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99 INFECÇÃO POR TRYPANOSOMA EVANSI EM EQUINOS: REVISÃO SOBRE O “MAL DAS CADEIRAS” NA REGIÃO NORTE DO BRASIL RESUMO O objetivo desta revisão foi organizar informações sobre a infecção por Trypanosoma evansi em equinos. A enfermidade conhecida como “Mal das Cadeiras” ou “Surra” é responsável por inúmeros surtos com mortes de equinos no Brasil. O crescimento do rebanho equino na região Norte do Brasil, as características climáticas e ambientais favoráveis ao aparecimento de vetores e a presença de reservatórios naturais apontam para a necessidade de estudos sobre a presença do T. evansi nos equinos dessa região. Na revisão foram relatados aspectos epidemiológicos, formas de transmissão, patogenia, sinais clínicos, alterações laboratoriais, achados de necropsia e histopatologia, formas de diagnóstico, tratamento e controle da infecção do T. evansi em equinos. Palavras-Chave: Trypanosoma evansi. Equinos. Mal das Cadeiras. Região Norte. ABSTRACT The aim of this review was to organize information on Trypanosoma evansi infection in horses. The disease known as “Mal das Cadeiras" or “Surra” is responsible for numerous outbreaks with deaths of horses in Brazil. The growth of the equine herd in northern Brazil, the climatic and environmental friendly development of vectors and the presence of natural reservoirs point to the need for studies on the presence of T. evansi in horses of this region. In the review were reported epidemiology, modes of transmission, pathogenesis, clinical signs, laboratory findings, necropsy and histopathology, of diagnosis, treatment and infection control of T. evansi in horses. Key- Words: Trypanosoma evansi. Horses. Mal das cadeiras. Northern Region. Isadora Karolina Freitas de Sousa 2 Kedson Alessandri Lobo Neves 1 1 2 ProfessorAssistente I. Instituto de Biodiversidade e Florestas (IBEF/UFOPA). Avenida Vera Paz s/n. Bairro Salé. CEP68135-110. Santarém-PA. Email paracorrespondência: [email protected], [email protected] Medica Veterinária. Residente em Clinica e Cirurgia de GrandesAnimais (HOVET/UFERSA). Mossoró-RN. Perspectiva Amazônica - Santarém - PA. Ano I. Vol. 2 p. 99-106 ago. 2011

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INFECÇÃO POR TRYPANOSOMA EVANSI EM EQUINOS: REVISÃO SOBRE O “MAL DAS CADEIRAS”

NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

RESUMO

O objetivo desta revisão foi organizar informações sobre a infecção por Trypanosoma evansi em equinos. Aenfermidade conhecida como “Mal das Cadeiras” ou “Surra” é responsável por inúmeros surtos com mortes deequinos no Brasil. O crescimento do rebanho equino na região Norte do Brasil, as características climáticas eambientais favoráveis ao aparecimento de vetores e a presença de reservatórios naturais apontam para anecessidade de estudos sobre a presença do T. evansi nos equinos dessa região. Na revisão foram relatadosaspectos epidemiológicos, formas de transmissão, patogenia, sinais clínicos, alterações laboratoriais, achadosde necropsia e histopatologia, formas de diagnóstico, tratamento e controle da infecção do T. evansi em equinos.

Palavras-Chave: Trypanosoma evansi. Equinos. Mal das Cadeiras. Região Norte.

ABSTRACT

The aim of this review was to organize information on Trypanosoma evansi infection in horses. The diseaseknown as “Mal das Cadeiras" or “Surra” is responsible for numerous outbreaks with deaths of horses in Brazil.The growth of the equine herd in northern Brazil, the climatic and environmental friendly development ofvectors and the presence of natural reservoirs point to the need for studies on the presence of T. evansi in horsesof this region. In the review were reported epidemiology, modes of transmission, pathogenesis, clinical signs,laboratory findings, necropsy and histopathology, of diagnosis, treatment and infection control of T. evansi inhorses.

Key- Words: Trypanosoma evansi. Horses. Mal das cadeiras. Northern Region.

Isadora Karolina Freitas de Sousa2Kedson Alessandri Lobo Neves1

12ProfessorAssistente I. Instituto de Biodiversidade e Florestas (IBEF/UFOPA).Avenida Vera Paz s/n. Bairro Salé. CEP68135-110. Santarém-PA.Email para correspondência: [email protected], [email protected]

Medica Veterinária. Residente em Clinica e Cirurgia de GrandesAnimais (HOVET/UFERSA). Mossoró-RN.

