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LOGÍSTICA REVERSA: UM ENFOQUE EM
PRODUTOS ACABADOS PRODUZIDOS A
PARTIR DO COCO VERDE PÓS-CONSUMO
Anna Paula Damico (UESC )
Fabricio Lopes de Souza Carvalho (UESC )
Atualmente houve um aumento da preocupação com o gerenciamento dos
resíduos sólidos, principalmente os que tinham destinação inadequada, como
é o caso do coco verde que vem ao longo dos anos poluindo as praias do
litoral brasileiro. Dessa forma este trabalho traz como solução para esse
problema a logística reversa, que deve atuar no sentido de reintegrar o coco
verde pós-consumo por uma cadeia reversa tornando-o matéria-prima para a
fabricação de novos produtos, sendo que as fibras do coco verde tem diversas
aplicações na indústria. Foram levantados dados a respeito dos produtos
potenciais fabricados a partir do coco verde para que se pudesse escolher um
a partir da demanda desse produto. Foi feito um mapeamento de empresas
que tem demanda desse produto e sugerida uma estratégia de distribuição
que agregue valor a esses produtos.
Palavras-chaves: Logística Reversa; Coco Verde; Produto; Estratégia.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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1. Introdução
A gerência inadequada de resíduos sólidos resulta em um alto grau de poluição do ambiente,
como mostram dados do relatório da ABRELPE (2011), onde um montante de 42% dos
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) gerados no Brasil recebem destinação inadequada, mesmo
se tratando de materiais que poderiam ser reciclados e acabam por serem descartados em
lixões. Com a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que possui como
princípio básico o desenvolvimento sustentável, a gestão de resíduos ganhou visibilidade nos
últimos tempos.
Grande parte do lixo gerado no litoral do Brasil é composto por cascas de coco verde, material
de difícil degradação e que vem diminuindo a vida útil de aterros sanitários (BITENCOURT,
2008). Logo, faz-se necessário a reciclagem ou reutilização desse material pós-consumo, a
fim de diminuir o impacto do descarte errôneo desses materiais no meio ambiente. O
problema é ainda maior em se tratando das cidades litorâneas, com a poluição visual além da
ambiental, problema que se agrava no verão, pelo aumento do consumo de água de coco.
Assim, é de fundamental importância que nas regiões litorâneas, onde há grande consumo de
coco, como no caso da cidade de Ilhéus, existam políticas de coleta e gerenciamento desses
resíduos. Especialmente na Bahia, o estado de maior produção de coco verde do país
(OLIVEIRA, 2008), faz-se essencial o entendimento do fluxo de descarte do coco para
conhecer todos os envolvidos nos processos do chamado fluxo reverso deste produto.
Desta forma, a logística reversa é a parte da logística empresarial que atua nesse sentido,
planejando, operando e controlando o fluxo e as informações logísticas, do retorno dos bens
de pós-consumo ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-
lhes valor econômico, ecológico, legal, logístico e de imagem corporativa. (LEITE, 2009). O
fluxo do coco verde pós-consumo por uma cadeia reversa integra todo este planejamento,
usando-o como matéria-prima para novos produtos, já que eles apresentam diversas
aplicações na indústria, como agrícola ou mesmo na construção civil.
Este trabalho faz parte de outros estudos que estão sendo realizados na instituição,
relacionados à LR do Coco Verde, sendo que o enfoque deste é em relação à Logística
Reversa de Distribuição do produto gerado pela transformação do coco verde reaproveitado
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na região. Tem por objetivo realizar um levantamento bibliográfico aprofundado sobre o
tema, desenvolvendo um procedimento metodológico com um enfoque no final da cadeia
reversa do coco verde pós-consumo, levantando-se quais são os produtos potenciais que
podem usar o coco verde pós-consumo como matéria-prima, para mapeamento da sua
demanda. Finalmente, serão sugeridas técnicas para armazenamento e transporte, parte
integrante de uma estratégia logística condizente com os preceitos da Logística Reversa e das
condições de produção da região de Salobrinho (Ilhéus/BA).
