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RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: Asssociação Mineira de Supermercados (AMIS) AGRAVADO: Promotor de Justiça do Procon Estadual CÂMARA: 8ª Câmara Cível do TJMG RELATORA: Desembargadora Teresa Cristina da Cunha Peixoto CONTRA-RAZÕES DE AGRAVO Ilustre Desembargadora, Tratam, os autos, de AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto pela Associação Mineira de Supermercados (AMIS), nos autos do Mandado de Segurança requerido contra a decisão administrativa cautelar do Procon Estadual, proibindo a cobrança das sacolas destinadas à embalagem de produtos, desde agosto do ano passado, no qual pleiteou liminar, indeferida pelo Juízo da 3ª Vara de Fazenda Pública e Autarquias, depois concedida em grau de recurso, após reexame de Vossa Excelência, razão pela qual venho apresentar as razões ministeriais ao recurso interposto.

MANDADO DE SEGURANÇA: 0024 - AMMP. Vf, Amis, CR Agravo, MS... · Web viewTratam, os autos, de AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto pela Associação Mineira de Supermercados (AMIS),

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RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

AGRAVANTE: Asssociação Mineira de Supermercados (AMIS)

AGRAVADO: Promotor de Justiça do Procon Estadual

CÂMARA: 8ª Câmara Cível do TJMG

RELATORA: Desembargadora Teresa Cristina da Cunha Peixoto

CONTRA-RAZÕES DE AGRAVO

Ilustre Desembargadora,

Tratam, os autos, de AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto pela

Associação Mineira de Supermercados (AMIS), nos autos do Mandado de

Segurança requerido contra a decisão administrativa cautelar do Procon

Estadual, proibindo a cobrança das sacolas destinadas à embalagem de

produtos, desde agosto do ano passado, no qual pleiteou liminar, indeferida

pelo Juízo da 3ª Vara de Fazenda Pública e Autarquias, depois concedida em

grau de recurso, após reexame de Vossa Excelência, razão pela qual venho

apresentar as razões ministeriais ao recurso interposto.

Para fundamentar seu pedido, a agravante expôs:

i. a nova prática adotada por seus associados, incentivada pela impetrante, ou seja, a cobrança das sacolas, por unidade, e pelo preço de custo (R$ 0,19), num contexto de mudança da embalagem (saiu a sacolinha de plástico tradicional e entrou a biodegradável, de custo superior, por exigência da lei municipal), foi a “melhor solução para resolução da questão ambiental, concluindo-se pela necessidade de cobrança das sacolas compostáveis, em forma de repasse ao consumidor pelo seu preço de custo”, para desestimular o uso, e, ao revés, incentivar o uso das sacolas retornáveis, o que, inclusive, já havia sido implementado no município paulista de Jundiaí, com sucesso (f. 08);

ii. essa solução é a mais justa para o consumidor, “pois só

pagará quem efetivamente usar a sacola descartável, evitando assim penalizar os que estão colaborando e se adequando ao novo hábito sustentável”, e a “cobrança de forma visível e direta é mais efetiva na questão educacional, na adequação ao nosso hábito” (f. 08);

iii. impossibilidade de o Procon Estadual abrir processo administrativo para investigar formação de cartel, pois a competência para reprimir práticas atentatórias à livre concorrência ou preveni-las, através da aprovação dos atos de concentração, é do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) - (f. 10/12);

iv. o Ministério Público, “apoiado pela Prefeitura Municipal e pelo movimento das donas de casa e consumidores de Minas Gerais”, “como se sabe”, “acolheu a iniciativa do comércio varejista em realizar uma campanha educativa para erradicar o uso de sacolas de plástico nesta capital”, participou do lançamento do projeto, e não pode, agora, ir contra o que foi decidido – (f. 13/14);

v. a fumaça do bom direito, requisito para a concessão de qualquer medida liminar, não está presente no caso, pois a lei municipal, ao determinar a disponibilização, no comércio, das sacolas biodegradáveis, em substituição às sacolas tradicionais (fabricadas com matéria-prima derivada do petróleo), não proibiu a cobrança das mesmas, razão pela qual o Procon Estadual não poderia fazê-lo, violando os princípios da legalidade e da livre iniciativa dos seus associados (CF, arts. 1º, IV e 170) – (f. 14/16);

vi. o “periculum in mora” não se faz presente, também, pelos seguintes motivos: 1º) o Procon Estadual, apesar de entender que as sacolas biodegradáveis são danosas ao meio ambiente, não proibiu a sua disponibilização gratuita; 2º) a cobrança das sacolas biodegradáveis não prejudica os consumidores, pois compra quem quer; 3º) se a cobrança das sacolas não for feita por unidade, pode ser embutida no preço dos produtos ofertados (f. 16/18);

vii. a decisão cautelar, proibindo a cobrança das sacolas, pelo fato de o município não descartá-las em usina de compostagem, o que impede a sua decomposição, prevê consequências e responsabilidades não relacionadas aos seus associados, mas ao poder público, dentre as quais

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se inserem as informações “necessárias sobre a natureza das sacolas biodegradáveis e de que o ganho ambiental depende de outras providências”, razão pela não podem ser considerados autores de propaganda enganosa (f. 18/19 e 44);

viii. “a sacola ecológica é mais um produto que os supermercados disponibilizam aos seus clientes, sendo esta uma maneira de estimular a redução do consumo das sacolas biodegradáveis e de mudar o comportamento da população estabelecendo um valor para o hábito, o que consequentemente acaba incentivando a utilização de sacolas retornáveis, o que demonstra que a decisão cautelar é desarrazoada e desproporcional aos estabelecimentos privados”, “até porque hoje 97% da população não utiliza qualquer sacola plástica, apenas a retornável, o que não deixa dúvidas do sucesso da Lei Municipal, que em 15 meses se retirou do meio ambiente 97% de sacolinhas descartáveis, ou seja: 180 milhões dessas” (f. 42);

ix. “a decisão traz em si uma proibição de caráter geral e abstrato, ferindo o princípio da legalidade, segundo o qual ‘ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei’ (CF, art. 5º, II) – (f. 23);

x. “a decisão cautelar ofende diretamente os preceitos constitucionais de proteção ao meio ambiente” (CF, art. 225) – (f. 24);

xi. a venda das sacolas biodegradáveis, pelo preço de custo (compra do fabricante), e a falta dos demais requisitos de cooperação econômica, considerados pela doutrina, elidem a alegação de formação de cartel (f. 31);

xii. a prática adotada por seus associados, pela cobrança das sacolas biodegradáveis, foi “um meio encontrado para coibir a utilização de sacolas plásticas pela sociedade, hábito há muito tempo criado e que se perpetuou ao longo do tempo e de gerações”, dentro da “relação PODER PÚBLICO, INICIATIVA PRIVADA E SOCIEDADE, assim considerados os consumidores”, objetivando, com isso, banir o uso de sacolas descartáveis, não importa de que natureza, pois se a sociedade criou esse “péssimo hábito”, deve “dar sua parcela de contribuição para os fins propostos pela Lei nº 9.529, mesmo que alguns ônus

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lhe sejam impostos” (f. 35/38);

xiii. ao afirmar que “o ganho ambiental divulgado pelo setor supermercadista – redução do número de sacolas usadas no comércio – é relativo, pois não tem qualquer relação com a natureza da sacola biodegradável. Deve-se, apenas, à cobrança do preço”, o Promotor de Justiça subscrevente reconheceu que “cobrar pela sacola implicou em redução do consumo de tal produto, que era justamente o objetivo primordial da lei” (f. 38);

xiv. “a questão é simples e dispensa maiores delongas, resumindo-se em uma única palavra: conscientização. A sociedade deve deixar o individualismo de lado e pensar no bem comum. Resolver a insatisfação de uns ou outros em detrimento de um ambiente mais limpo e sustentável significa fechar os olhos para uma questão de suprema relevância, de impacto mundial. Se cada um fizer sua parte, o resultado final certamente será significativo. E a sociedade terá que agradecer” (f. 45/46).

Ao final, reiterou a concessão do pedido liminar, e ao final, a sua

confirmação e provimento do recurso.

RELATADOS OS AUTOS, respondo ao recurso interposto.

A primeira participação do Procon Estadual, na questão posta em

debate, ocorreu, precisamente, no dia 22 de fevereiro de 2011, quando, a

convite da Presidência do Movimento das Donas de Casas e Consumidores

de Minas Gerais, este Promotor de Justiça compareceu à sede da entidade

civil, para acompanhar a assinatura de um “Protocolo de Intenções”, firmado

por diversas instituições, no âmbito da campanha educativa “Sacola Plástica

Nunca Mais”.

O evento foi divulgado pela associação, em sua página eletrônica,1

1 - “SACOLA PLÁSTICA NUNCA MAIS - A Lei Municipal 9.529/2008, de autoria do vereador Arnaldo Godoy, exige a substituição de sacos e sacolas plásticas por soluções ecológicas. A legislação entrará em vigor dia 1º de março, e a fiscalização punitiva será realizada pela Prefeitura de Belo Horizonte

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e objeto de reportagem da Revista Gôndola, distribuida pela agravante:

“O Futuro Está em Nossas Mãos, Sacola Plástica Nunca Mais”, assim divulgada pela Associação Mineira de Supermercados: “Sacolas plásticas nunca mais. Organizada por todo o comércio varejista e com o apoio da Prefeitura de Belo Horizonte e do Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais, uma campanha educativa vai erradicar o uso de sacolinhas em BH. (...) Dia 18 de abril de 2011. Guarde bem esta data em sua memória, pois trata-se de um dia histórico: é nele que Belo Horizonte se transforma na primeira capital brasileira a banir o uso de sacolas plásticas no comércio varejista. E o meio ambiente agradece, afinal, 157 milhões de sacolinhas (como são popularmente conhecidas) deixarão de ser descartadas na natureza em 2011. Este era o consumo de sacolinhas na capital mineira durante um ano. (...) LOGÍSTICA DE VENDA E DISTRIBUIÇÃO E não é para menos. A hora da saída no caixa estará totalmente mudada a partir do dia 18 de abril. Os consumidores encontrarão dois tipos de sacolas. As retornáveis (aquelas feitas de TNT, ráfia, tecido de algodão, palha etc.) que estarão sempre disponíveis nos pontos de varejo. A retornável de menor preço para o consumidor será uma oficial da campanha, ao preço máximo de R$ 1,98 a unidade, vendida a preço de custo pelos varejistas. O consumidor terá liberdade para escolher entre a mais barata

a partir de 18 de abril. Nesta data, lojas, supermercados, drogarias, padarias e afins estarão proibidos de utilizar a tradicional sacolinha plástica. Os que não se adequarem receberão advertência e poderão ser multados em até R$ 1 mil, ou mesmo sofrerem interdição do negócio. Em apoio à Lei Municipal e com o objetivo de conscientizar as empresas e os consumidores, Sindicato e Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), Associação Comercial de Minas (ACMinas), Associação Mineira de Supermercados (Amis), Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais (MDC-MG), Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e Procon Municipal assinaram, no dia 22 de fevereiro, um Protocolo de Intenções que firma o compromisso das instituições de colaborar para o sucesso da iniciativa. Para isso, as entidades lançaram a campanha educativa SACOLA PLÁSTICA NUNCA MAIS, que busca orientar a população sobre as melhores alternativas para a substituição das sacolas plásticas descartáveis e incentiva a mudança de comportamento em relação ao uso de produtos descartáveis. Com a nova legislação, os pontos de varejo irão incentivar o uso de alternativas sustentáveis, como carrinhos, caixas de papelão, sacolas recicladas, retornáveis de tecido, TNT, palha, ráfia e outros. Para estimular a mudança de hábito na população, a campanha produzirá um modelo de sacola retornável que será vendida (unidade) a R$ 1,98 (preço de custo) nos pontos de venda participantes da campanha. Os consumidores também terão como alternativas as sacolas descartáveis compostáveis. Ainda novidade para o consumidor de Belo Horizonte, essa sacola se assemelha com a atual produzida de plástico, porém a matéria-prima é o amido de milho. Por ser fabricada com material orgânico, a sua decomposição ocorre em até 180 dias, podendo servir de adubo para o solo. Assim como a sacola retornável, a compostável estará à venda no comércio varejista ao valor fixo de R$ 0,19 (unidade), a preço de custo (http://www.mdcmg.com.br/campa nha_sacola_plastica_nunca_mais.php. Acesso: 13/02/13).

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(oficial da campanha) e as muitas outras opções de sacolas retornáveis que os varejistas vão colocar à venda. O outro tipo que os consumidores vão encontrar são as sacolas plásticas descartáveis compostáveis (as únicas permitidas por lei). Elas serão vendidas, a preço de custo, ao valor máximo de R$ 0,19 a unidade. É a primeira vez na história que o consumidor pagará por uma sacola plástica descartável. Vale lembrar que a campanha incentiva o consumidor a trazer de casa sua própria sacola e igualmente a utilizar alternativas como caixas de papelão, carrinhos de feira, etc. A melhor maneira de se estimular a redução do consumo de algo é também a mudança de comportamento é estabelecer valor para o hábito. Ao ter que pagar pela sacola descartável compostável, o consumidor será estimulado a consumir o mínimo necessário ou – como pretende a campanha – abandonar o uso dela, utilizando sempre sua sacola retornável para fazer suas compras” (Revista citada, pág. 40) – (Decisão cautelar: f. 108, NR nº 6).

Integrou, ainda, o editorial da revista mensal, então subscrito pelo

Presidente da AMIS:

“Com o respaldo de uma lei municipal que entrou em vigor dia 1º de março e proíbe a distribuição de sacolas plásticas que não sejam biodegradáveis, todas as entidades do comércio de BH, o que inclui a Associação Mineira de Supermercados (AMIS), se uniram e conquistaram o apoio do Movimento das Donas de Casas e Consumidores de Minas Gerais (MDC-MG) e da Prefeitura de Belo Horizonte para ir mais além e lançar um campanha em prol da extinção ou redução máxima do uso de sacolas plásticas descartáveis, mesmo que sejam biodegradáveis. (...)

Por isso, conclamo a todos os associados da AMIS que possuem lojas em Belo Horizonte a continuarem firmes no compromisso que assumimos com o futuro do planeta. Já solicitei à equipe da AMIS que fique à disposição de todos para detalhar a campanha e dar as dicas e instruções sobre como conduzir este período de transição entre o uso de sacolinha plástica e a adoção da sacola retornável. Ao completar seus 40 anos de fundação, a AMIS dá esse presente para toda a população de Belo Horizonte, que é contribuir para a extinção do uso da sacola plástica. Estamos certos que a campanha será um grande sucesso e que o pionerismo da Capital mineira inspirará outras capitais e, quem sabe, todo o País. Conto com você. O planeta agradece (Revista Gôndola, Palavra do Presidente, pág. 06. Belo Horizonte: Março

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de 2011, Ano 16, Número 184. 20.500 Exemplares, Distribuição Nacional. Publicação da AMIS) – (Decisão cautelar: f. 107, NR nº 5).

Como dito na decisão cautelar do Procon Estadual,

“De Belo Horizonte, a campanha rumou para São Paulo, onde, no dia 9 de maio de 2011, o Governador Geraldo Alckimin, o Secretário Estadual do Meio Ambiente, Bruno Covas, e a Associação Paulista de Supermercados (APAS) firmaram convênio, para eliminar a distribuição gratuita das sacolas ecológicas no Estado, passando a vendê-las pelo preço de custo, R$ 0,19 (dezenove centavos), tal como já ocorre em Jundiaí, desde 2010 (16/05/11. In http:www.portalamis. org.br/site/noticias) – (f. 108: NR nº 6, parte final).

Percebe-se, nas divulgações acima, a ausência de qualquer citação

ao órgão do Ministério Público (seja da Promotoria de Justiça do Procon

Estadual2, ou da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente), o que indica que

a instituição, por seus órgãos de execução, não participou e nem apoiou a

idéia concebida pelas instituições signatárias do “Protocolo de Intenções”, ao

contrário do que afirma o ilustre advogado da agravante.3

Os consumidores, desde o início, apontaram que a idéia concebida

não era a melhor. Os fundamentos apresentados foram diversos:

2 - É o órgão coordenador do Sistema Estadual de Defesa do Consumidor, do qual o Procon/BH é inegrante.

3 - Irresponsável e censurável, “data venia”, foi a afirmação dirigida a este Juízo, pelo advogado da impetrante, no afã de influenciá-lo, por violar os deveres de veracidade e lealdade processual: “De fato, como se sabe, o Ministério Público Estadual de Minas Gerais, apoiado pela Prefeitura Municipal e pelo movimento das donas de casa e consumidores de Minas Gerais acolheu a iniciativa do comércio varejista em realizar uma campanha educativa para erradicar o uso de sacolas de plástico nesta capital. Conforme documentação anexa verifica-se, inclusive, a presença de ilustres Promotores de Justiça no ato de lançamento desta campanha, que culminou na criação da Lei Municipal n. 9.529/08. Assim, não pode o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, após mais de 4 (quatro) anos da publicação da lei, instaurar o presente procedimento administrativo, sem qualquer justo motivo, sem jamais ter diligenciado neste sentido em período anterior, seja na esfera administrativa, ou não judicial, através das medidas cabíveis para que se discuta a aplicabilidade e constitucionalidade de determinada legislação” (Petição inicial: f. 13).

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“- oportunismo; eliminação de custo; obtenção de lucro com a venda superfaturada; cobrança abusiva, pois o consumidor tem de pagar a propaganda da empresa, feita na sacola (Notícia de Fato nº 0024.11.001217-6, Denise Martins Ferreira, 01/03/11, 13:04);

- valor abusivo; fragilidade das sacolas; exige que o consumidor preveja, ao sair de casa, se vai comprar algo; inconveniente de misturar, num só ambiente, material de limpeza, verduras, carne ...; troca da sacola plástica pelo saco de lixo, que é mais caro e não biodegradável; falta de preocupação da Prefeitura com a coleta seletiva na cidade; ausência de incentivo aos estabelecimentos que buscam a sustentatibilidade (Notícia de Fato nº 0024.11.002247-2, Fernanda da Rocha Neves Dumont, 25/04/11, 16:14);

- fornecedores como o SUPERNOSSO, VERDE MAR e MARTPLUS já distribuíam, gratuitamente, sacolas oxibiodegradáveis, antes da lei vigorar; custo das sacolas repassados ao consumidor; aumento do lucro dos supermercados (Notícia de Fato nº 0024.11.003834-6, Eduardo Paoliello Nicolau, 30/06/11, 14:28);

- imposição, ao consumidor, da compra de sacola biodegradável com propaganda da empresa e de seus parceiros - LOJAS REDE (Notícia de Fato nº 0024.12.000585-5, Rosângela Elisabete Lins da Silva, 1º/02/12, 17:03);

- lesão ao direito do consumidor; o governo municipal não dá tratamento eficaz ao lixo urbano; deve ser decretado o fim das embalagens PET, das embalagens de isopor, das fraldas descartáveis, das embalagens de produtos de limpeza, etc. (Notícia de Fato nº 0024.12.000843-8, Luiz Felipe Lehman, 1º/02/12, 12:10);

- “maior lucro dos supermercados: o custo das sacolinhas já está embutido no preço dos produtos; aumento de lucro com a venda dos sacos de lixo plásticos; cobrança ilegal, via formação de cartel; ineficiência da medida: supermercados continuam utilizando embalagens plásticas para acondicionar verduras, frutas, arroz, feijão, farinhas, etc; refrigerantes são vendidos em garrafas PET, encontradas nos bueiros, esgotos e rios; produtos de limpeza e produtos de uso pessoal, como sabonetes líquidos, são acondicionados em embalagens plásticas (Notícia de Fato nº 0024.12.000687-9, Luiz Felipe Lehman, 06/02/12, 19:27);

- descumprimento da lei; venda de sacolas plásticas como

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biodegradáveis (Notícia de Fato nº 0024.12.003054-9, Weliton Prado, Deputado Federal, 13/02/12, 15:07); - “... não utilização de sacos de lixo ecológicos para a disposição do lixo, como ocorre no supermercado Morini, na Praça Nova Iorque, no Sion” (Notícia de Fato nº 0024.12.001107-7, Luiz Felipe Lehman, 24/02/12; 14:30);

- descumprimento da lei; fornecimento de sacolas plásticas e não biodegradáveis; as sacolas retornáveis é que devem ser incentivadas; (Notícia de Fato nº 0024.12.002274-4, Alencar da Silveira Júnior, Deputado Estadual, 21/03/12, 16:51);

- descumprimento da lei; venda de sacolas plásticas como biodegradáveis (ID nº 1.921.797, Welismar Prado, Deputado Estadual, 22/03/12, 14:48);

- não fornecimento de caixa de papelão e imposição da compra de sacola biodegradável com propaganda da empresa - LOJAS REDE: Rua Visconde de Ibituruna, Região do Barreiro; dúvida se o material da sacola é biodegradável; o consumidor não pode ser obrigado a pagar pela sacola e ainda fazer propaganda da loja (Notícia de Fato nº 0024.12.003182-8, Andrea Cristina de Souza Barbosa, 30/04/12, 17:57);

- necessidade de fornecimento de embalagens alternativas (Notícia de Fato nº 0024.12.004704-8, Nilson Lopes Júnior, 25/06/12, 14:38);

- além de pagar as sacolas biodegradáveis, o consumidor ainda paga a propaganda das LOJAS REDE (Notícia de Fato nº 0024.12.004979-6, Joel Antunes, 05/07/12, 10:07);

- a venda de sacolas biodegradáveis não vai resolver o problema do mundo (Notícia de Fato nº 0024.12.005272-5, Alisson Augusto, 15/07/12, 17:18) – (Decisão cautelar: f. 104/106).