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1 INTRODUÇÃO

Atripanossomose equina, também conhecida como “Mal das Cadeiras” ou “Surra” tem causado inúme-ras mortes de equinos no Brasil, resultando em prejuízos aos sistemas pecuários extensivos que dependem docavalo para o seu manejo.

O Trypanosoma evansi, agente causal do Mal das cadeiras, pode ser transmitido mecanicamente porinsetos hematófagos das famílias Tabanidae e Stomoxidae e por morcegos hematófagos (Desmodus rotundus).A doença é caracterizada por rápida perda de peso, graus variáveis de anemia, febre intermitente, edema dosmembros pélvicos e fraqueza progressiva. Os animais infectados podem morrer dentro de semanas ou poucosmeses, no entanto, podem ocorrer infecções crônicas com evolução da doença por meses.

No Brasil, a tripanossomose em equinos foi descrita no pantanal do Mato Grosso do Sul (SILVA et al.,1995; RAMIREZ et al., 1997; HERRERA et al., 2004; SILVA et al., 2004), no estado do Mato Grosso(FRANKE; GREINER; MEHLITZ, 1994), no estado do Rio Grande do Sul (CONRADO et al., 2005;RODRIGUES et al., 2005; MORAES et al., 2007; ZANETTI et al., 2008), na Região Norte do Brasil, com únicorelato na Ilha do Marajó no estado do Pará (JANSEN, 1941), inclusive com reprodução experimental da doença,com o objetivo de caracterizar a enfermidade, desenvolver meios de diagnóstico e tratamento (OSHIRO et al.,1989; SILVA et al., 1995; TEIXEIRA et al., 2008; SILVA; PEREIRA; MONTEIRO, 2009). Apesar das descri-ções mencionadas, ainda existem lacunas na epidemiologia e patologia da tripanossomose em equinos no país.

Segundo o WorldAnimal Health Information System - WAHIS (OIE, 2011) casos de “Surra” (Trypano-soma evansi) em equinos foram notificados no Brasil entre os anos de 2005 e 2010. As notificações anuais decasos confirmam a presença do protozoário nos rebanhos de equinos no Brasil e apontam a necessidade de maio-res estudos para o controle da enfermidade, em especial onde estão presentes vetores e reservatórios naturais,como a região Norte do Brasil.

Com a expansão da bovinocultura de corte na Região Norte do Brasil, o rebanho equino tem papelimportante, pela força de trabalho e meio de transporte que eles representam nessas criações, sendo importanteconhecer e relatar as enfermidades que podem acometer esses animais.A tripanossomose é diagnosticada clini-camente em equinos por profissionais veterinários, porém não há na literatura relatos recentes de ocorrêncianessa região.

O clima quente e úmido, regiões com áreas alagáveis são favoráveis ao aparecimento dos vetores res-ponsáveis pela transmissão, o que atrelado a presença de reservatórios naturais, como as capivaras (H. hydro-chaeris), são fatores predisponentes para a ocorrência da doença na região Norte do Brasil.

É possível que o ambiente amazônico, presente em grande parte da região Norte do Brasil, possua pecu-liaridades que interfiram no perfil epidemiológico da tripanossomose. Esperamos que esta revisão colabore compesquisas que envolvam esta enfermidade, contribuindo para o diagnóstico, tratamento e controle nas criaçõesde equinos da região, consequentemente reduzindo as perdas econômicas decorrentes da mesma.

Desta forma, o presente artigo tem por objetivo fazer uma revisão de literatura relacionada à infecção pelo Trypanosoma evansi em equinos, assim como relatar a necessidade de maiores estudos a respeito da pre-sença desse protozoário nos rebanhos equino do Norte do Brasil.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS

O Trypanosoma evansi tem distribuição geográfica extremamente ampla, ocorrendo na África, Índia,Malásia, Indonésia, China, Rússia, Filipinas, América Central e América do Sul (SILVA et al., 2002). Esse pro-tozoário acomete um grande número de animais domésticos e silvestres, dentre eles, equinos, cães, coelhos,capivaras, quatis, bovinos, búfalos e tatus, além do próprio homem (DÁVILA; SILVA, 2000; HERRERAet al.,2004; JOSHI et al., 2005). No Brasil, T. evansi afeta principalmente equinos e a prevalência difere de uma regiãopara outra (DÁVILA; SILVA, 2000).

