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1 ESTUDO COMPARATIVO DA DURABILIDADE DE CONCRETOS CONVENCIONAIS E AUTOADENSÁVEIS UTILIZADOS EM POSTES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA M. ANJOS E. FARIAS Prof. Tecnologia da construção Prof.ª Construção Civil IFRN IFRN Natal; Brasil São Paulo do Potengi; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] T. ARAÚJO A. SIQUEIRA Aluno de graduação Aluna de graduação IFRN/PIBITI/CNPQ IFRN/PIBITI/CNPQ Natal; Brasil Natal; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] M. ALMEIDA DE SÁ A. NÓBREGA Prof. Eng.ª Civil Prof. Eng.ª Civil UFRN UFPE Natal; Brasil Caruaru; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] RESUMO É de conhecimento da comunidade técnica que postes de transmissão de energia de concreto armado convencional, quando submetidos a condições de agressividade elevada, como zonas urbanas de alto tráfego de automóveis e zonas muito próximas ao mar, apresentam com frequência manifestações patológicas como corrosão das armaduras, resultante do processo de carbonatação do concreto aliada a penetração de íons cloretos. Diante dessa problemática, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a durabilidade de concretos dosados para utilização em postes fabricados por indústria de pré-moldados da cidade de Natal-RN/Brasil. Foram analisados dois traços de concretos convencionais (CCV) e dois outros traços de concreto autoadensável (CAA), com resistência mínima de 25 MPa. Para os traços de CAA foram utilizadas adições de fíler calcário e metacaulim. Os ensaios realizados no estudo de durabilidade dos concretos foram os seguintes: resistência à compressão, ensaio de difusão de íons cloretos submetidos à ciclos de molhagem e secagem em solução salina e difusão de íons cloretos. Os resultados demonstram um melhor comportamento do CAA em relação ao CCV quanto à durabilidade. Tais resultados serão utilizados para subsidiar a tomada de decisão quanto a possíveis investimentos da indústria de pré-moldados para utilização de CAA em sua linha de produção. 1. INTRODUÇÃO A indústria de concreto pré-moldado se apresenta como uma forte aliada de construções que exijam prazos curtos e fabricação de elementos básicos de infraestrutura, como é o caso de postes de distribuição de energia elétrica. Dessa forma, tem-se a necessidade de fabricar elementos pré-fabricados de boa qualidade em prazos curtos, visto que, nos últimos anos, a deterioração das estruturas de concreto tem ocorrido de forma precoce. Concreto autoadensável é uma nova categoria de concreto de alto desempenho caracterizado pela sua capacidade de se espalhar em local sob o seu próprio peso sem a necessidade de vibração e adensamento sem qualquer segregação [1, 2]. Sonebi (2004) afirma que a tecnologia do concreto autoadensável permite reduzir, ou eliminar a vibração do concreto, influenciando, assim, na mão-de-obra utilizada, além do rápido lançamento e acabamento que podem melhorar a produtividade e rentabilidade da obra [3]. Gomes et al. (2008) compararam os custos da aplicação de concreto autoadensável em elementos pré-moldados simples, como painéis e caixas de ar-condicionado, com uma composição de concreto convencional de mesma faixa de

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ESTUDO COMPARATIVO DA DURABILIDADE DE CONCRETOS CONVENCIONAIS E AUTOADENSÁVEIS UTILIZADOS EM POSTES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA

