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ADRIANA FONTES ZIMMERMANN LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, CLÍNICO E AUTO-IMUNE DE 90 PACIENTES DO SUL DO BRASIL Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre. Curso de Pós-Graduação em Medicina íntema, Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Profa. Dra. Iara José Taborda de Messias. Co-Oriettfá'dòr: Prof. Dr. Antônio Carlos BoarettL CURITIBA 1997

LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

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Page 1: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

ADRIANA FONTES ZIMMERMANN

LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO,

CLÍNICO E AUTO-IMUNE DE 90 PACIENTES DO SUL DO BRASIL

Dissertação apresentada comorequisito parcial à obtenção do grau de Mestre.Curso de Pós-Graduação emMedicina íntema,Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Profa. Dra. Iara José Taborda de Messias.Co-Oriettfá'dòr: Prof. Dr. Antônio Carlos BoarettL

CURITIBA1997

Page 2: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Ao Rubens, companheiro de todas as horas.

À Laís, alegria e renovação em nossas vidas.

A todos os pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, especialmente àqueles que

participaram desta casuística com seu sangue, boa vontade e esperança.

Page 3: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

AGRADECIMENTOS

- À Profa. Dra. Iara Taborda de Messias, pela amizade, estímulo e

apoio, tanto técnico quanto pessoal, à realização deste estudo;

- Ao Prof. Dr. Antônio Carlos Boaretti, por sua disponibilidade,

generosidade e precisão técnica na correção deste estudo;

- À Profa. Dra. Shirley Utiyama, por seu exemplo de dedicação ao

trabalho, suas valiosas sugestões e seu estímulo sempre presente;

- Ao Dr. Renato Nisihara, pela amizade e paciência na transmissão de

conhecimentos sobre técnicas e procedimentos de laboratório;

- A minha mãe, minha tia Climene e minhas irmãs Cléa e Cleonice,

pelo auxílio e carinho recebidos, sem os quais certamente seria inviável a

conclusão deste trabalho;

- As Dras. Milka Moura Issa, Chiu Yun Yun e Josiane Monteiro

Barbosa, pela inestimável contribuição na seleção dos pacientes, coleta de dados

e amostras sorológicas;

- A todos os funcionários do Laboratório de Imunopatologia do HC -

UFPR, pelo auxílio recebido;

- Às funcionárias da Biblioteca Setorial do Setor de Ciências da Saúde

da UFPR, pelo auxílio no levantamento bibliográfico;

- A todos os demais que, direta ou indiretamente, contribuíram para a

concretização deste projeto.

Page 4: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS....................................................................... viu

LISTA DE FIGURAS...........................................................................ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.......................................... x

RESUMO.............................................................................................. xi

ABSTRACT......................................................................................... xü

1 INTRODUÇÃO.................................................................................1

2 REVISÃO DA LITERATURA........................................................4

2.1. DEFINIÇÃO E HISTÓRICO DO LES........................................... 4

2.2 .ETIOLOGIA DO LES................................................................... 4

2.3. FISIOPATOGÊNESE DO LES........................................................7

2.4.ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E PROGNÓSTICOS DO LES 9

2.5.MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO LES...................................... 11

2.5.1.Manifestações Músculo-Esqueléticas.......................................... 11

2.5.2.Manifestações Dermatológicas.....................................................12

2.5.3.Manifestações Hematológicas...................................................... 14

2.5.4.Manifestações Neurológicas......................................................... 16

2.5.5.Manifestações Renais................................................................... 18

2.5.6.Manifestações Cardio-Pulmonares.............................................. 20

2.5.7.Manifestações Vasculares............................................................23

2.6.AUTO-ANTICORPOS NO LES.................................................... 23

2.6.1. Auto-Anticorpos Antinucleares................................................... 24

2.6.1.1. Anticorpos Anti-dsDNA............................................................27

2.6.1.2.Anticorpos Anti-Ribonucleoproteínas......................................28

Page 5: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

3 OBJETIVOS....................................................................................31

4 CASUÍSTICA E MÉTODOS.........................................................32

4.1.CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS....................................32

4.2.CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS................................................. 33

4.2.1.Envolvimento Renal..................................................................... 33

4.2.2.Envolvimento Hematológico........................................................34

4.2.3. Envolvimento Músculo-Esquelético............................................ 35

4.2.4.Envolvimento Tegumentar e Glandular.......................................35

4.2.5.Envolvimento Neurológico..........................................................36

4.2.6.Envolvimento Vascular................................................................ 36

4.2.7.Envolvimento de Serosas.............................................................37

4.2.8.Envolvimento Cardio-pulmonar.................................................. 37

4.2.9.Avaliação da Gravidade do LES................................................. 37

4.3 AVALIAÇÃO LABORATORIAL................................................. 38

4.3.1 Exames Hematológicos, Bioquímicos e Provas de Atividade

Inflamatória..................................................................................38

4.3.2 Testes Sorológicos....................................................................... 38

4.3.4 Outros Exames Complementares................................................. 40

4.3.5.Biópsia Renal................................................................................40

4.4.ANÁLISE ESTATÍSTICA..............................................................40

5 RESULTADOS................................................................................42

5.1. DADOS DEMOGRÁFICOS..........................................................42

5.2. DADOS CLÍNICOS....................................................................... 42

5.2.1.Manifestações Músculo-esqueléticas........................................... 42

5.2.2. Manifestações do Sistema Tegumentar e Glandular...................45

Page 6: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

5.2.3.Manifestações Renais................................................................... 45

5.2.4.Manifestações Hematológicas..................................................... 46

5.2.5. Sérosités......................................................................................46

5.2.6. Manifestações Vasculares...........................................................46

5.2.7.Manifestações Neuro-psiquiátricas............................................. 48

5.2.8. Manifestações Cardio-pulmonares............................................. 48

5.3. ASSOCIAÇÃO ENTRE OS DADOS CLÍNICOS E OS DADOS

DEMOGRÁFICOS................................................................................49

5.4. DADOS LABORATORIAIS..........................................................51

6 DISCUSSÃO .........................................................................61

6.1.DADOS DEMOGRÁFICOS...........................................................61

6.1.1.Distribuição por Sexo e Idade ao Diagnóstico.............................61

6.1.2.Distribuição Étnica....................................................................... 61

6.2. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS................................................... 63

6.2.1. Associação entre o Grupo Étnico e as Manifestações

Clínicas.................................................................................................. 70

6.2.2.Associação entre a Idade ao Diagnóstico e as Manifestações

Clínicas................................................................................................. 71

6.3. GRAVIDADE, EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO DO LES 73

6.4. ANTICORPOS ANTINUCLEARES............................................. 75

6.4.1.Anticorpos anti-dsDNA................................................................75

6.4.1.1.Freqüência dos Anticorpos Anti-dsDNA..................................75

6.4.1.2. Associação entre os Anticorpos Anti-dsDNA e os Dados

Clínicos e Demográficos....................................................................... 76

6.4.2.Anticorpos Anti-ENA.................................................................. 78

Page 7: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

6.4.2.1. Anticorpos Anti-Sm.................................................................. 79

6.4.2.2. Anticorpos Anti-UIRNP...........................................................82

6.4.2.3.Anticorpos Anti-Ro e Anti-La...................................................83

7 CONCLUSÕES................................................................................89

ANEXOS........................................................................................... 91

ANEXO 1 .......................................................................................... 92

ANEXO I I ........................................................................................ 93

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................... 94

Page 8: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

1 ALTERAÇÕES CUTÂNEAS NO LÚPUS ERITEMATOSO.......... 15

2 MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS NO LES............... 19

3 CLASSIFICAÇÃO DA GLOMERULONEFRITE LÚPICA

SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE.............21

4 AUTO-ANTICORPOS NO LES.......................................................25

5 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EM 90 PACIENTES COM

LES.................................................................................................... 44

6 BIÓPSIAS RENAIS EM 21 PACIENTES COM LES :

CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA SEGUNDO A

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE....................................47

7 ASSOCIAÇÃO ENTRE A POSITIVIDADE DOS ANTICORPOS

ANTI-dsDNA E AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EM 90

PACIENTES COM LES................................................................... 59

LISTA DE TABELAS

Page 9: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

LISTA DE FIGURAS

1 CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DE 90 PACIENTES

COM LES: SEXO, IDADE AO DIAGNÓSTICO E GRUPO

ÉTNICO............................................................................................. 43

2 ASSOCIAÇÃO ENTRE AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E O

GRUPO ÉTNICO EM 90 PACIENTES COM LES........................ 50

3 ASSOCIAÇÃO ENTRE AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E A

IDADE AO DIAGNÓSTICO EM 90 PACIENTES COM LES.......52

4 POSITIVIDADE DOS AUTO-ANTICORPOS EM 90 PACIENTES

COM LES......................................................................................... 54

5 ASSOCIAÇÃO ENTRE O GRUPO ÉTNICO E A POSITIVIDADE

DOS AUTO-ANTICORPOS EM 90 PACIENTES COM LES........56

6 ASSOCIAÇÃO ENTRE A IDADE AO DIAGNÓSTICO E A

POSITIVIDADE DOS AUTO-ANTICORPOS EM 90 PACIENTES

COM LES.......................................................................................... 57

ix

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACR - AMERICAN COLLEGE OF RHEUMATOLOGY (COLÉGIO

AMERICANO DE REUMATOLOGIA)

ANA - ANTINUCLEAR ANTIBODIES (ANTICORPOS ANTINUCLEARES)

ENA - EXTRACT ABLE NUCLEAR ANTIGENS (ANTÍGENOS NUCLEARES

EXTRAÍVEIS)

DMTC - DOENÇA MISTA DO TECIDO CONJUNTIVO

dsDNA - DOUBLE-STRANDED DNA (ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO

DE DUPLA HÉLICE)

ES - ESCLEROSE SISTÊMICA

LES - LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

PM/DM - POLIMIOSITE/DERMATOMIOSITE

RNA - RIBONUCLEIC ACID (ÁCIDO RIBONUCLEICO)

RNP - RIBONUCLEOPROTEÍNAS

Sm - SMITH

ssDNA - SINGLE-STRANDED DNA (ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO DE

HÉLICE SIMPLES)

SS - SÍNDROME DE SJÕGREN

VHS - VELOCIDADE DE HEMOSSEDIMENTAÇÃO

Page 11: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

RESUMO

Foi estudada uma população de 90 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) provenientes do Sul do Brasil, a fim de identificar suas características demográficas, clínicas e auto-imunes, determinando associações entre as mesmas. Os dados dos pacientes foram obtidos da análise dos prontuários médicos e compilados em programa Microsoft Access para Windows. Os anticorpos antinucleares (ANA) e os anticorpos anti-dsDNA foram pesquisados pela técnica de imunofluorescência indireta em cortes de fígado de camundongo/ células Hep-2 e em Crithidia luciliae, respectivamente. Os anticorpos anti-ENA foram detectados por meio de contraimunoeletroforese em gel de agarose. Noventa e três por cento da população estudada eram mulheres. Do total de pacientes, 24% tinham menos de 20 anos, 63% entre 20 e 40 anos e 13% mais de 40 anos de idade ao diagnóstico. De acordo com o grupo étnico, 66% eram Branco-brasileiros, 21% Branco-europeus e 13% Mulatos/negros. Anticorpos antinucleares estiveram presentes em 98%, anti-dsDNA em 56% , anti-Sm em 31%, anti-UIRNP em 9%, anti-Ro em 7% e anti-La em 6% dos pacientes. Os anticorpos anti-Sm foram mais prevalentes nos pacientes Mulatos/negros quando comparados aos brancos (p<0,05), confirmando achados descritos na literatura mundial. Os pacientes mais jovens ao diagnóstico (< 20 anos) apresentaram com maior freqüência envolvimento renal (p<0,05) e positividade para os anticorpos anti-dsDNA (p<0,05). Fenômeno de Raynaud foi mais freqüente nos pacientes com mais de 40 anos ao diagnóstico (p<0,05). Vinte e nove pacientes (32%) apresentaram hipertensão arterial sistêmica, estando a mesma associada a comprometimento renal (p<0.00001) e a insuficiência renal (p<0,0002). Os anticorpos anti-dsDNA mostraram-se associados com envolvimento renal (p<0,01). Estes resultados podem contribuir para a definição de subgrupos clínicos e a individualização da abordagem aos pacientes com LES do Sul do Brasil, corroborando a necessidade de especial atenção à composição étnica dos indivíduos em estudos clínicos e imunogenéticos.

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ABSTRACT

With the purpose to identify and determine the association between the clinical, demographic and autoimmune features, a population of 90 patients with systemic lupus erythematosus (SLE) from Southern Brazil was investigated. All data were obtained from medical records and analized in a Microsoft Access for Windows software. Antinuclear antibodies (ANA) and anti-dsDNA antibodies were detected by indirect immunofluorescence using mouse liver/Hep-2 cells and Crithidia luciliae as substrate, respectively. Anti-ENA antibodies were determined by counterimmunoelectrophoresis in agarosis gel. Ninety three per cent of the population studied were women. At diagnosis, 24% of the patients were under 20 years old, 63% were between 20 and 40 years old and 13% were older than 40 years. According to the ethnic background, there were 66% Brazilian-white patients, 21% European-white and 13% Mullatos/blacks. Antinuclear antibodies were present in 98%, anti-Sm in 31%, anti-UlRNP in 9%, anti-Ro in 7% and anti-La in 6% of the patients. Anti-Sm antibodies (p<0,05) were more frequent in Mullatos/blacks as compared to the white patients, confirming previous findings from the world literature. Younger patients at diagnosis (< 20 years) presented higher frequency of renal involvement (p<0,05) and anti-dsDNA positivity (p<0,05). Raynaud’s phenomenon was more frequent in the patients diagnosed after age of 40 (p<0,05). Arterial hypertension was present in 29 (32%) of the patients and was associated with renal involvement (p<0,00001) and with renal failure (p<0,00002). Anti-dsDNA antibodies were associated with renal manifestations (p<0,01). These results might contribute in assessing clinical subsets and may aid individualized management of South Brazilian SLE patients, corroborating the need for special attention of ethnic composition of the individuals in clinical and immunogenetic studies.

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1

1 - INTRODUÇÃO

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é o paradigma das doenças auto-

imunes sistêmicas. Dentre todas as enfermidades do tecido conectivo, é aquela que

apresenta o mais alto grau de heterogeneidade em sua expressão clínica. Sua gra­

vidade é portanto extremamente variável e seu curso clínico muitas vezes imprevi­

sível. Esta incerteza em relação ao futuro é talvez um dos principais motivos da

angústia que geralmente acomete o paciente ao receber o diagnóstico de LES. As

mulheres jovens, que são as vítimas preferenciais da doença, podem ser ainda mais

penalizadas pelos eventuais prejuízos estéticos decorrentes das lesões cutâneas e

dos paraefeitos dos medicamentos utilizados no tratamento, numa fase da vida em

que a aparência é obviamente de grande importância. Além disso, os riscos poten­

ciais que a doença e sua terapêutica conferem à função reprodutiva da mulher são

motivos adicionais de preocupação para estas pacientes.

Do ponto de vista fisiopatogênico, a característica mais marcante desta

enfermidade é a presença de auto-anticorpos contra diversos constituintes tecidu-

ais, levando à formação de complexos antígeno-anticorpo cuja deposição origina

um processo inflamatório com conseqüente lesão dos tecidos.

Embora a etiologia do LES seja ainda desconhecida, vários fatores têm

sido identificados como capazes de influenciar a expressão da doença. Além de

uma responsividade imune alterada dos linfócitos B e T, susceptibilidade imuno-

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genética, fatores hormonais e ambientais têm sido implicados na sua etiopatogêne-

se (LAHITA, 1985; FRONEK etal, 1990; HORWITZ, 1993).

A composição étnica também é reconhecida como um fator que influen­

cia a heterogeneidade clínica do LES (WARD & STUDENSKI, 1990a). As dife­

renças raciais na sua incidência sugerem que os aspectos genéticos contribuem

para a susceptibilidade à doença. Nos Estados Unidos, estudos mostraram que a

mesma ocorre com freqüência três vezes maior em indivíduos negros do que em

brancos (SIEGEL et al, 1970; FESSEL, 1974; HOCHBERG, 1985). Além disso,

há relatos de que os pacientes negros apresentam doença de pior prognóstico

(SIEGEL et al, 1969; GINZLER et al, 1982; REVEILLE et al, 1990).

Diversos estudos têm apontado associações entre o perfil de auto-anticorpos

e os aspectos clínicos e demográficos no LES (HOCHBERG et al, 1885;

PISTINER et al, 1991; CERVERA et al, 1993). Aspectos demográficos como o

sexo, idade ao diagnóstico da doença e grupo étnico, ao serem associados com

dados clínicos e padrão auto-imune, podem definir alguns subgrupos específicos

dentro de uma condição tão heterogênea como o LES, com implicações patogené-

ticas, terapêuticas e prognosticas.

O objetivo principal deste estudo é caracterizar demograficamente uma

população com LES do Sul do Brasil, determinando associações com o perfil de

auto-anticorpos e as manifestações clínicas. A população em estudo apresenta um

alto grau de miscigenação entre diversos grupos étnicos, o que toma importante

Page 15: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

esta caracterização na avaliação do risco individual para o desenvolvimento de

certas manifestações clínicas e na futura determinação de associações imuno-

genéticas.

