Maconha Causa Paranoia

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  • 7/29/2019 Maconha Causa Paranoia

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    Maconha leva jovem parania19 de agosto de 2007

    um rapaz de 22 anos. H tempos descoloriu os cabelos e os pintou com uma tinta na cor amarela-aguada. Os fios

    esto ressecados e, por isso, armam-se facilmente. Diz que acabou de retornar da Europa mas, na realidade, no deixoupor um minuto sequer o sobrado marrom localizado no bairro Cambuci, em So Paulo, onde funciona um ambulatriovoltado a usurios de drogas. Ao falar da viagem imaginria, sorri um riso amorfo. Este moo est 'doente' por terfumado maconha.

    "As pessoas pensam que maconha no faz mal algum", inicia o psiclogo Nelson Ito, de So Paulo, especializado notratamento de dependentes qumicos. "Mas, na verdade, ela terrvel. Ela lesa a memria de uma tal forma que podelevar parania", acrescenta.

    Os dois anos em que Ito trabalha na rea transformaram-no em um profundo conhecedor do antes, do durante e dodepois na vida dos dependentes. Sabe que os traficantes j possuem sistema de 'delivery', e que a descriminalizaodas drogas no a melhor sada. Indica que um dos caminhos possveis para a redeno o apoio de uma clnica ou deum ambulatrio. Anuncia que a preveno a chave de tudo.

    Tanto que hoje o psiclogo faz palestras em escolas dentro do programa 'Jovem Pan Contra as Drogas', da rdio JovemPan AM. Ele explica aos adolescentes que o caminho das pedras comea com o cigarro ou com a bebida dentro de casa.Na companhia dos amigos possvel se aproximar da maconha. Quando ela no garante o mesmo 'barato' de antes, ojeito ir para a cocana. No desespero, comum apelar a pedras de crack. "A droga no tem retorno. Ela progressivae fatal."

    No existe uma estatstica que mostre quantas pessoas conseguem se desvencilhar das drogas. Alguns param por umtempo e recaem. Outros so assassinados. Tem aqueles que se suicidam. E h aqueles que enlouquecem, como omenino loiro, cujo destino uma incgnita, porque a famlia no o quer mais em casa e a sociedade o despreza.

    JJ Regional - O que a droga simboliza para o dependente?Nelson Ito- A pessoa entra no mundo das drogas porque procura um alvio imediato. Logo no primeiro consumo, amemria eufrica guarda o prazer proporcionado pela substncia ingerida. Depois, em toda situao que houver ansiedade,vai buscar alvio atravs da memria eufrica.

    JJ - E vai obter o mesmo prazer?Ito - A pessoa vai procurar por aquele prazer a vida inteira. O problema que depois da primeira vez a sensao no vaise repetir nunca mais e, por isso, uma das conseqncias aumentar as doses. Ao mesmo tempo, o organismodesenvolve tolerncia s substncias. A no tem jeito, no tem fim.

    JJ - O senso comum prega que nada disso acontece com quem fuma maconha. Isto est certo?Ito - No, de maneira alguma. A maconha provoca uma leso cerebral que pode levar parania. comum notar que osusurios de maconha fumam olhando por baixo da fresta da porta ou pela janela, preocupados, para ver se no chegaalgum. Eles acham que esto sendo perseguidos. Presenciei um caso em que o cara dormia com o p da cama em

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    cima do prprio peito para se defender caso ele fosse atacado noite. algo assustador, e mesmo assim as pessoas aindatm a impresso que maconha no causa mal.

    JJ- Aps quanto tempo de uso se enquadra agum como viciado?Ito - Tem trs tipos de situaes. Existem as pessoas que usam a droga e saem fora em seguida, sem acontecer nada.

    Um outro grupo faz uso espordico e, por diversas razes, no corre o risco de ficar dependente. E tem os que seafundam.

    JJ - O que necessrio para ser considerado dependente?Ito - Tem uma srie de componentes. A pessoa geralmente sofre de um nvel de frustrao muito alto, o que geraansiedade. Os dependentes tambm apresentam o quadro de fixao oral.

    JJ - O que fixao oral?

    Ito - Toda parte do corpo localizada na diviso entre a mucosa e a pele proporciona prazer. assim com a vagina, o nus,o mamilo e a boca. Quando a me alimenta o beb no seio, a criana fica erotizada. Tanto que a gente fala que o bebs sente fome uma vez na vida - na segunda vez em que ele chorar, no ser de fome. Ele deseja o ato, o conforto, ocalor da me, e quer ser erotizado tambm, por incrvel que parea.

