30
1 LUIZ MASCARANHA OLHARES DE SÃO SEBÁ VOLUME II

LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

1

LUIZMASCARANHA

OLHARES

DE

SÃO SEBÁ VOLUME II

Page 2: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

2

_______________________________________________________________

OLHARES DE SÃO SEBÁ Volume II

Crônicas

Capa: Prainha do Portal da Olaria (foto LC)

Aos meus filhos

À minha mulher

Aos meus amigos

A todos que gostam de letras.

Primum vivere, deinde philosophari

© Luiz Carlos Correard Pereira _______________________________________________________________

Page 3: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

3

ÍNDICE

Introdução ................................................................................................ 04

Citações ................................................................................................... 05

Humores, otimismos e pessimismos ....................................................... 06

Vergonhas ................................................................................................ 07

Ódios ........................................................................................................ 08

Remédios ................................................................................................. 09

Você TEM QUE... ..................................................................................... 10

Medos ....................................................................................................... 11

Pregui... ..................................................................................................... 12

Ogros ........................................................................................................ 13

“Forgados” ................................................................................................. 14

Sonsos ...................................................................................................... 15

Manias ....................................................................................................... 16

Boca-suja ................................................................................................... 17

Olho gordo ................................................................................................. 18

Empata ...................................................................................................... 19

Ciumeiras .................................................................................................. 20

Curiosos .................................................................................................... 21

Troféus ..................................................................................................... 22

Programa de Indio .................................................................................... 23

Micos ........................................................................................................ 24

Gambiarras ............................................................................................... 25

Grifes ........................................................................................................ 26

Trocadalhos .............................................................................................. 27

Mentiras .................................................................................................... 28

Segredos .................................................................................................. 29

Retrocessos ............................................................................................. 30

Page 4: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

4

Introdução

Mais de ano após ter formatado em e-book meus primeiros escritos aqui em São Sebastião, volto a escolher algumas letras de minha lavra para outra coleção. Além de naturalmente ter ficado mais experiente (é, é mesmo um eufemismo suavizante de “mais velho”), também fiquei muito contente por ter conseguido manter a disciplina necessária para escrever pelo menos uma cronicazinha semanal, conforme objetivado, e – o mais importante – sem recorrer à velha muleta do tabaco, conforme vinha acontecendo nos últimos sei-lá-eu quantos anos. Pois então, embalado por meus amigos e por meu ego, completo mais uma coletânea das minhas observações sobre o cotidiano de todos nós – sempre tentando provocar um pouco de reação do leitor sobre o assunto nos comentários finais.

Repetindo um pouco a introdução da edição anterior, essas crônicas foram escritas entre Julho de 2014 e Março de 2015, originalmente postadas na rede social Facebook semanalmente, às sextas-feiras (onde espero ainda continuar postando enquanto consiga). São relatos de pensamentos, ideias, pessoas reais e imaginárias, hábitos e observações, parte do dia-a-dia de quem tempo para admirar a beleza intrínseca e implícita das coisas (é, as belezas explícitas também) e para indignar-se com um mundão de outras coisas que assolam o nosso mundo.

São Sebastião, Novembro de 2015 __________________________________________ São Sebastião é um município do litoral norte do Estado de São Paulo, sendo a cidade mais antiga (fundada em 1636). Tem população na ordem de 70.000 habitantes (2010), numa área de 400 km², fazendo divisa com os municípios de Caraguatatuba, ao Norte, e Bertioga, ao Sul. É a porta de entrada para o município de Ilhabela, que é acessada através de balsas. O porto de São Sebastião é um terminal de cargas administrado pela Petrobras. Recebe petróleo por navios e abastece quatro refinarias de São Paulo através de oleodutos. Para saber mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Sebasti%C3%A3o_(S%C3%A3o_Paulo)

Page 5: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

5

Citações De um modo geral, gostamos de citações. Seja lá quem disse, em qual momento, por qual motivo, para qual situação ou pessoa, as citações sempre tem algo a ver com a gente. No Facebook é uma febre, parece que é a nossa única maneira de expressão. O tempo todo. Haja citação! Mas... embora tenha gente que exagera, todo mundo – inclusive eu – de vez em quando passa para frente algumas palavras de alguém (famoso ou não) que tenha algum significado para si, das mais sérias e filosóficas às mais cínicas e galhofeiras. Muitas são repetitivas (ninguém mais sabe de quem foi a original), algumas são ótimas, outras... bem, nem tanto. Afinal, todos nós falamos bobagens de vez em sempre, né? ☺ Eu gosto de vários ditos de meus ídolos, como o Millor Fernandes. Veja alguns: - “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.” - “Errar é humano; botar a culpa nos outros também”. - “Não é que com a idade você aprenda muitas coisas, mas você aprende a ocultar o que ignora”. - “De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência”. Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: - “Pior do que a desilusão de um não ou a incerteza de um talvez, é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres acham que ele canta”. - “As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, nunca querem que você compartilhe as suas com elas”. Uma, especial, do João Ubaldo Ribeiro, falecido recentemente: “Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer”. Nessa linha, aqui em São Sebá - dada a disponibilidade de tempo que temos para coçar o... hum... ego em reflexões e achismos - comecei a burilar algumas frases, tentando fazer com que ficassem engraçadas, já que originalidade neste ramo parece ser difícil: - “Menino encapetado é o filho dos outros”. - “Vida de mulher de vida fácil é muito difícil, não há moleza”. - “Se a verdade que você fala nem sempre é verdade, a que você não fala é”. - “Corruptos, ladrões e demagogos são sempre os do outro partido”. - “Em cidade de ruas esburacadas o prefeito só anda de carona”. - “Não ligue para as mentiras sobre você, nem que todas sejam verdades”. - “Todos somos ateus para deuses diferentes do nosso”. - “Tão falso quanto padre dando conselhos sobre vida de casado”. E você, o que acha? Tem alguma citação que ache interessante?

Jul/14

Page 6: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

6

Humores, otimismos e pessimismos. Geralmente, sou bem-humorado pela manhã. Acordo cedo apenas porque quero, mas sempre de bom humor - e normalmente assim permaneço ao longo do dia (só perco a paciência quando sou acordado de madrugada por algum fdp acelerando uma motocicleta barulhenta, mas isto é outra história). Aqui no bairro conheço algumas pessoas que também são bem-humoradas, sempre com um sorriso e um “bom-dia” fácil nos lábios, além de comentários sobre o tempo e pescarias, quando passam em frente à minha casa, a caminho do trabalho ou simplesmente caminhando. Então, parece evidente a associação do bom humor com otimismo, não? Diz o anedotário que a mulher é, geralmente, mais difícil pela manhã que o homem: quanto mais cedo acorda, pior o humor (não é a minha opinião, meninas, por favor). Mas o que eu lembro é o oposto: um colega de faculdade, com quem convivi numa república de estudantes por alguns anos. Aquele era difícil. Ao acordar, pior ainda. Não havia manhã em que o cara não reclamasse de alguma coisa – tipo banheiro ocupado, roupa suja, atraso do ônibus, comida, ter de estudar até tarde e por aí ia. Um “bom dia”, nem pensar. Claro, era um pessimista de doer. Parecia aquele personagem de um antigo desenho animado, a hiena que vivia reclamando “oh, eu sei que nada vai dar certo, ó dia, ó azar” enquanto uma nuvenzinha chuvosa pairava-lhe sobre a cabeça. Com o tempo, aprendemos a ignorar o mala. Pois é, mas por aqui temos também um desses, um sujeito que mora na vizinhança e é conhecido pelo mau humor. Nada está bom ou satisfatório para ele. Além do óbvio “prefeitura, estado e país, tá tudo uma m%¨&a”, reclama de absolutamente tudo em que está envolvido. Numa conversa, só sabe destilar irritação com alguma coisa que está atrapalhando a sua vida. Claro, para ele sempre tem alguma coisa atrapalhando a vida. Assim, pegou fama (justa, convenhamos) de ser mal-humorado... e pessimista. Parece também evidente a associação do mau humor com pessimismo. Alguém já viu algum mal-humorado ser otimista com alguma coisa? Convivi com pessoas bem e mal-humoradas ao longo da vida, como qualquer um de vocês deve ter convivido. De qualquer forma, é certo que variações do nosso humor podem acontecer de acordo com a situação que estamos vivendo. Ninguém está 100% do tempo de bom/mau humor ou sendo otimista/pessimista. Mas quero crer que o bom humor prevalece, né? Interessante é que, pesquisando um pouco sobre o assunto, fico informado de que esse comportamento – veja só - pode ser um distúrbio, a chamada distimia! São pessoas que “estão sempre irritadas, reclamando de tudo, só enxergam o lado negativo das coisas e, mais ainda, tudo pode piorar”. Tem tratamento, sim. Psicoterapia e alimentação cuidadosa, que inclui - oba! – carnes (ou seja, quem não consome carne tem mais chance de ser mal-humorado). Veja “distimia” no Gooooooogle. Boa, essa! ☺ E você, conhece algum resmungão? E como anda seu humor?

