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Livros Grátislivros01.livrosgratis.com.br/me002532.pdf · professoras Núbia Soares Lima Maranhão e Ermelinda Azevedo Paz de Souza Barros, que vêm sintonizando-se, em suas vidas

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  • Livros Grtis

    http://www.livrosgratis.com.br

    Milhares de livros grtis para download.

  • Presidente da Repblica Jos Sarney Ministro da Educao Hugo Napoleo Secretrio-Geral do MEC Luiz Bandeira de Rocha Filho

  • Prmio Grandes Educadores

    Brasileiros Monografias Premiadas

    1988

  • Srie Grandes Educadores, 5

    Brasil. Ministrio da Educao. Instituto Nacional de B823p Estudos e Pesquisas Educacionais.

    Prmio grandes educadores brasileiros: mono-grafias premiadas 1988. - Brasilia: MEC/INEP, 1989.

    1. Monteiro Lobato - bibliografia. 2. Heitor Villa-Lobos. I. Ttulo.

    CDU 92

  • Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

    Prmio Grandes Educadores

    Brasileiros

    Monografias Premiadas 1988

    Brasilia 1989

  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS

    DIRETOR-GERAL Manuel Marcos Maciel Formiga

    DIRETOR DE PLANEJAMENTO E ADMINISTRAO Carlos Avancini Filho

    DIRETORA DE ESTUDOS E PESQUISAS Maria Las Mousinho Guidi

    DIRETORA DE DOCUMENTAO E INFORMAO Silvia Maria Galliac Saavedra

    PRMIO GRANDES EDUCADORES BRASILEIROS

    COMISSO JULGADORA Paulo Rosas (Presidente) Elza Nascimento Alves Juracy Cumegatto Marques MoacirSecuri Lia de Freitas Garcia Fukui

    SECRETRIA-EXECUTIVA Letcia Maria Santos de Faria

    COORDENADORA DE EDITORAO E DIVULGAO Samira Abraho Rodrigues Pinheiro

    ASSISTENTE EDITORIAL Janete Chaves

    CONTROLE DE TEXTO Tnia Maria Castro

    CAPA Ana Maria Boaventura

    INEP- Coordenadoria de Editorao e Divulgao Via N-2, Anexo I do MEC, sala 137 Caixa Postal 04/0366 70312-Braslia. DF Fone: (0611226-1272

  • Sumrio

    APRESENTAO ............................................................................................. 7 AS AUTORAS. DADOS BIOGRFICOS............................................................. 9

    PRIMEIRA PARTE

    MONTEIRO LOBATO, UM ESCRITOR BRASILEIRO introduo ........................................................................................................ 15 Uma vida.......................................................................................................... 16 Uma obra ......................................................................................................... 25 Literatura para adultos ..................................................................................... 29 Literatura para crianas ................................................................................... 33 Concluso......................................................................................................... 47 Bibliografia ....................................................................................................... 49

    SEGUNDA PARTE

    HEITOR VILLA-LOBOS, O EDUCADOR Introduo ........................................................................................................ 59 A implantao do ensino de Canto Orfenico .................................................. 62 A obra didtica.................................................................................................. 70 O orfeo de professores do Distrito Federal..................................................... 87 As concentraes orfenicas............................................................................ 97 A melodia das montanhas ............................................................................... 104 O Congresso de Educao Musical de Praga, Tchecoslovquia ...................... 107 O Villa-Lobos que conhecemos........................................................................ 113 Bibliografia ....................................................................................................... 134 Anexos .............................................................................................................. 135

  • Apresentao

    O resultado do Prmio Grandes Educadores Brasileiros, cie 1988, consagrou, como grandes educadores, duas figuras notveis: uma repre-sentativa da literatura - Monteiro Lobato - e, outra, da msica - Villa-Lobos.

    Criaes artsticas, veiculadas pela palavra e por imagens e sons musicais, dirigidas a multides sucessivas e diversificadas, de todas as idades, capazes de enriquecer o trabalho educacional, tiveram, na obra desses gnios contemporneos, a expresso da alma genuna do povo brasileiro.

    Ambos alimentaram as matrizes de sua produo com o passado histrico, no perodo conjuntural de suas vidas identificaram as necessidades e potencialidades de seu povo e, no futuro, projetaram os frutos sociais de seus trabalhos.

    Diversificados foram os veculos, a temtica e a produo de ambos, mas suas mensagens traziam, de forma unificada, o recado ao ser humano sobre a riqueza e as caractersticas da cultura brasileira, extensivo no s gente da sua terra, mas a todas as nacionalidades. Este o legado de Monteiro Lobato e Villa-Lobos.

    As autoras das monografias premiadas captaram, alm dos textos e sons, outras mensagens no escritas ou musicadas por estes magos do sonho, da palavra e do som.

    Tais mensagens, ora publicadas, so transmitidas aos leitores pelas professoras Nbia Soares Lima Maranho e Ermelinda Azevedo Paz de Souza Barros, que vm sintonizando-se, em suas vidas profissionais, com a linguagem destes mestres, os quais, por desenvolverem atravs de suas obras as potencialidades pessoais e sociais dos que se beneficiam com sua elevada produo, aqui esto como grandes educadores.

    Marcos Formiga Diretor-Geral do INEP

  • As autoras: dados biogrficos

    NBIA SOARES LIMA MARANHO maranhense, tendo feito os estudos primrios em So Luis, no Colgio de Aplicao do Instituto de Educao. Mudando-se posteriormente para Braslia, Distrito Federal, cursou, nesta Capital, o ginsio e a escola normal, recebendo o diploma de normalista em 1974. Retornando ao estado de origem, graduou-se em Letras pela Universidade Federal do Maranho, em 1981.

    Em sua vida profissional, exerceu atividades de magistrio nos vrios nveis de ensino (1 ? e 2? graus e ensino superior). Possui, ainda, experincia na rea de jornalismo, com atuao em servios tcnicos de editorao no Dirio do Povo, de So Lus, e na Assessoria de Imprensa, da Secretaria de Comunicao (SECOM), do Governo do Estado do Maranho, em que, atualmente, desenvolve ainda este trabalho. A autora teve, tambm, vrios artigos publicados na imprensa diria de So Lus.

    Obra publicada: Odylo Costa, filho- vida e obra. So Lus, DAC/PREXAE, UFMA, s.d.

    ***

    ERMELINDA AZEVEDO PAZ DE SOUZA BARROS carioca, de Laranjeiras. Iniciou suas atividades docentes como professora de Educao Artstica, rea de Msica, na Escola Guatemala (1969 a 1978), primeiro centro experimental do INEP no Rio de Janeiro. Foi, tambm, professora de Percepo Musical no Curso de Regncia Coral Infantil do Projeto Vi II a-Lobos, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Msica (IN M), da Fundao Nacional de Arte (Funarte), alm de regente e fundadora do Coral Comunitrio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de 1982 a 1986, e do coral "Os Corumins", da Associao de Canto Coral do Rio de Janeiro, em 1981.

    Ocupando o cargo de professora no ensino superior, ingressou como Professora Adjunta e Assistente de Percepo Musical e Canto Coral da Universidade do Rio de Janeiro (UN l-Rio), a partir de 1972, e da

  • UFRJ, desde 1982. Atualmente, dedica-se Percepo Musical nas duas universidades e desenvolve intensa atividade de pesquisa em msica. Possui diversos cursos de especializao em nvel de ps-graduao lato sensu, realizados na UNI-Rio, UFRJ e na Universidade Nacional de Rosrio, Argentina, como bolsista da Organizao dos Estados Americanos (OEA).

    membro titular da Academia Nacional de Msica. Foi laureada nos concursos de monografias Silvio Romero, promo-

    vido pelo Instituto Nacional do Folclore, da Funarte, em 1983, com meno honrosa; Villa-Lobos e a Msica Popular Brasileira, Museu Villa-Lobos, Fundao Pr-Memria, Ministrio da Cultura, 1988, com o primeiro lugar; e Villa-Lobos, sua Vida e Obra, OEA e Governo brasileiro, 1988, com meno honrosa.

    Teve, ainda, seu trabalho retratado pelo musiclogo Brian Hodel, no artigo Ear Training for Guitarists, publicado no n 68 da Revista Guitar Review, referente ao ano de 1987.

    Realizou conferncias no Ciclo de Integracin Cultural Latino-americano, Escola de Msica da UFRJ, Escola de Msica de Braslia e no programa "Encontro com a Universidade", da Rdio MEC, levado em cadeia nacional no dia 16 de abril de 1988.

    Obra publicada: As pastorinhas. Rio de Janeiro, UFRJ, 1987.

  • Primeira Parte

    Monteiro Lobato Um Escritor Brasileiro

    Nbia Soares Lima Maranho

  • Jos Bento Monteiro Lobato (1882- 1948)

  • Fotografia extrada da obra Monteiro Lobato vivo..., seleo e organizao de Cassiano Nunes, Rio de Janeiro, MPM Propaganda, Record, 1986.

  • Introduo

    Escrever um livro sobre o homem que me ensinou a amar os livros pareceu-me sempre uma obrigao, um dever de reconhecimento quele que foi, sem dvida, o grande professor de minha vida e, tenho certeza, o de tantas outras crianas.

    Monteiro Lobato ensinou-me histria, geografia, gramtica e at poltica. Deu-me aulas de astronomia, mitologia, ecologia, filosofia, moral e civismo e amor aos homens. Despertou em mim ideais, sonhos e ambies de saber mais, de abrir a mente ao conhecimento. Levou longe minha imaginao nas mais lindas fantasias, um olho no fantstico, outro na realidade.

    As horas mais perfeitas da infncia eu as devo sua escrita mgica. O despertar da conscincia crtica, a viso da problemtica do pas, seu retrato honesto... Hoje, devo-lhe recordaes e ensinamentos, que guardo ciosa e carinhosamente, e a vontade de passar para meus alunos, do seu jeito espontneo e vivaz, as mesmas coisas boas com que ele encheu minha vida.

    Oxal este trabalho de pesquisa sobre a vida e a obra deste honesto brasileiro transforme-se num livrinho, e chegue s mos de muitos jovens, levando-lhes algum conhecimento sobre este educador, talentoso escritor, o corajoso Monteiro Lobato.

  • Uma vida

    "Porque tenho sido tudo, e creio que minha verdadeira vocao procurar o que valha a pena ser."

    Monteiro Lobato

    A 18 de abril de 1882, em Taubat, estado de So Paulo, nasceu o filho de Jos Bento Marcondes Lobato e Olmpia Augusta Monteiro Lobato. Recebeu, ento, o nome de Jos Renato Monteiro Lobato, porm mais tarde, ainda menino, resolve chamar-se Jos Bento, interessado que estava em herdar uma bengala cor de mbar, lindamente encastoada de ouro, que pertencia a seu pai e tinha gravadas as iniciais J.B.M.L. Como Jos Bento Monteiro Lobato passou a ser conhecido, at os nossos dias.

    Juc, como era chamado, teve uma infncia feliz; brincava com suas irms menores, Ester e Judite, com brinquedos feitos de sabugos de milho, chuchus, mamo verde, etc, e adorava os livros de seu av materno, o Visconde de Trememb. Criana ainda, testemunharia o fim da escravatura, da monarquia e o incio do processo de transio vivido pelo pas, que de agroexportador passava a uma economia industrial dependente. Alfabetizado por sua me, teve um mestre particular, Joviano Barbosa, e aos sete anos entrou para o colgio. No Sao Joo Evangelista, uma das escolas onde estudou, conheceu Antnio Quirino de Sousa e Castro, diretor e professor de Gramtica, que lhe causou grande impresso por sua originalidade e inteligncia.