Por meio da caracterização dos pacientes com LES proposta pelo presente

estudo, esperamos contribuir para a identificação de subgrupos dentro da doença,

cujas características permitam estabelecer o tratamento mais adequado e o

prognóstico mais preciso para estes pacientes.

Page 16: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

4

2 - REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Definição e Histórico do LES

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença crônica auto-imune, de

causa desconhecida e caráter inflamatório, que acomete predominantemente mu­

lheres em idade reprodutiva. Apresenta padrão de envolvimento multissistêmico,

comprometendo preferencialmente os sistemas tegumentar, músculo-esquelético,

neurológico, renal e hematológico, podendo porém afetar praticamente todos os

demais componentes orgânicos.

A doença foi descrita originalmente em 1822 por Biett, sendo o termo lupus

erythematosus utilizado pela primeira vez pelo dermatologista francês Cazenave

em 1851, referindo-se às manifestações cutâneas não destrutivas da enfermidade

Este autor estabeleceu uma comparação com as lesões de natureza destrutiva do

lupus vulgaris, forma de tuberculose cutânea já conhecida (ALARCON-

SEGÓVIA, 1988). O caráter sistêmico da doença foi enfatizado primeiramente por

KAPOSI (1872) e mais tarde por OSLER (1904), cujas descrições incluíam mani­

festações renais, cardio-pulmonares, neurológicas, articulares e hematológicas.

2.2. Etiologia do LES

O LES é uma patologia extremamente polimórfica em suas manifestações,

com diferentes graus de gravidade, apontando para um elevado grau de complexi­

dade no que diz respeito à sua etiologia. Por conseguinte, vários fatores têm sido

Page 17: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

estudados e implicados na etiopatogênese da doença, como elementos genéticos,

ambientais, infecciosos e hormonais. Os fatores genéticos têm sido consi-derados

como críticos no desenvolvimento do LES, já que a prevalência da doença é bas­

tante aumentada em parentes de enfermos lúpicos (WOODS & ZVAIFLER,1989).

Evidências de anormalidades de imunorregulação em familiares de pacientes com

LES têm sido relatadas, havendo concordância na expressão da enfermidade de até

57% em gêmeos idênticos (SCHUR, 1989).

Além disso, a freqüência aumentada dos alelos HLA-DR2 e DR3 em pacien­

tes brancos, do alelo nulo de C4A e da deficiência de componentes do comple­

mento têm confirmado a influência de fatores genéticos na doença (REVEILLE,

1990; FRONEK et al, 1990). Atualmente se considera que o significado da maior

prevalência de alguns alelos do complexo principal de histocompatibilidade no

LES é a correlação destes com determinados autoanticorpos e síndromes clínicas a

eles associadas. Este é o caso da associação dos antígenos HLA-DR3, Dqw2 e

HLA-B8 com os anticorpos anti-Ro e anti-La e os quadros clínicos de lúpus

cutâneo subagudo, lúpus neonatal e superposição lúpus/síndrome de Sjõgren

(HORWITZ, 1993). Outro dado que destaca a importância do papel dos fatores

genéticos no LES é o fato de que certos grupos étnicos têm uma alta prevalência

da doença, como é o caso dos negros norte-americanos (WOODS & ZVAIFLER,

1989). MC CARTY et al, em 1995, analisando 169 pacientes da região da Pen-

Page 18: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

silvânia encontraram uma incidência bastante aumentada de LES nos indivíduos

afro-americanos quando comparados com indivíduos brancos.

Fatores ambientais também podem ter importância na gênese ou modulação

do LES. A ativação da doença pode ocorrer após exposição solar, existindo um

aumento do número de casos em climas tropicais e temperados, nas estações mais

quentes do ano, provavelmente devido a uma maior exposição dos indivíduos à luz

ultravioleta (ROTHFIELD, 1993). Algumas drogas, como a procainamida e hidra-

lazina, estão comprovadamente implicadas na gênese de auto-anticorpos e de sin­

tomas compatíveis com LES (YUNG & RICHARDSON, 1994).

As infecções parecem desempenhar um papel importante no desencadea­

mento do LES. Determinados produtos relacionados a infecções bacterianas e vi­

rais podem atuar como ativadores policlonais de células B, dando origem à pro­

dução de auto-anticorpos antinucleares e fatores reumatóides (HORWITZ, 1993).

Além disso, a similaridade encontrada a nível molecular entre antígenos bacteri-

anos e antígenos do hospedeiro (mimetismo molecular), bem como a capacidade

de toxinas bacterianas atuarem como ativadores de células T são outros indícios

da participação das infecções no desencadeamento do LES (HORWITZ, 1993).

A marcada predominância do LES em mulheres em idade reprodutiva aponta

para a inflluência de fatores hormonais na patogênese da doença. Entretanto, em

grupos de crianças e idosos com LES a predominância do sexo feminino não é tão

acentuada (WOODS & ZVAIFLER, 1989). Anormalidades no metabolismo dos

Page 19: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

hormônios sexuais foram encontrados em pacientes com LES e em seus familiares

(LAHITA et al, 1982). A produção de substâncias com elevada atividade es-

trogênica e níveis reduzidos de andrógenos em pacientes do sexo feminino tem

sido relatada, sugerindo um efeito estrogênico mais duradouro e de maior magni­

tude nestas pacientes, sucedendo, por outro lado, o contrário com os efeitos an-

drogênicos (LAHITA, 1985; LAHITA et al, 1987). Diferenças de padrões clínicos

e evolutivos da doença entre homens e mulheres têm sido apontadas por diversos

estudos, sendo que nos homens a mesma parece apresentar-se com maior severi­

dade (WALLACE et al, 1981; KAUFMAN et al, 1989) e com maior freqüência de

comprometimento renal (JONSSON et al, 1989). No entanto, estes achados não

têm sido confirmados por alguns autores (WARD & STUDENSKI, 1990),

restando dúvidas ainda quanto ao papel do sexo como modificador da expressão

do LES, embora influencie claramente a sua incidência.

2.3. Fisiopatogênese do LES

Pacientes com doenças reumáticas como o LES, esclerose sistêmica (ES),

síndrome de Sjõgren (SS), doença mista do tecido conjuntivo (DMTC) e

polimiosite/dermatomiosite (PM/DM), apresentam alteração na resposta imune

humoral evidenciada pela presença de auto-anticorpos contra diversos constituin­

tes intracelulares (VON MÜHLEN & TAN ,1994). No caso do LES, os auto-

anticorpos são considerados como a principal característica laboratorial da doença,

constituindo-se, de acordo com suas especificidades, em importantes elementos de

Page 20: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

diagnóstico e de acompanhamento clínico (HARLEY, 1994). Alguns auto-

anticorpos têm sido implicados na gênese de lesões mediadas por imuno-

complexos, os quais podem formar-se na circulação ou a partir de antígenos

teciduais fixos (TAN, 1993).

Portanto, do ponto de vista fisiopatogênico, o que ocorre no LES é a geração

de uma auto-imunidade generalizada, relacionada à produção pelos linfócitos B de

uma grande variedade de auto-anticorpos (HORWITZ, 1993). Além disso, parale­

lamente à hiperatividade das células B, ocorre uma hipoatividade das células T,

resultando em um desequilíbrio entre as respostas imunes celular e humoral

(PATY et al, 1975). Sugere-se também que no LES ocorra uma quebra nos me­

canismos de tolerância a auto-antígenos, onde células T auto-reativas amplificam

a resposta dos linfócitos B (HORWITZ, 1993). Embora ainda não bem elucidados,

a ampliação e manutenção do estado de desregulação imune provavelmente resulta

de múltiplos e complexos mecanismos, que envolvem: alterações na atividade ci-

totóxica das células exterminadoras naturais {natural killer) (HOFFMAN, 1980);

distúrbios na produção e atividade das citocinas (SAKANE et al, 1989;

AOTSUKA et al, 1991); ocorrência de anticorpos anti-linfócitos, que resultam em

alterações funcionais de subpopulações destas células (HORWITZ et al, 1977;

MORIMOTO et al, 1979). Provavelmente, a interação de todos estes fatores é im­

portante na manutenção da hiperativação dos linfócitos B e na conseqüente pro­

dução espontânea de auto-anticorpos (BUDMAN et al, 1977).

Page 21: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

2.4. Aspectos Demográficos e Prognósticos do LES

O LES afeta indivíduos de todos os grupos étnicos, porém em negros tem

sido relatada uma prevalência cerca de três vezes maior do que em brancos nos

Estados Unidos (FESSEL, 1974; LAWRENCE et al, 1989), sendo que nesse país a

incidência anual do LES foi estimada em 27,5 casos/1.000.000 de habitantes para

as mulheres brancas e 75,4 casos/ 1.000.000 de habitantes para as mulheres negras

(ROTHFIELD, 1993). Também em nosso meio, os negros parecem ser mais fre­

qüentemente afetados pela doença, porém devido à escassez de dados disponíveis,

esta impressão não pode ainda ser comprovada. O grupo étnico é considerado em

diversos estudos como importante fator que influencia a expressão da doença, con­

ferindo aos pacientes maior incidência de determinadas manifestações clínicas e

exercendo, por conseguinte, um papel prognóstico (FIOCHBERG, 1985; WARD &

STUDENSKI, 1990a; REVEILLE et al, 1990).

Todos os países do planeta são afetados pelo LES, mas uma maior prevalên­

cia tem sido demonstrada na China e em outras populações asiáticas (ALARCÓN-

SEGOVIA, 1988; ROTHFIELD, 1993). Infelizmente, não dispomos de nenhum

estudo sobre a prevalência, incidência e distribuição geográfica do LES no nosso

meio, incluindo o Brasil e a América Latina.

Quanto à idade de início da doença, seu pico ocorre entre os 15 e 25 anos,

observando-se no entanto casos tanto na infância como na velhice. A faixa etária

em que a doença se manifesta parece influenciar suas características clínicas, seu

Page 22: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

padrão sorológico e seu prognóstico. Entretanto, os estudos abordando tais aspec­

tos têm apresentado resultados um tanto contraditórios. Enquanto alguns relatos

indicam uma expressão clínico-sorológica menos exuberante e uma menor

gravidade do LES iniciado em idade avançada (FONT et al, 1991), outros afirmam

que o aumento da idade ao diagnóstico influencia negativamente o prognóstico da

doença, podendo a mesma ser mais severa neste grupo de pacientes (WARD et al,

1995).

De acordo com relatos iniciais (DUBOIS & TUFFANELLI, 1964) e diversos

estudos posteriores, o LES tem sido associado com uma diminuição da expectativa

de vida (ESTES & CHRISTIAN, 1971; FRIES et al, 1974; GINZLER et al, 1982)

pelo fato de acometer, por vezes gravemente, vários sistemas vitais do organismo.

De modo geral, estes e outros estudos apontam para uma melhora global do

prognóstico em cerca de cinco décadas. A não ser pelo evidente beneficio repre­

sentado pelo advento dos corticosteróides e pelos avanços da antibioticoterapia,

ainda não estão bem determinadas as razões para esta melhora, podendo-se rela­

cioná-las talvez ao diagnóstico mais preciso e à inclusão de casos mais leves, bem

como ao tratamento mais precoce e agressivo. Estudos que analisaram aspectos

clínicos e laboratoriais presentes no LES demonstraram que alguns destes fatores

exercem um impacto negativo no prognóstico da doença, como é o caso do en­

volvimento renal e do sistema nervoso central (FEINGLASS et al, 1976; LEE et

al, 1977). Mais recentemente, outros fatores também têm sido considerados como

Page 23: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

tendo tal implicacão, como a trombocitopenia, idade avançada à época do di­

agnóstico, raça negra (REVEILLE et al, 1990) e condição sócio-econômica

precária (WARD et al, 1995). Assim, as características demográficas incluindo

sexo, grupo étnico e idade ao diagnóstico parecem afetar a apresentação clínica e

evolução do LES, influenciando provavelmente seu prognóstico.

2.5. Manifestações Clínicas do LES

2.5.1. Manifestações Músculo-esqueléticas

O envolvimento do sistema osteomioarticular ocorre na grande maioria dos

pacientes com LES. Sintomas relacionados às articulações são os mais freqüentes

aspectos clínicos da doença (ROTHFIELD, 1993). O comprometimento articular

pode manifestar-se sob forma de edema, calor e por vezes derrame sinovial, con­

figurando uma artrite, que em geral é de caráter não deformante (ASHERSON &

HUGHES, 1988). Muito mais comuns porém, são as artralgias, sem a presença de

sinais inflamatórios detectáveis clinicamente. Praticamente todos os pacientes

apresentam queixas de dores articulares em alguma fase da sua doença (BUYON

& ZUCKERMAN, 1987).

Outros achados comuns no LES são as tenossinovites, que ocorrem em cerca

de 7-10% dos pacientes. Particularmente no caso do comprometimento do tendão

de Aquiles, a inflamação pode levar à ruptura do mesmo (FURIE & CHARTASH,

1988).

Page 24: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

A ocorrência de necrose óssea avascular no LES é freqüente, sendo grande a

variação em sua prevalência relatada na literatura, de 5% (JONES, JR., 1993) a até

52% dos indivíduos em alguns relatos ( ZIZIC et al, 1985). As causas do risco

aumentado de osteonecrose em pacientes com LES é o uso de glicocorticóides em

altas doses e por tempo prolongado, além das alterações isquêmicas a nível ósseo

originadas por vasculite decorrente da própria doença. O local mais freqüente­

mente envolvido é a cabeça femoral, porém o côndilo femoral, a cabeça do úmero,

os metatarsos e os ossos do carpo, entre outros, também podem sofrer osteone­

crose (ZIZIC, 1988).

2.5.2. Manifestações Dermatológicas

Uma grande variedade de lesões de pele e faneros ocorrem em pacientes com

LES, chegando a acometer até 85% dos mesmos (ROTHFIELD, 1993).

As lesões discóides são caracterizadas por placas eritematosas de formato

arredondado, que apresentam atrofia epidérmica e formam cicatrizes, causando

perda definitiva dos pelos nos locais acometidos. São lesões específicas e pre­

dominantes no lúpus cutâneo, podendo entretanto ocorrer em até 20% dos pacien­

tes com LES (HOCHBERG et al, 1985).

Cerca de 70% dos pacientes lúpicos apresentam fotossensibilidade

(WYSENBEEK et al, 1989), podendo chegar a até 90% em pacientes positivos

para os anticorpos anti-Ro (MOND et al, 1989). Alguns estudos têm confirmado o

efeito da luz ultravioleta A e B na geração de fenômenos imunes a nível celular e

Page 25: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

lesões de pele clínica e histologicamente demonstráveis em pacientes com LES

(LEHMAN et al, 1990; KIND et al, 1993).

Lesões eritematosas geralmente fotossensíveis e distribuídas em região malar

são bastante características de lúpus. No entanto, embora seja freqüente o apare­

cimento deste tipo de alteração em pacientes com início agudo de LES, estas

lesões são mais predominantes no lúpus cutâneo, sendo portanto limitado seu valor

diagnóstico na enfermidade sistêmica (LAMAN & PROVOST, 1994).

O lúpus cutâneo subagudo acomete preferencialmente áreas corporais ex­

postas à luz, dando origem a lesões do tipo papuloescamosas ou anulares e

policíclicas, diferenciando-se das discóides por não acarretarem formação de cica­

trizes e atrofia cutânea, nem lesão folicular pilosa permanente. Apesar de re­

presentar um tipo específico de lúpus cutâneo, cerca de metade destes pacientes

são classificados como tendo LES de acordo com os critérios revisados do Ameri­

can College o f Rheumatology (Colégio Americano de Reumatologia)

(SONTHEIMER et al, 1979; GILLIAM & SONTHEIMER, 1981; TAN et al,

1982).

A alopécia é uma alteração dermatológica bastante freqüente nos pacientes

com LES (até 70% dos casos) (ROTHFIELD, 1993), podendo ocorrer de forma

difusa e reversível, quando relacionada a surtos de atividade da doença. As lesões

discóides podem dar origem a alopécia em placas, as quais são de caráter defini­

tivo (LAMAN & PROVOST, 1994).

Page 26: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

As úlceras mucosas (orais ou nasofarígeas) são um dos critérios de classifica­

ção do LES e ocorrem em cerca de 40% dos pacientes. Em geral são assintomáti-

cas e estão quase sempre associadas com a atividade da doença, desaparecendo

rapidamente com a instituição da terapia glicocorticóide (ROTHFIELD, 1993).

Existem ainda muitas outras lesões de pele que ocorrem no LES com menos

freqüência e são inespecíficas, podendo estar presentes em outras patologias. E­

xemplos são a paniculite lúpica ou lúpus profundo, urticária-vasculite, livedo re­

ticularis, alterações ungueais distróficas, mucinose cutânea e nódulos reumatóides.

A tabela 1 enumera as alterações cutâneas relacionadas ao lúpus eritema-

toso (adaptada de LAMAN & PROVOST, 1994).

2.5.3. Manifestações Hematológicas

A anemia normocítica e normocrômica é a anormalidade hematológica mais

comum no LES, causada por um uma deficiência na eritropoiese (ROTHFIELD,

1993). Bem mais inffeqüente é a anemia hemolítica com teste de Coombs positivo,

encontrada em até 13% dos pacientes (CERVERA et al, 1993).