2. Revisão de Literatura
2.1. Logística
Segundo Ballou (2006), a logística empresarial pode melhorar o serviço de distribuição aos
clientes e consumidores, através de planejamento e controle das atividades de movimentação
e armazenagem, facilitando dessa forma, o fluxo de materiais.
A logística empresarial engloba a suprimentos, produção, distribuição e a logística reversa
(Figura 1). Ela não só gerencia o fluxo de produtos do ponto de aquisição das matérias-primas
até o consumidor final, mas também o canal logístico reverso, que deve ser igualmente
administrado (BALLOU, 2006).
Figura 1 – Fluxos Logísticos normal e
reverso
Logística Reversa
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Fonte: Adaptado de Ballou (2006 p.30).
No caso do gerenciamento logístico, o planejamento pode ser considerado um triângulo de
decisões logísticas, conforme figura 2 abaixo (BALLOU, 2006).
Figura 2 – Triângulo de tomada de decisões logísticas
Fonte: Adaptado de Ballou (2006, p.54)
Ballou (2006) ressalta que todas as estratégias são importantes, merecendo muita atenção, já
que as decisões tomadas em cada uma delas tem influência sobre as outras e, em conjunto,
influenciam diretamente na lucratividade e no retorno do investimento.
2.2. Logística de Distribuição de Produtos Acabados
O transporte é essencial em toda a cadeia de suprimentos, sendo que a decisão de como fazê-
lo é influenciado por diversos fatores, desde o projeto de rede de transporte e pelos modais,
objetivando minimizar o custo total do atendimento do pedido do cliente e alcançar a
responsividade prometida (CHOPRA, 2003). Além disso, a movimentação de cargas absorve
de um a dois terços dos custos logísticos totais, o que mostra a importância desta área na
logística.
Na distribuição interna de produtos manufaturados do Brasil, o modal mais utilizado é o
transporte rodoviário, sendo mais vantajoso para distribuição destes produtos, especialmente
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pela possibilidade de se alcançar praticamente qualquer ponto do território nacional, exceto
locais muito remotos (NOVAES, 2007).
2.3. Estratégias Logísticas
Existem diversas estratégias logísticas de distribuição para otimizar os processos. Entre elas
tem-se o Cross Docking, a terceirização e até mesmo a Logística Reversa. (CHOPRA, 2003).
O Cross Docking é um sistema de distribuição no qual a mercadoria é recebida em um
armazém e não é estocada, mas sim imediatamente preparada para expedição, com base na
demanda dos clientes. Isso reduz o manuseio de materiais e o uso mais eficiente das áreas de
carregamento já que os veículos recebem cargas completas (WOOYEON, 2008).
Outra estratégia logística bastante utilizada é a de terceirização, que gera algumas vantagens
como focalização dos negócios da empresa na sua área de atuação, redução das atividades,
flexibilidade e menor custo (GIOSA, 1994).
Uma estratégia logística bastante importante é a Logística Reversa, sendo que sua adoção se
dá por razões competitivas, legislações ambientais, benefícios econômicos ou conscientização
ambiental dos consumidores (DAHER, 2006). Além disso, a imagem corporativa deve ser
considerada, pois há grande visibilidade da sociedade e especialmente sobre as embalagens de
alguns produtos (BARTHOLOMEU & CAIXETA-FILHO, 2011).
2.4. Logística reversa
De acordo com Novaes (2007), é aquela que “cuida dos fluxos de materiais que se iniciam nos
pontos de consumo dos produtos e terminam nos pontos de origem, com o objetivo de
recapturar valor ou de disposição final”. Já Ballou (2006) a define com enfoque mais voltado
para o recall de produtos, devido à defeitos de fabricação ou por problemas de qualidade.
