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LUIZ GUSSON LUZ NA SOLIDÃO O DESPERTAR DE UMA ALMA NA PRISÃO 1

Luz Na Solidão Luiz Gusson

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LUIZ GUSSON

LUZ NA SOLIDÃO

O DESPERTAR DE UMA ALMA NA PRISÃO

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Um homem marcado pelas facilidades da vida é envolvido em situações criminosas que o levam ao cárcere. A Justiça se faz e no espaço de oito metros quadrados de uma solitária, em meio a livros inspiradores, o condenado encontra no Yoga o caminho para acender a luz da própria alma.

Luz na Solidão não é apenas um livro, é o depoimento marcante da trajetória transformadora de Luiz Gusson, que revolucionou a si e ao sistema penitenciário para o qual foi transferido, criando ali um centro de práticas yogues que hoje beneficia outros presos.

O exemplo de Gusson é motivação para todos que desejam melhorar-se intimamente, rompendo com a prisão do ego.

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Luiz Henrique Gusson Coelho, nascido em São Paulo no ano de 1973, oriundo de família de classe média, formou-se em 1989 pelo Senai-SP como Eletricista de manutenção, e mais tarde deixou os estudos no terceiro ano do segundo grau para dedicar-se ao ramo da construção civil. Os caminhos errôneos escolhidos na vida o levaram em 2001 à prisão. Nela, que para a imensa maioria representa apenas um local de dor e sofrimento, conseguiu se reencontrar.

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"Ouvistes o que foi dito:

Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem.

Deste modo, sereis os filhos de vosso Pai do Céu, pois Ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.

Se amardes somente os que vos amam, que recompensa tendes?"

Mt 5:43-46

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Reconheço que sem a vida de Amor e sacrifício do Amado Mestre Jesus, bem como sem o exemplo amoroso da vida de Sri Sathya Sai Baba, eu não teria conseguido iniciar minha caminhada para o necessário reajuste com as Leis do Pai Eterno.

Dedico esta obra a todos aqueles lutadores incansáveis do Espírito, que de alguma maneira, heroicamente, batalham diariamente para alcançar a luz.

Com profundo amor e gratidão...

...ofereço este livro, de todo o meu coração, ao meu querido Prof. José Hermógenes de Andrade Filho, que há algumas décadas escreveu o livro Autoperfeiçâo com Hatha Yoga, o qual me possibilitou colocar em prática os anseios do meu coração, na tentativa de me reformar.

O senhor, querido mestre, estará para sempre em meu coração.

Namastê.

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"Vinde a mim todos que estais cansados e eu vos aliviarei."

Mt 11:28

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"Se deres um passo em minha direção, eu darei cem na sua."

Sathya Sai Baba

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Paramahansa Yogananda

Foi o primeiro grande mestre hindu a viver no Ocidente porlongo período (mais de 30 anos), e quem trouxe do Oriente

o conjunto de técnicas e mensagens redentorasdo Kriya Yoga.

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"A esse amado mestre da alma devo todo meu amor egratidão por seu esforço em escrever, há algumas décadasatrás, o maravilhoso livro Autoperfeição com Hatha Yoga,que possibilitou-me um guia seguro para meu caminhar de

volta à Casa do Pai Celestial."

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AGRADECIMENTOS

Quero registrar aqui todo o afeto, respeito, admiração e gratidão ao meu querido irmão, amigo e companheiro Rogério de Almeida Freitas (Jan Vai Ellam), pelo apoio, incentivo, compreensão e carinho a mim dispensados em todas as horas, mesmo sendo eu ainda tão imperfeito. Você tem em mim, querido irmão, um sincero reconhecedor de seu trabalho heróico na anunciação das Boas Novas Cósmicas. É uma honra viver próximo a você.

Aos amigos queridos Rossana Sudário, Rodrigo Freitas e Manoel Pereira, obrigado por me aceitar após eu ter feito tantas bobagens.

Jamais me esquecerei também do meu querido irmão espiritual Marcelo Buainain, que com grande inspiração produziu o documentário sobre minha vida com Yoga na prisão, o qual mostra que existe a possibilidade de abandonar as trevas c buscar a luz, independentemente de onde estejamos.

À minha amada mãe, companheira inseparável na vida moral e nas dores do cárcere, todo o meu amor.

Ao meu amado amigo e irmão espiritual Daniel, inabalável no apoio, saiba que mesmo estando agora do outro lado da vida, estará sempre presente em meu coração. A vida nos reunirá novamente no mundo espiritual, tenho certeza.

Ao querido João Ricardo, a quem considero um verdadeiro irmão, obrigado por permitir que eu desfrute sua amizade. Admiro sua honra e caráter.

A uma grande alma que, mesmo ocupando uma posição de poder na qual a imensa maioria se perde nas tramas de seu próprio cgo, gloriosamente e contrariando a regra, demonstrou com gestos inequívocos de apoio, amizade e afeto para comigo c com minha amada, que o verdadeiro PODER é aquele que do coração sincero e cheio de luz emana. A você, a quem chamarei apenas de irmã X com o intuito de protegê-la de uma sociedade preconceituosa, todo meu reconhecimento e gratidão.

Ao Sr. Leonardo Arruda Câmara, Secretário de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte, ao Capitão José Deques Alves, Coordenador do Sistema Penitenciário do Rio Grande do Norte e à Dra. Guiomar Veras de Oliveira, Ouvidora de Justiça do Rio Grande do Norte, pelo apoio que me deram dentro do Projeto Mente Livre.

A Tatiana de Lima Saraiva e Alípio Marcus Laça de Oliveira, diretores da Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP), bem como aos capitães Marlon, Lisboa e Kerginaldo, vice-diretores da PEP, pelo apoio de todas as horas.

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A todos os outros amigos e amigas, que por serem muitos não posso citar nominalmente, entrego meu amor e minha gratidão perenes.

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao querido irmão espiritual Mário, que me mostrou na prática o valor do ensinamento de Sai Baba: "Mãos que ajudam são mais sagradas do que lábios que oram". Sem você, este livro tardaria a ser editado. Que o Pai Celeste o ajude, ilumine e proteja sempre em sua busca pela auto-realização. Jamais poderei agradecer por tudo que já fez por mim. Namastê.

ESPECIALMENTE

À doce amada de minha alma.

Obrigado por surgir em minha vida depois de eu ter renascido.

Encontrei em você a expressão máxima do verdadeiro amor entre duas almas.

Estaremos sempre juntos... sempre!

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ÍNDICE

Prefácio 13

Esclarecimento necessário 15

CAPÍTULO l Minha vida antes da prisão19

CAPÍTULO 2 Normótico 28CAPITULO 3 A dor amiga 31CAPÍTULO 4 Dentro do caminho estreito 40CAPITULO 5 Nas asas do infinito 48CAPITULO 6 Sri Sathya Sai Baba surge em minha vida 51CAPÍTULO 7 Últimos instantes na solitária 61CAPÍTULO 8 Atravessando o deserto 64CAPÍTULO 9 Deus envia Hermógenes 70CAPÍTULO l0 O julgamento do meu passado 81CAPÍTULO 11 Projeto Mente Livre 87

Posfácio 95

Projeto: Rehabilitação Social 109

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Prefácio

Este não é um livro para agradar a críticos literários.

Ele interessa a você, a mim e a todos que sentem desconforto neste planeta, nesta hora, que aspira por verdade, retidão, paz, amor e não-violência.

É a história de um condenado por crime de homicídio.

Este livro foi produzido dentro de uma penitenciária em Natal.

A história já está contada num documentário (DVD)-Do Lodo ao Lotus - e faz chorar qualquer auditório. Choca pela beleza, pela constatação da verdade muito estranha, inédita mesmo.

Preciso ser mais direto e mais claro.

Vamos à história.

Recebi uma carta surpreendente, assinada por um encarcerado numa penitenciária em Natal. Ao longo de praticamente 50 anos venho recebendo testemunhos de impressionantes curas, recuperações, reprogramações da vida. Por que reagi diferente, muito mais feliz? Logo de início Luiz Henrique Gusson Coelho afirmava encontrar-se preso e, por misericórdia Divina, estar se sentindo mais liberto que antes. Isto porque meu livro lhe possibilitara conhecer: 1. O Yoga; 2. Sai Baba, um santo e sábio que vive na índia e para milhões em todo o mundo é uma encarnação Divina; e 3. Hermógenes. Não me agradei pelo que ele pensa que sou e ainda não consegui ser. O que me tocou principalmente foi ele ter conseguido ver misericórdia Divina em sua internação torturada em solitária durante um ano e meio. Imediatamente pensei em mim, pois há mais de 40 anos também vi misericórdia de Deus na tuberculose que quase me matou. Então, sofrimento é misericórdia?! A fome padecida pelo filho pródigo foi o que lhe possibilitou erguer-se e tomar o caminho de volta. A misericórdia se manifesta de variadas formas, inclusive na dor. Gusson e eu conhecemos uma verdadeira misericórdia chamada Yoga. Tanto ele como eu tivemos abertos nossos olhos espirituais para um caminho mais largo, para sair deste mundo ilusório que é a vida normal, que atrai, distrai, trai e mesmo mata, no qual egoisticamente buscamos uma felicidade que é apenas gozo efêmero e lutamos por um poder, que também é transitório. Junto com a misericórdia da dor, tivemos a misericórdia do tratamento - o Yoga.

Com este livro quer prestar um bom serviço, narrando sua história pessoal. Ele está contando a história de sua alma quando vivia no lodo sombrio da ignorância, do egoísmo e

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dominado pela ambição, pelas rejeições e pelo medo, finalmente, padecendo esta cultura hipócrita, poluída pela corrupção, pelo desamor, pela violência. Assim é a vida do lodo, no lodo. Ele narra tudo, com verdade e detalhes, sua trajetória, desde o fundo lamacento, vencendo a poluição das águas do lago, atingindo finalmente vitorioso e livre a superfície das águas. Ali desa-brocha como um cântico de libertação e vitória, a vitória de receber os beijos amorosos do sol.

Desconheço uma história de vida tão semelhante à história do filho pródigo como a que este livro lhe contará. Ele era um filho pródigo ainda na fase de se entregar à busca ansiosa de prazer e poder. Naquela fase em que o filho gozava com os amigos, falar de Deus seria pecado. Nessa fase apaixonada, praticou tantas loucuras que a Lei o castigou com a solitária na prisão. Constatou dolorosamente que prazer não é felicidade, que poder é algo temporário. A filosofia do livro de Yoga o ajudou a descobrir que a verdadeira felicidade e o poder verdadeiro estão dentro de nós, no coração. Ele concluiu sobre o valor do sofrimento para que o filho pródigo faça a opção decisiva.

Qual o endereço da academia onde ele aprendeu e praticou Yoga? Pergunte a Gusson e ele prontamente lhe dirá - minha cela numa penitenciária natalense.

Gusson precisa corrigir um teimoso equívoco - tomar o autor do livro que tanto o ajudou como um sábio, como um yogi, um guru, um iluminado, um sei lá o quê...

Peço ao leitor que, neste assunto, também não veja em mim aquilo que ainda não sou.

E a misericórdia, a graça Divina, que estão agindo em Gusson, em você e em mim, por que não?

NAMASTÊ

OM SAI RAM

Hermógenes*

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* Prof. José Hermógenes de Andrade Filho, escritor, poeta e mestre em Yoga.

ESCLARECIMENTO NECESSÁRIO

Insondáveis são realmente os caminhos de Deus. A vida, tão bela quanto misteriosa, às vezes nos apresenta situações em que, ao tomarmos decisões equivocadas, acabamos por nos perder, bem como, o que é pior, magoar, ferir e fazer sofrer outros irmãos no curso da viagem planetária que é esse nosso existir transitório no Planeta Terra.

Foi exatamente o que aconteceu comigo: uma espécie de "doença mental c espiritual", alienando-me dos valores morais da vida, apossou-se de mim por um determinado tempo.

No estado de desequilíbrio moral e espiritual em que me encontrava, acabei por me complicar, causando dor e sofrimento a outros e, conseqüentemente, a mim mesmo, por força da lei universal de causa e efeito que, no Oriente, é conhecida como lei do Karma.

O que vou contar nas páginas seguintes não é ficção. É a história real de um ser humano que, iludido pelos valores puramente materiais, descumpriu as eternas leis universais do amor.

Narrarei, com toda a sinceridade e franqueza que me movem neste trabalho, aquilo que fiz em tempos passados, quando a ambição e a busca por riquezas e prazeres que o mundo vende norteavam meu agir egoísta.

Hoje confesso envergonhado que ser egoísta, ou seja, pensar somente em mim e nos meus, era para mim uma atitude natural. Buscava, naqueles tempos, desfrutar a vida ao máximo, mesmo que para isso tivesse de passar por cima de tudo e de todos, o que tristemente acabei fazendo.

Somente agora, olhando para um passado desastroso como o meu, sei que nosso grande erro na vida é perder a simplicidade da alma, tão bem demonstrada pela vida ímpar do Mestre Jesus. Mas quem se importa com o exemplo de Cristo?

Assim como muitos, eu não tinha tempo a perder com essas "bobagens". Não é assim que pensamos? Lamentável engano!

Contudo... Por que contar a história da minha vida? Para que somar aos noticiários sanguinários, que jornais e televisões transmitem eufóricos, um livro que fala, em parte, dessa violência? Garanto que não é para competir com redatores e locutores ansiosos por vender imagens e reportagens com o drama diário da vida real, de um mundo tão violento e desigual como este em que vivemos.

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Escrevo este livro porque reconheço, humildemente, que a promessa de Deus de deixar uma porta sempre aberta ao arrependimento de seus filhos é fato por mim comprovado, como você verá no decorrer destas páginas. Quero, apenas, compartilhar isso com você.

Minha história é a de alguém que não suportou o peso da culpa, a vergonha de se olhar no espelho e o desesperador sentimento íntimo de sentir-se isolado daquilo que convencio-namos chamar de Deus.

A angústia de me reconhecer como um "porco" a mais na construção do mundo horrível em que vivemos tornou-se insuportável para mim.

Já encarcerado em uma solitária no quartel da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, em momentos de profundo desespero diante das tristes constatações de quem eu havia me tornado, cheguei à conclusão de que fugir pela porta do suicídio seria a apoteose da covardia; e eu sentia, nas profundezas de meu ser, que essa atitude só agravaria o problema.

Comecei então a questionar os porquês de todos os acontecimentos de minha vida. Não me limitei apenas aos acontecimentos que me levaram à prisão, mas a todo o contexto do meu passado, até onde pude me lembrar. Fiz uma criteriosa análise, tentando ser o mais imparcial possível, não atribuindo culpa nem a mim nem a ninguém, porém sendo duro comigo mesmo nesses questionamentos.

Encontrei muitas respostas, inclusive, quando analisei fatos em que fui vítima da dor causada por outros e concluí que todos os envolvidos em uma questão, de uma forma ou de outra, conscientes ou não, sempre contribuem para o desfecho final, seja qual for, tornando-se co-responsáveis pelos acontecimentos.

Mas não parei meu questionamento unicamente nas situações que me envolviam. Procurei respostas, também, para esse nosso aparente existir sem objetivo, em um mundo tão desigual que muitas vezes até parece hostil.

Reconheci a verdade dita pelos grandes mestres, ou seja, a de que o que todos buscam, enquanto existem nesta vida temporária na matéria, é apenas ser feliz e evitar a dor. Mas o porquê de, nessa busca, cometermos toda sorte de desvarios, mentindo, caluniando, prejudicando, roubando, maltratando, magoando, oprimindo, matando, usurpando, enfim, "arrebentando-nos" uns aos outros, ao planeta e aos demais seres que o Pai Celeste nos deu por companhia, era o grande mistério a ser descoberto. Por quê?!

Por que é tão difícil perceber que, por maiores que sejam nossas conquistas mundanas, ainda assim, temos uma inquietante necessidade de nos completarmos? Por que sentimos esse vazio interior que, asseguro por experiência própria, não pode ser preenchido com prazeres ilusórios como riquezas, posses, poder, fama, aplausos e muitas outras formas de engodo mundano?

Após iniciar minha busca, não demorei muito a perceber que a única coisa existente no mundo - e que na verdade a ele é inerente - que tem a capacidade de nos curar, ou seja, de preencher esse vazio que sentimos na alma, é o AMOR. Não o amor comum, possessivo, egoísta, ansioso em receber, mas o verdadeiro amor Divino, que é expansivo, abnegado, altruísta, que presta serviço ao próximo sem esperar nada em troca, nem mesmo um simples obrigado.

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O que nos impossibilita essa percepção e conseqüentes mudança de comportamento e vivência é a cegueira espiritual reinante em nós, causada por nosso enorme, monstruoso egoísmo.

Foi apenas experienciando o ato de amar incondicionalmente - mesmo que por breves momentos devido a minha grande imperfeição - que pude começar a reconhecer o valor de tudo que Jesus nos deixou como legado em seu incomparável discurso, registrado no Novo Testamento como o Sermão da Montanha.

Somente diante dessa experiência singular vislumbrei compreender por que o amado Mestre da Galiléia chamou Deus de Pai Celeste.

O caminho que hoje percorro em busca dessa "realidade suprema" nada mais é do que reflexo da percepção interior e a busca íntima é, de fato, o grande objetivo da vida. É essa percepção que me leva a querer dividir as experiências de minha jornada com você.

Reconhecer nossa divindade inata e nos tornar seres de amor e Paz tenho certeza, é o dever de cada um de nós que estamos encarnados neste mundo. Se assim não fosse, por que teria dito Jesus "Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai que está nos Céus"?

E mais, por que tantos outros seres de luz, expressões puras de amor como Sathya Sai Baba, Sidarta Gautama (o Buda), Krishna, Zoroastro, Lao Tsé, Babaji, Paramahansa Yogananda, Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, São Francisco de Assis, Chico Xavier, Dalai Lama, Prof. Hermógenes, Allan Kardec, Jan Vai Ellam e outros, teriam vindo ao mundo, em diferentes épocas, trazendo sempre a mesma mensagem de amor fraterno, na sagrada tentativa de nos induzir a buscar a realização maior que é a união com nosso Pai Celestial?

Sri Sathya Sai Baba, um ser perfeito, do calibre espiritual do amado Mestre Jesus, e que ainda está encarnado na Terra, mais propriamente na índia, diz que "a Divindade é inerente ao homem e ele tem de descobri-la por esforço próprio". O que estamos fazendo nesse sentido? Qual é o esforço real que cada um de nós empreende nessa busca pelo que é Divino?

Mas esse grande ser, expressão maior da Divindade na Terra, não se limita a nos fazer tal admoestação para depois nos abandonar à própria sorte. Não! Ele nos dá uma regra básica para que atinjamos a meta, dizendo: "Se vocês desenvolverem o amor, não precisam desenvolver mais nada.

Um ensinamento tão simples e ao mesmo tempo tão difícil de ser posto em prática, não é? Mas creia: se dermos um passo na direção de Deus com essa intenção sincera em nossos corações, Ele dará cem passos na nossa direção, porque verdadeiramente é um Pai de Amor.

Usarei de todo empenho para transmitir as situações que vivi até agora, retratando inclusive as vivências internas de minha alma ao longo dessa estrada. Não me preocuparei em fazer um texto empolgante ou mesmo agradável e atrativo, mas verdadeiro, procurando ser detalhista no que puder recordar.

Quando o querido Professor Hermógenes - mestre em Yoga e escritor - e, mais tarde, o também querido amigo e irmão espiritual Rogério de Almeida Freitas - escritor e anunciador de boas novas cósmicas sob o pseudônimo de Jan Vai Ellam -me pediram que escrevesse este livro, roguei ao Pai Amado que me concedesse a graça de realizar duas coisas ao longo deste trabalho:

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A primeira, que o livro fosse autêntico e que eu conseguisse afastar a nefasta tendência que temos de ser indulgentes com nós mesmos quando se trata de autocrítica.

A segunda, que estas páginas fossem úteis à reflexão de ao menos uma única pessoa e que os erros e acertos de minha vida a serem retratados pudessem instigar o leitor a ouvir e buscar pôr em prática, em sua vida diária, a essência única e igual da mensagem de amor trazida para todos nós, habitantes do planeta Terra, pelos iluminados de todas as eras.

Esta é a mensagem que hoje ouso dizer que aprendi, mesmo não conseguindo colocá-la sempre em prática na vida diária como deveria, pois ainda sou possuidor de inúmeros defeitos e fraquezas que impedem a expressão maior de meu verdadeiro ser.

O que importa, a mim e a todos que já iniciaram a grande obra interior, é jamais desistir do ideal de amar incondicionalmente, e assim sendo, espero sinceramente que este livro possa despertá-lo para a realidade de que todos nós, seres "ditos" humanos, somos membros da mesma família planetária.

Rogo que possamos perceber que já é mais do que chegada a hora de parar de nos destruir mutuamente e também de destruir a casa planetária (com todos os seus seres) que Deus nos deu como morada.

Chega de tanto egoísmo! Deixemos de ser entes estúpidos a engendrar dor e sofrimento ao nosso próximo, através de fome, guerras, horrores e desigualdades, em nome do "progresso" e de tantas outras coisas estúpidas, utilizando inclusive - e o que é pior - o santo nome de Deus para justificar ações tão perversas.

Algumas nações usam a desculpa de que fazem suas guerras para promover a paz. Será que não percebem a impossibilidade de atingir este objetivo utilizando os meios da barbárie?

A verdadeira paz só será possível com a expansão do amor e esta é uma atitude que temos de construir a partir de nós mesmos.

Sejamos então, cada um de nós, arquitetos de nossas vidas morais, fomentando assim o tão sonhado mundo de paz e amor para todos nós.

Através deste livro, desejo mostrar que, apesar de nossos passados transgressores, nesta ou em outras existências, nosso Pai Amado está sempre pronto para nos auxiliar no esforço pela tão necessária reforma íntima. Basta que queiramos executá-la e, então, darmos o primeiro passo na busca desta meta.

Precisamos reaprender a amar para que, num futuro ainda distante, possamos dizer junto com Jesus:

"Eu e o Pai somos Um"

NamastêLuiz Henrique Gusson Coelho

Penitenciária Estadual de Parnamirirn-RN

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Abril/2006

CAPITULO 1

MINHA VIDA ANTES DA PRISÃO

Julgo necessário contar alguns eventos de minha vida, para que, familiarizando-se um pouco mais comigo, você possa ter uma vaga idéia de como vim parar em Natal/RN e como se desenrolaram dos fatos que me trouxeram à prisão.

Nasci na cidade de São Paulo/SP, em 24 de agosto de 1973. Sou o filho mais velho de uma família que tem três filhos, sendo dois homens e uma mulher.

Meus pais foram casados por mais de 20 anos e separaram-se quando completei 21 anos de idade.

Tive uma infância saudável, vivendo até os sete anos na cidade de Lindóia, no interior paulista, na companhia de meus avós maternos. Com meu avô, que sempre foi meu melhor amigo, tive os melhores momentos da infância.

Quando completei sete anos, a empresa de confecção do meu pai faliu devido a um golpe que ele sofreu de uma cliente, que não lhe pagou a produção de roupas de todo um mês.

Sem a perspectiva de reestruturar o negócio, meu pai deixou a casa dos meus avós para ir trabalhar como analista de sistemas em uma empresa na cidade de Belo Horizonte/MG.

Lá, com a vida já se reorganizando, sofri o primeiro duro golpe do destino, quando a morte levou meu avô. Perdi uma parte de mim naquele dia, mesmo sendo ainda tão jovem. As cenas daquele dia e as do funeral, no dia seguinte, jamais sairão de minha memória.

Foi também em Belo Horizonte que descobri que não existe Papai Noel e muito menos coelhinho da Páscoa, que estas são apenas invenções de comerciantes que acabam obscurecendo o real significado espiritual das datas festivas religiosas.

Algum tempo após a morte do meu avô, meus pais decidiram novamente residir no estado de São Paulo para que, dentro das possibilidades de trabalho do meu pai, pudéssemos estar o mais perto possível da minha avó, agora viúva.

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Voltamos, então, para São Paulo, desta vez para a cidade de São José dos Campos, importante pólo industrial do estado. Lá tive acesso a boas escolas e pude me dedicar à criação de cachorros e peixes, o que muito apreciava.

Sempre foi muito forte em mim o amor pelos animais e pela natureza, apesar de, mais tarde, no decorrer do curso de Agronomia, ter de aprender a matar nossos irmãos menores na criação (no meu caso, foram os coelhos), pois estes eram servidos nas refeições dos alunos. Esse triste ofício era um trabalho obrigatório. Lamentável raça humana!

Ainda em São José dos Campos, descobri o verdadeiro valor da amizade e companheirismo, tão raros quando nos tomamos adultos cheios de interesse nas relações que desenvolvemos. Lá pude também me deliciar com uma paquera inocente, uma coleguinha de escola. Bons tempos aqueles!

E foi em São José que aprendi a gostar de estudar, graças à querida professora Ana, que nos educava com amor verdadeiramente maternal nas lições do dia-a-dia. Devo a ela e ao zelo de minha mãe, companheira nas tardes de estudo, a minha relativa facilidade com as letras.

Por volta dos 13 anos, tivemos de nos mudar para a cidade de São Paulo, pois meu pai conseguira um emprego melhor que o de São José. Só Deus sabe como senti saudade dos amigos e da escola. Naquela época, lembro-me de desejar que o tempo parasse e eu pudesse ser criança para sempre... Talvez fosse um vislumbre do difícil futuro que me aguardaria anos depois.

Já em São Paulo, aos 14 anos, consegui meu primeiro emprego. Provei muito cedo o sabor da independência e até hoje acredito ser desejável que uma pessoa tenha diversas habilidades. Posso dizer, sem medo de parecer presunçoso, que sei fazer um pouco de tudo para satisfazer as necessidades básicas diárias de sobrevivência. Dependo apenas de mim mesmo e de minha saúde.

Desde então, até os dias de hoje, mesmo preso nunca mais deixei de trabalhar. Durante o ano e meio em que estive na solitária e me proibiram de trabalhar, até mesmo com artesanato, dentro da cela, lavava minhas roupas e fazia duas faxinas por dia, na tentativa de conservar um mínimo de dignidade que me fosse possível naqueles dias.

No ano seguinte, nos mudamos para uma casa própria, na zona sul de São Paulo, mais especificamente nas extremidades do bairro de Interlagos.

Nesse período, o pai de um grande amigo meu, o Abílio, conseguiu para mim um contrato com as Bicicletas Caloi S/A, para que através dela eu fizesse o curso de Eletricista de Manutenção no Senai/SP.

A empresa me remunerava para eu estudar em tempo integral, o que fiz durante um ano e meio, após o qual me formei e fui trabalhar na própria Caloi, como funcionário efetivado, mas não fiquei lá muito tempo.

Naquela época, queria dar expressão aos anseios de meu coração e, para tanto, fui estudar na Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes/MG, onde, julgava eu, a proximidade com a natureza e o distanciamento do meu já conturbado lar - por causa das constantes

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desavenças entre meu pai e eu - pudessem pôr fim a uma espécie de dor existencial que me perseguia desde que completei 12 anos.

Após quase um ano de curso e de ter conquistado o reconhecimento dos professores pela minha atuação nos trabalhos da fazenda que compunha a escola, aquela mesma dor estranha e um vazio interior acabaram por me conduzir à convivência com os amigos de república.

Impulsionado pelos companheiros e em pleno frescor da juventude, dediquei-me a preencher o vazio participando de inúmeras bebedeiras com os colegas. Essas festas sempre me deixavam ainda pior no dia seguinte. Era tomado não só pela ressaca física, mas também por uma ressaca moral indizível.

Esse comportamento agravou-se a tal ponto que abandonei a escola e voltei para São Paulo, onde decidi que iria trabalhar, passando algum tempo longe dos estudos.

Assim fiz, porém agora com rneu pai ocupando um alto posto dentro da empresa em que trabalhava. Com dinheiro sobrando e pelo fato de nossa nova casa ser muito boa para eventos (tinha área de piscina, churrasqueira, etc.), meu pai promovia nela, todo final de semana, animadas reuniões com os colegas do escritório.

Todos iam lá para beber, dançar e comigo não era diferente.

Com apenas 16 anos, bebia muito e me relacionava com pessoas sempre mais velhas que eu. Usei drogas esporadicamente, maconha e cocaína, mas, graças a Deus, nunca gostei e deixei esse péssimo hábito voluntariamente.

Foram alguns anos passados em "constante estado de festa", pois quando elas não se davam em nossa casa de São Paulo, ocorriam em nossa chácara em Lindóia, com direito a banda de música ao vivo e tudo o mais que pensássemos ser possível fazer para nos "trazer felicidade".

Em geral a festança começava na sexta-feira à noite e só ia terminar no domingo à tarde, num embalo regular que marcou minha vida dos 16 aos 20 anos.

Foi então que, em certo final de semana, na preliminar de uma dessas festas, fomos assistir ao show do grupo Barão Vermelho, no Sesc Interlagos, onde conheci a mulher que iria me apresentar à dor da desilusão.

Essa pessoa me fez saber que realmente existe a história de amar alguém de verdade. Por outro lado, também me mostrou quanto podemos sofrer por amor, se este for mal dirigido.

Aqui, pela sinceridade que no início deste livro prometi ter, vou abrir um parêntese

para confidenciar que Deus me concedeu, enquanto escrevo estas páginas, uma nova oportunidade de amar. Tão forte é o sentimento atual, que todas as experiências do meu passado com essa mulher em tela se tornaram poeira diante desse encontro. Como acredito na possibilidade da existência de almas gêmeas, penso ter encontrado a minha, de tão avassalador que está sendo este sentimento. Reconheço, humildemente, que Deus está me presenteando com uma pessoa maravilhosa, que mais parece um reencontro de almas que se amam há muito tempo. Obrigado, Senhor!

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Na época em que a conheci, eu com 20 anos e ela com 26, fui surpreendido por um sentimento até então desconhecido para mim.

Passava meus dias em prol daquela mulher, mas as conseqüências do meu passado desregrado, com festas embalando novas festas, aliadas à pouca experiência num relacionamento sério, bem como a minha escassa capacidade financeira (como gerente de uma oficina mecânica da qual meu pai era sócio, eu mal tinha salário), fizeram com que aos poucos as coisas fossem ficando ruins em nosso relacionamento.

