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1 LUIZ MASCARANHA OLHARES DE SÃO SEBÁ VOLUME III

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LUIZMASCARANHA

OLHARES

DE

SÃO SEBÁ

VOLUME III

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OLHARES DE SÃO SEBÁ Volume III

Crônicas

Capa: Arco-Íris, Rua da Praia (Facebook, “Curta São Sebá”)

Aos meus filhos

À minha mulher

Aos meus amigos

A todos que gostam de letras.

Primum vivere, deinde philosophari

© Luiz Carlos Correard Pereira _______________________________________________________________

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ÍNDICE

Introdução ........................................................................................ 04

Atrasos e atrasados ......................................................................... 05

Ruim de jogo .................................................................................... 06

Murphy ............................................................................................. 07

Quânticos ......................................................................................... 08

Mitos ................................................................................................. 09

Rituais .............................................................................................. 10

Poses ............................................................................................... 11

Cheiros ............................................................................................. 12

Paraísos ............................................................................................ 13

Máscaras ........................................................................................... 14

Ídolos ................................................................................................. 15

Nomes ............................................................................................... 16

Sósias ................................................................................................ 17

Conversa de Pescador ...................................................................... 18

Antropomorfismos .............................................................................. 19

Futilidades .......................................................................................... 20

Vilões alimentícios .............................................................................. 21

Que país é esse? ................................................................................ 22

Babaquices ......................................................................................... 23

Conhecidos ........................................................................................ 24

Terroristas .......................................................................................... 25

Teimosias ........................................................................................... 26

Canções ............................................................................................. 27

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Introdução Chego ao Terceiro Volume das coletâneas dos meus escritos semanais, quase três anos após a publicação da primeira crônica. Essas letras continuam a ser, para mim, um misto de brincadeira, de aprendizado e de disciplina, onde procuro divertir-me e divertir os que me leem, sem maiores preocupações literárias ou de estilos. Quase me considerando um “veterano” nesse tipo de linhas, (claro, depois de ler muitas e muitas), entendo agora perfeitamente as dificuldades, que todos os cronistas relatam, em definir um assunto-objeto e a “desenhar” mentalmente a linha central da crônica, de forma a satisfazer – pelo menos um pouquinho - o mais crítico dos críticos: nós mesmos. Assim, escolhendo as que mais mantiveram o “meu jeitão”, pretendo continuar a curtir e agradar meus velhos e novos amigos de infância, de juventude, de plenitude e de maturidade – os que encontrei, os que reencontrei e os que encontrarei. ___________________________________

Essas crônicas foram escritas entre Abril e Dezembro de 2015, originalmente postadas na rede social Facebook semanalmente, às sextas-feiras (onde espero ainda continuar postando enquanto consiga). São relatos de pensamentos, ideias, pessoas reais e imaginárias, hábitos e observações, parte do dia-a-dia de quem tempo para admirar a beleza intrínseca e implícita das coisas (é, as belezas explícitas também) e para indignar-se com um mundão de outras coisas que assolam o nosso mundo. Evidentemente, refletem muito do momento político-social em que foram escritos.

São Sebastião, Setembro de 2016 __________________________________________ São Sebastião é um município do litoral norte do Estado de São Paulo, sendo a cidade mais antiga (fundada em 1636). Tem população na ordem de 70.000 habitantes (2010), numa área de 400 km², fazendo divisa com os municípios de Caraguatatuba, ao Norte, e Bertioga, ao Sul. É a porta de entrada para o município de Ilhabela, que é acessada através de balsas. O porto de São Sebastião é um terminal de cargas administrado pela Petrobras. Recebe petróleo por navios e abastece quatro refinarias de São Paulo através de oleodutos. Para saber mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Sebasti%C3%A3o_(S%C3%A3o_Paulo)

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Atrasos e atrasados Enquanto expressávamos opiniões sobre as cervejas que estavam na nossa mesa e sobre as belas passantes que não estavam, nosso amigo João acenou para um conhecido que estava por ali e comentou, em surdina: - Esse cara é gente boa, mas... é daqueles que sempre chega atrasado. Se você depender dele em qualquer coisa que tenha prazo... já era. Bem, não quero falar aqui dos atrasos aos quais estamos sujeitos ao longo da vida, como horário de aviões, de ônibus ou outras similaridades. Eu me refiro a pessoas mesmo, como esse conhecido do João. Interessante, isso. Eu tive um colega de faculdade, o “Percega” (sim, é apelido), que sempre chegava atrasado a qualquer compromisso que tivesse – isso, quando chegava. Não tinha jeito. Perdia a hora para tudo, nunca estava a tempo. Perdia ônibus, perdia aulas... e não, não era por não acordar cedo. Simplesmente não chegava na hora certa, fosse manhã, tarde ou noite. Sei lá porque. Por gozação, definiu-se “percega” como unidade de atraso. Assim, quando ele ou qualquer um chegava atrasado numa aula qualquer, lá vinha um “eta... cara, você está com 15 (ou 10, ou 20) percegas de atraso. Vê se toma jeito...”. Rimos muito com os atrasos do sujeito. Mas existem situações em que o atrasado irrita muito os que dependem dele – como a do camarada que sempre atrasava a saída do barco nas pescarias da turma do bairro. Segundo o João, o pessoal ficava muito p da vida, mas todos o aguardavam porque ele era amigo e sempre comprava as iscas. Aconteceu um monte de vezes, ele atrasando e o pessoal bravo, até o dia em que alguém trouxe muita isca e zarparam sem esperar o cara – que sim, ficou muito chateado com os amigos. Para os psicólogos, “pessoas com esse perfil têm muita dificuldade em se organizar, em elaborar prioridades, seguir rotinas e atender compromissos – e costumam ter características mais emocionais e uma percepção do tempo menos racional e objetiva. Geralmente, eles prejudicam mais a si próprio do que aos outros”. Mas, para o João, “pode até ser, mas que tem um monte de malandragem nisso aí, tem. O sacana do Zezinho me deve R$ 100,00 e vive esquecendo de me pagar, faz bem uns três meses. Esquecido... sei. Tá cheio de esquecido por aí.” De qualquer forma, não nos esquecemos de beber nossa gelada nem muito menos de pagar a nossa conta. Mas... e você, chega sempre atrasado ao comparecer em alguma coisa? ☺

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“Ruim de Jogo” Eu não o conheci. Quando cheguei aqui em São Sebá, ele já tinha ido embora de mala e cuia para São Paulo. Mas dizem que o cara era muito difícil. Parece que tinha um prazer sádico em dizer “não” – ou, pior, tinha uma má vontade imensa que não disfarçava para fazer qualquer coisa que não conseguisse evitar. Lembraram-se dele porque o nosso amigo japonês estava com preguiça de ir à própria casa (fica pertinho, aqui no bairro mesmo) buscar umas malas com roupas que a mulher tinha separado para doação, e ficava arrumando desculpas para não ir. A cerveja vai esquentar...- dizia ele. - Pô, Japonês, rapidinho, duas viagens e você tá livre... – O outro amigo brincou – “porque essa cara de bravo? Parece o fulano de tal, que tinha cara feia pra tudo.... Bastou. Todos rimos e o japonês, de boa, foi buscar as malas e tudo ficou bem. Pois então, parece que esse fulano de tal fazia jus à fama. Má vontade era a tônica. Segundo contam, o sujeito era muito “ruim de jogo” e nunca se podia contar com ele para nada, seja dividir a conta do bar sem discutir, dar carona para os que estavam sem carro ou simplesmente ligar para chamar alguém. Falavam que era assim desde moleque e que a mãe dele vivia dando uns tabefes nele – mas não sei se isso é verdade ou só gozação da turma. Bem, aí eu me lembrei de um cara com o qual trabalhei numa área prestadora de serviços. Tinha a fama de ser enjoado e sua primeira resposta era sempre “não”, com uma série de objeções para não fazer o que se pedia - tipo “o sistema tá lento”, “tenho de entregar isso aqui ainda hoje”, “não vai dar tempo”. Sei lá qual era o problema do sujeito, mas o cara era mesmo “ruim de jogo”. Não havia serviço a ser feito sem que o cara reclamasse. Tinha trabalho? “Ah, que m...”. “Demora”. “Cansa”. “Todo dia isso”. “É muita coisa”, “Ai, que saco”... De vez em quando o chefe dele dava-lhe uma prensa para ele procurar ser menos desagradável. Os colegas agradeciam... ao chefe. ______________________________________ O chato é quando você depende de alguns indivíduos desses para obter alguma coisa que você precisa para tocar sua vida e aí – claro – nada vai ser fácil. Mas... e você? Tem encontrado muito “ruim de jogo” por aí?

