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LUCÍOLA LUCÍOLA Perfil de mulher Perfil de mulher Romantismo Romantismo JOSÉ DE ALENCAR JOSÉ DE ALENCAR

LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

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LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo. JOSÉ DE ALENCAR. O ROMANCE URBANO. Lucíola é, tradicionalmente, considerado pela crítica como um “romance urbano”, porque a ação se passa na corte do Rio de Janeiro, no século XIX. O FOLHETIM. - PowerPoint PPT Presentation

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Page 1: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

LUCÍOLALUCÍOLAPerfil de mulherPerfil de mulher

RomantismoRomantismo

JOSÉ DE ALENCARJOSÉ DE ALENCAR

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O ROMANCE URBANOO ROMANCE URBANO

LucíolaLucíola é, tradicionalmente, é, tradicionalmente, considerado pela crítica como um considerado pela crítica como um “romance urbano”, porque a ação se “romance urbano”, porque a ação se passa na corte do Rio de Janeiro, no passa na corte do Rio de Janeiro, no século XIX.século XIX.

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O FOLHETIMO FOLHETIM

LucíolaLucíola, de , de José de AlencarJosé de Alencar, foi , foi publicado em 1862 em forma de publicado em 1862 em forma de folhetim. Muito comum no século folhetim. Muito comum no século XIX, o folhetim está ligado ao XIX, o folhetim está ligado ao desenvolvimento da imprensa, do desenvolvimento da imprensa, do jornal, como forma de difundir o jornal, como forma de difundir o romance.romance.

Page 4: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

O FOLHETIMO FOLHETIM

Tal gênero (o folhetim) é Tal gênero (o folhetim) é considerado, na época de seu considerado, na época de seu surgimento, como popular, portanto surgimento, como popular, portanto menor.menor.

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O FOLHETIMO FOLHETIMO formato:O formato: publicação periódica (semanal) apresentada, normalmente, em meia folha na última página do jornal. Os capítulos ou episódios deveriam suceder-se, deixando sempre um “gancho”, um acontecimento que seria concluído na(s) semana(s) seguinte(s), estabelecendo, assim, um vínculo com o leitor por despertar a curiosidade em relação à sucessão das ações.

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O FOLHETIM E A TELENOVELAO FOLHETIM E A TELENOVELA

De forma geral, a telenovela De forma geral, a telenovela brasileira tem uma estrutura brasileira tem uma estrutura folhetinesca em todos os sentidos: folhetinesca em todos os sentidos: no modo de apresentação, no público no modo de apresentação, no público alvo, no desenrolar da ação, bem alvo, no desenrolar da ação, bem como na caracterização das como na caracterização das personagens.personagens.

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LUCÍOLALUCÍOLA

Duas leituras Duas leituras possíveispossíveis

Page 8: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

A leitura mítica: Lúcia como A leitura mítica: Lúcia como heroína trágicaheroína trágica

Conforme Conforme AristótelesAristóteles (em (em PoéticaPoética), o ), o herói trágico tem trajetória descendente: herói trágico tem trajetória descendente: vai da fortuna para o infortúnio; sai de vai da fortuna para o infortúnio; sai de uma situação privilegiada para uma uma situação privilegiada para uma situação de total desagrado. Em sua situação de total desagrado. Em sua trajetória comete um erro e é punido por trajetória comete um erro e é punido por ele. Tal punição representa sempre um ele. Tal punição representa sempre um restabelecimento da ordem, no que diz restabelecimento da ordem, no que diz respeito aos desígnios dos deuses, mas respeito aos desígnios dos deuses, mas nem sempre a morte é a pior punição.nem sempre a morte é a pior punição.

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A leitura mítica: Lúcia como A leitura mítica: Lúcia como heroína trágicaheroína trágica

LúciaLúcia começa a narrativa numa situação começa a narrativa numa situação de prestígio: a mulher mais cobiçada da de prestígio: a mulher mais cobiçada da corte, a mais bela cortesã, a mais corte, a mais bela cortesã, a mais desejada pelos homens e a mais invejada desejada pelos homens e a mais invejada pelas mulheres. Comete um erro: age pelas mulheres. Comete um erro: age como dona de seu destino, escolhendo como dona de seu destino, escolhendo amantes em função de seus próprios amantes em função de seus próprios interesses, tentando racionalizar todas as interesses, tentando racionalizar todas as relações, simulando até mesmo a própria relações, simulando até mesmo a própria morte.morte.