Jul/14

Page 7: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

7

Vergonhas Aqui em São Sebastião, como toda e qualquer cidade desse nosso país, tem tudo quanto é tipo de gente. Enquanto brincávamos de pescar e soltar cocoroquinhas e carapicus, na prainha aqui perto de casa, eu e meu amigo japonês falávamos de gente sem-vergonha – me refiro àquelas pessoas que não tem vergonha nenhuma de fazer algumas coisas no mínimo antiéticas. - “Olha só aquele ali” – se referia um cara que caminhava pela praia, com a mulher – “todo metido, cheio de pose, mas é um tratante. Fiz um serviço pra ele, me enrolou e nunca pagou, acredite. Uma merreca de 50 mangos! Hoje, finge que nem me conhece. É um sem-vergonha!”. - “Quem diria” – comentei – “eles moram na minha rua. Bom saber...” - “Pra você ver...” – continuou ele – “outro dia, passou um casal que, na maior cara-de-pau, entrou na varanda da casa ao lado da minha, que está vazia, para... você sabe. Qualquer um que passasse na rua naquele momento ia ver. E eu é que fiquei com vergonha! Que coisa!” - “Pois é, tem gente que paga mico fazendo coisas ridículas e quem fica com vergonha é quem tá vendo”, disse eu. - “Ora, Luiz, na TV tá cheio disso. Cada programa besta apresentado por gente besta que faz audiência mostrando a miséria humana de pobres coitados que se humilham a troco de nada... Eu fico mesmo com vergonha por eles”. Mas é mesmo. Eu também fico com vergonha pelos outros. Vergonha pelas pessoas, pelas cidades, pelo país (estou neste momento em que escrevo com muita vergonha de quem está fazendo “piadas” grotescas e estúpidas envolvendo a trágica morte do político Eduardo Campos e de membros da sua equipe). Voltando ao ponto, sob um ponto de vista mais geral, falamos da sem-vergonhice generalizada que corre em todas as situações em que dinheiro e poder são a mola-mestra – ou seja, na política, nas igrejas/templos e em muitos órgãos públicos. Aí, meu amigo riu: - “Ora, pescador... nem precisa ir Brasília... aqui em São Sebá tá cheio de sem-vergonha!” – mas depois ficou sério: “sabe aquele cara que foi candidato a vereador e pegaram ele pagando propina? É, o fulano mesmo, que morou aqui no bairro. Agora é candidato a deputado estadual, imagine. Nunca fez p nenhuma pra ninguém e vem me pedir voto. É um baita sem-vergonha... e quem banca essa candidatura também é. Imagine o que nem sabemos! Pelo jeito, sem-vergonhice é cultural no Brasil”. Tive de concordar: - “É, meu camarada. É muita sem-vergonhice desses que ainda nem tem um cargo formal. Imagino como será se ele conseguir ser eleito” – e me lembrei de um certo prefeito de uma certa cidade da Zona da Mata mineira. Haja vergonha! E tem muito mais, mas paro aqui. Coisas de Brasil. E você? Aposto que sabe de muita sem-vergonhice e de muito sem-vergonha por aí, não?

Ago/14

Page 8: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

8

Ódios Daqui da calma praia do Portal da Olaria, olhando a imensidão do mar que faz nosso olhar perder-se na distância, onde apenas um ou outro navio mal se faz visível, dois pescadores conversavam. Na paz que aqui impera (fora de temporada, diga-se), vê-se “de cima” acontecimentos que nos deixam estarrecidos com o embrutecimento de pessoas, principalmente em grandes aglomerados urbanos. Sobre o recente caso da moça flagrada em ato de racismo contra o goleiro do Santos, um dos pescadores, enquanto pela enésima vez recolhia seu anzol para logo em seguida lançá-lo à água outra vez, enfatizou que “racismo, assim como homofobia e outros preconceitos do mesmo naipe, é um crime de ódio. E como tem ódio em nosso país! Não bastasse o ódio do mundo.. Que tristeza...”. Realmente, é muito ódio. Impressionante como paixões levadas a extremos, principalmente em hordas (eu ia dizer “grupos”, mas preferi o termo mais significativo, “horda” mesmo) ou na frieza de indivíduos na defesa totalitária de seus feudos, deixam à mostra o quanto de ódio existe sob a aparência “normal” das pessoas. Já comentei outras vezes sobre isso, mas acabo voltando a externar meu cada vez maior ceticismo na “melhoria das coisas no nosso país”: Qual a razão de tanto ódio entre torcidas de clubes de futebol, que leva alguns a não tolerar a simples presença de alguém trajando uma camisa do clube rival, chegando a absurdos de covardia em agressões estúpidas que muitas vezes causam mortes? Qual a razão do ódio religioso que leva alguns “iluminados” de seitas evangélicas a invadir e destruir o interior de igrejas e terreiros de umbanda? Lembrando as eleições que estão aí, qual a razão de tanto ódio contra alguns partidos e candidatos? Entendo que não se goste, mas... ódio?? Por um extremo, em nome de quê se odeia “os banqueiros”, os “empresários”, “o capital”? Pelo outro extremo, qual o motivo do ódio contra manifestações populares pacíficas, contra minorias e inclusões sociais ou contra a palavra “casamento”, na homofobia mal disfarçada no discurso roto do pastor “conselheiro” de uma candidata? Não existem facilidades nem para explicar, quanto mais para solucionar divergências dessa magnitude. Que falta faz uma educação plena e eficaz, com professores valorizados e escolas estruturadas para atender a população em todos os níveis, não? Já na política... poderia ser mais simples: não votar em quem não queremos – mas... o f* é que nem sempre se tolera democraticamente os vencedores de eleições. Pelo jeito, iremos conviver com isso “ad æternum”. E haja ódio... Então, pra mim, deu. Chega de ódio, gente!. Não gosto, não aceito, não compactuo. Sou do tempo “Paz e Amor” – conceitos que, convenhamos, fazem muita falta, né?

Ago/14

Page 9: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

9

Remédios Meu vizinho e amigo reaça ultra-direitista passou aqui em casa ontem, para um café. Não, ele não veio xingar a Dilma, nem o Lula, nem a “petralhada” (vocabulário dele). Ontem, veio apenas dizer um alô, rapidinho. Estava chateado. Fiquei sabendo que ele tem familiares que estão seriamente adoentados e precisam de apoio e companhia. Após o momento sério, acabamos falando de remédios, fazendo graça. Que coisa. Antes que você diga que véio só fala de doenças, deixe-me observar que esse é um assunto que todo mundo – mesmo – conhece, não? Remédios. Queiramos ou não. Pois ele comentou: “- Pois é, camarada, eu fiquei “expert” nesse negócio de remédios. Não bastassem os meus, fiquei sabendo um monte de outros. Tudo caro pra c*.... Pobre tá f* neste país... . E riu, acho que dos remédios, mas depois xingou o PT. Aí, eu também ri (não quero fazer graça com a desgraça dos outros, mas lembrei das ridículas propagandas de remédios que são veiculadas em canais televisivos - onde uma das mais terríveis é aquela contra gripe e insônia onde um cabrito (??) berra “naldééééécon” e me dá vontade de desligar a porra da TV). - “Pois então – continuou ele – nem vou falar das drogas para problemas mais sérios. Só contra gripe e resfriado, tem um montão...” E fomos falando (você deve conhecer a maioria): Aspirina, Melhoral, Benegrip, Coristina, Alivium, Resfenol, Anador, Stilgrip, Apracur (é remédio para... gripe? Só rindo), Naldééééécon, Cimegrip, Biogrip, Descon, Fluviral, Multigrip, Abrilar, Advil, Aturgyl, Tylenol, Strepsils, Redoxon, Neosaldina... - “Chega – ele cortou. Iisso é só contra gripe e resfriado! Se for aumentar a lista de doenças, vamos ficar doentes só de ficar falando...” Então, para encerrar a nossa doentite (doença de ficar falando de doenças), criamos um “time de futebol”, uma seleção só de titulares contra os nossos males não tão sérios: Eu: - “No gol: Torsilax”; Ele: - “Na zaga e laterais: Flogoral, Buscopan, Engov e Luftal”; Eu: - “Meio-de-campo: Doril, Dorflex e Fenergan”. Ele: - “Ataque: Dramin e Sorine.” Eu: - “Péra, cara, seu ataque tá capenga. Falta um, deve ser o centroavante. Já sei: você escala aquele que tem o citrato de sildenafila como princípio ativo...” Ele: -“Não, não, não! De jeito nenhum! Esse aí é reserva, só reserva! Eu escalo mesmo é o Prednisosa! Depois dessa, ele foi embora. E você, quem tá escalado na sua seleção não tão séria? ☺

