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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS LUCAS DOMINONI RODRIGUES PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: UMA PROPOSTA PARA O SEGMENTO DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS JOINVILLE – SC – BRASIL 2008

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS

LUCAS DOMINONI RODRIGUES

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: UMA PROPOSTA PARA O SEGMENTO DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS

JOINVILLE – SC – BRASIL

2008

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS

LUCAS DOMINONI RODRIGUES

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: UMA PROPOSTA PARA O SEGMENTO DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS

Trabalho apresentado a Universidade do Estado de Santa Catarina como requisito para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção e Sistemas.

Orientador: Dr. Lirio Nesi Filho

JOINVILLE – SC – BRASIL

2008

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LUCAS DOMINONI RODRIGUES

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: UMA PROPOSTA PARA O SEGMENTO DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS

Trabalho de graduação aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção e Sistemas dana Universidade do Estado de Santa Catarina.

Banca Examinadora

_______________________________________________ Professor Lírio Nesi Filho, Dr.

_______________________________________________ Professor Leandro Zvirtes, Msc.

_______________________________________________ Professor Valdésio Benevenutti, Msc.

Joinville, 03 de Junho de 2008.

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A Jesus Cristo, minha fonte de vida. À minha linda e amada esposa Lilian, por estar sempre ao meu lado. Aos meus pais e meus irmãos, pelo amor e dedicação. Aos meus avós e familiares, pelo apoio e carinho e a todos meus amigos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me amar, estar sempre comigo e por me ajudar a cumprir esta

importante etapa de minha vida.

À Lilian, meu amor e paixão, por acreditar em mim, me apoiar incondicionalmente e

alegrar meu coração.

Aos meus pais, Paulino e Rose, pelos anos de dedicação, por cada sacrifício que, em

amor, eles fizeram por mim.

Aos meus irmãos, Tatiane e Micael, por serem meus maiores e melhores amigos.

Aos meus avós, Edgar e Yolanda, pelo amor e cuidado que eles demonstram por mim.

À minha vó Luzia pelo carinho e afeto.

Aos meus tios e tias por todo o amor que eles sentem e demonstram por mim.

Aos meus amigos, todos, sem exceção, por fazerem parte de minha vida.

Ao orientador professor Dr. Lírio Nesi Filho, pelos sábios conselhos, dedicação e

respeito.

A todos os pastores, líderes e professores de minha vida, por tudo que aprendi com

vocês.

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LUCAS DOMINONI RODRIGUES

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: UMA PROPOSTA PARA O SEGMENTO DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS

O Planejamento Estratégico é uma ferramenta muito útil para uma empresa que pretenda estar sempre preparada para as velozes mudanças que acontecem no mercado. Na busca de vantagens competitivas o transporte se apresenta como atividade essencial. Em conseqüência disso, as empresas de transporte rodoviário de carga assumem uma posição de grande importância no cenário atual. Porém, o que se observa é que grande parte das transportadoras rodoviárias de cargas não se utilizam da ferramenta de planejamento estratégico, principalmente aquelas de pequeno porte que são a maioria esmagadora do mercado. Isto se deve ao perfil tradicional de grande parte dessas empresas, que preferem confiar na experiência adquirida ao longo dos anos de suas existências. A falta de um método direcionado ao setor é um fator de relevante importância neste contexto. Em vista disso, este trabalho tem como objetivo principal o de propor um método de Planejamento Estratégico com ênfase ao transporte rodoviário de cargas, tomando como alicerce a análise de algumas metodologias consagradas no mercado. Para a realização deste estudo, utilizou-se da pesquisa bibliográfica para o conhecimento e familiarização com o problema e com as características das empresas de transporte rodoviário de cargas. Uma vez identificados os métodos de Planejamento Estratégico, que são os alicerces de referência deste trabalho, procurou-se elaborar um novo método de Planejamento Estratégico, que abordasse as necessidades do transporte rodoviário de cargas. Observou-se que nenhum dos métodos estudados isoladamente, possui todas as características adequadas ao ambiente em estudo, no qual este trabalho se insere. Essa foi a motivação para a elaboração do método que incorpora os aspectos desejados, deixando de lado os que não possuem relação direta com o tema. Observa-se que a adoção de uma postura estratégica aparece como um diferencial, uma vantagem que deve ser utilizada por uma transportadora rodoviária de cargas que almeje o sucesso.

PALAVRAS-CHAVE: planejamento estratégico, transporte rodoviário de cargas.

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SUMÁRIO

RELAÇÃO DE ILUSTRAÇÕES ........................................................................................ 3

LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................. 4

INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 5

1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO........................................................................ 8

1.1 PLANEJAMENTO....................................................................................................... 8

1.2 ESTRATÉGIA............................................................................................................ 11 1.2.1 Cenários estratégicos .................................................................................................. 13

1.3 CONCEITO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ............................................... 14

2 METODOLOGIAS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO .............................. 17

2.1 METODOLOGIA DE OLIVEIRA (2005) .................................................................. 17 2.1.1 Fase I – Diagnóstico estratégico .................................................................................. 19

2.1.2 Fase II – Missão da empresa ....................................................................................... 20

2.1.3 Fase III – Instrumentos prescritivos e quantitativos ..................................................... 21

2.1.4 Fase IV – Controle e avaliação.................................................................................... 22

2.2 METODOLOGIA DE CERTO & PETER (1993) ....................................................... 23 2.2.1 Etapa 1 - Análise do ambiente..................................................................................... 24

2.2.2 Etapa 2 - Estabelecimento da diretriz organizacional................................................... 25

2.2.3 Etapa 3 - Formulação da estratégia .............................................................................. 26

2.2.4 Etapa 4 - Implementação da estratégia ........................................................................ 27

2.2.5 Etapa 5 - Controle Estratégico..................................................................................... 28

2.3 METODOLOGIA DE BETHLEM (2002) .................................................................. 29 2.3.1 Exercício 1 – Estabelecimento dos objetivos e das estratégias ..................................... 31

2.3.2 Exercício 2 - Elaboração do plano estratégico ............................................................. 32

2.3.3 Exercício 3 - Execução e implantação das ações necessárias ....................................... 33

3 CARACTERIZAÇÃO DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS.......... 34

3.1 TRANSPORTE .......................................................................................................... 34

3.2 CARACTERÍSTICAS DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO....................................... 35 3.2.1 Pontos positivos e negativos do transporte rodoviário de cargas .................................. 36

3.2.2 Tipos de cargas ........................................................................................................... 37

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3.2.3 Tipos de veículos ........................................................................................................ 38

3.3 O TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS NO BRASIL.................................. 40 3.3.1 Histórico ..................................................................................................................... 40

3.3.2 Contexto atual do transporte rodoviário de cargas no Brasil ........................................ 41

3.3.3 Cenários futuros para o transporte rodoviário de cargas no Brasil................................ 45

3.4 AS EMPRESAS DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS NO BRASIL .... 47

3.5 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NAS EMPRESAS DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS ............................................................................................. 49

4 METODOLOGIA..................................................................................................... 51

5 MÉTODO PROPOSTO............................................................................................ 54

5.1 METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO MÉTODO ........................................ 54 5.1.1 Fase de Diagnóstico .................................................................................................... 56

5.1.2 Fase Prospectiva ......................................................................................................... 61

5.1.3 Fase Estratégica .......................................................................................................... 63

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 68

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 71

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RELAÇÃO DE ILUSTRAÇÕES

Figuras

Figura 1: Hierarquia do planejamento nas organizações ......................................................... 9

Figura 2: Tipos de estratégias quanto a execução ................................................................. 12

Figura 3: Processo de planejamento estratégico.................................................................... 18

Figura 4: Etapas do processo de administração estratégica ................................................... 24

Figura 5: Tarefas de implementação estratégica ................................................................... 28

Figura 6: Modelo de Bethlem............................................................................................... 30

Figura 7: Composições de transporte de cargas .................................................................... 39

Figura 8: Modelo proposto ................................................................................................... 55

Figura 9: Fase prospectiva.................................................................................................... 63

Quadros

Quadro 1: Identificação de oportunidades e ameaças no ambiente externo geral................... 57

Quadro 2: Identificação de oportunidades e ameaças no ambiente externo operacional......... 58

Quadro 3: Identificação dos pontos fortes e pontos fracos .................................................... 61

Quadro 4: Identificação de possibilidades ............................................................................ 62

Tabelas

Tabela 1: Evolução da matriz de transporte .......................................................................... 45

Tabela 2: Evolução da matriz de transporte no final da década de 90.................................... 46

Tabela 3: Principais produtos transportados ......................................................................... 48

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANP Agência Nacional do Petróleo

ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres

CEL Centro de Estudos Logísticos

CNT Confederação Nacional do Transporte

COPPEAD instituto pós-graduação pesquisa Administração Universidade Federal do Rio

de Janeiro

DNIT Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes

ETC Empresa de Transporte Comercial

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMCO International Mistral Class Organization

JK Juscelino Kubitschek

NTC (Associação) Nacional do Transporte de Cargas

PAC Plano de Aceleração do Crescimento

PIB Produto Interno Bruto

RNTRC Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Carga

TCA Transportador de Carga Autônomo

TCP Transportador de Carga Própria

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INTRODUÇÃO

Atualmente as empresas estão inseridas em um ambiente de forte concorrência e em

um mundo cada vez mais globalizado. Este cenário exige das empresas maior

competitividade, melhor desempenho e foco em atividades relacionadas à produtividade e à

qualidade do serviço oferecido aos clientes. Por isso as organizações têm observado com

atenção a qualidade dos fluxos de bens dentro do processo produtivo.

Nesse contexto, a logística desempenha um papel estratégico nas empresas. Apesar de

existir há muito tempo, somente nos últimos anos é que tem tomado a posição de função em

grande desenvolvimento.

Muitas empresas têm reduzido custos com a utilização de uma eficiente logística em

seu processo produtivo, e desta forma galgando um bom posicionamento no mercado devido a

vantagens competitivas.

Na busca dessas vantagens competitivas o transporte se apresenta como atividade

essencial. Em conseqüência disso, as empresas de transporte rodoviário de carga, assumem

uma posição de grande importância, já que, no Brasil, aproximadamente 60% das cargas são

movimentadas pelo modo rodoviário, sendo ele uma peça-chave no desenvolvimento sócio-

econômico do país.

Os números revelam esta importância do sistema de transporte rodoviário de cargas no

Brasil. Segundo a ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres (2008) o Brasil possui

hoje uma frota com quase 1,8 milhão de caminhões distribuídos entre cerca de cento e

quarenta cinco mil transportadoras e mais de setecentos mil autônomos.

Estatísticas da CNT – Confederação Nacional de Transportes (2006) revelam que

anualmente, em média, são transportadas mais de 1 bilhão de toneladas de cargas através do

transporte rodoviário. O setor tem uma participação de cerca de 5% do PIB do país e um

faturamento superior aos cem bilhões de reais por ano.

Por outro lado, os números mostram se tratar de um mercado pulverizado, pesquisas

da CNT (2002) caracteriza a maioria das empresas de transporte rodoviário de cargas como de

micro ou pequeno porte, perfil tradicional, focadas no transporte interestadual ou

intermunicipal.

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Este perfil tradicional, e de menor porte acarretam em uma característica de não-

planejamento, com o agravante de grande parte dessas empresas estar a décadas no mercado,

reforçando um modo intuitivo de administrar.

Entre os motivos para essa falta de planejamento está a escassez de recursos literários,

acadêmicos e até de mercado voltados para o setor.

Para piorar este quadro soma-se uma série de dificuldades enfrentadas pelo segmento

empresarial com o baixo preço dos fretes, a legislação e fiscalização inadequadas, a

deficiência na infra-estrutura e a insegurança nas vias.

Fica desta forma evidente a necessidade de uma maior ênfase ao planejamento,

principalmente o de caráter estratégico, por parte das empresas que compõem o setor de

transporte rodoviário de cargas.

Neste contexto o objetivo geral projetado para esta pesquisa é de estudar e elaborar um

método de planejamento estratégico para um ambiente de transporte rodoviário de cargas.

Para que esse método seja elaborado, faz-se necessário realizar uma revisão bibliográfica,

onde se buscará investigar e interpretar metodologias de gestão estratégica, bem como estudar

as características do transporte rodoviário de cargas e das empresas inseridas neste segmento,

sendo estes os objetivos específicos da pesquisa.

Três metodologias de planejamento estratégico foram selecionadas e analisadas em

profundidade, tais como o método proposto por Oliveira (2005), o método proposto por Certo

e Peter (1993) e o método proposto por Bethlem (2002). A escolha destes autores é devida à

importância que eles possuem com relação ao tema, à didática de suas obras e à aplicabilidade

de suas respectivas metodologias.

Uma vez identificados os métodos de planejamento estratégico, que serão os alicerces

de referência deste trabalho, procura-se elaborar um novo método de planejamento

estratégico, que aborde as necessidades do transporte rodoviário de cargas.

Seguindo esta linha de pensamento, a seguinte estrutura foi adotada para este trabalho.

O capítulo 1 estuda as definições de planejamento e estratégia, terminando com uma

conceituação de planejamento estratégico.

No capítulo 2 são estudadas as três metodologias de planejamento estratégico

selecionadas, a saber: Oliveira (2005), Certo e Peter (1993) e Bethlem (2002).

A seguir, no capítulo 3, é demonstrada uma pesquisa do transporte rodoviário de

cargas, as características brasileiras para este setor e a caracterização das empresas de

transporte rodoviário de cargas. No final do capítulo é estudada a presença do planejamento

estratégico nessas empresas.

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O capítulo 4 dedica-se a explanação da metodologia utilizada para o desenvolvimento

desta pesquisa, com a descrição do problema e delimitação do método para coleta e análise

dos dados.

No capítulo 5 caracteriza-se o método proposto, com ênfase ao segmento de transporte

rodoviário de cargas.

No capítulo 6 apresentam-se as considerações finais, as limitações do estudo e as

sugestões de pesquisas futuras.

Por último, encontram-se as referências bibliográficas utilizadas na elaboração do

trabalho.

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1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Uma ação é bem executada se for previamente planejada, e terá um resultado melhor

se for planejada de forma estratégica. De acordo com Ackoff (1978) planejamento é algo que

se faz antes de uma ação, ou seja, uma tomada antecipada de decisão. É um processo de

decidir o que fazer e como fazê-lo antes da ação em si.

Segundo Ansoff et al (1987) a estratégia surge após uma análise racional das

oportunidades oferecidas pelo mercado e das forças e fraquezas das firmas, através da seleção

de um ponto que melhor satisfaça os objetivos da empresa.

Para Ansoff et al (1987) esta estratégia elaborada e aplicada na gestão empresarial é o

planejamento estratégico.

O objetivo deste capitulo é lançar as bases conceituais do planejamento estratégico,

passando pelas definições de planejamento e estratégia.

1.1 PLANEJAMENTO

A necessidade de planejamento vem sendo muito discutida por estudiosos da área

(Ansoff, 1991; Mintzberg et al.,2000) e dirigentes das organizações, devido à multiplicidade

de cenários ambientais, organizacionais, gerenciais e operacionais. Perante um mercado

globalizado sujeito a alterações do ambiente interno e externo e de níveis de exigências cada

vez maiores, muitas organizações, em busca de competitividade e da própria sobrevivência,

têm procurado adaptar a sua gestão empresarial a esse ambiente.

Neste contexto, Fayol apud Terence (2002) considerou o planejamento como um dos

elementos do processo administrativo. Para Fayol apud Terence (2002) o ato de administrar é

constituído das funções: prever, planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar,

formando a famosa sigla PPOCCC. Em sua teoria da Administração Fayol apud Terence

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(2002) definiu planejar como o ato de traçar planos de ação que possuam unidade,

continuidade e flexibilidade.

