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Órgão dos trabalhadores das indústrias metalúrgica, química, farmacêutica, eléctrica, energia e minas N.º 3 Novembro 2008 Distribuição gratuita aos associados dos sindicatos federados Se houvesse vontade política, não faltaria dinheiro para melhores salários e para boas políticas sociais. EDITORIAL Firmeza vence discriminação Os tribunais reprovam o comportamento das empresas que usam a discriminação salarial para tentarem impor a lei da selva. Leoni e CACIA foram condenadas. 9 Não cumprir sai caro Só a Tyco tem que pagar mais de um milhão de euros a 1300 trabalhadores - um dos vários casos em que os tribunais e a ACT obrigaram empresas a cumprir o contrato colectivo em vigor. 15 Luta de todos Onde alastra o trabalho precário, todos os trabalhadores ficam a perder. A campanha em curso apela à luta para que os «contratados» passem a efectivos e para que haja justos aumentos dos salários e direitos iguais. 7 EDP ganha mais Os lucros da EDP cresceram abundantemente, no primeiro semestre de 2008, mas os impostos a pagar tiveram uma subida ínfima. 16 Mais 50 euros em 2009 Contratação colectiva vai decidir-se nas empresas 20 Luta impõe CCTV FMEE Na Delphi e Motometer, valeu a pena resistir com firmeza à chantagem da discriminação salarial, para defender os direitos inscritos no contrato colectivo do sector FMEE. 3 A Fiequimetal e os sindicatos procuram ultrapassar o boicote das associações patronais e estão a dinamizar a apresentação das reivindicações nas empresas. Como valor de referência, exige-se uma actualização salarial de, pelo menos, 50 euros. Na Electricidade dos Açores, o acordo resultou num acréscimo salarial global de 4,68 por cento. Foram-se as promessas valeram os interesses Arménio Carlos, da Comissão Executiva da CGTP-IN, fala sobre a acção do Governo de José Sócrates e do PS, empossado há três anos e meio. Grande protesto dia 1 de Outubro Por melhores salários e emprego sem precariedade e contra a revisão, para pior, da legislação laboral, o dia nacional de luta foi uma das maiores manifestações de protesto dos últimos meses. A luta vai continuar. Vitórias 4 a 6 Precariedade Lucros Centrais

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Órgão

dos trabalhadores

das indústrias

metalúrgica,

química,

farmacêutica,

eléctrica,

energia

e minas

N.º 3Novembro

2008

Distribuição gratuita

aos associados dos sindicatos

federados

Se houvesse vontade política, não faltaria dinheiro para melhores salários e para boas políticas sociais. EDITORIAL

Firmeza vence discriminação Os tribunais reprovam o comportamento das empresas que usam a discriminação salarial para tentarem impor a lei da selva. Leoni e CACIA foram condenadas.

9

Não cumprir sai caro Só a Tyco tem que pagar mais de um milhão de euros a 1300 trabalhadores - um dos vários casos em que os tribunais e a ACT obrigaram empresas a cumprir o contrato colectivo em vigor.

15

Luta de todos Onde alastra o trabalho precário, todos os trabalhadores ficam a perder. A campanha em curso apela à luta para que os «contratados» passem a efectivos e para que haja justos aumentos dos salários e direitos iguais. 7

EDP ganha maisOs lucros da EDP cresceram abundantemente, no primeiro semestre de 2008, mas os impostos a pagar tiveram uma subida ínfima. 16

Mais 50 euros em 2009

Contratação colectiva vai decidir-se nas empresas

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Luta impõe CCTV FMEE Na Delphi e Motometer, valeu a pena resistir com firmeza à chantagem da discriminação salarial, para defender os direitos inscritos no contrato colectivo do sector FMEE.

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A Fiequimetal e os sindicatos procuram ultrapassar o boicote das associações patronais e estão a dinamizar a apresentação das reivindicações nas empresas. Como valor de referência, exige-se uma actualização salarial de, pelo menos, 50 euros. Na Electricidade dos Açores, o acordo resultou num acréscimo salarial global de 4,68 por cento.

Foram-se as promessas valeram os interesses

Arménio Carlos, da Comissão Executiva da CGTP-IN, fala sobre a acção do Governo de José Sócrates e do PS, empossado há três anos e meio.

Grande protesto dia 1 de OutubroPor melhores salários e emprego sem precariedade e contra a revisão, para pior, da legislação laboral, o dia nacional de luta foi uma das maiores manifestações de protesto dos últimos meses. A luta vai continuar.

Vitórias

4 a 6

Precariedade

Lucros

Cen

trais

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Novembro 20082

O descontentamento dos traba-lhadores e de outras camadas da população, contra a polí-

tica do Governo Sócrates, tem sido intenso. Isto ficou demonstrado nas grandes acções de luta convocadas pela CGTP-IN contra essa política. Merece destaque a revisão do Código do Trabalho, desencadeada pelo Go-verno e aplaudidade pela CIP. Um e outra têm como objectivo, com a al-teração da lei, atacar direitos funda-mentais dos trabalhadores, levar ao aumento da precariedade do empre-go, agravar brutalmente os horários de trabalho (que poderão chegar às 60 horas semanais), reduzir os salários, simplificar o despedimento sem justa causa, e procurar liquidar a contrata-ção colectiva, através da caducidade,

subvertendo também o princípio do tratamento mais favorável.

As grandes lutas que se desenvol-veram, e em que participaram acti-vamente os trabalhadores represen-tados pela Fiequimetal, rejeitaram este Código do Trabalho, mas funda-mentalmente exigiram uma imedia-ta mudança de política do Governo, para impedir a continuação da des-truição do aparelho produtivo (com a consequente eliminação de milha-res de postos de trabalho), das deslo-calizações e do encerramento de em-presas, da política de baixos salários (que leva ao crescimento da pobreza dos trabalhadores), do agravamen-to do custo de vida e do aumento da precariedade (responsável por gra-ves discriminações e limitações aos

direitos e entraves à qualificação e à progressão profissional).

É necessário que o Governo oiça a voz do grande protesto popular. Se não o fizer, por certo, como outros no passado, acabará por ser derrotado pela resistência e pela luta dos tra-balhadores, que jamais se resigna-rão a aceitar a redução dos direitos e dos salários.

Desde já, há que pôr em prática as orientações aprovadas pela

Direcção da Fiequimetal, que pas-sam por concretizar, em todos os sectores abrangidos pela Federação, uma forte acção reivindicativa para 2009, exigindo em cada empresa aumentos salariais que tenham em conta a inflação, a produtividade e

as perdas salariais verificadas nos últimos anos.

Há que aprovar as reivindicações salariais internas de empresa, que devem ser negociadas depois de for-malmente entregues às administra-ções. Se não houver disponibilidade patronal para chegar a acordo, o ca-minho é a luta por melhores salários em 2009.

Não podemos permitir que o patro-nato e o Governo, em nome da crise do sistema capitalista, de que são no País os únicos responsáveis, venham tentar manter a brutal contenção sa-larial dos últimos anos.

Com indignação, os trabalhadores e os povos vêem que os gover-

nos que praticam políticas de direi-ta, como o Governo de Sócrates, re-jeitam políticas sociais justas, mas, quando o sistema capitalista deca-dente e explorador entra em colap-so, como acontece actualmente, con-cedem biliões de euros a banqueiros e grupos financeiros que estão ago-ra em falência mas são os principais beneficiários do sistema vigente.

Afinal, se houvesse vontade política, não faltaria dinheiro para melhores sa-lários e para boas políticas sociais.

A crise financeira que se está a viver e a forma como os governos lhe pro-curam responder são provas de que o capitalismo é um sistema que provoca pobreza e sofrimento aos povos e que, como tal, nunca poderá ser aceite pe-las massas trabalhadoras, que desejam uma sociedade de justiça e progresso, com o fim da exploração do homem pelo homem. É também por isso que a nossa luta vai continuar.

Os trabalhadores rejeitaram este Código, mas fundamentalmente exigiram uma mudança de política

A luta vai continuarEDIT

ORIA

L

Este tempo, marcado pela exploração do ca-pital e sustentado por políticas de direita e anti-sociais, praticadas por um Governo PS,

merece que a classe trabalhadora acorde e saia do comboio do sono em que há muito vem viajando.

Este Governo, ministrado pelo senhor enge-nheiro José Sócrates, ainda na sua puberdade definiu como alvo principal a classe operária, desde muito cedo demonstrou que a linha adop-tada era a de retirar direitos aos trabalhadores. Um exemplo desta constatação foi a afirmação de que a lei portuguesa «protege demais os traba-lhadores em relação ao despedimento», produzi-da por um doutor entendido em leis de trabalho, que o Governo empossou na sua Comissão do Li-vro Branco.

Com uma argumentação já usada e abusada por outros da mesma casta, vão dizendo que esta revi-são do Código do Trabalho é para dinamizar a pro-dutividade portuguesa.

Nestes quatro anos de governação, tudo que é do povo, conquistado com a revolução de Abril, so-

freu uma violenta ofensiva, desde a escola públi-ca, à saúde, às reformas, e às leis laborais.

Hoje temos no País instalado um clima de re-pressão, fruto do aumento do desemprego, da pre-cariedade, da exploração, consequência da polí-tica dos baixos salários imposta por um patronato retrógrado e vampírico.

O movimento sindical unitário tem sido o gran-de baluarte da oposição às políticas seguidas por este Governo. Foram muitas as lutas com gran-de expressão de massas, mas a prepotência deste Governo mantém-se bem evidente com a apresen-tação da proposta de revisão do Código do Tra-balho, que concretiza um ataque aos direitos dos trabalhadores, sem precedentes nestes 34 anos de democracia.

Estamos num tempo de resistência. A luta de-senvolve-se em torno do combate a esta revisão do Código para pior, que preconiza um ataque feroz à contratação colectiva, a liberalização dos horários de trabalho, a legalização da precariedade, um no-vo ataque ao movimento sindical.

O movimento sindical tem que fazer parar esta comboio do sono, tem que acordar a classe traba-lhadora para a consciência social e política e a ne-cessidade de ruptura.

É imperativo, nesta fase de combate à revisão do Código, que se imprima uma dinâmica forte à acção reivindicativa nas empresas e que nela se envolva a maioria dos trabalhadores. Resolver os problemas concretos, a nível de empresa e local de trabalho, serve de catapulta para dar mais con-fiança aos trabalhadores para as lutas que aí vêm.

Portugal precisa urgentemente de uma política que dignifique quem trabalha e precisa que a ri-queza produzida seja repartida mais equitativa-mente.

No quadro da CGTP-IN, a nossa federação e os sindicatos nela associados têm sido um pilar fun-damental na intervenção e mobilização para lu-tar por um projecto de justiça social e desenvolvi-mento saudável para Portugal.

Com muita confiança, vamos continuar a lutar por um Portugal melhor.

Comboio do sono

LUÍS PINTODirecção Nacional da Fiequimetale coordenador do Sindicato dos Metalúrgicos do Norte

OpIn

IãO

NacIONaL

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Novembro 2008 3

Vitórias na Delphi e Motometer

Valeu a pena resistir com firmeza à chantagem da discriminação salarial, para defender os direitos do CCTV FMEE que os amigos dos patrões querem ajudar a liquidar.

A Delphi, em Bra-ga, confrontada com a unidade,

a resistência e a luta dos seus trabalhadores, viu-se forçada a terminar um longo período de discrimi-nação salarial, iniciado no ano de 2007.

De nada valeram as pres-sões e chantagens. A em-presa teve que desistir de aplicar a todos os traba-lhares, por adesão indivi-dual, o contrato dos seus amigos e protegidos da UGT/Sima.

Ao «pedido» da empre-sa, para adesão individu-al e formal ao contrato da UGT, disse que não a es-magadora maioria das tra-balhadoras e dos traba-lhadores, devidamente informados pelo seu sin-dicato, o STIENC. Mere-ce destaque o pessoal do sector produtivo, pela for-ma muito determinada co-mo rechaçou os propósitos da administração.

Em Abril deste ano, a Delphi voltou a insistir na sua ofensiva de liqui-dação do contrato colec-tivo de trabalho do sector FMEE, que está em vi-gor e é muito mais favo-rável. Os trabalhadores, em plenário geral, volta-ram a recusar e definiram um conjunto de lutas. Es-

te facto veio a determinar a assumpção, por par-te da empresa, do paga-mento salarial devido aos trabalhadores, a partir de Abril de 2008, e o aban-dono das exigências de adesão formal ao contra-to dos patrões.

O sindicato e os traba-lhadores pretendem ago-ra que a empresa assuma o pagamento das diferen-

ças salariais que ficaram em dívida, desde Abril de 2007 a Março de 2008, para o que levaram o ca-so a Tribunal de Trabalho. Estava marcada audiência para 28 de Outubro.

Cientes, agora por expe-riência própria, de que a luta é o único caminho pa-ra defender os direitos, os trabalhadores da Delphi marcaram presença mas-siva no plenário que te-ve lugar dia 1 de Outu-bro, respondendo ao apelo da CGTP-IN para esta jor-nada de combate contra o Código do Trabalho.

Motometerpagou caro

Depois de muitos anos de atraso na apreciação do processo em que os tra-balhadores da Motome-ter reclamavam a apli-cação do CCTV FMEE, o Tribunal do Trabalho de Vila Real decidiu final-mente impor à empresa a sua aplicação. No acor-do firmado entre a em-presa e o STIENC, ficou reconhecida e consagra-da a aplicação dos direi-tos contratuais a todos os trabalhadores.

O acordo, que precisou de esclarecimento adicio-nal do juiz, por não haver um cumprimento rigoroso por parte da empresa, veio trazer justiça aos trabalha-dores que, acreditando no trabalho desenvolvido pe-los delegados sindicais e pelo seu sindicato, vi-ram resolvido um proble-ma que os afectou duran-te anos.

A Motometer passou ago-ra a aplicar o contrato co-lectivo em vigor no sector FMEE, mas teve que pa-gar a sonegação de direi-tos mais vantajosos. As trabalhadoras e os traba-lhadores prejudicados ob-tiveram:

- a contagem do tempo de progressão na carrei-ra e de contagem de an-tiguidade, desde Janeiro de 1991,

- e o pagamento e acerto de salários a partir de Ja-neiro de 2005.

Congratulando-se por este desfecho positivo, o sindicato valoriza a disponibilidade revela-da pelos trabalhadores nas lutas travadas e a to-tal confiança depositada nos seus representantes. A determinação na lu-ta foi especialmente vi-sível na adesão à greve geral de 2007 e na par-ticipação nas acções de-senvolvidas a nível na-cional, em Lisboa e no Porto. Salienta-se ainda a massiva sindicalização no STIENC.

acTUaL

Luta impôs a aplicação do contrato colectivo

A VN Automóveis, em Vendas Novas, reconheceu razão à reclamação do Sin-dicato dos Metalúrgicos e regularizou o pagamento do prémio e do subsídio de re-feição aos delegados sindi-cais, relativamente aos pe-ríodos em que desenvolvem actividade sindical.

Na Halla Climate Con-trol, em Palmela, a comis-são sindical conseguiu final-mente realizar um plenário, dentro do horário de traba-lho, no dia 29 de Setembro. Ficou marcada uma reunião com a direcção para anali-sar vários problemas coloca-dos pelos trabalhadores.

A Sakthi, na Maia (ex- -Portcast), reintegrou co-mo trabalhador efectivo, a partir de 25 de Agosto, um operário que, com o apoio do Sindicato dos Metalúr-gicos do Norte, decidiu contestar o despedimento, intentado há cerca de um ano, no final do contrato a termo.

Depois de ser notificada pelo Tribunal de Trabalho, a empresa contactou o sin-dicato, aceitando assumir a reintegração e garantin-do a antiguidade, além das demais consequências le-

gais. O trabalhador esteve um ano como temporário, a que se seguiu um ano e meio de contrato a termo. O posto de trabalho era permanente e, como refe-rimos no primeiro número do Jornal da Fiequimetal, foi ali colocado outro tra-balhdor, em regime tem-porário, após a decisão do despedimento. Para o su-cesso desta batalha con-tribuíram a solidariedade dos camaradas e a acção da comissão sindical e da comissão de trabalhado-res, salienta o STIMN.

Delegados na A. VisionPela primeira vez, foram eleitos a 23 de Julho os delegados sindicais dos Metalúrgicos do Sul na A. Vision, criada pela Autoeuropa para lhe prestar serviços e fornecer trabalhadores. Na actividade a desenvolver, os delegados sindicais propõem-se manter um funcionamento regular, obter instalações próprias e responder cabalmente às solicitações dos sindicalizados, sobressaindo a luta contra a precariedade e pelo direito ao trabalho com direitos. No dia 7 de Outubro, os delegados reuniram com os responsáveis da empresa, ficando o compromisso de promover reuniões mensais com a estrutura sindical.

Lutas no ParqueOs trabalhadores da Vanpro Assentos (no Parque da Autoeuropa) reclamaram a reposição do poder de compra, após uma actualização de 2,8 por cento, em Janeiro. A empresa mostrou-se disponível para chegar a acordo e aplicou um prémio de um por cento do salário anual, no mínimo de 140 euros e máximo de 200.Na SPPM (também no Parque), após uma greve no dia 15 de Outubro, a administração propôs-se responder positivamente às reivindicações. Os salários de 666 euros passaram para 750, com compromisso de criar um subsídio de transporte em Junho de 2009.

Valeu a pena

Unidade, firmeza e determinação na luta foram fundamentais para os resultados positivos (foto na manifestação de 5 de Junho, em Lisboa)

Greves na FehstOs trabalhadores da Fehst

realizaram greves de meia hora por dia, durante todo o mês de Julho. De 1 a 12 de Setembro, os períodos de greve aumentaram para uma hora. A adesão a estas lutas foi quase total, infor-mando o STIENC que, caso a empresa não altere a sua posição, serão desencadea-das outras formas de luta.

Esta foi uma firme res-posta à provocação do pa-

trão da Fehst, empresa saída do desmantelamen-to da antiga Grundig, que não actualiza salários des-de 2006, alegando que se desvinculou da ANIMEE e que, por isso, não tem que aplicar os acordos firma-dos pela associação patro-nal.

Nos últimos tempos, a Fehst tem apresentado propostas inaceitáveis e, por via da sua filiação na

associação da metalurgia, quer aplicar outro contrato colectivo, o que levaria a uma perda considerável de direitos. Quer ainda supri-mir o pagamento dos pré-mios integrados e do sub-sídio de turno fixo, e que os trabalhadores passem a pagar na cantina um euro acima do valor do subsídio de refeição (contra um di-reito conquistado há cator-ze anos).

Sakthi reintegrou

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Novembro 20084

Acção integrada no sector FMEE

Organizar para ganharA par da proposta salarial para cada empresa, trata-se de reforçar a organização, aumentar a sindicalização e incrementar a luta pelos direitos e pelo aumento real dos salários.

cONTraTaçãO

Os trabalhadores da CSP conseguiram o encurta-mento da carreira dos ope-radores especializados, dos nove anos e meio pre-vistos no contrato colecti-vo (CCTV FMEE) para oi-to anos ou, nalguns casos, sete anos e meio. Este pro-gresso foi obtido durante as negociações dos aumen-tos salariais para este ano (três por cento, com efeitos a Janeiro) naquela fábrica de semicondutores.