Set/14

Page 10: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

10

Você TEM QUE... O sujeito chegou fazendo propaganda política. Nós na cerveja. - “E aí, vamos votar no A, não é?” - “Não, eu não. Vou votar no B” - já provocou o Julio. - “Ah, que isso... – o cara não desistiu – Puxa... além de ser o mais capaz, é preparado, é o que pode mudar tudo o que está aí. Não acredito que você não vota no A... um cara do seu nível, como você não enxerga que o A é candidato certo? Não é possível... Se o povo soubesse das coisas, todo mundo votava no A... Você TEM QUE votar no A !” Rapidinho, rapamos fora da “conversa”. ___________________________________ Outro dia, falávamos de pescarias de robalo. Chega um cara querendo ensinar padeiro a fazer pão (ou padre a rezar missa): - “Ouvi vocês falando de robalo. Peixe enjoado. Cheio de manhas. Para pescar um robalo, você TEM QUE...” - “... ter a isca certa” – riu o Julio, um grande pescador de robalos. - “Não só isso – insistiu o sujeito – TEM QUE saber iscar um camarão vivo, colocando o anzol assim, ó – e fez gestos mostrando como tem que ser - ou uma sardinha viva, que se prende assim, ó – e tome gestos de mãos e dedos mostrando como tem que ser – se não, você não consegue. E outra coisa: TEM QUE usar anzol especial e linha multifilamento, senão escapa...” - “Ah... tem que ter o peixe no mar também, né?”. O Julio ironizou. E o cara: - “Claro, né? Você TEM QUE...” Cansou. Rapidinho, deixamos a conversa esfriar. _________________________________________________ Ouvido por aí: - O rapaz dando dicas ao amigo, que estava visitando a cidade: - “Ih, cara, aqui é meio complicado... para arrumar namorada aqui você TEM QUE...” - O colega avisando o trainee: - “Ó, o chefe é metódico. Para agradar, você TEM QUE...” - O sujeito reclamando das mulheres: - “Puxa, elas nunca estão satisfeitas! Para fazê-las felizes, você TEM QUE... “ ---------------------------------------------- Então, todos nós temos vivências e conhecimentos. As experiências que acumulamos ao longo da vida faz com que tenhamos o nosso jeitão... e o nosso jeitinho. Como aprendemos, não existe apenas uma maneira de se fazer a maioria das coisas. Tem hora que o “TEM QUE...” enche o saco. E você, tem ouvido muitos VOCÊ TEM QUE... por aí? ☺

Set/14

Page 11: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

11

Medos Todo mundo tem medo de alguma coisa. Não quero falar aqui dos medos óbvios que todos temos – violências, roubos, acidentes, doenças, cães agressivos etc – nem de fobias comuns (escuro, altura, lugares fechados), nem dos bichos dito peçonhentos: cobras, escorpiões, aranhas e qualquer outro bicho desconhecido - mulheres em especial tem pavor de lesmas, minhocas e pererecas – mesmo que esses bichos não façam mal algum. Ah, sim, baratas também não agradam a ninguém. Quero mesmo é falar dos medos um tanto estranhos que algumas pessoas apresentam (se você pesquisar “medos estranhos” no Gooooogle vai se espantar): Trabalhei com um camarada que tem medo de... libélulas! É, libélula, aquele insetinho voador que vive perto de água. Certa vez, estávamos num carro em viagem para Belo Horizonte, quando de repente, não mais que de repente, entra uma libélula daquelas bem grandonas pela janela aberta do carro. O cara deu chilique de pavor. Tivemos de parar o carro para o bicho sair, ele se acalmar e para os outros pararem de rir. O filho adolescente de um amigo pescador de robalos aqui de São Sebá tem fobia de... peixes! É sério. O moleque aprendeu a pescar com o pai e com o avô, gosta e sabe pescar. Mas para iscar um peixinho vivo ou tirar um peixe do anzol é um drama: treme e pede a ajuda paterna, para gáudio dos amigos e desespero do pai. Haja gozação. Um outro moleque aqui do bairro tem verdadeiro pavor de siri. Impressionante, ninguém me contou, eu vi. O garoto deve ter seus 10, 11 anos. Ao ver um sirizinho na areia, bem à sua frente, deu um grito de medo e saiu correndo. Achei que o moleque tinha se machucado ou coisa assim, mas não foi nada disso, era medo mesmo, como fiquei sabendo. Que coisa... esse, pelo jeito, logo vai morar bem longe de qualquer praia. Mas, falando de um modo geral, conheci pessoas que tinham o pior medo que pode existir na vida de alguém: o medo de viver. Medo de sentir emoções, medo de se apaixonar, medo de sair de casa (chega a dar tristeza quando me lembro de uma pessoa que deixou as amizades e possíveis amores pelo medo mórbido que tinha de sair de casa). Então, entendo eu, se alguns medos nos dão medo mesmo, outros nos fazem sorrir (quando não são os “nossos” medos) e outros nos entristecem. Como diria meu pai, “coisas da bizarra natureza humana”. Eu? Eu tenho pavor de fanatismos religiosos e de aglomeração de gente. E você, além dos medos que todos temos, tem medo de quê?

Page 12: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

12

Preguiça Você é dinâmico. Você não é paradão. Você é dono de uma férrea vontade sobre si mesmo. Você não se deixa abater por questõezinhas. Você é O cara! Mas... ...sabe aquele dia em que você acorda lamentando ter acordado? Daqueles em que você fica enrolando para levantar, rola pra lá e pra cá, esconde a cara sob o travesseiro, puxa a coberta e “sonha” que já levantou, mas de repente vê que ainda nem se mexeu de verdade? Daqueles que você fala consigo mesmo dizendo que a bexiga precisa porque precisa ser esvaziada e que não vai dar mais para ficar deitado e espreguiçando e enrolando como você está fazendo? Aí, sem levantar ainda, você percebe pela janela que lá fora tem um ventinho fiadaputa que parece estar esperando você com um sorrisinho malévolo e que o sol ainda nem saiu – ou seja, é cedo pra c***. Você pensa no dia que lhe espera. No trabalho! No chefe! Ou ter de ir ao supermercado ou – pior – ter de ir ao centro ou shopping para acompanhar alguém para comprar roupas! Que puta preguiça!!!. Bem... segundo o Aurélio, “preguiça” significa, entre outras acepções, “lentidão, pachorra, moleza”. Mas uma boa definição complementar seria “qualquer atividade que precisa ser feita e na hora você não está a fim”. Se não, vejamos: Dá ou não dá uma preguiça f*dida de arrumar a bagunça da garagem (ou do porão, do quintal ou do que quer seja) que você prometeu a sei lá eu quanto tempo? Dá ou não preguiça de fazer um “5S” na bagulhada que você guarda em casa sabe-se lá por quê? Às vezes dá preguiça de guardar o carro na garagem, de ir à padaria da esquina, dá preguiça de trocar a camisa amassada que você está usando porque tem de procurar outra no guarda-roupa antes de sair, dá preguiça de lavar a penca de louças que você acabou de usar e largou na pia, dá preguiça também de reler e corrigir aquela m*** de relatório, dá uma leseira imensa só de pensar em limpar a p*** do mato do quintal... putz... _______________________________________________ Confesso que eu sou cheio dessas preguiças. Por exemplo, tô com uma preguiça imensa de procurar meu título de eleitor (não sei onde deixei depois do 1º. Turno). E você, como anda de preguiça?

Out/14

Page 13: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

13

Ogros Um de meus sobrinhos utiliza uma forma interessante de se referir a um tipo específico de pessoa, o que ele chama de “ogro” – não o ogro simpático tipo “Shrek”, mas daqueles que estereotipamos como brutamontes, atarracados e de voz grossa, quase incapazes de sutilezas ou de entabular alguma conversa razoável além de grunhidos ininteligíveis. Segundo esse meu sobrinho, essa associação lhe veio à mente ao ver a forma com que o pai de uma coleguinha do filho dele tratava a garotinha, à saída da escola. Pois “dava dó da menina ter um ogrão daqueles vociferando com ela por nada”, diz ele. Pois bem. Aqui da ainda pacata São Sebá (dezembro tá chegando...) eu também identifico alguns ogros desse naipe, principalmente em supermercados, tal a “educação” com a qual tratam as caixas que, até onde vi, toleram pacientemente a impaciência dos sujeitos. Acho que esse tipo deve existir em qualquer canto do mundo... Mas o pior são aqueles que não são facilmente identificáveis: os ogros intelectuais. Antes que você me chame de preconceituoso, explico: defino como “ogro intelectual” aquele que só entende as coisas se tiver um desenho mostrando (tá, eu sei que estou sendo sarcástico), ou seja, na maioria das vezes é um perfeito analfabeto funcional, não sendo capaz de entender textos relativamente simples ou interpretar alguma ironia ou cinismo inteligente. De informação e cultura geralmente passam longe. Podem ter qualquer tipo físico, claro, e o problema aparece quando precisam explicar alguma coisa que não seja óbvia ou – pior- explicar o que quer que seja por escrito. Nos meus tempos de Engenharia Industrial, tive um colega de trabalho boa-praça, amigo de todos, mas que passava um sufoco danado para fazer um relatório ou redigir um simples e-mail (tinha alguns que ele escrevia e nos fazia rir - ou chorar, dependendo para quem tinha sido enviado). Era um ogro intelectual legítimo, esse camarada. Sendo um retrato fiel da nossa sociedade, aqui no FB tá cheio desses. Ogros e ogras. Basta ver o nível dos comentários em alguns “posts” religiosos e políticos (só dá isso até o fim desse 2º. turno). Para alguns desses ogros, a aparência é tudo – incapazes que são de entender a subjetividade e a relatividade do que é “bonito” ou “bom”. Teve uma que não entendeu a ironia de um texto feminista fazendo blague com os “machões” da rede e – aí a graça – chamou a autora do texto de “machista”. Ri muito também de um cara que, sobre um texto de propaganda do candidato deles, criticou o outro por achar que este estava apoiando, nos comentários, o candidato “errado” - quando era justamente o contrário. O ogro simplesmente não entendeu o que estava escrito! Fazer o que? ___________________________________________ Nesses nossos tempos de truculências, violências, impaciências e outras ências, os ogros estão aumentando, em todos os níveis e tipos. Às vezes, é de perder a fé na humanidade. E você, tem visto alguns “ogros” por aí?