Em pacientes com doença em atividade a leucopenia, com diminuição princi­

palmente de linfócitos ocorre na maioria dos casos, sendo uma importante pista

para o diagnóstico de LES (ASHERSON & HUGHES, 1988).

Diminuição da contagem plaquetária também é um achado comum durante a

atividade do LES, acometendo cerca de 20% a 30% dos pacientes (WORRAL et

al, 1990; CERVERA et al, 1993).

Page 27: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

TABELA 1. ALTERAÇÕES CUTÂNEAS NO LÚPUS ERITEMATOSO

Lesões Específicas

Lúpus discóide

Lúpus cutâneo subagudo

Lúpus eritematoso neonatal

Dermatite malar

Lesões não Específicas

Lúpus bolhoso

Paniculite lúpica

Alopécia

Vasculite

Vasculite urticariforme

Livedo reticularis

F otossensi bili da de

Ulcerações orais

Alterações ungueais

Mucinose cutânea

Nódulos reumatóides

Lesões máculo-papulares mcarac­

teristicas

15

Page 28: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

2.5.4. Manifestações Neurológicas

O LES compromete freqüentemente tanto o sistema nervoso central quanto o

periférico, originando uma grande variedade de anormalidades.

Algumas das formas difusas de envolvimento do sistema nervoso central são

as síndromes cerebrais orgânicas, que constituem-se na apresentação mais comum

do lúpus neuro-psiquiátrico. As anormalidades variam desde leves disfunções cog­

nitivas até quadros graves, com comprometimento do nível de consciência

(WEST, 1994).

Os distúrbios psiquiátricos também são considerados como formas difusas de

comprometimento do sistema nervoso central. A psicose franca, com delírios e

alucinações tem sido relatada em grande número de estudos em populações lúpicas

(FESSEL, 1974; HOCHBERG et al, 1985; WARD & STUDENSKI, 1990b;

WORRAL et al, 1990). Além disso, outros sintomas psiquiátricos como ansie­

dade, fobias, depressão e distúrbios de personalidade têm sido freqüentemente re­

portados nos pacientes com LES. Não está claro, no entanto, se estes sintomas

estão relacionados à doença em si ou se são reacionais ao impacto provocado pela

mesma sobre o indivíduo ante uma doença crônica, de prognóstico incerto, tratada

com medicamentos potencialmente tóxicos, dentre outras preocupações (HAY et

al, 1992).

As convulsões são comuns no LES neuro-psiquiátrico, podendo apresentar-se

como generalizadas ou focais, isoladamente ou em associação com outras anor­

Page 29: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

malidades neurológicas (WEST, 1994).

O LES também causa manifestações neurológicas centrais de natureza focal.

Paralisias de nervos cranianos geralmente ocorrem durante atividade da doença e

costumam responder bem aos corticosteróides (MC CUNE & GOLBUS, 1988).

Acidentes cerebrovasculares podem afetar qualquer área cerebral, o que determina

o tipo de manifestação clínica apresentada pelo paciente (FUTRELL &

MILLIKAN, 1989; EUSTACE et al, 1991). A mielite transversa, quadro grave e

de rápida instalação, é felizmente pouco freqüente, porém exige pronto diagnóstico

e tratamento agressivo (PROPPER & BUCKNALL, 1989; BARILE & LAVALLE,

1992).

O sistema nervoso periférico também pode ser acometido pelo LES. As

polineuropatias, de natureza sensitiva, motora ou mista são as formas mais comuns

de apresentação. Clinicamente, podem ser bilaterais e simétricas ou localizadas em

determinados grupos musculares, como nas mononeurites múltiplas

(RECHTHAND et al, 1984).

Diversas outras manifestações neurológicas têm sido relatadas em associação

com o LES, como a cefaléia que ocorre em até 30% dos pacientes (WORRAL et

al, 1990), além da meningite asséptica, hipertensão intracraniana benigna e neuro-

patias autonômicas (WEST, 1994).

Na TABELA 2 encontram-se enumeradas as manifestações neuro-psiquiátricas

do LES.(adaptada de WEST, 1994).

Page 30: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

2.5.5.Manifestações Renais

O envolvimento renal pelo LES tem sido detectado clinicamente em cerca

de metade dos pacientes (ROTHFIELD, 1993). Ao longo dos últimos cinqüenta

anos, tem havido uma considerável melhora no prognóstico da nefrite lúpica, com

o advento de medidas terapêuticas e suportivas, como os corticosteróides,

imunossupressores e o transplante renal. Entretanto, a doença renal ainda repre­

senta a mais importante causa de morte relacionada à doença (GOLBUS & MC

CUNE, 1994).

Na glomerulonefrite lúpica, a magnitude do envolvimento renal depende da exten­

são e da localização das alterações inflamatórias a nível glomerular. Por meio de

biópsia renal, são detectados depósitos de imunoglobulinas e componentes do

sistema complemento nas alças capilares glomerulares e estruturas adjacentes.

Clinicamente a nefrite lúpica manifesta-se mais comumente por proteinúria per­

sistente, isoladamente ou associada a hematúria, leucocitúria e cilindrúria, po­

dendo ou não haver comprometimento da função renal (ASHERSON & HUGHES,

1988).

A fim de padronizar os achados histológicos, a Organização Mundial da

Saúde propôs uma classificação para a glomerulonefrite lúpica que inclui seis tipos

histológicos, a qual é globalmente aceita e tem sido considerada como um impor­

tante indicador prognóstico (APPEL et al, 1978).

Page 31: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

TABELA 2. MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS NO LES

Sistema nervoso central

Manifestações Difusas (35%-60%)

Síndrome cerebral orgânica

Psicose

Síndromes orgânicas de

depressão/ansiedade

Manifestações focais (10°/o-35%)

N europatias cranianas

Acidentes cerebrovasculares

Mielite transversa

Desordens de movimento

Crises convulsivas (15%-35%)

Generalizadas

Focais

Outras

Cefaléia

Meningite asséptica

Pseudotumor cerebral

Hidrocefalia de pressão normal

Sistema Nervoso Periférico

Neuropatias Periféricas (1 0%-38°/o) Outras

Polineuropatia sensorial/motora Neuropatia autonômica

Mononeurite multiplexa Miastenia gravis

Síndrome de Guillain-Barré Síndrome de Eaton-Lambert

19

Page 32: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

A tabela 3 expõe a classificação da glomerulonefrite lúpica segundo a Or­

ganização Mundial da Saúde.

De acordo com esta classificação, o tipo IV é a glomerulonefrite de pior

prognóstico, com quadro clínico em geral de síndrome nefrótica e presença de in­

suficiência renal. Por outro lado, os tipos I, II e III (GN de lesão mínima, mesan-

gial e proliferativa focal) apresentam geralmente evolução clínica benigna, com

preservação funcional do rim, enquanto que o tipo V (GN membranosa) tem

prognóstico variável (ROTHFIELD, 1993).

2.5.6. Manifestações Cardio-Pulmonares

O coração encontra-se clinicamente acometido em 35% dos pacientes com LES,

caracterizando-se este envolvimento mais comumente por pericardite isolada, po­

dendo também ocorrer uma pancardite, afetando todos os folhetos cardíacos

(SCHUR, 1989). Além disso, as artérias coronárias quando comprometidas, origi­

nam quadros de isquemia e infarto miocárdico (ASHERSON & HUGHES, 1988).

Em relação às válvulas cardíacas, observa-se freqüentemente a ocorrência

de lesões, que podem ser desde assintomáticas até quadros graves de endocardite

com repercussão hemodinâmica (ASHERSON & HUGHES, 1988).

A doença pleural é a mais comum anormalidade do sistema respiratório no

LES, ocorrendo em até 60% dos pacientes sob a forma de dor pleurítica, com ou

sem efusão pleural (ORENS et al, 1994).

Page 33: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

TABELA 3. CLASSIFICAÇÃO DA GLOMERULONEFRITE (GN)

LÚPICA SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

Classe I : rim normal ou GN de nenhuma alteração ou presença de

alterações mínimas: depósitos imunes apenas à micro-

scopia eletrônica ou imunofluo-

rescência;

Classe 11: GN mesangial: hipercelularidade mesangial;

Classe IH: GN proliferativa focal : menos de 50% dos glomérulos bi-

opsiados com proliferação endote-

lial ;

Classe IV: GN proliferativa di- maioria dos glomérulos afetados;

fusa :

Classe V: GN membranosa : depósitos imunes ao longo da

membrana basal.

Classe VI: GN esclerosante: presença de esclerose glomerular e

mesangial; geralmente relacionada

a falência renal terminal.

21

Page 34: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

A pneumonite lúpica é uma forma de comprometimento pulmonar encontrada

em apenas 1 a 4% dos pacientes, podendo ser a manifestação inicial da doença.

Clinicamente, apresenta-se com febre, tosse, dispnéia, hipoxemia e infiltrados

pulmonares difusos, sendo difícil o diagnóstico diferencial com infecção

(CARETTE et al, 1984).

Uma complicação pulmonar rara relacionada ao LES é a doença intersticial

crônica, cujas características clínicas e radiológicas são indistinguíveis das da fi­

brose pulmonar idiopática, porém com evolução em geral menos severa

(WIEDEMANN & MATTHAY, 1989).

Outra manifestação pulmonar pouco comum no LES é a “Síndrome dos

Pulmões Encolhidos”, representada por fraqueza da musculatura respiratória e

conseqüente redução volumétrica pulmonar (GIBSON et al, 1977).

A hemorragia pulmonar, uma rara porém potencialmente catastrófica compli­

cação do LES, tem índices de mortalidade relatados que excedem 50% (MARINO

& PERTSCHUK, 1981). Esta anormalidade deve ser incluída no diagnóstico

diferencial de hemoptise no LES, juntamente com infecção, insuficiência cardíaca

congestiva, uremia e tromboembolismo pulmonar (ORENS et al, 1994).

O sistema respiratório é sítio de várias outras raríssimas anormalidades re­

latadas no LES, como a bronquiolite obliterante, nódulos pulmonares, linfadeno-

patia hilar, amiloidose e pseudolinfoma (ORENS et al, 1994).

Page 35: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

2.5.7. Manifestações Vasculares

O fenômeno de Raynaud é freqüente no LES, ocorrendo em média em 18%

dos pacientes. Esta anormalidade vascular, que geralmente é reversível ou diminui

de intensidade com o tratamento, pode preceder o aparecimento da doença por

vários anos (ROTHFIELD, 1993).

A inflamação vascular é o substrato anátomo-patológico para grande parte

das manifestações do LES. Na pele, dá origem a lesões pápulo-eritematosas, com

ou sem gangrena e a síndromes urticariformes (ALARCON-SEGOVIA, 1988).

Quando vasos de maior calibre são acometidos ocorrem os fenômenos trombo-

embólicos, os quais comprometem mais freqüentemente os membros, porém po­

dem ser encontrados em vasos viscerais, como os pulmões e os intestinos

(ROTHFIELD, 1993). Entretanto, os fenômenos tromboembólicos em pacientes

com LES podem também ser devidos a anormalidades relacionadas à presença de

anticorpos anti-fosfolípides, configurando parte de uma sínfrome antifosfolipídica

secundária, cujas principais manifestações incluem ainda trombocitopenia, anemia

hemolítica, abortamentos de repetição e doença valvular cardíaca (HARRIS et al,

1993).

2.6. Auto-anticorpos no LES

Os auto-anticorpos que ocorrem no LES pertencem basicamente a duas cate­

gorias distintas:

Page 36: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

a) aqueles direcionados a antígenos teciduais não específicos, que compreen­

dem os auto-anticorpos dirigidos contra constituintes nucleares e citoplas-

máticos e representam a maioria dos auto-anticorpos observados no LES

(TAN et al, 1977; TAN, 1993);

b) aqueles que reconhecem elementos celulares específicos de determinados

tecidos, como por exemplo os auto-anticorpos contra tireóide, músculo liso,

fígado e células do sistema hematopoiético (hemácias, leucócitos e plaquetas)

(TAN, 1993).

2.6.1. Auto-anticorpos Antinucleares

Os auto-anticorpos antinucleares (ANA, do inglês antinuclear antibodies)

constituem-se no mais bem estudado grupo de auto-anticorpos no LES, sendo atu­

almente classificados de acordo com com suas estruturas moleculares, potencial

patogênico e correlações clínicas correspondentes (VON MÜHLEN & TAN,

1995). Além disso, alguns anticorpos contra estruturas do citoplasma, como por

exemplo os anticorpos anti- proteína P ribossomal, também têm sido estudados e

correlacionados com manifestações clínicas do LES (BONFA et al, 1987). A ta­

bela 4 apresenta os principais auto-anticorpos que ocorrem no LES, incluindo

aqueles dirigidos contra elementos nucleares e citoplasmáticos (adaptada de VON

MÜHLEN & TAN, 1995).

O papel dos auto-anticorpos na patogênese do LES tem sido extensivamente

estudado, na tentativa de se determinar sua importância na produção das lesões

Page 37: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

TABELA 4. AUTO-ANTICORPOS NO LES

Auto-anticorpo contra

dsDNA

Sm

Ul-RNP

SSA-Ro

SSB-La

Ris tonas

RNP ribossomal

Ku

ssDNA

F osfolipídios

Prevalência e Associações clínicas

40%-70% em doença ativa; nefro­patia, envolvimento neurológico, anticorpo marcador 15%-30% de todos os casos; en­volvimento neurológico, anticorpo marcador 30%-40% de todos os casos; fenômeno de Raynaud 24o/o-60% de todos os casos; lúpus cutâneo subagudo, fotossensibili­dade, lúpus neonatal, deficiências de C2 e C4 9%-35% de todos os casos; lúpus neonatal, lúpus no idoso 50o/o-70% dos casos no LES idiopático; envolvimento pulmonar 10%-20% de todos os casos; 56o/o-90% na cerebrite com psicose 1%-19% de todos os casos; anti­corpo marcador para superposição com polimiosite e escleroderma 70% na doença ativa

24%-26% de casos não seleciona­dos; trombose, perda fetal recor­rente, trombocitopenia, anerrua hernolítica

25

Page 38: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

relacionadas à doença. Um dos principais mecanismos de lesão tecidual proposto

envolve a formação de complexos antígeno-anticorpo e sua deposição nos tecidos,

induzindo a inflamação, sendo que o LES é considerado como o protótipo de

doença por imunocomplexo (WOODS & ZVAIFLER, 1989).

Múltiplos fatores influenciam a formação e a deposição dos imunocomplexos,

como algumas de suas propriedades físicas e químicas e sua capacidade de intera­

ção com o sistema complemento (COCHRANE, 1971). Estes complexos imunes

podem ser produzidos tanto a nível do próprio tecido onde ocorre a lesão como em

outros locais, sendo posteriormente depositados naquele tecido, havendo então a

ativação do complemento e o desencadear do processo inflamatório (COUSER,

1991).

Os ANA têm grande importância na caracterização clínica e classificação

do LES, tendo sido incluídos como critério independente na classificação publi­

cada pelo Colégio Americano de Reumatologia {American College o f Rheumatol­

ogy - ACR) em 1982 (TAN et al, 1982). Apesar de serem relativamente inespecífi-

cos para o LES e de muitas vezes apresentarem dificuldades em sua interpretação,

eles representam a principal categoria de auto-anticorpos pesquisada na prática

clínica, com positividade em cerca de 98% dos pacientes (quando se utiliza como

substrato as células de linhagem Hep-2), constituindo-se provavelmente no teste de

“screening” de maior utilidade (HARLEY & GAITHER, 1988).

Page 39: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Apesar de ainda não estarem adequadamente comprovadas, as teorias pato-

genéticas atualmente em vigor sustentam a idéia de que alguns auto-anticorpos são

específicos contra respectivos auto-antígenos, devendo ser, ao menos em parte, re­

sponsáveis por algumas manifestações clínicas da doença. Tal é o caso dos anti­

corpos anti-proteína P ribossomal, que estão associados com a psicose lúpica e o

recentemente descrito sistema anti-RA33, relacionado à artrite erosiva no LES

(BONFÁ et al, 1987; ISENBERG et al, 1994). Um dos melhores exemplos de que

os auto-anticorpos podem originar diretamente determinadas anormalidades clíni­

cas é a associação encontrada entre os anticorpos anti-Ro e o bloqueio cardíaco em

crianças com lúpus neonatal (SILVERMAN et al, 1995).

2.6.1. l.Anticorpos Anti-dsDNA

Constituem-se num dos mais importantes auto-anticorpos encontrados no

LES e ocorrem sob duas formas, contra DNA de dupla hélice, natural ou nativo

(anti-dsDNA, do inglês double-stranded) e contra DNA desnaturado ou de hélice

única (anti-ssDNA, do inglês single-stranded). Estes últimos não são específicos

do LES, podendo aparecer em outras doenças auto-imunes, reumáticas ou não

(TAN, 1989). Os anticorpos anti-dsDNA ocorrem em 50-70% dos pacientes com

LES em atividade e são considerados, quando em títulos significativos, marcadores

diagnósticos da doença, apresentando flutuações em seus títulos de acordo com a

atividade da mesma (LLOYD & SCHUR, 1981; WEINSTEIN et al, 1983). Além

disso, são os únicos auto-anticorpos definidamente implicados na patogênese do

Page 40: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

LES, em especial na gênese da glomerulonefrite (KOFFLER et al, 1969; RAZ et

al, 1989), onde têm comprovadamente um papel nas lesões mediadas por imuno-

complexos (SABBAGA et al, 1989). Portanto, os anticorpos anti-dsDNA repre­

sentam um importante instrumento de associação clínico-sorológica.

