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Lua de Junho
4 Noites speras!
1ª Espera 11 de Junho de 2011
Já estávamos no 4º dia de Lua e os porcos andavam a comer bem em todos os
cevadouros e todos os dias.
Era Sábado, decorria a Feira Nacional de Agricultura. Um amigo meu, o Nuno, que
desde que me conhece se começou a entusiasmar com estas questões da caça, decidiu
este ano dar o primeiro passo inscrevendo-‐se para exame da carta de caçador. Neste
dia tinha combinado ir almoçar à feira com ele acabando por a combinação se
estender a uma espera, iniciando assim a sua carreira venatória. Vinha só acompanhar,
mas a ideia de ver javalis e a possibilidade de cobrarmos um estava a pôr-‐lhe o sangue
a ferver.
Tinha cá nesse dia o Paulo António e os últimos a cá estarem tinham visto porcos
(Henrique e Augusto). O Paulo queria um sítio elevado, e como tinha falado com o Sr.
Augusto, escolheu ir para o chamado cevadouro do Diogo e eu decidi então ir para
onde tinha estado o Sr. Henrique, por duas razões: primeiro estava muito crençudo e
segundo, é um palanque elevado com espaço para duas pessoas. Quem me conhece
sabe que gosto de estar no chão, mas achei que esse tipo de adrenalina não seria
indicado para a estreia de alguém que, por mais que uma vez, ouviu dizer que os
javalis são animais perigosos por natureza.
Deixámos o Paulo e lá fomos nós comigo a explicar como estar numa caçada destas, a
importância dos movimentos, etc.
Chegámos eram 20h40, pois os dias estão muito compridos e o sol ainda está lá a essa
hora. Instalámo-‐nos e, em jeitos de sussurro, comecei a tirar as dúvidas que se lhe
punham.
vermos bichos estavam todas lá. A bola estava do lado dos ditos ungulados.
Estávamos nisto há 10 min. quando, dentro dos eucaliptos, se ouve um restolhar forte
e contínuo. Aí vêm eles, disse-‐lhe eu. Tendo eu os olhos treinados, consegui vê-‐los
assim que foi possível. Olhei para ele e os seus olhos pareciam estar ligados à corrente
de tão depressa andavam para um lado e outro a tentar ver o que provocava aquele
cagaçal.
Saíram dos eucaliptos 3 porcos de razoável tamanho com um carradão de listadinhos.
Que algazarra que aquilo era! Ele estava espasmado... Nunca tinha visto nada assim!
Deram uma trombada nos toros que depressa se encheu de miniaturas e os grandes
ficaram a comer o milho que estava de roda. Os pequenos cobriam todas as fases da
idade das listas. Eram 13 listados com 3 adultos.
Duas delas ainda deram de mamar mas a terceira, a da esquerda na foto, não havia
pequeno nenhum de volta dela. Pensei ser um macheco, e se fosse, seria esse o meu
alvo, mas não, tinha as tetas muito chupadas e proeminentes. Calculei ser a mãe dos
mais velhos que já comiam que nem uns porcos. Os pequenos debicavam no milho
mas os seus dentes ainda deviam ser maleáveis de tão novos eram. Mas mamavam
que se fartavam!
Decidi não atirar, comuniquei-‐lhe a minha decisão e o porquê. Compreendeu
perfeitamente.
Ali ficámos a fotografar, filmar (enviei o filme para o 1gcabp) e a ver a razão do milho
desaparecer tão depressa naquele cevadouro! Estiveram lá mais de 1 hora a comer.
Seguiram em direcção a outros repastos, trincando espigas de milho pelo caminho
(tenho a ceara completamente nua de espigas. Não sobra nada para as rolas em
Agosto!!).
Demos a espera por terminada e extremamente bem sucedida pelas 22h15, altura em
que desapareceram no horizonte. Casa, jantar, ele para Coimbra e eu à espera do
Paulo, que ao que parece não costuma ficar até tão tarde, mas que ali se sentiu bem e
só saiu as 00h39. Ele também viu uma família deste género mas não tão numerosa.
Como eu, também tomou a decisão de não atirar, o que eu agradeço!
2ª Espera 12 de Junho de 2011
Cevadouro do Barro. Já há alguns dias que vinha prestando atenção às fotografias
deste cevadouro. Todos os dias um grupo de 7 (2 listados, 4 farropos e a mãe)
visitavam este local pelas 21h30 mais coisa menos coisa. Como poderão ver nas fotos,
normalmente pelas 22h e qualquer coisa via-‐se claramente uma preocupação nos
presentes, para debandada posterior e aparecimento de sua excelência. O porco que
aparece e põe os outros dali para fora parece-‐me ser um macho novo, já de bom
tamanho e com uma boquinha.