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A leitura mítica: Lúcia como A leitura mítica: Lúcia como heroína trágicaheroína trágica

Este erro já tem sua raiz quando Este erro já tem sua raiz quando LúciaLúcia, ainda , ainda Maria da GlóriaMaria da Glória, pensa , pensa que qualquer atitude é perdoável que qualquer atitude é perdoável quando se trata de salvar os entes quando se trata de salvar os entes queridos. Ali, pela primeira vez, ela queridos. Ali, pela primeira vez, ela acredita ser dona de seu destino.acredita ser dona de seu destino.

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A leitura mítica: Lúcia como A leitura mítica: Lúcia como heroína trágicaheroína trágica

Sua punição é morrer muito jovem, Sua punição é morrer muito jovem, sem poder viver um amor duradouro sem poder viver um amor duradouro e acompanhar o crescimento de sua e acompanhar o crescimento de sua irmã, levando para o “túmulo” o seu irmã, levando para o “túmulo” o seu próprio filho.próprio filho.

Page 12: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

A leitura sociológica: a A leitura sociológica: a representação de uma sociedaderepresentação de uma sociedade

Estrutura social do Brasil (séc. XIX):Estrutura social do Brasil (séc. XIX):

Tipo de leitor = “leitora” de folhetins,Tipo de leitor = “leitora” de folhetins,

pertencente à classe dominante, pertencente à classe dominante, nobreza ou burguesia, para quem não nobreza ou burguesia, para quem não interessava em nada mudanças na interessava em nada mudanças na estrutura social. estrutura social.

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A leitura sociológica: a A leitura sociológica: a representação de uma sociedaderepresentação de uma sociedade

Assim, não se poderia aceitar conviver Assim, não se poderia aceitar conviver com figuras “marginais” à sociedade, com figuras “marginais” à sociedade, tanto por sua condição econômica como tanto por sua condição econômica como por sua condição social. Embora rica, o por sua condição social. Embora rica, o dinheiro de dinheiro de Lúcia Lúcia provém de sua provém de sua atividade “espúria” (ilegítima) – a atividade “espúria” (ilegítima) – a prostituição - , de seus relacionamentos prostituição - , de seus relacionamentos carnais com os homens; um “dinheiro carnais com os homens; um “dinheiro sujo” portanto.sujo” portanto.

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A leitura sociológica: a A leitura sociológica: a representação de uma sociedaderepresentação de uma sociedade

Enfim, a representação da estrutura Enfim, a representação da estrutura social se dá na medida em que Alencar social se dá na medida em que Alencar revela revela a hipocrisia das relações sociaisa hipocrisia das relações sociais da época. da época. LúciaLúcia pode frequentar o pode frequentar o teatro, as festas e os bailes da corte; teatro, as festas e os bailes da corte; pode vestir-se com luxo como se fosse pode vestir-se com luxo como se fosse uma dama; pode desfrutar da uma dama; pode desfrutar da companhia dos homens em orgias e companhia dos homens em orgias e jantares, mas não pode querer ser igual jantares, mas não pode querer ser igual a uma dama da corte, como são as a uma dama da corte, como são as leitoras de folhetim.leitoras de folhetim.

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A leitura sociológica: A leitura sociológica: a morte como a morte como punição ou redenção?punição ou redenção?

LúciaLúcia, também não pode querer amar e , também não pode querer amar e viver uma relação baseada em viver uma relação baseada em sentimentos verdadeiros. Por isso, ela sentimentos verdadeiros. Por isso, ela precisa morrer, porque não há lugar para precisa morrer, porque não há lugar para ela nesta sociedade. Ela ousou ter ela nesta sociedade. Ela ousou ter sentimentos nobres e cultivar uma sentimentos nobres e cultivar uma relação de amor legítimo. relação de amor legítimo. PauloPaulo, também , também rompeu com regras, perdoando-a e rompeu com regras, perdoando-a e estabelecendo com ela uma relação estabelecendo com ela uma relação quase matrimonial.quase matrimonial.

Page 16: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

A leitura sociológica: A leitura sociológica: a morte como a morte como punição ou redenção?punição ou redenção?

Sua morte funciona como o triunfo das Sua morte funciona como o triunfo das relações estabelecidas, das damas da relações estabelecidas, das damas da corte e de tudo o que elas representam, corte e de tudo o que elas representam, bem como dos pressupostos cristãos de bem como dos pressupostos cristãos de felicidade na vida após a morte. felicidade na vida após a morte. Principalmente porque Principalmente porque ela morre ela morre purificada e ungidapurificada e ungida (que recebeu a (que recebeu a extrema-unção), tendo a certeza da extrema-unção), tendo a certeza da felicidade celestial.felicidade celestial.