Out/14

Page 14: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

14

“Forgados” Estávamos, como mui raramente fazemos nas tardezinhas, bebendo cerveja e observando o que deve ser observado, aqui no Maré-Mansa, quando chegou um camarada com uma Renault Duster que, estando as vagas do estacionamento do bar todas ocupadas, parou e deixou o carro atravessado, fechando 3 outros que ali já estavam. Como todos nas mesas próximas ficaram olhando, o cara murmurou um “se alguém for sair, só me avisar, tô aqui no bar mesmo” e foi em frente. O primeiro comentário veio do Ditinho, velho conhecido de todos: - “Ih, parece a propaganda do Duster mesmo” – riu – “Só falta o nome do cara ser Vanderlei e a veinha aparecer aqui para chamar o cara de “forgado”. - “Pode não ser Vanderlei, mas não tenho dúvidas que ele é muito forgado. Como tem gente forgada neste mundo!” – comentou o Britto, o mais velho e assíduo frequentador do lugar. E ficou por isso mesmo - ninguém saiu e o carro do “vanderlei” ficou onde estava, enquanto eu estive por lá. Lembrei-me, então, de algumas situações em que fui testemunha da ação (ou não-ação) de “forgados”: República de estudantes: o colega não movia uma palha para fazer qualquer coisa, seja um café ou ferver um leite, tirar açúcar ou café das embalagens e colocar nos vidros destinados a tal fim, ou pegar um pano para limpar ou secar qualquer coisa. Fazer um rango à noite? Fazer um suco? Ir no boteco da esquina trazer uma cerveja? Um salgadinho? Pão? Não era com ele. Mas se alguém trouxesse ou fizesse qualquer coisa dessas... adivinha quem era o primeiro a querer? Outra: estávamos em 3, pescando com manjubinhas, pegas por um puçá bem na beirinha das pedras (quando ficam em cardumes bem agrupados) e mantidas vivas num balde com água. Não é difícil pegá-las, mas dá um certo trabalho. Todos que pescam juntos pegam as manjubinhas para todos. É a melhor isca para robalos. Pois apareceu um sujeito todo prosa, que pesca, que isso e aquilo, e pediu um peixinho para iscar. O Léo, dono do puçá, deu o peixinho. 2 minutos depois, outro. Em seguida, mais um. E mais um ainda. O cara perdia muita isca! Aí, encheu o saco. Quando o cara vinha pegar mais uma, o Léo passou-lhe o puçá, apontou para as pedras banhadas pelo mar logo abaixo e lascou “pega ali umas e traz para nós”. O cara bem que tentou, mas logo desistiu e foi embora. Que cara mais... forgado! E assim é a vida... Sempre tem um que quer pronto, mas não quer fazer. E você? Aposto que sabe de um monte de “forgado” por aí...

Out/14

Page 15: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

15

Lerdos e Sonsos Na esquina da minha rua com a avenida principal, dois jovens trocavam o pneu furado do carro - pranchas de surfe em cima - onde estavam indo em direção às praias mais badaladas daqui de São Sebá. Um dos garotos abriu a mala do carro para pegar o estepe e – surpresa! – este estava mais murcho do que a cara com a qual os dois ficaram diante do fato. - “Pô – disse um deles – eu achei que você tivesse checado tudo, meu!” - “Eu calibrei os pneus, mas não lembrei do estepe...”, se desculpou o outro. Para alívio e sorte dos dois, mostrei que estávamos a menos de 200m de uma borracharia. O esquecido, claro, é que levou a roda para o conserto. Que bobeira, não? Numa outra ocasião, no estacionamento de um supermercado, presenciei a cara de pau de um sujeito que, ao estacionar o seu veículo com imperícia, arranhou de leve a lateral do carro que estava ao lado. Saiu do carro e foi olhar. Nesse momento, o dono do carro amassado estava chegando, mas não viu o ocorrido; pegou o carro e foi embora. O que havia causado o dano olhou pra cima, olhou pra lá, olhou pra cá, disfarçou... e saiu de fininho. Pois então, se o lerdo não é lerdo por mal, o mesmo não se pode dizer dos sonsos (estou usando “sonso” como sinônimo de fingido, dissimulado mesmo). Alguém que dá bobeira em alguma coisa geralmente prejudica apenas a si mesmo, em primeiro lugar. Já um sonso... Aí você poderia me perguntar: - “É, né? Vai me dizer que nunca deu uma de sonso?” Eu responderia que... sim, claro. Eu e todo mundo. Em alguns momentos da vida todos somos lerdinhos e sonsos. Quer ver? - Quem nunca perdeu ou esqueceu uma chave (de casa, do carro) em algum lugar? - Quem nunca olhou para cima (ou para o outro lado), na rua, quando sua mulher percebe que você está olhando aquela totosinha que vem em sua direção? - Quem nunca perdeu a hora ou chegou atrasado para algo importante? - Quem nunca fingiu que não viu alguém acenar (principalmente se você acha o cara um chato)? - Quem nunca se esqueceu de comprar algo que queria no supermercado do qual você acabou de sair e só se dá conta disso ao chegar em casa? - Quem nunca fingiu uma afinidade, uma tristeza ou uma alegria que não sentiu? Pois é... um pouco de lerdo e de sonso todos temos. O f*** é quando alguém é MUITO sonso pra cima... de você. Então, você conhece alguns sonsos por aí?

Nov/14

Page 16: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

16

Manias Nos passeios das manhãs pela prainha aqui perto de casa, volta e meia fico conhecendo gente que por aqui passa, caminhando, simplesmente passeando ou tentando pegar algum peixinho. Outro dia conheci um jovem que mora aqui nas redondezas do bairro, que estava pescando carapicus (para quem não sabe, é equivalente a um lambari e que também se prepara, basicamente, fritando). O que me chamou a atenção foi o comportamento do garoto: a mania de verificar o anzol a todo momento. Não dava 1 minuto de isca na água e ele já recolhia e checava o anzol e a isca. O tempo todo. Curioso, eu perguntei o porquê. A resposta: - “É, eu tenho essa mania. Meu pai já me falou. A toda hora eu tenho que olhar o anzol. Sei lá. Se eu não prestar atenção, não consigo ficar com a linha na água...” Manias... Lembrei-me de um vizinho que tive (trocentos anos atrás) que tinha a mania de cuidar do carro. Todo dia tava ele lá, limpando os tapetes, passando aspirador de pó e paninho molhado no carro. Todo dia. A molecada dizia que ele tinha mais ciúme do carro que da mulher - que era bonitona mesmo. E olhe que era um fusquinha comum. Eta... Lembrei também um colega de ginásio que tinha a porca mania de ficar tirando meleca do nariz, fazendo uma bolinha e tacando nos outros. Nojeira pura! Um professor certa vez pregou-lhe um sermão, todos rimos, mas... no outro dia, tava lá o cara melecando de novo. Que f... Na faculdade, conheci um sujeito de uma grande cidade do interior de SP (Campinas ou Ribeirão Preto, não lembro mais) que tinha a mania de lavar as mãos (com sabonete!) o tempo todo. Os colegas da república onde morava maliciavam e zoavam com ele (“é... não sai do banheiro, vive lavando as mãos, então...”). O tempo de duração das aulas devia ser um sacrifício, pois a cada intervalo tava o cara lá no banheiro, lavando as mãos. Que coisa... Tive também um colega de trabalho que roía as unhas. Não precisava motivo, o cara nem prestava atenção no que fazia. Dava desespero. Era só cotoquinho e o cara tava lá roendo até sair sangue. Putz... Pois é. Sem chegar a ser algo mais sério como um Transtorno Obsessivo Compulsivo, um transtorno bipolar ou algo assim, muita gente tem alguma mania, seja como essas que falamos, seja de arrumar e ordenar coisas, mudar móveis de lugar, tirar casquinhas de feridas ou outras – algumas muito feias, acredite. Eu? Bem... confesso que tenho a mania de... ;) E você, tem alguma mania que possa falar?