    Em 1895, foi para So Paulo prestar exames de ingresso no Instituto de Cincias e Letras, sendo reprovado em Portugus. Retornou, ento, ao Colgio Paulista, onde j estudara, e reiniciou os estudos para essas provas. Nessa poca, faz sua estria nas letras, com um artigo no jornal estudantil O Guarani, que intitula Rabiscando, subscrito com o pseudnimo de Josben. Alis, escreveria centenas de artigos sob pseudnimos os mais diversos, tais como Lobatowsky, RodantoCor-de-rosa, Enoch Villa-Lobos, Marcos Twein, ditados por seu senso de humor. S aos 32 anos assinaria seu nome verdadeiro.

    Em dezembro de 1896, voltou a prestar exames em So Paulo- a esse respeito escreveu uma crnica intitulada O Cigarro do Padre Chico, sobre o lente que iria inquiri-lo em francs e que terminou no s por

  • aprov-lo como por proporcionar-lhe momentos de rara beleza e inteligncia - e, j aluno do Instituto de Cincias e Letras, criou o H2S, jornalzinho manuscrito, que Ha em voz alta no recreio dos sbados sob ameaas dos "alfinetados" por sua pena irnica. No internato, viria a fazer parte do grmio literrio, alimentando sua vocao de escritor.

    A 13 de julho de 1898, faleceu seu pai, de tuberculose. Do mesmo mal morreria sua me, um ano mais tarde. Lobato e suas irms foram, ento, morar com o av. Era o comeo da idade adulta.

    Antes de completar dezoito anos, ingressou na Faculdade de Direito do Largo So Francisco, atendendo ao desejo do av, pois, na realidade, queria ser pintor. Foi, talvez, a nica concesso de sua vida Durante o curso conheceu seus grandes amigos: Ricardo Gonalves, poeta que muito jovem ainda se suicidaria; Godofredo Rangel, com quem manteve uma correspondncia de quarenta anos, e ainda Lino Moreira, Jos Antnio Nogueira, Raul de Freitas, Tito Lvio, Albino Camargo e Cndido Negreiros. Juntos, formaram o grupo Minarete, nome dado a um chalezinho amarelo da Rua 21 de Abril, no Belenzinho, onde moraram.

    Anticonvencional por excelncia, Lobato dizia sempre o que pensava, agradando ou no. Disso j dava provas durante sua vida estudantil, manifestando vagas tendncias socialistas. No jornal da Faculdade publicou seu primeiro conto: Gens Ennuyeux (Gente Aborrecida), ironizando os "sabiches das academias" e, em 1904, ao receber o grau de bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais, durante a solenidade de formatura, fez um discurso inflamado, cujo teor obrigou padres, bispos e professores a retirarem-se do recinto. Prestou concurso, em seguida, para a Promotoria Pblica e, aprovado, foi nomeado, em maio de 1907, para a Comarca de Areias, uma das "cidades mortas" de que falaria mais tarde em um de seus livros.

    A 28 de maro de 1908, casou-se com Maria Pureza da Natividade (Purezinha), neta do dr. Antnio Quirino de Sousa e Castro, seu antigo mestre. Sobre Purezinha, ainda sua noiva, Lobato assim escreveu a Rangel: "Estou noivo. Pedi no dia 12 e obtive a 15 a mo de Purezinha, filha do dr. Natvidade que te examinou em Aritmtica no Curso Anexo, minha prima longe, professora complementarista, loura, branca como ptala de mag-nlia, lindo. Combinamos casar um dia".' Tiveram quatro filhos: Manha, Edgard, Guilherme e Ruth.

    Entre Areias, Taubat e ocasionais viagens a So Paulo viveu Lobato at 1911. Nesse perodo leu muito, escreveu para jornais e revistas: Tribuna de Santos; Gazeta de Notcias do Rio de Janeiro; Fon-Fon, um seminrio ilustrado de So Paulo, para onde envia tambm caricaturas e desenhos. Acima de tudo, recolheu a material riqussimo para seus futuros

    'LOBATO, Monteiro. A barca de Gleyre. Sao Paulo, Brasiliense, 1985. p.163. T-l.

  • livros, como o disse em uma de suas cartas a Rangel, de 23 de outubro de 1909: "Para o ms vou passar duas semanas em Taubat e das notas que l tenho extrairei os tipos e observaes aproveitveis..."

    A 27 de maro de 1911, morre o Visconde de Trememb, deixando a Lobato a Fazenda Buquira, em Taubat. O casal, ento, com dois filhos, mudou-se para o stio, onde o escritor dedicou-se apaixonadamente agricultura, conforme o confessou a Rangel em uma carta datada em 19 de agosto de 1912: "... No calculas, Rangel, como tomo a srio a lavoura, nem que belezas h na vida do solo..." Em meio labuta de fazendeiro foi vendo, sentindo e colhendo elementos novos e "germinando" idias.

    Sua volta literatura seria determinada, alis, por um fato ligado s suas atividades de fazendeiro, pois indignado com as constantes queimadas praticadas pelos caboclos, que "transformam em carvo toda uma face de morro para plantar um litro de milho", escreveu seo Queixas e Reclamaes, do jornal O Estado de S. Paulo, o artigo A Velha Praga, no qual coloca o caboclo como o piolho da terra, acusando-o de parasita e preguioso. Para sua prpria surpresa, o artigo suscitou grande polmica e o fez receber cartas, alm de um convite da Sociedade de Cultura Artstica de Sao Paulo para fazer uma conferncia. Nessa poca, Lobato confessou a Rangel a idia de escrever um estudo sobre o caboclo e a serra; o caboclo considerado o mata-pau da terra, por ser parasitrio, depredador e incivilizvel. E surgiram, ento, muitos contos- "desabafos, vingancinhas pessoais", segundo o prprio autor - publicados em peridicos, como a Revista do Brasil, e depois reunidos em um livro, Urups, que seria editado mais tarde, em 1918.

    "Quando em menino minha me me mandava fazer qualquer coisa e eu mostrava corpo mole, ela: 'Anda menino! Parece urup de pau podre!' Esse nome 'urup' ficou-me na cabea. Afinal, um dia, quando precisei classificar a classe do Jeca, ou do homem da roa, o nome que me acudiou foi esse- e acabou denominando-me tambm o livro". 2 Assim, Monteiro Lobato explicou a origem do ttulo de um dos seus mais famosos livros, no qual criou a imortal figura do Jeca Tatu, citado at mesmo por Rui Barbosa em um de seus discursos, aumentando sua popularidade e sucesso. Estimulado pela polmica em torno do Jeca Tatu, segundo Rui Barbosa"... o piraquara do Paraba e a degenerescncia inata da sua raa", o escritor interessou-se em analis-lo mais a fundo e at em defend-lo.

    Enquanto isso a fazenda, na qual tanto investira, tornava-se fonte de contrariedades e prejuzos. A vida campestre comeava a aborrec-lo e, na tentativa de afastar o tdio, pensou at em ser poltico. Candidatou-se a vereador em Buquira, mas no suportou sequer fazer campanha e arregimentar eleitores.

    "LOBATO, Monteiro. Prefcios e entrevistas, conferncias, artigos e crnicas. Sao Paulo, Brasili-ense, 1955. p.120.

  • Em agosto de 1917, Lobato vendeu a fazenda e mudou-se com a famlia para So Paulo. Tinha, ento, trs filhos. No fim da vida, lamentaria t-la vendido, saudoso da paz de roceiro, desiludido das lutas vs. Comprou a Revista do Brasil e fez aumentar extraordinariamente sua tiragem. Deu incio s suas atividades editoriais, publicando o Urups e muitas outras obras, dando sempre primazia a autores novos. Conseguiu dar vazo aos livros editados fazendo-os vender em todo o pas, em qualquer tipo de comrcio, e nao apenas em livrarias, chegando a mudar de 400 ou 500 exemplares por edio para 3.000 em mdia. Nessa poca, por inexperincia sua e de Octalles Marcondes Ferreira, seu companheiro de empreitada, fez editar 50.500 exemplares de Narizinho Arrebitado, um livrinho de leitura extra. Mas esse programa foi notado pelo Presidente Washington Lus, que, tendo observado a avidez com que as crianas o liam, recomendou-o ao Secretrio de Educao, Alarico Silveira, e 30.000 mil foram comprados. Ao fim de oito meses, toda a edio se havia esgotado, deixando grande lucro editora, cuja firma foi registrada na Junta Comercial com o nome Olegrio Ribeiro, Lobato & Cia. Ltda. O escritor, a essa poca, j planejava lev-la para o Rio; estudava uma associao com a Cooperativa Editorial Argentina e o lanamento de Idias de Jeca Tatu e Cidades Mortas.

    Alm do lado' novidadeiro" de suas edies, pois s publicava jovens e desconhecidos autores, como Paulo Setbal, Menotti del Picchia, Humberto de Campos, Oswald de Andrade, Oliveira Viana e outros, Lobato primou tambm pela apresentao grfica de seus livros, mudan-do-lhes o formato clssico, revestindo-os de capas desenhadas e coloridas.

    Em 1921, tento j lanado Negrinha e Onda Verde, editou O Saci, enquanto preparava Fbulas e o Marqus de Rabic. Com estas obras para crianas, enveredou de vez pelo caminho que lhe asseguraria um lugar indisputvel em nossa literatura como autor dos primeiros livros infantis de valor definitivo. Alternando livros para adultos e crianas, Lobato lanou inmeros autores brasileiros e estrangeiros, traduzindo e adaptando mais de cem volumes. notvel a sua preocupao em fazer tradues "desliteraturizadas" de obras clssicas destinadas ao pblico infantil: As Viagens de Gulliver, Robinson Cruso, A Tempestade e outros.

    Em 1925, So Paulo vivia uma grande crise de energia eltrica (aps a

    crise da Revoluo de 1924) causada por uma prolongada seca. A Light passara a fazer redues no fornecimento de energia e a editora s podia trabalhar dois dias na semana. Os prejuzos sucederam-se enquanto cresciam os juros das dvidas contradas na aquisio de modernos equipamentos. Quando a empresa foi falncia, Lobato e Octalles fundaram a Companhia Editora Nacional, transferindo-se depois para o

  • Rio de Janeiro e publicando logo o Hans Staden, do prprio Lobato, que alimentava firmemente a idia de entrar para a Academia Brasileira de Letras.

    Na segunda dcada do sculo XX, o pas industrializava-se e os aglomerados urbanos expandiram-se mais e mais. Industriais reivindicavam benefcios para suas fbricas, opondo-se poltica oficial de s ajudar o caf. Surgia a classe mdia urbana, a classe operria; nasciam idias revolucionrias e os novos setores sociais contestavam a supremacia das oligarquias rurais, contrapondo-lhes a valorizao crescente do progresso material, do esforo individual e empreendedor. Nesse estado de esprito, a literatura "... coloca-se sob o signo da desintegrao e da aventura, fazendo os espritos inconformistas e de vanguarda soarem os clarins revolucionrios..."3 As mudanas eclodiriam no advento do modernismo, em 1922, com a Semana de Arte Moderna.

    Monteiro Lobato assumiu um papel controvertido no novo movimento, pois ao mesmo tempo em que foi um renovador, adepto fervoroso do progresso, um homem de idias livres, mostrou-se intransigente em relao s "novas modas" e hostilizou-as, como bem o demonstra seu artigo sobre a exposio de Anita Malfatti, em 1917, intitulado Parania ou Mistificao?. Nele, criticou duramente a obra da pintora, chamando-a de "caricatural". Talvez tal atitude seja explicada por sua antipatia a tudo que lhe parecesse estrangeiro, defensor que era de uma literatura genuinamente nacional.

