LuLa, do sindicaLismo à reeLeição:

um caso de comunicação, política e discurso

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LuLa, do sindicaLismo à reeLeição:

um caso de comunicação, política e discurso

Luciana Panke

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE UNICENTRO

Reitor: Vitor Hugo Zanette

Vice-Reitor: Aldo Nelson Bona

Copyright © 2010 Editora UNICENTRONota: O conteúdo desta obra é de exclusiva responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução desde que indicada a autoria.

Editora UNICENTRODireção: Beatriz Anselmo OlintoAssessoria Técnica: Carlos de Bortoli, Cláudio César de Andrade, Oséias de Oliveira, Eduardo Alexandre S. de Oliveira, Ruth Rieth Leonhardt e Waldemar FellerDivulgação e Distribuição: Thiago Cancelier DiasDivisão de Editoração: Renata DaleteseDiagramadores: Anna Júlia Peccinelli Minieri, Eduardo Alexandre Santos de Oliveira, Josiane Ferreira, Lucas Casarini e Marcio Fraga de OliveiraDiagramação: Eduardo Alexandre Santos de OliveiraCapa: Anna Júlia Peccinelli MinieriCorreção: Luciana DiasImpressão: Editora e Gráfica Horizonte

Conselho EditorialPresidente: Mário Takao InoueBeatriz Anselmo OlintoCarlos Alberto Marçal GonzagaCristina Ide FujinagaHélio SochodolakIvan de Souza DutraJeanette Beber de SouzaLuiz Gilberto BertottiMaria José de P. CastanhoMárcio R. Santos FernandesMarquiana de F. V. B. GomesMauricio RigoRosanna Rita SilvaRuth Rieth LeonhardtSidnei Osmar JadoskiWaldemar Feller

Ficha CatalográficaCatalogação na Publicação

Regiane de Souza Martins -CRB9/1372

Panke, Luciana

P193l Lula, do sindicalismo à reeleição: um caso decomunicação, política e discurso/Luciana Panke. – – Guarapuava: Unicentro; São Paulo: Horizonte, 2010. 216 p.

Bibliografia. ISBN 978-85-7891-074-7

1. Discursos Políticos. 2. Comunicação Política. 3. Análise do Discurso Político. 4. Campanha Política. 5. Luiz Inácio Lula da Silva, 1945. 6.Sindicalistas. I. Autor. II. Título.

CDD 302.23

A minha filha, Gabriela, que é minha vida, amor e inspiração.

Aos meus pais e a todos que creem na possibilidade do impossível.

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Se eu fosse agradecer nominalmente a todos que acreditaram no meu trabalho, precisaria de muitas páginas! E me sinto realmente privilegiada por pessoas tão especiais cruzarem meu caminho. Como é bom quando se tem mais a agradecer do que pedir...

A Deus que me concedeu o dom da vida.Aos meus pais, Arlindo e Noemia, que depositaram em mim

confiança e amor incondicional. A minha filha, Gabriela, que, na inocência da sua infância,

compreendeu coisas que um adulto não entenderia...Aos meus irmãos, Raquel e Rafael, pela força e conversas sem

fim.Ao prof. Dr. Adolpho Queiroz, ao prof. Ms. Márcio Fernandes

e ao prof. Dr. Luiz Alberto de Farias, pelo incentivo.À prof.ª Dr.ª Maria do Socorro Nóbrega, ao prof. Dr. José

Coelho Sobrinho, a profª. Rosicler Hauagge do Prado, Fábio Prado e Paulo César Bontempi.

Aos meus amigos, Neiva, Ismael, Andréa, Yussi, Valéria, Tina e Ludovico. Vocês sabem a importância que têm na minha vida.

Ao Yassine Hizaji, um dos primeiros a acreditar nesse livro.Aos meus ex-orientandos de iniciação científica, Daniel e

Thiago, aos meus alunos e colegas de trabalho. À Editora UNICENTRO, em especial a prof.ª Beatriz Olinto

e ao Eduardo Oliveira; à Editora Horizonte e a Eliane Alves de Oliveira.