Nov/14

Page 17: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

17

Boca-suja Já está longe, muito longe, o tempo em que as mães faziam ameaças armadas com esponja e sabão para “lavar a boca-suja desse menino”, quando os filhos falavam palavrões ao alcance dos ouvidos da dona da casa (bom, minha mãe ameaçava quando meus irmãos e eu ainda éramos meninos). Lembrei um colega de exército que tive (final dos anos 1960, ainda sei até o nome do camarada) cuja religião não permitia uma série de coisas – entre as quais falar palavrão. Pecado mortal. Ortodoxo, não falava um PQP nem quando o sargento, por conta de alguns engraçadinhos, apertava os exercícios físicos fazendo todo mundo (e alguns em particular) sofrer. Todos xingavam, menos ele. Cara amarrada, lágrimas corriam dos olhos apertados, mas da boca não saía nada. Admirável? Sei não... Hoje, a sociedade é muito mais permissiva (ou seria – ainda bem - menos reprimida?) do que foi há 40 ou 50 anos atrás, principalmente em questões de sexo e de linguagem mal educada. Naquela época, era inimaginável alguém falar, por exemplo, “bunda” em um programa de TV. Hoje, não só na TV, é comum ouvir adolescentes, sejam meninos ou meninas, falando palavrões cabeludos (boa, essa... palavra feia tem cabelo...) para qualquer um ouvir. Nos comentários de sites da internet e aqui no FB tá cheio de exemplos: além dos garotos, muitas garotas de boca tão suja (ou seria “letra suja”?) que eu fico pensando “ah, se as mães vissem isso...”. Só rindo... Evidentemente, há excessos. Um dos que moram aqui na rua de casa – do qual eu não sei o nome - é um veinho boca-suja daqueles. Já haviam me falado que ele não precisa estar bravo com alguma coisa ou alguém. Qualquer comentário que ele faça, lá vem $%¨&* na certa. Tive uma prova disso quando, outro dia, passando em frente à minha casa, após o “bom dia” de praxe, me saiu com essa: - “Ce viu a p*** daquela entrevista daquele f*** da p*** na Globonews ontem? Que c*** ele queria? Já f*** todo mundo mesmo. Ora, vá t*** na b*** da ***, p***!” E foi embora rindo. Eu não falei nada, nem sei ao que ele se referia, não vi a tal entrevista, nem sei de quem. ... mas me diverti com o linguajar dele. Mas sejamos realistas: ontem ou hoje, todos nós sabemos desde sempre ser um boca-suja quando a ocasião assim exige. Além dos acidentes bobos – uma topada, um corte no dedo, essas coisas, eu xingo mesmo quando o v*** do vizinho deixa a p*** do som muito alto, tocando aquelas m*** de barulhos que ele chama de “música”. Fazer o que, sou normal, né? ☺ E você, tem seus momentos de boca-suja?

Nov/14

Page 18: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

18

Olho Gordo Meu amigo Frode (não, não é “Frodo”. É Frode mesmo) é um norueguês estabelecido no Brasil já há algum tempo, em São Paulo, e que, após se aposentar, veio morar aqui em São Sebastião. Viajado e simpático, sempre conversamos um pouco quando nos encontramos pela prainha daqui – e como sempre acontece, ele caminhando e eu tentando fisgar algum peixinho incauto sob a passarela da marina do bairro. Outro dia, justamente quando ele chegava, eu tinha acabado de pescar um badejinho (peixe comum por aqui) e me preparava para tirar o peixinho do anzol e soltá-lo, quando este, num safanão, se libertou sozinho e caiu na água. O Frode riu e comentou no seu sotaque característico: - “Eh, fugiu... non vai pensar que eu fiz olho gordo no seu peixe...” - “Ora...” – comentei – “ vai me dizer que você acredita nessas coisas?” - “Non, non acredito, mas... sabe como é? Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay...”, filosofou ele. Nesse momento, chegou um conhecido do Frode que, após cumprimentos e apresentações, veio com essa: - “Ah, tem muita gente invejosa que tem um olho “mardito”, se tem... Lembro de um vizinho cujo olhar secava até pimenteira! Quando eu comprei um carro novo o sujeito ficava todo dia me espiando pra ver se eu esbarrava o carro ao sair da garagem... Não deu outra. Um dia, aconteceu. Olho gordo é f.... !” Eu, como um bom cético, não sou chegado a superstições e crendices. Ri só comigo: “esse cara arrumou uma desculpa para justificar a barbeiragem...”. Mas pelo jeito muita gente acredita na “força maligna” ou na “energia negativa” do olhar dos invejosos – ou seja, o famoso “Olho Gordo”. Várias pessoas com as quais conversei, num tom de brincadeira, sobre esse “poder” que um invejoso teria para azarar a vida de suas “vítimas”, foram categóricas em afirmar que “sim, olho gordo existe sim!” Uma das com quem conversei citou mais um exemplo: - “A mulher de um amigo de meu marido elogiou tanto uma louça antiga que eu tinha, que era isso, que era aquilo, que não sei quê... Pois claro que no dia seguinte quebrei a peça, ao limpá-la! Deu uma raiva...” Bem, sei da força de um olhar fuzilante de mãe quando um filho ou filha fez ou vai fazer alguma coisa que não deveria (acho que todos sabemos). Mas paro por aí. No creo en brujas, mismo. E também sei que não adianta reclamar de invejosos. Se você está feliz com suas conquistas, simplesmente ignore-os. Eu nunca “senti” um olho gordo de alguma pessoa, que eu me lembre. Ah, sim, também nunca “olhei gordo” para alguma posse de alguém. ☺ E você, tem visto muito “olho gordo” por aí?

Nov/14

Page 19: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

19

Empata F O cara do jet-sky tinha que passar bem à nossa frente. Claro, que graça tem para um paulistano arrogante andar de moto-aquática numa praia de São Sebastião e não sacanear os que estão na praia brincando de pegar peixinhos? Então, ele tinha que ficar passando com aquela p*** bem à nossa frente, a 10 m da areia, fazendo um barulhão e muita onda. E o cara ia e vinha. Atrapalhou tudo. O Fernando japonês, que estava pescando comigo, xingou e esbravejou (e eu ajudei): - “Filho da p**aaaaaaaaa!! Vai empatar a pescaria do ** da mãe!!” Depois, mais calmos, falamos dos “empata-foda” – que tratarei aqui como EF, para facilitar - aqueles que sempre chegam numa hora imprópria ou fazem coisas que vão atrapalhar o que estamos fazendo ou pretendendo fazer. Aí, de cara, lembramos dos filhos. Quem nunca, na hora do bem-bom, foi interrompido por um “paiêêê (ou manhêêê), cadê vocêêê? Porque tá trancado aííí?”. Mas... filhos fazem parte da nossa vida. O que não faz parte da vida de ninguém são os que chegam e atrapalham pra valer. Vai vendo: Um primo de uma antiga namorada do Fernando não largava do pé da moça. Aparecia de repente e ficava “segurando vela” em qualquer lugar que estivessem. Era um grandessíssimo EF. Só parou quando o japonês ameaçou dar uns petelecos nele, conforme me disse. Outros EF podem ser as amigas da sua mulher... ou os seus amigos, não sejamos machistas demais. Já pensou sua mulher toda animada com o jantar que ia fazer pra vocês dois, quando aquele seu amigo chega todo eufórico com dois ingressos na mão para ver o jogo do seu time nessa noite... e leva você? Tem também aqueles de quem você até não gosta muito, chegam sem ser convidados e atrapalham a sua noite, alguns amigos que não percebem que está na hora de ir embora, aquele outro que toda vez bebe demais e dá trabalho, o vizinho que nunca deixa você dormir até tarde no final de semana... ou o filho de seu amigo que não pode ver você pescar que já vem encher o saco. Putz... tem EF de tudo quanto é jeito! Mas, segundo o japonês, isso tudo é EF genérico! Os legítimos EF são mesmo de um tipo só: os cunhados. Quer coisa pior que o irmão mais moço de sua namorada que sempre chega quando... pois é.... EF verdadeiro! Bem... EF genérico ou não, não dou sorte de escapar quando meu vizinho coronel me pega para ouvir suas longas diatribes e mantras contra o governo justamente quando estou vendo um bom jogo de futebol na TV, aos domingos (lembrei da propaganda da Fiat: “Fazer o quê? Ele é muito sem-noção mas é meu amigo...”). ☺ E você, tem muitos EF na sua vida?