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Murphy Esse mês tá complicado. Tanta coisa dando errado comigo que, para relaxar, fui brincar de Murphy. Sim, Murphy, aquele das leis, você sabe. Não? Será que existe alguém que não sabe o que é a “Lei de Murphy”? Aquela “se algo pode dar errado, vai dar errado”? Pois é. Eu sempre me perguntei se existe ou existiu realmente um Murphy. O Gooooogle me diz que existiu, sim, e foi um engenheiro americano que criou as tais leis em seu nome para fazer graça com as coisas que davam errado para ele. Mas essa foi comigo: eventualmente, acabam-se as pilhas de controles remotos, não é?. Mas, às 2 da madruga, debaixo de muita chuva, o controle remoto que abriria a porta da garagem da minha casa e da minha felicidade não funcionar nem com reza brava é muita sacanagem, né não? Ou melhor, é ou não é pura Lei de Murphy? Contei essa para meu amigo João, que riu: - “Ih, tem um monte...”. E ficamos lembrando e criando “murphyces”: - Se existe mais de uma fila, a que você está sempre anda mais devagar; - O pão sempre cai com a manteiga para baixo; - Qualquer objeto que caia debaixo da cama sempre ficará fora do alcance das suas mãos; - Todo corpo humano num chuveiro faz tocar o telefone se não houver mais ninguém em casa; - Inteligência tem limite, mas a ignorância não; - Nada é tão ruim que não possa piorar; - Telefones para os quais você disca errado nunca estão ocupados; - Se está escrito "Tamanho Único" não servirá em você; - Sempre tem um móvel na frente da tomada que você precisa usar; - Nada é tão simples que não possa ser mal entendido. - O número de pessoas observando é diretamente proporcional à estupidez da sua ação; - Ninguém nunca presta atenção até você cometer um erro; - Não há melhor momento do que hoje para deixar para amanhã o que você não vai fazer nunca; - A poça d’água será sempre mais funda do que você acha; - Só existem 2 tipos de fita adesiva: a que não gruda e a que não sai; - Só existem 2 tipos de saleiro/açucareiro: o que não sai nada e o que não prende a tampa; Para finalizar: - Só é a favor de um governo quem ganha com ele. __________________________________________ E você, tem alguma “murphyce” para compartilhar? ☺

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“Quânticos” Vi num jornal daqui da região a chamada para uma palestra sobre “CURA QUÂNTICA”. Outra: quase na divisa entre São Sebastião e Caraguatatuba, em um muro alto, tem uma pintura com motivos hindus, bem colorida: “Venha para uma VIDA QUÂNTICA”. Para mim, tudo isso cheira de longe a picaretagem grosseira. Fui pesquisar um pouco (viva o Goooogle) e me deparo com coisas de arrepiar. Uma das que me chamaram a atenção foi uma publicação na Folha de SP, edição de 24/09/2013: “Homem fantasiado de golfinho vende florais com “essências vibracionais” de “golfinhos sutis”. Essas e outras são ofertas da Expoquantum, feira de terapias e produtos da “medicina quântica” que estará...”. Parei por aí. Lembrei do meu amigo João Luís, um dos doidos que gostam e estudam Mecânica Quântica por prazer. Quando trabalhamos na mesma empresa, era conhecido por sua ironia com o uso do termo “quântico” por quem não sabe do que está falando, principalmente na associação com misticismos. Bem, para quem ainda não sabe, a Mecânica Quântica é física. Estuda os sistemas cujas dimensões são próximas ou abaixo da escala atômica – os átomos e suas partículas fundamentais (elétrons, prótons, nêutrons). A teoria é complicada mesmo. Segundo o físico Richard Feynman, “se você acha que entendeu alguma coisa sobre mecânica quântica, então é porque você ainda não entendeu”. O uso místico do termo “quântico” se iniciou lá pelos idos de 1970, quando o físico Fritjof Capra publicou um livro, "O Tao da Física", fazendo um paralelo entre a física quântica e os conhecimentos orientais. Seguiram-se outros livros, outros autores, como os dos hindus Deepak Chopra e Amit Goswami (é... físicos e médicos também gostam de faturar com a credulidade dos outros). Os místicos adoraram. A partir daí, começou a epidemia: seitas “quânticas”, “amores quânticos”, “sexo quântico”, “energia quântica”, “dieta quântica” e até uma incrível “imortalidade quântica” – ou seja, “qualquer-coisa-quântica”. Parece que a vantagem de se juntar o “quântico” como adjetivo a qualquer palavra é dar um ar “científico” à bagaça toda e ter a garantia de que ninguém vai perder tempo em contestar. Incrível, não? Para os céticos, havia começado o Charlatanismo Quântico... ou a Picaretagem Quântica. _________________________________________ Pelo jeitão da coisa, figuras como Einstein, Heisenberg, Planck, Bohr, Schrödinger, Dirac, Pauli, Feynman e outros físicos devem se revirar nos seus túmulos quânticos. Então, por favor, tenha cuidado com sua credulidade quântica, viu? Você pode estar sendo quanticamente enganado. ☺

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Mitos Falávamos de mitos. Como sabemos, mitos são narrativas de acontecimentos transmitidas de geração em geração e considerada verdadeira ou autêntica dentro de um determinado grupo, para explicar fatos e fenômenos da natureza. Claro, também utilizamos o termo para se referir a crendices. Pois então, um sabido logo filosofou: - Todo o mundo tem seus mitos, faz parte da história da humanidade. A mitologia grega até hoje tem influência na nossa cultura... - Sim, isso mesmo - concordou um gozador – temos mitos do nosso folclore, tipo saci, mula-sem-cabeça e outros, mas temos outros que a nossa ignorância ou preconceito não deixa acabar... e que são engraçados. Realmente, não nos damos conta, mas temos muitos e muitos desses mitos associados à nossa falta de informação. Anotei alguns que foram sendo lembrados. Tem gente que não acredita que alguns dos citados abaixo sejam apenas mitos (na dúvida fui ao Goooogle). Quer ver? Seguem alguns exemplos: - Não se pode misturar manga com leite; - Se os desejos da grávida não forem satisfeitos o bebê nasce com problemas; - Cabelo não pode ser lavado todo dia; - Larvas do mosquito transmissor da dengue só vivem em água limpa; - Vegetais perdem seus nutrientes se forem congelados; - Usar limão para temperar carne reduz a gordura; - Deve-se esperar meia hora após comer antes de entrar na água; - Alimentos transgênicos fazem mal à saúde; - Criança que brinca com fogo mija na cama; - ETs nos visitam e até abduzem pessoas; - O aquecimento global é uma farsa; - As profecias de Nostradamus se realizam; - Astrologia é uma ciência; - Toda mulher quer casar de véu e grinalda; - Os librianos (ou geminianos, cancerianos, sagitarianos...) são mais sensíveis; - Cortar cabelos na Lua Nova faz os fios crescerem mais e mais fortes; - O Povo é bom. Político é que não presta; - .......................... Para encerrar: um dos maiores mitos que temos é a imagem europeia de Jesus Cristo criada para atender nossos preconceitos: longos cabelos louros, lisos ou encaracolados, de olhos claros. Pois é... que graça teria um Jesus com cara de realidade? __________________________________________ E você, conhece algum mito que queira citar?