Ela, ex-mulher de um executivo de banco e trabalhando também na função de executiva em agência bancária, tinha bom nível de vida, além de gozar, é claro, de larga experiência no relacionamento a dois, pois acabara de se separar.

Minha vida desregrada e a inevitável diferença financeira fizeram com que nosso amor fosse tão intenso quanto breve. Ficamos juntos, creio eu, por apenas seis meses, até que um belo dia ela me deu a trágica notícia: "Estou voltando para meu marido".

O mundo pareceu cair sobre minha cabeça. Fiquei sem chão c, por mais de meio ano, tentei de todas as formas esquecê-la, mas os motivos que nos levaram à separação também causaram um ferimento profundo em minha alma, difícil de ser cicatrizado naqueles dias de juventude.

Foi uma época terrível, talvez tanto quanto o foi a prisão.

O sofrimento de perdê-la e a dificuldade em esquecê-la se agravavam um pouco mais porque às vezes saíamos juntos, como que obedecendo à atração da inegável afinidade que havia entre nós.

Esses encontros só aumentavam minha angústia, pois ela queria que eu fosse outra pessoa, chegasse a outros campos da vida, coisa para a qual eu ainda não estava pronto. Finalmente, diante daquela situação insuportável, nos desligamos temporariamente, porém, não consigo agora me lembrar como aconteceu.

Namorei o quanto pude e retomei, agora por iniciativa minha, um ritmo frenético de festas e viagens. Enchia a cara sempre que podia e vivia como muitos "filhinhos de papai", achando que a vida nada mais era do que um passeio em um parque de diversões. Tolo engano!

Essa separação, para mim - e reconheço ter sido o culpado pelo nosso fracasso inicial -, foi o que me transformou em uma pessoa que, de lá para cá, nunca mais conseguiu se entregar totalmente a um relacionamento a dois.

Criei para mim uma espécie de proteção que, eu sei, só será quebrada a partir da chegada da minha outra metade. Espero que isso tenha acontecido agora, com a chegada desse ser angelical que é minha atual companheira e grande amada.

Após termos nos afastado por mais de um ano, aconteceram circunstâncias que até hoje não consigo explicar e voltamos a viver juntos. Mas eu não era mais o mesmo. A dor tinha me transformado e eu vivia à espera de uma tocaia emocional por parte dela. Esta sensação, aliada à mágoa pelo motivo passado que a fez me deixar, fez com que eu me complicasse em vários campos da vida.

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Primeiro porque, aos 21 anos, eu queria provar a mim mesmo que poderia dar-lhe o mesmo padrão de vida que ela tinha com seu ex-marido, que se bem me lembro, estava então com 50 anos e era alto executivo de um banco.

Quanta estupidez...

Essa postura causou prejuízos a mim, mas também a ela. Fiz uma sociedade desastrosa com empresários do ramo de óleo de soja, que terminou muito mal.

O fato é que, com pouca experiência - e eu pensava ter muita - fiz um contrato ruim, em que somente eu trabalhava e todos dividiam os lucros. Quando os negócios ficaram ruins, eles tiraram o time de campo e me sobraram somente as dívidas. Grande negócio, não?

Como não pude arcar com todas essas despesas, tive de recorrer a minha companheira. Senti-me mais humilhado ainda! O sabor do fracasso teve de ser bebido gole a gole.

Tivemos de responder juntos a uma ação judicial, mas conseguimos escapar sem maiores danos, pois, verdadeiramente, não havia sido minha intenção, em momento algum, lesar alguém. De qualquer forma, o problema era meu e ela foi envolvida por minha causa, porque eu usava a conta bancária dela para as transações comerciais da empresa desde que meu nome foi apontado no SERASA. Senti-me envergonhado.

Não foi fácil superar, já que também tive problemas na sociedade paralela com meu pai, no ramo de alimentos. Sem que pudéssemos suspeitar, meu pai enganou e abandonou a família sem antes pagar as dívidas do negócio.

Superamos essa difícil fase e, apesar de essas situações duras da vida terem o poder de unir as pessoas, minha mágoa interior pelo abandono de outrora não passava e eu me entreguei, por duas vezes, a relacionamentos extraconjugais.

Nunca fiz isso por falta de amor a ela, mas por uma espécie de proteção, pelo medo de voltar a sofrer no caso de perdê-la, como antes. Hoje reconheço a idiotice desse tipo de atitude.

Meu comportamento fez com que nos separássemos duas vezes, só que por breves momentos. Estava sendo eu, novamente, o causador do nosso sofrimento. Como não percebi a dor que estava causando a nós mesmos?

Apesar de todas essas dificuldades, eu a amava e como sou persistente na luta contra os obstáculos da vida, não me entreguei. Procurei ajudá-la a resgatar nossa vida sentimental e financeira. Montei uma pequena empresa no ramo da construção civil em São Paulo e esta, em pouco tempo, estava lucrando satisfatoriamente.

Nessa mesma época, comecei a freqüentar uma igreja evangélica, com o intuito sincero de melhorar-me como ser humano e de abandonar minha tendência a procurar relações extraconjugais. Queria, sinceramente, refazer minha vida ao lado dela, mas dois obstáculos surgiram:

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O primeiro foi a diferença de "fé" (desculpe-me pelo absurdo dessa frase, mas na época eu não compreendia). Ela não me acompanhava à igreja e eu me sentia lutando sozinho para salvar algo que era ou deveria ser da responsabilidade dos dois resgatar.

O segundo foi um assalto: um dia, ao deixá-la no trabalho, enquanto eu descia de carro a rampa de acesso ao estacionamento do banco onde ela trabalhava, fomos rendidos por três homens armados que assaltaram a agência. Não houve violência por parte deles, mas a experiência traumatizou-a de tal forma que tornou insuportável sua permanência na agência.

Por conta do ocorrido, decidimos que ela iria tirar férias e fomos passar uma semana em Natal. E foi aí que o destino começou a se revelar para mim.

A viagem foi incrivelmente transformadora, em todos os sentidos. Chegar à capital potiguar foi como ter a certeza interior de que aqui ocorreriam eventos transformadores em minha vida. Senti, também, o sincero desejo de reunir toda a minha família novamente, ou seja, que todos os parentes mais próximos a mim e a ela deveriam ficar unidos. Todos nós, a meu ver, deveríamos morar juntos, como uma unidade familiar e não como fragmentos separados que estávamos até então.

Eu e ela conversamos e decidimos que, se tudo conspirasse a nosso favor, nos mudaríamos para Natal, na tentativa de alcançar a tão sonhada felicidade através de um novo recomeço. Esse era o sentimento maior que nos movia.

Para tanto, essa "conspiração do Universo" deveria atuar a nosso favor em três frentes distintas:

A primeira, no sentido de eu conseguir vender minha empresa em tempo muito curto, o que achava quase impossível. Mas, como conspiração é conspiração, as invisíveis também têm forte poder e vendi minha empresa para um amigo que conheci no avião, ainda na volta de Natal para São Paulo.

Claro que foi um processo de poucos meses, mas tudo se resolveu, apesar de eu ter tido alguns dissabores, inevitáveis tanto pela rapidez com que o negócio foi fechado quanto por eu estar movido pelo interesse nas coisas do coração, que era a mudança com a família.

A segunda conspiração se aplicaria no sentido de vendermos o apartamento em São Paulo, o que, incrivelmente, fizemos em uma semana, para um cliente de minha própria empresa.

A terceira, desta vez sem qualquer espanto para nós, deu-se naturalmente, que era o banco fazer um acordo com ela para viabilizar a demissão.

Alguns outros detalhes resolvidos e seis meses depois estávamos todos morando nessa terra maravilhosa que é a cidade de Natal.

Fizemos tudo conforme o planejado, mas inacreditavelmente, mesmo com uma vida tranqüila, voltamos a nos desentender, principalmente no que dizia respeito a rninha convicção religiosa de então. Pelo menos, esta foi e é a minha visão e peço desculpas se alguns dos envolvidos nesses fatos se sentirem afetados por terem suas opiniões discordantes das minhas.

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O fato é que aconteceu e, por conseqüência de diversos outros fatores - que não vale a pena retratar aqui —, nosso sonho de felicidade ruiu em um ano.

Por outro lado, minha vida dentro da igreja que freqüentava estava ótima, pois, sem me ater ao fanatismo religioso e não me misturando muito com outras pessoas lá dentro, desenvolvia um relacionamento íntimo com o amado Mestre Jesus, o que me conferia enorme paz.

Para que você compreenda melhor minha ligação com Jesus, quando eu tinha 17 anos, profundamente inconformado com aquela vida de festas que levava, chegou-me às mãos um belíssimo livro - de autoria que não me recordo - chamado A Vida de Jesus.

Este livro me despertou admiração e respeito tais por esse homem que andava sobre as águas, transformava água em vinho e curava doentes, que vir a amá-lo foi natural, quase uma necessidade inconsciente.

Após a leitura desse livro memorável, tentei ingressar em uma ordem monástica cristã, o que por motivos até hoje ocultos a minha compreensão, acabou por não se realizar.

Assim, com a situação em casa não indo bem, comecei a passar a maior parte do meu tempo livre na igreja de certa denominação evangélica. Lá, comecei a formular idéias errôneas em minha mente, chegando à conclusão de que o fato de minha mulher não estar fazendo um esforço para buscar uma solução espiritual junto comigo para nossa vida era sinal de que - pasme pela minha ignorância espiritual! - Deus estari a enviando-me um sinal de que eu deveria abandonar meu amor para buscar a companhia de uma verdadeira "mulher de Deus".

Na minha percepção ignorante, como não éramos casados na igreja e como ela rejeitava, com raras exceções, me acompanhar às reuniões, achei que realmente a separação deveria se consumar.

Esse é o problema em se deixar guiar pela "letra que mata" e não pelo "Espírito que vivifica", tão comum aos "religiosos". Em meio a esse meu estado de confusão mental, conheci na igreja a mulher com quem, tempos depois, me casei, tive um filho e com quem suportei as dores por meus crimes. Dá pra acreditar?

O que mais me chocava até bem pouco tempo era o fato de que, estando eu de forma sincera - e garanto isso - buscando a Deus de todo o coração, como essas coisas puderam acontecer?

Hoje sei que, quando buscamos a Deus esperando qualquer outra coisa em troca que não seja unicamente o Seu puro amor, ficamos abertos a toda sorte de energias negativas, mazelas e enganos, provocados por nossas mentes egoístas e arrogantes.

Confesso que em pouco tempo alimentando esses pensamentos obsessivos não me reconhecia mais, e ainda hoje não acredito que sentimentos tão ruins e baixos puderam surgir dentro de mim. Acabei por dividir com essa pessoa uma vida infeliz, tanto para nós quanto para quem de nós se aproximou.

Não estou aqui, de forma alguma, atribuindo a ela a culpa pelos meus atos delinqüentes e irresponsáveis. Sempre agi com total desfrute do meu livre-arbítrio e, por

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escolhas equivocadas guiadas pelo meu coração, então destituído de amor pela vida e cavalgado pelos infindáveis desejos ambiciosos de minha mente, entreguei-me ao agir desvairado e inconseqüente.

Desculpe-me o leitor se não posso fazer do texto algo mais leve, atraente e um pouco melhor, mas peço sua compreensão para que reconheça a dificuldade de falar de si mesmo de forma honesta, na tentativa de apresentar eventos e situações que, julgo eu, tenham contribuído para moldar quem eu era.

A seqüência dos acontecimentos culminou naquilo que gosto de chamar, apocalipticamente, de meu "início das dores".

É lamentável, mas sou obrigado a confessar que descobri, somente pouco antes de ser preso, que a inexorável lei do karma agia em minha vida.

Através dessa companheira de então conheci o homem com quem me desentendi seriamente, causando um verdadeiro transtorno em minha vida.

Lamento hoje pelo triste escândalo político causado por mim à época. Somente Deus sabe quanto me arrependo e anseio pelo perdão de todos os envolvidos. Afinal, tive a chance de fazer escolhas e as fiz todas erradas. Reconheço a culpa que me cabe. Deixei-me levar pela ambição do enriquecimento fácil, tão comum à maioria de nós no mundo de hoje.

Diante de tantos desvarios, acabei por me envolver diretamente na morte de um rapaz que era responsável pela confecção de documentos falsos para minhas empreitadas criminosas.

O que dizer sobre esse evento cruel e criminoso? Apenas me resta pedir aqui, abertamente, o perdão para a família dele, pois se houvesse algo que eu pudesse fazer para alterar o passado e amenizar-lhes a dor, com certeza eu faria sem a mínima hesitação. Deus sabe que esta é a verdade dentro do meu coração.

Infelizmente, ninguém consegue fazer tais coisas, portanto, peço que me desculpe, pois não consigo encontrar as palavras corretas para dizer quanto me arrependo por tudo que aconteceu. Na verdade, sei que essas palavras não existem e, mesmo que existissem, não o trariam de volta. Sinto muito mesmo... Perdão!

Esse crime foi o que me conduziu à prisão para o cumprimento de uma pena de 14 anos de reclusão e cinco meses de detenção.

Inicialmente a prisão teve efeito devastador em minha vida. pois minha então companheira e meu filho também foram presos comigo. Na época, meu filho estava com um ano e dois meses.

Foi um momento muito difícil na minha vida e, apesar de tudo, sacrifiquei-me, literalmente, no sentido de alcançar a libertação daquela criança que tanto amo e de sua mãe.

Consegui realizar este intento com sucesso após cinco meses de prisão. E é justamente por tal sacrifício que espero que ela não se ofenda em seu ego por causa dessas minhas palavras, às vezes desagradáveis, sobre nossa "vida" juntos. Assim procedo pela imperiosa necessidade de fazer deste livro um relato verdadeiro.

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Peço então a quem ler estas palavras, que não julgue a ela e a nenhum envolvido nessa história, pois somos todos, cm dado momento da vida, vítimas das próprias idéias e conceitos equivocados que cultivamos, vítimas de nós mesmos. Sim ou não?

O importante é que, utilizando esses erros como aprendizado, façamos um esforço verdadeiro pelo aperfeiçoamento moral. Esse é o primeiro dever que nos cabe.

Desejo, sinceramente, que meus erros do passado, meu sacrifício em ficar preso e de agora falar abertamente de minha vida, sirvam como lição e aprendizado não só para os que estão envolvidos nessa história, mas também para todas aquelas pessoas que orgulhosamente se gabam de ter ficado longe das garras da lei dos homens e de Deus.

Para aqueles que, hipócrita ou ingenuamente, pensam ser pessoas irrepreensíveis, sugiro um auto-exame mais honesto, profundo e imparcial.

Digo isso não para ofender, mas porque desejo, do fundo do meu coração, que os egoístas, arrogantes e presunçosos de hoje, seja em que nível for, não causem ou venham a causar, no futuro, dor e sofrimento para si mesmos, para os seus, para os outros e, muito menos, para nosso lindo planeta Terra, através de desvarios perfeitamente evitáveis.

Para tanto, basta que essas pessoas desenvolvam uma mínima compreensão amorosa em seus corações, no entendimento de que a vida é algo muito maior do que esta curta existência na matéria.

Lembre-se das palavras do amado Jesus: "Orai e vigiai" e lembre-se, também, de que quem fala agora é um amigo que errou e luta, diariamente, de forma árdua, contra seu maior inimigo (eu mesmo) em busca de se melhorar intimamente, para poder ser digno de carregar o honroso título de Ser Humano.

"As cadeias que nos amarram ao infernosão feitas da teimosa convicção

de que já temos o Céu."Hermógenes

LUIZ GUSSON

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CAPITULO 2

NORMOTICO

Foi nos textos do querido professor Hermógenes que encontrei a inspiração para o título deste capítulo.

Em seus vários livros, o prof. Hermógenes classifica como "normóticas" aquelas pessoas que vivem suas vidas de forma reativa, que agem como as outras pessoas, que não agem de forma consciente, fazendo parte dessa maneira quase doentia de viver que é o nosso atual modo de vida na sociedade.

Todos nós fazemos exatamente aquilo que os outros fazem, temos praticamente os mesmos hábitos, preferências alimentares, interesses, convicções, diversões, relações... Não temos mais uma vida conscientemente aberta a possibilidades, não temos coragem de dizer "não" ao modo de vida doentio dos tempos modernos, enfim, não temos a ousadia de ser diferentes.

No agir da pessoa normótica, o comum é tirar proveito de tudo e de todos, doa a quem doer, sempre para alcançar seus objetivos egoístas. Para os normóticos é normal mentir, caluniar, chantagear, oprimir, roubar, fazer sofrer, matar, destruir.

Atualmente, com acesso à informação em tempo real, não nos abalamos mais com os horrores das guerras, pois nos acostumamos a vê-las pela TV, sentados na poltrona, comendo pipoca com amigos e familiares.

Não choramos nem nos comovemos mais ao ver crianças mutiladas pelas minas terrestres e morrendo à míngua, pela simples falta de um prato de comida e de água limpa. Estamos ficando mais embrutecidos nessa era tecnológica.

Hoje, a regra geral é: "primeiro eu, segundo eu, terceiro eu".

Agimos (a grande maioria) baseados numa regra egoísta que aplicamos a todos os campos de atividades da vida. Até mesmo no amor seguimos exigindo que o alvo do nosso sentimento nos corresponda "satisfatoriamente", pois queremos ser amados da maneira que julgamos merecer. Ai do outro ou da outra, se não atender às nossas expectativas. Não é assim?

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Buscamos ser sempre o centro das atenções, querendo todos os aplausos, mas não tolerando qualquer vaia.

Vivemos como se o mundo, as pessoas e objetos devessem viver exclusivamente por e para nós.

Quando nos propomos a ter uma relação direta com Deus, ficamos logo ansiosos para ver se Ele não demora muito em atender aos nossos anseios pelas tantas "necessidades" que criamos ao longo da vida. E ai Dele se não atender as preces de seus "devotos"! Pode até perder mais alguns "fiéis". Não é assim que a maioria se relaciona com o Pai Amantíssimo? Fazemos barganha!

Sathya Sai Baba disse em entrevista: "Vocês me pedem várias coisas do mundo, mas raramente pedem por mim".

Esta é uma triste verdade no que diz respeito ao relacionamento equivocado que o ser humano tenta construir com Deus.

Este é apenas um breve relato, bem superficial, do que é a nossa sociedade moderna, do que são nossos governantes, religiões e nações. De uma forma ou de outra, somos todos iguais nesse modo de vida doentio, normótico.

Fui um normótico e hoje me esforço para deixar essa triste condição. Antes dessa percepção de quem ou o que eu era, agia sem conhecer meu real inimigo, que era eu mesmo.

Nosso ego, orgulhoso, prepotente, vaidoso, mesquinho, é a barreira. Aquilo que pensamos TER é que nos impede de realmente SER.

Acredito que a dificuldade de não conhecermos a verdade essencial, de que o desafio da batalha se encontra dentro de nós próprios e não no mundo, seja o fator alienante que nos afasta do automelhoramento que nos tornaria capazes de construir, verdadeiramente, um mundo melhor. Afinal, penso que nenhuma pessoa mentalmente coerente está feliz com o mundo em que vivemos.

Então, como nos humildar e começar pelo mais trivial, que é o reconhecimento da dura verdade de que somos pessoas egoisticamente feias?

Precisei passar pela dor do encarceramento, ficando inicialmente um ano e meio em uma solitária, para começar a me questionar e mover-me internamente na busca de respostas para meu agir inconseqüente.

É por isso que escrevo, na intenção de que outros possam despertar para as verdadeiras leis da vida sem que tenham, necessariamente, de passar pelo malho da dor, que pode se apresentar de inúmeras formas na vida de cada um de nós.

Nunca se esqueça de que "a semeadura é livre, mas a colheita obrigatória".

Pois bem, dentro do estado normótico em que norteava as minhas ações, tentei buscar a felicidade em um mundo de aparências e descobri, da pior maneira, que ele não pode dá-la.

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Aprendi e sei que a felicidade tão almejada e disputada por cada um de nós, é um estado de SER e não uma questão de TER.

Mas o Pai Amado sempre está pronto para receber de volta seus filhos normóticos, de agir desvairado, viver inconseqüente e até mesmo criminoso. Na verdade, o Bem-amado Cósmico, derramando Sua misericórdia sobre nós, cria condições para que iniciemos o necessário caminho de "regresso ao lar".

Hoje, curiosamente, tenho certeza de que foi exatamente a misericórdia de Deus que me conduziu à prisão. Pode parecer estranho, mas sei que foi por amor que o Pai me colocou no cárcere, permitindo que eu ficasse um ano e meio sozinho, apenas comigo mesmo, para que pudesse iniciar o indispensável processo do autoconhecimento.

Reconheço que essa foi a maior bênção que recebi, pois só assim pude tirar minha visão do mundo exterior e olhar intensa e unicamente para dentro de mim mesmo.

Não foi difícil encontrar a causa da minha dor em meu íntimo e, a partir de então, dar início à minha incrível jornada espiritual em busca do reino de amor e paz que se esconde, misteriosamente, dentro de cada um de nós.

"Quando Deus e o homem trabalham juntos, a vida torna-se uma prece."

Sai Baba

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CAPÍTULO 3

A DOR AMIGA

Escolhi este título para o capítulo porque experienciei em minha própria vida a verdade contida na estranha frase do Professor Hermógenes que diz: "Se você sofre, meus parabéns".

Estranha afirmação, não é? Também achei na primeira vez em que a vi, mas acabei descobrindo que no sofrimento, na dor, existe uma misteriosa energia que, se encontrada e corretamente utilizada por aqueles que têm "olhos para ver", como disse nosso amado Mestre Jesus, possibilitará sua utilização como oportunidade de crescimento através dos diferentes tipos de dores que, invariavelmente, atingem a todos nós em um momento ou outro da vida.

Se soubermos aproveitar esses momentos e utilizarmos nossas dores como uma espécie de mola propulsora para dar o salto inicial na direção do Bem-amado Cósmico, porto seguro e cura certa para todo tipo de dores que afligem a humanidade, estaremos verdadeiramente "renascendo em vida".

Mas como todo normótico, demorei a compreender essa estranha verdade.

Para quem não conhece uma prisão (e espero que nunca precise conhecer na forma de pessoa presa), quero assegurar que prisão é sofrimento - e sofrimento na plenitude da compreensão desta palavra.

Como já disse com propriedade no documentário Do Lodo ao Lotus, de Marcelo Buainain, que retrata uma etapa de minha trajetória no cárcere, a prisão é um sofrimento diá-rio, ministrado a conta-gotas, pois a pessoa sofre 24 horas por dia, 365 dias por ano, durante todos os possíveis anos em que lá permaneça.

Esse sofrimento é ampliado e muito, pois, como somos essencialmente seres espirituais, a prisão se torna dupla agonia para o espírito que, além de já estar angustiantemente atrelado a um denso corpo animal, ainda sofre o encarceramento desse corpo. Conheço essa dor e me solidarizo com os que passam por ela, mas não nego a necessidade disso diante da atitude de muitos em suas vidas em sociedade.

Sou exemplo disso e a prisão teve, para mim, um misericordioso resultado. Com os muitos que estão presos neste momento, o cárcere também pode ser o instrumento de sua reforma íntima, basta que queiram.

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Apesar de reconhecer que existem muitos caminhos, todos igualmente bons, entendo que o Yoga pode ser usado como um instrumento inteligente para viabilizar essa reforma, assim como o foi para mim.

Antes de iniciar minha caminhada interior através do sábio estilo de vida proposto pela filosofia milenar do Yoga, eu considerava (como a grande maioria das pessoas faz) a dor e o sofrimento como algo temido, a ser evitado a todo custo.

Movido por essa compreensão normótica e muito agravado pela dor de ver meu filho, quase um bebê, preso comigo e sua mãe, acabei fugindo da subcoordenadoria de operações especiais onde me encontrava preso.

Essa fuga, além de estúpida, teve a triste conseqüência de prejudicar os delegados e policiais daquela unidade que, confesso, sempre me ajudaram e não mereciam isso. Mas foi no curso dessa fuga que dei o primeiro passo em busca de me melhorar como pessoa.

Quando fugi, peguei um ônibus para São Paulo e no caminho, ao passar em frente à basílica da cidade de Aparecida, senti uma vontade quase irresistível de descer e me dirigir a ela. Fiz isso, meio sem saber por que, e passei todo um dia nesse enorme e belo santuário de Nossa Senhora Aparecida. Caminhei por todo o lugar e senti uma enorme sensação de paz. Foi um sentimento indescritível, semelhante ao que senti quando li o livro sobre a vida de Jesus.

Fiz orações e conversei com Deus. Falei ao Pai do Céu como se Ele estivesse pessoalmente à minha frente. Na parte inferior da catedral há um local aonde as pessoas vão se confessar com os padres. Lá há urn belo altar, com uma imagem do Mestre Jesus. Ali, de joelhos, com lágrimas nos olhos, pedi perdão ao Pai pelas inúmeras transgressões que havia cometido e que me desse a chance de me tornar uma pessoa melhor. Também pedi a Ele que, se isso não fosse possível, me levasse embora deste mundo, pois não suportaria mais viver daquela forma tresloucada.

Em seguida, após eu terminar essa oração que vinha das entranhas de minha alma, estranhamente um padre me chamou e disse que "o pecado é igual a uma bola de neve descendo a montanha, só aumenta. Porém, se pedirmos o auxílio de Deus em nossa vida, o pecado se dissolve assim como a neve se derrete sob os raios do Sol".

Tão poderosas quanto misteriosas foram essas palavras para mim. Saí da basílica sentindo-me íntima e profundamente agradecido a Deus por elas, e com a estranha convicção de que, daquele momento em diante, o Pai iria cuidar de mim. Não me preocupei mais com a fuga nem com meu futuro, pois sentia que tudo iria acontecer de acordo com a vontade de meu Pai Celeste. E assim foi.

Como Pai justo e amoroso que é, Ele possibilitou que eu fosse recapturado, 22 dias depois, na cidade de Santos/SP, pelos mesmos policiais que minha fuga havia prejudicado. Dessa forma, todos acabaram por ser devolvidos, com correção, para suas atividades de trabalho.

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Devido a essa recaptura que, não tenho a menor dúvida, teve a mão de Deus, registro aqui, sem hipocrisia, que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida sob aquelas condições.

Foi graças a essa minha prisão que pude iniciar todo o trabalho interior que me permitiu estar hoje aqui, contando minha história.

Hoje sei que, no momento da prisão, a lei do karma - lei de causa e efeito que rege a vida universal - estava atuando em mim com sua força máxima. Mas a maravilha foi poder constatar, em pouco tempo, que a misericórdia é a soberana de todas as leis Divinas e sempre socorre os corações que a procuram com profunda sinceridade.

À época, fui trancafiado em uma solitária (cela individual) no Quartel da Polícia Militar do Rio Grande do Norte. Isso aconteceu não por eu ser militar, o que não sou, mas devido ao escândalo político estadual que, equivocadamente, eu havia provocado.

A cela em que estava era separada das outras por uma parede, o que impossibilitava minha comunicação com qualquer outro detento que porventura ali se encontrasse.

Todo o perímetro interno da cela era vigiado por um circuito fechado de TV e microfone. Do lado externo, era vigiado durante as 24horas do dia por seis policiais da tropa de choque da PM armados com fuzis e metralhadoras, além de três câmeras de vídeo que cobriam todo o setor.

Tenho certeza de que fui o preso mais bem guardado de toda a história prisional do Rio Grande do Norte. Hoje chego a rir daquela situação, pois reconheço que a preocupação não era com minha possível "periculosidade" aos olhos deles, mas sim com minha proteção, pois se algo realmente me acontecesse, poderiam ocorrer problemas políticos ainda piores do que um escândalo.

Na verdade, aquela estada de ano e meio na solitária foi apenas a colheita das más sementes que eu havia plantado. Lembra-se do ditado "quem semeia vento colhe tempestade"?

O problema maior foi que no início, sem conhecer as verdades espirituais, sem conhecer o Yoga, Sai Baba, Her-mógenes, e já profundamente atormentado pela culpa que minha consciência me impunha, tornei-me morada fácil de pensamentos obsessivos, angustiantes e, no mínimo, conflitantes.

Totalmente isolado do mundo e das poucas pessoas que me sobraram na vida, passei a ter como única companheira a solidão.

Dias e noites se passavam sem nada para fazer, ninguém para conversar. Houve momentos em que o tempo demorava tanto a passar que cheguei a desconfiar que ele houvesse parado.

Foi um início de prisão incrivelmente difícil, com momentos de angústia extrema em que a idéia do suicídio chegou a me parecer uma saída mais confortável, diante do inenarrável sofrimento que a mente inquieta impunha a minha alma já tão dilacerada.

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Reconheço agora que foram pensamentos próprios da alma imatura, que ainda não sabia tirar proveito da dor, do silêncio e da solidão.

Mas o tempo, mesmo lentamente, foi passando e, de uma forma ou de outra, consegui resistir a esse momento inicial.

A essa altura, já bastante "chicoteado" pela dor e suficientemente convencido da incapacidade de atender aos intermináveis caprichos e desejos de minha mente egoísta, comecei a suspeitar de que, de alguma forma, aquela situação de sofrimento e humilhação extrema deveria ter um significado um pouco maior do que minha simples punição decretada por um ser supremo, indiferente às fraquezas inerentes a todos nós da raça humana.

Comecei a pensar que se Deus decretasse tal punição, com a única intenção de me fazer pagar pelas más ações cometidas, Ele nada deixaria a desejar a um perito algoz dos tempos da Inquisição.

Diante desses pensamentos, comecei a me lembrar das palavras de Jesus, que sempre se referia ao Pai como sendo infinitamente misericordioso, a expressão mais pura do amor verdadeiro, tão desconhecido por nós.

A intuição que a solidão imposta me proporcionou dizia que por trás de toda aquela aparente desgraça havia misericórdia, compaixão, amor divino... sentimentos ainda ocultos aos meus olhos escurecidos pela cegueira da ignorância espiritual.

O Pai Celeste, através do amado Mestre Jesus, disse: "Não vim para os sãos, mas sim para os doentes".