Dez/14

Page 20: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

20

Ciumeiras Quinta-feira de tarde, estávamos no Maré-Mansa verificando o sabor de uma cerveja (novidade, você diria...) quando o sujeito que estava passeando com um cachorrinho parou numa mesa próxima à nossa, do lado de fora, para conversar com alguém. Nisso, chega um outro cara - pelo jeito conhecido dos dois que já conversavam – com um cachorro um pouco maior. O que chegou, enquanto falava, começou a brincar com o cachorrinho do amigo que, todo serelepe, deitou e ficou de barriga para cima. Aí o cachorrinho maior ficou todo agitado e até choramingou, procurando chamar a atenção do dono. – “Ele tem ciúmes mesmo... eu não posso brincar com nenhum outro bicho...”, riu o dono. Se alguém pensa que ciúme é coisa apenas de humanos está enganado. Quem tem um cãozinho ou um gato sabe muito bem que animais de estimação podem ser extremamente ciumentos, tanto em relação a seus donos quanto a seus espaços. A ciumeira é mesmo biológica, conforme diversos estudos demonstram (veja “ciúme biológico” no Goooooooogle). Mas os casos mais complicados são mesmo com os humanos. Na primeira definição do Aurélio, ciúme é um “sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade fazem nascer em alguém”. Outra definição seria “o sentimento de reação a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa”. Bem, entendo eu que, em maior ou menor grau, todo mundo sente ciúmes de alguém ou de alguma coisa em alguns momentos da vida. Como sabemos, o ciúme mais triste, que pode ser perigoso e muitas vezes patético, é o ciúme de cônjuge, ciúme “de amor”. Quem não sabe de algum caso envolvendo grosserias, agressões e muita baixaria envolvendo gente famosa e ciumenta? Eu me lembro de um colega de trabalho que sofria muito com o ciúme doentio da mulher (injustificado, o cara era um santo), pagando micos inimagináveis. Dizem que um pouco de ciúme faz bem para um relacionamento, mas... será? Então, tirando casos doentios, existem ciúmes “normais” para todos os gostos, como ciúmes do pai ou da mãe - quando um irmão acha que o outro é o “preferido”; ciúme de amigas - quando a amiga “presta mais atenção” em outra amiga - ciúmes de um professor/professora, quando estes “explicam mais” para outro aluno; ciúmes de objetos de uso comum (carros e motos, por exemplo)... Tem até ciúmes (com inveja) de quem ganhou alguma coisa de alguém “especial”. Putz... é muita ciumeira por aí. Aposto que veio à sua lembrança um montão de exemplos. Mas... e você, tem muitos ciúmes? ☺

Dez/14

Page 21: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

21

Curiosos A curiosidade é uma das molas-mestras do conhecimento. Perguntas como “o que é isso?” ou “como isso funciona?” ou ainda “o que tem além disso?” e outros questionamentos fazem a ciência e a tecnologia descobrir, inventar e desenvolver novos caminhos para a humanidade. A curiosidade é uma característica do instinto animal que provoca a exploração, a investigação e o aprendizado. Mas... ... mas quando ultrapassa os limites da educação e do bom-senso... aparecem os xeretas, os intrometidos, os “bicões”, como se falava antigamente. Aliás, falando de antigamente, quando eu era moleque dizia-se para os xeretas que apareciam para “vazar logo” porque ali “se comia c* de curioso” (os mais velhos devem se lembra dessa...). Já comentei aqui, de outras vezes, sobre o filho pré-adolescente de um conhecido que não pode me ver pescar que quer ficar fuçando as minhas tralhas de pesca. “Deixa eu ver, tio?”, “já usou essa isca aqui, tio?”, “o que tem dentro dessa caixinha, tio?”. E por aí vai. Diz meu amigo João que esse menino é até simpático e que curiosa mesmo é a vizinha dele, que fica “de butuca” na janela dos fundos o tempo todo, procurando ver o que ele está fazendo. E pior, segundo ele, é quando a curiosa chega e fica parada olhando, enquanto ele faz alguma coisa. Só olhando, sem falar nada. O João diz que acaba rindo. Concordo totalmente. Chega a ser irritante a invasão dos curiosos, olha só: você no seu computador, escrevendo e lendo seus e-mails ou sua página no FB ou no Twitter, ou ainda lendo um jornal ou uma revista... e tá alguém atrás de seu ombro, insistindo em ver o que você está vendo. Tive um colega de trabalho assim, curioso (e pão-duro), que nunca comprava um jornal, mas queria ficar lendo o seu junto com você. Você já passou por isso? Outra: você compra um presente para impressionar aquela moça que trabalha no Financeiro e que você está azarando, quando a colega dela – curiosa pra danar - quer porque quer saber o que você comprou... e você sabe que ela vai acabar contando e estragando a surpresa. Azar o seu... __________________________ Bem, creio eu que todos nós podemos ter eventualmente um “momento-xereta”, mas eu cuido de nunca “meter o nariz onde não sou chamado”, como diria minha mãe. Afinal, como diz o ditado, “a curiosidade matou o gato”. Mas... e você, sofre muito com alguns curiosos ou leva na brincadeira?

Dez/14

Page 22: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

22

Troféus Fim de ano é complicado. Para uns, festa – oba!! Para outros... bem, digamos que alguns não ligam. Então, enquanto não chega a hora de comer e beber mais um montão, eu fico inventando o que fazer para passar logo o tempo e enrolar meu tédio. Antes que você possa me chamar de mal-humorado, vou logo esclarecer que meu final de ano está associado a um sacocheismo e sem-gracismo sem igual em relação a tudo o que acontece até acabar o carnaval... mas nem por isso vamos deixar de tirar sarro das coisas. Meu amigo Celso, de Lorena, sempre criava “troféus” específicos para fazer graça com o que ele chamava de “o meu mais completo inconformismo ante ao que assola o bom gosto, o bom senso, a criatividade e a estética, nestes nossos tempos tão imediatistas e consumistas”. Dentro deste meu espírito natalino de porco, seguem alguns: Troféu “Sabe-de-nada, inocente”: vai para a propaganda do creme que mostra a moça bonitinha-mas-sem-graça toda feliz porque tá com a bundinha durinha. Tá na cara (ou na bundinha?) que os autores não viram a propaganda da cerveja que festeja a chegada do Verão... ou seja, aquela cavala lindaça chamada de D. Vera. Convenhamos, aquilo sim é que é bun... oooops, cerveja. Aliás... fica o desafio: qual é mesmo a marca da cerveja dessa propaganda? Troféu “Tirem-essa-p-do-ar”: vai para o “Zorra Total”. Ou para o programa da F. Bernardes. Ou o da R. Casé! Sei lá, você escolhe. Troféu “Pé no saco”: Esse é especial para futebolistas, mas deu empate. Dividem a premiação os “inteligentes” ufanismos da narração do Galvão Bueno e os “isentos e inteligentes” achismos dos comentários do craque (?) Neto. Troféu “Maior mentira enganosa”: vai para aquela propaganda de creme para rejuvenescimento de pele feito com – imagine! - “veneno de cobra”, mostrando aquelas fotos de mulheres horrorosas tipo “antes-e-depois”. Terrível, não só contra os insetos. Putz...será possível que tem gente que compra aquilo mesmo? Troféu “Ninguém vai preso?”: Esse é um troféu dos mais importantes do calendário brasileiro. Nunca vai terminar. Vai para um monte de pastores e seus programas “religiosos”, que mostram ser possível fazer milagres impossíveis, pedindo dinheiro descaradamente aos seus seguidores idio... oops... fiéis. Mostram o número da conta e do banco, sorriem sorrisos inocentes e... vida que segue! ______________________________________________ Bom... esses são só alguns exemplos. E você, distribuiria mais troféus por aí? ☺

Dez/14

Page 23: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

23

Programa de Índio Era quase meio-dia e estávamos na esquina do Maré-Mansa, degustando uma geladinha e vendo o movimento da avenida, quando um amigo nosso aqui do bairro – de quem não lembro o nome – acenou para os ocupantes de um carro com pranchas de surfe no teto que, junto com trocentos outros, enfrentava uma fila imensa, andando e parando, mais parando que andando, para atravessar a cidade de São Sebastião e seguir em direção às praias mais badaladas do litoral norte de São Paulo (que, como foi exaustivamente noticiado, tiveram o acesso interrompido e atrapalhado por barreiras na estrada). A temperatura era de 32 graus, como vimos, mas a sensação térmica devia ser acima dos 50, para quem estava dentro de um veículo praticamente parado ao sol, a essa hora. - “Algum conhecido?”, perguntei. - “Não – respondeu o que acenara – tô só tirando um sarro do programa de índio que esses caras tão fazendo. Levar mais de 6 horas dentro de um carro para ir a uma praia... só rindo!” - “Ah, mas tem hora que não tem jeito, quando você vê... já era. Você já está na situação...” – retrucou outro companheiro que também estava ali. Então, eu não lembro de onde surgiu essa coisa de “programa de índio”, mas todo mundo sabe o que significa. Aí eu lembrei de algumas roubadas onde me vi envolvido - aquelas situações em que você fala pra si mesmo “putz... o que é que eu tô fazendo aqui?” – ou seja, verdadeiros “programas de índio”... e que os índios me desculpem. Pois é... teve aquela vez em que, para esperar o show de uma banda “Beatles cover” que parecia legal, acabei ouvindo por mais de 1 hora um mix de gente não tão legal, incluindo uma dupla sertaneja e uma cantorazinha gospel desafinada (putz... qué que eu tava fazendo lá???). Não esperei, fui embora. Outra: certa ocasião, há muuuuuito tempo atrás, eu deixei de ligar para uma moça bonita - “amanhã eu ligo”, eu me disse - para ir a um bailinho onde “haveria muita mulher”, segundo o amigo mui amigo que me convenceu a ir. Pois não só não havia muita mulher, como também não havia bebida nem comida. O tal bailinho foi um fiasco... e meu amigo e eu lá, com caras de bobo, fazendo sala para um monte de velhinhos e velhinhas simpáticas. Ê mundão!! Mas... aposto que você deve ter um monte de lembranças dos “programas de índio” que já fez. Ou vai dizer que não?