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Rituais Segundo meu norueguês amigo Frode, na Noruega também tem, mas aqui no Brasil tem muito mais. Falamos de rituais. - Non é só religion, Luiz. Non só casamento, nascimento ou morte. Isso tem em todo país. No Brasil é muito muito... complicado... ôlha sô meu vizinho... Quando se pensa em rituais, vem logo à cabeça práticas ligadas a religiões. Mas não é só isso. “Ritual” é um conjunto de gestos, palavras e formalidades com as quais uma sociedade mostra seus valores, com propósitos que podem incluir obrigações religiosas, necessidades emocionais, aceitação social e por aí vai. Na gozação, um ritual é uma sequencia de manias... E o Frode continuou: - Meu vizinho tem umas coisas malucas. Todo dia, antes de entrar no carro, ele bate nos pneus, nos 4 pneus, com uma varinha ou sei lá o que. Toda vez, antes de entrar no carro. Esquisito, non? Outra horra, veste a camisa do time dele ao avesso - que é para dar sorte - e fica se benzendo e rezando para o time ganhar. Muito sem sentido e esquisito! Aí, eu me lembrei também das doideiras que a gente vai vendo ao longo da vida. Alguns são quase um TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), como o camarada, numa república onde morei, que antes de dormir se enrolava totalmente no cobertor, cabeça tampada e tudo. Depois de algum tempinho, tirava o cobertor. Depois repetia tudo, duas ou três vezes. Todo santo dia. Segundo ele, só assim conseguia dormir. Alguns colegas diziam que ele gostava mesmo é de cheirar os próprios peidos. Vai saber... Quando eu cursava o científico, tive uma professora de OSPB (quem lembra disso?), formalíssima, que mantinha um ritualzinho ridículo antes de começar toda aula: ela ditava um título com um pequeno texto - que era assunto da aula - e deveríamos, na ordem, “escrever o título em maiúsculas, sublinhar, pular uma linha, dar um parágrafo e abrir aspas” antes de escrever o texto. Ao final, “não se esqueçam de fechar as aspas”. Exatamente desse jeito. Falava isso em toda aula! Detalhe: estávamos no 2º grau. Mas... dizem que hoje em dia tem até pior: rituais de poder, de força e de sem-vergonhice entre os presidentes do Senado e da Câmara Federal. Sem contar os rituais de alguns generais de pijama. Que coisa... __________________________________________ Eu? Bem... talvez eu mantenha um ou outro ritualzinho malicioso, mas não vou falar aqui, né? E você, tem algum?

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Poses Morador da nossa vizinhança, o cara anda pela praia todo cheio de pose. Peito estufado, óculos escuros, parecendo olhar os outros de cima. É do tipo que, na gíria, chamamos de “empombado” e dá a impressão de que quer impressionar alguém o tempo todo. Meu amigo Ditinho diz que ele é um grande “pastel de vento”: cheio de ar... e totalmente sem conteúdo. Pura pose. Não sei, não tive ainda a oportunidade de conversar com a figura. Ao longo da vida convivi com algumas pessoas com esse jeitão “nariz pra cima” - que pode ser entendido como afetado, metido ou arrogante, mesmo que não sejam. Um desses era um gerente industrial cuja fama o precedeu. Antes da figura vir a trabalhar com a nossa equipe, já sabíamos que era considerado muito “metido” e cheio de pose. E era mesmo, como viemos a verificar. Quem trabalhou comigo nessa empresa sabe disso. ☺ Bem... não falo aqui daqueles que, em determinados momentos da vida - profissionais ou pessoais - traduzem o que sentem em poses orgulhosas e vitoriosas (quem nunca?) ou de pessoas famosas que vivem mesmo cheios de pose. Falo de pessoas comuns que – como o “pastel de vento” citado – apresentam o tempo todo posturas afetadas que acreditam mostrar ao mundo o quanto são fodões. A gíria da molecada on-line de hoje trata um indivíduo desses como “poser” – termo inglês que pode ser entendido como “aquele que tenta ser o que gostaria de ser, mas não é”. Em suma, uma pessoa cheia de caras e bocas, como aquela moça de quem disseram ser “a cara da Britney Spears”... e que age como se fosse a própria. Mas, como estamos cansados de saber, a aparência não é tudo. Um dos mais “empombados” que conheci foi durante meu serviço militar (é... fui soldado, acredite), um cabo do exército mal-encarado, todo metido... só na aparência. Quando o conhecemos melhor, mostrou-se um bom amigo da turma. ____________________________________________ Voltando ao “pastel de vento”, o Ditinho diz que o cara é todo posudo assim porque conseguiu ser nomeado assessor do presidente da câmara de vereadores aqui da cidade. Puxa! É um feito e tanto, caramba, não é mesmo? Assessor! Puxa, que importante! Fico aqui imaginando como seria se ele fosse escolhido de fato como... presidente da câmara federal ou do senado. Seria... seria... hem? O quê? Já existe gente arrogante e posuda nesses cargos? Puxa... não diga!! E você, tem visto por aí muita gente cheia de pose?

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Cheiros Saindo para uma caminhada na praia, bem cedinho, encontro o meu amigo João dos Correios também caminhando. Logo após o “bom dia” que trocamos, ele me vem com essa: - Cara, que mulher cheirosa! Cruzei com ela na calçada, quase que voltei e a segui. Que cheiro bom! – e o João ria daquele jeitão dele. Concordei imediatamente, claro. Cheirosa e bonita, a tal. Todo mundo gosta de mulher cheirosa, até quem não gosta. ☺ Enquanto retomava a caminhada, lembrei-me daquela canção do Geraldo Azevedo (“imagina o desatino, é um cheiro de café ou é só cheiro feminino, é só cheiro de mulher”). Eta. Cheiro bom de mulher, dizem os poetas, é “olor”, sinônimo de aroma, bálsamo, perfume, fragrância – ou seja, cheiro gostoso. Pois então, cheiro bom é aquele que nos agrada, mesmo que não seja unanimidade (sempre haverá quem goste de algum cheiro que você não gosta, né?). Bem, além de mulher cheirosa, não tem como não pensar também em comidas gostosas, com aquele cheirinho no ar nos chamando (churrasco, feijão com caldo grosso, bobó de camarão, bife acebolado!!) ou em doces (bolo de chocolate, banana em calda com canela!) ou ainda num bom café recém coado com pão-de-queijo quentinho. Juntando tudo então... muié, quêjo e cumida - bão dimais,sô!.- como dizem os mineiros. Mas... quando se fala de “cheiro”, nem sempre é tudo uma maravilha. Além dos cheiros bons, temos uma vasta sinonímia para os não tão bons e para os terríveis: bafio, bafo, catinga, cecê, fedentina, fedor, fetidez, futum, fartum, inhaca, miasma, morrinha, odor, podridão, ranço... putz... aposto que você sabe um monte de exemplos, mas não pretendo ficar detalhando mais cacas aqui. __________________________________________ No mesmo dia, de tardezinha, encontro o João num supermercado da cidade: - Você viu, Luiz? O presidente da câmara federal deu um “jeitinho” e aprovou a proposta que inclui na Constituição Federal a doação de empresas privadas a partidos políticos! Caraca! Tudo com o que esse cara faz ou mexe nunca cheira bem! Bem... prefiro falar de cheiros bons. E você, tem aproveitado muitos?