Todos serão devidamente considerados (ponderados) ao término

do processo administrativo, na tentativa de conciliar os diversos interesses

merecedores de proteção e encerrar o conflito gerado pela agravante e suas

entidades de classe co-irmãs, ao instituírem a cobrança e o tabelamento do

preço das sacolas. Houve audiência pública, no último dia 06 de fevereiro, e

a ata dos trabalhos será encaminhada à agravante e empresas processadas,

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com a designação de outra audiência, para deliberar sobre a realização dos

últimos atos instrutórios. Na sequência, a fase de negociação será instalada,

para buscar a solução consensual do problema, e, não sendo possível, o feito

será encerrado por decisão administrativa.

Os consumidores não são responsáveis pela poluição ambiental

causada pelo uso indiscriminado das sacolas nos supermercados. Não são

responsáveis pelo “péssimo hábito” imposto pelo mercado – aqui inseridos a

indústria e o comércio – ao usar sacolas, sem a adoção de mecanismos para a

sua reutilização no processo de produção. E nem aceitam essa nova prática

(imposição) do mercado, sem serem consultados, em ambiente propício ao

diálogo dos consumidores, ora estabelecido pela intervenção do Ministério

Público.4

Em sede cautelar, três foram os motivos principais para o Procon

Estadual suspender a venda das sacolas no comércio local, no intuito de

proteger os interesses que compõem a ordem econômica constitucional.5

Como a defesa do consumidor é um deles, e se relaciona aos demais, não há

como excluir o o dever do Procon de intervir no mercado, no exercício de

4 - A prática adotada por seus associados, pela cobrança das sacolas biodegradáveis, foi “um meio encontrado para coibir a utilização de sacolas plásticas pela sociedade, hábito há muito tempo criado e que se perpetuou ao longo do tempo e de gerações”, dentro da “relação PODER PÚBLICO, INICIATIVA PRIVADA E SOCIEDADE, assim considerados os consumidores”, objetivando, com isso, banir o uso de sacolas descartáveis, não importa de que natureza, pois se a sociedade criou esse “péssimo hábito”, deve “dar sua parcela de contribuição para os fins propostos pela Lei nº 9.529, mesmo que alguns ônus lhe sejam impostos” (Petição inicial: f. 35/38).

5 - “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei” (Constituição Federal, art. 170).

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seu poder (dever) de polícia,6 ou o órgão do Ministério Público Mineiro,7

como pretende a agravante.8

Na linha do entendimento da ilustre magistrada em exercício no

Juízo da 3ª Vara de Fazenda Pública e Autarquias, bem exposto na decisão

interlocutória que acolheu a competência do Procon Estadual para intervir

no caso submetido à Justiça (f. 973/975), cito o julgado do Superior Tribunal

6 - A Constituição Federal de 1988, tratando da defesa do consumidor, assim dispôs: “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” (CF, art. 5º, XXXII). “O Congresso Nacional, dentro do prazo de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará o código de defesa do consumidor” (ADCT, art. 48). Sobre o Código de Defesa do Consumidor, é importante registrar, entre outros aspectos: 1º) elaborou “normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos do arts. 5º, inciso XXXII, 170, V, da Constituição Federal e art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias” (art. 1º); 2º) estabeleceu a Política Nacional das Relações de Consumo, entendida por um conjunto de ações dos órgãos federais, estaduais e municipais de defesa do consumidor, articuladas e preordenadas ao atendimento das necessidades dos consumidores, preservando a sua dignidade, a sua saúde e segurança e os seus interesses econômicos (art. 4º, “caput”); 3º) vinculou o atendimento dos objetivos da Política Nacional das Relações de Consumo, dentre outras estratégias, a uma ação governamental de proteção efetiva do consumidor, pela presença do Estado no mercado de consumo (art. 4º, II, “c”), à coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal, que possam causar prejuízo aos consumidores (art. 4º, VI), e, ainda, à efetiva prevenção e reparação dos danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (art. 6º, VI); 4º) instituiu o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), integrado pelos órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais de defesa do consumidor, além das entidades civis que se ocupem do mesmo objetivo (art. 105); 5º) disciplinou a atuação concorrente e solidária das entidades políticas, as espécies de sanções administrativas, seus requisitos legais e regulamentou, por exigência do art. 2º da Lei Federal nº 8.656, de 21/5/93, o procedimento para aplicação das mesmas, através do Decreto Federal n. 2.181, de 20/3/97 (arts. 55 a 60). Assim, a redação do art. 55, § 1º, do CDC, abaixo transcrito: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios fiscalizarão e controlarão a produção, industrialização, distribuição, a publicidade de produtos e serviços e o mercado de consumo, no interesse da preservação da vida, da saúde, da segurança, da informação e do bem-estar do consumidor, baixando as normas que se fizerem necessárias”. Por isso é que o estatuto consumerista previu a existência de um Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), integrado pelos órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais, além das entidades privadas de defesa do consumidor, cujos exemplos mais claros são o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), no nível nacional, e os PROCONS, nos níveis estadual, distrital e municipal (CDC, art. 105). Embora as agências reguladoras e outros órgãos públicos possam se ocupar da defesa do consumidor, o certo é que cabe aos órgãos públicos de defesa do consumidor, direta e autonomamente, exercê-la, de modo “efetivo” ou “eficiente”, tal como exige a Constituição Federal de 1988 e o Código de Defesa do Consumidor (CF, art. 5º, XXXII; ADCT, art. 48; CDC, art. 4º, II, “c” e VI). Firma-se, assim, a legalidade e a legitimidade de atuação dos órgãos públicos de defesa do consumidor na fiscalização dos fornecedores que praticam relações de consumo e na aplicação das sanções administrativas previstas no Código de Defesa do Consumidor, em consonância com aquelas previstas na legislação complementar, sem prejuízo da atuação das agências reguladoras e de outros órgãos públicos federais, estaduais, distrital e municipais” (Decisão cautelar, f. 121, NR nº 19). 7 - O tema envolve o órgão do Ministério Público Mineiro, que, como se sabe, recebeu delegação do Constituinte Estadual para exercer as atividades do Programa Estadual de Proteção e Defesa do

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de Justiça:

“MANDADO DE SEGURANÇA. REVENDEDORA DE COMBUSTÍVEIS. DUMPING. MULTA APLICADA PELO PROCON. LEGITIMIDADE. VIOLAÇÃO CARACTERIZADA. ORDEM DENEGADA. I – Trata-se de mandado de segurança impetrado pela ora recorrida, visando anular a multa aplicada pelo PROCON em decorrência da prática de dumping no âmbito da revendedora de combustíveis, originada de denúncia feita pelo Sindicato Varejista. II – Não há como afastar a legitimidade do

Consumidor – PROCON-MG (CE: ADCT, art. 14), e cumprir o poder-dever de fiscalizar, no território mineiro, a oferta e comercialização de produtos e serviços. Em função dessa competência constitucional, foram editados os arts. 22, 23 e 24 da Lei Complementar Estadual nº 61, de 12/7/01, com a nova redação dada pela LCE nº 117, de 11/01/11, que dispôs sobre a organização do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, assim redigidos: “Fica criado o Programa Estadual de Proteção ao Consumidor – PROCON-MG, na estrutura do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, nos termos do art. 14 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado, para fins de aplicação das normas relativas às relações de consumo, especialmente as estabelecidas na Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e no Decreto Federal nº 2.181, de 20 de março de 1997” (art. 22). “Art. 23. Compete ao Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor – Procon-MG –, órgão de administração do Ministério Público, exercer, no Estado, a coordenação da política do Sistema Estadual de Defesa do Consumidor – SEDC –, cabendo-lhe: I – planejar, elaborar e coordenar a política estadual de proteção e defesa do consumidor; II – receber, analisar, avaliar e apurar consultas, reclamações e denúncias apresentadas por entidades representativas, por grupo, categoria ou classe de pessoas, por pessoas jurídicas de direito público ou privado ou por consumidores individuais, processando aquelas que noticiarem lesão ou ameaça de lesão a interesses ou direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos; III – dar orientação permanente aos consumidores sobre seus direitos e deveres; IV – informar, conscientizar, educar e motivar o consumidor, por diversos meios; V – fiscalizar as relações de consumo e aplicar as sanções e penalidades administrativas previstas na Lei Federal n° 8.078, de 11 de setembro de 1990, e em outras normas relativas à defesa do consumidor; VI – atuar, no processo administrativo, como instância de instrução e julgamento, no âmbito de sua competência, observado o disposto na Lei Federal n° 8.078, de 1990, e na legislação complementar; VII – elaborar e divulgar, na forma da lei, o cadastro estadual de reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços, nos termos do art. 44 da Lei Federal n° 8.078, de 1990, e remeter cópia ao órgão federal incumbido da coordenação política do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, bem como fomentar, por diversos meios, a criação e a divulgação de cadastros municipais; VIII – propor a celebração de convênios e celebrar termos de ajustamento de conduta, na forma da lei; IX – elaborar e divulgar a relação complementar de cláusulas contratuais consideradas abusivas nas relações de consumo no âmbito do Estado e divulgar a relação elaborada pelo órgão federal competente; e X – exercer as demais atividades previstas na legislação relativa à defesa do consumidor e outras compatíveis com suas finalidades. § 1° A direção do Procon-MG será exercida por coordenador, escolhido livremente pelo Procurador-Geral de Justiça de Minas Gerais entre os Procuradores de Justiça e Promotores de Justiça da mais elevada entrância. § 2° Integram o Procon-MG os Promotores de Justiça de Defesa do Consumidor do Estado de Minas Gerais. § 3° As atividades do Procon-MG serão regulamentadas por ato do Procurador-Geral de Justiça de Minas Gerais. § 4° Das decisões proferidas pelas autoridades julgadoras integrantes do Procon-MG nos processos administrativos, caberá, no prazo de dez dias contados da data da intimação, recurso voluntário, sem efeito suspensivo, ou, caso haja a cominação de pena de multa, com efeito suspensivo. § 5° Da decisão que, em processo administrativo, julgar insubsistente a infração recorrerá, de ofício, a autoridade julgadora que o presidiu. § 6° Fica criada a Junta Recursal do Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor – Jurdecon –, composta por, no mínimo, três Procuradores de Justiça designados pelo Procurador-Geral de Justiça, à qual compete proferir, por maioria de seus membros, decisão

12

PROCON na hipótese sub judice, tendo em conta, principalmente, a determinação contida no Código de Defesa do Consumidor no sentido de coibir de forma eficiente todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal. III – Recurso provido, com a denegação da ordem” (RE nº 938.607 – SP, Relator o Ministro Francisco Falcão, 1ª Turma, decisão unânime, em 04/07/07).

