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1 AS GRANDES BÍBLIAS DA HUMANIDADE As Grandes Bíblias, uma vez estudadas, fazem reconhecer as Verdades Iniciáticas Fundamentais, vindas através de remotos tempos, centenas de milênios, e desmancham essa coisa repugnante que é o fanatismo religioso, sectário, e o fanatismo por homens, livros, médiuns, etc. Ensinam que boa é a VERDADE, não homens ou religiões. A Popol Bugg, ou Mãe das Bíblias, a dos Atlantes, citada em alguns antiquíssimos documentos; B Ramaiana, de Rama, relatando a Grande Epopéia; C Zend Avesta, de Zoroastro, a Bíblia dos Persas; D Sabedoria Órfica, os Fundamentos Iniciáticos da Grécia; E Tábua de Esmeralda, de Hermes, Bíblia dos Egípcios; F Livro dos Mortos, também dos Egípcios; G Livro dos Princípios, de Viasa Veda; H Bagavad Gita, de Crisna, O SUPREMO LIVRO DA ANTIGUIDADE; I Velho Testamento, começando por Moisés e terminando em Malaquias, relatando profundos ensinos iniciáticos, mais tarde queimados e perdidos, depois restaurados de maneira incompleta, contraditória. Contém a Lei de Deus ou Moral Divina, promete a vinda do Cristo Exemplo de Conduta e o Derrame de Espírito sobre a carne; J Evangelho de Buda, resumindo a Doutrina dos Trinta e Cinco Budas; K Código de Manu; L Versos Áureos de Pitágoras, ou o que restou da queima das bibliotecas; M Talmud, verdadeiro testamento da Traição, dos rabinos israelitas, contradizendo Moisés e os Profetas, a Lei Moral e o Sadio Cultivo Mediúnico, deixado por Moisés, a partir de Números, capítulo 11; N Novo Testamento, provando as profecias do Velho, isto é, a vinda do Messias Exemplo de Conduta, o Derrame de Revelação ou Espírito sobre a carne, etc. Convém lê-lo com honestidade, porque contra Jesus e Sua Tarefa Imortal se levantariam todas as pedradas contraditórias, todas as traições, como afirmou o Profeta Simeão, e elas estão no mundo, fantasiadas de verdadeiras...; O Corão, a Bíblia dos Árabes; P Evangelho Eterno, prometido em Apocalipse, 14, 6. Quem quiser estar a par dos Fundamentos Iniciáticos, de todas as Grandes Bíblias, leia os livros de Osvaldo Polidoro. E quem quiser, realmente, conhecer e praticar O VERDADEIRO CRISTIANISMO, leia a documentação Bíblico-Profética, com INTELIGÊNCIA E HONESTIDADE, ou fora de capciosos manobrismos de grupos quaisquer.

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AS GRANDES BÍBLIAS DA HUMANIDADE

As Grandes Bíblias, uma vez estudadas, fazem reconhecer as Verdades Iniciáticas Fundamentais, vindas através de remotos tempos, centenas de milênios, e desmancham essa coisa repugnante que é o fanatismo religioso, sectário, e o fanatismo por homens, livros,

médiuns, etc. Ensinam que boa é a VERDADE, não homens ou religiões. A – Popol Bugg, ou Mãe das Bíblias, a dos Atlantes, citada em alguns antiquíssimos documentos;

B – Ramaiana, de Rama, relatando a Grande Epopéia; C – Zend Avesta, de Zoroastro, a Bíblia dos Persas;

D – Sabedoria Órfica, os Fundamentos Iniciáticos da Grécia; E – Tábua de Esmeralda, de Hermes, Bíblia dos Egípcios;

F – Livro dos Mortos, também dos Egípcios; G – Livro dos Princípios, de Viasa Veda;

H – Bagavad Gita, de Crisna, O SUPREMO LIVRO DA ANTIGUIDADE; I – Velho Testamento, começando por Moisés e terminando em Malaquias, relatando profundos ensinos iniciáticos, mais tarde

queimados e perdidos, depois restaurados de maneira incompleta, contraditória. Contém a Lei de Deus ou Moral Divina, promete a vinda do Cristo Exemplo de Conduta e o Derrame de Espírito sobre a carne;

J – Evangelho de Buda, resumindo a Doutrina dos Trinta e Cinco Budas; K – Código de Manu;

L – Versos Áureos de Pitágoras, ou o que restou da queima das bibliotecas;

M – Talmud, verdadeiro testamento da Traição, dos

rabinos israelitas, contradizendo Moisés e os Profetas, a Lei Moral e o Sadio Cultivo Mediúnico, deixado por

Moisés, a partir de Números, capítulo 11;

N – Novo Testamento, provando as profecias do Velho, isto é, a vinda do Messias Exemplo de Conduta, o Derrame de Revelação ou Espírito sobre a carne, etc. Convém lê-lo com honestidade, porque contra Jesus e Sua Tarefa Imortal se levantariam todas

as pedradas contraditórias, todas as traições, como afirmou o Profeta Simeão, e elas estão no mundo, fantasiadas de verdadeiras...; O – Corão, a Bíblia dos Árabes;

P – Evangelho Eterno, prometido em Apocalipse, 14, 6.

Quem quiser estar a par dos Fundamentos Iniciáticos, de todas as Grandes Bíblias, leia os livros de Osvaldo Polidoro. E quem quiser, realmente, conhecer e praticar O VERDADEIRO CRISTIANISMO, leia a documentação Bíblico-Profética, com INTELIGÊNCIA E

HONESTIDADE, ou fora de capciosos manobrismos de grupos quaisquer.

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RECORDANDO UM POUCO SOBRE O JUDAÍSMO

É a primeira religião monoteísta da humanidade. Funda-se sobre a revelação dos dez mandamentos de

Deus a Moisés no monte Sinai, Egito. Segundo a tradição, Moisés descende de Isaac, filho de Abraão,

patriarca da Mesopotâmia, o primeiro a receber uma revelação de Deus. Na metade do século XIX a.C.,

Abraão abandona o politeísmo e conduz seu povo para Canaã, atual Palestina. Existem atualmente cerca de 13

milhões de judeus em todo o mundo; 4,5 milhões vivem no Estado de Israel.

Torah - No século XV a.C., quando os israelitas encontram-se escravizados no Egito, Moisés, um

judeu, mata um egípcio em defesa de um israelita e foge para o deserto do Sinai. Lá, o deus de Abraão ordena-

lhe que conduza os israelitas para o deserto. A Revelação (Torah) no monte Horeb constitui o evento fundador

da religião de Israel.

Reinos de Israel e de Judá - Os israelitas conquistam a Palestina no século XIII a.C., sob o comando

de Josué. As tribos são governadas por juízes e depois por reis, como Saul, Davi e Salomão. Este último dirige

a construção do primeiro templo de Jerusalém, entre 970 e 931 a.C. Depois de Salomão, as tribos dividem-se

em dois reinos, o de Israel, na Samaria, e o de Judá, com a capital em Jerusalém. O reino de Israel é destruído

em 721 a.C. Em 586 a.C., Nabucodonosor, rei da Babilônia, invade o reino de Judá, destrói o templo e deporta

a maioria do povo de Judá. É a partir do exílio na Babilônia que se pode falar propriamente de judaísmo.

Messias - Com a divisão das tribos judaicas em dois reinos, surge a esperança e a fé em um messias

(ungido): o enviado de Deus para restaurar a unidade do povo e a soberania divina sobre todo o mundo.

Volta à Palestina - Os judeus começam a voltar à Palestina em 538 a.C. Reconstroem o templo e

vivem breves períodos de independência, interrompidos por constantes invasões de potências estrangeiras.

Entre os séculos II e IV a.C, migrações voluntárias difundem a religião e a cultura judaica por todo o Oriente

Médio. Em 63 a.C. Jerusalém é conquistada pelos romanos e, no ano 6 d.C., a Judéia torna-se uma província

de Roma. Em 70 d.C. os romanos destroem o templo e, em 135, Jerusalém é arrasada.

Diáspora - Com a destruição do segundo templo de Jerusalém e da própria cidade, começa o período

da grande dispersão do povo judeu, a Diáspora. Espalhados por todos os continentes, os judeus mantêm sua

unidade cultural e religiosa. A Diáspora termina em 1948 com a criação do Estado de Israel.

Livros sagrados - Os cinco livros da Revelação (Torah) e os textos de Os profetas (Nebiim) são

escritos antes do exílio na Babilônia. Os livros dos profetas menores, os livros poéticos e outros textos de Os

escritos (Ketubim) são redigidos depois de 538 a.C. A Bíblia hebraica é fixada no final do século I d.C. No

início da era cristã, as tradições orais do povo judeu são registradas nos livros Mishnah, Targumin e

Midrashim. Entre os século III e V as comunidades da Palestina e da Babilônia acrescentam os Comentários

(Gemarah) à Mishnah e reúnem o conjuntos de textos conhecidos por Talmud (ensinamento). Na Idade

Média, as comunidades judaicas produzem textos de grande importância, como Sefer Ha-Mitswot (Livro dos

mandamentos), do filósofo e médico Maimônides (1135-1204), ou Sefer Ha-Zohar (Livro do esplendor),

atribuído a Shimon ben Yohai, um rabino do século II. O Zohar, assumido pelo movimento místico-esotérico

Qabbalah (Tradição), também é chamado de "Bíblia cabalístic

Pentateuco - É o conjunto dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento (a Bíblia hebraica): o

Gênesis, sobre a origem do mundo e do homem; o Êxodo, que narra a fuga dos judeus escravizados no Egito;

o Levítico, que trata das práticas sacerdotais; Números, que traz o recenseamento do povo judeu; e

Deuteronômio, com discursos de Moisés e código de leis familiares, civis e militares. A autoria do Pentateuco

é atribuída ao próprio Moisés.

Manuscritos do Mar Morto - Entre 1947 e 1956 são descobertos nas cavernas Qumran, no Mar

Morto, 800 pergaminhos escritos entre 250 a.C. e 100 d.C. com os mais antigos fragmentos da Bíblia

hebraica. Eles descrevem atividades, regras, cultos e crenças de uma tribo judaica, os essênios, e revelam

certos aspectos até então considerados como exclusivos do cristianismo. Apresentam grandes semelhanças

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com os Evangelhos do Novo Testamento e referem-se a práticas que lembram a Santa Ceia, o Sermão da

Montanha e a cerimônia do batismo. Os Manuscritos são considerados um dos mais importantes achados

arqueológico já realizados.

Festas judaicas - As mais importantes são as chamadas festas de peregrinação. Páscoa (Pessach)

comemora a libertação do Egito, é celebrada no início da primavera, por uma semana, antecedida de quatro

sábados de intensa preparação espiritual. Pentecostes (Shavuot), realizada 50 dias após a Páscoa, celebra a

revelação da Torah no Sinai. Festa dos Tabernáculos (Sucot) rememora a peregrinação pelo deserto, antes da

entrada na Palestina. Ano novo (Rosh Hashana) e a festa do Perdão (Yom Kippur), em setembro, são

separadas por dez dias de penitência e formam uma unidade: o Rosh Hashana recorda o sacrifício de Isaac e

evoca o julgamento de Deus, que se realiza no Dia do Perdão.

Calendário judaico - O ano judaico é contado de setembro a setembro, o ano atual (até setembro

2004) é o 5.764° da criação do mundo.

Torah

Oral Escrita

Pentateuco

Mishnah

acrescentando o Gemarah Talmud

de Jerusalém da Babilônia

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Para que possamos entender o que um adepto desta religião lê ou se baseia em, vamos ver um pouco da história e a evolução da formação do livro que consideram fundamental. Também leremos o que dizem a respeito de

Jesus (que sabemos não foi aceito como o Messias profetizado) e as fases que viveram e vivem depois de terem colocado de lado o Verbo Modelar tão esperado.

Esta é uma compilação dos textos pesquisados sobre o assunto, pesquisa esta que visa trazer um pouco do que existe à disposição dos que desejam saber mais. As fontes foram variadas: extensa bibliografia e textos

disponíveis na Internet. Os autores são judeus e foram mantidas, nesta compilação, as expressões e frases que constam dos trechos selecionados, a fim de que possamos ler e conhecer a forma pela qual expressam seus

pensamentos a respeito de todos os assuntos mencionados. (ou seja, está exposta aqui a opinião deles, da forma que é encontrada).

Fica claro, portanto, que a leitura deve ser feita como quem entre num ambiente que lhe é estranho, sondando-se as frases, conceitos, explicações. Estes textos são de judeus para judeus; aprenderemos, portanto, com

eles, um pouquinho sobre o livro Talmud, seus autores, sua origem, evolução e uso.

Os comentários que fiz, em alguns momentos, estão em cor de rosa para se diferenciarem dos textos originais.

Mara

Os preceitos que Moisés recebeu no Sinai foram dados juntamente com a sua jurisprudência,

como está escrito: 'E Eu te darei as Tábuas de Pedra, a Torah e o Mandamento' - Êxodo 24:12".

(Obs::Então, disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim, ao monte, e fica lá; dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei, e os mandamentos que escrevi, para os ensinares” – tradução João Ferreira de Almeida)

Torah é a lei escrita. Mandamento é a jurisprudência ou Lei Oral, ou Torah oral.

Toda a Torah foi escrita por Moisés, que apresentou um rolo a cada tribo e colocou um na

Arca da Aliança para servir de testemunho. A jurisprudência, que é a vontade da sabedoria, Moisés

não a escreveu, mas revelou seu sentido aos anciãos, a Josué e ao restante de Israel.

A Lei Oral, embora não estivesse escrita, Moisés ensinou a sua íntegra em sua corte, aos

setenta Anciãos, como também a Eleazar, Finéias e Josué - os três receberam-na de Moisés.

E assim a Lei Oral foi passada de geração em geração até a época do Rabi Judah, chamado de

Rabenu HaKadosh (nosso mestre, o Santo) que compilou a Mishná (Conjunto dos Tratados do

Direito Consuetudinário Judaico, o Direito Costumeiro, transmitido oralmente de geração à geração).

Desde a época de Moisés até o Rabenu HaKadosh, não se havia composto nenhum trabalho

através do qual se tivesse ensinado publicamente a Lei Oral. Mas em cada geração, o líder do

tribunal ou o Profeta daquela época anotara para seu uso particular um memorando das tradições que

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aprendera de seus Mestres, as quais ensinava oralmente em público. Da mesma forma cada discípulo

anotava, segundo a sua habilidade, a exposição da Torah e suas jurisprudências, conforme as ouvira,

como também os novos assuntos que iam aparecendo em cada geração, que não haviam sido

recebidos pela tradição, mas deduzidos pela aplicação das treze regras hermenêuticas, e que foram

adotados pelo Supremo Tribunal. Este era o método utilizado até a época do Rabenu HaKadosh,

quando este conhecimento foi escrito na Mishná.

Porque o Rabenu HaKadosh agiu desta forma, ao invés de deixar as coisas como estavam?

Porque ele observou que o número de discípulos estava diminuindo, catástrofes aconteciam

continuamente, o cruel governo romano estendia seu domínio, seu poder aumentava, e os judeus

vagavam e emigravam para países distantes.

A maior parte do povo judeu foi levado ao cativeiro da Babilônia no ano de 586 AC., quando

o primeiro Templo foi destruído. As demais 11 tribos não judaicas já tinham sido praticamente

aniquiladas um século antes (722 AC.), pelos assírios, no norte do país. Essa dispersão dos israelitas

repercutiu-se na maneira pela qual se transmitia a Tradição entre os homens, bem como no modo de

revelar o ensinamento religioso entre as massas.

Na comunidade cativa, na Babilônia, destacou-se Ezequiel como grande profeta. Ele manteve

acesa a tradição e, mais do que isso, a retransmitiu de maneira revigorada aos discípulos que reunia

em sua casa. Essa tradição denomina-se Torah, que significa lei, ensinamento, direção.

A Torah designa o corpo das doutrinas judaicas, escritas e orais, retransmitidas desde os

primeiros patriarcas de Israel.

Acredita-se que a instituição da Sinagoga ocorreu no exílio da Babilônia, com o objetivo de

reunir uma nação sem pátria e sem templo. Procurava-se, inicialmente, ler e explicar as escrituras ao

povo. Mais tarde, acrescentaram-se as orações a essas reuniões.

Despertou-se o interesse das massas por tais comentários e formaram-se os instrutores mais

ou menos qualificados, que mais tarde tornaram-se os Doutores da Lei (Sopherim = homens de

letras, escribas). Entre esses escribas destacou-se Esdras, profundo conhecedor da Torah de Moisés,

restabelecendo-a na sua pureza primitiva. Retornando a Judéia, Esdras estabeleceu a leitura e os

comentários públicos da Torah, fundando a Grande Sinagoga, colégio composto por 120 membros.

Foi esse Colégio de Doutores que, depois de Esdras, manteve a tradição oficial da Torah, ou seja, os

comentários do Pentateuco.

Depois que os judeus retornaram do exílio na Babilônia, tendo reconstruído seu Templo,

Esdras reuniu o povo numa hora de especial solenidade, para renovar com ele o pacto de lealdade e

obediência à Torá.

Foi a partir desse acontecimento que começou a surgir uma nova classe de guias e conselheiros do

povo: os rabinos (rabi= meu mestre; rabino= nosso mestre). A sua tarefa principal consistia em

ensinar ao povo o significado da orientação bíblica e a sua aplicação às necessidades cotidianas. Em

redor desses mestres, reuniam-se estudantes de toda idade, em centros de estudo e debate, para

empreenderem leituras sistemáticas com interpretação do texto e para atenderem aos problemas

concretos que a vida apresentava.