Leite (2009) a define como parte da logística que realiza o planejamento e controle não só do
fluxo, mas também das informações do retorno de bens, sejam de pós-venda e pós-consumo
ao ciclo original, complementando a logística tradicional (Figura 3).
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Figura 3 - Fluxo dos canais reversos
Fonte: LEITE, 2009.
Desta forma, ainda de acordo com Leite (2009), os bens podem ser reciclados ou reutilizados
como matéria-prima para manufatura de novos produtos, como no caso do coco verde.
2.5. Característica do Coco Verde
A água-de-coco é um produto que tem seu crescimento de mercado estimado em 20% ao ano,
e que gera aproximadamente 6,7 milhões de toneladas de casca por ano. Nas grandes cidades
litorâneas e turísticas, este elevado consumo torna-se um sério problema ambiental (ROSA,
2013). Além disso, segundo Senhoras (2003), nestes locais, as cascas de coco verde
representam cerca de 80% do lixo recolhido nas praias. É um produto de difícil degradação, o
que faz de seu aproveitamento uma grande redução nos impactos ambientais gerados e um
desenvolvimento mais sustentável (ROSA, 2013).
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De acordo com Mueller (2005), os produtos pós-consumo, como o coco verde, podem seguir
em três destinos diferentes: ir para um local seguro de descarte, ser descartado na natureza ou
voltar a uma cadeia de distribuição reversa.
Para que isso aconteça, segundo Demajorovic (2012), se faz necessário o uso da Logística
Reversa (LR) com o desenvolvimento de uma infraestrutura que possa assegurar o
recolhimento dos resíduos pós-consumo e a identificação de alternativas para garantir o seu
reaproveitamento ou destino seguro, minimizando impactos socioambientais.
3. Metodologia
O presente artigo faz parte de um estudo exploratório, fundamentado por levantamento
bibliográfico, com pesquisa de natureza aplicada, através de dados qualitativos (produtos
potenciais e características dos clientes) e dados quantitativos (quantidade de produtos e
dimensões).
Inicialmente, foram pesquisados quais os produtos potenciais feitos a partir do coco verde
teriam demanda na região Sul-Sudoeste da Bahia, com enfoque nas áreas de embalagem,
armazenamento, transporte e serviço ao cliente. Os produtos foram selecionados através das
características apresentadas por Daher (2006) e Bartholmeu & Caixeta-Filho (2011). Após a
seleção, foram coletadas informações, através de entrevistas, sobre varejistas que
comercializam o produto escolhido, quais as variedades do produto necessárias (tamanho,
design, volume, entre outros), demanda mensal/anual, características que influenciam
diretamente nas estratégias de estoque, transporte e armazenagem do produto final. Foi
analisada e proposta uma estratégia de transporte para esse tipo de produto, focando-se em
redução de custos.
4. Resultados
4.1. Levantamento dos produtos potenciais
Com a revisão bibliográfica e levantamento de dados locais, pode-se chegar aos produtos
abaixo:
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Revestimento interno de bancos automotivos de um modelo da FIAT (SOARES et al,
2010);
Indústria de Papel e Celulose (D`ALMEIDA 2002);
Substrato agrícola (ROSA, 2013);
Briquetes para fornos (COUTO et al., 2004);
Materiais de Construção e Compósitos (QUANTUM, 2003; BERTOTI, 2009;
SENHORAS, 2003);
Vasos Substitutos ao Xaxim (MALVESTITI, 2004; ROSA, 2014)
Dentre os produtos levantados, apenas os dois últimos apresentavam o requisito inicial para o
estudo: demanda local do produto ou seu substituto. Ao serem comparados estes dois
produtos para decidir-se qual seria objeto deste estudo, levou-se em consideração:
Estratégias Logísticas (Armazenagem, Transporte, Estocagem);
Razões competitivas, legislações ambientais, benefícios econômicos, conscientização
ambiental dos consumidores, imagem corporativa.