Oliveira (2005) conceituou planejamento como um processo desenvolvido para atingir

uma situação almejada de um modo que seja eficiente, eficaz e efetivo, concentrando os

esforços e recursos da empresa da melhor forma possível.

Para Stoner e Freeman (1995) o planejamento visa determinar os objetivos da

organização e os meios para atingir estes objetivos. Para eles este processo não pode ser

intuitivo, mas deve estar baseado em metodologia, planos e lógica.

Outra abordagem interessante é a de Megginson, Mosley e Pietri Júnior (1986)

observando que o planejamento, além de ser um programa para a realização de objetivos e

metas, é também a base que capacita a administração a prever e se preparar para as alterações

que de algum modo possam interferir nos objetivos organizacionais.

Ferreira et al. (1997) ressalta que o planejamento de uma empresa tem suas atividades

distribuídas em todos os níveis da organização. Desta forma o planejamento empresarial não

se resume ao planejamento estratégico, porém este deve direcionar o planejamento nos demais

níveis, conforme representado na Figura 1.

Figura 1: Hierarquia do planejamento nas organizações Fonte: Terence, 2002

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Junqueira (2006) afirma que é possível distinguir três tipos de planejamento,

considerando os níveis hierárquicos da organização.

• Planejamento Estratégico: visa otimizar a relação da empresa com o ambiente. É

de responsabilidade dos níveis mais altos na hierarquia e determina os objetivos e

as ações a serem tomadas conforme a análise interna e externa à empresa.

• Planejamento Tático: sua principal finalidade é a utilização eficiente dos recursos

disponíveis para alcançar os objetivos previamente fixados, através de uma

estratégia predeterminada, além de orientar o processo decisório da empresa.

• Planejamento Operacional: considerado como a formalização das metodologias

de desenvolvimento e implantação, principalmente através de documentos escritos.

Pode-se afirmar que se trata de planos de ação ou planos operacionais.

Para Koontz e O`Donell (1976) a ação de planejar pressupõe seis pontos básicos:

• objetividade: origina todas as outras tarefas, sendo a primeira análise daquilo que

se quer, de acordo com os objetivos gerais da empresa;

• exeqüibilidade: possibilidade de se fazer, conjugando o bom senso auxiliado pela

informação, envolvendo a pesquisa e as discussões com os grupos;

• precisão: o somatório dos resultados anteriores fornece os parâmetros dos

resultados concretos do planejamento, medindo o produto final;

• unidade: é o fator determinante entre os componentes do planejamento, que fazer

com que suas etapas se identifiquem com as características do próprio

planejamento, quando as suas várias atividades devem estar voltadas para a

unidade, mantendo o equilíbrio;

• flexibilidade: permite à equipe de planejamento movimentar-se em diversas áreas

e, sendo flexível, é adaptável para se lidar com fatores não padronizados;

• síntese e especificidade: resultado final do que foi realizado, demonstrando as

soluções ou medidas recomendadas.

O que se observa atualmente é que o ato de planejar é intrínseco à administração de

uma organização, estando presente em todos os seus níveis hierárquicos, e sendo conhecido

de todos os envolvidos, de uma forma parcial ou integral, conforme a posição ocupada.

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1.2 ESTRATÉGIA

Em um contexto atual de mudanças tão rápidas e acentuadas, onde o ambiente

organizacional está sempre em alteração, a grande função da estratégia é promover o

equilíbrio entre a visão de futuro da organização e o necessário no presente para se atingir o

futuro desejado.

Para Wright, Mark e Parnell (2000) estratégia se refere aos planos da alta

administração para alcançar resultados consistentes com a missão e os objetivos gerais da

organização. Outra observação importante feita por Wright, Mark e Parnell (2000) é que a

estratégia trata de um processo contínuo que deve acompanhar as modificações nas condições

ambientais e organizacionais.

A palavra “estratégia” tem sua origem do vocábulo grego stratego, que significa

general (CARVALHO e LAURINDO, 2003). Sun Tzu (2007) coloca que em uma guerra um

bom estrategista é aquele que vence sem precisar do confronto direto. Para SunTzu (2007)

uma boa estratégia leva a esta vitória sem confronto direto.

O uso da expressão “estratégia” começou com os administradores nas décadas de 60 e

70 devido à guerra da concorrência no mercado. Gaj (1990) observa que implantar estratégias

significa, então que a preocupação com o concorrente deve ganhar um espaço razoável de

tempo, recursos e esforços visando melhorar internamente.

Outra definição de estratégia, agora por Almeida (2003), é a de um caminho que uma

entidade deverá seguir. Para ele há uma ligação que não pode ser desfeita entre estratégia e

objetivo, pois enquanto estratégia mostra o caminho o objetivo representa o destino deste

caminho.

Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampell (2000) a definição completa da palavra

estratégia exige um conjunto de definições que geram uma idéia ampla do conceito, a saber:

• Estratégia é um plano, uma direção, um guia ou um curso de ação para o futuro,

um caminho para ir daqui até ali.

• Estratégia é um padrão, uma consistência de comportamento ao longo do tempo.

• Estratégia é uma posição, a alocação de determinados produtos em determinados

mercados.

• Estratégia é uma perspectiva, o modo fundamental de uma organização fazer as

coisas.

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• Estratégia é uma manobra específica para enganar ou confundir um oponente ou

concorrente.

Assim, estratégia tem a conotação de um plano que direciona a organização, de acordo

com um padrão, a buscar a melhor posição, de forma a evitar ou vencer a concorrência

conforme a perspectiva própria.

Ansoff (1991) considera a estratégia uma ferramenta ideal para orientar a organização

a trilhar melhor num mundo marcado pela turbulência ambiental.

Gaj (1990) salienta que estratégias são ações iniciadas hoje pela organização que

poderão levar essa mesma organização a uma situação mais cômoda no futuro. Assim,

estratégia é uma postura direcionada à procedimentos que devem ser iniciados hoje para se

obter no futuro o objetivo que se deseja. Gaj (1990) acrescenta ainda, que essa postura

estratégica a que se refere, diz respeito a conscientização em direção a um processo de

pensamento endereçado à procedimentos executados pela organização como uma forma de se

administrar recursos limitados.

Para Ansoff (1991) a elaboração de estratégias tem por finalidade assegurar o sucesso

futuro, mesmo que as duas palavras não sejam sinônimas.

Conforme Mintzberg, Ahlstrand e Lampell (2000), existe uma diferença entre a

estratégia pretendida e a estratégia realizada. As intenções plenamente realizadas são

chamadas de estratégias deliberadas e as não-realizadas de estratégias irrealizadas. Mintzberg,

Ahlstrand e Lampell (2000) citam ainda um terceiro caso que chamam de estratégias

emergentes, onde um padrão realizado não era exatamente o pretendido. A figura 2 ilustra

esta abordagem.

Figura 2: Tipos de estratégias quanto a execução Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampell, 2000

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Steiner apud Oliveira (2005) de forma sucinta definiu estratégia como a “futuridade

das decisões correntes”.

No entanto, como o futuro é incerto e indeterminado, uma preparação para ele,

permitirá enfrentar suas alterações com maior rapidez e firmeza. Esta preparação pode ser

feita pela análise de cenários.

1.2.1 Cenários estratégicos

A palavra cenário vem do termo da lingua inglesa “scenario”, ligado a arte teatral, e

significa roteiro. Para Pereira (2001) um cenário, na sua concepção original, constitui-se no

pano de fundo, sendo projetado para harmonizar e complementar todas as cenas. Ele deve ser

montado procurando que o script se realize na forma pensada e tenha a sua condução

harmonizada com a atuação dos atores.

Tachizawa apud Kato (2005) define cenários como previsões que se baseiam em um

conjunto de hipóteses que, na prática, são aceitas como certas.

Pereira (2001) faz outra observação definindo cenarização como a perfeita leitura das

variáveis que atuam no ambiente externo.

Porter (1998) baseia um cenário em um conjunto de suposições sobre as principais

incertezas que podem influenciar a estrutura organizacional. Para Porter (1998) um conjunto

de cenários é empregado para projetar uma estratégia competitiva que leve a organização a

alcançar vantagens sobre a concorrência.

Cristo (2002) associa a análise de cenários com prospectiva, ou seja, uma visualização

do futuro, quando este não pode ser visto como uma simples extrapolação do passado, mas

um conjunto de futuros possíveis cada um em um cenário diferente.

Para Cristo (2002) a prospectiva não pretende ser determinista, mas possibilitar a

redução de incertezas quanto a períodos futuros, baseando-se no conhecimento que as pessoas

têm de determinados sistemas que serão “prospectados”.

Segundo Bensussan (1998) a prospectiva traz implícita a idéia de vários futuros

possíveis. Por isso, a técnica de cenários estabelece um conjunto de hipóteses de base, sobre

as quais, em um dado contexto, elaboram-se e implementam-se as políticas.

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A partir das relações de prospectiva com planejamento e estratégia, pode se chegar a

definição de planejamento de Ackoff (1978): “planejamento é conceber um futuro desejado,

bem como os meios para lá chegar”.

Logo, Cristo (2002) defende que a prospectiva é a base do planejamento estratégico.

Pela elaboração de cenários exploratórios são identificados os desafios do futuro e, após um

processo de decisão estratégica, obtidos cenários possíveis que indicarão o futuro desejado.

Portanto, de acordo com Pereira (2001) cenarizar e planejar se confundem

determinando que o domínio da técnica de uso de cenários coloque-se como fundamental no

processo refletindo-se nos custos e na lucratividade das organizações.

O planejamento estratégico aparece então como elemento fundamental para a

sobrevivência e o crescimento das organizações e, dentro dele, a análise do ambiente externo

torna-se ponto crucial. Essa análise (cenarização) envolve diversas questões, a saber: questões

demográficas, econômicas, sociais, culturais, políticas e religiosas.

Uma técnica interessante para dar início a esta análise é o brainstorming. Grumbach e

Marcial apud Kato (2005) definem o brainstorming como uma técnica de criatividade que

consiste em uma reunião com um grupo seleto de, no máximo, doze pessoas. Neste grupo as

idéias são lançadas livremente, sem censura alguma, de onde vem o nome em inglês, que

significa “tempestade de idéias”. Após isso estas idéias são organizadas descartando aquelas

incabíveis e estruturando as que são viáveis.

Neste contexto, o risco e a incerteza são pré-determinados a partir da escolha dos

caminhos (estratégias) onde se cogitam as possibilidades ideais para atingir os objetivos

traçados.

1.3 CONCEITO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Em um cenário de profundas transformações devidas a facilidade de acesso à

informação, oriunda da evolução tecnológica nas áreas de telecomunicações e informática, as

organizações necessitam estar em constante evolução e acompanhamento do seu ambiente,

que passa a ser global ampliando o espaço geográfico e as variáveis do ambiente externo. E é

o planejamento estratégico que faz o acompanhamento do ambiente, que por causa da

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velocidade das transformações, necessita diminuir, ao máximo, o risco e a incerteza inerentes

ao mesmo.

Neste contexto é importante um entendimento do que vem a ser o planejamento

estratégico. Fischmann e Almeida (1991) definiram assim planejamento estratégico:

Planejamento estratégico é uma técnica administrativa que, através da análise do ambiente de uma organização, cria a consciência das suas oportunidades e das ameaças, dos seus pontos fortes e fracos, para o cumprimento da sua missão e, através desta consciência, estabelece o propósito de direção que a organização deverá seguir para aproveitar as oportunidades e evitar as ameaças. (FISCHMANN e ALMEIDA, 1991, p.25).

Para Oliveira (2005) planejamento estratégico é o processo que proporciona

sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa,

visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e atuando de forma inovadora e

diferenciada. Segundo ele, através do planejamento estratégico a empresa espera:

• Conhecer e melhor utilizar seus pontos fortes

• Conhecer e eliminar ou adequar seus pontos fracos

• Conhecer e usufruir de oportunidades externas

• Conhecer e evitar ameaças externas

• Ter um efetivo plano de trabalho

Certo et al. (2005) abordam o planejamento estratégico como parte de algo maior

denominada administração estratégica, sendo esta um processo contínuo que se inicia fora da

organização e desdobra-se dentro dela. É um processo interativo e cíclico com o propósito de

assegurar que a empresa como um todo se integre apropriadamente ao seu ambiente.

Ansoff et al. (1987) dão relevância a análise desse ambiente, identificando problemas

estratégicos e a solução para estes problemas, o planejamento estratégico. Para Ansoff et al.

(1987) o planejamento estratégico consiste na análise racional das oportunidades oferecidas

pelo meio, dos pontos fortes e fracos das empresas e da escolha de um modo de

compatibilizar a estratégica entre dois extremos, para que se possa satisfazer do melhor modo

possível os objetivos da empresa

Em sua abordagem, Drucker (1998), descreve o planejamento estratégico como um

processo contínuo de tomada de decisões atuais que envolvam riscos, portanto se deve buscar

o maior conhecimento possível do futuro contido. Além disso, deve-se organizar

sistematicamente as atividades necessárias à execução dessas decisões e medir o resultado

obtido em confronto com as expectativas.

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Stoner e Freeman (1985) usa a definição de um processo de planejamento formalizado

e de longo alcance, empregado para se definir e atingir os objetivos organizacionais.

O sistema de planejamento estratégico, segundo Hax apud Fortes (2000), visa

organizar, de forma disciplinada, as maiores tarefas da empresa, para conduzi-la a uma

eficiência operacional nos seus negócios e para um futuro melhor e inovador.

Hax apud Fortes (2000) observa que em uma corporação, o planejamento estratégico

define o percurso dos negócios da organização, determina o tipo de arranjo econômico e

humano necessário, e a natureza das contribuições não-econômicas pretendidas para os seus

proprietários e demais grupos de interesse. Define também a postura da organização diante da

concorrência de forma a alcançar vantagens competitivas.

Terence (2002) destaca as críticas que essa ferramenta, o planejamento estratégico,

vem recebendo. Entre essas críticas, Terence (2002) cita a rigidez do processo, a dificuldade

na implementação de estratégias e a imprevisibilidade quanto ao futuro. Porém, ressalta que

apesar das críticas, o planejamento estratégico apresenta grandes vantagens para as empresas,

a saber: um conhecimento melhor dos fatores internos e externos à empresa, uma interação

maior da empresa com suas condições ambientais, e uma avaliação constante do desempenho

da empresa.

Scramim e Batalha apud Terence (2002) observam que apesar das críticas, o

planejamento estratégico é um importante instrumento de competitividade, e deve ser um

processo contínuo abordando o desenvolvimento do pensamento e do comportamento

estratégico das organizações.

Em vista disso, o planejamento estratégico assume um papel importante para qualquer

empresa que pretenda, de alguma forma, sobreviver, crescer e alcançar o sucesso em um

ambiente cada vez mais competitivo. Inclusive as empresas em questão neste estudo, as

transportadoras rodoviárias de cargas.

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2 METODOLOGIAS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Neste capítulo serão apresentados alguns modelos de elaboração e implantação de

planejamento estratégico. Deve-se lembrar Lorange e Vancil apud Oliveira (2005), que

salientam não existir uma metodologia universal de planejamento estratégico, porque as

empresas diferem em tamanho, em tipos de operações, em forma de organização, em filosofia

e estilo administrativo.

Almeida (2003) destaca que existem diversos modelos propostos na literatura, cada

um possui características e particularidades específicas, porém praticamente todos seguem a

mesma lógica: um diagnóstico, os objetivos, a seleção da estratégia e o planejamento de como

aplicá-la.

Neste trabalho, a pesquisa foi delimitada às metodologias de Oliveira (2005), Certo e

Peter (1993) e Bethlem (2002).