Em síntese, as razões principais para o Procon Estadual suspender

a cobrança das sacolas, foram as seguintes:

1ª) a campanha “sacolas plásticas nunca mais”, acordada

pela agravante e entidades de classe co-irmãs, visando a

cobrança das sacolas, por unidade e preço tabelado, apesar

do apoio da Prefeitura Municipal e da Associação do

Movimento das Donas de Casas e Consumidores de Minas

Gerais (MDC/MG), violou princípios de ordem econômica,

assegurados pela Carta Magna, como a livre concorrência,

a livre iniciativa e a defesa dos consumidores, na medida

em que decidiu e influenciou a conduta dos comerciantes

locais de repassar, aos consumidores, o suposto preço de

custo (compra) das sacolas, a pretexto de obter o referido

ganho ambiental, e sem qualquer contrapartida da classe

empresarial, o que é proibido pela Lei Antritruste.

Como dito na decisão cautelar do Procon Estadual,

administrativa fundamentada e definitiva no julgamento dos recursos voluntários e necessários, interpostos contra as decisões das autoridades julgadoras nos processos administrativos. § 7º Fica autorizada, mediante regulamentação em Regimento Interno, aprovado pela Câmara de Procuradores de Justiça, a competência da JURDECON para elaborar súmulas ou enunciados que propiciem a otimização da atividade finalística do Procon-MG. Art. 24. As multas aplicadas nos termos do art. 56, I e 57, “caput”, da Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, reverterão ao Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor, na forma prevista em lei” (Decisão cautelar: f. 122, NR nº 20). 8

- Impossibilidade de o Procon Estadual abrir processo administrativo para investigar formação de cartel, pois a competência para reprimir práticas atentatórias à livre concorrência ou preveni-las, através da aprovação dos atos de concentração, é do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) - (Petição inicial: f. 10/12).

13

“A obrigatoriedade de uso das sacolas biodegradáveis, no comércio belo-horizontino, e o interesse dos comerciantes na causa, foram retratados em campanha feita pela Associação Mineira de Supermercados (AMIS), junto aos seus associados, com a qual inaugurou uma nova prática de mercado: a cobrança, por unidade, das sacolas biodegradáveis, além do tabelamento de seu preço, em R$ 0,19 (dezenove centavos).

Pesquisas do Procon Estadual, em 10 (dez) estabelecimentos comerciais, nos dias 08/06/11 e 06 e 11/06/12, comprovam esta afirmação:

CARREFOUR: Avenida Amazonas, nº 5.320, Bairro Nova SuiçaCNPJ: 45.543.915/0211-89

DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$

08/06/11 NãoBiodegradável 0,19Ecológica TNT 0,12Ecológica Carrefour 2,90

12/06/12 Caixas de papelão Biodegradável 0,19Retornável (Projeto Servas) 2,90

SUPERNOSSO: Rua André Cavalcanti, nº 237, Bairro GutierrezCNPJ: 10.319.375/0012-25

DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$

08/06/11 Não

Biodegradável 0,19Retornável Joaninha 3,99Supernosso Goumert 6,99Tipo Estampada 9,98Ecológica TNT 3,99

06/06/12 Caixas de papelão Biodegradável 0,19SUPERMERCADOS BH: Rua Waldomiro Lobo, nº 515, Bairro Guarani

CNPJ: 04.641.376/0032-32DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$

08/06/11 Caixas de papelãoRetornável 1,99Biodegradável 0,19

06/06/12 Caixas de papelão Biodegradável 0,15Retornável (Projeto Servas) 2,00

EXTRA SUPERMERCADOS: Avenida Cristiano Machado, nº 4.000, Bairro União CNPJ: 03.139.761/0020-80

DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$

08/06/11 Caixas de papelãoBiodegradável 0,19Retornável da empresa 6,99

12/06/12 Caixas de papelão Biodegradável 0,19SALES SUPERMERCADOS: Rua Coronel Jairo Pereira, nº 25, Bairro Palmares

CNPJ: 05.418.619/0014-59DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$ 08/06/11 Caixas de papelão Biodegradável 0,19

14

11/06/12 Caixas de papelão Biodegradável 0,19Retornável (Argos) 1,99

WALMART: Avenida Portugal, nº 5.500, Bairro ItapoãCNPJ: 00.063.960/0196-24

DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$ 08/06/11 Caixas de papelão Retornáveis 1,85 a 9,00

Biodegradável 0,1911/06/12 Caixas de papelão Biodegradável 0,19

MART PLUS: Rua Rodrigues Caldas, nº 455, Bairro Santo AgostinhoCNPJ: 01.928.075/0016-86

DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$ 08/06/11 Caixas de papelão Biodegradável 0,19

Retornáveis de TNT 1,9806/06/12 Caixas de papelão Biodegradável 0,19

DROGARIA PACHECO: Avenida Cristiano Machado, nº 2.312, Bairro Cidade NovaCNPJ: 33.438.250/0269-80

DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$ 08/06/11 Biodegradável Não - 06/06/12 Sacos de papel (P/M/G) Biodegradável 0,19

DROGARIA ARAÚJO: Rua Rodrigues Caldas, nº 430, Bairro Santo Agostinho CNPJ: 17.256.512/0024-02

DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$ 08/06/11 Sacola de papel Biodegradável 0,1906/06/12 Sacos de papel (P/G) Biodegradável 0,19

DROGARIA RAIA: Rua André Cavalcanti, nº 235, Bairro GutierrezCNPJ: 60.605.664/0139-41

DIA EMBALAGEM NÃO VENDIDA SACOLAS VENDIDAS R$ 08/06/11 Não Biodegradável (G) 0,34

Biodegradável (M) 0,19Biodegradável (P) 0,12

06/06/12 Sacos de papel (P/M) Biodegradável (G) 0,34Biodegradável (M) 0,19Biodegradável (P) 0,12

Há, também, cupons fiscais, comprovando o fato:

SUPER SACOLÃO SANTOS BARBOSA LTDA: Rua do Uruguai, nº 771, Bairro SionCNPJ: 08.395.877/0001-30

DIA SACOLA VENDIDA R$ 14/06/12 Biodegradável 0,19

DMA DISTRIBUIDORA S/A: Av. Dom Pedro I, nº 402, Itapoã/PlanaltoCNPJ: 01.928.075/0078-89

DIA SACOLA VENDIDA R$ 07/06/12 Biodegradável 0,19PADARIA PAMPULHA LTDA.: Av. Ministro Guilhermino de Oliveira, nº 381, Sta Amélia

CNPJ: 71.888.040/0001-98DIA SACOLA VENDIDA R$ 07/06/12 Biodegradável 0,19

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PANIFICADORA PANESION LTDA.: Av. Uruguai, nº 692, Bairro SionCNPJ: 20.245.023/0001-73

DIA SACOLA VENDIDA R$ 1º/06/12 Biodegradável 0,19

CARREFOUR: Praça Deputado Renato Azeredo, nº 22, SionCNPJ: 45.543.915/0141-31

DIA SACOLA VENDIDA R$ 1º/06/12 Biodegradável 0,19

DMA DISTRIBUIDORA S/A: Rua Uruguai, nº 1.045, SionCNPJ: 01.928.075/0026-58

DIA SACOLA VENDIDA R$ 07/06/12 Biodegradável 0,19

WAGNER EDUARDO BARBOSA: Rua Grão Mogol, nº 1.308, SionCNPJ: 03.963.566/0001-07

DIA SACOLA VENDIDA R$ 1º/06/12 Biodegradável 0,19

DROGARIA ARAÚJO: Avenida Uruguai, nº 752, SionCNPJ: 17.256.512/0018-64

DIA SACOLA VENDIDA R$ 1º/06/12 Biodegradável 0,19

ORGANIZAÇÃO VERDEMAR: Avenida Nossa Senhora do Carmo, nº 1.900, SionCNPJ: 65.124.307/0003-01

DIA SACOLA VENDIDA R$ 15/06/12 Biodegradável 0,19

No entanto, essa nova realidade do mercado – inspirada numa suposta proteção ambiental – teve, como efeito colateral, a formação de cartel e a lesão a outros princípios de ordem econômica, como a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor.9

Nesse sentido, dispõe a Lei Antitruste:

“Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa” (Lei nº 12.529/11, art. 36); “As seguintes condutas, além de outras, na medida em que

9 - Ensina LUCIANO SOTERO SANTIAGO, ilustre Professor e membro do Ministério Público Mineiro, que “a livre concorrência se caracteriza pela livre ação dos agentes econômicos, de forma que estes tenham liberdade para empregar os meios que julgarem próprios e adequados para conquistarem a preferência do consumidor. A livre concorrência se caracteriza, também, na liberdade em que os agentes econômicos, atuais ou potenciais, têm para entrar, permanecer e sair do mercado. A livre concorrência se caracteriza, ainda, pela liberdade de escolha para o consumidor” (Direito da Concorrência, pág. 29. Salvador: Editora Jus Podium, 2008, 427 páginas).

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configurem hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração da ordem econômica: I - acordar, combinar, manipular ou ajustar com concorrente, sob qualquer forma: a) os preços de bens ou serviços ofertados individualmente; II - promover, obter ou influenciar a adoção de conduta comercial uniforme ou concertada entre concorrentes (Lei nº 12.529/11, art. 36, § 3º). 

Em resumo: quer, na defesa do livre mercado e da concorrência, quer na proteção do consumidor, há lesão efetiva à ordem econômica, que precisa ser combatida.10

Registro, ao ensejo, que a lei acima referida, ao prever os atos de concentração econômica, entre empresas, “que impliquem eliminação da concorrência em parte substancial de mercado relevante”, condiciona a sua aprovação, pelo CADE, ao preenchimento de certos requisitos, um dos quais de repassar, aos consumidores, “parte relevante dos benefícios decorrentes” (Lei nº 12.529/11, art. 88, § 6º, II). Eis a transcrição do artigo:

Art. 88. (...)