A lembrança de palavras tão incompreendidas por mim no meu passado de "religiosidade", me fez acreditar, verdadeiramente, que deveria haver alguma porta aberta para meu arrependimento se eu buscasse minha reforma moral.

Orei incansavelmente e de todo o meu coração ao Pai Amado, quase sempre aos prantos, em busca de uma chance para me melhorar e me reconciliar com o Seu amor, que eu já começava a descobrir ser a razão daquele inexplicável sentimento de vazio interior que me acompanhava desde a infância.

E o Pai me respondeu. Fez mais, muito mais do que isso. Derramou sobre mim Seu amor e Sua misericórdia, me amparando espiritualmente de forma tal, que não encontro palavras que façam justiça a esse amor incomparável que, reconheço, não é deste mundo.

Foi ali, naquela situação, que comecei a aprender que a paz de espírito e a alegria interior independem da condição externa, pois elas traduzem um estado íntimo de ser.

Aprendi, também, o profundo significado espiritual de quando Cristo proferiu a seguinte frase: "Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados".

Com uma incrível força interior que acabava de receber, literalmente, dos céus (pois não a possuía), iniciei a mais maravilhosa viagem de minha vida rumo ao Pai Eterno.

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Após dois meses de solitária e já nesse novo estado de ânimo, fui novamente abençoado. Minha mãe e minha irmã mudaram-se para Natal e passaram a me visitar semanalmente, nas duas horas a que tinha direito no quartel (todo sábado, domingo e feriados, das 9h às 11 h).

As questões que começava a levantar sobre o lado oculto dos acontecimentos, os sofrimentos, comuns a todos de alguma maneira, bem como sobre nosso aparente existir temporário, meio sem motivo, neste lindo planeta Terra, puderam encontrar eco através dos livros que os então "desconhecidos" amigos do Grupo Atlan de Natal me enviavam com freqüência através de minha mãe.

A Providência Divina me enviava, através desses amigos, uma enorme quantidade de livros, numa seqüência de idéias e esclarecimentos espirituais que não me deixava espaço para duvidar, um só minuto que fosse, de que eu estava sendo, mesmo naquela difícil situação prisional, guiado por uma força benfeitora, muito além da minha modesta compreensão de então.

Passei a "devorar" os livros que chegavam, e quanto mais lia mais necessidade sentia de receber a energia que emanava da verdade transcendental daquelas palavras iluminadoras, sábias e essencialmente amorosas, comum a todas as diferentes obras literárias a que tive acesso naqueles tempos.

Li e reli inúmeras vezes os textos de mestres, santos e iluminados de todas as grandes crenças conhecidas, sem nunca encontrar uma só palavra que justificasse o fanatismo e separatismo "religioso" que vimos assistindo ao longo dos tempos até nossos dias atuais.

Nos mais de 300 livros que li durante meu ano e meio de solitária, só consegui enxergar a mesma unidade amorosa nos diferentes ensinamentos, o que me fez chegar à inflexível conclusão de que os horrores que os homens praticaram e praticam em nome de Deus devem-se, única e exclusivamente, a um entendimento distorcido dos amorosos ensinamentos deixados pelos iluminados que deram causa ao surgimento dessas diferentes crenças.

Esses desatinos cometidos em nome de Deus ao longo da história são promovidos por pessoas que O consideram como um objeto ou coisa a ser possuído, exclusivamente, para a satisfação de suas existências egoístas.

Os que assim agiram e agem que me desculpem, mas são, como disse Jesus, cegos guiando cegos, sem ter a menor idéia do que realmente significa aquilo que a palavra Deus expressa.

Após ler uma boa quantidade de livros e beber das diversas fontes espirituais, percebi que tinha uma necessidade, ou melhor, uma falta em meu caráter, que somente pelo caminho da disciplina e interiorização poderia ser corrigida.

Na verdade, diante de minha situação, um caminho espiritual prático, que passasse inexoravelmente pela disciplina e austeridade física e mental, bem como pelo rígido controle dos sentidos, principalmente da língua (fala e paladar), seriam indispensáveis ao progresso seguro e proveitoso da viagem interior que eu queria iniciar.

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Reconheci os ensinamentos do Senhor Buda, bem como a maioria dos ensinamentos doados pelos povos orientais, como sendo aqueles que melhor possibilitariam o início dessa jornada.

Então, atendendo às minhas necessidades espirituais (que eu ainda nem conhecia) o Pai Celestial fez chegar às minhas mãos, novamente pelos amigos do Grupo Atlan, o livro Budismo-Psicologia do Autoconhecimento, de autoria de Dr. Georges da Silva e Rita Homenko.

Após a leitura, por duas vezes seguidas, dessa maravilhosa obra inspiradora, tornei-me decisivamente desejoso de conhecer aquilo que o Senhor Buda chamou de Verdade.

As palavras de Buda, retratadas pela brilhante lucidez dos autores, incentivaram-me mais ainda a iniciar essa busca, porém, eu não fazia a menor idéia de como e nem por onde começar.

Fui tomado de uma profunda certeza interior de que o Pai Amado realmente estava a guiar meus passos e, humildemente, apesar de não me reconhecer merecedor da mínima bene-volência desse Pai de Amor, dirigi-me a Ele em tímidas orações, com a intenção de obter a ajuda necessária para dar início àquela viagem.

Essa tímida oração teve o poder de provocar uma das maiores bênçãos espirituais que já obtive.

Hoje, ao me recordar daqueles momentos, reconheço por experiência própria a verdade dita por Sathya Sai Baba de que "Se dermos um passo na direção de Deus, Ele dará centenas na nossa".

Eu havia falado com um amigo sobre a possibilidade de ele conseguir na biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da qual era aluno, alguns livros que falassem de filosofias orientais, principalmente aqueles que, porventura, fornecessem dados práticos que eu pudesse utilizar na execução de meus anseios em busca do Divino.

Na semana seguinte, no dia de visitas, meu amigo me apresentou ao livro Autoperfeição com Hatha Yoga, do queridíssimo Professor Hermógenes.

Esse livro foi, sem nenhuma dúvida, o divisor de águas em minha vida. Parafraseando o professor, sei que foi a partir desse momento que começou a "morrer" o velho homem, para "nascer" o novo homem.

Li todo esse belo livro (que mais parece um manual Divino para a vida diária) antes de começar propriamente as minhas práticas de Yoga, pois queria sentir se sua mensagem era algo que transmitisse credibilidade.

Ao término da leitura, descobri que o livro não só transmitia essa necessária credibilidade, como também uma sinceridade e amor tais, que só seriam possíveis, na minha opinião, a alguém que realmente praticasse aquilo que pregava - o que é o caso desse magnífico mestre, o professor Hermógenes.

No livro, com palavras gentis, porém firmes, encorajadoras, sábias, amorosas, verdadeiras e ao mesmo tempo desafiadoras, o Professor Hermógenes, através de um estilo de vida saudável, inteligente e científico pelo qual ele nos apresenta o Yoga, me convidava a

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inverter o rumo de minha vida, modificando idéias, conceitos, pensamentos, emoções e tudo aquilo que eu considerava como sendo a minha "realidade".

Ele me desafiava a comprovar, na prática, tudo que o livro pregava e me prometia como resultado certo ao praticante dedicado e determinado, a tão sonhada realização do Yoga, ou seja, a união final com Deus.

Mediante suas palavras, eu me instigava no sentido de tirar proveito daquele meu momento de dor, angústia, dúvidas, receios, fraquezas e solidão, em favor da minha escalada rumo à eternidade, meta segura e final de cada um de nós.

Com resoluta determinação e inflexível decisão, comecei a mudar totalmente minha atitude mental. Em vez de reclamar, me sentir infeliz, solitário, injustiçado, o pior entre os homens, passei a seguir o conselho do Professor Hermógenes e tirei proveito da, agora, dor amiga.

Busquei com fervor o amparo auxiliar dos ensinamentos espirituais de muitos grandes sábios e Mestres que a Providência forneceu à humanidade.

Ansiava por percorrer a estrada do conhecimento espiritual que, mergulhando infinitamente até as profundezas do meu Ser, pudesse me levar a experienciar minha verdadeira realidade, aquilo que nas palavras de Jesus pode ser traduzido pela expressão "Eu e o Pai somos um".

Apesar de ainda estar no início desse caminho, já percebia que a meta era readquirir os valores morais inerentes à alma, bem como atingir a experiência própria de que somos todos essencialmente UM e o MESMO, que estamos ligados pela paternidade de Deus e que, como diz meu querido irmão espiritual Jan Vai Ellam, somos uma grande fraternidade cósmica, caminhando juntos nesse lindo planeta Terra, resgatando erros espirituais por nós cometidos em um passado que se perdeu na noite dos tempos. Como ele bem diz, "Somos todos farinha do mesmo saco".

Empreendido o momento inicial dessa jornada para dentro de mim mesmo, tive o cuidado de, na medida das condições que a situação permitia, adequar o ambiente da cela em que vivia, para que este lembrasse constantemente à minha mente qual tarefa deveria ser executada.

Bem mais lúcido e alicerçado no conhecimento adquirido nos inúmeros livros que já havia lido, sabia que nossa mente é condicionada de inúmeras maneiras e, dentre elas, percebi que a do ambiente externo que a rodeia exerce forte influência, através dos sentidos, na postura edificante ou não que a mente irá adotar.

Perceba o leitor que estou tentando escrever de forma simplificada o que na verdade é extremamente profundo. Por isso me desculpo se algo parece confuso. Não é essa a intenção.

Tomei então a posição interior de transformar minha cela naquilo que costumei chamar depois de "Mini Mosteiro".

Com a ajuda inestimável de um tubo de creme dental (usava a pasta como cola, pois esta era proibida), colei em uma parede letras em japonês que simbolizassem equilíbrio, estabilidade, harmonia.

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Na verdade, não sei se aquelas letras simbolizavam isso realmente, quando lidas por um japonês, mas para mim, eram alguns dos significados que elas proporcionavam.

Com o alumínio que guardava das quentinhas que recebia nas três refeições do dia, passei a confeccionar algumas flores.

Eu cortava e encaixava o alumínio, utilizando-me de técnicas simplíssimas de dobrar papel (não conheço as complicadas) e, dessa forma, consegui preparar dois belos arranjos que, depois de prontos, colei na parede para não esquecer que o belo sempre existe, independentemente da situação em que nos encontremos na vida.

Em alguns livros que minha mãe havia comprado em um sebo, consegui fotos de mestres budistas na inspiradora e pacífica pose de lótus (padmasana), tradicional para a me-ditação yogue.

Mantinha essas fotos, junto com algumas outras, no canto esquerdo da cela, logo ao lado do portão de grades que dava acesso ao interior da mesma.

Após as práticas diárias de Yoga, nos intervalos, também gostava de manter o livro, ou melhor, a cópia xerox do livro do Professor Hermógenes, sempre aberta em sua belíssima posição de lótus.

Pedi para fazer a xerox porque não tive dinheiro na época para comprar um livro. Posteriormente, recebi dele, pessoalmente, um exemplar autografado.

No meio da cela, onde me sentava para as meditações diárias e onde também me deitava para o estudo e leitura nos outros momentos do dia, coloquei uma toalha azul-marinho, com uma letra japonesa pintada em seu centro (com água sanitária que usei para descolorir o azul da toalha, pois não podia ter acesso a tintas). Essa toalha foi, por alguns anos, meu tapete de meditação, até que um dia presenteei-a a um amigo a quem ensinei a técnica da meditação SÓ HAM.

Nesse mesmo processo, raspei o cabelo para que, sempre que me olhasse no espelho, este refletisse a aparência exterior daquilo que pretendia fazer em meu interior, ou seja, uma limpeza.

Dessa forma, passando do conhecimento teórico sobre a verdade para uma atitude prática em busca de conhecê-la por experiência própria, edifiquei dentro daqueles oito metros quadrados onde passei um ano e meio de minha vida, com todo amor que me era possível naqueles dias, meu mosteiro, um local que deixava de ser uma simples cela para se transformar no meu local sagrado para a busca do Pai Celeste, nos recessos de meu coração.

Entreguei-me às praticas diárias de Hatha Yoga, meditação e oração, e passei a utilizar a situação de encarceramento como uma situação positiva para a reforma da alma endividada que reconhecia e reconheço ser.

Muito mais que isso, percebi na dor que me afetava a alma o antídoto necessário para afastar minha mente do seu terrível estado de ilusão, gerado pela errônea convicção de que, nos prazeres fugazes do mundo, poderemos encontrar o alívio para esse sentimento de vazio existencial, que em grau maior ou menor, em algum momento da vida, todos nós sentimos de forma inegável.

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A partir de então, resignando-me diariamente diante das dificuldades e dores que me afligiam no cárcere, aceitava com bom ânimo tudo que me acontecia, pois reconhecia esses resultados como conseqüência direta de meus próprios atos passados, contrários à lei Divina e também à lei dos homens.

Parei de revidar e de maldizer os que me perseguiam. Firmei intimamente o compromisso sincero de que jamais voltaria a prejudicar quem quer que fosse, seja por pensamentos, palavras ou ações, sem me omitir, é óbvio, à adesão à verdade, sempre que guiado a isso pelos caminhos que a vida nos apresenta.

Acabar com o auto-embuste, a falsidade, a hipocrisia, a mentira, a maledicência, as más ações, esse era o caminho que escolhia para mim mesmo.

Começava, então, a mais feliz revolução de minha vida em busca da Luz.

Eu, verdadeiramente, começava a sentir a necessidade de ser parte dessa luz de amor que é Deus.

'É nas quedas que o rio ganha energia"

Hermógenes

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CAPÍTULO 4

DENTRO DO CAMINHO ESTREITO

Jesus disse que "estreita é a porta e apertado o caminho que conduz ao Reino de Deus".

Hoje reconheço a verdade desse amoroso aviso a nos exortar para o necessário orar e vigiar, na busca da imprescindível elevação moral para adentrar o "Reino".

Determinado e incessante nas práticas da disciplina espiritual que estava seguindo, iniciei a descoberta de um mundo novo, tão próximo quanto desconhecido para cada um de nós, que é nossa infinita e eterna Realidade Interior.

Passei a "andar" por "terras" desconhecidas e "paragens" nunca antes vistas, em busca de algo que não estava ainda bem claro para minha mente em constante agitação.

Apesar de intelectual e filosoficamente o objetivo a ser alcançado já fazer parte do meu conhecimento cerebral, faltavam-me por outro lado o doce sabor da experiência direta e a certeza que surge naturalmente após o contato direto com aquilo que focalizamos.

Talvez por perceber que ao alcançar essa experiência direta com a verdade, através da busca que empreendia, estaria a mente em sérios apuros, ela passou a colocar-se na posição de um cavalo bravo que não quer ser domado.

Sri Ramana Maharishi, um grande mestre indiano já realizado nas coisas do espírito, desfrutando beatificamente da convivência constante com o Pai Celestial, escreveu a célebre frase:

"A mente é boa serva, mas cruel senhor."

Esta pequena frase, contendo uma profunda verdade a respeito da nossa mente, pode ser tomada como base para a indispensável necessidade de controlar nossos movimenlos mentais. Se para as pessoas comuns isso já é uma verdade, para os buscadores do espírito torna-se imperiosa condição para prosseguir na estrada.

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Diante da atitude rebelde de minha mente a criar agitações sem fim, percebidas principalmente durante meus momentos de meditação na posição sentada, pude pôr em prática, pela primeira vez no mundo sutil da mente, os ensinamentos que havia recebido pela constante leitura.

Também intuitivamente eu sabia que naqueles momentos minha tarefa era conquistar a mente pelo método da brandura, como quem educa uma criança sapeca. De nada me serviria o uso da força, visto que nos próprios ensinamentos do Yoga uma das regras de ouro é a suavidade.

A quem se interessar pelo caminho espiritual através da disciplina mental que é o Yoga, lembro que se tentar, de forma desavisada e imprudente, brigar com sua mente na intenção de que ela fique quieta, por mais bem-intencionado que seja, fatalmente perderá essa luta. O Professor Hermógenes me deu esse conselho e agora o repasso.

Sua mente conhece um número imenso de artimanhas e processos bem engendrados para vencê-lo nesse "campo de batalha".

Lembre-se: a mente deve ser tratada como uma criança levada, com firmeza, mas de forma branda, pois assim será fatalmente conquistada pelas práticas suaves de uma inteligente disciplina espiritual.

Tratar a mente de forma carinhosa e branda não significa ser indulgente com os ilimitados desejos e agitações que ela cria o tempo todo, num contínuo monólogo interior. Não digo que se deve ceder aos seus inúmeros caprichos, mas que devemos ser suaves, porém firmes, ao lidar com esse potentíssimo c útil instrumento de trabalho que é a mente humana.

Por isso, não se esqueça do que vou dizer:

A sua mente não é você. Aquilo que você realmente é está muito além da mente, mas, para encontrá-lo, necessitará imperiosamente atingir um satisfatório domínio da mente e dos sentidos, e, o mais importante, manter um elevado padrão de valores morais.

Este livro não aprofundará esse tema, mas lembre-se dessa verdade se decidir iniciar um caminho espiritual.

O que deve ficar claro, para que você compreenda o que fiz no início dessa minha jornada espiritual, é que adotei uma forte autodisciplina, no sentido de alcançar meu intento. Na verdade, pratico-a até hoje, pois ainda não cheguei nem perto da meta.

Na primeira vez em que percebi, conscientemente, que a mente estava sutilmente utilizando seus diversos mecanismos de confundir (causando a dúvida), dispersar (pela imaginação ou rememoração) ou sufocar (através de emoções negativas como a raiva, o rancor, a tristeza, a culpa...), passei a adotar uma atitude de "observador imparcial" dos meus processos mentais.

Não foi, não é e nunca será esta uma tarefa fácil, mas se eu desejava realmente progredir em minha caminhada, fazia-se necessário andar por esse caminho estreito.

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Como havia aprendido a ver a mim e aos outros através de um conceito holístico, sabia que aquilo que realmente somos nesse momento é uma somatória de corpo, emoção, mente, espírito e ambiente externo, em que tudo depende de tudo, a se ajudar mutuamente ou não, na difícil tarefa de buscar a perfeição.

Seguindo as instruções do Professor Hermógeries em seu livro Autoperfeição com Hatha Yoga, passei também a cuidar do corpo, por ser o veículo de expressão de nossos espíritos quando encarnados.

Aliado aos ensinamentos do Yoga e aos que recebi lendo o livro Fisiologia da Alma, do Espírito Ramatis, abandonei definitivamente a alimentação com carnes de animais e adotei a dieta ovolactovegetariana como método alimentar para a purificação mental e física.

No início foi muito difícil abandonar os velhos hábitos ali-mentares carnívoros, pois a energia que absorvemos, sobretudo mentalmente, dos cadáveres de nossos irmãos animais custa a ser eliminada, devido a seu baixo padrão vibratório, que entra em sintonia com nosso padrão de pensamentos negativos.

Mas, como Deus sempre permaneceu incansável em Seu auxílio para comigo, alguns dias após eu ter tomado essa decisão voluntária, Ele me enviou um amigo felino, que passou a ser meu primeiro companheiro depois de mais de oito meses de pura solidão.

Com enorme alegria ofereci ao meu amigo gato todas as porções de carne que me eram servidas nas refeições diárias.

Tive uma oportunidade rara, pois, ao oferecer ao meu novo amigo aquela refeição, pude lutar contra meus instintos carnívoros, que tiveram de aprender, passo a passo, que nem tudo que agrada à língua faz bem para nossa vida como um todo.

Foi uma grande e nobre batalha, e quem venceu foi a vida, pois, ao deixar de comer animais mortos, inclusive os chamados "frutos do mar", acabei poupando dois animais (como diz o Hennógenes), eu e o outro, que não teve de ser morto para a satisfação egoísta do meu paladar desregrado.

Também estabeleci horários bem definidos para todas as atividades do meu dia, pois manter uma rotina mínima que fosse era um grande instrumento de educação mental, no sentido de vencer a preguiça, a indolência e a conseqüente vontade de dormir todo o tempo, que se apodera de nós mediante o ócio diário e a progressiva depressão, decorrentes do encarceramento solitário.

Todos os dias eu me levantava, impreterivelmente, às quatro horas. Arrumava minha cama que, na verdade, era um colchão forrado no chão e, em seguida, pendurava esse colchão em um canto da parede da cela, para somente voltar a tirá-lo dali à noite, na hora de dormir.

Assim que arrumava a cama, ia ao banheiro para a higiene matinal. Em seguida bebia, gole a gole, a água de um copo que havia deixado descansando ao luar, na pequena brecha de grade que deixaram na cela para me servir de janela.

Isto feito, faxinava o interior da cela, praticando aquilo que os budistas chamam de "meditação em movimento" ou "meditação de plena atenção".

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Essa prática preparava minha mente para a sessão de Hatha Yoga matinal que se iniciaria a seguir, durava cerca de 30 minutos e então dava lugar à recitação do mantra Gayathri, ensinado por Sathya Sai Baba.

Depois de um breve silêncio, após a nona emanação desse magnífico e poderoso mantra, fazia uma rápida oração e mergulhava na prática da meditação.

Aqui é necessário esclarecer, novamente, que estou tentando dar uma idéia do que realizava como práticas espirituais, salientando que, até atingir a perfeição em todas estas frentes, precisei de mais de oito meses de práticas ininterruptas.

Sendo assim, quando digo que mergulhava em estado de meditação, não pense, quem conhece a história dos grandes yogues da índia antiga, que eu fazia algo sequer parecido com aquilo que eles chamavam de meditação. De forma alguma!

Enfrentei muitas dificuldades de ordem física quando iniciei as práticas. Não sentia conforto quando me sentava por mais de cinco minutos com as pernas cruzadas. Com articulações enferrujadas e 17 quilos mais gordo do que meu peso atual, 73 quilos, imagine a dificuldade que sentia ao tentar me concentrar, tendo de suportar dores nas pernas e incomodado com o abdome estufado pela gordura, por não conseguir curvar naturalmente a coluna.

Só consegui me concentrar um pouco mais depois de um período aproximado de cinco meses de práticas, quando essas dificuldades físicas, através da prática constante dos ÚMIIUI.\ (posturas),pranayamas (controle respiratório) e correia dicla alimentar, começaram a desaparecer, como prêmio por uma prática diligente e bem assistida pelo método yogue do Professor Hermógenes.

Somente então iniciei as verdadeiras práticas mentais que chamamos de meditação.

Mesmo assim, os resultados que logrei naquele tempo raras vezes podem ter sido considerados como meditação. Segundo Sri Yukteswar (mestre do amado yogue indiano Paramahansa Yogananda, fundador da Self-Realization Fellowship nos Estados Unidos da América), só podemos avaliar se tivemos proveito em nossa meditação pelo aferimento do nível de felicidade que alcançamos no final da prática. Ele não usou essas palavras exatas, mas foi o que quis dizer ao se referir a este assunto. É uma excelente base sólida que uso sempre como parâmetro para avaliar meu desempenho como um todo em minhas práticas espirituais.

Aprendi que o que nos cabe nessa prática é aplicar a técnica, mas, como diz Sathya Sai Baba, conceder a:graça é decisão que pertence unicamente ao Senhor.

Terminada a sessão de práticas da manhã, já por volta das 6hl5, me era servido o café. Confesso que era e é até hoje, o momento predileto do dia para mim.

Aprendi, naqueles tempos, a me deleitar profundamente com o silêncio da manhã. Os pássaros a cantar, entoando como que uma sagrada melodia em gratidão ao Altíssimo pela concessão de mais um novo dia nessa belíssima escola que é o planeta Terra para todos nós, é uma vivência que me alegra a alma.

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Por um espaço que havia entre o portão da minha cela c a parede que me separava dos outros transeuntes do local onde ficava a solitária, eu podia observar, quase todos os dias, a pessoa responsável pelos jardins do quartel em sua arte de molhar as plantas.

Como essa visão foi profunda para mim! Fez-me perceber que nas pequenas ações da vida, como é o ato de molhar as plantas, escondem-se momentos de alegria e elevações espirituais sublimes.

Por que desprezamos tanto esses simples prazeres, em favor das atividades mundanas nessa vida sufocante que levamos? É preciso pensar nisso, pois o tempo nos corrói e perdemos essas oportunidades de desfrutar a companhia da mãe natureza. Tive essa percepção somente após perder a liberdade do meu corpo. Lamentável!

Naqueles momentos, pude sentir o prazer que é apreciar o gramado brilhando aos raios do sol, que se refletiam nas gotícu-las de água espalhadas sobre a grama pelo meu amigo jardineiro.

Observava os pássaros em sua busca diária pelo alimento e algumas "passarinhas" a chocar seus ovos em ninhos no alto dos telhados perto dali.

Apesar da triste situação da prisão, eu podia sentir todo o pulsar da vida, de forma harmoniosa e indiferente a toda a estupidez humana refletida nas atitudes impensadas dos egoístas que somos todos nós, que fazemos do mundo em que vivemos um lugar bem menos bonito do que poderia ser.

E assim, todos os dias, mesmo nos de chuva, eu tomava lentamente meu café da manhã na companhia íntima da mãe natureza que, ao mesmo tempo em que estava tão perto de mim, permanecia a intransponível distância pela imposição compulsória das grades que prendiam meu corpo.

Nesses belos momentos matinais, com a mente praticamente vazia de outras idéias e pensamentos, pude perceber o quanto deve ser maravilhosa a sensação de liberdade que desfrutam aqueles que já vivem de forma consciente a beatitude de seus espíritos.

Terminado esse prazeroso momento do café da manhã, eu alternava momentos de estudo de inglês (queria ler algumas obras espirituais disponíveis apenas nesse idioma), com a leitura de vários outros textos e livros que me ajudavam a compreender mais sobre os caminhos da vida espiritual.

Providencialmente, mesmo após ter lido todos os livros do Atlan (penso que li, pois certo dia minha mãe me disse que eu havia lido tudo que existia lá), o Bem-amado Cósmico continuava a me enviar, milagrosamente, tudo que Ele achava que eu ainda necessitava.

No meio da manhã, sempre que me permitiam ter alguns maracujás na cela, eu fazia um suco desta fruta que aprecio muito, usando o eficiente método de colocar sua polpa com sementes dentro de uma garrafa plástica com tampa e chacoalhar até cansar. Apesar dos inevitáveis contratempos da minha condição de preso, sempre conseguia tomar esse suco.

Difícil mesmo era preparar o chá, do tipo mate, que é meu preferido. Nesse intento, cedo pela manhã colocava em uma pequena brecha na parede que me diziam ser uma janela,

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uma garrafa plástica de refrigerante contendo as folhas trituradas do mate com um pouco de água.

Próximo às 11 h, quando o sol fica forte, eu tinha meu chá quentinho com a ajuda do grande amigo astro-rei. Em seguida, colocava essa garrafa dentro da pia cheia de água fria e, em mais ou menos uma hora, meu chá estava pronto para ser peneirado e degustado. Sei que não parece algo agradável tomar um chá feito assim, mas era uma boa maneira de, ao menos, rir com minhas próprias invenções.

Na hora do almoço, por volta das 12h, eu colocava a refeição do meu amigo felino em um canto da cela e, após orar ao Pai Celeste em agradecimento pela concessão do alimento, comia, sempre tentando praticar a "plena atenção", tão bem explicada pelos livros budistas a que tive acesso.

No período da tarde, no intervalo entre o almoço e a sessão de Hatha Yoga, dedicava-me à leitura de livros, sempre de cunho espiritual, não me importando com a opção religiosa do autor, mas tão-somente com o intuito de averiguar se aquelas páginas me transmitiam verdades espirituais.

Quando falamos sobre verdades espirituais, não precisamos nos preocupar com rótulos religiosos, pois se é a verdade, deve ser sempre a mesma, já que ela é imutável, independente da figura de linguagem utilizada pelo autor.

Digo isso para que você não pense que pertenço a esta ou àquela religião. Não! Não tenho religião, no que diz respeito a esses "ismos" (Cristianismo, Hinduísmo, Budismo, Islamis-mo...) separatistas, inventados pelos homens após a morte daqueles mensageiros enviados pelo Pai Amado. Esses seres extraordinários e amorosos só se ocuparam em pregar e exemplificar a mesma e única religião universal: a do amor.

O problema é que, devido a nossa baixa estatura moral e espiritual, acabamos por dogmatizar e obscurecer essas mensagens que libertam ao interpretá-las a partir de nossas errôneas concepções pessoais egoístas.

À tarde, executava minha segunda sessão de Hatha Yoga, que nesse horário era a descrita como completa no livro Autoper-feição. Era mais longa que a da manhã, durando aproximadamente 50 minutos.

Em seguida, entoava o mesmo mantra da manhã, o que me preparava novamente para ingressar no inefável reino de paz interior.

Terminada a sessão, fazia novamente uma faxina na cela, tomava meu banho e me preparava para alimentar-me antes de deitar.

Comia tranqüilamente alguns legumes que o cozinheiro trazia sempre que possível e em seguida tomava um saboroso café com leite, acompanhado por dois pães do tipo francês.

Terminado o jantar, por volta das 18h30, fazia uma rápida limpeza onde havia me sentado para comer e preparava a cama para dormir.

Ao me deitar, lia um pouco e, antes das 20h, já havia adormecido. Em raras exceções quebrei essas regras de horários.

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Essa foi, com pequenas variações, minha rotina diária naquele um ano e meio em que fiquei numa solitária.

Adotei essa austera disciplina existencial, voltada para a vida física, mental, moral e espiritual, por sentir a necessidade invulgar de me reconciliar com o amado Pai Eterno pelas transgressões do passado.

Por diversas vezes me questionei se tudo que estava fazendo não seria uma espécie de "escapismo" daqueles duros momentos na prisão, que poderia estar se apresentando disfarçado de busca espiritual. Felizmente, após todos esses anos de práticas, descobri que ficar sem a companhia do Pai Celeste ou de seus "mensageiros da Luz" era algo que eu não poderia mais suportar, a partir do momento em que iniciei minha jornada interior.

Tinha e tenho, cada vez mais intensamente, um desejo sincero de fazer parte do exército do bem, de pertencer e desfrutar a companhia do grupo de seres que formam, juntos, essa "Nação" dos humildes de coração.