Mundo Elevadores

Para regulamentar as con-dições de prestação do tra-balho em regime de des-locação, está em curso um processo negocial entre o SIESI e a Mundo Elevado-res, empresa que se dedica à montagem e manutenção de elevadores, predominan-temente no estrangeiro. Es-tão já acordadas matérias co-mo a classificação de todos os trabalhadores, numa car-reira mais curta e automáti-ca, em Técnicos de Monta-gem, do grupo dos Técnicos Fabris do CCTV FMEE; o pagamento da diferença en-tre a remuneração contratual e o salário mínimo praticado no país onde estão desloca-dos; o direito de vinda a Por-tugal, para gozo de licença suplementar e dias de des-canso compensatório, cada cinco semanas. O processo negocial iniciou-se depois de os trabalhadores deslocados na Holanda terem decidi-do apresentar-se na sede da empresa, em Alverca do Ri-batejo, em protesto pela in-tenção da gerência de subs-tituir a retribuição certa pelo pagamento de prémios, ao que a gerência reagiu com a suspensão preventiva de 15 operários. Os trabalhadores sindicalizaram-se e elegeram delegados sindicais.

OTISNa OTIS foi conquistado

um subsídio de disponibi-lidade (40 euros semanais e 35 euros por saída) pa-ra os trabalhadores em re-gime de prevenção, como resultado de negociações, conduzidas pelo SIESI e pelo STIENC. Ficou ainda acordado um aumento sa-larial de três por cento e o valor de oito euros para o subsídio de refeição.

CSP

Nos fabricantes de material eléctrico e electrónico, o

boicote da associação pa-tronal na revisão do con-trato colectivo e o «pré-mio» que, com a revisão do Código do Trabalho, o Governo quer oferecer a quem não respeita os direitos em vigor, levam a estrutura sindical a avançar com mais deter-minação para a acção nas empresas.

Em plenários de tra-balhadores, vai ser de-batida a proposta sala-rial para 2009, para cada empresa, e a forma de a concretizar. Para além da proposta salarial, é indis-pensável desenvolver um alargado e aprofundado debate com a estrutura sindical de cada empre-sa, encarando de forma integrada o reforço da or-ganização, o consequente aumento da sindicaliza-ção, a luta pela manuten-ção dos direitos conquis-tados e o aumento real dos salários (considera-do o objectivo estratégico para o próximo ano).

A federação, o SIESI e o STIENC consideram que, em resultado de um lon-go processo de desinves-timento e destruição do aparelho produtivo, e de uma aposta estratégica na

contenção salarial, os su-cessivos governos de di-reita conduziram o País a uma grave situação econó-mica, que o coloca no pa-tamar dos mais atrasados da UE.

A luta pelo aumento dos salários permite, por um lado, que os patrões se-jam novamente derrota-dos, perante a chanta-gem de fazerem depender os aumentos salariais da aplicação do seu «con-

trato colectivo». Por ou-tro lado, o crescimento real dos salários consti-tui um imperativo para o País, para atingirmos um nível de vida e bem-es-tar cada vez mais próximo das médias registadas nos países da UE mais desen-volvidos e para estimular a economia e a criação de emprego.

A federação e os sindi-catos vão desenvolver um amplo debate com os tra-

balhadores, de forma a ga-rantir, em cada empresa, aumentos que tenham em conta a inflação, a produ-tividade e a recuperação das perdas salariais dos últimos anos.

Para além da negociação ao nível sectorial, há que, em todas as empresas, com a aprovação dos trabalha-dores, apresentar propos-tas de revisão salarial para 2009, que deverão ser en-tregues às administrações

e negociadas pelos dele-gados sindicais e sindica-tos. Para conquistar me-lhores salários em 2009, é imprescindível que os tra-balhadores, com unidade e convicção, exijam a ne-gociação dessas propostas e demonstrem a sua de-terminação para lutar por elas, se o patronato recu-sar negociar.

Também as alterações ao Código do Trabalho impõem a necessidade de discutir com os trabalha-dores o seu envolvimento na luta, mantendo a resis-tência a um nível elevado, o que será decisivo para alcançar, empresa a em-presa, um novo edifício de direitos que contem-ple muitos daqueles de que dispomos hoje e que foram alcançados pela ár-dua luta de gerações e ge-rações de trabalhadores do sector FMEE.

O que os trabalhado-res dificilmente compre-enderão é a circunstância de muitas multinacionais, que quase duplicaram os lucros, poderem vir a au-mentar a jornada de traba-lho sem pagarem mais por isso, se o Governo do PS, contra todas as promessas feitas, conseguir servir aos patrões o mais apetecível ingrediente para o aumen-to da exploração.

É imperioso alcançar um aumento substancial dos salários, defende a Fie-quimetal, que entregou em Setembro as propostas às associações patronais me-talúrgicas.

Na proposta de revisão do CCTV da metalurgia e metalomecânica, apre-sentada à AIMMAP (As-sociação dos Industriais Metalúrgicos, Metalome-cânicos e Afins de Por-tugal, com sede no Porto, com a qual foi celebrado um acordo salarial, no fi-nal de Março deste ano), e nas propostas sindicais enviadas à FENAME, à ANEMM e à Associação Industrial do Minho (que

reiteradamente fogem à negociação, datando o úl-timo acordo do ano 2000), salienta-se que o signifi-cativo aumento salarial constitui um elemento de justiça social (repondo o poder de compra perdido com o aumento dos pre-ços, muito acima da infla-ção oficial), mas também é um passo importante para promover o desen-volvimento, através da re-dinamização da procura interna.

A federação defende a inversão da actual polí-tica, para relançar o apa-relho produtivo nacional, o que permitiria melhorar as condições de vida e de

trabalho - pondo termo ao ataque aos direitos dos tra-balhadores e enveredando por relações laborais cuja estabilidade assegure a formação necessária no sector, bem como a atenu-ação dos ritmos e tempos de trabalho.

Na fundamentação das propostas, não foram es-camoteadas situações de efectivas dificuldades, an-tes se procura combatê- -las na origem (a política que estimula as activida-des financeiras e especu-lativas). Por outro lado, a perspectiva de resolver os problemas das empresas à custa de baixos salários e maior exploração dos tra-

balhadores acaba por con-dicionar e até impedir que sejam adoptadas verdadei-ras medidas de recupera-ção. A federação admite, contudo, discutir situa-ções concretas, lembrando que assim sucedeu com os horários de trabalho (cuja adaptação é permitida pe-lo contrato colectivo, em situações de recurso, des-de que haja acordo).

Depois de referir os casos de Espanha (cujo gover-no aponta para um salário mínimo de 800 euros) e da Alemanha (onde o sindica-to dos Metalúrgicos reivin-dica aumentos de 7 a 8 por cento, equivalentes a cer-ca de 200 euros), a fede-

ração apresenta os valores propostos para o subsídio de refeição e as tabelas sa-lariais, defendendo um au-mento de, pelo menos, 50 euros para todos os traba-lhadores.

Às associações patronais que persistem na recusa de negociar, a Fiequimetal comunicou que pretende reclamar a intervenção do ministro do Trabalho, para confirmar se aquelas pres-cindem de ter protagonis-mo nesta área. A ser assim, a federação irá procurar outras soluções, que as-segurem o direito à contra-tação colectiva no sector (no caso, a partir da con-venção da AIMMAP).

Propostas entregues na metalurgia

As reinvindicações vão ser apresentadas e negociadas nas empresas, para romper o boicote da ANIMEE (foto na manifestação de 5 de Junho, em Lisboa)

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Novembro 2008 5

cONTraTaçãO

A decisão foi tomada dia 10 de Setem-bro, pela Direcção

da federação, que aprovou uma resolução em que ape-la aos trabalhadores para que se mobilizem pela con-cretização daquele justo objectivo.

O valor mínimo reflectiu-se nas propostas concretas apresentadas às associa-ções patronais. Salienta-se que é necessário que os salários mais baixos, no sector produtivo, tenham um aumento substancial e que todos cresçam signifi-cativamente acima da in-flação verificada. Isto se-rá fundamental para fazer face ao aumento do custo de vida e para dar início à recuperação do poder de compra perdido, e tam-

bém para atenuar o escan-daloso fosso que separa os trabalhadores portugueses dos demais trabalhadores europeus.

No folheto nacional, em distribuição, recorda-se que os metalúrgicos ale-mães, que já ganham qua-tro vezes mais do que os portugueses, conquista-ram aumentos de 5,5 por cento para 2008 e reivin-dicam 7 a 8 por cento pa-ra o próximo ano. Em Es-panha, o Governo assumiu o compromisso de elevar o salário mínimo para 800 euros. Enquanto o patro-nato, em Portugal, argu-menta com a crise para negar melhorias salariais, verifica-se que as grandes fortunas continuam a cres-cer escandalosamente e

que as desigualdades são cada vez maiores.

Se as associações patro-nais, nos sectores, insistem em boicotar a negociação colectiva, há que apresen-tar as reivindicações e exi-gir aumentos salariais ao nível das empresas, salien-ta a federação, desafiando o patronato a deixar-se de ata car os trabalhadores; a respeitar a contratação co-lectiva e os direitos; a cum-prir o direito dos trabalha-dores à formação contínua; a pôr fim à precariedade e garantir a estabilidade do emprego; a acabar com a política de baixos salários.

Tal como se defende na Política Reivindicativa da CGTP-IN para o pró-ximo ano, a melhoria dos salários e a sua valoriza-

ção real devem ter em con-ta a evolução do poder de compra em anos anteriores (e as perdas face à inflação registada), as condições económicas de cada sec-tor e empresa, e os ganhos de produtividade. Conside-rando estes factores, a CG-TP-IN reclama do Governo e dos representantes patro-nais que os aumentos sala-riais, em 2009, se situem, pelo menos, dois por cento acima da inflação.

Além de exigir o cumpri-mento do acordado para a evolução do salário míni-mo nacional, fixando-o em 450 euros no novo ano, pa-ra alcançar os 500 euros em 2011, a CGTP-IN apre-sentou um novo quadro de evolução, apontando para 600 euros no ano de 2013.

Na contratação colectiva e nas empresas

Mais 50 euros em 2009A Fiequimetal e os sindicatos apresentaram propostas na contratação colectiva e estão a dinamizar as reivindicações nas empresas, apontando como valor de referência uma actualização salarial de, pelo menos, 50 euros.

O Sindicato dos Trabalha-dores da Indústria Mineira deu seguimento às delibe-rações dos plenários reali-zados em várias empresas, cujas conclusões, unâni-mes, apontaram o aumento dos salários como necessi-dade imperiosa no sector.

O STIM apresentou nas empresas a corresponden-te reivindicação com vis-ta à efectiva melhoria das condições de vida e de tra-balho de todos os trabalha-dores.

Salienta o sindicato que a indústria extractiva tem características que a dis-tinguem das demais, por tratar-se de uma activida-de de desgaste rápido, pela penosidade do trabalho em si, pela falta de condições que deriva da irresponsa-bilidade das empresas em matéria de Saúde, Higiene

e Segurança, da inoperân-cia da Inspecção do Traba-lho e, também neste sec-tor, da subserviência do Governo aos desígnios do capital.

A actividade de qual-quer mina, recorda o STIM, é sempre uma ac-tividade a prazo, já que o homem extrai em pou-cos anos o que a natureza leva muitos anos a criar. Esta situação agrava-se quando algumas empre-sas, como sucede em Por-tugal, desenvolvem a ex-ploração desenfreada dos recursos, quando a cota-ção dos minerais está em alta, e promovem a «lavra gananciosa», explorando apenas os filões cujo te-or de minério é mais ele-vado. Estas práticas en-curtam em muitos anos o tempo de vida das minas.

No encontro nacional de representantes do Sinqui-fa e Sinorquifa foi decidi-do reformular a proposta sindical, reivindicando um aumento mínimo de 50 eu-ros em 2009.

Este valor, de acordo com a resolução aprovada e en-tregue depois na empre-sa que preside à associa-ção patronal APEQ, tem por objectivo fazer face ao aumento do custo de vida e obter uma valorização re-al dos salários. Em Mar-ço de 2007, a Fiequimetal deu acordo definitivo a 88 cláusulas da proposta pa-tronal sobre o texto global e aos anexos, posição ago-ra reafirmada, juntamen-te com a reformulação das reivindicações respeitan-tes à tabela salarial e cláu-sulas de expressão pecuni-ária.

Os mais de cem dirigen-tes e delegados sindicais, membros de comissões de trabalhadores e represen-tantes para a segurança, higiene e saúde laboral, reunidos a 18 de Setem-

bro, em Rio Meão, deci-diram desenvolver uma ampla acção reivindicati-va, para esclarecimento e mobilização dos trabalha-dores e com realização de acções junto das empre-sas dirigentes patronais, para que abandonem as propostas que impedem o acordo e respondam posi-tivamente à proposta sin-dical.

Foi reafirmada a deter-minação e disponibilidade para as acções e lutas que se mostrem necessárias,

para a obtenção do acordo no CCTV.

No encontro foi ainda aprovada uma resolução, a reclamar à Assembleia da República, em especial aos deputados do PS, que reprovem a proposta de lei do Governo sobre a Revi-são do Código do Tra-balho, e uma saudação aos trabalhadores da Fa-pobol, pela luta que têm vindo a travar, designada-mente contra os processos disciplinares abusivamen-te instaurados a activistas.

Outros sectores

Encontros e assembleias de representantes e acti-vistas sindicais de outros sectores tiveram igualmen-te lugar, durante o mês de Setembro: metalúrgicos do Norte (dia 8), STIENC (dia 9), metalúrgicos do Sul e metalúrgicos de Avei-ro, Viseu, Guarda e Coim-bra (dia 17), SIESI e meta-lúrgicos de Lisboa, Leiria, Santarém e Castelo Branco (dia 18), metalúrgicos de Braga (dia 22).

Os representantes dos trabalhadores foram à CUF-Químicos Industriais, em Estarreja, para entregarem as reivindicações aprovadas no encontro

Encontro nacional da química e farmacêutica

O balanço da acção rei-vindicativa desenvolvi-da pelos sindicatos que constituem a Fiequimetal, abrangendo 230 empresas, desde o início do ano até ao final de Agosto, com-prova que reivindicações justas podem levar a resul-tados positivos para os tra-balhadores, sendo deter-minante que estes estejam unidos, organizados e de-terminados a baterem-se pelos objectivos definidos.

Em 25 empresas, as ac-tualizações salariais foram inferiores a 2,5 por cento, valor registado em 43 ca-sos. Aumentos de três ou mais por cento ocorreram em 64 empresas. Nestas, houve acordos que con-templaram aumentos dife-renciados, favorecendo os salários mais baixos, que chegaram a ter subidas de 15 ou mesmo 17 por cen-to. Em várias empresas fo-ram negociados aumentos num valor absoluto igual para todos os trabalhado-

res, conseguindo-se 50 eu-ros ou mais em seis casos (chegando ao valor máxi-mo de 70 euros).

Na negociação com as-sociações patronais, per-sistem os casos graves de boicote e bloqueio, procu-rando a caducidade dos direitos dos trabalhadores ou tentando impor con-tratos menos favoráveis. Mas, naquele período, fo-ram também alcançados importantes acordos sala-riais, como, por exemplo, no CCTV dos anúncios lu-minosos (aumento médio de 3,38 por cento, varian-do, nos diversos graus re-muneratórios, entre 3 e 5,45 por cento), no CCT das garagens (mais três por cento na tabela) ou no CCT dos pesticidas (acor-dados aumentos de 5 ou 6 por cento, conforme os grupos, e para os anos de 2007 e 2008, estando em elaboração o texto conso-lidado do contrato, para publicação).

Negociar e reivindicar

com resultados

Prioridade aos saláriosna indústria

mineira

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Novembro 20086

O número de famílias portuguesas com empréstimos para habitação era, em Julho de 2008, de 1.808.096,

representando cerca de 49,5 por cento do total. Entre Dezembro de 2004 e Junho de 2008, o número de famílias endividadas aumentou 24,6 por cento e o valor total da dívida cresceu 48,1 por cento.Como consequência da crise gerada pela ganância do capital financeiro, só possível pelo domínio que este exerce sobre os governos, em Portugal, entre Janeiro de 2005 e Julho de 2008, a prestação média com empréstimos destinados à aquisição de habitação aumentou 31,3 por cento, mas a parcela destinada à amortização diminuiu 18,9 por cento, enquanto a parte dessa mesma prestação destinada ao pagamento de juros cresceu 75,3 por cento. Por outras palavras, em cada cinco euros pagos ao banco, apenas 1,44 euros se destina à amortização, ou seja, à redução da dívida, enquanto 3,56 euros destinam-se ao pagamento de juros. Como consequência, o número médio de anos necessários para pagar o empréstimo passou de 31 para 45 anos, ou seja, mais do que a vida activa da maioria dos portugueses. Entre 2004 e 2008, o valor total que as famílias portuguesas serão obrigadas a entregar à banca, para pagar só os juros de empréstimos para aquisição de habitação, passará de 2.629,6 milhões de euros para 5.749,7 milhões de euros, ou seja, aumentará 118,7 por cento (isto tomando como base a taxa de juros de Junho de 2008).Embora os encargos com a habitação representem já uma parcela importante das despesas das famílias portuguesas, o Instituto Nacional de Estatística recusa-se a incorporar esta despesa no índice de preços que publica mensalmente, alegando que estas despesas destinam-se à «aquisição de um activo». Esta recusa do INE só pode ser interpretada como tendo razões políticas, ou seja, visa ocultar o verdadeiro aumento de preços para as famílias portuguesas, já que publica vários outros índices (IPC, IPCH, Indicador da inflação subjacente, etc.). Se fosse publicado um índice a incorporar os encargos das famílias com a aquisição da habitação, naturalmente a taxa de inflação seria muito superior à oficial, o que tornaria mais difícil à propaganda do Governo e do patronato ocultar a degradação real das condições de vida em Portugal, nomeadamente dos trabalhadores. O INE presta assim um bom serviço ao Governo e aos patrões, mas um mau serviço ao País, pois ao contribuir para ocultar a descida real do poder de compra dos salários e das pensões de reforma em Portugal contribui para que esta descida continue.O aumento dos juros está a contribuir fortemente para a degradação das condições de vida.

Contas da habitaçãoA actual crise financeira, que começou nos EUA e alastrou por muitos outros países, está a ter em Portugal consequências muito graves.

EUgéNIO rOSaEconomista da CGTP-IN

cONTraTaçãO

Na declaração que entregou aos re-presentantes do

Grupo EDP e REN, dia 3 de Setembro, a Comis-são Negociadora Sindical liderada pela Fiequime-tal afirmou que a política defendida pelos represen-tantes das empresas nas negociações significaria, a prazo, a liquidação do Sistema Complementar de Saúde, pelo que merece clara rejeição.

Alertando para a impor-tância de outras matérias, a declaração refere seis pontos em que tal posição se revela, ao longo de mais de ano e meio de reuniões e contactos: os custos dos serviços médicos; a Mú-tua; o âmbito de aplicação (deixaria de abranger todos os trabalhadores); a melho-ria da qualidade da presta-ção dos cuidados de saúde; a tabela de actos médicos (usada pela empresa pa-ra transferir custos para os utentes); o cumprimento do acordo entre a EDP e a Di-recção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários.