2.6.I.2. Anticorpos Anti-ribonucleoproteínas

Os anticorpos contra proteínas ribonucleares, que são pequenas estruturas

proteicas ligadas ao ARN (ácido ribonucleico), constituem um importante grupo de

auto-anticorpos que ocorre freqüentemente em pacientes com LES. Dentre eles

distinguem-se:

a) Anticorpos anti-Sm (anti-Smith): foi um dos primeiros auto-anticorpos

identificados em pacientes com LES, em 1966 (TAN & KUNKEL, 1966).

Apresentam especificidade contra três regiões moleculares distintas do ARN,

caracterizadas como B (28kD), B’(29kD) e D (16kD). Os anticorpos anti-Sm

têm grande importância do ponto de vista diagnóstico para o LES, devido à

sua especificidade de 99% para a doença (YASUMA et al, 1990). No entanto

são pouco sensíveis, com positividade em tomo de 20% (SCHUR, 1989).

Além disso, os anticorpos anti-Sm apresentam correlação com a atividade

lúpica, o que sugere que desempenhem um papel patogênico na doença

(BARADA et al, 1981; TER BORG et al, 1991). Do ponto de vista clínico,

as associações mais freqüentemente documentadas em relação ao anti-Sm

dizem respeito ao envolvimento isolado do sistema nervoso central

Page 41: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

(WINFIELD et al, 1978), ausência ou curso benigno de nefrite (WINN et al,

1979), além de relatos isolados de fibrose pulmonar e pericardite (YASUMA

et al, 1990).

b) Anticorpos anti-UIRNP (ribonucleoproteínas): ocorrem geralmente em

asssociação com anti-Sm, sendo detectados em cerca de 30 a 40% dos pa­

cientes com LES (WILLIAMSON et al, 1983). Além da baixa sensibilidade,

apresentam também baixa especificidade, ocorrendo em outras patologias

auto-imunes, como na síndrome de superposição de LES, polimiosite e es-

cleroderma, a qual tem sido considerada como uma entidade clínica distinta e

designada por Sharp e cols. como doença mista do tecido conjuntivo

(DMTC) (SHARP et al, 1972). No LES, as associações clínico-sorológicas

relatadas para os anticorpos anti-UIRNP referem-se a uma correlação nega­

tiva com os anticorpos anti-dsDNA e nefrite (SHARP et al, 1971;

REICHLIN & MATTIOLI, 1972).

c) Anticorpos anti-Ro (SSA) e anti-La (SSB) ocorrem freqüentemente juntos,

pois os antígenos contra os quais são dirigidos constituem um sistema an-

tigênico intimamente relacionado a nível molecular, composto por três pro­

teínas (HARLEY et al, 1992; ST. CLAIR, 1992). O antígeno Ro (SSA) rep­

resenta na verdade dois alvos antigênicos, uma proteína de 60 kD e outra de

52 kD, cada qual constituída de duas isoformas, as quais ocorrem em dif­

erentes células e cujos auto-anticorpos não apresentam reação cruzada entre

Page 42: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

30

si (ITOH et al, 1990). Há uma grande variedade de manifestações clínicas as­

sociadas com anti-Ro e/ou anti-La, sendo as principais o lúpus eritematoso

cutâneo subagudo (SONTHEIMER et al, 1982), o lúpus eritematoso neonatal

(SILVERMAN et al, 1995), deficiências homozigóticas de C2 e C4

(PROVOST et al, 1983). Estes anticorpos, em especial o anti-Ro, têm sido

asssociados com algumas manifestações clínicas como o rash fotossensível

(MOND et al, 1989) e LES ANA-negativo (VON MÜHLEN & TAN, 1995).

Assim, a identificação de auto-anticorpos no LES constitui-se atualmente

num dos pontos fundamentais para o diagnóstico e acompanhamento clínico dos

pacientes. Juntamente com os aspectos demográficos e clínicos, o perfil sorológico

individualizado permite ao clínico uma visão abrangente do doente e de sua pa­

tologia, fornecendo indicativos de prognóstico e facilitando o manejo clínico dos

pacientes com LES.

Page 43: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

31

3- OBJETIVOS

- Traçar um perfil de uma população de 90 pacientes com LES provenientes

da Região Sul do Brasil, por meio da análise de seus aspectos clínicos, de­

mográficos e auto-imunes, estabelecendo associações entre os mesmos;

- Comparar o perfil da população em estudo com o de outros grupos de pa­

cientes com LES tanto do Brasil quanto do exterior, buscando a identificação de

aspectos específicos da presente casuística;

-Enfatizar a composição étnica da população analisada, a fim de fornecer

subsídios para futuros estudos imunogenéticos.

Page 44: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

32

4 - CASUÍSTICA E MÉTODOS

Foram estudados 90 pacientes com LES, obedecendo aos seguintes critérios:

1. Terem sido atendidos consecutivamente nos Serviços de Clínica Médica e

Reumatologia do Hospital de Clínicas da UFPR, em ambulatório ou interna­

dos, no período compreendido entre outubro de 1992 e dezembro de 1993;

2. Apresentarem 4 (quatro) ou mais critérios de classificação para LES

definidos pelo Colégio Americano de Reumatologia {American College o f

Rheumatology) em qualquer época de sua evolução clínica. Estes critérios

estão especificados no ANEXO I;

3. Serem efetivamente membros de famílias originárias da Região Sul do

Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).

A maioria dos dados clínicos, demográficos e laboratoriais , tanto passados

como atuais dos pacientes foram obtidos a partir da análise retrospectiva dos

prontuários médicos, por meio de um protocolo (mostrado no ANEXO II).

O contato dos autores do presente estudo com os pacientes analisados rela­

cionou-se apenas à coleta de amostras para a realização dos testes laboratoriais,

durante a qual aferiu-se (ou confirmou-se) a procedência e a origem étnica dos in­

divíduos estudados.

4.1. Características Demográficas:

Page 45: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Foram anotados os dados referentes ao sexo, à idade ao diagnóstico do LES e

ao tempo de duração da doença. Como não há nenhuma definição oficial de ori­

gem étnica em uso corrente no Brasil, esta foi aferida baseando-se na informação

fornecida pelos pacientes e/ou seus familiares e na observação de suas característi­

cas fisionômicas e cor da pele, sendo os mesmos classificados como:

a) Branco-europeus, indivíduos de ascendência européia direta, como

alemães, italianos, poloneses e outros grupos populacionais oriundos da Eu­

ropa;

b) Branco-brasileiros, quando os pacientes e seus familiares desconheciam

sua ascendência, possivelmente apresentando importante grau de miscigena­

ção, incluindo europeus, asiáticos, índios e em menor grau africanos;

c) Mulatos/negros, indivíduos de ascendência africana direta ou miscigenado

com brancos.

4.2. Características Clínicas:

A avaliação clínica incluiu a observação da ocorrência dos seguintes fatores

(dados clínicos cumulativos, tendo ocorrido a qualquer tempo da evolução da

doença):

4.2.1. Envolvimento Renal:

Definido quando o exame do sedimento urinário revelava:

Proteinúria persistente (em pelo menos duas dosagens), acima de 0,5 g/24

horas, e/ou;

Page 46: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Cilindrúria, presença de cilindros hialinos, hemáticos ou granulosos.

Hematúria (acima de 10.000 hemácias/ml), sempre em associação com uma

das alterações acima. Isoladamente, esta anormalidade foi considerada como

indicativa de comprometimento renal somente na presença de dismorfismo

eritrocitário e após terem sido excluídas outras patologias do aparelho ur­

inário;

Leucocitúria, acima de 10.000/ml, excluída infecção urinária e outras causas,

considerada apenas em associação com uma ou mais anormalidades acima.

Insuficiência renal foi considerada na presença de creatinina plasmática per­

sistentemente acima de 1,4 mg/dl por um período mínimo de 1 (um) ano,

verificada em pelo menos 2 (duas) dosagens. A falência renal foi caracteri­

zada como sendo terminal quando da necessidade de diálise para o seu trata­

mento.

4.2.2. Envolvimento Hematológico:

Anemia, com hemoglobina abaixo de 11 g/dl, caracterizada como sendo de

padrão normocítico e normocrômico;

Anemia hemolítica, com teste de Coombs direto e/ou indireto positivo;

Leucopenia, número de leucócitos abaixo de 4.000/mm3;

Linfopenia, contagem de linfócitos abaixo de 1.000/mm3;

Plaquetopenia, plaquetas em número abaixo de 100.000/mm 3.

Page 47: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

4.2.3. Envolvimento Músculo-esquelético:

Artralgia, presença de dor articular sem caracterização de sinais flogísticos

locais;

Artrite, na observação por parte do médico de sinais inflamatórios articulares;

Periartrites, tenossinovites, tendinites, bursites, observadas pelo médico;

Necrose óssea asséptica, nos casos diagnosticados clínica e radiologicamente;

Miosite, diagnosticada pelo quadro clínico e enzimático.

4.2.4. Envolvimento Tegumentar e Glandular:

Fotossensibilidade, na observação por parte do paciente de aparecimento ou

exacerbação de lesões cutâneas após exposição solar;

Rash malar: lesão eritematosa ou eritêmato-papular em região malar e nasal

(em vespertílio);

Rash discóide: lesões em geral arredondadas, eritematosas, com bordos cir-

cinados, infiltrados e presença de área atrófica central, em geral deixando

cicatrizes atróficas após seu desaparecimento;

Lúpus cutâneo subagudo: lesões eritematosas infiltrativas em áreas expostas,

apresentando atrofia e descamação e que não deixam cicatrizes após seu de­

saparecimento;

Alopécia: referida pelo paciente, podendo por vezes ser constatada no mo­

mento do exame clínico;

Page 48: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Outras lesões: apresentando variados aspectos clínicos, que tenham sido con­

sideradas decorrentes do próprio LES.

Ceratoconjuntivite seca (Síndrome de Sjõgren): confirmada por exame oftal­

mológico incluindo os testes pertinentes positivos e quando indicado, sialo-

grafia de glândula parótida com resultado compatível.

4.2.5. Envolvimento Neurológico:

Do sistema nervoso central: psicose, convulsões, acidentes vasculares cere­

brais, síndrome cerebral orgânica, mielite transversa e outras, atribuíveis ao

LES, diagnosticadas pelo quadro clínico e confirmadas por exames de im­

agem quado indicado;

Do sistema nervoso periférico: polineuropatia sensitivo-motora, mononeurite

múltipla e outras, atribuíveis ao LES, diagnosticadas pelo quadro clínico e

confirmadas pelos exames complementares indicados, quando possíveis de

serem realizados.

4.2.6. Envolvimento Vascular:

Fenômenos tromboembólicos, ocorrendo em território vascular arterial ou

venoso, diagnosticados pelo quadro clínico e exames complementares ade­

quados;

Fenômeno de Raynaud, referido pelo paciente ou observado pelo médico,

constando de cianose seguido de hiperemia de mãos e/ou pés após exposição

ao frio;

Page 49: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Vasculite: de extremidades ou outras localizações cutâneas ou cutâneo- mu­

cosas, observadas pelo médico, com ou sem comprovação anátomo-

patológica;

Hipertensão arterial sistêmica, definida pela ocorrência de pressão arterial

sistólica maior ou igual a 150 mm Hg e/ou diastólica maior ou igual a 95

mm Hg, em pelo menos 2 (duas) aferições.

4.2.7. Envolvimento de Serosas:

Pleurite: quadro clínico compatível, com confirmação radiológica ou

ecográfica;

Pericardite: quadro clínico compatível, com confirmação ecocardiográfica.

4.2.8. Envolvimento Cardio-pulmonar:

Pneumonite: sintomas respiratórios agudos, acompanhados de imagem de in­

filtrado pulmonar ao exame radiológico, excluindo-se a presença de infecção;

Outras anormalidades pulmonares: detectadas clinicamente e confirmadas

por exames complementares adequados;

Miocardite: comprometimento da função miocárdica, sob o aspecto clínico e

sinais eletrocardiográficos compatíveis, com confirmação por meio do eco-

cardiograma;

Endocardite: sinais e sintomas clínicos, confirmada ecocardiograficamente.

4.2.9. Avaliação da Severidade do LES

Page 50: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Com o objetivo de avaliar e definir a gravidade do LES, os pacientes foram

divididos em dois grupos:

a) Pacientes com envolvimento de nenhum ou apenas um órgão ou sistema

vital, portando nenhuma seqüela incapacitante decorrente da doença (sem

doença grave);

b) Pacientes com envolvimento de dois ou mais órgãos ou sistemas vitais

acarretando seqüelas funcionais significativas ou morte relacionada à doença

(doença grave).

4.3. Avaliação Laboratorial:

4.3.1. Exames Hematológicos, Bioquímicos e Provas de Atividade Infla­

matória:

Para a avaliação laboratorial todos os pacientes foram submetidos a exames

realizados no Laboratório Central do Hospital de Clínicas, utilizando-se técnicas

de rotina: hemograma com contagem de plaquetas, VHS, mucoproteínas, parcial

de urina, uréia, creatinina e glicemia. Estes exames foram solicitados na consulta

mais recente do paciente e os resultados encaminhados, via serviço de arquivo

médico, ao prontuário do mesmo.

4.3.2. Testes Sorológicos:

A positividade dos testes sorológicos foi assim considerada quando presente

em qualquer época da doença. Foram testados na consulta mais recente apenas os

Page 51: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

pacientes que não haviam realizado a sorologia em um período de até de 5 (cinco)

anos.

a) Os anticorpos antinucleares (ANA) foram pesquisados pela técnica de

imunofluorescência indireta, segundo a metodologia de Beutner, modificada

por Batty e Torrigiani (BEUTNER et al, 1973). Os substratos utilizados fo­

ram cortes criostáticos de fígado de camundongo e células de linhagem Hep-

2 (ImunoCenter, São Paulo). O conjugado fluorescente anti-IgG humana em­

pregado foi fornecido pela Biolab (Rio de Janeiro).

b) Os anticorpos anti-DNA nativo (anti-dsDNA, double-stranded DNA) fo­

ram detectados de acordo com o método de Aarden (AARDEN et al, 1975),

por meio de imunofluorescência indireta, utilizando-se como substrato

Crithidia luciliae (Imuno Center) e conjugado fluorescente anti-IgG humana

(Biolab).

c) Os anticorpos anti-ENA (extractable nuclear antigen), incluindo anti-Sm,

anti-UIRNP, anti-Ro (SSA) e anti-La (SSB) foram testados por contraimuno-

eletroforese (KURATA & TAN, 1976) em placas de vidro contendo 1,5% de

agarose (Sigma,EUA), utilizando-se tampão tris glicina EDTA, pH 8,6.

Como fonte de antígenos Sm e U1RNP foi empregado extrato de timo de

coelho (Pel-Freeze Biologicals-EUA). Os antígenos Ro e La foram obtidos

de extratos de baço de cão, provenientes do Laboratório da Disciplina de

Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Page 52: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

d) O complemento hemolítico total (CH50) foi dosado pela técnica de imu-

nohemólise de acordo com Mayer, enquanto as frações C3 e C4 foram de­

tectadas por meio de turbidimetria, segundo as instruções do fabricante.

4.3.4. Outros Exames Complementares:

Foram realizados conforme a necessidade em pacientes selecionados, diver­

sos exames subsidiários, como radiografias, ultrassonografias, tomografias, arteri-

ografias, exames do líquor e outros, a critério clínico e de acordo com suas possi­

bilidades de realização em virtude de serem os mesmos custeados pelo Sistema

Único de Saúde (SUS) vigente no país.

4.3.5. Biópsia Renal:

Realizada a critério dos médicos responsáveis em alguns pacientes com

comprometimento renal. Segundo nosso conhecimento, ainda não estão esta­

belecidos no HC-UFPR parâmetros formais para indicação deste procedimento na

nefrite lúpica.

4.4. Análise Estatística:

Os dados de todos os pacientes foram compilados e organizados em pro­

grama Microsoft Access para Windows.

Como os resultados em análise são, do ponto de vista estatístico, conside­

radas como variáveis binárias, o teste empregado foi o do Qui-quadrado, com cor­

reção pelo fator de Yates, que confere maior confiabilidade ao resultado.

Page 53: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Quando o tamanho da amostra a ser analisada era pequena (de acordo com

parâmetros estatísticos), foi utilizado o teste de Fischer.

O nível de significância considerado foi de 5% (valores de p <0,05) para a

rejeição da hipótese de nulidade.

Page 54: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

42

5 -RESULTADOS

5.1. Dados Demográficos:

Foram estudados 90 pacientes, compreendendo 84 mulheres (93%) e 6

homens (7%). A idade média foi de 31,18 anos, variando de 14 a 67 anos. A

época do diagnóstico do LES, 22 pacientes tinham menos de 20 anos (24%); 56

(62%) tinham entre 20 e 40 anos e 12 deles (13%) apresentavam mais de 40 anos.

O tempo médio de duração da doença foi de 5,19 anos, variando de 1 mês a 18

anos.

De acordo com a classificação étnica, a população estudada distribuiu-se da

seguinte forma: 59 (65,5%) eram Branco-brasileiros, 19 (21%) Branco-europeus e

12 (13%) Mulatos/negros.