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O Paraiso de cada um Meu vizinho do lado direito é um cara tranquilo, a quem raramente vejo pela manhã. Ótimo, para quem gosta de vizinhos que não façam barulho muito cedo, não é? Sim, conversávamos sobre isso – barulho - e ele tentava me explicar que não era mais um idealista: - Pois é, camarada, eu já fui cheio de ideais nobres, pregando coisas como ‘paz no mundo’, ‘humanidade sem fome, sem violências’, essas coisas. Hoje, sou mais realista, mais prosaico... - Eu também fui assim, acho que todos somos idealistas em algum momento da vida...” – observei. “Todos queremos algum tipo de paraíso... Ele continuou: - É, mas sou egoísta. Meu paraíso seria um mundo sem poluição, sem maldade, sem safados, com um presidente da câmara federal sem arrogância e sem cinismo, sem bandidos, com políticos honestos sejam esquerda ou direita... Difícil, né? Ah, sim, e sem lixo espalhado nas ruas! Eu já ia continuar com mais coisas sérias, mas vi que ele tava mesmo é de gozação. Aí, fomos num crescendo de entonação: Ele: - Cara, sim, eu detesto barulho! Eu sei que você também detesta, então... meu paraíso não teria carros com som alto... Eu: - O meu seria sem motocicleta, sem jet-ski, sem lojas com música alta! Ele: - Sem vizinhança com obras antes das 10 h da manhã!! Eu: - Sem evangélicos me acordando cedo para tentar me converter!!! Ele: - E sem pastores e outros homofóbicos querendo escolher o que posso ou não posso ver, ouvir ou comprar!!! Eu: - Pela existência de uma lavadora de roupas silenciosa!! Ele: - Não ao aspirador de pó barulhento!!! ____________________________________ Brincadeiras à parte, fico pensando nas pessoas cujo paraíso seria apenas um bom lugar para se morar, trabalhar e viver com dignidade... e não tem. Que f....! Afinal, a gente não quer só comida. E você, como seria o seu paraíso?

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Máscaras A tarde já caminhava para o seu final, um friozinho daqueles que eu não gosto nem um pouco já se anunciava, enquanto admirávamos algumas belas manifestações da natureza das quais eu gosto muito e que passavam por ali. Falávamos da prestação de serviços e de lojas da nossa região que, conforme se aprende quando se vive por aqui, deixam muito a desejar no quesito “atendimento”. Pois falta atendimento e sobra máscara, segundo o meu amigo Paulinho: - “Profissionais bons até existem, mas... você acaba se irritando por atrasos e ‘furos’ que os caras cometem. Veja o Antônio, aqui do Bairro. É um excelente marceneiro, mas... é mascarado pra caramba! Se acha o rei da cocada preta, tá “assim” de gente procurando o cara... e ele marca e fura. Não aparece.” Aí o meu ponto: um profissional dito “mascarado” – no sentido de “convencido, metido” – por mais competente que seja tecnicamente, estará sempre aquém do que poderia estar. Para esses caras, falta simpatia, falta humildade no trato com pessoas. Bem, acho eu, né? - É, Luiz, mas quando se presta atenção... tem muita gente mascarada por aí. No Brasil, tá cheio disso! – e pronto, saímos do âmbito municipal direto para o mundo artístico e político, que é “cheio de gente metida”, conforme se fala. - Olha o Ronário... quando foi jogador de futebol, era muito, mas muito mascarado (que o diga um amigo meu de Juiz de Fora)! Agora que virou político, não sei se ainda é, mas que era, era sim. E tem outros, como aquele meio esquisito, o tal de Danilo Centile, mascarado pra cacete. E tem também aquela que é bonita e tals, mas se mostra muito mascarada, muito metida, a Luana Biovani. Sem contar o nosso craque mascarado, o Meynar... - Não vi, não ouvi e nem quero ver nem saber desses sujeitinhos - eu ri - mas a Biovani eu sei que é mesmo muito metida, ora se é... - e ele também riu. Bem, sabemos que alguns artistas, principalmente de novelas globais, são muito mascarados mesmo, pelo menos enquanto fazem sucesso... ou, como diria meu velho pai, são arrogantes como políticos enquanto estão numa presidência da câmara ou do senado... Depois, puff! A máscara cai e... nada resta. Como acontece há muito e muito tempo. Pois é assim que é... empáfia, arrogância, estrelismos, máscaras... servem para quê, mesmo? ______________________________________ E você, tem visto muito “mascarado” por aí?

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Ídolos Falávamos do lance do Boechat com o Malacheia, aqui na esquina de casa (se alguém ainda não souber, dê um rapidinha no Goooogle para “Boechat”). Assunto quente merece uma gelada, né? Então, degustávamos algumas, enquanto as passantes eram devidamente observadas e, conforme o caso, admiradas. Mas, sobre o caso, alguém havia comentado: “O Boechat é meu ídolo!”, para risos da galera e que eu copiei e lasquei em alguns comentários feicibuquianos. Mais aí fiquei com aquela ideia na cabeça: “ídolo, ídolo... o que vem a ser um ídolo mesmo, desses que tanto falamos?” Bem, no sentido original, “ídolo” é um objeto, geralmente uma estátua, que representa uma divindade ou algo assim e que por isso é venerada e cultuada. Mas hoje o termo é lugar-comum como menção a pessoas que se destacam em alguma atividade e que por isso recebem “ooohhhs”, respeito e admiração – merecidos ou não, dependendo de quem vê - mas que normalmente são artistas, jogadores de futebol e outras figuras que ganhem algum tipo de destaque na mídia. Aí o meu ponto: no futebol atual, qualquer jogador mediano vira ídolo quando consegue fazer um gol bonito ou meia-dúzia de boas jogadas. Nas novelas, qualquer galãzinho que faça caras e bocas vira ídolo das adolescentes e de outras já não mais. Nos shows musicais de qualquer lugar desse país, qualquer musiquinha melosa faz da dupla que a canta mais um ídolo da “música sertaneja”. Na política, qualquer obscuro deputado ou senador ganha aplausos – que moleza - ao criticar o governo. Nos livros “mais vendidos”, qualquer paulocoelhice de palavreado óbvio e emoção barata que seja valorizada pela mídia subliterata vira “best-seller” de autoajuda... e por aí vai. Ou seja: atualmente, todos os ídolos têm “pés de barro”. Não duram uma temporada. Aí você pode me falar:- “É, meu caro, mas pode ser pior. Imagine só a quantidade de gente que tem o Malacheia ou o Felicianus como ídolos...”. E eu terei de concordar com você: pode e é pior mesmo. Homofóbicos que ficam podres de ricos através da exploração da fé alheia pregando a ignorância. “Ídolos” aproveitadores que não pagam impostos! PQP, é muita sem-vergonhice!! De repente, deviam mesmo seguir o sugerido pelo Boechat e procurar uma certa ave columbiforme para ser feliz e deixar de explorar os crédulos. Convenhamos, pastores desse naipe como ídolos não é lá muito louvável. Xô! ____________________________ Os meus ídolos? Sem pensar muito, considerando pessoas que respeito e admiro, são poucos, como o craque Zico, o compositor Chico Buarque e os autores/escritores Millor Fernandes e Luís Fernando Veríssimo. E você, como anda de ídolos?

