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ACTA TECNOLÓGICA v.11, nº 1, 2016 33 RESUMO Essa investigação tem como objetivo caracterizar as comunidades de macroalgas em um manguezal de São Luís-Maranhão através da composição e distribuição sazonal das espé- cies em pneumatóforos do mangue, assim foram traçados três transectos de linha, equi- distantes cinco metros, no manguezal da Praia de Boa Viagem, São José de Ribamar, MA (02°34’55.99’’S; 44°05’35.70”O) no período de 31/10/2012 a 27/05/2013. Cada transecto foi subdividido em quatro pontos, delimitando três subáreas. Em cada subárea foram coletados, através de sorteio aleatório, três pneumatóforos, devidamente acondicionados e levados para o laboratório. Foram registrados a biomassa e a frequência de ocorrência de cada espécie presente na área. Foram registrados o nível de oxigênio (O2) dissolvido na água, a temperatura da água, bem como os valores de pH e salinidade. Foram iden- tificadas 9 espécies de macroalgas, sendo seis rodófitas (Bostrychia moritziana (Sond. ex Kütz.) J. Agardh; Bostrychia radicans (Mont.) Mont. in Orbigny; Bostrychia binderi Harvey; Caloglossa leprieurii (Mont.) G. Martens, Catenella caespitosa (Wither.) L.M. Irvine in Parke & Dixon e Murrayella periclados (C. Agardh) F. Schmitz) e três clorófitas (Cladophoropsis membranacea (C. Agardh) BØrgesen; Rhizoclonium africanum Kütz. e Rhizoclonium riparium (Roth) Kütz. ex Harv). B. radicans registrou os maiores fatores de frequência e biomassa enquanto que o gênero Rhizoclonium, a pesar de elevada frequência, registrou os menores valores de biomassa. Não foi observado qualquer padrão de distribuição horizontal das macroalgas ao longo do manguezal. Não houve variação significativa nos valores registra- dos de salinidade, pH e temperatura. Apesar de a área estudada ser considerada um rema- nescente de manguezal, a comunidade de macroalgas assemelhou-se às comunidades de macroalgas de outros manguezais brasileiros. Termos para indexação: “Bostrychietum”, mangue, algas. Macroalgas aderidas em pneumatóforos de avicennia germinans (l.) Stearn na praia de Boa Viagem, São José de Ribamar - Maranhão Khey Albert de Azevedo Fontes 1 ; Aycon Tinoco Lisboa 2 ; Rones dos Santos Castro 3 ; 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA - Campus São Luís-Maracanã. Av. dos Curiós, s/n, Vila Esperança, São Luís - MA, CEP: 65095-460. E-mail: [email protected]; 2 Graduado em Licenciatura em Ciências Agrárias, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA, São Luís - MA; 3 Graduado em Licenciatura em Ciências Agrárias, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA, São Luís - MA;

Macroalgas aderidas em pneumatóforos de avicennia ......macroalgas ao longo do manguezal. Não houve variação significativa nos valores registra - dos de salinidade, pH e temperatura

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ACTA TECNOLÓGICA v.11, nº 1, 2016

33

RESUMOEssa investigação tem como objetivo caracterizar as comunidades de macroalgas em um

manguezal de São Luís-Maranhão através da composição e distribuição sazonal das espé-

cies em pneumatóforos do mangue, assim foram traçados três transectos de linha, equi-

distantes cinco metros, no manguezal da Praia de Boa Viagem, São José de Ribamar, MA

(02°34’55.99’’S; 44°05’35.70”O) no período de 31/10/2012 a 27/05/2013. Cada transecto

foi subdividido em quatro pontos, delimitando três subáreas. Em cada subárea foram

coletados, através de sorteio aleatório, três pneumatóforos, devidamente acondicionados

e levados para o laboratório. Foram registrados a biomassa e a frequência de ocorrência

de cada espécie presente na área. Foram registrados o nível de oxigênio (O2) dissolvido

na água, a temperatura da água, bem como os valores de pH e salinidade. Foram iden-

tificadas 9 espécies de macroalgas, sendo seis rodófitas (Bostrychia moritziana (Sond. ex