Meu coração passou a anelar por Deus tal qual peixe fora d'água. Essa é minha verdade e não me preocupo com o que os outros pensem a respeito, pois não estou interessado em provar nada a ninguém.

Sei que muitas pessoas riem ou duvidam daquilo que aconteceu em meu mundo interior, mas minha história é entre mim e Deus e se as pessoas acreditam ou não que o que digo aqui é a expressão da verdade que se passa em minha alma, se elas acreditam ou não que aconteceu algo em meu interior que transformou profundamente minha forma de ver o mundo Q seus habitantes e, ao mesmo tempo, me fez perceber que somente através de um agir amoroso é que poderemos mudar toda essa bagunça que nos envolve atualmente, isso não me afeta. Devo satisfações unicamente ao Pai Celestial e, dentro de pouquíssimo tempo, nos momentos que se aproximam em que a Terra será reintegrada à convivência com outras famílias planetárias, o próprio Mestre Jesus voltará, conforme Ele mesmo prometeu, para presidir pessoalmente a separação entre "o joio e o trigo".

Essas são as boas novas que nos traz meu querido irmão espiritual Rogério Freitas, que assina suas obras como Jan Vai Ellam. Sinto que suas palavras são pura expressão da verdade.

Para quem não crê nas revelações amorosas desse grande ser humano que é Jan Vai Ellam, cuja companhia tenho o prazer e a honra de desfrutar já nessa vida, o tempo cuidará de dar razão a alguém.

Mas para os que, como eu, acreditam no que ele nos revela em suas inúmeras obras, é tempo de realizar o necessário reajuste com as do Pai Eterno, através de um auto-esforço bem dirigido, em busca da necessária reforma interior e conseqüente elevação moral. Essa é a tarefa que nos cabe nesses últimos instantes antes da chegada da diversamente anunciada nova era. Aqueles que têm ouvidos para ouvir, ouçam.

"Eis que venho em breve e minha recompensaestá comigo, para dar a cada um segundoas suas obras. Felizes aqueles que lavam suas

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vestes para ter o direito à árvore da vida e poderentrar na cidade pelas portas."Apocalipse 22: 12-14

Peço que, antes de um julgamento apressado, como é o costume da mente humana, que se consulte a trilogia Queda e Ascensão Espiritual, bem como A Sétima Trombeta do Apocalipse: A Volta de Jesus, ambas obras de Jan Vai Ellam, para obter maiores esclarecimentos sobre os tempos e acontecimentos que se avizinham.

Jan Vai Ellam é um executivo bem-sucedido e não vive da venda de seus livros. É também um ser humano humilde, de rara beleza interior, que não necessita da fama e muito menos dos aplausos de ninguém. Isso, por si só, já é motivo bastante para nos aproximarmos de suas mensagens esclarecedoras e iluminadoras. Já que sua proposta maior é a reforma íntima e a expansão do amor em busca de uma convivência mais fraterna entre todos nós da raça humana, sua leitura torna-se imperiosa para os verdadeiros buscadores do Espírito.

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CAPÍTULO 5

NAS ASAS DO INFINITO

É um título significativo para contar esse momento da viagem em busca do meu Eu real.

Passado mais de um ano preso na solitária, tornava-se quase tangível a percepção da mão invisível do Altíssimo a me guiar na tarefa auto-imposta do melhoramento moral.

As dificuldades e obstáculos que não me permitiam uma meditação satisfatória, tanto os de natureza física quanto os diversos de natureza mental, começavam a desaparecer gradativamente à medida que a repetição diária nas várias frentes de atuação da disciplina escolhida seguia seu rumo ascendente, de forma sólida, constante e permanente.

Nessa época, lembro-me nitidamente de que começava a abandonar os estados de dúvida, antes rotineiros, ao passar a comprovar, por experiência própria, algumas das muitas vivências espirituais narradas por outros buscadores nos livros que havia lido.

Quando falo desses estados de vivência espiritual que experienciava, ao utilizar a palavra "vivências", não me refiro a nada de anormal ou místico, como alguns, misteriosamente, gostam de se referir a esses assuntos. Digo apenas que constatei, por mim mesmo, a existência de níveis mais elevados de consciência, que normalmente não podemos acessar, pois escapam à nossa percepção material comum.

Essas singelas, porém, indiscutíveis vivências, preenchiam todo o meu ser com leveza e alegria jamais sentidas em toda a minha vida.

Esses indescritíveis estados interiores tiveram o poder de fazer surgir em mim a crença em muito do que já havia estudado até então.

A indiscutível certeza a respeito das verdades espirituais surgia dia a dia, advinda da experiência pessoal direta, muito mais impactante e devastadora para a mente do que a certeza transmitida pela leitura de livros, que têm outras funções não menos importantes, porém são incapazes de fazer um trabalho indelével em nossas mentes.

Os livros, além de estimular e indicar os sinais do caminho para aqueles que estão começando - como era meu caso na época -, possuem também a nobre função de servir como

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parâmetro para comparação, quando da ocorrência, no profundo do nosso íntimo, dessas vivências espirituais.

Tudo que lia como resultado certo para o praticante sincero e determinado ia se confirmando lentamente em minhas práticas diárias.

Apesar de saber intimamente quão longe estava e ainda estou de alcançar os estados de transe yóguico, tão maravilhosamente descritos por mestres incríveis como Yogananda, estava muito feliz por já poder sentir que havia encontrado, dentro de mim mesmo, aquele pedacinho de paz e felicidade que a maioria de nós procura, em vão, nas coisas do mundo.

Agora que sabia o caminho para esse "cantinho" em meu interior e com a mente bem menos agitada, quase em um estado mais bem descrito como "calma serena", pude me sentir como "nas asas do infinito".

Foi quase um mês inteiro sem nenhum tipo de perturbação, tanto física quanto mental, além de, incrivelmente, raramente ser importunado pelas atividades de revista que fazem parte da vida carcerária.

Mas nem mesmo esses momentos um pouco constrangedores conseguiram perturbar meu indescritível estado de ânimo naquela curta temporada. Digo curta porque, através da extraordinária vivência daqueles dias, aprendi duramente uni precioso ensinamento da filosofia do Yoga: o desapego.

No Yoga, aprendemos que se nos apegarmos a qualquer coisa que seja, estaremos plantando, junto com esse apego, a semente de um futuro e inevitável sofrimento. Por quê?

Porque tudo que existe no mundo fenomênico, que é esse nosso mundo material em constante mutação, é governado pelos opostos, tais como alegria e tristeza, ganho e perda, calor e frio, luz e escuridão, queda e ascensão, dor e prazer, nascer e morrer.

Mesmo que não consigamos perceber essa realidade em um primeiro momento de análise superficial e descuidada, essa é a verdade, queiramos ou não.

Pois bem, no campo da mente, esta também é a regra. Sendo assim, ao experimentar as delícias de me sentir como que voando nas asas do infinito, cometi o grave erro de me apegar àqueles estados de ânimo maravilhosos.

Como todo bom lutador, a mente, ao perceber que eu havia abaixado a guarda pela porta do apego, desferiu um golpe certeiro em mim.

A mente, nesse meu inocente momento de descuido, pois nunca havia deparado com tal situação, tornou-se um tanto barulhenta, não me permitindo mais alcançar aquele estado de paz até então experimentado.

Eu não conseguia descobrir em que estava falhando e me cobrei excessivamente nesse momento. Essa cobrança deixou-me um tanto quanto desanimado, por não compreender como poderia eu oscilar, em tão pouco tempo, entre estados de profunda paz e momentos de indizíveis tristezas c angústias interiores.

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Mas descobri que, na vida espiritual, quedas são inevitáveis e até mesmo, ouso dizer, necessárias e desejáveis, pois o grande objetivo é, conhecendo verdadeiramente a nós mesmos, passar além da mente e seguir adiante sem se preocupar com os truques que ela possa utilizar no sentido de nos atrapalhar a escalada rumo ao Infinito.

Apesar de ter cometido esse erro clássico nesse período de minha jornada, percebi que mesmo com todo aquele sofrimento e caos interior, eu permanecia consciente, por praticamente todo o tempo, dos processos mentais que ocorriam no interior da mente.

Essa descoberta foi um tesouro inesquecível. Percebendo-me como observador da mente, não pude resolver sozinho tal situação, mas também não perdi meu equilíbrio interior.

Exatamente aí se escondia o xis da questão.

Conforme progredia na evolução do meu aprendizado, comecei a me esquecer, de forma inconsciente, que a nós cabe o esforço e a Deus a graça em conceder-nos ou não os sublimes estados de vivência da alma.

Jamais esquecerei esse momento. Pensando ser eu mesmo o artífice de todo o meu trabalho espiritual, desenvolvi uma espécie de orgulho espiritual, a mais nefasta barreira para o buscador, pois esse comportamento, mesmo inconsciente como era meu caso, acaba por nos fechar para as emanações do Alto.

Santa lição!

Sem nenhuma perda de tempo, ajoelhei-me suplicante pelo auxílio do Bem-amado Cósmico, que como sempre, ao longo dessa minha tentativa de tornar-me um ser humano melhor, tem respondido, infalivelmente, a todos meus chamados.

Confesso que não perturbo os Céus com tolices, mas sempre fiquei espantado com o fato de o Pai Celeste me dar muito mais do que preciso e até mesmo mereça. Em Sua Divina sabedoria, nem sempre me dá o que peço, mas, indiscutivelmente, sempre me traz aquilo de que preciso.

Recebi preciosas lições do Altíssimo naqueles tempos. Hoje reconheço, agradecido, terem sido indispensáveis à minha evolução como alma e à minha melhora como ser humano.

“ Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus”

Apóstolo Paulo

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CAPÍTULO 6

SRISATHYA SAI BABA SURGE EM MINHA VIDA

O que você vai ler neste capítulo pode lhe parecer um pouco estranho em alguns aspectos, principalmente se não conhecer a colossal obra de ajuda humanitária que Sri Sathya Sai Baba, considerado o avatar de nossa era, desenvolve na índia.

Inicialmente, explico que a palavra avatar é originária da sagrada língua indiana, o sânscrito, e sua tradução literal indica a "descida" à Terra de um ser perfeito, que desfruta íntima comunhão com o Pai Celestial.

Este ser, fazendo-se homem como nós, pode nos transmitir, pessoalmente, a mesma mensagem de amor e unidade que o Altíssimo vem, em todas as eras, semeando entre nós através de Seus muitos outros enviados.

Sathya Sai Baba é este ser. Ele mesmo diz ser um avatar e declara ter encarnado nessa difícil época da história da raça humana para evitar que terminemos por destruir a nós mesmos, bem como ao próprio planeta Terra.

Ele diz que veio ajudar na preparação dos habitantes do nosso planeta para a chegada de uma nova era de ouro para a humanidade, em que o amor e a paz reinarão.

Outro aspecto de sua missão é possibilitar ao homem o reconhecimento da fraternidade universal entre todos os povos, interligados sob a paternidade de Deus.

Toda a mensagem de Sai Baba pode ser claramente compreendida ao nos lembrarmos do primeiro mandamento de Jesus: "Amai-vos uns aos outros".

O estudo comparado dos ensinamentos de Jesus e Sai Baba serviu para me despertar, mostrando-me que a Terra está passando por um momento singular.

Dessa forma, fui constrangido a perceber que os anúncios de Jan Vai Ellam, no sentido de que a Terra será reintegrada à convivência cósmica com outras famílias planetárias, é uma verdade que tem bases sólidas para se concretizar. Encontrei essa base ao realizar um estudo comparado das mensagens destes dois grandes seres, pois Jesus prometeu voltar e Sai Baba diz que veio nos preparar para a chegada dessa época de ouro para a raça humana.

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Apenas fiz um estudo imparcial das anunciações de Ellam em comparação com as mensagens desses dois grandes seres unidos ao Pai.

Tendo em vista a semelhança entre os ensinamentos de Sai Baba e Jesus, parece-me existir uma espécie de "comprometimento", com Baba trabalhando na transformação do caráter dos homens a partir do mundo físico, preparando, digamos assim, o terreno para a esperada volta do Mestre Jesus, que então presidirá pessoalmente esse momento de transição ao realizar a separação do "joio e do trigo" que Ele mesmo anunciou no Novo Testamento.

Sathya Sai Baba e Jesus, na verdade, trabalham juntos nesse processo de reintegração da Terra e evolução espiritual da família humana, pois quando Jesus aqui esteve fez questão de dizer, insistentemente: "Meu Reino não é deste mundo".

Portanto, Jesus deve estar trabalhando para esse fim, desde que saiu deste mundo, a partir das esferas cósmicas.

Em outra oportunidade, o Divino Mestre da Galiléia também nos disse que iria para junto de Seu Pai, mas que voltaria em breve, com toda a Sua glória e majestade, e seria visto por todos os habitantes do planeta, desde o Oriente até o Ocidente.

Isso não é assunto para este livro, mas diante da possibilidade real de tal acontecimento se realizar, não posso me omitir de dividir com você essas possibilidades, pois a condição primeira para todos sermos considerados trigo é a elevação moral através de nossa capacidade de verdadeiramente manifestar, nas relações com todos os nossos irmãos planetários, esse amor incondicional tão exortado por esses dois grandes seres perfeitos. Nos tempos atuais, não podemos mais falar de Jesus e Sai Baba e ignorar as anunciações de Jan Vai Ellam.

Sathya Sai Baba, em sua encarnação anterior como Sai Baba de Shirdi, um pouco antes de seu falecimento em 1918, anunciou aos seus devotos que voltaria oito anos mais tarde, reen-carnado em outro corpo, e que seria, então, conhecido como Sathya Sai Baba. Isso de fato ocorreu e em 23 de novembro de 1926 nascia, no sul da índia, mais propriamente na aldeia de Puttaparthi, um menino com estranhos poderes, que seria conhecido mais tarde como Sri Sathya Sai Baba.

Para quem não acredita na existência dessa possibilidade nem na realidade de outro plano de existência além desse que conhecemos no mundo físico, convido a juntos buscarmos a resposta para algumas das seguintes perguntas:

Onde fica o Reino que não é deste mundo, ao qual se referiu Jesus?

Onde esteve o espírito que ocupava o corpo de Sai Baba de Shirdi e que atualmente ocupa o corpo de Sathya Sai Baba, nesse intervalo de oito anos entre a morte de um e o nascimento do outro, considerando que Sathya Sai Baba é reconhecido pelos antigos devotos de Sai Baba de Shirdi como sendo ambos a mesma pessoa?

Onde está o Espírito daquele que ficou conhecido durante Sua passagem na Terra pelo nome de Jesus, nesses dois mil e seis anos que nos separam daqueles dias em que muitos viram a Sua subida para os céus? Onde se encontra esse ser inigualável que nos fez a promessa de voltar no final dos tempos para separar o joio do trigo?

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Como explicar que Sai Baba tenha poderes até hoje indecifráveis pela ciência, como o poder de materializar qualquer objeto, instantaneamente, com um simples movimento de suas mãos?

O que dizer sobre os relatos bíblicos a respeito dos poderes de Jesus, que afirmam ter Ele curado doentes, transformado água em vinho, andado sobre o mar e ressuscitado mortos?

O que dizer sobre esses mesmos poderes demonstrados por Sai Baba na presença de seus devotos?

Há inúmeros relatos disponíveis, em dezenas de livros e outras publicações, fitas de vídeo e DVD, que possibilitarão ao pesquisador honesto verificar por si mesmo o que digo em relação a Sai Baba. Além disso, para quem puder ir à índia, será fácil constatar minhas afirmações, pois Sai Baba diz que ficará encarnado nesse atual corpo até o ano de 2020.

Diante de todo esse contexto, especificamente sobre o da reintegração da Terra a outras famílias planetárias, soma-se aos fatos já evidenciados a resposta que Sai Baba deu a uma devota, durante uma entrevista concedida para o grupo do qual ela fazia parte. Essa pergunta pode ser encontrada no livro La Incarnazzione deli' A more, Editora Milesi - Itália.

Essa devota perguntou-lhe se éramos visitados por outras civilizações planetárias e se essas visitas tinham o objetivo de nos ajudar de alguma forma. Sai Baba, reconhecido por todos os que o cercam como capaz de conhecer, instantaneamente, eventos passados, presentes e futuros da vida de qualquer pessoa com completa exatidão, deu como resposta a essa pergunta simplesmente a palavra "sim".

Não seria exatamente isso que Jan Vai Ellam vem repetindo, insistentemente, em suas revelações, ou seja, "que não somos daqui e que somos seres cósmicos, temporariamente utilizando corpos carnais transitórios?".

Utilizando outra linguagem, mas dizendo a mesmíssima coisa, não foi isso que disseram os grandes mestres do passado? Não foi isso que disse e provou o grande e amado mestre yogue

Paramahansa Yogananda nos maravilhosos, riquíssimos e incomparáveis relatos espirituais contidos em seu livro Autobiografia de um Yogue Contemporâneo!

Meu querido irmão que me lê, imagine como nos sentiremos quando, muito em breve, nosso amado Mestre Jesus, cumprindo Sua promessa, retornar vindo dos Céus?

Provavelmente, será a prova que nos faltava de que realmente existe vida após a morte e de que não estamos sós no Universo.

Escrevo estas palavras pelo sincero desejo de que você, fazendo uma reflexão mais profunda, sinta-se impelido a iniciar sua reforma íntima.

Se tudo o que acredito que está muito próximo de acontecer, porventura não se concretizar, o que perderemos em nos melhorar como seres humanos?

O que me faz acreditar firmemente em tudo o que acima escrevi é a certeza absoluta de que seres como Jesus e Sai Baba estão acima de qualquer suspeita, e de que meu irmão

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espiritual Jan Vai Ellam, estabelecido em sua integridade, apenas nos transmite as mensagens que do Alto lhe são confiadas.

Sai Baba, que eu tenha conhecimento, nunca falou sobre a volta de Jesus, mas a instalação dessa era de ouro para a humanidade coincide exatamente com a época que Ellam diz estar marcada para o retorno do Mestre Jesus. Além disso, o fato de Sai Baba se referir com tamanha reverência ao Divino Mestre da Galiléia é prova inequívoca, no mínimo, da comunhão espiritual desses dois grandes seres.

Sathya Sai Baba é reconhecido por vários devotos e dito também por Ele mesmo, como sendo a reencarnação de Sai Baba de Shirdi. Tudo que eu disse refere-se a fatos reais que me fazem acreditar na possibilidade de o espírito que habita o corpo de Sathya Sai Baba ser realmente o mesmo espírito que habitou o corpo de Baba de Shirdi.

Diante desses fatos, é perfeitamente possível que o espírito que habitou o corpo do amado Mestre Jesus retome, até porque, segundo relatos bíblicos, Ele subiu aos Céus em seu próprio corpo de carne após ter ressuscitado dentre os mortos. Como bem disse Shakespeare, "existem mais coisas entre o céu e a terra do que sabe nossa vã filosofia".

Relatarei agora como meu amado Sathya Sai Baba chegou à minha vida. Antes, porém, é preciso dar uma pequena noção da magnitude da vida e obra desse grande ser unificado com o Pai que atualmente está encarnado na índia.

Meu compromisso é que este livro seja um relato fiel da verdade que habita meu coração. Lembre-se de que, mesmo tendo sido o Mestre Jesus o ser amoroso que conhecemos através dos Evangelhos e de nossos próprios corações, Ele foi tratado como bandido e crucificado como tal, de acordo com os costumes vigentes, graças aos desvarios, arrogância, ganância, orgulho, egoísmo, estupidez e cegueira espiritual de alguns que viveram à sua época.

Com o amoroso ser que é Sathya Sai Baba também acontecem perseguições, apesar de não serem iguais nem tão cruéis como as que ocorreram com nosso amado Mestre Jesus. Sai Baba disse que elas são naturais para aqueles que se ocupam em espalhar a Luz onde reinam as trevas.

Para não ser desviado dessa corrente de amor que ele é pelas muitas publicações mentirosas e covardes que montam contra Sathya Sai Baba, ao avaliar a vida dele, siga os ensinamentos de Jesus: "Vocês os reconhecerão pelas suas obras", pois " Não pode árvore boa dar mau fruto, assim como não pode árvore má dar bom fruto".

Sai Baba diz "Minha vida é minha mensagem", ou seja, o exemplo das suas ações transmite sua mensagem de amor incondicional por toda a raça humana.

A missão e a obra já realizadas por Sathya Sai Baba são tão amplas que seriam necessários alguns volumes para descrevê-las. Aqui, ressalto que Sai Baba é considerado o avatar educador, pois utiliza a educação como instrumento principal para atingir o objetivo de sua missão de regeneração da humanidade.

Ele diz que os jovens de hoje devem ser corretamente educados para serem os líderes ideais do amanhã. Ele também constrói hospitais, redes de abastecimento de água e atua ainda

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em muitas outras frentes, para mostrar-nos, com seu exemplo, o ideal a ser atingido por uma humanidade fraterna e justa.

Os poderes de Sri Sathya Sai Baba transcendem o entendimento comum e a compreensão da ciência, manifestando-se na vida de seus devotos, onde quer que eles estejam. Considero-me prova viva dessa declaração, pois recebi dele, mesmo encarcerado como ainda estou, o maior de seus poderes: o amor.

Os milagres que Sathya Sai Baba realiza, como ele mesmo diz, não são mais do que meros cartões de visita. A esse respeito, lembro-me de ter lido na Bíblia: "Se não virdes sinais e milagres, não crereis." (João 4:48)

Esta afirmação bíblica, na minha pequena lucidez, explica a necessidade atual de o avatar realizar milagres em tão larga escala como o faz Sathya Sai Baba.

Somente vendo o impossível a humanidade, cegada pelos inesgotáveis desejos materiais de sua mente, pode crer na existência de uma realidade infinitamente superior àquela com a qual estamos familiarizados em nosso cotidiano.

Seu maior milagre não é a materialização de objetos, curas instantâneas, materialização de vibhuti (cinza sagrada com poderes curativos), mas, como ele mesmo diz, "seu amor incondicional por todos e tudo, o tempo todo".

Sai Baba diz: "Tragam suas mentes para mim, por mais grotescas que elas sejam e levem de mim a única coisa que tenho: amor".

Sobre sua missão, Sathya Sai Baba diz: "Vim para acender a chama do amor em seus corações, para que ela brilhe dia a dia com mais esplendor. Não vim em benefício de nenhuma religião em particular. Não vim em nenhuma missão de publicidade para qualquer seita, credo ou causa, nem vim reunir devotos para meu rebanho ou para algum outro. Vim para falar-lhes desta fé unitária universal, deste princípio Divino, deste caminho de amor, desta ação de amor, deste dever de amor, desta obrigação de amor."

Em outro de seus inúmeros discursos, podemos ler:

"Considerem o amor como sua própria vida. Só o amor torna sagrada a vida do homem. Somente aquele que tem amor é um verdadeiro ser humano. O amor é o homem e o homem é o amor. O homem é Deus e Deus é amor. É o amor que unifica tudo. Sendo assim, desenvolvam o amor. Trilhem o caminho da verdade e da retidão e levem uma vida pacífica. Estes quatro valores são os princípios que sustentam a vida. Não existem poderes, ideais ou suportes maiores do que os valores humanos da verdade, retidão, paz e amor. Firmem-se a esses quatro valores e prossigam em sua jornada de vida."

Para mim é fato incontestável a semelhança, ou melhor, a unicidade existente entre as mensagens do Mestre Jesus e as de Sathya Sai Baba.

No que diz respeito a seus ensinamentos espirituais, insisto num fato singular, que é a reverência com que Sai Baba se refere a Jesus.

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Todos os anos, Sai Baba comemora em seu ashram (residência de um homem santo) o verdadeiro significado do Natal, que foi a data da vinda do Cristo à Terra, para que, através de sua mensagem e exemplo de amor terminasse por dar a própria vida em benefício da humanidade desvairada.

Por ocasião destas comemorações natalinas, Sai Baba concede aos devotos de todo o mundo discursos de uma profundidade espiritual digna de um ser uno com o Pai, tal qual o foi e é Jesus.

Foi por tão bem conhecer estas palavras de um mestre amoroso e iluminado a nos guiar pelo caminho da auto-realização, utilizando para isso a senda fraterna do amor, que aprendi a amar e respeitar esse ser extraordinário que é Sathya Sai Baba, encamação da Divindade na Terra.

Espero ansioso pelo dia em que possa finalmente ir à índia, se possível acompanhado daquela que percebo ser o amor de minha alma, juntamente com meus outros queridos irmãos espirituais, para me encontrar fisicamente com essa explosão de luz e amor que é Sai Baba.

Como não é objetivo deste livro falar sobre toda a obra de Sai Baba na índia, deixo aqui o endereço do site da Organização Sri Sathya Sai Baba, para que você possa conferir tudo que aqui digo. O endereço é: www.srisathyasai.org.br ou www.srisathyasai.org, este último em língua inglesa.

Para concluir, Sai Baba diz que devemos perceber a presença de Deus em nós mesmos, em todos e em tudo, como Consciência Única Indivisível. Ele diz que o propósito da vida humana é a auto-realização e é para esse fim que ganhamos o direito ao nascimento em um corpo humano.

Tive o primeiro contato com meu querido Baba através de um livro que recebi do Grupo Atlan, chamado A Experiência Suprema, de Phillys Krystal, escritora e devota americana.

Assim que recebi o livro e vi a contracapa, deparei com uma foto que mostrava somente os olhos de Sai Baba. Senti instantaneamente que aquele homem tinha algo de diferente das pessoas comuns.

Daqueles olhos emanava um estranho magnetismo, parecendo estarem vivos. É algo indefinível, que não consigo explicar muito bem, mas creio que o leitor mais sensível pode compreender aquilo que as palavras não conseguem dizer.

Conforme ia lendo o livro, toda uma dimensão ia se abrindo dentro de mim. Estava atravessando aquele difícil momento íntimo que narrei no capítulo anterior e estava justamente à espera da resposta do Pai Amado às minhas súplicas por ajuda naquele período de dificuldades espirituais.

No decorrer daquelas páginas, talvez pela sinceridade e amor que transbordavam dos relatos da autora, percebi extasiado que aquele homem exótico que estava sendo ali retratado era, na verdade, a resposta Divina que vinha em meu socorro. Como sempre, Deus estava me dando muito mais do que eu merecia. Dessa vez estava me dando a Ele mesmo na forma de Sathya Sai Baba.

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Mas as ocorrências - acredite ou não - começaram a acontecer de forma "miraculosa" (pelo menos a meu ver), demonstrando nitidamente a presença da mão invisível de Deus no curso daqueles acontecimentos.

Logo após eu terminar de ler o livro sobre Sai Baba (li duas vezes), fiquei quase "desesperado" por encontrar outras obras que me falassem mais sobre aquele homem singular, a quem intuitivamente reconheci como um ser no mínimo superior à maioria da raça humana.

Infelizmente, nas condições em que estava, preso e incomunicável no interior de uma solitária, já praticamente sem dinheiro algum para poder me dar ao prazer de comprar livros e sabendo, através de minha mãe, que essa era a única obra sobre Sai Baba no Grupo Atlan, eu me questionava, perplexo, como poderia resolver aquela situação. Restou-me novamente a opção de recorrer aos favores do Pai Celeste.

Talves não cause mais espanto dizer que fui novamente atendido. Pois aconteceu e por isso reconheço, humildemente, a dívida impagável que tenho com o Altíssimo.

Duas ou três semanas após eu ter acabado de ler o livro de Krystal, em uma manhã de domingo, minha mãe veio para uma visita social e me disse que minha irmã iria nos apresentar o namorado na outra semana.

Sem que ninguém mais soubesse, ela estava namorando havia algum tempo um rapaz italiano que havia conhecido na locadora de carros em que trabalhava, aqui em Natal, por ocasião da estada dele para férias em nossa cidade.

Na visita do sábado seguinte, minha irmã veio me ver e conversamos sobre ela. Na

ocasião, ela disse que apenas informara a ele que eu estava preso e que estava num processo de autoconhecimento utilizando o caminho do Yoga. Nada mais.

Dele eu também pouco sabia, mas sentia uma energia muito boa quando falávamos sobre ele. Era como se eu estivesse prestes a reencontrar um grande amigo. Esse o foi caso. Tornamo-nos grandes amigos e hoje cunhados.

Havíamos combinado que na semana seguinte, quando ele estaria novamente em Natal para vê-la, ela nos apresentaria na visita social de domingo. E assim foi feito. Quando me dirigi ao setor em que recebia meus visitantes, após algumas palavras corteses de ambas as partes, ele me disse em um português razoável que sentiu uma enorme vontade de me trazer alguns livros.

Como na Itália não encontrou nada em português, disse que sentiu intuitivamente que deveria me trazer aqueles (não me lembro mais, mas penso que foram seis ou sete) livros, mesmo estando eles escritos em italiano.

Quando me entregou os livros, passei um a um pelas minhas mãos e constatei, atônito, que todos eram sobre Sathya Sai Baba. Não consigo expressar em palavras o que senti.

Mas não parou por aí. Em seguida, ele retirou de outra sacola uma foto ampliada, 30cm x20cm, com a imagem de corpo inteiro de Baba, em seu tradicional traje laranja.

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Recordando-me disso para escrever essas palavras, meu coração se enche do poderoso sentimento de gratidão que tenho pelo Pai Eterno e por meu amado Sai por aqueles momentos. Na verdade, Eles são Um.

Naquele dia, meu cunhado e eu passamos juntos as duas horas a que eu tinha direito a visitas, conversando sobre Baba.

Por eu ter comentado com ele que não sabia se conseguiria ler, pois nada sabia sobre o idioma italiano, ele me contou muitas histórias sobre os poderes de Sai Baba, mesmo para com os devotos muito distantes, como era meu caso.

Foram relatos maravilhosos sobre os prodígios desse grande ser universal. Falou-me sobre a impressão verdadeiramente incrível que teve quando visitou o ashram de Sai Baba na índia.

A esse respeito, confidenciou-me que na presença de Sai Baba sentiu-se inundado por um sentimento de amor indizível, de uma pureza tal que jamais experimentara na vida. Disse-me que teve a certeza íntima de que estava na presença de um homem que, ele não tem a menor dúvida, desfruta a comunhão permanente com o Bem-amado Cósmico.