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Nomes O Maikon é um sujeito de seus 30, 32 anos e é funcionário da limpeza pública aqui de São Sebastião. Filho de pais mineiros (de Teófilo Otoni, conforme me contou), diz que – como tantos por aqui - aguarda uma oportunidade de trabalho em uma empresa que presta serviços à Petrobras. Simpático e bem articulado nas palavras, ele me falava do seu nome: - É, eu sei que tá errado, mas meu nome é MAIKON, com K mesmo. Claro, é por causa do Michael Jackson, né? Aí, os pais gostam e escrevem o nome conforme acham que é... e dá no que dá, né? Tá cheio de gente com esse nome, tinha até um Maico na seleção de futebol... Pois é. Não pretendo tecer comentários sobre nomes estranhos e curiosos que só os pais que os criaram poderiam explicar, como os famosos “Um Dois Três de Oliveira Quatro” e “Janeiro Fevereiro de Março Abril”, que meu pai contava desde que eu era moleque (basta uma pequena procura no Gooogle para “nomes estranhos” e uma penca imensa de exemplos da criatividade louca dos brasileiros estará disponível para você). Mas o que eu quero mesmo é observar com curiosidade um fenômeno que parece ter se acentuado aqui no Brasil com a fama internacional do cantor Michael Jackson, conforme citado pelo meu amigo Maikon: nomes estrangeiros “traduzidos” para o português de forma muito pessoal, pela simplicidade com que é feita. Você pode me dizer que isso acontece desde muito antes desse cantor ficar famoso (tinha “Tairone” e “Valsedisnei”, entre outros, conforme os antigos como eu lembram) e eu vou concordar, mas me parece que tornou-se “moda” com o aumento do alcance da mídia atual para fama do artista. Então, tem mesmo muita gente com o mesmo nome do meu amigo, escrito com algumas variações, conforme o achismo de quem o criou: Maico, Maicon, Mayco, Maycon, Mayko, Maykol, Maykon... e por aí vai. Tem até um “Maikel”. E tem mais: verificando algumas listas, vê-se que existem muitos outros nomes também escritos de forma estranha a partir da pronúncia de nomes estrangeiros: Braian, Deyvid (Deividi, Deivit...), Hericlapton, Jhon, Jonhattan, Maicossuel, Piter, Railander, Ramilton, Ruan, Theylor, Uéliton, Uiliam, Uóxiton... e por aí vai. Ah, sim, nos nomes femininos também: Daiana, Greice, Íngredi, Jheniffer, Yorrana... ________________________ Gente, pretendo apenas fazer um registro do jeito coloquial que nós brasileiros nos adaptamos a estrangeirismos nem sempre bem compreendidos, como é o caso de nomes de batismo. Peço desculpas caso alguém não se sinta confortável lendo essas linhas. __________________________ Mas... e você? Aposto que conhece alguns nomes curiosos...

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Sósias - Todo mundo tem um sósia. Gente comum não vê, mas tem... – essa foi a conversa do meu amigo João, depois de haver me contado que alguém parecido com ele confundia alguns conhecidos e que acabara se encontrando com esse “sósia”, perambulando pela cidade. - Bem, confesso... o cara parece mesmo comigo! Mas... é mais barrigudo e mais feio que eu... – disse, fazendo blague. - Mas... olha só – continuou – basta ser famoso para logo aparecerem sósias. Tá cheio de sósias por aí. Outro dia apareceu um sósia do Papa Francisco... - Sim, João, é isso mesmo – concordei – Aliás, o próprio Papa Francisco é, por sua vez, sósia de um antigo ator do cinema americano, o Stan Laurel, o Magro, aquele da dupla com o Gordo... (se você não sabia dessa, veja “Stan Laurel”, no Goooogle; o Papa é a cara dele!!). Para os estudiosos do ramo, os seres humanos são extremamente diferentes no genótipo (constituição genética das células), mas não são tão diferentes assim no fenótipo (a aparência externa). Como os biótipos primários são apenas 3 (Ectomorfo, Mesomorfo e Endomorfo, conforme aprendi) podem gerar semelhanças físicas incríveis entre indivíduos, sejam do mesmo sexo ou não, mesmo sem parentesco próximo. Ou seja, sempre vai ter alguém muito parecido com alguém. Mas... existem sósias e sósias, né? Pois então... ser sósia do Bill Clinton ou do Obama é fácil. Ser igualzinho ao Brad Pitt então deve dar uma boa grana, quem sabe boas namoradas. Ser a cara daquele bonitão de novela, daquele cantor famoso ou do Neymar deve render alguma coisa também... mas ser sósia de gente não tão querida deve ser triste, né? Quem quer ser sósia de gente comum? Já pensou ser sósia do Lula, atualmente? Do Richa? Do Cunha? - Ah, sai fora, Luiz, desses aí ninguém quer ser sósia, não... políticos... se bem que... vai que... pensando bem... ser sósia do Temer poderia ter lá algumas vantagens... - Uai, João, do Temer? – ....(silêncio).... – Aaaaahhh, ok, ok, deixa pra lá, já entendi... ________________________________________ E você, já encontrou algum sósia seu por aí?

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Conversa de pescador Eu comecei a falar disso outro dia. Cheguei a comentar sobre o famoso “cação de 10 kg” que meu amigo japonês teria fisgado, mas acabei enveredando em assunto paralelo e perdi o fio da meada. Então, retorno agora à questão, essa coisa de “conversa de pescador”, porque o nosso amigo Paulinho diz que aconteceu com ele um fato que “se me contassem eu jamais acreditaria”: - Estávamos eu e meu irmão pescando tilápias no Pesqueiro Sone, em Caraguá. Sei lá de que jeito foi, mas pegamos o mesmo peixe ao mesmo tempo. Incrível! A tilapona com dois anzóis na boca! Juro que foi verdade! Eu ri. E não deixei barato: - Eu estava em Cabo Frio, pescando enchovas com peixinho artificial quando, ao recolher, um atobá mergulhou, pegou a isca e saiu voando, garatéia fincada no bico. Parecia uma pipa. Deu trabalho tirar, tive de derrubar a ave na água duas vezes. Juro que foi verdade. Ele riu. E rebateu: - Escuta essa, Luiz: eu e meu tio estávamos de barco, pegando pescadinhas amarelas com camarão vivo. Teve um momento em que, ao fisgar uma e trazê-la para o barco, veio de repente um peixe-espada bitelão que mordeu a pescadinha amarela de tal jeito que os dentes do espada travaram-se na espinha da pescada. E eu puxei os dois para dentro do barco!! Juro que foi verdade! Para não ficar pra trás, contei outra: - Isso também aconteceu comigo! Eu tava pescando enchovas, na costa sul de Ilhabela, quando peguei um caçãozinho e, ao trazê-lo, veio um caçãozão e... crau!! Peguei os dois, um na boca do outro! Juro que foi verdade! Olha só a foto! (a foto tá no final). Depois dessa, lembrei minha adolescência em Resende, RJ, onde o “Seu Brás”, um velhinho conhecido por todos, pescava lambaris na foz do ribeirão Alambari (quem conhece a cidade sabe onde é). Certo dia, molecada cercando o velho, perguntamos: - “E aí, Seu Brás, pegando muitos?”, ao que ele respondeu: - “Só uns pequeninhos” – “Cadê, Seu Brás?”- “Tá ali na sacola” - “Ué, Seu Brás (moleque mexendo na sacola)... não tem nada aqui...”. E o Seu Brás: -“É que tá tão pequeno que você não vai conseguir achar...”. Pois é... sempre tenho um sorriso para essas lembranças. Mas tem também uma história mais recente, a de um politico que não gosta de pescar... mas deu um jeito de “pegar” o maior peixe. O nome dele? Ah, sei não... acho que é o presidente dos deputados evangélicos pescadores. O peixe? Sim, sim, evidentemente, é traíra. E das grandes! ☺ ___________________________________ O fato é que essas coisas, sejam ou não verdadeiras, viram “conversa de pescador”. Ah, sim, todos os casos contados acima aconteceram de verdade. E você, tem algum causo para contar?