    JJ - Qual a relao com a maconha?Ito - A fixao oral apresenta um quadro progressivo na vida da pessoa. Primeiro temo seio da me, depois a chupeta, a bala, o cigarro, a bebida alcolica, a maconha, e a por diante. Por isso, uma das pr-condies para chegar dependncia a fixao oral. JJ - Mas essa progresso acontece com todos?Ito - Osdependentes que tm essa fixao oral esto na escala do desenvolvimento psicosocial na menor escala possvel. Sopessoas bem regredidas emocionalmente. JJ-Qual o caminho a trilhar aps a maconha?

    Ito- Quando ela no causa o mesmo prazer, a pessoa coloca cocana dentro do cigarro da maconha. Depois acha queisso no suficiente e parte para a cocana pura. E o ltimo estgio o crack, o fim da linha.

    JJ- E as famlias?Ito- Geralmente a famlia percebe que o filho um dependente depois de 2 a 3 anos de uso de drogas. Os pais s notamquando comea a sumir dinheiro de casa ou quando o jovem passa a demonstrar algumas reaes estranhas, entre elas a'larica', que a fome descontrolada provocada pela maconha. Tem tambm famlia que nega, pois no quer ter um filho'drogado, maconheiro'. Nessa negao os pais no fazem nada, e quando resolvem se mobilizar, j tarde demais.

    JJ - Qual passa a ser a nova rotina da famlia?Ito- Teve um caso em que o pai comprou o mesmo vdeo-cassete vrias vezes. Na primeira vez em que o filho estavasaindo com o aparelho de casa, com o objetivo de vender e adquirir drogas, o pai perguntou o quanto ele ia ganhar. Ojovem disse R$ 30 e o pai entregou o dinheiro. Na segunda vez fez a mesma coisa. Na terceira no deu certo, o filhosaiu de casa antes do pai perceber. Teve uma menina que roubou a panela de presso com feijo dentro e a famlia ficousem o almoo. Outros pegam o dinheiro que encontram pela frente. Tem cara que vai comprar droga na bocada, deixa otnis como pagamento e volta descalo. Algumas famlias dormem trancadas, com medo do que o filho adito possafazer.

    JJ - aconselhvel comprar o vdeo-cassete do filho?Ito- No, pois assim os familiares colaboram com o vcio. Tem pai que deixa o filho fumar dentro de casa porque achaque melhor que na rua. Essa iniciativa ruim, porque na verdade a famlia deveria procurar uma ajuda especializada

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    para ver o que fazer com o dependente. Sendo conivente, no ajuda.

    JJ - Se a famlia no entrega o dinheiro, nem busca ajuda especializada, o que pode acontecer?Ito- A comea o que chamamos de 'correria'. Nesse momento, alguns jovens apelam a pequenos furtos. Por exemplo, eleesconde um xampu do supermercado embaixo da camisa e vende na bocada por R$ 10, uma quantia que pode

    representar um pacotinho de cocana ou uma poro de maconha para fazer 2 ou 3 cigarros. Teve um caso em que umjovem comeou a assaltar nibus. Isso a gente chama de 'correria de alto risco'. Tem muita encomenda tambm. possvelque algum pea um carro e o adito tope roub-lo. Ele aluga uma arma, pois tm pessoas que vivem desses aluguis,faz o roubo, entrega a encomenda, recebe o dinheiro e compra a droga.

    JJ - Como o trfico se adequa a essa realidade dos 'sem-dinheiro'?Ito- Nas bocadas tem tabela de valores. Blusa de moletom d 'tantas' pedras. Um tnis novo d duas ou trs. Eassim por diante. Os traficantes tm at delivery. Os caras vo entregar em casa, com motoboy.

    JJ - possvel a recuperao?Ito- O adito tem trs destinos possveis. Um deles a clnica. O outro a cadeia. O ltimo o cemitrio. Um artistafazia esttuas no Brasil e vendia fora do pas. Ele era usurio de crack. Foi internado, passou pela abstinncia, masquando voltou para a rua teve uma recada. A famlia decidiu lev-lo para uma clnica psiquitrica e ele se enforcou.

    JJ - O que seria um 'final feliz'? Ito- Ns buscamos a estabilizao, mas sem perder de vista o lema: 's por hoje'. O adito tem que matar um leo por dia.

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