A todos que, de uma forma ou de outra, fazem parte da história deste livro.

Prefácio

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O MOTO CONTÍNUO DA EMPREGABILIDADE

Adolpho Queiroz1

Numa sociedade ainda desigual, como a brasileira, a temática da empregabilidade ainda é tema preferencial nas agendas governamentais e, em especial, nos discursos políticos. Nas campanhas eleitorais, o tema emerge sempre em profusão e com a apresentação de propostas que vão do ridículo ao inconsequente, do ilógico ao imoral. Números estratosféricos aparecem sempre que a discussão entra em cena, para dar conta de oferecer – pelo menos enquanto a mídia dá atenção aos candidatos! – à sociedade novas promessas e compromissos.

“O primeiro emprego”, disse um; “10 milhões de novos empregos”, disse outro; ”Emprego para todos”, prometeu outro; “Emprego para os meus parentes...”, disse irônico aquele outro. As marcas destas imagens, contudo, entre a promessa e a ironia, entre o factível e a ilusão, viram notícia velha de jornal que causa impacto num dia e se desmoraliza no dia seguinte por falta de políticas pública e privada capazes de transformarem promessa em verdade.

Um caminho intrigante e interessante, diferente e consequente, foi planejado pela professora Dra. Luciana Panke, da Universidade Federal do Paraná, para fugir da mesmice, da crítica rasa e do riso franco, para, amparada pelo referencial da semiologia, fazer uma

1 Adolpho Queiroz é pós-doutor em comunicação pela UFF/RJ; doutor em comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, onde atua no programa de pós-graduação em comunicação e professor do curso de publicidade da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É presidente da POLITICOM, Sociedade Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing Político.

análise dos discursos da principal figura para quem trabalho virou bandeira, nome de partido, compromisso de vida e de luta política.

As expressões “trabalho” e “trabalhador” foram apropriadas nos últimos 30 anos no Brasil pelo movimento sindical do qual emergiu o Partido dos Trabalhadores, o PT e suas lideranças políticas. E quem quisesse chegar perto delas teria que fazer muito mais do que discursos e promessas. Tinha que vir com argumentos, ideias novas, projetos consequentes para a confirmação da identidade nacional, da capacidade de produção do trabalhador brasileiro, de educação para a construção de uma nova identidade cidadã, entre outras.

Mergulhada entre dezenas de discursos, a análise que se segue é fruto de um olhar criterioso, de uma grande sensibilidade e, especialmente, da determinação da pesquisadora em nos legar um volume onde promessas são rechaçadas, ironias não cabem e só os compromissos consequentes é que valem à pena.

Do “velho” Lula de 30 anos atrás, que carregava o compromisso com o trabalhador brasileiro, ao “novo” Lula saído de dois mandatos presidenciais, mais do que um hiato de tempo,há um aperfeiçoamento na condição discursiva, sem, contudo se distanciar do compromisso que o originou e que originou um partido compromissado, em especial, com transformações na sociedade, marcadamente no campo do emprego e trabalho.

Fica claro para quem ler que, mesmo que o compromisso histórico do ator e do partido tivesse um elemento fundador, a necessidade da governabilidade – e com ela o diálogo com a classe dirigente – ampliou a compreensão sobre a empregabilidade para os dois grandes campos do poder político: o trabalhador e o empregador. Ou de “castigo a privilégio”, como definiu Masi.

Com opções metodológicas no campo da análise do discurso, a autora vai encontrando referências que, agora reunidas, dão ao discurso sobre “trabalho” uma visão contundente. Sem ele não há vida, cidadania, autoestima e, principalmente, futuro!

Sobre Lula há os discursos da fase radical (romântica?), do início do processo, que vistas com olhos de 30 anos futuros transformam o discurso inicial em caricatura e o discurso contemporâneo – realístico e pragmático - em roteiro necessário não só para a compreensão do novo país que emergiu, mas especialmente para os desafios que o futuro está dele a esperar. E a cobrar, certamente!

