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THIAGO DE SOUZA LORO A TEORIA E A PRÁTICA DA RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE E NATUREZA EM ALGUNS PROGRAMAS INTERDISCIPLINARES DE PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL Monografia apresentada à disciplina de Orientação Monográfica II como requisito parcial à conclusão do curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Dimas Floriani CURITIBA DEZEMBRO DE 2006

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THIAGO DE SOUZA LORO

A TEORIA E A PRÁTICA DA RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE E NATUREZA EM ALGUNS PROGRAMAS INTERDISCIPLINARES DE PÓS-GRADUAÇÃO

NO BRASIL

Monografia apresentada à disciplina de Orientação Monográfica II como requisito parcial à conclusão do curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Dimas Floriani

CURITIBA DEZEMBRO DE 2006

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ..................................................................................................3

RESUMO .....................................................................................................................4

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................5

2. A NOVA CIÊNCIA .................................................................................................7

3. PROGRAMAS INTERDISCIPLINARES ..............................................................12

3.1 . HISTÓRICO DOS PROGRAMAS NO BRASIL ..................................................12

3.2 . METODOLOGIA ................................................................................................19

4. AUTORES INTERDISCIPLINARES ....................................................................21

4.1. KARL LUDWIG VON BERTALANFFY ...............................................................21

4.2. THOMAS KUHN .................................................................................................23

4.3. EDGAR MORIN ..................................................................................................24

4.4. FRITJOF CAPRA ...............................................................................................26

5. PROGRAMAS PÓS-GRADUAÇÃO ....................................................................29

5.1. APRESENTAÇÃO DOS PROGRAMAS .............................................................29

5.2. ANÁLISE DOS PROGRAMAS .......................................................................... 32

6. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 46

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 48

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - FREQÜÊNCIA DOS AUTORES E SUA ÁREA DE PENSAMENTO ...33

TABELA 2 - AUTORES E DISCIPLINAS NOS PROGRAMAS ...............................35

TABELA 3 - CONCEITOS E ABORDAGENS DAS DISCIPLINAS ..........................38

TABELA 3.1.CEFET ..................................................................................................38

TABELA 3.2. LUIZ DE QUEIROZ – USP ..................................................................39

TABELA 3.3.UFPE ....................................................................................................40

TABELA 3.4.UFSC ....................................................................................................40

TABELA 3.5.UFSC 2 .................................................................................................41

TABELA 3.6.UNIVILLE ..............................................................................................42

TABELA 3.7.USP ......................................................................................................42

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RESUMO A sociedade chega ao século XXI pautada em mudanças através dos acelerados avanços tecnológicos. A ciência no campo epistemológico também passa por mudanças. O conceito de ciência assentado na especialização recente e no paradigma Newtoniano, redentor do conhecimento absoluto, já não se encaixa a este novo tempo. Uma ciência pós – moderna se pauta na interação das próprias ciências; e as humanidades estão cada vez mais influenciadas pelas tecnologias, onde a ciência é articuladora do conhecimento científico, mas que se debate com os saberes culturalmente arraigados, além da profusão crescente de conhecimentos não-científicos que emergem das sociedades de mercado, abrindo um capitulo inédito, conhecido como “sociedade reflexiva”. (GIDDENS, BECK, 1997). Nesta perspectiva é que se coloca o confronto entre sociedade-natureza, através de suas mútuas interações onde o conhecimento científico é naturalizado e o conhecimento natural é cientifico. A partir destas novas concepções de se fazer conhecimento sejam eles uni/multi/inter/trans-disciplinares, a academia modifica-se também, cursos de pós-graduação começam a deixar de serem disciplinares apenas, e passam a abranger novos conceitos sobre si mesmos e sobre a ciência, respondendo ao principio da reflexividade (GIDDENS, 1996) e da auto análise (BOURDIEU, 2004). De onde emergem alternativas epistemológicas, e teórico-metodológicas para pensar a relação sociedade-natureza. Palavras-chaves: interdisciplinaridade, natureza, paradigma, pós-graduação, sociedade.

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1. INTRODUÇÃO As ciências sociais, assim como a ciência em seu todo, seguem em seus

campos epistemológicos com um nível de tensão devido ao seu enorme avanço,

ocorrendo uma racionalização ampliada em sua busca incessante pelo

conhecimento. A modernidade que instaurou, desde o século XVII e principalmente

o XIX e XX, a primazia do conhecimento compartimentado, com uma extrema

especialização parece chegar a um grau de superação pelo próprio conhecimento e

pela crítica filosófica e social.

Este “problema” não é um privilégio apenas das ciências, e da área do

conhecimento, mas um fenômeno da sociedade moderna. Onde as formas de

apropriação (dos recursos naturais) e de regulação (da sociedade), estão em crise.

A partir da visão frankfurtiana onde o mundo moderno vive em uma tensão entre

energias emancipatórias e energias reguladoras, pode-se dizer que do mesmo modo

que os novos rumos da ciência levam a novos horizontes emancipatórios, e a novas

realidades; paradoxalmente, existe um ápice das energias reguladoras.

O sistema de crenças (valores) e de saberes (tecnociências) tornaram-se

solidariamente prisioneiros deste sistema de produzir, consumir e conhecer o

mundo, reforçando os mecanismos deste círculo vicioso (FLORIANI, KNECHTEL,

2003).

Esta tensão por onde passa o conhecimento, e o mundo moderno, é onde se

situam as relações entre sociedade-natureza, como forma de expressão das

diferentes práticas da realidade social (econômica, política, filosófica, institucional e

cultural).

Esta questão passa pelo modo de produção, de apropriação da natureza, dos

modos de produção capitalista, pelas práticas simbólicas e culturais e pelos próprios

paradigmas da ciência moderna. Neste viés o que as lutas sociais buscam como

formas de alternativas para os modelos de desenvolvimento, no campo político,

social e econômico, assemelha-se à busca pelos novos paradigmas da ciência no

campo epistemológico.

Neste trabalho pretendemos analisar as mútuas relações entre sociedade-

natureza e analisar como se coloca institucionalmente, esta mesma dicotomia como

fruto de produção de conhecimento. Vale dizer, pela análise que efetuaremos da

experiência institucional desenvolvida em alguns dos principais programas nacionais

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de pós-graduação em meio ambiente, buscaremos identificar algumas idéias que

condicionam e definem algumas das concepções de natureza (meio ambiente) e de

desenvolvimento (cultura, sociedade, tecnologia, economia e política), bem como as

diversas lógicas de pesquisa (metodologias) mobilizadas nessas práticas

institucionais. Estas práticas também observadas como experiência vivida no

programa de Doutorado em meio ambiente e desenvolvimento da Universidade

Federal do Paraná como processo de aprendizagem.

O estudo visa, também, averiguar em que medida ocorreram estratégias de

pesquisa alternativas, como as que são designadas por multi-inter-trans-

disciplinares, à luz de um debate epistemológico emergente.

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2. A NOVA CIÊNCIA

Nos dias de hoje, acredita-se estarmos vivendo, uma era do conhecimento,

que graças à modernidade, à revolução Científica e ao processo de globalização

impulsionado pela revolução cibernética e pela informática, o homem entra em uma

nova etapa civilizatória. Este ponto de vista é relevante no sentido de que o homem

nunca antes havia construído e transformado o mundo com tanta intensidade sobre

a base do conhecimento. Ao mesmo tempo em que o ser humano superexplora

recursos e desgasta ecossistemas para convertê-los em valor de troca, tecnologiza a

vida e coisifica o mundo. A ciência e a tecnologia se convertem na maior força

produtiva e destrutiva da humanidade em que pese o caráter unificador do mercado

não se tratando de um processo unilateral, existindo várias nuances e desigualdades

no mesmo. Esta tecnologização do mundo, vem em decorrência de uma visão

cartesiana de ciência, que é pautada no século XVII.

O princípio defendido aqui não é o da negação do conhecimento, e nem da

ciência, mas sim da redefinição do conhecimento: a sabedoria de uma visão

holística, capaz de ir além de abordagens e estratégias de visão restritas,

direcionadas para os imperativos da racionalidade instrumental.

As ciências do século XXI passam por uma nova perspectiva. Desde um

ponto de vista epistemológico, as disciplinas não são mais vistas como estáticas,

isoladas, únicas e absolutas. O modelo de racionalidade que preside a ciência

moderna se constituiu a partir da Revolução Científica do séc. XVI. Pode se falar de

um modelo global de racionalidade cientifica que admite variedade interna, mas se

distingue e se defende de outras formas de conhecimento, mais especificamente do

senso comum e das humanidades.

Sendo um modelo global, ela também é um modelo totalitário, pois nega

outras formas de conhecimento que não são pautados pelos seus princípios

epistemológicos e pelas suas regras metodológicas. Está embasada em pensadores

e teorias como o movimento dos planetas de Copérnico, nas leis de Kepler sobre as

órbitas dos planetas, nas leis de Galileu sobre a queda dos corpos, na grande

síntese da ordem cósmica de Newton e finalmente na consciência filosófica que lhe

conferem Bacon e Descartes.

Esta nova visão do mundo e da vida reconduz-se a duas distinções

fundamentais: entre conhecimento científico e conhecimento não científico, por um

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lado, e entre natureza e pessoa humana, por outro. A ciência moderna desconfia

sistematicamente das evidências da nossa experiência imediata, tais evidências, que

estão na base do conhecimento vulgar, são ilusórias, e é total a separação entre

natureza e o ser humano (MORIN, 1999).

O objetivo aqui é mostrar que a superação desta separação criada pela

ciência moderna não é somente viável, como necessária, para uma sobrevivência do

ser no cosmos. Esta superação tem que ser realizada também no que tange às

questões epistemológicas, aproximando os diversos conhecimentos, científicos, e

não científicos.

A visão Newtoniana vê a natureza como extensão e movimento; passiva,

eterna e reversível, mecanismos cujos elementos se podem desmontar e depois

relacionar sob a forma de leis; não tem qualquer outra qualidade ou dignidade que

nos impeça de desvendar os seus mistérios, desvendamento que não é

contemplativo, porém ativo, já que visa conhecer a natureza para dominar e

controlar. Com base nesses pressupostos o conhecimento científico avança pela

observação descomprometida e livre, sistemática, e tanto quanto possível, rigorosa

dos fenômenos naturais.

O conhecimento especializado é em si mesmo uma forma particular de

abstração. A especialização abstrai, ou seja, extrai um objeto de um campo dado,

rejeita suas ligações e intercomunicações com seu meio, o insere num setor

conceitual abstrato que é o da disciplina compartimentada, cujas fronteiras rompem

arbitrariamente a sistemicidade (a relação de uma parte com o todo) e a

multidimensionalidade dos fenômenos. As idéias que presidem a observação e a

experimentação são as idéias claras e simples a partir das quais se pode ascender a

um conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza; ela conduz à abstração

matemática que opera automaticamente uma cisão com o concreto (MORIN, 2003).

Deste lugar central, a matemática leva a dois pensamentos: a) conhecer

significa quantificar, o rigor científico afere-se pelo rigor das medições, as qualidades

intrínsecas do objeto são desqualificadas e em seu lugar passam a imperar as

qualidades em que eventualmente possam se traduzir só o que é quantificável se

torna cientificamente relevante; b) o método científico assenta na redução da

complexidade, conhecer significa dividir e classificar para depois poder determinar

relações sistemáticas entre o que se separou.

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Assim a economia, que é a ciência social matematicamente mais avançada, é

a ciência social e humana mais atrasada, pois se abstraiu das condições sociais,

históricas, políticas, psicológicas e ecológicas inseparáveis da atividade econômica.

Tal como foi possível descobrir as leis da natureza, seria igualmente possível

descobrir as leis da sociedade. Este modelo mecanicista foi transposto e assumido

pelas ciências sociais de maneira diversa, distinguida em duas vertentes principais:

a primeira, sem dúvida dominante, consistiu em aplicar, na medida do possível, ao

estudo da sociedade todos os princípios epistemológicos e metodológicos que

presidiam ao estudo da natureza, uma física social; a segunda consistiu em

reivindicar para as ciências sociais um estatuto epistemológico e metodológico

próprio, com base na especificidade do ser humano e em sua distinção polar em

relação à natureza.

O ponto principal a ser operado é esta inércia do ponto de vista do

conhecimento científico, nas ciências sociais, e em um saber como um todo. Que se

utiliza apenas da apropriação e reprodução do conhecimento, e uma mecanização

do mesmo, que se reflete em toda a sociedade. Nas formas de entender o mundo e

de se apropriar de seus recursos.

Uma nova teoria é necessária para sucumbir às dicotomias que levam à

separação da humanidade com a natureza, aproximando as ciências naturais e

sociais, em um processo de naturalização do humanístico e de humanização da

natureza.

A importância desta teoria está na nova concepção de matéria e natureza que

propõe uma concepção dificilmente compaginável com o que herdamos da física

clássica. Em vez da eternidade, a história; em vez do determinismo, a

imprevisibilidade; em vez do mecanicismo, a interpenetração, a espontaneidade e a

auto-organização; em vez da reversibilidade, a irreversibilidade e a evolução; em vez

da ordem a desordem; em vez da necessidade a criatividade e o acidente

(PRIGOGINE, STENGERS, 1991).

Esta teoria não é um fenômeno isolado, faz parte de um movimento

convergente que atravessa as várias ciências da natureza e até das ciências sociais.

