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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 1 MAIO/JUNHO 2012

MAIO/JUNHO 2012 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOMAIO/JUNHO 2012 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3 EDITORIAL ÍNDICE NOBRE E ... Centro Oeste para a gestão 2012/2013, em abril

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 1MAIO/JUNHO 2012

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2 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO MAIO/JUNHO 2012

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3MAIO/JUNHO 2012

EDITORIAL

ÍNDICE

NOBRE EINDISPENSÁVELQUALIDADE E ABUNDÂNCIA LEVAMÁGUAS SUBTERRÂNEAS AOS MAISDIVERSOS SETORES, DA INDÚSTRIAAO ABASTECIMENTO PÚBLICO

1414141414

MEIO AMBIENTEIDADE DA ÁGUA PODE SER CALCULADA POR MÉ-TODOS HIDROGEOLÓGICOS, MAS BRASIL AINDATEM PESQUISA INCIPIENTE PARA DATAÇÃO

2020202020

CA

PA

A maioria dos países do mundo, independente do ní-vel de desenvolvimento sócio, econômico e cultural,utilizam a água subterrânea para suprir suas necessi-dades. Como mostra a matéria de capa desta edição,os usos vão desde atividades como irrigação, produ-ção de energia, turismo, indústria até o abastecimen-to público. Sendo este dependente das águas subter-râneas, inclusive em cidades que majoritariamente sãoabastecidas por águas superficiais. Em outras, a de-pendência é total seja por estarem localizadas sobreaquíferos, seja pela escassez hídrica. Falando em águapara consumo, a matéria de meio ambiente traz infor-mações curiosas e pouco divulgadas sobre a idadedas águas. Procedimentos avançados de pesquisa naárea conseguem identificar a datação das águas sub-terrâneas, permitindo assim, saber um pouco maissobre sua exploração, quantidade e qualidade. Umapreocupação constante, sobretudo em relação ao con-sumo, a qualidade da água exige constantes

monitoramentos e análises, especialmente em casosde perfuração de poços em áreas contaminadas. Esteé o tema de produção de água, que aborda os cuida-dos e procedimentos técnicos necessários para a re-alização deste tipo de perfuração. Confira ainda o ar-tigo da seção Perfuração, que fala sobre uso de tubu-lações flexíveis para poços, e conheça um pouco maissobre modelos matemáticos para avaliação de águassubterrâneas, em Conexão Internacional. E lembre-se, o XVII Congresso de Águas Subterrâneas, em Bo-nito (MS), está chegando. Ainda dá tempo de partici-par da Fenágua e do próprio evento, que promete serum dos melhores já realizados.

Um abraço e até a próxima edição,

Humberto José Tavares Rabelo AlbuquerquePresidente da ABAS

Marlene Simarelli, editora

PRODUÇÃO DE ÁGUASOLO CONTAMINADO, POÇOS CONTAMINADOS?UMA EQUAÇÃO QUE MERECE TODA A ATENÇÃONA ABERTURA DE POÇOS

1010101010

4 Agenda

5 Núcleos Regionais

6 Hidronotícias

8 Abas Informa

24 Conexão Internacional

26 Perfuração

28 Remediação

30 Opinião

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS,SUPRINDO NECESSIDADES

Page 4: MAIO/JUNHO 2012 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOMAIO/JUNHO 2012 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3 EDITORIAL ÍNDICE NOBRE E ... Centro Oeste para a gestão 2012/2013, em abril

4 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO MAIO/JUNHO 2012

AGENDA

EXPEDIENTE

EVENTOS PROMOVIDOS PELA ABASSEMINÁRIO INTERNACIONAL RECARGAARTIFICIAL DE AQUÍFEROSData: 11 a 15 de junho de 2012Local: Auditório da Escola de Engenharia da UFMG- Bloco de LigaçãoPampulha - Belo Horizonte - MGInformações: ABAS Núcleo MGTelefone: (31) 3309-8000Email: [email protected]

22º SALT WATER INTRUSION MEETINGData: 17 a 21 de junho de 2012Local: Armação dos Búzios – RJInformações: Gerson CardosoTelefone: (21) 2220-2097Email: [email protected]ção: ABAS - Núcleo Rio de Janeiro

XVII CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUASSUBTERRÂNEAS – XVIII ENCONTRO NACIONALDE PERFURADORES DE POÇOS E VII FEIRANACIONAL DE ÁGUASData: 23 a 26 de outubro de 2012Local: Centro de Convenções de Bonito – MSInformações: Acqua ConsultoriaTelefone: (11) 3868-0726Email: [email protected]ção: ABAS – Associação Brasileirade Águas Subterrâneas

EVENTOS APOIADOS PELA ABASFEIRA NACIONAL DE SANEAMENTO E MEIOAMBIENTE (FENASAN)Data: 06 a 08 de agosto de 2012Local: Expo Center Norte – Pavilhão Branco, VilaGuilherme, São Paulo – SPInformações: Acqua ConsultoriaTelefone: (11) 3868-0726Email: [email protected]: www.fenasan.com.br

46º CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIAData: 30 de setembro a 05 de outubro de 2012Local: Santos - SPInformações: Acqua ConsultoriaTelefone: (11) 3868-0726Email: [email protected]

MUDANÇAS:A revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo está alteran-do os meses bimestrais de suas edições a fim de ajustarde forma prática e eficiente o calendário anual de suaspublicações. A mudança não alterará as numerações deedições nem o atual cronograma de trabalho.

DIRETORIAPresidente: Humberto José T. R. de Albuquerque1º Vice-Presidente: Mário Fracalossi Junior2º Vice-Presidente: Amin KatbehSecretária Geral: Maria Antonieta Alcântara MourãoSecretário Executivo: Everton de OliveiraTesoureiro: Álvaro Magalhães Junior

CONSELHO DELIBERATIVOHelena Magalhães Porto Lira, Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues,Francisco de Assis M. De Abreu, Carlos Augusto de Azevedo, Carlos AlvinHeine, Francis Priscila Vargas Hager, Mário Kondo

CONSELHEIROS VITALÍCIOS/EX-PRESIDENTESAldo da Cunha Rebouças (in memorian), Antonio Tarcisio de Las Casas,Arnaldo Correa Ribeiro, Carlos Eduardo Q. Giampá, Ernani Francisco daRosa Filho, Euclydes Cavallari (in memorian), Everton de Oliveira, EvertonLuiz da Costa Souza, Itabaraci Nazareno Cavalcante, João Carlos Simankede Souza, Joel Felipe Soares, Marcílio Tavares Nicolau, Uriel Duarte, WaldirDuarte Costa

CONSELHO FISCALTitulares: Arnoldo Giardin, João Manoel Filho, Egmont CapucciSuplentes: Nédio C. Pinheiro, Carlos A. Martins, Carlos José B. de Aguiar

NÚCLEOS ABAS – DIRETORESBahia: Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues - [email protected] -(71) 9611-7222Ceará: Francisco Said Gonçalves - [email protected] - (85) 3218-1557Centro-Oeste: Nédio Carlos Pinheiro - [email protected] - (65) 9222-7374Minas Gerais: Carlos Alberto de Freitas - [email protected] -(31) 3250-1657 / (31) 3309-8000Paraná: Jurandir Boz Filho - [email protected] - (41) 3213-4744Pernambuco: Waldir Duarte Costa Filho - [email protected] - (81) 9997.8848Rio de Janeiro: Gerson Cardoso da Silva Junior - [email protected] -(21) 2598-9481 / (21) 2590-8091Santa Catarina: Heloisa Helena Leal Gonçalves [email protected] - (47) 3341-7821/2103-5000Rio Grande do Sul: Mario Wrege – [email protected] - (51) 3259-7642

CONSELHO EDITORIALEverton de Oliveira, Gustavo Alves da Silva e Rodrigo Cordeiro

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVELMarlene Simarelli (Mtb 13.593)

DIREÇÃO E PRODUÇÃO EDITORIALArtCom Assessoria de Comunicação – Campinas/SP(19) 3237-2099 - [email protected]

REDAÇÃOIsabella Monteiro, Larissa Straci e Marlene Simarelli

COLABORADORESCarlos Eduardo Q. Giampá e Everton de Oliveira

SECRETARIA E [email protected] - (11) 3868-0723

COMERCIALIZAÇÃO DE ANÚNCIOSSandra Neves e Bruno Amadeu - [email protected]

IMPRESSÃO E ACABAMENTOGráfica Mundo

CIRCULAÇÃOA revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo é distribuída gratuitamente pelaAssociação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS) a profissionais ligados ao setor.Distribuição: nacional e internacionalTiragem: 5 mil exemplares

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem,necessariamente, a opinião da ABAS.Para a reprodução total ou parcial de artigos técnicos e de opinião énecessário solicitar autorização prévia dos autores. É permitida areprodução das demais matérias publicadas neste veículo, desde quecitados os autores, a fonte e a data da edição.

Associação Brasileira de Águas Subterrâneas

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 5MAIO/JUNHO 2012

NÚCLEOS REGIONAIS

DEZEMBRO / JANEIRO 2012

ABAS- RS APOIA SEMINÁRIOSOBRE ÁREAS CONTAMINADASNos dias 3 e 4 de setembro a Associação Brasileira deEngenharia Sanitária e Ambiental (ABES) promove, emparceria com a ABAS Núcleo Rio Grande do Sul e a As-sociação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), o Se-minário Sul Brasileiro de Gerenciamento de Áreas Con-taminadas. O evento, que acontece em Porto Alegre (RS),visa reunir órgãos ambientais estaduais e municipais dosul do país, além de gestores dos diferentes setores daindústria, pesquisadores e estudantes. Mais informaçõese inscrições através do site: www.abes-rs.org.br/areascontaminadas

ABAS- RJ PROMOVE EVENTOSA ABAS Núcleo Rio de Janeiro promoveu em comemo-ração ao Dia Mundial da Água (22 de março) uma sériede palestras e um curso, em parceria com a Universida-de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidadedo Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

O curso Interpretação de análises físico-químicas eisotópicas de águas subterrâneas foi ministrado pelapesquisadora e professora Maria Catarina Rosalino daSilva, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lis-boa, Portugal, tendo sido exclusivo para associados donúcleo. A jornada comemorativa ao Dia Mundial da Água

continuou na UFRJ, com palestras para calouros docurso de Geologia e profissionais do setor de águassubterrâneas. Os temas foram “Técnicas inovadoras noestudo de águas subterrâneas no Estado do Rio de Ja-neiro” ministrada pelo Prof. Gerson Cardoso da SilvaJunior, presidente da ABAS-RJ, e “Utilização de técni-cas isotópicas em hidrogeologia no Sistema AquíferoMonforte – Alter do Chão, em Portugal”, ministrada porMaria Catarina Rosalino da Silva.