De forma geral, os elementos mais importantes da epidemiologia desta enfermidade são: latitude, o cli-ma, a flora e a fauna regional. O calor e a umidade favorecem sobremaneira o exuberante desenvolvimento daflora e da fauna entomológica (WELLS, 1984). Animais silvestres como os quatis e as capivaras, podem serinfectados e tornarem-se portadores assintomáticos do protozoário (NUNES et al., 1993).

Até o ano de 2005 acreditava-se que o homem era refratário ao T. evansi, no entanto, foi relatado na Índiao primeiro caso em humanos (JOSHI et al., 2005).Apartir de então, essa doença assumiu caráter zoonótico.

2.2TRANSMISSÃO

Atransmissão do T. evansi é mecânica e as formas sanguíneas são transferidas diretamente de um mamí-fero para outro por insetos hematófagos (por ex. moscas das famílias Tabanidae e Stomoxydae) ou artificial-mente por agulhas contaminadas com sangue infectado. Em contraste, com a transmissão cíclica, que pode sertão longa quanto for à vida do vetor, a capacidade para transmitir os exemplares de T. evansi mecanicamenteacontece apenas em um pequeno intervalo (geralmente questão de minutos) e depende da sobrevivência dosparasitas nas peças bucais do vetor (SILVAet al., 2002). NaAmérica do Sul, T. evansi pode também ser transmi-tido por morcegos hematófagos (Desmodus rotundus), onde os parasitas podem se multiplicar e sobreviver porum longo período. Dessa maneira, morcegos hematófagos atuam tanto como vetores e como reservatórios(HOARE, 1972).

2.3 PATOGENIA

A enfermidade ocasionada pelo T. evansi, em equinos, é manifestada por uma elevação na temperaturacorporal e o progressivo desenvolvimento da anemia, perda da condição física e fraqueza. Episódios recorrentesde febre podem ser observados durante o curso da doença, edema, principalmente, nas partes inferiores do cor-po, hemorragia petequias nas membranas serosas podem ser observadas (SILVAet al., 2002).

No Brasil, foram descritas duas formas da doença causada por T. evansi: a síndrome aguda que causamorte rápida em equinos e cães e a crônica, que afeta principalmente capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris) equatis (Nasua nasua) (HERRERA et al., 2004). Surtos de tripanossomose em capivaras comumente precedemos surtos da doença em equinos (SILVAet al., 2002).

Entre os equinos, poucos são os casos em que a enfermidade dura uma a duas semanas ou mais de três ouquatro meses. Em média, tem duração de um a dois meses (BOERO, 1974). Porém, na ausência de tratamento a

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doença pode variar de uma semana a seis meses (WOO, 1977).Segundo Boero (1974) a febre em equinos é inicialmente alta, variando de 40,6°C a 41° C, estando estri-

tamente relacionada com os períodos de parasitemia altas. No entanto, em trabalho mais recentes, Marques et al.(2000), observaram que durante a evolução da doença quadros de febre intermitente, podem ou não estar relaci-onados à parasitemia. O T. evansi multiplica-se no sangue periférico (BOERO, 1974) e seu número é variável nodecorrer da doença, podendo desaparecer da corrente sanguínea em algumas fases evolutivas da enfermidade(MARQUES et al., 2000).

A patogenicidade no hospedeiro varia de acordo com a cepa do Tripanossoma, a espécie do hospedeiro,fatores não específicos que afetam o animal como outras infecções e estresse, e condições epizootiológicas loca-is (HOARE, 1972).

2.4 SINAIS CLÍNICOS

A infecção por T. evansi em equinos, caracteriza-se por elevação da temperatura corporal, desenvolvi-mento de anemia e perda de condição física (SILVAet al., 1995).

Durante a evolução do quadro mórbido, são evidenciados edemas nos membros, na região submandibu-lar e na região ventral do abdômen (BOERO, 1974; SILVA et al., 1995; MARQUES et al., 2000), além de pali-dez ou icterícia das mucosas aparentes, hipertrofia dos linfonodos, taquipnéia e taquicardia (BOERO, 1974;MARQUES et al., 2000).

O sistema muscular parece ser alvo importante do T. evansi (FINOL et al., 2001), pois animais infectadosapresentam emagrecimento progressivo , evoluindo para caquexia, com perda de tônus muscular e transtornosmotores, caracterizados por movimentos lentos até a incapacidade de sustentação do próprio peso nos membrospélvicos, evoluindo para paraplegias atribuídas as lesões envolvendo o SNC e o muscular (BOERO, 1974;WOO, 1977; SILVAet al., 1995; MARQUES et al., 2000).Associado a fraqueza dos membros pélvicos e a difi-culdade locomotora, o animal apresenta característica posição de “cão sentado” (MARQUES, 1996;RODRIGUES et al., 2005).Através do exame do sistema músculo esquelético é possível evidenciar dor intensaà palpação da região da garupa (MORAES et al., 2007).