Esta “crise do paradigma dominante” vem propiciar uma profunda reflexão

epistemológica sobre o conhecimento científico. Esta reflexão apresenta duas

facetas sociológicas importantes: a reflexão é levada a cabo predominantemente

pelos próprios cientistas, que através de um interesse filosófico conseguiram

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problematizar sua prática científica; e, esta reflexão abrange questões que antes

eram deixadas aos sociólogos, às análises das condições sociais, contextos

culturais.

A partir desta reflexão são questionados os conceitos associados de lei e de

causalidade; a simplicidade da lei constitui uma simplificação arbitrária da realidade

que nos confina a um horizonte mínimo para além do qual outros conhecimentos da

natureza, ficam por conhecer. A noção de lei tem vindo a ser parcial e

sucessivamente substituída pelas noções de sistema, de estrutura, de modelo e de

processo, através de uma visão holística do conhecimento, e da relação sociedade-

natureza.

A noção holística de integração entre seres humanos e natureza, conforme

sustentada pelos defensores da “ecologia profunda”1, não está se referindo a uma

ingênua veneração de paisagens naturais intocadas, mas ao princípio fundamental

de que a unidade de experiência mais relevante não é o indivíduo, mas as mútuas

interações que ele faz com o natural.

A reflexão crítica tem incidido tanto no problema ontológico como no

metodológico da causalidade. O conceito de causalidade adequa-se bem a uma

ciência que visa intervir no real e que mede o seu êxito pelo âmbito dessa

intervenção, afinal causa é tudo aquilo sobre o que se pode agir, bem como o

controle que dele deriva, em termos de efeitos.

A ação aqui colocada é a ação para uma nova abordagem de ciência, onde

as várias formas de conhecimento interagem entre si. O resultado de uma ruptura de

paradigmas do conhecimento moderno aponta para a busca de uma nova visão

pautada na interação de conhecimentos e disciplinas, de onde surge o saber

ambiental.

Os problemas são interdependentes no tempo e no espaço, mas as

pesquisas disciplinares isolam os problemas uns dos outros. É verdade que há,

especialmente no que concerne ao meio ambiente e ao desenvolvimento, uma

primeira tomada de consciência que leva a promover pesquisas interdisciplinares,

mas, apesar de uma importante distinção de recursos para essa finalidade, os

1 “Em termos sucintos, a ecologia profunda propõe serem necessárias uma nova política e uma nova filosofia moral que vejam os seres humanos inseridos na natureza e dela fazendo parte, e não como superiores a ela: a “igualdade biosférica” coloca os humanos em um nível igual ao de todas as outras coisas vivas. A ecologia profunda também enfatiza o caráter interligado da natureza e da comunidade social – algo que, segundo dizem, era entendido nas culturas “primitivas”, mas que foi abandonado nas civilizações modernas”. (GIDDENS, 1996, p. 226-227).

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resultados são escassos porque os diplomas, carreiras e sistemas de avaliação se

fazem no quadro da disciplinas (MORIN, KERN, 2003).

A interdisciplinaridade é uma chamada para a complexidade, a fim de

restabelecer as interdependências e inter-relações de processos de diferentes

ordens de materialidade e racionalidade, e de internalizar as externalidades

(condicionamentos, determinações) dos processos excluídos dos núcleos de

racionalidade e que organizam os novos objetos de conhecimento das ciências.

Velhos e novos paradigmas conflitam saberes em busca de novos saberes,

as disciplinas não sobrevivem por si sós, elas se tornam complementares entre si, os

conhecimentos necessitam de ser interdisciplinares para conseguirem explicar as

inquietações do próprio conhecimento. Questões como a ambiental devem abranger

dimensões da sociedade e da natureza, ciências das humanidades com as ciências

naturais. Não cabem mais em uma concepção reducionista do conhecimento.

Trata-se de uma visão articuladora do conhecimento científico com os

saberes culturalmente arraigados. Uma epistemologia sócio-ambiental supõe

também teorias e metodologias (multi-inter-trans/disciplinares) diferenciadas das

tradicionais, exclusivamente disciplinares.

A partir deste ponto de vista, de uma nova ciência, de um saber não

compartimentado, mas sim em trânsito pelos vários conhecimentos, de uma

interdisciplinaridade, reconhece-se que os problemas ambientais são sistemas

complexos, nos quais intervêm processos de diferentes racionalidades, ordens de

materialidade e escalas espaço-temporais. A problemática ambiental é o campo

privilegiado das inter-relações sociedade-natureza, razão pela qual seu

conhecimento demanda uma abordagem holística e um método interdisciplinar que

permitam a integração das ciências da natureza e da sociedade; das esferas do

ideal e do material, da economia, da tecnologia e da cultura. (UNESCO Universities

and environmental education. Paris; 1986).

A ruptura epistemológica em diferentes paradigmas do conhecimento, que

gera a emergência do saber ambiental e sua possível “internalização”, provém do

encontro entre os núcleos de racionalidade das ciências e o campo do saber

ambiental, entendido como um “espaço de externalidade”. Tal encontro é a

confrontação com o real posto à margem, confinado e excluído, externalizado do

núcleo conceitual do objeto de conhecimento (as condições ecológicas da

reprodução do capital e as condições termodinâmicas do processo econômico). Mas,

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por ele mesmo, não se trata da internalização mecânica de uma “dimensão” do

conhecimento, de um conjunto de princípios, preceitos, conhecimentos, métodos e

técnicas. Refere-se mais ao retorno dos impensáveis, do que só será possível

fazendo atuar a reflexão sobre o já pensado, voltando sobre os próprios

fundamentos de uma ciência, sobre seus conceitos e pressupostos básicos (LEFF

2000).

Esta ciência emancipadora que surge com o saber multi-inter-trans

disciplinares tem reflexos nos saberes construídos pelas instituições de ensino, que

aqui será analisada no intuito de corresponder a essa nova ciência e a esses novas

paradigmas do conhecimento.

Para melhor entendermos de como surge a institucionalização da questão

interdisciplinar, em uma perspectiva sócio-ambiental faremos um histórico destes

mesmos programas e de como em vias de fato eles se consolidaram nas instituições

de ensino do Brasil.

3. PROGRAMAS INTERDISCIPLINARES 3.1.HISTÓRICO DOS PROGRAMAS NO BRASIL As discussões sobre interdisciplinaridade no Brasil começam na década de

1970, com autores ligados às ciências pedagógicas e da educação, sob a influência

das discussões dessa temática na Europa, desde os anos 60, em especial por Jean

Piaget. Autores como Hilton Japiassu e Ivani Fazenda iniciam as reflexões sobre

interdisciplinaridade no Brasil. Ambos acreditam no caráter revolucionário desta

questão, pois a noção de interdisciplinaridade traz ao embate a questão relativa à

produção social e humana, marcadas pela dicotomia: subjetividade/objetividade,

especialidade/totalidade.

Em Japiassu (1976) o argumento crítico contra a fragmentação do

conhecimento é fundamental para o desenvolvimento de sua teoria de

interdisciplinaridade calcada na urgência da retomada de um conhecimento

humanístico. Em Fazenda (1995), que trouxe as principais questões conceituais

levantadas por autores como Michaud, Heckausen, Piaget e Janstch, sobre o tema

da interdisciplinaridade, diz que as controvérsias e ambigüidades desveladas em

torno deste conceito estão diretamente relacionadas à construção de uma linguagem

única em torno da ciência. Fazenda, assim como Japiassu, investiu seus esforços

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na consolidação da interdisciplinaridade no campo das teorias educacionais

brasileiras. Segundo esta autora o debate sobre a interdisciplinaridade no Brasil ao

longo de três décadas podem ser caracterizadas da seguinte maneira:

Em 1970 procurávamos uma definição de interdisciplinaridade; 1980 tentávamos explicitar um método para a interdisciplinaridade e1990 estávamos partindo para a construção de uma teoria da interdisciplinaridade (FAZENDA 1995, p.89).

Ao longo destes trinta anos mencionados, a interdisciplinaridade veio

ganhando significativo destaque, como um tema de relevância tanto nas agendas de

pesquisa das diversas áreas do conhecimento, quanto nas instituições de ensino e

fomento, quanto na institucionalização deste conhecimento nos cursos de pós-

graduação.

Cabe ressaltar, entretanto, que a adoção de uma nova atitude não é

automática. Fala-se muito mas pratica-se pouco a interdisciplinaridade. É muito

importante localizar os obstáculos para a introdução de novas práticas cognitivas.

Algumas dessas resistências residem no próprio entendimento epistemológico

(teórico – metodológico); outras, nos aspectos institucionais e de poder das ciências

dominantes; finalmente no habitus dos pesquisadores – professores que se inserem

nas disposições que definem suas próprias escolhas, em direção a um ou mais

padrão disponível (FLORIANI).

Para Ari Paulo Jantsch e Lucídio Bianchetti (1995), os estudos realizados por

Japiassu e por Fazenda apresentam uma falha em comum quanto à concepção que

ambos compartilham sobre a interdisciplinaridade, trabalhando a temática a partir de

uma noção a - histórica, comprometida pelo que eles dominam de "filosofia do

sujeito"." caracteriza-se por privilegiar a ação do sujeito sobre o objeto, de modo a

tornar o sujeito um absoluto na construção do conhecimento e do pensamento"

(JANTSCH, BIANCHETTI 1995, P.23).

Esta teoria pressupõe uma fórmula acertada da interdisciplinaridade,

supostamente levada a cabo por um sujeito coletivo, onde a produção do

conhecimento está garantida. Trata-se da crítica a uma concepção de

interdisciplinaridade, que se consolida eternizando o perigo da especialização,

"como um mal em si", sem levar em conta o caráter histórico do movimento de

institucionalização e constituição das disciplinas.

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A radicalização deste argumento aumenta a intenção em uma

interdisciplinaridade redentora, que por fim acabaria com as disciplinas, uma

superação dela e do conhecimento produzido por elas. Nem todo trabalho em

parceria resulta em um produto interdisciplinar, e menos ainda quando se destrói a

autonomia dos parceiros e do respectivo campo que participam.

O encontro da interdisciplinaridade com a temática ambiental tem um começo

com estes debates travados no terreno educacional, onde também surgirá e se

institucionalizará a chamada "educação ambiental". Por isso é relevante quando

Enrique Leff ressalta a importância da implantação em 1975, do PIEA (Programa

Internacional de Educação Ambiental), sobre o patrocínio da UNESCO e do PNUMA

(Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), no processo de convergência

entre interdisciplinaridade e meio ambiente. Coube ao PIEA alardear o aspecto de

transversalidade da questão ambiental para com as diferentes disciplinas, bem como

aos métodos de investigação e aos conteúdos do ensino formal e informal, em todos

os níveis do sistema educativo. Leff lembra que será na Conferência

Intergovernamental sobre Educação Ambiental, ocorrida em 1977, em Tibilisi, aonde

irão se consagrar orientações gerais da educação ambiental, fundamentada em

princípios da interdisciplinaridade “como método para compreender e restabelecer

as relações sociedade-natureza"2.

A educação ambiental não foi por onde começou a vinculação entre

interdisciplinaridade e meio ambiente, mas o sucesso institucional desta forma de

conhecimento certamente foi significativo na disseminação desta aproximação. A

idéia da educação ambiental, como instrumento de confrontação à crise ecológica,

ganha extraordinária força nos anos de 80 e revela, também, uma mudança

estrutural no pensamento ambiental, particularmente no tocante à noção de

reversibilidade da crise. O conceito de desenvolvimento sustentável virá como forma

de relativizar o pessimismo que marcou os debates ambientais na virada da década

de 1970.

A formação da comissão Mundial sobre meio ambiente, também conhecida

como comissão Brundtland, teve a tarefa de realizar um estudo de avaliação dos

principais problemas ambientais em nível mundial. Este documento foi apresentado

em 1987 com o titulo de Nosso Futuro Comum, tornando-se uma das mais

2 UNESCO, La educación ambiental: las grandes orientaciones de la conferencia de Tibilisi, Paris, 1980

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importantes referências deste debate, por consolidar a relação de interdependência

entre problemáticas da esfera econômica, social e ecológica em nível global.

Atentando para a discussão econômica da crise ecológica, o texto coloca a

discussão ambiental no plano central das políticas globais.

Estas discussões políticas que repercutirão tanto no plano nacional como

internacional, serão de suma importância para o fortalecimento da temática

ambiental no Brasil dos anos de 1980. A visibilidade da questão ambiental na

política internacional não poderia mais ser ignorada e a mobilização do movimento

ambientalista brasileiro foi fundamental na exigência de uma posição do governo

federal.

A institucionalização da temática na arena política brasileira proporcionou

uma demanda científica e técnica, na questão ambiental, capaz de lidar com os

novos desafios indicados, neste sentido que , em 1986, ocorreu na Universidade de

Brasília o primeiro Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente,

organizado pela Secretaria Especial do Meio Ambiente. Este seminário é

particularmente importante, pois se constituiu como o primeiro esforço de

questionamento do papel da Universidade e da comunidade acadêmica neste

processo de enfrentamento do tema do meio ambiente. A partir deste seminário

estabeleceram redes de cooperação institucional entre governo e universidade, na

área ambiental, na perspectiva interdisciplinar, fundamental para o estabelecimento

dos programas de pós-graduação.