NÚCLEOS ABAS ELEGEMNOVA DIRETORIAA chapa “Renovar” assumiu a diretoria da ABAS NúcleoCentro Oeste para a gestão 2012/2013, em abril. Forameleitos como presidente, Nédio Carlos Pinheiro; 1º vice-presidente, José Roberto Ribeiro; 2º vice-presidente,Renato Blat Migliorini; secretária geral, Débora Perozzoe tesoureira, Lilian Fátima Moura Apoitia.A ABAS Núcleo Bahia/Sergipe também está com novadiretoria 2012/2013, que está composta pelo presiden-te Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues; 1º vice-presi-dente, Godofredo Correio Lima Júnior; 2º vice-presi-dente, Cristovaldo Bispo dos Santos; secretário geral,Marco Antônio Lima Peixinho; secretária executiva,Rosa Alencar Santana de Almeida e tesoureira, IaraBrandão de Oliveira.

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6 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO MAIO/JUNHO 2012

HIDRONOTÍCIAS

A gestão dos serviços de água deve ser pública ou pri-vada? A questão foi debatida intensamente durante o 6ºFórum Mundial da Água. Enquanto os operadores pri-vados dizem que sem dinheiro não se tem água, os ope-radores públicos afirmam que a privatização dos servi-ços terminou por excluir várias comunidades que nãopodem pagar os preços pedidos.

Gérard Payen, presidente da Aquafed, federação deoperadores privados, garante que os problemas enfren-tados por operadores públicos e privados são semelhan-tes, mas que os custos precisam ser sustentados pelastarifas. Ou não se tem água.

Marie-Hélène Lauron, coordenadora da rede Águapara as Pessoas, disse que viveu uma experiência nasFilipinas, em 2007, de gestão privada de água, e obser-

ÁGUA PÚBLICAOU PRIVADA?

vou que compromissos firmados 10 anos antes não fo-ram cumpridos. “Os preços dos serviços subiram entre45% e 80%, o que excluiu comunidades inteiras do aces-so à água potável”.

A meio caminho entre o público e o privado, o senegalêsMamadou Dia, diretor do Serviço de Águas em seu país,entregou ao setor privado a gestão da água. “O modo degestão da água e do saneamento é apenas uma ferra-menta entre várias para atingir as metas estabelecidaspelo Estado. O principal objetivo é satisfazer os usuários,garantir acesso seguro aos serviços e assegurar tarifassociais para as populações”, disse Mamadou. O acessoaos serviços de água no Senegal aumentou 120% entre1995 e 2011, devido à cooperação conjunta entre atorespúblicos e privados.

Desde quinta-feira, 22 de março, Dia Mundial da Água,o Brasil é um dos poucos países do mundo a saber dia-riamente o volume de água que entra pelas suas frontei-ras na Amazônia e o volume que sai para outros paísespelas principais bacias do país, além do total que desá-gua no Oceano Atlântico.

Com isso, o país terá um maior controle da disponibili-dade hídrica de suas bacias hidrográficas e um melhoracompanhamento dos eventos hidrológicos críticos,como cheias e secas, em bacias compartilhadas com

ANA MEDE ÁGUA QUE ENTRA E SAI DO PAÍSoutros países. O Brasil produz 12% da água doce super-ficial do planeta e por aqui passa 18% de toda a águadoce de superfície da Terra. O país detém um considerá-vel volume de água doce superficial, e a distribuição deágua potável abrange uma vasta área geográfica, mas háuma desigualdade na distribuição do recurso.

O Balanço Hídrico Superficial do Brasil tem uma páginaprópria disponível desde o dia 22 no site da Agência Naci-onal de Águas (ANA) http://balancohidrico.ana.gov.br

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos do Esta-do de São Paulo (CRH) procedeu às eleições para aescolha de conselheiros para a Gestão 2.012 – 2.015entre as entidades da Sociedade Civil, que represen-tam 1/3 do mesmo. Na Categoria VI, que compreen-

Fonte: ANA

ELEIÇÕES NO CRHde as associações especializadas em RecursosHídricos, foram eleitas a Associação Brasileira deÁguas Subterrâneas (ABAS); a Associação Brasilei-ra de Geologia e Ambiental (ABGE) e a AssociaçãoBrasileira de Engenharia Sanitária (ABES).

Carlos Eduardo Quaglia Giampá,Diretor da DH Perfuração de Poços

A seção Hidronotícias/Recordar é Viver é de responsabilidade do autor.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 7MAIO/JUNHO 2012

HIDRONOTÍCIAS

RECORDAR É VIVER

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8 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO MAIO/JUNHO 2012

ABAS INFORMA

ABAS lança instrumento paragestão de recursos hídricosSob o título, Fontes Legais e Seguras de Abastecimen-to, está pronto o manual da ABAS que será “um instru-mento para esclarecimento de gestão de recursos hídricosno aspecto legal”, segundo seu idealizador e organizador,o geólogo Cláudio Oliveira, diretor da Hidrogeo, de PortoAlegre (RS). Elaborado durante dois anos, o manual temcomo objetivo combater os ataques de setores contrári-os à utilização da água captada por poços de casas, pré-dios e estabelecimentos comerciais e industriais.

EDUARDO PINHEIRO PADILHAO geólogo Eduardo Pinheiro Padilha faleceu em São Luis (MA), dia 5 de maio de 2012. Como sócio da ABAS, estevepresente em várias promoções da instituição, como em 1997 e 1998, quando prestou um grande apoio para arealização dos seminários “Água Subterrânea: Um Patrimônio Ameaçado - O que vem de baixo nos atinge.”

Depois, incansávelmente, esteve sempre participando de vários encontros por todo o Brasil, em defesa dascausas ambientais. Eduardo nos deixou um exemplo de compromisso, retidão de caráter e solidariedade.

Definido tema central do XVII CABAS

Extintos Núcleos Regionaisdo Pará e do AmazonasO Conselho Deliberativo da ABAS, em reunião realizadaem 10 de abril, em São Paulo (SP), aprovou a extinção dosnúcleos regionais do Pará e do Amazonas. Sem eleiçõesdesde 2006, a ABAS Núcleo Pará teve suas atividades pa-ralisadas em função da falta de liderança local, emboratenha um quadro associativo adimplente cumprindo asnormas estatutárias. Ao contrário da ABAS Núcleo Ama-zonas, que sofre há anos pela baixa adesão – atualmentetem apenas cinco sócios. A medida já entrou em vigor.

“Água Subterrânea para o desenvolvimento sustentável”é o tema definido para o XVII Congresso Brasileiro deÁguas Subterrâneas, que ocorre em outubro, em Bonito(MS). O temário do evento também está decidido e podeser visto no site www.abas.org. “O agronegócio é o gran-de usuário das águas subterrâneas na região Centro Oes-te. Levar este usuário a participar do evento é o grandedesafio que temos para os próximos meses”, salienta opresidente da ABAS, Humberto Alburquerque.

A Feira Nacional de Água (FENÁGUA) está com todos osestandes do Pavilhão comercializados. Rodrigo Cordeiro, daAcqua Consultoria, empresa responsável pela organizaçãodo evento, afirma que “em função da demanda apresentada,outro espaço será aberto para que as instituições públicas eprivadas possam estar presentes”. Já confirmaram sua parti-cipação, as seguintes empresas:Analytical Technology, Ar

Brasil, Bombas Leão, Brasmaquinas, C.R.I. Bombas, CaimexComércio Exterior, Chicago Pneumatic, Clean Environment,Corplab, Dancor, Drill Center, Drillmine, Ebara, Geosol, FranklinElectric, Keller Ag Suiça, Mojave, Prominas, Sampla do Bra-sil, Schulumberger, Sidermetal, Sidrasul e System Mud.

O evento também sofreu alterações no escopo de suaorganização. Desde março, a ABAS Núcleo Centro Oestedeixou a liderança, que foi assumida pela ABAS sede.Para isto, foram constituídas duas comissões: a Científi-ca, a ser conduzida pelo professor da Universidade Es-tadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP),Everton de Oliveira, e secretário executivo da associa-ção; e a Organizadora, que terá o presidente HumbertoAlbuquerque à frente do processo. Os trabalhos técni-cos podem ser enviados até o dia 17 de junho de 2012através do site: www.abas.org/xviicongresso

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ABAS participa da 9ª ReuniãoOrdinária da Seção BrasilO presidente da ABAS, Humberto Albuquerque partici-pou da 9ª Reunião Ordinária da Seção Brasil do Conse-lho Mundial da Água, realizada na sala ONU do Bancodo Brasil, em Brasília-DF, no último dia 26 de abril.

A reunião contou com a presença de 48 representan-tes de 31 instituições, entre membros já filiados ao Con-selho, instituições convidadas em processo de filiaçãoe instituições brasileiras que atuam em rede com orga-nismos internacionais. O objetivo do encontro foi aformalização da criação da Seção Brasil do ConselhoMundial da Água.

No 6º Fórum Mundial da Água realizado em Marse-lha, França, no último mês de março, a participação doBrasil por meio da Seção Brasil foi bastante expressivae contou com a participação de 38 instituições mem-bros da Seção e 67 instituições brasileiras representa-das. Cerca de 15 mil visitantes estiveram no PavilhãoBrasil, estrutura de 345 m² que reuniu 211 brasileirosparticipantes, entre eles representantes da sociedadecivil, Senadores da República, Deputados Federais, Pre-feitos, Secretários de Estado, Dirigentes Empresariaise de Órgãos Públicos, além da Ministra do Meio Ambi-

ente, Izabella Teixeira.

8 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO

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MAIO/JUNHO 2012

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 9MAIO/JUNHO 2012

ABAS INFORMA

Everton de Oliveira é o novo editor associado darevista Ground Water Monitoringand RemediationA mais importante e mais lida revista científica daárea de contaminação, a Ground WaterMonitoringand Remediation (GWMR), tem agoraem seu corpo editorial, o hidrogeólogo Everton deOliveira, diretor da Hidroplan, secretário executivoda ABAS e professor das universidades Júlio deMesquita Filho (Unesp Rio Claro) e Waterloo.

Oliveira foi convidado pelo editor chefe, NeilThomson, quando em visita ao Brasil, por seus am-plos conhecimentos na área de contaminação. Etambém por sua experiência na edição da revistacientífica Águas Subterrâneas, da ABAS.

O corpo editorial da revista é formado pelosmais renomados profissionais da área, entre eles,Michael J. Barcelona, Western MichiganUniversity; Tim Buscheck, Chevron Energy

Technology Company; Rick Devlin, University ofKansas; David Huntley, San Diego State University;Colin Johnson, CSRIO, Australia; Paul C. Johnson,Arizona State University; Richard L. Johnson,Oregon Health & Science University; MatthewLahvis, Shell Global Solutions (U.S.) Inc.; DavidW. Major, GeoSyntec Consultants Inc.e William G.Rixey, University of Houston.