Não é o serviço comple-mentar de saúde que põe em causa a competitivida-

de e a sustentabilidade das empresas. Contrariando declarações exageradas da comissão negociadora da EDP e REN, os represen-tantes sindicais recordam que, entre Janeiro de 2005 e o primeiro semestre de 2008, o Grupo EDP obteve 3 622 milhões de euros de lucros líquidos, a que se somam 828 milhões da REN. As várias aquisições em Portugal e no exterior, bem como outros negócios realizados, atestam a boa situação económica e fi-nanceira salientada publi-camente pelo próprio pre-

sidente do grupo.Quando não aceitaram

discutir, no quadro da Mú-tua, a cobertura dos valo-res que pretendem obter com a sua proposta, como a CNS/Fiequimetal pro-pôs, os representantes das empresas deixaram claro que o problema não está nos custos, e comprovaram a seguir que pretendem a subversão do sistema, quando propuseram um sistema que resultaria na triplicação dos encargos dos utentes. «A EDP pa-rece uma qualquer segu-radora, prestadora de um

plano de saúde», comen-ta-se, a propósito, na de-claração sindical.

Para contrariar e alterar as posições da empresa, de-fende-se, como é referido no texto do abaixo-assinado: a continuação do Sistema Complementar de Saúde, para todos os trabalhado-res do Grupo EDP e REN, baseado nos princípios mu-tualistas, com melhoria da qualidade da prestação dos cuidados de saúde, parando o encerramento de postos médicos e aplicando medi-das contra a degradação dos serviços clínicos.

Sistema Complementar de Saúde

Mais 4,68 por cento

EDP e REN atacam utentes

A EDP e REN têm apenas apresentado propostas para transferir custos para os utentes e subverter o Sistema Complementar de Saúde, acusou a Fiequimetal, avançando para a realização de plenários e lançando um abaixo-assinado.

O acordo alcançado na Electricidade dos Açores re-sultou num acréscimo glo-bal médio de 4,68 por cento. Na tabela salarial, o aumento foi de 2,8 por cento, tal como nas diuturnidades, na assi-duidade, nos turnos, no tra-balho suplementar.

O subsídio de alimentação passou para 7,50 euros (au-mento de 4,74 por cento). Foi, ainda, acordado um pré-mio de 350 euros para todos os trabalhadores.

As negociações de revisão da tabela salarial e cláusu-las de expressão pecuniária para 2008 ficaram conclu-

ídas a 6 de Maio, conside-rando o SIESI que se tra-tou de um acordo positivo e que resultou, mais uma vez, do envolvimento dos traba-lhadores na defesa intran-sigente dos seus direitos e interesses. A posição do sindicato, nas reuniões com a administração, foi sem-pre alvo de discussão com os trabalhadores. Na sema-na que antecedeu a reunião que era considerada decisi-va, por exemplo, foram rea-lizados plenários em todas as ilhas.

A negociação na EDA criou condições para que as admi-

nistrações da maioria das empresas do grupo tivessem de aplicar aumentos salariais de valor igual, o que ocorreu também com o subsídio de alimentação.

Continua a ser desenvolvi-do um trabalho mais profun-do, visando a criação de re-gulamentação colectiva em todo o grupo EDA.

Encontram-se em fase final as propostas de regulamenta-ção para a Segma e Sogeo.

A administração da empre-sa-mãe recusou-se a nego-ciar um acordo colectivo de trabalho que fosse aplicável a todo o grupo. Este facto le-

vou o SIESI a iniciar um pro-cesso que, gradualmente, irá abranger todas as empresas, dando prioridade àquelas em que o estado de organização o permitiu, nomeadamente com a eleição de delegados sindicais.

Depois de discutidas e apro-vadas pelos trabalhadores, as propostas de regulamentação colectiva serão entregues às empresas. No essencial, pro-põe-se um quadro de direitos que ponha termo a situações de discriminação entre tra-balhadores do grupo, procu-rando ainda incluir reivindi-cações específicas.

Acordo positivo na EDA

Os trabalhadores não aceitam que a EDP se porte como uma qualquer seguradora

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Novembro 2008 7

cONTraTaçãO

Contra a precariedade de emprego

Da OTRS para a Valor Ambiente

Para tentar substituir emprego com direitos por trabalho com vínculos precários, na sua corrida desenfreada para remeter actividades para o exterior, a administração da EDP Distribuição lançou uma nova estratégia, assente em «parcerias», alertou o SIESI. A primeira, com a Efacec, resultou na criação da EME2, que deve assegurar a manutenção das subestações da zona Centro (abrangendo todas as 72 subestações e postos de corte naquela área, equivalentes a 18 por cento do parque nacional da empresa).Foram dadas informações e garantias ao sindicato, particularmente quanto à manutenção dos direitos dos trabalhadores que aceitem passar para a EME2. Mas faltam ainda várias respostas da empresa, para clarificar o quadro em que se irão desenvolver as relações laborais. Até lá, os trabalhadores devem ficar atentos à evolução da situação e às informações sindicais.Apesar de a EDP Distribuição declarar que não tem mais projectos deste tipo, o SIESI não afasta tal possibilidade, na conhecida política de procurar embaratecer o custo do trabalho à custa do recrutameto de pessoal no exterior, para as «parcerias», e assim a administração tentar excluir esses trabalhadores do ACT e dos direitos nele consagrados.

Na Sonafi, em São Mamede de Infesta, os trabalhadores temporários chegam ao cúmulo de terem que se dirigir todos os dias ao porteiro da empresa, a saber se existe trabalho - revelou o Sindicato dos Metalúrgicos do Norte. Depois de contactar a chefia directa, o porteiro informa o trabalhador se vai pegar a trabalhar ou se vai para casa até ao dia seguinte.

Porteiro recruta

Parcerias ao ataque

Contratos a prazoO contrato de trabalho a termo só pode ser celebrado para a satisfação de necessidades temporárias da empresa e pelo período estritamente necessário à satisfação dessas necessidades.

Código do Trabalho em vigor

Prestação de serviços (recibo verde) Só quando: a) O trabalhador não esteja na dependência e inserido na estrutura organizativa do beneficiário da actividade; b) O trabalhador não realize a sua prestação sob as ordens, direcção e fiscalização do beneficiário da actividade, mediante retribuição.

Contrato temporário O contrato de utilização deve ser celebrado pelo período estritamente necessário à satisfação das necessidades do utilizador. Não é permitida a utilização de trabalhador temporário em postos de trabalho particularmente perigosos para a sua segurança ou saúde, salvo se for essa a sua qualificação profissional. Não são permitidos contratos de utilização para satisfação de necessidades que eram realizadas por trabalhadores cujos contratos cessaram, nos 12 meses anteriores, por despedimento colectivo ou extinção dos postos de trabalho.

Lei nº 19/2007 de 22 de Maio

A luta é de todosOnde alastra o trabalho precário, todos os trabalhadores ficam a perder. Por isso, todos são chamados à luta para que os «contratados» passem a efectivos e para que haja justos aumentos dos salários e direitos iguais.

A postos de trabalho permanentes têm de corresponder

contratos efectivos, recla-mam a Fiequimetal e os sindicatos, que decidiram desenvolver uma campa-nha contra a precariedade de emprego nos sectores, reclamando que seja cum-prido aquele princípio le-gal.

Contratos a termo, con-tratos temporários e falsos recibos verdes são instru-mentos do patronato pa-ra pagar salários mais bai-xos, para fugir à aplicação dos direitos, para criar uma falsa divisão entre precários e efectivos, pa-ra dificultar a organização e diminuir a capacidade reivindicativa de todos os trabalhadores, recorda-se no folheto central, em dis-tribuição desde o início de Outubro.

Apontado o objectivo de quem promove os víncu-los de emprego precários, conclui-se que, nas em-

O direito a emprego estável e com direitos tem que ser defendido pela luta (foto da manifestação de 5 de Junho, em Lisboa)

Durante os últimos me-ses, muitas centenas de trabalhadores, depois de fazerem os testes de ad-missão na Autoeuropa, foram contratados atra-vés de empresas de tra-balho temporário (ETT). O Sindicato dos Meta-lúrgicos do Sul, no final de Julho, considerou la-mentável que a Autoeu-ropa tenha servido de centro de selecção pa-ra empresas de trabalho precário.

As ETT instaladas no parque industrial pre-tendem fugir ao paga-mento da indemniza-ção pela caducidade dos contratos, procurando levar os trabalhadores a rescindirem. Se o tra-balhador rescinde, per-de os seus direitos. Mas, alerta o sindicato, não é preciso rescindir o con-trato para passar pa-ra a empresa utilizado-ra, porque não muda de posto de trabalho.

Na Inspecção de Tra-balho (ACT) de Setúbal, o sindicato declarou es-tar disponível para uma solução, preconizando o pagamento da caducida-de, no final do contrato, ou o reconhecimento da antiguidade pela utiliza-dora.

Há muitas certezas de que, na maioria dos con-tratos temporários, a justificação ou é falsa ou é tão genérica que, se fossem verificados pela Inspecção do Trabalho, certamente esta os tor-naria em contratos sem termo (efectivos) na em-presa utilizadora. Re-clamando da ACT uma melhor intervenção nes-ta área, o sindicato ape-lou aos trabalhadores das ETT e contratados a termo para que resistam e lutem, em defesa dos seus direitos, com apoio dos delegados e dirigen-tes sindicais e dos res-tantes camaradas.

ETT florescem na Autoeuropa

presas onde há trabalho precário, todos os traba-lhadores ficam a perder. É que todos são, directa ou indirectamente, atingidos nas suas condições de vi-da e de trabalho. Sendo assim, a luta pela passa-gem dos «contratados» a efectivos, por aumentos salariais e direitos iguais para todos, exige a parti-

cipação e a unidade de to-dos os trabalhadores.

Muitos dos trabalhado-res precários estão a ocu-par postos de trabalho permanentes e já deve-riam estar efectivos, aler-ta a federação, apelando a que cada um verifique a sua situação, informan-do-se junto do respectivo sindicato.

No documento salienta-se ainda que os contra-tados a termo (incluindo os temporários), inde-pendentemente do vín-culo, têm os mesmos direitos legais e contra-tuais que os trabalhado-res efectivos e não podem ser objecto de qualquer discriminação pelas em-presas.

Os trabalhadores da OTRS, a empresa que, em regime de empreitada, tem explorado a Estação de Tratamento de Resíduos da Madeira, ganharam um importante batalha contra a precariedade e por me-lhores condições laborais.

Desde há vários anos, es-tavam contratados a termo incerto para a OTRS. Ago-ra, em simultâneo com a transmissão da explora-ção da estação para a Va-lor Ambiente, conseguiram transitar para esta empre-sa, com contratos sem ter-mo e com todos os direitos

que até agora conquista-ram, incluindo o Acordo de Empresa, revelou o Sin-quifa.

Todavia, ainda falta as-segurar o pagamento, por parte da OTRS, da indem-nização correspondente à antiguidade adquirida ao seu serviço, tal como es-tá estabelecido nos con-tratos individuais de tra-balho. Os trabalhadores estiveram reunidos, no dia 8 de Outubro, para anali-sar esta situação, e deci-diram aguardar até ao fi-nal do mês, para que lhes sejam dadas garantias cla-

ras de pagamento daquele direito. Caso contrário, ex-pressaram desde logo a sua disposição para realizarem as acções de luta que fo-rem necessárias, incluin-do a greve, para receberem as indemnizações a que têm direito pela antiguida-de adquirida ao serviço da OTRS e das empresas que a antecederam.

Um novo plenário ficou previsto para o início de Novembro, de modo a ana-lisar a evolução do proces-so e decidir acções concre-tas de luta, se tal se mostrar necessário.

Efectivos e com direitos

Cumpra-se a lei

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Novembro 20088

NOTÍcIaS

Sindicato dos Mineiros responde ao golpe da BTW

Ficamos mais fortes!Olimar aumentou

Braga perdeu

Jotta suspendeu

Durante 6 anos, a Olimar, empresa do ramo da metalurgia com sede em Alcanena, não deu qualquer aumento aos trabalhadores. Estes, em plenário, no mês de Julho, decidiram avançar para a denúncia pública desta situação, sobretudo na comunicação social regional e junto da população. Além de aumentos salariais, reclamaram também melhoria das condções de trabalho. Foi enviada uma carta à empresa, dando conta das decisões tomadas. Coincidência, ou talvez não... a Olimar aumentou os salários dez por cento e o subsídio de almoço subiu dois euros.

O caminho das represálias, tomado pela empresa, não enfraqueceu o sindicato

Dois dirigentes sindicais, trabalhadores da Cutelarias Jotta, em Guimarães, foram suspensos em Setembro, depois de se recusarem, legitimamente, a limpar as casas-de-banho. O acto prepotente da empresa foi agravado pelo não pagamento de salários durante a suspensão. A 20 de Outubro, foi julgada uma providência cautelar que impôs a reintegração imediata dos dois dirigentes.

Em Outubro, consumou-se a falência da Sarotos, a empresa mais emblemática da metalurgia no concelho de Braga, que tinha 62 trabalhadores e contava 108 anos de existência. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, no último ano o concelho perdeu uma dezena de empresas do sector, nas quais trabalhavam cerca de 400 pessoas. Foram os casos da Serralharia Bernardino, da Floságua e da Joaquim Fernando da Silva Monteiro. Em quase todas, como sucedeu com a Sarotos, o principal credor era o Estado (Fisco e Segurança Social), cujos representantes obedecem a instruções do Governo e preferem o encerramento à viabilização.

Em Setembro, a Be-ralt Tin & Wolfram Portugal deixou de

ter aquele dirigente do Sindicato dos Trabalhado-res da Indústria Mineira nos seus quadros de pes-soal. Em comunicado, o STIM acusou a empresa de pretender, com esta deci-são, «quebrar a espinha» à organização sindical local. No entanto, a BTW deu um

tiro no próprio pé, pois o Sindicato Mineiro vai sair reforçado, com novos dele-gados sindicais, e o visado da trama orquestrada vai ter mais tempo livre, du-rante pelo menos os dois anos de mandato que tem ainda pela frente, para se dedicar mais profunda-mente ao combate contra as ilegalidades e injusti-ças que a Beralt perpetra,

no seu dia-a-dia, contra os trabalhadores.

José Maria não saiu da empresa por vontade pró-pria, mas sim por imposi-ção da Beralt. O golpe foi preparado pelo capataz da lavaria, mas acabou por ter o aval da Direcção da empresa. Há algum tempo atrás, o dirigente mineiro tinha sido retirado do tra-balho por turnos, sem ou-

Ao recusar a renovação do contrato com José Maria Isidoro, a multinacional que explora as Minas da Panasqueira quis atacar o sindicato, mas deu um tiro no pé.

Descanso compensatórioé direito para cumprirEm Setembro, o sindicato solicitou a intervenção da Inspecção do Trabalho, para repor a legalidade e fazer com que a BTW cumpra o direito dos trabalhadores ao descanso compensatório.Nas Minas da Panasqueira, os trabalhadores realizam muitas horas extraordinárias. Ora, de acordo com o artigo 202.º do Código do Trabalho, em vigor, estes trabalhadores têm direito a descanso compensatório remunerado, correspondente a 25 por cento das horas de trabalho suplementar realizadas.O sindicato, por diversas vezes, tentou resolver este problema junto da administração. No final de Maio, comunicou a lista dos trabalhadores que fizeram trabalho suplementar, reclamando que fosse cumprido o direito ao descanso compensatório. Às diligências sindicais, a empresa concessionária da exploração mineira teimou em responder pela negativa.

tra razão qeu não fosse di-minuir-lhe o salário. A discriminação foi corrigi-da, depois de accionada a Inspecção do Trabalho.

Mas, como alguns traba-lhadores chegaram a ouvir, o capataz pretendia vingar-se desta derrota. E encon-trou condições para isso.

Como qualquer outro refor-mado, a BTW poderia expe-lir José Maria dos seus qua-dros, bastando um pré-aviso de dois meses. Em Julho, a empresa comunicou ao tra-balhador e dirigente sindi-cal a intenção de resolver o contrato de trabalho.

No dia 8 desse mês, o sin-dicato contestou, por car-ta, a intenção da admi-nistração. Lembrou que o trabalhador, durante mui-

tos anos, dedicou o melhor de si a esta empresa e con-tinua em perfeitas condi-ções, fisicas e psicológicas, para continuar a desempe-nhar as suas funções. Na falta de melhores explica-ções, ou no caso de a em-presa levar por diante a sua intenção de não renovar o contrato com aquele traba-lhador, o sindicato conclui-ria que só pode tratar-se de retaliação, por ser dirigen-te sindical e assumir a de-fesa dos direitos e interes-ses dos trabalhadores.

Um abaixo-assinado, en-tregue no dia 14, com du-as centenas de assinatu-ras, veio dar mais força à exigência de renovação do contrato. Mas a multinacio-nal manteve a sua posição.

Os trabalhadores da Janz Contagem e Gestão de Fluídos, em Lisboa, não aceitaram trocar um jus-to aumento salarial por um «prémio» incerto e indefi-nido.

A decisão de entrar em greve, de uma hora diária, de 28 a 31 de Julho, foi to-mada em plenário, depois de se confirmar, pela prá-tica, que a administração não estava na disposição de negociar as reivindica-ções aprovadas e apresen-tadas.

A 23 de Junho, igual-mente em plenário, a actu-alização salarial de 1,5 por

cento, imposta pela admi-nistração, foi considerada claramente insuficiente e injusta, face ao brutal au-mento do custo de vida, co-mo refere o Sindicato dos Metalúrgicos. Para melhor fazerem perceber a sua mensagem e mostrarem a determinação de lutar por um aumento real dos salá-rios, os trabalhadores fo-ram até junto do edifício da administração. Esta já conhecia as reivindicações e até tinha distribuído um comunicado a tentar justi-ficar a sua posição.

Os trabalhadores deixa-ram bem vincado que, pe-

rante as reais dificulda-des de quem vive apenas do salário, não é aceitá-vel, como pretendia a ad-ministração, trocar uma actualização salarial jus-ta pela possibilidade de, no último trimestre des-te ano, vir a ser pago um «prémio», sem sequer um compromisso quanto aos critérios objectivos da sua atribuição.

O eventual dinheiro, a distribuir em forma de pré-mio, deveria, antes, ser aplicado uniformemen-te, no salário-base de ca-da trabalhador, respondeu o plenário, exigindo uma resposta objectiva. Mas a posição da administração não se alterou, persistindo numa infundada ameaça de que aumentos salariais superiores até poderiam pôr em causa a «estabili-dade» e a «viabilidade» da empresa.

Os trabalhadores res-ponderam com a «greve de aviso», que paralisou a produção.

A direcção da Alstom, na Mitrena, Setúbal, de-clarou guerra aos traba-lhadores. O Sindicato dos Metalúrgicos afirma que a empresa preten-de retirar o direito a dis-pensa graciosa, negocia-do com a administração da Mague há mais de 30 anos, e instalou na porta dos balneários tornique-tes, que só servem para chatear quem trabalha, pois não têm qualquer utilidade válida. Mais

recentemente, de forma clandestina, retirou as bebidas alcoólicas do re-feitório.