Uma regra absoluta fora estabelecida para esses simpósios: nada devia ser anotado por

escrito, tudo tinha que ser confiado à transmissão oral, assim passando do mestre aos alunos, de

geração em geração. A motivação dessa diretriz era óbvia: orientação escrita só podia haver uma,

aquela que Moisés recebeu no Monte Sinai, a torá she bi'htav, ou, orientação escrita.

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A ÉPOCA ROMANA (O Romance de um povo – Howad Fast - resumo de um trecho do livro)

Com a vitória dos Macabeus sobe ao poder Simon e depois Iohanan Hircanus, que era sacerdote do

templo. Iohanan decidiu conquistar terras, queria refazer o império de Salomão. Venceu os

samaritanos e os edomitas, convencendo-os a se converterem ao judaísmo. Talvez esta conquista

tenha causado a discórdia entre os judeus, e a posterior divisão entre fariseus e saduceus.

Os fariseus eram judeus devotos que tinham mais interesse na lei do que na conquista. Não

queriam tanto a liberdade política da Palestina, mas a liberdade religiosa. Os saduceus eram do

partido que estava no poder, sacerdotes do templo, mais ricos, a aristocracia, sem interesse na

liberdade religiosa dos judeus. Os fariseus pediram ajuda aos romanos para derrubarem os saduceus.

Roma enviou o general Pompeu.

Os antigos romanos empregavam uma política de conquistas que ainda se usa nos nossos

dias: “dividir para reinar”. Os judeus já estavam divididos. Os romanos chegaram à Palestina como

amigos, e lá ficaram. Derrubaram os saduceus do poder, apesar da resistência, mas não entregaram o

país aos fariseus. Vieram como amigos, agora eram os donos.

Pompeu não destruiu o Templo, nem saqueou seus tesouros, nem atrapalhou o culto dos

judeus, mas destruiu a independência política judaica assassinando os saduceus que ousavam resistir.

Os fariseus, famintos por reformas, criaram um terrível monstro que se virou contra eles depois. Foi

o começo do fim desse pequeno estado judeu.

Os romanos apressaram esse fim. Seguindo sua tática de instalar governos títeres, colocaram

Herodes, (edomita convertido, meio judeu) muito cruel, como rei de Judá. Ele assassinou os 71

componentes do Sinédrio (tribunal supremo, judicial e religioso), várias de suas 10 esposas e alguns

de seus filhos. Para se fazer amigo dos judeus construiu-lhes um novo Templo, maravilhoso, o qual

foi desprezado. Depois de sua morte, viu-se que o sucessor, seu filho, não era mais amável, faz

levantar revoltas. Os zelotes (judeus nacionalistas) instituíram o terror sobre os judeus que

simpatizavam com os romanos. A resposta romana era 100 judeus mortos a cada romano

assassinado.

Quem era esse Deus a que se agarravam os judeus? Os romanos não o viam nem o sentiam.

Os judeus morriam aos milhares: enforcados, crucificados, torturados, mas sempre havia outros

milhares que levantavam a sua voz contra Roma. (obs: veja que não se fala do movimento da

Doutrina do Caminho)

No ano de 66, os judeus se sublevaram contra o poder e a majestade de Roma, lutaram

furiosamente, mal armados, pouco treinados, mas detiveram as tropas romanas no norte da Palestina.

Nero envia Vespasiano e Tito, seu filho, que destruíram o povo e conquistaram a região em um ano.

O último assédio romano foi em Jerusalém, onde havia um milhão de judeus. A cidade foi

longamente atacada e sitiada, além de ser cercada para que passassem fome e se rendessem.

Finalmente os romanos atingiram o Templo e o incendiaram, os soldados saquearam a cidade, grande

mortandade e escravização acompanhou o processo de conquista. O Templo destruído nunca mais foi

reconstruído. Sobre a porta de Jerusalém instalaram a cabeça de um porco. Trocaram o nome da

cidade para Aelia Capitolina e permitiam a entrada de judeus apenas uma vez por ano: no dia 9 de

Av, dia em que caiu o Templo, restando-lhes apenas um muro de recordação (era o ano de 135).

[Quando, porém, no ano 70 aconteceu a destruição do Templo pelos romanos, o povo foi expulso da sua terra e começou a

dispersar-se pelos países do mundo. Por volta do ano 200, o rabino Yehudá haNassi ordenou a coleção e codificação escrita de tudo

quanto até então constituía a "orientação oral". A essa obra deu o nome de Mishná (que significa "aquilo que se estuda" ou "aquilo que

se repete"- para assim ser conservado), constituída por seis volumes ou sedarim (ordens)].

Os judeus se espalharam pela Europa, Ásia menor e África, tornando-se um povo nômade

(Diáspora). Sempre houve judeus morando em terras estrangeiras desde o tempo de David.

Formaram-se centros de judeus na Babilônia, Alexandria e Europa. Não eram perseguidos e, se

podiam, faziam uma peregrinação a Jerusalém, pelo menos uma vez na vida.

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O que conservou todos os judeus como um povo à parte foi a Torá, a lei de Moisés. A Torá

uniu-os e serviu para mantê-los unidos durante dois mil anos, substituindo a lei da pátria

desaparecida. Entre aqueles fariseus que se interessavam mais pela lei que pela política (nos

primeiros tempos) havia dois sábios: Hilel e Shamai. Hilel transferiu sua sabedoria a Iohanan Ben

Zacai, que instalou uma casa de estudos nas costas da Palestina – surge a sinagoga. Quando

morreram os sacerdotes de Israel entre as ruínas do Templo, nasceram os rabis.

[Hillel, (c. 75 a.C. 10 d.C), nascido em Babilônia, é, pois, quase contemporâneo de Jesus. Fez-se conhecer

também Gamaliel, a cujos pés aprendeu Paulo de Tarso). constituiu-se em um dos grandes codificadores do

Talmud de Jerusalém, ou Mishna, defendia a liberdade de interpretação da Torah, enquanto Chamai e seus

discípulos davam uma interpretação bem mais restrita às Escrituras. Era o primeiro século após J.C. Foi, no

entanto, a escola de Hillel que prevaleceu. Um dos discípulos de Hillel, Jokhanan Zakkai, reorganizou uma

academia judaica em Jâmnia (Palestina) e os estudos prosseguiram. Os escribas (Sopherim) são chamados

posteriormente de Mestres (tannaim), havendo deixado no Talmud o resultado de seu trabalho. Ele se destacou a

seguir pelos seus conhecimentos, manteve acesa a tradição cabalista de Hillel, assegurando novas adições à

Mishna, que recebeu novas incorporações nos séculos seguintes. Os estudos sobre a Mishna, durante séculos,

deu lugar a novos comentários sobre esse texto, denominados Gemará, ou complementos. Duas Gemarás foram

conhecidas, a da Palestina e a da Babilônia; a Mishna e a Gemará da Palestina constituem o Talmud Palestino; a

Gemará da Babilônia constitui o Talmud da Babilônia; somente a Mishna constitui uma obra verdadeiramente

cabalista]

A Mishná está dividida em seis partes.

[Devem-se os trabalhos principais da ordenação de Mishná sobretudo a Jehuda ha-nasi o "Príncipe" ou líder da

comunidade judia palestina, falecido cerca do ano 219. Contém o Mishná 6 partes (ou sedarim, isto é, ordens) abordando

distintos temas: Seraim (sementes), sobre agricultura; Moed (festas), Shabath (sábado), Nashim (mulheres), Nezikim

(prejuízos), sobre jurisprudência, Kodashim (coisas santas), sobre rituais, Toharoth (purificações). O Talmud palestino,

chamado também Talmud de Jerusalém, procede sobretudo da academia de Tiberíades, sendo atribuído na forma que

hoje tem, a Johanan b.Nappacha (199-279), com possíveis complementações do século 4°. O Talmud palestino foi escrito

em hebraico e aramaico, próximo aos livros de Daniel e Ezra.

O Talmud de Babilônia foi compilado principalmente por Rav Aschi (352-427) completado pouco depois por Rabina e

R. José. Apresenta-se mais completo e intelectualmente superior ao Talmud palestino.

Com o advento da imprensa, multiplicaram-se as edições. A primeira edição do Talmud Palestino se deu em Vêneza,

1523 ou 1524. Ali também se editou o de Babilônia, 1520-1531.

A edição de Basiléia, do Talmud de Babilônia (1578-81), sofreu mutilações, por censura cristã; fez-se, todavia, de novo a

correta impressão na edição de Amsterdam (1644-1648), onde era menos ferida a liberdade de pensamento.

As edições completas mais recentes usam fazer-se em 11 ou 12 volumes, acompanhadas de aparato crítico.]

Foi compilada e editada no ano 200 pelo rabi Judá, o Patriarca, e contém uma exposição das

leis e dos costumes judaicos. Os tanaim, ou mestres de Mishná, foram logo substituídos pelos

amoraim, ou intérpretes, nas numerosas academias que floresciam simultaneamente na Palestina e na

Babilônia. A Mishná é como se fosse a muralha dos judeus do mundo inteiro, invisível, conservando

os judeus na diáspora unidos entre si e na doutrina.

Quando a perseguição aumentou ainda mais, foi na Babilônia que se formou um novo centro, uma

nova escola, uma nova “muralha”: o Talmud.

[O Talmud foi a criação religiosa cultural de séculos de esforço coletivo. É um código de crenças, práticas e observâncias

religiosas judaicas. Num mundo em constante mutação para o povo judeu, foi um instrumento de adaptação da religião

judaica às circunstâncias sempre cambiantes da vida do povo. Ao ser encerrada a compilação dos livros admitidos ao

Compêndio Sacro (a Bíblia), a sua importância na regulamentação do comportamento cotidiano continuou crescendo,

ano após ano. Então, há mais ou menos 2500 anos, apresentou-se o problema: como se pode aplicar uma orientação

codificada em textos fixos e estabelecidos à realidade da vida, em perpétua modificação e evolução? Será lícito ampliar a

lei escrita por interpretações e explicações que visem a sua atualização? ]

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Existem dois Talmuds: o babilônico e o palestino. O segundo contém uma parte do

material do primeiro, mas não é tão completo. O Talmud é a soma da cultura e da sabedoria dos

judeus, um conjunto de leis, fatos, lendas e relatos, milhares e milhares de páginas da cultura judaica.

“Onde quer que houvesse judeus, continuariam sendo judeus, dispondo de um Talmud”. O maior

comentarista sobre a Bíblia e o Talmud foi o rabino Shlomo Ben Itzhak.

O volumoso Talmud, impresso hoje em cerca de 12 volumes, repositório de tradições

judaicas e interpretações da Lei (ou Torah), redigido poucos séculos depois de Jesus, oferece também

alguns elementos para definir a fisionomia deste e do cristianismo em geral. Surpreende serem muito

poucas as referências do Talmud aos cristãos e a Jesus.

COMENTÁRIO JUDEU SOBRE A VIDA DE JESUS (cópia do trecho referente) Segundo Howard Fast:

“E agora temos que começar o triste relato desse período terrível. Um judeu, Josué de Nazaré,

sem saber que o fazia, fundou uma nova religião. Os cristãos o chamam de Jesus Cristo. Jesus é

Josué em grego, e Cristo é Messias.

Sua doutrina não era muito diferente da que Hilel havia ensinado trinta anos antes. Outras coisas que

pregava haviam sido ditas pelos profetas há centenas de anos. Pregava aos judeus, e muitos deles o

seguiram.

Os romanos temendo o seu crescente poder, crucificaram-no, como haviam feito a outros

milhares de judeus anteriormente. Depois de sua morte, seus partidários proclamaram que havia

saído da tumba e que era o filho de Deus. Tentaram convencer aos judeus, mas fracassaram,

Os judeus não aceitavam Josué de Nazaré como filho de Deus, nem como Messias.

Acreditavam em um só Deus, grande e bom, e em nada mais. Não acreditavam que um homem como

eles pudesse ser filho de Deus.

Como não conseguiram convencer os judeus, os partidários de Josué voltaram-se para os

gentios, os pagãos gregos e romanos. Um de seus partidários, um homem chamado Saul, em grego

Paulo, difundiu os ensinamentos de Josué. Uma nova religião, o cristianismo, se espalhou pela

Europa. Baseava-se nas doutrinas de Josué de Nazaré, mas nem todos os seguidores da nova religião

praticavam os seus ensinamentos.

Não podiam se desprender tão facilmente de sua herança pagã e bárbara, mas o cristianismo

era um grande passo para além do paganismo.

O único que não se converteu ao cristianismo foi o povo judeu, e os cristãos não os

perdoaram por isso. Chegaram ao ponto de alterar a história da morte de Josué para tentar provar que

os próprios judeus o haviam matado.

A princípio, os cristãos foram perseguidos e não tiveram tempo para fazer mal aos judeus.

Mas assim que o imperador Constantino aceitou o cristianismo e legalizou-o no império romano,

toda a fúria dos novos cristãos voltou-se contra os judeus. ”

De outro autor:

QUE NOS INFORMA O TALMUD SOBRE JESUS E O CRISTIANISMO?

Diretamente, nada. Esta omissão praticamente total representa a pouca significação que o

movimento cristão inicialmente apresentava. Entretanto, o contexto, como um todo, é semelhante

para o judaísmo e o cristianismo.

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11

No Talmud apenas se encontram vagas referências, no texto de Shemone Esre, nome de uma

oração judaica, representada por 18 bênçãos que o judeu piedoso recitava três vezes ao dia.

Em termos injuriosos amaldiçoa aos minim, palavra que se traduz por heréticos. A

importância da referência está em que ela poderia ser do 1° século, talvez do seu final, que os

otimistas supõem poder ser até anterior à queda de Jerusalém.

Quem seriam tais minim, ou heréticos? Seriam apenas os maus judeus em geral, os judeus

apostatas? Dali passar positivamente aos cristãos, como judeus heréticos, não parece seguro.

Foi descoberto, e publicado em 1897, um texto do Schemone Esre na sinagoga do Cairo, em

que se diz, desdobradamente, que "os nasrim (nazarenos, isto é Cristãos) e os minim (heréticos)

sejam logo aniquilados".

Diz o texto no seu todo:

"Não haja esperança alguma aos apóstatas. Destrua celeremente o reino dos celerados. E

pereçam logo os nazarenos e os heréticos. Sejam destruídos do livro da vida e não sejam inseridos

com os justos. Bendito sejas Senhor porque confundes os soberbos".

Impõe-se logo, uma pergunta e de que nasce imediatamente uma reserva contra a precisão

que o texto oferece tão singularmente: - de que época data a precisão? Se os demais textos não a

apresentam, esta variante mais facilmente se acrescentou tempos após.

Então, para que o texto efetivamente se possa alegar como informação antiquíssima do

primeiro século, seria necessário poder fixar sua data, o que não se conseguiu fazer.

O Talmud Babilônico refere-se ainda ao seguinte:

"No dia fixado para a execução antes da festa da Páscoa, pendurou-se Jesus de Nazaré, por ter

com seus encantamentos seduzido e desviado Israel". O texto é uma referência expressa a Jesus. Sem

se ter como fixar a data desta informação, ela é breve e poderá ser de séculos posteriores, se

atendermos à data definitiva da redação final do Talmud.

O QUE TEMOS NO TALMUD, SOBRE MOISÉS: - segundo Stefan Schreiner, em “Moisés, nosso Mestre”

Ao começo admirável da vida de Moisés corresponde um fim igualmente admirável. Assim, em

todo caso diz o antigo comentário rabínico. Daí é que o Midrash, quando se refere ao texto bíblico

hebreu (Dt 34, 1-6) segundo o qual Moisés morreu pela boca de Deus, assume e explica esse texto

completamente ao pé da letra, no sentido de que Deus, assim como outrora inspirou o sopro da vida

em Adão (Gn 2, 7), assim agora o recolheu em Moisés pelo beijo de Sua boca (Talmud babilônico,

Tratado Bava Batra, 17a; Midrash Devarim Rabba XI, 10 e Midrash Petirat Mosheh, final), e isso

justamente na data de seu aniversário, 7 de Adar (Tosefta, Tratado Sota XI, 2). Apesar de todos estes

aspectos extraordinários, Moisés não é um santo, digno de veneração. Em tudo o que sobre ele se

narra, permanece um homem com suas inclinações e paixões. O narrador bíblico, no seu relato da

morte de Moisés, acrescenta intencionalmente que ele, ao falecer, foi enterrado em um lugar que

ninguém conhecia, nem deveria conhecer (Dt 34, 6). Ninguém deveria poder peregrinar à sua

sepultura. Também aqui o Midrash situa Moisés num contexto incomum: a figura humana impessoal

do texto bíblico é substituída por Deus. Foi o próprio Deus que enterrou Moisés naquele lugar

desconhecido (Talmud babilônico, Tratado Sota, 14a).

(...)

Sobre as funções exercidas por Moisés no meio do povo hebreu:

Porém, mais importante do que as lembranças é o papel que aqui se atribui a Moisés. Aqui ele é

o Profeta incomparável (v. 10; cf. Nm 12, 6-8; Dt 18, 15-20), o Profeta ao qual Deus “se dirigiu face

a face”. Por isso, Jesus Sirac (cf Sir 45, 2) e ambos os sábios do Talmud, Rav e Samuel, viram no Sl

8, 6 uma alusão a Moisés (Talmud babilônico, Tratado Nedarim, 38a). De fato, somente com Moisés,

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e com nenhum outro, Deus não apenas “tratou face a face”, mas, inclusive, “com ele conversou boca

a boca” (Nm 12, 8), algo que o Midrash absolutamente não considerou uma contradição em relação a

Ex 33, 18s (Sifre Devarim, § 357, final). Por isso, a tradição judaica posterior chamou-o de “Pai dos

Profetas”, vendo nele o maior dos profetas, maior do que todos os que antecederam e de todos que

lhe sucederam; pois que, “todos os profetas viram através de um vidro opaco, mas Moisés, nosso

mestre, viu através de um vidro transparente” (Talmud babilônico, Tratado Yevamot, 49b; sobre essa

imagem, cf. 1Cor 13, 12).