A GWMR é editada pela National Ground WaterAssociation (NGWA), que também possui duas ou-tras publicações científicas: Ground Water e WaterWell Journal. Criada em 1981, a edição contém arti-gos assinados por importantes nomes da indústria,além de notícias sobre produtos e equipamentos eatualizações da EPA, agência ambiental norte-ame-ricana, entre outros.

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10 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO MAIO/JUNHO 2012

SOLOS CONTAMINADOS,POÇOS CONTAMINADOS?

PRODUÇÃO DE ÁGUA

densamento urbano, crescente demanda por abas-tecimento de água e melhor relação custo-benefí-

cio, têm impulsionado a exploração desenfreada das águassubterrâneas no país. E o cenário se torna ainda mais agra-vante quando a demanda leva à perfuração de poços emáreas contaminadas, inclusive. Técnicas inadequadas, em-pregadas por empresas perfuradoras clandestinas, asso-ciadas à fiscalização e informação incipientes, podem co-locar em risco os recursos hídricos subterrâneos. Para opresidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâne-as (ABAS), Humberto José Tavares Rabelo Albuquerque,“a falta de informação, nos diferentes níveis da engrena-gem da gestão e uso da água, incluindo-se aqui os usuári-os, os prestadores de serviços e os agentes fiscalizadorese legisladores, certamente é o embrião do cenário pessi-mista identificado atualmente sobre os nossos principaisaquíferos”. Outro importante fator, citado por ele, são asfalhas em termos de saneamento básico em toda a suaamplitude, desde a coleta dos efluentes e resíduos domés-ticos e industriais até seu tratamento e disposição final,que comprometem a qualidade das águas.

De acordo com o Departamento de Águas e Energia Elé-trica (DAEE), a área de Jurubatuba, localizada na zona sulde São Paulo – conhecida pela forte presença de indústrias,especialmente do setor químico e metalúrgico – é a únicaárea declarada com restrições de uso de águas subterrâne-as por problemas de contaminação de solo e águas peloConselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH). A regiãopossui um total de 147 poços cadastrados/outorgados, dosquais, 25 foram lacrados pela Vigilância Sanitária (ViSa), 10lacrados a pedido do usuário e um total de três portariasforam revogadas após início do auto monitoramento.

SOLOS CONTAMINADOS,POÇOS CONTAMINADOS?

CRITÉRIOS PARA PERFURAÇÃOMas, eis uma questão que se coloca: é possível queum poço seja perfurado, em local contaminado, semque a contaminação do solo atinja a água? De acor-do com Vicente de Aquino Neto, gerente do Setor deAvaliação e Auditoria de Áreas Contaminadas, da Com-panhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), aperfuração de poços em áreas contaminadas é possíveldesde que seja comprovado, por meio de estudoshidrogeológicos, e de investigação detalhada da conta-minação, que o aquífero a ser explorado não foi afetadopela contaminação. E também, “que o bombeamentoda água a ser efetuado não alterará a dinâmica de movi-mentação da água e, consequentemente, atrair a plumade contaminantes em fase livre ou dissolvida do aquíferoafetado pela contaminação para o poço. Além disso, hánecessidade de realização de monitoramento frequenteda qualidade das águas subterrâneas”, orienta.

Mas antes do início de qualquer perfuração, deve serrealizado o reconhecimento da área junto com o res-ponsável por ela, onde deverão ser identificadas possí-veis estruturas subterrâneas (dutos, tubulações e fiaçãoelétrica). “Todos os trabalhos de perfuração, seja pararealização de sondagens investigativas ou instalação depoço de monitoramento, são realizados com base nohistórico ambiental da área. Para levantamento destehistórico, faz-se necessária a condução da etapa de In-vestigação Ambiental onde serão identificadas potenci-ais situações ou práticas que possam representar pas-sivos ambientais”, observa Ana Paula Spolidoro Queiroz,gerente geral da Waterloo Brasil Consultoria Ambiental.

Com base nesses dados, as áreas são classificadas

POÇOS DESATIVADOS POR PROBLEMAS DE CONTAMINAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO

(*Sem data: refere-se aos anos anteriores a 1997)

2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1998 1997 Sem data

30 65 61 53 21 23 20 4 10 13 32 3 1 3 4 89

Ano dedesativação

Qtde. poços

Base FCHE abr/2012

A

A perfuração de poços em áreas contaminadas tem sido umaprática bastante adotada nos grandes centros urbanos, mas demandacritérios técnicos apurados e procedimentos de investigação emonitoramento a fim de evitar riscos às águas subterrâneasIsabella Monteiro

Page 11: MAIO/JUNHO 2012 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOMAIO/JUNHO 2012 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3 EDITORIAL ÍNDICE NOBRE E ... Centro Oeste para a gestão 2012/2013, em abril

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 11MAIO/JUNHO 2012

PRODUÇÃO DE ÁGUA

como áreas com potencial de contaminação (AP) ouáreas com suspeita de contaminação (AS), que serãoalvo de uma investigação ambiental confirmatória, ondesão programadas sondagens investigativas (para avali-ação do solo) e instalação de poços (para avaliação daágua subterrânea). Segundo Ana Paula, caso seja con-firmado algum tipo de contaminação, são definidos no-vos locais para instalação de poços de monitoramentoe sondagens para delimitação da área impactada. E parao detalhamento da contaminação, ela explica que sãolevados em consideração fatores como a concentraçãodo contaminante verificada na etapa de investigaçãoambiental confirmatória, o fluxo da água subterrânea nolocal bem como a geologia local.

Mas os cuidados específicos que devem ser tomadosao se perfurar em área contaminada, dependem da fi-nalidade do poço. “Se for um poço de monitoramento,deve-se atentar para o tipo de contaminante: DNAPL –Dense Non-Aqueous Phase Liquid ou LNAPL – Light Non-Aqueous Phase Liquid. Neste caso, quando é do tipoDNAPL, algumas medidas deverão ser tomadas de ma-neira a evitar que o contaminante se dissipe verticalmenteno site”, explica Ana Paula. Entretanto, “poços tubularesou destinados ao consumo, não são recomendados,principalmente se houver estudos de avaliação de riscoà saúde humana restringindo o uso da água nesses lo-cais”, alerta.

Segundo ela, se o solo contaminado estiver na zonasaturada, provavelmente a água subterrânea já estaráimpactada. No entanto, existem técnicas que visam im-pedir que contaminantes do tipo DNAPL, mais densosque a água, migrem para camadas mais profundas du-rante a perfuração. Vale ressaltar que as técnicas deperfuração são as mesmas, o que muda é que durantea perfuração o furo é revestido por material selante, sen-do estes poços denominados de poços telescópios.

De acordo com o vice-presidente da General Water,Sérgio Pontremolez, geralmente com um projeto cuida-doso é possível evitar que a contaminação do solo atin-ja a água subterrânea. Mas para isso, “é necessário ins-talar um tubo de proteção sanitária (tubo de boca), queisole totalmente os níveis contaminados, aplicá-lo atéum nível estratigráfico composto por camadas argilosas(impermeáveis) e realizar desde a superfície até essascamadas um preenchimento completo com pasta decimento (entre as camadas de solo e o referido tubo deaço)”, detalha. Ele salienta que quando a contaminaçãoé superficial, sempre é possível, por meio de um bomprocesso de isolamento, impedir que a contaminaçãochegue ao poço e nas águas subterrâneas nele produ-zidas. E, uma vez em produção, o órgão fiscalizadoracompanha a exploração do poço tubular, avaliandoperiodicamente a presença na água extraída de indíciosdos elementos contaminadores presentes na área.

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PRODUÇÃO DE ÁGUA

Contudo, quando um poço já está contaminado, estedeverá ser lacrado pela Secretaria de Saúde Municipal,conforme aponta Aquino Neto. “Em áreas com contami-nações graves, como aquelas por solventeshalogenados em fase livre, pode não ser recomendadaa implantação do poço de abastecimento. Já em poçosnão contaminados, instalados em áreas contaminadasou próximo a elas, instalados ou não em áreas de restri-ção temporária, normalmente mantém-se o poço ope-rando, porém com monitoramento da qualidade da águamais frequente, considerando as substâncias de inte-resse para o caso. Nesta situação existe a necessidadedo responsável pela contaminação executar um estudoque mapeie a contaminação e entenda a sua movimen-tação”, orienta.

CUSTOS E INVESTIMENTOSDe acordo com Ana Paula, na maioria das vezes nãohá diferença de preços para perfuração em áreas con-taminadas. Isto porque as empresas de perfuração co-bram por metragem e o que altera o preço é o métodoutilizado para perfuração. “Sondagens manuais costumamter preços mais baratos do que sondagens mecânicas. Noentanto, para a instalação de poços telescópio, onde aperfuração só pode prosseguir após a construção de umselo sanitário, a tecnologia e o maquinário são bastanteespecíficos e os custos para este trabalho podem se ele-

var quando comparados a técnicas tradici-onais”, observa. À frente da General Water,empresa com experiência na perfuração depoços em áreas contaminadas, normal-mente no entorno de postos de gasolina,“situação mais comum na Grande São Pau-lo”, Sérgio Pontremolez também afirmaque “a construção de um poço tubular emárea contaminada pode chegar a ter umcusto até 50% superior a um poço con-vencional feito na mesma região. Este cus-to superior está ligado diretamente a to-dos os cuidados construtivos que deverão

ser adotados parao completo isola-mento dos estratoscontaminados”.

RISCOS E MONITORAMENTOAna Paula explica que o solo contaminado é consi-derado uma fonte secundária ativa, uma vez que ocontaminante adsorvido no solo pode sofrerlixiviação sendo carregado para a água subterrânea.Solos arenosos permitem que os contaminantes migremcom muito mais facilidade do que em solos argilosos,pois “embora as argilas sejam materiais bastante poro-sos, são pouco permeáveis e agem como um selante,retendo os contaminantes e impossibilitando que estes

atinjam o aquífero”. Já Aquino Neto, alerta que o riscoda perfuração em si, seria o de criar um caminho prefe-rencial à movimentação vertical da contaminação paraaquíferos ainda não afetados e que “a melhor forma deevitar este risco seria a não instalação do poço no localcontaminado ou à jusante do mesmo. Outro risco estáassociado à criação de um gradiente vertical pelobombeamento, que implique em alteração da dinâmicade movimentação espacial (vertical e horizontal) da plu-ma de contaminação”, alerta.