Os temas que pautaram este encontro, enfatizaram o meio ambiente voltado

para a questão interdisciplinar. Ressaltou-se a preocupação na ampliação da

educação ambiental, com pesquisadores focados em enfrentar questões mais

complexas como o desenvolvimento sustentável, e fazendo menção clara à adesão

de intelectuais das ciências sociais e econômicas a esse campo de estudo. Não é à

toa que a primeira exposição realizada, segundo o programa do Seminário, trazia

como título "A incorporação da dimensão ambiental nas ciências sociais". Leila da

Costa Ferreira afirma que somente na década de 1980 a institucionalização da

problemática ambiental nas ciências sociais brasileiras ocorreu, segundo ela

tardiamente comparado com as experiências em outros países.

Apesar deste grande esforço a produção limitava-se a pequenos grupos com

destaque para o grupo de trabalho Ecologia, Política e Sociedade que se formou na

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Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, ANPOCS3

em 1988. Este grupo ilustra o difícil processo da institucionalização e legitimação da

temática ambiental nas ciências sociais no âmbito nacional, que apesar de sua

atuação teve vida curta. Fruto de um certo descompromisso com veículos mais

tradicionais de produção intelectual nesta área, como a ANPOCS.

O processo de formação do campo de estudos interdisciplinares em ambiente

e sociedade, consolidado primordialmente com o estabelecimento dos programas de

pós-graduação tem uma relação estreita com a trajetória de incorporação do tema

ambiental nas ciências sociais e econômicas brasileiras. A conformação deste novo

campo abriu uma nova frente de atuação, onde as contribuições das disciplinas

humanas foram em grande medida imprescindíveis, principalmente no que tange à

reflexão sobre a interdisciplinaridade da problemática ambiental.

A questão seguiu no Brasil com a realização de seminários, o II Seminário

Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente realizado em Belém no ano de 1987,

e o III realizado em 1988 na cidade de Cuiabá, deram procedimento à agenda de

discussões acordada durante a reunião de Brasília, sobre o papel da universidade

frente à questão ambiental. O II Seminário se caracteriza por uma ênfase maior nas

bases epistemológicas e metodológicas da questão interdisciplinar enquanto o III

Seminário teve maior ênfase na questão organizacional, a estrutura departamental.

O direcionamento dos debates para questão organizacional, neste momento parte

para um horizonte operacional, onde passa para um espaço de considerações

concretas de possibilidades institucionais.

Os dois próximos eventos de importância foram o II Simpósio Estadual sobre

Meio Ambiente e Educação Universitária em São Paulo, que ocorreu em 1989 e o IV

Seminário Nacional sobre Universidade e Meio ambiente sediado em Florianópolis

em 1990. Nesses debates foram reiterados o caráter legítimo interdisciplinar nas

problemáticas sócio-ambientais, dando preferência ao modelo interinstitucional, com

finalidade de ampliar os diálogos acadêmicos, e flexibilizar as estruturas

universitárias pré-existentes.

Paulo Ernesto Diaz Rocha reconhece que:

3 A ANPOCS foi criada em 1977, para aglutinar e representar centros de pesquisa e programas de pós-graduação que atuam no campo das Ciências Sociais. Com uma participação inicial de 14 centros e/ou programas, conta hoje com a filiação de 61 instituições que têm na Sociologia, na Antropologia e na Ciência Política seu campo de atuação. Diferentemente de outras associações científicas, a ANPOCS filia sócios institucionais, e não pesquisadores individuais.

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Estes inúmeros encontros da década de 80 serviram, sem sombra de dúvidas, como alavanca para a elaboração e a institucionalização de diversos cursos pelo país a fora que vieram se consolidar na década seguinte (ROCHA, 2001, P. 143).

Essas reuniões tiveram papel importante tanto no reconhecimento como na

mobilização da questão ambiental como uma área autônoma nas instituições

acadêmicas. Estas estratégias formais, operacionais e institucionais, entretanto não

foram suficientes para assegurar um corpus teórico que dessem sustentação para

esse novo campo.

Os acontecimentos da década de 1980 foram fundamentais para assegurar

institucionalmente a criação deste espaço acadêmico, como na criação dos cursos

de pós-graduação interdisciplinares. Porém não garantiu um consistente projeto

intelectual e teórico que dessem contornos e “substância” a esse campo. As

condições institucionais se deram antes de uma substância teórica do mesmo.

Apesar de um esforço conjunto e individual de pesquisadores e professores no que tange à reflexão teórica e metodológica sobre as orientações precisas que a construção de um curso interdisciplinar significa, há uma unanimidade nos depoimentos destes, os atores do processo, de que a construção de um projeto intelectual, o desenho institucional, a proposta pedagógica e o cabedal teórico que definem tais cursos foram sendo edificados durante as experiências vivenciadas principalmente nos primeiros anos de existência dos próprios cursos” (GIESBRETCH, 2005 p. 75)

O produto bem mais acabado da emergência desta institucionalização do

campo será a criação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Ambiente e Sociedade, a ANPPAS4. Instituição que tem um caráter interdisciplinar

na área dos estudos ambientais, tornando-se um locus importante e referencial para

a circulação da produção intelectual destes programas, concatenou os anseios e

expectativas das entidades (programas de pós-graduação) participantes. Surge,

assim, um espaço privilegiado dos debates e confrontos entre os diferentes projetos

de interdisciplinaridade ambiental reivindicado pelos grupos e programas.

Este grande número de discussões desde a década de 1980 encorajou a

formação de diversos grupos, centros e núcleos nas universidades brasileiras

4 A ANPPAS é a Associação Nacional de Programa de Pós Graduação em Ambiente e Sociedade, fundada, em 2002, cujos encontros ocorrem a cada 2 anos, reunindo dezenas de programas em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Esta associação de caráter acadêmico-científico tem como finalidade debater, acompanhar e desenvolver atividades a fim de tornar visível sua institucionalização e de influenciar as políticas públicas operadas pelos diversos ministérios do governo Federal, em especial MEC / CAPES / MCT/ CNPQ e MMA. Desde sua fundação, a ANPPAS através de seus GT’S (grupos de trabalhos) vem produzindo qualidade em pesquisa, cujo principal veiculo de publicação é a revista AMBIENTE E SOCIEDADE.

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interessados nesta questão. Com as experiências de implementação destes cursos,

revelam-se diferentes experiências nas universidades que se desenvolvem, de

acordo com as realidades acadêmicas das universidades que os abrigavam. Torna-

se evidente que a interdisciplinaridade não se “fazia por decreto”.

Percebe-se nas instituições brasileiras o surgimento deste novo paradigma

educacional, filosófico e de pesquisa, onde as ciências são convocadas para uma

estreita colaboração para atender as questões de interface entre sociedade e

natureza. Alguns indicadores de como as instituições vão trabalhar esta nova

concepção vai ser o ponto a ser trabalhado nesta pesquisa.

Para isso, os programas a serem estudados, são programas colocados como

interdisciplinares, que levariam em conta uma ciência pós-moderna, ou como diria

Boaventura de Sousa Santos (2005) um “paradigma emergente”, onde o

conhecimento tende a ser não dualista, que se funda na superação das distinções

tais como natureza/cultura; natural/artificial; vivo/inanimado; mente/matéria;

observador/observado; subjetivo/objetivo; coletivo/individual; animal/pessoa.

Estes programas buscam uma nova racionalidade, no campo da produção do

conhecimento; que supera as regras do saber e do fazer convencionais e do modelo

da ciência ainda vigente, mas declinante. Uma nova epistemologia de transição, que

pense e seja pensada na articulação e na espiritualização do mundo. Uma

epistemologia sócio-ambiental operante com uma teoria que englobe o

entendimento da linguagem, do sujeito, do evento histórico-cultural como um campo

de disputas pela construção de sentidos práticos e simbólicos (o que implica

interpretar o devir, o ser acontecendo e o ser acontecido) nas interfaces sociedade-

natureza.

A concepção humanística das ciências sociais enquanto agente catalisador

da progressiva fusão das ciências naturais e ciências sociais coloca a pessoa,

enquanto autor e sujeito do mundo, no centro do conhecimento, mas, ao contrário

das humanidades tradicionais, coloca o que hoje designamos por natureza no centro

da pessoa. Não há natureza humana porque toda natureza é humana. O mundo é

comunicação e por isso a lógica existencial da ciência pós-moderna é promover a

“situação comunicativa”5 de acordo com a teoria de Habermans (SANTOS 2005).

5 A situação comunicativa e a estratégica são duas variantes da interação mediada pela linguagem. “...sòmente ao agir comunicativo é aplicável o princípio segundo o qual as limitações estruturais de uma linguagem compartilhada intersubjetivamente levam os atores – no sentido de uma necessidade transcendental tênue – a abandonar o egocentrismo de uma orientação pautada pelo fim racional de seu próprio sucesso e a se submeter

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A concepção científica que levava uma primazia das explicações causais não

é suficiente para explicar a questão sócio-ambiental, que o seu rigor tem limites

inultrapassáveis e que sua objetividade não constitui a sua neutralidade. O objetivo é

ver em que medida as abordagens sobre natureza e sociedade tendem a uma visão

interdisciplinar nestes programas, uma vez que ambas questões não devem ser

separadas quando se trata de enfocar o meio ambiente.

Por último, mas não menos importante, convém indagar como os atores

sociais, que apontam para mudanças, operadas através do conflito sócio-ambiental,

apresentam questões relevantes para o campo acadêmico. Esses atores estatais,

governamentais, não – governamentais, locais, internacionais e agências

transnacionais, todas elas operando em diversas direções, algumas delas em

confronto direto, geram conflitos e sentidos os mais diversos sobre a questão sócio-

ambiental e devolvem ao campo de produção acadêmica questões relevantes.

Estes são os pontos de partida dos programas analisados, mas o que se

confirmará através do que neles é construído? Será que a interdisciplinaridade

colocada como primordial para estes cursos se torna vigente na prática? Em que

medida nestes programas a questão sociedade e natureza tendem a uma visão

interdisciplinar? E quais são os conceitos que acompanham a idéia (teórico –

prática) dessas construções interdisciplinares, se é que merecem este nome?

Partindo do pressuposto de que um conjunto de disciplinas se orientam mais

para a análise dos processos naturais (ciências da vida, e da natureza) e outras para

os sociais (humanidades e ciências sociais), aproveitando para indagar sobre o

potencial que essas disciplinas tem para construir concepções que aproximam ou

interrelacionem esses processos (naturais e sociais), quais os dispositivos

conceituais que melhor traduzem esse diálogo? Ecologia e/ou desenvolvimento

sustentável?

3.2. METODOLOGIA

A metodologia a ser utilizada consta na análise de oito programas de pós

graduação, cuja organização e disposição dos mesmos podem ser vislumbrados

pelos dados tabulados sobre programas considerados interdisciplinares e que

aos critérios públicos da racionalidade do entendimento. Podemos, pois, tomar as estruturas supra-subjetivas da linguagem na perspectiva da teoria da ação e tentar encontrar a partir delas uma resposta à questão clássica: como é possível a ordem social?” (HABERMAS,1990, p. 82-83).

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enfatizam a questão sociedade/natureza, de instituição abalizadas pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES6. Esta

análise vai ser feita com o objetivo de identificar se ocorre alguma reformulação

científica nestes programas, observando se a interdisciplinaridade, com a

conseqüente superação da dicotomia sujeito/objeto se coloca em ação nos mesmos.

Os programas serão analisados com objetivo de identificar quais são os

autores com maior freqüência nas bibliografias dos programas, através de

amostragem quantitativa e qualitativa. Serão analisadas algumas das principais

bibliografias destes cursos, disciplina por disciplina, para identificarmos quais são os

autores mais utilizados pelos programas em questão. Em uma primeira fase os

autores são analisados por programa, através de uma amostragem onde a utilização

deles, por mais de duas vezes, levam-nos a um rol de importância para a pesquisa.

Em uma segunda parte, após a caracterização dos autores, será feita uma

outra amostragem aonde estes agora serão qualificados dentre os oito programas,

também pelo mesmo critério, que será o de reincidência nos mesmos. Assim,

definiremos os autores mais utilizados e quais são suas teorias e se, através destes,

poderemos classificá-los como interdisciplinares, ou não, dentre desta nova visão de

ciência em construção.

Presume-se que o reiterado uso de mesmos autores ou de autores com

concepções afins (sobre ciência, natureza, meio ambiente, sociedade, etc.) possam

revelar lógicas e teorias capazes de traduzir alguns tipos de configurações,

reveladoras de padrões cognitivos sobre natureza e sociedade, na perspectiva

sócio-ambiental.

Estes autores que possuem uma maior relevância serão agora explicitados

quanto as suas idéias para melhor entendimento do processo de pesquisa a

posteriori.

6 As atividades da Capes podem ser agrupadas em quatro grandes linhas de ação, cada qual desenvolvida por

um conjunto estruturado de programas: a) avaliação da pós-graduação stricto sensu; b) acesso e divulgação da produção científica; c) investimentos na formação de recursos de alto nível no país e exterior; d) promoção da cooperação científica internacional.O sistema de avaliação tem sido continuamente aperfeiçoado, constituindo-se em instrumento para a ação direta da comunidade universitária na busca de um padrão de excelência acadêmica sempre maior dos mestrados e doutorados nacionais. Os resultados da avaliação servem de base para a formulação de políticas para a área de pós-graduação, bem como para o dimensionamento das ações de fomento - bolsas de estudo, auxílios, apoios -, estabelecendo, ainda, critérios para o reconhecimento pelo Ministério da Educação dos cursos de mestrado e doutorado novos e em funcionamento no Brasil.