(...)

Como já foi dito, não é possível examinar aqui em detalhes todas essas expressões. Diversas

delas, como as dos versos 2-3, evocam aquilo que já sabemos através de Dt 34, 10-12. Mas, no verso

5, aparece algo de novo. Aí vem mencionado o outro aspecto da missão profética de Mestre por

excelência. Trata-se aqui, a par da libertação do Egito, da ênfase dada à transmissão da Torá (cf.

Talmud jerosolimitano, Tratado Peah II, 6, 17ª). Sem dúvida, aqui é o Moisés do Deuteronômio que

se apresenta como a personalidade predominante: o Mestre Moisés profético que, mediante a entrega

do Torá, no Monte Sinai, se coloca entre Deus e o povo (Dt 5, 5), e que recebe a incumbência de

transmitir o ensinamento divino, como já escrito pelo grande poeta e filosofo da religião, Jehuda

Halevi (...). Pois o povo necessitava dessa intermediação de Moisés, de um lado, porque esse povo,

que permanecia ao pé do Monte Sinai tinha medo de ouvir a voz de Deus: “Fala tu conosco, e então

ouviremos. Não fale Deus conosco, para que não pereçamos” (Ex 20, 18-21; cf. Dt 5, 23s); de outro

lado, porque a voz de Deus não era compreensível a qualquer um, mas apenas a um profeta como

Moisés. Pois a voz de Deus é uma voz que não apenas se escuta, mas, antes de tudo, “se vê” (Ex 20,

18).

Sobre os Dez Mandamentos e os rabinos:

Pela tradição judaica, as Dez Palavras são, na realidade, o inteiro conteúdo da doutrina, a Torá,

ou o Mandamento de Deus no sentido mais amplo da palavra, onde a Torá se integra de dupla forma:

uma escrita, a outra oral (cf. Dt 12, 5; 4, 44; 31, 12). Isso, com efeito, é formalmente expresso na tese

muitas vezes citada do sábio talmudista Resh Laquish, que explicou o verso Ex 24, 12 da seguinte

maneira:

“Rabbi Lewi b. Hama disse em nome de R. Shimon b. Laquish: O que significam estas palavras

escritas, Dar-te-ei as tábuas de pedra, a Torá e os Mandamentos escritos pos Mim, para que sejam

ensinados? (Ex 24, 12). As tábuas – isto são as Dez palavras; a Torá – isto é a Escritura; e os

Mandamentos – isto é a Mishna; escritos por Mim – isto são os profetas e as escrituras; para que

sejam ensinados – isto é a Gemara [Talmud]. Isso nos instrui que todo esse conteúdo foi entregue a

Moisés no Sinai (Talmud babilônico, Tratado Berakhot, 5a)”

A TORAH DUAL DO JUDAÍSMO ensaio de Paul Forgasz

Uma Torah Oral Escrita

Desde a Antiguidade até o dia de hoje, o Judaísmo olhava não só o Pentateuco nem somente o

inteiro corpo da Bíblia Hebraica. Seu cânon abrange uma larga fila de sagrados Textos que se

referem ao Pentateuco como a Torah Escrita (Torah Shebiktab) e fala também duma Torah que não

está escrita, mas sim formulada e preservada na memória. Esta última Torah está conhecida como a

“Torah Oral" (Torah Shebe`al pé). Posto de maneira simples: o Judaísmo tradicional mantém que a

Torah foi revelada a Moisés no monte Sinai em dois modos, um escrito e outro oral transmitido pelos

profetas e sábios (daí a referência a Torah dual no título deste ensaio).

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Na sua investigação de muitas fontes rabínicas que se referem à origem e desenvolvimento da

Torah Oral, Schimmel propõe “que a lei escrita nunca podia ter estado sozinha, e que ao mesmo

tempo quando a lei escrita foi dada no Sinai, esta deve ter sido acompanhada por uma tradição

oral".

De fato, é fácil argumentar que tal visão inere no próprio caráter da própria Torah Escrita.

Assim, há muitos termos e instruções na Torah que não são definidos ou permanecem escuros.

Proibindo trabalho no Sábado, a Torah não define qual trabalho é proibido; mas o termo está

elaborado na Torah Oral. Lidos sem tradição acompanhante, há também trechos na Bíblia que

parecem contraditórios: em Êxodo (12,15), o número dos dias nos quais deve ser comido pão não-

fermentado é sete, enquanto no Deuteronômio (16,8) é seis. Fica deixado para a Torah Oral tomar

conta da divergência. A Torah Oral elabora também casos onde leis não são explicitamente

estabelecidas. Onde lacunas estão em evidência, ela as enche. Por exemplo, a lei de divorcio é

mencionada somente de passagem no que se refere à instrução de que um homem não deve casar

outra vez com sua mulher divorciada depois de ela tiver casado outra vez e ter divorciado outra vez

(Deuteronômio 24,1-4). O condenado ao espancamento não deve receber mais batidas que as

infligidas (Deuteronômio 25,1-3), mas não especifica em lugar algum quais transgressões envolvem

punição de espancamento. Parece claro que o próprio caráter da Torah Escrita é tal que seria

impossível regular a vida sem tradição oral que a acompanhasse desde o início. Seria igualmente

verdade dizer que a Torah Oral não chegou à plena expressão senão depois do período que seguiu a

destruição do Segundo Templo pelos romanos no ano 70 E.C. (Era Comum), um acontecimento que

precipitou uma crise de maiores proporções na vida judaica.

O FUNDO HISTÓRICO

O Templo de Jerusalém, junto com seu sistema de sacrifícios, constituíra o foco do Judaísmo

para séculos. Comentando a centralidade do culto de sacrifícios na vida judaica, Neusner observa

(1995: 320-321) que “o ciclo do santo tempo estava marcado por sacrifício... O que fez de Israel ser

Israel era o centro, o altar... a vida de Israel fluía do altar".

Com a destruição de Jerusalém e do Templo, porém, o foco existente da santa vida judaica

desapareceu, o prospecto de religião sem sacrifício teria sido duro de imaginar. Perderam seu

Templo já uma vez antes (em 586 A.E.C.), mas então tinham de esperar somente setenta anos para

ele ser reconstruído. Desta vez, porém, considerando a força de Roma e sua determinação de não

permitir que o Templo estivesse de pé outra vez, os judeus podiam facilmente ter decidido que o

Judaísmo teria chegado ao fim com a destruição do Templo. Que o não fizeram está largamente

devido ao gênio do Rábi Yohanân ben Zákai e aos sábios que se reuniram em Yábneh, cidade ao

leste de Jerusalém, que chegou a ser o novo centro da vida religiosa judaica.

Yohanân ben Zákai estava preocupado não só com a sobrevivência do Judaísmo dentro da

Palestina, mas também na Diáspora. Se os judeus, dispersados como estavam por todo o Império

Romano, estariam por tempo demais isolados da mola principal dos centros religiosos na Palestina,

poderiam bem ter abandonado sua herança judaica. A questão que Yohanân ben Zákai e seus sábios

encaravam em Jabneh, era a de como inventar uma estrutura dentro da qual a identidade religiosa dos

judeus podia ser preservada sem o Templo e culto de sacrifícios. O dilema que confrontava ben

Zákai está graficamente formulado por Max Dimont (1971-141) como segue:

“Que medidas executáveis podia inventar, projetar ou ordenar para preservar a identidade dos

judeus sob essas circunstâncias? E mesmo se fosse bem sucedido, como as podia fazer cumprir sem

polícia, sem exército, sem organização política? Quanto podia confiar no dínamo carismático

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implantado nos judeus pelas Escrituras canonizadas? Atenderiam à mensagem que lhes foi

inculcada pelos profetas? O nacionalismo pregado por Ezra iria desintegrar-se ou se manter firme

no exílio? Qual agente catalisador seria necessário para fundir essas efêmeras ideologias numa

sociedade judaica estável num mundo gentílico caótico?”

Defronte de tais questões, os rabis chegaram a considerar a revelação duma Torah Oral ao

longo daquela da Torah Escrita. De fato, a importância dessa idéia para o desenvolvimento do

Judaísmo pós-70 E.C. não pode ser superestimado. Neusner (1995:322), então, anota que, com a

destruição do Templo como o lugar de santidade dentro da sociedade judaica,

“o Judaísmo da Torah dual continua um ideal gêmeo: santificação da vida cotidiana (meu relevo)

no aqui e agora, o que plenamente realizado conduziria a salvação de todo o Israel no tempo a vir.

Mas o quê ficou a ser santificado, já que o Templo fora santificado pelo seu culto, e agora que o

Templo se fora? Um lugar de santificação durava além de 70: o santo povo mesmo."

Assim, enquanto nos tempos do Templo a veneração era concentrada no culto de sacrifícios,

agora a própria vida era para chegar a ser um ato de venerar Deus através da aplicação da Torah Oral

e seus ensinamentos à vida cotidiana do judeu.

Esses desenvolvimentos não ocorreram num vácuo teológico ou histórico, tendo, de fato, suas

raízes nas reformas introduzidas na vida judaica por Ezra, durante o início do período do Segundo

Templo. Era ele que começou a tarefa de organizar a comunidade judaica em Judéia ao redor das

exigências da Torah e pôs os fundamentos para o desenvolvimento do Judaísmo como uma religião

de escritura. Ezra está sendo frequentemente chamado de o pai do Judaísmo porque os seus esforços

para popularizar o ensino e interpretação da Torah iniciaram uma tendência na vida judaica que

produziu uma nova classe de líderes religiosos, conhecidos como soferím (escribas). Recebendo sua

tarefa de Ezra, dedicaram-se à correta interpretação da Torah para garantir que ela pudesse

propriamente ser aplicada à vida diária do povo e às variáveis circunstâncias desta. Os soferím, em

consequência disso, chegaram a ser considerados como os que colocaram dentro do Judaísmo os

fundamentos para a Torah Oral. Como os soferím, os Fariseus consideravam-se como os tradicionais

seguidores de Ezra, sua crença na existência da Torah Oral e aderência nela são claramente atestadas

nas escritas de Josefo. Todavia, foi a destruição do Segundo Templo que proveu o ímpeto para a

Torah Oral ocupar o papel definitivo no desenvolvimento da vida judaica pós-70 E.C.

A literatura da Torah Oral

Embora falemos duma Torah Oral, esta tradição encontra expressão numa vasta formação de

escritos rabínicos. Além disso, esse corpo literário pode ser dividido em duas grandes categorias.

A primeira contém aquilo que conhecemos como tradição halahica ou legal do Judaísmo. O

texto básico e ponto de partida desta tradição é a Mishnáh, uma obra composta ao redor do ano 200

E.C. (era comum) no país de Israel. Na Mishnáh, diz Neusner (1995:328)

“ouvimos uma única mensagem forte. É a mensagem dum Judaísmo que responde a uma

única concisa questão referente à duradoura santificação de Israel, do povo, do País, do modo de

viver. O quê, na outonada da destruição do santo lugar e santo culto, remanesceu da santidade do ...

Santo País, e, sobre tudo, do santo povo e do seu santo modo de vida? A resposta: Santidade

persiste, indestrutível, em Israel, no povo, no seu modo de vida, no seu País, no seu sacerdócio, na

sua comida, no seu modo de sustentar vida, na sua maneira de procriar e assim manter a nação.

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Essa santidade vai durar. E a Mishnáh expôs a estrutura da santificação. Detalhou o que significa

viver uma vida santa."

Ao ser registrada, a Mishnáh chegou a ser objeto de estudo ulterior, de comentário e de

amplificação; um processo que deu origem a dois Talmuds. O Talmud de Jerusalém (Talmud

Yerushalmi) era produto do país Israel cerca 400 E.C. Cerca de cem anos mais tarde, o Talmud

Babilônico (Talmud Babli) nasceu. Descrevendo seu impacto na vida judaica, Neusner observa

(1995:328) que o último Talmud,

“junto com seus comentários, códices de lei dele derivando e instituições de administração

autônoma apoiando-se nele, tem definido a vida da maioria dos judeus e o sistema judaico que

prevalecia como normativo. Sua bem sucedida definição dos essenciais do Judaísmo ...depende da

sua convincente força da sua explicação do que é ser judeu, o quê quer dizer ser Israel, e como o

santo povo deve elaborar sua vida no aqui e agora para conseguir salvação no fim do tempo."

A tradição halahica não terminou com o Talmud, comentários ou códigos de lei aos quais deu

surgimento. Da necessidade de tratar novos assuntos e situações emergiu mais um corpo de lei

judaica que também faz parte da Torah Oral – a literatura dos Responsa.

Como o nome diz, ela consiste de réplicas a questões específicas dirigidas a autoridades

rabínicas, e que chegou a ser a maior fonte de precedente halahico. Dentro da literatura dos Responsa

encontram-se também referências a assuntos de teologia, movimentos históricos e controversas

religiosas. Os Responsa começaram depois da compilação do Talmud Babilônico, quando os sábios

receberam pedidos escritos para explicações de passagens talmudicas escuras e para decisões sobre

assuntos de significância prática. Rábis ortodoxos trabalham hoje numa tradição muito semelhante,

tratam questões sobre uma larga faixa de assuntos contemporâneos, inclusive maternidade de

aluguel, eutanásia no caso de alguém estar numa máquina de manter vivo, engenharia genética,

transplantes e cirurgia transexual. Os Responsa chegaram a ser o caminho definitivo a conseguir

decisões de Rábis, bem como o meio pelo que a tradição halahica continua encontrando expressão

dentro da vida judaica contemporânea.

A Torah Oral consiste também duma expansiva coleção literatura não-halahica chamada de

agadáh. Essa tradição agádica está composta de escritos rabínicos não-legais, que incluem

comentários bíblicos, parábolas, anedotas, legendas, folclore, ensinamentos éticos, aforismos e

especulação teológica. O maior repositório da tradição agádica é a literatura do Midrash, compilada

largamente na Palestina durante vários séculos. Este material deriva de homilias e sermões proferidos

por sábios em sinagogas e academias. O termo midrash (literalmente: busca) refere ao extrair de

versos bíblicos sentidos além do literal. Tipicamente, então, midrash interpreta um texto bíblico ou

grupo de textos de acordo com sua relevância ou significado contemporâneos. De passagem seja

notado que a literatura midrash, que trata de versos legais da Bíblia pertence àquela parte da Torah

Oral que compreende a tradição halahica do Judaísmo.

A autoridade da Torah Oral

Dada a centralidade da Torah Oral no Judaísmo, resta, finalmente, inquirir a fonte de sua

autoridade dentro da estrutura da vida e tradição judaicas. Poder-se-ia argumentar que fé na origem

sinaítica da Torah Oral seria suficiente para estabelecer seu papel autoritativo. Essa fé, porém, não

está inteiramente sem problema. Quando várias fontes que tratam da natureza da revelação sinaítica

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são postas lado a lado, está-se sendo confrontado com pontos de vista que parecem estar em

contradição direta um com o outro.

O Talmud de Jerusalém (tratado Peah 2:4), por exemplo, alega que aquilo que foi revelado a

Moisés no Sinai não era somente o Pentateuco mas também a Mishnáh, as discussões talmúdicas, a

tradição agádica e "mesmo o que um estudante maduro pudesse expor perante seu professor no

futuro" (minha ênfase). Isso sugere que a autoridade da tradição oral derive da fé de que uma linha

direta e imediata possa ser traçada do corpo inteiro da Torah Oral (incluindo todo conhecimento

futuro) para a revelação original no Sinai. Isso, porém, leva Schimmel a perguntar (1971:27): "os

Sábios não fizeram contribuição alguma à Lei Oral? E era tudo que disseram um mero eco da

tradição que receberam no Sinai?" O preciso intento da declaração talmúdica não está inteiramente

claro, nem é evidente por si mesmo.

Além disso, a declaração radical no Talmud de Jerusalém parece contradizer uma afamada

história no Talmud Babilônico (tratado Baba Mezia 59b). Aqui lemos duma disputa rabínica

referente a um ponto especial da lei judaica. Para provar que estaria certo, um dos protagonistas,

Rábi Eliezer, pediu uma intervenção divina, e conta-se que uma alfarrobeira desarraigou-se e um rio

fluiu para trás. Quando, porém, isso não moveu seu oponente, Rábi Joshua, Rábi Eliezer pediu ao

Céu que testificasse que sua visão era a correta, nesse momento uma voz do Céu gritou que estaria

ao lado de Rábi Eliezer. Ao que Rábi Joshua proclamou "não está no céu!" O Talmud explica que

isso significa que a Torah já tinha sido transferida no Sinai, e que a partir desse momento decisões

halahicas estariam baseadas em opiniões majoritárias dos sábios. Nessa história, então, há uma

insistência no fator humano na interpretação e desenvolvimento da Torah Oral.