No que se refere aos cuidados que se estendem apósa perfuração, a exploração de um poço em área conta-minada exige um permanente acompanhamento quali-tativo da água extraída. “Periodicamente (mensalmenteou trimestralmente) são realizadas análises específicas(como VOCs, TPHs, BTEX, metais, solventeshalogenados, solventes aromáticos, etc) para identificarquaisquer indícios de contaminantes, garantindo assimque a água servida à população sempre esteja potávele totalmente isenta de qualquer contaminação”, afirmaPontremolez. Ana Paula complementa que, com basena Decisão CETESB n°103 - que dispõe sobre o proce-dimento para gerenciamento de áreas contaminadas -,é recomendado no mínimo o monitoramento semestralda área por dois anos, com o intuito de averiguar a vari-ação da qualidade da água durante um ciclo hidrológico.Sendo que locais mais críticos podem requerermonitoramento com maior frequência. À exceção dospoços de monitoramento, projetados apenas para ser-vir de vias de acesso à água do aquífero, “poços desti-nados ao abastecimento requerem análises mensais daqualidade da água subterrânea, sendo que a mesmadeverá atender aos padrões de potabilidade estabeleci-dos pela Portaria 2914”, salienta.

Já em casos de águas que apresentem alteração dequalidade, a determinação de seu uso deve ser prece-dida por uma Avaliação de Risco à Saúde Humana. Istoporque, esta pode estar impeditiva ao abastecimento,mas pode ser considerada adequada para lavagem depiso, uso em descargas e outras finalidades que nãoincluam banho ou consumo. Entretanto, para estes ca-sos, segundo Ana Paula, há alguns métodos que possi-bilitam remediação in situ como: oxidação química,eletrocinese, biorremediação e barreiras reativas. Téc-nicas como a de bombeamento e tratamento possibili-tam ainda a descontaminação da água após sua extra-ção do poço de monitoramento.

EMBASAMENTO LEGALDe acordo com Aquino Neto, no artigo 3º da Resolu-ção Conjunta SMA/SERHS/SES – 3 de 21/06/2006, queestabelece o procedimento de outorga, é citado quehá necessidade de indicação em planta das áreas po-tenciais ao DAEE e áreas contaminadas em um raiode 500 metros da área onde será perfurado/regulari-zado um poço de abastecimento para a CETESB. Com

Sérgio Pontremolez,vice-presidente daGeneral Water

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PRODUÇÃO DE ÁGUA

base neste le-vantamento, ointeressado de-verá solicitar umParecer Técnicoda CETESB nos

locais onde foi identificada umaárea contaminada neste raio ‘refe-rente à qualidade ambiental’. “A de-cisão sobre a concessão da outor-ga é do DAEE, que deve ouvir aCETESB e a Saúde. No artigo 4º éinformado que em áreas de restri-ção e controle declaradas pelo CRH,que o DAEE considerará ascondicionantes estabelecidas na

respectiva deliberação”, aclara o gerente da CETESB.Já no caso de perfuração de poços para amostragem,Ana Paula ressalta que a CETESB e o Conselho Nacio-nal do Meio Ambiente (CONAMA) exigem que as áreascontaminadas sejam investigadas de acordo com o pro-cedimento para gerenciamento de áreas contamina-das. A realização de sondagens e a instalação de po-ços seguem as referências da norma ABNT – NBR15.495-1 de Julho/2007, referente a Poços deMonitoramento de Águas Subterrâneas em AquíferosGranulares, estabelecida pela Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT).A gerente geral da Waterloo Brasil argumenta ainda

que empresas idôneas sempre realizam seus traba-lhos de campo dentro das normas estabelecidasminimizando assim o risco de impactar áreas aindanão contaminadas. Entretanto, “há diversas empresasde perfuração que desconhecem estas normas e casonão sejam orientadas por profissionais especializadospodem acabar agravando a situação da área e cons-truindo poços que produzam água com a qualidadealterada”, afirma.

Para Humberto Albuquerque, há gargalos que impe-dem que os órgãos ambientais responsáveis pela fiscali-zação da abertura de poços atuem de forma satisfatória.Para ele, os investimentos nas agências de fiscalizaçãosão os principais desafios a serem vencidos, incluindo otreinamento dos agentes fiscalizadores, a multiplicaçãoda mão de obra especializada, a disposição de ferramen-tas para a execução das atividades de fiscalização, comoveículos, combustível, insumos básicos de escritório econdições salariais compatíveis com o risco da profis-são. Além desses pontos, ele acredita que “a gestão inte-grada das agências fiscalizadoras é a partida para queseja minimizada a questão da instalação de poços e cap-tação de água subterrânea em locais contaminados, as-sociada a uma tramitação burocrática mais eficiente emenos morosa”.

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Vicente deAquino Neto,gerenteda CETESB

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CAPA

evido à sua qualidade e abundância, atualmen-te a água subterrânea é utilizada em pratica-mente todas as atividades que possuem a água

como insumo: atividades industriais, de extração ebeneficiamento mineral, usos agrícolas, comerciais, re-creativos e de abastecimento público. De acordo comDidier Gastmans, pesquisador do Centro de EstudosAmbientais da Universidade Estadual Paulista “Júlio deMesquita Filho” (UNESP), campus de Rio Claro (SP),em algumas regiões do planeta, onde são encontradosgradientes geotermais elevados, o recurso vem sendoutilizado ainda como fonte de energia geotermal.

Considerando o uso global dos recursos hídricos – su-perficiais e subterrâneos –, o maior usuário é o setor agrí-cola (70%), seguido pelo uso industrial (20%) e, finalmen-te, o doméstico (10%). Entretanto, quando se avalia isola-damente o uso da água subterrânea, apenas 20% da águautilizada na agricultura têm como origem as águas sub-terrâneas, enquanto que a participação destas nos usosindustriais e de abastecimento doméstico soma, respec-tivamente, 40% e 50%, conforme revela estudo realizadoem 2004 pela Organização das Nações Unidas para aEducação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

No Brasil não há estatísticas oficiais a respeito da distri-buição da utilização de água subterrâneas, mas, segun-do Gastmans, a experiência aponta para um uso primor-dialmente doméstico (abastecimento público), seguido,

nas regiões industrializadas, pelos usos industrial e agrí-cola. “Cabe ressaltar que o aumento do uso agroindustrialnas regiões Sudeste e Centro-Oeste do território brasilei-ro é fruto da tecnologia desenvolvida no campo para oaumento da produção agrícola”, observa ele.

As águas subterrâneas são alvo de interesse e espe-culação de diversos setores, isto porque apresentaminúmeras vantagens em relação às águas superficiais,como baixo custo de instalação, solução de abasteci-mento local, baixo custo energético na operação do sis-tema e a possibilidade de uso sem tratamento da água.

Necessária e presente nos maisdiferentes setores e atividades, deforma exclusiva ou complementar,a água subterrânea é o recursomais importante de água doce dopaís e é uma fonte detentora decaracterísticas atrativas eestratégicas do ponto de vistacomercial, econômico e ambiental

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NOBRE EINDISPENSÁVEL

Isabella Monteiro

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CAPA

PANORAMA DO POTENCIAL HÍDRICOSUBTERRÂNEO BRASILEIROPara Gastmans, um dos pontos fundamentais a se-rem levados em consideração quando se fala em po-tencial hídrico subterrâneo é a definição da recargados reservatórios. “Com exceção da região nordeste,na maior parte do território existe superávit hídrico, oque possibilita a recarga dos aquíferos e a manutençãoda disponibilidade hídrica subterrânea nos aquíferos li-vres. Em função de sua extensão territorial e das carac-

terísticas geológicas de seu território, onde estãoestabelecidas inúmeras bacias sedimentares, inúmerosaquíferos importantes são reconhecidos no Brasil”, sali-enta. Aquíferos associados a estas bacias são impor-tantes para o abastecimento em todas as regiões brasi-leiras, como os aquíferos Alter do Chão e Barreiras, naBacia Amazônica; Açú e Jandaíra, na Bacia Potiguar;Serra Grande e Cabeças, na Bacia do Parnaíba; Urucuia,associado à unidade sedimentar homônima, na divisaentre Bahia e Tocantins; aquíferos Bauru, Serra Geral eGuarani, na Bacia do Paraná, entre outros.

Mas o pesquisador alerta: “ainda temos muito a cami-nhar no sentido da ampliação do conhecimento a respeitodas disponibilidades hídricas subterrâneas no país, ape-sar do avanço propiciado pela Agência Nacional de Águas(ANA), que vem realizando estudos em diversas unidadesaquíferas”. Outro ponto importante levantado por ele é anecessidade de ampliação da informação disponível aousuário do recurso. “A água subterrânea sempre foi vistacomo a salvação da lavoura: ‘se eu nãotenho água, furo um poço e meus proble-mas se acabaram’. Essa visão fez com quepoços fossem construídos sem critériostécnicos, apenas com o intuito de se ob-ter água. Isso acabou levando à contami-nação de inúmeros aquíferos, principal-mente em centros urbanos sem condiçõesde saneamento adequadas, além da ex-tração desenfrea-da de água, o quediminuiu a disponi-bilidade”.

ABASTECIMENTO PÚBLICOA região de São José do Rio Preto (SP) tem altacriticidade quanto à disponibilidade de recursoshídricos superficiais, fato que se agravou com o in-tenso crescimento urbano e industrial ocorrido, so-bretudo, nas últimas décadas. Entretanto, na contra-mão deste contexto, a região dispõe de abundante ofer-ta de recursos subterrâneos, fundamentais para aten-der às demandas por abastecimento público. Dados doServiço Municipal de Água e Esgoto de São José do RioPreto (SEMAE) revelam o cenário de abastecimento deágua na cidade, onde 30% provêm das águas superfici-ais, oriundas do rio Preto, e 70% das águas subterrâne-as, sendo 30% correspondentes ao aquífero Bauru e 40%provenientes do aquífero Guarani. Na região, as maio-res demandas de poços tubulares estão localizadas emáreas urbanas dos municípios de São José do Rio Pre-to, Catanduva e Votuporanga, respectivamente.

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Didier Gastmans,pesquisador

da UNESP

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De acordo com Luciano Passoni, superintendentedo SEMAE, as águas subterrâneas apresentam dife-renciais vantajosos, não apenas em relação à quanti-dade, mas também em qualidade: “quanto mais pro-fundo o poço, menor sua vulnerabilidade à contami-nação”. Outro ponto estratégico é a logística, poiscomo os poços são distribuídos pela cidade, confor-me a demanda, o custo operacional para a distribui-ção da água à população é mais baixo. “Normalmen-te, o poço, no caso da utilização do aquífero Bauru,

está inserido no bairro ou área a ser atendida,necessitando basicamente de reservação e

rede de distribuição, sendo o recalque di-retamente da bomba do poço”, explica.Além disso, quando um poço apresenta

problemas de qualquer natureza, exis-tem várias maneiras para recuperá-loou substituí-lo. “E neste tempo em que

está sem operar, até por suas baixas va-zões em relação à captação superficial, épossível realizar manobras no sistema deforma a contornar a situação, sem que apopulação tenha o abastecimento tempora-riamente interrompido”.