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4. AUTORES INTERDISCIPLINARES

Deste novo contexto de ciência colocado por uma emergência de novos

paradigmas os autores aqui observados mostram uma face de cunho interdisciplinar.

Propõe – se expor as idéias de alguns autores de relevância para entender esta

visão interdisciplinar dos mesmos.

A relevância de uma teoria passa pela concepção de seus autores. Nesta

parte do trabalho procuramos explicitar esta visão, para a posteriori, quando eles

forem colocados em questão pela pesquisa, consigamos observar frutos de seus

trabalhos.

Estes autores foram pré-estabelecidos de acordo com o encaminhamento que

a pesquisa ia tomando, e se tornaram de extrema importância para os novos

conceitos dos programas, sendo colocados dentre um ponto de vista histórico e de

interações de conceitos.

4.1. KARL LUDWIG VON BERTALANFFY

Karl Ludwig von Bertalanffy (1971) foi o fundador da Teoria Geral dos

Sistemas. Ludwig von Bertalanffy fez os seus estudos em biologia e interessou-se

desde cedo pelos organismos e pelos problemas do crescimento. Os seus trabalhos

iniciais, datam dos anos 20 e falam sobre a abordagem orgânica.

Com efeito, Bertalanffy não concordava com a visão cartesiana do universo.

Colocou então uma abordagem orgânica da biologia e tentou fazer aceitar a idéia de

que o organismo é um todo maior que a soma das suas partes. Criticou a visão de

que o mundo é dividido em diferentes áreas, como física, química, biologia,

psicologia, etc. Ao contrário, sugeria que se deve estudar sistemas globalmente, de

forma a envolver todas as suas interdependências, pois cada um dos elementos, ao

serem reunidos para constituir uma unidade funcional maior, desenvolvem

qualidades que não se encontram em seus componentes isolados.

O conceito de sistema, embora pareça ser intrínseco ao pensar humano, foi

explicitamente empregado e desenvolvido extensivamente ao longo das últimas

décadas, devido em grande medida às contribuições feitas por Ludwig von

Bertalanffy (ciente do caráter sinérgico de macro-sistemas ecológicos e de micro

fenômenos sinérgicos no geral). A partir deste conceito ele se torna um perpetuador

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de filosofias naturais nos séculos seguintes e um pioneiro científico do século atual.

Bertalanffy foi o primeiro a empreender uma aproximação rigorosa da

matemática à compreensão de sinergias bioquímicas, sendo que ambos evoluem e

nomeiam a teoria geral dos sistemas (GST), com estratégias do conceito e do

diagrama esquemático.

Sua compreensão de tais possibilidades culminou em outubro de 1954 em

que foi constituída a sociedade para o avanço da teoria geral dos sistemas (mudado

mais tarde à sociedade para a pesquisa geral dos sistemas em 1957), juntamente

com Kenneth Boulding, Ralph Gerard & Anatol Rapoport7. Seu manifesto definiu um

sistema geral como um todo, o sistema teórico de interesses aplicado a mais de uma

disciplina. Essa definição era mais ou menos ambiciosa, distante do que Bertalanffy

tinha como visão de “lei geral dos sistemas”, mas ele concorda que mesmo uma

viagem de mil milhas deve começar com uma etapa.

Advogou a favor de uma moralidade global nova, um ethos que se centre na

adaptação da humanidade ao seu novo ambiente.

Nós estamos tratando das realidades emergentes; já não com grupos isolados dos homens, mas com uma comunidade global sistematicamente interdependente. É este nível de (realidade) que nós devemos manter antes de nossos olhos, se nós pudermos inspirar a ação em grande escala projetada assegurar nossa sobrevivência coletiva e daqui nossa individual (BERTALANFFY, 1971).

Sua teoria geral dos sistemas, tanto no ponto de vista histórico, quanto

científico, é a primeira análise que leva em conta um pensamento sistêmico

interligado e que servirá de base para todos os pensadores e teorias ligadas a uma

interação de conhecimentos, uma interdisciplinaridade.

Todos os autores que seguem nesta explicação “beberam” da fonte de

Bertalanffy, tanto para elaborarem uma teoria que aproximasse de sua perspectiva

(Capra), ou que baseados nela, e conhecedores de suas limitações aprofundaram

7 Em 1954, motivado pelo sucesso de outras doutrinas generalistas dos anos 40, como a cibernética, a teoria dos

jogos, a teoria da informação, ele se une a outros cientistas – Kenneth Boulding (economista), Ralph Gerard (filósofo) e Anatol Rapoport (matemático) –, e fundam a Society for General Systems Research, na reunião anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência. Logo após, outros vieram, como Leslie White, da Antropologia; da Psicologia: Allport e Piaget; da Biologia: Paul Weiss, Pattee, James Miller; da Psiquiatria: Rizzo e Gray; da Linguística: Noam Chomsky; da Engenharia: Klir e Polak; da Sociologia: Merton e Sorokin; da Política: Churchman, e muitos outros como: Herbert Simon, da Psicologia; Arthur Koestler, jornalista húngaro; Rene Jules Dubos, francês, microbiologista nos EUA; Henri Marie Laborit, neurologista francês; Jacques Manod, bioquímico francês; Ervin Lazslo; Zerbst; Forrester e todo o "Clube de Roma". Estabeleceram-se vários grupos locais da "Sociedade" em vários centros dos Estados Unidos e, posteriormente, da Europa. Várias pesquisas e publicações apareceram, juntamente com a revista Mathematical Systems Theory.

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este pensamento sistêmico (Leff). Por isso sua teoria é de grande importância, que

apesar de parecer completa, incita nos outros autores grandes reflexões sobre

compreensões de diferentes conhecimentos.

4.2. THOMAS KUHN

Thomas Samuel Kuhn (2005) acredita que a ciência numa perspectiva

histórica era muito diferente da apresentada nos textos de física ou mesmo de

filosofia da ciência. Estrutura das Revoluções Científicas foi então, um texto

direcionado a um público filosófico, mesmo não sendo um livro de filosofia, pois ele

mesmo afirmou que criticava o positivismo, sem conhecê-lo em profundidade e

também que não se sentia influenciado pelo pragmatismo de Willian Jamese e John

Dewey.

A idéia de Thomas Kuhn gira em torno da noção de paradigma científico e da

"incomensurabilidade" entre os paradigmas. Ken Wilber(2001) defende que a idéia

de paradigmas proposta por Kuhn tem sido apropriada e abusada por grupos e

indivíduos que tentam fazê-la parecer uma declaração de que a ciência é arbitrária.

Entretanto, a obra de Kuhn abriu espaço para toda uma nova abordagem de estudos

chamados Social Studies of Science (estudos sociais da ciência) que desembocou

no Programa forte da sociologia.

Kuhn discutiu que a ciência não é uma aquisição constante e cumulativa do

conhecimento. Em vez de a ciência ser "uma série dos interlúdios calmos pontuados

pelas voltas intelectuais violentas" ele descreveu sendo que "os complementos

transitam quebrando a tradição que limitam a atividade da ciência normal." Após tais

voltas, "uma vista conceptual do mundo é substituída por outra".

Embora os críticos o repreendam quanto ao seu uso impreciso do termo,

Kuhn era responsável por popularizar o paradigma, que descreveu como

essencialmente, uma coleção da opinião compartilhada por cientistas, um jogo dos

acordos sobre como os problemas devem ser compreendidos. De acordo com Kuhn,

os paradigmas são essenciais ao inquérito científico, porque "nenhuma história

natural pode ser interpretada na ausência ao menos de algum corpo implícito da

opinião teórica e metodológica entrelaçados que permite a seleção, a avaliação, e a

crítica".

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Certamente, um paradigma guia os esforços da pesquisa de comunidades

científicas, e é este critério que identifica mais claramente um campo como uma

ciência. Um tema fundamental do argumento de Kuhn é que o teste padrão de

desenvolvimento típico de uma ciência madura é a transição sucessiva de um

paradigma a outro com um processo da volta. Quando um deslocamento do

paradigma ocorre, "o mundo de um cientista está transformado qualitativamente, e

enriquecido quantitativamente por novidades fundamentais do fato ou da teoria."

Kuhn manteve também que, ao contrário da concepção popular, os cientistas

típicos não são pensadores objetivos e independentes. São indivíduos

conservadores que aceitam o que foram ensinados e aplicam seu conhecimento a

resolver os problemas que suas teorias ditam.

Durante períodos da ciência normal, a tarefa preliminar dos cientistas é trazer

a teoria e o fato aceito em um acordo mais próximo. Consequentemente, os

cientistas tendem a ignorar as descobertas das pesquisas que puderam ameaçar o

paradigma existente e provocar o desenvolvimento de um paradigma novo.

Kuhn diferencia dos outros autores por tratar de uma questão mais filosófica,

atrás de uma compreensão maior da ciência teórica. Mas se torna primordial quando

demonstra em sua teoria a superação de um pensamento por outro, que será a

vertente deste trabalho, a superação de um paradigma por um novo, as mudanças

na ciência que levam a uma interdisciplinaridade.

4.3. EDGAR MORIN

Edgar Morin é um dos principais pensadores sobre complexidade e autor de

mais de trinta livros, entre eles: O Método (em seis volumes), Introdução ao

pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários

para a educação do futuro.

À primeira vista, a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido em conjunto) de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Na segunda abordagem, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal. Mas então a complexidade apresenta-se com os traços inquietantes da confusão, do inextricável, da desordem, da ambigüidade, da incerteza... Daí a necessidade, para o conhecimento, de pôr ordem nos fenômenos ao rejeitar a desordem, de afastar o incerto, isto é, de selecionar os elementos de ordem e de certeza, de retirar a ambigüidade, de clarificar, de distinguir, de hierarquizar... Mas tais operações, necessárias à

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inteligibilidade, correm o risco de a tornar cega se eliminarem os outros caracteres do complexus; e efetivamente, como o indiquei, elas tornam-nos cegos(MORIN, 2005).

Segundo Edgar Morin a proposta da complexidade é a abordagem

transdisciplinar dos fenômenos, e a mudança de paradigma, abandonando o

reducionismo que tem pautado a investigação científica em todos os campos, e

dando lugar à criatividade e ao caos.

Essa complexidade, gerada pela criatividade é o fio condutor de uma virada

paradigmática que promoveu a re-abertura interdisciplinar e abriu caminhos, ainda

que estreitos, para a efetivação de uma aproximação dialógica entre áreas

disciplinares fechadas em seus conceitos e em seus procedimentos metodológicos.

Não se tratava de uma ciência nascente, mas da emergência de um terreno fértil à

consolidação de um novo sistema de pensamento.

O velho paradigma está desfeito em migalhas, o novo ainda não está constituído. Mas a noção de vida já se modificou: está, implícita e explicitamente, ligada às idéias de auto-organização e de complexidade. A nova teoria biológica, por mais embrionária que seja, altera a noção de vida. A nova teoria ecológica, por mais embrionária que seja, altera a noção de natureza (MORIN, 1975, p. 28-29).

Um sistema constitui-se de partes interdependentes entre si, que interagem e

tranformam-se mutuamente, desse modo o sistema não será definível pela soma de

suas partes, mas por uma propriedade que emerge deste seu funcionamento. O

estudo em separado de cada parte do sistema não levará ao entendimento do todo,

esta lógica se contrapõe ao método cartesiano analítico que postulava justamente o

contrário.

Nesta perspectiva o todo é mais do que a soma das partes. Da organização

de um sistema nascem propriedades emergentes que podem retroagir sobre as

partes. Por outro lado o todo é também menos que a soma das partes uma vez que

tais propriedades emergentes possam também inibir determinadas qualidades das

partes.

Um sistema realimentado é necessariamente um sistema dinâmico, já que

deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação uma saída é capaz

de alterar a entrada que a gerou, e, consequentemente, a si própria. Se o sistema

fosse instantâneo, essa alteração implicaria uma desigualdade. Portanto em uma

malha de realimentação deve haver um certo retardo na resposta dinâmica. Esse

retardo ocorre devido à uma tendência do sistema de manter o estado atual mesmo

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com variações bruscas na entrada. Isto é, ele deve possuir uma tendência de

resistência a mudanças. O que, por sua vez, significa que deve haver uma memória

intrínseca a um sistema que pode sofrer realimentação

Importa notar que embora a noção de hipercomplexidade vá aos poucos

ocupando lugar central e fundamental na análise desenvolvida por Morin à respeito

do processo de humanização e da relação sociedade/natureza, isso não significa, no

entanto, uma oposição entre essas noções. À princípio, a relação entre esses

conceitos parece ser desenhado como a passagem de um estado de complexidade

a outro, ou seja, como a exacerbação das relações entre ordem e desordem. Com

efeito, essa passagem parece representar a crescente complexificação do processo

de humanização que resulta na hipercomplexidade da condição humana:

complexidade e hipercomplexidade são, desse modo, intensificações e

transformações de um mesmo processo que se dá no bojo da humanização e que

modifica substancialmente as relações humanidade/natureza/humanidade.