2.1 METODOLOGIA DE OLIVEIRA (2005)

Oliveira (2005) elaborou uma metodologia para desenvolvimento do planejamento

estratégico considerando duas possibilidades:

• Primeiramente se define, em termos da empresa como um todo, “aonde se quer

chegar” e depois se estabelece “como a empresa está para chegar na situação

desejada”; ou

• Primeiramente se define, em termos da empresa como um todo, “como se está” e

depois se estabelece “aonde se quer chegar”.

Naturalmente, pode-se considerar uma terceira possibilidade, que é definir “aonde

quer se chegar” juntamente com “como se está para chegar lá” (OLIVEIRA, 2005, p.67).

Oliveira (2005) apresenta uma metodologia que se baseia mais fortemente na segunda

possibilidade, sem desconsiderar, em alguns momentos do processo, a primeira possibilidade

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apresentada. Oliveira (2005) justifica essa metodologia dizendo nunca ter encontrado, em seus

serviços de consultoria, uma empresa que realmente se conhecesse na plenitude.

A metodologia de Oliveira (2005) é composta por quatro fases básicas:

Fase I – Diagnóstico Estratégico.

Fase II – Missão da empresa.

Fase III – Instrumentos prescritivos e quantitativos.

Fase IV – Controle e avaliação.

Estas fases podem ser observadas de forma detalhada na figura 3. O processo se inicia a partir da:

VISÃO E VALORES

OPORTUNIDADES AMEAÇASEm termos de:- mercados a explorar- recursos a aproveitar

CONCORRENTEScom seus

PONTOS FORTESPONTOS FRACOS

PONTOS NEUTROS

MISSÃO

PROPÓSITOS

CENÁRIOS

POSTURA ESTRATÉGICA

MACROESTRATÉGIASMACROPOLÍTICAS

OBJETIVOS GERAISOBJETIVOS FUNCIONAIS

DESAFIOS eMETAS

ESTRATÉGIAS ePOLÍTICAS

PROJETOS ePLANOS DE AÇÃO

ORÇAMENTO ECONÔMICO FINANCEIRO

Algumas vezes irrealista quanto aos "destinos" da empresa e submetida a uma avaliação racional e criteriosa das

Que prejudicarão a empresa e suas oportunidades identificadas

Considerando a realidade da empresa e de seus

Tudo isso "dentro" do horizonte estabelecido para a

E que deve conduzir à escolha de

A partir de detalhes de

- tirar proveito dos pontos fortes e oportunidades; e- evitar ou eliminar os pontos fracos e ameaças da empresa e que devem ser traduzidas em

Destinados a orientar a operacionalização do plano estratégico através do

Respeitando a

Que possibilita o estabelecimento de

Que orientarão a formalização de

Mais realistas que as expectativas e os desejos, como uma base para a formulação de

Quantificados, que permitirão o estabelecimento, em nível funcional, de

Capazes de:

Figura 3: Processo de planejamento estratégico Fonte: Oliveira, 2005 A visão de planejamento estratégico por Oliveira (2005) é de um processo contínuo,

uma seqüência de atividades agrupadas em fases, que de forma harmoniosa percorrem um

caminho traçado por uma metodologia.

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2.1.1 Fase I – Diagnóstico estratégico

Nesta fase, chamada por Oliveira (2005) de auditoria de posição, deve-se determinar

“como se está”. Ela está subdividida em cinco etapas básicas, a saber:

A – Identificação da visão: representa o que a empresa quer ser em um futuro próximo

ou distante.

B – Identificação dos valores: conjunto dos princípios e crenças fundamentais de uma

empresa, formam a base para as tomadas de decisões.

C – Análise externa: a empresa deve olhar para fora de si, para o ambiente onde estão

as oportunidades e ameaças considerando uma série de tópicos, entre os quais se destacam:

• Mercado nacional e regional.

• Mercado internacional.

• Evolução tecnológica.

• Fornecedores.

• Aspectos econômicos e financeiros.

• Aspectos socioeconômicos e culturais.

• Aspectos políticos.

• Entidades de classe.

• Órgãos governamentais.

• Mercado de mão-de-obra.

• Concorrentes.

D – Análise interna: esta etapa verifica os pontos fortes, fracos e neutros dentro da

empresa, considerando os seguintes fatores:

• Produtos e serviços atuais.

• Novos produtos e serviços.

• Promoção.

• Imagem institucional.

• Comercialização.

• Sistema de informações.

• Estrutura organizacional.

• Tecnologia.

• Suprimentos.

• Parque industrial.

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• Recursos humanos.

• Estilos de administração.

• Resultados empresariais.

• Recursos financeiros / finanças.

• Controle e avaliação.

E – Análise dos concorrentes: apesar de estar contida na etapa de análise externa (letra

C), Oliveira evidencia a necessidade de um detalhamento maior deste item, visando a

identificação das vantagens competitivas da própria empresa e das concorrentes.

2.1.2 Fase II – Missão da empresa

Estabelece-se nesta fase a razão de ser da empresa, bem como seu posicionamento

estratégico. Esta fase é decomposta nas seguintes etapas:

A – Estabelecimento da missão da empresa: ou seja, o motivo central da existência da

empresa, determinando “quem ela atende”. Kotler apud Oliveira (2005) afirma que a missão

da empresa deve ser definida em termos de satisfazer a alguma necessidade do ambiente

externo, e não em termos de oferecer algum produto ou serviço ao mercado.

B – Estabelecimento dos propósitos atuais e potenciais: dentro da missão, deve-se

determinar os propósitos da empresa correspondente à explicitação dos setores de atuação

dentro da missão que a empresa já atua ou está analisando a possibilidade de entrada.

C – Estruturação e debate de cenários: cenários representam critérios e medidas para

a preparação do futuro da empresa, considerando a evolução e a seqüência de eventos desde o

momento atual até um determinado momento futuro.

D – Estabelecimento da postura estratégica: determina-se a maneira ou postura mais

adequada para a empresa alcançar seus propósitos dentro da missão, respeitando sua situação

interna e externa atual, estabelecida no diagnóstico estratégico.

E – Estabelecimento das macroestratégias e macropolíticas: aqui ocorre o

delineamento da missão. Macroestratégias correspondem às grandes ações ou caminhos que a

empresa deverá adotar para melhor interagir, usufruir e gerar vantagens competitivas no

ambiente. Macropolíticas correspondem às grandes orientações que servirão como base de

sustentação para as decisões que a empresa deverá tomar.

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2.1.3 Fase III – Instrumentos prescritivos e quantitativos

Nesta fase ocorre o estabelecimento “de onde quer se chegar” e “de como se chegar na

situação que se deseja”. Para isto são utilizados dois instrumentos perfeitamente interligados:

2.1.3.1 Instrumentos prescritivos

Proporcionam a explicitação do que deve ser feito pela empresa para que se direcione

ao alcance dos propósitos estabelecidos dentro de sua missão, de acordo com sua postura

estratégica, respeitando as macropolíticas, bem como as ações estabelecidas pelas

macroestratégias; e se direcionando para a visão estabelecida.

O tratamento dos instrumentos prescritivos se dá através de três etapas:

A – Estabelecimento de objetivos, desafios e metas: através de diferentes técnicas

(cruzamento dos fatores externos e internos, interação com cenários, administração por

objetivos, entre outros) são determinados:

• Objetivo: Alvo ou situação que se pretende atingir.

• Objetivo funcional: objetivo parcial, referente às áreas funcionais. Devem ser

alcançados com a finalidade de se atingir os objetivos da empresa.

• Desafio: é uma realização que deve ser perseguida, é perfeitamente quantificável e

com prazo estabelecido.

• Meta: são os passos ou etapas para se alcançar desafios e objetivos.

B – Estabelecimento de estratégias e políticas funcionais

• Estratégia: ação ou caminho mais adequado a ser executado para alcançar o

objetivo.

• Política: definição dos níveis de delegação, faixas de valores e quantidades limites

e da abrangência das estratégias e ações para a consecução dos objetivos.

• Diretrizes: conjunto estruturado e interativo dos objetivos, estratégias e políticas

da empresa.

C – Estabelecimento dos projetos e planos de ação

• Projetos: trabalhos a serem realizados com responsabilidade de execução,

resultados esperados, prazos definidos, assim como quantificação dos recursos a

serem consumidos ou utilizados.

• Programas: conjutos de projetos homogêneos quanto ao seu objetivo maior.

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• Planos de ação: conjuntos das partes comuns dos diversos projetos quanto ao

assunto que está sendo tratado.

2.1.3.2 Instrumentos quantitativos

Consistem nas projeções econômico-financeiras do planejamento orçamentário,

devidamente associadas à estrutura organizacional da empresa. Além do Planejamento

Orçamentário, outros instrumentos quantitativos são: o Fluxo de Caixa Projetado e o Balanço

Projetado.

2.1.4 Fase IV – Controle e avaliação

Nesta fase, verifica-se “como a empresa está indo” para a situação desejada, através de

controles que assegurem a realização dos objetivos, desafios, metas, estratégias e projetos.

Para isso é necessário:

• Estabelecimento e análise de indicadores de desempenho.

• Avaliação de desempenho.

• Comparação de desempenho real com objetivos, desafios, metas e projetos

estabelecidos.

• Análise dos desvios dos objetivos, desafios, metas e projetos estabelecidos.

• Tomada de ação corretiva provocada pelas análises efetuadas.

• Acompanhamento para avaliar a eficiência e eficácia da ação de natureza corretiva.

• Adição de informações ao processo de planejamento, para desenvolver os ciclos

futuros da atividade administrativa.

Oliveira (2005) salienta que a empresa só conseguirá obter as efetivas vantagens do

planejamento estratégico se forem observados alguns aspectos. Entre eles:

• O planejamento estratégico não pode ser visto como a solução para todos os

problemas da empresa.

• O planejamento estratégico deve ser efetivamente um planejamento estratégico, ou

seja, deve sair do papel e ser colocado em prática,

• O planejamento estratégico seja adequadamente utilizado pela empresa.

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Essa metodologia estruturada, interligando os aspectos estratégicos, táticos e

operacionais da organização, mostra que o planejamento estratégico é algo prático que auxilia

fortemente o administrador em seu processo decisório, contribuindo também para obtenção de

melhores resultados da empresa.

2.2 METODOLOGIA DE CERTO & PETER (1993)

Para Certo e Peter (1993) o conceito de administração estratégica mudou muito e

continuará a mudar. Em conseqüência disso é percebida uma falta de consenso sobre o que,

precisamente, o termo significa. Certo e Peter (1993) propõem uma definição que implica em

que os administradores sigam uma série de etapas, sugerindo também que o processo é

contínuo, iniciando fora da organização e se desdobrando em seu interior.

Certo e Peter (1993) sugerem ainda que esse processo é interativo, ou seja, começa na

primeira etapa, segue até a última e, então, retorna para a primeira, constituindo um ciclo com

o propósito de assegurar que a empresa como um todo se integre apropriadamente ao seu

ambiente, ou seja, a seu ambiente operacional.

Certo e Peter (1993) defendem a idéia de que o atual processo de administração

estratégica tende, especialmente em organizações menores, a ser dominado pelo diretor-

presidente. Porém para que haja sucesso, o diretor-presidente deve envolver os demais

membros da diretoria, membros da administração corporativa e das gerências, com a

finalidade de discutir e tomar as decisões estratégicas.

Diversos benefícios são citados por Certo e Peter (1993) entre eles: um melhor

resultado financeiro, um maior comprometimento dos membros da organização com as metas

de longo prazo, maior capacidade de reação a mudanças no mercado ou a ações de

concorrentes. Salientando que esses benefícios só serão alcançados se houver uma aplicação

efetiva e eficiente do sistema de administração estratégica.

As etapas identificadas por Certo e Peter (1993) no processo de administração

estratégica estão representadas na figura 4.

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Figura 4: Etapas do processo de administração estratégica Fonte: Certo e Peter, 1993

Certo e Peter (1993) acreditam se tratar de um processo de “criar” o futuro por meio

da regência de todos os recursos para obter vantagem competitiva, usando uma estrutura de

planejamento cuidadosamente escolhida e gerando um clima de apoio dentro dela.

2.2.1 Etapa 1 - Análise do ambiente

Consiste em monitorar o ambiente organizacional para identificar as oportunidades e

os riscos atuais e futuros. O propósito desta análise é capacitar a administração a reagir

adequadamente e intensificar o sucesso da empresa.

Esta análise tem um papel político enquanto informa a alta administração as principais

tendências emergentes no ambiente, um papel de integração do planejamento ao melhorar o

desempenho organizacional, e por fim, um papel orientado para a função ao fornecer

informações ambientais relacionadas ao desempenho efetivo de atribuições organizacionais

específicas.

Para Certo e Peter (1993) existem três níveis de ambiente:

• Ambiente geral: é o nível de ambiente externo à organização, formado por

componentes que normalmente têm amplo escopo e sobre o qual a organização não

tem nenhum controle. Estes componentes são: o econômico, o social, o político, o

legal e o tecnológico.

• Ambiente operacional: é um ambiente externo à organização, porém composto de

setores com implicações específicas e relativamente mais próximas da empresa.

Seus componentes são: o cliente, a concorrência, a mão-de-obra, o fornecedor e o

componente internacional (leis, práticas políticas, cultura de países com o qual a

empresa faz negócios)

• Ambiente interno: nível de ambiente que tem implicação imediata e específica

em sua administração. Seus componentes são mais facilmente perceptíveis e

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controláveis. Seus componentes são: aspectos organizacionais (rede de

comunicação, estrutura da organização, registro de sucessos, política, entre outros),

aspectos de pessoal (relações trabalhistas, práticas de recrutamento, treinamento,

avaliação de desempenho), aspectos de marketing (segmentação, estratégias de

produto, de preço, de promoção e de distribuição), aspectos de produção (layout de

fábrica, pesquisa, tecnologia, estoques) e aspectos financeiros (liquidez,

lucratividade, atividades, oportunidades de investimento).

2.2.2 Etapa 2 - Estabelecimento da diretriz organizacional

É na prática o estabelecimento da missão organizacional e dos objetivos. Uma missão

formalmente expressa facilita o entendimento sobre os rumos da organização, ajuda a

concentrar os esforços na mesma direção, assegura que não haja propósitos conflitantes, serve

de base para alocação de recursos, estabelece áreas amplas de responsabilidades por tarefa na

organização, e atua como base para o desenvolvimento de objetivos organizacionais.

As informações contidas em uma declaração de missão variam de uma organização

para outra, pode-se incluir: produto ou serviço da empresa, mercado, tecnologia, objetivos da

empresa, filosofia da empresa, autoconceito da empresa e imagem pública.

Para isso, deve-se seguir o seguinte roteiro:

• Reflexão sobre os resultados da análise do ambiente

• Estabelecimento de uma missão organizacional

• Estabelecimento de objetivos organizacionais

A missão organizacional é a finalidade da organização ou a razão pela qual ela existe.

Os objetivos são as metas que a organização possui. Estes objetivos devem ser eficazes e

úteis. Para isso eles devem ser:

• Específicos

• Exigentes de esforços

• Atingíveis

• Flexíveis

• Mensuráveis

• Consistentes a longo e curto prazo.

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2.2.3 Etapa 3 - Formulação da estratégia

A estratégia é definida como um curso de ação para garantir que a organização alcance

seus objetivos. Portanto, formular estratégias consiste em projetar e selecionar ações que

levem à realização dos objetivos organizacionais.

Aqui são utilizados os dados fornecidos pela análise do ambiente com a finalidade de

se levantar as questões críticas, pontos fortes e fracos, oportunidades e riscos.

A análise das questões críticas consiste em responder a quatro questões básicas:

1. Quais são os propósitos e objetivos da organização?

2. Para onde a organização está indo no momento?

3. Que fatores ambientais críticos a organização enfrenta atualmente?

4. O que pode ser feito para que os objetivos organizacionais sejam alcançados de

forma mais efetiva no futuro?