A expressão “obsessão” pela temática da empregabilidade que marcou de forma emocional os períodos das campanhas eleitorais e reeleitorais na mídia deixa como legado após oito anos de governo, a quitação da promessa da campanha eleitoral dos dez milhões de empregos efetivamente conseguidos e cumpridos. Só que agora precisamos de outros tantos milhões! A roda viva continua girando com maior velocidade.

À história, este livro prestará uma contribuição inestimável. A sua leitura, feita entre sonhos e realidade, passado e futuro, aponta inevitavelmente para que os compromissos sobre emprego e trabalho para a sociedade continuem sendo permanentes e prioritários nas agendas dos nossos governantes.

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Não há como fazer política sem discurso. O espaço privilegiado da fala constitui uma das razões para a luta simbólica pelo poder. Elemento determinante, capaz de provocar reações infinitamente variadas, o discurso político é objeto de discussão neste livro, que visa oferecer reflexões sobre comunicação, discurso e política, tomando como exemplo a trajetória do atual Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A eleição de Lula, em 2002, foi o elemento motivador para o material apresentado nas próximas páginas. Parte do conteúdo é resultado da tese de doutoramento, apresentada na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em 2005. Na época, pensava-se em observar como seriam os discursos de Lula após eleito, entretanto sentiu-se a necessidade de ampliar a pesquisa com o intuito de verificar quais foram as mudanças em seus argumentos e quando teriam ocorrido. Com isso, o trabalho retomou a vida pública dele, acompanhando os períodos em que foi: sindicalista, deputado federal, candidato à Presidência desde 1989 até o seu primeiro ano como Presidente. O livro, contudo, vai além. Aqui estão, também, os resultados da pesquisa desenvolvida depois da defesa da tese, chegando à análise dos discursos apresentados na campanha de 2006.

Reeleito, naquele ano, para mais quatro anos de governo, Lula permaneceu no Palácio do Planalto resultado, entre outros fatores, de um efeito “teflon”. A expressão utilizada pelo jornal francês Le Monde, na véspera do primeiro turno, ilustra a situação da imagem do Presidente naquele período. Apesar das denúncias de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores e diversas esferas do Governo Federal, e de oponentes tentarem atrelar Lula aos escândalos, o resultado nas urnas demonstrou que a imagem do Presidente não foi desacreditada.

Na campanha de 2002, Lula afirmara que não era resultado das eleições e sim, de uma história. Bastante utilizada nos momentos eleitorais como um recurso argumentativo, essa história aqui, serve como contextualização para a análise de suas falas no decorrer das três décadas de vida pública. Luiz Inácio consolidou-se por ser líder sindical e presidente do Partido dos Trabalhadores. Parte de sua (re) eleição deve-se a essa suposta representatividade junto à classe trabalhadora.

A partir da primeira campanha presidencial vitoriosa, após três derrotas consecutivas, Lula recebeu a alcunha Lulinha paz e amor, devido à ponderação discursiva apresentada publicamente. Acredita-se que essa alteração tenha influenciado sensivelmente a escolha dos argumentos emitidos nos seus discursos. Para exemplificar as prováveis mudanças, escolheu-se a temática emprego tendo em vista o histórico político de Lula e sua legenda partidária. Além disso, segundo o IBGE, constatou-se que o Presidente, herdou, na primeira gestão, 7,9 milhões de desempregados.

A pesquisa sobre os discursos de Luiz Inácio Lula da Silva demonstra o valor da palavra como uma manifestação político-ideológica por excelência, por ele ter passado por funções pertencentes a dois extremos, de sindicalista opositor a atual Presidente da República. As possíveis alterações nos argumentos, influenciadas pelo contexto, pelo status conquistado e por uma nova ideologia emergente podem ter se originado em sua história de vida: inicialmente, excluído da classe dominante, com parcos recursos financeiros, com pouca escolarização, retirante nordestino e operário e, atualmente, ocupando a posição de mandatário de uma das maiores economias de nações em desenvolvimento.

O livro está organizado em cinco partes. No primeiro capítulo, são discutidas questões teóricas sobre discurso e argumentação. Nele, procurou-se um entrelaçamento entre a Análise do Discurso Francesa e a Teoria da Argumentação, enfatizando as ideias de Chaïm Perelman, principal autor da última corrente.