Morin acredita na comunicação entre ciências sociais e exatas através de um

auto conhecimento do conhecimento científico. Neste sentido sua teoria aproxima

mais as idéias de Kuhn, em uma superação da ciência. Critica a teoria de

Bertalanffy, por acreditar que ela esteja fechada em si, sendo generalizante, faltando

uma auto crítica do conhecimento. Propõe esta autocrítica do conhecimento através

da reforma do pensamento que supera a si mesmo, funde a idéia de sistema em um

conceito complexo de unidade no múltiplo e percebe que a organização não é

apenas ordem (estrutura) mas também desordem (FLORIANI, KNECHTEL, 2003).

4.4. FRITJOF CAPRA

Fritjof Capra é um físico teórico e escritor que desenvolve trabalho na

promoção da educação ecológica, tendo a organização em forma de rede como

base no sistema vivo. Propõe uma abordagem sistêmica auto organizadora para os

sistemas vivos que seja unificadora.

Capra tornou-se mundialmente famoso com O Tao da Física (1995), traduzido

para vários idiomas. Nele, traça um paralelo entre a física moderna (relatividade,

física quântica, física das partículas)e as filosofias e pensamentos orientais

tradicionais, como o taoísta de Lao Tsé, o Budismo (incluindo o zen) e o Hinduismo.

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Nesta obra, o autor busca os pontos comuns entre as abordagens oriental e

ocidental da realidade, passando da visão sectária de ciência para uma visão mais

abrangente da mesma.

As relações de maior importância neste livro não eram a relação descritiva

dos avanços da ciência, em si, e nem a descrição dos insights dos místicos para

Capra, era um algo mais :

O reconhecimento das semelhanças entre a física moderna e o misticismo oriental faz parte de um movimento muito maior, de uma mudança fundamental de visões de mundo, ou paradigmas, na ciência e na sociedade, que agora estão se manifestando por toda a Europa e América, e que implica uma profunda transformação cultural. Esta transformação, esta profunda mudança de consciência, é o que as pessoas sentiram intuitivamente nas últimas duas ou três décadas, e é por isso que O Tao da Física tangeu uma corda tão sensível" (CAPRA 1995, p. 241).

Outro livro seu tornou-se referência para o pensamento sistêmico: O ponto de

mutação (1992), cujo nome foi extraído de um hexagrama do I Ching. Nele Capra

compara o pensamento cartesiano, reducionista, modelo para o método científico

desenvolvido nos últimos séculos, e o paradigma emergente do século XX, holista

ou sistêmico (que vê o todo como indissociável, de modo que o estudo das partes

não permite conhecer o funcionamento do organismo). Em vários campos da cultura

ocidental atual, como a medicina, a biologia, a psicologia e a economia, Fritjof Capra

desenvolve uma compreensão sistêmica e unificada que integra as dimensões

biológicas, cognitivas e sociais da vida e demonstra claramente que a vida, em todos

os seus níveis, é inextricavelmente interligada por redes complexas.

Para o autor, no decorrer deste novo século, dois fenômenos específicos

terão um efeito decisivo sobre o futuro da humanidade, sendo que ambos se

desenvolvem em rede e estão ligados a uma tecnologia radicalmente nova.

O primeiro é a ascensão do capitalismo global, composto de redes eletrônicas

de fluxos de finanças e de informação; o outro é a criação de comunidades

sustentáveis baseadas na alfabetização ecológica e na prática do projeto ecológico,

compostas de redes ecológicas de fluxos de energia e matéria. A meta da economia

global é a de elevar ao máximo a riqueza e o poder de suas elites; a do projeto

ecológico, a de elevar ao máximo a sustentabilidade da teia da vida.

Atualmente, esses dois movimentos encontram-se em rota de colisão: ao

passo que cada um dos elementos de um sistema vivo contribui para a

sustentabilidade do todo, o capitalismo global baseia-se no princípio de que ganhar

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dinheiro deve ter precedência sobre todos os outros valores. Com isso, criam-se

grandes exércitos de excluídos e gera-se um ambiente econômico, social e cultural

que não apóia a vida, mas a degrada, tanto no sentido social quanto no sentido

ecológico.

Neste sentido de aproximar o cultural com o social para uma estrutura

conceitual unificada Capra, procura unificar os sistemas:

Dessa maneira para Capra, as ciências deverão buscar integrar-se, sem perder suas

especificidades, embora não faça mais sentido discutir a vida e a matéria desligadas das

formas e dos modelos interpretativos dos sistemas sócio-culturais (FLORIANI, KNECHTEL,

2003 p.16).

Capra assim torna-se essencial para entendermos as conexões entre as

ciências tidas como normais e outros modos de ciência baseada no conhecimento

não científico em uma visão unificadora, com esta visão ele se aproxima mais a

Bertalanffy e a teoria geral do sistema.

Estes autores possuem em suas teorias conceitos chaves para entendermos

esta nova forma de pensar as ciências e a vida, que buscam uma interação entre as

diferentes formas de conhecimento.

Kuhn coloca a noção de ciência como um conhecimento, um paradigma,

enquanto Bertalanffy com sua teoria geral do sistema é o primeiro a colocar a

abordagem sistêmica em pauta, mas sua teoria contêm algumas insuficiências ao

totalizar este mesmo sistema, pois, deixa de fora pontos complexos como os

destacados por Morin. È neste sentido que Capra se aproxima mais de Bertalanffy

do que Morin, pois também em sua análise não leva em conta sistemas abertos que

interfiram no real, rumo a um destino incerto. Enquanto Morin buscando um

pensamento que supere a si mesmo, entende os sistemas em um conceito

complexo, chegando a ser até hipercomplexo, elevando o sistema a um novo

estágio de percepção.

Essa percepção da análise dos autores nos dá base para um realinhamento

das teorias, e classificação dos programas.

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29

5. PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO

Os programas de pós-graduação tendem a ser mais completos, pois neste

nível institucional o conhecimento se torna mais abrangente e unificador de

conceitos. Neste sentido que foi escolhido este nível de conhecimento, através de

uma inserção qualitativa e não quantitativa devido ao grau da pesquisa.

Os programas a serem observados foram escolhidos também pelo critério de

possuírem caráter interdisciplinar sobre meio ambiente e desenvolvimento, isto é,

aqueles que atuam em região de conhecimento de fronteira, entre as ciências da

vida, da natureza e da sociedade.

Outra distinção passa por instituições de diferentes características e regiões

no objetivo de uma maior abrangência de conhecimentos.

5.1. APRESENTAÇÃO DOS PROGRAMAS

1. Mestrado em Tecnologia da instituição CEFET-PR.

Este programa detém uma linha de pesquisa em Tecnologia & Integração, e

Tecnologia & Trabalho. Nesta linha de pesquisa, o programa objetiva-se, através de

métodos de análise diagnóstico, avaliar o impacto tecnológico e de novos padrões

de atividades de trabalho na sociedade e no meio ambiente. Procura-se investigar,

desde a ergonomia do ambiente de trabalho e o design do produto até a

organização, projeto e desenvolvimento do produto final, as possibilidades de reduzir

os impactos negativos do homem sobre o meio, tendo como objetivo a procura de

uma maior racionalidade no uso da tecnologia.

Também constitui objeto de pesquisa todo o campo de análise sobre as

condições institucionais, empresariais e individuais para a geração de tecnologias,

onde a inovação, a criatividade e o empreendedorismo são temas centrais. Estas

três dimensões desdobram-se em: formação e educação como geradoras de mentes

inovadoras; conhecimento tecnológico e das formas de gestão capazes de gerar

empresas inovadoras; e condições institucionais gerais criadoras de sociedades e de

indivíduos empreendedores.

No desenvolvimento, aplicação e transferência de tecnologia, será tema de

estudos e pesquisas a adequação sócio-econômica ambiental das mesmas, tendo

em vista a absorção de tecnologias inovadoras. Parte-se do princípio de que a

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adequação de novas tecnologias deve ter como objetivo primordial a melhoria das

condições de trabalho e da qualidade de vida da população. Ainda quanto ao uso e

aplicação da tecnologia, será investigada a variável ambiental, visando o

Desenvolvimento Sustentável. Os principais temas de interesse desta linha de

pesquisa são: Desenvolvimento Regional, Gestão Ambiental e Gestão de

Tecnologia.

2. Mestrado e Doutorado em Vigilância Sanitária da instituição FIOCRUZ fundação

Oswaldo Cruz

Este programa abrange os seguintes temas:

a - Avaliação de contaminantes poluentes e resíduos e seus impactos sobre a saúde

da população: a relevância desta linha de pesquisa está na possibilidade de

capacitar profissionais a analisar criticamente a problemática das contaminações

químicas e biológicas a que estão sujeitos os produtos, propiciando uma visão global

e interdisciplinar.

Área de concentração: Qualidade de Produtos em Saúde

b - Desenvolvimento e avaliação interdisciplinar dos produtos serviços e ambientes

vinculados à vigilância sanitária: o objetivo é demonstrar que a política sanitária e os

conceitos e metodologias em Saúde Pública integralizam as ações de controle da

qualidade de produtos.

Área de concentração: Qualidade de Produtos em Saúde

3. Mestrado e Doutorado em Ecologia e Agrossistemas da instituição Luiz De

Queiroz – USP.

Este programa detém uma linha de pesquisa que abrange os seguintes

temas: Ecologia de Agrossistemas: Biotecnologia Ambiental; Ecotoxicologia;

Sistemas Sustentáveis de Produção.

Modelagem Ambiental: Bioestatística; Biogeoquímica; Geoprocessamento.

Biologia da Conservação: Manejo da Vida Silvestre; Recuperação de Áreas

Degradadas.

Ambiente e Sociedade: Mídia e Conservação, Sociedade e Conservação.

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4. Programa de Pós-Graduação em Gestão e Políticas Ambientais da instituição

UFPE.

A questão principal deste programa é: Gestão e Políticas Ambientais, e Sua

linha de pesquisa se dedica a estes temas: Biodiversidade e Sociedade; Gestão de

Recursos Hídricos; Ambiente Rural e Urbano e Exclusão Social; Educação

Ambiental; Mídia e Conhecimento; Tecnologia Ambiental para o Desenvolvimento

Sustentável.

5. Mestrado e Doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento da instituição

UFSC(1).

Este programa detém uma linha de pesquisa que enfoca os seguintes temas:

comunicação, captação e produção de informação e conhecimento;

empreendedorismo e inovação tecnológica; engenharia de sistemas de

conhecimento: concepção e desenvolvimento; gestão do conhecimento da

sustentabilidade; gestão do conhecimento nas organizações; mídia e conhecimento

na educação; organização, representação e extração de conhecimento; pesquisa e

desenvolvimento em inteligência computacional; tecnologias em mídia e

conhecimento.

6. Mestrado em Agrossistemas da instituição UFSC (2).

Este programa detém uma linha de pesquisa em habilidade em

agrossistemas, desenvolvimento sustentável do espaço rural e da unidade de

produção agrícola e economia da mudança técnica na agricultura.

7. Mestrado em Saúde e Meio Ambiente da Instituição UNIVILLE – SC.

Este programa faz parte de um projeto maior que é o Programa Planejamento

Em Saúde e Ambiente;

Nesta linha de pesquisa, o programa objetiva-se a observar como são

utilizados os recursos hídricos: fazer um diagnóstico, uma avaliação e um

planejamento em saúde e ambiente; e um terceiro ponto apresentado pelo programa

leva a questão entre ambiente, saúde e sociedade; e por último com uma visão da

biotecnologia aplicada à saúde e ao ambiente.

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8. Mestrado e Doutorado em Ciência Ambiental - PROCAM da instituição USP.

Este programa detém uma linha de pesquisa em dois pontos:

a) A biodiversidade como trunfo no processo de desenvolvimento levando em conta

as instituições e os atores;

b) Mudanças climáticas: ameaças e oportunidades. Aprimorando a gestão de

recursos comuns, com suas dimensões institucionais, sociais e territoriais.

Esta é apenas uma apresentação dos mesmos, cabe agora a tarefa de

analisá-los, para buscar um entendimento, através de suas bibliografias e suas

abordagens sobre sociedade-natureza.

Aqui percebe-se que os programas a serem trabalhados possuem todos em

suas essências, questões de cunho interdisciplinar, apesar de suas especificidades.

A partir deste ponto poderia sugerir que sua análise seria inútil, pois uma vez que

sua premissa já o classifica como tal.

Porém a análise se faz necessária, pois esta premissa só pode ser

confirmada pelo funcionamento e desenvolvimento destes programas, levando a

uma superação do conceito de sociedade/natureza como uma forma estática. E

como citado anteriormente esta interdisciplinaridade só consegue ser observada nas

interações do mesmo, e não pelo seu conceito teórico.

Estes programas possuem características parecidas no ponto de vista de uma

interdisciplinaridade e de tratar as disciplinas dentre as suas mútuas interações, mas

para uma análise mais profunda, eles se distanciam quanto ao seu conteúdo.

Uma aproximação seria possível em alguns destes programas (citados acima)

por possuírem temas em comum, como tecnologia para os programas 1 e 5, saúde

para os programas 2 e 7 e agrossistema para os programas 3 e 6, sendo que

quando os aprofundamos um pouco mais aparece o caráter de cada um. O

programa 3 é ligado ao agrobusiness enquanto o 6 é de uma linha mais agro

ecológica. A partir deste viés pode-se ter parâmetros comparativos para estes

mesmos programas.