    Em 1927, a Companhia Editora Nacional ia de vento em popa. O Choque das Raas, de Lobato, foi publicado com 20.000 exemplares iniciais. O autor sentia-se, ento, empolgado com os Estados Unidos e sonhava para o Brasil o mesmo destino grandioso. Em vrios artigos para jornal apontava os defeitos nacionais, incomodando, sem dvida, os governantes. Foi ento nomeado, pelo presidente Washington Lus, adido comercial brasileiro em Nova Iorque. Ansioso por conhecer a Amrica do Norte aceitou o convite e partiu com a famlia no dia 25 de maio de 1927, a bordo do American Legion. No caminho j ia sonhando com um transplante da editora, do Brasil para os EUA, com o nome de Tupy Publishing Co.! A idia no vingou!

    J em Nova Iorque, logo escreveu a Rangel, dizendo-se encantado com a eficincia norte-americana e perfeitamente ambientado. Como seria de esperar de uma personalidade como a de Lobato, ele pensou logo em retribuir ao Brasil o seu sustento nos EUA (700 dlares por ms) e iniciou estudos sobre a adequao de um novo processo siderrgico americano s condies carbnicas nacionais.

    'COUTINHO, Afrnio. Introduo literatura brasileira. Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira, 1976. p.239.

  • Monteiro Lobaio com Emlio de Menezes, Amadeu Amaral, Oswald de Andrade, Raul de Freitas, Simes Pinto, Jlio de Mesquita Filho- Bosque da Sade, So Paulo, 1915. (Fotografia extrada da obra Monteiro Lobato vivo, seleo e organizao de Cassiano Nunes, Rio dejaneiro, MPM Propaganda, Record. 1986).

  • Sua idia fixa j era fazer o pas entrar na era da siderurgia e do petrleo. Enquanto isto, jogou na Bolsa de Valores de Nova Iorque todas as suas economias - e que restava aps o casamento de sua filha Martha. O resultado da transao foi funesto. O crack de 1929 fe-lo perder pratica-mente tudo.

    De volta ao Brasil, em 1931, Lobato vem disposto a lutar pela explorao dos nossos recursos minerais por companhias nacionais. Fundou, ento, o Sindicato Nacional de Indstria e Comrcio e a Companhia Petrleo do Brasil, combatendo as grandes empresas multina-cionais e o prprio governo que as favorecia, apoiado por pequenos acionistas e por gelogos e geofisicos que acreditavam em seu sonho. Vrios poos foram perfurados, sendo logo fechados por falta de incentvo, de recursos ou por motivos mais escusos. Foi tachado de charlato e ladro da boa f alheia, visado nos meios oficiais.

    Entre os anos 30 e 40, Lobato brigou muito pela nacionalizao do ao e do petrleo. Em 1930, Getlio Vargas assumira a presidncia do pas e seguiram-se anos conturbados por vrios movimentos polticos, levantes armados e disputas ideolgicas. Nesse panorama agitado, destacavam-se as lutas contra os investimentos estrangeiros no Brasil, pois muitos visavam no apenas a explorao imediata, mas principalmente o enfraquecimento dos concorrentes nacionais. A omisso cmplice dos governantes que diziam no acreditar na existncia de petrleo no pas indignava ao mximo o escritor e, em 1936, ele publicou O Escndalo do Petrleo e Ferro, denunciando a sua monopolizao pela Standard Oil e a Royal Dutch e Shell, as quais dominavam o governo e a mquina administrativa, e expondo ao leitor a situao calamitosa do Ministrio da Agricultura

    Getlio Vargas convidou-o a ser o chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que pretendia transformar em Ministrio. Lobato recusou. Trs meses antes escrevera ao Presidente uma carta que assim terminava: "Pelo amor de Deus, Dr. Getlio, deixe de lado sua displicncia e veja o que est fazendo o general petrolicida"4, referindo-se ao Ministro Juarez Tvora, o qual afirmara at que a histria de haver petrleo no Brasil era "coisa de comunista". Por causa dessa carta e de outra dirigida ao Ministro da Agricultura, na qual denominava-se um "humlimo escritor de livros para crianas que viu claro o compl tramado contra as riquezas do nosso subsolo"5, foi preso em 20 de maro de 1941 e submetido a julgamento pelo Tribunal de Segurana, que o condenou a seis meses de priso. Mesmo os dias passados na solitria no quebraram o

    4RODRIGUES. A. Medina et alii. Antologia da literatura brasileira. Sao Paulo, Marco Editorial, 1979. p. 271. v.2.

    5Idem, ibidem.

  • nimo do escritor, pois de volta a uma cela comum continuou a dar ordens a distribuio de cartas e panfletos pelo pas, inflexvel em sua disposio de continuar falando a verdade.

    "Por dizer o que penso j fui parar na cadeia. E por dizer invariavelmente o que penso irei para o inferno, com a graa de Deus"6, declarou o escritor em uma entrevista concedida ao Jornal de So Paulo. Aps noventa dias de priso foi solto graas interveno de amigos de prestgio.

    Em 1943, Monteiro Lobato sofreu uma grande tristeza, morreu Edgard, seu ltimo filho homem, com 31 anos. Primeiro morrera Guilherme, aos 24. Sobre sua dor e o desespero de Purezinha, escreve uma carta comovida ao amigo Rangel: "... E assim vamos tambm ns morrendo. Morrendo nos filhos, pedaos de ns mesmos que seguem na frente. Morrendo nas tremendas desiluses em que se desfecham nossos sonhos. (...) Se estamos aqui como numa escola de aperfeioamento, meus filhos acabaram o curso mais depressa do que eu - prova de que eram melhores alunos do que eu. E tive de assistir morte dos dois e ficar no maior desapontamento - sobrando..."7

    Magoado e desapontado, o autor passa a dedicar-se apenas literatura. Em 1944, com Artur Neves e Caio Prado Jnior, fundou a Editora Brasiliense. Mudou-se para a Argentina em 1946 e, em Buenos Aires, criou a Editora Acteon, dirigindo tambm a edio de seus livros infantis em espanhol. Voltou ao Brasil em 1947 e participou de um comcio no Anhangaba contra a cassao dos mandatos dos deputados e senadores comunistas.

    O pressentimento da morte e a morte dos filhos levaram-no a pesquisar as coisas do alm, manifestando ento um interesse meramente cientfico pelo espiritismo, pois sempre foi alheio ao sentimento religioso. Dedicou-se a vrias experincias metapsquicas, acreditando que estudos futuros confirmariam a existncia de um sexto sentido no homem.

    A priso o alquebrara fisicamente. A 21 de abril de 1948 sofreu um derrame cerebral que o deixou incapaz de ler e escrever. O esprito, porm, inquebrantvel, f-lo convencer-se de que poderia reaprender as primeiras letras, e aos poucos readquiriu um pouco da habilidade da escrita. A dois de julho, consegue escrever ao neto Rodrigo, pequenino, uma carrinha onde se despede dele. Antes do derrame, escrevera a Rangel:"... Estou com uma curiosidade imensa de mergulhar no Alem! (...) A morte me parece a

    6LOBATO, Monteiro. Prefcios..., p.192. 7Idem.

    A barca..., 1955. p. 345. T.2.

  • maior das maravilhas...".8 E despediu-se do amigo de tantos anos: "... Adeus, Rangel! Nossa viagem a dois est chegando perto do fim. Continuaremos no Alm? Tenho planos, logo que l chegar, de contratar o Chico Xavier para psicgrafo particular, s meu, e a primeira comunicao vai ser dirigida justamente a voc. Quero remover todas as tuas dvidas".9 Segundo sua familia, Lobato chegou a combinar com Rangel uma senha que seria passada do alm, a qual no foi levada ao conhecimento do pblico.

    No dia quatro de julho de 1948, ainda animou com sua prosa custica um jantar na Penso Humait, casa de Yan de Almeida Prado. De madrugada, um colapso, ou um espasmo cerebral, matou-o durante o sono. O Brasil perdia um escritor, editor, fazendeiro, promotor, professor, industrial, comerciante; perdia uma voz... As crianas perdiam um pai, um av. Seu caixo ficou exposto na Biblioteca Municipal, visitado por uma multido, que o levou at o Cemitrio da Consolao. A beira de seu tmulo, o amigo Procpio Ferreira prestou-lhe uma homenagem: "Agora os sem-vergonhas podero agir vontade. Morreu Monteiro Lobato".

    8Idem, ibidem, p.384. "idem, ibidem, p.385.

  • Uma obra

    "Dizem que o Brasil no l! Uma ova! A questo saber levar a edio at ao nariz do leitor..."

    Monteiro Lobato

    A obra de Monteiro Lobato foi uma extenso de sua vida, evidenciando sua preocupao com a realidade do pas, a pobreza do povo, a degradao das instituies, em suma, com os aspectos bem patentes do mundo ao seu redor, sem procurar aprofundar-se em sutilezas psicolgicas ou dimenses espirituais.

    Monteiro Lobato viveu uma poca de profundas mudanas polticas e sociais; assistiu a muitas descobertas revolucionrias e realizaes grandiosas da mente humana. O progresso tecnolgico seduziu-o e marcou profundamente sua personalidade, induzindo-o a uma f cientificista que, aliada sua viso naturalista do mundo e conhecimentos do positivismo, do evolucionismo e do materialismo, conferiu traos peculiares sua criao literria. So estas peculiaridades que tornam impossvel incluir Monteiro Lobato nesta ou naquela corrente literria, pois seu carter individualista impediu-o sempre de enquadrar-se em qualquer rgida estrutura O fato que seu estilo muito pessoal fez marcante sua presena na literatura brasileira, tanto quanto o foi sua atuao na vida poltico-social do pas.

    A crtica literria divide-se quanto figura controvertida de Lobato. estudado como regionalista, como pr-modernista. acusado de conservador e retrgrado, no entanto Oswald de Andrade chamou-o de "o Gandhi do Modernismo". Alfredo Bosi, em sua Histria Concisa da Literatura Brasileira, inclui seu nome em uma resenha de escritores de intenes regionalistas, mas ressalta a sua transcendncia a esta incluso, apresentando-o como, antes de tudo, "... um intelectual participante que empunhou a bandeira do progresso social e mental de nossa gente..." 10

    Segundo Lcia Miguel Pereira, "... com Monteiro Lobato o regionalismo chega ao fim, dentro dos moldes que haviam presidido o seu

    BOSI, Alfredo. Histria concisa da literatura brasileira. Sao Paulo, Cultrix, s.d., p.242.

  • desenvolvimento. Ao estrear com os contos de Urups, o escritor paulista, ao mesmo tempo que ajuntava ao gnero elementos novos, acentuava as suas deficincias e, principalmente, os seus desvios, e liqidavo-o".11

    E Nelson Werneck. Sodr corrobora a opinio da autora: "Monteiro Lobato liqida o regionalismo, aquele regionalismo em que as influncias naturalistas haviam transformado o sertanismo, romntico, quando cria um tipo, o Jeca Tatu. Neste tipo, verdadeiro nos traos exteriores, falso no contedo, o escritor paulista busca representar, em deformao caricatural que por isso mesmo se vinca e se generaliza, o homem do interior, o caipira pobre, doente, preguioso, ignorante, embora dotado de uma sorte de inteligncia (...) Atingindo a esse mximo, o regionalismo denunciava precisamente, no momento oportuno, a sua deficincia fundamental: a realidade nao est apenas na superfcie, nesta aparece por vezes a sua parte menos importante, menos caracterstica: o meio age atravs das relaes sociais. Jeca Tatu era falso justamente pela verdade unilateral de sua forma exterior - sob a aparncia da preguia, da ignorncia, da doena, estava o drama profundo. Resultando num libelo s avessas, o tipo era condenat-rio da vtima. Lobato reconheceu isso depois. No conjunto, tendo realizado um tipo que um dos mximos da fico, o regionalismo se esgotava com ele". l2

    Na verdade, nos retratos primorosos que fez do Vale do Paraba paulista no incio do sculo XX, mostrando a decadncia ps-cafeeira, criou e retratou com extrema crueza a figura do Jeca Tatu. Movido pela indignao diante do roceiro que lhe queimava as matas, excedeu-se em sua representao caricatural, sem considerar a problemtica social e estrutural que havia por trs da questo. Mais tarde se retrataria com o Z Brasil, apontando a injustia social praticada contra o caboclo corrodo pela desesperana e pela doena, subproduto de uma populao marginalizada, subnutrida e inculta.