§ 5o  Serão proibidos os atos de concentração que impliquem eliminação da concorrência em parte substancial de mercado relevante, que possam criar ou

10 - Essa, também, é a lição do Professor LUCIANO SOTERO, após discorrer sobre as infrações comuns à Lei Antitruste e ao Código de Defesa do Consumidor (aumento injustificado de preços, venda casada e recusa de venda) e mencionar os três critérios utilizados para justificar a defesa do livre mercado e do consumidor – identificação do bem jurídico tutelado, espécie de relação jurídica (concorrencial x de consumo) e poder econômico (não exigido na proteção do consumidor): “Como a aplicação da Lei nº 8.078/90 independe da existência de poder econômico, basta, apenas, que o agente econômico cause, por força de uma prática comercial abusiva, uma lesão ao consumidor para que ele seja responsabilizado. Talvez seja por tal motivo e pelo fato de a identificação do cartel, pelo prisma da tutela da concorrência, exigir conhecimentos técnicos complexos acerca da definição de mercado relevante e de poder de mercado, que o Ministério Público e o Poder Judiciário vem enfrentando a matéria referente aos cartéis de combustíveis pela ótica da tutela do consumidor, cuja configuração do ilícito ao consumidor é muito mais simples e fácil, pois a Lei nº 8.078, além de dispensar a análise do mercado relevante e do poder econômico, permite a inversão do ônus da prova” (Obra citada, pág. 109). No mesmo sentido, a posição do Superior Tribunal de Justiça: “MANDADO DE SEGURANÇA. REVENDEDORA DE COMBUSTÍVEIS. DUMPING. MULTA APLICADA PELO PROCON. LEGITIMIDADE. VIOLAÇÃO CARACTERIZADA. ORDEM DENEGADA. I – Trata-se de mandado de segurança impetrado pela ora recorrida, visando anular a multa aplicada pelo PROCON em decorrência da prática de dumping no âmbito da revendedora de combustíveis, originada de denúncia feita pelo Sindicato Varejista. II – Não há como afastar a legitimidade do PROCON na hipótese sub judice, tendo em conta, principalmente, a determinação contida no Código de Defesa do Consumidor no sentido de coibir de forma eficiente todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal. III – Recurso provido, com a denegação da ordem” (RE nº 938.607 – SP, Relator o Ministro Francisco Falcão, 1ª Turma, decisão unânime, em 04/07/07).

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reforçar uma posição dominante ou que possam resultar na dominação de mercado relevante de bens ou serviços, ressalvado o disposto no § 6o deste artigo.

§ 6o  Os atos a que se refere o § 5o deste artigo poderão ser autorizados, desde que sejam observados os limites estritamente necessários para atingir os seguintes objetivos:  I - cumulada ou alternativamente:  a) aumentar a produtividade ou a competitividade; b) melhorar a qualidade de bens ou serviços; ou c) propiciar a eficiência e o desenvolvimento tecnológico ou econômico; e II - sejam repassados aos consumidores parte relevante dos benefícios decorrentes”.11  

Têm razão, assim, os consumidores, em reclamar, pois o custo do das sacolas biodegradáveis (R$ 0,19), segundo divulgado pelo representante dos supermercados, está sendo repassado, desde o início, integralmente, aos compradores dos bens de consumo.12 Há, na espécie, clara

11 - CALIXTO SALOMÃO FILHO, comentando este artigo da Lei nº 8.884/94, não alterado pela lei atual, assim leciona: “Na lei brasileira essa necessidade de proteção em via direta do interesse dos consumidores, e não apenas indireta através da procura da maximização da riqueza global, é reforçada, ainda, pela existência de previsão específica no tocante à eficiência. Bastante reveladora é a comparação entre o art. 54, que regula o controle das concentrações, e o art. 20, § 1º, da lei, que regula as situações de poder adquiridas com base no crescimento interno. Enquanto o primeiro dispositivo coloca a eficiência entre vários outros elementos justificadores (todos eles necessários) da concentração, o último estabelece um excludente absoluto de ilicitude para as situações de poder de mercado criadas a partir do crescimento interno, com base exclusivamente na eficiência. A comparação dos dois dispositivos sugere a existência de uma preferência do legislador pelo crescimento interno em detrimento do crescimento através de aquisições de empresas. Essa preferência é óbvia e justifica-se. Não só o crescimento interno tem efeitos macroeconômicos positivos, pois implica aumento do investimento que, potencializado por seu efeito multiplicador, leva a um aumento da própria renda, mas também pode-se ter a garantia de que, se esse crescimento foi baseado na maior eficiência (e não na eliminação dos concorrentes), então os ganhos dela decorrentes foram repartidos com os consumidores. Se o produtor ganhou licitamente fatias de mercado é porque ou reduziu os preços ou melhorou a qualidade do produto. Essa mesma certeza não é possível ter com relação às concentrações. Mas não apenas isso (grifei). Ao tratar do controle das concentrações, o legislador elabora em termos claros o princípio redistributivo. O art. 54, § 1º, inc. II, prevê, logo em seguida ao requisito da eficiência, que é preciso também demonstrar que “os benefícios decorrentes sejam distribuídos equitativamente entre os seus participantes, de um lado, e os consumidores ou usuários finais, de outro” (DIREITO CONCORRENCIAL, As Estruturas, pág. 204. São Paulo: Malheiros Editores, 3ª edição, 2002, 400 páginas). 12 - Agiu com acerto o Conselho Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo, ao não homologar o termo de ajustamento de conduta firmado pela Promotoria de Defesa do Consumidor da Capital e a Fundação Procon/SP, de um lado, e a Associação Paulista de Supermercados (APAS), de outro, prevendo a substituição das sacolas descartáveis, vendidas no comércio, por unidade, após acordo entre os revendedores (não seriam mais disponibilizadas), pelas sacolas retornáveis, a serem vendidas por um preço máximo acordado entre a entidade representativa dos supermercados e o Poder Público (R$ 0,59). O voto condutor da decisão colegiada, proferido por sua Excelência, o Procurador de Justiça Mário Antônio de Campos Tebet, apontou, com argumento semelhante, o mesmo vício apontado na lei antitruste, “verbis”: “Deixo de homologar os termos do compromisso de ajustamento de conduta firmados nestes autos por entender que não consulta os

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violação à Lei Antitruste” (Decisão cautelar: f. 107/114).

Em conclusão a este tópico, pode-se afirmar que a idéia concebida

pela agravante e demais entidades de classe co-irmãs não foi a melhor, pois

impede que os seus associados possam, de outro modo, e livremente, buscar

a proteção ambiental, e atender às necessidades de seus clientes, que devem

ser tratados de forma digna e não como infratores (da lei de mercado), caso

não tenham consigo as sacolas retornáveis.

Seguramente, a solução não foi correta ! Punir os consumidores,

sem disponibilizar sacolas de papel para embrulhar os produtos comprados

(naturalmente degradáveis); ou entregar caixas de papelão com o risco de

de contaminação por urina ou fezes de ratos; ou, então, exigir que os clientes

carreguem as compras nas mãos, constrangidos pelo tratamento recebido.13

melhores interesses da classe consumidora, porque viola o disposto nos artigos 4º, inciso III, e 51, inciso IV, do código de defesa do consumidor, na medida que não observa o equilíbrio que deve existir entre fornecedor e consumidor, no mercado de consumo, impondo somente ao consumidor o ônus de ter que arcar com a proteção do meio ambiente, já que terá de pagar pela compra de sacolas reutilizáveis, nenhum ônus atribuindo-se ao fornecedor, a quem, muito pelo contrário, tem se utilizado da propaganda de protetor do meio ambiente, diante da população brasileira. A situação do consumidor, após o termo de compromisso, sofreu um prejuízo diante do fornecedor, e diante da situação que antes desfrutava, já que, por costume, lhe eram fornecidas sacolas plásticas sem nenhum custo adicional aparente ou direto. Já o fornecedor deixou de ter que arcar com o custo do fornecimento das sacolas plásticas descartáveis ao consumidor, passando a cobrar pela compra de sacolas reutilizáveis, sem deduzir do custo de seus produtos, o valor antes neles embutidos referente ao fornecimento de sacolas plásticas gratuitas. O desequilíbrio, portanto, com a colocação do consumidor em desvantagem exagerada diante do fornecedor, nos impede de concordar com a homologação dos termos de compromisso de ajustamento de conduta firmados nestes autos. Cabe à APAS e demais supermercados fornecedores, encontrar uma forma de, vindo a retirar as sacolas plásticas descartáveis do mercado de consumo, o que sem dúvida alguma seria salutar sob o ponto de vista ambiental, encontrar um meio em que o consumidor não fique em situação de desvantagem, quer diante da situação que antes desfrutava, quer diante de seu fornecedor. Portanto, e por este motivos, a homologação do termo de ajustamento de conduta fica indeferida, devendo os autos do presente Inquérito Civil retornarem à promotoria de justiça do consumidor para que a APAS e demais fornecedores apresentem à população e ao Ministério Público uma melhor forma de proteção do consumidor, diante da necessidade de retirada das sacolas plásticas descartáveis do mercado de consumo. São Paulo, 06 de junho de 2012”.

13 - A nova prática adotada por seus associados, incentivada pela impetrante, ou seja, a cobrança das sacolas, por unidade, e pelo preço de custo (R$ 0,19), num contexto de mudança da embalagem (saiu a sacolinha de plástico tradicional e entrou a biodegradável, de custo superior, por exigência da lei municipal), foi a “melhor solução para resolução da questão ambiental, concluindo-se pela necessidade de cobrança das sacolas compostáveis, em forma de repasse ao consumidor pelo seu preço de custo”, para desestimular o uso, e, ao revés, incentivar o uso das sacolas retornáveis, o que,

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Ou, enfim, disponibilizar, para a embalagem de frutas, verduras e

legumes, além de diversos outros produtos, sacolas plásticas, fabricadas com

matéria-prima derivada de petróleo, proibidas pela lei municipal, ou utilizar

insufilme, isopor e outros plásticos na embalagem dos produtos vendidos.

Daí a seguinte reflexão:

“Sob o ponto de vista ecológico, a população está certa, também, ao dizer que a campanha só olhou o lado dos fornecedores – proteção contra o aumento dos custos gerados pela lei (as biodegradáveis são mais caras) – pois transcorridos um ano e quatro meses de sua vigência, os empresários continuam na mesma situação, acomodados, sem assumir a obrigação que lhes cabe na solução dos problemas causados por suas atividades.14 O ganho ambiental divulgado pelo setor

inclusive, já havia sido implementado no município paulista de Jundiaí, com sucesso (Petição inicial: f. 08); Essa solução é a mais justa para o consumidor, “pois só pagará quem efetivamente usar a sacola descartável, evitando assim penalizar os que estão colaborando e se adequando ao novo hábito sustentável”, e a “cobrança de forma visível e direta é mais efetiva na questão educacional, na adequação ao nosso hábito” (Petição inicial: f. 08).