A análise de fatores internos e externos ajuda a entender a situação global da

organização. Quanto aos fatores externos devem-se analisar oportunidades e riscos.

• Oportunidades: novos mercados, aumento da demanda, crescimento do mercado.

• Riscos: novos concorrentes, produtos substitutos, pressão competitiva, poder de

barganha de clientes ou fornecedores, entre outros.

Os fatores internos são analisados sob a ótica de pontos fortes e fracos.

• Pontos fortes: recursos financeiros adequados, habilidade competitiva, vantagens

de custo, administração competente, capacidade de inovação.

• Pontos fracos: instalações obsoletas, controles ruins, imagem de mercado fraca,

desvantagens competitivas, falta de talento, falta de experiência.

Ao final devem ser determinadas, de forma coordenada e sincronizada, as estratégias

organizacionais, de negócio e funcionais.

A estratégia organizacional pode ser de concentração (uma única linha de negócios),

de estabilidade (mantêm sua linha ou linhas de negócios), e estratégia de crescimento

(aquisição de outras organizações, joint ventures, diversificação).

Porter apud Certo e Peter (1993) define que a estratégia de negócio adotada pode ser a

liderança de custos, diferenciação, ou enfoque.

As estratégias funcionais são aquelas adotas pelas áreas funcionais da organização, e

levam o nome destas áreas que são: pesquisa e desenvolvimento, operações, finanças,

marketing e recursos humanos.

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2.2.4 Etapa 4 - Implementação da estratégia

Nesta etapa são colocadas em prática as estratégias elaboradas nas etapas anteriores.

As principais tarefas envolvidas neste processo são:

• Análise das mudanças estratégicas: determinar o quanto a organização terá de

mudar a fim de implementar a estratégia selecionada. São cinco os níveis de

mudança estratégica: estratégia de continuação, de mudança de rotina, de mudança

limitada, de mudança radical e redirecionamento organizacional.

• Análise da estrutura organizacional: verificar o quanto a estrutura formal e a

estrutura informal promovem ou impedem o sucesso da implementação das

estratégias. A estrutura organizacional pode ser classificada como simples,

funcional, divisional, estrutura de unidades estratégicas de negócios, e matricial

• Análise da cultura organizacional: é importante, pois a cultura (conjunto de

valores e crenças) influencia o comportamento das pessoas e reflete na motivação

destas para conseguir ou ultrapassar os objetivos organizacionais.

• Seleção de uma abordagem de implementação: para cada abordagem o gerente

tem um papel muito particular e usa métodos diferentes, desde simplesmente pedir

aos funcionários que implementem uma estratégia já formulada, até oferecer

condições profissionais para que eles cresçam e tenham base para elaborar e

implementar estratégias. Estas abordagens são denominadas: abordagem do

comandante, mudança organizacional, colaborativa, cultural, e abordagem da base

ao topo.

• Implementação da estratégia e avaliação dos resultados: são exigidos quatro

tipos básicos de habilidade de execução: interação, alocação, monitoração e

organização.

A figura 5 representa os processos envolvidos nesta etapa.

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Figura 5: Tarefas de implementação estratégica Fonte: Certo e Peter, 1993

2.2.5 Etapa 5 - Controle Estratégico

É um tipo especial de controle organizacional que se concentra no monitoramento e na

avaliação do processo de administração estratégica para melhorá-lo e assegurar-lhe um

funcionamento adequado. O controle estratégico é executado, geralmente, em três passos:

medição do desempenho organizacional, comparação do resultado atual com os objetivos e

tomada de atitudes corretivas, caso os resultados não estejam de acordo com os objetivos

estabelecidos.

Medir o desempenho organizacional implica em uma auditoria estratégica, ou seja,

uma avaliação das áreas afetadas pelo processo de administração estratégica dentro de uma

organização.

A comparação do resultado atual com os objetivos deve ser feita tendo por base

padrões específicos determinados pela administração. Estes padrões podem ser: lucratividade,

posicionamento de mercado, produtividade, liderança de produto, desenvolvimento de

pessoal, atitudes dos funcionários, responsabilidade pública e outros que a administração

julgue coerentes.

A ação corretiva é definida como uma mudança que o administrador faz no

funcionamento de uma organização, para garantir que ela alcance os objetivos organizacionais

de modo mais efetivo e eficiente e trabalhe de acordo com padrões estabelecidos.

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O controle estratégico fornece o feedback para as demais etapas do processo, e assim,

o processo volta ao início do ciclo, conforme o pensamento de Certo e Peter (1993).

Uma organização pode obter diversos benefícios praticando apropriadamente a

administração estratégica. Para Certo e Peter (1993) o mais importante deles é o aumento da

lucratividade, porém as organizações podem experimentar outras vantagens com esta

metodologia. Por exemplo, um maior comprometimento dos colaboradores com a realização

das metas de longo prazo, ou ainda um maior preparo da organização para mudanças de

mercado que poderiam colocá-la em desvantagem repentina em relação à suas concorrentes.

2.3 METODOLOGIA DE BETHLEM (2002)

Para Bethlem (2002) os aspectos ambientais da empresa produzem cenários diferentes,

que combinados com recursos internos da empresa podem produzir diversas alternativas de

ação.

Bethlem (1999) constata, porém, uma falta de planejamento inerente a grande parte da

indústria brasileira. Esta cultura de não planejar é herança de décadas de descontrole

inflacionário aliado a mudanças bruscas e repentinas da política econômica. Bethlem (1999)

coloca que diante desse ambiente de incerteza diária, vivido principalmente na década de 80,

o planejamento acabou sendo totalmente improvável, e muitas empresas insistem em

permanecer nessa cultura.

Bethlem (1999) realizou uma pesquisa sobre esta característica de não planejar. Para

Bethlem (1999) poucas empresas no Brasil produzem um planejamento estratégico e menos

ainda as que o atualizam quando as transformações ambientais recomendam mudanças.

Segundo Bethlem (2002) planejar estrategicamente envolve elaboração, execução,

acompanhamento e controle de estratégias, auxiliando no delineamento das ações a serem

adotadas pela empresa.

Bethlem (2002) acredita que cada empresa deve ser administrada da forma mais

adequada às características dos seus recursos e de suas circunstâncias e que não há padrão

nem receitas de sucesso. Mas deve ser desenvolvida a visão do que podia ser feito de modo

diferente e melhor

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Nesse contexto, Bethlem (2002) elaborou alguns exercícios e atividades que auxiliam

no delineamento das ações a serem adotadas pela empresa. Nos exercícios Bethlem (2002)

enfatiza a necessidade de planejamento de estratégias que conduzam a um futuro desejado,

procurando eliminar hiatos. Por isso, segundo Bethlem (2002), é importante que os dirigentes

de empresa se mantenham informados sobre as variáveis externas que vão influenciar a

atuação da empresa e quando possível procurar interferir no comportamento e evolução

dessas variáveis.

São três os exercícios elaborados por Bethlem, a saber:

• Exercício 1 – Estabelecimento dos objetivos e das estratégias.

• Exercício 2 - Elaboração do plano estratégico.

• Exercício 3 - Execução e implantação das ações necessárias.

A figura 6 representa detalhadamente estes exercícios.

Figura 6: Modelo de Bethlem Fonte: Adaptado de Bethlem, 2002

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Bethlem (2002) apresenta o planejamento estratégico como a busca de um futuro

desejado pela estrutura de poder da empresa, que direcionada por um plano deverá colocar em

prática as ações necessárias para atingir esse futuro esperado.

2.3.1 Exercício 1 – Estabelecimento dos objetivos e das estratégias

Bethlem (2002) sugere que esta etapa seja realizada através de seminários e reuniões

com a participação de todos os funcionários envolvidos no processo, visando oferecer um

nível satisfatório de conhecimento e uniformidade de linguagem. Para Bethlem (2002) são

necessárias atividades intelectuais e comportamentais para que se atinja um nível de

conhecimento adequado aos conceitos, definições, técnicas e prioridades.

Os objetivos e a estratégia são definidos a partir da análise dos recursos e das

circunstâncias da empresa.

Bethlem (2002) classifica os objetivos empresariais em quatro, denominados

“genéricos”. São eles: lucro, crescimento, sobrevivência e prestígio.

Além desses objetivos genéricos, outros objetivos podem ser elaborados de acordo

com os desejos e aspirações da estrutura de poder, explicitados ou mantidos implícitos.

Bethlem (2002) ressalta que a estrutura de poder pode também, se considerar viável, adicionar

objetivos provenientes de outros setores da empresa.

Outra ação realizada neste exercício, segundo Bethlem (2002) é o estabelecimento da

visão da situação atual da empresa. Esta ação consiste em determinar: “o que a empresa é”, “o

que a empresa faz”, “como e onde a empresa está” no presente momento.

O próximo passo é uma análise de cenários, abordando aspectos políticos,

econômicos, sociais e tecnológicos. A partir dessa análise de cenários, Bethlem (2002) sugere

que a empresa faça uma previsão sobre as condições que encontrará no futuro próximo, para

determinar os objetivos a serem alcançados neste futuro.

Em seguida deve ocorrer uma definição das prioridades e dos desafios a serem

enfrentados. Essa definição surge da resposta às questões: “o que vem por aí” e “como a

empresa será afetada”.

Após a definição das prioridades e da identificação dos desafios a serem enfrentados

pela empresa, Bethlem (2002) julga necessário estabelecer as decisões estratégicas, que

fixarão o futuro da organização planejando “o que a empresa será, fará e estará”, definindo

assim o futuro desejado pela estrutura de poder da organização.

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Após isso Bethlem (2002) diz ser necessário um reexame mais detalhado das

condições ambientais e dos recursos disponíveis, avaliando o que é exeqüível e desejado,

além de identificar onde surgirão hiatos. O fechamento desses hiatos é importante para se

alcançar o futuro esperado, respondendo novamente a questão “o que a empresa será, fará e

estará”.

Este futuro esperado contém objetivos e a missão da organização. Bethlem (2002)

salienta que para atingir este futuro esperado é preciso formular estratégias alternativas.

Um novo exame dos recursos e das circunstâncias leva às estratégias adotadas que

estão sujeitas a novos reexames e modificações para se adaptar às constantes mudanças no

ambiente.

2.3.2 Exercício 2 - Elaboração do plano estratégico

A etapa seguinte é a elaboração de um plano estratégico inicial para a empresa.

Bethlem (2002) orienta que deve ser definido um grupo para a elaboração do plano. Este

grupo pode ser único, dividido em subgrupos, pequeno ou grande, isto depende das

necessidades da empresa. Bethlem (2002) faz uma ressalva, é importante que o grupo

selecionado conheça os conceitos e a metodologia a serem utilizados, e tenha apoio da

estrutura de poder da empresa, além disso, os demais participantes dos vários níveis e das

etapas futuras devem estar engajados no processo.

O plano estratégico define a empresa no início do planejamento, considerando os

seguintes aspectos: “o que é, faz e como está”, para estabelecer o que a empresa quer ser,

fazer e estar no futuro.

Esta etapa consiste no desdobramento de dois procedimentos:

• Avaliação da situação interna da empresa (seus recursos, suas carências, forças e

fraquezas). Ou seja: “o que é”, “o que faz” e “ onde e como está”

• Avaliação da situação externa à empresa através das análises do mercado,

oportunidades, obstáculos e ameaças, inovações e mudanças de cenários.

Ao final deste exercício devem ser levantadas as ações necessárias para o

prosseguimento do planejamento e a implantação das estratégias, assim como o levantamento

das ações operacionais em função das análises feitas e dos desvios detectados.

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2.3.3 Exercício 3 - Execução e implantação das ações necessárias

São as atividades práticas e concretas para executar e implantar as ações necessárias

ao funcionamento do plano estratégico. Behtlem (2002) ressalta a necessidade de constantes

feedbacks através dos sistemas de monitoração e revisão do processo estratégico, que podem

ocasionar alterações no funcionamento do processo e, como conseqüência um retorno ao

segundo exercício.

Bethlem (2002) alerta que durante este exercício é comum a ocorrência de problemas

de resistência a mudanças, já que a implementação da estratégia acarreta em mudanças na

empresa. Portanto os dirigentes devem estar atentos para, não apenas eliminar as resistências,

mas também ordenar os esforços dos departamentos e administrar conflitos, a fim de obter

aceitação dos colaboradores.

Por isso, Bethem (2002), lembra que as pessoas são culturalmente diferentes, pois

receberam orientações diferentes no decorrer de sua educação, por isso têm motivos e metas

variadas. Os maiores desafios dos gestores são: a adaptação da empresa ao meio externo e

integração interna para o desempenho das organizações.

Bethlem (2002) não estabelece que esses exercícios são um padrão que deva sempre

ser seguido à risca, porém uma base confiável de atividades que conduzirão a empresa a um

determinado futuro esperado cumprindo objetivos e metas traçadas.

Assim, observa-se uma coerência entre as três abordagens de planejamento

estratégico, destacando a necessidade de um diagnóstico situacional, apresentado por Oliveira

(2005) como uma premissa do desenvolvimento da estratégia de uma organização; a análise

de tendências futuras na metodologia de Bethlem (2002) que direciona a estratégia; e a

importância do controle estratégico citado por Certo e Peter (1993) como ferramenta

importante para o cumprimento das ações propostas no planejamento.

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3 CARACTERIZAÇÃO DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE

CARGAS

Este capítulo tem o objetivo de caracterizar as empresas de transporte rodoviário de

cargas, além de adquirir conhecimento sobre o setor de transporte rodoviário de cargas. Para

isto será feita uma explanação sobre o transporte em geral, uma delimitação do estudo ao

transporte rodoviário de cargas, mostrando em seguida a realidade brasileira e então

caracterizando as empresas do setor, para então ressaltar a necessidade de planejamento na

gestão das mesmas.

3.1 TRANSPORTE

A necessidade do transporte é tão antiga quanto a humanidade. Começando com os

povos nômades que precisavam se locomover sempre que as fontes de sustento da região onde

viviam se esgotavam, passando pela troca de mercadorias a partir do domínio das técnicas de

agricultura e criação de animais, culminando com o advento da manufatura e a produção

industrial exigindo sempre meios de transporte mais rápidos e com maior capacidade de

carga.

Lambert (1998) definiu transporte como a tarefa de levar mercadorias ou pessoas de

um lugar para outro. Para ele, esta atividade é a chave que aproxima indústrias, comerciantes

e clientes, envolvendo elementos importantes como preço do serviço, pontualidade da

entrega, condições físicas dos bens entregues, informações do mercado, entre outros.

Pereira (2006) também defende a idéia de que o transporte funciona como um elo

entre e dentro dos centros de produção, como gerador de receitas e alavancador da economia

local. Pereira (2006) ainda afirma que à medida que o transporte se aperfeiçoa, altera o regime

de produção e os fatores custos relativos à sua eficiência como: tempo de viagem, mão-de-

obra, redução de custos operacionais e de manutenção, preço de frete, capital, juros e desuso.

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Fromm apud Pereira (2006) ressalta o papel de múltiplas facetas na consecução dos

objetivos do desenvolvimento de uma estrutura industrial nacional capaz de obter trocas

externas e suprir os recursos nacionais.

Caixeta-Filho e Martins (2001) ressaltam a importância do transporte como meio de

interligar mercados geograficamente diferentes, cujo crescimento dependerá do equilíbrio na

formação de preços das atividades regionalmente separadas em comparação com o custo

marginal do transporte.

Para Barat apud Pereira (2006) o setor de transporte desempenha um papel

fundamental numa estratégia de crescimento, sendo importante para uma empresa em

desenvolvimento.

O transporte representa, em média, 60% dos custos logísticos, 3,5% do faturamento, e

em alguns casos, mais que o dobro do lucro. Além disso, o transporte tem um papel

preponderante na qualidade dos serviços logísticos, pois impacta diretamente o tempo de

entrega, a confiabilidade e a segurança dos produtos (Fleury, 1999).