Os trabalhadores opõem--se a estas arbitrarieda-des e, num plenário rea-lizado dia 7 de Outubro, aprovaram uma resolu-ção e foram entregá-la na direcção da empre-sa. Reclamam reunir com a direcção e disponibi-lizam-se para outras ac-ções, caso se mantenham as arbitariedades.

Protesto na Alstom

Greve «de aviso» na Janz

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Novembro 2008 9

NOTÍcIaS

Mais duas empresas condenadas

Recorrentes notícias so-bre um eventual encerra-mento da Central Termoe-léctrica da EDP, em Sines – como as que surgiram em Julho, saídas do Fórum das Alterações Climáticas, promovido pelo Ministé-rio do Ambiente, do Orde-namento do Território e do Desenvolvimento Regional e resultante de um estudo elaborado por técnicos do Ministério e consultores externos – lançam a ins-tabilidade e a inquietação entre os trabalhadores.

As estruturas represen-tativas exigiram esclare-cimentos e reafirmaram a necessidade de uma polí-tica de defesa do aparelho produtivo e um tratamen-to sério das questões am-bientais.

Numa nota de impren-sa conjunta, emitida pe-

lo SIESI, pelo Sinquifa, e pelas SCOB EDP, CCT Petrogal, CT Repsol e União Local de Sindica-tos, recordou-se o facto de o mesmo assunto ter sur-gido, um mês antes, num boletim informativo da EDP. Não é razoável afir-mar que o País poderá es-tar dependente em exclu-sivo das energias ditas renováveis, defendiam, perguntando se à sombra dos ambientalistas se es-condem outros interesses verdes, como as notas de cem euros.

O SIESI, em comunica-do aos trabalhadores da PTSN, repudiou as decla-rações sobre o eventual encerramento e notou que elas não focam, por uma intenção deliberada, os cerca de 400 milhões de euros em investimentos na

área do ambiente e a cer-tificação existente.

A reunião então pedida à administração teve lugar a 25 de Setembro. Além das posições já públicas, o sindicato declarou que esta «polémica», inde-pendentemente das preo-cupações ambientais, pre-tenderá «tapar o sol com uma peneira», escamo-teando outros factores de muito maior impacto. A empresa referiu que man-tém todos os objectivos fu-turos quanto a Sines, cuja face mais visível é o avul-tado investimento que es-tá – e vai continuar – a ser feito.

Os documentos sindicais e as notícias saídas a este propósito podem ser con-sultados no sítio Internet da federação (www.fiequi-metal.pt).

Na central de Sines foram feitos avultados investimentos na área do ambiente

Instabilidade na Central da EDP

Os graves acidentes ocorridos e o impe-dimento da entrada de um dirigente sindi-cal chamam a atenção para as condições em que decorre a paragem técnica, na re-finaria de Sines da Petrogal.

A paragem técnica programada iniciou-se a 15 de Setembro, coincidindo com o dia do 30.º aniversário da refinaria. Me-nos de um mês depois, registavam-se já três acidentes com baixa e uma morte, co-mo referiu, em comunicado, a União Lo-cal dos Sindicatos de Sines, Santiago do Cacém, Grândola e Alcácer do Sal.

A 25 de Setembro, os trabalhadores da Compelmada Internacional e CMN, a trabalhar nas operações de manuten-ção, e um dirigente sindical foram im-pedidos de participar num plenário, por decisão da administração da Petro-gal. A justificação para a proibição foi que, face à paragem técnica, estavam na empresa mais de 2500 trabalhado-res do exterior.

Mas o sindicato considerou tal atitude ilegal e acusou a administração de procu-rar esconder as condições em que labo-ram aqueles mais de 2500 trabalhadores: trabalham 12 horas todos os dias, incluin-do sábados, domingos e feriados, mas os descontos para a Segurança Social são os mínimos; não têm casas-de-banho sufi-cientes, nem água potável, nem um local para tomar banho, lavar as mãos ou tomar a refeição; os exames médicos são de du-vidosa eficiência.

Repsol

No Complexo Petroquímico da Repsol, também em Sines, decorre uma paragem planeada de todas as unidades, entre 24 de Outubro a 7 de Dezembro.

No dia 10 de Outubro, trabalhadores com contrato precário reclamaram actua-lização dos salários, em plenário realizado à porta da empresa.

Petrogal quer escondermás condições em Sines

A Leoni (ex-Valeo) foi condenada pelo Tribunal de Trabalho

de Viana do Castelo, por dis-criminar salarialmente um associado do STIENC. Deve-rá liquidar todos os salários que ilegalmente deixou de pagar e deverá passar a re-munerar o trabalhador pelos mesmos valores que paga aos restantes. Ficou ainda estipulado o pagamento de uma quantia indemnizatória, a título de danos de natureza não patrimonial.

O sindicato considera que esta condenação constitui uma grande e retumban-te vitória dos trabalhado-res, do sindicato e de todos os que acreditam ser possí-vel enfrentar com coragem os atropelos e intimidações das empresas, comprovan-do que é compensador lu-tar e resistir.

A discriminação sala-rial na Leoni (ex-Valeo) foi

desde sempre condenada pelo sindicato. Depois de várias tentativas, sem o de-sejado sucesso, para inti-midar os trabalhadores e levá-los a deixar o sindica-to, a empresa resolveu ex-clui-los da actualização sa-larial que decidiu aplicar.

Na altura, com a desvin-culação do STIENC de al-guns trabalhadores e a «adesão individual» ao contrato da UGT, perderam vários direitos importantes, desde logo o pagamento do trabalho suplementar, que foi reduzido.

A empresa decidiu recorrer da decisão do tribunal de pri-meira instância. O sindica-to, por seu turno, está a con-sultar os seus associados, no sentido de os motivar a tam-bém apresentarem queixas, de modo a que a empresa re-pense a sua atitude e acabe com a injusta e cruel discri-minação salarial.

O Tribunal de Trabalho de Aveiro condenou a CA-CIA (Companhia Aveiren-se Componentes Indústria Automóvel, conhecida co-mo Cacia Renault) a pro-ceder aos aumentos sala-riais, referentes ao ano de 2007, a três trabalhadores, membros das organizações representativas, que, ile-galmente, tinham sido dis-criminados, depois de re-cusarem aderir à «bolsa de horas», em 2006.

Conscientes da razão que lhes assistia e com o apoio do Sindicato dos Metalúr-gicos, recorreram ao tri-bunal, que lhes veio a dar total razão. A empresa foi condenada a pagar os au-mentos, de 3,85 por cen-to, relativamente aos salá-rios de 2006, acrescendo juros de mora. Teve ain-da que fazer a actualiza-ção do «subsídio de com-pactado»

Firmeza vence discriminação

Os tribunais reprovam o comportamento das empresas que usam a discriminação salarial para tentarem impor a lei da selva.

O Tribunal de Traba-lho da comarca de Bar-celos não reconheceu ra-zão à empresa Solidal, do grupo Quintas & Quintas, nos castigos que esta deci-diu impor a dois trabalha-dores. A sentença foi con-firmada pela Relação do Porto, para onde a admi-nistração recorreu.

Os trabalhadores foram acusados de não efectuarem em tempo útil ensaios de um produto para exportação, o que teria causado prejuízos avultados à empresa. Ela-borado o processo discipli-nar, a Solidal decidiu casti-gar um dos funcionários com 25 dias de suspensão e o ou-tro com 20 dias. A suspensão teve efeitos na perda de ven-cimento e de antiguidade.

Passado pouco tempo, a empresa decidiu aplicar mais 15 dias de castigo a cada um dos trabalhadores, alegando que a resposta à nota de cul-pa, elaborada pelos advoga-dos do STIENC, continham

apreciações «insultuosas» para a Solidal e o grupo.

Inconformados com as su-cessivas ilegalidades, os tra-balhadores recorreram ao tribunal, que decidiu isen-tar os trabalhadores de qual-quer culpa, obrigando a em-presa a pagar-lhes os valores não pagos e, além disso, de-terminando indemnizações de 6.789 euros ao primeiro, e 6.461 euros ao segundo.

Tosquiada

Neste caso, bem se po-de dizer que a Solidal foi

buscar lã, mas saiu tos-quiada. É que um dos trabalhadores injusta-mente castigados, satis-feito com todo o apoio que obteve do STIENC, aca-bou por empenhar-se na acção em defesa dos in-teresses dos seus camara-das e é hoje dirigente sin-dical. O seu trabalho teve excelentes resultados no domínio da organização sindical na empresa, con-tribuindo para o aumento do prestígio e do núme-ro de associados do sin-dicato.

Até pela resposta à nota de culpa a empresa castigou

Solidal punidapor castigos ilegais

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10 Novembro 2008

EM FOcOEM FOcO

CGTP-IN faz as contas à governação de José Sócrates e do PS

Mais que as promessas valeram os interesses

Ao Jornal da Fiequimetal, Arménio Carlos, da Comissão Executiva da CGTP-IN, falou sobre a acção deste Governo, suportado na Assembleia da República por uma maioria absoluta e empossado há três anos e meio.

Num balanço da acção do Governo nestes quase quatro anos, será a revisão do Código do Trabalho o ponto mais negativo a destacar pela CGTP-IN?

Arménio Carlos: No nosso entender, o balanço global da acção deste Governo é profundamente negativo. Este Governo, cujo primeiro-ministro dizia que ia ser mais do que mera alternância, acabou por aprofundar as políticas de direita. Não nos lembramos, nos últimos dez ou quinze anos, de ver um Governo tão elogiado pelas confederações patronais. Isto reflecte uma política de classe, um Estado submetido aos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros.No que concerne ao Código do Trabalho, esta revisão não é um processo novo, arrasta-se ao longo dos anos e tem tido a oposição dos trabalhadores, que lutaram contra sucessivos pacotes laborais e contra o Código do Trabalho do PSD/CDS e de Bagão Félix. A apresentação desta revisão, por parte do Governo actual, só confirma que essa luta valeu a pena, porque até hoje não foi conseguido o grande objectivo de sempre, quer do patronato, quer dos governos: a destruição da contratação colectiva e dos direitos dos trabalhadores. A luta dos trabalhadores, particularmente nos sectores abrangidos pela Fiequimetal, deu um contributo decisivo para impedir a concretização desses objectivos e contribuiu para haver maior dinâmica reivindicativa nos locais de trabalho e alcançar o aumento dos salários e a manutenção dos direitos.

Não foi esta a mudança prometida, quando o PS estava na oposição...

AC: O Governo não honrou os compromissos assumidos pelo PS na oposição e no período pré-eleitoral. Nessa altura, os principais responsáveis assumiram publicamente que, caso o PS viesse a formar Governo, não só revogaria as normas mais gravosas do Código, como iria repor o princípio do tratamento mais

favorável. Não foi nada disso que, afinal, se passou.O Governo avançou com uma proposta de revisão do Código do Trabalho que, no essencial, visou atingir três grandes objectivos:- a caducidade de todas convenções colectivas, que significa a eliminação de todos os direitos contratualmente negociados pelas associações patronais e sindicais;- atribuir às entidades patronais a possibilidade de determinarem o tempo de trabalho, para aumentar os horários e reduzir os salários, não pagando o trabalho suplementar;- facilitar os mecanismos do processo de despedimento.

E as propostas para combate à precariedade?

AC: Tratam de tentar legalizar o que é ilegal. Basta ler as entrevistas dos presidentes da CIP e da CCP, para perceber que pretendem fazer da precariedade a regra, e não a excepção, à custa da redução dos salários dos trabalhadores, já que querem fazer recair sobre estes o aumento das taxas para a Segurança Social, que deveria ser suportado pelas empresas.Do ponto de vista da CGTP-IN, Portugal e os portugueses precisam, acima de tudo, de um sector produtivo mais dinâmico, mais capaz de dar resposta às necessidades da indústria e da energia, às necessidades do desenvolvimento económico do País, o que só se consegue com mais direitos para os trabalhadores. A alteração de rumo requer uma forte intervenção dos trabalhadores, nos locais de trabalho e nas empresas, por forma a dinamizar toda uma acção reivindicativa para melhorar os salários, para salvaguardar os direitos e para combater a precariedade.Os vínculos precários aumentam a pressão patronal sobre a organização e a capacidade de reivindicação de todos os trabalhadores, incluindo os efectivos. Passar a efectivos os trabalhadores que têm vínculo precário, mas estão a desempenhar funções permanentes, é para nós determinante, seja para elevar os salários e os direitos, seja para dar um contributo inestimável para o reforço da organização de todos os trabalhadores.Houve alguma insistência do Governo na necessidade de alterar a matriz dos salários baixos e trabalho pouco qualificado, de parar o desemprego, de aumentar as qualificações... Como vê

a CGTP-IN o resultado das políticas nestas matérias?AC: Conversa tem havido muita. Mas na prática todas as medidas tomadas pelo Governo apontam no sentido do aprofundamento deste modelo.Aliás, se analisarmos o emprego criado, na sua generalidade é precário e muito mal remunerado.

Como nos call-centers?

AC: Exactamente, mas não só os call-centers. Em Portugal temos hoje quase 24 por cento dos trabalhadores por conta de outrem com vínculos precários. O emprego criado não está a ser qualitativamente melhor, pelo contrário, está a deteriorar-se e uma parte dos trabalhadores efectivos está a ser substituída por trabalhadores precários. Estão a crescer as empresas de trabalho temporário: em 2005 tinham cerca de 15 por cento de mercado e já vão nos 18 por cento. O trabalho temporário e as outras formas de precariedade alastraram a todos os sectores de actividade.Esta é para a CGTP-IN uma política errada, porque não dá resposta aos problemas do País e, neste caso concreto, está a estimular o aumento da exploração dos trabalhadores. Com mais precariedade e menos direitos, diminuem os salários e aumentam os lucros das entidades patronais, mas as empresas não se tornam mais competitivas.

Esse quadro poderia favorecer que as multinacionais continuassem por cá, a ganhar como sempre fizeram. Mas houve neste período vários casos de «deslocalizações»...

AC: Pois... Isso tem a ver com a estratégia das multinacionais, mas também com a incapacidade demonstrada por vários governos, nomeadamente o actual, que não têm acautelado os interesses nacionais, quando da negociação da instalação dessas multinacionais. A Opel é um exemplo paradigmático: a unidade da Azambuja era das mais lucrativas da General Motors, em termos mundiais, e pura e simplesmente fechou, não por não ser produtiva, não porque os trabalhadores não estivessem disponíveis para corresponder aos níveis de produção desejados, mas por uma estratégia da multinacional, com vista ao encerramento de vários estabelecimentos, nomeadamente na

Europa, para investir no Leste, de forma a aproveitar as potencialidades deste mercado e a expandir a venda de viaturas.

Há quem faça uma comparação com a Autoeuropa...

AC: São situações distintas. Na Opel, houve um objectivo claro de abandono. Na Autoeuropa, a Volkswagen tem os seus interesses, procura retirar dividendos em Portugal e, no quadro da intervenção do sindicato, há que salvaguardar os direitos e interesses dos trabalhadores.

Num contexto de ataque aos direitos e aos salários, há vários casos em que os trabalhadores conseguem alcançar melhorias. Que peso têm no balanço geral?

AC: Num quadro em que algumas associações patronais bloqueiam e boicotam a negociação da contratação colectiva, a acção reivindicativa nos locais de trabalho assume uma particular importância. O vosso sector tem aqui uma boa experiência, com resultados muitíssimo interessantes ao longo dos anos, através da apresentação de propostas e cadernos reivindicativos. Este é um trabalho determinante, porque envolve os trabalhadores na apresentação das reivindicações e na co-responsabilização para lutar por

As declarações e compromissos dos tempos em que o actual primeiro-ministro se sentava nas bancadas parlamentares da oposição aos governos do PSD e do CDS-PP granjearam, certamente, os votos de muitos trabalhadores, nas eleições de 20 de Fevereiro de 2005. Mas, chegado o PS ao Governo, os interesses do capital sobrepuseram-se à palavra dada e a «vontade de mudança» reconhecida nas urnas acabou por se traduzir no prosseguimento e aprofundamento da política de direita.

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11Novembro 2008

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CGTP-IN faz as contas à governação de José Sócrates e do PS

Mais que as promessas valeram os interesses

elas; e acaba por dar mais força às posições sindicais, nas negociações a nível sectorial.Os resultados muitíssimo positivos, do ponto de vista salarial, que têm sido alcançados nos últimos tempos, surgem muito na base deste confronto no local de trabalho. É por aqui que temos conseguido, em muitos casos, aumentos reais dos salários, que estão acima da inflação e que têm em conta os ganhos de produtividade.Sem aumentos que se situem significativamente acima da inflação verificada, os salários dos portugueses continuarão a afastar-se das médias salariais europeias, como sucede nos últimos anos, ao contrário do que nos foi prometido. Este é um problema central para a melhoria das condições de vida das pessoas, mas também para um aumento da procura interna e do consumo, uma maior dinamização da economia e melhores condições de criação de emprego e de combate ao desemprego - que, a propósito, também subiu, depois de este Governo ter entrado em funções.

Que consequências terá a provável aprovação do Código do Trabalho e qual terá que ser a resposta dos trabalhadores e do movimento sindical?

AC: O que o Governo deve fazer é retirar, de imediato, a proposta

que apresentou na Assembleia da República. Por outro lado, para a CGTP-IN, independentemente daquilo que resulte da votação na AR, a luta não vai parar. Continuamos a considerar que os contratos colectivos de trabalho são um instrumento de progresso social e, como tal, a base para qualquer negociação será sempre aquilo que hoje temos, os direitos consagrados nas convenções colectivas, que estão acima do que prevê a lei geral e que devem ser mantidos, respeitados e melhorados. São direitos que, frequentemente, se reflectem com um importante peso na remuneração mensal do trabalhador, como os que têm a ver com o trabalho nocturno ou o trabalho suplementar.Os que apontam como objectivo acabar com os contratos colectivos de trabalho, querem, no fim de contas, reduzir os salários e acabar com direitos conquistados pela luta árdua de várias gerações de trabalhadores. Não podemos permitir isso. O envolvimento dos trabalhadores na apresentação de propostas reivindicativas vai ser um elemento decisivo para a defesa dos seus direitos que estão na contratação colectiva e para confrontar o patronato com a necessidade de assumir a negociação de contratos colectivos de trabalho de acordo com uma visão de progresso social e não de retrocesso.

O papel do Estado«Assumimos a esfera pública como espa-

ço fundamental para a afirmação do inte-resse geral e para a coesão nacional. Uma economia dinâmica e uma sociedade mais justa não dispensam serviços públicos de qualidade, nem podem prescindir de um Estado com políticas activas de crescimen-to, de emprego, de redução das desigualda-des sociais.»