    Na poca em que surgiu, a figura do Jeca Tatu desencadeou uma violenta ofensiva ltero-nacionalista reacionria Monteiro Lobato foi chamado de mentiroso, de antipatriota' Foi ento que Rui Barbosa fez publicar no jornal O Estado de S. Paulo a famosa pea oratria A Questo Social e Poltica no Brasil, encabeada por uma grande citao ao Jeca, que causou grande repercusso e propiciou ao livro em questo, Urups, enorme sucesso.

    A posio de Lobato quanto ao modernismo foi, no mnimo, ambivalente. Desde 1910, muitos escritores j se posicionavam contra a literatura de ento, seguidora dos ensinamentos europeus, principalmente

    "PEREIRA, Lcia Miguel. Historiada literatura brasileira. Rio de Janeiro, s.ed., 1975. p. 181. v.12. ,2,SODR. Nelson Werneck. Histria da literatura brasileira. Rio de janeiro. Civilizao Brasileira, 1976,

    p.417.

  • franceses, distanciada da realidade brasileira Entre estes, Lima Barreto Afonso Arinos, Simes Lopes, Gasio Cruls e Monteiro Lobato estavam convictos de que no Brasil havia matria-prima mais que suficiente para a recriao artstica Desse pensamento ao, o nosso autor foi muito gil e hbil e assumiu logo posio de vanguarda na expresso das peculiaridades regionais, apregoando a rica herana cultural brasileira, preocupando-se com a criao de uma literatura genuna e original, jogando por terra velhos tabus.

    Em seus escritos denunciou as mazelas do pas, as causas do atraso nacional e apontou as opes capazes de redimir o pas, atribuindo cincia, tcnica e explorao dos nossos recursos minerais uma funo salvadora. Eles refletem seu engajamento numa luta por um Brasil modernizado nos moldes capitalistas, tomando por base, mesmo, o modelo burgus norte-americano.

    Na linguagem foi tambm original e inovador. Apesar de seu declarado entusiasmo por Camilo e Ea de Queiroz e, sem afastar-se dos padres da lngua culta, forjou uma linguagem forte e colorida, quase sempre coloquial - da seu jeito de narrar vivo e espirituoso, cheio de verve e sarcasmo - incorporando linguagem literria termos e expresses tpicos da fala regional, despojando-a dos artifcios parnasianos numa busca de total simplicidade, avesso, que sempre foi, ao solene, ao pomposo, ao rebuscado. Pregou sempre, aos amigos, inclusive, uma literatura "limpa" de literatices, despida de pretenses lingsticas, de "gramatiquices". "... E entreguei-me a aprender, em vez de gramtica, lngua- lendo os que a tm e ouvindo os que falam expressivamente"13, disse o prprio Lobato, aludindo clareza que tanto buscou e contradizendo os que rotularam de conservadora e convencional a sua prosa.

    A indignao foi sua fora motriz, conferindo s suas obras um tom moralista e doutrinrio que, estranhamente, dado os motivos desta indignao - as mazelas do Brasil oligrquico e da I Repblica-, afastou-o do modernismo de 22, apesar de seu vanguardismo e antipatia declarada ao academicismo. Em nome do bom senso, manifestou-se contra as novas correntes literrias, por ach-las insensatas e meramente imitativas, cpias subservientes de modelos estrangeiros. Hostilizou o modernismo e foi acusado apressadamente de retrgrado, provinciano e inculto. dessa poca o famoso entrevero com a pintora Anita Malfatti, quando esta, recm-chegada da Europa, exps o primeiro quadro modernista no Brasil. Lobato criticou-o duramente sem preocupar-se, com a fama da artista, tendo mesmo atrapalhado sua prpria carreira em nosso pas, pois grande era o seu prestgio de escritor.

    Na verdade, ao escrever Velha Praga, sua queixa contra os incendi-rios da mata, e mais tarde Urups, Monteiro Lobato no se dava conta da

    ,3LOBATO, Monteiro. A barca..., 1955. p.51. T.2

  • importncia renovadora do que escrevia, da efervescncia que causaria, no meio literrio de ento, a irreverncia e originalidade de sua prosa. Alguns crticos considerariam seu primeiro livro o marco zero do movimento modernista, deflagrado anos mais tarde.

    As "mundices da lua", como o autor tantas vezes denominou seus escritos, enriqueceram-no, empobreceram-no e o tornaram a enriquecer. Os lucros advindos de sua literatura garantiram-lhe sempre a subsistncia quando tudo o mais falhou, e os direitos autorais de suas obras foram deixados sua familia, quando mais nada pde legar-lhe. Ao pais nao conseguiu proporcionar riquezas, desenvolvimento, o progresso que sonhava. Deu literatura apenas, mas literatura da melhor, daquelas que abalam alicerces, destroem prejuzos e preconceitos, despertam idias e fazem sonhar... adultos e crianas! Nos captulos a seguir detalharemos a literatura de Monteiro Lobato para adultos e crianas e seu vnculo com a educao.

  • Literatura para adultos

    "Gosto de livros que pintam o dia de amanha, as vitrias que vm vindo".

    Monteiro Lobato

    Em sua literatura geral, como Monteiro Lobato denominou as obras destinadas aos adultos, aflora uma caracterstica bsica que se perpetua em seus livros para crianas: um profundo sentimento de nacionalidade, fazendo de tudo o que escreveu um reflexo de sua vida, de sua ao prtica em prol de uma nao mais livre, mais desenvolvida e feliz.

    Quando nas madrugadas martelava em sua mquina de escrever, pois este era o seu horrio preferido de trabalho, produzia uma literatura de combate, prpria do grande idealista que foi. Os livros eram suas armas de lutar pelo progresso, contra a corrupo e a preguia, sacudindo o Brasil, rando-o do marasmo em que "dormia".

    Urups, Cidades Mortas e Negrnha, seus primeiros livros, renem contos ambientados quase sempre em cidadezinhas do interior paulista, mostrando a misria e a ignorncia reinantes, em quadros "pintados" de forma original e pitoresca, ora de intenes trgicas, ora satricas; verdadeiros retalhos de costumes emendados por uma inteno moralizadora, cruel ou sentimental e apiedada.

    Como sabido, Lobato quis ser pintor e de fato andou pintando por toda a sua vida, mas suas melhores tintas foram as palavras, com as quais coloriu pginas inteiras. Nos contos, gnero em que primou, mostrou seu dom de observador arguto, minucioso na evocao das mais diversas e interessantes situaes, empregando imagens vigorosas e expressivas, que tornavam mais ntidas as cenas expressas' tomando-as visualizveis ao leitor.

    Suas pginas descritivas parecem-nos fotografias de corpo inteiro, mostrando detalhes, defeitos, aspectos visveis, denotando uma objetividade anti-romntica que o fazia ser quase superficial, pois furtava-se a aprofundar sua fico alm do mundo fsico, sem descer a dimenses religiosas ou espirituais. Alis, quanto religio, um acentuado "socialis-

  • mo meio anrquico"14 afastou-o desde cedo da obedincia aos dogmas da Igreja, pois estes, acreditava, "destruam a liberdade moral".

    De seus personagens retratou o lado mais pitoresco, sem o estudo de suas personalidades, dos mistrios da alma humana, das sutilezas psicolgicas de cada indivduo. A esse respeito, Edgard Cavalheiro observou que lobato esteve sempre de fora de suas histrias e personagens, "... manejando os cordis sem participar do drama ou comdia..."15 E diz mais: "O retrato que traa de qualquer personagem ou ambiente sempre de carteira de identidade: fiel, objetivo, autntico. Facilmente reconhecvel. Tais retratos no atingem maiores grandezas por faltar-lhes, talvez, maior poder criador. Lobato possua imaginao reprodutiva. Partindo do fato objetivo, seria capaz de alar vo. Mas no possua imaginao conceptiva..."16 A esta afirmativa parece referir-se o prprio Monteiro Lobato, em carta dirigida a Rangel, datada de 22 de abril de 1917: " incrvel como sou inimaginativo! Por mais que esprema o tero no sai filho, quando no h prvia impregnao dos ovrios e gestao inconsciente. Ser todo mundo assim? Se quero parir fora, sem estar grvido, no me sai coisa nenhuma. Se tens a algum esqueleto de conto encostado e que no queiras aproveitar, manda-mo, que o revestirei de carnes e jogarei com ele para cima da Revista".17 O mesmo homem que escreveu isto, criou, um dia, o p-de-pirlimpimpim.

    Seus contos, ou crnicas, tm finais estudadamente imprevistos, trgicos ou cmicos, ou ambas as coisas, permeados de explicaes propcias polmica. Seguindo o conceito clssico de conto, pea narrativa com comeo, meio e fim, Lobato contou histrias habilmente arquitetadas, com todos os elementos narrativos fluindo para a consecuo de um todo harmonioso, vivo e espirituoso. Do gnero, o escritor serviu-se vontade para exercitar seu humor irreverente, satirizando cruelmente atitudes, hbitos culturais, valores cvicos; parodiando, implacvel, escritores romnticos e naturalistas, evidenciando sua modernidade ou valendo-se dele para denunciar os erros da sociedade brasileira. Sem dvida foi melhor quando fez uso da stira, tratando de assuntos jocosos, do que na narrao de casos sinistros ou trgicos, pois nestes beirou o melodrama, carecendo de maior profundidade.

    Como fazendeiro ou como promotor na pequena cidade de Areias, observador cotidiano da modorrenta realidade do interior, Lobato logo

    14CAVALHElRO, Edgard. Monteiro Lobato, vida e obra. In: MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. Monteiro Lobato, textos escolhidos. Rio de Janeiro, Agir, 1972.

    l5MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. Monteiro Lobato..., p.9.

    16Idem, ibidem.

    17LOBATO, Monteiro. A barca..., 1955. p.136. T.2.

  • resolveu-se a mostrar a diferena entre o serto romntico e seus moradores idealizados pela tradio romanesca e o serto que presenciava: cidades falidas, caboclos miserveis e analfabetos. Em Urups, desmente duramente as fantasias dos indianistas, oferecendo do painel da vida desse caboclo. a que surge a figura do Jeca Tatu, representante caricato do povo ao qual o escritor atribua toda a responsabilidade pelo atraso do pas. Como se sabe, redimiria o Jeca, mais tarde, eximindo-o dessa culpa.

    Cidades Mortas, cujo espao compreende o Norte paulista do Vale do Paraba, so retratos das cidadezinhas decadentes do perodo ps-cafeeiro. Cenrios para homens e mulheres imbudos de antiquados e falsos valores, que Lobato ironizou cruamente. So contos ainda repassados de certo tom passadista e conservador, evidenciado na linguagem profusa em adjetivos e nas imagens rebuscadas, em evidente contrastao com o esprito que os animava.

    Negrnha rene contos mais estruturados, onde j se delineia uma maior sintonia com a vanguarda literria modernista. A tcnica narrativa mais gil, mostrando influncias cinematogrficas, como o caso de Marab, onde personagens e enredos romnticos so parodiados de forma vanguardista, at moderna. No livro, o autor no abandona o moralismo, mas refina seu senso de humor e contm mais o sentimentalismo, o que de cena maneira amplia sua capacidade de fazer sentir, pois Negrinha comove e amargura, bem como O Jardineira Timteo, enquanto O Colocador de Pronomes torna-se mais um tipo em sua galeria, resumido em sua paixo pela gramtica, pela perfeita colocao dos pronomes. Neste conto a veia satrica de Lobato est em alta, talvez pelo fato do escritor reconhecer-se como mau colocador de pronomes, desforrando-se, portanto, em Aldrovando Cantagalo.

    s trs primeiras publicaes seguir-se-iam livros mais voltados para a cincia, enfatizando os benefcios do progresso. So dessa poca seus escritos mais variados: pginas crticas, ensaios sobre temas polticos e sociais, artigos, prefcios, conferncias e crnicas.