Os meios de transporte são classificados de acordo com o modo, ou como a maioria

dos autores pesquisados (Rodrigues, 2005; Lambert, 1998) denomina de “modais de

transporte”, e divididos em aeroviário, ferroviário, rodoviário, aquaviário (marítimo e fluvial),

e dutoviário.

Segundo Lambert (1998) o modal rodoviário compete com o ferroviário em grandes

cargas e com o aeroviário em pequenas cargas. Sendo que a competição com o ferroviário se

dá em trechos superiores aos trezentos quilômetros. Com relação ao aeroviário a competição

se dá quando a rapidez de entrega é fundamental.

O foco da presente pesquisa está no modal rodoviário, portanto deste ponto em diante

não serão detalhados os demais modais, a não ser em momentos onde estudos comparativos

se tornem relevantes.

3.2 CARACTERÍSTICAS DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO

O desenvolvimento de um país está intimamente ligado aos seus sistemas de

transporte. Nesses sistemas, o modal rodoviário é fundamental para o acesso de produtos e

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passageiros aos principais pontos de coleta e distribuição, garantindo, assim, a integração

entre portos, ferrovias, hidrovias e aeroportos.

Para Nunes (2007) Transporte Rodoviário é aquele que se realiza em estradas de

rodagem, com utilização de veículos como caminhões e carretas. O transporte rodoviário pode

ser em território nacional ou internacional, inclusive utilizando estradas de vários países na

mesma viagem.

Para Rodrigues (2005) o transporte rodoviário é um dos mais simples e eficientes

dentre seus pares, exige apenas a existência de rodovias. Por outro lado, este modal apresenta

um alto consumo de combustível. Desta forma ele é indicado para pequenas distâncias, de

preferência na distribuição urbana e nas inevitáveis conexões com os demais modais.

Portanto, para Rodrigues (2005), em maiores distâncias a rodovia deve ser empregada como

auxiliar da ferrovia e/ou transporte aquaviário, promovendo o recolhimento de cargas

geograficamente espaçadas e deslocando-as para os terminais de armazenagem e

carregamento.

Faria (2001) caracteriza o transporte rodoviário pela excepcional capacidade de

distribuição final dos produtos e grande versatilidade, permitindo operações de carga e

descarga mais simplificadas, de porta a porta.

3.2.1 Pontos positivos e negativos do transporte rodoviário de cargas

Nunes (2007) indica pontos positivos e negativos para o uso do transporte rodoviário.

Quanto aos pontos positivos destaca:

• Agilidade e rapidez na entrega da mercadoria em curtos espaços a percorrer.

• A unidade de carga chega até a mercadoria, enquanto nos outros modais a

mercadoria deve ir ao encontro da unidade de carga.

• Vendas que possibilitam a entrega na porta do comprador.

• Exigência de embalagens a um custo bem menor.

• A mercadoria pode ser entregue diretamente ao cliente sem que este tenha que ir

buscá-la.

• Uma movimentação menor da mercadoria, reduzindo assim, os riscos de avarias.

Por outro lado Nunes (2007) menciona os pontos negativos, e destaca que:

• Seu custo de fretamento é mais expressivo que os demais concorrentes com

próximas características.

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• Sua capacidade de tração de carga é bastante reduzida.

• Os veículos utilizados para tração possuem um elevado grau de poluição ao meio

ambiente.

• A malha rodoviária deve estar constantemente em manutenção ou em construção,

gerando custos ao erário ou a contribuinte, visto que, existem estradas privatizadas

que cobram pedágio.

Na mesma linha Rodrigues (2005) enfatiza que as principais vantagens do transporte

rodoviário são:

• Maior disponibilidade de vias de acesso.

• Possibilita o serviço porta a porta (door to door).

• Embarques e partidas mais rápidos.

• Favorece os embarques de pequenos lotes.

• Facilidade de substituir o veículo em caso de quebra ou acidente.

• Maior rapidez na entrega.

Do mesmo modo, Rodrigues (2005) salienta as principais desvantagens, que são:

• Maior custo operacional e menor capacidade de carga.

• Nas épocas de safra provoca congestionamentos nas estradas.

• Desgasta prematuramente a infra-estrutura da malha rodoviária.

3.2.2 Tipos de cargas

Para o entendimento de transporte de cargas, é necessária uma conceituação do termo

“carga”.

De acordo com a ANTT (2007), a palavra “carga” pode ser empregada, no sentido

amplo, para designar as bagagens, encomendas, mercadorias e animais ou tão-somente o

transporte como mercadoria. Tudo aquilo que se transporta de qualquer modo e por qualquer

meio.

Segundo Mello (2001), na identificação das características da carga, são observados

aspectos como: perecibilidade, fragilidade, periculosidade, dimensões e pesos considerados

especiais. Mello (2001) utiliza a seguinte classificação:

• Carga Geral: carga embarcada, com marca de identificação e contagem de

unidades, podendo ser soltas ou unitizadas;

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o Soltas (não unitizadas): itens avulsos, embarcados separadamente em

embrulhos, fardos, pacotes, sacas, caixas, tambores. Este tipo de carga gera

pouca economia de escala para o veículo transportador, pois há

significativa perda de tempo na manipulação, carregamento e

descarregamento provocado pela grande quantidade de volumes.

o Unitizadas: agrupamento de vários itens em unidades de transporte.

• Carga a Granel (sólida ou líquida): carga líquida ou seca embarcada e transportada

sem acondicionamento, sem marca de identificação e sem contagem de unidades

(exemplos: petróleo, minérios, trigo, farelos e grãos).

• Neo Granel: carregamento formado por conglomerados homogêneos de

mercadorias, de carga geral, sem acondicionamento específico, cujo volume ou

quantidade possibilita o transporte em lotes, em um único embarque (exemplo:

veículos).

• Carga Frigorífica: necessita ser refrigerada ou congelada para conservar as

qualidades e essências do produto durante o transporte (exemplos: frutas frescas,

pescados, carnes, entre outras).

• Carga Perigosa: aquela que, por causa de sua natureza, pode provocar acidentes,

danificar outras cargas ou os meios de transporte ou, ainda, gerar riscos para as

pessoas. É dividida pelo IMCO (Organização Marítima Consultiva Internacional)

segundo as seguintes classes: I- Explosivos, II- gases, III- líquidos inflamáveis,

IV- sólidos inflamáveis, V- substâncias oxidantes, VI- substâncias infecciosas,

VII- substâncias radioativas, VIII- corrosivos, e IX- variedades de substâncias

perigosas.

3.2.3 Tipos de veículos

Rosa (2004) salienta que uma adequada especificação do veículo em função do

segmento em que atua agrega vantagens competitivas para a empresa transportadora. Rosa

(2004) dá alguns exemplos dessas especificações, conforme a figura 7.

Rodrigues (2005) faz uma classificação semelhante, que demonstra quais são os

principais tipos de equipamento rodoviário:

• Caminhão Plataforma: para contêineres e cargas de grande volume ou peso

unitário.

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• Caminhão baú: carroceria fechada.

• Caçamba: caminhão que descarrega por gravidade, pela basculação da caçamba.

• Caminhão aberto: para transporte de pequenos volumes unitários, em caso de mau

tempo são cobertos por uma lona.

• Caminhão refrigerado: possui sistema de refrigeração e manutenção de

temperatura.

• Caminhão tanque: para transporte de líquidos a granel.

• Graneleiro: projetado para o transporte de granéis sólidos.

• Especiais: para transporte de guindastes e outras máquinas pesadas, também

podemos citar as cegonhas que transportam automóveis.

• Semi-reboques: carrocerias de diversos tipos e tamanhos sem propulsão própria,

sendo acopladas a cavalos-mecânicos.

Figura 7: Composições de transporte de cargas Fonte: Rosa, 2004.

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3.3 O TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS NO BRASIL

O sistema rodoviário é o principal responsável pelo escoamento das cargas no Brasil.

Sua frota transporta desde simples encomendas até safras inteiras, abastecendo as cidades e

viabilizando o desenvolvimento econômico do País

3.3.1 Histórico

Rodrigues (2005) afirma que o transporte rodoviário do Brasil começou em 1926, com

a construção da Rodovia Rio-São Paulo. Porém foi no governo JK, com seu slogan “50 anos

em 5”, que a rodovia ganhou status de modernidade, e estradas foram abertas ao longo do

território nacional.

Com a criação do Fundo Rodoviário Nacional, o setor rodoviário passou a dispor de

um mecanismo de financiamento sustentado e de longo prazo. Aliando isto ao menor custo de

implantação por quilômetro e o menor prazo de maturação do que o correspondente na malha

ferroviária, ocorreu uma rápida ampliação da infra-estrutura. Desta forma começaram a surgir

diversas empresas transportadoras.

A partir dos anos 70, quando foi concluída a integração de todas as regiões do país

através de estradas, o modal rodoviário passou a ser o predominante no transporte de cargas

no país.

De forma resumida e cronológica Telles (2004) expôs assim a evolução do transporte

rodoviário de cargas no Brasil:

1929 - 144.776 veículos automotores trafegam pelas ruas e estradas brasileiras.

1930 - O governo Vargas incentiva o processo industrial e a economia entra num

período de recuperação a partir de 1933.

1937 - É criado o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, que em 1944,

apresenta o Plano Rodoviário Nacional.

1939 - A frota nacional é composta por 190.000 veículos, dos quais um terço era

caminhões. Surgem os pioneiros do transporte rodoviário.

1943 - Segunda Guerra Mundial – interrompem-se as trocas comerciais entre as

nações; o transporte rodoviário chega à beira do colapso, em função das dificuldades de

importação de petróleo.

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1944 – Verifica-se o aumento considerável das rodovias que chegam a 277.000 Km; o

transporte rodoviário de cargas inicia sua fase de expansão.

Década de 50 - Novo modelo de industrialização no governo JK; a indústria

automobilística assume papel preponderante no processo de industrialização; construção de

rodovias pioneiras e construção de Brasília; implantação da indústria automobilística viabiliza

a criação do sistema de Transportes Rodoviário de Cargas (TRC), em substituição ao sistema

ferroviário.

Ao final dos anos 60, a exceção de Manaus e Belém, todas as capitais brasileiras

estavam interligadas por estradas federais.

Na década de 70, estrada virou questão de soberania nacional, sendo que em 1980, o

Brasil tinha 47 mil quilômetros de estradas federais pavimentadas.

Na Segunda metade da década de 90, com a privatização de ferrovias, começa-se a

investir mais nos modais ferroviários e a modernização dos portos começa a dar ênfase na

cabotagem pela costa e pelos rios do Brasil.

3.3.2 Contexto atual do transporte rodoviário de cargas no Brasil

Os números demonstram a grandeza do sistema de transporte rodoviário no Brasil,

sendo ele uma peça-chave no desenvolvimento sócio-econômico do país.

Dados da ANTT (2008) mostram que o Brasil possui hoje uma frota com quase 1,8

milhão de caminhões distribuídos entre cerca de cento e quarenta cinco mil transportadoras e

mais de setecentos mil autônomos.

De acordo com a CNT (2006) anualmente, em média, são transportadas mais de 1

bilhão de toneladas de cargas através do transporte rodoviário, o que gera uma participação de

cerca de 5% do PIB do país e um faturamento superior aos cem bilhões de reais por ano. Estes

números expressam a importância desta atividade para a economia do país.

Mas apesar de ser tão importante, o transporte rodoviário de cargas no Brasil vem

enfrentando uma série de problemas estruturais, associados a questões políticas e sociais.

Kato (2005) cita como principais problemas que afetam o transporte rodoviário de

cargas:

• O desbalanceamento da matriz de transportes.

• O baixo preço dos fretes.

• A legislação e fiscalização inadequadas.

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• A deficiência na infra-estrutura.

• A insegurança nas vias.

O desbalanceamento da matriz de transportes se apresenta como um gargalo da

economia brasileira. Basta comparar, no gráfico 1, a participação dos modais rodoviário,

ferroviário e aquaviário no transporte de cargas no Brasil com outros países de dimensões

continentais.

Gráfico 1: Distribuição modal Fonte: CEL/Coppead, 2005

Kato (2005) e Rodrigues (2005) observam que em países com grandes extensões

territoriais o modal rodoviário deve ser menos utilizado em detrimento ao modal ferroviário.

Já em países de menor extensão territorial deve ocorrer o contrário.

Ao analisar o gráfico 1 fica claro que a posição do Brasil está invertida, ele aparece

junto a países de pequena extensão territorial, com cerca de 60% das cargas sendo

transportadas pelo modal rodoviário.

Para Kato (2005) esta grande demanda gera uma grande oferta, principalmente por

parte de motoristas autônomos. A falta de regulamentação do setor agrava este quadro,

gerando uma competição de preços prejudicial às transportadoras, que acabam praticando um

preço de frete baixo, muitas vezes menor que o preço de custo. Os contratantes, chamados

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embarcadores, sofrem com a baixa qualidade devido à falta de exigências de um padrão

mínimo de qualidade.

Segundo dados da ANTT (2008), atualmente existem 910.118 registros de

transportadores rodoviários no Brasil, dos quais 85% são autônomos. De uma frota de

1.723.732 veículos, 56% são de autônomos, que representa uma frota velha, com idade média

de 21,3 anos, contra uma idade média de 10,6 anos da frota das transportadoras. No geral a

média de idade da frota brasileira é de 16,7 anos.

Por outro lado, existe uma tendência de profissionalização do setor, prova disso é que

recentemente, a ANTT deu o primeiro passo para a regularização do exercício da atividade,

obrigando os transportadores a efetuar o Registro Nacional de Transportadores Rodoviários

de Carga (RNTRC).

Além disso, uma tendência é a alteração da matriz de transportes, devido a

privatização do setor rodoviário, e o aumento de investimentos. Um estudo da NTC (2005)

estima que para o ano de 2025 a participação do modal rodoviário se reduza a 33% da matriz

de transportes.

Essas tendências ressaltam a importância do planejamento estratégico nas empresas de

transporte rodoviário de cargas.

O baixo preço de fretes é outro problema grave. Kato (2005) observa que o valor

médio pago pelos fretes rodoviários é muito baixo em comparação com os custos envolvidos,

comprometendo a saúde do setor e impedindo o crescimento de outros modais. Para contornar

este problema, segundo a CNT (2006), o transportador rodoviário reduz a manutenção,

aumenta a jornada de trabalho, faz carregamentos acima do peso máximo permitido, entre

outras ações.

Outro agravante, segundo Kato (2005) e Telles (2004) são as pequenas barreiras de

entrada e altas barreiras de saída do setor, causando um inchaço com uma oferta de transporte

maior que a demanda.

Segundo a CNT (2006), estes fatores proporcionam um ciclo vicioso iniciando nas

pequenas barreiras de entrada, passando pelo aumento da oferta, o baixo valor dos fretes,

levando a baixa manutenção e renovação da frota, além dos excessos de peso e jornada de

trabalho, culminando nas altas barreiras de saída, para enfim retornar ao aumento da oferta.

Espera-se que com a regulamentação do setor, este ciclo vicioso possa ser

interrompido.

A legislação e fiscalização inadequadas estão diretamente ligadas às causas deste

ciclo vicioso.

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De acordo com Kato (2005) e Pereira (2006), a falta de regulamentação permite o

funcionamento de transportadoras sem condições econômicas de exercer a atividade, a

circulação de caminhões sem condições de rodagem e com sobrepeso e a ocorrência de

jornadas de trabalho longas.

De acordo com a CNT (2006), os autônomos trabalham durante quinze horas diárias

em média, e os motoristas de transportadoras 14,5 horas.

Além de reduzir artificialmente o frete, a longa jornada aumenta o risco de acidentes.