Jan15

Page 24: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

24

Micos Semana passada falamos dos “programas de índio” em que às vezes nos metemos e nos deixam sem graça. Mas acabei me lembrando de outra situação que nos deixa pior: pagar um belo dum mico! Eu não sei a origem da coisa, mas lembro de que, quando eu era moleque, existia um baralhinho com figuras de animais, em pares (boizinho e vaquinha, girafinho e girafinha, galinho e galinha, essas coisas), onde o jogo consistia em ir comprando e descartando as cartas entre os participantes até formar os pares certos. Assim, quem perdia era aquele que ficava com a carta do mico, que não tinha par. Ou seja, quem ficava com o mico... pagava o pato (desculpem). Alguém aí se lembra desse baralho? Então, “pagar o mico” passou a significar aquela situação (vexame, vergonha...) em que você pagaria – de verdade - o valor de um monte de macaquinhos para não acontecer com você, não é? Vejamos (aconteceu com um amigo, de verdade): Festa de final de ano da siderúrgica V (quem trabalhou comigo nessa empresa lembra dessa). Todo mundo engravatado, mulheres com vestidos caprichados, alegria, gerentes discursando, palmas, bebidas, mais alegria. Depois, jantar - claro. E mais bebidas. Orquestra muito boa, clássicos dançantes, os casados com suas esposas, os solteiros fazendo graça com as moças... menos o Zóio (apelido fictício, você não quer que eu ponha o nome do cara aqui, né?), que achou de passar mal justamente quando estava dançando com... a filha do diretor. Acredite. Passou mal de vomitar no salão. Claro, ficou uns três dias sem aparecer na empresa... já imaginou a gozação? Esse foi o maior mico que eu já vi na minha vida! Outra: Eu e mais dois colegas de faculdade estávamos fazendo uma visita à tia de um deles, que estava se recuperando de uma doença mais séria. Ambiente formal, a tia deitada numa poltrona, parentes em volta e tals. É servido um café com biscoitos e em seguida doce de pêssego. Um dos colegas era o desastre em pessoa e – claro – não deu outra: ao se servir de doce, derramou seu café no colo do tio (ou primo, sei lá) da mulher e, para piorar a situação, ao tentar ajudar se atrapalhou mais ainda e derrubou a compoteira com todo o doce no carpete. O coitado não sabia onde enfiar a cara... e nem nós. Que mico!! Mas vi outras mais “leves” (é, pode rir) - como a vergonha do cara que precisou tirar o sapato e a meia tava toda rasgada – e vi outras mais ridículas, como a do ministro que teve de desdizer o que disse (isso é coisa antiga, viu?). Eu? Ora, eu sou normal. Então... sim, sim, já paguei alguns miquinhos na vida... mas não vou contar aqui, não. E você? Colecionou muitos macaquinhos?

Jan15

Page 25: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

25

Gambiarras Era um fusca que um dia tinha sido azul. Estava amassadão e enferrujado, aparentemente abandonado na pracinha da minha rua. Enquanto eu filosofava sobre o carrinho todo ferrado e a bela aparência de umas moças que passavam em direção à praia, chegam dois sujeitos e começam a olhar o tal fusca. Um deles, aparentemente o dono, abriu a tampa do motor para que o outro começasse a olhar e mexer. Alicate aqui, chave de fenda ali, eu só observando. Logo, a um sinal do cara que mexia no motor, o outro deu partida uma, duas, três vezes. Na quarta tentativa, o motor pegou (imagine um fusca barulhento. É isso). Após algumas aceleradas e muita fumaça, os dois pegaram o carro e foram embora. A gambiarra funcionou. O Aurélio não mostra – sei lá por que - mas o significado popular da palavra “gambiarra” que vem à nossa mente é algo como “improviso”, “quebra-galho” e, na maior parte, “coisa mal feita”. Lembrei-me de um amigo, para o qual “não existe ninguém, em lugar nenhum, que não faça alguma gambiarra em algum momento”. Olha o que existe por aí (você já deve ter visto alguma...): - Tampa do motor ou do porta-malas de carro amarrado com arame; - Usar ferro de passar roupa para fritar ovo ou fazer “pão na chapa”; - Duas escadas (de madeira) pregadas uma na outra para aumentar o alcance; - Usar pregos ou parafusos para prender as tiras de sandálias havaianas; - Utilizar ratoeira (é, daquelas de molas) como prendedor de papel. - ................. Mas existem piores, vai vendo: - Gambiarras no governo federal: acordos políticos (impensáveis com o PT e o PSDB de antigamente) e “amizades’ com antigos inimigos; - Gambiarras em governos estaduais: projetos complementares meia-bomba eleitoreiros nunca levados a efeito para o abastecimento de água nos sistemas paulista e fluminense; - Gambiarras de prefeituras: maquiagem demagógica no asfaltamento de ruas, na coleta de lixo, no preço das passagens de ônibus urbanos, nos sistemas de esgotos e em outras obras que possam ser “empurradas com a barriga”; - Gambiarra no futebol político: o refinanciamento de dívidas escondido numa Medida Provisória para a modernização dos clubes (foi vetado pela presidência essa semana). Tem muito mais, o país todo parece viver, culturalmente, de gambiarras... mas paro aqui. Você tem algum exemplo de gambiarra para compartilhar? ☺

Jan15

Page 26: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

26

Grifes Vi uma turma de moleques, na Rua da Praia, num “rolezinho” à beira-mar. Todos usando tênis novos, coloridos, bacanas mesmo. Pois é, a molecada sempre usou e continua usando tênis. Mas hoje... nada de bamba ou quichute, como nossos pais compravam. Tem de ser no mínimo um rainha, um olimpicus ou um alstar, mesmo dos mais simples. Mas o ideal é que seja um naique, um mizuno, um riboque ou um adidas daqueles bem legais. Ah, claro, não é só a molecada, né? Todo o mundo quer um tênis “de marca”. Então, olhando de perto, hoje em dia TUDO é marca, de carros a eletrodomésticos, passando por comida, roupas e o que for. Mas é na moda que é mais f***: chegam as GRIFES. Ora, muito bem, eu não sabia – mas agora sei – que uma “grife” é o nome comercial da marca ou linha de produtos usada junto ao nome de seu estilista. Pronto! Coisas do mundo da moda! O termo “grife” é originário do francês “graphie” – grafia, em português. A ideia foi garantir a um produto uma altíssima qualidade, já que as peças seriam obtidas através do perfeccionismo de um trabalho manual. Assim, uma grife é sempre associada à sofisticação e ao luxo. Bem... sofisticação e luxo? Na verdade, não é bem assim, depois da “popularização” de grifes através de falsificações “mais em conta” nem sempre bem feitas. Ninguém sabe, à primeira vista, o que é original ou uma cópia. Roupas, perfumes, bolsas, maquiagem, acessórios... Só quem compra sabe o preço. Coisas do Brasil. Mas a graça da coisa está nos nomes estranhos (muita gente tem dificuldades com nomes e palavras estrangeiras, né?). Sei que muita gente pronuncia errado o nome de alguns “estilistas”, principalmente os franceses. Alguns são fáceis, mas outros nem tanto. Quer fazer um teste? Separei alguns nomes ao acaso. Leia. A pronúncia correta está no final. Vamos lá: Azzaro, Dolce&Gabbana, Gucci, Louis Vuitton, Sephora, Louboutin, Yves Saint Laurent, Gaultier, Lacroix, Hermés, Zegna, Eau de Toilette Givenchy, Eau de Parfum Lolita Lempicka, Cacharel, Lanvin, Ghesquière. Antes das respostas, cuidado: você pode se enganar, do mesmo modo de quem lê a marca “LEVI´S” ( é, a da calça mesmo) como “LÉVIS”. A pronúncia correta é LIVAIS. Te peguei? _________________________________ Pronúncias: Azarrô, Doltchê e Gabana, Gutchi, Luí Viton, Seforrá, Lubutã (horrível...), Iv sanlorrã, Gotiê, Lacruá, Êrmés, Zenha, Ô de Toaléte Givanchí, Ô de Parfam Lolita Lempicka (confesse: você riu desse nome), Cacharréu, Lanvan, Gesquiérre. E aí, acertou todas?