    O Presidente Negro ou O Choque das Raas, seu nico romance, foi publicado em 1926, em folhetins no jornal carioca A Manha, com o subttulo Romance americano do ano 2228. Nele, o autor rompe com o universo de Itaoca - smbolo da mesmice brasileira - e leva o leitor para o futuro, a uma modernssima Washington. Seu personagem, o urbano Ayrton, morador de So Paulo, vivia perfeitamente inserido em seu tempo - antes de ser iniciado na anteviso do futuro - ao contrrio do Jeca Tatu, que no tomava conhecimento do progresso. Trata-se de uma tentativa malsucedida de romance de tese cientfica, pois em Lobato o contador de casos sufocou o ficcionista. Junte-se a isto a tcnica narrativa do romance, mais conservadorista que a de Negrnha.

    neste romance, entretanto, que o leitor d os primeiros passos numa viagem fantstica pelo tempo e espao. Em O Presidente Negro ele

  • levado pelo "porviroscpio" ao futuro. A viagem continuaria e continuar atravs do "p-de-pirlimpimpim", no to tecnolgico e muito mais maravilhoso, arrastando a todos, adultos e crianas, a um mundo de fantasias, totalmente libertado de qualquer compromisso ideolgico.

    A Barca de Gleyre o melhor retrato de Monteiro Lobato, o mais completo. So centenas de cartas escritas a um amigo, Godofredo Rangel, durante mais de quarenta anos. Por sua leitura atraente e divertida acompanha-se a trajetria do autor, sua vida, os propsitos, anseios, preocupaes e idias que deram rumo sua literatura.

    Rangel foi o amigo espiritual. As cartas bastaram para uni-los, a proximidade fsica no lhes era necessria, pois passavam anos projetando verem-se, sem que isso acontecesse.

  • "Dar aos meninos bons livros, adequados idade, o melhor meio deformar homens."

    Monteiro Lobato

    O termo literatura infantil continua a ser objeto de polmica em nossos dias, considerado inadequado ao fenmeno que abrange, a esta ou quela destinao presumida Alis, a finalidade desta literatura tambm passvel de discusso: divertir ou educar? Se o objetivo apenas proporcionar lazer, deve ser totalmente desvinculada da realidade? Se to-somente informar, no tornar-se- desinteressante e desestimulante ao hbito de ler?

    Quem escreve, edita, vende e compra o livro infantil o adulto. Sua tica ser a da criana que o vai ler? O livro a ela destinado corresponder a seus anseios, suas expectativas? Caso isso no acontea no a frustrar, "vacinando-a" contra todos os livros?

    Quando a literatura para criana repete no texto a perspectiva educador-educando, tornando-se uma verso da escola pelos conceitos que veicula e a linguagem que utiliza, perde sua funo de dar prazer, vira livro didtico e desagrada aqueles que se pretende atingir, alm, claro, de perder o carter de arte.

    Outra preocupao atual com respeito a essa literatura quanto sua temporaneidade, pois escrever histrias sintonizadas com a poca em que so produzidas sinal de uma conscincia alerta ao que se passa em volta, por parte do autor. O nosso Monteiro Lobato disso deu provas ao dar voz aos valores de sua poca criando um mundo onde esses valores foram discutidos e questionados.

    Em nossa literatura infanto-juvenil contempornea destacam-se, ainda duas atitudes narrativas bsicas: a realista que pane da observao do real, do concreto, do objetivo, cuja finalidade transmitir verdades; e a fantasista, que procura mostrar o imaginrio, descobrir o que est alm do real, o extraordinrio. Estas duas tendncias, quando mal exercidas, podem ser alienantes e deformadoras, pois ao mesmo tempo em que "a

  • realidade no algo acabado que a criana tem que aceitar"18, o maravilhoso pode "mascarar questes de ordem ontolgica e antropolgica, transformando os homens em tipos".19

    Controvertidos posicionamentos tm colocado fantasia e realidade como plos antagnicos no contexto literrio infantil, sem considerar que o fantstico est intimamente ligado realidade, e que esta pode expressar-se atravs do maravilhoso.

    Criando um mundo novo

    De escrever para marmanjos j enjoei. Bichos sem graa Mas para as crianas um livro todo um mundo. Ainda acabo fazendo livros onde nossas crianas possam morar. "20

    No mentiu, nem mesmo exagerou Monteiro Lobato, ao fazer esta afirmao. Criou, e como!, um mundo onde "todas as crianas do mundo" podem finalmente ser apenas crianas, crescendo naturalmente, aprendendo naturalmente, vivendo... naturalmente. At fazer isto, era bem pobre a literatura infantil de nosso pas, limitada a tradues de clssicos, sem nada de genuno.

    Tudo comeou com Narizinho, a menina do nariz arrebitado. Em 1921, atravs de sua editora, Monteiro Lobato lanou no mercado o livrinho Narizinho Arrebitado. cujo subttulo, Segundo livro de leitura para uso das escolas primrias, sugeria que a cartilha era o primeiro. Cerca de 50.500 exemplares foram avidamente lidos pelas crianas e, motivado por este sucesso, o escritor comeou a prolongar as aventuras de seus personagens, dando incio saga de Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Emlia, Tia Nastcia, Visconde de Sabugosa e Rabic. Anos mais tarde as consolidaria num s volume, fazendo das minihistrias originais: Narizinho Arrebitado, O Stio do Pica-pau. O Marqus de Rabic, O Casamento de Narizinho, Aventuras do Prncipe, O Gato Flix, Casa de Coruja, O Irmo de Pinquio, o Circo de Cavalinhos, Pena de Papagaio, O P-de-Pirlimpimpim, um todo harmonioso que denominou Reinaes de Narizinho.

    As trs primeiras histrias compem os trs primeiros captulos do livro e foram inicialmente publicadas entre 1921 e 1922. Mesmo refeitas, mostram um autor ainda canhestro, pouco seguro no campo. A partir de O Casamento de Narizinho, as aventuras mostram um Lobato j perfeitamente seguro no gnero. Havia achado o caminho e lanado as bases da

    'YUNES, Eliana. Questes fundamentais da literatura infantil. Rio de Janeiro. 9Idem, ibidem.

    20LOBATO, Monteiro. A barca.., 1955 p.136. T.2.

  • literatura infantil no Brasil e restante da Amrica do Sul. Os outros livros, como bem o disse, "vieram naturalmente, como vages atrs de uma locomotiva".

    a partir de Reinaes de Narizinho que o fantstico transforma de vez a literatura de Lobato e assumido com naturalidade por ele e por seus personagens. No h limites entre o real e o fictcio, passa-se livremente de um para o outro quer atravs do sonho, quer pelo p-de-pirlimpimpim, ou usando o faz-de-conta. Observam-se, ainda, os traos da modernidade nos ndices de brasilidade e ruralismo presentes, na transposio de personagens tradicionais da literatura infantil para contextos novos (estes queixam-se de estarem presos, pela tirania de Dona Carochinha, a histrias antigas e ultrapassadas) e mesmo na modernidade de Narizinho, que convive com personagens mais atuais, como o Gato Flix e Tom Mix.

    O Saci, publicado em 1921, incorpora abertamente elementos da cultura brasileira, apontando o folclore, a estrutura social marcada pelo anterior sistema escravocrata, a natureza. Caadas de Pedrinho introduz um personagem novo no stio, o rinoceronte Quindim, fugido do circo, e demonstra a ironia profunda com que Lobato via o sistema poltico e administrativo brasileiro. Os personagens atestam, a todo momento, a incompetncia do governo.

    Os limites entre a realidade e a fico so discutidos claramente nas Memrias da Emlia, escritas pelo Visconde (!) e revistas e corrigidas pela bonequinha (ah!), evidenciando-se o desencontro entre o mundo da criana e o do adulto, pois nem mesmo Dona Benta, cmplice de tantas fantasias, entende bem que o real e o irreal podem conviver. digno de nota o dilogo entre a velha senhora e a bonequinha:

    "- Emlia! exclamou Dona Benta. - Voc quer nos tapear. Em memrias a gente s conta a verdade, o que houve, o que se passou. Voc nunca esteve em Hollywood, nem conhece a Shirley. Como ento se pe a inventar tudo isso?

    - Minhas memrias - explicou Emlia- so diferentes de todas as outras. Eu conto o que houve e o que devia haver.

    - Ento romance, fantasia... - Sao memrias fantsticas. Quer ler um pedacinho? - Agora, no. Tenho de ir escolher a franga que tia Nastcia vai matar.

    Quando seu trabalho estiver concludo, ento o lerer. Estou deveras curiosa de ver o que sai dessa cabecinha...

    - Piolho que no "21

    Idem. Memrias da Emlia. Sao Paulo, Brasiliense, s.d. p.lSl.

  • E a mesma Dona Benta, que lembra a Emlia que ela nunca esteve em Hollywood, menosprezando o faz-de-conta, aspira um dia o p-de-pirlimpimpim e fiunnn!, vai passear na Grcia, onde bate longos papos com Pricles, o mais famoso estadista grego; com Aspsia, sua esposa; com Fidias, o clebre escultor, e delicia-se com a rica cultura dos gregos Scrates, Herdoto, Sfocles e outros. Enquanto isso, seus netos saem procura do Minotauro, numa Grcia mitolgica. em O Minotauro que comeam as mais fantsticas aventuras do grupinho do stio, sua interao com os seres de outra rica mitologia, que continua nos dois volumes de Os Doze Trabalhos de Hrcules, onde a preocupao didtico-informativa mais se evidencia, disfarada no suspense, na emoo dos fatos.

    Mas em Viagem ao Cu os netos de Dona Benta foram mais longe, desta vez arrastando a pobre tia Nastcia e o Burro Falante. Foram a outras galxias, lua, conversaram com So Jorge, que ficou fregus dos bolinhos da preta velha. E fizeram mil estripulias pelo cu, andando at no rabo de um cometa. Sobre este livro maravilhoso, disse o escritor, em carta a seu amigo Rangel: "Vou fazer um verdadeiro rocambole infantil, coisa que no acaba mais. Aventuras do meu pessoalzinho l no cu, de astro em astro, por cima da Via Lctea, no anel de Saturno, onde bricam de escorregar... E a pobre da tia Nastcia metida no embrulho, levada sem que ela o perceba...A conversa da preta com Kepler e Newton, encontrados por l, medindo com a trena certas distncias astronmicas para confundir o Albert Einstein, algo prodigioso de contraste cmico. Pela primeira vez estou a entusiasmar-me por uma obra".22

    Sem dvida alguma, cada livro de Monteiro Lobato est a exigir um estudo detalhado, que este trabalho no comporta. Entretanto, no posso deixar de citar ainda A Chave do Tamanho e O Poo do Visconde.

    O primeiro uma alegoria atravs da qual o autor reafirma sua confiana no progresso e na sobrevivncia do mais forte. Quando Emlia, disposta a mudar os rumos conturbados de seu mundo atual, reduz, por engano, o tamanho de todos os humanos, obriga-os a criar uma nova civilizao, que no se chega a saber se seria boa ou m, porque um plebiscito a faz reverter a situao. Como o disse o prprio Lobato, em outra de suas cartas a Rangel: "A Chave filosofia que gente burra no entende. E demonstrao pitoresca do princpio da relatividade das coisas".23

    O Poo do Visconde leva os pequenos e grandes leitores a refletir sobre a poltica do petrleo no Brasil, evidenciando o pensamento do autor a respeito e mostrando o grande gelogo que o Visconde de Sabugosa, capaz de fazer profecias tremendas, pois previu a descoberta de petrleo na

    Idem. A barca..., 1955. p.392. T.2.