José Sócrates na tomada de posse do Governo, a 12 de Março de 2005

AC: Nunca os grupos económicos e finan-ceiros tiveram tantos lucros como nos últimos três anos e nunca houve uma tão grande acu-mulação de riqueza por parte de um reduzido número de famílias. Não há mais coesão so-cial. Há é mais desigualdades. O peso dos sa-lários no rendimento nacional caiu para 40,4 por cento. Um terço dos pobres em Portugal são trabalhadores por conta de outrem. Os tra-balhadores no activo, quando passarem à re-forma, vão ser penalizados no valor das su-as pensões.

Está a impor-se uma nova concepção de Estado, um Estado securitário, que contem-pla apenas as componentes ligadas à segu-rança, e o Governo estimula um conjunto de medidas de privatização de serviços e fun-ções essenciais, enquanto as famílias vêem aumentar os encargos com a Saúde, com a Educação, com a Justiça...

O défice«O Programa do Governo prevê a criação

de uma Comissão liderada pelo Governador do Banco de Portugal para avaliar a real di-mensão do défice orçamental. Sabemos já, todavia, que a situação é grave.»

José Sócrates na apresentação do Programa do Governo,

a 21 de Março de 2005

AC: O défice público e a competitividade das empresas têm servido de pretexto para desenvolver uma política que tem levado à redução dos salários e a um ataque podero-síssimo aos serviços públicos e às funções sociais do Estado. Este défice resulta de

anos e anos de políticas que foram segui-das no País e que tiveram rostos, tiveram responsáveis, tiveram partidos a governar: o PS, o PSD e o CDS. São eles os responsá-veis pelo definhamento do sector produtivo, pelo fraco crescimento económico, que con-tinua a situar-se abaixo da média europeia, pelo crescente endividamento externo. Pa-ra bem dos trabalhadores e do País, é pre-ciso fazer uma ruptura com esta política. Os trabalhadores têm nas suas mãos a possi-bilidade de contribuírem para a criação de uma política alternativa, que promova o de-senvolvimento económico e social.

O tratado e o referendo

«Nenhuma razão política séria impede que o referendo sobre o Tratado Constitu-cional Europeu seja realizado em conjunto com as eleições autárquicas.»

José Sócrates na tomada de posse

AC: Estamos perante o incumprimento grosseiro de uma promessa eleitoral, que foi várias vezes reafirmada já depois do Gover-no ter iniciado funções. Este Governo optou por uma posição de submissão aos interes-ses da União Europeia e do capital que de-termina a sua condução, numa perspectiva neoliberal, monetarista e federalista.

O Tratado de Lisboa é profundamente ne-gativo do ponto de vista político, económi-co e social. A soberania do País fica mui-to mais fragilizada, passando para a UE, por exemplo, o controlo da nossa zona ma-rítima. E a denominada Carta dos Direitos Sociais está, claramente, muito abaixo da-quilo que a nossa Constituição consagra, como direitos dos trabalhadores, e mui-to longe daquilo que a própria Carta Social Europeia, que ainda está em vigor, define quanto às relações laborais.

Estamos perante um enormíssimo em-buste, que apenas visa aprofundar esta li-nha neoliberal de construção da Europa, e que também mereceu uma concertação de interesses com o Presidente da Repú-blica.

Palavras sem prática

Arménio Carlos

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Novembro 200812

NacIONaL

Trabalhar sem receber

AC Consulting tem que pagar

Os mais de 70 trabalhadores da Telca - Telecomunicações e Assistência, vão ser alvo de um despedimento colectivo, em Dezembro, mas terão que continuar a laborar, mesmo sabendo que os salários se vão juntar aos que estão em dívida. A decisão saiu do Tribunal Judicial de Braga, que dia 8 de Outubro aceitou o pedido de insolvência dos credores, salientando o STIENC que o encerramento ocorre num distrito que já conta milhares de desempregados. Quando o tribunal decretou a insolvência, estavam por pagar os salários de Julho a Setembro, o 13.º mês e o subsídio de férias. Mas os trabalhadores vão ter que permanecer ao serviço durante mais dois meses.

Dezenas de trabalhadores que, através da empresa de trabalho temporário AC Consulting, fizeram a campanha do tomate para a FIT, na Herdade da Pernada, em Águas de Moura (Palmela), decidiram concentrar-se no dia 3 de Outubro, no Sobralinho, em Alverca. Aqui, junto da sede da AC Consulting, exigiram o pagamento dos salários e outros direitos. Os mínimos do contrato do sector não são aplicados. Esta empresa, que contratou mais de 300 pessoas para a campanha do tomate, enviou cartas de cessação dos contratos, no fim de Setembro, mas nada disse quanto a pagamentos, explicou o Sinquifa.

Na proposta do Or-çamento do Estado para 2009, o Go-

verno afirma que está pre-visto que os beneficiários, inscritos na Segurança So-cial até ao final de 2001, possam optar pelo resulta-do mais favorável de duas fórmulas de cálculo da sua pensão: a proporcional, que corresponde à média ponderada entre a antiga fórmula (os melhores dez dos últimos 15 anos) e a nova fórmula (que consi-dera toda a carreira con-tributiva); ou apenas esta última.

Esta medida deve entrar em vigor em 1 de Janeiro de 2009, mas a CGTP-IN, que desde sempre a defen-deu, considera que os be-neficiários não podem ser penalizados por todos es-tes meses, e há que repor o valor das pensões a que ti-nha direito quem se refor-mou no último ano e meio.

Esta opção estava pre-vista no regime transitório,

instituído na legislação anterior, para que pudes-se ser respeitada a protec-ção integral dos direitos em formação, sem preju-dicar os beneficiários em causa. Mas não figurou na nova lei sobre o regime de protecção social na invali-dez e velhice, que entrou em vigor a 1 de Junho de 2007.

Desde então, centenas e centenas de reformados fo-ram duramente penaliza-dos, nomeadamente os que tinham as pensões de valor mais baixo, porque lhes foi imposto o cálculo propor-cional. Muitos deles já ti-nham os cálculos provisó-rios realizados pelo Centro Nacional de Pensões, e o cálculo mais favorável era o que incidia sobre a car-reira completa. Há refor-mados penalizados, nes-te período, em mais de 20 por cento do valor da pen-são (sendo que se trata de pensões de 400, 500 e 600 euros).

Opção pelo cálculo mais favorável na reforma

Governo demorou 17 meses

Se os beneficiários e as suas organizações, incluindo a CGTP-IN e os sindicatos, não tivessem agido com determinação, a injustiça não iria ser corrigida

Passados mais de 17 meses da entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 187/2007, o Governo acedeu à proposta da CGTP-IN para que quem se reforme possa optar pela fórmula de cálculo mais favorável.

A CGTP-IN rejeitou o Acordo sobre a Reforma da Segurança Social, consen-sualizado em Concertação Social pelo Governo e outros parceiros, que deu os alicer-ces ao DL 187/2007, porque tinha a certeza que as alte-rações introduzidas em ma-téria de protecção social na invalidez e velhice iriam ter repercussões negativas no valor das pensões e defrau-davam de forma abrupta as legítimas expectativas dos beneficiários.

O Governo era conhece-dor desta situação, há já al-guns meses, e para ela lhe chamaram a atenção a CG-TP-IN e as suas estruturas

sindicais e os próprios be-neficiários. Mas houve go-vernantes que, questio-nados sobre a matéria na Assembleia da República, chegaram a afirmar que os relatos não correspondiam à verdade. O Grupo Par-lamentar do PS chumbou projectos que visavam re-por a situação.

Há alguns meses, a CG-TP-IN entregou um dossier dos beneficiários atingidos, ao Provedor de Justiça e à Comissão de Trabalho da Assembleia da República, e lançou um abaixo-assi-nado nacional (este vai ser entregue em breve no par-lamento, dado conter ain-

da duas outras matérias im-portantes: a revogação do factor de sustentabilidade e a alteração ao Indexante de Apoios Sociais, que redu-zem o valor das pensões).

Ao comentar a medida anunciada pelo Governo, a CGTP-IN salienta que, se não tivesse havido to-da esta acção, desenvol-vida por parte dos bene-ficiários e das estruturas sindicais que os represen-tam, não teria sido inscrita a proposta no OE de 2009, o que prova, mais uma vez, que as batalhas pelo que é justo podem ser de-moradas, mas acabam por vencer.

Reposta na Haworth a pensão complementar

No dia 17 de Setembro, o Tribunal da Relação de Lis-boa mandou repor o direito ao complemento de refor-ma, conquistado em 1987 e que a Haworth quis retirar em 1991.

Há 21 anos, recorda o Sindicato dos Metalúrgicos, os trabalhadores da Hawor-th Portugal conseguiram acordar com a administra-ção que, sempre que um funcionário se reformasse

através da Segurança So-cial, a filial portuguesa da-quela multinacional ameri-cana atribuiria uma pensão complementar, num mon-tante que poderia atingir o equivalente a 15 por cento do salário. Passados qua-tro anos, contudo, a admi-nistração entendeu cessar unilateralmente este direi-to dos trabalhadores, atra-vés de uma mera comuni-cação interna.

O sindicato acabou por le-var o problema a tribunal, reclamando a reposição do direito. Após algum tempo, o Tribunal de Trabalho deu razão à empresa, mas o sin-dicato continuou a entender que os trabalhadores tinham razão e recorreu para a Rela-ção. Esta, no acórdão de 17 de Setembro de 2008, con-firmou a posição sindical e condenou a empresa no pa-gamento do complemento.

A Estaleiros do Atlân-tico (Starfisher) está instalada na Zona Indus-trial de Vila Nova de Cer-veira há cerca de 15 anos, onde constrói embarca-ções de recreio. Ainda no ano passado, contava com cerca de 350 trabalhado-res, mas actualmente es-tá com cerca de 150 e, a curto prazo, poderá redu-zir mais pessoal, alerta o Sindicato dos Metalúrgi-cos do Distrito de Viana do Castelo, que receia até que possa acontecer o en-cerramento.

O sindicato tem-se bati-do para tudo ser feito com o objectivo de que a em-presa tenha viabilidade, pela sua grande importân-cia na região de Vila Nova de Cerveira. Nos últimos dez anos, a Starfisher te-ve uma boa carteira de en-comendas, o que permitiu que no concelho o desem-prego fosse diminuto.

O problema desta em-presa deve-se às dificul-dades económicas e re-cessivas em que a Europa capitalista está mergu-lhada e que têm reflexos também nos estratos que são potenciais comprado-res de barcos de recreio.

Naquela zona industrial, alerta o sindicato, existem outras empresas do mes-mo ramo, que podem tam-bém a médio prazo sofrer estas consequências, co-mo a Brunswick Marine – EMEA Operations, com cerca de 130 traba-lhadores, a qual também se encontra com dificul-dades de encomendas, estando a laborar apenas quatro dias por semana.

O sindicato acompanha estes processos, procu-rando alternativas que permitam manter os pos-tos de trabalho e garan-tir os direitos dos traba-lhadores.

Dificuldades em Vila Nova de Cerveira

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Novembro 2008 13

NacIONaL

Vencer com empenho as dificuldades

Aos 75 anos, após pro-longada doença, faleceu Álvaro Rana, fundador da CGTP-IN e empenha-do sindicalista, que, já re-formado e mesmo doente, manteve um activo trabalho na Fiequimetal e, em espe-cial, junto dos profissionais de informação médica.

«Os trabalhadores portu-gueses perdem um inque-brantável defensor dos seus interesses e direitos, mas a vida de dedicação, coerên-cia e determinação de Ál-varo Rana constitui um exemplo e um estímulo para continuarmos a luta contra a exploração, pelos direitos e a emancipação dos traba-lhadores», afirmou Améri-co Nunes, que proferiu uma breve intervenção, no fune-ral, dia 28 de Julho.

Na despedida e última ho-menagem a Álvaro Rana compareceram amigos, fa-miliares e camaradas, entre os quais dirigentes do Sin-quifa, da federação e da CG-TP-IN, incluindo o secretá-rio-geral, Manuel Carvalho da Silva, o coordenador da Fiequimetal, João Silva, e outros membros da Comis-são Executiva da central, bem como o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, e outros dirigentes do parti-do a que Álvaro Rana se de-dicou desde 1967.

«Como militante comu-nista e dirigente sindi-cal, que trabalhou e pri-vou com ele até aos últimos dias, posso garantir-vos que a sua combatividade e co-erência durou até ao fim»,

disse Américo Nunes, que evocou momentos marcan-tes da biografia do camara-da falecido, «acontecimen-tos e acções que se cruzam com aspectos essenciais da luta dos trabalhadores nas últimas quatro déca-das», desde que fez parte da Comissão Representati-va dos Profissionais de Pro-paganda Médica - a qual, nos anos de 1967 a 1969, conduziu a luta que levou à expulsão da comissão ad-ministrativa imposta ao sin-dicato pelo regime fascis-ta. Rana participou desde a primeira hora no proces-so de fundação da Intersin-dical, em 1970, e integrou o seu primeiro Secretaria-do, eleito em 1973. Inter-veio no imenso movimen-to de luta que conduziu ao 25 de Abril, nos dias que se seguiram e na prepara-ção do histórico 1.º de Maio de 1974. Até 1995 conti-nou na direcção da central, com importantes tarefas.

A intervenção de Améri-co Nunes, bem como a no-ta de pesar divulgada pe-la Comissão Executiva da CGTP-IN, estão publica-das na íntegra no sítio In-ternet da federação, em www.fiequimetal.pt.

Faleceu Álvaro Rana

O site da Fiequimetal é uma ferramenta valiosa na acti-vidade da federação e dos sindicatos, em defesa dos inte-resses e direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores.

=> Notícias sobre os problemas, os combates, os resultados=> O Jornal da Fiequimetal em edição electrónica=> Informação essencial sobre a federação e os sindi-

catos (congresso, dossiers temáticos, contactos)=> A principal contratação colectiva dos sectores

abrangidos=> Uma galeria de fotos das lutas

realizadas=> A lis-

ta Fiequime-tal Informa, cujos subscrito-res receberão no email os alertas mais importantes

A federação e os trabalhadores na Internet

www.fiequimetal.pt

No primeiro semes-tre deste ano, 2572 trabalhadores e

trabalhadoras inscreve-ram-se nos sindicatos da Fiequimetal, o que foi con-siderado muito positivo na reunião que, em Julho, fez o balanço da campanha de sindicalização de 2008.

Em relação à meta defini-da, aquele número era in-ferior em 17 por cento (re-presentando, em números absolutos, menos 530 as-sociados do que o plane-ado), o que foi explicado pelas dificuldades detecta-das por alguns sindicatos. Mas o total de novos sócios foi considerado muito posi-tivo, ficando a demonstrar

que é importante manter e intensificar uma atitude forte na realização da cam-panha, ligando a sindicali-zação à luta e à acção rei-vindicativa.

Perante as dificuldades objectivas existentes na generalidade dos sectores, foi realçado que a inter-venção dos sindicatos nas empresas, na resolução dos problemas concretos dos trabalhadores, é de-terminante para alcançar as metas aprovadas. Nes-sa intervenção permanen-te, os trabalhadores podem verificar, pela sua própria experiência, a importância de terem um sindicato for-te, organizado e activo.

No segundo semestre, com as fortes dinâmicas de luta contra a política do Governo e, em especial, contra a re-visão para pior do Código de Trabalho, e com o arranque da acção reivindicativa pa-ra 2009, haverá condições para aumentar substancial-mente a sindicalização - foi a confiança expressa na reu-nião de balanço.

Foi considerado positi-vo que, nos primeiros seis meses, tenham sido eleitos mais dez delegados sindi-cais do que estava aponta-do como objectivo. Na aná-lise deste resultado e no prosseguimento da eleição até ao final do ano, os diri-gentes sindicais realçaram

a importância de assegu-rar que a maioria dos elei-tos são novos delegados (e não apenas substituições ou reeleições) e que en-tre eles figure uma percen-tagem importante de jo-vens e mulheres, de forma a responder à necessidade de alargar e rejuvenescer a estrutura sindical de base.

A sindicalização e a elei-ção de delegadas e delega-dos sindicais são matérias com um peso importan-te nos temas a debater no Encontro Nacional de Or-ganização, cuja realização, no primeiro semestre de 2009, foi decidida no Con-gresso da Fiequimetal, há um ano.

Mais mulheres e jovens devem ser eleitos delegados sindicais nas empresas

Mais sócios e mais delegados

A intervenção no dia-a-dia, demonstrando a força dos trabalhadores unidos e organizados, é fundamental para garantir o sucesso da campanha de sindicalização em curso.

Os apoios do Estado português à multinacio-nal norte-americana Tyco Electronics, de Évora, cuja atribuição foi aprovada pe-lo Conselho de Ministros a 23 de Outubro, devem ser suspensos, exigiu o SIE-SI, porque o Governo, sem qualquer rigor e sem ava-liar ou conhecer a nature-za dos projectos, delapida os dinheiros públicos em «doações» à Tyco.

Os apoios - refere o sindi-cato, numa nota à impren-

sa que foi ignorada pela generalidade da comuni-cação social - inserem-se num contrato de investi-mento de 23,4 milhões de euros, para a alegada pro-dução de três novos mode-los de relés, com criação de cinco postos de trabalho e manutenção de 1485.

Contudo, não está em cur-so qualquer investimento em novos produtos na Ty-co Electronics e os «três novos modelos de relés» já estão em produção há oito

meses, sem que apresen-tem qualquer inovação tec-nológica ou qualquer mo-dificação significativa nos processos de fabrico.

Estava o apoio estatal a ser aprovado pelo Go-verno e, no mesmo dia, a gerência da Tyco come-çou a pressionar dezenas de trabalhadores perma-nentes para rescindirem os contratos, pelo que a alegada criação de cinco postos de trabalho é uma farsa.

Mais grave, ainda, é o facto de o Governo falar em manter 1485 postos de tra-balho, quando, em Junho passado, a Câmara Muni-cipal de Évora contemplou a multinacional com várias isenções fiscais, a pretex-to de manter 1537 postos de trabalho e de criar ou-tros dez. Com base na reso-lução do Conselho de Mi-nistros, a empresa poderia, afinal, reduzir 52 postos de trabalho no seu quadro de pessoal.

Exigida suspensão dos apoios à Tyco

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Novembro 200814

NacIONaL

A fechar

Briel consolida

O Sinquifa alertou para o facto de empresas do sector continuarem a encerrar e a despedir, empurrando para o desemprego mais umas centenas largas de trabalhadores, sem que o Governo tenha feito alguma coisa para o evitar. Na Delphi, em Ponte de Sor, são mais 400 trabalhadores que em Junho a multinacional pretende atirar para o desemprego, devido à deslocalização de actividades para o estrangeiro. No que respeita aos Laboratórios Delta, em Lisboa, a produção encerra em Novembro e mais 38 trabalhadores vão para o desemprego, devido a um processo de reestruturação da multinacional farmacêutica, cujo objectivo é trazer os medicamentos já feitos do estrangeiro. A Ferro, no Carregado, encerrou mais uma fábrica de produtos químicos, envolvendo 22 trabalhadores.