A figura 1 ilustra os dados demográficos dos 91 pacientes estudados:

distribuição por sexo, idade ao diagnóstico e grupo étnico.

5.2. Dados Clínicos:

A Tabela 5 apresenta a prevalência das manifestações clínicas no 90

pacientes com LES estudados.

5.2.1. Manifestações Músculo-esqueléticas

As manifestações clínicas mais freqüentemente encontradas no grupo de pa­

cientes estudado foram aquelas envolvendo o sistema osteo-articular e museu-

Page 55: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

43

FIGURA 1. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DE 90 PACIENTES COM

LES : SEXO, IDADE AO DIAGNÓSTICO E GRUPO ÉTNICO

20 • 40 anos 63%

Mt.iatc>Nego 13%

Brancc>E~.ropeu

21%

SEXO

IDADE AO DIAGNÓSTICO

GRUPO ÉTNICO

MasclJlno 7%

> 40 anos 13%

Branco-Brasileiro 66%

Page 56: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

44

TABELA 5. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EM 90 PACIENTES COM LES

MANIFESTAÇÃO N. % MANIFESTAÇÃO N. %

Músculo-esqueléticas 88 98 Serosite 39 43 Artrite/periartrite 84 93 Pleurite 30 33 Osteonecrose 4 4 Pericardite 16 18 Cutâneas 77 85 Vasculares 27 30 F otossensibilidade 59 65 Vasculite cutânea 23 25 Rash malar 58 64 Vasculite visceral 9 10 Alopécia 38 42 Hipertensão arterial 29 32 Rash discóide 21 23 Raynaud 13 14 Renais 56 67 Tromboembolismo 8 9 Insuf. renal crônica 15 18 S. de Sjõgren 2 2 Síndrome nefrótica 5 6 Neurológicas 26 29 Hematológicas 47 52 SN* central 22 24 Anemia 28 31 SN* periférico 4 4 Leucopenia 8 9 Cardiopulmonares 8 9 Trombocitopenia 7 8 Pneumonite 4 4 Anemia hemolítica 4 4 Miocardite " " .) .)

Coronariopatia 1 1

* SN - sistema nervoso

Page 57: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

lar (97,7%), sendo a artrite a principal forma de acometimento (93,3%). Digna

de nota foi também a ocorrência de necrose avascular óssea, em 4 (4,4%) dos ca­

sos.

5.2.2. Manifestações do Sistema Tegumentar e Glandular

A pele e os anexos foram comprometidos em 77 (85,5%) dos pacientes. Cin­

qüenta e nove (65,5%) deles apresentaram rash cutâneo fotossensível, 58 (64,4%)

rash em região malar. Alopécia acometeu 38 (42,2%) dos doentes, enquanto

erupções do tipo discóide estiveram presentes em 21(23,3%) indivíduos.

Ceratoconjuntivite seca (síndrome de Sjõgren) foi diagnosticada em 2 (2,2%)

pacientes.

5.2.3. Manifestações Renais

Somente em 84 casos foi possível a avaliação do comprometimento renal,

devido a extravio de exames solicitados. O envolvimento renal foi encontrado em

dois terços destes pacientes (56/66,6%), caracterizado por hematúria em 38

(45,2%) , proteinúria em 41(48,8%) e cilindrúria em 25(29,7%) deles, isolada­

mente ou de forma combinada, exceto no caso da cilindrúria, que sempre ocorreu

associada a outra alteração do sedimento urinário.

Deste acometimento resultou insuficiência renal em 15 (17,8%) dos casos,

sendo a mesma caracterizada como crônica em 9 pacientes (10,7%) e como termi­

nal em 6 (7,1%). Cinco pacientes (5,9%) evoluíram com síndrome neffótica.

Page 58: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Biópsia renal foi realizada em 21 pacientes, sendo encontrada glomerulone-

frite proliferativa difusa em 9 casos, mesangial em 3, membranosa e membrano-

proliferativa em 2 pacientes cada e proliferativa focal em 1 caso. Em quatro bióp­

sias não se conseguiu definir o quadro histológico.

A Tabela 6 apresenta os resultados de 21 biópsias renais segundo a classifi­

cação histológica da OMS (Organização Mundial da Saúde).

5.2.4. Manifestações Hematológicas

Observou-se comprometimento hematológico em 47 (52,2%) dos pacientes.

A anemia foi a anormalidade hematológica mais freqüente, acometendo 28

(31,1%) dos mesmos, sendo que em 4 (4,4%) casos esta foi diagnosticada como

hemolítica. Oito (8,8%) indivíduos apresentaram leucopenia, enquanto plaque-

topenia evidenciou-se em 7 (7,7%) pacientes.

5.2.5. Serosites

Trinta e nove (43,3%) pacientes tiveram uma ou mais serosas acometidas

pelo LES. A pleura foi comprometida em 30 (33,3%) e o pericárdio em 16

(17,7%) pacientes.

5.2.6. Manifestações Vasculares

Em 27 (30%) dos casos foi identificado o envolvimento inflamatório de va­

sos dos diversos sistemas orgânicos, caracterizando clinicamente vasculite, que

acometeu a pele em 21 (23,3%) e uma ou mais vísceras em 7 (7,7%) pacientes.

Fenômeno de Raynaud foi observado em 13 (14,4%) pacientes.

Page 59: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

47

TABELA 6. BIÓPSIAS RENAIS EM 21 PACIENTES COM LES.

CLASSIFICAÇÃO IDSTOLÓGICA SEGUNDO A OMS

TIPO N. OJó CLASSE OMS HISTOLÓGICO

Proliferativa difusa 9 43 IV Mesangial 3 14 11 Membranosa 2 9 v Membrano- 2 9 III/JVN pro liferati v a Proliferativa focal 1 5 111 Indefinido 4 19

Page 60: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Eventos tromboembólicos ocorreram em 8 (8,8%) casos, acometendo o

sistema venoso periférico em 5 (5,5%) e os pulmões em 3 (3,3%) pacientes. Uma

destas pacientes paciente apresentou também abortos de repetição, considerados

como decorrentes de tromboembolismo a nível de vasos placentários.

Hipertensão arterial sistêmica foi observada em 29 pacientes (32,3%),

estando a mesma fortemente associada a comprometimento renal (p<0,00001) e a

insuficiência renal (p<0,0002). Nenhuma outra associação foi encontrada entre

esta manifestação clínica e os demais dados demográficos, clínicos e laboratoriais.

5.2.7. Manifestações Neuro-psiquiátricas

O comprometimento neurológico foi diagnosticado em 26 (28,8%) pacientes.

As manifestações que acometeram o sistema nervoso central foram: convulsões em

9 (10%) casos, psicose em 6 (6,6%) casos, déficits neurológicos focais em 5 casos

e disfunções cerebrais difusas em 6 (6,6%) pacientes. Alguns destes pacientes

apresentaram mais de um tipo de manifestação envolvendo o sistema nervoso cen­

tral. O sistema nervoso periférico mostrou-se comprometido em 4 (4,4%) pacien­

tes, sob a forma de mono ou polineuropatia sensitivo-motora ou mononeurite mul-

tiplexa (2 casos - 2,2%).

5.2.8. Manifestações Cardio-pulmonares

Oito (8,8%) indivíduos tiveram comprometimento cardio-pulmonar, sendo

que 4 (4,4%) apresentaram pneumonite, 3 (3,3%) miocardite e apenas um (1,1%)

coronariopatia.

Page 61: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

5.3. Associação entre os Dados Clínicos e os Dados Demográficos

Em relação à freqüência das manifestações clínicas nos diferentes grupos ét­

nicos, observou-se que:

- Envolvimento neurológico ocorreu menos freqüentemente no grupo de pa­

cientes Mulatos/negros (8,3%) do que no de Branco-brasileiros (32,2%) e Branco-

europeus (31,5%).

- Os pacientes Branco-brasileiros tiveram maior incidência de serosite

(50,8%) do que os Branco-europeus (21%) e os Mulatos/negros (41,6%).

- Vasculite foi mais freqüentemente observada nos Mulatos/negros (50%) do

que nos Branco-brasileiros (25,4%) e nos Branco-europeus (31,5%).

- A incidência de fenômeno de Raynaud foi baixa em todos os grupos: 16,9%

nos pacientes Branco-brasileiros e 15,7% nos Branco-europeus, não ocorrendo em

nenhum paciente Mulato/negro.

Os resultados acima comentados não apresentaram diferenças estatistica­

mente significantes, porém foram encontrados valores bastante próximos da signi-

ficância no caso da serosite (p=0,07). A figura 2 mostra a associação entre as

manifestações clínicas e o grupo étnico.

A idade ao diagnóstico foi associada com alguns parâmetros clínicos, como

se segue:

Page 62: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

50

FIGURA 2. ASSOCIAÇÃO ENTRE AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E

O GRUPO ÉTNICO EM 90 PACIENTES COM LES

f1)

~ ~ ·a; "' 15 6 o c "' à'i

f1) :::l

"' a. ~ :::l

"' 6 o c ~

ID

DRenais

• Neurológicas

C Cutâneas

C Musculoesqueléticas

•serosite

CRaynaud

D Vasculite

CLES severo

Page 63: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

51

- O comprometimento renal ocorreu mais freqüentemente nos pacientes que

apresentaram o LES em idade mais precoce (< 20 anos - 81,8%), quando com­

parados aos grupos de 20-40 anos (58,9%) e > 40 anos (41,6%, p<0,05);

- Os pacientes menores de 20 anos ao diagnóstico também apresentaram

maior incidência de doença grave quando comparados aos demais (77,2%), resul­

tado próximo, porém não alcançando a signifrcância estatística (p=0,07).

- Fenômeno de Raynaud esteve presente em 33,3% dos pacientes com idade

maior de 40 anos ao diagnóstico, porém somente em 14,2% daqueles com idades

entre 20 e 40 anos e em 4,5% dos pacientes com menos de 20 anos ao

diagnóstico (p<0,05).

A figura 3 ilustra a associação entre as manifestações clínicas e a idade ao

diagnóstico.

5.4. Dados Laboratoriais:

5.4.1. Auto-anticorpos

Anticorpos antinucleares (ANA) foram detectados em 98% (88/90) dos pa­

cientes estudados, em algum período da doença. Em relação ao tipo de auto-

anticorpo presente no soro dos pacientes, mais da metade deles (62%-56/90) apre­

sentavam positividade para os anticorpos anti-dsDNA. Dentre os auto-anticorpos

do tipo anti-ENA, o anticorpo de maior positividade foi o anti-Sm, detectado em

31%(28/90) dos casos. Anti-UIRNP foi encontrado em 8,8%(8/90), anti-Ro em

6,6% (6/90) e anti-La em apenas 5,5% (5/90) dos pacientes, respectivamente.

Page 64: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

FIGURA 3. ASSOCIAÇÃO ENTRE AS MANIFESTAÇÕES

CLÍNICAS E A IDADE AO DIAGNÓSTICO EM 90 PACIENTES COM

LES

100 ,--~~-,~-------~~---~--~----,~-,,-~---~---·~--~-,

OO r-----------------, ''1--------~

aJ

70

ED

SJ

4)

3)

::!)

10

o >4J era; (n=12)

52

Page 65: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

A figura 4 demonstra a positividade dos auto-anticorpos nos 90 pacien­

tes com LES estudados.

Em 40 pacientes (44,4%), detectou-se a presença de apenas um tipo de auto-

anticorpo. Destes, 33 (36,6%) apresentavam positividade apenas para o anti­

dsDNA e 7(7,7%) apenas para anti-Sm.

Dois pacientes (1,8%) apresentaram apenas anti-Sm e anti U1RNP, dois

apresentaram anti-Sm, anti -Ro e anti -La, um Anti-Sm e anti-La e finalmente ap­

enas um apresentava positividade para os quatro tipos de anticorpos anti-ENA

pesquisados.

Não se obteve a identificação do tipo de auto-anticorpos presentes em 25

(27,7%) dos pacientes (ANA positivo com anti-dsDNA e anti-ENA negativos), de

acordo com a metodologia utilizada. Nestes casos, a positividade dos ANA deveu-

se provavelmente à presença de outros anticorpos, não pesquisados neste estudo

(anti-Ku, anti-histonas, etc.), que são freqüentemente encontrados em pacientes

com LES.

Em 17 casos (18,8%), detectou-se a presença isolada dos anticorpos anti-Sm,

sem a presença de outros anticorpos anti-ENA, sendo verificada uma associação

positiva com a presença dos anticorpos anti-dsDNA (p<0,05). Este grupo de pa­

cientes não demonstrou nenhuma outra associação com os dados clínicos, labora­

toriais e demográficos.

Page 66: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

FIGURA 4. POSITIVIDADE DOS AUTO-ANTICORPOS EM 90

PACIENTES COM LES

%

54

Page 67: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

5.4.2. Associação entre os Auto-anticorpos e os Dados Demográficos

A associação entre os auto-anticorpos e os dados demográficos está repre­

sentada nas figuras 5 e 6.

Os anticorpos anti-dsDNA foram mais freqüentes nos pacientes Branco-

europeus (78,9%), contra 50,8% nos Branco-brasileiros e 50% nos Mula­

tos/negros, não sendo porém esta diferença estatisticamente significante. Os anti­

corpos anti-Sm apresentaram maior positividade nos pacientes Mulatos/negros

(58,3%) do que nos brancos (Branco-brasileiros 22% e Branco-europeus 42%),

sendo esta diferença estatisticamente significante (p=0,02). Os outros auto-

anticorpos foram encontrados em percentagens semelhantes entre os diferentes

grupos étnicos. As poucas diferenças encontradas não puderam ser comparadas

estatisticamente, devido ao pequeno número da amostra: anti-U 1RNP ocorreu em

5%, anti-Ro em 6,7% e anti-La em 5% dos pacientes Branco-brasileiros; anti-

U1RNP foi positivo em 15,6%, anti-Ro em 5,2% e anti-La em 5,2% dos pacien­

tes Branco-europeus; e os pacientes Mulatos/negros apresentaram anti-U 1RNP

positivo em 16,6%, anti-Ro e anti-La positivos em 8,3% dos casos (Figura 5).

Em relação à idade ao diagnóstico, a presença de anticorpos anti-dsDNA

apresentou-se significantemente associada com os pacientes mais jovens (< 20

anos), sendo positivos em 81% dos casos (p=0,02). Quanto aos demais auto-

Page 68: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

56

FIGURA 5. ASSOCIAÇÃO ENTRE O GRUPO ÉTNICO E A

POSITIVIDADE DOS AUTO-ANTICORPOS EM 90 PACIENTES COM

LES

~ 11 ani-dsDNA

~ llani-Sm

~ Dani-U1RNP

8. Dani-Ro

~ •ri-La "#.

Bnnco-trasiteiros Bnl'lco-aropeus II.Uotostnegos

Page 69: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

57

FIGURA 6. ASSOCIAÇÃO ENTRE A IDADE AO DIAGNÓSTICO E A

POSITIVIDADE DOS AUTO-ANTICORPOS EM 90 PACIENTES COM

LES

. ....

80

70

80

.: 50 ·;: :e .. o : 40 ....

"' 30

20

10

o <20 anos 20-40 anos >40 anos

Danti-dsDNA

• anti-Sm Canti-U1RNP

C anti-R o •anti-La

Page 70: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

anticorpos, não se observou nenhuma diferença estatisticamente significante entre

a sua presença e a idade ao diagnóstico. E interessante notar, entretanto, a ausência

dos anticorpos anti-UlRNP, anti-Ro e anti-La entre os pacientes com idade mais

avançada ao diagnóstico (> 40 anos) (Figura 6).

Com relação ao sexo, 56% das pacientes do sexo feminino apresentaram

positividade para os anticorpos anti-dsDNA, 30% para anti-Sm, 8% para anti-

U1RNP, 7% para anti-Ro e 6% para anti-La. Entre os homens, 66% dos in­

divíduos foram positivos para anti-dsDNA, 50% para anti-Sm e 16% para anti-

U1RNP. Anti-Ro e anti-La foram negativos em todos os pacientes do sexo mascu­

lino. Na avaliação geral dos resultados do presente estudo, considerou-se a

amostra indistintamente quanto ao sexo, devido ao pequeno número de homens

incluído.

5.4.3. Associação entre os Auto-anticorpos e os Dados Clínicos

A associação entre os anticorpos anti-dsDNA com as manifestações clínicas

está demonstrada na tabela 7.

Dentre os pacientes com anti-dsDNA positivo, 40/51 (78,4%) apresentaram

comprometimento renal. Este resultado demonstrou uma associação estatistica­

mente significante quando comparados aos pacientes negativos para anti-dsDNA

(p<0,01). Um maior número de pacientes com anti-dsDNA positivo (34/ 66,6%)

apresentou LES severo quando comparado àqueles sem a presença deste anticorpo.

Esta diferença aproximou-se da significância estatística (p=0,08).