M. ANJOS E. FARIAS Prof. Tecnologia da construção Prof.ª Construção Civil IFRN IFRN Natal; Brasil São Paulo do Potengi; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] T. ARAÚJO A. SIQUEIRA Aluno de graduação Aluna de graduação IFRN/PIBITI/CNPQ IFRN/PIBITI/CNPQ Natal; Brasil Natal; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] M. ALMEIDA DE SÁ A. NÓBREGA Prof. Eng.ª Civil Prof. Eng.ª Civil UFRN UFPE Natal; Brasil Caruaru; Brasil e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] RESUMO É de conhecimento da comunidade técnica que postes de transmissão de energia de concreto armado convencional, quando submetidos a condições de agressividade elevada, como zonas urbanas de alto tráfego de automóveis e zonas muito próximas ao mar, apresentam com frequência manifestações patológicas como corrosão das armaduras, resultante do processo de carbonatação do concreto aliada a penetração de íons cloretos. Diante dessa problemática, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a durabilidade de concretos dosados para utilização em postes fabricados por indústria de pré-moldados da cidade de Natal-RN/Brasil. Foram analisados dois traços de concretos convencionais (CCV) e dois outros traços de concreto autoadensável (CAA), com resistência mínima de 25 MPa. Para os traços de CAA foram utilizadas adições de fíler calcário e metacaulim. Os ensaios realizados no estudo de durabilidade dos concretos foram os seguintes: resistência à compressão, ensaio de difusão de íons cloretos submetidos à ciclos de molhagem e secagem em solução salina e difusão de íons cloretos. Os resultados demonstram um melhor comportamento do CAA em relação ao CCV quanto à durabilidade. Tais resultados serão utilizados para subsidiar a tomada de decisão quanto a possíveis investimentos da indústria de pré-moldados para utilização de CAA em sua linha de produção. 1. INTRODUÇÃO

A indústria de concreto pré-moldado se apresenta como uma forte aliada de construções que exijam prazos curtos e fabricação de elementos básicos de infraestrutura, como é o caso de postes de distribuição de energia elétrica. Dessa forma, tem-se a necessidade de fabricar elementos pré-fabricados de boa qualidade em prazos curtos, visto que, nos últimos anos, a deterioração das estruturas de concreto tem ocorrido de forma precoce.

Concreto autoadensável é uma nova categoria de concreto de alto desempenho caracterizado pela sua capacidade de se espalhar em local sob o seu próprio peso sem a necessidade de vibração e adensamento sem qualquer segregação [1, 2].

Sonebi (2004) afirma que a tecnologia do concreto autoadensável permite reduzir, ou eliminar a vibração do concreto, influenciando, assim, na mão-de-obra utilizada, além do rápido lançamento e acabamento que podem melhorar a produtividade e rentabilidade da obra [3].

Gomes et al. (2008) compararam os custos da aplicação de concreto autoadensável em elementos pré-moldados simples, como painéis e caixas de ar-condicionado, com uma composição de concreto convencional de mesma faixa de

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resistência. Durante a moldagem das peças, foi possível observar que a utilização deste concreto reduziu o tempo e o trabalho de execução quando comparada à moldagem com concreto convencional [4].

Atualmente, a tendência de utilização do CAA é bem extensa, um desses campos de atuação são zonas de alta agressividade, como a área marinha. É bem conhecido que a corrosão das armaduras embutidas no concreto pode ocorrer devido ao ataque de íons cloretos que é um dos problemas de durabilidade mais significativos quando o concreto está submetido na zona marinha [5].

A corrosão do aço no concreto é, sem dúvida, a principal causa do atual quadro de deterioração precoce. Os cloretos agem provocando uma destruição localizada da camada passiva que protege o aço e, a partir daí, a corrosão desenvolve-se de forma profunda e localizada. O dióxido de carbono, por sua vez, reage com a matriz de cimento hidratada conduzindo a uma diminuição do pH e, consequentemente, à despassivação da armadura, fazendo que o processo de corrosão ocorra de forma generalizada e mais lenta do que quando provocado por íons cloretos [6].

Geralmente, os íons cloretos livres desempenham um papel fundamental na deterioração do aço presente no concreto armado. Materiais cimentícios suplementares, tais como cinzas volantes, metacaulim e sílica ativa tem uma significativa contribuição sobre a capacidade do concreto resistir à penetração de íons cloreto devido à capacidade desses materiais se ligarem aos íons cloretos [5].