Kütz.) J. Agardh; Bostrychia radicans (Mont.) Mont. in Orbigny; Bostrychia binderi Harvey;

Caloglossa leprieurii (Mont.) G. Martens, Catenella caespitosa (Wither.) L.M. Irvine in Parke

& Dixon e Murrayella periclados (C. Agardh) F. Schmitz) e três clorófitas (Cladophoropsis

membranacea (C. Agardh) BØrgesen; Rhizoclonium africanum Kütz. e Rhizoclonium riparium

(Roth) Kütz. ex Harv). B. radicans registrou os maiores fatores de frequência e biomassa

enquanto que o gênero Rhizoclonium, a pesar de elevada frequência, registrou os menores

valores de biomassa. Não foi observado qualquer padrão de distribuição horizontal das

macroalgas ao longo do manguezal. Não houve variação significativa nos valores registra-

dos de salinidade, pH e temperatura. Apesar de a área estudada ser considerada um rema-

nescente de manguezal, a comunidade de macroalgas assemelhou-se às comunidades de

macroalgas de outros manguezais brasileiros.

Termos para indexação: “Bostrychietum”, mangue, algas.

Macroalgas aderidas em pneumatóforos de avicennia germinans (l.) Stearn na praia de Boa Viagem, São José de Ribamar - MaranhãoKhey Albert de Azevedo Fontes1;

Aycon Tinoco Lisboa2;

Rones dos Santos Castro3;

1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA - Campus São Luís-Maracanã. Av. dos Curiós, s/n, Vila Esperança, São Luís - MA, CEP: 65095-460. E-mail: [email protected];

2 Graduado em Licenciatura em Ciências Agrárias, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA, São Luís - MA;

3 Graduado em Licenciatura em Ciências Agrárias, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA, São Luís - MA;

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Macroalgae community attached to pneumatophores of avicennia germinans (l.) Stearn from Boa Viagem Beach, São José de Ribamar, Maranhão

ABSTRACTIn order to characterize the macroalgal communities in a mangrove from São Luís, Ma-

ranhão, through the composition and seasonal distribution of the species attached to

pneumatophores mangrove trees three line transects, equidistant five meters were applied

in Praia de Boa Viagem, São José de Ribamar, MA (02 ° 34’55.99 “S, 44 ° 05’35.70” W) from

31/10/2012 to 05/27/2013. Each transect was subdivided at four points delimiting three

subareas. Three pneumatophores were randomly collected In each area, properly secured

and taken to the Lab. Biomass and the frequency of occurrence of each species present in

the area were recorded. We recorded the level of oxygen (O2) dissolved in the water, the

water temperature as well as pH and salinity. 9 species of macroalgae were identified, five

rodophytes (Bostrychia moritziana (Sond. ex Kütz) J. Agardh.; Bostrychia radicans (Mont.)

Mont. in Orbigny; Bostrychia binderi Harvey; Caloglossa leprieurii (Mont.) G. Martens,

Catenella caespitosa (Wither.) LM Irvine in Parke & Dixon and Murrayella periclados (C.

Agardh) F. Schmitz) and three chlorophytes (Cladophoropsis membranacea (C. Agardh) Bør-

gesen; Rhizoclonium africanum Kütz and Rhizoclonium riparium (Roth) Kütz ex Harv ). B.

radicans recorded the highest frequency factors and biomass while gender Rhizoclonium,

despite high frequency, recorded the lowest biomass values. No horizontal distribution

pattern in the macroalgae community were observed along the mangrove area. There was

no significant variation in the recorded values of salinity, pH and temperature. Although

the study area be considered a remnant of mangrove, the macroalgae community resem-

bled the macroalgae communities of other Brazilian mangroves.

Terms for indexation: “Bostrychietum”, mangrove, seaweed.