2.5ALTERAÇÕES LABORATORIAIS

Anemia é uma característica comum das infecções por T. evansi, segundo Silva et al. (1995) e Menezeset al., 2004 , a anemia severa encontrada nos casos de infecção natural por T. evansi é uma dos sinais clínicosclássicos da enfermidade. Essa anemia, segundo Silva et al. (1995), acontece em duas fases, sendo a severidadeda primeira fase proporcional ao grau de parasitemia e a segunda fase ocorrendo 4-6 meses após o início da doen-ça. Os protozoários do gênero Trypanosoma podem exercer uma ação tóxica, por liberarem substâncias que cau-sam hemólise e deprimem a hematopoiese (RODRIGUES et al., 2005).

Em recente estudo realizado em equinos naturalmente infectados pelo T. evansi foram encontradas redu-ção significativa na contagem dos glóbulos vermelhos, hemoglobina, volume globular e número de plaquetas(RANJITHKUMAR et al., 2011).

Leucocitose é um achado comum das infecções por T. evansi, embora não haja um perfil definido paracontagemdiferencial, que pode variar durante o curso da enfermidade (AQUINO, 1999; RODRIGUES et al.,

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2005). Em equinos, SILVA et al. (1995) encontraram neutropenia e linfocitose relativas, enquanto queMARQUES et al. (2000) observaram leucocitose neutrofílica e linfocitopenia relativa em animais inoculados.

O teor protéico sérico não sofre variação significativa (MARQUES et al., 2000). Entretanto, diminuiçãoda relação albumina: globulina tem sido observada por diversos autores (AQUINO et al., 1999).

Hipoglicemia tem sido verificada em animais infectados com T. evansi, podendo estar associada com aseveridade da doença (MENEZES et al., 2004). Adiminuição da glicose plasmática, observada durante o cursoda infecção, pode ser decorrente da espoliação de nutrientes sanguíneos pelos parasitas (BOERO, 1974). Por estar estritamente distribuído no compartimento sanguíneo, o T. evansi é considerado o maior consumidor de glicose dentre os grupos deste gênero (WOO, 1977).

2.6ACHADOS DE NECROPSIAE HISTOPATOLOGIA

Em necropsias realizadas no estudo de Rodrigues et al. (2005), os principais achados foram: esplenome-galia, linfadenomegalia, hiperplasia dos folículos linfóides do baço e dos linfonodos e atrofia das grandes mas-sas musculares dos membros pélvicos. Nos animais com sinais clínicos neurológicos centrais foram encontra-das alterações macroscópicas no encéfalo. Os hemisférios telencefálicos estavam com as circunvoluções acha-tadas e a substância branca e cinzenta estava amarelada, gelatinosa e distendida.

Histologicamente, no baço e nos linfonodos são observados hiperplasia dos folículos linfóides, grandenúmero de plasmoblastos, eritrofagocitose e hemossiderose. No fígado foi observado infiltrado inflamatóriomononuclear nos espaços porta, hiperplasia das células de Kupffer, necrose centrolobular moderada e hemossi-derose (RODRIGUES et al., 2005). Ainda no mesmo estudo, as lesões histológicas no encéfalo, incluíam infil-trado linfoplasmocitário meníngeo e perivascular acentuado, edema, desmielinização e necrose moderada ou acentuada e afetavam tanto a substância branca quanto cinzenta.

Em equinos, experimentalmente infectados meningoencefalite não supurativa generalizada foi relatada(MARQUES, 1996). No mesmo trabalho, foi observado miosite e degeneração de fibras musculares. Rodrigueset al. (2005), relatam em seu estudo que nos músculo esqueléticos e nervos periféricos é possível observar infil-trado inflamatório mononuclear perineural com degeneração walleriana. Nos músculos da coxa necrose flocu-lar e hialina, alternada com regeneração de miofibras, infiltrado inflamatório mononuclear entre as fibras ehemossiderose acentuada foi observado.