A julgar pela aparência, pareceria que a história contradiz à anteriormente citada declaração

do Talmud de Jerusalém. Outra história, porém, contada no Talmud Babilônico (tratado Menahot

29), representa algo de atitude harmonizante que reconcilia essas duas aproximações. Neste caso

lemos de Moisés sendo transportado ao futuro onde se encontra sentado na academia do grande Rábi

Akiva. Incapaz de seguir a discussão, ficou triste. Em certo momento os discípulos de Akiva

perguntaram a este: Rábi, de onde derivas este ensino?" Na réplica, respondeu: "Isso é um

regulamento passado para baixo por Moisés do Sinai." Ouvindo isso, Moisés sentiu-se aliviado. Essa

história paradoxal mostra como os rábis estavam cônscios da natureza do processo halahico, sabiam

que leis atribuídas a Moisés estariam de fato irreconhecíveis para ele. Isso, porém, não diminui a

autenticidade das leis nem a justeza da sua atribuição. Em outras palavras: a Torah Oral está sendo

considerada um como contínuo processo consistente estendendo-se do Sinai até o presente.

Isso, então, permanece a posição definida do Judaísmo Ortodoxo até o dia de hoje, a Torah

Oral forma parte integral da revelação divina e é, por isso, considerada como normativamente

obrigatória. Todavia, a autoridade da tradição oral, nomeadamente a tradição halahica, é o único

maior assunto que divide os vários grupos denominacionais dentro do mundo religioso judeu hoje.

Literatura: E. Berkovits, Not in Heaven: The nature and function of Halaka, Ktav, New York 1983. / M. Dimont, The indestructible Jews, Signet, New York 1973.

/ J. Neusner, Judaism in Arvind Sharma (ed.) Our Religions, Harper, San Francisco 1995. / H. Schimmel, The Oral Law, Feldheim, New York 197l.

Paul Forgasz ... leciona sobre Civilização Judaica na Monash University e é Diretor Educacional da Florence Melton Adult Mini-School em

Melbourne. © Copyright 1991 Gesher Tradução: Pedro von Werden SJ

Ainda sobre a Torah Oral

O judaísmo se diferencia de todas as outras religiões pelo fato de não se ter originado de uma

única pessoa. Todas as outras começaram a partir de um indivíduo que, através de seus

ensinamentos, arregimentava adeptos e convertidos. Apenas o judaísmo foi criado por Deus, ao

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reunir três milhões de pessoas no sopé do Monte Sinai, ocasião em que, pela primeira e única vez,

revelou-Se abertamente. Essa Revelação Divina, que se seguiu ao Êxodo do Egito, forjou um vínculo

entre Deus e o povo judeu em todas as gerações. Este vínculo foi estabelecido pela Torá. Portanto, é

claro que a Torá é o pilar do judaísmo, e quem sem a mesma não haveria religião judaica.

Apesar de o termo Torá abranger todos os fundamentos, leis e ensinamentos do judaísmo,

literalmente refere-se aos 5 livros que nos foram transmitidos por Deus – letra por letra – a Moisés

no Monte Sinai. Os cinco livros de Moisés – Bereshit (Gênese), Shemot (Êxodo), Vayikra (Levítico),

Bamidbar (Números), Devarim (Deuteronômio) – compõem o que conhecemos como a Torá Escrita,

ou Torah she-Bichtav.

Deus também transmitiu a Moisés a Torá Oral, Torah she-Be’alpeh, que consiste das

interpretações e explicações dos mandamentos da Torá Escrita. Moisés possuía o mais alto grau de

profecia e, por isso, Deus pode ensinar-lhe a Torá Oral de forma abrangente e detalhada. Pois está

escrito: "Falava Deus a Moisés face a face, como um homem qualquer fala a seu amigo" (Êxodos

33:11). Ao mencionar especificamente a transmissão da Torá Oral, Deus disse: "Boca a boca falo

com ele, claramente e não por enigmas" (Números 12:8).

A transmissão da Torá Oral é claramente revelada na Torá Escrita. Pois está escrito: "São

estes os estatutos, juízos e leis (Torá) que deu o Senhor entre si e os filhos de Israel no Monte Sinai,

pela mão de Moisés" (Levítico 26:46). É importante notar que a palavra Torá está no plural, pois se

refere tanto à Torá Escrita quanto à Oral (Rashi; Sifra). Em outra parte da Torá Escrita, Deus diz a

Moisés: "Dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei e os mandamentos que escrevi" (Êxodo 24:12). As tábuas

de pedra são os Dez Mandamentos, a lei (Torá) significa a Torá Escrita e os mandamentos referem-

se à Torá Oral. De fato, a Torá Escrita faz inúmeras alusões à Torá Oral. Por exemplo, está escrito:

"Então matarás as tuas vacas e tuas ovelhas...como te ordenei" (Deuteronômio 12:21). Isto implica

na transmissão das instruções sobre o abate casher de animais, apesar de que não são dadas

explicações. De fato, a maioria de nossos mandamentos nunca é explicada na Torá Escrita. A mitzvá

da guarda do Shabat é um dos Dez Mandamentos, mas não há nenhuma instrução sobre o significado

de guardar o Shabat. São mencionados, também, outros mandamentos tais como a colocação de

mezuzot, de tefilin, o cumprimento das festas judaicas, mas não são discutidos, de fato, na Torá

Escrita. Está bem claro que todas as instruções são encontradas na Torá Oral.

Mas, por que razão, Deus não teria transmitido a totalidade da Torá por escrito?

O Rabi Aryeh Kaplan comenta em sua obra Guia do Pensamento Judaico, que a Torá Oral

tinha o propósito de ser transmitida do mestre para o discípulo. Desta forma, o aluno não confiaria

em sua própria interpretação de um texto escrito, e buscaria esclarecimento para suas dúvidas com

seu mestre. Se a totalidade da Torá tivesse inicialmente sido escrita, as pessoas iriam interpretá-la

como o desejassem, e isso iria causar importantes desavenças no seio do povo judeu. E já que a Torá

Oral não podia ser escrita, dependeria de autoridades centrais para preservá-la e ensiná-la sem dar

margem a ambiguidades.

Há uma razão ainda mais forte para a necessidade de uma Torá Oral. Apesar de a Bíblia

Hebraica originalmente ter sido dada apenas ao povo judeu, foi adotada por grande parte da

humanidade. A Divina Providência utiliza-se da Bíblia Judaica para pouco a pouco levar a

humanidade até mais perto da Verdade Suprema. Se a Torá tivesse sido totalmente escrita, outros

povos a teriam adotado, e o povo de Israel deixaria de ser único e singular. Em um dos livros de

nossa Bíblia, Deus confirma-o através desta frase: "Embora eu lhe escreva a minha Torá em 10 mil

preceitos, estes seriam tidos como coisa estranha" (Oséias 8:12). Assim sendo, a Torá Oral não

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apenas define a Torá Escrita, mas é o fator que realmente distingue o judaísmo de toda a outras

religiões.

A Mishná

Antes de falecer, Moisés escreveu os 13 rolos da Torá e ensinou a Torá Oral ao profeta Josué

bin Nun. A Torá Oral foi então transmitida por Josué aos anciãos de Israel, a seguir aos profetas e,

por fim, ao Sanhedrin. Este, ou sinédrio, era a corte suprema de Israel, e tinha a missão de guardar,

interpretar e legislar sobre todos os assuntos acerca das leis da Torá. Durante o período do Segundo

Templo, o Sanhedrin codificou a Torá Oral. Essa codificação tornou-se conhecida como a Mishná.

Uma razão para esse nome foi o fato de revelar que o propósito da codificação da Lei Oral era o de

que seria revista (em hebraico, shaná) continuamente, até que fosse memorizada. Os sábios que

originalmente ensinavam a Mishná eram conhecidos como os Tanaim.

A Mishná foi posteriormente colocada por escrito pelo Rabi Yehuda ha-Nasi. Este erudito

reuniu todas as leis, tradições, explicações e comentários de toda a Torá e a seguir compilou-os na

Mishná que hoje conhecemos. Terminou seu trabalho no ano de 3948 (188 antes da era comum).

Composição da Mishné Torah

Os 248 Preceitos Positivos

Os 365 Preceitos Negativos

1 - Livro da Sabedoria

2 - Livro do Amor

3 - Livro dos Períodos

4 - Livro das Mulheres

5 - Livro da Santidade

6 - Livro da Magnificência

7 - Livro das Sementes

8 - Livro do Serviço Divino

9 - Livro dos Sacrifícios

10 - Livro da Pureza

11 - Livro dos Danos

12 - Livro das Aquisições

13 - Livro dos Julgamentos

14 - Livro dos Juizes

As letras dos Dez Mandamentos são 613, numero dos Mitzvot da Torah (Bahir 124), que

correspondem às 613 partes do corpo humano: 248 membros e 365 vazos.

Os sábios da Mishná realizaram outras obras:

Rabi Hoshaio, discípulo do Rabenu HaKadosh escreveu uma exposição do Bereshit (Gênesis)

de Moisés. Rabi Ismael escreveu a Mequiltá (comentários midráshicos sobre a Mishná), um

comentário sobre a Humashe, desde o início do livro de Shemot até o final do Pentateuco. O Rabi

Akiba também escreveu uma Mequiltá.

Outros sábios que viveram posteriormente escreveram os midrashim.Todas estas obras foram

compostas antes do Talmud Babilônico. Ravina e Rav Achi e seus confrades foram os últimos

grandes sábios que estabeleceram firmemente a Jurisprudência da Lei, fizeram decretos, ordenações

e introduziram costumes, que obtiveram aceitação universal entre os judeus.

Todos os sábios que surgiram após a compilação do Talmud, que estudaram-no com

profundidade e tornaram-se famosos por sua sabedoria são chamados gueonim.

A obra é composta em aramaico, com influências de outras línguas, o vernáculo dos judeus

babilônicos, na época em que foi compilada.

"Sob estas premissas, eu, Moshe, filho de Maimon, o Sefaradita, pus-me em movimento, cingido de

coragem e contando com a ajuda de D..S, Seja Ele abençoado; atentamente estudei todas estas

obras literárias, com o objetivo de escrever um livro, que esclareça... de acordo com as conclusões

retiradas de todas estas compilações e comentários que têm aparecido desde a época do Rabenu

HaKadosh até o presente... eu dei a esta obra o título de Mishné Torah, pela razão de que uma

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pessoa que leia a Lei Escrita, e depois esta recompilação, saberá a íntegra da Lei Oral, sem

precisar consultar ou estudar outro livro qualquer."

A Guemará

Mal, porém, fora compilada, a Mishná passou por seu turno a ser objeto de "interpretação".

Esses novos debates realizavam-se em dois centros do povo: um na Palestina, e outro na Babilônia.

Daí resultaram outras compilações e uma obra intitulada Guemará, a qual foi, mais do que simples

código, uma vasta antologia dividida em 63 tratados. Guemará quer dizer em aramaico "estudo" e

também "encerramento".

A Mishná, junto com a Guemará, formam o Talmud. Devido aos dois centros de estudos,

mencionados anteriormente, formaram-se dois Talmudim: o da Babilônia (Bavli) e o da Palestina

(Ierushalmi). Em ambos os casos a Mishná é a mesma, sendo apenas a Guemará que difere. O

Talmud da Babilônia, tanto por causa de seu maior volume quanto pela maior influência subsequente

sobre os judeus e o judaísmo, constitui a mais importante das duas compilações.

Mas por que motivo o Rabi Yehuda ha-Nasi teria rompido com a tradição de não se escrever a

Torá Oral ?

Porque, com a destruição do Segundo Templo, a Torá Oral corria o perigo de ser esquecida.

Diminuía o número de eruditos estudiosos da Torá e os judeus se dispersavam por todo o mundo. O

Rabi Yehuda ha-Nasi, portanto, escreveu a Mishná para que mesmo que os judeus se afastassem de

seus mestres, ainda assim poderiam estudar e seguir a Torá Oral e, assim, preservar o judaísmo.

Além da Mishná, foram escritos outros volumes interpretativos da Torá Oral pelos alunos do Rabi

Yehuda ha-Nasi. Entre seus discípulos incluíam-se alguns de nossos mais famosos sábios: o Rabi

Chiya, Rav, Bar Kapara, Rabi Yochanan e Rabi Hoshia. Rav redigiu a Sifra e o Sifri, que são

comentários sobre três dos livros da Torá Escrita: Levítico, Números e Deuteronômio. O Rabi Chiya

escreveu a obra Tosefta que elucida alguns dos conceitos da Mishná. O Rabi Hoshia e Bar Kapara

escreveram Beraitot para explicar as palavras da Mishná.

O Talmud

Trezentos anos após a destruição do Segundo Templo, o Rabi Yochanan redigiu o Talmud de

Jerusalém, ou Talmud Yerushalmi. Este Talmud basicamente trata das leis referentes à Terra de

Israel. Mas quando as pessoas falam do Talmud, geralmente não se estão referindo ao de Jerusalém,

mas sim ao Talmud Babilônico, também chamado de Guemará. Uma vez constituída a Mishná

canônica, os discípulos de R. Judá separaram-se: parte deles permaneceu na Palestina e os demais

emigraram para a Babilônia, de onde muitos eram naturais. Estes discípulos iniciam o período dos

amoarim(*) que desenvolvem sua atividade simultaneamente nas duas regiões, dando assim origem a

duas obras: o Talmud palestinense e o Talmud babilônico, embora quando se menciona o

Talmud(**) sem especificações, alude-se ao babilônico.

(*) Da raiz hebraica amor, que significa "dizer, falar, explicar". Por isso amorá equivale a "falador", no sentido de "expositor",

"intérprete", "comentarista".

(**) O substantivo talmud (derivado da raiz lamod = estudar), significa literalmente "estudo" e é abreviação da frase talmud torá, "estudo

da Lei". O vocábulo se aplica ao "estudo" realizado na Palestina, enquanto o realizado na Babilônia toma o nome de guemara, que em aramaico significa "complemento" e também "estudo". Mais tarde - e é o sentido em que o usamos - passou a designar o resultado dessa atividade ou "estudo".

Os amoarim (cujo número gira em torno de dois milhares) fizeram com a Mishná o que os

seus antecessores, os tanaím, haviam feito com a Lei. Tomando-a como ponto de partida, discutiram

parágrafo por parágrafo cada um dos tratados, dedicando-se a analisar os fundamentos bíblicos das

leis (midrash), a resolver as contradições ou indecisões que nela apareciam e também a deduzir

novas normas de conduta para casos não previstos; em uma palavra - a uma detalhada análise crítica.

Mas comumente afastavam-se do tema objetivo da discussão, desviavam-se e sucessivamente iam

passando de um assunto para outro, às vezes trazido por puro acaso, do que resulta que num só

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tratado são analisados temas muito diferentes, que pouca ou nenhuma relação guardam com o título

do mesmo.

Não obstante a base seja a Mishná, têm-se também em conta a Tosefta e as baraitot,

procurando resolver as contradições que existem entre elas. A Mishná fica incluída, incrustada no

texto, e o conteúdo adota forma discursiva, indicando os nomes dos diversos opinantes no princípio

das frases. Assim se explicam os numerosos pontos de vista e as discrepâncias que se observam em

uma mesma discussão.

O Talmud (formado pela Mishná e pela Guemará) recebe o nome de shas, iniciais das

palavras que significam "seis ordens", (da Mishná) - "Shishá Sedarim". O Rabino Iohanan compôs o

Talmud de Jerusalém na Palestina, aproximadamente três séculos após a destruição do Segundo

Templo e Rav Achi compilou, um século depois, o Talmud Babilônico nas terras de Shinar

(Babilônia).

Estes dois Talmuds contém uma exposição dos textos da Mishná e uma elucidação de seus

pontos conflitantes e profundos, e novos temas foram acrescentados pelas várias Academias, desde

os dias do Rabenu HaKadosh até a compilação do Talmud. Os dois Talmuds, a Tossefta, a sifrá, os

sifrê e as Tosseftot (Rav compilou o sifrá e os sifrê, cujo propósito é aclarar os princípios da

Mishná. O Rabino Hia compilou a Tossefta também para explicar o tema da Mishná. Da mesma

forma o Rabi Oseas e Bar Caporo compilaram baraítas para elucidar o texto da Mishná) são as

origens a partir das quais está elucidado o que é proibido, o que é permitido, o que é impuro, o que é

puro, o que é violação sujeita a pena e o que não envolve penalidade, o que é adequado para o uso e

o que é inadequado, segundo as tradições recebidas pelos sábios e por seus antecessores em sucessão

ininterrupta, até os ensinamentos de Moshe Rabenu, que os recebeu no Sinai...Disse Moisés: Deveis

ordenar uma Mitzvah para preservar minhas ordenanças Lv - 18:30.

O Talmud Ierushalmi (jerosolimitano)

Também chamado Talmud de Eretz Israel ("palestinense") - denominação que melhor lhe

convém, já que se foi formando em toda a Palestina, a maior parte nas escolas de Tiberíades e o resto

em Séforis e Cesaréia, porém nada na própria Jerusalém - foi adquirindo corpo desde 220 até

aproximadamente o ano de 380, no qual, devido à instabilidade política do país, ficou suspenso. Isto

explica o porquê de sua escassa autoridade no Judaísmo: as discussões são mais breves, mais

apressadas pela instabilidade, e goza de menos prestígio porque não foi possível levar a cabo uma

revisão definitiva. Porém, em que pesem todos estes fatores, tem certa importância por incluir alguns

tratados que seu homônimo babilônico não comentou e, especialmente, porque nos conservou uma

série de leis e de material agádico de grande valor para a história política e para o conhecimento do

ambiente cultural e científico da época, razões que justificariam de sobra uma tradução ou

conhecimento antológico do mesmo.

Mas, o mais importante é, sem dúvida, o babilônico, cuja formação vamos estudar em

seguida, assinalando incidentalmente os principais rabís palestinenses, uma vez que também

aparecem nas páginas do Talmud Babilônico.