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1 INTRODUÇÃOO manguezal caracteriza-se como um sis-

tema ecológico tropical restrito a estreitas

faixas em planícies costeiras de pequena de-

clividade. A maré alta cobre grandes áreas

de solo e determina o aparecimento de ex-

tensas florestas que penetram a grandes ex-

tensões no continente (WALSH, 1974). Um

dos grandes problemas que vem ocorrendo

no ecossistema manguezal é a atividade an-

trópica que pode afetar o funcionamento e

diminuir a diversidade dos mesmos, resul-

tando em desequilíbrios ecológicos de conse-

quências imprevisíveis, e na extinção de es-

pécies essenciais à sua manutenção (MELLO

e AZEVEDO, 1998). No solo, a diminuição

da diversidade microbiana pode resultar em

diminuição da ciclagem de nutrientes e cres-

cimento de plantas (REBER, 1992).

Gêneros de macroalgas como Bostrychia

Mont. têm sido extensivamente estudados

em termos de suas fisiologias (KARSTEN e

KIRST, 1989), solutos compatíveis como

Dulcitol, Sorbitol e Manitol (KARSTEN et

al. 1992), como também suas biogeografias

(ZUCCARELLO e WEST 1995, 1997), além

de taxas fotossintéticas, biomassa e cober-

tura expressivas (CUNHA e COSTA, 2002;

CUNHA e DUARTE, 2002), padrões de co-

lonização, variação espaço- temporal e pa-

drão de distribuição (ESTON et al. 1992;

YOKOYA et al. 1999). Estas informações re-

velam aspectos importantes para o entendi-

mento da dinâmica da variação encontrada

nestas comunidades, apontando caminhos

para o manejo e conservação da biodiversi-

dade existente no ecossistema manguezal.

O grande interesse sobre a composição e dis-

tribuição destas comunidades algais deve-se

ao fato de que seus componentes apresen-

tam grande importância ecológica, pois,

dentre outras são consideradas como bons

produtores de oxigênio, abrigo para muitos

animais do manguezal, além de serem in-

dicadores de águas limpas (BURKHOLDER

e ALMODOVAR, 1974; PEREIRA, 2000; MI-

RANDA e PEREIRA, 1989; FORTES, 1992).

Fontes et al. (2007) indicam, ainda, que

estas associações de macroalgas se caracte-

rizam em uma ferramenta de grande utili-

dade para o monitoramento ambiental de

áreas de manguezal, uma vez que a análise

de parâmetros próprios como a variação da

composição e da biomassa das macroalgas

pode estimar os impactos sofridos por este

ecossistema. Estudos ecológicos mostram-se

de suma importância, pois a definição de pa-

drões de composição, distribuição e frequên-

cia das macroalgas nos manguezais auxiliam

na compreensão da variação da biomassa e

cobertura de suas espécies constituintes pro-

movendo o conhecimento da variação dos

organismos dentro do referido ecossistema.

A grande representatividade do mangue-

zal no Estado do Maranhão impele os pes-

quisadores a avançar na busca do conhe-

cimento das comunidades de seres vivos

deste ecossistema. Este sistema ecológico

essencialmente tropical (WALSH, 1974) co-

bre no referido Estado, aproximadamente,

4.952.960km² ou mais ou menos 49% do

total da área brasileira (HERZ, 1991). Em

toda esta área, o “Bostrychietum”, impor-

tantes associações de macroalgas aderidas

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em pneumatóforos, rizóforos e troncos das árvores dos gêneros Avicennia L., Rhizophora

L. e Laguncularia Gaertn (POST, 1936), apresenta, quase sempre, as espécies consideradas

restritas aos manguezais. Gêneros como Bostrychia Mont., Caloglossa (Harv.) G. Martens e

Catenella Grev. são frequentemente mencionados na literatura como predominantes na

composição das comunidades algáceas nas regiões de manguezal analisadas (CUTRIM e

AZEVEDO, 2005: FERREIRA CORREIA, 1983).

No intuito de conhecer a composição e distribuição algáceas de áreas de manguezal ocor-

rentes na Ilha de São Luís, este trabalho teve como objetivo realizar o levantamento florís-

tico das espécies de macroalgas ocorrentes na Praia de Boa Viagem, São José de Ribamar,

MA, bem como registrar valores de biomassa e frequência ao longo dos períodos de coletas.