    'idem, ibidem, p.341.

  • Bahia, com dois anos de antecedncia. Neste livro, Lobato pe a geologia ao alcance de todos.

    Em todos os livros infantis de Lobato evidencia-se seu carinho e sua ternura pelas crianas. Todo este amor foi retribudo em dobro, pois foi verdadeiramente adorado por elas. Entrevistaram-no, escreveram-lhe, pediram-lhe coisas: livros, cartas, retratos, bolinhos da tia Nastcia, p-de-pirlimpimpim e at uma costela sua. Tambm deram palpites sobre os livros, sugeriram novas histrias, criticaram as ilustraes e, enfim, "tomaram conta" do arisco e "indomvel" escritor. Todo esse entusiasmo, afinal, justificava-se plenamente, pois, escrevendo para os pequeninos, floresceu como nunca o seu gnio, expandiu-se o mpeto criador e at um lado potico, desconhecido at ento, em passagens repletas de belea. A descrio do vestido de Narizinho, quando de seu casamento com o Prncipe Escamado, emociona com certeza todas as meninas que a lem:

    "Era um vestido que no lembrava nenhum outro desses que aparecem nos figurinos. Feito de seda? Qual seda nada! Feito de cor -e cor do mar! Em vez de enfeites conhecidos - rendas, entremeios, fitas, bordados, plisses ou vidrilhos, era enfeitado com peixinhos do mar. No de alguns peixinhos s, mas de todos os peixinhos - os vermelhos, os rolios como bolas, os achatados, os de cauda bicudinha, os de olhos que parecem pedras preciosas, os de longos fios de barba movedios - todos, todos!... Alguns davam idia de verdadeiras jias vivas, como se feitos por um ourives que no tivesse d de gastar os mais ricos diamantes e opalas e rubis e esmeraldas e prolas e turmalinas da sua coleo. E esses peixinhos-jias no estavam pregados no tecido, como os enfeites e as aplicaes que se usam na terra. Estavam vivinhos, nadando na cor-do-mar como se nadassem na gua. De modo que o vestido variava sempre, e variava to lindo, lindo, lindo, que a tontura de Narizinho apertou e ela se ps a chorar".24

    E para esse sonho de vestido Lobato descobriu que:

    "... - Este tecido feito pela fada Miragem. - E com que a senhora o corta? - Com a tesoura da Imaginao. - E com que agulha cose? - Com a agulha da Fantasia. - E com que linha? - Com a linha do sonho".25

    24Idem. Reinaes de Narizinho. So Paulo, Crculo do Livro, s.d., p.109. 25

    Idem, ibidem.

  • E a festa continua, agora no salo, ricamente ornamentado: "Em vez de lmpadas, viam-se pendurados os tetos buqus de raios-de-sol colhidos pela manha. Flores em quantidade, trazidas e arrumadas pelos beija-flores. Tantas prolas soltas pelo cho, que at se tomava difcil o andar. No houve ostra que no trouxesse a sua prola, para pendur-la num galhinho de coral ou jog-la por ali como se fosse um cisco. E o que no era madreprola era rubi e esmeralda e ouro e diamante".26

    Nos volumes de Os Doze Trabalhos de Hrcules h tambm pginas encantadoras, mas nenhuma to bonita quanto a do final do ltimo volume, quando Emlia exibe as relquias trazidas da velha Grcia e Dona Benta lhe pergunta qual a que mais gostava, e ela responde sem hesitar: "- As lgrimas de Hrcules".27 Perguntam-lhe, ento, onde as guardara, ao que a bonequinha responde, batendo no peito: - "Aqui, no meu corao".28 Como contador de histrias que foi, Lobato deliciou-se tambm com outro "gnio das crianas", Walt Disney. Sobre ele e seu filme Fantasia escreveu um artigo, somente encontrado aps sua morte, que tambm pura poesia, impregnado da emoo de quem sensibilizou-se ao mximo com a beleza do filme. No dia 12 de junho de 1948 foi publicado na seo Cinema, da Folha da Noite, de So Paulo. Ei-lo integralmente transcrito:

    Fantasia deixou-me estarrecido. a expresso estarrecido. E em-baraado para definir. Tudo to novo, tudo to indito, que o vocabulrio crtico usual mostra-se impotente. Disney um tipo novo de gnio e sua arte uma arte total e absolutamente nova, jamais prevista nem pelas mais delirantes imaginaes. At o apareci-cimento de Disney, o cinema no passava duma conjugao do teatro com a fotografia. Era uma representao teatral fotografada em todos os seus movimentos, cores e sons. Disney criou a grande coisa nova; a conjugao da fotografia com a imaginao. O desenho genial de Disney permite que todas as criaes da imaginao possam ser fotografadas e projetada-s com a riqueza dos sonhos. Uma arte, pois, absolutamente nova e jamais prevista. Tudo quanto absolutamente novo desnorteia a rotina do nosso crebro. Ficamos sem palavras para julgar. O vocabulrio humano um conjunto de convenes que refletem experincias muito repetidas. Quando uma experincia sensorial totalmente nova nos defronta, o velho vocabulrio existente mostra-se necessariamente inadequado.

    26Idem, ibidem, p.22. 27Os doze trabalhos de Hrcules. Citado por FERREIRA, Marina de Andrade Procpio. Prefcio. In:

    LOBATO, Monteiro. Prefacios..., P.17-8. 28 Idem, ibidem.

  • Diante da dana dos cogumelos chineses, das manobras da fada do orvalho, da traduo em desenho do pensamento musical dum Stravinsky ou dum Beethoven, da prodigiosa stira Dana das Horas de Ponchielli, do jogo de dois extremos, como a bolha e o elefante, da disneyzao da famlia de Pgaso e do cl dos centauros, a atitude do espectador toma-se cmica. Temos que abrir a boca e conservar-nos mudos. Tudo quanto tentarmos dizer com as convencionais e velhas palavras da admirao tornam-se grotescas. Um meu vizinho de poltrona tentou comentar o anjinho que cerrou as cortinas quando o casal de centauros amorosos se recolheu para o amor- o anjinho de costas cujo traseiro nu foi virando corao- e tive de pedir-lhe silncio. No fale. Falar as velhas palavras diante de tal mimo de criao artstica quebrar grosseiramente algo prodigiosamente lindo, furar com ponta de prego enferrujado uma irisada bolha de sabo. No fale. No comente. No conspurque. Limite-se a extasiar-se. Diante de dsneas como o do elefante atrapalhado com a bolha, do anjinho que transforma ndegas em corao, da peixinha que se mantm de rosto impassvel de to consciente da prodigiosa beleza da sua dana aqutica, do enlace de caudas quando a mimosa centaura se aninha no peito do seu centauro amoroso, falar profanar. Walt Disney a suprema compensao dos horrores que a guerra est trazendo para a humanidade. H a guerra, sim. H o bombardeio as cegas. H o estraoamento dos inocentes. H o inferno. Mas a humanidade salva-se produzindo neste momento trgico a altssima compensao dum Disney, o grande criador. Ah, se fosse possvel um novo fat Recriar o mundo! Com o material que a natureza nos fornece produzir um mundo novo, formas novas de vida - e se fosse Walt Disney o encarregado da transmutao! Que suprema, que prodigiosamente bela uma nova Criao Csmica assinada pela mais alta expresso do gnio humano - Walt Disney! Inania Verba... Que impotncia, a nossa ao tentar dizer de Disney com esta coisa grosseira e elementar que a palavra escrita! Ns, gente de hoje, somos trogloditas da Pedra Lascada diante dessa criatura que nos entremostra maravilhas dum ainda remoto futuro. Disney, Disney, os trogloditas te sadam".29

    Todas as aventuras dos personagens infantis de Monteiro Lobato partem de um nico ponto, do Stio do Pica-pau Amarelo, espcie de paraso sem fronteiras definidas entre realidade e sonho, sntese de todos os recantos que o menino Lobato amou em sua infncia feliz.

    29Idem. Prefcios..., p.60-1.

  • Segundo Reynaldo Valinho Alvarez: "Quando Lobato criou o Stio de Dona Benta para localizar e ambientar seus personagens estava, consciente ou inconscientemente, indo ao encontro de uma tendncia nacional".30 Isto por tratar-se o Brasil de um pas, ento, essencialmente rural, com uma populao "folcloricamente ligada ao campo".31 Assim, sendo lido por crianas residentes na cidade, aglomeradas em casas e blocos de apartamentos, f-las pensar em mato, pssaros, bichos, em suma, em liberdade, conduzindo-as sempre cada vez mais longe, rumo a outros pases, outras galxias, outros mundos.

    Qual a localizao do Stio do Pica-pau Amarelo? Nem o prprio Lobato o sabia. Por a, onde as crianas o imaginaram, com certeza. Nele havia um ribeiro, grotes, capoeiras, florestas, plantaes, pomares, galinheiros, estrebarias, chiqueiro, curral, tanque, caminhos e atalhos, um taquaral, um terreiro e nele uma casa de varanda com uma cozinha muito confortvel e sempre cheirando a coisas gostosas.

    Toda uma vasta galeria de tipos povoa o stio. Bem ao modo de Monteiro Lobato, so personagens marcantes, simblicos. Personificam pensamentos e conceitos do autor, caracterizando seus anseios por uma sociedade mais democrtica e fraterna Assim sendo, correram o risco de tornarem-se esteretipos convencionais, tipos pr-fabricados, rotulados e rotulantes. Impediu isto o talento do escritor, que enriqueceu-os ao humaniz-los, transformando-os em pessoas comuns nem totalmente boas, nem imperdoavelmente ms. Como personagens-seres circulam num ambiente comum, agindo sobre ele e uns sobre os outros, numa convivncia vibrante, fremente de vida, clida e aconchegante.

    Dona Benta, uma velha, doce senhora, acumula o dom da sabedoria e gravidade ternura domstica e compassiva que se espera de uma av. Ao que se sabe, Lobato ter-se-ia inspirado em sua av legtima, Dona Anacleta do Amor Divino, para criar a vov de Narizinho e Pedrinho. Dona Anacleta era grande contadeira de histrias, uma professorinha humilde e bondosa que, por sua ligao pr-matrimonial com o Visconde de Trememb (este casar-se-ia depois com outra), vivia isolada Lobato adorava-a. O nome de Dona Beta foi tirado da av de um dos colegas de escola, o Pedrinho.

    Dona Benta mais que av, comparsa de seus netos. Sem deixar de agir sobre eles como guia espiritual e mestra, deixa-se empolgar por suas iniciativas, estabelecendo um clima de respeito mtuo e cordialidade, onde a sua autoridade acatada por amor, no por opresso. Em seu universo, o stio e cercanias, acumula ainda os papis de dona-de-casa, lder de comunidade e literata, capaz de envolver nas narrativas que l para os netos

    30 ALVAREZ, Reynaldo Valinho. Monteiro Lobato, escritor e pedagogo. Rio de Janeiro, Antares INL, 1982. p.4.

    3'idem, ibidem, p.45.

  • de tal modo que os envolve tambm, provocando-lhes o esprito crtico, inspirando-lhes comentrios e opinies. Junto com outros personagens, ela a intermediria de Lobato na emisso de suas idias e conceitos, exteriorizando ainda toda a sua imensa ternura pelas crianas.