14 - Ocorre, no caso, o fenômeno da externalidade ? “Segundo Milton Friedman, “uma externalidade é o efeito de uma transação (...) para um terceiro que não havia consentido em participar da realização dessa transação”. Assim todas as coisas ruins que acontecem com as pessoas e o meio ambiente como resultado da impiedosa defesa dos interesses da corporação, impulsionada pela lei, são habilmente caracterizadas pelos economistas como externalidades, ou seja, literalmente, como problemas dos outros” (JOEL BAKAN, A Corporação. A Busca Patológica por Lucro e Poder, pág. 72. São Paulo: Editora Novo Conceito, 2008, 272 páginas). JOEL BAKAN, em seu livro, faz diversas reflexões sobre o tema “responsabilidade social”. Numa delas, traz o seguinte comentário: “No entanto, nem todo o mundo está convencido sobre as virtudes da responsabilidade social corporativa. Milton Friedman, por exemplo, ganhador do prêmio Nobel e um dos mais conceituados economistas do mundo, acredita que o novo moralismo comercial é, na verdade, imoral. (...) Friedman acha que as corporações são boas para a sociedade (da mesma maneira que o governo é ruim). No entanto, ele tem restrições quando à idéia de que as corporações deveriam tentar fazer o bem para a sociedade. “A corporação é propriedade dos acionistas”, ele me diz. “Seus interesses são os interesses dos acionistas. Mas, além disso, ela deveria gastar o dinheiro dos acionistas para propósitos que considera de responsabilidade social, mas que nada têm a ver com os seus objetivos? Eu diria que a resposta é não”. Há, no entanto, uma “responsabilidade social” para os executivos corporativos, acredita Friedman: eles devem fazer o máximo de dinheiro para seus acionistas. Esse é um imperativo moral. Executivos que escolhem objetivos sociais e ambientais em detrimento dos outros – que tentam agir moralmente – são, na verdade, imorais” (pág. 40). Em outra passagem: “O motivo pelo qual a IBM trabalhou com os nazistas, diz Black, “não tinha a ver com o nazismo (...) mas sempre com os lucros, o que está de acordo com a natureza amoral da corporação. As corporações não têm a capacidade de avaliar sistemas políticos, fascistas ou democráticos, segundo seus princípios ou suas ideologias. A única questão legítima para a corporação é se o sistema político atende aos propósitos de seus próprios interesses ou os impede.

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supermercadista – redução do número de sacolas usadas no comércio – é relativo, pois não tem qualquer relação com a natureza da sacola biodegradável. Deve-se, apenas, à cobrança do preço.

Por quê não inovar ? Por quê não fidelizar o consumidor à sacola retornável, cedendo-lhe o produto ? Identificar a embalagem e rastreá-la. Dar-lhe prêmio (bônus, desconto, pontos para troca em produtos ...), toda vez que retornar com a sacola, no supermercado. Ou com qualquer sacola retornável ? Premiá-lo, ainda mais, quando a sacola, já sem utilidade, for devolvida, para ser reciclada. Por quê não utilizar idéia semelhante com as sacolas biodegradáveis, tendo, por critério, a quantidade disponibilizada, na compra ? Por quê não cobrar da indústria, a parcela da responsabilidade que lhe cabe, fornecendo embalagens retornáveis e sua recolocação no processo de fabricação de seus produtos ?

Ao participar de diversas reuniões, percebi que a preferência, por uma ou outra espécie de sacola – plástica, biodegradável e oxibiodegradável – não resolverá o problema ambiental, se o Poder Público e a sociedade como um todo não fizerem a sua parte, desde a produção e uso da sacolinha, até o seu descarte regular (reciclagem ou compostagem)15 – (Decisão cautelar: f.

Segundo Peter Druker – que diz ter “discutido a questão mais de uma vez com o velho sr. Watson”, presidente da IBM na época -, Thomas Watson tinha reservas quanto a trabalhar com nazistas. “Não porque achasse imoral”, diz Druker, mas “porque Watson, com um senso muito aguçado nas relações públicas, achava que era arriscado” do ponto de vista comercial” (pág. 106). 15 - Para discutir a questão, realizei, na sede do Ministério Público, duas reuniões, a primeira, no dia 27 de abril, e, a segunda, no dia 30 de maio. Convidei, para as audiências, diversas instituições, identificadas nas listas de presença. Apresentei o tema a ser discutido e ouvi a opinião e a ponderação de todos. Para a primeira reunião, foram convidados (i) o Procon Municipal, (ii) o Procon da Assembléia, (iii) a Coordenação do Procon Estadual, (iv) o Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (MP/MG) (v) a Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização, da Prefeitura de Belo Horizonte, (vi) a Prefeitura de Belo Horizonte, (vii) a Presidência da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Municipal, (viii) a Presidência da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa, (ix) a Presidência do Fórum dos Procons Municipais, (x) o Movimento das Donas de Casa e (xi) a Associação Mineira dos Supermercados. Na segunda audiência, os convites foram ampliados: (xii) Associação Mineira de Municípios, (xiii) Câmara de Diretores Lojistas (BH), (xiv) Federação do Comércio de Minas, (xv) Instituto Ideais, (xvi) Laboratório de Ciência e Tecnologia de Polímeros, da UFMG, (xvii) Associação Brasileira de Polímeros (ABICON), (xviii) Inmetro e (xix) o consumidor Luiz Felipe Lehman, que, além de reclamar, contribuiu com uma visão geral sobre a matéria (Parte 09). Esse consumidor, inclusive, encaminhou ao MP uma apresentação intitulada “As Evidências da Formação de Cartel”, na qual comprovou, por cupons fiscais, em alguns estabelecimentos, a cobrança de um mesmo preço pelas sacolas biodegradáveis: R$ 0,19 (Parte 10). Na sequência, solicitei, à sua Excelência, o ilustre Presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa, Deputado Délio Malheiros, a realização de audiência pública, para discutir a matéria, pois há projeto de lei estadual sobre o tema, ocorrida no dia 03 do corrente mês (Parte 11). Antes, ainda, houve a realização de audiência pública na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte (Parte 12).

21

115/116).

A consciência cobrada dos consumidores, ao que suponho, só será

legítima na medida em que os comerciantes, cada um a seu modo, puderem

assumir a sua cota de responsabilidade na defesa do meio ambiente, ao

contrário do que pretende a agravante.16

Por outro lado, a decisão cautelar do Procon Estadual foi extensiva

ao comércio local, e não apenas às empresas processadas, pela extensão do

dano, que, como visto, repercutiu em todo o mercado.17

Até o preço cobrado pelas sacolas é controvertido: não é certo que

represente o preço de compra das embalagens. Fere a lógica econômica, pois

quem compra uma maior quantidade acaba pagando um preço menor. Será

possível comparar o preço das sacolas adquiridas por um hipermercado com

aquele pago pela mercearia do bairro ? Onde está a comprovação do direito

líquido e certo da impetrante, no que toca a esta alegação ? Ainda que o ônus

imposto aos consumidores, retrate, de forma líquida e certa, o preço de

custo (compra) das sacolas, e a cobrança não possa ser confundida com

lucro, mesmo assim a coletividade dos consumidores está sendo lesada, pois

a responsabilidade dos agentes econômicos, na espécie, é objetiva.18

16 - “A questão é simples e dispensa maiores delongas, resumindo-se em uma única palavra: conscientização. A sociedade deve deixar o individualismo de lado e pensar no bem comum. Resolver a insatisfação de uns ou outros em detrimento de um ambiente mais limpo e sustentável significa fechar os olhos para uma questão de suprema relevância, de impacto mundial. Se cada um fizer sua parte, o resultado final certamente será significativo. E a sociedade terá que agradecer” (Petição inicial: f. 45/46).

17 - “A decisão traz em si uma proibição de caráter geral e abstrato, ferindo o princípio da legalidade, segundo o qual ‘ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei’ (CF, art. 5º, II) – (Petição inicial: f. 23)

18 - A venda das sacolas biodegradáveis, pelo preço de custo (compra do fabricante), e a falta dos demais requisitos de cooperação econômica, considerados pela doutrina, elidem a alegação de formação de cartel (Petição inicial: f. 31).

22

Mas não é isso o que ocorre, pois as notas fiscais carreadas aos

autos do processo administrativo instaurado pelo Procon Estadual mostram

diversos preços de aquisição das sacolas, pelos Supermercados Carrefour,19

BH,20 Extra,21 Verdemar,22 Supernosso23 e Super Sales,24 pela Drogaria

Pacheco25, além da Panificadora Parnesion26 e Lojas Rede27 (docs anexos).

Nesse sentido, a lição de IVO TEIXEIRA GICO JUNIOR:

“A referência da lei à inegibilidade de culpa na constituição da infração reforça a interpretação de que o dolo (culpa em sentido lato) não compõe os tipos de infração à ordem econômica. Trata-se, pois, de responsabilidade objetiva do agente econômico. Havendo o ato e a possibilidade da produção dos efeitos, caracterizado está o ilícito, independentemente da perquirição de culpa. O elemento essencial do ilícito é a possibilidade objetiva dos efeitos, não a intenção delitiva. Destarte, conquanto se configure a intenção delitiva, há de se perquirir a possibilidade objetiva dos efeitos proscritos. A locação “que tenha por objeto” do art. 20, embora remeta ao elemento volitivo, não deve ser interpretada como bastando para configurar o ilícito. Essa interpretação acaba por resumir, na prática, o elemento componente do ilícito, tal como definido pelo art. 20, à potencialidade dos efeitos”.28

A agravante não comprovou, também, nos autos deste mandado

de segurança, com liquidez e certeza, a redução do consumo de sacolas no

município de Belo Horizonte (97% da população estaria utilizando sacolas

19 - R$ 0,156818.20 - R$ 0,15.21 - R$ 0,1650696.22 - R$ 0,1568173, R$ 0,1568174 e R$ 0,1568175. 23 - R$ 0,1350, R$ 0,15254 e R$ 0,1568174.24 - R$ 0,1568174 e R$ 0,18034.25 - R$ 0,15478.26 - R$ 0,12 e R$ 0,13.27 - R$ 0,1652172, R$ 0,1652174, R$ 0,1652175 e R$ 0,1740870.28 - O comentário se refere ao art. 20 da Lei nº 8.884, de 11/06/94, revogada pela Lei nº 12.529, de 30/11/11 (Nova Lei Antitruste), cuja redação foi mantida em seu art. 36 (Cartel, Teoria Unificada da Colusão, pág. 148. São Paulo: Lex Editora S.A, 2007, 542 páginas).