2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Área de estudo

O manguezal da Praia de Boa Viagem, São José de Ribamar, MA (02°34’55.99’’S;

44°05’35.70”O) localiza-se a nordeste da Ilha de São Luís, na Baía de S. José. Caracteriza-

se por ser um remanescente de manguezal de fácil acesso, sem impactos evidentes e com

bosque composto pelas espécies de angiospermas Avicennia germinans (L.) Steam e Rhi-

zophora mangle (L.). Os substratos disponíveis (pneumatóforos e troncos) apresentaram

evidente presença de macroalgas (Fig. 1).

Fig. 1: Mapa da área de estudos. Praia de Boa Viagem, São José de Ribamar, MA (seta).

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2.2 Etapa de Campo

Foram traçados três transectos de linha,

senquenciados na distância de 1,5 metros

entre eles, baseados em Davey e Woelker-

ling (1985) em coletas mensais no período

de outubro de 2012 a abril de 2013 (exce-

tuando janeiro de 2013). Cada transecto foi

subdividido em quatro pontos equidistan-

tes, delimitando nove subáreas (subáreas

I, II e III, próximas à orla; subáreas IV, V

e VI região intermediária, e subáreas VII,

VIII e IX, próximas à terra firme). Em cada

subárea foram coletados, através de sorteio

aleatório, três pneumatóforos. Os pneuma-

tóforos coletados foram devidamente acon-

dicionados em sacos plásticos e levados

para o laboratório, onde foram mantidos

congelados para análise posterior.

2.3 Etapa de laboratório

No laboratório, as macroalgas foram retira-

das dos pneumatóforos com o auxílio de lâ-

mina de aço, foram devidamente separadas

e identificadas com o auxílio de estereomi-

croscópio, microscópio ótico e literatura

especializada. Para a identificação taxonô-

mica e posição da taxa foi considerada a re-

visão de Wynne (2011).

A frequência das macroalgas nos pneuma-

tóforos foi obtida através da razão entre o

número de pneumatóforos em que a ma-

croalga ocorreu e o número total de pneu-

matóforos analisados multiplicado por 100,

conforme Fontes et al. (2007).

Para facilitar o entendimento da frequên-

cia de ocorrência, foi adotada uma tabela

de valores seguintes:

>75% = espécie muito frequente (MF)

75 |–– 50% = espécie frequente (F)

50 |–– 25% = espécie pouco frequente (PF)

≤ 25% = espécie rara (R)

Imediatamente após a identificação e análi-

se da frequência de ocorrência de cada ma-

croalga, o material algal foi levado à estufa

a uma temperatura de ± 75ºC para que se

promovesse a total desidratação até que se

alcançasse o peso constante, corresponden-

te ao valor de sua biomassa.

As espécies de Rhizoclonium Kutz., quando

presentes, foram identificadas em nível es-

pecífico, contudo, sua biomassa foi calcu-

lada em nível genérico visto que a triagem

a fim de se obter a biomassa separada não

é considerada viável (FONTES et al. 2007).

O mesmo procedimento foi adotado para o

complexo B. radicans/ B. moritziana.

2.4 Fatores abióticos

Em cada tempo, com a maré alta, o nível de

oxigênio (O2) dissolvido na água, a tempe-

ratura da água, bem como os valores de pH

foram registrados in loco através de oxíme-

tro. A salinidade foi medida in loco através

de salinômetro.

2.5 Análise estatística

Para observar a significância da variação

dos parâmetros bióticos e abióticos, bem

como a relação de influência entre os mes-

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mos e na estrutura da comunidade de macroalgas, todos os valores das variáveis registra-

dos ao longo do experimento foram submetidos ao teste de análise de variância (ANOVA),