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Antropomorfismos Um de meus amigos das caminhadas matutinas na prainha aqui de casa comentou comigo, dia desses: - Olha só aquela nuvem. Parece um homem barrigudo deitado.... Olhei e olhei e, para não ser indelicado, resmunguei um “é...”. Mas para mim pareceu apenas uma nuvem comprida. Antes que você me chame de “sem graça”, saiba que eu gosto de ver figuras nas nuvens, desde moleque... mas que pelo menos se pareçam com alguma coisa, né?. A nuvenzinha que me foi mostrada naquele momento não tinha mesmo nada de humano – muito menos barrigudo. ☺ Mas... que mania, não? Parece que “humanizamos” tudo. E é isso mesmo. Essa é uma das acepções do que chamamos “antropomorfismo”: a tendência de atribuir características e emoções humanas a animais, objetos, manifestações da natureza e o que mais aparecer na nossa frente. Coisa de humanos antropocêntricos, que se acham “seres especiais”. Então, não são só as nuvens que “parecem gente”. Tudo parece gente! Temos o clássico exemplo daquela montanha da Lua cuja sombra parecia um gigantesco rosto humano na superfície lunar. Temos a gigantesca pedra fotografada em Marte que parecia – não diga! - uma pessoa. Tinha aquela árvore cujos troncos e ramos pareciam a figura de uma mulher dançando.! Tinha outra árvore que formava o rosto de Jesus Cristo! Que coisa... Mas o que às vezes nem percebemos é o que existe de triste em imputar aos animais nossos valores, tipo “bonito/feio”, “bom/mau” ou “certo/errado”. Como diria meu amigo Aristóteles, é muita petulância nossa achar que o mundo natural é regido por nossos conceitos subjetivos. Então, tem gente que acha engraçado vestir roupas em animais para ficarem “bonitinhos” (cãezinhos, macaquinhos e outros inhos como se gente fossem); tem gente que acha que são “maus e malvados” os animais que comem carne (pois matam para se alimentar, como o tubarãozinho que foi filmado esta semana querendo almoçar um surfista) ou são “feios” pela aparência estranha que possuem (como morcegos ou gambás). E podem ainda ser “sujos”, “nojentos”, “asquerosos” ou qualquer outro adjetivo semelhante para se referir a cobras, lagartos, aranhas, lesmas, sapos, minhocas e o que mais você lembrar. Assim, alguns bichos podem ser “bonzinhos”, “bonitinhos”, “limpinhos” etc etc etc, tudo dependendo da nossa visão do momento. Exemplo: aquela orca (“baleia assassina”, que horrível denominação) criada em cativeiro para apresentações numa “piscina natural” que era “mansinha e linda” até machucar a moça que se apresentava com ela. Passou a ser “má e cruel”. Que coisa, não? Com um pouco de bom senso, é fácil entender que a natureza não tem adjetivos, normas ou padrões sociais. Só os que imputamos a ela.

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Futilidades Conversávamos outro dia sobre a futilidade de observar e apreciar (discretamente, por favor) as belezas que poderiam passar em direção à praia, enquanto também apreciávamos de verdade a cerveja em nossos copos. Alguém havia comentado, entre um gole e outro: - Ora... futilidade é a “valorização do desnecessário, das trivialidades”, a gente vê que tá cheio de futilidades por aí. Todo mundo é fútil em algum momento, o foda é ser fútil o tempo todo, não é? Então, não existe quem não brinque um pouco com futilidades. Mas... tem gente que exagera. Dizem que se tem oferta é porque tem procura. Pois a mídia – principalmente impressa e internética - é extremamente pródiga em bobagens absurdamente inúteis. Quer ver? Vá o saite do UOL ou do Terra e se espante com a quantidade de frivolidades que publicam. Vou copiar aqui alguns exemplos de “manchetes” absolutamente inúteis e tolas que estavam no ar esta semana nas páginas desses portais, misturadas a outras notícias: No UOL: - Marido de Ivete estará na Rio-2016; - Com ajuda do filho, mulher “transforma” cadela em tigresa; - Sabrina Sato revela que anda nua dentro de casa; - Novela: fulaninho vai ficar com fulaninha. No Terra: - Dentista conta o que fez com os dentes do cantor Belo; - Horóscopo: veja o que os astros revelam de você; - Famosos praticam ioga em praia do Rio; - Moda: famosos dão dicas de “look” para 5 programas. Mas a campeã de frivolidades é a revista preferida dos consultórios médicos: a “Caras” (tem outras, claro, mas basta esta para evidenciar o meu ponto). Fui ao saite da revista e... nuoooosssa!! Veja algumas manchetes importantíssimas e relevantes das últimas edições: - Atriz anda de bicicleta no Rio; - Famosa nega separação e diz que apenas perdeu a aliança; - Veja quais alimentos os famosos não consomem; - Atriz de “Verdades Secretas” adora jaquetas de couro. ________________________ Pois então... (ironic mode on) viu quantas coisas importantíssimas estão acontecendo além da situação política e econômica do país? (ironic mode off). Haja frivolidade e alienação... E você, tem visto muitas futilidades e frivolidades por aí? ☺

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Vilões alimentícios Dia desses escrevi sobre o mal que aquilo que ingerimos pode nos fazer. Na ocasião, fiz blague com o “quanto mais nos informamos, mais constatamos que tudo faz mal”. Então, por força de conversas de quem não tem o que fazer a não ser degustar cervas e ficar olhando as saias de quem vive pelas praias coloridas pelo sol, voltei ao assunto quando alguém comentou (enquanto enchíamos nossos copos eternamente vazios): - “Li ontem que o novo vilão dos alimentos é o glúten, veja só!” - “Ah, essa não...” - o mais velho dos amigos se manifestou – “isso é exagero. O glúten só faz mal para quem tem doença celíaca! Que coisa... antes quem fazia mal era sal, ovo, toucinho, manteiga...” Mas aí eu leio que não é bem assim. Na NOG (Nova Ordem Gastronômica) nem ovo nem manteiga nem – pasmem – gordura de porco faz muito mal. Quem faz mal é margarina (pura gordura hidrogenada), água de coco (que coisa... contem sódio, frutose e gorduras saturadas), batatas (puro carboidrato), feijão (causa má digestão), leite integral e derivados - queijos brancos e creme de leite inclusive (contém gorduras e ácidos graxos), sais, barrinhas de cereais, açúcares e óleos (de soja, de milho, de girassol, todos com gorduras hipermegaplus malvadas). Ah, sim, óleo de canola também. Aliás, sabem o que é “óleo de canola”? Não? Deem uma pesquisadinha e se assustem. Mas também fazem mal sucos de caixinhas, doces, chocolates, refrigerantes e tudo que é produto diet. O que? Onde eu vi isso? Ora, no Gooooogle, em “alimentos que fazem mal”. Pois então, eu aprendi o que é “doença celíaca”, mas reforcei o que eu já sabia: afirmar qualquer coisa sobre alimentação atualmente é complicado. Parece que nem os chamados “especialistas” se entendem. Veja os componentes da alimentação nossa de cada dia listados a seguir. Se você não sabe o que é, está em perigo! A maioria absoluta “faz mal”. Eu não conheço nem metade: ácidos graxos, aromatizantes, carboidratos, ciclamato, conservantes, corantes, cortisol, fitatos, gordura trans, gordura saturada, gordura hidrogenada, frutose, lactose, sódio, glúten (ui!)... Pois é... e o glúten? Puxa vida, tudo tem glúten! Como alguém consegue não comer glúten? Só se comer apenas alface. Os alimentos que contém glúten são todos aqueles que podem ser feitos com trigo, cevada, centeio ou aveia como bolachas, bolos, biscoitos, pão, torradas, cerveja, uísque e qualquer massa que leve farinha de trigo, como macarrões e pizzas. Puxa... tamos fritos! Aliás, fritos, não. Assados, porque fritura faz mal. E você, consegue escapar do glúten? E do óleo de canola?