2.7 DIAGNÓSTICO

De acordo com Silva et al. (2002), o diagnóstico das tripanossomíases pode ser realizado através de dife-rentes métodos parasitológicos, sorológicos e moleculares. Entre as técnicas diagnósticas estão: aspirado delinfonodos, esfregaço sanguíneo, técnica de observação do tubo de micro-hematócrito, inoculação em animaisde laboratório, testes sorológicos, como imunofluorescência indireta, teste de aglutinação direta (MONZÓN, 1993), ELISAe diagnósticos moleculares.

Asensibilidade do diagnóstico desta enfermidade varia de acordo com a técnica utilizada. Monzón et al.(1990) citam que uma combinação entre o método do micro-hematócrito e inoculação de sangue parasitado emcobaias como procedimento diagnóstico mais recomendado.

Para o diagnóstico molecular a técnica de escolha é a reação em cadeia da polimerase (PCR) (SILVAet

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al., 2002). Essa técnica tem sido muito utilizada, por ser sensível e específica, o que permite detectar ani-mais infectados com baixa parasitemia (HERRERAet al., 2004). No entanto, animais submetidos à quimiotera-pia podem apresentar falsos negativos para PCR (AQUINO et al., 1999).

Estudo comparativo sobre a sensibilidade dos testes parasitológicos (teste de Woo), sorológicos (RoTat1.2) e moleculares (PCR 18S) foi realizado para determinar a prevalência e o grau de concordância desses testesno diagnóstico de T. evansi em equinos. Os testes parasitológicos, sorológicos e moleculares resultaram em pre-valência de 4,6%, 36,7% e 47,6% respectivamente no rebanho equino avaliado (GARI et al., 2010). Já a compa-ração entre os testes de esfregaço sanguíneo corado com Giemsa, inoculação em camundongos e ELISAdemonstraram uma prevalência de 40,6%, 46,9% e 65,6%, respectivamente (LAHA; SASMAL, 2009).

2.8TRATAMENTO E CONTROLE

As drogas curativas são usadas quando a incidência é baixa e poucos casos ocorrem em um rebanho. Aprofilaxia ou prevenção é necessária quando os animais estão sob constante risco e quando a enfermidade ocorreem um alto nível durante o ano (SILVAet al., 2002).

O aceturato de diminazene é o medicamento mais usado nas tripanossomíases dos animais domésticos,pois apresenta o mais alto índice terapêutico em relação às outras drogas para a maioria das espécies domésticas.Embora, estudos realizados com o uso desse medicamento na dose de 3,5 mg/Kg em equinos e mulas experi-mentalmente infectados com T. evansi, demonstrou ser eficaz na primeira aplicação realizada, já que retirou osparasitas do sangue periférico; porém, no segundo tratamento, 50% dos equinos e 25 % das mulas continuavampositivos. Além disso, esse medicamento demonstrou toxicidade leve ou acentuada nos equinos e mulas após aadministração (TUNTASUVAN et al., 2003).

Atualmente, a dosagem recomendada para o aceturato de diminazene nos equinos infectados com T.evansi é de 7,0 mg/kg (SILVAet al., 2004; SILVAet al., 2009).

Durante décadas foram usados vários métodos de controle como o desmatamento, uso de vetoresmachos estéreis, armadilhas impregnadas com inseticidas para o controle de vetores, pulverização de insetici-das nos animais, na vegetação, uso de inseticidas “pour on” e quimioprofilaxia. Atualmente, apenas a quimio-profilaxia e o controle de vetores com drogas pour on e armadilhas impregnadas com inseticidas continuamsendo usadas (SILVAet al., 2002; SILVAet al., 2004).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os sistemas pecuários tradicionais da região Norte do Brasil são caracterizados pela criação extensiva,que dependem dos equinos como força de trabalho no manejo das criações. Morte de equinos infectados pelo T.evansi resulta em prejuízos aos sistemas pecuários, consequentemente medidas de diagnóstico e controle dessainfecção devem ser instituídas, evitando maiores perdas econômicas e riscos sanitários. A ausência de estudosrecentes de casos de infecção por T. evansi em equinos na Região Norte do Brasil, onde o único relato científicoaconteceu na Ilha do Marajó – PA(JANSEN, 1941) indica a necessidade de maiores estudos epidemiológicos dadoença. O emprego de técnicas para o diagnóstico da tripanossomose em equinos (T. evansi) deve ser instituídode forma rotineira na região Norte do Brasil, sendo de fundamental importância para a triagem parasitológica,identificação dos infectados, tratamento dos doentes e controle da enfermidade nos rebanhos da região.

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