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A leitura sociológica: A leitura sociológica: a morte como a morte como punição ou redenção?punição ou redenção?

““Tu me purificaste ungindo-me com os Tu me purificaste ungindo-me com os teus lábios. Tu me santificaste com o teus lábios. Tu me santificaste com o teu primeiro olhar! Nesse momento teu primeiro olhar! Nesse momento Deus sorriu e consórcio de nossas Deus sorriu e consórcio de nossas almas se fez no seio do criador. Fui tua almas se fez no seio do criador. Fui tua esposa no céu! E contudo essa palavra esposa no céu! E contudo essa palavra divina do amor, minha boca não a devia divina do amor, minha boca não a devia profanar, enquanto viva. Ela será meu profanar, enquanto viva. Ela será meu último suspiro.” último suspiro.” (Cap. XXI, pag. 154)(Cap. XXI, pag. 154)

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A leitura sociológica: A leitura sociológica: a morte como a morte como punição ou redenção?punição ou redenção?

A A mortemorte de de LúciaLúcia une as duas leituras, une as duas leituras, pois pois representa o restabelecimento da representa o restabelecimento da ordem social e a punição de seu membro ordem social e a punição de seu membro que ousou não seguir as regrasque ousou não seguir as regras. Isso vale . Isso vale igualmente para Paulo, que sobrevive à igualmente para Paulo, que sobrevive à sua amada, tendo que continuar a vida sua amada, tendo que continuar a vida apenas com as lembranças e a saudade.apenas com as lembranças e a saudade.

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A nota introdutória: “Ao autor”A nota introdutória: “Ao autor”

““Reuni as suas cartas e fiz um livro.Reuni as suas cartas e fiz um livro.

Eis o destino que lhes dou; quanto ao Eis o destino que lhes dou; quanto ao título, não me foi difícil achar.título, não me foi difícil achar.

O nome da moça, cujo perfil o senhor O nome da moça, cujo perfil o senhor desenhou com tanto esmero, lembrou-me desenhou com tanto esmero, lembrou-me o nome de um inseto.o nome de um inseto.

Lucíola é o lampiro noturno que brilha de Lucíola é o lampiro noturno que brilha de uma luz tão viva no seio da treva e à uma luz tão viva no seio da treva e à beira dos charcos.beira dos charcos.

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A nota introdutória: “Ao autor”A nota introdutória: “Ao autor”Não será a imagem verdadeira da mulher Não será a imagem verdadeira da mulher

que no abismo da perdição conserva a que no abismo da perdição conserva a pureza d`alma?pureza d`alma?

Deixem que raivem os moralistas.Deixem que raivem os moralistas.A sua história não tem pretensões a vestal. A sua história não tem pretensões a vestal.

É musa cristã: vai trilhando o pó com os É musa cristã: vai trilhando o pó com os olhos no céu. Podem as urzes do caminho olhos no céu. Podem as urzes do caminho dilacerar-lhe a roupagem: veste-a a dilacerar-lhe a roupagem: veste-a a virtude.virtude.

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A nota introdutória: “Ao autor”A nota introdutória: “Ao autor”Demais, se o livro cair nas mãos de Demais, se o livro cair nas mãos de

alguma das poucas mulheres que alguma das poucas mulheres que lêem neste país, ela verá estátuas e lêem neste país, ela verá estátuas e quadros de mitologia, a que não falta quadros de mitologia, a que não falta nem o véu da graça, nem a folha de nem o véu da graça, nem a folha de figueira, símbolos do pudor no figueira, símbolos do pudor no Olimpo e no Paraíso terrestre.Olimpo e no Paraíso terrestre.

Novembro de 1861.Novembro de 1861. G. M. G. M.

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A Sra. G. M.A Sra. G. M.

Guardiã, ainda que um tanto Guardiã, ainda que um tanto “progressista”, da ordem e dos valores “progressista”, da ordem e dos valores morais da sociedade, a morais da sociedade, a Sra. G. M.Sra. G. M. desempenha o conveniente papel de desempenha o conveniente papel de alter alter egoego do do AutorAutor (as cartas de Paulo e a nota (as cartas de Paulo e a nota da da Sra. G. M.Sra. G. M. são artifícios pelo qual são artifícios pelo qual Alencar Alencar parece pretender estabelecer parece pretender estabelecer distância entre ele, autor, e os eventos distância entre ele, autor, e os eventos que compõem a obra).que compõem a obra).