O processo de ligação de íons cloretos pode ser classificado em duas categorias: ligação química e física. Os íons cloretos, quando ligados, formam ligações químicas fortes. Esses podem reagir quimicamente com o aluminato tricálcico (C3A) para formar aluminatos de cloro (3CaO.Al2O3.CaCl2.10H2O: Sal de Friedel’s) [7,8]. Além disso, os íons cloretos podem ser fisicamente adsorvidos pela superfície das fases sólidas de produtos hidratados como gel C-S-H e outros produtos das reações [9, 10].

Este artigo trata do estudo de comparação da durabilidade de concretos convencionais e autoadensáveis utilizados numa indústria de pré-moldados cujo produto principal são postes de distribuição de energia. Para tal, foram analisadas as propriedades dos concretos no estado fresco através do slump test, slump flow test e J-ring e no estado endurecido foram feitos os ensaios de absorção por capilaridade, difusão de cloretos e resistência à compressão axial. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Materiais Os concretos foram produzidos com cimento Portland CPV-ARI-RS (Cim), metacaulim (Mtk), fíler calcário, agregado miúdo e graúdo com as respectivas dimensões máximas de 4,75 mm e 19 mm (no concreto convencional) e 4,75 mm e 12,5 mm (no concreto autoadensável), água e dois aditivos: um polifuncional (P) a base de sais sulfonados e um superplastificante (SP) a base de policaborxilato. 2.2 Composições e moldagem Foram produzidas quatro misturas de concretos, sendo duas delas de concretos autoadensáveis (CAA) e duas de concretos convencionais (CCV). As duas misturas de CCV apresentam um consumo de cimento de 365 kg/m³ e 400 kg/m³, enquanto as misturas de CAA possuem um consumo de cimento de 320 kg/m³ e 340 kg/m³, completando-se com fíler calcário e metacaulim regional para atingir um teor de finos de, aproximadamente, 450 kg/m³ e 440 kg/m³ respectivamente como mostra a Tabela 1, proporcionando uma redução do cimento da ordem de 20%. A escolha dos traços de concreto convencional foi baseada em traços já utilizados pela indústria de pré-moldados. Enquanto a definição dos traços de CAA partiu de estudos baseados na redução de consumo de cimento de concretos autoadensáveis de Anjos et al (2014) e EFNARC [11,12].

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Tabela 1 - Composições dos concretos