Muitos textos surgem simultaneamente nos dois talmuds e isto é explicável, tomando-se em

conta que durante todo esse período houve relações constantes entre as duas regiões, com

transferência de mestres de uma para outra.

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O Talmud Babilônico (Bavli)

Em tempos remotos, os sábios da Torá estudavam a Lei Oral para, a seguir, fazer a análise de

seu trabalho através de discussões. Após ter sido compilada a Mishná, tais discussões – que se

tornaram conhecidas como a Guemará – serviram para esclarecê-la. A Guemará foi transmitida

oralmente e preservada durante cerca de 300 anos após ter sido escrita a Mishná. Quando surgiu

claramente o perigo de que a Guemará fosse esquecida, os dois maiores eruditos da época sobre Torá

– Ravina e Rav Ashi – redigiram a Guemará por escrito. Com a ajuda de seus discípulos, nas

academias de ensino da Babilônia, Ravina e Rav Ashi coletaram e ordenaram todas as discussões que

compunham a Guemará. Esta compilação da Guemará – que incluía a Mishná – tornou-se conhecida

como o Talmud Babilônico ou, em hebraico, Talmud Bavli. Foi finalmente publicado no ano de 4265

(505 antes da era comum).

O Talmud, que literalmente significa "estudo" ou "aprendizado", é, portanto, composto da

Mishná – um livro de Halachá (lei judaica) escrito em hebraico – e da Guemará – o comentário

sobre a Mishná, que foi escrito em aramaico/hebraico. O Talmud Babilônico foi aceito pelo povo

judeu como a autoridade máxima e suprema em todas as questões sobre a religião e a lei judaica. As

leis da Torá só têm vínculo legal se forem baseadas no Talmud.

O Talmud não é um só livro, mas uma vasta coleção de muitos livros; não pertence a um

autor, mas a dezenas de gerações de autores, cujo número ultrapassa 2000. Nas 5510 páginas do

Talmud há menção de 296 tanaím (mestres da Mishná) e 1812 amoraím (mestres da Guemará). Esses

mestres do Talmud pertenceram a diversos períodos, habitaram várias regiões geográficas e

atravessaram esferas culturais heterogêneas, cobrindo uma época de mais de 1000 anos (séc. V a.C.

ao V d.C.) até a sua conclusão. Aliás, o termo "conclusão" não deve ser tomado ao pé da letra, pois o

Talmud, a rigor, como interpretação e comentário da Torá e da Lei canônica ainda continua o seu

desenvolvimento. Por outro lado, ele é tradicionalmente designado como torá she be alpé (=lei oral),

o que será analisado adiante.

Formação Do Talmud Babilônico

Diferentemente do que ocorria aos seus correligionários palestinenses, os judeus da Babilônia

viveram, em geral, uma época de tranquilidade e segurança que lhes haveria de trazer grandes

benefícios em relação ao desenvolvimento de sua vida cultural. Em algumas localidades da região

mesopotâmica, como, por exemplo, Nehardea e Pumbedita, que eram habitadas exclusivamente por

judeus, não era de estranhar tal sossego; mas também dele gozavam nas cidades em que conviviam

com crentes de outras religiões. Sua vida transcorria placidamente e gozavam de prosperidade

econômica, seja dedicando-se à agricultura ou à artesania, seja participando da vida comercial do

país.

A par da liberdade física, gozavam de certa independência política, já que à frente dos judeus

achava-se o Resh Galuta (literalmente, "chefe do exílio"), ou seja, o exilarca, dignidade que

ostentavam os descendentes de David, confirmados pelo monarca reinante. O exilarca era o

representante dos judeus reconhecido pelas autoridades do país e ocupava lugar destacado nas

grandes solenidades da corte. Mas, junto a isto, tinha atribuições mais concretas: atuava como juiz

em causas civis e também penais de seus correligionários. Alguns exilarcas, aliás, gozavam de

grande apreço e autoridade em assuntos propriamente religiosos, devido a seus conhecimentos

particulares.

Lógico é que sob tais circunstâncias favoráveis florescesse e se desenvolvesse no decorrer de

três séculos um grande movimento cultural, centrado principalmente na ciência religiosa muito

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embora sem excluir por inservíveis ou inúteis os conhecimentos profanos. Durante esses trezentos

anos discutiu-se a Mishná de Rabi e, ao final, foi reunido todo o material elaborado, constituindo-se

assim a Guemará.

As Sete Gerações de Amoarim

Estes comentários foram realizados pelos amoarim babilônicos, designados com o título de rav

("mestre"), que se agrupam, por razão de método, em sete gerações(*) que abrangem

aproximadamente as seguintes épocas (junto aos períodos vão os nomes dos principais sábios de

cada geração):

(*)Os palestinenses vêm designados com o título de rabi e só desenvolveram sua atividade

durante as cinco primeiras gerações.

1

ª

2

00-250 Rav e Samuel.

2

ª

2

50-300 Huna e Judá bar Ezequiel.

3

ª

3

00-335

Huna b. Hía, Hisda, Rabá, José

bar Hía.

4

ª

3

35-360 Abaié e Rava.

5

ª

3

60-375 Papa.

6

ª

3

75-425 Ashi.

7

ª

4

25-500 Ravina II.

1ª geração (200-250):

A primeira geração dos amoarím babilônicos havia-se formado intelectualmente na Palestina,

principalmente sob a direção de Rabi. À morte do Mestre, a maioria deles regressou ao seu país natal

levando consigo a Mishná, a cujo comentário iam dedicar-se. Desse modo transportaram para as

margens do Eufrates a bagagem de conhecimentos, a ciência adquirida nas escolas palestinenses, e

ali desenvolveram, paralela e simultaneamente aos seus correligionários palestinenses, uma grande

atividade no terreno da ciência religiosa. Dois foram os principais introdutores e ao mesmo tempo os

que criaram as bases de tais estudos: Rav e Samuel.

Aba Arecha (175-247), mais conhecido por Rav, ou seja, "o mestre" por antonomasia, era

sobrinho de R. Hía, o autor da Tosefta. Havia estudado em Séforis, onde tinha sido ordenado por R.

Judá ha-Nassi. Ao regressar à Babilônia, foi nomeado chefe da escola de Nehardea, fundada anos

antes, mas cujo brilho intelectual fora escasso até então. Não obstante, renunciou ao cargo em favor

de seu bom amigo e condiscípulo, Samuel, que era justamente natural de Nehardea. Durante algum

tempo, Rav teve a seu cargo a inspeção de pesos e medidas e, em geral, a vigilância do mercado.

Mas pelo ano de 219, após haver considerado o abandono cultural em que se achava a região de

Sura, decidiu-se a abrir ali uma Academia que haveria de compartir, primeiro com a de Nehardea e a

seguir com a de Pumbedita (fundada mais tarde), a supremacia religiosa do judaísmo babilônico.

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Sua escola viu-se de pronto concorrida, assistindo a ela numerosos discípulos, os mais pobres

dos quais eram ajudados por Rav graças aos emolumentos que obtinha de seus cargos civis. Para

incrementar ainda mais o comparecimento à sua escola, organizou o ensino de tal modo que

possibilitava a assistência de que precisava lutar pelo seu sustento; duas vezes por ano, durante os

meses de Adar e Elul(*), chamados "meses de reunião", dava conferências públicas às quais

assistiam numerosos discípulos que dedicavam o resto do ano aos seus afazeres profanos.

Permaneceu à frente de Sura até sua morte, em 247. (*)Ou seja, no princípio da primavera e do outono, respectivamente.

Seu caráter, semelhante ao de Hilel, era suave, dócil, benevolente. Desconhecemos o método

que seguia em sua docência; porém sabemos que se dedicava a comentar sistematicamente cada um

dos tratados da Mishná elaborada pelo seu Mestre, e que com suas interpretações e deduções agravou

bastante as leis rituais, embora em questões de direito civil sua opinião tenha tido pouco peso, sendo

preferidas as decisões de seu amigo Samuel.

Mar Samuel (180-254), conhecido por Samuel (também por Arioch), era filho de Aba bar Aba.

Havia comparecido aos ensinamentos do patriarca Judá, ao qual tinha curado de uma grave affecção;

porém, em que pesem os seus grandes conhecimentos, não chegou a ser ordenado.

Natural de Nehardea, Samuel ocupou a direção da escola por renúncia de Rav. Já mencionamos

que gozava de grande autoridade em assuntos de direito civil. A ele deve-se a célebre sentença Dina

d'malcuta dina, "a lei do estado é a lei" que tanta importância haveria de ter para o futuro dos judeus

estabelecidos nos mais variados territórios e submetidos a leis estatais muito diferentes das suas

próprias.

Além de conhecer profundamente a tradição e de saber interpretá-la, Samuel sobressaia

também em medicina(*) e em astronomia, estudo no qual fora introduzido por seu amigo pagão

Ablat e não se envergonhava de afirmar, nem a modéstia lhe vedava dizer, que "os caminhos do céu

lhe eram tão familiares como as ruas de Nehardea". (*) Cf. SCHAPIRO, D.: Les connaissances médicales de Mar Samuel. Revue des Etudes Juives. XLII (1901), 14-26.

Assim, pois, Rav e Samuel, unidos por profunda amizade, se completavam e juntos constituíam

a máxima autoridade religiosa do país, até tal extremo que o conhecimento dos demais sábios de sua

época são como uma "gota d'água comparada ao oceano".

Nessa ocasião sobressaiam na Palestina alguns sábios, cujos nomes aparecem frequentemente

nas páginas do Talmud babilônico, pelo que não será inútil citar os mais importantes: R. Ushaia, que

recolheu parte dos baraitot; R. Josué ben Levi, adversário da Agadá e que por capricho do destino é

protagonista de muitos relatos agádicos; R. Hanina ben Hama, assim como Iohanan bar Napaha e

Simão bar Laquish, que citaremos na segunda geração.

2ª geração (250-300):

Dois são também os principais sábios desta geração: o primeiro formado junto a Rav e o outro

discípulo de Samuel; ambos seguiram os caminhos e os métodos iniciados pelos seus respectivos

mestres. Huna (212-297), que estudou com Rav, sucedeu ao seu mestre à frente da escola de Sura.

Homem de modesta posição, que por si mesmo cultivava o seu campo, chegou a enriquecer e a

possuir vultosas riquezas; mas a sua fama, deve-a aos seus vastos conhecimentos e, sobretudo, aos

seus dotes de organizador, pois foi ele quem dotou o Judaísmo babilônico de uma organização que

persistiu no decorrer de vários séculos. Durante os cinquenta anos que permaneceu à frente da escola

de Sura, esta alcançou grande esplendor e importância, até o extremo da autoridade de R. Huna ser

reconhecida não só na Babilônia, como também na própria Palestina, onde foi sepultado por ocasião

de sua morte.

Judá bar Ezequiel (220-299), o outro sábio mais destacado da época, era discípulo de Samuel,

que o chamava "o sagaz" por suas grandes faculdades dialéticas. Dedicou-se a estudar a fundo as leis

jurídicas de aplicação imediata, desdenhando ocupar-se das leis de pureza assim como as prescrições

que careciam então de utilidade, ou melhor especificando, as referentes ao culto do Templo ou

aquelas que só tinham aplicação na Palestina.

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Na segunda metade do século III, Judá bar Ezequiel fundou em Pumbedita uma escola que

depois da destruição de Nehardea (destruição realizada por Odenato, príncipe de Palmira, em 259),

alcançou grande importância, disputando a supremacia à de Sura. Os membros de Pumbedita

distinguiram-se sempre por sua grande profundidade dialética, até mesmo exagerada, ao passo que os

sábios de Sura se destacavam pela vastidão de seus conhecimentos, mas eram pouco dados a deduzir

novas leis. Estas são precisamente as características de cada uma das escolas.

Por ocasião da morte de Huna, em 297, Judá bar Ezequiel (cuja autoridade era também

reconhecida na Palestina) foi nomeado chefe de Sura, cargo que ostentou durante dois anos.

Entre os demais sábios da época merecem destacar-se os nomes de Raba bar Abuha e, na

Palestina, as figuras de Iohanan bar Napaha (179-279), aluno de Rabi, e de seu cundado, o célebre R.

Simeão ben Laquish(*) (200-275), apelidado "remove-montanhas" que também havia conhecido

Rabi, assim como o agadista Simlai, que polemizou com os cristãos.

(*) Também chamado Resh - R(abi) Sh(imon) - Laquish.

3ª geração (300-335):

Tendo falecido Judá bar Ezequiel, recaiu a direção da Academia de Sura nas mãos de R. Hisda

(217-309) que se havia formado junto a Rav. Embora houvesse assistido as lições de R. Huna, seguiu

o método dialético da escola de Pumbedita. Pobre em sua juventude, R. Hisda chegou a conseguir

uma riqueza que se tornou mesmo proverbial. Por ocasião de sua morte, foi sucedido por Rabá bar

Hana, que dirigiu Sura desde 309 até 323.

Nessa época os discípulos de Sura começam a emigrar, dirigindo-se à escola de Pumbedita,

para cuja direção havia sido eleito Raba bar Nahmani, o qual renunciou em favor do rico Huna bar

Hía, que manteve o cargo até a sua morte, ocorrida em 309.

Morto este, estabelece-se um pleito sucessório. Dois candidatos disputam o cargo: José bar Hía

e Raba bar Nahmani. Mas como um astrólogo havia predito ao primeiro que só exerceria o cargo

durante dois anos, renunciou este ao seu opositor.

Raba bar Nahmani (270-330), conhecido simplesmente por Raba, era natural da Galiléia e

havia estudado nas escolas de seu país natal; porém logo se transferiu para a Babilônia, onde

alcançou grande prestígio na halachá - também é conhecido por "remove-montanhas" -, ao contrário

de seus irmãos Ushaiá e Hananiá, que se destacaram como agadistas.

Sob sua direção a escola de Pumbedita alcança o auge, comparecendo a ela doze mil discípulos,

aos quais explicava sistematicamente todos os tratados da Mishná, porém entremeando as suas

explicações com relatos agádicos para atenuar, desse modo, a aridez da matéria haláchica.

À sua morte, foi sucedido pelo já mencionado José bar Hía (270-333), que gozava de reputação

pela enorme quantidade de conhecimentos que guardava em sua memória, razão que explica o

apelido de "Sinai" pelo qual é conhecido. Porém de corpo enfermiço, perdeu primeiro a vista e, mais

tarde, a memória, o que é um indício do perigo que encerrava entesourar mais e mais conhecimentos

confiando-os unicamente à memória para que uma enfermidade pusesse fim a toda a ciência

adquirida.

A esta geração pertencem, entre outros: Rav Sheshet, o orgulhoso R. Nahman bar Jacob (235-

324), discípulo de Samuel, casado com Ialta, filha do exilarca, mais orgulhosa ainda que o seu

marido; e também o babilônio R. Zeira, cuja atividade se desenvolve na Palestina em uma época em

que lá gozavam de preferências o agadista Abahu e os halachistas R. Ami e R. Ashi.

4ª geração (335-360):

A José bar Hía, chamado o Cego, sucedeu Abaié, sobrinho do antes citado Raba bar Nahmani,

que junto com Rava bar José bar Hama personalizava a ciência religiosa daquela época, e ambos

aparecem citados em quase cada página do Talmud babilônico.

Abaié (280-338), cujo verdadeiro nome era Nahmani - trocou-o seu tio - exerceu seu magistério

em Pumbedita numa época na qual se acentua a decadência iniciada na geração anterior.

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Rava bar José bar Hama (299-352), chamado usualmente Rava, era natural de Mahoza,

localidade na qual fundou uma escola a cuja frente permaneceu até a morte de Abaié, ao qual

sucedeu em Pumbedita. Chegou a ser tão rico como R. Hisda e tão sábio como R. Huna, porém, a

despeito de seus desejos, não logrou adquirir a modéstia que caracterizava Raba bar R. Huna.

Nesta geração destacam-se também: na Babilônia, R. Nahman bar Isaac (280-356), sucessor de

Rava em Pumbedita; e na Palestina, o patriarca Hilel II e R. Jeremias.

5ª geração (360-375):

Continua, em ritmo acelerado, a decadência das escolas, pelo que são poucos os doutores que

se podem equiparar aos citados nas páginas anteriores. O mais importante é R. Papa bar Hanan (300-

375). Rico e órfão desde tenra idade, fundou, em 356, uma escola em Naresh, perto de Sura. R. Papa,

com seu amigo R. Huna bar Josué, professor da referida Academia, quis encher o vazio que se havia

produzido com a morte de Rava; mas em que pesem os seus bons desejos, não o lograram por

carecerem da forte personalidade do Mestre.

Enquanto isso, de 356 a 377, a escola de Pumbedita era dirigida por R. Nahman bar Isaac.

Nessa época foi terminada a redação do Talmud palestinense, por obra de rabís pouco

conhecidos e dos quais pouca coisa sabemos, tais como: R. Jonas, Tanhum bar Aba e o patriarca

Judá IV, falecido no ano de 400.

6ª geração (375-425):

As condições favoráveis que até então haviam sustentado ao Judaísmo babilônico começam a

decrescer e, em certas ocasiões, sofrem prolongado eclipse. Ante os perigos, físicos e espirituais, que

ameaçam a vida, começa-se a sentir a necessidade de pôr a salvo a tradição.

Apesar de haver Amemar restabelecido a Academia de Nehardea, à frente da qual esteve de

390 a 422, a supremacia volta uma vez mais à Academia de Sura, dirigida por uma das maiores

figuras do período talmúdico, a de R. Ashi.