Um estudo do CEL/COPPEAD (2005) informa que em 2004 houveram 89,2 mil acidentes no

país, com prejuízos girando em torno de R$ 9,7 bilhões.

Um comparativo entre o Brasil e os países mais desenvolvidos do mundo, realizado

pela ANTT (2006), demonstra que enquanto nos países desenvolvidos ocorre uma média de

dez mortes para cada milhar de quilômetros, aqui no Brasil este número é de 213 mortes por

mil quilômetros.

A deficiência na infra-estrutura é outro problema grave, ela acarreta em aumento de

acidentes, dos custos de manutenção dos veículos, do transit time e do número de atrasos.

De acordo com o PAC (2007) serão investidos R$ 25 bilhões nos próximos 5 anos, o

que pode representar um valor insuficiente se analisarmos a situação atual das rodovias.

Ribeiro apud Kato (2005) estima uma necessidade de injeção de recursos na ordem de R$ 15

bilhões, ou seja, R$ 75 bilhões para o mesmo período de cinco anos.

De acordo com o DNIT (2004), da extensão total das rodovias brasileiras (1.610.076

km), 88% dos trechos não são pavimentados e, dos trechos pavimentados, 95% são de pista

simples. Além disso, segundo a CNT (2006), 72% das principais rodovias do país encontram-

se com estado geral deficiente, ruim ou péssimo.

Os roubos de cargas pressionam continuamente os valores dos seguros no mercado e,

estima-se que por ano, o número de ocorrências de roubos e furtos ultrapasse dez mil, gerando

um prejuízo de, aproximadamente, R$ 700 milhões (NTC, 2005). Devido aos excessivos

roubos, as empresas passaram a investir em outras medidas de segurança, como tecnologias e

serviços de gerenciamento de risco.

Kato (2005) observa que o roubo de cargas começou a se generalizar na década de 80,

sendo que nesta época o problema era a apropriação indébita, ou seja, o próprio condutor do

veículo furtava a carga. Com o maior rigor na seleção dos motoristas este tipo de roubo

diminui, dando lugar ao que se observa atualmente, grupos fortemente armados tomam de

assalto, desviando toda a carga, em vários casos o próprio veículo, e por vezes com o

seqüestro do motorista.

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A CNT (2005) levantou que os produtos mais visados são os alimentícios, seguidos

por cargas fracionadas, medicamentos e produtos farmacêuticos. Sendo a maioria das

ocorrências no estado de São Paulo.

Por fim uma pesquisa do CEL/COPPEAD aponta outro problema: o aumento do

preço médio do diesel que impacta diretamente nos valores dos fretes, na medida em que o

diesel responde pela maior participação percentual nas tarifas de transporte rodoviário

(33,5%). Segundo a ANP (2006), em um período de quatro anos, entre 2003 e 2006, houve

um aumento de 91,4% no preço do diesel.

3.3.3 Cenários futuros para o transporte rodoviário de cargas no Brasil

Para se fazer alguma prospectiva é necessário analisar todo o conjunto de possíveis

futuros cada um em um cenário diferente.

Feltrin (2000) prevê uma alteração na liderança do modal rodoviário na matriz de

transportes do Brasil, isto se deve a modernização pela qual os portos vêm passando, a

privatização das ferrovias e a propagação de estradas com pedágios.

Fiorentino apud Feltrin (2000) acredita que a liderança do modal rodoviário não será

afetada, ele acredita que devido a flexibilidade do rodoviário, mesmo com o crescimento da

ferrovia, o caminhão continuará na liderança.

Conforme a tabela 1, a tendência é de uma diminuição na participação do modal

rodoviário.

MODAL 2004 2006

Rodoviário 58,5% 56,5%

Ferroviário 23,5% 25,8%

Aquaviário 13,5% 12,8%

Dutoviário 4,4% 4,8%

Aeroviário 0,1% 0,1%

Tabela 1: Evolução da matriz de transporte Fonte: CEL/COPPEAD, 2006

De acordo com uma pesquisa da NTC & Logística (2005) a participação do rodoviário

vem diminuindo desde a década de 90, conforme a tabela 2. O que confirma essa tendência de

queda na participação do modal rodoviário.

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Para Telles (2004) os transportadores rodoviários são mais flexíveis e versáteis, pois

transportam cargas de vários tamanhos e pesos em qualquer distância, além de oferecerem ao

cliente um serviço que une rapidez e confiabilidade. Muitos transportadores rodoviários,

principalmente aqueles envolvidos em programas Just-In-Time, operam com horário

programado, isso resulta em tempos de trânsito muito curtos e confiáveis. Este é o motivo

pelo qual o transporte rodoviário é tão utilizado.

MODAL 1996 1997 1998 1999 2000

Rodoviário 63,68% 62,91% 62,57% 62,29% 60,49%

Ferroviário 20,74% 20,72% 19,99% 19,60% 20,86%

Aquaviário 11,47% 11,56% 12,69% 13,19% 13,86%

Dutoviário 3,78% 4,55% 4,44% 4,61% 4,46%

Aéreo 0,33% 0,26% 0,31% 0,31% 0,33%

Tabela 2: Evolução da matriz de transporte no final da década de 90 Fonte: NTC & Logística, 2005

Lambert (1998) acredita que o transporte rodoviário continuará a prosperar em relação

aos outros meios de transportes, enquanto continuar fornecendo serviço rápido e eficiente com

tarifas entre as oferecidas pelas ferrovias e aéreas.

Estabelecendo relação entre os modais ferroviário, hidroviário e rodoviário, Mira apud

Telles (2004) argumenta que os primeiros valem para cargas especificas e longas distâncias,

enquanto que o caminhão possui a agilidade e faz o porta-a-porta, aspectos ausentes nos

outros. Esses aspectos fazem com que o rodoviário não perca espaço no futuro.

Mira apud Telles (2004) vê o transporte rodoviário como um setor que vive várias

transformações, entre elas, mudanças conceituais como a combinação transporte/logística,

onde os transportadores estão fechando acordos operacionais com empresas de logística ou

criando empresas próprias nesse segmento.

Com relação a essas transportadoras que criam empresas de logística e as suas

vantagens sobre outras companhias de logística, Mira apud Telles (2004) destaca que as

transportadoras têm 90% do que é preciso para ser um operador logístico, pois elas não só

transportam, como também movimentam e armazenam, conhecem muito bem as

características regionais do país-continente, as barreiras interestaduais e as peculiaridades

legislativas.

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Telles (2004) conclui que uma empresa tradicional de transporte rodoviário de cargas

tem duas opções: a primeira é manter a estrutura atual de transportador rodoviário, a segunda

é se transformar em operador logístico podendo transportar as cargas de seus clientes em

diversos modais.

Mello (2001) adiciona mais uma opção: a de se associar a outras empresas na

formação de cooperativas.

Este trabalho se delimita a empresas que optem em permanecer exclusivamente no

transporte rodoviário.

Somando a estes cenários futuros a situação atual de muitas adversidades, sugere-se

que as empresas de transporte rodoviário de cargas se preocupem em definir estratégias que

não apenas garantam a sobrevivência, mas que também possam sustentar um crescimento

constante.

3.4 AS EMPRESAS DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS NO BRASIL

A ANTT (2006) classificou as empresas de transporte rodoviário de cargas em:

• Empresas de transporte comercial (ETC);

• Transportador de carga própria (TCP);

• Transportador comercial autônomo (TCA).

Para operar no setor, a resolução nº 1737 da ANTT (2006) exige das empresas um

capital mínimo, capacidade de carga e área compatível para a movimentação de mercadorias.

Estabelece que cada transportador de carga autônomo (TCA) só pode operar com apenas um

veículo comercial e proíbe que transportadores de carga própria (TCP) prestem serviços a

terceiros.

Com relação às empresas de transporte comercial, é possível fazer uma distinção entre

três formas:

• As pequenas empresas que, no limite, confundem-se com autônomos que, muitas

vezes, possuem mais de um caminhão, caracterizando-se pelo transporte de cargas

inteiras.

• As empresas de médio porte que geralmente trabalham no transporte de cargas

fracionadas, com linhas regionais específicas.

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• As empresas de grande porte, caracterizadas pela ampla rede de pontos em

diversos estados brasileiros.

Este trabalho é direcionado às empresas de transporte comercial (ETC), o estudo a

partir de então será delimitado a essas empresas e suas características.

Uma pesquisa da CNT (2002) procurou apresentar a realidade do setor e contribuir

para a identificação de fatores que ampliem a eficiência do segmento no Brasil. A pesquisa foi

feita em uma amostra de 564 empresas selecionadas de forma aleatória no cadastro da ANTT,

garantindo uma confiabilidade de 95% e erro amostral de 4%.

A pesquisa da CNT (2002) mostra que 57% das ETCs são micro-empresas; 28,4% são

de pequeno porte; 8,3% de médio porte e apenas 6,2% são grandes empresas. A pesquisa

considerou o critério do número de funcionários para esta classificação.

Quanto a natureza jurídica, a pesquisa da CNT (2002) revela que 89,2% das empresas

são firmas limitadas, e apenas 3,5% são de capital aberto (sociedades anônimas). Outro dado

referente a participação em grupos empresariais revela que apenas 6,2% das empresas fazem

parte de algum grupo empresarial, a imensa maioria (89,9%) é de empresas independentes no

mercado.

Um dado importante é o tempo de atuação no mercado. 36,8% das empresas possuem

mais de vinte anos no mercado, as empresas que possuem de dez a vinte anos representam

40,5% e as 22,7% restante estão a menos de dez anos no mercado (CNT, 2002).

Estes dados revelam que as empresas do setor possuem, em sua maioria, um perfil

mais tradicional, ou seja, empresas limitadas, independentes e com grande experiência no

mercado.

Quanto aos produtos transportados, a pesquisa da CNT (2002) verificou que os granéis

sólidos têm a maior participação com 41,6%, seguidos das cargas fracionadas com 17,9%,

como mostra a tabela 3.

PRODUTO % PRODUTO %

Granel sólido 41,6 Contêineres 3,7

Carga fracionada 17,9 Carga viva 3,5

Granel líquido 13,7 Materiais de construção 2,7

Químicos ou perigosos 10,8 Produtos alimentícios 2,0

Carga frigorífica 9,0 Veículos 2,0

Mudanças 8,1 Bebidas 1,8

Tabela 3: Principais produtos transportados Fonte: CNT, 2002

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A pesquisa CNT (2002) ainda informa que 38,9% das empresas realizam

exclusivamente o transporte interestadual, já 16,1 % atuam tanto no transporte interestadual

quanto no intermunicipal e municipal. Somente 15,4% se restringem ao transporte municipal.

Dados do IBGE (2005) revelam que 80,54% das pessoas ocupadas nessas empresas

são assalariados, contra 18,73% de sócios ou proprietários.

Com base nesses dados pode-se caracterizar a maioria das empresas de transporte

rodoviário de cargas como sendo de micro ou pequeno porte, perfil tradicional, focadas no

transporte interestadual ou intermunicipal.

3.5 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NAS EMPRESAS DE TRANSPORTE

RODOVIÁRIO DE CARGAS

O transporte rodoviário de cargas é um dos pontos de maior vulnerabilidade da cadeia

logística brasileira. A falta de informações necessárias para utilização de um eficiente controle

gerencial nesse setor, juntamente com as deficiências estruturais, dificultam a elaboração de

um planejamento, assim como a administração das empresas do setor.

De acordo com Fleury (1999), administrar o transporte significa tomar decisões sobre

um amplo conjunto de aspectos. Estas decisões podem ser classificadas em dois grandes

grupos: decisões estratégicas, e decisões operacionais. As decisões estratégicas se

caracterizam pelos impactos de longo prazo, e se referem basicamente a aspectos estruturais.

As decisões operacionais são geralmente de curto prazo e se referem às tarefas do dia a dia

dos responsáveis pelo transporte.

Pereira (2006) deixa clara a importância do planejamento ao afirmar que a empresa de

transporte deve agir na busca da eficiência, e na correção das distorções que afetam ou

ameaçam o sistema como um todo. Principalmente se for considerado a série de adversidades

enfrentadas, principalmente no ambiente externo (infra-estrutura rodoviária, preço de

combustível, criminalidade).

Para Kaplan e Cooper (1998), durante as duas últimas décadas do século XX, o

ambiente competitivo para a maioria das empresas de serviços tornou-se tão desafiador e

exigente quanto o das empresas manufatureiras.

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Mello (2001) ressalta que diante de clientes cada vez mais exigentes quanto ao nível

de serviço é essencial a busca por vantagens competitivas através de estratégias, o que reforça

a necessidade de planejamento por parte das empresas de transporte rodoviário de cargas.

Para Telles (2004) para ser competitiva a empresa de transportes deve conhecer as

suas funções, regras, deveres, enfim, as atividades que desempenha perante o mercado, o

cliente, observando sempre a evolução do setor e planejando estratégias que a levem a

excelência do serviço desenvolvido.

Apesar desta necessidade a maioria das empresas, por possuir um perfil tradicional e

larga experiência no mercado, não utiliza o planejamento estratégico, acreditando que basta a

experiência para sobreviver e crescer no mercado.

Kato (2005) destaca a falta de planejamento estratégico no setor de transporte

rodoviário de cargas, ressaltando que é realizado de forma isolada por parte de algumas

empresas.

Verifica-se então a necessidade de um modelo de planejamento estratégico que leve

em consideração as particularidades dessas empresas de transporte rodoviário de cargas,

assim como os cenários nos quais essas empresas estão inseridas.

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4 METODOLOGIA

A elaboração de um método deve seguir uma metodologia. Este capítulo apresenta a

metodologia utilizada na elaboração do método de planejamento estratégico adaptado às

empresas de transporte rodoviário de cargas.

Para Barros e Lehfeld (1986) a metodologia consiste em estudar e avaliar vários

métodos disponíveis, identificando suas limitações ou não em suas utilizações.

Kaplan (1969) observa que métodos são técnicas suficientemente gerais para se

tornarem comuns a todas as ciências ou a uma significativa parte delas.

Para Lakatos e Marconi (1991) um método ou procedimento formal, que exija um

tratamento científico, constituindo um caminho para o conhecimento da realidade, formam o

conceito de pesquisa.

Selltiz et al. (1971) ressaltam que a principal característica da pesquisa refere-se à

descoberta das idéias e intuições de estudos formuladores ou explanatórios, devendo portanto

ser flexível de modo a permitir a consideração de muitos aspectos diferentes de um fenômeno.

Para Barros e Lehfeld (1986) é importante esclarecer que todo trabalho cietífico nasce

de uma dificuldade ou questionamento que deve ser cuidadosamente formulado. É um

problema que nasce de um tema geral de estudo.

Segundo Gil (2002) pesquisa é um procedimento racional sistemático que objetiva

buscar respostas aos problemas que são propostos. Gil (2002) classifica os tipos de pesquisa

em três grupos:

• Exploratória: assume na maioria das vezes forma de pesquisa bibliográfica ou

estudo de caso, com o intuito de se familiarizar com o problema e buscar hipóteses

de soluções.

• Descritiva: estuda características de um grupo, neste modelo estão inclusas as

pesquisas que visam descobrir a relação entre variáveis.

• Explicativa: preocupa-se em identificar os fatores que influenciam na ocorrência

de fenômenos.

Mattar (1996) segue a mesma linha de pensamento em sua classificação, apenas

trocando o termo “explicativa” por “causal”.

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Neste contexto, esta é uma pesquisa exploratória que pretende, através do

levantamento bibliográfico, se familiarizar com o problema em questão e então lançar as

bases para a construção de um método ou proposta que solucione este problema.