Outro aspecto revelado por Passoni é asegurança que a captação do recurso

subterrâneo pro-porciona, pois afonte de capta-ção superficial

está muito vulnerável, por estar dentro da malha urba-na, próxima a rodovias de grande tráfego, suscetível asofrer as consequências em caso de um acidente comcarga perigosa. Além disso, “fica em fundo de vale, paraonde se encaminha todo e qualquer resíduo superficialdas áreas do entorno”.

Há ainda, segundo o superintendente, o benefício finan-ceiro, já que o custo da utilização do recurso superficialenvolve “a captação do corpo provedor d’água e tratamentoespecífico para torná-lo potável, reservação e grandesadutoras para transportá-la para os centros de reservaçãoe distribuição. Com isso, a utilização da captação superfi-cial tem custo superior se comparada com a subterrânea”.Para ele, a única desvantagem que se apresenta é em re-lação à capacidade de reposição do aquífero, que ocorrede forma mais lenta do que as águas superficiais.

Para assegurar a qualidade da água captada e aexplotação adequada dos mananciais subterrâne-os, o SEMAE adota a legislação estadual – indicadaspelo Departamento de Águas e Energia Elétrica(DAEE) e Companhia Ambiental do Estado de São Paulo(CETESB) –, bem como as normas de projeto econstrução de poços da Associação Brasileira deNormas Técnicas (ABNT), além de medidas adicio-nais constantes de metodologia própria de perfura-ção de poços. O SEMAE possui ainda um Labora-tório de Qualidade e analisa, periodicamente, 41parâmetros físico-químicos e microbiológicos exi-gidos pela Portaria nº 2914/11, que também são ana-lisados por um laboratório privado.

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CONSUMO DIFERENCIADO, COM ALTO VALOR AGREGADO

Prática e comercialmente versátil, devido às criativasembalagens e slogans associados, a água mineral,comercializada em garrafas e galões, alude à qualida-de, à saúde e ao bem-estar. O incremento de água mine-ral no Brasil se deu na década de 40 com o Novo Códigode Minas e o Código de Águas Minerais do Brasil. Emborao consumo seja muito anterior, a regulamentação criou umnovo setor, que passou por inúmeros avanços técnicos etecnológicos, sobretudo, nas últimas décadas. “Os avan-ços foram enormes, as empresas brasileiras tiveram quese adequar aos modelos de produção e controle de quali-dade internacional, com isso os parques e fábricas tiveramque atualizar seus maquinários, desde a captação até oproduto acabado. Hoje o Brasil é considerado um produ-tor de água mineral de alta qualidade”, afirma Amilcar LopesJunior, especialista em análises e controles de águas mi-nerais e diretor da Águas Petrópolis Paulista.

De acordo com ele, São Paulo é o maior centro deconsumo de água mineral do país. Em 2010 o mercadonacional fechou em 6 bilhões de litros, ficando entre os10 maiores mercados do mundo. “O consumo nacionalhoje ainda está bem abaixo dos países europeus e ame-ricanos, mas como a qualidade de vida e o poder aqui-sitivo da população têm aumentado, é natural que o vo-lume de consumo cresça”, acredita.

Segundo Lopes Junior, a Águas Petrópolis Paulistapossui três poços de captação, monitorados e ligados areservatórios específicos para cada um, a fim de garantira explotação adequada e controlada dentro dos padrõesestabelecidos pelo Departamento Nacional de ProduçãoMineral (DNPM) e licenciados pela CETESB. “A captaçãoé realizada através de poços tubulares profundos, médiade 500 metros de profundidade, apenas considerando opacote Cristalino que está, na nossa região, após os 250

Luciano Passoni,superintendentedo SEMAE

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CAPA

metros de profundidade. Os poços possuem uma formaconstrutiva que isola o pacote sedimentar acima isolan-do a captação no Cristalino, garantindo qualidade e quan-tidade em nossas águas minerais”, revela. Para aferir aqualidade da água subterrânea captada, Lopes Juniorconta que todas as fontes naturais recebem ummonitoramento de análises diárias, físico-químicas e bac-teriológicas, realizadas pelo laboratório interno da empre-sa, equipado e homologado para executar tais funções.Além disso, há análises efetuadas em laboratórios exter-nos credenciados que monitoram as fontes nos padrõesdas Portarias 274 e 275, específicas para água mineralnatural, além da análise do Laboratório de Análises Mine-rais da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais(LAMIN/CPRM), que avalia e credencia a água mineralnatural a cada três anos.

Por comercializar um produto in natura, as empre-sas de água mineral precisam adotar procedimentos ecuidados específicos para assegurar que a matéria-pri-ma básica – água subterrânea – seja de altíssima qua-lidade e diferenciada. Isto porque “não basta ser potá-vel, a água mineral precisa preencher requisitos espe-cíficos químicos e bacteriológicos diferentes de umaágua potável normal, não podendo assim passar porqualquer tratamento ou ajustes na sua qualidade” sali-

enta o especialista. Segundo ele, o que deve ser sem-pre analisado é o pacote geológico em que as fontesse encontram e como ele reage com possíveis conta-minações dentro da área de contribuição. “Não pode-mos afirmar que uma água no campo é mais pura doque a extraída na cidade; isso quem determina são asanálises das fontes, o pacote geológico e principalmen-te a origem dos aquíferos, que, muitas vezes confina-dos, possuem qualificações e tempos de residênciadistintos e específicos das águas de superfície”, res-salta Lopes Junior.

PRESENTE NOSPROCESSOS INDUSTRIAISNo Frigorífico Bressiani, em Capivari (SP), toda a águautilizada é subterrânea, proveniente de poçosartesianos situados nas instalações da propriedade.Fábio Luis Bressiani, diretor do Frigorífico Bressiani, con-ta que em todo o processo de abate dos suínos são gas-tos cerca de 850 litros de água, por animal, desde a che-gada do suíno vivo, que fica em descanso, até o produtofinal (carcaça), além da higienização das instalações. “Te-mos um controle de exploração para evitar saturação da

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ESPECIAL POÇOSCAPA

vazão dos poços. Normalmente utilizamos os poços de 10a 18 horas por dia, no máximo”, observa. Além disso, sãorealizadas duas análises laboratoriais mensais nos poçose também na água depois da cloração, na entrada da pro-dução do frigorífico, bem como um controle de hora emhora no nível de cloro antes, durante e após a produção.

A água utilizada não é reaproveitada, mas o frigoríficodispõe de uma área de 5.300 m2 onde são realizadosalguns processos antes de seu descarte: peneiras degradeamento, onde há separação das partes sólidas daágua; flotador, que separa a gordura misturada à agua;biodigestor, lagoa aerada revestida, que promove aoxigenação na água; lagoa separadora de lodo; lagoade maturação e polimento, para eliminarmicrorganismospatogênicos e não patogênicos presen-tes na água. Ao final do processo, a água tratada élançada a um rio local. Segundo Bressiani, para evitar ocomprometimento da água e do solo, o frigorífico desti-na os demais resíduos sólidos que não consegue pro-cessar em sua planta, para outras empresas que têmprocesso de produção específico para cada resíduo.

Já na indústria de fundição, que representa 3% doProduto Interno Bruto (PIB) brasileiro e emprega aproxi-madamente 67 mil pessoas no país, embora a água nãoentre diretamente no processo de produção de peçasfundidas, ela é um recurso bastante importante, já queauxilia nos sistemas de refrigeração das bobinas nosfornos à indução elétrica.

Esneder Penatti Júnior, diretor de Meio Ambiente daAssociação Brasileira de Fundição (ABIFA), explica quenestes fornos a matéria-prima é aquecida pela induçãomagnética produzida por uma bobina que envolve o for-no. A alta corrente elétrica produzida aquece esta bobi-na em forma de tubo que deve ser constantemente refri-gerada com água para não degradar. Para a produçãode uma tonelada de fundidos de ferro/aço são consumi-dos aproximadamente 600 litros de água. “A grande mai-

oria das fundições é formada porempresas de pequeno e médio por-te. Estas empresas, na sua maioria,utilizam água do sistema público defornecimento. Somente as grandesempresas, que representam menosde 1% do total, utilizam outras fon-tes de fornecimento de água”. En-tretanto, considerando que o Brasilé o sétimo maior produtor mundial

do setor, e que aindústria nacionalde fundição fe-chou o ano de2011 com a pro-

dução de 3,434 milhões de toneladas de fundidos, o con-sumo de água ocorre em larga escala.

Segundo Penatti Júnior, como a água se perde porevaporação na unidade de refrigeração, não há a possi-bilidade de sua reutilização ou reaproveitamento. Alémdisso, por se tratar de um sistema fechado, a água usa-da não é descartada. Mas “é importante salientar que oprocesso de fundição de ferro/aço não gera nenhum tipode resíduo com metais pesados, pois estes metais nãoentram em seu processo usual”, ressalta.

Esneder PenattiJúnior, diretorda ABIFA

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ATRAÇÃO TURÍSTICAAs águas minerais termais estão presentes emquase todo o Brasil, principalmente em Goiás,Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, MatoGrosso, Rio Grande do Norte, Bahia, onde existeuma maior exploração, e também nos estadosde Tocantins, Rio de Janeiro, Mato Grosso doSul, Paraná, Rio Grande do Sul, Piauí, Maranhão,Ceará, Alagoas, Acre e Distrito Federal.

De acordo com o presidente da Associação das Em-presas Mineradoras das Águas Termais de Goiás(AMAT), Fábio Floriano Haesbaert, na maior parte doscasos, “as águas termais originam-se num ciclo que éiniciado com a penetração da água da chuva no solo.E, na sua descida para maiores profundidades, em con-tato com as rochas, elas vão se aquecendo, tornando-se minerais e acumulando-se em reservatórios profun-dos, nas porosidades ou fraturas das rochas”. Ele ex-plica que o processo de aquecimento ocorre devido aoaumento da temperatura das rochas com a profundi-dade, denominado de gradiente geotérmico da Terra.As temperaturas variam de 27ºC a cerca de 60ºC. Amineralização ocorre pela dissolução de elementos quí-micos no contato com as rochas durante a sua desci-da, o seu armazenamento e o seu retorno até a superfí-

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Fábio FlorianoHaesbaert,presidenteda AMAT

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cie. “Estas águas, já aquecidas e mineralizadas, podem vol-tar à superfície através de ‘caminhos’ naturais como outrasfraturas, surgindo através das fontes naturais e das fontesde captação em poços profundos. Outra forma possível épor meio do contato com rochas magmáticas, plutônicasou vulcânicas, onde existe uma transferência de calor emineralização de forma mais intensa, com temperaturassuperiores a 50ºC”, elucida Haesbaert.