23

retornáveis). É outro ponto controvertido que necessita de aprofundamento,

no âmbito do processo administrativo instaurado pelo Procon Estadual.29

Ao contrário do que argumenta a agravante, o fato de o Promotor

de Justiça ter considerado, em sua decisão cautelar, a hipótese do “ganho

ambiental divulgado pelo setor supermercadista”, em função da venda das

sacolas, e, depois, concluir ser ele “relativo, pois não tem qualquer relação

com a natureza da sacola biodegradável”, não significa que o fato (divulgado

pela impetrante) seja verdadeiro, só por estar sendo divulgado, sem a fonte

da informação.30

Exponho, agora, a segunda razão que motivou a decisão do Procon

Estadual à suspensão das vendas das sacolas.

2ª) a campanha “sacolas plásticas nunca mais”, acordada

pela agravante e entidades de classe co-irmãs, visando a

cobrança das sacolas biodegradáveis, por unidade e preço

tabelado, acabou por introduzir, no mercado, uma grande

quantidade de sacolas falsificadas, ou seja, impróprias ao

uso e consumo, fraudando os direitos dos consumidores.31

29 - “A sacola ecológica é mais um produto que os supermercados disponibilizam aos seus clientes, sendo esta uma maneira de estimular a redução do consumo das sacolas biodegradáveis e de mudar o comportamento da população estabelecendo um valor para o hábito, o que consequentemente acaba incentivando a utilização de sacolas retornáveis, o que demonstra que a decisão cautelar é desarrazoada e desproporcional aos estabelecimentos privados”, “até porque hoje 97% da população não utiliza qualquer sacola plástica, apenas a retornável, o que não deixa dúvidas do sucesso da Lei Municipal, que em 15 meses se retirou do meio ambiente 97% de sacolinhas descartáveis, ou seja: 180 milhões dessas” (Petição inicial: f. 42).

30 - Ao afirmar que “o ganho ambiental divulgado pelo setor supermercadista – redução do número de sacolas usadas no comércio – é relativo, pois não tem qualquer relação com a natureza da sacola biodegradável. Deve-se, apenas, à cobrança do preço”, o Promotor de Justiça subscrevente reconheceu que “cobrar pela sacola implicou em redução do consumo de tal produto, que era justamente o objetivo primordial da lei” (Petição inicial: f. 38).

31 - “São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam” (Lei nº 8.078/90: art. 18, § 6º).

24

Esse fato foi comprovado em audiência pública, realizada a pedido

do Procon Estadual, na Assembléia Legislativa, em 03 de julho de 2012, pelo

professor Luciano Emerich Faria:

“Independentemente da instituição em que trabalho - sou professor do Centro Universitário Newton Paiva -, tenho o dever de levar um pouco do conhecimento que produzimos. Respondendo ao Deputado, há dois meses, resolvemos fazer uma pesquisa no Centro Universitário Newton Paiva, utilizando um equipamento que temos lá que nos mostra a composição do material de que são feitas as sacolas em Belo Horizonte. Fizemos essa pesquisa no comércio em geral de toda Belo Horizonte, em supermercados, farmácias, padarias, “pet shops” e até mesmo em algumas lojas de “shoppings centers”. No total, coletamos 135 sacolas. Vendo que muitas delas eram repetidas, analisamos 105. Dessas, concluímos que somente 20% são constituídas de um material que pode se biodegradar” (Notas Taquigráficas, pág. 26) – Depoimento do Professor Luciano Emerich Faria, do Centro Universitário Newton Paiva, ao responder pergunta do Deputado Alencar da Silveira Júnior, na audiência pública realizada na ALEMG (03/07/12) – (Decisão cautelar, f. 117).

Por fim, resta mencionar a terceira (e decisiva) razão para o órgão

estadual de defesa do consumidor suspender a cobrança das sacolas.

3ª) a campanha “sacolas plásticas nunca mais”, acordada

pela agravante e entidades de classe co-irmãs, visando a

cobrança das sacolas biodegradáveis, por unidade e preço

tabelado, acabou por veicular propaganda enganosa, pois

as embalagens, sendo depositadas no aterro sanitário, e

não em usina de compostagem, não irão se decompor ou

degradar, sendo, também por este motivo, impróprias ao

“Constitui crime contra as relações de consumo: (...) IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo; Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa” (Lei nº 8.137/90, art. 7º, IX).

25

uso e consumo.32

Essas razões foram, igualmente, expostas na decisão cautelar:

Há, inclusive, a possibilidade de que, todos nós, consumidores, estejamos sendo vítimas de propaganda enganosa, a cada venda desse novo produto – sacola biodegradável – quer pela distribuição de sacolas falsificadas no comércio,33 quer pela necessidade de descarte em usina de compostagem, não existente no município, para se obter as vantagens a ela atribuídas, consideradas na lei e decreto municipais.34

Claro, a propósito, é o artigo do Professor Roberto Fernando de Souza Freitas, catedrático da UFMG e pesquisador do assunto:

“O equívoco da Lei 9529/2008 pode ser analisado sob vários ângulos, sendo o principal deles o fato de que, tecnicamente, ao propor a substituição das sacolas convencionais por sacolas supostamente biodegradáveis gera, no imaginário da

32 - “São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam” (Lei nº 8.078/90: art. 18, § 6º). “Constitui crime contra as relações de consumo: (...) IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo; Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa” (Lei nº 8.137/90, art. 7º, IX).

33 - “Independentemente da instituição em que trabalho - sou professor do Centro Universitário Newton Paiva -, tenho o dever de levar um pouco do conhecimento que produzimos. Respondendo ao Deputado, há dois meses, resolvemos fazer uma pesquisa no Centro Universitário Newton Paiva, utilizando um equipamento que temos lá que nos mostra a composição do material de que são feitas as sacolas em Belo Horizonte. Fizemos essa pesquisa no comércio em geral de toda Belo Horizonte, em supermercados, farmácias, padarias, “pet shops” e até mesmo em algumas lojas de “shoppings centers”. No total, coletamos 135 sacolas. Vendo que muitas delas eram repetidas, analisamos 105. Dessas, concluímos que somente 20% são constituídas de um material que pode se biodegradar” (Notas Taquigráficas, pág. 26) – Depoimento do Professor Luciano Emerich Faria, do Centro Universitário Newton Paiva, ao responder pergunta do Deputado Alencar da Silveira Júnior, na audiência pública realizada na ALEMG (03/07/12).

34 - O Decreto Municipal nº 14.367, de 12/04/11, regulamentando a Lei nº 9.529, de 27/02/08, considerou “material biodegradável” o que apresenta degradação por processos biológicos, sob ação de microorganismos, em condições naturais adequadas, e que atenda aos seguintes requisitos: I – finalização em até 180 (cento e oitenta) dias; II – resíduos finais resultantes que não apresentem resquício de toxicidade e tampouco sejam danosos ao meio ambiente; III – atendimento à NBR 15448-2:2008, editada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT” (art. 3º, § 1º).

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população, a falsa idéia de que as novas embalagens poderiam ser descartadas sem qualquer dano ao meio ambiente, o que não é verdade. As sacolas biodegradáveis só são decompostas caso sejam colocadas em um ambiente de compostagem.35 Ou seja, para que elas cumpram o seu papel de sacola ecológica é necessário que elas sejam descartadas de forma correta e sejam posteriormente encaminhadas a usinas de compostagem, infraesturutura esta, ainda inexistente em Belo Horizonte e em grande parte do país. Se jogarmos no ambiente, elas serão tão ou mais danosas que qualquer outro material plástico: entupirão bocas de lobo, contribuindo para enchentes nas áreas urbanas, não se degradarão rapidamente e vários outro problemas ambientais” (artigo anexo). Deve-se, ainda, atentar para outro detalhe, não menos relevante: o ganho ambiental supostamente obtido no processo de fabricação da sacola biodegradável (seqüestro de CO2),36

35 - A Prefeitura de Belo Horizonte não nega esse fato. Ao responder questionamento da AMIS, a esse respeito, disse possuir unidade de compostagem para “tratar as podas e resíduos coletados por coleta especial em geradores de resíduos orgânicos como feiras, sacolões e supermercados”, e que “para operação com outro tipo de material é necessário modificar o processo existente considerando alterações da relação Carbono/Nitrogênio, parâmetro fundamental para o processo” (doc. anexo: resposta da AMIS ao MP). O fato de o aterro sanitário ser considerado um biogestor, sustenta o Professor Roberto Fernandes de Souza Freitas, catedrático da UFMG e pesquisador do tema, “não o torna um ambiente adequado para a decomposição de sacolas biodegradáveis. Portanto, o encaminhamento das sacolas biodegradáveis para um aterro sanitário não pode ser ser considerado um processo correto. Se encaminhadas para aterro sanitário, as sacolas plásticas biodegradáveis não se decomporão naturalmente, conforme afirmado. Não é por outra razão que a Norma da ABNT NBR-15448-2:2008 é explicitamente referenciada no Decreto 14.367/2011. O Parágrafo 1º do Art. 3º do Decreto define o que pode ser considerado material biodegradável, estabelecendo ainda o atendimento a três requisitos, incluindo a Norma da ABNT citada” (...) “Caso não sejam submetidas a um ambiente de compostagem, elas não se degradarão no prazo estipulado na lei” (180 dias) “tornando-se um passivo ambiental. Portanto, parece-me óbvio a necessidade de encaminhamento das sacolas biodegradáveis a unidades de compostagem para que o disposto na Lei seja cumprido” (doc anexo: análise feita a pedido do MP). O MP, na última reunião ocorrida (05/07/12), diante da diversidade de interesses envolvidos na questão, propôs a suspensão, por 90 dias, da cobrança das sacolas biodegradáveis, o que não foi aceito pela AMIS. As suas ponderações, para não concordar com a proposta do MP, serão analisadas neste processo administrativo, após contraditório e ampla defesa. 36 - “Traremos uma conceituação técnica para um melhor entendimento de todos. Esses materiais chamados biodegradáveis compostáveis são provenientes de uma nova indústria: a do bioplástico. Do mesmo jeito que existem os biocombustíveis, podemos obter materiais de fontes renováveis agrícolas. Então, os valores que estão por trás da produção, da adoção e do consumo desses materiais relacionam-se ao fato de conseguirmos obter plásticos de fontes renováveis agrícolas. Na cadeia do petróleo, quando se produz um material plástico, qualquer produto, há uma emissão de carbono, ou seja, ele deixa uma pegada de carbono. Plásticos de petróleo emitem de 2kg a 5kg de CO2 por quilo de plástico produzido. Quando o material é de bioplástico, o efeito é contrário: sequestra-se carbono. Então, a utilização de materiais de fontes renováveis agrícolas para a produção de embalagens de plásticos é muito interessante, e esse é o grande impulsionador relacionado às grandes mudanças climáticas, ou seja, temos que preparar nossa sociedade para o ambiente futuro, em que viveremos uma situação de baixa emissão de carbono. A outra questão relacionada à adoção desses materiais chamados bioplásticos, que têm certificação de serem biodegradáveis compostáveis, é a da reciclagem. Esses materiais são recicláveis como os plásticos comuns, mas ganham mais uma alternativa de reciclagem através da compostagem, pois há o

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está sendo anulado com o seu descarte no aterro sanitário (emissão de CO2 e gás metano na atmosfera, responsável pelo efeito estufa)37 – (Decisão cautelar: f. 117/119).