Page 71: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

59

TABELA 7. ASSOCIAÇÃO ENTRE A POSITIVIDADE DOS

ANTICORPOS ANTI-dsDNA E AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EM 90

PACIENTES COM LES

MANIFESTAÇÕES N. N. p CLÍNICAS PACIENTES PACIENTES

COM ANTI- SEM ANTI-dsDNA dsDNA (N=51) (N=39)

Renais 40/78°/o 16(41 %)) <0,01 Neurológicas 14(27%) 12(31%) NS Serosite 25(49%) 14(36%) NS Musculo-esqueléticas 47(92%) 37(95%) NS Cutâneas 43(84%) 34(87%) NS Hematológicas 28(55%) 19(49%) NS Vasculite 13(25%) 14(36%) NS Raynaud 5(9%) 8(20%) NS LES severo 34(66%) 18(46%) NS

NS = não significante

Page 72: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Nenhum dos outros auto-anticorpos pesquisados apresentou qualquer asso­

ciação significativa com as manifestações clínicas da doença.

5.4.4. Complemento

A dosagem do complemento hemolítico total (CH50) e das frações C3 e C4

do sistema complemento demonstrou níveis diminuídos em 61% (44/72) dos pa­

cientes em alguma fase da doença. Em 20% (18/90) dos pacientes, os resultados

não estiveram disponíveis para análise (exame não realizado ou extravio de resul­

tados). Hipocomplementemia apresentou-se associada apenas com as anormali­

dades hematológicas (p<0,05), não sendo observada nenhuma outra associação

entre baixos níveis de complemento sérico e os demais dados demográficos e

clínicos.

Page 73: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

61

6 - DISCUSSÃO

ó.l.Dados Demográficos

6.1.1. Distribuição por Sexo e Idade ao Diagnóstico

A população de pacientes com LES aqui apresentada revela algumas carac­

terísticas que são esperadas para a doença: constitui-se de 93% de mulheres, sendo

que 87% dos indivíduos estudados eram jovens (tinham entre 14 e 40 anos) à

época do diagnóstico.

6.1.2. Distribuição Étnica

Em relação ao grupo étnico, a maioria (66%) dos pacientes é branca, com al­

gum grau de miscigenação entre europeus, negros e índios (grupo dos Branco-

brasileiros). O grupo dos Branco-europeus representou 21% da amostra, enquanto

os Mulatos/negros constituíram apenas 12% do total de pacientes. Os dados obti­

dos estão de acordo com a distribuição populacional observada no Sul do Brasil,

que possui cerca de 83% de população branca e 16% de negros e mulatos

(ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1994), devido provavelmente à influên­

cia da imigração européia e à pouca miscigenação com africanos. Esta distribuição

apresenta diferenças regionais importantes, tomando como exemplo o Sudeste e o

Nordeste, que têm 66% e 29% de população branca, e 33% e 70% de mula­

tos/negros, respectivamente (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1994).

Page 74: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Outros estudos realizados no Brasil revelam diferentes percentagens em ter­

mos de distribuição dos pacientes por grupo étnico, quando comparadas ao perfil

populacional regional. Em 1994, SATO analisou 201 pacientes em São Paulo,

sendo 132 brancos (66%) e 69 (21%) não brancos. Ainda em São Paulo,

TAKAYASU e colaboradores (1992) estudaram 199 portadores de LES, sendo

67% brancos, 28% negros e pardos e 4% amarelos. Outra série de 272 pacientes

oriundos de Campinas (SP), também na região Sudeste (COSTALLAT &

COIMBRA, 1995), incluiu 211 (78%) pacientes caucasóides e 61(21%) não-

caucasóides, de acordo com o esperado para a população da região. Uma outra

casuística originária do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo de­

monstrou 88% de inivíduos caucasóides e apenas 12% de não-caucasóides

(CHAHADE et al, 1995). GOLDFARB e colaboradores, em 1985 no Rio de Ja­

neiro, observaram que de 150 pacientes estudados, 80%, eram brancos, 14%

negros e 6% pardos, em concordância com o perfil regional. De 90 pacientes

analisados por MARTINS e colaboradores no Ceará (1985), a alta porcentagem de

pacientes brancos (75,5%) e a presença de apenas 22 (24,4%) não brancos é dis­

cordante do perfil étnico regional do Nordeste. Em relação à Região Sul, ERCOLE

e colaboradores em 1985 em Curitiba, encontraram 92,7% brancos e 7,3% negros

dentre os 55 pacientes estudados, não sendo mencionada a presença de indivíduos

mestiços.

Page 75: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Ao analisar estes dados, é importante ressaltar que os mesmos devem ser

considerados com cautela, pois não há no Brasil uma definição oficial dos grupos

étnicos com suas respectivas características, que permita classificar os indivíduos

de maneira uniforme nos estudos populacionais. Assim, cada pesquisador utiliza

critérios próprios para esta classificação, resultando algumas vezes em marcantes

diferenças entre os estudos. Além disso, a caracterização étnica dos brasileiros é

especialmente difícil, devido ao elevado grau de miscigenação racial e ao fre­

qüente desconhecimento por parte dos indivíduos de suas origens. Portanto,

existe muitas vezes grande dificuldade em se determinar o grupo étnico a que per­

tence um dado paciente por meio da simples observação de suas características

fenotípicas, como a cor da pele e os traços fisionômicos.

O presente estudo tem como um de seus objetivos definir a distribuição ét­

nica dos pacientes com LES, tentando estabelecer o perfil étnico de uma população

lúpica do Sul do Brasil. De acordo com o nosso conhecimento, este é o primeiro

estudo sobre LES no Brasil a levar em consideração a ascendência dos indivíduos

e não apenas suas características físicas, ao classificá-los segundo a distribuição

étnica.

6.2. Manifestações Clínicas

Ao analisar as manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes aqui estu­

dados em relação a outros estudos de populações com LES no Brasil

(GOLDFARB et al, 1981; ERCOLE et al, 1985; PAIVA et al, 1985; TAKAYASU

Page 76: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

et al, 1992; SATO, 1994; COSTALLAT & COIMBRA, 1995), observamos que

as anormalidades articulares e cutâneas foram as mais freqüentes em todos os re­

latos, atingindo percentagens entre 85 e 97% para a artrite/artralgia e 59 a 85%

para as manifestações dermatológicas. COSTALLAT & COIMBRA (1995) entre­

tanto, observaram índices menores de manifestações cutâneas, que ocorreram em

apenas 58% dos pacientes.

Em relação ao comprometimento renal, a freqüência de pacientes afetados no

presente estudo (66%) foi similar à encontrada por SATO (1994) (59%) e

ERCOLE et al (1985) (62%), porém maior do que a encontrada por GOLDFARB

et al (1981) (47%), TAKAYASU et al (1992) (44%) e COSTALLAT &

COIMBRA (1995) (42%).

Deve ser ressaltado no entanto, que os parâmetros utilizados pelos diferentes

autores na classificação dos pacientes quanto às suas manifestações clínicas podem

divergir, dando origem a diferenças nos resultados obtidos e prejudicando a análise

comparativa. Este fato ocorre especialmente em relação ao comprometimento re­

nal, cuja freqüência em uma casuística pode variar grandemente de acordo com os

critérios utilizados na sua caracterização (por exemplo, em relação à quantificação

da proteinúria).

No que diz respeito às manifestações neurológicas, observamos no presente

estudo uma prevalência de 29%, resultados estes similares aos encontrados por

Page 77: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

SATO (1994) (25%), ERCOLE et al (1985), (31%) e TAKAYASU (1992) (20%),

porém menores do que os relatados por GOLDFARB et al (1981) (47%).

Quanto às anormalidades hematológicas, a ocorrência de leucopenia no pre­

sente estudo (9%) foi baixa em comparação aos outros trabalhos brasileiros, nos

quais a mesma variou de 17 (ERCOLE et al, 1985) a 45% (SATO, 1994) dos pa­

cientes. Resultado semelhante foi observado em relação à trombocitopenia, porém

em menor grau, a qual afetou 8% de nossos pacientes, comparados a 19% no

estudo de PAIVA et al (1985), 11% de COSTALLAT & COIMBRA (1995) e 15%

nos pacientes estudados por SATO (1994). A anemia ocorreu em 31% de nossos

pacientes e foi relatada apenas por SATO (1994) em 50% e PAIVA et al (1985)

em 63% dos pacientes. Já a anemia hemolítica tem sido pouco freqüente, sendo

observada em 4% no presente estudo, em 11% no relato de SATO (1994) e em 6%

no de COSTALLAT & COIMBRA (1995).

Uma diferença significativa na incidência do fenômeno de Raynaud foi en­

contrada quando se comparou os resultados aqui obtidos (apenas 14% de nossos

pacientes) com os de SATO (1994) (55%), os de TAKAYASU et al (1992) (46%)

e os de COSTALLAT & COIMBRA (1995) (45%). Considerando-se a influência

do clima no fenômeno de Raynaud, este dado é um tanto inesperado, pois a Região

Sul apresenta temperaturas ambientais até mais baixas do que a Região Sudeste

(São Paulo). O estudo de PAIVA et al (1985), realizado no Ceará, mostra uma fre­

qüência de apenas 7% do fenômeno de Raynaud, o que talvez possa ser explicado,

Page 78: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

neste caso, pelas condições climáticas regionais. Também aqui tanto os critérios

para a caracterização deste sinal clínico como a constituição étnica regional podem

representar fatores que influenciem diferenças nos resultados encontrados.

Outras manifestações, como pleurite e pericardite, que ocorreram em 33% e

18% respectivamente no presente estudo, afetaram de modo similar os pacientes de

SATO (1994) (33% e 17%) e COSTALLAT & COIMBRA (1995) (20% e 11%).

No estudo de PAIVA et al (1985), pleurite foi observada em 24%, porém a peri­

cardite foi bem menos freqüente, acometendo apenas 6% dos pacientes.

Comprometimento vascular, incluindo vasculites cutâneo-mucosas e viscerais

ocorreu em 30% de nossa casuística. GOLDFARB et al (1981) observaram en­

volvimento vascular também em 30% dos casos, sem especificar porém, quais as

formas de acometimento incluídas. SATO (1994) relatou esta manifestação em

50% dos pacientes.

Analisando a literatura internacional, observamos que diversos estudos

(DUBOIS & TUFFANELLI, 1964; ESTES & CHRISTIAN, 1971; HOCHBERG

et al, 1985; WARD & STUDENSKI, 1990; WORRAL et al, 1990; PISTINER et

al, 1991; CERVERA et al, 1993) também apontam as manifestações músculo-

esqueléticas e cutâneas como as mais freqüentemente observadas, similarmente ao

encontrado no presente estudo. No entanto, a presença de fotossensibilidade, en­

contrada em 65% dos nossos pacientes, foi bem menos freqüente (em tomo de

45%) em estudos americanos e ingleses (HOCHBERG et al, 1985; WORRAL et

Page 79: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

al, 1990; CERVERA et al, 1993). Provavelmente a maior exposição dos in­

divíduos ao sol, facilitada pelas condições climáticas, seja em parte responsável

por esta diferença.

De acordo com dados fornecidos por estudos recentes, observa-se que a

prevalência de envolvimento renal pelo LES no Brasil (66% em nossa casuística) é

alta quando comparada à dos países ocidentais desenvolvidos. Em 1993, um

estudo multicêntrico europeu (CERVERA et al) incluindo 1000 pacientes relatou

presença de comprometimento renal em 39% deles. PISTINER et al, em 1991,

verificou que 28% dos casos manifestaram-se com neffite, embora tenha consi­

derado a presença de proteinúria (31%) e síndrome neff ótica (14%) em categorias

distintas. Um estudo de 100 pacientes publicado na Inglaterra em 1990 (WORRAL

et al) demonstrou o acometimento renal em 29% dos pacientes. O estudo de

JOHNSSON et al (1994), compararando pacientes brasileiros, ingleses e suecos

com LES, também verificou que os brasileiros eram mais acometidos do ponto de

vista renal. A explicação para este fato talvez resida na influência dos aspectos

genéticos, ambientais e sociais sobre a expressão do LES. Nível sócio-econômico

baixo parece exercer um impacto negativo sobre as manifestações clínicas e

evolução do LES (WARD & STUDENSKI, 1990a). Quase todos os trabalhos re­

alizados no Brasil (GOLDFARB et al, 1981; ERCOLE et al, 1985; TAKAYASU

et al, 1992; SATO, 1994; COSTALLAT & COIMBRA, 1995), incluindo o pre­

sente, analisam somente pacientes atendidos em serviços assistenciais públicos,

Page 80: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

possuidores de padrão sócio-econômico uniformemente baixo. Por outro lado,

estudos mais antigos realizados em países desenvolvidos demonstram maior fre­

qüência de comprometimento renal em pacientes com LES. Esta manifestação

clínica alcançou uma positividade de 46% em 520 pacientes analisados por

DUBOIS & TUFFANELLI em 1964 e 53% dentre os 150 casos incluídos por

ESTES & CHRISTIAN em seu estudo realizado em 1971. De acordo com as ob­

servações de PISTINER et al (1991) e SATO (1994), pode-se inferir a partir

destes dados que a melhora nas técnicas para diagnóstico e classificação da

doença, aliada aos esquemas terapêuticos mais precoces e eficazes que passaram a

ser utilizados nas últimas duas décadas, possam ter influenciado favoravelmente o

perfil clínico e o prognóstico dos pacientes lúpicos.

Os estudos de pacientes asiáticos com LES apresentam resultados semelhan­

tes aos apresentados nos relatos nacionais. Na Arábia Saudita, ALBALLA (1995)

encontrou uma freqüência de 63% de comprometimento renal ao analisar 87 pa­

cientes. Em 1993, LEE et al detectaram 69% de pacientes chineses com nefropa-

tia dentre os 137 casos estudados. PISTINER et al (1991) observaram que os pa­

cientes asiáticos (sem especificar a exata procedência) apresentavam uma signifi-

cante presença de nefrite (67%) em comparação aos brancos, além de terem

tendência a desenvolver doença mais grave e a serem mais freqüentemente hospi­

talizados. Assim também constataram SAMANTA et al em 1993, ao observar que

os pacientes asiáticos estudados tinham maior prevalência de envolvimento renal,

Page 81: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

neuro-psiquiátrico e mortalidade mais elevada do que os indivíduos brancos. Estes

achados corroboram a impressão de que aspectos raciais tenham um impacto sobre

a evolução e prognóstico do LES. E provável também que fatores sócio-

econômicos estejam influenciando o quadro observado nos estudos que envolvem

pacientes efetivamente procedentes da Ásia e não residentes em países desenvolvi­

dos, já que o referido continente possui extensas regiões com extrema carência de

recursos.

A exemplo do observado em relação aos estudos brasileiros, o achado de al­

gumas anormalidades hematológicas também foi pouco freqüente no presente

estudo quando comparado com relatos internacionais. A leucopenia que ocorreu

em apenas 9% de nossos pacientes, acometeu 51% daqueles estudados por

PISTINER et al (1991), 81% dos casos de WORRAL et al (1990) e 41% da

casuística de HOCHBERG et al (1985). A trombocitopenia que esteve presente

em 8% dos pacientes do presente estudo, ocorreu em 16%, 21% e 30% respecti­

vamente nos estudos acima citados.

Em relação ao fenômeno de Raynaud, novamente observamos que no pre­

sente estudo sua ocorrência foi bem menos freqüente (14%), em comparação com

a encontrada por CERVERA et al (1993) (34%) e HOCHBERG et al (1985)

(44%).

Page 82: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Hipertensão arterial foi encontrada em 32% de nossos pacientes, similar­

mente ao observado no Brasil por SATO (1994) (38%) e por COSTALLAT &

COIMBRA (1995) (20%). A maioria das séries de pacientes com LES publicadas

na literatura internacional não menciona esta manifestação, porém o estudo de

PISTINER et al (1991) refere que em 25% dos casos foi detectada hipertensão ar­

terial .

6.2.1. Associação entre o Grupo Étnico e as Manifestações Clínicas

A composição étnica parece influenciar a expressão clínica do LES, o que

pode explicar, ao menos em parte, as diferenças no resultados obtidos em estudos

realizados em diferentes populações. No presente estudo observamos algumas dif­

erenças em relação à freqüência das manifestações clínicas nos diferentes grupos

étnicos analisados. Estes resultados porém não foram estatisticamente significan-

tes. Os pacientes do grupo Mulatos/Negros foram mais freqüentemente acometidos

por vasculite e apresentaram menor prevalência de comprometimento neuro-

psiquiátrico. FESSEL (1974) demonstrou que a sintomatologia do LES nos negros

incluía menos anormalidades neurológicas, porém relatos posteriores observaram o

contrário (WARD & STUDENSKI, 1990a; GULKO et al, 1994). Além disso, no

presente estudo foi notada a ausência de fenômeno de Raynaud entre os pacientes

Mulatos/Negros. Este achado no entanto, talvez não represente a verdade, já que a

caracterização do fenômeno de Raynaud é às vezes difícil nos negros, devido à

Page 83: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

coloração da pele. Por outro lado, o estudo de HOCHBERG et al (1985), ao com­

parar as manifestações clínicas em relação aos grupos étnicos, encontrou uma

tendência de maior freqüência de Raynaud entre os pacientes brancos. Este autor

também observou que os negros apresentavam doença mais severa e idade mais

precoce ao diagnóstico do LES, o que não foi constatado no presente estudo. Se­

rosite ocorreu mais freqüentemente nos indivíduos Branco-brasileiros , tendo sido

esta manifestação clínica relatada como mais freqüente nos negros (WARD &

STUDENSKI, 1990a). Devemos considerar no entanto, que o número de pacientes

negros incluídos no presente estudo é pequeno, tomando restrita a interpretação

das tendências encontradas.