Fiquei muito impressionado com todos aqueles acontecimentos e relatos, e me senti elevado a um estado espiritual que raras vezes havia alcançado até aquele dia. Era como se à minha volta houvesse toda uma energia espiritual amorosa, de alguma forma tangível que, fosse eu alguém menos endividado com as leis do Pai Celeste, poderia tê-la tocado.

Havia uma harmonia no ar e por várias vezes procurei a origem de longínquos, quase inaudíveis sons transcendentais que ouvia nos recessos de minha alma. Foi uma experiência inesquecível e transformadora, e permanecerá em minha memória para o resto da vida.

Continuando ainda sintonizado com aquela presença maravilhosa, porém indefinida, abri um dos livros que acabara de receber e percebi a impossibilidade de compreender aquelas palavras em italiano. Quase instantaneamente, fechei o livro e olhei para a foto de Sai Baba que recebera havia pouco.

Ela já estava fixada na parede, pois assim que retomei para a cela, sob o efeito de todo aquele fluxo de energia luminosa, colei a foto acima das letras japonesas que eu tinha nesse mesmo local. E foi exatamente para ela que eu dirigia agora meu pedido de auxílio, buscando compreender o aparente "paradoxo" em receber tantos livros, se não podia lê-los.

Uma onda enorme de segurança me invadiu nesse mesmo instante, dando-me uma espécie de "certeza interior tranqüila" de que tudo estava certo como estava, mesmo que para meus olhos mundanos fosse uma situação aparentemente inexplicável.

Lembrei-me naquele momento de que, durante nossa conversa, meu cunhado havia contado um caso semelhante ao meu, em que Sai Baba pronunciou, em uma das muitas organizações educacionais que ele constrói na índia, um discurso ao vivo para uma platéia com mais de mil devotos e estudantes. Ele havia convidado um inglês, que era seu devoto, para assistir.

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Sathya Sai Baba pronunciou todo o discurso em telugu, o dialeto local. Ao final da conferência, tendo em vista que o convidado não compreendia o dialeto, alguns devotos mais chegados, tocados pelo fato de o outro não ter podido se enriquecer com mais de uma hora da mensagem espiritual de Baba, ofereceram-se gentilmente para traduzir todo o discurso ao inglês.

Para espanto de todos os presentes, o devoto inglês afirmou que havia escutado, em alto e bom som, diretamente da boca de Sai Baba, todo o discurso, proferido em perfeito inglês.

Os interlocutores disseram que havia algum engano, pois todas as outras mais de mil pessoas ali presentes haviam escutado Sai Baba também e lhe asseguraram que o discurso havia sido proferido em telugu.

Diante da controvérsia e sendo do conhecimento de todos que ali não havia recursos tecnológicos para tradução simultânea, decidiram perguntar ao próprio Baba o que estava acontecendo. Ele lhes respondeu simplesmente que, para ele, não havia barreiras, nem mesmo de idiomas e, sendo assim, quando era do seu desejo, poderia conferir, em caso de necessidade, esta habilidade de compreensão de outro idioma para qualquer um de seus devotos.

E foi assim, com toda essa simplicidade e escassas palavras, que Sathya Sai Baba explicou o que para todos era um verdadeiro milagre, pois é impossível tal manifestação de poder para os homens comuns.

A lembrança dessa história contada por meu cunhado me preencheu mais ainda da certeza de que aqueles livros não vieram para perto de mim somente para ocupar o apertado espaço de minha cela.

Confiante de que algo parecido poderia acontecer comigo, abri novamente o livro e comecei a lê-lo, sem me preocupar com a tradução literal palavra por palavra. O fato é que fui capaz, e não me pergunte como, de ler e compreender todos os livros de Sai Baba em italiano. Dessa fonte recebi quase todos os ensinamentos de Sai Baba, muitos dos quais sequer estão disponíveis em português.

Por diversas vezes, nos últimos tempos, tenho recebido textos de Sai Baba já traduzidos para o português e percebo alegremente que os conheço desde anos atrás, graças ao amor de Baba em me conceder a graça Divina de ultrapassar a barreira do idioma.

E não pense que digo isso para aparentar ser alguém especial ou diferente dos outros. De forma alguma! Apenas relato isso por ser a verdade dos acontecimentos ocorridos em minha vida ao longo dessa jornada espiritual. Não me importa que muitos não acreditem nela.

O que deve importar a todos nós é a nossa consciência perante o Pai Celeste, nada mais. Nisso estou tranqüilo. Jamais me incomodará o riso daqueles que não acreditarem nesses acontecimentos, pois é direito inalienável de cada um fazer seu próprio julgamento.

Mas ressalto, também, que essa capacidade que adquiri em ler os textos de Baba em italiano restringe-se à leitura e a um pequeno entendimento auditivo, pois não sei escrever nem muito menos falar corretamente nesse idioma que, tenho o prazer de reconhecer, foi o

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que me deu uma das maiores bênçãos da vida, permitindo-me receber os primeiros e mais profundos ensinamentos de Sathya Sai Baba.

Por esse domínio do idioma estar basicamente limitado e restrito aos ensinamentos espirituais de Baba, quem tiver um pouco de percepção verá nitidamente um grande ensinamento:

"Deus só concede aquilo de que realmente precisamos (falando sob uma ótica espiritual e não física) e somente se for útil para nós naquela circunstância. Ele não concede aquilo que nossas mentes desejam de forma caprichosa, quase que todo o tempo."

Somente Deus tem a capacidade de fazer essa avaliação, pois Ele nos conhece no íntimo, desde nosso passado, presente e futuro.

Nem preciso dizer que, desse dia em diante, minha vida vem se transformando continuamente, guiado pelo fluxo de amor que emana desse nobre ser, que veio à Terra para a gloriosa missão de expandir o amor e nos conduzir seguros para a união beatífica com o Bem-amado Cósmico.

"Se vocês desenvolverem o amor, não precisam desenvolver mais nada."

Sathya Sai Baba

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CAPÍTULO 7

ÚLTIMOS INSTANTES NA SOLITÁRIA

Deus sempre sabe o momento certo em que algo em nossas vidas deve ser mudado.

Um dia, após uma das meditações da manhã, essa frase passou rapidamente por minha mente, sem que eu desse qualquer valor mais significativo a ela. Não percebi, mas era um presságio.

Decorridos um ano e quatro meses em convívio quase ininterrupto com o silêncio e a solidão naquela solitária, as coisas começavam a mudar.

Antes proibido de manter qualquer tipo de contato com outras pessoas, excetuando-se os dias de visita e as raras aparições de advogados ou funcionários da Justiça, a Providência Divina decidiu me preparar para voltar a conviver com outras pessoas por um período mais longo.

Era um fim de tarde quando recebi em minha cela a visita do comandante geral da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, que me informou a possibilidade de eu vir a ter um companheiro de cela em poucos dias.

Mas não demorou tanto assim. Na mesma noite, recebi o novo companheiro, com o aspecto triste, depressivo e angustiante que caracteriza a maioria das pessoas que já vi na sua primeira vez na prisão. Conversamos bastante e tentei, da melhor forma possível, animar aquele rapaz.

Nos primeiros dias de convivência com ele me senti um pouco deslocado, pois aquilo que meu companheiro via como um local indesejado e mesmo detestável, para mim era agora um local sagrado, testemunha silenciosa da transformação espiritual pela qual eu havia passado ao longo dos últimos 16 meses.

Suavemente, fui lhe explicando meu modo de viver, de pensar, de sentir, de ver o mundo e principalmente, o estilo de vida que eu adotara naqueles oito metros quadrados de minha cela.

Creio que foi naquele companheiro que Deus começou a pôr à prova meu aprendizado na solidão. Calado, ouvi diversas vezes os desabafos de meu novo amigo.

Quando intuitivamente percebia ser o momento oportuno, mostrava-lhe minha forma de ver a situação que, para ele, se apresentava como sendo uma desgraça. Tentava sempre lhe

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mostrar que somos responsáveis pelos atos de nossa vida e que se soubermos tirar proveito da dor quando ela ocorrer, Deus virá em nosso socorro.

E foi assim, conversando um pouco a cada dia e dando-lhe como cenário de observação meu próprio exemplo na hora das práticas espirituais diárias, que em pouco tempo ele me pediu para iniciá-lo no método Hermógenes de Yoga.

Fiz tudo com muito zelo, respeitando sempre sua condição holística individual, bem como seu livre-arbítrio nas questões mais polêmicas como a ingestão alimentar de animais mortos.

Por dois meses lhe transmiti o que me foi possível. Nesse período, deixei-o em condições de conhecimento suficientes para prosseguir sozinho por esse caminho se assim o desejasse, além do que ele teria a sua disposição o próprio Professor Hennógenes através do livro Autoperfeição com Hatha Yoga.

Fiz minha parte sem deixá-lo dependente de mim para continuar em frente. Esse é um aspecto importante no caminho espiritual.

O professor Hermógenes diz que "ninguém entra no céu aos empurrões." É verdade. Não cabe a ninguém querer convencer o outro de coisa alguma. O trabalho é dizer aquilo que fazemos, como fazemos, porque fazemos e permitir, assim, que essas pessoas possam fazer suas escolhas. Além disso, temos de dar-lhes, o mais rápido possível, a necessária independência.

Apenas os que vendem espiritualidade precisam de dependentes para sustentá-los. Os sinceros de coração ensinam o que sabem aos outros, unicamente por gratidão ao Pai Celeste pela oportunidade de terem, um dia, tido a condição e a graça de aprender.

Reconheço que muitas vezes sou duro quando falo sobre disciplina e sobre não matar os animais para satisfação de nosso paladar, mas nunca desrespeitei o livre-arbítrio de ninguém.

Portanto, fiz minha parte no tocante a essa pessoa que cruzou meu caminho naqueles dias e faço o mesmo até hoje com tantos outros que chegam até mim.

Quando, pouco tempo depois, completei um ano e seis meses naquela cela, recebi a notícia de que seria transferido para o Presídio Provisório Raimundo Nonato Fernandes, na zona norte de Natal. Era o passo seguinte da mudança.

Não nego que fiquei um pouco preocupado ao receber esta notícia. Eu nunca havia sido preso comum, muito menos havia entrado em uma penitenciária. Não sabia o que me esperava a não ser o que nos mostram os noticiários da TV, ou seja, horror.

Apesar de ainda não ser o momento de falar sobre isso, lembre-se do que aqui vou dizer:

As penitenciárias que conheço intimamente, pois vivi nelas, são apenas (e agradeço a Deus por isso) duas. Nessas duas, pude adquirir uma certeza inflexível de que, com um pouco mais de boa vontade da parte de todos os que fazem o sistema prisional e com o apoio sem

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preconceito da sociedade, é possível transformar esses locais naquilo que realmente já poderiam ser: educandários.

Onde estou tenho a honra de receber apoios, inclusive o do Ministério Público Estadual.

Encontrei muitos presos aqui que, sem observar as razões que os trouxeram para cá, considero, com minha visão limitada, terem grande chance de reaprender a viver de forma correta perante os valores da sociedade e, principalmente, das leis Divinas. É só uma questão de atitude positiva e de tomar o rumo certo. Essa verdade serve para ambos os lados da questão, ou seja, pessoas presas e pessoas que vivem na sociedade.

Já bem mais tranqüilo quanto à transferência, percebi que o homem que sairia dali para uma penitenciária não era, de forma alguma, o mesmo que ali entrou. Tudo havia se transformado em mim. Corpo, mente, emoções, conceitos, ideais e idéias, enfim, minha alma havia se tornado mais íntima da companhia do Pai Celeste.

Agora podia sentir, vibratoriamente, a companhia de amigos espirituais, do Professor Hermógenes, além de, é claro, Jesus e Sai Baba.

Aos primeiros, eu me ligava em sintonia, mesmo sem conhecê-los da forma comum do mundo, ou seja, pelo contato físico, porque o que me unia a eles vibratoriamente era o fato de nutrirmos os mesmos ideais de vida, ou seja, a busca pela comunhão com o Pai Eterno.

Já com os amados mestres Jesus e Sai Baba, o que me unia em espírito era a certeza que nutro em meu coração de que são eles a verdadeira expressão desse Pai Celestial diante de nós. Pelo menos era assim que eu sentia e sinto, ainda hoje.

“Aquele que sabe ser solidário nunca se sente solitário."

Professor Hermógenes

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CAPÍTULO 8

ATRAVESSANDO O DESERTO

Algemado com as mãos para trás, fui colocado no porta-malas de uma van da Polícia Militar. Hoje sinto vontade de rir, ao me lembrar no que nos tornamos quando somos presos.

Carregados como mala de viagem, sufocados dentro daquelas "gaiolas" sem visão do ambiente externo e com pouca ventilação, nauseados pelos solavancos da viagem que nos fazem imaginar como devem ser horríveis os enjôos da mulher grávida, essa é a triste e degradante sensação de quem tem de passar por tal situação. Nesse dia, tive ao menos a grande sorte de ser transportado em uma viatura com vidros laterais que me permitiam a visão.

Com a presença de toda a imprensa potiguar para cobrir o evento, terminava ali meu encarceramento naquele que se tornou meu local sagrado daqueles tempos.

No trajeto, tive ainda mais uma carícia do Pai Celeste, que providenciou um engarrafamento de fim de tarde na ponte sobre o rio Potengi, o que me possibilitou observar feliz um belíssimo pôr-do-sol. Deleitei-me com esse espetáculo da natureza, ao qual a maioria de nós dá tão pouca importância.

Chegamos ao presídio após uns 40 minutos de viagem e fui prontamente entregue a dois agentes penitenciários que, após detalhada revista em meus poucos objetos, me encaminharam ao setor das celas especiais onde estava minha nova "casa". Lá, fui colocado sozinho em uma cela.

A primeira impressão que tive ao entrar no presídio não foi nada agradável. Era possível sentir uma energia de profundo sofrimento e angústia, misturada com um tipo de expectativa, dos que ali viviam, pela tão sonhada liberdade.

A parte externa do prédio não é tão sufocante, pois suas paredes são brancas, mas seu interior é todo pintado em cinza escuro. Não encontro palavras para descrever quão deprimente se torna esse ambiente. Penso que há, por parte dos que elaboram os detalhes da pintura, pouco interesse no uso da cromoterapia, por exemplo.

É um erro terrível usar cores pesadas, se o que se espera de um presídio é que ele seja um local onde as pessoas condenadas permaneçam para o necessário reajustamento social. Esse fato me impressionou de tal forma que, já na Penitenciária Estadual de Parnamirim, tendo a fortuna de ter como Diretora a Dra. Tatiana, uma pessoa realmente humana,

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conseguimos suavizar ao menos parte do ambiente com uma bela pintura feita por alguns de nós.

Pude ver nos olhos de muitos que estão ali trabalhando (agentes e policiais) ou se reeducando (detentos), a alegria interior brilhando através de seus olhos pela rara oportunidade de ver um ambiente mais leve com as novas cores.

Apesar de não ser o tema deste livro e sem ser especialista em projetos arquitetônicos para prisões, deixo aqui minha impressão a esse respeito, pois considero que tenho o que aos arquitetos falta, ou seja, a experiência de viver dentro delas.

O modelo arquitetônico do presídio em que eu vivia nessa época era e ainda deve ser sufocante. Parece-se com um lugar onde se amontoa pessoas, da mesma forma como aí fora amontoamos objetos velhos, inúteis, em um porão feio, escuro e malcheiroso.

As paredes são de cor cinza, deprimentes e sombrias, como já disse. As celas têm pouca ventilação, sem janelas, onde oito homens têm de se arranjar em mais ou menos 16 metros quadrados. Ali não se pode mais ver uma planta, um pedacinho de terra, nada. Para pessoas mais sensíveis à natureza, como eu, essa ausência tem um peso enorme.

Você pode estar pensando que se gosto tanto da natureza deveria ter evitado vir parar aqui dentro. Concordo, mas já que, assim como eu, existem muitas pessoas que erraram e um dia terão de voltar à vida em sociedade, não é possível abrandar um pouco nosso coração e dar aos infelizes que aqui estão um pouco mais de alegria?

Creio firmemente que todo homem é capaz de amar de alguma forma e que em seu íntimo tem a capacidade de reconhecer a beleza e, reconhecendo-a, pode contemplá-la. Mesmo em condições extremas, pode sentir que há algo de eterno dentro dele, que é uno a toda essa maravilhosa criação cósmica.

Por isso, se nas penitenciárias houvesse beleza, jardins, cores alegres e repousantes, momentos de silêncio e meditações em meio a jardins, se houvesse aulas de música, teatro, pintura, desenho, Yoga... um pouquinho mais de interesse em recuperar as pessoas que cometeram um delito, provavelmente, em pouco tempo, o dinheiro gasto com os presos poderia ser investido, por exemplo, em escolas, pois, com a recuperação efetiva da pessoa presa, a reincidência fatalmente diminuiria. Com isso, teríamos menos gastos com segurança e poderíamos investir mais em educação.

Para quem duvida disso, ofereço como bom exemplo do início de tentativa parecida com o que acabo de descrever a Penitenciária Estadual de Parnamirim, onde temos muitas dessas atividades, inclusive o projeto de Yoga Mente Livre, do qual falarei adiante.

É com orgulho que reconheço a boa vontade do Secretário de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte, Leonardo Arruda Câmara, que com a "mente livre" tem tentado humanizar, através de inúmeros projetos de ressocialização, o sistema prisional deste Estado que tanto amo.

Muito ainda há para ser feito, é necessário maior empenho de todos os envolvidos para

que esses projetos não fiquem apenas na intenção ou numa bela tentativa, mas a semente está sendo plantada.

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Recentemente, com a chegada do Ministério Público para nos apoiar nessa iniciativa, creio que temos nas mãos a oportunidade de ouro para transformar esses locais de dor e sofrimento em verdadeiros educandários. Falta apenas que todos se unam em torno do mesmo e único objetivo: recuperar o ser humano. Se o interesse for qualquer outro, as iniciativas inevitavelmente fracassarão.

Peço que, livre de preconceitos, reflita sobre tudo que acabo de sugerir e relatar.

Quando me vi de fato trancado nessa nova moradia, percebi claramente que momentos de silêncio passariam a ser coisa rara naquele ambiente.

Havia nos arredores muita música alta, gente falando alto, gritos variados, palavrões que jamais havia escutado (mesmo conhecendo muitos deles). Fui mentalmente constrangido a me lembrar, com certa nostalgia, do meu "mini mosteiro".

Nos primeiros instantes dentro daquele ambiente pude compreender integralmente as antes não muito significativas palavras de Gandhi: "Para aqueles que, assim como eu, estão em busca da verdade, o silêncio é um grande aliado."

Com que poder essas palavras tocaram minha alma!

Aquele momento teve o valor de ensinar-me, para o resto de minha vida, a real utilidade e a imperiosa necessidade que temos de ao menos alguns momentos de silêncio durante nosso dia. Sem esse pouquinho de silêncio, dificilmente ouviremos a voz de Deus, que nos fala baixinho de dentro dos nossos corações.

Após os primeiros instantes de adaptação à deprimente cela em que fui colocado, fiz uma faxina no local, tentando suavizar o ambiente com o uso adequado de nossa amiga água.

Em seguida, as celas foram abertas e pude conversar um pouco com meus novos companheiros. Fizeram-me várias perguntas pessoais e triviais e, em meio às respostas, aproveitei para contar-lhes um pouco de minhas práticas espirituais e da maneira como pensava em levar meu dia-a-dia naquele local, na esperança de que, ouvindo minhas palavras, eles se sensibilizassem a fazer um pouco de silêncio nos momentos em que eu necessitasse.

Em pouquíssimo tempo descobri que essa esperança, naquele local, era uma utopia. Não porque meus companheiros tivessem má vontade, mas porque o barulho constante é uma tônica nesse lugar, com raras exceções na madrugada.

Terminada a conversa, pedi licença a todos e iniciei uma sessão de Hatha Yoga seguida de meditação. Na verdade, confesso que naquele dia não consegui meditar, pois o barulho e as novidades eram estranhos para a mente acostumada com o silêncio de outrora. Precisei de alguns dias para a devida adaptação, o que finalmente se deu.

Sendo assim, passava meus dias praticamente com a mesma rotina, deixando a meditação para a madrugada, por volta das 3h30.

Em alguns dias já havia mais dois companheiros em minha cela e a convivência até não foi ruim, porém, a diferença de idéias e pensamentos, devido ao meu trabalho interior, era uma nota dissonante.

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Por outro lado, naquele lugar me permitiram trabalhar, inicialmente dentro da cela. Aproveitei a oportunidade para confeccionar bolsas femininas, utilizando alguns pontos de crochê que aprendi com minha mãe e, mais tarde, de revistas.

Esse trabalho me possibilitou o ganho de algum dinheiro que pôde ser utilizado na manutenção das minhas necessidades básicas. Com o pouco de dinheiro que sempre me sobrava, pois me considero hoje uma pessoa com pouquíssimas necessidades, tive a felicidade de ainda poder ajudar minha mãe.

Tal simplicidade em viver, que possibilita bem utilizar pouquíssimos recursos, foi um dos primeiros tesouros que adquiri no caminho espiritual.

Passados três meses no presídio, consegui junto ao diretor a oportunidade de trabalhar fazendo a faxina das áreas internas do prédio. Jamais esquecerei disso e quero aqui agradecer, nominalmente, aos Capitães José Deques Alves (diretor) e Assis Santos (vice-diretor) pela chance e confiança que me deram naquela época. Vocês fizeram mais por mim do que podem imaginar, tenho certeza. Obrigado!

O trabalho, realizado por mim como uma forma de meditação (a de "plena atenção" dos budistas), teve grande poder solidificador às minhas convicções naquele processo de automelhoramento no qual me empenhava.

Naquela ocasião, poder contribuir com meus serviços era uma recompensadora maneira de me sentir útil às pessoas que ali se encontravam, bem como uma forma de sentir que, servindo aos Seus filhos, prestava serviço ao próprio Pai Celestial.

O tempo foi passando e percebi que meu trabalho de limpar as coisas, por ser bem executado, tornou-se o preferido das pessoas que trabalhavam nos setores administrativos. Dessa forma, mantive-me sempre um pouco mais à vontade para transitar pelas dependências da penitenciária.

Com o passar do tempo, a desconfiança natural que as pessoas sentem ao lidar com um preso foi desaparecendo, dando lugar, hoje digo sem modéstia, a uma nova e verdadeira amizade com as pessoas que a vida me fez encontrar naquele local.

Como tenho boa experiência em alguns setores no ramo da construção civil, inevitavelmente, devido aos muitos problemas de manutenção que surgiam no presídio, também passei a trabalhar nas instalações elétricas e hidráulicas do estabelecimento. Criei um novo método para o funcionamento do abastecimento de água e para o esgotamento sanitário, que sempre foi um problema sério.

Por realizar esses trabalhos de forma satisfatória, acabei sendo requisitado por outras penitenciárias que fazem parte do complexo penal da zona norte, para resolver as mesmas questões, comuns nesses lugares.

Esses serviços aumentaram ainda mais minha felicidade, pois pude resolver sérios problemas de abastecimento de água nessas prisões. Somente quem lá está sabe o constrangimento que é ter de passar todo um dia de visitas com suas famílias em um local quente, abafado e malcheiroso, por pura falta de água.

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Devido ao trabalho interno e externo (a bomba de água ficava fora do presídio), passei a ter maior contato com a natureza, o vento fresco da manhã, os pássaros, as árvores, enfim, com tudo que é Deus e ao que raramente damos a devida atenção. Afinal, temos muitas outras coisas "mais importantes" a fazer do que parar por alguns minutos para sentir no rosto a doce brisa da manhã a nos dizer "Ele está aqui".

Continuei com todos os meus trabalhos, inclusive os de faxina, utilizando essa rara oportunidade de acesso à direção do presídio para ajudar outros presos.

Sempre que pude, busquei obter informação sobre processos, solucionar problemas de visitações e agilizar atendimento médico para os que necessitavam.

Mas o trabalho mais árduo que enfrentei e tentei solucionar sem causar um problema maior, foi ter de informar à direção e outras autoridades, quando necessário, sobre os inevitáveis maus-tratos e até espancamentos que muitos sofrem nessa condição.

Apesar de os agressores se limitarem a uma pequena minoria de agentes e policiais que ali trabalhavam, ainda reféns de seu enorme egoísmo e desconhecendo o doce sabor de amar o próximo incondicionalmente, foi preciso tomar providências para tentar acabar com aquela situação infeliz.

Esses atos esporádicos de violência foram as maiores dificuldades que enfrentei no

presídio. Nunca sofri tais agressões, mas sofri muito, intimamente, em vê-las ou ouvi-las, através dos gritos indefesos daqueles que sofriam a dor sem ter a quem recorrer.

Mesmo vendo toda aquela situação, bem como a do mundo que nos cerca, creio firmemente que chegará o dia em que a humanidade, já livre das imperfeições inerentes ao nosso atual estágio moral e espiritual, irá pôr fim a toda essa tresloucada violência, seja de que forma for.

Os dias passavam lépidos e eu, mesmo com todo o trabalho diário, podia pôr em prática os ensinamentos de Jesus, Buda, Sai Baba, Hermógenes, Yogananda e tantos outros que haviam influenciado a formação de meu novo estado de ser.

A possibilidade de pôr no campo de provas do cotidiano aquilo que aprendemos com os grandes seres é oportunidade inigualável para avaliar a nossa evolução na senda espiritual. Para tanto, eu permanecia firmemente estabelecido nas minhas práticas espirituais diárias, há muito introjetadas na alma.

O ditado popular "Você colhe aquilo que planta" é verdade inexorável no universo da vida. Percebido sempre como explicação para os maus resultados de nossas ações, este ditado serve também, e sou prova disso, para as boas ações que praticamos, seja em pensamentos, palavras ou nas ações propriamente ditas.

Creio que, por tanto buscar, do fundo do meu coração, a convivência com aqueles que expressam nas atitudes diárias as verdades da vida espiritual, recebi do Pai Celestial uma tangível prova de Sua misericórdia e de Seu amor.

Deus, em Seu infinito amar, enviou-me esse mensageiro da Luz que é meu querido Professor Hermógenes.

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"Pedi e se vos dará. Buscai e achareis.Batei e vos será aberto. Porque todoaquele que pede, recebe. Quem busca acha. A quem bate, abrir-se-á.Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão?

E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais o vosso Pai Celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem."

Mt 7:7-11

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CAPITULO 9

DEUS ENVIA HERMOGENES

Quando comecei a praticar a disciplina espiritual ensinada pelo Professor Hermógenes, não tinha a menor idéia do poder curativo do Yoga.

Nos Sutras de Patanjali, o compêndio clássico do Yoga, esse mestre define o Yoga como a ciência em que o praticante diligente, se cumprir toda a disciplina ensinada, atingirá a meta da união com a Alma Universal, ou seja, Deus.

Patanjali, porém, como cientista que é nessa arte sagrada, afirma que antes de praticar a técnica, o discípulo deve ter a ética.

Baseado nas informações desse que foi o codificador original do Yoga, toma-se perceptível para todos nós a quase inexistência de pessoas com os requisitos morais (ética) necessários para se habilitar a receber a técnica libertadora da união yóguica.

O Professor Hermógenes divide o Yoga em duas categorias: Yoga para quem pode (pequena minoria) e Yoga para quem precisa (a imensa maioria, da qual faço parte).

Sendo assim, percebo que se tivesse recebido em minhas mãos os Sutras de Patanjali, como seria possível, naqueles dias em que vivia destituído dessa moral inerente à alma, utilizar os caminhos do Yoga para saciar minha sede de reconciliação com as leis do Pai Eterno?

Não seria possível!

Se o amigo leitor esteve atento ao que até aqui escrevi, concordará comigo. Não esqueça, porém, que o amado Pai Celeste jamais abandona Suas ovelhas. Assim o disse Jesus, portanto, não há como duvidar disso.

Durante nossa caminhada pela vida, facilmente percebemos que o Pai, em Sua infinita misericórdia, sempre faz surgir entre nós alguns super-homens que venceram a si mesmos pelo "bom combate" no passado e agora vêm para nos ajudar a trilhar o caminho que já percorreram com sucesso.

O professor Hermógenes é um desses, alguém em quem o ato de amar incondicionalmente e sem reservas já faz parte da expressão natural de sua alma.

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A vida e o exemplo desse homem maravilhoso têm ajudado milhares de pessoas necessitadas da luz espiritual que emana das páginas de seus livros através de sua sabedoria singular, digna de alguém que desfruta a intimidade do Altíssimo.

O Professor Hermógenes revela sabedoria, inteligência, bom senso, verdade, paz, retidão, amor, compaixão, não-violência e muitas outras virtudes inerentes a quem pratica tudo que prega. Isso confere poder aos seus ensinamentos. Em mais de 50 anos atuando na cura dos que sofrem, ele tornou-se um centro irradiador de paz, luz e amor, tão necessários nos dias de hoje.

Faltam palavras para expressar o que é a fortuna de poder desfrutar a presença de uma pessoa como o Hermógenes em minha vida. É muito mais do que mereço. Reconheço quão grande deve estar minha dívida com os Céus.

Falarei um pouco sobre como começou esse desfrute.

Desde que iniciei minhas práticas nos tempos de solitária, baseei-me totalmente no método criado pelo Professor Hermógenes para a cura da alma, do corpo, da mente e do espírito para me guiar na estrada do Yoga.

Conforme o tempo foi passando e pude, na prática, averiguar o resultado inegável que o Yoga proporcionava em minha nova maneira de viver, reconheci agradecido o fato de Deus ter me enviado um livro tão honesto, sincero e verdadeiro como é o Autoperfeição com Hatha Yoga, de autoria do Prof. Hermógenes.

Lembrando-me sempre de que o Mestre Jesus nos dizia que "não pode árvore boa dar mau fruto", pensei na beleza da árvore que havia produzido aquele livro fantástico, de frescor sempre renovado pela perenidade de sua verdade.

No início, senti-me um pouco tímido em escrever ao professor, pois sabia que minha condição não era das mais favoráveis para iniciar uma conversa com um homem daquele calibre espiritual.