Após várias reuniões com o Sindicato dos Metalúrgicos, a administração da Briel, no concelho da Maia, assumiu o compromisso de, a partir de Setembro, aumentar em 2,8 por cento, em média, os salários entre 426 e mil euros. A partir de Janeiro, será feita a revisão das categorias profissionais, o que representará um acréscimo salarial da ordem dos 80 euros.Para o sindicato, estas actualizações representam um passo muito importante, uma vez que os trabalhadores estavam há mais de dez anos na categoria de terceira, e irão motivar mais o pessoal, contribuindo para a solidificação da empresa. Por dificuldades laborais e económicas, a Briel atravessou uma década em que a postura responsável dos trabalhadores e o seu espírito de sacrifício contribuíram para o sucesso de um processo de recuperação que ainda decorre. Esta atitude dos trabalhadores foi um forte argumento para o sindicato insistir na necessidade de actualizar as categorias e os salários.

O Sinorquifa enten-de que é absoluta-mente necessário

que o Governo altere as regras do Quadro de Refe-rência Estratégico Nacio-nal (QREN), de modo que a única fábrica nacional de pneus possa candidatar-se, com projectos que promo-vam o desenvolvimento sustentado, a moderniza-ção e a inovação.

O sindicato, que represen-ta a maioria dos trabalhado-res da empresa (com uma taxa de sindicalização su-perior a 85 por cento), tem apoiado a mobilização per-manente dos trabalhadores em defesa dos seus direitos e dos postos de trabalho.

Nestes últimos meses, o Sinorquifa contactou com todos os grupos parlamen-tares (o PCP formulou uma pergunta ao Governo e foi recebido pela administra-ção); esteve com o presi-dente da Câmara Muni-cipal de Santo Tirso (que iria expor a situação ao Dr. João Dias, assessor de Eco-nomia do primeiro-minis-

tro); reuniu-se com o chefe de gabinete do secretário de Estado da Indústria, a quem entregou um abai-xo-assinado, subscrito pe-la esmagadora maioria dos operários, quadros e diri-gentes.

A 19 de Setembro, num plenário muito concorri-do, com a participação do secretário-geral da CGTP-IN, os trabalhadores deli-

beraram prosseguir a lu-ta pela garantia de futuro para a CNB/Camac e pe-lo pagamento das retribui-ções em falta. A 1 de Outu-bro concentraram-se junto ao Governo Civil do Porto e integraram a manifestação, promovida pela União dos Sindicatos do distrito, no âmbito da acção nacional de luta que a central pro-moveu nesse dia.

Sacrifícios duros

A administração, nos con-tactos com o sindicato, di-zia-se apostada em adequar a empresa ao mercado. Pa-ra além do saneamento fi-nanceiro, foi adquirido equipamento para o re-lançamento da actividade. Contudo, esta aquisição foi um dos motivos invocados para o congelamento sala-

Os trabalhadores defendem que a empresa tenha acesso ao QREN (foto na manifestação de 5 de Junho, em Lisboa)

Viabilização, emprego com direitos e salários justos

Futuro para a CNB/CamacO Governo deveria permitir que a CNB/Camac concorresse aos necessários financiamentos, no âmbito do QREN, para garantir o futuro da empresa e de 300 postos de trabalho.

A «bolha» na FapobolOs trabalhadores da Fa-

pobol entendem que impor-ta, acima de tudo, garantir a recuperação da empresa. Apoiados pelo Sinorqui-fa, concentram os seus es-forços e as sua energias na prossecução desse objec-tivo, enquanto a adminis-tração não cumpre as suas obrigações, atrasa-se siste-maticamente no pagamen-to de salários e subsídios e ensaia manobras intimida-tórias.

A Fapobol, instalada em Vila do Conde, é uma em-presa vocacionada para o fabrico de artefactos de borracha e certa espécies de plásticos, empregando 170 trabalhadores. Uma gestão incompetente con-duziu-a à insolvência, com vista à recuperação.

Em 5 de Abril, um sába-do, vários trabalhadores protestaram, junto à resi-dência do administrador executivo, contra a falta de pagamento dos salários

vencidos. Em resposta, no-ve daqueles trabalhadores receberam notas de culpa, visando o despedimento, o que, a efectivar-se, cons-tituiria uma violação gros-seira de disposições cons-titucionais.

Mais de duas dezenas de estruturas da CGTP-IN to-maram posição, junto da administração, avisando que a atitude da empre-

sa ofendia a lei e as regras elementares de um Estado de Direito.

A sanção, imposta arbi-trariamente a seis dos tra-balhadores, acabou por ser uma repreensão registada, com divulgação pública na empresa. Afinal, os gesto-res que imputaram àqueles trabalhadores males qua-se demoníacos, ficaram-se pela vergonhosa verborreia

escrita num papel. Se fos-se na Bolsa, diriam que a «bolha» estourou.

Este caso acabou por enaltecer os activistas sindicais, que encararam as repreensões como o re-conhecimento da acção dos trabalhadores em de-fesa dos seus postos de trabalho, dos seus direi-tos e da continuidade da empresa.

rial, de 2004 a 2007.A CNB/Camac tem cum-

prido rigorosamente as su-as obrigações para com o Fisco e a Segurança So-cial, incluindo os que as-sumiu quando aderiu ao «Plano Mateus», mas tem uma diminuída capacida-de de investimentos. Teve que alterar o seu ritmo de produção, com o fecho par-cial do turno da noite. Fo-ram despedidos trabalha-dores recrutados através de empresas de aluguer de mão-de-obra, bem como contratados a termo e ou-tros de mais avançada ida-de. Algumas vezes a pro-dução tem sido suspensa, por falta de matéria-prima, e os trabalhadores dispen-sados de trabalhar.

Sem abandonar os mode-los clássicos, a CNB/Camac implementou novas gamas de pneus e novos modelos. Segundo a administração, a CNB/Camac depende muito do mercado do Reino Uni-do e a desvalorização da li-bra contribuiu substantiva-mente para agravar a crise financeira, provocando até problemas de tesouraria, com reflexos na dificulda-de de aquisição de matéria-prima e no não pagamen-to do subsídio de Natal em 2007.

A empresa precisa de obter fundos para inves-tir, designadamente, nas áreas dos recursos huma-nos, da protecção e pre-servação ambiental e da qualidade. Mas não pode concorrer a financiamen-tos no âmbito do QREN, por estar numa situação de não autonomia financei-ra, resultante da adesão ao «Plano Mateus».

Entretanto, a situação agu-dizou-se. O acordo de paga-mento dos retroactivos sala-riais e do subsídio de férias de 2007, firmado com o Si-norquifa, não foi cumprido pela administração. A pro-dução foi crescentemente interrompida, por falta de matéria-prima, e os salários de Junho, Julho e Agosto e o subsídio de férias de 2008, além dos retroactivos, não foram ainda pagos. O subsí-dio de Natal de 2007 foi pa-go em Julho de 2008.

Foi firmemente repudiada a tentativa de despedimento (foto na manifestação de 5 de Junho, em Lisboa)

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Novembro 2008 15

NacIONaL

O direito a realizar plenários no horário normal de trabalho e dentro dos limites definidos na lei (15 horas por ano) foi defendido com sucesso na Renault Telheiras, onde a firmeza dos trabalhadores acabou por impor o cumprimento do contrato colectivo, revelou o Sindicato dos Metalúrgicos. A 18 de Junho, foram eleitos dois delegados sindicais, que constituíram a comissão sindical da empresa. A 21 de Julho a administração impediu a realização de um plenário, o que repetiu quando a marcação foi feita para dia 24. A intervenção da Inspecção do Trabalho, solicitada desde a primeira recusa, acabou por surtir efeito na convocatória seguinte: o primeiro plenário de trabalhadores foi realizado no dia 29 de Julho, no horário normal de laboração. A 23 de Setembro, realizou-se novo plenário, com ainda maior participação. Houve um grande número de trabalhadores a sindicalizar-se e estão a ser preparadas as reivindicações para 2009, em conjunto com as estruturas das restantes empresas do grupo Renault.

O Tribunal de Tra-balho de Évora condenou a Tyco

a pagar como trabalho extraordinário seis dias de trabalho anual extra, que a direcção da empre-sa impunha ao pessoal, com jornadas laborais de 11 horas. Globalmente, o montante a pagar ascende a mais de um milhão de euros, repartidos por cer-ca de 1300 trabalhadores (num total de 1600). A ad-ministração não recorreu da sentença.

Os seis dias eram impos-tos como «compensação», dado o horário semanal dos trabalhadores ser de 38 horas e meia.

Já depois deste caso, a Tyco foi condenada pela ACT, por não pagar o trabalho noctur-no de acordo com o contrato colectivo de trabalho (CCTV FMEE). A empresa recorreu para o tribunal.

A condenação implica uma multa de 20 mil eu-ros e tem a ver com o facto de, relativamente aos as-sociados do SIESI, a em-presa pagar o trabalho su-

plementar de acordo com o Código do Trabalho e não segundo o contrato colec-tivo. A ACT considera que o CCTV FMEE está em vi-gor, uma vez que regula a sua própria vigência.

A Visteon, em Palmela, foi autuada pela ACT, por não atribuir o descanso com-pensatório de um dia, quan-do o trabalho extraordinário se prolonga por mais de qua-tro horas, conforme estabe-lecido no CCTV FMEE. Os montantes em dívida repor-tam-se a grande parte dos cerca de 1600 trabalhado-res e atingem um valor ele-vado, dado o volume de tra-balho suplementar.

Por idêntica infracção, a Delphi do Seixal foi já con-denada pelo Tribunal de Trabalho de Almada, tendo recorrido para a Relação.

Entretanto, em Agosto, a ACT proferiu uma decisão condenatória que obriga a Delphi a actualizar os sa-lários de dez trabalhado-res, que se recusaram a subscrever um documen-to de alegada adesão ao «contrato colectivo» for-

jado pelos patrões com a cumplicidade de organiza-ções da UGT. A decisão da ACT impõe ainda à Delphi o pagamento de uma mul-ta de 13.350 euros e, como sanção acessória, obriga-a a divulgar publicamente o teor da sua condenação.

A decisão da ACT resulta de um auto por contra-or-denação, levantado à Del-phi do Seixal, em 2007, por esta multinacional norte-americana, violando

Prémio repostoA empresa Seiser, a laborar no sector das instaladoras eléctricas, em Seia, retirou o prémio de assiduidade a um oficial electricista, sem qualquer justificação.Interpelada pelo STIENC, a administração recusou voltar atrás, pelo que foi pedida a intervenção da Inspecção do Trabalho da Guarda, a qual prontamente veio reconhecer a razão do trabalhador, obrigando a empresa a pagar os valores retirados e os valores já vencidos, por retroacção. Com a coragem e persistência do trabalhador e o apoio do sindicato, foi assim possível contrariar mais este grave atentado.

Plenários na hora

ACT e tribunais condenam empresas

Não cumprir sai caroSó a Tyco tem que pagar mais de um milhão de euros a 1300 trabalhadores, refere o SIESI, que divulgou vários casos em que os tribunais e a ACT obrigaram empresas a cumprir o contrato colectivo em vigor.

A luta dos trabalhadores e dos sindicatos acaba por impor o cumprimento do CCTV FMEE

A Relação de Lisboa con-firmou em Setembro a sen-tença do Tribunal de Sintra, que condenara a empre-sa Laboratórios Delta, ins-talada em Massamá, pela prática de discriminação salarial contra uma traba-lhadora, desde 1988, re-velou o Sinquifa.

A empresa tinha sido con-denada a dar à trabalhadora funções iguais às de outras trabalhadoras, facultando-lhe a adequada formação profissional. Deveria ainda pagar salário igual e liqui-dar as diferenças salariais originadas pela discrimina-ção, desde Janeiro de 1988, além de uma compensação de dez mil euros, a título de danos morais.

O Tribunal da Relação de Lisboa veio confirmar a sentença, destacando o sindicato alguns aspectos desta, designadamente:

- Não foi só considera-da a violação do princípio

de «trabalho igual, salário igual», mas também a atitu-de discriminatória que con-sistiu em não atribuir à tra-balhadora funções idênticas às das restantes camaradas com a mesma categoria;

- Constitui «verdadeira-mente um uso abusivo dos poderes patronais» a deli-beração a empresa, que em Janeiro de 1988 comunicou à trabalhadora que ia pas-sar a pagar-lhe, para todo o sempre, somente o salário mínimo para a categoria;

- O empregador não dispõe de um poder discricionário na organização do trabalho e distribuição de funções, assim como não dispõe de total liberdade para remu-nerar o trabalhador;

- Atribuir à trabalhadora apenas uma função de me-nor complexidade, quando às restantes atribuía três ou quatro funções, foi uma medida claramente discri-minatória da empresa;

- A trabalhadora tem di-reito a salário igual ao das restantes e às respectivas diferenças salariais porque só devido a uma conduta intencional e ilícita da em-presa é que não desempe-nha iguais funções.

Exemplar

Para o Sinquifa, este é um acórdão que se reveste da maior importância, por-que versa sobre uma situ-ação que tende a generali-zar-se; porque mostra que os patrões, afinal, não têm liberdade nem poderes pa-ra tudo, nem mesmo quando invocam razões de gestão; porque esclarece que, mes-mo que o patrão pague a um trabalhador o salário da con-venção e pague a outro, com a mesma função, um salário mais elevado, está a praticar discriminação; porque con-firma que nunca devemos desistir de lutar.

Discriminação condenadanos Laboratórios Delta

A IgloOlá (Unilever Je-rónimo Martins) foi con-denada a integrar nos seus quadros dois trabalhado-res que, desde 1990, vêm trabalhando para a empre-sa com contratos sucessi-vamente subscritos por vá-rias empresas de trabalho temporário.

A decisão mais recente saiu do Supremo Tribunal de Justiça, que confirmou as sentenças anteriores do Tribunal de Trabalho e do Tribunal da Relação de Lisboa. Os factos provados demonstraram que não ha-via uma real situação de prestação de serviços, sen-do determinante a prova de que os trabalhadores esta-vam na dependência e sob a direcção efectiva da IgloO-lá. A interposição, nas rela-ções de trabalho, das várias empresas a que os traba-

lhadores estavam vincula-dos mais não era do que um artifício, a obstar à celebra-ção directa de um contrato de trabalho.

O outsoursing invocado pela IgloOlá não se pro-vou e, pelo contrário, o que se ficou comprovado foi a existência, pela sua parte, dos poderes de autorida-de, direcção, fiscalização e conformação do trabalho.

O Sinquifa considera que ste é apenas mais um exemplo das muitas viga-rices a que as empresas recorrem para manterem, durante anos e anos, os trabalhadores com vínculo precário, de forma ilegal. O caso deve servir de aler-ta para outros trabalhado-res que estejam com con-tratos temporários, para que não hesitem em con-tactar o seu sindicato.

Temporários 18 anosvão para o quadro

o princípio da igualdade retributiva estabelecido na Constituição da Repúbli-ca, praticar remunerações inferiores relativamente a trabalhadores, filiados no SIESI, que realizam tra-balho da mesma nature-za, qualidade e quantidade dos seus colegas.

A prática da Delphi, sus-tentada no argumento de que os trabalhadores não aderiram ao «novo contra-to», foi configurada pela ACT como discriminação baseada na filiação sindi-cal, constitucionalmente proibida.

Legrand regulariza

A multinacional france-sa Legrand Eléctrica regula-rizou, no final de Setembro, a dívida salarial que manti-nha relativamente a sete tra-balhadores, cujos salários não foram aumentados, des-de Abril de 2006, a pretexto de não terem aderido ao con-trato do patrão.

A decisão foi comunicada pela administração à Comis-são Sindical do SIESI, logo após a ACT ter iniciado a in-quirição de testemunhas, no âmbito de um auto levantado por discriminação salarial.

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Novembro 200816

ENErgIa

Lucros e impostos em meio ano

EDP ganha mais e paga menosNo primeiro semestre de 2008, os lucros da EDP cresceram abundantemente, face aos primeiros seis meses de 2007, mas os impostos a pagar tiveram uma subida ínfima.

Há cerca de dois anos, passaram a efectivos cerca de trezentos trabalhadores da CRH, por irregularidades nos contratos a termo, e foram melhoradas condições de trabalho (ambiente, casas-de-banho, sala de refeições, etc.). Mas o número de contratados a termo voltou a crescer. Um pedido do SIESI levou já a uma intervenção da ACT. Os contratos em análise são muitos, e foram colocadas outras questões, na área da higiene e segurança, e contra o abaixamento de categorias a supervisores(as).Procura-se reforçar a organização dos trabalhadores na empresa, através da realização de plenários e eleição de delegados sindicais.Esta foi a empresa que, como propalou o Governo, iria criar centenas de postos de trabalho, mas acabou por criar empregos precários, apenas para atender consumidores da EDP e executar outras operações em nome desta.

SingelasCerca de duas dezenas de casos, do processo das singelas, devem entrar em tribunal este mês, informou o SIESI, recordando que a origem reporta aos anos de 1998 e 1999, nas centrais termoeléctricas (condução), com uma luta de mais de sete meses. O trabalho suplementar foi remunerado pela EDP a singelo, mas uma acção em tribunal confirmou a posição sindical.

EnquadramentoA EDP Distribuição não assumiu qualquer compromisso, quanto aos trabalhadores de piquetes que desempenham tarefas idênticas com enquadramento diferente (como a inexistência de níveis 4 em Lisboa, Sintra, Oeiras, Carenque, Laranjeiro e Barreiro), o que levou o SIESI a enveredar pela via jurídica.Avolumam-se as situações de execução de tarefas mais qualificadas do que as que correspondem ao enquadramento. O sindicato prepara uma acção que abranja todas as áreas.

CRH precária

Os números foram apresentados num estudo de Eugénio

Rosa, economista da CG-TP-IN, em Agosto. Os lu-cros atingiram agora 962,4 milhões de euros, e no primeiro semestre de 2007 tinham sido de 668,2 mi-lhões. Este aumento de 44 por cento dos lucros, antes de impostos, não se reflec-tiu nos impostos a pagar, que subiram apenas 4 por cento (de 176,7 milhões de euros, para 184,1 milhões), de acordo com as próprias contas da EDP. Como con-sequência, os lucros lí-quidos da EDP, depois de deduzidos os impostos, au-mentaram 56,6 por cen-to (passaram de 491,5 para 703 milhões de euros. Mas os lucros a distribuir aos accionistas cresceram 66,6 por cento.

Estes lucros impressio-nantes foram conseguidos também à custa de preços elevados, pagos por mais de quatro milhões de consu-midores domésticos, ou se-ja, por milhões de famílias portuguesas que vivem com dificuldades crescentes.

De acordo com dados da Direcção-Geral de Ener-

gia, o preço que por um kWh paga um consumidor domestico é 191 por cen-to superior ao preço pa-go por um consumidor de muita alta tensão; é 174,2 por cento superior ao pre-ço pago por um consumi-dor de alta tensão; é 116,8 por cento superior ao preço pago em média tensão dia-grama rectangular; é 69,8 por cento superior ao preço pago por um consumidor de média tensão no perfil

de médio industrial; e 43,1 por cento superior ao pre-ço pago por um consumi-dor de baixa tensão no per-fil de pequeno industrial.