Conforme sugerido por WARD & STUDENSKI (1990a), é provável que o

padrão sócio-econômico também influencie o perfil clínico no LES, podendo atuar

como um fator de erro na análise das associações entre os aspectos raciais e

clínicos. De modo geral, a nossa amostra é homogênea do ponto de vista de classe

sócio-econômica, o que provavelmente restringe este tipo de interpretação incor­

reta.

6.2.2. Associação entre a Idade ao Diagnóstico e as Manifestações Clíni­

cas

Considerando a idade ao diagnóstico, os pacientes mais jovens (< 20 anos)

apresentaram maior freqüência de comprometimento renal (p<0,05) e tendência a

Page 84: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

ter doença mais severa (p=0,07) quando comparados àqueles diagnosticados com

mais de 40 anos. Estes resultados estão de acordo com outros estudos, que demon­

straram que o LES parece ser mais agressivo quando inicia precocemente, espe­

cialmente na criança (TUCKER et al, 1995) e de evolução mais benigna ao mani­

festar-se em indivíduos de idade mais avançada (CATOGGIO et al, 1984;

SHAIKH & WANG, 1995). Os pacientes com LES de início tardio têm apresen­

tado menor freqüência de envolvimento renal, segundo um estudo de 40 pacientes

publicado por FONT et al em 1991, ao contrário dos mais jovens ao início da en­

fermidade (PISTINER et al, 1991). Em nosso meio TAKAYASU e colaboradores

(1992), ao analisarem 199 pacientes com LES, destacaram os aspectos clínicos e

laboratoriais daqueles cuja doença manifestou-se após os 50 anos (n=7). Nesse

estudo, foi encontrada maior freqüência de manifestações musculares e menor fre­

qüência de alopécia e manifestações cutâneas, de acordo com relatos anteriores

(FONT et al, 1991). Em nossa casuística, observamos que os pacientes diagnosti­

cados após os 40 anos manifestaram mais freqüentemente o fenômeno de Raynaud

(p<0,05), ao contrário do relatado por CATOGGIO et al (1984). Entretanto, a

comparação de nossos dados com a li-teratura no que diz respeito ao LES no idoso

deve ser interpretada com ressalvas, já que consideramos diferentes faixas etárias

nos pacientes analisados. Como apenas dois de nossos pacientes apresentavam

idade ao diagnóstico acima de 50 anos, decidimos posicionar o ponto de corte da

Page 85: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

amostra em 40 anos, a nosso ver permitindo ainda resultados confiáveis em termos

de comparação com o grupo de doentes mais jovens (<20 anos).

6.3. Gravidade, Evolução e Prognóstico do LES

Em relação à gravidade do LES, 58% de nossos pacientes apresentaram

doença severa, com envolvimento de mais de um órgão vital e/ou desenvolvimento

de seqüelas funcionais decorrentes do processo patológico, ou ainda êxito letal.

Uma das mais importantes seqüelas causadas pela atividade do LES é o déficit de

função renal, sendo o rim a víscera mais comumente acometida pela doença

(BOUMPAS et al, 1995). Embora o comprometimento renal tenha sido freqüente

em nossa casuística (66%), apenas 18% dos casos apresentaram insuficiência re­

nal, sendo a mesma terminal em 7% dos pacientes. Cinco pacientes (6%)

evoluíram com síndrome nefrótica, dos quais somente dois (40%) apresentaram

diminuição da função renal. PISTINER et al (1991) verificaram que a insuficiên­

cia renal foi significantemente mais freqüente nos pacientes com síndrome

nefrótica do que naqueles onde a proteinúria não alcançou níveis tão elevados. Já o

estudo multicêntrico europeu (CERVERA et al, 1993) demonstrou que somente

13% do total de indivíduos analisados apresentaram síndrome nefrótica e 3% in­

suficiência renal crônica, sem especificar a relação entre estes dados. Na experiên­

cia nacional, SATO (1994) refere a ocorrência de falência renal persistente em

38% e terminal em 6% dos pacientes, sem mencionar a freqüência da síndrome

Page 86: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

nefrótica. COSTALLAT & COIMBRA (1995) referem que a síndrome nefrótica

ocorreu em 22% dos pacientes estudados, não associando porém este resultado à

presença de insuficiência renal.

O estudo de GINZLER et al (1982) demonstrou que o aumento da creati-nina

plasmática e os altos níveis de proteinúria exercem uma influência negativa no

prognóstico global dos pacientes com LES. ABU-SHAKRA et al (1995) verifi­

caram que a insuficiência renal crônica está associada à maior mortalidade nos pa­

cientes com LES. Nossos pacientes não foram acompanhados prospectivamente,

portanto não podemos avaliar o impacto do comprometimento renal na sua

evolução e sobrevida. Observamos porém, que 5 pacientes foram a óbito durante o

presente estudo, devido à atividade da doença associada a complicações infeccio­

sas. Destes, três apresentavam doença renal grave.

Os resultados obtidos no presente estudo demonstram uma forte associação

entre hipertensão arterial e comprometimento renal (p<0,00001), assim como entre

hipertensão arterial e insuficiência renal (p<0,0002), dados que estão de acordo

com o relatado na literatura brasileira por SATO (1994). Esta autora observou que

a hipertensão arterial conferiu aos pacientes com LES um risco 3,6 vezes maior de

evoluir para insuficiência renal. Além disso, outro estudo recente realizado por

DONADIO et al (1995) demonstrou que a hipertensão arterial influencia desfa­

voravelmente a sobrevida de pacientes com LES, possivelmente por agravar o defi-

Page 87: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

cit de função renal, além de estar associada a outras condições mórbidas, como a

aterosclerose.

6.4. Anticorpos Antinucleares (ANA)

Comparando a freqüência dos anticorpos antinucleares (ANA) encontrada em

nosso estudo (98%) com aquela relatada na literatura nacional, verificamos posi-

tividade dos mesmos comparável à maioria dos estudos (GOLDFARB et al, 1981;«

ERCOLE et al, 1985; TAKAYASU et al, 1992; SATO, 1994; COSTALLAT &

COIMBRA, 1995), variando de 89% (ERCOLE et al, 1985) a 98% (SATO, 1994).

Em relação a estudos internacionais incluindo grandes casuísticas

(HOCHBERG et al, 1985; WORRAL et al, 1990; PISTINER et al, 1991;

CERVERA et al, 1993), verificamos que em todos a positividade dos anticorpos

antinucleares também foi bastante elevada, situando-se entre 94% e 98%.

6.4.1. Anticorpos Anti-dsDNA

6.4.1.1. Freqüência dos Anticorpos Anti-dsDNA

A prevalência dos anticorpos anti-dsDNA em LES relatada na literatura in­

ternacional (WORRAL et al, 1990; PISTINER et al, 1991; CERVERA et al, 1993)

é em geral similar à encontrada em nosso estudo (56%). No entanto, grandes

variações são apresentadas por diferentes autores (de 28% em HOCHBERG et al,

Page 88: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

1985 a 78% em CERVERA et al, 1993). Os anticorpos anti-dsDNA ocorreram em

56% de nossos pacientes, resultados estes similares àqueles encontrados por SATO

(1994) (63%), porém mais elevados quando comparados aos observados por

COSTALLAT & COIMBRA (1995) (36%) e por TAKAYASU et al (1992) (18%).

Os estudos de GOLDFARB et al (1981) e de Ercole et al (1985) demonstraram

uma positividade de 35% e 81% respectivamente para os anticorpos anti-dsDNA.

No entanto, deve-se ressaltar que alguns fatores podem influenciar a positividade

de auto-anticorpos circulantes, especialmente dos anti-dsDNA, como a época em

que os teste são realizados, se durante a atividade da doença ou não, além do

número de vezes em que os mesmos são testados. Os trabalhos consultados não

fornecem informações a este respeito, com exceção daquele realizado por

GOLDFARB et al (1981), o qual informa que 50% de seus pacientes estava em

remissão quando foi feito o teste para o anti-dsDNA, justificando talvez assim a

baixa positividade encontrada. Esclarecemos que na maioria dos pacientes do pre­

sente estudo, a detecção de anticorpos anti-dsDNA foi feita mais de uma vez, in­

cluindo fases da doença em atividade, sendo considerado qualquer resultado posi­

tivo ao longo da evolução da enfermidade.

6.4.1.2. Associação entre os Anticorpos anti-dsDNA e os Dados clínicos e

Demográficos

Page 89: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

No presente estudo observamos uma associação significante entre a posi-

tividade dos anticorpos anti-dsDNA e a presença de comprometimento renal

(p<0,01), resultados estes que estão de acordo com o encontrado no Brasil por

SATO (1994) e em outros trabalhos internacionais (SWAAK et al, 1990;

SEDZIMIRSKA et al, 1991; THOMPSON et al, 1993). O cálculo do risco relativo

indicou que os pacientes com positividade para anti-dsDNA apresentaram um risco

2,21 vezes maior de desenvolverem nefrite lúpica (intervalo de confiança de 95%).

Estes achados refletem o papel patogênico dos anticorpos anti-dsDNA na gênese

da nefrite lúpica, por meio da formação e deposição de imuno-complexos a nível

renal, além de possíveis mecanismos de reação cruzada com estruturas do néfron

(SMEENK et al, 1990).

Os anticorpos anti-dsDNA têm sido também associados com hipocomple-

mentemia (THOMPSON et al, 1993; SATO, 1994), entretanto os resultados obti­

dos no presente estudo não confirmam este dado. Segundo um trabalho prospec­

tivo (WEINSTEIN et al, 1983), esta associação possui alto valor diagnóstico no

LES. No presente estudo, os baixos níveis de complemento estiveram associados

apenas com manifestações hematológicas da doença, confirmando em parte um

padrão clínico de LES encontrado por THOMPSON et al (1993), composto por

pacientes com hipocomplementemia, lesão renal e hematológica, porém com

Page 90: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

altos níveis de anticorpos anti-dsDNA. Segundo os autores, este padrão caracteri­

zou doença lúpica grave.

Os dados aqui apresentados evidenciam ainda uma maior freqüência de anti­

corpos anti-dsDNA nos pacientes mais jovens à época do diagnóstico (< 20 anos,

p<0,05) e uma tendência a serem mais freqüentes naqueles com doença severa (

estatisticamente não significante). Assim, com relação à população estudada, estes

achados sugerem que os pacientes mais jovens e positivos para anticorpos anti­

dsDNA podem vir a desenvolver nefrite e LES mais grave do que os indivíduos

que não apresentam estas características, possivelmente com repercussões negati­

vas no prognóstico global da doença (GOLBUS & MCCUNE, 1994).

No que diz respeito ao grupo étnico, encontramos uma maior freqüência de

anticorpos anti-dsDNA nos pacientes do grupo de Branco-europeus. No entanto,

estes pacientes não apresentaram uma maior prevalência de envolvimento renal ou

de doença grave em comparação com os outros indivíduos estudados.

6.4.2. Anticorpos anti-ENA

Dentre os trabalhos realizados no Brasil, apenas TAKAYASU et al (1992),

SATO (1994) e COSTALLAT & COIMBRA (1995) realizaram testes para os anti­

corpos anti-ENA, encontrando algumas diferenças em relação ao presente estudo.

A positividade para os anticorpos anti-Sm (31% em nossa casuística) foi similar

Page 91: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

aos estudos citados. As maiores diferenças na freqüência dos anticorpos foram en­

contradas em relação ao anti-UIRNP, anti-Ro e anti-La. Anti-UIRNP foi positivo

em 45% dos pacientes de SATO (1994), 31% dos de COSTALLAT & COIMBRA

(1995) e em 18% dos casos de TAKAYASU et al (1992), sendo detectado em ap­

enas 9% dos pacientes em nosso estudo. Anti-Ro, que foi encontrado em 64% no

trabalho de COSTALLAT & COIMBRA (1995), 42% no de SATO (1994) e 28%

no relato de TAKAYASU et al, (1992) foi positivo somente em 7% de nossos ca­

sos. O anticorpo anti-La, cuja positividade alcançou entre 14% e 18% nos outros

três estudos, foi detectado em apenas 6% de nossos pacientes.

6.4.2.I. Anticorpos anti-Sm

Considerando-se os anticorpos anti-Sm, observamos no presente estudo al­

guns dados interessantes. Estes anticorpos ocorrem de maneira geral em 15% a

30% de todos os casos de LES (VON MÜHLEN & TAN, 1995), tendo sido os

mesmos detectados com maior freqüência em indivíduos asiáticos (FIELD et al,

1988; ABUAF et al, 1990; SAMANTA et al, 1993) ou africanos (ARNETT et al,

1988; WORRAL et al, 1990) em comparação com caucasianos. Nossos resultados

em relação aos anticorpos anti-Sm corroboram estes achados, pois a sua posi­

tividade foi signifícantemente maior nos grupo de pacientes Mulatos/Negros com­

parados com os Branco-europeus e Branco-brasileiros (p<0,05). Estes anticorpos

estiveram presentes em 31% de nossos pacientes, resultados que estão de acordo

Page 92: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

com os achados de HOCHBERG et al (1985), que incluíam 25% de indivíduos

negros. Nossa prevalência dos anticorpos anti-Sm é no entanto, mais elevada do

que a encontrada por CERVERA et al (1993) em pacientes europeus (10%) e em

pacientes ingleses por WORRAL et al (1990) (7%), ambos incluindo grande

maioria de pacientes caucasianos (97% e 63%, respectivamente). Outro estudo re­

alizado na Grécia, que analisou 292 pacientes, também demonstrou uma menor

freqüência de anticorpos anti-Sm em comparação com o registrado na literatura

(VLACHOYIANNOPOULOS et al, 1993). Ressaltamos porém, que a alta posi-

tividade dos anticorpos anti-Sm de maneira geral nos nossos pacientes deve-se à

sua positividade elevada entre os indivíduos do grupo de Mulatos/negros (58%).

A presença de anticorpos anti-Sm tem sido associada, embora fracamente,

com algumas manifestações clínicas do LES como fibrose pulmonar, pericardite

(YASUMA et al, 1990) e envolvimento do sistema nervoso central, particular­

mente quando este acometimento ocorre de forma isolada (WINFIELD et al,

1978). A explicação para este fato pode estar relacionada à similaridade antigênica

a nível molecular dos anticorpos anti-Sm com os anticorpos anti-P ribossomais, os

quais têm sido associados com doença neuropsiquiátrica no LES (BONFÁ et al,

1987; ELKON et al, 1989). Em nossos pacientes no entanto, observamos uma

menor freqüência de anormalidades neuro-psiquiátricas nos pacientes positivos

Page 93: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

para os anticorpos anti-Sm. Outros estudos também não confirmaram esta associa­

ção (BARADA el al, 1981; YASUMA et al, 1990).

Na grande maioria dos pacientes, os anticorpos anti-Sm ocorrem juntamente

com os anticorpos anti-U 1RNP, refletindo a íntima associação entre os respectivos

antígenos, os quais compartilham seqüências de amino-ácidos (REEVES et al,

1985; HOMMA et al, 1987; REICHLIN & VAN VENROOIJ, 1991). Nos estudos

nacionais, SATO (1994) observou que todos os pacientes com positividade para

anti-Sm também apresentavam anti-UIRNP. Já COSTALLAT & COIMBRA

(1995) mencionam ter encontrado em 10% dos pacientes a presença isolada de

anti-Sm, não fornecendo os autores entretanto, detalhes sobre este grupo de pa­

cientes. Apesar de ser incomum, a presença isolada de anti-Sm foi relatada em as­

sociação com uma maior freqüência de manifestações do sistema nervoso central e

uma menor freqüência de anormalidades hematológicas, podendo ser considerada

como possível valor preditivo da evolução clínica do LES (JANWITYANUCHIT

et al, 1993). No presente estudo detectou-se anticorpos anti-Sm isoladamente em

17 casos (18,8%), sendo que os mesmos apresentaram-se significantemente asso­

ciados com anticorpos anti-dsDNA (p<0,05), achado também descrito na literatura

(TOKANO et al, 1991). Do ponto de vista clínico porém, não foi verificada nen­

huma associação significativa neste grupo de pacientes, ao contrário do relatado

por JANWITYANUCHIT et al (1993), onde a presença de anti-Sm juntamente

Page 94: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

com anti-dsDNA foi correlacionada com maior freqüência de comprometimento

renal. Este autor entretanto, não relatou associação entre a presença isolada de

anti-Sm e envolvimento neurológico.