5.2. ANÁLISE DOS PROGRAMAS

A partir destes oito programas citados, a pesquisa se direcionou para a

análise das disciplinas dos mesmos, com suas ementas, para ver se condiziam com

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o intuito da mesma que é uma nova visão de ciência, da mútua interação entre

sociedade e natureza, ciências naturais e ciências humanas.

A análise das bibliografias dos programas analisados nos leva a 23 autores

que possuem inserções em mais de uma disciplina e que se repetem entre eles, esta

qualificação da pesquisa encontra-se na metodologia. Estes autores vêm de várias

áreas do conhecimento, tanto das ciências consideradas naturais quanto das

ciências humanas.

Nosso objetivo aqui é, através da observação dos autores e suas bibliografias

nos programas de pós-graduação, entender qual linha de pensamento estes

programas seguem, e qual forma de conhecimento, está “em moda” nas instituições.

Através da corrente de pensamento dos autores pretende-se encaminhar-se

as tendências de análise da ciência e do mundo real, sendo essa a relevância para

qual a selecionamos.

TABELA 1. FREQÜÊNCIA DOS AUTORES E SUA ÁREA DE PENSAMENTO.

2. AUTOR 3. AREA 4. FREQÜÊNCIA 5. FREQUÊNCIA

6. 7. 8. instituição 9. Geral Programas

10. ALEXANDER, M. 11. MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

12. LUIZ DE QUEIROZ USP

13. UFSC(2)

14.

15. ARAÚJO, R. S , 16. MICROBIOLOGIA AGRICOLA

17. LUIZ DE QUEIROZ USP

18. UFSC(2)

19.

20. AZEVEDO, J.L. 21. BIOTECNOLOGIA 22. LUIZ DE QUEIROZ USP

23. UNIVILLE

24.

25. BENJAMIN, ANTÔNIO HERMAN26. DIREITO AMBIENTAL27. UFPE 28. PROCAM – USP

29.

30. BERTALANFFY, LUDWIG VON31. ORGÂNICA/SISTEMICA32. CEFET 33. UFSC(2)

34.

35. BRUCE, ALBERTS 36. BIOLOGIA MOLECULAR

37. FIOCRUZ 38. UNIVILLE

39.

40. CAVALCANTI, CLÓVIS 41. ECONOMIA ECOLÓGICA

42. LUIZ DE QUEIROZ USP

43. UFPE 44. UFSC(1) 45. UNIVILLE

46.

47. CAPRA, FRITJOF 48. HOLISMO 49. CEFET 50. UFSC(1)

51.

52. DAVENPORT, THOMAS. H. 53. ORGÂNICA/SISTEMICA54. CEFET 55. UFSC(1)

56.

57. DEMO, PEDRO 58. METODOLÓGICO 59. CEFET 60. UNIVILLE

61.

62. EVERNDEN, NEIL. 63. ECOFENOMENOLOGIA64. LUIZ DE QUEIROZ USP

66.

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65. PROCAM – USP 67. GADOTTI, MOACIR 68. ECOPEDAGOGIA 69. LUIZ DE QUEIROZ

USP 70. UNIVILLE

71.

72. GOLLEY, F. B. 73. ECOSSISTEMAS 74. LUIZ DE QUEIROZ USP

75. PROCAM – USP

76.

77. HEEMANN, ADEMAR 78. ÉTICA E NATUREZA 79. CEFET 80. UNIVILLE

81.

82. KUHN, THOMAS. 83. EPISTEMOLOGIA 84. CEFET 85. PROCAM – USP

86.

87. LAKATOS, EVA M. 88. METODOLÓGICO 89. UFPE 90. PROCAM – USP

91.

92. LÉVY, P 93. COGNIÇÃO 94. LUIZ DE QUEIROZ USP

95. UFSC(1)

96.

97. MACHADO, PAULO AFONSO

LEME

98. DIREITO AMBIENTAL99. UFSC(1) 100. PROCAM – USP

101.

102. MORAN, EMILIO 103. ECOLOGIA CULTURAL

104. LUIZ DE QUEIROZ – USP

105. PROCAM – USP

106.

107. MORIN, EDGAR 108. COMPLEXIDADE (TEORIA)

109. UNIVILLE 110. PROCAM – USP

111.

112. ODUM, E.P. 113. ECOLOGIA (CLÁSSICA)

114. LUIZ DE QUEIROZ – USP

115. PROCAM – USP

116.

117. PAULI, GUNTER. 118. ECONOMIA ECOLÓGICA

119. CEFET 120. UNIVILLE

121.

122. SOKAL, R.R. 123. BIOGENÉTICA 124. LUIZ DE QUEIROZ – USP

125. PROCAM – USP

126.

A partir da seleção e análise da inserção dos autores nos programas,

definimos categorias de classificação dos mesmos por áreas que percorrem um

leque de conhecimentos diversos, não tomando apenas um tema, mesmo que este

fosse interdisciplinar.

Os autores passam desde áreas mais específicas das ciências consideradas

naturais (Microbiologia Agrícola), das ciências humanas (ecologia cultural) à uma

transdisciplinaridade (Complexidade).

Estas áreas em que os autores estão inseridos, servem por caracterizar, o

conteúdo teórico dos programas, como a área do direito ambiental está mais

próximo ao programa 6, que tem características de gestão pública ambiental. A área

de microbiologia agrícola já se aproxima dos programas 3 e 6, relacionados a

agricultura. Deste ponto de vista do autor e da área de conhecimento que ele atua,

caracteriza o programa, aonde ele está inserido.

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35

A grande inserção destes autores vêm ao encontro da característica dos

programas, que tendem a tornar a estrutura interdisciplinar primordial para o seu

conjunto de análise.

A interdisciplinaridade necessita de uma construção pelo programa e pelas

pessoas que agem e interagem com ele, pois como as disciplinas não podem ser

estáticas, as formas como são trabalhadas também deverão ser dinâmicas,

necessitando interagir entre si. Uma dicotomia entre sujeito e objeto, não permite ir

além das lógicas dualistas da pesquisa e de visão de mundo.

TABELA 2. AUTORES E DISCIPLINAS NOS PROGRAMAS.

127. AUTOR 128. DISCIPLINAS 129. INSTITUIÇÃO

130. ALEXANDER, M. 131. ·Ecotoxicologia 132. ·Microbiologia E Biotecnologia do Solo 133. ·Microbiologia Molecular Ambiental 134. ·Degradação de Poluentes 135. ·Ecologia de Organismos do Solo 136. ·Capacidade Produtiva do Solo 137.

138. LUIZ DE QUEIROZ – USP

139. UFSC(2)

140. ARAÚJO, R. S , 141. ·Ecologia de Organismos do Solo 142. ·Microbiologia e Biotecnologia Do Solo 143. ·Ecologia Experimental de Microrganismos 144.

145. LUIZ DE QUEIROZ – USP

146. UFSC(2)

147. AZEVEDO, J.L. 148. ·Biotecnologia Aplicada a Saúde e ao Meio Ambiente149. ·Cinética de Processos Fermentativos e Enzimátic150. ·Ecologia Experimental de Microrganismos 151. ·Ecotoxicologia 152. ·Microbiologia Molecular Ambiental 153. ·Degradação De Poluentes 154.

155. LUIZ DE QUEIROZ – USP

156. UNIVILLE

157. BENJAMIN, ANTÔNIO

HERMAN

158. ·Avaliação e Controle de Impactos Ambientais 159. ·Direito Ambiental 160. ·Políticas Sociais, Sustentabilidade e Gênero 161.

162. UFPE 163. PROCAM – USP

164. BERTALANFFY, LUDWIG

VON

165. ·Paisagens Agrícolas, Agrossistemas e Ambiente166. ·Pensamento Sistêmico e Prática Sistêmica 167. ·Tecnologia e Meio Ambiente 168. ·Desenvolvimento Tecnológico Sustentável 169.

170. CEFET 171. UFSC(2)

172. BRUCE, ALBERTS 173. ·Biologia Celular e Molecular 174. ·Mecanismos de Saúde E Doença 175. ·Caracterização Molecular de Microrganismos 176. ·Introdução À Biologia Molecular 177. 178.

179. FIOCRUZ 180. UNIVILLE

181. CAVALCANTI, CLÓVIS 182. ·Educação Ambiental e Cidadania 183. ·Saúde, Sociedade e Meio Ambiente 184. ·Economia de Sustentabilidade 185. ·Políticas Sociais, Sustentabilidade e Gênero 186. ·Tópicos Especiais em Gestão Ambiental 187. ·Educação, Ambiente e Floresta 188. ·Educação, Ambiente e Sociedade 189.

190. LUIZ DE QUEIROZ – USP

191. UFPE 192. UFSC(1) 193. UNIVILLE

194. CAPRA, FRITJOF 195. ·Métodos e Técnicas na Gestão da Sustentabilidade196. ·Tecnologias Sustentáveis

199. CEFET 200. UFSC(1)

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197. ·Desenvolvimento Tecnológico Sustentável 198.

201. DAVENPORT, THOMAS.

H.

202. ·Introdução a Engenharia e Gestão do Conhecimento

203. ·Introdução a Engenharia de Sistemas de Informação

204. ·Métodos e Técnicas de Gestão do Conhecimento205. ·Modelagem de Sistemas 206. ·Estudos em Gestão do Conhecimento 207. ·Gestão da Informação Tecnológica 208.

209. CEFET 210. UFSC(1)

211. DEMO, PEDRO 212. ·Seminários Avançados 213. ·Metodologia da Pesquisa 214. ·Educação Ambiental e Cidadania 215. ·Métodos e Técnicas da Pesquisa 216.

217. CEFET 218. UNIVILLE

219. EVERNDEN, NEIL. 220. ·Fundamentos Históricos e Epistemológicos do Estudo das Relações Homem-Natureza

221. ·Imagens da Natureza: Representações Simbólicas do Mundo Natural.

222. ·Imagens da Natureza Na Mídia 223.

224. LUIZ DE QUEIROZ – USP

225. PROCAM – USP

226. GADOTTI, MOACIR 227. ·Educação Ambiental e Cidadania 228. ·Educação e Comunicação na Questão Ambiental229. ·Educação, Ambiente e Floresta 230. ·Educação, Ambiente e Sociedade 231.

232. LUIZ DE QUEIROZ – USP

233. UNIVILLE

234. GOLLEY, F. B. 235. ·Manejo de Comunidades Vegetais e Recomposição236. ·Ciclagem de Nutrientes em Florestas 237. ·Ecologia de Ecossistemas 238.

239. LUIZ DE QUEIROZ – USP

240. PROCAM – USP

241. HEEMANN, ADEMAR 242. ·Saúde, Sociedade e Meio Ambiente. 243. ·Metodologia da Pesquisa 244. ·Ciência, Tecnologia e Ética: A Objetividade

Científica e as Implicações Axiológicas. 245.

246. CEFET 247. UNIVILLE

248. KUHN, THOMAS. 249. ·Desenvolvimento Tecnológico Sustentável 250. ·Tecnologia e Meio Ambiente 251. ·Metodologia Sistêmico-Holística na

Interdisciplinaridade Ambiental 252. ·Teoria e Prática da Pesquisa Científica

Interdisciplinar. 253. ·Teoria e Prática da Pesquisa Interdisciplinar

Ambiental 254.

255. CEFET 256. PROCAM – USP

257. LAKATOS, EVA M. 258. ·Teoria e Prática da Pesquisa Científica Interdisciplinar.

259. ·Teoria e Prática da Pesquisa Interdisciplinar Ambiental

260. ·Métodos e Técnicas de Pesquisa 261. ·Seminários de Intregração 262.

263. UFPE 264. PROCAM – USP

265. LÉVY, P 266. ·Introdução a Mídia e Conhecimento 267. ·Introdução as Ciências da Cognição 268. ·Educação e Comunicação na Questão Ambiental269.

270. LUIZ DE QUEIROZ – USP

271. UFSC(1)

272. MACHADO, PAULO

AFONSO LEME

273. ·Avaliação e Controle de Impactos Ambientais 274. ·Direito Ambiental 275. ·Estudos Comparativos em Avaliação de Impacto

Ambiental: Canadá, França, Brasil. 276. ·Legislação Ambiental Aplicada 277. ·Política Nacional do Meio Ambiente 278. ·Avaliação e Controle de Impactos Ambientais 279. ·Economia de Sustentabilidade 280. ·Princípios Legais Para o Desenvolvimento

Sustentável 281.

282. UFSC(1) 283. PROCAM – USP

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37

284. MORAN, EMILIO 285. ·Estudos Ambientais: Ecologia Humana e Análise Institucional

286. ·Homem, Meio Ambiente e Sociedade 287. ·Antropologia 288. ·Ecologia Evolutiva Humana 289.

290. LUIZ DE QUEIROZ – USP

291. PROCAM – USP

292. MORIN, EDGAR 293. ·Homem, Meio Ambiente e Sociedade 294. ·Imagens da Natureza: Representações Simbólicas

do Mundo Natural. 295. ·Meio Ambiente: Ciência, Sociedade e Educação 296. ·Potencialidades e Gestão Ambiental 297. ·Sociedade e Meio Ambiente 298. ·Educação Ambiental e Cidadania 299.