Materias Composições dos concretos CCV400 CCV365 CAA340 CAA320

Cim (kg/m³) 400 365 340 320 Mtk (kg/m³) - - 19 32 Fíler (kg/m³) - - 78 99

Agregado Miúdo (kg/m³) 770 801 825 846 Agregado Graúdo (kg/m³) 950 994 761 781

Água (kg/m³) 200 190 238 215 Aditivo: P (kg/m³) 1,4 1,3 2 2

Aditivo: SP (Kg/m³) - - 5 5 Ligante: (Cim+Mtk+Fíler) (kg/m³) 400 365 437 451

Teor de argamassa do traço 55% 54% 61% 60% Os concretos foram produzidos em betoneiras com capacidade de 150 litros de eixo inclinado. A ordem de colocação de material foi a seguinte: agregado graúdo, um terço da água de amassamento, agregado miúdo, ligantes, o restante da água e por fim a colocação dos aditivos. O tempo de colocação de material e mistura totalizaram 10 minutos. Sendo realizados, em seguida, os ensaios no estado fresco. Após a realização destes ensaios foram moldados corpos de prova (CP’s) cilíndricos de 100 mm de diâmetro por 200 mm de altura. Os concretos foram colocados em cura úmida por imersão a uma temperatura de 23±2ºC até a idade de realização dos testes. 2.3 Ensaios Realizados 2.3.1 Propriedades no estado fresco Foram realizados ensaios para avaliar a autoadensabilidade das composições CAA340 e CAA320, a saber: slump flow test (T500 e espalhamento) e J-ring seguindo as recomendações da EFNARC [12] e ABNT NBR 15823-2/2010 [13] e ABNT NBR 15823-3/2010 [14]. Enquanto para as composições CCV400 e CCV365 foi realizado o slump test de acordo com a ABNT NBR NM 67/1998 [15]. 2.3.2 Resistência à compressão Para todas as composições foram realizados ensaios de compressão axial aos 7 e 28 dias de idade de acordo com a ABNT NBR 5739/2007 [16]. Os resultados apresentados neste trabalho resultam da média aritmética de ensaios em três CP’s. 2.3.3 Difusão de cloretos A determinação da difusão de íons cloretos foi realizada de acordo com a especificação do LNEC E-463 (Figura 1) [17]. Para a realização deste ensaio foram utilizados três CP´S de cada dosagem, que foram ensaiados após os 28 dias de idade. Foram utilizados provetes cilíndricos com 100 mm de diâmetro e 50 mm de altura, proveniente do corte de três CP´s cilíndricos com 100 mm de diâmetro e 200 mm de altura. A preparação dos provetes se dá com o tratamento por vácuo e imersão em solução saturada de Ca(OH)2. De acordo com a padronização, é utilizado uma solução anódica (0,3M NaOH) e outra catódica (10% NaCl) e é aplicado inicialmente uma voltagem de 30V nos provetes, se necessário faz-se uma correção regida em norma. Com o indicativo de solução de nitrato de prata (0,1M AgNO3), por aspersão sobre o provete rompido diametralmente, é possível observar, por processo colorimétrico, a frente de penetração dos íons cloretos através da precipitação de cloreto de prata (AgCl) sobre a região afetada. Esta atividade permite determinar o coeficiente de difusão de cloretos por meio da migração de íons em regime não estacionário.

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Figura 1: Ilustração do ensaio de difusão de cloretos

2.3.4 Ciclo de molhagem e secagem em solução salina Este ensaio possibilita a verificação da profundidade de penetração de íons de cloreto no concreto após uma permanência de 28 dias de exposição no ciclo proposto por Otsuki (1992) [18]. O ensaio foi iniciado após os CP’s atingirem a idade de 7 dias. O preparo do corpo de prova é feito protegendo-se os topos com uma camada de material impermeabilizante, no caso, parafina. Foram realizados 14 ciclos, sendo cada ciclo composto de uma submersão em solução padrão de 3,5% NaCl por 24h e a seguir, secagem em estufa a 45ºC por mais 24h, totalizando um ciclo composto por 48h de duração. Ao final dos 14 ciclos os corpos de prova foram submetidos a ruptura de tração por compressão diametral com o propósito de seccionar o corpo de prova, seguido de aspersão de solução de nitrato de prata (0,1M AgNO3), possibilitando a observação da frente de penetração dos íons cloretos. Para realização desse ensaio foram utilizados dois CP’S para cada composição. 2.3.5 Absorção de água por capilaridade O ensaio de absorção de água por capilaridade foi realizado após 42 dias de moldagem, foram utilizados três CP´s cilíndricos para cada composição estudada, seguindo a recomendação da ABNT NBR 9779/2012 [19]. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Propriedades do concreto no estado fresco As propriedades de fluidez, capacidade de enchimento, viscosidade e habilidade passante dos concretos autoadensáveis foram determinadas pelos ensaios de slump flow test, T500 test, J-ring, como pode ser observado na tabela 2. Ambas as composições do concreto convencional foram formuladas para obter um abatimento de, aproximadamente, 10 cm.

Tabela 2 - Propriedades dos concretos no estado fresco

Slump test (mm) Slump flow test J-ring T500 (s) Slump flow test (mm) T500 (s) Slump flow test (mm)

CCV400 102 * * * * CCV 365 96 * * * * CAA340 * 2 720 2,43 650 CAA320 * 1,8 700 2,2 620 * Ensaio não adequado para este tipo de concreto.