Rabana Ashi (352-427) era de família acomodada e ainda jovem (tinha apenas 23 anos) quando

foi nomeado, cerca de 375, chefe da Academia de Sura, cargo no qual permaneceu durante 52 anos.

É evidente que esta longa permanência - tenha-se presente que durante o período em que Ashi esteve

em Sura, em Pumbedita sucederam-se sete doutores - haveria de ter favoráveis efeitos no

desenvolvimento e na fixação da tradição recebida. Rabana Ashi tinha, entre outras coisas, uma

grande vantagem: à profundidade dialética própria dos doutores de Pumbedita unia os vastos

conhecimentos tradicionais pelos quais eram célebres os mestres de Sura. Isto conferiu-lhe grande

autoridade e explica o qualificativo de Rabana ("nosso mestre"), com que era designado.

Graças a ele, Sura converteu-se no centro indiscutível da vida religiosa do Judaísmo babilônico,

tornando-se as suas aulas cada vez mais concorridas. Sua inteligência, autoridade e longa

permanência no cargo tornaram possível que realizasse uma obra importante: recolher, recompilar

tudo o que até então se havia elaborado. Cada ano, durante os "meses de reunião", dedicava-se a

expor sucessivamente os tratados da Mishná, ao mesmo tempo que os ia comentando. Durante trinta

anos foi recompilando materiais e, terminados estes, iniciou seu segundo período de atividades, ou

seja, a elaboração mediante a qual havia de completar a obra de R. Judá ha-Nassí, pois a ele se deve

a primeira ordenação do Talmud - alguns tratados foram redigidos em Pumbedita - que iria

crescendo e sendo elaborado até que o encerrou definitivamente Ravina II.

Rabana Ashi não se limitou a levar a cabo um trabalho passivo ou de mera transmissão, mas,

além disso, deduziu numerosas leis, resolveu as questões duvidosas e discutidas ou de conteúdo

obscuro.

7ª geração (425-500):

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Em meados do século V a insegurança chega na Pérsia ao extremo. Ao mesmo tempo, e como

consequência disso, a cultura religiosa vai decaindo a passos gigantescos, pois a maioria dos sábios

se limita a repetir, sem tentar criar.

Entre 455 e 468, tem lugar um curto renascimento: é a época em que Mar, filho de Rabana

Ashi, dirige a escola de Sura e, seguindo as diretrizes de seu pai, prossegue a obra deste. A seguir as

coisas vão se complicando e a situação piora a olhos vistos. No ano de 470, o exilarca Huna Mari e

vários sábios sofrem, pela primeira vez na comarca, o martírio. Quatro anos mais tarde foram

suprimidos os tribunais judaicos e proibidas as assembléias dos "meses de reunião". Começa a

emigração.

Os dois últimos amoraim, ou seja: Ravina II, chefe de Sura de 488 a 499 e R. José, de

Pumbedita, consagram-se, com o auxílio de outros sábios, a terminar o Talmud, fazendo uma

elaboração quase definitiva, até aproximadamente o ano de 500, quando R. José declara o Talmud

encerrado.

A partir de então, como veremos, começa o trabalho do comentário ou, melhor ainda, do super-

comentário, labor iniciado no século VII e que prossegue ainda.

A Redação Do Talmud Babilônico

A Guemará babilônica que vinha sendo transmitida oralmente, não obstante por vezes os

doutores se utilizassem de apontamentos particulares e siglas mnemotécnicas, foi se ordenando

gradualmente, mediante um processo longo e complicado, até que no primeiro quarto do século V

Rabana Ashi, segundo já citamos, realizou uma cuidadosa revisão e coordenação dos tratados,

reelaborada e acrescida continuamente até a morte de Ravina II.

Esta é a opinião mais aceita. Sem embargo, o momento em que teve lugar a redação da

Guemará foi objeto de numerosas teorias (Gräetz, Frankel, Rapoport, Brull, Isaac Hirsch Weiss,

Halevi) que aparecem resumidas em uma obra de Kaplan(*), em que após discutir e rechaçar as teses

de seus antecessores, emite uma nova teoria, segundo a qual a Guemará não foi redigida pelos

amoraim, que apenas fizeram uma breve e concisa formulação, mas que foi obra dos saboraim.

(*) KAPLAN, JULIUS; The redaction os the babylonian Talmud. New York, 1932.

Fonte básica para conhecer a redação da Guemará, é a epístola do gaon Sherirá que a escreveu

como resposta à pergunta formulada pelos sábios de Kairuan, no norte da África, desejosos de

conhecer como e quando fôra redigido o Talmud Babli(*).

(*) Um estudo de Abraham Weiss foi dedicado a analisar Le problème de la rèdaction du Talmud de Babylone par R. Asi à la

lumiére de la Lettre de Serira. Revue des Etudes Juives, CII (1937), págs. 105-114.

Conteúdo Do Talmud Babilônico

O Talmud Babli é editado geralmente em 12 volumes de letra miúda, incluindo em seu interior

o texto da Mishná. Embora comente apenas 361/2 tratados desta (*), tem uma extensão três vezes

maior que a de seu homônimo palestinense, se bem que a Guemará babilônica seja oito vezes maior

que a palestinense.

(*) O Talmud Ierushalmi compreende 39 tratados, embora muitos autores sustentem a opinião, muito discutível, de que comentou todos os tratados da Mishná, porém que somente estes 39 chegaram até nós.

Todas as leis agrárias, que eram válidas somente na Palestina, e as que guardam relação com os

sacrifícios diretamente ligados à existência do Templo, não foram objeto de comentário na

Babilônia. Por essa razão, da primeira ordem da Mishná tem guemará um só tratado, o Berachot

("bendições"), e da sexta ordem apenas meio tratado Nidá. Assim mesmo, tampouco comenta os

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tratados Pirquei Avot, de conteúdo agádico e o Eduiot - "testemunhos", acerca da antiguidade de

algumas halachot, que não eram suscetíveis de comentário. Por outro lado, nas edições o tratado

Shecalim está incluído em sua versão palestinense.

O Talmud Babli é o processo verbal das sessões celebradas nas Academias babilônicas e

tratando-se de algumas atas, não é de estranhar a grande sutileza dialética que salientam os rabis,

pelo que as discussões são amiúde longas e quase sempre bastante complicadas, pois vão passando

sucessivamente de um tema a outro e logo a um terceiro, retornando, sem transição, ao primeiro,

após haverem citado um sem fim de coisas que guardam relação com algum dos temas surgidos

durante a discussão. Em geral a relação não é lógica, mas sim apaixonada, já que, por exemplo, ao

aduzir-se a opinião de determinado doutor sobre o assunto, citam-se ao mesmo tempo todas as

opiniões desse doutor seja qual for o tema a que se refiram. Tudo isso explica perfeitamente por que

a ordenação não seja sistemática e meramente expositiva (como ocorria com a Mishná e com a

Tosefta), mas que os tratados tratem principalmente, mas não exclusivamente, do que indica o seu

título.

Mesmo que à primeira vista possa parecer que se analisam com expressivo detalhe,

prolixamente, certas questões aparentemente bizantinas, não se deve julgar a priori, visto que é

preciso ter em conta o motivo pelo qual são trazidas para confronto. Assim, por exemplo, o fato de

discutir se certos alimentos são bons ou maus, ou se têm tais ou quais características ou propriedades

- tem sua importância já que da conclusão a que se chega no final do debate, poder-se-á determinar

que fórmula de bênção deve ser recitada ou que dízimos devem ser aplicados.

Todos os materiais contidos no Talmud podem classificar-se em dois grandes grupos, embora

em geral esses materiais apareçam entremeados ou amalgamados. Estas duas partes são: a Halachá e

a Agadá, as quais já tivemos oportunidade de mencionar em algumas ocasiões.

A Halachá, que também é conhecida pelo nome de Shematá (que em aramaico significa "a

oral"(*)), é o conjunto de regras de conduta; porém não abrange unicamente estas regras, mas

também as discussões que conduzem à sua formulação, pelo que está redigida em forma discursiva.

(*) Assim é conhecida, inclusive entre os muçulmanos. Cf., por exemplo MASUDI: Kitab al-tanbih. Tradução de B. Carra de Vaux. Paris, 1896, pág. 160.

Porém, apesar da sua importância, uma vez que ainda hoje regula a vida do judeu ortodoxo, a

Halachá tinha um inconveniente para chegar a ser popular: era excessivamente árida e o povo não era

capaz de captar o seu valor. Isto nos explica a grande preferência que, em troca, sentia pelos relatos

anedóticos e lendários que se incluem na Agadá.

A Agadá, literalmente "narração", abrange tudo o que não é Halachá e esta é a definição mais

exata que dela pode se dar, pois sua temática é variadíssima: desde a medicina aos feitos históricos,

desde a arte culinária à moral. Do conjunto da Agadá (que no Talmud Babilônico representa a terça

parte do total(*), é preciso destacar as narrações de conteúdo histórico, das quais nos valemos, junto

com outros textos - principalmente dos midrashim, e examinando-as criticamente - para expor a

sucessiva formação da Mishná e da Guemará.

(*) No palestinense ocupa só a sexta parte.

As edições do Talmud Babli contêm, além da Mishná e da Guemará, os chamados "pequenos

tratados"(*) - por sua reduzida extensão - que figuram depois da quarta ordem. Alguns desses

diminutos tratados remontam à época dos tanaim, se bem que a redação que chegou até nós foi

realizada pelos seus sucessores. Assim ocorre com os tratados Semachot e Avot de R. Natan(**).

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Outros, em troca, são obra dos amoarim. Todos eles estão dispostos como se constassem da Mishná e

da Guemará, o que quer dizer que oferecem um texto e alguns comentários ao mesmo. Estes tratados

não foram incluídos no cânone talmúdico; mas como acontece que por si só, independentemente, têm

escassa importância, e, por outro lado, são produções da mesma época da qual nos ocupamos, são

por isso editados juntamente com o Talmud.

(*) Estes pequenos tratados são: Avot d'Rabi Natan, Soferim, Evel Rabati, Calá, Derech eretz zuta, Perec Shalom, Guerim,

Cutim, Avadim. Outros quatro foram publicados pela primeira vez em 1851, por Kirchheim: Sefer torá, Mezuzá, Tefilim e Tsitsit.

(**) R. Natan foi contemporâneo de Rabi. O minúsculo tratado é uma espécie de "tosefta" ao Pirquei Avot.

Idiomas E Estilo

O Talmud Babli contém textos escritos em três línguas diferentes. Em primeiro lugar, as

passagens bíblicas aparecem citadas textualmente, ou seja, em hebraico clássico ou bíblico. O

segundo idioma é o neo-hebraico, no qual está redigida a Mishná e, além disso, todas as opiniões e

relatos dos tanaim e de alguns dos primeiros amoraim que vêm citados na Guemará. A estas duas

línguas, acrescenta-se a terceira: o aramaico, representado basicamente por dois dialetos: o

ocidental, falado na Palestina, e o oriental, na Babilônia.

Além das citações dos amoraím palestinenses, os quais, naturalmente, falavam o aramaico

ocidental, foram-nos conservados no referido dialeto os textos daqueles doutores que, ou eram

naturais da Palestina e se haviam transferido para a Babilônia, ou eram babilônios que haviam

realizado seus estudos, ou parte deles, na terra dos seus antepassados. A despeito disso, em que pese

o seu número, são menos numerosos que os que nos chegaram em arameu oriental.

O arameu oriental que aparece no Talmud da Babilônia é, em regra, a fala popular, eivada de

refrões; porém às vezes o texto ou a citação procedem de obras literárias. Junto a estas duas

variantes, não se deve esquecer que os rabis são originários de diversas regiões mesopotâmicas, o

que explica a existência de rodeios ou modismos locais; porém, por outro lado, é preciso ter presente

a longa elaboração da obra, que nos esclarece a razão de não haver um dialeto uniforme, já que

aparece em muitos momentos de sua evolução. A tudo isso deve-se acrescentar as palavras gregas,

latinas e persas que invadiram o léxico aramaico.

Esta variedade de idiomas em uma mesma obra cria certo número de dificuldades para a sua

interpretação. Não são, entretanto, as únicas, pois a elas devem-se acrescentar as derivadas do estilo.

O estilo da linguagem talmúdica é extremamente conciso, cortante, com pouca elegância, visto

que afinal se trata de um idioma vivo, falado, reproduzido tal como, ou quase, saía da boca dos

interlocutores. As orações estão unidas por simples justaposição, por uma associação de idéias que a

miúdo é afetiva e não lógica; é muito frequente a omissão do artigo, das proposições e até mesmo

dos verbos; carece por completo de todo o sinal de pontuação, inclusive dos pontos e parágrafos.

As únicas separações que aparecem no corpo do texto são os princípios de capítulo e a

indicação, em abreviatura, do começo de um texto mishnaico ou da guemará. Tudo isso, ademais,

escrito segundo a ortografia das línguas semíticas que, como é sabido, só escrevem as consoantes, ao

passo que as vogais devem ser supridas pelo leitor.

Como já indicamos, todo esse aglomerado de dificuldades torna muito difícil a compreensão do

texto talmúdico, que só se pode dominar ao cabo de longos anos de estudo constante, e mesmo assim

só com a ajuda dos numerosos comentários e inclusive supercomentários (Rashi, "tosafot", etc.) que

são editados, como que para adorná-lo, em redor do texto.

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Manuscritos, Edições E Traduções

Os mais antigos manuscritos do Talmud Babli que chegaram até nós são dois manuscritos

parciais: o de Florença, escrito em 1176-1177 e o de Hamburgo, do ano 1184; porém o mais

completo, embora não total é o Munich 95. Quando se empreender uma edição crítica do Talmud

Babli, será preciso tê-los em conta, assim como muitos outros mais.

Sem embargo, até agora e deixando aparte adições mais ou menos críticas de certos tratados, o

Talmud vem se reproduzindo exatamente do mesmo modo que apareceu na primeira edição, saída da

prensa de Daniel Bomberg, em Veneza, desde 1520 a 1523. Uma vez que as edições modernas

reproduzem exatamente esta edição, sem sequer mudar a paginação, as citações do Talmud Babli são

feitas por fólios, linhas e versos (a e b respectivamente).

São numerosas as traduções parciais do Talmud babilônico; mas só existe uma versão

completa, para o alemão, obra de L. Goldschmidt, publicada em Berlim-Leipzig, La Haya, 1897-

1935.

A autoridade do Talmud

Muitas pessoas fazem uma pergunta aparentemente legítima: se a Torá Oral se originou de

Deus, por que houve a necessidade de ser a mesma contestada, discutida e esclarecida?

Há várias respostas para isso, mas talvez a principal seja a de que a Torá Oral tinha por

objetivo cobrir a infinidade de casos que haveriam de surgir com o decorrer do tempo. É impossível

que qualquer código de lei cubra, explicitamente, qualquer caso ou situação que surja durante os

milênios. Deus deu a Moisés as duas tábuas da lei, mas a aplicação dessas leis em qualquer cenário

possível teria que ser determinada pelos eruditos e juízes da Torá. Pois está escrito: "Quando alguma

coisa te for difícil demais em juízo... virás aos sacerdotes levitas e ao juiz que houver nesses dias, e

inquirirás; e te anunciarão a sentença do juízo" (Deuteronômio 17:8-9). Esses juízes da Torá eram os

membros do Sanhedrin que preservavam e interpretavam a Torá Oral e que mais tarde a codificaram

como a Mishná.

A Torá Escrita também ordena ao povo judeu obedecer o Sanhedrin em tudo o que diz

respeito às leis da Torá, pois que está escrito: "Segundo mandado da lei que te ensinarem e de acordo

com o juízo que te disserem, farás; da sentença que te anunciarem não te desviarás nem para a direita

nem para a esquerda" (Deuteronômio 17:11).

O povo judeu todo aceitou a autoridade do Talmud como sendo a fonte das leis da Torá e,

como tal, jamais poderá ser revogado por autoridade alguma. O Talmud inclui os ensinamentos de

nossos sábios que receberam a Lei Oral das gerações que os antecederam, remontando-se até Moisés.

Está claro que alguém que rejeite o Talmud, está desrespeitando a Torá Oral, pedra fundamental do

judaísmo. Sem o Talmud, seria praticamente impossível entender e cumprir os mandamentos da Torá

Escrita. A mera aceitação da Bíblia Hebraica faria dos judeus um povo em nada diferente da maioria

dos outros povos, que também a aceitaram como sendo a Palavra de Deus.

À luz de tudo isso, não é de surpreender que aqueles que buscaram, desesperadamente,

converter todos os judeus, proibiram o estudo talmúdico. Em 1240, 1264 e 1553 antes da era comum,

a Igreja Católica promulgou decretos que ordenavam a queima das cópias do Talmud. Durante certos

períodos, as autoridades eclesiásticas "corrigiam" o Talmud, apagando passagens que consideravam

ofensivas a seu credo. Finalmente, em 1592, a Igreja proibiu o estudo do Talmud em qualquer de

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suas versões ou edições. Este decreto foi promulgado como reconhecimento de que uma sociedade

que não estude nem siga o Talmud não tem chance real de sobreviver. Ao longo da história, os

inimigos de nosso povo tentaram obliterar o judaísmo tentando destruir o Talmud. O povo judeu só

conseguiu preservá-lo ao preço de inúmeras vidas, mesmo a de alguns de nossos maiores sábios. Por

terem preservado o Talmud, estes salvaram o judaísmo.

Estando o Talmud completo, reuniu-se a esse material uma série de obras denominadas

Midrashim ou "exposições".

A linguagem do Talmud

A linguagem da literatura talmúdica caracteriza-se pela heterogeneidade que decorre dos

gêneros dos escritos nela contidos.