No ponto, é importante citar um dos trechos da audiência pública,

retratando o diálogo entre o agravado, o Secretário Municipal de Serviços

Urbanos, Sr. Píer Giorgio Senesi Filho e Fernanda Altoé Daltro, representante

do Ministério do Meio Ambiente:

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: Pois é, porque a dúvida é porque todas as pessoas que se manifestaram até o momento, foram conclusivas de que em Belo Horizonte não há usina de compostagem para sacola

grande benefício de separarmos nosso lixo orgânico do reciclável. Sessenta e cinco por cento do nosso lixo é orgânico. Esse é um grande problema para a sociedade enfrentar, e a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a política do Estado de Minas já enxergam esse problema e vêm trabalhando para solucioná-lo. Gostaria de passar um dado da Feam. Existe um projeto muito interessante. Minas não está avançado somente na questão da discussão sobre consumo consciente e utilização de materiais de menor impacto ambiente, aqui existe também o programa Minas sem Lixões, que é desenvolvido pela Feam e pela Fundação Israel Pinheiro. Temos 122 usinas de compostagem no Estado, muitas delas no interior. A Região Metropolitana de Belo Horizonte, infelizmente, não tem. A mais próxima está em um raio de 50km. A contribuição da reciclagem dos lixos orgânicos é o grande valor. Uma sacolinha compostável é o ícone dessa sociedade de consumo. Ela amplia nossas possibilidades de reciclagem e, com ela, virão muitos outros produtos baseados em bioplásticos” (in Notas Taquigráficas, pág. 72) – Fala de João Carlos de Godoy Moreira, representante da Associação Brasileira de Polímeros Biodegradáveis Compostáveis, ao participar da audiência pública realizada na ALEMG (03/07/12).

37 - “O processo usado para tornar algo biodegradável é a mistura de um metal pesado na meta-resina, que se degrada ao longo do tempo e fica no meio ambiente como grano, pó, pedacinho. A indústria não tem conhecimento da biodegradabilidade e não a sugere. O João Carlos, um dos maiores especialistas brasileiros nessa área, muito conhecido do Dr. Roberto, esqueceu-se de falar que quando utilizamos produto biodegradável fora da usina de compostagem, o consumidor pode entender que é biodegradável e jogá-lo no meio ambiente. A degradação ocorre em 180 dias, mas produz CO2, um dos gases do efeito estufa. Pior que isso: quando o produto vai para o aterro

sanitário, que forma diariamente uma camada de lixo – sacolas -, uma camada de terra e um rolo compressor compactador, em cerca de 10, 20 dias, o oxigênio acaba lá em baixo. A biodegradação ocorre, mas de maneira anaeróbica. O que isso significa? Em vez de produzir CO2, produz metano. A

Sra. Presidente – O metano pode virar energia. O Sr. Paulo Dacolina – Sim, mas não temos aterros praparados para a recuperação. Aliás, temos apenas meia dúzia deles. A Sra. Presidente – Em Uberlândia nós temos. Agora, já está produzindo energia, gás. O Sr. Paulo Dacolina – É possível. Imagine a senhora os aterros sanitários onde não há recuperação. O metano gera direto o efeito estufa e é 22 vezes mais agressivo do que o CO2. O João Carlos disse que existem 112

compostagens. Fico muito contente, porque há duas semanas, quando participamos de debate na Câmara Municipal, existiam duas” (Notas Taquigráficas, pág. 103) – Paulo Dacolina, Diretor do Instituto Nacional do Plástico (INP) e representante do Instituto Plastivida – Instituto Socio-Ambiental dos Plásticos, e do Sindicato do Material Plástico do Estado de Minas Gerais, durante audiência pública realizada na ALEMG (03/07/12).

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biodegradável. E o senhor está dizendo que não, que a sacola biodegradável entra no processo de compostagem. Essa que é a dúvida. Eu gostaria que o senhor esclarecesse isso.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: É que ela é feita de material orgânico. Ela é feita de batata, amido, cana de açúcar, etc.. Etanol e tal. Então, ela vai entrar no processo lá, ela vai entrar no processo lá e ela vai se decompor junto com o material que ela entra lá.

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: Pois é, então o senhor está dizendo que a usina de compostagem da prefeitura, ela é própria para fazer a compostagem de sacola biodegradável que é isso que o senhor está falando?

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Não, ela não é própria para fazer compostagem de sacola biodegradável. Ela é uma usina de compostado, uma usina de compostagem. Que se você colocar junto com o material que vai ser compostado sacola desse material biodegradável, ele vai ser degradar lá dentro.

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: Então a outra pergunta. Essa sacola que está sendo encaminhada para o aterro sanitário, ela está entrando nesse processo da usina de compostagem.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Não, ela vai para o aterro sanitário. Um é de um lado, o outro é do outro.

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: Pois é, então ela não entra no processo de compostagem.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Não, não entra, não entra. Não entra.

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: Tá.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: Coleta seletiva...

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: OK, porque...

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: [pronunciamento fora do microfone]

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: Você podia falar no microfone, por favor, porque está sendo gravado, que aí é bom que esclarece.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: Oi. Eu sou a representante do Ministério do Meio Ambiente. Só para esclarecer que eu estou entendendo a dúvida de ambos. A coleta seletiva domiciliar em Belo Horizonte ainda não atende toda a grande Belo Horizonte.

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SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Não.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: Certo? É só uma parte.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Isso.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: Então, no momento, a usina de compostagem está recebendo apenas o resíduo orgânico que vocês coletam do mercado.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Isso.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: E dos supermercados.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: E de alguns supermercados.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: Exatamente.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Conveniados com a SLU.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: Então eles ainda não estão recebendo.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Não fazendo domiciliar.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: Da domiciliar.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Ainda não.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: Ou seja, o consumidor que comprou uma sacola biodegradável compostável e só colocou o seu lixinho orgânico ali, esse material poderia, sim, ir para a usina, mas isso ainda não está sendo um serviço estendido a toda Belo Horizonte.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Sem dúvida, ele não vai para a usina por dois motivos.

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: OK. Você vai se manifestar na outra mesa.

SRA. FERNANDA ALTOÉ DALTRO: Vou, sim.

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: Bacana.Opa!

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Por dois motivos. Ele não vai, por exemplo, primeiro porque a usina não tem capacidade para receber isso tudo. Então teria que ser um processo que seria desenvolvido para poder atender toda a Belo Horizonte. E o processo iniciaria aonde? Lá na separação do lixo. A partir do momento em que nós em nossas casas separarmos o lixo em material orgânico e em material seco, esse material orgânico, ele poderia ir, sim, para uma usina de compostagem, OK? A nossa usina de compostagem, hoje, ela faz o trabalho para especificamente o mercado central e alguns supermercados que geram essa quantidade. Oito toneladas. Oito toneladas de lixo não é nem 1% da quantidade de lixo de Belo Horizonte por dia.

30

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: OK. Só mais uma dúvida, para concluir.

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Pois não.

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: Secretário, as condições de compostagem do produto, esse produto orgânico que a prefeitura faz a compostagem, as condições são as mesmas para a compostagem da sacola biodegradável?

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: A mesma.

SR. PRESIDENTE AMAURI ARTIMOS DA MATTA: São as mesmas condições?

SR. PÍER GIORGIO SENESI FILHO: Mesma condição” (Ata da Audiência, pág. 57).

O inconformismo da impetrante, aqui, também não se justifica,

pois é princípio básico das relações de consumo que o comerciante deve

garantir a qualidade do produto vendido. Se ele tem conhecimento de que a

sacola dita “biodegradável” não irá se degradar, porque não será objeto de

coleta seletiva e depositada em usina de compostagem, não pode vendê-la,

pois estará lesando a população, já que, por este motivo, como determina o

código do consumidor, será imprópria ao uso e consumo.

O fornecedor – e a impetrante sabe bem disso – se vincula à oferta

realizada, não podendo, estando ciente de fato relevante, transferir a sua

responsabilidade para terceiros.38

Concluindo, são estes os motivos pelos quais o Procon Estadual,

consciente da viabilidade dos direitos dos consumidores e da necessidade de

sua defesa pronta e eficiente, como exige o código do consumidor, achou por

38 - A decisão cautelar, proibindo a cobrança das sacolas, pelo fato de o município não descartá-las em usina de compostagem, o que impede a sua decomposição, prevê consequências e responsabilidades não relacionadas aos seus associados, mas ao poder público, dentre as quais se inserem as informações “necessárias sobre a natureza das sacolas biodegradáveis e de que o ganho ambiental depende de outras providências”, razão pela não podem ser considerados autores de propaganda enganosa (Petição inicial, f. 18/19 e 44).

31

bem de suspender, cautelarmente, a venda de sacolas no comércio local (tal

conduta é, em tese, criminosa !),39 até que a matéria possa ser solucionada,

no âmbito administrativo, de forma consensual ou por decisão, de modo a

conciliar todos os interesses em jogo.

Diante do exposto, requeiro o recebimento destas contra-razões

de agravo e o improvimento do recurso, com o que Vossa Excelência e seus

ilustres pares, acompanhados do Procurador de Justiça em exercício na 8ª

Câmara Cível, estarão fazendo a costumeira

JUSTIÇA !

Belo Horizonte, 1º de março de 2013.

Amauri Artimos da MattaPromotor de Justiça

39 - “São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam” (Lei nº 8.078/90: art. 18, § 6º).

“Constitui crime contra as relações de consumo: (...) IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo; Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa” (Lei nº 8.137/90, art. 7º, IX).

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