Decido então que aquele podia ser o dia de cobrar um navalhinhas com o arco. Vou
para o aguardo, no chão, mas quando lá chego o vento parece-‐me não estar na
direcção ideal. Ainda bem que tenho, do lado oposto, um aguardo natural que, tirando
o facto de estarmos mais de frente para a lua, em tudo promete.
Depois de instalado, seriam umas 20h30, o vento vareia (como dizem as gentes daqui!)
e decido que será melhor mudar de local.
Porreiro, o vento está bom, a lua vai iluminar o cevadouro e eu vou ficar na sombra
dos eucaliptos. Olho para o relógio. 21h15. Está quase! Mais uns minutos e devem
dêem sinal de que o outro está a
que os porcos estão a faltar ao combinado. Está tudo atrasado!
22h53 oiço um guincho atrás de mim e mal tive tempo de virar a cabeça para ver o que
Um deles, que claramente queria ir mais depressa, deu uma porrada tal no da frente
que só se viu os traseiros no ar. Tudo a comer!! Ganda festa! A mãe vinha a grunhir
Autênticos kamikazes.
Sorte a deles que não era por eles que eu estava ali. Lá olhei para o relógio, 23h15,
pensei: Espero que o grande não seja tão mal educado e não se atrase como estes
da manhã, sempre a dar ao dente, a tomar banhinho de argila, que só faz bem às
gatilho!!!!
Foram embora mas já não foram a correr, da panzinada que levavam. Um até foi
engasgado que fui a ouvi-‐lo a tossir até sei lá onde.
Resumindo, amanhã não perdoo!!! GGRRRRR!!!!
3ª Espera -‐ 13 de Julho de 2011
Estava cá a caçar neste dia o Tiago Lemos. Eu queria mesmo estrear a cadeira no
Buraco Seco, e através das fotos, sabia que os porcos que lá iam não só iam cedo como
passavam lá antes de ir comer ao cevadouro do Barro. Sabia que eram os mesmos.
Erro 1: Perguntei no dia antes ao Tiago se ele tinha alguma preferência pelo tipo de
palanque. Disse-‐me que queria um elevado (mal sabia eu que o Sr gosta de subir as
á de maneira que carreguei a dose de milho no palanque do Diogo e dos Fios,
onde tenho as duas torres. O palanque do Diogo fica bem pertinho do Buraco Seco, de
maneira que eu suspeitava que os porcos fossem primeiro ao do Diogo e depois ao
Buraco Seco. O Tiago estaria no do Diogo e eu no Buraco Seco. Ou um ou outro ia ver
estes porcos. Erro porquê? Porque havia um cevadouro, o da Charca, que não tinha
sido caçado ainda esta lua nem na lua anterior. Quando contei ao Tiago decidiu ir para
eguei um palanque de comida (do Diogo), perto de onde eu
estaria, onde nem ele nem eu estávamos o que faria os bichos perder muito tempo a
comer (óptimo se lá estivesse alguém) e chegarem tarde aos outros sítios.
Sorte das sortes, o Tiago acabou por cobrar uma bela porquinha, não por ser grande,
mas por ter um aspecto muito tenrinho. Ele há-‐de relatar!
Erro 2: As máquinas fotográficas. Eu tinha combinado ir buscar o Tiago as 00h30. Ele
atirou pelas 23h e qualquer coisa. Eu?! Não vi nada Mas nada mesmo! E sabem que
r que eles costumam aparecer a tal hora, de onde
vêm, porque será que não aparecem hoje, será que me estão a sentir? Enfim, um
stress e inquietação só por causa das fotos dos dias anteriores!!! Isto não é caça para
Pelas fotos dessa noite, apareceram as 1h39 e ficaram até as 3 da manhã. Tenho filmes
com os porcos deitados de tão cheios estão! Não os mato de arco, mato de gula!!!
Resumindo, amanhã é que é!! Vão ser obrigados a lá ir porque não vou por comida nos
adjacentes!!! Ihihihih macaco.
4ª Espera 14 de Junho de 2011
Prometido é devido. Às 20h30 já eu estava na cadeira do Buraco Seco, equipado,
camuflado, besuntado de repelente e produto tira cheiros pronto para a noitada. E não
ia arredar pé dali (à Paulo Vilela!) sem os ver até porque não tinha caçadores para ir
buscar.
Pôs-‐se o sol a lua já estava em força. Quase nem se nota a diferença tirando as
sombras das árvores que mudam de vector. Venham eles que já estou pronto!!!
E vieram coelhos, morcegos, melgas e outros óvnis, frio e porcos??!! Nada! Esquece a
máquina. Enjoy! Até porque olhei para a máquina e a luzinha vermelha da falta de
pilha estava a piscar que nem uma doida. Olha, hoje já não sabes a que horas vieram
por isso prepara-‐te para a vigília.