através do software BIOESTAT 5.0.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃOForam analisados 162 pneumatóforos. Foram identificadas nove espécies de macroalgas, sendo seis Rhodophyta: Bostrychia moritziana (Sond. ex Kütz.) J. Agardh; Bostrychia radi-cans (Mont.) Mont. in Orbigny; Bostrychia binderi Harvey; Caloglossa leprieurii (Mont.) G. Martens; Catenella caespitosa (Wither.) L.M. Irvine in Parke & Dixon) e Murrayella pericla-dos (C. Agardh) F. Schmitz, e três Chlorophyta: Cladophoropsis membranacea (C. Agardh) BØrgesen; Rhizoclonium africanum Kütz. e Rhizoclonium riparium (Roth) Kütz. ex Harv). Apesar de a área estudada ser considerada um remanescente de manguezal, a comunidade de macroalgas assemelhou-se às comunidades de macroalgas de outros manguezais bra-sileiros (CUNHA e COSTA, 2002); (CUTRIM e AZEVEDO, 2005); (FONTES, et al. 2007); (YOKOYA et al. 1999) (Tabela 1).

Tabela 1: Composição e frequência de macroalgas aderidas em troncos e pneumatóforos

no manguezal da Praia de Boa Viagem, S. José de Ribamar, MA. Presença (x); ausência (-).

Relação das espécies T1 T2 T3 T4 T5 T6 Frequência

Bostrychia moritziana (Sond. ex Kütz.) J. Agardh x x x x x x 75% (F)

Bostrychia radicans (Mont.) Mont. in Orbigny x x x x x x 100%(MF)

Bostrychia binderi Harvey - - - - - x 10% (R)

Caloglossa leprieurii (Mont.) G. Martens x x x x x x 75% (F)

Catenella caespitosa (Wither.) L.M. Irvine in Parke & Dixon

x x x x x x 25% (R)

Cladophoropsis membranacea (C. Agardh) Bør-gesen

x x x x x x 50% (PF)

Murrayella periclados (C. Agardh) F. Schmitz x x x x x x 100% (MF)

Rhizoclonium africanum Kütz. x x x x x x 75%(F)

Rhizoclonium riparium (Roth) Kütz. ex Harv x x x x x x 75%(F)

B. radicans registrou os maiores valores de frequência e biomassa enquanto que o gênero

Rhizoclonium spp., apesar de elevada frequência, registrou os menores valores de biomas-

sa. Não houve variação significativa da biomassa total das macroalgas quando comparada

a elevação observada nos valores individuais específicos. Contudo, a expressividade eleva-

da da biomassa de B. radicans em relação à biomassa de outras espécies ficou evidente com

a aplicação do teste estatístico (p> 0.05). A elevada expressão observada para B. radicans,

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tanto em frequência quanto em biomassa, sugere que esta macroalga é um componente

importante nos manguezais do Maranhão, mesmo em áreas levemente descaracterizadas

como a Praia de Boa Viagem (Fig. 2; 3). Valores significativos em biomassa e cobertura tem

sido registrados para B. radicans tanto quando fixadas em substrato artificial (ESTON et

al., 1992), quanto quando analisados pneumatóforos e troncos de diversas áreas de man-

guezal (YOKOYA et al., 1999; CUTRIM et al., 2004).

B. binderi registrou baixo valor de frequência de ocorrência sendo considerada uma espé-

cie rara fixada em pneumatóforos. Seu valor registrado de biomassa não foi considerado

neste estudo por ser observado apenas no tempo T6. Entretanto, por ser uma espécie

pertencente ao gênero Bostrychia e por frequentemente apresentar elevadas frequência e

biomassa em rizóforos em outras regiões de manguezal do Estado (CUTRIM et al, 2004;

CUTRIM e AZEVEDO, 2005), consideramos esta espécie um importante componente da

comunidade de macrolagas da praia de Boa Viagem (Tab. 1). M. periclados registrou ele-

vado valor de frequência de ocorrência (Tab. 1) muito embora tenha registrado sempre

baixos valores de biomassa durante o período de coletas (Fig. 2). Sua representatividade

na comunidade de macroalga da praia de Boa Viagem também foi considerada, pois esta

espécie tem sido frequentemente citada como componente importante do “Bostrychie-

tum” em diversas áreas de manguezal (OLIVEIRA, 1984).