Podia perceber com muita clareza o quanto ainda estava distante da Casa do Pai e sentia que, para escrever ao Hermógenes eu teria de, no mínimo, ser lúcido e coerente, além de breve e direto com as palavras, para não causar incômodo a alguém que eu intuía ser muito ocupado no socorro dos muitos que sofrem nesse mar da vida.

Decidido a escrever-lhe, faltava-me saber se ele ainda estaria vivo, porque, nas minhas contas, já deveria passar dos 81 anos, idade em que a maioria de nós provavelmente já teria se desligado desse mundo pela porta da desencarnação.

Com esses pensamentos rondando vez por outra minha mente, fui surpreendido, algumas semanas depois, ao ver pela televisão um senhor com cabelos cor de neve a realizar ásanas (posturas do Yoga) como um jovem de 18 anos. Ali estava a resposta do Pai Celeste para as dúvidas de minha mente. Aquele senhor era o Professor Hermógenes.

Dessa vez Deus me fez essa revelação sem que eu precisasse fazer qualquer oração. Apenas desejei em meu íntimo saber se o professor ainda estava vivo, pois considerava a

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chance de falar com ele quase nula. Não por achar que ele pudesse ser orgulhoso ou coisa assim, mas pelo fato de estar preso, reconhecia que não seria fácil corresponder-me com ele.

O único interesse que me movia a escrever-lhe uma carta era o mais profundo e sincero desejo de agradecer-lhe por, antes mesmo de eu ter nascido, ele ter escrito um livro que muitas décadas depois de sua primeira edição, teve o poder de ser o divisor de águas na vida de uma pessoa que, iludida com as atrações temporárias do nosso breve existir, havia enveredado pelo mundo do crime, em busca da satisfação dos seus desejos egoístas.

Tomado por esse impulso interior, preso à espera de julgamento e trabalhando dentro do presídio nas diversas funções citadas, escrevi a tão desejada carta.

Enviei-a sem esperar resultado, mas com toda a energia do amor e da gratidão que já sentia por aquele homem, mesmo antes de tê-lo encontrado pessoalmente.

O tempo foi passando e esqueci o assunto.

Continuava diariamente a executar toda a disciplina que me havia imposto como forma de evoluir em direção à meta espiritual comum a todos nós.

Estava já bem mais maduro sobre as verdades espirituais da vida e muito bem alicerçado na crença daquilo que eu praticava.

Em mim não havia mais espaço para qualquer tipo de dúvida com relação à capacidade do Yoga de curar almas ou à direção de Deus em minha vida. Meu viver era uma constante entrega de todo o meu ser, de todos os acontecimentos de minha vida, para as mãos de meu Pai Onisciente.

Minha mente não se preocupava mais com qualquer evento futuro em minha vida, fosse bom ou ruim. Vivia, ou melhor, tentava viver de forma desapegada como ensinaram os grandes yogues do passado.

Com o Yoga já fazendo parte integrante do meu viver como o caminho que escolhi trilhar em regresso ao Lar Paterno, recebi, emocionado, uma carta e um livro (Setas no Caminho de Volta), como resposta a meu ato de amor e gratidão enviado pelo correio havia algumas semanas.

Não posso expressar o que senti com aquelas palavras que recebi. Foi muito, mas muito mais do que eu podia imaginar.

Como após ter iniciado minha viagem de volta para Deus tudo em minha vida parece ter passado a funcionar de forma milagrosa, aqui também não poderia ter sido diferente.

Pouco tempo após ter recebido a carta, que foi um inimaginável incentivo, tive o prazer de receber uma ligação de minha mãe para a direção do presídio, informando-me que no dia seguinte eu receberia a visita de uma pessoa enviada pelo próprio Professor Hermógenes.

Fiquei extasiado diante desse carinho do Bem-amado Cósmico para comigo. Não conseguia acreditar que aquilo fosse verdade. Mas felizmente era!

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No dia seguinte, por volta das nove horas, enquanto executava meus serviços de limpeza na recepção do presídio, vi feliz minha mãe entrando com um homem de roupas brancas, pele clara, usando óculos leves, com uma mochila nas costas. Percebi nele a figura de um amigo, que considero hoje como irmão.

Fomos apresentados e, após uma curta conversa, ele me disse que estava realizando a gravação para um documentário que pretendia fazer sobre a vida e a obra do Professor Hermógenes, o qual sugerira que viesse me procurar, pois meu depoimento sobre o poder do Yoga na cura dos sofrimentos da alma (meu caso) poderia ser de algum valor para o docu-mentário.

Muito feliz com a possibilidade de poder agradecer ao professor por tudo que havia feito por mim através de seu livro, concordei imediatamente e nos pusemos a gravar naquele mesmo dia.

Sem me preocupar com o que as pessoas pensariam do meu depoimento (até hoje não me preocupa o julgamento das pessoas), dei vazão a todos os sentimentos que me invadiam o coração, pelo fato de Deus ter me concedido a honra de fazer parte, um pouquinho que fosse, da vida do meu querido Mestre Hermógenes.

Falei à câmera com o coração e não pude evitar que as lentes mágicas do Marcelo capturassem minhas lágrimas que, naquele instante, já eram de alegria pelo reconhecimento íntimo do caminho até então percorrido.

Terminamos a filmagem e nos despedimos, sem ainda saber ao certo se iria conseguir me encontrar com o Hermógenes, pois ele mora no Rio de Janeiro e eu sabia muito pouco dos eventos e detalhes de sua vida privada.

Quando Marcelo foi embora, fiz uma prece profundamente agradecida a Deus pela oportunidade de ficar um pouco mais perto daquele homem que me ajudou a sair das trevas, veiculando seu amor pelos que sofrem através das páginas de um livro formidável.

Como já disse em um capítulo anterior, sigo a vida com a consciência tranqüila por saber que não incomodo meu Pai Celeste com pedidos egoístas.

Na verdade já o fiz, e foi há pouco tempo, mas somente porque encontrei uma pessoa amada e acabei pedindo a Deus que, se fosse a vontade Dele e contribuísse para a felicidade de ambos, que me permitisse tê-la ao meu lado.

Essa foi a única vez que me dirigi ao Pai Eterno de forma egoísta. Mas, para quem em cinco anos de prisão nunca pediu nem mesmo pela própria liberdade, acho que não foi uma falta grave, não é?

Reconheço humildemente que o Pai Amado dispensa Seus cuidados a mim sem eu sequer precisar pedir. Na verdade, Ele os dispensa a todos os seres deste Universo. O problema é que, na maioria das vezes, estamos muito ocupados com as coisas do mundo para escutar a voz do Pai Celestial, que vive a nos sussurrar a partir do coração.

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Não cometo mais essa loucura e vou contar uma historinha verdadeira que retrata bem como sinto sobre as pessoas que não sentem Deus 24 horas por dia em seu peito:

"Uma vez, um erudito chegou até o mestre Ramakrishna e disse, querendo ser cortês:

— Mestre! Reconheço que o senhor é verdadeiramente um grande renunciante, pois renunciou a todas as maravilhas do mundo para buscar a Deus.

O mestre, com o olhar cheio de compaixão, respondeu:

— Eu, um grande renunciante? De forma alguma! O senhor é que é o grande renunciante por aqui.

O homem, tomado de espanto, disse novamente:

— Mestre! O senhor deve estar enganado, pois sou um homem rico, tenho muitas posses e posso desfrutar todos os prazeres da vida, enquanto o senhor leva uma existência simples, sempre em meditação e vivendo com tão escassos recursos.

O mestre, tomado de amor pela visão distorcida daquela alma, respondeu:

— É exatamente por isso que digo que o senhor é o renunciante por aqui, pois enquanto se contenta com esses míseros passatempos transitórios que não permanecerão consigo após a morte do seu corpo, eu passo todos os instantes da minha vida na companhia de meu Pai Celestial, que é o dono e doador de todas essas coisas e que, na verdade, é a essência eterna do meu ser. Este ser que sou nem a morte pode me tirar. Portanto, quem é o grande renunciante por aqui? Eu que permaneço no eterno ou o senhor que se contenta com o transitório?"

Gosto muito dessa história e, apesar de não me lembrar das palavras exatas, transcrevo aqui seu significado real. É assim que olho para as pessoas que buscam preencher o vazio de suas vidas nas atrações traiçoeiras desse mundo temporário. Apenas o amar verdadeiro e incondicional pode permitir experienciar Deus.

Passados alguns dias da gravação, meu novo amigo, o documentarista Marcelo Buainain, apareceu novamente no presídio para conversar comigo.

Para meu total espanto, disse-me que havia falado com o Hermógenes e que, após saber um pouco mais a meu respeito, eles pensaram que seria uma boa idéia fazer um filme sobre minha vida, que estava sendo transformada através da prática do Yoga ensinado pelo método do professor Hermógenes.

Imagine a minha surpresa...

Após conversarmos um pouco sobre o assunto, decidi que se um filme sobre minha vida no cárcere, transformada pela prática do Yoga, do amor ao próximo, do perdão, do desapego, da retidão, da verdade e da não-violência, pudesse realmente mostrar às pessoas que existe a possibilidade de realizar uma profunda reforma moral, não importando o lugar e as circunstâncias onde se possa estar, então esse filme seria algo de bom que eu faria para as pessoas que porventura o assistissem.

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Seria uma grande oportunidade de devolver a Deus um pedacinho de todo o amor que ele tem me concedido incansavelmente.

Como Marcelo me assegurou que sua intenção e de Hermógenes eram as mesmas que a minha (do que não tenho dúvidas), concordei em contar minha história.

Antes de começar a gravar, entreguei-me totalmente em oração ao Pai Celeste, pedindo-lhe que me ajudasse para que eu conseguisse, quebrando a barreira do meu ego, falar abertamente da minha personalidade egoísta e defeituosa anterior à descoberta dessa vida cheia de amor e paz que é o viver fraterno.

Fiz, nos moldes do que apresentei neste livro, um acordo comigo mesmo de retratar a verdade dos fatos, por mais doloridos, tristes e humilhantes que pudessem ser para mim, pois acredito sinceramente que com meu exemplo muitas pessoas podem decidir iniciar sua própria jornada de volta para o reino do inefável, que é a convivência com Deus.

Consegui realizar com bom ânimo esse difícil intento. Pelo menos, tenho a consciência tranqüila de ter feito o melhor que pude a cada instante.

Após o lançamento do filme, muitas pessoas já me perguntaram quanto ganhei para fazê-lo. Para responder a todos que porventura ainda se preocupem com os possíveis lucros que eu possa ter obtido com o documentário Do Lodo ao Lotus, sou obrigado a reconhecer, pela imperiosa necessidade de ser honesto em minhas palavras, que tive, realmente, um rendi-mento grandioso com a veiculação deste filme, nas várias cidades do Brasil em que ele foi apresentado pelo querido Prof. Hermógenes:

Ganhei uma soma milionária na conquista de muitos novos amigos sinceros, no recebimento constante de uma avalanche energética de amor das muitas pessoas que viram o filme, mas, principalmente, ganhei uma soma maior ainda em saber, por cartas que recebi de inúmeros novos amigos que me conheceram pela tela (alguns desses amados viajaram até Natal para me encontrar), que graças ao documentário muitos iniciaram seu processo redentor em busca da realidade e objetivo maior de nossas vidas, que é Deus.

Sobre a outra soma, o dinheiro, digo àqueles que sempre se perguntam "O que vou ganhar ao fazer isso?", que cedi meus direitos de imagem ao produtor e idealizador, Marcelo Buainain, pois o único lucro que espero desse trabalho que realizei com todo o coração é a colheita de muitas almas para a casa de meu Pai Eterno.

E isso tem acontecido, graças ao trabalho maravilhoso do Marcelo, como também à heróica e colossal cruzada de amor e paz que realiza o Professor Hermógenes na divulgação desse filme pelo país afora.

Prefiro deixar ao leitor a transcrição de uma das cartas que recebi do Professor Hermógenes sobre esse assunto:

Rio, 17.06.05LUIZ HENRIQUE GUSSON COELHOR. Henrique Lelê, 1896 - C. 6

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S. V.P. Negra - 5909" 510Natal-RN

Querido irmão,

Eu também tenho lamentado a pequena intensidade de nossa necessária comunicação, que deveria atender aos apelos de nossos corações que sentem saudades e sede de encontros e trocas.

Como tenho sido muito solicitado de toda parte para fazer conferências, participar de eventos, aqui e ali, pouco tenho chegado ao computador. Tenho mesmo me sentido parado sem produzir algumas matérias e sou tentado a me culpar.

Mas o estilo de meus trabalhos tem melhorado, tem produzido repercussão inegavelmente maior. Pudera... Sua história pessoal e a magia do cineasta Marcelo, tão evidentes em Do Lodo ao Lotus ampliaram imensamente o poder didático de minhas pregações.

É fantástico como as pessoas reagem. Ao término da exibição, o auditório está empe aplaudindo efusivamente, com lágrimas nos olhos. São muitas as cidades onde tive o prazer de mostrar e comentar. Centenas estão aguardando a comercialização. Eu, principalmente.

O Brasil está sendo ajudado por você. Não só através do projeto Mente Livre, que você está transformando numa bênção e pelo DVD. O futuro vai mostrar o quanto Deus o amou quando o entregou às grades. Saindo daí, entregando-se cada vez mais a Deus e à sua nobre missão, ainda mais crescerá na prestação de serviços, na expansão do amor, na distribuição da verdadeira luz, na implantação da paz, em proveito dos ignorantes e desamparados.

Que sonho bonito você desfrutou. Por um lado, foi fruto de merecimento seu, por outro, foi um carinho da misericórdia. Felizmente eu estava no sonho. Gostaria de ter uma interpretação clara e correta.

Suas dificuldades com aqueles que se aproximam, mas não querem aprender, não são estranhas e desanimadoras. Jesus sofreu críticas e até traições enquanto educava, não somente o povo, mas até seus discípulos, Nunca esqueça de que Sai Baba sabe, quer e pode tomar sua direção e defesa. Ele é seu refúgio e sua luz.

Minha próxima visita será em agosto, quando Marcelo estará lançando o novo DVD sobre minha vida e minha obra, que se chamará: Hermógenes — Deus me livre de ser normal.

Gostou do título?

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Que Sai Baba o abençoe a toda hora.

Om Sai Ram.

Creio que após ler esta carta já é possível perceber o que digo. A intenção do filme foi justamente tocar o coração das pessoas para a verdade de que o Pai Amado está, neste exato instante, totalmente disponível e mesmo desejoso de derramar todo o amor que Ele é sobre cada um de nós.

Acredite, o Pai está sempre pronto a correr em sua direção, não importa quão longe você imagine estar. Esqueceu-se de quem foi um dia este que agora lhe fala? Um criminoso perante a justiça dos homens e de Deus! Mas mesmo assim Ele veio e tem derramado sobre mim todo o Seu amor.

A você também acontecerá o mesmo, desde que queira. Experimente buscá-Lo com todas as forças que tiver na sua alma e perceberá que, sem dúvida, Ele virá também. Esse será o maior momento de toda a sua vida. Sei do que estou falando.

Voltando um pouco na história, vou relatar meu encontro com esse ser inigualável que é o Hermógenes.

Espero que Deus lhe conceda, amigo leitor, a fortuna de conhecê-lo um dia, mas, se isso não for possível devido aos muitos caminhos da vida, recomendo o estudo de sua obra, com mais de vinte volumes sobre a arte de curar corações, que creio ser a especialidade desse "mestre do espírito".

Tudo aconteceu em um dia que passará para a eternidade de minha alma.

Vinha ele pelos corredores do presídio, andar calmo, com seu corpo franzino, olhar profundo, semblante a resplandecer uma espécie de energia Divina, serena, pacífica, que demonstrava amor incondicional, sem julgamentos.

Quando ele se aproximou das grades do portão de minha cela, segurei suas mãos e as beijei e ele, em sua humildade natural de grande alma, beijou as minhas mãos em retribuição. Olhou para mim com um sorriso tão doce, que pensei ver a face de um anjo. Na verdade, sei que foi isso que vi por trás daquilo que meus olhos teimavam em me mostrar como sendo apenas um ser humano comum.

O portão foi aberto e ele me deu um abraço tão apertado que posso senti-lo novamente ao relembrar aqueles momentos. Foram minutos em que o tempo pareceu-me ceder lugar ao infinito. Pude experienciar, pela primeira vez, o real estado de parada da mente.

Por alguns segundos pude comungar com toda a existência que parecia pulsar dentro mim. Instantaneamente, reconheci que somos muito mais que a vastidão do que a mente alcança. Senti o que realmente expressa a palavra Unidade. Percebi-me, por instantes, intimamente uno com aquele ser que, por pura misericórdia do Pai Eterno, viera ao meu encontro na prisão.

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Passamos alguns momentos juntos naquele primeiro encontro e recebi muito mais da presença dele do que imaginava que existisse por trás daquilo que pensamos expressar a palavra felicidade.

Após esse encontro, muitos outros aconteceram e nesses momentos de indizível alegria, pude perceber a mão do Senhor a unir os Seus devotos na Terra.

Soube mais tarde que, assim como eu, o Prof. Hermógenes também é devoto de Sai Baba. Na verdade, é muito mais do que isso, pois foi ele quem traduziu a primeira obra de Sai Baba para o Brasil e isso fez com que começasse todo um processo de conhecimento desse ser de amor que é Sri Sathya Sai Baba.

Em várias oportunidades, o professor foi à índia e teve o justo merecimento aos olhos de Deus de ser recebido por Baba em cinco ocasiões diferentes, para uma entrevista pessoal. Em uma delas, Sai Baba materializou para a esposa do Professor Hermógenes, Maria, um japamala (colar para orações) com suas contas em cristal.

Antes de conhecer o Professor Hermógenes eu não sabia de sua devoção por Sai Baba. Sabia apenas, porque é parte constante de suas obras, que ele tem amor e admiração tais pelo amado Jesus, que o chama constantemente de "O grande Mestre Yogue Jesus", seu guru.

Esse é também meu sentimento para com esse ser que, segundo o querido Jan Vai Ellam, está prestes a voltar à Terra, em cumprimento de sua promessa de aproximadamente dois mil anos atrás.

Para que você se situe melhor nessa história, há bem pouco tempo, antes de iniciar as páginas deste livro, fui informado pelo próprio professor Hermógenes de sua grande amizade com Jan Vai Ellam (pseudônimo de Rogério de Almeida Freitas).

O professor disse-me ao telefone na última vez em que nos falamos (no momento em que conheci pessoalmente Ellam), que seu grande amigo "é considerado por muitos como um profeta". Foram exatamente essas a palavras do mestre ao se referir a esse herói da anunciação das boas novas cósmicas sobre a volta prometida de nosso amado Mestre Jesus.

Ao escrever estas páginas, não consegui evitar a emoção com a generosidade de Deus ao me conceder a honra de conviver com essas duas grandes almas. Chorei.

Ainda é com lágrimas nos olhos que percebo quão misericordioso o Pai está sendo ao me dar essas pessoas como afetos de minha alma.

Chego a ficar desconfiado se algum anjo distraído não passou alguma informação equivocada de quem fui para o Pai Celeste, pois confesso que me sinto pequenininho diante dessa torrente de amor que tem inundado meus dias dentro da prisão.

Quero registrar meu sincero agradecimento a todas essas pessoas que Deus me deu como imensa família. Amo-as de todo o coração e com toda a força que pulsa dentro de mim. Namastê!

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Por isso, peço sua licença e compreensão, pois quero terminar este capítulo falando do amor, esse sentimento tão vulgarizado em nossos dias, que as pessoas já não acreditam mais que possa realmente existir em sua forma pura.

Meu encontro com Hermógenes foi um momento único desse amar, só repetido poucos dias atrás, quando me encontrei com pessoas que intuo serem muito mais do que os simples seres humanos que a vida nos faz cruzar durante nossa viagem por esse belíssimo planeta azul.

Existem mistérios indecifráveis nos caminhos de Deus, mas mesmo sendo indecifráveis, o Pai coloca nesses acontecimentos inesperados uma grande oportunidade de reconhecermos o real significado da palavra amor.

Sou muito grato ao Altíssimo por estar me ensinando, através de tantas pessoas e situações diferentes com que já deparei após ter iniciado esse caminho interior em busca do meu lar espiritual, essa Divina arte de amar!

Essa gratidão vai muito mais além, pois aprendi o valor da felicidade que é o amar sem ter vergonha de esconder esse sentimento tão nobre e curativo.

Nesta vida, mesmo com todo o desastre que foi meu passad e com toda a imperfeição que carrego ainda nas profundeza de mim mesmo, graças ao Pai Celeste consegui amar as pessoa que me maltrataram. Ele permitiu que eu amasse os que sofrer assim como eu ou ainda mais. Também permitiu, em diferente situações, que eu conhecesse a alegria de amar os muitos amigo e amigas que por motivos vários têm cruzado minha estrada

O Pai, em sua infinita compaixão, me ensinou a amar todo os ignorantes e arrogantes, que do alto de seu egoísmo teimar em negar a Sua existência, bem como a de Seu amor. Ah, s eles pudessem sentir!

É por isso que insisto em dizer que me sinto infinitament endividado com o Pai Celestial, pois, além de me possibilita todas essas experiências indizíveis ao desfrutar o verdadeir amor da alma, Ele me permite expandir meu amor em um forma meiga, suave, delicada e carinhosa, que é a que surgi recentemente em minha vida com meu renascimento.

Oro insistentemente ao Pai para que eu possa ser dign dessas palavras e sentimentos que Ele me doa, e que o amanh possa me mostrar, em cada um que passou ou passe pela minh vida, como sendo reconhecidamente a mais pura manifestaçã de Seu Divino amor.

Termino este capítulo falando do amor profundo que sinti em meu peito, pois é exatamente isso que penso ser a vida da grandes almas, como é o caso do Professor Hermógenes, ness; sua missão libertadora das multidões enfermas do nosso planet Terra. Deus permita que um dia meu amar se torne tão perfeiti quanto o desses nobres seres.

"SenhorFazei de mim um instrumento da Tua paz!Onde houver ódio que eu leve o amor,Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,Onde houver discórdia, que eu leve a união,

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Onde houver dúvidas, que eu leve a fé,Onde houver erro, que eu leve a verdade,Onde houver desespero,que eu leve a esperança,Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,Onde houver trevas, que eu leve a Luz!Ó Mestre!Fazei com que eu procure mais consolarque ser consolado,Compreender que ser compreendido,Amar que ser amado...Pois é dando que se recebe,É perdoando que se é perdoado,E é morrendo que se vive para a vida eterna."

São Francisco de Assis.

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CAPÍTULO 10

O JULGAMENTO DO MEU PASSADO

Finalmente, após mais de três anos e meio de detenção, chegou o dia de eu ser julgado pelas leis dos homens.

Tudo pronto, às 6h30 os policiais da escolta do presídio levaram-me até o Fórum, na cidade de Parnamirim. Chegando lá, já havia muitas pessoas na sala de audiências para assistir ao julgamento. Fui conduzido ao banco dos réus e ali permaneci.

A juíza iniciou a sessão e os trabalhos começaram formalmente. Fui chamado até a frente da juíza para que ela procedesse ao interrogatório. Permaneci calado. Nada falei porque qualquer coisa que dissesse aumentaria a dor de todos os envolvidos naquela história trágica.

Muitas pessoas envolvidas no contexto daquele julgamento podem ter pensado que não falei para me safar da ação da lei. Nunca foi minha intenção, essa é a verdade. Mas se, ao ler estas páginas você não acreditar, está no seu direito.

O fato é que, intimamente, sabia que seria condenado, pois o Pai Amado não contrariaria Suas eternas leis de justiça simplesmente por saber que eu ali já era um novo homem. A cada um cabem as conseqüências dos seus atos e assumo a parte que me cabe naquela tragédia.

Silenciei naquele momento para proteger outras pessoas envolvidas na ação criminosa que vergonhosamente cometi. Somente o Pai Celeste pode nos sondar a alma e Ele sabe que, se existe algo que nunca pedi, foi a minha liberdade.

Querer receber um direito que me cabe como pessoa presa submetida a uma legislação é uma coisa, mas querer escapar da ação da lei passando-me por inocente em um ato do qual fui culpado, é outra bem diferente.

Existem ainda outros motivos, além de preservar pessoas envolvidas, que foram decisivos em minha recusa a depor. Não posso contá-los, mas asseguro que são todos indiferentes ao rumo do processo e da dor que envolve a todos.

Quem pensa que não falo a verdade, pergunte-se por que não permiti que meu advogado recorresse da decisão. Recebi dos jurados quatro votos condenatórios contra três

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absolutórios, ou seja, perdi por 4x3. Qualquer pessoa de bom senso, querendo se livrar das grades, recorreria de uma decisão dessas, não?

Se não o fiz, foi porque antes do julgamento havia me compromissado com o Pai Celeste de que aceitaria a pena que viesse, pois creio que a vontade Dele é, sem dúvida, soberana.

Fui condenado pelos meus atos, mas a sentença eu sabia ser a da vontade do Grande Pai. Por isso não recorri, por ser consciente de minha culpa, mas, principalmente, por saber que diante da vontade de Deus não me cabe protestar, pois Ele sempre sabe o que é melhor para mim, mesmo que a mim não pareça bom.

Não me preocupa a opinião das pessoas a respeito, mas minha consciência diante do Bem-amado Cósmico. A justiça foi feita e mesmo sabendo que isso não retira a dor da família de quem se foi, espero que pelo menos tenha servido de alívio.

A dor dos familiares dele foi, sem dúvida, outro motivo pelo qual não autorizei a recorrência. Se não tenho poder para mudar o passado e desfazer o ocorrido, quis que ao menos a justiça dos homens, condenando-me, lhes proporcionasse algum alívio.

Espero agora o dia em que estarei frente a frente com a justiça de meu Pai Celeste. Aceitarei de todo o coração o que Ele decidir como meu destino. Essa é a fé que me move.

Até lá, farei o melhor que puder para de alguma maneira mostrar aos desvairados e sofredores dessa viagem da vida que não vale a pena contrariar a lei do Pai Eterno, frente à qual a dos homens é acanhada expressão.

Diante Dele não há lugar para embuste, falsidade ou mentira, porque Ele vê o coração.

Um dia, ninguém sabe quando, todos nós partiremos desse planeta para a grande viagem e deveremos prestar contas de nossos atos.

Sei que não posso mudar o passado de quem fui, mas posso construir um presente totalmente diferente. Esse é meu compromisso com a vida, até que a morte me chame. Este livro é a tentativa.

Sinto-me grato pelo fato de os promotores e advogados de acusação ter sido instrumentos para o cumprimento das Leis Eternas. Não falo com hipocrisia, digo apenas o que me vai ao coração.

Que o Pai Celeste os abençoe, assim como à juíza, pela dosimetria da perna ter revelado a vontade do Altíssimo.

O que disse acima acerca dos fatos e dos meus sentimentos é a expressão da verdade que move minha alma, e espero que você compreenda a dificuldade de falar de um evento do qual, infelizmente, participei.

Somente Deus sabe o quanto me arrependo pelo que aconteceu e, já que não posso mudar o passado, decidi, anos atrás, mudar a mim mesmo para que não continuasse a ser um porco a mais na construção do mundo horrível em que vivemos.

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A angústia de me sentir afastado da presença do Pai devido aos meus atos desvairados me moveu na necessária reforma íntima, que me possibilita estar aqui hoje, contando minha história.

Falo com a verdade que é Deus em minha língua, em cada palavra que escrevo neste livro. E deve ser mesmo assim, pois se não fosse, como poderia eu vir aqui contar minha história de vida, falar desse amor Divino que nos une como uma mesma família planetária em busca de evoluir, se não tivesse a coragem de assumir todos os meus erros passados, sem exceção?

Eu seria apenas um hipócrita a mais falando sobre um Deus que não conhecia, pois no momento decisivo, sem confiar Nele, escaparia pela porta da mentira tentando proteger meu ego, que é meu verdadeiro inimigo.

Sei que a dor dos envolvidos nessa triste história não passará, mas como acredito firmemente na continuação da vida além desta, espero que todos possamos continuar caminhando na tentativa de nos melhorar, para um dia, mesmo que distante, podermos nos entregar à presença do Pai com o coração livre dos medos, tão comuns àqueles que não assumem seus erros e que tentam escondê-los dos homens. Dos homens é possível, mas de Deus jamais.

Pensemos nisso e perguntemo-nos, sinceramente, em que podemos melhorar nosso caráter e conduta enquanto estivermos neste planeta. Assim que nossos corações revelarem a resposta, entreguemo-nos ao Bem-amado Cósmico em busca de Seu auxílio para o imperioso reajuste.

Apesar de reconhecidamente culpado em um passado transgressor, não me conformei com ser quem eu era e fazer parte das trevas. Decidi enfrentar a mim mesmo no mais duro combate de minha vida e lutar para alcançar a Luz que é Deus.

Travei uma árdua batalha contra o inimigo dentro de mim (egoísmo), na tentativa sincera de conseguir evoluir e fazer parte desse exército do bem que está se formando na Terra à espera da iminente volta do amado Mestre Jesus.

Não nos esqueçamos de que a reforma íntima é trabalho constante na busca da perfeição no ideal de amar incondicionalmente a tudo e a todos.

Empenho-me diariamente nisso e, conforme vou avançando, tento levar comigo o maior número de pessoas possível, buscando atingir a Casa do Pai Celestial.

Para essa jornada, conto unicamente com o próprio Pai Amado, que Ele crie as condições necessárias para que eu progrida e ainda possa ajudar, de alguma forma, outros a progredir. Este é meu objetivo desde que fui resgatado do lodo em que me encontrava no início das dores da prisão. Misericordiosa prisão...

Sobre meu julgamento, recebi a seguinte carta do meu querido Professor Hermógenes. Ela vai ajudar a validar tudo que falei como verdade sincera:

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Rio, 16.05.04

LUIZ HENRIQUE GUSSON

Meu querido amigo,

Por favor, desculpe por não ter já respondido sua carta tão amorosa e preciosamente sábia. Tive problemas com inevitáveis, numerosos e urgentes engajamentos, incluindo diversas viagens e até o computador achou de parar.