O segundo capítulo apresenta a classificação dos discursos de Lula de acordo com questões históricas e políticas. Com isso, concluímos que o discurso político de Lula está dividido em três fases. Nesta parte, procuramos demonstrar que a mudança de Lula, comentada como resultado da campanha eleitoral de 2002, vinha acontecendo durante a década de 90. Aqui são analisados os períodos do sindicalismo até as campanhas da década de 90. O período corresponde às duas primeiras fases do discurso de Lula: a primeira – Fase Extrema Esquerda - e a segunda – Fase de Transição.

A campanha vitoriosa de 2002 é analisada no terceiro capítulo. O primeiro sinal de que o governo petista seria de centro foi dado durante a publicação da Carta ao Povo Brasileiro, em junho 2002. Apesar de não analisarmos esse documento, podemos dizer

que, com ele se oficializou o começo da Fase Centro-Esquerda, publicizada durante a campanha eleitoral. Esse trecho do livro se destina à análise das estratégias de comunicação adotadas naquele período, enfatizando as alterações discursivas.

No capítulo seguinte, analisamos o discurso de Lula sobre emprego durante o primeiro ano de governo. Procuramos exemplificar as principais características com alguns trechos mais emblemáticos. Por sua vez, o quinto capítulo traz a análise da campanha eleitoral que o reelegeu, em 2006. Nas considerações finais do livro, publicamos uma tabela com a síntese das três fases. Consideramos esse fechamento uma forma de visualização eficiente que contempla as mudanças do discurso político de Luiz Inácio Lula da Silva.

Portanto, a leitura oferece uma amostragem significativa dessas décadas de vida pública do primeiro Presidente da República, eleito sob a legenda do Partido dos Trabalhadores. Ressalta-se que não há pretensão alguma de julgar ou analisar os feitos do governo, mas oferecer reflexões sobre discurso, comunicação e política, tendo como base a importância histórico-social que Luiz Inácio Lula da Silva representa para o Brasil e para o mundo.

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CAPÍTULO I

DISCURSO POLÍTICO E ARGUMENTAÇÃO .........................29

Conceito de discurso político ...........................................35A nova retórica ......................................................................37O público ..................................................................................42O acordo ..................................................................................43As técnicas argumentativas ................................................48Argumentação fundada na razão .....................................49Argumentação fundada na emoção ..................................51

Ligações de Sucessão..................................................52Ligações de Coexistência .........................................53

Argumentação pelo caso particular ...............................56

CAPÍTULO II

O DISCURSO DE LULA ANTES DA PRESIDÊNCIA .............61Fase 1 - Extrema esquerda ....................................................63

Criação do Partido dos Trabalhadores ..............70Lula Deputado Federal ............................................81Primeira candidatura à Presidência daRepública ......................................................................86

Fase 2 - Transição ...................................................................90

CAPÍTULO III

CAMPANHA DA VITÓRIA NA FASE CENTRO-ESQUERDA ... 99

Expectativas da população ...............................................110

CAPÍTULO IV

LULA PRESIDENTE - O PRIMEIRO ANO NOGOVERNO ...............................................................................115

Em 20 anos, muita coisa pode mudar ...............................122

Obsessão retórica .............................................................. 125De volta às origens: ataque e defesa ............................. 132Líder mundial ...................................................................... 136Programa Primeiro Emprego ........................................... 140O segundo semestre do governo petista ....................... 141Contato radiofônico ......................................................... 149Final do primeiro ano ........................................................ 154Partido dos Trabalhadores e governo dostrabalhadores? ............................................................. 158

CAPÍTULO V

É LULA DE NOVO .................................................................. 163

Polarização e segmentação do público eleitor ............. 164A campanha por emprego ..................................................166Final do primeiro turno....................................................173Segundo turno .....................................................................174E a campanha chegou ao fim... ..........................................181Saldos e comparações ........................................................183Discurso da vitória ............................................................185

CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................187

REFERÊNCIAS ........................................................................ 201