A baixa relação frequência X biomassa apresentada pelo gênero Rhizoclonium spp, apesar

de apresentar a ocorrência de duas espécies, provavelmente deve-se ao hábito geral da alga

(filamentoso) e também ao seu povoamento seccional observado em campo. Este baixo

nível de relação já foi observado em outras áreas de manguezais no Brasil (FONTES et al.

2007); (MIRANDA e PEREIRA, 1989); e no Mundo (BURKHOLDER e ALMODOVAR, 1974);

(DAVEY e WOELKERLING, 1985).

Fig. 2: Variação temporal da biomassa algácea total das espécies aderidas nos pneumatóforos do manguezal da Praia de Boa Viagem, S. José de Ribamar, MA. Rhizoclonium spp. obteve valores inferiores a 0,001 g/m-2. 1,2 e 3(coletas mensais realizadas entre outubro e dezembro de 2012, respectivamente). 4, 5 e 6 (coletas mensais realizadas entre fevereiro e abril de 2013, respectivamente)

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Não foi observado um padrão horizontal de distribuição algácea no manguezal da praia

de Boa Viagem, pois as espécies ocorrentes se distribuem de maneira equacional ao longo

da área. Este fato pode ser comprovado quando observamos todas as espécies de macro-

algas englobadas nos três transectos delineados para as coletas bem como seus valores

equivalentes de biomassa registrados ao longo dos tempos (Fig. 3). A ausência de um

padrão de distribuição horizontal na área pode estar relacionada com as condições relati-

vamente constantes do ambiente (Fig. 4), além da pequena extensão deste remanescente

de manguezal, pois padrões horizontais de distribuição têm sido observados geralmente

em manguezais que apresentam margem extensa (FONTES et al, 2007; LAURSEN e KING,

2000) ou áreas que apresentem uma variação significativa de fatores como a salinidade

(MELVILLE et al, 2005; YOKOYA et al, 1999).

Fig. 3: Biomassa total por espécie (%) das macroalgas ocorrentes nos transectos (I, orla; II, intermediário; III terra firme) aplicados na Praia de Boa Viagem, São José de Ribamar, MA.

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Não houve variação significativa nos valores registrados de salinidade, oxigênio dissol-

vido, pH e temperatura. Os valores relativamente constantes podem indicar que a área

ainda apresenta caraterísticas de um manguezal típico (HERZ, 1991) (Fig. 4). Apesar destes

parâmetros serem imprescindíveis no desenvolvimento das comunidades de macroalgas,

na área de estudo eles não se mostraram determinantes. Provavelmente, outros fatores

como a disponibilidade de nutrientes (MELVILLE et al., 2005), dessecação (CUTRIM e

AZEVEDO, 2005) ou resistência à abrasão de partículas (PHILLIPS et al., 1996) podem

estar afetando de maneira mais decisiva a composição das comunidades macroalgais na

Praia de Boa Viagem, bem como a ocorrência de M. periclados apenas nos pneumatóforos

mais próximos a terra firme (Fig. 3).

Fig. 4: Valores de Salinidade, Oxigênio Dissolvido, pH e Temperatura da água circundante na área de coleta das macroalgas.

4 CONCLUSÃOApesar de ser considerado um remanescente de manguezal, a Praia de Boa Viagem, São

José de Ribamar apresentou uma flora macroalgal muito semelhante à outras áreas tradi-

cionamente consideradas como manguezal.

O gênero é muito representativo na Praia de Boa Viagem, caracterizando a comuni-

dade algácea da área como uma autêntica representação do “Bostrychietum” de mangue-

zal.

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Não foi observado padrão de distribuição horizontal das macroalgas na área pois as espé-

cies se distribuíram de forma equitativa ao longo do manguezal.

Os valores dos fatores abióticos registrados apresentaram certa regularidade e parecem

não influenciar de forma determinante a composição e a frequência das comunidades das

macroalgas na área estudada.

AGRADECIMENTOSOs autores agradecem à FAPEMA - Fundação de Amparo a Pesquisa e ao Desenvolvimen-

to Cientifico e Tecnológico do Maranhão pela bolsa concedida e ao Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA - Campus São Luís - Maracanã pelo

apoio no desenvolvimento da abordagem.

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