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Que país é esse? Eu prefiro falar de amenidades e fazer graça com as coisas do nosso dia-a-dia, mas tem hora que me sinto extremamente horrorizado (nem sei qual adjetivo usar) com o nível de barbárie que parece correr à solta neste nosso país. Esta semana dou de cara com uma horrível e assustadora notícia: “Em meio a gritos de “estupra!”, jovem sofre abuso coletivo no Metrô” Fui ler: De acordo com os relatos, uma jovem de 17 anos, ao ser apertada por um homem num vagão lotado do metrô, teria pedido para o agressor parar de “encoxá-la” quando este iniciou uma discussão. Foi então que uma terceira pessoa teria gritado: "Estupra ela para ela saber o que é ser encoxada de verdade". Então o suspeito e outro homem teriam agarrado no braço da vítima, embalados pelos gritos de um grupo de pessoas que dizia: "estupra, estupra"... Esse caso nos remete à “cultura do estupro” que, embora exista desde sempre em nosso país, cada vez mais vem à tona. Nas tristes palavras do nosso conhecido Dr. Dráuzio Varella, “tanto o alto número de casos registrados quanto os subnotificados revelam uma triste realidade: o Brasil tolera e incentiva o estupro a ponto de podermos afirmar que o crime faz parte da nossa cultura”. É tão absurdo que vou repetir: “no Brasil se tolera e incentiva o estupro a ponto de podermos afirmar que o crime faz parte da nossa cultura!”. Basta uma pequena pesquisa sobre o assunto (“estupro no metrô”, por exemplo) para se ter uma ideia do tamanho da violência - principalmente contra a mulher - e do quanto esta realidade está entranhada no nosso cotidiano: - Funcionária é estuprada em Estação República do Metrô; - Universitário é preso, suspeito de tentativa de estupro em trem da CPTM; - Imagem mostra suspeito de estupro no Metrô do Rio; - USP tem mais um caso de estupro... - .............................. E por aí vai. Se procurarmos mais um pouco, além da ignorância contra mulheres, temos barbáries pra todos os gostos: assassinatos, latrocínios, linchamentos e o que mais houver de violência. Enquanto isso, o país está paralisado pela crise de sem-vergonhice que nos assola em vários níveis, principalmente na política, onde o povo ordeiro, pacato e bonzinho vive sendo enganado pelos safados e corruptos que não honram o voto que recebem. Pode? _______________________________ Fica no ar a pergunta que o grupo Legião Urbana cantava lá nos idos de 1987: que país é esse??

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Babacas e babaquices Vejo numa revista um artigo chamativo: “Os babacas estão à solta e estamos cercados por eles - no trânsito, no trabalho, na internet”. E na sequencia, “Você já deve ter percebido que o ser humano está cada vez mais intolerante, agressivo e egocêntrico”. Pois é. Acabei de presenciar algo assim: O cara não apenas não parou o carro para que a pedestre – uma senhora de certa idade – atravessasse a rua no local sinalizado. Não parou e, além disso, para não ficar atrás do veículo que estava à sua frente, o energúmeno saiu de lado, invadiu a ciclo-faixa à direita, acelerou sua hipermegaplus SUV e escafedeu-se avenida abaixo, levando sua babaquice a outros pontos da cidade. Meu amigo João diria “esse aí deve estar indo ao supermercado, para estacionar tomando duas vagas ou em alguma vaga para deficientes”. Então, considerando que este adjetivo se refere a um sujeito besta, estúpido, tosco, escroto e outros nomes de mesmo naipe, parece mesmo que é no trânsito onde se vê o maior número de babacas, veja só: O cara que sai cortando todo mundo pelo acostamento, algumas madames que fazem fila tripla na porta da escola porque o filho dela não pode andar nem um pouquinho, o besta que anda bem abaixo da velocidade permitida de propósito para atravancar o trânsito, o apressadinho que força ultrapassagens ou o pedestre muito do fdp que atravessa a rua bem devagarzinho depois que o sinal abre só para sacanear os motoristas... e tem também os babacas com motocicletas, que aceleram até doer os ouvidos (o nosso, pois eles devem ser todos surdos). Ah, sim, claro, existem também os babacas que andam com o som do carro em altos volumes, tocando aquelas merdas tum-tum-tum que eles acham que é música. No trânsito lento, é uma tortura. Para nosso desespero, esse tipo de babaca parece que se multiplica sem parar. No trabalho, existem aqueles babacas que adoram sacanear os colegas para aparecer com a chefia, existem os que adoram brincadeiras estúpidas (tipo esconder alguma coisa sua) e – os piores – existem os que não aceitam mulheres em postos de trabalho superiores aos dele, sempre jogando para tudo dar errado. Creio que todos nós conhecemos alguns desses tipos ao longo da nossa vida profissional. _________________________________ A fila é longa. Existem ainda os babacas exibidos, os arrogantes, os “que se acham” qualquer coisa, os perigosos com poder... e mais o que você quiser de tipos. Nem vou falar de políticos babacas nem de babaquices a favor ou contra... e nem de babaquices aqui do FB. Chega. Mas... e você, tem visto muita babaquice por aí?

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Conhecidos Outro dia eu falei de sósias, aquelas pessoas que são extremamente parecidas com amigos ou até com você mesmo. Também em outra ocasião falei sobre a sensação do “déjà-vu”. Pois enquanto meus amigos de copo e eu degustávamos alguns camarões regados a caipirinhas e mentalmente aplaudíamos a natureza mais linda mais cheia de graça que vem e que passa aqui na Rua da Praia, conversávamos também sobre a impressão que às vezes temos de conhecer determinadas pessoas, embora não saibamos precisar de onde nem muito menos quem seria. - “Comigo acontece sempre” – disse um de meus amigos pescadores – “basta você estar de bobeira, sem fazer nada e de repente você vai ver alguém que você tem a impressão de conhecer. E parece ser recíproco, pois muitas vezes a pessoa te cumprimenta e você, claro, responde.” - “Ora” – riu outro – “vai ver você conhece a pessoa de verdade, mas... não lembra! Tá ficando velho”... Mas... não é isso. Embora estejamos ficando velhos e mesmo que nossa memória sofra alguns lapsos, não “esquecemos” de pessoas conhecidas. Eu, como bom cético, não creio em espiritualidades de vidas passadas, mediunidades, essas coisas. Então, pesquisando, vejo que muita gente tem essa impressão de conhecer alguém que na verdade não conhece. Conforme os neurologistas, o nosso cérebro é o responsável por essas situações, pelos processos mentais envolvidos, do mesmo modo que no “déjà-vu”. - “Ah, mas o contrário é mais complicado” – outro amigo pescador fez graça – “quando você conhece o sujeito, mas... finge que não vê!” - “Isso sim acontece muito!” – todos riram – “aquele chato que pede cigarro – ou pede dinheiro”. - “Mas tem pior ainda e pior mesmo!” – provoquei – “são os candidatos a alguma coisa que querem seu voto! Impressionante como todos eles conhecem você!” ________________________________ Pois então... e você? Tem encontrado alguns conhecidos que não conhece?