Os concretos CAA340 e CAA320 apresentaram resultados aceitáveis quanto à fluidez, sendo classificados como SF2 de acordo com a ABNT NBR 15823-1/2010 [20] e apresentaram uma habilidade passante moderada, devido à perda de espalhamento encontrado após o ensaio de J-ring. 3.2 Resistência à compressão A figura 2 apresenta as resistências dos concretos aos 7 e 28 dias, fator este, importante para a análise da durabilidade de concretos, pois deve-se considerar a agressividade forte para a região segundo a ABNT NBR 6118/2014 [21] e o consumo de cimento de cada composição.

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Figura 2: Resistência à compressão (MPa).

Constata-se a influência do fator de empacotamento causado pela maior quantidade de finos através do acréscimo do fíler calcário e do metacaulim nos concretos autoadensáveis em comparação aos concretos convencionais, pois mesmo com a redução do cimento, os CAA’s apresentaram maiores resistência desde os 7 dias de cura. Também se destaca a elevada resistência à compressão da composição CAA320, apresentando cerca de 60 MPa aos 28 dias, enquanto as demais dosagens permaneceram na faixa de dos 50 MPa. Essa elevada resistência em comparação aos demais traços pode ser atribuída às adições minerais do CAA320 [1,22,23,24]. 3.3 Difusão de cloretos O coeficiente de difusão de cloretos em regime não estacionário é apresentado na Figura 3. Comparando-se apenas os concretos convencionais percebe-se que o CCV400 apresenta um menor coeficiente de difusão por possuir maior quantidade de cimento em relação ao CCV365 [22]. Ainda se percebe que mesmo possuindo menor consumo de cimento as dosagens de CAA apresentaram uma penetração muito menor, uma vez que a presença do metacaulim promoveu melhor empacotamento da mistura, corroborando com o que foi apresentado por Nicolas et al [22].

Figura 3: Determinação da difusão de íons cloretos aos 28 dias de cura.

Através da análise visual da penetração de íons cloretos nos provetes ilustrados na Figura 4 e relacionando com os resultados numéricos representados graficamente na Figura 3 evidenciam a eficiência dos CAA’s 320 e 340 perante os concretos convencionais [23,24]. A região clarificada é a área afetada por difusão de cloretos, a coloração é resultado da precipitação do cloreto de prata após a reação dos íons cloretos com o nitrato de prata [17,18,22,25]. Utilizou-se uma caneta preta para destacar a zona de transição entre a área afetada por íons cloretos e a área intacta para melhorar a visualização nos provetes.

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CCV400 CCV365

CAA340 CAA320

Figura 4: Provetes submetidos ao indicador de nitrato de prata. 3.4 Molhagem e secagem A Figura 5 mostra o CP’S após 14 ciclos de molhagem e secagem em solução salina após a aspersão de nitrato de prata. Enquanto a Tabela 3 apresenta as profundidades de penetração dos íons cloretos, para a mesma idade, juntamente com o desvio padrão. Em comparação aos concretos convencionais, os concretos autoadensáveis apresentaram menor profundidade de penetração dos íons cloretos indicando ser uma melhor proteção para a armadura [22,25].

Tabela 3 - Frente de penetração dos íons cloretos nos ciclos de imersão em solução de 3,5% NaCl.

CONCRETOS FRENTE DE PENETRAÇÃO DE ÍONS CLORETOS (mm) MÉDIA DESVIO PADRÃO

CCV400 11,85 0,56 CCV365 13,38 1,05 CAA340 8,35 0,25 CAA320 6,6 0,95

CCV400 CCV365 CAA340 CAA320

Figura 5: Corpos de prova submetidos ao indicador de nitrato de prata.