Tenho emocionado diversos auditórios, em diferentes cidades, exibindo o documentário de Marcelo, e, mais recentemente, lendo esta sua carta. As pessoas se comovem profundamente e agradecem pelo que viram e escutaram, pelo muito que aprenderam. A esta altura, você já é conhecido, admirado e amado por muita gente por onde tenho viajado. Muitos desejam adquirir o D VD e se corresponder. Só dei seu endereço a uma pessoa muito especial — Profa. Celeste Castilho, amiga de mais de 40 anos. Desculpe se não pedi sua permissão.

Todos querem uma cópia do D VD. Ainda não o podemos comercializar porque até agora não foi possível assinar contrato com editoras. Estamos vencendo algumas normóticas dificuldades burocráticas. Aguardemos. Tenho certeza, porém, de que sua história, seu exemplo, sua metanóis, sua devoção, sua nova personalidade, sua coragem, sua fé, sua entrega a Deus, seu amor a Sai Baba, seu grande sacrifício, sua devoção à Verdade, finalmente, todo seu discurso anterior, em palavra e em atos, têm prestado socorro, despertado esperança e servido de arrimo para incontáveis almas mendigas de paz e coerência.

Seu depoimento a todos sensibiliza porque mostra, com dramática veemência, quanto e como você está se transformando em luz, na luz que ensina o caminho redentor.

Sua história vem preencher uma lacuna, vem dar resposta correta a quem pergunta, vem amparar quem precisa de segurança.

Marcelo foi divinamente inspirado ao produzir um tão bonito e didático documentário.

Que o Supremo abençoe Marcelo e a toda sua família, por muitas gerações.

No dia de seu julgamento, ele e eu estávamos em Campo Grande (MS), sacudindo centenas de pessoas com sua história. Ele e eu mentalmente ligados, pensando em você, entregando-o a Swamiji, você e todo o júri. O teatro estava lotado, com gente acumulada no corredor, se contentando com apenas escutar.

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Nos dias anteriores ao 28, repetidamente andei pensando se minha presença no julgamento ajudaria ou atrapalharia. Hoje ainda não sei. Mas, acredito na força do pensamento, do sentimento, do amor e da fé.

Nos dias que se seguiram cheguei a ansiar por um contato. Esperava uma carta. Chegou, finalmente, e me fez e ainda f az muito feliz. A leitura me levou a pensar que tudo o que aconteceu no seu julgamento foi uma prova de quanto Baba está cuidando de seu devoto - Gusson. Sinto que tudo o que se passou, e ainda se passa, configura um maravilhoso lila (uma peraltice divina), pondo você numa tremenda prova de fogo, dando-lhe o ensejo de demonstrar inequivocamente que todo seu austero discurso espiritual é pura e inquestionável verdade, Verdade mesmo. Isso me faz exultar, pois que tudo faz crer que você foi aprovado no duro exame.

Sua serenidade plena espantou os profissionais da imprensa (a internet informou). Sem medo, sem queixume, sem vacilação, sem dúvida, sem pequenez normótica, você se entregou irresistivelmente e também entregou jurados, juizes, defensores e acusadores, entregou seu futuro a Quem que, das profundezas de seu coração, interpela todos nós - "Por que temer quando eu estou aqui?

"Você não se defendeu quando o juiz lhe facultou. Um normótico não pode entender tal

"loucura". Mas, você, sabendo que, ao desvelar a verdade sobre delitos do passado, inevitavelmente incriminaria outras pessoas, por indulgência -preciosa virtude característica dos poucos que, j á vencendo a ignorância, sentem amor, compaixão e misericórdia e se tornam capazes de obedecer a Jesus, que ensinou: "amai vossos inimigos!" Um gesto assim, no qual, para beneficio de outros, o ego pessoal se sacrifica, os sábios do Yoga milenar denominam de yojna. Raros conseguem. Você conseguiu. Foi muito além do nobre perdoar.

Se tivesse se defendido, poderia ter recebido uma condenação bem menor e até mesmo a liberdade. Tomara que outras pessoas entendam o quão grandioso foi tal sacrifício. Não estranharei se alguns normóticos, doentes de egoesclerose crônica, chegarem até ao deboche. Isso faz parte dos sintomas da enfermidade deles. "Perdoai-os, Pai... "

Aliás, você pensou exatamente nisto quando seus acusadores, tentando cumprir o dever deles (seu dharma), desdenharam do documentário que impressiona e comove até corações mais medíocres. Eles tinham que agir assim. Era dever da função a eles atribuída. Você se conduziu como lótus perdoando-os e pedindo ao Pai que também os perdoe. Lotus não teme nem odeia.

Sua serenidade nasceu da certeza da transitoriedade de todas as formas de maya, a ilusão cósmica. Tudo ali, naquela sala, pessoas, paredes, móveis, emoções, sentimentos, palavras, gestos... tudo, tudo mesmo, não persiste, não tem realidade... O tempo acaba com tudo e constrói tudo ao mesmo tempo. Só o Uno é Real e Eterno.

Você sabe que alegrou muitíssimo Sai Baba quando venceu galhardamente a prova de exame que Ele, por muito o amar, lhe apresentou.

Eu só posso gritar com todo meu coração: obrigado, meu amigo, porque tive a alegria de apreciar sua vigorosa ascensão "do lodo ao lótus ". Não me contento em dizer que esqueça o lodo, digo, também: ajude-o a se libertar.

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Você está absolutamente certo - a pena de 14 anos é só para o corpo ilusório. Apenas o corpo está condenado. Apenas o corpo, que você usa, mas não é você.

J Aí AOMS AI RAM

Obrigado, Senhor, por todo o amor que tens derramado sobre mim nessa viagem de volta para casa! Que Tua luz, Teu amor e Tua paz possam estar com todos aqueles que terminam agora de ler estas linhas.

"Um homem que se reformou a si mesmo, reformará outros milhares."

Mestre Yogananda

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CAPÍTULO 11

PROJETO MENTE LIVRE

Olhando para trás, para todo o meu passado conturbado e transgressor das leis desse Pai de amor, percebo claramente que, apesar de dizermos constantemente que O adoramos, amamos e louvamos, jamais agimos de acordo, pois não seguimos Seus mandamentos. A começar pelo primeiro, no qual Jesus disse:

"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito (Dt 6:5). Este é o maior e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lv 19:18)"

Quem de nós pode dizer realmente que segue as orientações desse incomparável Mestre da Alma?

É tão difícil pôr esses ensinamentos em prática na vida diária, não?

Se for honesto com você mesmo, provavelmente deve estar me dando razão. E é justamente por saber quanto ainda sou imperfeito, que me é impossível deixar de reconhecer quanto o Bem-amado Cósmico foi misericordioso comigo.

Há cinco anos, dentro de uma solitária, eu começava a maior obra de minha vida, a de reformar a mim mesmo, pois reconhecia que muito estava errado.

Buscava, mesmo sem jeito, pelas respostas às dúvidas que tinha sobre esse nosso existir aparentemente sem motivo. Ansiava encontrar uma maneira de preencher meu vazio interior, que havia muito me dilacerava a alma carente desse amor Divino que agora ouso dizer que conheci. Hoje amo e não tenho mais vergonha de dize-lo, mas as pessoas criaram um medo de declarar seu amor.

Iniciei essa busca sem saber bem por onde começar e logo descobri que, para essa viagem da alma, a mente seria útil somente até determinado ponto. A partir dali, teria de pôr o coração no comando. Fiz isso e percebi claramente que no caminho do espírito o coração é o único bom condutor.

De lá para cá, nunca mais racionalizei, ou melhor, nas poucas vezes em que racionalizei, arrependi-me e dei lugar ao coração para que ele resolvesse a questão.

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Tenho agido assim desde então. A mente continua a falar, mas a última palavra é a do coração. Descobri que somente ele é confiável.

Se você quer progredir nesse caminho, ou mesmo na vida, nunca faça nada que vá contra o amor, pois ele é a expressão do seu coração espiritual. Os racionalistas podem não concordar, mas insisto em dizer que você é amor, portanto, aja de acordo!

Sinta-se digno, esteja onde e como estiver, porque a vida, apesar de misteriosa e aparentemente desprovida de sentido, é a expressão de amor puro dessa vida maior que é Deus. E você faz parte disso, entende?

É seu direito inato ser feliz, pois você é herdeiro do próprio doador da vida. O Pai Celeste é tudo isso, mas às vezes temos vidas tão miseráveis que não conseguimos sequer acreditar que exista um Deus, quanto mais que Ele é amor e felicidade. Compreendo você que pensa assim, pois a vida é dura mesmo. Existir num mundo transitório, em que nós e as pessoas que amamos temos corpos igualmente transitórios, já é suficientemente difícil. Quem já perdeu alguém amado sabe do que falo. E no final não vamos todos perder?

Essa é a lei da vida nesse mundo físico. Mas por que o Pai Amantíssimo faria algo para causar dor a Seus filhos?

A resposta que darei, apesar de já tê-la lido nos livros, hoje se tornou parte de mim mesmo pela experiência direta dessa verdade em meu coração. Eu a experimentei em minha própria vida, por isso me sinto à vontade para dize-la. Creio firmemente que o Pai Amado criou essas dores baseadas na transitoriedade desse mundo para que não nos iludamos com ele ou esqueceremos o ser de amor que realmente somos para dar lugar aos seres monstruosos que também conseguimos ser, pois ao nos iludirmos com nossas mentes repletas de infindáveis desejos materiais, nasce em nós o maior inimigo que uma pessoa pode ter: o egoísmo.

O que Deus nos dá no sofrimento é a Sua misericórdia infinita, pois seu único interesse, por tanto nos amar, é nos lembrar de que não somos deste mundo, que não somos seres mortais e sim espíritos de luz que deveriam estar desfrutando Sua companhia infinita de paz, amor, felicidade e bem-aventurança.

Por que não percebemos isso? Por que nos tornamos esses seres doentes, capazes de causar tanta dor a seus semelhantes, em vez de seguir o primeiro mandamento ensinado pelo amado Jesus?

Somos todos, sem exceção, vítimas de nós mesmos, de nosso egoísmo arrogante, a criar desejos insaciáveis na ânsia desmedida de ter, reter, possuir, dominar e desfrutar tudo e todos.

Se você fizer uma análise imparcial e sem auto-índulgência, perceberá que somos seres realmente doentes, vivendo de forma egoísta, em um mundo do qual não compreendemos a origem e muito menos seu objetivo e destino.

É difícil para nós compreender nosso papel em uma vida aparentemente destituída de objetivos, pois por maiores que sejam nossas conquistas, a morte fatalmente nos arranca tudo que cultivamos com tanto apego. É essa a verdade com relação às coisas que o mundo nos

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oferece ao longo dos nossos dias na Terra. Por que, então, continuamos a nos destruir e fazer sofrer, mutuamente, nessa luta estúpida para conquistar pessoas e objetos que a própria vida cuidará de nos tirar mais tarde?

Concluí, após anos de análise sobre meu agir do passado, que os horrores que ocorrem no mundo devem-se ao fato de sermos seres esquecidos da delícia que é viver de amor, doando-se a si mesmos para todos os que precisam... e são muitos!

Você já experimentou olhar no fundo do olho de alguém que sofre? Parece uma luz que vai se apagando lentamente.

Dê alegria a essa pessoa e experimente olhar novamente em seus olhos. Talvez compreenda, então, a expressão "a delícia que é viver de amor". Você se sentirá a melhor pessoa do mundo e experimentará a felicidade que é viver dessa forma. Aprenderá a dar novos valores às coisas e pessoas na vida. O egoísmo será CURADO com o remédio Divino do AMOR.

Isso mesmo! PRECISAMOS NOS CURAR, pois somos seres adoentados pelo veneno de nosso próprio egoísmo.

Como nos conta com propriedade Jan Vai Ellam, em um passado muito distante nos deixamos contaminar por uma espécie de doença da alma e isso nos fez chegar à atual condição em que se encontra toda a raça humana. Creio que posso me referir a essa doença como egoísmo. Não me resta qualquer dúvida de que o único remédio para esse mal é o ato de reaprendermos a amar uns aos outros.

Perceba que, no mundo de hoje, aqueles que falam do dever de amar incondicionalmente são logo ridicularizados.

Meu querido irmão Ellam diz que nós perdemos a simplicidade da alma e, conseqüentemente, nos esquecemos de que a capacidade de amar incondicionalmente a tudo e a todos não é algo que se aprende, mas algo que podemos recordar, pois é, na verdade, a nossa real natureza de Ser. Não me lembro se Ellam nos diz isso com essas palavras, mas sei que é isso o que quer dizer.

Assim é porque o Pai Celeste, no Seu impulso criador aí vida, demonstra ser Sua própria natureza esse amor que, dt tão imenso, não podemos descrever com palavras. O amor é algo que só poderemos conhecer experienciando-o em nossos corações.

Por isso poucos encontram seu pedacinho de paz e felicidade na vida, pois o buscam no local errado.

Precisei sofrer muito para que, ajudado por Deus através da dor amiga, pudesse perceber que havia algo errado comigo e não com o mundo. O mundo não é mal. É belo, cheio de vida, é a casa que Deus nos deu nesse curto período de existência humana.

Quando percebi meu engano e supliquei pela ajuda do Pai Amado, Ele veio imediatamente e, com todo Seu amor, mostrou-me que eu estava procurando nas coisas transitórias aquilo que só pode ser encontrado no que é eterno. Ensinou-me, ainda, que essa

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paz e felicidade que buscamos é um estado de ser inabalável, inerente ao ser humano, mas que deve ser buscado dentro de nossos corações e não fora.

Este é o trágico engano no mundo: todos procuram fora aquilo que está dentro. Não é uma questão de alcançar, mas de despertar para essa verdade e criar uma disciplina de corpo, mente, emoções e espírito que nos possibilite um caminho seguro para nos reconectar com a verdade amorosa que realmente somos.

Você que me lê, acorde! Você é um ser de amor, luz e paz. Apenas se esqueceu disso. O que precisa é de um método para se recordar de sua verdadeira natureza.

Esse é o objetivo de uma disciplina espiritual: despertar cada um de nós para a realidade que somos essencialmente, ou seja, puro amor Divino.

Sai Baba diz constantemente que se desenvolvermos o amor, não precisamos desenvolver mais nada.

Baseado nos ensinamentos de Sai Baba e Jesus, aliados ao método do Professor Hermógenes e a outros ensinamentos espirituais dos muitos mensageiros de amor que vieram ao mundo para nos ajudar a despertar, criei uma forma nova de viver.

Ao adotar essa disciplina espiritual em minha vida, tenho como único objetivo me tornar consciente permanentemente dessa minha verdadeira realidade de amor.

Sei quanto ainda estou longe de alcançar essa perfeição, mas para fazer uma viagem temos de dar o primeiro passo. Faz cinco anos que dei o meu e, ao longo dessa estrada, o Pai Celeste me possibilitou a gigantesca oportunidade de mostrar aos outros como faço o trabalho dentro de mim mesmo. Isso o mundo não pode ver porque é no campo interno do coração, mas descobri que poderia contar às pessoas como faço e ajudá-las, quando quisessem, a fazer comigo. Esta é minha forma de agradecer a Deus por todo o amor doado a mim.

Na vida espiritual ninguém faz nada por ninguém. O máximo que podemos fazer é indicar as setas nessa estrada, mas o percurso é responsabilidade do caminhante.

Sathya Sai Baba diz que "A Divindade é inerente ao homem e ele tem de descobri-la por esforço próprio", porém, Ele também afirma que "Se você der um passo na direção de Deus, Ele dará cem na sua".

Você que acompanhou minha história compreenderá que devo concordar com Sai Baba, mas ressalto que Deus não dá só cem passos em nossa direção, mas milhares de passos. Minha vida é a experiência dessa verdade.

Como sempre digo, sei que nada fiz para alcançar a Deus. Simplesmente busquei-O com o coração sincero, usando todas as forças de minha alma, nada mais! Foi o Pai Amado que correu veloz para me encontrar e conduzir. Essa é a verdade da minha história.

Assim também será com você quando se decidir a encontrar seu tão almejado pedacinho de paz e felicidade, que está no seu coração na forma de amor, na forma do próprio Deus.

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Quando quiser ser amado, dê amor e ele fatalmente voltará para você. Quando não quiser se sentir solitário, seja solidário. Quando não quiser sentir fome, alimente.

Passe a cuidar de si mesmo como o ser espiritual de amor que você é e, à medida que for prosseguindo, ajude outros a encontrar um pouquinho daquilo que você já encontrou. Isso é alimentar a alma!

O Professor Hermógenes escreveu que o rio, quando está se aproximando da foz, já pode sentir o gostinho do mar. É uma linda verdade, porque mesmo ainda muito longe de Deus, já posso sentir o gostinho do Seu infinito amor.

Desejo de todo o coração que dentro em breve você também possa sentir o doce gostinho do oceano que é esse Deus de amor em você.

Alicerçado na sincera intenção de levar outras pessoas a ter a possibilidade de sentir esse "gostinho do mar", surgiu o Projeto Mente Livre.

Sempre foi e será meu compromisso com Deus devolver-Lhe, através de seus filhos, todo o amor que Ele derrama sobre mim incansável e ininterruptamente.

Um dia, nas muitas visitas que o Professor Hermógenes me fez na Penitenciária Estadual de Parnamirim, onde ainda estou preso, disse-lhe que havia um salão disponível e pensei se seria uma boa idéia darmos aulas de Yoga. Ele me disse: Só se for pra ontem!

Conversamos com a diretora imediatamente e ela concordou e nos apoiou sempre nesse projeto.

Em seguida, o Professor Hermógenes foi falar com o Dr. Leonardo Arruda Câmara, Secretário de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte.

Este homem, em atitude digna de um verdadeiro Yogue, apoiou-nos desde o primeiro momento e reconheço, agradecido, que se não tivéssemos sua ajuda nas horas difíceis que já passamos, o Projeto Mente Livre não existiria mais.

Ele, juntamente com a Dra. Guiomar (Ouvidora de Justiça/ RN), Capitão Deques (Superintendente do Sistema Peniten-ciário/RN) e agora, também, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, bem como o Grupo Atlan e o Professor Hermógenes, são, de igual maneira, os maiores responsáveis por todo o trabalho que está sendo feito no coração das pessoas que estão aqui cumprindo suas penas impostas pela Justiça. A nós presos aqui, só nos resta dizer com todo o coração: OBRIGADO!

Quebrar preconceitos não é fácil e ensinar Yoga no mundo já é difícil, quanto mais dentro de um presídio. No início, até uma minoria dos agentes penitenciários foi contra. Há uma mentalidade repressora e agressiva por parte dessa minoria, quando deveria ser, justamente, no sentido de reeducar o trabalho deles.

Alguns foram duros obstáculos para mim, mas me ensinaram a grande lição de que as correntes que nos amarram estão decisivamente dentro de nós próprios e nos cabe a árdua missão de nos libertar delas.

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Por outro lado, reconheço, também agradecido, o apoio contínuo da grande maioria dos agentes penitenciários do Rio Grande do Norte.

As dificuldades que tivemos para fazer com que esse projeto criasse raízes são nosso motivo de orgulho, pois em meio a elas muitos aqui estão despertando para essa luz magnífica que é a descoberta desse universo de amor real existente dentro de cada um de nós.

As pessoas que vêm nos visitar (e são muitas, inclusive do exterior) não conseguem acreditar que dentro de uma prisão temos um local tão lindo como esse para poder passar todos os nossos dias na busca daquilo que é o sagrado em nós.

Nosso espaço para as práticas diárias de Yoga se chama Mandir, que significa templo em sânscrito. É o resultado de uma bela reforma que os alunos fizeram em uma sala desocupada. Todo o material necessário foi doado pelo meu irmão espiritual Daniel, que após conhecer minha história através do filme Do Lodo ao Lotus veio me conhecer pessoalmente e me deu a honra de poder dizer que ele é um dos poucos que ajudará o camelo a não ter de passar pelo buraco da agulha, como bem nos advertiu o Mestre Jesus.

Ele exemplificou, através desse gesto, a arte de amar verdadeiramente sem preconceitos. Daniel possibilitou termos esse maravilhoso espaço, adequado de tal forma que a mente se lembre constantemente qual a tarefa a cumprir aqui dentro.

Dessa maneira, ao longo do último ano e meio, tenho me dedicado com amor a esse trabalho de mostrar as setas àqueles que anseiam a Casa Paterna. É minha forma de agradecer a Deus. É o mínimo que posso fazer diante de tudo que Ele me fez e faz de forma incansável.

As pessoas aqui presas estão me mostrando que realmente são lutadores incansáveis em busca da luz que é Deus. Diante de toda dificuldade, dor e sofrimento que é viver anos no confi-namento de uma penitenciária, estes homens têm se superado na arte de construir um mundo de paz a partir de si mesmo.

São exemplos vivos da verdade de que somos seres essencialmente amorosos, mas que disso nos esquecemos. Alguns deles já começam a se relembrar. Lamentavelmente, ainda são poucos, poderiam ser mais, muitos mais!

O Projeto Mente Livre deve começar agora a se expandir para outras penitenciárias, com o apoio institucional do Ministério Público, e é nossa intenção criar uma espécie de Fundação para receber e apoiar os que sairão da prisão no seu difícil recomeço após anos passados aqui dentro, como é o meu caso.

Mas o futuro a Deus pertence, portanto, o que nos importa, agora e sempre, é o esforço verdadeiro e responsável pela evolução de nossas almas em busca de sermos seres verdadeiramente humanos, praticando o amor incessantemente.

Sem isso, jamais nos habilitaremos a entrar na Casa do Pai Celeste. Para tanto, informo que em breve devo receber a progressão do meu regime prisional e não estarei mais diariamente ensinando os apenados que fazem parte do projeto. Sei das dificuldades reais que existem dentro de uma prisão e, principalmente, dentro do projeto Mente Livre. Contudo, espero que todos os envolvidos nesse trabalho, sejam autoridades ou apenados, percebam as responsabilidades que lhes cabem, acima de tudo as espirituais.

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Espero que nenhum dos envolvidos, com seus egos e vaidades, impeça o sucesso dessa nobre tentativa de despertar pessoas para suas verdades interiores e a conseqüente ressocialização.

Assim, deixo a estrada pronta para que outros que ainda têm de ficar aqui possam caminhar por onde andei. Agora é com cada um dos caminhantes. Se forem diligentes c disciplinados em suas práticas e se o que os move nesse projeto for realmente a reforma íntima e nada mais, certamente o Pai Amado virá em auxílio de cada um. Que Deus abençoe e ilumine a cada buscador sincero que faz parte do Mente Livre. Se um dia, por qualquer motivo, faltar totalmente essa sinceridade, que Deus perdoe e conceda nova chance aos cegos de espírito que assim procederem.

Nessas linhas finais, quero agradecer ao leitor por ter me acompanhado até esse ponto de nossa viagem, pois termino este livro ainda dentro da prisão, apesar de sentir estar próxima minha progressão de regime prisional. Aqui dentro pude aprender a amar o lodo, habilitando-me a um dia amar o lótus.

Não se esqueça de que essa é a condição indispensável para quem realmente deseja ser digno do Pai. Lembra-se, ainda, da reflexão na primeira página deste livro? Pois é!

É tarefa de cada um de nós atingir aquela meta estabelecida por Jesus, que de forma tão magnífica a exemplificou em Seus últimos gemidos, engendrados pela estupidez dos homens que o pregaram naquela cruz. Ele disse: "Pai perdoa-os, porque não sabem o que fazem."

Que esse Seu exemplo de vida e lição, bem como o de Sri Sathya Sai Baba nos tempos atuais, possam ser a mola que faltava para que cada um de nós, dando ouvidos aos anúncios de Jan Vai Ellam, possa se preparar para a volta desse amado mestre cósmico que é Jesus. Apenas desenvolvendo o amor é que nos habilitaremos a ser TRIGO na grande separação da colheita presidida pessoalmente, dentro de pouco tempo, pelo próprio "Filho do Pai".

Aqui, mesmo dentro da prisão, já estamos a caminho. E você?

Desejo que todo o amor e luz de Deus preencham seu coração de agora em diante até a chegada desse grande dia.

NAMASTE

OM SAI RAM

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"Em verdade vos declaro, se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus."

Jesus, o Cristo

Este livro foi escrito no interior da Penitenciária Estadual de Parnamirim, mais propriamente dentro da sala para a prática do Yoga aqui existente.

Ao término deste trabalho, às 20h45 do dia 20 de abril de 2006, reconheço emocionado que sem a mão invisível do Altíssimo, através da presença de todos os irmãos espirituais que me acompanharam nesses dias de revista íntima para a confecção dessas páginas, eu jamais teria conseguido.

Muito obrigado, meus amados!

Que o amor de Jesus e de Sai Baba seja sempre o farol a nos guiar para o Lar Paterno.

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POSFÁCIO

LUZ NA SOLIDÃO

Sou dos que pensam que a solidão é o laboratório da alma que, cedo ou tarde, concede ao ser humano a possibilidade de se transformar em cientista de si mesmo. Ao atravessar suas portas, as crendices e as ilusões ficam lá fora, enquanto o inevitável foco investigativo começa a se refletir no espelho imenso da intimidade, convidando ao autodescobrimento. São momentos em que as experiências do mundo exterior parecem perder importância para dar lugar ao aconchego de instantes tão preciosos, porém, pouco apreciados pelos apressados homens e mulheres da modernidade.

Pergunto-me quantas pessoas na Terra gostam da solidão ou sabem dela tirar algum proveito. Questiono como alguém poderá conhecer a si próprio se não investir na profissão da fé solitária dos desbravadores dos limites do mundo interior, ainda mais amplo e profundo que o exterior. Este nos convida a abrir os olhos e a observar a realidade que nos envolve, e todos os que assim fazem são passíveis de ver os mesmos elementos, enquanto o outro, misterioso posto que desconhecido, nos convida à solidão, único modo de mergulhar no oceano da imensidão espiritual da alma.

Poucos são os que se aventuram por esses mares aparentemente revoltos das nossas mentes inquietas. Preferimos estar sempre de olhos bem abertos, já que a vida, apressada como parece ser nos dias atuais, nos atormenta a ponto de mal conseguirmos dormir, tamanha é sua pressão ern nos fazer sempre reféns das obrigações inescapáveis do cotidiano. Estas, no mais das vezes, namoram com as preocupações noturnas que nos roubam a paz de espírito e, às vezes, o próprio sono, deixando-nos sempre descasados em relação à pretendida felicidade.

Assim, a questão que se impõe é: como parar, para poder investir na solidão, e fechar os olhos, único modo de focalizar a atenção no mundo interior onde habita a nossa esquecida alma?

O mestre Paramahansa Yogananda costumava orientar aos seus alunos que fechassem os olhos e se perguntassem: "o que está por trás da escuridão dos meus olhos fechados?". Existem duas respostas possíveis: "eu mesmo" e/ou "o mundo interior". Responder a essa questão é acender a luz que se faz presente no psiquismo da mente, por atormentada que seja essa cidadã do mundo atual.

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Penso que Gusson foi "parado" — como ele mesmo diz e ressalta que "pela mão de Deus" —, "obrigado" a permanecer por um ano e meio numa solitária, único modo de a misericórdia do Alto permitir-lhe o encontro consigo próprio. E foi no laboratório da sua solidão que se descobriu como ser humano com potencial amoroso e útil aos seus próprios sonhos, como também aos dos que lhe estavam ao redor.

Pergunto-me se, caso Gusson tivesse ficado apenas na prisão, junto com os demais companheiros de desdita, sem ter sido colocado na solitária, ele teria conseguido soerguer-se da maneira como o fez. A resposta fica por conta da opinião de cada um.

O fato é que "uma chave" dos céus abriu em Gusson os compartimentos do potencial divino que existe em cada ser humano. No seu caso, essa "chave" lhe foi presenteada pela semeadura de uma alma esclarecida que resolveu passear por este mundo enquanto goza das férias do paraíso: o professor Hermógenes. Através de um de seus livros, Hermógenes tocou fundo a sensibilidade de Gusson, permitindo-lhe caminhar - no espaço reduzido de uma solitária - pelas estradas que nos elevam ao céu.

Foi-se Gusson, ainda que segurado pelos terríveis grilhões da sua condição de presidiário, em vôo seguro e permanente para onde somente logram voar as almas libertas das ilusões terrenas. Mil vezes seja abalado pelas coisas do mundo, como ser humano falível que é, creio que jamais perderá o sentido da trajetória que o fez aceitar o doce convite que seres como Jesus e Sai Baba nos renovam sempre: o vôo na direção da verticalidade sublime que dignifica nossa existência.

Como costumava dizer um dos maiores mestres espirituais da índia moderna, Sri Ramana Maharishi, "além do que você pensa, encontra-se o que você é", e foi a solitária que permitiu a Gusson descobrir quem ele verdadeiramente era e é.

Quanto a nós outros, apesar de livres da condição de presidiários e soltos em plena vida apressada, cabe-nos perceber a singular trajetória de um ser humano que, mesmo tendo caído em poço profundo onde somente os que erram e são flagrados pela justiça do mundo chegam, ainda assim resolveu construir asas para poder voar muito além da sua condição de presidiário, na direção de um local onde somente ele ousou chegar.

Firmado em si mesmo, em plena solidão, de mãos dadas com o que de divino existe em cada um de nós, alimentado pelas sementes de luz ofertadas por Hermógenes, Jesus e Sai Baba, fez-se soberana a luz da sua alma e Gusson voou para longe.

Ao refletir sobre sua trajetória obrigo-me a refletir que, ser o que sou é muito fácil, ser o que cada um de nós costuma ser é fácil, difícil é ser o que Gusson hoje é - o maior exemplo de reforma íntima que a vida me privilegiou poder perceber.

Jan Val Ellam

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'Meu querido amigo e irmão em Deus Rogério Freitas, que sob o pseudônimo de Jan Vai Ellam,vem insistente e heroicamente anunciando à humanidade a urgência na Reforma íntima para o reencontro que se aproxima com o Amado Mestre Jesus."

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Gusson antes do Yoga

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A ex exposa de Gusson , no periodo em que ficou presa, com o filho do casal.