Reconhecidas por seu poder medicinal, devido aoselementos químicos presentes na sua composição etipo de mineralização, as águas minerais termais po-dem auxiliar no tratamento de diferentes patologias, taiscomo: musculoesqueléticas ou reumatológicas,dermatológicas, gastrointestinais, neurológicas, entreoutras. Os balneários, com diferentes tipos de águas,associaram a estas, atividades multidisciplinares em prolda saúde, visando difundir seus benefícios terapêuticos.

Mas a partir de 1960, as águas termais, no país, torna-ram-se atrativo para a prática do turismo de lazer tam-bém, tendo a cidade de Caldas Novas (GO) como poloinicial, com a criação de diversos clubes termais. “A partirdaí ocorreram inúmeros lançamentos de grandes clubespor todo o Brasil, principalmente no estado de São Pau-lo, com atividades recreativas”, observa Haesbaert. Atu-almente, segundo ele, “há procura pelas duas modalida-

des: turismo de lazer, com parques e complexos de en-tretenimento, e o turismo terapêutico, voltado à saúde eao bem-estar termal, utilizando as seculares técnicas deuso das águas associada às terapias modernas”.

O setor de águas termais tem uma grande participa-ção na economia do país por atraírem grande númerode turistas durante o ano inteiro. Famosas por suas ter-mas, as cidades de Caldas Novas e Rio Quente, emGoiás, por exemplo, atraem para a região cerca de 3milhões de turistas por ano. Entretanto, sua importânciaeconômica e turística, deve estar alinhada ao seu valorambiental. “Para que a exploração das águas termaisaconteça de forma sustentável, os aquíferos termais de-vem ser conhecidos detalhadamente, em cada estânciatermal”, alerta Haesbaert. De acordo com ele, a falta derecursos é um dos grandes entraves para que estes tra-balhos de pesquisa sejam realizados de forma contínuae ininterrupta. O Projeto de Preservação das Águas Ter-mais, iniciado em 2006, por meio da AMAT, em CaldasNovas e Rio Quente, desenvolveu um modelo geológi-co/matemático específico para os aquíferos, o que per-mitirá a recarga artificial e o gerenciamento correto daságuas termais. “Ações como esta permitem, além demelhor conhecer as águas, a perpetuação dosaquíferos”, acredita o presidente da AMAT.

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MEIO AMBIENTE

ondições de potabilidade, disponibilida-de e custo da água estão entre as prin-

cipais preocupações dos consumidores. Cer-tamente, poucos pararam para pensar

quantos anos tem a água que bebe-mos e a relevância desta informação.Mas existem pesquisadores dedica-dos a obter respostas detalhadaspara esta questão, por meio de mé-todos de investigação cronológica– datação – das águas, que permi-tem monitorar, entender e controlar

a exploração dos aquíferos.Embora a noção de ciclo hidrológico

seja bastante remota, já presente, porexemplo, na Grécia Antiga; para os ociden-

tais, o início da hidrologia científica acontecena Europa durante o século XVIII, com o de-

senvolvimento da matemática, da mecânica dosfluidos, da química e da física. A hidrologia de águas

subterrâneas ganha um avanço substancial em me-ados do século XIX com a Lei de Darci (Henry Darcy,1803-1858). De acordo com José Marcus de OliveiraGodoy, professor do Departamento de Química da

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro(PUC/RJ) e pesquisador do Instituto de

Radioproteção e Dosimetria/Comissão Nacionalde Energia Nuclear, a busca de métodos de

datação de água subterrânea surge com anecessidade de se poder avaliar o tempo

de recarga dos aquíferos, sendo os pri-meiros métodos baseados em balanços

hídricos. “O tempo de recarga revela,consequentemente, informações pre-ciosas quanto ao planejamento doseu uso. Se o consumo for incom-patível com o volume do aquífero e

com o seu tempo de recarga, corre-se o risco do seu esgotamento. For-

nece também informações relaciona-das ao risco de contaminação, pois um

aquífero muito jovem significa que a água da chuvachega rapidamente ao lençol freático, aumentandoo risco de sua contaminação”, explana.

Águas recentes, com no máximo trinta anos deresidência, estão vinculadas a aquíferos rasos oumuito condutivos, como por exemplo, o aquíferocárstico na região metropolitana de Curitiba (PR),conforme explica Gustavo Alves da Silva, geólogoe gerente da Hidroplan – Hidrogeologia e Plane-jamento Ambiental. “Águas com tempo de resi-dência de até quarenta mil anos provêm deaquíferos profundos ou com velocidade de fluxolenta”, ilustra. Segundo ele, o acompanhamentoda evolução temporal da água, muitas vezes de-nuncia a existência de mistura de águas antigas erecentes, sinônimo de que esse bem natural vemsendo consumido de forma não sustentável. As-sim, “a humanidade caminha, infelizmente, parao sentido inverso das águas, ou seja, quanto maisvelhos ficamos, mais jovens são as águas que nossaciam”, alerta. Embora revele importantes infor-mações, estas não são acessíveis ao usuário,exceto em casos em que se vislumbra um usocomercial da mesma.

A datação das águas subterrâneas é realizadaa partir do rastreamento de isótopos ambientais –como o trítio, o hélio e o radiocarbono – que podedar indicações de quando a água se infiltrou nosubsolo, tempo de percolação e residência, dire-ções de fluxo, conexão com corpos hídricos su-perficiais e até mesmo a superexplotação do ma-nancial subterrâneo.

QUANTOS ANOSTEM A ÁGUA QUEVOCÊ BEBE? Métodos hidrogeológicos

revelam a idade das águas,permitindo o monitoramentode sua qualidade e seu usosustentável, entretanto falta demão de obra especializada ede investimentos tornampesquisa incipiente no BrasilIsabella Monteiro

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Page 21: MAIO/JUNHO 2012 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOMAIO/JUNHO 2012 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3 EDITORIAL ÍNDICE NOBRE E ... Centro Oeste para a gestão 2012/2013, em abril

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MEIO AMBIENTE

MÉTODOS E PROCEDIMENTOS PARA IDENTIFICAÇÃOGodoy esclarece que a datação propriamente ditasó acontece com a introdução de métodos basea-dos no decaimento radioativo, através dos quais avariável tempo pode ser determinada diretamente.São métodos que aparecem como ferramentas nahidrologia apenas após a Segunda Guerra Mundial, como desenvolvimento das técnicas de medição da radioa-tividade ambiental. Quase que concomitantemente, naprimeira metade de 1950, surgem os métodos basea-dos no Carbono-14 (C-14) e no Trítio ou Trício (H-3).

Além destes métodos, outros dois também podem sercitados. O primeiro também baseado na radioatividade,como o Criptonio-85 (Kr-85), gás nobre radioativo deorigem antropogênica, oriundo de testes nucleares naatmosférica, cuja concentração vem crescendo devidoàs centrais nucleares e às usinas de reprocessamentode combustível nuclear. E o segundo, nos compostosdenominados CFCs (cloro-flúor-carbono) que, banidosdevido ao buraco na camada de ozônio, já foram usa-dos em larguíssima escala e hoje estão presentes comoum contaminante global. “Três tipos de CFCs, CFC-11,CFC-12 e CFC-113, foram produzidos numa proporçãobem conhecida e que variou ao longo dos anos. A pro-

porção entre a concentração destes três CFCs é usadacomo ferramenta na datação de corpos d’água. Comoestes compostos possuem uma estabilidade química di-ferente, correções podem ser necessárias na determi-nação da idade”, salienta.

Considerando que as águas subterrâneas estão emconstante movimentação e podem se misturar comáguas mais recentes e/ou mais antigas do que a águaobtida na amostra, a real datação destas pode seridentificada também por elementos, tra-ços e/ou isótopos dissolvidos, como porexemplo: terras raras, estrôncio, urânio,dentre outros. “Os métodos mais conven-cionais são o do Trítio, presente na fór-mula da água, e do Carbono-14, comogás carbônico dissolvido, uma vez queambos são produzidos na alta atmosferapor reações nucleares envolvendo nêu-trons provenientes deraios cósmicos”, revelaDaniel Marcos Bonotto,professor e pesquisadorda área de Geoquímica

Daniel MarcosBonotto,

pesquisadorda UNESP

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Isotópica Aplicada aos Re-cursos Hídricos da Universi-dade Estadual Paulista “Júliode Mesquita Filho” (UNESP),de Rio Claro (SP).

Os critérios de captação deágua para análise variambastante em função do mé-todo escolhido. A quantida-de de amostra, por exemplo,pode variar de um litro até millitros. “Esta diferença se deveao fato de que se a concen-tração do radionuclídeo (áto-mo com núcleo instável que emite radiação) na água émuito baixa, então, para a sua detecção, torna-se ne-cessário um grande volume de amostra. As amostrassão coletadas baseando-se em informaçõeshidrogeológicas disponíveis para o aquífero estudado,incluindo as direções preferenciais de fluxo subterrâneo”,explica Bonotto.

De acordo com ele, o emprego de um método dedatação apoia-se no conhecimento hidrogeológico doaquífero sob investigação. Nesse sentido, “mapaspotenciométricos com direções preferenciais de fluxosubterrâneo constituem requisitos importantes parauma boa abordagem cronológica”. Dependendo dométodo adotado, há também a necessidade de um bom

PANORAMA DA PESQUISA E LIMITES PARA IDENTIFICAÇÃO

conhecimento hidrogeoquímico da área investigada.“Todos os métodos adotam equações (modelos) ondedados químicos (isotópicos) são empregados para ageração de idades. Alguns métodos, como o do Car-bono-14, por exemplo, utilizam também softwares paraefetuar inúmeras correções com o propósito de elimi-nar parâmetros que ocasionam a geração de idadeserrôneas”, exemplifica.

Cada método empregado possui premissas ineren-tes ao seu emprego, dentre elas, a meia-vida doradionuclídeo, que limita a escala de tempo associa-da à idade da água. Os mais usuais, como o Trítio e o

Carbono-14, identificam águas mais recentes, atingindoescalas de tempo por volta de 80 anos e 40 mil anos,respectivamente. Já para escalas de tempo maiorespodem ser empregados métodos de desequilíbrio dosisótopos de Urânio ou do Cloro-36, que chegam a atin-gir até 1,5 milhão de anos. Uma pesquisa realizada, de2004 a 2010, com base nestes métodos, identificou al-gumas idades acima de um milhão de anos para águasdo aquífero Guarani, situadas em território brasileiro.