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Assim como o ensaio de difusão de íons cloretos por migração em regime não estacionário, a análise dos corpos de prova submetidos aos ciclos de Otsuki [17] consolidam a grande redução da profundidade da frente de penetração dos íons cloretos nos traços de CAA quando comparados aos CCV’s. Foi utilizada uma caneta para destacar a frente de penetração de íons cloretos. Mesmo apresentando agregado graúdo na zona de aferição, os CCV’s apresentaram valores semelhantes da profundidade da frente de penetração de íons cloretos. Para este ensaio, desprezam-se os valores onde há obstrução por agregados graúdo e utiliza-se a medida livre mais próxima. [17, 18, 22]. 3.5 Absorção de água por capilaridade Pode-se relacionar o coeficiente de absorção de água por capilaridade com a durabilidade dos concretos, uma vez que tem relação com a interconectividade e diâmetros dos poros presentes. A absorção de água favorece a penetração de substancias funcionando como veículo quando as estruturas são construídas em ambientes agressivos. A absorção por capilaridade determinada para as misturas é apresentada na Figura 6, e demostra a influência positiva das adições minerais nesta propriedade [23].

Figura 6: Apresentação gráfica do ensaio de absorção de água por capilaridade

4. CONCLUSÕES Através deste estudo experimental pode-se concluir:

O uso dos CAA’s testados apresentaram vatangens em relação aos CCV’s utilizados atualmente nas indústrias de pré-moldados em Natal-RN/Brasil quanto à proteção da armadura a ataques de cloretos, comuns nesta região por apresentarem melhores desempenhos quanto à durabilidade..

É possível produzir CAA’s com maiores resistências à compressão em relação aos CCV’s, reduzindo até 20% o consumo de cimento com o auxílio de adições minerais, e como consequência obter-se estruturas mais duráveis.

O CCV365 não apresentou diferença significativa de resistência à compressão em relação ao CCV400, porém possui menor proteção a cloretos e maior absorção de água.

O teor de metacaulim mais elevado em CAA320 em relação ao CAA340 proporcionou resultados benéficos para a resistência à compressão e absorção de água; e consequentemente para a durabilidade.

O concreto que apresentou o melhor desempenho quanto à absorção de água, e como consequência, melhor durabilidade foi o CAA320, apesar de este concreto ter o menor consumo de cimento, esse resultado justifica-se por ter uma maior quantidade de metacaulim em sua composição.

5. AGRADECIMENTOS Ao CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela concessão das bolsas de pesquisa e pelo aporte financeiro através do processo 488337/2013-5 e ao IFRN pela concessão do espaço laboratorial e apoio institucional.

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o em

g/c

Horas de ensaio

CCV365

CCV400

CAA340

CAA320

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6. REFERÊNCIAS [1] Siddique R. “Properties of self-compacting concrete containing class F fly ash”. Materials & Design, nº 32, 2011,

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Experimental Plans”. Cement and Concrete Research, nº 34, 2004, p. 1199–1208. [4] Gomes et al. Concreto Auto-Adensável: Obtenção, Propriedades e Aplicações. IV Simpósio Internacional Sobre

Concretos Especiais. SINCO, 2008. [5] Wongkeo, W. et al. “Compressive strength and chloride resistance of self-compacting concrete containing high

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[13] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15823-2: Concreto auto-adensável Parte 2: Determinação do espalhamento e do tempo de escoamento - Método do cone Abrams. Rio de Janeiro: Abnt, 2010. 4 p.

[14] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15823-3: Concreto auto-adensável Parte 3: Determinação da habilidade passante – Método do anel J. Rio de Janeiro: Abnt, 2010. 4 p.

[15] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 67. Concreto – Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone. Rio de Janeiro: Abnt, 1998. 8 p.

[16] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739. Concreto – Ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro: Abnt, 2007. 9 p.

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Classificação, controle e aceitação no estado fresco. Rio de Janeiro: Abnt, 2010. 11 p. [21] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto –

Procedimento. Rio de Janeiro: Abnt, 2014. 238 p. [22] Nicolas, R. S. et al. “Performance-based approach to durability of concrete containing flash-calcined metakaolin as

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