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Terroristas Outro dia fiz alguns comentários tendo como linha o grupo Legião Urbana e a canção “Que País É Esse?”. Pois a pergunta ainda continua no ar: parece que o país está anestesiado para qualquer outro assunto que não seja a situação política/econômica. Evidentemente, essa deve ser A prioridade, mas não podemos virar as costas para a vida. Então, leio na Superinteressante deste mês algo assustador: “Extremismo evangélico: milícias atacando cultos de outras religiões, minorias acuadas, teocracia no Congresso. Alguns radicais ameaçam incendiar o Brasil com ódio religioso. “Se der polícia, some!”, prega um pastor para a milícia de jovens fiéis prestes a atacar um terreno de candomblé.” Procurei e achei no Google: um pastor de MG coleciona acusações de intolerância e apologia à violência. O tal, que se auto-intitula “uma das referências atuais da juventude brasileira”, explica como reúne fiéis para atacar “centros de macumba”. O “pastor” também estimula a violência policial.: “tem que dar tiro, muito tiro!”. Caraca... Esses eventos são criticados por outros religiosos, inclusive evangélicos. Para o Rev. Calvani, da Igreja Anglicana, “o movimento evangélico radical hoje é um dos maiores perigos para a sociedade e para o laicismo do estado, por seu potencial fundamentalista cheio de ódio. Pastores como o Malacheia, Felizanus, Maiscedo, R.R. Voares, Vantiago e outros representam a pior espécie de fanatismo religioso. O Malacheia prega que “vamos tomar posse dos meios de comunicação, das redes de internet, do processo político, vamos fazer a diferença, vamos influenciar o Brasil”. Então, se esse projeto for para frente, preparem as burcas. Nosso futuro será democraticamente sombrio”. ________________________________________ A mídia volta e meia mostra o quanto a esperteza desses “religiosos” está criando uma leva de zumbis. Fica claro que figuras como os citados pastores não querem mais só o seu dinheiro. Querem também PODER. Dessa maneira querem, tentam e conseguem influenciar, insuflar, denegrir, destruir ou o que mais for necessário para impor as leis de seu “evangelho” homofóbico, racista e intolerante. Como a Câmara Federal que, sob o comando do evangélico Eduardo Cunha, após conseguir mais isenção de impostos sobre repasses a pastores, quer incluir as igrejas na lista de instituições capazes de propor ação direta de inconstitucionalidade ou ação declaratória de constitucionalidade ao STF. E também (como já sabemos), por não aceitar a evolução biológica, vão continuar a insistir, como o pastor Felizanus, em incluir o criacionismo nos currículos escolares. ____________________________________ Sim, isso dá medo. Aqui ainda não tem Estado Islâmico, mas... a semente do megaextremismo religioso, já plantada, está esticando seus ramos. Que me desculpem os meus amigos evangélicos. �

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Teimosias Essa eu vi: eram três pescadores, tentando pegar algumas cocorocas nas pedras perto da pista de skate aqui de São Sebastião. Um deles estava com o anzol enroscado bem no fundão e o sujeito não queria porque não queria puxar com força e arrebentar a linha. Disse que “iria soltar no jeito” e dava umas puxadinhas pra lá e pra cá. “Vou entrar na água”, ele dizia. “Arrebenta logo essa p...”, dizia o amigo. O cara era teimoso e tinha tomado algumas. Então, os amigos tiraram sarro e botaram pilha na teimosia dele. Aí o camarada se jogou na água e mergulhou, para desespero dos companheiros. O mar estava um tanto agitado, ninguém gostou da brincadeira. Um dos amigos puxou a linha até arrebentar e acabar com a coisa. O teimoso saiu da água e levou umas broncas. ___________________________________ Essa me contaram: um grupo de jovens na praia, caminhando. Um deles chama o outro que estava indo em outra direção: “Vamos caminhar pela areia, cara. As pedras estão molhadas e escorregadias”. “Não. Tá tranquilo, vamos pelas pedras”. “Mas tá perigoso”. “Tá nada. Vocês são medrosos”. “Pô, fulano...”. “Quer saber? Vocês vão pela areia, eu vou pelas pedras.” E o teimoso foi pelas pedras. Sozinho. Claro, caiu. Sorte que não se machucou, mas todos riram muito, menos ele. ______________________________________ Essa também eu vi: o cara não aceita ser chamado de “teimoso”. Diz que é “persistente”. Pois então, ele e o irmão, depois de terem ficado o dia todo pescando na prainha aqui perto de casa sem pegar nada que valesse a pena, o teimoso-persistente se recusava a ir embora antes de tentar mais uma vez e outra e outra ainda, para desespero do irmão que já tinha desistido. Duas horas depois, o irmão foi embora e o persistente-teimoso, ainda resmungando “agora eu ia pegar, agora eu ia pegar...”, finalmente tomou o caminho de casa. _________________________________ Essa todo o mundo sabe: o nobre deputado está presidente dos outros nobres deputados. Todas as evidências mostram que ele é o que ele é. Todas as mídias mostram os documentos que provam que ele é o que ele diz que não é. A Responsabilidade, a Decência e Vergonha exigem que ele desça do pedestal em que subiu para responder pelo que só ele diz que não tem, que não sabe e que não porque não. E ele não sai. Vai gostar de poder e ser teimoso assim lá na... __________________________________ E você, tem visto muitos teimosos por aí?

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Canções Tardezinha chuvosa. Estávamos num pub aqui da cidade, degustando umas cervejinhas artesanais devidamente apoiadas por algumas canções clássicas da nossa mpb. Conversa vai, conversa vem, de repente se fizeram ouvir os primeiros acordes da bela canção “Teu Sonho Não Acabou”, do Taiguara. Aí, meu amigo bom de copo – um romântico incorrigível – logo se derreteu: - “Ah, cara... essa música... como não lembrar? Foi tão... tão... loucura. Quantas lembranças... como eu gostaria de saber como ela está hoje...” Ih, rapaz... fiquei quieto. Particularidades à parte, é isso o que acontece com pessoas (românticas ou não) que se sensibilizam com algumas músicas, seja pela letra, pela melodia ou pelo conjunto harmônico que determinadas composições apresentam. Mas são nas lembranças de momentos marcantes suscitadas por essas canções é que os sentimentos afloram, principalmente quando alguns “desinibidores” foram consumidos. Mais ainda em conversas a respeito de acontecimentos passados. E por aí se vai lembrando, sejam amores, amigos, família... No meu tempo de faculdade, um colega de república passava horas ao violão brincando com a suave melodia da canção “Pra Você”, do Silvio Cesar (“pra você eu guardei um amor infinito...”), dizendo “essa música é o espelho da minha vida”. Para alguns, só Chico Buarque bastava. As meninas (e os meninos também, mas ninguém falava) se emocionavam com a interpretação da cantora Elis Regina para a canção “Atrás da Porta”, as mais sapecas cantavam e pulavam maliciando a já maliciosa “O Meu Amor” e num boteco perto de casa, gostávamos de sussurrar para as garotas a sofrida e difícil “Retrato em Branco e Preto”, com um nosso amigo caprichando no violão. Gostávamos mesmo do Chico. Assim, ao longo da vida, conheci diversas pessoas que em determinadas ocasiões deixavam-se enternecer por canções que “traziam às pessoas boas lembranças do que viveram”, como dizia um bordão de um programa radiofônico de antigamente. Até hoje, um desses meus amigos lembra com saudades das noitadas dançantes em que boleros inesquecíveis como “La Barca” e outros davam o tom romântico para os casais que se abraçavam ao som das orquestras. _______________________________ Eu? Bem... eu tenho escondidas em mim algumas lembranças que voltam à tona quando ouço ou toco “Cantiga por Luciana” (Paulinho Tapajós), “O que foi feito de Vera” (Milton Nascimento e Fernando Brant), “Joana Francesa” (aquela composição do Chico Buarque feita para o filme homônimo), e, em especial, “Todo o Sentimento” (é... mais Chico, com a parceria de Cristóvão Bastos). E você? Ainda se deixa emocionar por algumas canções?

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