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Nascida em 25 de janeiro de 1893 em Arras, no departamento francês de Pas-de-Calais, Louise Weiss era a mais velha de seis irmãos de uma família de classe média alta de origens protestantes e judias. O pai, Paul-Louis Weiss, era engenheiro de minas e a mãe, Jeanne, pertencia à família Javal, uma família importante e influente da Alsácia. A mãe sempre apoiou as ambições académicas de Louise, que se revelou uma excelente estudante. Em 1914, concluiu com êxito a agrégation, o exame necessário para aceder à função pública. Licenciou-se em literatura pelas Universidades de Paris e de Oxford, antes se ter começado a preocupar sobretudo com a Primeira Guerra Mundial. Desejando contribuir para o esforço de guerra, Louise voltou a França e criou um pequeno hospital militar na Bretanha para os soldados franceses feridos, bem como um lar para refugiados. Quando o conflito terminou, mudou-se para a Suíça para cuidar de ex-prisioneiros de guerra franceses, tendo escrito um artigo no jornal Le Radical , sob o pseudónimo de Louis Lefranc, em que denunciava o tratamento dos prisioneiros nos campos de concentração alemães. Para Louise, o jornalismo era um meio de «fazer guerra à guerra» e, dado que na altura as mulheres estavam excluídas da vida política francesa, usou a escrita como forma de expressar as suas opiniões e de promover causas a que atribuía grande importância, como a paz e a igualdade. Em janeiro de 1918, juntamente com a jornalista e editora Hyacinthe Philoutze, fundou a revista semanal L’Europe Nouvelle, que rapidamente se tornou uma importante e respeitada publicação sobre temas internacionais. Em 1919, tornou-se também correspondente do jornal diário Le Petit Parisien. Embora tenha continuado a ser um acérrima defensora da paz, as suas ideias pacifistas começaram a vacilar quando Hitler subiu ao poder na Alemanha, na década de trinta. A política de apaziguamento A jornalista e figura política Louise Weiss foi uma voz influente na política francesa e internacional desde 1920 até à sua morte, em 1983. A sua experiência de trabalho em hospitais de campanha durante a primeira guerra mundial afetou-a profundamente. Consagrou a vida à promoção da paz, primeiro com o seu trabalho em vários jornais e, em seguida, com o seu empenhamento na causa do direito de voto para as mulheres. Para Louise Weiss, dar a possibilidade de votar às mulheres contribuiria para evitar a ameaça latente da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, ajudou a salvar milhares de crianças judias dos nazis e juntou-se à resistência francesa. Depois da guerra, promoveu a ideia da Europa como contraponto às superpotências durante a Guerra Fria. Em 1979, aos 86 anos, foi eleita deputada do Parlamento Europeu e proferiu o discurso inaugural na sessão de abertura da legislatura. Após a sua morte, o edifício principal do Parlamento Europeu em Estrasburgo foi batizado com o seu nome, em reconhecimento do apoio que deu aos valores europeus ao longo de toda a sua vida. Louise Weiss: Defensora dos valores europeus e dos direitos das mulheres ao longo de toda a vida (1893-1983) © União Europeia PT Os pioneiros da UE

Louise Weiss: Defensora dos valores europeus e dos ... · Com a ocupação da França pelos nazis em 1940, a vida de Louise Weiss e da sua família tornou-se cada vez mais difícil

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Page 1: Louise Weiss: Defensora dos valores europeus e dos ... · Com a ocupação da França pelos nazis em 1940, a vida de Louise Weiss e da sua família tornou-se cada vez mais difícil

Nascida em 25 de janeiro de 1893 em Arras, no departamento francês de Pas-de-Calais, Louise Weiss era a mais velha de seis irmãos de uma família de classe média alta de origens protestantes e judias. O pai, Paul-Louis Weiss, era engenheiro de minas e a mãe, Jeanne, pertencia à família Javal, uma família importante e influente da Alsácia.

A mãe sempre apoiou as ambições académicas de Louise, que se revelou uma excelente estudante. Em 1914, concluiu com êxito a agrégation, o exame necessário para aceder à função pública. Licenciou-se em literatura pelas Universidades de Paris e de Oxford, antes se ter começado a preocupar sobretudo com a Primeira Guerra Mundial.

Desejando contribuir para o esforço de guerra, Louise voltou a França e criou um pequeno hospital militar na Bretanha para os soldados franceses feridos, bem como um lar para refugiados. Quando o conflito terminou, mudou-se para a Suíça para cuidar de

ex-prisioneiros de guerra franceses, tendo escrito um artigo no jornal Le Radical, sob o pseudónimo de Louis Lefranc, em que denunciava o tratamento dos prisioneiros nos campos de concentração alemães.