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Gusson quando foi recapturado

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Gusson ouvindo sua sentença no dia do julgamento

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Gusson e Prof . hermogenes juntos

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Gusson, prof .Hermogenesd e o secretario de justiça Dr. Leonardo Arruda

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Gusson e prof .herrmogenes no aeroporto

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Promotoras Rossana Sudario e Mariana Marinho, e o Ptromotor Ed

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Prof. Hermogenes falando aos alunos do Mente Livre

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Palestra de Jan Val Ellam para os agentes penitenciarios

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PROJETO

REHABILITACÃOSOCIAL

OBJETIVO:

Formação teorica e pratica dum curso de ingles turistico para um futuro emprego na parte turística para pessoas em reabilitação social .

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[email protected]

Que a Paz, Luz eAmor chegam no nosso Mundo.

PROJETO

REHABILITACÃO SOCIAL

PROJETO :

Formação teorica e pratica dum curso de ingles turistico para emprego na parte turística para pessoas em reabilitação social.

Este projeto tem a intencão de formar as pessõas a partir duma base de 500 palavras constituindo de perguntas e frases na parte turística: a saber permitir para as pessoas sem base de ingles de poder ter um rudimento duma idioma estrangeira ligada a parte exclusivamente turistica em relacão ao desenvolvimento e ao crescimento da chegada de extrangeiros no nosso territorio afim de responder a carencia de conhecimentos linguisticos .

Esta formação poderia ser feita a razão de duas aulas de 1 hora o uma hora e meia por semana durante dois a tres meses seguinte a aprendizagem. A formacão teorica e pratica do ingles na parte turistica como empregado de mesa, garcon de restaurante, etc permitiria as pessoas desprivilegiadas, de receber uma formacão recohecida apos uma prova feita a cada final de cada aula, assim permitindo fazer sair da precaridade professionnal essas pessoas.

Reabilitando moralmente e psicologicamente, as pessoas trazendo e dando melhor confiança a ellas mesmas, contribuirão sustentar a familia deles com menos préocupação de procurar ajudas aleias, algumas vezes erradas. A ideia é tamben de fixar na mente a utilidade de cada um na sociedade, apagando a ideia obsolète da inutilidade trazendo a depressão e atos desnecessarios .

Pode ser trabalhado um curso de moralidade de 15 minutos , durante o cual pode ser lido uma parte do evangelho (1 pagina ) com perguntas e respostas afim de apresentar um

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desenvolvimento da moralidade de cada um participando a Reforma Intima que va ser desenvolvida pelo profesor e os alunos

Os estudantes, poderiam com acordo com empresarios trabalhar depois da saida do carceral , tinho feito uma prova final com puntos suficientes para reconhecer a formação teorica e pratica na parte do ingles turistico e permitir como resultado final um emprego na parte turistica em relacão com estranjeiros , seguinte parametros elaborados pelos autoriades .

Primeira parte :evangelizacão 15 minutos Segunda parte : teoria e pratica 1 horaTerceira parte : musica , cancoes 15 minutos

Este programada pode ser feito so com pessõas sabendo ler, escever e apresentando caracteristicas necesarias para ao relacionamento profesional, tendo grande motivação, vontade e sinceridade fraternal que deveriam ser o fero de lance de cada pessoa

Nos apresentamos a voces este prototipo das caracteristicas propias desse projeto , a seguir do curso de formacão ingles turistico , livrinho que poderia ser encardenado e dado a cada aluno no seu projeto pessoal de rehabilitacão .

[email protected]

Que a Paz, Luz e Amor chegam no nosso Mundo.

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PRESENTATION

Hello , Hey, Good morning .What is your name ?My name is Henrique

Are you Brazilian ?Yes, I am Brazilian

From where do you come? I come from Spain , Italy ,France , Germany , Holland, Portugal…

Where do you live ?I live in Natal in Brazil

Are you student ? Are you worker ? Are you on holidays ?Yes I am a student . Yes I am a worker . Yes I am on holidays .

What do you learn ?I learn English.

Do you speak English ?Yes, I speak English a little .

Why do you study English?I study English for my job .

Right / Ok / That’s it .

See you soon /Cheers .

Take care .

Thanks /thank you .

VOCABULARY COMPLEMENTARY

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Good morning : between 6 AM to 1 PMGood afternoon : between 1 PM to 5PMGood evening : between 5 PM to 10 PM Good night : after 10 PM

Excuse me / pardon / sorry Please Yes, No

LESSON ONE

Are you Brazilian/ engaged/ student/ tourist/ on holidays ?

Do you have a job/ an house/ a car/ some children/ a cat/

Do you like Brazil/ chocolate/ wine/ cheese/ meat/

mayonnaise/ ketchup/ travelling/

Do you speak Portuguese/ English/ Spanish/ French/ German /

Do you live in Brazil/ in Natal/ in Rio/ in Sao Paulo/ in UK

Do you pay cash/ with money/ by cheque/ in euro/ in dollars

Do you visit the town/ the cathedral/ the church/ the opera/ the theatre/

Do you buy a bus ticket/ a sandwich/ a post card/ a bread/ a cake/

a bottle of water/ cigarettes/ a protection cream/ a sun cream/

Do you arrive this morning/ this afternoon/ this evening/ this night/

by car/ by bus/ by taxi/ alone/ on foot/

Do you eat fish fish and chips potatoes cheese meat

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Do you drink some water/ wine/ beer/ champagne/ tea/coffee/ coffee with milk/

Do you study English/ Spanish/ French/ history / biology/

LESSON ONE

Yes, I am No, I am not

a dog/ some children/ a job/ Yes, I have No, I don’t have

fish/ fruit/ sweets/ Yes, I like No ,I don’t like

………………………………………………

a little/ well/ Yes ? I speak No, I don’t speak

in the States/ in Europe/ Yes, I live No I don’t live

by credit card/ Yes , I pay cash No , I don’t pay

the museum/ the street/ the exposition/ Yes , I visit No , I don’t visit

a ticket/ a soda/ a ticket of train/ Yes, I buy No I don’t buy

this present / this collar/ this clothes/

at the airport/ by plane/ by boat/ Yes , I arrive No I don’t arrive

alone/ today/ tomorrow/ with friends/

fruits bread and butter vegetables Yes, I eat No , I don’t eat

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Page 115: Luz Na Solidão Luiz Gusson

hot milk/ cold milk/ cocktail/ fruit juice/ Yes, I Drink No , I don’t drink

mechanics/ electricity/ Yes, I study No , I don’t study

LESSON TWO

Do you go to Natal/ the hotel/ the beach/ the town/ Midway/

post office/ the supermarket/ the police station/ the rent car/

the university/ the centre of the town/ Alecrim/ the bus station/

Do you see the car/ the beach/ the see/ the bus station/

Do you want a fruit juice/ a coffee/ a tea/ a newspaper/ a pen/

to go to the airport/ to go the hotel / a taxi/ to eat/

a train ticket/ a fly ticket/ a bus ticket/

a single ticket/ a return ticket/ first class/ second class/

Do you sell beer/ soda/ drinks/ food/ telephone card / pens /

cigarettes/ stamps / paper/ envelopes/ scratches/

Do you take cheese/cake/ water/ wine/ coffee/

marmalade/ a breakfast/ a full breakfast/ fried bacon/

Do you do exercises/ a course/ an exam/ homework/

Do you make a phone call/ a list/ a chocolate cake/ a sauce/

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Do you know the neighbour / Natal/ Rio/ Europe/ the States/

the National Theatre/ the Hilton Hotel/ a good restaurant /

LESSON TWO

Natal Shopping/ Praia shopping/ Yes ,I go to No, I don’t go to

the market/ the bookshop/ the dentist’s/

the drug store/ the pharmacy/ The market

the train/ the skyscraper /the building Yes, I see No , I don’t see

a touristy map/ to rent a car / Yes, I want No , I don’t want

to drink/ Yes, I want No I don’t want

first class/ second class/

smoking / no smoking/

wine / coffee / tea/ sugar/ biscuits/ Yes, I sell No , I don’t sell

bread/ post card / newspaper/

coffee with milk/ bread/ butter / Yes, I take No I don’t take

ham/ cheese / fish/ meat/

the shopping/ the washing/ the cooking/ Yes, I do No , I don’t do .

a jacket/ a film/ Yes, I make No , I Don’t make

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mechanic/ the village/ the town/ Yes, I know No, I don’t know

a good hotel / a good garage / a cheap hotel /

LESSON THREE

Do you know where is the Hilton hotel / where is the bus station /

where is Erton Sena Street/ where is the bookshop/

where is Praia Shopping/ where is Nova Parnamirim /

where is the mail box/ where is the Banco do Brasil

----------------------------------------------------------------------------

At what time does the shop open? The shop opens at ….. At what time does the pharmacy The pharmacy opens at ….. At what time does the school open? The school opens at ….. At what time does the train station open? The train station opens at….At what time does the bus station open? The bus station opens at …. At what time does the airport open ? The airport opens at …….. At what time does the cinema open ? The cinema opens at ……

At what time does the bank close ? The bank closes at ……….At what time does the super market close? The super market closes at….At what time does the travel agency close? The travel agency closes at ….At what time does the shopping’s close ? The shopping’s close at……

At what time does the program start? The program starts at……At what time does the football match start? The football match starts at …..At what time does the movie start? The movie start at …..At what time does the strike start? The strike starts at …..At what time does the concert starts ? The concert starts at …..At what time does the race start ? The race starts at …

At what time does the train arrive ? The train arrives at….At what time does the plane arrive ? The plane arrives at….At what time does the bus arrive? The bus arrives at…..

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At what time does the boat leave ? The boat leaves at….. At what time does the Sandra leave Sandra leaves at ….

At what time do you go to the cinema ? I go to the cinema at …. At what time do you go to the restaurant? I go to the restaurant at….At what time do you go to the airport ? I go to the airport at …..

LESSON THREE

where is the market/ where is the center of the town/ Yes, I know No, I don’t know

where is the hospital/ where is the post office/

where is the pharmacy/ where is the hairdresser’s/

where is the tourism office/ where is the petrol station/

--------------------------------------------------------------------------------------

When do you come in Natal? I come in Ntal todayWhen do you come in Brazil ? I come in Brazil TomorrowWhen do you come at the pub ? I come at the pub at _ o’clock

When do you arrive at the pub? I arrive a the pub nowWhen do you arrive at home ? I arrive at home soon . When do you arrive at the building ? I arrive at the building at …. How do you do? How do you do .How are you? I am fine . I am ok Are you all right ? Yes, I am right / No , I am tiredAre you ok ? Yes, my friend . Yes, Brother

A FEW COMMON WORDS

BIG/ SMALL IT IS BIG/ IT IS SMALL QUICK/ SLOW IT IS QUICK/ IT IS SLOWEARLY/ LATE IT IS EARLY/ IT IS LATECHEAP/ EXPENSIVE IT IS CHEAP/ IT IS EXPENSIVENEAR/ FAR - FARAWAY IT IS NEAR/ IT IS FAR HOT/ COLD IT IS HOT/ IT IS COLD

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FULL/ EMPTY IT IS FULL/ IT IS EMPTYEASY/ DIFFICULT IT IS EASY IT IS DIFFICULT

Excuse me Wait a moment please PleaseSorry I come back

LESSON FOUR

NUMBER

1 ONE2 TWO3 THREE4 FOR5 FIVE6 SIX7 SEVEN8 EIGHT9 NINE10 TEN

11 ELEVEN12 TWELVE13 THIRTEEN14 FOURTEEN15 FIFTEEN16 SIXTEEN17 SEVENTEEN18 EIGHTEEN19 NINETEEN

20 TWENTY21 TWENTY ONE 22 TWENTY TWO23 TWENTY THREE24 TWENTY FOUR 25 TWENTY FIVE 26 TWENTY SIX 27 TWENTY SEVEN 28 TWENTY EIGHT 29 TWENTY NINE

30 THIRTY 31 THIRTY ONE 32 THIRTY TWO33 THIRTY THREE34 THIRTY FOUR35 THIRTY FIVE 36 THIRTY SIX37 THIRTY SEVEN38 THIRTY EIGHT39 THIRTY NINE

40 FORTY41 FORTY ONE 42 FORTY TWO43 FORTY THREE44 FORTY FOUR 45 FORTY FIVE 46 FORTY SIX

47 FORTY SEVEN 48 FORTY EIGHT49 FORTY NINE

50 FIFTY 51 FIFTY ONE52 FIFTY TWO53 FIFTY THREE 54 FIFTY FOUR 55 FIFTY FIVE56 FIFTY SIX57 FIFTY SEVEN 58 FIFTY EIGHT59 FIFTY NINE

60 SIXTY61 SIXTY ONE 62 SIXTY TWO63 SIXTY THREE64 SIXTY FOUR 65 SIXTY FIVE66 SIXTY SIX67 SIXTY SEVEN68 SIXTY EIGHT69 SIXTY NINE

70 SEVENTY71 SEVENTY ONE 72 SEVENTY TWO 73 SEVENTY THREE74 SEVENTY FOUR 75 SEVENTY FIVE 76 SEVENTY SIX77 SEVENTY SEVEN78 SEVENTY EIGHT 79 SEVENTY NINE

80 EIGHTY81 EIGHT ONE 82 EIGHTY TWO83 EIGHTY THREE84 EIGHTY FOUR85 EIGHTY FIVE86 EIGHTY SIX

119

Page 120: Luz Na Solidão Luiz Gusson

87 EIGHTY SEVEN 88 EIGHTY EIGHT89 EIGHTY NINE

90 NINETY91 NINETY ONE 92 NINETY TWO93 NINETY THREE94 NINETY FOUR95 NINETY FIVE

96 NINETY SIX97 NINETY SEVEN 98 NINETY EIGHT99 NINETY NINE

100 ONE HUNDRED101 ONE HUNDRED AND ONE 102 ONE HUNDRED AND TWO

1000 ONE THOUSAND

LESSON FOUR

NUMBER

What time is it ?It is ………..o clock .

12 H 00 IT IS…….12 H 00 O’CLOCK OR IT IS NOON

12 H 05 IT IS…….5 PAST 12 ( TWELVE )

12 H 10 IT IS…….10 PAST 12

12 H 15 IT IS …….15 PAST 12 OR IT AS A QUARTER PAST 12

12 H 20 IT IS…….20 PAST 12

12 H 25 IT IS…….25 PAST 12

12 H 30 IT IS…….HALF PAST 12

12 H 35 IT IS…….5 TO 12 H 40 IT IS…….5 TO 13

12 H 45 IT IS…….5 TO 13

12 H 50 IT IS…….5 TO 13

12 H 55 IT IS…….5 TO 13

13 H 00 IT IS…….5 TO 13

120

Page 121: Luz Na Solidão Luiz Gusson

1 TO 12 AM AFTER MORNING 1 TO 12HOURS 1 TO 12 PM POST MORNING 12 TO 24 HOURS

1 SECOND/ ONE MINUTE/ ONE HOUR ONE DAY/ ONE WEEK/ONE MONTH ONE YEAR.

2 SECONDS/ TWO MINUTES/ TXO HOURS TWO DAYS/ TWO WEEKS//TWO MONTHS TWO YEARS.

LESSON FIVE

What is the price that / this thing/ the liter of petrol/ the souvenir/ the toy/ 0,55 3,55 1,78 17 3,90

of the lipstick/ of the stamp/ of the perfume/ the ticket/ 8,55 1,25 23,60 45,75

the Polaroid film/ of the bar of chocolate/ of this object/ 12,25 6,95 78,75

the shampoo/ the nail varnish/ the make up/17,10 15,80 137,50

the towel/ theses clothes/ the box of aspirin/ 25 37,5 7,50

the fried potatoes/ the fish and chips/ these biscuits/ the sweets/ 5,60 25 3,20 6,89

the bus excursion/ the sightseeing tour/ the fly ticket/ the pâté/ 68 27,99 345 8

the visit of the castle/ the boat excursion/ the caramel pudding /

17 57 3,55

What is it ? It ‘s a chicken pie with onion / It is beef pie with gravy / What’s that ? Tropical fruit : pineapple/ graviolala/ acerola / papaya/ mango:

THE COLOURS

WHITE BLACK YELLOW ORANGE RED GREEN

121

Page 122: Luz Na Solidão Luiz Gusson

BLUE PURPLE BROWN GREY

What is the color of the tropical juice ? The color of the tropical juice is red sunglasses / shoes /socks /lemon /banana,pills /apples /cherries/ plums /tree /leaves, the pants /collar / bag /cap/ blazer / toolbatteries / umbrella / belt / sun protection cream

LESSON FIVE

the newspaper/ the lunch/ the diner/ The price of ( ) is ( ) reals1,3 6 9

the stamp/ this bottle of water/ the toy / 1,22 2,25 55

the meal/ the brooch/ the necklace/55 15 43

the watch/ the soda/ the pineapple juice/ 25 2,5 5,55

the fruit juice/ the apple pie/ the waffles/6,5 4,50 3,5

the chain/ the packet of crisps/ the picture/ 22 2,99 55

the train ticket/ the fly ticket/ this medicine /35,80 450 29,67

the drink/2,55

Is a local speciality / Sweets potatoes

A FEW COMMON WORDS

HEAVY/ LIGHT IT IS HEAVY IT IS LIGHTOPEN/ CLOSED IT IS OPEN IT IS CLOSED RIGHT/ WRONG IT IS RIGHT IT IS WRONG

122

Page 123: Luz Na Solidão Luiz Gusson

OLD/ NEW IT IS OLD IT IS NEWOLD/ YOUNG ……………………………………BEAUTIFUL/ UGLY IT IS BEAUTIFUL IT IS UGLYGOOD/ BAD IT IS GOOD IT IS BADBETTER WORSE IT IS BETTER IT IS WORSENICE-LOVELY/ RUBBISH IT IS NICE IT IS RUBBISH

LESSON SIX

How much is it a single ticket / a single ticket one person / as single ticket two people35 55 145

a return ticket first class / a return ticket second class / 188 89

a return ticket to Paris / with the discount / / a single room356 44 49

a room with a view / a room with balcony / A room with suite 57 67 89

What is the price per night / per week / for two people / for three people 55 650 63 79

with meals / without meals / with breakfast / without breakfast 133 105 49 45

Is there air conditioning/ internet/ cable TV / heating / television in the room

private bar / a bus station / a taxi / a cab/ a bus to Ponta Negra

A FEW COMMON WORDS

Yesterday / today / tomorrow

Days

(2) Monday

123

Page 124: Luz Na Solidão Luiz Gusson

(3) Tuesday(4) Wednesday (5) Thursday(6) Friday(7) Saturday(1) Sunday

what day is it today ? Today it is Monday / today it is Tuesday ……

LESSON SIX

a single ticket smoking / a single ticket no smoking a single ticket…..is…..Réais . 36 27

a return ticket express / a return ticket to London 77 277

a double room/ a room with bath / a room with shower 86 35 35

a quiet room / a room in font of the sea/ a room at the back 39 75 47

for bead and breakfast / for half board / for full board the price per night is …..Réais 62 76 88

excluding meals 52

private toilet / European plugs / European TV Yes , there is

a bus going to Ponta Negra / a hairdresser’s S No there is not

A FEW COMMON WORDS

A day / a week A month / A year

Months

JanuaryFebruary

MarchApril

124

Page 125: Luz Na Solidão Luiz Gusson

May June JulyAugust

SeptemberOctober NovemberDecember

What day is it today ? Today it is Monday / today it is Tuesday ……

LESSON SEVEN

Do you have any tomatoes / any Carrots/ any onions / foie gras / any beans

any rolls with sausage / any cherries: any plums / any fruit cake

Do you make a tomato sauce / a tomato soup / a cake / a cheese omelette /

a fruit tart / a pudding/ an onion pie /mashed potatoes / hamburger

Do you like chicken pie/ apple pie:/ cheese cake / flan / cream pie , mashed potatoes

eggs/ fried eggs /scrambled eggs / mayonnaise / ketchup /travelling

Do you want a cucumber salad / a Tropical salad / a portion of cake / gravy/ seafood

smoked salmon / gravy with the beef / vegetables au gratin /spaghetti/

What do you want a cup of tea / a spoon / a fork / a knife / a plate / a glass / some sugar

What do you take the dish/ two pieces of sugar/ the salt / the paper/ the dressing/ ham /jam

the lemon squash/ a continental breakfasts / fried eggs/ oysters/steak

a full continental breakfast/ a full continental breakfast whit toast

A FEW COMMON WORDS

small I want a small coffee, please.big I want a big sandwich, please. I want a very big coffee .

125

Page 126: Luz Na Solidão Luiz Gusson

less I want less water, please.more I want more wine ,please.another I want another bottle of beer , I want another cocktail, please. with I want bead with butter and with marmalade ,please.without I want a menu without salt and without pepper, please cold I want a cold bottle of water hot I want a hot coffee,

LESSON SEVEN

any cheese/ any ham / any jam Yes , I have No ,I don’t have any

a car/ a house / a family / a job/ a pen / a paper

a fruit cake / a chocolate cake / a vanilla cake / Yes , I make No , I don’t make

hot dog / cocktail/ hors d’oeuvre

shrimps / cod / ox meat / fish /canapés / Natal/ Yes, I like No ,I don’t like

the Carnaval of Rio / Brazilian Music /bossa Nova

a slice of bread / a slice of cake/salt /peper Yes I want No , I don’ t want

a cup of hot chocolate/ a glass of cider

the orange squash/ the pineapple squash I want

bacon/ sausage/ scrambled eggs / fish/ cake I take

mixed vegetables / marinated fish /dessert

oil / vinegar/oysters/ pizza/ ice cream/ biscuits

A FEW COMMON WORDS

Where is the hotel ?on the left the hotel is on the lefton the right the hotel is on the right

126

Page 127: Luz Na Solidão Luiz Gusson

strait on the hotel is strait on back the hotel is on the back behind the hotel is behind in front the hotel is on front near the hotel is near from herefar the hotel is far from here up / down the toilets are upstairs/ the toilet are downstairs

LESSON EIGHT

Where is the bank/ the jeweller’s/ Buckingham Palace/

the baker’s/ the dentist’s/ the train station / the pub the keys/

the market/the souvenir/shop the museum/ the exhibition /

the art gallery / the harbour / the factory / the memorial /

the travel agency / the Wolf Club / the department store/

The town Hall/ the Tower of London / The delicatessen / the old town

the information office / Big Ben/the White House / the travel agency

the tobacconist’s/the perfumery/ the reception/ the pen

the left luggage office / the secretary’s office/ the post office

the swimming pool /the road to Recife/ the petrol station

Where are the lavatories / the toilets/ the keys/

How is the monument /the castle /the inn /the pub/ the palace / the factory /

the museum /the cathedral/ the construction/ the study/ the kitchen

the perfume /the staff /the people the food

A FEW COMMON WORDS THE BODY

head hairs

127

Page 128: Luz Na Solidão Luiz Gusson

eyeears nosemouth tooth teethtongue belly

backarm hand fingernail elbow

LESSON EIGHT

the bank is on the left/ on your left/ straight on /

the baker’s is on the right/ on your right/ on the main road / here / there/

the market is near of the park /of the bookshop/ of the place / of the office /

the art gallery is after the filling station /the docks / the building / the park /

the travel agency is before the petrol station / the candy shop/ the boulevard /

The town Hall is behind the park / the avenue / the barber’s / the street /

the information office is in front of you / in front of the river /in front of the underground

the tobacconist’s is on the first floor upstairs (up) / downstairs (down) /on the floor

the left luggage office is there / over the street/ across the crosswalk/ close to the hotel

the swimming pool is at the end of the street/after the light/ at 200 meters

the lavatories are (after the reception- at the end of the corridor - inside - outside )

The monument is renovated / in ruins /modern /super/ ugly/ sinister /great /

The museum is (rich –poor) /impressive / monumental /magnificent / superb

The perfume is ( cheap expensive) /( rude amiable well educated )/ (bad-good )

A FEW COMMON WORDS THE BODY

bottom leg

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Page 129: Luz Na Solidão Luiz Gusson

kneefoot feet

brain heartstomach liverintestine blood

129

Page 130: Luz Na Solidão Luiz Gusson

LESSON NINE

Do you have a headache / backache

a sore throat /a toothache

a stomach ache

a diabetic problem / a cardiac problem

Do you get an indigestion / a cut / a chill Yes, I got No , I don’t got

a cold a burn/ a fever

an inflammation / cramps

diarrhoeas/ influenza

sunburn / a pain /here

Do you have a drug for head ache

a medicine / a drug an antiseptic

anti-inflammatory / alcohol

bandages/ disinfectant

Do you fell sick? Yes, I fell sick No, I don’t feel sick Are you ok ? Yes, I am ok No , I am not ok Are you right Yes, I am right No , I am not right How are you ? I am only tired

There is a pharmacy , chemist’ shop , drugstore near from hereIt is better to see a doctor

A FEW COMMON WORDS

doctorphysician surgeon nurse

130

Page 131: Luz Na Solidão Luiz Gusson

LESSON NINE

VERBS

TO BE

I am Brazilian I am not Brazilian am I Brazilian ?you are Brazilian you are not Brazilian are you Brazilian?he is Brazilian he is not Brazilian is he Brazilian? she is Brazilian she is not Brazilian is she Brazilian ?we are Brazilian we are not Brazilian are we Brazilian ? you are Brazilian you are not Brazilian are you Brazilian ? they are Brazilian they are not Brazilian are they Brazilian ?

TO HAVE TO GET

I have I don’t have Do I have?you have you don’t have do you have?he has he doesn’t have does he has ?she has she doesn’t have does she has?we have we don’t have do we have?you have you don’t have do you have?they have they don’t have do they have?

To do I do the shopping To go to I go to the beach, the town , the hotel, the airport To take I take my breakfast , my lunch, my meal To eat I eat fish and potatoes , rice with beans To drink I drink water, wine, beer, To see I see the beach, the car , To buy I buy a bottle of water , a drink , a soda , my foods To sell I sell souvenirs cigarettes, drinks, papers, envelopes, stamp,To want I want a fruit juice , a coffee, a beer, a telephone card , To pay I pay cash, by cheque, by credit card To speak ( How do you pay? ) I speak English, Portuguese To know I know where is the hotel, the building, the bank , the flat To cook I cook very well fish To travel I like to travelTo come come in Can I can do it To dance I dance

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Page 132: Luz Na Solidão Luiz Gusson

LESSON TEN

THE TABLE OF THE BREAKFAST /OF THE LUNCH /OF THE DINER

What is there a bottle/ a bottle of wine/ A fork/ a knife/ a spoon on table ?

some sugar/ a cup of tea/ a cup of coffee/ some salt / some paper

some napkins/ some bread/ some butter/ some chocolate

some ham/ some cheese/ some marmalade/ some eggs

Where is the butter / the bowl / the cup / the bacon / the milk / the coffee

the sugar pot /the bacon / the plate / / the exotic juice / the oil/

the vinegar/the dressing/ the condiments / the oysters/ the fruits

Is there any mustard/ fruit juice / orange juice/ toast/ cheese

Do you have any plum jam/ honey/ biscuits/ chicken/ seafood/ soda

Do you want some water / some hot water/ some cold water/ some ice rocks

Do you take rice/ spaghetti/ bread / salmon/ sausages / iced water

mashed potatoes gravy/ ice cream (vanilla , chocolate , strawberry)

pizza/ steak/ fish and chips / boiled eggs/ prawn cocktail

mussels/ sandwich/ hors d’oeuvre/dessert / soufflé/ cheese-cake

The meat is too rare, too tough, overdone ,burnt. The fish too rare, too tough, overdone burnt.

132

Page 133: Luz Na Solidão Luiz Gusson

LESSON TEN

THE TABLE OF THE BREAKFAST /OF THE LUNCH /OF THE DINER

There is on the table a bottle/ a bottle of wine/ A fork/ a knife/ a spoon

some sugar/ a cup of tea/ a cup of coffee/ some salt /

some paper some napkins/ some bread/ some butter/

some chocolate some ham/ some cheese/ some marmalade/ some eggs

The butter/ the bowl / the cup / the bacon / the milk / the coffee/the sugar pot /the bacon / the plate / s / the exotic juice the oil/ the vinegar/the dressing/is on the table

The condiments / the oysters / the fruits are on the table

There is some mustard/ fruit juice / orange juice/ toast/ cheese

Yes ,I have some plum jam/ honey/ biscuits/ chicken/ seafood/ soda No I don’t’ have any plum jam/ honey/ biscuits/ chicken/ seafood/ soda

Yes, I want some water / some hot water/ some cold water/ some ice rocks

No , I don’t want any water / hot water/ cold water/ ice rocks

Yes, I take rice/ spaghetti/ bread / salmon/ sausages / iced water

mashed potatoes gravy/ ice cream (vanilla , chocolate , y)

pizza/ steak/ fish and chips / boiled eggs/ prawn cocktail

mussels/ sandwich/ hors d’oeuvre/dessert / soufflé/ -cake

The meat is too rare, too tough, overdone ,burnt. The fish too rare, too tough, overdone burnt.

133

Page 134: Luz Na Solidão Luiz Gusson

LESSON ELEVEN

CLOTHES

Do you want to try the shoes / the tee shirt/ the dress Yes, I want No, I don’t want

Do you want to look the pant /the bathing suit /the short Yes, I want No ,I don’t want

Do you want to buy the coat /these shoes/ the belt Yes, I want No ,I don’t want

Do you want to offer the lingerie /a tie /the pyjamas Yes, I want No ,I don’t want

Do you want to offer the jacket/ the jeans /the underwear’s Yes, I want No ,I don’t want

Is it in cotton / in leather / in wool Yes it is No it is not

in nylon/ in silk/ cheap/expensive

It is small , too small , big, too big , It is narrow, wide , cheap, expensive It is better, cheaper,

Can I try iy ? Yes, you can try it No you cannot try it Where is the fitting room The fiiting room is over there What is your size ? I don’t know / My size is e

I am interested I am not interested

THE FAMILY

MY GRAND FATHER MY GRAND MOTHERMY FATHER DAD MY MOTHER MAMMY BTOTHER MY SISTERMY UNCLE MY TANTEMY HUSBAND MY WIFEMY SON MY DAUGHTERMY CHILD MY CHILDRENMY BABY MY BABY

MAN MENWOMAN WOMENSIR SIRSLADY LADIES

[email protected]

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