Assim, em relação aos Compósitos, existem diversos estudos sendo realizados na UESC, mais
no âmbito de modelagem de materiais. Além disso, não existe um produto específico
demandado, o que dificulta no dimensionamento das estratégias adotadas, tanto em Logística
quanto em LR.
4.1.2 Vantagens dos Vasos Substitutos do Xaxim
O vaso feito com fibra de coco, substituto dos xaxins e dos vasos e sacos plásticos, é obtido a
partir do coco verde e tem se mostrado como um dos melhores meios de cultivo de vegetais,
principalmente por sua porosidade e alto potencial de retenção de umidade, conferindo a esse
substrato características adequadas ao cultivo agrícola (ROSA, 2001).
A proposta é utilizar os vasos em substituição aos produtos tradicionais à base de plástico, e
se apresentam como uma alternativa aos subprodutos extraídos da samambaiaçu, extração
essa restrita pela legislação (MATTOS et al 2013), além desta planta se encontrar em risco de
extinção (SOUZA, 2003). A fibra de coco tem se destacado como um dos mais promissores
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substratos alternativos ao xaxim e são indicados tanto para culturas agronômicas quanto
ornamentais, destacando-se o uso para o cultivo de orquídeas (Nunes, 2000; Bezerra et al.,
2001).
Dessa forma as mudas ao serem cultivadas não precisam ser retiradas do recipiente para
serem plantadas, com o vaso ecológico de fibra de coco, pode-se enterrar o vaso junto, devido
a sua biodegradabilidade. Possuem vantagens também na sua fabricação e armazenagem, pois
o material tem algumas características que facilitam seu uso como matéria-prima, baixa
densidade, são não-tóxicas e não-abrasivas, apresentam baixo custo, ou seja, não desgastam
os equipamentos no processo, são abundantes e provém de fontes renováveis, são facilmente
modificadas quimicamente e são biodegradáveis (SIRACUSA, et al 2008).
A fabricação dos vasos é feita a partir da aglutinação das fibras de coco em látex natural, isso
faz com que o produto tenha um caráter totalmente ecológico, pelo fato de não usar
substâncias químicas ou tóxicas em sua composição. Alternativa de agente de acoplamento é
o amido, um polímero natural que pode ser usado na incorporação e modelagem das fibras de
coco para formar os vasos, sendo um substituto ecologicamente correto, se comparado ao
plástico, de difícil biodegradabilidade.
Já existem no Brasil algumas companhias que produzem e comercializam esses vasos de fibra
de coco, mas nenhum desses produtos é fabricado na Bahia, o que dificulta e encarece o seu
uso pelas empresas do Estado. O problema é que aquelas companhias utilizam da imagem do
produto sustentável e ecológico para vender estes produtos com valores mais caros que os de
material comum (plástico), além do frete que torna o produto ainda mais dispendioso.
Com um transporte mais eficiente, que seja realizado a partir de uma fabricação e
comercialização destes vasos de fibra de coco na região, abundante em matéria-prima, o
descarte do coco pode se tornar uma fonte de renda, além de auxiliar no desenvolvimento
local de um dos Bairros, atendendo os varejistas que necessitam de produtos ecologicamente
corretos e que sejam economicamente viáveis.
4.2. Levantamento dos Comerciantes (Varejistas)
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Foi feito um mapeamento de organizações que demandam esse tipo de produto e, dentre elas,
foram destacadas duas: o INSTITUTO BIOFARMA DE CACAU, que tem sua produção
voltada para a cultura agronômica, principalmente fruteiras, mas também mudas de essências
florestais e o PROJETO FLORES DA BAHIA, na cidade de MARACÁS, com produção de
culturas ornamentais, flores de corte e plantas de vasos. As duas organizações tem ligação
com o governo do estado da Bahia, através de parcerias e da EBDA (Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola).