Para Louise, o jornalismo era um meio de «fazer guerra à guerra» e, dado que na altura as mulheres estavam excluídas da vida política francesa, usou a escrita como forma de expressar as suas opiniões e de promover causas a que atribuía grande importância, como a paz e a igualdade. Em janeiro de 1918, juntamente com a jornalista e editora Hyacinthe Philoutze, fundou a revista semanal L’Europe Nouvelle, que rapidamente se tornou uma importante e respeitada publicação sobre temas internacionais. Em 1919, tornou-se também correspondente do jornal diário Le Petit Parisien.

Embora tenha continuado a ser um acérrima defensora da paz, as suas ideias pacifistas começaram a vacilar quando Hitler subiu ao poder na Alemanha, na década de trinta. A política de apaziguamento

A jornalista e figura política Louise Weiss foi uma voz influente na política francesa e internacional desde 1920 até à sua morte, em 1983. A sua experiência de trabalho em hospitais de campanha durante a primeira guerra mundial afetou-a profundamente. Consagrou a vida à promoção da paz, primeiro com o seu trabalho em vários jornais e, em seguida, com o seu empenhamento na causa do direito de voto para as mulheres. Para Louise Weiss, dar a possibilidade de votar às mulheres contribuiria para evitar a ameaça latente da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, ajudou a salvar milhares de crianças judias dos nazis e juntou-se à resistência francesa. Depois da guerra, promoveu a ideia da Europa como contraponto às superpotências durante a Guerra Fria.

Em 1979, aos 86 anos, foi eleita deputada do Parlamento Europeu e proferiu o discurso inaugural na sessão de abertura da legislatura. Após a sua morte, o edifício principal do Parlamento Europeu em Estrasburgo foi batizado com o seu nome, em reconhecimento do apoio que deu aos valores europeus ao longo de toda a sua vida.

Louise Weiss: Defensora dos valores europeus e dos direitos das mulheres ao longo de toda a vida (1893-1983)

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adotada pela Liga das Nações inquietava Louise Weiss, que começou a defender o recurso à força para garantir a paz. Isto levou-a a abandonar a função que desempenhava na revista L’Europe Nouvelle em 1934 e a empenhar-se na defesa dos direitos das mulheres, sobretudo do direito de voto que, na sua opinião, poderia ajudar a inverter a situação em relação à guerra. Criou uma nova organização, La Femme Nouvelle, dedicada a garantir o voto para as mulheres.

Quando a guerra com a Alemanha se tornou inevitável, Louise Weiss, um dos raros jornalistas a interessarem-se pela perseguição nazi aos dissidentes políticos e aos judeus, utilizou a sua influência para convencer o então ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Georges Bonnet, a criar um comité de refugiados patrocinado pelo governo, em dezembro de 1938, para ajudar os judeus a fugir dos nazis. Além disso, na sequência da «Noite de Cristal», ajudou um milhar de crianças refugiadas judias da Alemanha e da Áustria a obterem vistos franceses e conseguiu autorização para que várias centenas de refugiados bloqueados a bordo dos transatlânticos «Saint-Louis» e «Flandre» se pudessem instalar temporariamente em França, após lhes ter sido recusada a entrada nos Estados Unidos.

Com a ocupação da França pelos nazis em 1940, a vida de Louise Weiss e da sua família tornou-se cada vez mais difícil e perigosa. Em 1943, quando o seu irmão escapou por pouco a ser preso por suspeitas de ajudar a resistência, Louise decidiu esconder-se e juntar-se à causa da resistência, tendo editado o jornal clandestino La Nouvelle République.

Após a guerra, Louise viajou por todo o mundo durante quase uma década. No decorrer destas viagens, escreveu diversos artigos para grandes revistas e jornais franceses sobre o papel de liderança que o Ocidente e, em particular, a Europa poderiam desempenhar na promoção dos valores democráticos em todo o mundo. Foi esta convicção que a levou a defender a Europacomo contraponto aos Estados Unidos e à União Soviética durantea Guerra Fria.

Em 1971, criou a Fundação Louise Weiss a fim de atribuir um prémio anual à pessoa ou instituição que mais contribuísse para o avanço da «ciência da paz». Entre os laureados deste prémiocontam-se Vaclav Havel, Helmut Schmidt e Simone Veil.

Nesta fase, em que se concentrou nas questões europeias, Louise Weiss candidatou-se e foi eleita para o Parlamento Europeu em 1979, tendo proferido o discurso inaugural na sessão de abertura da legislatura aos 86 anos de idade. Na sua alocução, instou todos os europeus a unirem-se com base na sua cultura comum e não apenas em interesses económicos partilhados.

Louise Weiss continuou a ser membro do Parlamento Europeu, tendo sido a decana desta instituição até à sua morte, em 1983, com 90 anos de idade. Após a sua morte, o edifício principal do Parlamento Europeu em Estrasburgo foi batizado com o seu nome, em reconhecimento do apoio manifestado aos valores europeus durante toda a sua vida.

Louise Weiss em conversa com Pierre Pflimlin, um colega deputado do PE, em 1981, Estrasburgo.

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