    Dividindo com ela a sabedoria, esto o Visconde de Sabugosa e o Quindim. O primeiro ilustra obviamente a sapincia sbria e vetusta, um quase pedantsmo patenteado pelo ttulo nobilirquico, conferindo-lhe um certo aplomb britnico que o sbio-sabugo procura manter estoica-mente, diante da irreverncia de Emlia. O "nobre" Visconde foi sempre vtima das maluquices da turminha do Stio, atormentado pela pernstica bonequinha que o rebaixava constantemente de sbio a carregador de canastrinha, lembrando-o sempre de sua condio de sabugo, ameaando-o com o pinto-sura, com a Vaca Mocha; mas respeitado e admirado por Dona Benta, como gentleman e erudito que era Dele disse Lobato: "O Visconde de Sabugosa um rate. Tentou vrias evolues e sempre regrediu ao que substancialmente : um sbio".32

    O Quindim o bruto humanizado. A fera extica e ameaadora que na verdade um filsofo pachorrento, cheio de bom-senso, cuja sensibilidade e delicadeza alcanam e ultrapassam as dimenses de seu corpo.

    O Marqus de Rabic demonstra que um porco elevado condio de nobre continua a ter "esprito de porco" e sua humanizao manifesta-se apenas nos aspectos mais baixos: Rabic fraco, covarde, indeciso, gluto e burro. Este ltimo com certeza o seu mais grave defeito, num universo onde todos demonstram, quando no sapincia no mnimo esperteza. Vale lembrar, entretanto, que quando se tratava de satisfazer seus apetites naturais, o porquinho era bem ladino e independente.

    glutonice e insensibilidade de Rabic opem-se o cavalheirismo e a amabilidade do Burro-Falante, que alis opunha-se "gentilmente" a que chamassem o porquinho de burro. tambm um filsofo, um romntico incompreendido, de personalidade afvel e, como o Quindim, prudente.

    Tia Nastcia com certeza uma das personagens mais amadas do Stio. Ela redonda macia conta histrias, tem mos de fada pra fazer brinquedos e quitutes gostosos. Nasceu da lembrana da ama de Edgar, um dos filhos de Lobato, preta e boa como ela.

    Ao escritor alguns atribuem o tratamento dado a Nastcia como uma forma de racismo. O pensamento do autor seria lugar de negra na cozinha". A mesma atitude se refletiria "em relao ao Tio Barnab e mesmo ao Saci. O primeiro, pobre, morando num casebre; o segundo, vtima da esperteza de um menino branco. Ambos submissos. Tal atitude desmentiria a prpria vida de Lobato, seu esprito libertrio, sua luta constante contra qualquer tipo de injustia Na verdade, as posies de Tia

    32LOBATO, Monteiro. A barca..., 1955. p.343. T.2.

  • Nastcia, Tio Barnab e o Saci so aquelas em que foram colocados pela sociedade brasileira, limitando-se o autor a mostr-los como figuras que compem nossa cultura e tradio.

    Monteiro Lobato mostra-lhes as crendices, o misticismo e a sabedoria popular, reconhecendo-lhes o valor. Tia Nastcia, Tio Barnab e o Saci personificam a pureza primitiva e, ao mesmo tempo, a esperteza.

    Acompanhando as aventuras de Narizinho, a impresso que dela me ficou foi a da coragem. Ela lder, independente, cheia de iniciativas e contestadora. Ao mesmo tempo, bonita, inteligente e simptica, "me-zinha" da Emlia e companheira de Pedrinho.

    Narizinho essencialmente feminina. Carinhosa e tema com a av, com Tia Nastcia, Pedrinho, Emlia e todos a quem ama compassiva e generosa e por isto irrita-se com a boneca quando esta age egoisticamente. Como toda menina, romntica e sonha em casar-se com um prncipe, ainda que este seja um "Prncipe Escamado". Seu comportamento em relao a Pedrinho quase maternal, pois preocupa-se com a ousadia e impetuosidade do menino. evidente que Lobato a coloca num plano levemente superior ao do menino, mais amadurecida e sensata. Uma menina-mulher, forte e decidida, capaz de lutar pelo que quer.

    Pedrinho a personalidade masculina do grupo. Um menino saudvel, comum, que mora na cidade com a me e vem ao Sitio passar frias e divertir-se. E corajoso e curioso, por isto arrisca-se muito, muitas vezes. Seus bons sentimentos e nobreza de carter tornam-no extremamente simptico e servem para conter seus mpetos blicos. Est sempre de bodoque em riste, pronto a defender os fracos e a verdade, incapaz, entretanto, de matar um passarinho.

    "Emlia comeou uma feia boneca de pano, dessas que nas quitandas do interior custavam 200 ris. Mas rapidamente evoluiu, e evoluiu cabritamente - cabrito novo - aos pinotes. Teoria biolgica das mutaes. E foi adquirindo uma tal independncia que, no sei em que livro, quando lhe perguntam: 'Mas que voc , afinal de contas, Emlia?' Ela respondeu de queixinho empinado: 'Sou a Independncia ou Morte!' E . To independente que nem eu, seu pai, consigo domin-la"33Custa crer que Lobato tenha querido de fato domin-la, a bonequinha de

    idias grandiosas, que disse sempre a verdade, porque no aprendeu a mentir. No lhe interessava cal-la, pois ela era a sua voz franca e veemente, mal educada mesmo. Como todos os outros personagens no foi perfeita, pois sendo extremamente ambiciosa e determinada no hesitava em ignorar as convenincias e usar as pessoas para conseguir o que queria. Personificou o materialismo e racionalismo que o autor tanto perseguiu em sua vida, mostrando-se mesmo dura e egosta em alguns momentos.

    Idem, ibidem, p.341.

  • Sua personalidade torna-a o centro das atenes. Ela compete at mesmo com Narizinho, sua tutora, disputando-lhe a liderana, invejando-a ou cobiando-lheos pequenos objetos. Entretanto, ao mesmo tempo em que capaz de jogar sujo para alcanar seus objetivos, possui um profundo senso de justia e amor verdade, que a fazem desmascarar hipocrisias, jogar por terra tabus e preconceitos sem a menor hesitao. , em suma, a mais interessante personagem de Monteiro Lobato.

    Literatura e educao

    Consciente de que um escritor de livros infantis influi consideravelmente no processo da educao, agindo como aliado da escola e do lar na formao moral, tica e intelectual de crianas e adolescentes, Monteiro Lobato esteve sempre altura desta responsabilidade, exercendo sua funo com inteligncia e coragem. Alis, com a mesma coragem com que lutou sempre por seus ideais, estabeleceu as bases de uma nova pedagogia, moderna mesmo para os nossos tempos, pregando o reconhecimento capacidade empreendedora das crianas, o respeito sua maneira de pensar e s suas iniciativas.

    Seu liberalismo, traduzido em livros que ensinavam a criana a raciocinar por si prpria e a ter uma viso crtica do mundo, desagradou a muitos, principalmente aos representantes da pedagogia reacionria de sua poca. Assim que numa tarde de 1942, as irms do Colgio Sacre-Coeur de jesus, em Laranjeiras, no Rio de janeiro, fizeram uma fogueira de seus livros infantis num "ato de f" que pretendia exorcizar o "demnio" das vidas de suas alunas. Com certeza, o posicionamento do escritor quanto religio, abertamente contrrio por consider-la perniciosa e propcia ignorncia, justificaria, por si s, tal atitude.

    O famoso "tom doutrinrio" das obras de Lobato atesta a preocupao didtica que esteve presente em todas as suas atividades. Ele sempre julgou ser dever seu alertar o povo para suas necessidades mais urgentes, esclarec-lo quanto aos rumos a serem tomados. Em relao s crianas, penalizou-o v-las "entaladas" entre mtodos ininteligentssimos de ensino, torturadas por livros didticos ridos e inspidos e tomou a peito a tarefa de ensin-las, divertindo-as, contando-lhes histrias de civilizaes inteiras, fatos polticos, econmicos, mitolgicos e cientficos de um jeito leve e descontrado. Fascinante!

    As histrias do Stio do Pica-pau Amarelo viram pretexto para aulas, verdadeiras, como em Emlia no Pas da Gramtica, Aritmtica da Emlia, Geografia de Dona Benta, Histria do Mundo para Crianas; ou alegricas, mais disfaradas, como em Viagem ao Cu, O Minotauro, Os Doze Trabalhos de Hrcules, e muitos outros. Alis, o fascnio de Lobato pela civilizao grega, fruto de suas leituras e erudio, leva os pequenos leitores a uma peregrinao fantstica pela Grcia, a de Pricles e a dos

  • heris mitolgicos, fazendo de deuses, sbios, escultores, polticos e filsofos seres vivos e prximos, muito prximos do entendimento infantil.

    Atravs de seus personagens, com eles viajando e participando de suas aventuras, ou em amenas conversas no Stio, os pequenos leitores fazem contato com as mais proeminentes figuras da Histria, e com elas simpatizam ou antipatizam, as admiram ou as contestam, pois no mundo mgico do Pica-pau Amarelo tudo permitido. Principalmente crticas, j que os personagens infantis tm livre arbtrio e agudo senso crtico.

    Este ponto, alis, um dos mais controvertidos do ponto de vista pedaggico, pois a muitos parecia rebeldia e m-educao a capacidade de iniciativa dos netos de Dona Benta. Sem falar da insolente Emlia, a boneca-verdade que se recusava terminantemente a ser "empulhada", mostrando " um palmo de lngua" a todos que se atreviam a insultar-lhe a inteligncia. De fato, Emlia uma criana normal e dela Lobato no espera que seja passiva, parada e bem-comportada. Ela questiona, discorda, argumenta e age. Quando suas aes acarretam conseqncias danosas, como em A Chave do Tamanho, quando miniaturiza toda a humanidade, chamada razo. Arrepende-se e desfaz o erro.

    Emlia, alis, personifica a irritao do seu criador ante a falta de iseno dos homens que escrevem a Histria, aqueles que manipulam os fatos ao sabor de suas inclinaes e interesses. Afinal, a Histria do Mundo para as Crianas, de Lobato, havia sido objeto de uma tentativa de proibio de circulao em Portugal, por nela estarem mencionados os fatos de que Cabral descobrira o Brasil por acaso e que Vasco da Gama cortara 1.600 orelhas equipagem de uns navios encontrados em Calicut. Na opinio do escritor, atitudes como a do governo portugus mantm o povo na ignorncia de um fato histrico conhecido no mundo inteiro. E lembrou que at Cames, nos Lusadas, omitiu o acontecido.

    Emlia, como todos os jovens, quer saber das coisas como elas realmente foram, sem falseaes ideolgicas, patriticas ou raciais. A bonequinha bem uma cria de Monteiro Lobato, que procurou ensinar a garotada a procurar a verdade, preparando-a para a vida dentro de um racionalismo corajoso e prtico.

    Em nenhum momento dessa literatura educativa Lobato "moraliza", apontando comportamentos a serem assumidos pelas crianas, ditando-lhes normas morais e ticas. Nas lies que d aos seus pequenos leitores nao h pretenso a eruditismo. No discursa, apresenta os fatos. Sua tcnica didtica a do testemunho. As personagens apresentam o comportamento desejado, vivenciando, em seu cotidiano, as atitudes esperadas. Assim, embora conservando suas individualidades e mostrando seus conflitos, no Stio de Dona Benta todos so solidrios e sabem viver em comunidade. At mesmo Emlia, que a mais individualista, manifesta sua natural bondade e , no fundo de seu coraozinho de pano, a mais idealista e altrusta do grupo.

  • A literatura infantil de Monteiro Lobato volta-se permanente e totalmente para a formao integral do leitor infanto-juvenil, estimulando-lhe o "autoconhecimento, discernimento e poder de deciso", como bem o disse Reynaldo Valinho Alvarez,34 conferindo-lhe cultura e valores ticos e morais sem que disso se aperceba o leitor, envolto no clima de alegria e espontaneidade vibrante criado pelo autor.