300. UNIVILLE 301. PROCAM – USP

302. ODUM, E.P. 303. ·Biodiversidade: Ecologia e Evolução 304. ·Ecologia a Ciência Ambiental 305. ·Ecologia de Povoamentos Faunísticos e Avaliação

de Impactos Ecológicos 306. ·Sistemas Ecológicos 307. ·Terra e Ecologia 308. ·Ciclagem de Nutrientes em Florestas 309. ·Entomologia Florestal 310.

311. LUIZ DE QUEIROZ – USP

312. PROCAM – USP

313. PAULI, GUNTER. 314. ·Tecnologia E Meio Ambiente 315. ·Tecnologias Sustentáveis 316. ·Gestão Ambiental 317. ·Sistemas de Tratamento de Resíduos 318.

319. CEFET 320. UNIVILLE

321. SOKAL, R.R. 322. ·Métodos de Classificação Numérica 323. ·Técnicas de Análise Ambiental 324. ·Ecologia de Populações 325. ·Ecologia e Conservação de Vida Silvestre

326. LUIZ DE QUEIROZ – USP

327. PROCAM – USP

Em uma outra análise procuramos confrontar os autores com as disciplinas

onde eles eram citados, e se respondia ao interesse da mesma. Se esta visão das

disciplinas em si (tabela 2) tem conexão com o pensamento do autor e com sua

teoria (tabela 1), No intuito de caracterizar as idéias em voga nos programas.

Com a análise das disciplinas em relação aos autores e instituições fica mais

claro os conceitos dos programas e como eles interagem com a realidade, nas

mútuas interações com o tema interdisciplinar, o que consta que as disciplinas

possuem de fato um tema que busca as relações entre sociedade-natureza, de

relevância tanto para as humanidades e para as ciências naturais.

Os autores agora estão cada vez mais próximos de sua linha de pensamento,

pois além da análise da sua área de pesquisa agora também temos dados das

disciplinas por eles trabalhados. O tema de interesse do autor reflete nas disciplinas

a serem estudadas pelos programas, e consequentemente no seu interesse como

um todo.

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38

As concepções dos programas citados em suas apresentações8 ficam mais

explícitos agora que podemos observar os autores, em suas áreas e nas disciplinas

que eles atuam e consequentemente os próprios programas.

Com o intuito de uma maior especificidade dos conceitos dados pelas

disciplinas organizamos mais uma carga de tabelas que possuem o confronto de

palavras-chaves, com as disciplinas, e que tipo de abordagem elas possuem, de

relevância para este novo paradigma epistemológico, onde para entender os

problemas relacionados à sociedade e natureza levam em conta a superação desta

visão compartimentada de ciência.

Estas palavras chaves foram confrontadas tanto quanto aos títulos das

disciplinas quanto a sua ementa, e os objetivos, sempre no intuito não apenas de

analisar a palavra em si, mas sim no contexto que ela se insere através desta

mesma visão interdisciplinar.

Com isso buscamos uma identificação entre as diversas disciplinas dos

programas, através de um ponto comum que será esta própria palavra. Temas

considerados de relevância, para uma visão interdisciplinar de sociedade e natureza,

podem ser identificados nas disciplinas através destas não somente palavras, mais

conceitos chaves.

Os critérios para a montagem e análise das tabelas levam em conta a

estrutura das disciplinas, com sua ementa, objetivos e seleção dos autores, a partir

destas premissas, e de como o programa as encaminha podemos classificá-las

quanto a sua abordagem.

TABELA 3. CONCEITOS E ABORDAGENS DAS DISCIPLINAS.

TABELA 3.1.CEFET 328. 329. 330. ABORDAGEM 331. Palavras-Chaves 332. Disciplinas 333. disciplin

ar 334. Sócio

ambiental335. Cultura • Dimensões Sócio-Culturais da Tecnologia 336. 337. X 338. Desenvolvimento • Desenvolvimento Tecnológico Sustentável

• Dimensões Sócio-Culturais da Tecnologia • Educação, Tecnologia e Sociedade • Tecnologia e Meio Ambiente • Tecnologias Sustentáveis

339. X 340.

341. 342.

343. X 344.

345. X 346. X 347. X

348. Globalização • Novas Tecnologias de Produção e Educação do Trabalhador

349. X 350.

352.

8 Áreas de conhecimento dos programas: 1Tecnologico; 2Saúde; 3Agrossistemas; 4Gestão Ambiental; 5Conhecimento e Tecnologia; 6 Agrossistemas; 7Saude; 8Ecologia.

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39

• Tecnologia de Sistemas Produtivos 351. X 353. Interdisciplinaridad

e • Metodologia da Pesquisa • Processos Educacionais e Formação

Tecnológica

354. X 355. X 356.

357.

358. Meio ambiente • Tecnologia e Meio Ambiente 359. 360. X 361. Modernidade/Pós

modernidade 362. 363. 364.

365. Natureza • Ciência, tecnologia e ética: a objetividade científica e as implicações axiológicas

• Tecnologia e Meio Ambiente

366. X 367. 368. 369.

370. X 371. Sustentabilidade • Tecnologia e Meio Ambiente

• Tecnologias Sustentáveis • Ciência, tecnologia e ética: a objetividade

científica e as implicações axiológicas

372. 373.

374. X

375. X 376. X

FIOCRUZ Da fundação Oswaldo Cruz, não houve correspondência entre as palavras

chave e as disciplinas desta instituição.

TABELA 3.2. LUIZ DE QUEIROZ – USP 377. 378. 379. ABORDAGEM 380. Palavras-Chaves 381. Disciplinas 382. disciplin

ar 383. Sócio

ambiental384. Cultura • Antropologia

• Educação e Comunicação na Questão Ambiental

• Ecologia Evolutiva Humana • Imagens da Natureza na Mídia

385. X386. 387.

388. X389. X

390. 391. X

392. Desenvolvimento • Ecologia Evolutiva Humana • Ecologia Temática • Educação e Comunicação na Questão

Ambiental • Planejamento Ambiental

393. X394. X395. 396.

397. X

398. 399.

400. X

401. Globalização • Educação e Comunicação na Questão Ambiental

• Imagens da Natureza na Mídia

402. 403.

404. X

405. X

406. Interdisciplinaridade

407. 408. 409.

410. Meio ambiente • Antropologia • Ecotoxicologia • Educação, Ambiente e Floresta • Educação, Ambiente e Sociedade • Evolução • Imagens da Natureza na Mídia • Radioatividade no Ambiente

411. X412. X413. 414.

415. X416. X417. X

418. 419.

420. X421. X

422. Modernidade/Pósmodernidade

423. 424. 425.

426. Natureza • Antropologia • Ciclagem de Nutrientes em Florestas • Controle Biológico de Pragas • Imagens da Natureza na Mídia

427. X428. X429. X

430. 431. 432.

433. X

434. Sustentabilidade435. 436. 437.

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40

TABELA 3.3.UFPE 438. 439. 440. ABORDAGEM 441. Palavras-Chaves 442. Disciplinas 443. disciplin

ar 444. Sócio

ambiental445. Cultura 446. 447. 448. 449. Desenvolvimento • Biologia da Conservação

• Economia Ambiental • Estudos de Impacto Ambiental • Gestão dos Recursos Genéticos e

Biodiversidade • Política Ambiental: Ambiente e Sociedade• Políticas Sociais, Sustentabilidade e

Gênero

450. X451.

452. X453.

454. 455. X456.

457. X458.

459. X460.

461. X

462. Globalização • Política Ambiental: Ambiente e Sociedade 463. 464. X465. Interdisciplinaridad

e 466. 467. 468.

469. Meio ambiente • Direito Ambiental • Políticas Sociais, Sustentabilidade e

Gênero • Tecnologia Ambiental

470. X471. 472.

473. X

474. 475. X

476. Modernidade/Pósmodernidade

477. 478. 479.

480. Natureza • Gestão dos Recursos Genéticos e Biodiversidade

• Política Ambiental: Ambiente e Sociedade

481. 482. X483.

484. X485.

486. Sustentabilidade • Fundamentos em Ciências Ambientais • Política Ambiental: Ambiente e Sociedade

(obrigatória) • Políticas Sociais, Sustentabilidade e

Gênero

487. X 488. 489. X490.

491. X492.

TABELA 3.4.UFSC 493. 494. 495. ABORDAGEM 496. Palavras-Chaves 497. Disciplinas 498. disciplin

ar 499. Sócio

ambiental500. Cultura • Empreendedorismo em Organizações do

Conhecimento • Empreendedorismo Social • Métodos e Técnicas na Gestão da

Sustentabilidade • Organizações Intensivas em

Conhecimento

501. X502.

503. X504. 505.

506. X

507. 508. 509.

510. X

511. Desenvolvimento • Economia de Sustentabilidade • Ecossistemas Naturais e Antropogênicos• Gestão por Competências • Métodos e Técnicas na Gestão da

Sustentabilidade • Princípios Legais para o Desenvolvimento

Sustentável

512. 513. X514. X

515. X516. 517. 518.

519. X520.

521. X

522. Globalização 523. 524. 525. 526. Interdisciplinaridad527. 528. 529.

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41

e 530. Meio ambiente • Engenharia e Gestão de Custos

Sustentáveis • Gestão de Sustentabilidade na Sociedade

do Conhecimento • Princípios Legais para o Desenvolvimento

Sustentável

531. X 532. 533.

534. X535.

536. X

537. Modernidade/Pósmodernidade

538. 539. 540.

541. Natureza • Ecossistemas Naturais e Antropogênicos• Métodos e Técnicas na Gestão da

Sustentabilidade

542. X 543. 544. X

545. Sustentabilidade • Economia de Sustentabilidade • Gestão de Sustentabilidade na Sociedade

do Conhecimento • Métodos e Técnicas na Gestão da

Sustentabilidade

546. 547. X548. X549.

550. X

TABELA 3.5.UFSC 2 551. 552. 553. ABORDAGEM 554. Palavras-Chav 555. Disciplinas 556. disciplin

ar 557. Sócio

ambiental558. Cultura • Antropologia cultural

• Origens e evolução da agricultura • Relações referenciais em processos

produtivos e sócio-culturais.

559. X560. X561. X

562.

563. Desenvolvimento • Agricultura Familiar • Agricultura orgânica:dimensões sócio

econômicas • Desenvolvimento Rural e Atores • Desenvolvimento rural: teorias e

construções sociais • Estado, Políticas Públicas e

Sustentabilidade • Processos Produtivos e Desempenho

Ambiental • Relações referenciais em processos

produtivos e sócio-culturais • Sociologia do meio ambiente rural

564. X565. 566.

567. X568. 569. 570. 571. 572.

573. X574. 575. 576.

577. X

578. 579. X580. 581.

582. X583.

584. X585. 586. 587.

588. X

589. Globalização 590. 591. 592. 593. Interdisciplinaridad

e 594. 595. 596.

597. Meio ambiente • Agroecologia • Sociologia do meio ambiente rural

598. 599. X

600. X601.

602. Modernidade/Pósmodernidade

603. 604. 605.

606. Natureza • Paisagens agrícolas, agrossistemas e ambiente

607. X 608.

609. Sustentabilidade

• Agroecologia • Estado, Políticas Públicas e

Sustentabilidade • Etologia aplicada à zootecnia • Origens e evolução da agricultura

610. 611. 612.

613. X614. X615.

616. X617. X

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42

TABELA 3.6.UNIVILLE 618. 619. 620. ABORDAGEM

621. Palavras-Chaves 622. Disciplinas 623. disciplinar624. Sócioambiental

625. Cultura • Planejamento e Gestão dos Sistemas de Serviços em Saúde

626. X 627.

628. Desenvolvimento • Desenvolvimento Sustentável e Planejamento Ambiental

• Gestão Ambiental • Saúde, Sociedade e Meio Ambiente • Educação Ambiental e Cidadania

629. 630.

631. X

632. X633. 634.

635. X636. X

637. Globalização 638. 639. 640. 641. Interdisciplinaridade642. 643. 644. 645. Meio ambiente • Bioética

• Saúde, Sociedade e Meio Ambiente • Biotecnologia Aplicada à Saúde e ao

Meio Ambiente

646. X 647. 648. X649. X650.

651. Modernidade/Pósmodernidade

• Educação Ambiental e Cidadania 652. 653. X

654. Natureza • Planejamento e Gestão dos Sistemas de Serviços em Saúde

• Saúde, Sociedade e Meio Ambiente

655. X 656. 657.

658. X659. Sustentabilidade • Desenvolvimento Sustentável e

Planejamento Ambiental 660. 661. X

TABELA 3.7.USP 662. 663. 664. ABORDAGEM

665. Palavras-Chaves 666. Disciplinas 667. disciplinar668. Sócioambiental

669. Cultura • A Condição Urbana: Aspectos PsicoSociais

• Bio-Sociodiversidade: Preservação Ambiental, Políticas Públicas e População na Amazônia

• Estudos Ambientais: Ecologia Humana e Análise Institucional

• Homem, Meio Ambiente e Sociedade • Imagens da natureza: representações

simbólicas do mundo natural • Potencialidades e Gestão Ambiental • Sociedade e Meio Ambiente

670. X 671. 672. 673. 674.

675. X 676. 677.

678. X 679.

680. X

681. 682.