Coordenada pelo pesquisador da UNESP, DanielMarcos Bonotto, a investigação contou com a partici-pação de bolsistas de apoio técnico e suporte finan-ceiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Ci-entífico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).“As análises isotópicas de Urânio foram realizadas noLaboratório de Isótopos e Hidroquímica (LABIDRO) doInstituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP,Campus de Rio Claro. No caso do Cl-36, as análisesforam realizadas na Austrália, em colaboração com opesquisador Richard Cresswell”. Ele comenta ainda

Equipe responsável pela instalação do Laboratório deDatação Radiocarbônica no IRD-CNEN-MCTI

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Acima, detalhes da linha desíntese benzênica, utilizada

na datação com C-14. Aolado, uma etapa do

processo, com a formaçãodo carbeto de lítio

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MEIO AMBIENTE

que no Brasil já foram encontradas águas datadas deaté 1,5 milhão de anos. Já águas com idade na faixade 2 milhões de anos têm sido identificadas na regiãodo Deserto do Saara.

Para Bonotto, um radionuclídeo ideal para a dataçãoseria aquele presente em todo o ciclo hidrológico e quenão interagisse com os estratos do aquífero. Nesse sen-tido, “os gases nobres são bastante interessantes e,dentre eles, o Criptônio (Kr-81) tem sido utilizado emalgumas situações, em face da inexistência de mineraisresponsáveis por sua produção. O problema é que suaconcentração é diminuta na atmosfera (econsequentemente nas águas), tornando-se necessá-rio o processamento de uma quantidade muito grandede amostra (no mínimo uma tonelada) e o emprego deAMS (Espectrometria de Massa com Acelerador) para asua detecção”. Entretanto, segundo ele, poucos labora-tórios no mundo têm condições de realizar este tipo deanálise devido ao conhecimento tecnológico exigido ealtos custos envolvidos. “Avanços seriam necessáriosno sentido de se buscar, por exemplo, técnicas novasque pudessem promover a sua detecção de uma ma-neira mais simples em relação à que é atualmente utili-zada”, acredita.

Países como Estados Unidos, Alemanha, França, In-glaterra, Áustria e Austrália, se destacam no que se refe-re às pesquisas sobre datação das águas, sendo o la-boratório da seção de hidrologia, pertencente à Agên-cia Internacional de Energia Atômica (IAEA), localizadoem Viena/Áustria, a grande referência na área. Atualmen-te, no Brasil, são poucos os laboratórios capacitadospara a realização destes estudos e um dos principaismotivos, para José Marcus Godoy, é o alto custo envol-

vido na implementaçãode um laboratório dedatação radiocarbônicae, também, para trítio,com custo médio deUS$ 300 mil a US$ 400mil. “Aliado ao alto custohá ainda a questão damão de obra, que preci-sa ser altamente especi-alizada”, complementa opesquisador da PUC/RJ.

José Marcus de OliveiraGodoy, da PUC-RJ

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CONEXÃO INTERNACIONAL

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MODELOS MATEMÁTICOSPARA AVALIARÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Raymond Henry, presidente e fundadorda empresa Environmental SoftwareOnline Massachusetts, Estados Unidos

ormado em tecnologia e ciência ambiental pelo Sligo Instituteof Technology, na Irlanda, o irlandês RaymondHenry trabalhou como consultor ambiental por vários anos desde 1988, quando se mudou para os Estados

Unidos. Possui mestrado nas áreas de Gestão, pelo Fitchburg State College, em Fitchburg, Massachusetts, nosEstados Unidos, e em Ciências da Terra, pela Universidade de Waterloo, em Ontário, no Canadá. Em 1999, fundou aEnvironmental Software Online, LLC, empresa que comercializa softwares via internet. Nesta entrevista, RaymondHenry fala sobre a importância do uso de modelos matemáticos para compreensão das águas subterrâneas e afirmaque quando iniciou sua trajetória “não imaginava que modelagem matemática não é uma ciência exata”.

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Por que um hidrogeólogo precisa utilizar um softwarede águas subterrâneas?Um hidrogeólogo deve usar um software para ajudá-loa avaliar o fluxo de água subterrânea e o transporte decontaminantes. O ponto mais importante que se deveter em mente é que num pacote de softwares de águasubterrânea temos ferramentas para auxiliar a compre-ensão do que ocorre no seu aquífero ou porção do seuaquífero. Eles devem ser usados para avaliar um amploespectro de cenários, mas não espere obter uma res-posta exata.Quais são as principais diferenças dos modelos dehoje quando comparados com os de 15 anos atrás? A maior diferença é a possibilidade de se criar modelosmuito grandes devido a grande capacidadecomputacional de hoje. Com computadores mais rápi-dos surgiu a possibilidade de se criar grandes malhas depontos, de se avaliar muito mais detalhes em áreas maio-res e também de se acoplarem modelos distintos paraconjuntamente se examinar parâmetros distintos ao mes-mo tempo (exemplo: compostos orgânicos e inorgânicos).Há muitos locais onde os hidrogeólogos poderiam ob-ter modelos simples gratuitamente? Eles são bons?Estou certo de que deve se iniciar a avaliar qualquer localcom cálculos simples, tipo atrás de um cartão de visitas.Muitas vezes você descobre que modelos computacionaiscomplicados não são necessários de forma alguma. Nos

últimos 15 anos, linguagens como Java permitiram aoscientistas criarem programas para uso online. Nós mes-mos fizemos isso na seção de “Calculadora gratuita”(freecalculator) da GroundwaterSoftware.com(www.groundwatersoftware.com/calculator.htm). Alipode-se encontrar 16 tipos de modelos ou cálculos sim-ples gratuitamente, que permite aos hidrogeólogos ini-ciarem seus cálculos. Muitas vezes começam por ali eacabam comprando softwares mais poderosos paraestudos mais aprofundados.Os modelos para água subterrânea existem em gran-de variedade. O que você sugere para um usuário po-tencial para orientar sua escolha em relação ao mo-delo que melhor se adeque às suas necessidades?Hoje os modelos mais populares podem ser divididosem três categorias: 1) Fluxo de água subterrânea e trans-porte de contaminantes; 2) Testes e avaliações deaquíferos; e 3) Avaliação de risco toxicológico. Existemmuitos locais de venda e muitos produtos que fazemum bom serviço. Recomendamos que você compre deum revendedor que ofereça um bom suporte sem quese pague uma taxa anual de manutenção. Duas reven-das que temos em alta consideração são aEnvironmental Simulations (Groundwater Vistas eAquiferWin) e a Spence Environmental Consulting(RISCS). Ambos oferecem produtos de alta qualidade esuporte técnico gratuito.

Everton de Oliveira, Secretário executivo da ABAS e diretor da Hidroplan

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Pela sua experiência, você esperagrandes mudanças nos modelos deáguas subterrâneas no futuro?O velho ditado “os resultados dosmodelos são tão bons quanto os seusdados de entrada” ainda é válido. Nóshidrogeólogos sempre estivemos limi-tados pela quantidade de dados quepodemos coletar no campo devido àsrestrições de tempo e de dinheiro.Resta-nos a possibilidade de preen-cher os buracos dos dados cominterpolação ou outros métodos esti-mativos. Neste ponto creio que osmodelos estão mais desenvolvidos doque os métodos de coleta de dados.Esperamos que no futuro próximo em-presas de ponta criem métodos maiseficientes e mais baratos para coletade informações como concentraçõesde contaminantes, determinações daelevação do topo rochoso, elevaçãodo nível d´água etc. Embora não es-tejamos esperando grandes modifica-ções nos modelos matemáticos, es-peramos uma melhora nos dados deentrada, o que ampliaria o valor e usodos modelos de água subterrâneas.É preciso um hidrogeólogo para ro-dar um modelo de águas subterrâ-neas e avaliar seus resultados ou umtécnico poderia fazê-lo?A resposta é provavelmente sim paraambas. Alguns modelos são relativa-mente simples e requerem pouco trei-namento para serem utilizados apro-priadamente. Um exemplo de softwarede uso simples é o AquiferWin (mode-lo de avaliação de testes de aquíferos).Muitos dos seus resultados estão far-tamente documentados em artigos téc-nicos e livros e um técnico com pou-cos anos de experiência pode operá-lo satisfatoriamente. Se um projetonecessita de uma análise 2D ou 3D deum modelo numérico, então, definiti-vamente será necessária a presençade um hidrogeólogo com treinamentoformal em modelagem. Modelagemnumérica é um processo complicadoe os modelos podem facilmente seraplicados de forma incorreta. Em ge-ral, faz-se necessário um hidrogeólogo

treinado em estabelecer malhas depontos, compreensão de dispersãonumérica (erros que podem avolumar-se na solução) e entendimento docomportamento de contaminantes navida real para que ele possa reconhe-cer os resultados errôneos.Qual sua expectativa sobre o mer-cado brasileiro para modelos mate-máticos em águas subterrâneas?Com uma população de 200 milhões,é definitivamente um grande mercadopotencial. Até agora, nossa experiên-cia na GroundwaterSoftware.com mos-tra que não fomos capazes de atingiresse mercado. Por várias razões comoa barreira da língua, taxas de importa-ção e do alto preço de alguns dos mo-delos mais sofisticados. No futuro, gos-taríamos de desenvolver versões maisbaratas em português e espanhol.Que conselho você daria para umhidrogeólogo que planeje começar suacarreira em modelagem matemática?Uma coisa que eu não imaginavaquando iniciei nessa estrada é que mo-delagem matemática não é uma ciên-cia exata. Se você é um jovemhidrogeólogo e está procurando res-postas específicas você poderá se de-sapontar. Um dos grandes benefíciosque encontrei nos meus estudos emmodelagem de água subterrânea éque isto me tornou um hidrogeólogomelhor. Modelos matemáticos são fer-ramentas excelentes para ajudar o seuusuário a compreender as relaçõesentre os diferentes parâmetros (exem-plo: se a condutividade hidráulica va-ria uma ordem de grandeza qual seriaa diferença na velocidade de transpor-te do contaminante?). Resultados demodelagens deveriam ser sempreapresentados em intervalos baseadosem análise de sensibilidade. Um exem-plo poderia ser o tempo de 5 a 10 anosde transporte de benzeno para atingirum poço de abastecimento para con-sumo público baseado num intervalode conduvidades hidráulicas. Lembre-se sempre de começar com contassimples feitas à mão antes de “mergu-lhar” num complicado modelo 3D.