Pelas 23h, e sem dar um único sinal, entrou uma porca grande no cevadouro com
uma mão cheia de caninos atrás! Olha!! Deve ser a que o Paulo António viu no Sábado!
Come um pouco mas não comas tudo que isso não está aí para ti, mas como tens
pequenos para amamentar, vá lá que eu deixo!! E deixei até certo ponto depois
enxotei-‐a!
23h30, estou com frio e sono Não fiz mais nada! Desci o gorro até tapar a cara e
recostei a cabeça no pinheiro só para olhar para dentro um bocadinho. Este bocadinho
durou até à 1h, altura em que oiço chapinhar na charca ao fundo Confirma-‐se, é
bicho grande a andar na água. Vá de preparar a posição.
Com a corrida kamikaze do costume e as trombadas no da frente da praxe, lá vem a
tropa a correr. Eheh, é desta
A comida estava a 19 m, e eles a lambuzarem-‐se como sabem fazer A mãe, para não
variar, vinha à cautela e, com tanta que teve, lá deu com o meu aroma Vá de grunhir
(muito típico e perfeitamente distinto dos outros grunhidos) para a ralé bazar
Bazas?? É o bazas Armei o arco e esperei que o primeiro que obedecesse! Lá houve
um que mudou de monte de milho e ficou enviezado comigo. Pensamento rápido: vais
estrear as novas muzzy que compras-‐te mas são de 100 gr!!! Será que chega?? Que se
lixe, vai assim mesmo ou não vai de todo ZaassKrááccChouc!! Passou completamente
e o Nock luminoso é um mimo. Com o Kráác fiquei com a nítida sensação de ter
acertado no osso do ombro Abala tudo a fugir pelo meio da barragem (Buraco Seco),
ou seja, quase 200 m sempre a vê-‐los correr.
O atingido ia claramente com dificuldades parando mais que uma vez. Às tantas deixei
de os ver a todos e não ouvi mais nada.
Deixei passar 20 min e desci da cadeira com a bagagem toda. Fui ver a flecha, toda ela
escorria sangue. Cheirei, era um cheiro diferente, não era de pulmão nem de sangue
arterial e tripa também não me parecia?! Ok, há que esperar mais. O gajo foi em
direcção à barreira da barragem, se for tiro mortal não a conseguirá subir está no
papo!!
Atirei as 1h05, cheguei à flecha pelas 1h20 e fui procurá-‐lo eram quase 2 da matina.
Sigo o rasto, não era enorme mas era constante, e vou apontando para a frente para
ver se o vejo, e vi! Vejo o porco deitado! Mas deitado não de lado mas com as patas
por baixo dele, género cão Dou mais uns passos e vejo a cabeça dele levantar! Gaita,
não sei a que distância está. Enquanto pensava nisto, levanta-‐se e segue, num misto de
passo acelerado e trote Tento acompanhar com a lanterna mas deixo de o ver numas
estevas/silvas. Volto para trás para o deixar apagar sossegado, fui buscar o carro,
desartilhar o burro, etc.
Eram 3 da manhã voltei para ir buscar o troféu. Cadê o troféu?? Não achei, nem mais
sangue desde o sitio onde o tinha visto deitado Porra!! Foi até as 4 as voltas e nada.
Casa com ele, voltas amanhã.
No dia seguinte fui lá com a minha retriever (??!! Belo cão para pistear!!?? Mas é o
que tenho!). Pois o porco conseguiu subir a barreira.
De onde ele veio
A barreira que subiu
As golfadas que dava durante todo o percurso
Se a subiu, desceu. Cá em cima não estava. Encontro uma pedrinha a meio da barreira
na descida que me indicou qual a vereda que escolheu.
A cadela já estava cheia de calor, só andava pelas sombras, e eu de gatas nas veredas.
Perco o rato e volto atrás, varias vezes e nada, não sei a partir daqui para onde foi
Decido ir dar uma volta pela baixa tentando adivinhar para onde se dirigia. Vejo a
cadela por o focinho no ar, dar uns passinhos cautelosos e, com o pelo eriçado abanar
o rabo Áh canina que mereces uma beija!!! Não dei claro, cão é cão mas festas
levou muitas. Tinha descoberto o porco, macho, com o tiro no ombro e a sair na
barriga do outro lado
Quando o desmanchei reparei que acertei-‐lhe no baço, estômago e intestinos Nada
de pulmões (acho eu!) e coração. Tive sorte, e guardei na mente aquele cheiro da
flecha. Para a próxima espero identificá-‐lo
Entrada Saída
Desculpem o tamanho, mas mandar 4 ficheiros não me apeteceu!
Abraço a todos e continuem a procurar!
Diogo Oliveira e Sousa
Herdade da Agolada de Baixo