O Instituto Biofábrica de Cacau é uma organização Social vinculada ao Governo do Estado da
Bahia. Inaugurado em março de 1997, tem como um dos seus objetivos a produção de mudas
clonais. O seu viveiro está localizado no Banco do Pedro, cerca de 30 km de Ilhéus. A
organização possui a maior área de viveiro em campo aberto do mundo.
O Projeto das Flores na cidade de Maracas começou em 2004, o município está situado no
Sudoeste da Bahia e atualmente a cidade tem a atividade agrícola como uma das mais
importantes atividades econômicas. O projeto recebe assistência e orientação técnica da
EBDA e capacitação do SEBRAE.
4.3. Demanda e Aceitação do Produto
4.3.1. Instituto Biofábrica De Cacau
O Instituto Biofábrica de Cacau conta com 20 viveiros com capacidade para 220 mil mudas
cada, com cultivo de aproximadamente 4 meses, uma média de 11 milhões de mudas por ano,
entre elas: cacau, açaí, goiaba e essências florestais.
As mudas são plantadas em vasos (tubetes) e comercializadas em vasos e sacos plásticos, a
depender do contrato. Quando comercializadas desta forma, o cliente deve devolver os vasos
para a empresa, que gera grande problema pois muitos clientes, quando o fazem, demoram na
devolução. Quando comercializados em sacos plásticos, os mesmos são descartados na hora
de se plantar, sendo descartados.
Os recipientes utilizados por ela são 2 tipos de vasos, também chamados de tubetes, sendo
com dimensões 53cm³ e 288 cm³, e sacos plásticos de 2500cm³, esses recipientes são
utilizados a depender do tipo de mudas que serão cultivadas.
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Através da entrevista foi constatado que a empresa não tem um posicionamento quanto à troca
dos materiais utilizados atualmente pelos vasos de fibra de coco, pois tal mudança envolve
diversos fatores, principalmente o financeiro, pois os tubetes que eles utilizam são reutilizados
a cada plantação de mudas e eles já têm uma enorme quantidade de recipientes. Mas, devido
às dificuldades com a devolução dos mesmos, ela demonstra certo interesse por um produto
que possa ser vendido junto com a muda, ou seja, que não precise retornar à empresa, desde
que tenha características semelhantes aos já utilizados, e que não dificulte o trabalho realizado
por ela.
4.3.2. Projeto Flores da Bahia – Maracás
O Projeto Flores da Bahia, na cidade de Maracás é voltado para o cultivo de flores de corte,
como rosas, crisântemos, tango, gérbera e plantas de vasos como begônia, violetas,
samambaias, hortênsias e cactos. A partir da obtenção dos dados da empresa nota-se que os
vasos utilizados pelo Projeto são maiores, com dimensões de aproximadamente 1769 cm³,
1469 cm³, e o saco cerca de 2520 cm³. Já a demanda da empresa é bem menor, de
aproximadamente 1.200 vasos por ano, pelo fato das culturas cultivadas pelas empresas serem
diferentes, as culturas ornamentais tem um mercado consumidor particular, geralmente são
vendidos em poucas quantidades para cada cliente, em contrapartida as mudas fruteiras são
vendidas para agricultores que geralmente plantam diversas mudas de uma só vez.
Quando questionada sobre o uso dos vasos ecológicos em substituição aos já utilizados, a
organização se posicionou totalmente a favor, desde que os preços e o desempenho dos vasos
fossem equivalentes aos do material que eles utilizam, pois a empresa tem a política de
priorizar ações ecologicamente corretas.