Acima da UE

Segundo aquela Direc-ção-Geral, no segundo semestre de 2007 o preço da electricidade em Por-tugal era superior ao pre-ço médio da União Euro-peia (15 países), para os

consumidores do tipo DB (consumo médio mensal até 100 kWh), em 19,3 por cento; para os consu-midores DC (consumo mé-dio de 292 kWh, um gru-po que representa 36 por cento dos consumidores domésticos, e cujo consu-mo corresponde a 48 por cento dos consumos do-mésticos), em 22,1 por cento; para os consumi-dores do tipo DD (consu-mo médio mensal de 625 kWh), em 16,4 por cento; e para os consumidores do tipo DE, em 18,1 por cento. A excepção foram apenas os consumidores do tipo DA (com consu-mos médios mensais até

50 kWh, que pagam por mês apenas 7,75 euros e representam uma percen-tagem muito reduzida dos consumidores domésti-cos). Fora este último ca-so, foi considerado o pre-ço da electricidade sem impostos (porque é aque-le que reverte para as em-presas e constitui a fonte dos seus lucros).

Só devido ao facto dos impostos sobre a electri-cidade serem em Portugal inferiores à média da UE 15 (entre 77,2 por cento e 82,6 por cento) é que a situação não é ainda mais incomportável para os con-sumidores domésticos por-tugueses. Ou seja, acusa o economista, o Orçamen-to do Estado está também assim a financiar os lucros da EDP.

Com preços desta natu-reza, a EDP tem de ter lu-cros elevadíssimos. Para Eugénio Rosa, não é pre-ciso ser um grande gestor para conseguir isso, face à passividade do Gover-no e da entidade regula-dora (ERSE), que até teve o descaramento de propor que as dívidas incobráveis da EDP fossem pagas pe-los consumidores que pa-gam pontualmente. Por aqui se vê o tipo de fisca-lização que existe actual-mente em Portugal, em re-lação aos grandes grupos económicos.

Para dar aos accionistas, o Governo e a EDP tiram aos consumidores e aos trabalhadores

Os trabalhadores dos Despachos da EDP Dis-tribuição, em Setúbal, entre os quais se inclui um grupo significativo dos muito poucos trabalhado-res admitidos mais recen-temente, foram confronta-dos com a sua transferência para Lisboa.

Alguns vinham já trans-feridos de outros locais e, quando colocados em Se-túbal, quiseram saber qual o futuro dessa situação. Pelas hierarquias, foram dadas garantias de que tu-do estava estabilizado, e a maior parte decidiu fi-xar residência naquela zo-na. Mas no início do ano foi desencadeado um pro-cesso de transferência pa-ra Lisboa, incluindo outros trabalhadores daquele ser-viço há mais tempo.

A organização dos tra-balhadores obviou a que

tudo se processasse de forma quase administrati-va, conta o SIESI, que viu atendido um pedido de intervenção da ACT. No entanto, pelas pressões exercidas, chantagean-do com o desaparecimen-to do posto de trabalho, as transferências consu-maram-se. A EDP teve que compensar os custos resultantes da transferên-cia e não uma verba que quis definir unilateral-mente. O sindicato está a analisar o procedimen-to a ter perante pressões e intimidações para tra-balhadores declarassem que a verba da empresa era compensadora.

Além dos custos com transportes e tempos de viagem substancialmen-te acrescidos, há casos de inexistência de transporte a certas horas.

Os trabalhadores admiti-dos nos últimos quatro ou cinco anos, nos contratos que se seguiam aos con-tratos a termo, depararam-se com regras abusivas de mobilidade geográfica e funcional, que a interven-ção sindical anulou.

Houve ainda uma ten-tativa de prejudicar os trabalhadores na evolu-ção profissional e, con-sequentemente na remu-neração. Com tarefas de nível 5, a base de remu-neração nos contratos a termo correspondia a uma BR inferior à mínima da-quele nível. Na entrada para o quadro, a antigui-dade foi considerada nas anuidades, mas não para evolução na carreira, pro-blema que o sindicato já colocou em tribunal, de-pois da empresa rejeitar a regularização.

Novos recrutados

Central do BarreiroDecorre o descomissio-

namento das centrais térmicas a fuel, iniciado no Carregado (para consu-mar em 2012), prosseguin-do com o Barreiro (2010) e a breve prazo com Setúbal (para 2013). Como notici-ámos no anterior número, um resultado positivo foi obtido no Carregado, onde a EDP teve que alterar as suas posições, em função de uma presença massiva em todos os plenários rea-lizados e de uma forte uni-dade em torno das propos-tas aprovadas.

No Barreiro, onde se ini-ciaram os contactos indi-viduais com os trabalha-

dores, o SIESI entende que estão criadas condi-ções para um desfecho semelhante, pois a es-magadora maioria dos tra-balhadores está conscien-te de que só poderá haver um acordo se reflectir os direitos e interesses dos envolvidos.

Há situações ainda in-definidas, como as trans-ferências. Estão referen-ciados contactos com vista à aceitação de colocação noutras instalações, mas ficando os trabalhadores excluídos do ACT EDP. A orientação é clara: não as-sinar sem contactar o sin-dicato.

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Novembro 2008 17

CGTP-IN comenta alarme do capital

INTErNacIONaL

A actual crise finan-ceira revela uma profunda hipocrisia

política, acusa a CGTP-IN, recordando que, nas últi-mas décadas, os responsá-veis políticos:

- promoveram o sector fi-nanceiro, em detrimento da economia real;

- ignoraram as conse-quências da prevalência de critérios de rentabilida-de imediata, em prejuízo do investimento e da cria-ção de emprego e da sua estabilidade;

- recusaram regulações eficazes, com o argumento de que o Estado não deve-ria intervir, e privatizaram a todo o custo;

- aceitaram a especulação desenfreada, o enriqueci-mento fácil, o aumento das desigualdades, em nome do mercado;

- impuseram precarieda-des no trabalho, degrada-ção de salários e de pen-sões. Agora, usam o Estado para salvar o sistema, e sa-codem responsabilidades.

Ao apontarem o dedo a gestores, sobretudo os que abandonam as instituições com reformas de ouro, os responsáveis políticos pro-curam passar junto da opi-nião pública a mensagem de que são eles os salvado-res (com o dinheiro dos con-tribuintes) da presente situ-

ação, da qual pretendem não ter qualquer culpa.

Especulação globalizada

Para a CGTP-IN, a cri-se financeira deverá cons-tituir um ponto de viragem sobre o modelo de socieda-de em que vivemos.

A globalização económi-ca neoliberal foi apresenta-da aos trabalhadores e aos cidadãos como uma inevi-tabilidade e um desenvol-vimento positivo. Os pode-res dominantes adoptaram como normal que as activi-dades financeiras (e espe-

culativas) dominassem, fa-ce à produção de bens e de serviços. Numa economia de casino e com especula-ção desenfreada, o enrique-cimento fácil de uns pou-cos custou o endividamento e empobrecimento dos tra-balhadores e das famílias. Sem este contexto, nunca a crise actual, nascida de um pequeno segmento do mer-cado hipotecário nos EUA, se teria convertido numa crise financeira com a pre-sente dimensão.

A crise financeira desen-rola-se num contexto de forte regressão social. O trabalho foi desvaloriza-

do na sociedade, com o ar-gumento de que os direitos (vistos como privilégios, mesmo por partidos socia-listas e sociais-democra-tas) não eram compatíveis com a globalização.

O poder de negociação dos sindicatos foi reduzi-do na generalidade dos pa-íses, mas em nenhum país europeu se foi tão longe co-mo em Portugal.

A protecção social foi submetida às regras dos mercados financeiros, com o enfraquecimento dos sis-temas de segurança social públicos e a promoção dos fundos de pensões priva-

dos. Agravaram-se as desi-gualdades sociais.

Chegou-se ao extremo do Conselho Europeu ter apro-vado, em Junho deste ano, uma proposta para que os horários de trabalho pos-sam atingir 60 horas por se-mana, calculadas pela mé-dia de um período de três meses, o que significa que nalgumas semanas podem exceder as 60 horas!

Estado amigo

Foi atacado o Estado so-cial, com as suas importan-tes funções em áreas como a educação, a saúde, a se-gurança social, a justiça, ou a luta contra a pobreza. Mas os mesmos responsá-veis políticos reforçaram o papel interventor do Esta-do a favor dos ricos e dos poderosos.

A despesa pública foi apresentada como uma ini-miga, ao mesmo tempo que defendiam todas as formas de apoio ao capital.

Ao longo de anos, a ban-ca e as instituições finan-ceiras portaram-se como «donas brancas». Por isso, a CGTP-IN considera que não é agora aceitável uti-lizar os dinheiros públicos para salvar o sector finan-ceiro, sem que se apurem os responsáveis políticos e as decisões que tomaram.

A actual crise demonstra o fiasco do neoliberalismo e expõe contradições do sistema capitalista

Crise exige rupturaA grave crise financeira internacional exige repensar o modelo de sociedade e proceder a profundas mudanças, afirmou a Comissão Executiva da central, numa tomada de posição divulgada a 13 de Outubro.

Agir em Portugal

Defendendo a neces-sidade de agir, para su-perar o impacto da crise na economia portugue-sa, a CGTP-IN critica o Governo (e também em-presários oportunistas e formadores de opinião de serviço), por mini-mizarem o impacto da crise no País.

Ressalvando que fal-tarão ainda medidas profundas de nature-za estrutural, a central apontou várias medi-das de resposta à situa-ção social e de apoio às famílias, nomeadamen-te as que constam na sua proposta de Políti-ca Reivindicativa para 2009. Entre outras, re-fere:

- Melhoria dos salá-rios e das pensões;

- Baixa das taxas de juros;

- Um regime de boni-ficação do crédito diri-gido às famílias de mais baixos rendimentos;

- Prolongamento do subsídio social de de-semprego;

- Eliminação das con-dições restritivas de acesso ao complemen-to solidário para idosos;

- Reorientação das disponibilidades finan-ceiras, em particular do QREN;

- Adequação dos pla-nos nacionais de Refor-ma e do Emprego 2008-2010;

- Lançar um Plano Nacional de Acção pa-ra a Inclusão.

No presente semestre, a Fiequimetal assume res-ponsabilidades de vi-ce-presidente da Região Sudoeste da Federação Europeia dos Metalúrgicos (FEM), que representa es-sencialmente os sectores da metalurgia e do mate-rial eléctrico.

A federação organizou em Lisboa, nos dias 29 e 30 de Setembro, a reunião semestral daquele orga-nismo, na qual foi analisa-da a situação em cada um dos países e os traços co-muns da ofensiva. Destes, sobressaem a precarieda-de laboral, o desemprego, o encerramento e deslo-calização das multinacio-nais, a quebra do poder de

compra, a violação dos di-reitos dos trabalhadores (seja pela ofensiva patro-nal nas empresas, pelo não cumprimento dos contra-tos colectivos de trabalho ou pela aprovação de le-gislação que visa fragilizar ainda mais as relações de trabalho).

Reafirmando a necessida-de de melhor coordenar e aprofundar a luta contra es-tes problemas, foi decidido apresentar ao Comité de Di-recção da FEM, que iria reu-nir a 30 de Outubro, propos-tas concretas e comuns para que seja feita uma análise mais clara e objectiva da si-tuação com que os metalúr-gicos europeus se confron-tam e como lhe fazer frente

Federação Europeia

A campanha «Cuba por todos, To-dos por Cuba» foi lançada em me-ados de Setembro, pela Associação de Amizade Portugal-Cuba e outras organizações, entre as quais a CG-TP-IN.

«Cuba está sempre por todos, é altura de todos estarmos por Cuba» é o apelo feito, para ajudar o po-vo cubano a responder aos mui-to graves prejuízos causados pe-los furacões Gustav e Ike, no final de Agosto e início de Setembro. É tempo de os portugueses furarem o criminoso bloqueio a Cuba e se mobilizarem, para enviar, para o país que está sempre na primei-ra linha da solidariedade interna-cional a amizade, o apoio e a aju-da de que o povo de Cuba agora necessita.

Nos primeiros dias, foram recolhi-das e enviadas para Cuba várias to-neladas de géneros alimentares. Ul-timamente, a campanha está mais apontada para a recolha de fun-dos, com o objectivo de apoiar a reconstrução, sobretudo, do par-que habitacional. Para contribuir, transfira ou deposite o seu dona-tivo para a conta bancária da cam-panha, identificada com o NIB

003300000058016411697 (banco Millenium BCP).

Numa semana e meia, a ilha foi fus-tigada por dois furacões e uma tem-pestade tropical.

Vento, chuva e inundações provo-caram uma destruição sem prece-dentes. A eficiência dos planos de emergência, para este tipo de situ-ações, evitou um drama humano de maiores proporções, contando-se se-te vítimas mortais. Mais de 444 mil habitações ficaram danificadas (des-tas, mais de 63 mil com derrocada total). Em algumas províncias, fo-ram afectadas 80 por cento das ha-bitações. Importantes infraestrutu-ras, como estradas, rede eléctrica e armazéns de reservas estratégicas, foram severamente lesadas, tal como as culturas agrícolas.

Campanha solidária responde aos furacões

Vamos ajudar Cuba

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Novembro 200818

Órgão dos trabalhadores das indústrias metalúrgica, química, farmacêutica, eléctrica, energia e minas

N.º 3 • Novembro 2008

PropriedadeFiequimetal/CGTP-IN – Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgica, Química, Farmacêutica, Eléctrica, Energia e Minas

SedeRua dos Douradores, 160 – 1100-207 LISBOATelefones: 218818500 e 218818560 • Fax: [email protected] • www.fiequimetal.pt

DirectorJosé Machado

RedacçãoDomingos Mealha

GrafismoJorge Caria

Pré-impressãopré&press, Lda

ImpressãoLisgráfica

Depósito legalN.º 266590/07

Sindicatos filiados na Fiequimetal

Sindicato dos Trabalhadores da Metalurgia e Metalo-mecânica do Distrito de Viana do Castelo - Av. D. Afon-so III, 28 - 4900-477 V. CASTELO - Telef. 258 826 411 Fax: 258 826 455 Email: [email protected], [email protected]

Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgi-cas e Metalomecâni cas do Distrito de Braga – Av. António Macedo, Loja 8 – R/c - 4700-413 BRAGA - Telef.: 253 262 549 Fax: 253612556 Email: metalurgicos.braga@fiequi me tal.pt, [email protected]

Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúr-gicas e Metalome câ ni cas do Norte - Rua Padre António Vieira, 195 - 4300-031 PORTO - Telef.: 225 198 601 Fax: 225 198 603 Email: [email protected], [email protected] pac.pt

Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Meta-lúrgicas e Metalomecâni cas dos Distritos de Avei-ro, Viseu, Guarda e Coimbra - Rua Padre Américo, 1, Apartado 406 - 4524-907 RIO MEÃO - Telef.: 256 782 479 Fax: 256 781 135 Email: stimmdavg@fiequi metal.pt, [email protected]

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Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgi-cas e Metalomecâni cas do Sul - Rua Garcia Peres, 26 - 2900-104 SETÚBAL - Telef.: 265 534 391 Fax: 265 634 704 Email: [email protected], [email protected] Site: www.stimmsul.pt

Sindicato dos Metalúrgicos e Ofícios Correlativos da Região Autónoma da Ma deira - Rua Dr. Fernão de Ornelas, 15-2.º - 9050-021 FUNCHAL - Telef. e Fax: 291 224 860 Email: [email protected]

Sindicato dos Trabalhadores da Química, Farmacêuti-ca, Petróleo e Gás do Norte - Rua António Granjo, 171 - 4349-019 PORTO - Telef.: 225 899 110 Fax: 225 104 672 Email: [email protected], sinor [email protected]

Sindicato dos Trabalhadores da Química, Farmacêuti-ca, Petróleo e Gás do Centro, Sul e Ilhas - Rua dos Dou-radores, 160 - 1100-207 LISBOA - Telef.: 218 818 536/7 Fax: 218 818 584 Email: [email protected], [email protected]

Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas do Norte e Centro - Rua Padre António Vieira, 195 - 4300-031 PORTO - Telef.: 225 198 600 Fax: 225 198 603 Email: [email protected] Site: www.stienc.pt

Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas - Av. Almirante Reis, 74G-4.º - 1150-020 LISBOA - Telef: 218 161 590 Fax: 218 161 639 Email: [email protected] Site: www.siesi.pt

Sindicato do Sector de Produção, Transporte e Distri-buição de Energia Eléc tri ca do Arquipélago da Região Au-tónoma da Madeira - Av. do Mar, 32 - 9050-029 FUNCHAL – Telef. e Fax: 291 211 454 Email: steem@fiequi metal.pt, [email protected]

Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira - Rua dos Douradores, 160 - 1100-027 LISBOA - Telef.: 218818561 Fax: 218 818 555 Email: stim@fiequime tal.pt, [email protected]

A Comissão da CGTP-IN para a Igualdade entre Mulheres e

Homens foi recebida na Assembleia da República, e apontou algumas graves consequências que teria, para o agravamento da dis-criminação e das condições de vida e de trabalho de mi-lhares e milhares de traba-lhadoras, a alteração do Có-digo do Trabalho no sentido pretendido pelo Governo.

A audiência da CIMH/CGTP-IN com a Comis-são de Trabalho, Seguran-ça Social e Administração Pública teve lugar a 8 de Outubro.

A delegação da CIMH/CGTP-IN expressou apre-ensões relativas às propos-tas do Governo, em maté-ria de igualdade e não discriminação, e parenta-lidade, salientando:

- As consequências da desregulamentação das re-lações de trabalho e do au-mento do trabalho precário, assim como da simplifica-

ção dos mecanismos que fa-cilitam os despedimentos;

- O prolongamento do horário de trabalho até 12 horas por dia e 60 horas semanais, prejudicando a vida e a saúde das traba-lhadoras e dos trabalha-dores e afectando a conci-liação entre o trabalho e a vida familiar e pessoal;

- A substituição dos di-reitos de maternidade e paternidade, fixados na Constituição como valores

eminentes, por um vago conceito de «parentalida-de», desnecessário e de-sadequado, sem qualquer benefício em matéria de direitos de igualdade;

- As normas que fragilizam o conhecimento e o exer-cício dos direitos de igual-dade entre mulheres e ho-mens, no local de trabalho.

Além de dar a conhecer a sua posição sobre a revi-são do Código do Trabalho, a comissão da central para

a igualdade de género quis também alertar os deputa-dos para a desactivação da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), a ineficácia da Au-toridade para as Condições de Trabalho (ACT), e os prejuízos graves que daí ad-vêm, para a defesa dos di-reitos da maternidade e da paternidade, e dos direitos de igualdade de oportuni-dades e de tratamento, no local de trabalho.

NacIONaL

Audiência no Parlamento

Código contra as mulheresA lei da selva na organização dos horários de trabalho, a generalizada instabilidade de emprego e a maior dificuldade em conhecer e exercer os direitos são aspectos condenados pela CGTP-IN.