Mattar (1996) observa que a pesquisa exploratória é empregada particularmente para

dotar o pesquisador de maior conhecimento sobre o tema que está sendo tratado ou o

problema da pesquisa. É utilizada nos primeiros estágios, quando o investigador deve tomar

conhecimento, adquirir familiaridade e compreender melhor os fenômenos. A pesquisa

exploratória pode ser utilizada como passo inicial de um processo contínuo de pesquisa.

Conforme Gil (2002) as pesquisas exploratórias podem envolver: levantamento

bibliográfico; entrevistas com pessoas que tenham experiências práticas com o problema

pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão.

De acordo com Pádua (2004), a pesquisa bibliográfica é fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia, documentação e bibliografia; sua finalidade é colocar o

pesquisador em contato com o que já se produziu a respeito do seu tema de pesquisa.

Gil (2002) enumera uma lista de etapas envolvidas em uma pesquisa bibliográfica,

entre elas:

• Escolha do tema.

• Formulação do problema.

• Coleta e análise dos dados.

• Elaboração de uma solução para o problema.

Deste modo o tema escolhido foi planejamento estratégico em empresas de transporte

rodoviário de cargas.

Destaca-se que o pensamento de planejamento estratégico está muito ligado ao

ambiente industrial, onde empresas de outros setores acabam não encontrando muito material

que seja voltado para suas características.

Portanto a formulação do problema está na escassez de material, que considere as

particularidades do setor de transporte rodoviário de cargas, que possa ser utilizado como

referência teórica na elaboração de um planejamento estratégico.

Logo o problema em questão é: “como elaborar um método de planejamento

estratégico com ênfase ao transporte rodoviário de cargas?”

Com o problema formulado, iniciou-se a coleta de dados através de pesquisa

bibliográfica. Nesta pesquisa foram utilizados livros de leitura corrente, internet, teses e

dissertações, publicações periódicas, artigos, pesquisas e levantamentos estatísticos.

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Ficou evidente, durante a pesquisa, a escassez de material que abordasse o

planejamento estratégico em empresas de transporte rodoviário de cargas. Portanto foi

necessário dividir o material em duas partes, a primeira contendo obras relacionadas ao tema

intitulado planejamento estratégico e todos os aspectos envolvidos; e uma segunda parte que

envolvesse o setor de transporte rodoviário de cargas, assim como as empresas nele inseridas.

Para então analisar os dados com a finalidade de elaborar um método que solucionasse o

problema em questão.

Destes dados coletados foi selecionada uma amostra, considerando os critérios de

atualidade, aplicabilidade, coerência e confiabilidade das fontes. Através destes critérios

foram selecionadas três obras que retratassem metodologias de planejamento estratégico,

buscando assim uma base para a elaboração do método proposto. Também foram

selecionados uma série de pesquisas e estatísticas que fornecessem um quadro atual do setor

de transporte rodoviário de cargas e um mapeamento das características das empresas

inseridas neste segmento.

Lançada a base através da revisão bibliográfica, estruturou-se o método proposto neste

trabalho através da análise dos dados, com o intuito de verificar a aplicabilidade de cada

elemento das metodologias existentes com as características do transporte rodoviário de

cargas.

Sinteticamente, o trabalho consiste na elaboração de um método por meio da análise

de metodologias de planejamento estratégico, delimitado ao segmento de transporte; do modal

rodoviário e direcionado às empresas de transporte comercial.

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5 MÉTODO PROPOSTO

A partir do conhecimento adquirido através de pesquisa bibliográfica e documental, é

proposto um método de elaboração e implantação de planejamento estratégico voltado para as

empresas de transporte rodoviário de cargas. Este método proposto leva em consideração os

principais pontos de um planejamento estratégico: diagnóstico empresarial, análise ambiental,

determinação de objetivos, formulação de estratégias e suas implementações e por fim o

controle estratégico.

Com relação às empresas de transporte rodoviário de cargas, considerou-se suas

particularidades, as dificuldades enfrentadas pelo setor, como a mudança rápida de cenários,

dependência de outros setores (indústria, agricultura, comércio), saturação de mercado, custos

altos. Além disso, foram observadas as características na gestão, geralmente de cunho familiar

e tradicional, sem o hábito de planejar.

O método, por si só, não tem a capacidade de resolver os problemas estratégicos

enfrentados pelas empresas, porém de forma simples e objetiva visa auxiliar o gestor de

empresas de transporte rodoviário a planejar e implantar estratégias que garantam a

sobrevivência e o crescimento do negócio.

5.1 METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO MÉTODO

O objetivo deste trabalho não é revolucionar a administração estratégica, portanto a

linha adotada para a elaboração do método é a mesma defendida pela maioria dos autores,

entre eles Oliveira (2005), Certo e Peter (1993), Bethlem (2002) que não diferem muito entre

si em sua essência.

Observa-se, porém que nenhum dos métodos estudados de forma isolada, contêm

todas as características necessárias ao ambiente em estudo, no qual está inserido este trabalho.

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Essa foi a motivação para a elaboração de um novo método que atenda aos aspectos

desejados, deixando de lado aqueles que não estão relacionados ao tema.

A solução a ser elaborada é um método que considere as particularidades encontradas

nas empresas de transporte rodoviário de cargas abordadas no capítulo 3, sempre à luz dos

conceitos pesquisados no capítulo 1, referentes ao planejamento estratégico.

O método proposto está baseado nas metodologias pesquisadas no capítulo 2, sendo

que predomina a linha de pensamento de Bethlem (2002) no que diz respeito à idéia de futuro

desejado/esperado, utilizando as metodologias de Oliveira (2005) e Certo e Peter (1993) como

base para as ferramentas de análise, elaboração, execução e controle da estratégia, já que a

obra de Bethlem é mais subjetiva, indicando essas ferramentas, mas sem detalhá-las.

Um aspecto importante, relacionado à atividade de transporte rodoviário de cargas, e

que tem grande peso na estrutura do método, é a velocidade com a qual vem ocorrendo

mudanças de cenários no setor. Por isso, é importante que as empresas do segmento tenham

uma visão clara do seu negócio, assim como uma base sólida de valores, para que análises

constantes sejam feitas, com a finalidade de elaborar cenários, prospectando objetivos, que

exigiram estratégias, que uma vez implantadas necessitam de controle para garantir o sucesso

da empresa.

O método proposto é constituído de três etapas apresentadas na figura 8.

Figura 8: Modelo proposto Fonte: Própria

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• Fase de Diagnóstico (conhecimento da empresa, análise ambiental).

• Fase Prospectiva (elaboração de cenários)

• Fase Estratégica (concepção estratégica, execução e controle)

5.1.1 Fase de Diagnóstico

O propósito nesta fase é buscar o conhecimento da empresa, elaborando a visão, os

valores e princípios. Na fase de diagnóstico está inserida também a análise ambiental.

A visão representa o que a empresa quer ser em um determinado momento no futuro,

delineando o planejamento estratégico e a cultura da empresa. Ela deve ser clara e de fácil

entendimento para todos.

A visão de uma empresa de transporte rodoviário de cargas deve expressar de forma

evidenciada o que ela pretende alcançar neste segmento de negócio. Para exemplificar: “ser a

maior transportadora rodoviária de cargas do Brasil”, “ser líder no mercado regional de

transporte rodoviário de cargas”.

Os valores determinam a cultura e a política da empresa. Eles são importantes

principalmente no delineamento das estratégias, mostrando a postura da empresa para se

alcançar a visão.

Eles devem possuir também um caráter moral e ético, e representar a postura da

empresa diante dos clientes, fornecedores, governo e comunidade.

Para empresas de transporte rodoviário de cargas podem ser utilizados outros valores

além daqueles aplicados na indústria; agilidade, velocidade e pontualidade são alguns

exemplos.

A análise ambiental deve abordar:

• O ambiente externo geral.

• O ambiente externo operacional.

• O ambiente interno.

O Ambiente externo geral é constituído pelos aspectos sócio-econômicos, políticos,

legais e tecnológicos que tenham, de alguma forma, algum impacto sobre transportadoras

rodoviárias de carga. Devem ser levantadas oportunidades e ameaças através da observação

das tendências da economia, mudanças na legislação, investimentos em infra-estrutura por

parte do governo, surgimento de novas tecnologias.

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O quadro 1 tem o objetivo de auxiliar o administrador, a identificar as oportunidades e

ameaças enfrentadas pela empresa.

Oportunidades Ameaças

Economia

Aspecto social

Política (investimentos em infra-estrutura, privatizações

de estradas)

Legislação (Código de Trânsito, ANTT, Detran, controle de

poluição)

Tecnologia de transporte

Quadro 1: Identificação de oportunidades e ameaças no ambiente externo geral Fonte: Própria

A análise deve ser feita visando responder as seguintes questões:

• Qual a tendência da economia/mercado? Aquecimento? Crescimento?

Estabilidade? Estagnação? Recessão?

• Quais setores da economia estão em ascensão e quais estão em queda?

• Existem eventuais sazonalidades nos produtos transportados?

• A criminalidade tem aumentado ou diminuído, o risco de roubo de cargas é

preocupante?

• Existem políticas de investimento do governo em infra-estrutura rodoviária?

Manutenção das rodovias?

• Impostos, preços de combustível, concessão de estradas e conseqüentes cobranças

de pedágio.

• Mudanças no código de trânsito.

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• A legislação trabalhista define jornada limite de quantas horas de trabalho para os

motoristas?

• Existem novas tecnologias e transporte que possam auxiliar a rentabilidade e

operacionalidade do negócio?

O Ambiente externo operacional é formado pelos clientes, fornecedores, mão-de-

obra e pela concorrência.

O foco aqui é uma análise que envolva oficinas mecânicas, borracharias, fornecedores

de combustível, despachantes, seguradoras, clientes atuais e potenciais, mão-de-obra

disponível no mercado (motoristas, ajudantes, administrativos), concorrentes locais, regionais,

nacionais.

Assim subdivide-se o aspecto “fornecedores” em: manutenção, combustíveis e

lubrificantes, serviços.

De forma análoga à análise do ambiente externo geral, observam-se oportunidades e

ameaças geradas pelos componentes do ambiente externo operacional.

Um quadro semelhante deve ser preenchido como ferramenta auxiliar na determinação

destes elementos, conforme quadro 2.

Oportunidades Ameaças

Clientes

Manutenção

Combustíveis e lubrificantes

Serviços (despachos, seguros,

consultorias)

Mão-de-obra

Concorrência

Quadro 2: Identificação de oportunidades e ameaças no ambiente externo operacional Fonte: Própria

Algumas perguntas que auxiliarão a empresa na identificação destes fatores:

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• Os clientes estão satisfeitos?

• O volume de vendas dos clientes está crescendo?

• Os clientes têm planos de vender seus produtos em outras regiões?

• Os clientes têm poder de barganha na tarifa do frete?

• Os fornecedores estão comprometidos comigo?

• Os fornecedores podem me garantir o fornecimento de insumos?

• Os fornecedores possuem estrutura para atender demandas extras?

• Quanto a mão-de-obra, o mercado de motoristas está saturado, ou em falta?

• Existem outras formas mais rentáveis de trabalho para os motoristas?

• O mercado autônomo é mais atrativo para os motoristas?

• As concorrentes têm vantagens competitivas em relação a empresa?

• Qual o preço médio do frete no mercado? É um valor que proporcione

rentabilidade para o negócio da transportadora?

Quanto ao Ambiente interno, ele deve ser analisado sob a perspectiva de pontos

fortes e fracos de cada um dos aspectos mencionados por Certo e Peter (1993), a saber:

aspectos organizacionais, aspectos de marketing, financeiros, de pessoal, e de prestação de

serviços.

Cada aspecto deve ser analisado de acordo com a seguinte abordagem:

Aspectos Organizacionais: a administração deve analisar a estrutura da empresa, sua

política, cultura e métodos para divulgação de metas, tarefas, procedimentos, entre outras.

Algumas questões que podem ser levantadas:

• A estrutura organizacional da empresa é adequada?

• As funções estão bem definidas? Motoristas, ajudantes, supervisores, pessoal

administrativo conhecem suas funções e resposabilidades?

• As tarefas e metas de desempenho estão claras para os funcionários?

Aspectos de marketing: a abordagem proposta para este aspecto é de Imagem da

Transportadora.

O foco é analisar como a transportadora é vista primeiramente pelos clientes, mas

também pelos fornecedores, governo e pela comunidade. É importante identificar como tem

sido a comunicação da empresa com o ambiente externo, principalmente com os clientes e

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potenciais clientes. Deve-se considerar a imagem da transportadora perante os funcionários,

pois esta imagem influencia a satisfação dos mesmos. A seguir alguns exemplos de perguntas:

• A empresa é vista como uma transportadora eficiente?

• Os veículos de comunicação com os clientes potenciais são adequados?

• O marketing interno tem sido eficiente e eficaz?

• Os fornecedores têm boa relação com a empresa?

• Como os funcionários vêem a empresa? Se sentem explorados ou motivados?

Aspectos financeiros: análise da saúde financeira da empresa é fundamental para

verificar a capacidade de enfrentar adversidades e a capacidade de se fazer investimentos.

Um ponto importante a ser observado são os custos. Transportadoras rodoviárias

possuem três grandes custos, a saber: manutenção, combustível e mão-de-obra. Eles devem

ser verificados, analisados e controlados constantemente a fim de aumentar a lucratividade.

Entre outras perguntas, pode se fazer as seguintes:

• Os custos da empresa estão sob controle?

• A gestão da manutenção tem sido eficiente?

• A empresa consegue absorver um eventual aumento no preço do diesel, ou terá

que repassar integralmente aos clientes?

• Os custos com pessoal estão alinhados com o mercado?

• Existem tarifas de frete estabelecidas em contrato com clientes e que não podem

ser alteradas? Quando elas poderão ser reajustadas?

• A empresa está preparada para imprevistos (acidentes, indenizações, manutenções

com preço elevado)?

Aspectos de pessoal: em uma atividade que depende tanto da mão-de-obra, este

aspecto deve ser analisado com bastante atenção, desde a seleção de colaboradores, até a

satisfação dos mesmos, passando pelos treinamentos e capacitação. Sugestões de perguntas:

• O pessoal do setor administrativo e financeiro consegue dar suporte ao pessoal

operacional (motoristas e ajudantes)?

• Os motoristas têm treinamento adequado para o tipo de carga transportada (quando

necessário)?

• Existe um programa efetivo de treinamento?

• O processo de recrutamento e seleção tem alcançado êxito?

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Aspectos de prestação de serviço: por se tratar de uma prestação de serviço este

aspecto deve ser um ponto forte da empresa, transporte é um “produto” onde não cabe

devolução, caso o cliente não goste provavelmente irá trocar de fornecedor. Portanto a análise

deve ser cuidadosa. Algumas questões podem ser levantadas, entre elas:

• Como está o nível de serviço?

• A empresa tem ativos suficientes para atender a demanda?

• A frota está adequada ao tipo de carga transportada?

• Existe versatilidade para atender demandas especiais?

O próximo passo após estas análises é listar os pontos fortes e pontos fracos da

empresa preenchendo o quadro 3.

Pontos Fortes Pontos Fracos Aspectos

Organizacionais Imagem da

Transportadora Aspectos

Financeiros Aspectos de

Pessoal Prestação de

serviço Quadro 3: Identificação dos pontos fortes e pontos fracos Fonte: Própria

5.1.2 Fase Prospectiva

A administração de transportadoras rodoviárias de cargas contém certa complexidade,

devida em grande parte ao contexto atual do setor, onde mudanças e exigências dos clientes

são cada vez mais dinâmicas e a competição é cada vez mais acirrada. É observada, então, a

necessidade de uma avaliação com base nos futuros alternativos que podem se desenvolver.

Esta fase prospectiva pretende listar as possibilidades existentes, ampliando a

capacidade de propor e monitorar suas ações estratégicas, permitindo o atingimento e

manutenção de posições competitivas, além de agregar flexibilidade e capacidade de lidar

com a incerteza e o novo, tornando a transportadora mais forte no posicionamento estratégico.