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A Sra. G. M.A Sra. G. M.

A A Sra. G. M.Sra. G. M. também desempenha o também desempenha o papel de compreensiva confessora leiga papel de compreensiva confessora leiga do protagonista-narrador. Tão do protagonista-narrador. Tão compreensiva que – restabelecida a compreensiva que – restabelecida a ordem com a morte de Lúcia – mostra ordem com a morte de Lúcia – mostra condescendente com as estripulias condescendente com as estripulias juvenis do autor das cartas (Paulo), que juvenis do autor das cartas (Paulo), que conhecera em uma festa de salão. conhecera em uma festa de salão.

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A Sra. G. M.A Sra. G. M.

A destinatária das cartas de Paulo é A destinatária das cartas de Paulo é ao mesmo tempo ao mesmo tempo organizadora/editora das cartas, organizadora/editora das cartas, assumindo, na nota inicial, a posição assumindo, na nota inicial, a posição de advogada do rapaz, pois de advogada do rapaz, pois compactua com ele do mesmo juízo compactua com ele do mesmo juízo em relação a Lúcia.em relação a Lúcia.

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A Sra. G. M. e o autor AlencarA Sra. G. M. e o autor Alencar

Através da Através da Sra. G. M.Sra. G. M. o autor real – o o autor real – o romancista romancista José de AlencarJosé de Alencar – se – se despersonaliza, distanciando-se da despersonaliza, distanciando-se da matéria narrada, lavando as mãos e matéria narrada, lavando as mãos e diluindo, estrategicamente, sua diluindo, estrategicamente, sua responsabilidade em relação à responsabilidade em relação à mesma.mesma.

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A Sra. G. M. e o autor AlencarA Sra. G. M. e o autor Alencar

Há, portanto, no uso deste artifício Há, portanto, no uso deste artifício técnico (do autor) uma evidente técnico (do autor) uma evidente relação com o conteúdo da obra e relação com o conteúdo da obra e com a contradição intrínseca que com a contradição intrínseca que nela é evidente: nela é evidente: a pretensão de fazer a pretensão de fazer crítica social e a solução crítica social e a solução conservadora que destrói tal conservadora que destrói tal pretensão.pretensão.

Page 27: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

O NARRADORO NARRADOR

O narrador da história é o próprio Paulo O narrador da história é o próprio Paulo que relembra os fatos seis anos após a que relembra os fatos seis anos após a morte de Lúcia, como uma forma de morte de Lúcia, como uma forma de reverenciar a imagem da amada. Trata-reverenciar a imagem da amada. Trata-se de uma narrativa em primeira se de uma narrativa em primeira pessoa, o que transforma Paulo num pessoa, o que transforma Paulo num filtro por onde passa tudo o que ele filtro por onde passa tudo o que ele narra. Ou seja, tudo tem a sua narra. Ou seja, tudo tem a sua perspectiva, o seu ponto de vista.perspectiva, o seu ponto de vista.

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O NARRADORO NARRADOR

Paulo narra toda a sua história com Paulo narra toda a sua história com Lúcia à uma senhora distinta, através Lúcia à uma senhora distinta, através de “páginas” que ele escreveu, e de “páginas” que ele escreveu, e enviou a tal senhora, para que esta lhe enviou a tal senhora, para que esta lhe desse o título e o destino merecido. Diz desse o título e o destino merecido. Diz o narrador: o narrador: “É um perfil de mulher “É um perfil de mulher apenas esboçado.”apenas esboçado.”

Page 29: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

O NARRADORO NARRADOR

Tais páginas foram escritas para Tais páginas foram escritas para responder a estranheza desta senhora, responder a estranheza desta senhora, na última vez em que estiveram juntos, na última vez em que estiveram juntos, pela pela “excessiva indulgência pelas “excessiva indulgência pelas criaturas infelizes que escandalizam a criaturas infelizes que escandalizam a sociedade com a ostentação do seu luxo sociedade com a ostentação do seu luxo e extravagância”, e extravagância”, manifestada por manifestada por Paulo.Paulo.

Page 30: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

A dualidade de LúciaA dualidade de Lúcia

A máscara de mulher pública, livre e A máscara de mulher pública, livre e “impudente” (despudorada, sem-“impudente” (despudorada, sem-vergonha) esconde sua verdadeira vergonha) esconde sua verdadeira essência de mulher recatada e essência de mulher recatada e sonhadora, como ela mesma diz: sonhadora, como ela mesma diz: “As “As aparências enganam tantas vezes!”aparências enganam tantas vezes!”