Desta forma, os dados coletados através das entrevistas foram resumidos e tabelados
conforme tabela 2 abaixo:
Tabela 2 – Resumo dos dados das entrevistas
Instituto Biofábrica de Cacau Projeto Flores de Bahia
Plantas cultivadas Fruteiras e Essências Florestais Flores de Corte e Plantas de Vaso
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Material Utilizado Tubetes e sacos plásticos Vasos e Sacos plásticos
Volume dos recipientes Vasos - 53 cm³ Vasos – 1.769 cm³
Vasos - 288 cm³ Vasos – 1.469 cm³
Sacos – 2.500 cm³ Sacos – 2.520 cm³
Demanda anual 11.000.000 unidades 1.200 unidades
A demanda de vasos de fibra de coco mensal do Instituto Biofábrica de Cacau, caso todas as
mudas utilizassem deste recipiente, seria de aproximadamente 917 mil, valor supondo toda a
demanda e do projeto Flores da Bahia, 100 vasos por mês, já que esses vasos são
biodegradáveis e não seriam reutilizados, mas sim plantados juntamente com a muda.
4.4. Estratégia de Transporte
A partir dos dados levantados na pesquisa, por meio das entrevistas e do levantamento das
características do produto é possível escolher a estratégia adequada para o transporte desse
produto, visando diminuir os custos e agregar valor ao mesmo.
A sugestão inicial diz respeito às embalagens para armazenamento e transporte desses
materiais. Cada vaso pode ser encaixado no outro, o que facilitariam sua armazenagem. O uso
de caixas de papelão poderia ser adotado para se unitizar os mesmos, sendo que as caixas
poderiam ajudar no transporte, além de serem recicláveis e retornáveis.
O modal de transporte a ser utilizado deve ser o rodoviário, por ser a única opção para a
movimentação dos produtos do armazém (bairro Salobrinho) até os clientes (Banco do Pedro
e Maracás).
A estratégia escolhida foi usar de Cross Docking, pois nela os produtos são fabricados e
imediatamente são preparados para expedição, sendo o tempo de armazenamento limitado, ou
nulo. Com o uso dessa estratégia de transporte o armazém pode ser no próprio local de
fabricação dos produtos (Salobrinho), pois a área necessária para armazenagem desses
produtos acabados seria pequena, reduzindo assim os custos com movimentação, além da
redução dos custos relacionados ao excesso de estoque.
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O uso dessa estratégia é adequado para o Instituto Biofábrica de Cacau, demandando uma
grande quantidade, porém sendo bastante próximo do armazém. Para o Projeto Flores da
Bahia, da cidade de Maracás, que demandaria cerca de 100 vasos por mês, quantidade bem
menor e se encontrando mais distante, poderia ser interessante a estratégia de terceirização.
5. Conclusão
Pôde-se observar que o aproveitamento de resíduos, além de ser importante para o meio
ambiente, pode se tornar um negócio com diversas vantagens para as empresas. A utilização
da logística reversa (LR) não só traz de volta os materiais pós-consumo ou pós-venda à cadeia
produtiva, mas também agrega valores competitivos, de imagem corporativa e legais.
Em relação ao coco verde, se faz necessária a utilização da LR, já que há um consumo
elevado de sua água, sendo ele um material de difícil descarte e problemático para o meio-
ambiente, principalmente nas regiões litorâneas. A PNRS expõe uma responsabilidade
compartilhada do ciclo de vida de produtos, sendo que este descarte e reaproveitamento pode
se tornar atrativo, tanto para as empresas consumidoras e governo como fonte de geração de
renda na região, a partir de sua reciclagem, desde que seja escolhido um produto final
adequado à realidade local.
Percebeu-se com o estudo certa resistência das empresas em utilizar os produtos ecológicos,
primeiramente pelo desconhecimento de seu desempenho e também pela cultura de uso de
vasos plásticos, mesmo com o conhecimento do impacto negativo destes para o meio
ambiente. A partir da troca de informações com as organizações, percebeu-se interesse na
utilização do vaso produzido de coco verde, já que as vantagens apresentadas pelo mesmo são
tanto econômicas quanto de apelo socioambiental.
A partir da utilização de uma estratégia de transporte condizente com a situação, é possível
reduzir os custos logísticos com transporte, agregando valor ao produto e, dependendo da
estratégia escolhida, pode se ter vantagens também na diminuição dos custos com estoques,
espaço físico e movimentação de materiais.
6. Referências
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