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PERFURAÇÃO

Moisés M. Soria, Gerente deProduto da Sampla do Brasil

Atualmente, o uso dastubulações flexíveisvem sendopopularizado, pelomaior conhecimento efama do produto bemcomo pelo seu preçomais competitivo.

s tubulações flexíveis são mangueiras que subs-tituem os tubos edutores rígidos nas instalações

de bombas submersas. As vantagens para a utilizaçãodesse produto são muitas. Entre elas, podemos citar al-gumas, como:

cimento e fama do produto bem como pelo seu preçomais competitivo. Vale lembrar que no início, o preçodesse produto era até três vezes maior que os tubosde aço galvanizado, o que gerava uma dificuldade enor-me nas vendas, mesmo com cinco anos de garantia.Muitas vezes, as empresas enxergavam todos os be-nefícios do produto, mas não podiam utilizar porque opreço era proibitivo para determinados setores. Foi jus-tamente o aumento do preço do aço no mundo queajudou a impulsionar as vendas.

Um dos entraves para a plicação das tubulações flexí-veis é a mudança de cultura. Embora seja muito sim-ples, foge um pouco dos materiais disponíveis no mer-cado para a mesma finalidade, daí a dificuldade de terum retorno em curto prazo. Quando da introdução doproduto no país, a lentidão na progressão das vendas jáestava prevista, haja vista que na Europa aconteceu amesma coisa.

Uma das primeiras empresas a util izar estatecnologia foi a Vale, pois o seu corpo técnico podeentender e compreender as vantagens competitivas doproduto. Para esta empresa, poder economizar tempona instalação e retirada das bombas submersas, não

ter problemas de corrosão porferro bactéria e ainda poder eco-nomizar energia foram fatoresmuito importantes em que asomatória deles viabilizava a suaaplicação.As empresas públicasde abastecimento de água hojetambém utilizam esta tecnologia,pois o produto é homologadopara água potável.

O produto que já possuía inú-meras vantagens competitivas fi-cou ainda mais atraente com ospreços se equiparando aos tubosde aço. Abrindo possibilidades,para os usuários que gostam des-ta tecnologia.

TUBULAÇÕES FLEXÍVEISPARA

1. Rapidez de montagem e desmontagem, baixandoos custos com manutenção e/ou instalação;2. Lances únicos de até 200 metros (sem emenda); porisso, não é necessário fazer emendas que aumentam otempo gasto na instalação;3. Não sofre corrosão, sendo ideal para água corrosi-vas, seja por pH baixo, alto teor de ferro, etc;4. Ocupa pouco espaço no transporte earmazenamento. Por exemplo: 200 metros de tubula-ção flexível podem ser transportados numa caminhone-te. Se a mesma metragem fosse de tubo rígido, serianecessário um caminhão;5. Longa vida útil;6. Menos perda de carga (economia de energia). Hojeé um fator muito importante, que pesa no bolso das em-presas;7. Não incrusta. Por ser um “elemento dinâmico” nãoacumula incrustações, pois ao li-gar a bomba a tubulação flexíveldilata, não permitindo que se acu-mule nenhum tipo de material naparede interna.

Este produto vem sendo aplica-do na Europa há mais de 40 anos.No Brasil, está no mercado há 14anos. No começo, pela própriadesconfiança do mercado, o con-sumo era pequeno, restringindo-se apenas a setores com muitasdificuldades na operação dos po-ços e com maior capacidade deimplementar novas tecnologias.Atualmente seu uso vem sendopopularizado, pelo maior conhe-

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28 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO MAIO/JUNHO 2012

REMEDIAÇÃO

emediação de locais contaminados é dada por mui-tos como uma ciência dominada. Com custos e

prazos perfeitamente determinados,com uma avaliaçãosimples e sumária no local contaminado. Prazos rápi-dos para remediação de locais são o objetivo de todofiscalizador de meio ambiente, tanto aqueles que o fa-zem por ofício quanto os que o fazem por consciênciaou paixão. Prazos rápidos requerem ações enérgicas,que pressupõe o uso extensivo de técnicas de avalia-ção de alta resolução, de forma a se mapear e interpre-tar em grande detalhe a distribuição da contaminaçãoem subsuperfície. Além destes métodos, também é im-perativo a utilização de laboratórios móveis para que aavaliação possa ser feita em tempo real, permitindo adefinição de novos pontos enquanto a equipe e os equi-pamentos encontram-se ainda disponíveis no local. Es-tas técnicas exigem a presença de técnicos competen-tes, que possam fazer a interpretação dos dados à me-dida que estejam sendo gerados. Não basta somente apresença de operadores de equipamentos no campo.

Novas técnicas e equipamentos estão surgindo, quepermitem o avanço significativo na coleta de dados deforma rápida e também em grande quantidade. Tais téc-nicas de avaliação modernas concorrem tanto para aviabilização de um entendimento muito mais profundoda distribuição dos contaminantes e melhora no projetode remediação quanto para concentrar os gastos emprazos muito mais exíguos. As remediações baseiam-se sempre nas características físicas e químicas doscontaminantes e do meio poroso. Quando avaliadas emconjunto, aproveitando-se da grande discretização obti-da pela avaliação em alta resolução, indicam claramen-te a direção a ser tomada. Por exemplo, compostos vo-

láteis, como a maioria dos hidrocarbonetos e dosorganoclorados, podem ser muito mais facilmente re-movidos a temperaturas elevadas. A velocidade daremediação pode ser melhorada em algumas ordens degrandeza. Claro que isso envolve um uso maciço deenergia. A custos elevadíssimos, especialmente aqui noBrasil. A remediação acelerada envolve um desembol-so quase que imediato ou ao menos num horizonte detempo muito reduzido. Avaliações realizadas de formaespaçada, com coleta de amostras, envio ao laborató-rio, nova definição de pontos de coleta para refinar otrabalho, nova coleta e envio de amostras e repetiçãodeste processo por muitos anos permitem um desem-bolso financeiro espaçado, muito mais confortável parao responsável pela empresa.

Um investimento alto necessariamente diminui na-quele prazo a rentabilidade da empresa, e também adistribuição de lucros aos acionistas, que podem semudar para outros papéis, desvalorizando ainda maisa empresa. Muito embora as avaliações e remediaçõesdesenvolvidas num prazo muito dilatado envolvam cus-tos finais muito mais expressivos (muito mais retrabalho,como mobilização de equipe, amostragens paramonitoramento e acompanhamento ao longo do tem-po etc.), elas ainda são as preferidas. Todos esses cus-tos, trazidos a valores de hoje, indicariam uma má de-cisão administrativa, se baseadas exclusivamente noseu valor final em si. Os caminhos para se mudar essequadro, que ocorre no mundo todo, devem ser aber-tos pelos órgãos de meio ambiente, de forma a permi-tir tanto a saúde do meio ambiente quanto a saúde fi-nanceira das empresas que devem pagar pelaremediação dessas áreas.

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REMEDIAÇÃONO VALOR DE HOJE Gustavo Alves da Silva, geólogo da Hidroplan

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30 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO MAIO/JUNHO 2012

OPINIÃO

engenharia de recursos hídricos desenvolveu, coma finalidade de aumentar a disponibilidade de água

e de, eventualmente, resolver problemas localizados, atecnologia de recarga artificial, utilizando efluentes ade-quadamente tratados. Essa prática designada como“recarga gerenciada” permite, entre outros benefícios,oaumento das reservas subterrâneas, proporcionando,ainda, maior segurança em termos de proteção deaquíferos, uma vez que a qualidade da água de recargaé continuamente monitorada.

A recarga pode ser efetuada diretamente através depoços de injeção ou através de bacias de infiltração. Ométodo de infiltração designado como TSA (Tratamen-to Solo-Aquífero) utiliza o conjunto camada insaturada-aquífero, introduzindo uma nova dimensão na disposi-ção de efluentes, proporcionando tratamento comple-mentar por biodegradação, sorção, hidrólise, precipita-ção, nitrificação, desnitrificação, complexação, trocaiônica, filtração, etc. São mais econômicos que poçosde injeção direta e proporcionam níveis de remoção ele-vados em termos de compostos orgânicos e inorgânicos,organismos patogênicos e poluentes emergentes taiscomodisruptores endócrinos, produtos farmacêuticosquimicamente ativos, cosméticos, oocistos decriptosporidium spp., cistos de giárdia spp., etc., a cus-tos bastante inferiores aos associados a tratamento avan-çados convencionais, construídos na superfície.Arecarga gerenciada, vista como uma modalidade dereúso, atende a uma gama significativa deobjetivos,podendo proporcionar aumento de disponibi-lidade hídrica, proteção de aquíferos costeiros contrasalinização, eliminar a necessidade de construção dereservatórios superficiais, controlar a subsidência desolos e sustentar níveis de aquíferos freáticos, submeti-dos a condições inadequadas de extração.

Esta prática conservacionista vem, entretanto, sen-do combatida por alguns legisladores e tomadores dedecisão, com base, exatamente, numa interpretaçãoauto conservadora, inadequada e tendenciosa do Prin-cípio da Precaução, que não deve, nesse formato, ser

invocado para impedir o desenvolvimento detecnologias que podem apresentar riscos controláveis.Os órgãos reguladores devem assumir o compromis-so de gerenciar riscos e incertezas científicas de formacoerente, permitindo, por outro lado, que os benefíci-os proporcionados por uma determinada prática se-jam auferidos em sua plenitude.

O cenário mais crítico ocorre, entretanto, quando,com base exclusiva em preconceitos, preferências pes-soais ou argumentos subjetivos, os tomadores da de-cisão se recusam a regulamentar processos ou ativi-dades tecnológicas importantes, criando condiçõespara a ocorrência de riscos que poderiam ser evitadosatravés da aplicação de mecanismos adequados decomando e controle.

A prática de recarga gerenciada de aquíferos vemsendo amplamente utilizada em todo o mundo, combenefícios elevados e isenta de impactos ambientaissignificativos. As 7ae a 8a Conferências do Grupo deEspecialistas em Reúso de Água, da InternationalWater Association – IWA, ocorridas em Brisbaine,Austrália em outubro de 2009 e Barcelona, Espanhaem outubro de 2011, dedicaram, dos quatro diasde duração de cada evento, um dia completo paraa discussão de temas relacionados à recargagerenciada de aquíferos.

A regulamentação dessa prática seria de extrema im-portância para o Brasil, por se constituir em um instru-mento adicional para incrementar a oferta de água, par-ticularmente em áreas de estresse hídrico e onde ocor-rem conflitos pelo uso da água.Quando estiver adequa-damente regulamentada e exercida trará benefícios, in-troduzindo uma nova dimensão para a disposição deefluentes domésticos.

É, portanto, fortemente recomendado, que se proce-da a uma regulamentação racional e realista da práticade recarga gerenciada de aquíferos e que se estabele-çam programas de desenvolvimento tecnológico, de trei-namento, de divulgação e de promoção desse impor-tante instrumento de gestão de recursos hídricos.

Ivanildo Hespanhol, ProfessorTitular, Escola Politécnica da USPe Diretor do Centro Internacionalde Referência em Reúso de Água/CIRRA/IRCWR, USP

RECARGA GERENCIADADE

AAQUÍFEROS

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