Page 31: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

A dualidade de Lúcia: a simbologia A dualidade de Lúcia: a simbologia do nome – Lúcia ou Lúcifer?do nome – Lúcia ou Lúcifer?

Diz Lúcia: Diz Lúcia: “...Quem não sabe que eu “...Quem não sabe que eu sou anjo de luz, que desci do céu ao sou anjo de luz, que desci do céu ao inferno?”inferno?”

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A dualidade de Lúcia: a simbologia A dualidade de Lúcia: a simbologia do nome – Lúcia ou Lúcifer?do nome – Lúcia ou Lúcifer?

A simbologia do nome A simbologia do nome “Lúcia”,“Lúcia”, revelada revelada por ela própria, expressa sua face por ela própria, expressa sua face diabólica, por sua capacidade de diabólica, por sua capacidade de sedução para os pecados carnais e por sedução para os pecados carnais e por sua condição na sociedade, tal qual sua condição na sociedade, tal qual LúciferLúcifer, chefe dos anjos decaídos que se , chefe dos anjos decaídos que se rebelaram contra Deus, invejosos da rebelaram contra Deus, invejosos da felicidade dos homens, contra os quais felicidade dos homens, contra os quais passaram a conspirar depois de passaram a conspirar depois de expulsos do paraíso pelos anjos bons, expulsos do paraíso pelos anjos bons, fiéis ao Criador.fiéis ao Criador.

Page 33: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

Lúcia... vítima do sistema?Lúcia... vítima do sistema?

Lúcia também é mostrada como Lúcia também é mostrada como vítima do sistema, pois prostituir-se vítima do sistema, pois prostituir-se foi o caminho que encontrou para foi o caminho que encontrou para salvar sua família da miséria. Sua salvar sua família da miséria. Sua degradação, portanto, decorre das degradação, portanto, decorre das injunções de uma sociedade injunções de uma sociedade indiferente e cruel.indiferente e cruel.

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Lúcia... vítima do sistema?Lúcia... vítima do sistema?

A família de A família de Lúcia/Maria da GlóriaLúcia/Maria da Glória foi foi abatida pela febre amarela e todos abatida pela febre amarela e todos ficaram na penúria (miséria). ficaram na penúria (miséria). LúciaLúcia, com , com apenas 14 anos, fez tudo para cuidar da apenas 14 anos, fez tudo para cuidar da família, mas, levada pelo desespero e família, mas, levada pelo desespero e inocência, deixou-se corromper pelas inocência, deixou-se corromper pelas seduções do seduções do Sr. CoutoSr. Couto que lhe acenava que lhe acenava com moedas de ouro. Para seu desespero com moedas de ouro. Para seu desespero o pai, já restabelecido da doença, o pai, já restabelecido da doença, descobre tudo e a expulsa de casa.descobre tudo e a expulsa de casa.

Page 35: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

Lúcia... vítima do sistema?Lúcia... vítima do sistema?

Acabou desamparada... prostituída e Acabou desamparada... prostituída e assumiu o nome de uma colega de assumiu o nome de uma colega de quarto, com sina semelhante a sua, que quarto, com sina semelhante a sua, que acaba morrendo de tuberculose. Assim, acaba morrendo de tuberculose. Assim, seu pai e família a julgaram morta. Foi seu pai e família a julgaram morta. Foi para Europa e voltou refinada e rica. De para Europa e voltou refinada e rica. De sua família restara apenas a sua irmã sua família restara apenas a sua irmã AnaAna que que LúciaLúcia custeava os estudos num custeava os estudos num colégio interno.colégio interno.

Page 36: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

O sentimento de culpa e o caminho O sentimento de culpa e o caminho da purificaçãoda purificação

O sacrifício da heroína dá-lhe um terrível O sacrifício da heroína dá-lhe um terrível amadurecimento interior e uma aguda amadurecimento interior e uma aguda consciência dos mecanismos sociais. consciência dos mecanismos sociais. Além disso, a brutalidade com que fora Além disso, a brutalidade com que fora tratada pelos homens parece ter tratada pelos homens parece ter enfraquecido sua camada mais afetiva, enfraquecido sua camada mais afetiva, de modo que seus amores nunca duram de modo que seus amores nunca duram mais do que alguns meses, e ela própria mais do que alguns meses, e ela própria abandona os amantes sem maiores abandona os amantes sem maiores explicações.explicações.