    Lobato no se deteve a teorizar sobre a questo da literatura infantil como agente de educao, mas escreveu uma conferncia sobre a criana na qual expe sua opinio sobre o assunto. Sob o ttulo A Criana a Humanidade de Amanh, indaga: "Livros, revistas e jornais infantis constituem instrumentos da arte de educar bichinhos - crislidas donde vo sair os homens de amanh. A que princpios devem obedecer?"35 E cita as correntes de pensamento a esse respeito: uma, que considera a criana o adulto em miniatura e recomenda a esta o mesmo tipo de leitura, em dose menor. Desta surgiriam os livros "edificantes" aos quais as crianas so to arredias. Outra, que admite serem os pequeninos seres especiais, com uma psicologia prpria, donos de um mundinho onde a imaginao predomina e do qual saem aos pouquinhos, para entrar na realidade. Desta ltima corrente seria Lobato o maior precursor e defensor: "O defeito dos livros imprprios e, portanto, refugados pelas crianas, est em que retardam o advento do gosto pela leitura H homens que passaram a vida sem ler um \VTO, fora os escolares, justamente por no terem tido em criana o ensejo de ler um s livro que lhes falasse imaginao. J os que tm a felicidade de na idade prpria entrarem em contato com livros que 'interessam', esses se tornam grandes ledores e por meio da leitura prolongam at ao fim da vida o processo auto-educativo. Quem comea pela menina da capinha vermelha pode acabar nos Dilogos de Plato, mas quem sofre na infncia a ravage dos livros instrutivos e cvicos, no chega at l nunca No adquire o amor da leitura"36.

    Alis, segundo a estudiosa de literatura e de Lobato, em particular, Nilce Sant'Anna Martins, o escritor desperta nas crianas o gosto pela linguagem clara e elegante, estimulando-lhes a crtica e a reflexo, alm de inici-las num humorismo sutil e profundo, Machado de Assis. "Conhecer Lobato na meninice e Machado na idade adulta um dos privilgios que a educao deve proporcionar aos brasileiros".37

    34ALVAREZ, Reynaldo Valinho. Monteiro Lobato..., p.34. "LOBATO, Monteiro. Prefcio..., p.131- 36 Idem, ibidem, p.134. "JORNAL DO PROFESSOR suplemento de circulao mensal do Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, abr.

    1982.

  • incontestvel o valor educativo da obra de Lobato e admirveis as propostas pedaggicas que deixou aos educadores. Sobretudo, mostrou a todos que possvel formar homens "sem a secura e formalidade de condutores de seres obedientes e passivos",38 pois muito mais importante formar seres plenos: criativos, libertos de preconceitos, abertos verdade, amantes da beleza, dispostos ao trabalho e vida.

    Entre as grandes lies que deu s crianas, uma ser inesquecvel: a vida mais, muito mais bonita, quando embelezada pela fantasia, enriquecida pela alegria, temperada pelo amor.

    38ALVAREZ, Revnaldo Valinho. Monteiro Lobato..., p.41.

  • Concluso

    A obra de Monteiro Lobato atestou seu gnio; sua vida atestou seu esprito. Seu lugar na literatura brasileira incontestvel; sua luta pelo Brasil, admirvel. Sua maior glria foi a dignificao da literatura infantil nacional, conferindo-lhe brasilidade e o dom encantatrio to buscado pelas crianas, to ignorado pela maioria dos adultos.

    Aos brasileiros, principalmente aos professores, resta pensar mais sobre a obra deste escritor; ler seus livros, tir-los das estantes, divulg-los entre os jovens, para que estes, nessa poca de televises, computadores, jogos eletrnicos e muita violncia, desfrutem tambm do conhecimento de que possvel viver com simplicidade e alegria, de que se pode viajar no vo da imaginao, de que o saber vale mais e d mais alegria ao homem que toda a riqueza material.

    Sobre um homem que ao fim de sua vida considerou-se "multipre-miado", dizendo-se disposto a viver a mesma vida, se isto lhe fosse concedido, escrevendo sempre mais para as crianas, estudando e pesquisando para diverti-las educando-as... sobre um homem assim, muito h que ser dito ainda.

  • Bibliografia Obras de Monteiro Lobato*

    Literatura Geral

    LOBATO, Monteiro. Amrica. So Paulo, Ed. Nacional, 1932. _________ Na antevspera So Paulo, Ed. Nacional, 1933. -------------- . A barca de gleyre. So Paulo, Ed. Nacional, 1944. -------------- . O choque das raas ou o presidente negro. So Paulo, Ed.

    Nacional, 1926. -------------- . Cidades mortas. Revista do Brasil, So Paulo, 1919. -------------- O escndalo do petrleo. So Paulo, Ed. Nacional, 1936. _________ . Ferro. So Paulo, Ed. Nacional, 1931. -------------- . Idias de Jeca Tatu. Revista do Brasil, So Paulo, 1919. -------------- . JecaTatuzinho. So Paulo, Monteiro Lobato & Cia, 1924. -------------- . O macaco que se fez homem. So Paulo, Monteiro Lobato,

    1923. _________ . Mr. Slang e o Brasil. So Paulo, Ed. Nacional, 1927. -------------- . Mundo da lua. So Paulo, Monteiro Lobato & Cia, 1923. -------------- . Negrinha. Revista do Brasil, So Paulo, 1920. -------------- . A onda verde. So Paulo, Monteiro Lobato & Cia, 1921. _________ . Prefcios e entrevistas. So Paulo, Brasiliense, 1946. _________ . Problema vital. Revista do Brasil, So Paulo, 1918. -------------- . Urups. Revista do Brasil, So Paulo, 1918. -------------- . Z Brasil. Rio de Janeiro, Vitria, 1947.

    Literatura Infantil

    LOBATO, Monteiro. Aritmtica da Emlia. So Paulo, Ed. Nacional, 1935. _________ . Aventuras de Hans Staden. So Paulo, Ed. Nacional, 1927. _________ . Aventuras do prncipe. So Paulo, Ed. Nacional, 1927. _________ . As aves do lago estinfale. So Paulo, Brasiliense, 1944.

    O prprio Lobato dividiu sua produo em duas sees: uma intitulada Literatura Geral, editada a partir de 1946 pela Editora Brasiliense,e outra, chamada Literatura Infantil, a partir de 1947, por esta mesma editora. A este conjunto, chamou de sua Obra Completa. A presente bibliografia de Lobato refere-se s suas primeiras edies. Todas as obras relacionadas foram consultadas para a elaborao do presente trabalho.

  • LOBATO, Monteiro. A caada da ona So Paulo, Monteiro Lobato, 1924. -------------- . As caadas de Pedrinho. So Paulo, Ed. Nacional, 1933. -------------- . A cara de coruja.So Paulo, Ed. Nacional, 1927. -------------- . A casa da Emlia. Buenos Aires, Cdex, 1947.

    _________ . As cavalarias de Augias. So Paulo, Brasiliense, 1944. _________ . Os cavalos de Diomedes. So Paulo, Brasiliense, 1944.

    ________ . O centaurinho. Buenos Aires, Cdex, 1947. _________ . A chave do tamanho. So Paulo, Ed. Nacional, 1942.

    ________ . O cinto de Hiplita. So Paulo, Brasiliense, 1944. ________ . O circo de cavalinho. So Paulo, Ed. Nacional, 1927.

    _________ . A cora dos ps de bronze. So Paulo, Brasiliense, 1944. _________ . Os bois de Gerio. So Paulo, Brasiliense, 1944. _________ . Dom Quixote das crianas. So Paulo, Ed. Nacional, 1936.

    ________ . Emlia no pas da gramtica. So Paulo, Ed. Nacional, 1934.

    ________ . O espanto das gentes. So Paulo, Ed. Nacional, 1941. _________ . Fbulas. So Paulo, Monteiro Lobato & Cia, 1922. _________ Fbulas de Narizinho. Sao Paulo, Monteiro Lobato & Cia.,

    1921. ________ . O garimpeiro do Rio das Garas. So Paulo, Ed. Nacional,

    1924. ________ . O gato Flix. So Paulo, Ed. Nacional, 1927. _________ . Geografia de dona Benta. So Paulo, Ed. Nacional, 1935.

    __________ . Hrcules e Crbero. So Paulo, Brasiliense, 1944. _________ . A hidra de Lerna. So Paulo, Brasiliense, 1944. _________ . Histria das invenes. So Paulo, Ed. Nacional, 1935. _________ . Histrias do mundo para crianas. So Paulo, Ed. Nacional

    1933. _________ . Histrias de tia Nastcia. Sao Paulo, Ed. Nacional, 1937. _________ . O irmo de Pinquio. So Paulo, Ed. Nacional, 1927. _________ . O Javali de Erimanto. So Paulo, Brasiliense, 1944. _________ . A lampreia. Buenos Aires, Cdex, 1947. _________ . O leo de Nemia. So Paulo, Brasiliense, 1944. _________ . O marqus de Rabic. So Paulo, Monteiro Lobato & Cia.,

    1922. _________ . Memrias da Emlia. So Paulo, Ed. Nacional, 1936. _________ . O Minotauro; maravilhosas aventuras dos netos de Dona

    Benta na Grcia antiga. So Paulo, Ed. Nacional, 1939. _________ . Narizinho arrebitado; segundo livro de leitura para uso das

    escolas primrias. So Paulo, Monteiro Lobato & Cia, 1921. _________ . O noivado de Narizinho. So Paulo, Ed. Nacional, 1927. _________ . Novas reinaes de Narizinho. So Paulo, Ed. Nacional,

    1932.

  • LOBATO, Monteiro. O poo do Visconde; geologia para as crianas, So Paulo, Ed. Nacional, 1937.

    _________ . O Pomo das Hesprides. So Paulo, Brasiliense, 1944. ._________ . O po de Pirlimpimpim. So Paulo, Ed. Nacional, 1930. _________ . A pena do papagaio. So Paulo, Ed. Nacional, 1930. _________ . Peter Pan. So Paulo, Ed. Nacional, 1930. _________ . O pica-pau amarelo. So Paulo, Ed. Nacional, 1939.

    (Biblioteca pedaggica) -------------- . A reforma da natureza. So Paulo, Ed. Nacional, 1941. _________ . Reinaes de Narizinho. So Paulo, Ed. Nacional, 1931. _________ . O saci. So Paulo, Monteiro Lobato & Cia., 1921. _________ . Seres de dona Benta; cincias fisicas e naturais ensinadas

    por Dona Benta a seus netinhos. So Paulo, Ed. Nacional, 1937. _________ . No tempo de Nero. Buenos Aires, Cdex, 1947. _________ . O touro de Creta. So Paulo, Brasiliense, 1944. _________ . Viagem ao cu. So Paulo, Ed. Nacional, 1932. _________ . Uma fada moderna. Buenos Aires, Cdex, 1947.

    Outras Fontes Consultadas

    ALENCAR, Francisco et alii. Histria da sociedade brasileira. Rio de Janeiro, Ao Livro Tcnico, 1985. ALVAREZ, Reynaldo Valinho.

    Monteiro Lobato, escritor e pedagogo. Rio de Janeiro, Antares/INL, 1982. BOSI, Alfredo. Histria concisa da

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    Janeiro, PUC, Diviso de Intercmbio e Edies, 1979.

  • Segunda Parte

    Heitor Villa-Lobos O Educador

    Ermelinda Azevedo Paz de Souza Barros

  • "O Brasil precisa de educao, de uma educao que no seja de pssaros empalhados em museus, mas de vos amplos no cu da arte."

    Heitor Villa-Lobos

  • Heitor Villa-Lobos (1888-1959)

  • Villa-Lobos com a Orquestra de Filadlfia (EUA), em 1955. Fotografia existente no Museu Villa-Lobos, da Fundao Pr-Memria / Ministrio da

  • Introduo

    Por que um trabalho sobre Villa-Lobos, num concurso destinado a todos aqueles que