As alterações pretendidas pelo Governo iriam agravar a discriminação

HORIZONTAIS: 1 - Energia potencial e cinética da água, convertida em electricidade em centrais hidroeléctricas; fenol que se extrai da essência do tomilho e é empregado como anti-séptico e anti-helmíntico. 2 - A esposa do tio; pau-ferro; terreno arável. 3 - Melindrar. 4 - Mulher acusada de um crime; aquelas; aquilo que o artífice produz; antiga cidade da Mesopotâmia. 5 - Fruto da videira; passada larga. 6 - Mealheiro; diz-se do terreno situado por cima de um outro que encerra despojos orgânicos. 7 - O espaço aéreo;nome da letra «N»; sexta nota da escala musical. 8 - Tântalo (s.q.); Instituto de Meteorologia (abrev.); leve de rastos, à força. 9 - Escorrer; utensílio com que se junta e recolhe o dinheiro nas mesas de jogo. 10 - Aqui; sufixo nominal, de origem latina, de sentido aumentativo; gume. 11 - Dispositivo usado em circuitos eléctricos, constituído por um enrolamento (geralmente cilíndrico) de fio condutor (pl.); exprime a ideia de boca. 12 - Partícula afirmativa do dialecto provençal; almofariz. 13 - Substância que suprime ou suaviza a dor e combate a elevação da temperatura corporal. 14 - Furtar com

arteirice (gír.); pequena bigorna de aço, sem hastes. 15 - Almofada de máquina electrostática; extraíram.

VERTICAIS: 1 - Mineral que é, quimicamente, o hidróxido de magnésio (Mg OH2

) e cristaliza no sistema hexagonal. 2 - Italiano (abrev.); eternidade; repugnância; insignificância. 3 - Espaço de 24 horas; membro guarnecido de penas que serve às aves para voar; ter cabimento ou lugar. 4 - Os ramos ou a folhagem das plantas; curso de água natural, mais ou menos caudaloso, que desagua em outro curso de água, num lago ou no mar; actuei. 5 - Consideração; espécie de tumor ou carbúnculo que ataca o gado; picam com o bico. 6 - Nome de duas espécies de cotovias; peça que serve para sustentar certos móveis e utensílios; esteiro de rio ou braço de mar, geralmente navegável e que se ramifica pela terra; sobre. 7 - Alcalóide muito venenoso extraído da beladona, com aplicações medicinais; damas (nos jogos de cartas). 8 - Novilho; parte anterior da cabeça. 9 - Resultado falso; ave parecida com a pomba. 10 - Nona letra do alfabeto (pl.); da cor do anil;

pinga ou pingo de qualquer líquido. 11 - Red. de maior; casualidade; debruar. 12 - Suf. que exprime a ideia de semelhança ou origem;

graúdo; lugar dos sacrifícios; Sociedade Anónima (abrev.). 13 - Mulher que tem cabelo louro; radical alcoólico do tolueno.

SOLUÇÃO:HORIZONTAIS: 1 - Hídrica; timol. 2 - Tia; itu; solo. 3 - Amuar. 4 - Ré; as; obra; Ur. 5 - Uva; pernada. 6 - Cós; epizóico. 7 - Ar; ene; lá. 8 - Tá; IM; arraste. 9 - Escoar; rodo. 10 - Cá; olo; az. 11 - Bobinas; ori. 12 - Oc; gral. 13 - Paracetamol. 14 - Gamar; tás. 15 - Coxim; sacaram.VERTICAIS: 1 - Brucite. 2 - It; evo; asco; avo. 3 - Dia; asa; caber. 4 - Rama; rio; agi. 5 - Uste; má; nicam. 6 - Cia; pé; ria; em. 7 - Atropina; sotas. 8 - Bezerro; cara. 9 - Erro; rola. 10 - Is; anilado; gota. 11 - Mor; acaso; orlar. 12 - Ol; udo; ara; SA. 13 - Loura; benzilo.

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Novembro 2008 19

O objectivo fundamental dessa greve, dirigida pela União Ope-rária Nacional (UON), criada em

1914, era o de protestar contra a carestia e falta de produtos alimentares e contra a política do governo, pois, enquanto o povo passava fome e os soldados mor-riam nas trincheiras da Flandres (na Primeira Guerra Mundial), os capita-listas e os agrários enriqueciam mais. Ocupava o poder Sidónio Pais, que só se preocupava com os interesses dos gran-des capitalistas e dos latifundiários.

Apesar de longamente preparada e da combatividade demonstrada pelos gre-vistas, esta greve geral não atingiu os seus objectivos. Por um lado, devido ao fim da Grande Guerra, como ficou co-nhecida a Primeira Guerra Mundial, cujo Armistício foi assinada em 11 de Novembro, e que rasgou esperanças nu-ma melhoria da situação a curto prazo, contribuindo, desse modo, para a des-mobilização dos sectores mais modera-dos do operariado organizado. Por outro lado, por causa da violenta repressão, lançada sobre os sindicalistas no perío-do que antecedeu a greve geral, expres-sa em inúmeras prisões e no encerra-mento dos seus sindicatos. E, por fim, a pandemia Pneumónica, também conhe-cida por «gripe espanhola», que asso-lava o País e que se saldou por mais de cem mil mortos, contribuiu igualmente para o insucesso do movimento, na me-dida em muitos sindicalistas e trabalha-dores foram ceifados por ela.

O sidonismo, ditadura de novo tipo

Em Portugal, 1917 marca o início do fluxo do movimento sindical. Havia mais de um ano que Portugal participa-va na guerra e o esforço que esta exigia ao País acarretava consequências inter-nas desastrosas, cujos efeitos recaíam, fundamentalmente, sobre os trabalha-dores. Esta crítica situação «empurra» o operariado para a luta - a luta pelas «subsistências», contra a carestia de vi-da. Basta dizer que, de Junho de 1917 a Março de 1918, se travaram mais de 200 greves, das quais 171 (83 por cen-to) foram por questões salariais. Este movimento grevista tem o seu ponto al-to no «Verão quente» de 1917, sendo o governo de Afonso Costa obrigado a de-cretar o estado de sítio (greve geral da construção civil), com mortos e feridos à mistura, seguida de greve geral de soli-dariedade, de 48 horas, decretada pela UON, ou a mobilizar os grevistas (gre-ve geral dos telégrafos-postais, segui-

da igualmente de greve geral de solida-riedade) e a prendê-los, nos barcos de guerra surtos no Tejo ou nos vários for-tes militares espalhados pelo País, acu-sados de traição.

Mas a luta contra a a falta de géneros não é travada apenas através de greves. Por todo o País assiste-se a vagas de as-saltos das populações. Aliás, os assaltos aos armazéns e lojas de víveres são a res-posta do proletariado em geral, e do po-vo em particular, contra a carência e o açambarcamento dos géneros alimenta-res. Nesses assaltos participam não só os trabalhadores, mas também camadas da pequena burguesia e do campesinato.

O «Verão Quente» de 1917 prenuncia o sidonismo, o qual se inicia com o golpe de Estado militar de Sidónio Pais, leva-do a efeito em 5 de Dezembro de 1917. Sidónio Pais, que era membro da União Republicana, partido que esteve envol-vido no golpe, ensaia em Portugal a pri-meira ditadura moderna de tipo fascis-ta, que se veio mais tarde a concretizar na Itália com Mussolini, na Alemanha com Hitler, no nosso país com Salazar, na Espanha com Franco, etc..

Passada a primeira fase de expectati-va e de «simpatia benévola» para com o sidonismo, depressa os trabalhado-res passaram à ofensiva. A UON recu-sa ocupar o lugar no Senado sidonista e apela à organização operária para se afas-tar das lutas políticas. Apoiando-se cada vez mais nos monárquicos e na Igreja, Si-dónio País levou a cabo uma política ao serviço dos grandes interesses económi-cos, como Alfredo da Silva (CUF), e dos latifundiários, e de repressão sobre o mo-vimento operário. Os sindicatos da cida-de e do campo são encerrados, os diri-gentes sindicais são detidos e deportados para África, de onde alguns não regres-sarão. As cadeias enchem-se de presos. Desde os mineiros de São Pedro da Co-va aos pescadores de Portimão, passando pelos trabalhadores rurais de Alpiarça e Montemor-o-Novo, as prisões suce-dem-se por todo o País. Vive-se um cli-ma de terror, de verdadeira guerra civil. Segundo Bento Gonçalves, quando Sidó-nio Pais foi morto, em 14 de Dezembro de 1918, tinham passado nelas cadeias sidonistas, em Portugal e em África, cer-ca de 20 mil presos.(1)

Greve geral nacional

Entretanto a situação dos trabalhado-res continuava a degradar-se. O açam-barcamento e a carestia atingiam pro-porções nunca vistas, a repressão e a censura também, pois, apesar do custo

de vida não parar de aumentar, Sidónio Pais reduziu os salários dos trabalhado-res do Estado. Perante isto, a UON não podia ficar indiferente. Por um lado, porque muitos trabalhadores defendiam que só a unificação de todas as greves tornaria possível que a luta contra a ca-restia fosse eficaz, enquanto outros, os mais radicais, consideravam que tinha chegado o momento de se fazer a gre-ve geral expropriadora com carácter re-volucionário.

Assim, de acordo com a Federação da Indústria, a UON preparou um plano de trabalhos a levar a cabo pelo movimen-to sindical, que consistia no seguinte: 1.° - Promover em todos os sindicatos do País assembleias onde se discutiriam as reivindicações das classes profissio-nais; 2.° - Realização de comícios, no mesmo dia e à mesma hora, em Lisboa, Porto e em todos os centros industriais e agrícolas; 3.º - Preparar uma greve ge-ral nacional, se o Governo continuasse a não atender as reclamações operárias.

Os comícios foram marcados pa-ra o dia 15 de Setembro de 1918, ten-do-se realizado cerca de 40. Muitos fo-ram proibidos pelas autoridades, sendo substituídos por assembleias nas sedes dos sindicatos. Em Alpiarça e Monte-mor-o-Novo foram encerrados os sin-dicatos e mortos trabalhadores a tiro. Como escreveu Alexandre Vieira, se-cretário-geral da UON, «a acção desen-volvida, não apenas em Lisboa mas em todo o País, no sentido de ser levada a efeito a greve geral, que abrangeria todo o território continental, foi considerável, podendo mesmo afirmar-se que nunca em Portugal, como então, se trabalhou tão intensa e extensamente na prepara-ção de uma greve. (2)

Nos meses que antecederam a greve geral, foi lançada uma violenta campa-nha contra o movimento sindical, que era acusado pelos jornais reaccionários (O Tempo, O Dia, A Situação) de preten-der fazer uma revolução bolchevique. A burguesia portuguesa vivia amedronta-da com a Revolução Russa, que tivera lugar no ano anterior, e temia que Por-tugal acordasse um dia sob o poder dos sovietes

Apesar desta campanha, no dia 18 de Novembro os trabalhadores lançam-se corajosamente na greve. Esta é seguida pelos ferroviários do Sul e Sueste, que impedem a circulação dos comboios du-rante vários dias, apesar do Governo ter mandado ocupar militarmente as esta-ções de caminho-de-ferro; pelos tra-balhadores rurais do Alentejo, que se mantêm em greve durante uma sema-na; pelos trabalhadores da construção civil de Lisboa, Évora e Setúbal e pelos gráficos da capital, que não permitem a publicação de jornais durante oito dias.

Além disso, a greve foi ainda seguida por uma parte do operariado do Algar-ve (Portimão, Tavira, Silves e Olhão), do Barreiro e de Setúbal, pelos trabalhado-res da Póvoa de Varzim, pelos ferroviá-rios de Vale de Vouga e uma parte dos de Ovar e Gaia.

A greve foi esmagada a ferro e fogo. Centenas de trabalhadores foram pre-sos, por todo o País, e dezenas deles, oriundos de Vale de Santiago, no conce-lho de Odemira, foram deportados para Angola, sem julgamento nem culpa for-mada. Eram acusados de terem ocupa-do as terras dos agrários no primeiro dia de greve. Ao mesmo tempo, dezenas de sindicatos, incluindo a UON, eram en-cerrados.

As perseguições aos sindicalistas con-tinuaram até ao fim do reinado de Sidó-nio Pais. E agravaram-se quando este foi morto, na estação do Rossio, antes de embarcar para o Porto. A Polícia Preven-tiva - criada pelo ditador e antecessora da PIDE, a polícia política do fascismo - invadia as sedes dos sindicatos e obriga-va os sindicalistas a porem as bandeiras a meia-haste, em sua memória.

Os objectivos imediatos da greve geral não foram alcançados. No entanto, nem por isso se pode considerar que a gre-ve foi um fracasso total. Primeiro, por-que menos de um mês depois, a 14 de Dezembro, Sidónio Pais era morto e o seu regime derrubado, sendo restaura-das, pouco depois, as liberdades demo-crático-burguesas. Segundo, e este é o aspecto mais importante, não obstante a repressão, o movimento sindical não foi desfeito. E tanto assim é que, três meses mais tarde, a 23 de Fevereiro de 1918, inicia a publicação do jornal A Batalha que, começando com uma tiragem diá-ria de 7500 exemplares, em breve al-cança os 18 mil, sendo na altura o ter-ceiro diário português, logo a seguir ao Diário de Notícias e O Século. Em Maio desse ano conquista a jornada de traba-lho de oito horas, velha reivindicação operária, e em Setembro seguinte fun-da a CGT (Confederação Geral do Tra-balho), a primeira confederação dos tra-balhadores portugueses.

Depois de 1918 mais greves gerais fo-ram desencadeadas no nosso país, al-gumas das quais já depois da revolução democrática de 25 de Abril de 1974. Mas a greve de 18 de Novembro de 1918 permanece como um marco inapa-gável na História do movimento sindi-cal português.

______Notas(1)

Bento Gonçalves, Elementos para a História do

Movimento Operário Português, policop., 1969, p. 19.(2)

Alexandre Vieira, Para a História do Sindicalis-

mo em Portugal, 2.ª ed., Lisboa, Seara Nova, 1974, p. 135.

Um marco na história do movimento sindical português

A greve geral de 1918Em 18 de Novembro de 1918, faz agora 90 anos, rebenta uma das mais importantes greves gerais que houve durante a Primeira República (1910-1926).

hISTórIa

FraNcIScO caNaIS rOchaHistoriador

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Novembro 200820

Roteiro para Sócrates

Grande protesto no dia 1 de Outubro

acTUaL

20

No País chamado Portugal, continuam a fechar fábricas,

milhares de trabalhadoras e trabalhadores são empur-rados para o desemprego, vive-se com salários de miséria e muitos milhares de idosos vivem o drama de nem sequer terem dinheiro para os medicamentos.

O primeiro-ministro desdo-bra-se em acções de propa-ganda (a inaugurar coisas já inauguradas, a colocar a primeira pedra em tudo quanto é sítio, a anunciar o já anunciado, a distribuir «magalhães» fabricados por uma empresa que foge ao fis-co). José Sócrates fala de ou-tro país, uma terra de faz-de-conta, onde a crise não existe, o desemprego está a diminuir, milhares de ido-sos foram tirados da pobre-za graças ao complemento-zinho...

Mas cá, onde a vida é re-al, mais fábricas fecharam ou vão fechar, pela mão de multinacionais, que os go-vernos recebem de braços abertos e com subsídios far-tos, mas sem garantirem que elas não acabam por levan-tar a tenda, para irem su-gar noutras paragens. Dos casos referenciados nos nos-sos sectores, destaca-se, pe-los 400 trabalhadores ame-açados de desemprego, a Delphi de Ponte de Sor.

Sobre esse País, o primei-ro-ministro não diz uma pa-lavra. Nunca ninguém o viu junto de alguma empre-sa acabada de encerrar ou prestes a isso, ao menos pa-ra pedir desculpa aos traba-lhadores pelos efeitos da sua política.

Talvez seja a altura de co-meçar a exigir a José Sócra-tes que, onde quer que en-cerre uma fábrica, ele esteja lá. Mas assim deixaria de ter tempo para as suas ope-rações de propaganda... e arriscava-se a que lhe per-guntassem por que decidiu oferecer a essas e outras em-presas a facilitação dos des-pedimentos e outras magní-ficas prendas, embrulhadas no seu Código do Trabalho.

Mais razões para mudar de política

O dia nacional de luta, a 1 de Outubro, convocado pela CGTP-IN, traduziu-se numa das maiores manifestações de protesto e luta dos últimos meses, contra a política do Governo e as posições retrógradas do patronato.

Por todo o País, foram mui-tas as centenas de mi-lhares de trabalhadores

dos sectores público e privado que participaram activamente nas greves, paralisações, ple-nários e concentrações, para exigir melhores salários e em-prego sem precariedade e para repudiar a proposta de revisão, para pior, da legislação laboral, apresentada pelo Governo na Assembleia da República.

Apesar das manobras habitu-ais do Governo para tentar ta-par o sol com a peneira, com a cumplicidade de alguns órgãos de informação, os dados reco-lhidos pela CGTP-IN nos sec-tores e nos distritos (e publica-dos no sítio Internet da central, numa extensa lista) demons-tram a grande contestação que se fez sentir no dia 1 de Outu-bro, coincidindo com o 38.º ani-versário da central.

Merecem destaque:- os elevados índices de adesão

à greve dos trabalhadores da Fun-ção Pública (75 por cento), da ad-ministração local (75 por cento) e da enfermagem (81 por cento), vem como a forte participação dos professores nos plenários;

- a forma significativa co-mo a luta se fez sentir no sec-tor dos transportes e comuni-cações, em várias empresas

de transporte de passageiros e nos Correios;

- uma forte adesão dos traba-lhadores de muitas empresas dos sectores da indústria, como a metalurgia, a energia, a quí-mica, a cerâmica, o vidro, a cor-tiça, os têxteis e calçado;

- um conjunto vasto de para-lisações, plenários e contactos com os trabalhadores de nume-rosas empresas o sector dos ser-viços;

- o forte impacto público de que se revestiram as concen-trações e manifestações em vá-rias cidades, como as realiza-das em Braga, Porto, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Santa Maria de Lamas, Castelo Branco, Viseu, Coimbra, Mari-nha Grande, Abrantes, Lisboa (enfermeiros, no dia 1, e traba-lhadores dos CTT, a 30 de Se-tembro), Cacém, Barreiro, Por-talegre. Apesar das intimidações

patronais em muitas empre-sas, da carga policial sobre o piquete de greve dos ferroviá-rios em Penafiel ou da tentati-va de impedimento da activi-dade dos dirigentes sindicais no Jumbo de Setúbal, a CGTP-IN salienta que os trabalha-dores e trabalhadoras deram, mais uma vez, um exemplo de grande coragem e dignidade na luta contra a política des-te Governo e a prepotência pa-tronal. Este é um processo que continua em aberto, num novo ciclo de luta que se abriu, pe-la defesa da contratação colec-tiva e pela melhoria das condi-ções de vida e de trabalho.

Uma nova etapa foi o plená-rio nacional de dirigentes, de-legados e activistas, a 6 de No-vembro, em Lisboa, que voltou a acrescentar razões à luta pa-ra que é necessário ganhar ca-da vez mais trabalhadoras e tra-balhadores.

O grande plenário geral das empresas do parque industrial da Autoeuropa, em que participou o secretário-geral da CGTP-IN, reuniu cerca de 1500 trabalhadores

Greve e concentração na Tudor

No dia 1 de Outubro, os trabalhadores da Tudor concentraram-se durante duas horas junto ao portão da fábrica, pelos objectivos do dia nacional de luta e para reafirmarem à administração a determinação de travarem qualquer intenção de reduzir os níveis de emprego. A concentração teve adesão praticamente total e paralisou a produção.