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O primeiro passo nesta fase é a realização de uma reunião no formato brainstorming,

onde devem ser levantadas projeções para o futuro, quantas forem imaginadas.

A estas informações provenientes do brainstorming devem ser somadas aquelas

obtidas através da análise ambiental. A partir desses dados são elaborados os cenários que

devem responder à pergunta: o que pode acontecer no futuro? Considerando os seguintes

aspectos:

• Tecnologicos: tendências tecnológicas, indústria de caminhões e implementos

rodoviários, sistemas de gestão para transportadoras, sistemas de monitoramento,

fiscalização eletrônica.

• Político-economicos: projeções dos objetivos macro-econômicos e micro-

econômicos que exerçam influência direta ou indireta sobre o setor de transporte

rodoviário de cargas; política de investimento do governo em infra-estrutura

rodoviária; aumento compulsório dos preços de combustíveis entre outros.

• Prestação de serviços: tendências dos serviços oferecidos, capacidade de atender

a demanda, possibilidade de reforçar a infra-estrutura operacional.

• Fluxo de cargas: pretende estudar a situação futura dos segmentos em que a

transportadora atua ou poderá atuar, analisar onde estão concentrados os maiores

fluxos, e onde poderão surgir novos fluxos de cargas.

• Sociocultural: analisa a evolução da sociedade, e a projeção dos futuros possíveis

em aspectos sociais que se relacionem com a transportadora.

O quadro 4 auxiliará a identificação das possibilidades:

Aspectos O que pode acontecer

no futuro?

Tecnológicos

Político-econômicos

Prestação de serviços

Fluxo de cargas

Socioculturais

Quadro 4: Identificação de possibilidades Fonte: Própria

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Em seguida ocorre a cenarização, que é a miscelânea das possibilidades identificadas,

formando possíveis cenários onde possivelmente em futuro determinado a transportadora

estará inserida. E então, para finalizar esta fase, são dados nomes aos cenários elaborados.

A figura 9 ilustra a fase prospectiva.

Figura 9: Fase prospectiva Fonte: Própria

Diante destes cenários o próximo passo é responder a questão: o que a empresa pode

fazer? E assim, tem início a próxima fase do método proposto.

5.1.3 Fase Estratégica

Nesta fase são elaborados objetivos, formuladas estratégias que em seguida serão

executadas e controladas.

Os objetivos devem surgir de uma combinação dos resultados obtidos através das

análises anteriores e devem estar alinhados com a visão e valores da empresa. Devem ser

claros, realistas, consistentes e utilitários, entre outras características.

Em um primeiro instante os objetivos tem um caráter qualitativo, mas com o

desenvolvimento do processo devem assumir um caráter quantitativo, com prazos e valores.

Alguns exemplos de objetivos para transportadoras rodoviárias de cargas:

• Reduzir em 5% os custos com manutenção nos próximos 2 anos.

• Aumentar em 25% o número de carregamentos diários no próximo ano.

• Dobrar o quadro de motoristas em 3 anos.

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• Aumentar em 3% as receitas com frete no próximo semestre.

A formulação das estratégias tem início com as respostas a quatro questões críticas:

1. Quais os propósitos da transportadora? Ou seja, onde ela quer chegar?

2. Para onde a transportadora está indo no momento?

3. Que fatores ambientais críticos a transportadora está enfrentando no momento?

4. O que pode ser feito para que os objetivos possam ser alcançados?

As respostas para estas questões vêm das etapas anteriores, ou seja, da análise

ambiental e dos cenários traçados para a transportadora. E auxiliaram na formulação das

estratégias adotadas.

Com base na abordagem de Porter apud Certo e Peter (1993) deve ser feita uma

análise de cinco forças competitivas:

1. Risco de novos concorrentes: Transportadoras novas que entram no mercado,

aumento da oferta de autônomos, criação de cooperativas por parte das

transportadoras de menor porte.

2. Poder de barganha dos fornecedores: volume de serviço realizado nas oficinas,

dependência do fornecedor, custo da mudança de fornecedor.

3. Poder de barganha dos embarcadores (clientes): cliente tem um volume muito alto

de carga transportada, exigência de qualidade por parte do embarcador,

possibilidade de usar concorrente.

4. Risco de substitutos: crescimento da participação no mercado de empresas que

operam em outros modais, preço menor do frete em outros modais de transporte.

5. Rivalidade entre concorrentes: concorrência predatória no setor de transporte

rodoviário de cargas, que muitas vezes reduz o preço do frete a patamares

insuficientes para cobrir os custos.

Após a análise destas forças, são estabelecidas alternativas estratégicas:

• Liderança de custos: aconselhada para transportadoras que tenham grande

participação no mercado, e disponibilidade de caixa para efetuar mudanças que

aumentem a eficiência da frota (caminhões novos, por exemplo, apresentam menor

consumo de combustível e menores gastos com manutenção)

• Diferenciação: deve ser adotada principalmente por transportadoras que queiram

atender um público maior, especializadas em mudanças por exemplo.

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• Enfoque: é a estratégia de segmentar o mercado e atender um tipo de cliente, ou

alguns tipos, conforme o porte da transportadora. São os exemplos de

transportadoras que atendem o segmento de produtos perigosos, que possuem

contratos para operações dedicadas, Just in time, entre outros.

Também devem ser formuladas estratégias funcionais, são aquelas voltadas para as

áreas funcionais da empresa. No caso das transportadoras rodoviárias de cargas elas se

limitam em:

• Estratégia financeira: é o planejamento financeiro da transportadora a partir da

análise dos indicadores financeiros, avaliando o impacto potencial dos lucros das

diversas alternativas estratégicas.

• Estratégia operacional: ligada principalmente a frota de veículos, que tipo(s) de

veículo(s) adotar, quais são as medidas necessárias para controlar o custo visando

sempre a melhor eficiência das operações.

• Estratégia de recursos humanos: visa atrair, avaliar, motivar e manter o número e

perfil de funcionários necessários para conduzir o negócio.

Com as estratégias formuladas, o próximo passo é a execução, que tem início com a

análise do impacto que as mudanças estratégicas causarão na transportadora, observando a

estrutura organizacional da transportadora. Quanto maior for a transportadora, mais complexa

será sua estrutura e conseqüentemente mais complexo o processo de execução das estratégias.

Portanto alguns fatores são importantes neste estágio.

• As informações necessárias a execução do plano de execução devem ser

suficientes e devem estar disponíveis.

• O responsável pela execução deve ser capacitado e ter autoridade delegada para

fazê-la.

• A cultura da transportadora é um ponto de apoio ou um obstáculo.

• Que abordagem de execução será mais eficiente.

Os dois últimos fatores merecem uma atenção especial. Se as estratégias adotadas

demandarem mudanças de caráter forte ou até radical, o posicionamento dos funcionários será

um fator determinante no sucesso ou fracasso da execução da estratégia. Este posicionamento

é determinado pela cultura da transportadora.

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Nesse contexto a postura da liderança é essencial e a abordagem adotada para a

execução deve ser escolhida criteriosamente.

Pode ser uma abordagem mais rígida onde a direção define as metas e os níveis

hierárquicos inferiores têm pouca ou nenhuma participação nas decisões.

Existe uma abordagem moderada onde as metas são discutidas pela alta hierarquia e

sugestões dos níveis inferiores são colhidas para análise.

E a abordagem da base para o topo, onde as metas são vagamente declaradas pela alta

direção e vão sendo refinada à medida que alcançam os demais níveis da empresa.

Algumas ferramentas podem ser utilizadas para a execução, entre elas os planos de

ação que formalizam as responsabilidades, os prazos e as formas que as ações planejadas

devem ser executadas.

A partir deste momento se torna necessário o controle que deverá verificar se o futuro

desejado pela fase prospectiva está sendo alcançado.

Para isso três atividades são necessárias: medir o desempenho, comparar o

desempenho com os objetivos estabelecidos, determinar a ação corretiva necessária.

Como sugestões de ferramentas para se medir o desempenho podem ser citadas as

auditorias internas e externas, que verificam o desempenho de cada setor da empresa, assim

como dos fornecedores, além de fornecer uma idéia clara de como a empresa está sendo vista

pelos clientes e pela sociedade.

O desempenho é verificado com medidas qualitativas e quantitativas. Entre as

qualitativas podem ser exemplificadas: nível de serviço, satisfação dos clientes, satisfação dos

funcionários entre outras. Já entre as quantitativas estão lucro operacional, margem de

contribuição, custos, medidas operacionais (percentual de atrasos, acidentes, quebras de

veículos)

Após a medição do desempenho ele deve ser comparado com os objetivos e metas,

para que seja verificada a necessidade ou não de ações corretivas. Caso o desempenho cumpra

os objetivos o ciclo deve continuar com novas monitorações para verificar a existência de

eventuais desvios.

Sendo este o último estágio da fase estratégica, e desta forma o ciclo do planejamento

proposto deve reiniciar, reestruturando os objetivos, fazendo a análise ambiental, a

prospectiva de cenários futuros, retornando para a fase estratégica.

É importante ressaltar que o comprometimento de todos envolvidos no processo de

planejamento estratégico tem muita influência nos resultados obtidos, não sendo diferente

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neste método. É fundamental que o planejado não fique apenas no papel, mas entre no campo

das ações possibilitando o sucesso da empresa.

Desta forma este método se apresenta como uma alternativa para uma empresa de

transporte rodoviário de cargas, tendo ferramentas necessárias para direcionar o planejamento

estratégico e o controle de sua execução.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O transporte rodoviário de cargas é um segmento de grande importância dentro da

economia brasileira, movimentando mais da metade da produção nacional, gerando receitas

superiores a cem bilhões de reais por ano e com uma participação de 5% no PIB.

Ao se fazer uma prospectiva para o setor alguns cenários são cogitados. Dentre estes

futuros cenários para o transporte rodoviário de cargas, o mais provável de se tornar realidade

é aquele onde ocorrerá uma perda de espaço para outros modais, principalmente o ferroviário,

acirrando a competição no segmento das estradas, no qual já existe uma concorrência

predatória nos dias atuais. Somando a isto a falta de investimentos em infra-estrutura, o roubo

de cargas e os altos custos de manutenção e combustíveis; o que resultará será um cenário de

grandes dificuldades. Portanto, empresas que não estiverem preparadas para mudanças, não

sobreviverão.

Por outro lado surgem oportunidades como o desenvolvimento da atividade industrial

no país, o aumento das exportações e do consumo interno, o crescimento do transporte

regional e a tendência de regulamentação do setor, deixando evidente a necessidade de

planejamento por parte das transportadoras rodoviárias com a finalidade de manter a

competitividade.

Em vista disso, o material projetado para esta pesquisa foi estudar e elaborar um

método de Planejamento Estratégico para um ambiente de transporte rodoviário de cargas.

Para que esse método fosse elaborado, foi realizada uma revisão bibliográfica, onde se buscou

investigar e interpretar metodologias de gestão estratégica e estudar as características do

Transporte Rodoviário de Cargas e das empresas inseridas neste segmento. Três metodologias

de Planejamento Estratégico foram estudadas, a saber:

• Método proposto por Oliveira (2005), tendo como principal objetivo o diagnóstico

situacional e aplicações para atender as necessidades dos negócios da organização;

• Método proposto por Certo e Peter (1993), analisa os recursos utilizados e indica

prognóstico de processo de controle estratégico em uma organização;

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• Método proposto por Bethlem (2002), direcionado ao diagnóstico atual e

tendências futuras para atender as estratégias e necessidades dos negócios das

organizações.

Uma vez identificados os métodos de Planejamento Estratégico, que foram os

alicerces de referência deste trabalho, procurou-se elaborar um novo método de Planejamento

Estratégico, que abordasse as necessidades do transporte rodoviário de cargas.

Portanto, o objetivo geral deste trabalho consistiu em estudar e elaborar um método de

planejamento estratégico para um ambiente de transporte rodoviário de cargas.

O objetivo geral foi atingido com a proposta de planejamento estratégico voltado para

empresas do transporte rodoviário de cargas.

Os objetivos específicos foram fundamentais para o atingimento do objetivo geral. A

revisão bibliográfica mostrou a importância do planejamento estratégico em qualquer empresa

que pretenda no mínimo sobreviver nos dias atuais, e uma importância maior em empresas

que almejem o crescimento.

Durante a revisão bibliográfica foi observada a grande quantidade de literatura

direcionada ao planejamento estratégico, o que indica a atualidade e alta demanda pelo tema.

Em contrapartida, verificou-se a falta de literatura voltada para o planejamento

estratégico em empresas de transporte rodoviário de cargas, que aliada com as características

tradicionais e de pequeno porte dessas empresas, acarreta em uma cultura de não-

planejamento por parte das mesmas, sendo estas duas dificuldades enfrentadas durante a

pesquisa.

O segundo objetivo específico, que era estudar três metodologias consagradas no

mercado, formou o alicerce de construção do método proposto. A linha de pensamento foi

baseada em Bethlem (2002), já as ferramentas tiveram como base as metodologias de Oliveira

(2005) e Certo e Peter (1993).

Com o atingimento do terceiro objetivo específico, que era estudar o segmento de

transporte rodoviário de cargas e as empresas inseridas no setor, tornou-se viável a elaboração

do método proposto nesta pesquisa. Este método foi elaborado levando em consideração as

particularidades do setor, adotando uma linguagem direcionada para o mesmo.

Desta forma o método proposto possui um diferencial com relação às metodologias

estudadas, enquanto estas fazem uma abordagem generalizada, o método proposto está

totalmente voltado ao transporte rodoviário de cargas, levando em consideração suas

particularidades, tais como fornecedores, custos, legislação e as dificuldades enfrentadas pelo

segmento.

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70

Esta é uma vantagem do método proposto, a adequação ao setor de transporte

rodoviário de cargas. Outro ponto de relevância neste trabalho é a contribuição dos processos

de cenarização e prospectiva estratégica para um planejamento eficiente. Ter a habilidade de

analisar o que pode ocorrer no futuro e se preparar para isso é uma capacidade indispensável

para qualquer empresa moderna.

Em um segmento tão competitivo, como o de transporte rodoviário de cargas, a

adoção de uma postura estratégica aparece como um diferencial, uma vantagem que deve ser

utilizada por uma empresa que almeje o sucesso.

Porém é importante lembrar que o método por si só não tem a capacidade de garantir o

sucesso da empresa. É necessário um engajamento, primeiramente da direção da

transportadora, e em seguida por todos os demais membros da organização, para que os

objetivos traçados possam ser alcançados.

A empresa que queira aplicar o método deve estar ciente destes fatos e buscar envolver

todos os funcionários no propósito de implantar e garantir o cumprimento do planejamento

estratégico. Deve deixar claras as atribuições e responsabilidades de cada indivíduo envolvido

no processo.

A presente pesquisa apresentou algumas limitações. Como a não aplicação do método

proposto. Logo, esta aplicação fica como uma sugestão para trabalhos futuros, visando

identificar possíveis falhas, para que sejam feitas as correções e ajustes necessários para a

melhor adequação do método a realidade das empresas.

Outra sugestão para trabalhos futuros é pesquisar e mapear estatisticamente o

transporte rodoviário de cargas. Esta pesquisa poderia ser a nível regional, nacional ou até

internacional, consolidando dados como a quantidade de empresas, pessoas envolvidas, renda

média dos caminhoneiros, idade média da frota, entre outros.

Outra pesquisa que poderá ser realizada é a viabilidade da proposta de cenarização

para outros setores do transporte (ferroviário, aquaviário, aeroviário, multimodal). E um

estudo ligado à tendência de mudança na matriz de transportes, procurando entender e

determinar seus efeitos em empresas ligadas à logística, assim como na economia do setor.

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