Fev15

Page 27: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

27

Trocadalhos Os dois velhinhos tomavam cerveja e observavam o mundo, com paciência e humor, daquele jeito tranquilo que só os bem vividos conseguem ter. Um deles, com um sorriso bem sacana (no bom sentido), falou para o outro enquanto observava com atenção a bela morena que passava ao lado: - “É... tô com fome. Aqui tem comida a quilo? Eu bem queria comer a quilo...” Bastou para alguns sabidos sorrirem da malícia do véio. E bastou também para outros sabidos começarem a lembrar de trocadilhos (ou “calembur”) – que, conforme eu aprendi, é uma “paranomásia”, figura de estilo onde se usa palavras semelhantes para fazer graça. Mas a maioria é sem graça mesmo, daí a troca de palavras formando o conhecido jargão “trocadalho do carilho” (que me abstenho de explicar aqui porque todo mundo sabe o que é. Você não?). Então, sem levar em conta os trocadalhos mais bobos (aqueles com o nome de pessoas, tipo “Eu uso machado e o José, serra”) e outros mais grosseiros ( “se eu cozinho, não lavo”), guardei alguns que os amigos foram lembrando: - “Cara... A polícia não vai colher suas digitais. É impressão sua”. - “Esse negócio de piercing? Maior furada...” - “Moça, meu quarto não é cozinha, mas se você entrar... sai comida.” - “Tô mais perdido que consoante em música de axé...”. - “Nada contra as putas. O problema são os filhos delas”. Alguns são difíceis de entender (a malandragem está na forma de falar), como um dos melhores que eu já ouvi, dito bem pausadamente, com olhar malicioso: - “Que Deus me defenda de mulheres...” Outras que rolaram: - “A atuação dos nossos parlamentares é pra lamentar”. - “Dormia em cima de uma balança para ter o sono pesado”. - “Barco é multado ao transportar laranjas no rio Solimões”. .- “Ela colocou GPS no carro e agora tá se achando...” - “Ela faz crochê para garantir a renda”. Nos finalmentes, eu lembrei de uma das difíceis (acho que é do meu amigo Jose Ouverney): a do cara que tinha medo de ter uma decepção ao amar determinada mulher e, ao comentar isso com um colega, este lhe avisou: -“É... ela? Capaz... decepção”. ☺ E você, tem algum trocadalho aí para compartilhar?

Fev15 Mentiras

Page 28: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

28

Falávamos de peixes grandes e de aventuras em mar alto. Aí, a gozação com os considerados mentirosos começou (é, eu sei que todo o mundo acha que um bom pescador, nem que seja lááá no fundo, sempre conta algumas mentirazinhas. E se não inventa, aumenta). Então, todos rimos e duvidamos das enchovas de 5 kg e do cação de 10 kg do japonês, além do robalão de 17 kg do Benê (até ele mostrar a foto e calar a boca de todo mundo). Evidentemente, há mentiras e mentiras. Meu amigo João dos Correios diz que existem as “mentiras piedosas” – aquelas em que se esconde de alguém a real situação de saúde de outro alguém. Ou quando não se responde com sinceridade a uma pergunta tipo “essa roupa está boa?” ou – pior – “estou bonita?” (lembro que aí são mentiras não só piedosas, mas mentiras de segurança... para você). No outro extremo, temos os mentirosos compulsivos, que apresentam um transtorno psicológico caracterizado por dizer mentiras sem benefícios externos aparentes, geralmente restritos a familiares ou amigos. Em casos considerados mais graves podem incluir uma enorme diversidade de assuntos e a própria pessoa tem dificuldade em lembrar o que é verdade e o que é invenção. Você deve conhecer algum, não? Pois então, a distinção entre uma “boa” e uma “má” mentira está nas consequências: uma mentira é grave quando prejudica alguém. Mas, tirando os extremos, todo mundo conta suas mentirinhas – piedosas ou não – para se livrar de uma discussão, de uma visita inoportuna, de um amigo que procura um fiador ou pede algum emprestado e por aí vai. Hoje sabemos que a mentira faz parte das nossas relações pessoais, sociais e profissionais em diversos níveis. Até sorrisos falsos podem ser considerados mentiras... ou um “maió migué” não é mesmo? Segundo alguns espertinhos, uma meia-verdade não é a mesma coisa de uma meia-mentira. Sei lá. Então, é humanamente impossível não mentir em algumas situações... Mas o mais triste mesmo são as três grandes mentiras que assolam os homens em sua gloriosa jornada pela vida, das quais vou dizer duas e deixar a terceira para a imaginação dos que ainda não sabem: 1ª – O trabalho enobrece e dignifica o homem; 2ª. – O dinheiro não traz felicidade; 3ª. – Vou só... E você, o que acha? Daí escapam algumas meias-verdades e meias-mentiras?

Fev15 Segredos

Page 29: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

29

- “Mas como assim não tem segredos? Todo mundo tem segredos!” – nosso filósofo amigo João riu, frente ao dito por nosso também amigo Ditinho. E o João continuou: - “Pode ser um segredinho daqueles mixurucas, que nem faz a vovó corar, ou um daqueles tenebrosos que dá medo só em lembrar... mas que todo mundo tem, TEM!”. Ninguém contestou. Aí alguém botou mais lenha na fogueira: - “Vocês já pensaram? Quem quer saber de segredinhos menores do povo? A graça da coisa tá é em saber segredos cabeludos de gente importante...” - “Eu queria saber mesmo alguns segredos da Dilma, do Lula...” – riu o João - “Do Renan! Do Bolsonaro! Do Aécio!” – fez coro um camarada que tava ali. - “Ah, de político tô de saco cheio, depois dessas manifestações todas” – disse outro. “Eu queria mesmo é saber segredos de artistas, de empresários... de pastores evangélicos, de religiosos! Devem ter cada segredão...”. - “É mesmo” – o João gostou – “Deve ter um monte de sacanagens! Nooossa!! Todo mundo falando ao mesmo tempo: - “Já pensou os segredaços do Felizanus? do Malacheia? do Edir Maiscedo?”. O João, muito sacana, fez blague: - “Mas aposto que tem segredos que vocês não vão querer saber...” - “Quais, ora essa?” – perguntou um inocente. - “Os da sua própria mulher, doutor!” – fulminou o João, para risos da galera. Na saída, o João ainda brincou: “Ei, Ditinho, viu quem acabou de passar ali na esquina? Aquele seu segredo que você falou que não tinha! Tá cada dia mais bonita, a danada...”. _________________________________________ Pois é, todo mundo tem segredos. Dizem que as mulheres têm quatro grandes segredos que os homens nunca vão saber. E que cada homem tem pelo menos um segredo que atende por um nome de mulher (ou não, vai saber...). Eu? Sim, claro, eu tenho alguns, mas daqueles mixurucas, sem graça. E você, guarda muitos?

Mar15 Retrocessos

Page 30: LUIZ MASCARANHA - rl.art.br · Gosto também de frases do Luis Fernando Veríssimo, como estas: ... é a desilusão de um quase.” - “Os tristes acham que o vento geme; os alegres

30

Conversávamos outro dia sobre os acontecimentos que assolam o nosso país atualmente além dos protestos políticos e de bandalheiras petrolíferas. Nosso experiente amigo Britto chamava a atenção dos mais jovens, lembrando que “nada disso é novidade, que corrupção no governo e farra com as verbas públicas existe desde que existem governo e verbas públicas”. E completou: “hoje, todos podemos protestar. Antes, protesto era coisa de estudante ou de grevista, “tudo comunista” – e os conservadores eram contra qualquer tipo de manifestação. Mas vamos protestar, sim!, se a coisa tá ruim!” Mas – aí o meu ponto - de carona com os protestos, o que tem chamado minha atenção - e a de outros que, como eu, cultivam o pensamento racional e sem preconceitos - é o atual crescimento de ideias e atitudes medievais ressuscitadas por um conservadorismo distorcido, que acaba tendo espaço na mídia social e política que assusta pelo absurdo nível de desinformação, ignorância e alienação que traz. Muita gente – mas muita gente mesmo – concorda com muitas falsas premissas que estão por aí, talvez por não ter tido a informação correta ou por ser levado por algum grupo. Veja só alguns exemplos de negação da ciência e do bom senso: - Não existe aquecimento global; - Vacinação pode causar males como o autismo; - Não existe evolução biológica, “não viemos do macaco” (sic); - O planeta Terra ter mais de 4 bilhões de anos é uma grande mentira; - Alimentos transgênicos fazem muito mal à saúde; - Durante a 2ª. Guerra, nunca existiu um Holocausto. Mas – pior - na sequencia, recrudescem preconceitos, com o ódio e a intolerância que ainda estão na sociedade alimentados por pastores e políticos “evangélicos” (como o atual presidente da câmara dos deputados e o asqueroso deputado que foi - que cruel ironia - presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, o tal que disse que a morte de John Lennon foi um castigo de Deus), além dos neonazistas. Para eles, em nome da “família brasileira”, homofobia e racismo continuam na pauta: “Homossexualismo (sic) é abominação e como tal deve ser combatido; casamento e adoção de filhos por casais homossexuais dá nojo, é doença. Gays devem ser internados e tratados para se curar. Negros são seres inferiores, pois trazem a “maldição de Cam, o filho de Noé” (se pudessem, pregariam a “eliminação da sujeira”, como já ouvi). Precisa mais? ________________________________________________________ Então, estamos em pleno século 21... ou estamos em retrocesso para a Idade Média, como parece que querem?

Mar15

F I M +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++