língua, de acordo com um contexto, de acordo com a necessidade de significar, ou como diz Merleu-Ponty, de acordo com a intenção significante (33).

Constatou-se diferenças signficativas entre as primeiras redações e as últimas. Além de todos os aspectos já apontados que denotam a melhoria do aluno, consta-tou-se diferenças na coerência dos argumentos, na concisão, pertinência e clareza das idéias, além da distinção dos diferentes gêneros literários. Os dois quadros de-monstrativos da avaliação evidenciam um progresso: na primeira avaliação apenas um aluno havia conseguido o conceito bom, onze com o conceito regular e treze insuficiente; na segunda avaliação, feita no final do trabalho, houve um excelente, nove bom, treze regular e nenhum insuficiente. Pergunta-se, perante o resultado desse trabalho de quarenta horas-aula, se não seria possível, através de um trabalho sistemático e metódico durante todas as séries do 1º e 2º graus, desenvolver a capa-cidade criativa do aluno e suas habilidades para a escrita. Até que ponto não reside nas escolas e nos professores a chave do segredo para desencadear todo o processo da aprendizagem da redação?

Vivemos num período de conscientização da gravidade sobre o problema da

(33) - MERLEU PONTY. Maurice. O Homem e a comunicação. Rio de Janeiro, Bloch, 1974.

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redação a nível nacional. A análise dos concursos vestibulares, em todo o País, re-trata o estágio da chaga que tende a se alastrar. É necessário no entanto, para a cura desse mal, que o professor acredite em si mesmo como agente desafiador e orientador do processo da aprendizagem, e que saiba transmitir essa confiança ao aluno, indicando-lhe os passos que deve seguir para que descubra a riqueza poten-cial de que é dotado. Basta apenas, com conhecimento e segurança, despertá-lo para o exercício dessa capacidade.

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BIBLIOGRAFIA

1. BUENO, Silveira. A arte de escrever. 13ª ed., São Paulo, Saraiva, 1968.

2. CÂMARA, J. Mattoso Jr. Manual de expressão oral e escrita. Rio de Janeiro, Ozon, 1961.

3. DROUN, Maurice. O menino do dedo verde. 3ª ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1973.

4. FELIZARDO, Zoleva Carvalho. A composição no vestibular. Porto Alegre, Sulina. 1969.

5. GIORGI, Flavio Vespasiano di & MESERANI, Samir Curi. Redação e Criati- vidade. São Paulo, DISCUBRA, 5a série, 1973.

6. KOCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica. 3ª ed., UCS,

Caxias do Sul, 1979.

7. MARANHÃO, F. de A. Vamos Ler. São Paulo, IBEP, 1975.

8. MERLEAU-PONTY, Maurice. O Homem e a comunicação. Rio de Janeiro, Bloch, 1974.

9. MESERANI, Samir. Redação Escolar: criatividade. 5a ed., São Paulo, DIS- CUBRA, Colégio I, 1974.

10. ______. Redação escolar: criatividade. São Paulo, DISCUBRA, Colégio II, 1975.

11. MESERANI, Samir et alii. Redação escolar: criatividade. São Paulo, DIS- CUBRA, 6ª série, 1974.

12. MIRANDA, José Fernando, Arquitetura da redação. 5ª ed., São Paulo, DIS- CUBRA, 1977.

13. OLIVEIRA, Cleófano Lopes de. Flor do Lácio. 9a ed., São Paulo. Saraiva, 1967.

14. OLIVEIRA, Édison. A comunicação através de palavras. Porto Alegre, Gráfica e Editora do Professor Gaúcho Ltda., 1969.

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15. SAINT-EXUPÉRY, ANTOINE. O pequeno príncipe. 17aed., Rio de Janeiro, Agir, 1974.

16. SANTOS, Volnir et CARVALHO, Adão E. Redação. Porto Alegre, Gráfica e editora do Professor Gaúcho Ltda., 1975.

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