Page 37: LUCÍOLA Perfil de mulher Romantismo

O sentimento de culpa e o caminho O sentimento de culpa e o caminho da purificaçãoda purificação

Assim, a percepção de que se Assim, a percepção de que se prostituíra para salvar a família não prostituíra para salvar a família não isenta isenta Lúcia/Maria da GlóriaLúcia/Maria da Glória de um de um forte sentimento de culpa. Ela sente forte sentimento de culpa. Ela sente asco da profissão a que fora asco da profissão a que fora arrastada. Essa culpa, arrastada. Essa culpa, paradoxalmente, transforma-se em paradoxalmente, transforma-se em explosões de sensualidade.explosões de sensualidade.

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O sentimento de culpa e o caminho O sentimento de culpa e o caminho da purificaçãoda purificação

Sua depravação é, segundo Antonio Sua depravação é, segundo Antonio Candido, um “autoatordoamento” e Candido, um “autoatordoamento” e uma “autopunição”. Ao perceber, por uma “autopunição”. Ao perceber, por exemplo, o interesse que desperta exemplo, o interesse que desperta em em PauloPaulo, ela se despe, obscena e , ela se despe, obscena e sedutoramente, em uma orgia sedutoramente, em uma orgia promovida por promovida por SáSá. Trata-se de uma . Trata-se de uma cena de “notável realismo erótico”.cena de “notável realismo erótico”.

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O sentimento de culpa e o caminho O sentimento de culpa e o caminho da purificaçãoda purificação

Enfim, a complexidade psicológica do Enfim, a complexidade psicológica do romance resulta da oscilação de romance resulta da oscilação de Lúcia/Maria da GlóriaLúcia/Maria da Glória entre a culpa e o entre a culpa e o amor romântico que experimenta por amor romântico que experimenta por PauloPaulo. O fato de procurar a . O fato de procurar a purezapureza na na abstinência sexualabstinência sexual, recusando-se ao , recusando-se ao relacionamento físico com o ser amado, relacionamento físico com o ser amado, indica o quanto ela sabia que seu corpo indica o quanto ela sabia que seu corpo se transformara em mercadoria.se transformara em mercadoria.

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O sentimento de culpa e o caminho O sentimento de culpa e o caminho da purificaçãoda purificação

Portanto, negar-se às exigências do Portanto, negar-se às exigências do sexo era, para sexo era, para LúciaLúcia, uma forma de , uma forma de enterrar o seu passado vergonhoso enterrar o seu passado vergonhoso e, consequentemente, morrer é o e, consequentemente, morrer é o caminho da purificação.caminho da purificação.

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Os sentimentos de PauloOs sentimentos de Paulo

PauloPaulo ama ama Lúcia/Maria da GlóriaLúcia/Maria da Glória, , mas, ao mesmo tempo, não aceita a mas, ao mesmo tempo, não aceita a própria paixão, debatendo-se entre própria paixão, debatendo-se entre as solicitações do coração e as as solicitações do coração e as imposições morais da sociedade. Sua imposições morais da sociedade. Sua opção por opção por Lúcia Lúcia representa uma representa uma vigorosa vitória dos sentimentos vigorosa vitória dos sentimentos sobre as convenções e preconceitos sobre as convenções e preconceitos da época. da época.

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A solução conservadoraA solução conservadora

Infelizmente a narrativa apresenta Infelizmente a narrativa apresenta uma solução conservadora, pois a uma solução conservadora, pois a saída de saída de LúciaLúcia é a morte, já que não é a morte, já que não há lugar para ela na ordem social em há lugar para ela na ordem social em que vive. A própria que vive. A própria Lúcia/Maria da Lúcia/Maria da GlóriaGlória aspira à destruição pessoal aspira à destruição pessoal para se regenerar do passado.para se regenerar do passado.

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FONTES:FONTES:ALENCAR, José. ALENCAR, José. LucíolaLucíola. Porto Alegre: Leitura XXI, . Porto Alegre: Leitura XXI, 2009. Introdução, notas e vocabulário de Márcia 2009. Introdução, notas e vocabulário de Márcia Ivana de Lima e Silva.Ivana de Lima e Silva.

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DACANAL, José Hildebrando. DACANAL, José Hildebrando. Romances brasileiros Romances brasileiros I: contexto, enredo e comentário crítico.I: contexto, enredo e comentário crítico. Porto Porto Alegre: Novo Século, 2000.Alegre: Novo Século, 2000.