6.4.2.2. Anticorpos anti-UIRNP

Os anticorpos anti-U 1RNP também foram encontrados com maior freqüência

em 60 pacientes negros do que em 106 brancos analisados por ARNETT et al em

1988. Os presentes resultados não demonstraram esta mesma tendência, sendo

porém o número de casos positivos (9%) muito pequeno para permitir uma análise

adequada. No entanto, nossa percentagem de positividade assemelha-se mais à

encontrada por CERVERA et al (1993) em pacientes europeus (13%) e por

PISTINER et al (1991) (14%), freqüências também baixas quando comparadas à

prevalência geral destes anticorpos em pacientes com LES, estimada em tomo de

30-40% por VON MÜHLEN & TAN em 1995. Outro estudo grego também ob­

serva uma menor freqüência de anti-UIRNP em comparação com os registros da

literatura (VLACHOYIANNOPOULOS et al, 1993) Além disso, não observamos

a ocorrência de anticorpos anti-UIRNP isolados, sem associação com outros anti­

corpos anti-ENA, um padrão bastante freqüente na literatura (CLOTET et al,

1984; MONTECUCCO et al, 1994). Com exceção de um de nossos casos, em to­

dos os demais os anticorpos anti-UIRNP estiveram presentes juntamente com anti-

Sm. Do ponto de vista clínico, anticorpos anti-UIRNP têm sido associados com

Page 95: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

fenômeno de Raynaud (REICHLIN & VAN VENROOIJ, 1991), escleroderma

e fibrose pulmonar (TER BORG et al, 1990), achados não confirmados no pre­

sente estudo. Em indivíduos asiáticos, um estudo verificou que a prevalência dos

anticorpos anti-U 1RNP nesta população é similar à observada nos relatos ociden­

tais (BOEY et a l , 1988), ao contrário de outras investigações, que demonstraram

uma positividade mais elevada neste grupo étnico (JAYARAM et al, 1990;

WANG et al, 1996).

A baixa positividade dos anticorpos anti-Ul-RNP no presente estudo pode

estar relacionada às características imunogenéticas da população estudada, as quais

podem levar à gênese de anticorpos que reconheçam epitopos diferentes daqueles

contidos no substrato. Além disso, outro fator que pode estar influenciando estes

resultados seria a fonte de antígenos utilizada e as técnicas empregadas para a sua

deteccão. O uso de técnicas mais sensíveis como o immunoblotting ou ELISA

poderia demonstrar uma freqüência mais elevada destes anticorpos, conforme re­

latado na literatura (MEYER et al, 1989). Atualmente o emprego de tais técnicas

em nosso meio é ainda inviável devido às dificuldades econômicas que de modo

geral, enfrentam os serviços públicos de Saúde no Brasil.

6.4.2.3. Anticorpos anti-Ro e anti-La

A positividade dos anticorpos anti-Ro e anti-La no LES tem sido descrita

Page 96: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

como muito variável, cerca de 24% a 60% e 9% a 35%, respectivamente (VON

MÜHLEN & TAN, 1995). A baixa prevalência dos anticorpos anti-Ro (7%) e anti-

La (6%) em nossa casuística está de acordo com os valores encontrados por

PISTINER et al, em 1991, que incluíam em sua amostragem 72% de indivíduos

caucasianos presumivelmente não miscigenados. Estes autores encontraram anti­

Ro em 18% e anti-La em apenas 2% dos pacientes estudados. Em relação aos anti­

corpos anti-Ro, o relato multicêntrico europeu (CERVERA et al, 1993), utilizando

o mesmo método empregado no presente estudo, também demonstra positividades

mais baixas na detecção de anti-Ro (25%), quando comparados com outros estu­

dos (HOCHBERG et al, 1985), utilizando porém técnica menos sensível, o que

poderia ter influenciado os resultados. Em relação aos estudos nacionais, a fre­

qüência de anticorpos anti-Ro aqui observada foi bem menor do que a relatada por

SATO (1994) (42%) e COSTALLAT & COIMBRA (1995) (64%). As técnicas

laboratoriais parecem não ser responsáveis por estas discrepâncias, pois no pre­

sente estudo utilizamos a contraimunoeletroforese, técnica que tem sido conside­

rada como o método de escolha para a detecção de rotina destes anticorpos

(MANOUSSAKIS et al, 1993), sendo mais sensível que a imunodifusão dupla e a

hemaglutinação empregadas respectivamente por SATO (1994) e COSTALLAT &

COIMBRA (1995). Entretanto, variações técnicas características de cada labo­

ratório, além de diferentes fontes de antígeno empregadas podem contribuir para a

disparidade dos resultados obtidos.

Page 97: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

Além disso, acreditamos que as diferenças encontradas possam ser devidas,

ao menos em parte, à composição genética dos pacientes estudados. No entanto, o

modo e a intensidade com que este fator atua sobre o perfil sorológico do LES está

ainda longe de ser esclarecido. Além de confirmar a constatação de que os anti­

corpos anti-Sm são mais prevalentes nos indivíduos de ascendência africana, nos­

sos dados sugerem que os aspectos étnicos influenciem também a positividade dos

anticorpos anti-Ro e anti-La. Reforçando esta impressão, embora poucos relatos na

literatura abordem este aspecto, a freqüência dos anticorpos anti-Ro e/ou anti-La

em japoneses e outros orientais é descrita com sendo maior do que em indivíduos

americanos e europeus (BOEY et al, 1988; PROVOST, 1991). Além disso, um

estudo realizado por TANG et al (1993) revelou a presença de anticorpos anti-La

em até 10% de indivíduos chineses normais. Em relação aos presentes dados deve­

se ressaltar, contudo, que o número de pacientes com ascendência africana anal­

isados é pequeno, o que impossibilita uma interpretação definitiva dos resultados.

Para tanto, faz-se necessária a realização de estudos posteriores envolvendo um

maior número de pacientes, a fim de que se confirme a impressão de que a posi­

tividade dos anticorpos anti-Ro e anti-La seja influenciada pela constituição gené­

tica dos indivíduos.

A presença de anticorpos anti-Ro no soro de pacientes com LES tem sido as­

sociada com diversas manifestações clínicas da doença como lesões cutâneas do

Page 98: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

tipo lúpus cutâneo subagudo, lúpus discóide e vasculite (SIMMONS-O’BRIEN et

al, 1995), síndrome de Sjögren (ZAPPI & SONTHEIMER, 1993), lúpus eritema-

toso neonatal (SILVERMAN et al, 1995), púrpura hipergamaglobulinêmica

(SÉNECAL et al, 1995), pneumonite (BOULWARE & HEDGPET, 1989;

SIMMONS O’BRIEN et al, 1995), deficiências de componentes do complemento

(BEN-CHETRIT, 1993) e artropatia tipo reumatóide (SIMMONS O’BRIEN et al,

1995). Ademais, foi demonstrada forte correlação entre fotossensibilidade e a

presença destes anticorpos, independentemente do tipo de lesão cutânea presente

(MOND et al, 1989). Um interessante estudo realizado por SUTEJ et al (1989)

relatou a ocorrência de rash fotossensível associado significantemente à presença

dos anticorpos anti-Ro em pacientes brancos quando comparados a pacientes

negros com LES. Os anticorpos anti-La ocorrem geralmente associados aos anti­

corpos anti-Ro e também têm sido relacionados com a síndrome de Sjögren, lúpus

eritematoso neonatal (ST. CLAIR, 1992) e lúpus cutâneo subagudo (REICHLIN,

1994). No presente estudo não foi possível determinar associações entre a pre­

sença dos anticorpos anti-Ro e anti-La e as manifestações clínicas do LES, devido

à baixa positividade destes anticorpos por nós encontrada. Entretanto, verificamos

que todos os pacientes com anti-Ro positivo apresentavam fotossensibilidade.

Além disso, dos três casos com positividade para anticorpos anti-Ro e anti-La, um

desenvolveu síndrome de Sjögren e dois manifestaram lesões cutâneas do tipo

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lúpus cutâneo subagudo, achados estes que estão de acordo com o relatado na lit­

eratura (ZAPPI & SONTHEIMER, 1993).

A investigação de auto-anticorpos e de suas especificidades antigênicas

tem sido considerada de fundamental importância para o entendimento dos me­

canismos etiopatogênicos envolvidos nas doenças auto-imunes, fornecendo infor­

mações acerca dos seus processos de origem a nível celular e molecular (TAN,

1989). Além disso, o perfil clínico, auto-imune e demográfico dos pacientes por­

tadores de doenças reumáticas sistêmicas, especialmente do LES, tem revelado as­

sociações que apontam para diferentes padrões evolutivos da enfermidade e po­

dem auxiliar na determinação do prognóstico e da abordagem terapêutica mais

adequada para estes pacientes. De acordo com este raciocínio, nossos resultados

sugerem que os pacientes mais jovens à época do diagnóstico do LES e/ou com

positividade para os anticorpos anti-dsDNA devem ser cuidadosamente acom­

panhados no sentido de se detectar e instituir precocemente terapêutica agressiva

para o comprometimento renal, visando prevenir ou minimizar a disfunção deste

órgão.

Acreditamos que a inclusão de novos exames no arsenal diagnóstico do

Laboratório de Imunopatologia da UFPR pode contribuir para uma melhor caracte­

rização clínica dos pacientes com LES, como por exemplo os anticorpos anticardi-

olipina, importantes na investigação dos casos de eventos tromboembólicos e

abortamentos de repetição. Sugerimos ainda que o protocolo aqui apresentado,

Page 100: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

88

com as modificações que se fizerem necessárias, sirva como base para a padroni­

zação da coleta sistemática e organizada dos dados referentes a todos os pacientes

com LES doravante atendidos no HC - UFPR, possibilitando a realização de futu­

ros estudos explorando tão grande universo representado por esta doença.

No presente estudo obtivemos alguns dados que podem contribuir para a

identificação de subgrupos clínicos na população de pacientes lúpicos do Sul do

Brasil e auxiliar na instituição do tratamento mais adequado para estes doentes.

Apesar do tamanho de nossa amostra ser pequeno, especialmente o grupo de pa­

cientes Mulatos/negros, as diferenças encontradas entre os grupos étnicos estu­

dados constata a necessidade de especial atenção quanto à composição racial dos

indivíduos em ensaios clínicos e imunogenéticos. Estudos futuros envolvendo um

maior número de pacientes com LES de diferentes grupos étnicos seria importante

a fim de confirmar as tendências aqui encontradas e determinar associações con­

clusivas. Ademais, as interessantes particularidades da composição étnica de nossa

população podem ser uma das razões para as diferenças encontradas neste estudo

em comparação a outros grupos populacionais. A fim de estabelecer associações

imunogenéticas com os aspectos clínicos, demográficos e auto-imunes dos pa­

cientes estudados está sendo realizada a tipagem dos antígenos HLA (Human Leu-

kocyíe Antigen, Complexo Principal de Histocompatibilidade) no Departamento de

Genética e do sistema complemento no Laboratório de Imunopatologia do Hospital

de Clínicas da UFPR.

Page 101: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

7 - CONCLUSÕES

- A população estudada constituiu-se de uma maioria (93%) de mulheres

jovens à época do diagnóstico (87% com idades entre 14 e 40 anos). O perfil ét­

nico dos pacientes revelou a predominância de indivíduos brancos (87%), sendo

66% destes miscigenados, classificados como Branco-brasileiros e 21% de as­

cendência européia, formando o grupos dos Branco-europeus. Os Mulatos/negros

constituíram 12% da amostra;

- As manifestações clínicas mais freqüentemente observadas foram o en­

volvimento articular (97%) e cutâneo (85%), estando estes resultados de acordo

com a grande maioria dos estudos nacionais e internacionais de populações com

LES;

- O comprometimento renal ocorreu em 66% dos pacientes, uma prevalên­

cia em geral mais alta do que a observada nos estudos realizados em países oci­

dentais desenvolvidos;

- A freqüência do fenômeno de Raynaud foi baixa (14%) em comparação

ao relatado na literatura. Os pacientes com mais de 40 anos de idade ao

diagnóstico apresentaram uma maior freqüência desta manifestação (p<0,05);

- Os pacientes mais jovens (< 20 anos) à época do diagnóstico apresenta­

ram uma maior freqüência de comprometimento renal (p<0,05);

Page 102: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: PERFIL DEMOGRÁFICO, …

- Hipertensão arterial mostrou-se fortemente associada ao comprometi­

mento renal (p<0,00001) e a insuficiência renal (p<0,0002);

- A positividade dos anticorpos antinucleares (98%) e anti-dsDNA

(56,6%) foi similar à relatada na literatura;

- A prevalência dos anticorpos anti-Sm foi significantemente maior nos

pacientes Mulatos/negros (p<0,05). A presença de anti-Sm associou-se à posi­

tividade para os anticorpos anti-dsDNA (p<0,05);

- A freqüência dos anticorpos anti-U 1RNP foi baixa (9%) em comparação

com a literatura;

- Os anticorpos anti-Ro e anti-La ocorreram menos freqüentemente (7% e

6% de positividade, respectivamente) do que o observado na maior parte dos estu­

dos realizados no Brasil e no exterior, porém com positividades similares às re­

portadas em alguns relatos incluindo pacientes europeus em sua maioria;

- Os anticorpos anti-dsDNA associaram-se significantemente com o en­

volvimento renal (p<0,01) e diagnóstico precoce de LES (< 20 anos, p<0,05).

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91

ANEXOS

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92

ANEXOI

CRITÉRIOS REVISADOS DE CLASSIFICAÇÃO PARA O LÚPUS ERITEMATOSO SISTÉMICO (TAN et al, 1982)

CRITÉRIO DEFINIÇÃO

1 - Rash malar Eritema fixo sobre a regiào malar, tendendo a poupar os sulcos naso-labiais;

2 - Rash discóide Lesões eritêmato-papulares com cicatrização ceratótica e destruição folicular, cicatrizes atróficas;

3 - Fotossensibilidade Lesões cutâneas decorrentes de reação anormal à luz solar, relatadas pelo paciente ou observadas pelo médi­co;

4 - Úlceras orais Ulceração oral ou naso-faríngea, em geral indolor, ob­servada por médico;

5 - Artrite Artrite não erosiva envolvendo duas ou mais articulações periféricas, com dor, edema ou efusão;

6 - Serosite Pleurite, diagnosticada por dor pleurítica, atrito pleural ou derrame pleural; pericardite, evidenciada por ECG, atrito ou derrame pericárdico;

7 - Anormalidade renal Proteinúria persistente maior que 0,5 g/dia ou presença de cilindrúria;

8 - Anormalidade neurológica Convulsões ou psicose, excluídas causas secundárias;

9 - Anormalidade hematológica Anemia hemolítica com reticulocitose; ou leucopenia, menor que 4.000/mm em 2 ou mais ocasiões; ou linfope- nia, menor que 1500/mm em 2 ou mais ocasiões; ou plaquetopenia, menor que 1000.000/mm em 2 ou mais ocasiões, excluídas drogas que poderiam causar,

10 - Anormalidade imunológica Presença de célula LE ou anticorpos anti-DNA ou anti- Sm ou VDRL falso-positivo;

11 - Anticorpos antinucleares Títulos significativos por imunofluorescência em qual­quer época e na ausência de drogas capazes de induzir lúpus.

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ANEXO II

PROTOCOLO - LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

Dados de Identificação e DemográficosNÚMERO.......................................................................................... REGISTRO HC..................NOME.................................................................................................. IDADE SEXO.......ENDEREÇO........................................................................................................ TEL...................INÍCIO DA DOENÇA....................................................................... DATA DO DIAGN..............DATA DA COLETA................................................................... CLÍNICA DE ORIGEM............GRUPO ÉTNICO...................................................................................... PROFISSÃO.............TRAT. ATUAL................................................................................................................................TRAT. PRÉVIOS...........................................................................................................................

Dados ClínicosRASH MALAR........................ .SIM.... ... NAO.... ..........OBS...............................................................RASH DISCOIDE................... .SIM.... ....NÃO.... ...........LOCAL.........................................................FOTOSSENSIBILIDADE....... .SIM.... ....NAO ... ...........OBS..............................................................ALOPECIA.............................. .SIM.... ....NAO.... ...........OBS..............................................................OUTRA LESAO PELE........... .SIM........NAO.... ........... OBS.............................................................ARTRITE................................. .SIM... .... NAO.... ........... LOCAL........................................................TENOSSINOVITE.................. .SIM.... ....NAO.... ...........LOCAL..........................................................OUTRA LESAO M.ESQ........ . SIM... .... NAO.... ........... OBS..............................................................VASCULITE............................ ..SIM... .... NAO.... ............LOCAL.........................................................F. RAYNAUD.......................... ..SIM... .... NAO.... ............ LOCAL........................................................F. TROMBO-EMB.................. . SIM... .... NAO.... ............ LOCAL........................................................SEROSITES.............................. SIM.. .... NAO.... ............ TIPO..........................................................FEBRE..................................... ..SIM... .... NAO... ............. OBS............................................................ALTERAÇÕES PONDERAIS ...SIM.. ......NAO... ............ QUANT.......................................................ALTERAÇÕES RENAIS ..SIM... ......NAO... ............. TIPO............................................................

ALT. NEUROLÓGICAS ..SIM... ......NÃO.. ............. TIPO...........................................................

ALT.HEMATOLÓGICAS .SIM... ......NÃO... ............ TIPO............................................................

ALT. CARDIO-PULM............. .SIM...........NÃO.. ............. TIPO...........................................................DOENÇA GRAVE.....................SIM... ......NAO... ............. OBS............................................................

Dados Laboratoriais (anotar a data)HEMOGRAMA..................................................................................................URINA I..............................................................................................................URÉIA...............................................CREAT....................................................GLICEMIA..................................................................................................VHS......................................................................................PCR..............C3................................................... C4........................................... CH50..CÉL. LE..................................................................... VDRL......................FAN............................................................................PADRÃO/TÍTULOA.dsDNA....................................................................TÍTULO...................A.-Sm.........................................................................TÍTULO..................A.-U1RNP................................................................. TÍTULO...................A.-Ro..........................................................................TÍTULO..................A.-La.......................................................................... TÍTULO...................ACS. ANTICARDIOLIPINA....................................... CLASSE/TÍT........

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