Por um lado, o Talmud trata de Hala'há, que significa encaminhamento. A Hala'há

compreende as leis e os regulamentos, em conjunto com todas as opiniões e discussões a ela

pertinentes.

Ao lado da Hala'há, em que predomina a precisão e a meticulosidade, encontra-se a Agadá,

na qual predomina a linguagem poética. A palavra Agadá significa lenda, narrativa. Ela compõe o

imenso manancial de alegorias, lendas, fábulas e até ditos jocosos dos mestres rabínicos. O próprio

Talmud define a relação entre Hala'há e Agadá: "A Hala'há é o pão, a Agadá é o vinho; e não

podemos viver só de pão..."(Sifre Devarim 317).

Ou em outra passagem: "O estudo da Torá tem 4 faces: uma face é severa: a Bíblia; uma

equilibrada: a Mishná; uma elucidativa: a Guemará; e uma sorridente: a Agadá". (Soferim 16). Ou

ainda, como ilustra o seguinte midrash: "Rabi Abaú e Rabi Hía filho de Aba chegaram certa vez à

mesma cidade. Rabi Hía pronunciou um discurso erudito de Hala'há enquanto que Rabi Abaú fazia

um sermão de Agadá. E o povo, abandonando Rabi Hía, acudiu a ouvir Rabi Abaú. Rabi Hía estava

profundamente desanimado, mas o seu colega disse-lhe: - Ouve esta parábola: dois homens entraram

na mesma cidade; um oferecia à venda pedras preciosas e pérolas; o outro, meras quinquilharias. À

roda de quem se aglomerou o povo? Não foi em redor do vendedor de quinquilharias, que qualquer

um podia comprar?" (Sotá 40 a).

O Midrash é essencialmente uma arte no interesse da religião, mas acima de tudo é arte. As

artes plásticas eram proibidas aos judeus, porque a divindade não deve ser reproduzida em estátuas

ou desenhos, e o desejo mitoplástico era geralmente mal visto. Mas a fantasia criadora do mito e o

desejo mitopoético, banidos e proibidos nos salões oficiais da religião, aqui encontraram sua válvula

de escape. A palavra midrash significa interpretação ou investigação e designa a exegese bíblica

baseada no método de Drash.

Aplicando as midot, isto é, as normas pelas quais se interpreta a Torá para fins e conclusões

práticas, se desenvolveu a exegese no Talmud, por meio de 4 métodos diferentes, tradicionalmente

designados pela expressão mnemônica PaRDeS, isto é, Pshat, Remez, Drash e Sod. A palavra Pardes

(=pomar, jardim) foi empregada, numa conhecida passagem talmúdica, com o sentido de uma

alegoria mística: "4 entraram no pomar (pardes): Ben Azai, Ben Zomá, A'her e Rabi Akiva. Ben Azai

olhou e morreu; Ben Zomá enlouqueceu; A'her destruiu as plantas e, somente Rabi Akiva entrou em

paz e saiu em paz". E por que Rabi Akiva, somente ele "entrou em paz e saiu em paz"? Porque sabia

interpretar, isto é, tinha perícia na arte da exegese.

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Como mencionamos anteriormente, cada letra da palavra Pardes é uma inicial de uma

determinada forma de interpretação bíblica.

O P é Pshat, que simboliza a interpretação simples, literal: de palavra em palavra chega-se a

um sentido geral do texto.

O R é Remez (=alusão), ou seja, a interpretação alegórica, que foi particularmente

desenvolvida pelos filósofos judeus e cristãos. Alegoria significa a duplicidade de significações. Se

há um primeiro significado pleno, na interpretação alegórica existe também um outro, ou mesmo

outros significados. Por exemplo: "Por que criou Deus um só Adão e não muitos de uma vez? Ele o

fez para demonstrar que o homem é um universo inteiro. Ele também quis ensinar à humanidade que

aquele que mata um ser humano é tão culpado como se tivesse destruído o mundo inteiro.

Igualmente, quem salva a vida de um ser humano merece tanto como se tivesse salvo toda a

humanidade. Deus criou um só homem para que alguns homens não se considerassem superiores a

outros e não se orgulhassem de sua linhagem, dizendo:- Sou descendente de um Adão mais distinto

que você. Também o fez para que o pagão não pudesse dizer que, se muitos homens foram criados ao

mesmo tempo, isto constituía prova decisiva que havia mais de um Deus.

Finalmente, Ele o fez para estabelecer Seu próprio poder e glória. Quando um cunhador de

moedas faz seu trabalho, ele usa uma só matriz e todas as suas moedas são iguais. Mas o Rei dos

Reis, abençoado seja Seu Nome, criou toda a humanidade no molde de Adão e, ainda assim, nenhum

homem é idêntico a outro. Eis porque cada pessoa deve respeitar a si mesmo e dizer com dignidade:-

Deus criou o mundo por minha causa. Portanto, que eu não perca a vida eterna por causa de alguma

vã paixão!"(San'hedrim 37a).

Depois vem o D, que é Drash, a interpretação homilética. É o principal método de exposição

interpretativa e consiste de uma análise minuciosa do texto, versículo por versículo, letra por letra,

numa correlação próxima e remota. O midrash não quer apenas interpretar o sentido pleno de um

versículo, mas também pregar, transmitir um ensinamento próprio. Um exemplo: "Rabi Jeremias

dizia: De onde deduzimos que o gentio cumpridor da Lei se equipara ao Sumo Sacerdote? O

versículo diz: "E guardareis os Meus Estatutos e os Meus Juízos, cumprindo os quais, o homem

viverá"(Levítico 18:5). O versículo não diz: Esta é a Torá dos sacerdotes, dos levitas e dos israelitas,

mas declara: "Esta é a Torá do homem"(II Samuel 7:19). O versículo não diz: Abri as portas para que

os sacerdotes, os levitas e os israelitas entrem, mas declara: "Abri as portas para que entre a nação

justa que observa a verdade"(Isaías 26:2). O versículo não diz: Esta é a porta do Eterno pela qual

entrarão os sacerdotes, os levitas e os israelitas, mas declara: "Esta é a porta do Eterno, por ela

entrarão os justos (Salmos 118:20)" (Sifrá, A'harei-mot).

Ou outro, de caráter bem pedagógico: "A minha doutrina pingará como a chuva; as minhas

preleções destilarão como o orvalho (Deuteronômio 32:2). O que significa isto? Se o professor for

incompetente, suas palavras parecerão aos alunos como gotas de um aguaceiro. Mas, se for

competente, seu ensino destilará brandamente como o orvalho. Rabi Hanina bar Idi dizia: Por que se

assemelha a Torá à água? (Isaías 55:1). Para ensinar que, assim como o que tem sede não tem

preguiça de buscar água, o discípulo sequioso de saber não hesita em procurar um mestre". (Taanit 7

a)

Voltando ao Pardes, finalmente há o S, que é Sod, o mistério, a interpretação mística, secreta.

Uma amostra típica do método Sod, nos fornece a interpretação midráshica do Cântico dos Cânticos

como um diálogo amoroso entre Deus e Israel. Os personagens e as ações são símbolos e parábolas,

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e o conjunto todo - uma alegoria sobre a aliança nupcial entre o Eterno e o povo de Israel; a beleza

da noiva simboliza seu amor obediente, e seus adornos significam boas ações. O Midrash Shir

haShirim Rabá é toda uma obra interpretando o Cântico, verso por verso.

Para os antigos rabinos, cada letra, cada palavra, cada sentença do Pentateuco, provinham de

inspiração divina. Cada verso e narrativa, cada lei e incidente, tinham também uma significação

profunda e oculta, de caráter místico, que seria encontrada pelos cálculos, conversões e substituições,

de acordo com as regras da Guematria, do Notarikon e da Temurá, os 3 processos básicos da Cabalá

literal. Diz o Zohar: "Cada palavra tem um sentido sublime e um mistério celestial".

Guematria é a avaliação numérica da palavra. Pelo valor numérico das palavras, descobre-se

seu sentido interno. Exemplos: 1. Em Gênesis 41:10, Shiloh virá (VHNH SHILH) tem por valor

numérico 358 que é o mesmo da palavra Messias (MSHI'H). Então Shiloh virá quer dizer: o Messias

virá; 2. As palavras sod (segredo) e yayn (vinho) têm o mesmo valor numérico (=70), gerando o dito

talmúdico: "Quando o vinho entra, os segredos saem"; 3. A Torá começa pela letra bet,b (Bereshit =

no princípio) e termina com lamed, l (lev = coração), cujo valor numérico é 32, como são 32 os

caminhos da sabedoria, desmembrados em 22 letras + 10 sefirot.

O segundo processo, Notarikon, pode ser de 2 modos: a. derivação - por exemplo: Iodei 'Hen

(=conhecedores da graça divina): 'HeN, sigla para 'Ho'hma Nisteret (=sabedoria oculta); ou b.

acróstico- por exemplo: a palavra (H)aMaR- que significa falar, corresponde a (H)esh = fogo,

Maym= água e Rua'h= ar: os três elementos básicos. Assim, o pensamento, que se assemelha à alma,

tem 3 graus: o sopro, a voz e a própria palavra. No plano material, é formado de três elementos.

No terceiro processo, Temurá (= permuta) as letras de uma palavra são transpostas conforme certas

regras. Um exemplo clássico, do Sefer Ietzirá (Livro da Criação), as letras hebraicas que formam a

palavra ONEG (=prazer), se invertidas formam a palavra NEGA (=pena, dor) - donde, o que produz

prazer, alegria, pode ser a origem de nossa dor. Outro exemplo também importante refere-se a AIN e

ANI. Toda criação somente pode ser criação porque surge do incriado, do Nada. Em Temurá, há

evidência para esta verdade mística fundamental nas próprias letras das palavras "nada" e "eu". Em

hebraico, nada é AIN (que se escreve com alef, nun e yud). Apenas pela inversão das 2 últimas letras

obtemos a palavra ANI = eu. Toda criação, portanto, não passa da inversão das 2 letras que

transformam o AIN, o nada, no ANI, no Eu divino. Dentro da linha do Sod, em cada transformação

da realidade, em cada mudança de forma, ou a cada vez que o estado de uma coisa é alterado, o

abismo do nada é atravessado e torna-se visível durante um instante místico passageiro. Através do

Nada surge a Criação, os atributos divinos. Através desta externação cria-se então o universo todo,

que não é outra coisa senão uma exteriorização do Divino, um Eu bem realizado.

Os próprios mestres do Talmud a ele se referem como o "Mar do Talmud". Podemos

entender esta denominação de 3 formas:

1. em sentido de imensa extensão: o Talmud pode ser definido como um texto semi digitado

que registrou as opiniões de milhares de mestres talmúdicos, numa discussão infindável, de duração

milenar;

2. em sentido de profundidade: as discussões talmúdicas se caracterizam pela sutileza

dialética, pela esgrima da inteligência, pela "dúvida metódica" do tipo cartesiano. Tudo no Talmud é

discussão, e a própria discussão se discute...Eis porque o judaísmo nunca ficou congelado,

adaptando-se sempre às novas circunstâncias;

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3. em sentido de imensa riqueza de conteúdo heterogêneo: Mishná e Guemará, Hala'há e

Agadá, Tosseftá e Beraitá e Midrashim sem fim. Neste "mare nostrum" há de tudo: direito, moral,

religião, filosofia, medicina, astronomia, matemática, folclore, humor, fábulas, parábolas, hipérboles,

lenda. Para ter uma orientação segura nesta vasta enciclopédia, onde tantos gêneros literários

habitam juntos numa coexistência nem sempre "pacífica", para não se afundar neste imenso mar - é

imprescindível saber nadar! Para este fim foram elaborados pelos mestres do Talmud, as normas de

interpretação, descritas anteriormente.

Como disse Paul Couchod, aos primeiros ensaios de leitura, o Talmud geralmente provoca

uma espécie de náusea. Por isso também tem sido comparado comumente ao alto mar. Não se pode

navegar senão depois de haver vencido o enjôo causado pelo oceano. Não obstante, em seguida... não

se pode abandonar mais, assim como o marujo não pode abandonar o mar.

Voltando às nossas questões iniciais, que lugar ocupa o Talmud na Literatura Universal?

Enquanto a Bíblia se incorporou ao patrimônio da cultura universal e se tornou o grande clássico da

humanidade, o Talmud ficou - ao lado da Bíblia - o clássico do povo judeu, tornando-se um livro

"fechado" para o mundo. Israel, o Povo do Livro, abraçou o Talmud como o Livro do Povo.

Pode-se afirmar que o Talmud é a obra mais citada que conhecida na verdade, o "grande

desconhecido" da literatura mundial. A esse respeito é muito elucidativa a pitoresca expressão

empregada por um teólogo na Idade Média, Henricus de Seymensis, um frade capuchinho: "ut narrat

Rabbinus Talmud", pensando que o Talmud era o nome próprio de um rabino; bem como é curioso o

episódio do historiador francês Bossuet, que pediu certa vez ao filósofo alemão Leibnitz para lhe

enviar um exemplar do Talmud, traduzido por "Monsieur Mishná"...

Enquanto a Bíblia - e posteriormente a Cabalá - se transformou em objeto de estudos

profundos e investigações científicas, foi o Talmud, durante muitos séculos, simplesmente repudiado

e relegado. Não é de admirar, pois, que os anti-semitas de todos os tempos foram buscar no Talmud,

mediante grosseiras mistificações, elementos de acusação contra a religião e o povo de Israel.

Somente nos últimos tempos, com a luz da ciência e a tradução fidedigna do Talmud para o alemão,

o inglês e o francês, ele se revelou ao mundo como uma obra profundamente humana e de

inestimável valor universal no estudo de Ética, Direito e Folclore.

Concluindo, uma estória famosa sobre o rabino Hilel: "Um pagão apresentou-se a Shamai e lhe

disse: Converter-me-ei ao judaísmo, se me puderes ensinar toda a Torá enquanto possa me sustentar

sobre um só pé. Shamai o expulsou com a vara que tinha na mão. Quando se apresentou a Hilel, com

a mesma pretensão, ele respondeu: O que não queres que te façam, não faças a teu próximo. Eis toda

a Lei: o resto é comentário. VAI E ESTUDA!"

Bibliografia Berezin, Rifka. Origens do léxico do hebraico moderno. S.Paulo, USP, 1980. / Bin Gorion. As lendas do povo judeu. S.Paulo, Ed. Perspectiva,1980. / Browne, Lewis. A Sabedoria de Israel. R.J., Ed. Biblos, 1963. / Caminhos do Povo Judeu. v.II. org. R. Berezin, FIESP, 1988. / Enciclopédia Judaica.

ed. Cecil Roth. R.J., Ed. Tradição, 1967. / Histórias do povo da Bíblia: relatos do Talmud e do Midrash. Org. Jacob Guinsburg. S.Paulo, Ed.

Perspectiva, 1967. / Iusim, Henrique. Introdução ao Talmud. R.J., Ed. Biblos, 1967. / Keler, Theodore. A essência do Talmud. R.J., Ed.Ouro, 1969. /

Lyra, Alberto. Qabalah. S.Paulo, IBRASA, 1988. / Rehfeld, Walter. Introdução à mística judaica. S.Paulo, Icone Ed., 1986.

A eternidade da Torá Um dos pilares da religião judaica é o fato de a Torá ser eterna e ser a imutável Palavra de

Deus. Na Torá Escrita, Deus proclama a eternidade da Torá e de seus mandamentos: "as coisas

encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos

filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei (Torá) (Deuteronômio 29:28).

Vemos, também, que na nossa Bíblia, em meio às palavras finais dirigidas por Deus a um profeta,

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encontrava-se o seguinte: "Lembrai-vos da lei (Torá) de Moisés, Meu servo, a qual lhe prescrevi em

Horeb (Sinai) para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos" (Malaquias 3:22).

Nenhum sábio ou profeta, muito menos um auto-proclamado Messias, pode modificar ou

anular nem a Torá Escrita nem a Oral. Aquele que alega ser profeta de Deus pode realizar sinais ou

milagres, mas se disser que Deus o enviou para alterar ou revogar a Torá, esta pessoa é um falso

profeta. Na Torá Escrita, Deus nos alerta sobre os falsos profetas que iriam realizar milagres e tentar

desviar o povo judeu dos mandamentos e das tradições de Sua Torá.

Mas, por que motivo Deus permitiria que tais pessoas chegassem a ter o poder de realizar

milagres?(observar aqui a traição ao que é por Deus)

Isto, Deus responde na Torá Escrita. Este será Seu teste para determinar se somos leais a Ele

e à Sua Torá, ou se seremos seduzidos pelos milagres daqueles que virão, falando em nome de Deus,

para tentar anular os mandamentos. (Deuteronômio 41:2-5). O Talmud (Bava Metzia 59b), em uma

de suas mais dramáticas passagens, afirma que nem devemos dar ouvidos às vozes Celestiais, mas

simplesmente seguir a Torá de acordo com o que prescreve a Lei Oral. Mesmo se uma voz dos Céus

por ventura nos mandasse modificar nossa Torá e seus mandamentos, não a deveríamos obedecer.

Deus prometeu que Seu vínculo com o povo judeu – como é ratificado pela Torá e seus

mandamentos – é eterno. Na Era Messiânica, a verdade será revelada e o mundo inteiro irá

reconhecer que a Torá é o verdadeiro ensinamento Divino à humanidade.

Pois foi dito que em determinado momento futuro, todas as nações do mundo alegarão serem

judias. E então, o Santo, Bendito seja, dirá que a única nação que detém o mistério em suas mãos é o

povo judeu. E qual este mistério? A nossa Mishná!