683. X684. 685. 686. 687.

688. X689. 690. 691.

692. X

693. Desenvolvimento • Biodiversidade: Ecologia e Evolução • Bio-Sociodiversidade: Preservação

Ambiental, Políticas Públicas e População na Amazônia

• Direito Ambiental • Economia do Meio Ambiente • Homem, Meio Ambiente e Sociedade • Metodologia Sistêmico-Holística na

Interdisciplinaridade Ambiental • Poder Público e Meio Ambiente:

Impactos da Ação do Estado • Política Nacional do Meio Ambiente • Potencialidades e Gestão Ambiental

694. X 695. 696. 697.

698. X 699. 700. 701. 702.

703. X 704.

705. X 706.

707. X

708. 709. X710. 711. 712.

713. X714. X715. X716. 717. 718. 719. 720. 721.

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43

• Sociedade e Meio Ambiente 722. X723. Globalização • Potencialidades e Gestão Ambiental 724. X 725. 726. Interdisciplinaridade • Educação Ambiental – Evolução

Curricular • Estudos Ambientais: Ecologia Humana

e Análise Institucional • Metodologia Sistêmico-Holística na

Interdisciplinaridade Ambiental • Pesquisa em Meio Ambiente e

Interdisciplinaridade • Teoria e Prática da Pesquisa Científica

Interdisciplinar • Teoria e Prática da Pesquisa

Interdisciplinar Ambiental

727. X 728.

729. X 730. 731. 732. 733.

734. 735. 736. 737.

738. X739.

740. X741.

742. X743.

744. X

745. Meio ambiente • A Condição Urbana: Aspectos PsicoSociais

• Análise Ambiental Sistemática • Direito Ambiental • Ecologia à Ciência Ambiental • Economia do Meio Ambiente • Educação Ambiental e Cosmovisão

Unitiva • Fundamentos de Toxicologia • Homem, Meio Ambiente e Sociedade • Legislação Ambiental Aplicada • Meio Ambiente: Ciência, Sociedade e

Educação • Metodologia Sistêmico-Holística na

Interdisciplinaridade Ambiental • Pesquisa em Meio Ambiente e

Interdisciplinaridade • Poder Público e Meio Ambiente:

Impactos da Ação do Estado • Política Nacional do Meio Ambiente • Processos Intempéricos e Morfologia de

Regiões Tropicais • Seminário - Políticas Públicas de Meio

Ambiente no Brasil: Dimensões Nacional, Regional e Local da Ação do Estado.

• Sociedade e Meio Ambiente • Técnicas de Análise Ambiental • Teoria e Prática da Pesqu

Interdisciplinar Ambiental • Terra e Ecologia

746. X 747. 748.

749. X 750. X 751. 752. 753.

754. X 755.

756. X 757. 758. 759. 760. 761. 762. 763.

764. X 765.

766. X 767. X 768.

769. X 770. 771. 772. 773.

774. X 775. 776.

777. X 778.

779. 780.

781. X782. 783.

784. X785. X786. 787.

788. X789. 790.

791. X792.

793. X794.

795. X796. 797. 798. 799. 800. 801. 802. 803. 804. 805.

806. X807.

808. X

809. Modernidade/Pósmodernidade

810. 811. 812.

813. Natureza • Bio-Sociodiversidade: Preservação Ambiental, Políticas Públicas e População na Amazônia

• Educação Ambiental e Cosmovisão Unitiva

• Fundamentos Históricos e Epistemológicos do Estudo das Relações Homem-Natureza

• Imagens da natureza: representações simbólicas do mundo natural

• Interações Químicas entre Organismos

814. 815. 816. 817. 818. 819. 820. 821.

822. X 823. 824.

830. X831. 832.

833. X834.

835. X836. 837. 838. 839. 840.

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44

Marinhos • Metodologia Sistêmico-Holística na

Interdisciplinaridade Ambiental • Potencialidades e Gestão Ambiental • Sociedade e Meio Ambiente

825. X 826. 827.

828. X 829.

841. 842.

843. X844.

845. X846. Sustentabilidade • Biodiversidade: Ecologia e Evolução

• Ecologia à Ciência Ambiental • Sociedade e Meio Ambiente

847. X 848. X 849.

850. 851.

852. X

Com base nestes dados sugeridos por estas tabelas, conseguimos identificar

algumas especificidades dos programas analisados, além dos dados construídos

para elaboração das mesmas.

Conceitos que são híbridos e circulam em várias esferas do conhecimento,

como o conceito de meio ambiente, que a partir dessa nossa intervenção na teoria,

observamos sua inserção tanto em disciplinas das ciências naturais (Fundamentos

de Toxicologia9), ciências humanas (Antropologia10) e também nas disciplinas que

possuem mútuas interações (Sociologia do meio ambiente rural 11).

Conceitos como o de interdisciplinaridade e o de modernidade / pós –

modernidade que possuem pouca inserção nas disciplinas, ou em suas ementas

diretamente pelo uso de seu termo, mas que na verdade possuem um grande apelo

9 Esta disciplina do programa da Usp tem como seu objetivo fornecer a profissionais das mais variadas

formações, noções básicas de toxicologia, abordando o comportamento de diversos tipos de substâncias que podem estar presentes no meio ambiente e discutindo as suas fontes, distribuição ambiental, seus efeitos para os seres humanos e o ambiente em geral, cobrindo os aspectos de toxicidade aguda, crônica, mutagenicidade, carcinogenicidade e teratogenicidade. E possui em seu conteúdo noções básicas de toxicologia.; Contaminantes do ar: dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozona, oxodantes fotoquímicos, aerosóis, etc. Fontes, distribuição. Padrões. Efeitos sobre a saúde da população. Estudos de casos.; Metais pesados: cádmio, chumbo, mercúrio, cromo, arsênico, etc. Fontes. Comportamento ambiental. Biocumulação. Estudos de casos.; Praguicidas: organoclorados, fosforados, carbamados, etc. Usos. Efeitos agudos e crônicos. Persistência. ; Outros compostos orgânicos: PCB´s, PAH´s, etc. Fontes. Distribuição. Efeitos nos ecossistemas e no homem. ; Legislação de qualidade ambiental 10 Esta disciplina do programa LUIZ DE QUEIROZ – USP tem como objetivo abordar conceitos e tópicos fundamentais em Antropologia que podem contribuir para o entendimento das relações homem-meio, a partir do desenvolvimento da cultura, capacitando o aluno a enfocar a dimensão humana na análise dos agroecossistemas e utilizar como referencial em suas pesquisas, os métodos de pesquisa. E os modelos teóricos desse ramo do conhecimento. E o seu conteúdo caracteriza-se por analisar a Antropologia como Ciência – a natureza da investigação antropológica: relações entre o observador e o objeto de pesquisa - métodos de coleta de dados: observação participante, entrevista, história de vida - a construção dos dados etnográficos A Antropologia e o Estudo da Cultura. - da natureza à cultura -conceitos de cultura -cultura, construção do sentido e processo simbólico Abordagens Antropológicas Relativas à Relação Cultura x Natureza - ecologia cultural - antropologia ecológica - etnociência - antropologia econômica Cultura e o Estudo de Populações Tradicionais - a perspectiva holística e os aspectos êmico e ético da cultura - organização econômica e relações sociais - a antropologia no planejamento, implementação e avaliação de projetos Cultura e o Estudo das Sociedades Complexas - a sociedade industrial como cultura - a formação do sistema ciência- tecnologia - produção em massa e consumo de massa - racionalidade e instituições: a organização burocrática -reflexos sobre o meio ambiente 11 Esta disciplina do programa da UFSC(2) tem como seu objetivo estimular a análise e o debate integrando contribuições das ciências sociais e agrárias, nos conflitos e práticas que podem levar tanto a uma agricultura não sustentável quanto viabilizar o desenvolvimento rural sustentável com ênfase nos processos de produção, nas técnicas e nos processos de intervenção. E sua ementa constitui A problemática ambiental na sociologia rural. Os sócios-ecossistemas rurais. Tecnologias agrícolas e sua relação com o meio ambiente rural. Difusão e adoção de tecnologias agrícolas da perspectiva dos sócios-ecossistemas rurais. O desenvolvimento sustentado e as tecnologias apropriadas

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45

no contexto dos programas. Eles procuram por sua própria essência trabalhar com

estes conceitos, quando em suas diversas disciplinas as questões tanto da

sociedade quanto a da natureza aparecem interagindo mutuamente, através de um

novo paradigma da ciência.

Percebe-se também que o programa analisado de Mestrado e Doutorado em

Vigilância Sanitária da instituição FIOCRUZ da fundação Oswaldo Cruz, que por não

possuir nenhum destes conceitos, especificados em suas disciplinas, não o coloca

como de menor relevância, mas apenas de menor explicitação destes conceitos.

Por outro lado mostra que o programa de Mestrado e Doutorado em Ciência

Ambiental - PROCAM da instituição USP, possui um grande número destes

conceitos de relevância para suas disciplinas.

Estas análises não têm por foco qualificar os programas como melhores ou

piores, mas sim perceber como e a onde as interações ocorrem, com o intuito de

entender a interdisciplinaridade nos mesmos programas.

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46

6.CONCLUSÃO

Ao analisar as características dos programas de pós-graduação

interdisciplinares, das instituições de ensino brasileira, observa-se um processo de

modificação de um pensamento.

A abertura das ciências sociais para as ciências naturais mostra um novo

processo de “reencantamento” do mundo, mostrando as lacunas deixadas pela visão

compartimentada, buscando esta superação e a necessidade de buscar conceitos

híbridos voltados para a incerteza e a complexidade. O conhecimento e por

conseqüência a institucionalização do mesmo, ao tratar da questão ambiental,

defronta este conceito porque obriga os educadores a se educarem junto com os

educandos de forma autocrítica em uma perspectiva reflexiva.

Este novo paradigma emergente, está em uma fase de transição, assim como

os próprios programas aqui analisados. O que se observa em relação a

interdisciplinaridade é que ela não se coloca a priori no confronto dos dados.

Este trabalho está inserido neste novo viés epistemológico, que vem de uma

nova concepção de ciência pautada em um novo paradigma do saber. As

concepções cartesianas do mundo já não bastam para explicar este momento que

passa a humanidade. O pensamento moderno até então absoluto, se torna

insuficiente para tantas indagações que se afloram no campo epistemológico.

A construção deste pensamento se dá através das diversas experiências

vividas pelos programas e através das matrizes teóricas que buscam uma

formulação capaz de emergir uma problemática ambiental, seja ela sistêmica,

científica, ou uma superação das mesmas.

O pensamento agora se institucionaliza como forma de produção de novos

conhecimentos, fruto de uma grande discussão dos saberes. Os programas de pós-

graduação aqui trabalhados têm como premissa este entendimento da ciência e do

mundo.

Através de uma metodologia para a análise destes programas foi possível

observar as diversas disciplinas, autores e linhas de pensamentos que os fazem. O

cruzamento de dados quantitativos e qualitativos serviram para orientação e

formatação das tabelas, que além de sugerir conclusões retratam em si já este

recorte do conhecimento adquirido pela pesquisa, delimitando os mesmos em áreas

do conhecimento. Foi possível distinguir vários autores e suas teorias que estão

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47

sendo mais utilizados nestes programas, observando que as premissas de uma nova

ciência se tornam aqui frutos deste processo acadêmico de formação e produção de

conhecimento.

Os dados aqui trabalhados nos mostram que estes programas, já pré-

estabelecidos como interdisciplinares, possuem ao mesmo tempo várias abordagens

em suas disciplinas que são compartimentadas, mesmo sendo interdisciplinares.

Pois a interdisciplinaridade se faz como fruto das interações destas mesmas

disciplinas pelos atores que compõe e dão vida a estes programas, em um processo,

e não apenas por sua vontade em si. Neste contexto os autores, disciplinas e

instituições de ensino são pequenas partes de um todo maior que é a

interdisciplinaridade para uma visão ou superação da visão de sociedade-natureza.

Não se pretende aqui fazer um estudo de forma profunda e totalmente

abrangente que o tema poderia propiciar, e tem merecimento. Este projeto possui

uma potencialidade para conseguir frutos maiores, e respostas mais complexas, o

que necessitaria de uma análise mais apurada destes programas em um maior

número dos mesmos, com um relacionamento mais íntimo com estas disciplinas e

autores. Esta pesquisa foi direcionada para um recorte de uma realidade maior que

são as abordagens em um número maior de programas.

Esta pesquisa de observação dos programas é apenas uma preliminar para

entender este todo, pois falta elementos para fazer da mesma mais completa.

Elementos que se tornam necessários para uma tipologia geral de programas de

pós-graduação no Brasil, como o pequeno número de programas analisados (o que

não coloca uma grande inserção de dados); a falta da vivência em todos os

programas para se descobrir o habitus dos mesmos (como a interdisciplinaridade se

constroem na prática); a análise de teses para comprovar estas mesmas premissas

através de uma forma empírica, limitaram a pesquisa. Caracterizando a mesma

como um primeiro esforço para uma abordagem geral dos mesmos pois este

exercício foi apenas para uma monografia acadêmica. Mas que não impeça de ser

também um insight para novas descobertas e pesquisas.

O que foi pretendido aqui, e obteve-se resultados, ao fazer uma tipologia dos

autores, reconhecer as disciplinas e instituições do conhecimento, foi uma

delimitação das áreas do conhecimento dos programas, com uma identificação de

autores que possuem mais relevância para esta nova visão da relação sociedade-

natureza.

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