Formaram-se escolas e seitas em torno da Torah e do Talmud:

1.- Halakha (=Marcha) - constituído do desenvolvimento lógico da teoria de Esdras pelas gerações

de sábios;

2.- Haggada (=Narração) - designa as seções da literatura rabínica desprovida do caráter legal (isto é,

livre);

3.- Midraschim: das duas correntes de pensamento anteriores, desenvolvidas nas sinagogas, surge um

novo ramo da literatura rabínica, que tenta reunir esses materiais para estudos privados;

4.- Tenaim (= Os Iniciados);

5.- Amoraim (= discípulos dos Tenaim);

6.- Massoretas e os Chachamim: conservadores cegos dos textos sagrados;

7.- Grandes Cabalistas: Hillel, Maimônides, Rabi-Jehuda-Hakadosch-Hanassi (Judas, o santíssimo e

príncipe, último chefe dos Tenaim, principal redator da Mishna no século II da era cristã.);

8.- Formação das Sociedades Maçônicas, cujo objetivo era a reconstrução do Templo de Salomão,

destruído pela segunda vez no ano 70 d.C. pelos romanos.

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Trechos do livro “Talmud” de Moacir Amâncio

Talmud e o Direito:

O Talmud, fundamental dentro do Judaísmo, teve papel deflagrador em âmbito mais amplo,

apesar de um tanto discreto ou camuflado. Não é como a Bíblia, apropriada com fervor por outras

religiões, mas também se irradiou. Dinâmica inversa – incorporou influências gregas, persas,

egípcias, babilônias e romanas. O jogo de repercussão dos diversos sistemas de ordenação do mundo.

Com os necessários processos de adaptação, desvios tendenciosos, etc. Graças ao troca-troca

enviesado de idéias e costumes, o Direito Canônico se socorreu do Talmud ao tratar de casamentos

que não chegaram a se efetivar, abrindo a perspectiva de anulação legal, exemplifica o prof Zeev

Falk, da Universidade de Tel-aviv, em seu livro O Direito Talmúdico. Por outro lado, o Direito

Talmúdico tomou do Direito Canônico outras instituições, como o culto aos mortos, acrescenta Falk.

O intercâmbio se acentuou com o tempo, embora sem afetar a estrutura do monumento

literário, através de decisões rabínicas e das exigências ditadas pelas condições reais, da hora. Ns

países da Diáspora, os judeus obedecem às leis civis locais – admitidas pelo Talmud. Casamento, um

dos casos. Em Israel só existe casamento religioso, ou seja, talmúdico. Inúmeros setores da vida

israelense funcionam conforme o regulamento ancestral. Os restaurantes obedecem às determinações

da Cashrut (normas dietéticas rituais) estão submetidos ao talmud, etc.

No rádio, rabinos falam constantemente sobre parábolas, ditados e outras lições talmúdicas. Há,

inclusive, consultas radiofônicas: em vez de o ouvinte ligar para dizer o nome certo da música e

ganhar um brinde, pergunta como deve agir numa determinada situação, de acordo com a halachah,

o procedimento estabelecido pelo Talmud, a lei. Tudo isso, mais estudos em nível universitário,

religioso e filosófico, formam um corpo gigantesco de interpretações, teologia e jurisprudência

vibrante.

O Talmud e a Revelação:

Muitas pessoas acreditam que o Talmud, livro religioso, tenha alguma coisa mágica. Isso iria

contra o próprio judaísmo. Há narrativas de fatos maravilhosos, entretanto se alguém procurar no

Talmud alguma panacéia para resolver num piparote os problemas da humanidade ou do indivíduo,

entrará por uma porta e sairá pela outra de mãos vazias. A não ser que o estudo, mesmo bastante

superficial, tenha provocado efeito mínimo, quando estão esse alguém chegará à outra porta com

diversos problemas a resolver. Característica única do Talmud como livro religioso – em vez de

soluções, novas perguntas. O princípio está na revelação. O que se segue porém é infindável

processo de raciocínio ao qual sempre se dará prosseguimento.

A propósito, há famosa controvérsia, citada com frequência pelos rabinos, lembrada pelo

professor Falk, entre os sábios Eliézer e Iehoshua. Nela se observa muito bem o uso do alegórico em

função do racional: o rabino Eliézer pediu que os muros da academia testemunhassem em seu favor.

Iehoshua disse que os muros não deviam intervir. Conta-se que os muros apenas se inclinaram,

respeitando Eliézer, sem tombar, reverência a Iehoshua. As águas do ribeiro interromperam o fluxo

quando Eliézer pediu o testemunho delas. Iehoshua refutou ao bradar desconfiança em provas

fantásticas.

A coisa prosseguiu até Eliézer apelar para a última instância em seu favor. O rabino se dirigiu a

Deus. Para espanto geral e satisfação de Eliézer, os Céus confirmaram o ponto de vista dele. O

imbatível Iehoshua sentenciou do fundo de sua humanidade que conhecer, ensinar, já era algo

delegado aos filhos de Adão e Eva.

A partir daí o Talmud descartou provas sobrenaturais.

O Talmud e os pensadores:

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Segundo Levinas (de acordo com o pensador israelense Ieshaiahu Leibovitz, Levinas é um

israelita voltado para a filosofia, não um filósofo ocidental de origem judaica) o Judaísmo é religião

de gente grande: (...) “se em filosofia o versículo não pode substituir a prova, o Deus do versículo,

apesar de todas as metáforas antropomórficas do texto, pode permanecer a medida do Espírito para o

filósofo”.

Segundo dr Atlan, biofísico, a tradição talmúdica é uma tradição de pesquisa que viça a

conhecer a estrutura do universo, as relações do homem com seu meio ambiente. (...) e não lhe

agradaria identificar a tradição talmúdica com a vertente espiritualista: “Nela encontramos o que os

textos talmúdicos chamam de divindade, mas com uma função absolutamente precisa, diferente da

que imagina a consciência religiosa habitual. Enquanto tradição de pesquisa, ela não é contraditória

com a minha postura científica. É apenas diferente”.

Segundo Jacob Neusner, rabino e professor norte americano, nesses milhares de páginas

encontra-se o plano de sobrevivência judaica em condições incontáveis vezes catastróficas. (...)

Como reflexo da obsessiva interrogação diante dos mais simples gestos cotidianos, teríamos a

‘capacidade dos judeus, por tantos séculos, de se adaptar a uma situação” em que a força política

estava além de seu alcance: “Porque eles sabiam que idéias podem ser poderosas; criticismo pode

constituir uma grande força na sociedade; e, no final a espada, uma vez embainhada, nada pode

mudar, mas uma idéias, uma vez liberada, pode persistir ao ponto de levar as pessoas a mover o

mundo”. Não admira, diante disso, que com a eclosão da Hascalah, o movimento iluminista judaico

liderado por Mendelsohn no século XVIII, muitos judeus dominaram com incrível rapidez diversos

campos do pensamento europeu. Durante o período em que permaneceram circunscritos à cultura

exclusivamente “judaica” assimilaram sofisticadas maneiras de conhecimento num repositório

antiquíssimo e vasto. Quem estuda o Talmud e “O Guia dos Perplexos”, por exemplo, não terá

dificuldade de estudar filosofia nos moldes europeus de pensamento, como notou Leibovitz. A

presença grega, sobretudo em Maimônides, o Aristóteles judeu, estabeleceria a ponte.

Sobre o Talmud Jerusalém: encerrado antes do outro, na Terra Santa, de concepção mais

simples, sintética e um tanto apagado pela pujança da outra obra. O Talmud babilônico é, com

frequência, comparado ao mar. Procede. Na sequência, das frases que são o sumário das discussões

rabínicas nas academias antigas, as idéias disparam livremente e para todo o lado. Juntam-se a outras

às vezes sem nexo aparente, são deixadas de lado para depois serem retomadas em outros pontos.

PASSAGEM DO TALMUD DE JERUSALÉM PARA O TALMUD DA BABILÔNIA:

Com a morte de Iehudah haNassi ( o Rabi, cerca de 217 da era comum) alguns sábios

continuaram a coletar leis esparsas, reunidas porém em outra obra, Tossefa, Soma, Apêndice,

Acréscimo. Dentro da tradição oral, as leis da Mishnah passaram a ser explicadas pelas academias

por especialistas, os amoraim. Houve também memoriosos excepcionais que se encarregavam de

recitar as leis nas academias – as frases são construídas de modo a sugerir a declamação ou a

cantilena. Nesse tempo começou a ocorrer algo decisivo para a criação do Talmud Babilônio. O

centro judaico da Palestina romana iniciava o processo de decadência, enquanto a Babilônia, sob o

domínio persa e em fase de tranquilidade no que se refere aos judeus, preparava-se para se tornar o

grande centro irradiador do Judaísmo para o futuro. (...) na mesma região onde Abraão recebeu a

primeira teshuvah (resposta, arrependimento, remissão, volta) assim aceitou a primeira e definitiva

mitsvah – preceito. Aí, conforme a Torah, ocorreu a revelação do Deus único, que iria mudar o rumo

de grande parte da humanidade.

Nesse primeiro exílio foram lançadas as bases para a vida judaica numa direção universal. Sob

governo tolerante os judeus se organizaram em comunidade.

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A Edição do Talmud:

Rav Ashi (335/427) é considerado como aquele que definiu a edição do Talmud, ou seja, o

resultado daquelas discussões travadas por mais de 200 anos num jargão hebraico e aramaico, o

estudo em torna da Mishnah, das leis codificadas por Iehudah haNassi. A esse “estudo” chamamos

Guemarah, que significa tanto estudo como complemento. Aí está o debate dos mestres e discípulos

através dos séculos e que se cruzam num vasto jogo de perguntas, respostas, suposições, parábolas e

novas perguntas deixadas no ar. O “processo” é o da livre associação. Já se comparou o texto

talmúdico ao fluxo da consciência usado pelos romancistas do século XX, inclusive com o uso

mínimo ou nenhum de pontuação e ausência de maiúsculas, inexistentes na escrita adotada pelos

judeus. Só que há uma diferença decisiva e fascinante: O Talmud registra a fala coletiva em plena

ebulição ao redor do Torah, por sua vez expressão da Divindade, num sopro de integração cósmica.

O trabalho de edição chega termina no fim dos anos 400 da era comum, por Ravinah II. O

resultado está contido em 5.894 páginas in folio.

Dissidentes:

Alguém não concordou. Aconteceu no século VII e de modo significativo do ponto de vista

histórico. O grande dissidente chamava-se Anan ben David e de veria, pela tradição da

primogenitura, herdar o posto de exilarca na Babilônia já muçulmana. No entanto, os sábios exigiram

que seu irmão ocupasse o cargo. Acusavam Anan de desvios religiosos. A rixa se complicou e Anan

acabou na cadeia, onde encontrou o teólogo muçulmano, o “herege” Abu Hanifa, que lhe deu

conselhos sobre o comportamento a tomar diante do tribunal do califa. Em julgamento argumentou

que seriam duas religiões (por diferentes pontos de vista) e foi solto, dando início ao movimento que

se apegou à letra da lei, daí o nome da seita, Karaísmo (keriah, leitura, chamado), a qual se espalhou

bastante, provocando reação dos sábios talmúdicos. Reduziram-se a algumas comunidades

espalhadas, ainda existindo uma comunidade em Israel.

Término:

O Talmud nunca chegou a ser completado. Por um motivo ou outro, não há guemarah sobre

determinados capítulos da Mishnah, eventualmente pela falta de interesse entre os estudiosos

babilônios, distantes destes assuntos em pauta. (...) Permanece obra aberta num sentido muito

especial: cada geração a completará, isto é, descobrirá novos rumos, idem os mesmos rumos. Um

monumento literário coletivo que só se efetiva no seu exercício também coletivo.

A primeira impressão:

A chegada da imprensa evidentemente impulsionaria a disseminação do Talmud. Há

informações de que esse livro teria sido impresso pela primeira vez na Espanha, mas não se sabe se a

publicação abrangia todo o conjunto, pois em 1942 iniciava-se a expulsão dos judeus, quem levava

um livro religioso consigo sofria pena de morte. Só em 1550 o papa Leão X autorizou a edição e o

artesão que produziu o modelo definitivo do Talmud foi o cristão chamado Daniel Bomberg, que

trocara Antuérpia por Veneza.

A configuração das páginas:

No meio da página (ver o modelo), como um pólo irradiador, vê-se a mishnah e o

correspondente guemarah. Ao redor estão os comentários, notas de outros estudiosos. Há diferença

de tipos de imprensa para cada texto. Os comentários de Rashi e as de Tossafot são impressos em

caracteres usados pelos judeus sefaraditas (hispano-portugueses) como cursivo e, por causa dessa

aplicação, passaram a ser conhecidos como ctav Rashi, ou seja, escrita de Rashi.

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Ataques:

Houve diversas censuras da Igreja. Ora alguém dizia que determinada palavra se referia na

verdade aos cristãos, a bendita palavra era substituída arbitrariamente. Ora descobriam alusão a

Maria em algum trecho e por aí vai. No ano de 1246 o papa Gregório determinou a queima do

Talmud em Paris. Isso se repetiria, enquanto os judeus tentavam driblar a vigilância e a paranóia

católica envolvida em complicadas manobras políticas, várias vezes estimuladas por apóstatas

conversos ao cristianismo. Mas aí entraríamos em outro terreno de estudo, o do comportamento e das

ideologias. Chegaríamos à relação entre a queima do “Guia dos Perplexos” na França, provocada por

judeus contrários ao racionalismo de Maimônides e a subsequente destruição do Talmud.

Talmud e Maimônides:

Porque estudar o Talmud, tão complicado, se toda a lei judaica está confinada na Mishneh

Torah, de Maimônides, e no Shulchan Aruch, a Mesa Posta, de Iossef Caro? A resposta foi

determinante: Olhe, imagine uma partida de futebol. Na Mishneh Torah você tem o resultado da

partida. No Talmud você tem a partida toda.

Do livro Sacred Writings, a guide to the literature of religions, de Gunter Lanczkowski:

O Talmud atinge uma posição única quanto ao trabalho de manter os judeus unidos na Diáspora

e por ter mantido a sua uniformidade. Reconhecer a sua função histórica como uma ligação entre os

judeus morando espalhados em terras estrangeiras é, naturalmente, de maior importância na

avaliação do Talmud, do que as variadas visões concernentes à sua autoridade como documento

religioso. Não é de surpreender que o judaísmo liberal tem o Talmud acima de todos os seus

documentos religiosos, separando as partes que têm validade universal das que meramente

expressam opiniões pessoais. O judaísmo ortodoxo, por outro lado, sempre admitiu a validade

absoluta do Talmud como um todo, e colocou-o mesmo a par do Velho Testamento; esta avaliação é

baseada na autoridade de uma tradição oral que se diz existe como lei não escrita desde os tempos do

Velho testamento, ao longo dos textos bíblicos que foram transmitidos por escrito. Fora do judaísmo

o Talmud tem sido avaliado de variadas formas, nos tempos da perseguição dos judeus ele foi

atacado com brutalidade. Durante a opressão dos judeus por São Luis (1226-70), o Talmud foi

olhado como base da resistência judaica ao Cristianismo. Desta forma, o dominicano Nicholas Donin

de la Rochele formalmente fez uma acusação contra o Talmud para o papa Gregório IX (1227-41)

que estabeleceu uma comissão para o exame que resultou numa queima pública das cópias do

Talmud. Com o papa Inocêncio IV (1243-54) uma nova investigação, na qual tomou parte Alberto

Magno, e foi feita por sugestão dos rabinos de Lyons e também resultou na destruição de muitas

cópias do Talmud. No ano de 1415 uma bula do papa Benedito XIII (1394-1424) ordenou outra

queima pública do Talmud. Os judeus conseguiram uma vitória parcial em 1507, quando

conseguiram permissão para que se imprimisse o Talmud ela primeira vez. Estas primeiras edições

são extremamente valiosas.

A publicação do Talmud não tornou os trabalhos tolerados universalmente. Perseguições aos

judeus continuaram acontecendo de mão em mão, com a proscrição do Talmud. Um notável

acontecimento na história do Talmud foi a carta de salvo conduto para o Talmud e para os escritos

religiosos judeus em geral que deixou o rei Sigismundo Augusto, da Polônia, de 24 de julho de 1568.

Um dia, o imperador disse ao rabino Joshua b. Hananiah:

- Eu quero ver o seu Deus.

Ele respondeu:

- Você não pode vê-lo.

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- Mas quero vê-lo, de fato.

Ele colocou o Imperador olhando para o sol durante o solstício de verão e disse a ele:

- Olhe para isso.

- Não posso, respondeu o Imperador.

- Se para o sol, que é apenas um dos ministros que atuam para o Deus Único, bendito seja Ele,

você não pode olhar, como pode presumir que poderá ver a Sua Divina Presença?

Em sua antropologia, o Talmud ensina um dualismo entre alma e corpo, a alma sendo a origem

divina, através de sua alma o homem pertence ao mundo do espírito.

“Como o Deus Único, bendito seja Ele, preenche todo o Universo, assim a alma preenche o

corpo. Assim como o Deus Único, bendito seja Ele, vê mas não é visto, assim a alma vê mas não é

vista. Assim como o Deus único, bendito seja Ele, alimenta todo o mundo, assim a alma alimenta

todo o corpo. Assim como o Deus Único, bendito seja Ele, é puro, assim a alma é pura. Assim como

o Deus Único, bendito seja Ele, está em nos mais íntimos lugares, assim também a alma está”.

[Talmud babilônico]